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A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA CONTEMPORÂNEA E O DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DE PROJETOS: Um Estudo de Caso de uma Empresa do Setor Energético LUÍS CARLOS QUEIROZ DE OLIVEIRA UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ MAIO – 2006

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A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA CONTEMPORÂNEA E O DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DE PROJETOS:

Um Estudo de Caso de uma Empresa do Setor Energético

LUÍS CARLOS QUEIROZ DE OLIVEIRA

UNIVERSIDADE ESTADUAL DO NORTE FLUMINENSE - UENF

CAMPOS DOS GOYTACAZES - RJ MAIO – 2006

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A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA CONTEMPORÂNEA E O

DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DE PROJETOS:

Um Estudo de Caso de uma Empresa do Setor Energético

LUÍS CARLOS QUEIROZ DE OLIVEIRA

"Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção de título de Mestre em Engenharia de Produção".

Orientador: Prof. Luís Antônio Cardoso

CAMPOS DOS GOYTACAZES – RJ MAIO - 2006

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A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA CONTEMPORÂNEA E O DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DE PROJETOS:

Um Estudo de Caso de uma Empresa do Setor Energético

LUÍS CARLOS QUEIROZ DE OLIVEIRA

"Dissertação apresentada ao Centro de Ciências e Tecnologia, da Universidade Estadual do Norte Fluminense, como parte das exigências para obtenção de título de Mestre em Engenharia de Produção".

Aprovada em dd de mm de aaaa

Comissão Examinadora:

________________________________________________________ Prof. Luís Henrique Valdiviezo (Doutor, Eng. Produção) – UENF

________________________________________________________ Prof. André Laino (Doutor, História) – UENF

________________________________________________________ Prof. Romeu e Silva Netto (Doutor, Eng. Produção) – CEFET

________________________________________________________ Prof. Luís Antônio Cardoso (Doutor, Eng. Produção) – UENF

Orientador

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DEDICATÓRIA

Aos meus Pais que por mim deram, senão o “infinito”, pelo menos os seus máximos e fizerem das suas angustias minhas alegrias, das suas orações meu despertar para realidade e de seus sacrifícios o meu sucesso, meu imenso amor e minha eterna gratidão...

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AGRADECIMENTOS

A Deus pela certeza de sua presença em minha caminhada.

Ao amigo e orientador Luís Antônio que, com sua paciência e destreza,

tornou possível concluir este trabalho e galgar mais um degrau no decurso de

minha vida. E não só por transferir conhecimento mais também por dividir

momentos de descontração que, com seu jeito de professor bem peculiar,

tornaram inesquecíveis.

Ao corpo docente do LEPROD que com sua competência fizeram com que

meus conhecimentos acadêmicos evoluíssem e se solidificassem.

Aos amigos funcionários da UENF, em específico: Kátia, Gerson, Rogério

pelo enorme profissionalismo e dedicação com que conduziram minhas

solicitações.

As minhas irmãs pelo apoio incondicional e por todo carinho e incentivo que

sempre fizeram com que eu não desistisse.

À minha família em geral, específico minhas tias Maria Madalena e Maria

Conceição por fazerem parte, de forma intensa, na minha criação e por me darem

guarida todas as vezes que a elas recorri.

Ah!! não poderia já mais esquecer da minha tia e mãe postiça Edi e seu fiel

escudeiro conhecido como “Seu Sérgio”, por me incentivarem e ajudarem na

minha formação profissional e por tantas vezes me ofertarem sua casa e me

disponibilizarem sua atenção.

À todos meus amigos que ao longo de minha trajetória não pouparam

esforços para me auxiliar em todos os momentos que eu precisei. À Luciano Saad

e Frederico Saad por me acolherem quando chegava em um “novo mundo” e por

suas disponibilidades em resolver todos os assuntos que lhes solicitei. Ao Rodrigo

Resende que foi mais um grande amigo que pude fazer nesta jornada e que

mesmo com pouco tempo de convívio nunca se negou a me ajudar quando

precisei. E por fim, não poderia deixar de elencar dois grandes amigos que me

ajudaram não só na consolidação de meu trabalho de pesquisa, mas em toda

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minha trajetória profissional, Alander e Sergio, à vocês meus “pêsames”... Ops...

não... não... meus sinceros agradecimentos.

Aos meus colegas de curso que com suas diversas experiências de vida e

profissionais e com seu companheirismo, me proporcionaram um grande

aprendizado e amadurecimento.

Aos meus conterrâneos de Falcão – um distrito de uma cidadezinha do

interior do estado do Rio de Janeiro – por sua torcida e ajuda na formação de meu

caráter.

Enfim, não tenho memória e nem palavras para agradecer a todos que

contribuíram para minha formação não como um Engenheiro, nem tão pouco como

um Mestre mais sim para meu crescimento pessoal, então a todos que de uma

forma mais ativa ou que indiretamente tiveram participação... muito obrigado.

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................. 01 CAPÍTULO 1 – A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS NOVAS

FORMAS DA GESTÃO E DA ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: Um Panorama Geral............................................ 08

1.1 – As Organizações Tradicionais: A Influência Taylorista-

Fordista ........................................................................................... 10

1.2 – Desdobramentos das Formas Tradicionais de Gestão: O Surgimento de Novos Paradigmas.................................................... 13

1.3 – A Reestruturação das Organizações no Pós-Fordismo... ............... 17

1.3.1 – Em Busca do Diferencial Competitivo: Um Fator Preponderante para a Sobrevivência das Organizações.......... 21

CAPÍTULO 2 – A GESTÃO DE PROJETOS NO PÓS-FORDISMO:

Forma e Desenvolvimento Contemporâneo ........................... 25

2.1 – O Desenvolvimento de Projeto ....................................................... 28 2.1.1 – O Ciclo de vida do Projeto................................................... 29

2.2 – Uma Visão de Administração de Projetos....................................... 32 2.3 – A Gestão de Projetos e as Organizações... .................................... 34

CAPÍTULO 3 – A GESTÃO DE PROJETOS NA INDÚSTRIA PETROLÍFERA: O Caso do Setor de Engenharia da PETROBRÁS S.A....................................................................... 44

3.1 – A Empresa...................................................................................... 45

3.1.1 – Um Breve histórico .............................................................. 45 3.1.2 – Principais Atividades ........................................................... 45 3.1.3 – Organograma ...................................................................... 46

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3.1.4 – Sistema de Gestão Corporativo .......................................... 49 3.2 – O Setor de Engenharia ................................................................... 51

3.2.1 – O negócio da Engenharia.................................................... 51 3.2.2 – A Busca pela Excelência: O Processo de

Reestruturação da Engenharia ................................................. 58 3.3 – A Gestão de Projetos no Setor de Engenharia ............................... 60

CONCLUSÃO.................................................................................................. 70

BIBLIOGRAFIA ............................................................................................... 74

ANEXOS.......................................................................................................... 78

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ÍNDICE DE FIGURAS, QUADROS, TABELAS, PLANILHAS E GRÁFICOS

FIGURAS

FIGURA 1.1 – Adaptabilidade Organizacional ..................................................20

FIGURA 1.2 – A Relação entre Fatores Competitivos e Objetivos e

Desempenho..................................................................................22

FIGURA 1.3 – Fatores Ambientais e Sistêmicos...............................................23

FIGURA 2.1 – Arcabouço Básico de uma Gestão de Projeto ...........................27

FIGURA 2.2 – Ciclo de Vida do Projeto ............................................................30

FIGURA 2.3 – influências Macro-Ambientais na Cadeia Produtiva...................31

FUGURA 2.4 – As Configurações de Projetos em Relação às Estruturas

Sociais ...........................................................................................37

FIGURA 3.1 – Estrutura Organizacional ...........................................................48

FIGURA 3.2 – Gestão de Desempenho............................................................51

FIGURA 3.3 – Estrutura Organizacional do Setor de Engenharia.....................53

FIGURA 3.4 – Estrutura Generalizada de uma Unidade de Implementação de

Empreendimento (UIE) ..................................................................62

FIGURA 3.5 – Etapas do Processo da Implementação de Empreendimentos .65

FIGURA 3.6 – Sub-Processos da Gestão de Projetos......................................66

QUADROS

QUADRO 1.1 – Rupturas Técnico-Sociais com o Paradigma Tradicionalista...15

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QUADRO 1.2 – Tipologia Após-Fordista da Firma e os Novos princípios

Produtivos ......................................................................................18

QUADRO 2.1 – Características da Organização Tradicional vs. Organização

Regida pelas Meta-Regras ........................................................39

QUADRO 2.2 – Comparação do Paradigma Convencional e o Novo Paradigma

para Desenvolvimento de Produto e de Processo .....................40

QUADRO 3.1 – As Atividades e os Principais Processos e Produtos da

Engenharia ................................................................................55

QUADRO 3.2 – Processos de Apoio a Atividade de Implementação de

Empreendimentos......................................................................55

QUADRO 3.3 – Fornecedores e Insumos da Engenharia.................................56

QUADRO 3.4 – Fases da Gestão de Investimentos .........................................64

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RESUMO

Resumo da dissertação apresenta ao CCT/UENF como parte dos requisitos

necessários para a obtenção do grau de Mestre em Ciências de Engenharia

A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA CONTEMPORÂNEA E O

DESENVOLVIMENTO DA GESTÃO DE PROJETOS:

Um Estudo de Caso de uma Empresa do Setor Energético

Luís Carlos Queiroz de Oliveira

Maio de 2006

Orientador: Luís Antônio Cardoso

Área de Concentração: Engenharia de Produção

Esse trabalho tem como objetivo o estudo do setor de serviços, em específico o

de Engenharia, de uma empresa da industria de energia atuante no complexo

produtivo petrolífero. O foco a ser analisado é seu paradigma organizacional de

gestão de projetos perante as transformações contemporâneas da economia e

da produção.

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ABSTRACT

Summary of the dissertation presented to CCT/UENF as part of the

requirements to obtain the Master Degree in Sciences (M. Sc.) of Engineering,

in the area of Production Engineering

THE CONTEMPORAY PRODUCTIVE RESTRUCTURING AND THE

DEVELOPMENT OF PROJECT MANAGEMENT:

A Case Study of an Enterprise of the Energy Sector

Luís Carlos Queiroz de Oliveira

May 2006

Advisor: Luís Antônio Cardoso

Major Area: Production Engineering

This work aims to study the service sector, specifically that of engineering, of an

enterprise of the energy industry of the oil productive complex. It analyses the

organizational paradigms of the project management in face of the economical

and productive transformations that have been taking place in this

contemporary restructuring process.

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INTRODUÇÃO

Apresentação

O objeto dessa pesquisa é o estudo do setor de serviços, em específico o de

Engenharia, de uma empresa da industria de energia. O foco a ser analisado é seu

paradigma organizacional de gestão de projetos perante as transformações

econômicas e da produção ocorridas ao longo dos tempos.

No decurso das duas últimas décadas assistimos ao desenvolvimento de

profundas alterações na organização das empresas, da produção, e do trabalho, que

compõem os traços contemporâneos dos atuais modelos de gestão e que ainda são

influenciados pelas particularidades e interfaces das principais formas de

organização do trabalho pós Revolução Industrial: o Taylorismo-fordismo, a Escola

Sócio-Técnica e o Modelo Japonês.

Na segunda metade do século XX, tornou-se inevitável ao Mundo a expansão

de um dos maiores fenômenos econômicos contemporâneos: a Globalização. Esta,

reconhecida como o “resultado do rápido desenvolvimento das tecnologias de

informação e comunicação, sistemas de transportes e consideração de padrões

mundiais, o qual prove a comparabilidade e compatibilidade mundial de produtos”1.

Também, ocorreu a fusão de mercados locais e nacionais em um mercado

global e uma reação para fusão prévia de competidores. Com isso a competição por

mercados e por novas opções nos processos industriais tornou-se cada vez mais

exacerbada.

No Brasil, este fenômeno ganhou força no inicio da década de 90 (governos

de Fernando Collor de Melo e de Fernando Henrique Cardoso) com a adoção do

neoliberalismo e uma conseqüente abertura da economia ao regime de competição.

A partir dos anos 80, diversos fatores conduziram os modelos industriais a

novas formas de gestão inspiradas nos métodos japoneses. As crises econômicas

1 Cf. WESTKAMPER, apud BERNUS, P. & KALPIC, B. Business process modelling in industry – the powerful tool in enterprise management Computers in Industry 47, 2002, p. 299-318.

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decorrentes desde os anos 70; o agravamento da concorrência no plano nacional

quanto internacional; a possibilidade de um melhor aproveitamento com a utilização

das novas tecnologias para reduzir custos e aumentar a produtividade; a influência

crescente do neoliberalismo e a divulgação dos modelos de gestão japoneses, foram

alguns dos motivos que levaram ao desenvolvimento dessas novas formas de

gestão.

A evolução da organização do trabalho reflete os vários modelos inovadores

de gestão que foram sendo agregados à organização do processo de trabalho

humano, sendo este bastante influenciado pela evolução tecnológica do processo

produtivo como um todo. Organização essa que consiste em “(...) criar e dispor

sistematicamente as diversas partes de um todo, no exercício das respectivas

funções para alcançar determinado objetivo com a máxima economia e maior

eficiência. A organização constitui o corpo e a substância da administração e da

gerência”2. E, foi através desta organização (racional) que Taylor e, depois, Ford

sistematizaram o trabalho e serviram de base para o surgimento dos novos modelos

de gestão do trabalho.

Assim, as empresas assumem na atualidade formas contemporâneas de

práticas de gestão com a finalidade de flexibilização e integração organizacional,

exigida pelo macro-ambiente ao qual estão expostas. Desta forma, a criação de um

novo aparelho produtivo voltado para a agremiação e a harmonização de fatores

sócios-técnicos e a capacidade de suprir com eficiência e eficácia a falta de

envergadura dos modelos anteriores torna-se a égide dos esforços organizacionais

atuais.

A Gestão de Projetos nos moldes contemporâneos, com uma visão de gestão

diferenciada das formas mais tradicionais de organização produtiva, surge como

uma possível alternativa para as organizações, que se vêem inseridas em um

processo intermitente de implacáveis transformações de grandes complexidades, na

obtenção de um diferencial competitivo.

2 Cf. CANTANHEDE, C. Administração e gerência: do artesanato à automação. 2 ed. Rio de Janeiro: Editora Fundação Getúlio Vargas, 1983. p. 25.

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Origens da Pesquisa, Contextualização da Problemática e Construção das Hipóteses

O advento das questões relatadas indica a necessidade de se tentar a difícil

tarefa de responder a pergunta: como desenvolver um ambiente dinâmico e

interativo que transponha os métodos tradicionais no processo de reestruturação

organizacional, na busca da eficiência e da eficácia e da competitividade

mercadológica, seja através da reengenharia e melhoria contínua dos processos

empresariais e operacionais ou pela fixação de novos conceitos introduzidos no

meio industrial e pela radical mudança de cultura organizacional, ou ainda pela

judiciosa combinação destes e demais alguns fatores?

O presente trabalho, através de um estudo de caso do paradigma de gestão

de uma empresa do setor energético (petrolífero), visa mostrar o quão importante é a

dinâmica, a flexibilização e a integração organizacional conjunta para que essa se

estabeleça e prospere competitivamente. E, ainda, mostrar como esses paradigmas

se revelam como os padrões gestionários na atualidade.

Por outro lado, embora muitos estudos sobre os modelos gestionários da

indústria energética já tenham sido feitos, encontra-se uma lacuna referente ao

contexto dessas pesquisas. Assim sendo, esse estudo pretende contribuir

expressivamente para o entendimento de como e porque a gestão por projetos é

introduzida em uma estrutura organizacional com carência de novas competências,

frente à dinamicidade do mercado.

A escolha do tema, gestão de projetos, deu-se devido à percepção do

pesquisador, ao longo de sua vida acadêmica e profissional, das transformações

ocorridas na esfera industrial mundial, que fizeram com que as formas de

organização tradicionais não suportassem a dinâmica transformação do macro

ambiente (com inovações tecnológicas, fusões empresariais, abertura de mercados,

surgimento de novos modelos de gestão empresarial etc). E, dentro dessa

perspectiva, a gestão de projetos está se tornando vital para as empresas sob

qualquer abordagem estratégica que se adote: seja diferenciação, custos, foco nos

clientes ou importância estratégica para a missão da organização, dado seu objetivo

primário de satisfazer as necessidades do cliente facilitando as operações relevantes

de produção.

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O setor escolhido, bem como a empresa, se deve ao fato da proximidade do

pesquisador com os mesmos e também por sua grande importância e abrangência

no mercado nacional e internacional.

O objetivo do trabalho a ser alcançado através da metodologia que será

aplicada é apresentar de maneira eficaz o paradigma de gestão de projetos de uma

grande empresa do setor energético e, com isso, propiciar aos leitores, em geral,

uma visão analítica de um modelo gestionário contemporâneo.

Assim, nossa hipótese parte do princípio segundo o qual para se manter

competitivo nesta realidade contemporânea, grande esforço deve ser desprendido,

por parte das organizações, para uma leitura profunda e tradução da visão, missão,

valores, estratégias e cultura organizacional, em conhecimentos, habilidades e

experiências, ou seja, competências. Isto é, as competências organizacionais e o

planejamento estratégico da organização, incluindo sua(s) forma(s) de gestão,

devem estar alinhados para se ter vantagem competitiva.

Portanto, para que uma organização obtenha este diferencial competitivo é

necessário que ela seja dinâmica, flexível e integrada, nos moldes das

transformações observadas no âmbito da Gestão de Projetos, em outros setores da

economia.

Itinerário da Pesquisa e Metodologia

Para o desenvolvimento desse trabalho, foi proposto o desenvolvimento de

uma pesquisa de natureza descritiva/explicativa, com um método baseado em

estudo de caso. Utilizar-se-á para tal, a pesquisa de campo, bem como o

levantamento de fontes primárias e secundárias junto à empresa estudada e demais

estudos bibliográficos pertinentes ao tema em estudo.

Todavia, devido ao necessário enquadramento e a impossibilidade de se

esgotar o tema em questão, o trabalho apresentado restringe-se à dissertação dos

principais tópicos relacionados à evolução dos paradigmas de gestão e a gestão de

projeto; bem como o desenvolvimento de um caso em um setor específico de uma

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empresa do setor energético, descrevendo o modelo de estruturação organizacional

utilizado para conduzir a implementação de empreendimento, seus benefícios bem

como os seus gaps.

Visto a impossibilidade de se discorrer sobre todas as variáveis e parâmetros

envolvidos em um processo estrutural de um modelo de gestão em uma

organização, serão apresentados: uma overview sobre a empresa e seu sistema de

gestão corporativo e, também, como seu setor de engenharia está estruturado para

gerir projetos.

Assim sendo alguns tópicos inter-relacionados ao estudo em questão poderão

ser debatidos mas não protagonizarão essa pesquisa, podendo até serem temas de

futuros estudos. Também não é objeto desse trabalho pormenorizar o estudo

bibliográfico que subsidia a pesquisa.

Por fim, o trabalho proposto é limitado às condicionantes de segurança da

informação da organização fonte do estudo de caso.

Isto posto, de forma a detalhar o cunho científico desta pesquisa, a

metodologia empregada pode ser dividida em quatro fases:

A primeira etapa, se constitui no levantamento e análise dos principais temas

em questão, na literatura, que, através do Prof. Luís Antônio Cardoso, no programa

de Mestrado, tiveram consolidação e devido enquadramento acadêmico exigido no

contexto. Esse processo se consolidou através de uma pesquisa bibliográfica que

incluí o levantamento de livros, textos, dissertações e teses, artigos, estudos de caso

etc. Essas informações serviram de base conceitual e nortearam o desenvolvimento

teórico da dissertação.

Em uma segunda etapa, são desenvolvidas as pesquisas de campo (coleta

de dados e informações) e análise do ambiente, estabelecendo a forma

organizacional da instituição, obtendo conhecimento dos produtos fabricados e

meios de produção, em suma, formular, nesta fase, uma visão global da organização

(e principalmente da área funcional escolhida). Com o objetivo de se verificar a

abrangência da organização, suas formas de gestão, suas decisões, seus pontos

fortes e limitações, seus avanços tecnológicos, etc.

Na terceira etapa, após a definição do escopo teórico-conceitual, uma análise

detalhada dos dados coletados e conseqüentemente sua estruturação. A partir da

contextualização da organização, se caracteriza o paradigma de gestão do setor

estudado. Nesta fase também se define como o setor da companhia se estruturou

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para adotar sua(s) sistemática(s) de gestão e, também, procura-se analisar como

essa fomenta o desenvolvimento das novas competências, de sua força de trabalho,

em específico do setor estudado.

Dessa forma, situada a organização em um contexto, definido o modelo de

gestão do setor e, após um estudo sistemático, conclui-se a ultima etapa onde são

realizadas às considerações finais sobre a implementação do paradigma de gestão

analisado.

Estruturação Final e Conteúdo do Trabalho

De modo a apresentar o trabalho dentro dos preceitos acadêmicos

estruturamos o texto da seguinte forma:

Em primeiro lugar, introduzimos os aspectos relevantes e inerentes ao

tema/objeto em questão, sua motivação e os objetivos a serem atingidos.

No primeiro capítulo, intitulado “A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS

NOVAS FORMAS DA GESTÃO E ORGANIZAÇÃO DO TRABALHO: Um Panorama

Geral”, apresentamos de uma forma geral a reestruturação produtiva; as

organizações tradicionalistas e os desdobramentos das formas de gestão. Dessa

forma, destaca-se também o surgimento de novos paradigmas de organização do

trabalho e a estruturação destas organizações para implementar novas formas de

gestão em busca de diferencial competitivo.

No segundo capítulo, cognominado “A GESTÃO DE PROJETOS NO PÓS-

FORDISMO: Forma e Desenvolvimento Contemporâneo”, abordamos de maneira

concisa o conceito de projeto, expondo suas características, ciclo de vida, uma visão

de produto e cliente e também uma visão de processo. Discorremos, também, sobre

a gestão de projetos e a estruturação organizacional mediante as mudança

ocorridas no cenário econômico e industrial, introduzindo assim o tema à proposta

deste trabalho.

No terceiro capítulo, denominado “A GESTÃO DE PROJETOS NA

INDÚSTRIA PETROLÍFERA: O Caso do Setor de Engenharia da PETROBRÁS S.A.”

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desenvolvemos o estudo de caso; caracterizando o departamento de Engenharia,

uma área pré-determinada da área de serviços da companhia, e assim propiciando

uma análise quanto a forma de estruturação organizacional de um setor de uma

grande empresa da industria petrolífera para conduzir projetos.

Por fim, apresentamos os aspectos conclusivos ao objetivo pretendido e

sugestões para o desenvolvimento de novas pesquisas.

Considerações Finais

Em atendimento às exigências para a obtenção da titulação de Mestre,

desenvolvemos a pesquisa em tela, a qual julgamos, por ora, ser modesta, porém

satisfatória.

Entendemos que a mesma atende aos pré-requisitos estruturais de uma

dissertação de Mestrado e enquadra-se no cunho cientifico da Universidade quanto

à inovação de produtos e processos que possam ser utilizados para promover o

desenvolvimento sustentável de qualquer setor ou região.

Por conseguinte, destacamos que dentro das áreas de concentração da

Engenharia de Produção, o tema abordado é de grande relevância e aplicação.

Também, resta-nos concluir com o argumento que essa dissertação é,

portanto, uma mera contribuição a um campo de estudos bastante promissor e

fecundo, que resta ainda a ser bastante explorado e investigado.

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CAPÍTULO 1

A REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E AS NOVAS FORMAS DA GESTÃO E DA ORGANIZAÇÃO DO

TRABALHO:

Um Panorama Geral

Como forma de estabelecer um panorama acerca da síntese evolutiva do

velho paradigma taylorista-fordista de gestão para um novo paradigma - que ora

denominados de pós-fordista -, como um quadro geral de apoio para a discussão

que faremos nesse nosso trabalho de dissertação acerca da descrição do processo

de transição da gestão de projetos para esse novo momento, esse escorço

descritivo se faz necessário. Portanto, esse capítulo tem como objetivo estabelecer

essa discussão geral.

Para tal, iniciaremos o capítulo com uma breve exposição acerca da

importância das formas tradicionais de organização e do trabalho no contexto do

desenvolvimento da indústria. Em seguida, procuraremos mostrar como essas

formas tradicionais, em função do próprio processo de desenvolvimento do

capitalismo vão se transformando ao longo do tempo e vão se desdobrando em

novas formas. Logo adiante, mostraremos como novo paradigma econômico e

produtivo a necessidade de competição transformará as organizações e como elas

terão de flexibilizar as suas estruturas internas para se adaptarem e sobreviverem

nesse novo paradigma econômico. Por fim, faremos uma breve conclusão,

enunciando os elementos gerais da discussão que faremos nesse trabalho.

* * *

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A Revolução Industrial aconteceu na Inglaterra no fim da primeira metade do

século XVIII e encerrou a transição entre feudalismo e capitalismo com a

substituição das ferramentas e do trabalho humano pelo trabalho das máquinas, da

energia humana pela energia motriz e do modo de produção doméstico pelo sistema

fabril1. A partir de então, houve um aumento do tamanho das empresas, com um

conseqüente aumento da produção; do início da organização monopolística e de

uma intencional e sistemática aplicação da ciência à produção2. Com isso, uma

reestruturação das empresas tanto física quanto na sistematização do trabalho, se

fez necessário. Surgiu então, em fins do século XIX e no inicio do século XX, novas

formas de gestão desse novo empreendimento industrial. Assim, o taylorismo e o

fordismo surgiram como uma verdadeira fórmula mágica para implementar a

racionalização do sistema produtivo da época3.

Diante das mudanças significativas e progressivas provocadas pela adoção

de novas tecnologias ao longo de todo o desenvolvimento da indústria desde o

advento da Revolução Industrial, fez-se imperativo, na prática da gestão, o

redesenho das estruturas existentes com o objetivo de maximizar os recursos e

garantir melhores índices de desempenho organizacional. Evidenciou-se, cada vez

mais, a máxima de mais resultados com menos recursos, prevendo-se, inclusive, a

constituição de equipes e estruturas mais ágeis e flexíveis para a incorporação de

práticas inovadoras e produtivas para enfrentar os desafios impostos por esta nova

realidade.

Descreveremos, em seguida, o curso do desenvolvimento desses diferentes

momentos do desenvolvimento industrial.

1 Cf. HOBSBAWN, Eric J. A Revolução Industrial Inglesa. In: HOBSBAWN, Eric J. A Era das Revoluções: 1789-1848. 4ª edição. Rio De Janeiro, Paz e Terra, 1982. p. 43-69. 2 Cf. BRAVERMAN, H. Trabalho e capital monopolista: a degradação do trabalho no Século XX. 3 ed. Rio de Janeiro: Guanabara, 1987. 3 Cf. HELOANI, R. Organização do trabalho e administração: uma visão multidisciplinar. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.

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10

1.1 – As Organizações Tradicionais: A Influência Taylorista-Fordista

Uma das inovações mais revolucionárias em toda a história do processo de

trabalho deu-se com a introdução da linha de montagem, na indústria

automobilística, empreendida por Henry Ford (1863-1947). Antes mesmo do

predomínio da forma de produção em massa a gerência científica, diga-se

taylorismo, consolidou-se como um arcabouço sólido e desde então seria o

baldrame das novas formas produtivas da nova era capitalista.

O movimento da gerência científica iniciado por Frederick Winslow Taylor

(1856-1915) provocou profundas modificações na organização do processo

capitalista de trabalho inicialmente nos Estados Unidos e depois em vários outros

países do mundo. As formas de gerenciamento, até então existentes, foram

consideradas por Taylor totalmente inadequadas para conseguir melhores

resultados face a complexidade instalada, pois não detinham o domínio do controle

da força de trabalho. Então, foi necessário realizar a organização do trabalho por

métodos científicos, substituindo-se a opinião pelo conhecimento racional da tarefa.

Logo, implementou-se uma nova forma de organização do trabalho, que buscou

através da racionalidade sistematizar o gerenciamento das atividades das

organizações. De uma forma resumida pode-se dizer que os princípios da gerência

científica tinham por diretriz a:

• Separação entre concepção e execução do trabalho;

• Seleção e treinamento;

• Programação e controle da execução do trabalho.

Henry Ford incorporou os ensinamentos de Frederick W. Taylor, de

fragmentar tarefas, e as organizou numa seqüência linear, criando assim a linha de

produção, uma seqüência de montagem, onde a condição primária, para que ela

fluísse, era necessário a intercambialidade das peças, a padronização dos tempos e

movimentos e até mesmo de valores sociais. É importante ressaltar que o

movimento preconizado por Ford era muito mais do que produzir em série (linha de

montagem), englobava também aspectos sociais intra e extra-muros4

4 Cf. LIPIETZ, A. Audácia: Uma Alternativa para o Século XXI. São Paulo, Nobel, 1991.

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Segundo Braverman5, essa nova forma de organização, originada nos

Estados Unidos, possibilitou que as taxas de produtividade pudessem ser ampliadas

consideravelmente. Com isso, alcançou proporções mundiais se difundindo para

países da Europa Ocidental e posteriormente para todo mundo, inclusive nos paises

do Terceiro Mundo6. Porém, adaptado ao contexto social, econômico e político

existente nos países receptores, dentre eles estão: França, Itália (Instituição do

Dopolavoro na Itália Fascista) e a Alemanha (Embelezamento do Trabalho na

Alemanha Nazista7). Mesmo nos tempos atuais, neoliberal-globalizado, o paradigma

taylorista-fordista em sua essência dá resultados, ou melhor embasa as novas

formas de gestão e organização do trabalho8.

A busca de racionalização do processo produtivo, nas empresas, objetivou

otimizar a produtividade através de um planejamento antecipado das atividades e de

sua articulação. E para tal, devido a atual conjuntura e a dinamicidade dos

processos organizacionais, novas técnicas e ferramentas começaram a ser

utilizadas na gerência do trabalho.

No modelo tradicional, a forma de organização industrial/empresarial seguia

os princípios tayloristas da gerência científica, tendo como base a divisão do

trabalho no interior da fábrica e nas seções e a maquinização, possibilitada pelo

avanço tecnológico. Dessa forma, cada vez mais, a determinação das tarefas era

feita por critérios científicos e as decisões e concepção do trabalho de forma

extremamente centralizada. Segundo Heloani9, um conjunto de mecanismos de

poder é estabelecido a partir da determinação de cada tarefa/atividade, e

individualizam-se os seus executantes consoante catalogação de aptidões e

habilidades juntamente com mecanismos de avaliação e controle.

Dentro deste sistema de administração cientifica do trabalho: “é regra inflexível falar e tratar com um trabalhador de cada vez,

desde que cada um possui aptidões próprias e contra-indicações

especiais, e que não estamos lidando com homens em grupo, mas

5 Cf. BRAVERMAN, op. cit. , 1987. 6 Nos paises de terceiro mundo esta forma de racionalização do trabalho se deu tardiamente devido as suas conjunturas sócio-econômicas. 7 RAGO, L.; MOREIRA, E. O que é o taylorismo. 5 ed. São Paulo: Brasiliense, 1988 8 Cf. CARDOSO. Luís Antônio. Après-fordisme et participation: Reestructuration productive contemporaine et Nouvelle Rationalisation du travail dans I, 2002. 9 Cf. HELOANI, R. op. cit., 2002.

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procurando aumentar individualmente a eficiência e dar a cada um a

maior prosperidade”10.

Assim sendo, os princípios tayloristas: “[...] ao polarizar a capacidade coletiva em uma massa de

trabalhadores desqualificados e pouco motivados, de um lado, e os

engenheiros e técnicos da engenharia e da O&M, de outro, limitam

gradualmente este segundo setor a luta pela produtividade e pela

inovação”11.

E com esta separação entre concepção e execução do trabalho desse modelo

de organização industrial, o processo de trabalho fica caracterizado pela

inflexibilidade das formas de trabalho, qualificação polarizada e contrato rígido de

trabalho respectivamente e o job design deste modelo se dispõe da seguinte forma:

i) trabalho simplificado (pobre);

ii) trabalho repetitivo;

iii) centrado no posto de trabalho;

iv) trabalho isolado – vista puramente técnica etc.

Nesse tipo de gestão científica que privilegia a divisão acentuada do trabalho,

cabe aos empregados do chão de fábrica (nível operacional) apenas a execução

incontestável das tarefas e esses tem com forma de satisfação no trabalho, apenas,

o incentivo salarial (visão de homo economicus)12.

10 TAYLOR, F. W. Princípio da administração científica; tradução de Arlindo Vieira Ramos. São Paulo: Atlas, 1985. 11 LIPIETZ, A. & LEBORGNE, D. “O pós-fordismo e seu espaço”; Tradução de Regina Sílvia Pacheco. In: Espaço e Debates, São Paulo, nº 25, 1988, pp. 12-27. 12 TAYLOR, F. W. Princípios da administração científica; tradução de Arlindo Vieira Ramos. São Paulo: Atlas, 1985.

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1.2 – Desdobramentos das Formas Tradicionais de Gestão: O Surgimento de Novos Paradigmas

A visão, apenas, mecanicista do trabalho, imposta pela racionalização

científica Taylorista/Fordista, que permitiu as organizações o domínio dos meios de

produção, foi duramente criticada pela Escola Relações Humanas13, e veio a ser

questionada pela Escola Sócio-Técnica14, a qual advogou a idéia de que o trabalho

é composto de relações técnicas e sociais (indivíduo/grupo) e que nenhuma das

partes se sobrepõe a outra na caracterização das relações de trabalho. Essa

vertente foi norteadora de vários novos paradigmas de gestão, que romperam as

barreiras do século XX, e que até hoje se sustentam como pilares de algumas

organizações.

Todavia, segundo Trist15, o determinismo tecnológico pode ser desobedecido

com resultados positivos tanto econômicos quanto humanos. E a otimização

conjunta dos aspectos técnicos e sociais, pode abrolhar bons frutos para

organização, quiçá se tornar um diferencial competitivo. Em consonância Cherns

explicita se chegaria a bons resultados : “[...] explorando a adaptabilidade e a criatividade das pessoas para o

alcance das metas ao invés de determinar tecnicamente a maneira

pela qual estas metas deveriam ser atingidas [...]”16.

Na tentativa de superar a crise do modelo Taylorsista/Fordista e de encontrar

uma abordagem sistêmica que encarasse a eficiência e a satisfação no trabalho

como partes de uma mesma força de alavanca da organização, e não como algo

dicotômico, surgem os desdobramentos da Escola Sócio-Técnica, em específico o

modelo de Produção Reflexiva17. Este modelo privilegia o conteúdo das tarefas e

tenta compreender as questões sociais, psicológicas e organizacionais do trabalho

concomitantemente com os aspectos tecnológicos.

13 Grande parte dessa crítica encontra-se sedimentada nos resultados dos experimentos de Hawthorne. Veja-se: Elton Mayo, The Human Problems of na Industrial Civilization, cit.; T. N. Whitehead, The Industrial Worker, Cambrige, Mass., Harvard Universit Press, 1938 14 A Escola Sócio-Técnica foi criada no Tavistock Institute na Inglaterra em meados do século XX, tendo como um dos principais colaboradores Eric Trist. 15 TRIST, E. The evolution of socio-technical systems. Documento nº2 Ontario Quality of Working Life Centre, junho, 1981. 16 F. Cherns apud BIAZZI Jr., F. A perspectiva sócio-técnica. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, POLI/USP, São Paulo, 1993. 17 Um bom exemplo desse desdobramento pode ver visto na proposta da fábrica da Volvo em Uddevalla – Suécia.

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14

Com a perspectiva sócio-técnica da organização e a ênfase da satisfação no

trabalho como forma de aumentar a produtividade, conceitos como o job enrichment,

job enlargement18, trabalho em grupo (grupo semi-autônomos), quality of working life

(QWL)19 etc., tornaram-se os pilares deste paradigma industrial. Dentro dessa

concepção, as diferenças de habilidades, motivações e comportamentos que há

entre os indivíduos podem ser minimizados e ajustados às situações de trabalho

com a instituição dos grupos semi-autônomos, que são sistemas capaz de aquisição

de conhecimento e evolução – são learning systems, segundo Eric Trist20.

Essa integração entre os trabalhadores aliada a uma melhoria das condições

ambientais do local de trabalho e uma perspectiva de satisfação pessoal, impulsiona

a produtividade, além de melhorar qualidade de vida no trabalho. As características

da quality of working life, segundo Walton21 podem ser definidas tal como segue

abaixo:

i) compensação justa e adequada;

ii) condições seguras e saudáveis de trabalho;

iii) oportunidade imediata de uso e desenvolvimento de capacidades

humanas;

iv) oportunidade de contínuo crescimento e seguridade;

v) integração social na organização do trabalho;

vi) constitucionalismo na organização do trabalho;

vii) congruência do trabalho com o espaço total de vida;

viii) relevância social da vida de trabalho.

O paradigma sócio-técnico, em especifico a Produção Reflexiva, contempla

essas características supracitadas e seu job design, é capaz de prover rupturas com

o estalão tradicional da gerência científica tanto no enfoque técnico quanto social, e

pode ser descrito tal como mostra o quadro 1.1 abaixo:

18 O job enrichment pode ser entendido como o enriquecimento do trabalho, onde é demandado ao grupo um maior número de atividades, o que permite que os componentes tenham tarefas mais desafiadoras.(citar uma bibliografia e uma definição para job enlargement) 19 O desenvolvimento e implantação da quality working life foi uma forma encontrada para drenar a influência dos grupos formais e informais dentro da organização e assim conseguir o consenso entre trabalhadores e gerência. 20 TRIST, E. 1981. 21 Cf. WALTON apud BIAZZI, op. cit., 1993.

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15

Quadro 1.1

Rupturas técnicas-sociais com paradigma tradicionalista

Aspecto Técnico Aspecto Social • fim da linha de montagem;

• fim do one-best-way;

• introdução do trabalho celular (docas – fixas), etc.

• reversão dos princípios da gerência científica;

• adoção do trabalho em grupo (grupos semi-autônomos);

• autonomia na realização das atividades e conseqüente redução da hierarquização;

• aumento da qualificação (flexibilização da mão-de-obra), etc.

Com a crise do Fordismo, vários modelos de desenvolvimento foram criados

embora nenhum tenha se estabelecido como um modelo hegemônico (inclusive o

modelo Sócio-Técnico). De acordo com Lafont, Leborgne e Lipietz22, diferentes

formas de relações de trabalho e organização industrial são estabelecidas para

diferentes ramos, mesmo dentro de uma mesma região. A “territorialização” dos

modelos faz com que: “ [...] as relações sociais que prevalecem no espaço social tendem a

se difundir de um setor de atividade a outros. Isso se passa porque o

modelo se impõe como um habitus, um conjunto de comportamentos

culturais, sociais, que se condensa em compromissos

institucionalizados no nível nacional ou regional”23.

Concomitantemente “a Produção Reflexiva deu-se o surgimento de outros

modelos industriais, cada um com um grau de variação nas relações de trabalho e

adaptado ao contexto em que estava inserido e, com isso, novas ferramentas e

formas de gerenciamento foram se desenvolvendo. O compromisso Saturniano

criado na General Motors (USA) em parceria com o sindicato, trabalhadores e

22 Cf. LIPIETZ, A. & LEBORGNE, D. “O pós-fordismo e seu espaço”; Tradução de Regina Sílvia Pacheco. In: Espaço e Debates, São Paulo, nº 25, 1988, pp. 12-27. 23 Cf. LIPIETZ, A. op. cit., 1985.

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16

Estado, deu origem ao projeto que se convencionou chamar de Modelo Saturno24.

Um modelo dessa classe deve ser “capaz de apresentar as propriedades de

estabilidade do fordismo, o patronato tirando proveito das vantagens de uma

evolução tecnológica menos intensiva em capital e mais produtiva, os trabalhadores

vendo garantidos uma maior segurança de emprego e salários mais altos e/ou

menos tempo de trabalho”25. Uma observação que Lipietz faz é que o projeto

Saturno da GM é menos saturniano que o Ford-T foi fordista, ou seja, esse modelo

possuía características inerentes a outros paradigmas de gestão.

Segundo Lipietz (1988), essa categoria de modelos supõe não apenas o

engajamento dos trabalhadores, mas também uma negociação coletiva, não

mercantil, de tal engajamento. Além disso, as relações de trabalho (profissionais) no

working place se baseiam na qualificação e na cooperação e há chances de que a

organização industrial se baseie na parceria entre empresas, sindicatos,

universidades e administrações locais. O job design deste modelo industrial pode ser

assim descrito:

i) reversão das regras do collective bargaining26;

ii) cooperação total: união patronal, empregados e sindicatos;

iii) fim do job control system;

iv) fim da hierarquia do trabalho;

v) instituição do emprego vitalício27;

vi) utilização de tecnologias mais avançadas (automação);

vii) organização do trabalho em linhas de produção autônomas (manufatura

celular e linhas de montagem de menor porte).

viii) polivalência operária (job enlargement; job enrichment)

ix) maior autonomia na organização das tarefas (em menor grau que o

paradigma Sócio-Técnico).

Visto as características dos modelos dos modelos anteriores, vale ressaltar

que o Modelo Japonês, ainda que não tenha se tornado um modelo hegemônico, o

24 O Modelo Saturniano desenvolvido pela General Motors (EUA), em 19XX, como resposta a penetração no mercado dos produtos japoneses. Este modelo pode ser visto como um modelo “hibridizado” criado para atender as restrições impostas pela realidade mercadológica da época. 25 Cf. LIPIETZ, op. cit., 1988. 26 Negociação coletiva 27 Emprego Vitalício – método de controle/coesão da força de trabalho instituído no Japão – o que reduziu a taxa de rotatividade e conseguiu maior aderência por parte dos trabalhadores;

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17

qual revolucionou o mundo no final dos anos 70 e início da década de 80, ainda hoje

provê resposta bastante razoável às necessidades do mercado mundial.

Algumas de suas características quanto ao seu job design são:

i) flexibilização do processo produtivo;

ii) trabalhadores com maior grau de autonomia e alocados de forma

flexível;

iii) trabalhadores polivalentes;

iv) introdução do emprego vitalício

v) atribuição de maiores responsabilidades aos trabalhadores (controle de

qualidade, diagnósticos de problemas etc.)

vi) introdução da terceirização (de forma intensa) etc.

Quanto aos modelos abordados, pode-se concluir que cada um tem suas

particularidades devido ao contexto em que foram desenvolvidos e que aderência de

uns foram e/ou são maiores que as dos outros. No entanto, é a necessidade de

flexibilização do trabalho e de suas relações que implica a adoção de um ou outro

modelo.

Isto posto, à partir de então ampliaremos esse debate sobre as novas formas

de organização surgidas com a crise do taylorismo-fordismo.

1.3 – A Reestruturação das Organizações no Pós-Fordismo

Impelidas pelas transformações do macro ambiente ao qual estão inseridas

as organizações se vêem obrigadas a mudar ou pelo menos reorientar de forma

gradual, incremental ou ate mesmo radical seus processos produtivos e

empresariais. Esse conteúdo inovador do sistema produtivo e as mudanças

introduzidas na gestão e na organização do trabalho podem ser, em parte,

representados e estruturados, segundo o quadro 1.2 que se segue.

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Quadro 1.2

Tipologia Após-Fordista da Firma e os Novos Princípios Produtivos Formas Concomitantes

assumidas pela Empresa Após-Fordista

Mudanças Induzidas sobre a

Gestão da Produção

Mudanças Induzidas sobre a

Organização do Trabalho − Empresa Enxuta − Empresa Horizontal − Empresa Orientada à

Projeto − Empresa em Rede,

Modular ou Virtual − Empresa Certificada

(Classe Mundial ou Classe A)

− Empresa que aprende ou Qualificante

− Empresa Flexível − Empresa Integrada

− Just-in-time − Produção Puxada − Qualidade Total

(TQM) − Engenharia Simultânea − Reengenharia − Gestão por Processo − Benchmarking − Downsizing − Gestão por Projeto

(Autônomo e Auto-controlado)

− Manufatura Celular − Empresa-Rede − Parcerias/ Alianças

(Relação Cliente/’Fornecedor)

− Gestão Integrada − Tecnologias de

Informação − Certificação de

Processos e Produtos (Normas ISO, etc...)

− Gestão das Competências-Chaves

− Participação e Envolvimento − Equipes Multifuncionais e

Autônomas − Redução de Níveis Hierárquicos

/ Empowerment − Novo Papel dos Gerentes:

Facilitadores e Coordenadores (Treinador de Equipe)

− Novos Investimentos em Formação e Aprendizagem no Trabalho (on the job)

− Informática/ Telecomunicações como ferramentas generalizadas, com impacto sobre as estratégias, a qualidade e a produtividade

− Externalização das Funções de Trabalho

− Novas Relações com os Parceiros (Cliente/Fornecedor)

− Novos Indicadores Numéricos de Performance

− Nova Formas de Remuneração − Novas Competências − Trabalho em Equipe − Trabalho em Rede (Interno e

Externo) com Recurso às Tecnologias de Informação

Fonte: Cardoso, L. A. 2001.

Dessa forma a sobrevivência das organizações exige que seu modelo

estrutural seja adaptado as novas demandas de mercado, quer seja através de uma

estrutura totalmente rígida, ou uma altamente flexível, ou ainda por meio de um

arcabouço hibridizado. Isso será o resultado das condicionantes externas: dinâmica

mercadológica empresarial; da adequação as economias instáveis; da adequação

da produção a demanda; da cooperação intraorganizacional e interfirmas; da

superação de disfunções da integração vertical (organizações burocráticas) e das

internas: enriquecimento do trabalho, downsizing, empowerment, trabalho

participativo, formas e ferramentas de gestão inovadoras etc.

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19

Um dos principais princípios produtivos da atualidade o JIT – Just in Time,

desenvolvido na industria automobilística, trouxe e tem trazido importantes

modificações na forma como as empresas modelam a gestão de seus processos

produtivos, haja visto as imposições para seu funcionamento. Dentro dessa visão

Durand28 salienta que tais transformações imporiam uma nova dinâmica

organizacional, na qual seria necessário para o funcionamento global do sistema,

destacando-se, dentre outros aspectos, o aumento da responsabilidade coletiva, a

socialização dos saberes da base, a cooperação dos trabalhadores para com a

gerência, a transparência das ações individuais, a redução da hierarquia e o

encurtamento do poder decisório (características observadas nas estruturas

organizacionais voltas para projetos).

Hoje em dia não basta apenas ter habilidades técnicas (como é típico dos

trabalhadores altamente especializados do paradigma taylorista/fordista), os

profissionais precisam conhecer o conceito de times multifuncionais (como acontece

no modelo produtivo japonês e saturniano e, de forma similar, no estalão industrial

sócio-técnico, com a introdução dos grupos semi-autônomos. Pois, as áreas

funcionais da empresa que antes trabalhavam como silos isolados, no contexto de

planejamento, compras, produção e distribuição com interfaces e limites bem

definidos encontram-se agora agrupadas em um único processo29.

Vislumbrando essa redoma técnica-econômica-social, Bertaglia30 salienta que

nunca foi tão necessário enfatizar as habilidades e competências empresariais. A

força de trabalho passa a ser preponderante; o compartilhamento do conhecimento

passa a ter lugar de destaque. O esquema pictório abaixo, adaptado a partir do

trabalho desse autor, representa bem esta realidade e propõe o desenvolvimento de

habilidades como uma forma de sustentação para os paradigmas contemporâneos

de gestão.

28 DURAND, J-P. & BOYER, R. L’Après-fordisme. Paris, Syros, 1993. 29 BERTAGLIA, op. cit, 2003. 30 Ibid.

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20

Figura 1.1 - Adaptabilidade organizacional

Fonte: adaptado de BERTAGLIA, P. R., 2003.

Essa nova realidade vem substituindo a maneira tradicional (forma seqüencial

e lógico-mecanicista) do desenvolvimento gestionário por um princípio sócio-

participativo deste a concepção de cada novo projeto. Esta nova faceta da gestão

empresarial inclui a inserção cada vez maior de técnicas como a engenharia

simultânea, análise/engenharia de valor, kaisen entre outras, e apesar da grande

necessidade das ferramentas de gestão como: Pert, COM, Gantt, Work Breakdown

Structure – WBS estas apenas auxiliam os gestores, enquanto, o sucesso dos

projetos depende cada vez mais da flexibilidade da organização, das relações

sociais internas e externas de seus membros e da maneira como esta dissemina e

utiliza as informações.

A gestão dos processos empresariais em sua nova fase mostra que é

necessário migrar de um sistema de controle centralizado no topo para um onde o

autocontrole (controle descentralizado) deve estar intrínseco a todos, principalmente

aos atores de base. Entretanto, neste novo cenário da gestão, como por exemplo na

Gestão de Projetos, é importante compreender como coordenar as atividades, no

que diz respeito à coletividade, para que a estratégia, objetivos e metas da

organização possam ser atingidos.

Desenvolvendo Habilidades para

Gerir a Organização

Administrando o

conhecimento

Conectando com a

nova era

Em busca do

conhecimento

Preparando para conviver

com as mudanças

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21

Segundo Jolivet e Navarre (1993), nesse novo estilo de gestão, para não

ocorrer um estreitamento hierárquico-funcional, é necessário que as decisões sejam

criticadas e tomadas ao nível mais baixo possível. E a tendência é que as

organizações pós década de 90, ou ainda na era Após-Fordista31, priorizem cada

vez mais a integração institucional, como cita Midler em sua obra: “Depois da era da planificação balística dos projetos, com as suas

organizações centralizadas e os seus grandes modelos, chega-se

hoje a explorações mais coletivas que põem em jogo modelizações

que já não têm a ambição de subistituir as inteligências individuais,

mas, pelo contrário, coordená-las fornecendo-lhes conhecimentos

comuns sobre o sentido, as prioridades e as condicionantes do

projeto”32.

Assim sendo, Ângelo e Armond33, destacam a importância de gerenciar um

negócio, visando a garantir sua viabilidade e sustentabilidade no futuro através da

flexibilidade organizacional, em todos seus sentidos, para se ajustar às mudanças na

arena competitiva.

1.3.1 – Em Busca do Diferencial Competitivo: Um Fator Preponderante para a Sobrevivência das Organizações

Segundo Salerno34, a competitividade, nesses ambientes, demanda das

organizações uma grande flexibilidade em seu sentido mais abrangente, englobando

todos os seus critérios fundamentais, desde os tempos entre o pedido e a entrega e

para lançamento de novos produtos; passando por custos, qualidade, conformidade,

relacionamento com clientes e fornecedores; e atingindo também a capacidade de

inovação em termos de produtos, processos e mercados.

31 CARDOSO, L.A. Aprés-Fordisme et participation: Restructuration productive contemporaine et Nouvelle Rationalisation du travail dans l’industrie Automobile brésilienne. Lille, Septentrion, 2002. 32 Ponssard; Ponssard e Tanguy apud MIDLER, C. L’Auto qui n’existait pas: manangement des projet. Paris, Éditions AFNOR Gestion, 1993. 33 Cf. ANGELO & ARMOND, op. cit., 2001. 34 apud BIAZZI, op. cit., 1993

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22

Dessa forma, as organizações com suas estruturas menos rígidas passaram a

apresentar dentre outras características: níveis menores de burocratização, formas

neoclássicas de departamentalização, desverticalização, estratégias de

diversificação, formas objetivas e claras de disseminação das informações e arranjos

voltados para o trabalho em equipe.

Figura 1.2 – Relação entre fatores competitivos e objetivos e desempenho.

Fatores competitivos35 Objetivos de desempenho

Preço baixo

Al ta qualidade

Entrega rápida

Entrega confiável

Habilidade p/ atender prazo e escopo

CUSTO

QUALIDEDE

RAPIDEZ

CONFIABILIDADE

FLEXIBILIDADE

Adaptação de Slack, (1999).

Toda essa reestruturação visa permitir que as organizações obtenham

diferencial competitivo que, segundo Slack36, pode ser obtido através de

atendimentos a alguns requisitos ou fatores de competitividade que os clientes

valorizam e a conquista destes alvos pelas organizações pode ser atingida pelo bom

desenvolvimento dos objetivos de desempenho. Tal esquema é representado

conforme a figura 1.2.

Então contextualizado o ambiente em que as empresas estão inseridas, isto

é, entendendo os fatores macro ambientais e os inerentes ao sistema, conforme

expõe a figura 1.3, as organizações podem optar por adotar um modelo de gestão

mais tradicional ou mais flexível (como é tendência da era pós-fordista).

35 Slack (1999), salienta que estes fatores, também conhecido como fatores críticos de sucesso, definem as exigências dos clientes e também que o grau que com que uma organização atende as exigências de seus clientes (consumidores) é determinado pelo seu desempenho nos objetivos de desempenho que influenciam os fatores competivivos. 36 Cf. SLACK, N; CHAMBERS, S; HARLAND, C. Administração da produção. São Paulo: Atlas, 1999.

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Figura 1.3 – Fatores ambientais e sistêmicos.

• Economia • Infra-estrutura. burocracia

• Relação c/ fornecedores • Relação c/ clientes

• Fator técnico • Fator de recursos humanos

ESTRUTURAL

SETORIAL

INTERNO

Tributos

Relação c/ concorrentes

Fator Organizacional

Adaptação de Menezes, (2003).

Segundo Rodrigues y Rodrigues37, um modelo de gestão pode ser entendido

como a integração de forma estruturada e organizada dos sistemas internos da

organização, ou seja, um modelo de gestão é um arranjo do aparelho sócio-técnico

da organização. Dentre os modelos de gestão em destaque na atualidade podemos

destacar: Gestão Estratégica, Gestão por Processos, Gestão por Competência,

Gestão do Conhecimento e Gestão por Projeto (ou Gestão de Projetos). Logo a

adoção de um modelo ou outro dependerá das condicionantes macro e micro-

ambientais às quais a organização está exposta e, também, principalmente da sua

estratégia, tal como explicitado acima.

Esses modelos gestionários contemporâneos introduziram alguns conceitos e

práticas visando se adequar às mudanças no ambiente interno e externo das

organizações. Então, a implantação do novo modelo de gestão, exige uma revisão e

adequação das estruturas departamentais. Além, é claro, da reformulação

estratégica do planejamento e a desenvolvimento da capacidade profissional

inserida no contexto.

Dessa forma surgem algumas questões:

37 Cf. RODRIGUEZ Y RODRIGUEZ, M. V. Gestão do conhecimento: reinventando a empresa para uma sociedade baseada em valores intangíveis. Rio de Janeiro: Infobook, 2001.

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• Quais modelos de gestão são adequados às necessidades de uma

organização nesta nova realidade?

• Como implementar e gerir estes modelos de gestão e suas interfaces?

• Como capacitar toda uma força de trabalho dentro de uma empresa com uma

alta gama de atividades e presente em quase todo território nacional?

• São estes modelos inovações, adaptações e/ou hibridizações de modelo

anteriores?

Esses questionamentos estão presentes por todos os segmentos industriais

desde a crise do fordismo enquanto modelo produtivo hegemônico. E, hoje, nessa

nova era, chamada pós-fordista muitas são as questões que ainda restam por serem

analisadas.

Nesse raciocínio, a gestão de projetos nesse novo paradigma, é o nosso

objeto, e esse será melhor aprofundado nas páginas que se seguem.

* * *

Esse capítulo teve como objetivo fazer uma breve análise do desenvolvimento

do processo de gestão das organizações, examinando os diversos paradigmas

existentes até as formas mais contemporâneas.

Nesse escorço, destacamos os desafios por que as organizações

contemporâneas têm de passar uma vez que essas se defrontam com os novos

desafios e emergentes com os novos cenários econômicos que ora despontam.

Isto posto, destacamos a gestão de projetos como um dos fatores

estratégicos com que as organizações contemporâneas hão de se preocupar nessa

nova era.

Assim, no capítulo que se segue faremos uma análise detalhada dessa

atividade e as mudanças encontradas no novo paradigma de gestão.

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CAPÍTULO 2

A GESTÃO DE PROJETOS NO PÓS-FORDISMO:

Forma e Desenvolvimento Contemporâneo

No capítulo anterior realizamos uma breve análise do desenvolvimento do

processo de gestão das organizações, examinando os diversos paradigmas existentes

até as formas mais contemporâneas até delinear a atividade da gestão de projetos

como uma atividade-chave, ou estratégica, para o novo paradigma de gestão das

organizações nessa nova era ou estágio da economia global.

Doravante, ao longo desse capítulo, realizaremos um esforço concentrado de

investigação acerca da forma e do desenvolvimento da atividade da gestão de projetos

nesse novo paradigma. Para tal, iniciaremos a discussão com uma exposição geral

acerca da atividade e, em seguida, passaremos a analisar as principais transformações

que essa atividade sofre e passa a incorporar em seu interior, nessa nova era.

* * *

A necessidade de se organizar e gerir melhor os projetos não vem dos tempos

atuais, há muito as organizações se viram forçadas a se adaptar às mudanças

constantes que tomaram uma dimensão ainda maior a partir da década de 50. Isso

pôde ser visualizado com maior nitidez no final dos anos 60 com as mudanças

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estratégicas vividas pela indústria automobilística, como por exemplo: o alargamento do

mix de produtos oferecidos e a internacionalização dos mercados. Ainda na década de

70 notamos uma grande revolução, que se inscreve no planejamento estratégico

enquanto na década de 90 o auge era o lean production1. Agora podemos dizer, por

senão afirmar, que a gestão de projetos é um ponto alto dos paradigmas gestionários

da atualidade.

Para caracterizar e administrar uma atividade como um projeto é importante

utilizar critérios qualificadores para enquadrar o evento. Desta forma temos alguns

indicadores que quando presentes em uma atividade fazem esta se aproximar ou

distanciar do arranjo de um projeto, são elas:

Natureza de um projeto: a atividade é finita, com início, meio e fim bem

definidos;

Grau de complexidade e especificidade;

Grau de desconhecimento sobre a abordagem a adotar para tratar a

atividade;

Multidisciplinaridade exigida e diversidade de recursos envolvidos;

Importância do problema ou solução, no prazo exigido, para o cliente,

etc.;

A oportunidade ou os nichos de mercado são usualmente temporários;

O work team normalmente é desmontado após o projeto etc.

Dentro das organizações as atividades desenvolvidas envolvem serviços

rotineiros e/ou projetos. Então segundo o PMI2, no que tange a execução desses

serviços temos algumas características em comum, como por exemplo, ambos são:

Executados por pessoas;

Restringidos por recursos limitados;

Planejados, executados e controlados;

1 O Lean Production ou Produção Enxuta é um conceito de organização do trabalho desenvolvido pelos japoneses e difundido em todos os mercados e setores industriais. 2PMI (Project Management Institute) – é o mais importante organismo internacional em matéria de profissionalização em gestão de projetos. Esta instituição produziu o Guia de conhecimento sobre Administração de Projetos (Guide to the Project Management Body of Knowledge – PMBOK). O Guia do PMBOK é o documento que sistematiza o campo da administração de projetos. O Guia identifica e define os principais conceitos e técnicas que devem ser utilizados na condução de projetos. Este guia também esclarece que a aplicação das técnicas e ferramentas nunca devem ser aplicadas uniformemente para todos os projetos.

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No entanto, serviços continuados e projetos se diferem principalmente pela

distinção de temporalidade, um é contínuo e repetitivo e o outro é finito com início e

término bem definidos, respectivamente. Logo, projeto é um empreendimento

temporário com objetivo de criar um produto ou serviço único3. De forma a reforçar o

caráter de unicidade de um projeto temos a afirmação de Clark, Hayes e Wheelright4,

que em suas pesquisas afirmam que projetos similares tecnicamente e implementados

(desenvolvidos) em um mesmo mercado freqüentemente apresentam como resultados:

custos diferentes, realizações de prazos diferentes e diferente aceitação de mercado

(percepção do cliente).

Projetos são orientados para metas e objetivos estratégicos, táticos e

operacionais, que se pretende atingir, envolvendo em toda sua abrangência as

especificidades, singularidades, complexidades, temporalidades das várias sub-tarefas

inter-relacionadas com suas limitações de recursos.

QUALIDADE

CUSTO PRAZO

Figura 2.1. Arcabouço básico de uma gestão de projeto.

Porém, projetos têm por finalidade apoiar causas, sejam sociais, políticas, ou

econômicas. Então, buscar o sucesso na condução do projeto significa identificar a

3 PMBOK 2000, Project Manangement Body of Knowledge – Project Manangement Institute. Brazil Minas Gerais Chapter, Belo Horizonte, 2002. 4 CLARK, K.B.; HAYES, R.H.; & WHEELRIGHT, S.C., Dynamic Manufecturing: creating the learning organization. New York, The Free Press, 1988.

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estratégia da causa ou organização onde estes se encontram inseridos e traduzi-las em

estratégias de projeto, que se baseiam na tríade: custo, prazo e qualidade,

representada na figura 2.1.

Destarte, todo projeto faz parte de um objetivo econômico-financeiro em

consonância com o planejamento estratégico da empresa, expresso em termos de

rentabilidade global. Portanto, deve-se preparar tudo com paciência e destreza, é claro

que não se esquecendo dos prazos para seu desenvolvimento e implementação. Assim

sendo, a estratégia do projeto/produto, dados econômicos, definição técnica, cenários

industriais devem estar bem consolidados e consistentes.

2.1 – O Desenvolvimento de Projeto

Segundo Clark, Hayes e Wheelright5), muito já se têm estudado sobre projetos

em todos os setores industriais e em matéria de desenvolvimento de projetos

encontram-se dois pontos de destaque, a saber:

1. Similaridade nos problemas encontrados em todo meio industrial;

2. Grande disparidade com que diferentes gestores tratam e conduzem

estes problemas;

Embora todo desenvolvimento de projeto seja diferenciado, todos se deparam

com problemas comuns de criação e implementação. Então, o sucesso de cada projeto

dependerá do atendimento a requisitos pré-estabelecidos de temporalidade e

efetividade na alocação de recursos, bem como da qualidade do trabalho feito por

variadas funções e também de como estes esforços estão integrados. Destarte,

podemos destacar alguns fatores determinantes para alta performance do

desenvolvimento de projetos:

5 CLARK, K.B.; HAYES, R.H.; & WHEELRIGHT, S.C., Dynamic Manufecturing: creating the learning organization. New York, The Free Press, 1988.

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Abordagem para resolução de problemas: as soluções dos diversos

problemas estão interligadas;

Resolução de conflitos: como resolvê-los e quais os envolvidos;

A estrutura de organização do projeto bem como a natureza de seu líder

etc.

Assim sendo, um efetivo desenvolvimento de projeto requer que todos os grupos

e setores envolvidos desenvolvam capacidades específicas e que sua organização

sócio-técnica esteja adequada ao contexto em que este se insere. Outro fator

preponderante é a forma com que a organização se estrutura para gerir seus projetos.

Devido à importância deste ultimo tópico, para o contexto dessa pesquisa, abordaremos

o assunto nos próximos sub-tópicos deste capítulo.

2.1.1 – O Ciclo de Vida do Projeto

O ciclo de vida do projeto (ver figura 2.2) serve para delimitar as fronteiras de um

projeto, ou seja, suas fases que terão como marcos-destaque: o início e o fim do

projeto. Então, para fins deste trabalho tomaremos como descrição para o ciclo de vida

de um projeto a definição da Independent Project Analysis6 (IPA), a qual diz que este é

o tempo considerado desde a geração da idéia do projeto até sua entrada em

operação.

6 IPA – Independent Project Analise é uma instituição americana que fornece comparações com a média da indústria dos principais indicadores do mercado de implantação de projetos de investimento, ou seja esta instituição funciona como benchmarking, através de seus indicadores, de boas práticas de gestão de projetos para as organizações.

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30

Fase inicial Fase final Fases Intermediárias

COMPLEXIDADE

GRAU DE INCERTEZA

Grande nº de variáveis

X Pouca incerteza

quanto ao resultado final

Pequeno nº de variáveis

X Pouca incerteza

quanto ao resultado final

Grande nº de variáveis

X Elevada incerteza

quanto ao resultado final

Pequeno nº de variáveis

X Elevada incerteza

quanto ao resultado final

Figura 2.2 - Ciclo de Vida do Projeto.

Adaptado de Maximiano (2002).

7 Para Midler , em geral as soluções não correspondem forçosamente aos

problemas, chegam tardiamente, o que tornam mais caras e mais difíceis de pôr em

prática, isso devido ao dinamismo e flexibilidade exigidos pelos projetos. Então para

que as organizações possam atender estas demandas, seus elos (cadeia de

suprimentos8), até então convivendo quase que isoladamente devem estar mais do que

nunca integrados.

Os fornecedores estão agora imersos no processo de desenvolvimento do

projeto, cabe a ele toda responsabilidade de desenvolver seus componentes e opinar

sobre os impactos que estes têm e terão no projeto. As necessidades dos clientes

7 MIDLER, C. L’Auto qui n’existait pas: manangement des projet. Paris, Éditions AFNOR Gestion, 1993. 8 Cadeia de Suprimentos ou Supply Chain pode ser entendida como canal que compreende desde fornecedor primário até o usuário final e por onde flui produtos, serviços e informação com valor agregado. Para um maior aprofundamento, veja-se: CHRISTOPHER, Martin. Logística e gerenciamento da cadeia de suprimentos: estratégias para a redução de custos e melhoria dos serviços. São Paulo: Pioneira, 2002; BALLOU, Ronald H. Gerenciamento da cadeia de suprimentos: planejamento, organização e logística empresarial. 4 ed. Porto Alegre: Bookman, 2001.

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passam a influenciar a montante no desenvolvimento do projeto. E as influências

macro-ambientais passam a ser condicionantes de todo o processo.

FLUXO DE PRODUTOS E INFORMAÇÕES

FLUXO DE PRODUTOS E INFORMAÇÕES

FORNECEDORES

EMPRESA

CLIENTES

Concorrentes

Economia Governos

Proprietários e Acionistas

Sociedade

OutrosAgentes

Figura 2.3 – Influencias macro-ambientais na cadeia produtiva. Adaptado de Maximiano (2002).

Nesta nova conjuntura, a mobilização dos atores do projeto, incluindo os

fornecedores, é feita de forma variada e a regulação será como antes não havia sido

feita: “[...] de um fornecedor exterior fará um parceiro, oferecendo-lhe um lugar no

palco projeto; de um colega de gabinete, fará simetricamente um contratante,

fazendo-o assinar um compromisso sobre sua contribuição para o projeto”

(MIDLER, 1993, p. 98).

Desta forma, as organizações deverão estar estruturadas de forma a atender as

mudanças impostas pelo macro-ambiente e ainda estar fortemente integrada em seus

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processos gestionários internos (setores) bem como com seus fornecedores e clientes,

conforme demonstrado na figura 2.3, acima.

Portanto, para gerir projetos nesse novo paradigma econômico e industrial as

organizações devem prover mudanças estruturais, culturais e administrativas.

2.2 – Uma Visão de Administração de Projetos

Os projetos são coisas raras e singulares e a sua gestão de forma integrada

implica atitudes como: o voluntarismo, proveniente do grau de autonomia que este tipo

de gestão exige e o realismo, visto a necessidade de experiências por partes

integrantes do project team, ou seja, apenas as teorias não suprem mais as

necessidades geradas pelos diversos entraves dos projetos.

No entanto, com o objetivo de atender ao máximo ao cliente, e para que o projeto

flua de forma eficiente e eficaz dentre outros fatores se faz necessário formar uma

equipe capaz de tocar efetivamente projeto em todas as suas fases. Todavia, os

projetos não se restringem a sua equipe. No conjunto de atividades que compõe o

escopo do projeto muitas continuam ligadas a(s) sua(s) “direção(ões) funcional(is)”:

produto, design, compras, métodos, produção, logística, trade, marketing etc.

Assim sendo, segundo PMIMG9 a gerência de projetos pode ser entendida

como: “[...] aplicação de conhecimentos, habilidades, e técnicas para projetar atividades

que visem atingir os requerimentos do projeto [...]”, sua condução pode ser

acompanhada através do uso de processos como iniciação, planejamento, execução,

controle e encerramento.

Porém, Midler10, ressalta que em linguagem de projetos, os grandes projetos são

sistemas abertos, que é ilusório esperar circunscrever os limites com precisão, eliminar

as influências desestabilizantes do contexto. E ainda temos que na gestão de projetos a

descentralização ou dispersão dos projetos, que se faz necessária, em suas diversas 9 PMBOK 2000, Project Manangement Body of Knowledge – Project Manangement Institute. Brazil Minas Gerais Chapter, Belo Horizonte, 2002. 10 MIDLER, C. L’Auto qui n’existait pas: manangement des projet. Paris, Éditions AFNOR Gestion, 1993.

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fases dificulta a comunicação entre os especialistas que estão ou irão conduzir o

projeto.

Dentro dessa perspectiva também se faz necessário qualificar as informações

sobre tais projetos, porque os dados sobre os mesmos muitas vezes são imprecisos ou

pelo menos não tem a precisão exigida para dar a confiabilidade necessária ao projeto

e aos executantes. E por outro lado os que irão utilizar as informações muitas das

vezes não são os mesmos que criaram. E, quando as informações aparecem dentre

várias outras, a transparência das mesmas podem estar obscuras e não serem

interpretadas e utilizadas de forma clara, correta e objetiva levando aos mentores a

gerirem o projeto de forma equivocada.

Então, para uma boa gestão de projetos uma organização, dentre outras coisas,

precisa-se introduzir como premissas de sua gestão: rapidez de decisão, clareza nos

objetivos, unicidade de responsabilidade e autonomia dos envolvidos no processo

(projeto). Para isso é importante que levemos em conta experiências de projetos

passados que além de fornecerem know how, permitem não incorrer duas vezes no

mesmo erro. Embora estas experiências passadas não se tornem, ou pelo menos não

devam se tornar, verdades incontestáveis, destacam intrinsecamente os vários estágios

evolutivos da gestão, cultura e estrutura organizacional. Assim sendo, torna-se

importante destacar que rupturas oportunas, tradição e racionalismo são componentes

heterogêneos, porém importantes para inovações nas organizações.

Nessa visão de gestão de projeto como aplicação de conhecimentos, habilidades

e técnicas para projetar atividades que visem atingir os requerimentos de um projeto, as

atividades que compreendam características de tal, tem maior probabilidade de êxito

quando geridas por técnicas específicas para este tipo de gestão, com ferramentas

apropriadas e competências direcionadas para tal atividade.

Buscando o balanceamento para este tipo de gestão, muitas organizações

mantêm as atividades funcionais sendo realizadas pela estrutura organizacional

permanente, em sua grande maioria, cuja característica principal é a

departamentalização ou setorização que tem por definição gerentes funcionais como

chefes de “divisão”. No entanto, para executar efetivamente a gestão de projetos uma

das técnicas utilizadas e se criar uma estrutura crível para gerir um ou mais projetos,

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dentro ou em paralelo, da estrutura funcional que, por conseguinte deverá ter um

gerente temporário para administrar os recursos e prazos em questão.

Por conseguinte, pode-se dizer que uma gestão orientada a projeto constitui uma

ferramenta na busca de competitividade e redução do ciclo de desenvolvimento de

produtos e serviços. E que esta abordagem permite a adoção de uma estrutura capaz

de empregar prontamente novos conhecimentos e tecnologias na resolução de

problemas e/ou no próprio upgrade do processo.

2.3 – A Gestão de Projetos e as Organizações

Segundo Midler11, cada projeto possui sua identidade e fazer com que este não

perca suas características leva a transformações na organização: tipos de

relacionamento entre os executores, grau de hierarquia, responsabilidades e autonomia

etc., em suma, assumir a identidade de um projeto com key point faz com que as

organizações quebrem em nome da adequação de um problema específico,

engrenagens bem lubrificadas ao longo de sua existência.

Na visão mecanicista do trabalho, a incerteza, a aleatoriedade e a subjetividade

eram tidas como entraves do racionalismo. Ao contrário de hoje em dia que com

enriquecimento sócio-técnico do projeto que são vistas como elementos a integrar os

métodos e modelos, que também nos modelos contemporâneos são vistos sob óticas

diferentes.

A gestão de projetos, por muito tempo, conduzida por vistas puramente técnicas

e que, hoje em dia, não se sustentam mais sozinha, agora seguem a tendência em que

as variáveis organizacionais e sociais seguiriam a evolução natural da organização.

Tanto na manufatura quanto nos processos gestionários em geral os gestores, com o

passar do tempo, em suas várias experiências on the job e várias pesquisas

perceberam que para atingir uma produção e/ou uma gestão eficaz e eficiente, era

suficiente o bastante acompanhar as evoluções do mercado e ainda ser um diferencial 11 MIDLER, C. L’Auto qui n’existait pas: manangement des projet. Paris, Éditions AFNOR Gestion, 1993.

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competitivo, trabalhar apenas os aspectos técnicos não seria suficiente, o que se reflete

também quando da gestão de projetos, ter-se-ia também que abordar de forma

sistemática os aspectos sociais, dentre muitos Midler12, destaca os seguintes:

atribuição de papeis, competências individuais, relações entre indivíduos que cooperam

na produção, sistemas de incentivos que pesam sobre os comportamentos etc.

Observa-se, principalmente, na indústria automobilística que as culturas

organizacionais moldadas por décadas e décadas de extremista divisão do trabalho,

não conseguiram desenvolver aptidões para processos de trabalho coletivo. No

entanto, várias transformações puderam ser observadas na economia mundial ao longo

deste período, e as indústrias, de maneira geral, concomitantemente a estes fatos,

tiveram que rearranjar suas estruturas, o que também ficou latente no mundo do

automóvel e extrapolou para outros segmentos industriais, que em pleno final do século

XX e início do século XXI pode ser observado, com muita clareza, até mesmo no setor

energético com seus vários segmentos, entre outros: geração de energia hidroelétrica,

termoelétrica, termonuclear e produção petrolífera (a pesquisa em questão terá o

estudo de caso desenvolvido nesta indústria).

Nessa circunscrição em que os projetos estão inseridos, temos cenários

progressivos onde não se muda tudo, mas faz-se com que aspectos não satisfatórios

analisados a posteriori evoluam em continuidade, o que podemos caracterizar como

melhoria incremental e que os japoneses convencionaram chamar de kaisen. Por

conseguinte, temos a contrapartida rupturas drásticas aos paradigmas convencionais

trazendo novos métodos, técnicas e ferramentas de trabalho que fazem de uma

maneira ou de outra com que a concepção de projetos mude relativa e

significativamente.

Na gestão de projetos tradicional o projeto segue em uma cadeia que percorre

todos os setores funcionais da organização de forma seqüencial, enquanto a lógica

atual é que o projeto flua de maneira coletiva e concisa de modo que a qualquer

momento as peças, entendam-se atores, possam ser substituídas sem maiores perdas.

Nas abordagens contemporâneas de projetos, o estudo dos processos técnicos é

consideravelmente enriquecido por outras perspectivas análises prospectivas sob as

populações que integraram a força de trabalho; estudos ergonômicos e de segurança; 12 MIDLER, C. L’Auto qui n’existait pas: manangement des projet. Paris, Éditions AFNOR Gestion, 1993.

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elaboração de novas estruturas organizacionais e sistemas de gestão; regime de

aquisição de novas competências; análise do impacto das transformações sobre as

qualificações; sistema de remuneração e plano de cargos e carreira etc.

A gestão de projetos em sua nova fase mostra que é necessário migrar de um

sistema de controle centralizado no topo para outro, onde o autocontrole (controle

descentralizado) deve estar intrínseco a todos, principalmente aos atores de base

(empowerment). Entretanto, na Gestão de Projetos é importante compreender como

coordenar as atividades, no que diz respeito à coletividade, para que a estratégia,

objetivos e metas da organização possam ser atingidos. Segundo Jolivet e Navarre13,

dentro desta nova realidade de gestão, para não ocorrer um estreitamento hierárquico-

funcional, é necessário que as decisões sejam criticadas e tomadas ao nível mais baixo

possível. Midler14, ainda salienta que é tendência que as organizações pós década de

90 priorizem cada vez mais a integração institucional.

Assim sendo, a gestão de projetos vem tomando seu lugar de destaque dentro

dos diversos sistemas organizacionais. Segundo Clark, Hayes e Wheelright15 as

organizações assumem quatro perspectivas quanto a configurações de projeto em

relação as estruturas setoriais, conforme figura 2.4.

13 JOLIVET, F. Grands Projets, Auto-Organisation, Méta-Régles: vers de nouvelles formes de management de grands projects. In: Gestion 2000, no 2, avril, 1993. 14 MIDLER, C. L’Auto qui n’existait pas: manangement des projet. Paris, Éditions AFNOR Gestion, 1993. 15 CLARK, K.B.; HAYES, R.H.; & WHEELRIGHT, S.C., Dynamic Manufecturing: creating the learning organization. New York, The Free Press, 1988.

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Direção de Setor

Atores de Setor no Projeto

Manager Setorial de Projeto

Ligação não hierárquica

Manager do Projeto

Coordenador de Projeto (Lightweight Project Manager)

Direção do Projeto

Atores de Setor no Projeto

Chefe Setorial de Projeto

Top Manager do Projeto

Capacidade de Intervenção do Diretor

do Projeto Participantes

Externos

Projeto Externalizado (Tiger team Organiazation)

Capacidade de Intervenção do

Diretor do Projeto Top Manager

do Projeto Participantes

Externos

Direção de Setor

Atores de Setor no Projeto

Chefe Setorial de Projeto

Diretor de Projeto (Heavyweight Project Manager)

Direção de Setor

Atores de Setor no Projeto

Estrutura Funcional (Functional Organization)

Figura 2.4 – Configurações de projeto em relação as estruturas setoriais. Fonte: Adaptado de CLARK, K.; HAYES, R. & WHEELRIGHT, S., 1988.

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Dentro deste contexto as pesquisas destes autores apontam as estruturas do

tipo externalizada (tiger team organization) como a forma mais efetiva de abordar a

Gestão de Projetos em face à necessidade de flexibilização e autonomia nos projetos.

Todavia, para Cardoso16, a maior conseqüência dessa transformação estaria na

ordem do desenvolvimento de projetos com um caráter horizontal, temporário e

autônomo em relação à estrutura da empresa.

Destarte para Cardoso17, uma destas formas, a Empresa Orientada a Projeto,

Gestão por Projeto ou Gestão de Projetos com uma natureza autônoma ou semi-

autônoma e flexível e com arcabouço mais horizontalizado, teria como conseqüência

todo um conjunto de ações, definidas como meta-regras, que implicariam em uma série

de transformações de grandes complexidades nas organizações.

De modo sistemático, autores como Jolivet18 e Cardoso19 sustentam que toda

organização que deseja adotar ou adota esta composição gestionária tem

intrinsecamente arraigada em seus processos uma auto-regulação, pois neste cenário

cada projeto deve definir seu grau de liberdade, suas próprias regras e suas

ferramentas senão estarão fadados ao insucesso.

Outrossim, esta auto-organização faz parte de toda uma expertise adquirida pela

organização ao longo de sua existência e que é necessária dentro ambiente no qual a

organização está circunscrita. E, para Jolivet, esta seria a função das meta-regras:

regras que produzem as regras, e que se caracterizam como regras globais que

permitem produzir de maneira coerente, eficaz, descentralizadas do projeto em toda a

sua extensão.

As meta-regras se dividem em meta-regras de gestão (num total de doze) e

cinco outras relacionadas aos preceitos de organização. As condizentes aos princípios

de organização e que estabelecem a abrangência da autonomia do projeto, pois

caberá, nesta concepção, ao top management definir sua política e seus objetivos,

escolher seus colaboradores, estabelecer a forma de relacionamento com fornecedores

16 CARDOSO, L.A. A reestruturação pós-fordista da produção e suas conseqüências sobre as novas formas de gestão de projetos na indústria automobilística brasileira: o caso da FIASA – Fiat Automóveis S.A. Bauru: XI SIMPEP, 2004. 17 CARDOSO, L.A. Aprés-Fordisme et participation: Restructuration productive contemporaine et Nouvelle Rationalisation du travail dans l’industrie Automobile brésilienne. Lille, Septentrion, 2002. 18 JOLIVET, F. Grands Projets, Auto-Organisation, Méta-Régles: vers de nouvelles formes de management de grands projects. In: Gestion 2000, no 2, avril, 1993. 19 CARDOSO, L.A. op. cit., 2002; CARDOSO, L.A. op. cit., 2004.

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e com a própria organização, em suma, constituir o arcabouço inter e intra-

organizacional do projeto em consonância com os objetivos da organização. Porém, os

objetivos do líder do projeto, do projeto e da organização não estão amarrados de

forma engessada, podendo alterar-se uns em função dos outros, de modo que se possa

chegar ao auto-equilíbrio.

Quadro 2.1. Características da Organização Tradicional Vs. Organização regida palas

meta-regras.

F

o

n

t

e

:

J

O

L

I

V

ET, F. 1993.

Organização Clássica Auto-Organização (Meta-Regras)

Organização Permanente Organização Evolutiva e Temporária

Estrutura Piramidal e Funcional das Tarefas Organização Celular

Padronização dos Procedimentos Meta-Regras e Regras Específicas

Responsabilidades Fracionadas de modo

Vertical e Horizontal

Responsabilidades Repartidas e

Empowerment dos Indivíduos

Controle pelo Acompanhamento das Falhas Controle sobre a Ênfase no Sucesso

Massificação dos Problemas sobre o

Indivíduo Direito e Respeito às Diferenças de opinião

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Quadro 2.2. Comparação do paradigma convencional e o novo paradigma para

desenvolvimento de produto e de processo.

Dimensões Paradigma Convencional Novo Paradigma

1. Indicadores de referência Não-negociáveis, definidos previamente Pode requerer revisão ocasional

Custo de projeto Especificação de performance de projeto/produto

Seqüenciamento de Projeto

Um é visto como vetor primário para a firma

Todos recebendo significante atenção

2. Equipe de projeto Liderança pela engenharia de projeto

Liderança com visão holística, gestor com ampla experiência em projeto

3. Foco do projeto Começa com marketing, troca para engenharia e termina na produção

Esforço em equipe multifuncional

4. Fases do projeto Seqüencial Simultânea

5. Gestão de obstáculos

Transferência de pessoas, mudanças de prioridades, gargalos afetados por recursos limitados, redirecionamento lento, atrasos na venda e mudanças excessivas na engenharia.

Gerenciado através de melhores planos, disciplina, habilidades e acompanhamento

6. Respostas para "falhas no cronograma"

Negar falhas que ocorreram na trajetória do projeto

Muito menos freqüentes, mas abordadas realisticamente assim que elas surgem

7. Manuseio de tarefas chaves

Solução de problemas Dentro do grupo funcional ou setor Multifuncional

Resolução de conflitos Reativa, adiada e decidida em níveis hierárquicos elevados

Preventivo e solucionado nos níveis de base

Organização do projeto Primordialmente funcional e sem participação dos níveis de base

Gestor do projeto (com larga experiência) mantendo a integração

8. Controle da manufatura Apenas formas básicas de controle são consideradas necessárias

Controle progressivo ou dinâmico

9. Transferência de informação Grandes lotes, transferidos para baixo apenas depois da fase completa

Lotes menores, nos dois sentidos e durante o desenvolvimento da fase

10. Envolvimento à montante Considerado barreira indesejável

Baseado na confiança e no respeito mútuo e na adição de valor

11. Design para manufaturabilidade

Permite à produção poder de veto sobre a engenharia de projeto

Prover melhorias de produto e processo

Fonte: adaptado de CLARK, K.B.; HAYES, R.H & WHEELRIGHT, S.C., 1988.

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41

Segundo Cardoso20, pode-se dizer que dentre essas, uma vem tendo destaque,

a tocante aos recursos humanos ou competências tem sido fonte de diferencial

competitivo. A qual dá suporte a essa necessidade de resposta aos novos desafios, ou

seja, a modelos de gestão que se adaptem a essa nova lógica, em específico ao

modelo de Gestão de Projeto (foco da pesquisa a ser desenvolvida). E, que, tais meta-

regras surgidas com essa nova forma de Gestão de Projetos constituem-se como uma

alternativa ao paradigma tradicionalista, que se baseava no controle por existências de

padrões, separação entre concepção e execução, especialização do trabalho,

ferramentas sofisticadas de gestão etc.

Para Midler21, através da criação de uma nova estrutura, dentro da arquitetura

organizacional, denominada por ele de grupos função e formado por especialistas dos

diversos setores da empresa, facilitar-se-ia a comunicação em as áreas funcionais e

melhoraria o controle do projeto, sob três aspectos: a qualidade; os custos e os prazos,

que em sua concepção formam a tríade do controle de projetos.

Tais metamorfoses também podem ser evidenciadas na Industria Manufatureira,

como destacam estudos feitos por Clark, Hayes e Wheelright na década 80 e

apresentados em sua obra: Dynamic Manufecturing: creating the learning organization,

de 1988. O contraste entre o convencional e o novo paradigma de Gestão de Projeto

pode ser representado conforme o quadro XX.

Para implementar um sistema organizacional contemporâneo desta dimensão é

necessário que a organização esteja hábil a responder as mudanças do ambiente. “É

necessário conjugar agora desenvolvimento técnico com a organização, divisão do

trabalho, descentralização de responsabilidades, circuitos de comunicação”22.

Ainda para Midler23 cada projeto possui sua identidade e fazer com que este não

perca suas características leva a transformações na organização: tipos de

relacionamento entre os executores, grau de hierarquia, responsabilidades e autonomia

etc., em suma, assumir a identidade de um projeto como key point faz com que as

organizações quebrem em nome da adequação de um problema específico,

engrenagens bem lubrificadas ao longo de sua existência.

20 CARDOSO, L.A., op. cit. 2002. 21 MIDLER, C. L’Auto qui n’existait pas: manangement des projet. Paris, Éditions AFNOR Gestion, 1993. 22 Idem. p.39. 23 Ibid.

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42

Então, da mesma forma que para os setores automobilístico e de manufatura, no

setor energético, neste universo de projetos, temos cenários progressivos onde não se

muda tudo, mas faz-se com que aspectos não satisfatórios analisados a posteriori

evoluam em continuidade, o que podemos caracterizar como melhoria incremental e é o

que os japoneses convencionam a chamar de kaisen. Por conseguinte, temos em

contrapartida rupturas drásticas aos paradigmas convencionais trazendo novos

métodos, técnicas e ferramentas de trabalho que fazem de uma maneira ou de outra

com que a concepção de projetos mude relativamente. Pois todo projeto faz parte de

um objetivo econômico-financeiro, em consonância com o planejamento estratégico da

empresa, expresso em termos de rentabilidade global.

Todavia, apesar do setor energético estar inserido num cenário

monopolístico tanto no Brasil como em outras partes do mundo, as empresas deste

segmento também tiveram que rearranjar sua estrutura organizacional, em busca da

flexibilização e integração organizacional, para competir e ganhar competitividade. Pois

todas as companhias deste setor industrial precisam trabalhar com preços competitivos

a nível internacional, obrigando as mesmas a se adequarem ao panorama global,

otimizado e customizando suas atividades, seus processos e suas formas de gestão.

“[...] prisioneiros dos nossos mitos racionalizadores, temos por vezes dificuldade

em rendermo-nos à evidencia face a quilo que é, no entanto, em matéria de

inovação, a marca de uma gestão sensata: a estratégia não é o ponto imutável

dos projetos”24.

Portanto, para enfrentar essas mudanças de paradigma há que se ter paciência

e destreza para alinhar e consolidar: estratégia de projeto, dados econômicos, definição

técnica, e cenários.

* * *

24 Ibid.

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43

Nesse capítulo, pudemos discorrer sobre as principais características da gestão

de projetos nessa nova fase da história do capitalismo, que ora denominamos de

paradigma pós-fordista.

Assim, pode se conhecer mais profundamente as principais características e os

principais eixos da mudança que se desenvolveu sobre essa importante atividade de

gestão.

Todavia, no capítulo que se segue faremos uma análise mais rica, mais

profunda, e com mais detalhes, tomando um caso empírico, a saber: o serviço de

engenharia de uma empresa do setor de produção de energia.

Nesse estudo de caso, verificar-se-á como toda essa exposição teórica da

mudança de paradigmas na gestão de projetos se desenvolve na prática. Em outras

palavras, verificar-se-á como essa tendência descentralizadora e autônoma do pós-

fordismo, na gestão de projetos, torna-se uma realidade nesse setor produtivo.

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CAPÍTULO 3

A GESTÃO DE PROJETOS NA INDÚSTRIA PETROLÍFERA:

O Caso do Setor de Engenharia

da PETROBRÁS S. A.

Nos capítulos precedentes realizamos uma exposição analítica acerca do

desenvolvimento das transformações econômicas recentes, bem como do

desenvolvimento de novos paradigmas produtivos.

Nessa análise, enfocamos o desenvolvimento da atividade de gestão de

projetos como uma atividade que desloca seu eixo para um novo enfoque dinâmico,

ganhando uma função estratégica nos novos modelos produtivos.

Assim, passamos a analisar o caso de uma empresa brasileira, com vistas a

identificar como essa transição ocorre e como ela procura ajustar a empresa a essa

nova ordem produtiva.

O foco desse estudo de caso constitui a identificação e a descrição do modelo

de gestão do setor de Engenharia, da área funcional de Serviços da Petrobras S.A.,

uma empresa da indústria energética, especificamente do setor petrolífero. Assim

sendo, objetiva-se mostrar como se estruturam os paradigmas contemporâneos de

gestão para responder as novas oportunidades de negócios e novos desafios e

como esses ajudam as organizações em geral a construírem estruturas sólidas e

assim obterem diferencial competitivo.

* * *

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45

3.1 – A Empresa

3.1.1 – Um Breve Histórico

Criada na década de 50 com o objetivo de executar as atividades do setor de

petróleo no país, a Petrobras, ao longo de quatro décadas tornou-se líder no

mercado nacional, colocando-se entre as vinte maiores empresas do setor na

avaliação internacional1. Detentora de tecnologia de ponta, para a realização de

suas atividades produtivas, a Companhia foi premiada pelo desenvolvimento de

tecnologias de exploração e produção de petróleo em águas profundas , no início

dos anos 90 e 2000, pela Offshore Technology Conference (OTC).

Em 1997 o Brasil ingressou no grupo de 16 países cuja produtividade é

considerada de médio/grande porte. E nesse mesmo ano foi criada a lei que

promoveu a abertura das atividades da indústria de petróleo, ou seja, neste período

ocorreu a abertura de mercado.

Com sede na cidade do Rio de Janeiro, a Companhia possui escritórios e

gerências de administração em importantes cidades brasileiras, como: Salvador,

Brasília e São Paulo. Além de estar presente em diversos países, como: Estados

Unidos, Inglaterra, Angola, Argentina, Bolívia, Colômbia, Nigéria. etc.

3.1.2 – Principais Atividades

Suas atividades pertinentes ao setor energético de uma forma geral podem

ser descritas em: exploração; produção; refino; transporte; armazenamento;

distribuição e comercialização de gás natural; petróleo e derivados.

1 Fonte : intranet da companhia, 2004.

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3.1.3 – Organograma

O organograma da Companhia foi reestruturado a poucos anos em áreas de

negócios com o objetivo de atender aos novos desafios impostos pela estrutura de

mercado em que está inserida.

Abaixo, segue os objetivos de cada uma das principais unidades dispostas no

organograma e descritas a seguir:

• Área de Negócios Financeira – essa área visa representar a Companhia em

sua área de atuação, interagir com instituições financeiras visando à captação

e a aplicação de recursos de acordo com orientações corporativas, bem como

executar atividades de apoio administrativo ou técnico requeridas pelos

órgãos da Companhia. Tendo como principais atribuições: planejar, orientar,

executar, coordenar e avaliar as atividades de natureza financeira,

abrangendo a gestão do caixa, a captação de recursos, os pagamentos e os

recebimentos, bem como a supervisão dos escritórios no exterior.

• Área de Negócios Exploração & Produção (Produção 1) – esta área de

negócios é a área de empresa responsável pela produção no primeiro estágio

da cadeia da indústria de petróleo, e uma das mais importantes da

Companhia.

• Área de Negócios Internacional – a área de negócios internacional é a área

da empresa responsável pela atuação, no exterior, nos segmentos de

produção e distribuição. Com a abertura do setor a atuação da Companhia no

exterior teve sua importância estratégica aumentada em contrapartida à

entrada de empresas estrangeiras no país.

• Área de Negócios Abastecimento (Produção 2) – O Abastecimento é a área

da empresa responsável pela produção em um segundo estágio

(transformação e transporte de petróleo e derivados) em contato direto com a

distribuição.

• Área de Serviços – A área de Serviços é responsável por dar o suporte

necessário aos processos que não fazem parte da atividade principal da

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companhia. Os serviços prestados são referentes à pesquisa e

desenvolvimento, engenharia2, materiais, tecnologia da informação, serviços

compartilhados e SMS;

• Área de Negócios Gás & Energia (Produção 3) – A área de negócio Produção

3 foi criada para expandir o mercado interno e diversificar a matriz energética

do Brasil. Suas responsabilidades incluem desde a comercialização a nível

nacional e importado, até estudos de viabilidade técnica e econômica;

implantação de empreendimentos e a expansão dos meios existentes para o

escoamento da produção.

Dentro desse contexto hierárquico organizacional, um dos pilares da

Companhia, o serviço de Engenharia, nos seus 32 anos de existência, tem

elaborado e aprimorado seus procedimentos técnicos e gerenciais na execução de

suas tarefas. Assim nasceram seus procedimentos, rotinas, padrões, normas,

cadastros e manuais. E assim se consolidou todo um know how cujo “aquisição e

detenção determinam a diferença entre as excelentes e as apenas grandes

empresas”3.

2 Esta área será o objeto de estudo da pesquisa em questão e é responsável pela condução de boa parte dos investimentos da companhia.. 3 Frase de um executivo da companhia.

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COMUNICAÇÃO INSTITUCIONAL

DESENV. SISTEMA DE GESTÃO JURÍDICO

ESTRATÉGIA CORPORATIVA

NOVOS NEGÓCIOS RECURSOS HUMANOS

Produção 1 Produção 2 Produção 3Financeiro Internacional Serviços

Contabilidade

Finanças Corporativas e Tesouraria

Financiamento de Projetos

Relacionamento com investidores

Administração Tributária

Planejamento Financeiro e

Gestão de Riscos

Assessoria

Sub-setor 1

Corporativo

Suporte

Sub-setor 2

Serviços

Regional 1

Regional 2

Logística e Planejamento

Sub-setor 1

Marketing e Comercialização

Sub-setor 2

Produção 1 Internacional

Produção 2 Internacional

Produção 3 Internacional

Planejamento e Serviços

Materiais

Pesquisa e Desenvolvimento

CONSELHO FISCAL

CONSELHO DE ADMINISTRAÇÃO

AUDITORIA INTERNA

Figura 3.1. Estrutura organizacional.

A figura 3.1, representa esquematicamente o organograma da empresa. O

setor de Engenharia devido à sua particular importância peculiaridades e cuja gestão

é feita sob a ótica de projetos será o objeto de análise desta pesquisa. A descrição

do setor será apresentada adiante.

Engenharia

Tecnologia da Informação

Serviços Compartilhados

SMS

GESTÃO DE DESEMPENHO EMPRESARIAL

GAB PRESIDENTE SECRETARIA GERAL

COMITÊ DE NEGÓCIOS

PRESIDENTE DIRETORIA EXECUTIVA

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3.1.4 – Sistema de Gestão Corporativo

O processo de avaliação de desempenho empresarial na companhia vem

evoluindo continuamente desde sua criação, em 1953, como será demonstrado a

seguir.

Os relatórios de execução orçamentária (REO) e do plano anual de atividades

(PAA) foram os instrumentos corporativos de avaliação de desempenho empresarial,

com visão operacional, física e econômico-financeira (visão tática anual), desde os

anos 60 até a década de 90, ao passo que era elaborado também,

concomitantemente, o Plano Plurianual (PPA) na companhia.

Na década de 90, como resultado de um esforço conjunto entre a Companhia

e o Ministério de Minas e Energia, foi celebrado o chamado “Contrato de Gestão”

entre a Companhia e a União. A companhia objetivava uma maior autonomia de

gestão e liberação de constrangimentos legais, o que dinamizaria a

operacionalização de suas atividades. Em contrapartida essa teria que fornecer ao

Governo informações de maneira clara e objetiva sobre suas atividades e

desenvolvê-las sobre a égide das metas anuais de desempenho global (operacional,

econômico-financeiro, custos, recursos humanos, pesquisa & desenvolvimento,

segurança industrial, qualidade e produtividade, e cumprimento do objeto social).

Entretanto, as intenções da companhia não chegaram a se concretizar porque

não houve por parte do governo interesse em renovar o contrato firmado em janeiro

de 1994, com vigência de 3 anos. Em 1999 foi estabelecido um novo processo de

avaliação de desempenho empresarial cujo primeiro produto foi o Relatório de

Desempenho Empresarial (RDE), que refletia os resultados corporativos e por

segmento de negócio da companhia, realizados no ano anterior e no ano em curso,

aferidos com as metas estabelecidas no plano anual de negócios (PAN).

Entretanto, o RDE não se mostrou suficiente para suprir a gestão estratégica,

que representa a mais avançada e coerente forma de introdução do pensamento

estratégico, imprescindível à sobrevivência e ao sucesso das companhias no mundo

atual.

No contexto da flexibilização, dinamização e integração de todos os setores

industriais, em específico do setor energético, aliados à evolução do processo de

planejamento da companhia foi constatada a necessidade de adoção de uma nova

metodologia de avaliação de desempenho empresarial, como instrumento

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imprescindível para a implementação da administração estratégica. Neste sentido, a

empresa optou pela utilização da metodologia balanced scorecard (BSC). Vale

ressaltar que o instrumento de avaliação do desempenho empresarial tático continua

sendo o RDE, enquanto o estratégico fica a cargo do BSC.

Pelo atual modelo de gestão, o desempenho corporativo é constituído pelos

resultados das Áreas de Negócios, Serviço (no qual se encontra o setor de

Engenharia que é objeto de estudo da pesquisa em questão), Financeira e das

Unidades Corporativas, que são comunicadas através dos objetivos estratégicos e

monitoradas através da realização dos indicadores estratégicos e das iniciativas

estratégicas.

As iniciativas estratégicas na companhia são de gestão e de investimentos.

No caso das iniciativas de investimentos (projetos), sua coordenação e

acompanhamento são feitos corporativamente, mas efetivamente sua realização

acontece de forma descentralizada através de inúmeros projetos que permeiam

todas as unidades da empresa e servem de insumo (input) para o setor de Serviços,

em específico da Engenharia. Já as iniciativas estratégicas constantes do painel de

desempenho corporativo são escolhidas e acompanhadas pelo Comitê de Negócio,

nas reuniões de avaliação estratégica corporativa.

Abaixo, segue o modelo esquemático de gestão de desempenho empresarial

da companhia.

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Figura 3.2. Gestão de desempenho

Fonte: Intranet da companhia

3.2 – O Setor de Engenharia

3.2.1 – O Negócio da Engenharia

O negócio primordial da Engenharia é a Gerência de Empreendimentos para

a Companhia, que pode ser entendida como Gestão de Projetos dentro do

arcabouço dos paradigmas contemporâneos de gestão. Isto exige controle,

coordenação, conhecimentos específicos e competência.

Dentro do ciclo de vida de um projeto (implementação de empreendimento4) a

Engenharia prontifica-se a contratar e fiscalizar com equilíbrio e eqüidade,

administrando interfaces, oferecendo soluções compatíveis ao ritmo da execução,

assegurando o cumprimento dos custos e prazos estabelecidos, comprometendo-se

com a qualidade dos processos e dos produtos.

4 Entende-se por “Implementação de Empreendimentos” o conjunto de atividades gerenciais, técnicas e administrativas necessárias para viabilizar, inclusive financeiramente, a construção e a entrada em operação das correspondentes instalações industriais, conforme EVTEA aprovado por decisão da Direção da Companhia.

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É filosofia também da unidade de Engenharia zelar pelo rigoroso atendimento

das questões de segurança operacional e dos processos ambientais e atualmente

zelando pela sua Responsabilidade Social5, buscando sempre a plena satisfação

dos clientes. Essas são apenas algumas das responsabilidades iniciais da

Engenharia. Outras tantas que antecedem o início da partida, na elaboração de

manuais, na finalização dos licenciamentos definitivos e na garantia de continuidade

operacional durante a vida do empreendimento (projeto), previamente considerada

na fase de construção.

A Engenharia é uma unidade organizacional do sistema corporativo, estando

vinculada à Diretoria de Serviços. Atende as Áreas de Negócio da companhia,

prestando serviços de engenharia e implementando empreendimentos, com pré-

requisitos previamente pactuados entre os clientes (Unidades de Negócio e

Subsidiárias) e os prestadorores de serviço (Engenharia) e conseqüentemente

consolidando e obtendo know-how em gestão de empreendimentos nestas áreas.

Esse órgão do sistema organizacional existe há 32 anos, tendo sido criado

em 03 de outubro de 1972, com o nome “Serviço de Engenharia” (SEGEN); na

revisão da organização da companhia em 20 de outubro de 2000 a denominação foi

alterada para Engenharia. E seu arcabouço ficou estruturado conforme figura 3.3, a

seguir:

5 No período compreendido entre as décadas de 70 e 90 não havia muito esta preocupação, embora já houvesse uma tendência para tal.

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Figura 4.3. Xcssdsfdf

GE

GG (E&P Transporte Marítimo)

GG (Abastecimento)

GG (Gás & Energia e Transporte

Dutoviário)

Apoio à Gestão

Serviços e Logística

Outros

UIE 1 UIE 2

Engenharia Suporte

UIE 1 UIE 2

Engenharia Suporte

UIE 1 UIE 2

Engenharia Suporte

Figura 3.3 – Estrutura organizacional do setor de engenharia.

Para melhorar seus mecanismos de gestão a Engenharia utiliza “sistemas

integrados de gerenciamento” próprios para o desenvolvimento dos projetos de

engenharia, que interliga (via web) diversos participantes do processo: Unidades de

Engenharia, Unidades de Implementação de Empreendimentos (subsetores da

engenharia), Projetistas (algumas vezes contratados/terceirizados6) e Clientes.

Seguindo uma necessidade mercadológica a Engenharia foi obrigada a desenvolver

sua tecnologia da informação.

Os principais recursos para efetivação de todos os processos residem na

capacitação do corpo técnico-gerencial desenvolvido continuamente por meio de

programas específicos e da interação com o mercado de detentores de tecnologia

avançada de engenharia e gestão. Desta forma o setor de Engenharia, bem como a

companhia, vem desde a sua criação aprimorando e desenvolvendo técnicas,

fazendo parcerias e buscando no mercado profissionais com perfil para tais

6 O setor de Engenharia utiliza diversos sistemas computacionais, tendo sido um dos principais responsáveis pela capacitação das empresas de engenharia nacionais no domínio de diversas tecnologias, o que mostra o potencial e a magnitude de investimentos em capacitação da força de trabalho (empregados próprios, contratados e empresas terceirizadas) desprendidos pela empresa, neste caso pelo setor de Serviços, aqui representado pela Engenharia.

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atividades desenvolvidas pela empresa. Pois, reconhece que seu capital intelectual

é diferencial para ser manter competitiva e conseqüentemente lucrativa no setor.

A experiência acumulada pela Engenharia está consolidada em manuais e

sistemas, procedimentos e bancos de dados, além de seu “capital intelectual”.

Dentre esses, cita-se: manual de gestão da engenharia, sistema de controle de

documentos, rotinas de fiscalização, sistema de estimativas de custos, sistema

integrado de planejamento e controle, sistema de acompanhamento de

desempenho, normas técnicas da empresa etc. Aqui vale a ressalva que: “dentre

estes documentos, sistemas e também hardwares necessários para tal, muitos são

desenvolvidos pela empresa através de suas parcerias com instituições de pesquisa

e principalmente por sua força de trabalho”.

A competência e a tecnologia da Engenharia se refletem em núcleos de

excelência nas áreas de engenharia, gestão de implementação de empreendimentos

e meio-ambiente, como por exemplo, projeto de utilidades, estimativa de custos,

perícias e avaliações, avaliação econômica de investimentos, sistema de

gerenciamento ambiental, qualificação e certificação de pessoal e processos

tecnológicos.

A Engenharia coordena, também, as atividades de normalização da

companhia, por meio da unidade de normalização técnica, que suporta os processos

de elaboração e revisão de normas técnicas executados por uma comissão de

normas técnicas da empresa, cujo coordenador é o gerente executivo da

Engenharia. Podemos dizer que isso demonstra a importância deste setor para a

companhia não só como condutor de grande parte de seus investimentos, mas

também como um “indutor” de padronização e normalização.

O mercado da Engenharia compreende as oportunidades de implementação

de empreendimentos e o de prestação de serviços de engenharia, no setor

energético em questão, em todo o território nacional e internacional, atendendo as

Áreas de Negócios e as demais Unidades de Serviços da companhia. Abaixo estão

descritos a atividade fim, principais processos e produtos/serviços e as atividades de

apoio deste sub-setor do setor de serviços da companhia, conforme representado

nos quadros 3.1 e 3.2.

O setor de Engenharia não tem exclusividade na condução dos

empreendimentos da companhia e existe orientação corporativa impedindo-o de

atuar livremente para procurar novos mercados e novos clientes.

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Quadro 3.1. Atividades e principais processos e produtos da Engenharia.

Atividade-Fim Principais Processos Principais Produtos / Serviços

Implementação de Empreendimentos

Instalações da Indústria em geral

Implementar empreendimentos e prestar serviços de

engenharia, em condições pactuadas com as áreas

de negócios, consolidando o

conhecimento de gestão de empreendimentos

acumulado na Companhia

Prestação de Serviços de Engenharia

Projetos e outros serviços prestados mediante

solicitação das unidades da Empresa.

A identificação de oportunidades e a aprovação dos projetos de investimento

competem às Áreas de Negócios e as Unidades de Serviços. Assim sendo, a

Engenharia procura tornar os seus clientes fiéis e fortalecer sua imagem institucional

por meio da excelência operacional dos seus processos e dos serviços prestados,

atendendo e antecipando as necessidades dos clientes e os requisitos acordados

com os mesmo, como por exemplo: custo, prazos, qualidade e segurança.

Quadro 3.2. Processos de apoio a atividade de implementação de

empreendimentos.

Principais Processos de Apoio

Estimativa de Custos e Prazos

Contratação – Padrões, Tributos, Seguros, Suprimento

Perícias e Avaliação

Serviços Administrativos

Normas Técnicas

Certificação

Assessoramento Técnico em Fabricação, Construção e Montagem

Tecnologia da Informação

Demandas Legais

Gerenciamento de Risco (Seguro)

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Para tanto, a Engenharia vem tornando seus processos mais flexíveis, de

modo a responder prontamente os desafios futuros, de um mercado altamente

competitivo e globalizado e também adequar seus processos, e assim satisfazer, as

necessidades dos clientes.

Estas necessidades são previamente negociadas entre as partes e

registradas em “Acordos Específicos para prestação de serviços”, nos requisitos dos

projetos (especificações); nas pesquisas de expectativa e de satisfação, nos Planos

Anuais e Plurianuais de Negócios das Áreas de Negócio. Dentre estas se destacam

as seguintes:

1. Atendimento aos requisitos de qualidade, prazo e custo, previstos

para implementação do empreendimento;

2. Atendimento aos requisitos corporativos de SMS;

3. Estimativas de custo e de prazo confiáveis;

4. Postura da Engenharia de prestador de serviço.

Os principais fornecedores (e seus insumos) da Engenharia podem ser

descritos e classificados da seguinte forma:

Quadro 3.3. Formecedores e insumos da Engenharia.

Principais Fornecedores Principais Insumos, Matérias-

Primas ou Serviços

Externos

Indústrias de Bens de Capital Equipamentos e materiais

Empresas prestadoras de serviços de engenharia (Projeto, Construção e

Montagem)

Serviços de estudos e projetos de engenharia, construção, montagem e

instalação.

Internos

Centro de Pesquisa da Companhia Projetos básicos

Unidade de Materiais Serviços de compra de equipamento e materiais

Além de seus fornecedores e clientes a Engenharia se relaciona com todas as

comunidades que se encontram no entorno dos empreendimentos por ela

gerenciados. As necessidades das comunidades, geralmente, começam ser

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identificadas na fase de projeto com a realização dos estudos de pré-comunicação

social, que consistem no levantamento sócio-econômico das comunidades.

Posteriormente, durante a fase de construção e montagem, há a

implementação dos programas de comunicação social, educação ambiental e

programa de apoio às comunidades que duram até a fase de operação do

empreendimento, quando é feita à interface com a Unidade de Negócio, ou órgão

operacional da região que assume o relacionamento com as comunidades. Tudo

isso é reflexo da globalização mundial e das novas interfaces dos mercados, que por

sua vez estão cada vez mais exigentes quanto a questões sociais e ambientais e

também da postura favorável e pró-ativa da Companhia.

Apesar da crescente desregulamentação do setor e maior flexibilização da

legislação quanto à participação de outras empresas nas suas atividades

regimentais, a Companhia tem hoje a Engenharia como órgão estratégico (acervo de

conhecimentos e de tecnologia) para a realização de seus empreendimentos,

mantendo uma posição de regulação de preços e prazos nos processos de licitação.

A Engenharia dispõe de um corpo técnico de elevada capacitação que lhe

permite implementar projetos em praticamente todo o país, utilizando-se do

conhecimento acumulado em seus 30 anos em gestão de empreendimentos por

todo território nacional e internacional. A Engenharia é, portanto, uma reserva

técnica que garante a companhia capacidade de realização, mínima, dos

empreendimentos vitais para a obtenção dos seus objetivos estratégicos. Desta

forma visando à melhoria contínua dos serviços prestados pela engenharia e

também para retenção do conhecimento, a companhia aqui analisada sobre a ótica

da Engenharia, desenvolve vários programas de gestão de pessoas, tendo como

foco neste momento a implementação de um programa ambicioso de “Gestão de

Competências”, conforme o anexo 1, seguindo uma das formas de gestão e

flexibilização do capital intelectual, adotado atualmente em grandes companhias.

As rápidas mudanças no ambiente competitivo associadas à

internacionalização da economia têm impulsionado a companhia e a Engenharia no

sentido de ampliar a sua capacitação técnica e gerencial, e como reflexo disto

podemos destacar os programas de capacitação para serviços altamente

especializados e o treinamento da força de trabalho da Engenharia buscando uma

certificação global pelas normas ISO, já tendo obtido certificação em algumas de

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suas unidades organizacionais e também de seus funcionários em gerenciamento

de projetos pelo Project Management Institute (PMI).

Podemos também destacar no cenário atual as seguintes mudanças:

1. Necessidade de implementação de programas de SMS;

2. Foco das áreas de negócios em rentabilidade (prazo/custo/qualidade);

3. Foco em responsabilidade social;

4. Extraordinário volume de recursos em investimentos como desafio para a

Engenharia;

5. Visão voltada ao cliente como um dos focos fundamentais;

6. Melhoria na capacitação da mão-de-obra contratada através de exigência

contratual de certificação para algumas categorias profissionais;

7. Realização de contratações para serviços de natureza contínua por um

prazo mais longo e com cláusula de prorrogação por igual período;

8. Implementação de uma sistemática de avaliação e treinamento de

empresas (PDMO – Programa de desenvolvimento de Mão-de-Obra);

9. Unificação do cadastro de empresas, agregando os fornecedores de

bens e os de serviços;

10. Implementação do sistema de gerenciamento corporativo SAP R/37 que,

entre outros, permitirá maior agilidade na tomada de decisão e viabilizará

uma maior interatividade entre os órgãos da companhia;

11. Intensificação nos programas de treinamento interno de pessoal de modo

a permitir a melhoria da capacitação (intensificação da implantação da

gestão de competências).

3.2.2 – A Busca pela Excelência: O Processo de Reestruturação da Engenharia

Quando da criação do serviço de engenharia (SEGEN), após a decisão da

diretoria de centralizar as atividades de Engenharia como um todo em um único

órgão e que por contar com uma oposição muito grande de departamentos

7 O sistema SAP/R3 é um tipo de ERP – enterprise resource plannig que e um sistema integrado que permite que a Companhia administre melhor seus recursos.

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operacionais da empresa, necessitou desenvolver uma atenção dobrada,

essencialmente para a organização do novo órgão e a sua aceitação pelos demais

órgãos da companhia e a formação da equipe. Imediatamente após a sua criação, o

SEGEN absorveu uma série de investimentos.

A princípio nos anos de 1971/1972 a criação deste setor centralizado para

gerenciar os investimentos da Companhia foi um resultado da experiência ou

inexperiência da empresa quanto à implementação de empreendimentos, isto é, ao

longo do tempo, após tentativas, acertos e erros, neste quesito a empresa identificou

a necessidade de despender maiores esforços e aprimoramento na condução de

projetos (empreendimentos). A decisão corporativa teve embasamento em alguns

projetos que por mau gerenciamento operacional acarretavam prejuízos para a

companhia, como por exemplo: perda de meses com obras paradas após a entrega

pela equipe de montagem, com a manutenção corrigindo os erros que impediam a

partida (início) das unidades.

Esse era um resultado desastroso da falta de competência específica, com

uma perda financeira enorme para a companhia, não só em termos de rendimento

do capital aplicado mas, também e principalmente, em lucro cessante. Com

freqüência se absorvia um grande contingente de mão de obra que havia trabalhado

na implantação dos empreendimentos, sem qualquer experiência nas varias

atividades de uma unidade operando, o que refletia também a má qualificação

operária quanto a empreendimentos neste segmento industrial.

Esse quadro se repetia em todos os investimentos da empresa, com as

mesmas falhas se transferindo de uma para outra obra. Visto isto, notava-se que era

imprescindível para a companhia que investia altas somas e de forma diversificada,

a criação de padrões e procedimentos de construção e montagem e a

rastreabilidade e correção de falhas. Para tal, era necessário a consolidação da

experiência em gerenciamento de empreendimentos.

O setor de engenharia (SEGEN) no seu início respondia pela gestão dos

recursos dos investimentos, mas na reorganização de 2000 os recursos passaram

para as Áreas de Negócio. Com as alterações, a Engenharia passou a ser uma

unidade prestadora de serviços para as Áreas de Negócios e impedida de atuar

livremente para novos clientes, mantendo apenas serviços para clientes das

unidades da Companhia. Com as constantes mudanças da alta direção da

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Engenharia criam-se algumas barreiras a implementação dos planos, devido às

descontinuidades de propósitos no médio e longo prazo.

Dessa forma percebe-se que houve uma necessidade de reestruturação no

setor e também da companhia, visando a adequação de seus paradigmas de gestão

a realidade “concorrencial” do seu segmento industrial. E com o aumento crescente

dos volumes de investimentos, a companhia passou a contar ainda com

financiamentos internacionais para as implementações de empreendimentos. Estes

financiamentos, por vezes, estabelecem regras para o gerenciamento dos

empreendimentos de uma forma geral, o que leva a companhia a ter uma gestão

bem peculiar de seus projetos.

Por atuar nos projetos dos vários segmentos da companhia a Engenharia

adquiriu um conhecimento global da empresa, bem como uma visão integrada dos

seus projetos de investimento; possibilitando a consolidação de sua competência na

gestão de investimentos neste segmento industrial

As oportunidades de negócio para a atuação da Engenharia estão sempre

vinculadas ao planejamento da companhia, que a partir da mudança de cenário

motivada pela abertura de mercado, passou a atuar em parceria com outras

empresas em grande parte de seus novos projetos.

Destarte, nos deparamos com uma reestruturação organizacional e também

com a evolução de um modelo gestionário, como abordado neste capítulo e também

retratado no anexo I desta dissertação.

3.3 – A Gestão de Projetos no Setor de Engenharia

A Engenharia adota as melhores práticas resultantes de seu know-how obtido

em mais de três décadas de condução e implementação de empreendimentos

concomitantemente à práticas contidas no PMBOK (Project Management Body of

Knowledge), que é um guia do conjunto de conhecimentos do gerenciamento de

projetos editado pelo Project Management Institute (PMI), como balizadoras da

gestão de empreendimentos da companhia associadas aos referenciais da

Independent Project Analysis (IPA) e Construction Industry Institute (CII).

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Para garantir os melhores resultados nas implementações de

empreendimentos de engenharia é fundamental identificar as necessidades e

atender as demandas das partes interessadas. Portanto, competem aos gerentes

das Unidades de Implementação de Empreendimentos (UIE’s) estabelecer

relacionamentos com os clientes, fornecedores de bens e serviços, órgãos

governamentais e a própria equipe de trabalho. A habilidade dos gerentes em se

comunicar, liderar, negociar e solucionar problemas é fator diferencial neste

processo e influenciará diretamente nos resultados.

Para isso é necessário que o desenvolvimento progressivo desse processo

ocorra com determinação, aplicando os conhecimentos e habilidades e gerenciando

os recursos disponíveis, a fim de conduzir a implementação do empreendimento nas

bases acordadas com o cliente.

Em função da estruturação organizacional da companhia em áreas de

negócio, o cliente poderá delegar a representação para suas unidades de negócios,

sendo que, da mesma forma, a Engenharia poderá delegar a representação para as

UIE’s (Unidades de Implementação de Empreendimentos). Em alguns casos, a área

de negócios poderá ser ainda representada por outro órgão ou empresa do sistema

como, por exemplo, no caso de um cliente X (da Engenharia) que normalmente

delega a representação para um cliente W.

Como podemos perceber para que a Engenharia consiga gerir seus projetos

dentro desta nova conjectura organizacional e concorrencial, teve que adotar uma

estrutura o menos funcional possível tendo que se organizar de uma forma matricial

cuja flexibilidade supera os paradigmas convencionais. O fato de englobar uma

variedade enorme de projetos (área de atuação), como: refinarias; plataformas de

exploração e produção de petróleo e gás; implantação de dutos e terminais etc., e

também de uma logística complexa englobando todo território nacional e vários

países do mundo, exigem que o paradigma estrutural da Engenharia seja o mais

flexível possível, como podemos observar no organograma da Engenharia, conforme

a figura 3.4.

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GE

GG (E&P e Transporte

Marítimo)

GG (Abastecimento)

GG (Gás & Energia e

Transporte Dutoviário)

Apoio à Gestão

Serviços e Logística

Outros

UIE 1

UIE 2

Engenharia Suporte

UIE 1 UIE 2

Engenharia

Suporte Engenharia Suporte

UIE 1

UIE 2

Figura 3.4. Estrutura Generalizada de uma Unidade de Implementação de

Empreendimento (UIE).

Com a criação de uma estrutura, dentro do arcabouço organizacional formado

por diversas especialidades, a comunicação entre as áreas funcionais ficou mais

dinamizada e se obteve um melhor controle na condução dos projetos, sob as

perspectivas de qualidade, custos e prazos. Para isso, houve uma harmonização do

desenvolvimento técnico com a organização, divisão do trabalho, descentralização

de responsabilidades, circuitos de comunicação etc. Visto isso, cabe ressaltar que o

sistema requer uma auto-regulação, o que implica em constante desenvolvimento de

competências para atendimento aos objetivos, embora algumas das atividades da

Engenharia estejam normalizadas conforme preceitua os modelos tradicionalistas de

gestão, isto é, em parte a regulação do sistema se dar por normas, diretrizes e

procedimentos.

Para implementar seus empreendimentos a Engenharia se divide em

Unidades de Implementação de Empreendimentos (UIE`s), conforme explicitado no

organograma do setor (ver figura 3.4), cujas estruturas estão basicamente nela

delineadas.

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Dentro destas perspectivas podemos destacar como características da

Engenharia, o que se segue:

Quanto à forma estrutural: forte horizontalização, foco em projetos,

flexibilidade, integração e “quality enterprise”.

Quanto à gestão: utilização de técnicas como engenharia simultânea e

análise de valor, visão de processo, benchmarking, downsizing, gestão

voltada a projeto, gestão por indicadores (BSC), gestão de pessoas, visão

cliente-fornecedor (parcerias/alianças), gestão integrada (SGI)8,

tecnologias de informação, certificação de processos, produtos e pessoas

etc.

Quanto à organização do trabalho: participação e envolvimento,

equipes multifuncionais, redução dos níveis hierárquicos, empowerment,

gerentes como facilitadores, investimentos em aprendizagem

(principalmente on the job), difusão de tecnologias de informação e

telecom, novos indicadores numéricos de performance, remuneração

gratificada (participação nos lucros ou resultados, ajuda de custo etc.),

novas competências, trabalho em rede (interno e externo), etc.

A gestão de investimentos da Companhia/Engenharia dá-se através de um

processo composto por três fases: Estudo de Viabilidade Técnico-Econômico e

Ambiental (EVTEA), Implementação de Empreendimentos e Assistência Técnica.

Uma das três principais fases da “gestão de investimentos” é a Implementação de

Empreendimentos, de responsabilidade da Engenharia, descrita no quadro 3.4, que

se segue:

8 SGI – Sistema de Gestão Integrado baseado nas normas ISO 9001, ISO 14001 e OHSAS 18001 e adotado pela Engenharia como abalizador de seu processo gestionário.

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Quadro 3.4. Fases da Gestão de Investimentos

Fases da Gestão de Investimentos

Identificar Oportunidades

Projeto Conceitual

Projeto Básico

Implementação de Empreendimentos

Operação

Soluções de Engenharia e Assessoramento para

EVTEA

Implementação de Empreendimentos

Assistência Técnica

A fase de Implementação de Empreendimentos inicia com um “Acordo de

Nível de Serviços Específico” (ANS Específico) assinado entre Unidade de Negócios

e Engenharia e finaliza com a assinatura do Termo Definitivo de Transferência de

Instalações para a Unidade de Negócios, incluindo ou não a fase de assistência

técnica, conforme definido no referido acordo.

O objetivo da “Implementação de Empreendimentos” somente é alcançado

quando as instalações industriais estão operando dentro das condições projetadas.

O fluxograma, a seguir, apresenta as etapas do processo de implementação

de empreendimentos:

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Figura 3.5. Etapas do processo da Implementação de Empreendimentos

IMPLEMENTAÇÃO DE EMPREENDIMENTOS

Controlar o Empreendimento

Fiscalizar Projeto Executivo

Fiscalizar a Pré-operação (quando previsto Contrato)

Fiscalizar o Transporte e Instalação

Fiscalizar Construção e Montagem

Fiscalizar o Condicionamento

Gerenciar Contratos

Designar Equipe da

Engenharia

Negociar Contrato de Prestação de Serviços e Política de

Condução do Empreendimento

Programar as Atividades

Transferir Instalações

Negociar com Proprietários/Órgãos

Governamentais

Contratar Materiais e Serviços *

Encerrar o Empreendimento

Assistência Técnica à Operação (quando previsto no contrato)

Outputs: Unidade Instalada e Operando (Empreendimento Implementado)

U. N.

Inputs: Plano de Implantação e

EVTE (Aprovado)

ENGENHARIA

Além dos sub-processos de responsabilidade da Engenharia acima

representados, ela também participa do desenvolvimento de Front End Loading, que

se trata de uma Metodologia desenvolvida pela Independent Project Analysis (IPA),

e que serve de benchmarking para Engenharia e também para Companhia como

todo. A fases de Front End Loading podem são descritas como se segue:

1. FEL 1: Primeira fase da metodologia de implantação de projetos de

investimentos, que corresponde à identificação da oportunidade, à

avaliação preliminar do projeto e ao seu planejamento inicial.

2. FEL2 e FEL3 – contribuição com soluções de engenharia e

assessoramento para o Estudo de Viabilidade Técnica Econômica e

Ambiental (EVTEA).

A gestão da implementação de empreendimento tem como base os

processos gerados pelas áreas de conhecimento da Engenharia que são registrados

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e apresentados nos capítulos que compõem o seu manual de gestão. Os processos

por área de conhecimento, aqui definidos como conjunto de recursos e atividades

inter-relacionadas, numa seqüência de etapas e atividades, que transformam

insumos (entradas) em produtos (saídas) e agregam valor na percepção dos

clientes, está dividido em sub-processos que se interligam quando os resultados de

um ou mais processos se tornam entrada para outros. Essas interações conduzem a

evolução e progressão da implementação de empreendimentos (projetos) como

ilustra a figura 3.6 a seguir:

Figura 3.6. Sub-processos da gestão de projetos.

Como responsável pelos investimentos, a Engenharia coordena através de

suas Unidades de Implementação de Empreendimentos - UIE`s, todas as fases,

desde o projeto básico até a entrega das instalações. Assim, para exercer

efetivamente sua função necessita estabelecer relações efetivas com os outros

órgãos envolvidos (CENPES9, Materiais10) e este gerenciamento é feito pela mesma

equipe ao longo do ciclo de vida do projeto, com a participação efetiva do cliente e

interagindo todo o tempo com os fornecedores em todas as fases do projeto, o que

garante a elaboração e execução do mesmo de acordo com os requisitos do cliente.

9 CENPES – Centro de Pesquisa da PETROBRAS S.A. 10 Setor da Área de Serviços da companhia responsável pela aquisição

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Dessa forma, podemos destacar alguns pontos, dentre outros, deste

arcabouço gestionário, conforme abaixo:

Favoráveis:

integração com o mercado (alto poder de negociação)

flexibilidade; horizontalidade e multifuncionalidade

auto-desenvolvimento

responsabilidade pelos fins e autonomia pelos meios

disponibilidades de recursos

atualização permanente de tecnologias e técnicas de engenharia

criatividade e inovação são diferenciais competitivos;

fornecedores são aliados e parceiros na busca da excelência11 etc.

Gaps:

burocracia (empresa com características de estatal)

intervenção governamental

mudanças constantes da alta direção

dificuldade de divulgação de melhores práticas e lições aprendidas

Então, para viabilizar a execução de um paradigma de gestão voltado a

projetos enquanto uma estratégia empresarial que possa, ao mesmo tempo,

responder às pressões por um aumento de competitividade e excelência da gestão

empresarial, porém em harmonia com a premissa de valorização do trabalho

humano e de sua qualidade de vida (premissas da cultura organizacional), algumas

questões de significativa complexidade tiveram que ser consideradas, entre as

quais:

1. inter-relacionamento entre estruturas de poder, cultura, lideranças,

tecnologia e políticas organizacionais;

2. consciência da subjetividade do trabalho, exigindo soluções que atendam

também às particularidades dos grupos envolvidos;

3. comprometimento da alta administração;

4. atuação de gerentes e supervisores em sintonia com as premissas e o

escopo deste processo de mudança; 11 A Engenharia desenvolve um programa de desenvolvimento de Mão-de-Obra – PDMO, voltado para seus fornecedores.

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5. alteração dos procedimentos operacionais na organização do trabalho,

com implicações nos efetivos envolvidos, nos riscos para a segurança e

saúde dos trabalhadores, na confiabilidade dos sistemas (envolvendo o

fator humano) e no saber operativo, o que exige tanto novas ;

6. coordenação e integração entre os segmentos da organização nos

assuntos de interesse corporativo, em termos de estratégia, ambiência

organizacional, comunicação, organização e gestão;

7. planejamento dos processos de trabalho e dos efetivos face às inovações

tecnológicas, em um contexto de reestruturação produtiva, o que gera

fortes tensões (desemprego e re-qualificação do trabalho) ;

8. relações de trabalho entre empresas e sindicatos, em que a uma maior

tensão corresponde uma maior dificuldade de se implementar

efetivamente processos de mudança;

9. organização do trabalho e da estrutura de cargos;

10. condições que permitam uma gestão mais participativa.

Outrossim, temos que, com toda expertise adquirida pela companhia no

planejamento, execução e controle na implementação de projetos de engenharia,

esta desenvolveu um modelo de gestão e uma estrutura organizacional para seu

setor de Engenharia, para acompanhar as constantes mudanças mercadológicas

com flexibilidade tal que seja capaz de suprir suas demandas e de atender seu plano

estratégico e assim obter um nível de competitividade exigida pelo invólucro

concorrencial deste setor e também atender as exigências governamentais e dos

demais steakholders.

Porém, percebemos que as mudanças não são estanques, na verdade são

um encadeamento de rearranjos mercadológicos e necessidades internas. Então, na

conjectura atual, de um universo dinâmico, não podemos afirmar que a maneira com

que a Engenharia se estruturou para conduzir seus projetos é uma forma

hegemônica de gestão e arcabouço estrutural, mas sim apenas que possibilita de

forma bem competitiva da companhia implementar seus projetos com eficiência.

* * *

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69

Com esse capítulo, finalizamos nosso estudo de caso, fazendo convergir a

abordagem teórica que expusemos nos dois primeiros capítulos desse trabalho.

Doravante, passaremos as conclusões do trabalho, na qual faremos um

fechamento de nossa pesquisa, analisando nossos resultados.

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CONCLUSÃO

Na análise da reestruturação produtiva e do desenvolvimento dos

processos de gestão das organizações observamos os desafios por que estas

têm de passar uma vez que essas se defrontam com os novos cenários

econômicos que ora despontam.

Isto posto, destaca-se que as organizações que antes viviam em suas

glebas totalmente isoladas e com suas atividades organizadas em silos estanques

e se fecharam às transformações econômicas e evoluções mercadologias foram

levadas a entropia1.

Pois, segundo Heloani2, o pós-fordismo apontou a necessidade de se

internacionalizar a economia através do desenvolvimento de vantagens

competitivas, dentre as quais se destacam o envolvimento dos trabalhadores e o

acesso a novas e mais eficientes formas de organização produtiva e

conseqüentemente gestionárias.

Assim sendo, nas organizações, uma ação precedente à questão

evolucionária e tecnológica é o desencadeamento de um significativo repensar na

filosofia e cultura gerenciais, e seu posicionamento em relação às pessoas. Antes

de implantar programas de incremento tecnológico e adoção de sistemas de

gestão, em busca dos acenos por menores custos e diferenciação tecnológica

para seus produtos, o que é até usado como um chamativo de marketing, as

empresas devem sempre se perguntar, em primeiro lugar, sobre qual o objetivo e

quais os pressupostos que permeiam o modelo a ser adotado.

Essas questões, bem como outras que possam ser levantadas, exigem a

construção contínua de competências, o comprometimento das lideranças e 1 Entropia (do grego, entrope = uma transformação). A entropia é a segunda lei da termodinâmica e se refere à perda de energia em sistemas isolados, levando-os à degradação, à desintegração e ao seu desaparecimento. 2 HELOANI, R. Organização do trabalho e administração: uma visão multidisciplinar. 4ª ed. São Paulo: Cortez, 2002.

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principalmente a participação dos trabalhadores, como demonstrado no caso

desenvolvido nesta pesquisa. São desenvolvidas, assim, novas oportunidades de

aprendizado e qualificações, caracterizando um paradigma alternativo e não

excludente a ser aproveitado e reforçado frente a novos contextos sócio-

econômicos, como o gerado pela reestruturação produtiva via inovações

tecnológicas.

Nesse contexto, a gestão de projetos como um dos fatores estratégicos

com que as organizações contemporâneas hão de se preocupar nessa nova era,

não significa a criação de um novo one best way e nem em uma transferência de

tecnologia de gestão, por parte dos setores industriais que já conheciam a gestão

por projeto, como por exemplo a indústria automobilística. O que se constata é um

desenvolvimento natural e necessário, em alguns setores em maior proporção e

intensidade do que em relação a outros, frentes as evoluções do ambiente no

qual estão inseridas.

Por conseguinte, pode-se dizer que uma gestão orientada a projeto

constitui uma ferramenta na busca de competitividade e que esta abordagem

permite a adoção de uma estrutura capaz de empregar prontamente novos

conhecimentos e tecnologias na resolução de problemas e/ou no próprio upgrade

dos processos.

Pois, como afirma Buchanan3, nas condições de uma organização voltada

a projeto estariam sendo satisfeitos, da melhor maneira possível, as necessidades

humanas, os requisitos para a performance das tarefas e a necessidade de

adaptação da organização às pressões ambientais.

Então, fazer com que a gestão de projetos crie raízes na organização

integrando os métodos e modelos de forma contemporâneos, faz com que seu

arcabouço solidificado ao longo de sua existência seja reestruturado. No entanto,

permite que as incertezas, as aleatoriedades e as subjetividades tidas como

entraves do racionalismo tornem cenários altamente previsíveis e passíveis de

superação.

3 Apud BIAZZI Jr., F. A perspectiva sócio-técnica. Dissertação (Mestrado em Engenharia de Produção) – Programa de Pós-Graduação em Engenharia de Produção, POLI/USP, São Paulo, 1993.

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A gestão de projetos e as várias transformações provocadas puderam ser

observadas na economia mundial ao longo das décadas. A sua estruturação na

industria automobilística e a sua extrapolação para outros segmentos industriais

também são facilmente notadas, de tal modo expandindo , até mesmo, para o

setor energético.

No desenvolvimento da pesquisa em questão, notou-se que a companhia

estudada para adequar-se a evolução do seu segmento industrial no

desenvolvimento de projetos de engenharia passou por varias transformações

que permitiram sua sustentabilidade no cenário internacional como uma das

grandes do setor e ate mesmo serviram de alavanca para obter diferencial

competitivo.

Destarte, para atender o novo conceito de gestão de projetos, a companhia

criou um setor específico denominado de Engenharia, com graus de

descentralização e autonomia necessários para atuar desenvolvendo e

implementado os mais variados projetos nos locais em que se fizer necessário,

independente da dispersão geográfica.

Assim sendo, estruturou-se um arranjo sistêmico utilizando uma estrutura

comum de apoio à gestão, descentralizando as áreas de implementação de

empreendimento por especialidades, regionalidades e/ou por características dos

projetos. O que agregou a cultura organizacional, novos fatores que não

eliminam, mas transformam suas características desenvolvidas e arraigadas a

sua identidade ao longo do tempo, culminando em fatores como flexibilidade,

dinamicidade e integração, permitindo assim respostas rápidas aos desafios e

problemas, além de uma performance que atenda aos seus planos estratégicos.

Dessa forma, conclui-se que a gestão de projetos no setor de Engenharia

da companhia estudada, como pode ser percebido no caso pelos levantamentos

efetivados e realizados in loco, sofreu e vem sofrendo drásticas modificações que

conduzem a necessidade de um controle maior por fases de projeto. E existe

uma tendência forte que à mesma passe a adotar estruturas organizacionais do

tipo externalizadas4 – Tiger Team organization – que são direcionadas a um

4 Cf. CLARK, K.B.; HAYES, R.H.; & WHEELRIGHT, S.C., Dynamic Manufecturing: creating the learning organization. New York, The Free Press, 1988.

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projeto específico, com um project team específico e com uma visão diferenciada

da cadeia produtiva.

Observa-se assim que a gestão de projetos se caracteriza com uma

filosofia dinâmica, representando um sistema em construção e expansão que se

alimenta de diferentes áreas do conhecimento técnico, com o objetivo de

acompanhar as modificações do mercado. Não representando portanto um pacote

de ferramentas pré-formatadas como solução ótima para todas as situações,

aplicações e cenários.

Pois tal fato só seria possível em um cenário estático e imaginário que não

condiz com a realidade. Portanto a contribuição fundamental da gestão de

projetos está na sua corrente filosófica e não propriamente em seus manuais,

ferramentas e técnicas já produzidas e utilizadas.

Como o objetivo deste estudo era caracterizar de uma forma abrangente a

gestão de projetos no setor de engenharia de uma indústria energética e propiciar

aos leitores um entendimento da evolução do paradigma de gestão neste setor,

sugere-se como proposta de novos trabalhos: o estudo da adequação de uma

estrutura organizacional externalizada para setores de engenharia da indústria de

energia, em relação ao modelo adotado na companhia estudada e aos outros

modelos empregados na indústria.

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ANEXO 11

Decurso do “KNOW HOW” do Setor de Engenharia

da Petrobras.

A trajetória da busca pela excelência do desempenho e da competitividade

da Engenharia, pode ser representada a seguir os fatos mais relevantes do

decorrer das décadas, a saber:

o DÉCADA DE 70 o Em meados de 1972, criação do Serviço de Engenharia – SEGEN

(profissionalização na gerência de investimentos).

o Até o ano de 1975: Atividades de controle da qualidade passaram a ser

executadas pelas próprias empresas prestadoras dos serviços.

o Responsabilidade da empresa contratada quanto às

atividades de controle de qualidade.

o Consciência crítica e o nível de preocupação das

empresas aumentaram.

o Baixa capacitação dos fornecedores quanto a controle de

qualidade.

o Em 1978, implantação junto às contratadas, o Sistema de Garantia da

Qualidade.

o Implicações na metodologia de contratação e diretrizes

contratuais

1 Anexo baseado em informações disponibilizadas no banco de dados da Web interna da Companhia.

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o Elaboração de um conjunto de procedimentos internos

para uso no sistema.

o Estabelecimento dos requisitos do Sistema de Garantia da

Qualidade

o Foi criado o Setor de Normalização Técnica – para

aprimorar a atividade de normalização técnica na

Companhia, dando suporte técnico às diretrizes

contratuais.

o Foi criado o Setor de Qualificação e Certificação de

Pessoal para aferir a capacitação técnica de algumas

atividades das empresas contratadas, uniformizando e

centralizando esta atividade para todas as obras do setor

o Em 1979 desenvolvimento de uma sistemática de estimativas de custos

para avaliação das propostas comerciais dos fornecedores de materiais

e serviços.

o DÉCADA DE 80

o Em 1980 – introdução da metodologia de Engenharia e Análise do Valor

visando a otimização dos investimentos de engenharia.

o Em 1982 – foi instituído o prêmio petrobras da qualidade, entregue a

cada dois anos às empresas fornecedoras de materiais e prestadoras de

serviços que mais se destacavam no aprimoramento da qualidade de

seus produtos e serviços. Em meados de 82, foi criado o manual de

gerência de empreendimentos – MAGES, com a função de consolidar as

experiências adquiridas em um só documento, por área de atuação.

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o Padronizar as ações gerenciais

o Consolidar a experiência do setor através do

estabelecimento de procedimentos uniformes para a

Gerência de Empreendimento

o Aumentar a produtividade pessoal e da Organização

o Ampliar o tempo disponível para pensar, criar condições

para a avaliação da eficiência da Organização e permitir o

desenvolvimento de programas de treinamento

o “O MAGES não pretendia cercear a iniciativa e criatividade

dos gerentes, dispensar a experiência individual e nem

aumentar a burocracia.”

Foi, neste mesmo período, criado um sistema de retroalimentação

através de uma sistemática de auditoria técnica que tinha por objetivo

dar feedbacks para as gerencias de empreendimentos sobre os

requisitos estabelecidos no Sistema de Garantia da Qualidade e

também contribuir para o aperfeiçoamento do sistema.

o Em 1989, intensificação na busca do enquadramento das atividades em

compatibilidade com as normas da ISO, tendo em vista a sua utilização

como requisito básico de qualidade para o comércio internacional

A década de 80, contrariamente à anterior, foi marcada por restrições no

ambiente (de investimento, de recursos) em decorrência dos efeitos dos

choques do petróleo.

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o DÉCADA DE 90

o Em 1990 – implantação da Administração Estratégica.

o Participação de todo o grupo gerencial

o Participação de vários componentes da força de trabalho

o Participação de diversos representantes dos Clientes

o Em 1991 – Definição das Opção Estratégica, Missão, Visão, Valores,

Estratégias, Objetivos Estratégicos em consonância com os Negócios e

voltado para o Desempenho e Projetos Estratégicos. Para isso

houveram algumas mudaças:

o Ajustes na estrutura organizacional

o Adota definitivamente as normas série 9000

o A área da Qualidade como área estratégica para a

Companhia

o Implantação da Gestão pela Qualidade Total – GQT

Grande a mobilização e o treinamento do pessoal

em diferentes níveis hierárquicos

Uniformização dos conceitos de gestão (PDCA,

Gerência da Rotina, Gerência de Melhorias, Itens de

Controle).

o Em 1992 – Lançamento do Processo de Melhoria de Desempenho

(implantar a GQT). Ainda em 1992 houve revisão do Planejamento

Estratégico da Companhia.

o Mudança cultural

o Consolidar o Processo de Qualidade Total na Companhia.

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o Em 1993 – Foi criado o Comitê de Melhoria de Desempenho do SEGEN,

hoje denominado de Comitê de Gestão da Engenharia. Introduzido mais

fortemente o conceito de foco no cliente, sendo realizada a primeira

pesquisa de satisfação dos clientes.

o Em 1994 à 1997 – Obtenção da certificação, segundo a norma ISO

9002, em algumas atividades.

o Em 1998 – Contratada a empresa Independent Project Analysis, Inc

(IPA) Empresa de Consultoria especializada em Análises e Estudos de

Benchmarking relativos a projetos de investimentos na indústria de

Petróleo, Petroquímica, Química e Mineração Pesada, com cerca de

2000 projetos em seu banco de dados. Instaurada a busca pela

certificação em Sistema de Gestão Integrado – SGI.

o ANOS 2000

o Nos anos 2000 – Mudança da Filosofia Empresarial, com a

descentralização da condução dos empreendimentos ficando sob a

responsabilidade de cada uma das Áreas/Unidades de Negócios e a

Implementação dos mesmos fincando a cargo da Engenharia, estava

contemplado neste no paradgma:

o Estava implantada a visão Cliente-Fornecedor

o Adoção do Balanced Scorecard como prática corporativa

(conseqüentemente na Engenharia)

o Certificação da Engenharia em 2006 do Sistema de Gestão

Integrado do processo de Implementação de

Empreendimentos

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o Revitalização do MAGES (manual de Gestão da

Engenharia)

o Incorporação dos conceitos de gestão de projeto (PMI)

o Melhoria das Práticas de Gestão segundo os Critérios do

PNQ

o Busca de referenciais internacionais para a Implementação

de Empreendimentos (IPA)

o Ajustes da Estrutura Organizacional

o Implantação do SAP/R3

o Implantação de sistemas de Gerenciamento de

Desenvolvimento de Recursos Humanos (Individuais e de

Liderança)

o Implantação de um sistema para Controle de Documentos.

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ANEXO 2

Incursões gestionárias de curto prazo para atender o novo paradigma produtivo.

Dentro das práticas de gestão podemos citar os objetivos de curto prazo que foram

desdobrados em projetos pelos setores da companhia:

1. Consolidar resultados das avaliações e alimentar planos de melhorias

corporativos;

2. Otimizar programas de auditorias relacionados à gestão;

3. Aprimorar critérios de conformidade (aplicação para áreas corporativas);

4. Disseminar melhores práticas;

5. Realizar análise crítica do modelo de avaliação e planejamento de melhorias.

6. Orientar a implementação e melhorar a eficácia dos sistemas de qualidade.

7. Sistematizar o processo de benchmarking corporativo para captar e

disseminar melhores práticas externas e internas.

8. Aperfeiçoar a gestão interna das práticas de gestão.

9. Coordenar rede de gerentes de apoio à gestão na sede e regionais;

10. Desenvolver competências;

Através destas ações o setor de Engenharia da Petrobras consolida todo seu know

how em gestão e melhoria contínua de seus processos.

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ANEXO 3

GESTÃO DE COMPETÊNCIAS NAS ORGANIZAÇÕES

Definições e Aplicabilidade

Gestão de Competências

Ao longo das décadas... O desafio é o de incitar o coletivo dos

trabalhadores, não apenas a se engajar voluntariamente no desenvolvimento

permanente de suas atividades, mas fazê-lo de tal modo que as melhorias

advindas possam ser sistematicamente incorporadas nos processos empresariais.

O savoir-faire adquirido através da aprendizagem direta na manutenção

diária destes processos deve tornar-se passível de formalização e de assimilação

por todos os setores da organização . De fato o problema é o de reunificar o que

o taylorismo20 separou: os aspectos manuais e intelectuais do trabalho (Leborgni

et Lipietz apud HELOANI, 2002).

Dentro desta problemática de formalização e disseminação do

conhecimento e do desenvolvimento de novas competências, a implantação de

um sistema de gestão que possibilite ter controle sobre este processo pode

fornecer bons resultados, pois este se constitui como um instrumento de captura,

organização e distribuição tanto do conhecimento explícito como do tácito,

conforme afirma Bernus e Kalpic (2001).

20 No desenvolvimento do taylorismo – paradigma produtivo desenvolvido por Taylor (ver TAYLOR, F. W. Princípio da administração científica. São Paulo: Atlas, 1980) ocorreu uma excessiva separação entre concepção e execução do trabalho.

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O sucesso de uma organização depende de vários fatores e um dele é o

recurso humano. Pois, segundo Drucker (1999), os mais valiosos ativos de uma

instituição do século XXI, seja empresa ou não, serão seus trabalhadores do

conhecimento e a sua produtividade. E uma forma de gerir o “Capital Humano” de

uma organização e a implantação da gestão de competências.

Segundo Ferraz & Lopes (2002), modelos de gestão de competências são

processos de gerenciamento que visam a reconhecer, manter e ampliar

competências no trabalho. E através de políticas de avaliações e

desenvolvimento de recursos “Humanos”, as organizações podem obter um

mapeamento do perfil de competências de cada um indivíduo e do grupo em geral.

O que facilita a formação de equipes de trabalho, a alocação dos trabalhadores

nos processos, atividades e tarefas e a estratégia de desenvolvimento de recursos

humanos.

Harzallah e Vernadat, em seu artigo IT – based competency modeling and

management: from theory to practice in engineering and operations (2001), dizem

que a Gestão de Competências está se tornando um conjunto de estratégias em

todos os níveis da companhia, como relatado abaixo:

• Nível Estratégico – Competências chaves são consideradas como as

competências que distinguem a companhia de seus competidores e dão a ela uma

posição dominante (ex. detenção de uma tecnologia genérica, uma técnica de

comunicação etc.).

• Nível Tático – A Gestão de Competências ajuda a analisar o estado

existente provendo uma visão global e ajudando a orientar as ações de melhorias

contínuas (ex. análise de equivalência de competências, análise da necessidade e

treinamento etc.).

• Nível Operacional – Neste nível, a gestão de competências ajuda a

tomar decisões em tempo real, por indicar o indivíduo que esta apto para executar

uma determinada atividade.

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A Gestão de Competências nas organizações permitem um melhor

aproveitamento e desenvolvimento dos recursos humanos. E sua implementação

pode ser feita segundo algumas etapas, como definido por Oliveira (2003):

1. Identificar as competências relevantes para o sucesso da

organização, de acordo com os objetivos estratégicos da mesma.

2. Elencar as competências consideradas essenciais ao sucesso

organizacional e descrevê-las detalhadamente.

3. Sensibilizar a organização para a importância estratégica da adoção

de um modelo de Gestão de Competências.

4. Desenhar os perfis profissionais de acordo com as competências

consideradas essenciais a cada cargo/função e estabelecer critérios de aferição

da concordância entre perfis reais e esperados.

5. Implementar o modelo, incentivando a gestão pessoal e autônoma da

carreira de cada colaborador, fazendo o acompanhamento adequado.

6. Detectar desvios e procurar o equilíbrio.

Quando da implementação e utilização, duas ferramentas de Gestão de

Competências estão sendo freqüentemente usadas nas industriam e têm sido

estudadas na literatura: a estrutura de referencia de competências (competency

reference frame) e a árvore de competência (competency tree), segundo Harzallah

e Vernadat (2001).

A Estrutura de Referência de Competências é uma lista de competências

estruturadas de acordo com um critério relatado para um dado objeto. Esta lista é

dividida em classes e a classificação é monocritério. E a Árvore de Competências,

constitui um método de visualização dos saberes e de reconhecimento das

competências. Levy e Authier (1995), diz que novas competências e saberes

podem surgir da coletividade, e cada indivíduo tem uma posição única nesta

coletividade. Então esta ferramenta permite: i) Posicionar uma competência

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individual com vistas para competências da companhia e ii) Posicionar as

competências da companhia e relação à outra.

Todas estas ferramentas e técnicas de Gestão de Competências (gestão do

conhecimento, RH etc.), são esforços para identificar as competências de cada um

indivíduo ou de um grupo. Estas técnicas permitem melhorar o desenvolvimento e

aproveitamento dos recursos humanos, ou seja, permitem alocar o trabalhador

certo para atividade certa, monitorando seus pontos fortes e fracos, para melhorar

a qualificação dos recursos humanos e a utilização de maquinas e equipamentos.

Este envoltório da capacidade humana de realização das tarefas, pode ser

incorporado sem maiores problemas pelas novas gramáticas do poder, ou seja, as

organizações podem mais uma vez se beneficiar nesta “nova” relação capital-

trabalho. As novas formas de poder deslocam a questão da simplificação ou

excessiva padronização do trabalho (Taylorismo/Fordismo) para gestão do

inconsciente. O que possibilita uma relativa qualificação do trabalho, do ponto de

vista do exercício do poder, que permite maior e melhor apropriação do trabalho

(HELOANI, 2002).

Portanto, a gestão de competências a medida que dissemina

conhecimentos e habilidades a toda organização, tornando-os operacionalizáveis,

faz com que se ampliem a competência de seu corpo de trabalho. Esta

sistematização permite elencar as competências requeridas por processos

organizacionais e assim flexibilizar da gestão do “capital humano”, seja em uma

organização industrial mais tradicionalista ou em um paradigma produtivo híbrido.

Desenvolvendo Competências em uma organização: Metodologia adotada pela Petrobras/Engenharia

A gestão de pessoal na Companhia é orientada para a missão de criar

condições favoráveis a uma ambiência de trabalho que estimule o desempenho

dos empregados. Para isso ela investe em educação para a saúde, no

gerenciamento do desempenho de pessoas e equipes, na administração de

carreiras e na melhoria da qualidade de vida no trabalho. Para desenvolver seu

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“capital intelectual” a Companhia possui programas de formação e aprimoramento

da força de trabalho.

Dentro desta esfera a Companhia é mundialmente reconhecida pela

qualificação de seus técnicos, pois investe maciçamente no aperfeiçoamento de

seus empregados. Desde os primeiros cursos de formação das habilidades

necessárias à instalação da indústria no país, até a implantação de programas de

mestrado e doutorado em parceria com universidades brasileiras, muita tecnologia

foi criada e desenvolvida.

Ao instalar sua Universidade Corporativa, mais uma vez se antecipa e

busca responder às demandas sociais crescentes de efetividade nos negócios e

prepara-se para o contexto dinâmico da competição global. Um exemplo deste

esforço de capacitação profissional e o programa Trainee (desenvolvido pela

Universidade Corporativa) que ela desenvolve, onde os funcionários admitidos,

com todos os benefícios, ficam em treinamento/curso e ambientação por um certo

período de tempo, para somente então serem alocados no setor de trabalho onde

começarão a desenvolver suas atividades profissionais e terão treinamentos

específicos de acordo com as competências necessárias à realização atividades

do setor. E importante frisar quantitativo considerável força de trabalho da

empresa, hora denominados consultores e gerentes, em sua maioria, com um

grande saber técnico-gerencial e muito experientes, participam na qualificação dos

profissionais permitindo assim troca de experiências associada ao conhecimento

teórico. São diretrizes da Universidade Corporativa da Companhia:

1. Focalizar os programas de Treinamento e Desenvolvimento (T&D)

nas necessidades estratégicas das áreas de negócios da

Companhia;

2. Viabilizar programas de T&D que atendam aos empregados e

também aos clientes, fornecedores e parceiros;

3. Sistematizar o processo de gestão do conhecimento, de modo a

possibilitar a aplicação prática das competências e habilidades para

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o trabalho produtivo, que efetivamente satisfaça necessidades dos

clientes internos e externos;

4. Aplicar os recursos educacionais disponíveis, equilibrando ensino

presencial e modernas tecnologias de educação à distância, visando

estimular o autodesenvolvimento;

5. Estabelecer parcerias com instituições de ensino no Brasil e

intercâmbio com instituições no exterior.

Dentro deste contexto, iniciativas como o Gerenciamento do Desempenho

de Pessoal (GDP) ajudam a verificar como andam as metas físicas e as

competências individuais da força de trabalho. E critérios do Prêmio Nacional da

Qualidade (PNQ) ajudam a balizar as ações na busca da excelência operacional,

inclusive no quesito desenvolvimento de pessoal.

Então o principal desafio nesta década será o de suprir a demanda

crescente na educação dos empregados, ajustando-a às metas da empresa. A

gestão de diversas mídias e formas de capacitação para um público que extrapola

a empresa e inclui os clientes, os fornecedores e parceiros é um desafio adicional.

E com a evolução dos paradigmas de gestão isso se torna diferencial

competitivo e essencial para sustentação destes modelos gestionários. Assim

sendo, o reflexo destas ações na empresa e em particular na gestão por projeto

da Engenharia auxilia no atendimento aos objetivos e metas.

Gestão de Competências na Engenharia Na Gestão por Competências, o setor de Recursos Humanos da

Engenharia esta procurando alinhar o desempenho dos colaboradores com as

estratégias do setor e conseqüentemente da organização. Assim, é muito mais do

que uma forma de administrar, é uma filosofia de desenvolvimento de talento na

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empresa, ou como poderia se dizer no jargão técnico seria o desenvolvimento de

“Novas Competências”.

Através da Gestão por Competências a empresa orienta as ações das

pessoas no intuito de construir uma organização eficaz, ou seja, que atinja as

metas e objetivos traçados. Também consegue valorizar os seus recursos

humanos, bem como passa a oferecer condições para que os colaboradores

percebam a necessidade de se preocupar com o auto-desenvolvimento.

Dessa forma, a Gestão por Competências é uma ferramenta que auxilia o

setor a ter uma visão de seus processos, suas atividades e principalmente de seus

recursos humanos, identificando assim as suas competências essenciais, isto é,

com a implantação deste paradigma de gestão e possível mapear quais

competências refletem em diferencial competitivo e desta forma permite que as

mesmas sejam trabalhadas, atingidas e superadas dando um suporte ainda maior

para o desenvolvimento do Modelo de Gestão de Projetos adotados pela

Engenharia da Companhia . Para tal, este projeto é constituído da seguinte forma,

conforme mostra a figura abaixo:

Levantamento de competências-chave e dos conhecimentos e habilidades e atitudes (CHA) para a Engenharia, junto aos representantes das áreas.

Definição das competências-chave, conhecimentos, habilidades, atitudes (CHA), atividades e níveis requeridos levantados, junto aos representantes das áreas e validação com o Gerente Executivo e Gerentes Gerais.

Resultado do Índice de Disponibilidade de Competências Técnicas, treinamento dos empregados e finalização do processo.

PROJETO DE GESTÃO DE COMPETÊNCIAS

Figura 1 - Gestão de Competências.

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Através desse processo não só a Engenharia, como também toda

Companhia, poderá obter, conseqüentemente, maior produtividade; ambiente

participativo; comprometimento dos colaboradores; gerências e equipes mais

fortalecidas; foco em resultados; competitividade e diferencial no mercado. Pois o

processo permitirá conhecer as competências necessárias e atuais e cada um dos

profissionais e seus gaps, o que facilitará a tomada de decisão gerencial,

permitindo a flexibilização e melhor aproveitamento de sua força de trabalho.

Através desse processo não só a Engenharia, como também toda

Companhia, poderá obter, conseqüentemente, maior produtividade; ambiente

participativo; comprometimento dos colaboradores; gerências e equipes mais

fortalecidas; foco em resultados; competitividade e diferencial no mercado. Pois o

processo permitirá conhecer as competências necessárias e atuais e cada um dos

profissionais e seus gaps, o que facilitará a tomada de decisão gerencial,

permitindo a flexibilização e melhor aproveitamento de sua força de trabalho.

Para facilitar a Gestão por Competências, algumas companhias implantam

softwares para o setor de Recursos Humanos. Estes sistemas facilitam ações

como a necessidade de se determinar competências; fornecer capacitação;

avaliar a eficácia das ações executadas pelas equipes; assegurar a consciência

quanto à pertinência e à importância das atividades desempenhadas pelos

funcionários, e contribuir para que os objetivos da qualidade possam ser atingidos.

É exatamente através dessas variáveis que o RH pode fortalecer o seu papel de

parceiro estratégico dos negócios da companhia.

Na Engenharia não está sendo diferente, pois esta possui, atualiza e

desenvolve freqüentemente sistemas que auxiliam a sua gestão de recursos

humanos, um exemplo é o Gerenciamento de Desenvolvimento Pessoal (GDP) e

o Gerenciamento de Desenvolvimento do Líder (GDL), que correspondem

respectivamente a gestão evolutiva da capacidade técnica e operacional e “líder-

gerencial” da sua força de trabalho. Este pontos são primordiais para Gestão de

Competências da Engenharia e principalmente no mapeamento e consolidação

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das “Novas Competências”e do know how deste setor tão importante para

Companhia.