a prÁtica enquanto lugar de formaÇÃo, de...

607
UNIVERSIDADE DE LISBOA INSTITUTO DE EDUCAÇÃO A PRÁTICA ENQUANTO LUGAR DE FORMAÇÃO, DE TRABALHO E DE PRODUÇÃO DE SABERES PERSPETIVAS DE PROFESSORES E ESTUDANTES NA FORMAÇÃO INICIAL EM ENFERMAGEM JOÃO JOSÉ ROLO LONGO Orientador: Professora Doutora Maria Ângela Perpétua Rodrigues. Tese especialmente elaborada para a obtenção do grau de Doutor em Educação, especialidade de Formação de Professores. 2017

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UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAO

A PRTICA ENQUANTO LUGAR DE FORMAO, DE TRABALHO

E DE PRODUO DE SABERES

PERSPETIVAS DE PROFESSORES E ESTUDANTES NA FORMAO INICIAL EM

ENFERMAGEM

JOO JOS ROLO LONGO

Orientador: Professora Doutora Maria ngela Perptua Rodrigues.

Tese especialmente elaborada para a obteno do grau de Doutor em Educao,

especialidade de Formao de Professores.

2017

UNIVERSIDADE DE LISBOA

INSTITUTO DE EDUCAO

A PRTICA ENQUANTO LUGAR DE FORMAO, DE TRABALHO

E DE PRODUO DE SABERES

PERSPETIVAS DE PROFESSORES E ESTUDANTES

NA FORMAO INICIAL EM ENFERMAGEM

JOO JOS ROLO LONGO

Orientador: Professora Doutora Maria ngela Perptua Rodrigues.

Tese especialmente elaborada para a obteno do grau de Doutor em Educao,

especialidade de Formao de Professores.

Jri:

Presidente: Doutora Ana Paula Viana Caetano Professora Associada e membro do Conselho Cientfico do Instituto de Educao

da Universidade de Lisboa.

Vogais: Doutora Patrcia Maria Freire de Andrade de Carvalho Rosado Pinto Professora Auxiliar Convidada da Faculdade de Cincias Mdicas da

Universidade Nova de Lisboa.

Doutora Marlia dos Santos Rua Professora Adjuntada Escola Superior de Sade da Universidade de Aveiro.

Doutor David Miguel de Oliveira Cabral Tavares Professor Coordenador da Escola Superior de Tecnologia da Sade do Instituto

Politcnico de Lisboa.

Doutora Maria ngela Perptua Rodrigues Professora Auxiliar Aposentada do Instituto de Educao da Universidade de

Lisboa (orientadora).

Doutora Isabel Maria Pimenta Henriques Freire Professora Associada do Instituto de Educao da Universidade de Lisboa.

Doutor Lus Alexandre da Fonseca Tinoca Professor Auxiliar do Instituto de Educao da Universidade de Lisboa.

2017

Existem momentos na vida onde a questo de saber se se

pode pensar diferentemente do que se pensa e perceber

diferentemente do que se v, indispensvel para continuar a

olhar e a refletir (Foucault, 1994:13).

Agradecimentos

O valor das coisas no est no tempo que elas duram,

mas na intensidade com que acontecem.

Por isso existem momentos inesquecveis,

coisas inexplicveis e pessoas incomparveis.

Fernando Pessoa

Ao longo deste singular, intenso, tortuoso e inesquecvel caminho, quantas vezes parecendo no ter

sentido, muitas foram as pessoas que por uma ou outra razo o tornaram mais suave, compartido e pejado

de sentido. A todas essas pessoas incomparveis, quero exprimir o meu Bem-Haja, embora saiba que isso

nunca ser o suficiente. Assim, de forma mais individualizada, gostaria de agradecer publicamente:

Professora Doutora ngela Rodrigues, orientadora do presente trabalho, pela sua pessoa, pela

humanidade, generosidade e sensibilidade. Pela perseverana com que nos orientou, mesmo quando ns

prprios duvidvamos Pelo seu enorme saber, pelo rigor e pelos conselhos sempre sbios do Mestre

que, nos momentos de desnimo, soube utilizar argumentos fortes e desafiantes para continuarmos na

busca de sentidos e conhecimentos essenciais ao prosseguimento deste trabalho: MUITO OBRIGADO!

s Direes das treze Escolas Superiores de Enfermagem|Sade, terreno do presente estudo, por nos

terem facilitado o acesso aos respetivos corpos docentes e discentes, permitindo a realizao do presente

trabalho.

A todos os professores de Enfermagem que aceitaram participar neste estudo e que connosco partilharam

retalhos da sua vida docente, contribuindo, desse modo, para a desconstruo-reconstruo de

conhecimento acerca do processo de tornar-se professor de Enfermagem.

Aos estudantes, que prontamente se disponibilizaram a partilhar as suas vivncias discentes em ensino

clnico. Sem a vossa disponibilidade, abertura e partilha, este trabalho dificilmente se materializaria

Luisa Ribeiro, por todo o incentivo e suporte profissional e pessoal que nos foi concedendo ao longo

deste percurso. Bem-haja pela pertinncia dos conselhos que muito nos ajudaram a persistir na

concretizao deste objetivo Sobretudo porque, desde o incio, sempre acreditou em ns

Aos colegas dos SAMS e da ERISA, particularmente Maria Joo Fernandes, Helena Melo e Cludia

Raminhos que se importaram connosco e nos encorajaram nos momentos de maior desnimo A todos,

por tudo e ainda mais um pouco, obrigado!

minha famlia, que tanto prezo, devo e a quem tantas horas subtra nestes ltimos anos: Um Bem-Haja

(como se diz na nossa terra) sem dvida parco e insuficiente

Aos meus amigos, porque foram um suporte afetivo e simultaneamente desafiante durante todo este

percurso, especialmente quando nos confrontavam e diziam: Afinal, quando que acabas isso?!...

ix

Resumo

A preparao profissional dos futuros enfermeiros desde sempre teve uma forte ligao aos

contextos clnicos. Apesar da crena geral acerca das vantagens da prtica em contexto de

trabalho na formao inicial em Enfermagem, ainda escassa a investigao no que diz

respeito a mostrar empiricamente o valor formativo dessa componente quer no

desenvolvimento profissional docente quer na construo profissional do futuro enfermeiro.

O presente trabalho inscreve-se assim no domnio da formao de professores,

especificamente na componente prtica em contexto profissional da formao inicial de

enfermeiros. Tem como objetivo geral compreender, na perspetiva docente e discente, o que

constitui o valor formativo da prtica em contexto de trabalho no plano das aquisies,

desenvolvimento de conhecimentos, competncias profissionais e construo identitria

para ambos os grupos de atores.

Trata-se de um estudo que assenta numa abordagem qualitativa de natureza interpretativa. A

amostra intencional, composta por sessenta e oito professores e quinze estudantes de treze

Escolas Superiores de Enfermagem | Sade, de Portugal continental. A recolha de dados foi

efetuada atravs da aplicao da tcnica de focus-group aos docentes e entrevistas semi-

estruturadas aos discentes. A anlise dos dados foi executada com recurso tcnica de

anlise de contedo temtica.

Os resultados obtidos permitiram reunir um conjunto de evidncias que salientam

inequivocamente o valor formativo da prtica para docentes e discentes. Para os primeiros,

esse valor formativo parece estar associado possibilidade de concretizar um

desenvolvimento profissional situado; de conscientizao das suas necessidades de

formao; da promoo de um ambiente colaborativo e de socializao profissional; da

construo de profissionalidade; do desenvolvimento de competncias profissionais; da

construo identitria e, inclusive, enquanto contributo para a sua satisfao profissional.

No caso dos estudantes, o valor formativo da prtica parece estar relacionado com a

possibilidade de realizar aprendizagens situadas supervisionadas; desenvolver competncias

pessoais e profissionais; com a construo da sua identidade; com a socializao

profissional e, ainda, com a facilitao da tomada de conscincia de si.

Foi tambm possvel identificar um conjunto de estratgias formativas usadas pelos

professores em ensino clnico que, na perspetiva docente e discente, so promotoras de

valor formativo acrescentado e, ainda, diversos obstculos correntes que evidenciam

restringir o valor formativo que a prtica poderia ter. Por fim, os dados obtidos sugerem

ainda a necessidade de reconceptualizao da componente prtica da formao inicial em

Enfermagem, apontando algumas mudanas curriculares que podem criar contextos mais

favorveis ao incremento das potencialidades formativas da prtica.

PALAVRAS-CHAVE: Docncia em Enfermagem; Prtica em Contexto de Trabalho;

Formao Inicial de enfermeiros.

x

xi

Abstract

The professional preparation of future nurses has always had a strong connection to

clinical contexts. Despite the general belief about the advantages of practice at the work

place in the initial training in Nursing, research is still scarce in terms of showing

empirically the formative value of this component in both the professional development

of the teacher and the professional construction of the future nurse.

The present work is thus part of the teacher training field, specifically in the practical

component in the professional context of the initial training of nurses. Its general

objective is to understand, from a teaching and student perspective, what constitutes the

formative value of practice at the work place in terms of acquisitions, knowledge

development, professional skills and identity construction for both groups of actors.

It is a study based on a qualitative approach of an interpretative nature. The sample is

intentional, composed of sixty-eight teachers and fifteen students from thirteen Nursing

| Health Higher Schools, from continental Portugal. The data collection was done

through the application of the focus-group technique to the teachers and semi-structured

interviews to the students. Data analysis was performed using thematic content analysis

technique.

The results obtained allowed to gather a set of evidences that unequivocally highlight

the formative value of the practice for teachers and students. For the former, this

educational value seems to be associated with the possibility of achieving a standing

professional development; awareness of their training needs; the promotion of a

collaborative environment and professional socialization; the construction of

professionalism; the development of professional skills; identity construction, and even

as a contribution to their professional satisfaction. In the case of students, the formative

value of the practice seems to be related to the possibility of carrying out supervised

learning; developing personal and professional skills; with the construction of their

identity; with professional socialization and also with the facilitation of self-awareness.

It was also possible to identify a set of training strategies used by teachers in clinical

teaching that, in the perspective of teachers and students, are promoters of added

training value and, also, several current obstacles that evidence to restrict the formative

value that the practice could have. Finally, the data obtained suggest the need to

reconceptualize the practical component of the initial training in Nursing, pointing out

some curricular changes that can create contexts more favorable to the increase of the

formative potential of the practice.

KEY WORDS: Teaching in Nursing; Practice at the work place; Initial Nursing

Training.

xii

xiii

Lista de Abreviaturas, Siglas e Simbolos

ANTS Australian Nurse Teachers`Society

AERA American Educational Research Association

APE Associao Portuguesa de Enfermeiros

A3ES Agncia de Avaliao e Acreditao do Ensino Superior

CLE Curso de Licenciatura em Enfermagem

CPLEE Curso de Ps-Licenciatura de Especializao em Enfermagem

ECTS European Credit Transfer and Accumulation System

EEAE Escola de Ensino e Administrao de Enfermagem

EEES Espao Europeu de Ensino Superior

ENQA European Network for Quality Assurance in Higher Education

ETE Escola Tcnica de Enfermeiras

EUA Estados Unidos da Amrica

FCT Fundao para a Cincia e Tecnologia

FINE European Federation of Nurse Educators

ICBAS Instituto de Cincias Biomdicas Abel Salazar

ICN International Council of Nurses

IPO Instituto Portugus de Oncologia

IUT Instituts Universitaires de Technologie

MDP Modelo de Desenvolvimento Profissional

OE Ordem dos Enfermeiros

OMS Organizao Mundial de Sade

PBL Problem Beasead Leraning (aprendizagem baseada em problemas)

PQCE Padres de Qualidade dos Cuidados de Enfermagem

PRIES Plataforma de Recolha de Informao do Ensino Superior

QOUPDES Questionrio de Opinio e Vivncias Pedaggicas dos Doentes do Ensino

Superior

REPE Regulamento do Exerccio Profissional dos Enfermeiros

xiv

RJIES Regime Jurdico das Instituies de Ensino Superior

SNS Servio Nacional de Sade

SREB Southern Regional Education Board

UCP Universidade Catlica Portuguesa

UI&DE Unidade de Investigao e Desenvolvimento

UR Unidades de Registo

UE Unidades de Enumerao

xv

ndice Geral

Resumo ........................................................................................................................... ix

Abstract .......................................................................................................................... xi

Lista de Abreviaturas, Siglas e Simbolos ......................................................................... xiii

INTRODUO ...............................................................................................................1

PRIMEIRA PARTE - MOLDURA TERICO CONCEPTUAL

CAPTULO I SER PROFESSOR DE ENFERMAGEM NO ENSINO SUPERIOR ...11

1. De monitor a professor do ensino superior politcnico: um itinerrio construdo na interao

entre as mudanas ocorridas na profisso e no seu ensino ...................................................13

2. A universitarizao do ensino de Enfermagem ...............................................................21

3. Saberes e competncias profissionais do professor de Enfermagem .................................31

3.1. Os saberes profissionais dos professores de Enfermagem ........................................... 31

3.2. As competncias do professor de Enfermagem ............................................................ 47

4. Desafios atuais docncia em Enfermagem ...................................................................59

4.1 A necessidade de formao pedaggica especfica para o exerccio profissional da

docncia em Enfermagem ................................................................................................... 59

4.2 A necessidade de transformao nas concees e prticas docentes em Enfermagem: a

imprescindibilidade da investigao .................................................................................... 65

CAPITULO II A PRTICA EM CONTEXTO DE TRABALHO ...............................71

1. Aproximao noo de prtica em contexto de trabalho ...............................................71

2. A prtica|practicum na formao inicial em Enfermagem ...............................................77

3. A prtica|practicum enquanto dispositivo de desenvolvimento profissional docente em

Enfermagem ................................................................................................................... 85

3.1 Em torno do(s) conceito(s) de desenvolvimento profissional docente .......................... 85

3.2 A prtica|practicum enquanto lugar de socializao e construo identitria do docente

de Enfermagem .................................................................................................................... 91

3.3 O lugar da prtica|practicum na construo do saber profissional do professor de

Enfermagem ........................................................................................................................ 99

xvi

SEGUNDA PARTE - ESTUDO EMPRICO

CAPTULO III OPES EPISTEMOLGICAS E METODOLGICAS ..............107

1. Problemtica e questes de investigao ......................................................................107

2. Fundamentos epistemolgicos da investigao: Abordagem qualitativa .........................113

3. Contexto e participantes no estudo ..............................................................................117

4. Tcnicas e procedimentos de recolha de dados .............................................................123

4.1 A tcnica de focus-group ............................................................................................. 123

4.2 A entrevista semi-estruturada ...................................................................................... 129

5. Tcnica e procedimentos de anlise e interpretao de dados: Anlise de contedo .........135

6. Questes de validade e fiabilidade do estudo ................................................................141

7. Questes de tica da investigao e do investigador ......................................................143

CAPTULO IV OS DISCURSOS A PRTICA EM CONTEXTOS DE TRABALHO

NA FORMAO INICIAL EM ENFERMAGEM ..................................................... 145

1. Manifestaes observadas do valor formativo da prtica em ensino clnico ....................149

1.1 Valor formativo da prtica para os professores ........................................................... 149

1.1.1 A prtica fonte de conhecimento profissional docente ..................................... 150

1.1.2 Possibilita um desenvolvimento profissional situado .......................................... 155

1.1.3 Facilita a conscientizao das necessidades de formao ................................... 162

1.1.4 Promove um ambiente colaborativo .................................................................... 169

1.1.5 Facilita a socializao profissional docente ........................................................ 175

1.1.6 Contribui para a construo da identidade e profissionalidade docente .............. 179

1.1.7 Desenvolve competncias profissionais nas reas da docncia e da prtica de

Enfermagem ................................................................................................................. 184

1.1.8 Contribui para a satisfao profissional docente ................................................. 187

1.2 Valor formativo da prtica para os estudantes ............................................................. 190

1.2.1 Permite realizar aprendizagens situadas supervisionadas ................................... 191

1.2.2 Permite desenvolver competncias pessoais e profissionais ............................... 213

1.2.3 Contribui para construo da identidade profissional ......................................... 222

1.2.4 Facilita a socializao profissional ...................................................................... 229

xvii

1.2.5 Facilita a tomada de conscincia de si ................................................................. 241

2. Estratgias usadas promotoras de valor formativo acrescentado .....................................249

2.1 Reflexo e anlise das prticas .................................................................................... 249

2.2 Suporte ao estudante ............................................................................................260

2.3 Superviso do processo formativo ............................................................................... 268

2.4 Ensino situado em contexto de trabalho ...................................................................... 280

2.5 Ensino centrado no estudante ...................................................................................... 287

2.6 Avaliao formativa .................................................................................................... 292

2.7 Trabalho colaborativo com o supervisor clnico ......................................................... 298

2.8 Trabalho colaborativo entre a equipa docente ............................................................. 302

2.9 Utilizao de competncias pessoais ....................................................................... 305

3. Obstculos correntes que restringem o valor formativo que a prtica poderia ter .............313

3.1. Obstculos percebidos|sentidos pelos docentes nos contextos profissionais .............. 313

3.1.1 Articulao interinstitucional .............................................................................. 314

3.1.2 Preparao para o exerccio da funo supervisiva ............................................. 321

3.1.3 Interao com o enfermeiro supervisor ............................................................... 329

3.1.4 Interao com o estudante ................................................................................... 335

3.1.5 Organizao|gesto dos ensinos clnicos ............................................................. 342

3.1.6 Interao com os contextos profissionais ............................................................ 348

3.1.7 Aspetos normativos ............................................................................................. 352

3.2 Obstculos percebidos|sentidos pelos estudantes nos contextos profissionais ............ 356

3.2.1 Choque da realidade ............................................................................................ 357

3.2.2 Interao com o supervisor clnico ...................................................................... 381

3.2.3 Aspetos intrnsecos ao processo formativo ......................................................... 404

3.2.4 Interao com o utente|famlia ............................................................................ 415

3.2.5 Interao com o professor ................................................................................... 418

3.2.6 Interao|integrao na equipa de Enfermagem .................................................. 425

3.2.7 Interao com os pares (estudantes) .................................................................... 429

4. Mudanas curriculares que podem criar contextos mais favorveis ao incremento das

potencialidades formativas da prtica ............................................................................. 433

xviii

4.1 Organizao formal desejada....................................................................................... 433

4.2 Estratgias formativas desejadas ................................................................................. 446

4.3 Perfil de professor desejado ......................................................................................... 457

4.4 Relaes interinstitucionais desejadas ......................................................................... 464

4.5 Perfil de supervisor clnico desejado ........................................................................... 469

4.6 Caractersticas dos contextos profissionais desejadas ................................................. 483

4.7 Finalidades desejadas para o practicum ...................................................................... 490

CONCLUSES ...........................................................................................................499

Consideraes finais ......................................................................................................529

REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS .........................................................................537

xix

ndice de Quadros

Quadro 1 - Funes|papis dos professores de enfermagem (davis et al., 2005) traduo livre.

..................................................................................................................................................... 52

Quadro 2 - Sntese do guio de focus-group aplicado aos professores. .................................... 127

Quadro 3 - Sntese do guio de entrevista aplicado aos estudantes. ......................................... 131

Quadro 4 - Organizao temtica e categorial da informao analisada. .................................. 147

xx

ndice de Tabelas

Tabela 1 - subcategoria "permite a mobilizao de conhecimento adquirido " ........................ 152

Tabela 2 - subcategoria "facilita a aquisio de conhecimento novo" ...................................... 154

Tabela 3 - subcategoria "permite a mobilizao da experincia adquirida" ............................ 155

Tabela 4 - subcategoria "facilita aprendizagens profissionais situadas". ................................. 158

Tabela 5 - subcategoria "possibilita a reflexo na e sobre a prtica". ..................................... 161

Tabela 6 - subcategoria "permite experienciar". ....................................................................... 162

Tabela 7- subcategoria "induz autoformao". ...................................................................... 164

Tabela 8 - subcategoria "facilita a tomada de conscincia das suas dificuldades e

desatualizao". ........................................................................................................................ 166

Tabela 9 - subcategoria "induz a procura de formao formal". .............................................. 168

Tabela 10 - subcategoria "facilita o desenvolvimento conjunto de professores e supervisores".

................................................................................................................................................... 172

Tabela 11 - subcategoria "promove um ambiente colaborativo interinstitucional". ................. 174

Tabela 12 subcategoria contribui para a formao contnua dos supervisores clnicos. ... 175

Tabela 13 - subcategoria "propcia o estabelecimento de uma relao proximal com o

estudante". ................................................................................................................................. 177

Tabela 14 - subcategoria "facilita a relao com os enfermeiros dos contextos e restante equipa

multidisciplinar". ....................................................................................................................... 179

Tabela 15 - subcategoria "facilita o questionamento e a conscientizao da profissionalidade

docente". .................................................................................................................................... 182

Tabela 16 - subcategoria "facilita a conscientizao da envolvente". ...................................... 183

Tabela 17 - subcategoria "facilita a aprendizagem de competncias supervisivas". ................ 186

Tabela 18 - subcategoria "facilita o desenvolvimento de novas competncias". ....................... 186

Tabela 19 - subcategoria "estimula ganhar o gosto pela profisso". ........................................ 188

Tabela 20 - subcategoria "possibilita tornar-se referncia|modelo para o estudante". ............ 189

Tabela 21 - subcategoria"propcia pensar e agir na complexidade". ....................................... 195

Tabela 22 - subcategoria"possibilita experienciar tcnicas de enfermagem". .......................... 199

Tabela 23 subcategoria "permite a observao e a anlise de prticas". .............................. 202

Tabela 24 - subcategoria"propicia a reflexo na e sobre a prtica". ....................................... 205

Tabela 25 subcategoria "possibilita experienciar o cuidar". ................................................. 209

Tabela 26 subcategoria "permite aprender a fazer fazendo de forma contextualizada. ....... 211

Tabela 27 subcategoria "possibilita aprendizagens com os enfermeiros da prtica e com

outros profissionais de sade". ................................................................................................. 212

Tabela 28 - subcategoria "integra diferentes componentes da competncias profissional". .... 215

Tabela 29 - sucategoria "promove a autonomia". ..................................................................... 217

xxi

Tabela 30 - subcategoria "consolida aprendizagens profissionais". ......................................... 219

Tabela 31 - subcategoria "estimula a mobilizao de adquiridos" ........................................... 221

Tabela 32 - subcategoria "promove a perceo da dimenso tica da profisso". ................... 222

Tabela 33 - subcategoria "permite "tornar-se enfermeiro". ...................................................... 225

Tabela 34 - subcategoria "possibilita mudanas de postura e no agir profissional do estudante".

................................................................................................................................................... 227

Tabela 35 - subcategoria "prepara para o exerccio profissional". .......................................... 229

Tabela 36 - subcategoria "estimula as relaes interpessoais ems contexto". .......................... 238

Tabela 37 - subcategoria "promove o desenvolvimento (profissional) do estudante". .............. 240

Tabela 38 - subcategoria "facilita o desenvolvimento pessoal do estudante". .......................... 243

Tabela 39 - subcategoria "facilita a conscientizao da sua profissionalidade". ..................... 245

Tabela 40 - subcategoria "possibilita a emergncia da perspetiva de formao contnua". .... 247

Tabela 41 - subcategoria "criando espaos individuais e coletivos de reflexo e anlise das

prticas" .................................................................................................................................... 252

Tabela 42 - subcategoria "recorrendo escrita reflexiva" ....................................................... 254

Tabela 43 - subcategoria "solicitando projetos" ....................................................................... 255

Tabela 44 - subcategoria "recorrendo observao e execuo com a anlise" ..................... 256

Tabela 45 - subcategoria "recorrendo investigao" ............................................................. 258

Tabela 46 - subcategoria "solicitando relatos orais com anlise" ............................................ 259

Tabela 47 - subcategoria "proporcionando um bom clima afetivo-relacional" ........................ 262

Tabela 48 - subcategoria "facilitando apoio tcnico" ............................................................... 263

Tabela 49 - subcategoria "facilitando apoio emocional" .......................................................... 265

Tabela 50 - subcategoria "motivando o estudante" ................................................................... 266

Tabela 51 - subcategoria "fazendo um acompanhamento contnuo e sistemtico do estudante"

................................................................................................................................................... 268

Tabela 52 - subcategoria "acompanhamento e mediao das aprendizagens do estudante".... 272

Tabela 53 - subcategoria "mediao da relao entre supervisor e estudante" ....................... 274

Tabela 54 - subcategoria "planificao da componente prtica do processo de ensino-

aprendizagem" .......................................................................................................................... 276

Tabela 55 - subcategoria "identificao|antecipao de problemas e dificuldades" ................ 277

Tabela 56 - subcategoria "ajuda ao estudante na construo da sua profissionalidade" ......... 278

Tabela 57 - subcategoria "facilitao da articulao interinstitucional" ................................. 279

Tabela 58 - subcategoria "facilitao da integrao nas dinmicas de funcionamento dos

contextos" .................................................................................................................................. 280

Tabela 59 - subcategoria "desenvolvendo um processo de ensino-aprendizagem centrado no

estudante e na prestao e gesto de cuidados" ....................................................................... 284

Tabela 60 - subcategoria "transmitindo a dimenso tico-deontolgica da profisso" ............ 285

xxii

Tabela 61 - subcategoria "mediando a relao estudante - utentes|famlias e equipa

multidisciplinar" ........................................................................................................................ 286

Tabela 62 - subcategoria "induzindo o estudante a tomar conscincia das suas necessidades de

formao" .................................................................................................................................. 290

Tabela 63 - subcategoria "estimulando o trabalho colaborativo entre estudantes" .................. 291

Tabela 64 - subcategoria "estimulando o trabalho autnomo" ................................................. 292

Tabela 65 - subcategoria "fornecendo feedback" ...................................................................... 294

Tabela 66 - subcategoria "praticando uma avaliao contnua" .............................................. 296

Tabela 67 - subcategoria "envolvendo o estudante no processo avaliativo" ............................. 297

Tabela 68 - subcategoria "dando suporte ao supervisor clnico" .............................................. 300

Tabela 69 - subcategoria "realizando atividades destinadas ao supervisor clnico" ................ 302

Tabela 70 - subcategoria "analisando conjuntamente as prticas docentes aps cada ensino

clnico" ...................................................................................................................................... 305

Tabela 71 - subcategoria "sendo diretivo" ................................................................................ 307

Tabela 72 - subcategoria "sendo assertivo" .............................................................................. 308

Tabela 73 - subcategoria "sendo criativo" ................................................................................ 309

Tabela 74 - subcategoria "ausncia de parcerias efetivas entre as instituies de ensino e

organizaes de sade" ............................................................................................................. 317

Tabela 75 - subcategoria "desarticulao conceptual entre academia e contextos profissionais"

................................................................................................................................................... 319

Tabela 76 - subcategoria "instabilidade politico-organizativa das organizaes de sade" .... 320

Tabela 77 - sucategoria "preparao deficitria para avaliar os adquiridos na prtica pelo

estudante" .................................................................................................................................. 322

Tabela 78 - subcategoria "afastamento docente da prtica clnica" ......................................... 324

Tabela 79 - subcategoria "dificuldade em perceber os limites do seu papel" ........................... 326

Tabela 80 - subcategoria "lidar com a componente emocional do ensino clnico" ................... 327

Tabela 81 - subcategoria "ausncia de formao em superviso clnica" ................................ 329

Tabela 82 - subcategoria "impreparao do enfermeiro supervisor para a funo supervisiva"

................................................................................................................................................... 331

Tabela 83 - subcategoria "diferentes vises acerca do cuidar em enfermagem" ...................... 332

Tabela 84 - subcategoria "indisponibilidade do supervisor para o exerccio da funo

supervisiva" ............................................................................................................................... 334

Tabela 85 - sucategoria "caratersticas pessoais do estudante" ............................................... 337

Tabela 86 - subcategoria "ambiente afetivo-relacional desfavorvel" ...................................... 339

Tabela 87 - subcategoria "impreparao (terica) do estudante para a frequncia do ensino

clnico" ...................................................................................................................................... 340

xxiii

Tabela 88 - subcategoria "falta de implicao do estudante no processo de ensino-

aprendizagem clnico" ............................................................................................................... 341

Tabela 89 - subcategoria "massividade de estudantes nos contextos de trabalho" ................... 343

Tabela 90 - subcategoria "ausncia de disponibilidade para apoiar o estudante" ................... 345

Tabela 91 - subcategoria "atomizao geogrfica e contextual dos estudantes" ...................... 346

Tabela 92 - subcategoria "ausncia de disponibilidade para apoiar | colaborar com os pares

(professores) ............................................................................................................................ 347

Tabela 93 - subcategoria "deficiente integrao na dinmica organizativa dos contextos" ..... 351

Tabela 94 - subcategoria "ausncia de implicao dos profissionais na preparao dos ensinos

clnicos" ..................................................................................................................................... 352

Tabela 95 - subcategoria "reorganizao do ensino de enfermagem no quadro do ensino

superior" .................................................................................................................................... 355

Tabela 96 - subcategoria "inexistncia de legislao reguladora da atividade supervisiva" ... 356

Tabela 97 - subcategoria "dicotomia teoria-prtica" ................................................................ 366

Tabela 98 - subcategoria "a complexidade do real" .................................................................. 370

Tabela 99 - subcategoria "instabilidade poltico-organizativa nas organizaes de sade" .... 371

Tabela 100 - subcategoria "gesto de sentimentos profisisonais" ............................................. 376

Tabela 101 - subcategoria "deficiente integrao nos contextos clnicos" ............................... 379

Tabela 102 - subcategoria "contextos pouco desafiantes em termos formativos" ..................... 381

Tabela 103 - subcategoria "caratersticas pessoais do estudante" ........................................... 387

Tabela 104 - subcategoria "ambiente afetivo-relacional desfavorvel" .................................... 391

Tabela 105 - subcategoria "indisponibilidade do supervisor para a funo" ........................... 393

Tabela 106 - subcategoria "estilo de superviso" ..................................................................... 394

Tabela 107 - subcategoria "impreparao do supervisor para a funo supervisiva" ............. 399

Tabela 108 - subcategoria "caratersticas pessoais do supervisor" .......................................... 401

Tabela 109 - subcategoria "o supervisor enquanto avaliador" ................................................. 404

Tabela 110 - subcategoria "fatores relacionados com o estudante" ......................................... 410

Tabela 111 - subcategoria "fatores relacionados com questes curriculares" ......................... 412

Tabela 112 - subcategoria "fatores relacionados com questes organizativas" ....................... 414

Tabela 113 - subcategoria "interao com o doente|famlia" ................................................... 417

Tabela 114 - subcategoria "ambiente afetivo-relacional entre professor e estudante nem sempre

favorvel" .................................................................................................................................. 420

Tabela 115 - subcategoria "papel do professor enquanto avaliador" ....................................... 423

Tabela 116 - subcategoria "tipo de interao com a equipa de enfermagem" .......................... 428

Tabela 117 - subcategoria "o planeamento e conduo do ensino clnico ser da exclusiva

responsabilidade da escola" ..................................................................................................... 437

xxiv

Tabela 118 - subcategoria "existncia de incentivos|contrapartidas ou, inclusive, considerar a

possibilidade de profissionalizao da funo supervisiva" ..................................................... 439

Tabela 119 - subcategoria "boa atmosfera afetivo-relacional entre os atores diretamente

envolvidos no processo de ensino-aprendizagem" .................................................................... 443

Tabela 120 - subcategoria "ratio supervisivo que garanta a qualidade do processo de ensino-

aprendizagem" .......................................................................................................................... 444

Tabela 121 - subcategoria "existncia de co-responsabilidade individual e coletiva no

desenvolvimento de aes de colaborao interinstitucional" ................................................. 449

Tabela 122 - subcategoria "um ensino prtico individualizado|personalizado" ....................... 451

Tabela 123 - subcategoria "um ambiente que propicie aes colaborativas de reflexo na e

sobre a prtica" ......................................................................................................................... 453

Tabela 124 - subcategoria "reforo do ensino prtico"............................................................. 454

Tabela 125 - subcategoria "uniformizao de critrios de exigncia e avaliativos na componente

prtica da formao inicial em enfermagem" ........................................................................... 456

Tabela 126 - subcategoria "professores com formao pedaggica" ....................................... 459

Tabela 127 - subcategoria "professores com experincia profissional".................................... 461

Tabela 128 - subcategoria "professores motivados para a funo supervisiva" ....................... 462

Tabela 129 - subcategoria "professores com formao especializada na rea do ensino clnico a

supervisionar" ........................................................................................................................... 463

Tabela 130 - subcategoria "existncia de parcerias pedaggicas efetivas" .............................. 468

Tabela 131 - subcategoria "supervisores com formao pedaggica"...................................... 472

Tabela 132 - subcategoria "supervisores com experincia profissional" .................................. 475

Tabela 133 - subcategoria "supervisores detentores de caratersticas pessoais e profissionais

facilitadoras da relao pedaggica" ....................................................................................... 479

Tabela 134 - subcategoria "supervisores com um conhecimento tcnico-cientfico slido" ..... 481

Tabela 135 - subcategoria "contextos cujas condies estruturais e de recursos sejam

adequados colaborao na formao inicial" ....................................................................... 486

Tabela 136 - subcategoria "contextos que sejam acolhedores e facilitadores da integrao do

estudante" .................................................................................................................................. 488

Tabela 137 - subcategoria "contextos que estimulem o desenvolvimento (profissional) do

estudante" .................................................................................................................................. 489

Tabela 138 - subcategoria "uma formao alicerada na evidncia cientfica" ....................... 492

Tabela 139 - subcategoria "uma formao que incentive o estudante a perspetivar-se como

lifelong learner" ........................................................................................................................ 494

Tabela 140 - subcategoria "uma formao que profissionalize" ............................................... 496

xxv

ndice de Figuras

Figura 1 - sntese dos principais marcos scio-polticos que influenciaram a docncia em

enfermagem desde a criao dos primeiros cursos at dcada de 90 (elaborao prpria). ..... 20

Figura 2 - principais marcos do processo de universitarizao do ensino de enfermagem

(elaborao prpria). ................................................................................................................... 29

Figura 3 - competncias do professor de enfermagem (mestrinho, 2011). ................................. 54

Figura 4 - perfil de competncias do professor de enfermagem (nunes, 2006)........................... 56

Figura 5 - agentes de practicum (adaptado de zabalza, 2011). ................................................... 72

Figura 6 - distribuio dos sujeitos por estabelecimento de ensino e regio do pas. ............... 119

Figura 7 - matriz de anlise. ...................................................................................................... 146

Figura 8 - subtema i "valor formativo da prtica para os professores ................................... 150

Figura 9 - categoria "a prtica fonte de conhecimento profissional" ..................................... 151

Figura 10 categoria possibilita um desenvolvimento profissional situado".......................... 156

Figura 11 - categoria "facilita a conscientizao das necessidades de formao" ................... 163

Figura 12 - categoria "promove um ambiente colaborativo" .................................................... 169

Figura 13 - categoria "facilita a socializao profissional docente" ........................................ 176

Figura 14 - categoria "contribui para a construo da identidade e profissionalidade docente"

................................................................................................................................................... 179

Figura 15 - categoria "desenvolve competncias profissionais nas reas da docncia e da

prtica de enfermagem" ............................................................................................................ 184

Figura 16 - categoria "contribui para a satisfao profissional docente". ............................... 187

Figura 17 - subtema ii: valor formativo da prtica para os estudantes. ..................................... 190

Figura 18 - categoria "permite realizar aprendizagens situadas supervisionadas" .................. 191

Figura 19 - categoria "permite desenvolver competncias pessoais e profissionais". .............. 213

Figura 20 - categoria "contribui para a construo da identidade profissional" ..................... 223

Figura 21 - categoria "facilita a socializao profissional" ...................................................... 230

Figura 22 - categoria "facilita a tomada de conscincia de si". ................................................ 241

Figura 23 - tema "estratgias usadas, promotoras de valor formativo acrescentado" ............. 249

Figura 24- categoria "reflexo e anlise das prticas" ............................................................. 250

Figura 25 - categoria "suporte ao estudante" ............................................................................ 260

Figura 26 - categoria "superviso do processo formativo" ....................................................... 269

Figura 27 - categoria "ensino situado em contexto de trabalho" .............................................. 281

Figura 28 - categoria "ensino centrado no estudante" .............................................................. 288

Figura 29 - categoria "avaliao formativa" ............................................................................. 293

Figura 30 - categoria "trabalho colaborativo com o supervisor clnico" .................................. 298

Figura 31 - categoria "trabalho colaborativo entre a equipa docente" ..................................... 303

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xxvi

Figura 32 - categoria "utilizao de competncias pessoais" ................................................... 305

Figura 33 - subtema "obstculos percebidos|sentidos pelos docentes nos contextos

profissionais" ............................................................................................................................ 314

Figura 34 - categoria "articulao interinstitucional" .............................................................. 315

Figura 35 - categoria "preparao para o exerccio da funo supervisiva" ........................... 321

Figura 36 - categoria "interao com o enfermeiro supervisor" ............................................... 330

Figura 37 - categoria "interao com o estudante" ................................................................... 335

Figura 38 - categoria "organizao|gesto dos ensinos clnicos" ............................................. 342

Figura 39 - categoria "interao com os contextos profissionais" ............................................ 349

Figura 40 - categoria aspetos normativos" .............................................................................. 353

Figura 41 - subtema "obstculos percebidos|sentidos pelos estudantes nos contextos

profissionais ............................................................................................................................ 357

Figura 42 - categoria "choque da realidade" ............................................................................ 358

Figura 43 - categoria "interao com o supervisor clnico" ...................................................... 382

Figura 44 - categoria "aspetos intrnsecos ao prprio processo formativo" ............................. 405

Figura 45 - categoria "interao com o professor" ................................................................... 418

Figura 46 categoria interao|integrao na equipa de enfermagem ................................ 426

Figura 47 - categoria "interao com os pares (estudantes)" ................................................... 429

Figura 48 - tema "mudanas curriculares que podem criar contextos mais favorveis ao

incremento das potencialidades formativas da prtica" ........................................................... 433

Figura 49 - categoria "organizao formal desejada" .............................................................. 434

Figura 50 - categoria "estratgias formativas desejadas" ......................................................... 446

Figura 51 - categoria "perfil de professor desejado"................................................................. 458

Figura 52 - categoria "relaes interinstitucionais desejadas" ................................................. 465

Figura 53 - categoria "perfil de supervisor clnico desejado" ................................................... 470

Figura 54 - categoria "caratersticas dos contextos profissionais desejadas" .......................... 484

Figura 55 - categoria "finalidades desejadas para o practicum" .............................................. 490

file:///F:/Documentos%20relativos%20ao%20doutoramento/Tese_Verso10_31_Dezembro_2016%20(1)%20-%20Cpia.docx%23_Toc483163680file:///F:/Documentos%20relativos%20ao%20doutoramento/Tese_Verso10_31_Dezembro_2016%20(1)%20-%20Cpia.docx%23_Toc483163680file:///F:/Documentos%20relativos%20ao%20doutoramento/Tese_Verso10_31_Dezembro_2016%20(1)%20-%20Cpia.docx%23_Toc483163681

Introduo

1

INTRODUO

Justificao da escolha do objeto de estudo

O desenvolvimento de um trabalho de investigao inscreve-se sempre numa histria de

vida e esta comporta mltiplas determinantes das escolhas e das tomadas de deciso que

o desenvolvimento profissional exige. Sob esta moldura, a gnese do presente estudo

insere-se no terreno da nossa prtica, enquanto enfermeiro e enquanto supervisor da

prtica em contexto de trabalho na formao inicial de enfermeiros h mais de duas

dcadas e, simultaneamente, nos ltimos treze anos, enquanto docente do ensino

superior ligado a essa mesma formao inicial. Nesse mbito, a coordenao e docncia

de Unidades Curriculares de Formao Clnica, possibilitou-nos diversos momentos de

reflexo e anlise individual e coletiva (quer entre pares quer conjuntamente com os

enfermeiros dos contextos profissionais), que nos permitiram gradualmente tomar

conscincia do papel e centralidade da componente prtica da formao inicial em

Enfermagem, quer para os docentes quer para os discentes, na medida em que esta

envolve uma complexidade de atitudes e comportamentos s possveis de adquirir e

desenvolver em situaes reais de trabalho, onde a mobilizao de componentes

cognitivas, psicomotoras, afetivas e relacionais fundamental construo de

conhecimento e desenvolvimento profissional dos primeiros e profissionalizao dos

segundos.

Assim, aps o trmino das provas de Mestrado em Cincias da Educao e no quadro

do exerccio profissional docente, tem vindo a ser fortalecida a nossa convico de que

o valor formativo da prtica em contexto de trabalho, durante a formao inicial em

Enfermagem, se manifestar na prtica profissional dos futuros enfermeiros de forma

relevante, pelo que, consideramos que as prticas de formao tendero a melhorar, se o

conhecimento sobre o valor formativo dessa componente for desenvolvido.

Progressivamente essas convices alargaram o seu mbito, e hoje, levam-nos a

considerar que o aprofundamento do conhecimento sobre o valor formativo da prtica

pelos docentes, uma das condies primordiais para potenciar o seu papel na formao

dos estudantes, sendo simultaneamente uma forma de reinvestimento desse

conhecimento na sua prpria prtica enquanto formadores.

O presente estudo inscreve-se assim num conjunto de preocupaes decorrentes da

nossa atividade profissional e na certeza de que as mudanas ocorridas no mbito do

ensino superior e da sade exigem alteraes nos papis, nos valores e nas competncias

Introduo

2

docentes. Insere-se na rea das Cincias da Educao, no domnio da Formao de

Professores, especificamente na componente prtica em contexto profissional da

formao inicial de enfermeiros.

Definio da problemtica, questes e objetivos do estudo

A sociedade contempornea exige mudanas contnuas dos sistemas educativos. No

ensino superior parte dessas exigncias decorre e ao mesmo tempo decorrente da

nfase na relevncia social da formao profissional. Nesse sentido, cada vez mais as

atenes recaem sobre os cursos de formao inicial e sobre os seus intervenientes

formadores, estudantes, currculo e polticas em relao com os contextos locais e

globais nomeadamente nas reas da educao e da sade.

No caso especfico da formao inicial de enfermeiros, como adiante se dar conta,

desde a sua integrao no Sistema Educativo Nacional na dcada de 80, ao nvel do

Ensino Superior Politcnico, muitas tm sido as mudanas nesta rea de formao

profissional: os estudantes passam a ser selecionados pelo regime geral de acesso ao

ensino superior; os docentes transitam da Carreira de Enfermagem para a Carreira do

Pessoal Docente do Ensino Superior Politcnico; as antigas Escolas de Enfermagem so

convertidas em Escolas Superiores de Enfermagem|Sade (integradas ou no em

Universidades), passando a ter autonomia tcnica, pedaggica e cientfica e o ensino de

Enfermagem transita para a tutela nica do Ministrio da Educao. O acesso

profisso passa a ser concretizado por via da obteno do Curso de Licenciatura em

Enfermagem (o que implicou que os profissionais tivessem de frequentar cursos de

complemento de formao para o obter o grau de licenciado) e o acesso dos enfermeiros

a todos os graus acadmicos do Ensino Superior passa a ser uma realidade. Ou seja, o

ensino em Enfermagem passa a desenvolver-se ao nvel dos trs ciclos de estudos,

sendo que os dois primeiros ciclos licenciatura e mestrado so desenvolvidos no

quadro do Ensino Superior Politcnico, numa lgica profissionalizante, e o 3 ciclo na

Universidade, porm com a participao de docentes doutorados das Escolas Superiores

de Enfermagem|Sade. Simultneamente, em muitas Escolas Superiores de

Enfermagem|Sade, foram criadas Unidades de Investigao e desenvolvimento

(UI&D) apoiadas pela Fundao para a Cincia e Tecnologia (FCT) nas quais so

desenvolvidas pesquisas centradas nas dimenses clnica, formao e gesto em

Enfermagem, que vm evidenciando uma paulatina mudana de paradigma, quer nos

modelos cuidativo e formativo que deixam de estar centrados na doena e passam a

estar centrados nas pessoas e nas suas necessidades (Amendoeira, 2009).

Introduo

3

Aps a integrao no ensino superior, desde a primeira dcada do novo milnio, o

ensino de Enfermagem tem tambm vindo a ser confrontado com os desafios

decorrentes das novas polticas para o ensino superior (nomeadamente as resultantes do

Processo de Bolonha), as quais vm exigir no apenas uma reviso refletida dos planos

de estudos da formao inicial em Enfermagem mas tambm a adoo de novos

modelos de formao e a reconceptualizao dos papis docente e discente nesse

mbito.

Embora a universitarizao do ensino de Enfermagem tenha surgido como resposta a

uma constelao de expectativas de natureza diversa (polticas e ideolgicas; socio-

profissionais; sociais; educacionais e cientficas), tem sido objeto de no pouca

controvrsia originada, entre outras razes, pelo frequente desfasamento entre os

objetivos pretendidos e os resultados real ou supostamente alcanados (Amendoeira,

2009). Por outro lado, a velocidade a que tais mudanas tm vindo a ocorrer parece no

favorecer a ocorrncia de momentos de anlise e de reflexo formalizados sobre

algumas variveis que importaria considerar. Entre essas variveis, uma a que pouca

ateno tem sido dada, a componente prtica da formao inicial em Enfermagem,

vulgo estgio|ensino clnico.

Por efeito de uma crena que nunca foi contradita a componente prtica da formao

inicial de enfermeiros, atualmente unanimemente aceite pelos mais diversos autores,

como um lugar e um tempo mpares para o desenvolvimento de competncias

cognitivas, instrumentais, de relao interpessoal e crtico-reflexivas, consolidando o

pensamento geral de que esta componente constitui a espinha dorsal da formao inicial

em Enfermagem e que o conhecimento nesta rea centfica, no pode ser apenas obtido

no seio da academia (Lopes et al., 2013; Serra, 2011; Abreu, 2007, 2001; Rua, 2009;

Garrido et al., 2008; Rodrigues et al., 2007; Fernandes, 2007; Belo, 2003, entre outros).

No obstante a inquestionvel importncia e centralidade conferida componente

prtica da formao inicial (e contnua) em Enfermagem, vrias tm sido as referncias

necessidade de intensificar a investigao e a melhoria dessa componente,

consideradas as diversas fragilidades, contradies e ambiguidades identificadas,

essencialmente relacionadas com os processos, os atores e os contextos. Entre as

inconsistncias mais destacadas pela literatura encontram-se, nomeadamente: a

persistncia da dicotomia entre teoria e prtica e, decorrente desta, o choque da

realidade; as dificuldades intrnsecas socializao profissional docente e discente; as

problemticas intrnsecas ao desenvolvimento dos processos de superviso|tutoria; as

Introduo

4

necessidades de formao dos agentes formativos diretamente envolvidos superviso de

estudantes e, ainda, as questes relacionadas com as dinmicas organizativas dos

contextos profissionais e de articulao|relao entre estes e a academia.

Embora a formao em contexto de trabalho no constitua uma novidade no mbito da

formao inicial em Enfermagem, do ponto de vista investigativo, o que se tem vindo a

verificar nas ltimas dcadas, que esta componente foi sendo abordada sobretudo nos

planos organizativo e supervisivo, sendo parcos ou praticamente inexistentes os

trabalhos que visem explicar o que , o que representa para os atores diretamente

implicados no processo de ensino-aprendizagem clnico, quais os seus contributos para

a aquisio de conhecimentos, capacidades, valores e atitudes pelo estudante, sendo

sobretudo diminuto o conhecimento no que diz respeito aos seus contributos para a

construo dos saberes profissionais docentes e respetivo desenvolvimento profissional.

Com efeito, foi-se aceitando de uma forma relativamente tcita que a imerso|contacto

com os contextos profissionais constitui um perodo de grande importncia, sem que

contudo a investigao evidenciasse como era desenvolvido esse processo ou

clarificasse o papel docente nesse mbito, situao que sugere a naturalizao do

conhecimento e da competncia profissional docente, naturalizando igualmente o seu

exerccio profissional. Nos ltimos anos, esta tendncia tem vindo a ser contrariada,

assistindo-se a um incremento significativo da investigao neste domnio,

nomeadamente sobre o que o mesmo proporciona quer em termos de conhecimento e

socializao profissional discente quer em termos de desenvolvimento profissional

docente, muito embora, no especificamente na formao inicial de enfermeiros

(Zabalza, 2011; Sanmamed e Abeledo, 2011).

Em suma, conhece-se mal o valor formativo da prtica profissional quer para os

docentes quer para os estudantes na formao inicial de enfermeiros, por isso, nossa

expectativa promover o questionamento e problematizao desta rea, num momento

em que

() o abundante uso discursivo da expresso prticas de formao em contexto de

trabalho por quantos se interessam pelas problemticas da formao profissional

contrasta no apenas com a indigncia da investigao sobre o assunto, mas tambm com

a fragilidade da sua conceptualizao o que se reflecte num quase deserto terico neste

domnio(Rodrigues, 2007:82-83).

No mbito desta introduo afigura-se-nos ainda como relevante esclarecer, desde j,

que utilizaremos o conceito de prtica em contexto de trabalho ou profissional na

Introduo

5

aceo da componente do curriculum que integra as atividades de contacto com o real

profissional que ocorrem nas organizaes de sade e na comunidade durante a

formao inicial em Enfermagem, designando-a tambm por practicum. A literatura

mostra que so vrias as acees de practicum (Cohen, Hoz e Kaplan, 2013; Zabalza,

2011, Sanmamed e Abeledo, 2011; Zeichner, 1993), no entanto, no presente estudo,

quando nos referirmos a essa componente formativa o nosso interesse recai sobre

prticas supervisionadas, situadas em contexto profissional, tambm designadas de

estgio, prtica clnica ou ensino clnico, pelo que o conceito de practicum poder surgir

com duplo sentido: de componente formativa ou de atividades propriamente ditas.

Configurada a problemtica, apresenta-se a questo central do nosso estudo:

Que concees tm docentes e discentes, sobre o que constitui o valor formativo da

prtica em contexto de trabalho na formao inicial em Enfermagem?

Refletindo mais profundamente acerca do objeto de estudo, interrogaes mais

especficas emergiram. Neste mbito, relativamente aos docentes, importa-nos saber:

Qual a conceo docente sobre o valor formativo da prtica em contexto de trabalho,

nomeadamente:

no plano das aquisies|desenvolvimento de conhecimentos e competncias

profissionais pelos estudantes?

do ponto de vista da construo de identidade profissional dos estudantes?

do ponto de vista das suas prprias aquisies|desenvolvimento de

conhecimentos e competncias profissionais?

da perspetiva da construo de conhecimento e desenvolvimento profissional

docente?

No que respeita aos estudantes, interessa-nos saber:

Qual a conceo discente sobre o valor formativo da prtica em contexto de trabalho,

nomeadamente:

no plano das aquisies|desenvolvimento de conhecimentos e competncias

profissionais?

do ponto de vista da sua identidade profissional?

Introduo

6

na perspetiva do contributo docente, para a aquisio discente de

conhecimentos, competncias e construo identitria?

Embora no se consigne como uma questo de investigao, gostaramos ainda de obter

elementos acerca dos aspetos potencialmente facilitadores ou, contrariamente,

constrangedores do valor formativo da prtica para os docentes e discentes no mbito do

practicum.

As questes elencadas, para alm da delimitao do objeto de estudo e da definio do

seu campo, serviram para o aprofundamento dos fundamentos tericos desta

investigao. Assim, partindo-se de um quadro conceptual de referncia, o presente

estudo orientou-se para a descoberta de trabalhos desenvolvidos em diferentes reas,

permitindo clarificar quadros de referncia terico-metodolgicos que nos facilitaram

uma aproximao ao valor formativo da prtica para docentes e discentes no mbito da

formao inicial de enfermeiros.

Os objetivos definidos para este estudo so:

Saber, nas perspetivas docente e discente, o que constitui o valor formativo da

prtica em contexto de trabalho no plano das aquisies|desenvolvimento de

conhecimentos e competncias e construo identitria discente;

Identificar nas perspetivas docente e discente, qual o contributo dos professores

para as aquisies|desenvolvimento de conhecimentos e competncias

profissionais e construo identitria discente, durante os perodos de insero

no terreno da prtica profissional;

Conhecer, na perpetiva docente, qual o valor formativo da prtica durante os

perodos de acompanhamento|superviso dos estudantes em contexto de

trabalho, no plano do seu prprio desenvolvimento profissional, bem como, no

que tange construo de conhecimento profissional docente;

Saber, nas perpetivas docente e discente, quais so os aspetos potencialmente

facilitadores ou, contrariamente, constrangedores da formalizao dessa mesma

pratica.

Introduo

7

Plano de Apresentao do Trabalho

O trabalho desenvolvido apresentado em duas partes distintas. A primeira parte visa o

enquadramento conceptual da problemtica em estudo e constituda pelos dois

primeiros captulos.

No primeiro captulo Ser professor de Enfermagem no Ensino Superior por um lado,

procura-se perspetivar a docncia desde a criao do ensino de Enfermagem at ao

momento atual, no intuito de oferecer uma viso compreensiva das diversas fases de

desenvolvimento docente em Enfermagem; por outro lado, integra o que considermos

essencial da reviso da literatura feita, acerca das competncias e saberes dos

professores de Enfermagem. Abordam-se ainda, os atuais desafios docncia em

Enfermagem, nomeadamente, a necessidade de formao pedaggica especfica para o

exerccio profissional da docncia e tambm da imprescindibilidade de os professores

de Enfermagem realizarem investigao quer no mbito da docncia quer dos cuidados

de Enfermagem.

O captulo dois A Prtica em Contexto de Trabalho apresenta um conjunto de

conceitos e problemticas relacionadas e relacionveis entre si, acerca do practicum e

da influncia deste no desenvolvimento profissional docente, que se nos foram

afigurando como necessrios ao enquadramento do objeto de estudo quer no plano

conceptual quer quanto definio dos objetivos a atingir e ao percurso metodolgico a

seguir.

A segunda parte corresponde apresentao da pesquisa emprica realizada e

constituda por trs captulos.

O terceiro captulo Opes Metodolgicas tal como a prpria designao indica,

ocupa-se da apresentao e fundamentao das opes metodolgicas feitas para

prosseguir a pesquisa emprica, designadamente das tcnicas e instrumentos de recolha

e anlise de dados e dos procedimentos seguidos na anlise de contedo dos dados

obtidos atravs das sesses de focus-group e entrevistas semi-estruturadas realizadas a

professores e estudantes, respetivamente.

O quarto captulo Os discursos: a prtica em contexto de trabalho na formao inicial

em Enfermagem apresenta e discute os resultados do trabalho de recolha e anlise das

percepes de docentes e discentes acerca do valor formativo da prtica na formao

inicial de enfermeiros, que se encontra organizado segundo quatro principais pontos:

Introduo

8

manifestaes observadas do valor formativo da prtica; estratgias usadas promotoras

de valor formativo acrescentado; obstculos correntes que restringem o valor formativo

que a prtica poderia ter e; mudanas curriculares que podem criar contextos mais

favorveis ao incremento das potencialidades formativas da prtica.

Em continuidade, seguem-se as concluses, nas quais so salientados os aspetos mais

relevantes do estudo e apresentadas as consideraes finais. Nestas ltimas, identificam-

se algumas das limitaes do estudo, apontam-se pistas para investigaes futuras e

fazem-se recomendaes aos diversos agentes diretamente implicados no practicum, no

sentido de contribuir para a criao de contextos mais favorveis ao incremento das

potencialidades formativas da prtica.

9

PRIMEIRA PARTE

MOLDURA TERICO-CONCEPTUAL

10

Moldura Terico-Conceptual

11

CAPTULO I SER PROFESSOR DE ENFERMAGEM NO ENSINO

SUPERIOR

Em Portugal, a docncia em Enfermagem semelhana de outros tipos de ensino,

sofreu grandes mudanas nas ltimas trs dcadas, devido essencialmente s alteraes

verificadas nos contextos social e profissional, nos paradigmas da formao e seus

pressupostos scio-pedaggicos e, ainda, no perfil de sade e necessidades especficas

da populao nacional. Tais alteraes tm vindo a colocar novos desafios, novas

responsabilidades e novas expectativas aos enfermeiros, que se veem confrontados com

uma prtica cada vez mais exigente, o que implica um processo de formao tambm

ele mais rigoroso, diferenciado e adequado realidade atual dos contextos da sade e

educativo.

Apesar de considerarmos necessria a anlise integrada de todas essas mudanas, no

presente trabalho optmos, como o prprio ttulo do captulo sugere, por centrar a nossa

abordagem no professor de Enfermagem. Assim, no primeiro ponto, expem-se os

principais marcos scio-polticos que influenciaram a docncia em Enfermagem desde a

criao dos primeiros cursos at dcada de 90, altura em que o ensino de Enfermagem

integrado no Sistema Educativo Nacional e os professores transitam para a Carreira do

Pessoal Docente do Ensino Superior Politcnico.

Na continuidade do primeiro ponto, no segundo, abordam-se as mudanas estruturais e

institucionais decorrentes do processo de universitarizao do ensino de Enfermagem e

as suas implicaes para a docncia. Para alm das mudaas estruturais, as reformas

operadas implicaram mudanas na natureza do trabalho docente e, naturalmente, a

necessria reconfigurao dos seus saberes e competncias profissionais, dimenses

estas que contituem o objeto de anlise do ponto trs. Por fim, no ponto quatro, procura-

se dar evidencia aos principais desafios colocados docncia em Enfermagem, que

emanam das atuais exigncias de formar no quadro do Espao Europeu de Ensino

Superior (EEES) e que se relacionam essencialmente com as necessidades de formao

pedaggica para o exerccio da docncia e de investigao quer no mbito disciplinar

quer da docncia.

Moldura Terico-Conceptual

12

Moldura Terico-Conceptual

13

1. DE MONITOR A PROFESSOR DO ENSINO SUPERIOR POLITCNICO: UM ITINERRIO

CONSTRUDO NA INTERAO ENTRE AS MUDANAS OCORRIDAS NA PROFISSO E

NO SEU ENSINO

Sendo a Enfermagem to antiga como a existncia do prprio homem, em termos

nacionais, o seu ensino apenas surge de forma organizada no final do sculo XIX. Os

primeiros cursos de Enfermagem cientfica datam de 1881, 1886 e 1887, tendo sido

realizados respetivamente nos Hospitais de Coimbra, Lisboa e Porto, por iniciativa dos

respetivos administradores. Apesar dessas iniciativas efmeras de formalizao do

ensino de Enfermagem em Portugal, a primeira Escola Profissional de Enfermeiros s

viria a surgir mais tarde, em 1901, no ento Hospital Real de So Jos (que em 1930,

passa a ser designada de Escola de Enfermagem Artur Ravara, sendo ento transferida

para o Hospital dos Capuchos, (Graa e Henriques, 2000)).

A necessidade de formar pessoal de Enfermagem minimamente qualificado adveio

sobretudo da carncia de recursos humanos e da necessidade sentida pela classe mdica

de () adestrar aqueles que esto incumbidos de executar as suas prescries.

Estando ultrapassado o tempo em que se fazia Enfermagem sob a exclusiva inspirao

da caridade crist (Amendoeira, 2006:120). Assim, desde 1901 e durante as quatro

dcadas seguintes, a formao em Enfermagem esteve sempre subordinada ao modelo

mdico-hospitalocentrico (Graa e Henriques, 2000), j que durante esse perodo os

nicos professores de Enfermagem eram os mdicos e as escolas eram consideradas

servios dos hospitais (Amendoeira, 2006; Nunes, 2003; Soares, 1997). A diversidade e

a heterogeneidade das formaes bem como a inexistncia de um currculo explcito do

qual constassem finalidades, objetivos, contedos, metodologias e avaliao era uma

realidade transversal aos diversos estabelecimentos de ensino existentes poca. Cada

escola criava o curso com o programa que melhor lhe parecia responder s necessidades

de preparao do pessoal de Enfermagem, sendo o currculo deste determinado pelos

progressos da medicina e pelas necessidades cada vez mais complexas do trabalho

hospitalar (Soares, 1997). Sob esta moldura, o nico padro seguido por todos os

estabelecimentos de ensino cingia-se designao e durao da formao.

O ensino terico, ao ser exclusivamente ministrado por mdicos, centrava-se na doena

e era completamente dissociado da prtica. Por seu lado, o ensino prtico, era de tipo

artesanal, reproduzindo os modos e as formas de exerccio clnico do servio hospitalar,

sendo que, no raras vezes, face escassez de recursos humanos, os estudantes eram

utilizados como mo-de-obra (Soares, 1997). A finalidade era,

Moldura Terico-Conceptual

14

() preparar o pessoal existente para executar tarefas que excediam os cuidados de

higiene pessoal dos doente, cumprir as prescries mdicas, actuar em situao de

urgncia, observar e transmitir a informao sobre os doentes, substituir o facultativo

durante a sua ausncia em tudo o que no dependesse de uma deciso puramente

cientfica (Soares, 1997:55-56).

isto , preparar pessoal de Enfermagem para auxiliar o mdico no desenvolvimento da

sua atividade clnica.

A Escola Tcnica de Enfermeiras (ETE), surgida em 1940, nica escola tutelada pelo

Ministrio da Educao, constituiu a excepo ao cenrio anteriormente descrito. De

acordo com Soares (1997), era uma escola diferente das demais, tendo sido

considerada at aos anos 90, a mais prestigiada e elitista a nvel nacional. Tinha por

objetivo dotar no s o Instituto Portugus de Oncologia (IPO), mas todo o pas, de

() enfermeiras de cultura superior no que respeita s cincias naturais e de sade

pblica e, sobretudo, no campo da fsica e das radiaes (Soares, 1997:39).

Contrariamente a todas as outras escolas, em que a durao da formao inicial em

Enfermagem era de dois anos e a habilitao mnima de ingresso era a quarta classe, na

ETE, a durao da formao era de trs anos e a habilitao mnima o 2 ciclo liceal

(atual 9 ano de escolaridade). Francisco Gentil, mentor da sua criao, considerava que

() as enfermeiras s podem ser educadas por enfermeiras, ns mdicos falhamos na

sua formao. E se ns no temos capacidade para educar as enfermeiras tcnicas,

quem alm das prprias minitoras, pode oferecer garantias? (Soares, 1997:39),

afirmando-se assim uma outra filosofia educativa em Enfermagem. Em termos

administrativos, desde a sua fundao, quer a direo quer o corpo docente da ETE

sempre foram constitudos exclusivamente por enfermeiras. No que toca aos aspetos

curriculares, tambm esta Escola era distinta das demais: na componente terica a

disciplina de Enfermagem passou a assumir uma posio nuclear no seio do plano de

estudos, sendo ainda introduzidas novas disciplinas como a Psicologia, a Sociologia,

a Enfermagem de Sade Pblica, a Medicina Preventiva, o Ensino e a Administrao.

Na componente prtica, os estgios passam a estar organizados e coordenados com a

componente terica, sendo realizados em servios selecionados, de acordo com os

objetivos estabelecidos e com as necessidades de aprendizagem dos estudantes. A

superviso era efetuada por enfermeiras professoras que, para alm do acompanhamento

dos alunos em estgio, eram tambm responsveis pelo ensino terico. Em suma, a

notavel diferenciao pedaggica e organizativa da ETE relativamente s restantes,

parece ter influenciado de forma decisiva o panorama do ensino de Enfermagem

nacional (Soares, 1997).

Moldura Terico-Conceptual

15

Em 1947, por deciso da Inspeo de Assistncia Social (Decreto-lei n. 36:219, de 10

de abril), as escolas de Enfermagem deixam de poder decidir acerca dos programas dos

cursos que ministram. Assim, alm das matrias cuja presena j estava consolidada nos

programas dos cursos (como por exemplo: anatomia, fisiologia e higiene), estes passam

a incluir contedos como: qumica e fsica; cincias naturais; bacteriologia e

parasitologia; alimentao e diettica; patologia geral e semiologia; farmacologia;

prtica laboratorial e anlises clnicas; noes de obstetrcia e puericultura;

administrao hospitalar; contabilidade; escriturao comercial e dactilografia e noes

gerais de assistncia e servio social.

Para alm das modificaes anteriormente descritas, a Inspeo da Assistncia Social

estabeleceu ainda que, para alm do Curso de Enfermagem Geral, as escolas de

Enfermagem deveriam ministrar Cursos de Auxiliares de Enfermagem (com a durao

de um ano) e Cursos de Pr-Enfermagem (com uma durao de dois anos) no intuito de

responder presso resultante da carncia de enfermeiros e do gradual aumento da

procura de cuidados de sade. Para Amendoeira (2006) e Soares (1997), a criao

destas formaes foi decisiva para o reconhecimento da capacidade dos enfermeiros

intervirem na sua prpria formao, primeiro como auxiliares de ensino e,

posteriormente, como monitores, designao que perdurou at ao incio da dcada de 90

(Amendoeira, 2006). De acordo com Soares (1997), nesta altura que comea a ser

questionado se o ensino de Enfermagem deveria ser feito por mdicos: o ensino

tcnico mal orientado, dirigido e orientado por mdicos, quando o devia ser por

enfermeiros, porque as duas profisses so diferentes, o que torna insuficiente e

ilusria a instruo profissional e tcnica (Idem:39).

Em 1952, assiste-se quela que considerada por vrios autores (Amendoeira, 2006;

Nunes, 2003) a primeira grande reforma do ensino de Enfermagem (Decretos-lei n.

38:884 e 38:885, de 28 de agosto), na qual a interveno do Estado reforada, com a

aprovao do Regulamento das Escolas de Enfermagem e, consequentemente, a

regulao do funcionamento dos cursos. Neste mbito, so ainda feitas outras

importantes alteraes ao nvel do ensino em Enfermagem, a saber: as escolas, embora

mantidas na dependncia dos hospitais, passam a ter autonomia tcnica e administrativa;

a durao do Curso Geral de Enfermagem passa de dois para trs anos; extinto o curso

de Pr-Enfermagem; os planos de estudos passam a ser organizados em aulas tericas,

aulas prticas e estgios e so criadas as enfermarias-escola, no sentido da valorizao

da formao prtica (Amendoeira, 2006). No que respeita componente terica,

Moldura Terico-Conceptual

16

introduzida, a abordagem das Cincias Sociais e Humanas, procurando atribuir

formao inicial de enfermeiros um carter humanista e social, para alm da orientao

biomdica. Na componente terico-prtica, inserido como contedo disciplinar a

Tcnica de Enfermagem, na qual as monitoras ensinam os procedimentos tcnicos das

reas mdica e cirrgica, separando-se o estudo das tcnicas do estudo das patologias.

Assim, no final da dcada de 50, a expresso da profisso como cincia e arte comea a

ter um pendor mais afirmativo e a pugnar por uma formao prtica mais efetiva, ()

valorizando-se os estgios hospitalares e a necessidade de novas caractersticas das

enfermeiras j que no basta que possuam os explendidos atributos humanitrios que

sempre as acompanharam. necessria uma educao cientfica, dedicao ao estudo

da cincia e da arte de Enfermagem (Nunes, 2003:82). Neste enquadramento, as

enfermeiras deixam de ser vistas como auxiliares do mdico para passar a ser

reconhecidas como tcnicas (Soares, 1997).

Na dcada de 60, () a reforma de 65, enfatiza a importncia de um corpo docente,

em nmero suficiente e especialmente preparado para o fim em vista. A

responsabilidade total do ensino passou a ser das enfermeiras professoras (ou

monitoras), enquanto que os mdicos e outros tcnicos passam a ser colaboradores

(Amendoeira, 2008:334). Nos finais desta mesma dcada ocorre uma profunda mudana

na filosofia educativa, passando-se paulatinamente de uma Enfermagem centrada no

hospital e na doena para uma Enfermagem centrada na pessoa que dela necessita

(Amendoeira, 2006). Testemunho de tal alterao conceptual o Plano de Estudos

publicado em 1965 (Decreto-lei n. 46:448, de 20 de julho) que, para alm dos

contedos de carter mais tcnicita, passa a contemplar orientaes internacionais da

Organizao Mundial de Sade (OMS) e do International Council of Nurses (ICN),

dando lugar a um ensino com menor peso da patologia e das cincias biomdicas (Graa

e Henriques, 2000).

Com a publicao do Decreto-Lei n. 48.166, de 27 de dezembro de 1967, a Carreira de

Enfermagem passa a estar organizada em trs grandes reas: Hospitalar, Sade Pblica

e Ensino. Pela primeira vez, os enfermeiros dedicados docncia so considerados

professores (Amendoeira, 2006), sendo estabelecidas as seguintes categorias para a

carreira de Enfermagem na rea do ensino: Diretor de Escola, Monitor Chefe,

Enfermeiro Professor, Monitor e Auxiliar de Monitor. Especifica ainda o Artigo 5 do

mesmo Decreto-Lei, que os Auxiliares de Monitores so selecionados de entre os

enfermeiros habilitados com o 3 ciclo dos Liceus e que tenham, no mnimo, um ano de

Moldura Terico-Conceptual

17

exerccio profissional. Os Monitores, por sua vez, so destacados por concurso de

provas de entre os Auxiliares de Monitor, com pelo menos dois anos na categoria e

habilitados com o Curso de Enfermagem Complementar Seco de Ensino. Os

Enfermeiros Professores e Monitores Chefes so recrutados, tambm por concurso de

provas, de entre os Monitores com pelo menos 3 anos de exerccio de funes na

categoria. Por fim, os Diretores de Escola so selecionados de entre os Enfermeiros

Professores e Monitores Chefes, desde que aprovados em concurso nacional de

habilitao.

Embora existisse em Portugal formao especializada e complementar, desenvolvida

nas diversas escolas existentes altura, na sequncia da reforma de 1965 e por

recomendao da OMS, outras escolas de Enfermagem foram criadas (Portaria n.

22539, de 27 de fevereiro de 1967), designadamente: a Escola de Ensino e

Administrao de Enfermagem (EEAE), a Escola de Enfermagem de Sade Pblica e as

Escolas de Enfermagem Psiquitrica de Lisboa, Porto e Coimbra, com a funo de

preparar enfermeiros para as respetivas especialidades. Entre estas, a EEAE, foi uma

Escola que fez Escola (Amendoeira, 2000:151) pelo seu valioso contributo para o

desenvolvimento e a valorizao dos recursos humanos em Enfermagem. Como a sua

prpria designao indica, a sua misso consistia em satisfazer dois principais objetivos:

Por um lado, preparar pessoal de chefia qualificado para os quadros de Enfermagem

para as instituies de sade; por outro lado, fornecer a todas as escolas que

ministravam os designados cursos base, os monitores|professores necessrios ao

desenvolvimento dos cursos, que nessa altura se encontravam particularmente

carenciadas de recursos humanos docentes.

Na esteira da reforma Veiga Simo, em 1973, a implantao regional de

estabelecimentos de ensino considerada vantajosa, a nvel dos cursos de Enfermagem

de base quer como meio para suprir a carncia de pessoal docente quer como plos de

desenvolvimento regional. Ocorre assim o alargamento da rede de escolas de

Enfermagem a todas as capitais de distrito, com exceo de Setbal e Aveiro, () o

que era clara