a psicomotricidade na educacao infantil

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CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI FACECAP - PEDAGOGIA - A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL NATHÁLIA BORGES LOBO Capivari, SP 2012

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Page 1: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

CAMPANHA NACIONAL DE ESCOLAS DA COMUNIDADE

FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI – FACECAP

- PEDAGOGIA -

A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

NATHÁLIA BORGES LOBO

Capivari, SP

2012

Page 2: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

CAMPANHA NACIONAL DAS ESCOLAS DA COMUNIDADE

FACULDADE CENECISTA DE CAPIVARI – FACECAP

- PEDAGOGIA -

A PSICOMOTRICIDADE NA EDUCAÇÃO INFANTIL

Monografia apresentada ao Curso de

Pedagogia da FACECAP/CNEC

Capivari, para obtenção do título de

Pedagogo, sob a orientação da Profa.

Ms. Luciene Blumer.

NATHÁLIA BORGES LOBO

Capivari, SP

2012

Page 3: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

FICHA CATALOGRÁFICA

L749p

Lobo, Nathália Borges

A psicomotricidade na educação infantil/Nathália Lobo Borges.

Capivari - SP: CNEC, 2012. 42p.

Orientador: Prof.ª Me Luciene Blumer

Monografia apresentada ao curso de Pedagogia.

1. Psicomotricidade. 2. Lúdico. 3. Jogos e brincadeiras. I.

Título. II Faculdade Cenecista de Capivari.

CDD. 372.2

Page 4: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil
Page 5: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

AGRADECIMENTOS

Agradeço primeiramente a Deus pela força que me deu para atravessar esse momento

tão especial e importante em minha vida.

A Professora Mestre Luciene Blumer por toda a sua dedicação, paciência e

disponibilidade sempre que precisei, tornando possível a realização deste trabalho.

Aos meus pais Lucia e Edmilson, muito obrigado pela confiança que sempre tiveram

em mim e pelo apoio e incentivo para a realização deste grande sonho.

Enfim, agradeço a todos meus amigos que estiveram ao meu lado durante esses três

anos de faculdade, dividindo momentos de felicidades e de angústias, em especial a

minha amiga Bianca.

Page 6: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

Apenas brincando

Quando eu estiver, no quarto, construindo um edifício de blocos,

Por favor não diga que eu “estou apenas brincando”.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Sobre equilíbrio e forma.

Quando eu estiver bem vestido, arrumando a mesa, cuidando do bebe,

Não tenha a ideia de que eu “estou apenas brincando”.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Algum dia eu posso ser uma mãe ou um pai.

Quando você me vir até meus cotovelos na pintura,

Ou ajeitando uma moldura, ou moldando e dando forma à argila,

Por favor não me deixe ouvi-lo dizer que eu “estou apenas brincando”.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Eu estou me expressando e sendo criativo.

Algum dia eu posso ser um artista ou um inventor.

Quando você me vir sentado em uma cadeira “lendo” para uma audiência imaginária,

Por favor não ria e não pense que eu “estou apenas brincando”.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Algum dia eu posso ser um professor.

Quando você me vir recolhendo insetos ou colocando coisas que encontro no bolso,

Não os jogue fora como se eu “estivesse apenas brincando”.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Algum dia eu posso ser um cientista.

Quando você me vir montando um quebra-cabeças,

Por favor, não pense que estou desperdiçando tempo “brincando”.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Page 7: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

Estou aprendendo a concentrar-me e resolver problemas.

Algum dia eu posso ser um empresário.

Quando você me vir cozinhar ou provar comidas,

Por favor não pense que estou aproveitando, que é “só para brincar”.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Eu estou aprendendo sobre os sentidos e as diferenças.

Algum dia eu posso ser um “chef”.

Quando você me vir aprendendo a saltar, pular, correr e mover meu corpo,

Por favor não diga que eu “estou apenas brincando”.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Eu estou aprendendo como meu corpo trabalha.

Algum dia eu posso ser um médico, uma enfermeira ou um atleta.

Quando você me perguntar o que fiz na escola hoje,

E eu responder: “Eu brinquei”.

Por favor não me entenda mal.

Já que, entenda, eu estou aprendendo enquanto brinco.

Eu estou aprendendo apreciar e ser bem sucedido no trabalho.

Eu estou preparando-me para o amanhã.

Hoje, eu sou uma criança e meu trabalho é brincar.

Anita Wadley

Page 8: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

LOBO, Nathália Borges. A Psicomotricidade na Educação Infantil. Monografia de

Conclusão de Curso de Pedagogia Faculdade Cenecista de Capivari – CNEC. 42 p.,

2012.

RESUMO

O presente trabalho tem por objetivo analisar e refletir as ideias de autores que

discorrem sobre a Psicomotricidade para que possamos conhecer melhor essa ciência, a

sua história no mundo e no Brasil, assim como compreender como a Psicomotricidade

pode ajudar no desenvolvimento das crianças e no processo de ensino e aprendizagem, e

ainda analisar como alguns jogos e brincadeiras podem auxiliar no desenvolvimento

psicomotor das crianças. A Psicomotricidade é uma ciência ainda nova e não muito

conhecida, porém, tem muita importância tanto na vida do educador quanto na do

educando. As atividades psicomotoras podem ajudar os alunos com dificuldades na

aprendizagem e na sua interação com o meio social. Antigamente ela era voltada para

aqueles que apresentavam algum tipo de deficiência ou dificuldade, mas hoje em dia se

tornou importante para a educação infantil, como possibilidade de intervenção

pedagógica, no sentido de prevenção, mas principalmente por favorecer o processo de

desenvolvimento da criança. Ela ajuda na formação corporal e no desenvolvimento

intelectual, motor, psicológico e afetivo, ajudando as crianças a descobrirem seu corpo e

como se expressar através dele. Através do lúdico, com atividades diversificadas as

crianças podem criar, interpretar e se divertir. Os jogos e as brincadeiras são

importantes no processo de desenvolvimento e aprendizagem das crianças, e essas

atividades devem ser dadas sempre com algum objetivo e não apenas para passar o

tempo. Quando a criança apresenta uma dificuldade no seu desenvolvimento psicomotor

ela pode ter problemas na hora de ler ou escrever, diferenciar letras ou organizar

palavras, entre outras. Com o incentivo de atividades, aumentando seu potencial motor,

os alunos podem vencer melhor estas dificuldades. A escola que trabalha com a

Psicomotricidade contribui para um melhor aprendizado dos seus educandos.

1. Psicomotricidade. 2. Lúdico. 3. Jogos e Brincadeiras.

Page 9: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

SUMÁRIO

INTRODUÇÃO ................................................................................................................ 9

1. PSICOMOTRICIDADE: ABORDAGEM HISTÓRICA, EVOLUÇÃO

E LINHAS DE INTERVENÇÃO. ................................................................................... 13

1.1 HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE ....................................................... 13

1.2 A EVOLUÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE E AS LINHAS DE

INTERVENÇÃO ..................................................................................................... 15

1.2.1 PSICOMOTRICIDADE E SEUS INTERLOCUTORES .............................. 19

2. EDUCAÇÃO INFANTIL E PSICOMOTRICIDADE .............................................. 23

2.1 MOMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL .......................... 23

2.2 O LÚDICO NA EDUCAÇAO INFANTIL ....................................................... 26

3. A PSICOMOTRICIDADE, OS JOGOS E AS BRINCADEIRAS NA

EDUCAÇAO INFANTIL ................................................................................................ 30

3.1 CONCEPÇAO DE JOGO E A VISÃO DE VYGOTSKY E WALLON ......... 30

3.2 A PSICOMOTRICIDADE A PARTIR DOSJOGOS E BRINCADEIRAS ..... 33

CONSIDERAÇÕES FINAIS ........................................................................................... 39

REFERÊNCIAS ............................................................................................................... 41

Page 10: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

9

INTRODUÇÃO

O presente trabalho tem por objetivo analisar e refletir as ideias de autores que

pesquisam sobre a Psicomotricidade para que possamos compreender essa ciência,

conhecer a sua história no mundo e no Brasil, compreender como a Psicomotricidade

pode ajudar no desenvolvimento das crianças e no processo de ensino e aprendizagem, e

ainda analisar como alguns jogos e brincadeiras podem auxiliar no desenvolvimento

psicomotor das crianças.

Segundo Oliveira (2001, p.9), “A Psicomotricidade, pois, se caracteriza por uma

educação que se utiliza do movimento para atingir outras aquisições mais elaboradas,

como as intelectuais”. Neste sentido, podemos compreender que tais atividades, ao

incorporarem as dimensões cognitivas, afetivas e motrizes, possibilitam que a criança

vivencie a aprendizagem de elementos culturais, como os conteúdos escolares, via

corpo. A mesma autora aponta que um dos objetivos da Psicomotricidade é auxiliar a

criança a tomar consciência de seu esquema corporal e com isso adquirir “maior

interiorização dos movimentos e dos principais conceitos educacionais, necessários para

um bom desenvolvimento intelectual” (OLIVEIRA, 2001, p. 10).

Psicomotricidade é uma ciência relativamente nova e não muito conhecida.

Porém, na atualidade, várias pesquisas vêm apontando sua importância nos processos de

ensino e aprendizagem, na relação professor e aluno e entre os alunos. Destacamos os

seguintes autores: Negrine (1998, 2002), Costa (2007), Oliveira (1997), Maluf (2009),

os quais, em alguns momentos apresentam enfoques diferentes, mas todos ressaltam que

as atividades psicomotoras podem ajudar os alunos com dificuldades na aprendizagem e

também na sua interação com o meio social.

Hoje em dia, algumas escolas não possuem um tempo dedicado para a realização

de atividades e exercícios para que as crianças possam correr, saltar, pular, cantar,

pensar, observar, brincar, mexer, dançar, etc., ou quando isso acontece, muitas vezes o

tempo é reduzido. Em muitas escolas, a única hora em que os alunos podem se

movimentar é na hora do intervalo e é quando eles se soltam e correm, mas são

movimentos sem maior direcionamento e mediação do professor, perdendo-se assim a

Page 11: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

10

oportunidade de que essas atividades possam contribuir de fato com o desenvolvimento

dos alunos.

Esta falta de tempo e espaço adequados para o brincar foi abordada por

Friedmann (1996 apud TEIXEIRA, 2010) que elaborou um levantamento e uma análise

das atividades lúdicas e das razões de sua mudança e/ou desaparecimento no decorrer

desse século. Dentre essas razões, a autora destaca a redução do espaço físico em

consequência do crescimento da cidade e falta da segurança e a redução do espaço

temporal, que atinge a esfera familiar e escolar. Atualmente, em muitas escolas há uma

falta de tempo e espaço para que sejam trabalhadas as “atividades lúdicas”, algumas

escolas estão se preocupando muito mais em trabalhar conteúdos acadêmicos com as

crianças e se esquecem que o lúdico também deve fazer parte da grade curricular da

escola. Isso acaba prejudicando o desenvolvimento das crianças, assim como deixa-se

de explorar a sua criatividade.

Mas, o que é Psicomotricidade? Qual a importância da Psicomotricidade no

processo de desenvolvimento de uma criança?

O termo Psicomotricidade se divide em duas palavras: uma de origem grega

“Psique” que significa fenômenos da mente (sensações, percepção, etc.) a outra do

verbo latino “Moto” ou “Motriz” que significa força que dá movimento.

De acordo com a Sociedade Brasileira de Psicomotricidade:

É a ciência que tem como objeto de estudo o homem através do seu corpo em

movimento e em relação ao seu mundo interno e externo. Está relacionada ao

processo de maturação, onde o corpo é a origem das aquisições cognitivas,

afetivas e orgânicas. É sustentada por três conhecimentos básicos: o

movimento, o intelecto e o afeto. Psicomotricidade, portanto, é um termo

empregado para uma concepção de movimento organizado e integrado, em

função das experiências vividas pelo sujeito cuja ação é resultante de sua

individualidade, sua linguagem e sua socialização. (SOCIEDADE

BRASILEIRA DE PSICOMOTRICIDADE, 2004, apud FERREIRA e

RAMOS, 2009, p. 160).

De acordo com alguns autores como OLIVEIRA (2001), NEGRINE (1995,

2001,2002), MELLO (2009) e BUENO (1998) no começo a Psicomotricidade era

voltada para aqueles que apresentavam algum tipo de deficiência ou dificuldade

acentuada, principalmente na área de motricidade. No entanto, na sociedade atual ela se

Page 12: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

11

tornou importante também na educação infantil, como possibilidade de intervenção

pedagógica, no sentido de prevenção, mas principalmente com o objetivo de promoção

e proteção à saúde e ao desenvolvimento da criança, considerando essa etapa de extrema

importância para o processo de desenvolvimento e aprendizagem do indivíduo.

A Psicomotricidade ajuda na formação corporal e no desenvolvimento

intelectual, motor, psicológico e afetivo, também ajuda as crianças a descobrirem seu

corpo e como se expressar através dele. Defende a importância do movimento em todas

as etapas da vida de uma criança.

O corpo e a mente estão relacionados e dependem um do outro, se um estiver

com algum problema pode afetar o outro também. É importante que a criança tenha

domínio de seus movimentos, da sua mente e de seus sentimentos.

Neste sentido é no brincar que as crianças se expressam, criam, transformam, e

interagem com o meio em que vivem. Desde o nascimento, brincar auxilia no

crescimento, no desenvolvimento e no aprendizado das crianças e é muito importante na

infância. Assim, o adulto - seja representado na figura da família ou dos professores -

deve criar espaços para essas atividades, estimulando o interesse das crianças.

Para a Psicomotricidade é importante que a criança desenvolva várias

habilidades. Dessa forma é importante que o adulto possa estimular atividades onde ela

possa pensar, inventar, criar, observar, mexer, correr, saltar, imitar, cantar, brincar,

dançar, etc. Incentivando as atividades para aumentarem seu potencial motor, os alunos

podem vencer melhor as dificuldades. A escola que trabalha com a Psicomotricidade

contribui para um melhor aprendizado dos seus educandos.

A Psicomotricidade vem para lutar e defender a importância do movimento, dos

jogos e das brincadeiras em todas as fases da criança, mostrando que estas

manifestações corporais podem ter uma finalidade pedagógica, pois a criança aprende se

divertindo.

Neste trabalho iremos focar a importância da Psicomotricidade na Educação

Infantil, através de uma revisão da literatura existente sobre o tema. Para tanto, no

primeiro capítulo será feito um resgate sobre a história da Psicomotricidade, discorrendo

sobre a sua origem e sua evolução, além das ciências e dos filósofos que contribuíram

para o seu desenvolvimento. No segundo capítulo será apresentada a história da

Page 13: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

12

Educação Infantil e a importância do lúdico para o processo de aprendizagem da criança

nessa importante etapa de sua trajetória educacional. No terceiro capítulo será feita uma

discussão sobre os jogos e brincadeiras e sua importância na Psicomotricidade, para

tanto nos apoiaremos principalmente nas ideias de Wallon e Vygotsky, por se tratarem

de autores que trouxeram grandes contribuições para a compreensão dos jogos e as

brincadeiras para o desenvolvimento das crianças. Por fim, buscamos trazer as

considerações finais acerca do trabalho realizado.

Page 14: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

13

1. PSICOMOTRICIDADE: ABORDAGEM HISTÓRICA,

EVOLUÇÃO E LINHAS DE INTERVENÇÃO.

Este resgate histórico é importante para que possamos compreender e conhecer

melhor essa nova ciência que vai ganhando espaço a cada dia.

1.1. HISTÓRICO DA PSICOMOTRICIDADE

A história do corpo foi sendo construída junto com a história da humanidade, a

ciência, as diferentes culturas dos povos e das épocas e a sociedade com suas crenças e

mitos marcaram seus diversos significados. (COSTA, 2007).

Na história da Psicomotricidade as civilizações americana e europeia foram

marcantes no processo de evolução dessa ciência. De acordo com Bueno (1998) alguns

filósofos e pensadores que se destacaram por suas colocações nestas áreas foram:

Platão, Aristóteles e Descartes. Prosseguindo com a trajetória ainda temos psicólogos

gestaltistas como Lewin, fenomenólogos como Merleau-Ponty e dos

desenvolvimentalistas Gesell, Wallon, Piaget aliados a neurobiólogos como Diatkine e

Ajuriaguerra.

Na Grécia antiga se enunciava um primórdio do pensamento psicomotor através

do filósofo Aristóteles, pois este afirmava que o homem era constituído de corpo e

alma, e que a alma deveria comandar. Segundo Oliveira (2001), Aristóteles valorizava

também a ginástica, dizia que era muito importante para o desenvolvimento espiritual e

que ela devia acompanhar o indivíduo até a adolescência, mas com exercícios não muito

cansativos e sem prejudicar o seu desenvolvimento.

Platão dizia que havia uma separação entre o corpo e a alma e que o corpo era

apenas um lugar de transição da existência no mundo de uma alma imortal. (BUENO,

1998)

De acordo com Costa (2007), durante a Idade Média, o corpo sempre esteve

estampado nas telas, nos estádios, nos cultos e em monumentos representativos dos

Page 15: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

14

deuses, eles eram cantados em prosa e verso pelos poetas helênicos. Todas estas

manifestações ao corpo eram uma forma para transformá-lo em um órgão do espírito.

Já na Idade Moderna, mais precisamente no século XVII, René Descartes referia

que o corpo e a mente eram totalmente distintos e não mantinham qualquer tipo de

relação, o corpo era apenas um objeto que ocupa um lugar no espaço. Para Descartes “o

corpo é apenas uma coisa externa que não pensa, a alma é substância pensante por

excelência, que não participa de nada daquilo que pertence ao corpo” (LEVIN, apud

COSTA, 2007, p. 22).

Esse pensamento cartesiano pressupunha que o corpo era tido como uma

máquina, onde se aplica a repetição e o treinamento. De acordo com COSTA (2007,

p.21) “a crença de que o corpo e a mente eram unidades distintas no próprio homem

fundamentou-se numa visão cartesiana, que deu sustentação teórica aos princípios

sociopolítico-educacionais”.

Foi a partir do século XIX que o corpo passou a ser considerado um objeto de

estudo e despertou o interesse de ciências como a Neuropsicologia e a Neurologia que

buscavam entender a estrutura e o funcionamento cerebral e mais tarde a Psicologia e

Psicanálise que buscavam entender a evolução da inteligência e suas perturbações.

(COSTA, 2007).

Neste período constata-se que muitas perturbações motoras não eram passíveis

de serem explicadas pelo campo da Neurologia, já que não se encontram evidências

relacionadas a uma lesão cerebral. Dessa forma a Neurologia enfrentou algumas

dificuldades para entender e explicar as perturbações motoras.

O médico neurologista Dupré, motivado pela busca em explicar tais

perturbações motoras, passou a aprofundar seus estudos sobre essa área e concluiu que

essas perturbações motoras tinham certa relação como as perturbações psicológicas.

Assim a palavra Psicomotricidade nasce em 1920 com Ernest Dupré.

Desde 1909, ele já chamava a atenção de seus alunos sobre o desequilíbrio

motor, denominando o quadro de “debilidade motriz”. Verificou que existia

uma estreita relação entre as anomalias psicológicas e as anomalias motrizes,

o que o levou a formular o termo Psicomotricidade. (OLIVEIRA, 2001, p.

28)

Page 16: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

15

Assim, após vários estudos foi descoberto que as debilidades motoras estavam

relacionadas com as psicológicas e surgiu então o termo Psicomotricidade e logo ela

passou a ser praticada como veremos no tópico seguinte.

1.2. A EVOLUÇÃO DA PSICOMOTRICIDADE E AS LINHAS DE

INTERVENÇÃO

No século XX, a partir da constatação de que questões motoras estavam

correlacionadas com questões emocionais, conforme apontamos no tópico anterior, a

Psicomotricidade se estabelece como prática independente. Perguntas relativas à

contribuição das emoções e dos inúmeros tipos de sensações no desenvolvimento

corporal começam a suscitar interrogações sobre a forma de se pensar a

Psicomotricidade.

Os primeiros trabalhos realizados em Psicomotricidade tinham uma proposta

reeducativa1. Elas tinham um caráter terapêutico, já que se preocupavam em reabilitar

funções psicomotoras que se encontravam prejudicadas. Esta ação tinha como alvo

sujeitos que apresentavam déficits motores e cognitivos. Para Negrine (1998), a

reeducação é uma forma de estimular na criança suas funções psicomotoras, que foram

contrariadas em seu desenvolvimento.

De acordo com Negrine (1998), pode se dizer que a Psicomotricidade teve

contribuições de diversas áreas das ciências e também muitas opiniões divergentes de

diversos teóricos. Para alguns como Lapierre e Sami Ali, ela se situava em um polo

regressivo e profissional, outros como M. Stambak, Soubiran, Galifret Granjon a

colocavam em uma ordem de expressão mais cognitiva, para Pinok e Matho, J. B.

Bonange, J. Plaisir, P. Mandires era expressão livre e corporal e ainda havia aqueles que

achavam que se tratava de um condicionamento motor.

1 Ocupa-se do atendimento individual ou em pequenos grupos, de crianças, adolescentes e adultos,

portadores de sintomas de ordem psicomotora, como por exemplo: debilidade motora, atraso e

instabilidade psicomotora; dispraxias; distúrbios de tônus da postura, do equilíbrio e da coordenação; e

deficiências perceptivo-motoras.” (MELLO, 2009, p.33).

Page 17: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

16

Segundo Bueno (1998, p.19): “Psicomotricidade é uma ciência relativamente

nova que, por ter o homem como objeto de seu estudo, engloba várias outras áreas:

educacionais, pedagógicas e de saúde.”.

Atualmente a Psicomotricidade possui duas linhas de pensamento: a

Psicomotricidade Funcional e a Psicomotricidade Relacional (OLIVEIRA, 2001;

NEGRINE, 1998).

Na Psicomotricidade Funcional são realizados métodos diretos, testes com

vários exercícios repetitivos medindo a capacidade motora, o psicomotricista é

considerado um “modelo” para a criança, não há relação de interação entre eles.

Na Psicomotricidade Relacional, a mediação é feita pelo psicomotricista que

“interage” com a criança durante as atividades, que ocorrem através do lúdico, da ação

do brincar em que se potencializa a aprendizagem e o desenvolvimento da criança.

De acordo com Oliveira (2001) podemos entender como relacional a relação

que a criança tem com o adulto, com o ambiente e também com as outras crianças e o

modo como o educador entra no mundo dessa criança é primordial, é importante que o

professor seja carinhoso e aceite o aluno como ele é para que ele se sinta mais confiante.

No aspecto funcional, entende-se como uma forma do indivíduo reagir diante dos

estímulos do meio, o educador psicomotor pode ajudar esse aluno estabelecendo

situações em que o aluno tenha que agir corretamente.

De acordo com Negrine (1998), numa perspectiva da Psicomotricidade

Funcional, Piqc e Vayer consideram a educação psicomotriz como uma ação

pedagógica e psicológica, utilizando a Educação Física para normalizar ou melhorar o

desenvolvimento da criança. Para eles a educação psicomotriz deve atuar nas condutas

motrizes de base como: equilíbrio, coordenação dinâmica geral e coordenação viso-

manual e nas condutas sensório motrizes que estão ligadas à consciência e à memória.

A evolução teórica de Vayer passa da reeducação ao plano da educação

psicomotriz. Apesar de acusado por alguns de conter um discurso de

totalidade do ser e uma prática que conduz a uma atuação instrumental e

mecânica no corpo da criança, seu trabalho como um todo traz elementos

importantes para a reflexão e o avanço da psicomotricidade, uma vez que

começa a atendê-la como elemento de relação. (NEGRINE, 1998, p.48).

Page 18: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

17

Pierre Vayer tem uma proposta funcionalista, para ele o diálogo corporal é muito

importante na construção da personalidade e na relação da criança consigo mesma, com

os objetos e as pessoas. Ele ainda diz que é um erro separar a educação chamada

intelectual da chamada educação física (NEGRINE, 1998).

No entanto, é com Lapierre e Aucouturier que a verdadeira inovação pedagógica

ocorre caracterizada pela inquietação e postura científica, esses autores buscavam

sempre inovar. Ambos eram professores de educação física e psicoreeducadores e a

formação de diferentes formas de educação e reeducação corporal ajudaram para que o

marco reeducativo e terapêutico evoluísse para um marco educativo. Na trajetória

percorrida por eles pode-se dizer que há três momentos: período continuador, inovador

e da ruptura.

De acordo com Negrine (1998, p.51): “Lapierre e Aucouturier, segundo eles

mesmos reconhecem no livro “A simbologia do movimento”, utilizam a

psicomotricidade dentro de um modelo positivista2.”.

Para Negrine (1998), no período continuador, predominava entre os

psicomotricistas a vertente funcionalista e o método positivista, Lapierre e Aucouturier

determinavam as suas obras a partir de Picq, Vayer e Le Boulch. O diagnóstico

psicomotriz das crianças era feito a partir de normas estatísticas de normalidade, que

eram seguidos por vários exercícios a fim de desenvolver coordenação dinâmica geral e

viso manual, equilíbrio para o corpo, lateralidade, orientação espacial, estruturação

espaço temporal, etc.

Mesmo com a maioria dos estudiosos falando da reeducação, Lapierre afastou o

dualismo e afirmava que a educação3 e a reeducação são necessárias, e ainda propõe que

2 O positivismo é uma corrente filosófica que surgiu na França no começo do século XIX. Os principais

idealizadores do positivismo foram os pensadores Augusto Comte e John Stuart Mill. Esta escola

filosófica ganhou força na Europa na segunda metade do século XIX e começo do XX, período em que

chegou ao Brasil. O positivismo defende a ideia de que o conhecimento científico é a única forma de

conhecimento verdadeiro. De acordo com os positivistas somente pode-se afirmar que uma teoria é

correta se ela foi comprovada através de métodos científicos válidos. Disponível em

http://www.suapesquisa.com/o_que_e/positivismo.htm.

3 “Abrange todas as aprendizagens da criança, processando-se por etapas progressivas e especificas

conforme o desenvolvimento geral de cada indivíduo. Realiza-se em todos os momentos da vida por meio

de percepções vivenciadas, com uma intervenção direta a nível cognitivo, motor e emocional,

estruturando o individuo como um todo” (BUENO, 1998, p.84).

Page 19: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

18

a reeducação psicomotriz seja exercida sobre o psiquismo tanto no campo mental

quanto no afetivo, pois os dois estão ligados inconscientemente.

No período inovador, a Psicomotricidade surge não só como um método de

reeducação, mas também com objetivos psicopedagógicos e psicanalíticos, é marcado

como o início de um novo período. A Psicomotricidade passa de um enfoque funcional

para um enfoque relacional, onde é importante trabalhar com as habilidades da criança e

não se focar naquilo que ela não sabe.

A proposta inovadora da pratica psicomotriz de Lapierre e Aucouturier é a

introdução do “jogo” como componente pedagógico básico na sessão de

prática psicomotriz, seja educativa, reeducativa ou terapêutica, com crianças

ou com adultos em formação pessoal. (NEGRINI, 1998, p.59).

O período de ruptura é caracterizado pela distância que foi tomando dos

princípios defendidos anteriormente, a causa disso foi a busca das práticas propostas

pelos princípios inovadores. De acordo com Negrine (1998), Aucouturier defende

como potencializador o jogo de pulsão, jogo sensório motor, já Lapierre potencializa o

jogo simbólico. Outra diferença entre eles nesta fase de ruptura é que Lapierre vê a

Psicomotricidade de forma mais geral, e leva em conta as relações que o individuo

vivencia enquanto criança, adolescente e adulto e sua personalidade sobre a vida

pessoal, já Aucouturier vê a Psicomotricidade como função até aproximadamente os

sete ou oito anos.

De acordo com NEGRINE (1998, p. 65): “Suas diferenças fundamentais se

baseiam na forma de intervenção com as crianças e, fundamentalmente, na forma de

entender e potenciar o jogo durante a sessão.”.

A visão teórico prática da Psicomotricidade que foi proposta por Lapierre e

Aucouturier, onde adotaram os “jogos” como forma pedagógica foi influenciada por

Piaget.

De acordo com COSTA (2007) os estudos da Psicomotricidade no começo eram

voltados para a patologia e foi Wallon, Piaget e Ajuriaguerra que aprofundaram esses

estudos e o voltaram para o campo de desenvolvimento. Wallon se preocupava com a

relação psicomotora, a emoção e a afetividade, Piaget se preocupava com a relação

evolutiva, o intelectual e Ajuriaguerra se preocupava com o corpo e sua relação com o

Page 20: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

19

meio, para ele o corpo era fundamental para o desenvolvimento mental, afetivo e motor

da criança.

Outro autor importante para a área da Psicomotricidade é Vygotsky, o qual

destacou a importância das mediações sociais para potencializar o processo de

desenvolvimento e aprendizagem, dando especial ênfase ao papel do brinquedo e da

atividade lúdica nesse processo.

1.2.1. PSICOMOTRICIDADE E SEUS INTERLOCUTORES

Henri Wallon foi um francês que viveu 83 anos, estudou Filosofia, Medicina e

Psicologia, sua atenção era voltada para as crianças, tentava entender o psiquismo

humano e se preocupava com a formação intelectual, afetiva e social, analisava o

desenvolvimento motor, afetivo e cognitivo (GALVÃO, 2005).

De acordo com Oliveira (2001), Wallon foi um dos pioneiros no estudo da

Psicomotricidade, e frisava a importância da afetividade no comportamento dos

indivíduos. Em 1925 relacionou a motricidade com a emoção, explicando o chamado

“diálogo tônico”. Wallon ressaltou a relação, o afeto e a emoção no desenvolvimento

psicomotor. Com essa teoria proposta por Wallon que unifica a motricidade e

afetividade, temos o fim do dualismo cartesiano que separa o corpo do desenvolvimento

intelectual e emocional do indivíduo.

Existe, para ele, uma evolução tônica e corporal chamada diálogo corporal

que constitui o “prelúdio da comunicação verbal”. Este diálogo corporal é

fundamental na gênese psicomotora, pois sua ação desempenha papel

fundamental de estruturação cortical e esta na base da representação.

(COSTA, 2007, p. 25).

Para Wallon, conforme vamos crescendo, vamos conhecendo e aprendendo a

lidar com o nosso corpo, o que é fundamental, pois nós conversamos através do corpo,

podemos nos expressar através dele, é uma forma de nos comunicarmos com as outras

pessoas.

Jean Piaget nasceu na Suíça e faleceu aos 84 anos, desde pequeno já se

interessava por questões cientificas, seus estudos eram voltados para o desenvolvimento

Page 21: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

20

do pensamento, mas eles não eram voltados diretamente para a infância (FONTANA,

1997). Ele se preocupava com a estimulação adequada das crianças em cada fase do

desenvolvimento e não restringia a Psicomotricidade apenas como uma forma de

reeducação, mas a uma forma educativa.

De acordo com Costa (2007, p.27): “Piaget estudou o desenvolvimento sensório-

motor e criou condições próprias a uma compreensão mais real e precisa do corpo e

suas funções”.

Julian de Ajuriaguerra, nascido na Espanha e falecido em 1993 na França, foi

um importante psiquiatra, que contribuiu muito para a Psicomotricidade, pois foi ele

quem redefiniu o conceito de debilidade motora, considerando-a como uma síndrome

com particularidades próprias. A divulgação dos seus estudos possibilitou que a

Psicomotricidade tivesse uma especificidade e autonomia em relação as outras

disciplinas.

Dessa forma, pode-se considerar que o desenvolvimento da Psicomotricidade

teve como marco fundamental o trabalho de Ajuriaguerra, que mesmo depois de três

décadas do lançamento de sua primeira edição do “Manual de Psiquiatria Infantil”,

escreveu ainda outros importantes estudos e até hoje continua sendo um dos autores

mais citados em trabalhos relacionados ao desenvolvimento infantil. (MELLO, 2009).

Dos inúmeros temas abordados por Ajuriaguerra na citada obra, pode-se

destacar: o desenvolvimento infantil segundo a Psicologia Genética; a vida

social da criança e do adolescente; os problemas gerais do desenvolvimento;

os problemas gerais da desorganização psicobiológica da criança; a

organização psicomotora e seus distúrbios; a organização e desorganização

da linguagem na criança; a evolução e os distúrbios do conhecimento

corporal e da consciência do “eu”; as grandes síndromes: psicoses infantis,

organizações neurológicas infantis, doenças psicossomáticas, etc. (MELLO,

2009, p.29).

Lev Vygotsky nasceu na Rússia e faleceu aos 37 anos vítima de tuberculose,

embora tenha tido uma trajetória curta, teve uma vida intensa na pesquisa e na produção

de trabalhos que trouxeram importantes contribuições na compreensão dos processos de

aprendizagem e desenvolvimento infantil. A experiência (no trabalho de formação de

professores) com os problemas de crianças com defeitos congênitos (cegueira, retardo

mental severo, afasia, etc) o estimulou a encontrar alternativas que pudessem ajudá-las

Page 22: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

21

em seu desenvolvimento e também era uma ótima oportunidade de compreensão dos

processos mentais humanos. (REGO, 1995).

No século XX, haviam duas vertentes antagônicas que explicavam o

desenvolvimento: os empiristas (objetivistas), que defendiam que a Psicologia deveria

ser vista como ciência natural, portanto precisaria deter-se na descrição das formas

exteriores de comportamento e os idealistas (subjetivistas) que defendiam que a

Psicologia deveria ser vista como ciência mental, portanto a vida psíquica humana não

poderia ser objeto de estudo da ciência objetiva, é manifestação do espírito. (REGO,

1995).

Vygotsky achava que estas concepções sobre desenvolvimento não eram

suficientes e consistentes e construiu uma nova teoria que tinha como objetivo estudar o

comportamento humano socialmente e historicamente, seus principais colaboradores

foram Aleksander R. Luria e Aleksei N. Leontiev. (REGO, 1995).

Para Vygotsky, as atividades motoras e a interação da criança com o mundo

social e com os objetos faz com que ela desenvolva as suas capacidades psicológicas.

Ele deu foco para os jogos infantis que abarcam a imaginação e as brincadeiras,

potencializando o processo de aprendizagem e desenvolvimento.

Ele enfatiza que o desenvolvimento da criança é produto dos

estabelecimentos sociais e sistemas educacionais, como a família e a Igreja,

que ajudam a criança a construir seu próprio pensamento e a descobrir o

significado da ação do outro e da sua própria ação. Sua teoria defende que a

criança só aprende adequadamente quando compreende a lógica presente nos

processos biológicos e culturais que se estruturam. Ou seja, a criança

compreenderá as coisas, dependendo das pessoas, que mostraram ações,

movimentos e formas de expressão. (MALUF, 2009, p.17).

Bueno (1998), ao discorrer sobre o campo profissional da Psicomotricidade,

refere que é importante citar que em 1952, Jean Le Boulch que era um instrutor de

educação física defendia a educação psicomotora e graças a sua luta junto com outros

educadores conseguiu em 1967 na França o decreto ministerial que dava 6 horas

semanais de educação psicomotora na prática escolar. Com isso o reconhecimento da

Psicomotricidade começa a evoluir. Le Boulch também dizia que a Psicanálise

contribuiu com a Psicomotricidade, e que ela devia ter uma identidade própria.

(OLIVEIRA, p. 35, 2001)

Page 23: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

22

Foi na década de 70 que os autores J. Bergès, R. Diatkine, B. Jolivet e S.

Lebovici definiram a Psicomotricidade como uma motricidade de relação, isso foi um

ensaio para uma nova intervenção psicomotora, a Clínica-psicomotora. (COSTA,

2007).

A Psicomotricidade no Brasil nasceu na década de 50, e a sua evolução também

foi marcada por nomes de pessoas, locais e fatos. Ela passa por correntes organicistas e

depois pelas afetivas e sociais.

De acordo com Bueno (1998, p.22): “Alguns profissionais ligados as áreas da

deficiência começavam a valorizar o corpo e o movimento como elementos interligados,

mesmo sem relacioná-los ao termo Psicomotricidade.”.

Um dos caminhos encontrados para estimulação de deficientes foi a criação de

cursos de formação de professores na área de ensino especial no Rio de Janeiro. As

técnicas reeducativas tiveram início na década de 60, e os pontos de vista sobre a

Psicomotricidade eram diferentes em cada região, mas a Psicomotricidade eclodiu

realmente na década de 70. Em 1980 foi criada a Sociedade Brasileira de Terapia

Psicomotora que depois se tornou Sociedade Brasileira de Psicomotricidade (SBP) e em

1982 ela realizou o I Congresso Brasileiro de Psicomotricidade.

Os cursos superiores vão surgindo, aos poucos a Psicomotricidade vai

crescendo, se desenvolvendo e ganhando espaço no Brasil assim como em outros

países.

Surgem também cursos de pós-graduação em Psicomotricidade em alguns

estados, entre eles Rio de Janeiro e Paraná. Em 1989 é aberto no Instituto

Brasileiro de Medicina de Reabilitação (IBMR) o primeiro curso de

graduação, com duração de 4 anos. (BUENO, 1998, p.23)

No Brasil a Psicomotricidade tem como referência Airton Negrine, que tem

como base em seus trabalhos os estudos de Vygotsky, Lapierre e Aucounturier.

Page 24: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

23

2. EDUCAÇÃO INFANTIL E PSICOMOTRICIDADE

Neste capítulo será apresentado um breve histórico sobre a Educação Infantil

para posteriormente refletirmos sobre a importância do lúdico no processo de

aprendizagem e desenvolvimento da criança através da Psicomotricidade.

2.1. MOMENTOS HISTÓRICOS DA EDUCAÇÃO INFANTIL

Durante a Idade Média não se sabia qual era o período da infância, portanto se

fundamentavam através da questão física, e delimitavam seu término em torno dos 6 ou

7 anos quando a criança desmamava e era colocada no mundo dos adultos e apresentada

a novas experiências.

De acordo com Oliveira (2008), durante muito tempo o cuidar e educar eram de

responsabilidade da família, em especial da mãe e outras mulheres, e a criança era vista

como um pequeno adulto e quando deixava de depender de outros ela ajudava os

adultos nas tarefas cotidianas.

Na idade média e moderna foram criadas as “rodas dos expostos” onde eram

colocados bebês e crianças para que as igrejas e hospitais de caridade pudessem cuidar,

os entes religiosos eram responsáveis por ensinar um oficio para a criança quando ela

crescesse. No Brasil essa roda foi muito importante, pois por um século e meio foi a

única instituição que ofereceu assistência para as crianças abandonadas. Ela foi

introduzida no século XVIII em Salvador, Rio de Janeiro e Recife.

As idéias de abandono, pobreza, culpa, favor e caridade impregnam, assim,

as formas precárias de atendimento a menores nesse período e por muito

tempo vão permear determinadas concepções acerca do que é uma instituição

que cuida da educação infantil, acentuando o lado negativo do atendimento

fora da família (OLIVEIRA, 2008, p. 59).

A história da educação infantil no Brasil segue a história do resto do mundo, não

havia instituições que acolhessem as crianças pequenas até meados do século XIX. Dois

marcos importantes para a história da educação no Brasil foram: a abolição da

Page 25: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

24

escravatura que fez com que o abandono de crianças aumentasse e a entrada das

mulheres no mercado de trabalho, com isso elas não tinham aonde deixar seus filhos

para irem trabalhar, assim foi preciso criar creches para cuidar dessas crianças. Essas

escolas surgiram como uma forma de dar assistência, cuidar da higiene, alimentar as

crianças enquanto estavam longe de suas mães e não como um trabalho educacional, de

desenvolvimento. (OLIVEIRA, 2008)

Quando o “jardim de infância” chegou ao Brasil causou muita discussão entre os

políticos daquela época, pois, enquanto alguns achavam que ele era um lugar onde as

crianças seriam deixadas, outros acreditavam que seria importante para o

desenvolvimento delas. Durante a polêmica, dizia-se que o objetivo dessas escolas era

apenas uma forma de caridade aos mais pobres e que então o poder público não deveria

mantê-lo.

Até pouco tempo, o atendimento das crianças até os seis anos era visto como

uma forma de assistencialismo, e foi na década de 70 que a educação dessas crianças foi

reconhecida como importante, assim o atendimento passou a ser ampliado

principalmente para as crianças de 4 a 6 anos, porém ainda não era assegurada à criança

a legislação e acaba sendo mais difícil a sua expansão do atendimento com qualidade.

Um dos fatores marcantes na década de 90 foi a promulgação do Estatuto da

Criança e do Adolescente em 1990, onde as crianças conquistaram seus direitos que

foram promulgados pela Constituição e posteriormente, quando a Educação Infantil

passa a ser incluída como parte integrante da Educação Básica com a LDB/96 (art. 29),

que assim define a Educação Infantil:

A educação infantil, primeira etapa da educação básica, tem como finalidade

o desenvolvimento integral da criança até seis anos de idade, em seus

aspectos físico, psicológico, intelectual e social, complementando a ação da

família e da comunidade. (BRASIL, 1996)

Oliveira (2008), ao discorrer sobre os efeitos produzidos quando a LDB

incorpora a Educação Infantil como primeira etapa da educação básica, refere que:

Page 26: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

25

O debate que acompanhou a discussão de uma nova Lei de Diretrizes e

Bases da Educação Nacional (LDB) na Câmara de Deputados e no Senado

Federal impulsionou diferentes setores educacionais, particularmente

universidades e instituições de pesquisa, sindicatos de educadores e

organizações não governamentais, à defesa de um novo modelo de educação

infantil. (OLIVEIRA, 2008, p.117).

Dessa forma pode-se perceber que, principalmente, após a LDB passa a haver

uma mudança no olhar destinado à educação das crianças, incluindo agora uma maior

visão pedagógica e maior preocupação com a formação dos professores. Oferecer

creches e pré-escolas é dever do Estado e a nova Carta Constitucional já reconheceu

isso, mas, até se tornar real e as escolas serem públicas, é preciso uma legislação e

recursos específicos determinados pela Lei de Diretrizes e Bases e pelas Constituições

Estaduais. (KRAMER, 2007).

No atual momento histórico é, portanto, fundamental que se amplie a oferta

de educação para crianças de 0 a 6 anos, de modo a garantir, a todas, o direito

de acesso e permanência. Evidentemente, o trabalho realizado no anterior

dessa escola deve ter a qualidade necessária para que possa com efetividade

beneficiar as crianças, aspecto que podemos melhor aprofundar a partir das

contribuições provenientes da sociologia, da psicologia e da antropologia.

(KRAMER, 2007, p.18).

De acordo com Negrine (2010), os estudos feitos por Vygotsky mostram que as

teorias que falam sobre desenvolvimento e aprendizagem são: as que dizem que o

processo de desenvolvimento e de aprendizagem são independentes e que a

aprendizagem é externa, não tem participação no desenvolvimento e nem provoca

mudança nele; outra que é completamente oposta a primeira diz que a aprendizagem é

um desenvolvimento e que cada etapa de um corresponde a uma etapa da outra; a última

é uma conciliação entre as duas anteriores.

Sem formular inicialmente uma teoria, trata de esclarecer que aprendizagem e

desenvolvimento não entram em contato pela primeira vez na idade escolar e,

portanto, estão ligados entre si desde os primeiros dias de vida da criança.

Quando a criança chega à escola, já aprendeu muitas coisas, e isso constitui a

pré historia da aprendizagem escolar, que se adquire de forma não

sistemática. Provavelmente, essa seria a diferença fundamental com respeito

àquela que se adquire na escola. (NEGRINE, 2010, p.23)

Alguns educadores ainda mantêm o pensamento de que a criança, ao entrar na

escola, não possui nenhum tipo de conhecimento, e o professor é quem passa e ensina

Page 27: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

26

tudo para eles. No entanto, como nos é esclarecido por Negrine (2010) a criança

aprende e vai se desenvolvendo desde o momento em que nasce e na escola é

importante que o professor escute o seu aluno, que saiba qual o conhecimento que o

aluno carrega, assim pode fazer com que a aula tenha mais significado para o mesmo.

De acordo com Oliveira (1998), as práticas utilizadas na Educação Infantil

mesmo com alguns pontos em comum têm os seus objetivos diferentes em cada país.

Entre as discussões, o tema não é sobre investir ou não nesta área, mas o porquê e para

quem ela existe e como deve ser organizada para que os serviços de qualidade sejam

oferecidos. Entre os objetivos esperados estão: o desenvolvimento do corpo, da

afetividade e do intelecto, aprender a se expressar e também a preparação para quando a

criança for para a escola. Sobre a importância dessa etapa da educação infantil a autora

refere que:

As crianças pequenas que se beneficiam de um serviço de qualidade tendem a

desenvolver mais raciocínio e a capacidade de solução de problemas, a ser

mais cooperativas e atentas aos outros e a adquirir maior confiança em si.

Grande parte desses efeitos positivos persistem e contribuem para suscitar-

lhes uma atitude positiva com relação à aprendizagem escolar e favorecê-las

com sucesso em seus estudos posteriores. (OLIVEIRA, 2008. P.85).

Quando a criança tem a oportunidade de frequentar uma escola, de desfrutar de

um ensino de boa qualidade, em que os educadores façam uso de estratégias lúdicas no

desenvolvimento das atividades, isso permite com que ela desenvolva capacidades

como cooperação, confiança, o que também é importante na sua aprendizagem,

juntamente com os conhecimentos científicos.

2.2. O LÚDICO NA EDUCAÇÃO INFANTIL

A educação infantil é uma fase muito importante na vida de uma criança, é

preciso que a escola seja um lugar acolhedor, atraente, que estimule as crianças, assim

elas podem aprimorar os seus conhecimentos, realizar vivências através de atividades

lúdicas e ter oportunidades de interagir e trocar experiências com outras pessoas.

Page 28: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

27

Os primeiros anos de vida são decisivos na formação da criança, pois se trata

de um período em que ela está construindo sua identidade e grande parte de

sua estrutura física, afetiva e intelectual. Sobretudo, nesta fase, deve-se adotar

várias estratégias, entre elas as atividades lúdicas, que são capazes de intervir

positivamente no desenvolvimento da criança, suprindo suas necessidades

biopsicossociais, assegurando-lhe condições adequadas para desenvolver

suas competências. (MALUF, 2009, p.13).

De acordo com Maluf (2009), as atividades lúdicas devem ser dadas sempre

com algum objetivo para que a aprendizagem da criança seja significativa, ir além de

uma forma de entretenimento, pois são importantes no processo de ensino

aprendizagem além de estimular o conhecimento.

Para que ocorram aprendizagens significativas é importante, ao mesmo

tempo, que a criança se mostre correspondente em relação às atividades

lúdicas propostas, que esteja motivada para relacionar o que está aprendendo

com o que já sabe. A criança estabelece relações entre as novas informações

e os seus esquemas de conhecimento. Essa atividade é de natureza interna, se

dá no nível do pensamento da criança a partir das condições de informações

que ela já construiu. (MALUF, 2009, p.43)

Para as crianças a brincadeira é uma forma de entrarem aos poucos no mundo

dos adultos, buscando entender esse mundo através do uso de objetos, pois brincando

desenvolve suas habilidades, interage com o meio, aprende a respeitar as regras, ajuda

na aprendizagem e também a solucionar problemas, descobrindo o mundo em que vive.

(TEIXEIRA, 2010).

Para Maluf (2009, p.21): “[...] A atividade lúdica pode ser uma brincadeira, um

jogo ou qualquer outra atividade que vise proporcionar interação. Porém, mais

importante do que o tipo de atividade lúdica é a forma como ela é dirigida e vivenciada,

e o porquê de sua realização”.

Ao brincar, afeto, motricidade, linguagem, percepção, representação,

memória e outras funções cognitivas estão profundamente interligados. A

brincadeira favorece o equilíbrio afetivo da criança e contribui para o

processo de apropriação de signos sociais. Cria condições para uma

transformação significativa da consciência infantil, por exigir das crianças

formas mais complexas de relacionamento com o mundo. Isso ocorre em

virtude das características da brincadeira: a comunicação interpessoal que ela

envolve não pode ser considerada “ao pé da letra”; sua indução a uma

constante negociação de regras e à transformação dos papeis assumidos pelos

participantes faz com que seu enredo seja sempre imprevisível. (OLIVEIRA,

2008, p.160)

Page 29: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

28

A criança precisa se movimentar, exercitar o seu corpo, saber dominar os seus

movimentos, e brincando ela faz tudo isso expressando as suas emoções. Muitas vezes

um objeto pode se transformar em um brinquedo “super legal” graças à imaginação da

criança. É através das brincadeiras que a criança obtém a sua cultura lúdica.

Em toda atividade lúdica da criança existe exercício e jogo e ambos são

importantes na medida que servem de alavanca ao processo de aprendizagem

e desenvolvimento. Tão importante como a trajetória que a criança faz ao

jogar está a preparação do adulto para entender, compreender e intervir como

formas de ajudar a criança a evoluir. (NEGRINE, 1998, p.149)

De acordo com Maluf (2009, p.19): “Podemos acreditar que a criança vai

construindo seu conhecimento de mundo de modo criativo, lúdico, modificando a

realidade com os recursos da sua imaginação. Precisa ser sempre respeitada, pois seu

mundo é mutante e acaba oscilando entre a fantasia e a realidade.”.

Teixeira (2010) se refere que na atividade lúdica a criança aprende a seguir

regras, experimenta formas de comportamento e socialização, descobre o mundo ao seu

redor, relaciona-se com seus pares e começa a perceber que não é um ser único. Esta

autora destaca que quando brinca a criança potencializa e pratica os quatro pilares da

educação (Jacques Delors –UNESCO): 1. Aprende a conhecer; 2. Aprende a fazer; 3.

Aprende a conviver e 4. Aprende a ser.

Portanto, é imprescindível que nas escolas sejam oferecidos espaço e tempo para

que as crianças possam brincar, é necessário que os brinquedos usados pelas crianças

estejam de acordo com a sua realidade, que não sejam muito diferentes do que já se tem

o costume de brincar.

Maluf (2009, p.42) ainda diz que:

As atividades lúdicas devem ser utilizadas no cotidiano das crianças. Quando

o educador insere uma atividade lúdica num tema a ser abordado, a atividade

lúdica deve se constituir em um auxílio eficiente ao alcance de uma

finalidade, dentro do plano pedagógico do educador.

Os educadores podem compreender seus alunos, sua personalidade e seu

comportamento tanto individual como coletivo durante as atividades lúdicas, enquanto

se diverte a criança ainda aumenta sua auto estima, troca informações, experiências

Page 30: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

29

corporais e culturais através da socialização. É preciso atentar-se as manifestações da

criança, levar em conta o conhecimento que ela carrega e a sua singularidade,

principalmente é necessário respeitá-la. (MALUF, 2009).

Santos (1997) também reafirma a importância da inserção de atividades lúdicas

na escola, uma vez que, segundo a autora, o aspecto lúdico facilita a aprendizagem, o

desenvolvimento pessoal, social e cultural, colabora para uma boa saúde mental, facilita

processos de socialização, comunicação, expressão e construção do conhecimento. Esta

autora evidencia inclusive a necessidade de introduzir na grade curricular da formação

do professor um novo pilar: a formação lúdica.

Airton Negrine (apud SANTOS, 1997) sugere 3 pilares que sustentariam uma

boa formação profissional: a formação teórica, a formação pedagógica e formação

pessoal ou lúdica. Considerando que a formação lúdica proporciona aos educadores

vivencias lúdicas, experiências corporais (ação, pensamento, linguagem), conhecer-se

como pessoa, saber de suas possibilidades e limitações, desbloquear suas resistências e

ter uma visão clara sobre a importância do atividade lúdica para crianças, jovens e

adultos.

Teixeira (2010) ao discorrer sobre os jogos, brinquedos e brincadeiras na

Educação Infantil e no Ensino Fundamental destaca que os mesmos são vistos de

diferentes formas e interpretados por diferentes aspectos: físicos, emocionais e

socioculturais. Sendo que esses aspectos quase sempre se encontram interligados. No

aspecto físico, por exemplo, podemos observar componentes de ordem cognitiva,

afetiva e social que acompanham o ato motor.

A criança tem grande necessidade de se movimentar, e segundo Teixeira (2010)

a qualidade do desenvolvimento motor interfere no seu desenvolvimento. Dos 2 aos 7

anos o brinquedo assume grande importância, sendo instrumento de brincadeira e jogo e

meios de desenvolvimento. Nessa idade as crianças exercitam seu corpo como um todo,

conhecem seus limites, exploram a realidade, dominam e coordenam seus movimentos.

Page 31: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

30

3. A PSICOMOTRICIDADE OS JOGOS E AS BRINCADEIRAS NA

EDUCAÇÃO INFANTIL

Neste capitulo será feita uma análise sobre a psicomotricidade, os jogos e

brincadeiras na educação infantil que a cada dia que passa se mostram mais importantes

e necessários para o desenvolvimento cognitivo, psicológico, emocional e motor das

crianças. Falaremos ainda sobre a visão de autores como Vygotsky e Wallon sobre os

jogos.

3.1. CONCEPÇÃO DE JOGO E A VISÃO DE VYGOTSKY E WALLON

A importância dos jogos vem desde antigamente, filósofos como Platão,

Aristóteles, entre outros dão destaque ao papel do jogo na educação, mas foi com

Froebel, criador do jardim de infância, que os jogos começaram a fazer parte do

currículo na educação infantil, assim a criança passou a brincar e utilizar-se de

brinquedos nas escolas.

Durante os jogos educativos é importante que haja um equilíbrio entre as

funções lúdicas onde há diversão e prazer, e funções educativas que ensinam as

crianças. (KISHIMOTO, 2008).

Analisando a literatura pertinente, pode-se dizer que jogo apresenta

significados distintos, uma vez que pode significar desde os movimentos

simples que a criança realiza nos primeiros anos de vida agitando objetos que

estão ao seu alcance, até atividades complexas como certos jogos tradicionais

e/ou o desporto institucionalizado. (NEGRINE e NEGRINE, 2010, p.59).

Os jogos e as brincadeiras são considerados importantes para o desenvolvimento

das crianças e eles acontecem desde o começo de nossas vidas, é através deles que as

crianças podem se expressar, se comunicar, criar, misturar realidade e fantasia.

Page 32: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

31

De acordo com Mello (2009), o jogo pode ser definido como:

(...) uma atividade ou ocupação voluntária, onde o real e a fantasia se

encontram, que possui características competitivas, ocorre num espaço físico

e de tempo determinados, desenvolve-se sob regras aceitas pelo grupo de

participantes, e são, em geral, a habilidade física, o desempenho intelectual

diante das situações de jogo, e às vezes a sorte, os componentes responsáveis

pela determinação dos seus resultados. Com frequência, sua prática se dá

num clima de tensão e expectativa, principalmente face ao desconhecimento

antecipado do resultado final. (MELLO, 2009, p.61).

Antigamente os jogos eram vistos como uma forma de recreação, apenas um

passatempo para as crianças sem qualquer objetivo específico, diferentemente dos dias

de hoje, quando eles estão sendo utilizados pelos professores também como um recurso

pedagógico.

Hoje a perspectiva com relação aos jogos infantis é outra. Educadores e

outros pesquisadores da Educação incentivam a prática do jogo como forma

de aperfeiçoar o desenvolvimento infantil. Pode-se afirmar que os jogos estão

adquirindo gradualmente uma nova dimensão. Vistos sob um enfoque de

integração aos currículos das escolas, deixam de ser considerados atividade

secundária e passam a ser pedagogicamente aceitos como parte dos

conteúdos. (MELLO, 2009, p.62)

De acordo com Antunes (2000), na busca por um ensino onde os alunos se

interessem pelo conteúdo os jogos ganharam espaço no processo de ensino e

aprendizagem. Levando em consideração as experiências e descobertas das crianças, o

professor deve criar “situações estimuladoras e eficazes”. Ainda segundo o autor “O

jogo ajuda-o a construir suas novas descobertas, desenvolve e enriquece sua

personalidade e simboliza um instrumento pedagógico que leva ao professor a condição

de condutor, estimulador e avaliador da aprendizagem.” (ANTUNES, 2000, p.36).”.

Para Vygotsky (2003), existem três zonas de desenvolvimento: a zona de

desenvolvimento potencial, a zona de desenvolvimento real e a zona de

desenvolvimento proximal. A zona de desenvolvimento potencial é aquela que a criança

ainda vai construir, está voltada para seu futuro, a zona de desenvolvimento real é

aquilo que a criança já aprendeu e consegue dominar e na zona de desenvolvimento

proximal a criança faz algo com o auxilio de outro, mas depois de um tempo ela poderá

fazer sozinha.

Page 33: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

32

De acordo com Kishimoto (2008), ao referir-se aos jogos e as brincadeiras

Vygotsky salienta que “[...] nos primeiros anos de vida, a brincadeira é a atividade

predominante e constitui fonte de desenvolvimento ao criar zonas de desenvolvimento

proximal.”

A zona de desenvolvimento proximal significa a distância entre o nível real

de desenvolvimento, determinado pela capacidade de resolver de forma

independente um determinado problema, e o nível de desenvolvimento

potencial, determinado através da resolução de um problema sob a supervisão

de um adulto ou em colaboração com outro companheiro mais capaz. Nesse

sentido, a análise desse autor altera a opinião tradicional de que, no momento

em que a criança assimila o significado de uma palavra ou domina uma

operação que pode ser a soma ou a linguagem escrita, seus processos

evolutivos se realizaram por completo. Na realidade, apenas começaram.

(NEGRINE, 2012, p. 25).

Ao discorrer sobre essa questão Vygotsky (2003) refere que a brincadeira

infantil tem impacto no desenvolvimento, porque cria zonas de desenvolvimento

proximal, pois nela as crianças se comportam "além do comportamento habitual de sua

idade, além do seu comportamento diário." (VYGOTSKY, 2003, p. 134).

De acordo com Negrine e Negrine (2010), Vygotsky não vê nos jogos uma

atividade que possa ser definida apenas como uma atividade prazerosa, mas entende que

através dos estímulos propiciados por esses jogos há um progresso no desenvolvimento

da criança. Ainda segundo Negrine e Negrine (2010, p.95) “Quando explica o papel do

jogo no desenvolvimento da criança, chega a algumas conclusões. Inicialmente, coloca

que o jogo não é uma característica predominante da infância, mas um fato básico no

desenvolvimento”.

Para os vygotskianos, os jogos são condutas que imitam ações reais e não

apenas ações sobre objetos ou uso de objetos substitutos. Não há atividade

propriamente simbólica se os objetos não ficam no plano imaginário e são

evocados mais por palavras que por gestos. (KISHIMOTO, 2008, p.42)

Para Wallon, existem cinco estágios de desenvolvimento: Impulsivo-emocional

que acontece no primeiro ano de vida e que predomina a afetividade; Sensório Motor e

Projetivo que vai até os três anos de idade e predomina a cognição; Personalismo que é

dos três aos seis anos e retorna a afetividade; Categorial por volta dos seis anos há

influência do cognitivo e o Estágio da adolescência em que há uma influencia

Page 34: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

33

funcional, existem momentos em que a afetividade que predomina e há momentos que

a cognição é quem predomina. (GALVÃO, 1995).

Sobre os jogos, Wallon diz que eles se confundem com as atividades globais das

crianças, e os classifica em: jogos puramente funcionais, que ele chama de elementares,

são aqueles que as atividades têm como intenção “mover dedos, tocar objetos, produzir

ruídos e sons, dobrar braços e pernas”; os jogos de ficção que é o famoso ‘faz de conta”

e tem como exemplo o brincar de bonecas, de cavalo de pau, etc; os jogos de aquisição

que se refere ao olhar, escutar, perceber e compreender; e os jogos de fabricação onde é

possível transformar, modificar e inventar novos objetos. (NEGRINE e NEGRINE,

2010, p. 71).

[...] Analisando o estudo dos estágios propostos por Piaget, Wallon fez

inúmeros comentários onde evidenciava o caráter emocional em que os jogos

se desenvolvem, e seus aspectos relativos à socialização. Interessou-se

particularmente pelo aspecto da descoberta e da relação com o “outro” que o

jogo é capaz de propiciar. (MELLO, 2009, p.68).

De acordo com Maluf (2009), a criança se desenvolve de acordo com a

influência do adulto que a sociedade quer formar, as suas potencialidades dependem da

cultura, das ideias e do contexto social da criança.

Para Antunes (1998), é através dos jogos que a criança descobre a vida, a sua

individualidade e ajuda no seu crescimento e seu desenvolvimento, ressalta ainda a

importância de que os jogos sejam muito bem elaborados e que o professor tenha

sempre a noção de que o importante é a qualidade e não a quantidade de jogos

aplicados.

3.2. A PSICOMOTRICIDADE A PARTIR DOS JOGOS E

BRINCADEIRAS.

Durante a educação psicomotora, devem ser trabalhadas as atividades lúdicas

que são muito importantes e ajudam as crianças a utilizarem o seu corpo para se

expressarem e ainda ampliarem algumas noções de coordenação, equilíbrio, consciência

corporal, etc.

Page 35: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

34

Devemos conduzir a educação psicomotora de forma recreativa (lúdica),

levando a criança a fazer uso de diferentes gestos, posturas e expressões

corporais com intenções educativas, ou seja, objetivando desenvolver áreas

especificas como: coordenação motora, ritmo, equilíbrio, agilidade, etc.

fazendo com que a criança se sinta segura para aventurar-se e vencer novos

desafios, proporcionando conhecimento ao redor de si mesma, dos outros e

do ambiente em que vive. (MALUF, 2009, p.26)

De acordo com Maluf (2009), os elementos básicos como a Lateralidade,

Esquema corporal, Estruturação espacial e Orientação temporal são obtidos através das

atividades psicomotoras que são essenciais para uma boa aprendizagem. Essa educação

psicomotora pode ser compreendida como uma educação global, que segundo Maluf

(2009) está “[...] associada aos potenciais afetivos, sociais, intelectuais e motores da

criança.” (p. 25).

Para Oliveira (2001, p.62) “A lateralidade é a propensão que o ser humano

possui de utilizar preferencialmente mais um lado do corpo do que o outro em três

níveis: mão, olho e pé.”. Entende-se assim que há um lado dominante que é mais forte,

mais rápido e preciso, mas o outro lado, aquele que ajuda nessas ações tem a mesma

importância, nenhum deles funciona sozinho, eles se completam.

É importante que as crianças saibam diferenciar o lado esquerdo e o direito. As

crianças ao nascerem ainda não tem preferência de lado, conforme vão crescendo vão

começando a definir e preferir um dos lados, durante esse processo ainda pode haver

uma troca de uso dos lados, mas faz parte do processo até que possa ter uma “definição

completa de sua lateralidade.” (MALUF, 2009, p.27).

Maluf (2009, p.32), oferece algumas sugestões sobre atividades que focalizam o

trabalho com a lateralidade com as crianças como, por exemplo: com a criança de pé

pedir que ela levante e abaixe o braço direito e depois fazer o mesmo com o braço

esquerdo, levantar e abaixar os dois braços; pedir para a criança chutar uma bola e

analisar qual o lado do pé utilizado; com os pés no chão equilibrar o corpo para frente e

para trás, para a esquerda e direita; pedir para que a criança sente e então com os braços

apoiados ao lado do corpo e as pernas esticadas pedir para que ela levante e abaixe a

perna direita e em seguida faça a mesma coisa com a esquerda. Todos esses

Page 36: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

35

movimentos são importantes para que a criança tenha poder sobre o seu corpo e uma

lateralidade definida.

A palavra esquema corporal surgiu em 1911 com o neurologista Henry Head. O

corpo é uma forma que as crianças têm de se expressar, quando o esquema corporal está

bem preparado a criança se sente bem, pois consegue ter o domínio sobre seu corpo, é

através dele que a criança interage com o mundo em que vive e isso faz com que ela se

desenvolva. (OLIVEIRA, 2001).

O corpo é uma forma de expressão da individualidade. A criança percebe-se

e percebe as coisas que a cercam em função de seu próprio corpo. Isto

significa que, conhecendo-o, terá maior habilidade para se diferenciar, para

sentir diferenças. Ela passa a distingui-lo em relação aos objetos

circundantes, observando-os, manejando-os. (OLIVEIRA, 2001, p.47).

De acordo com Maluf (2009, p.26), o esquema corporal “É um componente

imprescindível para a formação da personalidade da criança. É o perfil relativamente

completo e diferenciado que a criança tem do seu próprio corpo, da sua própria

pessoa.”.

Segundo Oliveira (2001, p. 52): “O esquema corporal não é um conceito

aprendido, que se possa ensinar, pois não depende de treinamento. Ele se organiza pela

experienciação do corpo da criança.”. Oliveira (2001) diz ainda que essa construção do

esquema corporal é feita pela criança aos poucos, quando ela nasce possui várias

sensações e percepções proprioceptivas4, mas ainda não consegue organizá-las,

conforme ela vai crescendo, vai se conhecendo e se adaptando a elas. Podemos também

compreender, a partir de uma abordagem sócio-histórica, que essas sensações e

percepções vão ganhando significados a partir da interação da criança com o mundo

cultural que a cerca, através das mediações dos adultos que vão nomeando para a

criança todas essas percepções e sensações que ocorrem com ela.

Algumas atividades ajudam no esquema corporal como andar, correr na ponta

dos pés ou nos calcanhares; desenhar uma linha no chão e fazer a criança caminhar

4 “A propriocepção (ou cinestesia), termo empregado por Sherrington por volta de 1900, é definida

como sendo qualquer informação postural, posicional, encaminhada ao sistema nervoso central pelos

receptores encontrados em músculos,tendões, ligamentos, articulações ou pele. Em outras palavras, é a

consciência dos movimentos produzidos pelos nossos membros. Disponível em

http://www.infoescola.com/corpo-humano/propriocepcao/.

Page 37: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

36

sobre ela; dar passos longos e curtos; pular com um pé só alternando os lados e pular

com os pés juntos; mover a cabeça, pedir para que a criança mostre onde estão os olhos,

nariz, boca; segurar alguns objetos utilizando mãos e pés e depois passá-los para outra

pessoa, fazer atividades que possuem ritmo e que explore os movimentos; conduzir

objetos utilizando as diversas partes do corpo; subir e descer escadas ou rampas

explorando as diversas partes do corpo. (MALUF, 2009, p.31).

Para Oliveira (2001), nós não nascemos com a estruturação espacial, ela é

construída e preparada mentalmente através dos movimentos relacionados aos objetos.

Quando a criança realiza tarefas simples do seu cotidiano como se vestir, comer, brincar

ou pegar um sapato para colocar ou para amarrar já está aprendendo desde cedo a

ordenar seus objetos.

Segundo Maluf (2009, p.28), a estruturação espacial é a forma como a criança se

coloca no espaço e coloca as outras pessoas e os objetos, é saber ir para frente ou para

trás, para a direita ou esquerda, para cima ou para baixo, e para isso é importante que a

criança tenha domínio da lateralidade. É através dela que a criança toma consciência do

seu corpo no ambiente, ou seja, localiza-se no espaço. Para estimular e potencializar a

noção espacial o educador deve utilizar atividades que procurem mostrar às crianças

sobre o que é em cima e embaixo; em frente; grande e pequeno; alto e baixo; dentro e

fora; lado; menor e maior; longe e perto; largo e estreito. Os métodos mais utilizados

são as cantigas, os jogos e as brincadeiras.

A estruturação espacial é essencial para que vivamos em sociedade. É através

do espaço e das relações espaciais que nos situamos no meio em que

vivemos, em que estabelecemos relações entre as coisas, em que fazemos

observações, comparando-as, combinando-as, vendo as semelhanças e

diferenças entre elas. (OLIVEIRA, 2001, p.74).

Para Maluf (2009), atividades como mostrar para a criança como se anda para

frente e para trás, para a direita e para a esquerda e depois fazer todos esses movimentos

junto com a criança; ensinar a criança a ficar na fila ajudam na sua estruturação

espacial.

O homem está introduzido no tempo, pois está sempre sob a ação do tempo,

portanto em transformação, ele nasce, cresce e morre, é através da orientação temporal

que ele tem a capacidade de lidar com o ontem, o hoje e o amanhã, poderá ordenar os

Page 38: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

37

acontecimentos do passado e ainda planejar o seu futuro. Assim como a estruturação

espacial, a temporal não nasce com a criança ela também vai sendo construída e precisa

de certo esforço mental da criança que vai conseguir realizar quando o seu

desenvolvimento cognitivo estiver mais avançado. (OLIVEIRA. 2001)

Maluf (2009) diz que a estruturação temporal além de trabalhar noções de antes,

durante e depois também trás conceitos de tempo longo e curto (como uma hora, um

minuto); diferença entre correr e andar; dias da semana, meses, estações do ano; o

tempo que já passou e o que está por vir; o envelhecimento de pessoas, plantas, animais.

É importante ainda que sejam oferecidas atividades para que a criança identifique

conceitos como dia e noite; manhã, tarde e noite; cedo e tarde; antes e depois; lento,

moderado e rápido; etc..

Segundo Oliveira (2001, p.91), “Orientar-se no tempo, portanto, torna-se

fundamental na nossa vida cotidiana, pois a maioria de nossas atividades são

controladas por ele. A criança caminha para essa noção de tempo objetivo, e nós

devemos auxiliá-la nisto.”.

Para ajudar na orientação temporal das crianças podem-se realizar atividades

como: pedir para a criança ir até o fim da sala de aula, tanto devagar como depressa;

pedir para que ela bata palmas, bata os pés, as mãos sobre a mesa, sempre em diferentes

ritmos; usar arcos e pneus para a criança reconhecer dentro e fora; marcar com fita ou

barbante no chão um espaço para trabalhar noções de distancia, direção e colocação.

(MALUF, 2009)

Durante as atividades psicomotoras é interessante se trabalhar com movimentos

que possuem ritmo, pois além de ser uma forma de se expressar o ritmo ainda ajuda na

flexibilidade dos movimentos, trabalha a atenção e a concentração das crianças.

(OLIVEIRA, 2001, p.94).

Através da educação psicomotora a criança poderá explorar o recinto em que

se encontra, passar por experiências concretas, imprescindíveis ao seu

desenvolvimento intelectivo, sendo capaz de tomar consciência de si mesma

e do mundo que a cerca. [...] a educação do movimento é o ponto de partida

das futuras aquisições de aprendizagens. (MALUF, 2009, p.30)

Page 39: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

38

As atividades psicomotoras são muito importantes no desenvolvimento da

criança, e ainda ajudam no processo de ensino/aprendizagem. É através dessas

atividades que a criança se conhece, conhece seu corpo, aprende a se expressar através

dele, conhece o mundo em que vive, as pessoas e os objetos que a cercam. É o começo

de todas as suas conquistas.

Page 40: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

39

CONSIDERAÇÕES FINAIS

O presente trabalho teve como objetivo realizar uma análise e reflexão sobre

essa nova ciência chamada Psicomotricidade, conhecermos a sua história no mundo e

no Brasil, compreendermos como ela pode ajudar no desenvolvimento das crianças e no

processo de ensino e aprendizagem.

Fazendo um breve resgate sobre a história da Psicomotricidade compreendemos

que essa ciência surgiu quando se notou que algumas debilidades motrizes tinham

relação com as psicológicas, sendo que somente no ano de 1920 surge realmente a

palavra Psicomotricidade com Ernest Dupré. Pudemos ver que as civilizações europeia

e americana foram as mais marcantes no seu processo de evolução, vimos ainda que

algumas ciências, filósofos e pensadores contribuíram para o seu desenvolvimento.

A Psicomotricidade é uma ciência que vem crescendo e se tornando importante a

cada dia que passa, ela tem como objetivo auxiliar no processo de desenvolvimento da

criança reunindo e articulando as áreas intelectual, motora, psicológica e afetiva.

Através dos estudos realizados pela Psicomotricidade pudemos compreender que

corpo e mente estão extremamente relacionados e que se um não funciona muito bem o

outro também pode apresentar problemas, por isso é necessário trabalhar com atividades

lúdicas que utilizam o corpo e os movimentos como forma de expressão e

desenvolvimento de funções cognitivas e emocionais.

Os jogos e as brincadeiras são essenciais durante a educação infantil, é através

dessas atividades lúdicas que a criança aprende a se expressar, a criar, a transformar, a

conviver com outras pessoas, se socializar. A Psicomotricidade defende essas atividades

durante todas as fases da vida das crianças, dando ênfase na educação infantil, pois é

nesse período do desenvolvimento humano que temos a base para todo o

desenvolvimento futuro. Neste sentido, acreditamos que a inclusão das atividades

lúdicas em Psicomotricidade na prática pedagógica da Educação Infantil, permitem que

estas se torne mais significativas favorecendo grandemente o processo de

desenvolvimento dos alunos. .

Page 41: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

40

Vimos que Vygotsky e Wallon foram autores que contribuíram com suas ideais

para compreendermos melhor a importância dos jogos no desenvolvimento das crianças.

Vygotsky enfatiza que os jogos e brincadeiras são essenciais para o desenvolvimento,

pois atuam na zona de desenvolvimento proximal, possibilitando que novas aquisições

no desenvolvimento possam emergir. Já Wallon se preocupou em analisar os aspectos

de socialização com o outro que os jogos proporcionam, dando grande ênfase aos

aspectos afetivos envolvidos nos jogos.

A criança ao nascer não possui algumas habilidades referentes as funções

psicomotoras tais como: lateralidade, esquema corporal, estruturação espacial e

temporal, mas aos poucos e principalmente através das atividades lúdicas a criança vai

desenvolvendo essas funções que gradativamente vão se aperfeiçoando, principalmente

a partir das mediações que ocorrem nos processos relacionais no contato da criança com

o mundo da cultura.

Com isso conclui-se que a Psicomotricidade é muito importante no processo de

ensino e aprendizagem das crianças, pois durante as atividades psicomotoras as crianças

aprendem novas formas de utilização do corpo e dos objetos da cultura, vivenciando

situações que favorecem o seu desenvolvimento global.

Portanto, no contexto da Educação Infantil, ressaltamos que as atividades

psicomotoras não devem ser realizadas de forma mecânica, visando apenas os aspectos

funcionais, mas sim de uma forma lúdica, com o objetivo de promover articulações

entre as estruturas cognitivas e afetivas das crianças. Neste sentido, é preciso que se

invista em projetos educativos na Educação Infantil que contemplem as atividades em

Psicomotricidade, com o objetivo de promover uma educação criativa, prazerosa,

significativa e contextualizada para as crianças.

.

Page 42: A Psicomotricidade Na Educacao Infantil

41

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