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A R EGIÃO

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A R E G I Ã O

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Fausto R. A. Brito (Coord.)

Ana Maria H. C. de OliveiraAndré C. Junqueira

inas Gerais, como o próprio nome indica, éuma região marcada por riquezas naturais.A natureza propiciou-lhe uma abundância

de recursos não-renováveis, como o ouro e o miné-rio de ferro, e de recursos teoricamente renováveis,como as florestas exuberantes da Mata Atlântica.

Tais privilégios em riquezas naturais fo-ram percebidos pelo colonizador ávido em metaispreciosos, sem os quais o Mercantilismo não fariasentido para as grandes metrópoles. Uma coloniza-ção, a princípio litorânea, demorou a superar os obs-táculos naturais, serras e densas florestas, que prote-giam as Minas Gerais.

As primeiras entradas e bandeiras perse-guiam índios e procuravam pedras preciosas. Massomente depois de quase dois séculos do início dacolonização, com a descoberta de ouro nas minas doTripuí, é que se iniciou o processo de ocupação regi-onal. Uma história que vai ter sempre a marca dascomplexas relações entre a população, com suas de-sigualdades, e a natureza na sua heterogeneidade derecursos nem sempre renováveis.

O ouro de Minas Gerais, no século XVIII,ajudou decisivamente na emergência da RevoluçãoIndustrial Inglesa. A riqueza não durou muito. Meioséculo foi suficiente para demonstrar que os recursosnaturais, dada a tecnologia da época, eram finitos.

M

2. A OCUPAÇÃO DO

TERRITÓRIO E A DEVASTAÇÃO

DA MATA ATLÂNTICA.....................................

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No século XIX, Saint Hilaire e outros naturalistas deslumbraram-se com ariqueza da flora e fauna da Mata Atlântica mineira. O geólogo alemão Wilhelm Ludwig,Barão de Eschwege, e o engenheiro francês Jean Antoine Félix Dissande de Monlevadeficaram fascinados com as nossas disponibilidades de minério de ferro e de outras rique-zas minerais. Ambos se dedicaram à transformação manufatureira do minério de ferro.

Outro engenheiro francês, Henry Gorceix, foi convidado pelo Governo Im-perial para criar e dirigir a Escola de Minas de Ouro Preto, em 1876. Se as riquezasnaturais delineavam uma alternativa de desenvolvimento regional, era necessário for-mar uma elite para comandá-lo tecnicamente.

É de Gorceix a síntese: “Minas é um coração de ouro em um peito de ferro”.A verdade é que boa parte do ouro já havia sido transferida para a Europa e bem servi-do aos ingleses, principalmente. O que restou, o ouro em lavras de maior profundida-de, explorado também por ingleses, estava longe de se constituir em recurso estratégi-co para o desenvolvimento regional.

Realmente, nossas maiores riquezas eram não só o “peito de ferro”, mastambém as densas florestas, as quais Gorceix não mencionou. Ele sabia, porém, comoengenheiro metalurgista, que sem elas de pouco valeria o peito de ferro.

A descoberta, no início deste século, da imensidão do quadrilátero ferríferocomeçou a desenhar o caminho por onde trilharia o desenvolvimento mineiro, princi-palmente na sua região leste. O binômio minério de ferro-reservas florestais forneceriaa combinação estratégica. Faltava, evidentemente, o capital.

Algumas décadas foram consumidas na sua procura através da definição deuma política siderúrgica, importante para Minas e fundamental para a economia brasi-leira. O esforço mineiro, comandado pela elite técnica formada na Escola de Minas deOuro Preto, foi no sentido de desenvolver uma siderurgia a carvão vegetal. Não forampoucas as controvérsias sobre o papel do Estado, do capital privado e sobre qual tecno-logia seria mais adequada. Como pano de fundo, interesses e concepções políticas di-vergentes digladiavam-se na arena republicana.

Minas definiu uma política siderúrgica na qual conviveram o capital estran-geiro e o estatal e, como vinha se delineando historicamente, como uma radical opçãopela tecnologia de redução a carvão vegetal. Nos grandes debates, principalmentequando se tratava da participação do capital estrangeiro na mineração, era feito o alertade Artur Bernardes: “Minério não dá duas safras”. Infelizmente, ninguém alertou:“Nossas reservas florestais não dão necessariamente duas safras”. O próprio Bernardeschamou a atenção para a “exploração vampírica de nossas matas”. Faltou, porém, umapelo político contundente.

Esses recursos naturais abundantes, somados a uma população que oferecia aforça de trabalho necessária, foram o fundamento de uma opção de crescimento econô-mico em que as metas de curto prazo se sobrepuseram às de longo prazo. O resultado,como podemos observar hoje, é que no leste de Minas Gerais se exauriram as riquezasnaturais, minérios e florestas, uma quantidade enorme de sua população emigrou e mui-to pouco se acrescentou à qualidade de vida dos que permaneceram. Foi uma combina-

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ção socialmente trágica de crescimento econômico, concentração fundiária, desigualda-de social e, fundamentalmente, degradação ambiental. Seria, utilizando um conceitomoderno, um exemplo indiscutível de Desenvolvimento Não-Sustentado no sentidoclássico consagrado pelas Nações Unidas, ou seja, a completa desarmonia entre o desen-volvimento e o meio ambiente, por um lado, e, por outro, uma falta de eqüidade entre asatisfação das necessidades da geração presente e das gerações futuras (COMISSÃOMUNDIAL SOBRE O MEIO AMBIENTE E DESENVOLVIMENTO, 1988).

A siderurgia, no entanto, não foi a única responsável pela degradação ambi-ental. O café, a pecuária, a indústria madeireira, a siderurgia a carvão mineral, a fabrica-ção de celulose, entre outras atividades, também foram responsáveis pelo desmata-mento, o que, evidentemente, não deixaremos de levar em conta.

Quando falamos em degradação ambiental, não nos referimos somente à ero-são, à poluição de água e ar e às questões de qualidade de vida ambiental, que são proble-mas típicos do leste mineiro. Neste trabalho vamos destacar fundamentalmente a perdade biodiversidade expressa na destruição de cerca de 90% da área original da Mata Atlân-tica em Minas Gerais. Entre os ecossistemas brasileiros, foi este o mais degradado. E amaior expressão dessa degradação é, sem dúvida, a parte mineira da Mata Atlântica, achamada Região Leste do Estado, composta pelas bacias dos rios Jequitinhonha, no ex-tremo norte, Mucuri, Doce e Paraíba do Sul, no extremo sul, e delimitada a leste pelasfronteiras com a Bahia, Espírito Santo e Rio de Janeiro e a oeste pela Serra do Espinhaço.

Esta é a nossa região de trabalho, que pode ser visualizada nos Mapas 2.1 e2.2. No primeiro temos a Mata Atlântica na sua extensão original; no segundo, os rema-nescentes atuais, nem sempre primários.

Em se tratando de Minas Gerais, o desmatamento assume uma proporçãoincrível. Sua economia está intimamente ligada a ele. Se comparamos o balanço ener-gético de Minas Gerais com o do Brasil, verificamos como a biomassa ainda é umafonte de energia fundamental para o nosso Estado.

TABELA 2.1.

BALANÇO ENERGÉTICO (%) - MINAS GERAIS E BRASIL (1989)...................................................Fontes Energéticas Brasil Minas Gerais

Derivados do petróleo 29,1 17,1

Eletricidade 39,6 30,7

Derivados da biomassa 24,8 38,7

Demais energéticos 6,5 13,5

Total 100,0 100,0...................................................Fonte: Cemig. Cima, 1991.

Quase dois terços da lenha produzida no Estado são transformados em car-vão, principalmente para o consumo do setor industrial siderúrgico, tendo havido ain-da um grande aumento no consumo de carvão enfornado para a produção de gusa pelosetor siderúrgico não-integrado.

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...................................................Fonte: Cemig, Balanço Energético, 1978/1989.

Para tornar mais consistente a discussão histórica dos diversos padrões derelação entre a população, suas atividades econômicas e a biodiversidade, ou seja, parafazermos a história ambiental da região leste mineira, vamos utilizar quatro recursosmetodológicos:

1. Vamos dividir a região leste em sete sub-regiões segundo certas especifi-cidades de suas formações históricas (Mapas 2.3 e 2.4):Região 1: Jequitinhonha não-reflorestadaRegião 2: Jequitinhonha com reflorestamentoRegião 3: Bacia do Rio MucuriRegião 4: Rio Doce (madeira e pecuária)Região 5: Rio Doce (siderurgia)Região 6: Zona da Mata (não-cafeeira)Região 7: Zona da Mata (cafeeira)

2. Faremos uma análise histórica introdutória da formação regional, necessá-ria à compreensão deste século.

3. O século XX, objeto fundamental de nossas reflexões, será periodizadoem três grandes fases:a. 1ª fase - 1900/1940: predominância da economia cafeeira; construçãodas ferrovias e início dos projetos siderúrgicos: emergência de três gran-des pólos regionais: Teófilo Otoni, Caratinga e Juiz de Fora;b. 2ª fase - 1940/1970: os grandes projetos siderúrgicos tornam-se priori-tários; expande-se a indústria madeireira e a pecuária; Governador Vala-dares transforma-se em pólo regional;c. 3ª fase - 1970/1990: início dos grandes projetos de reflorestamento;emergência da indústria de celulose; hegemonia da AUVA.

4. Como é impossível analisar todas as atividades econômicas que tiveramimpacto sobre a biodiversidade, elegemos, a partir da análise histórica, osgrandes vetores (atividades ou conjunto de atividades) que foram deter-minantes na degradação ambiental.

Do ponto de vista metodológico, a história ambiental não se restringe à análise,no tempo, dos diversos padrões de interação entre a população e o meio ambiente, media-

TABELA 2.2.

CONSUMO DE CARVÃO ENFORNADO - MINAS GERAIS (1978/1987)...................................................Setor Consumo de Carvão Enfornado (mdc)

1978 1987

Gusa integrado 4.312.169 6.424.618

Gusa não-integrado 5.885.672 12.513.141

Ferro liga 737.186 1.718.571

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tizados pelas atividades econômicas. Foi por essa razão que procuramos estabelecer histori-camente como os diversos atores, na cena política, compreendiam o desenvolvimento regi-onal e a utilização dos recursos naturais estratégicos segundo seus interesses ou ideologias.

Evidentemente, as elites importavam uma concepção de utilização das forçasprodutivas gerada pela ideologia da racionalidade instrumental, tão bem descrita por MaxWeber, cuja conseqüência mais importante era a fé cega na ciência e no progresso técnico.

Os engenheiros da Escola de Minas ou estrangeiros que passavam pelas MinasGerais ficavam deslumbrados com os recursos naturais e com as suas possibilidades de combi-nações produtivas. Os políticos, cujas dimensões ideológicas privilegiavam quase sempre oimediato, encontravam na opção dos engenheiros a âncora para seus interesses de curto prazo.

Como pano de fundo, a divisão internacional do trabalho colocava o Brasil, àépoca, como produtor de matéria-prima e importador de tecnologias e investimentossegundo os interesses dos grandes cartéis da siderurgia, sem dúvida um dos grandesatores que definiam o modo de utilização dos recursos naturais em Minas Gerais.

É evidente que o Brasil precisava criar seu departamento de produção de bensintermediários para desenvolver seu capitalismo. Mas a opção pela tecnologia de redução acarvão vegetal, pelo menos para parte do setor, colocou uma questão interessante para a análi-se da ideologia do desenvolvimento: politizou a questão do minério de ferro e despolitizou aquestão das florestas ou das riquezas de fauna e flora. Mesmo assim, na questão mineral, aexaustão dos recursos acabou ficando em segundo plano diante de quem deveria explorá-los.

O desenvolvimento da região leste de Minas Gerais foi também produtodessas contradições políticas e ideológicas: a história ambiental não poderia cometeressa omissão metodológica.

A OCUPAÇÃO HISTÓRICA DA REGIÃO DA MATAATLÂNTICA EM MINAS GERAIS

Eram muitas as adversidades naturais para a ocupação inicial da região dasMinas Gerais: a Serra da Mantiqueira, uma densa floresta tropical, e tribos de índiosmuitas vezes hostis.

Mas a época era do Mercantilismo e as metrópoles mediam suas riquezaspela quantidade de metais preciosos que acumulavam, principalmente através do Sis-tema Colonial. Assim, mata adentro caminhavam as Bandeiras provenientes de SãoPaulo em direção ao leste mineiro para capturar índios e encontrar pedras preciosas. Aregião era pura Mata Atlântica e por isso mesmo suas diversas partes eram chamadasMata do Rio, Zona da Mata, Mato Dentro, Mata do Rio Doce, Mata do Peçanha, Matado Mucuri etc. No seu conjunto, era denominada “Matta Mineira”, compreendendoas bacias do rios Jequitinhonha, Mucuri, Doce e Paraíba do Sul.

O sucesso da política colonial veio com o século XVIII. As primeiras minasforam descobertas e os caminhos em direção ao litoral tornaram-se mais acessíveisatravés de Borda do Campo, atual Barbacena, porta de entrada da mata, alcançando oRio de Janeiro. Os primeiros arraiais foram surgindo, apesar das adversidades deriva-das da falta de infra-estrutura que possibilitasse um alimentação adequada à sobrevi-

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vência dos mineradores e condições para enfrentar as epidemias. Nascem Ouro Preto,Antônio Dias, Padre Faria, Bandeirantes e muitos outros ao longo do Ribeirão do Car-mo. O leste de Minas Gerais começava a ser povoado (Pimenta, 1970b).

O povoamento foi rápido, movido por intensa migração. A administração colonialmobilizou-se no sentido de manter o controle político e em 1709 criou a Capitania de SãoPaulo e Minas do Ouro. Em 1711 surgem as duas primeiras vilas do leste mineiro: Ribeirãodo Carmo (Mariana) e Vila Rica (Ouro Preto). Foi tão intensa a corrida para o ouro que, noinício do século XVIII, Minas Gerais já possuía cerca de 30.000 habitantes (Pimenta, 1970b).

Em 1714 foi criada a Vila do Príncipe, atualmente Serro. O caminho que ligavaas minas do Mato Dentro de Vila Rica, Ribeirão do Carmo e Vila do Príncipe “passavapor Catas Altas do Mato Dentro, Itabira do Mato Dentro e Itapanhoacanga (depois dis-trito do Serro), prosseguindo ainda para as vilas do Jequitinhonha, Tejuco e Minas No-vas” (RBG, 1958). As densas florestas do Rio Doce e do Mucuri eram contornadas: pra-ticamente inacessíveis, serviam de proteção natural para as regiões mineradoras.

No dia 2 de dezembro de 1720, El-Rei Dom João V cria a Capitania deMinas visando garantir os objetivos do Sistema Colonial, que dependiam do controle emonopólio do comércio do ouro e diamante extraídos. Sua população já era estimadaem mais de 200.000 habitantes, entre os quais 50.000 escravos.

TABELA 2.3.

PPPPPOPOPOPOPOPULULULULULAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO DEDEDEDEDE M M M M MINASINASINASINASINAS G G G G GERAISERAISERAISERAISERAIS (1776-1821) (1776-1821) (1776-1821) (1776-1821) (1776-1821)...................................................

...................................................Fonte: “Taboa dos habitantes da Capitania de Minas Gerais, 1776”, atribuída a Claudio Manuel da

Costa: Notícias e Reflexões Estatísticas da Província de Minas Gerais pelo Barão de Eschwege; apud

Maxwell, 1977.

Em pouco tempo, com a expansão da exploração do ouro, a população cres-ceu vertiginosamente. Minas Gerais, em 1776, contava mais de 319.000 habitantes, eVila Rica, refletindo o início da decadência de sua produção aurífera, cujo auge se deuem torno dos anos 50, já não era a maior concentração populacional. Sabará, que com-binava mineração com grandes fazendas de criação de gado, era a maior vila. O Serro,mais distante e sob um controle colonial bem mais rígido em razão do exclusivo dodiamante, tinha uma população menor. A região do Rio das Mortes destacava-se porser um entroncamento dos caminhos que vinham do Rio e de São Paulo em direção àsminas, cumprindo o papel de entreposto comercial.

A comparação com os dados de 1821 revelavam não só um grande cresci-mento populacional, mas principalmente uma enorme migração dentro da Capitania.

Comarcas 1776 1821

Vila Rica 78.618 75.573

Rio das Mortes 82.781 119.520

Sabará 99.576 213.617

Serro 58.794 83.626

Paracatu - 21.772

Total 319.769 514.108

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O declínio da mineração do ouro provocou um deslocamento da população, reduzindoo número de habitantes de Vila Rica e expandindo outras vilas.

Vale a pena fazer um parêntese: devemos ser cuidadosos quando falamos demigração numa economia escravista. Sabemos bem que um escravo não é um ser livre,é propriedade do seu senhor. Nada impede que o senhor migre e leve com ele seusescravos. Isto certamente aconteceu em Minas Gerais (RBG, 1958).

Os “homens livres da ordem escravocrata” não eram poucos e, pobres à pro-cura da sobrevivência, redistribuíam-se regionalmente segundo a dinâmica de outrasatividades econômicas que se expandiam além da mineração: a agricultura, a pecuáriae manufatura (RBG, 1958). O mesmo podemos dizer dos senhores e seus escravos queemigraram em grande quantidade para novas regiões de atração, como a Zona da Mata,onde começava a emergir a economia cafeeira (Iglésias, 1958).

Como afirmou Maxwell, “Minas Gerais, entretanto, devia continuar umasociedade essencialmente urbana pelo último quartel do século XVIII e o desenvolvi-mento da economia regional deveria resultar da própria demanda urbana. A sociedademineira no século XVIII jamais foi constituída apenas por senhores e escravos, pelomenos no sentido em que tais termos podem ser aplicados às grandes propriedadesagrícolas das zonas litorâneas” (Maxwell, 1977).

Os impactos sobre a Mata Atlântica, apesar da falta de dados empíricos, nãodevem ser subestimados. Já no início do século XIX, Saint-Hilaire chamava atenção para odesmatamento e para as queimadas que comprometiam a flora e a fauna (Saint-Hilaire,1975). Tanto a atividade mineradora quanto a agropecuária, desenvolvidas sem nenhumapreocupação de preservação, tinham efeitos devastadores. Não deve ter sido pequeno ouso da floresta como energia, através da transformação em carvão ou para o próprio consu-mo doméstico. Isso pode ser estimado pelo tamanho da população que se constituía numademanda a ser atendida. A tradição de grandes produtores de lenha e carvão assumida poralguns municípios como Ouro Preto e Mariana vem certamente dessa época.

Entretanto, à exceção do sul da Zona da Mata e das regiões mineradoras, aMata Atlântica foi praticamente contornada. Fazia parte da política colonial mantervirgens as florestas ao norte da Zona da Mata e nos vales dos rios Doce, Mucuri eJequitinhonha para evitar “os descaminhos do ouro”. A rota permitida e fiscalizada erao chamado “caminho novo”, aberto por Garcia Rodrigues em 1720, que tinha o traçadoda futura ferrovia União-Indústria, ou seja, seguia o sudoeste da Zona da Mata e doVale do Paraíba.

Nesse caminho havia “pousos” para que as tropas descansassem e “regis-tros” onde a coroa exercia sua rigorosa fiscalização. O primeiro registro em Minas foiinstalado onde a estrada penetrava na floresta, o Registro do Campo, hoje Barbacena.Do lado de Minas, o último posto para cobrança de impostos era Matias Barbosa, omaior aglomerado populacional da Zona da Mata, apesar de pequeno e economica-mente pouco expressivo (RBG, 1958).

Até o século XIX o médio Rio Doce, o vale do Rio Mucuri e a parte norte dovale do Rio Jequitinhonha eram quase inacessíveis: densas florestas habitadas por na-

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ções indígenas muitas vezes hostis tornavam a região extremamente perigosa. Era ocaso dos Aimorés, que, em guerra com os Tapajós, foram se refugiando na mata: “Lon-ge de tudo e de todos, perderam seu próprio nome e se transformaram nos Botocudosque desde o final do século XVII ocupavam a região” (José, 1958).

Entretanto, com a decadência da mineração em Vila Rica e sabendo da exis-tência de ouro no Vale do Suaçuí, o Governo do Distrito das Minas promoveu, em1758, uma expedição chefiada pelo Guarda-Mor João Peçanha e pelo Vigário Francis-co Martins. A meta era explorar o Rio Suaçuí Grande desde a sua nascente, perto daVila do Príncipe, até sua foz, no Rio Doce, assim como o Suaçuí Pequeno desde o RioDoce até a região onde haviam sido descobertas as minas de ouro. Aí foi construído umquartel e uma capela, onde surgiu um pequeno povoado que depois se transformou nacidade de Peçanha (Pimenta, 1970b).

Mas foi realmente no século XIX que se iniciou a ocupação do médio RioDoce. Estimulado pelo Conde de Linhares, Dom João VI interessou-se pelas possibi-lidades de navegação naquele rio. Já eram conhecidos, no entanto, os conflitos entre osBotocudos e os imigrantes que avançavam sobre as suas terras vindos das regiões dedecadência da mineração no Distrito Diamantino. A política do governo colonial foi,então, de aniquilar os indígenas sob a justificativa de “bárbara antropofagia”. Atravésda Carta Régia de 1808 dirigida ao Governador da Capitania de Minas Gerais, DomJoão VI fez uma declaração de guerra aos indígenas. “O objetivo era que os índios,movidos de justo terror, fizessem a paz e se submetessem ao jugo das leis e pudessemassim viver em sociedade, transformando-se em vassalos úteis” (Iglésias, 1958).

Foi criada uma Junta Militar de Civilização dos Índios com seis divisões mili-tares distribuídas pelo Vale do Rio Doce. A guerra impiedosa dizimou quase por comple-to a nação dos Botocudos. As matas eram invadidas à procura dos índios e, quando semostravam inacessíveis, ateava-se fogo para que ali morressem queimados. O geólogoalemão Eschwege, que a serviço do Governo viajou pela região do Rio Doce, descreveuem seu livro Plutus Brasiliensis as “cenas abomináveis” que presenciou (Eschwege, 1944).Pimenta enfatizou que “este massacre de índios indefesos dentro de sua própria área dehabitação é uma das mais negras manchas do nosso período colonial” (Pimenta, 1970b).

Foi sob essa barbárie que a região do Rio Doce começou a ser ocupada. Imi-grantes recém-chegados e soldados recrutados sem nenhum critério destruíam as tribosindígenas e devastavam as florestas para se apossar das terras. As atrocidades eram tantasque o próprio Governador da Província se viu diante da necessidade de nomear o Capi-tão de Cavalaria Guido Tomas Marlière Inspetor Geral das seis divisões militares do RioDoce. Esse oficial francês havia chegado ao Brasil em 1808 e tinha adquirido grandeexperiência no trato com os índios Puris e Caiapós na Zona da Mata. Os historiadores sãounânimes em destacar Marlière como a única grande exceção no trato com os silvícolas,durante o período da Província, nas matas dos rios Pomba, Muriaé, Doce, São Mateus eJequitinhonha. Ele não só se dedicou à pacificação dos índios como também ao assenta-mento de colonos, distribuindo sesmarias para fixá-los (Pimenta, 1970b).

A política era implantar aldeamentos junto aos quartéis para “civilizar” osíndios através da catequese e do ensino dos fundamentos da agricultura e, assim, usar

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sua força de trabalho. No início da década de trinta do século passado já existiam maisde 20 aldeamentos entre o Rio Pomba, passando pelo Rio Doce, até o Jequitinhonha,“onde se abrigavam milhares de índios pertencentes às tribos dos Puris, Coroados,Macomis, Botocudos e Naknuk, ocupados com a agricultura, caça, pesca, navegação eextração da poaia” (José, 1958).

Vale a pena lembrar que a Lei das Terras, implementada em torno de 1850com o objetivo de criar um mercado de terras no Brasil, facilitou a ocupação da regiãoe a garantia da propriedade. Assim, as terras indígenas foram legal e definitivamenteincorporadas pelos nacionais. A questão do aldeamento dos índios transformava-seexclusivamente numa questão de catequese desenvolvida pelas ordens religiosas.

Um fato interessante ocorrido nessa época, e que será importante para ofuturo da região, foi a solicitação feita a Marlière pelo Governo Imperial para transpor-tar, pelo Rio Doce, uma carga para o engenheiro Jean Antoine de Monlevade. Era nadamenos que a maquinaria necessária para que Monlevade, em 1827, produzisse ferrofundido em Minas Gerais.

O Conselho Geral da Província, já em 1831, reconhecia a falta de população paraum território tão extenso como o de Minas: “Sem população proporcional à vasta extensãodo nosso território, incertos e tardios serão nossos passos na carreira de nossos melhoramen-tos materiais” (apud Iglésias, 1958). Minas, de fato, não era mais uma região de atraçãomigratória como havia sido no período da mineração. Pensava-se, então, numa política depopulação que atraísse os imigrantes europeus para o trabalho agrícola. Vale a pena subli-nhar que essa não era uma opção exclusivamente mineira, mas do Governo Central, queimplementava uma política de atração de imigrantes alemães para o sul do país.

Diversas tentativas foram feitas. A Companhia do Rio Doce, por exemplo,foi criada no sentido de atrair imigrantes estrangeiros através de concessão de terras.No entanto, somente algumas poucas famílias alemãs e austríacas se fixaram na partecapixaba do vale (Iglésias, 1958).

Outra experiência de ocupação demográfica foi a Companhia do Mucuri,empresa criada por Teófilo Otoni com participação acionária também do Governo. Em1853, na perspectiva de atrair imigrantes estrangeiros, Teófilo Otoni contratou umaempresa alemã para trazer para o Brasil cerca de 2.000 agricultores. No ano seguinte foicriada a Colônia Militar do Urucu, afluente do Rio Mucuri, “para proteger os elemen-tos das áreas de mata devassadas, como garantia de suas pessoas e propriedades entreSanta Clara e Filadelfia, hoje Teófilo Otoni” (Iglésias, 1958).

Mais tarde outros imigrantes chegaram, mas as dificuldades eram imensas: a rea-lidade da selva e das doenças era muito distante das promessas de um vale com as margenstão férteis “quanto as do Nilo”, como dizia a propaganda da companhia na Europa. Apesarde tudo, em 1873, 402 estrangeiros estavam residindo na Colônia (Monteiro, 1974).

Foram efetuadas outras tentativas de promover a imigração estrangeira paraa região do Rio Mucuri, mas, geralmente, sem grandes êxitos (Monteiro, 1974). Ape-nas no início do século XX é que o vale do Rio Mucuri vai ser realmente ocupado,fundamentalmente através de migrações internas.

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FASE 1: 1900-1940

A ECONOMIA CAFEEIRANo início do século XIX a região do vale do Rio Paraíba do Sul sofreu uma

profunda transformação com a emergência da economia mercantil cafeeira escravista (Mello,1982). Ainda que o Rio de Janeiro despontasse como o maior produtor, o dinamismo daeconomia era tal que transbordava para o lado mineiro do vale. Era o princípio de umagrande mudança na Zona da Mata e na economia mineira como um todo.

Segundo Alvim (1929), o espantoso crescimento da economia cafeeira naprimeira metade do século XIX deveu-se à abundância de braços liberados pelas regi-ões de mineração em franca decadência. Realmente são muitas as evidências de umagrande corrente migratória: não só de homens livres, mas também de senhores comseus escravos. Segundo Saint-Hilaire (1975), a população da Comarca do Rio das Mor-tes, no fim do século XVIII, emigrava para São Paulo, enquanto os habitantes de VilaRica se deslocavam para a Zona da Mata. Lembra também Alvim (1929), a facilidadede se obterem terras com a política de sesmarias, que possibilitava a ocupação de matasvirgens. Resta acrescentar que o trabalho e a terra não seriam articulados se não existis-se um capital mercantil disponível atraído pelos preços favoráveis do café e oriundo dopróprio comércio entre a sede da Corte e a Província (Furtado, 1980).

A partir de 1830 o café tomou um forte impulso em Minas, principal-mente na fronteira com a Capitania do Rio de Janeiro. As maiores plantações en-contravam-se em Mar de Espanha, Matias Barbosa, Rio Preto, Porto do Cunha(Além Paraíba) e Rio Pomba.

Em meados do século XIX, o café já representava mais de 50% das exporta-ções de Minas, chegando a quase 90% em 1880. Com o crescimento da produção, apopulação aumentou enormemente, mais de 12 vezes.

TABELA 2.4

POPULAÇÃO TOTAL DA ZONA DA MATA DE MINAS GERAIS (1822-1872)(1822-1872)(1822-1872)(1822-1872)(1822-1872)...................................................

...................................................Fonte: Minas e o Bicentenário do Cafeeiro no Brasil: 1727-1927. Belo Horizonte, Imprensa Oficial, 1929.

A expansão das plantações de café e a ocupação demográfica da Mata seguiramos trilhos das ferrovias. A grande disponibilidade de população, escrava e livre, não colocoupara Minas Gerais o grande problema paulista de escassez de “mão-de-obra” derivado doalto preço dos escravos, num primeiro momento, e da escassez de “força de trabalho livre”após a Abolição. Não foi preciso, portanto, importar mão-de-obra estrangeira porque o grandelatifúndio foi dividido para ser explorado pela parceria, incorporando-se grande parte doshomens livres que viviam à margem da ordem escravocrata (Iglésias, 1985; Cano, 1985)não apenas como trabalhadores agrícolas permanentes, mas também como temporários.

Ano Habitantes

1822 20.000

1872 254.000

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O Relatório Carlos Prates, de 1905, não é muito animador quanto à devasta-ção das florestas na Zona da Mata, mostrando índices muito baixos de preservação. Oscafezais evidentemente investiram sobre as matas, apesar de o mesmo Relatório acen-tuar que “no alto do morro permaneciam as florestas, nas vertentes interiores, o café,isolado quando adulto e com culturas intercalares quando novo... ”(Prates, 1906).

Essa característica foi muito importante na economia mineira: o café não seconstituiu como monocultura. O uso da terra era também disputado por outras cultu-ras, como o milho, o feijão e, principalmente, por pastagens. Nas áreas pesquisadas porPrates, 40% das terras eram pastagens ou capoeirinha. O café, como cultura itinerante,se sobrepôs à mata e, posteriormente, acabou cedendo lugar à pastagem.

A região leste possuía a metade das reservas florestais do Estado em 1925, istoé, 7.057.500 ha de um total de 14.349.320 ha. A Zona da Mata contribuía somente com34,36% da região leste. Evidentemente, esses dados já refletiam o impacto da própriaexpansão da economia cafeeira, que nesse momento vivia o seu auge em Minas Gerais.

A grande importância que tinha o café para Minas e a pouca relevância atri-buída às florestas ficavam claras no “sonho” de Alvim (1929) de superar a produçãopaulista quando dizia que se “...apenas metade destas reservas de terras virgens apro-priadas à cultura cafeeira seja transformada em cafezais, verifica-se que podemos plan-tar ainda cinco milhões de pés de café em terra de mata virgem (...) equivale a cincovezes a imensidão dos cafezais paulistas...”.

Em outras regiões do leste o café também teve alguma importância, mas seuimpacto sobre as reservas florestais foi bem menor. Um bom exemplo foi o vale do RioMucuri, onde o café se desenvolveu razoavelmente sem que o desmatamento fossesignificativo. Em 1925 as reservas florestais tinham a seguinte distribuição nas baciasdos rios do leste do Estado:

TABELA 2.5.

RRRRRESERVESERVESERVESERVESERVASASASASAS F F F F FLLLLLORESTORESTORESTORESTORESTAISAISAISAISAIS - R - R - R - R - REGIÃOEGIÃOEGIÃOEGIÃOEGIÃO L L L L LESTEESTEESTEESTEESTE DEDEDEDEDE M M M M MINASINASINASINASINAS G G G G GERAISERAISERAISERAISERAIS (1925) (1925) (1925) (1925) (1925)...................................................Bacias Área (ha) %

Rio Pardo 390.000 5,87

Jequitinhonha e Araçuaí 2.296.000 35,65

Doce e São Mateus 2.524.000 39,19

Mucuri 905.000 14,05

Muriaé 130.000 2,02

Paraibuna e Preto 90.000 1,40

Pomba 65.000 1,01

Novo 65.000 0,22

Paraíba 14.000 0,22

Total 6.441.000 100,00...................................................Fonte: ALVIM, Sócrates. “O Meio Agrícola e as Reservas de Terras Cafeeiras”. In: SECRETARIA DE

AGRICULTURA DE MINAS GERAIS. Minas e o Bicentenário do Cafeeiro no Brasil: 1727-1927. Belo

Horizonte, Imprensa Oficial, 1929.

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Dentro da região leste, a Zona da Mata era a mais populosa nessa pri-meira fase do século XX, principalmente diante da expansão da economia cafeei-ra. Como o café, tivemos um auge e um declínio demográfico. A partir da décadade 1920, quando começou a decair a produção cafeeira, a população também co-meçou a declinar. Uma boa parte das cidades que cresceram graças à migraçãoinduzida pelo café chegou em 1940 com uma população menor do que a de 1920em termos absolutos. Caratinga, sua maior cidade, é um bom exemplo: em 1920tinha 137.017 habitantes e em 1940 somente 66.696, ou seja, em vinte anos per-deu mais da metade de sua população. Juiz de Fora, a segunda maior cidade daZona da Mata, também sofreu um pequeno declínio: no mesmo período diminuiusua população de 118.166 para 104.172. Seu razoável crescimento industrial e fi-nanceiro não foi suficiente para conter a evasão demográfica.

Apesar do enorme crescimento populacional, sua pressão no início desteséculo foi atenuada pelas formas específicas de relações de trabalho incorpora-das pela economia cafeeira e pela policultura, que retirava do café a responsabi-lidade única pela expansão do emprego agrícola. Alguns autores ressaltam a im-portância da migração temporária: muitos trabalhadores, principalmente do nor-te de Minas, deslocavam-se para a Zona da Mata somente em períodos nos quaisa demanda por trabalho era alta, cumpriam sua jornada e retornavam à sua ori-gem (RBG, 1958).

Entretanto, com o declínio do café e sua substituição pela pecuária, cres-ceu a concentração de terra, houve queda do emprego sob as suas diferentes mo-dalidades, apesar da expansão de Juiz de Fora, e não restou à população outraalternativa senão a emigração. O destino foi a própria região sul do Estado, onde ocafé expandia-se acompanhando o outro lado da fronteira paulista. Começava ainstitucionalizar-se o grande itinerário de muitos mineiros: emigrar para outrosEstados para sobreviver. Nenhuma região como o leste de Minas Gerais contri-buiu tanto para isso.

AS FERROVIAS E A EMERGÊNCIA DA SIDERURGIANa região do Mucuri foi fundamental a construção da ferrovia Bahia-

Minas, em 1897, ligando Teófilo Otoni a Caravelas, na Bahia. Juntamente com amalha rodoviária que precariamente começava a se estabelecer, foi ela responsá-vel por uma intensa migração interna de mineiros e nordestinos que urbanizouaceleradamente algumas cidades como Teófilo Otoni, que era, em 1920, a maiordo Estado, com 163.199 habitantes. A transitoriedade dessa urbanização acelera-da, que chegou a atingir algumas cidades do Jequitinhonha, como Araçuaí, comquase 90.000 habitantes, definia-se por sua curta duração: em 1940 a populaçãode Teófilo Otoni tinha declinado para cerca de 85.000 habitantes e Araçuaí para67.000, aproximadamente. Esse fenômeno foi generalizado na região e podería-mos chamá-lo de “urbanização transitória da pobreza”.

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Mas a ferrovia de maior impacto sobre a região leste foi a Estrada de FerroVitória-Minas. Concebida no final do século passado, seus primeiros trinta quilôme-tros foram inaugurados em 1903 e apenas em 1907 ela penetra em Minas, com desti-no a Diamantina (IBGE, 1945). A mudança da história dessa ferrovia ocorre com adescoberta das jazidas de minério de ferro em Minas Gerais. Os ingleses compraramas terras onde se encontravam as jazidas, constituindo o Brazilian Hematite Syndica-te, que assumiu também o controle da construção da ferrovia. O destino da ferroviafoi então alterado para Itabira.

A construção da ferrovia esteve politicamente articulada às decisões sobre ocontrole das jazidas e à política siderúrgica do governo brasileiro (Gomes, 1983). Em1920 foi concedido aos ingleses da Itabira Iron o direito de exploração do minério e deconstrução de uma usina siderúrgica e o monopólio do transporte ferroviário. A discus-são dessa concessão levou duas décadas, até o governo brasileiro criar a CompanhiaVale do Rio Doce, com o monopólio estatal de extração e transporte do minério até oporto de Vitória, e concluir a ferrovia até Itabira (Pimenta, 1981).

A grande importância da Vitória-Minas não se deveu apenas ao transporte dominério de ferro para exportação, mas principalmente porque foi o eixo em torno doqual se construiria o maior complexo siderúrgico brasileiro. A ferrovia traçou, ainda,um caminho de desmatamento necessário à sua construção e manutenção e estabele-ceu uma ocupação demográfica regional que, de fato, só se aceleraria mais tarde com aexpansão da indústria madeireira, da pecuária e da própria siderurgia.

A região da bacia do Rio Doce que aqui estamos chamando de Siderúr-gica, apesar de seu nítido declínio demográfico, era, depois da Zona da Mata, amais populosa do leste mineiro. Ocupada desde o século XIX pela atividademineratória, tinha um tradicional complexo urbano que se nutria de uma econo-mia basicamente agrícola articulada por um antigo eixo ferroviário construídono início deste século. Em torno dele se organizou um conjunto de indústriassiderúrgicas a carvão vegetal, sendo a mais importante delas a Companhia Side-rúrgica Belgo-Mineira, localizada inicialmente em Sabará. Havia outras, algu-mas criadas ainda no século passado: Usina Queiroz Júnior Ltda., Itabirito, 1889;Mineração e Usina Wigg, Miguel Burnier, Ouro Preto, 1893; Companhia Side-rúrgica Mineira, Sabará, 1918; Companhia Brasileira de Usinas Metalúrgicas,Barão de Cocais, 1925; Companhia Ferro Brasileiro, Caeté, 1931; MetalúrgicaSanto Antônio, Rio Acima, 1931.

Essas empresas aproveitaram a produção de carvão vegetal de municípioscomo Ouro Preto e Mariana, facilmente transportada pelas ferrovias, e uma demandada industrialização voltada para bens de consumo não-duráveis que ocorria principal-mente no eixo Rio-São Paulo. Em 1937, uma nova usina siderúrgica da CompanhiaBelgo-Mineira foi fundada no município de João Monlevade. Em razão de sua impor-tância, e da siderurgia em geral, principalmente a partir da década de 1940, falaremossobre ela no próximo capítulo.

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O DESMATAMENTO E ALGUNS INDICADORES DEMOGRÁFICOS

TABELA 2.6

TAXAS DE CRESCIMENTO TOTAL (TCT), PERCENTUAIS DA POPULAÇÃO TOTAL (PPT) EPERCENTUAL DE REMANESCENTES FLORESTAIS POR REGIÃO EM MINAS GERAIS (1910/1940)...................................................

Regiões Taxa de CrescimentoTotal

Percentuais daPopulação Total

Matas (%)

1910-20 1920-40 1920 1940 1925 1940

1 4,6 -1,20 10,70 9,41 29,00 17,90

2 -0,80 -13,70 12,50 10,50 26,31 12,60

3 12,43 0,30 6,20 7,40 50,17 40,00

4 9,57 1,50 9,70 14,90 37,34 29,16

5 1,29 -0,67 17,60 17,30 29,46 19,20

6 2,90 -0,65 22,50 22,20 11,76 8,75

7 2,47 -1,22 20,70 18,20 23,60 10,50...................................................Fonte: Elaboração própria a partir de: Censos Demográficos - FIBGE/Anuário Estatístico de Minas Gerais - 1925/

1940. Governo de Minas Gerais/Cedeplar.

Pode-se observar a partir da Tabela 2.6:a. Comparando os dados de crescimento demográfico e a porcentagem de

mata nativa na Zona da Mata (regiões 6 e 7), verificamos que o alto cresci-mento populacional resultante da economia cafeeira teve um impacto enor-me sobre o desmatamento. Não há dúvida de que ela desmatou. Entretan-to, com o seu declínio e diminuição do ritmo de crescimento demográfico,a partir de 1920, o desmatamento continuou. A substituição gradativa docafé pela pecuária contribuiu para a recomposição do latifúndio, divididopela parceria e pelo colonato, aumentando a concentração de terras e acen-tuando a liberação da mão-de-obra agrícola. A expansão da pecuária promo-veu o avanço sobre as matas que sobreviviam ao café no alto das monta-nhas, como nos lembra o Relatório Prates. Curioso é verificar que sempre,mesmo em 1940, a porcentagem de mata nativa continuava sendo maioronde predominava a economia cafeeira (região 7).Estamos falando unicamente do impacto sobre a biodiversidade, mas sãomuitos os estudos que mostram a enorme responsabilidade do café e dapecuária na erosão dos solos. A distribuição das densidades de matas nati-vas por região, excelente indicador da preservação da biodiversidade, podeser bem visualizada no mapa 2.5, em anexo.

b. A região de ocupação mais tradicional do Rio Doce, a Siderúrgica (região5), com grande peso populacional e baixíssimas taxas de crescimento, nãoresistiu aos efeitos da siderurgia emergente, da urbanização e das ferrovi-as; suas matas nativas foram bastante reduzidas.A região do Rio Doce, ocupada mais recentemente (região 4), apesar deuma alta taxa de crescimento demográfico baseada na “urbanização da pobre-

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za”, reduziu relativamente pouco a sua área de Mata Atlântica. Os princi-pais responsáveis foram a construção da ferrovia, que contribuiu para a pri-meira fase da indústria madeireira, e o crescimento da pecuária na regiãonoroeste da Codema, que se expandiu em direção a Governador Valadares.

c. O vale do Rio Mucuri (região 3), com suas altíssimas taxas de crescimentobaseadas numa urbanização acelerada e precária, a qual já chamamos de“urbanização transitória da pobreza”, convivia com as mais altas taxas depreservação da Mata Atlântica. O café, a pecuária e a própria exploraçãoda madeira não foram suficientes para reduzir a mata nativa em mais de10% entre 1925 e 1940.Certamente, os imigrantes que abandonaram as cidades não se dirigirampara a área rural do vale do Rio Mucuri para sobreviver como camponesesnas vastas extensões de terras devolutas. A crise do café servia de espan-talho, empurrando os imigrantes em direção a Governador Valadares.

d. A parte mais antiga do vale do Rio Jequitinhonha, a região 2, economica-mente estagnada, com sua população diminuindo em termos absolutos,conseguiu reduzir em mais da metade a área de matas nativas. Uma econo-mia tipicamente camponesa mostrava-se também devoradora das matas,apesar de não existir nenhuma pressão demográfica.A região 1, a parte mais ao norte do vale do Jequitinhonha, inicia o séculocom altas taxas de crescimento em razão da malha rodoviária que se desen-volvia e estimulava a migração dos que não sobreviviam à economia cam-ponesa. Cidades como Jequitinhonha, Araçuaí e Grão Mogol crescerammuito até 1920, quando tinham, todas, mais de 67.000 habitantes. Não era,de fato, uma região onde predominava a mata tropical. A sua maior exten-são era constituída de caatinga e cerrado. Ainda assim, apesar do declínioacentuadíssimo da população, a área de matas foi reduzida à metade.

FASE 2: 1940-1970

PECUÁRIA E INDÚSTRIA MADEIREIRAA dinâmica da relação entre população e meio ambiente na região leste de Mi-

nas Gerais, nesta segunda fase de nossa periodização, foi determinada por dois grandesvetores: o crescimento da pecuária e da indústria madeireira, cujo grande pólo foi Governa-dor Valadares, e a expansão dos grandes projetos siderúrgicos, cujos pólos mais importantesforam, no princípio, João Monlevade e, posteriormente, os municípios do Vale do Aço.Esses dois grandes vetores interagiram, pois, de fato, tinham o mesmo objetivo: a subordi-nação da floresta, ainda abundante na região nos anos 40, a seus interesses econômicos.

A ocupação da região do médio vale do Rio Doce deu-se fundamentalmentepor meio do fluxo migratório que se estabeleceu entre a Mata de Peçanha e as matas dosafluentes do Rio Doce, a noroeste. Milhares de pessoas deslocaram-se das áreas decaden-tes de mineração, como Diamantina, Serro, Conceição, Itabira, Ferros, Minas Novas eItamarandiba, para os municípios de Peçanha e Guanhães, criados em 1875 (Barbosa, 1971).

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Peçanha já havia sido um destino imposto a muitos pelo governo colonial, como degredo,para solucionar o problema do desemprego e da vadiagem de mulatos, mestiços e negrosforros na fase de decadência da mineração de ouro na região mais central de Minas.

Um dos aldeamentos plantados à beira do Rio Doce, Porto de Figueiras,onde hoje se situa a cidade de Governador Valadares, foi transformado em distrito dePeçanha em 1884. Figueiras foi um entreposto comercial de grande importância regi-onal. Como dali até sua foz o Rio Doce era navegável, esse ponto tornou-se um localperfeito para a troca de mercadorias da região noroeste do Rio Doce com os produtosindustriais e o sal vindos do litoral.

Entretanto, Figueiras só se firmou definitivamente como entreposto comer-cial com a chegada da ferrovia Vitória-Minas em 15 de Agosto de 1910. Foram muitosos imigrantes que chegaram. Vieram da própria região do Rio Doce, do Espírito Santo,da Bahia. Chegaram também alguns estrangeiros de nacionalidade italiana, espanholae síria (Siman, 1988).

Do início do século até 1930, o café foi o produto mais comercializado ali. Algunscomerciantes funcionavam como intermediários entre os produtores regionais e o porto deVitória. A partir de 1930, com a intensificação da migração de nordestinos, foi introduzido ocapim colonião na região, o que possibilitou a expansão da pecuária. Desmatou-se ferozmen-te para se conseguirem os pastos necessários. Cresceu, conseqüentemente, a indústria ma-deireira, e as serrarias propagaram, definindo a imagem urbana de Figueiras.

As terras eram devolutas em sua maioria, pertencentes ao Estado. Em funçãodisso, os conflitos entre posseiros e “proprietários” eram constantes. O mecanismo deapropriação das terras era quase sempre a violência, e o poder político garantia a legaliza-ção. Segundo relatos da época (Siman, 1988), a Companhia Belgo-Mineira interessava-sesomente por propriedades “limpas”. Os fazendeiros apropriavam-se, legalizavam e ven-diam as terras para a empresa. Mas esta só as aceitava livres de posseiros. Havia, então, a“limpeza das terras” com a contratação de pistoleiros para desalojar os posseiros. A cadeiade violência começava no campo e estendia-se à cidade, para onde se dirigiam os expulsosdas terras. A média de mortes por assassinato chegava a seis por noite (Siman, 1988).

Em 1936, numa visita à cidade, a diretoria da Companhia Belgo-Mineiramostrou seu interesse em desmatar uma faixa de 6 km em ambas as margens do RioDoce, numa extensão de 150 km de estrada de ferro Vitória-Minas. A empresa garantiaque haveria uma regeneração das florestas em 30 anos. Em troca, a Belgo colaborariano combate à malária, que assolava quase toda a região.

Em 1942, Figueiras transformou-se em Governador Valadares. Com esse nome,expandiu-se fantasticamente. A cidade cresceu em torno de inúmeras serrarias alimenta-das pela mão-de-obra imigrante. Desde 1936, a estrada de rodagem ligando GovernadorValadares a Itambacuri estava em funcionamento, facilitando as migrações vindas dovale do Rio Mucuri, fortemente atingido pela crise do café. Continuavam a chegar, tam-bém, imigrantes do Nordeste, do Espírito Santo e de toda a região do Rio Doce.

A década de 1940 caracterizou-se pelo império da extração de madeira epelo início de um processo de explosão populacional que duraria até o final da décadade 1960. Com a inauguração, em 1937, da usina da Companhia Belgo-Mineira em João

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Monlevade, iniciou-se um encontro histórico entre a expansão da exploração da ma-deira e a expansão da siderurgia a carvão vegetal. Já em 1943 a Belgo inaugurou a maisimportante empresa de Governador Valadares: a Companhia Agropastoril de MadeiraCompensada do Rio Doce, visando aproveitar parte da madeira mais nobre de suasterras que não era transformada em carvão.

Outro recurso natural contribuiu decisivamente para o crescimento da cida-de: a mica, material dielétrico que assumiu grande importância durante a SegundaGuerra Mundial. Os americanos estimulavam a produção e importavam praticamentetudo. As minerações estavam distribuídas entre Governador Valadares e os municípiosvizinhos. Por isso Valadares foi incluída, juntamente com a Amazônia, em razão daprodução de borracha, e Itabira, por causa do minério de ferro, entre as regiões ondeseria desenvolvido um serviço de proteção às populações envolvidas na produção demateriais estratégicos. Esse serviço se restringiu ao combate à malária.

Apesar do declínio da exploração econômica da mica com o fim da guerra,Governador Valadares consolidou-se como pólo regional, expandindo suas empresasde madeira até o Rio Mucuri, ao norte, e para leste, seguindo os trilhos da ferroviaVitória-Minas. Na verdade, ocorria um mecanismo perverso, principalmente nas terrasque não pertenciam às grandes siderúrgicas: após a derrubada da mata, a empresa ma-deireira transformava a área em pasto. O solo rapidamente erodia e raramente presta-va-se a qualquer outra forma de agricultura. A própria expansão demográfica da cida-de, que chegou ao início da década de 1960 com quase 110.000 habitantes, não resistiuao declínio econômico e foi fortemente desacelerada.

TABELA 2.7

TAXAS DE CRESCIMENTO POPULACIONAL - GOVERNADOR VALADARES - 1940/91...................................................População 1940-50 1950-60 1960-70 1970-80 1980-91

Urbana 11,49 13,26 5,75 3,23 1,92

Rural 0,81 0,29 -0,63 -5,62 -1,70

Total 3,69 7,04 4,07 1,93 1,62...................................................Fonte: FIBGE. Censos Demográficos, 1940-80. Resultados Preliminares do Censo Demográfico - 1991.

Governador Valadares, de fato, polarizava a pobreza da região, o que se tornariaainda mais agudo com a inauguração da rodovia Rio-Bahia no início da década de 1950.Além de atrair os imigrantes que abandonavam o campo no próprio vale do Rio Doce, acidade passou a funcionar como “corredor migratório” para baianos e nordestinos.

Evidentemente, Governador Valadares e os municípios vizinhos não foramos únicos responsáveis pela destruição da Mata Atlântica, ainda que ali se encontras-sem as três atividades econômicas que mais contribuíram para isso: a indústria madei-reira, a siderurgia a carvão vegetal e a pecuária.

Strauch (1955), em seu clássico estudo sobre a Codema do Rio Doce, fez umaexcelente avaliação de todos os seus municípios e concluiu que quase todos eles eramgrandes produtores de lenha e carvão vegetal para uso doméstico e industrial. Os principais

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municípios produtores de lenha no vale do Rio Doce, em 1949, eram Guanhães, PonteNova, Caratinga, Viçosa, Conceição do Mato Dentro, Barbacena, Ferros, Itabira e Ubá; osprincipais produtores de carvão, todos ligados à indústria siderúrgica, eram Santa Bárbara,Ouro Preto, Coronel Fabriciano, Rio Piracicaba, São Domingos do Prata, Antônio Dias,Itabira, Mariana, Barbacena, Conselheiro Lafaiete, Barão de Cocais e Mesquita.

Destacavam-se não só aqueles que forneciam carvão e lenha para as siderúrgicas,mas também para as ferrovias. Apenas na parte mineira da ferrovia Vitória-Minas existiam45 serrarias para o beneficiamento da madeira (Strauch, 1955). Também a Estrada de FerroLeopoldina, que servia a Zona da Mata, era grande consumidora de lenha, principalmentedos municípios de Manhuaçu, Rio Casca, Teixeiras, Dom Silvério e Rio Piracicaba.

A CONSOLIDAÇÃO DA SIDERURGIA A CARVÃO VEGETALO aproveitamento industrial das riquezas minerais no Brasil já assumia im-

portante dimensão desde a vinda da Família Real. Os escravos dominavam a tecnolo-gia da redução direta do minério, principalmente os que vieram para a região de MinasGerais. Entretanto, as chamadas “fábricas de ferro” só foram implantadas a partir daautorização dada ao Intendente Câmara, em 1808.

Aqui cabe relembrar a importância que tiveram, em Minas Gerais, o geólogoalemão Wilhelm Ludwig, Barão de Eschwege, e o engenheiro francês Jean AntoineFélix de Monlevade (Gomes, 1983). Eschwege descreveu com detalhes as riquezasnaturais de Minas e chegou a montar um forno em Congonhas, em 1812. Monlevade,em 1827, produziu a primeira corrida de ferro-gusa, com equipamentos franceses, emsua fazenda, no município de Caeté.

As informações sobre as riquezas minerais na província levaram o governoimperial a convidar um outro engenheiro francês, Henri Gorceix, para fundar e dirigir,em Ouro Preto, a Escola de Minas. Organizada segundo o padrão da École de Minesde Saint-Ettienne, tinha como principal objetivo o desenvolvimento da tecnologia deredução do minério de ferro com carvão vegetal.

A segunda metade do século XIX caracterizou-se por uma fantástica articu-lação entre desenvolvimento científico e progresso tecnológico, o que possibilitou achamada segunda fase da revolução industrial. A descoberta do processo de refino doferro gusa através do conversor Bessemer e os altos-fornos Siemens-Martim proporci-onaram enorme progresso à siderurgia.

Foi nesse contexto internacional que a elite técnica formada pela Escola deMinas iniciou as primeiras avaliações dos recursos minerais de Minas Gerais, principal-mente o minério de ferro, e começou a pesquisar as possibilidades de seu aproveitamen-to segundo as disponibilidades tecnológicas. No princípio deste século, o governo fede-ral criou o Serviço Geológico e Mineralógico do Brasil. Lá pontificavam os engenheirosformados em Ouro Preto e um deles, Gonzaga de Campos, em 1907, realizou um levan-tamento geológico das regiões de Conselheiro Lafaiete, Itabira, Mariana e Sabará.

Seus resultados foram apresentados no Congresso sobre o “Balanço das Ri-quezas Mundiais em Minério de Ferro”, realizado em Estocolmo em 1910. Naquele

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momento, as nações capitalistas mais desenvolvidas ingressavam na fase monopolistae mapeavam os recursos naturais do mundo para dividi-los segundo os interesses deseu desenvolvimento industrial (Pimenta, 1981).

O relatório brasileiro chamou atenção. Embora os países desenvolvidos jácompreendessem a importância da siderurgia, ainda não tinham a exata dimensão dadisponibilidade mundial das jazidas de minério de ferro. Europeus e americanos esta-vam, pois, diante da possibilidade de ver atendidas as demandas do recurso naturalbásico para suas indústrias siderúrgicas.

O governo brasileiro, por seu lado, já havia elaborado as linhas básicas deuma política siderúrgica: seriam concedidas licenças para empresas nacionais ou es-trangeiras para explorar e exportar o minério, desde que com os recursos financeirosadvindos destas exportações fossem implantadas indústrias siderúrgicas no país (Cou-tinho, 1984). Recordemo-nos que já estava sendo construída a estrada de ferro Vitória-Minas, cujo traçado inicial tinha como destino Diamantina. Com a descoberta das jazi-das, teve sua rota alterada para alcançar Itabira.

O debate sobre a política siderúrgica brasileira durou mais de 20 anos. Não énosso objetivo discuti-lo aqui, a não ser no que se refere a seus impactos sobre a MataAtlântica. Havia duas correntes fundamentais na discussão sobre a natureza da políticasiderúrgica. A Escola de Minas patrocinava as posições mais nacionalistas, assim comoa Sociedade Mineira de Engenheiros e outras instituições da sociedade civil. Algunssegmentos do Estado, como parte das Forças Armadas, também eram nacionalistas ereagiram contra o parecer do Conselho Técnico de Economia e Finanças, favorável àsconcessões para a Itabira Iron. Segundo esse parecer, a Itabira Iron se utilizaria dofrete de retorno da exportação do minério de ferro para importar carvão mineral.

Era muito interessante a coincidência entre as posições nacionalistas e a defesaardorosa da siderurgia a carvão vegetal. Apesar de um dos lemas nacionalistas ser “mi-nério não dá duas safras”, ninguém chegou a questionar se nossas florestas dariamnecessariamente duas safras. Artur Bernardes foi um dos poucos a denunciar, na época,a destruição de nossas riquezas florestais ao enaltecer o papel desempenhado peloHorto Florestal criado em 1917. Condenava as “queimadas, tão comuns e nefastas” eas “fornalhas das estradas de ferro e os fornos de fundição de ferro que consumiammilhões de quilos de carvão vegetal e toneladas de lenha, sem falar no consumo do-méstico de mais de 5 milhões de habitantes” (Coutinho, 1984).

Além disso, outros interesses patrocinados pelo governo federal estavam emjogo, o que ficou claro no discurso pronunciado por Getúlio Vargas em São Lourenço, em1938. Dizia ele: “A nossa produção siderúrgica atual é reduzida, cara e anti-econômica,devido aos processos adotados. Trabalha com pequenos altos-fornos a carvão de madeira.Ainda mais, o seu crescimento depende de reservas florestais, que vão diminuindo como tempo e cuja reconstituição é demorada e custosa, sobretudo se considerarmos que sódeverá ser utilizado o carvão de madeira de lei. Admitindo-se mesmo a possibilidade dereflorestamento regular, a siderurgia explorada nestas bases se tornará cada vez maisonerosa e precária devido ao consumo crescente das reservas florestais. Mas o caráter

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anti-econômico da siderurgia a carvão de madeira se acentua diante de duas observações:a destruição das florestas sem nenhuma garantia de que serão reconstituídas, quando ointeresse nacional aconselha defendê-las ou melhorá-las e a limitação do consumo inter-no de produtos siderúrgicos que fica condicionada a um regime de preços altos pelasdeficiências do processo de produção...”. “... tão defeituosa economia da produção estápresentemente agravada em detrimento dos interesses nacionais pela organização dosprodutores em trusts...”. “... a solução do problema está, portanto, na grande siderurgia.Falta-nos o carvão mineral? Teremos condições de importá-lo pelo menos enquanto onosso não se acha em condições de substituí-lo. Encontrar-se-á uma fórmula de compen-sar esta importação com a exportação de minério” (Coutinho, 1984).

De fato, Vargas estava reagindo ao cartel comandado pela Sociedade Side-rúrgica Ltda., controlado pela Belgo e detentor da hegemonia no mercado siderúrgico,com amplos poderes na determinação dos preços. Por outro lado, sem dúvida o maisimportante, Vargas concebia a política siderúrgica com uma forte intervenção do Esta-do, o que determinaria, no início dos anos 40, a criação da Companhia Vale do RioDoce e da Companhia Siderúrgica Nacional.

O debate em torno da estatização estava ligado aos interesses estrangeiros pornossas jazidas de minério de ferro, expresso em duas décadas de conflito com a ItabiraIron, que detinha a concessão para a exploração e o monopólio do transporte ferroviário.Acabaria predominando a estratégia de Vargas, na qual coexistiam o capital estatal nasiderurgia a carvão mineral, a partir da criação da Companhia Siderúrgica Nacional, e ocapital privado, que utilizava a redução a carvão vegetal. Mas, em 1950, o próprio Estado,através do Banco do Brasil, entrou na siderurgia a carvão vegetal encampando a Acesita,usina criada por grupos privados em 1944, em Timóteo, no vale do Rio Doce.

Diante das necessidades do crescimento econômico, saíram de cena as dis-cussões sobre a sobrevivência de nossas reservas florestais. O fundamental era a ex-pansão da nova fábrica da Belgo-Mineira em João Monlevade, que, com o apoio dosgovernos federal e estadual, começava a funcionar a partir de 1937, assim como a emer-gência e recuperação da Acesita, o que se deu entre 1944 e 1950. O binômio minériode ferro-recursos florestais marcou as características do crescimento econômico da re-gião leste e, principalmente, determinou a degradação do ecossistema no qual ela esta-va inserida: a Mata Atlântica.

Mas voltemos à criação da Companhia Belgo-Mineira. O grupo belga ARBED,diante das novas condições mundiais após a Primeira Grande Guerra, redefinia sua estra-tégia no mercado de produtos siderúrgicos, cada vez mais cartelizado, voltando seus olhospara as reservas de minério de ferro do Brasil. Em outubro de 1920, a ARBED enviouuma primeira missão a Minas e, em 1921, assinou um contrato de associação com a Com-panhia Siderúrgica Mineira, única possibilidade de furar o monopólio da Itabira Iron.

Os belgas adquiriram uma propriedade no município de Rio Piracicaba com9.680 ha e, no ano seguinte, 1922, compraram outra área contígua, de 2.463 ha, comimportantes jazidas de minério de ferro e manganês. Foi também solicitado ao gover-no brasileiro que efetuasse a ligação ferroviária entre João Monlevade e a FerroviaCentral do Brasil, para que a usina pudesse transportar seus insumos e produtos.

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A Usina de Sabará, a princípio, era praticamente um projeto piloto. Ela só seexpandiu a partir de 1927, com a garantia dada pelo governo de Minas da reserva demercado e graças a um empréstimo junto ao Banco Comércio e Indústria. Também foiefetuada uma renovação tecnológica, importando-se equipamentos de segunda mãoda matriz européia para laminação e trefilação. Entretanto, o planejamento da Belgoestava fundamentalmente voltado para o início da construção da Usina de João Monle-vade. A direção da ARBED defendia que a única siderurgia a carvão vegetal realmenteviável do ponto de vista econômico deveria se localizar na Codema do Rio Piracicabapor causa da disponibilidade de minério de ferro e manganês e das enormes reservasde matas com madeira da melhor qualidade.

Em 1937-38 entraram em funcionamento em Monlevade, quatro altos-for-nos para a fundição do gusa e geração do aço, laminação, trefilaria e oficinas elétricas emecânicas, além do sistema de articulação ferroviária com a Estrada de Ferro Centraldo Brasil e com a ferrovia Vitória-Minas.

O suprimento de carvão vegetal vinha das enormes reservas de mata nativaque a empresa havia adquirido principalmente na região do vale do Rio Doce e de umagrande área em Várzea da Palma, na região do sertão noroeste de Minas Gerais. Em1940, a demanda de carvão de Sabará e Monlevade era assim atendida:

TABELA 2.8

PPPPPRODUÇÃORODUÇÃORODUÇÃORODUÇÃORODUÇÃO EEEEE C C C C CONSUMOONSUMOONSUMOONSUMOONSUMO DEDEDEDEDE C C C C CARVÃOARVÃOARVÃOARVÃOARVÃO V V V V VEGETEGETEGETEGETEGETALALALALAL - B - B - B - B - BELGOELGOELGOELGOELGO-M-M-M-M-MINEIRAINEIRAINEIRAINEIRAINEIRA - 1940 - 1940 - 1940 - 1940 - 1940...................................................Origem Propriedades

da Belgo (m³)Propriedades deTerceiros (m³)

Destino

Ouro Preto 22.944 1.208 Sabará

Santa Bárbara 30.922 930 Sabará

Várzea da Palma 25.599 550 Sabará

Monlevade 42.049 837 Monlevade

Nova Era 49.041 - Monlevade

Antônio DiasCoronel Fabriciano

CaratingaGovernador Valadares

92.618 - Monlevade

...................................................Fonte: Elaboração dos autores a partir do Anuário Brasileiro de Economia Florestal, 1951.

A quase totalidade da demanda era atendida pelas terras da própria Belgo-Mineira, ainda que todas elas fossem administradas por terceiros. Em 1950 a empresajá dispunha de 235.610 ha, sendo que dois terços no vale do Rio Doce. Isso significavabem mais que a metade das terras de todas as siderúrgicas mineiras, que, no total,possuíam 402.650 ha (FJP, 1978). O interessante é que já em 1950 a Belgo-Mineiracomprava de terceiros mais de 43% do carvão consumido, apesar de ter avançado sobrea maior parte das terras disponíveis entre João Monlevade e Governador Valadares.

Os terceiros eram, em geral, pequenos e médios proprietários acuados pelaexpansão acelerada das propriedades das siderúrgicas, das madeireiras e da pecuária. Asobrevivência deles dependia da transformação de suas matas em carvão para ser vendido

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para as grandes empresas a preços inferiores aos obtidos pelas siderúrgicas em suasterras. Essa prática era generalizada: o conjunto das empresas integradas de produçãode aço em Minas Gerais, na mesma época, comprava de terceiros 63,5% do carvãovegetal que consumiam (INDI, 1978). Elas não só desmatavam suas próprias proprie-dades como estimulavam o desmatamento por terceiros, institucionalizando um mer-cado de carvão vegetal que produzia a preços muito mais baixos porque dependia qua-se que exclusivamente dos custos da mão-de-obra fortemente rebaixados por estaremfora de qualquer controle legal.

Na década de 50 voltava ao debate a realidade de nossas riquezas florestais,não mais na perspectiva de sua conservação e, sim, pela impossibilidade óbvia de rege-neração das matas nativas no compasso da demanda das siderúrgicas. A idéia propostaentão era substituir as florestas destruídas por eucalipto, cuja capacidade de regeneraçãoera mais acelerada e possuía um ciclo médio de três colheitas a cada 21 anos.

A Belgo-Mineira havia iniciado suas primeiras experiências de refloresta-mento em 1948. Entretanto, entre 1948 e 1957, ela só o fez em cerca de 8.000 a 9.000ha. Uma dimensão praticamente insignificante diante do que seria desenvolvido pos-teriormente (CSBM, 1955). Em 1966, só na região do Rio Doce, a Belgo possuía reflo-restamento em 20 municípios, com aproximadamente 43.000 ha plantados. Os municí-pios onde ela havia plantado mais de 1.000 ha eram os seguintes:

TABELA 2.9

RRRRREFLEFLEFLEFLEFLORESTORESTORESTORESTORESTAMENTOSAMENTOSAMENTOSAMENTOSAMENTOS - C - C - C - C - COMPOMPOMPOMPOMPANHIAANHIAANHIAANHIAANHIA B B B B BELGOELGOELGOELGOELGO-M-M-M-M-MINEIRAINEIRAINEIRAINEIRAINEIRA - 1966 - 1966 - 1966 - 1966 - 1966...................................................Municípios Área (ha)

Antônio Dias 3.220,30

Bela Vista 2.613,27

Belo Oriente 2.904,00

Caratinga 3.993,00

Dionísio 5.068,00

João Monlevade 4.559,09

Mariana 1.131,00

Mesquita 2.178,00

Rio Piracicaba 2.147,21

Santa Bárbara 5.678,97

São Gonçalo do Rio Abaixo 1.581,28

São José do Goiabal 2.480,09

São Pedro dos Ferros 2.911,41...................................................Fonte: INDI-MG.

No final de 1970 já existiam 73.852 ha reflorestados. Porém, como já menci-onamos, pelo baixo custo do carvão de terceiros, muitas vezes era mais econômico paraa grande empresa reflorestadora manter suas reservas florestais intocadas (FJP, 1978).

A Acesita, a segunda maior indústria siderúrgica a carvão vegetal da re-gião, foi criada na cidade de Timóteo, em 1944, por grupos privados. Em 1950 foi

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estatizada e passou para o controle do Banco do Brasil juntamente com 27.400 hade terras e um consumo de 112.490 m3 de carvão quase totalmente de oferta pró-pria (Acesita, 1989). Com dificuldade para equilibrar seus custos, a empresa resol-veu seus problemas de caixa, até 1959, vendendo energia elétrica gerada em suausina de Sá Carvalho, inaugurada em 1951 no município de Antônio Dias.

Em 1954, além da jazida de minério de ferro em Itabira, a Acesita possuíamais de 69.000 ha de matas naturais no vale do Rio Doce. No ano seguinte, teveinício o seu programa de expansão, paralisado entre 1958 e 1961 por falta de recur-sos. O plano de expansão exigiu a aquisição de novas terras, que definiram o chama-do “primeiro momento do processo de apropriação de terra” (Acesita, 1967).

TABELA 2.10

RRRRRELELELELELAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO DASDASDASDASDAS P P P P PROPRIEDADESROPRIEDADESROPRIEDADESROPRIEDADESROPRIEDADES DADADADADA A A A A ACESITCESITCESITCESITCESITAAAAA PORPORPORPORPOR M M M M MUNICÍPIOUNICÍPIOUNICÍPIOUNICÍPIOUNICÍPIO - 1967 - 1967 - 1967 - 1967 - 1967...................................................Município Área (ha)

Açucena 23.197,14

Bom Jesus do Galho 18.567,16

Córrego Novo 13.506,48

Governador Valadares 3.044,86

Jaguaraçu 1.668,73

Marliéria 4.730,87

Mesquita 3.978,24

São Geraldo da Piedade 1.835,62

Timóteo 5.288,67

Total 77.197,30...................................................Fonte: Dados da empresa.

INDICADORES DEMOGRÁFICOS AMBIENTAIS

TABELA 2.11

IIIIINDICNDICNDICNDICNDICADORESADORESADORESADORESADORES D D D D DEMOGRÁFICOSEMOGRÁFICOSEMOGRÁFICOSEMOGRÁFICOSEMOGRÁFICOS EEEEE A A A A AMBIENTMBIENTMBIENTMBIENTMBIENTAISAISAISAISAIS - M - M - M - M - MINASINASINASINASINAS G G G G GERAISERAISERAISERAISERAIS (1960/1970) (1960/1970) (1960/1970) (1960/1970) (1960/1970)...................................................Região TCT TCU TCR SLM TML PEC PROP REF

1 1,5 4,3 0,6 -38573 -7,02 62,5 - -

2 0,7 2,3 0,3 -55682 -17,47 52,7 - -

3 0,4 5,1 -1,7 -179091 -35,89 80,4 - -

4 1,3 4,5 -0,3 -332242 -39,95 68,7 35180 17382

5 1,4 5,0 -1,2 -141680 -15,51 52,7 215248 83349

6 0,5 3,6 -1,8 -215142 -22,15 63,9 4310 2911

7 -0,4 2,3 -2,4 -186970 -33,88 66,8 - -...................................................Fonte: Elaboração dos autores a partir dos Censos Demográficos, Agropecuários do IBGE e

informações das empresas.

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Obs.:TCT: Taxa de Crescimento Total na década de 1960.TCU:Taxa de Crescimento Urbano na década de 1960.TCR:Taxa de Crescimento Rural na década de 1960.SLM: Saldo Líquido Migratório na década de 1960.TML: Taxa de Migração Líquida na década de 1960.PEC.: Percentual de Pastagens em 1970 (área de pastagens dividida pela área totaldos estabelecimentos, em ha).PROP.: Área de propriedade de empresas em 1970 (ha).REF.: Área de reflorestamento até 1970 (ha).

Pode-se deduzir da Tabela 2.11 as seguintes observações:a. Em 1970 o leste mineiro era predominantemente rural. Somente 41,6% de

sua população vivia em áreas urbanas, ainda que as taxas de crescimento degrande parte de suas cidades estivessem dentro da média do Estado. O au-mento da sua população urbana, principalmente da rural, seria muito maiorse não fosse a enorme emigração: apenas na década de 1960 o êxodo foi de1.149.380 habitantes, ou seja, 25,0% da população total em 1970.A expansão da pecuária, da indústria madeireira e da siderurgia a carvãovegetal não foi suficiente para ampliar as possibilidades de emprego e retera população. Seu maior pólo urbano, Governador Valadares, absorveu boaparte dos imigrantes da região leste, originários sobretudo do próprio valedo Rio Doce, mas iniciou um enorme declínio a partir dos anos 60.O impacto da expansão da atividade econômica sobre a Mata Atlântica no perí-odo de 1940-70 foi desastroso, devastando as grandes reservas que ainda existi-am, principalmente nos vales dos rios Mucuri e Doce. Não é possível, no en-tanto, fazer uma análise para todo o leste sem perder a especificidade de cadauma das nossas regiões. A trajetória metodológica correta da análise históricaambiental inicia-se nas particularidades das regiões em cada momento, paradepois estabelecer as generalizações com o alcance cientificamente possível.

b. As regiões 1 e 2, o Vale do Jequitinhonha, sempre foram bastante conhe-cidas pela sua enorme pobreza. Apesar dela, suas taxas de migração líqui-da estavam entre as mais baixas na década de 1970. Com áreas de lavouraextremamente reduzidas, foi a pecuária que cresceu mais significativa-mente, ocupando a maior parte de seus estabelecimentos agrícolas.O que chamava a atenção no Jequitinhonha era a alta porcentagem detrabalhadores familiares não remunerados, chegando na região 2 a 80,0%do total da força de trabalho rural. Boa parte dessa mão-de-obra dividia-seentre uma economia tipicamente camponesa e o trabalho temporário naprópria região ou fora dela, como na cana-de-açúcar em São Paulo.Foi essa possibilidade de transitar entre a economia camponesa local e acapitalista que permitiu que as taxas de migração líquida permanecessemrelativamente baixas. Apesar de uma pecuária extensiva, mantinham-se bol-sões densamente povoados voltados para uma economia de subsistência.

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O Vale do Jequitinhonha era o único do leste mineiro que não estava, originaria-mente, coberto pela Mata Atlântica em toda a sua extensão. Da sua área, apenas25,0% eram florestas. O restante constituíase de caatinga e cerrado. Os dados doCenso de 1970 revelam que ainda havia 11,0% de mata nativa na região 1 e5,0% na região 2 em relação ao total da área dos estabelecimentos. Provavel-mente esses dados estão superestimados. Se compararmos com os dados de1940, apesar de as duas regiões terem ficado praticamente estagnadas, a pecu-ária tradicional e a economia de subsistência não pouparam as matas nativas.

c. Na região do Mucuri (3), como já vimos, as florestas foram praticamente devas-tadas pela indústria madeireira, a princípio, e, posteriormente, pela pecuária:80,0% da área de seus estabelecimentos em 1970 eram cobertos por pastagens.Explica-se o altíssimo fluxo migratório rural que acelerou a urbanizaçãotransitória na região pela baixa elasticidade do emprego na pecuária. Maso êxodo foi muito maior para fora do Mucuri: 36,0% da sua população em1970 emigrou durante a década.Como em todo o leste, havia uma forte economia de subsistência quecoexistia com o emprego permanente na pecuária ou na sua restrita agri-cultura, que contava apenas com 5,8% da área dos estabelecimentos.Em 1940 o Mucuri tinha a maior densidade de florestas do leste mineiro.Segundo o Censo Agropecuário, ela ficou reduzida, em 1970, a apenas7,0%, depois de trinta anos de exploração madeireira, pecuária extensivade baixa produtividade e de uma precária economia de subsistência.

d. A região do Rio Doce (4 e 5), madeireira e pecuária, foi a maior responsá-vel pela emigração da região leste, quase 40,0% da sua população em 1970.Isso apesar de conter nesta década o pólo regional mais importante doponto de vista econômico e demográfico: Governador Valadares.Havia nessa parte do vale uma combinação de pecuária extensiva de bai-xa produtividade e agricultura tradicional que não dispensava a forte pre-sença de relações de parceria: 21,7% dos empregados agrícolas em 1970,segundo o Censo Agropecuário.A moderna empresa de reflorestamento, impulsionada pela siderurgia, já eraencontrada nessa parte do vale e se articulava com uma silvicultura e uma agri-cultura tradicionais assentadas em parceiros e arrendatários. Entretanto, a pe-cuária ainda dominava, ocupando quase 69,0% da área dos estabelecimentos.A região do vale do Rio Doce onde predominava a siderurgia apresentavauma situação particular no leste mineiro: a grande expansão das empresassiderúrgicas e de suas propriedades agrícolas — e, conseqüentemente, aemergência do reflorestamento — reduziu suas taxas de pecuarização.Talvez, por essas razões, as taxas de emigração eram as mais baixas. E isso nãoera porque as grandes empresas gerassem empregos suficientes, mas principal-mente porque estimulavam um mercado de carvão do qual faziam parte, comona região 1, porém em maior proporção um grande número de pequenos pro-prietários. Estes eram, muitas vezes, parceiros, arrendatários ou mesmo tempo-

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rários trabalhando em terras alheias, que produziam a preços muito mais bai-xos, atendendo de forma mais satisfatória a demanda das grandes siderúrgicas.Os dados do Censo sobre os remanescentes de florestas indicavam 7,0%para o vale onde prevalecia a pecuária e a indústria madeireira e 12,0%para a região siderúrgica. Em 1940 tínhamos 29,16% para a primeira e19,2% para a segunda. Se tomamos como referência os mapeamentos fei-tos mais recentemente, não resta dúvida de que há uma superestimação.Seria mais realista, ainda que arbitrário, considerarmos taxas bem maisbaixas: algo em torno de 5,0% de remanescentes para o Vale mais pecuá-rio e madeireiro e no máximo 7,0% para a região siderúrgica.

e. A região da Zona da Mata, que no passado foi predominantemente cafeeira(7), na década de 1960 era basicamente pecuária, com uma média de apro-ximadamente 65,0% de área de pastagem nas duas regiões. Entretanto, nãopodemos deixar de sublinhar que elas possuíam as maiores áreas de lavourado leste mineiro: aproximadamente 17,0% dos estabelecimentos.A coexistência da lavoura e da pecuária não impediu que as regiões 6 e 7tivessem as mais baixas taxas de crescimento populacional na década de1960. A população rural teve as taxas negativas mais altas. Houve uma emi-gração de mais de 400.000 habitantes, quase 27,7% de sua população total.Existia uma agricultura mais moderna, em especial a agroindústria açucareira,provavelmente a maior responsável por uma taxa de emprego permanente demais de 16,1%. Porém, ela coexistia com a tradicional parceria da região, queainda absorvia 17,0% da população ativa rural, segundo o Censo Agropecuário.O fato interessante revelado pela Zona da Mata é que a combinação dapecuária com uma maior área de agricultura não foi suficiente para redu-zir o êxodo rural, mesmo mantendo ainda relações tradicionais como aparceria. Sem dúvida, o crescimento das oportunidades de emprego agrí-cola tem sido sempre inferior à pressão demográfica.Os dados do Censo sobre as matas nativas para as regiões 6 e 7 são duvido-sos: 10,7% e 10,5% de remanescentes contra 8,75% e 10,5% em 1940. Ouseja, em 30 anos elas ampliaram ou mantiveram as áreas de florestas. Osmapeamentos mais recentes também não revelam isso, apesar de seremvisíveis os remanescentes nas partes montanhosas. Ainda que arbitraria-mente, não seria demais reduzirmos à metade as informações censitárias.

FASE 3: 1970-1991

OS GRANDES PROJETOS DE REFLORESTAMENTO

E A EXPANSÃO DA PECUÁRIANesta terceira fase, os vetores mais importantes na determinação das

relações entre população e meio ambiente na região leste mineira foram: gran-des projetos de reflorestamento subsidiados pelos incentivos fiscais, que favo-receram a expansão das siderúrgicas, a emergência da indústria de celulose, a

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expansão devastadora da pecuária e a consolidação do Aglomerado Urbano doVale do Aço (AUVA).

Antes de 1970 as grandes empresas siderúrgicas já desenvolviam projetos de reflo-restamento. Entretanto, a viabilidade econômica desses projetos deixava a desejar. Era bemmais vantajoso, em termos de preço, comprar carvão de terceiros, produto de mata nativa.

As empresas reflorestadoras mantinham sacrifícios em diversas regiões deMinas, no norte do Espírito Santo e no sul da Bahia, responsáveis muitas vezes pormais de 50% do atendimento de sua demanda. A Belgo-Mineira, por exemplo, mon-tou escritórios de compra:

a. Na região do sertão, isto é, ao norte de Curvelo, no vale dos rios SãoFrancisco, Jequitinhonha e Curvelo. Esse carvão era proveniente basica-mente do cerrado e, para estocá-lo, a empresa mantinha depósitos emCurvelo, Várzea da Palma e Janaúba. O sertão fornecia, no final da décadade 1970, 45% de suas compras de carvão.

b. Na região de Monlevade, dentro de um raio de 200 km da usina, é com-prado 20% do carvão.

c. Na região de Vitória, abrangendo o norte do Espírito Santo e o sul daBahia. Era carvão de mata nativa e representava 35% das compras. O de-pósito situava-se em João Neiva.

A Acesita também possuía escritórios de compra, alguns com grandes depó-sitos, nas mesmas regiões da Belgo-Mineira ou nas proximidades: Águas Vermelhas,Curvelo, Acesita, Ibiruçu (Espírito Santo). Pretendia, ainda, abrir escritórios em Mon-tes Claros e Teófilo Otoni (FJP, 1978).

Mas voltemos aos projetos de reflorestamento das grandes empresas.Já mencionamos que apenas na região do Rio Doce, até o final da década de1960, período anterior à implementação da legislação de incentivos fiscais, aCompanhia Belgo-Mineira possuía 73.852 ha e a Acesita, aproximadamente41.796 ha de áreas reflorestadas.

A política de incentivos fiscais para o reflorestamento tinha o objetivo explíci-to de reduzir os custos da produção de carvão vegetal, isto é, viabilizá-la economicamen-te. A primeira lei, nº 5.106, de 1966, possibilitava que as pessoas jurídicas abatessem doimposto de renda até 50% das inversões em reflorestamento após a aplicação do capital.

Em 1970 a legislação tornou-se mais generosa, possibilitando à pessoa jurí-dica descontar antes no imposto de renda e investir depois. O Fundo de InvestimentosSetoriais (Fiset), administrado pelo IBDF, foi criado em 1974 para estimular o reflores-tamento através da concentração de recursos e, portanto, com investimentos mais vul-tosos e em economia de escala.

As empresas evidentemente usaram essa legislação altamente favorável aelas. No final de 1978, a Belgo-Mineira tinha 145.700 ha reflorestados, sendo apenas42.973 no vale do Rio Doce e o restante, 102.727, próximos a Belo Horizonte, em BomDespacho e em Carbonita, no Vale do Jequitinhonha.

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MAPA 2.1

MATA ATLÂNTICA ORIGINAL

MAPA 2.2

REMANESCENTES DE MATA ATLÂNTICA

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MAPA 2.3

PRINCIPAIS MUNICÍPIOS DA REGIÃO LESTE

MAPA 2.4

REGIÕES DE ESTUDO

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A Acesita, com uma empresa estatal, entrou numa disputa por terras devolu-tas no Vale do Jequitinhonha que acabaram sendo concedidas a ela, em 1975, pelaAssembléia Legislativa de Minas Gerais, com autorização do Senado Federal. Segun-do relatório da Acesita Energética, somente na região do Vale do Jequitinhonha essaempresa possuía 156.786 ha. Nesse “segundo momento do processo de apropriação deterras” pela Acesita, elas estavam assim distribuídas:

TABELA 2.12

AAAAACESITCESITCESITCESITCESITAAAAA: P: P: P: P: PROPRIEDADEROPRIEDADEROPRIEDADEROPRIEDADEROPRIEDADE EEEEE Á Á Á Á ÁREASREASREASREASREAS R R R R REFLEFLEFLEFLEFLORESTORESTORESTORESTORESTADASADASADASADASADAS...................................................

...................................................Fonte: Acesita Energética, 1991.

A Companhia Vale do Rio Doce (CVRD), empresa estatal como a Acesi-ta, sempre teve um grande número de propriedades em todo o vale. Não só assuas minerações, espalhadas por todo o quadrilátero ferrífero, possibilitaram oacesso às propriedades, mas, principalmente, a Estrada de Ferro Vitória-Minas.No seu eixo, a CVRD apropriou-se das terras que precisava para a sua construçãoe manutenção. Foram tantas as propriedades, que a empresa criou a firma Flores-tas Rio Doce com terras que extrapolavam o próprio vale do Rio Doce. Hoje elaainda é uma das grandes proprietárias não só na região, com 25.686 ha, mas princi-palmente no vale do Jequitinhonha, com 135.505 ha, e em outra área de Minas,num total de 161.191 ha.

Por causa de suas grandes plantações, a CVRD associou-se ao capital ja-ponês e constituiu a Celulose Nipo-Brasileira (Cenibra), fábrica de celulose situa-da no município de Belo Oriente, vizinho ao Aglomerado Urbano do Vale do Aço,onde já se localizavam a Acesita e a Usiminas. Essa associação de capital dispõehoje de 143.835 ha de terras para a plantação de eucaliptos, matéria-prima na fabri-cação da pasta de celulose.

As propriedades da Belgo-Mineira, Acesita, Cenibra, Vale do Rio Docee outras menores podem ser vistas nos mapas 2.6 e 2.7. O primeiro com as propri-edades adquiridas até 1970, e o segundo com o conjunto das propriedades dessasgrandes empresas em 1991.

Mas não foram somente essas empresas que usufruíram dos incentivos fis-cais para o reflorestamento. As usinas não-integradas de aço, os chamados “gusei-ros”, foram as que mais se expandiram, principalmente no cerrado, agredindo esteecossistema de forma inusitada, reflorestando graças ao rebaixamento dos custos pro-

Municípios Área (ha) Municípios % Reflorestamento (ha)

Capelinha 23495 16,9 11.688

Itamarandiba 64.571 22,9 37.091

Minas Novas 39.023 22,9 26.752

Turmalina 24.796 14,7 15.771

Carbonita 3.971 3,0 1.421

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movido pelos incentivos fiscais ou, muitas vezes, simplesmente desmatando parafazer carvão com mata nativa.

Apesar de todos os projetos de reflorestamento fortemente subsidiados,em 1987, 75% do carvão era derivado de mata nativa e, destes, quase 50% eramproduzidos no noroeste de Minas Gerais. A antiga “Mata Mineira” contribuía apenascom 14% de todo o consumo do Estado. Quando observamos o carvão de refloresta-mento, a concentração na produção era também enorme: mais da metade estava nonoroeste e no Jequitinhonha.

TABELA 2.13

PRODUÇÃO DE CARVÃO ENFORNADO POR REGIÃO DE PLANEJAMENTO (MDC)...................................................

...................................................Fonte: Cemig, Balanço Energético, 1990.

O reflorestamento ocupou uma vasta porção de terras na região leste,principalmente no vale do Rio Doce e no vale do Jequitinhonha. Eram antigasregiões de mata nativa que deram lugar às plantações de eucalipto. Muito poucofoi preservado ou regenerado. A grande exceção tem sido o Parque Estadual doRio Doce, com cerca de 35.000 ha.

Os impactos ambientais do eucalipto são muito discutidos em razão daquantidade de adubos químicos necessários para manter seu ciclo de produtividadede três colheitas a cada 21 anos e dos herbicidas utilizados para garantir imunidadecontra as pragas constantes. Além disso, sua alta demanda por água em regiões debaixa densidade pluviométrica compromete o solo com a erosão e mesmo com adesertificação (Osse, 1961).

Os impactos ambientais da pecuária merecem atenção. Analisando as li-cenças fornecidas pelo Instituto Estadual de Florestas para desmatamento, verifica-mos que elas eram solicitadas em maior número para a criação de pastagens. Alémdesse impacto sobre a biodiversidade, determinados tipos de capim utilizados pelapecuária pouco protegem os solos e os processos erosivos são graves e freqüentes. Oleste mineiro é a região por excelência para observarmos estes efeitos ambientais dapecuária (Andrés, 1976).

Região Nativo % Reflorestamento %

RMBH 122.754 0,77 36.128 0,66

Metalúrgica e Campo das Vertentes 1.210.657 7,57 781.913 14,30

Zona da Mata 301.334 1,88 15.301 0,28

Sul 332.547 2,08 26.238 0,48

Triângulo e Alto Paranaíba 2.973.180 18,58 234.206 4,28

Alto São Francisco 1.558.585 9,74 984.751 18,01

Noroeste 7.554.998 47,22 1.423.964 26,04

Jequitinhonha 1.309.262 8,18 1.491.631 27,28

Rio Doce 635.072 3,97 476.708 8,66

Total 15.998.389 100,0 5.467.708 100,0

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...................................................Fonte: Censos Agropecuários - IBGE Índices de Pecuarização: área de pastagem dividida pela área total dos

estabelecimentos (ha).

Até 1970 as taxas de pecuarização cresceram em todo o leste mineiro. Ocrescimento mais significativo ocorreu no norte do Jequitinhonha, no Mucuri e no valedo Rio Doce. Segundo os dados censitários, as taxas tiveram pequenas reduções ouaumentos pouco significativos entre 1970 e 1985. A exceção foi o Vale do Jequitinho-nha, onde ocorreram os grandes projetos de reflorestamento que provocaram uma quedaacentuada na pecuária. Fora essa região, em 1985 o restante do leste mineiro tinhamais de 50,0% da sua área de estabelecimentos agrícolas dedicados às pastagens. Novale do Rio Doce, mais influenciado por Governador Valadares, esse número chegou a70,0% e no vale do Mucuri, a 80,0%.

Essa predominância da pecuária reduziu muito as possibilidades de expan-são da lavoura, cuja área entre 1970 e 1985 não teve uma alteração significativa, isto é,em nenhuma região sequer chegou a ocupar um quarto da área total dos estabeleci-mentos agropecuários. Certamente essa hegemonia foi responsável por parte significa-tiva da emigração rural da região, já que, extensiva e tradicional, sua capacidade degerar emprego era muito limitada.

O reflorestamento, como qualquer monocultura, também teve umagrande responsabilidade na evasão da população na região leste. Se considerar-mos, como exemplo, alguns municípios cuja proporção da área de propriedadedas grandes empresas em relação à área total do município é maior que 20,0%,observamos que as taxas de migração líquida eram quase sempre altas e negati-vas. (ver Tabela 2.15)

Entretanto, devemos analisar esses dados com cautela. É indiscutível queem qualquer região marcada por uma atividade fortemente hegemônica a emigraçãotende a acelerar-se Isso porque ela subordina as outras atividades econômicas, restrin-gindo seus espaços de expansão.

As informações realmente revelam uma relação entre a grande presençadas empresas de reflorestamento e as altas taxas de migração. A exceção de Belo

TABELA 2.14

ÍÍÍÍÍNDICENDICENDICENDICENDICE DEDEDEDEDE P P P P PECUARIZAÇÃOECUARIZAÇÃOECUARIZAÇÃOECUARIZAÇÃOECUARIZAÇÃO PORPORPORPORPOR R R R R REGIÃOEGIÃOEGIÃOEGIÃOEGIÃO EMEMEMEMEM M M M M MINASINASINASINASINAS G G G G GERAISERAISERAISERAISERAIS (1940/1960/1970/1985) (1940/1960/1970/1985) (1940/1960/1970/1985) (1940/1960/1970/1985) (1940/1960/1970/1985)...................................................Regiões Anos

1940 1960 1970 1985

1 39,3 53,2 62,5 62,5

2 43,3 49,4 52,7 41,8

3 34,1 63,0 80,4 81,1

4 30,0 58,7 68,7 69,5

5 38,9 52,7 54,1 55,4

6 50,6 60,0 63,9 61,7

7 42,7 56,4 66,8 62,7

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Oriente, que é praticamente uma extensão do Aglomerado Urbano no Vale do Aço, eMinas Novas, no Vale do Jequitinhonha, todos os outros municípios apresentam ta-xas significativamente altas. Comparando os dados da década de 1970 com os dadosda década de 1980, verificamos uma clara tendência à diminuição da emigração. (Ofenômeno só não ocorreu em Carbonita.) Como não houve redução na atividade dasempresas nem elas deixaram de ser predominantes na região, num contexto de faltade alternativas migratórias as atividades reflorestadoras podem exercer, direta ouindiretamente, a função de reter parte do excedente demográfico.

TABELA 2.15

ÁREAS MONOCULTORAS DE EUCALIPTO DE PROPRIEDADE DE EMPRESAS E TAXAS LÍQUIDAS

DE IMIGRAÇÃO POR MUNICÍPIO EM MINAS GERAIS (1970-1991)...................................................Municípios Áreas de Propriedade de

empresas (%) - 1991Taxa Líquida de Migração

1970-80 1980-91

Açucena 28,49 -32,31 -48,53

Antônio Dias 31,90 -33,19 -29,52

Belo Oriente 49,04 -6,28 2,43

Bom Jesus do Galho 30,19 -68,41 -28,76

Carbonita 21,79 -4,95 -22,19

Córrego Novo 49,47 -68,77 -28,88

Dionísio 55,10 -51,01 -15,88

Itamarandiba 22,87 -16,63 -7,78

Minas Novas 22,85 -13,43 1,37

São José do Goiabal 29,85 -84,13 -24,49...................................................Fonte: Dados das empresas.

A desaceleração das taxas de emigração rural foi um fato revelado pe-los dados do censo de 1991 para todo o Brasil. Certamente uma década de crise,com forte redução da oferta de emprego urbano nas grandes metrópoles, influ-enciou os fluxos migratórios. O leste mineiro não foi uma exceção. Suas taxaslíquidas de migração, porém, não podem ser explicadas unicamente pela pre-sença de monoculturas.

INDICADORES DEMOGRÁFICOS E AMBIENTAISA comparação dos indicadores demográficos e econômicos do leste de

Minas Gerais nas décadas de 1960 e 1980 mostra a incapacidade do seu desen-volvimento regional de atender às necessidades básicas da população. Daí suaenorme contribuição para a grande emigração dos mineiros (mapas 2.8 e 2.9) epara o comprometimento de um ecossistema de incomparável qualidade em re-lação à biodiversidade.

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...................................................Fonte: Dados trabalhados a partir dos Censos Demográficos - Agropecuários do IBGE e informações

das empresas.

OBS:TCT: Taxa de Crescimento Total entre 1980 e 1991TCU: Taxa de Crescimento Urbano entre 1980 e 1991TCR: Taxa de Crescimento Rural entre 1980 e 1991SLM: Saldo Líquido Migratório entre 1980 e 1991TML: Taxa de Migração Líquida entre 1980 e 1991PEC.: Percentual de Pastagens em 1985 (área de pastagens dividida pela área totaldos estabelecimentos, em ha)PROP.: Área de propriedade de empresas em 1991 (ha)REF.: Área de reflorestamento na década de 1980 (ha)

Pode-se deduzir da Tabela 2.11 as seguintes observações:a. Na década de 1980, todas as regiões tiveram uma significativa redução no

seu crescimento populacional, à exceção da Zona da Mata (regiões 6 e 7).O crescimento das cidades também teve uma forte redução, a não ser naparte do Jequitinhonha, onde se encontravam os grandes projetos de re-florestamento, e na Zona da Mata, onde se tinha a predominância de Juizde Fora. A população rural, comparando com a década de 1960, aumentouseu ritmo de redução em quase todas as regiões, exceto no Vale do Mucu-ri e na região de Juiz de Fora.Mas o mais interessante foi a redução substancial dos saldos líquidosmigratórios e das respectivas taxas, à exceção da área do Vale do Jequi-tinhonha, menos atingida pelos projetos de reflorestamento. Cabe su-blinhar que onde havia maior concentração de propriedades das empre-sas e, portanto, maior índice de reflorestamento, houve uma diminuiçãoda emigração. Entretanto, não podemos justificar a redução da emigra-ção unicamente baseados numa relação linear entre duas variáveis, mes-mo porque outras regiões onde não predominava o reflorestamento tam-bém tiveram uma redução dos seus saldos migratórios. Contudo, seria

TABELA 2.16

IIIIINDICNDICNDICNDICNDICADORESADORESADORESADORESADORES D D D D DEMOGRÁFICOSEMOGRÁFICOSEMOGRÁFICOSEMOGRÁFICOSEMOGRÁFICOS EEEEE A A A A AMBIENTMBIENTMBIENTMBIENTMBIENTAISAISAISAISAIS - M - M - M - M - MINASINASINASINASINAS G G G G GERAISERAISERAISERAISERAIS (1980-1991) (1980-1991) (1980-1991) (1980-1991) (1980-1991)...................................................Região TCT TCU TCR SLM TML PEC PROP REF

1 0,60 2,9 -1,0 -83495 -14,10 62,5 8667 1718

2 0,50 3,2 -0,9 -43180 -11,92 41,8 338725 169743

3 0,02 1,2 -1,4 -124898 -29,22 81,1 8667 6078

4 0,20 1,6 -1,6 -201689 -26,20 69,5 92587 61642

5 1,10 2,2 -1,4 -69654 -5,79 55,5 416672 141545

6 1,00 2,2 -1,9 -97836 -8,50 61,7 13091 30050

7 1,20 2,5 -0,9 -36896 -5,66 62,5 - 1984

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razoável supor, como já mencionamos antes, que numa região estagna-da e num contexto de crise e de falta de alternativas emigratórias, oreflorestamento poderia ser uma alternativa de emprego para parte dapopulação potencialmente emigrante.Não devemos esquecer que, apesar de ter desacelerado o ritmo de cres-cimento das cidades, as taxas de urbanização, isto é, a proporção doshabitantes morando em áreas urbanas, aumentaram em todas as regiõesdo leste mineiro.

b. As taxas de pecuarização aumentaram em todo o leste, menos onde asterras foram dominadas pelos projetos de reflorestamento. O que pare-ce bastante lógico, pois ambos são extensivos no uso de terras e, portan-to, competitivos.O crescimento das áreas de propriedades das empresas foi enorme.Para se ter uma idéia, somente seis grandes empresas siderúrgicas ede reflorestamento tinham mais de um milhão de hectares unicamen-te no leste mineiro.Já as áreas de lavoura em pouco mais de 20 anos tiveram uma varia-ção muito pequena, chegando mesmo a diminuir nas regiões do valedo Rio Doce.

c. Quanto ao emprego agrícola, houve algumas modificações interessan-tes, segundo os Censos Agropecuários. O emprego temporário cresceupraticamente em todo o leste mineiro, acompanhado de uma reduçãosignificativa das relações de parceria. Ocorreu uma relativa moderniza-ção da agricultura, tendo à frente as grandes empresas de refloresta-mento e a pecuária. Uma das expressões disso foi o crescimento quasegeneralizado do emprego permanente.Um paradoxo importante dessa modernização foi que ela não prescin-diu de manter praticamente estável uma economia camponesa, indica-da pela quase estabilidade da mão-de-obra familiar não remunerada. Issoaponta na mesma direção que mencionamos ao analisar a década de 1970:as modernas empresas de reflorestamento não prescindem de formastradicionais de relações de trabalho que rebaixam seus custos de repro-dução, assim como estimulam os pequenos proprietários, parceiros e ar-rendatários na produção de carvão de mata nativa.

CONSIDERAÇÕES FINAISOs diversos padrões de interação entre população e meio ambiente de-

senvolveram-se segundo ciclos, cada qual com sua atividade econômica hege-mônica e um pólo urbano de maior relevância. À hegemonia econômica de cadaatividade correspondia um auge demográfico de uma cidade ou região, assimcomo o declínio econômico correspondia a uma diminuição das taxas de cresci-mento demográfico.

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MAPA 2.6

PROPRIEDADES DAS EMPRESAS ATÉ 1970

MAPA 2.5

PROPORÇÃO DE MATAS NATIVAS - 1940

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MAPA 2.7

PROPRIEDADES DAS EMPRESAS ATÉ 1970

MAPA 2.8

TAXAS DE CRESCIMENTO POPULACIONAL

MAPA 2.9

SALDO LÍQUIDO MIGRATÓRIO - 1980/91

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Não existem dados de população urbana para o primeiro período de análise,1900/1940, quando o café era a atividade econômica hegemônica. Entretanto, era evi-dente, segundo os dados da população total, a predominância de Caratinga e Juiz deFora, na Zona da Mata, e de Teófilo Otoni, no vale do Rio Mucuri. Anteriormente,analisamos essas informações utilizando o conceito de “urbanização transitória da po-breza” para mostrar como em um determinado momento algumas cidades absorvem oexcedente demográfico gerado pela estagnação regional, mas não dão conta de retê-loquando sofrem a competição de outros pólos emergentes.

Nos outros períodos, 1940-70 e 1970-1991, tivemos a hegemonia de Gover-nador Valadares e do AUVA. Ambos, entre 1980 e 1991, cresceram apenas 1,5% e 1,9%ao ano, apesar de no passado terem crescido mais de 10,0%.

Uma conseqüência fundamental desses ciclos pode ser observada pelos da-dos das migrações de duas dessas cidades, Caratinga e Governador Valadares, e doAglomerado Urbano do Vale do Aço (AUVA), composto por Ipatinga, Timóteo e Coro-nel Fabriciano. (Ver tabela 2.17 à pag. 38).

Mais de 60,0% dos imigrantes de cada um destes pólos eram provenientesda própria região, isto é, do próprio vale do Rio Doce. Eles atraíram o excedente depopulação produzido pela estagnação regional durante um certo período, mas não tive-ram capacidade de reter a maioria deles, servindo apenas à etapa migratória.

A absorção transitória do excedente durante o auge da economia dessas ci-dades ou regiões era seguida pela expulsão em função de pólos emergentes ou doaumento da capacidade de atração de outras regiões de Minas ou do Brasil.

Os pólos, nos seus diversos momentos, têm uma relação extremamente de-sastrosa com o meio ambiente. No auge tendem a criar deseconomias de aglomeraçãoou, no caso de monoculturas, a absorver e concentrar os recursos regionais, inclusive apropriedade. No seu declínio, como interagem muito pouco com outros pólos, atraemapenas pobreza, tendem a exaurir os recursos naturais, como o solo e a água exaustiva-mente utilizados.

No caso particular de um complexo siderúrgico, mesmo que o seu de-clínio seja fundamentalmente demográfico, pelos limites técnicos da curva daoferta de emprego, as externalidades geradas pela poluição de água e ar levam auma situação peculiar: exportam-se as externalidades positivas e internalizam-se as negativas.

Finalmente, quando discutimos a questão da utilização da biomassa, nãoestamos questionando o seu uso como forma alternativa de energia. Nosso objetivo foianalisar seus efeitos desastrosos sobre a biodiversidade.

Utilizando somente informações do vale do Rio Doce, foi possível construirduas matrizes de produção e consumo de carvão vegetal de mata nativa e de reflores-tamento para 1989. E era fantástico como as duas empresas, Belgo e Acesita, dependi-am do carvão de mata nativa. O problema não era só o reflorestamento promovidopelas grandes empresas, mas principalmente o mercado de carvão que elas estimula-vam para comprar a preços em que não conseguiam produzir.

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TABELA 2.17

FFFFFLLLLLUXOSUXOSUXOSUXOSUXOS M M M M MIGRAIGRAIGRAIGRAIGRATÓRIOSTÓRIOSTÓRIOSTÓRIOSTÓRIOS (%) - G (%) - G (%) - G (%) - G (%) - GOVERNADOROVERNADOROVERNADOROVERNADOROVERNADOR V V V V VALALALALALADARESADARESADARESADARESADARES/C/C/C/C/CARAARAARAARAARATINGTINGTINGTINGTINGAAAAA/AUV/AUV/AUV/AUV/AUVAAAAA*.............................................................................Local Governador Valadares Vale do Aço Caratinga

Imigração Emigração Imigraçã Emigração Imigração Emigração

AUVA 3,75 11,15 - - 14,54 24,00

Caratinga 2,31 0,95 8,69 6,75 - -

G. Valadares - - 6,47 4,48 3,83 2,58

Total Rio Doce 73,67 41,31 68,65 35,69 61,96 38,83

Minas Gerais 81,89 55,20 88,34 72,02 80,97 65,45

São Paulo 4,58 17,75 - - - -

Brasil/Outros 13,53 27,04 11,66 27,98 19,03 34,55

Total 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0 100,0.............................................................................Fonte: Censo Demográfico de 1980 - IBGE (Amostra de 25%)

* Coronel Fabriciano, Ipatinga e Timóteo

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TABELA 2.18

PPPPPRODUÇÃORODUÇÃORODUÇÃORODUÇÃORODUÇÃO, I, I, I, I, IMPORMPORMPORMPORMPORTTTTTAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃOAÇÃO EEEEE D D D D DESTINOESTINOESTINOESTINOESTINO DODODODODO C C C C CARVÃOARVÃOARVÃOARVÃOARVÃO V V V V VEGETEGETEGETEGETEGETALALALALAL PORPORPORPORPOR M M M M MUNICÍPIOUNICÍPIOUNICÍPIOUNICÍPIOUNICÍPIO - - - - -MMMMMINASINASINASINASINAS G G G G GERAISERAISERAISERAISERAIS (1989) - C (1989) - C (1989) - C (1989) - C (1989) - CARVÃOARVÃOARVÃOARVÃOARVÃO DEDEDEDEDE R R R R REFLEFLEFLEFLEFLORESTORESTORESTORESTORESTAMENTOAMENTOAMENTOAMENTOAMENTO.............................................................................

.............................................................................Fonte: Cemig e empresas.

Origem Destino do Carvão (m³)

Barão deCocais

Caeté Conta-gem

JoãoMonlevad

Paráde

Minas

SeteLagoas

Timóteo Total

Açucena - - - - - - 38756,8 38756,8

Antônio Dias - 42266, - 49130,0 - - - 91396

BeloOriente - - - 37909,0 - - - 37909

Bom Jesusdo Galho - - - - - - 53562,5 53562,5

Caratinga - - - 82794 - - - 82794

CoronelFabriciano - - - 25627,0 - - - 25627

CórregoNovo - - - - - - 23900,9 23900,9

Dionísio - - - 79458,0 - - - 79458

Divinolândia 150,0 - - - 357,0 - - 507

GovernadorValadares - - - - - - - 0

Guanhães 8057,0 - - - 988,0 - - 9045

Ipatinga - - - - - - - 0

Itabira 768,0 - 473,2 - - 12684,5 - 13925,7

Jaguaraçu - - - - - - - 0

Materlândia 769,0 - - - - - - 769

Mesquita - - - 62626,0 - - 27509,9 90135,9

Nova Era - - - - - - - 0

Peçanha 33642,0 - - - 2108,0 97,0 - 35847

RioPiracicaba 100,0 - - 11069,0 - - 11169

Sabinópolis 3019,0 - 995,0 - - 4014

SantaBárbara 21441,0 - 81,7 59593,0 - - - 81115,7

SãoDomingosdo Prata

50,0 - 18,0 19561 - - - 19629

São José doGoiabal - - - 59442,0 - - - 59442

Sardoa - - - - 115,0 - - 115

Timóteo - - - - - - 12170,9 12170,9

Virginópolis 1639,0 - - - 3154,0 - - 4793

Bahia 25782,0 - - 40790,0 - - - 66572

EspíritoSanto 83571,0 - - 193384,0 - - 206492,2 483447,2

Goiás - - - - - - - 0

Total 178988,0 42266, 572,9 721383,0 7717,0 12781,5 362393,2 1326101,6

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TABELA 2.19

PRODUÇÃO, IMPORTAÇÃO E DESTINO DO CARVÃO VEGETAL POR MUNICÍPIO EM MINAS

GERAIS (1989) - CARVÃO DE MATA NATIVA.............................................................................

.............................................................................Fonte: Cemig e empresas.

Origem Destino do Carvão (m³)

Barãode

Cocais

Caeté Conta-gem

JoãoMonlevade

Paráde

Minas

SeteLagoas

Timóte Total

Açucena - - 1089,9 - - - 7898,2 8988,1

Antônio Dias - - 112,9 514,6 - - 15936,9 16564,4

Belo Oriente - - - 805,8 - - 3237,4 4043,2

Bom Jesus doGalho - - - - - - 820,9 820,9

Caratinga - - - - - - 2616,5 2616,5

CoronelFabriciano - - - - - - 581,3 581,3

Córrego Novo - - - - - - 115,2 115,2

Dionísio - - - - - - 7333 7333

Divinolândia - 318 49 - - - - 367

GovernadorValadares - - - - - 99,2 516,1 615,3

Guanhães - 640 4152,1 - - - 80,4 4872,5

Ipatinga - - - - - - 235,8 235,8

Itabira - 429 27527,4 2330,4 1609,1 4878,1 2398,4 39172,4

Jaguaraçu - - - - - - 1460 1460

Materlândia - - 1534,9 - - - 126,4 1661,3

Mesquita - - - - - - 4643,9 4643,9

Nova Era - - - - - - 37,1 37,1

Peçanha - 830,5 542,9 - - 23630,1 - 25003,5

Rio Piracicaba - - 75,2 3840,2 - - - 3915,4

Sabinópolis - 565,5 3688,9 - - 6127,2 - 10381,6

Santa Bárbara - - 3384,7 424,5 3297,9 836,1 - 7943,2

São Domingosdo Prata - - 436,3 2000 - - 1000,5 3436,8

São José doGoiabal - - - 368,7 - - 40,3 409

Sardoa - - - - - 1182,2 - 1182,2

Timóteo - - - - - - 3090,7 3090,7

Virginópolis - 159 734 - - - - 893

Bahia - - - - - - 89240,1 89240,1

Espírito Santo - - - - - - 113210,9 113210,9

Goiás - - - - - - 6674,3 6674,3

Total 0 2942 43328,2 10284,2 4907 36752,9 261294,3 1326101,

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