a republica armada

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1889-1930 PRIMEIRA REPBLICA

A REPBLICA ARMADA(DE DEODORO A WASHINGTON LUS) 1889 - Assim nascia a Repblica008 Antecedentes - A Abolio da Escravatura - A Questo Religiosa - A Questo Militar - A Proclamao da Repblica.

O poder sem fim do Presidente - Candidatos em penca - O consenso e a eleio - Rio, uma cidade doente - Osvaldo Cruz - A febre amarela - A peste bubnica - A varola - A "Guerra da Vacina" Urbanizao do Rio de Janeiro - O baro do Rio Branco - A questo do Acre Fim de governo.

1906-1910 - Um mandato e dois Presidentes - Afonso Pena e Nilo Peanha036 Fim da "Poltica dos Governadores" Postulantes Presidncia - O "Jardim da Infncia" e o "Bloco do Morro da Graa" - O governo de Afonso Pena Rondon, o "Marechal da Paz" - Imigrao e progresso - Rui Barbosa, a "guia de Haia" - A morte de Afonso Pena - O governo de Nilo Peanha. 041

1889-1894 - Primeiros tempos - Deodoro e Floriano011 Governo Provisrio - Assemblia Constituinte - A eleio do primeiro Presidente da Repblica - Deodoro, o marechal impulsivo - O fechamento do Congresso - Floriano, o "Marechal de Ferro" - A Revolta da Armada, na baa da Guanabara - A Revoluo Federalista no Rio Grande do Sul - A Consolidao da Repblica. 019 1894-1898 - A Pacificao - Prudente de Morais E deixaram Prudente sozinho - Pacificao interna: a anistia geral - Pacificao externa: reatando com Portugal; os ingleses e a ilha de Trindade; enfim, soluo para Misses; o territrio do Amap - Ainda a pacificao interna: Vitorino e o Florianismo - A Guerra de Canudos - O atentado - A pacificao do Exrcito - De volta ao interior paulista. 025

1910-1914 - A Poltica de Salvao Nacional - Hermes da Fonseca

Civilismo versus militarismo - O movimento civilista - E Hermes ganhou a eleio - Durante a festa, um canhonao - A "Revolta da Chibata" - A vitria aparente - A represso severa - A "Poltica de Salvao Nacional": no Estado do Rio de Janeiro; no Estado de Pernambuco; no Estado da Bahia; no Estado do Cear; no Estado de Alagoas; outras salvaes - O governo Hermes da Fonseca.

1914-1918 - O caminho para a paz - Venceslau Brs049 Em busca de um sucessor (Pinheiro Machado) - A segunda vertente (olgarquias So Paulo/Minas) - Os vcios da Repblica (intervenes) - O caso do Estado do Rio - A crise em nvel federal - O eplogo, com Nilo Peanha - O Brasil e a 1 Guerra Mundial - A Ronda da Morte (gripe espanhola) - A Guerra do Contestado - Fim de governo. 055

1898-1902 - A recuperao financeira - Campos SalesA hora de pagar a conta - O desafio do oramento - Implicaes polticas da crise - Os anos de vacas magras - O coronelismo - A Comisso Verificadora Fim de Governo.

1902-1906 - Saneamento e desenvolvimento - Rodrigues Alves029

1918-1922 - As estruturas do poder - Delfim Moreira e Epitcio PessoaEleitos Rodrigues Alves e Delfim Moreira - Fim da bonana - Morre Rodrigues Alves (e depois Delfim) - A nova cam-

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panha presidencial - A vem o Presidente! - O Ministrio - Obras do Governo A sucesso - As cartas de Artur Bernardes - A questo de Pernambuco - O motim - As revoltas de 5 de julho: na Vila Militar; na Escola Militar; no Forte de Copacabana - O mito dos 18 do Forte - Independmcia e Morte.

do Contestado (1912-1916) - A Revolta dos Tenentes (1922) - A Revoluo Gacha (1923) - A Revoluo Paulista (1924) - A Coluna Prestes (1924-1927). 074

1930 - O fim da Primeira Repblica (Repblica Velha)O problema de quorum na Cmara Federal - Assassinato do deputado Souza Filho - O episdio que mudou a Histria - A Repblica de Princesa (Paraba) Enfrentando Joo Dantas - Confronto com o Governo Federal- O assassinato de Joo Pessoa - A marcha da Revoluo - Imprevistos enfraquecem o comando - O levante no Rio Grande do Sul - O Cavalo de Troia - Relgios fora de sincronia - Do sul, a marcha para o Rio de Janeiro - Do nordeste, a marcha para o sudeste - O beijo contido por trinta anos - A Batalha de Itarar - Minas Gerais na Revoluo - Eplogo. 082 1930 - O naufrgio do "Titanic" (Um presidente deposto) A Junta Militar - A interferncia do Cardeal - O "Titanic"comea a afundar - O fim da Primeira Repblica. 084 1930-1932 - A revoluo trada (Getlio assume e fica) Instalao do novo governo (Junta Militar) - A participao popular da Revoluo - As preocupaes dos revolucionrios - Faltava s um detalhe - A situao em So Paulo - A posse de Getlio e as interventorias - Quem era Getlio Vargas - Limpando a rea (A Chefatura de Polcia) - Primeiras medidas do Governo - Recomposio das foras revolucionrias - O ataque ao "Dirio Carioca" - O "empastelamento" do jornal.

1922-1926 - A Revoluo dos "Tenentes" - Artur Bernardes062 A campanha eleitoral - Nilo Peanha e a sucesso fluminense - Borges de Medeiros e a sucesso gacha - A revoluo gacha de 1923 - Reina a paz nos pampas - Militares de 1922 so julgados - A revoluo de 1924 em So Paulo - Os azares do levante - A retirada dos civis - Sublevao no Sul - O encontro das duas frentes - Surge a Coluna Prestes - A longa marcha pelo Brasil - Notas margem - Um governo sem obras.

1926-1930 - O canto do cisne - Washington Lus068 Consertando as finanas pblicas - Caf em crise - O navio segue seu curso Churrasco com leite - Surge a Aliana Liberal - Um comcio na Esplanada - A "Tomada da Bastilha" - Nas eleies, o de sempre - Revoluo em marcha.

FIM DA PRIMEIRA REPBLICA 1930-1945 SEGUNDA REPBLICA

A REVOLUO TRADA(GETLIO ASSUME E FICA) 1889-1930 - A Repblica Armada (Recapitulao)000 A Proclamao da Independncia (1822) - A Proclamao da Repblica (1889) - Deodoro e Floriano (18891993) - Revoluo Federalista (18931895) - Guerra de Canudos (18951897) - Guerra da Vacina (1904) - A Revolta da Chibata (1910) - A Guerra

1932 - Revoluo Constitucionalista091 So Paulo queria separa-se do Brasil. Verdade? - As faces em confronto Uma no cravo, outra na ferradura (a poltica de Getlio Vargas) - O novo Cdigo Eleitoral - Voltando ao caso de So Paulo (uma situao complicada) Pela Constituio (os comcios) - A conspirao - Como tudo comeou - O apoio esperado no vem - O fim da luta

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armada - Precisava haver revoluo?

1934 - Um sopro de democracia (A Constituio de 1934)098 Querem Constituinte ? Toma Constituinte - Os representantes classistas - De volta ao passado - A eleio do Presidente - A sucesso ao governador de Minas - Soluo moda da casa - O caso do Estado do Rio de Janeiro - As eleies nos demais Estados.

fecho, visto de dentro do Palcio - O destino dos revoltosos - Tratamentos diferenciados. 122

1939-1942 - A Segunda Guerra Mundial (Posio do Brasil no conflito)

1935 - A Intentona comunista (o que fato e o que boato)102 Um resumo dos acontecimentos - Os antecedentes - Ao Integralista Brasileira (AIB) - Aliana Nacional Libertadora (ANL) - A questo dos soldos militares - A questo dos cabos e sargentos Conspirao em marcha - Getlio sabia de tudo - Em Natal (Rio Grande do Norte), o movimento antecipado - Recife (Pernambuco) seguiu na esteira de Natal - Tragdia na Praia Vermelha (Rio de Janeiro) - O outro lado da histria.

A guerra comeou com o acordo de paz - Inglaterra e Frana invadidas - Entre a cruz e a espada - O caso com a Inglaterra - O Brasil no sistema panamericano - A Quinta Coluna no Brasil - Nossos navios so bombardeados. 126

1944-1945 - Os "pracinhas" na guerra (A cobra fumou na Itlia)Treinamento de oficiais - Mos obra Nova vida em terra estranha - Prontos para a luta - A cobra est fumando - A FEB conhece sua primeira derrota Primeiro ataque a Monte Castelo - Segundo ataque a Monte Castelo - Terceiro ataque a Monte Castelo - Enfim, Monte Castelo nosso - Conquista de Castelnuovo - A tomada de Montese Em Fornovo, a consagrao - O desfecho da guerra.

1935-1937 - Vira, Vira, Vira... Virou! (A Constituio Descartvel)108 O tribunal revolucionrio - A ao policial - A caa aos "comunistas" - Priso e julgamento de Prestes - Fechando o processo - Um novo captulo na vida do pas - Retrato de Gis Monteiro - A sucesso presidencial - O caso do Rio Grande do Sul - O candidato Jos Amrico - O candidato Plnio Salgado - O candidato Armando de Sales - O Plano Cohen - Tudo est consumado.

1945 - Liberdade, ainda que tardia (O fim do Estado Novo)132 A trilha aberta pelos democratas - Manifesto dos Mineiros - Vencida a fora da inrcia - A entrevista de Jos Amrico - Os movimentos conspiratrios Simbiose entre Dutra e Gis - A Sociedade dos Amigos da Amrica - Gis Monteiro volta ao Brasil - Gis e Dutra juntos outra vez - A outra face da conspirao - Os avanos registrados A volta dos partidos polticos - A campanha eleitoral - O golpe que falhou Os acontecimentos se precipitam - O desfecho - Consideraes finais.

1938 - O Levante Integralista (Ataque ao Palcio Guanabara)114 Quem era Plnio Salgado - O golpe do Estado Novo - A Constituio do Estado Novo (Polaca) - A decepo dos Integralistas - Conspirao e Ao - Nem tudo deu certo - O levante, visto por Gis Monteiro - Reao aos ataques Outra viso, de dentro do Palcio - Como se deu a invaso - A defesa improvisada - A espera angustiante - O des-

FIM DA SEGUNDA REPBLICA 1945-1964 TERCEIRA REPBLICA

QUE PAS ESTE ?(LIBERDADE SEM ADJETIVOS)

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celino ganha... e vem a reao - O caso do coronel Mamede.

1945 - Transio de Regime - Governo Jos Linhares140 Testando a Democracia - A troca de governo - A escolha tumultuada do Gabinete - E Gis permanece no Ministrio - A sombra de Getlio Vargas - Um banho de prestgio - As eleies.

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1955 - Quatro dias de glria (Governo Carlos Luz)Um problema que vem de longe - Juscelino ganhou, mas ser que leva? Cheiro de fumaa e ameaa de incndio - O caso Mamede e a posio do ministro da Guerra - A posio do chefe do EMFA - A posio do Consultor Geral da Repblica - rea de turbulncia (o Ministro se demite mas no sai) - Comea o enfrentamento (golpe e contra-golpe) - O problema estava em So Paulo (e era Jnio) - Caf Filho em crcere privado - O governo Nereu Ramos - Voc decide.

143 1946 - Os trs pedidos de D.Santinha (Governo Eurico Gaspar Dutra)O gnio da lmpada - Incio de governo - A composio da Assemblia Constituinte - O Ministrio - O jogo na ilegalidade - Constituio promulgada - O Presidente e o trabalhador - Trazendo o inimigo para casa - As eleies de 1947 O PCB na ilegalidade - O alinhamento aos Estados Unidos - Desenvolvimento interno - Nem um minuto mais, nem um minuto menos.

1956-1961 - Administrao turbinada (Governo Juscelino Kubitschek)174 O perfil de JK - Havia pedras no caminho (os percalos at a posse) - Quem era Juscelino Kubitschek - O Ministrio A eminncia parda do regime - As "Revoltas dos Escoteiros" - As metas de governo - Automvel, o smbolo da riqueza - Um pouco de folclore: o portaavies e o FMI - Prs e contras no governo JK.

150 1951-1954 - Um tiro no peito (Governo Getlio Vargas)O anncio da volta - Os candidatos - As eleies - O tapeto - Getlio no retiro de So Pedro (RS) - A posse e o Ministrio - Nacionalistas, versus "entreguistas" - A guerra da Coria - A idia de criar a Petrobrs - "O Petrleo Nosso!" - A guarda pessoal do Presidente Lacerda, o demolidor - O espancamento e morte de um reporter - O crime da rua Toneleiros - Poderes paralelos (A Repblica do Galeo) - O mar de lama A ltima reunio do Ministrio - Fecham-se as cortinas. LEIA TAMBM: SUICDIO - O GOLPE GENIAL QUE ANULOU E LIQUIDOU SEUS INIMIGOS

A atrao da selva (Surge Braslia, a nova capital)181 Quem pergunta, quer resposta - Um sonho que vem de longe (O marqus de Pombal e a Nova Lisboa) - A "Novacap" no Imprio - As constituies e o mudancismo - As primeiras providncias O "avio" de Lcio Costa - A importncia dos "candangos" - Enfim, a inaugurao - O mapa de Braslia, hoje.

1954-1955 - Conspirar preciso (Governo Caf Filho)160 A "patota" de Getlio Vargas - Preparando a sucesso - O gosto amargo da vitria - Quem era Caf Filho - Obras do governo - As eleies de outubro de 1954 - Primeira crise no governo - Juscelino na mira dos conspiradores - O PSD e a candidatura JK - As eleies presidenciais (outubro de 1955) - Jus-

1960 - Valsa da despedida (A ltima eleio para Presidente)185 Uma eleio e trs candidatos - O mundo em 1960 - O candidato Ademar de Barros - O candidato Teixeira Lott - O candidato Jnio Quadros - Quem apoiava quem - Cuba o primeiro desafio Eleio e posse.

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1961 - Ser ou no ser (Governo Jnio Quadros)191 A posse e a falta de apoio parlamentar - Confetes e serpentinas (O primeiro discurso) - Metralhadora giratria (o segundo discurso) - Um certo capito Galvo (a crise com Portugal) - O Ministrio - Um banho de marketing (A campanha moralizadora) - Enfrentando a realidade (A reforma cambial) - O encaminhamento da crise (Rolando a dvida externa) - O governo itinerante Cuba, o princpio do fim - Lacerda volta a atacar - A renncia de Jnio - A cartarenncia - A reao do Congresso - As causas da renncia - Eplogo.

dos marinheiros - Cabo Anselmo, o agente-duplo - Os sargentos e o fim do governo. FIM DA TERCEIRA REPBLICA

1964-1985 QUARTA REPBLICA

O PODER POLTICO-MILITAR(UM "PROVISRIO" QUE DUROU 21 ANOS) 1964 - Revoluo ou Golpe ? (A queda de Joo Goulart).217 A conjuntura poltico-militar - Como era estranho esse general Mouro - Em Santa Maria (RS), o Plano Juno - Parlamentarismo instvel - Testando o Plano Juno - Em So Paulo, o blefe - A posio dos governadores - A ao das esquerdas - A articulao da direita Os acontecimentos se precipitam - Voltando a Minas Gerais - Tropas na rua! "Tio Sam" na batucada (A participao dos Estados Unidos). VEJA TAMBM: Cronologia do movimento.

1961 - Parlamentarismo j (Jango assume, mas sem poderes)201 Ranieri Mazzilli (Presidente da Cmara) assume interinamente a Presidncia Amigos, mas no tanto (governadores isolam o ex-Presidente) - A posio dos ministros militares sobre a posse de Jango - Marechal Lott vai para a priso - A reao no Rio Grande do Sul para garantir a posse de Jango - A Rede da Legalidade - A posio do governador da Guanabara, Carlos Lacerda - A posio do 3 Exrcito (Rio Grande do Sul) - Parlamentarismo J - Os ministros militares tambm contra a emenda parlamentarista - Uma esperana de entendimento - O difcil caminho do entendimento - Sublevao na FAB: Parlamentares impedidos de viajar - Joo Goulart volta e toma posse.

1964 - Como se faz um Presidente (A eleio de Castelo Branco).225 Competncia, versus desorganizao A revoluo vista por dentro - A viso de dentro do Palcio presidencial - As ltimas tentativas de reao - O embate no Congresso Nacional (em Braslia) - O povo nas ruas (do Rio de Janeiro) Na UNE (Unio Nacional de Estudantes), a situao crtica. - Preparando o caminho de Castelo ( Presidncia) Uma concentrao pr Castelo - Trs vezes me negars - De como um Ato Adicional maquiado e se transforma em Ato Institucional - E o Brasil tem seu novo Presidente.

1961-1964 - O fim da Terceira Repblica (Governo Joo Goulart)209 O Brasil experimenta o parlamentarismo - A posse de Jango (chefe de Estado) e o Gabinete de Tancredo Neves (chefe de Governo) - Quem era Joo Goulart - Quem era Tancredo Neves - O Plano Trienal - A vida na msica popular - A volta do presidencialismo - A caminho do caos - A ao conspiratria - O comcio das reformas - A revolta

1964-1967 - O Presidente estadista (Governo Castelo236

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Branco)Castelo e Alkmin so empossados Entre a espada e a Constituio - Quem era Castelo Branco - O Ministrio - Varre, vassourinha (as cassaes) - Ah, "Minas Gerais"! (O caso da aviao embarcada) - Soa o sinal de alarme (nas eleies para governador) - O Ato Institucional n.2 - O embaixador americano consultado - Quase que o Brasil ganha um "Partido" - Planos para uma nova Constituio - O Congresso posto em recesso - A reforma financeira A reforma fiscal e e tributria - A reforma agrcola (no agrria) - Concluso (O estranho fim do marechal Castelo Branco).

campeo) - A iluso da Transamaznica - Esse mar meu (mar das 200 milhas) - Estudantes enfrentam o regime - A juventude insatisfeita - Os estudantes e a cavalaria - Perguntas sem resposta Concluso.

1974-1979 - Abertura a conta-gotas (Governo Ernesto Geisel)267 Geisel, Golberi e Figueiredo - O caminho da Presidncia - A oposio participa das eleies - Quem era Ernesto Geisel - O Ministrio - A crise mundial do Petrleo (Oriente Mdio) - Os confrontos decisivos (Guerras entre rabes e judeus) - O embargo do Petrleo - Em busca de alternativas - Os contratos de risco - Surge o Prolcool - As eleies gerais de 1974 - As eleies municipais de 1976 - Cortando as asas da oposio - O pacote de abril - As eleies gerais de 1978 - A sucesso presidencial e o fim do AI-5.

1967-1969 - O fim da esperana (Costa e Silva, o AI-5 e a Junta Militar)247 A caminhada, de 64 a 69 - Passo a passo, fecha-se o cerco - Quem era Costa e Silva - 1968-Um divisor de guas Preparando-se (o governo) para a ao - Com vocs, o AI-5 - Costa e Silva adoece - Assume a Junta Militar - Como se faz um Presidente (Mdici escolhido) - Eplogo (A morte de Costa e Silva).

1979-1985 - A democracia "relativa" (Governo Joo Batista Figueiredo)276 Uma estranha vocao democrtica Quem era Figueiredo - A difcil graduao do processo (anistia geral) - Economia em declnio - Volta o pluripartidarismo - As eleies de 1982 - Terror sombra do poder - O atentado ao Riocentro (e a investigao oficial) - Uma investigao extra-oficial (coronel Grael) - O Presidente vacila - Isolando o vice-Presidente - O governo e o trabalhador (o DL 2065 e as greves do ABC) - Concluso

1966-1968 - Conversar preciso (A Frente Ampla, de cabo a rabo)255 Os primeiros contatos - Unindo os desiguais - Um caminho de pedras - As idias bsicas do movimento - As idas e vindas- Relatrio secreto ou histria policial? - O fim da Frente Ampla - Encontro com o destino - E os outros?

1969-1974 - Ningum segura este pas (Governo Mdici)260 A contradio dos anos setenta - O apogeu do Sistema (Como se faz um Presidente) - Quem era Mdici - O Ministrio - Os anos de progresso econmico - A realidade, por trs da fantasia (Crescimento e empobrecimento) - A taa do mundo nossa (Brasil tri-

1984 - O despertar da cidadania (A campanha das "Diretas-J")284 O veio dagua que se transforma em rio caudaloso - Vox populi, vox Dei (o povo toma as rdeas do movimento) - Vaino-vai (O governo despista) - Pacaembu o marco inicial - A morte de Teotnio Vilela - Em Curitiba, um novo alento - Em So Paulo, o comcio-

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monstro - O movimento no Rio de Janeiro - Minas Gerais acorda - Em So Paulo, um milho e meio nas ruas Uma proposta indecente (Diretas em 88) - 25 de abril, o dia da deciso Brasilia declara guerra ao Brasil (As medidas de emergncia) - Diga "sim", diga "no" - A vitria de Pirro (Os estragos no PDS, aps a vitria governista).

de Marighela - O macartismo volta em So Paulo - A morte de Vladimir Herzog - No souberam montar a cena - Eplogo (Democracia em questo). 309 BIBLIOGRAFIA (Editorial da Folha de S. Paulo publicado em 31 de maro de 2004) Um ciclo encerrado - O panorama internacional nos anos 60 - A conspirao - O caminho tortuoso e acidentado - O declnio econmico - O declnio militar O cenrio internacional no governo Collor - O Brasil que no mudou - O grande desafio. FIM DA QUARTA REPBLICA E FIM DA OBRA EM 03.05.2000

1985 - O fim da Repblica Militar (Tancredo derrota o sistema e se elege)292 O funeral das Diretas-J e a participao da oposio nas Indiretas - Oposio em dificuldades (como eleger o Presidente?) - A situao no PDS (excesso de candidatos) - A novia rebelde (A contribuio de Maluf para a redemocratizao do pas) - Uma virada de 180 graus (a Conveno do PDS) - A equao resolvida (oposio ganha reforos) - Surgem a Frente Liberal (FL) e a Aliana Democrtica (AD) - Um trabalho de engenharia poltica (como a Aliana, que no partido, se habilita para as eleies) - ndio quer apito (a presena do cacique-deputado Mrio Juruna) - Maranho quase desafina (a rebeldia da Assemblia Legislativa) Eleies: uma festa como antigamente - Como o governo recebe os resultados - Seria Figueiredo um democrata? - As origens de um golpe - Conspirao sombra do poder - Enfrentando a crise (Tancredo e seu Estado Maior) - Concluso (Figueiredo perdeu o bonde da Histria).

BRASIL 100 ANOS DE REPBLICA EXPLICAES NECESSRIAS Precisando de um texto de Histria do Brasil para incluir em minha pgina na Internet, servi-me de uma obra escolar publicada por Rocha Pombo em 1919, poucos anos antes de sua morte, e nunca reeditada. Nada a opor. O autor hoje de domnio pblico e pode ser transcrito sem qualquer impedimento legal ou tico. Mas Rocha Pombo se limita ao BrasilColnia e ao Brasil-Imprio, faltando, pois, a seqncia histrica atravs do fascinante perodo republicano. Aqui que surge o problema, pois, embora exista um farto material a respeito, todo ele est protegido por direitos autorais. S havia, pois, um caminho possvel, qual seja, realizar a pesquisa e preparar um texto prprio. Ao faz-lo, fugi tanto quanto possvel dos textos oficiais (a Histria contada pelos vencedores), procurando, de preferncia, os depoimentos, memrias e biografias autorizadas dos prprios personagens. Se isto trouxe, creio eu, maior brilho ao texto, por outro lado, tornou-o polmico. Como diz a sabedoria popular, quem conta um conto, aumenta um ponto. Quem quer que narre sua prpria aventura, dar a ela uma verso pessoal, sem a presumvel iseno do historiador, distorcendo algumas passagens,

13.12.68 a 01.01.79 - Os anos de chumbo (A vigncia do Ato Institucional n5)299 A Operao Bandeirante (OBAN) e o nascimento do DOI-CODI - A legitimao da represso - A legitimao dos movimentos armados - A escalada da violncia - O macartismo (Que diabo isso?) - O macartismo no rdio - Misso quase impossvel (A "Operao Murundu") - Vida e morte de Lamarca - Relembrando "Os Sertes" - Vida e morte

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por vezes inconscientemente, e por outras premeditadamente. A Histria documental; a anti-histria testemunhal. Aquela, busca a verdade na frieza dos documentos disponveis; esta se serve da tradio da palavra. Nesse sentido, a presente obra pode ser classificada como anti-histria. No uma apostila para vestibulares, antes uma narrativa para quem pretenda conhecer a Repblica fora dos cnones oficiais; brilhante sim, mas por vezes imprecisa ou controversa. Na elaborao do texto, todavia, valeramme tambm consultas que fiz obra do poltico e historiador pernambucano Jos Maria Belo, bem como ao irreprimvel trabalho do jornalista e historiador Hlio Silva, ambos tambm testemunhas oculares da Histria e fontes indispensveis em qualquer pesquisa sobre o perodo republicano. Conquanto o texto procure ser coerente, mantendo a unidade do conjunto, cada captulo independente dos demais, podendo ser consultado separadamente, sem prejuzo para o entendimento da matria. assim que funciona a Internet e assim a obra foi projetada. So Paulo, novembro/2000 Paulo Victorino www.pitoresco.com/historia Primeira Repblica (1889-1930) Captulo Um ASSIM NASCIA A REPBLICA A histria da independncia das colnias americanas comea bem distante da Amrica, do outro lado do Atlntico, no corao da velha Europa. Pouco mais de dez anos haviam se passado desde o incio da Revoluo Francesa, e uma sucesso atropelada de acontecimentos levou a Frana de volta monarquia com Napoleo Bonaparte, cuja ambio no tinha limites que no pudessem ser ultrapassados. Pois foi invaso das tropas napolenicas Pennsula Ibrica, em 1807, que criou um rebolio nas colnias latino-americanas, gerando, primeiro, desorientao total; depois, uma reao natural de fidelidade coroa espanhola, com a formao de governos

provisrios e, por fim, o despertamento da conscincia de que, subjugada a Espanha por Napoleo, surgia uma oportunidade nica para que os vice-reinos assumissem seus destinos, declarando a prpria independncia. De como o processo se efetivou, das lutas fraticidas e da diviso dos vice-reinos em uma poro de pequenas repblicas, isso assunto para uma Histria das Amricas, que no cabe neste trabalho. Basta registrar que a inexistncia de um rei a quem servir e a repulsa ao imprio invasor criaram condies para que praticamente toda a Amrica Latina se tornasse republicana, seguindo o exemplo dos Estados Unidos, que j tinham feito sua opo em 1776. No foi o caso do Brasil, que as circunstncias encaminharam para um processo histrico totalmente diferente. Com Portugal invadido, a famlia real e a nobreza se instalaram em sua antiga colnia, que passou a ser a sede de reinado, oficializada com a criao do Reino Unido Portugal-BrasilAlgarves. Esse elemento distinto alterou a nossa histria, pois evitou fracionamento do pas em vrios pequenos territrios e, a par disso, garantiu a permanncia do regime monrquico aps a Independncia, contrariando a opo do restante das trs Amricas. Garantiu, ainda, uma relativa estabilidade, que permitiu a D. Pedro 2, primeiro monarca nascido no Brasil, ficar no poder por meio sculo, sem maior contestao, seja ao regime, seja pessoa do Imperador. Todavia, o fim da Guerra do Paraguai levou o pas a fazer uma reavaliao de seus prprios destinos. A guerra, ainda que inevitvel, trouxe um custo elevado em vidas humanas, um preo pago com o sangue dos prprios soldados brasileiros, recrutados, sabe Deus em que circunstncias, e utilizados como peas de guerra, sem maiores preocupaes com a preservao das vidas. E, enquanto l fora os soldados da ptria morriam na defesa das liberdades, aqui dentro permanecia a escravido a servio de uma oligarquia alheia aos problemas do povo, controlando o poder de forma absoluta pelo voto seletivo, restrito aos cidados de boa renda. Outro fator a interferir na vida nacional era a inconveniente unio entre a Igreja e o Estado. De um lado, o clero recebia seus proventos dos cofres pblicos; de outro, o Imperador tinha a prerrogativa de nomear bispos e interferir em assuntos administrativos da

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Igreja, a contragosto dos religiosos. Por fim, outra realidade passa a ser questionada, e esta na esfera militar. Cessada a guerra e no tendo mais com que se preocupar quanto segurana nacional, os militares foram remanejados para servios menores, fora de suas atribuies, como a caa de escravos foragidos. Contando com uma forte representao no Congresso, acharam eles que j era momento de ter uma participao poltica mais ativa, o que originou a criao do Clube Militar e a disposio manifesta de tornar pblicas as suas opinies, embora isto fosse vedado taxativamente pelo regulamento. Assim, dentro da rediscusso dos problemas brasileiros provocada pelo reavivamento nacional, surgiram questes importantes, que puseram por terra toda a estrutura, aparentemente slida, de nosso Imprio. Abolio da Escravatura Durante seu longo reinado, D. Pedro 2, em harmonia com os gabinetes do parlamento, vinha tratando acabar, gradualmente, com o trabalho escravo, eliminando primeiro os navios negreiros, depois tornando livres as crianas nascidas de me escrava, por fim dando alforria aos escravos maiores de sessenta anos. Havia ainda a abolio feita em separado por algumas regies e cidades brasileiras. Em maro de 1884, foi extinta a escravido no Cear e, em julho do mesmo ano, o Amazonas lhe segue o exemplo. No Rio de Janeiro, em So Paulo e em outros Estados, a campanha abolicionista vinha ganhando fora cada vez maior, e a voz de Castro Alves, nos anos sessenta, repercute agora com nomes como o de Jos do Patrocnio, que no usa s o seu dom da palavra e do convencimento, como ainda presta ajuda na fuga de escravos e na proteo dos fugitivos. A assinatura da Lei urea, pela princesa Isabel, representa uma arriscada manobra poltica, mas a nica possvel, na tentativa de salvar o trono. Todavia, se de um lado o ato aproxima o trono a uma larga parcela da opinio pblica, de outro, enfurece as classes rurais dominantes, que dependem da mode-obra escrava para sustentao da lavoura. Agora, so as oligarquias que se rebelam e vo engrossar as fileiras dos republicanos, com seu apoio pessoal e financeiro, deslocando ainda mais o centro de equilbrio do poder.

A Questo Religiosa Sabe-se bem da grande influncia poltica da maonaria na vida brasileira, atuando primeiro no processo de Independncia, depois, nas revolues que eclodiram durante a fase inicial do Imprio e, finalmente, registrando participao ativa no Congresso e em outros setores da vida pblica. Como natural, sua ao estende-se tambm sobre a vida religiosa, alterando o tradicional dia-adia dos conventos. Os padres defendem idias francamente liberais e muitos deles acabam se identificando com os maons, aderindo a eles, primeiro discretamente, depois, de forma escancarada, e contando, seno com o consentimento, pelo menos com a tolerncia de seus superiores. A paz termina quando, numa homenagem prestada pelas lojas manicas do Rio de Janeiro ao seu gro-mestre, Visconde do Rio Branco, se registra um incidente de maior monta. O padre Almeida Martins, que tambm maom, se apresenta na cerimnia em seus trajes de sacerdote e faz um discurso de saudao, representando a loja do Grande Oriente do Lavradio, recebendo, por isso, uma punio do bispo diocesano, D. Pedro Maria de Lacerda. Reincidente em sua atuao, ento suspenso das ordens sacras. Comea aqui uma guerra surda em que os maons passam a hostilizar a Igreja, enquanto esta, por seus bispos, age duro contra os religiosos renitentes na prtica da maonaria. Ocorre, ento, um incidente mais grave. O bispo de Olinda, D. Vital Maria Gonalves de Oliveira, jovem de vinte e poucos anos, resolveu aplicar, na rea sob sua jurisdio, as recomendaes da Encclica de 1864, do papa Pio 9, proibindo o clero de participar de cerimnias patrocinadas por maons. O bispo chama particularmente cada um dos sacerdotes envolvidos e ordena-lhes que se dediquem to somente vida religiosa, afastando-se de atividades estranhas aos conventos. Encontrando oposio, D. Vital acabou por suspender as irmandades recalcitrantes, impedindo-as de receber novos membros, de participar de ofcios religiosos e at de vestir os seus hbitos. Algumas dessas irmandades recorrem ao Governo e D. Vital, por sua parte, recorre ao Papa que lhe d poderes para agir com rigor contra os rebelados. Est formado o embrulho, provocado pela espria unio entre o Estado e a Igreja. O acordo entre o Governo e o Vaticano deter-

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minava que todas as bulas papais, para serem cumpridas no pas, deveriam primeiro receber o "execute-se" do Governo brasileiro o que no acontecera com a Encclica cujas recomendaes o bispo insistia em aplicar. A crise agrava-se mais ainda quando o bispo do Par, D. Antnio Macedo Costa, faz um protesto formal contra a maonaria e se solidariza com D. Vital. Foi a conta. O Governo apresenta ao criminal contra os dois religiosos, perante o Supremo Tribunal de Justia, por desrespeito aos poderes do Imprio. Presos, os dois bispos so levados ao Rio de Janeiro, julgados e condenados a dois anos de priso com trabalhos forados, sendo instaurados processos tambm contra outros padres que lhes deram apoio. Isto ocorreu em 1 de julho de 1873 e s ao final da pena que os dois bispos foram anistiados, por decreto do Gabinete presidido pelo Duque de Caxias. Mas o desastre j acontecera e seus efeitos so irremediveis. A Questo Militar Dentre todos os problemas que o Governo vinha enfrentando, por certo, o mais grave de todos e o mais decisivo para o fim do Imprio foi a questo militar. Sob acusao de terem feito manifestaes polticas, foram punidos os coronis Sena Madureira e Cunha Matos, provocando descontentamentos no Exrcito e resultando num violento discurso do Visconde de Pelotas, que era um militar exercendo, naquele momento, um mandato de senador, o qual tomou a defesa dos militares punidos. O ministro que aplicou as punies, general Franco de S, que tambm era senador, reassumiu sua cadeira no Senado e replicou s acusaes no mesmo tom, reafirmando sua posio de manter os militares afastados de manifestaes polticas. Um dos coronis punidos, Sena Madureira, se achava em Porto Alegre, sob o comando do marechal Deodoro da Fonseca. Sentindo-se ofendido com o discurso do exministro, Sena foi aos jornais e publicou uma nota violenta contra o General Franco de S, com o que envolvia indiretamente o seu comandante, marechal Deodoro, que foi interpelado a respeito. Agravava-se a crise. Deodoro enviou um ofcio, por via martima, manifestando sua opinio de que "no h questo disciplinar, porque o regulamento veda discusso entre o subordinado e seu superior. O senador Franco de S atuava como parlamentar e

no como militar, no sendo, naquele momento, um superior se dirigindo ao coronel, mas sim um senador a emitir sua opinio". Esse oficio cruzou com outro que veio do Rio de Janeiro, tambm por via martima, aplicando punio a Sena Madureira por "referncias inconvenientes a um membro do Parlamento e por ter criticado atos de um exMinistro da Guerra". Deodoro recusou-se a aplicar a punio. Sena Madureira, longe de se acomodar, voltou imprensa com nova manifestao. No Rio, o ex-ministro e senador exigiu explicaes do Chefe do Conselho, Baro de Cotegipe. E, de Porto Alegre, Deodoro comunicava ao governo que havia autorizado outros oficiais a fazerem manifestaes de solidariedade ao colega punido. No Rio de Janeiro, o jornal "O Pas", de Quintino Bocaiva, publicava um manifesto de solidariedade a Deodoro, assinado por 150 oficiais e cadetes. E Benjamim Constant, que tambm era militar, conseguiu um manifesto, assinado por Deodoro e pelos oficiais sob seu comando, na defesa dos direitos da classe. Na tentativa de debelar a crise, o governo manda vir ao Rio de Janeiro o marechal Deodoro e o coronel Sena Madureira, mas o tiro sai pela culatra, pois, ao chegarem capital federal, em 26 de janeiro de 1887, os dois foram recebidos com entusisticas manifestaes de oficiais e cadetes. Provocaes de um lado e de outro, queda de Ministro, apelos a D. Pedro para que interferisse na questo, tudo foi experimentado, sem efeito, at surgir a figura conciliadora de Rui Barbosa, que, reunido com os militares na casa de Deodoro, redigiu um manifesto pacificador, assinado primeiro por Deodoro e pelo Visconde de Pelotas, em seguida pelos demais. Depois, em 18 de maio de 1887, o visconde de Pelotas fez um discurso no Senado, na presena do Baro de Cotegipe, pedindo a todos os envolvidos que, em nome da nao, a questo fosse encarada e resolvida de modo honroso e digno. Mas o mal j estava feito e no havia mais como restabelecer a confiana recproca entre governo e militares. Aquele representava a ordem, estes detinham a fora. O desfecho havia de ocorrer, apenas no se sabia quando. Proclamao da Repblica O movimento de sedio que levou ao golpe de Estado, derrubando o Imprio e proclamando a Repblica, no foi um acidente. Estava bem planejado e tinha at uma

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data para acontecer: 17 de novembro de 1889. A operao foi bem planejada e envolvia mesmo tticas de guerra, como a da contra-informao, isto , a divulgao de boatos para criar um clima propcio ao. Falhou apenas na cronologia, pois Quintino Bocaiva e o major Solon Ribeiro provocaram sua antecipao. Deodoro adoeceu, e recolheu-se sua casa. Coube, ento ao major Solon espalhar a falsa notcia de que Deodoro estava preso, juntamente com Bocaiuva, e que, por ordem do ministro Visconde de Ouro Preto, vrios batalhes seriam removidos da capital para pontos distantes do pas. Esse alarme falso provocou a rebelio imediata de dois batalhes da Cavalaria, aquartelados em So Cristvo, aos quais se juntou, logo em seguida, todo o Regimento de Cavalaria e, pouco depois, vrias outras unidades militares. Isso aconteceu no dia 14 de novembro de 1889. Logo na manh do dia seguinte, foram buscar Deodoro em sua casa, o qual, apesar de doente, assumiu prontamente o comando das Foras Armadas. O ministro Ouro Preto avisou o Imperador sobre o movimento e, em seguida, tentou juntar foras para a resistncia, reunindo, no ptio do Quartel General, no Campo de Santana, todo o destacamento policial ao seu alcance, e mais a Brigada de Infantaria, sob o comando do general Almeida Barreto, ficando a cargo de Floriano Peixoto (at ento aparentemente legalista) comandar ambas as foras para o contraataque. Faltou disposio, tanto aos comandados, quanto ao comandante, para que esse contra-ataque se realizasse. As tropas rebeldes invadiram o edifcio do Ministrio da Guerra, entre vivas e aclamaes dos soldados que deveriam defend-lo. Ali mesmo, aps um dilogo "ligeiro e rspido", o Marechal Deodoro determinou a priso do Visconde de Ouro Preto, dirigindo-se depois ao Arsenal da Marinha, para confirmar o apoio da Armada, consumando, assim, o golpe. No houve participao popular. O povo olhava, indiferente, as tropas que circulavam pela rua do Ouvidor e outras ruas da cidade. Ainda na tarde do dia 15 de novembro de 1889, Jos do Patrocnio conseguiu reunir um pequeno agrupamento popular que, de to pequeno, coube dentro da Cmara Municipal. noite, o mesmo Patrocnio foi casa de Deodoro para levar um manifesto com as

poucas assinaturas que conseguiu obter. E s o que registra a histria, quanto ao envolvimento popular no ato de Proclamao da Repblica. O Presidente do ltimo gabinete parlamentar, Visconde de Ouro Preto, foi deportado para a Europa. O major Slon Ribeiro, j referido acima, entregou ao Imperador uma mensagem do Governo Provisrio, que o obrigava a deixar o Brasil, o que aconteceu na madrugada do dia 17. Toda a famlia imperial foi transportada para a corveta "Parnaba", de onde ocorreu o transbordo para o vapor Alagoas. Segue, para o exlio, o Imperador, e com ele, meio sculo de histria do Brasil imperial. Estava proclamada a Repblica e voltavam as esperanas de se construir uma nova nao, dentro dos ideais de liberdade, igualdade e fraternidade. * * * Captulo Dois PRIMEIROS TEMPOS DA REPBLICA Deodoro e Floriano 1889-1894 No mesmo dia 15 de novembro de 1889, aps a Proclamao da Repblica, editado o Decreto n1 do Governo Provisrio, traando as diretrizes bsicas do regime que se iniciava. Fica instituda a Repblica dos Estados Unidos do Brasil, adotando como forma de governo a Repblica Federativa, isto , o poder passa a ser compartilhado com as vinte unidades provinciais, ao contrrio da Monarquia, onde o sistema era unitrio e centralizado. O Rio de Janeiro, que era designado "Municpio Neutro da Corte" passa a ser "Distrito Federal". As provncias, agora, chamam-se "Estados". Deodoro o chefe do Governo Provisrio, enquanto se estabelece a nova ordem para a convocao de eleies constituintes. J pela manh do dia 15, logo aps o golpe, o tenente Vinhais apodera-se do telgrafo, enviando mensagem a todos os Presidentes de Provncia, na qual anuncia a implantao do novo regime e a deposio do ministrio monrquico, "pelas foras de terra e mar". Ao contrrio do que ocorrera por ocasio da Independncia, desta vez no h qualquer reao mudana, registrando-se at uma certa apatia, como se estivesse administrando um fato esperado h algum tempo, e agora apenas consumado. Somente a Bahia

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esboa um sinal de reao, para voltar logo normalidade, ao saber que o Imperador cedera imposio das circunstncias, e que a tomada do poder deu-se sem derramamento de sangue. Diante da transio pacfica de regime, cuida-se de tomar as providncias para sua consolidao. Deodoro organiza seu primeiro Ministrio, formado com os civis e militares mais envolvidos com o processo de mudana: Justia, Campos Sales; Guerra, Benjamin Constant; Marinha, contraalmirante Eduardo Wandenkolk; Relaes Exteriores, Quintino Bocaiva; Interior, Aristides da Silveira Lobo; Fazenda, Rui Barbosa; Agricultura, Comrcio e Obras Pblicas, Demtrio Ribeiro. Este ltimo foi nomeado por indicao dos positivistas e Deodoro sequer o conhecia [o positivismo sistema filosfico materialista, que se apoia exclusivamente nos fatos e experincias prticas, repelindo por inteiro os princpios de f. partidrio de um governo forte e centralizado]. No dia 17, aps a partida de D. Pedro 2, os positivistas, por sugesto de Benjamim Constant, vo ao Palcio, em passeata, para prestar solidariedade ao novo governo, levando frente uma faixa com os dizeres "Ordem e Progresso", frase criada por essa corrente filosfica e incorporada em seguida nova Bandeira Nacional, criada por decreto de 19 de novembro. Com dois representantes no pequeno Ministrio, esperavam eles direcionar o governo e a constituio na trilha de suas idias. Se no o conseguiram de todo, pelo menos deixaram presena marcada por toda a Repblica Velha e na outra subseqente, perdendo, porm, gradativamente, o fascnio que despertavam no final do imprio. Dentre as primeiras medidas do Governo Provisrio, destacam-se a separao entre a Igreja e o Estado, a secularizao dos cemitrios, e a instituio do registro civil de nascimentos, casamentos e bitos, o que, at ento, era validado pela Igreja. Ficou acertado tambm, que, no primeiro aniversrio da Repblica, se instalaria a Assemblia Constituinte, segundo convocao a ser feita oportunamente. Assemblia Constituinte As providncias para a instalao da Constituinte j iam adiantadas. Em 3 de dezembro de 1889, dezoito dias aps a Independncia, o governo nomeava uma comis-

so, presidida por Saldanha Marinho e composta de cinco juristas, com a misso de elaborar um anteprojeto a ser encaminhado aos constituintes, em seu tempo oportuno, para anlise e aprovao. Essa comisso apresentou, no um, mas trs anteprojetos, redigidos respectivamente por Amrico Brasiliense, Rangel Pestana e Magalhes Castro. Esses trs trabalhos so, agora, entregues a um outro jurista, Rui Barbosa, que, com sua proverbial habilidade, reuniu as idias em um nico texto, unificando conceitos, aprimorando a forma e, alm do que lhe fora pedido, alterando at o contedo dos textos iniciais, ao acrescentar, na consolidao, vrios dispositivos que no estavam nos anteprojetos originais. Se, em teoria, tudo estava correndo dentro do concertado com os republicanos, na prtica, a coisa era diferente. Como dissemos, no Ministrio, havia dois positivistas, Benjamin Constant e Demtrio Ribeiro, ambos defensores de um governo forte e centralizado e, sobretudo este ltimo, tudo fazia para que fosse protelada a convocao da Assemblia. Dentro do Exrcito, tambm, surgia uma corrente, sustentada por destacados militares, que defendia a manuteno de todo o poder com o Governo Provisrio. O prprio marechal Deodoro relutava em fazer a convocao, irritando os republicanos mais exaltados, os quais se manifestavam pela imprensa, reclamando o prosseguimento da democratizao do e lembrando que a indefinio do governo j vinha causando desconfianas em pases amigos, que retardavam em reconhecer o novo regime, trazendo dificuldades para o comrcio exterior. Prevaleceu o bom senso e, em 22 de junho de 1890, finalmente, realizou-se a convocao da Constituinte para a data j estabelecida, com eleies a se realizarem dois meses antes. Com efeito, as eleies se realizaram em 15 de setembro de 1890, porm, em ambiente tumultuado e com srias acusaes quanto lisura do pleito, j que nomes totalmente desconhecidos conseguiram um nmero expressivo de votos, incompatvel com sua pouca ou nenhuma projeo junto ao eleitorado. Mas, pelo menos, houve eleies, e grandes inteligncias nacionais conseguiram se sobressair, impondo sua fora de liderana e neutralizando a vulgaridade dos demais. Com exceo de Benjamim Constant, que no se candidatou, os demais ministros (Campos Sales, almirante

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Wandenkolk, Quintino Bocaiva, Silveira Lobo, Rui Barbosa e Demtrio Ribeiro) foram todos eleitos. O anteprojeto, com a nova redao proposta por Rui Barbosa, foi ento encaminhado Assemblia Constituinte que, como previsto, se instalou no dia 15 de novembro de 1890. Nova Constituio Em um ano e dois meses, o projeto final estava pronto, discutido, emendado e votado. A Constituio, em sua redao final, foi promulgada pelo Congresso em 24 de fevereiro de 1891, entrando imediatamente em vigor. No dia seguinte, seria eleito o presidente da Repblica, nesta primeira vez, excepcionalmente, por via indireta, com o voto dos parlamentares. Somente a partir do segundo Presidente que as eleies passariam a ser por voto direto. A nossa Carta Magna, embora incorporando as vrias medidas j tomadas pelo Governo Provisrio, era inspirada na Constituio norte-americana, estabelecendo no pas um regime republicano, com governo presidencialista e sistema federativo. (O contrrio disto seria regime monrquico, com governo parlamentarista e sistema unitrio). Na prtica, os governos que se seguiram adotaram apenas um presidencialismo forte e centralizado, dificultando ao mximo a aplicao do princpio federativo, j que os Estados sempre foram dependentes, poltica e financeiramente, do governo central. O fiel da balana pendeu, agora, para as oligarquias rurais, principalmente de So Paulo e Minas Gerais, gerando a poltica que ficou sendo conhecida como de caf com leite, com o poder se alternando entre esses dois Estados at o fim da Repblica Velha, em 1930. Porm, em relao Constituio de 1824, a nova Carta representou considervel avano. As eleies para a Cmara, Senado e Presidncia da Repblica passaram a ser diretas e universais. Na Carta anterior somente os deputados eram eleitos e, assim mesmo, por voto censitrio, isto , segundo a renda de cada um. Os senadores deixaram de ser vitalcios. O voto era livre (no obrigatrio) e universal (cada eleitor, um voto, sem contar a renda de cada um) mas somente para homens, maiores de 21 anos, e com uma srie de outras restries, pois estavam proibidos de votar, alm das mulheres, tambm os analfabetos, os militares e os religiosos. Com todas essas limitaes, e no sendo obrigatrio o voto, o nmero de eleitores

era muito pequeno, representando muito pouco o universo populacional, em torno de 40 milhes de almas. As mulheres ganharam direito a voto na Constituio de 1934, os militares e os religiosos, na de 1945 (com idade reduzida para 18 anos) e os analfabetos, na de 1988 (com idade reduzida para 16 anos). Nos cem anos de Repblica ampliouse, pois, passo a passo, o contingente eleitoral, tornando-o mais expressivo com relao ao conjunto da populao. Todavia, o que jamais se conseguiu eliminar, foram a fraude, sempre presente nas eleies brasileiras, a influncia do poder econmico nas mais variadas formas e o uso da mquina em favor dos candidados do governo. Eleio do primeiro Presidente Enquanto se discutia a nova Constituio, eram feitas articulaes para a eleio presidencial. Como se recorda, Deodoro era chefe do Governo Provisrio e urgia eleger o presidente da Repblica para um mandato regular, previsto para quatro anos. Na oposio, lanaram-se as candidaturas de Prudente de Morais e do marechal Floriano Peixoto, respectivamente para presidente e vice; pelo governo, aparecia o nome do prprio marechal Deodoro para presidente, tendo como companheiro de chapa o almirante Eduardo Wandenkolk. Deodoro permaneceu candidato sem se afastar do governo, o que o mantinha como chefe das Foras Armadas e, literalmente, com maior poder de fogo. O ambiente era pesado e a discusso transcorreu por todo o perodo constituinte, em clima tenso e no meio da boataria. Ningum em s conscincia acreditava que, perdendo as eleies, Deodoro consentisse entregar o poder aos seus opositores. E o rumo tomado pelos acontecimentos mostrava a realidade da situao, como conta o historiador Hlio Silva: "Corria entre os Congressistas rumores de que as tropas sairiam dos quartis, no caso de o marechal Deodoro no ser eleito. Alarmados com o que se dizia, Floriano, Campos Sales, Jos Simeo e outros, resolveram se reunir na casa deste ltimo para planejar as providncias que deveriam tomar no caso de vitria de Prudente [oposio]. Proclamado o presidente da Repblica, o Congresso deveria dar-lhe posse imediatamente, no prprio edifcio onde funcionava. O Ministrio, tambm, j deveria estar organizado. Passariam a aguardar os acontecimen-

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tos em sesso permanente, enquanto se trataria de angariar reforos. O almirante Custdio de Melo [tambm da oposio] j tinha armado um esquema para reagir. Eleito Prudente, o militar iria a toda pressa para o cais novo, embarcaria num escaler sua disposio a caminho do cruzador Primeiro de Maro. Seu plano era levantar as foras de mar". Percebe-se o ambiente em que transcorreram as eleies. Acordos de bastidores, porm, garantiriam a eleio do marechal Deodoro para Presidente, enquanto que os governistas se propuseram em eleger para vice o candidato da oposio, marechal Floriano Peixoto. Foram, em conseqncia, sacrificadas as candidaturas de Prudente (oposio) e Wandenkolk (governo), numa dobradinha que procurava misturar leo e gua, na esperana de obter uma substncia homognea. "Votaram 234 representantes. Prudente passa a presidncia [do Congresso] a Antnio Euzbio Gonalves de Almeida para fazer a apurao. O marechal Manuel Deodoro da Fonseca eleito por 129 votos, contra 97 dados a Prudente de Morais. Depois, feita a eleio para vice-Presidente. O marechal Floriano Peixoto, candidato da oposio, eleito por 153 votos, contra 57 dados ao almirante Eduardo Wandenkolk." Com o "jeitinho brasileiro", estava vencida a primeira crise. Outras mais estavam por vir. Quem era Deodoro Manuel Deodoro da Fonseca, agora Presidente da Repblica dos Estados Unidos do Brasil, nasceu em Alagoas em 1827, participou da represso a revoltas contra o Imprio e esteve presente nas guerras do Prata e do Paraguai, chegando ao posto de marechal em 1884, aps o que foi nomeado comandante-de-armas no Rio Grande do Sul, onde se envolveu nos acontecimentos, que, sua revelia, colocaram-no na liderana do movimento que ps fim ao Imprio. H muitas semelhanas entre o comportamento de Deodoro, nosso primeiro Presidente, e D. Pedro 1, nosso primeiro Imperador. Os dois eram liberais, mas apolticos, tinham uma formao voltada para o militarismo, eram temperamentais e impulsivos, defendiam suas idias at o uso extremo da fora, mas um e outro revelavam ingenuidade total no que se refere ao jogo poltico. D. Pedro prosperou enquanto tinha ao seu lado o hbil Jos Bonifcio, que lhe moldava as idias e sugeria os caminhos a percorrer,

mas deu-se mal quando os Andradas passaram para a oposio. J o velho marechal (Deodoro assumira o governo com 62 anos) no tinha quem exercesse uma influncia maior dentro do governo e lhe dirigisse as aes no trnsito pela complicada teia da vida pblica, em que preciso administrar, ao mesmo tempo, vrias correntes antagnicas. Foi assim que, logo no incio do Governo Provisrio, comprou o plano mirabolante de seu Ministro da Fazenda, Rui Barbosa, que consistiu na emisso desenfreada de moeda sem lastro, originando a especulao, gerando inflao e piorando a situao financeira do pas, que j se tornara ruim no final do Imprio. Como agravante, consentiu com a exigncia de Rui para que o plano fosse posto em prtica sem discusso prvia com o restante do Ministrio, com o que assumiu individualmente as conseqncias pelo seu fracasso. Como quebra, criando um clima de animosidade entre Rui e seus auxiliares diretos, acrescentou ao governo mais dificuldades do que podia administrar. No mais, sua inexperincia poltica era proverbial. Ao receber, mais tarde, o anteprojeto da Constituio, consolidado pelo prprio Rui, reclamou da inexistncia, nele, de um Poder Moderador, dando ao Executivo a prerrogativa de dissolver o Congresso e convocar novas eleies. Achava que era impossvel governar, se no tivesse controle pessoal sobre o parlamento. Por fim, eleito Presidente, transferiu para o baro de Lucena a incumbncia de organizar um novo Ministrio, como se ainda estivssemos no regime parlamentarista. Tal como aconteceu com D. Pedro, essa inexperincia, aliada impulsividade, colocou-o, por fim, em confronto aberto com seus opositores, at criar uma situao irreversvel, fechando todos os caminhos para o dilogo e ficando sem alternativas para enfrentar uma crise por ele mesmo criada. Deodoro era casado com dona Mariana Ceclia de Sousa Meireles e no tinha filhos. O fechamento do Congresso e a renncia O acordo emergencial, feito por ocasio das eleies presidenciais, desgostou profundamente a oposio e estabeleceu as razes da instabilidade poltica, pois, junto com Deodoro, tambm foi eleito o marechal Floriano Peixoto que, alm de oposicionista, era inimigo pessoal do Presidente. Inicia-se

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logo uma conspirao para a derrubada do governo, com a participao pouco velada do prprio vice-Presidente, enquanto, no Congresso, uma oposio persistente praticamente obstrua a ao presidencial. Por outro lado, decretos governamentais polmicos causavam pssima repercusso junto ao Congresso e opinio pblica. Um deles, foi a concesso do porto de Torres a empresa privada, com emprstimos em condies especiais e outras facilidades. Mais concesses se fizeram da mesma maneira, uma delas envolvendo a Companhia Geral de Estradas de Ferro. A reforma do Banco do Brasil deu margem a favorecimentos que acabariam envolvendo nomes importantes da vida nacional, entre empresrios e polticos influentes. No havia, entretanto, m f do Presidente, que acreditava piamente estar colaborando para acelerar o desenvolvimento nacional. No meio de tantos "amigos", Deodoro nem precisava de inimigos, se bem que os tinha, e muitos, principalmente dentro do Congresso Nacional, onde a situao se tornou insustentvel. Impossibilitado de governar, tomou uma medida de extrema gravidade, cujas conseqncias nem de longe podia imaginar: por decretos presidenciais, fechou o Congresso Nacional, estabeleceu estado de stio e mandou que foras militares cercassem os edifcios da Cmara e do Senado. Embora a maioria dos parlamentares aceitasse a situao de fato, retirando-se para seus Estados de origem, um grupo de deputados, de pequeno nmero mas de grande fora, intensificou o movimento conspiratrio e conseguiu levantar a Marinha, sob o comando do almirante Custdio Jos de Melo, colocando em cheque o governo. Este inicialmente pensou em resistir, mas depois desistiu, temendo que o choque de tropas militares viesse levar o pas a uma guerra civil de conseqncias imprevisveis, porm, certamente, desastrosas.. Doente, cansado e desiludido, Deodoro manda chamar Floriano, a quem entrega o governo, assinando o ato de renncia, em 23 de novembro de 1891, com uma frase que deixou para a Histria: "Assino o decreto de alforria do ltimo escravo do Brasil.." Morre nove meses depois e, conforme seu desejo expresso, enterrado em trajes civis, dispensadas as honras militares. Os que o conheceram, sempre elogiaram sua integridade. O grande mal de Deodoro foi que, duran-

te toda vida, preparou-se para a guerra, mas estava despreparado para a paz. Sua formao era de caserna e o ambiente poltico exige um jogo contnuo de simulaes, de avanos e recuos, que no condiziam nem com o temperamento, nem com a personalidade do marechal, dotado de uma espinha dorsal inflexvel. Quem era Floriano Floriano Vieira Peixoto, que assume a presidncia da Repblica aps a renncia de Deodoro, nasceu em Vila de Ipioca, Alagoas, em 1839. Filho de uma famlia pobre e numerosa (tinha outros nove irmos), seus pais o entregaram aos cuidados de um tio, senhor de engenho no litoral alagoano. Patrocinado pelo tio, estuda no Rio de Janeiro e, terminado o colgio, assenta praa num quartel de Infantaria para, em seguida, matricular-se no Colgio Militar. Teve participao ativa na Guerra do Paraguai, atuando nas batalhas de Tuiuti, Itoror, Lomas Valentinas e outras. Paralelamente vida militar, sempre manifestou especial interesse pela poltica, sendo filiado ao Partido Liberal, que fazia oposio ao governo imperial. Em seu Estado natal, tornou-se proprietrio de dois engenhos, o que lhe deu contato com a vida rural, a pobreza e a injustia social, rotinas bem conhecidas do povo nordestino. Mesmo sendo senhor de engenho, tinha uma posio francamente abolicionista. Em 1884, foi nomeado presidente da Provncia de Mato Grosso, onde ficou por um ano. Chegou ao topo de sua carreira militar em 1888, ao ser promovido a marechal-de-campo. No ltimo gabinete do Imprio, foi nomeado ajudante geral do Exrcito. Nessa condio, em 15 de novembro de 1889, coube a ele comandar as tropas que, dentro do Campo de Santana, deviam preservar o Quartel General do Exrcito contra a investida dos soldados do marechal Deodoro, protegendo a autoridade do Chefe de Governo ali asilado. Recusou-se, porm, a ordenar o contra-ataque, permitindo que Deodoro invadisse o quartel, com a subsequente priso do ministro Visconde de Ouro Preto, chefe do Conselho de Ministros do Imprio. Essa traio jamais for perdoada pelos seus inimigos que lhe apontam, tambm, outras fraquezas de carter, como relaciona Iber de Matos: "a traio a Ouro Preto [mencionada acima]; a averso que lhe tinham Deodoro e Benjamin Constant, que no podiam ser gratuitas; a atitude dbia ou

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traioeira no episdio da eleio [ Presidncia]; o apego ambicioso a um poder que no lhe pertencia; a impiedosa represso, com requintes de maldade, culminando com as tentativas de assassinato, pelo desterro para regies inabitveis, de homens como Jos do Patrocnio, e os massacres no Paran e Santa Catarina; seu desprezo pela dignidade de homens como Gaspar da Silveira Martins, Custdio de Mello, Saldanha da Gama, Wandenkolk, Jos do Patrocnio, Olavo Bilac e tantos outros que foram vtimas de processos infamantes e perversos..." Outro autor, Jos Maria Bello, faz sua anlise da personalidade de Floriano: "No se distinguia Floriano por nenhum dom exterior de fascnio ou de domnio. Descuidado de si mesmo, mscara medocre, de traos inexpressivos e adoentados. Falta-lhe, por exemplo, o porte marcial, o lan, o olhar lampejante de Deodoro. No lhe vibra a voz arrastada de caboclo do Norte; no se lhe impacientam jamais os gestos e as atitudes. Pela perfeita impassibilidade, como por outras virtudes e defeitos, lembra Benito Juarez [presidente mexicano do Sculo 19], vindo da mesma origem amerndia. No tem brilho a sua inteligncia que , especialmente, a intuio divinatria dos homens. Escassa a sua cultura, quase reduzida aos vulgares conhecimentos tcnicos da profisso. No revela curiosidades intelectuais, dvidas, aflies de vida interior. Desdenha o dinheiro. Deixamno completamente indiferente as comodidades materiais da vida. Despreza a humanidade e, por isso mesmo, nivela facilmente todos os valores que o cercam. Confundindose de bom grado nas multides humildes das ruas, conserva-se, entretanto, impenetrvel a qualquer intimidade. A famlia, de pequeno estilo burgus, esgota-lhe, porventura, a capacidade afetiva. Como os de sua raa cabocla, um irredutvel desconfiado. No se expande nunca. Simples e acessvel embora, incapaz de intempestivas familiaridades, de grossas e alegres pilhrias, to fceis, sempre, em Deodoro. No fundo, um triste. A sua ironia, to frisante no vasto anedotrio que corre por sua conta, tem sempre alguma coisa do glido e do cruel dos temperamentos ressentidos e amargos." Este homem, cujo perfil o aproxima mais a uma mquina do que a um ser humano, chegava agora ao governo propondo consolidar a Repblica com sua mo de ferro.

Era casado com dona Josina Vieira Peixoto e tinha oito filhos: Ana, Jos, Floriano, Maria Teresa, Jos Floriano, Maria Amlia, Maria Josina e Maria Anunciada. A questo constitucional Comea bem o governo. Logo ao assumir, em 23 de novembro de 1891, Floriano procura restabelecer a ordem constitucional quebrada por Deodoro. Convoca, para o dia 18 de dezembro, o Congresso fechado por seu antecessor e acaba com o estado de stio, restabelecendo todas as garantias constitucionais Mas, por outro lado, intervm no sistema federalista, depondo, em nome da ordem, quase todos os governadores de Estado que apoiaram Deodoro quando este decretou a dissoluo do Congresso. Criou, porm, outra crise institucional. O artigo 42 da nova Constituio determinava que, "se no caso de vaga, por qualquer causa, da Presidncia ou vice-Presidncia no houverem ainda decorridos dois anos do perodo presidencial, proceder-se- a nova eleio". Floriano recusou-se a faz-lo, alegando que a Constituio se referia a eleio presidencial pelo voto direto, sendo que Deodoro e ele foram eleitos em condies excepcionais, por voto indireto do parlamento. Com efeito, por um cochilo de redao, as Disposies Transitrias estabeleciam que a primeira eleio seria indireta e que "O Presidente e o vice-Presidente eleitos na forma deste artigo [por via indireta] ocuparo a Presidncia e a vice-Presidncia da Repblica por quatro anos". Ora, Deodoro renunciou e Floriano no, permanecendo vlido seu mandato. Eis o ardil utilizado. Sendo "vice" por todo o perodo de quatro anos, cabia a ele, Floriano, substituir o Presidente enquanto durasse sua ausncia, ou seja, at o final do mandato. Verificaram-se intensos e polmicos debates, tanto na imprensa como no Congresso, ficando este com a responsabilidade de resolver a questo. Numa soluo essencialmente poltica, o Congresso se manifestou favoravelmente permanncia de Floriano na presidncia at o final do perodo. Essa soluo foi defendida como sada pacfica para a crise, dado que, num clima de efervescncia poltica, qualquer outra concluso poderia trazer conseqncias funestas para a incipiente democracia brasileira. Para cumprir a Constituio, durante todo o mandato, Floriano se considerava "vice-Presidente, em substituio ao Presidente ausente".

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Revolta da Armada (1892) No dia 6 de abril de 1892, lanado um manifesto, assinado por treze generais e almirantes, exigindo que Floriano convoque novas eleies, nos termos da Constituio. Entre os signatrios, est o contra-almirante, Eduardo Wandenkolk, que nas eleies indiretas, teve de engolir a derrota, em favor do acordo de bastidores que entregou a vicePresidncia ao marechal Floriano. Paralelamente, ocorrem manifestaes populares nas ruas do Rio de Janeiro, enquanto a imprensa incendeia os nimos, alimentando a polmica em torno de to controvertida matria. Floriano, ento, apela fora bruta, reprimindo com energia os protestos de rua, decretando estado de stio e colocando na indisponibilidade os oficiais insubordinados, atravs de aposentadoria compulsria que os retirou do comando, solucionando, momentaneamente a crise. No contente com a vitria, manda castigar severamente os envolvidos, deportando-os para as selvas inabitadas da Amaznia, e condenando-os a viver como bichos do mato, distantes da civilizao. No foram poupados jornalistas, homens de letras e at congressistas, que estavam protegidos com imunidades parlamentares. Entre estes se encontrava Jos do Patrocnio, o homem que se empenhou na libertao dos escravos e, depois, se entregou causa republicana. No ano seguinte, porm, o contraalmirante Custdio de Mello, ministro da Marinha, se desentende com o marechal e demite-se, sublevando grande parte da Armada, estacionada na baa da Guanabara, e recebendo reforos com o apoio do almirante Saldanha da Gama, em dezembro de 1893. Ambos tinham pretenses diferentes, j que Saldanha continuava monarquista mas, neste momento, a aliana convinha a um e outro. A seu lado, est tambm o almirante Wandenkolk que, por razes pessoais, desejava ver o marechal fora do poder. Felizmente para o marechal, a sublevao no atingiu o Exrcito, que permaneceu fiel ao governo, o qual contava ainda com o apoio da nova classe dominante na Repblica, a oligarquia formada pelos ruralistas. Como resposta imediata, Floriano ordenou artilharia um contra-ataque que atingiu pesadamente os rebelados. No encontrando maior receptividade no Rio de Janeiro e fracassando em sua tentativa de tomar a cidade, uma boa parte da Armada se retirou para o sul do pas com o fim de reforar a Revolu-

o Federalista iniciada no Rio Grande no ano anterior. Desembarcou na cidade de Desterro, Santa Catarina (hoje, Florianpolis, em homenagem a Floriano) e procurou contato com os revolucionrios gachos que, entretanto, no viram com bons olhos esse apoio inesperado e no solicitado. Enquanto isso, o Governo central consegue restabelecer sua frota, enviando-a tambm para o sul e sufocando a Revolta da Armada. Revoluo Federalista no Sul (1893) A par com a eleio para a criao da Assemblia Nacional Constituinte, elegia-se, tambm os representantes que iriam cuidar de redigir, votar e promulgar, em seu Estado, a Constituio Estadual. Assim se fez, tambm, no Rio Grande do Sul e, em 14 de julho de 1891, exatamente na data do centenrio da promulgao da Carta Magna da Frana, era proclamada a Constituio gacha, reproduzindo, quase na ntegra, o anteprojeto redigido por Jlio de Castilhos, com o auxlio de Assis Brasil e Ramiro Barcelos, com teor fortemente centralizador, concentrando grande parte dos poderes nas mos do governador do Estado. Com efeito, a partir desta data, o Governador passava a ser eleito por cinco anos, com direito a reeleio (mais tarde, Borges de Medeiros, usando deste dispositivo, ficou no poder por 28 anos). Alm disso, podia governar por decreto e tinha a prerrogativa de nomear, ele prprio, o vice-Governador. Havia um legislativo, mas sua ao se restringia elaborao e aprovao do oramento. Prevaleciam, pois, no Rio Grande, as idias dos positivistas, aliados de um governo forte, centralizado e ditatorial. Assim, eleito governador, Jlio de Castilhos, nos seus 31 anos de idade e amigo do ento Presidente Deodoro da Fonseca, passou a ser o mais jovem ditador no Brasil. Acontece que, semelhana de seus vizinhos uruguaios, o Rio Grande do Sul possua duas correntes polticas fortes e claramente definidas: de um lado os "blancos", republicanos, tambm conhecidos como "chimangos"; de outro, os "colorados", federalistas, tambm conhecidos como "maragatos". Jlio de Castilhos era um republicano e, com a Constituio que ele mesmo preparou, garantiu-se perpetuamente no poder, afastando a chance de seus opositores. Estava espalhada a semente da discrdia que levaria o Rio Grande do Sul a dois

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anos e meio de uma guerra sangrenta e fratricida. A revolta explode em 1893 e os combates se espalham por todo o Estado. Enquanto isso, no Rio de Janeiro, sai Deodoro, entra Floriano. Este, pela lgica deveria aliar-se aos federalistas, contudo achou-os perigosos ao novo regime, por defenderem, ainda, ideais monarquistas. Assim, o novo Presidente optou por apoiar os republicanos, liderados pelo governador Jlio de Castilhos, apesar de este ser amigo de Deodoro e haver, tempos atrs, assumido posio contra a permanncia de Floriano no poder. Poltica tem dessas coisas... No incio de 1894, os federalistas avanam sobre Santa Catarina, seguem at a cidade de Desterro (Florianpolis) e vo se juntar aos revoltosos da Armada, que vieram do Rio de Janeiro (ver tpico anterior), seguindo depois para o Paran, onde tomam a cidade de Curitiba. No havia, porm, flego para continuar. Uma revoluo, naquela poca, com grande limitao de recursos tcnicos, exigia quantidade aprecivel de homens, por conseguinte, armamento e munio para todos eles, o que faltava aos revoltosos. Com prudncia, ento, recuaram, concentrando-se apenas no Rio Grande do Sul e mantendo sua posio at a sada de Floriano e a posse do novo Presidente, Prudente de Morais, que consegue um acordo honroso para ambas as partes. O governo de Jlio de Castilhos saiu fortalecido com o apoio que recebeu de Prudente de Morais, ao mesmo tempo em que o Congresso Nacional, participando dessa obra de pacificao, votou a anistia total aos participantes do movimento revolucionrio. Estava superada a crise, mas no permaneciam as divergncias. Os "blancos" e os "colorados" tinham ideais quase irreconciliveis e marcavam suas posies polticas at pela cor dos lenos que amarravam ao pescoo. Os mais fanticos, cuidavam tambm da cor das roupas usadas em casa e pelos familiares. A propsito, comenta D. Alzira Vargas do Amaral Peixoto, em seu livro "Getlio Vargas, meu Pai": "Comecei a observar em torno de mim e a fazer perguntas. Por que havia desespero e dio em tantas fisionomias? Por que no podia cumprimentar certas pessoas? Por que janelas se fechavam silenciosamente e outras se abriam ostensivamente? Por que no podia usar vestidos de cor vermelha? Por

que uma cidade pequena como So Borja se dava ao luxo de possuir dois clubes sociais? Por que s podamos entrar em um e devamos virar o rosto quando ramos obrigados a passar em frente ao outro? Por que somente uma parte da famlia de minha av, do ramo Dornelles, tinha relaes conosco? Por qu?" Essa situao perdurou at 1928, quando Getlio Vargas (um "blanco" casado com uma "colorada") assumiu o governo do Rio Grande do Sul e iniciou um processo de unio entre as duas faces, mostrando que aquele Estado no conseguiria sair de suas fronteiras para abraar o resto do pas, enquanto se ocupasse inteiramente com lutas internas. Por fim, unidos os destinos, em 1930, Getlio, um "blanco", colocou em seu pescoo um leno vermelho e subiu com destino ao Rio de Janeiro para a derrubada do Presidente Washington Lus e a tomada do poder, no qual permaneceu 15 anos! Consolidou-se a Repblica Os anos do governo Floriano foram difceis para ele e, sem dvida, muito mais difceis para seus opositores, perseguidos sem trgua e castigados na forma da lei e muito alm do que a lei permitia... Seu governo, longe de ser pacificador, foi um agente multiplicador de dios, de tal maneira que a posse de Prudente de Morais, em 15 de novembro de 1894, trouxe a todos um alvio geral, mesmo com o conhecimento de que os dois eram amigos e correligionrios. Floriano deixou uma terrvel marca em sua passagem pela Presidncia e os historiadores lhe reservam, no inferno, um apartamento perptuo, sem ar condicionado. Todavia, foi o marechal tudo o que dele falam? O processo histrico extremamente lgico, no se guia por princpios de tica. Heri o vencedor, subversivo quem perde. E Floriano ganhou a luta, cumprindo seu objetivo, qual seja, o de consolidar a Repblica, permitindo que os seus sucessores ( exceo do marechal Hermes) fossem todos civis e, at o fim da Repblica Velha, a sociedade teve sua participao no governo, ainda que de forma limitada, representada pelas suas oligarquias. Mas o poder poltico-militar se manteve afastado durante esse perodo de quarenta anos. Ou se no afastado, pelo menos controlado em todas as tentativas para a retomada do poder. Grupos interessados na perpetuao do regime forte, representado pelo marechal, at que tentaram mant-lo no poder, gerando

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forte boataria, em meio qual se realizaram as eleies. E mesmo depois de empossado o novo presidente da Repblica, o primeiro eleito por voto direto, continuou a conspirao dos saudosistas, mais realistas que o rei, e que desejavam a volta do florianismo. A tudo Floriano assistia com desprezo, como conta Hlio Silva: "Quando, meses depois, um grupo de jovens oficiais da Escola Militar vai visit-lo em seu retiro, na Fazenda Paraso, na antiga Estao da Divisa, hoje municpio de Deodoro, Estado do Rio de Janeiro e lhe dirige um apelo como a nica esperana da Repblica, Floriano sorri, respondendo com sua frase famosa e derradeira: Eu sou um invlido da Ptria... No sair mais dali, at 29 de julho de 1895, quando termina sua vida." O velho e bravo guerreiro no durou nove meses aps sua ltima batalha, mais violenta que todas as outras de que participara na Guerra do Paraguai. E como naquela, conquistou a vitria, apesar da barbrie e das marcas de sangue e violncia que deixou em sua passagem. Ao menos para ele, a misso estava cumprida. Descanse em paz. * * * Captulo Trs O CAMINHO DA PACIFICAO Prudente de Morais 1894-1898 Floriano Peixoto, o Presidente que est terminando seu mandato, e Prudente de Morais, o Presidente eleito e em vias de tomar posse, vieram do mesmo partido e at caminharam juntos nos primeiros tempos da Repblica. Ambos haviam sido candidatos de oposio a Deodoro da Fonseca, nas eleies indiretas que se seguiram promulgao da Constituio de 1891. Naquela poca, todos se lembram, Prudente aceitou o sacrifcio de ver queimada sua candidatura ao mais alto cargo da nao, para que se tornasse possvel uma composio, elegendo Deodoro (Presidente) e Floriano (vice). Com todo esse passado de afinidades, o resultado das novas eleies presidenciais, dando vitria a Prudente, deveria despertar o maior entusiasmo nos gabinetes do Palcio Itamarati, onde se achava instalada a sede do governo federal. Entretanto, nada disso aconteceu. No era do feitio do marechal animar-se com qualquer acontecimento, por importante que fosse e, no caso da indicao do candidato go-

vernista, sua atitude foi de preveno e desconfiana. Quando sondado por Francisco Glicrio a respeito do nome de Prudente, o marechal fez srias ponderaes, alertando que uma vez no governo, Prudente se sentiria fortalecido para perseguir at os seus prprios companheiros de partido. Ainda assim, tranqilizou o chefe republicano, dando sua garantia pessoal de que o eleito, quem quer que fosse, tomaria posse normalmente, em respeito Constituio. As eleies, efetivamente, se realizaram em 1 de maro de 1894 e, conforme o previsto, ganhou o partido governista, com Prudente de Morais, paulista, e Manuel Vitorino Pereira, baiano, respectivamente para Presidente e vice. Embora assumindo o compromisso de garantir a posse, o que realmente fez, Floriano no tomou qualquer iniciativa para facilitar a transio de governo, como costuma acontecer, at mesmo quando o eleito seja um adversrio poltico, que no era o caso. Deixaram Prudente sozinho Nem o prprio eleito imaginava o caminho que teria de trilhar para assumir o cargo e iniciar o seu governo. A desfeita, ou grosseria, que seria o termo mais apropriado, comeou em sua chegada ao Rio de Janeiro, por estrada de ferro, num significativo dia de Finados. Nenhuma comitiva oficial para receb-lo, nem mesmo algum que, isoladamente, se apresentasse em nome do governo. Nada. Apenas um amigo pessoal, que o ajudou a sair com a bagagem e chegar at o hotel. Mais tarde, um pedido de desculpas. Floriano estava doente e no pde dar-lhe a ateno que merecia, mas o receberia em audincia quando quisesse. Prudente apressou- se, pois, a enviar um telegrama ao Chefe da Nao solicitando a prometida audincia, tendo como resposta o silncio total e absoluto. A posse se daria no dia 15 de novembro de 1894 e, desde a sua chegada ao Rio, foram duas semanas de isolamento. No dia 15, Prudente e o seu futuro Chefe de Polcia, Andr Cavalcanti, esperaram, sem sucesso, pela conduo oficial, que no apareceu. s pressas, alugaram uma carruagem, a nica disponvel no largo do Machado, toda velha e desconjuntada, e foi com isso que o novo Presidente chegou ao Palcio dos Arcos, onde o Congresso estava reunido para emposs-lo, na presena de representantes de vrios pases amigos, mas com a ausncia

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notada do antecessor. No houve, pois, a cerimnia tradicional de transmisso de faixa. O representante da Inglaterra, presente solenidade, percebeu de imediato a situao vexatria em que se encontrava o Presidente empossado e ofereceu-lhe a prpria carruagem, luxuosa, para fazer o trajeto at a sede do Governo. Um piquete de alunos do Colgio Militar, reunido s pressas, formou a escolta presidencial, emocionando o novo Presidente. Mas, no palcio, tambm, ningum o esperava. As portas estavam abertas, disposio do primeiro que chegasse. Prudente, ento, mandou chamar o chefe-geral da Diretoria dos Negcios do Interior, funcionrio de carreira, o qual, no exerccio de suas funes, ratificou os primeiros atos do Presidente, inclusive a nomeao do novo Ministro do Interior, com o que o Governo ficou legalmente constitudo. Contornando as dificuldades, mas j Presidente, organizou o seu ministrio, que ficou assim constitudo: Guerra, general Bernardo Vasques; Relaes Exteriores, Carlos Augusto de Carvalho; Justia, Interior e Instruo Pblica, Antnio Gonalves Ferreira; Viao e Obras Pblicas, Antnio Olinto dos Santos Pires; Fazenda, Francisco de Paula Rodrigues Alves, conterrneo e amigo fiel, que lhe foi til, durante parte do governo, at ser substitudo por Bernardino de Campos; Marinha, contra-almirante Jos Alves Barbosa. Quem era Prudente de Morais Prudente Jos de Morais e Barros, era descendente de uma famlia de ruralistas da cidade de Itu, onde nasceu em 1841. Embora pertencendo a uma famlia influente, o que lhe permitiria queimar etapas em sua carreira poltica, preferiu subir pelo prprio esforo, desde os primeiros degraus, elegendo-se Cmara Municipal, aos 24 anos, aps concluir o curso na Faculdade de Direito de So Paulo. Em 1868, elege-se deputado pela Provncia de So Paulo pelo Partido Liberal (oposio ao Imprio). Em 1873, com a fundao do Partido Republicano (ainda dentro do perodo Imperial), adere a essa nova legenda, passando a ser um propagandista e defensor do regime que viria a ser instalado em 1889. Assim, aps a Proclamao da Repblica, Deodoro nomeiao Presidente do Estado de So Paulo. Realizando-se as eleies para a Constituinte, elege-se senador e torna-se o presidente do Senado. Perdeu as eleies indiretas pre-

sidncia da Repblica, em 1891, para elegerse, finalmente, por via direta, em 1894. Com a instalao de seu governo que, de fato, comea a influncia da aristocracia rural, sobretudo de So Paulo, Minas Gerais e Rio de Janeiro, com destaque para os dois primeiros Estados, numa alternncia de poder que deu origem chamada poltica do "caf com leite". Observe-se que essa "dobradinha" referiase maior influncia dos dois Estados na poltica nacional e no necessariamente origem dos candidatos. Deodoro e Floriano eram de Alagoas; Hermes da Fonseca, do Rio Grande do Sul; Epitcio Pessoa, da Paraba; Washington Lus, do Estado do Rio. Por So Paulo, tivemos Prudente de Morais, Campos Sales, Rodrigues Alves e Jlio Prestes, sendo que este ltimo no chegou a tomar posse. Por Minas, os presidentes foram Afonso Pena, Venceslau Brs, Delfim Moreira e Artur Bernardes. Prudente de Morais era casado com dona Adelaide Benvinda da Silva Gordo, tendo oito filhos: Maria Amlia, Gustavo, Jlia, Prudente, Carlota, Antnio Prudente, Maria Teresa e Paula. Anistia geral Instalado o governo, o problema que se afigurava mais urgente era o da pacificao nacional. No Rio Grande do Sul, a luta entre as duas faces polticas continuava, ameaando a unidade do pas e at a sua soberania, pelo envolvimento indireto das potncias vizinhas que, a qualquer pretexto, poderiam intervir, com consequncias imprevisveis, mas fceis de imaginar, vivas que ainda estavam na memria as guerras cisplatinas e seu trgico desdobramento com a Guerra do Paraguai. No Rio de Janeiro, a situao no era menos grave. Floriano Peixoto sobreviveu apenas alguns meses mais, aps o trmino de seu governo, mas o florianismo estava vivo e atuante, incendiado por militares desejosos de um governo forte, no que eram acompanhados pelos positivistas, partidrios da centralizao de todo o poder nas mos de um s homem. Uns e outros no eram muitos, no conjunto da populao, mas conseguiam fazer barulho, o suficiente para aparentar uma certa fora, criando instabilidade e dificultando a consolidao de um governo democrtico, com o respeito devido Constituio e aos poderes institudos por ela. Havia, ainda os restauradores, com esperanas

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de restabelecer o Imprio, extinto h pouco mais de cinco anos e, portanto, mantendo-se ainda como uma ameaa em potencial. Urgia, pois, controlar as paixes, criar um ambiente de transigncia e uma vontade nacional de buscar o entendimento, tarefa nada fcil, naquele turbilho de idias, aspiraes e ambies, acrescidas ao regionalismo cerrado, que impedia aos rebeldes enxergar um palmo alm das prprias fronteiras para contemplar a realidade de todo o conjunto do pas. Iniciando a misso a que se havia proposto, j em 1 de janeiro de 1895, Prudente de Morais assina um decreto, indultando as praas do Exrcito e da Guarda Nacional que aderiram revolta contra o governo Floriano. Tratava-se de um gesto de boa vontade para conseguir que os revolucionrios, ainda em armas no sul, se dispusessem a negociar. Diga-se, a bem da verdade, que estes tambm j estavam cansados da guerra e esperavam por um fato novo que lhes desse uma sada honrosa para a entrega das armas. Fim da Revoluo Federalista Para o Rio Grande do Sul, segue o general Francisco Moura, com instrues expressas de se manter afastado de Porto Alegre, evitando influncias do governo estadual em seu trabalho, o que poderia comprometer a aproximao dos dois lados em conflito. Este preposto no obedeceu as ordens, insistindo em ficar na capital do Estado, e por isso foi substitudo pelo general Inocncio Galvo de Queirs, nomeado comandante da Regio Militar, que instalou seu quartel general em Pelotas, ao sul do Estado e distante da capital, procurando atrair para l os representantes de ambos partidos, a fim de tratar com eles as condies para a paz. J h algum tempo, o almirante Custdio de Melo, vencido na Revolta da Armada e levado at a Argentina por um navio de bandeira portuguesa, havia cruzado as fronteiras e se achava outra vez no Brasil, assumindo o comando da Revoluo Federalista, mesmo a contragosto de alguns de seus chefes. Foi uma injeo de nimo nos revoltosos, escondidos no Uruguai, os quais voltaram, reorganizando as frentes de ataque, sem, entretanto obter sucesso nas suas investidas guerrilheiras. Saldanha da Gama, com setecentos homens, entre guerrilheiros e desertores da Marinha, atravessa o rio Quara e pe-se em confronto com as tropas do general Hiplito Ribeiro, numa operao suicida, dado que as

propores em homens e armamentos eram altamente favorveis s tropas legalistas que defendiam o governador Jlio de Castilhos. O resultado no podia ser mais trgico. Em 1 de junho de 1895, o almirante foi morto a lancetadas e teve seu corpo mutilado. Perdendo o comandante, seus homens foram facilmente dispersados, sem condies de se reorganizar. Da outra parte, o governador Jlio de Castilhos, que, ao incio havia manifestado seu desejo de chegar a um acordo, agora rompe com o general Galvo de Queirs, ao tomar conhecimento dos termos em que este colocava o armistcio e que aquele considerava desonrosos para seu governo. Ento, resolve o governador chamar para si a responsabilidade da pacificao e permite o retorno dos exilados, entre eles o lder dos primeiros momentos, Gaspar Silveira Martins. Meses depois, em 11 de outubro de 1895, aps prolongado e polmico debate, com vrios incidentes entre os parlamentares, o Congresso nacional vota um projeto de Campos Sales, concedendo anistia plena a todos os envolvidos em movimentos revolucionrios, colocando fim guerra que, desde h muito, vinha infelicitando o sul do pas. Quanto ao Rio de Janeiro, a agitao prosseguia e tentava abalar os alicerces do governo, vindo a contar, mas tarde, at com a conivncia do vice-presidente da Repblica, Manuel Vitorino Pereira. Questo com Portugal Voltemos um pouco no tempo para relembrar o fim da Revolta da Armada, ainda no governo de Floriano Peixoto. Como se recorda, a forte reao do Exrcito, fiel ao governo federal, impediu o sucesso do movimento e uma parte da esquadra revoltosa se dirigiu ao sul a fim de unir-se ao movimento federalista, ficando uns poucos navios na baa da Guanabara, sendo estes facilmente dominados. Na medida em que a tenso foi aumentando, alguns pases mandaram navios para a baa, sob o pretexto de proteger seus cidados residentes no pas. Inevitavelmente, passaram a ter um envolvimento claro e ameaador no conflito. De um lado, se encontravam os Estados Unidos, que viam na Repblica uma possibilidade de maior aproximao com o Brasil, ampliando, pois, sua rea de influncia nas Amricas. Estes, por conseqncia, se colocavam favorveis a Floriano. De outro, a Inglaterra, para a qual

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seria prefervel o retorno da monarquia, regime mais compatvel com a Europa, facilitando a manuteno da hegemonia britnica que, desde 1807, se fazia bem visvel no Brasil. Suas simpatias se voltavam, assim, para os revoltosos, que combatiam o governo republicano. Por ltimo, estava presente Portugal, com quatro sculos de histria ligados nossa terra. Lembremo-nos, alm do mais, de que o Brasil, por treze anos, abrigou a sede do reinado; em nosso pas, por meio sculo governou um descendente da famlia imperial; e aqui, como natural, se formou numerosa colnia lusitana. Assim, mais do que na defesa de seus cidados, foi nesse sentimento de irmandade que uma corveta portuguesa, ancorada na baa, abrigou o almirante Saldanha da Gama e outros combatentes vencidos no choque com as tropas legalistas. Foi o bastante. Floriano, impassvel, no conseguia ver no gesto, uma colaborao para pr fim ao conflito, achando mais que se tratava de uma ingerncia indevida de uma potncia estrangeira nos negcios brasileiros. O comandante do navio argumentou com o sagrado direito de asilo, reconhecido por todos os pases do mundo. Floriano retrucou, alegando que no se tratava de asilados, mas de insubmissos que deveriam ser entregues s autoridades brasileiras para julgamento e punio. As precrias condies de higiene do navio no permitiam manter a bordo, por muito tempo, essa populao adicional e, para evitar o pior, o comandante mandou levantar ncoras e seguir para o sul, onde os asilados seriam desembarcados em um pas vizinho. J Floriano achava que a inteno portuguesa era colocar os revoltosos perto da outra rea de conflito, permitindo o engajamento dos revoltosos Revoluo Federalista, o que realmente acabou acontecendo. Floriano no teve dvidas em romper relaes com Portugal. Este era mais um assunto que Prudente de Morais, agora Presidente, tinha a resolver. Em maro de 1895, quatro meses aps a posse do novo governo, foram reatadas as relaes com Portugal, ficando superado o incidente que, diga-se de passagem, podia de todo ter sido evitado. Poltica internacional Outros problemas envolvendo disputas territoriais preocuparam, ainda, o governo de Prudente, e foram resolvidos com a participao do Baro do Rio Branco, habilidoso

em tratar de assuntos internacionais. Entre eles se inclui a invaso da ilha da Trindade pelos ingleses, o caso do territrio de Misses e a questo do Amap. As ilhas da Trindade foram descobertas em 1501 pelo navegante portugus Joo da Nova e estiveram sempre incorporadas ao territrio brasileiro. Embora de terreno inspito e imprprio para qualquer atividade produtiva, sua posio dentro do oceano Atlntico estratgica e isso levou a Inglaterra a invadi-la, assumindo posse no ano de 1895. Sentindo-se ferido em sua soberania, o Brasil, representado pelo ministro do Exterior, Carlos de Carvalho, formalizou um protesto junto ao governo ingls, que no devolveu o territrio, nem aceitou qualquer proposta de arbitramento. Entrou no assunto, ento, o governo portugus que realizou gestes a favor do Brasil, logrando bons resultados. Pelo Brasil, as tratativas foram levadas a efeito pelo Baro do Rio Branco. Quanto ao territrio das Misses, as disputas vinham j desde o incio do Sculo 19 e os inmeros tratados assinados entre o Brasil e o Uruguai acabaram no sendo obedecidos, principalmente, porque as partes sempre deixaram de levar em conta os interesses dos espanhis e portugueses residentes nas reas de conflitos. Agora, o problema foi levado ao arbitramento do presidente dos Estados Unidos, Stephen Grover Cleveland, que em definitivo, considerou o territrio como sendo brasileiro. Restava ainda uma rea de litgio que era o Amap, ocupada por brasileiros mas reivindicada pela Frana como parte integrante da Guiana Francesa. Os dois pases recorreram, desta vez, ao arbitramento do presidente da Sua e a defesa brilhante do Baro do Rio Branco deu convencimento de que as terras pertenciam ao Brasil, recebendo deciso favorvel do presidente suo. O problema era o vice-Presidente Em novembro de 1896, portanto, h um ano da posse, Prudente de Morais entregou o governo ao seu vice, enquanto convalescia de uma interveno que sofreu para a retirada de clculos renais e que o deixou mais enfraquecido do que seria natural para uma operao to simples. O que se veio a saber mais tarde era que sua resistncia estava minada, j, com os primeiros efeitos de uma tuberculose, doena fatal, naqueles tempos em que no se dispunha de recursos tcni-

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cos, nem para o diagnstico, nem para o tratamento. Na forma constitucional, em 10 de novembro de 1896, assume Manoel Vitorino Pereira que, mesmo no exerccio interino da presidncia, achou por bem reformar o ministrio e praticar atos administrativos mais consistentes, pois no havia uma previso clara do tempo em que o titular ficaria afastado. Diplomaticamente, Bernardino de Campos, amigo de Prudente, obteve uma soluo intermediria, conseguindo do governante provisrio uma lista de candidatos possveis, para ser submetida ao Presidente que, dentre os vrios nomes, indicaria aqueles que desejaria ver no Ministrio. Vitorino era um opositor de Prudente, participando veladamente da agitao promovida por florianistas, positivistas e restauradores e via no afastamento temporrio do Presidente a oportunidade para criar uma situao de fato que o levasse renncia, tal como havia acontecido com Deodoro no perodo anterior. Contava, para isso, com o apoio de uma expressiva parcela dos congressistas, com os quais se reuniu, apresentando seu programa de governo, e insistindo em que no seria possvel ao pas suportar uma paralisia mais demorada naqueles graves momentos da vida nacional. Investido de sua misso, vai Bernardino casa de Prudente. No foi fcil o trabalho de convencer o Presidente a aceitar a proposta para trocar o ministrio. O Presidente enfermo achava que o ato de seu substituto era uma traio que no podia ser aceita. Retrucou Bernardino que a negociao de um novo ministrio era o melhor que se podia conseguir naquele momento e que a recusa daria aos seus inimigos o pretexto que estavam procurando para aplicar um golpe de estado. Disse mais que ele, Bernardino, fora convidado para ocupar a pasta da Fazenda, o que lhe permitia acompanhar os acontecimentos e estar atento a uma eventual conspirao. S assim Prudente concordou em escolher, entre os nomes listados, os que achava melhores para o novo Ministrio. Cabe ponderar que, apesar de sua infidelidade, Vitorino no estava de todo errado quando insistia que era preciso assumir o governo na sua totalidade. Havia tarefas que exigiam inteira dedicao e total mobilidade e, entre elas, estavam os graves acontecimentos que