a repercusao geral no recurso extraordinario

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UIVERSIDADE REGIOAL DE BLUMEAU - FURB CETRO DE CIÊCIAS JURÍDICAS CURSO DE DIREITO A REPERCUSSÃO GERAL O RECURSO EXTRAORDIÁRIO BLUMEAU 2009 MARCELO SPENGLER

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Direito Processual

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Page 1: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

U�IVERSIDADE REGIO�AL DE BLUME�AU - FURB

CE�TRO DE CIÊ�CIAS JURÍDICAS

CURSO DE DIREITO

A REPERCUSSÃO GERAL �O RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO

BLUME�AU

2009

MARCELO SPENGLER

Page 2: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

MARCELO SPE�GLER

A REPERCUSSÃO GERAL �O RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado para obtenção do grau de Bacharel em Direito pela Universidade Regional de Blumenau - FURB

Prof. Leonardo Beduschi – Orientador

BLUME�AU

2009

Page 3: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

A REPERCUSSÃO GERAL �O RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO

Por

MARCELO SPE�GLER

Trabalho de Conclusão de Curso aprovado com nota 9,5 como requisito parcial para a obtenção do grau de Bacharel em Direito, tendo sido julgado pela Banca Examinadora formada pelos professores:

____________________________________________________________

Presidente: Prof. Leonardo Beduschi – Orientador, FURB

____________________________________________________________

Membro: Prof. Fabian Marcello Gomes Capello, FURB

Blumenau, 3 de dezembro de 2009

Page 4: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

DECLARAÇÃO DE ISE�ÇÃO DE RESPO�SABILIDADE

Através deste instrumento, isento meu Orientador e a Banca Examinadora de qualquer

responsabilidade sobre o aporte ideológico conferido ao presente trabalho.

________________________________________ MARCELO SPE�GLER

Page 5: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

AGRADECIME�TOS

Meus agradecimentos primeiramente a Deus, que me deu a vida e a possibilidade de

realizar os meus sonhos.

Aos meus pais, Nilton Antônio Spengler e Dulcinéia Spengler e ao meu irmão Nilton

Spengler Neto, por todo o carinho, dedicação, exemplo e apoio que dedicaram ao longo dos

22 anos de minha existência.

Aos meus amigos Diego Wagner, Victor Hugo Campos Fiori, Alexandre Garcia

Doneda, pela amizade verdadeira, estando sempre presentes nos momentos de felicidade e

tristeza.

Aos colegas de trabalho da Procuradoria Geral do Estado, em especial às doutoras

Laisa Pavan e Fabiana Guardini Nogueira pessoas que tenho como referência de competência,

responsabilidade e profissionalismo.

Aos meus colegas de faculdade, em especial aos colegas Daniel Huff Souza, Daniel

Walter Breitkopf Christen, Nicole Simas Cemin e Duana Hames de Olveira, pelas alegrias,

festas, ensinamentos, risadas, momentos pelos quais passamos e que certamente ficou

marcado em todos.

Ao professor Leonardo Beduschi, por ter aceitado este desafio e me acompanhado

nesta última etapa do curso.

A todos aqueles que, de alguma forma, contribuíram para a realização desta fase de

minha vida.

Page 6: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

RESUMO

O trabalho tem por objetivo geral o estudo da repercussão geral no recurso extraordinário. A

pesquisa utilizou o método indutivo, e como fontes de pesquisa a doutrina, a legislação e a

jurisprudência pátria. Inicialmente, trata-se dos recursos em geral, abordando os seus aspectos

básicos, como princípios, requisitos, tipos, etc. Posteriormente é analisado o recurso

extraordinário, suas características, cabimento entre outros aspectos. Ao final é analisado um

dos requisitos de admissibilidade do recurso extraordinário, qual seja, repercussão geral. Na

última parte, juntamente com o estudo da repercussão geral é elaborado dois estudos de casos

sobre a repercussão geral. O trabalho ressalta a importância da implantação do requisito de

admissibilidade repercussão geral, o qual delimita a análise de mérito dos recursos

extraordinário apenas para aqueles que demonstrarem uma transcendência e relevância

política, social, jurídica ou econômica. Assim, com o advento da Emenda Constitucional 45,

de 08 de novembro de 2004, cria-se a repercussão geral, elemento importante não somente

pelo fato de criar uma espécie de filtro para recursos que visam apenas o reexame da matéria

pelo Supremo Tribunal Federal, mas também pelo fato de atribuir a real função da Suprema

Corte, a de guarda da Constituição Federal.

Palavras-chave: Repercussão geral. Recurso extraordinário. Supremo Tribunal Federal. Juízo

de Admissibilidade.

Page 7: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

ABSTRACT

The research aims to study the general repercussion in the extraordinary appeal. The research

used the inductive method, and as source of doctrine, the law and jurisprudence of this

country. Initially, check the resources in general, addressing the basic aspects such as

principles, requirements, types etc. Later, it’s examined the extraordinary appeal, its

characteristics, no place among other aspects. At the end is considered one of the

requirements for admissibility of extraordinary appeal, which is general rebound. In the last

part, along with the study of the general repercussion, is usually prepared two case studies

about the general repercussion. The research underscores the importance of implementing the

admissibility requirement of general repercussion, which limits the analysis of the merits of

the extraordinary appeal only to those who demonstrate a transcendence and political, social,

legal or economic relevance. So with the advent of Constitutional Amendment 45, of 08

November 2004, creates the overall effect, which is important not only because of creating a

kind of filter for features that only aim for re-examination by the Supreme Court, but also

because given the real function of the Supreme Court, the custody of the Federal Constitution.

Key-words: General repercussion. Extraordinary appeal. Supreme Court. Pre-Trial

Admissibility.

Page 8: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

SUMÁRIO

1 I�TRODUÇÃO ..................................................................................................................... 8

2 TEORIA GERAL DOS RECURSOS .................................................................................. 9

2.1 NATUREZA JURÍDICA ..................................................................................................... 9

2.2 OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS ................................................. 10

2.2.1 Princípio do duplo grau de jurísdição .............................................................................. 10

2.2.2 Princípio da taxatividade ................................................................................................. 12

2.2.3 Princípio da singularidade ............................................................................................... 13

2.2.4 Princípio da proibição da reformation in peius ............................................................... 13

2.3 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE ...................................................................................... 14

2.3.1 Cabimento ........................................................................................................................ 16

2.3.2 Legitimidade .................................................................................................................... 17

2.3.3 Interesse ........................................................................................................................... 19

2.3.4 Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer .................................. 19

2.3.5 Tempestividade ................................................................................................................ 21

2.3.6 Observação da forma prescrita em lei ............................................................................. 23

2.3.7 Preparo ............................................................................................................................. 24

2.4 EFEITOS DOS RECURSOS ............................................................................................. 25

2.5 TIPOS DE RECURSOS ..................................................................................................... 26

3 RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO ..................................................................................... 28

3.1 ORIGEM ............................................................................................................................ 28

3.2 CONCEITO ........................................................................................................................ 28

3.3 CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO ..................................................... 30

3.3.1 Condições genéricas do cabimento do recurso extraordinário ........................................ 31

3.3.2 Condições específicas do cabimento do recurso extraordinário ...................................... 32

3.4 PROCESSAMENTO .......................................................................................................... 34

3.5 EFEITOS DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO ............................................................. 37

4 REPERCUSSÃO GERAL �O RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO ................................ 39

4.1 ORIGEM ............................................................................................................................ 39

4.2 NATUREZA JURÍDICA ................................................................................................... 40

4.3 CONCEITO ........................................................................................................................ 41

4.4 A REPERCUSSÃO GERAL E A ARGUIÇÃO DE RELEVÂNCIA ............................... 43

Page 9: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

4.5 A REPERCUSSÃO GERAL NO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO .............................................................................................................. 44

4.5.1 Demonstração e ônus da arguição de repercussão geral.................................................. 44

4.5.2 Competência .................................................................................................................... 45

4.5.3 Eficácia do reconhecimento............................................................................................. 46

4.5.4 Eficácia do não reconhecimento ...................................................................................... 47

4.5.5 Julgamento ....................................................................................................................... 47

4.6 A REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSOS DE MATÉRIA IDÊNTICA .................... 48

4.7 ESTUDOS DE CASOS ...................................................................................................... 49

5 CO�CLUSÃO ...................................................................................................................... 52

REFER�CIAS ..................................................................................................................... 54

Page 10: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

8

1 I�TRODUÇÃO

O trabalho tem por objetivo geral o estudo da repercussão geral no recurso

extraordinário. Como objetivos específicos estão a) aprofundar o conhecimento na área

processual civil, mormente na área recursal; b) expor os conceitos de recurso extraordinário e

repercussão geral; c) analisar o entendimento doutrinário e jurisprudencial acerca da

repercussão geral.

Assim, visando cumprir estes objetivos o método utilizado para a pesquisa será o

indutivo, que consistirá em pesquisas bibliográficas, bem como breve pesquisa

jurisprudencial, por meio eletrônico, nos Egrégios Tribunais Pátrios.

Esta pesquisa justifica-se, pois trata-se de um tema relativamente atual e de interesse

de todos os acadêmicos e profissionais que atuam na área jurídica.

A morosidade da justiça já foi e ainda é um tema muito debatido no meio Jurídico. A

busca pela tutela jurisdicional efetiva é constante. Assim, o legislador criou em 08 de

dezembro de 2004 a Emenda Constitucional 45, instituindo um pressuposto de

admissibilidade para o recurso extraordinário, qual seja, a repercussão geral, que é a matéria

que será abordada no presente trabalho.

Diante disso, visando o estudo deste pressuposto a pesquisa será composta por 3

(três) capítulos. No primeiro capitulo será estudado a teoria geral dos recursos: princípios,

requisitos, tipos, etc.

No segundo capítulo será analisado o recurso extraordinário, diferenciando-o dos

outros recursos, verificando os requisitos de admissibilidade, cabimento, etc.

No terceiro e último capítulo, será estudado o requisito de admissibilidade,

repercussão geral. Após o estudo deste instituto, será feito um estudo de caso onde o Tribunal

conheceu recurso extraordinário reconhecendo a repercussão geral e outro que não conheceu.

Diante disso, na última parte deste trabalho, será realizada as considerações finais,

analisando-se tudo o que foi exposto no trabalho.

Page 11: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

9

2 TEORIA GERAL DOS RECURSOS

2.1 NATUREZA JURÍDICA

O atual ordenamento jurídico brasileiro ostenta uma série de princípios, dentre os

quais se pode destacar a efetividade da prestação judicial, onde os litigantes buscam justiça,

ou o mais perto que se pode chegar dela. O inconformismo das pessoas com algumas

decisões, os erros cometidos ou aspectos valorados de forma excessiva são os fundamentos

que fizeram surgir o instituto processual chamado recurso.

Sobre o tema Assis (2008, p.33) assevera:

O escoadouro do inconformismo insopitável e, ao mesmo tempo, meio para reparar, tanto quanto possível, os erros inerentes à falibilidade, porque a base desses pronunciamentos, originários do marco civilizatório chamado processo, assenta num juízo singular ou coletivo de homens e mulheres, só pode ser a impugnação do ato estatal. A generalidade dos ordenamentos hierarquiza os órgãos judiciários para tal fim e, oportunamente, examinar-se-á a origem da apelação no seio da incipiente burocracia romana (infra,35). A permissão vencido para impugnar a decisão assegura o aprimoramento do ato e, se não assegura, ao menos aumenta a possibilidade de real pacificação dos litigantes (sem grifos no original).

Percebe-se, portanto que o recurso não é só uma forma de rever um possível erro,

mas também de ratificar o que já havia sido decidido.

Assim conceitua Lima (2007, p.19):

Recurso é a irresignação a qualquer decisão judicial, quer seja sentença definitiva, terminativa, decisão interlocutória ou acórdão, não sendo cabível nos despachos de mero expediente, pois eles servem apenas para impulsionar o processo (sem grifos no original).

Outrossim, parte da doutrina define que “Os recursos podem ser considerados como

uma extensão do próprio direito de ação ou defesa.”(WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI,

2008, p.582).

Impende ressaltar que existem duas formas de revisão de uma decisão injusta ou

viciada, a primeira delas é através da impetração de recurso e a outra é por meio de ação

rescisória. Apenas a título de explicação, pois não é objeto de estudo do presente trabalho,

tem-se que esta última:

Page 12: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

10

[...]é a ação autônoma impugnativa, cuja finalidade é a de desconstituir uma sentença ou acórdão de mérito, prolatada com violação a qualquer dos incisos do artigo 486 do CPC, já com trânsito em julgado, e em que não tenha ocorrido a decadência do prazo bienal insculpido no artigo 495 do mesmo diploma legal (LIMA, 2007, p. 19-20, sem grifo no original).

Por derradeiro, Greco Filho (2003, p.266) conclui que o recurso é uma extensão ao

direito de ação, pois quando a parte recorre de uma decisão, não se está propondo nova ação,

e sim dá continuidade a uma nova fase.

2.2 OS PRINCÍPIOS FUNDAMENTAIS DOS RECURSOS

O fundamento do sistema jurídico são os princípios, é por causa deles que existe o

sistema. Neste sentido os “Princípios, em geral, são normas que imprimem coerência e ordem

a um conjunto de elementos, sistematizando-os.” (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI,

2008, p. 80).

Sobre o tema leciona Assis (2008, p.69) “Entendem-se por princípios fundamentais

as diretrizes ideológicas que inspiram determinados setores ou o conjunto do ordenamento

jurídico.”

Verifica-se, portanto que para existir um sistema devem existir princípios que

norteiam este sistema. Assim, serão analisados os princípios que são fundamentais em matéria

recursal.

2.2.1 Princípio do duplo grau de jurísdição

Um dos principais princípios do sistema recursal é o princípio do duplo grau de

jurisdição. Para Wambier, Almeida e Talamini (2007, p. 541), referido princípio nasceu de

uma preocupação com o abuso de poder daqueles que o detém.

Neste sentido Nery Junior (2004a, p. 37) leciona:

O princípio do duplo grau de jurisdição tem íntima relação com a preocupação dos ordenamentos jurídicos em evitar a possibilidade de haver abuso de poder por parte do juiz, o que poderia em tese ocorrer se não estivesse a decisão sujeita à revisão por outro órgão do Poder Judiciário (sem grifos no original).

Entretanto, sobre este princípio encontramos divergência na doutrina. Segundo Nery

Page 13: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

11

Junior (2004b, p.211), a Constituição do Império de 1824 dispunha no artigo 158 sobre a

garantia absoluta do duplo grau de jurisdição, ou seja, sempre que parte quisesse, a causa

poderia ser apreciada pelo Tribunal de Relação. Posteriormente, as Constituições seguintes

não dispunham sobre o duplo grau de jurisdição, apenas limitando-se a mencionar a existência

de tribunais.

Assim, conclui o autor (2004b, p. 211-212):

Com isto queremos dizer que, não havendo garantia constitucional do duplo grau, mas mera previsão, o legislador infraconstitucional pode limitar o direito de recurso, dizendo, por exemplo, não caber apelação nas execuções fiscais de valor igual ou inferior a 50 OTNs (art. 34, da Lei 6.830/80) e nas causas, de qualquer natureza, nas mesmas condições, que forem julgadas pela Justiça Federal (art. 4.º, da Lei 6.825/80), ou, ainda, não caber recurso dos despachos (art. 504, CPC) (sem grifos no original).

No mesmo sentido, Marinoni e Arenhart (2007, p.419) asseveram:

Quando a Constituição Federal afirma que estão assegurados o contraditório e a ampla defesa, com os recursos a ela inerentes, ela não está dizendo que toda e qualquer demanda em que é assegurada a ampla defesa deva sujeitar-se a uma revisão ou a um duplo juízo. Os recursos nem sempre são inerentes à ampla defesa. Nos casos em que não é razoável a previsão de um duplo juízo sobre o mérito, como nas hipóteses das causas denominadas de “menor complexidade”- que sofrem os efeitos benéficos da oralidade -, ou em outras, assim não definidas, mas que também possam justificar, racionalmente, uma única decisão, não há inconstitucionalidade na dispensa do duplo juízo (sem grifos no original).

Entretanto, Ribeiro (1999, p. 99-100) leciona que o devido processo legal é uma

característica do Estado Democrático de Direito, e que o duplo grau de jurisdição decorre

dele. Assim, conclui que “[...] o princípio do duplo grau de jurisdição é imperativo de ordem

jurídico-constitucional [...], constituindo, inegavelmente, garantia constitucional [...].”

(RIBEIRO, 1999, p. 120).

Esta questão é muito discutida na doutrina, assim, não sendo este o estudo do

presente trabalho limita-se a dizer que o duplo grau de jurisdição é o instituto jurídico que

prevê que uma decisão poderá ser apreciada por órgãos diferentes.

Assim, o princípio do duplo grau de jurisdição “Consiste no princípio segundo o qual

uma mesma matéria deve ser decidida duas vezes, por dois órgãos diferentes do Poder

Judiciário.” (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2008, p. 590)

Neste sentido assevera Lima (2007, p. 31):

Com o duplo grau de jurisdição, a decisão gravosa a parte será submetida à

Page 14: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

12

apreciação de um colegiado, que sem sobra de dúvida, leva a possibilidade de um melhor acerto do julgado.

Ressalta-se que o recurso é um ato de vontade da parte, portanto deve a parte

irresignada com o decisum interpor o recurso competente. Entretanto, com o advento da Lei

10.352/01, existem sentenças que mesmo sem a vontade das partes são submetidas ao duplo

grau de jurisdição (LIMA, 2007, p.30).

2.2.2 Princípio da taxatividade

Constata-se que a parte irresignada com algum ato judicial poderá interpor recurso,

visando modificá-la, salvo exceções. Entretanto, não se pode interpor qualquer recurso,

devendo-se o mesmo estar previsto em lei. Sumariamente é isto o que determina o princípio

da taxatividade.

O princípio da taxatividade está consubstanciado no art. 496 do Código de Processo

Civil que elenca os tipos de recursos. Vale lembrar que existem outros tipos de recursos

previstos em lei especial, como por exemplo, dos juizados especiais cíveis (art. 41 da Lei n.

9.099/1995).

Sobre o tema, importante também salientar:

Esse princípio traduz a idéia de que só pode existir o ajuizamento, processo e julgamento dos recursos expressamente instituídos por lei. O recurso não fica ao alvedrio ou ao talante da parte vencida ou terceiro interessado ou, ainda, do Ministério Público, que são os legitimados a recorrer, na forma do art. 499 do Código de Processo Civil (PAVAN, 2004, p.32, grifos no original).

Ainda sobre o tema Miranda e Pizzol (2000, p.22) asseveram que “Desse modo, por

esse princípio são considerados recursos ‘os meios impugnativos re regulados na lei

processual’, em númerus clausus, ou seja, em rol exaustivo.”

Outrossim, se encontra também em matéria de princípios na área recursal o princípio

da fungibilidade que prevê:

[...] a fim de não prejudicar o recorrente, a doutrina e a jurisprudência permitem o recebimento do recurso inadequado, como se adequado fosse. Em outras palavras, aplica-se o princípio da fungibilidade recursal desde que preenchidos alguns pressupostos (MIRANDA; PIZZOL, 2000, p.30, sem grifos no original).

Page 15: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

13

Portanto, em síntese, as partes deverão utilizar-se apenas daqueles recursos previstos

em lei federal, ressalvado os casos de aplicação do princípio da fungibilidade.

2.2.3 Princípio da singularidade

Conforme já citado, os recursos devem estar previstos em lei, consoante o princípio

da taxatividade. Assim, Nery Júnior afirma que “[...] para cada ato judicial recorrível há um

único recurso previsto pelo ordenamento, sendo vedada a interposição simultânea ou

cumulativa de mais outro visando a impugnação do mesmo ato judicial.” (2000, p.93, sem

grifos no original)

O princípio da singularidade define que “Um mesmo ato, em princípio, não comporta

dois recursos, salvo as exceções previstas expressamente na lei [...]” (PAVAN, 2004, p.32)

Sobre as exceções a este princípio interessante o exemplo citado por Pavan (2004, p.

34, apud THEODORO JR, 2002, p.166):

Se num só ato decisório o juiz enfrenta matérias de natureza diversa, o recurso manejável não sofre alteração alguma. Mas se, sucessivamente, o juiz profere atos decisórios, como pode acontecer dentro de uma audiência, em que, durante a coleta da prova, indefere um depoimento e, afinal, julga o mérito, não se pode, pela proximidade das deliberações, pretender que tudo tenha sido decidido em sentença e que, por isso, tudo possa ser examinado na apelação. O correto será impugnar o cerceamento de defesa por meio de agravo (que pode ser retido) e a sentença por via de apelação (ratificando em preliminar o agravo). A falta de agravo, in casu, torna preclusa a matéria da preliminar, salvo apenas se envolver questão de ordem pública, quando então seu conhecimento será viável, de ofício, pelo Tribunal, a qualquer tempo (sem grifos no original).

Destarte, importante os ensinamentos de Marinoni e Arenhart (2006, p. 521) que

lecionam: “Assim, contra determinado ato judicial, e para certa finalidade específica – não

abrangida pela finalidade de outro meio recursal – deve ser cabível um único recurso.”

Em síntese, para atacar um determinado ato judicial e para certa finalidade

específica, existe apenas um único recurso. Se deste ato judicial possa ser interposto

diferentes recursos, cada um terá uma finalidade específica.

2.2.4 Princípio da proibição da reformation in peius

O princípio da Proibição da Reformation in peius determina que “[...] o recorrente

nunca corre o risco de ver piorada a sua situação. Tendo sido impugnada a decisão, ou a

Page 16: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

14

situação se mantém como está, ou melhora.” (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2005, p.

570).

Quanto a exceções acerca deste princípio Pavan (2000, p.42) leciona:

A doutrina tem aceitado que não haverá reformatio in peius, além da hipótese anterior mencionada, nas seguintes situações: a) Se a parte adversa também recorrer e o tribunal acolher qualquer dos recursos das partes que recorreram; b) se o tribunal apenas modificar a fundamentação da decisão recorrida, exceção feita na ação civil pública e na ação popular, em que a motivação da decisão relevante pela conseqüência prática daí decorrente. c) quando o juiz julga procedente o pedido e, todavia deixa de condenar em honorários advocatícios. O vencido recorre, mas o Tribunal mantém a sentença e, verificando a omissão do julgado de primeiro grau impõe a condenação da verba honorária, assim podendo fazê-lo porque a norma do art. 20 do Código de Processo Civil é dirigida ao julgador, tanto em primeiro quanto em segundo graus de jurisdição (grifos no original).

Ao tratar sobre o assunto Didier Júnior. e Cunha ressaltam que

Ocorre a reformatio in peius quando órgão ad quem, no julgamento de um recuso, profere decisão mais desfavorável ao recorrente, sob o ponto de vista prático, do que aquela contra a qual se interpôs recurso. Não se permite a reformatio in peius em nosso sistema. Trata-se de princípio recursal não expressamente previsto no ordanamento, mas aceito pela quase generalidade dos doutrinadores. (2009, p. 78, grifos no original)

Quanto ao fundamento deste princípio Assis (2008, p. 107) leciona que é baseado em

dois pilares: o princípio dispositivo e interesse exigido para impugnar os atos judiciais.

Em suma, o princípio da reformatio in pejus é aquele que proíbe o tribunal

destinatário do recurso de agravar a situação do recorrente, ressalvado os casos de exceção já

citados.

2.3 JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE

Primeiramente, antes de analisar o mérito do recurso, deve-se fazer um exame

preliminar sobre o cabimento do recurso. Este exame denomina-se juízo de admissibilidade

(SILVA; GOMES, 2000, p. 314).

Sobre o juízo de admissibilidade leciona Nery Junior (1997, p.219):

As condições da ação, portanto, devem estar preenchidas para que seja

Page 17: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

15

possível o exame do mérito, da pretensão deduzida em juízo. Somente depois de ultrapassado o seu exame é que o magistrado poderá colocar fim à incerteza que pesa sobre determinada relação jurídica, aplicando o direito ao caso concreto eu lhe foi levado pelo autor. Quanto ao recurso, ocorre fenômeno assemelhado. Existem algumas condições de admissibilidade que necessitam estar presentes para o juízo ad quem possa proferir o julgamento do mérito do recurso (sem grifos no original).

No mesmo sentido, Pavan (2004, p.83) assevera:

O mérito do recurso, que difere do mérito da ação, é exame que se faz no Tribunal em relação à matéria que foi objeto de impugnação. Embora se devolva ao conhecimento do Tribunal toda a matéria debatida e discutida na ação, o mérito está restrito ao âmbito da impugnação que se operou pelo recurso intentado. Antecedendo a esse exame, tem-se o juízo de admissibilidade, em que diversas questões são examinadas tanto pelo juízo de primeiro grau, quanto pelo juízo de segundo grau, este último, verdadeiramente, o destinatário do recurso.

O juízo de admissibilidade deve ser examinado pelo juiz ex officio, não se sujeita a

preclusão e independe de requerimento da parte ou interessado tendo em vista que é matéria

de ordem pública. O mesmo autor ensina a seguir: “Assim, ainda que o recorrido, nas contra-

razões do recurso, não argua preliminar de não-conhecimento do recurso por ausência de um

dos requisitos de admissibilidade, o tribunal deverá examinar essa questão de ofício.”

(MIRANDA; PIZZOL, 2000, p.26).

Sobre o juízo de admissibilidade, importante ressaltar que são analisados diversos

requisitos que podem ser classificados como em pressupostos intrínsecos e extrínsecos

(SILVA; GOMES, 2000, p. 315).

Neste sentido, Nery Junior (1997, p.238) ensina:

Os pressupostos intrínsecos são aqueles que dizem respeito à decisão recorrida em si mesmo considerada. Para serem aferidos, leva-se em consideração o conteúdo e a forma da decisão impugnada. De tal modo que, para proferir-se o juízo de admissibilidade, toma-se o ato judicial impugnado no momento e da maneira como foi prolatado (sem grifos no original).

Do mesmo autor (1997, p. 238):

Os pressupostos extrínsecos respeitam aos fatores externos à decisão judicial que se pretende impugnar, sendo normalmente posteriores a ela. Neste sentido, para serem aferidos não são relevantes os dados que compõem o conteúdo da decisão recorrida, mas sim fatos a esta supervenientes (sem grifos no original).

Page 18: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

16

Os requisitos intrínsecos, de acordo com a doutrina majoritária, são: o cabimento do

recurso, a legitimidade da parte, interesse e a inexistência de fato impeditivo ou extintivo do

direito de recorrer. Os requisitos extrínsecos são: tempestividade, observação da forma

prescrita em lei, preparo.

Assim é o entendimento de Didier Júnior e Cunha (2009, p. 44):

O Objeto do juízo de admissibilidade dos recursos é composto dos chamados requisitos de admissibilidade, que se classificam em dois grupos: a) requisitos intrínsecos (concernentes à própria existência do poder de recorrer): cabimento, legitimação, interesse e inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer; b) requisistos extrínsecos (relativos ao modo de exercício do direito de recorrer): preparo, tempestividade e regularidade formal.

Para melhor entendimento, estes requisitos devem ser analisados separadamente.

2.3.1 Cabimento

Para que o recurso seja aceito, é necessário que o ato impugnado seja suscetível de

ataque. Ou seja, de nada adianta interpor um recurso se a decisão não for recorrível ou

interpor um recurso errado.

Nessa esteira, pode-se dizer que “[...] Em suma, o cabimento desdobra-se em dois

elementos: a previsão legal do recurso e sua adequação: previsto o recurso em lei, cumpre

verificar se ele é adequado a combater aquele tipo de decisão. Se for positiva a resposta,

revela-se, então, cabível o recurso.” (DIDIER JR.; CUNHA, 2009, p. 45).

Sobre o tema Nery Júnior (1997, p.239-240) leciona:

Quanto ao primeiro pressuposto, o cabimento, impende observar que o recurso precisa estar prsevisto (sic) na lei processual contra determinada decisão judicial, e, ainda que seja o adequado para aquela espécie. Estes dois fatores, a recorribilidade, de um lado, e a adequação, de outro, compõem o requisito do cabimento para a admissibilidade do recurso (grifos no original).

Entretanto, ressalta-se que devem ser analisados os princípios (conforme já exposto

acima) em matéria recursal, dentre eles o da fungibilidade. Sobre este princípio importante as

lições de Didier Júnior e Cunha (2009, p. 45-46):

Atualmente, trazem os doutrinadores os seguintes pressupostos para a aplicação do princípio da fungibilidade: a) “Dúvida objetiva”: não obstante a expressão um pouco equívoca, pois dúvida é sempre subjetiva, significa que

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17

é necessário existir uma dúvida razoávelmente aceita, a partir de elementos objetivos, como a equivocidade de texto da lei (sentença incidente do art. 325 do CPC; art. 17 da Lei de Assistência Judiciária) ou as divergências doutrinárias (indeferimento liminar da reconvenção, p. ex.) ; b) Inexistência

de erro grosseiro: fala-se em erro grosseiro quando nada justificaria a troca de um recurso pelo outro, pois não já qualquer controvérsia sobre o tema (ou seja, não será grosseiro o erro quando houver dúvida razoável sobre o cabimento do recurso); c) observância do prazo: o recurso interposto há que respeitar o prazo daquele que deveria ter sido – não se reputa correta a exigência deste pressuposto, pois as situações de dúvida podem envolver recursos com prazos diferentes (agravo de instrumento e apelação por exemplo), quando, então, o respeito ao prazo seria imposição que esvaziaria a utilidade do princípio (grifos no original).

Quanto à existência de dúvida objetiva, Marinoni (2006, p. 522) leciona:

[...] é preciso que haja dúvida fundada e objetiva, capaz de autorizar a interpretação inadequada do sistema processual e o seu uso equivocado. A dúvida deve ser objetiva, e não subjetiva. Deseja-se dizer, com isto, que a dúvida não pode ter origem na insegurança pessoal do profissional que deve interpor o recurso ou mesmo sua falta de preparo intelectual, mas sim no próprio sistema recursal (sem grifos no original).

Por oportuno, “Não é, enfim, correta a exigência de observância do prazo para

aplicação do princípio da fungibilidade. O STJ, contudo, exige que se obedeça ao prazo para

que se aplique o princípio” (DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2009, p. 46).

Em suma o recurso deve ser o adequado para impugnar a decisão que se pretende ser

reformada ou anulada, entretanto, com base no princípio da fungibilidade que um recurso

interposto equivocadamente por outro, pode ser aceito, desde que analisados e preenchido os

requisitos necessários.

2.3.2 Legitimidade

Segundo o artigo 499 do Código de Processo Civil (BRASIL, 1973), in verbis:

Art. 499 - O recurso pode ser interposto pela parte vencida, pelo terceiro prejudicado e pelo Ministério Público. § 1º - Cumpre ao terceiro demonstrar o nexo de interdependência entre o seu interesse de intervir e a relação jurídica submetida à apreciação judicial. § 2º - O Ministério Público tem legitimidade para recorrer assim no processo em que é parte, como naqueles em que oficiou como fiscal da lei.

Sobre o tema, Didier Júnior e Cunha (2009, p.48) disciplina que:

Quando a lei menciona a “parte vencida” como legitimada a recorrer quer referir-se não só a autor e réu, haja ou não litisconsórcio, mas também ao

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18

terceiro interveniente, que, com a intervenção, se tornou parte. O assistente, o denunciado, o chamado etc. recorrem na qualidade de parte, pois adquiriram essa qualidade com a efetivação de uma das modalidades interventivas. No conceito de “parte vencida” também deve ser incluído aquele sujeito processual que é parte apenas de alguns incidentes, como é o caso do juiz, na exceção de suspeição, e o terceiro desobediente, no caso da aplicação da multa do parágrafo único do art. 14 do CPC (sem grifos no original).

Conforme artigo 499 do Código de Processo Civil, o Ministério Público poderá

recorrer na qualidade de parte ou de custus legis. Assim lecionam Miranda e Pizzol (2000,

p.31, grifos no original), “Se o MP deveria ter sido intimado para intervir no processo como

custus legis e não o foi, também terá legitimidade para recorrer (nulidade absoluta; ele tem,

inclusive, legitimidade para ajuizar a ação rescisória”.

Outro legitimado a recorrer é o terceiro prejudicado. Acerca do assunto José Carlos

Barbosa Moreira, citado por Pavan (2000, p. 96), leciona que o conceito de terceiro

“determina-se por exclusão, em confronto com o de parte. É terceiro quem não seja parte,

quem nunca o tenha sido, quer haja deixado de sê-lo em momento anterior àquele em que se

profira a decisão”.

Sobre o tema, colaciona-se o entendimento de Silva e Gomes (2000, p.318):

O terceiro prejudicado, a que se refere o art. 499, é, exclusivamente, o terceiro estranho ao processo que nele ingresse pela primeira vez para intervir na condição de assistente simples ou como litisconsorte, e não o tenha feito em algum estágio anterior do procedimento, fincando, no entanto, apesar de estranho à relação processual, sujeito a sofrer algum efeito reflexo do julgado (grifos no original).

Outrossim, da leitura do parágrafo 1º do artigo 499 do Código de Processo Civil,

extrai-se que o terceiro deverá comprovar demonstrar o liame existente entre a decisão e o

prejuízo que esta lhe causou. Conforme palavras de Nery Júnior (1997, p. 259):

Em suma o terceiro legitimado a recorrer é aquele que tem interesse jurídico em impugnar a decisão, não um mero interesse de fato ou econômico. O requisito do interesse jurídico é o mesmo exigido para que alguém ingresse como assistente no processo civil (art. 50, CPC). Decorre daí que somente aquele terceiro que poderia haver sido assistente (simples ou litisconsorcial) no procedimento de primeiro grau é que tem legitimidade para recorrer como terceiro prejudicado (grifos no original).

Assim, conclui-se que a lei determina aqueles legitimados a recorrer. Mas, não basta

apenas ter a legitimidade para recorrer, deverá também ter o interesse, que será visto no

Page 21: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

19

próximo tópico.

2.3.3 Interesse

Acerca do interesse, Barbosa Moreira, citado por Miranda e Pizzol (2000, p. 32)

leciona que é o interesse que pressupõe a utilidade do recurso, ou seja, ele deve poder gerar

uma situação mais vantajosa para aquele que recorre; e o recurso deve ser necessário para

conseguir esta situação mais vantajosa.

Da mesma forma que, para ingressar com ação é necessário demonstrar o interesse

processual, que é analisado pelo binômio necessidade + utilidade, para interpor recursos

também deverá ser demonstrado este binômio.

Nas palavras de Assis (2008, p.158) o interesse de agir “resulta da conjunção de dois

fatores autônomos, mas complementares: a utilidade e a necessidade do recurso.”

Destarte, o recorrente deve ter a necessidade de recorrer, ou seja deve ser o recurso o

“ único meio para obter, naquele processo, o que pretende contra a decisão impugnada. Se ele

puder obter a vantagem sem a interposição do recurso, não estará presente o requisito

do interesse recursal.” (NERY JÚNIOR, 1997, p. 261, sem grifos no original).

Neste mesmo sentido Souza (2000, p. 53) leciona que o recurso “[...] é necessário se

se constituir na única via hábil à obtenção do benefício desejado pelo recorrente”.

Outrossim, sobre a utilidade, o mesmo autor (2000, p. 52-53) leciona que “o recurso

é útil se, em tese, puder trazer alguma vantagem sob o ponto de vista prático”.

Impende ressaltar aqui, as lições de Didier e Cunha (2009, p. 52):

Não se pode recorrer apenas para discutir o fundamento da decisão; é preciso discordar da conclusão a que chegou o órgão jurisdicional. Não há utilidade na discussão sobre os fundamentos, sem alterar a conclusão, pois a motivação não fica imutável pela coisa julgada material (art. 469 do CPC).

Assim, conclui-se que, sendo o recurso a única maneira de impugnar a decisão para

obter a vantagem a qual pretende o recorrente, resta cumprido o requisito do interesse.

2.3.4 Inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer

Os requisitos da admissibilidade são classificados em positivos e negativos. Os

positivos são aqueles já analisados, mormente o cabimento, a legitimidade e o interesse para

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20

agir. Os negativos são: fatos impeditivos e extintivos do direito de recorrer.

Neste sentido, “Há requisitos negativos de admissibilidade do recurso: fatos que não

podem ocorrer para que o recurso seja admissível. São fatos impeditivos e extintivos do direito

de recorre.” (DIDIER JÚNIOR; CUNHA, 2009, p. 52, grifos no original).

De acordo com Assis (2008, p. 168), “Existem fatos prévios e ulteriores à

interposição que extinguem o poder de recorrer e impedem o exame do recurso. A renúncia

(art. 502) e a aquiescência (art. 503) constituem fatos extintivos. O fato impeditivo é a

desistência (art. 501)”.

Pode-se conceituar a renúncia como a “[...] declaração de vontade do legitimado a

recorrer no sentido de abdicar do poder de recorrer. Este dispositivo torna irrecorrível para o

renunciante o provimento judicial emitido” (ASSIS, 2008, p. 168).

Outrossim, Nery Junior e Nery (2006, p. 722) definem:

1. Renúncia ao recurso. É o negócio jurídico unilateral não receptício pelo qual a parte declara vontade de não interpor recurso a que teria direito, contra ato judicial recorrível. Pressupõe pode de recorre ainda não exercido e é causa de não conhecimento do recuso, pois um dos pressupostos de admissibilidade dos recursos é a inexistência de fato impeditivo ou extintivo do poder de recorrer (v. coments. Preliminares ao CPC 496). Produz efeitos desde que é efetuada, independentemente de anuência da parte contrária ou de homologação do juiz (CPC 158). A homologação apenas é necessária para a extinção do procedimento recursal relativamente ao renunciante (grifos no original).

Assim, sendo uma forma extintiva de direitos, a renúncia, não deverá ser presumida,

devendo sempre ser feita uma interpretação restritiva (NERY JÚNIOR, 1998, p.330).

E ainda, sobre a renúncia impende ressaltar que independe da aceitação da outra

parte, consoante artigo 502 do Código de Processo Civil (BRASIL, 1973): “Art. 502 - A

renúncia ao direito de recorrer independe da aceitação da outra parte”.

Sobre a aquiescência ou aceitação para alguns autores, Nery Júnior (2004, p. 419)

define:

A aquiescência é a aceitação da decisão. Segundo o art. 503, CPC, a parte que a aceitar, expressa ou tacitamente, não poderá recorrer. Nada obstante fale somente em sentença o preceito deve ser aplicado a todo e qualquer pronunciamento judicial recorrível, pois se encontra nas disposições gerais sobre recursos.

Distingue-se da renúncia, pois é a anuência em relação ao provimento e não a

abstenção em interpor o recurso (ASSIS, 2008, p.176).

Page 23: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

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A aquiescência, também chamada de aceitação, pode ser expressa ou tácita. Quando

expressa deverá o advogado da parte ter poderes para tanto. Sobre a aquiescência tácita

Miranda e Pizzol (2000, p. 41) asseveram:

São exemplos da aceitação tácita: (a) o depósito, pelo réu, nos moldes da sentença, do valor da condenação ao pagamento de indenização e honorários advocatícios; (b) a desocupação do imóvel pelo locatário, em razão da decretação do despejo; (c) a entrega do carro na ação de reintegração de posse julgada procedente; d) a destruição do muro na ação condenatória visando ao cumprimento de obrigação de não fazer.

A aceitação e a renúncia são institutos unilaterais, que são consumados antes de

interpor o recurso.

Diferentemente, a desistência pode ser

[...] feita a qualquer tempo (desde o momento em que o recurso foi interposto até o ‘momento imediatamente anterior ao julgamento do recurso, inclusive oralmente na sessão de julgamento’, sendo o termo final o momento da ‘sustentação oral no tribunal para os recursos que a admitem’ (MIRANDA; PIZZOL, 2000, p. 39 apud NERY JÚNIOR; NERY, 1999, grifos no original).

Assim, conclui-se que para ser aceito o recurso, além dos requisitos citados acima,

não deve existir qualquer fato que possa acarretar em sua extinção ou o impedimento do

direito de recorrer.

2.3.5 Tempestividade

A palavra tempestividade segundo Ferreira (1986, p.1660) vem da palavra

tempestivo que significa “Que vem ou sucede no tempo devido; oportuno”. Assim, em

matéria recursal, asseveram Didier e Cunha (2009, p.53):

O recurso deve ser interposto dentro do prazo fixado em lei. O termo incial do prazo recursal é o da intimação da decisão (art. 506, CPC). O prazo para a interposição do recurso é peremptório, insuscetível, por isso, de dilação convencional (sem grifos no original).

Já Theodoro Júnior (2008, p.575) leciona:

Esgotado o prazo estipulado pela lei torna-se precluso o direito de recorrer. Trata-se de prazo peremptório, insuscetível, por isso, de dilação convencional pelas partes (art. 182). Pode, todavia, haver suspensão ou interrupção do prazo de recursos nos casos expressamente previstos nos art. 179 e 180 (obstáculos criados pela parte contrária, férias forenses etc.) e

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22

ainda nas hipóteses do art. 507.

Do mesmo autor (2008, p.575): “Assim, cada espécie de recurso tem um prazo

próprio, que é idêntico e comum para ambas as partes. Por exceção, concede-se à Fazenda

Pública e ao Ministério Público o prazo em dobro para recorrer (art. 188)”.

Portanto, verifica-se que cada recurso tem prazo fixado por lei. O início da contagem

do prazo está previsto no art. 506 do Código de Processo Civil (BRASIL, 1973), in verbis:

Art. 506 – O prazo para a interposição de recurso, aplicável em todos os casos o disposto no Art. 184 e seus parágrafos, contar-se-á da data: I – da leitura da sentença em audiência; II – da intimação às partes, quando a sentença não for proferida em audiência; III – da publicação do dispositivo do acórdão no órgão oficial.

Impende ressaltar, que este prazo poderá ser suspenso ou interrompido, nos termos

da lei.

Sobre a suspensão Assis (2008, p. 194) leciona:

Entre nós, constituem casos de suspensão do prazo recursal: a) superveniência do recesso forense que, nada obstante banido no art. 93, XII, da CF/1998, na redação da EC 45, de 08.12.2004, obteve sobrevida porque chamados de feriados os dias compreendidos entre 20 de dezembro e 06 de janeiro, inclusive a teor do art. 62, I, da Lei 5.010, de 30.05.1966; b) obstáculo criado pela outra parte, a exemplo da retira dos autos de cartório, afigurando-se comum o prazo recursal (art. 180); c) perda da capacidade processual de qualquer das partes de seu representante legal ou de seu procurador (art. 265, I, c/c art. 180); d) recebimento de exceção de incompetência, de suspeição ou de impedimento (art. 265, III, c/c art. 180); e) obstáculo criado pelo juízo, a exemplo da conclusão dos autos, estorvando a consulta ao processo no cartório e a respectiva carga; f) greve dos serviços judiciários (sem grifos no original).

Outrossim, nas lições de Dinamarco (2005, p.573) “Interromper um prazo significa

cortar a sua fluência, cancelando-se o tempo já passado e recomeçando-se do início. Em

linguagem comum, é zerar o prazo”.

Por derradeiro, verifica-se que deverá o legitimado para interpor o recurso, verificar

o prazo em que o mesmo deve ser interposto. Este prazo pode variar conforme o tipo de

recurso e observando as causas de suspensão e interrupção.

Page 25: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

23

2.3.6 Observação da forma prescrita em lei

Já analisado que todos os recursos estão previstos em lei, em numerus clausulus.

Estes recursos devem ainda se revestir de outro requisito de ordem formal, que é o respeito à

forma estabelecida em lei ou simplesmente, regularidade formal.

Sobre o assunto, Nery Júnior (1998, p.310) afirma que:

A lei impõe ao recorrente, ainda, observe a forma segunda a qual o recurso deve revestir-se. Exige-se, por exemplo que o recorrente alinhe as razões de fato e de direito que fundamentam o pedido de nova decisão (art. 514, CPC). Outros dispositivos legais fazem referência à regularidade formal de modo mais sucinto, menos explícito. A constante que, porém, é que há exigência de que o recurso seja motivado, isto é, de que o recorrente leve ao órgão ad quem as razões de seu inconformismo (sem grifos no original).

Sobre a observação da forma prescrita em lei, Rodrigues (2000, p. 245) assevera que

“É requisito não muito rígido, hoje. Há, todavia, que cumprir a exigência legal quanto ao

nome das partes, quanto à fundamentação e ao objeto do reexame”.

Já Assis (2008, p. 198) leciona que:

Impõe a lei forma rígida ao ato de recorrer. Em outras palavras, a forma não é livre. Consoante deflui dos arts. 514, 524, 536 e 541, ressalva deita às peculiaridades respectivas, há quatro requisitos formais genéricos: (a) petição escrita; (b) identificação das partes; (c) motivação; (d) pedido de reforma ou de invalidação do pronunciamento recorrido (sem grifos no original).

Sobre a o requisito da petição escrita, o mesmo autor (2008, p.199) ressalta que

“limitada a forma oral de interposição a uma das modalidades do agravo, chega-se à fácil

conclusão de que a forma escrita predomina quanto ao ato de recorrer, como já corria no

direito anterior”.

Outrossim, Souza (2008, p.81) leciona que “Por ser a fundamentação necessária ao

cumprimento do requisito da regularidade formal, a ausência das razões recursais conduz à

prolação de juízo de admissibilidade negativo”.

Em suma, para que o recurso seja aceito, deve-se obedecer a certas formalidades

previstas em lei. Cada recurso pode ter formalidades específicas, mas, geralmente, deve ser

interposto por escrito, com a fundamentação bem como a motivação e o pedido de reforma ou

invalidação do decisum atacado.

Page 26: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

24

2.3.7 Preparo

O preparo nada mais é do que o “pagamento prévio das custas referentes ao

processamento do recurso, bem como do chamado porte de retorno” (PAVAN, 2000, p. 41).

Sobre o tema observa-se que:

O preparo tem natureza jurídica de taxa não só por albergar na sua formação as custas devidas ao Estado, como também por ser uma contraprestação pelos serviços que o Estado presta ao jurisdicionado, consistente no processamento e julgamento de seu recurso (PAVAN, 2000, p. 163, grifos no original).

É o último requisito a ser analisado, sendo que a falta do preparo faz com que o

recurso seja julgado como deserto.

Nos dizeres de Assis (2008, p. 207):

O preparo consiste no prévio pagamento das despesas relativas ao processamento do recurso. O valor é fixado na lei de organização judiciária para cada recurso e, de ordinário, emprega-se um percentual ad valorem. É a única condição cuja falta recebe designação própria: diz-se deserto (e, portanto, inadmissível) o recurso desacompanhado de preparo, quando e se a lei exigir tal pagamento (sem grifos no original).

Sobre o assunto Nery Junior (2004, p. 425) ressalta que o preparo deve ser pago no

ato de interposição do recurso, pois o sistema processual civil brasileiro adotou a regra do

preparo imediato. Assim, conclui-se que, caso o recorrente não tenha recolhido o preparo no

momento da interposição deste, ocorre a preclusão consumativa.

Destaca-se que se o recorrente recolher um valor menor do que o devido, este deverá

ser intimado a completar o valor e caso não recolher em 5 dias o recurso será julgado deserto,

consoante artigo 511, parágrafo 2º, do Código de Processo Civil. Neste sentido lecionam

Miranda e Pizzol (2000, p.42) “A insuficiência no valor do preparo implicará na deserção, se

o recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias, conforme disposto no §2º

do art. 511 do CPC, acrescentado pela Lei nº 9.726, de 17-12-1998”.

Assim dispõe o artigo 511, do Código de Processo Civil (BRASIL, 1973), in verbis:

Art. 511 - No ato de interposição do recurso, o recorrente comprovará, quando exigido pela legislação pertinente, o respectivo preparo, inclusive porte de remessa e de retorno, sob pena de deserção. § 1º - São dispensados de preparo os recursos interpostos pelo Ministério Público, pela União, pelos Estados e Municípios e respectivas autarquias, e pelos que gozam de isenção legal. § 2º - A insuficiência no valor do preparo implicará deserção, se o

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recorrente, intimado, não vier a supri-lo no prazo de cinco dias.

Depreende-se da leitura do artigo supracitado que estão dispensados do preparo o

Ministério Público, União, Estados, Municípios, autarquias e pessoas que gozam de isenção

legal. Outrossim, existem outros casos que o preparo não é obrigatório, “quais sejam: (a)

agravo retido (art. 522, parágrafo único); (b) embargos de declaração (art. 536); (c) recursos

interpostos por beneficiários da justiça gratuita (LAJ, arts. 3º, II e 9º)” (MIRANDA; PIZZOL,

2000, p. 41-42).

2.4 EFEITOS DOS RECURSOS

O recurso quando interposto impede o trânsito em julgado da decisão. Entretanto,

“[...] a doutrina costuma identificar outros efeitos provocados pelos recursos. São eles,

genericamente considerados, os denominados efeitos devolutivo e o efeito suspensivo”

(SILVA; GOMES, 2000, p. 311).

Ao tratar sobre o tema, Didier e Cunha (2009, p.80) conceituam “O efeito suspensivo

é aquele que provoca o impedimento da produção imediata dos efeitos da decisão que se quer

impugnar”.

No mesmo norte, “2.º) Efeito suspensivo. É efeito normal aos recursos e consiste na

suspensão da exeqüibilidade da decisão, enquanto não for julgado o recurso interposto”

(RODRIGUES, 2000, p. 246).

Portanto, quando for dado o efeito suspensivo ao recurso não poderá a decisão que

ensejou a interposição recursal ter seu efeito imediato enquanto não julgado o recurso.

Em contrapartida, o recurso pode ter apenas o efeito devolutivo, e poderá a decisão

ser executada, embora seja esta provisória.

Silva e Gomes (2000, p.311), conceituam o efeito devolutivo como “[...] a

transferência, a um órgão de jurisdição superior, do conhecimento da matéria decidida pelo

magistrado de grau inferior”.

Ressalta-se ainda que “O efeito devolutivo é comum a todos os recursos. É da

essência do recurso provocar o reexame da decisão – e isso que caracteriza a devolução”

(DIDIER JR., CUNHA, 2009, p. 82).

O efeito substitutivo pode ser total ou parcial. Assis (2008, p. 260), discorrendo sobre

o tema, assevera que:

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26

Há substituição total, quer seja reformado, quer seja confirmado provimento, na medida em que o recurso versar todos os capítulos e disposições do ato impugnado. Pressupõe-se, assim, a interposição de recurso total. A esse efeito, não importa que ao recurso seja dado provimento parcial. Em tal hipótese, a “decisão inferior se vê substituída em parte por outra de igual conteúdo por e em parte por outra de conteúdo diferente” E há substituição parcial em dois casos: em primeiro lugar, deduzido recurso parcial, o que implica preclusão no tocante ao capítulo alheio à impugnação, hipótese prevista no art. 512, in fine, segundo o qual a substituição sucederá “no que houver sido objeto de recurso”; ademais, quando o recurso, embora originariamente amplo só é conhecido em parte. Na reforma parcial, o pronunciamento do órgão ad quem se engasta na decisão impugnada, “de modo que com ela faça corpo, segundo os princípios da contradição e de terceiro excluído” (sem grifos no original).

Em outras palavras, além de impedir o trânsito em julgado, o recurso quando

interposto, poderá ter efeito suspensivo em relação à decisão objurgada, e efeito substitutivo.

2.5 TIPOS DE RECURSOS

A doutrina costuma diferenciar os tipos de recursos em recursos de fundamentação

livre e de fundamentação vinculada.

Os recursos de fundamentação livre

A exemplo da apelação e do agravo, o recorrente poderá tecer qualquer crítica ao provimento impugnado, observando tão só a congruência entre a fundamentação do ato decisório e as razões do recurso. São recursos de motivação livre (ou simples): apelação, agravo, embargos infringentes, recurso ordinário e embargos de divergência (ASSIS, 2008, p.56).

Assim, os recursos de fundamentação livre são aqueles que podem ser alegadas

várias razões para alterar a decisão que ensejou o manejo do recurso (WAMBIER, 2005, p.

571).

Outrossim, existe também aqueles recursos de fundamentação vinculada. Sobre estes

recursos Didier e Cunha (2009, p. 29) asseveram:

Nos recursos de fundamentação vinculada, o recorrente deve “alegar” um dos vícios típicos para que o seu recurso seja admissível. Essa alegação é indispensável para que o recurso preencha o requisito da regularidade formal (abaixo examinado). Afirmado pelo recorrente um dos vícios que permitem a interposição do recurso, o recurso, por esse aspecto, deve ser conhecido; a verificação da procedência ou improcedência das alegações é um problema atinente ao juízo de mérito recursal (sem grifos no original).

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Wambier, Almeida e Talamini (2005, p. 572) complementam:

�os recursos cuja fundamentação é vinculada, o juízo de admissibilidade é etapa muito mais complexa, e o tribunal deve avaliar se os pressupostos genéricos estão satisfeitos (interesse, legitimidade, tempestividade etc.) e se os pressupostos específicos também, ou seja, se o recurso se argúi ou se levantam os problemas que a lei permite que sejam levantados através daquele tipo de recurso. Assim, para que seja conhecido o recurso especial, é necessário, por exemplo, que se alegue ter havido ofensa à lei federal. Demonstrá-la é problema do mérito, do provimento ou não do recurso (sem grifos no original).

Portanto, verifica-se que existem recursos em que, nas razões, pode-se alegar

qualquer crítica em relação ao decisum atacado (recursos de fundamentação livre) e que

também existem aqueles em que “a lei limita o tipo de crítica que se possa fazer contra a

decisão impugnada” (DIDIER; CUNHA, 2009, p. 29).

Assim, analisado os aspectos principiais dos recursos, mister estudar o recurso

extraordinário e por fim analisar o objeto deste trabalho, qual seja, repercussão geral no

recurso extraordinário.

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28

3 RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO

3.1 ORIGEM

Primeiramente antes de analisar-se o recurso extraordinário deve-se identificar a sua

origem. A origem do recurso extraordinário é muito controvertida, e nessa ótica Silva

assevera:

Controverteu-se a respeito da origem do recurso extraordinário. Alguns viram sua fonte mais remota na Suplicação do Direito antigo português, e sua fonte próxima na Revista, que, no direito brasileiro pré-republicano, interpunha-se em caso de nulidade ou injustiça notória, para o então Supremo Tribunal de Justiça. Não se pode negar, com efeito, certa afinidade entre o recurso extraordinário e esses recursos; e bem poderia ser uma evolução deles. Assim, porém, não se deu. Nos termos em que o recurso extraordinário entrou na legislação nacional, reconhece-se nitidamente, sua filiação ao direito saxônico, através do writ of error dos americanos (SILVA, 1963, p. 26-27).

Segundo Lima (2007, p.158-159), o Recurso Extraordinário teve inspiração na

legislação dos EUA, e surgiu após a proclamação da República. O sistema jurídico, diante da

criação da República Federativa do Brasil, verificou a necessidade de criar um órgão para a

guarda da constituição, antes confiada aos Estados. Desta forma, nasce o Supremo Tribunal

Federal. Assim, surgiu, em 1891, o Recurso Extraordinário, instituído pelo artigo 59,

parágrafo 1º, da com a Constituição Federal de 1891, passando a constar em todas as

Constituições posteriores. Posteriormente, com o acumulo de demandas no Supremo Tribunal

Federal, criou-se, em 1988, o Superior Tribunal de Justiça – STJ – para a guarda da norma

infraconstitucional.

3.2 CONCEITO

O recurso extraordinário, segundo Wambier, “[...] sempre teve como finalidade,

entre outras, a de assegurar a inteireza do sistema jurídico, que deve ser submisso à

Constituição Federal.”

Outrossim, segundo Rodrigues (2000, p. 286),

O recurso extraordinário, como indica a própria denominação, é um recurso maior, que se interpõe para a mais alta Corte do País, o Supremo Tribunal

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29

Federal, das decisões finais proferidas em única ou última instância por outros tribunais, nos casos expressos previstos pela Constituição da República.

Imperioso destacar as palavras de Wambier, Almeida e Talamini (2005, p.632):

Por meio destes recursos não se pode, portanto, pleitear a revisão de matéria de fato. Os tribunais superiores, ao julgarem recurso especial e recurso extraordinário, aceitam a versão dos fatos dada pelo juízo a quo (juízo que prolatou a decisão de que se recorreu), para, a partir daí, examinarem o mérito do recurso, que consiste sempre, direta ou indiretamente, na alegação de ofensa a regra constitucional ou a dispositivo federal.

Conforme já exposto no capítulo anterior, o recurso extraordinário é um recurso de

fundamentação vinculada, e tem por finalidade “[...] manter a unidade da Constituição Federal

e a Lei Federal, de forma a estabelecer suas supremacias sobre leis locais e decisões que

contrariam seus preceitos” (MANCUSO, 2006, p. 179).

Nas lições de Theodoro Júnior (2006, p.683):

Tem, assim, o recurso extraordinário uma finalidade “eminentemente política”. Mas, nada obstante, essa função especial não lhe retira o “caráter de instituto processual destinado à impugnação de decisões judiciárias, a fim de se obter a sua reforma”. Isto porque, conhecendo do recurso e dando-lhe provimento, a Suprema Corte, a um só tempo, terá tutelado a autoridade e unidade de lei federal (especificamente das normas constitucionais) bem como proferido nova decisão sobre o caso concreto (sem grifos no original).

Segundo Didier e Cunha (2009, p. 256), o recurso extraordinário é exemplo de

recurso de fundamentação vinculada, não servindo estes para o reexame de prova ou fatos,

apenas para questões de direito.

Já Lima (2007, p. 159) assevera que:

[...] o recurso extraordinário é remédio constitucional, utilizado para dar interpretação uniforme à norma constitucional de forma ampla e que tenha validade para todos em situações semelhantes, não lhe cabendo apreciar matéria de fato, por não se tratar de continuidade de discussão do litígio entre as partes, preocupando-se, apenas, com o exame das questões de direito, após esgotadas todas as possibilidades de recurso no tribunal de origem, inclusive os embargos infringentes e o agravo regimental, quando cabível, que a matéria em discussão tenha violado norma constitucional de competência do Supremo Tribunal Federal e que haja repercussão relevante de questões de ordem econômica social político ou jurídico. Sua falta gera o não recebimento do recurso extraordinário em decisão irrecorrível.

Page 32: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

30

Pode-se ressaltar ainda que o Recurso Extraordinário

Trata-se de forma excepcional de recurso, não configurando terceiro ou quarto grau de jurisdição. Daí não poder ser invocada, em grau de RE, a ordem pública de que se revestem algumas questões para que possam ser apreciadas ex officio e pela primeira vez pelo STF. Verificada a procedência da alegação do recorrente, de que o tribunal a quo infringiu a CF, o STF cassará o acórdão recorrido e aplicará o direito à espécie, podendo ingressar no mérito do caso concreto, apreciar as provas e dar o direito a quem o tem (STF 456). O processo do RE é regulado pelo CPC 541ss (NERY JUNIOR; NERY, 2006, p. 279).

Destarte, discorrendo sobre a natureza jurídica do recurso extraordinário, Santos

(2003, p.170) leciona que:

[...] se trata de um recurso processual que, entretanto, dos demais recursos processuais se distingue: tem assento na Constituição e não em lei ordinária; tem função específica de dirimir controvérsias sobre questão constitucional suscitada em processo comum, civil e penal, em processo trabalhista, eleitoral ou penal-militar. É um recurso processual, mas comum a todos os processos, em que igualmente exerce sua função, que lhe é traçada pela Constituição. (sem grifos no original).

Em síntese, o recurso extraordinário é aquele que visa atacar decisão judicial proferida em

única ou última instância que fere dispositivo constitucional.

3.3 CABIMENTO DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

O recurso extraordinário terá cabimento apenas nos casos previstos na Constituição

Federal, mormente no artigo 102, inciso III. Sendo que, o Código de Processo Civil limita-se

apenas a questão processual, tais como prazos, formas de interposição, etc. (PRETTI, 2006, p.

423).

Nos termos do artigo 102, inciso III, da Constituição Federal (BRASIL, 1988):

Art. 102. Compete ao Supremo Tribunal Federal, precipuamente, a guarda da Constituição, cabendo-lhe: [...] III - julgar, mediante recurso extraordinário, as causas decididas em única ou última instância, quando a decisão recorrida: a) contrariar dispositivo desta Constituição; b) declarar a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal; c) julgar válida lei ou ato de governo local contestado em face desta Constituição. d) julgar válida lei local contestada em face de lei federal.

Page 33: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

31

Assim, segundo Assis (2008, p.694), as hipóteses de cabimento específicas,

elencadas no artigo 102, inciso III, da Constituição Federal, devem obedecer à algumas

condições genéricas, quais sejam: esgotamento das vias recursais ordinárias,

prequestionamento da questão constitucional, ofensa direta à norma constitucional e

repercussão geral da questão constitucional.

3.3.1 Condições genéricas do cabimento do recurso extraordinário

O artigo 102, inciso III, da Constituição Federal, dispõe que ao Supremo Tribunal

Federal compete julgar os recursos extraordinários nas causas decididas em única ou última

instância.

Assim, nas lições de Assis (2008, p. 695), “É indispensável, em qualquer caso, que o

pronunciamento do juiz singular ou do tribunal seja ‘final’”.

No mesmo sentido, Didier Jr. e Cunha (2009, p. 266) lecionam que:

Os recursos extraordinário e especial pressupõem um julgado contra o qual já foram esgotadas as possibilidades de impugnação nas várias instâncias ordinárias ou na instância única. Não podem ser exercitados per saltum, deixando in albis alguma possibilidade de impugnação. As cortes de cúpula só devem manifestar-se sobre questão que tenha sido resolvida na instância ordinária (sem grifos no original).

O mesmo autor, conclui que “É necessário, portanto, o prévio esgotamento dos

recursos possíveis de serem interpostos para que possam ser interpostos os recursos

excepcionais” (DIDIER JR; CUNHA, 2009, p. 267).

Outrossim, outra condição genérica é o prequestionamento da questão constitucional.

Sobre o tema Marinoni e Arenhart (2007, p. 562) lecionam que “A fim de que seja cabível,

[...], é necessário que a questão legal ou constitucional já esteja presente nos autos, tendo sido

decidida pelo tribunal (ou juízo no caso de recurso extraordinário) a quo”.

A doutrina é divergente quanto a classificação do prequestionamento. Segundo

Didier e Cunha (2009, p. 261), “Não é o prequestionamento um requisito especial de

admissibilidade dos recursos.”. O mesmo autor refere que é apenas uma “etapa no exame de

cabimento dos recursos extraordinários.” (2009, p. 262)

Sobre o tema, importante as lições de Didier e Cunha (2009, p.261-262):

Talvez a conceituação do prequestionamento como requisito imposto pela jurisprudência tenha nascido porque a expressão vem mencionada em dois verbetes da Súmula do STF (STF 282 e 356). Evidentemente a

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32

jurisprudência, ainda que do Pretório Excelso, não poderia criar requisitos de admissibilidade para os recursos extradordinários e especial, tarefa conferida exclusivamente à Constituição Federal. (apud NERY JR; WAMBIER, 2000, p. 855).

Por não ser o tema do presente trabalho, limita-se a dizer que o prequestionamento

preenche-se “[...] com o exame, na decisão recorrida, da questão federal ou constitucional que

se quer ver analisada pelo Superior Tribunal de Justiça ou Supremo Tribunal Federal.”

(DIDIER; CUNHA, 2009, p. 262)

Como condição genérica do cabimento do recurso extraordinário existe também a

ofensa direta à Constituição.

Sobre o tema Assis (2008, p. 705) assevera:

A admissibilidade do recurso extraordinário exige, nos tipos do art. 102, III, a e c, da CF/1998, ofensa direta à Constituição. Tal acontece, consoante a explicação mais persuasiva, “quando é o próprio texto constitucional que resultou ferido, sem ‘lei federal’ de permeio (ainda que acaso também tenha sido violada)” (sem grifos no original).

Por derradeiro, verifica-se que a motivação destas restrições encontra-se em dois

fundamentos: o primeiro é de que somente ao Supremo Tribunal Federal incumbe-se o

controle de questões constitucionais, as questões federais incumbe ao Superior Tribunal de

Justiça analisar através de recurso especial; e o segundo fundamento é de a interpretação do

artigo 102, inciso III, alíneas a e c, devem ser rígidas não comportando questão federal de

permeio à aplicação da Constituição Federal. (ASSIS, 2008, p. 705).

Por fim, ressalta-se que com o advento da EC 45/05 foi acrescentado outro requisito

de admissibilidade, qual seja, repercussão geral, que será tratado em capítulo próprio.

3.3.2 Condições específicas do cabimento do recurso extraordinário

Analisados as condições genéricas passa-se a verificar as condições específicas do

cabimento. Nas palavras de Assis (2008, p. 715):

O art. 102, III, a até d, arrola as hipóteses específicas de cabimento do recurso extraordinário. Não cabe à lei restringir ou ampliar as hipóteses de cabimento especificadas no dispositivo. Por tal motivo, só a EC 45, de 08.12.2004, poderia ter incluído a hipótese prevista na letra d do inciso III do art. 102.

Page 35: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

33

O artigo 102, inciso III, alínea “a”, da Constituição Federal dispõe que é cabível

recurso extraordinário quando a decisão recorrida contrariar, direta e frontalmente dispositivo

Constitucional.

Deste modo, lecionam Didier e Cunha (2009, p. 326):

A contrariedade, nesse caso, deve ser direta e frontal, não cabendo recurso extraordinário, por ofensa indireta ou reflexa. O próprio texto constitucional tem de ter sido ferido, diretamente, sem que haja lei federal “de permeio”. Em outras palavras, se, para demonstrar a contrariedade a dispositivo constitucional, é preciso, antes demonstrar a ofensa à norma infraconstitucional, então foi essa que se contrariou, e não aquela. �ão cabe, portanto, o recurso extraordinário, cabendo, isto sim, o recurso especial para o STJ (sem grifos no original).

Outra hipótese de cabimento específico está prevista na alínea “b” do inciso III do

mesmo artigo, o qual refere-se que cabe recurso extraordinário da decisão do tribunal a quo

que declarou a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal.

Assim,

Decretada a inconstitucionalidade de tratado ou lei federal, cabe recurso extraordinário para o STF, pois a este se confere a atribuição de ser o guardião da Constituição Federal, cabendo-lhe rever se a norma tida por inconstitucional realmente está contaminada por tal vício. Essa hipótese de cabimento do recurso extraordinário dispensa o prequestionamento: o que importa é a manifestação do tribunal recorrido que decrete a inconstitucionalidade de uma lei ou de um tratado (DIDIER JR; CUNHA, 2009, p. 237-328, sem grifos no original).

Outrossim, assevera Orione Neto (2006, p. 484):

Ao julgar recurso extraordinário interposto pela alínea b, o Supremo Tribunal Federal também exerce o controle difuso de constitucionalidade. Reconhecendo a inconstitucionalidade declarada na origem, o órgão fracionário deve suscitar o respectivo incidente, salvo quando existe pronunciamento do plenário a respeito do assunto.

Portanto, apenas cabe recurso extraordinário o decisum que declara a

inconstitucionalidade de tratado ou lei federal. Quando a decisão recorrida declara a

constitucionalidade de tratado ou lei federal não caberá recurso extraordinário.

Também é cabível recurso extraordinário, consoante alínea “c” do inciso III, do art.

102 da Constituição Federal, “quando a decisão recorrida julgar válida lei ou ato de governo

local contestado em face da Constituição” ( DIDIER JR; CUNHA, 2009, p. 329).

Outrossim, colaciona-se os ensinamentos de Orione Neto (2006, p. 485)

Page 36: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

34

Se o litígio judicial for resolvido mediante a aplicação de lei ou ato de governo local, isto é, de Estado-membro ou de município, cuja validade normativa está sendo questionada diante da Constituição Federal, ter-se-á uma das hipóteses de cabimento do apelo extremo.

Em síntese, quando alegar que a lei ou ato local está em desconformidade com a

Constituição Federal, e posteriormente sobrevir decisão de que a lei ou ato local está em

conformidade poderá ser interposto recurso extraordinário.

Com o advento da Emenda Constitucional n. 45, de 8 de dezembro de 2004, foi

criado a alínea “d” do inciso III do artigo 105 da Constituição Federal, a qual regularizou a

utilização de recurso extraordinário contra acórdão que julgar válida lei local contestada em

face de lei federal.

Sobre o tema, Pretti (2006, p. 435) leciona:

Na hipótese contrária, ou seja, quando a decisão julgar inválidos leis ou atos de governos locais, por entendê-los contrários à lei federal ou à Constituição, não se configura o permissivo constitucional em estudo. Para que este se configure é necessária uma questão federal, ou seja, que a lei federal ou a Constituição sejam contrariadas, sejam preteridas pelo julgado que deu pela validade de lei ou ato de governo local.

Nelson Nery Junior e Nery (2003, p. 280) destacam:

A EC 45/05 criou nova hipótese de cabimento de RE, para que o STF dirima questão constitucional consistente em reexaminar decisão final ou de última instância que julgou válida lei estadual contestada em face de lei federal. Também é questão constitucional a decisão que julga valido ato de governo local contestado em face de lei federal, mas o constituinte derivado conferiu competência ao STJ para dirimir a questão, por meio do REsp.

Assim, analisado a hipóteses de cabimento, faz-se necessário analisar o

procedimento do recurso extraordinário.

3.4 PROCESSAMENTO

O Código de Processo civil disciplina o procedimento do recurso extraordinário no

juízo a quo, conforme já dito acima. Este procedimento está disciplinado nos artigos 541 e

seguintes do Código de Processo Civil.

Assim, o artigo 541, do Código de Processo Civil (BRASIL, 1973), dispõe que o

recurso extraordinário deverá ser interposto perante o presidente ou vice-presidente do

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35

tribunal de origem, em petição distinta, que deverá conter:

I – a exposição do fato e do direito; II – a demonstração do cabimento do recurso interposto; III – as razões do pedido de reforma da decisão recorrida.

Sobre o inciso I, do referido artigo, ressalta-se que:

Embora os RE e Resp sejam recursos de fundamentação vinculada, cabíveis apenas de questões de direito, a norma exige que sejam mencionados os fatos constitutivos do pedido do recorrente, bem como as razões de direito de sua irresignação recursal. Não se pode alterar o fundamento jurídico do RE ou do REsp, dada a circunstância de serem recursos de fundamentação vinculada (NERY JR.; NERY, 2006, p. 926).

A demonstração do cabimento, nada mais é do que demonstrar os requisitos

constitucionais já abordados.

Outrossim, salienta-se que o prazo para interpor o recurso, em regra, é de 15 (quinze

dias) conforme artigo 508 do Código de Processo Civil.

Assim, interposto o recurso extraordinário, no prazo fixado por lei, cumprido os

requisitos do artigo 541, será recebida a petição e intimado o recorrido para apresentar contra-

razões (consoante artigo 542, do Código de Processo Civil). Após, “serão os autos conclusos

para a admissão ou não do recurso, no prazo de 15 (quinze) dias, em decisão fundamentada”

(Conforme artigo 542, parágrafo primeiro, do Cânone Processual,).

Importante salientar que,

[...]sendo interpostos recurso especial e recurso extradordinário contra decisão interlocutória, estes ficarão retidos nos autos, somente sendo apreciados se a parte reiterar sua intenção de vê-los julgados, no prazo para interposição do recurso contra decisão final, ou para contra-razões (WAMBIER; ALMEIDA; TALAMINI, 2005, p.634).

Admitido o recurso extraordinário e caso seja interposto simultaneamente recurso

especial, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça, nos termos no artigo 543

do Código de Processo Civil (BRASIL, 1973), in verbis:

Art. 543 - Admitidos ambos os recursos, os autos serão remetidos ao Superior Tribunal de Justiça. § 1º - Concluído o julgamento do recurso especial, serão os autos remetidos ao Supremo Tribunal Federal, para apreciação do recurso extraordinário, se este não estiver prejudicado. § 2º - Na hipótese de o relator do recurso especial considerar que o recurso extraordinário é prejudicial àquele, em decisão irrecorrível sobrestará o seu julgamento e remeterá os autos ao Supremo Tribunal Federal, para o julgamento do recurso extraordinário.

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36

§ 3º - No caso do parágrafo anterior, se o relator do recurso extraordinário, em decisão irrecorrível, não o considerar prejudicial, devolverá os autos ao Superior Tribunal de Justiça, para o julgamento do recurso especial.

Da decisão que não admitir o recurso extraordinário, ou seja, despacho denegatório

caberá agravo de instrumento no prazo de 10 (dez) dias, para o Supremo Tribunal Federal,

conforme artigo 544 do Código de Processo Civil.

Neste ponto, é necessário ressaltar as palavras de Wambier, Almeida e Talamini:

(2005, p. 636):

Esse agravo, diferentemente do agravo de instrumento contra as decisões interlocutórias de primeiro grau, não é proposto diretamente no tribunal com competência para julgá-lo. No caso em exame, a petição recursal deve ser dirigida à presidência do tribunal de origem. A lei dispensa esse recurso do pagamento de custas e despesas postais (art. 544, §2.º).

O recurso extraordinário poderá subir ao Supremo Tribunal Federal de três modos:

“Quando for admitido na origem; b) em virtude do provimento do agravo de instrumento, [...]

determinando a subida; c) mediante a conversão do agravo de intrumento em recurso

extradordinário”(ASSIS, 2008, p. 759).

O procedimento no juízo ad quem, que em recurso extraordinário será

necessariamente o Supremo Tribunal Federal, rege-se pelo disposto nos artigos 543 a 546 do

Código de Processo Civil, bem como o Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal,

conforme artigo 96, inciso I, alínea “a”, da Constituição Federal (BRASIL, 1988), in verbis:

Art. 96 - Compete privativamente: I - aos tribunais: a) eleger seus órgãos diretivos e elaborar seus regimentos internos, com observância das normas de processo e das garantias processuais das partes, dispondo sobre a competência e o funcionamento dos respectivos órgãos jurisdicionais e administrativos; (sem grifos no original)

Assim, Santos (2003, p.172) leciona:

a) Chegados os autos do recurso à secretaria desse Tribunal, serão protocolados no dia da entrada, na ordem de recebimento, registrados no primeiro dia útil imediato e logo feita a distribuição a um relator (Reg interno, arts, 54, 66) . “Distribuído o recurso o relator, após do Procurador-Geral, se necessária, pedirá dia para julgamento”(Reg. Interno, ad. 323), em regra ao presidente da Turma a que pertencer, ou, em alguns casos, ao Presidente do Tribunal. “A publicação da pauta e de julgamento antecederá quarenta e oito horas, pelo menos, à sessão em que os processos possa ser chamados (Reg. Interno, art. 83).

Page 39: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

37

Em síntese, o recurso após ser protocolado, será distribuído para um relator, que, se

necessário, abrirá vistas, pelo prazo de 20 (vinte) dias, ao Ministério Público. Posteriormente,

caso não seja a hipótese de julgamento monocrático, o relator pedirá dia para julgamento.

Destarte nas palavras de Marinoni e Arenhart (2007, p. 577):

No exame do recurso, será verificado, preliminarmente, seu cabimento, após o que, sendo conhecido o recurso, examinar-se-á seu mérito, interpretando-se corretamente a norma de lei federal ou constitucional e decidindo-se a causa com base nessa hermenêutica (art. 257 do Regimento Interno do Superior Tribunal de Justiça e art. 324 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal).

Outrossim, Santos (2003, p. 172) assevera:

b) O julgamento do recurso extraordinário, como regra, é da competência da Turma a que pertencer o relator (Reg. Interno, ad. 92, III), a qual poderá, entretanto, em casos especiais, remeter o feito ao julgamento do Plenário (Reg. Interno, arts. 11, 12). Todavia, a competência para o julgamento será sempre deste quanto a causas decididas pelo Tribunal Superior Eleitoral e Tribunal Superior do Trabalho, quando a decisão (recorrida) contrariar a Cosntituição. c) Na sessão de julgamento, o Presidente, feito o relatório, dará a palavra, sucessivamente, ao recorrente e ao recorrido para sustentação de suas alegações, pelo tempo máximo de quinze minutos para cada uma das partes (Reg. Interno, arts. 131, 132). Se houver litisconsortes não representados pelo mesmo advogado, o prazo será contado em dobro e divido igualmente entre os do mesmo grupo, se diversamente não o convencionarem (Reg. Interno, art. 132, ão o convencionarem (Reg. Interno, art. 132, § 2º). O Procurador-Geral terá igual prazo ao das partes, salvo disposição legal em contrário (Reg. Interno, ad. 132, § 1º).

O julgamento do recurso extraordinário não foge a regra do tradicional.

Primeiramente o tribunal fará o juízo de admissibilidade do recurso, posteriormente analisará

as preliminares e assim, se for o caso, será feita a discussão e o julgamento da matéria

principal (ASSIS, 2008, p. 761).

A repercussão geral, objeto deste trabalho, é uma preliminar, portanto, integra ao

juízo de admissibilidade. Sobre esta questão será tratado no capítulo específico da

repercussão.

3.5 EFEITOS DO RECURSO EXTRAORDINÁRIO

Como já exposto os recursos tem o efeito obstativo do trânsito em julgado, portanto o

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38

recurso extraordinário não poderia ser diferente. Ou seja, interposto o recurso extraordinário,

este impede o trânsito em julgado da decisão.

Outrossim, em regra, o recurso extraordinário será recebido no efeito devolutivo.

Sobre a matéria Nery Júnior (2003, P. 799) leciona:

Os RE e REsp serão recebidos apenas no efeito devolutivo. �ão possuem efeito suspensivo. Assim, as decisões por eles impugnadas podem produzir efeitos desde logo, ensejando execução provisória (CPC 587). Quando houver perigo de dano irreparável ou de difícil reparação, admite-se o ajuizamento de ação cautelar no STF ou STJ, a fim de obstar-se a execução provisória da decisão recorrida por meio de RE ou REsp. Para tanto é necessário que estejam presentes os requisitos de toda cautelar (fumus boni júris e periculum in mora) e que o RE ou REsp tenha sido efetivamente recebido por juízo positivo de admissibilidade no tribunal a quo. Caso a urgência não permita ao recorrente aguardar a decisão de recebimento do RE ou REsp no tribunal local, é admissível, em caráter absolutamente excepcional, a concessão de liminar cautelar no STF ou STJ obstando-se os efeitos da decisão recorrida (sem grifos no original).

Sobre a suspensão, Assis (2008, p.730) complementa que “[...] o STF respondeu com

a invocação do art. 21, IV, c/c art. 304, do respectivo regimento interno. Essas disposições

autorizam o relator a submeter ao plenário ou à turma medida cautelar para conferir efeito

suspensivo ao extraordinário”.

Complementa o mesmo autor:

A jurisprudência dominante do STF exige a configuração simultânea de quatro requisitos: (a) juízo de admissibilidade positivo, e, assim, o nascimento da competência cautelar do STF; (b) presença de todos os requisitos de admissibilidade do extraordinário, a critério do relator; (c) plausibilidade do seu provimento; (d) existência flagrante de receio de dano (ASSIS, 2008, p. 734).

Assim, analisado o recurso extraordinário, deve-se entrar no objeto de estudo deste

trabalho, qual seja, repercussão Geral.

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39

4 REPERCUSSÃO GERAL �O RECURSO EXTRAORDI�ÁRIO

4.1 ORIGEM

A repercussão geral surgiu com a emenda constitucional n. 45/2004, e foi

regulamentada pela Lei n. 11.418/2006 e emenda regimental n. 21 do Supremo Tribunal

Federal.

Como já explanado no presente trabalho, ao Supremo Tribunal Federal compete à

guarda da Constituição Federal. Entretanto, antes da reforma muitos recursos eram interpostos

meramente para protelar a discussão, criando um acumulo de processos que, em tese, não

deveriam ser apreciados pela Suprema Corte.

Neste sentido Theodoro Júnior (2007, p. 102) explica:

Foi a falta de filtragem da relevância do recurso extraordinário que levou o Supremo Tribunal Federal a acumular milhares e milhares de processos, desnaturando por completo seu verdadeiro papel institucional e impedindo que as questões de verdadeira dimensão pública pudessem merecer a apreciação detida e ponderada exigível de uma autêntica corte constitucional.

Assim, tendo em vista que muitos recursos eram interpostos somente para uma nova

apreciação, ou melhor, uma revisão do decisum da instância inferior, do que salvaguardar

disposições constitucionais constatou-se que era necessário a criação de um requisito para

filtrar as demandas que aspiravam a mera reapreciação daquelas que realmente eram

relevantes e de competência do Supremo Tribunal Federal.

Nas palavras de Assis (2008, p. 706):

A “crise” do STF traduziu-se, ao fim e ao cabo, no excessivo número de processos sujeitos a julgamento naquele tribunal. Esse problema obscureceu a avaliação objetiva do STF no seu aspecto decisivo – na institucionalização e preservação do Estado democrático de direito.

Portanto, a fim de diminuir o número de recursos e diminuir a crise, a Emenda

Constitucional n. 45/2004 acrescentou ao art. 102, da Constituição da República Federativa do

Brasil (BRASIL, 1988), o parágrafo 3º, in verbis:

§3.º No recurso extraordinário o recorrente deverá demonstrar a repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso, nos termos da lei, a

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40

fim de que o Tribunal examine a admissão do recurso, somente podendo recusá-lo pela manifestação de dois terços de seus membros.

Neste sentido, Cembranel (2009, p. 13) leciona:

O requisito da repercussão geral para admissibilidade do recurso extraordinário foi acrescido na legislação brasileira como tentativa de obstar o crescimento progressivo de demandas no Supremo Tribunal Federal e o conseqüente desvio de sua função precípua. Assim, com o fito de solucionar a crise do extraordinário que se observava no Supremo Tribunal Federal, passou-se a exigir, sob a denominação de repercussão geral da questão constitucional, que as matérias objeto de recurso extraordinário revelem-se importantes para toda a coletividade, não se limitando à solução do litígio intersubjetivo (sem grifos no original).

Assim, compreendida a origem da repercussão geral, faz-se necessário analisar a sua

natureza jurídica bem como suas peculiaridades.

4.2 NATUREZA JURÍDICA

A doutrina qualifica a repercussão geral como “[...] mais um requisito de

admissibilidade do recurso extraordinário” (MARINONI; ARENHART, 2008, p. 565).

Sobre a repercussão geral Marinoni e Mitidiero (2007, p. 33) afirmam que “Trata-se

de requisito intrínseco de admissibilidade recursal: não havendo repercussão geral, não existe

poder de recorrer ao Supremo Tribunal Federal”.

No mesmo sentido Marinoni e Arenhart (2008, p. 565-566) asseveram:

Trata-se de mais um requisito de admissibilidade do recurso extraordinário, com a diferença de que não se coloca no mesmo plano daqueles requisitos elencados nas alíneas do inciso III do art. 102, pois o recorrente, a partir de agora, além de ter que fundamentar o extraordinário em uma dessas letras, terá que demonstrar a ‘repercussão geral das questões constitucionais discutidas no caso’.

Souza (2007. p. 453) conceitua:

A repercussão geral é o requisito de admissibilidade consubstanciado na exigência de que o recorrente demonstre a relevância da questão constitucional veiculada no recurso extraordinário, sob o prisma econômico, político, social ou jurídico, a fim de ensejar o conhecimento do recurso pelo Supremo Tribunal Federal, em razão do superior interesse da preservação do direito objetivo (sem grifos no original).

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41

Outrossim, Assis (2008, p. 709) “O art. 543-A, caput, situou o tema, a nosso ver

corretamente, no juízo de admissibilidade, preceituando que o STF ‘não conhecerá do recurso

extraordinário, quando a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão geral’”.

Assim, constata-se que a repercussão geral tem a natureza jurídica de requisito de

admissibilidade do recurso extraordinário, sendo que não está relacionada aos demais

requisitos de admissibilidade, e sem a análise da repercussão não poderá ser analisado o

mérito do recurso.

4.3 CONCEITO

É muito difícil encontrar um conceito específico para a repercussão geral, tendo em

vista que a definição é muito aberta. Nesse sentido Marinoni e Arenhart (2008, p. 566):

Vê-se que a definição apresentada não se distancia muito da antiga idéia da argüição de relevância. Em razão disso, pode-se prever que os mesmos problemas antes enfrentados com a questão da argüição de relevância serão hoje sentidos com a questão de “repercussão geral”, notadamente em razão do caráter aberto dos parâmetros utilizados para sua conceituação (questões relevantes econômicas, políticas, sociais ou jurídicas).

Assim, a Emenda Constitucional 45/2004 “criou” o instituto da repercussão geral,

entretanto não definiu o que era. Diante disso, a Lei nº 11.418/2006 regulamentou o instituto,

acrescentando o artigo 543-A ao Cânone Processual (BRASIL, 1973), que assim dispõe, in

verbis:

Art. 543-A. O Supremo Tribunal Federal, em decisão irrecorrível, não conhecerá do recurso extraordinário, quando a questão constitucional nele versada não oferecer repercussão geral, nos termos deste artigo. § 1º Para efeito da repercussão geral, será considerada a existência, ou não, de questões relevantes do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, que ultrapassem os interesses subjetivos da causa. (sem grifos no original)

Neste sentido, Luiz Guilherme Marinoni e Daniel Mitidiero (2007, p. 33) definem:

A fim de caracterizar a existência de repercussão geral e, dessarte, viabilizar o conhecimento do recurso extraordinário, nosso legislador alçou mão de uma fórmula que conjuga relevância e transcendência (repercussão geral = relevância + transcendência). A questão debatida tem de ser relevante do ponto de vista econômico, político, social ou jurídico, além de transcender para além do interesse subjetivo das partes na causa. Tem de contribuir, em outras palavras, para a persecução da unidade do Direito no Estado Constitucional brasileiro, compatibilizando e/ou desenvolvendo soluções de problemas de ordem constitucional. Presente

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o binômio, caracterizada está a repercussão geral da controvérsia (sem grifos no original).

Assim, os mesmos autores (2007, p. 37), discorrem que poderá a transcendência ser

demonstrada de duas formas. Assim conceituando:

A transcendência da controvérsia constitucional levada ao conhecimento do Supremo Tribunal Federal pode ser caracterizada tanto em uma perspectiva qualitativa como quantitativa. Na primeira, sobreleva para individualização da transcendência o importe da questão debatida para a sistematização e desenvolvimento do direito; na segunda, o número de pessoas susceptíveis de alcance, atual ou futuro, pela decisão daquela questão pelo Supremo e, bem assim, a natureza do direito posto em causa (notadamente, coletivo ou difuso) (sem grifos no original).

Em que pese tenha o artigo citado anteriormente definido o instituto da repercussão

geral não criou um conceito definitivo, deve-se, portanto analisar o que são os elementos

econômicos, políticos, social ou jurídicos que fazem a questão ser relevante. Diante disso

Araken de Assis (2008, p. 715) assevera:

Configurar-se-á relevância econômica nas causas que envolverem o sistema financeiro; política, nos litígios em que figurar organismo estrangeiro; jurídica, nas causas versando institutos básicos, como a proteção ao direito adquirido; social, nas causas envolvendo direitos dessa natureza (por exemplo a moradia) e nas ações coletivas (por exemplo, a legitimidade do Ministério Público).

Outrossim, deve-se verificar que a análise desses requisitos não é um poder

discricionário do Supremo Tribunal Federal, neste sentido Marinoni e Mitidiero (2007, p. 34-

35):

Os conceitos jurídicos indeterminados são compostos de um “núcleo conceitual” certeza do que é ou não é) e por um “halo conceitual” (dúvida do que pode ser). No que concerne especificamente à repercussão geral, a dúvida inerente à caracterização desse halo de modo nenhum pode ser dissipada partindo-se tão-somente de determinado ponto de vista individual; não há, em outras palavras, discricionariedade no preenchimento desse conceito. Há de se empreender um esforço de objetivação nessa tarefa. E, uma vez caracterizada a relevância e a transcendência da controvérsia, o Supremo Tribunal Federal, encontra-se obrigado a conhecer do recurso extraordinário. Não há, aí, espaço para livre apreciação e escolhe entre duas alternativas igualmente atendíveis. Não há de se cogitar aí, igualmente, de discricionariedade no recebimento do recurso extraordinário. Configurada a repercussão geral, tem o Supremo de admitir o recurso e apreciá-lo no mérito.

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Outro ponto a ser analisado é que existem casos em que a repercussão geral é

presumida (DIDIER; CUNHA, 2009, p. 334). Assim o parágrafo 3º, do artigo 543-A, do

Código de Processo Civil (BRASIL, 1973) determina que “Haverá repercussão geral sempre

que o recurso impugnar decisão contrária a súmula ou jurisprudência dominante do Tribunal”.

No mesmo Sentido Assis (2008, p.714), leciona que:

A despeito da certeza de que, em dado recurso extraordinário, há ou não há repercussão geral, embora o art. 102, §3.º, da CF/1998 utilize um conceito vago, perante o qual não há dualidade de soluções possíveis, o art. 543-A arrola dois indicadores positivos: (a) o provimento recorrido contraria súmula ou jurisprudência dominante do STF (art. 543-A, §3.º); (b) o provimento julgou questão constitucional objeto de multiplicidade de recursos (art. 543-B, caput) (sem grifos no original).

Em suma, a repercussão geral embora não esteja perfeitamente conceituada no

Cânone Processual, constata-se que existem duas situações em que este requisito estará

presumidamente presente. Quando não se encaixam nestas situações deverá ser analisado o

binômio (transcendência e relevância), não sendo este um poder discricionário do Supremo

Tribunal Federal.

4.4 A REPERCUSSÃO GERAL E A ARGUIÇÃO DE RELEVÂNCIA

A arguição de relevância da questão afirmada para o conhecimento em sede

extraordinário é o requisito que antecede a instituição da repercussão geral como requisito de

admissibilidade do recurso extraordinário (MARINONI; MITIDIERO, 2007, p.30).

Outrossim, podem ter a mesma função mas não são iguais. Nesse sentido Marinoni e

Mitidiero (2007, p. 30-31) lecionam:

Nada obstante tenha a mesma função de “filtragem recursal”, a argüição de relevância de outrora e a repercussão geral não se confundem. A começar pelo desiderato: enquanto a argüição de relevância funcionava como um instituto que visava a possibilitar o conhecimento deste ou daquele recurso extraordinário a priori incabível funcionando como um instituto com característica central inclusiva, a repercussão geral visa a excluir do conhecimento do Supremo Tribunal Federal controvérsias que assim não se caracterizem.

Pode-se diferenciar a arguição de relevância da repercussão geral de várias formas,

uma delas é que a arguição de relevância era um instituto que o recorrente utilizava no recurso

extraordinário para tornar o recuso originariamente inadmissível em admissível. Outrossim, a

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44

repercussão geral da questão constitucional é um elemento de exclusão do recurso, vale dizer,

sem a demonstração da repercussão geral o recurso não é recebido. (ASSIS, 2008, p. 709).

Outrossim, Assis (2008, p. 710) assevera:

O STF apreciava a argüição de relevância, distribuída independentemente do sorteio de relator, em sessão secreta, reunindo-se o tribunal em conselho e publicava o resultado irrecorrível em ata, dispensada a motivação. Para avaliar a existência de repercussão geral, distribuir-se-á o recurso extraordinário a um relator, após a verificação das condições gerais de admissibilidade na origem. E a análise da repercussão geral há de ser motivada, em sessão pública, publicando-se o resultado através de súmula que valerá como acórdão. (art. 543-A, §7.º, in fine) (sem grifos no original).

Assim, constata-se que, embora sejam institutos diferentes, a antiga arguição de

relevância e a atual repercussão geral da questão constitucional, são institutos que tinham a

mesma função, qual seja, a de filtragem recursal.

4.5 A REPERCUSSÃO GERAL NO JUÍZO DE ADMISSIBILIDADE DO RECURSO

EXTRAORDINÁRIO

O juízo de admissibilidade (estudado no capítulo I) é, em suma, a análise do

preenchimento dos requisitos necessários do recurso para a análise do mérito. Assim,

conforme visto, a repercussão geral é um requisito de admissibilidade do recurso

extraordinário. Assim, mister analisar alguns tópicos específicos sobre o juízo de

admissibilidade.

4.5.1 Demonstração e ônus da arguição de repercussão geral

O parágrafo 2º do artigo 543-A do Código de Processo Civil (BRASIL, 1973)

preceitua que “O recorrente deverá demonstrar, em preliminar do recurso, para apreciação

exclusiva do Supremo Tribunal Federal, a existência de repercussão geral”.

Assim, em análise ao artigo supracitado constata-se que deverá o recorrente, na

petição inicial demonstrar em tópico específico de preliminar a existência da repercussão

geral.

No mesmo sentido o artigo 327 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal

(BRASIL, 2009) discorre:

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45

Art. 327. A Presidência do Tribunal recusará recursos que não apresentem preliminar formal e fundamentada de repercussão geral, bem como aqueles cuja matéria carecer de repercussão geral, segundo precedente do Tribunal, salvo se a tese tiver sido revista ou estiver em procedimento de revisão. § 1° Igual competência exercerá o(a) Relator(a) sorteado(a), quando o recurso não tiver sido liminarmente recusado pela Presidência. § 2° Da decisão que recusar recurso, nos termos deste artigo, caberá agravo (sem grifos no original).

Constata-se que o parágrafo 2º do artigo supracitado colaciona a único recurso

cabível em decisão que rejeitar recurso extraordinário por não reconhecer a repercussão geral

da questão constitucional. Ressalta-se apenas dois outros métodos: os embargos de terceiro no

caso de obscuridade, contrariedade e omissão e o mandado de segurança.

Outrossim, Marinoni e Mitidiero (2007, p. 41-42) lecionam que, em que pese seja um

dos requisitos de admissibilidade, dificilmente o não cumprimento deste requisito levará ao

não conhecimento do recurso extraordinário. Assim concluem os autores:

Pondera-se, contudo, que a fundamentação levantada pela parte para demonstração da repercussão geral da questão debatida não vincula o Supremo Tribunal Federal. Sendo o recurso extraordinário canal de controle da constitucionalidade no direito brasileiro, pode o Supremo admitir recurso extraordinário entendendo relevante e transcendente a questão debatida por fundamento constitucional diverso daquele alvitrado pelo recorrente. É o que ocorre, e está muito sedimentado na jurisprudência do Supremo, a respeito da causa de pedir da ação declaratória de constitucionalidade ou da ação direta de inconstitucionalidade, fenômenos semelhantes que, aqui, encontram ressonância. Eis aí o propósito, mais um traço de objetivação do controle difuso de constitucionalidade (sem grifos no original).

Portanto, constata-se que este requisito não é condição sine qua non para a

apreciação do mérito do recurso extraordinário, podendo o Supremo Tribunal Federal analisar

esta questão.

4.5.2 Competência

Conforme dito acima, o tribunal a quo deverá fazer o juízo de admissibilidade do

recurso, excluindo-se a apreciação de existência ou não da repercussão geral. Assim, o

parágrafo 2º do artigo 543-A define que a competência para a análise de repercussão geral é

de competência exclusiva do Supremo Tribunal Federal. Neste sentido Didier Jr. e Cunha

(2009, p. 713) lecionam:

Page 48: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

46

Porém, o extraordinário é interposto na origem, competindo ao presidente ou vice-presidente do tribunal a quo, subtraído dele o exame da repercussão geral, verificar o preenchimento das demais condições de admissibilidade (v.g., o cabimento, a tempestividade, o preparo). Só nos recursos admitidos, então o STF avaliará a repercussão geral (sem grifos no original).

Assim, constatando-se que estão preenchidos os requisitos gerais do juízo de

admissibilidade o recurso extraordinário é remetido ao Supremo Tribunal Federal que

novamente fará o juízo de admissibilidade, analisando primeiramente as condições gerais da

admissibilidade. Neste sentido Marinoni e Mitidiero (2007, p. 46) asseveram:

Registrado e distribuído o recurso, procederá previamente o relator ao exame de sua admissibilidade. Poderá o relator, nesse momento, não admitir o recurso extraordinário, por exemplo, por intempestividade ou por ausência de afirmação de violação de questão constitucional na decisão recorrida. O art. 557 do CPC pode ser invocável. Não sendo esse o caso, levará à Turma para apreciação da existência ou não da repercussão geral da controvérsia constitucional. Decidindo esse órgão fracionário pela existência de repercussão geral por, no mínimo, quatro votos, ficará dispensada a remessa do recurso ao Plenário (art. 543-A, §4.º, do CPC). �ão exige a legislação, portanto, que o Plenário do Supremo Tribunal Federal analise, prioritária e isoladamente, o requisito da repercussão geral (sem grifos no original).

Resumidamente, caso o relator entender que não existe repercussão geral do recurso

extraordinário, deverá encaminhar seu voto por meio eletrônico aos demais ministros, que

deverão se manifestar no prazo de 20 (vinte) dias. Não havendo manifestação no prazo

estipulado entende-se que os ministros que não se manifestaram admitiram a existência de

repercussão geral. Outrossim, entendendo que há repercussão geral o relator enviará a turma o

seu voto fundamentado e, se alcançar 4 (quatro) votos será confirmada o requisito de

repercussão geral, caso menos de 4 (quatro) ministros afirmarem a existência de repercussão

geral o caso será enviado ao plenário (DIDIER; CUNHA, 2009, p. 342-343).

A recusa, ou seja, o não conhecimento do recurso por não reconhecimento de

repercussão deverá ser por dois terços dos membros do Tribunal, salvo a hipótese de

precedente jurisprudencial, consoante parágrafo 3º, do artigo 102 da Constituição Federal.

4.5.3 Eficácia do reconhecimento

Depois de realizado o juízo de admissibilidade geral, e reconhecida a repercussão

Page 49: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

47

geral deverá o Supremo Tribunal Federal analisar o mérito do recurso extraordinário,

importando assim no provimento ou não do recurso.

Com efeito, ao julgar o mérito do recurso, a decisão do Supremo Tribunal Federal,

passa a ter o efeito substitutivo do recurso. Muito importante esta colocação tendo em vista

que, com o efeito substitutivo, se “Conhecido o recurso, a ação rescisória deve ser direcionada

para desconstituição da decisão do Supremo Tribunal Federal; não-conhecido, a decisão

atacada deve ser a decisão objeto do recuso extraordinário não admitido” (MARINONI;

MITIDIERO, 2008, p. 53-54).

4.5.4 Eficácia do não reconhecimento

O não reconhecimento da repercussão geral leva ao não conhecimento do recurso, ou

seja, não será julgado o mérito do recurso.

Outrossim, Marinoni e Mitidiero (2007, p. 52) lecionam:

O não-reconhecimento da repercussão geral de determinada questão tem efeito pan-processual, no sentido de que se espraia para além do processo em que fora acertada a inexistência de relevância e transcendência da controvérsia levada ao Supremo Tribunal Federal. O feito pragmático oriundo desse não-reconhecimento está em que outros recursos fundados em idêntica matéria não serão conhecidos liminarmente, estando Supremo Tribunal Federal autorizado a negar-lhes seguimento de plano (art. 543-A, §5.º, do CPC). Há evidente vinculação horizontal na espécie (sem grifos no original).

Assim, caso interposto recurso extraordinário e sobre a matéria já haver precedente

jurisprudencial de que não existe repercussão geral este poderá ser rejeitado liminarmente

pela Presidência do Tribunal ou pelo relator. Novamente, ressalta-se que desta decisão cabe

recurso de agravo.

4.5.5 Julgamento

Importante salientar que o julgamento sobre a existência ou não da repercussão geral

da questão constitucional deve ser público e a motivado, tendo em vista o princípio da

publicidade que rege o ordenamento processual brasileiro, bem como o princípio de que toda

decisão deve ser fundamentada, consoante inciso I, do artigo 93, da Constituição Federal.

(MARINONI; MITIDIERO, 2008, p.49).

Page 50: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

48

Ressalta-se que na antiga arguição de relevância o julgamento era realizado em

sessão secreta sendo que era dispensada a fundamentação apenas divulgando-se o resultado

irrecorrível em ata (ASSIS, 2008, p. 710).

Outrossim, Cembranel (2009, p. 13) leciona:

De qualquer modo, importa salientar que, ao decidir sobre a ocorrência ou inocorrência de repercussão social em determinada questão, a Turma ou o Pleno do Supremo Tribunal Federal emitirá súmula contendo o enunciado firmado pela Corte, que valerá como acórdão, nos termos previstos no art. 392 do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal (sem grifos no original).

Assim, conclui-se que o julgamento sobre a existência ou não da repercussão geral

deverá ser público e motivado, sendo que a súmula do julgamento deverá constar em ata e ser

publicada no Diário Oficial, servindo a publicação como acórdão.

4.6 A REPERCUSSÃO GERAL EM RECURSOS DE MATÉRIA IDÊNTICA

O exame da repercussão geral será feito por amostragem. Ou seja, quando existir

recursos de idêntica matéria, fundados na mesma controvérsia, o tribunal a quo selecionará

um recurso que representará os outros até o pronunciamento do Supremo Tribunal Federal.

Neste sentido, Didier Jr. e Cunha (2009, p. 337) lecionam:

Quando houver multiplicidade de recursos com fundamento em idêntica controvérsia, a análise da repercussão geral será processada nos termos do Regimento Interno do Supremo Tribunal Federal, observado o disposto no art. 543-B, CPC. Caberá ao Tribunal de origem selecionar um ou mais recursos representativos da controvérsia e encaminhá-los ao Supremo Tribunal Federal, sobrestando os demais até o pronunciamento definitivo da Corte (§ 1º do art. 543-B, CPC) (sem grifos no original).

Marinoni e Mitidiero (2008, p.62) asseveram que é apropriado para a escolha de qual

recurso extraordinário enviar à instância superior, escutem as entidades de classes, a fim de

que selecionem o recurso que represente adequadamente a controvérsia.

Outrossim, Marinoni e Arenhart (2008, p. 568) lecionam:

Após a deliberação do Supremo Tribunal Federal sobre a questão constitucional, o tribunal de origem terá a tarefa de dar cabo dos feitos que aguardam seqüência. �egada a existência da repercussão geral no(s) “caso(s) paradigma(s)”, cumprirá ao tribunal de origem negar seguimento aos recursos extraordinários que estavam represados (art. 543-B, §2.º). Esta negativa se dá automaticamente, independentemente de novo despacho do presidente do tribunal a quo, mediante a simples juntada

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49

da súmula produzida pelo Supremo Tribunal Federal (art. 543-A, §7º) (sem grifos no original).

Assim, se for reconhecida a repercussão geral da questão debatida e for julgado o

mérito do recurso extraordinário, deverá o Tribunal de origem, pelas Turmas de

Uniformização ou pelas Turmas Recursais, apreciar os recursos sobrestados. Pode-se verificar

duas hipóteses: adequar a sua decisão pela orientação firmada pelo Supremo Tribunal Federal,

ou declarar prejudicado pois foi interposto em sentido oposto ao decidido pelo Supremo

Tribunal Federal.

Outrossim, importante as lições de Marinoni e Mitidiero (2008, p. 64):

O efeito vinculante das decisões do Supremo Tribunal Federal, no exercício de jurisdição constitucional, é fenômeno contemporâneo ao enriquecimento do sistema brasileiro de controle da constitucionalidade, com o notório ganho de importância do controle concentrado e abstrato. O efeito vinculante foi consagrado pela Emenda Constitucional 3, de 1993, que introduziu a ação declaratória de constitucionalidade (sem grifos no original).

Destarte, constata-se o efeito vinculante das decisões proferidas pela Suprema Corte

para os recursos que versarem sobre a mesma controvérsia.

Caso o Supremo Tribunal Federal não reconhecer a repercussão geral no recuso que

foi enviado, aqueles recursos sobrestados na instância inferior serão automaticamente não

admitidos, tendo em vista o caráter de vinculação vertical à decisão da Suprema Corte.

4.7 ESTUDOS DE CASOS

Para melhor compreensão do instituto da repercussão geral se faz necessário um

estudo de caso, que tem como ementa o seguinte:

CONSTITUCIONAL. ENSINO SUPERIOR. SISTEMA DE RESERVA DE VAGAS (“COTAS”). AÇÕES AFIRMATIVAS. RELEVÂNCIA JURÍDICA E SOCIAL DA QUESTÃO CONSTITUCIONAL. EXISTÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL. (BRASIL, 2009)

O caso acima ementado trata-se do julgamento de recurso extraordinário interposto

por Giovane Pasqualito Fialho contra acórdão que julgou constitucional a questão relativa à

reserva de vagas pelo sistema de cotas.

In casu, o recorrente alcançou média superior a alguns candidatos, entretanto, não

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50

logrou êxito na admissão a Universidade, mormente pela reserva de vagas para candidatos

negros egressos do ensino público. Alegou o impetrante ofensa aos artigos 5º, caput, 22,

inciso XXIV, 206, inciso I e 208, inciso V, todos da Constituição Federal.

A repercussão geral neste caso foi admitida, conforme se extrai do corpo do acórdão:

[...] A questão constitucional apresenta relevância do ponto de vista jurídico, uma vez que a interpretação a ser firmada por esta Corte poderá autorizar, ou não, ações desse tipo pelas universidades. Além disso, evidencia-se a repercussão social, porquanto a solução da controvérsia em análise poderá ensejar relevante impacto sobre políticas públicas que objetivam, por meio de ações afirmativas, a redução de desigualdades para o acesso ao ensino superior. [...] Destarte, com base nos motivos já expostos, verifico que a questão constitucional trazida aos autos ultrapassa o interesse subjetivo das partes que atuam neste feito, recomendando seja analisado por esta corte.

Verifica-se que no caso acima citado a repercussão geral foi admitida mormente pelo

fato de que, conforme já abordado no trabalho, transcende o interesse subjetivo da causa e

também pelo fato de ser relevante do ponto de vista social tendo em vista os inúmeros casos

em que poderiam ser levantado esta questão.

De outra parte, importante também analisar julgamento de recurso extraordinário que

não admite por não reconhecer a repercussão geral da questão constitucional atacada.

Diante disso, transcreve-se a seguinte ementa:

EMENTA DIREITO TRIBUTÁRIO. IMPOSTO DE RENDA DE PESSOA FÍSICA. INCIDÊNCIA SOBRE RENDIMENTOS PAGOS ACUMULADAMENTE. ALÍQÜOTA APLICÁVEL. AUSÊNCIA DE REPERCUSSÃO GERAL (BRASIL, 2008)

Em síntese, Maria do Carmo Fonte Reis, interpôs recurso extraordinário contra

acórdão da 1ª Turma Recursal dos Juizados Especiais Federais da Seção Judiciária do Rio de

Janeiro/RJ que reformou a sentença do Juízo de primeiro grau.

Sustenta a recorrente em preliminar de repercussão geral que o caso seu caso não é

único e que várias pessoas tem o seu patrimônio diminuído pelo fisco indevidamente. No

mérito alega afronta aos artigos 145, parágrafo 1º e 150, inciso III da Constituição Federal.

Entretanto, em que pese às alegações da recorrente de existência de repercussão

geral, o relator não reconheceu a existência, tendo proferido seu voto nos seguintes termos:

Reputo que a questão constitucional discutida nestes autos não possui

Page 53: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

51

repercussão geral, uma vez que a questão está restrita à ocorrência de fatos excepcionais e está limitada ao interesse de um pequeno grupo do universo dos contribuintes do Imposto de Renda de Pessoa Física. Assim, a definição da alíquota aplicável a determinados valores pagos de forma diferenciada, qualquer que seja a solução adotada pelas instâncias ordinárias, não repercutirá política, econômica, social e, muito menos, juridicamente na sociedade como um todo, estando limitada ao patrimônio individual de cada um dos contribuintes. Além disso, a matéria não é suficiente para repercutir na arrecadação tributária do país.

Assim, por maioria dos votos foi decidido pela ausência de repercussão geral no

caso, tendo em vista que não transcende, ou seja, em que pese existirem mais casos iguais

estes casos não são em número suficientes para ser reconhecida a repercussão geral.

Constata-se, portanto que a repercussão geral está cumprindo o seu papel, seja

diminuindo o número de demandas perante o Supremo Tribunal Federal, seja garantido à

competência correta da Suprema corte na guarda da Constituição Federal, realizando um

controle difuso de constitucionalidade.

Page 54: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

52

5 CO�CLUSÃO

A morosidade na prestação da tutela jurisdicional pelo Poder Judiciário é um dos

temas mais debatidos no mundo jurídico. Os legisladores estão sempre buscando métodos

para que a prestação jurisdicional seja efetiva, entretanto o elevado número de recursos

existentes no atual ordenamento jurídico brasileiro torna este processo lento e os tribunais

sempre lotados de processos.

O Supremo Tribunal Federal, órgão máximo na hierarquia jurisdicional brasileira,

responsável pela guarda da Constituição Federal, não foge a regra dos demais tribunais, no

quesito de morosidade. Está lotado de recursos extraordinários que visam apenas uma re-

avaliação do caso concreto, função esta que não é do Supremo Tribunal Federal.

Assim, visando não somente garantir uma efetiva prestação jurisdicional, mas

também garantir a o verdadeiro papel institucional do Supremo Tribunal Federal, a Emenda

Constitucional 45, de 08 de dezembro de 2004, incluiu um novo requisito de admissibilidade

no recurso extraordinário, qual seja repercussão geral. Este requisito foi posteriormente

regulamentado pela Lei n. 11.418/2006.

Diante disso, tendo em vista que o tema é de extrema relevância e relativamente

atual, não se encontra muita dificuldade em encontrar este assunto na doutrina brasileira, bem

como é muito comentado em artigos divulgados na internet.

Outrossim, considerando o estudo realizado, bem como o exposto no presente

trabalho, relativamente as hipóteses apresentadas tem-se que:

a) Conforme demonstrado no presente trabalho, consoante o artigo 543-A do

Código de Processo Civil, não poderá o Tribunal a quo manifestar-se a respeito da

repercussão geral da questão constitucional, deverá tão somente realizar o juízo de

admissibilidade em relação aos demais requisitos: cabimento, tempestividade e preparo.

b) A competência para apreciar a repercussão geral é do Supremo Tribunal Federal.

Assim, protocolados os autos e distribuído ao relator o mesmo realizará o juízo de

admissibilidade, podendo valer-se do disposto do artigo 557 do Código de Processo Civil para

negar seguimento. Outrossim, caso não aplicável o artigo supracitado deverá proferir o seu

voto enviando eletronicamente aos demais ministros. Caso entender que há repercussão geral

no recurso extraordinário, encaminhará seu voto à turma por meio eletrônico, e se alcançar 4

(quatro) votos no mesmo sentido, a questão da repercussão geral será admitida. Caso não

alcançar o número de 4 (quatro) votos, o caso será enviado ao plenário. Portanto conclui-se

Page 55: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

53

que poderá a Turma reconhecer a repercussão geral da questão constitucional no recurso

extraordinário caso obtenha o número de 4 (quatro) votos reconhecendo o instituto.

c) O plenário se manifestará sobre o requisito de admissibilidade da repercussão

geral somente quando não se alcançar o número de 4 (quatro) votos para o reconhecimento

deste requisito.

d) Conforme consulta realizada não poderá o relator invocar o artigo 557 para

negar seguimento ao recurso extraordinário na decisão para não admitir a repercussão geral.

Conforme visto esta decisão deve ser do Plenário.

Portanto, constata-se que somente as causas de relevância social, jurídica, política

e/ou social que ultrapassem o direito subjetivo da demanda é que poderão ser apreciadas pela

Suprema Corte, garantindo o seu real propósito institucional de guarda da Constituição

Federal, evitando-se de ter o seu foco desviado no sentido de ser uma segunda ou terceira

instância para análise do caso concreto.

Outrossim, tendo em vista a vinculação horizontal (no próprio Supremo Tribunal

Federal) e vertical (demais órgãos do Judiciário) reduz o número de recursos extraordinários,

efetivando assim a garantia de um processo com tempo justo.

Diante de todo o exposto, resta claro, em minha opinião, que o instituto da

repercussão geral cumpre seu objetivo geral e específico de efetividade da prestação

jurisdicional e garante o verdadeiro papel institucional da Suprema Corte. Entretanto, este

instituto deve ser analisado com cautela pelos membros do pretório excelso, o qual não pode

se tornar um critério político para a apreciação de certas matérias, tendo em vista que existe

certa flexibilidade em definir se há ou não repercussão geral.

Por fim, o presente trabalho não teve a intenção de esgotar o tema, mas apenas de

aclarar algumas questões relativas a este requisito, bem como contribuir para o aprendizado

dos acadêmicos e profissionais da área jurídica.

Page 56: A Repercusao Geral No Recurso Extraordinario

54

REFER�CIAS

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