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A REENCARNA˙ˆO N” 423 - ANO LXVIII Diretor Udo Schüller Redação Eber Waner Borges Rosa Valdete Santos da Cruz João Paulo Lacerda Revisão Valdete Santos da Cruz Jornalista Responsável João Paulo Lacerda (DRT/RS 4044) Produção Gráfica Redação e Administração Av. Desembargador André da Rocha, 49 Fone/Fax: (51) 3224.1493 Porto Alegre -RS- CEP 90050-161-Brasil [email protected] Esta revista está registrada no C.R.C. (Dec. nº 24776, Art. 5º, item 1) sob o nº 211.185, cadas- tro nº 458/p nº 209/73 do D.C.D.P. Fundada em julho de 1934 por Oscar Breyer (seu primeiro diretor) sendo presidente da FERGS Ildefonso da Silva Dias FEDERAÇÃO ESPÍRITA DO RIO GRANDE DO SUL http://www.fergs.com.br CONSELHO EXECUTIVO Presidente Jason de Camargo 1ª Vice-presidente Gladis Pedersen de Oliveira 2ª Vice-presidente Valdete Santos da Cruz Departamento Doutrinário João Felício Departamento de Assuntos da Família Marilene Huff Departamento da Infância e Juventude Wilma Darde Ruiz Departamento de Comunicação Udo Schüller Livraria Espírita Francisco Spinelli Elmira Maria Pelufo Departamento de Pesquisa e Estudo Nilton Stamm Andrade Departamento de Assistência e Promoção Social Espírita Eber Waner Borges Rosa Assessor Geral Seldon Fritz Hofmmann Secretaria Celina Correa Córdoba Marion Hemb Tesouraria Lauro Varela Erico Seus Sumário 3 A REENCARNA˙ˆO - N” 423 EDITORIAL ............................................................. PÆg. 4 A questªo social na visªo espírita ............................. PÆg. 4 Eber Waner Borges Rosa O modelo de assistŒncia e promoçªo social espírita no Brasil ..................................................... PÆg. 7 Edvaldo Roberto de Oliveira A moeda e a Educaçªo ......................................... PÆg. 11 Lauro Roberto Borba Metodologia e terapŒutica espíritas nos trabalhos assistenciais ......................................................... PÆg. 13 Elaine Curti Ramazzini O serviço de assistŒncia e promoçªo social espírita: Objetivos, características e finalidade educativa ....... PÆg. 16 JosØ Carlos da Silva Silveira A visªo sistemÆtica do centro espírita aplicado a assistŒncia social .................................. PÆg. 19 Nilton Stamm de Andrade A legislaçªo de assistŒncia social e as instituiçıes assistenciais .................................. PÆg. 23 Fernando Lopes Alves Fora da educaçªo nªo hÆ salvaçªo ........................ PÆg. 26 Ney Lobo E os paradigmas se movem novamente: A comunicaçªo como Øtica da promoçªo social espírita ... PÆg. 32 Luiz Signates A assistŒncia social e o desenvolvimento integral da família ................................................ PÆg. 35 CØsar Reis O trabalhador voluntÆrio na assistŒncia e promoçªo social espírita ........................................ PÆg. 39 Sandra Regina Miranda Pereira Pelos caminhos da cristandade ............................... PÆg. 41 Cristian Macedo

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Page 1: A REENCARNA˙ˆO Sumário - Geocities.ws · integral da família .....PÆg. 35 CØsar Reis O trabalhador voluntÆrio na assistŒncia e ... concomitantemente com o atendimento às

3A REENCARNAÇÃO - Nº 423

A REENCARNAÇÃONº 423 - ANO LXVIII

DiretorUdo Schüller

RedaçãoEber Waner Borges RosaValdete Santos da Cruz

João Paulo LacerdaRevisão

Valdete Santos da CruzJornalista Responsável

João Paulo Lacerda (DRT/RS 4044)Produção Gráfica

Redação e AdministraçãoAv. Desembargador André da Rocha, 49

Fone/Fax: (51) 3224.1493Porto Alegre -RS- CEP 90050-161-Brasil

[email protected]

Esta revista está registrada no C.R.C. (Dec.nº 24776, Art. 5º, item 1) sob o nº 211.185, cadas-tro nº 458/p nº 209/73 do D.C.D.P.

Fundada em julho de 1934 por OscarBreyer (seu primeiro diretor) sendo presidente daFERGS Ildefonso da Silva Dias

FEDERAÇÃO ESPÍRITADO RIO GRANDE DO SUL

http://www.fergs.com.br

CONSELHO EXECUTIVOPresidente

Jason de Camargo1ª Vice-presidente

Gladis Pedersen de Oliveira2ª Vice-presidente

Valdete Santos da CruzDepartamento Doutrinário

João FelícioDepartamento de Assuntos da Família

Marilene HuffDepartamento da Infância e Juventude

Wilma Darde RuizDepartamento de Comunicação

Udo SchüllerLivraria Espírita Francisco Spinelli

Elmira Maria PelufoDepartamento de Pesquisa e Estudo

Nilton Stamm AndradeDepartamento de Assistência e

Promoção Social EspíritaEber Waner Borges Rosa

Assessor GeralSeldon Fritz Hofmmann

SecretariaCelina Correa Córdoba

Marion HembTesouraria

Lauro VarelaErico Seus

Sumário

3A REENCARNAÇÃO - Nº 423

EDITORIAL ............................................................. Pág. 4

A questão social na visão espírita ............................. Pág. 4Eber Waner Borges Rosa

O modelo de assistência e promoção socialespírita no Brasil ..................................................... Pág. 7Edvaldo Roberto de Oliveira

A moeda e a Educação ......................................... Pág. 11Lauro Roberto Borba

Metodologia e terapêutica espíritas nos trabalhosassistenciais ......................................................... Pág. 13Elaine Curti Ramazzini

O serviço de assistência e promoção social espírita:Objetivos, características e finalidade educativa ....... Pág. 16José Carlos da Silva Silveira

A visão sistemática do centro espíritaaplicado a assistência social .................................. Pág. 19Nilton Stamm de Andrade

A legislação de assistência sociale as instituições assistenciais .................................. Pág. 23Fernando Lopes Alves

Fora da educação não há salvação ........................ Pág. 26Ney Lobo

E os paradigmas se movem novamente: Acomunicação como ética da promoção social espírita ... Pág. 32Luiz Signates

A assistência social e o desenvolvimentointegral da família ................................................ Pág. 35César Reis

O trabalhador voluntário na assistência epromoção social espírita ........................................ Pág. 39Sandra Regina Miranda Pereira

Pelos caminhos da cristandade ............................... Pág. 41Cristian Macedo

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4 A REENCARNAÇÃO - Nº 423

Ed

ito

ria

lE

dito

ria

l Construindo um projeto eficiente deassistência e promoção social espírita -

um modelo de amor

“(...) Todo o Centro Espírita deverá realizar serviço assistencial espírita, assegu-rando suas características beneficentes, preventiva, e promocional, conjugando a

ajuda material e espiritual, fazendo com que este serviço se desenvolvaconcomitantemente com o atendimento às necessidades de evangelização”.

(OCE – Orientação aos Centros Espíritas – CFN - FEB, Cap. IX, Preâmbulo).

4 A REENCARNAÇÃO - Nº 423

É possível a construção de ummodelo de Ação Social que tenha comobase o amor e como finalidade a trans-formação moral e espiritual do homem?

Certa vez perguntaram aMahatma Gandhi, se era possível vi-ver o que ele pregava e em que dimen-são isto era possível?

Ele disse: Certamente que sim.Principalmente em pequenas comuni-dades.

Com esta assertiva de Gandhi, po-demos afirmar que aquilo que nós que-remos para o mundo, fazemos no local:Podemos ter instituições inseridas emcomunidades, que sejam sementes deum mundo novo. Experiências novasdo modelo de amor.

Isto já aconteceu na Terra?Sim. Já aconteceu! Sobretudo, no

momento sublime, quando o próprioJesus veio à Terra.

Os primitivos cristãos, ao longoda estrada que ligava Jope a Jesusalém,ergueram uma casa: A Casa do Cami-nho.

À noite, eles se reuniam sob asestrelas, quando o luar se esparrama-va pelos caminhos, para junto a umfogo aceso, conversar sobre Jesus, lerum texto de Mateus, recordar as liçõesdo Mestre, após um dia intenso de tra-balho no bem. Assim era a Casa do Ca-minho, um modelo de amor.

Quem eram aqueles homens e mu-lheres que compunham a Casa do Ca-minho? Eram, homens e mulheres co-muns. Pedreiros, carpinteiros, jardinei-ros, pescadores, pessoas de ativida-des domésticas. Não eram santos, an-jos caídos à Terra. Eram homens e mu-lheres que num dado momento, permi-tiram que a mensagem de Jesus lhesadentrasse o íntimo e lhes provocasse

uma profunda transformação.Mas que transformação?Lendo o texto Atos dos Apósto-

los, capítulo quarto, encontramos a se-guinte definição. “Na Casa do Cami-nho não havia necessitados”, porquetodos atendiam às necessidades detodos, pois eram um só coração: Erauma comunidade de amor.

Eis que , este modelo, volta à Ter-ra. E este o papel da Casa Espírita: Éser um modelo de amor.

Para isso, nossas instituições es-píritas precisam acompanhar os no-vos tempos e passarem a exercer umpapel social mais efetivo e transforma-dor, de aproximação, acolhimento, ori-entação, evangelização e educação,dessas populações socialmente exclu-ídas, que em sua maioria desconhecema doutrina luminosa dos Espíritos, por-que a ela não tiveram acesso.

Percebendo esta necessidade deadequar-se aos novos tempos a Fede-ração Espírita do Rio Grande do Sul –FERGS, promoveu o Iº. Seminário Es-tadual de Assistência e Promoção So-cial Espírita, ocorrido em maio de 1998,e instituiu o SAPSE - Setor de Assis-tência e Promoção Social Espírita.

Esta iniciativa visava atender aoapelo da Federação Espírita Brasileira -FEB, que na reunião da Comissão Re-gional Sul, estabelecia como objetivoà todas as federativas estaduais a cria-ção do SAPSE.

Em agosto de 2000, a FEB e aUSEERJ – União das Sociedades Espí-ritas do Rio de Janeiro, promovem o1º.Encontro Nacional do SAPSE – Ser-viço de Assistência e Promoção SocialEspírita, no Rio de Janeiro.

Naquela ocasião, foram definidasas estratégias de atuação do SAPSE a

nível nacional, tendo sido colocado àdisposição do movimento espírita bra-sileiro o Manual de Apoio e Orienta-ção para as Atividades de Assistênciae Promoção Social Espírita. Este seconstitui no documento mais importan-te, pois apresenta toda a base técnicae doutrinária para a implantação segu-ra das atividades de Assistência e Pro-moção Social Espírita, nas casas espí-ritas. (disponível no endereço:www.fergs.com.br).

Consolidando estas iniciativas aFERGS em novembro de 2001, instituio Departamento de Assistência e Pro-moção Social Espírita – DAPSE, pas-sando este departamento a inserir-seoficialmente na estrutura administrati-va da federação.

Em maio de 2002 o DAPSE daFERGS, promove o IIº. Encontro Esta-dual de Assistência e Promoção SocialEspírita na Assembléia Legislativa denosso estado, tendo dois objetivosfundamentais:

1. Definir de forma mais clara opapel das instituições espíritas no exer-cício das atividades de assistência epromoção social em face do momentoatual e do compromisso espírita com oatendimento à humanidade.

2. Estabelecer o modelo de Assis-tência e Promoção Social Espírita à luzda modernidade.

Esta edição da revista A REEN-CARNAÇÃO visa dar seguimento aeste conjunto de iniciativas e, com isso,contribuir neste momento, para que nósespíritas nos capacitemos para exercereste papel significativo de transforma-ção social, propósito de nossaveneranda doutrina.

Que Deus nos ilumine. Avance-mos!

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A questão social na visão espíritaEber Waner Borges Rosa*

* Administrador e Diretor doDepartamento de Assistência e

Promoção Social Espírita da FERGS

5A REENCARNAÇÃO - Nº 423

“A Terra produz bastan-te para nutrir, a todos os seushabitantes; quando os homenssouberem administrar os bensque ele dá, conforme as leis dejustiça, de caridade e de amor aopróximo; quando a fraternidadereinar entre os diversos povos,...o que é momentaneamente supér-fluo para um, suprirá a momentâ-nea insuficiência do outro, demodo que todos terão o necessá-rio.”....” Evangelho Segundo o Es-piritismo. Cap. XXV, item 8

“Numa sociedade organi-zada segundo a lei do Cristo nin-guém deve morrer de fome.” Res-posta dos Espíritos a Questão930 de o Livro dos Espíritos.

Observando o mundoatual constatamos facilmente aexistência de grandes contradi-ções, onde o homem, a cada ins-tante, embora demonstre ter al-cançado elevado padrão de de-senvolvimento tecnológico, ignora emsua grande maioria os valores essenci-ais de sua natureza espiritual, gerandograndes divergências de opinião, difi-cultando a sua caminhada evolutiva.

Pois, como nos mostrou a soci-óloga Cleusa Colombo também no mo-vimento espírita brasileiro, existem asdivergências de opiniões, que dificul-tam a união dos espiritistas e a unifica-ção do movimento espírita na aplica-ção do método kardequiano. (1)

Na área da Assistência e Pro-moção Social Espírita não é diferente.Há divergências de opiniões e inter-pretações a cerca de como deve ser aatuação do movimento espírita em re-lação a questão social.

Há, por exemplo, os que seapóiam basicamente uma caridadeassistencialista - filantrópica; Há, osque se dedicam ao estudo dos fenô-menos e suas implicações, entenden-do que não cabe ao Espiritismo o aten-dimento social e assistencial às mas-sas menos favorecidas socialmente. Ehá ainda, outros que acreditam natransformação da humanidade, atravésde um entendimento tríplice da Doutri-

na Espírita, em que para estes Ciência,Filosofia e Religião se entrelaçamindissoluvelmente, entendendo que acaridade deve transcender oassistencialismo, e que o movimentoespírita deve ter uma atuação mais efe-tiva, influindo nas estruturas sociais, econtribuindo para a promoção do ho-mem, usando a educação como instru-mento de progresso moral e espiritual.

No que se refere ao social,Kardec nos afirmava que: “A questãosocial depende inteiramente do melho-ramento moral do indivíduo e das mas-sas,...”.(2) Esclareceu ele ainda, que;“A educação é o conjunto de hábitosadquiridos e que é através da educa-ção que as massas menos favorecidasmelhorarão economicamente”.(3)

Neste sentido o Espiritismo as-sume a posição de que a questão soci-al está intimamente ligada às questõesmoral e espiritual, não havendo divi-são entre a realidade social e a realida-de espiritual, e que a evolução do ho-mem integral, entendido como ser mo-ral que se manifesta na sociedade, éque determina a evolução das relaçõessociais.

Para Kardec: “o progresso éuma sucessão de fatos morais e soci-ais determinados pelas relações entreo elemento espiritual e o elemento ma-terial”. (4)

Na visão do reformismo socialcristão, que não restringe somente aoaspecto econômico-social, enfatiza quea questão social moderna transcende-rá o âmbito econômico-social, apontan-do cada vez mais para a esfera espiritu-al e cultural.

Já o Espiritismo visando promo-ver a transformação da humanidade,utiliza-se do mecanismo da reformamoral dos indivíduos. Herculano Pires,no entanto, acentua; “esta reformadeve ser profunda, não superficial”.(5)Parte ele do princípio de que, “o mun-do e, por conseguinte a humanidade, éo reflexo do homem e que para obter-mos um mundo transformado, ou umverdadeiro mundo de luz é necessárioacendermos a luz das almas”. (5) Dizainda que; “Isso, por si só, não basta,é preciso, ao mesmo tempo em que,

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A Doutrina Espírita deve atuar nocampo social mudando o homem por

dentro, para que ele construa então umasociedade mais justa.

acendemos a luz das almas, devemosfazê-la brilhar no meio social em quevive, pois as almas iluminadas ilumi-nam a sociedade”. Considera ainda,Herculano; “que “essa iluminação sedará através da educação, cuja peda-gogia consiste em ensinar e dar o exem-plo”, (5) seguindo o modelo do Cristo.

Também o Espiritismo partindodo conceito de que os sistemas soci-ais se criam de acordo com a evoluçãodos homens, não concorda que estareforma, ou mudança seja feita de for-ma abrupta e impositiva, mas sim demodo gradual e permanente. É precisoque haja tempo para a assimilação dasnovas idéias. Kardec acentua: “Não setransforma o coração dos homens pordecreto. (6)”.

Na visão espírita, conforme nosdemonstra Denis, “A educação daalma é a finalidade última, o fim supre-mo da evolução humana”. (7)

Portanto, a solução dos proble-mas sociais, segundo o Espiritismo,está baseada na Pedagogia, constitu-indo-se a educação no instrumentodesta transformação. Entende ainda,que é através da educação que conse-guir-se-á libertar o homem, induzindo-o a prática da caridade, da solidarieda-de, do amor ao próximo, do combate aoorgulho e ao egoísmo. Pois comoKardec, afirmava: “Nada se opõe maisà liberdade e a fraternidade, do que oorgulho e o egoísmo”.(8)

Por isso, para o Espiritismo ocaminho para a solução dos problemassociais está na Pedagogia da transfor-mação moral do homem e da socieda-de. Isto significa que os problemassociais, na sua essência, são proble-mas morais.

Ainda, partindo do raciocíniode que o exercício da solidariedade élei universal que liga todos os sereshumanos, a prática da caridade devetranscender o assistencialismo, atuan-do nas estruturas sociais e culturais,transformando a mentalidade dos ho-mens, sendo por isso importante inves-tir na Educação, proporcionando à cri-ança, jovens e adultos, uma formaçãocultural apoiada na mais positiva e com-pleta base espiritual, que mostre a in-sensatez das concepções materialistas.

Outro aspecto a ser observadoem relação a questão social é a falta decuidado com o ser humano, estigma denosso tempo. Esta falta ocorre em to-dos os sentidos. Portanto, cabe a nós

espíritas, neste terceiro milênio, cons-truir um novo paradigma de convivên-cia, inaugurando um novo modelo deassistência e promoção social, estabe-lecendo um pacto social, de respeito epreservação a tudo que existe e vive,buscando alternativas que representemuma nova esperança. Leonardo Boffnos alerta, “O grande mal desta civili-zação é o descuido, o descaso, o aban-dono, numa palavra, a falta de cuida-do. Há um descuido manifesto pelodestino dos pobres e marginalizadosda sociedade.” (9)

Assim, acima de qualquer com-bate à classes sociais e estruturas eco-nômicas, o Espiritismo deve atuar nocampo social, transformando o homem,por dentro, tornando-o capaz de mo-ralmente realizar a construção de umasociedade mais justa, contribuindo naformação de um homem consciente desuas responsabilidades com a vida,com o mundo, com o meio ambiente,com a sociedade, com o próximo, comDeus e consigo mesmo.

Mostra ainda, o Espiritismo,através da leitura de suas obras bási-cas, que a ação mais agradável a Deus,é a da caridade. “Mas não dessa cari-dade fria e egoísta que consiste emespalhar em torno de si a sobra de umaexistência nababesca, mas da caridade

cheia de amor, que vai ao encontro doinfeliz e o levanta sem humilhar...” Se-gue dizendo; “Não repudies aslamentações receando ser enganado,mas vai à fonte do mal. Alivia primeiro,depois informa-te e verifica se o traba-lho, os conselhos, mesmo a afeição, nãoserão mais eficazes que a esmola”. (10)

Esclarece ainda, o Espiritismoas relações que há entre o corpo e aalma, e afirma; “Que por serem ne-cessários um ao outro, é preciso cui-dar de ambos”. (11) Contempla as-sim, o homem na sua totalidade: Es-pírito e Corpo.

Portanto, bem entendida, a as-sistência e promoção social espíritaconstitui-se, hoje num instrumento deinteração com a sociedade, de que dis-põe o Movimento Espírita, que veiculaa mensagem espírita, exercendo o seupapel transformador, levando o conso-lo, esclarecimento, iluminação, assis-tindo àqueles que passam pela difícilprova da privação material, espiritual emoral, e que sequer dispõem do míni-mo para uma vida digna.

Deve assim, o Movimento Es-pírita levar o atendimento emergencial,mas, acima de tudo, deve contribuir paraa promoção e elevação moral e, porconseguinte, social do indivíduo e dafamília, através da educação.

REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:(1) COLOMBO, Cleusa Beraldi, 1937-1997. Idéias Sociais Espíritas. São Paulo.Editora Comenius e IDEBA, 1998(2) KARDEC, Allan - Obras Póstumas – Credo Espírita. Rio de Janeiro. FederaçãoEspírita Brasileira;(3) KARDEC, Allan - Livro dos Espíritos – 3ª. Parte - Lei do Trabalho. Rio deJaneiro. Federação Espírita Brasileira;(4) MARIOTTI, Humberto. O Homem e a sociedade numa nova civilização. SãoPaulo: Edicel, 1967.(5) PIRES, J. Herculano. O Reino – São Paulo – LAKE – 1946.(6) KARDEC, Allan – Obras Póstumas – São Paulo – Edicel – 1971.(7) DENIS, Léon Revue Spirite (Journal d´études psychologiques) Paris : Janeiroe Dezembro, 1924.(8) KARDEC, Allan – Livro dos Espíritos – São Paulo – LAKE, 1980.(9) BOFF, Leonardo – Saber Cuidar – Ética do Humano. Petrópolis, ED. Vozes,1999.(10) KARDEC, Allan – Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XVII, item 11.FEB.(11) KARDEC, Allan – Evangelho Segundo o Espiritismo. Cap. XVI, item 11. FEB.

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Para definirmos o modelo deAssistência e Promoção Social seimpõe uma primeira reflexão sobrea Constituição da República Fede-rativa do Brasil de 1988. No seutítulo I, artigo, III, ela estabelece:“Constituem objetivos fundamen-tais da república federativa do Bra-sil... Erradicar a pobreza e amarginalização, e reduzir as desi-gualdades sociais e regionais...”.(1)

Sob o ponto de vista de cidadão,de brasileiros numa dimensão maisgeral, e de espíritas numa dimen-são mais particular, lembramos donotável livro vindo das mãos aben-çoadas de Chico Xavier, cujo autoré Humberto de Campos. “BrasilCoração do Mundo Pátria do Evan-gelho”.(2) Nas narrativas, deste li-vro, quando nos avizinhávamos do

século XX, nos dias da proclama-ção da república, o espírito Ismael,examinando a história pátria, des-de o descobrimento, passando peloBrasil colônia, primeiro e segundoimpério, numa visão retrospectiva,analisava.

- Como é que nós, espíritos en-carnados - grupo constituinte destanação, estávamos nos comportan-do? Muitos de nós, vindos da velhaEuropa, outros da África, com ex-periências anteriores no continenteAsiático. Espíritos calcetas, que tí-nhamos, colocados em nossasconsciências culpas, pelo mau usode posições políticas e religiosas,como é que nós - coletivo que cons-titui o povo brasileiro - estávamosnos comportando, até aquele mo-mento?

De outro lado Ismael lança umolhar para o futuro, para a vocaçãopara a qual este país estaria desti-nado. Constata entre um momentoe outro, entre o passado e o futuro,que nós - o povo brasileiro - entremarchas e contramarchas, havía-mos amadurecido. Tínhamos alcan-çado, como povo e como nação, umamadurecimento que nos colocavajá na adolescência e, desta parauma fase adulta.

Por conseguinte, Ismael conclui,e diz textualmente no livro: “É che-gada a hora de permitir e possibili-tar que este país caminhe, agora,sem a nossa tutela, pelos própriospés”.(2) Por que até ali, fomos tu-telados pelos espíritos. Eles prati-camente conduziram a história dopaís. Foram eles que, protago-nizaram os maiores eventos, como;a Independência, o Sete de setem-bro. E Ismael, conclui: “Agora, estepovo, tem que caminhar pelos pró-prios pés... Estão grandinhos. Elesprecisam ir à luta”. (2)

Retomando a reflexão inicial,verificamos que os objetivos queestão contidos na Constituição de1988 estão relacionados com estadeclaração de Ismael. Tem a ver,no sentido em que caberia a todosnós, - cidadãos brasileiros, – o co-letivo da sociedade brasileira - numprocesso de amadurecimento cres-cente, tomar em nossas mãos, odestino da pátria, e fazermos comque ela caminhasse em direção àvocação, para a qual estava desti-nada. Teríamos nós, que construir-mos o país, e construí-lo não só doponto de vista físico, abrindo estra-das, desenvolvendo cidades, cami-nhando da agricultura para a indús-tria, da indústria para o mundo da

* Assistente Social. Vice Presidenteda USEERJ. Assessor da Diretoria

do Lar Fabiano de Cristo.

O modelo de assistência e promoçãosocial espírita no Brasil

Edvaldo Roberto de Oliveira*

Erradicar a pobreza e a marginalização é um objetivo constitucional.

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tecnologia moderna, mas tambémavançar o país no padrão civili-zatório. Sair da escravidão negra,para a liberdade, o respeito àsetnias. Caminhar na conquista dosdireitos políticos, civis e sociais,defender os direitos de gênero, alémdas etnias, criar padrões civilizatórioatravés de leis e instituições.

E é exatamente o que vem acon-tecendo, desde então, sobretudo apartir da segunda metade do sécu-lo XX. É o movimento da socieda-de civil, no impulso da solidarieda-de, para ajudar o próximo, atravésde duas dimensões. Uma dimensãopessoal e uma institucional.

Na dimensão pessoal nós tive-mos as ações de solidariedade, cujoemblema era a esmola. A esmolaconcretizando a solidariedade, ecom ela as palavras de consolaçãoe apoio. Sobre um ethos religioso,sobretudo católico, que era a reli-gião predominante. A outra dimen-são era a Institucional, através dassantas casas de misericórdia. Ecom isso, nós fomos construindouma cultura da solidariedade, umacultura com o nome de caridade,uma cultura da generosidade, até1930, quando pela primeira vez oestado assume para si também a

tarefa de intervir nas questões so-ciais.

O surgimento do serviçosocial e processo de mudança

E naquela quadra da história,com os avanços que aconteciam naEuropa, introduz-se no Brasil, con-ceitos novos. Vem para o Brasil,uma profissão nova. O Serviço So-cial, que alia, aquele impulso inicialde solidariedade, sob uma perspec-tiva religiosa, as técnicas e os co-nhecimentos de Assistência Soci-al, iniciando uma etapa nova. Acres-centando-se, neste momento, todoum aparato burocrático, um apara-to de legislações, de instituições, dopróprio estado.

Lá adiante, nos artigos 203 e 204da constituição, (1) propõe pela pri-meira vez, a Assistência Socialcomo uma política pública, dever doestado, direito do cidadão. Logoapós surge uma lei específica, LeiOrgânica de Assistência Social em7 de dezembro de 1993.

Estamos passando por um pro-cesso de mudança, de transforma-ções. É o Brasil se organizandodentro do concerto das nações, quevai ganhando fóruns de moderni-dade, de país que se insere dentrodo padrão civilizatório ocidental, dedireitos sociais, políticos, civis, so-nhados pelos carbonários france-ses, da revolução francesa. Tudoisto começou a partir do ano de1950, e mais precisamente de 1988,com a constituição federal. Entãotudo é muito novo para nós.A inserção dos espíritas neste

processo de mudançaNós Espíritas não estamos iso-

lados, estamos inseridos neste pro-cesso de transformações sociais eculturais. Dentro de uma visãosistêmica, tudo isto que está acon-tecendo nos envolve. Somospartícipes deste processo, queira-mos ou não, saibamos ou não.

Nós Espíritas inauguramos nestepaís um modelo de assistência, deprincípio muito calcado no modelovigente. Não fizemos muito diferen-te do que foi feito pelos católicosque nos antecederam. Eles faziamcampanhas do quilo, eram osvicentinos, nós também fizemos,Eles visitavam famílias, nós tambémvisitamos. Portanto, passamos aadotar um modelo de assistênciaque era da cultura brasileira, por quetambém, àquela época, muito pou-co, conhecíamos, da nossa própriaDoutrina. Os livros eram traduzi-dos do Francês. Um país pobre, depoucas letras. Só uma elite conse-guia ler as obras espíritas. Só asclasses e camadas mais intelec-tualizadas. O autodidatismo no mo-vimento espírita predominava. Ascasas espíritas surgiam, por contado mediunismo. A pessoa era mé-dium, fundava uma instituição e sódepois é que ia conhecer de Dou-

Nós espíritas acabamos participandodo processo de transformação social,

independente da nossa vontade, mesmoquando não nos damos conta disto.

As massas trabalhadoras incorporaram grandes avanços sociais no século que passou.

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trina Espírita.

Conteúdo doutrinário e odiálogo com a sociedadeÉ imprescindível o conhecimen-

to do conteúdo doutrinário. No li-vro Estude e Viva, está escrito as-sim: “É preciso desentranhar o pen-samento vivo de Kardec, tantoquanto ele desentranhou o pensa-mento vivo do Cristo”.(3) Será quenós conhecemos suficientemente aDoutrina Espírita?

É preciso ter um conhecimentoespírita que nos permita fazer umaleitura da realidade? Fazer aquiloque Kardec propôs, que está escri-to no capítulo terceiro - o métododo Livro dos Médiuns. “O Espiri-tismo toca em todas as questõesque interessam à humanidade”.(4)O Espiritismo pode dialogar, comtodo e qualquer conhecimento, coma Psicologia, o Serviço Social, a Pe-dagogia, a Física Quântica. Tudo istopode estar à luz do Espiritismo e as-sim construirmos esse conhecimen-to, dialogando com a sociedade.

As bases e os referenciais quefundamentam a visão espírita doServiço de Assistência e PromoçãoSocial, não podem ser outros quenão sejam Kardec. Agora, não deveser um referencial ilusionista,excludente, que não nos permita ler,Marx, Freud, Engel, Heidegger. Isto

não vai minar a nossa visão espíri-ta, ao contrário, vai permitir que ilu-mine este conhecimento, que estáaí à disposição de todos nós.

Visão espírita da caridadeO Serviço de Assistência e Pro-

moção Social Espírita está funda-mentado no pensamento deKardec, na sua concepção de ho-mem e de mundo. O homem ca-rente é visto como um espírito en-carnado que está aqui, para progre-dir, ser feliz, tanto quanto nós, masque momentaneamente passa pelaexperiência da miséria, da fome, dapobreza da dor, do álcool, da dro-ga. Esta é a visão Espírita. O Espí-rita não vê o homem dicotomizado,o vê como uma unidade – espíritoe matéria.

A Doutrina Espírita propõe, quea nossa relação com o próximo sejauma relação horizontal, fraterna, porque ele é nosso irmão, filho deDeus, tanto quanto nós somos. Pro-põe ainda, todo um processo deabordagem, com uma visão volta-da para o verdadeiro sentido dacaridade “Benevolência para comtodos, indulgência para com as im-perfeições dos outros, perdão dasofensas”. (5). Vê a caridade comouma dinâmica existencial, não comoum conceito platônico, no mundodas idéias, mas como na expressão

de Meimei, “O amor em ação”.(6)É o amor vivido, experienciado.

Mudança do modelo deassistência social espíritaA questão que se coloca é, como

podemos sair de um modelo filan-trópico – religioso, que se construiuem nome da fé, que vem de 1890,quando foi criado o departamentode assistência ao necessitado, naFederação Espírita Brasileira, comuma prática marcada peloassistencialismo, pela esmola?

Como sabemos uma mudançanão se faz da noite para o dia. Épreciso considerar alguns aspectoscomo:

Primeiro. Entender a necessi-dade de conviver com estas duasrealidades. Não se pode fazer mu-danças bruscas. Se não cometerí-amos, por exemplo, o erro que co-meteu aquela pessoa, que quandolhe foi pedido que, fizesse uma lim-peza, ela entendendo literalmente otermo, pegou a água suja, jogou abacia, a água e a criança que esta-va dentro. Não é isto que nós que-remos. Não estamos propondo ne-nhum processo de ruptura, de porabaixo tudo o que foi feito nestesanos de trabalho. Estamos dizendoque está na hora de mudar, de lan-çar as sementes do novo, experi-ências inovadoras, que façam com

A pessoa carente éum espíritoencarnado que estáaqui, para progre-dir, ser feliz, tantoquanto nós, masque momentanea-mente passa pelaexperiência damiséria, da fome,da pobreza.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRAFICAS:

(1) CONSTITUINTES. CONSTITUIÇÃO - República Federativa do Brasil. Brasília.1988;(2) XAVIER, Chico. Brasil Coração do Mundo Pátria do Evangelho. (Obra mediúnica) Humberto de Campos(Espírito). Rio de Janeiro: Federação Espírita Brasileira.(3) Estude e Viva(4) KARDEC, Allan. Livro dos Médiuns, 3ª. Parte – O método. Rio de Janeiro. Federação Espírita Brasileira(5) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro – Federação Espírita Brasileira(6) XAVIER, Chico. O amor em ação. (obra nediúnica) Meimei (Espírito). Rio de Janeiro. Federação EspíritaBrasileira.(7) KARDEC, Allan. O Evangelho Segundo o Espiritismo. Rio de Janeiro. Federação Espírita Brasileira(8) KARDEC, Allan. O Livro dos Espíritos. Terceira Parte Cap.XI. Perg. 886. Rio de Janeiro: FederaçãoEspírita Brasileira.

que a casa espírita avance paraos processos condizentes aostempos de hoje.

Segundo. Entender o sentidoetimológico da palavra seminário.É o que vem de semente. Portantoé indispensável lançar sementes,sensibilizar os participantes para onovo, passando do joio para o trigo,na visão de que o velho é o joio.

Terceiro. Entender o binômioproposto por Bezerra de Menezes.Aliar, Amor e Técnica. Tem quehaver o amor, pois o que move estetrabalho é o amor, mas não se podedescurar da técnica, dos procedi-mentos, do planejamento, da orga-nização, da capacitação, e do trei-namento.

Isto demanda tempo. Por isso épreciso raciocinar como Rui Bar-bosa, por exemplo, que estabeleciao seguinte raciocínio: A couve, queé rápida para se transformar desemente em couve, tem vidaefêmera, fenece com muita rapidez.Quem tem que plantar para a eter-nidade planta semente de carvalho,que demora muito mais para se

transformar de semente em árvoreadulta, mas atravessa os séculos.É uma questão de escolha. O quenós queremos? Plantar sementespara colher rápido, ou queremosplantar para a eternidade? Quemvai trabalhar no social, no humano,tem que fazer esta opção. E nestesentido o tempo está a nosso favor.

Mahtma Gandhi, quando ques-tionado se era possível, viver a nãoviolência que ele pregava e em quedimensão era possível? Ele disse: -Olha! Num país inteiro, como a Ín-dia? Não! Numa região inteira?Não! Numa cidade? Talvez. Mascertamente em algumas comunida-des, sim!

John Lennon, disse certa vez:“Pensar globalmente, agir local-mente”. O que queremos para omundo, devemos fazer no local emque vivemos.

A era da contradição eos modelos de amor

A espiritualidade nos diz queestamos numa era de transição daera da Matéria para a era do Espí-

rito. O que marca esta transição éa contradição. Por enquanto o mal,a violência, a droga, a miséria, asguerras. Por isso a espiritualidadepropõe a necessidade de desenvol-vermos modelos de amor. Mode-los, que contribuam para a extirpa-ção do egoísmo. Embora a espiri-tualidade tenha salientado a dificul-dade de extirpar-se inteiramente oegoísmo do coração humano, quan-do Kardec perguntava aos espíri-tos, chegar-se-á a conseguí-lo? (8)Os espíritos responderam “A me-dida que os homens se instruemacerca das coisas espirituais, me-nos valor dão às coisas materiais.Depois, necessário é que se refor-mem as instituições humanas que oentretêm e estimulam o egoísmo. Eisso depende da EDUCAÇÃO” (8).

A terra necessita, hoje, de insti-tuições que sejam da era do espíri-to. Instituições de relações horizon-tais, amorosas, sem exploração dohomem pelo homem, em que oshomens se respeitem por razõesético – morais. Instituições inseridasem comunidades, que sejam se-mentes do mundo novo. Experiên-cias novas do modelo de amor, con-tribuindo assim, para mudar a soci-edade, agregando novos valores.

Façamos das nossas casas es-píritas, instituições da era do espíri-to que assistam e promovam o ho-mem na sua integralidade espíritoe matéria.

A terra necessita de instituiçõesespíritas democráticas, amorosas,

inseridas na comunidade, assistindoe promovendo o homem na sua

integralidade de espírito e matéria.

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Atarde era chuvosa. O outono entrara derrubando asfolhas amarelecidas dos

três cinamomos que, enfileirados nafrente da pequena casa, escondi-am-lhe a fachada envelhecida.Maria, mãe de cinco filhos, tinha,no mais velho, um loirinho de olhosazuis, que faria dez anos no mêsde julho, muita esperança. Ha-veria de crescer sadio, trabalha-ria na empresa de ônibus e dariamuita alegria a ela, ainda pesaro-sa pela partida do marido que sefora tão prematuramente, vítimada tuberculose.

Ano e meio se passara da tristeseparação. Os mais pequenos ain-da não tinham clara idéia do queacontecera. Maurinho, de três anos,volta e meio perguntava quando éque o pai voltaria. Maria tergiver-sava. Não queria chocá-lo. Sua re-volta com Deus era sufocada emfavor dos filhos. No fundo, porém,alimentava a esperança de queDeus, que lhe tirara o arrimo da

família, única fonte de sustento dosfilhos, lhe reservava alguma coisamelhor em breve.

Da janela onde se encontrava,via a rua e as pessoas passando rá-pidas. Envolvida em seus pensa-mentos, cultivava o costumeiro sen-timento de autopiedade que a man-tinha inerte diante da dor que se lheinstalara no coração desde a mortedo marido. Era agora auxiliada pe-los amigos para alimentar os filhi-nhos. De repente teve a sua aten-ção voltada para Antônia que pas-sava, uma vizinha que se mudarapara aquela rua há poucos meses,e que já lhe tinha falado da casaespírita.

- Vá lá! Eles são pessoas debons sentimentos, ouvir-te-ão, e teauxiliarão no que precisas. Não teentrega mulher!

Tendo lembrado daquele diálo-go que dias antes tivera com Antô-nia, decidiu: Vou lá sim! Hoje é Ter-ça-feira, é dia de atendimento aospobres, como me falou Antônia.

Caía a tarde, a chuva cessara.À porta simples da casa espírita, de-zenas de pessoas, mulheres, crian-ças e velhos, visivelmente necessi-tadas, aguardavam atendimento.Uma mulher de rosto sereno, ca-belos lisos e claros, olhos profun-dos, chegou-se à porta, e com vozfirma indagou: - Quem está vindoaqui pela primeira vez?

- Eu! Disse Maria, entre en-vergonhada e ansiosa.

- Venha comigo! Disse-lhe amulher de cabelos lisos, conduzin-do-a com delicadeza até uma salaonde outras pessoas reuniam man-timentos e roupas em sacolas, so-bre uma grande mesa.

A mulher de cabelos lisos fê-lasentar-se. Indagou sobre sua famí-lia, quantos filhos, suas idades suascondições de saúde atuais, de ondeviera para morar naquela vila, etc...tudo anotando em uma folha depapel.

Em seguida deu-lhe duas saco-las, uma contendo alimentos, um pe-queno rancho e a outra contendoroupas diversas, recomendando-lheque voltasse na semana seguinte.

Quem seriam estas pessoas,pensou Maria. Que pessoas boas!De onde tiram tantas coisas parame ajudar? – Graças à Deus queelas existem! Exclamou com ale-gria, enquanto retornava para casa.

O tempo passou. Três anostranscorreram desde a primeira vezque Maria entrou na casa espírita.Maria continuava a mesma. Tristecom a sua situação que não mudouem nada. Os filhos que se acha-vam em idade escolar, já nem mes-mo frequentavam a escola com re-gularidade, tinham que pedir ajudapelas esquinas e sinaleiras.

* Advogado eDirigente Espírita

A moeda e a EducaçãoLauro Roberto Borba*

Devemos ter cuidado com o assistencialismo sem conteúdo educativo, pois poderemosestar estimulando o comodismo e a estagnação dos assistidos.

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Maria, sem estímulo, sem orien-tação, acomodara-se naquela situ-ação. Continuava pobre não so-mente em termos materiais, mastambém de conhecimento. Não sa-bia que poderia mudar a sua vidase assim o quisesse. Não sabia quedeveria ir à luta, procurar algum tipode trabalho para sustentar aos fi-lhinhos, não entendia que poderiabuscar muito mais do que uma vezpor semana o auxílio gratuito, mutoútil, mas que a mantinha paralisa-da. Isto tudo sem pensar que Ma-ria estava dando aos seus filhos opior dos exemplos – a acomodação.

Soube-se posteriormente queMaria sequer pregava um botão nasroupas dos filhos. Quando não po-diam mais usá-las pela simples fal-ta de um botãozinho, Maria busca-va outra roupa na casa espírita –eles sempre davam, sem maioresperguntas.

Depois de algum tempo, e demuitas decepções, ao verificaremque muitas Marias se haviam acos-tumado à uma vida indigna, sem es-

forços, sem vontade de melhorar-se, os trabalhadores da instituiçãoespírita procuraram estudar melhoro atendimento fraterno pela carida-de material que realizavam, conclu-indo que em muitos casos, o me-lhor seria que dessem da primeiravez, já que a urgência assim o exi-gia, mas depois, o ideal seria orien-tar cada família de acordo com suasreais necessidades.

Pessoas jovens, fortes, saudá-veis, deveriam ser estimuladas aprocurar de todas as maneiras osmeios para sua própria subsistên-cia, deixando apenas para os ve-lhos fracos, doentes e as criançasórfãs, o benefício socorrista da ca-ridade material.

A partir daí, então, organizarampalestras orientadoras a todosquantos buscavam a porta amiga da

bendita casa de caridade, com oencaminhamento de todos aquelesque dispunham de melhores condi-ções físicas, para realizarem ativi-dades que lhes pudesse render umsalário digno.

A conclusão por fim a que che-garam é de que não basta a carida-de material, isto é, repassar apenaso que a casa espírita recebe de suascampanhas internas, para amenizaro frio e a fome momentânea, masfundamentalmente, dar-lhes instru-ção, fazendo-os se autovalorizarem,como no velho provérbio: não lhesdê o peixe, ensina-os a pescar.

O que será melhor então – amoeda ou a educação? É bemprovável que o mais fácil seja adoação da moeda, porém, o maiseficaz seguramente será a edu-cação.

É fácil a doação da moeda. Mas o árduoinvestimento na educação, certamente é muitomais eficaz na promoção social dos assistidos.

A verdadeira caridade é ensinar a pescar, e não dar o peixe.

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ObjetivoDiscutir a metodologia e as te-

rapêuticas espíritas nos trabalhosassistenciais dando-se ênfase aoaspecto da relação entre o assisti-do e o trabalhador dessa área.

“... Mas, um samaritano queviajava, chegando ao lugar ondejazia aquele homem e, tendo-ovisto, foi tocado de compaixão.Aproximou-se dele, deitou-lheóleo e vinho nas feridas e as pen-sou: depois, pondo-o no seu ca-valo, o levou a uma hospedariae cuidou dele. No dia seguinte,tirou dois denários e os deu aohospedeiro, dizendo:”Trata mui-to bem deste homem e tudo o quedespenderes a mais, eu te pagareiquando regressar...”(LUCAS,Cap.X,V.25 a 37).

No final da Parábola do BomSamaritano, Jesus apresenta ametodologia do trabalho de assis-tência ao mais necessitado comoum convite às criaturas para queprocedam da mesma forma que ohomem-modelo dessa narrativa.

Parar para ouvir o caído na es-trada, cuidar com os recursos ma-teriais de que dispunha (óleo e vi-nho), levá-lo até a hospedaria e in-teressar-se pelo seu estado até oseu retorno – acompanhamento –constituem diretrizes seguras paraa assistência ao carente num senti-do cristão.

A parábola nos dá conta doatendimento ao homem em sentidointegral: tanto do corpo como doespírito, bem como no aspecto darelação assistido-voluntário. Dentrodessa perspectiva, o ser não podetornar-se inteiro somente através deuma relação consigo mesmo, masprincipalmente por meio de umarelação com o outro. E este outropode ser tão limitado e condiciona-do quanto ele, mas, no existir jun-tos, o ilimitado e o incondicionadosão experienciados. A espiritua-lidade é relacional.

1.“Mas um samaritano queviajava, chegando ao lugaronde jazia aquele homem e,tendo-o visto, foi tocado de

compaixão. Aproximou-sedele, deitou-lhe óleo e vinhonas feridas e as pensou...”

Em trabalhos assistenciais, oestar com o outro se refere à esfe-ra da qual todos participamos quan-do estamos envolvidos e verdadei-ramente interessados em outra pes-soa. Incluir o outro nesta relação étranscender o sentido de identida-de que normalmente conhecemos.“O que me faz humano é ser nomundo com os outros” - asseveraMartin Heidegger (5). Incluir sig-nifica confirmar o outro, quando apessoa se coloca no lugar dele, ima-gina e passa por aquilo que eleexperencia. Somente conscientizan-do-nos de como somos com outraspessoas e como elas são conoscoé que nos tornamos verdadeiramen-te nós mesmos e nos conhecemos.

Foi Martin Buber, no século XX,o principal expositor da filosofia dointer-humano – a filosofia dialógica.Além de filósofo, educador ehumanista, Buber sentiu o colapsodo relacionamento na civilizaçãomoderna, o que provoca um distan-ciamento maior entre as pessoas.O termo “dialógico” não se referea um “discurso”, como tal, mas aofato de que a existência humana,em seu nível mais fundamental, éinerentemente relacional. É difícilpara as pessoas, no mundo moder-no, aceitarem que “a individualida-de” é somente um dos pólos de umarelação bipolar.

Para Buber, o significado dointer-humano “... não será encon-trado em qualquer um dos dois par-ceiros, nem nos dois juntos, massomente no diálogo entre eles, noentre que é vivido por ambos” (2).

Metodologia e terapêutica espíritasnos trabalhos assistenciais

Elaine Curti Ramazzini*

* Psicólogae Dirigente Espírita

No mundo moderno não seguimos o exemplo do bom samaritano e permanecemosdistantes de uma relação genuínamente fraterna com o nosso próximo em necessidade.

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Sua realidade é maior que cada umdos dois indivíduos. Ambos os as-pectos são parte de uma esferamais ampla – o inter-humano. Tan-to o individual quanto à relação es-tão contidos na esfera do entre.

O dialógico que acontece naesfera do entre é marcado por duaspolaridades, o EU-TU e o EU-ISSO. Ambas são um reflexo dasduas atitudes primárias que o serhumano pode assumir ao se relaci-onar com os outros e com o mundoem geral.

A relação EU-TU é uma atitu-de de genuíno interesse na pessoacom quem estamos verdadeiramen-te interagindo como pessoa. Issosignifica que valorizamos suaalteridade. Alteridade significa oreconhecimento da singularidade ea nítida separação do outro em re-lação a nós, sem que fique esque-cida nossa relação e nossa huma-nidade comum subjacente. A pes-soa é um fim em si mesma e nãoum meio para atingir um fim. Re-conhecemos que somos uma partedessa pessoa. A atitude com queme aproximo do outro é, também,atitude com que me aproximo demim mesmo. Se, valorizo o outro,isso reflete minha própria autovalo-rização. É só no contato pelo en-contro EU-TU que a unicidade decada pessoa se desenvolve.

Em contraste, a relação EU-ISSO ocorre quando a outra pes-soa é, essencialmente, um “objeto”para nós – utilizado, primariamen-te, como meio para um fim. A ati-tude EU-ISSO é um aspecto ne-cessário na vida humana e não é aexistência da atitude EU-ISSO queestá “errada”. Mas sim, a prepon-derância esmagadora com que semanifesta na moderna sociedade emesmo nos meios espíritas. Vemosno assistido o “objeto” de nossasrealizações no campo da assistên-cia social, deixando de lado o en-contro genuíno que deve haver en-tre nós e o assistido. (“Minha casadistribuiu este mês mais de mil pra-

tos de sopa...”, dizem alguns.) Apostura EU-ISSO torna-se, então,a orientação primordial em relaçãoaos reais objetivos que devem sub-sistir numa assistência espírita, quaissejam, os de renovação e educa-ção do ser humano.

Assim sendo, o diálogo genuínosomente pode emergir se duas pes-soas estiverem disponíveis para iralém da atitude EU-ISSO e valori-zarem, aceitarem e apreciarem ver-dadeiramente a alteridade da outrapessoa. “Cada Tu único é um vis-lumbre em direção ao Tu eterno: pormeio de cada Tu único o mundoprimordial busca o Tu eterno.”(2)Em notas à questão 617-a, de OLivro dos Espíritos, explicando asLeis Morais, Allan Kardec discor-re de maneira insofismável sobreessa condição básica de existir comoutro para que se possa, realmen-te, ser com Deus (3).

Na lição da parábola em estu-do, Jesus exorta-nos para a neces-sidade de estar com o outro eestugar o passo para ouvi-lo, a fimde sermos com ele no entre

relacional, fazendo com que sem-pre floresça e paire entre nós am-bos o “sentimento de companhei-rismo” nessa jornada de busca doser eterno que a todos nos irmananum processo de evolução indivi-dual e coletivo.

2.“... depois, pondo-o no seucavalo, o levou a uma hos-pedaria e cuidou dele. Nodia seguinte, tirou doisdenários e os deu ao hospe-deiro, dizendo: “Trata mui-to bem deste homem e tudoo que despenderes a mais,eu te pagarei quando re-gressar...”

O verbo utilizado por Jesuse que identifica a ação a servivenciada com o necessitadofoi o cuidar.

Refletindo sobre o serviçoassistencial em moldes espíritas,constatamos que cuidar é maisque um ato; é uma atitude. Abran-ge, portanto, mais que um momen-to de atenção, de zelo e de des-

A relação EU-TU é uma atitude deinteresse na pessoa com quem estamos

interagindo, onde ela não é um objeto, ummeio para um fim.

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REFERÊNCIASBIBLIOGRÁFICAS

(1) BOFF,L. Saber cuidar – ética dohumano – compaixão pela terra.Petrópolis, ED. Vozes, 1999.

(2) BUBER, M. Eu e Tu. S.Paulo,Editora Moraes, 1974.

(3) KARDEC, A. O Livro dos Espí-ritos 35ª.. ed. S.Paulo, LAKE, 1977

(4) KARDEC A . O Evangelho se-gundo o Espiritismo. 51ª ed., Rio deJaneiro, FEB – Federação EspíritaBrasileira – Depto. Editorial, 1960.

(5) HEIDEGGER, M. Ser e Tempo.Petrópolis, Ed. Vozes, 1989.

velo. “Representa uma atitude deocupação, preocupação, de res-ponsabilidade e de envolvimentoafetivo com o outro.”(1)

Do ponto de vista existencial, ocuidado se acha a priori, antes detoda atitude e situação do ser hu-mano, o que sempre significa dizerque ele se acha em toda atitude esituação de fato. O cuidado existeno ser humano, mesmo antes de eleexecutar algo. Sua ação no mundose caracteriza sempre de cuidado.Daí porque se considera o cuidadocomo a maneira-de-ser primordiale essencial do ser humano. É comoo ser se identifica, se dá a conhe-cer e é-no-mundo-com-outros, “pre-ocupando-se com as pessoas, de-dicando-se àquilo que lhe represen-ta importância e valor e dispondo-se a sofrer e a alegrar-se com quemse sente unido e ama...”(1)

O ser humano é um ser de cui-dado e é no cuidado que identifica-mos a essência do homem. Ora, odescuido e o descaso pela dimen-

são espiritual do se humanodescaracterizam a própria essênciado homem e tem-se observado umabandono da reverência para cui-dar da vida e de sua fragilidade...(1).

A dimensão dialógica do ser hu-mano confirma a dimensão do cui-dado. O cuidado somente aparecequando a existência do outro é pri-mordial para mim. Só então passoa dedicar-me a ele; conscientizo-me quanto à necessidade de parti-cipar de sua vida, de suas dores, desuas aquisições. Essa é a atitudepreconizada pelo cuidado: a manei-ra de ser mediante a qual a criatu-ra sai de si para ser com o outro,com desvelo e solicitude. É ummodo de ser, é a forma como a pes-soa se estrutura e se realiza nomundo com os outros. Nessa coe-xistência a criatura vai construindoo seu próprio self, a sua identidadee a sua autoconsciência.

Caminhando pari passu com anoção de cuidado, surge o equilí-

brio entre o modo-de-ser do traba-lho exclusivamente trabalho e omodo-de-ser do cuidado, aqui en-tendido como motivação, interesse,preocupação e amor. O cuidado,assim se completa pelo trabalho,que lhe confere uma nuance dife-rente. Pelo cuidado não vemos anatureza e tudo o que nela existecomo objetos (EU-ISSO), mas arelação genuína EU-TU, pois ex-perimentamos o outro em toda a suaplenitude e potencialidade.

Cuidar do outro é preocupar-secom o seu bem-estar, acompanhan-do-o, de início e por algum tempo,para que, depois, ele busque condi-ções de se autoapoiar. Tal o aspec-to promocional do trabalho de as-sistência ao carente sócio-econo-micamente considerado: fazê-lopartícipe de sua própria evolução,construindo-se a si mesmo e ele-vando-se espiritualmente. Os Espí-ritos Maiores alertam-nos: “Nãopode a alma elevar-se às altas re-giões espirituais, senão pelodevotamento ao próximo; somentenos arroubos da caridade encontraela ventura e consolação...”(4) Estaconstitui a verdadeira praxis espí-rita da atividade social transfor-madora do ser integral, uma vez quecorresponde ao real conhecimentoe vivência da verdade que nos farárealmente livres.

Cuidar é mais que um ato.É uma atitude de ocupação, preocupação,responsabilidade e envolvimento afetivo

com o outro.

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O programa de assistênciaaos necessitados sociais detodos os tempos é apresen-

tado por Jesus na narrativa evan-gélica O Grande Julgamento, nosseguintes termos:

“...Vinde benditos de meuPai, tomai posse do reino quevos foi preparado desde oprincípio do mundo; - por-quanto, tive fome e me destesde comer; tive sede e me des-tes de beber; careci de teto eme hospedastes; - estive nu eme vestistes; achei-me doen-te e me visitastes; estive pre-so e me fostes ver. Então, res-ponder-lhe-ão os justos: Se-nhor, quando foi que te vimoscom fome e te demos de co-mer, ou com sede e te demosde beber?- Quando foi quete vimos sem teto e te hospe-damos; ou despido e te vesti-mos? - E quando foi que tesoubemos doente ou preso eformos visitar-te? - O Rei lhesresponderá: Em verdade vosdigo, todas as vezes que issofizeste, a um destes maispequeninos dos meus irmãos,foi a mim mesmo que ofizestes...” “... Todas as ve-zes que faltastes com a assis-tência a um destes mais pe-quenos, deixastes de tê-lapara comigo mesmo...”(Mateus, 25:31-46).

Por encerrar as diretrizes dopensamento espírita, esse progra-ma constitui a base da Assistênciae Promoção Social Espírita, confor-me consta no capítulo IX do opús-culo Orientação ao Centro Espíri-ta, 4ª ed. FEB, 1996.

Quando se examina a pas-sagem evangélica em referência,

uma pergunta se impõe: Em que sefundamentou o Julgamento? Comcerteza, não foi em questões deordem material ou religiosa. O ve-redicto do rei se baseou tão-somen-te na prestação da assistência.Note-se, entretanto, que Jesus nãodiz, simplesmente: sois benditosporque ajudastes. Seria muito im-pessoal, não realçaria o envolvi-mento afetivo que deve existir en-tre as criaturas. Prefere situar o en-sino em torno das necessidades

humanas, e, para dar maior forçaao ensinamento, se coloca na situ-ação do carente de assistência, di-zendo: “tive fome”, “tive sede”,“careci de teto”, “estive nu”,“achei-me doente”, “estive preso”.Estimula, assim, o sentimento depiedade ou compaixão pelos quesofrem, sentimento esse que é o

O serviço de assistência e promoção social espírita:

José Carlos da Silva Silveira*

Objetivos, características e finalidade educativa

* Diretor do Serviço deAssistência e Promoção Social

Espírita - SAPSE das comissõesregionais do CFN - FEB.

Quando o Evangelho fala de atender a fome, não está tratando só da material, masfundamentalmente das carências espirituais da criatura encarnada.

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17A REENCARNAÇÃO - Nº 423

móvel da prestação da assistência.Ressalte-se, ainda, nesta passa-

gem evangélica, o que se dá emrelação a todos os ensinos de Je-sus: a possibilidade de ver atravésda letra e perceber a amplitude damensagem aí contida. Assim, aqui,a fome, a sede, a carência de tetonão são, na verdade, apenas mate-riais, mas abrangem os reclamosespirituais do necessitado. De igualmodo, a nudez, a doença e a prisãoexprimem também os estados depenúria moral da alma, debilitadapelas próprias imperfeições, ou ca-tiva dos sentimentos inferiores queainda carrega consigo. Todas es-sas situações constituem apelos aocoração, estimulando a prestaçãoda assistência. Os que estavam àdireita do Rei foram tocados interi-ormente e compreenderam o cha-mamento que lhes fora endereça-do. Daí haverem recebido a recom-pensa merecida. Os que estavamà sua esquerda, entretanto, não sen-tiram compaixão pelos necessita-dos, não os ajudaram em suas ca-rências, passando a sofrer as con-seqüências da sua indiferença.

Esse ensinamento traz à discus-são a questão da caridade. O ver-dadeiro sentido da caridade ensina-da por Jesus é revelado pelos Espí-ritos Superiores em O Livro dos Es-píritos, questão 886, in verbis:

Qual o verdadeiro sentido da pa-lavra caridade, como a entendia Je-sus? Benevolência para com todos,indulgência para as imperfeiçõesdos outros, perdão das ofensas.

A caridade, assim, não se res-tringe à esmola - com a qual éfreqüentemente confundida -, masabrangem os sentimentos de bene-volência, de indulgência e de per-dão, sentimentos esses que consti-tuem a base da harmonia entre oshomens. A exortação à caridade seencontra presente na lição contidaem O Grande Julgamento, uma vezque o atendimento às carênciashumanas - tanto materiais, comomorais ou espirituais - reclama ocomprometimento afetivo entre

quem ajuda e quem é ajudado, eesse comprometimento apenas seconcretiza onde há os sentimentosde benevolência, de indulgência ede perdão.

Pode-se dizer, assim, à luz des-ses ensinamentos, que o Serviço deAssistência e Promoção Social Es-pírita se caracteriza, acima de tudo,pela busca da promoção do ser hu-mano, uma vez que procuram ofe-recer-lhe condições para que supe-re a situação de penúria sócio-eco-nômico-moral-espiritual em que seencontra. Para isso, não basta doar-lhe bens materiais - procedimentoque, quando dissociado dos objeti-vos promocionais, evidencia a prá-tica do assistencialismo, que ali-menta e protege tão-somente o cor-po - que morre - e se descuida doEspírito - que viverá sempre. É im-prescindível educá-lo, estimulando-o a descobrir dentro de si os valo-res positivos que todos nós traze-mos, a fim de que ele se torne agen-te da sua própria promoção.

A caridade, profundamente con-siderada, leva ao entendimento danecessidade da educação, sem aqual a benevolência, a indulgênciae o perdão - conteúdos da caridade- se tornam sentimentos superfici-ais porque não ajudam a levantar-se aquele que caiu ante as dificul-dades da existência. Ressalte-se,contudo, que o processo educativoabrange não só aquele que se en-contra em estado de penúria socialmas também o voluntário – o tra-balhador do Serviço de Assistên-cia e Promoção Social Espírita, quenecessita educar-se por esforçoscontinuados no sentido da sua

transformação moral.A educação é, com efeito, um

processo de auto-evangelização,pelo qual nos tornamos, pouco apouco, autênticos homens de bem,pela prática da benevolência, da in-dulgência, e do perdão. Neste con-texto, pode-se mesmo dizer que ocontato direto com as necessidadesmateriais, morais e espirituais dopróximo, expostas de modo osten-sivo — sem nenhuma preocupaçãopela aparência social — por aque-le que, em estado de penúria mate-rial, bate às portas da instituiçãoespírita, desenvolve no trabalhadordo DAPSE o sentimento de com-paixão - ponto básico para avivência da caridade. Por outrolado, ao acolhermos o atendido peloDAPSE com simpatia e respeito,procurando ver nele um irmão emCristo, oferecer-lhes-emos oportu-nidade para que se ligue também anós pelos laços da fraternidade.Assim, à medida que o trabalhadorespírita se esforça por ajudar, emprofundidade, o irmão que se apre-senta social, moral e espiritualmentecarente, ele também cresce, liber-tando-se do egoísmo e tornando-secada vez mais consciente das suasresponsabilidades diante da vida.Para que tudo isso se verifique, to-davia, é necessário criar espaçosde convivência ou interação grupal,que permitam às pessoas se inter-relacionarem, trocar experiências eaprofundarem laços afetivos. Essaa finalidade, eminentementeeducativa, do Serviço de Assistên-cia e Promoção Social Espírita.

Por outro lado, o conhecimentoespírita pode constituir-se em fator

A caridade real necessita ser tambémeducação, sem a qual os sentimentos de

benevolência, indulgência e perdãopermanecem superficiais,

incapazes de levantar os caídos ante asdificuldades da existência.

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18 A REENCARNAÇÃO - Nº 423

decisivo para a promoção do serhumano, uma vez que esclarece arazão do sofrimento e o sentido davida. Daí a necessidade de se apre-sentar a visão espírita da existên-cia, àqueles que, atendidos pelo se-tor assistencial do Centro Espírita,se mostrarem receptivos ao Espiri-tismo. A oportunidade, para isso, seapresenta naturalmente dentro doprocesso de integração e constru-ção de relações vivenciadas nosgrupos de convivência.

É nesses grupos que a DoutrinaEspírita pode ser apresentada, semimposições, como instrumento depromoção do ser. Pode-se mesmodizer que o pensamento espírita é ogrande traço que distingue o Servi-ço de Assistência e Promoção So-cial realizado pelo Movimento Es-pírita e o trabalho assistencial exis-

tente em outros setores da socie-dade, razão por que não pode dei-xar de estar presente como nor-teador das atividades assistenciaisdo Centro Espírita.

Sendo assim — conforme cons-ta no Manual de Apoio para as ati-vidades do Serviço de Assistênciae Promoção Social Espírita, elabo-rado, em conjunto, pela FEB e pe-las Federativas Estaduais —, à vistadas suas características gerais e dasua finalidade educativa, o DAPSEbuscará atingir os seguintes objetivos:

• Atender às famílias incluídas naprogramação assistencial do Cen-tro Espírita, conjugando semprea ajuda material, o socorro espiri-tual e a orientação doutrinária,sem imposições, visando à suapromoção social, “de modo quepossa constituir-se em um dos

meios para a libertação espiritualdo homem, finalidade primordialda Doutrina Espírita”. (OCE,Cap. IX, item 1-a).• Promover o indivíduo e a famí-lia carenciada, no aspecto bio-psico-sócio-espiritual, à luz daDoutrina Espírita, possibilitando-lhes refletir na grandeza daCodificação Kardequiana e cons-cientizando-os quanto às possibi-lidades de mudanças tanto na vidaexterior como na interior.• Proporcionar ao freqüentadordo Centro Espírita “oportunida-de de exercitar o seu aprimora-mento íntimo pela vivência doEvangelho” junto aos indivídu-os e às famílias em situação decarência sócio-econômico-mo-ral-espiritual. (A Adequação aoCentro Espírita para o MelhorAtendimento de Suas Finalida-des – ACE, Considerando 6).Em suma, ao unir os nossos

esforços em torno desses objeti-vos, estaremos cumprindo nãoapenas o programa assistencialapresentado por Jesus, comotambém possibilitando aos neces-sitados sociais a oportunidade deacesso ao conhecimento espírita,fator que poderá ser decisivo paraa sua promoção.

Intervenções junto àsfamílias devem

contemplar tanto osaspectos físicos como

espirituais.

O pensamento doutrináriodeverá integrar as nossas atividades

assistenciais porque é o grandediferencial do Serviço de Assistência

e Promoção Social espírita emrelação aos demais.

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19A REENCARNAÇÃO - Nº 423

Denomina-se visão sistêmica a maneira de pen-sar o sistema, visualizando os fatores internose externos de cada elemento, conectando-o com

o todo. Ela permite o reconhecimento pleno da funçãoe da interação de cada subsistema, assim como dosmacrosistemas complexos dentro dos quais as institui-ções têm de operar.

Os conceitos sistêmicos criam uma maneira de pen-sar, a qual, de um lado, ajuda o dirigente a reconhecer anatureza dos problemas complexos e, por isso, concor-re diretamente para que opere dentro do meio ambien-te. Reconhece a natureza integrada do sistema, inclu-sive o fato de existirem “entradas” e “saídas” e, ainda,que cada sistema sempre fará parte de sistemas maio-res, jamais buscando isolar-se.

Os Sistemas funcionam através dos seguintes elementos:Entrada – São os recursos, materiais e informa-

ções para operação dos sistemas.Saídas -. São os resultados e as finalidades da ope-

ração dos sistemas.Processamento – Fenômeno que produz as mu-

danças, convertendo as entradas em saídas (resulta-dos).

Retroalimentação - É a capacidade do sistema dereajustar sua conduta em função do desempenho ocor-rido. É um mecanismo de monitoramento.

Quando aplicada às organizações, como no caso doscentros espíritas, a visão sistêmica tem ampla condiçãode verificar as conseqüências e os resultados das açõesadministrativas empreendidas para que sejam alcança-dos os objetivos das instituições.

Em nossa apreciação, agora voltada para o sistemaCentro Espírita, é necessário considerar muito bem de-finido, os objetivos da instituição. Estes são, basica-mente, o de esclarecer e o de consolar à luz do Espiri-tismo e do Evangelho de Jesus, bem como, a necessi-dade de se participar ativamente do Movimento Espíri-ta. É primordial, ainda, considerar de forma superior opróprio objetivo da Doutrina Espírita – o de ser um agen-te da imprescindível transformação moral da criaturahumana.

Por outra vertente, ao analisarmos o organogramade uma instituição espírita, deveremos pensar de uma

A visão sistemática do centro espíritaaplicado a assistência social

Nilton Stamm de Andrade*

forma mais abrangente, não considerando os seus di-versos departamentos e setores de trabalho de formaisolada, mas sim observando um conjunto estabelecidoonde as inter-relações irão gerar uma estrutura em rede.

Citamos alguns exemplos de estruturasem REDE no movimento espírita

Destaque para o interrelacionamentodas estruturas em rede

Surge a necessidade da implementação de uma novarede de relações, de caráter interdepartamental, abran-gendo dirigentes, trabalhadores, freqüentadores e as-sistidos, todos elementos do universo das tarefas a se-rem criadas. Compreender a importância fundamentalde serem estabelecidas as interações possíveis dentroda instituição Centro Espírita, definindo estas interaçõescomo sendo “ações dinâmicas entre dirigentes, traba-lhadores, freqüentadores e assistidos visando o proces-so contínuo de participação e diálogo, produzindo-se ne-cessariamente espaços de convivências em todas asinterfaces, amplamente sustentadas por sólidos conhe-cimentos doutrinários”.

Desta forma podemos concluir que a visão sistêmicado Centro Espírita, resumidamente, estabelece:

• A integração de todas as pessoas que convivemna instituição;

• Um sistema aberto consagrado pelo amplo e francorelacionamento com o meio ambiente onde esteja inseridoseja este, a comunidade ou o Movimento Espírita;

* Diretor do Departamento de Pesquisae Estudo – DEPE da FERGS.

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• Uma rede de relações setoriais, onde cada área éuma forma de manifestação do todo;

• Um modelo administrativo compartilhado por to-dos os sócios efetivos;

• Uma gerência democrática e executiva;

A missão do DAPSENos dias atuais, a instituição espírita, no cumprimento

de seus objetivos, deverá prestar serviços de naturezaassistencial e de promoção social, sem prejuízos dasatividades que lhe são prioritárias, ou seja, as de caráterdoutrinário. A assistência social se constitui na PON-TE DE TRANSPOSIÇÃO da DOUTRINA para aVIDA. Além disso, por sua característica especial, oDAPSE se constitui no laboratório ideal para se cons-truir pontes de comunicação com a sociedade(macrosistema), tanto do ponto de vista teórico, comoprático. A assistência e promoção social espírita, pelasinterações que estabelece, oportunizará um trabalho decontato direto com as comunidades carentes no seuambiente familiar, comunitário ou no próprio ambienteda instituição espírita.

O trabalho de assistência e promoção social espíritano Espiritismo tem como objetivo, como asseveraDivaldo. “Promover o homem libertando-o, não dosefeitos da miséria que o leva ao sofrimento, mas desuas causas geradoras”. (1) Assim, a maior ação quese pode realizar é a de ajudar o indivíduo a encontrar asraízes do seu erro, para poder libertar-se dele, enquantonão logra a cometimento de se libertar das causas pas-sadas, aquelas que o levaram a delinqüir, tornando-oum atormentado ou sofredor. Daí, a assistência social,a caridade material, sem a caridade moral da ilumina-ção do beneficiado, serem paliativos cujos efeitos logodesaparecem, porque, não erradicadas as causas, per-manecem-lhes as conseqüências, por isso ao empreen-dermos uma tarefa assistencial devemos ter em mira ailuminação do beneficiado, a fim de que ele não gerenovos fatores desencadeadores de problemas para ofuturo. É a caridade gentil, que lhe alberga a dor, masque também prepara o indivíduo para futuros cometi-mentos reencarnacionistas.

Visão Sistêmica do DAPSEAtentando para as peculiaridades da tarefa do

DAPSE apresentamos, a seguir, itens das atividadesdepartamentais que devem se desenvolver dentro daestrutura de rede do Centro Espírita e do Movimentocomo um todo.

Como um elemento do sistema Centro Espírita, oDAPSE deverá valorizar sobremaneira o inter-relacio-namento de seus trabalhadores através de um diálogofranco e aberto, estabelecendo-se um todo onde a com-preensão do objetivo da tarefa a ser concretizada este-ja muito bem definido e aceita.

O Departamento obedecerá a um cuidadoso plane-jamento, atentando para os aspectos de recursos hu-manos e financeiros, sobretudo quando envolva despe-sas permanentes, como no caso de abrigos, creches,orfanatos e outros, a fim de evitar deficiente atendi-mento, ou mesmo paralisação por falta de recursos. Poroutro lado, o subsistema deverá abrigar um setor detreinamento, pelo qual se irá conduzir o processo deformação de recursos humanos conscientes e qualifi-cados tecnicamente, dentro da concepção do aprimo-ramento contínuo.

Antes de iniciar suas ações o Departamento deverárealizar um diagnóstico das necessidades do público quepretende assistir, levantando dados à respeito do meioambiente (comunidade) onde irá interagir e, em função

A assistência social seconstitui na ponto de

transposição da Doutrinapara a vida.

O objetivo da ação social espírita é a libertação do assistido, nãodos efeitos da miséria, mas das causas geradoras..

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dos resultados obtidos e sua compreensão, estabelece-rá um Programa de Trabalho, fixando metas tendeeis, acurto, médio e longo prazo.

Já na prática das ações efetivas de assistência epromoção social espírita, o Departamento deveráinteragir na comunidade socialmente necessitada den-tro dos princípios da Doutrina Espírita, repudiando asações comprovadamente assistencialistas e, emcontrapartida, aplicando os conceitos da verdadeira ca-ridade, segundo a entende o Mestre Jesus.

Deverá o Departamento atuar dentro das normasestabelecidas pelo macrosistema Movimento Espírita,fundamentadas no opúsculo “Orientação ao CentroEspírita” (Capítulo IX) e no “Manual de Apoio para asAtividades do Serviço de Assistência e Promoção So-cial Espírita”, ambos editados pelo Conselho Federati-vo Nacional da Federação Espírita Brasileira. De igualforma, deverá nortear suas ações pelas diretrizes reco-mendadas pelo macrosistema Federativa Estadual aoqual esteja vinculado.

Ampliando nossas considerações e tendo agora comofoco de nossas assertivas o Centro Espírita comprome-tido com a denominada “questão social”, labutando paraaliviar a dor e as dificuldades das criaturas socialmentenecessidades dentro de uma proposta definitivamenteeducadora, sugere-se que este deva procurar sua inte-gração em programas e sistemas mais amplos encon-trados na diversidade do macrosistema, de modo a de-senvolver uma ação comum, capaz de, a seu nível,melhor responder aos problemas sociais.

Por exemplo, os centros espíritas situados na mes-ma comunidade, que realizam trabalhos assistenciaissemelhantes, devem avaliar a possibilidade de os mes-mos serem realizados em cooperação mútua – ativida-de em rede. Tal posicionamento propiciará uma somade experiências e esforços, atendimento efetivo da po-pulação carente, o crescimento do trabalho em grupo,melhor condução dos custos operacionais, a união dosespíritas e a vivência do ideal de Unificação.

Tal visão ajudará a afastar definitivamente a nefas-ta posição tomada por inúmeros centros espíritas, a detotal “isolacionismo”, atitude profundamente contradi-tória com a essência cristã da Doutrina Espírita, comsua vocação social e pedagógica.

Outro exemplo seria a benéfica participação dosespíritas em Conselhos Municipais de Assistência So-cial, Conselhos Tutelares, Secretarias de AssistênciaSocial, etc., dando sua participação e, principalmente,sua visão sustentada pelos princípios doutrinários pro-postos pelo Espiritismo, estabelecendo, desta forma ecada vez mais, eficientes canais de comunicação coma sociedade.

Assim, o Centro Espírita deverá se conscientizar deque já não mais vivemos no tempo em que “assistir”era fazer pelo outro, criando dependência (assisten-cialismo), mas que as atuais técnicas de assistência so-cial, especialmente com a contribuição do Espiritismo,assinalam como vetor para as ações de amparo ao pró-ximo, a promoção social – a promoção integral do ho-mem. Será por meio da educação moral que se irá sen-sibilizar o indivíduo para que ele desperte para as suasresponsabilidades e tome consciência de si mesmo e davida da qual é o beneficiário, passando a conduzir, eadministrar sua vida e a do grupo familiar no qual esteja

Os centros espíritas devemevitar o isolacionismo,

integrando-se e cooperandonas ações comunitárias enas atividades de outras

instituições espíritas.

"Assistir" não é fazer pelo outro, criando dependência, mas levá-lo a autonomamente manter a sua família, pelo trabalho.

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ver-se-á entender a necessidade de serem evitadasimprovisações, reconhecendo a importância do plane-jamento, avaliação e tomada de ações corretivas.Configura-se assim, a ocorrência da retroalimentação,um procedimento sistêmico que fatalmente gerarámudanças, que geram naturalmente resistências emdiversos graus, dando origem a toda sorte de confli-tos! Por isso, as práticas do diálogo e da vivênciasão virtudes a serem adquiridas pelas equipes doDAPSE na Casa Espírita.

Concluímos apresentando um conjunto de virtudes aserem trabalhadas pela equipe departamental doDAPSE em relação às regras da visão sistêmica e dequalidade, considerando, ainda, as características prin-cipais deste mesmo atendimento.

Nas dificuldades da hora presente, quando a miséria de toda ordem parece expandir-se, caberá ao CentroEspírita preparar-se para, de forma efetiva, ser “grande”, adequando-se para atender o carente nas suasnecessidades físicas e materiais certamente, mas, de forma imprescindível, atendê-lo nas suas necessidadesespirituais de autodescobrimento e ganho de consciência.

inserido. Nesta nova concepção, ele e todos os seusfamiliares serão incluídos nos programas assistenciaisda Casa Espírita contribuindo na reprogramação de suatrajetória evolutiva.

No macrosistema do Movimento Espírita, o DAPSEatuando em rede, poderá influir de forma decisiva nosseguimentos sociais, estimulando a criação de creches,orfanatos, asilos, cursos semiprofissionalizantes, etc. De-verá atuar de forma preventiva, convocando suas ins-tituições adesas para, sistematicamente, conscientizara criatura da importância do amor a si mesmo, ven-cendo a ignorância, o egoísmo e os vícios, afastan-do-se das culpas através do auto-perdão, divino ins-trumento de paz interior.

Nas atividades do DAPSE no Centro Espírita, de-

REGRAS DE ATENDIMENTO CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS VALORES A SEREM DESENOLVIDOS

ATENDIMENTO AO ASSISTIDO Priorização, colocando o assistido Consideração, humildade e transparênciaem primeiro lugar na tarefa. Amor e Caridade.

GERÊNCIA PARTICIPATIVA Abrir espaço para novas idéias dos Cooperação, flexibilidade, respeitodirigentes e da equipe, buscando-se a e abertura.convergência de valores e idéias

DESENVOLVIMENTO DE Colocar a equipe de trabalho como o Sentimento de humanidade, colaboraçãoRECURSOS HUMANOS bem maior do subsistema e do sistema. e espírito de compartilhamento

CONSTÂNCIA DE PROPÓSITOS Repetição e reforço na implementação Determinação, persistência, confiança,dos princípios de qualidade. Atitudes coragem e paciência.dignas e cobranças sem caprichos.

APERFEIÇOAMENTO CONTÍNUO Acompanhamento preciso das mudançasPrecisão, ousadia, disciplina,necessárias e das exigências de uma visão, criatividade, entusiasmo.sociedade e de pessoas em processode transformação.

DELEGAÇÃO Transmissão de tarefas e de responsa- Percepção do verdadeiro valor dasbilidades às pessoas certas pessoas, comunicação clara e recíproca.

GARANTIA DE QUALIDADE Sistematização do processo que visem Precisão, disciplina, transparência,dar consistência ao processo de assistir honestidade, planejamento,

retroalimentação.

GERÊNCIA DE PROCESSOS Integração entre a equipe departamen- União, cooperação, espírito de equipe,tal e os assistidos capacidade de síntese, solidariedade

NÃO ACEITAÇÃO DO ERRO Manutenção permanente da Precisão, disciplina, determinação, e zelometa zero erro

DISSEMINAÇÃO DA Transparência e freqüência no fluxo de Clareza de idéias, tato, jogo de cintura,INFORMAÇÃO informações sobre os planos de mudançasrespeito, diálogo.

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A Lei Orgânica de Assistên-cia Social – LOAS, passaa partir de dezembro de

1993, a constituir-se no estatuto querege as relações entre o Estado e aSociedade, para consolidação do di-reito social de assistência, dentro docontexto da seguridade social.

Essa lei federal de nº. 8.742, queregulamenta os artigos 203 e 204da constituição federal, bem comoo decreto nº. 1.605, de 25 de agos-to de 1995, que regulamenta o Fun-do Nacional de Assistência Sociale a Lei nº. 9.720, de 30 de novem-bro de 1998, que dá nova redaçãoa dispositivos da Lei nº. 8.742, quedispõe sobre a organização da As-sistência Social, e dá outras provi-dências, seguem as diretrizes pre-sentes em outros artigos constitu-

cionais, quais sejam: a descentra-lização político-administrativa e aparticipação da população na for-mulação e no controle das políticas.

A LOAS estabelece novas es-truturas de gestão, que são os con-selhos e fundos, definindo tambémas competências das três esferasde governo, tanto na gestão comono financiamento.

As ações de assistência social,organizadas nas três esferas de go-verno, realizam-se de forma articu-lada, cabendo a coordenação e asnormas gerais à esfera federal e acoordenação e execução dos be-nefícios, serviços, programas e pro-jetos, em suas respectivas esferase dimensões aos Estados, ao Dis-trito Federal e aos Municípios.

Desta forma, a Assistência So-

cial deve ser prestada através dosMunicípios, seguindo a política dedescentralização consubstanciadana Constituição Federal.

A descentralização da assistên-cia social ocorre a partir da decisãodo governo municipal de organizar oseu Sistema de Assistência Social, emcumprimento aos requisitos e às nor-mas relativas ao modelo de gestão.Consequentemente assume a respon-sabilidade de formalização e gestãoda política em seu âmbito.

O sistema organizado é expressopela rede prestadora de serviçosassistenciais, voltadas para as neces-sidades do conjunto da população.

Neste contexto, estão inseridas asinstituições espíritas de assistênciasocial que se fazem ouvir através dosforos da sociedade civil organizada.

A legislação de assistência sociale as instituições assistenciais

Fernando Lopes Alves*

* FERNANDO LOPES ALVESBacharel em Ciências Jurídicas e

Sociais. 1º. Vice-presidente doInstituto Espírita Amigo Germano.Membro do Conselho Estadual de

Assistência Social. Membro doConselho Consultivo da FADERS.

As diretrizes do texto constitucionalpara a assistência social: descentralizaçãoadministrativa e a participação popular.

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O Município que está em ges-tão municipal recebe recursos fe-derais do Fundo Nacional de As-sistência Social e os repassa paraas entidades através do FundoMunicipal de Assistência Social,sendo considerado os projetos apre-sentados pelas instituições.

As instituições de assistência so-cial somente podem ter acesso aosrecursos dos fundos através de pro-jetos encaminhados ao ConselhoMunicipal de Educação ou, no caso denão existir esse Conselho no Município,ao órgão governamental responsávelpela política de assistência social.

A democratização da gestão fi-nanceira se materializa na institui-ção e funcionamento dos Fundos de

Os fundos de assistência socialmaterializam na área financeira o novo

espírito de democratização e descentralizaçãoproposto pela Constituição.

Assistência Social, nos três níveisde governo, de acordo com a legis-lação específica.

O Fundo de Assistência Socialé uma unidade orçamentária queobjetiva atender ao disposto no pa-rágrafo único do artigo 30 daLOAS, introduzido pela Lei 9.720/98, que cria condição para a transfe-rência de recursos do Fundo Nacio-nal de Assistência Social aos Esta-dos, Distrito Federal e Municípios.

Ao ser transformado em Uni-dade Orçamentária, o Fundo de As-sistência Social caracteriza um pro-cedimento que garante a descen-tralização da execução orçamentá-ria; permite que seja alcançadamaior visibilidade no gerenciamento

dos recursos e possibilita a agili-zação da implementação rápida eeficaz das atividades e projetos naárea de assistência social.

Assim, todas as ações de assis-tência social, sejam elas financiadascom recursos originários de receitaspróprias, ou recebidos por transfe-rência da União, pelo Fundo Estadu-al de Assistência Social – FEAS; eda União e do Estado, quando se tra-tar de Fundo Municipal de Assistên-cia Social – FMAS, deverão estarincluídos na Unidade Orçamentáriado Fundo de Assistência Social.

Os recursos que compõem oFundo deverão ser depositados emcontas especiais, sob a denominaçãode Fundo Estadual ou Municipal deAssistência Social, em instituiçõesfinanceiras do governo federal.

O Fundo fortalece a implemen-tação da Política de AssistênciaSocial; contribui para maior visibili-dade da aplicação de todos os re-cursos destinados às ações de as-sistência social; produz informaçõesqualificadas para o processo de mo-nitoramento e avaliação; para o exer-cício do controle social; e, ajustes doSistema Descentralizado e Partici-pativo da Assistência Social.

As entidades não-governamen-tais de assistência social podemparticipar da rede de AssistênciaSocial que é a interconexão de en-tidades governamentais e não-go-vernamentais prestadoras de ser-viços assistenciais que são ofereci-dos aos destinatários da Política Na-cional de Assistência Social – PNAS.

Para participar da Rede é ne-cessário que a entidade esteja le-galmente constituída, apresentandocapacidade jurídica, administrativae técnica; tenha identificação com aárea de atuação e esteja inscrita noConselho Municipal de Assistência.

Além disso, para poder receberrecursos dos Fundos de Assistên-cia Social, a entidade deve ter re-gistro ou certificado de filantropiado Conselho Nacional de Assistên-cia Social – CNAS.

O Gestor municipal define as en-

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tidades que integrarão a rede local,considerando os aspectos legais daLOAS e a avaliação da qualidadedos serviços prestados.

Os municípios, recebidos os re-cursos dos fundos nacional e esta-dual, têm autonomia para a aplica-ção nas ações prioritárias definidasnos planos municipais de assistên-cia social, aprovados pelos conse-lhos municipais.

Desta forma, as entidades deassistência social devem apresen-tar seus projetos ao Conselho Mu-nicipal de seu Município a fim deque sejam analisados, e posterior-mente incluídos no orçamento anu-al de assistência social.

No que respeita ao atendimentoàs crianças na faixa etária de 0 a 6anos, a situação fica em outro con-texto, já que as instituições que atu-am nessa área devem respeitar a le-gislação específica, no caso a Lei deDiretrizes e Bases da Educação Naci-onal – LDBEN e legislação esparsa.

De acordo com a lei supra, re-ferida as instituições que atendemaqueles menores fazem parte doSistema Nacional de Educação emais especificamente, atuam naeducação básica, formada pela edu-cação infantil, ensino fundamentale ensino médio no caso, atendem aeducação infantil.

Em decorrência da exigêncialegal e tendo em vista que cabe aosmunicípios e aos estados, quandoaqueles não têm seus sistemas de en-sino, normatizar e fiscalizar as insti-tuições de educação infantil, essasdevem adaptar-se às normas ema-nadas dos Conselhos Municipais deEducação ou do Conselho Estaduaisde Educação, quando for o caso.

Recapitulando, quando o muni-cípio não tem seu sistema de edu-cação, as instituições neles localiza-das devem seguir as normas emana-das do Conselho Estadual de Educa-ção, cujo diploma legal básico é a Re-solução nº. 246, de 02 de junho de1999, que estabelece as normas paraa oferta de Educação Infantil, no Sis-tema Estadual de Ensino.

Quando o município possui seusistema de ensino, as entidades de-vem seguir as normas emanadas dorespectivo Conselho Municipal deEducação, como é o caso de PortoAlegre, que editou a resolução nº.003, de 25 de janeiro de 2001.

A resolução do Conselho Esta-dual de Educação está em vigên-cia desde 31 de dezembro de 2001e a dos municípios de acordo comsuas resoluções.

Este é o quadro que estamosvivenciando, com as instituiçõesenfrentando dificuldades para po-derem cumprir com as exigências

As entidades devem participardos foros de discussão para trocar

experiências e participar na elaboração daspolíticas do setor.

legais, bem como na obtenção derecursos para seus programas deatendimento assistenciais.

Entendemos que as entidadesdevem participar dos foros das ins-tituições não-governamentais de as-sistência social, instância da socie-dade civil organizada nos municípi-os, local de discussões e de trocade experiências daqueles que temo ideal de atender aos assistidos,bem como estabelecer a posição dasociedade civil no que respeita aoestabelecimento das políticas de as-sistência social.

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Educação X InstruçãoCom essa sentença

em epígrafe, tãomarcante e peremptória,adverte-nos sem circun-lóquios, o Bispo deCartago SÃO CIPRIA-NO (210-250 a.D), már-tir do Cristianismo.

E assim se exprimiano latim da época:“Extra educationem”.

“Nulla Salus”Observe-se a firmeza

da convicção tão direta.Retilínea. Sem dubieda-des ou tergiversações ounuanças lenientes.

Aproveitemos essa li-ção tão inédita, irradiadado remoto do III séculoda Era Cristã, e já com18 séculos de idade. Eaté hoje tão olvidada e inaproveitadaem sua profundidade.

Aproveitemo-la nós, então.Erradicando os subterfúgios pro-crastinadores, amansadores de nos-sa consciência culposa pelo desca-so para com a educação. Os siste-mas e instituições escolares têmdado preferência exclusiva aos su-cedâneos da educação mais sim-ples, e que não a sucedem; aossubstitutos baratos que não a subs-tituem, aos suplentes sem eficácia,que não suprem por ela; por simila-res enganosos, que só enganam anós mesmos.

Na senda milenar tortuosa e ín-greme no tentame da formação hu-mana, encontraremos essas simu-lações da educação propriamentedita, como sejam, as instruções in-telectuais, o treinamento corporal,o preparo profissional, o adestra-mento, a doutrinação, a catequesee até o amestramento. Decalquesesses que se não destinam à edu-

cação, quando exclusivistas emonopolistas, como vêm sendo ad-ministrados.

Mas que prevalecem, conquis-tam preferências, relegando ao se-gundo plano a promoção do aper-feiçoamento direto do espírito, mis-são privativa da educação, ou seja,a educação da alma. E nessa ex-clusão ocupam a totalidade dos tem-pos letivos das escolas, colégios,faculdades, universidades, acade-mias, seminários e templos.

E mesmo os impropriamentetitulados Ministérios e Secretari-as de educação, não se importamcom a educação, frustrando es-sas denominações enganosas.Formam o médico, o advogado, oengenheiro, o professor, o econo-mista, profissionais, técnicos; masnão formam o Homem-médico, oHomem-advogado, o Homem-engenheiro, o Homem-professor,etc. Não desenvolvem neles a

alma do profissional.Também não há formação hu-

mana e espiritual nos ensinos fun-damentais e médios, considerados,e rebaixados que são à mera pre-paração cultural básica dos futurosprofissionais universitários, ou damão-de-obra especializada.

Não estamos incidindo no mes-mo erro do exclusivismo da educa-ção e conseqüente marginalizaçãoda instrução e da profissionaliza-ção. O que estamos procurando eidealizando é a simetria entre ins-trução e educação. Não imediata.Porém, para inaugurá-la e, depois,em progressão paulatina, até atin-gir esse equilíbrio. Cuja possibilida-de nos é acenada pela própria Dou-trina Espírita nos textos de (LE-Q.780b) e (LE-Q192), (OP-AAristrocacia Intelecto-Moral).

Fora da educação não há salvaçãoNey Lobo*

* Escritor Espírita

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O sentido da SalvaçãoVoltemos à sentença inicial: “Fora

da educação não há salvação”. Cul-mina ela na palavra salvação.

Nós, espíritas, não somos muitochegados a esse termo, embora ousemos algumas raras vezes. Po-rém, com interpretação própria se-gundo a Doutrina.

Para algumas confissões religi-osas, a idéia de salvação está maisligada ao conceito léxico e semân-tico de “livrar alguém de um gran-de e iminente perigo. Na visão po-pular, esse perigo seria o do infer-no (as penas eternas) ao qual estari-am condenadas as almas pecadoras.A salvação consistiria no sacrifíciodo CRISTO, que, com o seu sangueredimiria toda a humanidade, resti-tuindo-a à comunhão com Deus.

Atualmente, essas idéias de sal-vação tendem a ser associadas nãomais negativamente ao inferno, sim,positivamente, à conquista da bem-aventurança final no “céu”. Masessa “salvação” ainda está condi-

cionada à doutrina da graça, comoum Dom sobrenatural de Deus aoshomens, devido aos méritos de JE-SUS. Compreendido esse Domcomo uma dádiva, oferta gratuita,não devida, ou não merecida, peloshomens, portanto.

A Doutrina Espírita não se es-quivou de emitir o seu conceito dagraça, conforme o seguinte texto:

- (EE – Resumo da doutrinade Sócrates e Platão, XVII):

“A graça é a força que Deus fa-culta ao homem de boa vontade parase expungir do mal e praticar o bem”.

A nós nos parece que podemosdesdobrar esse conceito em:

1º A Salvação é delineada porum caminho, um árduo roteiro deevolução espiritual a ser palmilhadopelos Espíritos pelo seu próprio es-forço de aprimoramento progressi-vo da sua espiritualidade. Caminhoesse balizado e iluminado pelo Evan-gelho de JESUS DE NAZARÉ.

2º A Graça é a força espiritual,

a boa vontade de melhorarmos (por-tanto não gratuita). Força essa queprecisamos para percorrer aquelecaminho árduo.

3º Salvar-se é percorrer esseroteiro de progresso espiritual, semdesfalecimento, mas antes com féinabalável e invencível esperança.

4º Salvador é aquele que mos-trou o caminho da salvação, ou seja,JESUS, quando revelou o seu Evan-gelho que iluminou o roteiro corre-to das almas.

5º Soteriologia é o estudo ou tra-tado da salvação, e, entre outros es-tudos, a Soteriologia Espírita está in-cluída na Doutrina correspondente.

Propostas de SalvaçãoPodemos alinhar quatro propos-

tas de salvação analisadas no Cap.XV de “O Evangelho Segundo oEspiritismo.1 Aplicaremos a elas umesquema comum de apresentaçãodemarcado por cinco balizas:

(1). Apresentação(2). Significado(3). Resultados(4). Avaliação(5). Sentença

1º proposta - “Fora da igrejanão há salvação”.

(1). Apresentação. É o lemaadotado pela Igreja Católica, e as-sim expresso em latim: “ExtraEcclesiam Nulla Salus”.

(2). Significado. Exclusão dasalvação de todos os que não seabrigam no aprisco dos ensina-mentos da Igreja, que não profes-sam os seus dogmas e não cumpremos seus preceitos, sacramentos e ori-entações oficiais e canônicas.

(3). Resultados. (da incorpo-ração dessa proposta):

a. “Longe de unir os filhos deDeus, separa-os”;

b. “Em vez de incitá-los aosamor de seus irmãos, alimenta e

(1) Aproveitando e transcrevendoos seus textos devidamente selecio-

nados e aspados.Perseguição da Igreja Católica a judeus. Pintura ligeira de sépia de Francisco Goya, c.1808-19, com a inscri "Por senherem de linhagem judaica".

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sanciona a irritação entre sectáriosdos diferentes cultos”;

c. Faz com que os excluídos “seconsiderem malditos na eternidade”;

d. “Desprezando a grande leide igualdade perante o túmulo,afasta uns dos outros, até no cam-po do repouso eterno”;

e. Os homens “anatematizam-se e perseguem-se reciprocamen-te, vivem como inimigos, o pai nãopede pelo filho, nem o filho pelo pai,nem o amigo pelo amigo, desde quemutuamente se consideram conde-nados sem remissão”.

(4). Avaliação. “É um dogmaessencialmente contrário aosensinamentos do CRISTO e à leievangélica”.

(5). Sentença. O Espiritismo con-dena frontalmente esta proposta, por-que “não se estriba na fé fundamen-tal em Deus e na imortalidade daalma, fé comum a todos as religiões”.

2º proposta - “Fora da verdadenão há salvação”.

(1). Apresentação. Esta é aproposta “comum a todos as seitasque existem, pretendendo ter o pri-vilégio da verdade”.

(2). Significado. Quando as re-ligiões e seitas apregoam-se comoverdadeiras, isso significa que pre-tendem estar conforme a vontade,a revelação e os ensinamentos deDeus. Qualquer doutrina religiosaque difira delas estará fora da ver-dade e da salvação

(3). Resultados. (da incorpo-ração dessa proposta):

a. Exclui da salvação todas asseitas que não estejam conformeàquela que se proclama ter a ex-clusividade da verdade.

(4). Avaliação.a. “(Nenhum homem ou seita)

se pode vangloriar de possuir a ver-dade, quando o âmbito dos conheci-mentos incessantemente se alarga etodos os dias se retificam as idéias”;

b. “Nenhuma seita existe que nãopretenda ter o privilégio da verdade”;

c. “A verdade absoluta é patri-

mônio unicamente de Espíritos dacategoria mais elevada”;

d. “A humanidade terrena nãopode pretender possuir (a verdadeabsoluta), porque não lhe é dadosaber tudo”.

e. “(A humanidade) somente podeaspirar a uma verdade relativa e pro-porcionada ao seu adiantamento”;

f. “Se Deus houvera feito da pos-se da verdade absoluta condição ex-pressa da felicidade teria proferidouma sentença de proscrição geral”;

g. Equivale ao “Fora da Igreja nãohá salvação” e seria igualmente exclu-sivista;

h. “Esta máxima separa em lu-gar de unir e perpetuaria os anta-gonismos”.

(5). Sentença. “Como não pre-tende ensinar ainda toda a verda-de, (o Espiritismo) também não diz:Fora da verdade não há salvação”.

3º proposta - “Fora do espiritis-mo não há salvação”.

(1). Apresentação. Jamais o Es-

piritismo proclamou, e nem mesmo in-sinuou, esta proposta tão ao arrepio dosprincípios da Doutrina Espírita.

Mas essa exclusão pretensiosaé muito comum em algumas con-fissões religiosas, quando se degra-dam e assumem, os seus adeptos,interpretações fundamentalistas desuas escrituras.

(2). Significado. Se essa posi-ção sectária fosse assumida peloEspiritismo, significaria que quemnão o professasse estaria tolhido deprogredir espiritualmente e de usu-fruir desse progresso e conseqüentebem-aventurança (grande felicida-de perfeita e eterna).

(3). Resultados. (hipotéticos -simples conjectura, se o Espiritis-mo viesse a assumir esse posicio-namento):

a. O movimento espírita viria acompetir com os movimentos,fundamentalistas na disputa pelaexclusividade da salvação; e todosestariam errados e enganados;

b. Os salpicos expelidos por

Perseguição protestante a católicos. "Iconoclastas nos Países Baisos",estampaholandesa de 1583.

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essa falácia poderiam respingar naprópria Doutrina Espírita – semnela se incorporar. E, muito pelocontrário, por ela repudiados;

c. “Estariam deserdados todos osque não crêem, ou que não tiveramensejo de esclarecer-se (com a Doutri-na Espírita), o que seria absurdo”;

d. A Doutrina ficaria exposta aataques partidos de todos os lados;

e. O movimento espírita perde-ria força, credibilidade e prestígio.E mais: perderia a sua posição ím-par de única comunidade religiosaque não reivindica a exclusividadepara a salvação.

(4). Avaliação.a. “O bem é sempre o bem,

qualquer que seja o caminho que aele conduza” (LE-Q.982);

b. O bem, que é o verdadeirocaminho da salvação, não é privilé-gio de nenhuma religião ou seita;

c. O bem é comum a todas asreligiões que o prestigiam, pregam-no e ensinam, com eficácia peda-gógica e o modo de praticá-lo;

d. “(No Espiritismo) ninguémdiz que, sem ele, não possa (a feli-cidade) ser conseguida” (LE-Q.982, p.2, no final).

(5). Sentença. A Doutrina Es-pírita e o respectivo movimento ja-mais encorajariam qualquer tenta-tiva no sentido de monopolizar asalvação.

Se há uma exclusividade no Es-piritismo, é a de ser a única doutri-na religiosa que não é exclusivistano tocante à salvação pelo menos,entre as mais conhecidas.

4º proposta - “Fora daCaridade não há salvação”.(1). Apresentação. “Nessa sen-

tença estão encerrados os destinosdos homens, na terra e no céu”.

“Dentre estas três virtudes: a Fé,a Esperança e a Caridade, a maisexcelente é a caridade”.

“A caridade não é apenas umadas condições para a salvação, masé a condição única”.

(2). Significado. Esta propostaremove todas as três anteriores jáexpostas, restritivas e exclusivistas,abrindo a oportunidade igual paratodos os homens, independente-mente de qualquer credo que ado-tem. Desde que amem o próximocomo a si mesmos, que é o segun-do grande mandamento de Deus(MAT-22,39).

(3). Resultados. (da incorpo-ração dessa proposta):

a. “Na Terra, à sombra desseestandarte, os homens viverão empaz; no céu, os que a houverem pra-ticado acharão graças diante doSenhor”;

b. “Levando-a por guia, nuncao homem se transviará”;

c. “Ajudando a compreender osensinos do CRISTO, ela fará me-lhores cristãos”.

d. “Guia o homem no desertoda vida, encaminhando-o para aTerra da Promissão”;

e. “Todos os homens se julga-rão irmãos”;

f. “Os povos praticarão entresi a caridade”(LE-Q.789).

g. Todas as demais virtudes ema-narão da caridade (LE-Q.917,p.5).

h. “Reúne os homens num mes-mo sentimento de amor”(LE-Pro,p.9).

i. “Evita que pratiqueis o mal,e fará que pratiqueis o bem”.

(4). Avaliação.a. “Nada exprime com mais

exatidão, nada resume tão bem osdeveres do homem, como essamáxima de ordem divina”;

b. “A essência da perfeição é acaridade, na sua mais ampla acepção,porque implica a prática de todas asoutras virtudes”(EE-XVII,2,p.2).

c. “É o reflexo do mais puroCristianismo”;

d. “Consagra o princípio da

igualdade perante Deus e da liber-dade de consciência”;

e. “Caridade e humildade, tal asenda única da salvação”;

f . “Todos podem praticá-la, mes-mo na sua mais ampla acepção”;

g. Em suma, a caridade é o ver-dadeiro caminho da salvação, e,fora dela, não há salvação.

(5). Sentença. “Não poderia oEspiritismo provar melhor a sua ori-gem, do que apresentando a cari-dade como regra, por isso que é oreflexo do mais puro Cristianismo”.

“A caridade é a alma do Espi-ritismo;(...)eis porque se pode di-zer que não há verdadeiro espíritasem caridade” (RE-1868, pág.358).

A caridade é um dos princípiosfundamentais da Doutrina Espírita.

“Fora da educaçãonão há salvação”

Estamos agora em condições deabordar, e mesmo encarar, essasentença, que discrepa de todas asquatro anteriores.

Primeiramente, submetamos es-ta proposta ao mesmo esquema-pa-drão de análise aplicado às quatropropostas anteriores, segundo ascinco balizas demarcadoras: apre-sentação, significado, resultados,avaliação e sentença.

(1). Apresentação. Apesar deter sido formulada no século IIIde nossa Era, pelo Bispo deCartago, S. CIPRIANO, não lo-grou essa proposta implantar-see nem mesmo permanecer namemória dos pósteros. E ainda:foi totalmente ignorada pelospedagogos e sistemas educacio-nais até os dias de hoje, 19 sécu-los após, e permaneceu rebaixa-da pelo próprio Cristianismoquando optou pela proposta “Forada Igreja não há salvação”.

(2). Significado. Educação comosalvação significa incutir na educa-ção um sentido transcendente, de altarelevância espiritual e religiosa.Ombreando-se assim no mesmo ní-vel com a Igreja1, a Verdade, o Espi-ritismo e a Caridade, anteriormente

O Espiritismo é a única comunidadereligiosa que não reivindica aexclusividade para a salvação.

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expostas como propostas salva-cionistas. As três primeiras marcadaspelo exclusivismo não-fraternal e aúltima irmanando todos os homens.Dentro desse espectro expositivo, aeducação mantém íntima relaçãocom a caridade redentora.

(3). Resultados. (da incorpo-ração dessa proposta às religiões):

a. Considerando-se que as re-ligiões destinam-se essencialmen-te à salvação das almas, encami-nhando-as ao regaço divino, elaspassariam a revestir-se dos maisconsumados e eficazes princípiospedagógicos. Os quais possibilita-riam a seus devotos o alcance dabem-aventurança.

b. As religiões assumiriam de-cisiva e terminantemente oelevadíssimo múnus a que estãodestinadas. Ou seja, a preparaçãode devotos progressiva e espiritu-almente educados, visando a umstatus remoto e final de puros Es-píritos, aqueles que, então, teriamconcluído a sua formação religio-so-educativa. Compreendida essaeducação como sendo o conjuntoharmônico e eficaz dos processospedagógicos que promovem o de-senvolvimento (atualização) de todoo riquíssimo potencial humano dasperfeições espirituais, que jazem nofundo das almas em estado relati-vamente latente e inercial.

c. O reconhecimento invencívele bem fundamentado, racional e emo-cional, da natureza divina do“magister universalis”, conduzindo desua majestática e divinal cátedra aexecução de um maravilhoso eenormíssimo Plano Supremo da Pe-dagogia Divina, abrangendo a totali-dade infinita do Universo.

d. O percurso ascensional dasalmas (o roteiro da “salvação”) maislivre e desobstruído de escolhos: aimpedimento de dogmas pesados ede mitos irracionais. Facilitando amarcha progressiva (aperfeiçoamen-to) dos romeiros do espírito.

e. O enfoque de todos os de-votos como educandos de Deus,movidos pelo amor pedagógico

(“eros paidikos”) do Criador noaprimoramento das formas de seuseducandos na direção do Altíssimoe Divino Referencial.

f. A superação da visão infan-til do pecado, tomadas as faltashumanas dentro de uma bem inter-pretada disciplina pedagógica divi-na. Como correção educativa eamorosa das imperfeições doseducandos (que somos todos oshomens). São as conseqüências na-turais dos desvios educativos, numsentido ético-pedagógico. Mas re-querendo arrependimento, expiaçãoe reparação. Efetiva, porém, aprofilaxia das culpas neurotizantes edo talião divino dos justiceiros “de-moníacos e infernais”. Dispensandoassim julgamentos formais dos juízos,quer parciais, quer finais.

g. A legítima e clarificada vi-são do universo como a global ins-tituição educativa. Nessa escola in-finita, exerce Deus a sua divinaldocência, do alto de sua eminen-tíssima e majestática cátedra.Educandário perpétuo e incomen-surável. Sem fim e sem fronteiras.Sem sombras para o alcance ilimi-tado da universalidade de sua açãoeducativa. Sem dobras e sem tiju-cos. Sem ângulos mortos. Semanfractuosidades desprovidas desua santíssima presença e luz ma-gistral, na perpetuidade do seu di-vino magistério.

A religião, iluminada pela edu-cação, erradica os castigos. O de-voto, como educando, é o ser sus-cetível de errar, e por isso, objetode correção pedagógica; Sem oque, perde seu status de educandopara assumir o de delinqüente. Masé sempre responsável pelos errosque poderia ter evitado.

h. Com a incorporação da edu-cação como caminho da “salva-ção”, fica instituída a consciênciamoral e religiosa como nossa mes-tra interior e delegada do SupremoEducador junto a cada ser huma-no. Para nos educar, advertindo-noscontinuamente contra possíveis er-ros, emitindo cintilações a cada si-

nal de fraqueza do homem.i. A educação como senda ár-

dua da salvação liberta as religiõesda ganga sectária, fundamentalista,antropomórfica, idólatra e dogmática,que nos impede de vislumbrar o Cri-ador como Educador Universal.

(4.) Avaliação. Todas as religi-ões e crenças estariam, infundidas poressa visão profunda de que “fora daeducação não há salvação” e encon-trariam no seu próprio âmago a suarazão de ser: o desenvolvimento dopotencial anímico, ou seja, do con-junto das perfeições potenciais dosEspíritos na direção de Deus. E as-sim, coincidindo com o próprio con-ceito de educação (e + ducere = ti-rar, conduzir para fora os valoresínsitos nas profundezas do espírito).

Desse modo, as vigentes religi-ões assimilar-se-iam à verdadeiraeducação numa síntese necessáriae indispensável para a evolução efelicidade geral da humanidade.

(5). Sentença. Realmente,fora da educação não há salvação,quando compreendida esta últimacomo a educação do espírito na di-reção de Deus.1a

Sentença essa que não é exclu-sivista porque faz parte da perfei-ção da caridade incorporável essaa qualquer religião, crença ou sei-ta, como já vimos.

Educação e CaridadeExpusemos anteriormente o va-

lor inigualável da virtude da carida-de no encaminhamento seguro dasalmas para o regaço de Deus. Eregistramos que, verdadeiramente,fora dela não há salvação, bemcompreendida essa como o percur-so dos Espíritas apontado peloCRISTO e que é o seu Evangelho.

(1) Compreendida esta como repre-sentando qualquer religião

institucionalizada, qualquer que sejaa crença ou fé.

(1a) Vide o desdobramento integraldessa matéria no item “Pedagogia

Divina” em nossa obra anterior“Filosofia Espírita da Educação – 5º

vol. págs 59 a 70 (Ed. FEB 1990).

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Todavia, essa sentença, tão de-cisiva e imperativa mesmo, colidecom a última que advogamos comotambém impositiva?

Seriam ambas exclusivistas e in-transigentes? marginalizando todasas demais propostas de “Salva-ção”. Comparemos:

-“Fora da caridade não hásalvação”.

-“Fora da educação não hásalvação”.

Parece que ambas se excluemmutuamente. Já demonstramos quea primeira é exclusivista apenas naforma de expressão, mas não nosseus efeitos. Nos seus resultados,ela abrange e irmana os seguido-res de qualquer religião.

Teremos de optar entre uma eoutra? Cruel dilema? – Não! – Éum falso dilema. Essa opção poruma e exclusão da outra só vicejanas mentes apressadas dos que en-tendem a caridade apenas pela ad-ministração aos carentes de alimen-to, agasalho e medicamento.

Não alçam vôo aos patamaresmais elevados da caridade. E daí oexclusivismo das obras assisten-ciais restritamente oblativas. Nãoconseguem vislumbrar que há ou-tras formas superiores de carida-de, como a caridade moral do con-forto, solidariedade, consolo espiri-tual; a visita oportuna e aconche-gante, a empatia solidária, o conse-lho amigo. Mas acima de todas es-sas formas superiores, a caridadepor excelência, a educação.

Portanto, caridade e educaçãonão são reciprocamente excluden-tes. Elas se integram. A caridade,mais abrangente, inclui a educação;a Educação, mais restrita, incorpo-ra-se à Caridade.

E por que razões se integram?– Porque ambas têm a mesma na-tureza emocional do amor, e atuamsob a sua égide. Como pensavaHERCULANO PIRES:

[“A educação, em sua verdadei-

ra essência, é um ato de amar... Sóo amor educa, só a ternura faz asalmas crescerem no bem”.2]

[“A pedagogia filantrópica é oensino a serviço da caridade e suadidática é a do amor.3]

E, para arrematar, não deixan-do qualquer dúvida, a afirmação ca-tegórica de PESTALOZZI:

[“A educação é a únicafilantropia efetiva, o primeiro detodos os direitos humanos”4]

Por um mecenato espírita5

(da necessidade de umMecenato Espírita)

“É verdade que a maioria dosespíritas é pobre, mas existem mui-tos espíritas afortunados. Em ge-ral, preferem aplicar seus recursosem favor de obras de assistênciasocial, acreditando que os juros es-pirituais são maiores nesse campo,ou simplesmente por espírito de ca-ridade. É necessário demonstrar aesses confrades que a caridademaior está precisamente na preven-ção das desgraças, e que essa pre-venção só é possível através daeducação, da formação educacio-nal espírita”.

“As obras de assistência

correspondem ao dever de frater-nidade que a Doutrina nos desper-ta, e não devemos jamais descui-dar delas. Mas isso não impede quecuidemos também da assistênciaeducacional, lembrando-nos da Pe-dagogia Filantrófica de PESTA-LOZZI, seguida por seu discípulo,o Prof. DENIZARD RIVAIL, maistarde ALLAN KARDEC. Os es-píritas ricos deverão pensar seria-mente na urgência da criação dasEscolas de Espiritismo. Sabe-se quenos Estados Unidos, o interesse re-ligioso dos protestantes pela edu-cação determinou o maravilhosoflorescimento de vasta rede deUniversidades”.

“No Brasil, os espíritas podem fa-zer o mesmo. Urge despertar o nos-so meio para o dever de contribuireficazmente para a formação cultu-ral espírita do povo, com doações emdinheiro e bens patrimoniais em fa-vor de instituições e educacionais es-píritas”. (grifos nosso). (Prof. J.HERCULANO PIRES - Artigocom o título “Escolas de Espiritismo)

A única caridade que salvará definitivamente os excluídos das suas misérias sociais é a educação.

(2) In revista “Educação Espírita”,nº 1 – pg. 80 (EDICEL).

(3) Idem, nº 3, pág. 44 (EDICEL)

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32 A REENCARNAÇÃO - Nº 423

O tema, dentro do movimentoespírita, pode até parecerestranho. O que tem a ver

a temática da comunicação e a dapromoção social espírita? Este textodiscute o conflito entre promoçãosocial e divulgação no espiritismo,propondo o deslocamento do deba-te para o âmbito da comunicaçãosocial espírita.

Nosso movimento aprendeu, des-de os seus primórdios, a enxergar acomunicação apenas na perspectivada divulgação doutrinária. Essa pers-pectiva implica em três característi-cas fundamentais, que é preciso re-pensar: primeiro distingue a comuni-cação apenas em uma abordagemtecnicista, instrumental (como “meio”de alcançar certos fins preestabele-cidos); segundo, infere que a práticada comunicação é exclusiva de téc-nicos e profissionais especializados;e, terceiro e mais grave, concebe asrelações espíritas dentro de um viésque beira facilmente o conversionis-mo religioso e a disputa proselitista

das religiões.Dentro desse paradigma, de fato,

comunicar é uma coisa, fazer pro-moção social é outra. E, em certoscasos, uma pode até atrapalhar aoutra, como é o caso do conflito quenão raro ocorre com a adequação queinstituições de assistência são obri-gadas a fazer, no sentido de banir apregação espírita de suas atividades,por exigência dos convênios feitoscom os órgãos governamentaisfinanciadores, que, acertadamente,procuram evitar o financiamento es-tatal da propaganda religiosa.

A abordagem da temática dapromoção social espírita, neste tex-to, parece-nos fundamental parapontuar o que vem a ser o que te-mos denominado comunicação soci-al espírita, como algo diferente de di-vulgação doutrinária, abordagem quenão tem sido facilmente entendida porlargas faixas de nosso movimento,mas que é tão importante que nãopode ser deixada de lado.

Esperamos que, ao tratar do con-

flito entre promoção social ecomunicação, consigamoschamar a atenção para umamudança paradigmática notrato dessa temática, que,hoje, tamanha é a sua rele-vância, já é objeto de umacampanha nacional promovi-da pela Associação Brasilei-ra de Divulgadores do Espi-ritismo.

Primeiro ponto: de quetrata a comunicação

social espírita?Comecemos já indo di-

reto ao assunto: a comuni-cação social espírita se ocu-pa das relações sociais es-píritas, de sua ética e de suapolítica. Do ponto de vistadas pesquisas no campo ci-entífico das ciências sociais

aplicadas, desde que Lasswell(1948) formulou o célebre esque-ma “quem diz o quê, por quais mei-os, para quem e com que finalida-de”, a centralidade dos estudos emcomunicação tem variado a pontode ser difícil discernir qual é o ob-jeto desses estudos.

Afinal, de que trata a comuni-cação? Do sujeito que fala, de suasintenções e fins? Da mensagemque é “transmitida”? Dos meiostécnicos e institucionais? Dos re-ceptores e dos processos de recep-ção? A cultura espírita construídaao longo do século 20 no Brasil ra-ramente teve dúvidas: a comunica-ção, no espiritismo, diz respeito aos

* Luiz Signates é jornalista e professor daUniversidade Federal de Goiás, com

especialização em políticas públicas emestrado e doutorado em ciências da

comunicação. Expositor e escritor espírita,atualmente preside o Instituto de Comuni-

cação Social Espírita – Ícone e ocupa adiretoria de Políticas de Comunicação da

Associação Brasileira de Divulgadores doEspiritismo–Abrade.

E os paradigmas se movem novamente:A comunicação como ética da promoção social espírita

Luiz Signates*

A Comunicação Social centrada nos relacionamentos humanos pode esclarecer e dar umdirecionamento ético ao trabalho de assistência e promoção social.

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conteúdos da mensagem, os quaisdevem ter como apanágio o res-guardo de sua pureza original (con-ceito de “pureza doutrinária”).

Esta é, contudo, uma visão tec-nicista e funcionalista da comuni-cação, e que, na verdade, consti-tuiu no meio científico não uma te-oria da comunicação, e sim, maispropriamente, uma teoria da infor-mação. A importância desse mo-delo teórico foi enorme para o de-senvolvimento das tecnologiasinformacionais existentes hoje, massão altamente questionáveis quan-do o problema é a explicação e apromoção de saídas teóricas paraa questão da interação humana.

Não devemos cansar o leitorcom discussões teóricas e filigranas.Seja suficiente saber que as teori-as de linguagem do século 20 bani-ram a idéia de transmissão de men-sagens para explicar os processosde significação (ver Araújo, 2001,e Wolf, 1985); que as teorias soci-ais deixaram de lado as discussõesmetafísicas voltadas a adivinhar aseventuais intenções dos sujeitos eminteração, voltando-se para suasrelações concretas (contra ointencionalismo, ver Habermas,1985, p. 275 e seg.); os estudiososde tecnologia superaram uma visãomeramente instrumental dos equi-pamentos e de seus softwares, in-serindo conceitos de sociologia, po-lítica, cultura, economia e histórianas análises (Goytisolo, 1977;Martins, 1975; ); e que, nos própri-os estudos de ciência da comuni-cação, as pesquisas de recepçãoidentificaram uma enorme comple-xidade de que o “modelito” emis-sor-receptor já não dá mais conta.

Eis porque a base teórica hoje eaqui assumida é a de que o objetoda comunicação não pode ser ou-

tro, senão o próprio vínculo social,em todas as suas dimensões e emtoda a sua complexidade. Falar decomunicação não é mais falar demensagens que transitam e sim fa-lar de pessoas que se relacionam.É por essa razão que temos pontu-ado que tratar de comunicação es-pírita é muito mais do que tratar dedivulgação, mas de discutir as éti-cas e as políticas de relacionamen-to dos espíritas entre si e com osdemais grupos sociais. E é aqui queo debate com a promoção socialespírita passa a fazer sentido.

Comunicação como a ética e apolítica de promoção socialA questão, portanto, de “como

fazer divulgação doutrinária na pro-moção social espírita?” se torna, depronto, muito mais ampla: “que tipode relação estabelecemos com ooutro, na promoção e na comuni-cação social espírita?”. Esta, sim,é a questão efetivamente relevan-te, e que diz respeito tanto à comu-nicação quanto à promoção. Alémde superar o modelo tecnicista,esse deslocamento paradigmáticotraz ganhos de acréscimo, como ode estabelecer o problema da co-municação para todo e qualquerespírita, e não apenas para “espe-cialistas” e “profissionais” (jorna-listas, publicitários, etc.) e, o que émais importante, abandona defini-tivamente as preocupações prose-litistas, puristas e conversionistasdas atividades espíritas.

Nesse ponto, o difusionismo dou-trinário não é nem precisa ser aban-donado inteiramente, mas fica intei-ramente submetido à ética comuni-cativa, à questão pragmática sobre anatureza da própria relação que seestabelece. Em outras palavras, di-vulgar o espiritismo só se justifica

dentro de condições de diálogo, res-peito mútuo, aprendizado e doaçãodesinteressada, isto é, quando a rela-ção concreta estabelecida for de tipocomunicativo.

Nesse sentido, como podemosobservar as atividades de promoçãosocial espírita? O devotamento espí-rita em direção às necessidades esofrimentos das populações é umaimportante marca de origem de nos-so movimento. Se, na França do sé-culo 19, nos textos de Allan Kardec,a apreensão era, sobretudo a da ca-ridade espontânea, orientada porintencionalidade moral, no Brasil aherança das práticas de misericór-dia católica, das consultas homeopá-ticas e mesmeristas e dos tratamen-tos e aconselhamentos espirituais jun-to aos médiuns da tradiçãoafrobrasileira, marca o espiritismodesde aquela época.

Por aqui, praticamente toda a ca-deia de atividades espíritas despontacomo terapia e assistência. Até mes-mo a psicografia e a psicofonia, fa-culdades denominadas pelocodificador como de efeitos “intelec-tuais” (embora seguramente ele te-nha dado um significado bastanteamplo para este termo), ganham aquia conotação pragmática do que bempoderíamos chamar de “efeitosterapêuticos” (entre os quais se en-quadrariam desde os receitistas dofim do século 19 até os passistas ereceptores de cartas nos dias atuais).E, assim, desabrocha com toda for-ça o chamado “período religioso”, queKardec previra com tanta acuidade,enganando-se apenas quanto à sua du-ração (Kardec, 1863).

Ao longo deste tempo, as ativi-dades de promoção e assistência(ou de filantropia), cada vez maisassumidas pelo Estado laico, sobre-tudo no modelo keynesiano dowelfare state (o Estado do bem-estar social, a prevenção capitalistacontra os riscos das revoluções soci-alistas), passaram por suas fases pró-prias (Mestriner, 2001), as quais de-mandam ser pensadas a partir daperspectiva da inserção da comuni-

O objeto da comunicação nãopode ser outro, senão o próprio vínculosocial, em todas as suas dimensões e em

toda a sua complexidade.

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REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS:LASSWELL, H. D. (1948) The structure and function ofcommunication in society. In: SCHRAMM-ROBERTS. (ed.) Thecommunications of ideas. New York: Harper, 1972;GOIYTISOLO, Juan V . de (1977) O perigo da desumanização atra-vés do predomínio da tecnocracia. São Paulo: Mundo Cultural.MARTINS, Carlos E . (1975) A tecnocracia na história. São Paulo:Alfa Omega.HABERMAS, Jürgen (1985) O discurso filosófico da modernidade.Lisboa: Dom Quixote, 1998.ARAÚJO, Carlos A. (2001) A pesquisa norte-americana. In:HOHLFELDT, Antonio; MARTINO, Luiz C.; FRANÇA, Vera V .(orgs.) Teorias da comunicação: conceitos, escolas e tendências.Petrópolis : Vozes.WOLF, Mauro (1985) Teorias da comunicação. Lisboa: Presença,1987.KARDEC, Allan (1863) Período de luta. In: Revue Spirite, Dez/1863.São Paulo: Edicel, 1965. (p. 377-379)MESTRINER, Maria L . (2001) O Estado entre a filantropia e aassistência social. São Paulo : Cortez.SIGNATES, Luiz (1998) Espiritismo e cotidiano. Goiânia: Texto iné-dito.

dade espírita nessas relações.Embora quase não haja discus-

são específica desse assunto nomeio espírita, não nos parece serpossível discutir promoção socialsem falar da relação entre o Esta-do e a sociedade civil. Esta pareceser a primeira questão grave a sercolocada dentro das discussões es-píritas. Isso porque, com raras ex-ceções, as questões de promoçãoe assistência têm sido tratadas emnosso meio apenas a partir de umaperspectiva voluntarista, deixandode fora as temáticas políticas queenvolvem toda a manutenção denossas maiores instituições. Emoutras palavras, o espiritismo é ca-paz de debater a assistência socialsem sequer citar o Estado ou fazerqualquer referência à questão daspolíticas públicas. Trata-se de umalacuna incompreensível e extrema-mente perigosa. Sem que se pre-tenda fazer qualquer acusação, atéporque, ao que saibamos, inexistepesquisa específica a respeito dasrelações entre o Estado e o movi-mento espírita, é preciso conside-rar que o silêncio no debate públicoa respeito desse assunto deixa aber-tas as relações institucionais paratodo tipo de prática, inclusive as queconfiguram a má política, como oclientelismo, a corrupção, a distri-buição de propinas, o aparelhamen-to de interesses partidários e a tro-ca de favores – e tudo isso, prova-velmente, sob o pretexto de garan-tir a “sobrevivência da obra”.

Outra questão séria parece sero risco de a institucionalização daação social espírita criar razõessistêmicas, no sentido haberma-siano do termo: a instituição passaa ter como principal finalidade a suaprópria sobrevivência e o seu cres-cimento, e não a solução dos gra-ves problemas sociais do mundo.Em outro texto (Signates, 1998),definimos a institucionalizaçãocomo sendo o processo de dogma-tização de conteúdos e ritualizaçãodas práticas, conferindo, por umlado, a simplificação das ações erelações, mas, por outro, o estabe-

lecimento de relações de poder ins-titucional e de zonas de exclusão.Caso isso ocorra, a instituição es-pírita terá em si o seu próprio obje-tivo, e não nos outros. Casos típi-cos são os de ações sociais seremcriadas ou mantidas por conta detradições fundadoras ou recomen-dações literárias, sem qualquer pes-quisa ou percepção junto às comu-nidades para as quais elas suposta-mente se dirigem.

O risco de uma eventual des-conexão entre a ação promocional ea comunidade deve ser, por isso, umaconstante preocupação espírita. En-tretanto, o que é mais interessante ésaber que a manutenção desse vín-culo é um problema de comunicação.O espírita não deve perder de vistaque, ao contrário da ética da comu-nicação, a atividade institucional depromoção é meio, e não fim de suaação sobre o mundo. Uma socieda-de justa e fraterna não precisa de insti-tuições de assistência social, embora,para se manter fraterna e justa, deman-de, sempre, que seja presidido por polí-ticas capazes de proteger as relaçõesentre pessoas e grupos nos termos deuma ética comunicativa.

Esse deslocamento da discus-são da comunicação do plano da

mera difusão doutrinária para o dasrelações sociais culmina, portanto,no campo das atividades de promo-ção social espírita, em situar de for-ma definitiva a idéia espírita de ca-ridade no vasto campo da lingua-gem. Comunicar é estabelecer re-lações de fraternidade, definida estacomo paz na alteridade, isto é, comoconvivência pacífica e aprendentecom as diferenças dos outros.Como esse tipo de relação é alta-mente emancipatório, é perfeita-mente possível dizer que a comuni-cação social espírita se ajusta à pro-moção social espírita como ativida-des eticamente similares, desde quea prática da promoção social ocor-ra sob a égide de uma ética comu-nicativa, ou seja, desde que as re-lações estabelecidas sejam a práti-ca viva da fraternidade. Em outraspalavras, quando a comunicaçãosocial espírita é efetivamente pra-ticada, as atividades de promoçãosociais se mantêm sempre re-ferenciadas no outro, estabelecem-se como relacionamentos em quetodos aprendem e nos quais se fun-dam a cidadania e os direitos hu-manos, na perspectiva da constru-ção da sociedade fraterna e justaque todos ansiamos.

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Visando apresentar um modelo prático de Assis-tência e Promoção Social Espírita, fomos bus-car junto ao Lar Fabiano de Cristo, institui-

ção de raízes espíritas que já possui mais de quaren-ta anos de experiência na área da assistência social,o seu modelo de desenvolvimento integral da famí-lia. Para compreendê-lo precisamos analisar o se-guinte diagrama:

Neste diagrama são visualizadas quatro grandesáreas;

• Missão • Objetivos • Programas • SubprogramasHoje, a ciência moderna da Administração estabe-

lece que as instituições precisam definir a sua missão,trabalharem estabelecendo objetivos (metas), progra-mas e subprogramas de ação. Pois o Lar Fabiano deCristo segue estes princípios.

A. Missão do Lar Fabiano de Cristo é: Reduzir e/ouerradicar as misérias;

Material (j1); Social e afetiva (j2); Ética e moral (j3);Espiritual (j4).

B. Seus objetivos baseiam-se numa visão integralde saúde – saúde total. Objetiva, portanto, oportunizaraos seus assistidos:

· Saúde Física; Saúde Emocional; Saúde Mental;Saúde Espiritual; Saúde Social e Ambiental.

C. Atendendo a legislação que norteia as ações naárea de assistência social, estrutura a dinâmica do seutrabalho basicamente em dois programas.

· Programa de Orientação Sócio – Familiar· Programa de Apoio Sócio – Educativo

D.Os programas se subdividem em subprogramas,conforme os quadros abaixo.

Programa de orientação e apoio sócio familiar

Subprogramas Atividades

Educação e Acompa-•Triagens e Entrevistas. Diag-

nhamento das nósticos das necessidades.

Famílias e Idosos • Elaboração do plano para

melhoria das condições

da família

• Acompanhamento individual

• Visitas domiciliares à família

• Atividades recreativas

e ocupacionais

• Educação para a saúde

• Sensibilização para

o meio ambiente

• Campanhas de caráter

epidêmico

Apoio às Necessidades• Auxilio habitação

Básicas • Auxílio financeiro

• Doação de medicamentos

• Doação ou venda simbólica

de vestuário

• Apoio à gestantes

• Distribuição de alimentos

(sopa, lanche, etc)

• Distribuição de gêneros e

utilidades (cesta básica)

• Atendimento médico

• Atendimento odontológico

• Encaminhamento para

consultas e exames

Integração Social • Orientação e apoio jurídico

e Cidadania • Encaminhamento para

o trabalho

• Educação para o trabalho

• Encaminhar para

confecção de documentos

• Alfabetização e leitura

continuada para adultos

A assistência social e o desenvolvimentointegral da família

César Reis*

* Diretor Vice-presidente do Lar Fabiano de Cristo e da Capemi

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Programa de orientação e apoio sócio educativo

Subprogramas Atividades

Educação da Criança • Evangelização da Criançae do Adolescente e do adolescente

• Educação para a saúde

• Sensibilização para omeio ambiente• Creche

Desenvolvimento • Reforço escolar

Criativo e Apoio • Encaminhamento eEscolar acompanhamento escolar

• Cultura e Lazer

Profissionalização • Cursos em geral,diretamente ou em parceria• Encaminhamento para

• Estágios

• Encaminhamento paraserviços especializados• Acompanhamento

Paradigma da promoção socialAnalisando o diagrama proposto pelo Lar Fabiano

de Cristo, verifica-se que o paradigma da promoçãosocial passa pela necessidade de encontrar-se um equi-líbrio que conduza a dignificação do ser humano. Porexemplo, no emblema da balança, o pêndulo situa-seentre o prato da miséria e o prato da promoção. Amissão, portanto, consiste em reduzir o ângulo da misé-ria, seja ela a miséria material, social e afetiva, ética emoral, ou espiritual. As pessoas situadas socialmentemais próximas do prato da miséria constituem o grupode excluídos sociais. A busca do equilíbrio objetiva, re-duzir este ângulo alpha, caminhando em direção a pro-moção e a inserção social destes nossos irmãos, alcan-çando com isso o objetivo proposto.

Fundamentos filosóficosO Lar Fabiano de Cristo, como não poderia deixar

de ser, possui fundamentos filosóficos, bem definidos,que não poderiam ser outros que não fossem os da Dou-trina Espírita. Possui ainda sete pilares que norteiam asua filosofia.

1. Fraternidade - Todos somos irmãos e como ir-mãos precisamos aprender a viver;

2. Democracia - Antes de ser um sistema político,é um sistema de respeito ao outro. Sem respeitar é im-possível ajudar;

3. Família - Nossa unidade de trabalho. Ninguémnasce por acaso em uma determinada família. Portan-

to, valorizar a família é fundamental. Família equilibra-da e o trampolim do grande salto para um mundo me-lhor;

4. Autotranscendência - Devemos levar o irmãoamparado a descobrir-se como um ser divino, capaz dedesenvolver potenciais inimagináveis;

5. Reforma intima - O sentido de uma recupera-ção material, social, moral e espiritual somente é alcan-çado a partir de uma renovação interior que leve a umnovo pensar, sentir e fazer;

6. Caridade - Baseada na benevolência, na indul-gência e no perdão. A caridade praticada é o supremoinstrumento de renovação

7. Consciência - Palavra grega que significa “ge-ração de responsabilidade”. Implica dizer que: à medi-da que nossos irmãos amparados se esclarecem maisresponsáveis se tornam perante, a si mesmos, peranteos demais homens e perante a Deus.

Modelo holísticoOutro diagrama do Lar Fabiano de Cristo apresenta

um modelo holístico cujos fundamentos filosóficos de-monstram que o desenvolvimento integral da família con-duz o ser humano para a construção do seu caminho deamor, conduzindo-o ainda, a uma transcendência pelaformação de uma consciência crística e cósmica da vida.

O Lar Fabiano de Cristo e o movimento espírita

Estas são as finalidades das atividades assistênciase de promoção social espírita do Lar Fabiano de Cristo,cuja metodologia pode ser aplicado por qualquer casaespírita.

O Lar Fabiano de Cristo dentro de um espírito deparceira disponibiliza esta metodologia cujos alicercesse fundamentam no objetivo de promover o desenvolvi-mento integral da família, a todas as casas espíritas que

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desejarem implanta-lo.

A técnica do Lar Fabiano de Cristo utiliza-se de pro-gramas definidos, trabalhando com metodologiasestruturadas e organizadas para atingir seus objetivos.Entende ainda ser fundamental que todas as áreas dacasa espírita desenvolvam suas atividades no sentidode promover a reforma moral do ser humano traba-lhando na base das relações sociais que é a família,conforme gráfico acima.

As atividades em redes de assistênciae promoção social espírita

O Manual do SAPSE, ao tratar da questão dos re-cursos da comunidade esclarece que “O Centro Espíri-ta por si só, nem sempre é suficiente para atender inte-gralmente aos indivíduos e as famílias em estado denecessidade que o procuram. Muitas vezes precisamlançar mão dos serviços de outras obras da comunida-de onde se insere, ou do local de origem das pessoas”.

Ainda o Manual de Orientação ao Centro Espírita,no seu Capítulo IX, letra “c” recomenda o levantamen-to de necessidades e incorporação de experiências, noque uma rede de comunicação com boa acessibilidadeseria enorme suporte. Também no mesmo Capítulo, naletra “d” recomenda a “ligação com programas maisamplos de assistência, de modo a integrar-se a um sis-tema de ação comum”.

Por analogia, o Centro Espírita (SER COLETIVO)constituído de pessoas que interagem através dos canaispróprios da comunicação ( pessoa x pessoa; pessoa x de-partamento; departamento x departamento) constituemtambém uma complexa rede de troca de informações.

Naturalmente a rede surge à medida que os dirigen-tes e administradores percebem a necessidade deagilizar a troca de informação, qualificar os dados e ra-cionalizar recursos. Nasce o sistema de comunicaçãosem ser obra de ninguém onde o Centro Espírita se in-tegra à REDE DE ATENDIMENTO.

Fundamentos de redesUma REDE é um sistema de nós e elos capazes de

organizar pessoas e instituições, de forma igualitária edemocrática, em torno de um objetivo comum. Pode seformar a partir da união de várias instituições espíritas,ou mesmo não espíritas (pública ou privada), que te-nham objetivos e finalidades comuns.

Os principais fundamentos de uma rede:• Autonomia: Cada integrante mantém sua inde-

pendência em relação à rede e aos demais integrantes.Numa rede não há subordinação.

• Valores e objetivos compartilhados: O que uneos diferentes membros de uma rede é o conjunto devalores e objetivos comuns.

• Vontade: Ninguém é obrigado a entrar ou perma-necer numa rede. O alicerce da rede é a vontade departicipar.

• Conectividade: Uma rede é uma costura dinâ-mica de muitos pontos. Só quando estão ligados uns aosoutros é que indivíduos e organizações mantêm a rede.

• Participação: A cooperação entre os integrantesde uma rede é o que a faz funcionar.

• Multiliderança: Uma rede não possui hierarquianem chefe. A liderança provém de muitas fontes. Asdecisões também são compartilhadas.

• Informação: Numa rede, a informação circula li-vremente, emitida de pontos diversos e encaminhadade maneira não linear a uma infinidade de outros pon-tos, que também são emissores de informação.

• Descentralização: Uma rede não tem centro. Oumelhor, cada ponto da rede é um centro em potencial.

Dentro de uma nova dinâmica de execução de tra-balhos constitui-se elemento fundamental o estabeleci-mento de REDES – PARCERIAS ENTRE INSTITUI-ÇÕES para o desenvolvimento mais amplo de ativida-des comuns.

Como se organizar em redePara se constituir uma rede formal, ou mesmo

informal, o primeiro passo será identificar claramen-te seu objetivo: o que visam os que assim querem seorganizar.

Em uma rede todos são iguais, todos têm iniciativa,todos são sujeitos de sua ação e co-responsáveis pelaação da rede, todos guardam sua liberdade. Mas podehaver uma distribuição de funções. A circulação de in-formações – a livre intercomunicação – é o elo básicodas redes. Mas ela não acontecerá de forma espontâ-

Trabalhar em rede é estimulara democracia, a criatividade, aautonomia e a responsabilidade

na equipe de trabalho.

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nea e desorganizada: ainda que necessária e vital, osintegrantes de uma rede tem que saber a quem enviarinformações e como as enviar, assim como a quem pe-dir informações e como pedi-las.

Uma rede supõe, portanto, algum tipo de serviço quefacilite a circulação das informações, por exemplo, umsecretariado ou um conjunto de secretariados interliga-dos. Sua função de facilitadores da intercomunicação –e não de dirigentes, comandantes ou coordenadores darede – não lhes dá, no entanto o poder de controlar,esconder, hierarquizar, selecionar, censurar ou orientara informação que deva circular.

A circulação de informações supõe também algumtipo de suporte sistemático – escrito, gráfico, auditivoou informatizado – que faça chegar à informação aoconjunto de participantes, no ritmo, freqüência e modoestabelecido de comum acordo por eles. Todos têm queter acesso livre a esse suporte e suas comunicações.

Se algum participante quiser fazer uma proposta deação conjunta, esta deverá circular por toda a rede comoqualquer outra mensagem. A organização da ação con-junta proposta caberá àqueles que a assumirem, semque haja obrigatoriedade de participação dos demais.As informações sobre o andamento dessa organizaçãoe da própria ação constituem mensagens que circula-rão pela rede, como as demais, se seus organizadoresquiseram comunicá-las aos demais.

Os participantes de uma rede podem se encontrarpessoalmente e se reunir sempre que o consideraremnecessário ou possível – para debater questões ou mes-mo simplesmente para festejar. Dependendo das dimen-sões da rede, tais encontros podem ser um elementoimportante – e mesmo decisivo – de sua consolidação,pelas relações interpessoais de amizade que assim seestabelecem. Nenhuma reunião desse tipo pode ter, noentanto, caráter deliberativo para o conjunto de partici-pantes de rede. Quaisquer deliberações só vinculamaqueles que as tenham assumido.

Uma rede está sempre aberta à entrada de novosmembros que aceitem as regras de intercomunicaçãoestabelecidas, ainda que as mesmas possam e devamser revistas à medida que a rede vá realizando seusobjetivos ou definindo novos objetivos.

• Múltiplos níveis: Uma rede pode se desdobrarem múltiplos níveis ou segmentos autônomos, capazesde operar independentemente do restante da rede, deforma temporária ou permanente, conforme a deman-da ou a circunstância. Sub-redes têm o mesmo “valorde rede” que a estrutura maior à qual se vinculam.

• Dinamismo: Uma rede é uma estrutura plástica,dinâmica e em movimento, que ultrapassa fronteiras fí-sicas ou geográficas. Uma rede é multifacetada. Cadaretrato da rede, tirado em momentos diferentes, revela-rá uma face nova.

Antes de sairmos às ruas para darmos nossa contribuiçáo para a minoração das misérias sociais, é preciso nos organizarmos enquantoequipe de trabalho, sendo insidpensável um projeto e uma metodologia bem definidos.

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Hoje a ação voluntária atuana sociedade com umaforça avassaladora, o que

possibilita ampliar a força de tra-balho das instituições em geral. Ascasas espíritas, como organizaçõesinseridas na sociedade civil, podeme devem, utilizar-se destes empre-endedores voluntários, que mesmosendo apenas “simpatizantes”, pre-dispõem-se a doar de si, do seutempo e das suas aptidões em fa-vor de um trabalho social sério.

Sabe-se ainda das enormes ca-rências de recursos humanos qua-lificados que as instituições espíri-tas possuem para execução de suas

O trabalhador voluntário na assistênciae promoção social espírita

Sandra Regina Miranda Pereira*

atividades assistenciais, principal-mente para aquelas atividades querequerem uma capacitação espe-cífica. Por isso é importante que ascasas espíritas se capacitem parareceberem e trabalharem com oempreendedor voluntário.

É preciso, no entanto, que os di-rigentes das casas espíritas, da mes-ma forma que precisam estar aten-tos às determinações da legislaçãodo país, como a LOAS – Lei Or-gânica de Assistência Social e a Leido Serviço Voluntário, estejamatentos, também ao recrutamen-to e capacitação daqueles queadentram a casa espírita, dispon-

do de “boa vontade”, e movidospelo desejo solidário de servir eauxiliar o próximo, e vêem na casaespírita este espaço propício.Cabe, ao dirigente espírita, rece-ber estas pessoas, esclarecê-lasdos princípios, objetivos, e missãoda casa espírita. Enfim, situá-lasno contexto em que atuarão eambientá-las com os demais tra-balhadores da casa.

Em razão disto destacamos ofluxograma para a gestão do volun-tário abaixo

* Assessora Pedagógica doSAPSE da USEERJ e Coordenadora

Pedagógica da ONG - Rio Voluntário.

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É preciso ainda esclarecer aotrabalhador voluntário a importân-cia de conhecerem os princípiosmorais que norteiam a instituiçãoespírita e os princípios doutrináriospor ela defendidos, para que, sema necessidade de aceitá-los, osrespeitem, desenvolvendo umapostura ética de respeito não sóa sociedade espírita como aos ir-mãos atendidos, vendo-os comoirmãos em Cristo.

A atividade de assistência e pro-moção social espírita propicia aoempreendedor voluntário exercer oespírito de solidariedade, de trocade experiências e relacionamentocom o próximo, onde cada um secoloca diante do outro como recep-tor e doador, iniciando-se um pro-cesso de intercâmbio e, sobretudo,de auxílio e nutrimento no maisamplo sentido, constituindo-se num

processo eminentemente educativo,em que ambos dão e recebem in-formações e vibrações de interes-se mútuo e compreensão, desen-

volvendo a solidariedade em seumais amplo sentido, o do impulsosolidário em favor do próximo epelo próximo.

Para ilustração apresentamos a evolução histórica do trabalho voluntário em nosso país

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“Numa sociedade organizadasegundo a lei do Cristo ninguémdeve morrer de fome”.

O Livro dos Espíritos. Item 930.

“A esperança é um condimentoindispensável à experiência his-tórica”.

Paulo Freire

Pediram-me para escrever so-bre história, mas prefiro escreversobre sonhos.

Os sonhos estão em nós, vivos,se agitando, ávidos de se tornaremrealidade através de nossas ações.E são as obras exemplares que serealizam na realidade que nos dãoa perspectiva de que um mundonovo, mais fraterno e humano épossível.

Sonhando se constrói a Histó-ria.

Qual o cristão que nunca leu ououviu falar sobre a modelar "Casado Caminho", dos primeiros tem-pos da Cristandade?

Comunidade onde a caridadeera o fundamento e a convivênciadiária dava-se como numa grandefamília. E como sabemos, “carida-de”, é uma palavra que foi cunha-da por Paulo de Tarso, e significa“amor dinâmico”, isto é, amor pos-to em prática, amor em ação.

A Casa do Caminho era procu-rada por um sem número de pes-soas porque sabiam que lá haveriaquem os atendesse. Era uma co-munidade utópica, sonhadora.

Afirmou-se certa vez que “autopia deve ser construída a partirdo que já existe como gérmen e,por isso, se apresenta como algofactível.”

Dentro desta perspectiva, Pedro

e Tiago, líderes da instituição, bus-cavam, pelo amor que nutriam peloMestre, pôr em prática Sua propos-ta, presente de forma clara emMateus 25:35-40:

“ ‘...eu estava com fome evocês me deram comida, estavacom sede e vocês me deram debeber, fui estrangeiro e vocês mereceberam em suas casas. Eu esti-ve nu e vocês me vestiram, estivedoente e vocês foram me visitar,estive na prisão e vocês foram atéa mim.(...)Eu lhes afirmo com todacerteza: toda vez que vocês fizeramisso ao mais humilde desses meusirmãos, foi a mim que o fizeram!’ ”

A Casa do Caminho não privi-legiava “números”, mas centravasua ação amorosa na convivênciadiária, no soerguimento dos caídos,demonstrando empatia com os quesofriam.

Além de suprir as carências bá-sicas dos necessitados, baseavamsuas ações na exemplificação e naconscientização, evangelizando sem-pre através do convívio cotidiano.

Segundo Daniel Rops, historia-dor da Academia Francesa, nestaépoca os cristãos se chamavam de“irmãos”, a fim de horizontalizar asrelações, se colocando ao lado dosassistidos. Rops ainda acrescentaque os trabalhadores cristãos eramconhecidos como diáconos (“servi-dores”).

A ação social cristã, da primei-ra época, baseava-se no compa-nheirismo (que vem de cun panere,“compartilhar o pão juntos”) e seuprojeto para a civilização articula-va-se dentro da alegria do amor di-namizado.

Era o sonho de servir o Mestre,servindo aos irmãos em sofrimento.

No entanto, as sombras dos in-teresses mundanos, da hierarquiaegoísta e vaidosa, levaram à alian-

Pelos caminhos da cristandadeCristian Macedo*

Vivendosituações deamor, Jesusinsuflou nocorações doshomens emulheressensíveis umsonho defraternidade,que devemosconcretizarna história.Gravura deGustavoDoré.

Page 40: A REENCARNA˙ˆO Sumário - Geocities.ws · integral da família .....PÆg. 35 CØsar Reis O trabalhador voluntÆrio na assistŒncia e ... concomitantemente com o atendimento às

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ça entre o “trono” e o “altar”, des-tituindo o Cristianismo nascente doespírito de sinceridade e singelezados primeiros tempos.

O peixe, único símbolo utilizadocom fins de identificação entre oscristãos perseguidos (do grego ictus,iniciais da assertiva “Jesus Cristo, fi-lho de Deus Salvador”), dá lugar aosornamentos de ouro, ostentando or-gulho perturbador, esquecendo oamor-ágape sinalizado pelo Cristo.

A caridade é deixada em segun-do plano e as trevas medievais en-volvem a Terra.

O sonho renasce no século XIII,quando, segundo Emmanuel, “umdos maiores apóstolos de Jesus des-ceu à carne com o nome de Fran-cisco de Assis”, o poverello, quebusca a essencialidade na ação so-cial. Amar aos pobres, convivercom as dores, levar a esperança atodos os que sofrem.

Segundo os escritos de Tomás deCelano, “o ânimo de Francisco secomovia à vista dos pobres e aos quenão podia atender com socorros de-monstrava-lhes sincero afeto”.

Francisco fundou comunidades,

atendia os desamparados, incenti-vava a autonomia na doação cons-tante de si mesmo, alimentado pelaternura e pela compaixão.

É na comunidade da Porciúnculaque faz sua oficina de ação, tratan-do de enfermos, alimentandodeserdados, educando com amor.É nesse núcleo cristão que se des-prende do corpo físico, para deixara exemplificação notável que o faráser chamado de “o segundo Cris-to”, nos vilarejos italianos. No en-tanto, a instituição religiosa que se-guiu sua ação, não estava prepa-rada para isto, visto que o orgulhoe o egoísmo já estavam enraizadosem suas fileiras.

É o Espiritismo, no século XIX,com o lema “Fora da Caridade nãohá Salvação”, que retoma o idealcristão nascente e revigora asações sociais, projetando um mun-do novo, uma nova Cristandade.

A ação caridosa proposta peloEspiritismo é o amor dinâmico dePaulo, dos irmãos do Caminho, deFrancisco, e tem sua significaçãomais profunda na própria ótica doNazareno, esclarecida pelos Espí-

ritos, ao responderem a Kardecsobre o verdadeiro sentido da cari-dade: “Benevolência para com to-dos, indulgência para as imperfei-ções dos outros, perdão das ofen-sas”. (Questão 886 d´O Livro dosEspíritos)

Mais do que doar coisas, a cari-dade implica auto-doação, entrega,comprometimento. A caridade nãopede servidores de final de semana,cuja finalidade seja aliviar-se da car-ga de culpa adquirida, mas servido-res conscientes de sua importânciana tarefa. Trabalhadores que sirvamdemonstrando contentamento e ocompanheirismo que a atividade exi-ge: “Não basta que os pobres tenhampão. É necessário que o pão sejacomido com alegria, nos jardins”.

Para muitos a caridade real éuma utopia, bem como o mundo queo Espiritismo projeta. No entanto ossonhos não devem ser esquecidos,mas alimentados. E conforme dis-se certa vez Yoko Ono “Sonho quese sonha só, é apenas sonho que sesonha só. Sonho que se sonha jun-to é realidade”.

Temos a realidade em nossasmãos.

O sonho do Cristianismo vividoem sua pureza, de uma assistênciasocial fraterna que busque a auto-nomia do assistido com comprome-timento e empatia, deve ser com-partilhado a fim de sermos agentesreais no processo de transforma-ção de nosso orbe.

Por isso sonhemos juntos. Tra-balhemos juntos para a construçãode um mundo melhor, onde a fome,o descaso, e a intolerância não te-nham mais lugar. Sonhemos poruma nova Cristandade. Construa-mos história!

A caridade não pede servidores definal de semana, cuja finalidade seja

aliviar-se da carga de culpa adquirida, mastrabalhadores que sirvam demonstrando

contentamento e companheirismo.

Francisco de Assis,uma pessoa que

conseguiu viver oexemplo de caridade

dos primeiros cristãosem plenitude de vida ealegria cristã. Ilustra-ção do livro "Saltério

Lutterell"de 1340.