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0 UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS CURSO DE DIREITO MAÍME SILVA SANTOS A PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO PREVIDENCIÁRIO Governador Valadares 2011

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UNIVERSIDADE VALE DO RIO DOCE

FACULDADE DE DIREITO, CIÊNCIAS ADMINISTRATIVAS E ECONÔMICAS

CURSO DE DIREITO

MAÍME SILVA SANTOS

A PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO PREVIDENCIÁRIO

Governador Valadares

2011

1

MAÍME SILVA SANTOS

A PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO PREVIDENCIÁRIO

Monografia para obtenção do grau de bacharel em Direito, apresentada à Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade Vale do Rio Doce.

Orientador: Saint-Clair Campanha de Souza

Governador Valadares

2011

2

Santos, Maíme Silva.

A prova testemunhal no processo previdenciário / Maíme Silva Santos. – 2011.

40 f. Trabalho de Conclusão de Curso (graduação) –

Universidade Vale do Rio Doce, Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas, Governador Valadares, MG, 2011.

Orientador: Saint-Clair Campanha de Souza 1. Prova testemunhal. 2. Direito previdenciário. I.

Souza, Saint-Clair Campanha de. II. Universidade Vale do Rio Doce. III. Título.

CDD 341.6

3

MAÍME SILVA SANTOS

A PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO PREVIDENCIÁRIO

Monografia para obtenção do grau de bacharel em direito, apresentada à Faculdade de Direito, Ciências Administrativas e Econômicas da Universidade do Vale do Rio Doce.

Governador Valadares, ___de__________________de________

Banca Examinadora:

___________________________________________________________________

Prof. Saint-Clair Campanha de Souza – Orientador

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________________________________

Professor (a) Convidado (a)

Universidade Vale do Rio Doce

___________________________________________________________________

Professor (a) Convidado (a)

Universidade Vale do Rio Doce

4

Aos meus pais, Carmozete e Jilberto, que em nenhum

momento mediram esforços para realização dos meus sonhos,

que me guiaram pelos caminhos corretos, me ensinando a

fazer as melhores escolhas.

Aos meus irmãos Patrícia e Jean, pelo apoio incondicional

durante a execução deste projeto.

5

AGRADECIMENTO(S)

Agradeço a Deus pela oportunidade e pelo privilégio de compartilhar tamanha

experiência ao frequentar este curso, perceber e atentar para a relevância de temas

que não faziam parte da minha vida.

Ao EAJ – Escritório de Assistência Judiciária, toda a equipe de coordenação e apoio,

em especial à Jack e Geane; aos professores orientadores Yuri Miranda, Saint-Clair

Campanha, Vanessa Armond e Rosemary Mafra, pela convivência, pela amizade e

por ampliarem meus conhecimentos, possibilitando que eu desse mais este passo.

Ao querido Prof. Saint-Clair, que acreditou na minha capacidade, pelos

ensinamentos que me proporcionou, obrigada pelo apoio, paciência e credibilidade.

Aos demais professores que foram ao mesmo tempo, amigos e ensinaram muito

além das teorias e técnicas, me prepararam também para a vida, especialmente ao

Prof. Sérgio Reis, que contribuiu extensivamente para a escolha deste tema, aos

Profs. Roberto Apolinário, e Glaydson Fabri, pela cessão do material necessário

para a elaboração deste trabalho.

Ao Prof. Ilvece Cunha, sempre disposto a ensinar com dinamismo e alegria, todo o

meu carinho e gratidão.

Aos amigos da faculdade, alguns mais próximos, outros nem tanto, mas que de

alguma forma contribuíram para que eu chegasse até aqui, em especial àqueles que

são muito mais que amigos, Tânia, Priscilla, Gabriela, Gilson, Gilmar e Vander.

A Márcio e Mariza, pelo carinho e apoio proporcionado, desde a escolha do curso.

À Layana, Tânia e Thiara, que por todos estes anos dividindo um lar e tudo mais que

contém na casa, aguentaram-me dia após dia, formando assim uma bela família.

6

“É impossível para um homem aprender aquilo que ele

acha que já sabe.”

Epíteto

7

RESUMO

Será discutida, no desenvolvimento desta pesquisa, a necessidade da prova

testemunhal, para fins de obtenção do benefício previdenciário, sem a devida

documentação no momento em que foi efetivamente prestada a atividade rural.

Buscando esgotar o tema, no caso de segurados especiais não vinculados ao

Regime Geral de Previdência Social, descritos no artigo 201 da Constituição Federal

e regulamentado por meio do Plano de Benefícios da Previdência Social, a Lei nº

8.213, de 24 de julho de 1991, o polêmico § 3º do artigo 55 da referida lei, dispõe

expressamente que é inadmissível a comprovação do tempo de serviço mediante

única e exclusiva prova testemunhal, e que esta somente será válida se houver

prova material que lhe dê arrimo. Ocorre que, ao se entender que a lei estabelece

uma restrição à prova testemunhal, mesmo se produzida em juízo, direcionada

contra a Previdência Social e destinada à obtenção de benefícios, ter-se-ia que

concluir por sua inconstitucionalidade. Finalizando a presente pesquisa com os

meios processuais fornecidos pela legislação brasileira, demonstrando as muitas

possibilidades permitidas legalmente, para que esta prova seja feita, embora

coloque alguns obstáculos a fim de evitar a ocorrência de fraudes e simulações.

Palavras-chave: Previdência Social. Inconstitucionalidade. Prova testemunhal. Livre

convencimento do juiz.

8

ABSTRACT

Will be discussed in this research, the need for oral evidence for purposes of

obtaining social security benefits and retirement age for retirement for length of

service, without proper documentation at the time was effectively delivered to rural

activities. Looking exhausted the subject, if not insured special tied to the General

Welfare, described in Article 201 of the Constitution and regulated by the Benefit

Plan of Social Security, Law 8213, to July 24, 1991, the controversial § 3 of Article 55

of the Act, expressly provides that it is inadmissible to prove the time of service at the

sole and exclusive evidence of witnesses, and that this will be valid only if there is

material proof that you Give breadwinner. It happens that if we can understand that

the law establishes a restriction on the evidence of witnesses, even if produced in

court, directed against the Social Security and designed to obtain benefits, we would

conclude that they are unconstitutional. Finally this research with the remedies

provided under Brazilian law, demonstrating the many possibilities allowed by law,

that has been proven, although some put obstacles in order to prevent fraud and

simulations.

Keywords: Social Security. Unconstitutional. Proof Testimonial. Free persuasion of

the judge

9

LISTA DE SIGLAS

CF – Constituição Federal

CLT – Consolidação das Leis do Trabalho

CNJ – Conselho Nacional de Justiça

CPC – Código do Processo Civil

INSS – Instituto Nacional de Seguridade Social

STF – Supremo Tribunal Federal

STJ – Superior Tribunal de Justiça

TRF – Tribunal Regional Federal

10

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO .......................................................................................................11

2 CONCEITO DE PROVA.........................................................................................13

2.1 FINALIDADE DA PROVA...................................................................................15

2.2 MEIOS DE PROVA .............................................................................................15

2.2.1 Depoimento pessoal ......................................................................................16 2.2.2 Confissão ........................................................................................................17 2.2.3 Exibição de documento ou coisa..................................................................17 2.2.4 Documental.....................................................................................................18 2.2.5 Pericial.............................................................................................................19 2.2.6 Inspeção judicial ............................................................................................20 2.2.7 Testemunhal ...................................................................................................21 2.2.8 Da prova emprestada .....................................................................................22 3 POSICIONAMENTO JUDICIAL DA PROVA TESTEMUNHAL .............................24

4 DIREITO COMPARADO........................................................................................27

4.1 NA ESFERA DO DIREITO PENAL .....................................................................27

4.2 NA ESFERA DO DIREITO TRABALHISTA.........................................................27

4.3 NA ESFERA DO DIREITO CIVIL ........................................................................28

5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A PROVA ................................29

5.1 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA.....................................29

5.2 PRINCÍPIO DA FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES.......................................29

5.3 PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL..........30

5.4 PRINCÍPIO DA ISONOMIA .................................................................................30

6 PRINCÍPIOS INFRACONSTITUCIONAIS QUE REGEM A PROVA .....................32

6.1 PRINCÍPIO DA VERDADE REAL DOS FATOS..................................................32

6.2 PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO DO JUIZ.........................................32

7 A PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO PREVIDENCIÁRIO........................34

8 CONCLUSÃO ........................................................................................................36

REFERÊNCIAS.........................................................................................................38

11

1 INTRODUÇÃO

A especialidade do Direito Previdenciário, tanto na órbita material quanto

processual, revela institutos peculiares e autônomos, pelos quais se sobressai a

independência de qualquer outro ramo do Direito. Tal independência deságua na

elaboração de normas previdenciárias colidentes com normas processuais e até

constitucionais.

O § 3º do artigo 55 da Lei 8.213 de 24 de julho de 1991 e artigos 63 e 143 do

Decreto nº 3.048 de 6 de maio de 1999, vedam expressamente a utilização da prova

testemunhal como único meio de prova para comprovação de tempo de serviço.

Com efeito, o artigo 5º, inciso LV, da Lei Maior assegura "aos litigantes, em

processo judicial ou administrativo (...) o contraditório e ampla defesa com os meios

e recursos a ela inerentes". Em seu artigo 5º, inciso LVI, prevê a admissão de

quaisquer provas, desde que não obtidas por meios ilícitos. Assim, a prova

testemunhal não pode ter sua eficácia limitada por não vir acompanhada de início de

prova documental, sob pena de cercear-se o poder do juiz. Isto é, o que já

consolidou nossos tribunais:

"O princípio do devido processo legal pressupõe um juiz imparcial e

independente, que haure sua convicção dos elementos de prova produzidos

no curso do processo. O artigo 5º, inc. LVI, da CF admite quaisquer provas,

desde que não obtidas por meios ilícitos. Assim, a prova testemunhal não

pode ter sua eficácia limitada por não vir acompanhada de início da

documental, sob pena de cercear-se o poder do juiz, relativamente à busca

da verdade e sua convicção quanto a ela" (TRF 3ª Região, AC

2000.03.99.046646 -5, 5ª Turma, Rel. Des. Fed. André Nabarrete, j.

15.10.2002, DJU 10.12.2002, p. 467).

Os tribunais já têm reconhecido a possibilidade da prova exclusivamente

testemunhal para comprovação de tempo de serviço, para fins previdenciários:

"A exigência de prova escrita, com relação aos rurícolas, deve ser

abrandada, sobretudo quando a alegação da parte vem respaldada por

depoimentos coerentes, firmados por pessoas idôneas, e o réu, presente a

todos os atos, não refutou a prova apresentada" (TRF 3ª Região, 2ª Turma,

Rel. Des. Fed. Célio Benevides, j. 03.06.1997, DJ 25.06.1997, p. 48.227).

Na mesma orientação, fundamentando-se na prerrogativa da livre convicção

ou da livre apreciação da prova, edificou o TRF da 3ª Região:

12

"Os depoimentos testemunhais, que revelam o período trabalhado pelo

autor na condição de rurícola, permitem que o julgador, aplicando o

princípio da livre convicção, forme seu juízo quanto ao cabimento do direito

pleiteado, sendo dispensável para tanto o início de prova material" (TRF 3ª

Região, AC 95.03.014921 -5, 5ª Turma, Rela. Desa. Fed. Suzana Camargo,

j. 24.02.1997, DJ 22.07.19997, p. 55.908).

O artigo 131 do Código de Processo Civil Brasileiro dá ao juiz o poder de

avaliar as provas contidas nos autos, formando seu convencimento para assim,

proferir a sentença, baseando-se na prova mais contundente.

“Do exame dos fatos e de sua adequação ao direito objetivo, o juiz extrairá a

solução do litígio que será revelada na sentença”. (Humberto Theodoro, 2009, p.

411).

A presente pesquisa objetiva, demonstrar como tem sido feita a prova no

processo judicial previdenciário, principalmente no que diz respeito a quais são os

meios de prova para comprovação do tempo de serviço. Termina por apontar a

importância do exame do juiz no enfoque do caso concreto para que se alcance a

justiça.

Esta pesquisa bibliográfica vem com o intuito de abordar e reforçar a

importância da prova testemunhal no ordenamento jurídico brasileiro.

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2 CONCEITO DE PROVA

Segundo o Dicionário Virtual Priberam da Língua Portuguesa, prova “é o que

serve para estabelecer a verdade de um fato ou de asserção”.1

É cediço que os fatos não corroborados pelas provas não nasce o direito,

ficando os fatos sem sustentação. Pois a fim de alcançar uma decisão justa e

verdadeira, são as provas e não apenas os fatos que são analisados e ponderados

pelos magistrados e demais operadores do direito.

Não basta apresentar os fatos, deve-se também anexar as provas para

alcançar o que se pretende.

Theodoro Junior (2009, p. 16) descreve isto:

O momento histórico em que se busca por constantes reformas do procedimento, todas preocupadas com o processo justo, a efetiva tutela do direito material reclama do intérprete e aplicador do direito processual civil renovado um cuidado mais acentuado com o caráter realmente instrumental do processo, para evitar os inconvenientes do recrudescimento da tecnocracia forense, a qual uma vez exacerbada frustraria por completo as metas reformistas do direito positivado.

Pode-se definir, então, que um processo sem prova é um direito adormecido,

onde se predominam os técnicos, não será ressuscitado se juntados apenas os

fatos.

Segundo Teixeira Filho (1991, p. 22), prova é resultado e não meio.

Em não sendo assim, ter-se-ia de admitir, inevitavelmente, por exemplo, que qualquer documento juntado aos autos constituiria, por si só, prova do fato a que se refere, ignorando-se, com isto, a apreciação judicial acerca desse meio de prova, apreciação que resultaria na revelação do resultado que tal meio produziu, conforme tenha eficácia para tanto. Ademais, se o meio é a prova, como sustentar-se essa afirmação diante de declarações conflitantes de duas testemunhas sobre o mesmo fato?".

O indeferimento de plano da prova testemunhal como único meio de prova

põe fim ao direito de ação, a expectativa de direito.

O juiz, em face do dever de solucionar a lide, utilizará as provas para formar

seu convencimento, declarando o direito com a verdade encontrada, ainda que não

seja a verdade real, que deve ser buscada, eis que as partes não podem restar à

mercê do tempo, nem mesmo o Judiciário pode omitir-se de decidir e solucionar o

conflito.

1 Disponível em http://www.priberam.pt/dlpo/Default.aspx. Acessado em 21 de maio de 2010.

14

O interesse do Direito pela verdade reside, dentre outros motivos, em que,

uma vez demonstrada nos autos, ela tem eficácia para constranger o julgador a

decidir com consonância com o que espelha ou parece espelhar.

Significa dizer, portanto, que, a verdade, consubstanciada na prova dos

autos, vincula a formação do convencimento do juiz, no tocante aos fatos da causa.

No próprio âmbito da ciência processual, entretanto, o conceito de verdade

não é unitário; fraciona-se para tornar-se, no mínimo, dicotômico, porquanto se

proclama a existência de uma verdade real (ou substancial) e de outra, formal (ou

processual).

Real é a que se pode denominar a verdade em si, o que efetivamente

aconteceu no mundo sensível; formal é a que é a que se estabelece nos autos,

como resultado das provas produzidas pela partes.

Nem sempre, porém, a verdade formal corresponde à verdade real, o que é

exacerbadamente lamentável em respeito ao processo como instituição jurídica.

Ainda nas palavras de Teixeira Filho (2009, p. 922) “o processo somente

atinge, com plenitude, a sua verdadeira razão teleológica quando a verdade formal

coincide com a real”.

Da produção de provas, para Chiovenda (1998, p. 32):

Desde que à parte incumba, além do ônus da afirmação, o ônus de provar,

sua afirmação tem de se acompanhar das provas. Consoante a vária

natureza das provas, semelhante produção pode consistir, seja na exibição

de provas já completas e imediatamente disponíveis (pré-constituídas),

seja no requerimento por sua admissão e porque se realizam os

procedimentos pela constituição de provas de outra natureza. Em qualquer

caso, a produção das provas relaciona-se com as afirmações, no sentido

de que, enquanto forem possíveis novas alegações de fato, possível é a

produção de novas provas. Não existe em nosso sistema, nem jamais

existiu no processo italiano, um período reservado exclusivamente às

afirmações de um período destinado às provas.

Ele ainda complementa com ilustre propriedade do assunto, Chiovenda

(1998, p. 33):

A exibição ou o pedido de provas tem a importância jurídica de ser o juiz

obrigado a levá-las em conta e a manifestar-se sobre o pedido, ainda que

só para declarar inconcludentes as provas oferecidas.

15

2.1 FINALIDADE DA PROVA

O poder jurisdicional do Estado, exercido por meio do processo e provocado

pela ação, tem por objetivo precípuo alcançar a paz social. Quando ocorre um

conflito intersubjetivo de interesses e este é levado à apreciação jurisdicional, o

Estado deve compô-lo, pondo fim à discórdia e restabelecendo, dessa forma, a tão

almeja harmonia da vida em sociedade. (Araújo Cintra, 1995, p. 41)

O ensinamento de Greco Filho (1997, p. 194) demonstra não ter a prova um

fim em si mesma, dizendo que “a finalidade da prova é o convencimento do juiz, que

é o seu destinatário”. O juiz pode determinar a complementação de prova, sendo

necessário ou de evidente utilidade, como inquirição de testemunhas, provas

técnicas, para assim fundamentar sua decisão.

Para Pacífico (2001, p.19), a direção das provas é para o juiz, “porém, a

quem tais afirmações se dirigem, nada sabe daqueles fatos; é necessário, portanto,

dar-lhe a possibilidade de formar uma opinião sobre a verdade ou falsidade do que

foi afirmado”, afirmando ser este, pois, o objetivo das provas.

2.2 MEIOS DE PROVA

Os meios de prova, genericamente, se dão no saneamento do processo.

Nos artigos 332 e seguintes do Código de Processo Civil, admitem-se as

seguintes espécies de prova que são:

a) depoimento pessoal – arts. 342 - 347;

b) confissão – arts. 348 - 354;

c) exibição de documento ou coisa – arts. 355 - 363;

d) documental – arts. 364 - 399;

e) testemunhal – arts. 400 - 419;

f) pericial – arts. 420 - 439;

g) inspeção judicial – arts. 440 - 446.

Apesar de enumeradas, vale ressaltar que não há hierarquia entre elas, ou

seja, as espécies de provas têm a mesma validade e o mesmo peso. Os tipos de

16

prova podem ser anexados para instruir processo, tanto de forma única, como

concomitantemente.

A prova somente perde a eficácia se demonstrado no decorrer do processo

que é fabricada ou falsa, perdendo seu total efeito. Mas, a parte jamais pode ter,

através de lei, o direito da apresentação da prova suprimido.

A validade e eficácia se verificam diante da análise da aplicação da prova,

caso a caso e perante as esferas do Direito.

Na análise do instituto prova, tem-se primeiramente que deixar claro que a

validade não tem o mesmo significado que a eficácia.

Diante do já exposto, todas as espécies são válidas e admitidas, mas a

eficácia dependerá de análise do julgador.

Para ficar mais nítido o entendimento sobre as peculiaridades e a importância

de cada tipo de prova que pode ser produzida no ordenamento jurídico nacional,

será explanado sobre cada uma delas.

2.2.1 Depoimento pessoal

Ë o meio de prova destinado a interrogar a parte, no processo, tendo por

iniciativa do juiz, previsto no artigo 342 do Código de Processo Civil, ou por iniciativa

da parte contrária, artigo 343 do referido código:

Art. 342. O juiz pode, de ofício, em qualquer estado do processo, determinar o comparecimento pessoal das partes, a fim de interrogá-las sobre os fatos da causa. Art. 343. Quando o juiz não o determinar de ofício, compete a cada parte requerer o depoimento pessoal da outra, a fim de interrogá-la na audiência de instrução e julgamento.

O depoimento pessoal tem por finalidade, o esclarecimento dos fatos, como

também de provocar a confissão da parte.

Para Amaral Santos (1985, p. 443), “o depoimento pessoal pode ser proposto

pela parte que tiver interesse em obter a confissão do adversário ou declarar os

fatos controvertidos, podendo o juiz ordená-lo de ofício.”

17

Caso a parte intimada para comparecer em juízo, não se apresentar ou se

recusar a depor, o juiz aplicará a pena de confissão, consoante artigo 343, § 2º do

CPC.

2.2.2 Confissão

Por definição legal, confissão é o fenômeno processual em que a parte

admite a verdade de um fato contrário ao seu interesse e favorável ao adversário

(art. 348 do CPC).

De acordo com o artigo citado, há duas formas de se classificar a confissão

como judicial e extrajudicial.

A confissão judicial se subdivide em espontânea, que como o nome já diz,

resulta da iniciativa do próprio confitente, e a provocada, que advém de

requerimento da parte contrária ou do juiz.

A extrajudicial, previsto no artigo 353 do CPC, é a que o confitente faz de forma

oral ou escrita para terceiro ou para a parte contrária, ou através de testamento.

Art. 353. A confissão extrajudicial, feita por escrito à parte ou a quem a represente, tem a mesma eficácia probatória da judicial; feita a terceiro, ou contida em testamento, será livremente apreciada pelo juiz.

2.2.3 Exibição de documento ou coisa

Se a parte pretender provar suas alegações por meio de documentos que se

encontram em poder de terceiro, deverá pedir ao juiz que determine sua exibição,

sob pena de serem considerados verdadeiros os fatos alegados que a parte

pretendia prova com o respectivo documento.

Assim sendo, o artigo 355 do CPC dispõe: “O juiz pode ordenar que a parte

exiba documento ou coisa, que se ache em seu poder”. (...)

Mais adiante, ainda com relação ao nosso caderno processual civil, o artigo

360 informa, em complemento: “Quando o documento ou coisa estiver em poder de

terceiro, o juiz mandará citá-lo para responder no prazo de 10 (dez) dias”.

18

A determinação quanto à produção deste tipo de prova pode ser do próprio

juiz, ex officio, ou da parte interessada.

2.2.4 Documental

É considerada a prova mais forte do processo instrumental, apesar do

princípio da persuasão racional facultar ao juiz o seu afastamento pelos demais

meios produzidos nos autos.

Chiovenda (1998, p. 43) traz o assunto com clareza, se não vejamos:

O fato de constituir um documento apenas princípio de prova, em vez de

prova plena, deve despender da natureza das coisas que nele se contêm, e

não de outra circunstância. Especialmente um escrito que, pela natureza

das coisas que encerra, seria idôneo para servir de prova plena, mas

impossível, por outros defeitos, de fazer prova (por exemplo: documento de

um representante não autorizado), não pode servir sequer como princípio

de prova. Poderá deduzir-se dele unicamente uma presunção, que é muito

menos do que o princípio da prova escrita.

O ato de provar, no que se refere a documentos, divide-se em dois

momentos: o da proposição e o da admissão.

Proposto o documento, caberá ao juiz admiti-lo ou não no processo. Para a

admissão da prova documental, o juiz levará em consideração: o momento da

proposição do documento; quem propõe o documento; a natureza e o fim visado

pelo documento; condições em que se apresenta o documento e atitude da parte

contra a qual o documento é proposto.

Existem dois tipos de documentos: a) documentos públicos e b) documentos

particulares.

Documento público é o que goza de fé pública, não só da sua formação, mas

também dos fatos ocorridos na presença da autoridade perante a qual foi ele

lavrado.

Dessa forma, estabelece uma presunção relativa de veracidade do que nele

consta, extensível às certidões, traslados e suas reproduções fiéis, desde que

19

provenientes da autoridade administrativa respectiva e atingível apenas mediante a

declaração de falsidade material do documento.

Enquanto permanecer íntegro em sua formalidade não pode o juiz decidir

contra o que dele consta. E até mesmo sendo incompetente a autoridade, o

documento público, embora perca a presunção de veracidade, tem plena validade

como documento particular.

Documento particular é aquele emitido sem a participação de um oficial

público, vinculada sua força probante à sua natureza e conteúdo.

A assinatura do documento particular faz presumir ser o conteúdo do

documento emanado de quem a pôs, independentemente da forma de sua

confecção.

O "ciente" é mera declaração de conhecimento quanto à existência do

documento, sem implicar reconhecimento de validade de seu conteúdo. Já a

assinatura lavrada à frente do escrivão, autenticada por este, faz presumir ser

autêntico o documento.

O mesmo acontece com o documento sem reconhecimento de firma juntado

aos autos e não impugnado no que se refere à assinatura ou conteúdo, no prazo de

dez dias contados da intimação, salvo se em posterior alegação a parte deduzir

algum dos vícios de consentimento (erro, dolo ou coação - CPC, artigo 372, § único).

Não havendo dúvida quanto à sua autenticidade, o documento particular

prova que o seu autor fez a declaração que lhe é atribuída (CPC, artigo 373).

2.2.5 Pericial

É o meio de prova destinado a trazer aos autos elementos de convicção

dependentes de conhecimento técnico não possuído pelo juiz. Destacando-se que

mesmo que o juiz possuindo esses conhecimentos sobre a circunstância do fato, a

necessidade de um perito ainda estará presente.

O artigo 420 do CPC estabelece as seguintes modalidades de perícia:

a) Avaliação: visa atribuir valor monetário a alguma coisa ou obrigação.

Quando for necessário estimar o valor de bens ou obrigações abstratas (ex: dano

20

moral) será utilizado o instrumento jurídico denominado "arbitramento" uma espécie

de avaliação.

b) Vistoria: destina-se a avaliar o estado de um bem imóvel, possibilitando o

registro da situação monetária nos autos, capturando informações importantes que

poderiam se modificar com o tempo.

c) Exame: visa a análise do estado em que se encontra um bem móvel,

semovente ou pessoas.

A doutrina apresenta uma classificação alternativa para as modalidades de

perícias:

a) judicial: quando ocorre dentro do processo, por requerimento da parte ou

de oficio pelo juiz.

b) extrajudicial: quando ocorre fora do processo, por interesse particular.

c) informal: uma espécie de perícia judicial, mas que dispensa o laudo oficial.

2.2.6 Inspeção judicial

Faculdade direta do juiz sobre qualidades ou circunstâncias corpóreas de

pessoas ou coisa, com a finalidade de se esclarecer quando a fato de relevante

interesse à solução da lide.

Fundamentado no princípio da imediatidade de colocar o juiz em contato

direto com as fontes de prova, recolhendo suas observações sobre pessoas ou

coisas, objeto da lide ou relacionadas a esta, por seus próprios sentidos, visa formar

convicção sobre a verdade do fato ou fatos relevantes no processo.

Na inspeção, ao juiz faculta a utilização de assistência técnica, objetivando

percepção mais correta e perfeito esclarecimento quando a fatos que vão além de

sua especialidade, conforme previsão legal.

As partes têm o direito de acompanhar a inspeção e prestar esclarecimentos

e observações relevantes a causa, e como o juiz pode se valer de assistentes

técnicos.

No entendimento de Santos (2006, p. 562):

levando-se em conta a dificuldade ou o meio que se tem de empregar para atingir o fim visado, o juiz não deve produzi-lo por si mesmo, nem sob forma de inspeção judicial (artigo 400 do CPC), em razão de por em risco sua respeitosa imagem de julgador.

21

2.2.7 Testemunhal

Prova testemunhal, já retro mencionada, é um meio de prova idôneo, capaz

de comprovar a ocorrência ou não ocorrência dos fatos alegados no processo.

Através da reconstrução histórica os fatos são transportados para o processo por

meio da narração de testemunhas.

Outrossim, a prova testemunhal é classificada como prova pessoal, haja vista

que toda afirmação é pessoal e consciente, destinada a fazer fé dos fatos afirmados.

Testemunha é uma pessoa distinta dos sujeitos processuais que, "convidada",

na forma da lei, por ter conhecimento do fato ou ato controvertido entre as partes,

depõe sobre este em juízo, para atestar a sua existência.

Suas declarações, que devem ser feitas com a consciência de dizer a

verdade, versam sobre fatos cujo conhecimento adquiriu pelos seus próprios

sentidos.

São elementos característicos da testemunha:

a) é uma pessoa física;

b) é uma pessoa estranha ao feito;

c) é uma pessoa que deve saber do fato litigioso;

d) a pessoa deve ser chamada a depor em juízo;

e) a pessoa deve ser capaz de depor.

A testemunha não poderá recusar-se a depor, salvo se o seu depoimento não

for tomado pelo juiz.

O Código de Processo Civil, assim descreve:

Art. 414. Antes de depor, a testemunha será qualificada, declarando o nome por inteiro, a profissão, a residência e o estado civil, bem como se tem relações de parentesco com a parte, ou interesse no objeto do processo. Art. 416. O juiz interrogará a testemunha sobre os fatos articulados, cabendo, primeiro à parte, que a arrolou, e depois à parte contrária, formular perguntas tendentes a esclarecer ou completar o depoimento.

Poderão e deverão escusar-se a depor, quando a obrigação de testemunhar

colidir com os deveres mais fortes e que em razão do interesse público sejam

protegidos, ou quando do depoimento resultarem graves danos a parentes próximos.

22

Desatendendo, emotivamente ou sem justa causa, à obrigação de depor, estará

sujeita a testemunha a sanções.

Conforme o festejado e imortal doutrinador, Chiovenda (1998, p. 137), em sua

obra Instituições de Direito Processual Civil, vol. 3, aborda que ela é indispensável

como assim transcrito:

A mais dessa limitações à admissibilidade da prova testemunhal, cuidou a lei de rodeá-la de garantias, destinadas a assegurar-lhe, quanto possível, a atendibilidade. Assim: 1º - As testemunhas devem responder oralmente, sem poder ler respostas preparadas por escrito; pode o juiz permitir que consultem notas ou lembretes quando o exigirem a qualidade da testemunha ou a natureza da causa. 2º - Pode o juiz, de ofício, formular as perguntas oportunas para esclarecer a verdade; e por em confronto as testemunhas que depuseram. O mesmo direito de inquirir compete a cada um dos juízes na prova realizada perante o colégio. 3º A fim de evitar uma prova confusa e tumultuária, vedou-se às partes e aos procuradores interrogar ou interromper as testemunhas, devendo, para isso, dirigir-se ao juiz da prova. 4º A lei exclui do rol das testemunhas determinadas pessoas, mesmo porque seria duvidosa a atendibilidade de seus depoimentos: tais são os parentes e afins em linha reta de uma das partes ou cônjuge, ainda que desquitado, salvo quanto as questões de estado e de desquite. Os menores de catorze anos podem ser ouvidos sem juramento e a título de informação. 5º É lícito investigar a atendibilidade concreta de cada depoimento, e por isso as partes podem formular e submeter à prova, de modo específico, os motivos capazes de eivar de suspeição o depoimento das testemunhas. A alegação de suspeita não impede ouvir-se a testemunha ainda não excluída. Não se pode produzir a prova dos motivos de suspeição por meio de testemunhas, se não concorrer prova escrita ou circunstâncias graves, precisas e concordantes. 6º deve a testemunha prestar o juramento de dizer toda a verdade e só a verdade (juramento promissório) e declarar se tem interesse na causa, ou se é parente ou afim de qualquer das partes, e em que grau ou se está a serviço dela. O juramento em nosso sistema é anterior, não posterior, ao depoimento; e necessário e não facultativo nem renunciável. Puni-se o testemunho falso.

2.2.8 Da prova emprestada

A prova cedida de outro processo denomina-se prova emprestada.

O ilustre doutrinador Amaral Santos (1985, p. 367) assim conceitua:

A prova de um fato, produzida num processo, seja por documentos, testemunhas, confissão, depoimento pessoal ou exame pericial, pode ser trasladada para outro, por meio de certidão extraída daquele. A essa prova, assim transferida de um processo para o outro, a doutrina e a jurisprudência dão o nome de prova emprestada.

23

Dentre as provas atípicas, ou seja, não prevista no rol do Código de Processo

Civil, temos a prova emprestada, que é o transporte de produção probatória de um

processo para outro. É o aproveitamento de atividade probatória anteriormente

desenvolvida, mediante traslado dos elementos que a documentaram,

excepcionando-se, assim, a regra geral de que a prova é criada para formar

convencimento dentro de determinado processo.

A admissão da prova emprestada decorre da aplicação dos princípios da

economia processual e da unidade da jurisdição, almejando máxima efetividade do

direito material com mínimo emprego de atividades processuais, aproveitando-se as

provas colhidas perante outro juízo.

Pode-se dizer, ainda, que a admissibilidade da prova emprestada também

encontra amparo na garantia constitucional da duração razoável do processo,

consoante artigo 5º, LXXVIII, da CF/88, “a todos, no âmbito judicial e administrativo,

são assegurados a razoável duração do processo e os meios que garantam a

celeridade de sua tramitação”inserida como direito fundamental pela emenda

constitucional n.º 45 no ano de 2004, porquanto se trata de medida que visa, entre

outros fins, dar maior celeridade à prestação jurisdicional.

Todos os meios legais de prova, bem como os moralmente legítimos

produzidos em um processo podem ser trasladados para outro, porém, a prova

emprestada tomará sempre a forma documental, não importando qual tenha sido

sua natureza no processo de origem. Isso porque as provas são trazidas

documentalmente de outro processo, mediante certidão ou cópias autenticadas das

folhas em que foram produzidas na demanda original.

O CPC traz ao meio jurídico pelo seu artigo 332: “todos os meios legais, bem

como os moralmente legítimos, ainda que não especificados neste código, são

hábeis para provar a verdade dos fatos, em que se funda a ação ou a defesa.”

24

3 POSICIONAMENTO JUDICIAL DA PROVA TESTEMUNHAL

Com base na redação dos artigos de lei anteriormente citados, o Judiciário se

posicionou da mesma forma, tanto que nasceu a súmula 149, de 1995, do STJ: “A

prova exclusivamente testemunhal não basta à comprovação da atividade rurícola,

para efeito da obtenção de benefício previdenciário” (grifo).

Com os dispositivos citados da legislação previdenciária, unida com a súmula

149, fez com que tal entendimento fosse aplicado em outras classes além da rural.

A classe que mais padeceu com este entendimento foi a camponesa, pois a

peculiaridade da atividade não produz documento algum com seu labor. Os únicos

registros que deixam são as marcas advindas da ação do tempo, que são os calos

nas mãos e a pele desgastada ou até enferma.

Assim, por muitos anos, os juízes acompanharam o entendimento do sistema

normativo previdenciário já citado, aceitando a prova testemunhal rural somente

acompanhada de indício de prova documental.

Sabe-se que quem leva as provas ao conhecimento do juiz são as partes e

que, conceitualmente, o direito à prova implica na ampla possibilidade de utilizar

quaisquer meios probatórios disponíveis.

A regra é a admissibilidade das provas; e as exceções devem ser expressas

de forma taxativa e justificada.

O que se observa é a divisão da jurisprudência no que tange a aceitação da

prova testemunhal.

O Tribunal Regional Federal da 5º Região foi pioneiro, quando o

Desembargador José Delgado proferiu um julgado que vem corroborar para

demonstrar claramente a importância da prova testemunhal. Veja abaixo:

TEMPO DE SERVIÇO. PROVA PREDOMINANTEMENTE TESTEMUNHAL. VALIDADE. APLICAÇÃO DO PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO DO JUIZ (ATIGO 131 DO CPC). 1. O juiz, em nosso sistema processual, é livre para convencer-se a

respeito dos fatos discutidos no curso da ação, com base nos elementos pousados nos autos. Desdobramentos do artigo 131 do CPC.

2. A prova testemunhal, apanhada em Juízo, com todas as cautelas legais, desde que não contraditada pela parte contrária, tem potencialidade igual à prova documental, salvo nos casos de contratos solenes em que o direito material exige o meio documental.

25

3. A regra contida na legislação previdenciária de que a prova do tempo de serviço necessita, pelo menos, de razoável demonstração documental, dirige-se, apenas, à autoridade administrativa, sem produzir efeito no campo de atuação do Poder Judiciário.

4. A Constituição Federal de 1988, em seu artigo 5º, caput, ao estabelecer que todos serão iguais perante a lei, sem distinção de qualquer natureza, fixa a proibição de se tratar de modo privilegiado, no campo processual, as pessoas jurídicas de direito público, pelo que não há de se aceitar qualquer restrição à prova testemunhal para demonstração de tempo de serviço.

5. Apelação interposta pelo segurado provida em parte. Apelação apresentada pela autarquia previdenciária desprovida.

AC n. 8.440-SE - 2º T.

Relator: O Exmo. Sr. José Delgado; Apelante: Reginaldo Figueiredo; Apelante: Instituto do Seguro Social – INSS; Apelados: os mesmos.

ACÓRDÃO

Vistos, discutidos e relatados os presentes autos, em que são partes as acima indicadas.

Decide a Segunda Turma do Tribunal Regional Federal da 5º. Região, à unanimidade, dar provimento parcial à apelação interposta pelo segurado e negar provimento à apelação proposta pela autarquia previdenciária, nos termos do voto do Juiz Relator, na forma do relatório e notas taquigráficas constantes dos autos, que passam integrar o presente julgado.

Custas como de lei. Recife, 12 de março de 1991 (data do julgamento). Juiz José Delgado – Presidente e Relator.

Tal julgado foi publicado na Revista de Previdência Social em Dezembro de

1992.

Urge ressaltar que, quando se fala em início de prova material, vindo a prova

testemunhal, apenas confirmar a pretensão, a jurisprudência atual é farta.

Encontram-se julgados em todos os Tribunais Regionais Federais como na

4ª Região:

Acórdão Classe: IUJEF - INCIDENTE DE UNIFORMIZAÇÃO NO JUIZADO ESPECIAL FEDERAL

Processo: 2009.70.95.000122-8 UF: PR

Data da Decisão: 13/12/2010 Orgão Julgador: TURMA REGIONAL DE UNIFORMIZAÇÃO DA 4ª REGIÃO

Inteiro Teor: Citação: Fonte D.E. 17/12/2010

Relator ALBERI AUGUSTO SOARES DA SILVA

Decisão Vistos e relatados estes autos em que são partes as acima indicadas, decide a Egrégia Turma Regional De Uniformização do Tribunal Regional Federal da 4ª Região, por unanimidade, DAR PROVIMENTO AO INCIDENTE, nos termos do relatório, votos e notas taquigráficas que ficam fazendo parte integrante do presente julgado.

Ementa PEDIDO DE UNIFORMIZAÇÃO REGIONAL. PREVIDENCIÁRIO. ATIVIDADE RURAL. INÍCIO DE PROVA MATERIAL. EXTENSÃO DA EFICÁCIA PROBATÓRIA PELA PROVA TESTEMUNHAL. DEVOLUÇÃO DO PROCESSO À TURMA RECURSAL DE ORIGEM PARA ADEQUAÇÃO. 1. A eficácia, no tempo, do início de prova material de atividade rural, exigência do art. 55,

26

§ 3º, da LBPS, pode ser ampliada por prova testemunhal robusta. Assim, não há necessidade de apresentação, ano a ano, de documentos que comprovem a permanência do segurado no trabalho rural. Precedentes da TRU e da TNU. 2. Pedido de Uniformização conhecido e provido para o efeito de devolver o processo à Turma Recursal de origem para adequação.

No Tribunal Regional Federal da 3ª Região, o posicionamento não é diferente:

Documento Ementa

Documento: trf300041815.xml

Classe: AC - APELAÇÃO CIVEL

Processo: 96.03.030763-7

UF: SP

Órgão Julgador: PRIMEIRA TURMA

Data do Julgamento: 30/09/1997

Fonte: DJ DATA:28/10/1997 PÁGINA: 90340

PREVIDENCIÁRIO - APOSENTADORIA POR IDADE - AUSÊNCIA DE INÍCIO DE PROVA MATERIAL - SÚMULA 149 DO STJ - EXTINÇÃO DO FEITO. - EM SE TRATANDO DE TRABALHOR RURAL, APLICAR-SE-Á A SÚMULA N 149 DO EGRÉGIO SUPERIOR TRIBUNAL DE JUSTIÇA, INADMITINDO A PROVA EXCLUSIVAMENTE TESTEMUNHAL PARA EFEITO DE OBTENÇÃO DE BENEFÍCIO PREVIDENCIÁRIO. - NO PROCEDIMENTO SUMÁRIO, A INTERPOSIÇÃO DE AGRAVO DEVE SER RETIDO, NOS TERMOS DO ARTIGO 280, III, DO CPC. - RECURSO DE APELAÇÃO IMPROVIDO.

5

Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL ROBERTO HADDAD

27

4 DIREITO COMPARADO

4.1 NA ESFERA DO DIREITO PENAL

Na esfera do Direito Penal, as provas documental e pericial têm maior eficácia

que a prova testemunhal. Exemplo: uma testemunha relata que viu o réu cometendo

um crime, mas, se no decorrer do processo, existir uma prova documental provando

que o réu não estava no país ou se a perícia analisar que tal arma de fogo está

marcada com impressão digital que não coincide com a do réu, a testemunha perde

a eficácia, sendo o réu absolvido. Nesse caso, a prova documental e pericial têm

mais força que a testemunhal.

4.2 NA ESFERA DO DIREITO TRABALHISTA

No âmbito trabalhista, a prova testemunhal pode fazer com que a prova

documental perca sua eficácia, como por exemplo: num processo estão sendo

discutidas horas extras, em que o empregador junta os cartões de ponto, provando

que elas não existem; o empregado, por sua vez, arrola testemunhas para provar

que quem batia o cartão de ponto era o gerente do estabelecimento.

Pode o juiz, diante do princípio do livre convencimento, chegar à conclusão

de que as testemunhas não estavam mentindo.

Portanto, podemos observar que todos os meios de provas têm a sua

validade, são admitidas, porém a eficácia se perde pela imposição da prova mais

contundente.

Fica claro que qualquer ordenamento jurídico admite os meios de prova, sem

hierarquia ou discriminação, respeitando o princípio constitucional da ampla defesa.

Somente o Direito Previdenciário comete o equívoco de limitar e discriminar

um meio de prova, no caso a testemunhal.

28

4.3 NA ESFERA DO DIREITO CIVIL

No campo do Direito Civil, o meio probatório pode não estar previsto em lei,

mas ser admitido, desde que moralmente legítimo.

O fato de ser moralmente legítima a prova não prevista em lei é totalmente

diferente de ser maior ou menor a possibilidade de falsificação ou falibilidade que

nela se encontra.

A lei não estabelece princípios obrigatórios, mas a forma procedimental de

sua colheita tem que ser atendida, sob pena de inocuidade.

A testemunha, com possibilidade de contradita, consoante artigo 414, §1º do

CPC, depois de compromissada, presta, oralmente, seu depoimento, que é reduzido

a termo.

Ineficaz é, portanto, o chamado testemunho escrito, que consiste em

declaração de ciência de terceiro, feito através de simples escrita.

29

5 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS QUE REGEM A PROVA

5.1 PRINCÍPIO DO CONTRADITÓRIO E AMPLA DEFESA

Este princípio versa sobre a imparcialidade que é colocada ao juiz, durante

uma decisão judicial.

O juiz coloca-se entre as partes, mas de forma equidistantes a elas, quando

houve uma, necessariamente deve ouvir a outra, somente assim se dará a ambas a

possibilidade de expor suas razões e de apresentar a suas provas, influindo no

convencimento do juiz.

Desta forma, Theodoro Júnior (2009, 28) afirma que este princípio deve ser

desenhado com base no “princípio da igualdade substancial”, devendo as partes

serem postas a expor suas razões. Surge, então, como um de seus

desdobramentos, o direito de defesa para o réu contraposto ao direito de ação para

o autor.

O Princípio do Contraditório e ampla defesa é regulado pelo inciso LV do

artigo 5º da Constituição Federal Brasileira de 1988.

Ainda no entendimento do renomado Professor, “o Juízo há de ser lógico e

exaustivo em torno de todo o debate produzido nos autos, de modo que todos os

sujeitos do processo tenham real oportunidade de influir na formação do julgado”.

(THEODORO JUNIOR, 2009, p. 28).

5.2 PRINCÍPIO DA FUNDAMENTAÇÃO DAS DECISÕES

Este princípio está consagrado no artigo 93, inciso IX da Constituição Federal

e, é sem dúvida uma enorme garantia da justiça quando consegue reproduzir

exatamente, o caminho lógico que o juiz percorreu para chegar à sua conclusão,

pois se esta é errada, pode facilmente encontrar-se, através dos fundamentos, em

que altura do caminho o magistrado se desorientou ou foi induzido a um erro.

30

O renomado Alexandre Freitas Câmara diz que “a fundamentação das

decisões Judiciais é exigida pelo ordenamento jurídico brasileiro por dois motivos.

Em primeiro lugar protege-se com tal exigência um interesse das partes e, em

segundo, um interesse público”. (CÂMARA, 2009, p. 55).

A motivação das decisões judiciais é indispensável para garantir a

imparcialidade do juiz.

5.3 PRINCÍPIO DA INAFASTABILIDADE DO CONTROLE JURISDICIONAL

Princípio consagrado no artigo 5º, inciso XXXV, da Constituição Federal, diz

que “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou ameaça a direito”,

ficando assegurado todo aquele que porventura sinta que foi usurpado de seu

direito, seja qual for a causa que se queira deduzir, isto independe também, das

provas que se tem para comprovar tal direito.

O Desembargador Alexandre Câmara afirma que “também o juiz deve

entender como destinatário daquele princípio” (CÂMARA, 2009, p. 48).

Ainda na opinião de Freitas Câmara:

Ao vedar a tutela liminar de direitos, a lei impedirá a prestação de uma tutela jurisdicional adequada (aliás, a única verdadeiramente adequada a proteger o direito de uma ameaça). Assim sendo, por vedar a tutela jurisdicional adequada ao caso concreto, tal norma proibitiva de concessão de liminares deve ser tido por inconstitucional, por contrariar o princípio da inafastabilidade do controle jurisdicional, nessa segunda manifestação, em que aparece como destinatárioda norma o magistrado (e não apenas o legislador). (FREITAS CÂMARA, 2009, p. 49).

5.4 PRINCÍPIO DA ISONOMIA

Este princípio está relacionado à ideia de processo justo, ou seja, o devido

processo legal.

O caput do artigo 5º, da Constituição Federal Brasileira combinado com o

artigo 125, inciso I, do Código de Processo Civil, visa assegurar às partes um

tratamento isonômico.

31

O princípio da isonomia está incluso em todas as esferas do Direito, e deve

ser considerado em dois aspectos: o da igualdade na lei, a qual é destinada ao

legislador, ou ao próprio Executivo, que, na elaboração das leis, atos normativos, e

medidas provisórias, não poderão fazer nenhuma discriminação. E o da igualdade

perante a lei, que se traduz na exigência de que os Poderes Executivo e Judiciário,

na aplicação da lei, não façam qualquer separação.

Este princípio, como todos os outros, nem sempre será aplicado, podendo ser

relativizado de acordo com o caso concreto.

Doutrina e jurisprudência já assentam o princípio de que a igualdade jurídica

consiste em assegurar às pessoas de situações iguais os mesmos direitos,

prerrogativas e vantagens, com as obrigações correspondentes, o que significa

"tratar igualmente os iguais e desigualmente os desiguais na medida em que eles se

desigualam" (grifo), visando sempre o equilíbrio entre todos.

Segundo Freitas Câmara (2009, P. 42), “tal norma tem por fim assegurar aos

incapazes a já mencionada ’paridade de armas’ que se pretende assegurar com a

garantia de igualdade substancial, já que não se pode pretender afirmar qua existia

igualdade material entre capazes e incapazes”.

32

6 PRINCÍPIOS INFRACONSTITUCIONAIS QUE REGEM A PROVA

6.1 PRINCÍPIO DA VERDADE REAL DOS FATOS

O princípio da verdade real ou da extrema probabilidade é comum em toda

espécie de processo.

No Direito Processual Penal, a subsidiariedade se encontra sempre na

aplicação da lei, de forma que qualquer obscuridade quanto à culpabilidade ou

inocência se interpreta em favor do acusado.

No Processo Civil, as exigências são outras, como a revelia e a repartição do

ônus da prova, por exemplo.

6.2 PRINCÍPIO DO LIVRE CONVENCIMENTO DO JUIZ

O livre convencimento é o princípio segundo o qual o juiz tem a faculdade de

apreciar livremente as provas. Todas as provas estão no mesmo plano diante da lei;

a legislação não estabelece "pesos" diferentes para cada espécie de prova.

Todavia, apesar de ser livre a formação do convencimento por parte do

magistrado, este convencimento deverá ser motivado, em cada caso concreto.

O Tribunal Regional Federal desta Região, também proferiu decisão que vem

corroborar a importância de tal princípio para o processo previdenciário, vejamos:

Processo: AGA 0009153-77.2009.4.01.0000/BA; AGRAVO REGIMENTAL NO AGRAVO DE INSTRUMENTO

Relator: DESEMBARGADOR FEDERAL REYNALDO FONSECA

Convocado: JUÍZA FEDERAL GILDA SIGMARINGA SEIXAS (CONV.)

Órgão Julgador: SÉTIMA TURMA

Publicação: e-DJF1 p.279 de 17/09/2010

Data da Decisão: 31/08/2010

Decisão: A Turma, por unanimidade, negou provimento ao agravo regimental, nos termos do voto da Relatora.

Ementa: PROCESSUAL CIVIL - AGRAVO REGIMENTAL - PRODUÇÃO DE PROVAS: LIVRE CONVICÇÃO DO JUIZ, PRESIDENTE DO FEITO - SOMENTE NOS CASOS DE DANO IMEDIATO IRREPARÁVEL. 1. Cabe ao Juiz, como

33

destinatário que é da prova, aferir acerca da necessidade ou não de sua produção para a formação do seu convencimento, nos moldes do art. 130, do Código de Processo Civil. Precedente deste eg.Tribunal Regional Federal. 2. A decisão de indeferimento ou de deferimento de provas desafia, como regra, agravo retido, somente manejando o agravo por instrumento quando presente o perigo de dano imediato e irreparável para a parte. 3. In casu, examinando a questão incidental posta em apreciação, se verificou que não há necessidade de provimento jurisdicional urgente, nem perigo de lesão grave e de difícil ou incerta reparação, a justificar a revisão pretendida 4. Agravo regimental não provido.

Assim, é livre a apreciação da prova pelo juiz, desde que o mesmo

fundamente sua decisão. Daí falar-se em livre convencimento motivado.

Tal princípio tem seu âmbito de operatividade restrito ao momento da

valoração das provas, que deve incidir sobre material constituído por elementos

admissíveis e regularmente incorporados ao processo.

O STF posicionou a favor desse princípio, como conta em tal decisão abaixo:

STF AR 1538 AgR-AgR / MG - MINAS GERAIS

../jurisprudencia/l AR-AgR-AgR153AG.REG.NO AG.REG.NA AÇÃO RESCISÓRIA

Relator(a): Min. MAURÍCIO CORRÊA Julgamento: 04/10/2001 Órgão Julgador: Tribunal Pleno Publicação DJ 08-02-2002 PP-00261 EMENT VOL-02056-01 PP-00025 Parte(s) AGTE. : UNIÃO FEDERAL ADVDA. : PFN - FRANCISCO TARGINO DA ROCHA NETO AGDA. : CIA SÃO GERALDO DE VIAÇÃO ADVDOS. : JOÃO DÁCIO ROLIM E OUTROS Ementa EMENTA: AGRAVO REGIMENTAL EM AGRAVO REGIMENTAL NA AÇÃO RESCISÓRIA. DESPACHO SANEADOR. REALIZAÇÃO DE PROVAS POR INICIATIVA DO JUIZ. ARTIGO 130 DO CÓDIGO DE PROCESSO CIVIL. PRECLUSÃO. INEXISTÊNCIA. 1. A preclusão é instituto processual que importa em sanção à parte, não alcançando o magistrado que, em qualquer estágio do procedimento, de ofício, pode ordenar a realização das provas que entender imprescindíveis à formação de sua convicção. 2. Código de Processo Civil, artigo 130. Aplicação do princípio do livre convencimento do juiz, a quem cabe a direção do processo, determinando, inclusive, as diligências necessárias à solução da lide. Instrução probatória. Preclusão pro judicato. Inexistência. Agravo regimental não provido.

34

7 A PROVA TESTEMUNHAL NO PROCESSO PREVIDENCIÁRIO

Uma lei ordinária não poderia ter mais força que a Constituição Federal, bem

como seus princípios. Com a limitação, da prova testemunhal por força de lei

ordinária, vai de encontro à Carta Maior.

No Direito Brasileiro há uma hierarquia entre as normas. Sendo assim: a)

normas constitucionais; b) normas complementares; c) normas ordinárias; d) normas

regulamentares; e) normas individuais.

Diante disso, estão sendo feridos diversos princípios, que por ordem, são

citados.

O princípio do livre acesso à justiça ou do direito de ação, decorrente do

devido processo legal, que está claro no artigo 5º, XXXV, da Constituição Federal,

segundo o qual “a lei não excluirá da apreciação do Poder Judiciário lesão ou

ameaça a direito.”

Se não aceitarem a prova testemunhal rural, desde que seja lícita, o direito

acima exposto estará sendo ameaçado, bem como o princípio da liberdade objetiva

das provas, que consequentemente atinge o poder do magistrado de analisar as

provas e aplicar o princípio do livre convencimento do juiz em prol do segurado ou

contra ele.

O juiz, com seu conhecimento pedagógico, pode analisar se a testemunha

está mentindo ou não, diante das contradições, podendo desconsiderar totalmente a

testemunha, proferindo sua fundamentação.

No entanto, como já descrito, uma lei ordinária não pode limitar o segurado de

buscar a verdade real, impedindo-o de usar um meio de prova que lhe é garantido,

independentemente de qual, desde que seja lícita, senão estaria ferindo o livre

acesso à Justiça ou do direito de ação, princípio da liberdade objetiva das provas,

sendo atingido o princípio do devido processo legal e da garantia da ampla defesa

estampado no artigo 5º da Constituição Federal.

No ano da edição da Súmula 149, o Superior Tribunal de Justiça, publicada

em 18 de dezembro de 1995, entendeu que o Poder Judiciário só se justifica se visar

à verdade real. Corolário do princípio moderno de acesso ao Judiciário, qualquer

meio de prova é útil, salvo se for obtida por meios ilícitos.

35

A prova testemunhal é admitida. Não pode, por isso, ainda que a lei o faça ser

excluída notadamente quando for a única capaz de evidenciar o fato.

Os negócios de vulto, de regra, são reduzidos a escrito. Outra, porém, é a

regra geral quando os contratantes são pessoas simples, não afeitas às

formalidades do Direito. Tal acontece com os chamados boias-frias, muitas vezes,

impossibilitados, dada a situação econômica, de impor o registro em carteira. Impor

outro meio de prova, quando a única for a testemunhal, restringir-se-á à busca da

verdade real, o que não é inerente ao DIREITO JUSTO. Evidente a

inconstitucionalidade da Lei nº 8.213/91, em seu artigo 55 § 3º, e do Decreto nº

3.048/99 nos artigos 63 e 143.

Compartilhando desse entendimento, a Nobre Jurista Maria Izabel Barros

Cantalice2 cita a frase em seu brilhante artigo: “O fim último a ser perseguido na

solução de uma demanda previdenciária seria a adequação e preservação dos

interesses dos beneficiários e do sistema previdenciário como um todo.”

A lei ordinária não pode valorar a prova, prejulgando-a como falsa ou

fraudulenta, sem antes saber se ela é lícita ou não, podendo somente ter o

conhecimento de sua idoneidade se produzida e analisada pelo julgador. Se barrada

antes de questionada, nunca a verdade real será conhecida, ainda mais

considerando que a atividade rurícola, em alguns casos, não produz qualquer

espécie de documento.

Desse modo, se a prova testemunhal for retalhada antes de sua produção,

principalmente para aquelas atividades cuja peculiaridade não tece qualquer

documento, essas atividades não terão oportunidade de buscar a verdade real do

seu devido direito social, uma vez que o único respaldo é a prova testemunhal.

2 Artigo Científico de Maria Izabel Barros Cantalice. Advogada e Professora de Direito Previdenciário da

FEMARGS e da UNIRITTER.

36

8 CONCLUSÃO

Assim, conclui-se que é completamente cabível a inserção de prova

exclusivamente testemunhal, no processo judiciário, ao passo que as normas

constantes da Lei nº 8.213/91, do Decreto nº 3.048/99 e outros diplomas

previdenciários, que vedam a produção de prova unicamente testemunhal, são

visivelmente inconstitucionais, perante a interpretação do artigo 5º, inciso LVI da

Constituição Federal de 1988, que nos faz ultimar que todos os meios de prova são

admitidos para a prova de fato constitutivo de direito, desde que lícitas e não obtidas

por meio criminoso.

Quando, em virtude de força maior ou caso fortuito, for impossível a produção

de prova documental, o interessado ficará desamparado? Será que o legislador

pensou nisso? Talvez não.

A classe dos Advogados se depara diariamente, com o entrave jurisdicional,

visto que este, por sua vez, tem o dever de aplicar a lei. Mas, qual lei? Será a lei que

dispõe sobre os Planos de Benefícios da Previdência Social? Será a Constituição

Federal de 1988, vigente no país?

O julgador, que não se vê convencido da verdade de um fato, demonstrado

apenas por testemunhas, pode requisitar outras diligências para alcançar a

veracidade dos fatos alegados. Mas, a verdade ficará esquecida, diante da

possibilidade de fraude.

Os casos que se apresentam no judiciário são diversos, devendo o julgador

expressar seu sentimento em cada caso específico.

Quanto à análise probatória em matéria previdenciária é importante fazer

referência a duas súmulas que guiam o judiciário neste entendimento, quais sejam,

a súmula 34 da TNU, que aduz o seguinte: “Para fins de comprovação do tempo de

labor rural, o início de prova material deve ser contemporâneo à época dos fatos a

provar.”

A súmula 149 do STJ, que diz: “A prova exclusivamente testemunhal não

basta a comprovação da atividade rurícola, para efeito da obtenção de beneficio

previdenciário.”

A utilização das duas súmulas pelo judiciário afasta de imediato a apreciação

pelos magistrados de diversos processos que não tenham início, bem como indícios

37

de provas materiais. Descartando a utilização da prova testemunhal, salvo se

apoiada em documentos probatórios.

Esta posição do judiciário, de imediato, não se coaduna com maestria ao

ordenamento jurídico em dois sentidos.

Inicialmente verifica-se que as súmulas supracitadas não estão de acordo

com o artigo 5º da Constituição em seu inciso LV, eis que uma vez aduz:

Art. 5º LV – aos litigantes em processo judicial ou administrativo, e aos

acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com

os meios e recursos a ela inerentes;

Ou seja, ao excluir unicamente a apreciação da prova testemunhal, infere-se

que o judiciário privilegia em um primeiro momento a prova documental.

Não há embasamentos legais que estabeleçam uma ordem de elementos

probatórios até porque o ordenamento privilegia o livre convencimento motivado dos

magistrados, consoante artigo 131 CPC.

Já no segundo sentido, as súmulas vão de encontro à função social dos

referidos benefícios, qual seja, proteger os hipossuficientes.

De regra, os segurados especiais são pessoas que não tiveram facilidades de

aprendizado bem como oportunidades de emprego que o meio urbano proporciona,

em função disto há uma proteção do Estado para que esses segurados não fiquem

desamparados, de forma que há uma facilitação na concessão de benefícios numa

tentativa de compensar as dificuldades proporcionadas pelo meio.

Não obstante o acima alegado, não reconhecer validade da prova

exclusivamente testemunhal é de certa forma privilegiar a má-fé, em contrapartida

aos rumos trilhados pelo ordenamento, qual seja, a boa-fé é presumida, a má fé

deve ser provada.

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REFERÊNCIAS

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