A Pr-Histria dos Corpos de BombeirosCel. BM Asdrbal da Silva Ortiz Para se conhecer a histria dos Corpos de Bombeiros mais antigos do Brasil e necessrios primeiramente falar um pouco sobre os antecedentes de suas criaes. Porm a histria de nossos guerreiros sem armas da liberdade comeou muitssimo antes, primeiramente pela histria do fogo, e pode ser contada em duas partes: os fatos mitolgicos e os fatos comprovavam. Fato mitolgico Conforme a mitologia grega, o heri e semideus Prometeus, um dos Tits, irmo de Atlas, roubou o fogo do domnio dos deuses e entregou-o aos homens, sendo por isto punido pelo deus maior Zeus, que o condenou a ser atado a uma rocha, onde ficaria exposto aos ataques dirios de um abutre que lhe devoraria eternamente o fgado, nico rgo do corpo humano que, como todos sabemos, se regenera continuamente, tendo, em conseqncia disso, tal heri recebido um castigo teoricamente interminvel. Como conseqncia para os mortais, conforme a lenda, hoje em dia, ainda por castigo, o fogo escapa ao domnio humano e, transformando-se no monstro dos incndios, ceifa centenas de vidas e causa prejuzos imensos. Fato comprovava 500.000 a.C: O ser humanide j utilizava o fogo, quando encontrado na natureza, para proteger-se de animais e/ou esquentar e iluminar suas cavernas; ainda no o produzia, mas conhecia seu poder; 130.000 a.C: Conservao e culto ao fogo; 10.000 a.C: Inveno dos primeiros equipamentos de ignio: isqueiro rudimentar (pedra de centelha), produo de fogo e chamas (tipo broca e frico); 1.700 a.C: O imperador Hamurabi, da Babilnia, criou as primeiras regras de convivncia comunitria que foram registradas pela histria do mundo, o famoso Cdigo de Hamurabi, onde, entre elas, estavam inseridas tambm as primeiras normas de preveno contra incndios. Cdigo este do qual, ate os dias atuais, 282 artigos transformaram-se em jurisprudncia. 850 a.C: - Mesopotmia - Primeira representao pictrica de um combate a incndio: Alto-relevo em alabastro. 564 a.C: - China - Registro escrito do que se pode dizer que foi o primeiro agrupamento de bombeiros civis oficialmente instalado.

HERONIS

SPIRITALIA

Original em latim da primeira bomba porttil do mundo, inventada por Ctesibius (250 a.C) e aperfeioada por Heron de Alexandria.

Registros de alguns fatos sobre a criao dos Corpos de Bombeiros O MODELO ROMANO 3e sc. a.C: Imprio Romano - Primeiros grupos de escravos bombeiros comunitrios, bem como a criao de primeiras guarnies de escravos particulares para combate a incndios; 250 a.C.: Alexandria - O engenheiro Ctesibius inventa, no Egito, a primeira bomba manual porttil de pisto (com um cilindro, tipo ampola injetora) para combate a incndios, sendo aperfeioada posteriormente (com dois pistes) pelo matemtico e mecnico grego Heron (sc. I d.C.). Cpia de sua descrio original, em latim, feita por Vitruvius, matemtico e mecnico romano, em seu tratado de arquitetura, mais de 150 anos apos sua inveno (24 a.C.), encontra-se junto a um espcime similar, advinda do Arsenal de Marinha de D. Pedro II, em 1856, que foi a primeira bomba manual de nosso Corpo de Bombeiros, atualmente existente no Centre Cultural e Histrico do Corpo de Bombeiros. 1 sc. a.C.: Primeiros bombeiros militares recrutados entre legionrios aposentados. 70 a.C.: Roma - Primeira brigada particular para combate a incndios (cnsul Crassus). 24 a.C.: Roma - Brigadas de escravos particulares para combate a incndios (diretor de policia Rufus); 21 a.C.: Roma - Guarnio de 600 escravos para defender a cidade de Roma (Imperador Augustus). 1 a.C.: Roma - Orbe - Primeiros legionrios bombeiros nas provncias romanas. 6 d.C.: Roma - Urbe - Primeiro Corpo de Bombeiros Militar do mundo oficialmente constitudo, composto de 7 mil legionrios bombeiros, divididos em sete coortes, s para defender a cidade de Roma: as Cohortes Vigilum. O MODELO PORTUGUS 1395 - (Lisboa) - Primeira brigada de incndio de cidados, por Carta Rgia de D. Joo I. 1886 - Lisboa - Surge oficialmente primeira Associao de Bombeiros Voluntrios. 1930 - Lisboa - E criada a Liga dos Bombeiros Portugueses. 1979 - Lisboa - Foi institudo o Servio Nacional de Bombeiros, congregando bombeiros civis e militares, profissionais ou voluntaries.

O MODELO FRANCS 1763 Paris O general Pierre Morat cria os seis primeiros grupos de bombeiros civis, no remunerados, cognominados de Gardes Pompes. 1792 - O general Napoleo Bonaparte, percebendo que os Gardes Pompes no funcionavam, semimilitarizou-os sob o nome de Compagnie de Pompes Publiques. Eram trs companhias (oito chefes e 270 homens) com a obrigao de usar um sabre-briquet como distino. Desfilaram pela primeira vez em uniformes em 1795. Por problemas financeiros, relaxaram a disciplina. Ainda no eram militares de verdade. 1810 - Aconteceu o grande incndio da Embaixada da ustria, durante uma festa em homenagem a Napoleo, agora Imperador da Franca, quando morreram muitos membros da realeza. Por causa disso, o Imperador descobriu que os bombeiros no eram confiveis e eram incapazes de cumprir ordens. 18 de setembro de 1811 - Napoleo militariza definitivamente o Corpo de Bombeiros. Cria o Bataillon des Sapeurs Pompiers, sob o controle direto do ministro do Interior, com leis militares e com direito a um soldo. Eram 576 homens divididos em quatro companhias, todos usando obrigatoriamente fuzil-baioneta, comandados pelo chefe de Policia.

20 de marco de 1818 - (fogo e vinho - Sexta-Feira Santa) primeira grande prova de fogo para os novos bombeiros militares. Durante o combate ao incndio na Comedie Francaise, falta gua e, graas engenhosidade e autoridade militar dos bombeiros, o fogo foi apagado com vinho, "cedido graciosamente" pelos comerciantes e moradores locais mais abastados, diretamente de seus tonis particulares, para os carros-pipa do Corpo de Bombeiros. 7 de novembro de 1821 - O Corpo de Bombeiros e integrado definitivamente as Foras Armadas, porm ainda sob o comando do chefe de Polcia. 1822 - O Corpo de Bombeiros recebe, agora em definitivo, o comando de um coronel do Exrcito e passa a ser considerado uma fora auxiliar do Exrcito, podendo atuar tanto na paz como nas frentes de batalha, porque os sapadores bombeiros eram os principais homens encarregados de, com suas ferramentas de sapa, desmontar bombas ou minas, plantadas ou cadas, explodidas ou no, deixadas pelo inimigo, e assim at os dias atuais, apesar de agora j existir um Grupo Especial Antibombas da Polcia para casos de terrorismo. Atuou nas 1 e 2 Grandes Guerras Mundiais. 1830 - Nova revoluo francesa. O Corpo de Bombeiros e ainda mais militarizado. A partir desse ano os integrantes so todos obrigados a aprender a ler e escrever, bem como fazer ginstica pesada, diurna e noturna.

1940 - 2 Guerra Mundial - Com a ofensiva alem, Paris e ocupada. Os alemes desmobilizam o Exercito francs, menos os Corpos de Bombeiros, que continuaro militares, porem agora sob o comando alemo do Regimento Sachsen de Engenharia. Os alemes tm conscincia de que somente a disciplina militar faz funcionar os Corpos de Bombeiros. Os bombeiros continuam a participar de todas as atividades de defesa civil, incluindo-se agora o transporte de refugiados, feridos, distribuio de raes, controle de arquivos militares etc. 1944 - Incndio no Grand Palais - Os bombeiros ficam entre dois fogos. Os alemes cercam os maquisards no Grand Palais e ateiam fogo no prdio. So necessrias trs horas de negociaes para que os alemes permitissem aos bombeiros apagar o incndio. Dois dias depois, em outro grande incndio, os bombeiros entram em choque com os alemes e so presos e maltratados. 1965 - O Batalho de Sapadores Bombeiros e integrado a Arma de Engenharia do Exercito. 1967 Pela sua eficincia, importncia e competncia, o Bataillon des Sapeurs Pompiers e agora transformado em Brigada do Exercito: La Brigade de Sapeurs Pompiers, tendo pela primeira vez o comando de um general (6 mil homens divididos em 78 centros de socorro). Ainda neste ano criou-se ento, no seio da Brigada, a Defesa Civil (Corps de Defense) com 462 homens. So criadas as Colunas Moveis de Socorro para casos de emergncias diversas, incndios em florestas, auxlios humanitrios no pais e no estrangeiro, calamidades publicas em quaisquer partes do mundo etc. 1968 - Criada a primeira Unidade de Instruo de Segurana Civil (UISC-1), encarregada de dar instrues para o publico e da formao de novos voluntrios de defesa civil. 1981 - E criao um quartel s para a Defesa Civil, porem sempre administrado pela Brigada. A Direo Nacional de Defesa Civil continua sob a superviso geral do ministro do Interior (desde 1811), porem sob o controle e a organizao diretos dos bombeiros militares. 2000 - O Corpo de Bombeiros Militar possui agora, s para Paris, 7 mil homens, fora os bombeiros voluntrios. Em toda a Franca, os Corpos de Bombeiros Voluntrios permanecem organizados, instrudos e controlados pelos bombeiros militares. A formao de oficiais e praas e similar a do Exercito. Os oficiais podem advir da Academia de Bombeiros ou da tropa BM, porem cerca de 75% provem da Arma de Engenharia do Exercito, com reciclagem na Brigada de Sapadores Bombeiros. O MODELO BRASILEIRO 1789 - Rio de Janeiro - A bomba manual de dois cilindros e utilizada oficialmente no grande incndio que destruiu o Recolhimento de Nossa Senhora do Parto, que existia prximo a Praa XV (duas pinturas retratando o fato existem no Museu do Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro).

1797 - Rio de Janeiro - Atravs do Alvar Rgio de 12 de agosto o Arsenal de Marinha passou a ser o rgo publico responsvel pela extino de incndios na cidade. 1856 - Rio de Janeiro - Baseado nos modelos militar francs e civil portugus, porem ainda com resqucios das influencias inglesa e alem, surge no Brasil o primeiro servio publico de combate a incndios, fundado pelo imperador D. Pedro II, atravs do decreto imperial n- 1.775 do dia 2 de julho, que comeou seus trabalhos utilizando bombas manuais e a vapor francesas, inglesas e brasileiras, respectivamente dos Arsenais de Guerra e Marinha, Repartio de Obras Publicas e Casa de Correo, todos agora reunidos numa s rgo: o Corpo de Bombeiros Provisrio da Corte (CBPC). 1860 - Rio de Janeiro - E regulamentado definitivamente o Corpo de Bombeiros da Corte (CBC), sob a jurisdio do ministro da Justia, recebendo graduaes militares. 1880 - Rio de Janeiro - O Decreto imperial 7.766, de 19 de julho de 1880, militariza definitivamente o Corpo de Bombeiros do Rio de Janeiro, concedendo graduaes militares a seus oficiais com o grau Maximo de tenente-coronel. 1892 Joinville (SC) - Surge o primeiro Corpo de Bombeiros Voluntrio do Brasil. 1908 - Rio de Janeiro (DF) - Inaugurado o novo e definitivo Quartel Central do Corpo de Bombeiros do Distrito Federal, obra do coronel do Exercito, engenheiro Francisco Marcelino de Souza Aguiar, exComandante-Geral do Corpo de Bombeiros da Corte Imperial de Dom Pedro II. 2 de julho de 1941 - Rio de Janeiro (DF) - Na Praa da Republica 35, Centro, RJ, ao lado do QCG, foi inaugurada a Capela Catlica do Corpo de Bombeiros, que leva o nome do primeiro padroeiro dos bombeiros do Brasil: So Joo de Deus.

2 de julho de 1977 - Rio de Janeiro - Criado o primeiro Museu de Bombeiros do Brasil. 1983 - Rio de Janeiro - Foi instituda, pela primeira vez no Brasil, a Secretaria de Defesa Civil do Estado do Rio de Janeiro, ficando o Corpo de Bombeiros sob sua direta subordinao. 1992 -Joinville - Criado o primeiro Museu Nacional de Bombeiros. 1997 Rio de Janeiro - Criado o primeiro Corpo de Bombeiros Voluntrios do Rio de Janeiro. 2003 - O Museu Histrico do Corpo de Bombeiros foi rebatizado com o nome de Centro Histrico e Cultural do Corpo de Bombeiros Militar do Estado do Rio de Janeiro, estando nele inclusa a Banda Sinfnica da Corporao. Nota: Os fatos narrados neste resumo histrico foram compilados dos arquivos do Corpo de Bombeiros, de algumas publicaes brasileiras confiveis e/ou traduzidos dos seguintes livros estrangeiros da Franca - Esprit de feu, Manuel du Sapeur-pompier e Sauver ou perir; da Alemanha - Manner ohne Waffen; da Sua - Die Feuerwehren der Welt; da ustria -Das Grosseobersterreichische Feuerwehrbuch; da Itlia - Pompieri (Vigilli del Fuoco); dos Estados Unidos - Discovering Amricas'Fire Museums; de Portugal - Do Exerccio do Fogo e de diversos outros escritos de origem brasileira ou ultramarina.

*Asdrbal da Silva Ortiz e coronel bombeiro militar da reserva remunerada e pesquisador autodidata. Exdiretor do Museu Histrico do CBMERJ recebeu o titulo de acadmico da Cadeira Especial 16 da Academia de Histria Militar Terrestre do Brasil, em 26 de novembro de 2003. E-mail: cbvrj@ig.com.br