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Em entrevista à revista "Exame", o guru norte-americano Gary Hamel, autor de "Liderando a Revolução", disse que a prosperidade das empresas está vinculada à inovação. "A maioria das empresas já exauriu as possibilidades de aumentar o lucro por meio de corte de custos, reengenharias e melhora da eficiência. Se quiser criar mais lucro terá de criar novas receitas; se quiser gerar riquezas, terá de inovar", disse. INOVAR É PRECISO AtrasoTRANSCRIPT
A prosperidade está veiculada a Inovação
INOVAR É PRECISO
As fórmulas de aumentas receitas através de cortes de custo estão se exaurindo e
diante da velocidade das transformações as empresas não têm alternativa senão buscar
diariamente a inovação
O poeta português Fernando Antônio Pessoa escreveu no livro "Obra Poética" que
navegadores antigos tinham uma frase gloriosa: "Navegar é preciso; viver não é preciso". Ou,
como ele mesmo definiu, "Viver não é necessário; o que é necessário é criar".
Quase um século depois, a frase imortalizada por Pessoa nunca foi tão atual, pois
diante de um mundo em que a velocidade das transformações é cada vez maior, empresas que
não forem constantemente inovadoras tendem a desaparecer. Assim, viver não é preciso; já
criar, inovar...
Em entrevista à revista "Exame", o guru norte-americano Gary Hamel, autor de
"Liderando a Revolução", disse que a prosperidade das empresas está vinculada à inovação. "A
maioria das empresas já exauriu as possibilidades de aumentar o lucro por meio de corte de
custos, reengenharias e melhora da eficiência. Se quiser criar mais lucro terá de criar novas
receitas; se quiser gerar riquezas, terá de inovar", disse.
Na prática, o que se observa é que poucas empresas brasileiras estão atentas para essa
realidade. A maioria, mesmo as subsidiárias de multinacionais, conserva o hábito de copiar
modelos de fora. Se no passado a prática funcionou, não se pode dizer o mesmo diante do
avanço do mercado globalizado, que dá sempre preferência para quem lança as idéias.
Atraso
É possível inovar sem investir necessariamente em pesquisa e desenvolvimento. Henry
Ford, em 1913, quando adotou a linha de montagem, o que acabou contribuindo para tornar
mais baratos os carros que fabricava, revolucionou o mercado com uma idéia aparentemente
simples; a fábrica de computadores Dell, que vende PCs produzidos sob encomenda dos
clientes, eliminando os intermediários, é outro exemplo.
Na maioria dos casos, porém, o sucesso dos produtos depende de investimentos
elevados de capital, laboratórios, funcionários altamente qualificados e boas políticas públicas.
Esse conjunto já seria suficiente para medir o atraso das empresas brasileiras no campo da
inovação tecnológica. Mas, tem outro dado que preocupa: de acordo com o Escritório de
Patentes e Marcas dos Estados Unidos, o Brasil era, em 1990, o 28.º país do mundo em
número de patentes concedidas às empresas. Hoje, ocupa a 29.ª posição.
Pode não ser nada em termos de ranking, mas se em 1990 o Brasil concedeu 45
patentes contra 125 no ano passado, Cingapura saltou de 16 para 304, a Coréia do Sul, de 290
para 3.763, e Taiwan, de 861 para 6.545.
Responsabilidade
José Miguel Chaddad, diretor executivo da Associação Nacional de Pesquisa,
Desenvolvimento e Engenharia das Empresas Inovadoras (Anpei), disse à "Exame", que as
empresas têm uma parcela de responsabilidade pelo baixo investimento em tecnologia. "A
cultura da inovação no empresariado está começando a aparecer", disse.
No passado, diante de uma política de substituição de importações ou de proteção de
mercado, as empresas brasileiras copiavam ou compravam tecnologia do exterior. Não havia a
necessidade de inovar porque a competição externa não era forte.
O problema é que o País continua comprando tecnologia. Em 1992, foram US$ 200
milhões de royalties e licenças. No ano passado, a conta subiu para U$ 3,5 bilhões. A razão,
segundo Luiz Carlos Delben Leite, presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas
e Equipamentos (Abimaq), está no fato de que é mais barato importar tecnologia do que
desenvolvê-la. "O perigo é que, na era da globalização, as empresas estrangeiras não estão
vendendo tecnologia de ponta, mas coisas ultrapassadas, o que pode condenar a empresa
nacional a ser de segunda linha pelo resto da vida", advertiu.
Modelo único
Professores da Fundação Getúlio Vargas de São Paulo e representantes de seis
empresas criaram há três anos o "Fórum de Inovação" com o objetivo de encontrar um
modelo ideal de organização inovadora. "A primeira conclusão a que chegamos é que não
existe um modelo único. O que funciona bem numa empresa não funciona necessariamente
em outra", afirma o professor Moysés Simantob, coordenador executivo do fórum.
Para ele, o que existe são práticas que podem favorecer a inovação ou inibi-la. O
ambiente de trabalho e a cultura da empresa são fundamentais nesse processo, pois, se não
estiverem em sintonia as idéias não surgem. Os funcionários ficam com medo de divulgá-las
temendo represálias.
UM ATO DIÁRIO E COLETIVO
Muitos imaginam que as empresas inovadoras mantêm funcionários "trancados" em
sala com ar condicionado para pensar exclusivamente em idéias geniais. Pode até ser que isso
exista, mas o fato é que o ato de criar é visto por elas como algo natural, uma prática do dia-a-
dia, feita coletivamente, como constatou a revista "Exame" que visitou cinco empresas
brasileiras consideradas modelos na arte de inovar.
Uma delas é a Embraco, líder mundial na fabricação de compressores para
refrigeradores. Quatro indicadores mostram o grau avançado de inovação da empresa: mais
de 25% de todas as patentes concedidas a pesquisadores brasileiros no ano passado saíram da
empresa; cerca de 60% do faturamento de R$ 1,5 bilhão em 2001 deve-se à venda de produtos
criados nos últimos três anos; a empresa investe de 2% a 3% da receita líquida anual em
pesquisa e desenvolvimento, o mesmo percentual dos maiores fabricantes de máquinas e
equipamentos dos Estados Unidos; e emprega 370 pesquisadores em seus laboratórios - um
no Brasil, outro na Itália.
Para trazer produtos inovadores antes que os concorrentes, a empresa conta com a
"ajuda" de 30 vendedores externos, todos com perfil técnico. "Os vendedores estão sempre
pensando sobre qual produto venderão daqui a cinco anos", afirma o engenheiro Ingo Erhardt,
diretor de Vendas e Marketing da empresa, ao dizer que a partir de suas observações a
Embraco pauta a fabricação dos produtos.
Investimento de risco
A Embraer chega a investir US$ 1 bilhão num único produto, como aconteceu no
projeto do jato comercial Embraer 170, com capacidade para transportar 70 passageiros. Para
que nada dê errado, a empresa vale-se do excelente grau de relacionamento com
fornecedores e parceiros, de consultas permanentes aos clientes potenciais e do envolvimento
completo de todas as áreas da empresa no projeto.
No caso do "170", 300 engenheiros estrangeiros permaneceram seis meses na
empresa e representantes de companhias aéreas também foram consultados. Mais de 90%
das sugestões apresentadas foram acatadas, como a de aumentar a capacidade de suportar
peso (as previsões indicam que haverá um aumento das entregas de artigos comprados pela
Internet).
Popularização
Apostar nas classes C e D como as maiores compradoras de computadores pessoais foi
a estratégia adotada pela Metron a partir de 1995. De marca secundária, a empresa atingiu no
primeiro semestre do ano passado o posto de maior fabricante do País. Vendeu 108 mil
unidades.
Seis anos atrás, a empresa escoava seus produtos - cerca de12 mil computadores por
ano - por lojas de informática e não tinha acesso a clientes corporativos. A idéia de popularizar
o produto partiu de um executivo de uma grande rede de eletrodomésticos. Hoje, os
computadores estão em mais de cinco mil pontos de venda e detêm 75% de participação no
mercado de varejo.
Clonagem
Após 11 anos de pesquisa, a Suzano tornou-se a primeira empresa do mundo a
produzir papel de alta qualidade com 100% de celulose de eucalipto. Na década de 80, quando
os concorrentes também conquistaram a tecnologia de produzir celulose através do eucalipto,
a Suzano tornou-se a primeira empresa a realizar a clonagem da árvore. O avanço permitiu que
multiplicasse a produtividade. No início do programa produzia 3 toneladas de celulose por
hectare; hoje, três vezes mais.
As inovações não estão apenas no campo florestal. A empresa avalia constantemente
o que acontece no mercado, na área de equipamentos e em tecnologia de fabricação e
desenvolve projetos de melhoria.
Palpite feliz
Foi a partir de um "palpite" da contadora Silvana Carneiro Lenz que a Brasilata, terceira
maior fabricante de latas metálicas do País, desenvolveu um novo modelo de tampa. Sem
similar no mundo, o produto está sendo patenteado nos Estados Unidos e na Europa e deverá
entrar em linha de produção em breve. "Se não houvesse abertura para eu dar palpites sobre
o trabalho dos outros e ser ouvida com atenção, jamais teria dado esta idéia", revela,
enfatizando que em outra empresa talvez alguém dissesse: "o\ que essa moça do RH entende
de tampa?".
Permitir erros bem intencionados cria um clima propício a experimentações. Há três
anos, um operário resolveu fazer frisos numa lata quadrada de nove litros. Mostrou à equipe
de desenvolvimento que aperfeiçoou o modelo. A lata ganhou resistência e permitiu a
diminuição da espessura da chapa de metal. Resultado: o custo do produto foi reduzido em 5%
e rendeu à Brasilata a conquista de medalha de prata num dos mais importantes prêmios da
categoria no mundo.
Veículo: Jornal Administrador Profissional – pg. 06 e 07
Data: Dezembro/2002