a relaÇÃo sincera entre a natureza da filosofia e .palavras-chave: filosofia, ensino de filosofia,
Post on 30-Nov-2018
216 views
Embed Size (px)
TRANSCRIPT
A RELAO SINCERA ENTRE A NATUREZA DA FILOSOFIA E SEU ENSINO
Prof. Ms. Bruno Camilo de Oliveira 1
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
camilo.bruno@hotmail.com
Resumo: O objetivo apresentar e discutir os aspectos relativos natureza e ensino do saber filosfico,
principalmente no que diz respeito relao da natureza desse saber com o ensino desse saber. Segundo
Aristteles, em Metafsica, a natureza da filosofia tal que a faz a mais sbia de todas as disciplinas,
unicamente por ser a nica que no tem necessidade nem utilidade, mas satisfao pelo prprio saber.
Defendemos que enquanto advento da disciplina como componente da grade curricular no ensino mdio, o
ensino dessa no deve perder essa funo nica no deve perder a sinceridade com sua prpria natureza.
Assim, almejamos a discusso sobre os fundamentos do ensino de filosofia em sala de aula, na medida em que a
postura do professor de filosofia deve estar condizente com a prpria natureza desse mesmo saber; nica a dar
filosofia a condio de a mais virtuosa (perder isso como perder o que caracteriza esse prprio saber). O
professor deve propiciar a busca do conhecimento por amor a ele mesmo. essa abordagem que nos permite
promover a discusso acerca da postura do professor de filosofia na medida em que deve ensinar e avaliar o
aluno de filosofia de acordo com a natureza da prpria filosofia, diferente, portanto, das maneiras pedaggicas
tradicionais, perfeitamente usadas por outras reas do saber, as quais acabam direcionando os alunos a buscarem
o conhecimento para atingirem necessidades que no o prprio conhecimento. A postura do professor de
filosofia deve banir a necessidade ou utilidade, como tirar nota mxima, passar no vestibular, sucesso
profissional, etc. Da a grande importncia dessa discusso. O ensino de filosofia necessariamente um ensino
diferenciado e a postura do professor deve estar condizente com os fundamentos dessa disciplina.
Palavras-chave: Filosofia, Ensino de filosofia, Sbio.
A sincere relationship between the nature of philosophy and its teaching
Abstract: The aim is to present and discuss issues related to the nature and teaching of philosophical knowledge,
especially with regard to the relationship of the nature of this knowledge to the teaching of this knowledge.
According to Aristotle, Metaphysics, philosophy of nature is such that makes the most "wise" of all disciplines,
only because it is the only one that has no "need" or "utility" but "satisfaction" by the "know" . We argue that
while the advent of the discipline as a component of the curriculum in high school, this education should not
miss this unique function - should not miss the sincerity with his own nature. Thus, we aim to discuss the
fundamentals of philosophy teaching in the classroom, in that the position of professor of philosophy must be
consistent with the nature of that knowledge; unique philosophy to give the condition of the most virtuous
(losing it is like losing what characterizes this knowledge itself). The teacher should encourage the pursuit of
knowledge for the sake of himself. It is this approach that allows us to promote discussion about the position of
professor of philosophy - as it should teach and assess student of philosophy - according to the nature of
philosophy itself, different, so the traditional educational ways, perfectly used other areas of knowledge, which
ultimately directing students to seek knowledge needs to reach than the knowledge itself. The position of
professor of philosophy must banish the "need" or "utility", how to get full marks, pass the entrance exam,
professional success, etc. Hence the great importance of this discussion. The teaching philosophy is necessarily
differentiated teaching and the attitude of the teacher must be consistent with the fundamentals of this discipline.
Key-words: Philosophy, Teaching of philosophy, Wise.
1 Tendo graduao em bacharelado, est concluindo licenciatura em filosofia pela Universidade Federal do Rio
Grande do Norte.
Introduo
Defendemos a opinio do professor Geraldo Balduno Horn em A organizao do
saber filosfico em sala de aula, de que a efetivao de um ensino de filosofia traz como
consequncia a necessidade de esboar pelo menos uma compreenso aproximada do que seja
a prpria filosofia (HORN, 2009, p. 56). Pois, como poderamos pensar em ensinar algo que
nem sequer sabemos o que ? Pensar no ensino de filosofia nos obriga necessariamente a
definirmos o que filosofia. H vrias definies a respeito da filosofia, de diversos tericos
no decorrer da histria, mas acreditamos que as definies aristotlicas, em certo ponto, so
mais verossmeis, mais sinceras, ora por estar mais perto da conjectura histrica que
possibilitou o prprio incio da filosofia, ora porque essas definies so as bases referenciais
da prpria histria da filosofia, ora porque seus conceitos permitem responder perguntas
comuns em eventos e discusses sobre o ensino de filosofia. Assim, os problemas e
discusses levantados no mbito do projeto pedaggico de filosofia, tanto no que diz respeito
a realizao de planejamentos e prticas docentes, obrigam-nos, de antemo, a definir sua
prpria natureza e objeto. Pois, o professor de filosofia 2 tem que estar ciente da natureza do
saber filosfico, j que pretende ensinar esse prprio saber. Portanto, pretendemos nesse
artigo, cujo interesse a apresentao de comunicao no 1 Colquio de Professores de
Filosofia do Rio Grande do Norte, em Natal, trabalharmos teoricamente as seguintes questes:
qual a natureza do filsofo e da filosofia? O que a faz uma disciplina mais especial que as
outras? O que o professor deve ensinar aos seus alunos de acordo com a prpria natureza
filosfica? Qual deve ser a postura pedaggica do professor de filosofia em sala de aula?
Acreditamos poder incentivar essas questes e contribuir para discusso sobre o ensino
filosofia no ensino mdio.
Para tanto, no primeiro tpico analisaremos a definio de filosofia de acordo com as
interpretaes de Aristteles nos captulos I, II e III do Livro Alfa de sua obra Metafsica.
Depois de compreendermos no pensamento de Aristteles a natureza e o objeto da filosofia,
apontaremos, no seguinte tpico, certa postura do professor de filosofia em sala de aula, na
medida em que a prpria natureza da filosofia obriga o professor desta a se portar e ensinar de
modo diferenciado em relao a outros docentes de outras disciplinas, a partir do conceito
aristotlico de sbio e filsofo. Adiante, faremos uma breve reflexo sobre a postura
pedaggica do professor de filosofia, tomando como ponto de partida as definies j
2 Daqui a adiante adotaremos apenas o termo professor para se referir a professor de filosofia, de modo a
facilitar a escrita.
resolvidas nos tpicos anteriores. Por fim, pretendemos defender que o ensino de filosofia
deve estar em conformidade com a natureza desse prprio saber, que a postura do professor
deve estar amparada pela natureza desse mesmo saber e, uma vez que o professor perde essa
intimidade com a natureza filosfica, esse, passa a negar a sua prpria postura enquanto
professor, porque sua postura, de incio, j nega os princpios da filosofia, perdendo a
sinceridade com ela.
1. A natureza da filosofia e do saber filosfico
A investigao sobre a verdadeira cincia 3 acaba obrigando Aristteles a discorrer
sobre a natureza do saber filosfico 4, no incio de sua obra mais clebre, Metafsica. O
discurso fruto da investigao aristotlica de uma disciplina que se ocupe
predominantemente do Ser enquanto Ser. Por isso, entender a natureza do saber filosfico
entender porque Aristteles o considera como o saber mais digno e mais divino. Nas
passagens seguintes, enumeramos quatro definies gerais que encontramos em Metafsica
sobre o saber filosfico, sua natureza, objetivo e dignidade nica, frente s demais disciplinas.
I - (2) O filsofo conhece, na medida do possvel, todas as coisas, embora no
possua a cincia de cada uma delas por si.
II - Quem consegue conhecer as coisas difceis e que o homem no pode facilmente
atingir, esse tambm consideramos filsofo (porque o conhecimento sensvel
comum a todos, e por isso fcil e no cientfico).
III - Quem conhece as causas com mais exatido, e mais capaz de as ensinar,
considerado em qualquer espcie de cincia como mais filsofo.
IV - (3) E, das cincias, a que escolhemos por ela prpria, e tendo em vista o saber,
mais filosofia do que a que escolhemos em virtude dos resultados; e uma [cincia]
mais elevada mais filosofia do que uma subordinada, pois no convm que o
filsofo receba leis, mas que as d, e que no obedea ele a outro, mas a ele quem
menos sbio. (ARISTTELES, 1984, p. 13).
Nessas passagens dos pargrafos 2 e 3 do Captulo II, do Livro Alfa, ele caracteriza a
natureza da filosofia explicando seu objeto e dignidade: a mais excelente de todas as
3 Com cincia Aristteles se refere as disciplinas que buscam a construo de um conhecimento epistmico.
Neste artigo, trabalhamos em cima da noo de Aristteles sobre o termo cincia, de acordo com o grego antigo, cuja definio episteme (certeza) contrria, portanto, a doxa (opinio). Ver essas