a razão Áurea e os padróes harmônicos na natureza, artes e arquitetura

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  • 35Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 2005

    Artigos

    A razo urea e os padres harmnicos na natureza, artes e arquitetura

    Maira Mendias LauroMestranda em Educao

    [Ensino de Cincias e Matemtica] USP;Professora na graduao Uninove.

    [email protected], So Paulo [Brasil]

    Os antigos gregos consideravam mais harmoniosos e belos os retngulos que estivessem numa proporo conhecida como urea. O templo grego Partenon, construdo no sculo V a.C., talvez seja o exemplo mais emblemtico do emprego dessa pro-poro que revela a preocupao em realizar obras de extrema harmonia. Esse critrio esttico atravessou os sculos e ado-tado, ainda hoje, por alguns artistas. Neste trabalho, apresen-tamos e discutimos alguns exemplos do emprego dessa propor-o nas artes, nas obras arquitetnicas e tambm na natureza e nas propores do corpo humano, demonstrando a presena da Geometria no mundo nossa volta.

    Palavras-chave: Padres harmnicos. Pentagrama. Razo urea. Retngulo ureo.

  • Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 200536

    1 Introduo

    A Geometria possui dois grandes tesou-

    ros: um o Teorema de Pitgoras; o outro

    a Proporo urea. Podemos comparar

    o primeiro a uma poro de ouro e o

    segundo a uma jia preciosa. (KEPLER,

    apud VILA, 1985, p. 14).

    O que h de comum entre a estrutura espiral

    das conchas de alguns seres vivos marinhos, no

    crescimento das plantas, nas propores do corpo

    humano e dos animais, nas pinturas do perodo re-

    nascentista, nas obras arquitetnicas da Antiguidade

    Clssica, da Idade Mdia e at da Era Moderna?

    H cerca de 2,5 mil anos esta questo j intri-

    gava os gregos. Euclides (323-285 a. C.), o mate-

    mtico grego autor de Os elementos, obra funda-

    mental da geometria, descreveu em sua Proposio

    VI, uma maneira de se buscar o modo mais har-

    monioso de [...] dividir um segmento de reta em

    mdia e extrema razo [...] (EUCLIDES, apud

    EVES, 1992, p. 42), ou seja, dividir um segmento

    de reta em duas partes, de tal modo que a razo

    entre a menor e a maior parte fosse igual razo

    entre a maior parte e o segmento total. O resulta-

    do dessa diviso simbolizado pela letra grega (l-se ) e sempre igual a 0,618...1. Tal razo

    conhecida como razo urea ou divina pro-

    poro.

    A razo urea pode ter sido conhecida

    mesmo antes da poca dos gregos. O his-

    toriador grego Herdoto relata que os sa-

    cerdotes egpcios disseram que na pirmi-

    de de Giseh, a razo entre suas dimenses

    (EVES, 1992, p. 44).

    As propriedades estticas e artsticas dessa

    razo so mostradas no retngulo ureo um

    retngulo cujos lados esto na razo de 1 para

    ou de para 1, como veremos mais adiante. Esse retngulo considerado como o mais agradvel

    aos olhos. Muitos trabalhos famosos de arquitetu-

    ra e arte, tais como o Partenon grego, a catedral de

    Chartres e alguns quadros de Leonardo da Vinci,

    foram baseados no retngulo ureo.

    A razo urea tambm foi estudada pelo

    monge Luca Pacioli, de Veneza, que escreveu um

    tratado De divina proportione (Sobre a propor-

    o divina), em 1509. Tal obra foi ilustrada por

    Leonardo da Vinci (EVES, 1992, p. 44).

    O matemtico italiano Leonardo de Pisa, o

    Fibonacci (1180-1250), em seu livro Liber Abaci,

    de 1202 (CARVALHO, 1990, p. 6), props o se-

    guinte problema:

    Um casal de coelhos torna-se produ-

    tivo aps dois meses de vida e, a partir

    de ento, produz um novo casal a cada

    ms. Comeando com um nico casal de

    coelhos recm-nascidos, quantos casais

    existiro ao nal de um ano?

    Tal problema deu origem a uma seqncia: 1,

    1, 2, 3, 5, 8, 13, 21, 34, 55, 89, 144... Essa seq-

    ncia, em que todo termo, aps o segundo, igual

    soma dos dois que o precedem, recebeu o nome

    de seqncia de Fibonacci. Em 1753, o escocs

    Robert Simson descobriu que a razo entre dois

    termos sucessivos quaisquer dessa seqncia tende

    a como limite, medida que se avana mais e mais ao longo da seqncia, como est mostrado

    na Tabela 1 (compare os nmeros da tabela com o

    exemplicado na nota 1).

    Hoje sabemos que aparece tambm na na-tureza por exemplo, na margarida, no girassol e

    na concha do molusco nutilo em particular nas

    propores do corpo humano.

    A razo urea representa, segundo os estu-

    diosos, a mais agradvel proporo entre dois seg-

    mentos ou duas medidas.

  • 37Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 2005

    Artigos

    Esperamos que, com este trabalho, por meio

    do apanhado histrico e das aplicaes da razo

    urea, no mundo nossa volta, possamos contri-

    buir para a difuso do tema nas diversas reas do

    conhecimento.

    2 O retngulo ureo

    Chama-se retngulo ureo (ou retngulo de

    ouro) um retngulo ABCD com a seguinte proprie-

    dade: se o dividirmos em um quadrado e um outro

    retngulo, o novo retngulo ser semelhante ao ori-

    ginal. Ver Ilustrao 1.

    Sendo a e b as dimenses do retngulo origi-

    nal, a denio acima se traduz na relao:

    ba

    = a - bb

    De onde segue que b2 = a2 - ab b2 + ab - a2 = 0

    Resolvendo a equao do 2 grau na incgnita b

    > 0, temos:

    b = - a + a52

    b = ( 5 - 12 )a ba

    = 5 - 12

    Se invertermos a razo entre os segmentos, teremos:

    ab

    = 25 - 1

    ab

    = 2(5 + 1)(5 - 1)(5 + 1)

    ab

    = 2(5 + 1)4

    ab

    = 5 + 12

    A razo obtida entre os lados do retn-

    gulo ABCD conhecida como razo urea e,

    para identic-la, usamos a letra grega (). Denotaremos por , o inverso dessa razo:

    = 5 - 12

    0,618 e = 5 + 12

    1,618

    3 A construo geomtrica de retngulo ureo

    Se desenharmos um retngulo, no qual a

    razo entre os comprimentos dos lados, menor e

    Tabela 1: Razo entre termos sucessivos da seqncia de Fibonacci

    1 1 = 1,00000000000000000000000000000

    1 2 = 0,50000000000000000000000000000

    2 3 = 0,66666666666666666666666666667

    3 5 = 0,60000000000000000000000000000

    5 8 = 0,62500000000000000000000000000

    8 13 = 0,61538461538461538461538461538

    13 21 = 0,61904761904761904761904761905

    21 34 = 0,61764705882352941176470588235

    34 55 = 0,61818181818181818181818181818

    55 89 = 0,61797752808988764044943820225

    89 144 = 0,61805555555555555555555555556

    144 233 = 0,61802575107296137339055793991

    233 377 = 0,61803713527851458885941644562

    377 610 = 0,61803278688524590163934426229

    610 987 = 0,61803444782168186423505572442

    987 1.597 = 0,61803381340012523481527864746

    1.597 2.584 = 0,61803405572755417956656346749

    2.584 4.181 = 0,61803396316670652953838794547

    4.181 6.765 = 0,61803399852180339985218033998

    6.765 10.946 = 0,61803398501735793897314087338

    Fonte: A autora.

    A E B

    D F Cb a - b

    b

    aIlustrao 1: Retngulo ureoFonte: A autora.

  • Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 200538

    maior, igual razo urea, obteremos um retn-

    gulo ureo (ou retngulo de ouro):

    Construir um quadrado ABCD qualquer.

    Encontrar o ponto mdio M do lado AB.

    Com centro em M e raio MC, traar um arco

    de circunferncia que intercepta o prolonga-

    mento do lado AB no ponto E.

    AE base do retngulo ureo.

    Para complet-lo, basta traar uma reta per-

    pendicular a AE pelo ponto E, que intercepta

    o prolongamento de CD no ponto F.

    AEFD um retngulo ureo.

    Justicativa da construo:

    Seja a o lado do quadrado ABCD construdo.

    Por construo, o tringulo MBC retngulo.

    Dessa forma, aplicando o Teorema de Pitgoras,

    temos:

    MC2 = MB2 + BC2 MC2 = (a2)2 + a2

    MC2 = 5a2

    4

    Portanto: MC = a5

    2

    ME = MC, por construo.

    Assim, temos:

    AE = AM + ME AE = a2

    + a52

    AE = a2

    (5 + 1)

    ADAE

    = aa2

    (5 + 1)

    ADAE

    = 2(5 - 1)(5 + 1)(5 - 1)

    ADAE

    = 2(5 - 1)4

    ADAE

    = (5 - 1)2

    ADAE

    0,618

    Portanto AEFD um retngulo ureo.

    4 O segmento ureo

    Seja AB um segmento de comprimento a com

    um ponto C em seu interior que o divide em duas

    partes com a seguinte propriedade: a razo entre a

    menor parte e a maior parte igual razo entre

    a maior parte e o segmento total. Chamaremos b

    maior parte (segmento AC).

    A B E

    D C F

    M

    Ilustrao 2: Construo de retngulo ureoFonte: A autora.

    A B E

    D C F

    M

    a2

    a

    a

    a a

    a2

    Ilustrao 3: Justicativa da construo de retngulo ureoFonte: A autora.

    CBAC

    = ACAB

    A BC

    a

    b

    Ilustrao 4: Segmento ureo

    Fonte: A autora.

  • 39Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 2005

    Artigos

    O segmento AC com essa propriedade

    chamado segmento ureo de AB (diviso urea ou

    diviso em mdia e extrema razo de um segmento).

    A relao CBAC

    = ACAB

    precisamente a relao

    ba

    = a - bb

    se pusermos AB = a e AC = b.

    Logo, AC = (5 - 12 )AB .

    5 A construo geomtrica de segmento ureo

    dado o segmento AB de medida a.

    Determinar o ponto mdio M de AB.

    Traar uma reta perpendicular ao segmento

    AB pela extremidade B.

    Determinar o ponto D na perpendicular tal

    que BD = BM.

    Traar uma reta pelos pontos A e D.

    Com centro em D, traar uma circunferncia

    de raio BD.

    Determinar os pontos E e E de interseco entre

    o segmento AD e a circunferncia anterior.

    AE = AC = segmento ureo interno de

    AB : AE = AC = (5 - 12 )AB

    AE = AC = segmento ureo externo de AB : AE = AC = (5 + 12 )AB

    Justicativa da construo:

    Sejam a = AB e b = AC. Como CBAC

    = ACAB

    ,

    ento temos ba

    = a - bb

    ou seja, b2 + ab = a2.

    O primeiro membro da equao tornar-se-

    um quadrado perfeito se lhe for adicionado (a2)2:

    b2 + ab + (a2)2 = a2 + (a2)

    2

    (b + a2) = a2 + (a2)2

    ou seja, teremos um tringulo retngulo de

    hipotenusa b + a2

    e catetos a e a2

    .

    Fazendo y = b + a2

    , teremos:

    y2 = a2 + (a2)2 y2 = a2 + a2

    4

    y2 = 5a2

    2 y = 5

    2a

    Logo,

    b + a2

    = 52

    a b = (5 - 12 )a AC 0,618 AB.

    Por outro lado,

    AC = AE = AD + DE

    AC = (b + a2) + a2

    AC= b + aA BM

    DE

    E

    CCIlustrao 5: Construo de segmento ureoFonte: A autora.

    A BM

    D

    E

    Ca

    ba2

    a2

    Ilustrao 6: Justicativa da construo de segmento ureoFonte: A autora.

  • Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 200540

    Substituindo o valor de b encontrado,

    teremos:

    AC = (5 - 12 )a + a AC = a5 -a + 2a

    2

    AC = a5 + a2

    AC = (5 + 12 )a

    AC = (5 + 12 )AB ou seja, AC 1,618 AB.

    6 A espiral urea

    Um retngulo ureo tem a interessante proprie-

    dade de que, se o dividirmos num quadrado e num

    retngulo, o novo retngulo ser tambm ureo.

    Repetindo este processo innitamente, teremos:

    E unindo os cantos dos quadrados gerados,

    obtm-se uma espiral denominada espiral urea:

    7 O pentagrama

    A razo urea fascinou os antigos gregos e,

    por razes estticas, foi largamente usada por ar-

    tistas e arquitetos. Ela conhecida desde os pitag-

    ricos (sculo V a.C.). Essa razo foi descoberta no

    pentgono regular, que exibe segmentos divididos

    na razo urea. Talvez esse tenha sido o motivo

    que levou os discpulos de Pitgoras a adotarem

    o pentagrama (pentgono regular estrelado) como

    smbolo de sua seita.

    Esta gura envolve um misticismo, provavel-

    mente, em razo de suas propriedades pois, ao de-

    senharmos um pentgono regular e traarmos suas

    diagonais veremos que elas se cruzam e formam

    um novo pentgono interior ao anterior.

    Ilustrao 7: Seqncia innita de retngulos ureosFonte: A autora.

    Ilustrao 8: Espiral urea sobre seqncia innita de retngulos ureosFonte: A autora.

    A

    C

    BIlustrao 9: PentagramaExemplo da ocorrncia da diviso urea num pentgono regular: a interseco de duas de suas diagonais divide qualquer uma delas em mdia e extrema razo. Por exemplo:

    ACCB

    = CBAB

    0,618

    Fonte: A autora.

    ACCB

    CBAB

  • 41Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 2005

    Artigos

    Consideremos o tringulo ABC que issce-

    les especial, ou seja, a bissetriz de um dos ngulos

    da base divide o tringulo em dois novos tringu-

    los issceles:

    Podemos vericar que os tringulos ABC e BCD so semelhantes, pois tm os ngulos corres-pondentes congruentes e, portanto, os lados cor-respondentes proporcionais:

    ba - b

    = ab

    b2 + ab - a2 = 0

    ba

    = 5 - 12

    ba

    0,618

    Tal tringulo chamado tringulo issceles ureo. Assim como no retngulo ureo, identica-se a propriedade de permitir que, ao traarmos a bissetriz de um dos ngulos da base, o novo trin-gulo seja tambm de ouro. Repetindo este proces-so innitamente, temos:

    E tambm podemos obter uma espiral urea:

    8 A razo urea e as obras arquitetnicas

    O retngulo ureo foi muito utilizado nas

    construes gregas. Os gregos o consideravam a

    gura geomtrica mais harmoniosamente dimen-

    sionada e o Partenon, ou templo da deusa Atena,

    construdo no sculo V a.C. pelo arquiteto e escul-

    tor Fdias, um dos mais famosos exemplos dessas

    construes.

    O Partenon possui, na fachada principal, um

    quase exato retngulo ureo:

    Outra obra arquitetnica importante a

    Catedral de Notre Dame de Chartres, na Frana,

    considerada a rainha das catedrais gticas,2 a fonte

    em pedra e luz de toda uma f.

    A

    CB

    a - b

    b

    b

    ab

    A

    CB

    D

    Ilustrao 10: Tringulo issceles ureo no pentagramaFonte: A autora.

    Ilustrao 11: Seqncia innita de tringulos ureosFonte: A autora.

    Ilustrao 12: Espiral urea sobre seqncia innita de tringulos ureosFonte: A autora.

    Ilustrao 13: PartenonFonte: TV Cultura (2001).

  • Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 200542

    No incio do sculo IV, a primeira diocese

    de Chartres era um edifcio feito inteiramente

    de madeira, de tamanho modesto se comparado

    s construes de hoje. Na Idade Mdia, a cate-

    dral pegou fogo 13 vezes, em 350 anos; por essa

    razo, sua estrutura foi sendo alterada a cada

    nova restaurao. Aps o incndio de 1194,

    a catedral gtica foi erguida pela populao

    da cidade que entendia o trabalho no apenas

    como tarefa religiosa, mas tambm como meio

    de expiar seus pecados. Em 1220, concluiu-se a

    construo. A catedral tem medidas gigantescas,

    comparveis s de um estdio e a mais alta

    igreja gtica que existe.

    Conta-se que a catedral, em sua forma gtica,

    favorecida por uma estrela da sorte, pois, desde

    1194, ela e toda a localidade tm sido poupadas de

    incndios, guerras e outras catstrofes.

    O fato de as catedrais gticas permanecerem

    estveis indenidamente, apesar da enorme altura,

    deve-se sua geometria especial. Foras de presso

    e de suco equilibram-se harmoniosamente para

    que a estrutura no ceda. Na questo da estabili-

    dade, tem importncia particular a disposio re-

    tangular de arcos e pilares. Os arcos ogivais so

    construdos sobre o pentagrama.

    A razo urea se encontra em muitas propor-

    es espaciais na catedral. O retngulo ureo foi

    utilizado na prpria planta da igreja:

    No portal oeste, entrada principal da cate-

    dral, h guras vestidas, esculturas que repre-

    sentam o profeta Davi, a rainha de Sab e o rei

    Salomo, e que foram estruturadas de acordo com

    a razo urea.

    Ilustrao 14: Catedral de Chartres: vista da entrada principalFonte: Klug (2002, p. 1).

    Ilustrao 15: Pentagrama no centro de um octgono no porto do coro da Catedral de ChartresFonte: Klug (2002, p. 71).

    Ilustrao 16: Disposio retangular dos arcos e pilares que apiam a igreja num ngulo de 108Fonte: Klug (2002, p. 140).

  • 43Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 2005

    Artigos

    A proporo urea tambm est presente

    na alta estrutura da catedral e na espessura de

    seus pilares.

    Mesmo em anos recentes, ainda encontra-

    mos artistas e arquitetos que utilizam o retngulo

    ureo em seus projetos. Na Ilustrao 20, temos

    a foto de uma residncia de Paris, projetada pelo

    arquiteto Le Corbusier, em que h dois retngulos

    ureos, um deles representado pelo corpo inteiro

    da casa e o outro, disposto verticalmente, repre-

    sentado pela parte da casa esquerda da escada.

    Podemos tambm citar o edifcio-sede da

    Organizao das Naes Unidas (ONU), em Nova

    York, na qual h trs retngulos ureos dispostos

    horizontalmente.

    Ilustrao 17: Planta da catedral: AC

    = BA

    0,618

    Fonte: Klug (2002, p. 75).

    Ilustrao 18: Figuras vestidas do portal oesteFonte: Klug (2002, p. V).

    Partes da cabea

    Ombros

    Mos segurando livro

    Parte inferior do corpo

    Ilustrao 19: Retngulo ureo nas guras vestidas do portal oesteFonte: Klug (2002, p. 76).

    Ilustrao 20: Residncia da atualidadeFonte: vila (1985, p. 9).

    Ilustrao 21: Sede da ONU em Nova YorkFonte: Rocha (1999, p. 105).

  • Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 200544

    Podemos perceber que, apesar das evidentes

    diferenas entre as construes apresentadas e

    do enorme espao de tempo que as separa, essas

    construes so regidas estruturalmente pela pro-

    poro urea.

    9 A razo urea e o corpo humano

    O corpo humano tem sido o maior objeto

    de estudo sobre a existncia do segmento ureo

    na natureza.

    Foi Leonardo da Vinci que chamou a razo

    urea de divina proporo, utilizando-a inclusive

    na famosa Monalisa (ou Gioconda), de 1502: se

    construirmos um retngulo em torno de seu rosto,

    veremos que est na proporo urea. Poderemos

    tambm subdividir este retngulo usando a linha

    dos olhos para traar uma reta horizontal e teremos

    novamente a proporo urea. Poderemos conti-

    nuar a explorar esta proporo em vrias outras

    partes do corpo.

    Entre tantas outras aplicaes, a razo

    dourada tem lugar reservado tambm nos con-

    sultrios de ortodontia. Atualmente, a busca de

    tratamentos odontolgicos estticos tem sido

    priorizada em diversas reas da odontologia.

    Vrios so os recursos utilizados em busca de um

    sorriso perfeito. Respeitando as regras da pro-

    poro urea e os movimentos mandibulares do

    paciente, so utilizados instrumentos para veri-

    car o posicionamento correto da arcada dentria

    (GOMES et al., 2003).

    Observe a Ilustrao 26: os quatro dentes

    frontais de cada lado da arcada superior a

    parte mais visvel do sorriso esto numa relao

    dourada uns com os outros.

    Ilustrao 22: Desenho de Leonardo da VinciNo desenho de Leonardo da Vinci representando um velho (provavelmente um auto-retrato), o artista sobreps ao esboo um quadrado dividido em retngulos que se aproximam do retngulo ureo.Fonte: TV Cultura (2001).

    Ilustrao 23: MonalisaObserve como a linha dos olhos marca uma diviso urea no comprimento total da face. E tambm a linha da boca uma pro-poro urea da distncia entre a base do nariz e a extremidade do queixo.Fonte: TV Cultura (2001).

    Ilustrao 24: Propores ureas no corpo humano faceFonte: TV Cultura (2001).

  • 45Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 2005

    Artigos

    Nos ltimos anos, tem sido discutida a

    relao da razo urea com a beleza. Um corpo

    perfeitamente harmonioso traz relaes ureas.

    Como j dissemos, o retngulo ureo conside-

    rado a forma geomtrica mais agradvel vista.

    Consideramos subjetivamente belas as formas

    que correspondem ao corte dourado, enquanto

    as que no se baseiam nele no nos agradam.

    claro que os conceitos de beleza que pos-

    sumos se relacionam a questes culturais. O

    que pode ser considerado belo para uma deter-

    minada civilizao pode no ser to belo para

    outra.

    Para exemplicar isso, podemos veri-

    car as relaes ureas encontradas nas faces de

    dois atores que so considerados os expoentes

    da beleza cinematogrca: Tom Cruise e Sophia

    Loren. interessante observar que a assimetria

    uma das caractersticas principais dos seres

    humanos; por isso, foram estudadas as propor-

    es apenas de um dos lados do rosto. Um retrato

    que seja espelhado, partindo do meio, pode

    transformar uma determinada gura pblica

    num quase desconhecido.

    A beleza desses atores pode no ser aceita

    por todos. Por se tratar de guras pblicas, sua

    beleza fsica pode ser contestada por aqueles

    que no os apreciam como atores. Contudo,

    incontestvel que o tipo de padro apresentado

    se aproxima das propores ureas.

    Ilustrao 25: Propores ureas no corpo humanoO umbigo marca um ponto ureo no comprimento do corpo. Na mo, o tamanho dos dedos est relacionado, de maneira urea, com cada uma de suas articulaes.Fonte: Guimares (1997, p. 65).

    Ilustrao 26: Arcada dentriaFonte: TV Cultura (2001).

    Ilustrao 27: Tom CruiseFonte: Rocha (1999, p. 134).

    Ilustrao 28: Relaes ureas nos atores Tom Cruise e Sophia LorenFonte: Rocha (1999, p. 149).

  • Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 200546

    10 A razo urea e a natureza

    O nmero ureo tambm encontrado na

    natureza. Se sobrepusermos um pentgono estre-

    lado azalia, veremos que ela est formada por

    propores ureas.

    O mesmo pode ser observado em outras ores

    como, por exemplo, na petnia e no jasmim-estrela.

    As sementes do girassol ou as orezinhas que

    formam a congurao dos sculos da margari-

    da-do-campo esto dispostas em dois conjuntos

    de espirais sobrepostos, irradiando-se nos sentidos

    horrio e anti-horrio. Uma contagem do nmero

    de espirais, em cada um dos casos, fornece quase,

    invariavelmente, dois termos consecutivos de uma

    seqncia de Fibonacci, tais como 21 e 34 ou 34 e

    55. (EVES, 1992)

    Relaes semelhantes so encontradas em

    vrias outras plantas cujas folhas obedecem a um

    modelo de desenvolvimento em espiral.

    A espiral fornece tambm o padro matem-

    tico para o princpio biolgico que regula o cres-

    cimento das conchas: o tamanho aumenta, mas o

    formato no se altera.

    Alm dos padres retangulares, espirais e

    pentagonais, a razo urea tambm pode ser

    encontrada numa progresso linear. Isso pode

    ser observado na estrutura da concha do mar

    (Ilustrao 33):

    E tambm no padro de desenvolvimento de

    uma rvore:

    Ilustrao 30: A petnia e o jasmim-estrelaFonte: Rocha (1999, p. 67).

    Ilustrao 29: AzaliaFonte: Guimares (1997, p. 65).

    Ilustrao 31: GirassolFonte: Doczi (1990, p. 4).

    Ilustrao 32: Concha do molusco nutiloFonte: Rocha (1999, p. 63).

    Ilustrao 33: Concha do marFonte: Rocha (1999, p. 68).

  • 47Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 2005

    Artigos

    Para nalizar, observemos a razo urea presen-

    te nas propores da anatomia de alguns animais.

    Os peixes da Ilustrao 35 so das guas da

    costa canadense do Pacco. Podemos observar

    a proporo urea em suas silhuetas e articula-

    es. Em alguns casos, como no salmo-prateado

    e no mangang, a boca est no ponto de ouro da

    altura do corpo.

    Encontramos tambm as propores da seo

    urea nas formas das diferentes arraias, nas estruturas

    sseas das rs e dos cavalos, nos olhos da cauda do

    pavo que esto nos pontos de interseo de espirais

    ureas, em insetos como os besouros, as borboletas,

    as moscas, as liblulas, as abelhas, as vespas, as formi-

    gas, os grilos e os louva-a-deus (DOCZI, 1990).

    11 Consideraes nais

    Como vimos, a razo urea, que conhecida

    desde o sculo V a.C. pelos pitagricos, est sendo

    ainda hoje usada por diversos artistas. Essa pro-

    poro aparece em diversas situaes no mundo

    nossa volta, muitas vezes inesperadas.

    Os padres harmnicos so encontrados na

    natureza, utilizados nas artes, consciente e algumas

    vezes inconscientemente, contribuindo para a

    cultura do homem desde os tempos antigos.

    Com os exemplos apresentados neste traba-

    lho, esperamos ter contribudo para mostrar aos

    alunos e professores que a Matemtica e, especi-

    camente, a Geometria possuem vrias aplicaes

    nas diversas reas do conhecimento e que, talvez

    com isso, ns, professores, possamos incentivar e

    motivar nossos alunos ao estudo da Geometria.

    Ilustrao 34: Padro de desenvolvimento de uma rvoreFonte: Rocha (1999, p. 68).

    Ilustrao 35: Salmo-prateado, mangang e linguado

    Fonte: Doczi (1990, p. 58).

    The golden ratio and the harmonic patterns

    in nature, arts and architecture

    The ancient Greeks considered more harmonious

    and beautiful the rectangles that were in a ratio

    known as golden. The Greek temple Parthenon,

    built in the 5th century B.C., is maybe the most

    emblematic example of this ratio usage revealing

    their concern to make extremely harmonic

    architectonic works. This esthetic criterion

    crossed the centuries and is still adopted by some

    artists nowadays. Some examples of this ratio

    usage in nature, arts, architectonic works and in

    the human body are shown and examined in this

    work, showing some applications of Geometry in

    the world around us.

    Key words: Golden ratio. Golden rectangle.

    Harmonic patterns. Pentagram.

  • Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 200548

    Notas

    1 A razo urea com mais casas decimais dada por 0,61803398874989484820458683436564...

    2 Gtico: estilo arquitetnico que nasceu na Europa no sculo XIII e que se caracteriza pelo arco ogival e a distribuio da luz atravs de vitrais.

    Referncias

    VILA, G. Retngulo ureo, diviso urea e seqncia de Fibonacci. Revista do Professor de Matemtica, So Paulo, v. 6, p. 9-14, 1985.

    CARVALHO, J. P. Um problema de Fibonacci. Revista do Professor de Matemtica, So Paulo, v. 17, p. 4-9, 1990.

    DOCZI, G. O poder dos limites: harmonias e propores na natureza, arte e arquitetura. 1. ed. So Paulo: Mercuryo, 1990.

    EVES, H. Tpicos de histria da matemtica para uso em sala de aula: geometria. 1. ed. So Paulo: Atual, 1992. v. 3.

    GOMES, P. N. et al. Reconstruo funcional e esttica de dentes anteriores. In: FRUM CLNICO E CIENTFICO DA ODONTOLOGIA, 5., 2003, Varginha. Anais. Varginha: Universidade de Alfenas, 2003.

    GUIMARES, J. L. Nmeros camuados. Revista Superinteressante, So Paulo, n. 10, p. 63-67, 1997.

    KLUG, S. U. Catedral de Chartres: a geometria sagrada do cosmos. 1. ed. So Paulo: Madras, 2002.

    ROCHA, A. J. F. Estratgias de aplicao do segmento ureo no design. 1999. Tese (Doutorado em Comunicao e Artes)-Universidade Presbiteriana Mackenzie, So Paulo, 1999.

    TV CULTURA. Arte & matemtica. So Paulo: TV Cultura, 2001. Disponvel em: . Acesso em: 2 abr. 2005.

    recebido em: 12 set. 2005 / aprovado em: 3 nov. 2005

    Para referenciar este texto:

    LAURO, M. M. A razo urea e os padres harmnicos na natureza, artes e arquitetura. Exacta, So Paulo, v. 3, p. 35-48, 2005.