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A relação entre a ciência do direito e a dogmáticajurídica

Autore: Natalia Taves PiresIn: Diritto brasiliano

A relevância do estudo acerca da Ciência do Direito e da Dogmática Jurídica tem um caráter ímparperante a doutrina, em virtude das divergências existentes sobre determinados aspectos, que será expostono decorrer deste trabalho.

A Dogmática Jurídica e a Ciência do Direito possuem o mesmo objeto de estudo, ou seja, o Direito Positivo,mas apesar dessa coincidência entre ambas, elas não se confundem, apesar dessa opinião não serunânime. Diante disso, é necessário analisar o significado da Ciência do Direito e da Dogmática Jurídica,de forma simplificada, para que seja possível dirimir qualquer tipo de dúvida sobre o assunto.

Importante transcrever a opinião de Japiassu sobre o tema em questão, afirmando que “a ciência nempossa ser definida. Em geral, é mais conceituada do que propriamente definida” (1975, p. 09).

Isso ocorre porque para conceituar é necessário que um determinado problema seja formulado, bem comotambém é preciso demonstrar como isso ocorreu.

Mas, apesar dessas dificuldades, inúmeros são os autores que apresentam a definição de ciência.

Sobre o assunto, Japiassu (1975, p. 09) prossegue asseverando que “a verdadeira ciência seria umconhecimento independente dos sistemas sociais e econômicos, Seria um conhecimento que, baseando-seno modelo fornecido pela física, se impõe como uma espécie de ideal absoluto”.

Dessume-se que não há uma definição certa, objetiva, de ciência. O que podemos afirmar é que a ciênciapode ser considerada um método de procura do saber, como forma de interpretação da realidade, bemcomo também a busca de um conhecimento teórico.

Afirma-se ainda que não há uma ciência neutra, pura, pois o cientista não consegue, de forma absoluta,durante um investigação, manter-se sem qualquer influência, imune à sua subjetividade pessoal.

Hodiernamente, a epistemologia reconhece que a ciência não existe mais, existindo apenas “as ciências”,melhor dizendo, práticas científicas.

Seria hipocrisia acreditar que o cientista, como ser humano que é, fosse dotado, absolutamente, de

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objetividade.

Através de alguns elementos epistemológicos, é possível entender mais facilmente a processualidade daciência, conforme os ensinamentos de Hilton Japiassu, (1975, p. 26-27):

Considerada a ciência com sendo histórica, a verdade científica também passa a ser um conceito histórico;sendo um produto humano, a ciência participa das vicissitudes da ação social; para definir o que écientífico não há utilização de parâmetros ou critérios prévios que servem de medida absoluta paraqualquer atividade científica, utiliza-se o ponto de vista próprio direcionado ao sujeito epistêmico; teoriasem erro é teoria dogmática, assim o erro tem seu lado positivo, sendo essencial sua existência naformação de uma teoria, a objetivação procede de uma eliminação de erros subjetivos; o critério maisseguro de objetividade é a disposição crítica do cientista, pois a formulação de um critério absoluto deverdade é impossível. A atividade científica é baseada no pluralismo das concepções, e não numaconcepção-modelo, parâmetro universal de objetividade.

A ciência do direito é a ciência stricto sensu. Para defini-la, será utilizado o conceito de ciência, do pontode vista objetivo e subjetivo. Assim, objetivamente, é o conjunto de conhecimento, logicamenteencadeados, para formar um sistema coerente, com pretensão de verdade. Subjetivamente, é oconhecimento de certas coisas por suas causas e leis. Daí, a ciência do direito define-se como sendo ainvestigação metódica e racional do fenômeno jurídico e a sistematização dos conhecimentos resultantes.

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A ciência do direito é conhecimento e não constituição do direito. Mas, a jurisprudência tradicional temopinião dominante de que a ciência jurídica pode e deve elaborar o Direito.

Dentro desse aspecto, duas correntes doutrinárias revelam visões diferentes sobre a realidade do objetojurídico: a positivista kelseniana e a egológica de Cossio.

Hans Kelsen, em sua obra Teoria Pura do Direito (1999, p. 79) afirma ser “a norma jurídica o real objetodo direito, ficando a conduta humana com um caráter de pressuposto material da norma, apenasconfigurando objeto de estudo da ciência jurídica quando constitui relação jurídica previamente previstaem norma.”

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Na concepção de Carlos Cossio (1964, p. 63) entende-se que:

(...) a ciência jurídica tem por escopo, e por conseqüente objeto, o estudo da conduta humana em suadimensão social, sendo a norma jurídica um meio para a realização de tal estudo. Considerado o Direitoum objeto cultural egológico justamente por possuir em sua essência a conduta humana.

Analisando as teorias expostas, e, tomando como verdadeira a teoria pura do direito, denota-se que oDireito tem um significado estrito às normas: direito-norma, relevando ao segundo plano a conduta pelanorma regulada. Concedendo veracidade à teoria egológica, chega-se a uma posição de que o direito estáestritamente ligado à opção humana de escolha de seu comportamento frente situações diversas que a elese apresentam, seria um direito-faculdade.

Para a teoria pura do direito, o que caracteriza a ciência do Direito é o seu conteúdo. Não admitindo osincretismo metodológico, a saber, a confusão entre as outras ciências, identifica o seu objeto, por ser elaindependente. Kelsen não nega a conexão entre as outras ciências, mas orienta no sentido de que para umestudo científico do Direito, é necessário circunscrever o objeto, saneando tudo o que estejacompreendido neste objeto específico.

Cumpre ressaltar o problema da cientificidade do Direito. Em geral, entende-se por ciência do direito,como sendo um sistema de conhecimentos sobre a realidade jurídica, ou seja, uma atuação controlada deacordo com valores e princípios específicos, e que se distinguiria por seu método e por seu objeto, vistacomo uma atividade sistemática de interpretação normativa, visando uma aplicação direta a um caso-concreto. Seria, portanto, a ciência do direito, uma ciência imperativo-normativa. Surge então umaquestão a saber: pode uma ciência ser normativa?

Grande parte dos teóricos rejeita tal possibilidade, pois ciência, para assim ser considerada, trata semprede enunciados que constatam e informam uma realidade.. sendo enunciados descritivos, enunciados do“ser”.

Kelsen, entretanto, mesmo defendendo o caráter do “dever-ser” do direito, afirma-o como ciência, pois,diz ele, quando se fala em ciência normativa não se quer contrapor a normatividade à descrição, e sim àexplicação.

Considerando-se também, o caráter multívoco do termo ciência, passa-se a complicar a determinação dacientificidade ou não do Direito. Entendendo “ciência” como obtenção de conhecimento através dasrealidades existentes, não há porque se excluir o direito de seu âmbito de abrangência. Por outro lado, seconsiderarmos a necessidade de um objeto próprio e imutável para que se configura uma ciência, aí já serevelaria um problema do Direito, pois seu objeto, seja ele normas ou condutas, não é apenas por eleestudado, outras ciências também dele se utilizam em suas especulações. Além do que, tanto as normas

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quanto a conduta humana são dinâmicas, variam no tempo, de acordo com as circunstâncias.

A respeito da cientificidade do direito, analisando a questão, Luiz Fernando Coelho (1997, p. 03) concluique o saber jurídico não tem um caráter científico, afirma que “em verdade constitui uma tecnologia aserviço dos operadores do direito; e assim, a chamada ciência do direito consiste numa retórica destinadaa persuadir alguém a respeito de uma verdade que é sempre subjetiva”.

Indeterminações afastadas, percebe-se a dificuldade de se imputar ao direito um caráter de cientificidade,mas não se exclui a possibilidade de ser ele realmente uma ciência.

O certo é que a expressão “ciência jurídica” é amplamente utilizada pelos autores.

A ciência jurídica realça seu caráter normativo, de onde todo fato social é estruturado normativamente,em que o formalismo centra seu objeto na atividade sistemática de estudar as normas positivasreguladoras do “dever ser” da sociedade em que participa.

Inclusive, Miguel Reale (1998, p. 17) destaca que “a Ciência do Direito tem sido definida como ciênciapositivada no tempo e no espaço”.

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A idéia de Ciência do Direito tem referencial histórico desde os antigos Romanos, onde se fazia presenteatravés da noção de "jurisprudência". Posteriormente, essa noção de jurisprudência romana daria lugar aDogmática Jurídica, assim denominada, pois, sua proposta seria formular e sistematizar os conceitosjurídicos, tornando o direito positivo um verdadeiro "dogma". A Dogmática Jurídica aceita a norma vigentecomo ponto de partida inatacável.

No estudo do direito, são disciplinas dogmáticas: direito constitucional, civil, comercial, penal, tributário,processual, previdenciário, trabalhista, etc. As citadas disciplinas são regidas pelo principio dainegabilidade dos pontos de partida (o dogma, a lei). O princípio da legalidade, inscrito na ConstituiçãoFederal, é uma premissa desse gênero, posto que obriga o agente do direito a pensar os problemas apartir da lei, conforme à lei, para além da lei, mas nunca contra a lei. Assim, uma disciplina pode serdefinida como dogmática na medida em que considera certas premissas como vinculantes para o estudo(ASSIS e POZZOLLI, 2005, p. 22).

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Para a dogmática, o sistema de normas é um dado, o ponto de partida de qualquer investigação, que osagentes do direito aceitam e não negam. O sistema de normas constitui uma espécie de limitação, dentrodo qual os profissionais de direito podem explorar as diferentes combinações para a determinaçãooperacional de comportamentos jurídicos possíveis. Esta limitação teórica pode conduzir a exageros,havendo quem faça do estudo do direito um conhecimento muito restrito, legalista e cego para a realidadecomo um fenômeno social.

Este tipo de estudo, fechado e formalista, é implementado na maioria das faculdades de direito. Por issomesmo, há uma tendência que consiste em identificar a Ciência do Direito com um tipo de produçãotécnica, destinada apenas a atender às necessidades do profissional (o advogado, o promotor, o juiz, oprocurador, o delegado) no desempenho imediato de suas funções. Sob o império dessa premissa, amaioria das faculdades de direito ficam alienadas em relação à condução do processo de construção dopróprio direito positivo, posto que não promovem a produção científica nem a atualização dos seusprofessores. Raras são as faculdades que se preocupam em promover: a) eventos internacionais paradivulgação de novas teorias; b) debates sobre os conteúdos de projetos de lei; c) debates sobre outrasalternativas ainda não positivadas; d) debates sobre o real alcance e sentido das novas alternativaspositivadas; e) publicação de livros e artigos de seus professores e alunos; f) inserção dos professores ealunos nas organizações da sociedade civil, etc (ASSIS e POZZOLLI, 2005, p. 23).

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Muitos autores utilizam Dogmática Jurídica como sinônimo do termo Teoria Geral do Direito, enquantooutros preferem distinguir os referidos termos, identificando a Teoria Geral do Direito como exame dasestruturas formais e dos conceitos jurídicos fundamentais comuns a todas as ordens jurídico-positivascabendo a Dogmática descrever, interpretar e sistematizar as normas de uma ordem jurídica vigente.

Enquanto a Teoria Geral do Direito quer estabelecer o objeto comum dos diversos sistemas jurídicos, aciência jurídica positiva ou a Dogmática Jurídica concentra seus esforços de generalização e desistematização sobre o que podemos chamar de direito positivo nacional e histórico, isto é, as regrasemanadas do poder competente, em espaço e tempo determinados.

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Tanto a Teoria Geral do Direito como a Dogmática Jurídica só se ocupam do direito positivo. A Dogmáticajurídica consiste na descrição das regras jurídicas em vigor. Seu objeto é a regra positiva consideradacomo um dado real. Veiculada pelo ensino jurídico, a dogmática dificulta assim, a apreensão da dimensãohistórico-crítica, afastando as demais dimensões do direito.

Dessa forma, a dogmática passa a ter a mesma vida do direito, ao passo que se cria uma injustificadaantinomia entre teoria e prática jurídica, completamente contrárias entre si, jamais se encontrando.

Para Escola Analítica do Direito,a Dogmática Jurídica, seria a análise da própria linguagem da dogmática.

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Os juristas procuraram justificar a epistemologia da Dogmática do Direito adotando o modelo dopositivismo jurídico, destacando a exigência de neutralidade axiológica e objetividade do conhecimentocientífico. Na concepção de Reale ( 1994, p. 34), em sua obra Filosofia do Direito, “o cientista do direito jápressupõe a vigência de regras jurídicas. O jurista, enquanto jurista, não pode dar uma definição dodireito, porque, no instante que o faz, já se coloca em momento logicamente anterior a sua própriaciência.”

Em relação à neutralidade axiológica das ciências, Karl Popper difundiu a idéia de que não existe ciêncianeutra. Para ele, a ciência não é uma descrição isenta pois introduzimos nela valores constantemente.

Fica claro que a Teoria Geral do Direito possui grande proximidade com a Dogmática Jurídica . É de seressaltar que a Teoria Geral do Direito, em outras épocas já foi prisioneira de dogmas ultrapassados, masmodernamente apresenta uma proposta de visão global do fenômeno jurídico, reconstruindo conceitos einstitutos do direito. Assim, ela não deve excluir, por exemplo, a Política, a Sociologia, a Economia, eprincipalmente a Deontologia e Filosofia, reveladoras da idéia de justiça. Não existe conhecimentoisolado, havendo uma interdisciplinariedade do direito e outras ciências. Tal abordagem interdisciplinarentraria em contraste, por exemplo, em relação as propostas de Alf Ross e Hans Kelsen.

Ross compartilhava da idéia que apenas as ciências naturais forneceriam o único modelo de cientificidadedo conhecimento. Entendia também que no âmbito de um discurso que pretendesse ser rigorosamente

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científico as proposições não analíticas deveriam ser verificadas por procedimento empírico. Oconhecimento científico, por fim, forneceria uma previsão dos eventos futuros que através de umaverificação empírica poderiam ser verificados ou negados. O comportamento das autoridades jurídicasconfirmaria ou não a verdade ou falsidade das proposições teórico-descritivas que constituiriam alinguagem da ciência jurídica, a exemplo de quando uma proposição jurídica é acatada numa sentençajudicial, ou seja, quando é efetivamente aplicada pelos tribunais. Sua concepção é evidentemente anti-filosófica.

É de se salientar que a Dogmática não exprime todas as dimensões do Direito, como afirma o positivismojurídico, não podendo afastar outras abordagens complementares à apreensão de seu ser. Para alcançaruma concepção totalizadora do direito, é necessária a visão da Filosofia e da Sociologia do direito. Se nãohouver essa complementação, acarretará problemas.

Conforme Vera Regina de Andrade, p. 18:

(...) na auto-imagem da Dogmática Jurídica ela se identifica com a idéia de Ciência do Direito que, tendopor objeto o Direito Positivo vigente em um dado tempo e espaço e por tarefa metódica a construção deum sistema de conceitos elaborados a partir da interpretação do material normativo, segundoprocedimentos intelectuais de coerência interno, tem por finalidade ser útil à lide, isto é, à aplicação doDireito. Trata-se de uma ciência de “dever ser”(normativa), sistemática, descritiva, avalorativa(axiologicamente neutra) e prática.

Finalmente, torna-se extremamente necessário encerrar esta pesquisatranscrevendoum trechoda obra de Azevedo, com suas sábias palavras:

Nunca será demais insistir, face à tendência obstinada e insidiosamente contrária tantas vezes e portantas formas historicamente perceptível no pensamento jurídico, que a Dogmática Jurídica deve atentarpara a moldura social em que se realiza, para as necessidades, reclamos e objetivos humanos em funçãode que precisamente deve cumprir-se sua tarefa. Há que se lutar sem tréguas contra os excessoslogicistas que desembocam no formalismo jurídico, que pode ser caro aos juristas formados em sua viciosaatmosfera, mas desservem o povo – destinatário final desse trabalho – que não compreende, não seinteressa e não leva desse sutil exercício intelectual que teima em ignorá-lo (1989,p. 15).

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Conclui-se que há divergências sobre o assunto, sendo a Ciência do Direito difícil de ser definida elimitada, em razão dos termos Ciência e Direito apresentarem muita equivocidade, mas é possível afirmarque o Direito é ciência. A Dogmática Jurídica é espécie do gênero Ciência do Direito, tendo na atividadeinterpretativa seu objeto por excelência, realizando esta prática através de paradigmas teóricos, com ofim precípuo da segurança jurídica.

Natália Taves Pires[1]

BIBLIOGRAFIA

ANDRADE, Vera Regina Pereira de. Dogmática Jurídica. Porto Alegre: Livraria Advogados, 1996.

ASSIS, Olney Queiroz; POZZOLI, Lafayette. Pessoa Portadora de Deficiência: Direitos e Garantias.2. ed.,São Paulo: Editora Damásio de Jesus. 2005.

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AZEVEDO. Plauto Faraco de. Crítica à Dogmática e Hermenêutica Jurídica. Porto Alegre: Sérgio Fabris,1989.

COELHO, Luiz Fernando.A Teoria Crítica do Direito na Pós-Modernidade. Comunicação apresentada ao XVIII Congresso Mundialda Associação de Filosofia do Direito e de Filosofia Social, La Plata, Buenos Aires.

FERRAZ Júnior, Tércio Sampaio. Introdução ao Estudo do Direito: técnica, decisão, dominação. 2. ed., SãoPaulo: Atlas, 1994.

JAPIASSU, Hilton. O mito da neutralidade científica. Rio de Janeiro: Imago Editora Ltda, 1975.

REALE, Miguel. Filosofia do Direito. São Paulo: Saraiva ,1994.

____________. Lições Preliminares do Direito. São Paulo : Saraiva, 1998.

[1] Mestra em Direito pelo Centro Universitário de Marília - UNIVEM – Marília – SP; especialista emDireito Civil e Processual Civil pela Faculdade de Direito da Alta Paulista – Tupã – SP; professora do Cursode Especialização em Direito Empresarial e pesquisadora da Universidade Estadual de Londrina;advogada.

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