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1 A prevenção de patologias lombares em trabalhadores de transporte manual de carga Helen Karoline Pereira Elgaly 1 [email protected] Dayana Priscila Maia Mejia 2 Pós-graduação em Ergonomia: produto e processoBio cursos Resumo Objetivos: O estudo objetivou de compreender como ações preventivas podem impactar a alta incidência de patologias lombares em trabalhadores de transporte manual de carga. Métodos: Foi feito um estudo bibliográfico, buscando artigos relacionados à prevenção e melhorias no transporte de carga. Os artigos utilizados datam de 1989 a 2010 e selecionados de acordo com a relevância com o tema. Resultados e discussão: Patologias lombares possuem grande incidência dentre os trabalhadores que utilizam a força para movimentação de materiais. Mesmo com a constante evolução da tecnologia, algumas cargas ainda requerem a força humana para seu transporte. Para redução desta incidência, medidas preventivas como treinamentos em transporte manual de cargas, ginástica laboral e programas de qualidade de vida, pausas e mudanças de layout podem ser de grande ajuda nesta guerra. Conclusão: Os resultados mostraram que as medidas isoladas não são suficientes para a eliminação do risco, porém podem ter grande eficiência quando combinadas e aplicadas de forma correta, estudada e frequente. Palavras-chave: transporte manual, patologias lombares, prevenção, pausas, ginástica laboral, treinamento em ergonomia. 1. Introdução Apesar dos avanços da tecnologia e a mecanização das tarefas, muitas atividades continuam sendo realizadas manualmente. Ainda hoje, cargas além dos limites tolerados são manuseadas e movimentadas pelo homem. A atual Legislação Brasileira, através da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT, refere-se às atividades de levantamento e transporte de cargas (artigo 198 da Seção XIV, da prevenção da fadiga, do Capítulo V da CLT) afirmando que é de 60 quilogramas o peso máximo que um empregado pode remover individualmente 1 . A Norma Regulamentadora NR 17 de Ergonomia também aborda o tópico fazendo menção ao levantamento, transporte e descarga individual de materiais, no entanto, não estipula nenhum valor máximo para a realização deste tipo de atividade 2 . A movimentação manual de cargas pode ser considerada uma atividade de diversos riscos devido à sua relação com o trabalho físico realizado tanto para a movimentação da carga como pela composição da mesma. Um dos maiores custos de seguro acidente

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1

A prevenção de patologias lombares em trabalhadores de transporte

manual de carga

Helen Karoline Pereira Elgaly1

[email protected]

Dayana Priscila Maia Mejia2

Pós-graduação em Ergonomia: produto e processo– Bio cursos

Resumo

Objetivos: O estudo objetivou de compreender como ações preventivas podem impactar a alta

incidência de patologias lombares em trabalhadores de transporte manual de carga.

Métodos: Foi feito um estudo bibliográfico, buscando artigos relacionados à prevenção e

melhorias no transporte de carga. Os artigos utilizados datam de 1989 a 2010 e selecionados de

acordo com a relevância com o tema.

Resultados e discussão: Patologias lombares possuem grande incidência dentre os trabalhadores

que utilizam a força para movimentação de materiais. Mesmo com a constante evolução da

tecnologia, algumas cargas ainda requerem a força humana para seu transporte. Para redução

desta incidência, medidas preventivas como treinamentos em transporte manual de cargas,

ginástica laboral e programas de qualidade de vida, pausas e mudanças de layout podem ser de

grande ajuda nesta guerra.

Conclusão: Os resultados mostraram que as medidas isoladas não são suficientes para a

eliminação do risco, porém podem ter grande eficiência quando combinadas e aplicadas de

forma correta, estudada e frequente.

Palavras-chave: transporte manual, patologias lombares, prevenção, pausas, ginástica laboral,

treinamento em ergonomia.

1. Introdução

Apesar dos avanços da tecnologia e a mecanização das tarefas, muitas atividades

continuam sendo realizadas manualmente. Ainda hoje, cargas além dos limites tolerados

são manuseadas e movimentadas pelo homem.

A atual Legislação Brasileira, através da Consolidação das Leis do Trabalho - CLT,

refere-se às atividades de levantamento e transporte de cargas (artigo 198 da Seção XIV,

da prevenção da fadiga, do Capítulo V da CLT) afirmando que é de 60 quilogramas o

peso máximo que um empregado pode remover individualmente1.

A Norma Regulamentadora NR 17 de Ergonomia também aborda o tópico fazendo

menção ao levantamento, transporte e descarga individual de materiais, no entanto, não

estipula nenhum valor máximo para a realização deste tipo de atividade2.

A movimentação manual de cargas pode ser considerada uma atividade de diversos

riscos devido à sua relação com o trabalho físico realizado tanto para a movimentação

da carga como pela composição da mesma. Um dos maiores custos de seguro acidente

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de trabalho e afastamentos acontece devido às atividades de transporte manual de

cargas, sendo a prevenção extremamente importante3.

2. Biomecânica da coluna lombar

A coluna é o eixo de suporte do organismo e o apoio responsável por todos os

movimentos do corpo, isto é possível devido às articulações, cervical e lombar que são

mais espessas na frente4.

Como uma unidade, a coluna vertebral permite movimentos em todos os três planos,

bem como a circundução. Anteriormente realiza a flexão do tronco, posteriormente a

extensão do tronco, lateralmente a inclinação lateral e girando sobre si mesmo realiza a

rotação. Os movimentos vertebrais sempre envolvem uma série de segmentos móveis e

a sua amplitude de movimentos é determinada por restrições anatômicas locais5,6.

As forças que atuam sobre a coluna vertebral incluem o peso corporal, a tensão nos

ligamentos vertebrais e nos músculos circundantes, a pressão intra-abdominal e

qualquer carga aplicada externamente6.

O trabalhador que pratica sua atividade laboral com constantes alterações da postura e

com carga está sujeito ao aumento da compressão do disco intervertebral prejudicando a

sua integridade, uma vez que sua integridade e durabilidade estão associadas à idade,

duração da agressão, excesso de compressão, flexão, extensão e traumas. Estes fatores

são responsáveis pela degeneração dos discos, diminuindo a capacidade de absorção dos

impactos. O amortecimento das cargas pelo disco intervertebral é feito principalmente

pelo seu núcleo pulposo que tem conformação gelatinosa. Quando as pressões incidem

sobre ele, há uma tendência de irradiação lateral7.

A quantidade de força aplicada ao segmento lombar depende do tipo de atividade e da

postura do indivíduo. O suporte dinâmico da coluna lombar é realizado por quatro

grupos musculares: os extensores, os flexores anteriores, os flexores laterais e os

rotatores8.

A estabilidade da coluna vertebral depende dos ligamentos e da ação muscular. Sob o

ponto de vista biomecânico, a coluna vertebral pode ser considerada uma viga dinâmica,

suportando cargas de compressão, tração, cisalhamento longitudinal e transverso. O

disco intervertebral exerce papel importante na absorção da energia mecânica, sofrendo

deformações elásticas frente aos esforços. Estes são mais sobrecarregados estão entre a

quarta e quinta vértebra lombar e quinta lombar e primeira sacral8.

3. Efeitos e riscos de manusear cargas

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Dentre as atividades laborais, a carga e a descarga são situações clássicas e que não

poupam o trabalhador do esforço físico intenso. A automação é de difícil implantação

em trabalhos não estruturados, especialmente na indústria de serviços, como é o caso da

construção civil. Apesar dos diversos meios de transporte mecanizados existentes, um

grande número de insumos ainda necessitam de algum tipo de transporte manual para

chegar ao seu local de aplicação9.

A manutenção da postura em flexão do tronco, curvada para frente, aumenta

excessivamente a pressão intradiscal exigindo grande esforço muscular de sustentação

contra a ação da gravidade, e, ao se adotar esta postura diariamente, e por períodos

prolongados, pode provocar um processo de dor lombar (figura 1). As sobrecargas por

movimentos repetidos de torção ou rotação da coluna provocam distensões e

rompimentos nas fibras do disco vertebral favorecendo os processos de herniação. Nas

situações rotineiras de levantamentos de peso, movimentos de torção, estiramentos ou

traumatismos, podem ocorrer processos degenerativos nas estruturas articulares da

coluna10.

O manuseio e a movimentação de cargas devem ser entendidos como uma atividade

física dinâmica e estão estritamente relacionados com o gasto energético e posturas

corporais. As posturas assumidas durante estas atividades podem trazer riscos de lesão

muscular, principalmente pelo excesso de esforço11.

A atividade de trabalho produz um resultado em termos de produção (quantitativo e

qualitativo), e efeitos sobre a saúde do indivíduo: efeitos medidos (freqüência cardíaca);

observados (modificação da postura); expressos (satisfação). Os resultados obtidos e os

efeitos gerados permitem modificar a atividade do indivíduo. A atividade modifica

também o próprio indivíduo na medida em que a prática de uma profissão permite

adquirir experiências, hábitos, e modificações fisiológicas12.

Fonte: COUTO, H. de A. Ergonomia aplicada ao

trabalho: manual técnico da máquina humana. Belo

Horizonte, Ergo Editora, v. 1, 1995

Figura 1: Musculatura dorsal no levantamento de peso

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O sistema circulatório, em especial o coração, pode ser afetado, especialmente no que

diz respeito ao ritmo cardíaco e pressão sanguínea. Há aumento no fluxo sanguíneo nos

músculos esqueléticos, aumento na pressão arterial e na frequência cardíaca13.

A postura também é importante dada às modificações que pode produzir na circulação

pelas mudanças que provoca na pressão hidrostática. A pressão sanguínea é

aproximadamente de 90mmhg maior nos pés se a pessoa está em pé. Na existência da

contração frequente dos músculos da perna, as válvulas venosas contribuem para

compensar os efeitos negativos da pressão hidrostática, podendo provocar varizes14.

No trabalho frequente com cargas excessivas, principalmente quando é iniciado com

pouca idade, a tensão e esforço constante em músculos, ligamentos, articulações, e

ossos podem causar deformações, tais como, escolioses e cifose vertebrais, deformação

do arco do pé e um estado inflamatório e doloroso dos músculos e bolsas articulares,

tais como miosites e bursites15.

O manuseio e movimentação de cargas têm como principal risco os problemas da

coluna, que são dolorosos e reduzem a mobilidade e a vitalidade dos trabalhadores. A

incidência destes problemas é responsável pelas altas taxas de absenteísmo, pela

incapacidade precoce e desgaste excessivo dos trabalhadores16.

As causas mais comuns dos problemas na coluna vertebral podem ser produzidas num

movimento simples, mas, geralmente, são resultados de acúmulos de meses ou anos

seguidos de posturas inadequadas. A incidência de lesões lombar aumenta

significamente em tarefas de trabalho que exijam o levantamento de peso. Para o autor,

o caráter aceitável ou não de uma carga a ser erguida e, em particular, o risco dorso

lombar associado, são ainda avaliados unicamente a partir do valor do peso desta

carga17.

3.1 Limites de peso recomendado

Segundo a Consolidação das leis do trabalho (CLT) no art. 198 “é de 60 (sessenta)

quilogramas o peso máximo que um empregado pode remover individualmente,

ressalvadas as disposições especiais relativas ao trabalho do menor e da mulher”1.

A Norma regulamentadora (NR 17), específica da ergonomia, apresenta no item 17.2

uma abordagem superficial e subjetiva sobre o levantamento, transporte e descarga

individual de materiais. Ela define o transporte manual de cargas como todo transporte

no qual o peso da carga é suportado inteiramente por um só trabalhador,

compreendendo o levantamento e a deposição da carga. A norma não é específica

quanto ao peso, apenas sugere que “não deverá ser exigido nem admitido o transporte

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manual de cargas, por um trabalhador, cujo peso seja suscetível de comprometer sua

saúde ou sua segurança”2.

Esta carga recomendada não se aplica a todas as condições de manipulação manual de

carga, por isso a adoção de métodos científicos para determinar os limites de cargas a

serem manuseados, como o método NIOSH, pode ser uma resposta favorável à

melhoria das condições de trabalho18.

O National Institute for Ocupational Safety and Health – NIOSH realizou estudos para o

desenvolvimento de um método para determinar a carga máxima a ser manuseada e

movimentada manualmente numa atividade de trabalho, em 1981. O método NIOSH foi

revisto em 1992, a equação foi revista e novos fatores foram introduzidos: a

manipulação assimétrica de cargas, a duração da tarefa, a frequência dos levantamentos

e a qualidade da pega. Além disso, discutiram-se as limitações da equação e o uso de

um índice para a identificação dos riscos, sendo proposto o Limite de Peso

Recomendado (L.P.R) e o Índice de Levantamento (I.L)19.

Tanto a equação de 1981, quanto a versão modificada de 1991 foram elaboradas

levando-se em conta três critérios: o biomecânico, que limita o estresse na região

lombo-sacra, que é o mais importante em levantamentos pouco frequentes que, porém,

requerem um sobre esforço; o critério fisiológico, que limita o estresse metabólico e a

fadiga associada à tarefa de caráter repetitivo; e o critério psicofísico, que limita a carga

baseando-se na percepção que o trabalhador tem de sua própria capacidade, aplicável a

todo o tipo de tarefa, exceto àquelas em que a frequência de levantamento é elevada

(mais de seis levantamentos por minuto)20.

O método NIOSH, porém, possui algumas limitações, como a suposição de que a carga

é segura com ambas as mãos, quando na realidade é sabido que o transporte manual

muitas vezes é feito sobre os ombros. Outra limitação do método é não considerar a

distância de carregamento e sim a frequência, assim, se um trabalhador realiza um

percurso grande, a frequência será baixa, porém o esforço não19.

A Fundacentro em parceria com o Ministério do Trabalho recomenda que a capacidade

individual de levantamento de peso para trabalhadores limite-se a 40kg para homens

com idade entre 18 e 35 anos21.

A convenção 127 da Organização Internacional do Trabalho – OIT, de 1970 não

estabelece o limite de peso a ser transportado individualmente, informando apenas no

seu Artigo 3 que “não se deverá exigir nem permitir a um trabalhador o transporte

manual de carga cujo peso possa comprometer sua saúde ou sua segurança”22.

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Fazendo uma análise global do limite de peso permito para o transporte manual para

homens, nota-se que os países mais desenvolvidos como a Inglaterra e Alemanha

limitam o peso máximo em 30kg para homens com idade entre 18 e 50 anos18.

Outros países como Colômbia, Equador, Hungria e Polônia limitam este peso a 50 kg.

Na contramão da segurança, países menos desenvolvidos permitem pesos maiores,

como é o caso do Paquistão com 80kg e os recordistas Tunísia e Grécia, que limitam o

peso máximo para homens em 100kg, bastante acima do permitido no Brasil23.

A Norma reguladora NR11 refere-se à normatização das atividades de manuseio de

cargas, mais especificamente de sacarias. A norma estipula que a distância máxima para

um transporte manual deve ser de 60 metros, contar com um ajudante, no caso de carga

ou descarga em caminhões ou vagões.

De acordo com os fundamentos da biomecânica, praticamente não existem limites de

peso para o ser humano quando são utilizados ferramentas e equipamentos adequados

ao peso e a ação a ser executada. Para o autor, no levantamento manual de cargas, o

peso de 23 kg é ideal para o manuseio do trabalhador a fim de não acarretar riscos

ocupacionais durante as atividades de trabalho, que vai depender, também, de uma

postura adequada, da frequência e qualidade da pega, assim como das condições

ambientais25. O autor cita algumas considerações sobre o limite de peso recomendado

(L.P.R).

Para cada situação de trabalho, o valor de peso que, mais de 90% dos homens e

mais de 75% das mulheres conseguem levantar sem lesão.

Neste nível, a taxa metabólica é da ordem de 3,5 Kcal/min, o que é compatível

com uma jornada continua;

A incidência de comprometimento do sistema osteomuscular é pequena em

valores abaixo do mesmo;

Ocasiona força de compressão no disco L5 - S1 da coluna vertebral da ordem de

3400 Newton, o que pode ser normalmente tolerado pela maioria dos

trabalhadores

4. Medidas preventivas de patologias lombares

Quando se analisam as inadaptações do organismo do trabalhador sobre as

características dos postos de trabalho, na maioria dos casos, vê-se que estes transtornos

são evitados mediante um programa de atividade física e treinamento, além da correção

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de postos de trabalho. A movimentação manual de materiais é inevitável em qualquer

local de trabalho, já que alguns movimentos só podem ser realizados pelo homem15.

A norma ABNT ISO 31000 pode auxiliar na criação de estratégias de gerenciamento de

riscos em movimentação manual de cargas. Ela pode auxiliar na identificação, análise,

avaliação e tratamento dos riscos associados às tarefas que envolvem transporte e

manuseio de cargas26.

Com base neste contexto, em vez de prescrever um "melhor técnica", o que pode não

ser adequado em todas as situações, é preferível oferecer educação sobre as orientações

levantamento de carga geral27.

4.1 Treinamento

A norma regulamentadora NR-17 Ergonomia (17.2.3) expõe que, todo trabalhador

designado para o transporte manual regular de carga que não as leves, deve receber

treinamentos ou instruções satisfatórias quanto aos métodos de trabalho que deverá

utilizar, tendo em vista salvaguardar a saúde e prevenir acidentes2.

Treinar pessoas para elevação de carga com segurança que consistentemente tem sido

proposta como um dos estratégias para reduzir o risco de lesões nas costas. As

evidências indicam que o treinamento é de ótimo custo benefício e deve ser considerada

como a primeira opção quando os recursos são escassos. No entanto, a sua eficácia

global é baixa para a redução de tais lesões28.

O treinamento em princípios ergonômicos é fundamental para que os trabalhadores

possam romper com hábitos encontrados na prática. Para o autor, o treinamento básico

volta-se para questões como: posturas e movimentos, uso de componentes do posto de

trabalho, organização do trabalho e conforto ambiental. A partir deste tipo de

treinamento, as pessoas podem, não apenas trabalhar de forma mais adequada às suas

características orgânicas, como também colaborar para o aprimoramento ergonômico

das situações de trabalho7.

O treinamento tem um papel complementar no conjunto de medidas preventivas.

Quando este é centrado unicamente em ensinamentos teóricos de trabalho é ineficaz

devido ao desconhecimento por parte dos profissionais "treinadores", das exigências

relacionadas às atividades dos trabalhadores. Assim, ao estipular programas de

treinamento, deve-se pensar nas condições de trabalho que variam dependendo do ramo

da atividade, pois a generalização, na maioria das vezes, não abrange todas as situações

e não se aplica a todos os trabalhadores. A capacitação do trabalho também é importante

por fornecer ao homem os meios de compreender e estabelecer as estratégias em seu

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sistema laboral, proporcionando uma formação adequada no entendimento e na

prevenção dos sintomas musculoesqueléticos29.

Devem ser consideradas as limitações individuais e enfatizar o trabalho em equipe.

Assim, um treinamento adequado deve considerar, primeiramente, as características dos

indivíduos que irão recebê-lo. Deve ser utilizada uma linguagem clara e objetiva. No

caso de indivíduos com um baixo nível de escolaridade, como é o caso da maioria das

pessoas que trabalham em atividades braçais, recomenda-se enfatizar a parte prática e o

uso de situações reais, nas quais eles tenham participação ativa. Esta é uma forma

confiável de captar a atenção destes indivíduos, e obter resultados satisfatórios30 .

O treinamento geral faz variarem consideravelmente as aptidões, e a aprendizagem da

tarefa, permitindo reduzir de forma expressiva a carga de trabalho31.

Porém, o indivíduo a ser treinado é apenas um elemento isolado dentro de uma

organização. O ambiente geral de trabalho; a atividade realizada; a estrutura

organizacional da empresa-ritmo, turnos, intervalos, variabilidade das tarefas,

relacionamento com colegas e chefe imediato; posto físico do trabalho - bancada,

assentos, equipamentos, dentre outros podem interferir na eficácia do treinamento. Essa

interação de fatores precisa, portanto, ser considerada no planejamento e avaliação de

um treinamento32.

4.2 Pausas

De acordo com a Consolidação das Leis do Trabalho (CLT), as pausas são concedidas

para períodos de descanso para os trabalhos contínuos de mais de seis horas e devem ser

utilizados para as refeições e descanso. Já a NR-17 afirma que nas atividades que

exigem sobrecarga muscular estática ou dinâmica do pescoço, ombros, dorso e

membros superiores devem ser inclusas pausas extras para o descanso1,2.

As pausas têm a função de equilibrar a biomecânica do organismo, permitindo aos

tendões a adequada lubrificação pelo líquido sinovial. Estas são necessárias quando não

houver possibilidades de se fazer rodízios de tarefas. Quando houver rodízios de tarefas,

mas as outras tarefas apresentarem o mesmo padrão biomecânico, neste caso não haverá

vantagem biomecânica de rodízio25.

O cansaço é um mecanismo de proteção contra cargas de atividade acima de certos

limites. Tem uma função biológica de preservação, assim como a fome e a sede. Além

disso, a sensação subjetiva de cansaço é o principal sintoma da fadiga que pode inibir as

atividades ou até mesmo paralisá-las7.

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A troca rítmica entre gastos de energia e reposição da força resume-se em trabalho e

descanso. A pausa no trabalho é indispensável, sendo uma condição fisiológica de

interesse para a manutenção da capacidade de produção, logo a pausa é necessária nas

atividades de alto gasto energético e mental18.

4.3 Adequações de posto de trabalho

Durante as atividades de trabalho, diversas posturas podem ser adotadas. No entanto,

isso só é possível se o posto de trabalho estiver projetado para permitir a alternância

postural34.

Muitas vezes, projetos inadequados de máquinas, assentos ou bancadas de trabalho

obrigam o trabalhador a usar posturas inadequadas. Se essas forem mantidas por um

longo tempo, podem provocar fortes dores localizadas naquele conjunto de músculos

solicitados na conservação dessas posturas34.

O manuseio e o transporte de cargas é um dos fatores que predispõe os trabalhadores a

lesões e desgastes na coluna vertebral e estruturas músculo-esqueléticas,

principalmente, quando os processos industriais ainda são rudimentares e o transporte

de cargas e materiais ainda é realizado de forma manual34.

Um dos caminhos para encontrar soluções para as causas das perturbações músculo-

esqueléticas no trabalho é um estudo de ergonomia que busque eliminar do processo a

atividade de transporte manual de cargas, a alta repetitividade, as posturas e gestos

críticos34.

Sempre que possível, o transporte deve ser realizado com máquinas/equipamentos como

empilhadeiras, carrinhos de transporte pneumáticos e/ou elétricos, podendo, também,

conforme o tipo de material, ser transportado através de um sistema de esteira34.

4.4 Programas de qualidade de vida

Os programas de qualidade de vida promovem a prática da atividade física,

conscientizando os trabalhadores da importância da adoção de um estilo de vida ativo

através da ambientes e atividades adequadas, dentro e fora do ambiente de trabalho,

reduzindo assim os custos decorrentes de doenças e proporcionando ganhos para a

saúde e qualidade de vida de seus colaboradores35.

Dentre as formas de promoção da qualidade de vida, destaca-se a ginástica laboral, cujo

objetivo da ginástica laboral é promover adaptações fisiológicas, físicas e psíquicas, por

meio de exercícios dirigidos e adequados para o ambiente de trabalho. Além de

promover o bem-estar individual por intermédio da consciência corporal36.

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Fatores como amenização de dores e redução da fadiga causada pelo estresse no

ambiente de trabalho, bem como a busca da qualidade de vida, são evidenciados pela

implantação de programas de ginástica, que tem como um de seus benefícios a

promoção de adaptações fisiológicas, físicas e psíquica, alcançados por meio de

exercícios dirigidos elaborados para este fim36,37.

Como uma atividade de auxílio à prevenção de lesões no ambiente de trabalho à

ginástica laboral visa melhorar a flexibilidade e a mobilidade articular, diminuir a fadiga

decorrente de tensão e repetitividade que acometem tendões, músculos, fáscias e nervos

e beneficiar a postura do indivíduo diante de seu posto e sua rotina de trabalho38. O

grupo muscular forte alongado apresenta melhor funcionalidade e menor condição de

lesões39.

A implantação de um programa de ginástica busca despertar nos trabalhadores a

necessidade de mudança de estilo de vida e não apenas alterações nos momentos da

ginástica dentro da empresa. Os benefícios da prática de atividade física regular e

orientada, que incluem a preservação da saúde da coluna, fortalecimento de musculatura

estabilizadora e desenvolvimento de força e resistência muscular, capazes de proteger

de lesões os trabalhadores de movimentação manual de cargas40.

5. Metodologia

O presente estudo é uma revisão bibliográfica, realizada com o objetivo de compreender

o conhecimento acumulado acerca do tema. Utilizou-se abordagem qualitativa na

pesquisa permitindo abrir o leque de opções de caminhos a serem seguidos.

O estudo bibliográfico foi realizado através da base de dados Scielo, revistas científicas

consagradas nas áreas de fisioterapia, medicina e engenharias, MEDLINE, LILACS e

livros na área de fisioterapia. As palavras-chave utilizadas na busca foram: transporte

manual, patologias lombares, riscos de carga manual, prevenção, pausas, ginástica

laboral, treinamento em ergonomia.

Grande parte dos estudos na área data dos anos 80 e 90, quando a preocupação com o

aumento das patologias lombares se expandiu, logo foram utilizados artigos publicados

de 1989 a 2010, nas línguas portuguesa, inglesa e espanhola para maior abrangência do

tema.

Após a análise e catalogação do material pesquisado, os artigos relevantes ao tema

foram selecionados. Foi efetuada a leitura seletiva, sendo assim possível determinar as

bibliografias a serem usadas na pesquisa.

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Ao longo da seleção da bibliografia, foi possível perceber que grande parte é produção

estrangeira, especialmente países desenvolvidos, onde a prevenção é muito

predominante.

6. Resultados e Discussão

A atividade de transporte manual de cargas é extremamente prejudicial. Wisner31 relata

que, cerca de 80% das pessoas expostas por longo tempo numa atividade, têm ou

tiveram um problema de dor relacionado com a coluna. Isso sucede porque os

trabalhadores, de uma maneira geral, passaram a trabalhar em posições incorretas,

levantando peso de modo inadequado ou produzindo torções no tronco durante o

expediente de trabalho muitas horas por dia, por muitas semanas, meses e anos

causando um desgaste maior na coluna.

A Organização Internacional do Trabalho realizou um estudo que demonstra o papel da

postura corporal no incremento da pressão intradiscal lombar. Mediu-se a pressão

intradiscal de L4-L5 (região lombar mais freqüentemente comprometida), em situação

de levantamento de carga pesando 25kg, com o indivíduo adotando duas posturas

diferentes. O resultado da pressão para cada postura conforme relatado por Barreira41 foi

a seguinte:

Quando o indivíduo levantava a carga com o tronco ligeiramente inclinado, a

carga sobre o disco L4-L5 era de 300kgs.

Quando o indivíduo levantava a carga com o tronco completamente inclinado, a

carga sobre o disco L4-L5 era de 500kgs.

Batiz et al.14 avaliaram os fatores de risco de sintomas musculoesqueléticos em três

comércios atacadistas. As autoras de surpreenderam com os 91,8% da amostra que

manifestou não haver recebido capacitação ou orientação para o exercício da atividade e

só simplesmente palestras sem inclusão da prática. 100% dos trabalhadores

manifestaram que não existem rodízios de tarefas e que as pausas e 92,5% queixaram se

de dor na região de coluna lombar.

A pesquisa de Minetti et al.42 destaca que, no processo de erguer o feixe de arroz do

solo, os trabalhadores apresentaram compressão do disco L5-S1, as articulações do

quadril, joelhos, dos tornozelos, do dorso e dos cotovelos apresentaram problemas.

Estes trabalhadores estão expostos constantemente a estes riscos ao realizarem as suas

atividades, provocando danos à sua saúde.

Grieco et al43. adiciona que um grande número de estudos epidemiológicos apresenta

prevalência de altos casos relacionados às atividades que requerem movimentos

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repetitivos e o uso de força elevada de membros superiores. Tais dados condizem com o

estudo de Burdorf44, ao enfocar que o trabalho físico pesado mostra-se claramente

relacionado com a dor nas costas.

Maher45 realizou uma revisão sistemática em busca de evidências da eficiência das

intervenções no local de trabalho. Os resultados da análise sugeriram que a cinta lombar

e a educação isoladas são ineficazes, a modificação do local de trabalho e educação

combinadas não atingiram um valor conclusivo. Em contraste, exercícios no local de

trabalho são promissores na prevenção de dor lombar baixa, apesar de não ser

conhecidos os efeitos em longo prazo e o custo benefício dos programas.

O treinamento em princípios ergonômicos é fundamental para que os trabalhadores

possam romper com hábitos encontrados na prática. Para o autor, o treinamento básico

volta-se para questões como: posturas e movimentos, uso de componentes do posto de

trabalho, organização do trabalho e conforto ambiental. A partir deste tipo de

treinamento, as pessoas podem, não apenas trabalhar de forma mais adequada às suas

características orgânicas, como também colaborar para o aprimoramento ergonômico

das situações de trabalho7.

Van Poppel et al46 não encontraram em seu trabalho o efeito positivo do treinamento na

prevenção da dor lombar. Os autores afirmam que o resultado confirma estudos

controlados anteriores, os quais não encontraram nenhum efeito de fornecer instruções

de elevação ou instruções sobre a mecânica do corpo.

Lahiri28 adiciona que o treinamento parece ser a mais rentável, no entanto, o impacto da

formação no resultado total em saúde é bastante limitado. Intervenções ergonômicas e

de engenharia têm um impacto relativo muito maior por meio da redução da incidência

de volta dor do que qualquer das outras abordagens, podendo também impactar

beneficamente na produtividade.

Nessa linha, Rosso e Okumura47 verificaram se o peso suportado pelos trabalhadores da

construção civil no transporte manual de sacas de cimento é compatível ao

recomendado pelos padrões da NIOSH. O estudo demonstrou a falta de treinamento ou

um treinamento superficial acerca das funções a serem desempenhadas pelos

empregados, onde apenas 33,33% receberam treinamento relacionado ao transporte

manual de peso e apenas a metade considerou o treinamento suficiente para o

desempenho desta atividade.

Merino30 realizou um levantamento bibliográfico minucioso envolvendo análise da

legislação, levantamento de problemas e riscos associados ao manuseio de carga no

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setor da construção civil. Os resultados do estudo de caso mostraram sérios problemas

quanto à movimentação e transporte de cargas, no setor da construção civil, destacando

a falta de preparo e conhecimento das formas adequadas de lidar nestas situações,

condições precárias, atividades anteriores em trabalhos tanto ou mais penosos na

maioria dos trabalhadores, somadas a sérios problemas organizacionais e sociais. O

autor ressalta a preocupação em melhorar as condições de trabalho onde o sacrifício e o

esforço humano são uma constante, adotando pausas no trabalho, implantação de um

programa de treinamento em movimentação de cargas pesadas.

Polleto48 estudou a influência da ginástica laboral na mudança de estilo de vida dos

colaboradores. Ela observou que houve um aumento de 10% no número de pessoas

fisicamente ativas, além de ter obtido resultados de melhora da satisfação, disposição e

conforto físico.

Um estudo com 469 bombeiros mostrou uma redução dos custos médicos e da

gravidade das lesões entre os indivíduos que participaram de um programa de exercícios

físicos, visando a melhorar a flexibilidade, este estudo confirmou melhoras nos níveis

de flexibilidades e a importância de implantação do programa no local de trabalho49.

O treinamento em princípios ergonômicos é fundamental para que os trabalhadores

possam romper com hábitos encontrados na prática. Para o autor, o treinamento básico

volta-se para questões como: posturas e movimentos, uso de componentes do posto de

trabalho, organização do trabalho e conforto ambiental. A partir deste tipo de

treinamento, as pessoas podem, não apenas trabalhar de forma mais adequada às suas

características orgânicas, como também colaborar para o aprimoramento ergonômico

das situações de trabalho7.

Merino32 acrescenta que é necessário desenvolver a consciência tanto dos trabalhadores

como dos administradores da empresa pesquisada, dos sérios riscos que os

movimentadores de cargas estão expostos, haja vista que a maioria significativa relata

não ter alterado sua postura buscando métodos adequados para o alívio dos sintomas.

Estudando a influência das pausas, Grandjean18 compara os resultados da introdução de

pausas durante a jornada de trabalho e aumento da produtividade. Em trabalho mais

cansativos ocorre uma queda na produtividade próxima ao final do expediente, nesses

casos a autor afirma que a introdução de pausas adia o surgimento da fadiga e a queda

da produção.

A altura da carga no início do levantamento é outra variável normalmente estudada

quanto à sobrecarga. Boussenna et al. 50 calcularam os torques para o quadril, joelho e

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tornozelo, os quais mostraram significantes diferenças entre os sujeitos e diferenças

altamente significantes entre quatro posturas. Verificaram o maior torque quando na

posição ereta, tronco e quadril fletido e joelhos estendidos, sendo esta postura a de

maior risco.

Outras variáveis como o tamanho, a forma e a quantidade da carga foram estudadas,

verificando o quanto estas influenciam sobre a coluna lombar, sendo que Chaffin &

Park51, concluíram haver maior incidência de dor lombar quando o levantamento de

carga for maior que 17,5kg.

Um levantamento seguro, observar o plano de levantamento, a manutenção da carga

próxima ao corpo, evitar a rotação do tronco enquanto se levanta e flexionar os

joelhos52.

Snook53 refere que um levantamento seguro de um objeto ao nível do solo requer que o

trabalhador mantenha a coluna lombar ereta, fletindo os joelhos para abaixar o corpo e

levantar com os músculos da perna, manter o objeto próximo ao corpo, levantar de

maneira lenta sem solavancos, girar com os pés em vez do tronco, o que é também

afirmado por NIOSH.

Outra possibilidade em prevenir dores lombares por levantamento de peso é a análise do

desenho do local de trabalho que Benson54, através de estudos em indústrias, sugeriu ser

o mais efetivo controle na diminuição de dores em trabalhadores, reduzindo assim o

custo de indenizações.

7. Conclusão

O presente estudo teve o objetivo de verificar as formas de prevenção de patologias

lombares em trabalhadores que efetuam movimentação manual de cargas.

Após esta revisão literária¸ verificou-se que os estudos na área mostram que várias

abordagens podem ser tomadas na prevenção destes distúrbios, isolados ou combinados.

Por ser uma atividade pesada e intensa, o transporte manual de carga é um dos fatores

de maior risco na indústria em geral, causadores de patologias irreversíveis. O risco da

atividade depende de fatores como: carga manipulada, frequência e velocidade de

manipulação, qualidade da pega, fatores ambientais, distância percorrida com carga,

entre outros.

Verificou-se que em geral, treinar os colaboradores quanto à forma correta de manuseio

da carga é uma abordagem utilizada com frequência por ser a mais rentável, porém

isolada não tem grande efeito comprovado sobre o problema, de acordo com os estudos

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analisados. Perceberam-se também deficiências quanto à qualidade, profundidade e

frequências dos treinamentos, além da interferência de fatores externos.

Os programas de qualidade de vida, como ginástica laboral e incentivos à prática de

atividade física colaboram na melhora da força, flexibilidade e preparo corporal destes

trabalhadores. Dessa maneira, as pausas também são eficientes evitando a fadiga e a

sobrecarga. Mudanças de layout e adequações com mecanização da atividade são a

melhor escolha, uma vez que eliminam o risco e combinadas à outras formas de

prevenção tem alta eficiência.

Logo, empresas que, mesmo com o avanço constante da tecnologia, ainda fazem uso de

força humana para movimentação de materiais podem solucionar o problema da grande

incidência de patologias lombares de várias formas, preferencialmente combinadas para

maior eficiência. Ainda é baixa a preocupação com ações preventivas em países em

desenvolvimento como o Brasil, são necessários investimentos em treinamentos,

adequações de postos, programas de qualidade de vida.

Após todo o conteúdo analisado e o encerramento da pesquisa, percebe-se a necessidade

de pesquisas mais recentes, visando à prevenção na área de transporte manual de cargas

com o objetivo de entender a eficácia de cada medida e sua aplicação.

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