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A Igreja em Outubro celebrou o Sínodo sobre aimportância da Palavra de Deus na vida e namissão da Igreja, quarenta e três anos, após apromulgação da Constituição Dogmática DeiVerbum, no Concílio Vaticano II.

Várias dioceses de Portugal estão a darcontinuidade ao Sínodo com programas deformação bíblica, com particular destaque paraS. Paulo, de quem estamos a celebrar os doismil anos do seu nascimento.

Os Missionários do Verbo Divino sentem-sechamados de modo especial a colaborar nestatarefa e, por isso, apresentamos este itineráriode reflexão para ajudar a todos a orientar a suavida pela Palavra de Deus neste tempo deQuaresma.

Pode ser usado individualmente, mas foisobretudo pensado para pequenos grupos deleitura orante da Bíblia.

Propõe-se no início, um dos muitos métodos deleitura orante da Bíblia, usado na África do Sule que tem sido adoptado em muitos outrospaíses.

Preze a Deus que este livro ajude os leitores afazerem uma boa caminhada de fé para que,renovados pelo Espírito Santo, e seguindo oCrucificado-Ressuscitado, ressuscitem para a luzda vida.

A QUEM SE DESTINA ESTE LIVROE COMO USÁ-LO

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Este método simples de leitura orante da Bíblianasceu em Lumko, África do Sul, e estáespecialmente indicado para pessoas que querempartilhar a sua fé em grupo. O que mais se valorizanele é deixar-se “tocar” pela Palavra e partilhá-la.O mesmo texto é lido três vezes. Eis os passos aseguir:

1 - Acolher-se, tomar consciência da realidadeactual, abrir o texto, dar alguma informação sobreo contexto do texto, invocar o Espírito Santo(oração, cântico).

2 - Escuta-se o texto pela primeira vez. Silênciode alguns minutos.

- Partilhar a palavra do texto, o versículo em que“tropeço”, que mais me toca, ou simplesmenterecontar o texto de modo pessoal. Não fazercomentários, dizer simplesmente a palavra ouversículo. Depois de todos terem participado,pode-se cantar um refrão.

3 - Escuta-se o texto pela segunda vez, durante aqual tentamos lembrar os participantes querepararam nesses versículos. Silêncio de algunsminutos.

Leitura orante da Bíblia:

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Haverá outra forma de transmitir o Evangelhoque não seja a de contar à outra pessoa

a experiência pessoal de fé?(Paulo VI, EN 46)

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Partilhar a palavra da vida pessoal, ou seja: porque reparei nesta palavraou frase, o que é que isto quer dizer hoje para mim? Que experiência de fétenho neste assunto? Cada um fala no singular, dizendo “eu, na minhavida...”, e procura ser breve, para que todos tenham ocasião de partilhar.Não julgar ou moralizar, não discutir.

4 - Escuta-se o texto pela terceira vez, ligando ao texto as experiências devida que foram partilhadas pelos membros do grupo. Silêncio de algunsminutos.

Resposta concreta ao texto e à vida, qual a luz que em oração cada umrecebeu para agir.

5 - O caminho da Comunidade indicado pelo Espírito Santo: depois detodos terem partilhado pessoalmente a resposta, em oração, a comunidadepergunta: qual é o caminho que o Espírito Santo nos está a indicar comocomunidade de fé? Que palavra nos poderia resumir a resposta? O caminhoda comunidade poderá encontrar-se: estando atento ao que cada membrofalou e rezando para que o Espírito Santo nos mostre a perspectiva comum.

6 - Oração final, por exemplo um cântico e um Pai-nosso de mãos dadas,simbolizando a comunhão que realizamos, partilhando as nossas vidas eexperiências de Deus.

Pessoalmente, e juntos como comunidade, discernir por onde o EspíritoSanto nos orienta. Resumindo:

Palavra na boca, lê (leitura), Palavra no coração, guarda e tentacompreender (meditação), Palavra no pé, pratica, faz o que Deus te diz(acção).

Por outras palavras: o que diz o texto? O que o texto me diz? O que é queo texto me faz fazer em resposta a Deus?

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Ambientação

A bênção e a imposição das cinzas são uma prática penitencial muito antiga.Nos primeiros séculos da Igreja os cristãos que haviam prejudicado acomunidade cristã com escândalos públicos, expiavam-nos durante aQuaresma. No começo deste tempo litúrgico recebiam as cinzas sobre assuas cabeças em sinal de humildade, e, a seguir, eram acompanhados àporta da Igreja. Até 5ª Feira-Santa não participavam nas assembleias dacomunidade, mas permaneciam no átrio em sinal de penitência.

Hoje, em que tudo se permite e tudo se procura contestar, não só se está aperder a consciência do pecado como também a própria realidadedramática do pecado. Ao ouvirmos a palavra de Deus “lembra-te que éspó” (terra) é hora de defendermos a Terra que está a ser destruída pelaganância do lucro.

Na Quaresma orientemo-nos pela conversão – escutar Deus, e pelasolidariedade – ajudar os necessitados. Jejum, hoje, é renunciar, para maispartilhar.

A PALAVRA DE HOJE:

Joel 2, 12-182 Coríntios 5,20 - 6, 2Mateus 6, 1-6. 16-18

■ Comentário às leituras

A mensagem do profeta Joel foi pronunciada provavelmente depois dodesterro, no templo de Jerusalém. Uma praga de gafanhotos devastou oscampos, provocando carestia de bens e fome (1, 2 – 2, 10). Comoconsequência, cessou o culto dos sacrifícios no templo (1, 13-16). O profetalê os sinais dos tempos e por isso anuncia a proximidade do dia do Senhor,convidando todo o povo ao jejum, à oração, à penitência (2, 12.15.-17a).

Quarta-feira de Cinzas

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A palavra-chave deste texto, repetida três vezes nosprimeiros versículos é voltar (shûb em Hebraico)verbo clássico da conversão. O v. 12 apresenta aopovo o convite à conversão. Sem a renovaçãointerior e a mudança do coração os ritos litúrgicosnão agradam a Deus. No v. 13, o convite àconversão aparece de novo e a motivação é porqueo Senhor é sempre misericordioso.

No v. 14 o mesmo verbo se refere a Deus abrindouma porta à esperança: “perdoará uma vez mais”.A conversão expressa-se num amor sincero a Deus,numa fé mais sólida e numa esperança que se fazoração comunitária e penitente. Tendo estasdisposições, o profeta e os sacerdotes poderãopedir ao Senhor que se mostre zeloso com a suaterra, compassivo com a sua herança (vv.17s).

Para Paulo, se alguém está em Cristo é novacriatura. Passaram-se as coisas antigas; eis que sefez uma realidade nova (v.17). Deus reconciliou-nosconsigo por Cristo e confiou-nos o ministério dareconciliação. Em Cristo, Deus reconciliava omundo consigo, não imputando aos homens assuas faltas e colocando em nós a palavra dareconciliação.

Paulo em nome de Cristo exorta os Coríntios a quese reconciliem com Deus. E acrescenta que agoraé o tempo favorável, o dia da salvação. No seuentender, entre a primeira vinda de Cristo e o seuretorno, decorre um tempo intermédio, que é o diada salvação. Tempo concedido em vista daconversão, da salvação do “Resto” e dos gentios.Embora tenha duração incerta, esse tempo deperegrinação deve ser considerado como breve,cheio de provações e de sofrimentos que preparama glória futura. O fim aproxima-se, assim como odia da plena luz. Importa vigiar e fazer sábio usodo tempo que resta para que nos salvemos esalvemos os outros, deixando a Deus a tarefa defazer a retribuição final.

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Jesus pede aos seus discípulos uma justiça superior à dos escribas e fariseus(cf. Mt 5, 20). Mesmo que as práticas exteriores sejam as mesmas, Jesusreclama a vigilância sobre as intenções que nos movem a actuar.

O evangelho repete primeiro as três obras típicas da piedade judaica: aesmola (6, 2-4); a oração (6, 5-15) e o jejum (6, 16-18). A novidade de Jesusé esta: essas obras não valem de nada se forem feitas para vanglória e aprópria recompensa. O valor delas consiste em fazê-las diante do Pai quevê no segredo. Jesus completa a tradição ensinando-nos o Pai-nosso eressaltando como é indispensável o perdão …”mas se não perdoardes aoshomens também o vosso Pai não perdoará os vossos delitos” (Mt 6, 15).

Penitência e arrependimento não são sinónimos de abatimento, tristezaou frustração; pelo contrário, constituem uma modalidade de abertura àluz que pode dissipar as obscuridades interiores, tornar-nos conscientes denós mesmos na verdade e fazer-nos experimentar a misericórdia de Deus.Quem vive na presença de Deus, é livre.

O Senhor tinha confiado ao profeta a missão de convocar o povo parasuscitar uma nova esperança através de um caminho penitencial; aosapóstolos confia-lhes o ministério da reconciliação; à Igreja hoje, encarrega-a de proclamar que agora é o tempo favorável, agora é o dia da salvação!

Renovados pelo amor aprenderemos a viver sob o olhar do Pai, contentesde poder cumprir humildemente o que lhe agrada e ajudar os nossos irmãos.

A sua presença no segredo do nosso coração será a verdadeira alegria, aúnica recompensa esperada e de que temos já um antegosto.

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■ Perguntas para reflexão

- Que significado tem para nós, hoje, o jejum, a oração, a esmola?

- Com que atitudes devemos iniciar e viver o tempo da Quaresma?

- Como entendo a expressão de Paulo que agora é o tempo favorável, é odia da salvação?

■ A nossa resposta em oração

Bendito seja Deus e Pai de Nosso Senhor Jesus Cristo,Pai misericordioso e Deus de toda a consolação,Que nos consola em todas as nossas tribulações,

para que também nós possamos consolaraqueles que estão em qualquer tribulação,mediante a consolaçãoque nós mesmos recebemos de Deus.

Como abundam em nós os sofrimentos de Cristo,por Ele também é abundante a nossa consolação.

Quando somos atribuladosÉ para consolação e salvação de todos.Quando somos consolados é para consolação de todos.

A nossa esperança é firme:assim como participamos dos sofrimentos de Cristo,também havemos de participar na sua consolação. Amén.

(cf. 2 Cor 1, 3-7)

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Ambientação

Neste primeiro domingo dequaresma lemos na liturgia o relatodas tentações segundo o evangelhode Marcos. É um relato breve que nosconvida a centrar-nos no quesignificaram as tentações na vida deJesus e no que elas significam paranós, seus seguidores.

A PALAVRA DE HOJE:Génesis 9, 8-151 Pedro 3, 18-22Marcos 1, 12-15

■ Comentário às leituras

A história do dilúvio e de Noé são reflexões teológicas sobre a naturezahumana e a sua relação com Deus e com a criação. Como acontecimentohistórico por detrás destas narrativas estão as inundações desastrosas dovale do Tigre e do Eufrates, aumentadas pelos autores sagrados como umcataclismo universal. O autor dotou esta lembrança das inundações de umensino eterno sobre a justiça e a misericórdia de Deus, sobre a malícia doser humano e a salvação concedida ao justo.

Perante o crescimento da perversão humana “ o Senhor viu que a maldadedo homem era grande sobre a terra, e que era continuamente mau todo odesígnio do seu coração” (Gen 6, 5) a humanidade chegou a um colapso: éo dilúvio. No meio da multidão perversa há alguém que agrada a Deus:“Noé era um homem justo, íntegro entre seus contemporâneos, e andavacom Deus” (Gen 6, 9). Deus dá-lhe ordem de construir uma arca e nelaentrar: “entra na arca tu e toda a tua família, porque és o único justo quevejo diante de mim no meio desta geração.” (Gen 7, 1). Esse justo queagrada a Deus serve de barca para salvar; é um justo que segue Deus.

Primeiro domingo da Quaresma

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Apesar da maldade do ser humano, Deus não o abandona; depois do dilúviosela uma aliança com Noé, com a humanidade e com toda a criação: “eisque estabeleço a minha aliança convosco e com os vossos descendentesdepois de vós, e com todos os seres animados que estãoconvosco…estabeleço minha aliança convosco: tudo o que existe não serámais destruído pelas águas do dilúvio; não haverá mais dilúvio paradevastar a terra. (Gen 9, 9.11).

O ser humano é de novo abençoado e consagrado rei da criação, comonas origens, mas não é mais um reinado pacífico. A nova época conheceráa luta dos animais com o homem e dos homens entre si. A paz do paraísosó reflorescerá nos últimos tempos (cf. Is 11, 6).

É nossa responsabilidade hoje velar pela vida na terra. Se a perversão dahumanidade se avoluma, a ponto de quase mais ninguém querer seguir aPalavra de Deus e armarem-se em donos da vida e do planeta, vão acontecercataclismos como o dilúvio.

É urgente salvar o planeta de todos os egoísmos que o destroem e põemem risco a sobrevivência de gerações futuras ou até o próprio planeta. Asgrandes questões ecológicas fazem parte do compromisso cristão: poluição,efeito de estufa, degelo polar, fontes de energia, questões demográficas ede justiça social. O planeta pode ser destruído pelo próprio ser humano:bombas atómicas e consequências de alterações climáticas – subida dosoceanos, crescimento de zonas desérticas, falta de água, desflorestação,etc… Tudo isto é o pecado humano na sua expressão planetária.

Para os cristãos a salvação da vida está garantida em Jesus Cristo. Aressurreição de Jesus é como uma nova criação. Entramos nela pela graçade Jesus, convertendo-nos, renunciando ao mal e participando da morte eressurreição pelo baptismo (cf. Act 2, 38), o que leva a uma vida nova (cf.Act 2, 42-47). É o que a 2ª leitura nos diz com as seguintes palavras: serbaptizado é alcançar de Deus uma boa consciência pela ressurreição deJesus Cristo. Na linguagem de Paulo ser baptizado é ser sepultado eressuscitado com Cristo (cf. Col 2, 12). Não é possível pretender participarna ressurreição se não participamos na morte de Cristo. O Crucificado é oRessuscitado e o Ressuscitado é o Crucificado.

Evangelho

O Filho de Deus, no baptismo no Jordão, é mesmo Deus no meio de nós,pecadores, mas sem pecado, e por isso nosso Salvador. Jesus foi ungidopelo Espírito e assume a sua missão: ser Filho (cf. Mc 1, 1. 11; 15,39). Atentação é por causa da missão que Jesus tem que assumir; não pelo

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caminho do poder, da vanglória e da riqueza, mas pelo caminho da cruz.Jesus vence a tentação decidindo seguir o caminho da cruz. (cf. Mc 10, 32).

As suas primeiras palavras são estas: “o Reino de Deus está próximo,convertei-vos e crede no evangelho” (Mc 1, 15).

A salvação é-nos oferecida mas sem conversão não estamos em condiçõesde a receber.

Conversão é morrer para o pecado, ser baptizado e passar a uma vidanova: assiduidade à escuta da Palavra, à comunhão fraterna, à fracção dopão (eucaristia) e às orações: (cf. Act 2, 42-47; 4, 32-35).

■ Perguntas para reflexão

Jesus, após o baptismo, assumiu a missão, vencendo as tentações.

– Quais são as dificuldades (“tentações”) que tornam difícil ser coerente noteu compromisso de baptizado?

– Seguindo o exemplo de Jesus, como vencê-las?

■ A nossa resposta em oração

Tem compaixão de mim, ó Deus, pela tua bondade;pela tua grande misericórdia, apaga o meu pecado.

Lava-me de toda a iniquidade;purifica-me dos meus delitos.

Reconheço as minhas culpase tenho sempre diante de mim os meus pecados.Contra ti pequei, fiz o mal diante dos teus olhos;por isso é justa a tua sentençae recto o teu julgamento.

Cria em mim, ó Deus, um coração puro;renova e dá firmeza ao meu espírito.Não me afastes da tua presença,nem me prives do teu santo espírito!

(Cf Sl 51, 3-6b.12-13)

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Ambientação

No domingo passado dialogámossobre as dificuldades ou tentaçõesno seguimento pessoal de Jesus.Também não foi fácil para osprimeiros discípulos entender que oseu Mestre ia a caminho deJerusalém e que morreria na cruz:“Jesus ia à frente deles, eles seguiam-no espantados e cheios de medo.”(cf. Mc 10, 32). Jesus já não temdúvida de que o seu caminho é sermorto na cruz. Ele já venceu atentação de fugir, mas os própriosdiscípulos ainda estão em crise defé e para os ajudar, nesta passagemà fé, Jesus dá-lhes a luz datransfiguração.

A PALAVRA DE HOJE:Génesis 22, 1-2.9 a.10-13.15-18Romanos 8, 31 b-34Marcos 9, 2-10

■ Comentário às leituras

A situação terrível que existia no tempo de Abraão era o sacrifício dascrianças e até de outros seres humanos para atrair os favores dos deuses.A narrativa implica, pois, a condenação, tantas vezes pronunciada pelosprofetas, dos sacrifícios de crianças (cf. Lv 18, 21; 20, 2-3; 2 Rs 3, 27; 2 Rs23, 10; Jr 32, 35; 2 Reis 17, 31; Jz 11, 29-40).

A palavra-chave do texto é “não estendas a mão contra o menino, não lhefaças nenhum mal” (22, 12). O nosso Deus revela-se diferente das crençasde então e louva a fé de Abraão que até não hesitaria em oferecer o filho.

Segundo domingo da Quaresma

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A tradição cristã lança mão deste episódio para nos expressar o quantoDeus nos ama: “Deus amou tanto o mundo que nos entregou o seu FilhoÚnico para que todo o que nele crer não pereça mas tenha a vida eterna”(Jo 3, 16).

Na carta aos Romanos, Paulo ajuda-nos a compreender que a entrega doFilho à humanidade é a suprema revelação do amor de Deus. Não hádúvida que Deus assume por completo a humanidade e nada nos podeseparar do seu amor (v.39).

Jesus para ajudar os discípulos a assumir que o Filho de Deus, o Messias éum Crucificado, dá-lhes uma visão de luz agradável e bela para assim havercoragem de continuar o caminho da cruz.

O candor e a luz resplandecente da sua pessoa recordam o Filho do homemda visão de Daniel (7 e 10). A aparição de Elias e Moisés, esperados comoprecursores do Messias, apresenta Jesus como o cumprimento da Lei e dosprofetas. Eles tiveram o privilégio de contemplar no alto de um monte aglória de Deus com vistas a cumprir uma missão importante para todo opovo: agora a antiga aliança cede o testemunho à nova e os três discípulos(Pedro, Tiago e João) convertem-se em testemunhas oculares da glória deCristo em favor de todos os crentes (cf. 1 Jo 1, 1-3; 2 Pe 1, 17 s). Um temorsacro os invade. Pedro trata de reagir e propõe erigir três tendas para osdistintos personagens. Jesus revela-se como o verdadeiro templo, averdadeira tenda da Presença que dá felicidade à vida humana: “é bomestarmos aqui” (Mc 9, 5).

Outro símbolo muito importante é a nuvem, que acompanhoucontinuamente o povo eleito no seu caminho do êxodo e agora envolveos presentes. Da nuvem sai a voz divina que proclama Jesus como Filhopredilecto. No momento do baptismo, a voz dirigiu-se a Jesus para confirmá-lo e investi-lo na sua missão (cf. 1, 11). Agora dirige-se aos discípulos: “esteé o meu Filho amado: escutai-o” (v. 7).

Jesus é o Filho que o Pai entregou por nós; o companheiro que nos abre ocaminho, nos ensina a escutar e a dar passos para uma entrega semreservas.

■ Perguntas para reflexão

– Que relação vês entre a transfiguração e a ressurreição?

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– Por que é que Jesus dá ordem aos discípulospara não contarem nada do que t inhamvisto? Que mal entendido estava na cabeça dePedro e dos discípulos? (Mc 8, 33)

– Toda a vida tem necessidade de momentos deluz. Na tua vida e na v i d a d a q u e l e s c o mquem vives , que momentos de luz ou detransfiguração conheces?

■ A nossa resposta em oração

Senhor, Jesus Cristo,Envia sobre nós o dom do Espírito SantoA fim de vivermos não já para nós própriosMas para Ti que por nós morrestes e ressuscitastesE oferecermos toda a nossa vida,Para testemunhar o teu amor por nós.

Ámen

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Terceiro domingo da Quaresma

Ambientação

Nas comunidades cristãs que têmcatecúmenos eleitos para ossacramentos de iniciação cristã nosIII, IV e V Domingo da Quaresmalêem-se os evangelhos do Ano A ecelebram-se os escrutínios sobre oseleitos, ou seja, a oração da Igrejasobre os catecúmenos eleitos emordem a uma purificação do pecadoe a uma iluminação da vida com aPalavra de Deus, concretizada nosencontros de Jesus com aSamaritana, com o cego denascença, e com Marta, Maria eLázaro. Esses encontros sãoreferência para o própriocatecúmeno eleito rever o seuencontro com Cristo e como é quechegou a dizer a Jesus: “eu creio”. Osescrutínios são acompanhados pelaentrega das “tradições” ou símbolosda fé.

■ Comentário às leituras

Um dos textos mais antigos da Bíblia é o código da aliança. O código daaliança abre com uma palavra-chave que é “escuta Israel” Escuta, Israel! OSenhor é nosso Deus; o Senhor é único! Amarás o Senhor, teu Deus, comtodo o teu coração, com toda a tua alma e com todas as tuas forças. (Dt 6,4). Se lermos todo o decálogo, logo se nota que reconhecer a Deus comoúnico Senhor tem como consequência reconhecer as outras pessoas comonosso próximo. Todos os mandamentos referentes ao próximo foram mais

A PALAVRA DE HOJE:

Exodo 20, 1-171 Coríntios 1, 22-25João 2, 13-25

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tarde resumidos deste modo: “…amarás o teu próximo como a ti mesmo”(Lev 19, 18).

Não foi de uma vez que se compreenderam os mandamentos de Deus. Foino decorrer de um processo histórico muito prolongado até chegar àplenitude da revelação em Jesus Cristo ( cf. Heb 1, 1) que vai resumir tudo aum único mandamento: “…amai-vos uns aos outros como Eu vos amei”(Jo 13, 34; 15, 17).

Neste terceiro domingo de quaresma, vamos ler um acontecimento da vidade Jesus segundo João, e que se encontra também nos outros evangelistas(cf. Mt 21, 12-16; Mc 11, 15-19; Lc 19, 45-46), o que mostra a sua importância.A narrativa situa-se no Templo de Jerusalém e o gesto de Jesus e as suaspalavras podem ajudar-nos a rever a nossa forma de prestar culto a Deus.

Jesus, na linha da tradição profética, (cf. Is 1, 11-15; Am 5, 21-13) vaidesmascarar o culto no templo de Jerusalém e afirmar que o templo é Elemesmo e toda a pessoa tornada morada de Deus (Jo 14, 23; 1 Cor 3, 16).

Com a expulsão dos vendilhões do templo, Jesus vai desmascarar o cultofalsificado, chamando-o de covil de ladrões e responde à pergunta do chefeda religião, dizendo: destruí este templo e eu o reconstruirei em três dias. Overdadeitro templo do culto a Deus é Jesus Cristo, Deus encarnado, é ocorpo de Cristo presente nas pessoas especialmente nos mais necessitados(cf. Mt 25, 31-46; Act 9, 4).

Ao derrubar uma religião degenerada em negócio e discriminação depessoas, (lei do puro e do impuro) Jesus foi condenado à morte, pelospróprios representantes da religião do templo e da lei.

Por isso é que S.Paulo nos dá a síntese da nossa fé em Cristo crucificadoque é escandalo para os judeus, loucura para os gentios mas para nóscristãos é sabedoria de Deus.

Cristo crucificado é a surpreendente resposta de Deus às expectativas dahumanidade: o verdadeiro sinal é a sua cruz, que liberta a humanidade daescravidão do mal; a maior sabedoria é a sua morte, que assume o absurdodo nosso pecado para abrir a todos um destino glorioso.

■ Perguntas para reflexão

– O que é que estava a acontecer de falsificação naquele culto, naquelareligião que Jesus não aguentou e explodiu com um chicote e derrube de

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de mesas? Na tua opinião, por que é que Jesusnão derrubou as pombas?

– Se Jesus entrasse hoje no nosso culto, na nossaeucaristia dominical, o que é que Ele teria quederrubar e expulsar?

– Compara a narrativa de João com a de Mateus21, 12-16: quem fica dentro do templo e quem podeagora entrar?

■ A nossa resposta em oração

Ajuda-nos Senhor,a praticar uma verdadeira justiçae excedermo-nos em bondade e compaixão,cada um para com o seu irmão;a não oprimir a viúva e o órfão,o estrangeiro e o pobre,e a não formar nos nossos corações mausdesígniosuns para com os outros.

(cf. Zc 7, 9-10)

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Quarto domingo da Quaresma

Ambientação

Na Eucaristia do quarto domingo deQuaresma lemos o texto do encontrode Jesus com Nicodemos. OEvangelista João, depois deapresentar qual há-de ser o autênticoculto, convida-nos a nascer doEspírito e a acolher Jesus comosalvação e Vida.

A PALAVRA DE HOJE:2 Crónicas 36, 14-16.19-23Efésios 2, 4-10João 3, 14-21

■ Comentário às leituras

Seguindo a reflexão do domingo passado, o Jesus crucificado é a sabedoriade Deus. É olhando o Cristo na cruz que podemos ver como Deus ama omundo: “tanto amou Deus o mundo, que lhe entregou o seu Filho Unigénito,a fim de que todo o que nele crê não se perca, mas tenha a vida eterna. Defacto, Deus não enviou o seu Filho ao mundo para condenar o mundo,mas para que o mundo seja salvo por Ele. (Jo 3, 16-17). O trágico é que ahumanidade ama mais as trevas do que a luz porque as suas obras erammás (cf, Jo 3, 19). Mas o amor de Deus não é vencido, porque ao serlevantado, ou seja, crucificado, Ele é a vida eterna (ressurreição) para todoaquele que nele crê (cf. Jo 3, 15).Para o povo judeu a figura da serpente debronze no deserto levantada por Moisés fazia entender estas palavras deJesus.

A primeira leitura ao relatar o regresso do exílio na Babilónia quer mostrarcomo o amor de Deus desde sempre acompanhou o povo no exílio e trouxe-o de volta. Para esse regresso, Deus faz até colaborar o imperador Ciro,que era o dominador do povo nessa altura.

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O amor de Deus não é para confundir com aambivalência que existiu na construção dotemplo por ordem do imperador da Babilónia(cf. 2 Cr 36, 23), nem com a discriminaçãopraticada pelos judeus, vindos do exílio emrelação aos que já estavam na terra. (cf. Esd 4,3; 10, 3.19).

Lembrando o conflito de Jesus com o templo(Jo 2,13-25) e a discriminação que o Judaísmopraticava desde a construção do templo (foram-se fazendo 613 leis), S. Paulo, como no domingopassado também hoje nos dá a síntese cristã:pela graça fostes salvos, por meio da fé. E istonão vem de vós; é dom de Deus; não vem dasobras, para que ninguém se glorie. (Ef 2, 8-9).

Sabemos como Paulo para anunciar Jesus Cristoaos não judeus teve que enfrentar as leis dojudaísmo, sem negar que Jesus é um judeu danascimento. Tanto judeus como gentios sãosalvos pela graça e não pelos méritos de cumprira lei. É esta a grande visão de Paulo, que Pedrono concílio de Jersualém confirma: “Além disso,é pela graça do Senhor Jesus que acreditamosque seremos salvos, exactamente como eles.”(Act 15, 11).

■ Perguntas para reflexão

– Olhando o evangelho, experimentas Jesus natua vida como o que dá a vida, o que salva?Como expressas isso na tua vida?

– Deus amou tanto o mundo que lhe enviou oseu Filho: eu, cristão, tenho consciência que emnome de Jesus sou enviado para testemunharo mesmo amor (cf. Jo 20, 21)?

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■ A nossa resposta em oração

Recebe a cruz na tua fronte;Cristo te fortalece com o sinal da sua caridade.Aprende agora a conhecê-lo e a segui-loRecebe o sinal da cruz nos ouvidos,Para ouvires a voz do SenhorRecebe o sinal da cruz nos olhos,Para Jesus ser a tua luzRecebe o sinal da cruz na bocaPara responderes à Palavra de DeusRecebe o sinal da cruz no peito,Para que Cristo, habite, pela fé no teu coraçãoRecebei o sinal da cruz nos ombrosPara levares o jugo de Cristo, que é suave.

(Da liturgia com os catecúmenos)

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Ambientação

Os relatos dos evangelhos queestamos a ler vão-nos assinalandoum caminho para viver a Quaresma.Além disso, em cada um deles, seadverte o destino de Jesus. É umdestino que também tem que vercom o nosso compromisso cristão.

A PALAVRA DE HOJE:Jeremias 31, 31-34Hebreus 5, 7-9João 12, 20-33

■ Comentário às leituras

O 5º Domingo da Quaresma apresenta Jesus na angústia diante da horada morte na cruz que se aproxima. Há um diálogo doloroso dediscernimento com o Pai para a aceitação do despojamento total da cruz ehá um reconforto vindo do céu, uma voz que se escuta: “A minha almaestá agora conturbada. Que direi: Pai salva-me desta hora! Mas foiprecisamente para esta hora que eu vim. Pai glorifica o teu nome. Veioentão uma voz do céu: Eu o glorifiquei e glorificarei novamente” (Jo 12, 27-28).

A carta aos Hebreus confirma a mesma situação dolorosa: “nos dias dasua vida terrestre, apresentou pedidos e súplicas, com veemente clamor elágrimas àquele que o podia salvar da morte…” (Heb 5, 7).

Jesus oferece-se à morte para realizar a obra que glorificará o Pai,manifestando o seu amor ao mundo (Jo 12, 28; cf. Jo 17, 6). O que é própriodo Pai é amar. Ele prova o seu amor, entregando o seu Filho único por nós.Por conseguinte, quem não reconhece o Filho, não reconhece o amor doPai (cf. Lc 10, 22).

Quinto domingo da Quaresma

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A vinda dos gentios (gregos) à procura de querer ver Jesus (cf. Jo 12, 21) éinterpretada como a exaltação de Jesus. Jesus entende a sua morte comoo grão que morre para dar fruto, como quem perde a vida por amor aosoutros: “se o grão de trigo, lançado à terra, não morrer, fica ele só; mas, semorrer, dá muito fruto. Quem se ama a si mesmo, perde-se; quem sedespreza a si mesmo, neste mundo, assegura para si a vida eterna “ (Jo 12,24-25; cf. Mt 16, 25; Mc 8, 35; Lc 9, 24).

A vinda dos não-judeus que querem ver Jesus (cf. Jo 12, 21) e a novaaliança escrita no coração de cada um (cf. Jr 31,31. 33), é fruto da morte eressurreição de Jesus.O dom do Cristo ressuscitado é o Espírito Santo (cf. Jo20, 22), que une todos os povos (cf.Act 2,5.9).

■ Perguntas para reflexão

– Vimos no evangelho e no comentário que não foi fácil para Jesus aceitara morte na cruz. Qual é a “tua cruz”, aquela que te mete medo e que tecusta lágrimas e suores… e donde te vem a coragem para enfrentar essacruz? (cf. Jo 12, 28.30)

– Há algum aspecto da passagem que queiras recolher e aplicar a partir dehoje à tua vida? Qual? Porquê?

■ A nossa resposta em oração

Meu Pai, a vós me abandono:fazei de mim o que quiserdes!O que de mim fizerdes, eu vos agradeço.Estou pronto para tudo, aceito tudo,contanto que a vossa vontade se faça em mime em todas as vossas criaturas.Não quero outra coisa, meu Deus.Entrego a minha vida em vossas mãos,eu vo-la dou, meu Deus,com todo o amor do meu coração,porque eu vos amo.É para mim uma necessidade de amor dar-me,entregar-me em vossas mãos sem medida,com infinita confiança, porque sois meu Pai. (Carlos de Foucauld)

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Domingo de Ramos

Ambientação

Com o Domingo de Ramos os cristãoscomeçam a Semana Santa. A entradade Jesus em Jerusalém e as atitudesdas diversas pessoas que o rodeiamfazem-nos pensar em como vamoshoje celebrar estes dias a sua paixão,morte e ressurreição.

A PALAVRA DE HOJE:Isaías 50, 4-7Filipenses 2, 6-11Marcos 14, 1 – 15, 47

■ Comentário às leituras

Discípulo de Pedro e seu companheiro em Roma, Marcos escreve o seuevangelho para não-judeus. O seu relato da Paixão é breve, mas denso erico em pormenores concretos. É bom reparar nalguns detalhes na narrativada Paixão segundo Marcos:

– São os representantes da religião (escribas e sacerdotes) que tramam amorte de Jesus (14, 1)– Há uma mulher que unge Jesus com perfume de alto preço; é tratadacom aspereza, Jesus defende-a (14, 3)– Seguir o homem da bilha de água para saber onde é o lugar da celebraçãoda Última Ceia (14, 13)– Instituição da eucaristia: (14,22)– Os discípulos todos se mostram muito valentes, dispostos a morrer porJesus e logo a seguir dormem e depois fogem. (14, 29.37.40.68)

DIA MUNDIAL DA JUVENTUDE

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– O traidor é um discípulo: Judas (14, 11)– Um jovem que o seguia enrolado num lençol, quando agarrado, foge nu(14, 51); Jesus morto é enrolado num lençol (15, 46).– Jesus é declarado réu de morte por dizer: sou Filho de Deus (14, 61-63)– Os nomes dos filhos de Simão de Cirene: Alexandre e Rufo (15, 22)– Soltam um assassíno e condenam um inocente (15, 11)– Os ultrajes a Jesus na cruz: “desce agora da cruz, para que vejamos ecreiamos!” (15,29-32)– O centurião (um estrangeiro) vê no crucificado o Filho de Deus (15, 39;ver 1, 1)– A presença das mulheres no começo (o derrame do perfume) e no fim: asque acompanham Jesus até à cruz. (15, 46)– O véu do templo rasgou-se em dois, de alto a baixo (15, 38).

O Evangelho de Marcos abre com a afirmação Jesus Cristo é o Filho deDeus (cf. Mc 1, 1). O surpreendente é que, depois de ter contado a vida deJesus, Ele é reconhecido como Filho de Deus por um não judeu, um militarromano, que olha para a cruz e diz: “verdadeiramente este homem eraFilho de Deus!” (Mc 15, 39). Por outras palavras é na cruz que Jesus dá aconhecer o verdadeiro Deus. Se queremos encontrar o Deus verdadeironão é a olhar para o céu, mas para o crucificado na terra.

Esse crucificado na história já tinha aparecido na figura do Servo Sofredorprincipalmente nos quatro cânticos do Servo dos quais faz parte a leiturade hoje. (cf. Is 42, 1-4; 49,1-6; 50,4-11; 52,13 – 53,12). Já lá, esse sofrimentoinocente era anunciado como possibilidade de salvação para todos (cf. Is53, 5.12b).

Esta dimensão do Deus crucificado, servo que salva a todos, é-nos mostradana segunda leitura: sendo de condição divina, assumiu a condição de servo,descendo até à morte na cruz. Mas Ele é o Senhor (cf. Flp 2, 6-11).

O Domingo de Ramos põe diante de nós uma questão muito real: oscriminosos andam soltos; os inocentes são mortos (as guerras, os pobresque são vítimas da crise económica, o aborto, o tráfico de armas, de drogase de pessoas); a multidão tanto aclama o bem: hossana, hossana, ó Filhode David, como o condena: crucifica-o, crucifica-o!

Como é possível, numa sociedade que aclama tanto a defesa dos direitoshumanos, crescer cada vez mais o negócio da escravatura humana,escondida no tráfico de pessoas e órgãos?! Como não lembrar as multidõesde imigrantes africanos que morrem a caminho da Europa?!

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É também uma contradição todos necessitarmos da Terra e estarmos adestruí-la pelo comportamento humano. A Terra inteira está a sofrer asculpas dos humanos. O pecado tem as suas consequências pessoais, sociaise planetárias.

■ Perguntas para reflexão

– A celebração da paixão, morte e ressurreição de Jesus, a quecompromissos te leva?

– Como reages quando vês alguém a sofrer injusta ou inocentemente?

■ A nossa resposta em oração

Rezemos juntos este hino que revela a nossa fé em Cristo:

Cristo Jesus que é de condição divina,não considerou o ser igual a Deuscomo algo a que se apegar ciosamentemas esvaziou-se a si mesmoe assumiu a condição de servo.Tornando-se semelhante aos homense sendo, ao manifestar-se,identificado como homem,rebaixou-se a si mesmo,tornando-se obediente até à mortee morte de cruz.Por isso é que Deus o elevou acima de tudoe lhe concedeu o nomeque está acima de todo o nome,para que, ao nome de Jesus,se dobrem todos os joelhos,os dos seres que estão no céu,na terra e debaixo da terra;e toda a língua proclame:“Jesus Cristo é o Senhor!”,para glória de Deus Pai. (cf. Flp 2, 6-11)

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Ambientação

Com a Quinta-Feira Santa começa oTríduo Pascal que é o auge de toda aliturgia cristã.Este dia começa com a Missa Crismal daparte da manhã, presidida pelo Bispo econcelebrada pelos sacerdotes, onde ossacerdotes renovam as suas promessasde serviço e obediência.O Bispo benze os santos óleos: dosenfermos, dos catecúmenos e do crisma.À noite celebra-se a Ceia do Senhor, queé instituição da Eucaristia – nova eeterna aliança - e consequentemente osacerdócio, com a entrega domandamento novo: Como eu vos amei,amai-vos também uns aos outros (Jo 13,34).A missão pública de Jesus começa como Baptismo e termina com a Eucaristia,(sabendo que a seguir vai ser preso emorto). A Eucaristia é a última acção deJesus com os seus discípulos. Nela, Jesusretoma toda a sua vida e faz dela osacramento da presença, entrega totalde amor.

■ Comentário às leituras

A festa da Páscoa e a dos ázimos eram duas festas muito antigas queexistiam antes do Êxodo.

A festa anual dos pastores nómadas tornou-se o memorial de umacontecimento histórico onde Israel reconheceu um acto salvífico de Deus,fazendo-o passar da escravidão à liberdade, da morte à vida. O sangue do

Quinta-Feira Santa

A PALAVRA DE HOJE:Êxodo 12, 1-8.11-141 Coríntios 11, 23-26João 13, 1-15

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cordeiro aspergido nas portas dos judeus era o sinal para a morte nãoentrar nas suas casas quando passou matando todos os primogénitos noEgipto.

A festa anual dos pães ázimos pode ter tido como origem uma festa ruralque se celebrava no início da colheita dos cereais. Era um ritual derenovação, de recomeço. Ao adoptar esta festa, depois da sua entrada emCanaã, Israel deu-lhe um novo significado, relacionando-a com a saída doEgipto.

Paulo dá-nos o primeiro testemunho escrito de como a tradição cristãchegou até nós. A escrita da Carta aos Coríntios é anterior ao Evangelhode Marcos. Para melhor compreender a leitura de hoje deve ler-se no seucontexto: (cf.1 Cor 11, 17-31). Paulo não está satisfeito com o modo comoos cristãos de Corinto estão a celebrar a Eucaristia “desprezais a Igreja deDeus e quereis envergonhar aqueles que nada têm” (v.22), remete-os àorigem da ceia do Senhor: recebi do Senhor o que vos transmiti (v.23) e dáséria orientação para se poder comungar: cada um examine-se a si mesmoantes de comer deste pão (v.28).

Seguindo a orientação de S. Paulo aprofundemos as palavras do evangelhoque nos relatam o acontecimento inicial da eucaristia.

Jesus faz os mesmos rituais da Páscoa judaica, mas dá-lhes outro sentido.Jesus não faz alusão ao cordeiro que era o centro da refeição pascal. Oacento recai agora nos gestos e palavras de Jesus.

João, como os Sinópticos, quer evidenciar na narrativa da última ceia, atotal entrega de amor por parte de Jesus. Na entrega do pão e do vinho, vêtoda a sua vida para trás e para a frente e faz dela o sacramento da suapresença real e de toda a vida cristã.

Nas palavras da instituição da Eucaristia fica claro que, quem acredita esegue Jesus, ao celebrar a Eucaristia, é desafiado a fazer o mesmo queJesus: entregar a própria vida por amor aos outros. Sem essa entrega deJesus e a nossa própria entrega no seu seguimento, não há eucaristia. Porisso atenção às palavras: “fazei isto em minha memória”.

O “fazei isto em minha memória” dos Sinópticos significa em João “amai-vos como Eu vos amei”, “lavai os pés uns aos outros”; não é questão de umritual, é entrega da própria vida como Jesus: “… entregue por vós, …

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derramado por vós”. Na palavra “entregue por vós”, os quatro evangelistasjuntam-se no mesmo sentido que tem a Eucaristia.

A tarefa de lavar os pés era trabalho de escravos e inclusive um rabi nãopodia exigi-lo a um escravo hebreu. Jesus pede-nos a nós esta mesmahumildade, este espírito de serviço recíproco que só se pode inspirar noamor (vv.12-15).

Acolher o escândalo da humilhação do Filho de Deus, que lava os pés aosdiscípulos e é crucificado; deixar-nos purificar pela sua caridade (v.8) leva-nos ao mesmo dinamismo da oblação divina, seguindo o exemplo de Cristo(v.13-15).

Esta é a condição indispensável para participar no seu memorial, paracelebrar a Páscoa com Ele.

■ Perguntas para reflexão

– Como vês o lava-pés relacionado com a Eucaristia?– Que serviços realiza a nossa comunidade cristã na sociedade onde estáinserida?– Comparando a nossa comunidade paroquial com a comunidade deCorinto, o que é que S. Paulo reprovaria na nossa comunidade?– Lendo Jo 13, 34-35 qual é o distintivo do cristão?

■ A nossa resposta em oração

Ainda que eu fale as línguas dos homens e dos anjos,Se não tiver amor, nada sou.

Ainda que eu tenha o dom da profeciaE conheça todos os mistérios e toda a ciência,Que tenha uma fé capaz de transformar montanhas,Se não tiver amor, nada sou.

Ainda que eu distribua todos os meus bensE entregue o meu corpo às chamas,Se não tiver amor, de nada me aproveita.O amor é paciente e prestável,Não é invejoso, arrogante ou orgulhoso,

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Nada faz de inconvenienteNem busca o seu próprio interesse,Não se irrita nem guarda ressentimento.

O amor não se alegra com a injustiça,Mas rejubila com a verdade.

O amor tudo desculpa,Tudo crê, tudo espera, tudo suporta.O amor jamais passará.

Há três coisas que recebemos:A fé, a esperança e o amor,A maior de todas é o amor.Ámen.

(cf. 1 Cor 13, 1-7.13)

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Celebração da Paixão do Senhor

Neste dia não há Eucaristia. Celebra-sea Paixão do Senhor, que não pode serentendida isoladamente, mas noconjunto do tríduo pascal: paixão,morte e ressurreição.A figura do Servo Sofredor ajuda-nos acompreender este mistério doCrucificado.Esta celebração consta de quatropartes: a liturgia da Palavra; a oraçãoUniversal; a adoração da cruz e aComunhão.

A PALAVRA DE HOJE:

Isaías 52, 13 – 53, 12Hebreus 4, 14-16; 5, 7-9João 18, 1 – 19, 42

■ Comentário às leituras

O texto da primeira leitura é o quarto cântico do Servo. Isaías apresenta-nos quatro cânticos: (Is 42, 1-4; 49,1-6; 50,4-11; 52,13 – 53,12). A figura doservo que aparece no tempo do Exílio pode fazer pensar num profeta, nopovo de Israel sofredor no exílio mas o Novo Testamento identifica essafigura com o Cristo da Paixão.

Servo, Justo, Cordeiro, Filho, são termos afins. Vejamos o processo do Servo.

1 – Desanimado no Exílio, pensando que Deus o abandonou, descobreque, mesmo aí, Deus o ama: “Eis o meu Servo, meu eleito em quem tenhoprazer” (1º cântico do Servo).

2 – Amado por Deus, recebe uma missão: a prática da justiça, aliança dopovo e luz das nações (2º cântico).

Sexta-Feira Santa

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3 – No cumprimento da missão, o servo parece que passa por uma tentação:como quem está em situação superior e muito protegido porque Deus vaipunir os adversários (3º cântico e versículos seguintes).

4 – No exercício da missão, o servo dá um passo decisivo: aceitar sofrerinocente e injustamente, indo a caminho como um cordeiro conduzido aomatadouro (53,7).

O Servo sofredor inocente mostra que acontece uma injustiça, um absurdo.O Servo salva, porque não responde pelo mesmo caminho do opressor.

Pode salvar mesmo o opressor que, ao ver o mal causado ao inocente,pode-se arrepender e encontrar a salvação. O sofrimento inocente e poramor salva: (Is 53, 5: esmagado pelas nossas iniquidades…por suas feridasfomos curados).

Hoje é o pobre, o pequeno que carrega com os males da sociedade. Agrande notícia é que esse sofrimento não é inútil; tem missão salvadora.

A Igreja celebra a paixão do Senhor com a segurança de que a cruz deCristo não é a vitória das trevas, mas a morte da morte. Esta visão de féaparece de modo particular em João. Jesus é apresentado como rei queconhece a situação, domina-a e apropria-se dela. A Hora de Jesus – quechegou – descreve-se através dos acontecimentos como hora de sofrimentoe de glória: o ódio do mundo condena Jesus à morte de cruz, mas do altoda cruz, Deus manifesta o seu amor infinito. Nesta esplêndida revelação,nesta total entrega divina, consiste a glória. A cruz é glória porque é vitóriado amor levado ao extremo. É prova máxima do amor de Deus.

A vida de Jesus não foi só ensinar o bem, não foi só fazer o bem; foientregar a vida e sofrer como aqueles que Ele quer salvar. Não basta ensinaro bem, não basta fazer o bem de vez em quando; é indispensável entregara vida, sofrer com quem sofre.

A narração da paixão começa e termina num horto – lembrança do Éden –querendo indicar que Cristo assumiu e redimiu o pecado do primeiro Adãoe o homem recobra agora a sua beleza original. A narração ao mostrar osofrimento de Jesus ressalta que Jesus é o Senhor, que Ele é Deus: “SOUEU” (cf. 18, 5-7) e que a história não lhe foge da mão. O termo rei aparecedoze vezes no relato da paixão (dezasseis em todo o quarto evangelho).No momento em que Jesus é julgado, cumpre-se antes de mais, o juízosobre o mundo (cf. Jo 18, 19).

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Quando é elevado na cruz, cumpre-se a Escritura (19, 28. 36-37).Precisamente no momento da morte nasce a Igreja onde Maria é Mãe (19,26-27: Eis o teu filho, eis a tua mãe. O novo povo regenerado no Baptismo,pela participação na morte e ressurreição de Jesus, e alimentado com aEucaristia, celebrará ao longo dos séculos a Páscoa do verdadeiro Cordeiro(19, 33; cf. Ex 12, 16), até que se cumpra no reino de Deus (cf. Lc 22, 16).

■ Perguntas para reflexão

– Olha para a cruz e fica a pensar como se revela o Deus verdadeiro emCristo crucificado.– Pensa em pessoas concretas que estão a sofrer no mundo.– Quem carrega hoje os pecados do mundo? (Crise económica, vítimas dasguerras, os indefesos).– O próprio sofrimento inocente de Deus a sofrer na cruz, traz alguma luzao problema de todo o sofrimento inocente?

■ A nossa resposta em oração

Se Deus está por nós,Quem pode estar contar nós?Ele que nem sequer poupou o seu próprio Filho,Mas o entregou por todos nós,Como não havia de nos oferecer tudo juntamente com Ele?

Quem poderá separar-nos do amor de Cristo?A tribulação, a angústia, a perseguição,A fome, a nudez, o perigo, a espada?

Mas em tudo isso saímos vencedoresGraças àquele que nos amou.

Sabemos que nem a morte nem a vida,Nem os anjos nem os principados,Nem o presente nem o futuro,Nem as potestades, nem a altura, nem o abismo,

Nem qualquer outra criatura poderá separar-nos do amorDe Deus que está em Cristo Jesus, Senhor nosso.

Ámen.

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Ambientação

A Vigília Pascal é o coração da liturgiacristã, centro do ano litúrgico, a maisantiga, a mais sagrada, a mais rica detodas as celebrações; no dizer de S.Agostinho a “mãe de todas as vigílias”.É na noite de Páscoa que a celebraçãoda morte e ressurreição do Senhor temo seu ponto culminante.O mistério pascal não é estático, masdinâmico. Não é um estado de Cristo,mas uma “passagem”, um movimento,em que é envolvido todo o povo deDeus. A espera dos cristãos nesta noite

santa não se reduz à comemoração de um facto objectivo e real. É a esperade Alguém. É a espera do Senhor que volta ressuscitado para nos levar afazermos com Ele a mesma passagem da morte à vida, seguindo-o no dia-a-dia, carregando a nossa cruz.Ao celebrarem a primeira manhã de Páscoa, os cristãos esperam com alegriaa sua própria manhã de Páscoa.Ser baptizado é, na verdade, morrer com Cristo para ressuscitar com Ele.Por isso, a Igreja, desde os tempos mais antigos, pensou que o melhormeio de celebrar o mistério pascal era baptizar nesta noite os seuscatecúmenos e levar os baptizados a fazer memória viva dos compromissosdo seu dia de Baptismo.

A Liturgia da Vigília Pascal tem as seguintes partes:

Liturgia da Luz: Cristo ressuscitado, luz do mundo que não se apaga mais.Liturgia da Palavra: História da salvação – da criação à ressurreição “novacriação”.Liturgia Baptismal: nossa entrada na ressurreição com Jesus.Liturgia Eucarística: Vivência e celebração permanente da morte eressurreição de Cristo e da nossa vida cristã.

Vigília Pascal

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(O Missal Romano tem nove leituras para a VigíliaPascal: sete do Antigo Testamento e duas do NovoTestamento. Mantendo a visão da história dasalvação, como a Liturgia o exige, apresentamos aquitrês leituras do Antigo Testamento e duas do NovoTestamento).

A PALAVRA DE HOJE:

1 - Génesis 1, 1 – 2,22 - Êxodo 14, 15 – 15, 13 - Ezequiel 36, 16-17 a.18-284 - Romanos 6, 3-115 - Marcos 16, 1-8

■ Comentário às leituras

Depois da celebração da Luz, simbolizando aRessurreição, a Liturgia volta atrás apagando as luzespara ver o caminho da História que conduziu até àRessurreição. No entanto, o Círio pascal, quesimboliza Cristo ressuscitado, permanece aceso. Énele que se acende a vela durante o Baptismo.

Cristo é a luz do mundo e o cristão, no Baptismo,recebe a missão de ser testemunha da luz.

A primeira leitura relata-nos a Criação. Assim começaa Sagrada Escritura: “No princípio Deus criou…”. É aPalavra de Deus que cria e ordena o Universo. Acoroa da criação é o homem e a mulher, criados “àsua imagem e semelhança” (v.26). Com o serhumano, a criação fica completa e a partir daí, emvez de bom o texto diz: Deus viu tudo o que tinhafeito: e era muito bom (v.31).

A nossa primeira vocação é à vida em comunhãocom Deus, com os nossos semelhantes, e a harmoniacom a natureza.

Os males que vemos no mundo (fratricídio, desordemmoral, idolatria, injustiça, tráfico humano e toda a

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opressão e escravatura) não vêm de Deus; vêm da desobediência do serhumano à sua Palavra e da influência externa negativa.

Na segunda leitura, Deus escuta o grito do povo oprimido e liberta-o daescravidão. É o Êxodo.

As águas do Mar Vermelho, uma ameaça de morte, convertem-se em fontede salvação; (por isso o Cristianismo viu nessa passagem do Mar, umsímbolo das águas baptismais; cf. Oração da Bênção da água na VigíliaPascal).

A passagem do mar aparece aos olhos do povo liberto, como umaimpressionante revelação de Deus, que actua na história. Este texto terminacom três verbos fundamentais: o povo viu, temeu e acreditou. Estes verbosaparecem nas narrações evangélicas da ressurreição de Cristo. Asmaravilhas realizadas pelo Senhor reforçam a fé dos libertos do Egipto quepodem retomar o caminho e exaltar solenemente a experiência vivida,como aparece no cântico da vitória (Ex 15, 1-21).

Sabemos como o povo, pouco depois, começou a murmurar contra Deus econtra Moisés e caiu na idolatria e na prática das injustiças, negando aaliança com Deus e uns com os outros.

Mas Deus não abandona o seu povo. Repetidas vezes contrai aliança comos homens, e pelos Profetas os forma na esperança da salvação (cf. IVOração Eucarística). Vai nascendo no coração do povo pobre e humilde, aesperança do Messias, e paralelamente se anuncia que Deus vai dar umcoração novo, um espírito novo, como lemos na leitura de Ezequiel.“Derramarei sobre vós uma água pura e sereis purificados; …Dentro devós porei o meu espírito, fazendo com que sigais as minhas leis e obedeçaise pratiqueis os meus preceitos (cf. Ez 36, 25-27).

Ao longo da história da salvação foram aparecendo luzes de esperança,resistências ao mal, e desejos de vida. A Ressurreição de Cristo surge comoa grande Luz, que ilumina toda a história para trás e para a frente. Nela,ganham sentido, todas as resistências ao mal e desejos de vida dahumanidade. A pedra da morte que pesava sobre a humanidade foiremovida! (Marcos 16,3)

A morte e a ressurreição de Cristo são a resposta de Deus ao grito de todosos oprimidos da humanidade, também ao de Cristo na cruz. É a nova criação;é vida eterna.

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O verdadeiro e definitivo Êxodo é a passagem da morte à vida. Todo o serdeseja viver para sempre; o maior obstáculo na frente é a morte. A criaçãoexiste, ninguém a pode negar, ninguém assistiu ao começo, mas está aí,como uma evidência. A ressurreição é uma nova criação, que já começou;também já está aí.

Os primeiros cristãos, quando fizeram a experiência que Jesus está vivoexclamam: é o Senhor: (Vi o Senhor! - Jo 20,18; Vimos o Senhor - Jo 20, 25;É o Senhor - Jo 21,7; é verdade, o Senhor ressuscitou - Lc 24, 34); oCrucificado ressuscitou (cf. Mc 16, 6).

O povo de Deus, quando se viu libertado da escravidão no Egipto, tendopassado a pé enxuto, o Mar vermelho: exclamou: foi o Senhor que noslibertou.

É conveniente reparar na relação e semelhança da experiência de fé dosdois Êxodos: saída da escravidão no Egipto e saída da morte.”É o Senhor!”

A vigília pascal é o momento oportuno e próprio para o Baptismo; é porisso que os catecúmenos são baptizados nesta noite e os baptizadosrenovam o seu Baptismo. “Pelo Baptismo fomos, pois, sepultados com Elena morte, para que, tal como Cristo foi ressuscitado de entre os mortospela glória do Pai, também nós caminhemos numa vida nova” (Rom 6, 4).

Ser cristão é ter esta alegria e certeza da vida eterna, mas também é umamissão: ser testemunha da ressurreição de Jesus (Act 1, 8). A semente deeternidade que o Baptismo lança em nós, deve guardar-se e crescer, paraque a graça de uma vida nova se desenvolva em plenitude. Jesus não sóressuscitou, mas tornou-se visível (Act 10, 40; Apoc 1, 1).

■ Perguntas para reflexão

– Sabes a data do teu Baptismo?– Saúdas e recebes com carinho os novos baptizados?– Se a Vigília Pascal é o máximo da nossa fé e de toda a Liturgia cristã,porquê a maioria das nossas paróquias não a celebra?– Ser cristão é ser testemunha da ressurreição de Cristo. Como é que tu Otestemunhas e O tornas visível?– A ressurreição é uma nova criação. O que estamos a ver no mundo queé realidade desta nova criação?

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■ A Palavra converte-se em oração

Bendito seja Deus,Pai do Nosso Senhor Jesus Cristo,que na sua grande misericórdianos gerou de novopara uma esperança viva,para uma herança incorruptível,para um compromisso de uma boa consciênciapara com Deuspela ressurreição de Jesus Cristo.Ámen.

(cf.1 Pe 1, 3-5; 3, 21)

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Ambientação

A Quaresma levou-nos à cruz ondeDeus se revela de maneira totalmenteextraordinária, ao revelar-se Deuscrucificado, prova máxima do seuamor.A grande surpresa da Páscoa é adescoberta, a experiência dos (as) seusdiscípulos (as) que esse mesmoCrucificado está vivo, ressuscitado. Apedra da morte está removida (cf. Mc16, 4) e os seus discípulos começampouco a pouco a ter a certeza de queEle está vivo.

A PALAVRA DE HOJE:Actos 10, 34 a. 37-43Colossenses 3, 1-4Lucas 24, 13-35.

■ Comentário às leituras

Quando nós, cristãos, nos reunimos ao Domingo, no Dia do Senhor paracelebrar a Eucaristia, celebramos a presença do Senhor Crucificado eressuscitado. “Celebramos Senhor a vossa morte, proclamamos a vossaressurreição, vinde, Senhor Jesus! Todos os Domingos são Domingos dePáscoa. Assim rezamos cada Domingo: “Reunidos na vossa presença aocelebrarmos o primeiro dia da semana em que Nosso Senhor Jesus CristoRessuscitou dos mortos…”

Nós cristãos nascemos da ressurreição do Senhor: fomos gerados e nascidospela ressurreição de Jesus Cristo de entre os mortos (cf. 1 Pe 1, 3).

Domingo de Páscoa

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Lemos na primeira leitura que “Deus o ressuscitou ao terceiro dia e concedeu-lhe que se tornasse visível” (Act 10, 40). A nossa missão de cristãos évisibilizar, testemunhar a ressurreição de Cristo em toda a parte (cf. Act 1,8).

O Senhor ressuscitado não aparece com prepotência. Continua idêntico aopresépio e à cruz. Como Ressuscitado necessita da humildade e fragilidadedas testemunhas, que por vezes também são crucificadas, para fazer chegara luz libertadora da ressurreição, a nova criação. De notar que as primeirastestemunhas da ressurreição são as mulheres que nessa época não eramconsideradas testemunhas válidas.

O Domingo, o Dia do Senhor, tem origem na vida dos cristãos que secomeçaram a reunir e a celebrar a presença do Senhor. Daí a importânciapara não falharmos a este encontro dominical, mas não o façamos apenaspor preceito; façamo-lo por identidade cristã.

Os evangelhos do tempo pascal dizem respeito às aparições e ao discursodo pão da vida (Jo 6). As leituras são tiradas principalmente dos Actos dosApóstolos e do Apocalipse. Olhando as leituras podemos dizer que é avida dos cristãos que torna visível a ressurreição. As testemunhas iniciaisdaqueles que andaram e amaram Jesus são referência determinante. Essesdiscípulos e discípulas anunciaram com alegria e por toda a parte:“Ressuscitou”; “Ele é o Senhor”. (cf. Jo 20,18. 25; Jo 21,7; Lc 24, 34; Mc 16, 6;Act 2,24.36; 3,15;4,10-12).

O caminho para nós hoje descobrirmos o Ressuscitado é o caminho daEucaristia (Jo 6) ou seja o caminho de Emaús: Vida, Bíblia, Eucaristia(Comunidade) (cf. Lc 24, 13-35).

O evangelho para a tarde deste domingo de Páscoa (Lc 24, 13-35) é umacatequese maravilhosa para mostrar como Jesus nos acompanha e nosressuscita. Olhando o texto apresentamos um roteiro:

1 - Partir da VIDA levada a sério, “conversavam sobre todos estesacontecimentos (v.14);

2 - Deixar-se interpelar e esclarecer por um desconhecido… “o próprio Jesusaproximou-se e pôs-se a caminhar com eles e perguntou-lhes: que palavrassão essas que trocais de rosto tão sombrio enquanto ides caminhando?(vv-15-16) … Um deles pergunta-lhe: Tu és o único forasteiro que ignora osfactos que aconteceram nestes dias…como os nossos chefes entregaramJesus para ser condenado à morte e o crucificaram?

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O desconhecido disse-lhes: insensatos e lentos de coração para crer… eexplicou-lhes as Escrituras (BIBLIA) (cf. v.25-27).

3 – Acolher o desconhecido na casa e mesa: “Fica connosco, pois a tarde eo dia já declina” (COMUNIDADE) (v.29). E agora acontece a grande surpresa:na fracção do pão descobrem a luz da ressurreição: “então os seus olhos seabriram e o reconheceram; Ele porém ficou invisível diante deles.” (v. 31).

4 – Voltar ressuscitado à comunidade dos discípulos e discípulas queproclamam: “é verdade, o Senhor ressuscitou!” (v. 34) e eles por sua veznarraram os acontecimentos do caminho e como haviam reconhecido Jesusna fracção do pão (MISSÃO).

O caminho de Emaús é o nosso caminho de Páscoa, onde, celebrandojuntos a Eucaristia, nos ajudamos uns aos outros a descobrir a presença doRessuscitado, contando a nossa vida na partilha de fé. A ressurreição nãoé comprovável como a crucifixão; está na esfera da fé, não é demonstrávelempiricamente.

■ Perguntas para reflexão

– A tua fé fundamenta-se num encontro pessoal com o Ressuscitado?

– Se a ressurreição de Jesus é uma nova criação, um movimento de vidaeterna (reino de Deus), que sinais estamos a ver que testemunham aressurreição de Jesus e a nossa entrada nessa mesma ressurreição?

– Como ser hoje missionário da Ressurreição?

■ A Palavra converte-se em oração

Senhor Deus do Universo,que neste dia, pelo vosso Filho Unigénito,vencedor da morte,nos abristes as portas da eternidade,concedei-nos que,celebrando a solenidade da rRessurreição de Cristo,renovados pelo vosso Espírito,ressuscitemos para a luz da vida.Ámen.

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ANUNCIAMOS CRISTO CRUCIFICADOSubsídios para a Quaresma e Páscoa - Ano B

Texto: Joaquim Domingos Luís e Manuel Abreu, svdDesenhos: Editorial Verbo Divino - EspanhaComposição Gráfica: J. Leonel de Sousa, svd

Impressão: Tadinense AG - Braga