a qualidade ambiental na escola e no seu entorno · palavras-chave: educação ambiental. qualidade...

11
A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO HEYSE, Halina Linzmeier 1 - SME-Curitiba VAINE, Thais Eastwood 2 - SME-Curitiba / UTFPR Grupo de Trabalho – Educação e Meio Ambiente Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A educação ambiental, tema que vem ganhando cada vez mais importância devido ao aumento dos impactos causados pelas atividades dos seres humanos, é fundamental para a formação de um cidadão crítico e consciente das consequências causadas pelo vertiginoso avanço científico e tecnológico, além de seus próprios atos. Uma formação deficiente nessa área faz com que o estudante não consiga se enxergar como parte da natureza, se encaixando ao mesmo tempo como culpado e vítima das implicações decorrentes das próprias atitudes. Os jovens precisam saber o que é qualidade ambiental e compreender que ela se aplica não só a florestas longe da sua realidade, mas também ao seu próprio entorno, desde a sua casa até a escola que frequenta. Nesse contexto, esse trabalho tem como objetivo diagnosticar, com o auxílio dos alunos, a qualidade ambiental dentro do espaço escolar e do seu entorno por meio de atividades de investigação. Através da exibição de vídeo problematizador, de entrevistas com parentes, observações detalhadas do ambiente estudado, saída de campo e realização de experimentos foram criadas situações para que os estudantes se tornassem aptos a detectar problemas ambientais e, desta forma, elaborassem propostas de enfrentamento destas diferentes situações. Um projeto de educação ambiental de forma contextualizada à realidade do aluno facilita o desenvolvendo um pensamento crítico frente às questões ambientais e o capacita a tornar-se agente transformador de seu meio. O trabalho desenvolvido sensibilizou os alunos e promoveu uma mudança de comportamento em relação à realidade do entorno escolar, pois os educandos passaram a compreender os impactos de suas ações sobre o meio ambiente. Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal do Paraná. Professora na Secretaria Municipal de Educação de Curitiba e na Secretaria Municipal de Educação de Araucária. E-mail: [email protected]. 2 Aluna regular do Programa de Pós-Graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica - mestrado profissional - Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Professora da rede municipal de ensino / Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. E-mail: [email protected].

Upload: others

Post on 13-Jun-2020

2 views

Category:

Documents


0 download

TRANSCRIPT

Page 1: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO

HEYSE, Halina Linzmeier1 - SME-Curitiba

VAINE, Thais Eastwood2 - SME-Curitiba / UTFPR

Grupo de Trabalho – Educação e Meio Ambiente

Agência Financiadora: não contou com financiamento Resumo A educação ambiental, tema que vem ganhando cada vez mais importância devido ao aumento dos impactos causados pelas atividades dos seres humanos, é fundamental para a formação de um cidadão crítico e consciente das consequências causadas pelo vertiginoso avanço científico e tecnológico, além de seus próprios atos. Uma formação deficiente nessa área faz com que o estudante não consiga se enxergar como parte da natureza, se encaixando ao mesmo tempo como culpado e vítima das implicações decorrentes das próprias atitudes. Os jovens precisam saber o que é qualidade ambiental e compreender que ela se aplica não só a florestas longe da sua realidade, mas também ao seu próprio entorno, desde a sua casa até a escola que frequenta. Nesse contexto, esse trabalho tem como objetivo diagnosticar, com o auxílio dos alunos, a qualidade ambiental dentro do espaço escolar e do seu entorno por meio de atividades de investigação. Através da exibição de vídeo problematizador, de entrevistas com parentes, observações detalhadas do ambiente estudado, saída de campo e realização de experimentos foram criadas situações para que os estudantes se tornassem aptos a detectar problemas ambientais e, desta forma, elaborassem propostas de enfrentamento destas diferentes situações. Um projeto de educação ambiental de forma contextualizada à realidade do aluno facilita o desenvolvendo um pensamento crítico frente às questões ambientais e o capacita a tornar-se agente transformador de seu meio. O trabalho desenvolvido sensibilizou os alunos e promoveu uma mudança de comportamento em relação à realidade do entorno escolar, pois os educandos passaram a compreender os impactos de suas ações sobre o meio ambiente. Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores.

1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade Federal do Paraná. Professora na Secretaria Municipal de Educação de Curitiba e na Secretaria Municipal de Educação de Araucária. E-mail: [email protected]. 2 Aluna regular do Programa de Pós-Graduação em Formação Científica, Educacional e Tecnológica - mestrado profissional - Universidade Tecnológica Federal do Paraná (UTFPR). Professora da rede municipal de ensino / Secretaria Municipal de Educação de Curitiba. E-mail: [email protected].

Page 2: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30672

Introdução

A definição de qualidade ambiental é ampla e um dos conceitos mais aceitos consiste

nas “condições físicas, químicas, biológicas, humanas, sociais e culturais para a sobrevivência

dos indivíduos” (CARIBÉ; DIAS, 2011). Em decorrência das exigências do ser humano, estas

condições são constantemente modificadas ao longo do tempo, pois o homem é o parâmetro

sobre o qual a mesma é aferida (CARIBÉ; DIAS, 2011).

Trabalhar a qualidade ambiental na escola exige uma abordagem multidisciplinar, pois

vários setores do conhecimento estão integrados. Tanto o ambiente escolar como seu entorno

podem ser objetos de estudo. Os alunos, então, buscariam a compreensão das interações entre

os diversos aspectos do meio ambiente, sejam biológicos ou não (TOMAZELLO;

FERREIRA, 2001). Portanto, tanto os ambientes no interior da escola (salas de aula, pátio,

banheiros, quadra esportiva) quanto de seu entorno (ruas, calçadas, moradias, presença de

indústrias, circulação de veículos e pessoas) devem ser analisados na verificação da qualidade

ambiental sendo utilizada uma abordagem integrada e dinâmica.

Uma metodologia a ser utilizada pelos alunos pode ser a constatação da qualidade do

ar através da utilização de bioindicadores, que consistem na “metodologia adequada para a

detecção de efeitos de poluentes atmosféricos sobre os organismos” (KLUMPP et al., 2001).

Os alunos podem participar ativamente deste processo de identificação da condição ambiental

através da observação de liquens nas árvores da escola e do entorno escolar. Pois, a

quantidade e as diferentes formas de crescimento destes organismos podem demonstrar

relações com a qualidade ambiental do meio (RAVEN; EVERT; EICHHORN, 2007).

Estas atividades de investigação da qualidade ambiental do ambiente escolar e de seu

entorno utiliza o meio físico como recurso didático duplo: como meio para investigar e

descobrir o mundo através da observação e do contato direto e, também, como ponto de

partida para desenvolver projetos de aprendizagens integradas (TOMAZELLO; FERREIRA,

2001). Desta forma, novas atitudes e comportamentos individuais e coletivos em relação ao

meio ambiente são criados e estimulados fazendo jus aos princípios da solidariedade,

igualdade e respeito à diferença almejados pela educação ambiental (JACOBI, 1997).

A educação ambiental é vista hoje como condição necessária para modificar um

quadro crescente de degradação socioambiental (JACOBI, 2003) e, por isso, tem

experimentado um grande crescimento no Brasil nos últimos anos. Como reflexo disto há a

Page 3: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30673

inclusão da área de Meio Ambiente como um dos temas transversais nos Parâmetros

Curriculares Nacionais-PCNs. (TOMAZELLO; FERREIRA, 2001).

A educação para a cidadania representa a possibilidade de motivar e sensibilizar as

pessoas para transformar as diversas formas de participação na defesa da qualidade de vida.

Neste contexto emerge a função transformadora da educação ambiental através do

enfrentamento dos problemas sociais e da degradação ambiental e também da

coresponsabilização dos indivíduos a fim de promover um novo tipo de desenvolvimento – o

desenvolvimento sustentável (JACOBI, 2003).

Com a perspectiva de formar os estudantes para o exercício da cidadania e da

conscientização ambiental, foi desenvolvido um trabalho com 117 alunos do 7ºano da Escola

Municipal Professor Herley Mehl, em Curitiba – Paraná. Esperou-se mobilizar esses jovens

não só para o desenvolvimento do trabalho, como também para o seu envolvimento com o

conteúdo programático da disciplina de Ciências, possibilitando a passagem das noções e

saberes do senso comum para o saber sistematizado do conhecimento relativo à qualidade

ambiental. Também se pretendeu criar uma oportunidade de retirar os educandos da apatia e

realocando-os como construtores de seu aprendizado, proporcionando um ambiente em que

esses estudantes sintam-se acolhidos contribuindo para o desenvolvimento do trabalho

cooperativo e posturas éticas.

Portanto, objetivo geral deste trabalho é diagnosticar, com o auxílio dos alunos, a

qualidade ambiental dentro do espaço escolar e no seu entorno através de atividades práticas.

Estas se referem à observação detalhada dos espaços onde os alunos vivem com ênfase na

detecção dos problemas e no enfrentamento destas diferentes situações ambientais. A partir

destas atividades, o aluno poderá desenvolver um pensamento crítico frente às questões

ambientais e se tornar um agente transformador de seu meio.

Desenvolvimento

Para iniciar a temática foram realizados alguns debates sobre os problemas ambientais

abordando seu conceito, causas e medidas mitigadoras através da exibição do vídeo “A

história das coisas”. Toda esta atividade funcionou como a motivação para a reflexão inicial

sobre nossa postura diante do meio ambiente. Vale a pena ressaltar que consideramos a

Educação Ambiental não apenas no sentido de natureza, mas como todas as relações naturais

e antrópicas em determinado ambiente. Os alunos produziram alguns desenhos informativos

Page 4: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30674

sobre suas percepções sobre a educação/qualidade ambiental conforme a Figura 1. Estas

atividades exploratórias condizem com os conteúdos conceituais das áreas de cultura e

sociedade e natureza da ciência e tecnologia, pois fazem o aluno refletir sobre a interferência

do ser humano no ambiente; sobre a poluição atmosférica, qualidade do ar e saúde do ser

humano; consumo e a forma como o ser humano transforma os ambientes retirando os

recursos naturais como matéria-prima para construir objetos e instrumentos (DIRETRIZES

CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO MUNICIPAL DE CURITIBA, 2006). Além disso,

ao longo de todo o trabalho com os alunos também analisaram a relação entre os diferentes

tipos de ambientes (naturais e transformados); aspectos da vegetação, fauna, solos e água; e a

importância para o equilíbrio ambiental. Desta forma criamos possibilidades para que o aluno

compreendesse o seu cotidiano e superasse interpretações ingênuas sobre a realidade vivida

(DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO MUNICIPAL DE CURITIBA,

2006) despertando a conscientização coletiva e tornando os educandos agentes

transformadores do espaço escolar. Nos conhecimentos atitudinais foram explorados:

organização de equipes e repasse (socialização) do conhecimento aos demais colegas; repasse

de seus conhecimentos à comunidade escolar e criatividade ao fazê-lo.

Figura 1 - Percepções dos alunos sobre a educação/qualidade ambiental.

Fonte: trabalhos realizados pelos alunos dos 7º anos da escola pesquisada.

Page 5: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30675

Os educandos realizaram uma enquete com os familiares e vizinhos para constatar e

resgatar a qualidade ambiental dos espaços que frequentam, realizando uma comparação dos

aspectos antigos do bairro com as condições atuais. Os alunos puderam refletir se os espaços

onde vivem ou frequentam estão, sob o ponto de vista da qualidade ambiental, melhorando ou

se deteriorando. Todas as questões abordadas estão, de alguma forma, relacionadas com o ser

humano, pois nas diferentes definições da qualidade ambiental o foco é o homem (CARIBÉ;

DIAS, 2011). Nesta enquete, a maioria dos entrevistados (61%) apontou que a urbanização

das grandes cidades acarreta mais pontos negativos que positivos, como a diminuição das

áreas verdes, a poluição, o aumento da quantidade de lixo, o aumento das favelas e das

queimadas. Os pontos positivos decorrentes da urbanização listados pelos entrevistados foram

a coleta seletiva de lixo, melhoria no transporte público e das vias e melhoria da infraestrutura

do bairro de um modo geral. Sobre a situação dos corpos hídricos no passado, houve

comentários sobre as condições de banho nos rios (65%), existência de vegetação nas

margens (83%) e presença de peixes (78%). Porém, a situação desses rios nos dias atuais é

caracterizada pela intensa poluição (91% dos entrevistados). Sobre o tratamento do lixo,

antigamente os costumes dividiam-se entre enterrar e queimar os resíduos, atualmente há a

coleta de lixo para todos os entrevistados e alguns realizam a separação do lixo reciclável do

lixo orgânico (75%). A respeito das mudanças na composição e abundância da vegetação ao

longo dos anos, a grande maioria dos entrevistados (97%) afirmou que a região conta com

uma diminuição visível e mudança da vegetação. Também foram abordadas questões

referentes à fauna, visto que, recentemente alguns gambás apareceram nas dependências da

escola vasculhando o lixo. Na situação, vários alunos ficaram amedrontados e outros

afugentaram o animal por o considerarem um invasor. Para esclarecer as dúvidas dos

estudantes foi realizada uma palestra sobre os animais no meio urbano com o biólogo Msc.

Ricardo Augusto Cerboncini. Foram produzidos cartazes informativos sobre a presença de

gambás e outros animais no meio urbano conforme se observa na Figura 2, e então expostos

na escola para difundir o conhecimento aos demais colegas.

Page 6: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30676

Figura 2 - Cartazes informativos sobre os gambás confeccionados pelos alunos.

Fonte: trabalhos realizados pelos alunos dos 7º anos da escola pesquisada.

Para refletir a respeito das ações do homem sobre a natureza e aspectos da vegetação,

fauna, poluição e urbanização, também foi realizada uma visita monitorada à Universidade

Livre do Meio Ambiente – UNILIVRE, localizada nas proximidades da escola, como pode

ser observado na Figura 3.

Figura 3 - Visita monitorada na UNILIVRE. A) Percurso realizado a pé com acompanhamento da Guarda Municipal. B) Sujeira ao longo do caminho decorrente de propaganda eleitoral. C) Chegada às dependências da Unilivre. D) Monitoria. E) Alunos na trilha de percepção ambiental. F) Observação da vegetação e fauna.

Fonte: fotos captadas pelas autoras deste trabalho.

Page 7: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30677

Durante a visita os estudantes tiveram contato com a fauna e a flora do parque e

ouviram explicações sobre preservação do meio ambiente, uso e ocupação do solo,

bioindicadores e ainda realizaram uma dinâmica que possibilitou reflexões sobre o uso da

água.

Após as explicações recebidas na UNILIVRE e também complementadas em sala de

aula pelas docentes, os estudantes realizaram uma atividade de verificação da qualidade do ar

na escola. A metodologia utilizada para essa atividade foi a análise da presença/ausência de

bioindicadores, neste caso os liquens, cujas diferentes formas de crescimento apontam o

estado ambiental do ar. Os alunos realizaram a amostragem aleatória das árvores presentes

próximas ao farol do saber anexo à escola através do uso de quadrantes de 10 x 10cm nas

alturas de 100cm e 120cm do solo, na face em que os liquens se apresentaram mais

abundantes como ilustra a Figura 4 (adaptado de MARTINS; KÄFFER; LEMOS, 2008). Em

cada quadrante a porcentagem de cobertura dos líquens foi estimada de acordo com suas

formas de crescimento (foliosos, crostosos e fruticosos) anteriormente explicitadas em sala de

aula. É sabido que os líquens crostosos são mais tolerantes à poluição, os foliosos apresentam

tolerância média e os fruticosos são os mais intolerantes e sensíveis à poluição (MARTINS;

KÄFFER; LEMOS, 2008). Os alunos tabularam os dados em sala e realizaram os cálculos da

porcentagem de cobertura média de cada tipo de líquen. Os liquens foliosos apresentaram a

maior porcentagem de cobertura média nas árvores (12,8%). Os liquens crostosos e fruticosos

apresentaram porcentagens de cobertura média semelhantes (5,2% e 5,4% respectivamente).

Com estes resultados foi possível observar que o ambiente ao redor da escola apresenta

poluição do ar moderada. Os resultados foram debatidos em sala de aula e algumas

suposições foram levantadas. Dentre elas, que a existência de liquens fruticosos em uma baixa

porcentagem de cobertura média pode demonstrar uma boa qualidade ambiental em tempos

pretéritos e o atual desaparecimento destes liquens com a intensa urbanização do bairro. Outra

hipótese, contrária, seria a de que houve uma melhora na qualidade ambiental do ar que,

consequentemente, aumentaria a quantidade de liquens fruticosos. O ideal seria realizar esta

mesma amostragem nos próximos anos para verificar qual das duas suposições seria a mais

provável. Os alunos puderam compreender a importância e a necessidade de monitoramentos

ambientais para atestar as mudanças que vem acontecendo a nossa volta.

Para detectar a qualidade ambiental no interior da escola, os alunos percorreram todo o

espaço escolar analisando-o minuciosamente e perceberam que a maior parte dos problemas

Page 8: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30678

apresentados decorre da sujeira (papel de bala, doces e papéis jogados no chão) e da falta de

área verde. Os educandos constataram que a sujeira está presente devido principalmente à

falta de conscientização deles próprios ao, por exemplo, jogar o lixo no chão e também à

escassez de lixeiras nos espaços comuns (pátios e quadra) onde passam o recreio. Também

observaram que a coleta seletiva de lixo nas dependências escolares é praticamente

inexistente, sendo que esta ocorre apenas no pátio externo, com o descarte na maioria das

vezes realizado de maneira incorreta. A área verde escolar, além de muito diminuta, ocorre

em locais onde o acesso dos alunos não é permitido ou em regiões altas próximas aos muros.

Figura 4 - Amostragem dos liquens nas árvores através da utilização dos quadrantes.

Fonte: fotos captadas pelas autoras deste trabalho.

De acordo com os resultados da análise do ambiente escolar, os alunos concluíram que

é necessário, além de diminuir a sujeira, aumentar a área verde escolar. Como medida

mitigadora à falta de vegetação, foi confeccionada uma horta vertical, uma vez que os locais

disponíveis para a semeadura das mudas são de difícil acesso. O conteúdo de ciências do 7º

ano abrange os aspectos botânicos, portanto, a importância da vegetação na erosão hídrica do

solo foi verificada através de um experimento adaptado do Programa de Extensão

Universitária Solo na Escola/Esalq (disponível em

http://solonaescola.blogspot.com.br/2011/11/experimentos-6.html). No experimento foram

utilizadas três garrafas PET de 2L, três garrafas PET de 500mL, barbante, tesoura, terra,

grama, folhas e água. As garrafas maiores foram cortadas de maneira a tornarem-se um

receptáculo, conforme ilustra a Figura 5 e demonstraram diferentes situações de solo:

totalmente descoberto, coberto com serapilheira e com grama, ou seja, com vegetação. As

garrafas menores foram cortadas ao meio e transformadas em coletores de água com alças

confeccionadas com barbantes. Em cada uma das garrafas grandes foi despejada a mesma

Page 9: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30679

quantidade de água ao mesmo tempo, como ilustra a Figura 5A e observada a coloração do

líquido que saía pela abertura, conforme a Figura 5B. Quanto mais escura era a água, maior a

erosão que aquele tipo de solo tinha sofrido. Deste modo, os alunos concluíram que o solo

com cobertura vegetal apresenta menor erosão, fato constatado pela coloração mais clara do

líquido. As hipóteses levantadas pelos estudantes foram a de que as raízes das plantas

“seguram” o solo impedindo que o mesmo deslize e que também realizam a filtração da água.

Figura 5 - Experimento para verificar a importância da vegetação na erosão hídrica do solo. A) Aluno despejando água para simular a erosão hídrica. B) Da esquerda para a direita: solo com cobertura vegetal, solo com serapilheira, solo descoberto.

Fonte: fotos captadas pelas autoras deste trabalho.

A horta vertical foi confeccionada utilizando garrafas PET de 2L, barbante, terra e

mudas de hortaliças, flores e também sementes de feijão e girassol como observado na Figura

6A. Os móbiles formados pelas garrafas foram colocados em uma parede externa da escola

próxima ao pátio conforme as Figuras 6B e 6C. Após o crescimento, as mudas poderiam ser

transportadas e replantadas em outro local dentro da escola, aumentando a área verde. Porém,

a horta vertical foi destruída durante a noite por pessoas não identificadas, tendo ficado

exposta por menos de 24 horas. Os estudantes, arrasados, constataram a deficiência na

educação ambiental da população e a necessidade de difusão deste conhecimento.

Figura 6 - Horta vertical. A) Confecção do móbile. B) Colocação das mudas e fixação da horta vertical na parede. C) Horta vertical finalizada.

Fonte: fotos captadas pelas autoras deste trabalho.

Page 10: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30680

Considerações Finais

Os estudantes devem ser capazes de desenvolver uma postura de cidadãos

responsáveis, integrados ao meio ambiente, capazes de observar e avaliar os potenciais

impactos das alterações ambientais em suas vidas. Aproximando o conceito das alterações

ambientais às situações cotidianas é possível contextualizar a temática da qualidade ambiental

na vida dos alunos. Acreditamos que este conhecimento adquirido através das práticas

escolares se incorpora às ações destes estudantes perante a sociedade, uma vez que a educação

ambiental objetiva a construção dos “valores sociais, conhecimentos, habilidades, atitudes e

competências” importantes para a manutenção da qualidade de vida e do meio ambiente (LEI

FEDERAL nº 9.795). Portanto, a formação dos educandos exige a abordagem da educação

ambiental, o que torna essencial o desenvolvimento de projetos nessa área nas instituições de

ensino.

A análise de situações problemas relativas ao cotidiano ou de situações de risco, como

problemas ambientais dentro da escola e no entorno, foi possível devido a atividades práticas,

debates, reflexões e observações realizadas pelos alunos. A conscientização coletiva das

turmas foi alcançada através da investigação da situação pretérita do bairro, possível pela

realização da enquete; dos diagnósticos da qualidade ambiental e detecção dos problemas

ambientais dos espaços frequentados pelos alunos; da visita à Unilivre e das explicações e

palestras realizadas por profissionais da área.

Além da detecção e reflexão dos problemas ambientais, também foi desenvolvida a

capacidade de proposição de soluções a fim de mitigar e minimizar as alterações ambientais.

A atividade de construção da horta vertical, que teve como objetivo o aumento da área verde

escolar, foi uma destas medidas. O vandalismo observado somente reforçou nos alunos a

importância do desenvolvimento da educação ambiental na sociedade, além dos muros

escolares. Além disso, os estudantes propuseram à direção da escola a colocação de mais

lixeiras na escola e a diminuição do desperdício de água e materiais.

O trabalho desenvolvido sensibilizou os alunos e promoveu uma mudança de

comportamento ambiental, possivelmente devido à aproximação dos conteúdos ao contexto

social dos estudantes, o que torna o processo ensino-aprendizagem mais eficaz. Assim, como

as Diretrizes Curriculares Municipais (2006) propõem, houve uma mudança na interpretação

da realidade pelos educandos, que passaram a compreender os impactos de suas ações sobre o

meio ambiente.

Page 11: A QUALIDADE AMBIENTAL NA ESCOLA E NO SEU ENTORNO · Palavras-chave: Educação ambiental. Qualidade ambiental. Bioindicadores. 1 Mestre em Ecologia e Conservação pela Universidade

30681

REFERÊNCIAS

CARIBÉ, R. C. V.; DIAS, J. Qualidade ambiental: reflexões sobre o conceito. In: IB@MA Revista Eletrônica, n.1, 2011, p.36-39. Disponível em: <https://ibamanet.ibama.gov.br/informes/848/RevistaEletronicaEdicao1.pdf>. Acesso em 10 de mai. 2013.

BRASIL. Lei nº 9.795, de 27 de abril de 1999. Dispõe sobre a educação ambiental, institui a Política Nacional de Educação Ambiental e dá outras providências. Diário Oficial da União. 28 abr. 1999. Disponível em: < http://www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l9795.htm>. Acesso em: 10 de mai. 2013.

DIRETRIZES CURRICULARES PARA A EDUCAÇÃO MINICIPAL DE CURITIBA. Secretaria de educação de Curitiba/Paraná, 2006.

JACOBI, P. Educação ambiental, cidadania e sustentabilidade. Cad. Pesqui. 2003, n.118, pp. 189-206. ISSN 0100-1574. Disponível em: <http://dx.doi.org/10.1590/S0100-15742003000100008>. Acesso em: 10 de mai. 2013.

______. Meio ambiente urbano e sustentabilidade: alguns elementos para a reflexão. In: CAVALCANTE, C. (org.). Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. São Paulo: Cortez, 1997. p.384-390.

KLUMPP, A.; ANSEL, W.; KLUMPP, G.; FOMIN, A. Um novo conceito de monitoramento e comunicação ambiental: a rede ambiental européia para a avaliação da qualidade do ar usando plantas bioindicadoras (EuroBionet). Revista Brasileira de Botânica, v.24, n.4, p.511-518, 2001.

MARTINS, S. M. A.; KÄFFER, M. I.; LEMOS, A. Líquens como bioindicadores da qualidade do ar numa área de termoelétrica, Rio Grande do Sul, Brasil. Hoehnea, v.35, n.3, p.425-433, 2008.

RAVEN, P. H.; EVERT, R. F.; EICHHORN, S. E. Biologia Vegetal, 7a. ed. Coord. Trad. J.E.Kraus. Editora Guanabara Koogan, Rio de Janeiro. 2007. 856 p.

TOMAZELLO, M. G. C.; FERREIRA, T. R. das C. Educação ambiental: que critérios adotar para avaliar a adequação pedagógica de seus projetos? Ciência & Educação, São Paulo, v. 7, n. 2, p. 199-207, 2001.