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II CONINTER – Congresso Internacional Interdisciplinar em Sociais e Humanidades
Belo Horizonte, de 8 a 11 de outubro de 2013
A PROSTITUIÇÃO DE TRAVESTIS E A FORMAÇÃO DE
TERRITÓRIOS MARGINAIS: O CASO DA AVENIDA AUGUSTO
SEVERO - RJ
PIMENTEL, IVAN IGNÁCIO (1); BARBOSA, ANA CAROLINA SANTOS (2)
1- Professor substituto do Departamento de Geografia Humana – UERJ. Graduado em Geografia pela
UFRJ, Mestre em Sociologia e Direito pela UFF e Doutorando em Geografia pela UERJ.
2 - Graduada em Geografia pela UERJ e Mestranda em Geografia pela PUC-RJ
RESUMO
Diante da complexidade do espaço urbano, que ao mesmo se apresenta de forma integrada e
fragmentada, o presente trabalho tem por objetivo analisar a prostituição de travestis no bairro da
Glória, Zona Sul do município do Rio de Janeiro. Assim, abordaremos a questão da identidade na
pós-modernidade e os conflitos na sociedade contemporânea. A construção de um espaço pela
prostituição de travestis revela que o reconhecimento da identidade torna-se a espinha dorsal de um
processo de territorialização. Assim, estudar a prostituição na Rua Augusto Severo, que está ao mesmo
tempo inserida dentro do contexto da prostituição de travestis no Rio de Janeiro, mas que traz aspectos
peculiares inerentes a esta área, traz questões que devem ser alvo de investigação empírica, tendo em
vista que a construção do “ser” está diretamente relacionada ao espaço em que é construída, a ainda
aos símbolos pertencentes a esse espaço e a interação entre o indivíduo e o meio.
PALAVRAS-CHAVE: Espaço Simbólico, Identidade, Prostituição e Território.
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INTRODUÇÃO
Estudar a prostituição na Rua Augusto Severo, que está ao mesmo tempo inserida dentro do
contexto da prostituição de travestis no Rio de Janeiro, mas que traz aspectos peculiares
inerentes a esta área, traz questões que devem ser alvo de investigação empírica, tendo em
vista que a construção do “ser” está diretamente relacionada ao espaço em que é construída,
a ainda aos símbolos pertencentes a esse espaço e a interação entre o indivíduo e o meio.
Nesse caso, a construção de um território é de vital importância para que um determinado
grupo possa exercer um controle, de modo a permitir a manutenção da atividade e realizar o
exercício do poder, como forma de manter a ordem coletiva, além de defender o território de
possíveis “invasores”, que constantemente são vistos como “inimigos”, que constantemente
ameaçam a atividade em destaque. Para Ornat1, o território da prostituição travesti tem como
um de seus elementos estruturantes a comunicação, tanto entre travestis, como entre
travestis e clientes, policiais, moradores e demais grupos sociais.
Corroboramos também com o conceito de território utilizado por Miguel Ângelo Ribeiro2, em
seu estudo da prostituição na cidade do Rio de Janeiro (RJ), onde considera que a prática da
prostituição tem como um de seus rebatimentos a formação de territórios, mais precisamente
territórios móveis, em virtude do estabelecimento de redes de relações e das trocas atreladas
aos símbolos vinculados a especificidades na linguagem falada e gestual existentes, em um
período determinado de tempo. Estes territórios rompem com a limitação do conceito atrelado
tradicionalmente ao Estado Nação, encontrando na escala intra-urbana um amplo campo de
estudo que se propõe a destacar a ação dos atores a fim de preservar identidades e práticas
nesses contra-espaços que atuam na metrópole moderna de forma divergente, na medida em
que buscam no igual e na reciprocidade dos símbolos o fim do anonimato através da
materialização na urbe de um lugar onde seja possível ir contra a lógica homogeneizante,
transgredindo o socialmente correto e normal na busca de manter a diversidade, conforme já
sinalizavam alguns geógrafos, nas palavras de Souza3.
Os limites do território são, portanto, fluidos e especificamente no caso da atividade da
prostituição, são cíclicos por ocupar os logradouros em questão no período noturno, e com
diferenças no tocante aos dias da semana, visto que a vida noturna do entorno é mais
1 ORNAT, Márcio José. Território da Prostituição Travesti e a Institucionalização do Sujeito Travesti na
Cidade de Ponta Grossa – Paraná. Dissertação (Mestrado em Gestão do Território). Universidade Estadual de
Ponta Grossa, Paraná. 2008. 159 p. 2 RIBEIRO. Miguel Ângelo Campos. Itinerários e Espaços das Atividades Terciárias e da Prostituição nos
Logradouros da Área Central do Rio de Janeiro: Os Exemplos Passos, Mém de Sá, Graça Aranha e Imediações. In: CARRERAS, Carles; PACHECO, Suzana Mara Miranda (Orgs.). Cidade e Comércio: A Rua Comercial na Perspectiva Internacional. Rio de Janeiro: Armazém das Letras, 2009, p. 81-131. 284 p. 3 À noite principalmente, na Avenida Augusto Severo a maquiagem é trocada. Já não existem crianças nem
moradores, que são substituídos pelos travestis, em seus trajes sumários e trejeitos, correndo de um lado para o outro [...] (2002, p. 108)
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movimentada nas sextas e sábados, o que representa maior afluxo de pessoas e veículos, ou
clientes em potencial. Ao passo que no período diurno, temos intensa circulação de pessoas e
veículos, justificada pela presença de comércio e serviços, conforme já mencionavam Mattos
e Ribeiro.
Portanto, o conceito de território é utilizado nesta pesquisa enquanto condição sine qua non
para a construção da identidade do grupo focal escolhido, além de ter por objetivo abarcar as
relações sócio-territoriais que se materializam no recorte, através das disputas e sentimentos
envolvidos, visto que no universo da prostituição a meta diária é a sobrevivência, pois a rua
caracteriza-se por ser um local cheio de incertezas e armadilhas.
A DINÂMICA ESPACIAL DA RUA
Atualmente a Avenida possui usos diversos ao longo da semana e ao longo de 24 horas,
abrigando uma feira-livre aos domingos, onde é possível observar a comercialização de
diversos tipos de produtos onde se destacam legumes, verduras, frutas, frutos do mar,
produtos de limpeza e aquários.
De acordo com entrevistas semi-estruturadas realizadas durante dez finais de semana, no
período compreendido entre 8:00 horas e 17:00 horas, torna-se relevante ressaltar no
presente trabalho que a feira é vista como um ponto de integração entre os moradores, pois os
bares que funcionam no período noturno ficam abertos e movimentados, em geral com a
presença de maridos que aguardam suas esposas ou por grupos de pessoas que
simplesmente vão a feira para realizar seu “encontro semanal” e pôr as conversas em dia.
Além dos bares, outros pontos de socialização são as duas barracas de pastel existente, pois
estas concentram um elevado número de pessoas nos mais diversos horários. Por último, se
destaca o “samba da feira”, organizado pela Associação de Moradores do Bairro, que
funciona como ponto de encontro da população jovem que freqüenta a feira, quando estes
aproveitam para paquerar, encontrar com a “galera”, beber uma cerveja e jogar conversa fora
enquanto curtem um samba de raiz, tocado por diferentes grupos, tendo em vista que cada
domingo toca um grupo diferente, que segue o mesmo estilo musical. (FOTO 03).
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FOTO 01
Feira-livre aos Domingos Foto: Ivan Pimentel
Durante o período diurno, de segunda a sábado vemos outra territorialização, sendo que
dessa vez é realizada por “flanelinhas” que chegam a Rua por volta de 8:00 horas da manhã e
permanecem até as 18:00 horas. A atividade destacada é autorizada pela prefeitura e é
possível observar uma relação de harmonia e respeito entre os diversos “flanelinhas”, pois
cada um possui seu espaço de trabalho muito bem delimitado. A relação com a maioria dos
clientes é bem próxima, tendo em vista que muitos já trabalham na rua há muitos anos e
mantêm uma relação nada formal com os proprietários dos carros que costumam estacionar
seus veículos todos os dias no mesmo local.
Além dessa atividade existe um pequeno comércio local, com a presença de uma agência de
alocação de automóveis e mais três bares que durante o dia servem refeições do tipo “prato
feito”, a boate La passion e uma agência do Banco do Brasil. Há também um ponto de aposta
do jogo do bicho, que concentra pessoas realizando suas apostas durante todo o dia. O
elevado número de automóveis que circula durante o período diurno, reflete a funcionalidade
da rua, que é a ligação entre o Centro e a Zona Sul. Assim, cabe ressaltar ainda a presença do
Centro Cultural Dejair Cardoso, o charmoso teatro fica na Avenida Augusto Severo, 176,
Glória, Rio de Janeiro, em frente à praça Paris. Dispõe de sessenta lugares com excelente
visão do palco. Inaugurado em 2007, oferece ao público peças teatrais de Dejair Cardoso e
aos sábados a noite realiza uma programação chamada de “O Divino Masculino 2 – O Show”,
com a apresentação de Go Go Dancers, que fazem shows de nudismo que tem início as 22:00
horas (FOTO 04).
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FOTO 02
Centro Cultural Dejair Cardoso Foto: Ivan Pimentel
A noite, com o por do sol, brilhos melancólicos tomam conta da Avenida. Diversas travestis,
vindas de diferentes bairros do Rio de Janeiro e mesmo de cidades próximas ocupam a
Augusto Severo, transformando-a em uma verdadeira vitrine de corpos. À atividade da
prostituição de travestis se junta a presença de ambulantes. No carrinho da “pizza do Luiz”
está o principal ponto de encontro dos chamados Tloves4, que reúnem-se para “dar notas” às
travestis e fazerem programas em hotéis de alta rotatividade, próximos ao ponto de
prostituição. Muitas travestis se juntam aos seus possíveis clientes e ficam fazendo o uso de
bebidas alcoólicas na expectativa de realizar algum programa naquele momento.
Devido a essa dinâmica ao longo de sete dias, durante 24 horas, as ruas assumem os
sentidos de vida coletiva, de dia, apropriadas pelo mercado, delimitando relações de poder
que configuram verdadeiros territórios dominados por camelôs, guardadores de carro ou
prostitutas em dias e horários cambiáveis; de mercado vinculado a relações de troca, com
manutenção de algumas moradias, e o surgimento de bares e pequenos restaurantes. As
atividades apontadas não são excludentes, ao contrário estas se imbricam e revelam a
complexidade do espaço fragmentado e articulado.
4 Nome dado a homens que gostam de fazer programa com travestis (auto denominação), os mesmos são
chamados pelas travestis de “mariconas”, e elas por sua vez são chamadas por eles de Tgatas.
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Conforme DaMatta5, o espaço é demarcado quando alguém estabelece fronteiras, separando
um pedaço de chão do outro. Mas nada pode ser tão simples assim, porque é preciso explicar
de que modo as separações são feitas e legitimadas e aceitas pela comunidade como um
todo (MAPA 01). Tanto o tempo como o espaço são invenções sociais. Não existe medida
orgânica, natural ou fisiológica de uma categoria de pensamento e ação tão complexa quanto
o espaço, do mesmo modo que não há um órgão para medir o tempo. O fato é que tempo e
espaço constroem e, ao mesmo tempo, são construídos pela sociedade dos homens. Para
ele, esses “espaços eternos” e essas “zonas” problemáticas fazem parte de uma estrutura
social que necessariamente inclui espaços e temporalidades permanentes que operam em
todos os níveis da sociedade. Não diferente de outras atividades, a “criação” de uma área
dominada pela prostituição foi permeada por diversos conflitos.
Cada sociedade tem uma gramática de espaços e temporalidades para poder existir enquanto
modo articulado e, isso depende fundamentalmente de atividades que se ordenem também
em oposições diferenciadas, permitindo lembranças ou memórias diferentes em qualidade,
sensibilidade e forma de organização.
5 DaMatta, Roberto. A casa e a rua: espaço, cidadania, mulher e morte no Brasil - Rio de Janeiro: Guanabara.
1987
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MAPA 01
Território da Prostituição – Avenida Augusto Severo Elaborado por Ivan Pimentel e Ana Carolina Barbosa
A CONSTRUÇÃO DO TERRITÓRIO E AS RELAÇÕES DE PODER
A construção de um território é de vital importância para que um determinado grupo possa
exercer um controle, de modo a permitir a manutenção da atividade e inevitavelmente realizar
o exercício do poder e coesão interna, como forma de manter a ordem e a perpetuação da
atividade, além de defender o território de possíveis “invasores. Para Ornat6, o território da
6 ORNAT, Márcio José. Território da prostituição travesti e a institucionalização do sujeito travesti na cidade
de Ponta Grossa – Paraná. Dissertação (Mestrado em Gestão do Território). Universidade Estadual de Ponta
Grossa, Paraná. 2008. 159 p.
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prostituição travesti tem como um de seus elementos estruturantes a comunicação, tanto
entre travestis, como entre travestis e clientes, policiais, moradores e demais grupos sociais.
O conceito de território é utilizado por Ribeiro7, em seu estudo da prostituição na cidade do Rio
de Janeiro, onde considera que a prática da prostituição tem como um de seus rebatimentos a
formação de territórios, mais precisamente territórios móveis8.
Um dos autores pioneiros na abordagem do território foi Claude Raffestin9. Merece destaque
na sua obra o caráter político do território, bem como a sua compreensão sobre o conceito de
espaço geográfico, pois o entende como substrato, um palco, preexistente ao território10.
Dentro da concepção enfatizada pelo autor, o território é tratado, principalmente, com uma
ênfase político-administrativa, isto é, como o território nacional, espaço físico onde se localiza
uma nação; um espaço onde se delimita uma ordem jurídica e política; um espaço medido e
marcado pela projeção do trabalho humano com suas linhas, limites e fronteiras. Segundo o
mesmo autor, ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente, o ator territorializa o
espaço11.
Na análise de Raffestin, a construção do território revela relações marcadas pelo poder.
Assim, faz-se necessário enfatizar uma categoria essencial para a compreensão do território,
que é o poder exercido por pessoas ou grupos sem o qual não se define o território. Poder e
território, apesar da autonomia de cada um, vão ser enfocados conjuntamente para a
consolidação do conceito de território. Assim, o poder é relacional, pois está intrínseco em
todas as relações sociais.
Quando se trata da questão territorial, necessariamente refere-se ao exercício de poder sobre
o espaço. Como aponta Becker12, o território é um produto “produzido” pela prática social, e
também um produto “consumido”, vivido e utilizado como meio, sustentando, portanto a
prática social. Nesse sentido, quando se propõe pesquisar processos de desenvolvimento
territorial, foco deste artigo, trata-se de investigar e compreender como os atores exercem seu
7 RIBEIRO. Miguel Ângelo Campos (Org.). Território e prostituição na metrópole carioca. Rio de Janeiro,
Ecomuseu Fluminense, 2002. 160 p. 8 [....] apropriação, durante um certo período de tempo, de uma rua ou um conjunto de logradouros por um
determinado grupo de prostitutas, “michês” e travestis, que através de uma rede de relações, da adoção de códigos de fala, expressões, gestos e passos, garantem e legitimam essas áreas como territórios para a prática de tal atividade. Por outro lado, a especificidade do espaço condiciona sua apropriação e transformação em territórios fortemente e não fortemente controlados. (RIBEIRO, 2002 p.117). 9 RAFFESTIN, Claude. Por uma geografia do poder. São Paulo: Ática, 1993.
10 “É essencial compreender bem que o espaço é anterior ao território. O território se forma a partir do espaço, é o
resultado de uma ação conduzida por um ator sintagmático (ator que realiza um programa) em qualquer nível. Ao se apropriar de um espaço, concreta ou abstratamente [...] o ator “territorializa” o espaço. (RAFFESTIN, 1993, p. 143).” 11
“[...] um espaço onde se projetou um trabalho, seja energia e informação, e que, por conseqüência, revela relações marcadas pelo poder. (...) o território se apóia no espaço, mas não é o espaço. É uma produção a partir do espaço. Ora, a produção, por causa de todas as relações que envolve, se inscreve num campo de poder [...]” (RAFFESTIN, 1993, p. 144). 12
BEKCER, Berta. O Uso Político do Território: questões a partir de uma visão do terceiro mundo. In: BECKER, Berta K.; COSTA, Rogério K.; SILVEIRA, Carmem B.; (orgs.) Abordagens políticas da espacialidade. Rio de
Janeiro: UFRJ, 1983.
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poder sobre o território e como fazem uso deste, política e economicamente, ao longo do
tempo. Trata-se, não de estudar unicamente o território em si, mas o território vivido e usado,
como enfatiza Milton Santos13:
Esta concepção14 dá ênfase aos atores que agem sobre o território. Desse modo o trabalho e
as ações serão motores de transformações que se dão no espaço decorrente do exercício de
poder sobre o espaço.
A prática da prostituição, não diferente de outras atividades precisa de um espaço para que a
atividade seja desenvolvida. Assim como qualquer grupo que exerce o domínio sobre uma
determinada porção do espaço a atividade em destaque. São esses atores que produzem o
território, composto por malhas, nós e redes, partindo da realidade inicial dada que é o
espaço, passando à implantação de novos recortes e ligações. Pode-se considerar, assim,
que a malha é a base, ou o substrato do território. É o que há de mais concreto e enraizado.
Os limites da malha são definidos pela ação dos nós ou dos pontos, os quais estabelecem
redes ou fluxos, reforçando os limites ou as fronteiras dessa malha e dando dinamicidade ao
território. Segundo o autor em questão. Os pontos simbolizam a posição dos atores,
representando locais de poder e referência, lembrando que existe uma multiplicidade destes
agindo sobre o mesmo15.
Os nós relacionam-se entre si e estabelecem redes, reforçando o poder dos atores sobre seu
território. Estes atores e estas redes relacionam-se ainda com nós externos à malha, tornando
este território mais dinâmico e fluido. Esta dinamicidade, por sua vez, possibilita aos atores
locais um melhor atendimento de suas demandas e necessidades.
Os territórios da prostituição são bastante “flutuantes” ou “móveis”16. Os limites tendem a ser
instáveis, com as áreas de influência deslizando sobre o espaço concreto das ruas, becos e
praças. Para o autor, a criação de identidade territorial pode ser tanto funcional, quanto
afetiva. O que não significa, em absoluto, que “pontos” não sejam às vezes intensamente
disputados, podendo a disputa desembocar em choques entre grupos rivais.
A identidade territorial, todavia, não se resume à identidade construída, em um espaço tido
como “funcional”. Há que se considerar que um determinado grupo (atores sociais) ao
constituírem um território, criam símbolos e signos que representam essa ocupação,
13
SANTOS, Milton. A natureza do espaço. Técnica e tempo. Razão e emoção. 2. ed., São Paulo: Hucitec, 1997 __________. Território e Dinheiros. In: Território e territórios. Niterói: Programa de Pós Graduação em
Geografia – PPGEO-UFF/AGB, 2002. 14
O território não é apenas o conjunto de sistemas naturais e de sistemas de coisas superpostas. O território tem que ser entendido como território usado, não território em si. O território usado é o chão mais a identidade. A identidade é o sentimento de pertencer àquilo que nos pertence. O território é o fundamento do trabalho, o lugar de residência, das trocas materiais e espirituais e do exercício da vida (SANTOS, 2002, p.10) 15
(...) agem e, em conseqüência, procuram manter relações, assegurar funções, se influenciar, se controlar, se interditar, se permitir, se distanciar ou se aproximar e, assim, criar redes entre eles. Uma rede é um sistema de linhas que desenham tramas. Uma rede pode ser abstrata ou concreta, invisível ou visível. A idéia básica é considerar a rede como algo que assegura a comunicação (...) (RAFFESTIN, 1993, p.156). 16
A expressão “território móvel” (mavable territory) é retirada de SACK (1986:20), o qual corretamente já discernia que “most territories tend to be fixed in geographical space, but some can move”.
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manifesta na construção simbólica do espaço. Cabe ressaltar que um território precisa de
constante manutenção, pois além de fruto de uma nítida relação de poder, constitui uma “base
espacial” para atores sociais desenvolverem suas atividades, de modo que é possível ver
esse território enquanto uma fronteira-poder.
No entendimento de Bourdieu17, podemos representar o mundo social em forma de um
espaço, construído na base de princípios de diferenciações ou de distribuição, constituído
pelo mundo das propriedades que atuam no universo social considerado, quer dizer,
apropriadas para conferir força ou poder nesse universo. Os agentes ou grupos de agentes
são definidos por suas posições relativas nesse espaço. Esse poder pode ser definido como
lugar onde permite que indivíduos se associem tendo em vista a realização de um objeto em
comum. Tal objeto comum permite posições e práticas sociais que fundamentam a formação
de grupos, podem ter natureza econômica, política, cultural ou social e se referem aos
vínculos que os homens podem tecer entre si, por meio de unificar para atingir o mesmo
objetivo e desenvolver a ação comum.
Pode–se entender que o território se forma a partir do espaço, sendo constituído no processo
da transformação da natureza pelo homem, que envolve aspectos sociais, políticos,
econômicos e culturais e assim se definem os territórios conforme as ações.
DA TERRITORIALIDADE A TERRITORIALIZAÇÃO
A “rua”, como as profissionais do sexo se referem aos espaços públicos de prostituição,
aparece muitas vezes como o principal lugar de socialização para as travestis. O mesmo
afirma Hélio Silva, em relação às travestis que se prostituem no bairro da Lapa, no Rio de
Janeiro, “espaço onde residem, trabalham e criam inúmeras relações com outros atores
sociais que [ali] também moram, trabalham ou freqüentam” 18 . Nesse sentido, enquanto
ocupado pelos corpos travestis – apenas na noite, tem o significado de “território”, de forma
semelhante à que se refere Segato19, como uma nova forma de territorialidade. A autora
afirma que, após a passagem de um período histórico onde o soberano governava um
território – “espacio de terra bajo el poder de un señor o monarca con todas las cosas que
dentro de él se encuentram”20 – para um momento posterior, a partir do século XVIII, em que o
poder soberano passa a ser exercido sobre a população – “la administración, en un régimen
17
Bourdieu, Pierre. O poder simbólico, Bertrand, Rio de Janeiro. 1998 18
Silva, Hélio R.S. Travesti: a invenção do feminino, Relume-Dumará, Rio de Janeiro, 1993 19
Segato, Rita Laura. Em busca de um léxico para teorizar a experiência territorial contemporânea. Série Antropologia, N° 373. Brasília. Depto. de Antropologia, Universidade de Brasília, 2005. Ver também La faccionalización de la República y el paisaje religioso como índice de una nueva territorialidad. Série Antropologia, N° 376. Brasília. Depto. de Antropologia, Universidade de Brasília, 2005. 20
“Espaço de terra sob o poder de um senhor ou monarca com todas as coisas que dentro dele se encontram”
(Tradução livre).
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pastoral, de la vida del grupo humano que se asienta en un determinado territorio”21 , nos
encontramos agora em um terceiro período, onde a população vai se desacoplando do
território, passando a constituir ela própria (com seus corpos e os emblemas que carregam) o
território a governar: é o momento em que a gramática do poder vai definitivamente se
introjetando na modelagem dos sujeitos.
Segundo MacDowell22, os corpos fazem o território, e o sobrepõem ao espaço que ocupam,
mas também são marcadas, na pele e nas subjetividades, pelos signos daquele espaço:
quase todas as travestis em situação de prostituição têm seus corpos marcados por cicatrizes
que recordam as inúmeras histórias de violência; muitas têm partes de seus corpos
deformadas pelo uso inadequado de silicone industrial, aplicado com uma seringa quase
sempre por outra travesti, normalmente a cafetina.
Dessa forma, a rua não é considerada apenas um lugar de passagem, na medida em que
abarca a multiplicidade do espaço urbano, suas funções, conteúdos e singularidades, ao
representar no plano do vivido relações simbólicas, onde segundo Ribeiro, afloram as
diferenças e as contradições que permeiam a vida cotidiana, bem como as tendências de
homogeneização e normatização impostas pelas estratégias do poder que subordina o social.
A prostituição das travestis na Avenida Augusto Severo, em questão, representa uma forma a
singularizar parte das relações sociais ali materializadas. De modo que é também nesse
espaço territorial que muitas travestis constroem seus modelos estéticos de corporalidade, em
referência a outras travestis e aos desejos de seus clientes.
Ao se enfatizar as ações dos atores sobre seu espaço, a identidade destes para com o espaço
vivido, apropriado, o sentimento de pertença, a busca por um protagonismo maior nas ações
em seu território, as quais objetivam o atendimento das demandas e necessidades dos atores
locais/regionais, está tratando-se de processos de desenvolvimento territorial local/regional.
Tais processos incluem ações, mecanismos, estratégias e políticas, desencadeadas por
atores locais/regionais, que formam uma territorialidade, criam uma nova escala de poder e
gestão através de novos usos políticos e econômicos do território.
Ao adotar a postura de construir uma visibilidade do texto urbano23 produzido pelas travestis,
sua existência é possível nesta mesma relação com profissionais do sexo, é importante
lembrar que esse é um texto a margem do poder hegemônico, mas, paradoxalmente em
relação aqueles que mantêm a hegemonia. Emerge dessa posição o argumento de que o
território da prostituição travesti é instituído pelo grupo, mas, simultaneamente, o território é
21
“A administração, em um regime pastoral, da vida do grupo humano que se assenta em um determinado território” (Tradução livre). 22
MacDowell, P.L. Geografia do gênero: do (não) lugar de travestis e outros abjetos na cidade. Trabalho
apresentado no XVI Encontro Nacional de Estudos Populacionais, realizado em Caxambu- MG – Brasil, de 29 de setembro a 03 de outubro de 2008. 23
Uma cidade é formada de espaços que, dotados de significado, fazem, de cada cidade, um território urbano qualificado, a integrar esta comunidade simbólica de sentidos, a que se dá o nome de imaginário
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instituidor dos sujeitos que exercem suas performances identitárias através de uma
territorialidade específica. Assim o sentido atribuído ao território, simultaneamente instituído
pelos sujeitos e instituinte dos sujeitos, é paradoxal e não reprodutivista. Há uma invenção
constante do território e do sujeito no desempenho das atividades travestis que recriam e
subvertem os ideais do gênero. Isso porque embora as travestis visivelmente afrontem a
linearidade entre sexos, gênero e desejo elas também constroem a mesma sociedade
heteronormativa que as refuta.
Robert Sack24 entende a territorialidade como a tentativa de um indivíduo ou grupo social de
influenciar, controlar pessoas, recursos, fenômenos e relações, delimitando e efetivando o
controle sobre uma área. A territorialidade é fruto das relações econômicas, políticas e
culturais. Por isso, se apresenta de diferentes formas, imprimindo heterogeneidade espacial,
paisagística e cultural. Para ele, territorialidade é uma expressão geográfica do exercício do
poder em uma determinada área e esta área é o território. O território não é produzido de
maneira isolada. Ele decorre das articulações estruturais e conjunturais a que esses
indivíduos ou grupos sociais estão submetidos numa determinada época, tornando-se,
portanto, intimamente ligado ao tempo e ao modo de produção vigente. Este aspecto
processual de formação do território constitui a territorialização.
O antropólogo Paul Little25 define territorialidade como: “o esforço coletivo de um grupo social
para ocupar, usar, controlar e se identificar com uma parcela específica de seu ambiente
biofísico, convertendo-a assim em seu ‘território’ ou homeland”.
O homem, ao se apropriar de um determinado espaço, territorializa este espaço, pois ele traz
consigo sua cultura, seus costumes, seus hábitos, e assim ele passa a conviver com outras
pessoas de outros lugares, marcando esse território e deixando para trás outras marcas,
outras histórias, para construir uma nova história da qual ele irá fazer parte.
A prostituição também é assim, homens e mulheres ocupam os espaços-vitrines das ruas,
colonizando significados. Nessa lógica, torna-se crucial a construção de espaços delimitados,
com o objetivo de manutenção e perpetuação de uma atividade, como é o caso da prostituição
de travestis.
DA TERRITORIALIDADE AO SIMBOLISMO DO ESPAÇO
Ao realizar alguns trabalhos de campo na Avenida Augusto Severo, foi possível observar que
a construção de um espaço pela prostituição de travestis confecciona uma dinâmica espacial,
que é vista pela população de forma marginalizada.
24
SACK, R. D. Human territorility: its teory and history. Cambridge University Press, 1986 25
LITTLE, Paul E. Territórios sociais e povos tradicionais no Brasil: Por uma antropologia da territorialidade. 2002, pág. 3.
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As “cortinas” da noite se abrem e entra em cena uma travesti, chamada de Francisca26, com
seus quase 1,90 de altura, considerada uma excelente lutadora (durante uma entrevista
confessou ter levado a nocaute dois indivíduos que tentaram agredi-la enquanto estava em
uma das vielas próxima a Avenida Augusto Severo). Antes de ir para a “batalha”, Francisca
passa no Hotel Passeio, de alta rotatividade, e coloca seus trajes de “guerra” - quase sempre
um vestido preto, com as pernas, que possa destacar as grandes pernas, e com um grande
decote que mostra e exalta seus grandes seios, fazendo-os “pular” para fora do vestido.
Depois de mais uma noite de trabalho, com ar exausto (nessa noite fizera quatro programas),
Sandra resolve voltar para casa, vai ao hotel troca de roupa se despede de mim, pega um
ônibus e segue seu rumo de volta para casa, para que possa descansar e se preparar para
mais uma “guerra” na noite seguinte.
Assim como Sandra, muitas travestis chegam diariamente à área de “batalha”, de forma que a
identidade travesti, que exerce um controle, sobre a rua em destaque no período noturno, cria
territórios. Para Antônia esse espaço deixou de ser uma simples rua:
“Querido eu trabalho aqui há vinte anos, os vizinhos me respeitam, as
travestis me respeitam. No início não era assim, mas hoje vejo essa rua como
uma extensão da minha casa. Às vezes nem tô fazendo o programa e venho
pra cá, venho ver minhas amigas, ver os babados novos, beber uma cerveja
com minhas colegas, ver o movimento e depois volto pra casa. Não consigo
tirar essa rua da minha vida, pois ela é minha vida, esse espaço é minha
casa, um espaço sagrado.” Assim como Fabrícia, varias outras travestis,
principalmente as mais antigas levam a rua a passar por um processo de
sacralização, de modo que esta passa a ser vista como um espaço “sagrado”
Assim como Antônia, varias outras travestis, principalmente as mais antigas, levam a rua a
passar por um processo de subjetivação, de modo que esta passa, não raro, a ser vista como
um espaço “sagrado”
O “espaço vivido” é, pois, um espaço marcado por símbolos, signos que refletem um
sentimento de pertencimento. Mesmo aquelas travestis que exercem a prostituição apenas
esporadicamente têm uma visão diferenciada da rua, pois ali estabelecem redes de convívio
social e até amizades duradouras. Algumas travestis, as mais antigas, têm nas “zonas de
batalha” o principal (e às vezes o único) ponto de encontro e convívio social. Assim, muito
mais do que um espaço de trabalho e fonte de renda, é nestes lugares que muitas monas
(gíria para designar o travesti, provavelmente advinda de uma leitura irônica do quadro Mona
26 Para preservar a identidade das entrevistadas, optamos por usar nomes fictícios.
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Lisa, de Da Vinci) fazem amizades, compram e vendem roupas, objetos, materiais de
montagem (termo utilizado para denominar o ato de vestir-se com roupas de mulher),
perfumes, adornos, drogas, etc.
O lugar deve ser analisado a partir das experiências diretas do mundo e da consciência que
temos do ambiente em que vivemos. Os lugares, assim como os objetos, são núcleos de
valor, e só podem ser totalmente apreendidos através de uma experiência total englobando
relações íntimas, próprias do residente (insider), e relações externas, próprias do turista
(outsider)27. O lugar torna-se realidade, portanto, a partir da nossa familiaridade com o
espaço, não necessitando de ser definido através de uma imagem precisa, limitada. Lugar, se
distingue deste modo, de espaço. Na medida em que o conhecemos melhor e o dotamos de
valor, adquire definição e significado.
A questão dos significados torna-se relevante na medida em que observamos que os lugares
possuem significados diferentes. Observando o senso comum vemos que a população de
uma forma geral vê a rua Augusto Severo como uma rua como área da degradação moral e
dos bons costumes e incitadora de diversos problemas sociais típicos da caótica vida urbana,
como a violência, as drogas e a usurpação do espaço destinado ao exercício de atividades,
consideradas lícitas, realizadas por “cidadãos de bem”, que pagam suas devidos “quinhões”
aos cofres públicos.
A população travesti, que labuta na mesma porção do espaço, observa que a mesma rua sob
viés completamente diferente, pois para esta identidade construída, o processo de
territorialização está diretamente ligado à importância das experiências. Esta, entretanto, não
é fixa e imutável, mas possui componentes e formas que variam conforme a mudança das
circunstâncias e das atitudes.
O processo de desenvolvimento de identidade de um lugar seria uma combinação de
observação. Ou seja, do contato direto com o lugar, e de expectativas estabelecidas antes
deste contato. A identidade de um lugar, deste modo, expressa a adaptação, a assimilação, a
acomodação e a socialização do conhecimento. O lugar seria um centro de significações
insubstituível para a fundação de nossa identidade como indivíduos e como membros de uma
comunidade, associando-se, desta forma, ao conceito de lar (home place).
Esta associação com o lar/lugar pode dar-se em vários níveis, variando da ligação mais
completa à total desvinculação entre sujeito e lugar. A importância de nossa relação para com
os lugares ultrapassa a nossa consciência dessa ligação: "uma relação profunda com os
lugares é tão necessária, e talvez tão inevitável, quanto uma relação próxima com as pessoas;
27 TUAN, Yi-Fu. Espaço e lugar: a perspectiva da experiência. Tradução de Lívia de Oliveira. São Paulo: DIFEL,
1983
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sem tais relações, a existência humana, embora possível, fica desprovida de grande parte de
seu significado"28
Dessa forma o espaço percebido está relacionado diretamente aos objetos e aos fenômenos
imediatos, repleto de elaborações simbólicas de cunho complexo. É o campo dos perceptos,
embora haja, já aí, o início da incorporação dos objetos e dos fenômenos às estruturas
cognitivas. O espaço concebido é símbolo que busca se incorporar às estruturas cognitivas
com a legitimação das práticas espaciais cotidianas, influenciando, porém, diretamente nos
espaços de representação. Estes últimos são, em última instância, o lócus dos processos
cognitivos e das representações sociais. É o espaço das mediações e da interlocução entre o
percebido e o concebido. É também o espaço vivido dos conflitos e das lutas.
Considerações Finais
As práticas sexuais comerciais levam a ocupação e delimitação de uma determinada porção
do espaço urbano para a realização de tal atividade, para isso, a construção de um território é
de vital importância para que um determinado grupo possa exercer um controle. Esses
“territórios marginais”, construídos em espaços públicos são locais em que atração e rejeição
se desafiam (suas proporções são variáveis, sujeitas a mudanças rápidas, incessantes).
Trata-se, portanto de locais vulneráveis, expostos a ataques, mas são também os únicos
lugares em que o comércio sexual travesti tem alguma possibilidade de superar e neutralizar a
rejeição, visto não ser ainda significativo o papel desse modelo de prostituição em
estabelecimentos privados.
A construção de um espaço pela prostituição de travestis pareceu-me bastante relevante na
medida em que esse espaço passa por um processo de construção marginalizado, mas ao
mesmo tempo tido pelos travestis como um espaço “sagrado”, marcado por símbolos,
considerado como um “espaço vivido”, marcado por signos que refletem um sentimento de
pertencimento. Assim, muitas, principalmente as que vieram de outro estado ou as que
afastaram da família pela não aceitação da tranformação, têm nas “zonas de batalha” o
principal (e às vezes o único) ponto de encontro e convívio social. É na rua muitas monas
(gíria para designar o travesti, provavelmente advinda de uma leitura irônica do quadro Mona
Lisa, de Da Vinci) fazem amizades, compram e vendem roupas, objetos, materiais de
montagem (termo utilizado para denominar o ato de vestir-se com roupas de mulher),
perfumes, adornos, drogas, etc.
Diante de tantas mudanças presentes no seio da sociedade, tornar esse território mais legível
aos olhos do leitor é apenas uma tarefa inicial.
28 RELPH, Edward. Place and placelessness. London:Pion, 1980.
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