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SOUZA, M. B. et al. A rede de apoio das mulheres vítimas de violência doméstica. Ciênc. Conhecimento v. 12, n. 1, 2018. Artigo Original Revista Ciência e Conhecimento ISSN: 2177-3483 Marjane Bernardy Souza 1 , Maria Fernanda Silva da Silva 2 , Natasha Figueiró de Souza 1 , Joice Laine de Carvalho 1 e Bruna Marcante B. Rivas 2 Recebido em: Ago/2017. Revisado em: Mar/2018. Aceito em: Mai/2018. Área: Desenvolvimento Humano ABSTRACT - Objective: map the women's a support networks who has suffered domestic violence in São Jerônimo city, Rio Grande do Sul. Method: qualitative and exploratory research. The social network map proposed by Sluzki (2006) was used as an instrument in four women who suffered domestic violence São Jerônimo city, in the state of Rio Grande do Sul, Brazil, in the year 2015. The data were collected at School-Clinic of the Psychology course the University Lutheran of Brazil and analyzed according Sluzki's proposal. Results: the map allowed the networks knowlege characterized as small (8-14 members), dispersed, vulnerable and low density. Conclusion: the research indicates the importance of support network in the relationships, as social devices of exchange and interaction of subjects. The domestic violence destroys and weakens ties, so the need for public policies to support victims. Keywords: Domestic violence. Support network map. Women. E-mail para contato: Marjane Bernardy Souza [email protected] A REDE DE APOIO DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA DOMÉSTICA NO MUNICÍPIO DE SÃO JERÔNIMO, RIO GRANDE DO SUL RESUMO - Mapear as redes de apoio das mulheres que sofreram violência doméstica no município de São Jerônimo, Rio Grande do Sul. Método: Pesquisa qualitativa e exploratória. Foi utilizado como instrumento o mapa de rede social proposto por Sluzki (2006), em quatro mulheres que sofreram violência doméstica no município de São Jerônimo, no estado do Rio Grande do Sul, Brasil, no ano de 2015. Os dados foram coletados na Clínica-escola do curso de Psicologia da Universidade Luterana do Brasil e analisados conforme proposta de Sluzki. Resultados: O mapa possibilitou o conhecimento das redes que se caracterizam como pequenas (8 14 integrantes), dispersas, fragilizadas e com baixa densidade. Conclusão: A pesquisa demonstra a importância da rede de apoio nas relações, enquanto dispositivos sociais de trocas e interações de sujeitos. A violência doméstica destrói e fragiliza os vínculos, por isso da necessidade de políticas públicas para apoiar as vítimas. Palavras-chave: Violência doméstica. Mapa de rede de apoio. Mulheres. 1. Professora do Curso de Psicologia Universidade Luterana do Brasil - ULBRA, São Jerônimo, RS, Brasil. 2. Curso de Psicologia Universidade Luterana do Brasil ULBRA, RS, Brasil. Revista Ciência e Conhecimento Volume 12 Nº 1 2018.

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Page 1: A REDE DE APOIO DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ... › Artigos › Ed... · Revista Ciência e Conhecimento – ISSN: 2177-3483 27 SOUZA, M. B. et al. A rede de apoio das mulheres

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Artigo Original Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483

Marjane Bernardy Souza1 Maria Fernanda Silva da Silva2 Natasha Figueiroacute de Souza1 Joice

Laine de Carvalho1 e Bruna Marcante B Rivas2

Recebido em Ago2017

Revisado em Mar2018

Aceito em Mai2018

Aacuterea

Desenvolvimento Humano

ABSTRACT - Objective map the womens a support networks who has

suffered domestic violence in Satildeo Jerocircnimo city Rio Grande do Sul

Method qualitative and exploratory research The social network map

proposed by Sluzki (2006) was used as an instrument in four women who

suffered domestic violence Satildeo Jerocircnimo city in the state of Rio Grande

do Sul Brazil in the year 2015 The data were collected at School-Clinic

of the Psychology course the University Lutheran of Brazil and analyzed

according Sluzkis proposal Results the map allowed the networks

knowlege characterized as small (8-14 members) dispersed vulnerable

and low density Conclusion the research indicates the importance of

support network in the relationships as social devices of exchange and

interaction of subjects The domestic violence destroys and weakens ties

so the need for public policies to support victims

Keywords Domestic violence Support network map Women

E-mail para contato

Marjane Bernardy Souza

marjanesouzayahoocombr

A REDE DE APOIO DAS MULHERES VIacuteTIMAS DE VIOLEcircNCIA DOMEacuteSTICA NO

MUNICIacutePIO DE SAtildeO JEROcircNIMO RIO GRANDE DO SUL

RESUMO - Mapear as redes de apoio das mulheres que sofreram

violecircncia domeacutestica no municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo Rio Grande do Sul

Meacutetodo Pesquisa qualitativa e exploratoacuteria Foi utilizado como

instrumento o mapa de rede social proposto por Sluzki (2006) em quatro

mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica no municiacutepio de Satildeo

Jerocircnimo no estado do Rio Grande do Sul Brasil no ano de 2015 Os

dados foram coletados na Cliacutenica-escola do curso de Psicologia da

Universidade Luterana do Brasil e analisados conforme proposta de

Sluzki Resultados O mapa possibilitou o conhecimento das redes que se

caracterizam como pequenas (8 ndash 14 integrantes) dispersas fragilizadas e

com baixa densidade Conclusatildeo A pesquisa demonstra a importacircncia da

rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto dispositivos sociais de trocas e

interaccedilotildees de sujeitos A violecircncia domeacutestica destroacutei e fragiliza os

viacutenculos por isso da necessidade de poliacuteticas puacuteblicas para apoiar as

viacutetimas

Palavras-chave Violecircncia domeacutestica Mapa de rede de apoio Mulheres

1 Professora do Curso de Psicologia Universidade

Luterana do Brasil - ULBRA

Satildeo Jerocircnimo RS Brasil

2 Curso de Psicologia ndash

Universidade Luterana do Brasil ndash ULBRA RS Brasil

Revista Ciecircncia e Conhecimento

Volume 12 ndash Nordm 1 ndash 2018

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 26

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

INTRODUCcedilAtildeO

A violecircncia contra a mulher eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica que se faz

presente em todo o mundo e atingem meninas e mulheres independente de idade cor raccedila ou

classe social Essas agressotildees implicam perdas significativas para a sauacutede fiacutesica mental e social

das viacutetimas

Uma das caracteriacutesticas da violecircncia domeacutestica eacute o isolamento da mulher que muitas

vezes eacute utilizado como uma espeacutecie de proteccedilatildeo pois assim o agressor natildeo teria motivos para

ser violento Mas esse isolamento faz com a mulher se afaste de sua famiacutelia e amigos natildeo tendo

proteccedilatildeo aumentando sua fragilidade para sair do ciclo violento instaurado pelo perpetrador

A revitimizaccedilatildeo e atitudes preconceituosas satildeo os maiores problemas encontrados por

mulheres que conseguem buscar algum auxiacutelio em sua rede de apoio o que sugere que mesmo

que existam serviccedilos especializados a prestarem ajuda as viacutetimas eles natildeo satildeo suficientes

Dessa forma se evidencia a necessidade e a importacircncia do conhecimento e estudo das redes

de apoio sociais que possam trabalhar integradas para proporcionar a assistecircncia agraves mulheres

em situaccedilatildeo de violecircncia

A rede de apoio social compotildee-se pelas relaccedilotildees que envolvem os sujeitos sejam

pessoas instituiccedilotildees ou movimentos sociais Os principais aspectos estudados na compreensatildeo

da rede satildeo os dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de indiviacuteduos e grupos bem como suas

caracteriacutesticas a frequecircncia os tipos de contato e os objetivos Possuir uma rede de apoio social

eacute uma necessidade humana pois satildeo elas que disponibilizam recursos a uma pessoa diante das

dificuldades que esta venha a enfrentar

Esta pesquisa tem por objetivo mapear a rede de apoio de mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo Rio Grande do Sul

A violecircncia domeacutestica contra a mulher e as redes de apoio

Uma das maiores dificuldades das mulheres que enfrentam a violecircncia eacute falar a respeito

do ocorrido Poreacutem a ecircnfase com que tem se revelado o assunto nos uacuteltimos tempos denota

que muitas mulheres estatildeo buscando auxiacutelio atraveacutes de redes de apoio como os postos de

atendimento ou delegacias dirigidas agraves mesmas

A rede de apoio social eacute definida como as relaccedilotildees que envolvem os sujeitos sejam

pessoas instituiccedilotildees ou movimentos sociais Suas caracteriacutesticas a frequecircncia e o tipo de

contato estabelecido bem como os seus objetivos satildeo os principais aspectos estudados na

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compreensatildeo das redes enquanto dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos

(DUTRA et al 2013)

Segundo Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as

redes de apoio sociais podem ser classificadas em funccedilatildeo das necessidades humanas Essas

redes podem ser primaacuterias ou de proteccedilatildeo espontacircnea que satildeo sustentadas pelos princiacutepios da

solidariedade e do apoio muacutetuo constituiacutedas pelo nuacutecleo familiar pelas relaccedilotildees de amizade e

de vizinhanccedila

Para o autor citado acima a rede macrossocial ou secundaacuteria eacute a rede que fornece

atenccedilatildeo especializada orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo formada por profissionais e funcionaacuterios de

instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas Podem ser soacutecio-comunitaacuterias redes constituiacutedas por

organizaccedilotildees comunitaacuterias associaccedilotildees de bairro ou organizaccedilotildees filantroacutepicas Redes sociais

movimentalistas que satildeo formadas por movimentos sociais cujo objetivo eacute a defesa dos

direitos da vigilacircncia e a participaccedilatildeo popular Redes setoriais puacuteblicas com serviccedilos

especializados resultantes da accedilatildeo do Estado por meio das poliacuteticas puacuteblicas Redes privadas

com serviccedilos especializados fornecidos pela proacutepria iniciativa Redes regionais que satildeo

constituiacutedas por serviccedilos de diversas poliacuteticas puacuteblicas compartilhadas entre municiacutepios de uma

mesma regiatildeo e redes intersetoriais que dispotildeem de serviccedilos das organizaccedilotildees governamentais

natildeo governamentais do setor privado e da comunidade tendo em vista o atendimento integral

das demandas sociais

A rede social pessoal criada pelo psiquiatra argentino Carlos E Sluzki (2006) pode ser

registrada em forma de Mapa Miacutenimo da Rede Pessoal Social (Figura 1) que inclui todos os

indiviacuteduos com quem interage uma determinada pessoa A articulaccedilatildeo desse mapa diante de

uma situaccedilatildeo a ser investigada possibilita a construccedilatildeo de uma identificaccedilatildeo e representaccedilatildeo

do todo permitindo uma visatildeo globalizada do contexto (CARLOS FERRIANE 2015)

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Figura 1 Mapa miacutenimo de relaccedilotildees proposto por Sluzki

Fonte Sluzki 2006 p43

Segundo Sluzki (2006) o mapa pode ser sistematizado em quatro quadrantes satildeo eles

trabalho famiacutelia relaccedilotildees comunitaacuterias e amizade Tambeacutem sistematizam as trecircs aacutereas de

aproximaccedilatildeo do indiviacuteduo ciacuterculo interno de relaccedilotildees iacutentimas ciacuterculo intermediaacuterio de relaccedilotildees

pessoais e ciacuterculo externo de conhecidos e relaccedilotildees ocasionais Permite averiguar suas

caracteriacutesticas estruturais quanto ao tamanho composiccedilatildeo ou distribuiccedilatildeo e as funccedilotildees desta

o que favorece a construccedilatildeo de ideias e atividades que possam dar espaccedilo para mudanccedilas e

novas interaccedilotildees sociais

A violecircncia domeacutestica atinge mulheres idosos adolescentes e crianccedilas com

repercussotildees em vaacuterios aspectos da vida no acircmbito profissional nas relaccedilotildees sociais e na sauacutede

(fiacutesica eou psicoloacutegica) Considera-se violecircncia domeacutestica as que ocorrem no acircmbito

domeacutestico eou familiar e natildeo somente as que deixam marcas fiacutesicas resultando em lesotildees

graves ou ateacute morte mas tambeacutem as que oprimem e geram danos psicoloacutegicos e morais

deixando desprotegidas as viacutetimas dentro do seu proacuteprio domiciacutelio onde deveriam sentir-se

seguras (BRUM et al 2013 ZANCAN et al 2013)

AMIZADES FAMIacuteLIA

RELACcedilOtildeES DE

TRABALHO OU ESTUDO

RELACcedilOtildeES

COMUNITAacuteRIAS

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A Lei que Protege

No Brasil foi sancionada a Lei n 11340 que entrou em vigor 07 de agosto de 2006

conhecida como ldquoLei Maria da Penhardquo criada como mecanismos para prevenir e coibir a

violecircncia domeacutestica dos mais variados tipos contra as mulheres

A Lei declara em seu artigo 8ordm que as poliacuteticas puacuteblicas que visam coibir a violecircncia

domeacutestica contra a mulher far-se-aacute por meio das articulaccedilotildees de accedilotildees da Uniatildeo dos Estados

do Distrito Federal e dos Municiacutepios e tambeacutem por de accedilotildees natildeo governamentais Tendo por

diretrizes a integraccedilatildeo operacional do Poder Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e da Defensoria

Puacuteblica proporcionando estudos e pesquisas para gerar dados estatiacutesticos e outras informaccedilotildees

relevantes com a perspectiva de gecircnero e de raccedila ou etnia relativo agraves causas agraves consequecircncias

e agrave frequecircncia da violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher para a sistematizaccedilatildeo de dados

Esses dados pela Lei (2006) seratildeo unificados nacionalmente e a avaliaccedilatildeo perioacutedica

dos resultados das medidas adotadas a implementaccedilatildeo de atendimento policial especializado

para as mulheres em particular nas Delegacias de Atendimento agrave Mulher a promoccedilatildeo e a

realizaccedilatildeo de campanhas educativas de prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher voltadas agrave sociedade em geral implementar programas de erradicaccedilatildeo da violecircncia

domeacutestica e familiar contra a mulher

O artigo 9ordm desta mesma lei declara que a assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e familiar seraacute prestada de forma articulada e conforme os princiacutepios e as diretrizes

previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no Sistema Uacutenico

de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo

A Lei Maria da Penha (2006) garante agrave mulher em seu artigo 11ordm proteccedilatildeo judicial

encaminhamento ao hospital e Instituto Meacutedico Legal transporte a ela e seus dependentes para

um local seguro em casos de riscos agrave vida e acompanhamento policial para a retirada de seus

pertences do domiciacutelio familiar

A mesma Lei (2006) prevecirc cinco tipos de agressotildees contra a mulher (violecircncia fiacutesica

violecircncia sexual violecircncia moral violecircncia psicoloacutegica e violecircncia patrimonial) e apresenta

medidas de proteccedilatildeo para a viacutetima como afastando o homem do ambiente familiar permitindo

o rigor nas puniccedilotildees contra as agressotildees sofridas pelas mulheres e que o agressor seja preso

quando ameaccedilar a integridade fiacutesica da viacutetima

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No Brasil os serviccedilos mais procurados pelas mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

segundo Silva Padoin e Vianna (2015) estatildeo diretamente ligados agraves delegacias e agraves Unidades

de Pronto Atendimento quando a lesatildeo causada requer tratamento eou a praacutetica restrita do

crime Reduzir a violecircncia a um crime ou a um transtorno mental invisibiliza outros aspectos

do problema como o social o cultural e o poliacutetico Dessa forma propor uma intervenccedilatildeo

transversal significa criar um novo modelo de organizaccedilatildeo dos serviccedilos que insira a concepccedilatildeo

de demanda por necessidades como base conceitual para a praacutetica cujas respostas estejam

atreladas agrave promoccedilatildeo da qualidade de vida e de acesso a direitos

O acesso agrave rede pode acontecer em qualquer local e os casos devem transitar nos

serviccedilos que a compotildeem Por isso identificar e mapear as redes de apoio de mulheres viacutetimas

de violecircncia eacute o primeiro passo a fim de compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre os

serviccedilos onde todos tecircm funccedilotildees diferentes essenciais e com o mesmo grau de importacircncia

uma vez que em funccedilatildeo dos viacutenculos fragilizados com a famiacutelia e dos amigos devido agrave

violecircncia os serviccedilos puacuteblicos satildeo a uacutenica opccedilatildeo

Municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo no Rio Grande do Sul

A cidade de Satildeo Jerocircnimo localizada agraves margens do Rio Jacuiacute possui segundo o

Instituto Brasileiro de Geografias e Estatiacutestica (IBGE) uma aacuterea territorial de 936375kmsup2 e

uma populaccedilatildeo estimada em 23527 pessoas (IBGE 2010)

Conquistou o status de municiacutepio em 30 de setembro de 1861 quando se emancipou de

Bom Jesus do Triunfo nesta data comemora-se o aniversaacuterio da cidade e tambeacutem dia de Satildeo

Jerocircnimo As atividades pecuaacuteria e mineradora foram o berccedilo da riqueza de Satildeo Jerocircnimo

Devido agrave prosperidade das estacircncias surgiram as Charqueadas onde se processavam a carne

dos gados abatidos nos campos do municiacutepio Aliado a isso exploraccedilatildeo das jazidas de carvatildeo

mineral contribuiu para o desenvolvimento da cidade Sua colonizaccedilatildeo eacute de origem luso-

brasileira evidenciado pelos casarios de estilo accediloriano-colonial (IBGE 2010)

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio que segundo Creswell

(2013) envolve maior atenccedilatildeo agrave natureza interpretativa situando o estudo dentro do contexto

poliacutetico social cultural e a reflexatildeo de relatos

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Participantes

Participaram desta pesquisa quatro mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica e que

buscaram os serviccedilos da Cliacutenicandashescola do curso de Psicologia da Universidade Luterana do

Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo com idades variando entre 27 e 45 anos habitantes do

municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo do interior do estado do Rio Grande do Sul ndash Brasil

Instrumentos

Os dados para esta pesquisa foram coletados atraveacutes do mapa de rede social proposto

por Sluzki (2006) A utilizaccedilatildeo do mapa de rede social possibilitou mapear os indiviacuteduos e

serviccedilos percebidos pelas mulheres que sofreram a violecircncia domeacutestica

O mapa eacute dividido em quatro quadrantes compostos por famiacutelia amizades relaccedilotildees de

trabalho ou escolares e relaccedilotildees comunitaacuterias ou de serviccedilos possuindo tambeacutem trecircs aacutereas que

satildeo as relaccedilotildees iacutentimas as relaccedilotildees pessoais e as relaccedilotildees ocasionais Estas trecircs aacutereas se

inscrevem sob os quadrantes atraveacutes de um ciacuterculo interno que representa as relaccedilotildees iacutentimas

incluindo os familiares mais diretos e amigos mais proacuteximos um ciacuterculo intermediaacuterio

composto pelas relaccedilotildees pessoais com menor grau de compromisso e um ciacuterculo externo que

representa as relaccedilotildees ocasionais e com conhecidos O conjunto dos habitantes deste mapa

miacutenimo constitui a rede social pessoal do indiviacuteduo

Sabe-se que a rede social demarcada por cada indiviacuteduo parte de sua percepccedilatildeo e de sua

visatildeo sobre a situaccedilatildeo em um determinado momento portanto essa rede social pode natildeo

corresponder a sua rede social real mas eacute a que este indiviacuteduo consegue perceber como

significativa

Procedimentos para a Coleta de Dados

Apoacutes a aprovaccedilatildeo do projeto de pesquisa pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da

Universidade Luterana do Brasil que recebeu o parecer favoraacutevel conforme nordm 853167 em 29

de outubro de 2014 foi estabelecido contato com a Cliacutenica-escola do Curso de Psicologia da

Universidade Luterana do Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo a qual jaacute possuiacutea ciecircncia da pesquisa

e comprometimento no auxiacutelio do desenvolvimento da mesma para que se iniciassem os

contatos com as usuaacuterias Com o comparecimento da viacutetima no horaacuterio estabelecido foram

explicados os procedimentos e objetivos da pesquisa apresentaccedilatildeo do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido fornecido uma coacutepia para a participante e outra para o pesquisador Foi

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mostrado o mapa de rede e explicado como ele deveria se preenchido de acordo com as

instruccedilotildees propostas por Sluzki (2006) Os dados foram coletados nas dependecircncias da Cliacutenica-

escola no mecircs de maio do ano de 2015

Procedimentos para Anaacutelise dos Dados

O mapa de rede foi analisado em termos de estrutura conforme os criteacuterios de tamanho

e distribuiccedilatildeo Quanto ao tamanho foi verificado o nuacutemero de pessoas presentes na rede de

cada participante jaacute na distribuiccedilatildeo foi apurada a localizaccedilatildeo dos membros da rede em cada

quadrante

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

O uso do mapa possibilitou identificar a estrutura percebida pelas viacutetimas da sua rede

de apoio bem como compreender a contribuiccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas de forma

significativa para as mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica

Tabela 1 Nuacutemero de pessoas nos quadrantes

Participantes Famiacutelia Amizade Trabalho Comunidade Total

M1 2 2 0 4 8

M2 4 3 3 4 14

M3 3 2 0 1 6

M4 3 3 2 4 12 Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Atraveacutes da anaacutelise dos mapas de rede social em relaccedilatildeo ao seu tamanho estabelecido

pela quantidade de pessoas que fazem parte da rede observou-se que as redes sociais das

participantes satildeo extremamente pequenas Conforme a tabela 1 M1 apresenta uma rede de

apoio composta 08 integrantes M2 apresenta 14 integrantes em sua rede de apoio M3 apresenta

06 integrantes em sua rede de apoio e por fim M4 apresenta 12 integrantes em sua rede de

apoio

Estes nuacutemeros demonstram que natildeo haacute muitas pessoas com que elas possam contar ou

pedir ajuda em situaccedilotildees de crise ou violecircncia Para Carvalho e Ribeiro (2016) natildeo existem

valores normativos para determinar o tamanho de uma rede de apoio social mas considera

habitual a presenccedila de 20 pessoas com variaccedilatildeo meacutedia de 15 a 25 membros O mesmo autor e

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Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

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perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

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SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

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SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

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Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

Page 2: A REDE DE APOIO DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ... › Artigos › Ed... · Revista Ciência e Conhecimento – ISSN: 2177-3483 27 SOUZA, M. B. et al. A rede de apoio das mulheres

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INTRODUCcedilAtildeO

A violecircncia contra a mulher eacute considerada um problema de sauacutede puacuteblica que se faz

presente em todo o mundo e atingem meninas e mulheres independente de idade cor raccedila ou

classe social Essas agressotildees implicam perdas significativas para a sauacutede fiacutesica mental e social

das viacutetimas

Uma das caracteriacutesticas da violecircncia domeacutestica eacute o isolamento da mulher que muitas

vezes eacute utilizado como uma espeacutecie de proteccedilatildeo pois assim o agressor natildeo teria motivos para

ser violento Mas esse isolamento faz com a mulher se afaste de sua famiacutelia e amigos natildeo tendo

proteccedilatildeo aumentando sua fragilidade para sair do ciclo violento instaurado pelo perpetrador

A revitimizaccedilatildeo e atitudes preconceituosas satildeo os maiores problemas encontrados por

mulheres que conseguem buscar algum auxiacutelio em sua rede de apoio o que sugere que mesmo

que existam serviccedilos especializados a prestarem ajuda as viacutetimas eles natildeo satildeo suficientes

Dessa forma se evidencia a necessidade e a importacircncia do conhecimento e estudo das redes

de apoio sociais que possam trabalhar integradas para proporcionar a assistecircncia agraves mulheres

em situaccedilatildeo de violecircncia

A rede de apoio social compotildee-se pelas relaccedilotildees que envolvem os sujeitos sejam

pessoas instituiccedilotildees ou movimentos sociais Os principais aspectos estudados na compreensatildeo

da rede satildeo os dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de indiviacuteduos e grupos bem como suas

caracteriacutesticas a frequecircncia os tipos de contato e os objetivos Possuir uma rede de apoio social

eacute uma necessidade humana pois satildeo elas que disponibilizam recursos a uma pessoa diante das

dificuldades que esta venha a enfrentar

Esta pesquisa tem por objetivo mapear a rede de apoio de mulheres viacutetimas de violecircncia

domeacutestica no municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo Rio Grande do Sul

A violecircncia domeacutestica contra a mulher e as redes de apoio

Uma das maiores dificuldades das mulheres que enfrentam a violecircncia eacute falar a respeito

do ocorrido Poreacutem a ecircnfase com que tem se revelado o assunto nos uacuteltimos tempos denota

que muitas mulheres estatildeo buscando auxiacutelio atraveacutes de redes de apoio como os postos de

atendimento ou delegacias dirigidas agraves mesmas

A rede de apoio social eacute definida como as relaccedilotildees que envolvem os sujeitos sejam

pessoas instituiccedilotildees ou movimentos sociais Suas caracteriacutesticas a frequecircncia e o tipo de

contato estabelecido bem como os seus objetivos satildeo os principais aspectos estudados na

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compreensatildeo das redes enquanto dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos

(DUTRA et al 2013)

Segundo Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as

redes de apoio sociais podem ser classificadas em funccedilatildeo das necessidades humanas Essas

redes podem ser primaacuterias ou de proteccedilatildeo espontacircnea que satildeo sustentadas pelos princiacutepios da

solidariedade e do apoio muacutetuo constituiacutedas pelo nuacutecleo familiar pelas relaccedilotildees de amizade e

de vizinhanccedila

Para o autor citado acima a rede macrossocial ou secundaacuteria eacute a rede que fornece

atenccedilatildeo especializada orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo formada por profissionais e funcionaacuterios de

instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas Podem ser soacutecio-comunitaacuterias redes constituiacutedas por

organizaccedilotildees comunitaacuterias associaccedilotildees de bairro ou organizaccedilotildees filantroacutepicas Redes sociais

movimentalistas que satildeo formadas por movimentos sociais cujo objetivo eacute a defesa dos

direitos da vigilacircncia e a participaccedilatildeo popular Redes setoriais puacuteblicas com serviccedilos

especializados resultantes da accedilatildeo do Estado por meio das poliacuteticas puacuteblicas Redes privadas

com serviccedilos especializados fornecidos pela proacutepria iniciativa Redes regionais que satildeo

constituiacutedas por serviccedilos de diversas poliacuteticas puacuteblicas compartilhadas entre municiacutepios de uma

mesma regiatildeo e redes intersetoriais que dispotildeem de serviccedilos das organizaccedilotildees governamentais

natildeo governamentais do setor privado e da comunidade tendo em vista o atendimento integral

das demandas sociais

A rede social pessoal criada pelo psiquiatra argentino Carlos E Sluzki (2006) pode ser

registrada em forma de Mapa Miacutenimo da Rede Pessoal Social (Figura 1) que inclui todos os

indiviacuteduos com quem interage uma determinada pessoa A articulaccedilatildeo desse mapa diante de

uma situaccedilatildeo a ser investigada possibilita a construccedilatildeo de uma identificaccedilatildeo e representaccedilatildeo

do todo permitindo uma visatildeo globalizada do contexto (CARLOS FERRIANE 2015)

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Figura 1 Mapa miacutenimo de relaccedilotildees proposto por Sluzki

Fonte Sluzki 2006 p43

Segundo Sluzki (2006) o mapa pode ser sistematizado em quatro quadrantes satildeo eles

trabalho famiacutelia relaccedilotildees comunitaacuterias e amizade Tambeacutem sistematizam as trecircs aacutereas de

aproximaccedilatildeo do indiviacuteduo ciacuterculo interno de relaccedilotildees iacutentimas ciacuterculo intermediaacuterio de relaccedilotildees

pessoais e ciacuterculo externo de conhecidos e relaccedilotildees ocasionais Permite averiguar suas

caracteriacutesticas estruturais quanto ao tamanho composiccedilatildeo ou distribuiccedilatildeo e as funccedilotildees desta

o que favorece a construccedilatildeo de ideias e atividades que possam dar espaccedilo para mudanccedilas e

novas interaccedilotildees sociais

A violecircncia domeacutestica atinge mulheres idosos adolescentes e crianccedilas com

repercussotildees em vaacuterios aspectos da vida no acircmbito profissional nas relaccedilotildees sociais e na sauacutede

(fiacutesica eou psicoloacutegica) Considera-se violecircncia domeacutestica as que ocorrem no acircmbito

domeacutestico eou familiar e natildeo somente as que deixam marcas fiacutesicas resultando em lesotildees

graves ou ateacute morte mas tambeacutem as que oprimem e geram danos psicoloacutegicos e morais

deixando desprotegidas as viacutetimas dentro do seu proacuteprio domiciacutelio onde deveriam sentir-se

seguras (BRUM et al 2013 ZANCAN et al 2013)

AMIZADES FAMIacuteLIA

RELACcedilOtildeES DE

TRABALHO OU ESTUDO

RELACcedilOtildeES

COMUNITAacuteRIAS

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A Lei que Protege

No Brasil foi sancionada a Lei n 11340 que entrou em vigor 07 de agosto de 2006

conhecida como ldquoLei Maria da Penhardquo criada como mecanismos para prevenir e coibir a

violecircncia domeacutestica dos mais variados tipos contra as mulheres

A Lei declara em seu artigo 8ordm que as poliacuteticas puacuteblicas que visam coibir a violecircncia

domeacutestica contra a mulher far-se-aacute por meio das articulaccedilotildees de accedilotildees da Uniatildeo dos Estados

do Distrito Federal e dos Municiacutepios e tambeacutem por de accedilotildees natildeo governamentais Tendo por

diretrizes a integraccedilatildeo operacional do Poder Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e da Defensoria

Puacuteblica proporcionando estudos e pesquisas para gerar dados estatiacutesticos e outras informaccedilotildees

relevantes com a perspectiva de gecircnero e de raccedila ou etnia relativo agraves causas agraves consequecircncias

e agrave frequecircncia da violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher para a sistematizaccedilatildeo de dados

Esses dados pela Lei (2006) seratildeo unificados nacionalmente e a avaliaccedilatildeo perioacutedica

dos resultados das medidas adotadas a implementaccedilatildeo de atendimento policial especializado

para as mulheres em particular nas Delegacias de Atendimento agrave Mulher a promoccedilatildeo e a

realizaccedilatildeo de campanhas educativas de prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher voltadas agrave sociedade em geral implementar programas de erradicaccedilatildeo da violecircncia

domeacutestica e familiar contra a mulher

O artigo 9ordm desta mesma lei declara que a assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e familiar seraacute prestada de forma articulada e conforme os princiacutepios e as diretrizes

previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no Sistema Uacutenico

de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo

A Lei Maria da Penha (2006) garante agrave mulher em seu artigo 11ordm proteccedilatildeo judicial

encaminhamento ao hospital e Instituto Meacutedico Legal transporte a ela e seus dependentes para

um local seguro em casos de riscos agrave vida e acompanhamento policial para a retirada de seus

pertences do domiciacutelio familiar

A mesma Lei (2006) prevecirc cinco tipos de agressotildees contra a mulher (violecircncia fiacutesica

violecircncia sexual violecircncia moral violecircncia psicoloacutegica e violecircncia patrimonial) e apresenta

medidas de proteccedilatildeo para a viacutetima como afastando o homem do ambiente familiar permitindo

o rigor nas puniccedilotildees contra as agressotildees sofridas pelas mulheres e que o agressor seja preso

quando ameaccedilar a integridade fiacutesica da viacutetima

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No Brasil os serviccedilos mais procurados pelas mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

segundo Silva Padoin e Vianna (2015) estatildeo diretamente ligados agraves delegacias e agraves Unidades

de Pronto Atendimento quando a lesatildeo causada requer tratamento eou a praacutetica restrita do

crime Reduzir a violecircncia a um crime ou a um transtorno mental invisibiliza outros aspectos

do problema como o social o cultural e o poliacutetico Dessa forma propor uma intervenccedilatildeo

transversal significa criar um novo modelo de organizaccedilatildeo dos serviccedilos que insira a concepccedilatildeo

de demanda por necessidades como base conceitual para a praacutetica cujas respostas estejam

atreladas agrave promoccedilatildeo da qualidade de vida e de acesso a direitos

O acesso agrave rede pode acontecer em qualquer local e os casos devem transitar nos

serviccedilos que a compotildeem Por isso identificar e mapear as redes de apoio de mulheres viacutetimas

de violecircncia eacute o primeiro passo a fim de compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre os

serviccedilos onde todos tecircm funccedilotildees diferentes essenciais e com o mesmo grau de importacircncia

uma vez que em funccedilatildeo dos viacutenculos fragilizados com a famiacutelia e dos amigos devido agrave

violecircncia os serviccedilos puacuteblicos satildeo a uacutenica opccedilatildeo

Municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo no Rio Grande do Sul

A cidade de Satildeo Jerocircnimo localizada agraves margens do Rio Jacuiacute possui segundo o

Instituto Brasileiro de Geografias e Estatiacutestica (IBGE) uma aacuterea territorial de 936375kmsup2 e

uma populaccedilatildeo estimada em 23527 pessoas (IBGE 2010)

Conquistou o status de municiacutepio em 30 de setembro de 1861 quando se emancipou de

Bom Jesus do Triunfo nesta data comemora-se o aniversaacuterio da cidade e tambeacutem dia de Satildeo

Jerocircnimo As atividades pecuaacuteria e mineradora foram o berccedilo da riqueza de Satildeo Jerocircnimo

Devido agrave prosperidade das estacircncias surgiram as Charqueadas onde se processavam a carne

dos gados abatidos nos campos do municiacutepio Aliado a isso exploraccedilatildeo das jazidas de carvatildeo

mineral contribuiu para o desenvolvimento da cidade Sua colonizaccedilatildeo eacute de origem luso-

brasileira evidenciado pelos casarios de estilo accediloriano-colonial (IBGE 2010)

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio que segundo Creswell

(2013) envolve maior atenccedilatildeo agrave natureza interpretativa situando o estudo dentro do contexto

poliacutetico social cultural e a reflexatildeo de relatos

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Participantes

Participaram desta pesquisa quatro mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica e que

buscaram os serviccedilos da Cliacutenicandashescola do curso de Psicologia da Universidade Luterana do

Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo com idades variando entre 27 e 45 anos habitantes do

municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo do interior do estado do Rio Grande do Sul ndash Brasil

Instrumentos

Os dados para esta pesquisa foram coletados atraveacutes do mapa de rede social proposto

por Sluzki (2006) A utilizaccedilatildeo do mapa de rede social possibilitou mapear os indiviacuteduos e

serviccedilos percebidos pelas mulheres que sofreram a violecircncia domeacutestica

O mapa eacute dividido em quatro quadrantes compostos por famiacutelia amizades relaccedilotildees de

trabalho ou escolares e relaccedilotildees comunitaacuterias ou de serviccedilos possuindo tambeacutem trecircs aacutereas que

satildeo as relaccedilotildees iacutentimas as relaccedilotildees pessoais e as relaccedilotildees ocasionais Estas trecircs aacutereas se

inscrevem sob os quadrantes atraveacutes de um ciacuterculo interno que representa as relaccedilotildees iacutentimas

incluindo os familiares mais diretos e amigos mais proacuteximos um ciacuterculo intermediaacuterio

composto pelas relaccedilotildees pessoais com menor grau de compromisso e um ciacuterculo externo que

representa as relaccedilotildees ocasionais e com conhecidos O conjunto dos habitantes deste mapa

miacutenimo constitui a rede social pessoal do indiviacuteduo

Sabe-se que a rede social demarcada por cada indiviacuteduo parte de sua percepccedilatildeo e de sua

visatildeo sobre a situaccedilatildeo em um determinado momento portanto essa rede social pode natildeo

corresponder a sua rede social real mas eacute a que este indiviacuteduo consegue perceber como

significativa

Procedimentos para a Coleta de Dados

Apoacutes a aprovaccedilatildeo do projeto de pesquisa pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da

Universidade Luterana do Brasil que recebeu o parecer favoraacutevel conforme nordm 853167 em 29

de outubro de 2014 foi estabelecido contato com a Cliacutenica-escola do Curso de Psicologia da

Universidade Luterana do Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo a qual jaacute possuiacutea ciecircncia da pesquisa

e comprometimento no auxiacutelio do desenvolvimento da mesma para que se iniciassem os

contatos com as usuaacuterias Com o comparecimento da viacutetima no horaacuterio estabelecido foram

explicados os procedimentos e objetivos da pesquisa apresentaccedilatildeo do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido fornecido uma coacutepia para a participante e outra para o pesquisador Foi

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mostrado o mapa de rede e explicado como ele deveria se preenchido de acordo com as

instruccedilotildees propostas por Sluzki (2006) Os dados foram coletados nas dependecircncias da Cliacutenica-

escola no mecircs de maio do ano de 2015

Procedimentos para Anaacutelise dos Dados

O mapa de rede foi analisado em termos de estrutura conforme os criteacuterios de tamanho

e distribuiccedilatildeo Quanto ao tamanho foi verificado o nuacutemero de pessoas presentes na rede de

cada participante jaacute na distribuiccedilatildeo foi apurada a localizaccedilatildeo dos membros da rede em cada

quadrante

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

O uso do mapa possibilitou identificar a estrutura percebida pelas viacutetimas da sua rede

de apoio bem como compreender a contribuiccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas de forma

significativa para as mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica

Tabela 1 Nuacutemero de pessoas nos quadrantes

Participantes Famiacutelia Amizade Trabalho Comunidade Total

M1 2 2 0 4 8

M2 4 3 3 4 14

M3 3 2 0 1 6

M4 3 3 2 4 12 Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Atraveacutes da anaacutelise dos mapas de rede social em relaccedilatildeo ao seu tamanho estabelecido

pela quantidade de pessoas que fazem parte da rede observou-se que as redes sociais das

participantes satildeo extremamente pequenas Conforme a tabela 1 M1 apresenta uma rede de

apoio composta 08 integrantes M2 apresenta 14 integrantes em sua rede de apoio M3 apresenta

06 integrantes em sua rede de apoio e por fim M4 apresenta 12 integrantes em sua rede de

apoio

Estes nuacutemeros demonstram que natildeo haacute muitas pessoas com que elas possam contar ou

pedir ajuda em situaccedilotildees de crise ou violecircncia Para Carvalho e Ribeiro (2016) natildeo existem

valores normativos para determinar o tamanho de uma rede de apoio social mas considera

habitual a presenccedila de 20 pessoas com variaccedilatildeo meacutedia de 15 a 25 membros O mesmo autor e

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Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

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perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

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dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

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Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

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compreensatildeo das redes enquanto dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos

(DUTRA et al 2013)

Segundo Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as

redes de apoio sociais podem ser classificadas em funccedilatildeo das necessidades humanas Essas

redes podem ser primaacuterias ou de proteccedilatildeo espontacircnea que satildeo sustentadas pelos princiacutepios da

solidariedade e do apoio muacutetuo constituiacutedas pelo nuacutecleo familiar pelas relaccedilotildees de amizade e

de vizinhanccedila

Para o autor citado acima a rede macrossocial ou secundaacuteria eacute a rede que fornece

atenccedilatildeo especializada orientaccedilatildeo e informaccedilatildeo formada por profissionais e funcionaacuterios de

instituiccedilotildees puacuteblicas ou privadas Podem ser soacutecio-comunitaacuterias redes constituiacutedas por

organizaccedilotildees comunitaacuterias associaccedilotildees de bairro ou organizaccedilotildees filantroacutepicas Redes sociais

movimentalistas que satildeo formadas por movimentos sociais cujo objetivo eacute a defesa dos

direitos da vigilacircncia e a participaccedilatildeo popular Redes setoriais puacuteblicas com serviccedilos

especializados resultantes da accedilatildeo do Estado por meio das poliacuteticas puacuteblicas Redes privadas

com serviccedilos especializados fornecidos pela proacutepria iniciativa Redes regionais que satildeo

constituiacutedas por serviccedilos de diversas poliacuteticas puacuteblicas compartilhadas entre municiacutepios de uma

mesma regiatildeo e redes intersetoriais que dispotildeem de serviccedilos das organizaccedilotildees governamentais

natildeo governamentais do setor privado e da comunidade tendo em vista o atendimento integral

das demandas sociais

A rede social pessoal criada pelo psiquiatra argentino Carlos E Sluzki (2006) pode ser

registrada em forma de Mapa Miacutenimo da Rede Pessoal Social (Figura 1) que inclui todos os

indiviacuteduos com quem interage uma determinada pessoa A articulaccedilatildeo desse mapa diante de

uma situaccedilatildeo a ser investigada possibilita a construccedilatildeo de uma identificaccedilatildeo e representaccedilatildeo

do todo permitindo uma visatildeo globalizada do contexto (CARLOS FERRIANE 2015)

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Figura 1 Mapa miacutenimo de relaccedilotildees proposto por Sluzki

Fonte Sluzki 2006 p43

Segundo Sluzki (2006) o mapa pode ser sistematizado em quatro quadrantes satildeo eles

trabalho famiacutelia relaccedilotildees comunitaacuterias e amizade Tambeacutem sistematizam as trecircs aacutereas de

aproximaccedilatildeo do indiviacuteduo ciacuterculo interno de relaccedilotildees iacutentimas ciacuterculo intermediaacuterio de relaccedilotildees

pessoais e ciacuterculo externo de conhecidos e relaccedilotildees ocasionais Permite averiguar suas

caracteriacutesticas estruturais quanto ao tamanho composiccedilatildeo ou distribuiccedilatildeo e as funccedilotildees desta

o que favorece a construccedilatildeo de ideias e atividades que possam dar espaccedilo para mudanccedilas e

novas interaccedilotildees sociais

A violecircncia domeacutestica atinge mulheres idosos adolescentes e crianccedilas com

repercussotildees em vaacuterios aspectos da vida no acircmbito profissional nas relaccedilotildees sociais e na sauacutede

(fiacutesica eou psicoloacutegica) Considera-se violecircncia domeacutestica as que ocorrem no acircmbito

domeacutestico eou familiar e natildeo somente as que deixam marcas fiacutesicas resultando em lesotildees

graves ou ateacute morte mas tambeacutem as que oprimem e geram danos psicoloacutegicos e morais

deixando desprotegidas as viacutetimas dentro do seu proacuteprio domiciacutelio onde deveriam sentir-se

seguras (BRUM et al 2013 ZANCAN et al 2013)

AMIZADES FAMIacuteLIA

RELACcedilOtildeES DE

TRABALHO OU ESTUDO

RELACcedilOtildeES

COMUNITAacuteRIAS

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A Lei que Protege

No Brasil foi sancionada a Lei n 11340 que entrou em vigor 07 de agosto de 2006

conhecida como ldquoLei Maria da Penhardquo criada como mecanismos para prevenir e coibir a

violecircncia domeacutestica dos mais variados tipos contra as mulheres

A Lei declara em seu artigo 8ordm que as poliacuteticas puacuteblicas que visam coibir a violecircncia

domeacutestica contra a mulher far-se-aacute por meio das articulaccedilotildees de accedilotildees da Uniatildeo dos Estados

do Distrito Federal e dos Municiacutepios e tambeacutem por de accedilotildees natildeo governamentais Tendo por

diretrizes a integraccedilatildeo operacional do Poder Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e da Defensoria

Puacuteblica proporcionando estudos e pesquisas para gerar dados estatiacutesticos e outras informaccedilotildees

relevantes com a perspectiva de gecircnero e de raccedila ou etnia relativo agraves causas agraves consequecircncias

e agrave frequecircncia da violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher para a sistematizaccedilatildeo de dados

Esses dados pela Lei (2006) seratildeo unificados nacionalmente e a avaliaccedilatildeo perioacutedica

dos resultados das medidas adotadas a implementaccedilatildeo de atendimento policial especializado

para as mulheres em particular nas Delegacias de Atendimento agrave Mulher a promoccedilatildeo e a

realizaccedilatildeo de campanhas educativas de prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher voltadas agrave sociedade em geral implementar programas de erradicaccedilatildeo da violecircncia

domeacutestica e familiar contra a mulher

O artigo 9ordm desta mesma lei declara que a assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e familiar seraacute prestada de forma articulada e conforme os princiacutepios e as diretrizes

previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no Sistema Uacutenico

de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo

A Lei Maria da Penha (2006) garante agrave mulher em seu artigo 11ordm proteccedilatildeo judicial

encaminhamento ao hospital e Instituto Meacutedico Legal transporte a ela e seus dependentes para

um local seguro em casos de riscos agrave vida e acompanhamento policial para a retirada de seus

pertences do domiciacutelio familiar

A mesma Lei (2006) prevecirc cinco tipos de agressotildees contra a mulher (violecircncia fiacutesica

violecircncia sexual violecircncia moral violecircncia psicoloacutegica e violecircncia patrimonial) e apresenta

medidas de proteccedilatildeo para a viacutetima como afastando o homem do ambiente familiar permitindo

o rigor nas puniccedilotildees contra as agressotildees sofridas pelas mulheres e que o agressor seja preso

quando ameaccedilar a integridade fiacutesica da viacutetima

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No Brasil os serviccedilos mais procurados pelas mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

segundo Silva Padoin e Vianna (2015) estatildeo diretamente ligados agraves delegacias e agraves Unidades

de Pronto Atendimento quando a lesatildeo causada requer tratamento eou a praacutetica restrita do

crime Reduzir a violecircncia a um crime ou a um transtorno mental invisibiliza outros aspectos

do problema como o social o cultural e o poliacutetico Dessa forma propor uma intervenccedilatildeo

transversal significa criar um novo modelo de organizaccedilatildeo dos serviccedilos que insira a concepccedilatildeo

de demanda por necessidades como base conceitual para a praacutetica cujas respostas estejam

atreladas agrave promoccedilatildeo da qualidade de vida e de acesso a direitos

O acesso agrave rede pode acontecer em qualquer local e os casos devem transitar nos

serviccedilos que a compotildeem Por isso identificar e mapear as redes de apoio de mulheres viacutetimas

de violecircncia eacute o primeiro passo a fim de compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre os

serviccedilos onde todos tecircm funccedilotildees diferentes essenciais e com o mesmo grau de importacircncia

uma vez que em funccedilatildeo dos viacutenculos fragilizados com a famiacutelia e dos amigos devido agrave

violecircncia os serviccedilos puacuteblicos satildeo a uacutenica opccedilatildeo

Municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo no Rio Grande do Sul

A cidade de Satildeo Jerocircnimo localizada agraves margens do Rio Jacuiacute possui segundo o

Instituto Brasileiro de Geografias e Estatiacutestica (IBGE) uma aacuterea territorial de 936375kmsup2 e

uma populaccedilatildeo estimada em 23527 pessoas (IBGE 2010)

Conquistou o status de municiacutepio em 30 de setembro de 1861 quando se emancipou de

Bom Jesus do Triunfo nesta data comemora-se o aniversaacuterio da cidade e tambeacutem dia de Satildeo

Jerocircnimo As atividades pecuaacuteria e mineradora foram o berccedilo da riqueza de Satildeo Jerocircnimo

Devido agrave prosperidade das estacircncias surgiram as Charqueadas onde se processavam a carne

dos gados abatidos nos campos do municiacutepio Aliado a isso exploraccedilatildeo das jazidas de carvatildeo

mineral contribuiu para o desenvolvimento da cidade Sua colonizaccedilatildeo eacute de origem luso-

brasileira evidenciado pelos casarios de estilo accediloriano-colonial (IBGE 2010)

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio que segundo Creswell

(2013) envolve maior atenccedilatildeo agrave natureza interpretativa situando o estudo dentro do contexto

poliacutetico social cultural e a reflexatildeo de relatos

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Participantes

Participaram desta pesquisa quatro mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica e que

buscaram os serviccedilos da Cliacutenicandashescola do curso de Psicologia da Universidade Luterana do

Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo com idades variando entre 27 e 45 anos habitantes do

municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo do interior do estado do Rio Grande do Sul ndash Brasil

Instrumentos

Os dados para esta pesquisa foram coletados atraveacutes do mapa de rede social proposto

por Sluzki (2006) A utilizaccedilatildeo do mapa de rede social possibilitou mapear os indiviacuteduos e

serviccedilos percebidos pelas mulheres que sofreram a violecircncia domeacutestica

O mapa eacute dividido em quatro quadrantes compostos por famiacutelia amizades relaccedilotildees de

trabalho ou escolares e relaccedilotildees comunitaacuterias ou de serviccedilos possuindo tambeacutem trecircs aacutereas que

satildeo as relaccedilotildees iacutentimas as relaccedilotildees pessoais e as relaccedilotildees ocasionais Estas trecircs aacutereas se

inscrevem sob os quadrantes atraveacutes de um ciacuterculo interno que representa as relaccedilotildees iacutentimas

incluindo os familiares mais diretos e amigos mais proacuteximos um ciacuterculo intermediaacuterio

composto pelas relaccedilotildees pessoais com menor grau de compromisso e um ciacuterculo externo que

representa as relaccedilotildees ocasionais e com conhecidos O conjunto dos habitantes deste mapa

miacutenimo constitui a rede social pessoal do indiviacuteduo

Sabe-se que a rede social demarcada por cada indiviacuteduo parte de sua percepccedilatildeo e de sua

visatildeo sobre a situaccedilatildeo em um determinado momento portanto essa rede social pode natildeo

corresponder a sua rede social real mas eacute a que este indiviacuteduo consegue perceber como

significativa

Procedimentos para a Coleta de Dados

Apoacutes a aprovaccedilatildeo do projeto de pesquisa pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da

Universidade Luterana do Brasil que recebeu o parecer favoraacutevel conforme nordm 853167 em 29

de outubro de 2014 foi estabelecido contato com a Cliacutenica-escola do Curso de Psicologia da

Universidade Luterana do Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo a qual jaacute possuiacutea ciecircncia da pesquisa

e comprometimento no auxiacutelio do desenvolvimento da mesma para que se iniciassem os

contatos com as usuaacuterias Com o comparecimento da viacutetima no horaacuterio estabelecido foram

explicados os procedimentos e objetivos da pesquisa apresentaccedilatildeo do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido fornecido uma coacutepia para a participante e outra para o pesquisador Foi

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mostrado o mapa de rede e explicado como ele deveria se preenchido de acordo com as

instruccedilotildees propostas por Sluzki (2006) Os dados foram coletados nas dependecircncias da Cliacutenica-

escola no mecircs de maio do ano de 2015

Procedimentos para Anaacutelise dos Dados

O mapa de rede foi analisado em termos de estrutura conforme os criteacuterios de tamanho

e distribuiccedilatildeo Quanto ao tamanho foi verificado o nuacutemero de pessoas presentes na rede de

cada participante jaacute na distribuiccedilatildeo foi apurada a localizaccedilatildeo dos membros da rede em cada

quadrante

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

O uso do mapa possibilitou identificar a estrutura percebida pelas viacutetimas da sua rede

de apoio bem como compreender a contribuiccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas de forma

significativa para as mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica

Tabela 1 Nuacutemero de pessoas nos quadrantes

Participantes Famiacutelia Amizade Trabalho Comunidade Total

M1 2 2 0 4 8

M2 4 3 3 4 14

M3 3 2 0 1 6

M4 3 3 2 4 12 Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Atraveacutes da anaacutelise dos mapas de rede social em relaccedilatildeo ao seu tamanho estabelecido

pela quantidade de pessoas que fazem parte da rede observou-se que as redes sociais das

participantes satildeo extremamente pequenas Conforme a tabela 1 M1 apresenta uma rede de

apoio composta 08 integrantes M2 apresenta 14 integrantes em sua rede de apoio M3 apresenta

06 integrantes em sua rede de apoio e por fim M4 apresenta 12 integrantes em sua rede de

apoio

Estes nuacutemeros demonstram que natildeo haacute muitas pessoas com que elas possam contar ou

pedir ajuda em situaccedilotildees de crise ou violecircncia Para Carvalho e Ribeiro (2016) natildeo existem

valores normativos para determinar o tamanho de uma rede de apoio social mas considera

habitual a presenccedila de 20 pessoas com variaccedilatildeo meacutedia de 15 a 25 membros O mesmo autor e

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Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

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perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

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dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

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Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

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partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

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Figura 1 Mapa miacutenimo de relaccedilotildees proposto por Sluzki

Fonte Sluzki 2006 p43

Segundo Sluzki (2006) o mapa pode ser sistematizado em quatro quadrantes satildeo eles

trabalho famiacutelia relaccedilotildees comunitaacuterias e amizade Tambeacutem sistematizam as trecircs aacutereas de

aproximaccedilatildeo do indiviacuteduo ciacuterculo interno de relaccedilotildees iacutentimas ciacuterculo intermediaacuterio de relaccedilotildees

pessoais e ciacuterculo externo de conhecidos e relaccedilotildees ocasionais Permite averiguar suas

caracteriacutesticas estruturais quanto ao tamanho composiccedilatildeo ou distribuiccedilatildeo e as funccedilotildees desta

o que favorece a construccedilatildeo de ideias e atividades que possam dar espaccedilo para mudanccedilas e

novas interaccedilotildees sociais

A violecircncia domeacutestica atinge mulheres idosos adolescentes e crianccedilas com

repercussotildees em vaacuterios aspectos da vida no acircmbito profissional nas relaccedilotildees sociais e na sauacutede

(fiacutesica eou psicoloacutegica) Considera-se violecircncia domeacutestica as que ocorrem no acircmbito

domeacutestico eou familiar e natildeo somente as que deixam marcas fiacutesicas resultando em lesotildees

graves ou ateacute morte mas tambeacutem as que oprimem e geram danos psicoloacutegicos e morais

deixando desprotegidas as viacutetimas dentro do seu proacuteprio domiciacutelio onde deveriam sentir-se

seguras (BRUM et al 2013 ZANCAN et al 2013)

AMIZADES FAMIacuteLIA

RELACcedilOtildeES DE

TRABALHO OU ESTUDO

RELACcedilOtildeES

COMUNITAacuteRIAS

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A Lei que Protege

No Brasil foi sancionada a Lei n 11340 que entrou em vigor 07 de agosto de 2006

conhecida como ldquoLei Maria da Penhardquo criada como mecanismos para prevenir e coibir a

violecircncia domeacutestica dos mais variados tipos contra as mulheres

A Lei declara em seu artigo 8ordm que as poliacuteticas puacuteblicas que visam coibir a violecircncia

domeacutestica contra a mulher far-se-aacute por meio das articulaccedilotildees de accedilotildees da Uniatildeo dos Estados

do Distrito Federal e dos Municiacutepios e tambeacutem por de accedilotildees natildeo governamentais Tendo por

diretrizes a integraccedilatildeo operacional do Poder Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e da Defensoria

Puacuteblica proporcionando estudos e pesquisas para gerar dados estatiacutesticos e outras informaccedilotildees

relevantes com a perspectiva de gecircnero e de raccedila ou etnia relativo agraves causas agraves consequecircncias

e agrave frequecircncia da violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher para a sistematizaccedilatildeo de dados

Esses dados pela Lei (2006) seratildeo unificados nacionalmente e a avaliaccedilatildeo perioacutedica

dos resultados das medidas adotadas a implementaccedilatildeo de atendimento policial especializado

para as mulheres em particular nas Delegacias de Atendimento agrave Mulher a promoccedilatildeo e a

realizaccedilatildeo de campanhas educativas de prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher voltadas agrave sociedade em geral implementar programas de erradicaccedilatildeo da violecircncia

domeacutestica e familiar contra a mulher

O artigo 9ordm desta mesma lei declara que a assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e familiar seraacute prestada de forma articulada e conforme os princiacutepios e as diretrizes

previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no Sistema Uacutenico

de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo

A Lei Maria da Penha (2006) garante agrave mulher em seu artigo 11ordm proteccedilatildeo judicial

encaminhamento ao hospital e Instituto Meacutedico Legal transporte a ela e seus dependentes para

um local seguro em casos de riscos agrave vida e acompanhamento policial para a retirada de seus

pertences do domiciacutelio familiar

A mesma Lei (2006) prevecirc cinco tipos de agressotildees contra a mulher (violecircncia fiacutesica

violecircncia sexual violecircncia moral violecircncia psicoloacutegica e violecircncia patrimonial) e apresenta

medidas de proteccedilatildeo para a viacutetima como afastando o homem do ambiente familiar permitindo

o rigor nas puniccedilotildees contra as agressotildees sofridas pelas mulheres e que o agressor seja preso

quando ameaccedilar a integridade fiacutesica da viacutetima

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No Brasil os serviccedilos mais procurados pelas mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

segundo Silva Padoin e Vianna (2015) estatildeo diretamente ligados agraves delegacias e agraves Unidades

de Pronto Atendimento quando a lesatildeo causada requer tratamento eou a praacutetica restrita do

crime Reduzir a violecircncia a um crime ou a um transtorno mental invisibiliza outros aspectos

do problema como o social o cultural e o poliacutetico Dessa forma propor uma intervenccedilatildeo

transversal significa criar um novo modelo de organizaccedilatildeo dos serviccedilos que insira a concepccedilatildeo

de demanda por necessidades como base conceitual para a praacutetica cujas respostas estejam

atreladas agrave promoccedilatildeo da qualidade de vida e de acesso a direitos

O acesso agrave rede pode acontecer em qualquer local e os casos devem transitar nos

serviccedilos que a compotildeem Por isso identificar e mapear as redes de apoio de mulheres viacutetimas

de violecircncia eacute o primeiro passo a fim de compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre os

serviccedilos onde todos tecircm funccedilotildees diferentes essenciais e com o mesmo grau de importacircncia

uma vez que em funccedilatildeo dos viacutenculos fragilizados com a famiacutelia e dos amigos devido agrave

violecircncia os serviccedilos puacuteblicos satildeo a uacutenica opccedilatildeo

Municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo no Rio Grande do Sul

A cidade de Satildeo Jerocircnimo localizada agraves margens do Rio Jacuiacute possui segundo o

Instituto Brasileiro de Geografias e Estatiacutestica (IBGE) uma aacuterea territorial de 936375kmsup2 e

uma populaccedilatildeo estimada em 23527 pessoas (IBGE 2010)

Conquistou o status de municiacutepio em 30 de setembro de 1861 quando se emancipou de

Bom Jesus do Triunfo nesta data comemora-se o aniversaacuterio da cidade e tambeacutem dia de Satildeo

Jerocircnimo As atividades pecuaacuteria e mineradora foram o berccedilo da riqueza de Satildeo Jerocircnimo

Devido agrave prosperidade das estacircncias surgiram as Charqueadas onde se processavam a carne

dos gados abatidos nos campos do municiacutepio Aliado a isso exploraccedilatildeo das jazidas de carvatildeo

mineral contribuiu para o desenvolvimento da cidade Sua colonizaccedilatildeo eacute de origem luso-

brasileira evidenciado pelos casarios de estilo accediloriano-colonial (IBGE 2010)

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio que segundo Creswell

(2013) envolve maior atenccedilatildeo agrave natureza interpretativa situando o estudo dentro do contexto

poliacutetico social cultural e a reflexatildeo de relatos

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Participantes

Participaram desta pesquisa quatro mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica e que

buscaram os serviccedilos da Cliacutenicandashescola do curso de Psicologia da Universidade Luterana do

Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo com idades variando entre 27 e 45 anos habitantes do

municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo do interior do estado do Rio Grande do Sul ndash Brasil

Instrumentos

Os dados para esta pesquisa foram coletados atraveacutes do mapa de rede social proposto

por Sluzki (2006) A utilizaccedilatildeo do mapa de rede social possibilitou mapear os indiviacuteduos e

serviccedilos percebidos pelas mulheres que sofreram a violecircncia domeacutestica

O mapa eacute dividido em quatro quadrantes compostos por famiacutelia amizades relaccedilotildees de

trabalho ou escolares e relaccedilotildees comunitaacuterias ou de serviccedilos possuindo tambeacutem trecircs aacutereas que

satildeo as relaccedilotildees iacutentimas as relaccedilotildees pessoais e as relaccedilotildees ocasionais Estas trecircs aacutereas se

inscrevem sob os quadrantes atraveacutes de um ciacuterculo interno que representa as relaccedilotildees iacutentimas

incluindo os familiares mais diretos e amigos mais proacuteximos um ciacuterculo intermediaacuterio

composto pelas relaccedilotildees pessoais com menor grau de compromisso e um ciacuterculo externo que

representa as relaccedilotildees ocasionais e com conhecidos O conjunto dos habitantes deste mapa

miacutenimo constitui a rede social pessoal do indiviacuteduo

Sabe-se que a rede social demarcada por cada indiviacuteduo parte de sua percepccedilatildeo e de sua

visatildeo sobre a situaccedilatildeo em um determinado momento portanto essa rede social pode natildeo

corresponder a sua rede social real mas eacute a que este indiviacuteduo consegue perceber como

significativa

Procedimentos para a Coleta de Dados

Apoacutes a aprovaccedilatildeo do projeto de pesquisa pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da

Universidade Luterana do Brasil que recebeu o parecer favoraacutevel conforme nordm 853167 em 29

de outubro de 2014 foi estabelecido contato com a Cliacutenica-escola do Curso de Psicologia da

Universidade Luterana do Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo a qual jaacute possuiacutea ciecircncia da pesquisa

e comprometimento no auxiacutelio do desenvolvimento da mesma para que se iniciassem os

contatos com as usuaacuterias Com o comparecimento da viacutetima no horaacuterio estabelecido foram

explicados os procedimentos e objetivos da pesquisa apresentaccedilatildeo do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido fornecido uma coacutepia para a participante e outra para o pesquisador Foi

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mostrado o mapa de rede e explicado como ele deveria se preenchido de acordo com as

instruccedilotildees propostas por Sluzki (2006) Os dados foram coletados nas dependecircncias da Cliacutenica-

escola no mecircs de maio do ano de 2015

Procedimentos para Anaacutelise dos Dados

O mapa de rede foi analisado em termos de estrutura conforme os criteacuterios de tamanho

e distribuiccedilatildeo Quanto ao tamanho foi verificado o nuacutemero de pessoas presentes na rede de

cada participante jaacute na distribuiccedilatildeo foi apurada a localizaccedilatildeo dos membros da rede em cada

quadrante

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

O uso do mapa possibilitou identificar a estrutura percebida pelas viacutetimas da sua rede

de apoio bem como compreender a contribuiccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas de forma

significativa para as mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica

Tabela 1 Nuacutemero de pessoas nos quadrantes

Participantes Famiacutelia Amizade Trabalho Comunidade Total

M1 2 2 0 4 8

M2 4 3 3 4 14

M3 3 2 0 1 6

M4 3 3 2 4 12 Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Atraveacutes da anaacutelise dos mapas de rede social em relaccedilatildeo ao seu tamanho estabelecido

pela quantidade de pessoas que fazem parte da rede observou-se que as redes sociais das

participantes satildeo extremamente pequenas Conforme a tabela 1 M1 apresenta uma rede de

apoio composta 08 integrantes M2 apresenta 14 integrantes em sua rede de apoio M3 apresenta

06 integrantes em sua rede de apoio e por fim M4 apresenta 12 integrantes em sua rede de

apoio

Estes nuacutemeros demonstram que natildeo haacute muitas pessoas com que elas possam contar ou

pedir ajuda em situaccedilotildees de crise ou violecircncia Para Carvalho e Ribeiro (2016) natildeo existem

valores normativos para determinar o tamanho de uma rede de apoio social mas considera

habitual a presenccedila de 20 pessoas com variaccedilatildeo meacutedia de 15 a 25 membros O mesmo autor e

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Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

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perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

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dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

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Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

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REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

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BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

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CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

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CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

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no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

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PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

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SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

Page 5: A REDE DE APOIO DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ... › Artigos › Ed... · Revista Ciência e Conhecimento – ISSN: 2177-3483 27 SOUZA, M. B. et al. A rede de apoio das mulheres

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 29

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

A Lei que Protege

No Brasil foi sancionada a Lei n 11340 que entrou em vigor 07 de agosto de 2006

conhecida como ldquoLei Maria da Penhardquo criada como mecanismos para prevenir e coibir a

violecircncia domeacutestica dos mais variados tipos contra as mulheres

A Lei declara em seu artigo 8ordm que as poliacuteticas puacuteblicas que visam coibir a violecircncia

domeacutestica contra a mulher far-se-aacute por meio das articulaccedilotildees de accedilotildees da Uniatildeo dos Estados

do Distrito Federal e dos Municiacutepios e tambeacutem por de accedilotildees natildeo governamentais Tendo por

diretrizes a integraccedilatildeo operacional do Poder Judiciaacuterio do Ministeacuterio Puacuteblico e da Defensoria

Puacuteblica proporcionando estudos e pesquisas para gerar dados estatiacutesticos e outras informaccedilotildees

relevantes com a perspectiva de gecircnero e de raccedila ou etnia relativo agraves causas agraves consequecircncias

e agrave frequecircncia da violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher para a sistematizaccedilatildeo de dados

Esses dados pela Lei (2006) seratildeo unificados nacionalmente e a avaliaccedilatildeo perioacutedica

dos resultados das medidas adotadas a implementaccedilatildeo de atendimento policial especializado

para as mulheres em particular nas Delegacias de Atendimento agrave Mulher a promoccedilatildeo e a

realizaccedilatildeo de campanhas educativas de prevenccedilatildeo da violecircncia domeacutestica e familiar contra a

mulher voltadas agrave sociedade em geral implementar programas de erradicaccedilatildeo da violecircncia

domeacutestica e familiar contra a mulher

O artigo 9ordm desta mesma lei declara que a assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

domeacutestica e familiar seraacute prestada de forma articulada e conforme os princiacutepios e as diretrizes

previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no Sistema Uacutenico

de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo

A Lei Maria da Penha (2006) garante agrave mulher em seu artigo 11ordm proteccedilatildeo judicial

encaminhamento ao hospital e Instituto Meacutedico Legal transporte a ela e seus dependentes para

um local seguro em casos de riscos agrave vida e acompanhamento policial para a retirada de seus

pertences do domiciacutelio familiar

A mesma Lei (2006) prevecirc cinco tipos de agressotildees contra a mulher (violecircncia fiacutesica

violecircncia sexual violecircncia moral violecircncia psicoloacutegica e violecircncia patrimonial) e apresenta

medidas de proteccedilatildeo para a viacutetima como afastando o homem do ambiente familiar permitindo

o rigor nas puniccedilotildees contra as agressotildees sofridas pelas mulheres e que o agressor seja preso

quando ameaccedilar a integridade fiacutesica da viacutetima

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 30

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No Brasil os serviccedilos mais procurados pelas mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

segundo Silva Padoin e Vianna (2015) estatildeo diretamente ligados agraves delegacias e agraves Unidades

de Pronto Atendimento quando a lesatildeo causada requer tratamento eou a praacutetica restrita do

crime Reduzir a violecircncia a um crime ou a um transtorno mental invisibiliza outros aspectos

do problema como o social o cultural e o poliacutetico Dessa forma propor uma intervenccedilatildeo

transversal significa criar um novo modelo de organizaccedilatildeo dos serviccedilos que insira a concepccedilatildeo

de demanda por necessidades como base conceitual para a praacutetica cujas respostas estejam

atreladas agrave promoccedilatildeo da qualidade de vida e de acesso a direitos

O acesso agrave rede pode acontecer em qualquer local e os casos devem transitar nos

serviccedilos que a compotildeem Por isso identificar e mapear as redes de apoio de mulheres viacutetimas

de violecircncia eacute o primeiro passo a fim de compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre os

serviccedilos onde todos tecircm funccedilotildees diferentes essenciais e com o mesmo grau de importacircncia

uma vez que em funccedilatildeo dos viacutenculos fragilizados com a famiacutelia e dos amigos devido agrave

violecircncia os serviccedilos puacuteblicos satildeo a uacutenica opccedilatildeo

Municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo no Rio Grande do Sul

A cidade de Satildeo Jerocircnimo localizada agraves margens do Rio Jacuiacute possui segundo o

Instituto Brasileiro de Geografias e Estatiacutestica (IBGE) uma aacuterea territorial de 936375kmsup2 e

uma populaccedilatildeo estimada em 23527 pessoas (IBGE 2010)

Conquistou o status de municiacutepio em 30 de setembro de 1861 quando se emancipou de

Bom Jesus do Triunfo nesta data comemora-se o aniversaacuterio da cidade e tambeacutem dia de Satildeo

Jerocircnimo As atividades pecuaacuteria e mineradora foram o berccedilo da riqueza de Satildeo Jerocircnimo

Devido agrave prosperidade das estacircncias surgiram as Charqueadas onde se processavam a carne

dos gados abatidos nos campos do municiacutepio Aliado a isso exploraccedilatildeo das jazidas de carvatildeo

mineral contribuiu para o desenvolvimento da cidade Sua colonizaccedilatildeo eacute de origem luso-

brasileira evidenciado pelos casarios de estilo accediloriano-colonial (IBGE 2010)

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio que segundo Creswell

(2013) envolve maior atenccedilatildeo agrave natureza interpretativa situando o estudo dentro do contexto

poliacutetico social cultural e a reflexatildeo de relatos

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Participantes

Participaram desta pesquisa quatro mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica e que

buscaram os serviccedilos da Cliacutenicandashescola do curso de Psicologia da Universidade Luterana do

Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo com idades variando entre 27 e 45 anos habitantes do

municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo do interior do estado do Rio Grande do Sul ndash Brasil

Instrumentos

Os dados para esta pesquisa foram coletados atraveacutes do mapa de rede social proposto

por Sluzki (2006) A utilizaccedilatildeo do mapa de rede social possibilitou mapear os indiviacuteduos e

serviccedilos percebidos pelas mulheres que sofreram a violecircncia domeacutestica

O mapa eacute dividido em quatro quadrantes compostos por famiacutelia amizades relaccedilotildees de

trabalho ou escolares e relaccedilotildees comunitaacuterias ou de serviccedilos possuindo tambeacutem trecircs aacutereas que

satildeo as relaccedilotildees iacutentimas as relaccedilotildees pessoais e as relaccedilotildees ocasionais Estas trecircs aacutereas se

inscrevem sob os quadrantes atraveacutes de um ciacuterculo interno que representa as relaccedilotildees iacutentimas

incluindo os familiares mais diretos e amigos mais proacuteximos um ciacuterculo intermediaacuterio

composto pelas relaccedilotildees pessoais com menor grau de compromisso e um ciacuterculo externo que

representa as relaccedilotildees ocasionais e com conhecidos O conjunto dos habitantes deste mapa

miacutenimo constitui a rede social pessoal do indiviacuteduo

Sabe-se que a rede social demarcada por cada indiviacuteduo parte de sua percepccedilatildeo e de sua

visatildeo sobre a situaccedilatildeo em um determinado momento portanto essa rede social pode natildeo

corresponder a sua rede social real mas eacute a que este indiviacuteduo consegue perceber como

significativa

Procedimentos para a Coleta de Dados

Apoacutes a aprovaccedilatildeo do projeto de pesquisa pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da

Universidade Luterana do Brasil que recebeu o parecer favoraacutevel conforme nordm 853167 em 29

de outubro de 2014 foi estabelecido contato com a Cliacutenica-escola do Curso de Psicologia da

Universidade Luterana do Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo a qual jaacute possuiacutea ciecircncia da pesquisa

e comprometimento no auxiacutelio do desenvolvimento da mesma para que se iniciassem os

contatos com as usuaacuterias Com o comparecimento da viacutetima no horaacuterio estabelecido foram

explicados os procedimentos e objetivos da pesquisa apresentaccedilatildeo do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido fornecido uma coacutepia para a participante e outra para o pesquisador Foi

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mostrado o mapa de rede e explicado como ele deveria se preenchido de acordo com as

instruccedilotildees propostas por Sluzki (2006) Os dados foram coletados nas dependecircncias da Cliacutenica-

escola no mecircs de maio do ano de 2015

Procedimentos para Anaacutelise dos Dados

O mapa de rede foi analisado em termos de estrutura conforme os criteacuterios de tamanho

e distribuiccedilatildeo Quanto ao tamanho foi verificado o nuacutemero de pessoas presentes na rede de

cada participante jaacute na distribuiccedilatildeo foi apurada a localizaccedilatildeo dos membros da rede em cada

quadrante

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

O uso do mapa possibilitou identificar a estrutura percebida pelas viacutetimas da sua rede

de apoio bem como compreender a contribuiccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas de forma

significativa para as mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica

Tabela 1 Nuacutemero de pessoas nos quadrantes

Participantes Famiacutelia Amizade Trabalho Comunidade Total

M1 2 2 0 4 8

M2 4 3 3 4 14

M3 3 2 0 1 6

M4 3 3 2 4 12 Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Atraveacutes da anaacutelise dos mapas de rede social em relaccedilatildeo ao seu tamanho estabelecido

pela quantidade de pessoas que fazem parte da rede observou-se que as redes sociais das

participantes satildeo extremamente pequenas Conforme a tabela 1 M1 apresenta uma rede de

apoio composta 08 integrantes M2 apresenta 14 integrantes em sua rede de apoio M3 apresenta

06 integrantes em sua rede de apoio e por fim M4 apresenta 12 integrantes em sua rede de

apoio

Estes nuacutemeros demonstram que natildeo haacute muitas pessoas com que elas possam contar ou

pedir ajuda em situaccedilotildees de crise ou violecircncia Para Carvalho e Ribeiro (2016) natildeo existem

valores normativos para determinar o tamanho de uma rede de apoio social mas considera

habitual a presenccedila de 20 pessoas com variaccedilatildeo meacutedia de 15 a 25 membros O mesmo autor e

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SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

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perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

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SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 36

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 37

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

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violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

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BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

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CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

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CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

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FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

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no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

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PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 38

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SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

Page 6: A REDE DE APOIO DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ... › Artigos › Ed... · Revista Ciência e Conhecimento – ISSN: 2177-3483 27 SOUZA, M. B. et al. A rede de apoio das mulheres

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 30

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

No Brasil os serviccedilos mais procurados pelas mulheres em situaccedilatildeo de violecircncia

segundo Silva Padoin e Vianna (2015) estatildeo diretamente ligados agraves delegacias e agraves Unidades

de Pronto Atendimento quando a lesatildeo causada requer tratamento eou a praacutetica restrita do

crime Reduzir a violecircncia a um crime ou a um transtorno mental invisibiliza outros aspectos

do problema como o social o cultural e o poliacutetico Dessa forma propor uma intervenccedilatildeo

transversal significa criar um novo modelo de organizaccedilatildeo dos serviccedilos que insira a concepccedilatildeo

de demanda por necessidades como base conceitual para a praacutetica cujas respostas estejam

atreladas agrave promoccedilatildeo da qualidade de vida e de acesso a direitos

O acesso agrave rede pode acontecer em qualquer local e os casos devem transitar nos

serviccedilos que a compotildeem Por isso identificar e mapear as redes de apoio de mulheres viacutetimas

de violecircncia eacute o primeiro passo a fim de compreender a relaccedilatildeo que se estabelece entre os

serviccedilos onde todos tecircm funccedilotildees diferentes essenciais e com o mesmo grau de importacircncia

uma vez que em funccedilatildeo dos viacutenculos fragilizados com a famiacutelia e dos amigos devido agrave

violecircncia os serviccedilos puacuteblicos satildeo a uacutenica opccedilatildeo

Municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo no Rio Grande do Sul

A cidade de Satildeo Jerocircnimo localizada agraves margens do Rio Jacuiacute possui segundo o

Instituto Brasileiro de Geografias e Estatiacutestica (IBGE) uma aacuterea territorial de 936375kmsup2 e

uma populaccedilatildeo estimada em 23527 pessoas (IBGE 2010)

Conquistou o status de municiacutepio em 30 de setembro de 1861 quando se emancipou de

Bom Jesus do Triunfo nesta data comemora-se o aniversaacuterio da cidade e tambeacutem dia de Satildeo

Jerocircnimo As atividades pecuaacuteria e mineradora foram o berccedilo da riqueza de Satildeo Jerocircnimo

Devido agrave prosperidade das estacircncias surgiram as Charqueadas onde se processavam a carne

dos gados abatidos nos campos do municiacutepio Aliado a isso exploraccedilatildeo das jazidas de carvatildeo

mineral contribuiu para o desenvolvimento da cidade Sua colonizaccedilatildeo eacute de origem luso-

brasileira evidenciado pelos casarios de estilo accediloriano-colonial (IBGE 2010)

PROCEDIMENTOS METODOLOacuteGICOS

Foi realizada uma pesquisa qualitativa de cunho exploratoacuterio que segundo Creswell

(2013) envolve maior atenccedilatildeo agrave natureza interpretativa situando o estudo dentro do contexto

poliacutetico social cultural e a reflexatildeo de relatos

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 31

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Participantes

Participaram desta pesquisa quatro mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica e que

buscaram os serviccedilos da Cliacutenicandashescola do curso de Psicologia da Universidade Luterana do

Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo com idades variando entre 27 e 45 anos habitantes do

municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo do interior do estado do Rio Grande do Sul ndash Brasil

Instrumentos

Os dados para esta pesquisa foram coletados atraveacutes do mapa de rede social proposto

por Sluzki (2006) A utilizaccedilatildeo do mapa de rede social possibilitou mapear os indiviacuteduos e

serviccedilos percebidos pelas mulheres que sofreram a violecircncia domeacutestica

O mapa eacute dividido em quatro quadrantes compostos por famiacutelia amizades relaccedilotildees de

trabalho ou escolares e relaccedilotildees comunitaacuterias ou de serviccedilos possuindo tambeacutem trecircs aacutereas que

satildeo as relaccedilotildees iacutentimas as relaccedilotildees pessoais e as relaccedilotildees ocasionais Estas trecircs aacutereas se

inscrevem sob os quadrantes atraveacutes de um ciacuterculo interno que representa as relaccedilotildees iacutentimas

incluindo os familiares mais diretos e amigos mais proacuteximos um ciacuterculo intermediaacuterio

composto pelas relaccedilotildees pessoais com menor grau de compromisso e um ciacuterculo externo que

representa as relaccedilotildees ocasionais e com conhecidos O conjunto dos habitantes deste mapa

miacutenimo constitui a rede social pessoal do indiviacuteduo

Sabe-se que a rede social demarcada por cada indiviacuteduo parte de sua percepccedilatildeo e de sua

visatildeo sobre a situaccedilatildeo em um determinado momento portanto essa rede social pode natildeo

corresponder a sua rede social real mas eacute a que este indiviacuteduo consegue perceber como

significativa

Procedimentos para a Coleta de Dados

Apoacutes a aprovaccedilatildeo do projeto de pesquisa pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da

Universidade Luterana do Brasil que recebeu o parecer favoraacutevel conforme nordm 853167 em 29

de outubro de 2014 foi estabelecido contato com a Cliacutenica-escola do Curso de Psicologia da

Universidade Luterana do Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo a qual jaacute possuiacutea ciecircncia da pesquisa

e comprometimento no auxiacutelio do desenvolvimento da mesma para que se iniciassem os

contatos com as usuaacuterias Com o comparecimento da viacutetima no horaacuterio estabelecido foram

explicados os procedimentos e objetivos da pesquisa apresentaccedilatildeo do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido fornecido uma coacutepia para a participante e outra para o pesquisador Foi

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 32

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

mostrado o mapa de rede e explicado como ele deveria se preenchido de acordo com as

instruccedilotildees propostas por Sluzki (2006) Os dados foram coletados nas dependecircncias da Cliacutenica-

escola no mecircs de maio do ano de 2015

Procedimentos para Anaacutelise dos Dados

O mapa de rede foi analisado em termos de estrutura conforme os criteacuterios de tamanho

e distribuiccedilatildeo Quanto ao tamanho foi verificado o nuacutemero de pessoas presentes na rede de

cada participante jaacute na distribuiccedilatildeo foi apurada a localizaccedilatildeo dos membros da rede em cada

quadrante

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

O uso do mapa possibilitou identificar a estrutura percebida pelas viacutetimas da sua rede

de apoio bem como compreender a contribuiccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas de forma

significativa para as mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica

Tabela 1 Nuacutemero de pessoas nos quadrantes

Participantes Famiacutelia Amizade Trabalho Comunidade Total

M1 2 2 0 4 8

M2 4 3 3 4 14

M3 3 2 0 1 6

M4 3 3 2 4 12 Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Atraveacutes da anaacutelise dos mapas de rede social em relaccedilatildeo ao seu tamanho estabelecido

pela quantidade de pessoas que fazem parte da rede observou-se que as redes sociais das

participantes satildeo extremamente pequenas Conforme a tabela 1 M1 apresenta uma rede de

apoio composta 08 integrantes M2 apresenta 14 integrantes em sua rede de apoio M3 apresenta

06 integrantes em sua rede de apoio e por fim M4 apresenta 12 integrantes em sua rede de

apoio

Estes nuacutemeros demonstram que natildeo haacute muitas pessoas com que elas possam contar ou

pedir ajuda em situaccedilotildees de crise ou violecircncia Para Carvalho e Ribeiro (2016) natildeo existem

valores normativos para determinar o tamanho de uma rede de apoio social mas considera

habitual a presenccedila de 20 pessoas com variaccedilatildeo meacutedia de 15 a 25 membros O mesmo autor e

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Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

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SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 35

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 36

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 37

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

Penal e a Lei de Execuccedilatildeo Penal e daacute outras providecircncias Brasiacutelia DF Congresso Nacional

BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Psicologia em Pesquisa UFJF v 7 n 2 p 242-250 2013

CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

Porto Alegre Artmed 2010

CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

DUTRA Maria de Lourdes et al A configuraccedilatildeo da rede social de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia domeacutestica Ciecircnc e Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 18 n 5 p 1293-

1304 Maio de 2013

FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

Adolescente Viacutetima de Violecircncia Sexual na Perspectiva dos Profissionais do CREAS

Barbaroacutei Santa Cruz do Sul n 37 p67-87 dez 2012

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=431840ampsearch=||infogr

E1ficos-informaE7F5es-completasgt

NASCIMENTO Danielly Bart do ROSA Edinete Maria O uso do Mapa dos Cinco Campos

no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

Cliacutenicos v 8 n 2 p 173-184 2015

PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

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SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

Page 7: A REDE DE APOIO DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ... › Artigos › Ed... · Revista Ciência e Conhecimento – ISSN: 2177-3483 27 SOUZA, M. B. et al. A rede de apoio das mulheres

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 31

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Participantes

Participaram desta pesquisa quatro mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica e que

buscaram os serviccedilos da Cliacutenicandashescola do curso de Psicologia da Universidade Luterana do

Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo com idades variando entre 27 e 45 anos habitantes do

municiacutepio de Satildeo Jerocircnimo do interior do estado do Rio Grande do Sul ndash Brasil

Instrumentos

Os dados para esta pesquisa foram coletados atraveacutes do mapa de rede social proposto

por Sluzki (2006) A utilizaccedilatildeo do mapa de rede social possibilitou mapear os indiviacuteduos e

serviccedilos percebidos pelas mulheres que sofreram a violecircncia domeacutestica

O mapa eacute dividido em quatro quadrantes compostos por famiacutelia amizades relaccedilotildees de

trabalho ou escolares e relaccedilotildees comunitaacuterias ou de serviccedilos possuindo tambeacutem trecircs aacutereas que

satildeo as relaccedilotildees iacutentimas as relaccedilotildees pessoais e as relaccedilotildees ocasionais Estas trecircs aacutereas se

inscrevem sob os quadrantes atraveacutes de um ciacuterculo interno que representa as relaccedilotildees iacutentimas

incluindo os familiares mais diretos e amigos mais proacuteximos um ciacuterculo intermediaacuterio

composto pelas relaccedilotildees pessoais com menor grau de compromisso e um ciacuterculo externo que

representa as relaccedilotildees ocasionais e com conhecidos O conjunto dos habitantes deste mapa

miacutenimo constitui a rede social pessoal do indiviacuteduo

Sabe-se que a rede social demarcada por cada indiviacuteduo parte de sua percepccedilatildeo e de sua

visatildeo sobre a situaccedilatildeo em um determinado momento portanto essa rede social pode natildeo

corresponder a sua rede social real mas eacute a que este indiviacuteduo consegue perceber como

significativa

Procedimentos para a Coleta de Dados

Apoacutes a aprovaccedilatildeo do projeto de pesquisa pelo Comitecirc de Eacutetica e Pesquisa da

Universidade Luterana do Brasil que recebeu o parecer favoraacutevel conforme nordm 853167 em 29

de outubro de 2014 foi estabelecido contato com a Cliacutenica-escola do Curso de Psicologia da

Universidade Luterana do Brasil ndash Campus Satildeo Jerocircnimo a qual jaacute possuiacutea ciecircncia da pesquisa

e comprometimento no auxiacutelio do desenvolvimento da mesma para que se iniciassem os

contatos com as usuaacuterias Com o comparecimento da viacutetima no horaacuterio estabelecido foram

explicados os procedimentos e objetivos da pesquisa apresentaccedilatildeo do Termo de Consentimento

Livre e Esclarecido fornecido uma coacutepia para a participante e outra para o pesquisador Foi

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 32

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mostrado o mapa de rede e explicado como ele deveria se preenchido de acordo com as

instruccedilotildees propostas por Sluzki (2006) Os dados foram coletados nas dependecircncias da Cliacutenica-

escola no mecircs de maio do ano de 2015

Procedimentos para Anaacutelise dos Dados

O mapa de rede foi analisado em termos de estrutura conforme os criteacuterios de tamanho

e distribuiccedilatildeo Quanto ao tamanho foi verificado o nuacutemero de pessoas presentes na rede de

cada participante jaacute na distribuiccedilatildeo foi apurada a localizaccedilatildeo dos membros da rede em cada

quadrante

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

O uso do mapa possibilitou identificar a estrutura percebida pelas viacutetimas da sua rede

de apoio bem como compreender a contribuiccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas de forma

significativa para as mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica

Tabela 1 Nuacutemero de pessoas nos quadrantes

Participantes Famiacutelia Amizade Trabalho Comunidade Total

M1 2 2 0 4 8

M2 4 3 3 4 14

M3 3 2 0 1 6

M4 3 3 2 4 12 Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Atraveacutes da anaacutelise dos mapas de rede social em relaccedilatildeo ao seu tamanho estabelecido

pela quantidade de pessoas que fazem parte da rede observou-se que as redes sociais das

participantes satildeo extremamente pequenas Conforme a tabela 1 M1 apresenta uma rede de

apoio composta 08 integrantes M2 apresenta 14 integrantes em sua rede de apoio M3 apresenta

06 integrantes em sua rede de apoio e por fim M4 apresenta 12 integrantes em sua rede de

apoio

Estes nuacutemeros demonstram que natildeo haacute muitas pessoas com que elas possam contar ou

pedir ajuda em situaccedilotildees de crise ou violecircncia Para Carvalho e Ribeiro (2016) natildeo existem

valores normativos para determinar o tamanho de uma rede de apoio social mas considera

habitual a presenccedila de 20 pessoas com variaccedilatildeo meacutedia de 15 a 25 membros O mesmo autor e

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 33

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Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 34

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 35

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 36

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 37

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

Penal e a Lei de Execuccedilatildeo Penal e daacute outras providecircncias Brasiacutelia DF Congresso Nacional

BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Psicologia em Pesquisa UFJF v 7 n 2 p 242-250 2013

CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

Porto Alegre Artmed 2010

CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

DUTRA Maria de Lourdes et al A configuraccedilatildeo da rede social de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia domeacutestica Ciecircnc e Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 18 n 5 p 1293-

1304 Maio de 2013

FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

Adolescente Viacutetima de Violecircncia Sexual na Perspectiva dos Profissionais do CREAS

Barbaroacutei Santa Cruz do Sul n 37 p67-87 dez 2012

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=431840ampsearch=||infogr

E1ficos-informaE7F5es-completasgt

NASCIMENTO Danielly Bart do ROSA Edinete Maria O uso do Mapa dos Cinco Campos

no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

Cliacutenicos v 8 n 2 p 173-184 2015

PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 38

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

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Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 32

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

mostrado o mapa de rede e explicado como ele deveria se preenchido de acordo com as

instruccedilotildees propostas por Sluzki (2006) Os dados foram coletados nas dependecircncias da Cliacutenica-

escola no mecircs de maio do ano de 2015

Procedimentos para Anaacutelise dos Dados

O mapa de rede foi analisado em termos de estrutura conforme os criteacuterios de tamanho

e distribuiccedilatildeo Quanto ao tamanho foi verificado o nuacutemero de pessoas presentes na rede de

cada participante jaacute na distribuiccedilatildeo foi apurada a localizaccedilatildeo dos membros da rede em cada

quadrante

APRESENTACcedilAtildeO E DISCUSSAtildeO DOS RESULTADOS

O uso do mapa possibilitou identificar a estrutura percebida pelas viacutetimas da sua rede

de apoio bem como compreender a contribuiccedilatildeo das relaccedilotildees estabelecidas de forma

significativa para as mulheres que sofreram violecircncia domeacutestica

Tabela 1 Nuacutemero de pessoas nos quadrantes

Participantes Famiacutelia Amizade Trabalho Comunidade Total

M1 2 2 0 4 8

M2 4 3 3 4 14

M3 3 2 0 1 6

M4 3 3 2 4 12 Fonte elaboraccedilatildeo proacutepria

Atraveacutes da anaacutelise dos mapas de rede social em relaccedilatildeo ao seu tamanho estabelecido

pela quantidade de pessoas que fazem parte da rede observou-se que as redes sociais das

participantes satildeo extremamente pequenas Conforme a tabela 1 M1 apresenta uma rede de

apoio composta 08 integrantes M2 apresenta 14 integrantes em sua rede de apoio M3 apresenta

06 integrantes em sua rede de apoio e por fim M4 apresenta 12 integrantes em sua rede de

apoio

Estes nuacutemeros demonstram que natildeo haacute muitas pessoas com que elas possam contar ou

pedir ajuda em situaccedilotildees de crise ou violecircncia Para Carvalho e Ribeiro (2016) natildeo existem

valores normativos para determinar o tamanho de uma rede de apoio social mas considera

habitual a presenccedila de 20 pessoas com variaccedilatildeo meacutedia de 15 a 25 membros O mesmo autor e

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 33

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

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perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 35

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 36

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

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REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

Penal e a Lei de Execuccedilatildeo Penal e daacute outras providecircncias Brasiacutelia DF Congresso Nacional

BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Psicologia em Pesquisa UFJF v 7 n 2 p 242-250 2013

CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

Porto Alegre Artmed 2010

CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

DUTRA Maria de Lourdes et al A configuraccedilatildeo da rede social de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia domeacutestica Ciecircnc e Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 18 n 5 p 1293-

1304 Maio de 2013

FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

Adolescente Viacutetima de Violecircncia Sexual na Perspectiva dos Profissionais do CREAS

Barbaroacutei Santa Cruz do Sul n 37 p67-87 dez 2012

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=431840ampsearch=||infogr

E1ficos-informaE7F5es-completasgt

NASCIMENTO Danielly Bart do ROSA Edinete Maria O uso do Mapa dos Cinco Campos

no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

Cliacutenicos v 8 n 2 p 173-184 2015

PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

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SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

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Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 33

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Souza e Machado (2014) consideram que redes pequenas satildeo menos eficazes em uma situaccedilatildeo

de longa duraccedilatildeo como geralmente eacute a violecircncia domeacutestica jaacute que haacute uma evitaccedilatildeo dos sujeitos

para diminuir a sobrecarga

Em relaccedilatildeo a distribuiccedilatildeo ou composiccedilatildeo dos sujeitos nas redes das viacutetimas refere-se a

localizaccedilatildeo nos quadrantes pode ser visualizado na tabela

Essa dificuldade na distribuiccedilatildeo das pessoas na rede para Carlos e Ferriani (2015) gera

um empecilho para discutir teacutecnica e cientificamente problemaacuteticas da contemporaneidade tais

como a violecircncia domeacutestica os sujeitos natildeo conseguem construir estrateacutegias para se aproximar

Quanto agrave densidade dessas redes ou seja o quanto os membros de cada quadrante

interagem entre si natildeo eacute possiacutevel perceber tal conexatildeo essas redes mostram-se fragilizadas

Segundo Sluzki (2006) o niacutevel de densidade meacutedio eacute considerado o mais eficaz uma vez que

permite equiparar as impressotildees dos membros jaacute uma rede de densidade muito alta traria uma

conformidade entre os integrantes causando ineacutercia do grupo e menor efetividade

A rede social inclui as pessoas significativas que segundo Sluzki (2006) se diferem de

toda a sociedade compreendendo o mapa com os quatro quadrantes a famiacutelia os amigos as

relaccedilotildees de trabalho estudo e de inserccedilatildeo comunitaacuteria

Em relaccedilatildeo ao quadrante da famiacutelia cada viacutetima do estudo recebe suporte de no maacuteximo

seis integrantes sendo que duas apontam os proacuteprios filhos como parte da rede Segundo os

estudos de Dutra et al (2013) as mulheres restringem suas relaccedilotildees aos filhos e familiares pois

esses muitas vezes natildeo representam ameaccedilas ao parceiro gerando um isolamento social que

poderia contribuir para a continuaccedilatildeo da violecircncia e diminuiccedilatildeo da expressatildeo da autonomia

A rede social natildeo corresponde somente agrave famiacutelia nuclear ou extensa mas sim a um

conjunto de viacutenculos que possuiacutemos com outros sujeitos que participam e constroem o nosso

dia a dia (SLUZKI 2006) Nota-se que os membros demarcados estatildeo muito relacionados com

os viacutenculos familiares como as matildees filhos e irmatildeos o que demonstra o quanto essas pessoas

podem ter sido sobrecarregadas diante da situaccedilatildeo de violecircncia pois para a maioria dos sujeitos

da pesquisa natildeo existem outras pessoas a quem pudessem pedir auxiacutelio Numa relaccedilatildeo conjugal

geralmente o companheiro pode ser uma fonte de suporte mas nesses casos satildeo os

perpetradores da violecircncia

Cada participante da pesquisa mostra ter de duas a trecircs pessoas presentes em suas

relaccedilotildees de amizade Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) tais valores satildeo considerados baixos

pois as relaccedilotildees de amizade satildeo fundamentais para o desenvolvimento de novas visotildees e novas

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 34

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 35

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 36

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 37

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

Penal e a Lei de Execuccedilatildeo Penal e daacute outras providecircncias Brasiacutelia DF Congresso Nacional

BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Psicologia em Pesquisa UFJF v 7 n 2 p 242-250 2013

CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

Porto Alegre Artmed 2010

CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

DUTRA Maria de Lourdes et al A configuraccedilatildeo da rede social de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia domeacutestica Ciecircnc e Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 18 n 5 p 1293-

1304 Maio de 2013

FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

Adolescente Viacutetima de Violecircncia Sexual na Perspectiva dos Profissionais do CREAS

Barbaroacutei Santa Cruz do Sul n 37 p67-87 dez 2012

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=431840ampsearch=||infogr

E1ficos-informaE7F5es-completasgt

NASCIMENTO Danielly Bart do ROSA Edinete Maria O uso do Mapa dos Cinco Campos

no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

Cliacutenicos v 8 n 2 p 173-184 2015

PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 38

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

Page 10: A REDE DE APOIO DAS MULHERES VÍTIMAS DE VIOLÊNCIA ... › Artigos › Ed... · Revista Ciência e Conhecimento – ISSN: 2177-3483 27 SOUZA, M. B. et al. A rede de apoio das mulheres

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 34

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

perspectivas logo essa restriccedilatildeo de amigos poderaacute implicar em uma maior dificuldade de

estabelecer viacutenculos futuros

Quanto agraves relaccedilotildees de trabalho trecircs entrevistadas atuam no mercado poreacutem somente

duas mencionaram seus colegas O fato das mulheres apresentarem poucas relaccedilotildees de trabalho

certamente acarretaraacute dificuldades no apoio social pois satildeo nos locais de trabalho que passam

a maior parte do dia (CARVALHO e RIBEIRO 2016)

Considerando as relaccedilotildees comunitaacuterias as quatro pesquisadas referem ter contato com

o CREAS (Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social) devido ao serviccedilo

especializado oferecido agrave populaccedilatildeo CAPS (Centro de Atendimento Psicossocial) Hospital

Conselho Tutelar e a Igreja Eacute importante perceber que os serviccedilos puacuteblicos aparecem com

frequecircncia e realizam trabalhos relevantes com essas mulheres apesar das deficiecircncias que

possam possuir Eacute importante salientar a natildeo marcaccedilatildeo de vizinhos ou qualquer outra relaccedilatildeo

com a comunidade mais proacutexima Segundo Carvalho e Ribeiro (2016) em situaccedilotildees de

emergecircncia os vizinhos ou uma associaccedilatildeo de moradores poderiam auxiliar a viacutetima a obter o

apoio necessaacuterio

Essa dificuldade de identificar um nuacutemero maior de pessoas nas relaccedilotildees das

entrevistadas poderia estar ligada as estrateacutegias de dominaccedilotildees utilizadas pelo agressor

Fazendo proibiccedilotildees das mulheres de entrar no mercado de trabalho possuir atividades de lazer

estudar e ateacute de poder manter ligaccedilotildees com familiares Haacute uma destruiccedilatildeo das redes sociais e

dificuldades de inserccedilatildeo a novas tornando precaacuteria a busca de suporte reconhecimento e

enfrentamento da violecircncia

Para Gonccedilalves e Guaraacute (2010 apud PEREIRA K Y TEIXEIRA S M 2013) as redes

de apoio sociais podem ser classificadas seguindo as necessidades humanas Nestes casos as

redes abalizadas satildeo primaacuterias e de proteccedilatildeo amparadas pela solidariedade e apoio muacutetuo

constituiacutedas pelo contexto familiar e atraveacutes das relaccedilotildees de amizade

A percepccedilatildeo segundo Dalgalarrondo (2008) eacute a capacidade de assimilar e relacionar as

vivecircncias pessoais e criativas a partir de estiacutemulos sensoriais recriadas por cada indiviacuteduo

levando em consideraccedilatildeo suas experiecircncias jaacute registradas na memoacuteria conforme o contexto

sociocultural em que estaacute inserido Diante do exposto pelo autor as redes sociais demarcadas

pelas mulheres pesquisadas satildeo produccedilatildeo de sua proacutepria percepccedilatildeo sobre o mundo e sobre as

pessoas e instituiccedilotildees que as cercam Portanto natildeo necessariamente as redes sociais apontadas

por cada sujeito correspondem agrave sua rede social real uma vez que a situaccedilatildeo de crise e demais

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 35

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 36

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 37

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

Penal e a Lei de Execuccedilatildeo Penal e daacute outras providecircncias Brasiacutelia DF Congresso Nacional

BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Psicologia em Pesquisa UFJF v 7 n 2 p 242-250 2013

CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

Porto Alegre Artmed 2010

CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

DUTRA Maria de Lourdes et al A configuraccedilatildeo da rede social de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia domeacutestica Ciecircnc e Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 18 n 5 p 1293-

1304 Maio de 2013

FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

Adolescente Viacutetima de Violecircncia Sexual na Perspectiva dos Profissionais do CREAS

Barbaroacutei Santa Cruz do Sul n 37 p67-87 dez 2012

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=431840ampsearch=||infogr

E1ficos-informaE7F5es-completasgt

NASCIMENTO Danielly Bart do ROSA Edinete Maria O uso do Mapa dos Cinco Campos

no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

Cliacutenicos v 8 n 2 p 173-184 2015

PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 38

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

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Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 35

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

dificuldades bloqueiam e interferem na sua capacidade de perceber seu verdadeiro contexto

sociocultural

Os trabalhos realizados pelo Centro de Referecircncia Especializado em Assistecircncia Social

(CREAS) segundo Faraj e Siqueira (2012) satildeo imprescindiacuteveis para a minimizaccedilatildeo dos danos

causados pela violecircncia O CREAS constitui-se em um serviccedilo especializado que deve buscar

restaurar os direitos infringidos pela violecircncia atraveacutes de um atendimento contextualizado

inserido em uma rede iacutentegra Os mesmos autores consideram fundamental fazer valer a

proteccedilatildeo integral da viacutetima por meio da defesa e da garantia de serviccedilos especializados com

profissionais capacitados para a intervenccedilatildeo e enfrentamento da problemaacutetica o que eacute

extremamente necessaacuterio que alguns oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados e fortalecidos

para que as suas accedilotildees sejam efetivas O centro de referecircncia possibilita reconstruir os viacutenculos

familiares e sociais desfeitos pelo impacto inominaacutevel relativo agrave vivecircncia da situaccedilatildeo de

violecircncia

A assistecircncia agrave mulher em situaccedilatildeo de violecircncia domeacutestica e familiar seraacute prestada de

forma articulada de acordo com a Lei Maria da Penha no artigo 9ordm assim tambeacutem os princiacutepios

e as diretrizes previstos na Lei Orgacircnica da Assistecircncia Social no Sistema Uacutenico de Sauacutede no

Sistema Uacutenico de Seguranccedila Puacuteblica entre outras normas e poliacuteticas puacuteblicas de proteccedilatildeo e

emergencialmente quando for o caso

A construccedilatildeo de uma rede de apoio e proteccedilatildeo segundo Pacheco e Malgarim (2011)

tem como objetivo minimizar a continuidade da violecircncia em qualquer lugar que a

vulnerabilidade se faccedila presente Com a intenccedilatildeo de romper os constantes episoacutedios de violecircncia

eacute imprescindiacutevel um trabalho interdisciplinar que organize e fortaleccedila um espaccedilo de

acolhimento agraves viacutetimas atraveacutes do atendimento cliacutenico psicoloacutegico social legal individual e

familiar com a finalidade de que o ciclo de violecircncia possa ser desfeito

A proposta de construir novos laccedilos de amizades bem como ampliar a busca por redes

que disponibilizem serviccedilos e accedilotildees estrateacutegicas a fim de promover a assistecircncia baacutesica e o

suporte emocional Considera-se fundamental que oacutergatildeos e instituiccedilotildees estejam articulados

preparados com profissionais capacitados para receber apoiar e proteger de forma adequada as

mulheres viacutetimas que sofreram qualquer tipo de violecircncia domeacutestica Fazer valer a proteccedilatildeo

integral da viacutetima garantir os serviccedilos especializados de que lhe eacute direito eacute uma forma de

intervenccedilatildeo que viabiliza o enfrentamento diante do impacto da situaccedilatildeo problema

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 36

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 37

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

Penal e a Lei de Execuccedilatildeo Penal e daacute outras providecircncias Brasiacutelia DF Congresso Nacional

BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Psicologia em Pesquisa UFJF v 7 n 2 p 242-250 2013

CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

Porto Alegre Artmed 2010

CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

DUTRA Maria de Lourdes et al A configuraccedilatildeo da rede social de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia domeacutestica Ciecircnc e Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 18 n 5 p 1293-

1304 Maio de 2013

FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

Adolescente Viacutetima de Violecircncia Sexual na Perspectiva dos Profissionais do CREAS

Barbaroacutei Santa Cruz do Sul n 37 p67-87 dez 2012

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=431840ampsearch=||infogr

E1ficos-informaE7F5es-completasgt

NASCIMENTO Danielly Bart do ROSA Edinete Maria O uso do Mapa dos Cinco Campos

no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

Cliacutenicos v 8 n 2 p 173-184 2015

PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 38

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

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Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 36

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

Neste contexto cabe ressaltar que as quatro participantes natildeo pronunciaram a existecircncia

de novas relaccedilotildees que servissem de apoio no periacuteodo em que ocorreu a violecircncia o que

demonstra a dificuldade quanto agraves percepccedilotildees e ineficiecircncia quanto agrave conexatildeo das redes

CONCLUSAtildeO

A pesquisa demonstra o quatildeo fundamental eacute a rede de apoio nas relaccedilotildees enquanto

dispositivos sociais de trocas e interaccedilotildees de sujeitos e grupos Satildeo neste acircmbito que as

mulheres que sofrem violecircncia domeacutestica encontram acolhimento em meio ao trauma sofrido

e desta forma estrateacutegias de enfrentamento que contribuem no resgate da sua dignidade

pessoal

Atraveacutes do mapa de rede das quatro mulheres pesquisadas e viacutetimas da violecircncia

domeacutestica eacute possiacutevel identificar que o municiacutepio comporta uma rede de apoio composta pelo

Hospital CAPS CREAS e Delegacia de Poliacutecia Civil

Tendo por embasamento legal o art 8 da Lei 1134006 que prevecirc poliacuteticas puacuteblicas que

visam coibir a violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher Apesar dessa previsatildeo as

poliacuteticas puacuteblicas ainda satildeo bastante deficientes uma vez que os oacutergatildeos que prestam assistecircncia

natildeo possuem qualquer articulaccedilatildeo entre si deixando a cargo das viacutetimas a busca isolada por

cada um dos serviccedilos

Seria necessaacuterio um maior investimento para desenvolver essas poliacuteticas puacuteblicas

principalmente no que diz respeito ao funcionamento em conjunto dos atendimentos visando

um melhor acolhimento agraves viacutetimas

Trata-se de um problema que atravessa as geraccedilotildees e deve ser abordado de forma

intersetorial O olhar deve ser ampliado e apurado para que novas accedilotildees possam ser elaboradas

a fim de motivar a diminuiccedilatildeo dos nuacutemeros alarmantes de violecircncia direcionados agraves mulheres

Que haja uma mobilidade dos setores afins para viabilizar projetos que decircem suporte agrave criaccedilatildeo

de praacuteticas pertinentes ao cuidado fiacutesico e mental desta mulher agredida para ampliar e

aprimorar a sua rede de apoio

Em novos estudos considera-se importante analisar a qualidade dos serviccedilos oferecidos

pelo poder puacuteblico se estas redes de apoio satildeo capazes de dar o suporte necessaacuterio agraves viacutetimas

de violecircncia domeacutestica bem como o funcionamento e como se daacute as conexotildees das relaccedilotildees

intersetoriais afim de melhor atender a populaccedilatildeo e prover o acolhimento necessaacuterio a todos

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 37

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

REFEREcircNCIAS

BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

Penal e a Lei de Execuccedilatildeo Penal e daacute outras providecircncias Brasiacutelia DF Congresso Nacional

BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Psicologia em Pesquisa UFJF v 7 n 2 p 242-250 2013

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Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

Diretrizes e normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos Brasiacutelia DF

Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

Porto Alegre Artmed 2010

CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

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violecircncia domeacutestica Ciecircnc e Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 18 n 5 p 1293-

1304 Maio de 2013

FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

Adolescente Viacutetima de Violecircncia Sexual na Perspectiva dos Profissionais do CREAS

Barbaroacutei Santa Cruz do Sul n 37 p67-87 dez 2012

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Cidades Disponiacutevel em

lthttpwwwcidadesibgegovbrxtrasperfilphplang=ampcodmun=431840ampsearch=||infogr

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no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

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PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 38

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

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BARDIN Laurence Anaacutelise de Conteuacutedo 6 ed Satildeo Paulo Ediccedilotildees 70 2011

BRASIL Lei nordm 11340 de 07 de agosto de 2006 Dispotildee sobre a criaccedilatildeo dos juizados de

violecircncia domeacutestica e familiar contra a mulher altera o Coacutedigo de Processo Penal o Coacutedigo

Penal e a Lei de Execuccedilatildeo Penal e daacute outras providecircncias Brasiacutelia DF Congresso Nacional

BRUM C R S et al Violecircncia Domeacutestica e Crenccedilas Intervenccedilatildeo com Profissionais da

Atenccedilatildeo Primaacuteria agrave Sauacutede Psicologia em Pesquisa UFJF v 7 n 2 p 242-250 2013

CARLOS Diene Monique FERRIANI Maria O Uso de Mapas da Rede Institucional

Estrateacutegia para um olhar sobre o cuidado em sauacutede Congresso Ibero Americano de

Investigaccedilatildeo Qualitativa (CIAIQ2015) v 1 2015

CARVALHO C I RIBEIRO S Violecircncia conjugal e rede social pessoal Revista Libertas

Juiz de Fora v16 n1 p 03-26 jul 2016

CONSELHO NACIONAL DE SAUacuteDE Resoluccedilatildeo nordm 466 de 12 de dezembro de 2012

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Conselho Nacional de Sauacutede

CRESWELL John W Projeto de Pesquisa meacutetodo qualitativo quantitativo e misto 2 ed

Porto Alegre Artmed 2010

CRESWELL John W Investigaccedilatildeo qualitativa e projeto de pesquisa Porto Alegre Editora

Penso 3ordf ed 2013

DALGALARRONDO Paulo Psicopatologia e semiologia dos transtornos mentais 2 ed

Porto Alegre Artmed 2008

DUTRA Maria de Lourdes et al A configuraccedilatildeo da rede social de mulheres em situaccedilatildeo de

violecircncia domeacutestica Ciecircnc e Sauacutede Coletiva Rio de Janeiro v 18 n 5 p 1293-

1304 Maio de 2013

FARAJ SP SIQUEIRA A C O Atendimento a Rede de Proteccedilatildeo da Crianccedila e do

Adolescente Viacutetima de Violecircncia Sexual na Perspectiva dos Profissionais do CREAS

Barbaroacutei Santa Cruz do Sul n 37 p67-87 dez 2012

IBGE - Instituto Brasileiro de Geografia e Estatiacutestica Cidades Disponiacutevel em

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NASCIMENTO Danielly Bart do ROSA Edinete Maria O uso do Mapa dos Cinco Campos

no estudo da rede de apoio social e afetiva de crianccedilas viacutetimas de abuso sexual Contextos

Cliacutenicos v 8 n 2 p 173-184 2015

PACHECO ML MALGARIM B G Centro de Referecircncia Especializado de Assistecircncia

Social Apanhados teoacutericos sobre uma rede especial de apoio e proteccedilatildeo em casos de abuso

sexual infantil Revista de Psicologia da IMED v 3 n 2 p 545- 553 2011

PEREIRA K Y L TEIXEIRA S M Redes e Intersetoralidade nas poliacuteticas sociais

reflexotildees sobre sua concepccedilatildeo na poliacutetica de assistecircncia social Textosamp Contextos Porto

Alegre v 12 n 1 p 114 - 127 jun 2013

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SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013

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Revista Ciecircncia e Conhecimento ndash ISSN 2177-3483 38

SOUZA M B et al A rede de apoio das mulheres viacutetimas de violecircncia domeacutestica Ciecircnc Conhecimento ndash v 12 n 1 2018

SILVA E B PADOIN SM M VIANNA L AC Mulher em situaccedilatildeo de violecircncia

limites da assistecircncia Ciecircnc Sauacutede coletiva Rio de Janeiro v 20 n 1 p 249-258 jan 2015

SLUZKI Carlos EA rede social na praacutetica sistecircmica Satildeo Paulo Casa do Psicoacutelogo 2006

SOUZA e MACHADO Adolescentes com transtornos alimentares Ciecircnc Conhecimento

Satildeo Jerocircnimo v 8 n 1 p 21-37 2014

ZANCAN Nataacutelia WASSERMANN Virginia LIMA Gabriela Q A violecircncia domeacutestica a

partir do discurso de mulheres agredidas Pensando Famiacutelias Porto Alegre v 17 n 1 p

63-76 2013