a produÇÃo de caprino bÔer em uma pequena propriedade rural

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A PRODUÇÃO DE CAPRINO BÔER EM UMA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL EM JUAZEIRO- BAHIA: UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO. PATRÍCIA MIRANDA 1 WALDENIR SIDNEY FAGUNDES BRITTO 2 RESUMO O agronegócio no Brasil constitui um dos mais importantes segmentos para o desenvolvimento da economia do país e a criação e produção de caprinos vem se desenvolvendo de forma significativa. Avaliar corretamente seus custos torna-se importante par a atividade. As informações relativas aos custos são determinantes para a competitividade organizacional e são utilizadas como ferramenta gerencial nas resoluções de várias questões tais como: produzir ou comprar matérias-primas, determinação do preço e negociação no mercado. O plantel de caprinos destinados para o melhoramento genético da atividade de caprinocultura deve ter como prioridade criar animais de alto padrão genético com a máxima eficiência e qualidade, a fim de preservar os benefícios que o alimento pode proporcionar ao consumidor. No estudo de caso, calculou-se os indicadores de custos, rentabilidade, custos do capital empatado e índices zootécnicos, objetivando analisar o desempenho técnico- econômico da atividade de criação de caprinos Boer P.O. na microrregião de Juazeiro-BA. Apresenta-se como uma opção viável e rentável não somente para pequenos e médios produtores, mas também para grandes pecuaristas que desejem explorar uma atividade que não exige altos investimentos em infra-estrutura e na aquisição de animais, além de apresentar rápido retorno do capital investido. Palavras-Chave: Juazeiro-BA; Caprino Bôer; Custos e Rentabilidade. 1 Graduada no Curso de Ciências Contábeis, da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – (FACAPE)- .e-mail: [email protected] ² Mestre em Economia, Professor do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina- (FACAPE) . email: [email protected]

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Page 1: A PRODUÇÃO DE CAPRINO BÔER EM UMA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL

A PRODUÇÃO DE CAPRINO BÔER EM UMA PEQUENA PROPRIEDADE RURAL EM JUAZEIRO- BAHIA: UM ESTUDO DE CASO A PARTIR DOS CUSTOS DE PRODUÇÃO.

PATRÍCIA MIRANDA1 WALDENIR SIDNEY FAGUNDES BRITTO2

RESUMO O agronegócio no Brasil constitui um dos mais importantes segmentos para o desenvolvimento da economia do país e a criação e produção de caprinos vem se desenvolvendo de forma significativa. Avaliar corretamente seus custos torna-se importante par a atividade. As informações relativas aos custos são determinantes para a competitividade organizacional e são utilizadas como ferramenta gerencial nas resoluções de várias questões tais como: produzir ou comprar matérias-primas, determinação do preço e negociação no mercado. O plantel de caprinos destinados para o melhoramento genético da atividade de caprinocultura deve ter como prioridade criar animais de alto padrão genético com a máxima eficiência e qualidade, a fim de preservar os benefícios que o alimento pode proporcionar ao consumidor. No estudo de caso, calculou-se os indicadores de custos, rentabilidade, custos do capital empatado e índices zootécnicos, objetivando analisar o desempenho técnico-econômico da atividade de criação de caprinos Boer P.O. na microrregião de Juazeiro-BA. Apresenta-se como uma opção viável e rentável não somente para pequenos e médios produtores, mas também para grandes pecuaristas que desejem explorar uma atividade que não exige altos investimentos em infra-estrutura e na aquisição de animais, além de apresentar rápido retorno do capital investido. Palavras-Chave: Juazeiro-BA; Caprino Bôer; Custos e Rentabilidade.

1 Graduada no Curso de Ciências Contábeis, da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina – (FACAPE)- .e-mail: [email protected] ² Mestre em Economia, Professor do Curso de Ciências Contábeis da Faculdade de Ciências Aplicadas e Sociais de Petrolina- (FACAPE) . email: [email protected]

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1 - INTRODUÇÃO

A cabra foi o primeiro animal, domesticado pelo homem, capaz de produzir alimentos, há cerca de seis mil anos atrás. De lá para cá, sempre acompanhou a história da humanidade, conforme atestam os diversos relatos históricos, mitológicos e até mesmo bíblicos, que mencionam os caprinos. A partir da década de 90 autoridades, técnicos e criadores começaram a dar mais atenção para a atividade da ovinocaprinocultura, ocorrendo profundas mudanças em alguns segmentos nessa exploração, tais como: pesquisas foram desenvolvidas, tecnologias de ponta foram assimiladas e, o que é mais importante, aumentou a demanda por produtos de caprinos e ovinos no Brasil. Foi então que o Brasil começou a discutir efetivamente a atividade dentro de uma visão de cadeia produtiva e de agronegócio. A Caprinocultura é uma das atividades que está em ascensão no agronegócio brasileiro e que desperta a atenção de investidores interessados em participar deste mercado. Um dos principais indicadores deste aumento é número de visitantes nas principais feiras e exposições do setor. De acordo com dados da organização da Feira Internacional de Ovinos e Caprinos (Feinco) 2007, que ocorreu em março, em São Paulo (SP), o evento atrai um público superior a 20 mil pessoas por ano e sempre apresenta novidades tecnológicas capazes de agregar valor à produção e proporcionar melhor rentabilidade do criador. O principal fator responsável pelo aumento dos investimentos na caprinocultura é o curto ciclo produtivo dos animais cerca de 90 dias, do nascimento ao abate que proporciona rápido fluxo de caixa e excelente relação custo x benefício. Segundo Eloy et.al.(2001), os rebanhos ovino e caprino no Brasil representam, respectivamente, apenas 1,7 e 2,1% do efetivo mundial. Considerando a dimensão territorial brasileira, bem como as condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento da caprinovinocultura, os rebanhos do Brasil são numericamente inexpressivos, principalmente quando comparados com a criação de bovinos. Existe uma grande variedade de produtos de origem caprina: carne, leite, couro, pêlo e esterco, além de ter utilidade como tração animal. A microrregião de Juazeiro, no submédio baiano por ser uma região semi-árida, sofre bastante com a falta de chuvas regulares o que dificulta a atividade agropecuária, sendo essa a principal atividade econômica da região, formada na sua maior parte de pequenos produtores rurais. Os produtores agropecuários da Microrregião de Juazeiro-Bahia enfrentam uma serie de dificuldades no desempenho da sua atividade, dentre esses, está a identificação dos custos de produção. De forma que, sua mensuração é uma ferramenta indispensável a qualquer produtor rural não importando o tamanho de sua propriedade, nem o ramo de atividade que desenvolva. Sobretudo, nos dias atuais em que a concorrência está muito acirrada em todos os setores econômicos, onde cada vez mais as margens de lucro são reduzidas aumentando ainda mais a necessidade de se ter controle de custos na criação, visando assim manter-se no mercado. Além disso, o produtor nordestino, normalmente, defronta-se com um problema, muito peculiar na Região, que é a seca.

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Dessa forma, percebe-se que os produtores estão buscando caminhos para superar essas dificuldades através de alguns investimentos em infra-estrutura e tecnologia com objetivo de minimizar os efeitos causados pelas secas. Porém ainda estão fazendo isso de maneira aleatória, sem que exista um controle da real situação, sem que os mesmos tenham noção da realidade de quanto custa produzir nessa região. Para que o produtor rural passe a administrar o seu sistema de produção como uma empresa, se faz necessário que ele tenha conhecimento de quanto custa produzir aquele bem (caprinos Boer proveniente do melhoramento genético, neste caso específico), ou seja, ele tem que saber qual o custo real de criação e se o seu empreendimento é viável realmente

Apesar dos muitos problemas com relação ao processo de apuração de dados e da subjetividade na sua estimação, a determinação do custo de produção é uma prática necessária e indispensável ao bom administrador, constituindo-se em um valioso instrumento para a tomada de decisões do empresário. Os custos têm a finalidade de verificar se e como os recursos empregados, em um processo de produção, estão sendo remunerados, possibilitando, também, verificar como está a rentabilidade da atividade, comparada a alternativas de emprego do tempo e capital empatados. As informações sobre custos na criação de caprinos da raça Boer P.O., podem ser utilizadas para diversas finalidades. Algumas dessas finalidades são: analisar a rentabilidade da atividade de criação de caprinos da raça Boer P.O.; reduzir os custos controláveis; determinar o preço de venda compatível com o mercado em que atua; planejar e controlar as operações do sistema de criação de caprinos da raça Boer P.O; identificar e determinar a rentabilidade na criação; identificar o ponto de equilíbrio do sistema de criação de caprino da raça Boer P.O. e principalmente servir como ferramenta extremamente útil para auxiliar o criador de caprinos no processo de tomada de decisões seguras e corretas.

2 - A CRIAÇÃO DE CAPRINOS A Caprinocultura é uma das atividades que está em ascensão no agronegócio brasileiro e que desperta a atenção de investidores interessados em participar deste mercado. Um dos principais indicadores deste aumento é número de visitantes nas principais feiras e exposições do setor. De acordo com dados da organização da Feira Internacional de Ovinos e Caprinos (Feinco) 2007, que ocorreu em março, em São Paulo (SP), o evento atrai um público superior a 20 mil pessoas por ano e sempre apresenta novidades tecnológicas capazes de agregar valor à produção e proporcionar melhor rentabilidade do criador. O principal fator responsável pelo aumento dos investimentos na caprinocultura é o curto ciclo produtivo dos animais cerca de 90 dias, do nascimento ao abate que proporciona rápido fluxo de caixa e excelente relação custo x benefício. O sistema de criação de caprinos, em conjunto com as tecnologias e práticas de manejo e melhoramento genético, bem como o tipo de animal, o propósito da criação, a raça ou grupamento genético e a eco-região onde a atividade é desenvolvida, são fatores imprescindíveis na escolha da melhor opção de raça a ser desenvolvida na atividade rural.

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Deve-se considerar, ainda, ao se definir um sistema de criação, os aspectos sociais, econômicos e culturais, uma vez que esses têm influência decisiva, principalmente, nas modificações que poderão ser impostas por forças externas e, especialmente, na forma como tais mudanças deverão ocorrer para que o processo seja eficaz, e as transformações alcancem os benefícios esperados, afirma Zimmer (1998). Segundo Eloy et.al.(2001), “os rebanhos ovino e caprino no Brasil representam, respectivamente, apenas 1,7 e 2,1% do efetivo mundial. Considerando a dimensão territorial brasileira, bem como as condições edafoclimáticas favoráveis ao desenvolvimento da caprinovinocultura, os rebanhos do Brasil são numericamente inexpressivos, principalmente quando comparados com a criação de bovinos”. TABELA 1- Principais áreas produtoras do NE. (cabeças) - 2001

Descrição Estados

Caprinos Ovinos

BAHIA 4,14 milhões 2,95 milhões CEARÁ --- 1,62 milhões PERNAMBUCO 1,38 milhões --- PIAUÍ 1,40 milhões 1,47 milhões NORDESTE 8,74 milhões 7,76 milhões Fonte: Eloy - 2001 De acordo com dados da Companhia Nacional de Abastecimento (CONAB) 2006, “estima-se que no Brasil, 90% do rebanho de ovinos e caprinos estão na região Nordeste, abrangendo uma área de 166,2 milhões de hectares, dos quais 95,2 milhões (57%) estão inseridos na zona semi-árida”. Nas microrregiões geográfica de Juazeiro (BA), Euclides da Cunha (BA), Alto Médio Canindé (PI), São Raimundo Nonato (PI) e Petrolina (PE), destacam-se como principais produtoras de caprinos. No caso dos ovinos, as microrregiões de Juazeiro (BA), Alto Médio Canindé (PI), Euclides da Cunha (BA), Sertão dos Inhamuns (CE), Sertão de Crateús (CE) e Serrinha (BA) são as principais produtoras. Conforme a CONAB (2006), aproximadamente, 50% do rebanho de caprinos e ovinos do Nordeste estão localizados em propriedades com menos de 30 ha. A maioria dos rebanhos de caprinos e ovinos, na região Nordeste, é explorada em sistema extensivo, não sendo adotados práticas adequadas de manejo alimentar e sanitários aspectos esses que têm contribuído para a baixa produtividade da ovinocaprinocultura de corte. O Brasil possui um dos maiores rebanhos caprino do mundo, tem como principal vantagem o fato de possuir grandes áreas de terras com baixo custo e clima favorável, enquanto países ricos enfrentam custo de produção elevado por causa de condições climáticas adversas, alto preço das terras e elevada remuneração da mão-de-obra, afirma Coelho (1999). Conforme Lôbo (2002), os caprinos são adaptados tanto em ambientes mais favoráveis ao seu desenvolvimento quanto as mais extremas condições climáticas, de aridez e de limitações topográficas como áreas de montanha. E com relação ao hábito alimentar, os caprinos são classificados como de hábito intermediário ou misto, já que possuem a capacidade de consumir tanto alimentos de maior valor nutritivo (concentrados) como alimentos mais ricos em fibras (capins). Alguns destes animais são flexíveis e variáveis ao longo do ano de acordo com o período da vegetação.

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Apesar disso, o Brasil não se destaca como grande produtor de carne caprina, devido ao sistema de criação extensivo adotado, raças sem padrão genético definido e a sazonalidade das chuvas não favorecem as pastagens durante o ano todo. Com isso, o rebanho caprino ganha peso no período das chuvas e perde na seca. O confinamento para complementação das pastagens pode ser vantajoso nas épocas de seca, ao manter constante o crescimento e engorda dos animais e conseguir maior produtividade do rebanho. Quanto ao comportamento alimentar, os caprinos são animais intermediários, apresentam maior adaptabilidade às modificações de alimentação. Também vale salientar que a escolha da raça ou grupo genético são aspectos de grande importância para o sucesso do agronegócio da carne e da pele ovina e caprina, no Nordeste do Brasil.

Potencialidades da Caprinocultura no Nordeste A exploração de caprinos e ovinos na região Nordeste é uma opção viável e rentável não somente para pequenos e médios produtores, mas também para grandes pecuaristas que desejem explorar uma atividade que não exige altos investimentos em infra-estrutura e na aquisição de animais, além de apresentar rápido retorno do capital investido. Segundo Filho e Alves apud Nunes (2002), a região semi-árida nordestina tem vocação natural para o pastoreio e, em particular, para a exploração da ovinocaprinocultura. A carne de ovinos e caprinos é uma das principais fontes de proteínas na região. A pele é de excelente qualidade, o leite tem alto valor nutritivo e os derivados lácteos têm larga aceitação no mercado.

O Caprino Boer aspectos econômicos e produtivos Visando o desenvolvimento da criação de caprinos no Brasil direcionado para produção de carne caprina, têm-se importado embriões de caprinos da raça Boer P.O. oriundos da África do Sul. Devido, essa raça possuir alto potencial genético, e também ser considerada uma das melhores em produção de carne e pele. A utilização do caprino Boer P.O. em criações comerciais se deve principalmente às excelentes características de sua carne, que apresenta baixo teor de gordura e boa palatabilidade e pelos índices de produtividade, tais como boa conversão alimentar, precocidade e fertilidade altas, alta quantidade de carne na carcaça. Para Ribeiro (2002), ao se discutir padrão racial é necessário inicialmente conceituar o que é uma raça. Raça é um grupo de indivíduos de uma determinada espécie com características hereditárias que permitem agrupá-los entre si e separá-los de outros da mesma espécie. Portanto, ao se definir um padrão racial é necessária a descrição das características que permitam a identificação dos indivíduos da raça em questão. Essas características podem ser divididas em:

Características Morfológicas: são visíveis, palpáveis ou mensuráveis, tais como formato de orelha, cor de pelagem, peso ou estatura;

Características Fisiológicas: são relacionadas à fisiologia em geral, como precocidade, rusticidade, vigor e capacidade de adaptação;

Características Psicológicas: são relacionadas ao sistema nervoso, como temperamento, vivacidade, disposição e caráter do animal;

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Características Econômicas: estão relacionadas à aptidão dos animais, como produção de leite, carne, pêlo ou pele.

De acordo com Brennand (2007), o critério de escolha da raça caprina Boer não foi à toa, Ele sempre acreditou no potencial do caprino Boer, pois essa raça reúne três características essenciais para uma criação produtiva: alta taxa de fertilidade, carne de qualidade e excelente adaptação às regiões tropicais.

Itens Comercializáveis O mercado de produtos caprinos encontra-se em franca expansão, quer seja ao nível estadual, nacional e com grandes perspectivas para o mercado internacional. A existência de uma nova cultura da população, em ter uma vida com mais qualidade, evidenciando a segurança alimentar, constitui um grande segmento de mercado, desde que toda a cadeia produtiva tenha o perfil desses consumidores. O caprino é um animal de dupla aptidão, que seria carne e pele, mas, quando se trata de qualidade e quantidade de carcaça, em primeiro lugar destaca-se o caprino da raça Boer. O valor econômico do Boer é em primeiro lugar, determinado pela qualidade de seus produtos que são carne e também a pele.

Determinação Do Custo Na Criação De Caprino Da Raça Boer P.O. Toda e qualquer atividade agropecuária precisa ser economicamente viável. Para tanto, são propostos alguns passos que, se seguidos, irão proporcionar um instrumento de acompanhamento e análise da viabilidade econômica de sistemas de criação de caprinos de raça. Para que possa ser avaliada economicamente a viabilidade de se investir na atividade da caprinocultura, fazem-se necessárias informações relacionadas às diversas etapas do processo produtivo. Considerando que a viabilidade econômica tem papel-chave na tomada de decisão sobre os investimentos a serem feitos dentro da empresa rural. O Brasil, apesar de possuir um dos maiores rebanhos de caprinos do mundo e possuir grandes áreas de terras com baixo custo e clima favorável, não possui, porém, os sistemas de criação mais adequados. O sistema de criação de caprinos de raça é extremamente complexo, envolvendo processos biológicos, climáticos e econômicos, o que introduz um alto grau de incertezas aos resultados obtidos. O acompanhamento dos custos na criação de caprinos de raça, especificamente a raça Boer P.O., é de fundamental relevância, pois assim pode-se avaliar a rentabilidade econômica da atividade de criação de caprinos Boer .

A análise econômica da atividade rural é importante, pois o produtor passa a conhecer, com detalhes, os fatores de produção (terra, trabalho e capital). A partir de estudos dessa natureza, identificam-se os pontos de estrangulamento, que permitem concentrar esforços gerenciais e tecnológicos para se obter sucesso na atividade e atingir os objetivos de minimização de custos e maximização de lucros (CARVALHO e LOPES, 2002, p. 13).

As variáveis como produtividade na produção de pastagens, composição do solo, valor nutricional das pastagens, taxa de mortalidade, disponibilidade de pasto irão influenciar os custos de investimento, produção e conseqüentemente a lucratividade do sistema como um todo. Como o cálculo é complexo, não existe disponível um valor fixo para estes custos.

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Entende-se por custo de produção a soma de todos os recursos (insumos) e operações (serviços) utilizados no processo produtivo de certa atividade. Para fins de análise econômica, custo na criação, é a compensação que os donos dos fatores de produção (terra, trabalho e capital), utilizados por uma empresa para produzir determinado bem, devem receber para que eles continuem fornecendo esses fatores à mesma. Para Carvalho e Lopes (2002) algumas das finalidades de se apurar os custos de produção são: a) analisar a rentabilidade da atividade; b) reduzir os custos controláveis; c) determinar o preço de venda compatível com o mercado em que atua; d) planejar e controlar as operações do sistema de produção; e) identificar e determinar a rentabilidade do produto; f) identificar o ponto do equilíbrio do sistema de produção; g) servir como ferramenta extremamente útil para auxiliar o produtor no processo de tomada de decisões seguras e corretas.

3 - ANÁLISE ECONÔMICA Para a demonstração dos custos na criação de caprinos o conhecimento de alguns aspectos da vida das empresas deve permitir a avaliação do grau de atratividade do empreendimento, subsidiando a decisão do futuro empresário na escolha do negócio que pretende desenvolver. Todas as empresas, independentemente da área de atuação (comércio, indústria ou serviços), possuem gastos. Estes gastos se subdividem genericamente em custos, despesas variáveis e despesas fixas. A análise destes gastos se faz necessária para a apuração correta de sua lucratividade e também para o gerenciamento financeiro mais eficiente. Os custos verificados com a atividade de criação de caprinos de raça Boer P.O., destinados para o melhoramento genético da caprinocultura do Sítio Acauã foram os abaixo especificados: TABELA 02- Custos variáveis e custos fixos do Sítio Acauã, microrregião de Juazeiro- Bahia- 2006. Custo Operacional de Produção:

Especificações

1.1 Custos Variáveis Valor (R$) Concentrados e sais minerais 15.049,05 Sanidade do Rebanho 1.311,50 Compra de Embriões p/ Transferência 39.421,20 Transporte de Caprinos 2.058,00 Subtotal 62.189,75 1.2 Custos Fixos Valor (R$) Mão-de-obra e Encargos Sociais 36.000,00 Depreciação dos Reprodutores 100,00 Depreciação das Matrizes 11.666,90 Imposto (ITR) 100,00 Irrigação 1.554,00 Manutenção de Pastagens e Forrageiras 1.067,00 Energia, Combustível e Lubrificantes 10.450,28 Reparo e Benfeitoria de Instalações 2.043,00 Reparo de Máquinas, Motores e Equipamentos

2.050,00

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Ferramentas e Utensílios Diversos 1.507,90 Energia Elétrica do sistema de Irrigação 8.400,00 Assistência Veterinária 4.150,00 Subtotal 79.089,08 Total 141.278,83 Fonte: Dados da Pesquisa, ano 2006. O valor custo total da produção representou a soma dos custos fixos e dos custos variáveis, que foram de R$ 141.278,83. Eles representaram o desembolso feito pelo criador durante o exercício de 2006 em estudo, com exceção da depreciação que embora não seja um desembolso, representa uma reserva de caixa, que deveria ser feita para reposição dos bens patrimoniais (animais, instalações, máquinas, equipamentos, etc.) ao final de sua vida útil. A receita do período permitiu que se fizesse essa reserva. Isso significa que ao final da vida útil dos bens, nas condições e/ou situações encontradas, o criador teria recursos monetários para a aquisição de novos bens substitutos, principalmente para reposição dos animais reprodutores, que são nesse caso as máquinas da empresa e dessa forma não se descapitalizaria. Com relação aos concentrados e sais minerais, na propriedade estudada, os custos corresponderam a R$ 15.049,05; tais custos foram realizados na compra de ração comercial, farelo de trigo, farelo de soja, uréia, farinha de ossos e sal mineral. Os custos com sanidade do rebanho R$ 1.311,50 se referem à aquisição de vacinas (para combater a febre aftosa), vermífugos, carrapaticidas, medicamentos em geral, material de limpeza e material de desinfecção do aprisco. A compra de embriões para transferência foi de R$ 39.421,20, sendo esse o item de maior relevância na determinação dos custos variáveis, devido esse item ser importado, portanto tem cotação em dólar, mas apresenta-se convertida em reais. É contabilizado no item referente a mão-de-obra e encargos sociais o valor de R$ 36.000,00, esse já está incluso o pagamento de contribuições previdenciárias tais como FGTS, recolhimentos de INSS, Férias e outros, que incidem sobre a folha de pagamento dos empregados. Quanto às despesas com impostos, o valor de R$ 100,00 pagos pelo proprietário, corresponde ao pagamento de ITR. Os custos com ferramentas e utensílios diversos foram de R$ 1.507,90, realizados mediante a aquisição, de enxadas, enxadões, foices, baldes, vassouras, entre outros. Os custos que foram referentes à energia elétrica, combustível e lubrificante somados representam um valor de R$ 18.850,28, sendo que a energia elétrica do sistema de irrigação é o de maior representatividade, pois é utilizada a captação de água do sistema de irrigação na propriedade.

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TABELA 03- Resultado Econômico do Sítio Acauã, microrregião de Juazeiro-2006

Resultado Econômico (R$)- 2006 Discriminação Unid. Qtde. V. Unitário Valor

Total

( = ) RENDA BRUTA

360.100,00 Venda de Animais P.O. Fêmeas a partir de 12 meses

Un 60 3.500,00 210.000,00

Venda de Animais P.O. Macho a partir de 6 meses

Un 60 2.000,00 120.000,00

Venda de Animais Descartados Fêmeas a partir de 6 anos

Un 7 2.500,00 17.500,00

Venda de Animais Descartados Macho a partir de 6 meses

Un 7 1.800,00 12.600,00

( - ) CUSTO OPERACIONAL DE PRODUÇÃO

141.278,83

Custos Variáveis 62.189,75Animais de 6 até 12 meses 6.980,50Concentrado e Sais Minerais KG 5.686 1,05 5.970,30 Sanidade do Plantel GR 290 1,75 507,50Animais com até 6 anos 55.711,95Compra de Embriões p/ Transferência Un 70 563,16 39.421,20Concentrado e Sais Minerais KG 17.905 0,75 13.428,75Sanidade do Plantel KG 1.005 0,80 804,00Transporte de Caprinos 2.058,00Custos Fixos 79.089,08Imposto (ITR) 100,00Depreciação dos Reprodutores Un 3 33,333 100,00Depreciação das Matrizes Un 70 166,67 11.666,90Mão-de-obra e Encargos Sociais Un 4 9.000,00 36.000,00Irrigação 1.554,00Manutenção de Pastagem e Forrageira 1.067,00Energia, Combustível e Lubrificantes 18,50 564,88 10.450,28Reparo de Benfeitoria e Instalações 2.043,00Reparo de Máquinas, Motores e Equip. 2.050,00Ferramentas e Utensílios Diversos 1.507,90Energia Elétrica 8.400,00Assistência Veterinária 4.150,00( = ) RENDA LÍQUIDA 218.821,17( - ) Remuneração do Capital Investido 26.053,17( = ) LUCRO / PREJUÍZO 192.768,00( = )Rentabilidade (Lucro/Receita*100) 53,53%Fonte: Dados da Pesquisa, ano 2006

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Renda Bruta (RB) A renda Bruta é o resultado da comercialização dos animais que foram vendidos durante o período de 2006. Sendo composto da venda de animais com idade variando de 6 meses para os machos e 12 meses para as fêmeas e os animais adultos são descartados a partir de 6 anos de idade da propriedade e vendidos, somando-se ao montante da renda bruta da atividade com um valor de R$ 360.100,00 no ano de 2006. Renda Líquida (RL) Ainda com base na TABELA 03, temos o valor da Renda Líquida do Sítio Acauã, calculada como sendo a renda bruta menos os custos operacionais de produção, a qual se destina à remuneração do empresário e do capital. Pode-se observar que a RL do ano de 2006 foi de R$ 218.821,17, sendo esse resultado considerado a médio e longo prazo, uma situação de conforto para o produtor rural que exerce a atividade de criação de caprino Boer. Rentabilidade e Lucro (R) e ( L ) Os dados apresentados na TABELA 03 demonstram uma situação de lucro para a comercialização dos animais do Sítio Acauã, no valor de R$ 192.768,00. Esse lucro representa aproximadamente 53% da receita total que é advinda da venda dos animais. Esse valor está diretamente relacionado ao bom ciclo produtivo do plantel, a excelente alimentação dos animais, mas principalmente ao seu alto padrão genético. E também pelo fato do produtor dispor de ótimas instalações, manejo, conhecimento técnico na criação, assim como, um excelente planejamento e controle da propriedade. Tais fatos levam o produtor a pensar em expandir seu empreendimento, entretanto, o mesmo não o fez, em virtude de que a carne caprina ainda não ser exportada, e também pelo fato dos criadores de caprinos estarem descobrindo agora o caprino Boer. Neste estudo, as receitas são os resultados da venda dos animais pelo seu valor de mercado. A fonte de receita é a venda de caprinos com idade de 6 a 12 meses os machos e as fêmeas a partir de 12 meses de idade, que são destinados para melhoramento genético do plantel e matrizes e reprodutores que são descartadas a partir de 6 anos de idade. A rentabilidade é o lucro obtido das vendas menos os custos.

4 - CONSIDERAÇÕES FINAIS O Brasil é considerado mundialmente como sendo um país de grande potencial para o desenvolvimento do agronegócio em várias culturas e criações de animais das mais variadas espécies. O Vale do São Francisco especialmente a microrregião de Juazeiro é uma região propícia para a criação de caprino Boer. A utilização do caprino Boer como melhorador de plantel, é realizada através da técnica de transferência de embriões apresenta-se como uma boa alternativa para as criações de caprino no Brasil, principalmente na região Nordeste onde o caprino Boer é bem adaptado e as infecções por parasitas internos são praticamente inexistente, devido a seus hábitos alimentares, o que diminui as perdas econômicas com esse problema. Também devido aos seus hábitos alimentares, os caprinos podem ser criados juntamente com ovinos ou bovinos numa mesma área, melhorando a produção de carne por unidade de área ocupada. O caprino Boer apresenta alto potencial para produção de carne, com carcaças de alta qualidade e quantidade. Apresenta também boa aceitação no mercado de

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carne e pele, e pode ser utilizado em sistemas intensivo quanto o extensivo de produção. O Boer deve ser comercializado com idade entre seis e quinze meses e carcaça com peso por volta de 23kg para ser um produto aceitável. Existe o interesse do mercado externo em adquirir produtos finais da cadeia produtiva (carne e pele) do Brasil, entretanto esta demanda só poderá ser atendida e suprida por criadores que forem profissionais, que tenham seus registros no Ministério da Agricultura, além da rastreabilidade dos produtos e monitoramento sanitário específico. Também, por outro lado, deve-se em primeiro lugar abastecer o mercado interno, devido a um déficit dos produtos tanto carne como de pele. Uma alternativa para o desenvolvimento do agronegócio da caprinocultura no Vale do São Francisco seria a busca de organização e o fortalecimento de associações e cooperativas dispostas a trabalhar com compromisso e competência para o desenvolvimento da atividade. Assim, possibilitaria a consolidação da microrregião de Juazeiro como principal pólo fornecedor de carne e pele do Nordeste, melhoria na capacidade de gerenciar e tomar decisões mais acertadas na atividade. Por todas características produtivas e principalmente por sua origem, acredita-se que o caprino Boer possa contribuir de forma decisiva para o melhoramento genético da caprinocultura destinado a comercialização de carne e pele de caprinos. Visto que essa atividade é de extrema importância para o desenvolvimento do agronegócio no Nordeste do Brasil. Por fim, a criação de caprinos Boer é um bom negócio se conduzido com profissionalismo e gestão adequada. Visando o crescimento do agronegócio da caprinocultura no Vale do São Francisco, e assim mais do que criadores de cabritos, devem se tornar empreendedores de uma atividade econômica de excelente potencial a ser desenvolvida nessa região.

5 - REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

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