a questÃo indígena no livro didÁtico "toda a história

19
A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História" * Lúcio Tadeu Mota" Isabel Cristina Rodrigues'" Resumo: Até os anos setenta, supunha-se que os índios não tinham futuro, nem passado; colocava-se a sua irreversível assimilação à sociedade envolvente, e seu fim diante do avanço capitalista nas áreas de fronteira. A partir dos anos oitenta a situação começou a mudar. E as questões relacionadas com as populações indígenas passaram a ser objetos de estudos. Dentre elas as representações das populações indígenas existentes nos livros didáticos. Dessa forma, nossa proposta é de verificar essas representações num texto específico - Toda a História, de José Jobson de A. Arruda e Nelson Piletti - adotado, desde sua primeira edição, nas vinte e uma escolas públicas de ensino médio de Maringá, atingindo no ano de 1998, um número de 14.212 alunos. Palavras-chave: Etna-história, Livros didáticos, Populações indígenas. Etno-história indígena e os livros didáticos Até os anos de 1970, era comum a suposição de que as populações indígenas não tinham futuro. Admitia-se como verdade estabelecida a sua irreversível assimilação à sociedade envolvente e seu fim diante da expansão da economia capitalista. Também era lugar-comum a idéia de que não tinham passado. Os historiadores não se interessavam por elas por motivos metodológicos, pois se perguntavam: como estudar povos sem escrita? Temiam o campo das tradições orais ou o mergulho na • Trabalho apresentado no III Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de História, UFPR, Curitiba, de 20 a 23 de julho de 1998. O livro analisado é Toda a História de Jobson de Arruda e Nelson Piletti, editado pela Editora Ática de São Paulo, edição de 1995 . .. Professor Doutor no Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá e pesquisador do Programa Interdisciplinar de Estudos de Populações, Laboratório de Arqueologia, Etnologia e Etno-história . ... Professora do Departamento de História da Universidade Estadual de Maringá. Hist. Ensino, Londrina, v. 5, p. 41-59, ou!. 1999 41

Upload: trannguyet

Post on 07-Jan-2017

218 views

Category:

Documents


2 download

TRANSCRIPT

Page 1: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

r

A QUESTAtildeO INDiacuteGENA NO LIVRO DIDAacuteTICO Toda a Histoacuteria

Luacutecio Tadeu Mota Isabel Cristina Rodrigues

Resumo Ateacute os anos setenta supunha-se que os iacutendios natildeo tinham futuro nem passado colocava-se a sua irreversiacutevel assimilaccedilatildeo agrave sociedade envolvente e seu fim diante do avanccedilo capitalista nas aacutereas de fronteira A partir dos anos oitenta a situaccedilatildeo comeccedilou a mudar E as questotildees relacionadas com as populaccedilotildees indiacutegenas passaram a ser objetos de estudos Dentre elas as representaccedilotildees das populaccedilotildees indiacutegenas existentes nos livros didaacuteticos Dessa forma nossa proposta eacute de verificar essas representaccedilotildees num texto especiacutefico - Toda a Histoacuteria de Joseacute[ Jobson de A Arruda e Nelson Piletti - adotado desde sua l primeira ediccedilatildeo nas vinte e uma escolas puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute atingindo no ano de 1998 um nuacutemero de 14212 alunos Palavras-chave Etna-histoacuteria Livros didaacuteticos Populaccedilotildees indiacutegenas

Etno-histoacuteria indiacutegena e os livros didaacuteticos

Ateacute os anos de 1970 era comum a suposiccedilatildeo de que as populaccedilotildees indiacutegenas natildeo tinham futuro Admitia-se como verdade estabelecida a sua irreversiacutevel assimilaccedilatildeo agrave sociedade envolvente e seu fim diante da expansatildeo da economia capitalista Tambeacutem era lugar-comum a ideacuteia de que natildeo tinham passado Os historiadores natildeo se interessavam por elas por motivos metodoloacutegicos pois se perguntavam como estudar povos sem escrita Temiam o campo das tradiccedilotildees orais ou o mergulho na

bull Trabalho apresentado no III Encontro Nacional Perspectivas do Ensino de Histoacuteria UFPR Curitiba de 20 a 23 de julho de 1998 O livro analisado eacute Toda a Histoacuteria de Jobson de Arruda e Nelson Piletti editado pela Editora Aacutetica de Satildeo Paulo ediccedilatildeo de 1995

Professor Doutor no Departamento de Histoacuteria da Universidade Estadual de Maringaacute e pesquisador do Programa Interdisciplinar de Estudos de Populaccedilotildees Laboratoacuterio de Arqueologia Etnologia e Etno-histoacuteria

Professora do Departamento de Histoacuteria da Universidade Estadual de Maringaacute

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 41

documentaccedilatildeo produzida pelos agentes da conquista os padres administradores viajantes colonos etc Pelo lado dos antropoacutelogos a abstenccedilatildeo tinha suas justificativas ancoradas em teorias Para o evolucionismo herdado do fim do seacuteculo passado era desnecessaacuterio esse esforccedilo pois os iacutendios eram o ponto zero da evoluccedilatildeo portanto sem passado Mais recentemente os funcionalistas adeptos da anaacutelise sistecircmica e sincrocircnica natildeo davam muita atenccedilatildeo aos fenocircmenos particulares e tampouco permitiam o imponderaacutevel

A situaccedilatildeo comeccedilou a mudar haacute pouco tempo quando os iacutendios passaram a ter uma atuaccedilatildeo poliacutetica mais visiacutevel nos niacuteveis nacional e internacional a utilizarem de mecanismos juriacutedicos para fazer seus direitos principalmente os relacionados com a terra serem respeitados Por outro lado tanto na Histoacuteria como na Antropologia as resistecircncias foram cedendo As questotildees metodoloacutegicas ateacute entatildeo colocadas como impedimento para o estudo das sociedades sem escrita foram resolvidas Os historiadores a partir da deacutecada de 70 passaram a estudar questotildees relacionadas com a cultura popular e foram obrigados a lidar com novos tipos de documentos Os antropoacutelogos insatisfeitos com as explicaccedilotildees excessivamente geneacutericas e sincrocircnicas voltaram-se para a Histoacuteria de tal modo que hoje em dia muitos jaacute natildeo distinguem rigidamente as duas disciplinas 1

A vitalidade da Etno-histoacuteria2 basicamente uma junccedilatildeo entre problemaacuteticas antropoloacutegicas e meacutetodos de investigaccedilatildeo histoacutericos mostra-se plena na anaacutelise do destino das sociedades indiacutegenas a partir de meados do seacuteculo XIX Momento este que

1 Sobre as questotildees colocadas acima ver Manuela Carneiro da CUNHA Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo 303133 Histoacuteria dos iacutendios no Brasil 1992 Sobre a questatildeo das fontes na histoacuteria CUNHA cita as possibilidades metodoloacutegicas expressas por Peter BURKE no livro Cultura popular na Idade Moderna 1989 p 15-112 Ainda sobre a aproximaccedilatildeo entre a Histoacuteria e a Antropologia ver Marshall Sahlins Ilhas de Histoacuteria 1994

2 Com relaccedilatildeo a Etnomiddothistoacuteria estamos utilizando aqui as formulaccedilotildees presentes na revista Ethnohistory que vem publicando sobre o assunto nos Estados Unidos desde 1954 Para uma siacutentese dessa temaacutetica ver Bruce G TRIGGER Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios 1 27-55 San Juan Universidad Nacional de San Juan 1987 Robert M CARMACK Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca 267-47 Guatemala Ministeacuterio de Educacion 1979 Shepard KRECH 111 The state of ethnohistory Annual Review Anthropology 20345-3751991

42 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999

I

a construccedilatildeo do Estado Nacional foi levada adiante pela forccedila da persuasatildeo ou pela forccedila da guerra contra as populaccedilotildees indiacutegenas O Estado Nacional foi levado a demarcar novas fronteiras incorporando novos territoacuterios indiacutegenas para a expansatildeo das economias agro-exportadoras e se fazendo-se presente nesses territoacuterios A ocupaccedilatildeo de territoacuterios indiacutegenas a modernizaccedilatildeo e as ideacuteias de europeizaccedilatildeo satildeo os vetores que imprimiram de uma forma geral as novas condiccedilotildees das sociedades nacionais no seacuteculo XIX3

Todas as naccedilotildees americanas partiram do pressuposto de que os iacutendios deveriam desaparecer Nenhuma delas reconheceu a autonomia da naccedilotildees indiacutegenas existentes Nos Estados Unidos a ideacuteia de territoacuterios indiacutegenas foi uma farsa e soacute adiou o problema A mesma coisa ocorreu nos pampas argentinos com a campanha de extermiacutenio dos iacutendios levada adiante pelas Forccedilas Armadas Argentinas No geral os poliacuteticos e administradores sempre visavam a eliminaccedilatildeo dos iacutendios Simon Bolivar e San Martin tinham alguma ideacuteia sobre a questatildeo indiacutegena e chegaram a escrevecirc-Ia no entanto elas nunca saiacuteram do papel As constituiccedilotildees dos paiacuteses da Ameacuterica como Boliacutevia Peru etc abolem os iacutendios com decretos transformando todos em camponeses No Brasil ocorre o mesmo com a poliacutetica de emancipaccedilatildeo dos iacutendios Ora emancipaacute-los de que Da sua condiccedilatildeo de iacutendios4

3 Sobre a discussatildeo do Estado Nacional e as populaccedilotildees indiacutegenas no seacuteculo passado ver Carlos de Arauacutejo MOREIRA NETO A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX 1971 Eunice PAIVA amp Carmen JUNQUEIRA O Estado contra o iacutendio 1985 Manuela Carneiro da CUNHA Poliacutetica indigenista no seacuteculo XIX In Histoacuteria dos iacutendios no Brasil 1992 Luacutecio Tadeu MOTA O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p 149-175 1998 Especificamente sobre a atuaccedilatildeo do estado provincial paranaense em relaccedilatildeo as populaccedilotildees indiacutegenas no Paranaacute ver Luacutecio Tadeu MaTA o Accedilo a cruz e a terra iacutendios e brancos no Paranaacute proviacutencia I (1853-1889) 1998 Ainda sobre essa questatildeo no seacuteculo XX ver os trabalhos de Antonio Carlos de Souza UMA principalmente Um grande cerco de paz poder tutelare indianidade no Brasil 1992 e os de Joatildeo Pacheco de OLIVEIRA FILHO com destaque para O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar 1988 Sobre a expansatildeo da sociedade nacional nos territoacuterios indiacutegenas no seacuteculo XX ver Darcy RIBEIRO Os iacutendios e a civilizaccedilatildeo 1970

4 Para maiores detalhes sobre as relaccedilotildees das populaccedilotildees indiacutegenas com os Estados latinoshyamericanos ver Guilhermo Bonfil BATALLA EI pensarniento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico 1979 Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina 1981 Joseacute BENGOA Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia v 38 n 2 p 151-186 1995

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 43

Seja como for o fato eacute que apoacutes 500 anos de tentativas de abolir as populaccedilotildees indiacutegenas elas continuam existindo recriando praacuteticas ancestrais e reivindicando sua sobrevivecircncia como sociedades especiacuteficas Assim numa perspectiva etnoshyhistoriograacutefica nos propomos a analisar como as populaccedilotildees indiacutegenas aparecem no livros didaacuteticos Contribuindo dessa forma com o esforccedilo que hoje se desenvolve no sentido de refinar e detalhar as anaacutelises e interpretaccedilotildees relacionadas com a histoacuteria indiacutegena as relaccedilotildees das populaccedilotildees invasoras com as populaccedilotildees nativas as questotildees relativas ao contato intereacutetnico ocorrido nos seacuteculos de ocupaccedilatildeo do continente americano e as questotildees relacionadas com as representaccedilotildees das populaccedilotildees indiacutegenas existentes nos livros didaacuteticos5

Concordamos com a professora Kaacutetia Abud 6 quando ela afirma que o livro didaacutetico eacute o construtor do conhecimento histoacuterico daqueles cujo saber natildeo vai aleacutem do que lhes foi ensinado pelas escolas lodo professor acaba de uma forma ou de outra tendo o livro didaacutetico como apoio para o seu trabalho E este tem sido um dos canais mais utilizados para a manutenccedilatildeo dos mitos e estereoacutetipos que povoam a histoacuteria o que torna-se preocupante quando se observa que o mesmo tem assumido a funccedilatildeo de informar inclusive ao professor o que acaba reforccedilando as ideacuteias nele contidas e a visatildeo por parte dos alunos do livro como uacutenica fonte digna de confianccedila

Por essa perspectiva o livro didaacutetico se encaixaria no acircmbito do discu rso competente (CHAU iacute 1989) como portador de um saber acabado inquestionaacutevel pronto para ser absorvido Essa postura implica em aversatildeo agrave reflexatildeo em acriticismo o que vale dizer transferir a competecircncia desse processo para outras instacircncias da hierarquia do saber Nessa cadeia o professor se encaixa corno transmissor de conhecimentos e o aluno corno receptor passivo Em uacuteltima anaacutelise significa incutir no aluno posturas de transferir responsabilidades e buscar sempre a

5 Sobre a questatildeo indiacutegena nos livros didaacuteticos de histoacuteria poucos satildeo os trabalhos existentes Entre eles encontra-se uma pesquisa de focirclego realizada por Sonia Irene Silva do Carmo sob o tiacutetulo Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado FEUSP 1991

6 Abud Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

44 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

orientaccedilatildeo de outras instacircncias as competentes para a sua accedilatildeo ou seja uma postura de subserviecircncia

Preocupados com essa constataccedilatildeo que jaacute natildeo se faz nova eacute que nos motivamos a discutir na obra em questatildeo a abordagem dada agrave temaacutetica indiacutegena uma vez que inuacutemeras satildeo as discussotildees a respeito do livro didaacutetico poreacutem a discussatildeo de conteuacutedos especiacuteficos a partir de autores especiacuteficos tambeacutem constitui-se numa necessidade baacutesica principalmente quando esses conteuacutedos tecircm relaccedilatildeo direta com o que se pretende hoje nos discursos e propostas educacionais para a aacuterea de histoacuteria a reflexatildeo em torno de conteuacutedos significativos e pertinentes agrave realidade do aluno

A opccedilatildeo pelo livro TODA A HISTOacuteRIA de ARRUDA e PILETTI natildeo eacute aleatoacuteria Trata-se de um manual didaacutetico que desde sua primeira ediccedilatildeo teve ampla penetraccedilatildeo nos coleacutegios de Maringaacute sobretudo na rede puacuteblica por contemplar os conteuacutedos propostos pelo curriacuteculo oficial do Estado do Paranaacute pelos PCNs (Paracircmetros Curriculares NacionaisMEC) e DCEM (Diretrizes Curriculares para o Ensino Meacutedio (MEC) atendendo soacute no ano de 1998 14212 alunos nas vinte e uma escolas de ensino meacutedio de Maringaacute

A escolha deve-se tambeacutem agrave possibilidade que o livro apresenta de ser utilizado durante os trecircs anos de duraccedilatildeo do curso de ensino meacutedio Por contemplar a histoacuteria numa perspectiva cronoloacutegica desde a preacute-histoacuteria ateacute os dias atuais

A pariir dos anos de 1980 surgiram muitos trabalhos sobre o ensino de histoacuteria e sobre o livro didaacutetico Entre os muitos que prestaram relevantes contribuiccedilotildees sistematizando preocupaccedilotildees dos profissionais da aacuterea ver Conceiccedilatildeo CABRINI e outras O ensino de histoacuteria - revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984 Marcos A da SILVA Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro Marco Zero 1984 Histoacuteria em quadro negro escola ensino e aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9n19 Satildeo Paulo Anpuh Marco Zero set89fev90 Selva Guimaratildees FONSECA Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995 Elza Nadai O ensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162Joseacute Alberto BALDISSERA O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 Astor Antonio DIEHL (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999 Circe BITIENCOURT (org) O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997 Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993 ANAIS dos Encontros Perspectivas do Ensino de Histoacuteria 1988 e 1896 Satildeo Paulo FEUSP

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 45

46

inserindo-se nela a histoacuteria do Brasil satisfaz as necessidades do que estaacute previsto para ser ensinado a essa clientela

Toda a Histoacuteria e as populaccedilotildees indiacutegenas

No capiacutetulo dois de Toda a Histoacuteria os autores abordam questotildees relativas a origem do homem no continente americano Colocam as teorias mais aceitas sobre a humanizaccedilatildeo do continente as migraccedilotildees vindas da Aacutesia atraveacutes do estreito de Behring ou atraveacutes do oceano Paciacutefico desde a Polineacutesia Sobre a idade do aparecimento do homem na Ameacuterica acompanham a discussatildeo arqueoloacutegica com um mapa sobre os siacutetios (paacutegina XXX do Atlas Histoacuterico que acompanha o livro) e as dataccedilotildees mais recentes sobre os mesmos Ainda sobre os siacutetios arqueoloacutegicos no Brasil apenas destacam os sambaquis no litoral os siacutetios liacuteticos ceracircmicos e rupestres no interior Em duas paacuteginas e meia os autores abordam a complexa e rica histoacuteria do surgimento do homem na Ameacuterica natildeo se preocupando em oferecer aos estudantes um panorama das culturas identificadas pelos estudos arqueoloacutegicos

Muitas paacuteginas depois no capiacutetulo quarenta voltam a tratar dos povos preacute-colombianos existentes na Ameacuterica Destacam nesse capiacutetulo os Maias e os Astecas No capiacutetulo seguinte os Incas e no capiacutetulo quarenta e dois apresentam os povos preacuteshycolombianos existentes no Brasil Acertam no criteacuterio de utilizar a linguumliacutestica para classificar as populaccedilotildees indiacutegenas existentes no Brasil mas iniciam uma seacuterie de informaccedilotildees desencontradas Por exemplo indicam que os especialistas jaacute analisaram mais de cem liacutenguas faladas no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995 125) quando sabemos que hoje no Brasil satildeo faladas mais de 170 liacutenguas sem contabilizarmos as extintas ao longo do processo de conquista desde 1500 Existe uma grande diferenccedila entre mais de 100 I iacutenguas e mais de 170 Em seguida os autores Arruda e Piletti afirmam existir trecircs troncos principais Tupi (oito famiacutelias e vinte e seis liacutenguas) Macro-Jecirc (cinco famiacutelias e dezesseis liacutenguas) e Aruake (duas famflias e treze liacutenguas) Greg URBAN (199290) diz existir no Brasil quatro grandes grupos linguumliacutesticos

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999

com numerosos membros espalhados por vastas aacutereas Arawak Karib Tupi e Jecirc ( ) Existem ainda vaacuterios grupos linguumliacutesticos menores com menor nuacutemero de liacutenguas e distribuiccedilatildeo mais compacta no mapa ( ) Aleacutem disso haacute liacutenguas isoladas desligadas de famiacutelias Ruth M F MONTSERRAT (199495) tambeacutem afirma serem Quatro os grupos maiores de liacutenguas no Brasil com distribuiccedilatildeo geograacutefica extensa e com vaacuterios membros Tupi Macro-Jecirc Aruak e Karib Haacute depois famiacutelias menores ( ) E finalmente haacute as chamadas liacutenguas isoladas que natildeo revelam parentesco com nenhuma das outras Temos portanto por um lado o livro didaacutetico afirmando existir trecircs troncos principais de liacutenguas Tupi Macro-Jecirc e Aruak natildeo fazendo menccedilatildeo para nenhum grupo linguumliacutestico menor e liacutenguas isoladas e por outro Urban e Montserrat afirmando serem quatro os principais grupos linguumliacutesticos Aleacutem dos jaacute citados eles acrescentam o Karib e discorrem sobre os grupos menores e as liacutenguas isoladas

A demografia dos povos indiacutegenas

Com relaccedilatildeo agraves questotildees demograacuteficas os autores afirmam que na eacutepoca da chegada dos portugueses em 1500 havia de 2 a 3 milhotildees de iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995125) Numa estimativa modesta a FUNAI no seu site de divulgaccedilatildeo calcula em quatro milhotildees e meio o nuacutemero de iacutendios no Brasil em 15008 Essa estimativa eacute extremamente modesta se compararmos com outros caacutelculos Pierre Clastres calcula em um milhatildeo e meio apenas a populaccedilatildeo Guarani e as fontes espanholas do seacuteculo XVI e jesuiacuteticas do seacuteculo XVII tambeacutem fizeram estimativas de 200 mil a um milhatildeo de Guaranis9

O livro Toda a Histoacuteria na sua terceira ediccedilatildeo publicada em 1995 apresenta uma populaccedilatildeo de 230 mil iacutendios no Brasil dividida por regiotildees Utiliza de dados publicados haacute quinze anos atraacutes pelo Conselho Indigenista Missionaacuterio (CIMI) em 1980

8 FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil httpwwwfunaLgovbrindios6htm 1998 9 Para maiores detalhes sobre essa questatildeo ver John Manuel MONTEIRO Os Guaranis e

a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 47

48

quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da proacutepria FUNAI publicados no mesmo ano da ediccedilatildeo do livro onde a agecircncia governamental detalha a populaccedilatildeo indiacutegena por estado da federaccedilatildeo totalizando 325652 iacutendios Quase cem mil iacutendios a mais que os dados do CIMI de 1980 O apontado acima revela a superficialidade dos autores na abordagem da questatildeo ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais refinado e cuidadoso com as populaccedilotildees indiacutegenas

Ainda no capiacutetulo quarenta e dois satildeo referidas onze tribos indiacutegenas Tupis Bororo Nambiquara Xoclengue Tupinambaacute Craocirc Carajaacute e Uauraacute Timbira Yanomami Terena Com exceccedilatildeo dos Timbiras localizados entre o sul do Maranhatildeo e norte de Goiaacutes todos os outros aparecem sem referecircncia e localizaccedilatildeo no texto Se nos remetermos aos mapas das paacuteginas XIX e XXX de Toda a Histoacuteria veremos que das tribos citadas apenas estatildeo localizados trecircs tribos Bororo no Mato Grosso Yanomami em Roraima e Terena no Mato Grosso do Sul

Ora se o livro didaacutetico constitui-se para a maioria dos alunos na uacutenica referecircncia que teratildeo sobre o assunto porque negar o acesso a maiores e melhores informaccedilotildees que sejam capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes a distribuiccedilatildeo delas pelo territoacuterio nacional e a diversidade cultural que apresentam

Com relaccedilatildeo a demografia indiacutegena e sua distribuiccedilatildeo no territoacuterio nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995

Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje

Estado Sociedades Indiacutegenas Populaccedilatilde

Acre Araacutera Asheninka Huniquim Kalukina do Acre Maniteneacuteri Maxineri Poyanaacutewa Yaminawaacute Yawanaacutewa Makuraacutep Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColombia) Amawaacuteka (Peru) Kaxinawaacute (Peru) 6610

Alagoas Jerinpancoacute Karapotoacute Kariri-Xocoacute Tingui-Botoacute Wassuacute Xucuruacute-Kaririacute 4917

Amapaacute Galibiacute Marworno Karipuacutena Palikur Waiatildepi Galibiacute (Guiana Francesa) 5095

Amazonas Banavaacute-Jafiacute Caixana Corvana Deniacute Diahoacutei

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 2: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

documentaccedilatildeo produzida pelos agentes da conquista os padres administradores viajantes colonos etc Pelo lado dos antropoacutelogos a abstenccedilatildeo tinha suas justificativas ancoradas em teorias Para o evolucionismo herdado do fim do seacuteculo passado era desnecessaacuterio esse esforccedilo pois os iacutendios eram o ponto zero da evoluccedilatildeo portanto sem passado Mais recentemente os funcionalistas adeptos da anaacutelise sistecircmica e sincrocircnica natildeo davam muita atenccedilatildeo aos fenocircmenos particulares e tampouco permitiam o imponderaacutevel

A situaccedilatildeo comeccedilou a mudar haacute pouco tempo quando os iacutendios passaram a ter uma atuaccedilatildeo poliacutetica mais visiacutevel nos niacuteveis nacional e internacional a utilizarem de mecanismos juriacutedicos para fazer seus direitos principalmente os relacionados com a terra serem respeitados Por outro lado tanto na Histoacuteria como na Antropologia as resistecircncias foram cedendo As questotildees metodoloacutegicas ateacute entatildeo colocadas como impedimento para o estudo das sociedades sem escrita foram resolvidas Os historiadores a partir da deacutecada de 70 passaram a estudar questotildees relacionadas com a cultura popular e foram obrigados a lidar com novos tipos de documentos Os antropoacutelogos insatisfeitos com as explicaccedilotildees excessivamente geneacutericas e sincrocircnicas voltaram-se para a Histoacuteria de tal modo que hoje em dia muitos jaacute natildeo distinguem rigidamente as duas disciplinas 1

A vitalidade da Etno-histoacuteria2 basicamente uma junccedilatildeo entre problemaacuteticas antropoloacutegicas e meacutetodos de investigaccedilatildeo histoacutericos mostra-se plena na anaacutelise do destino das sociedades indiacutegenas a partir de meados do seacuteculo XIX Momento este que

1 Sobre as questotildees colocadas acima ver Manuela Carneiro da CUNHA Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo 303133 Histoacuteria dos iacutendios no Brasil 1992 Sobre a questatildeo das fontes na histoacuteria CUNHA cita as possibilidades metodoloacutegicas expressas por Peter BURKE no livro Cultura popular na Idade Moderna 1989 p 15-112 Ainda sobre a aproximaccedilatildeo entre a Histoacuteria e a Antropologia ver Marshall Sahlins Ilhas de Histoacuteria 1994

2 Com relaccedilatildeo a Etnomiddothistoacuteria estamos utilizando aqui as formulaccedilotildees presentes na revista Ethnohistory que vem publicando sobre o assunto nos Estados Unidos desde 1954 Para uma siacutentese dessa temaacutetica ver Bruce G TRIGGER Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios 1 27-55 San Juan Universidad Nacional de San Juan 1987 Robert M CARMACK Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca 267-47 Guatemala Ministeacuterio de Educacion 1979 Shepard KRECH 111 The state of ethnohistory Annual Review Anthropology 20345-3751991

42 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999

I

a construccedilatildeo do Estado Nacional foi levada adiante pela forccedila da persuasatildeo ou pela forccedila da guerra contra as populaccedilotildees indiacutegenas O Estado Nacional foi levado a demarcar novas fronteiras incorporando novos territoacuterios indiacutegenas para a expansatildeo das economias agro-exportadoras e se fazendo-se presente nesses territoacuterios A ocupaccedilatildeo de territoacuterios indiacutegenas a modernizaccedilatildeo e as ideacuteias de europeizaccedilatildeo satildeo os vetores que imprimiram de uma forma geral as novas condiccedilotildees das sociedades nacionais no seacuteculo XIX3

Todas as naccedilotildees americanas partiram do pressuposto de que os iacutendios deveriam desaparecer Nenhuma delas reconheceu a autonomia da naccedilotildees indiacutegenas existentes Nos Estados Unidos a ideacuteia de territoacuterios indiacutegenas foi uma farsa e soacute adiou o problema A mesma coisa ocorreu nos pampas argentinos com a campanha de extermiacutenio dos iacutendios levada adiante pelas Forccedilas Armadas Argentinas No geral os poliacuteticos e administradores sempre visavam a eliminaccedilatildeo dos iacutendios Simon Bolivar e San Martin tinham alguma ideacuteia sobre a questatildeo indiacutegena e chegaram a escrevecirc-Ia no entanto elas nunca saiacuteram do papel As constituiccedilotildees dos paiacuteses da Ameacuterica como Boliacutevia Peru etc abolem os iacutendios com decretos transformando todos em camponeses No Brasil ocorre o mesmo com a poliacutetica de emancipaccedilatildeo dos iacutendios Ora emancipaacute-los de que Da sua condiccedilatildeo de iacutendios4

3 Sobre a discussatildeo do Estado Nacional e as populaccedilotildees indiacutegenas no seacuteculo passado ver Carlos de Arauacutejo MOREIRA NETO A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX 1971 Eunice PAIVA amp Carmen JUNQUEIRA O Estado contra o iacutendio 1985 Manuela Carneiro da CUNHA Poliacutetica indigenista no seacuteculo XIX In Histoacuteria dos iacutendios no Brasil 1992 Luacutecio Tadeu MOTA O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p 149-175 1998 Especificamente sobre a atuaccedilatildeo do estado provincial paranaense em relaccedilatildeo as populaccedilotildees indiacutegenas no Paranaacute ver Luacutecio Tadeu MaTA o Accedilo a cruz e a terra iacutendios e brancos no Paranaacute proviacutencia I (1853-1889) 1998 Ainda sobre essa questatildeo no seacuteculo XX ver os trabalhos de Antonio Carlos de Souza UMA principalmente Um grande cerco de paz poder tutelare indianidade no Brasil 1992 e os de Joatildeo Pacheco de OLIVEIRA FILHO com destaque para O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar 1988 Sobre a expansatildeo da sociedade nacional nos territoacuterios indiacutegenas no seacuteculo XX ver Darcy RIBEIRO Os iacutendios e a civilizaccedilatildeo 1970

4 Para maiores detalhes sobre as relaccedilotildees das populaccedilotildees indiacutegenas com os Estados latinoshyamericanos ver Guilhermo Bonfil BATALLA EI pensarniento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico 1979 Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina 1981 Joseacute BENGOA Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia v 38 n 2 p 151-186 1995

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 43

Seja como for o fato eacute que apoacutes 500 anos de tentativas de abolir as populaccedilotildees indiacutegenas elas continuam existindo recriando praacuteticas ancestrais e reivindicando sua sobrevivecircncia como sociedades especiacuteficas Assim numa perspectiva etnoshyhistoriograacutefica nos propomos a analisar como as populaccedilotildees indiacutegenas aparecem no livros didaacuteticos Contribuindo dessa forma com o esforccedilo que hoje se desenvolve no sentido de refinar e detalhar as anaacutelises e interpretaccedilotildees relacionadas com a histoacuteria indiacutegena as relaccedilotildees das populaccedilotildees invasoras com as populaccedilotildees nativas as questotildees relativas ao contato intereacutetnico ocorrido nos seacuteculos de ocupaccedilatildeo do continente americano e as questotildees relacionadas com as representaccedilotildees das populaccedilotildees indiacutegenas existentes nos livros didaacuteticos5

Concordamos com a professora Kaacutetia Abud 6 quando ela afirma que o livro didaacutetico eacute o construtor do conhecimento histoacuterico daqueles cujo saber natildeo vai aleacutem do que lhes foi ensinado pelas escolas lodo professor acaba de uma forma ou de outra tendo o livro didaacutetico como apoio para o seu trabalho E este tem sido um dos canais mais utilizados para a manutenccedilatildeo dos mitos e estereoacutetipos que povoam a histoacuteria o que torna-se preocupante quando se observa que o mesmo tem assumido a funccedilatildeo de informar inclusive ao professor o que acaba reforccedilando as ideacuteias nele contidas e a visatildeo por parte dos alunos do livro como uacutenica fonte digna de confianccedila

Por essa perspectiva o livro didaacutetico se encaixaria no acircmbito do discu rso competente (CHAU iacute 1989) como portador de um saber acabado inquestionaacutevel pronto para ser absorvido Essa postura implica em aversatildeo agrave reflexatildeo em acriticismo o que vale dizer transferir a competecircncia desse processo para outras instacircncias da hierarquia do saber Nessa cadeia o professor se encaixa corno transmissor de conhecimentos e o aluno corno receptor passivo Em uacuteltima anaacutelise significa incutir no aluno posturas de transferir responsabilidades e buscar sempre a

5 Sobre a questatildeo indiacutegena nos livros didaacuteticos de histoacuteria poucos satildeo os trabalhos existentes Entre eles encontra-se uma pesquisa de focirclego realizada por Sonia Irene Silva do Carmo sob o tiacutetulo Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado FEUSP 1991

6 Abud Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

44 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

orientaccedilatildeo de outras instacircncias as competentes para a sua accedilatildeo ou seja uma postura de subserviecircncia

Preocupados com essa constataccedilatildeo que jaacute natildeo se faz nova eacute que nos motivamos a discutir na obra em questatildeo a abordagem dada agrave temaacutetica indiacutegena uma vez que inuacutemeras satildeo as discussotildees a respeito do livro didaacutetico poreacutem a discussatildeo de conteuacutedos especiacuteficos a partir de autores especiacuteficos tambeacutem constitui-se numa necessidade baacutesica principalmente quando esses conteuacutedos tecircm relaccedilatildeo direta com o que se pretende hoje nos discursos e propostas educacionais para a aacuterea de histoacuteria a reflexatildeo em torno de conteuacutedos significativos e pertinentes agrave realidade do aluno

A opccedilatildeo pelo livro TODA A HISTOacuteRIA de ARRUDA e PILETTI natildeo eacute aleatoacuteria Trata-se de um manual didaacutetico que desde sua primeira ediccedilatildeo teve ampla penetraccedilatildeo nos coleacutegios de Maringaacute sobretudo na rede puacuteblica por contemplar os conteuacutedos propostos pelo curriacuteculo oficial do Estado do Paranaacute pelos PCNs (Paracircmetros Curriculares NacionaisMEC) e DCEM (Diretrizes Curriculares para o Ensino Meacutedio (MEC) atendendo soacute no ano de 1998 14212 alunos nas vinte e uma escolas de ensino meacutedio de Maringaacute

A escolha deve-se tambeacutem agrave possibilidade que o livro apresenta de ser utilizado durante os trecircs anos de duraccedilatildeo do curso de ensino meacutedio Por contemplar a histoacuteria numa perspectiva cronoloacutegica desde a preacute-histoacuteria ateacute os dias atuais

A pariir dos anos de 1980 surgiram muitos trabalhos sobre o ensino de histoacuteria e sobre o livro didaacutetico Entre os muitos que prestaram relevantes contribuiccedilotildees sistematizando preocupaccedilotildees dos profissionais da aacuterea ver Conceiccedilatildeo CABRINI e outras O ensino de histoacuteria - revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984 Marcos A da SILVA Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro Marco Zero 1984 Histoacuteria em quadro negro escola ensino e aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9n19 Satildeo Paulo Anpuh Marco Zero set89fev90 Selva Guimaratildees FONSECA Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995 Elza Nadai O ensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162Joseacute Alberto BALDISSERA O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 Astor Antonio DIEHL (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999 Circe BITIENCOURT (org) O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997 Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993 ANAIS dos Encontros Perspectivas do Ensino de Histoacuteria 1988 e 1896 Satildeo Paulo FEUSP

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 45

46

inserindo-se nela a histoacuteria do Brasil satisfaz as necessidades do que estaacute previsto para ser ensinado a essa clientela

Toda a Histoacuteria e as populaccedilotildees indiacutegenas

No capiacutetulo dois de Toda a Histoacuteria os autores abordam questotildees relativas a origem do homem no continente americano Colocam as teorias mais aceitas sobre a humanizaccedilatildeo do continente as migraccedilotildees vindas da Aacutesia atraveacutes do estreito de Behring ou atraveacutes do oceano Paciacutefico desde a Polineacutesia Sobre a idade do aparecimento do homem na Ameacuterica acompanham a discussatildeo arqueoloacutegica com um mapa sobre os siacutetios (paacutegina XXX do Atlas Histoacuterico que acompanha o livro) e as dataccedilotildees mais recentes sobre os mesmos Ainda sobre os siacutetios arqueoloacutegicos no Brasil apenas destacam os sambaquis no litoral os siacutetios liacuteticos ceracircmicos e rupestres no interior Em duas paacuteginas e meia os autores abordam a complexa e rica histoacuteria do surgimento do homem na Ameacuterica natildeo se preocupando em oferecer aos estudantes um panorama das culturas identificadas pelos estudos arqueoloacutegicos

Muitas paacuteginas depois no capiacutetulo quarenta voltam a tratar dos povos preacute-colombianos existentes na Ameacuterica Destacam nesse capiacutetulo os Maias e os Astecas No capiacutetulo seguinte os Incas e no capiacutetulo quarenta e dois apresentam os povos preacuteshycolombianos existentes no Brasil Acertam no criteacuterio de utilizar a linguumliacutestica para classificar as populaccedilotildees indiacutegenas existentes no Brasil mas iniciam uma seacuterie de informaccedilotildees desencontradas Por exemplo indicam que os especialistas jaacute analisaram mais de cem liacutenguas faladas no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995 125) quando sabemos que hoje no Brasil satildeo faladas mais de 170 liacutenguas sem contabilizarmos as extintas ao longo do processo de conquista desde 1500 Existe uma grande diferenccedila entre mais de 100 I iacutenguas e mais de 170 Em seguida os autores Arruda e Piletti afirmam existir trecircs troncos principais Tupi (oito famiacutelias e vinte e seis liacutenguas) Macro-Jecirc (cinco famiacutelias e dezesseis liacutenguas) e Aruake (duas famflias e treze liacutenguas) Greg URBAN (199290) diz existir no Brasil quatro grandes grupos linguumliacutesticos

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999

com numerosos membros espalhados por vastas aacutereas Arawak Karib Tupi e Jecirc ( ) Existem ainda vaacuterios grupos linguumliacutesticos menores com menor nuacutemero de liacutenguas e distribuiccedilatildeo mais compacta no mapa ( ) Aleacutem disso haacute liacutenguas isoladas desligadas de famiacutelias Ruth M F MONTSERRAT (199495) tambeacutem afirma serem Quatro os grupos maiores de liacutenguas no Brasil com distribuiccedilatildeo geograacutefica extensa e com vaacuterios membros Tupi Macro-Jecirc Aruak e Karib Haacute depois famiacutelias menores ( ) E finalmente haacute as chamadas liacutenguas isoladas que natildeo revelam parentesco com nenhuma das outras Temos portanto por um lado o livro didaacutetico afirmando existir trecircs troncos principais de liacutenguas Tupi Macro-Jecirc e Aruak natildeo fazendo menccedilatildeo para nenhum grupo linguumliacutestico menor e liacutenguas isoladas e por outro Urban e Montserrat afirmando serem quatro os principais grupos linguumliacutesticos Aleacutem dos jaacute citados eles acrescentam o Karib e discorrem sobre os grupos menores e as liacutenguas isoladas

A demografia dos povos indiacutegenas

Com relaccedilatildeo agraves questotildees demograacuteficas os autores afirmam que na eacutepoca da chegada dos portugueses em 1500 havia de 2 a 3 milhotildees de iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995125) Numa estimativa modesta a FUNAI no seu site de divulgaccedilatildeo calcula em quatro milhotildees e meio o nuacutemero de iacutendios no Brasil em 15008 Essa estimativa eacute extremamente modesta se compararmos com outros caacutelculos Pierre Clastres calcula em um milhatildeo e meio apenas a populaccedilatildeo Guarani e as fontes espanholas do seacuteculo XVI e jesuiacuteticas do seacuteculo XVII tambeacutem fizeram estimativas de 200 mil a um milhatildeo de Guaranis9

O livro Toda a Histoacuteria na sua terceira ediccedilatildeo publicada em 1995 apresenta uma populaccedilatildeo de 230 mil iacutendios no Brasil dividida por regiotildees Utiliza de dados publicados haacute quinze anos atraacutes pelo Conselho Indigenista Missionaacuterio (CIMI) em 1980

8 FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil httpwwwfunaLgovbrindios6htm 1998 9 Para maiores detalhes sobre essa questatildeo ver John Manuel MONTEIRO Os Guaranis e

a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 47

48

quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da proacutepria FUNAI publicados no mesmo ano da ediccedilatildeo do livro onde a agecircncia governamental detalha a populaccedilatildeo indiacutegena por estado da federaccedilatildeo totalizando 325652 iacutendios Quase cem mil iacutendios a mais que os dados do CIMI de 1980 O apontado acima revela a superficialidade dos autores na abordagem da questatildeo ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais refinado e cuidadoso com as populaccedilotildees indiacutegenas

Ainda no capiacutetulo quarenta e dois satildeo referidas onze tribos indiacutegenas Tupis Bororo Nambiquara Xoclengue Tupinambaacute Craocirc Carajaacute e Uauraacute Timbira Yanomami Terena Com exceccedilatildeo dos Timbiras localizados entre o sul do Maranhatildeo e norte de Goiaacutes todos os outros aparecem sem referecircncia e localizaccedilatildeo no texto Se nos remetermos aos mapas das paacuteginas XIX e XXX de Toda a Histoacuteria veremos que das tribos citadas apenas estatildeo localizados trecircs tribos Bororo no Mato Grosso Yanomami em Roraima e Terena no Mato Grosso do Sul

Ora se o livro didaacutetico constitui-se para a maioria dos alunos na uacutenica referecircncia que teratildeo sobre o assunto porque negar o acesso a maiores e melhores informaccedilotildees que sejam capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes a distribuiccedilatildeo delas pelo territoacuterio nacional e a diversidade cultural que apresentam

Com relaccedilatildeo a demografia indiacutegena e sua distribuiccedilatildeo no territoacuterio nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995

Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje

Estado Sociedades Indiacutegenas Populaccedilatilde

Acre Araacutera Asheninka Huniquim Kalukina do Acre Maniteneacuteri Maxineri Poyanaacutewa Yaminawaacute Yawanaacutewa Makuraacutep Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColombia) Amawaacuteka (Peru) Kaxinawaacute (Peru) 6610

Alagoas Jerinpancoacute Karapotoacute Kariri-Xocoacute Tingui-Botoacute Wassuacute Xucuruacute-Kaririacute 4917

Amapaacute Galibiacute Marworno Karipuacutena Palikur Waiatildepi Galibiacute (Guiana Francesa) 5095

Amazonas Banavaacute-Jafiacute Caixana Corvana Deniacute Diahoacutei

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 3: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

I

a construccedilatildeo do Estado Nacional foi levada adiante pela forccedila da persuasatildeo ou pela forccedila da guerra contra as populaccedilotildees indiacutegenas O Estado Nacional foi levado a demarcar novas fronteiras incorporando novos territoacuterios indiacutegenas para a expansatildeo das economias agro-exportadoras e se fazendo-se presente nesses territoacuterios A ocupaccedilatildeo de territoacuterios indiacutegenas a modernizaccedilatildeo e as ideacuteias de europeizaccedilatildeo satildeo os vetores que imprimiram de uma forma geral as novas condiccedilotildees das sociedades nacionais no seacuteculo XIX3

Todas as naccedilotildees americanas partiram do pressuposto de que os iacutendios deveriam desaparecer Nenhuma delas reconheceu a autonomia da naccedilotildees indiacutegenas existentes Nos Estados Unidos a ideacuteia de territoacuterios indiacutegenas foi uma farsa e soacute adiou o problema A mesma coisa ocorreu nos pampas argentinos com a campanha de extermiacutenio dos iacutendios levada adiante pelas Forccedilas Armadas Argentinas No geral os poliacuteticos e administradores sempre visavam a eliminaccedilatildeo dos iacutendios Simon Bolivar e San Martin tinham alguma ideacuteia sobre a questatildeo indiacutegena e chegaram a escrevecirc-Ia no entanto elas nunca saiacuteram do papel As constituiccedilotildees dos paiacuteses da Ameacuterica como Boliacutevia Peru etc abolem os iacutendios com decretos transformando todos em camponeses No Brasil ocorre o mesmo com a poliacutetica de emancipaccedilatildeo dos iacutendios Ora emancipaacute-los de que Da sua condiccedilatildeo de iacutendios4

3 Sobre a discussatildeo do Estado Nacional e as populaccedilotildees indiacutegenas no seacuteculo passado ver Carlos de Arauacutejo MOREIRA NETO A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX 1971 Eunice PAIVA amp Carmen JUNQUEIRA O Estado contra o iacutendio 1985 Manuela Carneiro da CUNHA Poliacutetica indigenista no seacuteculo XIX In Histoacuteria dos iacutendios no Brasil 1992 Luacutecio Tadeu MOTA O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p 149-175 1998 Especificamente sobre a atuaccedilatildeo do estado provincial paranaense em relaccedilatildeo as populaccedilotildees indiacutegenas no Paranaacute ver Luacutecio Tadeu MaTA o Accedilo a cruz e a terra iacutendios e brancos no Paranaacute proviacutencia I (1853-1889) 1998 Ainda sobre essa questatildeo no seacuteculo XX ver os trabalhos de Antonio Carlos de Souza UMA principalmente Um grande cerco de paz poder tutelare indianidade no Brasil 1992 e os de Joatildeo Pacheco de OLIVEIRA FILHO com destaque para O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar 1988 Sobre a expansatildeo da sociedade nacional nos territoacuterios indiacutegenas no seacuteculo XX ver Darcy RIBEIRO Os iacutendios e a civilizaccedilatildeo 1970

4 Para maiores detalhes sobre as relaccedilotildees das populaccedilotildees indiacutegenas com os Estados latinoshyamericanos ver Guilhermo Bonfil BATALLA EI pensarniento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico 1979 Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina 1981 Joseacute BENGOA Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia v 38 n 2 p 151-186 1995

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 43

Seja como for o fato eacute que apoacutes 500 anos de tentativas de abolir as populaccedilotildees indiacutegenas elas continuam existindo recriando praacuteticas ancestrais e reivindicando sua sobrevivecircncia como sociedades especiacuteficas Assim numa perspectiva etnoshyhistoriograacutefica nos propomos a analisar como as populaccedilotildees indiacutegenas aparecem no livros didaacuteticos Contribuindo dessa forma com o esforccedilo que hoje se desenvolve no sentido de refinar e detalhar as anaacutelises e interpretaccedilotildees relacionadas com a histoacuteria indiacutegena as relaccedilotildees das populaccedilotildees invasoras com as populaccedilotildees nativas as questotildees relativas ao contato intereacutetnico ocorrido nos seacuteculos de ocupaccedilatildeo do continente americano e as questotildees relacionadas com as representaccedilotildees das populaccedilotildees indiacutegenas existentes nos livros didaacuteticos5

Concordamos com a professora Kaacutetia Abud 6 quando ela afirma que o livro didaacutetico eacute o construtor do conhecimento histoacuterico daqueles cujo saber natildeo vai aleacutem do que lhes foi ensinado pelas escolas lodo professor acaba de uma forma ou de outra tendo o livro didaacutetico como apoio para o seu trabalho E este tem sido um dos canais mais utilizados para a manutenccedilatildeo dos mitos e estereoacutetipos que povoam a histoacuteria o que torna-se preocupante quando se observa que o mesmo tem assumido a funccedilatildeo de informar inclusive ao professor o que acaba reforccedilando as ideacuteias nele contidas e a visatildeo por parte dos alunos do livro como uacutenica fonte digna de confianccedila

Por essa perspectiva o livro didaacutetico se encaixaria no acircmbito do discu rso competente (CHAU iacute 1989) como portador de um saber acabado inquestionaacutevel pronto para ser absorvido Essa postura implica em aversatildeo agrave reflexatildeo em acriticismo o que vale dizer transferir a competecircncia desse processo para outras instacircncias da hierarquia do saber Nessa cadeia o professor se encaixa corno transmissor de conhecimentos e o aluno corno receptor passivo Em uacuteltima anaacutelise significa incutir no aluno posturas de transferir responsabilidades e buscar sempre a

5 Sobre a questatildeo indiacutegena nos livros didaacuteticos de histoacuteria poucos satildeo os trabalhos existentes Entre eles encontra-se uma pesquisa de focirclego realizada por Sonia Irene Silva do Carmo sob o tiacutetulo Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado FEUSP 1991

6 Abud Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

44 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

orientaccedilatildeo de outras instacircncias as competentes para a sua accedilatildeo ou seja uma postura de subserviecircncia

Preocupados com essa constataccedilatildeo que jaacute natildeo se faz nova eacute que nos motivamos a discutir na obra em questatildeo a abordagem dada agrave temaacutetica indiacutegena uma vez que inuacutemeras satildeo as discussotildees a respeito do livro didaacutetico poreacutem a discussatildeo de conteuacutedos especiacuteficos a partir de autores especiacuteficos tambeacutem constitui-se numa necessidade baacutesica principalmente quando esses conteuacutedos tecircm relaccedilatildeo direta com o que se pretende hoje nos discursos e propostas educacionais para a aacuterea de histoacuteria a reflexatildeo em torno de conteuacutedos significativos e pertinentes agrave realidade do aluno

A opccedilatildeo pelo livro TODA A HISTOacuteRIA de ARRUDA e PILETTI natildeo eacute aleatoacuteria Trata-se de um manual didaacutetico que desde sua primeira ediccedilatildeo teve ampla penetraccedilatildeo nos coleacutegios de Maringaacute sobretudo na rede puacuteblica por contemplar os conteuacutedos propostos pelo curriacuteculo oficial do Estado do Paranaacute pelos PCNs (Paracircmetros Curriculares NacionaisMEC) e DCEM (Diretrizes Curriculares para o Ensino Meacutedio (MEC) atendendo soacute no ano de 1998 14212 alunos nas vinte e uma escolas de ensino meacutedio de Maringaacute

A escolha deve-se tambeacutem agrave possibilidade que o livro apresenta de ser utilizado durante os trecircs anos de duraccedilatildeo do curso de ensino meacutedio Por contemplar a histoacuteria numa perspectiva cronoloacutegica desde a preacute-histoacuteria ateacute os dias atuais

A pariir dos anos de 1980 surgiram muitos trabalhos sobre o ensino de histoacuteria e sobre o livro didaacutetico Entre os muitos que prestaram relevantes contribuiccedilotildees sistematizando preocupaccedilotildees dos profissionais da aacuterea ver Conceiccedilatildeo CABRINI e outras O ensino de histoacuteria - revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984 Marcos A da SILVA Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro Marco Zero 1984 Histoacuteria em quadro negro escola ensino e aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9n19 Satildeo Paulo Anpuh Marco Zero set89fev90 Selva Guimaratildees FONSECA Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995 Elza Nadai O ensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162Joseacute Alberto BALDISSERA O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 Astor Antonio DIEHL (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999 Circe BITIENCOURT (org) O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997 Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993 ANAIS dos Encontros Perspectivas do Ensino de Histoacuteria 1988 e 1896 Satildeo Paulo FEUSP

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 45

46

inserindo-se nela a histoacuteria do Brasil satisfaz as necessidades do que estaacute previsto para ser ensinado a essa clientela

Toda a Histoacuteria e as populaccedilotildees indiacutegenas

No capiacutetulo dois de Toda a Histoacuteria os autores abordam questotildees relativas a origem do homem no continente americano Colocam as teorias mais aceitas sobre a humanizaccedilatildeo do continente as migraccedilotildees vindas da Aacutesia atraveacutes do estreito de Behring ou atraveacutes do oceano Paciacutefico desde a Polineacutesia Sobre a idade do aparecimento do homem na Ameacuterica acompanham a discussatildeo arqueoloacutegica com um mapa sobre os siacutetios (paacutegina XXX do Atlas Histoacuterico que acompanha o livro) e as dataccedilotildees mais recentes sobre os mesmos Ainda sobre os siacutetios arqueoloacutegicos no Brasil apenas destacam os sambaquis no litoral os siacutetios liacuteticos ceracircmicos e rupestres no interior Em duas paacuteginas e meia os autores abordam a complexa e rica histoacuteria do surgimento do homem na Ameacuterica natildeo se preocupando em oferecer aos estudantes um panorama das culturas identificadas pelos estudos arqueoloacutegicos

Muitas paacuteginas depois no capiacutetulo quarenta voltam a tratar dos povos preacute-colombianos existentes na Ameacuterica Destacam nesse capiacutetulo os Maias e os Astecas No capiacutetulo seguinte os Incas e no capiacutetulo quarenta e dois apresentam os povos preacuteshycolombianos existentes no Brasil Acertam no criteacuterio de utilizar a linguumliacutestica para classificar as populaccedilotildees indiacutegenas existentes no Brasil mas iniciam uma seacuterie de informaccedilotildees desencontradas Por exemplo indicam que os especialistas jaacute analisaram mais de cem liacutenguas faladas no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995 125) quando sabemos que hoje no Brasil satildeo faladas mais de 170 liacutenguas sem contabilizarmos as extintas ao longo do processo de conquista desde 1500 Existe uma grande diferenccedila entre mais de 100 I iacutenguas e mais de 170 Em seguida os autores Arruda e Piletti afirmam existir trecircs troncos principais Tupi (oito famiacutelias e vinte e seis liacutenguas) Macro-Jecirc (cinco famiacutelias e dezesseis liacutenguas) e Aruake (duas famflias e treze liacutenguas) Greg URBAN (199290) diz existir no Brasil quatro grandes grupos linguumliacutesticos

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999

com numerosos membros espalhados por vastas aacutereas Arawak Karib Tupi e Jecirc ( ) Existem ainda vaacuterios grupos linguumliacutesticos menores com menor nuacutemero de liacutenguas e distribuiccedilatildeo mais compacta no mapa ( ) Aleacutem disso haacute liacutenguas isoladas desligadas de famiacutelias Ruth M F MONTSERRAT (199495) tambeacutem afirma serem Quatro os grupos maiores de liacutenguas no Brasil com distribuiccedilatildeo geograacutefica extensa e com vaacuterios membros Tupi Macro-Jecirc Aruak e Karib Haacute depois famiacutelias menores ( ) E finalmente haacute as chamadas liacutenguas isoladas que natildeo revelam parentesco com nenhuma das outras Temos portanto por um lado o livro didaacutetico afirmando existir trecircs troncos principais de liacutenguas Tupi Macro-Jecirc e Aruak natildeo fazendo menccedilatildeo para nenhum grupo linguumliacutestico menor e liacutenguas isoladas e por outro Urban e Montserrat afirmando serem quatro os principais grupos linguumliacutesticos Aleacutem dos jaacute citados eles acrescentam o Karib e discorrem sobre os grupos menores e as liacutenguas isoladas

A demografia dos povos indiacutegenas

Com relaccedilatildeo agraves questotildees demograacuteficas os autores afirmam que na eacutepoca da chegada dos portugueses em 1500 havia de 2 a 3 milhotildees de iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995125) Numa estimativa modesta a FUNAI no seu site de divulgaccedilatildeo calcula em quatro milhotildees e meio o nuacutemero de iacutendios no Brasil em 15008 Essa estimativa eacute extremamente modesta se compararmos com outros caacutelculos Pierre Clastres calcula em um milhatildeo e meio apenas a populaccedilatildeo Guarani e as fontes espanholas do seacuteculo XVI e jesuiacuteticas do seacuteculo XVII tambeacutem fizeram estimativas de 200 mil a um milhatildeo de Guaranis9

O livro Toda a Histoacuteria na sua terceira ediccedilatildeo publicada em 1995 apresenta uma populaccedilatildeo de 230 mil iacutendios no Brasil dividida por regiotildees Utiliza de dados publicados haacute quinze anos atraacutes pelo Conselho Indigenista Missionaacuterio (CIMI) em 1980

8 FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil httpwwwfunaLgovbrindios6htm 1998 9 Para maiores detalhes sobre essa questatildeo ver John Manuel MONTEIRO Os Guaranis e

a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 47

48

quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da proacutepria FUNAI publicados no mesmo ano da ediccedilatildeo do livro onde a agecircncia governamental detalha a populaccedilatildeo indiacutegena por estado da federaccedilatildeo totalizando 325652 iacutendios Quase cem mil iacutendios a mais que os dados do CIMI de 1980 O apontado acima revela a superficialidade dos autores na abordagem da questatildeo ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais refinado e cuidadoso com as populaccedilotildees indiacutegenas

Ainda no capiacutetulo quarenta e dois satildeo referidas onze tribos indiacutegenas Tupis Bororo Nambiquara Xoclengue Tupinambaacute Craocirc Carajaacute e Uauraacute Timbira Yanomami Terena Com exceccedilatildeo dos Timbiras localizados entre o sul do Maranhatildeo e norte de Goiaacutes todos os outros aparecem sem referecircncia e localizaccedilatildeo no texto Se nos remetermos aos mapas das paacuteginas XIX e XXX de Toda a Histoacuteria veremos que das tribos citadas apenas estatildeo localizados trecircs tribos Bororo no Mato Grosso Yanomami em Roraima e Terena no Mato Grosso do Sul

Ora se o livro didaacutetico constitui-se para a maioria dos alunos na uacutenica referecircncia que teratildeo sobre o assunto porque negar o acesso a maiores e melhores informaccedilotildees que sejam capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes a distribuiccedilatildeo delas pelo territoacuterio nacional e a diversidade cultural que apresentam

Com relaccedilatildeo a demografia indiacutegena e sua distribuiccedilatildeo no territoacuterio nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995

Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje

Estado Sociedades Indiacutegenas Populaccedilatilde

Acre Araacutera Asheninka Huniquim Kalukina do Acre Maniteneacuteri Maxineri Poyanaacutewa Yaminawaacute Yawanaacutewa Makuraacutep Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColombia) Amawaacuteka (Peru) Kaxinawaacute (Peru) 6610

Alagoas Jerinpancoacute Karapotoacute Kariri-Xocoacute Tingui-Botoacute Wassuacute Xucuruacute-Kaririacute 4917

Amapaacute Galibiacute Marworno Karipuacutena Palikur Waiatildepi Galibiacute (Guiana Francesa) 5095

Amazonas Banavaacute-Jafiacute Caixana Corvana Deniacute Diahoacutei

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 4: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

Seja como for o fato eacute que apoacutes 500 anos de tentativas de abolir as populaccedilotildees indiacutegenas elas continuam existindo recriando praacuteticas ancestrais e reivindicando sua sobrevivecircncia como sociedades especiacuteficas Assim numa perspectiva etnoshyhistoriograacutefica nos propomos a analisar como as populaccedilotildees indiacutegenas aparecem no livros didaacuteticos Contribuindo dessa forma com o esforccedilo que hoje se desenvolve no sentido de refinar e detalhar as anaacutelises e interpretaccedilotildees relacionadas com a histoacuteria indiacutegena as relaccedilotildees das populaccedilotildees invasoras com as populaccedilotildees nativas as questotildees relativas ao contato intereacutetnico ocorrido nos seacuteculos de ocupaccedilatildeo do continente americano e as questotildees relacionadas com as representaccedilotildees das populaccedilotildees indiacutegenas existentes nos livros didaacuteticos5

Concordamos com a professora Kaacutetia Abud 6 quando ela afirma que o livro didaacutetico eacute o construtor do conhecimento histoacuterico daqueles cujo saber natildeo vai aleacutem do que lhes foi ensinado pelas escolas lodo professor acaba de uma forma ou de outra tendo o livro didaacutetico como apoio para o seu trabalho E este tem sido um dos canais mais utilizados para a manutenccedilatildeo dos mitos e estereoacutetipos que povoam a histoacuteria o que torna-se preocupante quando se observa que o mesmo tem assumido a funccedilatildeo de informar inclusive ao professor o que acaba reforccedilando as ideacuteias nele contidas e a visatildeo por parte dos alunos do livro como uacutenica fonte digna de confianccedila

Por essa perspectiva o livro didaacutetico se encaixaria no acircmbito do discu rso competente (CHAU iacute 1989) como portador de um saber acabado inquestionaacutevel pronto para ser absorvido Essa postura implica em aversatildeo agrave reflexatildeo em acriticismo o que vale dizer transferir a competecircncia desse processo para outras instacircncias da hierarquia do saber Nessa cadeia o professor se encaixa corno transmissor de conhecimentos e o aluno corno receptor passivo Em uacuteltima anaacutelise significa incutir no aluno posturas de transferir responsabilidades e buscar sempre a

5 Sobre a questatildeo indiacutegena nos livros didaacuteticos de histoacuteria poucos satildeo os trabalhos existentes Entre eles encontra-se uma pesquisa de focirclego realizada por Sonia Irene Silva do Carmo sob o tiacutetulo Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado FEUSP 1991

6 Abud Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

44 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

orientaccedilatildeo de outras instacircncias as competentes para a sua accedilatildeo ou seja uma postura de subserviecircncia

Preocupados com essa constataccedilatildeo que jaacute natildeo se faz nova eacute que nos motivamos a discutir na obra em questatildeo a abordagem dada agrave temaacutetica indiacutegena uma vez que inuacutemeras satildeo as discussotildees a respeito do livro didaacutetico poreacutem a discussatildeo de conteuacutedos especiacuteficos a partir de autores especiacuteficos tambeacutem constitui-se numa necessidade baacutesica principalmente quando esses conteuacutedos tecircm relaccedilatildeo direta com o que se pretende hoje nos discursos e propostas educacionais para a aacuterea de histoacuteria a reflexatildeo em torno de conteuacutedos significativos e pertinentes agrave realidade do aluno

A opccedilatildeo pelo livro TODA A HISTOacuteRIA de ARRUDA e PILETTI natildeo eacute aleatoacuteria Trata-se de um manual didaacutetico que desde sua primeira ediccedilatildeo teve ampla penetraccedilatildeo nos coleacutegios de Maringaacute sobretudo na rede puacuteblica por contemplar os conteuacutedos propostos pelo curriacuteculo oficial do Estado do Paranaacute pelos PCNs (Paracircmetros Curriculares NacionaisMEC) e DCEM (Diretrizes Curriculares para o Ensino Meacutedio (MEC) atendendo soacute no ano de 1998 14212 alunos nas vinte e uma escolas de ensino meacutedio de Maringaacute

A escolha deve-se tambeacutem agrave possibilidade que o livro apresenta de ser utilizado durante os trecircs anos de duraccedilatildeo do curso de ensino meacutedio Por contemplar a histoacuteria numa perspectiva cronoloacutegica desde a preacute-histoacuteria ateacute os dias atuais

A pariir dos anos de 1980 surgiram muitos trabalhos sobre o ensino de histoacuteria e sobre o livro didaacutetico Entre os muitos que prestaram relevantes contribuiccedilotildees sistematizando preocupaccedilotildees dos profissionais da aacuterea ver Conceiccedilatildeo CABRINI e outras O ensino de histoacuteria - revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984 Marcos A da SILVA Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro Marco Zero 1984 Histoacuteria em quadro negro escola ensino e aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9n19 Satildeo Paulo Anpuh Marco Zero set89fev90 Selva Guimaratildees FONSECA Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995 Elza Nadai O ensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162Joseacute Alberto BALDISSERA O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 Astor Antonio DIEHL (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999 Circe BITIENCOURT (org) O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997 Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993 ANAIS dos Encontros Perspectivas do Ensino de Histoacuteria 1988 e 1896 Satildeo Paulo FEUSP

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 45

46

inserindo-se nela a histoacuteria do Brasil satisfaz as necessidades do que estaacute previsto para ser ensinado a essa clientela

Toda a Histoacuteria e as populaccedilotildees indiacutegenas

No capiacutetulo dois de Toda a Histoacuteria os autores abordam questotildees relativas a origem do homem no continente americano Colocam as teorias mais aceitas sobre a humanizaccedilatildeo do continente as migraccedilotildees vindas da Aacutesia atraveacutes do estreito de Behring ou atraveacutes do oceano Paciacutefico desde a Polineacutesia Sobre a idade do aparecimento do homem na Ameacuterica acompanham a discussatildeo arqueoloacutegica com um mapa sobre os siacutetios (paacutegina XXX do Atlas Histoacuterico que acompanha o livro) e as dataccedilotildees mais recentes sobre os mesmos Ainda sobre os siacutetios arqueoloacutegicos no Brasil apenas destacam os sambaquis no litoral os siacutetios liacuteticos ceracircmicos e rupestres no interior Em duas paacuteginas e meia os autores abordam a complexa e rica histoacuteria do surgimento do homem na Ameacuterica natildeo se preocupando em oferecer aos estudantes um panorama das culturas identificadas pelos estudos arqueoloacutegicos

Muitas paacuteginas depois no capiacutetulo quarenta voltam a tratar dos povos preacute-colombianos existentes na Ameacuterica Destacam nesse capiacutetulo os Maias e os Astecas No capiacutetulo seguinte os Incas e no capiacutetulo quarenta e dois apresentam os povos preacuteshycolombianos existentes no Brasil Acertam no criteacuterio de utilizar a linguumliacutestica para classificar as populaccedilotildees indiacutegenas existentes no Brasil mas iniciam uma seacuterie de informaccedilotildees desencontradas Por exemplo indicam que os especialistas jaacute analisaram mais de cem liacutenguas faladas no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995 125) quando sabemos que hoje no Brasil satildeo faladas mais de 170 liacutenguas sem contabilizarmos as extintas ao longo do processo de conquista desde 1500 Existe uma grande diferenccedila entre mais de 100 I iacutenguas e mais de 170 Em seguida os autores Arruda e Piletti afirmam existir trecircs troncos principais Tupi (oito famiacutelias e vinte e seis liacutenguas) Macro-Jecirc (cinco famiacutelias e dezesseis liacutenguas) e Aruake (duas famflias e treze liacutenguas) Greg URBAN (199290) diz existir no Brasil quatro grandes grupos linguumliacutesticos

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999

com numerosos membros espalhados por vastas aacutereas Arawak Karib Tupi e Jecirc ( ) Existem ainda vaacuterios grupos linguumliacutesticos menores com menor nuacutemero de liacutenguas e distribuiccedilatildeo mais compacta no mapa ( ) Aleacutem disso haacute liacutenguas isoladas desligadas de famiacutelias Ruth M F MONTSERRAT (199495) tambeacutem afirma serem Quatro os grupos maiores de liacutenguas no Brasil com distribuiccedilatildeo geograacutefica extensa e com vaacuterios membros Tupi Macro-Jecirc Aruak e Karib Haacute depois famiacutelias menores ( ) E finalmente haacute as chamadas liacutenguas isoladas que natildeo revelam parentesco com nenhuma das outras Temos portanto por um lado o livro didaacutetico afirmando existir trecircs troncos principais de liacutenguas Tupi Macro-Jecirc e Aruak natildeo fazendo menccedilatildeo para nenhum grupo linguumliacutestico menor e liacutenguas isoladas e por outro Urban e Montserrat afirmando serem quatro os principais grupos linguumliacutesticos Aleacutem dos jaacute citados eles acrescentam o Karib e discorrem sobre os grupos menores e as liacutenguas isoladas

A demografia dos povos indiacutegenas

Com relaccedilatildeo agraves questotildees demograacuteficas os autores afirmam que na eacutepoca da chegada dos portugueses em 1500 havia de 2 a 3 milhotildees de iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995125) Numa estimativa modesta a FUNAI no seu site de divulgaccedilatildeo calcula em quatro milhotildees e meio o nuacutemero de iacutendios no Brasil em 15008 Essa estimativa eacute extremamente modesta se compararmos com outros caacutelculos Pierre Clastres calcula em um milhatildeo e meio apenas a populaccedilatildeo Guarani e as fontes espanholas do seacuteculo XVI e jesuiacuteticas do seacuteculo XVII tambeacutem fizeram estimativas de 200 mil a um milhatildeo de Guaranis9

O livro Toda a Histoacuteria na sua terceira ediccedilatildeo publicada em 1995 apresenta uma populaccedilatildeo de 230 mil iacutendios no Brasil dividida por regiotildees Utiliza de dados publicados haacute quinze anos atraacutes pelo Conselho Indigenista Missionaacuterio (CIMI) em 1980

8 FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil httpwwwfunaLgovbrindios6htm 1998 9 Para maiores detalhes sobre essa questatildeo ver John Manuel MONTEIRO Os Guaranis e

a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 47

48

quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da proacutepria FUNAI publicados no mesmo ano da ediccedilatildeo do livro onde a agecircncia governamental detalha a populaccedilatildeo indiacutegena por estado da federaccedilatildeo totalizando 325652 iacutendios Quase cem mil iacutendios a mais que os dados do CIMI de 1980 O apontado acima revela a superficialidade dos autores na abordagem da questatildeo ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais refinado e cuidadoso com as populaccedilotildees indiacutegenas

Ainda no capiacutetulo quarenta e dois satildeo referidas onze tribos indiacutegenas Tupis Bororo Nambiquara Xoclengue Tupinambaacute Craocirc Carajaacute e Uauraacute Timbira Yanomami Terena Com exceccedilatildeo dos Timbiras localizados entre o sul do Maranhatildeo e norte de Goiaacutes todos os outros aparecem sem referecircncia e localizaccedilatildeo no texto Se nos remetermos aos mapas das paacuteginas XIX e XXX de Toda a Histoacuteria veremos que das tribos citadas apenas estatildeo localizados trecircs tribos Bororo no Mato Grosso Yanomami em Roraima e Terena no Mato Grosso do Sul

Ora se o livro didaacutetico constitui-se para a maioria dos alunos na uacutenica referecircncia que teratildeo sobre o assunto porque negar o acesso a maiores e melhores informaccedilotildees que sejam capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes a distribuiccedilatildeo delas pelo territoacuterio nacional e a diversidade cultural que apresentam

Com relaccedilatildeo a demografia indiacutegena e sua distribuiccedilatildeo no territoacuterio nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995

Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje

Estado Sociedades Indiacutegenas Populaccedilatilde

Acre Araacutera Asheninka Huniquim Kalukina do Acre Maniteneacuteri Maxineri Poyanaacutewa Yaminawaacute Yawanaacutewa Makuraacutep Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColombia) Amawaacuteka (Peru) Kaxinawaacute (Peru) 6610

Alagoas Jerinpancoacute Karapotoacute Kariri-Xocoacute Tingui-Botoacute Wassuacute Xucuruacute-Kaririacute 4917

Amapaacute Galibiacute Marworno Karipuacutena Palikur Waiatildepi Galibiacute (Guiana Francesa) 5095

Amazonas Banavaacute-Jafiacute Caixana Corvana Deniacute Diahoacutei

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 5: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

I

orientaccedilatildeo de outras instacircncias as competentes para a sua accedilatildeo ou seja uma postura de subserviecircncia

Preocupados com essa constataccedilatildeo que jaacute natildeo se faz nova eacute que nos motivamos a discutir na obra em questatildeo a abordagem dada agrave temaacutetica indiacutegena uma vez que inuacutemeras satildeo as discussotildees a respeito do livro didaacutetico poreacutem a discussatildeo de conteuacutedos especiacuteficos a partir de autores especiacuteficos tambeacutem constitui-se numa necessidade baacutesica principalmente quando esses conteuacutedos tecircm relaccedilatildeo direta com o que se pretende hoje nos discursos e propostas educacionais para a aacuterea de histoacuteria a reflexatildeo em torno de conteuacutedos significativos e pertinentes agrave realidade do aluno

A opccedilatildeo pelo livro TODA A HISTOacuteRIA de ARRUDA e PILETTI natildeo eacute aleatoacuteria Trata-se de um manual didaacutetico que desde sua primeira ediccedilatildeo teve ampla penetraccedilatildeo nos coleacutegios de Maringaacute sobretudo na rede puacuteblica por contemplar os conteuacutedos propostos pelo curriacuteculo oficial do Estado do Paranaacute pelos PCNs (Paracircmetros Curriculares NacionaisMEC) e DCEM (Diretrizes Curriculares para o Ensino Meacutedio (MEC) atendendo soacute no ano de 1998 14212 alunos nas vinte e uma escolas de ensino meacutedio de Maringaacute

A escolha deve-se tambeacutem agrave possibilidade que o livro apresenta de ser utilizado durante os trecircs anos de duraccedilatildeo do curso de ensino meacutedio Por contemplar a histoacuteria numa perspectiva cronoloacutegica desde a preacute-histoacuteria ateacute os dias atuais

A pariir dos anos de 1980 surgiram muitos trabalhos sobre o ensino de histoacuteria e sobre o livro didaacutetico Entre os muitos que prestaram relevantes contribuiccedilotildees sistematizando preocupaccedilotildees dos profissionais da aacuterea ver Conceiccedilatildeo CABRINI e outras O ensino de histoacuteria - revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984 Marcos A da SILVA Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro Marco Zero 1984 Histoacuteria em quadro negro escola ensino e aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9n19 Satildeo Paulo Anpuh Marco Zero set89fev90 Selva Guimaratildees FONSECA Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995 Elza Nadai O ensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162Joseacute Alberto BALDISSERA O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 Astor Antonio DIEHL (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999 Circe BITIENCOURT (org) O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997 Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993 ANAIS dos Encontros Perspectivas do Ensino de Histoacuteria 1988 e 1896 Satildeo Paulo FEUSP

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 45

46

inserindo-se nela a histoacuteria do Brasil satisfaz as necessidades do que estaacute previsto para ser ensinado a essa clientela

Toda a Histoacuteria e as populaccedilotildees indiacutegenas

No capiacutetulo dois de Toda a Histoacuteria os autores abordam questotildees relativas a origem do homem no continente americano Colocam as teorias mais aceitas sobre a humanizaccedilatildeo do continente as migraccedilotildees vindas da Aacutesia atraveacutes do estreito de Behring ou atraveacutes do oceano Paciacutefico desde a Polineacutesia Sobre a idade do aparecimento do homem na Ameacuterica acompanham a discussatildeo arqueoloacutegica com um mapa sobre os siacutetios (paacutegina XXX do Atlas Histoacuterico que acompanha o livro) e as dataccedilotildees mais recentes sobre os mesmos Ainda sobre os siacutetios arqueoloacutegicos no Brasil apenas destacam os sambaquis no litoral os siacutetios liacuteticos ceracircmicos e rupestres no interior Em duas paacuteginas e meia os autores abordam a complexa e rica histoacuteria do surgimento do homem na Ameacuterica natildeo se preocupando em oferecer aos estudantes um panorama das culturas identificadas pelos estudos arqueoloacutegicos

Muitas paacuteginas depois no capiacutetulo quarenta voltam a tratar dos povos preacute-colombianos existentes na Ameacuterica Destacam nesse capiacutetulo os Maias e os Astecas No capiacutetulo seguinte os Incas e no capiacutetulo quarenta e dois apresentam os povos preacuteshycolombianos existentes no Brasil Acertam no criteacuterio de utilizar a linguumliacutestica para classificar as populaccedilotildees indiacutegenas existentes no Brasil mas iniciam uma seacuterie de informaccedilotildees desencontradas Por exemplo indicam que os especialistas jaacute analisaram mais de cem liacutenguas faladas no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995 125) quando sabemos que hoje no Brasil satildeo faladas mais de 170 liacutenguas sem contabilizarmos as extintas ao longo do processo de conquista desde 1500 Existe uma grande diferenccedila entre mais de 100 I iacutenguas e mais de 170 Em seguida os autores Arruda e Piletti afirmam existir trecircs troncos principais Tupi (oito famiacutelias e vinte e seis liacutenguas) Macro-Jecirc (cinco famiacutelias e dezesseis liacutenguas) e Aruake (duas famflias e treze liacutenguas) Greg URBAN (199290) diz existir no Brasil quatro grandes grupos linguumliacutesticos

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999

com numerosos membros espalhados por vastas aacutereas Arawak Karib Tupi e Jecirc ( ) Existem ainda vaacuterios grupos linguumliacutesticos menores com menor nuacutemero de liacutenguas e distribuiccedilatildeo mais compacta no mapa ( ) Aleacutem disso haacute liacutenguas isoladas desligadas de famiacutelias Ruth M F MONTSERRAT (199495) tambeacutem afirma serem Quatro os grupos maiores de liacutenguas no Brasil com distribuiccedilatildeo geograacutefica extensa e com vaacuterios membros Tupi Macro-Jecirc Aruak e Karib Haacute depois famiacutelias menores ( ) E finalmente haacute as chamadas liacutenguas isoladas que natildeo revelam parentesco com nenhuma das outras Temos portanto por um lado o livro didaacutetico afirmando existir trecircs troncos principais de liacutenguas Tupi Macro-Jecirc e Aruak natildeo fazendo menccedilatildeo para nenhum grupo linguumliacutestico menor e liacutenguas isoladas e por outro Urban e Montserrat afirmando serem quatro os principais grupos linguumliacutesticos Aleacutem dos jaacute citados eles acrescentam o Karib e discorrem sobre os grupos menores e as liacutenguas isoladas

A demografia dos povos indiacutegenas

Com relaccedilatildeo agraves questotildees demograacuteficas os autores afirmam que na eacutepoca da chegada dos portugueses em 1500 havia de 2 a 3 milhotildees de iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995125) Numa estimativa modesta a FUNAI no seu site de divulgaccedilatildeo calcula em quatro milhotildees e meio o nuacutemero de iacutendios no Brasil em 15008 Essa estimativa eacute extremamente modesta se compararmos com outros caacutelculos Pierre Clastres calcula em um milhatildeo e meio apenas a populaccedilatildeo Guarani e as fontes espanholas do seacuteculo XVI e jesuiacuteticas do seacuteculo XVII tambeacutem fizeram estimativas de 200 mil a um milhatildeo de Guaranis9

O livro Toda a Histoacuteria na sua terceira ediccedilatildeo publicada em 1995 apresenta uma populaccedilatildeo de 230 mil iacutendios no Brasil dividida por regiotildees Utiliza de dados publicados haacute quinze anos atraacutes pelo Conselho Indigenista Missionaacuterio (CIMI) em 1980

8 FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil httpwwwfunaLgovbrindios6htm 1998 9 Para maiores detalhes sobre essa questatildeo ver John Manuel MONTEIRO Os Guaranis e

a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 47

48

quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da proacutepria FUNAI publicados no mesmo ano da ediccedilatildeo do livro onde a agecircncia governamental detalha a populaccedilatildeo indiacutegena por estado da federaccedilatildeo totalizando 325652 iacutendios Quase cem mil iacutendios a mais que os dados do CIMI de 1980 O apontado acima revela a superficialidade dos autores na abordagem da questatildeo ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais refinado e cuidadoso com as populaccedilotildees indiacutegenas

Ainda no capiacutetulo quarenta e dois satildeo referidas onze tribos indiacutegenas Tupis Bororo Nambiquara Xoclengue Tupinambaacute Craocirc Carajaacute e Uauraacute Timbira Yanomami Terena Com exceccedilatildeo dos Timbiras localizados entre o sul do Maranhatildeo e norte de Goiaacutes todos os outros aparecem sem referecircncia e localizaccedilatildeo no texto Se nos remetermos aos mapas das paacuteginas XIX e XXX de Toda a Histoacuteria veremos que das tribos citadas apenas estatildeo localizados trecircs tribos Bororo no Mato Grosso Yanomami em Roraima e Terena no Mato Grosso do Sul

Ora se o livro didaacutetico constitui-se para a maioria dos alunos na uacutenica referecircncia que teratildeo sobre o assunto porque negar o acesso a maiores e melhores informaccedilotildees que sejam capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes a distribuiccedilatildeo delas pelo territoacuterio nacional e a diversidade cultural que apresentam

Com relaccedilatildeo a demografia indiacutegena e sua distribuiccedilatildeo no territoacuterio nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995

Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje

Estado Sociedades Indiacutegenas Populaccedilatilde

Acre Araacutera Asheninka Huniquim Kalukina do Acre Maniteneacuteri Maxineri Poyanaacutewa Yaminawaacute Yawanaacutewa Makuraacutep Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColombia) Amawaacuteka (Peru) Kaxinawaacute (Peru) 6610

Alagoas Jerinpancoacute Karapotoacute Kariri-Xocoacute Tingui-Botoacute Wassuacute Xucuruacute-Kaririacute 4917

Amapaacute Galibiacute Marworno Karipuacutena Palikur Waiatildepi Galibiacute (Guiana Francesa) 5095

Amazonas Banavaacute-Jafiacute Caixana Corvana Deniacute Diahoacutei

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 6: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

46

inserindo-se nela a histoacuteria do Brasil satisfaz as necessidades do que estaacute previsto para ser ensinado a essa clientela

Toda a Histoacuteria e as populaccedilotildees indiacutegenas

No capiacutetulo dois de Toda a Histoacuteria os autores abordam questotildees relativas a origem do homem no continente americano Colocam as teorias mais aceitas sobre a humanizaccedilatildeo do continente as migraccedilotildees vindas da Aacutesia atraveacutes do estreito de Behring ou atraveacutes do oceano Paciacutefico desde a Polineacutesia Sobre a idade do aparecimento do homem na Ameacuterica acompanham a discussatildeo arqueoloacutegica com um mapa sobre os siacutetios (paacutegina XXX do Atlas Histoacuterico que acompanha o livro) e as dataccedilotildees mais recentes sobre os mesmos Ainda sobre os siacutetios arqueoloacutegicos no Brasil apenas destacam os sambaquis no litoral os siacutetios liacuteticos ceracircmicos e rupestres no interior Em duas paacuteginas e meia os autores abordam a complexa e rica histoacuteria do surgimento do homem na Ameacuterica natildeo se preocupando em oferecer aos estudantes um panorama das culturas identificadas pelos estudos arqueoloacutegicos

Muitas paacuteginas depois no capiacutetulo quarenta voltam a tratar dos povos preacute-colombianos existentes na Ameacuterica Destacam nesse capiacutetulo os Maias e os Astecas No capiacutetulo seguinte os Incas e no capiacutetulo quarenta e dois apresentam os povos preacuteshycolombianos existentes no Brasil Acertam no criteacuterio de utilizar a linguumliacutestica para classificar as populaccedilotildees indiacutegenas existentes no Brasil mas iniciam uma seacuterie de informaccedilotildees desencontradas Por exemplo indicam que os especialistas jaacute analisaram mais de cem liacutenguas faladas no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995 125) quando sabemos que hoje no Brasil satildeo faladas mais de 170 liacutenguas sem contabilizarmos as extintas ao longo do processo de conquista desde 1500 Existe uma grande diferenccedila entre mais de 100 I iacutenguas e mais de 170 Em seguida os autores Arruda e Piletti afirmam existir trecircs troncos principais Tupi (oito famiacutelias e vinte e seis liacutenguas) Macro-Jecirc (cinco famiacutelias e dezesseis liacutenguas) e Aruake (duas famflias e treze liacutenguas) Greg URBAN (199290) diz existir no Brasil quatro grandes grupos linguumliacutesticos

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999

com numerosos membros espalhados por vastas aacutereas Arawak Karib Tupi e Jecirc ( ) Existem ainda vaacuterios grupos linguumliacutesticos menores com menor nuacutemero de liacutenguas e distribuiccedilatildeo mais compacta no mapa ( ) Aleacutem disso haacute liacutenguas isoladas desligadas de famiacutelias Ruth M F MONTSERRAT (199495) tambeacutem afirma serem Quatro os grupos maiores de liacutenguas no Brasil com distribuiccedilatildeo geograacutefica extensa e com vaacuterios membros Tupi Macro-Jecirc Aruak e Karib Haacute depois famiacutelias menores ( ) E finalmente haacute as chamadas liacutenguas isoladas que natildeo revelam parentesco com nenhuma das outras Temos portanto por um lado o livro didaacutetico afirmando existir trecircs troncos principais de liacutenguas Tupi Macro-Jecirc e Aruak natildeo fazendo menccedilatildeo para nenhum grupo linguumliacutestico menor e liacutenguas isoladas e por outro Urban e Montserrat afirmando serem quatro os principais grupos linguumliacutesticos Aleacutem dos jaacute citados eles acrescentam o Karib e discorrem sobre os grupos menores e as liacutenguas isoladas

A demografia dos povos indiacutegenas

Com relaccedilatildeo agraves questotildees demograacuteficas os autores afirmam que na eacutepoca da chegada dos portugueses em 1500 havia de 2 a 3 milhotildees de iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995125) Numa estimativa modesta a FUNAI no seu site de divulgaccedilatildeo calcula em quatro milhotildees e meio o nuacutemero de iacutendios no Brasil em 15008 Essa estimativa eacute extremamente modesta se compararmos com outros caacutelculos Pierre Clastres calcula em um milhatildeo e meio apenas a populaccedilatildeo Guarani e as fontes espanholas do seacuteculo XVI e jesuiacuteticas do seacuteculo XVII tambeacutem fizeram estimativas de 200 mil a um milhatildeo de Guaranis9

O livro Toda a Histoacuteria na sua terceira ediccedilatildeo publicada em 1995 apresenta uma populaccedilatildeo de 230 mil iacutendios no Brasil dividida por regiotildees Utiliza de dados publicados haacute quinze anos atraacutes pelo Conselho Indigenista Missionaacuterio (CIMI) em 1980

8 FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil httpwwwfunaLgovbrindios6htm 1998 9 Para maiores detalhes sobre essa questatildeo ver John Manuel MONTEIRO Os Guaranis e

a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 47

48

quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da proacutepria FUNAI publicados no mesmo ano da ediccedilatildeo do livro onde a agecircncia governamental detalha a populaccedilatildeo indiacutegena por estado da federaccedilatildeo totalizando 325652 iacutendios Quase cem mil iacutendios a mais que os dados do CIMI de 1980 O apontado acima revela a superficialidade dos autores na abordagem da questatildeo ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais refinado e cuidadoso com as populaccedilotildees indiacutegenas

Ainda no capiacutetulo quarenta e dois satildeo referidas onze tribos indiacutegenas Tupis Bororo Nambiquara Xoclengue Tupinambaacute Craocirc Carajaacute e Uauraacute Timbira Yanomami Terena Com exceccedilatildeo dos Timbiras localizados entre o sul do Maranhatildeo e norte de Goiaacutes todos os outros aparecem sem referecircncia e localizaccedilatildeo no texto Se nos remetermos aos mapas das paacuteginas XIX e XXX de Toda a Histoacuteria veremos que das tribos citadas apenas estatildeo localizados trecircs tribos Bororo no Mato Grosso Yanomami em Roraima e Terena no Mato Grosso do Sul

Ora se o livro didaacutetico constitui-se para a maioria dos alunos na uacutenica referecircncia que teratildeo sobre o assunto porque negar o acesso a maiores e melhores informaccedilotildees que sejam capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes a distribuiccedilatildeo delas pelo territoacuterio nacional e a diversidade cultural que apresentam

Com relaccedilatildeo a demografia indiacutegena e sua distribuiccedilatildeo no territoacuterio nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995

Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje

Estado Sociedades Indiacutegenas Populaccedilatilde

Acre Araacutera Asheninka Huniquim Kalukina do Acre Maniteneacuteri Maxineri Poyanaacutewa Yaminawaacute Yawanaacutewa Makuraacutep Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColombia) Amawaacuteka (Peru) Kaxinawaacute (Peru) 6610

Alagoas Jerinpancoacute Karapotoacute Kariri-Xocoacute Tingui-Botoacute Wassuacute Xucuruacute-Kaririacute 4917

Amapaacute Galibiacute Marworno Karipuacutena Palikur Waiatildepi Galibiacute (Guiana Francesa) 5095

Amazonas Banavaacute-Jafiacute Caixana Corvana Deniacute Diahoacutei

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 7: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

com numerosos membros espalhados por vastas aacutereas Arawak Karib Tupi e Jecirc ( ) Existem ainda vaacuterios grupos linguumliacutesticos menores com menor nuacutemero de liacutenguas e distribuiccedilatildeo mais compacta no mapa ( ) Aleacutem disso haacute liacutenguas isoladas desligadas de famiacutelias Ruth M F MONTSERRAT (199495) tambeacutem afirma serem Quatro os grupos maiores de liacutenguas no Brasil com distribuiccedilatildeo geograacutefica extensa e com vaacuterios membros Tupi Macro-Jecirc Aruak e Karib Haacute depois famiacutelias menores ( ) E finalmente haacute as chamadas liacutenguas isoladas que natildeo revelam parentesco com nenhuma das outras Temos portanto por um lado o livro didaacutetico afirmando existir trecircs troncos principais de liacutenguas Tupi Macro-Jecirc e Aruak natildeo fazendo menccedilatildeo para nenhum grupo linguumliacutestico menor e liacutenguas isoladas e por outro Urban e Montserrat afirmando serem quatro os principais grupos linguumliacutesticos Aleacutem dos jaacute citados eles acrescentam o Karib e discorrem sobre os grupos menores e as liacutenguas isoladas

A demografia dos povos indiacutegenas

Com relaccedilatildeo agraves questotildees demograacuteficas os autores afirmam que na eacutepoca da chegada dos portugueses em 1500 havia de 2 a 3 milhotildees de iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETTI 1995125) Numa estimativa modesta a FUNAI no seu site de divulgaccedilatildeo calcula em quatro milhotildees e meio o nuacutemero de iacutendios no Brasil em 15008 Essa estimativa eacute extremamente modesta se compararmos com outros caacutelculos Pierre Clastres calcula em um milhatildeo e meio apenas a populaccedilatildeo Guarani e as fontes espanholas do seacuteculo XVI e jesuiacuteticas do seacuteculo XVII tambeacutem fizeram estimativas de 200 mil a um milhatildeo de Guaranis9

O livro Toda a Histoacuteria na sua terceira ediccedilatildeo publicada em 1995 apresenta uma populaccedilatildeo de 230 mil iacutendios no Brasil dividida por regiotildees Utiliza de dados publicados haacute quinze anos atraacutes pelo Conselho Indigenista Missionaacuterio (CIMI) em 1980

8 FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil httpwwwfunaLgovbrindios6htm 1998 9 Para maiores detalhes sobre essa questatildeo ver John Manuel MONTEIRO Os Guaranis e

a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 47

48

quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da proacutepria FUNAI publicados no mesmo ano da ediccedilatildeo do livro onde a agecircncia governamental detalha a populaccedilatildeo indiacutegena por estado da federaccedilatildeo totalizando 325652 iacutendios Quase cem mil iacutendios a mais que os dados do CIMI de 1980 O apontado acima revela a superficialidade dos autores na abordagem da questatildeo ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais refinado e cuidadoso com as populaccedilotildees indiacutegenas

Ainda no capiacutetulo quarenta e dois satildeo referidas onze tribos indiacutegenas Tupis Bororo Nambiquara Xoclengue Tupinambaacute Craocirc Carajaacute e Uauraacute Timbira Yanomami Terena Com exceccedilatildeo dos Timbiras localizados entre o sul do Maranhatildeo e norte de Goiaacutes todos os outros aparecem sem referecircncia e localizaccedilatildeo no texto Se nos remetermos aos mapas das paacuteginas XIX e XXX de Toda a Histoacuteria veremos que das tribos citadas apenas estatildeo localizados trecircs tribos Bororo no Mato Grosso Yanomami em Roraima e Terena no Mato Grosso do Sul

Ora se o livro didaacutetico constitui-se para a maioria dos alunos na uacutenica referecircncia que teratildeo sobre o assunto porque negar o acesso a maiores e melhores informaccedilotildees que sejam capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes a distribuiccedilatildeo delas pelo territoacuterio nacional e a diversidade cultural que apresentam

Com relaccedilatildeo a demografia indiacutegena e sua distribuiccedilatildeo no territoacuterio nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995

Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje

Estado Sociedades Indiacutegenas Populaccedilatilde

Acre Araacutera Asheninka Huniquim Kalukina do Acre Maniteneacuteri Maxineri Poyanaacutewa Yaminawaacute Yawanaacutewa Makuraacutep Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColombia) Amawaacuteka (Peru) Kaxinawaacute (Peru) 6610

Alagoas Jerinpancoacute Karapotoacute Kariri-Xocoacute Tingui-Botoacute Wassuacute Xucuruacute-Kaririacute 4917

Amapaacute Galibiacute Marworno Karipuacutena Palikur Waiatildepi Galibiacute (Guiana Francesa) 5095

Amazonas Banavaacute-Jafiacute Caixana Corvana Deniacute Diahoacutei

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 8: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

48

quando poderia ter utilizado dados mais atualizados como os da proacutepria FUNAI publicados no mesmo ano da ediccedilatildeo do livro onde a agecircncia governamental detalha a populaccedilatildeo indiacutegena por estado da federaccedilatildeo totalizando 325652 iacutendios Quase cem mil iacutendios a mais que os dados do CIMI de 1980 O apontado acima revela a superficialidade dos autores na abordagem da questatildeo ignorando dados recentes e desprezando um tratamento mais refinado e cuidadoso com as populaccedilotildees indiacutegenas

Ainda no capiacutetulo quarenta e dois satildeo referidas onze tribos indiacutegenas Tupis Bororo Nambiquara Xoclengue Tupinambaacute Craocirc Carajaacute e Uauraacute Timbira Yanomami Terena Com exceccedilatildeo dos Timbiras localizados entre o sul do Maranhatildeo e norte de Goiaacutes todos os outros aparecem sem referecircncia e localizaccedilatildeo no texto Se nos remetermos aos mapas das paacuteginas XIX e XXX de Toda a Histoacuteria veremos que das tribos citadas apenas estatildeo localizados trecircs tribos Bororo no Mato Grosso Yanomami em Roraima e Terena no Mato Grosso do Sul

Ora se o livro didaacutetico constitui-se para a maioria dos alunos na uacutenica referecircncia que teratildeo sobre o assunto porque negar o acesso a maiores e melhores informaccedilotildees que sejam capazes de demonstrar a grande quantidade de tribos existentes a distribuiccedilatildeo delas pelo territoacuterio nacional e a diversidade cultural que apresentam

Com relaccedilatildeo a demografia indiacutegena e sua distribuiccedilatildeo no territoacuterio nacional vejamos os dados da FUNAI de 1995

Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje

Estado Sociedades Indiacutegenas Populaccedilatilde

Acre Araacutera Asheninka Huniquim Kalukina do Acre Maniteneacuteri Maxineri Poyanaacutewa Yaminawaacute Yawanaacutewa Makuraacutep Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColombia) Amawaacuteka (Peru) Kaxinawaacute (Peru) 6610

Alagoas Jerinpancoacute Karapotoacute Kariri-Xocoacute Tingui-Botoacute Wassuacute Xucuruacute-Kaririacute 4917

Amapaacute Galibiacute Marworno Karipuacutena Palikur Waiatildepi Galibiacute (Guiana Francesa) 5095

Amazonas Banavaacute-Jafiacute Caixana Corvana Deniacute Diahoacutei

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 9: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

I

bull

Bahia

Cearaacute

Espiacuterito Santo Goiaacutes Maranhatildeo

Mato Grosso

Mato Grosso do Sul Minas Gerais Paraacute

Paraiacuteba Paranaacute

Pernambuco

Himanma Hixkaryana Isse Jarawara Juma Kambeacuteba Kanamatiacute Kanamari Katawixi Kokaacutema Korubo Maruacutebo Matis Mayoruacutena Miranha Muacutera Muacutera-Pirahatilde Nukuiacuteni Parintintiacuten Paumariacute Satereacute Maweacute Tariacuteana Tenhariacuten Tikuacutena Toraacute Tshom-Djapaacute Tukano Wamiri Yamamadiacute Yabaaacutena Zuruahatilde Maku Warekeacutena (Venezuela) Karafawyaacutena Sakiribar Apurinatilde Katukiacutena Kulina (VenezuelaColocircmbia) Makuacute (Colocircmbia) Baniacutewa (ColocircmbiaVenezuela) Bareacute (Venezuela) Katuena Mawayana Munduruku Xeren Vitotoacute (Peru) Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai Kaxarari Aricobeacute Gereacuten Kaimbeacute Kantarureacute Kiririacute Pankarareacute Pankaru Pataxoacute Pataxoacute ha hatilde hatildee Xucuruacute -Pariri Pankararuacute Tuxaacute Calabassa Jenipapo Kanindeacute Kaririacute Paiaku Pitaguari Tapeba Tabajara Tremenbeacute Tupiniquim Guarani M Biaacute Tapuia Avaacute- Canoeiro Karajaacute Canela Guajaacute Guajajaacutera Kokuiregatejecirc Kreye Krikatiacute Urubu -Kaapor Gaviatildeo Apiakaacute Araacutera do Aripuanatilde Araraacute do Guariba Awetiacute Bakairiacute Bororo Enawenecirc-Nawecirc Iraacutentxe Kalapaacutelo Kamayuraacute Kuikuacutero Matipuacute Mehinaacuteku Ofayeacute Panaraacute Paresiacute Rikbaktsa Suyaacute Tapirapeacute Tapayuna Trumaiacute Txikatildeo Umutiacutena Wauraacute Xavante Yawalapitiacute Kadiweacuteu Juruacutena Kayabiacute Kaypoacute Cinta Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Karajaacute Camba Guatoacute Kadiweacuteu Guarani-Nhandeva Guarani- Kaiwaacute TerenaKaiwaacute Terena Kaxixoacute Krenak Maxakali Xakriabaacute Amanayeacute Anambeacute Apalaiacute Araacutera do Paraacute Araweteacute

89529

8561

4650 1347

142

14271

17329

45259 6200

Rio de Janeiro Guarani-M Biaacute Rio Grande Kaingaacuteng do Sul Rondocircnia Aikanaacute Ajuru Akuntsu Araraacute Arikapuacute Arikeacutem

271 13354

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999 49

Asuriniacute do Trocaraacute Asuriniacute do Koatinemo Kaxuyaacutena Parakanatilde Suruiacute do Paraacute Tiryoacute Turiwaacutera Warikyaacutena Wayacircna Xipaacuteya Zoeacute Tembeacute Karafawyaacutena Katuena Mawayana Munduruku Xeren Juruacutena Kayabiacute Kayapoacute Gaviatildeo Waiwai Karajaacute Kuruaacuteya 15715 Potiguaacutera 6902 Guarani - Nhandeva Guarani M Siaacute Kaingaacuteng Xetaacute 7921 Atikum Fulniocirc Kambiwaacute Kapinawaacute Trukaacute Xukuruacute Pankararuacute Tuxaacute 19950

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 10: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

Arua Awakecirc Gavlao Jabuti Kanoe Kanpuna do Guaporeacute Karitiaacutena Koaia Mekeacutem Pakaaacutenova Paumelenho Tupariacute Uariacute Urueuwauwau Urubu Urupaacute Cinta-Larga Zoroacute Itogapuacutek Nambikwaacutera Suruiacute Sirionoacute (Boliacutevia) Kaxarari Makurap Sakiribar 5573

Roraima Ingarikoacute Makuxiacute Mayongoacuteng Taulipaacuteng Wapixaacutena Atroariacute Yanomaacutemi Waiwai 37025

Santa Catarina XOkleacuteng Guarani-M Biaacute Kaingaacuteng 6667 Satildeo Paulo Guarani- Nhandeva Guarani MBiaacute Kaingaacuteng

Terena 1774 Sergipe Xocoacute 230 Tocantins Apinayeacute Javaeacute Krahocirc Xambioaacute Xerente

Avaacute Canoeiro Karajaacute 6360 Total 325652

08S As sociedades que estatildeo em negrito tambeacutem estatildeo presentes nos paiacuteses indicados nos parecircnteses Dados Populacionais extraiacutedos do censo realizado pela FUNAI em 1995 0

Caracteriacutesticas gerais das populaccedilotildees indiacutegenas

Os autores apresentam algumas caracteriacutesticas gerais dos grupos indiacutegenas brasileiros Mencionam que existem diferenccedilas entre os grupos mas natildeo avanccedilam no sentido de apontar para algumas que sejam capazes de remeter o leitor agraves especificidades e singularidades dos grupos Ao contraacuterio ao tentarem falar dessa diferenccedila acabam reforccedilando a ideacuteia apresentada no paraacutegrafo abaixo

As primeiras notiacutecias sobre os iacutendios brasileiros chegaram agrave Europa no seacuteculo XVI Eram histoacuterias de viajantes naacuteufragos e missionaacuterios que viveram em aldeias litoracircneas entre grupos tupis Os relatos generalizavam os traccedilos culturais e durante muito tempo

0 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje httpwwwfunaigovbrindios8htm 1998 Antropoacutelogos e outros pesquisadores das sociedades indiacutegenas no Brasil acreditam que o nuacutemero de iacutendios hoje seja muito maior que os apresentados pela FUNAI podendo chegar aos 500 mil iacutendios Isso porque existem dificuldades na metodologia de realizaccedilatildeo dos censos como por exemplo como contabilizar os grupos ainda natildeo contatados os iacutendios que estatildeo em tracircnsito ou vivem longe das aacutereas indiacutegenas e mesmo grandes contingentes de iacutendios que vivem em aacutereas urbanas misturados com as populaccedilotildees nacionais

50 Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 out 1999

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 11: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

os iacutendios brasileiros foram considerados todos iguais Hoje sabemos que natildeo formam um grupo homogecircneo apesar disso podemos destacar certas caracteriacutesticas mais gerais (ARRUDA amp PILETTI 1995125)

Nesse caso acenam com a possibilidade da diferenccedila existir mas natildeo fornecem argumentos novos que faccedila o texto diferenciar-se de outros jaacute publicados Como afirma Grupioni (In SILVA 1995489) acabam caindo na redundacircncia e recorrecircncia de informaccedilotildees presentes na maioria dos livros didaacuteticos que soacute informam coisas semelhantes e privilegiam os mesmos aspectos da sociedade tribal

A maneira como os autores se expressam nos leva a concluir que aquela ideacuteia de iacutendio geneacuterico que se tinha na Europa do seacuteculo XVI apontada por eles ainda eacute a que deve ser valorizada como se a generalizaccedilatildeo fosse a forma correta de estudaacute-los (SILVA 1995489) uma vez que os aspectos abordados referem-se apenas a organizaccedilatildeo social baacutesica o modo de garantir a sobrevivecircncia a forma de preparar os terrenos para o plantio a divisatildeo do trabalho entre os sexos a forma de garantir a continuidade da etnia etc

Quando os autores falam da cultura indiacutegena podemos ver a utilizaccedilatildeo de uma nova terminologia para dizer aquilo que convencionou-se haacute muito tempo entender como contribuiccedilatildeo do indiacutegena para a cultura Eles utilizam o termo conhecimentos dos indiacutegenas e apontam alguns mais comuns ( ) astronomia () venenos de pesca ( ) venenos de caccedila ( ) tapiragem ( ) borracha ( ) Os iacutendios dispotildeem ainda de muitos conhecimentos boa parte ligada agrave alimentaccedilatildeo (ARRU DA amp PI LETTI 1994 125shy6) Essa frase confirma que ainda prevalece na historiografia didaacutetica a ideacuteia de uma histoacuteria eurocecircntrica onde o iacutendio junto com o negro desempenha papel de ator coadjuvante (SILVA 1995481-526) numa histoacuteria onde o branco eacute o protagonista

Um outro aspecto bastante questionado pelos pesquisadores da temaacutetica indiacutegena eacute que esta sempre aparece enfocada no passado em funccedilatildeo do colonizador e marcada por eventos E isso se deve ao fato da dificuldade em lidar com a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 OUt 1999 51

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 12: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

52

existecircncia de diferenccedilas eacutetnicas e sociais na sociedade brasileira atuai O livro analisado natildeo foge a esse modelo esquemaacutetico embora traga um item sobre a situaccedilatildeo atual dos iacutendios no Brasil (ARRUDA amp PILETII 1995127) no qual menciona a populaccedilatildeo indiacutegena em termos numeacutericos como jaacute foi dito acima a existecircncia de problemas que satildeo enfrentados por essas populaccedilotildees e as formas de resistecircncias adotadas e nomes de alguns indiacutegenas que satildeo conhecidos nacional e internacionalmente

Essa eacute uma questatildeo importante do texto uma vez que desse item abre-se a possibilidade de problematizar a questatildeo criando-se a oportunidade para a investigaccedilatildeo da situaccedilatildeo dos iacutendios brasileiros hoje que dependendo do encaminhamento que o professor der para a problemaacutetica poderaacute render bons resultados embora ele tenha que recorrer a outros referenciais pois o livro de Arruda e Piletti natildeo contribui com indicaccedilotildees bibliograacuteficas e de outros materiais que possam ser utilizados

No Toda a Histoacuteria que possui quatrocentas e quarenta e oito paacuteginas somando-se o conteuacutedo e o suplemento de mapas os autores vatildeo voltar a falar dos iacutendios nos capiacutetulos quarenta e oito a cinquumlenta e trecircs sendo que o capiacutetulo quarenta e oito trata dos Incas e Astecas

No capiacutetulo quarenta e nove eles tratam da chegada dos portugueses (ARRUDA amp PI LETTI 1995 145) Para desenvolver esse conteuacutedo os autores estabelecem uma relaccedilatildeo com o iniacutecio da idade moderna explicando as modificaccedilotildees poliacuteticas sociais e econocircmicas vividas na Europa para poder situar o contexto que possibilitou o processo de ocupaccedilatildeo e conquista do territoacuterio brasileiro Nesse capiacutetulo aparece uma uacutenica frase que se refere aos iacutendios No dia 23 os portugueses fizeram com os nativos os primeiros contatos muito cordiais segundo o escrivatildeo Pero Vaz de Caminha (ARRUDA amp PILETTI 1995146)

O proacuteximo capiacutetulo de nuacutemero cinquumlenta trata do Brasil os primeiros tempos (1500-1530) cuja introduccedilatildeo eacute a explicaccedilatildeo sobre o mercantilismo No item 2 iacutendios e brancos as diferenccedilas (ARRUDA amp PILETTI 1995 148) colocadas em 30 linhas de uma coluna Nesse trecho os autores referem-se a um diaacutelogo que

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 13: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

--------------------------------------------------------------------------------------- -

I

Jean de Leacutery teve com um Tupinambaacute para explicar as diferenccedilas existentes entre brancos e iacutendios e acabam novamente caindo nas generalizaccedilotildees Colocam ainda uma afirmaccedilatildeo conclusiva mas muito rica e que pode desencadear um bom debate sobre o assunto As diferenccedilas com os brancos estavam em tudo na maneira de se vestir de encarar o trabalho de pensar e de ver o mundo (ARRUDA amp PILETTI1995148)

Na continuidade do capiacutetulo aparece o relacionamento entre iacutendio e branco O iacutendio eacute apresentado apenas como um ser doacutecil que trabalha em troca de quinquilharias natildeo havendo referecircncia alguma a qualquer tipo de resistecircncia empreendida por ele nesses primeiros tempos de ocupaccedilatildeo e exploraccedilatildeo Natildeo haacute qualquer menccedilatildeo a possiacuteveis dificuldades encontradas nos primeiros contatos Ao contraacuterio o trecho sobre os registros de Jean de Leacutery eacute colocado como se ele tivesse conversando com um velho conhecido Natildeo aparece registro no texto sequer sobre uma possiacutevel dificuldade de comunicaccedilatildeo entre o iacutendio e o francecircs e muito menos apontam as populaccedilotildees indiacutegenas como sujeitos que estabelecem negociaccedilotildees com os europeus - mesmo que seja para adquirir as quinquilharias trazidas da Europa

A uacuteltima informaccedilatildeo que os autores datildeo sobre os iacutendios eacute bull o nome pelo qual chamavam o pau-brasil iacutebirapitanga e arabutatilde (ARRUDAamp PILETTI 1995148) que vai servir como contribuiccedilatildeo cultural

No capiacutetulo cinquumlenta e um Brasil iniacutecio da colonizaccedilatildeo (1530-1580) aparece o iacutendio no item sobre como colonizar apontando as dificuldades para esse empreendimento Das alternativas pensadas para se efetivar a exploraccedilatildeo Portugal decide produzir accediluacutecar e entre os meios para isso aparecem no r texto ( ) iacutendios poderiam ser obrigados a trabalhar na lavoura e se natildeo se adaptassem havia os africanos (ARRUDA amp PILETTI 1995150) Aqui acenam com a possibilidade de estranhamento entre iacutendios e brancos Mas a forma como os autores constroacuteem a ideacuteia deixa transparecer a falta de relevacircncia que a questatildeo da escravizaccedilatildeo e da exploraccedilatildeo da matildeo-de-obra indiacutegena tem ficando esta em um plano ilustrativo secundaacuterio

No item seguinte sobre a exploraccedilatildeo do accediluacutecar aparece

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 53

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 14: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

54

o enfoque sobre as formas de resistecircncia do iacutendio e esse passa a ser mostrado sob um aspecto diferente do apontado no capiacutetulo anterior Aqui a ideacuteia lanccedilada eacute a de que o iacutendio jaacute natildeo se contenta mais com as quinquilharias em troca dos seus serviccedilos natildeo tem disciplina para realizar o trabalho nas lavouras de cana-de-accediluacutecar e natildeo possui armas para vencer as batalhas contra os portugueses apesar da superioridade numeacuterica (ARRUDA amp PILETTI 1995151) Fica evidente uma negaccedilatildeo dos traccedilos culturais da populaccedilatildeo indiacutegena como significativos (GRUPIONI In SILVA1995486) Grupioni e Silva reuacutenem na obra citada material que chama a atenccedilatildeo para esse e muitos outros aspectos que provocam a redundacircncia a simplificaccedilatildeo e natildeo a contemporaneidade dos iacutendios Se a ideacuteia central desse capiacutetulo de Toda a Histoacuteria sabemos natildeo eacute a de discorrer sobre a importacircncia que o iacutendio tem na construccedilatildeo da nossa histoacuteria por outro lado natildeo merece esse tratamento indiferente por parte dos autores Eles se omitem no tocante a isso simplificando por demais o processo histoacuterico brasileiro (GRUPIONI In SILVA199515-28) ou seja a interpretaccedilatildeo dada aos fatos restringe-se a uma histoacuteria universal mais ampla de caraacuteter eurocecircntrico onde a histoacuteria do Brasil torna-se um apecircndice

Nos capiacutetulos cinquumlenta e dois e cinquumlenta e trecircs respectivamente Brasil domiacutenio espanhol e as invasotildees estrangeiras (1580-1640) e Brasil a conquista do territoacuterio (1640shy1700) haacute apenas a menccedilatildeo ao indiacutegena enquanto aliado dos estrangeiros (ARRUDA amp PILETTI 1995154) no primeiro e no segundo no item As bandeiras (ARRUDA amp PILETTI 1995158) descrevem sucintamente a relaccedilatildeo de violecircncia das expediccedilotildees bandeirantes contra as reduccedilotildees jesuiacuteticas Aqui termina a participaccedilatildeo dos iacutendios no livro adotado pelas escolas de puacuteblicas de ensino meacutedio de Maringaacute

Atividades propostas para exercitar o conteuacutedo

Uma uacuteltima questatildeo a ser comentada eacute a forma como os autores constroacuteem as propostas de atividades relacionadas aos capiacutetulos Podemos perceber na anaacutelise das questotildees que essas

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 15: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

I

r f

r

tecircm um caraacuteter conclusivo e finalista Satildeo questotildees fechadas cujas respostas podem ser localizadas facilmente no texto sem que o aluno tenha que se submeter a um processo de reflexatildeo e ainda sem que necessite ser criativo ou que precise complementar a resposta a partir de algum outro referencial que possa ser consultado Por exemplo as questotildees do capiacutetulo quarenta e dois O que eacute tribo Descreva alguns dos conhecimentos indiacutegenas quais foram os resultados do contato dos iacutendios com o branco (ARRUDA amp PILETTI 1995127) Essa proposta de exerciacutecio natildeo estimula o aluno para que ele sinta-se seduzido ou desafiado a pensar mais sobre o assunto em questatildeo o que soacute contribui para reforccedilar a ideacuteia que eacute consenso entre os alunos de que a histoacuteria eacute mesmo algo chato e desnecessaacuterio de ser estudado

Consideraccedilotildees Finais

Natildeo somos ingecircnuos a ponto de acreditar que o livro didaacutetico deva corresponder a todos os nossos anseios e necessidades dado o fato de que ele materializa o pensamento e a concepccedilatildeo de histoacuteria de mundo de educaccedilatildeo e de ensino de histoacuteria dos autores que o conceberam ou seja uma leitura possiacutevel

Nesse sentido analisar a abordagem dada agrave questatildeo indiacutegena no livro de ARRUDA amp PILETTI teve sobretudo o objetivo de buscar estabelecer um diaacutelogo entre o que se produz para ser utilizado na sala de aula e a forma como esse produto eacute de fato utilizado

A anaacutelise de Toda a Histoacuteria constitui-se num passo ao nosso ver importante e capaz de nos aproximar da realidade de sala de aula atraveacutes do debate que estamos aqui iniciando Eacute com o professor que estaacute no exerciacutecio do seu ofiacutecio todos os dias que queremos dialogar e contribuir para que o trabalho de desconstruccedilatildeo do texto seja uma etapa que preceda a escolha e o trabalho de preparaccedilatildeo de suas aulas Isso significa que mais do que nos propormos a elencar os problemas e lacunas que o texto em questatildeo apresenta entendemos como necessaacuterio a

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 55

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 16: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

56

continuidade desse trabalho no sentido de criarmos situaccedilotildees que possam possibilitar o contato do professor com referenciais que afirmamos que os autores Arruda e Piletti natildeo fornecem no livro e que os pesquisadores do tema aqui proposto tecircm a oferecer

Abstract Until the seventies it was supposed that the Indians didnt have future nor past its irreversible assimilation was placed to the involve society and its end before the capitalist progress in the border areas Starting from the eighties the situation began to move It is the subjects related with the indigenous populations they became objects of studies Inside them the representations of the existent indigenous populations in the didactic books In that way our proposal is of verifying those representations in a specific text - Ali the History of Joseacute Jobson Arruda and Nelson Piletti - adopted in the twenty one public schools of medium teaching of Maringaacute town reaching a number of 14212 students

Key-words Etno-history Didactic Books Indigenous Populations

Referecircncias bibliograacuteficas

ABUD Kaacutetia In SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Satildeo Paulo Marco Zero 1984

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1988

ANAIS DO ENCONTRO PERSPECTIVAS DO ENSINO DE HISTOacuteRIA Satildeo Paulo FEUSP 1996

BALDISSERA joseacute Alberto O livro didaacutetico de histoacuteria uma visatildeo criacutetica Satildeo Leopoldo Cultural 1983 DI EH L Astor Antocircnio (org) O livro didaacutetico e o curriacuteculo de histoacuteria em transiccedilatildeo Passo Fundo Ediupf 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil EI pensamiento poliacutetico de los iacutendios en America Latina Anuaacuterio Antropologico Rio de Janeiro p 11-54 1979

Hist Ensino Londrina v 5 p 41middot59 out 1999

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 17: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

BATALLA Guilhermo Bonfil Utopia y Revolucioacuten EI pensamiento poliacutetico contemporaacuteneo de los indios en America Latina MeacutexicoDF Editorial Nueva Imagem 1981

BENGOA Joseacute Los indigenas y el Estado nacional en Ameacuterica Latina Revista de Antropologia Satildeo Paulo v38 n2 p151-1861995

BITTENCOURT Circe Forg O saber histoacuterico na sala de aula Satildeo Paulo Ed Contexto 1997

___________Livro didaacutetico e conhecimento histoacuterico uma histoacuteria do saber escolar Tese de doutorado Satildeo Paulo FFCHUSP 1993

CABRINI Conceiccedilatildeo O ensino de Histoacuteria revisatildeo urgente Satildeo Paulo Brasiliense 1984

CARMACK Robert M Etnohistoria y teoria antropoloacutegica Cuadernos dei Seminario de Integracioacuten Social Guatemalteca Guatemala Ministeacuterio de Educacion v26 p 7-471979

CARMO Sonia Irene do Entre a Cruz e a Espada o iacutendio no discurso do livro didaacutetico de histoacuteria Dissertaccedilatildeo de Mestrado Satildeo Paulo FEUSPUSP 1991 CHAUiacute Marilena de Sousa Cultura e Democracia 3 ed Satildeo Paulo Moderna 1982

CUNHA Manuela Carneiro da Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1992

CUNHA Manuela Carneiro da Introduccedilatildeo Revista de Antropologia Satildeo Paulo n 30313319818283

FONSECA Selva Guimaratildees Caminhos da histoacuteria ensinada 3 ed Campinas Papirus 1995

FUNAI Os iacutendios na descoberta do Brasil http wwwfunaigovbrindios6htm 1998 FUNAI Quantos satildeo e onde estatildeo os iacutendios hoje http wwwfunaigovbrindios8htm 1998

GRUPIONI Luiz Donizete Benzi Livros didaacuteticos e fontes de informaccedilotildees sobre as sociedades indiacutegenas no Brasil In SILVA Aracy Lopes da amp GRUPIONI LD Benzi (org) A temaacutetica indiacutegena na escola - novos subsiacutedios para

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 oul 1999 57

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 18: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

58

professores de 10 e 20 graus Brasiacutelia MECMARI UNESCO 1995

KRECH 111 Shepard The state of ethnohistory Annual Review Anthropology n20 p345-375 1991

LIMA Antonio Carlos de Souza Um grande cerco de paz poder tutelar e indianidade no Brasil Rio de Janeiro1992 Tese (Doutorado em Antropologia Social) Museu NacionalUFRJ

MONSERRAT Ruth Maria Fonini Liacutenguas indigenas no Brasil contemporacircneo In GRUPIONI Luiacutes Donozete Benzi (Org) iacutendios no Brasil Brasiacutelia Ministeacuterio da Educaccedilatildeo e do Desporto 1994

MONTEIRO John Manuel Os Guaranis e a histoacuteria do Brasil meridional In Manuela C da CUNHA (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

MOREIRA NETO Carlos de Arauacutejo A poliacutetica indigenista brasileira durante o seacuteculo XIX Rio Claro 1971 Tese (Doutorado em Antropologia) Faculdade de Filosofia Ciecircncias e Letras de Rio Claro

MOTA Luacutecio Tadeu A Construccedilatildeo do vazio demograacutefico e retirada da presenccedila indiacutegena da histoacuteria social do Paranaacute In POacuteS-HISTOacuteRIA Revista de Poacutes-Graduaccedilatildeo em Histoacuteria (ISSN 0104-1452) (Universidade Estadual Paulista) Assis SP - Brasil 2123-137 1994

MOTA Luacutecio Tadeu A guerra de conquista nos territoacuterios dos iacutendios Kaingang do Tibagi Revista Regional de Histoacuteria (ISSn 14140055) Ponta Grossa 2(1)187-207 1997

MOTA Luacutecio Tadeu As cidades e os povos indiacutegenas mitologias e visotildees Programa amp Anais da 6i Reuniatildeo Especial da SBPC - Cidades de Meacutedio Porte Maringaacute SBPC 1998 p 59-64

MOTA Luacutecio Tadeu As Guerras dos iacutendios Kaingang a histoacuteria eacutepica dos iacutendios Kaingang no Paranaacute (1769 shy1934) Luacutecio Tadeu Mota apresentaccedilatildeo de Carmen Sylvia de Alvarenga Junqueira - Maringaacute EDU EM 1994 (ISBN 85-85545-06-2)

MOTA Luacutecio Tadeu O Accedilo a cruz e a terra iacutendios e

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59

Page 19: A QUESTÃO INDíGENA NO LIVRO DIDÁTICO "Toda a História

I

I

brancos no Paranaacute proviacutencial (1853-1889) Assis 1998 Tese (Doutorado Histoacuteria) UNESP

MOTA Luacutecio Tadeu O Instituto Histoacuterico e Geografico Brasileiro e as propostas de integraccedilatildeo das comunidades indiacutegenas no estado nacional Dialoacutegos Revista do Departamento de Histoacuteria da UEM (ISSN 1415-9945) Maringaacute v 2 n 2 p149-175 1998

NAdAI Elza degensino de histoacuteria no Brasil trajetoacuteria e perspectivas Revista Brasileira de Histoacuteria Satildeo Paulo v13 n 2526 set 92ago 93 p 143-162

OLIVEIRA FILHO Joatildeo Pacheco de O nosso governo os Ticunas e o regime tutelar Satildeo Paulo Marco Zero 1988

PAIVA Eunice amp JUNQUEIRA Carmen deg Estado contra o iacutendio Seacuterie Textos em Ciecircncias Sociais Satildeo Paulo PUC 1985

RIBEIRO Darcy Os iacutendios e 3 civilizaccedilatildeo Satildeo Paulo Civilizaccedilatildeo Brasileira 1970

SAHLlNS Marshall Ilhas de Histoacuteria Rio de Janeiro 1994 SILVA Marcos A da Repensando a histoacuteria Rio de Janeiro

Marco Zero 1984 ______ Histoacuteria em quadro-negro escola ensino e

aprendizagem Revista Brasileira de Histoacuteria v9 n19 Satildeo Paulo AnpuhMarco Zero set89fev90

TRIGGER Bruce G Etnohistoria problemas y perspectivas Traduciones y Comentaacuterios San Juan Universidad Nacional de San Juan n1 p 27-55 1987

URBAN Greg A histoacuteria da cultura brasileira segundo as liacutenguas nativas In CUNHA Manuela Carneiro da (Org) Histoacuteria dos iacutendios no Brasil Satildeo Paulo Cia das Letras 1998

Hist Ensino Londrina v 5 p 41-59 ou 1999 59