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1 A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO DILMA E OS LIMITES DO CRESCIMENTO Wagner Cunha e Torres Setembro de 2012

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A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO DILMA E OS LIMITES DO CRESCIMENTO

Wagner Cunha e Torres

Setembro de 2012

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Ficha catalográfica 2012 Torres, Wagner. A política econômica do governo Dilma e os limites do crescimento : Wagner Cunha e Torres. – Maceíó – 2012. 207. (Livro) 1. FMI e a década perdida de 80 . 2. Plano Real e as armadilhas neoliberais. 3. Governo Dilma e os limites estruturais ao crescimento .

Universidade Federal de Alagoas – UFAL

Faculdade Econômica, Administração e Contabilidade (FEAC) –

Aluno : Wagner Cunha e Torres

Professor : Dr. Fábio Guedes Gomes

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A POLÍTICA ECONÔMICA DO GOVERNO DILMA E OS LIMITES DO CRESCIMENTO

Wagner Torres

FACE/UFAL

ALAGOAS

2012

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RESUMO

Este trabalho busca compreender as limitações do crescimento econômico do Go- verno Dilma, no contexto da nova dinâmica do poder no século XXI e na atual dimensão da acumulação financeira. Foi observada que, a partir da década de 1980, a decisão do FMI de impor um serviço de dívida significativo comprometeu não só o crescimento econômico, como também em face da recessão e do processo hiperinflacionário resultou na desorganização do setor público e na desintegração social. Assim, a alusiva desestruturação resultou na adoção do Consenso de Washington ,e, portanto foi implementada a política neoliberal com o Plano Real. Neste contexto, o trabalho se preocupou em discutir as atuais limitações ao crescimento econômico é resultado da correlação entre a abertura econômica (comercial e financeira) e a gestão fiscal ineficiente do setor público, pois a geração do superávit primário foi obtido via aumento de impostos com aumento de despesas correntes. Além disso, avaliou o esgotamento do modelo de crescimento baseado no consumo aliado também ao colapso do modelo de incremento da arrecadação em percentual do PIB do setor público consolidado. Por outro lado, analisou também a evolução da dívida pública bruta em percentual do PIB em decorrência do incremento dos empréstimos ao BNDES em face da crise de 2008 comprometendo o crescimento econômico atual e a equidade generacional. Foi avaliada a estratégia de desenvolvimento do Japão e da Alemanha e principalmente analisou detalhadamente a estratégia de crescimento da China da década de 80 a 2011. Ressalta-se que a China se utilizou do modelo de economia socialista de mercado e o que possibilitou-a o emprego das políticas : a cambial, a monetária, a residencial , a de crédito. Portanto, com o dinamismo na obtenção das exportações a China utilizou os dólares gerados para financiar a dívida americana, foi determinante para o crescimento econômico medido em dólares de 2011 a 2007 em face da utilização da política de investimento via expansão de crédito para as unidades subnacionais sob a ótica Keynesiana confrontada com a visão de Hayek. Foi também avaliada a estratégia de afrouxamento quantitativo do Banco Central americano e o impacto da valorização do real, refletindo no incremento do volume das importações brasileiras Com base em dados já consolidados, a ideia foi demonstrar, que a crise mundial de 2007 é reflexo das crises sistêmicas e cíclicas do processo de produção de capital e que o atual volume de riqueza financeira é que foi responsável pela alusiva crise ,e, portanto a política ortodoxa imposta pelo FMI é resultado da necessidade de defender os interesses do capital especulativo. Portanto, as limitações do crescimento econômico do Estado brasileiro é reflexo das armadilhas do plano Real e do contexto da nova dinâmica do poder mundial. Além disso, a concentração do foco exclusivo na inflação no período pós Real resultou não só no incremento da dívida pública brasileira, bem como nos atuais limites do crescimento econômico, refletindo na ausência de políticas públicas para reduzir de forma sustentável a gigantesca dívida social.

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ABSTRACT

This work seeks to understand the limitations of the economic growth of the Government Dilma, under the new power dynamics in the XXI century and the current size of financial accumulation. It was observed that, from the 1980s, the IMF's decision to impose a significant debt service committed not only economic growth, but also in the face of recession and the hyperinflationary process resulted in the disruption of the public sector and social disintegration. Thus, allusive disruption resulted in the adoption of the Washington Consensus, and thus was implemented neoliberal policies with the Real Plan. In this context, the work bothered to discuss the current limitations to economic growth is the result of the correlation between economic openness (trade and financial) management and tax inefficient public sector, because the generation of the primary surplus was obtained via tax increases with increase current expenditure. Furthermore, we evaluated the depletion of the growth model based on consumption also allied to the collapse of the model increased revenues as a percentage of GDP the consolidated public sector. On the other hand, also analyzed the evolution of gross public debt in percentage of GDP due to the increase in loans to the BNDES in the face of the 2008 crisis affecting the current economic growth and generational equity. We evaluated the development strategy of Japan and Germany and mainly analyzed in detail the growth strategy in China of the 80's to 2011. It is noteworthy that China has used the model of socialist market economy and which enabled her employment policies: the exchange rate, monetary, to residential, to credit. Therefore, the dynamism in obtaining export to China has used the dollars generated to fund U.S. debt was crucial to economic growth measured in dollars from 2011 to 2007 due to the use of investment policy via credit expansion to the subnational units the perspective Keynesian confronted with the sight of Hayek. It was also evaluated the strategy of quantitative easing from the Federal Reserve and the appreciation of the real, reflecting the increase in the volume of Brazilian imports Based on data already consolidated, the idea was to demonstrate that the global crisis of 2007 is a reflection of systemic crises and cyclical process of production of capital and the current volume of financial wealth is what was responsible for the crisis allusive, and therefore the orthodox policy imposed by the IMF is the result of the need to defend the interests of speculative capital. Therefore, the limitations of the economic growth of the Brazilian State is a reflection of the pitfalls of the Real Plan and the context of the new dynamics of world power. Moreover, the concentration of the exclusive focus on inflation in the post Real resulted not only in increasing the public debt, as well as the current limits of economic growth, reflecting the absence of public policies to sustainably reduce the huge social debt.

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SUMÁRIO I. INTRODUÇÃO 11 II – A CONCEPÇÃO DO NEW DEAL ATÉ A DÉCADA DE 80 15

III – BRASIL DO FMI AO CAOS 22 IV – O CONSENSO DE WASHINGTON E OS FUNDAMENTOS

DA POLÍTICA NEOLIBERAL 29

V - DO PLANO REAL A CRISE DE 1998 32

VI – DO FMI A ELEIÇÃO DE LULA 40

VII – O GOVERNO LULA - 2002-2006 43

VIII - O GOVERNO LULA - 2006 - 2010 47

IX - OS LIMITES ESTRUTURAIS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

DO GOVERNO DILMA 50

• A inserção externa e vulnerabilidade brasileira 50

• A sustentabilidade da dívida líquida e o risco do incremento da dívida bruta em percentual do PIB 59

• O modelo de esgotamento do modelo de ajuste fiscal 68 • O modelo de esgotamento do aumento do crédito 88

• A dinâmica do poder da década de 1970 a 2012 100 • Desindustrialização no Brasil 160

• Limitações do crescimento econômico no Brasil 183

X – CONCLUSÕES 194

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Tabela 1 – Taxa de crescimento nominal do PIB Brasil, China e Mundo medido em (US$) – 1960 – 2011 23 Gráfico I - Balanço em Conta Corrente – 1994 – 1998 (US$ bilhões) 39

Gráfico 2 – Resultado nominal e primário do setor público consolidado (%PIB) 43

Gráfico 3 – Exportação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2011 (US$ Bilhões) 52

Gráfico 4 - Importação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2011 (US$ Bilhões) 52

Gráfico 5 – Resultado da Balança Comercial do Brasil – 1998 a 2011 (US$ Bilhões) 53

Gráfico 6 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial e Investimentos Diretos Estrangeiro - 1994 a 2002 (US$ bilhões) 53 Gráfico 7 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial, Saldo do Serviço e Rendas e Investimentos Diretos Estrangeiro – 2003 a 2011 - (US$ bilhões) 56 Gráfico 8 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial, Saldo do Serviço e Rendas e Investimentos Diretos Estrangeiro – Janeiro de 2011 a Julho de 2012 - 2011 (US$ bilhões) 57 Gráfico 9 – Reservas Internacionais do Brasil - 1995 a 2011 – US$ bilhões 58

Tabela 2 – DBGG e demais passivos do setor público – 2001 - 2010 (Em % do PIB valorizado pelo IPCA) 64

Tabela 3 – Ativos internos e externos do setor público 2001 – 2010 (Em % do PIB valorizado pelo IPC-A) 65 Tabela 4 – Desembolsos do BNDES (Em bilhões de R$) 66

Gráfico 10 - Superávit Primário x Resultado Nominal – Governo Federal e Banco Central – 1997 a 2011 - (%PIB) 69 Gráfico 11 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 1999 - (% do PIB) 70 Gráfico 12 – Resultado Primário Desagregado – 2006 a 2010 - (% do PIB) 71 Gráfico 13 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 2011 - (% do PIB) 71

Gráfico 14 – Participação das Receitas do Governo Central - 1997 a 2011 - (% do PIB) 72 Gráfico 15 – Receita Líquida Total x Despesa Total – (% do PIB) 73 Gráfico 16 – Transferências a Estados e Municípios – (% do PIB) 74 Gráfico 17 – Despesa Desagregada do Governo Federal – 2001 a 2011 (% do PIB) 75 Gráfico 18 – Despesa Custeio e Investimento do Governo Federal – 2001 a 2011 (% do PIB) 76 Gráfico I9 – Carga Tributária do Brasil - 1995 a 1999 – (% do PIB) 77

Gráfico 20 – Carga Tributária do Brasil – 2000 a 2010 - (% do PIB) 78

Gráfico 21 – Carga Tributária do Governo Central – 1995 a 1999 - (% do PIB) 79 Gráfico 22 - Receitas da União – 2000 a 2010 – (% do PIB) 80

Gráfico 23 – Orçamento Fiscal da União – 1995 a 1999 – (% do PIB) 81

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Gráfico 24 – Orçamento Fiscal da União – 2000 a 2010 – (% do PIB) 82 Gráfico 25 – Carga Tributária dos Estados – 1995 a 1999 – (% do PIB) 82 Gráfico 26 – Carga Tributária dos Estados –2000 a 2010 – (% do PIB) 83 Gráfico 27– Total do Crédito do Setor Privado no Brasil 2005 - 2011 (% do PIB) 89

Gráfico 28 – Volume do crédito imobiliário no Brasil (R$ milhões) e Crédito Imobiliário (% PIB) – 2007 - 2011 96 Tabela 5: Crédito Imobiliário 2011 - (% PIB) 97

Gráfico 29 – Volume do crédito do setor privado (R$ milhões) e Taxa de crescimento do credito 2011 - 2012 (%) 97 Gráfico 30 - Taxa de inadimplência – janeiro de 2011 a julho de 2012 (%) 98

Gráfico 31 - Volume de crédito Imobiliário no Brasil – dezembro de 2011 a maio de 2012 (R$ bilhões) 99 Gráfico 32 – Balança Comercial do Japão (2008 – 2011) - US$ bilhões 117

Gráfico 33 – China - Produto Interno Bruto Nominal (US$) e Taxa de Crescimento do PIB nominal (%) – 1979 a 2012 - US$ bilhões 119 Gráfico 34 – China - Taxa de Inflação (IGP-DI) x Taxa de Crescimento do PIB real (%) 123 Tabela 6 : Evolução das exportações e importações – mundo, Estados Unidos e China, 1980-2010 (Em US$ bilhões correntes) 126 Tabela 7 - Participação nas exportações e importações globais – em US$ correntes – Estados Unidos e China, 1980-2010 (Em %) 127

Gráfico 35 – Evolução da corrente de comércio – mundo, Estados Unidos e China, 2000-2011 (Em US$ bilhões correntes) 128

Gráfico 36 – Evolução das exportações – Estados Unidos e China, 2000-2011 (Em US$ bilhões correntes) 129

Gráfico 37 – Evolução das importações – Estados Unidos e China, 2000-2011 (Em US$ bilhões correntes) 130

Gráfico 38 - Exportações, importações e saldo comercial dos Estados Unidos para a China continental – 2000-2010 (Em US$ bilhões) 131

Gráfico 39 - Evolução do saldo comercial – mundo, Estados Unidos e China, 2000-2010 (Em US$ bilhões) 132

Tabela 8 - Evolução das importações chinesas originárias dos Estados Unidos por intensidade tecnológica – valor acumulado para períodos – 1990-2009 (Em US$ bilhões correntes) 133

Tabela 9- Evolução das exportações chinesas originárias dos Estados Unidos por intensidade tecnológica, valor acumulado para períodos – 1990-2009 (Em US$ bilhões correntes) 134 Tabela 10 - Balanço de pagamentos e reservas internacionais – China, 2000-2009

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(Em US$ bilhões) 135

Tabela 11 - Decomposição da mudança na posição das reservas – valor acumulado para os períodos selecionados – China, 2000-2009 - (Em US$ bilhões) 136 Gráfico 40: PIB da China – Taxas reais efetivas e potenciais (filtro HP) e variação dos preços ao consumidor (em%) 138 Gráfico 41: Contribuições ao crescimento do PIB – % 139

Gráfico 42 – PIB em valores nominais dos Estados Unidos e China 1990 a 2011 - ( Em US$ bilhões) – 140 Gráfico 43 – Estados Unidos – PIB em valores nominais e valores reais – 1995 – 2011 (Em US$ trilhões) 141 Gráfico 44 – Dívida dos governos locais chineses – 1998 - 2010 (% do PIB) 151

Tabela 12 - Taxas média de crescimento nominal do PIB da China, Japão, Estados Unidos e Alemanha com base no US$ – 1971-2011 - (Em %) 152 Tabela 13 : Riqueza fictícia e riqueza real – 1980 a 2010 (Em US$ trilhões) 153 Gráfico 45: Brasil - Participação da Indústria de Transformação no PIB – Em % 163 Gráfico 46: Brasil - Taxa de crescimento do PIB e da Indústria de Transformação (%)

e Taxa Real Efetiva de Câmbio (1996-2008) 164

Gráfico 47 – Brasil - Composição do crescimento do PIB, em pontos percentuais – 1995 a 2011 165

Tabela 14 - Brasil – Arrecadação por segmento de Atividade – (R$ bilhões) 171

Gráfico 48- Carga Tributária e Participação da Indústria de Transformação (% do PIB) - 1995 a 2011 177 Gráfico 49 : Brasil - Efeito do câmbio no PIB e na Indústria de Transformação – 2003 a 2011 178 Gráfico 50: Brasil - Análise desagregada do Valor Adicionado do PIB – 1995 a 2011 179

Gráfico 51 - Países da OCDE - PIB per capita (preços constantes de 2000, US$) e valor adicionado manufatureiro (% do PIB), 1981-2010 180

Gráfico 52 – Brasil - PIB per capita (US$) x Valor adicionado da manufatura (% do PIB) – 180 1995 a 2011

Gráfico 53 – Exportação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade Tecnológica – 1996 a 2011 - US$ milhões FOB 181 Gráfico 54 – Importação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade Tecnológica – 1996 a 2011 - US$ milhões FOB 182 Gráfico 55 - Países de destino das exportações brasileiras (%) – 1990 a 2011 183

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Gráfico 56 – PIB Brasil (dólar Banco Central ) x PIB (dólar R$ 2,00) – 1995 a 2011 (US$) 188 Gráfico 57 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan com curvas de valores médios 189 Gráfico 58 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan com curvas de valores médios e teóricos de equilíbrios interno e externo 190

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I. INTRODUÇÃO

O presente estudo aborda a dinâmica macroeconômica da economia

brasileira de 1994 a 2011, não apenas a luz das políticas econômicas as quais foram

implementadas, tendo por objetivo responder as seguintes questões :

1. Por que o atual modelo de política neoliberal baseada no tripé (geração

de superávit primário, metas de inflação e câmbio flutuante) não proporciona a

retomada do crescimento sustentável ?

2. Por que não houve mudança estrutural na competitividade do País, mas

mesmo assim possibilita a geração de superávits comerciais ?

3. A política de câmbio flutuante é condição suficiente para acomodar os

impactos das crises cambiais, possibilitando o gerenciamento adequado e a

autonomia relativa necessária à política monetária ?

4. Há possibilidade da redução da dívida pública bruta a partir da geração de

superávits fiscais primários ?

5. Qual o impacto dos Estados e Municípios na sustentabilidade da política

macroeconômica ?

6. Por que o atual modelo baseado no incremento do consumo não

possibilitará o crescimento econômico sustentável ?

Em resumo, com a adoção da estratégia da atual política neoliberal, há

possibilidade real de se reduzir, estruturalmente, a vulnerabilidade externa do País e

a fragilidade financeira do setor público, substituindo-se o predomínio da lógica

rentista pela lógica produtiva ?

A compreensão mais geral aqui adotada, acerca do processo em curso

desde a década de 80 e os reais efeitos em 2012, pode ser resumida nos seguintes

pontos:

A crise fiscal e social do Brasil de 2012 é reflexo do imperialismo norte

americano e tendo como braço forte a instituição do Fundo Monetário Internacional

(FMI) ao impor um serviço da dívida (juros e amortização da dívida) no montante de

US$ 285,5 bilhões de dólares de 1980 a 1993, refletindo em um período de semi-

estagnação e desintegração social e econômica. Salienta-se, ainda, que a despesa

com juros no alusivo período totalizou US$ 136 bilhões e a despesa com

amortização US$ 149,5 bilhões. Além disso, é necessário ressaltar que em 1980 a

dívida externa brasileira era de US$ 80 bilhões e em função da política monetária

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altamente contracionista do Banco Central americano se evidenciou esta alusiva

dinâmica de crescimento da dívida externa brasileira em face que na década de 70

os empréstimos foram contraídos a taxas de juros flutuantes.

Neste contexto, produziu não só a desarticulação produtiva como a

desintegração da capacidade do Estado em face da impossibilidade de realizar

política fiscal tendo como instrumento as empresas estatais na capacidade de

realização de investimentos. Além disso, o significativo serviço da dívida resultou na

estagnação econômica a geração das hiperinflações e aprofundamento da pobreza

e miséria.

A estagnação econômica aliada a um cenário de hiperinflação foi analisado

pelos arquitetos do Plano Real como reflexo da ação ineficiente do Estado brasileiro,

e, portanto foi apresentada a fórmula “milagrosa” a modernização baseada no

modelo de economia de mercado preconizado pelo Consenso de Washington.

Entretanto, ao adotar essa política neoliberal constituiu, na realidade, uma receita de

regressão a um padrão econômico pré-industrial em face de que a não presença do

Estado no setor produtivo inviabiliza a política de investimento, e, portanto a geração

de emprego e renda.

A combinação da política imperialista do FMI e a adoção do Consenso de

Washington foram fundamentais para que o Brasil não tenha o mesmo dinamismo

no crescimento econômico como a China pós década de 90.

Ressalta-se que a não implantação de um ajuste fiscal e a renegociação da

dívida com as unidades subnacionais quando da implantação do Plano Real tiveram

reflexos significativos para instabilidade macroeconômica de 1994 a 1998 no que se

refere à vulnerabilidade do balanço de pagamentos, resultados pífios de crescimento

no governo FHC e nas finanças públicas.

Salienta-se que a estabilidade de curto prazo do Plano Real foi assegurada

por duas âncoras : monetária e cambial refletindo no incremento da dívida pública.

Assim, a manutenção das taxas de juros elevadas foi a condição necessária para a

manutenção da política cambial. Logo, neste cenário, na ausência de uma

sustentabilidade fiscal foi somente a âncora monetária que sustentou a âncora

cambial.

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Neste contexto, a política monetária baseada em altas taxas de juros evitou a

reduzir a demanda agregada, como também facilitou a entrada de capitais externos,

compensando em parte os déficits em transações correntes.

A manutenção da política monetária pelo Banco Central para sustentar esta

inconsistência da implantação do Plano Real até 2000 (adoção da Lei de

Responsabilidade Fiscal) na tentativa de controlar de forma simultânea juros e

câmbio não só não demonstrou ser insustentável ao longo do tempo como o seu

efeito foi o crescimento da dívida. A título de comparação em 1994 a dívida externa

correspondia a US$ 145,7 bilhões e passou para US$ 236,2 bilhões em 2000 e a

dívida líquida do setor público de 28,1% do PIB para 49,5%, sendo que se não

houvesse a privatização 57,6% do PIB em 2000.1

A geração de déficits gêmeos (fiscal e externo) foi determinante para que de

um período de relativa estabilidade e pífios resultados de crescimento o Brasil

entrasse na rota do capital especulativo rentista tanto nacional como internacional.

Assim, esta herança maldita foi transmitida ao governo Lula, a qual

aprisionado a este modelo de política neoliberal não mais definido pelo Fundo

Monetário Internacional (FMI), mas aprisionado ao capital rentista nacional e

internacional e pelas instituições econômicas multilaterais resultou não só em

resultados pífios de crescimento, como também aumentou a dívida pública interna

bruta em relação ao PIB, ampliou ainda mais a vulnerabilidade externa no que se

refere ao incremento substancial do volume de importação de produtos

industrializados e a necessidade de financiamento externo, a qual foi obtida

mediante taxas de juros internas maiores que as internacionais.

Além disso, em face da crise mundial de 2008 adotou o modelo de

crescimento baseado no consumo e que em 2010 apresentou um alto crescimento

de 7,5% do PIB, entretanto que comparando ao período de 2009 a 2010 foi de

apenas de 3,35% conforme o PIB potencial em função dos atuais limites do

crescimento.

Adicionalmente, o atual modelo do crescimento baseado no consumo

encontra-se em vias de esgotamento, adicionado ao custo Brasil (infraestrutura,

crédito, nível educacional) e a manutenção da política neoliberal baseada no tripé

(metas de inflação, geração de superávit primário e câmbio flutuante) são os 1 Dívida Pública. Apresentação Fabio de Oliveira Barbosa, Secretário do Tesouro Nacional, à Comissão Mista de

Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional em 17/04/2001.

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obstáculos não só a sustentabilidade do crescimento econômico como

principalmente a reduzir a gigantesca dívida social.

A análise desenvolvida apoia-se nos indicadores macroeconômicos

referentes à inflação, ao balanço de pagamentos, a balança comercial, ao

desemprego, ao PIB, as contas públicas União, Estados e Municípios, crédito e

indicadores da indústria. As fontes são, principalmente, o Banco Central, o IBGE, a

FGV, Diese, Ministério do Trabalho, Ministério da Previdência e Secretaria de

Tesouro Nacional. Além disso, no que se refere a dinâmica do poder mundial se

baseia nos dados do Fundo Monetário Internacional (FMI) e Banco Mundial.

Portanto, este artigo, além desta introdução está subdividido em mais nove

seções incluindo as Considerações Finais. Na primeira, analisa a importância do

New Deal e do Acordo de Bretton Woods para o período de recuperação econômica

e o fim alusivo Acordo resultou na crise mundial de 2008. Na segunda, resgata o

contexto da década de 80 em face das implicações no desenvolvimento econômico

e social do Brasil através da imposição de US$ 285,5 bilhões de dólares como

serviço da dívida externa. Na terceira, resgata-se a concepção do Consenso de

Washington e os fundamentos da política neoliberal. Na quarta, a implantação do

modelo do Plano Real, refletido nas vulnerabilidades fiscais e externas, as quais

tornaram o País refém do capitalismo internacional, resultando na necessidade de

buscar socorro junto ao Fundo Monetário Internacional (FMI) e os reflexos da

privatização. Na quinta aborda o contexto da imposição do FMI no que se refere ao

modelo baseado (metas de inflação, superávits primário e câmbio flutuante e adoção

do ajuste fiscal posteriormente ao desequilíbrio das contas públicas e internas. No

sexto e sétimo tópicos aborda-se a política econômica do Governo Lula e o

incremento das fragilidades macroeconômicas, as quais refletiram nos resultados

pífios do crescimento econômico de 2002 a 2010.

No oitavo tópico foca os limites estruturais do crescimento econômico da

política de governo Dilma, tendo como importante aspecto a atual dinâmica do poder

mundial em face da relação simbiótica de dependência estrutural em relação à

China no que tange à exportação de commodities. Por fim, na nona seção, procura-

se alinhavar algumas ideias a título de conclusão.

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II – A CONCEPÇÃO DO NEW DEAL ATÉ A DÉCADA DE 80

A retomada da acumulação, no pós crise de 1929, deve ser identificada

como ponto de partida do longo boom pós Segunda Guerra, pois foi fundamentada

em um programa de investimentos maciços em obras públicas, a qual o presidente

Roosevelt concebeu e executou com grande sucesso para retirar a economia norte-

americana da Grande Depressão, ou seja, a presença forte e decisiva do Estado

como ente planejador e produtor e articulada à nova forma de controle social

(Welfare State) especialmente nos países centrais.

Assim, segundo (PINTO ; BALANCO, 2009, p.36) a acentuada inflexão

relacionada às atribuições socioeconômicas designadas ao Estado capitalista foi

baseada em dois elementos fulcrais.

Essa, acentuada inflexão relacionada às atribuições socioeconômicas de-signadas ao Estado capitalista baseou-se em dois elementos fulcrais : (i) um inquestionável aparato de regulação com o propósito principal de enquadra- mento do capital financeiro e seu direcionamento para o financiamento da produção por meio de planejamento, considerado necessário à própria di-nâmica do capital nesse momento histórico; e (ii) uma acomodação das contradições entre capital e trabalho por meio de certas concessões, pelo capital, aos trabalhadores dos países centrais (compromisso keynesianismo / fordista ou estratégia de harmonização) e de forte coerção, pelas ditaduras militares, dos frágeis movimentos operários dos países periféricos.

Aliado a este fato (BELUZO,1999, GUTTMANN,1998; MEYER,2000 e

BALANCO ; PINTO, 2004 apud PINTO ; BALANCO, 2009, p.37) aborda a integração

de diversos fatores como decisivo para o crescimento significativo mundial.

A adoção da estratégia de recuperação sócio-econômica, foi assentada, por um lado, no princípio da economia da demanda efetiva, configurada no programa New Deal e consolidada com o acordo de Bretton Woods e com o Plano Marshall e,por outro lado, na busca de harmonização entre as classes capitalistas e trabalhadoras. Tal estratégia somente se consubstanciou em virtude de determinados fenômenos, a saber : (i) redução da influência dos condicionantes externos – cooperação antagô- nica – sobre as políticas macroeconômicas domésticas dos países capitalistas, notadamente após o começo da Guerra Fria em 1947; (ii) repressão financeira, ou seja, “regulação”, pelas autoridades monetárias estatais, da moeda de crédito, capital a juros, mediante o processo de monetização da dívida pública; (iii) “mediação” Estatal entre o empresariado e os trabalhadores, por intermédio de suas representações sindicais, objetivando articular o aumento dos salários reais aos ganhos de produtividade e dos preços e integrar o trabalho no âmbito dos processos decisórios da produção. Quando a mediação não fun- cionava, o Estado utilizava seu poder coercitivo, notadamente nos primeiros anos após o final da Segunda Guerra; (iv) incorporação de investimentos di- retos e das transferências de seguridade social como componentes basila- res da demanda e do controle social.

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O sistema de Bretton Woods (padrão dólar-ouro) foi um dos elementos

estruturais na estratégia de recuperação da economia mundial segundo (PINTO ;

BALANCO, 2009, p.37).

1) taxas fixas de câmbio, mais ajustáveis, em virtude de desequilíbrios fun- damentais associado aos balanços de pagamentos; 2) a aceitação do con- trole de fluxos de capitais internacionais; e 3) a criação do FMI para monito- rar as políticas nacionais e oferecer financiamentos para equilibrar os ba- lanços de pagamentos com desequilíbrios.

Além disso, em face do sistema Bretton Woods foi possível a extraordinária

recuperação do Japão em apenas duas décadas tornando-se uma grande potência,

pois além da presença do Estado, foi estabelecido um pacto social entre o Estado,

trabalhadores, sistema financeiro e o sistema produtivo. Assim, quando na crise do

sistema Bretton Woods era o grande financiador da dívida pública americana

reflexos dos altos superávits comerciais em face da alta competitividade da indústria

japonesa em relação à economia americana.

O controle de capitais afrouxou os vínculos entre as políticas econômicas

domésticas e externas – redução dos condicionantes externos, possibilitando aos

governos espaços para a adoção de políticas macroeconômicas voltadas ao pleno

emprego, o qual possibilitou aos Estados Unidos ser o maior beneficiado em função

de sua política fiscal expansionista aumentando cada vez mais o seu poder

econômico tendo o Japão como o maior financiador da dívida e como esta era

monumental quebraria não só o Japão como o sistema financeiro internacional entre

1971 e 1973.

E além disso, segundo (BRENNER,1999,2003 apud PINTO ; BALANCO,

2009 p. 54) ainda havia o problema da perspectiva crítica da acumulação atrelada a

queda das taxas de acumulação de capital.

[.....] a crise seria proveniente da queda secular da lucratividade, oriunda do excesso de capacidade e produção do setor manufatureiro mundial. Tal compressão dos lucros desse setor teria origem no acirramento da competição internacional, pois à medida que os produtores da Europa Ocidental e do Japão começam a suprir frações cada vez maiores do mercado mundial, com bens similares aos que já eram produzidos nos EUA, surge redundância e excesso de capacidade de produção.

O problema tendeu a se agravar com a crise monetária internacional e com o

colapso da ordem de Bretton Woods entre 1971 e 1973 (BRENNER, 1999,2003

apud PINTO ; BALANCO, p. 54).

[....] o problema tendeu a se agravar com a crise monetária internacional e com o colapso da ordem de Bretton Woods entre 1971 e 1973.Tanto o Japão quanto a Alemanha foram obrigados a enfrentar custos maiores

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em virtude das elevadas valorizações de suas moedas ante o dólar ,e, por conseguinte viram suas taxas de lucro reduzir-se, aprofundando ainda mais a contração dos lucros do setor manufatureiro internacional. À medida que se consubstanciava a redução das taxas de acumulação de capital, materializava-se a queda dos níveis de investimento e, consequentemen-te, do emprego. Isso provocou queda na demanda, o que, por sua vez agravou o problema da realização, ampliando o problema do excesso de capacidade de produção. Ainda na perspectiva de Brenner, a explicação da crise acaba por recair no problema de insuficiência da demanda atrelada à redução da taxa de lucro.

Assim, o compromisso Keynesiano pós Segunda Guerra refletiu na

eliminação da crise estrutural de 1929 em face da utilização do modelo de

acumulação baseado na demanda efetiva (PINTO ; BALANCO, 2009, p. 59).

A construção do arranjo institucional do compromisso Keynesiano/ fordista do pós Segunda Guerra permitiu a eliminação da crise estrutural de 1929 em sua totalidade, já que criou um ambiente de harmonização da luta de classe e engendrou um novo modelo de acumulação assentado na deman- da efetiva. Tal saída interna à crise do capital de 1929, levou a um novo período de elevada taxa de acumulação capitalista.

A dinâmica da acumulação financeira depois dos anos 1970 resultou em um

estímulo para as empresas aplicarem seus capitais em investimentos financeiros ao

invés de investimentos produtivos (PINTO ; BALANCO,2004 apud PINTO ;

BALANCO,2009, p. 70).

Nesse contexto, a superestrutura financeira envereda por uma trajetória de deslocamento atrofiado relativamente à esfera produtiva, destacando- se as alternativas de realização do lucro financeiro, primeiro na forma de capitais de empréstimos e, depois, como capitais voláteis especulativos, configurando-se a partir desse momento uma dinâmica de acumulação pre- dominantemente financeira.

O fim do regime de Bretton Woods resultou de uma reação do império norte-

americano em virtude de perda de reservas em ouro (PINTO ; BALANCO,2009, p.

70).

A economia norte-americana, ao final dos anos 1960, enfrentava déficits astronômicos e persistentes no balanço de pagamentos, em virtude dos in- vestimentos externos crescentes, associados ao Plano Marshall e aos gas- tos militares no exterior com a Guerra do Vietnã. Esses dois elementos, e mais a ingente elevação da quantidade de petrodólares no mercado financeiro europeu, produziram forte aumento na liquidez do dólar nos mer- cados internacionais, provocando a “crise do dólar” na década de 1970. Na verdade, desde o início dos anos de 1960, o padrão cambial do dólar- ouro, firmado em Bretton Woods começava a dar sinais de precari- edade.

A ruptura do sistema de Bretton Woods consolidou a hegemonia americana

em função do um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das suas políticas

cambial, monetária e fiscal (CINTRA; PRATES , 2011, p. 20).

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No sistema monetário internacional que emergiu após a ruptura do sistema de Bretton Woods (1944-1971) e que se consolidou com a retomada da hegemonia americana, a hierarquia de moedas revelou-se ainda mais assimétrica, em função do caráter fiduciário da moeda-chave, garantindo aos Estados Unidos um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das suas políticas cambial, monetária e fiscal. As demais características desse sistema – cambio flexível e livre mobilidade de capitais – reforçaram essa autonomia e, ao mesmo tempo, imprimiram ao sistema uma instabilidade intrínseca, que atingiu de forma perversa os países emissores de divisas inconversíveis.

Por outro lado, a assimetria no sistema monetário internacional reflete na

dinâmica de poder mundial bem como na fragilidade financeira dos países em

desenvolvimento (CINTRA; PRATES , 2011, p.19 - 20).

Além da posição superior da divisa-chave, existe uma assimetria no sistema monetário internacional entre as divisas conversíveis dos países desenvolvidos, que ocupam uma posição intermediaria na hierarquia – pois desempenham de forma secundaria as funções da moeda em âmbito internacional – e aquelas dos países em desenvolvimento que se inseriram na globalização financeira, convertendo-se em países emergentes. As moedas emitidas por esses países são, de forma geral, incapazes de desempenhar essas funções, constituindo, assim, divisas inconversíveis, que se situam no piso da hierarquia.

O movimento de fluxos de capitais implicou em pressão muito forte sobre o

mercado de moedas conversíveis, refletindo no surgimento do mercado de

eurodólares (MONTEIRO NETO, 2005,p.25).

Este novo movimento de fluxos de capitais implicou em pressão muito for- te sobre o mercado de moedas conversíveis. A resultante destas pressões foi o surgimento do mercado de eurodólares. Empresas americanas passa-ram a aplicar seus lucros nas filiais de bancos americanos na praça de Lon- dres de maneira a escapar dos controles à saída de capitais da rígida, à época, legislação financeira/bancária americana.

O significativo déficit de conta corrente americano criou um excedente de

dólares incompatível com a quantidade de ouro disponível no Fort Knox, o qual

deveria servir de lastro para o dólar. Diante disso, em agosto de 1971, incapaz de

conter a especulação no mercado cambial, o governo Nixon teria sido obrigado

pelos mercados a abolir o acordo, o qual previa a conversibilidade do dólar em ouro

em face das perdas significativas em ouro.

Salienta-se, ainda, na medida em que o fortalecimento dos países aliados se

consolidava, surgiam questionamentos quanto à liderança dos EUA. A partir de

fevereiro 1965, a França passou a questionar fortemente o papel do dólar como

meio de pagamento internacional, a ponto do então presidente Charles De Gaulle

reclamar do “exorbitant privilège” que os EUA alcançaram no sistema monetário

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internacional. Assim, a França decidiu que não estava mais obrigada a aceitar a

moeda norte-americana e passou a trocar seus dólares excedentes pelo ouro dos

EUA.

Assim, no início dos anos 1970, o governo norte-americano enfrentava o

seguinte problema: precisava recuperar a competitividade de sua economia, mas

não podia desvalorizar o dólar sem quebrar a disciplina da regra de Bretton Woods.

Primeiramente, buscou-se convencer os demais países a valorizarem suas moedas

de forma coordenada; assim, o dólar seria desvalorizado sem que o preço oficial do

ouro em dólar variasse. Os aliados, em especial Alemanha e Japão, não aceitaram e

por outro lado, os EUA impediram uma proposta de reforma monetária que

restringisse o papel do dólar no sistema monetário internacional.

No dia 15 agosto de 1971, diante das pressões protecionistas por parte do

Congresso norte-americano, do declínio relativo da competitividade da economia

americana em face aos déficits comerciais com o Japão e Alemanha o presidente

Nixon optou pela ruptura unilateral da conversibilidade em ouro do dólar. A decisão

unilateral do Nixon em 1971 foi ratificada em 1973 pelas principais potências

capitalistas. Desde então o sistema financeiro internacional passou a conviver com

taxas de câmbio flutuantes, sempre conservando a hegemonia do dólar.

A ruína do sistema monetário de Bretton Woods resultou no incremento da

dinâmica do incremento do crescimento do PIB norte americano em face da

combinação de políticas monetárias e Keynesianas (BRENNER,2003,p. 69 apud

PINTO; BALANCO,2009, p. 71)

Em face disso, tornou-se inevitável a ruína do sistema monetário de Bretton Woods, de relativa rigidez das taxas de câmbio e de taxas de juros fixadas em patamares reduzidos. Tal resultado possibilitou ao governo norte-ame- ricano praticar políticas monetárias expansionistas e Keynesianas de déficits orçamentários “visando, de uma só vez, estimular o crescimento doméstico, desvalorizar o dólar para ajudar na competitividade do setor manufatureiro e depreciar as reservas de dólares mantidas no exterior por governos e indivíduos estrangeiros.

As economias avançadas recorreram aos monumentais déficits

orçamentários, o que resultou na dinâmica do incremento da dívida pública,

refletindo no processo da estagflação (PINTO ; BALANCO,2009, p. 72).

As economias avançadas, sobretudo a dos Estados Unidos,em meados da década de 1970, recorreram uma vez mais, agora excepcional, aos déficits Keynesianos,em larga escala, que geraram intenso crescimento da dívida pública, possibilitando a superação pelo menos da crise do petróleo, por meio do subsídio à demanda. Contudo, o remédio Keynesiano não limpou o caminho para novas expansões, pois perpetuou o excesso de capacidade

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de produção combinada com elevação de preços, gerando estagflação.

O fortalecimento dos Estados Unidos como centro de poder econômico

apesar da crise do dólar foi resultado da política monetarista voltada ao aperto da

base monetária no governo de Carter (PINTO ; BALANCO,2009, p. 72).

A valorização do dólar, em 1979, implementada de forma unilateral pelo governo dos EUA, a denominada política Volcker, teve como objetivo estratégico enquadrar os sócios e os principais competidores econômicos do mundo capitalista. Tal política foi centrada na elevação das taxas de juros dos Estados Unidos que propiciou um direcionamento dos fluxos de capitais da Europa, Japão e, especialmente dos países subdesenvolvidos, no sentido dos Estados Unidos, já que outrora este era o principal exportador de capitais. Esta ação permitiu o equilíbrio da balança de pagamentos, posto que o fluxo de capital oriundo do exterior do exterior mostrou-se suficiente para cobrir os déficits crescentes. Por essa razão, a valorização do dólar em 1979, como um típico ato de força, acabou por repercutir sobre os mais diversos espaços nacionais, atingindo diferentes instâncias de regulação regional. A política Volcker, por exemplo, praticamente decretou o default da maioria dos países latino-americanos na década de 1980.

Salienta-se, ainda, a importância da análise feita por (PINTO ;

BALANCO,2009, p. 74) no que concerne a liquidez financeira no mercado

internacional e as relações entre os países centrais e os países atrasados sobretudo

na forma de aplicações especulativas.

Neste ambiente a continuidade do pagamento do serviço da dívida e, ao mesmo tempo, a remuneração generosa do capital estrangeiro especulativo, deixam os países periféricos numa posição funcional ímpar no escopo da reprodução da crise econômica. Esta funcionalidade os obriga a implementarem políticas de ajuste macroeconômico de forte contensão ao nível interno de atividade. Paralelamente, o crescimento do endividamento interno, mediante a oferta de títulos públicos a juros generosos ao capital financeiro, se transformou em uma componente cotidiana deste processo.

Por outro lado, o avanço da acumulação financeira e as consequências sobre

o nível de atividade econômica mundial (PINTO ; BALANCO,2009, p. 74).

Com o avanço da acumulação financeira, verificou-se desaceleração do nível de atividade da economia mundial, também nos capitalistas avançados, como Japão e União Europeia, que enfrentaram taxas de crescimento reduzidas durante as décadas de 1980 e 1990. A exceção fica com os EUA, particularmente na segunda metade dos anos 1990, em razão de seus ganhos de corretagem sobre o capital financeiro nacional e internacional e das políticas keynesianas parciais configuradas em gastos bélicos. O baixo crescimento da economia mundial, a partir dos anos 1970 até os dias atuais, revela que a predominância das finanças na dinâmica da acumulação vem consubstanciando profundas transformações na natureza dos ciclos econômicos, tornando-os cada vez mais curtos e instáveis e, por conseguinte, gerando constantemente crises econômicas em vários países.

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Em suma, ao longo deste capitulo, avaliou-se a importância da política fiscal

Keynesiana e do Acordo de Bretton Woods como alicerces para a retomada do

crescimento econômico mundial. Por outro lado, a geração de déficits gêmeos de

conta corrente e fiscais dos Estados Unidos resultou no fim do alusivo Acordo,

refletindo na retomada da hegemonia americana em face da utilização da

combinação de políticas de estímulo ao crescimento econômico baseada na

combinação de políticas : monetária, de crédito, de juros e de construção

residencial, resultou na dinâmica explosiva da dívida pública americana, entretanto

foi mantida a sustentabilidade da dívida pública em relação ao PIB.

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III – BRASIL DO FMI AO CAOS Neste tópico será analisada a correlação existente entre o Fundo Monetário

Internacional (FMI) e os efeitos sobre o Brasil na década de 80, pois resultou na

desestruturação do Estado e as suas consequências no que se refere à utilização da

política neoliberal na década de 90.

O Brasil no período de 1974 a 1978 teve um crescimento econômico médio

anual de 6,7% e de 1979-1980 de 8,0%, entretanto as mudanças bruscas das taxas

de juros no mercado americano em face da alusiva política VolKer, resultou que ao

final de 1982 uma dívida externa de US$ 80 bilhões, a qual esta correspondia a 30%

do seu PIB, resultasse que a década de 80 se tornasse como a década perdida no

contexto de um período de recessão, hiperinflação, aumento da pobreza e da

miséria.

A Tabela 1 mostra que a taxa de crescimento do PIB do Brasil era bastante

superior a China e ao crescimento do PIB mundial na décadas de 1960 e 1970, e

que em face da imposição da política imperialista dos Estados Unidos utilizando o

FMI interrompeu a dinâmica de crescimento do PIB do Brasil na década de 80 e que

aliada a política neoliberal implementada nas décadas posteriores reduziram ainda

mais a taxa de incremento do PIB. No que se refere ao período de 2000 a 2008 a

entrada da China na dinâmica de poder resultou no incremento do volume das

exportações aliada a política de valorização do salário mínimo. Ressalta-se,

entretanto que este maior dinamismo no crescimento do PIB foi reflexo

principalmente da valorização do real em face que em 2000 a taxa de câmbio do

dólar era de R$ 3,9 e em 2008 passou para R$ 2,35, sendo esta determinante para

o incremento do PIB medido em valores de dólares.

No tocante ao período de 2000 a 2011, observou-se que o incremento do

PIB do Brasil aumentou consideravelmente em face das combinações da política de

estímulo ao crédito, de investimento do PAC e expansão do crédito em relação ao

PIB e da valorização do real em face que em 2011. Entretanto, o fator decisivo foi a

taxa de câmbio do dólar foi de R$ 1,56, refletindo que a taxa de incremento do PIB

fosse superior a taxa de crescimento do PIB Mundial. Ressalta-se, ainda, que a taxa

de crescimento do PIB do Brasil na década de 90 foi inferior a taxa de crescimento

do PIB mundial.

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Tabela 1 – Taxa de crescimento nominal do PIB Brasil, China e Mundo medido em (US$) – 1960 -

2011

1960 - 1970 1970 - 1980 1980 - 1990 1990-2000 2000 - 2008 2000 - 2011

Taxa de Crescimento do PIB Brasil 179,1% 455,3% 96,6% 39,6% 154,1% 284,2%

Taxa de Crescimento do PIB China 49,1% 107,0% 88,5% 235,8% 277,3% 508,9%

Taxa de Crescimento do PIB Mundial 112,9% 281,6% 99,4% 47,0% 90,5% 117,2%Fonte : Banco Mundial Essa contextualização da análise desses períodos é fundamental para se

evidenciar o baixo dinamismo do crescimento econômico no Brasil observado em

2011 e 2012, pois são reflexos da década de 80 e a implantação da política

neoliberal pós Real.

Ressalta-se a análise sobre a real responsabilidade do governo brasileiro no

contexto da crise da década de 80 (BATISTA,1994,p.12).

Mesmo sem discutir o valor das premissas neoliberais, é correto esquecer a responsabilidade dos fatores externos na profunda crise que passou a varrer a América Latina a partir dos anos 80? Como foi possível às lideranças regionais assumir, sozinhas, o ônus político pela crise? É necessário chegar a esse ponto de submissão intelectual para obter a módica cooperação externa que nos tem sido efetivamente concedida? Em que medida não acabamos por legitimar com essa atitude inutilmente servil um processo em que, numa transfusão de sangue às avessas, acabamos ajudando mais os países ricos do que estes a nós, seja financeira seja comercialmente?

Neste contexto, é analisado o próprio esforço de desenvolvimento da

América Latina na década de 70 (BATISTA,1994,p.12).

Marginalizada nos programas de ajuda externa do tempo da guerra fria - salvo o breve interregno da "Aliança para o Progresso" - e sem grandes perspectivas de expansão de suas exportações em virtude do crescente protecionismo dos países desenvolvidos e da persistência de termos perversos de intercâmbio - sem aid nem trade, para usar o jargão da época, a América Latina se veria compelida a financiar os seus desequilíbrios comerciais e o próprio esforço de desenvolvimento através de apelo, a partir dos anos 70, ao mercado privado de capitais, seja sob a forma de operações de euromoney ou de eurobonds taxas flutuantes de juros.

A necessidade de realizar investimentos estruturantes e aliado a um cenário

positivo de fluxo de capital para a América Latina resultou em um incremento do

endividamento em dólares na década de 70, entretanto a um alto risco em face da

taxa de juros flutuante (BATISTA,1994,p.13).

Como os demais países da região, o Brasil apostou, sem maior reflexão, na solidez da ordem econômica internacional prevalecente, baseada na estabilidade do dólar e das taxas de juros e, para os importadores do produto, no suprimento garantido de petróleo a baixo custo, através das multinacionais que operavam no Oriente Médio sob a proteção política e militar dos Estados Unidos. Apesar das perdas de reservas internacionais

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resultantes da desvalorização da moeda norte-americana e do choque traumático dos novos preços do petróleo sobre nossa balança comercial, a América Latina perseverou na crença de que o sistema econômico internacional em que se achava inserida continuava a oferecer segurança e previsibilidade.

Os reflexos da ruptura do Acordo de Bretton Woods aliado aos interesses dos

Estados Unidos resultaram em uma crise social na América Latina

(BATISTA,1994,p.13)

O cálculo era temerário. Antes mesmo da primeira crise do petróleo, a abrupta decisão norte-americana de desvincular o dólar do ouro e de deixar flutuar sua moeda já denotava a tendência da superpotência responsável pela estabilidade da ordem econômica vigente a tomar decisões unilateralmente, sem levar em conta o impacto internacional de medidas de grande envergadura. Ao derrubar, sem maior cerimônia, uma das colunas básicas do sistema monetário construído em Bretton Woods, os Estados Unidos afirmavam, sem rebuços, a prevalência dos interesses nacionais sobre as responsabilidades mundiais do país. Tendência que se evidenciaria, de modo dramático para a América Latina, com a decisão do Federal Reserve System de elevar espetacularmente as taxas de juros sobre o dólar para combater a inflação nos Estados Unidos. Coincidindo com uma política fiscal frouxa do governo norte-americano, a decisão do FED teve efeito especialmente perverso sobre as taxas internacionais de juros e pegaria desprevenida a América Latina, imprudentemente endividada a taxas de juros flutuantes.

A súbita elevação da taxa de juros americana resultou no incremento do

serviço da dívida externa, refletindo em severas restrições ao crescimento

econômico da América Latina (BATISTA,1994,p.13).

De um golpe, com a súbita elevação das taxas de juros - que mais do que duplicaram em termos reais - os países latino-americanos se veriam na impossibilidade de honrar o serviço de suas dívidas externas, serviço que passou a requerer, em média, a utilização de mais de 80% de suas receitas de exportação. A insolvência dos devedores ameaçava diretamente a dos bancos privados internacionais, aos quais havia sido confiada sem supervisão pelos respectivos governos a missão de reciclar os petrodólares. Os países desenvolvidos emprestadores se haviam deixado levar pela crença no poder de auto-regulação do mercado internacional de moedas, que operava com volumes muito superiores aos fluxos oficiais de crédito, governamentais e multilaterais. O resultado foi um excessivo comprometimento internacional do sistema privado de financiamento, em particular dos bancos norte-americanos, com os países em desenvolvimento. Os grandes money centers dos Estados Unidos chegariam a emprestar, em média, mais de 60% do respectivo capital ao Brasil, não obstante a existência de teto legal naquele país, para cada banco, de 15% por país tomador.

Da extrema tolerância com as imprudentes políticas de empréstimo de seus bancos compatível, porém, com a postura de laissez-faíre em relação ao vertiginoso crescimento do mercado de euroomoney e de eurobonds, as autoridades de supervisão bancária dos Estados Unidos passariam, com a crise da dívida latino-americana, a uma atitude de inflexível cobrança do respeito às normas de regulação da atividade bancária a fim de restabelecer antes de tudo a solvência do sistema. Ainda que isso significasse, como significou, severo ônus para os países devedores.

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A exigência de pagamento de um serviço da dívida monstruoso se evidenciou

na postura rígida do governo americano de não negociar o reescalonamento da

dívida (BATISTA,1994,p.14).

Função em grande parte dessa rígida postura governamental norte-americana, a estratégia inicial de tratamento da dívida cogitou, fundamentalmente, de reescalonar o principal pelos mesmos prazos, sempre com juros flutuantes mas com spreads mais elevados. Como "dinheiro novo", unicamente “empréstimos-ponte" necessários para impedir a insolvência dos bancos credores. O pagamento integral dos juros seria viabilizado pela contração das importações dos devedores, mediante a redução de demanda inerente aos programas de ajuste recessivo recomendados e supervisionados pelo FMI e de medidas diretas de controle das importações. Não se considerou, como seria mais conveniente para os próprios credores uma estratégia de aumento das exportações dos devedores, mediante acordos de estabilização dos preços de produtos primários e/ou uma maior abertura dos mercados dos credores às manufaturas dos devedores. Ou, no campo financeiro, uma consolidação da dívida que incorporasse reduções do estoque e amortização em prazos muito mais longos, com grandes períodos de carência e juros fixos.

O FMI exigiu um pagamento do serviço da dívida, o qual não levou em

consideração a real dimensão da capacidade de pagamento, resultando na redução

do grau de abertura da economia brasileira em face do reescalonamento de uma

dívida contraída em reflexo da inserção internacional, bem como na perda da

formulação e execução da política macroeconômica (BATISTA,1994,p.14).

Ao ser instrumentada sob a supervisão do FMI, a estratégia da dívida desejada pelos credores permitiria que o organismo encontrasse uma nova missão, recuperando uma parcela do prestígio que havia perdido, primeiro, em consequência da modéstia de seus recursos em face do crescimento do comércio internacional e do surgimento do mercado de euromoeda; em seguida, principalmente, pelo colapso do regime de paridades fixas de câmbio. Dessa estratégia inicial, resultaria um sensível fechamento dos mercados latino-americanos, fazendo, no caso brasileiro, que juntamente com o aumento da produção nacional de petróleo, o grau de abertura da economia brasileira passasse de 10% a 5% do PIB. Tal fechamento seria, mais tarde, estranhamente atribuído, de forma crítica, a propósitos autárquicos e de estatização da economia brasileira, como se aquele fechamento não fosse produto dos esquemas de reescalonamento de uma dívida contraída em função da inserção internacional que o país havia aceito. Crítica que, além disso, não levava em conta que o grau de abertura de uma economia se deve calcular também em função da importância do investimento direto estrangeiro, o qual atinge no Brasil 8,9% do PIB. Essa proporção é muito superior aos 5,2% verificados na Coréia do Sul e aos 2,3% em Taiwan, países constantemente louvados, no entanto, por sua abertura ao exterior. Dentro dessa estratégia de refinanciamento da dívida, os países latino-americanos, Brasil inclusive, perderiam considerável parcela de sua autonomia de decisão na formulação e execução da política macroeconômica. Esta passaria a ser concebida a partir da disponibilidade de recursos proporcionados pela renegociação dos débitos externos e não o inverso, como seria o correto. Repetir-se-ia, assim, a dramática experiência do início dos anos 20, quando a cobrança das dívidas interaliadas e das reparações de guerra se tornou inviável por não levar em conta, como

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propusera avisadamente Keynes, a "capacidade de pagamento" dos devedores.

A gravidade do problema do Brasil no que se refere à manutenção do

crescimento da economia em face da necessidade de gerar dólares para o

financiamento da dívida (FASSY,1984,p.24)

Para um país, que para manter o crescimento de sua economia a níveis mínimos, não há sobra de dólares na balança comercial, fica a necessi-dade atual de se obter cerca de 20 bilhões de dólares anualmente , junto a comunidade financeira internacional.

Por outro lado, analisa alguns fatores estruturais na geração de crescimento

econômico na década de 80 (FASSY,1984,p.24 - 25).

Na verdade, as commodities que o Brasil exporta, estão atreladas no me-canismo de monopólio das transnacionais que operam no comércio destes produtos, quando os preços reais a longo prazo tendem sempre a uma deterioração. É o caso típico do café, do açúcar, do cacau e do minério do ferro. Quanto à exportação de produtos manufaturados, o grosso das vendas são realizadas por multinacionais já superadas tecnologicamente no mercado internacional. E somente sobrevivem no Brasil por dois motivos; as vendas marginais do país no comércio internacional (1% de todo o comércio mundi- al) e os subsídios dados pelo governo brasileiro, através de créditos, prê- mios, juros subsidiados, Befiex,Concex etc... Por outro lado, para se manter o processo de urbanização atual, grande consumidor de petróleo e um sofisticado fornecimento de produtos agríco- las, que consomem toneladas de fertilizantes do exterior, é impossível re- duzir as importações. Além do mais, por estar ainda em estágio de tecnolo- gia comparável ao Japão do início da década de 50, o Brasil é grande im- portador de bens de capital e patentes que consomem cerca de dois a três bilhões de dólares anualmente. [...] Qualquer reativação da economia brasileira, iria exigir acréscimos de acréscimos de importações de pelo menos 5 bilhões de dólares, no primei- ro. Isto porque, o processo de substituição de importação já chegou ao seu limite. Assim, as importações brasileiras, exclusive petróleo, representam apenas 4% do Produto Interno Bruto. Já o petróleo vem pesando entre 30 a 50% das importações globais, desde 1974.

Além disso, analisa a dificuldade das exportações em face da redução do

crescimento econômico mundial em face do colapso do sistema de liquidez

internacional (FASSY,1984,p.25).

Assim, os países em desenvolvimento já devem 500 bilhões de dólares junto à comunidade financeira internacional, sendo que o Brasil, sozinho deve 16% deste total. Nesse contexto, o comércio internacional tende a reduzir o seu ritmo de crescimento, mormente quando o sistema de liquidez internacional começa a entrar em um colapso de grandes proporções e de efeitos ainda imprevisíveis para a economia internacional, a curto e médio prazos.

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27

Não é por outra razão que o acréscimo das exportações brasileiras poderia ser

de 10% através do mecanismo de desvalorização do cruzeiro em relação ao valor do

dólar, resultando em efeitos inflacionários a curto prazo (FASSY,1984,p.25).

É de grande importância a análise feita por (FASSY,1984,p.28) no que

concernem as causas fundamentais para que as transnacionais comecem a ter

superávits na balança comercial, são de quatro magnitudes :

1) o enfraquecimento da demanda interna a partir de 1974; 2) a manutenção de um importante esquema de promoção das exportações 3) os efeitos do programa de substituição de importações implementadas com o 2º Plano Nacional de Desenvolvimento; e 4) a política restritiva do governo, objetivando corrigir os desequilíbrios da balança de pagamentos.

Além disso, se evidenciam as pressões da Volkswagen do Brasil e da Ford

em relação ao governo brasileiro no que se refere à necessidade da concessão de

subsídios e os efeitos nas finanças públicas com a extensão do referido benefício a

outros setores em dificuldades no mercado interno (FASSY,1984,p.29).

Todavia, tais políticas geram acréscimos de subsídios, que pressionam o acréscimo de déficit público e o inchamento da dívida interna. Na primeira hipótese a consequência é de pressão inflacionária e no segundo caso, a elevação da taxa de juros, já que o Governo absorve maior volume de poupança disponível no mercado de capitais.

O efeito da magnitude do incremento da dívida externa do Brasil em face que

em 1973 correspondia a 12,5 bilhões de dólares em 1973 e fechará em 1982 em

87 bilhões de dólares. Outra importante análise realizada é a correlação existente

entre a geração de superávit e o efeito sobre o produto (FASSY,1984,p.33).

Para um superávit de apenas 1,2 bilhões de dólares em 1981, a nação reduziu o seu produto em 12,5 bilhões de dólares, e se houver o superávit estimado de 500 milhões de dólares em 1982, o produto vai cair em cerca de mais 4 a 5 bilhões de dólares. É evidente que o coeficiente de importação é muito rígido no Brasil totali- zando algo em torno de 8 por cento do produto. Portanto, caso o Brasil queira este fabuloso superávit de 6 bilhões, o produ- to teria que reduzir 300 bilhões para algo em torno de 260 bilhões de dóla- res, ou uma recessão na faixa de 10 a 15 por cento do PIB.

Salienta-se, ainda, uso das estatais para controlar a inflação em face da

pressão da desvalorização cambial ou de beneficiar certos setores da economia.

Além disso, os congelamentos de preços foram os principais responsáveis por

prejuízos ou baixos lucros apresentados por algumas estatais, que passaram a

acumular dívidas ao longo dos anos.

Assim, basicamente a política subordinada ao FMI resultou nas pressões

inflacionárias generalizadas e persistentes; o desemprego generalizado de fatores,

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28

particularmente da mão-de-obra, a qual assumiu formas crônicas; o desequilíbrio

das finanças públicas ; a perda da capacidade de realização de investimentos

estruturantes. Além disso, o Brasil aumentou sua vulnerabilidade em relação às

contas externas em face do vazamento de renda reflexo do significativo serviço da

dívida de 1980 a 1993 impactando assim na taxa de crescimento da economia.

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29

IV – O CONSENSO DE WASHINGTON E OS FUNDAMENTOS DA

POLÍTICA NEOLIBERAL

A crise da dívida externa na década de 1980 e o incremento das

dificuldades nas finanças públicas do Estado brasileiro aliada a deterioração das

estruturas estatais e sucateamento das mesmas, resultaram na desestruturação das

cadeias industriais (estatais e privadas), bem como na desintegração social e

econômica em face de uma década de estagflação. Assim, o Consenso de

Washington e os fundamentos da política neoliberal2 possibilitaria o ingresso do país

a modernização e ao crescimento econômico ?

As propostas do Consenso de Washington se convergiram para a drástica

redução do Estado e ao máximo de abertura à importação de bens e serviços

(BATISTA,1994,p.18)

As propostas do Consenso de Washington nas 10 áreas a que se dedicou convergem para dois objetivos básicos: por um lado, a drástica redução do Estado e a corrosão do conceito de Nação; por outro, o máximo de abertura à importação de bens e serviços e à entrada de capitais de risco. Tudo em nome de um grande princípio: o da soberania absoluta do mercado autore- gulável nas relações econômicas tanto internas quanto externas.

De 1980 a 1989, o alto serviço da dívida imposto (FMI), possibilitou a

reintegração do Brasil a economia internacional em face da exportação de

mercadorias. Após o Plano Brady o país ingressou definitivamente em uma

estratégia de abertura econômica e de reintegração passiva à economia capitalista

mundial (WILLIAMSON, 1990; 1992; 1994 apud GOMES,2007,p.37)

Durante a década de 1980, o país somente pôde se reintegrar à economia internacional mediante a exportação de mercadorias que se fazia necessária para o pagamento desses encargos financeiros. Após o Plano Brady3, de 1989, e a formulação daquilo que ficou conhecido como o “pacote de reformas do Consenso de Washington”, o país ingressou, definitivamente, em uma estratégia mais sistemática de abertura econômica (comercial e financeira) e de reintegração passiva à economia capitalista mundial.

2 A avaliação objeto do Consenso de Washington abrangeu 10 áreas: 1. disciplina fiscal; 2.

priorização dos gastos públicos; 3. reforma tributária; 4. liberalização financeira; 5. regime cambial; 6. liberalização comercial; 7. investimento direto estrangeiro; 8. privatização; 9. desregulação; e 10. propriedade intelectual. 3 Este plano leva o nome do então Secretário do Tesouro dos Estados Unidos, Nicholas F. Brady, que pretendia renovar a dívida externa de países em desenvolvimento, mediante a troca por bônus novos. Estes bônus contemplavam o abatimento do encargo da dívida, através da redução do seu principal ou pelo alívio nos juros. Além de emitir os bônus, os países deveriam promover reformas liberais em seus mercados.

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A inserção do Brasil na chamada globalização representou o ingresso em

uma nova etapa da história de expansão da economia capitalista que, a partir de

seus centros de poder mundial (GOMES,2007,p.38).

O contexto internacional, nas décadas de 1980 e 1990, entretanto, era bem bem diferente dos anteriores e a economia capitalista mundial exigia, dos mercados periféricos, medidas liberalizantes, sob a influência das altas finanças consorciadas com as políticas de Estado, principalmente, o norte-americano. Logo, a inserção, na chamada globalização representou, antes de tudo, o ingresso em uma nova etapa da história de expansão da economia capitalista que, a partir de seus centros de poder mundial, foram constituindo novas relações de poder.

Neste contexto as novas relações econômicas internacionais estabelecidas,

através dos organismos internacionais – FMI, Banco Mundial e Organização

Mundial do Comércio (OMC) – passaram a pressionar, com muito mais intensidade,

a periferia para que fossem adotadas estratégias alinhadas ao pensamento de

Washington (GOMES,2007,p.38).

Com as novas relações econômicas internacionais estabelecidas, os orga- nismos internacionais – FMI, Banco Mundial e Organização Mundial do Co- mércio (OMC) – passaram a pressionar, com muito mais intensidade, a periferia para que fossem adotadas estratégias alinhadas ao pensamento de Washington, que priorizava uma maior abertura econômica, desregulamentações dos mercados e mudanças nos eixos de funcionamento das estruturas estatais. A renegociação da dívida externa dos países periféricos serviu de instrumento de pressão para a adoção do novo modelo de integração internacional à ordem neoliberal e às estratégias de reformas nacionais.

A dívida do ‘Terceiro Mundo’ foi uma alavanca poderosa que permitiu impor

políticas enérgicas de ajuste estrutural, austeridade fiscal, liberalização e

privatização” (CHESNAIS, 2005, p. 67 apud GOMES, 2007, p.38).

A adoção irrestrita do Consenso de Washington representou o fim da

estratégia de desenvolvimento e soberania na administração das políticas

econômicas (CANO, 2000 apud GOMES, 2007, p.39).

A adoção irrestrita das políticas neoliberais na América Latina anunciou o fim das experiências de desenvolvimento econômico e a perda considerável de graus de soberania no manejo das políticas econômicas e de autonomia dos principais centros decisórios desses países.

Como vem apontando Santos (1998; SANTOS ET AL., 2001; 2004a; 2004b

apud GOMES, 2007, p.39 ), o que ficou conhecido como “crise fiscal” não passou de

um artifício para que o Brasil se inserisse em uma estratégia passiva no contexto

mundial.

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o que ficou conhecido como “crise fiscal” não passou de um artifício ideoló- gico para legitimar o processo de reestruturação das atividades e funções públicas e estabelecer um novo padrão de intervenção estatal, adequado e capaz de estabelecer as bases e condições da abertura econômica e da integração às correntes do processo de acumulação, em escala internacional.

Assim, o Consenso de Washington representou uma ideologia da

globalização capitalista baseada em um conjunto de políticas que viabilizaram a

reintegração da região no processo de acumulação de capital conduzido pelas altas

finanças, nacional e internacional (GOMES, 2007,213).

As políticas neoliberais vão representar, justamente, as condições normati- vas e o novo conjunto de regras e procedimentos que garantiriam o sucesso de reintegração da periferia no processo de expansão do sistema capitalista em escala global, na transição dos séculos XX para o XXI. O Consenso de Washington representou tanto uma ideologia da globalização capitalista neoliberal para a América Latina, como um conjunto de políticas que viabilizaram a reintegração da região no processo de acumulação de capital conduzido pelas altas finanças, nacional e internacional.

Neste contexto, é que se configurou a armadilha do Plano Real, pois este foi

baseado não só em um nível baixo de carga tributária em percentual do PIB, bem

como neste período já se evidenciava uma alta vinculação da receita a despesa, a

qual não possibilitava uma gestão fiscal eficiente tanto no que se refere à geração

de superávit primário para manter a sustentabilidade da dívida pública como também

a atuação do Estado como ente dinamizador do crescimento econômico no que se

refere à realização de investimentos estruturantes como : educação e infra-estrutura.

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V - DO PLANO REAL A CRISE DE 1998

O Plano Real apoiou-se numa política de estabilização monetária

fundamentada na sobrevalorização da nova moeda criada (o Real) e na abertura

comercial e financeira da economia brasileira e sob duas âncoras a monetária e a

cambial, entretanto sem um alicerce fiscal. O impacto sobre as taxas de inflação foi

de imediato em face que estas reduziram sistematicamente durante os quatro anos

do primeiro governo FHC - considerando o IGP, IGP-DI, IPC-A (Tabela I).

A estabilidade dos preços propiciou um circulo virtuoso e crescimento do

consumo, da produção e emprego (FILGUEIRAS ; PINTO 2009, p.254).

A estabilidade dos preços no seu período inicial – notadamente de julho de 1994 a março de 1995 – propiciou um círculo virtuoso de aumento do con- sumo e crescimento da produção e do emprego, impulsionado pelo fim do imposto inflacionário e ampliação do crédito.

Salienta-se que, a partir de 1979, o Brasil teve uma significativa necessidade

de gerar superávits comerciais, e, portanto se utilizando de políticas altamente

contracionistas baseada na política fiscal e monetária no sentido de enfraquecimento

da demanda interna. Portando, o consumidor brasileiro caiu na armadilha do

consumo através do real valorizado no que se refere atingir dois objetivos : prender

o consumidor no sonho do consumo de artigos importados e nas viagens

internacionais. No que tange àquele se refletiu na perda de competitividade das

empresas brasileiras e o reflexo foi gigantescos déficits comercias e estes foram

financiados através do capital especulativo.

Além disso, segundo a análise feita por Gomes (2009, p. 206) o cenário

financeiro internacional estava bastante favorável no período de lançamento da

nova política econômica.

Principalmente por causa da desaceleração do ritmo do crescimento eco- nômico dos países desenvolvidos, a economia internacional passou a a- presentar novamente graus de liquidez. O Brasil, nesse contexto, soube aproveitar largamente a possibilidade de atrair capitais estrangeiros tanto para investimentos produtivos quanto financeiro.

Conforme (BELLUZO & ALMEIDA,2002, p.373 apud GOMES,2009,p.207),

não obstante a preocupação com a estabilidade monetária, havia uma concepção

muito audaciosa embutida nas estratégias do Plano Real,

Os pressupostos neoliberais tinham como objetivo uma estratégia de

inserção passiva na dinâmica mundial ( SALLUN JR, 2000, p.144 GOMES,2009, p.

207).

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Nesse sentido, os pressupostos neoliberais partiam da premissa de que os países que realizassem uma liberalização financeira de seus respectivos mercados, aumentando o grau de exposição às finanças internacionais (liberalização financeira) por meio da abertura da conta de capital, alcançariam melhores condições de financiamento para modernização da capacidade produtiva. Segundo esses pressupostos, como os países da periferia apresentam uma relativa escassez de capital, por isso apresentando condições de financiamento menos favoráveis, a liberalização permitiria ampliar o mercado de capitais e créditos, elevando a concorrência. Com isso os agentes econômicos teriam possibilidades mais abrangentes de alocar capital e em situações menos dispendiosas devido às taxas de juros mais baixas.

Essa estratégia foi útil para condicionar o grau de abertura econômica do país

e financiar a política de estabilização econômica e com impactos significativos nos

atuais resultados pífios de crescimento econômico obtido pelo Brasil de 2002 a

2011. Assim, o reflexo desta estratégia se reflete no atual volume de importação

no segmento de industrialização, a dinâmica da dívida pública bruta no que se

refere à elevada proporção em relação ao PIB, mesmo com a manutenção da

elevada geração de resultados primários (ver tópico IX).

A avaliação feita por (CARVALHO, 2004 apud GOMES,2009,p.218) centra a

deterioração exclusivamente nas contas públicas da União antes do Plano Real.

Entre 1991 e 1993, a necessidade de financiamento do setor público, exigia superávits na ordem de 2% a 5%. O equilíbrio fiscal e as condições mais favoráveis da relação dívida/ PIB, estabeleceram a redução das despesas com juros, dando lugar a déficits operacionais próximos de zero.

Observando o Plano Real quando da sua implantação não teve um alicerce

fiscal, portanto evidencia-se logo a sua fragilidade não só diante dos problemas

surgidos nas contas externas do país como também nas finanças públicas da

União e dos Estados.

A análise da deterioração do setor público consolidado de 1995 a 1998

(GIAMBIAGI, 2001, p. 161) .

A despesa de juros reais do setor público como um todo foi de 5,3%; 3,7%; 3,4% e 7,4% do PIB em 1995,1996,1997 e 1998, respectivamente. A dife- rença com relação ao resultado nominal foi portanto de 2,2%;2,1%;1,7% e 0,2% do PIB nos mesmos anos. Essa diferença é resultante da inflação e do tamanho da dívida. Como aquela foi cadente, mas a dívida subiu, a dis- tância entre os juros nominais e reais até 1997, não caiu muito. Em 1998, porém, com uma inflação de “primeiro mundo”, essa diferença foi muito pouco significativa.

O desequilíbrio gerado por estados e municípios no período de 1994 a 1998

(GIAMBIAGI, 2001, p.161).

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Quando se comparam os resultados médios de 1991/1994 e de 1995/1998, nota-se que o superávit primário do setor público consolidado de 2,9% do primeiro período converteu-se em um déficit de 0,2% do PIB nos quatro anos seguintes. [....] se observa a “fotografia” do déficit público a cada ano, o desequilíbrio de Estados e municípios foi, durante, a maior parte do período 1994/1998, o responsável pelo pior resultado primário no conjunto das três unidades de governo consideradas – governo central; estados e municípios e empresas estatais. Entretanto, quando se analisa a tendência verificada ao longo do período, cabe chamar a atenção para a nítida deterioração da performance das contas do governo central.

Nesse contexto, não menos importante é avaliação no que tange ao

alinhamento que o Brasil fez ao chamado Consenso de Washington com suas

políticas de cunho neoliberal de austeridade fiscal, privatização e liberalização

econômica como proposta de modernização da periferia (STIGLITZ, 2002,2003;

SALLUN JR,2000 apud GOMES, 2009, p.207).

Além disso, é fundamental a avaliação feita no que se refere à política

monetária aplicada pelo Banco Central no período não só em face da

sustentabilidade da dívida pública como principalmente a exposição de alto risco do

setor privado quanto a captação de empréstimos no exterior no regime de cambio

fixo (GOMES, 2009, p.212).

O diferencial da taxa de juros interna que se situou praticamente acima dos 20% em média ao ano durante todo o Plano Real, permitiu que as grandes empresas e bancos fossem forçados a captar empréstimos no exterior, au- mentando a exposição financeira desses agentes econômicos com o endivi- damento em moedas estrangeiras.

A avaliação da sustentabilidade da dívida pública tão preconizada pelo FMI

era impossível, no período de 1994 a 1998, em um cenário de política monetária

baseada em alta taxa de juros reais em face que como o superávit primário como

proporção do PIB, requerido para estabilizar a relação dívida/PIB, é uma função

direta da própria relação dívida/PIB e da taxa de juros e uma função inversa do

crescimento real da economia – para uma certa taxa de inflação e da senhoriagem.

h= d.[(1-y)/(1+y)- s sendo :

h = superávit primário (% do PIB) ; d = relação dívida / PIB ;

i = taxa de juros nominal y= crescimento real da economia ;

s = senhoriagem

Neste contexto, conforme já foi salientada a manutenção da alusiva taxa de

juros reais aplicada em níveis significativamente alto durante o período para atrair o

capital externo combinado a uma baixa taxa de crescimento econômico e que aliada

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a impossibilidade do governo de se financiar via senhoriagem (emissão de moeda)

resultou na trajetória da insustentabilidade da dívida pública. Além disso, apesar de

ter ocorrido um incremento da carga tributária esta foi demasiadamente inferior a

real necessidade para gerar o superávit primário em % do PIB em face da gestão da

política econômica conduzida no período na era Malan no sentido de manter a

sustentabilidade da dívida pública conforme os preceitos do FMI.

Para corroborar esta análise evidencia-se o significativo crescimento da

arrecadação tributária de 1999 em relação as receitas de 1991-1993 (CARVALHO,

2004 apud GOMES, 2009,p.219)

“Pelo lado da arrecadação tributária, além do aumento dos impostos, houve elevação muito maior das contribuições (Cofins, PIS/Pasep) que passaram de 30% das receitas entre 1991-1993, em média, para 43% em 1999.”

“Apesar do crescimento da carga tributária e da eficiência em alcançar as

metas de superávits primários, aliado aos cortes de despesas correntes e

investimentos, a dívida pública, como vimos não cessou de crescer” (GOMES, 2009,

p.219).

Diversos fatores contribuíram para a dinâmica do crescimento da dívida

pública é avaliada por (CARVALHO, 2004 apud GOMES, 2009, p.219).

[....] resume em quatro fatores a explicação desse problema i) juros altos; a política de esterilização4 do efeito monetário da acumulação de reservas externas externas; iii) o socorro aos agentes econômicos em crise, especi- almente o sistema financeiro; e iv) o reconhecimento das dívidas passa- sadas.

A combinação não só de geração de déficits gêmeos, bem como a tendência

ao incremento da deterioração das contas públicas em face da política de taxa de

juros real Selic que alcançou seu maior índice em novembro de 1998, entretanto não

se evidenciou maiores efeitos sobre à sustentação da política cambial, ao contrário

se observou uma massiva fuga de capitais nesse período, a qual reduziu o estoque

de reservas cambiais tornando insustentável o equilíbrio do balanço de pagamentos.

A gestão da política econômica durante o período baseada na dinâmica das

taxas de juros aliada a estratégia conservadora de restrição da base monetária e

dos meios de pagamento foram determinantes para o incremento do estoque da

dívida, resultando em um significativo volume de recursos públicos, os quais foram

4 A entrada de oferta de divisas estrangeiras força o Banco Central a emitir reais, mas o Banco Central para evitar o aumento da inflação realiza operações de open market.

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despendidos para atender a elite financeira nacional (CARVALHO, 2004 apud

GOMES, 2009, p.219).

Carvalho (2004) afirma existir uma certa dificuldade para se ponderar a influência desses fatores sobre o aumento da dívida pública. Entretanto, por hipótese, se levarmos em consideração a gestão da política econômica durante o período, podemos constatar que a dinâmica das taxas de juros e a estratégia conservadora de restringir a base monetária e os meios de pagamento estão entre os fatores que mais influenciaram no aumento do estoque da dívida do setor público. [...] Não se deve, entretanto, minimizar a importância do volume de recursos públicos que foram despendidos para atender a elite financeira nacional (Proer), bem como a absorção das chamadas “moedas podres” no processo de privatizações.

Ressalta-se que também neste período houve mudança na política cambial,

sendo que a política de “bandas cambiais” substituída pelo regime de livre flutuação,

removendo assim a principal âncora de preços vigente desde julho de 1994. Esta

mudança acentuou a responsabilidade da política fiscal – articulada com o regime de

metas inflacionárias no âmbito da política monetária – para a manutenção do

equilíbrio macroeconômico. Observa-se que em regimes de câmbio fixo, os impactos

são agravados pela ausência de mecanismos de ajustes automáticos na taxa de

câmbio, então, em face de ataques especulativos, há perdas imediatas de reservas

para se defender da cotação da moeda.

Neste contexto, as reservas brasileiras foram saqueadas em face da

desvalorização cambial ocorrida em 1999, refletindo na evasão de divisas

contribuindo para aumentar a vulnerabilidade externa do País (CHOSSUDOVSKY,

1999,pp. 299 – 300 apud GOMES,2009,p.214).

Observa-se que a política neoliberal do Consenso de Washington foi aplicada

integralmente sem um dos seus alicerces (a disciplina fiscal) em um país em

desenvolvimento e que, portanto combinada a outro fundamento desta alusiva

política no que se refere à política de privatização teve um efeito reduzido de 8,1%

do PIB no que se refere à redução da dívida pública em face da política monetária

altamente contracionista baseada em alta taxa de juros reais, a qual resultou em

uma trajetória explosiva da dívida pública. Segundo as informações do Secretario de

Tesouro Nacional, Fábio de Oliveira Barbosa, em apresentação a Comissão Mista

de Planos, Orçamentos Públicos e Fiscalização do Congresso Nacional em

17/04/2001 a relação dívida líquida do setor público sem a privatização seria de

57,6% do PIB em 2000 e com a privatização foi de 49,5%. Assim, o processo

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acelerado de privatização não contribuiu significativamente para redução da relação

dívida líquida em face da política monetária conduzida na época.

Para corroborar que o processo de privatização acelerado de 1997 a 1999

não contribuiu para reduzir o estoque da dívida pública (BELLUZO & ALMEIDA,

2002, p.391 ; GOMES,2009, p. 214).

As receitas das vendas entre 1997 e 1998 alcançaram cerca de 3% do PIB. As privatizações não teriam alcançado tal envergadura se por trás não houvesse a estratégia central de atrair capitais externos para auxiliar no ajustamento do balanço de pagamentos. Até o início da década de 1990 era insignificante a presença dos investimentos externos diretos na economia brasileira. De pouco mais de US$ 400 milhões em 1990, esses investimentos alcançaram as cifras estratosféricas de US$ 30 bilhões em 1999 (Gráfico 6.3). De acordo com Belluzo & Almeida (2002,p.391) “ esses números contrastam com os resultados da dívida pública e do desequilíbrio fiscal, que prosseguiram como se uma privatização de tal envergadura não tivesse em curso.

Salienta-se ,ainda, que o montante significativo de US$ 120,2 bilhões de 1997

a 2001 em investimentos diretos parte destes capitais foram destinados a aquisição

de ativos preexistentes (GONÇALVES, 1999 ; SANTOS, 2002 apud Gomes, 2009,p.

215).

É importante destacar que parte desses capitais foi destinada a aquisição de ativos preexistentes, como empresas estatais e privadas, provocando o processo de desnacionalização profunda da estrutura produtiva. Grande parte desses investimentos estrangeiros teve pouca repercussão sobre o aumento na formação bruta de capital. É mais correto afirmar, portanto, que foram responsáveis pelo financiamento das fusões e aquisições entre empresas, principalmente através da transferência de patrimônio estatal para o setor privado nonopolista.

Assim, segundo Gomes (2009,p. 216) avaliou que a privatização seria um dos

fatores estruturais para os resultados pífios de crescimento no longo prazo.

No longo prazo, a consequência do processo de abertura econômica e da privatização poderá vir sob a forma de maiores pressões sobre o balanço de de pagamentos, tornando ainda mais estrutural o problema dos saldos ne- gativos na conta de serviços. A evolução da remessa de lucros e dividendos entre 1992 e 2003 é considerável. Elas passam de US$ 574 milhões para US$ 7 bilhões em 1998. Mesmo caindo nos anos posteriores para uma média de US$ 4,5 bilhões, em 2003 voltou a subir alcançando US$ 5 bilhões. O fato é que muitas dessas empresas estrangeiras que remetem lucros e dividendos não produzem mercadorias exportáveis. A maioria está concen- trada nos setores de serviços de bens não-tradeables. Como não produ- zem bens exportáveis, então não têm como garantirem a remessa de lucros para o exterior. Ademais vários setores onde ocorreram as privatizações, fusões e aquisições, como o aumento da participação de grupos estrangei ros, apresentam a peculiaridade de serem intensivos no uso de tecnologi- as avançadas, geralmente importadas (e.g, telecomunicações, setor finan- ceiro), com isso contribuindo para uma certa rigidez do volume de importações.

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Salienta-se acrescentar o reduzido volume de investimentos em ampliação

em infraestrutura do setor telecomunicações do período da privatização até 2012

reflete na baixa qualidade na prestação de serviços contribuindo para o alto custo

Brasil em face da deficiência tecnológica no que se refere a atual capacidade da

rede de Internet em 2012

A conta de capital (empréstimos, financiamentos e investimentos externos

diretos) financiando o desequilíbrio externo, era necessária, conforme já salientado

anteriormente e o governo utilizou a esterilização para absorver o excedente de

dólares que entrava no país no sentido de evitar a expansão de liquidez interna e,

portanto, não provocar a inflação.

A esterilização do aumento da liquidez resultou na trajetória explosiva da

dívida interna no sentido de absorver a entrada de capitais externos, sobretudo o

volátil. Assim, em um cenário de combinação de uma política monetária baseada em

alta taxa de juros reais tornou difícil a manutenção do regime em câmbio fixo e

aliada ainda fluxos livres de capital conforme análise de Mankiv (2004, p.264) sobre

a trindade impossível, a qual foi administrada pelo Banco Central a serviço da

política neoliberal fundamentada pelo Consenso de Washington “[.....] é impossível

para uma nação ter fluxos livres de capital, uma taxa de câmbio fixa e política

monetária independente”.

Assim, a política neoliberal implantada pelo FHC sob o regime de trindade

impossível resultou em uma geração de déficits gêmeos e que aliada a referida

política monetária conduziu a uma trajetória de dívida explosiva e principalmente a

necessidade de recorrer ao FMI e a sua ortodoxia sob o regime do tripé (metas de

inflação, geração de superávits primários e câmbio flutuante), a qual nos mantém

refém dos capitalistas rentistas nacionais e internacionais), sendo hoje um dos

fatores estruturais para os resultados pífios do crescimento no que tange ao período

de 1998 a 2011.

Em resumo (TORRES, 2010;p.25) analisa que, no período de 1994 a 1998, a

gestão da política neoliberal nos conduziu a um financiamento configurado como

devedor Ponzi conforme se evidencia na insustentabilidade do déficit de conta

corrente e na geração de déficits comerciais (Gráfico 1), ou seja, segundo o

economista Mario Henrique Simonsen “se a inflação aleija o cambio mata”.

O Plano Real teve como instrumentos a âncora cambial e a política extre- mamente restritiva do Banco Central, por conseguinte a combinação de

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ambas foi determinante para o aumento dos déficits em conta corrente de- corrente da perda de competitividade das exportações. Além do mais, a geração de resultados primários deficitários concomitantemente a política monetária altamente restritiva do Banco Central em face à necessidade de atrair os dólares para financiar os altos e crescentes déficits de conta cor- rente refletiram em resultados nominais deficitários do setor público con- solidado.

Gráfico I - Balanço em Conta Corrente – 1994 – 1998 (US$ bilhões)

Fonte: Banco Central Obs: SRT – Serviços,rendas e transferências unilaterais Salienta-se que apesar de ter sido evidenciado aumento da carga tributária

em percentual do PIB de 1994 a 1998, entretanto esta foi muito inferior no que se

refere à manutenção da sustentabilidade da dívida pública. Assim, se evidencia que

este incremento da carga tributária não ocorreu para não comprometer os objetivos

do FMI no tocante á implementação do atual modelo de dependência e submissão e

do FHC no que se refere ao seu projeto de reeleição.

Ressalta-se que a amortização integral dos empréstimos ao FMI no primeiro

governo Lula foi reflexo da entrada da China na dinâmica do poder, a qual

possibilitou altos superávits comerciais e, portanto, elevado volume de reservas

cambiais, entretanto foi mantida a alusiva dependência e submissão continua, pois a

gestão da política macroeconômica continua sendo fundamentada sob o regime de

metas de inflação, política de câmbio flutuante e geração de superávit primário sob

regime de livre entrada e saída de capital.

19 94 19 95 1 99 6 1 99 7 19 98

Resultado C.C -1 ,8 -1 8,4 -23 ,5 -30 ,5 -3 3 ,4

Balança Come rc ial 10 ,5 -3 ,5 -5,6 -6,8 -6 ,6

SRT -1 2,3 -1 4,9 -17 ,9 -23 ,7 -2 6 ,8

-4 0-3 5-3 0-2 5-2 0-1 5-1 0

-505

1 01 5

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VI – DO FMI A ELEIÇÃO DE LULA

A alusiva geração de déficits gêmeos aliada a uma trajetória de

insustentabilidade da dívida resultou em um ataque especulativo contra o Real em

1998,o qual determinou que o Banco Central aumentasse a taxa Selic de 34,2%

(set/1998) para 41,58% (out/1998), entretanto insuficiente para manter a disposição

do resto mundo a financiar um país em desenvolvimento, ou melhor, a pilhagem de

toneladas de ouro, a qual foi feita no período da colonização agora o saque foi

feito através de bilhões de dólares e determinando a necessidade de uma ajuda do

FMI, somando US$ 42 bilhões de dólares, a qual também foi insuficiente para

manter a trajetória de redução da taxa Selic.

Salienta-se destacar que esse primeiro acordo contemplava um importante

ajuste fiscal, com superávit primário passando de 0,0% do PIB em 1998 para 2,6%

do PIB em 1999, e 2,8% e 3,0% do PIB em 2000 e 2001, respectivamente. É

importante registrar que o acordo não contemplava mudanças na política cambial, a

qual seria mantida inalterada.

Destaca-se a avaliação feita pelo mercado no que se refere ao programa

fiscal em face que era insustentável para evitar a desvalorização (GIAMBIAGGI

2005,p.177)

O acordo, porém, enfrentou dois obstáculos que se revelaram insuperáveis. O primeiro foi o ceticismo em que foi recebido pelo mercado, pouco disposto a essa altura a considerar que o Brasil poderia escapar de uma desvalori- zação. E o segundo foi a refeição, pelo Congresso, de uma das mais impor- tantes medidas do programa fiscal proposto em outubro de 1998 : a cobran- ça de contribuição previdênciária dos servidores inativos.

Neste cenário o governo ficou sem opção de defender o regime de câmbio

fixo e a desvalorização cambial foi uma imposição do mercado financeiro conforme

(GIAMBIAGGI, 2005, p.177).

Assim, este, que antes da desvalorização estava em torno de R$ 1,20, es- calou rapidamente para mais de R$ 2,00 em menos de 45 dias, no que se anunciava como a reedição do surto inflacionário vivido pelo México quatro antes.

Assim, a nomeação de Armínio Fraga como presidente do Banco Central e

sendo profundo conhecedor do mercado financeiro internacional foi determinante

para acalmar o mercado em face da ampliação da rigidez da política monetária

(GIAMBIAGGI, 2005, p.177-178).

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[....] elevação da taxa de juros básica e o início de estudos para a adoção do sistema de metas de inflação que há anos vinha sendo adotado em di- versos países. Esta última foi entendida como uma espécie de troca de ân- cora, face ao desaparecimento da âncora cambial.

Salienta-se, ainda, que FHC conseguiu apoio político para aprovar as

medidas de ajuste com as quais foram fundamentais para renegociar o acordo com

o FMI em um novo cenário (GIANBIAGGI, 2005, p.178).

Como este incluía uma dívida pública maior – devido ao efeito da desvalori- zação sobre a parcela da dívida afetada pelo câmbio -, foi necessário am- pliar a meta de superávit primário, que passou a ser de 3,10%; 3,25% e 3,35% do PIB para os anos de 1999 a 2002, implicando um forte aperto fis- cal, em particular, nas condições do governo central.

Outra importante análise feita por Giambiaggi (2005, p. 178 - 179) é que

apesar da significativa desvalorização não teve efeitos inflacionários em face da

importância dos seguintes fatos:

A desvalorização ocorreu em um momento de “vale” da produção industrial no primeiro trimestre de 1999, estava 3% abaixo do primeiro trimestre de 1998 que, por sua vez, era 3% inferior ao primeiro trimestre de 1995, ge- rando uma contração de demanda que diminuiu muito a chance de repasse de câmbio aos preços. Quase cinco anos de estabilidade e desmontagem dos mecanismos de reajuste tinham de fato mudado a mentalidade indexatória dos agentes eco- nômicos, que tinha prevalecido até o Plano Real. A política monetária rígida – caracterizada por uma taxa de juros real de 15% em 1999 – cumpriu o papel esperado de conter o ritmo de remarcações e de apreciar o Real,após o overshooting inicial. O aumento de salário mínimo em maio de 1999, de menos de 5% nominais quando muitos analistas ainda projetavam taxas de inflação da ordem de 20% teve um papel crucial nas negociações salariais da época, balizando reajustes baixos.

Desta forma, mais uma vez foi a classe trabalhadora que foi prejudicada, ou

seja, foi o capital rentista que ampliou ainda mais a participação da renda.

O balanço do período de 1999 a 2002 resultou em um crescimento que

permaneceu baixo, pois continuou amargando taxas de juros reais elevadas a

reboque dos interesses do capitalismo internacional de outro houve melhora

sistemática da balança comercial e do resultado em conta corrente, apesar de

continuar sendo deficitário.

Destaca-se a importância da análise feita por Giambiaggi (2005, p.182)

“[.....] no que concerne ao ajuste fiscal feito pelo país no início do processo e que

até os mais otimistas julgavam que seria muito difícil de implementar: entre 1998 e

2002, a melhora do resultado primário foi de quase 4% do PIB”.

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Acrescenta-se, ainda, que o ajuste fiscal foi fundamental para os resultados

pífios do crescimento econômico, pois foi conseguido via aumento da carga tributária

e em face da anomalia do sistema de gestão fiscal do Brasil, o qual vincula à receita

a despesa e que em quase sua totalidade se direciona para expansão dos gastos

correntes e principalmente o incremento da despesa de pessoal em função da

vinculação da Lei de Responsabilidade Fiscal.

A condução da política econômica a partir de 1999 baseada em uma política

de câmbio flutuante combinada as altas taxas de juros reais além de trazer os

resultados pífios de crescimento do PIB. Por conseguinte, do período de 1995 a

1997, as empresas nacionais foram forçadas a endividar-se em dólares, contribuindo

para financiar o déficit em conta corrente, pois a altíssima taxa de juros tornava

impossível investir para aumentar a capacidade produtiva e em novas tecnologias

visando incrementar a produtividade, refletindo assim na diminuição da participação

do setor público em relação ao total da dívida externa.

A partir do começo de 1999, o país iniciou um processo de retomada do

crescimento que só viria a ser abortado pela combinação de crises de 2001.

Primeira, a crise de energia em face da ausência de realização de investimentos

para cumprir as elevadas metas de resultado primário (% do PIB) impostas pelo FMI.

A segunda o “efeito tango” denominado contágio argentino, o qual resultou na

redução da entrada de capitais e que combinado aos ataques terroristas de 11 de

setembro, que causou bilhões de dólares em prejuízo com queda de ações

(GIAMBIAGGI, 2005, p.181)

Nesse contexto,o risco-país voltou a aumentar, refletindo uma menor dis- ponibilidade de capitais para o país e afetando os juros domésticos. Isso comprometeu o desempenho médio da economia no segundo governo FHC.

O que comprometeu realmente o desempenho médio do segundo governo

FHC foi a sua política neoliberal do seu primeiro governo, em face da trajetória

explosiva da dívida interna, pois continuou sendo financiada a taxa de juros reais e

significativamente superiores ao reduzido crescimento econômico em (% do PIB)

mantendo a trajetória de insustentabilidade da dívida pública. E que combinada a

ampliação da geração do déficit de conta corrente no período de 1995-1998 para

1999-2002.

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VII – O GOVERNO LULA - 2002-2006

Desde 1989, o Lula tentava eleição, mas o medo venceu a esperança de

conduzir um país com identidade e com justiça social. Em 2002, as pesquisas

demonstravam que Lula seria o candidato do povo sofrido por tanta imposição de

uma política imperialista americana utilizando o FMI como instrumento de

submissão.

Entretanto as elites brasileiras que usurparam o suor, o trabalho e

principalmente a esperança de ter uma vida digna e aliado ao capitalismo rentista

internacional desestabilizou mais uma vez o país não por que o Brasil deixou de

gerar superávit primário para manter a sustentabilidade da dívida pública, e sim

porque o sentido do capitalismo rentista nacional e internacional é obter o mais alto

retorno possível em um curto espaço de tempo.

Gráfico 2 – Resultado nominal e primário do setor público consolidado (%PIB)

Fontes : Secretaria de Tesouro Nacional e Banco Central

A análise da herança maldita no que se refere à piora das contas externas de

FHC (PAULANI, 2008, p. 22).

A piora estrutural das contas externas do Brasil é certamente uma das mais perversas heranças legadas pelo governo FHC. A abertura externa estaba- nada, além de elevar a dependência do país em setores estratégicos como os de insumos básicos e bens de capital, produziu um substantivo estoque de capital privado nacional e bom barato que foi parar nas mãos de capital estrangeiro. O processo de privatização das estatais produtoras dos servi- ços industriais de utilidade pública impôs a elas o mesmo destino. Como resultado, a balança de serviços é hoje muito mais pesada, por conta do aumento do déficit na balança de rendas, resultado inescapável da duplica- ção do passivo externo líquido do país. Além disso, agora muito mais do que antes, o crescimento do produto depende das importações.

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Os reflexos sobre a balança de rendas e os reflexos estruturais no que

concerne ao incremento da vulnerabilidade macroeconômica do Brasil ao longo dos

anos 1980 e 1990 (PAULANI, 2008, p. 23).

O déficit da balança de rendas (lucros, dividendos e juros) que girou em torno de US$ 11 bilhões ao longo dos anos 1980 e 1990, até 1996 salta para a esfera dos US$ 15 bilhões em 1997 e para US$ 19 bilhões a partir de então. Esse estrago estrutural teve um componente adicional de natureza conjuntural e de enorme peso, com os quatro anos e meio de moeda nacional artificialmente valorizada. Daí, os megadéficits em transações correntes que passaram a ser produzidos. O componente conjuntural foi resolvido com a desvalorização do câmbio em janeiro de 1999. O estrutural permanece e só com mudanças estruturais (redução da dependência, diminuição do passivo externo) pode ser minorado. Evidentemente, dada a piora estrutural das contas externas, nossa vulnera- bilidade também cresceu e, na presença de componentes conjunturais tam- bém adversos, pode de fato produzir crises que coloquem o país a beira do precipício.

A comparação dos déficits gerados nas transações correntes entre o período

de 1984 a 1993 em relação a 1994 a 2003 contribuiu para o incremento da

vulnerabilidade externa (PAULANI, 2008,p.23).

Se tomarmos a somatória do saldo em transações correntes do Brasil no período de 1984 – 1993, chegaremos um déficit total de US$ 1,3 bilhão do período. Se fizermos o mesmo período para a década seguinte, ou seja, para o período 1994 – 2003 o mesmo déficit verificado em 2002 (US$ 7,7 bilhões),o resultado é um déficit total de US$ 196 bilhões, isto é, um resultado 150,8 vezes pior do que nos dez anos anteriores.

Assim, neste alusivo cenário assume Lula5, e que em virtude da crise gerada

pela elite rentista nacional e internacional produziu uma valorização da moeda

brasileira de R$ 2,20 para R$ 3,96 a ponto de o Brasil estar a beira do precipício

reflexo de uma crise fabricada pelo mercado (PAULANI, 2008,p.24).

As reservas começam o ano em cerca de US$ 36 bilhões (a média de 2001 foi de US$ 36,3 bilhões), oscilam para US$ 33 bilhões em abril e maio, al- cançam a faixa dos US$ 40 bilhões em junho e julho, ficam na esfera dos US$ 38 bilhões em agosto e setembro e dos US$ 36 bilhões no bimestre seguinte, fechando o ano com US$ 37,8 bilhões. [....] Em dezembro de 2002, portanto do ponto de vista das condições ne- cessárias para honrar os compromissos externos, a situação estava equa- cionada. Além disso, e este talvez seja um elemento ainda mais importante, a balança comercial vinha apresentando resultados absolutamente surpre- endentes, superando em cerca de 50% as previsões feitas pelo próprio go-

verno. Assim, do ponto de vista da performance futura das contas exter- nas, em dezembro de 2002 as expectativas eram muito melhores do que as existentes, por exemplo, um ano antes, quando se esperava um resul-

5 Vítima do imperialismo norte americano e de uma elite agrária, pois nasceu miserável, passou fome conduziu

a sua trajetória de história política baseada na relação de exploração capital e trabalho, mas quando assumiu com sonho de mudar o destino do Brasil e com um apoio massivo das urnas foi incapaz de modificar em face que ao assumir o governo não era mais a relação de capital e trabalho que teria de enfrentar, e sim a mais perversa a relação capital volátil aliada a herança maldita versus a vontade de reduzir a gigantesca dívida social.

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tado positivo nessa área, porém não na magnitude do efetivamente obtido. Por outro lado avalia o alto impacto da depreciação câmbio no crescimento

econômico de 2002 (PAULANI,2008,p.24).

[....] com o acerto do câmbio, as contas do comércio exterior começavam a caminhar na direção certa. É bem verdade que a redução no ritmo do crescimento econômico em 2002 deu uma mãozinha para a obtenção de re- sultados tão favoráveis, visto que reduziu o dispêndio previsto com as im- portações. Porém, analisando os dados detalhadamente, percebe-se que o resultado mais expressivo para a obtenção desses superávits vem mesmo do lado das exportações.

Ressalta-se, ainda, a crítica feita no que concerne ao início da gestão

Lula com a utilização das políticas monetárias e fiscais restritivas para reverter o

problema da inflação e não comprometer a viabilidade da gestão, sendo “assim, a

manutenção dos juros básicos em níveis reais substancialmente elevados teria se

imposto como necessidade, bem como a elevação do compulsório dos bancos

implementada em fevereiro” (PAULANI, 2008,p.25).

Neste contexto, a alta elevação de preços que o país experimentava era

decorrente não da elevação de demanda e, sim do processo de turbulência eleitoral

a partir de junho de 2002, a qual fez o dólar atingir quase R$ 4,00 em setembro.

Portanto, segundo (PAULANI, 2008,p.25) “a utilização da política monetária

altamente contracionista em 2003 não fazia sentido pois o processo inflacionário não

estava fora de controle, refletindo no impacto no crescimento econômico, bem como

aumentou a dívida pública e comprometeu a geração de empregos”.

O processo de desestabilização econômica criada pela elite rentista nacional

e internacional forçou Lula lançar a Carta ao povo brasileiro e estabeleceu a garantia

da manutenção das diretrizes da política econômica (CARCANHOLO, 2010,p.113).

A sinalização dada pela Carta ao “povo brasileiro” não poderia ser mais cla- ra : o governo Lula acatou o acordo, e tudo o que está implícito nele, co- mo a manutenção do regime de metas inflacionárias, a política de megas- superávits fiscais primários para pagar o crescente serviço da dívida públi- ca, a manutenção do grau e da profundidade das reformas neoliberais reali- zadas até então, assim como a implementação de novas reformas ainda in- conclusas, como a da previdência, a trabalhista.

Segundo (CARCANHOLO, 2010, p.113) o governo Lula não só manteve

alusiva política macroeconômica baseada no tripé como aprofundou ainda mais a

vulnerabilidade externa do Brasil.

No que se refere à liberalização financeira, por exemplo, em março de 2005 foram aprovadas a unificação do mercado cambial (flutuante e livre), a ex- tinção da Conta de Não-residentes (CC-5), o que facilita a remessa de lu- cros para o exterior, e a dilatação dos prazos para a cobertura cambial das

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exportações. A unificação do mercado cambial é uma das etapas defendi- das pelo argumento da sequência ótima de abertura, conforme proposto pe- lo Consenso de Washington. Segundo este, a unificação permitiria a não discriminação entre exportadores e importadores. A extinção das contas CC5, por sua vez, eliminou os limites para que as pessoas físicas e jurídi- cas (inclusive residentes) convertessem reais em dólares, facilitando a sa- ída de recursos, aprofundando a liberalização cambial. Já a dilatação dos prazos para a cobertura cambial das exportações significou que os expor- tadores puderam manter suas receitas em dólares (30% do total) no exte- rior, apontando para o fim da obrigação de converter as receitas em dóla- res para a moeda nacional, ao mesmo tempo em que lhes permite atuar no mercado especulativo de câmbio no ínterim entre o recebimento dos dóla- res e sua eventual transformação em reais.

A manutenção das políticas conservadoras monetária e fiscal de 2003 a

2006, sendo aquela baseada em alta taxa de juro real e esta na ampliação do

superávit primário através da gestão fiscal6 resultou na ampliação da dívida bruta do

Governo Central e Banco Central em % do PIB, entretanto se observou a redução

da dívida líquida em % do PIB.

A análise feita por (FILGUEIRAS & GONÇALVES, 2007,p.36) avalia o

impacto do crescimento econômico mundial em relação a taxa de crescimento do

PIB do Brasil no período de 2003 a 2006 e ainda faz um contraponto com a taxa de

crescimento real da renda mundial de 1890 a 2006.

A taxa secular de crescimento real da renda mundial – taxa média do pe- ríodo 1890 – 2006 – é de 3,2%, e no mesmo período a mediana das taxas de crescimento anual é de 3,8%. Durante o governo Lula (2003-2006) a ta- xa média de crescimento real da renda mundial foi de 4,9%. Portanto, na esfera produtivo-real, a economia mundial tem tido, no período, 2003-2006, um desempenho muito superior à sua média e mediana desde 1890. Ou seja, o contexto internacional tem sido muito favorável: no periodo 2003 – 2006, a taxa de crescimento econômico real foi de 50% maior do que a média histórica. Com a taxa secular, a economia mundial duplicava a renda mundial em 22 anos, enquanto com a taxa media do período de 2003-2006 a duplicação ocorre em 14 anos.

A manutenção da política neoliberal consubstanciada no tripé geração de

superávits primários, metas de inflação e taxa de câmbio flutuante e aliado aos

limites estruturais do crescimento econômico (infra-estrutura precária, alta carga tri-

butária, gestão fiscal ineficiente), refletiu na perda da oportunidade para o Brasil de

aproveitar o cenário internacional para manter o crescimento sustentável em 4,0%.

6 A elevação da carga tributária do setor público, associada a um sistema tributário complexo e intrincado, gera custos e desincentivos não apenas à atividade produtiva, mas ao consumo, impactando negativamente o crescimento econômico. Aliada ainda a alta vinculação da receita a despesa, a qual compromete uma gestão fiscal eficiente no que se refere a ampliação dos investimentos.

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VIII - O GOVERNO LULA - 2006 - 2010

O segundo governo Lula pode ser analisado como apenas pragmático no

sentido da manutenção da política neoliberal e tendo como foco exclusivo o controle

da inflação, a qual refletiu no incremento da vulnerabilidade macroeconômica

(crescimento econômico, inflação, finanças públicas e contas externas). No que

concerne à área financeira esta envolve a análise das seguintes variáveis : ingresso

líquido de capital externo; o descompasso (entre ativos e passivos correlatos) em

montantes, prazos e moedas ; a ampliação do volume de crédito em percentual do

PIB ; nível de endividamento externo ; valor líquido das reservas internacionais e

desalinhamento da taxa de câmbio.

A gestão fiscal do setor público consolidado ineficiente no que concerne à

manutenção da sustentabilidade da dívida agrava ainda mais a alusiva

vulnerabilidade macroeconômica. Entretanto, diferentemente do governo FHC, o

qual agravou a miséria e, portanto, a instabilidade social o segundo governo Lula

reduziu a miséria em face da política do incremento da valorização do salário

mínimo e da bolsa família. Ressalta-se que estes foram importantes para a

manutenção dos pífios resultados de crescimento econômico e os reflexos no

aumento da arrecadação do ICMS, entretanto contribuiu para a deterioração das

contas da Previdência da União.

A utilização da política monetária contracionista pelo Banco Central em

nome da credibilidade do mercado, apesar de ter reduzido significativamente as

taxas de juros reais impactou na taxa de crescimento da economia, e manteve a

sustentabilidade da pública bruta7 em percentual do PIB.

O crescimento econômico do Brasil ,no período de 2006 – 2010, apresentou

resultados pífios, sendo que evidenciamos um ponto de inflexão em 2008 em face

da crise econômica mundial, a qual forçou o governo a utilização da política de

estímulo de crédito, refletindo no incremento do PIB. Neste contexto, evidencia-se

um incremento do volume de crédito em percentual do PIB , bem como do crédito

imobiliário em % do PIB e estes tiveram impacto em relação crescimento real do

PIB. A título de comparação em 2008, 2009 e 2010 foi de 5,2%, -0,3%, 7,5%.

7 O aumento da dívida pública foi reflexo do incremento do volume de recursos do Tesouro ao BNDES, Caixa

Econômica Feral e aliada a manutenção de uma taxa de juro real muito superior a taxa de crescimento da economia exigindo a manutenção de um alto superávit primário em percentual do PIB para manter a sustentabilidade da dívida pública.

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Entretanto, considerando os exercícios de 2009 e 2010 evidencia-se que o

crescimento do PIB foi de 3,6% conforme a projeção do PIB potencial para não

aumentar ainda mais o desequilíbrio da conta corrente e impactar no crescimento da

inflação.

A necessidade de aumentar o investimento em infraestrutura da União fez o

governo lançar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) para o período de

2007 a 2010 e segundo a análise de (FILGUEIRAS & GONÇALVES,2007,p.199) o

impacto do PAC é pouco significativo.

Os dados indicam que os investimentos da União são relativamente baixos. A taxa média anual de investimento da economia brasileira foi de aproximadamente 16% no período 2003 – 2006. Essa taxa esteve associada à taxa média anual de crescimento do PIB de 3,3%. Para que o país possa atingir taxa de crescimento de longo prazo da ordem de 5% como previsto no PAC, a taxa de investimento terá que subir para patamares superiores a 20%. É pouco provável que o multiplicador de renda gerado pelos investimentos da União, da ordem de 0,6% do PIB, seja significativo.

Ressalta-se que os exercícios de simulação mostram que as taxas de

crescimento previstas no PAC só têm consistência macroeconômica se a taxa média

de investimento for de 24,6% no período 2007 – 2010 (LICHA ; SANTICHIO,

2007.p.4 apud FILGUEIRAS & GONÇALVES,2007,p.199).

Assim, o reduzido impacto no PAC está correlacionado em face de não existir

mudanças significativas nos eixos estruturantes da política macroeconômica

(FILGUEIRAS & GONÇALVES,2007,p.199).

Ou seja, o PAC supõe que a taxa média de investimento cresça 50% entre 2003 – 2006 e 2007 – 2010. Esse crescimento é pouco provável se considerarmos que não estão previstos mudanças significativas nos eixos estruturantes da política macroeconômica. Como vimos no capítulo 3, esses eixos são : metas de inflação e juros altos ; mega-superávit fiscal primário ; câmbio flutuante e apreciação cambial e liberalização externa.

A combinação da política fiscal baseada na geração de superávits primários

do setor púbico consolidado (via aumento da carga tributária), aliada a manutenção

de uma política monetária com taxa de juro real para atrair o capital especulativo

atraído pelo diferencial da taxa de juros para manter o financiamento do déficit de

conta corrente do Brasil não só produziu volatilidade no valor do dólar; deterioração

das finanças públicas via aumento do déficit nominal e incremento da dívida pública

e perda de competitividade da indústria.

A política monetária do Banco Central iniciou um ciclo de valorização do real

frente ao dólar e, portanto de 24/11/2008 a 30/12/2010 correspondeu a 29,11%.

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49

Assim, a manutenção desta política monetária em face da necessidade de poupança

externa para financiar o investimento além de agravar a perda de competitividade da

indústria resultou no incremento das despesas de viagens internacionais e

principalmente a elevação do déficit comercial no segmento de produto

industrializado.

Neste contexto, assim como o Plano Real foi executado sem o alicerce fiscal

foi mantido a ferro e fogo para que o FHC fosse reeleito o Lula em 2010 manteve a

alusiva política monetária para transmitir a ilusão aos brasileiros que estavam ricos

no que se refere a Paridade do Poder de Compra em dólar ,e, portanto contribuiu

favoravelmente para a eleição da presidente Dilma. Salienta-se, ainda, o efeito

tsunami de dólares e de euro, os quais contribuíram para a valorização do real em

relação as duas moedas em face da livre entrada de capital no alusivo período de

2009 e 2010.

Destarte, o governo Lula resultou em um agravamento da herança maldita

para o Governo Dilma no que se refere à deterioração das finanças públicas em face

do aumento da dívida pública, o incremento da vulnerabilidade externa no que se

refere não só ao déficit de conta corrente, bem como ao aumento do volume de

importação de produtos industrializados; o aumento da carga tributária do setor

público consolidado.

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50

IX - OS LIMITES ESTRUTURAIS DO CRESCIMENTO ECONÔMICO

DO GOVERNO DILMA

Neste tópico abordaremos a correlação entre as heranças malditas dos

governos FHC e Lula e os limites estruturais do crescimento econômico do governo

Dilma.

As heranças malditas do governo FHC e agravada do presidente Lula aliada

a manutenção da crise econômica mundial e combinado aos modelos de

esgotamento do incremento da arrecadação tributária em percentual do PIB e do

crédito em percentual do PIB resultaram em um crescimento econômico abaixo do

PIB potencial8 de 3,5% a.a em 2011.

Assim, analisa que o crescimento do PIB do Brasil está de acordo com o PIB

potencial (Schawrtsman,20129).

O Brasil não tem condições de crescer mais que 3,5% ao ano sem gerar inflação. A avaliação é do ex-diretor de Assuntos Internacionais do Banco Central (BC) e sócio da Schwartsman & Associados, Alexandre Schwartsman, que estima entre 3% e 3,5% ao ano o PIB potencial do país, medida que aponta a capacidade da economia de se expandir sem produzir pressões sobre os preços.

• A inserção externa e vulnerabilidade brasileira

A armadilha relacionada ao processo de abertura externa (comercial e

financeira), a qual caracterizou o projeto neoliberal na década de 90, resultou em

uma enorme dependência dos fluxos de capitais externos para o financiamento do

balanço de pagamentos exigindo do Banco Central do Brasil a manutenção de uma

alta taxa de juros real para atrair o capital. Além disso, não se evidenciou uma maior

fragilidade financeira das contas externas do Brasil em face da entrada da China

como nova força dinâmica do poder, pois resultou no aumento dos preços das

commodities ,e. portanto contribuiu para um maior crescimento econômico.

Por outro lado a privatização, a valorização do real e a competitividade da

economia chinesa promoveu o incremento da vulnerabilidade externa da economia

8 A existência de um teto de crescimento que a economia de um país tem, a cada momento na sua

história em face de seus limites estruturais. 9 SCHWARTSMAN,Alexandre. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 31 de agosto de 2012

http://www.valor.com.br/brasil/2813352/pib-potencial-do-brasil-nao-passa-de-35-ao-ano-diz-

schwartsman acesso em 31 de agosto de 2012. Entrevista concedida a LORENZO, Francine De.

.

Page 51: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

51

brasileira via incremento do volume de importação de manufaturados, no sentido de

reduzir a capacidade da mesma para resistir/combater os choques externos que

ocorram, dentro do contexto não só de fragilidade financeira como também

impactando no crescimento econômico e como dependência estrutural em relação a

China.

Assim, os efeitos do processo de abertura comercial refletiram no aumento

estrutural da necessidade de financiamento externo (CARCANHOLO, 2010,p.118).

A abertura comercial, de um lado, promove dois efeitos. O primeiro, em as- sociação com uma conjuntural valorização cambial, é a construção de ele- vados déficits comerciais que precisam ser financiados. O segundo, de uma forma mais estrutural, promoveria uma espécie de processo de substi- tuição de importações às avessas, isto é, o fato dos produtos importados fi- carem mais baratos que os de produção nacional por um determinado tem- po leva à quebra das empresas nacionais que produziam esses produtos. [.....] Tanto um efeito como o outro mostram como a abertura comercial le- va ao aumento estrutural da necessidade de financiamento externo, em função do maior crescimento estrutural das importações.

Não se pode perder de vista outra importante avaliação no que se refere à

elevação da vulnerabilidade externa estrutural da economia brasileira

(CARCANHOLO, 2010,p.114)

A manutenção do grau de abertura comercial e, portanto, da reestruturação produtiva que lhe é consequente, promoveram, ao longo do governo Lula, a elevação da dependência do mercado externo como centro dinâmico da economia brasileira (exportações como forma de escoamento da produção, isto é, realização do valor produzido e importações como a única maneira de garantir boa parte dos suprimentos e bens de capital necessários para a produção interna.

O gráfico 3 mostra os efeitos da entrada na elevação das exportações dos

produtos básicos em face que em 1998 era de US$ 12,9 bilhões e passou para

US$ 122,5 bilhões em 2011 em função da melhora dos termos de troca das

commodities. O segmento de produto industrializado em 1998 correspondia a

US$ 37,6 bilhões passou para US$ 128,5 bilhões em 2011. Assim, o total das

exportações era de US$ 51,1 bilhões e passou para US$ 256 bilhões em 2011.

Salienta-se que conforme será evidenciado no tópico desindustrialização o déficit

comercial foi incrementado significativamente na indústria de média e alta

complexidade tecnológica.

Page 52: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

52

Gráfico 3 – Exportação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2011 (US$ Bilhões)

0

50.000.000

100.000.000

150.000.000

200.000.000

250.000.000

300.000.000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

BÁSICOS INDUSTRIALIZADOS TOTAL

Fonte : SECEX Nota : O total do segmento industrializado é a soma dos produtos manufaturados e semi-manufaturados. O gráfico 4 mostra os efeitos da política neoliberal baseada na privatização

e da política macroeconômica em face que em 1998 os produtos industrializados

correspondiam ao total das importações no montante de US$ 50,3 bilhões e

aumentou para US$ 194,2 bilhões em 2011. Assim, o total das importações a soma

de produtos básicos e industrializados era de US$ 57,7 bilhões em 1998 e passou

para US$ 226,2 bilhões. A representatividade dos produtos industrializados em

relação ao total das importações era de 87,24% em 1998 e reduziu para 85,81% em

2011, ou seja, demonstra a rigidez no volume de importações, refletindo nos

resultados pífios do crescimento econômico principalmente de 2011.

Gráfico 4 - Importação por fator agregado do Brasil – 1998 a 2011 (US$ Bilhões)

0

5 0 .0 0 0 .0 0 0

1 0 0 .0 0 0 .0 0 0

1 5 0 .0 0 0 .0 0 0

2 0 0 .0 0 0 .0 0 0

2 5 0 .0 0 0 .0 0 0

1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1

B Á S IC O S IN D U S T R IA L IZ A D O S T O TA L

Fonte : SECEX Nota : O total do segmento industrializado é a soma dos produtos manufaturados e semi-manufaturados.

Page 53: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

53

Os resultados da balança comercial do Brasil demonstram a dependência

estrutural em relação à China em face que de um déficit comercial de US$ 6,6

bilhões em 1998 passou para um superávit US$ 29,7 bilhões. Entretanto em relação

a este se evidencia um ponto de inflexão em 2006, pois a partir deste período o

superávit comercial vem sendo reduzido sistematicamente em função da perda da

competitividade da indústria brasileira em face da valorização do real em relação ao

dólar, principalmente a partir de 2008 com as medidas de afrouxamento quantitativo

correlacionada ao diferencial da taxa de juros no Brasil em relação ao resto do

mundo principalmente em face da livre entrada de capital.

Gráfico 5 – Resultado da Balança Comercial do Brasil – 1998 a 2011 (US$ Bilhões)

-50.000.000

0

50.000.000

100.000.000

150.000.000

200.000.000

250.000.000

300.000.000

1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

EXPORTAÇÕES IMPORTAÇÕES SUPERÁVIT / DÉFICIT COMERCIAL

Fonte : SECEX Assim, pode se perceber o efeito da abertura comercial pós 1994 aliada a

política macroeconômica conduzida no governo Lula resultou em uma maior neces-

sidade de financiamento externo em função do maior crescimento das importações e

que sem a dinâmica do crescimento do PIB da China teria agravado o desequilíbrio

estrutural das contas externas.

Outro ponto avaliado é a magnitude da vulnerabilidade da economia brasileira

pela avaliação feita no que tange a abertura financeira (CARCANHOLO,

2010,p.118).

Por outro lado, a abertura financeira promoveu o crescimento dos emprés- timos diretos (para o setor privado e público) e a entrada de capital externo. Se, do ponto de vista do curto prazo, isto pode ser positivo, pois financia as contas negativas das transações correntes, implica a elevação do passivo externo líquido e, portanto, o crescimento do serviço desse passivo em mo-

Page 54: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

54

mentos posteriores, o que significa também o aumento da necessidade do financiamento externo para o futuro.

Neste contexto, correlaciona a restrição externa estrutural para o crescimento

como sendo a primeira armadilha que a inserção externa passiva produz

(CARCANHOLO, 2010,p.119).

A vulnerabilidade externa, representada no caráter estrutural do crescimen- to da necessidade do financiamento externo, coloca a obrigatoriedade de uma taxa de juros interna muito maior do que as internacionais como forma de garantir o fluxo de capitais que possibilitem o fechamento das contas. Este piso para a taxa de juros interna é um limite estrutural para o cresci- mento da economia.

Destarte, (CARCANHOLO, 2010,p.119) avalia o incremento do déficit em

transações correntes como a segunda armadilha financeira das contas externas.

O crescimento do déficit em transações correntes, colocado estruturalmen- te pelo processo de abertura externa, leva ao aumento do passivo externo em virtude da maior entrada de recursos para financiar aquele déficit. En- tretanto, isso implica o maior pagamento do serviço deste passivo, o que volta a elevar o déficit da balança de serviços, gerando um círculo vicioso de endividamento externo.

A terceira armadilha analisada é a necessidade das altas taxas de juros para

o financiamento do déficit das contas externas (CARCANHOLO,2010,p.119).

Por outro lado, as altas taxas de juros, necessárias para o fechamento das contas externas, implicam o aumento do serviço da dívida pública, que ne- cessita ser refinanciado.Esse refinanciamento foi – e continua sendo – reali- zado, em maiores proporções, via novo endividamento, ou seja, por inter- médio de lançamento de novos papéis da dívida pública. A conclusão é que se produz uma armadilha fiscal, definida pelo aumento tanto do estoque da dívida pública como do seu serviço.

Por fim, a quarta armadilha no que se refere ao processo de stop and go, a

qual caracteriza a economia brasileira a partir dos anos 90 e que definiu as oscila-

ções conjunturais da atividade econômica (CARCANHOLO,2010,p.119).

Se, por alguma eventualidade, esse nível de atividade crescesse, isso impli- caria um aumento da renda que, por sua vez, levaria à elevação da demanda por importações e, portanto, do déficit das transações correntes. A necessidade de financiar este déficit com capital externo obriga o aumento das taxas internas de juros, o que aborta aquele ensaio inicial de crescimento econômico.

O Gráfico 6 evidencia o problema estrutural da economia brasileira de 1994 a

2002 em face que os resultados muitos desfavoráveis na balança comercial no

montante de US$ 1,9 bilhão resultou em um déficit de transações correntes de

U$ 188 bilhões. A conta de transações correntes é a soma da balança comercial e

da balança de serviços e rendas, e esta foi desfavorável e de dimensão muito

grande (US$ 208,9 bilhões), sendo que a conta de renda de investimentos contribuiu

Page 55: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

55

significativamente para este resultado com o montante de US$ 139,5 bilhões. Além

disso, o déficit de transações correntes foi financiado por investimentos diretos no

montante de US$ 156,2 bilhões.

Gráfico 6 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial e Investimentos Diretos Estrangeiro - 1994 a 2002 (US$ bilhões)

-40 .000

-30.000

-20.000

-10.000

0

10.000

20.000

30.000

40.000

1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002

Transações Corre nte s Balança come rcial (FO B)

Se rviço e Re ndas Investime nto Dire to

Fonte : Banco Central do Brasil Realizando uma análise do período de 2003 a 2011 evidencia-se um déficit

de transações correntes de US$ 107,3 bilhões, sendo que o superávit na balança

comercial foi de US$ 289,7 bilhões e um déficit de serviços e rendas de US$ 428,4

bilhões, e, portanto o alusivo déficit de transações correntes do período foi

financiado por investimentos diretos de US$ 214,2 bilhões (Gráfico 7). Realizando

uma análise desagregada em dois períodos, sendo o primeiro considerado de 2003

a 2007 o superávit de transações correntes foi de US$ 45 bilhões, sendo que um

superávit da balança comercial de US$ 189,6 bilhões e um déficit no serviço de

rendas de US$ 162,6 bilhões e os investimentos diretos estrangeiros correspon-

deram a US$ 48,9 bilhões.

Considerando os efeitos da crise mundial ,no período de 2008 a 2011, o

déficit da conta corrente foi de US$ 152,3 bilhões, sendo que o saldo da balança

comercial foi de US$ 100,1 bilhões e o serviço de rendas de US$ 265,8 bilhões,e,

portanto o déficit da conta corrente foi financiado por investimentos diretos no

montante de US$ 165,2 bilhões. Assim, correlacionando o período de 2003 – 2007 a

2007 a 2011 evidencia-se que o alusivo déficit estrutural de transações correntes foi

reflexo da armadilha do incremento do serviço de rendas que aumentou 63,5% de

Page 56: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

56

2008 a 2011 em relação a 2003 - 2007. Fazendo uma comparação entre 2003 a

2011 em relação a 1994 – 2002, evidencia-se que o déficit de transações correntes

teve uma redução de 42,9%, entretanto o serviço de rendas teve um crescimento de

105% e o investimento direto de 37,2% , ou seja, o modelo de política neoliberal

além de impactar nos resultados do crescimento econômico de 1994 a 2011

aumentou em muito a vulnerabilidade macroeconômica, e portanto em um cenário

de baixo crescimento das exportações de commodities impactará no financiamento

do déficit de conta corrente.

Gráfico 7 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial, Saldo do Serviço e Rendas e Investimentos Diretos Estrangeiro - 2003 a 2011 (US$ bilhões)

-100.000

-80.000

-60.000

-40.000

-20.000

0

20.000

40.000

60.000

80.000

2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Transações Correntes Balança comercial (FOB)

Serviço e Rendas Investimento Direto

Fonte : Banco Central do Brasil

O Gráfico 8 demonstra uma das razões para o baixo dinamismo do PIB de

janeiro de 2012 a julho de 2012 em relação ao mesmo período de 2011. O déficit de

transações correntes no montante de US$ 29,1 bilhões, sendo que o superávit da

balança comercial foi de US$ 9,5 bilhões e o serviço de rendas de US$ 40,8 bilhões

apresentando uma redução de 1,6%, 38,2% e 14,2%, respectivamente de janeiro a

julho de 2012 em relação ao mesmo período de 2011, O investimento direto no

montante de US$ 42,2 bilhões apresentou um crescimento de 2,3% em relação a

janeiro a julho de 2011.

Assim, amplia-se o risco da vulnerabilidade da economia brasileira em face

da queda dos preços das commodities contrapondo uma rigidez no volume de

importações e do serviço de rendas, resultando em uma menor redução do déficit de

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57

transações correntes quando comparada a diminuição observada dos investimentos

diretos.

Gráfico 8 – Brasil Saldo de Transações Correntes, Saldo da Balança Comercial, Saldo do Serviço e Rendas e Investimentos Diretos Estrangeiro – Janeiro de 2011 a Julho de 2012 - 2011 (US$ bilhões)

-15000

-10000

-5000

0

5000

10000

15000

Transações Correntes Balança comercial (FOB) Serviço e Rendas Investimento Direto

Fonte : Banco Central do Brasil O aumento do superávit da balança comercial foi possível em face dos

melhores preços das commodities com a dinâmica do crescimento da China de 2006

a 2011, refletindo na política de aquisição de reservas estrangeiras para evitar a

apreciação ainda maior do real de 2009 a 2011, resultou em uma perda de custo de

oportunidade no que se refere à restrição ao aumento do bem estar da sociedade

(sacrifício ao consumo presente), entretanto não se concretizou em função da

política de aumento do crédito em percentual do PIB.

Observa-se que a taxa de câmbio nominal apresenta tendência de depre-

ciação partindo da menor taxa em 1995 (R$ 0,9176), para as taxas mais elevadas

em 2004 (R$ 3,0783). A partir de 2004, nota-se uma tendência de apreciação da

moeda nacional em face da política monetária do Bacen, e este passa atuar

comprando divisas, incrementando as reservas internacionais, resultando no

financiamento da dívida dos Estados Unidos.

A evolução das reservas internacionais, mostrada no Gráfico 9, apresentou

viés levemente positivo de 2000 a 2005. A partir de 2005 com dinamismo das

commodities, no entanto, esse viés acentuou-se e o estoque de reservas passou de

US$ 53,8 bilhões para US$ 352,1 bilhões em 2011.

Page 58: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

58

Gráfico 9 – Reservas Internacionais do Brasil - 1995 a 2011 – US$ bilhões

Fonte : Banco Central do Brasil As quatro armadilhas analisadas produzidas pela estratégia neoliberal de

desenvolvimento no processo de abertura externa não só refletiram o quadro

medíocre do desempenho da economia brasileira até 2002, bem como continuaram

sendo fatores estruturais para os resultados pífios do PIB de 2002 a 2011 ,e, logo o

processo de globalização aliada a política macroeconômica pós FHC caracterizou

um processo de dominação do Estado brasileiro caracterizando uma dependência

no que se refere à interconexão produtiva global e pela alta mobilidade do capital

especulativo, os quais não só interferem no lado real da economia, mas

principalmente obtendo altos retornos dos investimentos em termos de royalties e do

volume de importação.

Assim, a mobilidade internacional dos capitais especulativos resultou na

vulnerabilidade da economia brasileira e uma nova dependência, a qual se justapõe

à antiga no que tange ao governo brasileiro ter perdido a capacidade de

governabilidade para ajustarem as suas regras de câmbio, juros e de monitoramento

da economia as demandas do mercado especulativo.

Ressalta-se ,ainda, que esta dependência não foi ainda mais agravada em

face da nova dependência estrutural da economia brasileira em relação à China e a

sua força como locomotiva mundial, pois foi capaz de possibilitar ao Brasil ampliação

considerável de suas exportações de commodities de 2007 a 2011. Mas em face

dos problemas relacionados ao agravamento da crise mundial em 2012 e a perda do

dinamismo da economia chinesa, refletindo na redução das exportações brasileiras

e ,principalmente, o preço das commodities diminuindo sensivelmente o superávit da

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59

balança comercial e o que poderá agravar o financiamento do déficit de conta

corrente não só em 2012 como os exercícios posteriores.

• A sustentabilidade da dívida líquida e o risco do incremento da dívida bruta em

percentual do PIB A dinâmica da dívida pública é uma dos principais indicadores das condições

de solvência fiscal e é analisada levando em consideração o estoque inicial de

dívida e a sustentabilidade intertemporal do setor público, sendo esta expressa pela

relação dívida/PIB, a qual esta é o reflexo da função da taxa de juros real, do

crescimento real do produto e do superávit primário.

A questão da sustentabilidade intertemporal no Brasil enseja sete questões

fundamentais para a gestão da política fiscal: a) dadas as condições

macroeconômicas, o estoque e a composição inicial da dívida, b) qual é o superávit

primário mínimo requerido para assegurar sua sustentabilidade? c) o superávit

primário requerido é compatível com as condições objetivas para gestão da política

fiscal, notadamente no que diz respeito à estrutura das receitas e despesas públicas

d) a presença forte e decisiva do Estado como ente planejador e produtor e) o

arcabouço institucional para definição e execução da política fiscal? f) os efeitos da

política monetária do Banco Central no que tange aos efeitos da elevação da dívida

bruta g) o estoque inicial da dívida reflete adequadamente as obrigações efetivas do

setor público ou existem passivos contingentes e dívidas não registradas que

poderão alterar a trajetória de endividamento associada ao estoque de dívida

conhecido?

O objetivo deste tópico é o de avaliar as condições de sustentabilidade da

dívida pública brasileira a partir destas condicionantes e principalmente a partir da

evolução da dívida bruta com os financiamentos do Tesouro ao BNDES.

Com a privatização o Estado deixou de ter uma presença forte e decisiva

como ente planejador e produtor, e, portanto poderia ter sido reduzida a necessida-

de da relação superávit primário/PIB , ou seja, estratégia adotada pela China para

que o excesso de volume de reservas financeiras em dólares não gerasse inflação

ainda maior optou pela estratégia de crescimento econômico (ver tópico A dinâmica

mundial de 1970 a 2012).

Além disso, conforme já foi analisado o superávit primário foi obtido após

2000 via elevação da carga tributária em face do arcabouço constitucional brasileiro,

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60

o qual estimula os gastos contribuindo ainda mais para reduzir a dinâmica do

crescimento aliada a uma política monetária, a qual retroalimentou a dívida bruta.

Por outro lado, os reflexos da crise mundial e a estratégia reativa do governo

Lula a partir de 2009 de retomar o crescimento via empréstimos do Tesouro ao

Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico resultou no incremento da relação

dívida bruta/ PIB perdendo efeito a análise da relação Dívida Líquida / PIB.

A expansão significativa das emissões de títulos públicos para fins de

capitalização dos bancos públicos em 2009 e 2010 tem suscitado um debate sobre a

validade da análise da sustentabilidade da dívida pública bruta, em face do

diferencial da taxa de juros o que é recebido através do BNDES e o custo da

remuneração da dívida pública. Ressalta-se que a dívida pública bruta como

proporção do PIB é elevada, refletindo no elevado prêmio de risco sobre os títulos

da dívida, entretanto em face do alto volume de reservas internacionais a dívida

líquida do setor público mantém uma trajetória de risco.

Neste contexto, (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010,p.7) avalia que a relação

existente entre a diminuição da dívida líquida do setor público brasileiro e o

incremento da dívida bruta.

Em particular, nota-se que a dívida líquida do setor público brasileiro caiu sensivelmente nos últimos anos apesar de os passivos (ou a dívida bruta) terem crescido – situação esta explicada pelo aumento concomitante que houve nos ativos. Nessas circunstâncias, qual dos dois indicadores seria mais adequado para analisar a sustentabilidade fiscal: a dívida líquida ou a dívida bruta?

É de fundamental importância analisar o conceito de dívida líquida do setor

público (DLSP)10 e a correlação da estabilização do endividamento com crescimento

de passivos e ativos simultaneamente em face da expansão da dívida bruta

(GOBBETTI & SCHETTINI, 2010,p.7) .

[....] é importante observar que a expansão do estoque de títulos públicos em proporção do produto interno bruto (PIB) não se explica apenas, nem principalmente, pelos empréstimos da Secretaria do Tesouro Nacional (STN) ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e às demais estatais, como enfatizado em algumas análises re- centes na imprensa. As emissões de títulos são largamente utilizadas pelo Bacen com a finalidade de enxugar a liquidez da economia e controlar a base monetária, bem como adquirir reservas internacionais – o que se tornou particularmente relevante na conjuntura recente.

10

DLSP corresponde à diferença entre passivos e ativos acumulados pelas três esferas do governo, incluindo o Bacen, e pelas empresas estatais

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61

Destarte, a análise da inter-relação entre o incremento das reservas

internacionais e o aumento simultâneo de um passivo e um ativo para o setor

público (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p.7).

Da mesma forma que as emissões do Tesouro Nacional (TN) destinadas a captar recursos para emprestar ao BNDES, as operações compromissadas do Bacen que lastreiam a compra de dólares para as reservas também ge- ram simultaneamente um passivo e um ativo para o setor público. Entre de- zembro de 2001 e junho de 2010, os créditos com as instituições financei- ras oficiais cresceram de 0,3% para 6,8% do PIB, enquanto os créditos ex- ternos vinculados às reservas internacionais cresceram de 4,5% para 13,1% do PIB.

Para se compreender a importância da análise dos passivos para o

incremento da dívida bruta interna em percentual do PIB (GOBBETTI & SCHETTINI,

2010,p.8)

Se olharmos para os passivos, também verificaremos que tanto as opera- ções compromissadas do Bacen quanto a dívida mobiliária do Tesouro cresceram significativamente no período, fazendo a dívida bruta interna do governo geral passar de 46,7% para 55,4% do PIB. Já a dívida externa foi reduzida de 13,4% para 3,3% do PIB.

O resultado na ampla mudança na estrutura de ativos e passivos do governo

de 2002 a 2009 foi reflexo do impacto da política fiscal sobre o endividamento

(GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p. 8)

[...] a uma ampla mudança na estrutura de ativos e passivos do governo e, simultaneamente, a uma redução 10 pontos percentuais (p.p.) do PIB na dívida líquida ao longo de um período marcado por duas crises financeiras – 2002-2003 e 2008-2009. Em termos estáticos, não há qualquer diferença para o endividamento líquido se os passivos e ativos se expandem simultâ- neamente e não há dúvida de que o conceito líquido, no contexto de tão a- centuada reestruturação patrimonial, serve melhor para analisar o impacto da política fiscal sobre o endividamento.

A trajetória do incremento do endividamento bruto em percentual do PIB foi

reflexo das armadilhas salientadas por Carcanholo (2010) aliada ao efeito do poder

econômico da China, pois resultou nos ganhos dos termos de troca das commoditi-

es, e, portanto para impedir a valorização ainda maior do real frente ao dólar o

Banco Central aumentou as reservas internacionais (ativos), gerando a necessidade

de expansão de vendas de títulos (passivos).

O aumento do preço das commodites resultou em uma pressão inflacionária,

a qual determinou ao Banco Central do Brasil a adoção de uma política monetária

com viés restritivo, refletindo na apreciação cambial sendo estes os mecanismos

utilizados para lograr o cumprimento das metas de inflação gerando distorções

Page 62: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

62

macroeconômicas (deterioração das transações correntes e agravando os

problemas fiscais).

A trajetória de incremento do endividamento da dívida bruta foi resultado do

impacto do diferencial de juros sobre a estrutura de ativos e passivos e das políticas

monetária, cambial e fiscal (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p.8).

Observado o significativo diferencial de juros entre nossa dívida mobiliária, por mobiliária, por um lado, e nossos créditos externos e internos, por outro, toda política (cambial, monetária ou creditícia) que implique ampliação si- multânea de passivos e ativos possui um custo em médio e longo prazo, embora estatisticamente não altere o endividamento líquido.

Outra avaliação feita por (CARCANHOLO, 2010,p.114) agravou ainda mais a

trajetória da dinâmica da dívida interna em percentual do PIB.

Em fevereiro de 2006, o governo ainda sancionou uma medida provisória (MP 281) que concedia incentivos fiscais aos investidores estrangeiros pa- ra a aquisição de títulos da dívida pública interna. Sob o pretexto de melho- rar a rolagem da dívida pública interna, essa medida acabou por aprofun- dar a conexão entre a dinâmica da entrada de recursos externos e a do crescimento da dívida pública.

A evolução da dinâmica da dívida interna tem um outro ponto de vista e que

as análises realizadas por (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p. 9) são de vital impor-

tância no que se refere a estimar e comparar os custos fiscais associados às

políticas macroeconômicas em função da composição patrimonial e dos diferenciais

de juros.

Por exemplo, a acumulação de 1,5% do PIB em reservas internacionais ao ano (a.a.) equivale aproximadamente, em termos de trajetória de longo pra- zo do endividamento – 20 anos –, a uma redução do superávit primário de de 0,5 p.p. do PIB. Da mesma forma, a esterilização de 30% do superávit primário para fins de política monetária –enxugamento da base monetária – custa, também em termos de trajetória de endividamento, cerca de 1% do PIB de esforço fiscal adicional.

A atual composição de ativos e passivos evidencia uma dificuldade no que

se refere à trajetória de insustentabilidade da dívida pública ou uma mudança no

que tange um ajuste fiscal adicional no horizonte (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010,

p.9).

Dada a atual composição de ativos e passivos, as atuais taxas de juros e as políticas monetária, cambial e creditícia, a análise comparativa de cenári- os indica que a taxa implícita da dívida líquida do setor público tende a au- mentar significativamente nos próximos 20 anos, implicando ou uma trajetó- ria insustentável para a dívida ou um ajuste fiscal adicional no horizonte. Em outras palavras, a manutenção da atual política de aquisição de reservas internacionais e a ampliação do crédito subsidiado só se mantêm no longo prazo sem sacrifícios fiscais adicionais se construírem condições econômi- cas e institucionais para uma queda acentuada da taxa básica de juros, Sis- tema Especial de Liquidação e de Custódia (Selic), e para as demais taxas

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63

que remuneram os títulos da dívida pública.

O risco da avaliação das diferentes metodologias de cálculo da Dívida Bruta

do Governo Geral (DBGG) apesar de violar a convenção internacional é importante

como ajuste metodológico no sentido de permitir as comparações temporais da

dívida bruta no próprio Brasil, uma vez que até 2000, com o advento da LRF11, o

próprio Bacen era responsável por emitir os títulos utilizados na administração da

base monetária (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p.11).

Existem atualmente duas séries de dívida bruta do governo geral (DBGG) divulgadas pelo Banco Central do Brasil, seguindo duas diferentes método- logias. A primeira e mais antiga segue exatamente os padrões internaciona- is, de modo a considerar na DBGG todos os títulos emitidos pelo Tesouro, inclusive aqueles que ficam parados na carteira do Bacen, sem ser utiliza-dos na administração da política monetária. A segunda e mais recente, introduzida em 2008, considera no cálculo apenas os títulos do Tesouro que efetivamente lastreiam operações compromissadas.

Destarte, o incremento do endividamento bruto após 2002 em uma

perspectiva econômica e não contábil formal (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010,

p.11).

Embora tal procedimento seja correto conceitualmente e metodologicamen-te, no contexto da mudança institucional-estrutural proporcionada pela LRF ele induz interpretações equivocadas sobre o aumento do endividamento bruto verificado a partir de então. Dito de outra forma, em uma perspectiva econômica e não contábil formal, a migração dos títulos utilizados para a política monetária da carteira do Bacen para a do TN não pode ser vista como aumento do endividamento público, embora a DBGG pela velha meto- dologia mostre isso. Além disso, nem toda a carteira do TN no Bacen é utilizada para operaçõ-es compromissadas e, dessa forma, não tem sentido ser tratada como dívi- da, embora formalmente gere custo para o Tesouro na forma de remunera-ção ao banco que, ao fim do exercício, é revertida de volta à conta única do próprio Tesouro por determinação da LRF. Ou seja, o custo inicial dos títulos parados na carteira do Bacen é anulado pela posterior transferência que o Tesouro recebe, tendo efeito nulo sobre o endividamento líquido.

A nova metodologia de cálculo DBGG é a mais adequada para mensurar o

efetivo endividamento do governo geral (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p.12).

Dessa forma, a nova metodologia de cálculo da DBGG parece mais ade- quada para mensurar o efetivo endividamento do governo geral, mesmo que ele também incorpore o componente relacionado à política monetária – an-

11 A LRF cassou o direito de o Bacen emitir títulos públicos, estipulando prazo de transição de dois anos – a partir de maio de 2000 – para que a nova sistemática de financiamento da política monetária fosse gradualmente implementada. Quando os títulos do Bacen começaram a ser resgatados e o próprio Tesouro passou a emitir títulos e transferi-los para a autoridade monetária utilizá-los em operações compromissadas (OC), então os novos títulos passaram a integrar a DBGG – enquanto os antigos títulos não.

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64

tes computado na conta do Bacen. O problema é que o ajuste metodoló- gico feito pelo banco retroagiu a dezembro de 2006 apenas, ou seja, sem abranger o período crítico de transição da carteira deste para o Tesouro, impossibilitando, portanto, comparações temporais.

Destarte, (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p.17) analisaram que a dívida

líquida do setor público caiu não porque os passivos foram reduzidos, e sim pela

evolução dos ativos

Os dados mostram, em primeiro lugar, que – apesar da trajetória de queda da dívida líquida – tanto a DBGG (pela nova metodologia) quanto o total de passivos do setor público se encontram atualmente em patamares pratica- mente idênticos aos de 2001, no início da série – 59% e 71% do PIB, res- pectivamente. Ou seja, a dívida líquida tem caído não porque os passivos têm sido reduzidos, mas porque os ativos estão se ampliando, como deta- lharemos a seguir. É interessante notar que, entre 2003 e 2004, a dívida bruta chegou a cair sensivelmente, estabilizando-se em seguida em torno de 55% e 56% do PIB até 2009, quando retorna ao patamar de 61%. O que mais chama atenção, entretanto, não é nem a estabilidade dos pas- sivos frente à queda da dívida líquida, mas a magnitude do crescimento das dívidas mobiliárias do Tesouro e do Banco Central do Brasil, compen- sado pela redução de outros passivos do setor público. A dívida interna do governo geral, formada principalmente pelos títulos emitidos pelo TN e pe- lo Bacen, cresceu de 46,72% do PIB em 2001 para 57,99% em 2009, en- quanto a dívida externa caiu de 13,40% para 3,47%”.

Tabela 2 – DBGG e demais passivos do setor público – 2001 - 2010 (Em % do PIB valorizado pelo IPCA)

Fonte : Elaboração Sérgio Wulf Gobetti e Bernardo Patta Schettinni com base em dados do Bacen Nota : Posição em junho

Em suma, foi o reflexo de diversos fatores, os quais resultaram no aumento

trajetória da dívida bruta apesar da obtenção dos altos superávits fiscais primários

realizados pelo setor público (GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p.19).

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65

O primeiro e mais importante fator foi a decisão do governo de acumular significativos montantes de reservas internacionais, tanto para criar um colchão de proteção diante das crises cambiais quanto, mais recentemente, para tentar conter a volatilidade e a apreciação do real diante do dólar. A acumulação de ativos externos exigiu a emissão adicional de títulos públicos para que o Bacen utilizasse em operações compromissadas. O segundo fator, mais recente, tem a ver com a política governamental de indução do crescimento por meio da expansão do crédito público e do investimento das empresas estatais, materializada em operações de capitalização financiadas por emissões do Tesouro. Por fim, é preciso elencar um terceiro fator que restringe a possibilidade de reduzir o esto-que de títulos públicos em mercado e que está relacionado à operaciona-lização da política monetária e ao relacionamento entre Tesouro e Bacen.

A evolução da dinâmica da dívida bruta em face do incremento dos ativos

internos e externos do setor público de 2010 em relação a 2001 (GOBBETTI &

SCHETTINI, 2010, p.20).

Os ativos do setor público, principalmente do governo geral e do Bacen, cen, cresceram significativamente nos últimos anos, tanto pelo componente externo quanto interno. Do lado externo, a expansão dos ativos é explicada pela aquisição de reservas internacionais, que cresceram de 4,81% do PIB em 2001 para 12,55% em 2010 e tiveram como contrapartida a expansão da dívida mobiliária interna”. [...] Do lado interno, a expansão dos ativos é menos expressiva no soma- tório total (de 13,21% para 16,59% do PIB), mas há uma mudança de port- fólio, com redução dos créditos do governo e do Bacen remunerados pe- la taxa Selic e aumento significativo dos créditos corrigidos por taxas meno- como os acumulados frente às instituições financeiras oficiais, notadamen- te o BNDES (de 0,31% para 6,64% do PIB). Tanto em um caso quanto no outro, há um custo fiscal significativo associa- do o diferencial de juros entre esses ativos e os passivos que lhe servem de contrapartida.

Tabela 3 – Ativos internos e externos do setor público 2001 – 2010 (Em % do PIB valorizado pelo IPC-A)

Fonte : Elaboração Sérgio Wulf Gobetti e Bernardo Patta Schettinni com base em dados do Bacen Nota 1 : Posição em junho 2 : Fundo de Amparo ao Trabalhador

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66

Avalia-se através da Tabela 3 a evolução dos gastos fiscais e parafiscais

(como os empréstimos do BNDES) do governo como estratégia em face dos efeitos

significativos da crise mundial, a qual proporcionou um maior crescimento por outro

lado produziu uma maior deterioração das finanças públicas (PEREIRA & SIMÕES

(2010) apud GOBBETTI & SCHETTINI, 2010, p.22)

Pereira e Simões (2010) estimaram, por exemplo, que o custo direto da primeira parte do empréstimo de R$ 180 bilhões do Tesouro ao BNDES para financiar projetos de endividamento gire em torno de 29% do valor de face em 30 anos – o que é calculado pela diferença entre as taxas de juros sobre as emissões do Tesouro (pós e pre-fixadas) e as taxas pelas quais o BNDES vai remunerar o Tesouro (TJLP mais 0,63% a.a. em media).

Tabela 4 – Desembolsos do BNDES (Em bilhões de R$)

Fonte : BNDES Destaca-se, ainda, avaliação feita no que se refere a atuação do BNDES ao

diminuir os recursos para o setor industrial em contraste ao aumento de recursos

para agropecuária voltada para exportação, infraestrutura e serviços (Monteiro

Neto,2005, p.212).

É que ao invés de orientar-se eminentemente para a ampliação da capaci- pacidade produtiva, a estratégia do Banco, na última década, pautou-se por uma agenda composta por um mix diferente quanto aos setores eleitos para os créditos da instituição – o setor industrial passou a ter menor atenção e mais recursos foram alocados para a agropecuária voltada para exportação, infra-estrutura e serviços (principalmente shopping centers e turismo)12 – e também para o financiamento da transferência de ativos produtivos estatais ao setor empresarial privado.

A dinâmica da dívida pública sendo um dos principais indicadores das

condições de solvência fiscal , e, que após 2009 perde-se o sentido de analisar a

relação da sustentabilidade da dívida pública líquida em relação ao PIB13.

Schwartsman & Associados e ex-diretor do Banco Central, a dívida líquida passou a perder o sentido a partir de 2009, quando o governo emitiu títulos

12 Para uma resenha das fases de expansão dos recursos do BNDES bem como da atuação do banco como braço da política econômica ver Ana Cláudia Além (1998), “O Desempenho do BNDES no Período Recente e as Metas da Política Econômica” . Revista do BNDES, V.5. N9, p. 51-76. 13 VILLAVERDE, João. Para analistas, aparente tranquilidade fiscal da dívida brasileira exige atenção. Jornal Valor Econômico, São Paulo 18/07/2011. Disponível em http://jccavalcanti.wordpress.com/2011/07/18/governo-fala-em-divida-publica-liquida-mas-a-bruta-e-a-que-importa/. Acesso em 05 de agosto de 2012.

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67

do Tesouro com volume total de R$ 100 bilhões para financiar um empréstimo ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). No ano seguinte, outros R$ 80 bilhões foram repassados da mesma forma, e neste primeiro semestre de 2011, mais R$ 30 bilhões foram transferidos do Tesouro ao BNDES. Nessas operações, o Tesouro se endivida, ao lançar títulos públicos remunerados pela Selic, para aumentar o capital do BNDES. Como as operações do BNDES geram “lucro” ao governo, e, portanto, servem de ativo ao setor público, são deduzidos da dívida total do governo. Assim, a dívida líquida cai, mas, como há maior endividamento do governo, via novos empréstimos do Tesouro ao mercado, esse passivo só é contabilizado na dívida bruta. “É a dívida bruta que interessa ao mercado internacional, uma vez que indica realmente qual é o tamanho da dívida real do setor público”, afirma Schwartsman.

Na realidade, a acumulação de reservas pelo governo brasileiro cresceu 22%

de 2011 em relação a 2010 e atingiu US$ 352 bilhões de dólares, exigindo um

esforço adicional por parte do setor público e, em última instância, da sociedade.

Assim, a mudança da gestão da dívida pública, a qual alterou o perfil externo

para o interno não foi uma estratégia de blindagem macroeconômica contra cho-

ques cambiais no que se refere a evitar que a dívida pública sofresse um choque

adverso, como em outras conjunturas, e sim em face da entrada da China como

nova força na dinâmica de poder mundial, pois permitiu ao Brasil ser credor líquido

em moeda estrangeira. Aliado a este fato, ressalta-se, ainda, a miopia da política

neoliberal conduzida por FHC e aprofundada por Lula, pois se concentrou em

apenas na estabilização da inflação.

Portanto, o país continua sendo refém da crise mundial de 2008, pois se em

2010 e 2011 evidenciou-se um processo de apreciação do real através da estratégia

do Tesouro e Banco Central americano, a qual resultou em um tsunami de dólares e

em face da livre entrada de capital refletiu em um alto custo fiscal para o Tesouro

brasileiro em face da diferença em termos de rentabilidade. Em 2012, observa-se

uma depreciação do real de forma significativa apesar do alto volume de reservas

em moeda estrangeira.

Neste contexto, as armadilhas do Plano Real produziram efeitos significativos

na evolução da dívida pública de 1995 a 2011, como também reflexos futuros em

função do atual patamar da dívida pública bruta, refletindo na exigência de um

aumento significativo da carga tributária em % do PIB, bem como a dificuldade na

realização de uma reforma tributária para aumentar a competitividade da economia

brasileira. Portanto, a atual dinâmica da dívida pública brasileira torna-se um

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68

limitador estrutural no que concerne à sustentabilidade do crescimento econômico e

na equidade intergeneracional

• O modelo de esgotamento do modelo de ajuste fiscal

O presente tópico tem como pressuposto analisar o modelo de esgotamento

do ajuste fiscal do setor público consolidado após 1997, tendo como objetivo que o

aumento da carga tributária verificada entre 1995 a 2011 e o corte dos investimentos

públicos são reflexos da política de gestão da dívida pública no que se refere à

sustentabilidade fiscal e ao excessivo grau de vinculação de receitas aliado ainda ao

elevado nível de despesas constitucionais e legalmente obrigatórias, a qual

compromete uma gestão fiscal eficiente. E, além disso, impacta no crescimento

econômico e na perda da competitividade da economia brasileira no que se refere à

valorização do real em face do estímulo ao incremento da despesa corrente.

A política fiscal envolve operações relacionadas aos dispêndios do Estado

e aos recursos necessários para o seu financiamento, e, principalmente, pela influ-

ência que tais gastos e receitas exercem sobre a contração ou expansão da

atividade econômica. Dessa forma, a política fiscal pode ser utilizada tanto para

promover a atividade econômica em períodos de desaquecimento, reduzindo tribu-

tos e/ou aumentando gastos públicos, como para conter excessos e reduzir desi-

gualdades nos períodos de expansão econômica. Assim, é fundamental a análise da

flexibilidade alocativa dos recursos orçamentários no tocante à avaliação da

capacidade do Estado de intervir na economia.

Neste sentido, a ausência de flexibilidade, no orçamento dos Governo Fe-

deral, Estadual e Municipal é afetada por dois tipos de restrições: pelo excessivo

grau de vinculação de receitas e pelo elevado nível de despesas constitucional e

legalmente obrigatórias. Portanto, de 1995 a 2011 às metas de superávit fiscal, que,

num contexto intertemporal, tornaram a dívida solvente e sustentável foi obtido via

aumento da carga tributária já que as alusivas restrições diminuíram a efetividade do

controle das despesas correntes.

O Gráfico 10 evidencia as metas de superávit primário como proporção do

PIB do Governo Federal, sinalizando o esforço do governo para redução de sua

dívida, bem como os efeitos da política monetária do Banco Central baseada na taxa

Selic e os reflexos no resultado nominal (% do PIB). Destaca-se que em 2003 o

déficit nominal foi de 3,66% do PIB e em 2005 foi 3,41%. Observa-se também que

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69

no exercício de 2004 marca o ponto de inflexão no tocante a redução do superávit

primário do Governo Federal e Banco Central e principalmente o efeito da crise

mundial em 2009 em face de se constatar o menor índice da série histórica 1999 a

2011 (1,31% do PIB).

Nos exercícios de 2010 e 2011 houve melhora considerável do resultado

primário em face que foi obtido 2,09% do PIB, 2,25% do PIB, respectivamente e que

correlacionados aos déficits nominais em % do PIB de 2009 a 2011 foram de

-3,31%, -1,21%, -2,11%, respectivamente. Salienta-se assim que a decisão tomada

pelo Banco Central de aumentar a taxa Selic para conter a inflação resultou na

deterioração das contas públicas.

Gráfico 10 - Superávit Primário x Resultado Nominal – Governo Federal e Banco Central – 1997 a 2011 - (%PIB)

Fonte; Secretaria de Tesouro Nacional O Plano Real foi elaborado para que o Brasil se transformasse em uma

plataforma de valorização do capital internacional em face que sem um alicerce

fiscal e aliado a um déficit significativo da conta corrente em função do câmbio

valorizado no período aumentou significativamente o risco de financiamento, e por

isso com geração insignificante de resultados primários o Brasil caiu mais uma vez

na armadilha do FMI, desta vez por se concentrar exclusivamente em um programa

de estabilização da inflação a ferro e a fogo, a qual deteriorou significativamente o

Resultado Nominal e ampliou consideravelmente a dívida pública.

Em 1997, a Receita Total (RT) era de 16,23% do PIB e o superávit primário

de -0,25% do PIB e em 1999, a RT foi de 19,66% e o resultado primário de 2,13%

do PIB. Realizando uma análise desagregada entre RT e a Receita Líquida Total

(RLT) evidencia a fragilidade do modelo de ajuste fiscal em face das vinculações

-6,00%

-4,00%

-2,00%

0,00%

2,00%

4,00%

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Resultado Primário do Governo Central Resultado Nominal do Governo Central

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70

constitucionais. A título de comparação a RT entre 1997 e 1999 houve um

incremento de 2,73% do PIB e a RLT de 2,11% do PIB.

Gráfico 11 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 1999 - (% do PIB)

Receita TotalReceita Líquida

Total

Resultado Primário do

Governo Central

Resultado Nominal do

Governo Central

1997 16,93% 14,27% -0,25% -2,27%

1998 18,74% 15,83% 0,51% -4,61%

1999 19,66% 16,38% 2,13% -2,47%

-10,00%

-5,00%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional Neste contexto de incremento da dívida líquida e a necessidade de recuperar

a credibilidade do mercado o Brasil buscou o socorro ao FMI e este impôs a política

macroeconômica baseada no tripé: geração de superávit primário, câmbio flutuante

e metas de inflação. O entendimento de (VELLOSO,2007,p. 325) é que o modelo de

ajuste fiscal do Brasil desde 1999 não é sustentável no longo prazo.

O modelo de ajuste fiscal desde 1999 baseado em aumento da carga tribu- tária e corte dos investimentos públicos, simultaneamente à expansão dos gastos correntes, deprime o crescimento econômico e não é sustentá- vel no longo prazo.

Destarte, analisa o risco do desequilíbrio macroeconômico em face de estar

próximo o esgotamento deste modelo de ajuste fiscal (VELLOSO,2007,p. 325).

Está próximo o momento de esgotamento desse modelo, o que coloca no horizonte o risco de uma crise fiscal que desestabilizaria o equilíbrio ma- croeconômico, com riscos de retorno da inflação, desequilíbrio no balanço de pagamentos, aumento de pobreza e baixa perspectiva de crescimento econômico.

O Gráfico 12 evidencia uma queda substancial na geração dos superávits

primários (% do PIB) a partir de 2008 reflexo dos efeitos da crise mundial em face da

política de renúncia fiscal e do modelo de vinculação de receitas as despesas, a qual

impede uma gestão fiscal eficiente.

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71

Gráfico 12 – Resultado Primário Desagregado – 2006 a 2010 (% do PIB)

2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0

S u p e r áv it d o G o v e r n o G e r al

3 ,0 8 % 3 ,8 2 % 3 ,9 0 % 2 ,0 1 % 2 ,7 5 %

S u p e r áv it d o G o v e r n o F e d e r al

2 ,0 6 % 2 ,1 9 % 2 ,3 7 % 1 ,2 4 % 2 ,1 0 %

S u p e r áv it d o s Estad o s 0 ,8 4 % 1 ,2 5 % 1 ,1 9 % 0 ,5 2 % 0 ,4 0 %

0 ,0 0 %

0 ,5 0 %

1 ,0 0 %1 ,5 0 %

2 ,0 0 %

2 ,5 0 %

3 ,0 0 %3 ,5 0 %

4 ,0 0 %

4 ,5 0 %

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional

O Gráfico 13 evidencia o modelo de ajuste fiscal baseado em aumento de

superávit primário bem como o incremento da Receita Total. A título de comparação

em 1997 a Receita Total correspondia 16,93% do PIB e a geração de um déficit

primário de 0,25% do PIB e em 2011 correspondeu a 23,91% do PIB e a geração de

superávit primário de 2,25% do PIB. Salienta-se que ,em 2010, a Receita Total

correspondeu a 24,40% do PIB e um resultado primário de 2,09% do PIB. Assim,

evidencia cada vez mais o risco de uma crise fiscal em face do incremento das

despesas obrigatórias ao longo do período em função do excessivo grau de

vinculação de receitas as despesas.

Gráfico 13 – Resultado Fiscal do Governo Central - 1997 a 2011 (% do PIB)

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Receita Total 16,93% 18,74% 19,66% 19,93% 20,77% 21,66%20,98% 21,61% 22,74% 22,94% 23,25% 23,63% 22,82%24,40% 23,91%

Resultado Primário do Governo Central -0,25% 0,51% 2,13% 1,73% 1,69% 2,16% 2,28% 2,70% 2,60% 2,17% 2,23% 2,35% 1,31% 2,09% 2,25%

-5,00%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional

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72

Realizando uma análise desagregada entre as Receitas do Tesouro e da

Previdência evidencia-se um incremento daquela de 5,67% do PIB e desta de 1,22%

do PIB entre 1997 a 2011. Salienta-se que em face da crise mundial em 2008 e

aliada a política de renúncia fiscal evidenciou-se uma redução de 18,18% do PIB

para 17,13%. Em 2010, mostra um incremento das Receitas de Tesouro para

18,71% do PIB em face do alto crescimento econômico de 7,5% a.a, entretanto em

2011 as Receitas do Tesouro reduziram para abaixo do nível do exercício de 2007,

evidenciando risco de financiamento para manter a sustentabilidade da dívida

pública.

Gráfico 14 – Participação das Receitas do Governo Central - 1997 a 2011 - (% do PIB)

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Receitas do Tesouro 12,2% 14,0% 15,0% 15,2% 15,9% 16,8% 16,2% 16,7% 17,6% 17,7% 17,9% 18,2% 17,1% 18,7% 17,9%

Receitas da Prev. Social 4,71% 4,73% 4,61% 4,72% 4,80% 4,81% 4,75% 4,83% 5,05% 5,21% 5,28% 5,39% 5,62% 5,62% 5,94%

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

12,0%

14,0%

16,0%

18,0%

20,0%

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional Realizando um confronto entre a Receita Líquida Total (RLT) e a Despesa

Total evidencia que aliado à vinculação de receitas, existe um outro fator, o qual

compromete a gestão fiscal eficiente, no que se refere ao aumento contínuo do

montante das despesas de execução obrigatória, sendo esta uma magnitude da

restrição ao crescimento do PIB em face da ausência de flexibilidade para alocar em

investimentos. Como será analisado posteriormente verificou-se um crescimento

contínuo das despesas de execução constitucional e/ou legalmente obrigatórias.

Page 73: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

73

Gráfico 15 – Receita Líquida Total x Despesa Total – 1997 a 2011 (% do PIB)

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Receita Líquida Total 14,3% 15,8% 16,4% 16,5% 17,2% 17,9% 17,4% 18,1% 18,8% 19,0% 19,3% 19,2% 18,9% 20,7% 19,7%

Despesa Total 14,0% 15,0% 14,5% 14,7% 15,6% 15,7% 15,1% 15,6% 16,4% 17,0% 17,1% 16,4% 17,7% 18,6% 17,5%

0,0%

5,0%

10,0%

15,0%

20,0%

25,0%

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional O modelo de ajuste fiscal sob á ótica das vinculações constitucionais e legais

dos Municípios mostra a sua ineficiência no que se refere à gestão fiscal. A título de

comparação ,em 1997, o total das transferências a Estados e Municípios

correspondiam a 2,66% do PIB e as demais correspondiam a 0,16% do PIB e em

2008 foi de 4,39% do PIB e as demais de 0,80% do PIB, sendo que estas atingiram

esse nível em função da política de renúncia fiscal de IPI, bem como forma de

recompensar esta perda o Governo Central disponibilizou recursos aos Municípios e

aumentou o volume de recursos das transferências correntes e de capital. A partir de

2008, marca um ponto de inflexão destaca-se o exercício de 2010 quando as

transferências a Estados e Municípios atingiram o menor nível comparando os

exercícios de 2005 a 2011.

Ressalta-se que mais de 95% do volume de recursos referentes ás

transferências a Estados e Municípios são destinadas as despesas correntes,

contribuindo para o baixo dinamismo do crescimento do PIB.

Page 74: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

74

Gráfico 16 – Transferências a Estados e Municípios – 1997 a 2011 - (% do PIB)

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Transferências a Estados e Municípios

Transferências Constitucionais (IPI, IR e outras)

Lei Complementar 87/ Lei Complementar 1153 (3)

3. Transferências da Cide

Demais

Fonte : Secretaria de Tesouro Nacional O Gráfico 17 evidencia-se a fragilidade fiscal do Governo Central em face do

incremento das despesas obrigatórias (pessoal, benefícios previdenciários. A

despesa de pessoal correspondia 4,81% do PIB em 2002 e se verificou uma

redução ao longo de 2003 a 2007 até alcançar a recuperação em 2008 atingindo

4,68% do PIB, entretanto a partir deste ponto se verificou um ponto de inflexão no

que se refere à redução da despesa em % do PIB. Ressalta-se o incremento da

despesa de pessoal dos Poderes (VELLOSO, 2007, p. 333).

Nessa perspectiva de despesa rígida e perpetuadora de desequilíbrios, ca- be chamar atenção, em primeiro lugar, para o aumento de participação, nessa despesa dos Poderes e órgãos com autonomia orçamentária (Legis- lativo, Judiciário,Ministério Público e Tribunal de Contas).

No tocante as despesas com benefícios previdenciários evidencia-se no

Gráfico 17 a política de valorização do salário mínimo teve um impacto significativo

nas contas públicas. Destaca-se que ,em 2006, as despesas com benefícios

previdenciários atingiu 6,99% do PIB e a partir desse ponto mostra um ponto de

inflexão no que se refere a evidenciar redução em % do PIB, mesmo com a

implantação da política de valorização do salário mínimo14 em 2007. Assim, mostra o

abismo fiscal das contas públicas no Brasil no que tange ao comprometimento das

contas públicas em face da dificuldade de geração de resultados primários após a

crise de 2008. Em 2006, a Receita Total correspondia a 22,94% do PIB e reduziu

para 23,91% do PIB.

14 A Política Permanente de Valorização do Salário Mínimo, acordada em 2007, pretende se estender até 2023 e tem como critério repassar no reajuste anual salarial a inflação do período, o aumento real pela variação do PIB e a antecipação da data-base de revisão.

Page 75: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

75

Outro ponto a ser ressaltado é a ausência de flexibilidade da alocação de

recursos, o qual diminui a capacidade de realização de investimentos do Governo

Central.

Gráfico 17 – Despesa Desagregada do Governo Federal – 2001 a 2011 (% do PIB)

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Pessoal e Encargos Sociais 4,80% 4,81% 4,46% 4,31% 4,30% 4,45% 4,37% 4,31% 4,68% 4,42% 4,33%

Benefícios Previdenciários 5,78% 5,96% 6,30% 6,48% 6,80% 6,99% 6,96% 6,58% 6,94% 6,76% 6,79%

Custeio e Capital 4,90% 4,87% 4,27% 4,69% 5,18% 5,42% 5,69% 5,41% 5,91% 7,29% 6,22%

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

Fonte ; Secretaria de Tesouro Nacional

O Gráfico 18 demonstra a fragilidade do modelo de ajuste fiscal no Brasil,

pois concentra volume significativo de recursos em custeio e para cumprir as metas

de superávit primário, e este foi gerado via aumento significativamente da carga

tributária aliada a contingência dos recursos destinados a investimentos. De 2002 a

2009, observa-se a baixa capacidade de investimento do Governo Central em % do

PIB na média de 0,70%. Em 2011, foi o maior montante de recursos destinado pelo

Governo Federal a investimentos (1,27% do PIB) com Receita Total de 23,91% do

PIB, entretanto bem próximo a 2001 (1,10%) com Receita Total de 20,77% do PIB.

Ressalta-se que o expressivo volume de investimentos em 2010, o qual

correspondeu a 2,33% do PIB foi reflexo da capitalização da Petrobrás de 1,14% do

PIB.

Page 76: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

76

Gráfico 18 – Despesa Custeio e Investimento do Governo Federal – 2001 a 2011 (% do PIB)

2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Custeio e Investimento 4,90% 4,87% 4,27% 4,69% 5,18% 5,42% 5,69% 5,41% 5,91% 7,29% 6,22%

Investimento 1,10% 0,70% 0,40% 0,50% 0,50% 0,70% 0,82% 0,93% 1,05% 2,33% 1,27%

0,00%

1,00%

2,00%

3,00%

4,00%

5,00%

6,00%

7,00%

8,00%

Fonte ; Secretaria de Tesouro Nacional

Analisando sob a ótica da Secretaria da Receita Federal no que se refere à

contabilização da evolução da carga tributária bruta do Governo Geral de 2000 a

2008 observa-se o exagerado tamanho do Estado brasileiro, o qual contribuiu para

que não houvesse um maior incremento do crescimento econômico (DELFIN NETO,

2009, p.30).

A melhoria da taxa de crescimento econômico nos últimos seis anos (4,1% entre 2003 – 2008, contra 2% em 1997-2002) foi resultado de um novo Es- tado indutor, fortemente ajudado pela melhoria que a economia mundial produziu na situação externa. Teria sido muito maior se fossem as melho- res as condições objetivas em que se deu (excesso de carga tributária, ex- cesso de intervenção, excesso de gasto de custeio e política de juros ina- dequada). Teriam sobrado mais recursos para as políticas públicas que buscam a igualdade de oportunidades e para os investimentos em infra- estrutura que elevam a produtividade do setor privado.

É fundamental a análise de (DELFIN NETO, 2009, p. 30) no que se refere à

armadilha que o Brasil entrou ao se concentrar esforços exclusivamente em uma

agenda fiscal.

A agenda do Estado-indutor é muito mais ampla do que a agenda fiscal. Esta não deve começar (como parece ser a sugestão atual), mas sim terminar na reforma tributária. O projeto em discussão no Congresso assume, implicitamente como “definitiva” e “insuperável”, a absurda carga tributária atual. Apenas marginalmente melhorará a alocação dos fatores e a produtividade do setor privado.

Page 77: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

77

A implantação do Plano Real sem o alicerce fiscal tornou o país refém dos

rentistas nacionais e do capital especulativo internacional, o qual resultou no

aumento da dívida líquida do setor público. A título de comparação esta era em 1995

correspondia a 29,9% do PIB e aumentou para 49,4% em 1999 em face da política

macroeconômica conduzida pelo Banco Central, resultando no incremento da carga

tributária15 do setor público consolidado em face que em 1995 era de 27,24% do PIB

e passou para 29,05%.

Gráfico I9 – Carga Tributária do Brasil - 1995 a 1999 – (% do PIB)

1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9

M u n ic íp io s 1 ,2 7 % 1 ,2 9 % 1 ,2 3 % 1 ,4 5 % 1 ,4 1 %

U n ião 1 8 ,3 3 % 1 7 ,8 6 % 1 8 ,2 2 % 1 9 ,0 5 % 2 0 ,2 7 %

Estad o s 7 ,6 4 % 7 ,5 7 % 7 ,3 2 % 7 ,2 6 % 7 ,3 7 %

To tal 2 7 ,2 4 % 2 6 ,7 3 % 2 6 ,7 7 % 2 7 ,7 6 % 2 9 ,0 5 %

0 ,0 0 %

5 ,0 0 %

1 0 ,0 0 %

1 5 ,0 0 %

2 0 ,0 0 %

2 5 ,0 0 %

3 0 ,0 0 %

3 5 ,0 0 %

Fontes: Coordenação de Estudos Tributários (Secretaria da Receita Federal); IBGE O Gráfico 20 mostra a evolução da carga tributária em face da

sustentabilidade da dívida pública e pela ausência de mecanismos de controle da

despesa conforme já foi salientado. Na crise de 1998, a carga tributária do setor

público consolidado era de 27,76% do PIB e chegou ao recorde de 34,1% do PIB em

2008 e em face da crise mundial marca o ponto de inflexão no que tange a redução

da carga tributária em % do PIB. Além disso, evidencia o impacto significativo tanto

na receita da União como dos Estados contrastando com as receitas dos Municípios,

as quais apresentaram o melhor índice da série histórica em face do aumento do

crédito imobiliário, o qual impactou na receita do IPTU e ITBI.

15 A Carga Tributária Bruta é definida como a razão entre a arrecadação de tributos e o PIB a preços de mercado, ambos considerados em termos nominais

Page 78: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

78

Gráfico 20 – Carga Tributária do Brasil – 2000 a 2010 - (% do PIB)

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

União 20,98% 21,60% 22,70% 21,61% 22,26% 23,44% 23,34% 23,94% 23,91% 22,75% 22,87%

Estados 7,99% 8,30% 8,37% 8,40% 8,60% 8,68% 8,59% 8,45% 8,67% 8,34% 8,25%

Municípios 1,36% 1,41% 1,37% 1,40% 1,39% 1,27% 1,43% 1,55% 1,52% 1,49% 1,59%

Governo Geral 30,32% 31,31% 32,44% 31,41% 32,24% 33,38% 33,36% 33,95% 34,10% 32,58% 32,72%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

40,00%

Fonte : Coordenação de Estudos Tributários (Secretaria da Receita Federal) IBGE Ressalta-se na análise de Vito Tanzi, dirigiu o departamento de finanças

públicas do FMI, no que concerne ao limite de insustentabilidade dos gastos

públicos é de 35% do PIB.16

Neste começo do século, parece ser uma moléstia mundial a insistência dos governos em não reduzir seu volume de gastos. Acima de um determinado limite, os gastos públicos se tornam insustentáveis. Como quase sempre existem também enormes déficits públicos, os impostos não podem ser reduzidos. Mas os gastos públicos podem e devem ser cortados. O limite da insustentabilidade varia de país para país, mas do ponto de vista puramente empírico, percebo que, quando um governo gasta mais do que 35% do produto interno bruto (PIB), ele está pondo em risco a estabilidade da economia e o bem estar da população. Eu diria que 35% do PIB é o limite de gastos públicos acima do qual um país, seja ele qual for, começa o risco de falir.

A armadilha fiscal que o Brasil vivencia atualmente é reflexo do atual

modelo de gestão fiscal ineficiente e que será analisado de forma mais detalhada a

seguir

De 1995 a 1999, evidencia no Gráfico 21 que a carga tributária da União teve

um crescimento de 1,95% do PIB e o Orçamento de Seguridade de 1,37%.

16 TANZI, Vito. É melhor de mãos dadas. São Paulo Revista Veja, edição 2.278, 18 de julho de 2012. Entrevista concedida a PETRY, André.

Page 79: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

79

Gráfico 21 – Carga Tributária do Governo Central – 1995 a 1999 - (% do PIB)

1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9

P ar afisc a is 2 ,1 3 % 2 ,0 7 % 2 ,0 5 % 2 ,3 1 % 2 ,2 8 %

O r ç am e n to d e S e gu r id ad e

8 ,6 6 % 8 ,7 8 % 9 ,2 7 % 9 ,1 3 % 1 0 ,0 3 %

O r ç am e n to F isc a l 7 ,5 5 % 7 ,0 1 % 6 ,8 9 % 7 ,6 1 % 7 ,9 6 %

U n ião 1 8 ,3 3 % 1 7 ,8 6 % 1 8 ,2 2 % 1 9 ,0 5 % 2 0 ,2 7 %

0 ,0 0 %

5 ,0 0 %1 0 ,0 0 %1 5 ,0 0 %

2 0 ,0 0 %2 5 ,0 0 %3 0 ,0 0 %3 5 ,0 0 %

4 0 ,0 0 %4 5 ,0 0 %

Fonte : Secretaria da Receita Federal

Realizando uma análise desagregada da carga tributária da União de 2000 a

2010 evidencia não só a redução da poupança do setor privado, bem como a perda

de competitividade da economia brasileira em face da imposição de impostos em

cascata. O orçamento fiscal é composto (Imposto de Renda (IR), Imposto sobre

Produto Industrializado (IPI), Imposto s/ Operações Financeiras (IOF), Imposto s/

Comércio Exterior, Outros Impostos e Taxas). Em 2000, o alusivo orçamento

correspondeu a 7,68% do PIB da Carga Tributária da União e em 2008 atingiu o

recorde da série histórica atingindo 9,14% do período de 1995 a 2010. A partir deste

exercício marca o ponto de inflexão em face da crise mundial, pois em 2009 foi de

8,16% do PIB e de 8,21% do PIB em 2011, reflexos dos alívios tributários.

O orçamento da seguridade fiscal que é composto de (Contribuição da

Previdência Social, Finsocial/Cofins,CPMF, Contribuição sobre o Lucro

Líquido,PIS/PASEP, Contribuição Seguridade do Servidor Público,Outras

Contribuições). Em 2000, o referido orçamento representou 11,17% do PIB e em

2007 alcançou 13,28% do PIB e a partir deste exercício marcou o ponto de inflexão

no tocante a redução da carga tributária em face que em 2008 foi de 12,37% do PIB;

em 2009 de 12,15% do PIB e em 2010 de 12,22% do PIB.

O orçamento parafiscal compreende as seguintes receitas (FGTS,Cide,

Outras Contribuições Econômicas, Salário Educação e Sistema S. Em 2000, o

Page 80: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

80

orçamento fiscal correspondia a 2,13% do PIB e em 2002 atingiu o maior nível da

série histórica 2,59% do PIB.

Ressalta-se que o crescimento das receitas do Orçamento da Seguridade

Fiscal, as quais não fazem parte do cálculo do Fundo de Participação dos Estados e

Municípios em contraste a diminuição das receitas do Tesouro e que ,portanto

aprofundou ainda mais a crise das finanças públicas dos Estados e Municípios em

face da crise mundial. Salienta-se, ainda, o impacto nas perdas das receitas do

orçamento fiscal em particular a política de desoneração do IPI em 2009.

Gráfico 22 - Receitas da União – 2000 a 2010 – (% do PIB)

0 ,0 0 %

5 ,0 0 %

1 0 ,0 0 %

1 5 ,0 0 %

2 0 ,0 0 %

2 5 ,0 0 %

3 0 ,0 0 %

2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0

Un ião O r ç am e n to F isc al O r ç am e n to d e Se gu r id ad e P ar afisc ais

Fonte : Secretaria da Receita Federal

O Gráfico 23 evidencia no baixo nível de receita em 1995 para implantar o

equilíbrio das finanças públicas (BATISTA,1994, p.19).

A proposta neoliberal identifica corretamente o equilíbrio das finanças públi- cas como indispensável ao combate à inflação. A âncora fiscal é sem dúvi- da, fundamental para restabelecer a confiança na capacidade governa-mental de gerir a moeda. No entanto, na proposta neoliberal, por razões talvez mais ideológicas do que econômicas, não se faz a necessária distinção entre despesas correntes e de investimentos. Estas, pela sua própria natureza, podem e devem ser financiadas por empréstimos, de preferência internos a externos. De acordo com a boa doutrina, o equilíbrio que se exige é entre dispêndios correntes e receitas tributárias. O que não se deve é, em nome de um falso conceito de responsabilidade fiscal, buscar equilíbrio em nível tão baixo de receitas e despesas que inviabilize o desempenho pelo Estado de funções essenciais de incentivador o desenvolvimento, de promotor do pleno emprego e da justiça social.

A alusiva armadilha fiscal pode ser evidenciada em face que em 1995, o

orçamento fiscal correspondia a 7,55% do PIB, sendo que o Imposto de Renda

Pessoa Física (IRPF) era 3,13% do PIB e o Imposto de Renda Pessoa Jurídica

(IRPJ) a 1,28%. Em 1998 com crescimento real de 0% e 1999 com PIB real de 0,3%

Page 81: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

81

o orçamento fiscal de 1999 passou a 7,96% do PIB, sendo que o IRPF a 3,99% do

PIB e o IRPJ a 1,21% do PIB.

Gráfico 23 – Orçamento Fiscal da União – 1995 a 1999 – (% do PIB)

0 ,0 0 %

1 ,0 0 %

2 ,0 0 %

3 ,0 0 %

4 ,0 0 %

5 ,0 0 %

6 ,0 0 %

7 ,0 0 %

8 ,0 0 %

9 ,0 0 %

1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9

O r ç am e n to F isc a l Im p o sto d e R e n d a

P e sso as F ís ic as P e sso as Ju r íd ic as

Im p o sto s/ P r o d . In d u str ia lizad o

Fonte : Secretaria da Receita Federal O Gráfico 24 demonstra duas vertentes de análises, a primeira no que se

refere ao arrocho fiscal e a segunda ao risco de crise estrutural do equilíbrio das

finanças públicas. No tocante ao arrocho fiscal é evidenciado em face que de 2000 a

2010 o Orçamento Fiscal em 2008 correspondia a 9,1% do PIB, sendo que o IRPF

representava 3,6% do PIB , o IRPJ de 2,6% e o IPI 1,2% do PIB. A partir deste ano

marca o ponto de inflexão no tocante a redução da carga tributária do Orçamento

Fiscal em face que nos exercícios de 2009 e 2010 correspondeu a 8,2% do PIB,

sendo que em 2009 o IRPF foi de 3,4% do PIB e 3,3% do PIB e em 2010, apesar da

defasagem da tabela do IR17 , ou seja, o Governo Central poderá ter uma grave crise

estrutural nas finanças públicas em face do incremento das despesas obrigatórias e

da dificuldade no tocante a geração de receitas fiscais.

Esta alusiva crise fiscal é reflexo da política de desoneração do IPI, a qual

apenas contribuiu para privilegiar setores estratégicos como automobilístico,

refletindo em problemas estruturais para os Estados e Municípios no tocante a perda

17 A defasagem da tabela do IR vem afetando nosso bolso. Nos últimos 15 anos, até 2010, já há uma perda acumulada de 44,35%, segundo levantamento da Ernst & Young Terco. No período, a inflação registrada foi de 97,85%, enquanto o reajuste da tabela do IR foi de apenas 53,50%. CAMPOS, Elisa.Uma fome de leão – a defasagem da tabela do IR. Revista Época Negócios , São Paulo : Editora Globo Disponível em < htpp://colunas.revistaepocanegócios.globo.com/financasdebolso/2011/03/14/uma fome de leão a defasagem da tabela do IR >. Acesso 18/07/2012.

Page 82: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

82

de FPE e FPM. Assim, em 2000 o IPI representou 1,6% do PIB e em 2009 e 2010 foi

de 0,9% e 1,0%. No tocante a 2009 foi reflexo da política de desoneração para

buscar da retomada do crescimento e em 2010 reflexo do processo de

desindustrialização.

Gráfico 24 – Orçamento Fiscal da União – 2000 a 2010 – (% do PIB)

0,0%

2,0%

4,0%

6,0%

8,0%

10,0%

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Orçamento Fiscal Imposto de Renda

Pessoas Físicas Pessoas Jurídicas

Imposto s/ Prod. Industrializado

Fonte : Secretaria da Receita Federal No tocante a carga tributária dos Estados observa-se que em 1995 era de

7,6% do PIB, sendo que o ICMS era de 6,7% e em 1999 a arrecadação dos Estados

foi de 7,4% do PIB e o ICMS de 6,4% reflexo do baixo crescimento econômico.

Gráfico 25 – Carga Tributária dos Estados – 1995 a 1999 – (% do PIB)

0 ,0 %

1 ,0 %

2 ,0 %

3 ,0 %

4 ,0 %

5 ,0 %

6 ,0 %

7 ,0 %

8 ,0 %

1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9

Estad o s

IC M S

Fonte : Secretaria da Receita Federal

Page 83: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

83

O Gráfico 26 mostra os reflexos das negociações das dívidas estaduais com a

União se por um lado houve redução significativa da relação dívida/PIB dos Estados

(TORRES,2010) por outro lado em face das anomalias já salientadas das

vinculações das receitas as despesas evidenciou-se um aumento da carga tributária

para gerar os superávits primários necessários para manter a sustentabilidade da

dívida pública. Em 2005 e 2008, observa-se que a carga tributária dos Estados

atingiu o seu ponto máximo de 8,7% do PIB. Destaca-se que em 2008 o ICMS foi

maior do que em 2005, entretanto correspondeu a mesmo a carga tributária do

ICMS em 2002.

Os exercícios de 2009 e 2010 evidenciam o risco de sustentabilidade

macroeconômica fiscal, pois o ICMS para os estados da região Sul e Sudeste têm

uma grande importância no equilíbrio estrutural de suas finanças públicas

(TORRES,2010). Além disso, o ICMS para o Estado de São Paulo representa 90%

do total da Receita Bruta conforme o Programa de Ajuste Fiscal e está sendo o

Estado mais afetado com a perda da arrecadação do ICMS em face do processo de

desindustrialização. Destaca-se o risco de sustentabilidade fiscal para o Estado de

São Paulo, uma vez que em 2009 o setor Industrial representou 37,4% do total.

Além disso, ressalta-se o modelo de esgotamento do aumento do crédito em

consumo, e, portanto impactou também na perda da arrecadação do ICMS dos

Estados em % do PIB em 2009 e 2010.

Gráfico 26 – Carga Tributária dos Estados –2000 a 2010 – (% do PIB)

Fonte : Secretaria da Receita Federal

2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010

Estados 8,0% 8,3% 8,4% 8,4% 8,6% 8,7% 8,6% 8,4% 8,7% 8,3% 8,2%

ICMS 7,0% 7,2% 7,1% 7,1% 7,1% 7,1% 7,1% 6,9% 7,2% 6,9% 6,8%

0,0%

1,0%

2,0%

3,0%

4,0%

5,0%

6,0%

7,0%

8,0%

9,0%

10,0%

Page 84: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

84

No tocante ao equilíbrio fiscal o Brasil caiu na armadilha fiscal do FMI em face

que o Plano Real foi elaborado no sentido de se opor a elevação da carga tributária

em % do PIB (BATISTA,1994, p.19).

A proposta da "burocracia washingtoniana" é declaradamente conserva- dora no terreno tributário. Posiciona-se contra a utilização da política tri- butária como instrumento de política econômica ou social e se opõe à elevação da carga tributária como forma de equilibrar as contas públicas. Sem se preocupar com o fenômeno da evasão, recomenda que a carga tri- butária seja distribuída sobre uma base mais ampla e que, para isso, seja menos progressivo o imposto de renda e maior a contribuição dos impos- tos indiretos. A função do imposto se circunscreve a cobrir as despesas sas mínimas de um Estado reduzido a sua expressão mais simples. Trata-se de proposta que acentua ainda mais o grande peso que já tinham na América Latina os impostos indiretos e que tende a contribuir para o agrava mento da perversa estrutura da distribuição da renda na região. Mas, sem dúvida, atraente para os setores empresariais, concorrendo para a popularidade das reformas neoliberais entre as elites latino-americanas”

Para contrastar a realidade da importância da privatização para os resultados

dos ajustes fiscais na Nova Zelândia diferente do que ocorreu no Brasil conforme já

foi analisado em tópico anterior (CYSNE & SOBREIRA,2007,p.153).

A Lei de Responsabilidade de 1994 almejava a transparência nos relatórios de finanças públicas no tocante às intenções do governo na área fiscal e também encorajar os governos a levar em conta as consequências de lon- go prazo das decisões de política. Mas, os princípios estabelecidos em 1994 podem ser também vistos como resposta à situação fiscal de então, exemplificada no elevado e crescente nível de endividamento do setor pú- blico, que de menos de 10% do PIB na década de 1970, no caso da dívida líquida, cresceu fortemente ao longo dos anos de 1980, para situar-se na vizinhança dos 50% do PIB na primeira metade dos anos 1990. A partir daí, a dívida como proporção do PIB iniciou uma fase de expressiva queda”. A dívida líquida caiu de 44% do PIB em 1993/94 para 11% em 2002/2003. Os pagamentos da dívida foram financiados com os superávits operaciona- is e, até 2000 com vendas de ativos.

Outra análise feita por (CYSNE & SOBREIRA,2007,p.155 e 156) é de funda-

mental importância da política macroeconômica para contrapor a diferença no ajuste

fiscal realizado pela Nova Zelândia e o Brasil.

De 1998 a 2003, uma nova rodada de elevação da superávit primário, que chegou a 6% do PIB. Dessa vez o ajuste foi obtido com redução de 3 pon- tos percentuais do PIB nas despesas e aumento da mesma magnitude nas receitas. Em 2004 e 2005, observou-se alguma piora no superávit primário, apesar da continuidade do aumento da carga tributária: as despesas cres- ceram ainda mais. È de se notar que houve um processo de redução das despesas primárias ao longo de mais de uma década, ao todo da ordem de 10% do PIB, ten- dência que se reverteu somente em 2005. Um aspecto interessante, notado no gráfico 4.4, é que as despesas com juros caíram continuamente ao longo desse processo, fazendo com que, enquanto o ajuste primário tenha sido de ordem de 6% pontos percentuais

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do PIB, o ajuste no resultado nominal tenha sido de cerca de 10 pontos”. No entendimento de (CYSNE & SOBREIRA,2007, p. 156) o ajuste fiscal da

Nova Zelândia e as consequências macroeconômicas.

Após um longo período de déficits fiscais, a Nova Zelândia atingiu um su- perávit operacional em 1993/94 e manteve o resultado superavitário desde então. A melhoria inicial refletiu o crescimento da economia, receitas tribu- tárias crescentes e um firme controle de despesas. Num período seguinte o resultado piorou devido a duas rodadas de reduções de impostos, menor crescimento em 1997/98 e mudanças contábeis. O resultado operacional voltou a melhorar a partir de 2000, refletindo a intenção de se criarem su- perávits estruturais para incluírem despesas com prévia de fundos para fazer frente a futuras pressões demográficas sobre a previdência. As des- pesas operacionais da Coroa foram reduzidas, como percentual do PIB, de mais de 40% em 1992/93 para 32,4% em 2002/03. Os retornos macroeconômicos das reformas foram significativos. Cresci- mento maior e mais sustentável, expectativas inflacionárias muito meno- res e queda forte da taxa de desemprego na última década, ficando entre as mais baixas do mundo atualmente. Na área fiscal, persistentes déficits foram substituídos por persistentes superávits. De um déficit de 5,1% do PIB em 1992, passou-se a um superávit de 5,9% do PIB em 2005. Tam- bém houve melhoria no endividamento público, com a posição líquida re- centemente tendo se tornado positiva (isto é credora). A clareza de obje- tivos de desempenho foi uma parte importante no alcance desses resul- tados.

Diferentemente da política macroeconômica da Nova Zelândia a conduzida

pelo Banco Central do Brasil aliada a uma gestão fiscal ineficiente produziu

incrementos dos déficits nominais conforme o Gráfico 10. Além disso, foi um dos

fatores para o incremento da dívida bruta. E a piora do cenário de crise fiscal é

reflexo do modelo de esgotamento do aumento da arrecadação tributária em % do

PIB aliado ao cenário de incremento das despesas obrigatórias em % do PIB.

Para corroborar a análise do que significa uma gestão fiscal eficiente a

avaliação feita por (JONAS & SANCAK,2011,p.30)18 contextualizada em face que

eles avaliam ao diferenças nos resultados obtidos pelos Estados Unidos e o

Canadá. Enquanto a política fiscal dos Estados Unidos não produziu resultados

consistentes o ajuste fiscal implementado pelo Canadá resultou em mudanças

estruturais da economia.

Ambos paises lograron mejorar el saldo fiscal y revertir el crecimiento de la relacion deuda/PIB. En Canada, el saldo global mejoro 5% del PIB en los en los ejercicios 1995‒97, y alcanzo um superávit en el ejercicio 1998, que se mantuvo hasta el comienzo de la recesion mundial de 2007/08. En Esta- dos Unidos, el saldo global tambien mejoro de manera constante, en un 5% del PIB, durante 1993/98, e incluso alcanzo el superávit em 1998 -2001. Sin embargo, los superávits estadounidenses no duraron, y para 2003 el déficit presupuestario nuevamente superaba 3% del PIB”.

18

Jiri Jonas y Cemile Sancak, Vecinos Fiscales.Finanzas & Desarrollo septiembre de 2011

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86

Assim, a análise feita por (JONAS & SANCAK,2011;p.30) no que se refere à

diferença nos resultados dos ajustes fiscais contextualizando a implementação da

gestão fiscal eficiente do Canadá para manter a sustentabilidade da dívida pública.

A que se debe la diferencia de los resultados fiscales en la decada de 2000 a pesar del êxito inicial de ambos paises? La explicacion radica en los distintos enfoques empleados para contener el deficit. En Estados Uni- dos, la mejora se debio en parte a reformas del gasto y los impuestos, pe- ro tambien fue consecuencia de una actividad economica vigorosa y de un crecimiento significativo de las ganancias de capital, que generaron ingres- esos tributarios insostenibles, pero que llevaron al pais a descuidar la situa- cion fiscal. Canada, entre tanto, puso en marcha profundas reformas estructurales de la política de gasto y tributacion que tuvieron un impacto mas duradero,

É fundamental a avaliação feita por (JONAS & SANCAK,2011,p.31) no que

se refere que tanto os Estados Unidos como o Canadá tinham situações econômi-

cas e orçamentárias parecidas na década de 1990 e em função dos fatores

cíclicos aliada a implementação de políticas de crescimento resultaram no aumento

da relação dívida/PIB.

Antes de emprender el ajuste de mediados de la década de 1990, ambos países tenian situaciones economicas y presupuestarias parecidas. Los saldos primarios (es decir, antes del pago de intereses) eran casi identicos (grafico 1, panel superior), aunque el saldo global canadiense era peor al tener en cuenta el pago de intereses (grafico 1, panel inferior). Los coefici- cientes de deuda estaban en rapido ascenso en ambos paises (grafico 2) y las tasas de crecimiento economico eran parecidas durante los dos episo- dios de ajuste coincidentes (grafico 3). Hubo factores ciclicos, como la recesion mundial y el aumento de las tasas de interes, que empujaron al alza los coeficientes de endeudamiento, y lo propio ocurrio con factores es- tructurales como la indexacion de vários programas de gasto en Canada. La relacion deuda/PIB tambien aumento como consecuencia de politicas de estimulo encaminadas a promover el crecimiento economico, como re- cortes de los impuestos y aumentos de los gastos. .

No entendimento de (JONAS & SANCAK,2011,p.31) o incremento da dívida

pública representava uma ameaça a prosperidade econômica dos dois países por

diferentes razões.

Para ambos países, la creciente deuda publica representaba una amenaza para la prosperidad economica, aunque por razones algo diferentes. El gobierno canadiense hacia hincapie en las implicaciones negativas de los elevados pagos de intereses para el crecimiento, la importância de la equi- dad intergeneracional (es decir, que los ciudadanos de manana no tengan que pagar las cuentas de los ciudadanos de hoy) y la necesidad de mante- ner la capacidad de gasto en programas publicos valiosos como la atencion de la salud y la seguridad em la vejez, sin poner en peligro la estabilidad fiscal a largo plazo. El gobierno estadounidense ponia enfasis en los efec- tos perniciosos en la inversion privada de las altas tasas de interes y, a- través desse canal, en el crecimiento econômico.

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87

Na observação feita por (JONAS & SANCAK,2011,p.31) evidencia a visão

estratégica do governo do Canadá de implementar um ajuste fiscal para aumentar o

grau de competitividade em relação aos Estados Unidos.

Los planes de ajuste tambien eran diferentes. En Canada, el Plan 1995 puso en marcha un importante recorte del gasto y medidas estructurales profundas basadas en una evaluacion exhaustiva del gasto, una reforma del seguro de desempleo, amplios cambios al sistema de transferências del ingreso federal a las provincias, y uma reforma de las pensiones. Las autoridades optaron por ajustar las finanzas publicas principalmente a traves de la reduccion del gasto, dado que la carga tributaria ya era mayor que en Estados Unidos, su principal socio comercial. En Estados Unidos, la OBRA-93 incluia tanto controles del gasto como medidas destinadas a incrementar el ingreso tributário.

Mas a essência da eficiência do ajuste fiscal foi o apoio popular as medidas

estruturais de controle dos gastos públicos (JONAS & SANCAK,2011,p.32).

Estas reformas se sustentaron gracias a um decidido respaldo público, que el gobierno contribuyo a forjar a traves de una estratégia de comunicacion intensiva, incluidas conferencias nacionales y regionales organizadas por el ministro de Hacienda y extensos debates publicos a lo largo y a lo ancho del pais. Los canadienses tomaron cada vez mas conciencia de las implicacio- nes de los elevados niveles de deuda para el crecimiento y la equidad inter- generacional, asi como de la manera en que los altos costos del servicio de la deuda, que consumia 35% del ingreso del gobierno a comienzos de la de la decada de 1990, desviaban recursos que podian aprovecharse para un gasto mas productivo. Ademas, el gobierno adopto supuestos fiscales y macroeconomicos pru-dentes, que ayudaron a lograr un resultado general constantemente mejor de lo previsto, lo cual reforzo la confianza del publico en el Plan 1995.

Assim, ao contrário do Canadá, o Brasil evidenciou-se o incremento da

carga tributária do setor público consolidado, a qual não resultou na melhora no

provimento de bens e serviços como por exemplo educação, saúde e seguridade

social. Ou seja, a ineficiência da política macro econômica conduzida pelo Banco

Central de 1995 a 2011 aliada a uma gestão fiscal ineficiente em face das anomalias

das vinculações constitucionais e legais da receita a despesa implicitamente definiu

um nível mais elevado de pressão fiscal para a atual geração como também os

níveis elevados da relação dívida bruta/PIB em 2011, a qual resultará em

implicações para o crescimento e a equidade intergeneracional.

Neste contexto, a armadilha da concepção do Plano Real sem o alicerce

fiscal sustentável e com foco exclusivo na estabilização da inflação refletiu no

aumento da dívida pública bruta possibilitando a integração do Brasil na economia

internacional como espaços importantes de acumulação financeira e de exportação

de capital em sua forma líquida. Esta situação permite que a nova ordem global

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tenha suporte porque não só a principal economia mundial, os Estados Unidos,

necessita, cada vez mais, da riqueza do resto do mundo para manter as bases de

financiamento de seu poderio imperial, bem como a existência de uma riqueza

baseada na acumulação financeira que segundo projeção do Instituto McKinsey

Global e do FMI em 2010 a relação entre Ativos Financeiros e o PIB Mundial seria

de 3,4 (PAULANI,2009), ou seja, os especuladores se alimentam justamente de

países que têm uma gestão de política macroeconômica ineficiente como do Brasil.

• O modelo de esgotamento do aumento do crédito

Em face da crise mundial e da ausência de mecanismos de estimular o

crescimento via investimento em função da já salientada ineficiência da gestão de

política macroeconômica aliada a ineficaz gestão fiscal também já salientada o

Governo Lula concentrou a sua atenção na expansão do crédito para alimentar o

consumo a partir da crise de 2007. Assim, a retração do crescimento econômico do

PIB de -0,3% em 2009 provocada pelos efeitos da crise mundial aliado aos fatores

estruturais que serão salientados neste tópico.

O crescimento real do Brasil em 2010 é reflexo das combinações das

políticas de investimento (PAC) ; do estímulo ao crédito ; o aumento do salário

mínimo ; das renúncias fiscais do IPI do setor automobilístico e da redução da taxa

Selic, os quais resultaram em um crescimento econômico de 7,5% a.a

Em 2011, o Governo utilizou a combinação de políticas de crédito, a política

de valorização do salário mínimo , a política monetária e o efeito do Programa de

Aceleração do Crescimento (PAC), o quais resultaram em um incremento real pífio

do PIB de 2,7% em face dos reflexos das políticas dos Estados Unidos e da China,

os quais aumentaram significativamente o déficit estrutural do segmento de produtos

industrializados da economia brasileira. Ressalta-se, que os Estados Unidos ao

implementar a política de afrouxamento quantitativo e em virtude do alto

endividamento do setor famílias e privado os trilhões de dólares despejados ficaram

entesourados nos bancos americanos ou foram direcionados ao Brasil em face do

aumento da taxa Selic, pois o Banco Central foi forçado a aumentá-la pela pressão

da inflação, a qual estava bem acima da meta, refletindo na alta da valorização do

real impactando na redução da competitividade da economia brasileira.

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89

No tocante a China em virtude da queda das exportações da Zona do Euro e

em face da alta competitividade da sua economia aumentou consideravelmente o

volume de importações de produtos industrializados pelo Brasil.

Neste contexto, o pífio resultado do Produto Interno Bruto (PIB) nacional – de

0,2%, registrado no primeiro trimestre de 2012 – evidenciou que o modelo de

crescimento brasileiro está esgotado em face de que os alicerces no consumo e do

crédito aliada a política de valorização do salário mínimo e os programas de bolsa

família não são mais capazes de sustentar o crescimento do PIB principalmente pelo

atual nível de endividamento, a qual refletiu no índice de inadimplência.

O Gráfico 27 mostra que o crédito do setor privado em % do PIB em face

2005 representava R$ 586,5 bilhões (28,1% do PIB) e alcançou em 2011 R$ 1,948

trilhão (47,0% do PIB). O modelo de incremento do consumo além de evidenciar

esgotamento não produziu resultados satisfatórios do ponto de vista do crescimento

econômico em 2011 em face da política neoliberal (privatização, política

macroeconômica) conduzida pelo Governo Central pós Plano Real, refletida na

correlação entre o aumento do consumo e as importações (ver tópico crescimento).

Gráfico 27– Total do Crédito do Setor Privado no Brasil 2005 - 2011 (% do PIB)

-1 ,0 %

0 ,0 %

1 ,0 %

2 ,0 %

3 ,0 %

4 ,0 %

5 ,0 %

6 ,0 %

7 ,0 %

8 ,0 %

0 ,0 %

5 ,0 %

1 0 ,0 %

1 5 ,0 %

2 0 ,0 %

2 5 ,0 %

3 0 ,0 %

3 5 ,0 %

4 0 ,0 %

4 5 ,0 %

5 0 ,0 %

2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1

V o lu m e C r é d ito / P IB

C r e s c im e n to r e a l d o P IB

Fontes : Banco Central do Brasil, IBGE

Realizando uma análise desagregada do total do crédito do setor privado no

que se refere a avaliar o crédito imobiliário evidencia a importância para o

crescimento econômico do PIB em 2010. Salienta-se, ainda, que ao final de

dezembro de 2007 o crédito imobiliário correspondia a R$ 50 bilhões de reais

(1,72% do PIB) e em 2011 alcançou R$ 200 bilhões (4,84% do PIB). Apesar da

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90

pouca representatividade do alusivo crédito imobiliário (% do PIB ) no Brasil quando

comparado com os Estados Unidos existe um grande risco não só relativo a bolha

imobiliária, como também o risco da desindustrialização associado ao significativo

passivo externo líquido, pois resulta na restrição ao crescimento impactando nos

mecanismos de geração de emprego e renda.

Ressalta-se ainda o nível de endividamento no que se refere à relação dívida

e renda das famílias (GUTIERREZ,2012)19.

A relação dívida e renda das famílias, conhecida como endividamento, está próxima de 43%, mas ao excluir a parcela do crédito habitacional, a proporção cai para 30%. A declaração foi dada por Carlos Hamilton Araújo, diretor de Política Econômica do Banco Central (BC), que acrescentou que a tendência observada nos últimos meses é de queda”. [...] O diretor lembra que há 10 anos o crédito correspondia a 20% de participação no Produto Interno Bruto (PIB) e que hoje passa de 50%.

No que se refere ao risco da inadimplência não é percebida como

preocupante pelo economista da Serasa Experian, entretanto ele avalia a diferença

entre o nível de endividamento nos Estados Unidos e Canadá em relação ao Brasil

(GUTIERREZ,2012).

Para Carlos Henrique de Almeida, economista da Serasa Experian, o topo da inadimplência do consumidor já ficou para trás. Até o final do ano deve ficar perto da média histórica. Fechou o último mês (junho, segundo BC) em 7,8% e vai ficar ao redor de 7% no ano. Já está de bom tamanho”. Ao ser questionado sobre o endividamento – percentual de dívidas na renda – Almeida lembra que não é preocupante e baixo para os padrões internacionais. “No Canadá,Reino Unido e Estados Unidos passa de 100% da renda, mas a diferença é que lá os prazos são mais longos e as taxas de juros mais baixas”

No que tange ao nível de endividamento do Estado de São Paulo teve um

incremento em relação ao mês anterior de acordo com a Pesquisa de

Endividamento e Inadimplência (PEI) da Fecomércio (GUTIERREZ,2012).

De acordo com os dados da PEI, o nível de endividamento no Estado de São Paulo ficou em 50,9%, sendo que no mês anterior estava em 48,7% e janeiro em 42,4%. “ Em São Paulo há uma concentração muito grande do potencial do consumo e mostra o perfil do endividamento [Brasil]. É um retrato do nicho.

É necessário fazer uma análise sobre a correlação entre a prosperidade

econômica dos Estados Unidos de 1991 a 1999 e a crise imobiliária nos Estados de

2007 no sentido de diferenciar o risco desta alusiva crise no Brasil em 2012.

19 GUTIERREZ,Marcelle.Endividamento do consumidor está em 43%. Diário Comércio Indústria & Serviços. São Paulo, 11,12,13 ago. 2012. Caderno Finanças & Mercados.

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91

No tocante alusiva prosperidade foi obtida mediante um volume crescente de

empréstimos para a construção de imóveis residenciais, refletindo no impacto sobre

o crescimento no PIB americano (FISLOW,2011,p.8).

Conforme Robert Shiller,” a bolha dos imóveis residenciais foi uma causa muito importante, se não a causa,da crise do crédito subprime e da crise econômica mais geral...”Os preços dos imóveis residenciais, subiram em proporções recordes e de modo contínuo desde o fim dos anos 1990 até 2006, permitindo aos donos de imóveis consumir e tomar empréstimos sem cessar, impulsionado a economia após o colapso dos preços das ações no Nasdaq em 2000-2001 e o ataque de Al Qaeda ás Torres Gêmeas em 2001. A construção civil – e o emprego nela – tornou-se líder da economia. Essas condições persistiram até o início de 2006, quando o investimento residencial começou a desacelerar. Nos três anos anteriores, esse investimento – que alcançou 6% do produto total – fora a fonte de 15% do crescimento do PIB. Em novembro de 2006, quando as licenças de construção para novas casas tinham caído em 26% comparado ao ano anterior, havia se tornado mais claro, ao menos para algumas pessoas que estava se gerando um grande problema.

Em 2001, após os atentados terroristas de 11 de setembro, os americanos

reduziram drasticamente o consumo, sendo que este representava 70% do PIB do

país e, portanto, o Federal Reserve, banco central norte-americano, baixou

significativamente a taxa básica de juros. Além disso, a desregulamentação do

mercado bancário americano possibilitou assim aos bancos uma grande abertura

nas linhas de crédito imobiliário, inclusive às pessoas que se enquadravam no

subprime, ou seja, clientes que não tinham uma renda comprovada e aliada a um

histórico de inadimplência, entretanto apesar do alto risco de crédito oferecia um alto

risco de retorno de capital.

Em um contexto de alto risco envolvido nessa transação imobiliária, os

bancos venderam títulos no mercado com o intuito de adiantar vencimentos, tais

títulos foram bem aceitos justamente por conta da alta taxa de juros envolvida.

Assim, as corretoras de investimento compraram os títulos, gerando um outro capital

a ser emprestado pela financeira, e repassavam os papéis como proposta de

investimento a seus investidores espalhados por todo o mundo. Essa cadeia gerou

uma liquidez incerta e aumentou ainda mais o risco em face do efeito cascata, isto é,

se o cliente subprime não cumprisse com sua obrigação de pagamento do

empréstimo, resultaria em um efeito de perda para todos os demais setores

envolvidos.

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92

Assim, a desregulamentação financeira resultou na securitização hipotecária

tornando uma fonte importante de expansão do setor financeiro (FISLOW,2011,p.8).

Por outro lado, a securitização de dívida hipotecária tornou-se uma fonte importante de expansão do setor financeiro. Um número crescente de bancos hipotecários vendeu a dívida hipotecária para outros bancos e instituições financeiras que, por sua vez, com base nela, criaram novos pacotes e passaram para outros investidores. Bancos comerciais e de investimento usaram operações com companhias financeiras do chamado “setor bancário oculto”, os SIVs (structural investment vehicles), não incluídos em seus balanços, para aumentar a lucratividade pelo aumento de sua alavancagem. Foram criados instrumentos financeiros cada vez mais complexos, as CDOs (collateral debt obligations), títulos garantidos por dívidas, e, ativos financeiros novos, se afastaram cada vez mais de suas contrapartes físicas, sendo rapidamente vendidos a outros investidores. As hipotecas prontamente se tornaram de alto risco, exigindo pouca evidência de que os devedores tinham capacidade para pagar o serviço da dívida. Derivativos, não regulados, passaram a ser amplamete usados como forma de aumentar a alavancagem financeira. Os credit default swaps (CDS), um tipo de seguro contra perdas garantindo os valores dos ativos em caso de calote, proliferam.

Após a retomada do crescimento norte-americano o Federal Reserve

aumentou a taxa de juros de 4,75% para 5%, em 10 de maio de 2006 em face de

conter o aumento da inflação em função do comportamento da elevação do preço da

energia (ESTEVES, 2006,p.1)

Segundo o Presidente do Fed, Ben Bernanke, o aumento do preço da energia comprometeria o atual ritmo sólido de crescimento estaduni-dense. Em 2006, o preço da energia acumulou alta de 30,8%, em comparação com os 17,1% registrados em todo o ano de 2005.

A política monetária contracionista do FED resultou na queda no valor dos

imóveis em face de comprometer a capacidade de grande parte dos compradores

potenciais de adquirir residências, o que, em consequência, refletiu na ausência de

demanda, deprimindo os preços ainda mais, agravando a recessão iniciada pelo

aperto monetário.

Neste contexto, as pessoas que tinham adquirido seus imóveis, e, portanto

possuíam compromissos hipotecários tiveram suas dívidas aumentadas sem o

correspondente incremento da renda, resultando no aumento significativo no índice

de inadimplência, o que gerou a chamada "bolha imobiliária", a qual veio a explodir

em meados de 2007. Essa bolha criada pela inadimplência, resultou em perdas

significativas para as instituições financeiras e corretoras de investimentos ao redor

do mundo. Com a deflagração da crise, refletiu em saques de seus investidores,

resultando na quebra do Lehman Brothers.

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93

Nesta manhã, a Lehman Brothers, uma das mais prestigiosas instituições de Wall Street, entrou com um pedido de proteção por falência depois que as tentativas para salvá-la feitas durante o fim de semana fracassaram". Nos meses seguintes, os desdobramentos da falência do Lehman Brothers desencadeariam uma torrente de destruição da riqueza de pessoas, empresas e países. Alguns meses depois, tinham sido reduzidos a cinzas em todos os continentes cerca de 50 trilhões de dólares, o equivalente a todo o PIB mundial, ou toda a riqueza produzida por todos os 6,5 bilhões de terráqueos durante um ano. Só nos Estados Unidos, as famílias perderam 14 trilhões de dólares. Dados do Censo americano, divulgados na semana passada, evidenciaram os efeitos da recessão no bem-estar da população: a renda média dos americanos caiu 3,6% em 2008, a maior retração em quatro décadas, e o porcentual dos que vivem na pobreza subiu para 13,2%, o maior desde 1997. Além disso, a taxa de desemprego está perto de 10%, mais que o dobro da registrada nos tempos de bonança” (O mundo pós crise como usar, 2009, p.124)20.

Por outro lado, em setembro de 2007 o súbito aumento das taxas de juros

interbancárias resultou ao fim de 2008 a redução das taxas de juros a quase a zero

e uma significativa intervenção fiscal do Tesouro Americano agravando ainda mais o

déficit fiscal (FISLOW,2011,p.8).

Em setembro de 2007, em resposta ao súbito aumento das taxas de juros interbancárias à medida que os bancos hesitavam em depositar seus excessos de reservas em outros bancos, o FED reagiu a desaceleração do crescimento reduzindo a taxa de juros de 5,25% para 4,75%. Esse foi apenas o início atrasado de um processo que, até o fim de 2008, tinha se acelerado a ponto de levar a taxa de juros do FED para próximo zero. Entrementes ocorreu o maciço colapso financeiro de setembro de 2008, e houve uma intervenção fiscal do governo de 700 bilhões de dólares (TARP – Troubled Asset Relief Program) em reação à crescente evidência de que esse declínio era mais grave que um ciclo econômico típico. De fato, logo depois da posse de Obama, em janeiro de 2009, veio outro programa fiscal (ARRA – American Recovery and Reinvestment Act), envolvendo gasto público e redução de impostos no valor de 787 bilhões de dólares na tentativa de conter o declínio”. Essa medida está agora se esgotando. Muitos na esquerda que haja uma suplementação imediata para reviver a economia fraca, enfatizando a necessidade de maiores gastos diretos, que têm efeito multiplicador maior que o corte nos impostos. Na direita, considera-se necessária outra coisa : manter o corte de impostos de Bush indefinidamente no futuro, permitindo que a demanda privada, e não a pública, funcione como a base da futura expansão. O Presidente Obama lançou recentemente um novo programa de gastos, junto com uma redução permanente de impostos para investimentos e manutenção da redução de impostos para casais com renda inferior a 250.000 dólares ao ano. A eleição de novembro de 2010 determinará qual das abordagens permitirá uma maioria no Congresso nos próximos dois anos e o surgimento de alguma política coerente.”

Assim, uma vulnerabilidade que estava baseada no risco do mercado

subprime acabou se dissipando para mercado imobiliário como todo em face que

com o não pagamento das hipotecas resultou em uma queda do preço das casas, e, 20 GUANDALINI, Giuliano. O mundo pós crise como usar. Revista Veja , Editora Abril , São Paulo, nº 2.130, p.124, 16 de setembro de 2009.

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94

portanto não se justificava o pagamento das hipotecas, pois o financiamento estava

bem acima do valor atual dos imóveis.

Salienta-se a análise do Secretário do Tesouro americano, Timothy Geithner,

no tocante as vulnerabilidades do consumo e o endividamento excessivo nos países

ricos principalmente os Estados Unidos e a segunda falha a de regulação do sistema

financeiro.

Nosso desafio central será fazer com que as vulnerabilidades em nosso sistema que originaram essa recessão não causem uma nova crise". As "vulnerabilidades" a que Geithner se refere podem ser resumidas a du- as. A primeira abrange o consumo e o endividamento excessivos nos paises ricos, principalmente naqueles que cresceram acima de suas pos- sibilidades nos últimos anos, sendo os Estados Unidos o caso mais notório. A segunda falha foi a de regulação do sistema financeiro. Os bancos se valeram de brechas legais para erigir um sistema financeiro paralelo, baseado em garantias frágeis e impulsionado pela disseminação de contra- tos derivativos, multiplicando a concessão de financiamentos, inflando bolhas e aprofundando ainda mais o endividamento (O mundo pós crise como usar, 2009, p.124)21.

Por outro lado, a análise sobre a probabilidade sobre o duplo mergulho é de

fundamental importância para entender o contexto da atual dimensão da crise

mundial em relação aos anos 80 (FISLOW,2011,p.11-12).

Parece haver apenas uma dimensão em que faz sentido a comparação entre os anos 1980 e o presente. Trata-se do investimento residencial como elemento dominante do declínio em ambos os casos, bem como a recuperação temporária em 1980. Antes nos anos 1980, haviam ocorrido fa- lências de bancos e dificuldades com intermediários de poupança e empréstimos, mas a dimensão do problema foi limitada. [...] Pode-se ver claramente a breve melhoria em 1980, seguida do reinício da queda em 1981, levando ao segundo , e ,mais grave, declínio. Mas este chegou ao fim no início de 1983, levando à recuperação que ocorreu então. Não aconteceu uma reversão semelhante no segundo caso, até ocorrer uma melhora ínfima em 2009. Uma razão dessa melhoria foi o desconto especial de impostos federais para encorajar os proprietários de residências. Esse desconto terminou, e estão sendo pensados novos esforços para lidar com o problema. Alguns não preveem o nível mais baixo antes de 2013 e, depois disso, apenas lenta melhoria. Os números para o início de novas construções residenciais estão no momento no menor nível desde que há registro, uma fração do que já foram, apesar do aumento da população. Esse declínio tem duplo efeito. Por um lado, o nível de investimento caiu tanto que qualquer queda que ainda possa ocorrer terá efeito mínimo sobre a atividade econômica subsequente. Por outro lado, dado o grande número de imóveis desocupados, e a continuação da tomada das residências de inadimplentes, não se pode esperar que venha logo uma recuperação imobiliária que sirva de base para uma grande expansão econômica subsequente, como frequentemente aconteceu no passado com o investimento imobiliário residencial.

21GUANDALINI, Giuliano.O mundo pós crise como usar. Revista Veja, Editora Abril, São Paulo, nº 2.130, p.124, 16 de setembro de 2009.

Page 95: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

95

A dimensão geográfica do problema é maior no presente que no passado. Existe uma concentração geográfica maior da perda de residências por inadimplência nos anos recentes, em comparação com os anos 1980. [....] Finalmente, uma diferença significativa entre os dois ciclos residenciais foi o papel do aumento de preços das residências na bolha recente, comparado com a experiência anterior. Não houve ganhos reais até os anos 1980, e ai eles acabaram. No período recente, os proprietários de residências obtiveram ganhos de capital importantes e contínuos, que se traduziram em poupança pessoal reduzida e demanda crescente por bens de consumo durável. Isso abriu a oportunidade para importação abundantes e sancionou a reduzida atividade manufatureira doméstica. A redução de impostos e as guerras no Iraque e no Afeganistão se traduziram em déficts crescentes financiados pelo exterior.

O risco de uma deflagração de uma crise imobiliária no Brasil não será

iniciada através do risco de crédito, pois a Caixa Econômica Federal, sendo a maior

financiadora de crédito imobiliário no Brasil, “utiliza a metodologia credit score para

avaliar os clientes promitentes de crédito habitacional para objetivar a concessão do

crédito no sentido de criar uma carteira de financiamento equilibrada entre risco e

rentabilidade” segundo (Marinho,2003)22 Portanto, diferentemente da crise

imobiliária nos Estados Unidos,a qual se iniciou no mercado subprime.

E então de onde poderá deflagrar a crise imobiliária no Brasil ? Através da

alta no valor dos imóveis após 2009, pois dificulta a aquisição de novos

empreendimentos em face de que consumidores cuja renda e capacidade de

endividamento não aumentaram na mesma velocidade.

Nos últimos seis anos, com o destravamento do crédito imobiliário, cerca de 1 milhão de famílias brasileiras conseguiram realizar esse sonho. Como as incorporadoras passaram a lançar prédios e loteamentos cada vez mais luxuosos e confortáveis, intensificou-se o costume de medir o status social de uma pessoa com base no número de metros quadrados e na localização do imóvel em que mora. À medida que o tempo foi passando, o aumento da demanda começou a elevar os preços num ritmo alucinante. Em 2009, a alta no valor dos imóveis no país foi de 22%, a terceira maior do mundo. Na época, não faltaram previsões de que não havia espaço para mais au- mentos. Veio 2010, a valorização chegou a 25% e o Brasil com o primeiro lugar no ranking das maiores altas. Nesse processo, o mercado imobiliário brasileiro se tornou o mais caro da América Latina. Quem comprou sua ca- sa antes do boom viu seu patrimônio dar um salto. E milhões se sentiram deixados para trás - gente cuja renda e capacidade de endividamento não aumentaram na mesma velocidade dos preços ou, ainda mais frus- tante pessoas que pensaram demais e acabaram atropeladas pela avalan- che. [...] Nos 12 meses encerrados em março, a alta media dos imóveis foi de

22

MARINHO, Marcelita Marques. Análise de risco de crédito para financiamento imobiliário em países emergentes. Revista Tecnologia do Crédito, Edição nº 38

Page 96: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

96

23%, a segunda maior do mundo – só perdemos para a Índia. Mas talvez a observação mais importante diga a respeito aos últimos seis meses. Fi- ca claro que o ritmo louco de valorização parece estar perdendo fôlego. Nesse período, a alta foi de 8,4%, número ainda robusto, mas bem menor do que os de 13,5% do mesmo período um ano antes. A desaceleração fi- ca evidente em seis das principais capitais brasileiras : São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife e Fortaleza.23

Ressalta-se que além dessa bolha há um risco considerável no que se refere

ao processo de desindustrialização ,e, portanto na perda de geração de empregos ,

impactando no crescimento econômico. Neste contexto, a perda de emprego

resultaria na inadimplência do financiamento imobiliário, e, portanto a retomada dos

imóveis pelas instituições financeiras, refletindo na maior oferta e queda dos preços

imóveis, o que resultaria em uma crise no crédito imobiliário em face do incremento

da inadimplência.

Gráfico 28 – Volume do crédito imobiliário no Brasil (R$ milhões) e Crédito Imobiliário (% PIB) – 2007 - 2011

0 ,0 0 %

1 ,0 0 %

2 ,0 0 %

3 ,0 0 %

4 ,0 0 %

5 ,0 0 %

6 ,0 0 %

0

5 0 0 0 0

1 0 0 0 0 0

1 5 0 0 0 0

2 0 0 0 0 0

2 5 0 0 0 0

2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1

C r é d ito Im o b iliár io

C r é d ito Im o b iliár io /P IB

Fonte : Banco Central do Brasil

A tabela 5 demonstra a baixa representatividade do crédito imobiliário em

percentual do PIB quando comparado principalmente com os Estados Unidos.

23 NAPOLITANO, Giuliana ; MEYER, Carolina ; STEFANO, Fabiane. A hora é de comprar ou vender ?. Revista Exame, Editora Abril, São Paulo, Edição nº 1017, p.41-42, 30 de maio de 2012.

Page 97: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

97

Tabela 5: Crédito Imobiliário 2011 - (% PIB)

País

Brasil 4,84%

Itália 22,90%

Alemanha 37,70%

França 39,80%

Área do Euro 40,20%

Espanha 61,20%

Holanda 66,10%

Estados Unidos 70,30% Fonte : Banco Central do Brasil

A política de expansão do crédito foi muito benéfica para o crescimento

econômico do país, entretanto não produzirá mais resultados satisfatórios em face

dos limites estruturais já salientados. O volume de crédito do setor privado atingiu

em maio de 2012 o montante de R$ 2,047 trilhões, ou seja, um crescimento de

17,8% de maio de 2012 em relação ao mesmo período de 2011, refletindo em um

resultado pífio de crescimento do PIB de 0,2% no primeiro trimestre de 2012

corroborando para análise das limitações estruturais do Brasil a serem salientadas ,

desta forma dificultando um crescimento compatível com o PIB potencial estimado

de 3,5% a.a, resultando no incremento do índice de inadimplência (Gráfico 29).

Gráfico 29 – Volume do crédito do setor privado (R$ bilhões) e Taxa de crescimento do credito 2011 -

2012 (%)

16,6%

16,8%

17,0%

17,2%

17,4%

17,6%

17,8%

18,0%

18,2%

18,4%

18,6%

-

500.000

1.000.000

1.500.000

2.000.000

2.500.000

Crédito Tx. Crescimento

Fonte : Banco Central do Brasil

Page 98: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

98

Gráfico 30 - Taxa de inadimplência – janeiro de 2011 a julho de 2012 (%)

-6,00%

-4,00%

-2,00%

0,00%

2,00%

4,00%

6,00%

8,00%

10,00%

Fonte : Banco Central do Brasil

O crédito imobiliário atingiu em maio de 2012 o montante de R$ 229 bilhões,

entretanto diminuiu o ímpeto do consumidor de adquirir imóveis em face do atual

nível de endividamento e do crescimento da economia.

O ritmo mais modesto da economia (o produto interno bruto cresceu 2,7% no ano passado e a estimativa é de um número não muito diferente neste ano) tem impacto diferente no mercado imobiliário. De maneira geral, os preços aumentaram bem mais que a massa salarial. Nem a queda dos ju- ros dos empréstimos imobiliários – que, em média, passaram de 14%, em 2006, para 9%, neste ano – conseguiu compensar. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, os imóveis valorizaram, em média, entre 80% e 110% nos últimos quatro anos. Há casos em que os valores mais que triplicaram. Nesse mesmo período, o rendimento da população cresceu menos de 30%. E o endividamento do brasileiro pulou de 27% da renda anual em 2007 para os atuais 44%. Diante de consumidores já não tão dispostos a pagar qualquer preço por um imóvel, as construtoras voltaram às pranchetas e reviram seus pla- nos para 2012. As 11 construtoras de capital aberto do país devem lançar empreendimentos que equivalem a 41 bilhões de reais em vendas. Embo- ra o montante seja superior ao do ano passado, há uma nítida brecada no ritmo. Desde 2009, os lançamentos vinham crescendo 20% ao ano. A al- ta agora foi de 2,5%. O motivo de desaceleração nos lançamentos é o es- toque anual de imóveis não vendidos, estimados em 30 bilhões de reais, o mais alto da história do país. Em função disso, a expectativa é que nos próximos meses a maior parte das incorporadoras centre esforços para liquidar os imóveis. Empresas como Gafisa, Even e Trisul têm oferecido descontos de até 30% em alguns empreendimentos. 24

Ressalta-se, ainda, que desde 2006 o consumidor que tem um financiamento

imobiliário num banco imobiliário pode transferir a dívida para outra instituição se as 24 NAPOLITANO, Giuliana ; MEYER, Carolina ; STEFANO, Fabiane. A hora é de comprar ou vender ?. Revista Exame, Editora Abril, São Paulo, Edição nº 1017, p.41-42, 30 de maio de 2012. .

Page 99: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

99

condições forem melhores, entretanto deve se avaliar se a economia a ser feita com

o pagamento dos juros compensa as taxas que bancos e cartórios cobram para

fazer a transação em face que o custo estimado é de 1%.

Salienta-se, ainda, a análise do professor Reinaldo Gonçalves no que se

refere ao risco da especulação no mercado imobiliário se transformar em bolha25.

Outro dado que merece atenção: o crédito imobiliário. Em 2003 a Caixa Econômica Federal concedeu R$ 5 bilhões em crédito imobiliário em 250 mil contratos. Em 2010 o volume de contratos foi cinco vezes maior, ótimo resultado, aumentou o número de compradores de imóveis, mas totalizaram R$ 78 bilhões. O valor médio do financiamento aumentou mais de 200%. Muito acima do reajuste salarial e quatro vezes o índice acumulado de inflação. O risco da especulação no mercado imobiliário se transformar em bolha não é desprezível.

Gráfico 31 - Volume de crédito Imobiliário no Brasil – dezembro de 2011 a maio de 2012 (R$ bilhões)

1 8 5 0 0 0

1 9 0 0 0 0

1 9 5 0 0 0

2 0 0 0 0 0

2 0 5 0 0 0

2 1 0 0 0 0

2 1 5 0 0 0

2 2 0 0 0 0

2 2 5 0 0 0

2 3 0 0 0 0

2 3 5 0 0 0

d e z / 1 1 ja n / 1 2 fe v / 1 2 m a r / 1 2 a b r / 1 2 m a i/ 1 2

Fonte : Banco Central Outro problema a ser salientado no setor imobiliário, o incremento significativo

de demanda por imóveis de 2008 a 2012 revelou uma série de gargalos, mão de

obra escassa e alta nos preços de matéria primas.

O modelo de crescimento baseado no consumo é um limitador estrutural ao

crescimento econômico em face das outras limitações estruturais já salientadas,

refletindo no baixo crescimento econômico do PIB ,e, portanto na elevação da

inadimplência e de endividamento.

O consumo perde o fôlego ainda porque as famílias estão com elevados nível de endividamento e inadimplência. Dados do Ipea apontam que o comprometimento de renda mensal das famílias com o serviço das dívidas

25

GONÇALVES, R, A herança lula: o passivo externo do Brasil, 2 de março de 2012. Acesso em 22 de agosto de 2012. Disponível http://vermelhosnao.blogspot.com.br/2012/03/heranca-lula-o-passivo-externo-do.html

Page 100: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

100

(com ajuste sazonal) também apresenta tendência de alta no último ano. Em abril do ano passado, o serviço das dívidas representava 19,8% da renda mensal e passou para mais de 22,1% da renda mensal em abril de 2012.26

A questão central neste tópico foi que a política de expansão do crédito

contribuiu para o incremento do crescimento econômico, entretanto evidencia-se o

modelo de esgotamento em face das limitações estruturais do crescimento

econômico aliado ao alto nível de comprometimento de renda do consumidor

brasileiro. Por outro lado, abordou que apesar do crédito imobiliário no Brasil ter um

baixo percentual do PIB quando comparado aos Estados Unidos é muito

preocupante em face de que no Brasil a taxa de juros é maior e o prazo de

financiamento é menor. Além disso, evidenciou-se uma existência de uma bolha

imobiliária no Brasil em face da alta valorização dos preços dos imóveis de 2011 em

relação a 2007 aliada ainda a um alto risco em função de que o valor médio do

financiamento foi bem superior ao reajuste salarial e a inflação do período.

• A dinâmica do poder da década de 1970 a 2012 Este tópico será fundamental para diferenciar a limitação estrutural do Brasil

da década de 80 com relação ao período de 2006 a 2012. Além disso, avalia a

dinâmica do poder do Plano Marshall ao século XXI e as suas consequências.

Em primeiro lugar, a natureza hierárquica e assimétrica do poder interna-

nacional é reflexo do Acordo de Bretton Woods e posteriormente a sua ruptura

aumentou ainda mais o poder dos Estados Unidos no tocante a hegemonia de

políticas : a cambial, a monetária, a fiscal, a expansão do crédito e de residencial.

O Acordo de Bretton Woods após a segunda guerra mundial possibilitou

aos Estados Unidos ampliar a hegemonia no pós-guerra em face de oficial-

mente o dólar ter se transformado em reserva internacional, ou seja, o dólar ficou

vinculado ao ouro. Assim, as demais moedas deveriam se alinhar ao dólar,

tornando-se convertíveis as taxas de cambio relativamente fixas. Mas, na

realidade, o Plano Marshall e o Acordo de Bretton Woods foram utilizados para

ampliar e fortalecer o capitalismo e o poder dos Estados Unidos.

O Plano Marshall surge da necessidade de os Estados Unidos através do

então Secretário de Estado George Marshall de elaborar um plano econômico cujo

26 Oliveira, Fabiana, Para IPEA modelo de crescimento baseado no consumo está esgotado htpp://oglobo.oglobo.com/economia/para-ipea-modelo-de-crescimento-baseado-no-consumo-está-esgotado acesso 20/07/2012.

Page 101: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

101

objetivo era possibilitar a reconstrução dos países capitalistas, sendo que o maior

volume de empréstimos foram concedidos ao Reino Unido, França e Alemanha

Ocidental. Quais as reais objetivos dos Estados Unidos ? Primeiro, que o Plano

Marshall foi exitoso e possibilitou, nas décadas de 1950 e 1960, a recuperação

econômica dos alusivos países refletindo no aumento das exportações norte-

americanas para a Europa Ocidental, além de expandir a influência política dos EUA

sobre a região. E segundo, também muito importante fazer frente ao socialismo

durante a Guerra Fria.

Segundo a análise de (BURSTEIN, 1988,p.63) os Estados Unidos exerceram

o poder através de suas multinacionais aproveitaram com eficácia a relação com a

Europa ocidental nas décadas de 50 e 60.

A analogia adequada ao caso é a do relacionamento dos Estados Unidos com a Europa ocidental nas décadas de 50 e 60. O domínio dos merca- dos do Atlântico pelas multinacionais americanas e a imensa vantagem política obtida na Europa estiveram indissoluvelmente ligados à ascensão são dos Estados Unidos à supremacia mundial. Embora algumas das euro- péias estivessem entre as mais fortes do mundo, os líderes europeus - dos gaulistas aos socialistas – criticaram com frequência sua exploração em mãos americanas.

É fundamental para evidenciar a estratégia americana de poder em relação à

Alemanha Ocidental (BATISTA,1994,p.15).

Em 1946, os Estados Unidos reagiriam ainda mais prontamente que ao fi- nal da I Guerra Mundial. Das dívidas contraídas pela Inglaterra e pela Uni- ão Soviética sob o Programa "Lend-lease" cobrariam apenas 5% e 10% do seu valor, ou seja, perdoariam US$ 20,5 bilhões no primeiro caso e US$ 10 bilhões no segundo. Somadas, tais cifras equivaliam a cerca de 15% do PIB norte-americano na ocasião, ou seja, corresponderiam, em valores a- tuais, à impressionante cifra de US$ 750 bilhões. Em 1953, os Estados Unidos acabariam mais uma vez por não reivindicar reparações da Alemanha novamente derrotada. Interessados na recupera- ção da República Federal, no contexto da guerra fria, Washington reduziria em 2/3 a dívida alemã de pré-guerra e concederia mais 35 anos de prazo para amortização, a juros favorecidos, do saldo remanescente de 1/3. Isso não obstante tratar-se de dívida que havia sido objeto de moratória unilate- ral, ao ter a Alemanha suspendido seu pagamento vinte anos antes.

As razões fundamentais para a rápida recuperação econômica da Alemanha

Ocidental podem ser encontradas no modelo de crescimento exógeno. A Alemanha

Ocidental tinha uma força de trabalho qualificada e um elevado nível tecnológico em

1946, mas o seu capital produtivo (indústrias) fora amplamente destruído durante a

guerra.

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102

Para avaliar a dimensão dos obstáculos da Alemanha Ocidental no que se

refere ao pequeno estoque de capital, bem como a conversão de problemas

monetários e a necessidade de regulamentação para voltar a se inserir no mercado

internacional com poder econômico.

Após a guerra, a produção industrial da Alemanha ficou restrita a 30% do volume alcançado antes de 1939, as dívidas pressionavam e havia um ex- cesso de dinheiro em circulação, o que acabou minando a autoridade da moeda como indicador de poder aquisitivo.27

A arquitetura da rápida recuperação econômica foi feita pelo economista

Wilhelm Hankel, a qual se fundamentou inicialmente com a reforma monetária de

1948, a qual substituiu o reischsmark pelo marco alemão como moeda, impedindo a

inflação galopante. A alusiva reforma monetária de 1948 possibilitou uma rápida

virada do crescimento e da estabilidade, pois a nova moeda foi acompanhada por

uma ampla reforma do sistema, a qual significou o retorno à economia de livre

mercado e teve como um dos alicerces fundamentais o Plano Marshall. Pois, se

consubstanciou como um dos pilares da estratégia dos Estados Unidos através do

financiamento da recuperação da Alemanha Ocidental sem uma contrapartida de

exigência de um volume significativo das reparações econômica, as quais

desestabilizariam a economia alemã.

Outro ponto a ser salientado, o qual possiblitou o aumento do PIB da

Alemanha Ocidental foi baseada na elevada taxa de investimento de capital, graças

ao baixo consumo e uma necessidade muito pequena de investimentos em

substituição de capital (devido ao estoque de capital ainda pequeno) dirigiu esta

recuperação durante a década de 1950 aliada a alta qualificação de mão de obra, a

qual resultou no incremento da produtividade, refletindo em grandes superávits

comerciais baseada em produtos de alta tecnologia.

No tocante a entrada do Japão na dinâmica do poder segundo os arquitetos

da economia japonesa do pós-guerra (BURSTEIN, 1988,p.139).

Dos escombros da Segunda Guerra Mundial, surgiram três alternativas óbvias para a reconstrução. O Japão poderia apelar para o investimento di- reto estrangeiro (isto é americano), poderia apelar tomar empréstimo no ex- terior e endividar-se pesadamente, poderia estatizar o que tivesse restado de sua estrutura industrial e adotar um modelo centralizado de capitalismo de Estado. A maioria dos países da Europa ocidental recorreu a um desses mecanismos ou a todos eles, contando ao mesmo tempo com o Plano Marshall, criado pelos americanos para recuperar suas economias devasta-

27

EFE,Alemanha lembra 60 anos do marco, símbolo do milagre econômico. htpp: //economia.uol.com. br/ultnot/2008/06/20/ acesso 20/07/2012

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103

das. Além disso, evidenciou-se uma dificuldade do Japão de obter empréstimo

através do Plano Marshall. (BURSTEIN, 1988,p.140)

O Japão não optou por nenhuma dessas hipóteses. Em parte porque o capi- tal estrangeiro não estava facilmente disponível para ele. Os americanos lhe deram ajuda substancial na reconstrução, mas não havia Plano Marshall para o Japão. Até o final da década de 60, os financistas america- nos ainda tinham dúvidas sobre se o Japão merecia crédito. Nobuya Hagu- ra, presidente do Banco Daí-Ichi Kangyo (atualmente o maior banco do do, com ativos superiores a 250 bilhões de dólares), lembra-se bem do pe- ríodo entre 1965 e 1968, quando foi transferido para Nova York. Naquela ocasião, “minha principal função era conseguir empréstimos dos bancos do do centro financeiro”, ele conta. “ Não era fácil. Eu passava o tempo todo tentando convencê-los de que o Japão era bom investimento de risco.

Ressalta-se ainda a avaliação feita por (BURSTEIN, 1988,p.140) no que

tange a estratégia do Japão para alcançar o degrau de nação com poder econômico.

Mesmo que o capital estrangeiro tivesse sido mais abundante, não se pode estar certo de que o Japão teria optado por depender dele. Os japoneses não queriam que os estrangeiros conquistassem uma influência indevida sobre sua economia ; também não estavam particularmente dispostos a dividir a futura riqueza, pois tinham certeza de que ia chegar o dia em que seriam prósperos novamente. Até década de 80, o Japão tinha um dos climas mais inóspitos para o capital externo, obrigando as companhias estrangeiras a fazer associações com empresas locais, sujeitando-as a uma vasta gama de controles e proibindo-as de remeter lucros à matriz. Sob tais circunstâncias, mesmo as companhias americanas que tinham desempenhado papel proeminente no Japão antes da guerra – como a Ford e a General Motors, as líderes do mercado automobilístico japonês na década de 30 – jamais conseguiram reconquistar sua posição.

Além disso, esta visão estratégica tinha como fundamento outro pilar a

geração excedente próprio de capital (BURSTEIN, 1988,p.140).

Em vez de recorrer ao capital estrangeiro, os planejadores do pós-guerra optaram pela adoção de medidas que levassem o Japão a gerar excedentes próprios de capital através da poupança e do comércio. O excedente, por sua vez, seria aumentado à medida que a indústria japonesa subisse os de- graus de especialização e da tecnologia, capacitando-se a concorrer com os líderes industriais do mundo.

No entendimento de (BURSTEIN,1988,p.142-143) o grande diferencial estra-

tégico da economia japonesa se fundamentava em uma excepcional capacidade

de geração de poupança.

Inspirada em Confúcio, a vocação cultural da frugalidade proporcionou uma base sólida para os arquitetos da economia montarem as estruturas da política que promovia a poupança. Mas tanto comparando a taxa de poupança da unidade domiciliar japonesa, que deu em média mais de 15% da renda pessoal na década de 80, com a sofrível média americana de 6% no mesmo período quando considerando a poupança nacional bruta do

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104

Japão (reunião de todos os tipos de poupança – pessoal, empresarial e governamental), que é de 30% e, portanto, o dobro da americana, percebe-se que a grande diferença entre os dois países não pode ser atribuída apenas ao fator cultural japonês. Antes da Segunda Guerra Mundial, as taxas de poupança americanas e japonesas eram mais ou menos equivalentes.

Por outro lado, avalia o diferencial do contrato social japonês como outro

diferencial em termos de competitividade (BURSTEIN, 1988,p.145-146).

Por outra cláusula singular do contrato social japonês, o cidadão não apenas é convocado a poupar a mais alta porcentagem mundial sobre os seus ganhos: também se espera dele que aceite em troca os rendimentos mais microscópicos do mundo. Pagando aos depositantes taxas tão baixas, as instituições bancárias podem dar-se o luxo de emprestar dinheiro às empresas e ao governo a preços de liquidação.

É avaliada a vantagem de uma indústria em que o custo do capital é

comparativamente muito mais baixo do que os níveis praticados no resto do mundo

(BURSTEIN, 1988,p.146).

Quando a indústria pode tomar dinheiro a custo baixo para expandir-se, o caminho para novos investimentos é facilitado. Os custos mais baixos dos empréstimos é facilitado. Os custos mais baixos dos empréstimos redu- zem o risco a que se submetem as companhias japonesas quando cons- troem novas fábricas, investem em equipamentos de produção ou se lan- çam em novos setores. Os americanos, presos na armadilha das projeções “dos fluxos de caixa descontado”, deixam de fazer novos empréstimos não porque não sejam potencialmente rentáveis, mas porque os executivos financeiros não podem provar que serão rentáveis o suficiente para justificar os altos custos de empréstimos. A indústria japonesa sempre esteve em posição de vantagem por causa de capital. Só que, agora, essa vantagem assumiu nova dimensão. Hoje, os japoneses podem tomar empréstimos a juros baixos junto de seus banqueiros em Tóquio e Osaka para expandir seus negócios dentro dos Estados Unidos. Uma das explicações clássicas para a competitividade do Japão no pós-guerra diz que, ao reconstruir uma economia bombardeada a partir de zero, os japoneses conseguiram introduzir equipamentos modernos, enquanto as fábricas americanas, que escaparam incólumes à destruição no período, ficaram marcando passo com materiais obsoletos. Décadas mais tarde, po- demos passar esse hiato de tecnologia por uma revisão – mas com as du- as partes trabalhando dentro das fronteiras americanas. À medida que os fabricantes de automóveis procuram manter sua participação no mercado interno, concorrendo com a Toyota do Kentuchy, com a Nissan do Tenes- see e com a Honda de Ohio, eles estarão lutando contra as empresas que podem financiar, com evidente vantagem de custos, a instalação da próxi- ma geração de tecnologia produtiva.

Da mesma forma é avaliada a vantagem do governo japonês ao se financiar

com taxa de juros comparativamente muito mais baixa do que os níveis praticados

no resto do mundo (BURSTEIN, 1988,p.147).

Assim como a indústria, também o governo japonês pode conseguir fundos mediante empréstimos mais baratos do que os oferecidos a quaisquer ou- tros governos. Embora o endividamento de Tóquio seja compatível ao de

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Washington em termos de porcentagem do PNB, o déficit japonês não pro- voca nenhuma crise – em parte, porque o serviço da dívida é muito mais baixo. O Ministério das Finanças financia o déficit de Tóquio com títulos de longo prazo que rendem 5%, enquanto o Tesouro dos Estados Unidos pre- cisa oferecer 9% de modo a atrair investidores para seus títulos longos. As implicações desse diferencial são particularmente sombrias quando se e- xaminam os desafios futuros em pesquisa científica e infraestrutura, en- volvendo projetos caros e que só podem ser viabilizados se endossados por governos nacionais. O equilíbrio no setor de alta tecnologia será radi- calmente alterado se o Japão investir em ônibius espaciais, em comercia- lização de supercondutores, em mapeamento genético e biotecnologia com dinheiro a 5%, enquanto os Estados Unidos pagam o dobro pelos emprésti- mos que tomam.

Posteriormente, é analisada a vantagem das instituições financeiras japone-

sas em face do menor custo do dinheiro (BURSTEIN, 1988,p.147).

À medida que as instituições financeiras do Japão se expandem pelo plane- ta, a vantagem do custo de capital mais do que compensa a falta de perícia em novos setores de risco das finanças mundiais em que estão entrando pela primeira vez. Tomando dinheiro barato em casa e emprestando alto no exterior, as instituições financeiras podem comprar o tempo de que neces- sitam para aprender a arte de negociar, pagando o preço da inexperiência As corretoras de títulos japonesas já estão sendo acusadas de fazer dum- ping nos serviços financeiros, envolvendo-se em negócios conhecidos co- mo operações harakiri : dão lances em leilões de títulos que não apenas a- pontam para rendimentos magros, mas podem até resultar em prejuízos – subsidiados, naturalmente pela matriz. Esse é um meio excelente para atra- ir alguns dos clientes mais importantes do mundo. Manter baixos os custos de capital no Japão teria sido impossível sem con- trole rígidos. Obviamente, se os bancos estrangeiros tivessem podido ope- rar livremente no mercado de Tóquio ou se as companhias japonesas fos- sem livres para investir suas poupanças à vontade no exterior, o Ministério das Finanças e o Banco do Japão teriam perdido o poder de ditar as taxas de juros. A interação do mundo financeiro japonês com as forças estrangei- ras foi, por conseguinte, rigidamente proibida até pouco tempo atrás. [.....] Foi no início da década de 80 que as seguradoras japonesas começa- ram a investir no exterior. Após diversas rodadas de medidas liberalizantes, elas ainda precisam manter 70% de seus ativos em casa, embora os 30% que aplicam no exterior as tenham colocado entre os maiores investidores em títulos do Tesouro americano e imóveis.

Outro componente da estratégia japonesa além do controle da taxa de juros

sob controle governamental foi uma rígida segmentação das instituições financeiras,

a qual possibilitou ao longo da história sustentar o fluxo de capital do país em

constante equilíbrio (BURSTEIN, 1988,p.148 - 151).

Como parte do processo de reconstrução do sistema financeiro japonês de- pois da guerra, o artigo 65 copiou a Lei Glass-Steagall dos americanos, er- guendo um muro para separar bancos e corretoras de valores. Mas os ja- poneses foram ainda mais longe. Os bancos foram limitados a áreas espe- cíficas de operação, o que os manteve bem afastado uns dos outros. Essas categorias incluem os gigantescos bancos de varejo (city banks), que lide- ram a lista dos maiores do mundo, como o Daí-Ichi Kangyo, o Fuji, o Sumi- tono, o Mitsubishi, o Mitsui e assim por diante : os bancos de crédito de longo prazo; os trust Banks, que administram fortunas e bens sob curatela; os regionais. Os bancos de varejo podiam fazer empréstimos, mas apenas

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os de curto prazo; os bancos de crédito de longo prazo podiam financiar a expansão das empresas, mas não podiam aceitar depósitos públicos, como era permitido aos bancos de varejo. Apenas o Banco de Tóquio tinha licen- ça de operar em moeda estrangeira: os trust banks eram os únicos a admi- nistrar fundos de pensão e assim por diante, numa lista enorme de catego- rias cujas fronteiras foram cuidadosamente delimitadas – hoje quase todas elas estão passando por alguma forma de liberalização. [....] Com a segmentação hierarquizada e os rígidos controles do mundo fi- nanceiro japonês, o investidor foi privado de taxas de juros competitivas, a maioria das empresas foi levada a depender de um único “banco primário” e a diversificação do mercado foi retardada. Mas a estrutura serviu ao propó- sito da estabilidade: a falência de bancos é algo quase desconhecido no Ja- pão, embora o capital exigido e a proporção de empréstimos sejam conside- rados de alto risco pelos padrões ocidentais. A oferta interna de capital pôde crescer sem temer um dos piores problemas dos países em desenvolvimen- to – a “fuga” do dinheiro para mercados de retorno mais elevado. [....] No entanto, passados quatro anos desde que Tóquio deu início à aber- tura e apesar das enormes transferências de fundos para os setores de ma- ior rendimento, a taxa de desconto no Japão era a mais baixa de sua histó- ria e a mais baixa do mundo.

Outro fator estrutural foi a formação dos excedentes de capital advindos da

balança comercial (BURSTEIN, 1988,p.151-152).

Ao lado das altas taxas de poupança e dos controles sobre o ambiente fi- nanceiro, a força mais determinante a contribuir para a formação dos exce- dentes de capital japonês nos últimos anos tem sido o vertiginoso superá- vit da balança comercial do Japão em relação aos Estados Unidos e ao res- to do mundo. Desde o exato momento em que foi iniciado o processo de crescimento do Japão no pós-guerra, seus planejadores objetivaram uma economia que se- ria “antiimportação” e pró-exportação. [...] Nós sabíamos que o caminho ia ser longo até podernos criar um excedente comercial, pois tínhamos de im- portar toda a nossa matéria prima. Mas também sabíamos que, se impor- tássemos apenas as coisas absolutamente indispensáveis e tratássemos de obter tudo o mais por nossos próprios meios, acabaríamos criando uma indústria local que poderia concorrer no mercado internacional. Com o tem- po, tivemos a certeza de que conseguiríamos criar um excedente. Ele po- deria, então, ser reinvestido para gerar um excedente maior”.

A visão estratégica aliada aos fatores estruturais já comentados e o

investimento em qualidade através do programa Deming permitiu ao Japão reverter

à relação de déficit comercial para um superávit estrutural comercial permanente a

partir de 1964 (BURSTEIN, 1988,p.152).

Por incrível que isso possa parecer hoje, o Japão apresentou déficit comer- cial em relação aos Estados Unidos todos os anos desde 1955 a 1964. Em 1957, a Comissão de Meios do Congresso chegou até produzir relatórios sobre a “crise” comercial nipo-americana – com essa expressão, os mem- bros do comitê referiam-se ao pesado déficit comercial do Japão diante dos Estados Unidos. Mas 1964 foi o divisor de águas. A tocha olímpica ardeu marcando a volta do país ao rol das economias avançadas. Em 1965, o Ja- pão lançou um pequeno excedente comercial em sua contabilidade. Em 1972, quando o país registrou um excedente comercial global de 5 bilhões de dólares, em sua conta total de comércio pós-guerra saiu do vermelho. Agora, o volume de dinheiro que havia entrado como resultado das vendas de exportação era maior do que o que havia saído com a compra de impor-

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tado desde 1955. Por outro lado, a política fiscal expansionista a partir da década de 60, a qual

resultou em déficits orçamentários significativos,e, portanto para financiar o alusivo

desequilíbrio das finanças públicas o Banco Central Americano aumentou a emissão

de dólares, resultando na criação de problemas aos restantes países membros do

Acordo de Bretton Woods, porque os obrigava a emitir suas próprias moedas para

manterem o cambio “fixo”, criando pressões inflacionistas na sua economia, e por

outro, associado a uma degradação da conta corrente norte-americana, com as

importações crescendo mais rápido do que as exportações. Neste contexto, a

quantidade de dólares passou a exceder o estoque de ouro gerando uma crise de

confiança dos outros países de deter dólares.

A pressão foi aumentando no que se refere à perda de reservas em ouro e,

portanto, o então presidente Nixon pôs fim ao acordo de Bretton Woods e à

conversibilidade do dólar em relação ao ouro.

O processo de valorização do iene em face do fim do Acordo de Bretton

Woods não causou problemas a economia em face da visão estratégica dos

arquitetos da economia japonesa. (BURSTEIN, 1988,p.179-180).

O “choque Nixon” acabara de ocorrer, desligando o dólar americano do lastro em ouro e engatilhando uma enorme desvalorização do dinheiro americano frente a outras moedas de circulação mundial. O iene era cota- do, então a 360 por dólar. Sob intensa pressão dos Estados Unidos, os negociadores japoneses aceitaram relutantemente uma alta de quase 17% do iene, que passou a valer 308 por dólar. [....] Mas era a lógica americana que sugeria tal conclusão,não é a lógica japonesa. Os americanos tendiam a ver o assunto de modo absolutamente rígido – ou dólar fraco ou o iene forte. Os japoneses tendiam a observar as sutilezas entre uma coisa e outra, mais preocupados com a velocidade da mudança do que com a mudança em si. Se os Estados Unidos insistiam em forçar o iene para cima e o dólar para baixo, poucos especialistas japo- neses acreditavam que a tendência pudesse ser brecada. Contudo, podia ser administrada. “ Não temos medo de um determinado nível abstrato das taxas”, observou Yoshio Suzuki, um economista do Banco de Tóquio, depois que o dólar já tinha escorregado para menos de 140 ienes. O que tememos é não ter tempo para fazer os ajustes”

Além da valorização do iene a economia japonesa sofreu os efeitos dos

primeiro e segundo choque do petróleo de 1979, entretanto o Japão se ajustou

rapidamente (BURSTEIN, 1988,p.152-154).

De novo, o Japão ajustou-se rapidamente, com o mesmo tipo de medidas de emergência que já havia adotado. Apesar de um déficit comercial recor- de quase 11 bilhões de dólares em 1980, ele recuperou excedentes em

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1981. Os ajustamentos feitos na economia em consequência dos dois choques de petróleo prepararam o terreno para a partida e a decolagem do que de- pois seria conhecido como o milagre financeiro japonês. A indústria japo- nesa agora estava pronta para disparar como a força mais competitiva do comércio mundial não só nos setores da indústria tradicional, mas também em uma enorme gama de atividades que incluía setores de alta tecnologia. [....] Com o desdobramento de uma série de eventos internacionais, foi possível aos japoneses tirar o máximo partido da posição conquistada - uma vantagem maior do que a imaginada em seus sonhos mais utópicos e que deixou o resto do mundo pasmo. A primeira benção foi a política econômica de Reagan. Se ela não tivesse evitado, os japoneses teriam adotado inventá-la. Isso, porém, era algo que eles provavelmente não teriam ousado fazer, por temor de que fossem ob- vios, demais o favorecimento ao Japão e o prejuízo para os Estados Uni- dos. As políticas iniciais do governo Reagan tiveram o efeito de estimular a demanda interna nos Estados Unidos, mediante cortes fiscais incidentes no setor da oferta e rápido crescimento dos gastos governamentais. Tal demanda não podia ser totalmente atendida pela indústria dos Estados Unidos, que há anos vinha encolhendo, desinvestindo e “esvaziando” de de diversas maneiras sua capacidade de produção. Os economistas japoneses acharam profundamente estranho que um pre- sidente americano comprometido com princípios conservadores executas- se o que era obviamente uma política “sem precedentes de estímulo á de- manda, à moda Keynesiana”, conforme definida pelo economista Jiro To- Kujama. Mais estranho ainda era o fato de os Estados Unidos lançarem tal estímulo – que levou o mundo todo na onda – quando suas próprias in- dústrias estavam mal preparadas para aproveitar a oportunidade. O Japão, por outro lado, estava bem posicionado para fornecer tudo o que necessi- tasse uma economia americana superaquecida : máquinas-ferramentas para ajudar a indústria americana a se levantar e fazer a sua parte na ex- pansão, automóveis aos montes para aliviar a tremenda demanda de no- vos veículos, equipamentos domésticos para milhões de novos proprie- tários de casa própria, chips de computador para novos sistemas de defe- as do Pentágono, peças eletrônicas para a florescente revolução da infor- mática e a parafernália audiovisual para a crescente população de yuppies.

Os investimentos educacionais pelo Japão para consolidar o desenvolvimento

econômico obtido são comparados aos resultados do sistema educacional

americano (BURSTEIN, 1988,p.93).

[.....] Sob muitos aspectos, o sistema educacional japonês realmente fun- ciona melhor do que o americano. O analfabetismo entre os adultos, nos Estados Unidos, é estimado em 8%, ao passo que a cifra é de apenas 1% no Japão – a mais baixa do mundo. Cerca de 70% dos americanos chegam ao fim do segundo grau, contra 95% dos japoneses. No último ano do se- gundo grau,os estudantes americanos classificam-se em décimo segundo lugar em capacidade matemática, ao passo que os japoneses são os se- gundos do mundo.

Nesse contexto, é que se estabelece a relação simbiótica de poder entre

Estados Unidos e Japão. A política americana do pós-guerra baseada na política

fiscal expansionista baseada nos investimentos na indústria de defesa, aliada a uma

política baseada no incremento do consumo gerou um significativo aumento do PIB

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nominal. A título de comparação o PIB dos Estados Unidos em 1970 era de US$ 1

trilhão, representava 35,4% do PIB mundial e em 1980 passou para US 2,767

trilhões (25,1% do PIB mundial). Por outro lado os superávits comerciais gerados

pelo Japão foram utilizados para financiar os déficits orçamentários americanos e a

valorização do iene para adquirir empresas americanas (BURSTEIN, 1988,p.44-45).

Em 1986, o Japão tomou o lugar dos Estados Unidos na qualidade de maior credor mundial. O alcance das injeções de capital japonês nos últimos tem- pos tem sido comparado ao que se registgrou nas décadas de 50 e 60, quando os Estados Unidos compraram grande númerro de indústrias na Eu- ropa ocidental. Entretanto, a verdade é que as aquisições feitas pelos japo- neses nos últimos anos ultrapassaram em muito expansão americana da- quele período. Efetivamente, os ativos líquidos do Japão no exterior já su- peraram em 20% o recorde americano, estabelecido ao longo de 37 anos. [....] A ascensão do Japão a liderança mundial na coluna positiva do livro- razão espelha, em contrapartida, o mergulho dos Estados Unidos na colu- na dos débitos. País credor desde 1914, os Estados Unidos passaram a à posição de devedotr pela primeira vez na década de 80”. [....] Os Estados Unidos chegaram a depender dos investidores japoneses para o financiamento direto de até 30% do déficit orçamentário do governo. De 1985 a 1987, as principais corretoras de valores japonesas estiveram quase sempre entre as maiores compradoras nos leilões de títulos de lon- go prazo do Tesouro dos Estados Unidos.

A dimensão do poder do Japão como o maior detentor de títulos públicos

americanos impede que os Estados Unidos imponha retaliações as empresas

japonesas (BURSTEIN, 1988,p.99-100).

[...] Em um leilão de 1986, os investidores japoneses compraram 80% da emisão. Em termos econômicos, o Japão havia se tornado o principal ban- queiro da administração Reagan e o maior financiador do déficit orçamentá- rio dos Estados Unidos, que estava em crescimento explosivo. Para usar a gíria das ruas, Washington tinha caído no vício do capital estrangeiro. Os Estados Unidos dependiam desesperadamente dessa droga e o Japão era o seu fornecedor. A Casa Branca parecia estar perfeitamente à vontade nessa situação. Dada a pronta disponibilidade dos japoneses para comprar títulos dos Estados Unidos, as taxas de juros puderam continuar baixas durante 1985 e 1986. Taxas de juros mais baixas, por sua vez, possibilitaram que milhões de americanos concretizassem o desejo antes reprimido de comprar a casa própria e deram ao comércio e à indústria a oportunidade de se expandir sem recorrer a empréstimos com custos de dois dígitos – o que havia para- lisado a economia na década precedente, A disposição do Japão de devolver os excedentes de sua balança comercial aos Estados Unidos em formas de empréstimos (em lugar de investir em casa em outros países) foi um ingrediente crítico que permitiu a Ronald Reagan expandir os gastos militares, aumentar o déficit orçamentário e es- timular a econmia – tudo isso ao mesmo tempo que reduzia impostos. O truque que a maioria dos americanos não percebeu enquanto Reagan fa- zia seu passe de mágica foi que, a cada três meses, quando a dívida do Tesouro tinha de ser refinanciada, eram os estrangeiros que pagavam a conta. Se os investidores japoneses não tivessem comprado 90 bilhões de dólares em títulos da dívida pública americana em 1986, o déficit orçamen- tário do país teria se intrometido dolorosamente na vida da população sob diversas formas – desde juros hipotecários e impostos sensivelmente mais altos até cortes em programas de governo, que seriam mais profundos e

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com efeitos sociais mais graves.

A exemplificação do verdadeiro poder do Japão sobre a economia americana

em um contexto dos Estados Unidos na disposição de impor tarifas aos

semicondutores japoneses, refletindo em um impacto significativo sobre o Tesouro

americano (BURSTEIN, 1988,p.114-116).

Clayton Yeutter, chefe da missão de comércio bilateral dos Estados Unidos, estava iludido ao declarar, no dia em que as tarifas entraram em vigo, que o Japão tem coisas demais a perder para acalentar seriamente ideias de reta- liação. Na verdade, ao contrário do que insinuaram algumas autoridades, o Japão não denunciou o acordo sobre semicondutores em consequência da imposi- cão das tarifas. Também não criou novas tarifas para os produtos america- nos nem adotou abertamente outras medidas retaliatórias que poderiam le- var a uma escalada na guerra comercial. [...] Em algum ponto, a eleite pensante japonesa começou a amadurecer a idéia de que a maneira mais efetiva de fazer o governo Reagam recuar era boicotar o leilão de títulos do Tesouro que ocorreria em maio. Seria uma for- ma silenciosa de retaliação, já que, em tese, a decisão de compra desses títulos é tomada pelos investidores do setor privado, e não pelo governo já- ponês. Seria um ato de represália encoberto e difícil de provar, pois o gover- no dos Estados Unidos, em seu trágico apego a ordem mundial já extinta, não mantém nenhuma estaística sobre compradores e detentores de títulos de sua emissão. Deixar de lado os títulos do Tesouro também seria uma medida inteiramente justificável em termos microeconômicos. A queda do dólar tinha varrido cer- ca de 13 bilhões de dólares das carteiras de títulos americanos, consideran- do-se apenas as que estavam em poder das seguradoras japonesas. [....] Entre final de abril e começo de maio, o mercado de títulos oscilou em função das notícias a respeito do que os japoneses fariam no próximo leitão. Wall Street não deu muita atenção às informações sobre uma “greve” dos investidores japoneses, preferindo acreditar que a América ainda estava a cavaleiro da situação. Os japoneses não têm outro lugar onde aplicar seu dinheiro” era a explicação mais difundida. “ Não há outro mercado no mundo que possa absorver tanto dinheiro. Além disso, os títulos do Tesouro americano rendem 5% a mais do que os títulos do governo japonês. Nenhum investidor profissional perderia um diferencial desses”. Essa pode ter sido a maneira mais tranquilizadora de negar o real papel do Japão na economia americana, mas foi também uma linha de raciocínio dolorosamente equivocada, errada ponto por ponto. É fato que o mercado de títulos dos Estados Unidos representa 57% do total mundial, mas isso ainda deixa 43% disponíveis – o bastante para abrigar títulos fluxos de capital japonês pelo menos a curto prazo e sem que precise recorrer aos mercados de ações e a outros nichos para colocação de excedente de caixa. [....] A história da Bolsa de Valores de Tóquio é toda feita de investimentos voltados para a consolidação de relacionamentos comerciais e para a am- pliação do entrelaçamento das redes negociais,e não de investimentos de retorno rápido. A história de mercado de títulos governamentais de Tóquio foi construída à base de instituições financeiras que se dispõem a empres- tar dinheiro ao governo a juros baixos em troca de benévola proteção que dele recebem. [.....] Principalmente quando os economistas japoneses esta- vam prevendo quedas no valor do dólar, o que afetaria o diferencial de ren- dimento existente entre os títulos do governo americano e japoneses. [....] O agravamento dos problemas de relacionamento entre Estados Uni- dos e Japão levanta novas dúvidas sobre a possibilidade de serem manti-

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dos os fluxos de capital japonês para este país”, observou o principal eco- nomista da Nomura de Nova York. Os mercados sensíveis à variação dos juros não esperaram para ver se os boatos iriam confirmar-se. Por pequena que fosse, uma redução nos aportes de capital japonês teria um impacto formidável. A taxa de juros hipotecários, que vinha caindo quase ininterruptamente nos últimos dois anos, sofreu uma parada súbita deu meia-volta e saltou quase 2 pontos percentuais antes que terminasse o mês de abril.

Ressalta-se a observação de (BURSTEIN, 1988,p.117) no que tange a

dimensão do poder do Japão na capacidade de desestabilizar a economia

americana em face do financiamento da dívida.

Preocupado com as consequências da fuga dos japoneses do mercado americano, Paul Volcker, diretor do Federal Reserve Bank, utilizou um pool de telefones para uma reunião secreta de emergência com os membros de seu comitê de planejamento político. Eles apoiaram sua ideia de preceder a uma elevação das taxas de juros de curto prazo, com o objetivo de firmar o dólar e tomar os títulos americanos mais atraentes para os japoneses que estavam em debandada. “Agora, a política do Federal Reserve é cada vez mais influenciada e até ditada pelas necessidades de nossos credores estrangeiros”, comentou o principal economista do Mellon Bank”. Geralmente, os leilões do Tesouro são realizadas em três dias. Os dois primeiros são dedicados às notas e aos títulos de curto prazo, ficando o úl- timo dia reservado para o espetáculo dos títulos longos de trinta anos. Na ocasião, os investidores japoneses passaram os dois primeiros dias fazen- do tudo para derrubar as cotações. “ O Japão praticamente não demonstra interesse”, relatou o The Wall Street Journal aos seus leitores. Uma lúgu- bre reportagem do The New York Times mereceu a seguinte manchete : TÍTULOS CAEM COM RETRAÇÃO DOS JAPONESES : A TENSÃO AU- MENTA. [....] O perigo crescia à medida que o dia do leilão de títulos avançava. Quanto mais baixa a demanda do Japão, mais alto tinha de ser o rendimen- to para tornar os títulos vendáveis. Cada ponto percentual que o rendimen- to subisse custaria ao Tesouro dos Estados Unidos cerca de 3 bilhões de dólares pelos próximos trinta anos. O salto de um único percentual também custaria aos consumidores e às empresas incontáveis bilhões por causa das taxas de juros mais altas. Os japoneses estavam a ponto de dar uma lição bem dispendiosa aos americanos”.

A relação simbiótica de dependência e poder entre Estados Unidos e Japão

no que concerne a uma derrocada da economia americana representaria bilhões de

dólares de prejuízo para a economia japonesa em face da perda de demanda da

maior locomotiva do mundo e para os Estados Unidos aumentaria o custo da dívida

(BURSTEIN, 1988,p.118).

A mudança do rumo da posição foi tão radical que só podia ser consequên- cia do trabalho do ministro das Finanças, Kiichi Miyazawa, um economista brilhante e um dos políticos de mentalidade mais cosmopolita do Japão. Mi- yazawa acreditava que a economia do mundo estava em equilíbrio dema-siadamente precário para resistir às manobras do mercado de títulos. Aqueles “antiamericanos” da facção Tanaka talvez desconhecessem a extensão de sua força. Na realidade, uma retirada japonesa em massa do mercado de títulos dos Estados Unidos poderia p rovocar uma recessão na economia americana e graves repercussõ es

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internacionais, fazendo cair a demanda mundial de produtos japoneses e, em última análise, solapando a economi a interna do Japão. (grifos nossos) [...] Conforme ficou demonstrado, a ameaça de retaliação do Japão tem ma- is impacto sobre os Estados Unidos, pelo medo que provoca, do que as me- didas reais dos Estados Unidos sobre o Japão. Tudo muito zen. [....] No final do dia, a Nomura tinha comprado cerca de 1 bilhão de dólares em títulos – a menor intervenção da empresa em um leilão do Tesouro em mais de um ano, mas, ainda assim, uma participação considerável por qual- quer padrão. Exatamente do outro lado de Manhatan, na parte baixa da ilha, a Daiwa havia abocanhado igual parcela no leilão – também menor do que a usual. [....] 21 anos de experiência no departamento de títulos da Salo- mon, examinou o resultado do leilão : rendimento médio de 8,75%. Isso sig- nificava mais de 1 ponto percentual acima do que fora registrado no último leilão, há três meses, e representava uma mudança de direção súbita e pe- rigosa das taxas de juros. Por si só, o salto não seria necessariamente o fim da expansão da economia americana, mas certamente lançaria uma sombra sobre ela. “O problema não são os japoneses” disse Brachfeld, cansado do tumulto daquele longo dia. [.....] “O problema é que somos um maldito país devedor e, sendo um maldito país devedor, ficamos à mercê dos malditos credores”. - Quando tudo acabou, as estimativas sobre a participação do investidor japonês variavam de um quarto a um terço da emissão – não era bem a maior demonstração de entusiasmo dos japoneses pelo mercado de títulos americanos; mas não estava ruim dadas as circunstâncias. O Japão não havia provocado o prejuízo que se esperava caso o boicote fosse total. Desta vez, tinha apenas aplicado uma multa ao governo dos Estados Unidos, na forma de uma alta violenta nas altas taxas de juros. Taxas mais elevadas serviram aos japoneses como proteção para o valor dos títulos, quando o dólar descesse um pouco mais a ladeira. Isso, porém, era apenas um subproduto de duas vitórias muito mais importantes no campo de batalha que foi o mercado de títulos no dia 7 de maio. primeira foi que o Japão obteve uma trégua tácita na guerra comercial que então fermentava: depois disso, Washington não tomou nenhuma medida significativa contra os japoneses – apesar de o déficit comercial dos Esta- dos Unidos ter atingido o recorde de 18 bilhões de dólares no mês de ju- lho e outro no mês de outubro. [...] Até o final de 1987, o governo Reagan, combalido não tomou mais nenhuma medida punitiva contra o Japão no campo comercial. O único ato presidencial referente ao comércio foi a re- vogação de mais algumas daquelas tarifas baixadas em abril. A segunda e a mais importante consequência dos acontecimentos de maio foi que aumentou enormente na população o sentimento de que os Estados Unidos eram um país devedor, dependente do capital estrangeiro. Embora as estatísticas indicassem que o país ainda continuaria crescer econômica- mente nos próximos meses, a evolução da taxa de juros provocada pelo leilão de maio representou, em certo sentido, o fim do movimento pendular da economia americana em direção e o início de seu retorno em caminho inverso. Mesmo os mais fervorosos adeptos da doutrina econômica de Reagan começaram a perder o entusiasmo, sentindo que alguma coisa es- tava profundamente errada em uma economia como a americana, que cor- ria sobre o déficit comercial, sendo empurrada pelos investidores estran- geiros. Para os que se deram o trabalho de pensar a respeito, os eventos de maio demonstraram com exatidão o que os japoneses desejavam fazer ver aos americanos : não empurrem demais o Japão; os japoneses podem puxar seu tapete. O medo que essa experiência quase mortal engendrou a economia ameri- Cana, sufocada por meses de paralisia do governo Reagan, acabou por encontrar sua catarse sob a forma da crise da Bolsa em outubro de 1987. Segmentos influentes da comunidade empresarial americana, senão a pró- pria liderança da Casqa Branca, começaram a reconhecer o pesadelo ine-

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rente ao fato de a hipoteca da casa própria sonhada pela doutrina Reagan estar em mãos de estrangeiros”.

A análise sobre o alto endividamento dos Estados Unidos e os reflexos sobre

a economia americana (BURSTEIN, 1988,p.-172).

As perigosas implicações que tal endividamento reserva para o futuro da e- conomia dos Estados Unidos foram finalmente abertas à discussão pública. Mas, à parte a generalizada ameaça ao bem-estar americano, o legado de um déficit de mais de 1 trilhão de dólares acumulado na era Reagan reper- cute de formas muito especificas no relacionamento nipo-americano. O fato de ser tão grande a parte da dívida de Reagan financiada mediante empréstimos tomados ao Japão significa que uma bomba-relógio foi arma-da. A ameaça de uma retirada dos japoneses do mercado de títulos dos Es- tados Unidos dá a Tóquio um trunfo significativo em negociações bilaterais sobre comércio, defesa e outros assuntos – trunfo que o Japão já está co- meçando a usar. O mal-estar quanto à capacidade creditícia da América também está começando a arrefecer o entusiasmo pelos ativos em dólar e a levantar dúvidas entre os banqueiros internacionais sobre se o dólar po- de ou deve continuar a ser usado como principal moeda do mundo. Na melhor das circunstâncias, o crescimento econômico americano será li- mitado até o final do século em razão da alta parcela do PNB que precisa sair do país para pagar a dívida aos estrangeiros. Mas a história não aca- ba aí. Economistas que procuram defender o recorde estabelecido por Reagan apontam, corretamente, aliás, que os Estados Unidos registraram déficits proporcionalmente maiores em relação ao PNB em vários períodos de sua história. O mesmo aconteceu com outros países em outras ocasi- ões, incluindo o Japão. Em última análise, mais importante do que o tamanho do déficit é o uso que dele é feito. Fazer dívida para criar um cr escimento real no futuro pode ser justificado pelo fato de que, à me dida que a economia se expande, o pagamento do empréstimo será mais fácil. No caso da política econômica de Reagan, porém, não havia programa específico do desenvolvimento da Economia. Isso era algo que ficaria a carga do setor privado. Os cortes de imp ostos, que ajudaram a criar o vertiginoso abismo entre receitas e des pesas do governo, não desencadearam novos investimentos internos, com o havia sido prometido. Na verdade, na década de 80, a economia americana man- teve uma das taxas de investimento mais baixas do mundo em implan- tacão de novas fábricas e em renovação de equi pamentos. Washington também se afastou de seu tradicional pa pel de principal investidor do país em infra-estrutura, cortando tan to os gastos em hardware (estradas, pontes, transportes e similares ) quanto em software (educação e treinamento). (grifo nossos)

A perda da competitividade das empresas americanas em relação às

japonesas refletiu em déficits comerciais significativos dos Estados Unidos , aliada a

visão míope de Reagan no que se refere ao realizar o ataque ao dólar resultou em

um crescimento significativo da riqueza do Japão. A título de comparação o PIB

nominal do Japão em 1970 correspondia a US$ 236 bilhões e passou para US$

3,015 trilhões em 1987 (BURSTEIN, 1988,p.156).

O Japão já poderia ter ficado muito rico não só pel a combinação de suas taxas de poupança e extraordinariamente altas com os fantásticos superávits de sua balança comercial. [. ....] Ronald Reagan

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ainda iria dar um último presente ao Japão: o ataqu e ao dólar entre 1985 e 1987, que teve o efeito de pegar cada ien e acumulado pelo Japão em quarenta anos de poupança e comércio e dobrar o seu valor da noite para o dia. (grifo nosso) [....] Nas mãos de um outro país, os excedentes comerciais de 300 bilhões de dólares acumulados pelo Japão de 1981 e 1987 poderiam ter disparado uma inflação montante e excessos no mercado interno. Mas as autoridades do Ministério das Finanças e do Banco do Japão mostraram ter pavor de inflação, considerando-se que a taxa de inflação às vezes mal chegava a ultrapassar o 1%. Novas políticas garantiram que praticamente todo o excedente comercial e todo o capital dele derivado seriam encaminhados para fora do Japão. Dessa maneira, afastavam-se as pressões indesejáveis sobre a economia interna e tirava-se partido das vantagens estratégicas no estratégicas no exterior.

A exemplificação da vantagem competitiva de um iene forte (BURSTEIN,

1988,p.156 - 158).

Parte do dinheiro está sendo aplicado pelas empresas na expansão de sua capacidade produtiva dentro dos Estados Unidos e em outros mercados desenvolvidos. Isso representa uma política preventiva para o dia em que os muros do protecionismo venham a ser erguidos contra o fluxo de produ- tos para os portos de importação, mas também torna as empresas japone- sas supercompetitivas em virtude de capacitá-las a movimentar rapida- mente sua produção através do Pacífico em função de custos, moedas e outros fatores. Uma parte maior dos excedentes está sendo usada por bancos, companhi- as de seguros, corretoras de valores e magnatas japoneses do ramo imo- biliário para comprar posição nos setores mais promissores e seletivos do patrimônio mundial em ações e em imóveis. [....] continua fluindo para reciclar o sistema de mercado de títulos dos Es- tados Unidos. Mantendo a provisão de capital de giro para a deficitária eco- nomia americana, o Japão parece estar fazendo um grande favor ao país. Na realidade, o papel do Japão como financiador primário encoraja Washington a evitar uma solução para o problema do orçamento. Essa o- missão, por sua vez, continua a aumentar a riqueza dos japoneses e a so- lapar a energia americana. Além dos altos rendimentos que os investido- res recebem sobre os títulos americanos, o relacionamento de dependên- cia financeira, que agora está sendo forçado, dá ao Japão a perspectiva de um poder de pressão real, concreto e altamente manipulável no futuro.

Entretanto, a valorização do iene e a entrada da China na dinâmica do poder

mundial a economia japonesa a partir da década de 90 perdeu o ímpeto de

dinamismo reflexo da década de 80 (CANUTO,2000)28

Sexta-feira passada, o Banco do Japão anunciou que vai empurrar a taxa de juros interbancária para 0,25%, cumprindo a ameaça de encerrar a “po- lítica de juros zero" adotada desde fevereiro de 1999. Trata-se da primeira elevação de juros pelo banco central desde 1990. A despeito de enorme pressão contrária, manifesta nas semanas anteriores, por parte do governo japonês e do FMI.

28 CANUTO, Otaviano. A armadilha pela liquidez na versão do Banco do Japão. Jornal Valor Econômico, São Paulo, 15 de agosto de 2000. Disponível em <http://www.eco.unicamp.br/artigos/artigo127.htm>. Acesso em: 29 de julho de 2012.

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Por outro lado é avaliado os problemas estruturais da economia japonesa

enfrentados pela economia japonesa desde o começo dos anos 90 aliado ao

choque financeiro e à acentuação das pressões deflacionárias a partir de 1997, as

quais resultaram na armadilha de liquidez29 (CANUTO,2000)

Segundo muitos analistas, o Japão passou a enfrentar, nos anos 80, uma tendência estrutural à estagnação, por decorrência de um descompasso entre o volume dos planos de poupança privada e as oportunidades de investimento local com retorno positivo. Mesmo com os superávits comer- ciais e a exportação de capital, além do endividamento do setor público, as taxas reais de juros teriam de ser negativas para evitar a tendência es- tagnacionista. As explicações para o descompasso estrutural ora se reportam ao enve- lhecimento e aos hábitos da população, ora à exaustão das oportunidades de investimento, exploradas nas décadas anteriores, às quais correspon- deram ao fantástico upgrading japonês nos marcos da "velha economia". Isto configuraria uma "armadilha pela liquidez", dada a tendência à defla- ção e o fato de que as taxas nominais de juros não podem cair abaixo de zero, na interpretação de Paul Krugman.

No entendimento de (CANUTO,2000) as bolhas especulativas dos anos 80

são um dos fatores que contribuíram para a armadilha de liquidez enfrentada pelo

Japão na década de 90

As bolhas especulativas dos anos 80 teriam resultado do excedente estru- tural de capacidade de financiamento, num quadro de frouxidão regulatória sobre as instituições financeiras e de redução da dependência das grandes empresas não-financeiras em relação ao financiamento bancário. O estouro das bolhas deixou uma herança de ativos podres nas carteiras dos interme- diários financeiros.

Na avaliação de (CANUTO,2000) o governo optou por não enfrentar a real

dimensão do problema do sistema financeiro japonês e o que resultou em baixo

crescimento do PIB.

O governo optou pela dissolução gradual do problema, permitindo a reci- clagem paulatina das carteiras de ativos, com financiamento a juros do- mésticos diminutos. O preço a pagar foram os anos com baixa criação de créditos novos, reduzidos investimentos e sobrevivência de ativos com retornos insignificantes. O crescimento só não foi menor por causa dos gastos públicos, embora estes não conseguissem evitar a sequencia de recessões seguidas de recuperações frágeis.

Posteriormente, a evolução gradual do problema do sistema financeiro aliada

ao choque financeiro contribuiu ainda mais para os pífios crescimento do PIB de

1997 a 2000 (CANUTO,2000).

29 Designação originalmente dada por John Maynard Keynes a situações em que uma política monetária expansiva é incapaz para acabar com uma depressão.

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O choque financeiro de 1997, a partir da crise no entorno asiático, abateu- se sobre uma estrutura ainda frágil. Seguiram-se as falências de institui- ções financeiras e o racionamento adicional de crédito. Acrescentou-se uma nova “armadilha pela liquidez”, agora em decorrência da elevação su- bstancial dos estoques de liquidez retidos por famílias e firmas como pre- caução contra a crise. O jeito foi radicalizar o estímulo fiscal e adotar a po- lítica de juros zero, diante de cinco trimestres consecutivos de queda no PIB até o fim de 1998.

Desde então, reduziu-se a fragilidade do setor financeiro, após fusões e algum reconhecimento de valor nulo de ativos. Em 1999, apesar da nova queda do PIB na segunda metade do ano, o resultado financeiro das em- presas não-financeiras passou de um déficit de 0,7% do PIB, no ano anteri- or, para um saldo positivo de 8%. Embora com forte dispersão no de- sempenho, muitas firmas aproveitaram os primeiros semestres de 1999 e 2000 para recompor margens e reestruturar balanços. Os bancos se beneficiaram da quitação de dívidas e da revalorização de ativos.

Neste contexto, a análise do aprofundamento da crise capitalista no Japão

representou a constatação de esgotamento do alusivo modelo, o qual conduziu o

país a se tornar a segunda potência mundial. A manutenção do iene ao redor de 128

dólares refletiu na perda de competitividade da indústria japonesa em relação à

China, aliada aos problemas do sistema bancário japonês bem como o incremento

da dívida bruta do governo japonês em face da monetização da dívida pública em

larga escala. A título de comparação a dívida pública bruta correspondia a 188% do

PIB em 2007 e passou para 238% em 2011. No que se refere ao déficit público em

2010 era de 9,2% do PIB, reduzindo o percentual em relação a 2009. Mas em 2011

o déficit voltou a subir para 10,3% em face da necessidade das sequelas do tsunami

e do desastre nuclear, os quais resultaram na necessidade de investimento de

US$ 300 bilhões na reconstrução. Assim, em um contexto de baixo crescimento do

PIB e incremento do déficit público segundo as projeções do FMI apontam para uma

relação dívida e PIB de 253% até 2016.

Salienta-se que apesar do incremento significativo da relação dívida/PIB as

taxas de juros de longo prazo têm se mantida com projeção de baixa em face da alta

credibilidade dos títulos japoneses e da significativa parcela da dívida ser financiada

pelos japoneses. Ressalta-se por outro lado a geração de déficits comerciais.

Atualmente, o custo de financiamento da dívida está em 0,30%.

O Gráfico 32 evidencia-se a real dimensão da capacidade de geração dos

significativos superávits comerciais de 2008 a 2010 e um pequeno déficit comercial

em 2011.

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Gráfico 32 – Balança Comercial do Japão (2008 – 2011) - US$ bilhões

2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1

Ex p o r taç ão 7 8 2 .0 4 8 ,6 1 0 5 8 0 .7 1 9 ,2 3 3 7 6 9 .7 7 2 ,7 7 7 8 2 2 .5 6 4 ,1 5 5

Im p o r taç ão 7 6 2 .6 3 1 ,1 7 1 5 5 0 .5 3 0 ,1 8 1 6 9 2 .4 2 6 ,3 7 7 8 5 4 .0 7 2 ,8 0 1

0 ,0 0 0

1 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

2 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

3 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

4 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

5 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

6 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

7 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

8 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

9 0 0 .0 0 0 ,0 0 0

Fonte: FMI

A dimensão do problema estrutural do Japão é evidenciada pela ausência da

capacidade do governo japonês de promover o crescimento apesar de uma injeção

de ¥ 5 trilhões (US$ 63 bilhões), em fevereiro de 2011, adicionais aos ¥ 70 trilhões

(US$ 882 bilhões) já injetados, desde outubro de 2010, destinados à compra de

ativos podres, entretanto contribuiu para aumentar ainda mais a relação do endivida-

mento público sobre o PIB. Desde 1997, o PIB japonês reduziu-se em 10% medido

em yenes, a arrecadação de impostos caiu 22% e a dívida pública mais do que

dobrou.

Ressalta-se, ainda, que o governo introduziu o imposto sobre o consumo em

1989, a uma taxa de 3%, coincidindo com o pico das bolhas das bolsas e imobiliária.

Em 1997, o imposto foi aumentado novamente para 5%, quando o Japão passava

por um relativo pico econômico, mas fora afetado pela crise das bolsas asiáticas. Os

governos que estiveram no poder, na época, sofreram forte desgaste político.

Posteriormente, o primeiro ministro Keizo Obuchi (1998 – 2000) promoveu a

injeção de ¥ 100 trilhões (em torno de US$ 1 trilhão), mas com efeitos pífios no

crescimento do PIB. Ressalta-se que impactou na disparada do endividamento.

Junichiro Koizumi (2001-2006) tentou implementar uma reforma fiscal, a qual

resultou no aumento dos impostos pelos governos locais, mas na redução da

arrecadação devido à recessão econômica.

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118

Neste contexto o PDJ (Partido Democrático do Japão), do primeiro ministro

Yoshihiko Noda, e os principais partidos da oposição, o PLD (Partido Liberal

Democrático) e o Novo Komeito acordaram em aumentar o imposto sobre o

consumo de 5% para 8% em abril de 2014 e 10% em outubro de 2015. Em um

contexto de projeção do incremento da relação dívida e o PIB reflete em uma

pressão do FMI em relação ao governo para aumentar anda mais o imposto sobre o

consumo para 15%30.

Assim, evidenciou-se uma significativa alusiva relação simbiótica da dinâmica

de poder no período de 1970 a 1990 entre Estados Unidos (maior dívida mundial) e

o Japão (como maior financiador da dívida americana) , ou seja, não houve

interesse do Japão em pressionar o governo dos Estados Unidos no que se refere a

gerar uma crise de confiança sobre a sustentabilidade da dívida americana apesar

dos crescentes déficits público e de conta corrente, pois o Japão seria o maior

prejudicado se os Estados Unidos deixasse de ser a locomotiva do mundo para

realizar o ajuste fiscal necessário em face dos reflexos na geração dos superávits

comerciais obtidos e o impacto no crescimento do PIB japonês.

Por outro lado, o governo dos Estados Unidos definiu como estratégia

incentivar as empresas americanas a investirem na China em face que estas não

tinham competitividade para enfrentar as empresas japonesas. A partir da década de

90, a como forma de diminuir a significativa dependência do financiamento da dívida

em relação ao Japão, uma vez que a alusiva retaliação dos japoneses já retratada

neste tópico resultou no aumento da taxa de juros, refletindo no incremento da

dívida americana de longo prazo.

A dinâmica de poder mundial se alterou radicalmente na década de 90 com

a entrada da China, pois o Japão estagnou diante dos problemas de competitividade

já salientados, bem como uma relação dívida pública significativa e os problemas

dos sistemas bancários. Por outro lado, a China que adotava o comunismo, o qual

resultou em um longo período de semi-estagnação conforme o Gráfico 33.

30

Japão aprova 1ª alta do imposto sobre consumo em 15 anos, Revista Exame, São Paulo, 10 de agosto de 2012, seção Mundo. disponível http://exame.abril.com.br/mundo/noticias/japao-aprova-1a-alta-do-imposto-sobre-consumo-em-15-anos acesso em 1 de setembro de 2012

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O modelo economia socialista de mercado resultou em um forte crescimento

da economia da China em valores nominais em US$ de 1979 a 2011 com taxa

média de crescimento de 12,89% e foi reflexo do modelo baseado em alto

investimentos do setor privado combinado ao setor público aliada a alto volume de

poupança. Além disso, ressalta-se o extraordinário aumento da competitividade das

exportações de produtos manufaturados chineses, deslocando rapidamente

produtores tradicionais como Japão e Estados Unidos. A título de comparação o PIB

chinês correspondia US$ 176,6 bilhões em 1979 e em 2012 a projeção do Banco

Mundial é que alcance US$ 7,298 trilhões.

Gráfico 33 – China - Produto Interno Bruto Nominal (US$) e Taxa de Crescimento do PIB nominal (%) – 1979 a 2012 - US$ bilhões

-15,00%

-10,00%

-5,00%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

-

1.000.000.000.000

2.000.000.000.000

3.000.000.000.000

4.000.000.000.000

5.000.000.000.000

6.000.000.000.000

7.000.000.000.000

8.000.000.000.000

PIB

Tx de Crescimento

Fonte : Banco Mundial

A combinação de diversas políticas que explicam o milagre do crescimento

econômico chinês. Primeiro, no que tange a importância dos investimentos externos

diretos (IDES) em sua maioria voltados para exportação, transferindo tecnologia e

incentivos fiscais. (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p.81) – Nota técnica IPEA.

As causas apontadas, destacam-se os investimentos diretos externos (IDEs), em sua maioria voltados para exportação, transferindo tecnologia e fornecendo capital para o país além do baixo custo da mão-de-obra associado ao relativamente alto nível de qualificação. Enfatizam-se também as medidas de política industrial, como os incentivos fiscais concedidos a setores determinados, a obrigação de as empresas multinacionais (EMNs) se associarem a um parceiro doméstico e a proibição de investir em certos setores, bem como a manutenção de uma taxa de câmbio fixa e desvalorizada estimulando as exportações. Todos esses fatores certamente contribuíram para o espetacular crescimento econômico chinês, mas estão longe de explicar adequadamente esse processo. Afinal, algumas dessas características estiveram presentes em diversos outros países e regiões sem que o efeito fosse nem ao menos parecido.

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120

Segundo, a reforma do sistema de preços dos produtos agropecuários

contribuiu significativamente para o crescimento econômico (LEVY, NONNENBERG,

NEGRI,2006, p. 82).

Essa alteração provocou uma grande elevação na produtividade rural, com grandes reflexos sobre a renda e o emprego. A existência de um grande contingente de mão-de-obra com produtividade marginal muito baixa possibilitou seu deslocamento para as cidades, mantendo baixos os salários mesmo com crescimento elevado.

Terceiro, componente a estratégia inicial de associar o desenvolvimento

industrial a Ásia e Estados Unidos (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 83)

A China ingressou no mercado internacional como uma espécie de “intermediário” entre Ásia e Estados Unidos, importando partes, peças e componentes dos primeiros, montando e vendendo os produtos finais para o segundo.

O início do grande salto industrial chinês foi a constituição de Zonas

Econômicas Especiais (ZEES) na segunda metade da década de 70, constituindo a

principal fonte de abertura da economia chinesa, a qual teve como estratégia acabar

com a estagnação econômica. Assim, as ZEES são espaços territoriais localizados

no litoral, onde foram fornecidas facilidades para a fixação de capital estrangeiro

tendo como objetivo a expansão das exportações ,e, portanto se diferenciou do mo-

delo brasileiro em face de que houve transferência de tecnologias e aprendizagem

de novos métodos de administração, refletindo no atual nível de competitividade da

indústria chinesa como a de automóveis.

As ZEEs foi o ponto de inflexão no desenvolvimento econômico chinês

(LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p.84).

Inicialmente, as EMNs dirigiram-se quase que exclusivamente às ZEEs - onde recebem diversos incentivos fiscais, terrenos e edificações; localizam-se ao lado de fornecedores e de outras indústrias semelhantes, além de centros de pesquisa, incubadoras de empresas, laboratórios de ponta, infraestrutura de energia e transporte. Essa localização privilegiada facilita o surgimento de transbordamentos tecnológicos: é o sonho de um Sistema Local de Inovação tornado realidade”.

Por outro lado, ressalta a importância da contribuição da oferta de mão de

obra para o modelo de crescimento chinês. (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006,p.

83)

Segundo, uma oferta de mão-de-obra quase infinitamente elástica (e que assim continuará pelos próximos anos) com algum grau, ainda que baixo, de qualificação. Portanto, o aumento da demanda não provocou, nos segmentos de baixa qualificação, elevações substanciais nos salários

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(ainda que tenha se desenvolvido uma grande, em termos absolutos, classe media com elevado poder aquisitivo).

Destaca-se que as ZEEs como papel relevante no desenvolvimento

tecnológico chinês (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).

Essa forma de agrupamento regional das indústrias, especialmente daquelas mais intensivas em conhecimento, teve papel relevante no desenvolvimento tecnológico chinês e na alteração da pauta de exportações ao longo dos últimos 20 anos, ainda que o esforço doméstico de geração de tecnologia permaneça relativamente baixo.

Na estratégia da China de se posicionar em um segmento como líder na

dinâmica de poder além da sua capacidade de atrair investimentos estrangeiros em

face dos incentivos e das vantagens aliou-se também a uma política de taxa de

câmbio desvalorizada (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).

A capacidade da China em atrair investimentos estrangeiros não se esgota, no entanto, nos incentivos e vantagens desfrutados pelas EMNs nas ZEEs. No curto prazo, o baixo custo da mão-de-obra e uma taxa de câmbio desva- lorizada propiciam elevada rentabilidade ao capital externo, especialmente àquele voltado às exportações. A produção dirigida ao mercado externo go- za de isenção de impostos de importação para matérias-primas, peças e componentes. Assim, as EMNs – especialmente as do setor de eletrônicos e comunicações, que representam grande parte das exportações chinesas – podem instalar, na China, as etapas finais da produção, aproveitando as peças e componentes produzidos pelas filiais localizadas nos países vizi- nhos. No longo prazo, o tamanho absoluto do mercado chinês e, especial- mente, seu potencial de crescimento constituem um atrativo importante ao investimento.

Outra fator estrutural o qual impactou no crescimento econômico chinês

(LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).

Ao mesmo tempo em que recebem esses poderosos estímulos, as EMNs são obrigadas a conviver com um sistema que, até o momento, não garan- te a proteção da propriedade intelectual. Para ingressar na China, até re- centemente, as EMNs necessitavam de um sócio local. Há diversos relatos de que esses sócios apropriam-se ilegalmente do conhecimento transferido do exterior para produzir por conta própria, em outra empresa (doméstica), produtos análogos por preços inferiores, mesmo que a qualidade também não seja a mesma do bem original. Outra forma conhecida de pirataria intelectual é a produção (e exportação) de bens de consumo de marcas famosas, como confecções, artigos de couro e perfumaria, sem pagamento dos royalties devidos.

Neste contexto, a alta rentabilidade dos investimentos estimulava o in-

gresso de IDEs compensando os prejuízos decorrentes da baixa proteção intelectual

(LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).

Obviamente, a baixa proteção à propriedade intelectual constitui um obstá- culo ao ingresso de IDEs em qualquer país. Contudo, no caso específico da China, os demais incentivos muito mais do que compensam os prejuí- zos decorrentes dessas práticas. Por outro lado , as EMNs também de-

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122

senvolvem estratégias de defesa. Uma das mais conhecidas é não produ- zir na China, mas importar, partes e peças que contenham competências críticas dessas empresas, dificultando, assim, o acesso ao conhecimento mais recente e estratégico.

Ressalta-se a estratégia da China de alavancar o desenvolvimento econômico

através do processo ilegal de conhecimento, sendo que método foi utilizado por

outros países (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 84).

Entretanto, esses mecanismos permitiram uma transferência de conheci- mento a custos muito baixos e viabilizaram o desenvolvimento de diversos setores industriais, o que, de outra forma, talvez não tivesse sido possível. Deve-se reconhecer que a China não inaugurou o processo de transferên- cia ilegal de conhecimento e que, ao longo da história, diversos outros pai- ses adotaram práticas semelhantes, sendo o Japão do pós-guerra o mais recente exemplo.

Outro ponto, o qual contribuirá para alavancagem da estratégia competitiva

na dinâmica de poder da China a economia de escala, pois contribui para produzir

produtos a preços altamente competitivos (LEVY, NONNENBERG, NEGRI,2006, p.

84)

Uma característica fundamental para explicar o crescimento chinês é a exis- tência de economias de escala na maior parte das indústrias, com fortes im- pactos sobre o custo de produção. Alguns exemplos são ilustrativos do tamanho do mercado e da escala da de produção. A China é atualmente o maior produtor mundial de televisores, com uma produção anual de aproximadamente 75 milhões de unidades. A produção anual de aço bruto é de cerca de 220 milhões de toneladas, enquanto a do Brasil é de 32 milhões. A China produz atualmente cerca de 1,1 milhão de caminhões por ano, quase dez vezes a produção brasileira. Enquanto o Brasil produz cerca de 32 milhões de toneladas de cimento por ano, a produção anual da China atinge aproximadamente 900 milhões de toneladas.

Salienta-se, ainda, que o significativo diferencial da China no que se refere ao

importante elemento para a atração dos investimentos externos tem sido a grande

estabilidade e previsibilidade das políticas macroeconômicas na China no período

em análise.

Os sucessivos governos chineses mantiveram políticas de estímulo ao

crescimento, os quais resultaram no incremento da taxa de inflação . A titulo de

exemplificação no período 1993-1995 a inflação anual, medida pelos preços ao

consumidor, ficou acima de 10% e com tendência a crescer até alcançou 20%, sem

arrefecer a taxa de crescimento do PIB (Gráfico 34). Desta forma, por não estar sob

os ditames do FMI o governo debelou o processo inflacionário sem nenhum

receituário da estratégia neoliberal no que concerne à mudança de política de

valorização da moeda ; redução da capacidade de investimento do Estado; processo

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123

de abertura externa comercial (eliminação de barreiras não tarifárias; redução da

tarifa média sobre as importações; diminuição da dispersão tarifária), impactando na

taxa de crescimento do PIB.

Ressalta-se a análise do intenso processo de liberalização de preços e o

afrouxamento da política monetária e os reflexos nos ciclos inflacionários dos últimos

30 anos (NONNENBERG,2010,p. 207).

Normalmente, os ciclos inflacionários dos últimos 30 anos na China são as- sociados a dois fatores básicos. De um lado, o intenso processo de libera- lização de preços, de outro, períodos de afrouxamento da política monetá- ria, que permitiram expansão dos investimentos das empresas estatais.

Gráfico 34 – China - Taxa de Inflação (IGP-DI) x Taxa de Crescimento do PIB real (%)

-5,00%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

Taxa de Inflação Taxa de Crescimento do PIB real

Fonte : Banco Mundial

Outro fator diferencial no que tange a competitividade da indústria é avaliada

é a carga tributária correspondente a 20% do PIB tornando confortável também a

situação fiscal, corrente e futura e em face da dimensão do PIB, pois este alcançou

US$ 7,3 trilhões de dólares em 2011.

Por outro lado, o relativo controle das finanças públicas possibilita ao

governo chinês realizar altos níveis de investimentos e subsídios em face do baixo

nível de gastos com pensão e bem estar social (LEVY, NONNENBERG,

NEGRI,2006, p. 86).

Esse relativo controle das finanças públicas permite ao governo chinês gastar parcelas expressivas da receita em investimentos e subsídios. Outro elemento importante é que, à diferença da maioria dos países ocidentais, seus gastos com educação e saúde não são elevados, e os dispêndios pre- videnciários são bastante reduzidos. A título de ilustração, os gastos públi- cos com pensões e bem-estar social representam menos de 0,5% do PIB e 2% do total dos gastos públicos chineses, e os gastos com educação e

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124

e saúde não chegam a 20% do gasto público..

No que concerne à elevada taxa de poupança da China é reflexo de

ausência de um estado de bem-estar social, a qual resulta na viabilização da

realização de investimento sem pressionar a poupança externa (LEVY,

NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 86)

A China, sistematicamente, tem apresentado elevadas taxas de poupança, de 35% a 37% do PIB nos anos recentes. As empresas não-financeiras (públicas e privadas) e as famílias são responsáveis por cerca de 80% do total, cabendo ao governo o restante da poupança doméstica. Essas taxas são altas até mesmo para os padrões asiáticos. Refletem, pelo lado das famílias, a ausência de um estado de bem-estar social, obrigando-as a poupar de forma a assegurar recursos para despesas de saúde, educação e previdência. Pelo lado das firmas, contribuem as altas de margens de lu- cro e a ausência de política de distribuição de dividendos, mesmo por parte das estatais. Finalmente, como parcela expressiva dos gastos do governo são investimentos, a diferença entre receitas e despesas de consumo é elevada. Essas altas taxas de poupança doméstica viabilizam a realização de investimentos da mesma magnitude sem pressionar a poupança externa. Ao contrário, a poupança externa, há mais de 15 anos, é negativa.

Salienta-se que na dinâmica de acumulação de riqueza e poder no âmbito

mundial, ao longo da década de 1990, configurou uma relação simbiótica e de

complementaridade no âmbito econômico – comercial, produtivo e financeiro – entre

a economia americana e a chinesa, a qual refletiu na ausência total de interferência

do FMI no que concerne à elaboração da política macroeconômica da China e

principalmente um poder extraordinário na dinâmica do poder da China no que tange

a uma alta capacidade de geração de significativos superávits comerciais e estes

foram utilizados para financiar a dívida pública americana.

A exemplificação do poder da China se reflete na elaboração da política

cambial, a qual se refletiu na dinâmica do volume das exportações (LEVY,

NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 86)

Em relação ao câmbio, o renminbi foi desvalorizado em cerca de 400% em termos nominais entre 1981 e 1995, permanecendo praticamente constan- te desde então (até julho de 2005), apesar do forte aumento das reservas internacionais. Evidentemente, a moeda subvalorizada contribuiu para ele- var as exportações. Entretanto, essa influência deve ser relativizada quan- do se observa que boa parte das exportações chinesas, em especial as mais dinâmicas, possui um alto componente importado.

A simbiose dessa relação dinâmica de poder entre os Estados Unidos e a

China ao longo da década de 2000 resultou em um incremento significativo da

evolução da corrente de comércio e principalmente a elevação do déficit comercial

americano com a China (PINTO,2011,p.33).

Page 125: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

125

No plano comercial, a relação sino-americana ao longo da década de 2000 foi marcada pelo i) aumento da corrente de comércio (exportações + importações) – acima da corrente mundial; pela ii) elevação do déficit comercial americano com a China; pelo iii) aumento das exportações de produtos de baixo valor agregado dos Estados Unidos para a China, especialmente as de produtos não industriais; e pela iv) expansão explosiva da participação de produtos de maior valor agregado das exportações chinesas para os Estados Unidos. Na verdade, essas mudanças foram o reflexo do processo de ampliação da integração comercial nos anos 2000, que conectou novos fluxos centrados no impressionante crescimento das exportações e importações chinesa e americana.

A Tabela 6 evidencia o significativo crescimento das exportações chinesas

para o Mundo. A título de comparação a média das exportações para o mundo

correspondia a US$ 31 bilhões no período de 1980 a 1989 e passou para uma

média de US$ 678 bilhões de 2000 a 2009 correlacionando com uma média das

importações chinesas de US$ 35 bilhões e que passou para US$ 611 bilhões. Por

outro lado, observa-se que as exportações dos Estados Unidos para o mundo de

uma média de US$ 250 bilhões no período de 1980 -1989 passou para uma média

de US$ 863 bilhões de 2000 a 2009. Por outro lado, a média das importações da

China para o mundo correspondia a US$ 35 bilhões de 1980 a 1989 e passou para

US$ 1,004 trilhão de 2000 a 2009 enquanto a média das importações dos Estados

Unidos em relação ao Mundo correspondia a US$ 351 bilhões no período de 1980 a

1989 e passou para US$ 1,605 trilhão de 2000 a 2009.

Assim, correlacionando o resultado da balança comercial evidencia-se que

de uma média de déficit comercial da China era de US$ 4 bilhões no período de

1980 a 1989 e passou para uma média de superávit de US$ 67 bilhões de 2000 a

2009, enquanto os Estados Unidos de um superávit comercial de US$ 101 bilhões

no período de 1980 a 1989 passou para uma média de déficit comercial de US$ 702

bilhões de 2000 a 2009.

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126

Tabela 6 : Evolução das exportações e importações – mundo, Estados Unidos e China, 1980-2010 (Em US$ bilhões correntes).

Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI Elaboração : Eduardo Costa Pinto Nota : Acumulado dos três trimestres do ano Essa dinâmica das exportações e importações chinesas e americanas

provocou mudanças significativas em seus respectivos market-share. Neste sentido,

a China passou à condição de maior exportador e de segundo maior importador

mundial, portanto alcançou uma hegemonia na dinâmica de poder mundial. Os

dados na tabela 6 evidenciam a extraordinária mudança de posição chinesa em tão

pouco tempo em face da política macroeconômica aliada ao altíssimo grau de

competitividade da indústria chinesa em face do baixo custo de carga tributária e o

elevado nível de infraestrutura. Em 2000, 3,9% e 3,4% das exportações e

importações de bens, respectivamente, originavam-se da China, ao passo que em

2008 essa participação saltou para 8,9% e 6,9%. Cabe observar que após a crise

internacional de 2008 essa tendência se acelerou, pois a participação chinesa nas

exportações e importações mundiais saltou de 9,7% em 2009 para 10,4% em 2010 e

de 7,9% em 2009 para 9% em 2010, respectivamente. No tocante aos Estados

Unidos, verificou-se uma perda substancial de market-share das exportações (de

12,3% em 2000 para 8,7% em 2010) e das importações (de 19,1% em 2000 para

13% em 2010) mundiais.

Page 127: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

127

No que tange ao crescimento das importações chinesas foi, em grande parte,

da rigidez da dependência de insumos de alta tecnologia e da necessidade de

aquisição de commodities, mesmo na presença de uma taxa de câmbio

subvalorizada.

Tabela 7 - Participação nas exportações e importações globais – em US$ correntes – Estados Unidos e China, 1980-2010 (Em %)

Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI Elaboração : Eduardo Costa Pinto Nota : Acumulado dos três trimestres do ano

A exemplificação do papel desempenhado pelo comércio internacional na

estratégia de crescimento chinês, refletiu na elevação das importações e das

exportações chinesas, ou seja, os fatores e as políticas já salientadas contribuíram

para a elevação da produtividade da economia. Entre 2000 e 2011, o comércio

mundial aumentou 2,4 vezes ; entre a China e o mundo foi de 7,6 vezes e entre os

Estados Unidos e o mundo, 1,7 vez (Gráfico 35). Essa evolução do comércio

internacional evidencia que a China foi a grande responsável pela mudança recente

dos fluxos comerciais mundiais, como também pela redução da inflação mundial em

face da capacidade da China de ofertar produtos industrializados com preços baixos.

Ressalta-se o impacto da crise mundial de 2008 e os reflexos no tocante a

diminuição da corrente de comércio mundial em US$ 3,6 trilhões de 2009 em

Page 128: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

128

relação a 2008, sendo que para China foi de US$ 356 bilhões e dos Estados Unidos

de US$ 795 bilhões.

De 2011 em relação a 2008 observou-se uma redução da corrente de

comércio mundial de US$ 213 bilhões enquanto a China teve um incremento de

US$ 1,036 trilhão e os Estados Unidos de US$ 294 bilhões.

Gráfico 35 – Evolução da corrente de comércio – mundo, Estados Unidos e China, 2000-2011 (Em US$ bilhões correntes)

2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011

CHINA 474 621 851 1.154 1.760 2.176 2.564 2.208 2.973 3.600

ESTADOS UNIDOS 2.041 1.893 2.027 2.341 2.944 3.168 3.456 2.661 3.247 3.750

MUNDO 6.724 6.741 7.861 9.567 12.435 14.297 16.513 12.862 15.402 16.300

-

2.000

4.000

6.000

8.000

10.000

12.000

14.000

16.000

18.000

Fonte: OMC Elaboração: AEB Nota : Para o exercício de 2011 é previsão

A dinâmica da evolução das exportações chinesas foi muito significativa em

face que em 2000 era de US$ 249 bilhões e passou para US$ 1,8 trilhão em 2011,

representando um incremento de 7,6 vezes enquanto os Estados Unidos no mesmo

período era de US$ 782 bilhões e passou para US$ 1,5 trilhão, ou seja, 1,91 vez. A

crise mundial impactou as exportações chinesas no tocante uma perda de US$ 229

bilhões de 2009 em relação a 2008 enquanto os Estados Unidos de US$ 231

bilhões.

Salienta-se que as medidas tomadas pelos Estados Unidos e China

refletiram no dinamismo das exportações em face que de 2011 em relação a 2009

as exportações chinesas tiveram um incremento de US$ 678 bilhões e as

americanas de US$ 494 bilhões.

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129

Gráfico 36 – Evolução das exportações – Estados Unidos e China, 2000-2011 (Em US$ bilhões correntes)

2000 2002 2003 2004 2006 2007 2008 2009 2010 2011

CHINA 249 326 438 593 969 1.220 1.431 1.202 1.578 1.880

ESTADOS UNIDOS 782 693 724 815 1.026 1.148 1.287 1.056 1.278 1.550

-

200

400

600

800

1.000

1.200

1.400

1.600

1.800

2.000

Fonte: OMC Elaboração: AEB Nota : Para o exercício de 2011 é previsão No que se refere às importações chinesas verificou-se um crescimento

excepcional em face que em 2000 correspondia a US$ 225 bilhões e em 2011

alcançou US$ 1,7 trilhão, representando um incremento de 7,6 vezes enquanto dos

Estados Unidos era de US$ 1,2 trilhão e passou para US$ 2,2 trilhões representou

um crescimento de 1,75 vez. No que tange analisar a correlação entre a crise

mundial e as importações chinesas e americanas foi muito significativa em face que

de 2009 para 2008 as importações chinesas diminuíram em US$ 127 bilhões e as

americanas em US$ 564 bilhões.

Salienta-se ,ainda, que de 2011 em relação a 2009 as importações chinesas

cresceram US$ 714 bilhões e as americanas em US$ 595 bilhões.

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130

Gráfico 37 – Evolução das importações – Estados Unidos e China, 2000-2011 (Em US$ bilhões correntes)

2 0 0 0 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1

C H INA 2 2 5 2 9 5 4 1 3 5 6 1 7 9 1 9 5 6 1 .1 3 3 1 .0 0 6 1 .3 9 5 1 .7 2 0

ES TA D O S U NID O S 1 .2 5 9 1 .2 0 0 1 .3 0 3 1 .5 2 6 1 .9 1 8 2 .0 2 0 2 .1 6 9 1 .6 0 5 1 .9 6 9 2 .2 0 0

0

5 0 0

1 .0 0 0

1 .5 0 0

2 .0 0 0

2 .5 0 0

Fonte: OMC Elaboração: AEB Nota : Para o exercício de 2011 é previsão O Gráfico 38 evidencia os reflexos da política macroeconômica da China e os

resultados na balança comercial, ao longo dos anos 2000, no tocante a elevação do

déficit comercial americano com a China (PINTO,2011,p.37)

Além do aumento da corrente de comércio entre China e Estados Unidos, o segundo elemento significativo dessa relação comercial, ao longo dos anos 2000, foi a elevação do déficit comercial americano com a China. O déficit da balança comercial bilateral, entre 2000 e 2008, elevou-se em 219% (de US$ 84 bilhões para US$ 268 bilhões). Esse crescimento do déficit ocorreu mesmo com a expansão das exportações americanas para a China (de 334%, passando de US$ 16 bilhões para US$ 71 bilhões), pois as importações americanas, oriundas da China, também cresceram de forma significativa (de 238%, passando de US$ 100 bilhões para US$ 339 bilhões). Após a crise internacional de 2008, verificou-se que as exportações americanas para a China caíram em velocidade menor do que as importações, gerando redução dos déficits comerciais entre os países em 2009 (US$ 227 bilhões) e nos três primeiros trimestre de 2010 (US$ 201 bilhões).

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131

Gráfico 38 - Exportações, importações e saldo comercial dos Estados Unidos para a China continental – 2000-2010 (Em US$ bilhões)

Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI Elaboração : Eduardo Costa Pinto Nota : Acumulado dos três trimestres do ano

Observa-se a evolução da geração de déficits comerciais dos Estados

Unidos com o resto do mundo incluindo China entre 2000 e 2008

(PINTO,2011,p.38)

Os Estados Unidos também apresentaram crescimento em seus déficits comerciais com o resto do mundo – incluindo China –, entre 2000 e 2008 (de US$ 446 bilhões para US$ 567 bilhões: crescimento de 87%), os quais, contudo, reduziram-se em ritmo acelerado após a crise internacional (US$ 507 bilhões em 2009 e US$ 486 bilhões nos três primeiros trimestres de 2010). Cabe destacar ainda que, entre 2000 e 2010, os déficits comerciais entre Estados Unidos e China contribuíram cada vez mais para ampliar os déficits comerciais daquele país com o mundo (de 18,8% do déficit comercial total em 2000 para 31,1% em 2008); inclusive essa participação se acelerou após a crise (44,7% em 2009 e 41,4% nos três primeiros trimestres de 2010). Pelo lado chinês, observaram-se também déficits comerciais com o resto do mundo – excluindo os Estados Unidos – entre 2000 e 2005, que foram revertidos para superávits em 2006, 2007, 2008 e 2009.

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Gráfico 39 - Evolução do saldo comercial – mundo, Estados Unidos e China, 2000-2010 (Em US$ bilhões)

Fonte : Direção de Estatísticas Comerciais/FMI Elaboração : Eduardo Costa Pinto Nota : Acumulado dos três trimestres do ano

A perda da competitividade das exportações americanas para a China

(PINTO,2011,p.39 e 40)

No plano comercial, o terceiro elemento importante da relação sino-ameri- cana foi a redução na participação das importações chinesas de maior va- lor agregado oriundas dos Estados Unidos. Esta foi uma tendência contrá- ria à observada nas importações industriais de alta intensidade tecnológi- gicas chinesas originárias do mundo (de 27,7%, no acumulado entre 1990 e 1994, para 43,6% no acumulado entre 2005 e 2009). Entre 1990 e 2009, verificou-se expansão significativa em valor das importações industriais chinesas oriundas dos Estados Unidos (de US$ 61,2 bilhões, no acumula- do entre 1990 e 1994, para US$ 267 bilhões, no acumulado entre 2005 e 2009) que não foi suficiente para aumentar a participação desse tipo de importações. Pelo contrário, o que se observou foi a redução da participa- ção das importações industriais (de 74,6%, em 1990-1994, para 66,6%, em 2005-2009), em especial as importações industriais de alta intensidade tec- nológica (de 45,2%, em 1990-1994, para 41,9%, em 2005-2009). A contra- contrapartida disto foi que as importações de produtos não industriais (co- (mmodities primárias), no mesmo período, cresceram tanto em termos de valor (de US$ 13,8 bilhões, no acumulado entre 1990 e 1994, para US$ 107,9 bilhões, no acumulado entre 2005 e 2009) como em participação (de 16,8%, em 1990-1994, para 26,8%, em 2005-2009) (Tabela 7).

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133

Tabela 8 - Evolução das importações chinesas originárias dos Estados Unidos por intensidade tecnológica – valor acumulado para períodos – 1990-2009 (Em US$ bilhões correntes)

Fonte: Comtrade/ONU. Elaboração de Eduardo Costa Pinto. Nota: ¹ Classificação extraída de OCDE (2003).

Observa-se que o outro fator estrutural na análise da dinâmica do poder da

China em relação aos Estados se reflete no grau de competitividade da evolução da

participação de produtos de maior valor agregado (PINTO,2011,p. 41 e 42)

O quarto elemento representativo da relação sino-americana, no plano co- mercial, foi o aumento explosivo da participação de produtos de maior valor agregado nas exportações chinesas para os Estados Unidos. A análi- se da evolução das exportações por intensidade tecnológica, entre 1990 e 2009, evidencia o aumento significativo do volume e da participação das exportações industriais com maior valor agregado. As exportações de produtos industriais de alta e média intensidade tecnológica foram as que mais cresceram em valor (de US$ 56,9 bilhões, no acumulado entre 1990 entre 1990 e 1994, para US$ 700 bilhões, no acumulado entre 2005 e 2009) e em participação (de 28,8% em 1990-1994 para 53,9% em 2005-2009). Ao passo que produtos industriais exportados intensivos em trabalho e re- cursos naturais tiveram forte redução na participação total (de 57,7%, em 1990-1994, para 31,3%, em 2005-2009), mesmo com aumento em seu valor (de US$ 114,1 bilhões no acumulado entre 1990 e 1994, para US$ 407,2 bi- lhões, no acumulado entre 2005 e 2009) Tabela 9). É preciso destacar que esta tendência de aumento do conteúdo tecnológico das exportações chine- sas para os Estados Unidos também é verificada para as exportações chi- nesas ao resto do mundo – a participação das exportações chinesas para o mundo de produtos industriais de alta e média intensidade tecnológica au- mentou de 32,6% em 1990-1994 para 58,6% em 2005-2009”.

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134

Tabela 9- Evolução das exportações chinesas originárias dos Estados Unidos por intensidade tecnológica, valor acumulado para períodos – 1990-2009 (Em US$ bilhões correntes)

Fonte: Comtrade/ONU. Elaboração de Eduardo Costa Pinto. Nota: ¹ Classificação extraída de OCDE (2003).

Assim, se observa que as pressões dos EUA para que a China valorize a sua

moeda (yuan) são insuficientes em face do poder que esta tem em relação à aquele

em face do financiamento da dívida pública americana.

A dinâmica da geração de superávits comerciais da China resultou no poder

sobre os EUA no que concerne ao financiamento da dívida concomitantemente a

posição devedora da China em face dos altos IDEs americanos (FIORI, 2008;

TAVARES; BELUZZO, 2004 apud PINTO, 2011,p.53).

A inclusão da China ao mercado de bens e de capitais dos Estados Unidos significou, no plano financeiro, a maior e mais rápida expansão do território econômico supranacional americano, pois potencializou significativamente o poder do dólar e dos títulos da dívida pública do governo americano, o que, por sua vez, elevou a capacidade de multiplicação do capital financeiro dos Estados Unidos. Nesse contexto, a China é, ao mesmo tempo, devedora dos Estados Unidos – devido aos altos IDEs americanos no território chinês – e credora do Estado americano – em virtude do enorme acúmulo de reservas soberanas na forma de títulos do Tesouro.

Evidencia-se a dimensão do poder da China no tocante as reservas

estrangeiras para o financiamento da dívida pública americana (LEÃO, 2009;

PRASAD; SORKIN, 2009; PRASAD; GU, 2009 apud PINTO, 2011,p.53).

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135

As reservas estrangeiras – exclusive ouro – da China vêm crescendo de forma acelerada ao longo da década de 2000 (de US$ 168,3 bilhões em 2000 para US$ 2,416 trilhões em 2009) (tabela 11). O governo chinês não divulga a composição de suas reservas, no entanto, existem estimativas que avaliam que entre 70% e 75% delas são mantidas em ativos denominados em dólares, sendo o restante composto por ativos denominados em ienes e euros.

Tabela 10 - Balanço de pagamentos e reservas internacionais – China, 2000-2009 (Em US$ bilhões)

Fonte: International Financial Statistics (IFS)/FMI. Elaboração de Eduardo Costa Pinto Nota: ¹ Convertido pela taxa de câmbio – iuane/dólar – na média do período. Obs.: BP = balanço de pagamento.

É interessante observar a análise da evolução da posição das reservas da

China e a contribuição desagregada da balança de transações correntes e a conta

capital e financeira (PINTO,2011,p. 54)

Os dados da decomposição da mudança na posição das reservas da Chi- na (Tabela 11) acumuladas entre 2000 e 2009 (de US$ 2,337 trilhões) evi- denciam que o saldo em transações correntes contribuiu com 73% do acu- mulado das reservas no período, sendo que a balança comercial foi o item que mais contribuiu nesta conta (cerca de 63,9%), ao passo que a conta capital e financeira contribuiu com 23,2% das reservas acumuladas. Como o ingresso líquido de IED foi superior ao resultado da conta capital e financeira, ocorreu uma saída líquida de capitais de outros tipos da China.

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136

Tabela 11 - Decomposição da mudança na posição das reservas – valor acumulado para os períodos selecionados – China, 2000-2009 - (Em US$ bilhões)

2000 - 2009 2000 - 2004 2005 -2009

2.337 460,7 1.876,3

1.707 187,9 1.519,2

73,0 40,8 81

1.493 216,3 1.277,5

63,9 47,0 68,1

2. Con ta cap ital e f in an ce ira 514,2 232,4 308,8

P articipação d o total acu m u lado (% ) 23,2 50,4 16,5

Re su ltado IDE 596,8 222 374,8

P articipação d o total acu m u lado (% ) 25,5 48,2 20,0

3. Erros e om issõe s 88,8 40,4 48,4

P articipação d o total acu m u lado (% ) 3,8 8,8 2,6

Mud an ça n a p osição d a re se rva (B.P )

1. Transaçõe s corre n te s

P articipação d o total acu m u lado (% )

Balança com e rcial

P articipação d o total acu m u lado (% )

Fonte: International Financial Statistics (IFS)/FMI Elaboração do Eduardo Costa Pinto Nota: ¹ Convertido pela taxa de câmbio – iuane/dólar – na média do período. Obs.: BP = balanço de pagamento.

Para corroborar a análise de que os resultados obtidos da balança comercial

foram fatores significativos para a constituição das reservas da China e foram

utilizados para o financiamento da dívida pública americana (PINTO,2011,p. 55)

É preciso ressaltar que existe significativa diferença da decomposição das reservas acumuladas ao longo desse período, a saber: i) entre 2000 e 2004, as transações correntes contribuíram com 40,8% das reservas acumuladas (de US$ 460,7 bilhões), sendo que a contribuição da balança comercial (47,%) foi maior do que a das transações correntes, o que evidencia que os outros componentes das transações correntes foram deficitários. Pelo lado da conta capital e financeira, verificou-se a contribuição de 50,4% do acúmulo de reservas, sendo que o ingresso líquido de IDE contribuiu com 48,2%; ii) entre 2005 e 2009, o saldo nas transações correntes contribuíram com 81% das reservas (de US$ 1,519 trilhão). Desta conta, o componente que mais gerou reservas foi a balança comercial (68,1%). Quanto à conta capital e financeira observou-se que ela proporcionou 16,5% das reservas que foi inferior ao resultado líquido do IED (20%), evidenciando, por sua vez, a ocorrência de uma saída de outros tipos de capitais (tabela 12). Esse enorme aumento das reservas internacionais chinesas esteve asso- ciado ao acúmulo de títulos do Tesouro americano pela China. Entre dezembro de 2001 e dezembro de 2010, verificou-se crescimento de 1.375% (de US$ 78,6 bilhões para US$ 1,160 trilhão) no estoque de títu- os do Tesouro dos Estados Unidos em poder dos chineses. Essa evolução gerou significativa elevação da participação do total de títulos americano em poder do governo chinês (de 7,6% para 26,1%) (gráfico 5). Inclusive, a par- tir de setembro de 2008 a China passou a ser o país com o maior esto- que de títulos do Tesouro dos Estados Unidos, ultrapassando o Japão. Vale ressaltar que, após a crise internacional de 2008, a China manteve o ritmo das compras dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos.

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137

Ressalta-se a significativa análise sobre a China no tocante a acumulação de

reservas internacionais mantendo a taxa de câmbio fixa e sem gerar pressões

inflacionárias (NONNENBERG,2010, p. 212)

Como foi possível à China acumular reservas internacionais em valores tão elevados, mantendo a taxa de câmbio fixa sem, ao mesmo tempo, ge- rar pressões inflacionárias? A contrapartida da elevação das reservas é o aumento da dívida pública. Quanto maior a dívida, maiores os encargos financeiros e maior o déficit fiscal. Entretanto, à diferença da maior parte dos demais países, tanto o déficit fiscal da China quanto o valor inicial da dívida pública eram relativamente pequenos. A dívida bruta do governo central passou de aproximadamente 6,5% do PIB em 199031 para 15,7% em 200832.

Na realidade, a China como a nova força hegemônica na dinâmica de poder

percebeu que além de ter a capacidade de implementar uma política comercial que

gerasse excedentes significativos na balança comercial poderia aliar a uma política

fiscal e monetária altamente expansionistas no sentido de gerar um significativo

crescimento superior ao PIB potencial, mesmo que resultasse em ciclos

inflacionários.

Na análise entre inflação e PIB potencial verificou-se que o produto potencial

cresceu, em média, por quase 30 anos, à taxa de 10% ao ano

(NONNENBERG,2010, p. 209)

Pode-se também analisar a relação entre inflação e PIB potencial. Uma estimativa simples, porém bastante utilizada para medir o PIB potencial, é por meio do filtro Hodrick-Prescott (HP) para os dados de crescimento real do produto efetivo. No gráfico 41 são exibidas as taxas de variação real do PIB efetivo e as ta- xas para o PIB potencial utilizando-se o filtro HP. Verifica-se também aqui que períodos em que o crescimento do PIB efetivo foi maior do que o do PIB potencial precederam elevações da inflação. É razoável considerar, assim, que o período de relativa estabilidade de preços na China entre 1997 e 2006 está fortemente associado ao fato de o PIB efetivo ter crescido a um ritmo muito próximo do PIB potencial, indicando hábil manejo da política de curto prazo. Por outro lado, não há como deixar de se impressionar por um produto potencial crescendo, em média, por quase 30 anos, à taxa de 10% ao ano.

31

De acordo com o Banco Mundial. 32

Segundo o CIA World Factbook

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138

Gráfico 40: PIB – Taxas reais efetivas e potenciais (filtro HP) e variação dos preços ao consumidor (em%)

Fonte: NBS : elaboração Marcelo José Braga Nonnenberg

O governo chinês para manter os altos níveis de crescimento desde a década

de 80 se fundamentou no consumo e investimento (NONNENBERG,2010, p. 206).

O Gráfico 42 apresenta a contribuição ao crescimento econômico do con- sumo final, dos investimentos e das exportações líquidas de bens e servi- ços. Apesar da importância das exportações para a dinâmica da economia chinesa, verifica-se que, ex-post, a contribuição das exportações líquidas é bastante pequena na maior parte do tempo, sendo mesmo negativa em alguns anos, devido ao grande peso das importações. Assim, a quase tota- lidade do crescimento é explicada pelo consumo e pelos investimentos — embora seja claro que estes últimos foram em boa medida estimulados pela perspectiva de atendimento da demanda externa. Note-se que, nos últimos cinco anos da série, a contribuição dos investi- mentos suplanta ou iguala a do consumo final, podendo estar havendo um excesso de acumulação de capital. Ademais, na presença de taxas de ju- muito baixas, o investimento pode apresentar taxas de retorno muito baixas.

Page 139: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

139

Gráfico 41: Contribuições ao crescimento do PIB – %

Fonte: NBS : elaboração Marcelo José Braga Nonnenberg

Salienta-se ,ainda, análise no que tange a elevação do volume de crédito em

proporção do PIB apesar das limitações do sistema financeiro chinês (LEVY,

NONNENBERG, NEGRI,2006, p. 86)

Embora o volume de crédito seja elevado como proporção do PIB, o sistema financeiro chinês não é muito desenvolvido. As alternativas de poupança são limitadas, as taxas de juros para empréstimos são contro-ladas e há pouca margem para diferenciar riscos. Todo o sistema bancário ainda é público, mas já existem associações com bancos privados estran-geiros. Há grande preocupação com o volume de créditos podres no siste-ma, especialmente porque a perspectiva de sobreinvestimento decorrente do forte crescimento dos últimos anos prenuncia uma fase de “depuração”.

No que se refere ao dinamismo do PIB dos Estados Unidos de 1990 a 2007

foi reflexo da combinação das políticas monetária¸ de crédito, de juros e de

construção residencial (GONTIJO,2007). Por outro lado a análise de (CINTRA &

PRATES , 2011) evidencia que o crescimento do PIB americano de 1970 a 2011 “foi

resultado da ruptura do sistema de Bretton Woods, a qual consolidou a hegemonia

america em função do um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das suas

políticas : a cambial, a monetária e a fiscal”. Esta dimensão do poder do Tesouro

dos Estados Unidos é de tal forma que se exemplifica através da política de

afrouxamento quantitativo, ou seja, para que o país não entrasse em uma grave

recessão em face da necessidade de realizar um ajuste fiscal no tocante o aumento

dos impostos ou redução dos gastos governamentais, os quais impactariam o

crescimento do PIB.

Page 140: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

140

A título de comparação o PIB americano representava US$ 2 trilhões de

dólares em 1990 e passou para US$ 15 trilhões em 2011 (Gráfico 42). Ressalta-se

que com a crise mundial deflagrada pela crise do subprime o PIB americano era em

valores nominais US$ 14,219 trilhões em 2008 e reduziu para US$ 13,864 trilhões

em 2009 e com as alusivas medidas de afrouxamento quantitativo passou para

US$ 15,119 trilhões em 2011. No tocante a China o PIB chinês que era de

US$ 4,521 trilhões em 2008 e passou para US$ 4,991 trilhões em 2009 ,e, por

conseguinte em face do seu alusivo poder também utilizou a hegemonia das

políticas fiscal, a monetária, a cambial e de creditícia e ainda aliada a uma política

de estimulo ao investimento sob a ótica Keynesiana em 2011 sem levar em

consideração a visão de Hayek, bem como as dificuldades do sistema financeiro

chinês no que se refere à geração de créditos podres (MACÁRIOS,2011). Neste

contexto, o PIB chinês alcançou US$ 7,298 trilhões em 2011.

Gráfico 42 – PIB em valores nominais dos Estados Unidos e China – 1990 a 2011 - (Em US$ trilhões)

Fonte : Banco Mundial

A dimensão do poder dos Estados Unidos se reflete, na medida em que o

tsunami de trilhões de dólares resultou em uma valorização excessiva do real no

Brasil em face que uma parte desses dólares foi atraído pelo diferencial da taxa

Selic. Salienta-se que a taxa Selic foi aumentada pelo Banco Central em 2011 para

conter a inflação já que esta estava bem acima da meta. Ressalta-se ,ainda, a

contribuição efetiva para a alusiva valorização os empréstimos tomados pelos

bancos privados e os empréstimos da Petrobrás para realizar os altos investimentos

do Pré-Sal que também contribuíram para a valorização do real.

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

20,00%

25,00%

30,00%

35,00%

0

2.000.000.000.000

4.000.000.000.000

6.000.000.000.000

8.000.000.000.000

10.000.000.000.000

12.000.000.000.000

14.000.000.000.000

16.000.000.000.000

1990 1991 19921993 1994 19951996 1997 19981999 2000 20012002 2003 20042005 2006 20072008 2009 20102011

China Estados Unidos Taxa Crescimento nominal do PIB Chinês Taxa Crescimento do PIB nominal Estados Unidos

Page 141: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

141

A valorização do real impactou em um crescimento significativo do déficit

comercial do segmento de produto industrializado no Brasil ,e, portanto impactou no

crescimento do PIB.

No que se refere ao exercício de 2012 o governo Dilma decidiu como

estratégia para recuperar a competitividade da indústria a depreciação do real em

relação ao dólar a taxa de R$ 2,00, entretanto não resultou no aumento da produção

industrial (ver no tópico desindustrialização).

No tocante a alusiva política monetária de expansão quantitativa do Banco

Central americano teve resultados distintos diminuiu o problema de financiamento da

dívida sem que os Estados Unidos necessitassem realizar o ajuste fiscal, entretanto

não produziu impacto no PIB dos Estados Unidos em face que em 2008,2009, 2010

e 2011 foi verificado uma redução real do PIB de 7,94%,8,77%,9,60% e 10,76%,

respectivamente. Assim, a China percebeu essa dinâmica do poder e obteve um

extraordinário crescimento nominal do PIB em dólar de 2011 em relação a 2008.

Gráfico 43 – Estados Unidos – PIB em valores nominais e valores reais – 1995 – 2011 (US$ trilhões)

0

2 .0 0 0 .0 0 0

4 .0 0 0 .0 0 0

6 .0 0 0 .0 0 0

8 .0 0 0 .0 0 0

1 0 .0 0 0 .0 0 0

1 2 .0 0 0 .0 0 0

1 4 .0 0 0 .0 0 0

1 6 .0 0 0 .0 0 0

1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1

E s ta d o s U n id o s (P IB R E A L ) E s ta d o s U n id o s (P IB N O M IN A L )

Fonte : Banco Mundial

Em 1970, o PIB dos Estados Unidos representava 35,4% do PIB Mundial e

em 2011 reduziu para 21,6%. Em 2011, a magnitude dimensão do seu poder se

reflete não só na dimensão do seu PIB, como também na alta correlação com a sua

monumental dívida bruta, a qual inclui compromissos intragovernamentais,

predominantemente fundos de previdência social, ou somente os títulos da dívida

pública em poder do público. A primeira, hoje em 90% do PIB, contrastada com

menos de 60% da segunda (FISLOW,2011) resultou em uma redução real da taxa

de crescimento do PIB a partir da crise de 2007, entretanto não houve aumento da

taxa de juros apesar da manutenção de déficits gêmeos fiscais e conta-corrente

astronômicos em % do PIB. Salienta-se, ainda, que o prazo de 30 anos de

Page 142: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

142

financiamento da dívida possibilita ao governo americano a não ser forçado a

implementar um ajuste fiscal no tocante ao aumento das receitas ou redução dos

gastos, os quais impactariam ainda mais na taxa de crescimento do PIB.

A crise de 2008 resultou em um impacto significativo no tocante ao

incremento da dívida pública33.

Obama herdou os efeitos da monumental crise de 2008. Atacou-os com brutal aumento de liquidez, por meio da injeção de 3 trilhões de dólares na economia e de taxa de juros beirando zero. A dívida pública dobrou em quatro anos, indo de 5 trilhões de dólares para 10 trilhões de dólares.

Ressalta-se ainda a desregulamentação financeira resultou na securitização

hipotecária tornando uma fonte importante de expansão do setor financeiro

(FISLOW,2011) aliada as vulnerabilidade analisadas pelo Secretário do Tesouro

americano, Timothy Geithner, no tocante ao consumo e o endividamento

excessivos e a segunda falha foi a de regulação do sistema financeiro já

salientadas no tópico crédito imobiliário. Assim, estes fatores também impactaram

no alusivo crescimento real do PIB americano.

A crise do mercado subprime aprofundou o nível de endividamento total do

setor público e privado norte americano, refletindo na necessidade do aumento da

poupança pós crise, sendo um dos fatores para redução do consumo ,e, portanto

impactando na redução do PIB real.

Segundo dados de um artigo do economista André Lara Resende, a dívida total dos Estados Unidos (setor público, empresas e famílias) alcançou 360% do PIB do país em 2008, nível superior ao de 1929 (300%), e mais que o dobro da média entre 130% e 160% do PIB registrada entre as décadas de 50 e 80.34

O alto endividamento do setor público e americano impactou no PIB em face

que se verificou uma redução real do PIB de 2011 em relação a 2008. A título de

comparação em 2007 o PIB real era de US$ 13,238 trilhões correlacionando a um

PIB nominal de US$ 14,061 trilhões. Em 2011, o PIB real passou para US$ 13,526

trilhões enquanto o PIB nominal alcançou US$ 15,157 trilhões.

Assim, correlacionando o alto crescimento do PIB nominal dos Estados

Unidos de 2011 em relação a 2007 com o baixo crescimento do PIB real no mesmo

período significa que as decisões tomadas pelo Tesouro e o Banco Central 33 Da mão de ferro à mão invisível. Revista Veja, Editora Abril, São Paulo edição nº 2.278, p. 81, 18 de julho de 2012.. 34

Ibidem. O mundo pós crise como usar. Revista Veja , Editora Abril, São Paulo, edição nº 2.130, p.125, 16 de setembro de 2009.

Page 143: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

143

americano tem como objetivo a monetização da dívida, ou seja, exportando inflação

para o resto do mundo e valorização das moedas como o Real.

Logo, a China se beneficiou dessa estratégia dos Estados Unidos quando se

observou o seu excepcional crescimento do seu PIB em valores nominais em

dólares de 2011 em relação a 2008 (Gráfico 33).

Entretanto, se considerarmos o problema do financiamento da dívida pública

a França e Alemanha estão também sendo beneficiadas em face da redução do

custo da dívida diferentemente da Espanha e Itália, pois na ausência da dinâmica do

crescimento do consumo os poupadores direcionaram os seus recursos

principalmente para Alemanha, refletindo que o custo de financiamento da dívida

atualmente seja negativo.

Diante da magnitude do problema do sistema bancário e da necessidade da

retomada do crescimento o Federal Reserve utilizou o instrumento do afrouxamento

quantitativo. Esta ferramenta é uma peculiaridade da política monetária, entretanto

só pode ser realizada se o banco central controla a moeda utilizada. Assim, os

bancos centrais dos países da zona euro, por exemplo, não pode unilateralmente

expandir sua oferta de moeda e, portanto, não pode empregar a flexibilização

quantitativa em face que a definição da política monetária está na competência do

Banco Central Europeu (BCE).

No tocante ao uso deste instrumento Quantitative Easing pelo BCE foi menor

do que os programas dos bancos centrais dos Estados Unidos e Inglaterra

(OLIVEIRA,2010,p,26).

A perspectiva do Banco Central Europeu era diferente desses outros bancos centrais, já que o crédito do sistema financeiro europeu é primordialmente originado pelos bancos. No sistema europeu, o aumento da liquidez no setor bancário foi o principal objetivo do programa que, na verdade, foi chamado de credit enhanced program. O programa anunciado pelo BCE teve como principal medida o aumento do conjunto de ativos como colateral para a tomada de empréstimos junto á autoridade monetária. Esses empréstimos colaterizados já constituíam operações que o BCE realizava no período anterior à crise, e, por isso, a sua implementação foi relativamente fácil e direta. Foram adotados extensões da classe de ativos que seriam aceitos como colateral. Além disso, a maturidade dos empréstimos também foi aumentada, chegando, no auge da crise, a alcançar 1 ano. A taxa dessas operações também foi fixada em 1%, e o volume de emprésimos foi estipulado como ilimitado. Muitas dessas operações estão sendo ou já foram lentamente revertidas,de acordo com a menor demanda dos bancos por empréstimos do BCE, devido ao retorno da liquidez no mercado interbancário. O programa de compras de ativos privados (covered bands) foi limitado a 60 bilhões de euros e não foi o principal canal de afrouxamento da política

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144

monetária. O Quantitative Easing realizada pelo BCE, na forma mais tradicional, apenas veio a ocorrer em 2010,devido à aguda crise das dívidas soberanas de alguns países europeus. Diante do questionamento sobre a capacidade de pagamento dos países periféricos e o possível contágio da crise para países maiores como Espanha e Itália, o BCE iniciou um programa de compra de títulos públicos de países com alta volatilidade para evitar movimentos abruptos nos spreads. Essa compra de títulos públicos de alguns países da Zona do Euro foi bastante criticada, inclusive por menbros do próprio BCE.

O poder da Alemanha como a sustentabilidade fiscal da Zona do Euro

resultou que uso do QE fosse esterilizado em face de não provocar impactos

inflacionários.

Salientam-se as diferenças entre os programas do BCE, Banco da Inglaterra

(BOE) e os implementados pelo FED no tocante ao instrumento QE

(OLIVEIRA,2010,p.27).

A principal diferença entre o programa do BCE e os implementados pelo FEDE e BOE é que o BCE não anunciou montantes específicos de compras de títulos por país e nem divulgou quais seriam a duração do programa e o total de títulos a serem absorvidos. Outra diferença é que as compras dos outros bancos centrais não foram esterilizadas. Pelo contrário, a expansão do balanço dos bancos centrais fazia parte do objetivo da política monetária.

Com a crise mundial a política de afrouxamento quantitativo foi muito utlizado

pelos Estados Unidos, o Reino Unido e da zona euro de 2007-2012 no sentido de

estimular a demanda doméstica.

Os EUA Reserva Federal realizou entre US$ 700 bilhões e US$ 800 bilhões

em títulos do Tesouro em seu balanço antes da recessão. No final de novembro de

2008, o Fed começou a comprar $ 600 bilhões em títulos lastreados em hipotecas

(MBS)35. A magnitude dos problemas das hipotecas o Fed direcionou um volume

significativo ao setor imobiliário em 2009 (OLIVEIRA, 2010,p.25).

Do total de US$ 1,7 trilhão de compras realizadas pelo FED, US$ 1,25 trilhão foi destinado à compra de MBS e US$ 175 bilhões à compra de obrigações de dívidas das Governenment Sponsored Enterprise (GSE) ligadas ao setor imobiliário.

O poder dos Estados Unidos possiblitou o financiamento das dívidas do setor

imobiliário no longo prazo (OLIVEIRA, 2010,p.25).

As compras de MBS foram concentradas em títulos de 30 anos, emitidos por Fannie Mae e Freddie Mac. Já as compras dos ativos das GSE foram concentradas em ativos de médio prazo, pois a oferta

35 http://www.ft.com/cms/s/0/69e8c92c-e758-11df-880d-00144feab49a.html

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145

de longo prazo era limitada. Além da intervenção no setor imobiliário, o FED também anunciou compras no total de US$ 300 bilhões em títulos de longo prazo do Tesouro americano, priorizando maturidades de 2 a 10 anos.

O objetivo principal do FED era restaurar o mercado de títulos imobiliários,

entretanto foi de fato um relaxamento creditício (OLIVEIRA, 2010,p.25).

O objetivo principal do FED era restaurar o mercado de títulos imobiliários que havia congelado durante a crise. O anúncio do programa não foi diretamente vinculado ao impacto das compras sobre a atividade econômica, mas sim ao impacto sobre a oferta e a normalização do setor financeiro. Portanto, a primeira fase do programa de expansão monetária do FED que se seguiu à paralisação dos mercados fianceiros em 2008 teve como principal objetivo servir de contraparte para as operações vistas como fundamentais para o funcionamento de diversos mercados. Isto é, a primeira etapa do relaxamento monetário foi de fato um relaxamento creditício.

Em junho de 2010, o Banco Central americano destinou o montante de

US$ 2,1 trilhões para a política de afrouxamento quantitativo, entretanto novas

aquisições foram interrompidas quando a economia começou a melhorar, mas

retomou em agosto de 2010, quando o Fed evidenciou que a economia não estava

crescendo de forma robusta.

Após a parada em junho de participações começou a cair naturalmente como

dívida vencida e foram projetados para cair para US $ 1,7 trilhão em 2012. A meta

revista do Fed tornou-se a manter participações no nível de US$ 2,054 trilhões. Para

manter esse nível, o Fed comprou US$ 30 bilhões em notas de 2-10 anos do

Tesouro de um mês. Em novembro de 2010, o Fed anunciou uma segunda rodada

de flexibilização quantitativa, ou "QE2", comprar $ 600 bilhões em títulos do Tesouro

até o final do segundo trimestre de 2011. [36] [37]

Segundo o FMI, as políticas de flexibilização quantitativa efectuadas pelos

bancos centrais dos principais países desenvolvidos desde o início da crise

financeira tarde da década de 2000 têm contribuído para a redução dos riscos

sistêmicos após a falência do Lehman Brothers. O FMI afirma que as políticas

também contribuíram para as melhorias na confiança do mercado e do fundo do

poço da recessão nas economias do G-7, no segundo semestre de 2009.38

36 Censky, Annalyn (3 Nov 2010). "QE2: Fed pulls the trigger". CNNmoney.com. Retrieved 10 Aug

2011. 37 AMADEO, Kinberley. What Is Quantitative Easing? Disponível em < http://useconomy.about.com/od/glossary/g/Quantitative-Easing.htm. Acesso em 28 de agosto de 2012. 38KLYUEV, Vladimir ; IMUS, Phil de ; and SRINIVASAN, Krishna. Unconventional Choices for Unconventional Times: Credit and Quantitative Easing in Advanced Economies. International Monetary Fund. November 4, 2009.

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146

O economista Martin Feldstein argumenta que QE2 levou a um aumento do

mercado de ações no segundo semestre de 2010, contribuindo para o aumento do

consumo e do forte desempenho da economia dos EUA no final de 2010. 39 Em

novembro de 2010, o presidente do Banco Central americano, Ben Bernanke,

questionado sobre a eficácia do programa do Fed QE ele respondeu que suas ações

refletem o ambiente econômico de alto desemprego e baixa inflação.40 Entretanto,

este instrumento de política monetária é a forma que o Banco Central americano

utilizou para reduzir os impactos sobre a economia americana no que tange a evitar

ao incremento do desemprego, bem como a redução da taxa de juros do

financiamento da dívida pública.

Salienta-se que a flexibilização quantitativa pode causar uma inflação mais

elevada do que a desejada, conforme foi evidenciado que o incremento do PIB

nominal americano de 2011 em relação a 2007 foi muito significativo com relação ao

PIB real, ou seja, refletindo em uma monetização da dívida pública americana.

Para Harvey (2012, p.14), o geógrafo e antropólogo, a decisão do Federal

Reserve de implentar a política de afrouxamento quantitativo criando do nada 1

trilhão de dólares gera um problema no sistema capitalista.

Há uma constante pressão da acumulação de capital contra seus limites. Periodicamente esses limites se mostram muito difíceis de superação. É quando se tormam difíceis de superação. E quando se tornam difíceis de superação nós temos uma situação de congelamento do sistema. Surge então a pergunta de como é possível para o capitalismo acumular sem limites. Marx tem uma resposta muito interessante para isso, que a única coisa que pode ser acumulada sem limite é dinheiro. Você pode criar dinheiro porque dinheiro é só número. [....] Isso é o que nós vemos quando o Federal Reserve pratica o afrouxamento quantitativo criando do nada um trilhão de dólares. E Keynes mostra que isso, por si, gera um novo proble-ma : onde investir esses recursos ?

Segundo Harvey (2012,p.14) não havendo limite monetário, mas existindo

limites de recursos naturais, de capacidade de produção e consumo, resultando em

um grande deslocamento de capitais em direção à terra e a propriedade imobiliária

contribuindo para o colapso das propriedades.

Sim. Marx dizia a mesma coisa. Não há limite monetário, mas há limites de recursos naturuais, de capacidade de produção e de consumo. Isso traz a tema do excedente (surplus) de capital, que tem levado a um grande deslocamento de capitais em direção à terra e à propriedade imobilária.

39 Feldstein, Martin (2011-02-24). "Quantitative Easing and America's Economic Rebound". project-

syndicate.org. Project Syndicate. Retrieved 2011-04-04. 40 BERNANKE, Ben "Open letter to Ben Bernanke". The Wall Street Journal. 15 Nov 2010. Retrieved 12 Aug 2012.

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147

Globalmente, há um movimento de “tomada de terras” (land grabing) de investimento em ativos naturais. Essa dinâmica, evidentemente,tem limites, que só podem ser transcedidos na esfera monetária. Nós criamos liquidez como mecanismo de enfrentamento da crise, mas não sabemos para onde vai essa liquidez, onde colocá-la e como usá-la. Outra coisa que acontece é que, ao criar dinheiro, você cria desvalorização, seja a própria desvalorização do dinheiro ou a desvalorização dos ativos, como vimos acontecer no mercado imobiliário americano. Daí, os valores das propriedades colapsam.

Para corroborar esta análise, se evidenciou que os bancos americanos e da

Zona do Euro continuam relutantes em emprestar dinheiro para as pequenas

empresas e as famílias, a fim de estimular a demanda uma vez que o nível de

endividamento é muito significativo tanto nos Estados Unidos e da Zona do Euro.

Ressalta-se que a flexibilização quantitativa pode efetivamente facilitar o processo

de desalavancagem em face de reduzir os rendimentos. Entretanto, no contexto de

uma economia global as taxas de juros mais baixas podem contribuir para a bolhas

de ativos em outras economias, bem como o tsunami de dólares e euros despejados

pelos alusivos Bancos Centrais refletiram na economia brasileira com a valorização

do real conforme já salientado que em face da política monetária do Banco Central

do Brasil, a qual este foi forçado a elevar a taxa de juros Selic em função do

incremento da inflação, a qual estava bem superior a meta aliada a livre entrada de

capital.

Salienta-se ,ainda, a assimetria no sistema monetário internacional, a qual

reflete na dinâmica de poder mundial, bem como na fragilidade financeira dos países

em desenvolvimento para que os efeitos sejam significativos no que concerne ao

instrumento de afrouxamento quantitativo como ocorreu no Brasil em 2011 em face

depois da década de 90 estar fadado a ser uma plataforma de valorização do capital

especulativo (PAULANI,2008).

Os bancos centrais dos países mais desenvolvidos (por exemplo, Reino

Unido, EUA, Japão e UE) estão proibidos por lei a comprar dívida pública

diretamente do governo e deve, em vez de comprá-lo no mercado secundário. Esta

duas etapas no processo, onde o governo vende títulos a entidades privadas que o

banco central compra então, tem sido chamado de "monetizar a dívida" por muitos

analistas. A característica distintiva entre QE e monetização da dívida é que, com

QE, o banco central é a criação de dinheiro para estimular a economia, não para

financiar gastos do governo. Entretanto, conforme já salientado o excepcional

crescimento do PIB nominal dos Estados Unidos de 2011 em relação a 2007 o

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148

Banco Central americano demonstra que não tem uma meta de inflação, refletindo

que está monetizando a dívida para reduzir os problemas com a dívida de

financiamento.

Segundo Richard W. Fisher, presidente do Federal Reserve Bank de Dallas,

advertiu que um risco potencial de QE é, "o risco de ser visto como embarcar no

terreno escorregadio da monetização da dívida.41

Sabemos que uma vez um banco central é percebido como alvo os rendimentos da dívida pública em um momento de persistentes déficits orçamentários, a preocupação com monetização da dívida rapidamente se levanta. " e mais tarde nos Estados mesmo discurso de que o Fed é monetizar a dívida pública.

A dinâmica do poder dos Estados Unidos é prontamente transparente: A

Reserva Federal anunciou compras de US$ 300 bilhoes em títulos de longo prazo do

Tesouro, um montante que, anualizado, representa o déficit projetado de do governo

federal para o próximo ano, refletindo na monetização da dívida federal42.

O entendimento de (BERGSTEN, 2009 apud MACÁRIOS,2011, p. 15) sobre a

dificuldade dos americanos de fazer política monetária. Além disso, BERGSTEN

analisa que o déficit orçamentário americano resulta em um grande déficit em conta

corrente refletindo na obtenção de superávits comerciais e geração de empregos,

particularmente a China.

Os americanos também têm dificuldade de fazer política monetária. Todos esses fatores, aliados à falta de supervisão do sistema financeiro, levaram ao desencadeamento da crise financeira nos EUA. De acordo com o autor, caso o mundo continue a financiar o déficit americano, as condições para a ocorrência de uma nova crise estarão dadas. O déficit orçamentário aumenta a demanda doméstica por produtos e capital estrangeiros, porque eleva a demanda doméstica a um nível maior do que o seu potencial, e promove grande déficit em conta corrente, pois parte da demanda interna é financiada pelo capital estrangeiro. Outros países se beneficiam com o correspondente superávit comercial e com a geração de empregos, particularmente a China. Um maior controle sobre o déficit comercial americano levaria a uma mudança na estratégia de crescimento baseada na exportação, adotada por alguns países, que seriam obrigados a expandir a demanda interna.

Neste contexto, a alusiva análise de BERGSTEN (2009) de que o papel de

moeda internacional do dólar facilita o financiamento do déficit comercial e de conta

corrente dos EUA com o resto do mundo em face do dólar deter a capacidade de

41

McTeer, Bob (26 August 2010). Forbes. Available in < http://blogs.forbes.com/beltway/2010/08/26/quantitative-easing-is-a-toxic-phrase-for-a-routine-policy/>. Retrieved in 26 August 2012

42 http://dallasfed.org/news/speeches/fisher/2010/fs101108.cfm

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149

moeda internacional, garantindo dessa forma um grande fluxo de capital estrangeiro,

contribuindo para o excesso de liquidez e para a redução da taxa de juros conforme

foi evidenciada em 2010, 2011 e também em 2012 em face do custo de

financiamento da dívida americana ter se reduzido apesar da continuação da

geração de déficits gêmeos. Entretanto, o entendimento de que os Estados Unidos

têm dificuldade de fazer política monetária não condiz com a realidade conforme foi

analisado os reflexos no tocante ao afrouxamento quantitativo.

De acordo com David Harvey (2012,p.16) a dimensão da crise mundial refletiu

em uma perda de 30 milhões de empregos na China entre 2008 e 2009 no

segmento da indústira exportadora, entretanto esta reverteu com uma solução

“sinokeynesiana”, refletindo em uma perda líquida de 3 milhões de empregos em

face dos altos investimentos em infraestrutura.

Há um modo de pensar a superação da crise a partir da teoria Keynesiana, através do aumento dos gastos sociais, socializando os custos da reprodução social, uma linha oposta à neoliberal, de privatização de tais custos em termos de previdência, de educação. A socialização de tais custos me parece um bom caminho inicial. A outra peça da teoria Keynesiana é o investimento em infraestrutura. Os chineses perderam 30 milhões de empregos entre 2008 e 2009, por conta do colapso das indústrias de exportação. Em 2009, eles tiveram uma perda líquida de só três milhões de empregos, o que significa dizer que eles criaram 27 milhões de empregos em cerca de nove meses. Isto foi resultado de uma opção pela construção de novos edifícios, novas cidades, novas estradas, represas, todo o desenvolvimento de infraestrutura, liberando uma vasta quantidade de dinheiro para os municípios, para que suportassem o desenvolvimento. Essa é uma clássica solução e me parece que uma coisa semelhante aconteceu no Brasil através do Bolsa Famíia e de programas de investimento estatal em infraestrutura.

Assim, a China dispôs de um poder de hegemonia de política fiscal, a

cambial, a monetária, a creditícia, as quais resultaram em um significativo cresci-

mento econômico de dois dígitos após a década de 80. A evidência da dimensão

deste poder se refletiu na adoção da alusiva prescrição Keynesiana a apesar dos já

existentes expressivos problemas do sistema bancário. A título de comparação a

aprovação desse audacioso pacote desequilibrou as contas governamentais em face

de induzir os bancos do país a emprestarem US$ 1,5 trilhão em 2009 no que

concerne a financiar os investimentos sem se basear na ótica de Friedrich Hayek.

Ressalta-se que esta é baseada na análise na capacidade dos investimentos de

gerar receitas suficientes, ou seja, as perdas já analisadas somaram-se as futuras

perdas, as quais esses empréstimos podem resultar, refletindo no incremento das

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150

perdas dos bancos , e, portanto prejudicando a sua capacidade de financiamento

(COX,2012,p.76)

Something similar may be required in 2012 if America's stagnation and Europe's debt crisis once again threaten the global economy. But the new leadership of Xi Jinping and Li Keqiang (expected to take over towards the end of the year) is unlikely to embrace Keynes as wholeheartedly as their predecessors. Indeed, they may find themselves slave to the scribblings of a different dead economist, Keynes's intellectual foe, Friedrich Hayek. Whereas Keynes worried about inadequate investment—too little entre- preneurial spending to keep everyone gainfully employed—Hayek worried about bad investment. If credit were too easy, he argued, entrepreneurs would embark on overambitious projects that take too long to reach fruition and make insupportable claims on society's resources. It is not hard to find overambitious projects in China: think of the country's “ghost cities”, such as Ordos in Inner Mongolia, which is being built by go- vernment fiat long before people are ready to live in it. But although China invests at a formidable pace, it also saves at a prodigious rate. In such a thrifty economy, interest rates should be low, credit should be readily available and investment should be high.

Yet in 2009 and 2010 things went too far. Spurred on by the government, China's banks increased their lending by almost 9.6 trillion yuan ($1,5 tri- llion) in 2009. That is roughly twice the size of the Indian banking system, as Bank Credit Analyst, a research company, has pointed out. In other words, China's lenders added two Indias to their loanbooks in the space of a year”.43

Salienta-se que um volume significativo dos empréstimos foi alocado para

companhias de investimento patrocinadas pelos governos locais, aumentando

consideravelmente a dívida dos governos locais. A título de comparação as dívidas

correspondiam a 15% do PIB em 2007 e passou para 35% do PIB em 2011 aliado,

ainda, ao risco de que muitos desses projetos não gerarão receitas suficientes para

pagar os credores (COX,2012,p.76).

Much of this lending flowed to some 10,000 investment companies spon- sored by local governments, which cannot borrow directly in their own na- me. These companies set about building roads, bridges, irrigation works and some housing schemes of dubious merit. These loans added about 5 trillion yuan to the debt of local governments, which now amount to 10 tril- lion-14 trillion yuan or 25-36% of GDP (see chart). China's authorities now admit what was always obvious: many of these projects will fail to raise enough revenue to repay their creditors. Defaults have already surfaced in Yunnan province and elsewhere. Some of these projects will be abandoned halfway. They are what Hayek would call “malinvestments”, investments in capacity that no one is willing to pay for or wait for.

43

COX, Simon. Keynes vs Hayek na China. The Economist , The World in 2012, January and February. Disponível em <. http://www.economist.com/node/21537010>. Acesso em: 04 de agosto de 2012.

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151

Gráfico 44 – Dívida dos governos locais chineses – 1998 - 2010 (% do PIB)

Fonte : Gavekal Dragonomics

O fim do Acordo de Bretton Woods demonstrou que a volatilidade do dólar foi

benéfica para o Japão e Alemanha no tocante a valorização das suas respectivas

moedas e aos Estados Unidos por meio da expansão quase mundial do modelo de

desregulamentação neoliberal e da ampliação da acumulação com o predomínio das

finanças no período de 1971 a 1990.

No período de 1991 a 2000, o Japão e Alemanha têm dificuldades de

manterem suas taxas médias de crescimento em face do excepcional grau de

competitividade da China em um segmento de baixo custo e de alta tecnologia com

a combinação de políticas macroeconômicas estáveis. No que se refere aos Estados

Unidos continuam mantendo taxas médias de crescimento superiores em face de se

utilizarem da política de expansão de crédito e principalmente do regime de

acumulação através dos ativos financeiros.

No período de 2001 – 2011, o Japão continua mantendo baixa taxa de

crescimento, entretanto a Alemanha se beneficia com a criação da zona do Euro

aumentando suas exportações em face do seu alto grau de competitividade. Por

outro lado, se evidencia que a China aumenta ainda mais a sua taxa de crescimento

em face da geração de altos superávits comerciais com a combinação da política

Keynesiana de estímulo ao investimento sem levar em consideração as observações

de Hayek por não sofrer interferência do FMI e dos Estados Unidos em face da

China ser o maior detentor de títulos públicos americanos.

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Tabela 12 - Taxas média de crescimento nominal do PIB da China, Japão, Estados Unidos e Alemanha com base no US$ – 1971-2011 - (Em %)

1971-1980 1981-1990 1991-2000 2001-2011

China 8,09% 6,87% 13,18% 18,03%

Japão 18,34% 12,28% 2,19% 3,32%

Estados Unidos 10,46% 7,61% 5,59% 3,94%

Alemanha 16,22% 7,69% 1,38% 6,27% Fonte : Banco Mundial É neste contexto que a consequência da desregulamentação financeira e das

políticas fiscais e monetárias dos países desenvolvidos é a dominância financeira no

processo de reprodução capitalista (PAULANI,2009,p.25).

Um dos elementos mais importantes a demonstrar o acerto das teses sobre a dominância financeira no processo atual de reprodução capitalista é o enorme crescimento do estoque mundial de ativos financeiros, numa velocidade muito maior do que a apresentada pelo crescimento da renda real (em princípio representado pela evolução do PNB), e, por consequência, da riqueza real (instrumentos, máquinas, equipamentos, instalações, edificações, obras civis, tecnologia e tudo o mais que permite a produção futura de um fluxo aumentado de bens e serviços). O Quadro 1, montado a partir de informações produzidas pelo McKinseys Global Institute e pelo FMI, mostra a evolução dessa relação entre real e fictício desde 1980. Considerando que o valor indicado para 2007 é uma estimativa, tomemos o período 1980-2006. Como se percebe, ao longo desses 26 anos, o PIB mundial cresceu 314%, ou 4,1 vezes, enquanto a riqueza financeira mundial cresceu, no mesmo período, 1.292% , ou 13,9 vezes. Não se inclui no total de ativos financeiros considerados o valor dos derivativos. A não inclusão dificulta a percepção do impacto exercido pela riqueza financeira, mas sua inclusão não é simples. Não há consenso sobre qual é o valor que deveria integrar uma estimativa como essa. Certamente não faz sentido incluir aí o valor nocional dos contratos, particularmente nos casos de futuros e op-ções, pois eles são em geral liquidados por um valor muito menor. Mas en- tão qual valor deve ser incluído? Ninguém sabe a resposta. De qualquer forma, as estimativas existentes sobre a riqueza financeira mundial indicam, para o total estimado em 2007 de cerca de US$ 200 trilhões em ativos financeiros não derivados (McKinse- (ys Institute), um total estimado, em valores nocionais, de cerca de US$ 674 trilhões em derivativos, sendo US$ 595 trilhões em contratos de balcão e US$ 79 trilhões em contratos registrados em bolsa (Bank of international Settlements)”.

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Tabela 13 : Riqueza fictícia e riqueza real – 1980 a 2010 - (Em US$ trilhões)

1980 12 11,8 1,02

1993 53 24,9 2,13

1996 69 30,3 2,28

1999 96 31,1 3,09

2003 118 37,1 3,18

2006 167 48,8 3,42

2007 200** 54,8 3,65

2010*** 209 55,9 3,74

Estoque mundial de

ativos financeiros*

( US$ trilhões )

PNB mundial

( US$ trilhões )

Relação estoque

ativos / PNB

Fontes: McKinseys Global Institute (Ativos) e FMI (PNB); elaboração Leda Maria Paulani. * Inclui ações e debêntures, títulos de dívida privados e públicos e aplicações bancárias; não inclui derivativos. ** Estimativa. *** Projeções. Os fatores que determinaram a origem dominância da valorização financeira

(PAULANI,2009,p.31)

A história da mudança do regime de acumulação em direção a um regime com dominância da valorização financeira começa em meados dos anos 1960. Depois de 20 anos de crescimento mundial vigoroso produzido pelas políti- cas de cunho keynesiano, com controle de demanda efetiva, Estado do Bem-Estar Social, reconstrução da Europa e da Ásia e industrialização da América Latina, a reversão cíclica tem lugar e o crescimento desacelera. Esse processo é mais intenso nos países europeus, em razão do término do processo de reconstrução do pós-guerra. As multinacionais americanas espalhadas na Europa optam por não reinvestir a totalidade de seus lucros na produção, pois as perspectivas de ganho já não eram tão boas, mas tampouco enviam o excedente não reinvestido aos Estados Unidos, por conta de uma legislação tributária, à época, considerada muito dura. Esses recursos (eurodólares) começam então a “empoçar” na city londri- londrina, o espaço off shore, também conhecido como euromarket, criado no início dos anos 1950. Apesar do caráter regulado dos fluxos internacionais de capital vigente à época, os crescentes déficits comerciais americanos também colaboraram para a engorda desses recursos, graças à conversibilidade da conta corrente do balanço de pagamentos que passa a vigorar, ainda no âmbito de Bretton Woods, em meados dos anos 1950.Com o choque do petróleo e insumos básicos do final de 1973 – graças à aceleração inflacionária e à reduzida taxa de juros nos Estados Unidos, além da crescente capacidade de criar crédito do próprio circuito off shore –,o mundo entra em recessão aberta. Com a piora ainda maior das expectativas de lucro, os capitais afluem mais intensamente ao circuito londrino, engordado, ademais, pelos petrodólares. É toda essa massa de riqueza à busca de valorização fora do circuito da produção que está na base da grita geral por desregulamentação e abertura financeira dos mercados, e que vai ter em Thatcher e Reagan seus implementadores.

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Neste contexto, observa-se as primeiras crises do capitalismo decorrente da

desregulamentação financeira e abertura de capital (PAULANI,2009,p.31)

Os países latino-americanos, desejosos de dar continuidade a seus planos de crescimento, mas obstaculizados pelo choque do petróleo, constituíram, na década de 1970, a demanda por crédito que esses capitais buscavam. A mudança brusca da política monetária americana em 1979, com brutal elevação dos juros visando recuperar a então ameaçada hegemonia mundial da moeda americana, produziu a primeira crise do capitalismo financeirizado, iniciada com a quebra do México em 1982. Além disso, já na primeira metade dos anos 1980, quebras bancárias ocorrem nos Estados Unidos. A crescente fragilidade dos países devedores da América Latina direciona parte dessa riqueza, agora num ambiente muito mais desregulado, para as bolsas americanas, culminando no crash de Wall Street de 1987,seguido de uma crise imobiliária em 1990. Apesar de essas crises irem destruindo parte da riqueza financeira que as causou, o estoque mundial de ativos financeiros, como demonstram os dados anteriormente apresentados, não parou de crescer. A essas alturas, com o crescimento do poder dos fundos de hedge e dos investidores institucionais de modo geral, crises são “produzidas” muitas vezes intencionalmente, como ocorreu com o colapso da libra inglesa em 1992, por obra do fundo de hedge do famoso investidor George Soros.

Posteriormente, as crises desencadeadas produzidas pelo capital

especulativo para usufruir lucros sem esforço (PAULANI,2009,p.32).

Apesar de ter sido localizada, a crise da libra foi o prenúncio das crises em série de que viriam a ser vítimas as moedas asiáticas em meados dessa mesma década e cujo impacto foi mundial. Depois da derrocada das ações e dos imóveis no mercado americano, e, mais ainda, depois do colapso da moeda mexicana em 1994, parte substantiva desses capitais voaram em di- reção às emergentes economias do sudeste asiático (conhecidas como “tigres asiáticos”). O aumento no afluxo de capitais levou a uma enorme ex- pansão do crédito, viabilizando maior volume de investimentos, o que atraía mais capitais e assim por diante. Quando o Japão consegue finalmente des- valorizar sua moeda em 1995, graças ao chamado “acordo do Plaza inverti- do”, isso se combina ao crescimento das importações na Tailândia, induzi- das pelo forte crescimento, e com isso há uma rápida piora em suas con- tas externas. Com o crescimento da desconfiança em relação ao valor da moeda tailan- desa, inicia-se o processo de reversão das bolhas de ativos financeiros, que estavam em franca expansão na região desde 1994. A derrocada do baht tailandês no início de julho de 1997 deflagra uma crise em cadeia que des- valoriza uma a uma todas as moedas asiáticas, atingindo a própria Coréia do Sul, considerada a economia mais poderosa da região, processo esse auxiliado pela desvalorização do iene, que piorou as condições externas de todos os “tigres”. Em todo esse processo, a atuação dos investidores insti- tucionais, particularmente dos fundos de hedge, só fez aprofundar os mo- vimentos, seja de valorização, seja de desvalorização. Contrariamente ao mundo das finanças intermediadas (constituídas basica- mente por empréstimos bancários), que estava por trás da crise das dívidas latino-americanas pouco mais de uma década antes, o mundo das finanças diretas já então dominante (operado pelos investidores institucionais e mar- cado pela existência de mercados secundários e forte poder dos ativos de- rivativos) agudizou as consequências do processo de formação e estouro de bolhas, mundializando o impacto das crises. Na esteira da crise asiática, também a Rússia (1998), o Brasil (1999) e, finalmente, a Argentina (2001) passaram por fortes turbulências e acabaram por impor pesadas desvalori- desvalorizações a suas moedas.

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Ressalta-se que as crises desencadeadas não provocaram retração do PIB

mundial em face do surgimento da difusão da internet e, posteriormente das bolhas

imobiliárias, as quais resultaram no incremento do consumo e do endividamento.

Aliada a redução da taxa de juros pelo Banco Central americano, a qual contribuiu

para a formação das bolhas de ativos (PAULANI,2009,p.32 e 33).

A crise asiática, dado seu impacto em praticamente todos os mercados financeiros do globo, pareceu à primeira vista que iria provocar um período alon- gado de desaceleração econômica mundial. Contudo, as insondáveis perspectivas abertas pela difusão do uso da internet, que então se afirmava, além do crescimento excepcional do consumo, escorado no endividamento e no efeito riqueza, tornaram a economia americana um refúgio seguro para os investidores assustados com os acontecimentos na Ásia. Começava aí mais uma fenomenal bolha de ativos, agora no mercado acionário, que culminaria na crise das bolsas americanas de 2000/2001. A forma encontrada pelo governo americano para evitar que o estouro da bolha tivesse conseqüências muito graves no que concerne ao crescimento da economia foi, mais uma vez, apelar para o aumento da liquidez. O Federal Reserve, sob o comando de Alan Greenspan, reduziu os juros americanos, em apenas 12 meses (ao longo do ano de 2001), de 6% para 1,75% ao ano. A estratégia foi bem-sucedida, pois a economia americana reagiu e, depois de ter crescido apenas 0,8% em 2001, cresceu 1,6% em 2002, 2,4% em 2003 e 3,6% em 2004. O preço a pagar foi a formação de bolha em outro tipo de ativo, agora no mercado imobiliário. Dessa vez, porém, o impacto dessa formação foi muito mais profundo, dada a importância crescente dois fundos de hedge, dos derivativos financeiros e da invenção que ficou conhecida como “securitização”. Esta última consistia na emissão de títulos lastreados em dívidas hipotecárias, o que não só deu enorme liquidez a esse mercado, como também impediu que o crescente nível de risco das operações ficasse visível, pois os CDO (collateralized debt obligations) contavam com “cotas privilegiadas”, que teriam preferência no recebimento, caso houvesse qualquer problema, sendo por isso muitíssimo bem avaliados pelas agências de risco. Assim, mesmo os fundos de pensão, que só investem nos papéis mais bem avaliados (classificados como AAA), mostraram-se dispostos a carregar esses ativos.

O incremento do consumo desencadeado por esses dois alusivos fatores

resultou no acréscimo da inflação, refletindo na decisão do Federal Reserve em

aumentar a taxa de juros para conter o processo especulativo. A crise de 2007 é

reflexo da fragilidade do sistema bancário paralelo e resulta em sinais de

inadimplência (PAULANI,2009,p.32 e 33).

No início de 2005, o governo americano, incomodado com a inflação e buscando conter um pouco a febre especulativa, resolve elevar os juros. Apesar disso, o efeito-riqueza no consumo, a euforia das bolsas e o próprio valor inflado dos ativos mantiveram o ritmo de crescimento americano. A crise só matura em 2007 quando os primeiros sinais de inadimplência mos- tram-se irreversíveis e põem a nu a fragilidade do sistema, particularmente do chamado sistema bancário paralelo (shadow banking system), que agia produzindo crédito e moeda ao desabrigo de qualquer tipo de regulação”.

Assim, a irresponsabilidade das políticas fiscais e monetárias aliada a

expansão significativa do crédito nos Estados Unidos produziu um regime de

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acumulação com dominância da valorização financeira, a qual beneficiou

principalmente os Estados Unidos em face que do excepcional crescimento do PIB

de 1970 a 2011, entretanto na análise do economista Ladislau Dowbor, professor da

PUC – SP resultou também na brutal e crescente concentração de capital44.

O poder econômico se deslocou claramente, nas últimas décadas, das mãos dos governos para as grandes corporações. Um balanço recente do insuspeito ETH ( Instituto Federal Suiço de Tecnologia) de Zurique concluiu que 80% do controle do mundo corporativo planetário está nas mãos de 737 corporações, e que neste grupo restrito 147 corporações densamente estruturadas (tighly nit) controlam 40% do total. Dessas, três quartos são grupos de intermediação financeira”. Nesse contexto, afirma Dowbor, não é preciso recorrer a teorias conspiratórias para entender as raízes da crise financeira mundial. Isso é demonstrado através da “facilidade com que foi sendo demonstrado o marco jurídico que assegurava a estabilidade, da generalização das reduções de impostos sobre as grandes fortunas e, sobretudo, do movimento geral de transferência do custo das irresponsabilidades para as populações. Em suas palavras, “foram emitidos, em derivativos, 601 trilhões de dólares, para um PIB mundial da ordem de 60 trilhões de dólares.

Por outro lado, o BCE fez uma oferta de financiamento de três anos no

montante de 529,5 bilhões de euros a 800 bancos do continente com o objetivo de

fortalecer o crédito bancário, reduzir o risco de calote dos países em crise e conter a

recessão em 29 de fevereiro de 2012,. O objetivo desta decisão foi aumentar o

crédito para empresas e governos, os custos dos empréstimos vão diminuir ainda

mais. Segundo Luca Cazzulani, do UniCredit essa injeção de recursos do BCE au-

mentará muito o nível de excesso de liquidez, que finalmente está positivo ou muito

positivo para operações de risco", disse. "Os títulos italianos e espanhóis devem se

beneficiar disso assim como os mercados de ações." 45.

No entendimento de Ocké-Reis, a atuação do BCE tem como meta a

monetização das dívidas soberanas e o aumento da liquidez do sistema. Com isso,

a entidade espera que a Grécia cumpra seu plano de reestruturação e nações com

pouca liquidez, como a Itália, adotem políticas fiscais que acalmem os credores

externos46.

44 POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Tecnocracias à moda da União Européia. Brasília Distrito Federal. Revista Desafios do Desenvolvimento. Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (IPEA) Ano 9 nº 71. 45CARREL, Paul et al. Injeção do BCE no sistema bancário supera previsões. Reuters Brasil, 29 de fevereiro de 2012 disponível em http://br.reuters.com/article/topNews/idBRSPE81S01K20120229 acesso em 05 de setembro de 2012. 46

GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA, Ano 9, nº 71.

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A análise de Franlin Trein, professor do Instituto de Filosofia e Ciências

Sociais da Universidade Federal do Rio de Janeiro (IFCS-UFRJ, analisa a dimensão

da dívida da Itália e o financiamento em mãos estrangeiras principalmente da França

e a Alemanha.47

Não é bem assim, sugere Trein. “Monti está se antecipando à prescrição de um remédio amargo que pode ser imposto também a Itália. Ainda que o PIB italiano seja quase cinco vezes maior do que o da Grécia, e mesmo que sua dívida pública de 1,4 trilhão de euros não esteja majoritariamente em mãos estrangeiras – são 56% internos, contra 44% externos -, a França é credora de 511 bilhões e a Alemanha de 119 bilhões de euros”. A dívida em mãos da França representa algo em torno de 20% do seu PIB.

Assim, as alusivas medidas tomadas pelo BCE não refletiram na redução do

custo das dívida da Espanha e da Itália e em agosto de 2012 e se situou ao redor de

8% impactando ainda mais as combalidas finanças dos respectivos Tesouro em face

do cenário recessivo, o qual deprime ainda mais as receitas. Entretanto, o custo de

financiamento da dívida da Alemanha reflete os crescentes receios sobre a

sustentabilidade do euro.48

Assim, a Alemanha se beneficia do seu estatuto de ativo de refúgio e dos ‘ratings' elevados no país, os investidores têm apostado em dívida alemã, fazendo baixar os juros, em algumas maturidades até para valores negativos, no mercado secundário, o que se reflete depois nas emissões em mercado primário.

O veredicto favorável da corte constitucional alemã no tocante ao

Mecanismo Europeu de Estabilidade foi fundamental para que a Alemanha

mantenha seu ritmo de exportações em face que metade desta tem como destino a

Europa, bem como a derrocada da moeda única representaria perdas consideráveis

para o sistema financeiro alemão.49

Novos aportes de recursos, no entanto, deverão ser avalizados pelo Parlamento. O mecanismo disporá de 700 bilhões de euros, dos quais 190 bilhões serão bancados pela Alemanha. Sem a contribuição de seu maior patrocinador, o fundo não teria capital suficiente para aplacar a crise financeira.

47 POMAR, Pedro Estevan da Rocha. Tecnocracias à moda da União Européia. Brasília Distrito Federal. Revista Desafios do Desenvolvimento. Instituto de Pesquisa Economia Aplicada (IPEA) Ano 9 nº 71. 48 LATOEIRO, Pedro. Alemanha emite dívida a custo zero, 22 de agosto de 2012. Disponível em http://economico.sapo.pt/noticias/alemanha-emite-divida-a-custo-zero_150510.html acesso em 23 de agosto de 2012. 49 GUANDALINI, Giuliano. O euro brinda Frau Merkel. Revista Veja, São Paulo, Edição 2.287, 19 de setembro de 2012, p. 76-77

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No que tange ao Japão em face da sua alusiva relação simbiótica de poder

com os Estados Unidos foi o mais beneficiado em função da valorização do iene e a

geração de superávits comerciais de 1970 a 1980 e concomitantemente o maior

financiador da dívida pública americana.

Segundo (HARVEY,2012,p,20) a ausência de dinamismo da economia

japonesa é reflexo da entrada da China e a quebra do mercado de ações e em

propriedade imobiliária.

Bem, o Japão, depois de um período de grande crescimento, nos anos 1970-80, teve que se defrontar com uma questão: o que fazer com o seu superávit? Eu me lembro de estar no Japão, em meados dos anos 1980, pouco antes do colapso dos mercados locais. Muitas pessoas me diziam – pessoas das mais diferentes posições políticas – que eles estavam muito felizes por terem vivido naquela era, porque eles sabiam que ela tinha chegado ao fim. E eu perguntava por que tinha chegado ao fim, e me diziam “porque agora vai tudo para a China”. A grande vantagem japonesa, que era a mão de obra, seria superada pela China e agora nós vemos que até as grandes corporações japonesas se deslocaram para a China. A grande questão interna do Japão era de alocação de capital, que foi respondida pela inversão no mercado de ações e em propriedade imobiliária. Quando esses dois mercados quebraram simultaneamente eles não foram capazes de resolver os problemas.

E segundo (HARVEY,2012,p.20) o Japão não tem condições de competir com

a China e ele ainda alerta sobre o risco de grande valorização da terra e dos imóveis

na China assim como ocorreu no Japão.

Muitas pessoas argumentam que eles poderiam ter se saído melhor caso fizessem uma reforma bancária. De qualquer maneira, o Japão não teria condição de competir com a China. Nos anos 1980 víamos duas hegemonias, a alemã e a japonesa; nos anos 1990, o retorno da hegemonia americana, com o Consenso de Washington. A grande questão do momento é saber qual será a estratégia de desenvolvimento da China. Eles conseguirão manter seu ritmo ou experimentarão sérias dificuldades? Da mesma forma que o Japão, eles estão tendo uma grande valorização da terra e dos imóveis, ainda que o governo chinês seja supersofisticado na manutenção de controles.

A entrada da China e seu excepcional grau de competitividade deslocou o

Japão,e, portanto obteve significativos superávits comerciais e estes foram utilizados

como estratégia de poder, se refletindo na alta capacidade de financiamento da

dívida pública americana. Assim, a China percebeu que tinha poder para utilizar

todas as políticas ; a fiscal, a cambial e a creditícia no que se refere à Keynesiana ao

seu extremo, ou seja, investir mesmo em um contexto de alto risco de retorno sem a

capacidade de geração de receitas suficientes para os projetos de investimentos. A

dimensão do poder da China é significativa, pois nã o sofre interferência nem

do FMI e nem dos Estados Unidos [ grifo nosso ].

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No que tange a Alemanha o seu significativo grau de competitividade na zona

do Euro resultou em volumosos superávits comerciais dentro do Bloco refletindo no

incremento do crescimento.

Em suma, ao longo dos últimos 30 anos, o poder dos Estados Unidos

associada a desregulamentação do mercado financeiro aumentou

consideravelmente a riqueza financeira e que estruturalmente teve reflexos na

dinâmica de poder com a China ultrapassando o Japão e que conforme o modelo

analisado da combinação de todos os tipos de políticas e mantendo um ritmo de

crescimento de 7% a.a de 2012 a 2025 ultrapassará os Estados Unidos como o

maior PIB mundial.

A projeção para os Estados Unidos é que manterá níveis baixo de

crescimento em face que de 2000 a 2008 os americanos tomaram emprestados de

outras nações 5 trilhões de dólares, ou seja a dívida externa financiou uma grande

expansão econômica, e, então um boom e que resultou em uma bolha, em particular

nos setores financeiro e imobiliário. A bolha estourou em 2008 e então o consumidor

americano perdeu trilhões de dólares com a desvalorização dos ativos ,e, aliada a

necessidade de incrementar a poupança para amortizar os débitos bem como a

manutenção da alta taxa de nível de desemprego diminuirão a propensão a

consumir.

Por outro lado, o setor público através do Congresso americano não está

disposto a realizar o ajuste fiscal através do aumento dos impostos para os ricos.

Neste cenário, a dívida pública continuará crescendo em proporção do PIB,

entretanto o financiamento da dívida pública americana continuará sendo a taxa de

juros baixa em face do nível da confiabilidade dos títulos públicos americanos.

No que se refere ao baixo custo de financiamento da dívida também se

enquadra a Alemanha, França, China, Suécia, Japão em face da confiança na

solidez da economia destes países. Assim, cenário totalmente diferente para a

Espanha, Itália e Grécia que em face do alto custo de financiamento da rolagem da

dívida agrava ainda mais as já combalidas finanças públicas.

As decisões tomadas pelos Estados Unidos e Alemanha no tocante a política

monetária de afrouxamento quantitativo refletem que eles estão exclusivamente

preocupados com seus próprios problemas internos: estagnação econômica, falta de

competitividade, desemprego e que a dificuldade principalmente dos Estados Unidos

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no que tange a necessidade de realizar um ajuste fiscal para reduzir a dinâmica

explosiva da dívida bruta em relação ao PIB está sendo resolvida via a monetização

da dívida.

Neste contexto, as dificuldades econômicas no exterior fazem cair o

interesse por produtos feitos no Brasil, contendo as exportações agravada ainda

mais pela pressão cambial em face da total livre entrada de capital estrangeiro

resultou em uma dinâmica mais acentuada das importações de 2011 em relação a

2007. Assim, estes fatores contribuíram para um crescimento de apenas 2,7% do

PIB em 2011, ante uma previsão inicial de 4,5%, e em face da rigidez do volume de

importações em relação ao PIB em 2012 reflete em um PIB ainda menor do que em

2012.

• Desindustrialização no Brasil

O processo de desindustrialização no Brasil é reflexo da década de 80 em

face da necessidade de gerar excepcionais superávits comerciais para o pagamento

da dívida, e, portanto o país que crescia a um ritmo excepcional foi forçado a pagar

um serviço da dívida imposto pelo FMI, a qual gerou uma crise fiscal, refletindo em

um processo de hiperinflação e desarticulação das cadeias produtivas conforme

salientado no tópico Brasil do FMI ao caos , ou seja, em um cenário de hiperinflação

e em um baixo processo de geração de renda o segmento industrial sofre os

reflexos.

A miopia da Federação da Indústria no tocante a apoiar a mensagem

neoliberal do Consenso de Washington foi decisiva para o atual nível de

desindustrialização em 2012 (BATISTA,1994, p. 6 )

A mensagem neoliberal que o Consenso de Washington registraria vinha sendo transmitida, vigorosamente, a partir do começo da Administração Reagan nos Estados Unidos, com muita competência e fartos recursos, humanos e financeiros, por meio de agências internacionais e do governo norte-americano. Acabaria cabalmente absolvida por substancial parcela das elites políticas, empresariais e intelectuais da região, como sinônimo de modernidade, passando seu receituário a fazer parte do discurso e da ação dessas elites, como se de sua iniciativa e de seu interesse fosse. Exemplo desse processo de cooptação intelectual é o documento publicado em agosto de 1990 pela Fiesp, sob o título "Livre para crescer - Proposta para um Brasil moderno", hoje na sua 5ª edição, no qual a entidade sugere a adoção de agenda de reformas virtualmente idêntica à consolidada em Washington. A proposta da Fiesp inclui, entretanto, algo que o Consenso de Washington não explicita mas que está claro em documento do Banco Mundial de 1989, intitulado "Trade Policy in Brazil: the Case for Reform". Aí se recomendava que a inserção internacional de nosso país fosse feita pela revalorização da agricultura de exportação. Vale dizer, o órgão máximo da indústria paulista

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endossa, sem ressalvas, uma sugestão de volta ao passado, de inversão do processo nacional de industrialização, como se a vocação do Brasil, às vésperas do século XXI, pudesse voltar a ser a de exportador de produtos primários, como o foi até 1950. Uma área em que os preços são cadentes - são hoje, em termos reais, 40% em média inferiores aos de 1970 - em virtude do notável volume de subsídios concedidos a seus produtores agrícolas pelos países desenvolvidos, da ordem de US$ 150 bilhões de dólares por ano, e da revolução no setor de materiais que vem reduzindo substancialmente o uso de matérias-primas naturais por unidade de produto obtido”.

O processo de desindustrialização na realidade se aprofundou com o Plano

Real conforme a análise dos “novo-desenvolvimentistas” que defendem a tese de

que a economia brasileira vem passando por um processo de desindustrialização

nos últimos 20 anos, causado pela combinação perversa entre abertura financeira,

valorização dos termos de troca e câmbio apreciado (Loures, Oreiro e Passos, 2006;

Bresser-Pereira e Marconi, 2009 apud Oreiro e Feijó,2010, p. 219).

Por outro lado, o entendimento dos “economistas ortodoxos” se baseia que

as transformações pelas quais a economia brasileira passou nas últimas décadas

não tiveram um efeito negativo sobre a indústria e que a apreciação do câmbio real

resultante dessas reformas favoreceram a indústria ao permitir a importação de

máquinas e equipamentos tecnologicamente mais avançados, o que permitiram a

modernização do parque industrial brasileiro e, consequentemente, a expansão da

própria produção industrial (Schwartsman, 2009 apud Oreiro e Feijó,2010, p. 219).

A industrialização representa o processo pelo qual a indústria aparece como

o setor dinâmico de uma economia, aquele que agrega mais valores ao produto total

e/ou cria maior número de empregos.

No Brasil, o conjunto de atividades reunidas sob a denominação de indústria

encerrou 2011 representando 27% do PIB — a mesma fatia que tinha em 1995. Ao

longo dos últimos dez anos, o setor acumulou crescimento de produção, faturamento

e emprego, entretanto em face da política macroeconômica implementada desde

FHC baseada na combinação perversa entre abertura financeira, valorização dos

termos de troca , câmbio apreciado, aumento da carga tributária e baixo investi-

mento em infraestrutura resultaram na perda da competitividade, refletindo no

incremento do volume de importação de produto industrializado.

Realizando uma análise desagregada sobre os fatores, os quais provocaram

o processo de desindustrialização nas décadas de 1980 e 1990 (OREIRO;

FEIJÓ,2010,p.225).

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Um outro estudo que aponta a ocorrência inequívoca de desindustrialização no Brasil nas décadas de 1980 e 1990 é Bonelli (2005). Com base nas informações fornecidas pelas contas nacionais do Brasil, a participação da indústria no PIB a custo de fatores teria se reduzido de 42,3% em 1985 para apenas 31,4% em 1995, ou seja, uma queda de cerca de 11 p.p. com respeito ao PIB em apenas dez anos (Ibid., p. 10). Essa queda foi basicamente o resultado da redução da participação da indústria de transformação, cuja participação no PIB a custos de fatores se reduziu de 31,62% em 1985 para 20,60% em 1995. Esse processo de “perda do peso relativo da indústria no PIB” foi causado pelas mudanças pelas quais passou a economia brasileira no final da década de 1980 e início da década de 1990, a saber: aumento da competição interna e externa, causado pela abertura comercial e financeira, privatização em diversos segmentos industriais, e sobre-valorização da taxa real de câmbio no período 1995-1998 (Ibid., pp. 22-23).

Outro estudo, o qual é apresentado evidências da desindustrialização

(OREIRO; FEIJÓ,2010,p.225).

Feijó, Carvalho e Almeida (2005) também apresentam evidências contundentes de desindustrialização na economia brasileira durante as décadas de 1980 e 1990. Segundo esses autores “o peso da indústria de transformação cai de 32,1% do PIB em 1986 para 19,7% do PIB em 1998, queda de 12 pontos percentuais, muito alta sob qualquer critério de avaliação” (p. 1). O estudo em consideração, no entanto, questiona o caráter negativo dessa desindustrialização, uma vez que os “resultados mostram que a indústria brasileira preserva representatividade de todos os segmentos básicos segundo a classificação tecnológica” (p. 20).

A mudança do regime cambial brasileiro a partir de 1999 até 2005 reverteu a

tendência em face da eliminação da sobrevalorização cambial ocorrida no período

1995 - 1998 (OREIRO; FEIJÓ,2010,p.225).

Na mesma linha dos trabalhos anteriores, Almeida (2006) mostra que a participação da indústria de transformação no PIB apresentou uma nítida tendência a queda no período compreendido entre 1985 e 1998 (Figura 1). Essa tendência teria sido, no entanto, parcialmente revertida a partir de 1999, com a mudança do regime cambial brasileiro, o que possibilitou, pelo menos até 2005, a redução ou eliminação da sobrevalorização cambial ocorrida no período 1995- 1998.

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Gráfico 45: Brasil - Participação da Indústria de Transformação no PIB – Em %

Fonte: Almeida (2006).

A inter-relação entre as taxas de crescimento da indústria , do PIB e a taxa

efetiva real de câmbio no período de 1996 a 2008 e os reflexos no processo de

desindustrialização (OREIRO; FEIJÓ,2010,p.225).

Conforme se observa no Gráfico 48, onde são apresentadas as taxas de crescimento da indústria e do PIB, bem como a taxa real efetiva de câmbio, no período 1996-2008, apenas em três anos a taxa de crescimento da indústria superou a da economia, a saber: 2000, 2003 e 2004. Nos demais anos, o PIB cresceu à frente do valor adicionado da indústria de transformação, revelando assim continuidade da perda de dinamismo da indústria no período posterior a 1995. Verificamos também que a forte apreciação da taxa real efetiva de câmbio no período 2004-2008 foi acompanhada pela perda de dinamismo da indústria de transformação com respeito ao resto da economia brasileira. De fato, entre 2005 e 2008 a taxa de crescimento do valor adicionado da indústria de transformação ficou sistematicamente abaixo da taxa de crescimento do PIB. Esse movimento foi acompanhado por uma forte apreciação do câmbio real.

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Gráfico 46: Brasil - Taxa de crescimento do PIB e da Indústria de Transformação (%) e Taxa Real Efetiva de Câmbio (1996-2008)

Fonte : IBGE, Contas Nacionais Trimestrais; IPEADATA Elaboração : José Luis Oreiro e Carmem A. Feijó.

Sob a ótica da política cambial resultou na desarticulação da estrutura

produtiva (LACERDA; NOGUEIRA,2008,p.7)

O primeiro mito, presente em algumas análises, é o de que as empresas acabam se “adaptando” ao câmbio valorizado. E elas de fato se adaptam, sob a ótica microeconômica. Essa adaptação consiste em aproveitar o dólar baixo para aumentar a importação de componentes e peças, o que as ajuda a reduzir custos e manter competitividade. Embora essa seja uma saída para a sobrevivência individual da empresa, do ponto de vista da estrutura produtiva do País trata-se de um processo de substituição da produção local por importações, desestimulando a geração de valor agregado local.

A valorização cambial ocorrida entre 2009 e 201050 resultou nos seguintes

reflexos no âmbito do setor externo brasileiro, as exportações tiveram crescimento

de 11,5%, e as importações se expandiram 36,2%. Assim, o processo de

valorização cambial51 no decorrer de 2011 quando atinge em 30/06/2011 o dólar se

situava em R$ 1,5603 continuou destruindo parcela expressiva do Produto Interno

50 A taxa de câmbio (medida pela média anual das taxas de câmbio R$/US$ de compra e venda) variou de 2,00 para 1,76. 51 Contribui para este quadro a valorização do Real ocorrida entre 2010 e 2011. A taxa de câmbio (medida pela média anual das taxas de câmbio R$/US$ de compra e venda) variou de 1,76 para 1,67.

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Bruto (PIB) brasileiro, pois as exportações tiveram crescimento de 4,5%, e as

importações se expandiram 9,7%.

Gráfico 47 – Brasil - Composição do crescimento do PIB, em pontos percentuais – 1995 a 2011

-10,00%

-5,00%

0,00%

5,00%

10,00%

15,00%

19951996199719981999200020012002200320042005200620072008200920102011

Demanda externa ( p.p )

Demanda interna (p. p )

PIB %

Fonte : IBGE ; Elaboração do autor Os reflexos desta alusiva política cambial se refletiu na balança comercial da

indústria de transformação segundo o economista Mário Bernardini52, consultor da

Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (Abimaq).

O saldo negativo da balança comercial da indústria de transformação, de US$ 42,87 bilhões em 2011, já ultrapassou o superávit do setor registrado nos anos de 2004 e 2005. O maior problema do setor, segundo Bernardini, é o aumento contínuo das importações – de 13% ao ano, em média, desde 2000. “Essa perda de competitividade, na realidade, começou nos anos 90. O problema é que esse fenômeno se acentuou na segunda metade da década passada”, explicou o economista da Abimaq durante reunião do Conselho Superior de Economia (Cosec) da Fiesp, realizada segunda-feira (09/04), em São Paulo.

Neste contexto, os impactos da valorização do real e o custo de produção

em relação à desaceleração do setor segundo Bernardini.

O principal motivo para a desaceleração do setor, afirmou Bernardini, é a valorização do real frente ao dólar, ampliada em 2008 pela crise financeira mundial. “Na perda de competitividade da indústria brasileira, eu diria que, o câmbio, sozinho, responde por três quartos do problema. A partir de 2004, o câmbio apreciou 60%. É, de longe, o vilão da história”. Outro fator de influência no processo de desindustrialização, assinalou o economista, é o custo de produção no Brasil. Hoje, em comparação com 2004, a soma dos principais custos representa um aumento de aproximadamente 14 pontos percentuais na composição da Receita Líquida das indústrias instaladas em território brasileiro.

52 http://www2.fiesp.com.br/noticias/importacao-cresce-298-em-11-anos-diz-consultor-da-abimaq/ acesso em 13 de agosto de 2012.

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Ressalta-se que analisando o PIB industrial global, o Brasil atravessou a

década na décima colocação entre os países mais industrializados. Os problemas

mais graves ocorreram nos últimos três anos em face de que com a crise na Europa

e nos Estados Unidos resultou em um excesso de capacidade de produção industrial

no mundo ,e, aliada a política de estimulo ao consumo sem que a indústria brasileira

tivesse condições de competir (SALOMÃO ; DALMAZO,2012)53

A indústria brasileira vive hoje no pior dos mundos”, diz o economista Mansueto Almeida, do Instituto de Política Econômica Aplicada. “Não temos a produtividade e a capacidade de inovação da indústria alemã nem os baixos custos e a escala da chinesa.” Por isso, em um número crescente de setores, a indústria brasileira não tem sido páreo para concorrentes mais eficientes”.

Para observar o grau de perda da competitividade da indústria e evidenciar o

risco de cada vez maior do processo de desindustrialização no Brasil (SALOMÃO ;

DALMAZO,2012).

Um levantamento sobre o desempenho da indústria de transformação, rea-lizado pela CNI a pedido de EXAME, mostra a debilidade do setor. Até 2008, ano da crise, pouco mais da metade dos setores crescia pelo menos em linha com o produto interno bruto. Desde então, 70% passaram a apresentar crescimento vegetativo, estagnação e até encolhimento”.

Realizando uma análise sobre o nível de competitividade de cada segmento

industrial se evidencia que as políticas do governo têm um peso significativo

(SALOMÃO ; DALMAZO,2012).

Observando o nível de competitividade de cada um deles, percebe-se que, quanto menor a exposição à competição externa, melhor é o desempenho. Os setores de equipamentos de transporte e de veículos estão entre os que mais crescem e também entre os mais protegidos — têm preferência em licitações, desoneração de impostos, elevação de tarifas para similares importados e crédito a juros camaradas no BNDES.

No que se refere aos segmentos industrias que enfrentam a concorrência

externa evidencia-se uma perda de competitividade. “De 2009 a 2011 a importação

de vestuário mais que duplicou. Em contrapartida, no mesmo período, a produção

local caiu 2% ao ano” (SALOMÃO ; DALMAZO,2012).

A correlação entre os setores, os quais o Brasil tem notórias vantagens sobre

os concorrentes, entretanto o peso do custo Brasil se reflete em perdas de

investimentos (SALOMÃO ; DALMAZO,2012).

53

SALOMÃO, Alexa ; DALMAZO, Luíza : A verdadeira ameaça a indústria. Revista Exame, São Paulo 18/04/2012 http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1014/noticias/a-verdadeira-ameaca-a-industria acesso em 25 de agosto de 2012.

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O que mais preocupa é o enfraquecimento de setores nos quais o Brasil tem vantagens notórias sobre os concorrentes. Celulose e papel é um bom exemplo. As florestas plantadas no país rendem a celulose mais barata do mundo — chega a custar a metade da dos concorrentes. Mas o preço do papel começa a refletir os custos do Brasil. Como depende de caminhões, o transporte entre uma fábrica no interior de São Paulo e o porto de Santos representa 60% dos custos logísticos de uma carga destinada à Ásia. Se houvesse a opção de ferrovia, essa parte do trajeto corresponderia a 20% dos custos. Intensivo em energia elétrica, o setor incorporou os aumentos da conta de luz criados pela tributação. Em 2000, cerca de 13% da conta de energia eram encargos. Hoje eles são 45%. A International Paper vinha exportando metade da produção: 25% para a América Latina, 20% para a União Europeia e 5% para a Ásia. Agora vai concentrar as vendas na região porque deixou de ser rentável ir a outros continentes. “Sabemos que dentro de alguns anos vamos ter de construir outra fábrica para atender a América Latina”, diz Jean-Michel Ribieras, presidente da International Paper. “O ideal é que ela fique no Brasil, mas, se não conseguirmos exportar daqui, como vamos justificar um investimento de 5 bilhões de reais?

A análise da competitividade da indústria brasileira em relação à chinesa

(SALOMÃO ; DALMAZO,2012).

Quase metade do preço de uma barra de aço fabricada no Brasil é imposto. Na China, a tributação não chega a 20%. Resultado: o quilo de uma simples válvula, peça de aço que vai dentro de tubulações, sai por 5 dólares na China e por 23 no Brasil. Apesar de a indústria depender de profissionais com conhecimento específico, só um terço dos trabalhadores frequentou algum tipo de curso técnico, área desprestigiada no sistema público de ensino.

Neste contexto, evidencia-se que o sistema anacrônico de tributação

brasileiro aliada a uma estrutura de vinculação da receita a despesa contribuiu para

reduzir o nível da competitividade da economia brasileira. Com relação a àquele se

evidencia uma estrutura tributária muito complexa, com muitos tributos incidentes

sobre a mesma base, sendo que o problema é essencialmente os tributos indiretos

sobre bens e serviços. Enquanto a maior parte dos países tem um ou dois tributos

indiretos, o Brasil tem seis, com grande diversidade de legislações, os quais estão

em permanente alteração.

No que se refere à vinculação da receita a despesa o problema se observa

em face de que para cumprir as metas de resultado primário para garantir a

sustentabilidade da dívida pública todos os entes União, Estados e Municípios

aumentaram a sua eficiência na arrecadação de tal forma que resultou na redução

da competitividade da indústria. Além disso, conforme já salientado esse sistema de

vinculação da receita a despesa estimula ainda mais os gastos correntes , ou seja,

evidenciou-se cada vez menos recursos alocados a investimentos e o pior em 2012

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constata-se o modelo de esgotamento do aumento da receita em percentual do PIB

e com menor espaço fiscal para realizar investimentos de todos os entes federativos.

O modelo de estimulo ao consumo a partir de 2008 não foi aproveitado pela

indústria de transformação no Brasil, pois esta crescia, em média, 3,3% ao ano

desde 2001 e depois de 2008, a taxa caiu para 0,8% ao ano .

O risco de desindustrialização é avaliada pela redução da participação da

indústria de transformação no PIB, bem como a perda da competitividade da

indústria brasileira do segmento de calçados em relação a chinesa, refletindo na

perda de empregos e de investimento (SALOMÃO ; DALMAZO,2012).

A redução de sua participação no PIB, que vinha ocorrendo lentamente desde 2004, foi acelerada e a fatia agora está no menor patamar da série histórica: 14,6%. “Foi uma queda abrupta”, diz o economista Samuel Pessoa, da consultoria Tendências. “Antes da crise eu afirmava que a desindustrialização era um mito. Com esse dado novo, há fortes sinais de que alguns setores estão sofrendo muito.” É o caso, por exemplo, do calçadista. O setor encolheu entre 2001 e 2011. A produção recuou 32%, e o número de empregados, 15%. Os salários, ao contrário, cresceram 5% ao ano. O setor é um dos mais intensivos em mão de obra, e o valor da mão de obra e dos encargos trabalhistas — que equi- valem a 100% da folha — faz uma enorme diferença na composição dos custos. O presidente de uma tradicional empresa brasileira do setor, que prefere não se identificar, diz que, enquanto um sapato feminino de padrão médio produzido no Brasil chega por 20 dólares a um distribuidor nos Estados Unidos, o mesmo tipo de calçado é oferecido pelos chineses por 10 dólares. Não há mais condições de competir no mercado externo”, diz ele. A estratégia de algumas empresas agora é transferir as fábricas para países com custos de produção e de mão de obra mais baixos. A Vulcabras fechou unidades no Rio Grande do Sul e na Bahia e investiu numa fábrica na Índia. A Paquetá encerrou sua operação gaúcha e mudou as linhas destinadas à exportação para a América Central.

Na realidade evidencia-se a ausência de uma estratégia de desenvolvimento

do Brasil pós Real no que se refere ao que foi delineada pelo Japão e China como

já foi avaliada em tópicos anteriores, pois o alusivo Plano Real é uma demonstração

daqueles que elaboraram e administraram o País no que concerne uma visão

extremamente míope em face de que ao concentrar exclusivamente o foco na

estabilização da inflação resultou em 2012 em uma indústria sem condições de

competir, impactando no crescimento econômico.

Assim, a depreciação do real em 2012 atingindo R$ 2,00 não refletiu em

incremento da produção industrial, pois o estrago já foi feito no que se refere à

necessidade de dependência de insumos, como também a estratégia da indústria de

adquirir o produto industrializado e apenas repassar para o consumidor.

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Analisando a vertente do aumento da demanda internacional por

commodities, a qual provocou elevação dos seu preços gerando superávit comercial

para o Brasil, refletindo maior influxo de capitais internacionais decorrentes das

receitas de exportações contribuiu para a valorização da taxa de câmbio, resultando

na perda de competitividade dos bens industrializados em face do interesse do

governo Lula transmitir ao brasileiro a sensação de riqueza ,e, portanto eleger a

presidente Dilma. O que nos leva afirmar essa hipótese se em 01/01/2009 o dólar

custava R$ 2,3290 e em 13/10/2010 reduziu para R$ 1,6546. E o que é mais

impressionante é que o dólar foi ladeira abaixo e atingiu R$ 1,5603 em 30/06/2011

sem que o governo não tomasse nenhuma medida como ex: limitar a entrada de

capital especulativo através da taxação do IOF.

Não foi portanto o influxo das receitas dos superávits comerciais advindas

das commodities, o qual gerou a valorização do real frente ao dólar e, sim a miopia

de governos pós Real que tiveram com foco exclusivo a estabilização da inflação a

ferro e fogo aliado ao câmbio flutuante com livre entrada de capital, os quais

resultaram na alta valorização do real em face do já salientado tsunami de dólares e

euros.

O entendimento do professor João Sicsú, professor do Instituto Instituto de

Economia da UFRJ e ex-diretor de Estudos e Políticas Macroeconômicas do Ipea é

que as decisões tomadas pela presidente Dilma refletiu justamente os resultados

esperados.

[...] a queda “foi o resultado de uma decisão de governo. No início do ano passado, temendo a inflação e outros gargalos, a presidenta, junto com assessores mais próximos, tomou a decisão de desacelerar a economia utilizando políticas monetárias, creditícias e fiscais restritivas. Ao câmbio valorizado restou o papel de solidificar a situação em curso”. O economista lembra ainda que a taxa de juros Selic foi elevada, de 10,5% ao ano para 12,5%, em cinco reuniões consecutivas do Banco Central (BC), de janeiro a julho. “O BC adotou, também, medidas macroprudenciais para reduzir o ritmo de ampliação do crédito. O Tesouro reduziu o valor dos aportes ao BNDES em 2011. Em fevereiro, o governo anunciou um corte de R$ 50 bilhões em gastos previstos para o ano. Posteriormente, elevou a meta de superávit primário em R$ 10 bilhões, que saiu de R$ 117,9 bilhões para R$ 127,9 bilhões”. Segundo ele, o resultado esperado foi alcançado54.

Neste contexto, de perda de produtividade o governo Dilma sinalizou com um

pacote, o qual incluiu aumento do crédito subsidiado do BNDES e desonerações de

54GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA, Ano 9, nº 71.

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impostos a setores como os de máquinas, automóveis e têxteis, entre outros

resultando em uma conta, a qual pode chegar a 60 bilhões de reais. O risco desse

pacote se evidencia em face que o segmento da Indústria de Transformação gerou

uma arrecadação de R$ 49,6 bilhões representando 21,4% do total arrecadado pela

Previdência em 2011. Considerando os segmentos que apresentaram tendência a

estagnação ou redução da participação da indústria (Produtos Têxteis,Fabricação de

Papel e Celulose, Produtos Químicos, Artigos de Borracha e Plástico, Fabricação de

Máquinas e Equipamentos, Fabricação de Máquinas e Aparelhos Elétricos,

Montagem de Veículos e Equipamentos de Transporte) representou 12,5% do total

arrecadado pela Previdência Social.

Tabela 14 - Brasil – Arrecadação por segmento de Atividade – (R$ bilhões)

TOTAL 231.440.100.293 100,0%

Agr icu ltu ra3.223.905.599 1,4%

Indús tr ia 76.156.197.732 32,9% Ex trativa Mineral 2.926.676.379 1,3% Cons trução 18.295.823.364 7,9% Serv iços Indus tr ia is de Util. Pública 5.336.832.780 2,3% T rans fo r m ação 49.596.865.209 21,4% Produtos A limentares e Bebidas 8.220.901.348 3,6% Produtos Têx teis 1.512.569.392 0,7% Fabric ação de Celulose e Papel 1.286.149.589 0,6% Ref ino de Petróleo e Prod. de Á lc ool 3.077.479.141 1,3% Produtos Químicos 5.080.464.528 2,2% A rtigos de Borrac ha e Plás tic o 2.583.247.184 1,1% Produtos de Minerais Não Metálic os 1.646.587.092 0,7% Metalurgia Bás ic a 2.683.545.310 1,2% Fabric ação de Produtos de Metal 2.929.394.593 1,3% Fabric ação de Máquinas e Equip. 4.309.686.647 1,9% Fabric ação de Máq. e A p. Elétr icos 1.732.579.493 0,7% Montagem V eículos e Eq. Trans porte 6.765.833.554 2,9% Outras Indús trias de Trans f ormação 7.768.427.338 3,4%Se r viços 138.899.043.029 60,0%Igno r ado 13.160.953.933 5,7%

Fonte: Ministério da Previdência Social Salienta-se que levando em consideração o impacto futuro do pré-sal na

economia e com uma produção em larga escala do petróleo, resultará numa

avalanche de dólares, valorizando ainda mais o real, aumentando ainda a mais o

risco do país padecer da doença holandesa em face do atual modelo neoliberal e

que combinado ao já salientado sistema de vinculação da receita a despesa, o qual

estimula o incremento dos gastos correntes e que em um cenário de baixa

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competitividade a indústria pode minguar, e o que sobrar dela orbitará em torno do

petróleo, ou seja, menos geração de emprego e renda agravando ainda mais o

vazamento de renda no que se refere ao aumento da transferência líquida de capital

via aumento de importação de produto industrializado.

Em um conceito mais abrangente, a desindustrialização seria caracterizada

como uma situação, na qual tanto o emprego industrial como o valor adicionado da

indústria se reduzem como proporção do emprego total e do PIB, respectivamente.

O coeficiente de Importação e Exportação (CEI) divulgado em 13 de agosto

de 2012 pela Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (FIESP) mostrou

que a participação de mercadorias importadas no consumo brasileiro alcançou 24%

no segundo trimestre do ano ,e, portanto comparando com o mesmo período de

2011 o aumento foi de 1,2 ponto percentual. Entretanto, comparado ao trimestre

imediatamente anterior o Coeficiente de Importação (CI) da Indústria geral

apresentou alta de 1,5 ponto percentual.

Neste contexto, o diretor do Departamento de Relações Internacionais e

Comercio Exterior (Derex) avalia a real dimensão da competição da indústria

brasileira com o dólar cotado a R$ 2,00 (BOMPAN,2012)55.

Segundo ele, porém, com o dólar cotado a R$ 2, a competição com a China continua forte, possibilitando a importação dos produtos do país asiático. “ Um câmbio mais satisfatório estaria em torno de R$ 2,20 a R$ 2,30 para elevar a competitividade dos produtos brasileiros’ avalia.

O embaixador Luiz Augusto de Castro Neves endossa a opinião do Derex no

que se refere à competição com a China (BOMPAN,2012)56.

Evidente que o câmbio favorece a quedas das importações, mas, paralelamente, com a globalização da economia mundial, para até mesmo gerar competitividade ao processo industrial, o dólar muito valorizado pode encarecer o produto nacional”, diz ele ao se referir à necessidade de aquisição de insumos pelos brasileiros para a produção de maior qualidade e valor agregado.

Assim, de acordo com a FIESP, evidenciou-se alta do coeficiente de

importação em 21 dos 33 setores analisados (BOMPAN,2012)57.

Destaque para o setor de tratores, máquinas equipamentos para a agricultura, cuja participação dos importados atingiu o terceiro maior nível

55

BOMPAN, F. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica. 56

Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica. 57

Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica.

Page 172: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

172

da série histórica, crescendo de 46,1% no segundo trimestre de 2011 para 54% no mesmo período de 2012. Dos 12 setores que mostraram retração peças e acessórios para veículos automotores e outros equipamentos de transporte registraram as maiores quedas ante ao mesmo período de 2011 (2,7 p.p. e 2,5 p.p., respectivamente.

No que tange as exportações, a participação das vendas externas na

produção total da indústria geral cresceu de 19,9% para 20,5%, na comparação

entre os primeiros meses de 2011 em relação ao mesmo período de 2012.

Entretanto, apesar da leve alta do coeficiente de exportação no segundo

trimestre houve queda de produtos brasileiros enviados no exterior

(BOMPAN,2012)58.

Gianetti explica que, com a queda mais intensa da produção física da indústria, a quantidade exportada permaneceu a mesma, à medida que a fatia enviada ao mercado internacional ficou proporcionalmente,maior em relação ao total produzido. [...] Por outro lado, a contração ainda mais forte da produção industrial no período puxou o coeficiene para cima”, observa.

Neste contexto, José Augusto de Castro, vice-presidente da Associação de

Comércio Exterior do Brasil (AEB) analisa o cenário da balança comercial para o

Brasil em 2012 (BOMPAN,2012)59.

Com relação à tendência para as exportações, o vice-presidente da AEB acredita que os preços devem reduzir 7% neste ano, por conta das quedas já observadas em soja, algodão, café entre outros produtos. “ De qualquer forma, o cenário [ da balança comercial] não é positivo para o Brasil.

A perda da importância da geração de empregos da indústria de

transformação no Brasil entre 2002 e 2011 (GIFFONI,2012)60.

A participação da indústria de transformação na geração de empregos caiu quase pela metade entre 2002 e 2011, segundo o Cadastro Geral de Empregados e Desempregados (Caged). Entre as mais de 760 mil vagas criadas naquele ano, 21,1% foram para a indústria de transformação. No ano passado, a fatia que cabe ao setor ficou em 11,2% - em um total de 1,56 milhão de empregos líquidos gerados no país. No mesmo período, o peso do setor de serviços passou de 37,5% para 50,2% dos novos empregos.

58

Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica. 59

Ibidem. Importados chegam a 24% do junho do Pais em Junho. São Paulo. Diário Comércio Indústria e Serviços, 14 de agosto de 2012. Caderno Política Econômica. 60 GIFFONI,Carlos. Setor industrial gera apenas 11% dos empregos no Brasil. Jornal Valor Econômico http://www.unicamp.br/unicamp/clipping/2012/04/18/setor-industrial-gera-apenas-11-dos-empregos-no-brasil acesso em 12 de agosto de 2012

Page 173: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

173

A fatia da indústria de transformação frente ao saldo líquido de empregos do Caged no ano passado está bem aquém do índice registrado no acumulado dos últimos dez anos. De 2002 para cá, foram criados 13,2 milhões de vagas líquidas, sendo que o setor respondeu por 18,7% desse total (2,47 milhões).

Na realidade, a perda do dinamismo na geração de empregos do segmento

da indústria de transformação foi reflexo de diversos fatores (GIFFONI,2012)

Esse movimento, dizem os economistas, ocorreu tanto por fatores próprios do setor - como ganhos de produtividade e mudança na composição da indústria com aumento da participação de setores menos intensivos em mão de obra - como pela maior presença dos importados e pelo crescimento mais expressivo de outros setores, especialmente serviços.

Apesar da redução na geração de empregos se evidenciou o incremento da

produtividade (GIFFONI,2012).

Essa perda de 1,5 ponto percentual de participação no estoque de emprego sugere um processo de mudanças estruturais muito lento que está em curso no Brasil", diz o economista David Kupfer, professor da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e assessor da presidência do BNDES. Em contrapartida, a produtividade do trabalhador industrial (relação entre a produção industrial e o número de horas pagas) cresceu 27,2% no acumulado entre 2002 e o fim do ano passado. Ou seja, apesar de a fatia de ocupados na indústria - especialmente na de transformação - ter sofrido uma forte queda nos últimos anos, o trabalhador que se mantém no setor aumentou a sua produtividade. Kupfer explica que, por ter ganho de produtividade maior que os outros setores, o emprego na indústria tende a crescer em ritmo menor que o emprego em serviços, por exemplo. "Se a produção crescer de maneira isonômica entre os setores, o emprego industrial perde participação no total do país, já que a produtividade da indústria cresce mais que a de outros setores. É uma trajetória normal para o desenvolvimento.

Segundo o entendimento o processo de industrialização deve ser analisado

sob uma ótica ampla (LACERDA; NOGUEIRA, 2008,p.3)

O processo de desindustrialização não significa apenas a substituição da produção nacional já existente por similares importados. Fundamentalmente, este processo restringe a expansão da capacidade produtiva nacional, seja pela transferência de recursos para indústrias de baixa intensidade tecnológica, seja pela diferença entre o efetivo crescimento da demanda por manufaturados nos mercados interno e externo, e o seu verdadeiro potencia.

No estudo desenvolvido pelo Departamento de Pesquisas e Estudos

Econômicos da Federação da indústria do Estado de São Paulo (FIESP) estimou o

impacto do coeficiente das importações na Indústria de Transformação se

mantivesse o patamar do 3º trim. de 2008 no que se refere à geração no valor da

produção e de empregos.

Caso o coeficiente de importações do 3º trim. de 2010 (21,2%) tivesse se mantido no patamar do 3º trim. de 2008 (19,6%), o valor da produção pode-

Page 174: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

174

ria ter sido de R$ 17,3 bilhões maior. Em 9 meses, a produção da Indústria de Transformação aumentaria 1,62% e seria de R$ 1.072,2 bilhões, enquanto as importações cairiam para R$ 215,1 bilhões. Com isso, o emprego no setor aumentaria em 0,58%, equivalente a 46 mil novas vagas.

Assim, os serviços passaram a gerar mais emprego e renda, apesar da

manutenção e até do crescimento da indústria. Houve, nesse caso, um claro

processo de desindustrialização, uma vez que o setor industrial perdeu, para os

serviços, a condição de atividade dinâmica da economia.

O Brasil entrou na dinâmica da crise mundial em face da perda de

competitividade da indústria de transformação e geração de déficits crescentes em

conta corrente.61

Para países como o Brasil, além de deixar de gerar empregos qualificados, a diminuição do peso da indústria cria uma dependência perigosa em face que o consumo de produtos industrializados cresce com o crescimento da renda da população. A elasticidade-renda por produtos industriais é superior à elasticidade por produtos primários. Uma nação, que sem completar seu círculo industrial, vê a indústria de transformação perder espaço para outros setores, principalmente os serviços, pode, em médio prazo, enfrentar graves problemas no setor externo, com crescentes déficits em conta corrente e conviver com reduções na geração e na qualidade dos empregos.

Por outro lado, observa-se o risco do Brasil depender da produção de

commodities em face da geração de baixo valor agregado. 62

A produção de commodities agrícolas e minerais, por mais importante e dinâmica que seja, não afasta o problema. A possibilidade de se agregar valor a esses produtos é extremamente limitada e seus preços se formam fora do mercado nacional, deixando poucas alternativas para a economia, caso a demanda por eles diminua ou os preços caiam. Enquanto simples exportador de produtos primários, o Brasil enfrentou, de forma sucessiva, crises cambiais arrasadoras, fruto de conjunturas internacionais adversas, que provocaram situações econômicas críticas e prejuízo para grande parte da sociedade.

A valorização do real é reflexo das exportações de commodities e da política

monetária do Banco Central do Brasil diferentemente dos países centrais63.

Assim, a valorização do real deve-se: (i) à “doença holandesa”, pelo lado das exportações de commodities e (ii) à alta taxa de juros interna, conside-rada a maior do mundo, pelo lado da política econômica. A primeira razão é meritória, pois se trata de vantagem competitiva que o Brasil soube muito bem explorar e é grande parte responsável pela independência financeira do país em relação ao resto do mundo. Já a segunda razão, as taxas de juros, são motivo de muita discussão e questionamentos. A prática de elevadas taxas provoca, também, volumosa entrada de divisas no país,

61 Nota Técnica da DIESE, p.5 ,Junho de 2011, Nº 100. 62

Nota Técnica da DIESE, p. 5, Junho de 2011, Nº 100. 63

Nota Técnica da DIESE, p. 6 , Junho de 2011, Nº 100

Page 175: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

175

dinheiro que vem em busca de valorização rápida e segura, condição que o Brasil oferece. Enquanto as taxas básicas de juros dos países centrais giram em torno de 0% a.a. (zero por cento ao ano), o Brasil paga, com baixo risco, 11,75% a.a. Há, portanto, grande afluxo de moeda estrangeira no mercado financeiro, valorizando o real, encarecendo as exportações e barateando as importações.

Assim, a referida Nota Técnica do DIESE não analisa o impacto da nova

dinâmica mundial com a entrada da China no que se refere à valorização dos preços

das commodities, refletindo na geração de superávits comerciais do Brasil, bem

como a política monetária de afrouxamento quantitativo do Tesouro e Banco Central

americano.

No que tange aos fatores que impactam na perda de competitividade da

indústria de transformação e os obstáculos para obtenção dos ganhos de

produtividade.64

Juros e commodities seriam, então, os primeiros responsáveis pela perda de competitividade da indústria de transformação. Um caminho provável para superar este problema seria por meio de ganhos de produtividade, em outras palavras, o que se perde no câmbio deve ser compensado pelo aumento de eficiência, a partir da redução dos custos de produção e melhora de qualidade dos produtos fabricados. Para ambos são necessários investimentos, capacidade empresarial, crédito e inovação. Não obstante o esforço de grande parte das empresas brasileiras na busca de competência técnica e empresarial, sabe-se que o número de registros de patentes e os recursos destinados à Pesquisa e Desenvolvimento (P&D) nas corporações brasileiras são bem inferiores à média internacional.

No tocante aos investimentos além das restrições em face da oferta de

poupança interna alia-se a disputa reduzida pela oferta de recursos em função da

alta propensão da capacidade de emprestar recursos ao setor público.65

Os investimentos, por sua vez, sofrem algumas restrições: a oferta de poupança interna, hoje em torno de 18% do PIB, é insuficiente para atender ao setor privado e ao setor público. Essa escassez de poupança obriga o país a se socorrer da poupança externa, prática que dificulta o fechamento das contas externas e torna mais vulnerável esse setor da economia. Na disputa pela reduzida oferta de recursos, o governo acaba levando vantagem, pois os bancos comerciais preferem emprestar recursos ao setor público (comprar títulos do governo), com risco praticamente nulo, que fazê-lo para a iniciativa privada e, quando o fazem, cobram spreads muito altos. Resta, então, ao BNDES, como banco estatal de fomento, fornecer a maioria dos fundos para investimento, montante insuficiente para atender às necessidades do mercado, sobretudo às das pequenas e micro empresas.

No que tange ao financiamento do BNDES resulta em uma ineficiência na

alocação de recursos segundo a alusiva Nota Técnica da DIESE.

64 Nota Técnica da DIESE, p. 7 , Junho de 2011, Nº 100. 65

Nota Técnica da DIESE, p. 7 , Junho de 2011, Nº 100.

Page 176: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

176

Isso tudo gera ineficiência na alocação de recursos e, evidentemente, custos para toda a economia, retirando dela parte da competitividade. Agregue-se a essas dificuldades a carência de infraestrutura de transporte, energia e telecomunicações, que prejudicam a circulação de bens dentro das fronteiras do país e nas operações de exportação e importação, com os portos e aeroportos operando no limite de suas capacidades físicas e técnicas.

O Gráfico 61 mostra a participação da Indústria de Transformação na

formação do PIB do Brasil e a carga tributária (% do PIB) no período compreendido

entre 1995 e 2011, com projeção para 2010. De uma participação de 18,6% em

1995 se reduziu para 14,6% em 2011. No que tange, a participação da carga

tributária se observou o inverso de 27,2% em 1995 aumentou para 32,5% em 2011.

Gráfico 48 - Carga Tributária e Participação da Indústria de Transformação (% PIB) – 1995 a 2011

0 ,0 %

5 ,0 %

1 0 ,0 %

1 5 ,0 %

2 0 ,0 %

2 5 ,0 %

3 0 ,0 %

3 5 ,0 %

4 0 ,0 %

1 9 9 5 1 9 9 6 1 9 9 7 1 9 9 8 1 9 9 9 2 0 0 0 2 0 0 1 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 * 2 0 1 1

C ar ga Tib u tár ia (% P IB ) In d ú str ia d e Tr an sfo r m aç ão (% P IB)

Fontes : IBGE, Secretaria da Receita Federal

Projeção segundo o autor para carga tributária de 2011

A indústria brasileira padece do impacto da política macroeconômica míope

desde 1995 em face de concentrar o total de esforços no sentido de manter a

estabilização da inflação, ou seja, ampliou-se consideravelmente a influência dos

importados em face da desnacionalização da produção e aliada a pressão de uma

conjuntura muito específica66, na qual o câmbio valorizado de 2010 e 2011 foi um

elemento importante para a atual rigidez no volume de importação de produto

industrializado.

Além disso, também considera como fator econômico o já analisado padrão

de crescimento global no que resultou na mudança do eixo dinâmico para a Ásia em

66

A política de afrouxamento quantitativo do Tesouro e Banco Central americano e do Banco da zona do euro.

Page 177: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

177

face do expressivo crescimento do PIB da China a partir da década de 90. No que

se refere a política econômica acrescenta a ineficiência da gestão fiscal baseada na

vinculação da despesa a receita e incremento dos tributos aliada dinâmica dos juros

altos.

Ressalta-se ainda a perda da importância da indústria manufatureira em face

da produtividade e terceirização, custo de produção e elasticidade-renda aliado ao

custo Brasil67.

Gráfico 49 : Brasil - Efeito do câmbio no PIB e na Indústria de Transformação – 2003 a 2011

0

0 ,5

1

1 ,5

2

2 ,5

3

3 ,5

4

-5 ,0 0 %

0 ,0 0 %

5 ,0 0 %

1 0 ,0 0 %

1 5 ,0 0 %

2 0 ,0 0 %

2 5 ,0 0 %

2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1

Tax a d e c r e sc im e n to d o P IB (% )

In d ú str ia d e Tr an sfo r m aç ão Valo r A d ic io n ad o

C âm b io

Fontes : IBGE, Banco Central do Brasil Nota técnica : A taxa de câmbio foi calcula baseada na média do período de cada período. A perda da participação da indústria de transformação no PIB do Brasil é

confrontada com a expansão da produção mundial em 2011 (DANTAS)68.

Paulo Stark, presidente e CEO da Siemens Brasil, mostrou que houve um forte descompasso entre o desempenho da produção industrial brasileira e global em 2011: enquanto a do Brasil ficou praticamente parada, com crescimento de 0,3%, a do mundo teve expansão de 5,8%.

67 O Custo Brasil é um termo genérico, usado para descrever o conjunto de dificuldades estruturais, burocráticas e econômicas que encarecem o investimento no Brasil, dificultando o desenvolvimento nacional, aumentando o desemprego, o trabalho informal, a sonegação de impostos e a evasão de divisas. Por isso, é apontado como um conjunto de fatores que comprometem a competitividade e a eficiência da indústria nacional. (Jornal do Estado de São Paulo, 08/03/2010. 68 DANTAS, Fernando Discussion Blog [Internet]. São Paulo: 18 de maio de 2012 – Disponível em http://blogs.estadao.com.br/fernando-dantas/2012/05/18/industria-brasileira-ficou-para-tras/. Acesso em 21 de agosto de 2012.

Page 178: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

178

Posteriormente, é realizado um confronto de análise da performance industrial

do Brasil para os anos de 2007 a 2010 (DANTAS)69.

Stark indicou que isso foi verdadeiro para os anos de 2007 a 2010, quando a performance da produção industrial no Brasil e no mundo foi de fato muito parecida. Em 2007, por exemplo, houve crescimento global de 6,1% e de 6% no Brasil. Em 2008, de respectivamente 2,7% e 3,1%. Em 2009, ano da grande crise global, a indústria caiu 7,7% no mundo e 7,4% no Brasil. E, em 2010, houve a forte recuperação de 9,6% globalmente e de 10,5% no caso brasileiro”.

Observa-se, no Brasil, um crescente descompasso entre o crescimento do

comércio e a produção industrial. Em termos de quantidades, o comércio tem

crescido, a partir do início de 1995, a taxas superiores ao crescimento da indústria.

Esse gap entre o consumo e a produção domésticos é preenchido por produtos

importados. Tal fato mostra que a indústria de transformação não aproveitou a

oportunidade do modelo baseado no incremento do consumo em percentual do PIB

após 2008.

Gráfico 50: Brasil - Análise desagregada do Valor Adicionado do PIB – 1995 a 2011

Fonte : IBGE O Gráfico 52 evidencia-se o efeito da desindustrialização no Brasil

correlacionando o PIB per capita (US$) e o valor adicionado da manufatura (% do

PIB). A atual determinação do governo Dilma em 2012 de manter a taxa de câmbio

do dólar em R$ 2,00 para reverter a tendência de desindustrialização ,e, portanto

69 Ibidem Discussion Blog [Internet]. São Paulo: 18 de maio de 2012 – Disponível em http://blogs.estadao.com.br/fernando-dantas/2012/05/18/industria-brasileira-ficou-para-tras/. Acesso em 21 de agosto de 2012

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179

neste estudo se utilizará o PIB per capita a preço constante de 2011 do dólar a

R$ 2,00. Evidencia-se que apesar do crescimento do PIB per capita em dólar que

em 1995 era de US$ 2.220 e que passou para US$ 10.626 em 2011 a perda do

dinamismo do incremento da indústria de transformação foi muito significativa

quando se compara com o desempenho dos países da Organização para

Cooperação do Desenvolvimento Econômico (OCDE) (Gráfico 51).

Ressalta-se que apesar da taxa de câmbio no Brasil ser de 2012 o objetivo é

demonstrar que em face da miopia da política macroeconômica conduzida pelo

Banco Central pós Real o país não só comprometeu o crescimento econômico do

período como também a perspectiva futura do crescimento econômico.

Gráfico 51 - Países da OCDE - PIB per capita (preços constantes de 2000, US$) e valor adicionado manufatureiro (% do PIB), 1981-2010.

Fonte: World Development Indicators (WDI, 2011).

Gráfico 52 – Brasil - PIB per capita (US$) x Valor adicionado da manufatura (% do PIB) – 1995 a 2011

Page 180: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

180

0 ,0 0 %

5 ,0 0 %

1 0 ,0 0 %

1 5 ,0 0 %

2 0 ,0 0 %

2 5 ,0 0 %

0 ,0

2 .0 0 0 ,0

4 .0 0 0 ,0

6 .0 0 0 ,0

8 .0 0 0 ,0

1 0 .0 0 0 ,0

1 2 .0 0 0 ,0

P IB p e r c ap ita (U S$ ) In d ú str ia d e Tr an sfo r m aç ão Valo r A d ic io n ad o

Fonte : IBGE Nota : Brasil - PIB per capita (preços constantes de 2012, US$ = R$ 2,00 ) e valor adicionado manufatureiro (% do PIB), 1995-2011. O Gráfico 53 demonstra que a manutenção da competitividade das

exportações brasileiras foi baseada nos setores de Indústria de média-baixa

tecnologia e de baixa tecnologia em face que em 1996 foi gerado US$ 26,9 bilhões e

passou para US$ 100,8 bilhões em 2011. No tocante aos setores de indústria de alta

tecnologia e de média-alta tecnologia o montante era de US$ 12,9 bilhões em 1996

e aumentou para US$ 52,3 bilhões em 2011.

Gráfico 53 – Exportação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade Tecnológica – 1996 a 2011 US$ milhões FOB

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Indústria de alta tecnologia Indústria de média-alta tecnologia (II)

Indústria de média-baixa tecnologia (III) Indústria de baixa tecnologia (IV)

Fonte : SECEX/MDIC

Page 181: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

181

No que tange aos reflexos da política neoliberal foram determinantes para o

incremento significativo das importações brasileiras fundamentadas nos setores de

indústria de alta tecnologia e de média-alta tecnologia em face que em 1996 o

montante era de US$ 31 bilhões e passou para US$ 134,6 bilhões em 2011. No que

se referem aos setores de Indústria de média-baixa tecnologia e de baixa tecnologia

o montante foi de US$ 14 bilhões em 1996 e aumentou para US$ 61,8 bilhões em

2011. Correlacionando as exportações com as importações dos setores de indústria

de alta tecnologia e de média-alta tecnologia evidenciou-se que o déficit comercial

foi de US$ 18,1 bilhões em 1996 e passou para US$ 82,3 bilhões em 2011. E

correlacionando com os setores de Indústria de média-baixa tecnologia e de baixa

tecnologia de um superávit comercial de US$ 12,9 bilhões em 1996 passou para

US$ 39 bilhões em 2011.

Gráfico 54 – Importação Brasileira dos Setores Industriais por Intensidade Tecnológica – 1996 a 2011 US$ milhões FOB

Fonte : SECEX/MDIC O Gráfico 55 mostra a evolução da participação dos principais países de

destino das exportações brasileiras, computados os produtos básicos,

semimanufaturados e manufaturados. Assim, evidencia-se que a dinâmica do

crescimento do PIB chinês impulsionou as exportações brasileiras, refletindo em

uma dependência estrutural em relação à China, aumentando o risco do incremento

do financiamento do déficit de conta corrente em face do arrefecimento do

-

10.000

20.000

30.000

40.000

50.000

60.000

70.000

80.000

90.000

100.000

1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

Indústria de alta tecnologia (I) Indústria de média-alta tecnologia (II)

Indústria de média-baixa tecnologia (III) Indústria de baixa tecnologia (IV)

Page 182: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

182

incremento do PIB da China em 2012. Por outro lado, observa-se que se reduziu

consideravelmente o volume de exportações para os Estados Unidos em face que

em 1990 correspondia a 24,2% e reduziu 10,1% em 2011. No tocante a Argentina

demonstra a sua importância no tocante à exportação.

Gráfico 55 - Países de destino das exportações brasileiras (%) – 1990 a 2011

0 ,0 0 %

5 ,0 0 %

1 0 ,0 0 %

1 5 ,0 0 %

2 0 ,0 0 %

2 5 ,0 0 %

3 0 ,0 0 %

1 9 9 0 2 0 0 0 2 0 0 2 2 0 0 3 2 0 0 4 2 0 0 5 2 0 0 6 2 0 0 7 2 0 0 8 2 0 0 9 2 0 1 0 2 0 1 1

C H IN A E U A A R G E N T IN A

Fonte : SECEX/MDIC Elaboração : AEB

Em suma, a abertura desmedida aliada a crise mundial de 2008 e os efeitos no

tocante ao tsunami de dólares e euros e a estratégia da China de ampliar mercados

em face da perda no volume de exportações em função da crise da zona do euro

refletiram em um déficit comercial no segmento de produtos industrializados princi-

palmente no segmento da indústria de alta e média complexidade no Brasil

acentuando ainda mais o risco de desindustrialização e , portanto, impactando na

Page 183: A política econômica do governo dilma e os limites do crescimento versão 9.0

183

geração de emprego e renda e no crescimento econômico de 2011 e exercícios

posteriores.

• Limitações do crescimento econômico no Brasil

A projeção feita pelo o FMI para 2011 era de 4,5% e de 2012 de 4,1%70.

Assim, o FMI reduziu a projeção para 2,5%71 em 2012 e a projeção do Boletim

Focus é de 1,75%72. Por que afinal o Brasil não deverá retomar o crescimento

sustentável de 4% em 2013 e para os próximos anos ?

O Brasil não cresce em face dos fatores estruturais que limitam o crescimento

(OLIVON,2012)73.

Se o mundo cresce menos, de alguma forma você será afetado, mas o Brasil estava crescendo menos que países equivalentes”, afirmou Carlos Alberto Cinquetti, economista da Unesp. Para o professor, o Brasil estava crescendo mais por causa da demanda de outros países e menos pela sua competitividade. Cinquetti lista três fatores que prejudicam o PIB brasileiro, além do cenário externo: a mudança na composição da renda, para um agente que investe pouco – o governo -, as restrições institucionais que dificultam a eficiência das empresas e os atrasos na infraestrutura. “Uma lição de casa aqui é resolver esse pontos para crescer mais adequadamente aos países na mesma condição do Brasil, por volta de 5% e não 3%”, disse.

O alusivo professor analisa que o governo investe pouco, mas não

contextualiza que é devido ao alusivo modelo de vinculação da receita à despesa, o

qual dificulta que o setor público consolidado de direcionar recursos no que tange ao

investimento em infra-estrutura para melhorar a competitividade das empresas. Além

disso, também não analisa que é reflexo da política neoliberal pós Real, pois

desarticulou a capacidade do Estado de implementar políticas fiscais Keynesianas

através das empresas Vale do Rio Doce, Usiminas, Telebrás, bem como os recursos

advindos da geração de exportações pressionou o custo da dívida pública, uma vez

que forçou o Banco Central a comprar os dólares para evitar ainda mais a

valorização do real.

70 Portal Brasil, 25 de janeiro de 2011. Acesso em 22 de agosto de 2012. http://www.brasil.gov.br/noticias/arquivos/2011/01/25/fmi-eleva-projecao-do-pib-do-brasil-para-4-5-em-2011. 71 RIBEIRO, Alex, Jornal Valor Econômico, São Paulo 16 de julho de 2012. Acesso em 22 de agosto de 2012 http://www.valor.com.br/internacional/2752778/fmi-reduz-projecao-de-alta-do-pib-do-brasil-de-31-para-25-em-2012 72 Boletim Focus de 17 de agosto de 2012. 73 OLIVON,Beatriz. 6 novas previsões para o PIB brasileiro em 2012. São Paulo, Exame.com, 22 de agosto de 2012. Acesso 22 de agosto de 2012. Disponível http://exame.abril.com.br/economia/6- noticias/6-novas-previsoes-para-o-pib-brasileiro-em-2012.

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184

Salienta-se, ainda, que conforme já foi analisado o modelo chinês de

crescimento significativo do PIB chinês de 1980 a 2011 se baseou justamente na

combinação de diversas políticas Keynesianas sem a preocupação da ótica de

Hayek, a monetária, a expansão do crédito e de exportação enquanto o Brasil ficou

preso as armadilhas da década de 80 e principalmente da estabilização econômica

através do Plano Real.

Assim, diferentemente da China o Brasil abdicou da utilização das políticas

fiscais, monetárias e creditícia para gerar crescimento econômico pós Real em nome

da sustentabilidade da dívida pública, pois o foco exclusivo se direcionou para

geração de superávit primário ,e, que em face da anomalia da gestão fiscal no Brasil

esta foi obtida via aumento da carga tributária em função do modelo de vinculação

da despesa à receita.

No tocante à política monetária conforme já foi analisada só teve foco

exclusivo para manter a estabilização da inflação pós Real, refletindo no incremento

da dívida pública e na valorização do Real.

A combinação das alusivas políticas monetárias e fiscais proporcionaram

pífios resultados de crescimento econômico, entretanto a revisão metodologia do

IBGE turbinou o PIB diminuindo o peso da dívida pública e carga tributária

(ALMEIDA, 2010)74.

Em termos de resultados efetivos, o governo Lula realizou, em seu primeiro mandato, de 2003 a 2006, taxas respectivas de crescimento do PIB de 0,5%, 4,9%, 2,3% e 3%, numa conjuntura em que a economia mundial crescia praticamente o dobro dessas taxas e os emergentes dinâmicos três vezes mais. Registre-se, porém, que o governo operou uma revisão metodológica nas contas nacionais, alterando o peso e a composição de indicadores básicos da economia, o que redundou numa mudança para cima de todas as taxas de crescimento da economia. Assim, os dados revistos do PIB brasileiro permitiram exibir as seguintes taxas de crescimento: 1,1% em 2003, 5,7% em 2004, 3,2% em 2005 e 4% em 2006, com a consequente diminuição do peso da dívida pública e da carga tributária em relação ao PIB, resultados oportunamente convenientes para melhorar o desempenho geral da economia.

Na realidade, o Brasil ampliou a taxa de crescimento do PIB no segundo

governo Lula em face de ser impulsionado pela demanda da China, bem como o

modelo de expansão do crédito para o consumidor e a elevação da dívida bruta via

empréstimo ao BNDES e a política de valorização do salário mínimo, que

74 Paulo Roberto de Almeida, Balanço do governo Lula, 2003-2010: uma avaliação não complacente, 26 de outubro de 2010. Acesso 22 de agosto de 2012. Disponível http://economia.ig.com.br/balancos+do+governo+lula+20032010+uma+avaliacao+nao+complacente

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185

permaneceu vigorosa e se alçou à condição de primeiro parceiro comercial do Brasil,

foi, respectivamente, de 6,1% em 2007, de 5,1% em 2008 e de -0,2% em 2009 e de

7,5% em 2010.

No que se refere à política de valorização do salário mínimo é fundamental a

participação das Centrais Sindicais com o objetivo de fortalecer a opinião dos

poderes Executivo e Legislativo acerca da importância social e econômica da

proposta de valorização do salário mínimo, em face que em maio de 2005 era de

R$ 260,00 e passou para R$ 350,00 em abril de 2006 (DIESE, A política de

valorização do salário mínimo, p.1)75.

Destaca-se que a alusiva Nota Técnica nº 106 da DIESE evidencia a

importância da permanente política de valorização do salário mínimo, a qual foi

acordado, em 2007 até 2023.

Essa política tem como critérios o repasse da inflação do período entre as correções, o aumento real pela variação do PIB, além da antecipação da data-base de revisão - a cada ano - até ser fixada em janeiro, o que aconteceu em 2010. A política prevê que, em janeiro de 2012, o reajuste reponha a inflação segundo o INPC de 2011, mais a variação do PIB de 2010. Como o crescimento do Produto Interno Bruto em 2010 foi, em dado ainda provisório, de 7,5%, a revisão do piso deverá incorporar esta variação mais a inflação medida pelo INPC.

Neste contexto, em abril de 2007, o salário mínimo era de R$ 380,00 e

passou para R$ 622,00 em 1º de janeiro de 2012, representando um ganho real de

65,95% deteriorando as contas públicas em face da vinculação do salário mínimo à

Previdência na visão míope dos especialistas em contas públicas, pois é necessário

analisar também o impacto via incremento da arrecadação e do PIB.

Assim, avalia-se à importância do incremento do salário mínimo atingindo

R$ 622,00 em janeiro de 2012, pois o rendimento referenciado no salário mínimo

atinge 48 milhões de pessoas, refletindo no incremento de renda na economia o

montante de R$ 47 bilhões e impactando no incremento na arrecadação tributária

sobre o consumo de R$ 22,9 bilhões (DIESE, Nota Técnica nº 106,p.7)

Salienta-se, ainda, a difusão do crédito para faixas da população antes dele

excluídas um fator que explica esse boom de crescimento é o surgimento de 30

milhões de brasileiros que ascenderam a classe C reflexo da política de valorização

do salário mínimo, a qual beneficia os contemplados pela seguridade social. Em

75

DIESE, Política de Valorização do Salário Mínimo, NOTA TÉCNICA nº 106,Janeiro de2012. Acesso em 22 de agosto de 2012

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186

2011, 29 milhões foram beneficiados pela transferência do INSS no montante de

R$ 272,9 bilhões sendo que 19,162 milhões receberam 1 salário mínimo totalizando

R$ 123,6 bilhões.

Assim, a dificuldade do Brasil de não retomar o crescimento sustentável de

3,5% do PIB ou de 4,0% do PIB conforme o PIB potencial analisado pelos

economistas em 2012 e também para os próximos anos é decorrente de todos os

fatores críticos estruturais já analisados, bem como o impacto significativo do

Passivo Externo em 2011 segundo a avaliação de Reinaldo Gonçalves76.

O Brasil deve em moeda estrangeira o dobro das reservas cambiais. No final de 2011 o passivo externo do país atingiu US$ 746,000,000,000.00. Isto mesmo setecentos e quarenta e seis bilhões de dólares. Este rombo cresceu quase três vezes durante os governos petistas. Só o setor financeiro, entre 2009 e 2011, dobrou o volume tomado no exterior para emprestar aqui dentro. Pedala um bicicleta de mais de US$ 300 bilhões em recursos captados lá fora.

Além disso, o eminente professor aprofundou sua análise no que se refere à

correlação entre investimento estrangeiro e a relação de confiabilidade externa na

solidez econômica brasileira aliada ao baixo impacto na economia real.

Pior. O investimento estrangeiro direto, sempre citado pelas autoridades do governo como exemplo da confiança externa na solidez econômica brasileira, esconde um problema. Quando mostram os números e dizem que somos o segundo destino do dinheiro produtivo não estão dizendo toda a verdade. Uma grande parcela do IED entra assim carimbado e vai para a compra de títulos públicos ou outros papéis. Não acrescenta nada a economia real. Visa o lucro fácil devido ao diferencial de juros. Como explicar que para cada dólar acrescido às reservas brasileiras nos últimos dez anos entraram dois via internalização de capital? Isto sem considerar a soma dos superávits conseguidos graças apenas às exportações das commodities minerais e agrícolas. A economia e o governo movem-se devido a importação de capital especulativo. O déficit em conta corrente do Brasil fechou 2011 em mais de US$ 52 bilhões. Estamos cavando fundo um grande buraco. Enquanto a situação externa for favorável a bolha continuará inflando. A moeda artificialmente valorizada devido ao fluxo favorável de divisas possui um lado positivo, ao servir como âncora para a inflação, porém prejudica a produção interna de bens de consumo inundando o mercado local com produtos importados.

Ressalta-se que diante da magnitude dos investimentos necessários para o

pré-sal evidencia o alto risco de instabilidade do dólar em face da alta depreciação

do real de 2012 em relação a 2011.

São 270 bilhões de dólares de investimentos previstos até o fim da década. O setor de óleo e gás, que já representa 10% do produto interno bruto do

76 GONÇALVES, Reinaldo. A herança lula: o passivo externo do Brasil, 2 de março de 2012. Acesso em 22 de agosto de 2012. Disponível http://vermelhosnao.blogspot.com.br/2012/03/heranca-lula-o-passivo-externo-do.html.

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187

país, deve passar a 20%. É, de longe, o mais pujante do país, especialmente num momento de franca desaceleração econômica.77

Neste contexto, evidencia-se que o Gráfico 56 mostra os impactos da política

neoliberal correlacionando o PIB medido em dólar do período correspondente ao

preço do dólar constante de R$ 2,00 para o exercício de 2012 definido pelo Banco

Central para aumentar a competitividade da indústria brasileira.

A miopia da política neoliberal resultou em um alto custo no que se refere ao

crescimento econômico, pois comparando com o dólar a R$ 2,00 o PIB do Brasil

de1995 era de US$ 770,4 bilhões e passou para US$ 2,072 trilhões ,ou seja, o PIB

aumentou no período apenas 3 vezes no relativo período e o pior com os limites

estruturais do crescimento econômico já salientado reduziu consideravelmente a

oportunidade de um crescimento mais robusto para os próximos anos.

Gráfico 56 – PIB Brasil (Banco Central ) x PIB (dólar R$ 2,00) – 1995 a 2011 (US$)

0

500 000

1 000 000

1 500 000

2 000 000

2 500 000

3 000 000

1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002 2003 2004 2005 2006 2007 2008 2009 2010 2011

PIB (Banco Central) PIB (Dólar R$ 2,00)

Fonte: Banco Central do Brasil

O Gráfico 57 corrobora essa análise de que a continuação da política neolibe-

ral pós FHC comprometeu o crescimento do PIB do Brasil (WANDERLEY;MATA;

BALANCO, 2012, p.38).

Nas décadas de 1980 e 1990, o Brasil posiciona--se no subquadrante IV.A, com PIBs médios de, respectivamente, R$ 1.883.271,69 trilhões e

77 PADUAN,Roberta. Pré-sal, o maior desafio do Brasil. Revista Exame, São Paulo, Edição 1019,Editora Abril, 27 de junho de 2012. Disponível em http://exame.abril.com.br/revista-exame/edicoes/1019/noticias/pre-sal-o-maior-desafio-do-brasil?.

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188

R$ 2.312.831,37 trilhões, inferiores à média do período, com R$ 2.410.184,26 trilhões; com saldo de comércio externo de US$ 8.598,59 bilhões na década de 1980 e US$ 3.674,56 bilhões na década de 1990, com valores inferiores à média do período de US$ 12.585,22 bilhões; e com taxas de juros médias de 12,0% (década de 1980) e 13,9% (década de 1990) superiores à média do período de 8,7%. Em ambas as décadas, o país situou--se à esquerda das curvas AA e BB, assim como acima da taxa de juro de equilíbrio. Já na década de 2000, o Brasil localiza-se no subquadrante II.A, situando-se à direita das curvas AA e BB, e abaixo da taxa de juro de equilíbrio, com PIB médio de R$ 3.034.449,72 trilhões, superior à média do período com R$ 2.410.184,26 trilhões; saldo externo de comércio de US$ 25.482,52 bilhões, superior a US$ 12.585,22 bilhões (média do período); e taxa de juro de 1,2% inferior à média do período de 8,7%. Verifica-se, com base nas três variáveis analisadas – PIB, taxa de juro Selic e Balança Comercial –, que a economia brasileira apresentou alguma melhora ao longo das três décadas, dado que o movimento do subquadrante IV.A para o subquadrante II.A indica, no que se refere a valores médios das curvas AA e BB, as passagem do PIB e da balança comercial para valores acima da média do período de 1980 a 2010. Em relação à curva BB, observa-se um forte crescimento nos superávits do saldo médio de comércio. Esclarece- -se que, na década de 2000, a localização da balança comercial à direita de BB e ser superavitária devem-se ao fato de a curva BB representar os saldos médios do período de 1980 a 2010.

Gráfico 57 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan com curvas de valores médios

Fontes : Elaboração Livio Andrade Wanderley, Henrique Tomé da Costa Mata e Paulo Antônio de Freitas Balanco

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189

Por outro lado, o Gráfico 58 demonstra que os PIBs da década de 1990 e de

2000 ficaram abaixo do pleno emprego (WANDERLEY;MATA; BALANCO;

2012;p.41).

No Gráfico 58, tem-se o diagrama teórico e o ponto F (felicidade macroeconômica) localizado mais para a direita em relação ao ponto E do diagrama de valores médios. Dessa forma, verifica-se que os valores médios dos PIBs de cada década estão aquém do PIBPE de pleno emprego, enfatizando-se que o PIB médio da década de 2000 é o que fica mais próximo do PIBPE de pleno emprego. A análise dos saldos de comércio externo e das taxas de inflação e de desemprego permite constatar- se que a economia brasileira, nesse diagrama com valores médios das curvas AA e BB, posiciona--se aquém dos níveis de equilíbrio interno de pleno emprego e externo.

Gráfico 58 – Cenário da economia brasileira no diagrama adaptado de Trevor Swan com curvas de

valores médios e teóricos de equilíbrios interno e externo

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190

Sintetizando: o processo de limitação do crescimento econômico do Brasil em

2012 e que afetará os próximos anos é decorrência da política imperialista dos

Estados Unidos utilizando o FMI em face desta instituição impor um serviço da

dívida, a qual não só comprometeu o crescimento econômico da década de 80 como

também desorganizou a estrutura produtiva ; comprometeu os investimentos das

estatais e gerou a desestabilização macroeconômica em face do período de

hiperinflações.

Por outro lado, a política neoliberal pós FHC gerou um passivo externo

significativo aliado ao volume crescente de importação de produtos industrializados,

o qual gera um vazamento de renda, bem como deprimiu o crescimento da

indústria. Além disso, a gestão fiscal baseada na geração de superávits primários

resultou no aumento da carga tributária e reduziu a capacidade de investimento em

infraestrutura em face da anomalia do modelo de vinculação de despesa á receita.

Salienta-se, ainda, que o modelo de crescimento do PIB via aumento de

consumo encontra-se em esgotamento. Primeiro, em face do aumento da carga

tributária; segundo, porque o nível de comprometimento da renda está muito alto;

terceiro, em face de que apesar da relação do crédito imobiliário em percentual do

PIB ser baixa deve se levar em consideração o risco da bolha. Além disso,a

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191

evidência da desindustrialização, refletindo na perda de emprego e

consequentemente na desvalorização dos imóveis.

Diante de tamanha pressão sobre o país, o economista Ricardo Carneiro, do

Instituto de Economia da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), defende

que uma das variáveis-chave para a preservação do dinamismo da economia

brasileira é o investimento.78

Para isso, ele acredita que seja necessário um novo perfil de política econômica, e que sua característica central seria a ampliação do papel do setor público para assegurar níveis mais elevados de investimentos em infraestrutura econômica e social. “Isso exigirá tanto a ação direta do Estado na realização, por meio da administração pública e empresas estatais, e financiamento destes investimentos, quanto o suporte e indução do setor privado”, afirma Carneiro, que tratou do assunto na publicação Desafios para o desenvolvimento brasileiro, divulgada pelo Ipea em 2011. Transitando pela teoria, o professor da Unicamp explica que será necessário ao país passar de um modelo de crescimento baseado no “investimento induzido” para outro, fundado no “investimento autônomo”. Investimento induzido é aquele provocado pela variação do PIB ou pela melhoria das condições da economia. Ele tende a se retrair quando a atividade econômica apresenta queda e se concentra no aumento da capacidade instalada. Já o investimento autônomo independe da atividade econômica. Ele é centralmente o investimento em inovações tecnológicas, que podem representar ganhos de produtividade, mudando a qualidade da produção.

Em suma a análise de Ricardo Carneiro sobre o desempenho do investimento

no Brasil é fundamental para evidenciar os obstáculos para a retomada do

crescimento sustentável ao redor de 4,5% a.a conforme a projeção do PIB

potencial.79

Segundo Carneiro, quando se analisa o desempenho do investimento no ciclo recente, seu caráter foi induzido: num primeiro momento pelas exportações, num segundo pelo consumo, e finalmente pelo próprio investimento. Ou seja, ainda não se configurou no ciclo recente um padrão comandado pelo investimento autônomo, como ocorreria com frequência na era desenvolvimentista, marcada pela diferenciação da estrutura produtiva e pela ampliação da infraestrutura. Mas agora se abriu uma porta. “O desenvolvimento da economia brasileira verificado nos últimos anos, no qual o investimento foi preponderantemente induzido pela demanda doméstica, criou um conjunto de desafios cuja superação acarretará a mudança de padrão em direção ao crescimento comandado pelo investimento autônomo”, ressalta Carneiro, para quem essa oportunidade decorre principalmente da necessidade de ampliar a oferta de serviços de infraestrutura. Mas o caminho será longo. O patamar de investimentos públicos no Brasil tem sido muito baixo e, apesar de ter crescido nos últimos anos (de 1,5% do PIB em 2003 para 2,5% em 2009), terá que dobrar para alcançar padrões internacionais.

78 GOMES,Marcel. Como o Brasil pode evitar a crise. Revista Desafios do Desenvolvimento, IPEA, Ano 9, nº 71, p. 28-29. 79GOMES,Marcel, op. cit., p. 29.

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192

Além disso, de acordo com o coordenador de Análises e Previsões do IPEA,

Roberto Messemberg, o canal mais importante para o Brasil manter-se distante da

crise externa também é o investimento.80

Ele assinala, sobretudo, a importância do investimento privado, que se movimenta segundo uma decisão “volátil e instável do empresariado”. “É uma variável que depende do que se passará na economia. Se a perspectiva é ruim, o empresário adota uma postura que racionalmente é defensiva”, explica. Para impulsionar o investimento privado, Messemberg defende um papel mais ativo do governo federal. Assim como Carneiro, ele propõe mais investimentos em infraestrutura, sobretudo nos setores de transporte e energia. “São pontos de estrangulamento da economia que influenciam muito as decisões sobre investimento privado”, diz ele. Para que isso seja possível, porém, seria necessário repensar metas fiscais, como a do superávit primário. Em janeiro de 2012, o governo fez economias de 3,3% do PIB, acima da meta prevista de 3%.

Assim, segundo Mesemberg se evidencia a necessidade que as metas fiscais

sejam ajustadas pelo investimento.81

São metas fiscais que têm sido ajustadas pelo investimento, porque em outras variáveis, como saúde e educação, constitucionalmente não se pode mexer”, diz o coordenador do Ipea, para quem outro ponto fundamental é desonerar os impostos do setor industrial e transferir a conta para o setor de serviços. “É a indústria que faz os grandes investimentos no país. E se os preços relativos são o problema, por causa do câmbio, precisamos atacar os custos, justamente com menos impostos”, propõe. Messemberg reconhece que os investimentos totais no país, somando fontes públicas e privadas, cresceram em 2011 acima do consumo, o que é uma boa notícia. Em 2012, a tendência deve continuar a mesma e a taxa total pode passar de 20% do PIB. O economista ressalta, porém, que para que ela chegue a 25%, um patamar considerado condizente com as necessidades brasileiras, a velocidade de avanço teria de ser muito maior. “Para isso ocorrer, só mesmo se o governo sinalizar um futuro positivo, apesar das dificuldades com o cenário internacional”, afirma.

As medidas do Banco Central no sentido de reduzir a taxa Selic em 2012

produziu efeitos no tocante à redução das despesas públicas com juros, resultou

que o mercado de títulos públicos ficou menos atrativo para o especulador externo,

evitando a apreciação do real, entretanto não se observa o incremento do crédito no

mercado interno em face do alto endividamento das famílias.

Neste contexto, para muitos observadores, porém, apenas a redução dos

juros não será suficiente para evitar a valorização do real e impulsionar o consumo

interno82.

80

GOMES,Marcel, op. cit., p. 29. 81

GOMES,Marcel, op. cit., p. 29. 82

GOMES,Marcel, op. cit., p. 31.

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193

Ocké-Reis, do Ipea, por exemplo, sugere como uma medida a ser avaliada a tributação e o controle do capital especulativo, com o objetivo de desvalorizar o real. Com essa iniciativa, a economia nacional seria beneficiada porque as importações não seriam tão atrativas, ao contrário das exportações. Ele também propõe um melhor aproveitamento fiscal do Fundo Soberano.

No tocante à importância da redução dos spreads bancários para a retomada

do crescimento econômico.83

Ocké-Reis sublinha ainda a importância de redução dos spreads bancários. O mesmo faz Carneiro. “É uma anomalia, quando se consideram os padrões internacionais”, afirma o professor da Unicamp. Segundo ele, até meados da década de 2000 havia justificativa, do ponto de vista macroeconômico, para as diferenças entre os juros cobrados e os recebidos pelos bancos, associada à instabilidade e à volatilidade de taxas de câmbio e juros. Essa combinação acentuava o risco da intermediação financeira. Entretanto, desde então a redução desta instabilidade reduziu os riscos, mas não os spreads. “Tal persistência se deve a fatores microeconômicos, como o alto e crescente grau de oligopolização do sistema bancário brasileiro e a insuficiente concorrência”, diz Carneiro.

No que concerne à China avalia-se à dependência estrutural em 2012,

refletindo na diminuição das exportações pressionando o déficit de conta corrente.

Segundo as políticas anti-indústria desde o Plano Real estão produzindo os

efeitos no que tange ao pífio resultado do PIB de 2,7% de 2011 e a projeção é que

seja menos de 2% em face das escolhas de política econômica ultrapassada

associada ao papel do Brasil a plataforma de valorização do capital internacional

que a economia brasileira ainda desempenha (PAULANI,2012,p.5).

As causas que primeiramente se levantam para explicar essa situação estão sempre relacionadas ao agravamento da cena internacional, o que tem lá sua razão de ser, já que a crise europeia está se mostrando mais profunda do que se imaginava. Mas eles não podem de modo nenhum se reduzir a isso. Com duas décadas de políticas anti-indústria, não é a toa que a crise internacional superdeprime as expectativas e impeça o investimento de decolar, por maiores que sejam os esforços do governo para estimular o consumo e, por essa via, tentar reerguê-las. As escolhas de política econômica efetuadas pelos últimos governos fizeram o país retroceder a uma posição na divisão internacional do trabalho que já se julgava ter sido ultrapassada. Se associarmos a isso seu papel de plataforma internacional de valorização financeira que a economia brasileira ainda desempenha, muito embora as taxas de juros tenham declinado substantivamente nos últimos meses, teremos uma espécie de dependência redobrada, um cenário, portanto, muito distante da imagem de autonomia e independência que os recursos sobre “a economia blindada” e o suposto “desenvolvimento” querem fazer crer.

Assim, conforme a magnífica análise da professora a escolha da política

econômica se refletiu em armadilhas as quais reduzem a expectativa de crescimento

83

GOMES,Marcel, op. cit., p. 31.

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194

econômico sustentável a uma taxa de 3,5% a.a em face do Brasil pós real é uma

oportunidade de ouro do capital especulativo internacional obter lucros significativos

em face da fragilidade macroeconômica do país. A dimensão desta perda de

dinamismo do PIB no ano passado se evidencia quando a expansão da economia

mundial foi de 3,8% em média, conforme estimativa do Fundo Monetário

Internacional (FMI). Além disso, os países em desenvolvimento cresceram 7,3% em

2010 e 6% em 2011, mais do que o dobro do registrado pelo Brasil.

Este tópico apresentou a dificuldade do governo Dilma de turbinar o

crescimento do PIB via aumento da dívida pública através de empréstimos ao

BNDES e Caixa Econômica Federal, em face de gerar uma crise de desconfiança

em relação à sustentabilidade da dívida pública em um cenário de deterioração da

geração de resultado primário em percentual do PIB aliado a um modelo de

esgotamento do incremento da arrecadação da carga tributária do setor público

consolidado. Salienta-se, ainda, a dependência estrutural do Brasil em relação à

China impactando no crescimento econômico e que por sua vez pressiona o déficit

de conta corrente em 2012. Além disso, avaliou a dificuldade a dificuldade de

ampliação do investimento e por fim os reflexos na perda da competitividade da

indústria de transformação.

CONCLUSÕES

A expectativa é que este trabalho tenha alcançado seu objetivo, o de

contribuir para o debate que busca elucidar que os atuais limites da política

econômica do Governo Dilma é consequência da política imperialista americana

baseada no seu braço forte o FMI em face de que ao impor um serviço da dívida

significativo ao Brasil e a América Latina na década de 80 refletiu na baixa

capacidade de realização de investimentos e em uma grande tensão social no que

se refere o alto nível de desemprego.

Assim, a estratégia de refinanciamento da dívida para impedir a insolvência

do sistema financeiro americano resultou na condição dos países latino-americanos

inclusive o Brasil de perder considerável parcela de sua autonomia de decisão na

formulação e execução da política macroeconômica e a América Latina se

transformaria, na década de 80, em exportadora líquida de recursos à média anual

de 5% do PIB, resultando em uma recessão no sentido de reescalonar suas dívidas,

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195

com a agravante de uma distribuição particularmente iníqua do ônus decorrente do

ajuste, refletindo na redução do salário real, no aumento do desemprego, o qual

aprofundaria ainda mais a miséria.

Além disso, agravada pela impossibilidade de aumentar a receita tributária

num clima de recessão, foi buscar financiamento via processos inflacionários,

diretamente pela emissão de moeda ou indiretamente por endividamento interno a

curto prazo e taxas de juros altas.

Vimos, portanto que o rompimento do processo de crescimento da década

de 70 considerado como o período de milagre econômico foi reflexo da política

imperialista americana e que se utilizando do FMI impôs um serviço da dívida

externa significativo, o qual desestruturou a capacidade do Estado de estabelecer

política de investimento através da utilização das estatais Vale do Rio Doce,

Usiminas, sistema Telebrás, pois estas perderam a capacidade de realização de

investimentos em face de que os seus preços não eram reajustados apesar de uma

dinâmica explosiva do processo hiperinflacionário.

Além disso, foi demonstrada que a exigência descomunal do serviço da

dívida sem levar em consideração a real capacidade de pagamento foi responsável

pela denominada década de 80 como a década perdida em face que para gerar os

significativos superávits comerciais foi necessário impor uma política de

desvalorização contínua da moeda brasileira, a qual resultou em um período de

estagnação do crescimento econômico e na geração de um processo de

hiperinflação.

Neste contexto, o pagamento integral dos juros resultou na contração das

importações dos devedores, mediante a redução de demanda inerente aos

programas de ajuste recessivo recomendados e supervisionados pelo FMI e de

medidas diretas de controle das importações. Assim, foi demonstrada que a

gravidade do problema no que se refere à manutenção do crescimento da economia

e o seu reflexo da necessidade de gerar dólares para o financiamento da dívida

resultou em um círculo vicioso através de um processo de desintegração social,

refletindo no aumento da pobreza e da miséria.

Discutiu-se ,também, a deterioração dos resultados fiscais do Tesouro na

década de 80 em face da política de concessão de renúncias fiscais as montadoras,

uma vez que estas eram consideradas como setores estratégicos para dinamizar o

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196

crescimento econômico. Além disso, foi avaliada que na década de 80 as

commodities brasileiras não geravam dólares suficientes em face do poder dos

Estados Unidos e da Europa os quais dificultaram a geração de superávits

comerciais para o pagamento da dívida externa.

Nas décadas de 1980 e 1990, a periferia do sistema e, mais notadamente, a

América Latina, perdeu o rumo das políticas de desenvolvimento econômico em face

do significativo pagamento do serviço da dívida externa na década de 80 e no que

tange a década de 90 em função de ter sido submetida as armadilhas das propostas

do Consenso de Washington, as quais convergiram para a drástica redução do

Estado e ao máximo de abertura à importação de bens e serviços tendo como a

disciplina fiscal no que se refere ao equilíbrio das finanças públicas como a condição

“sine qua non” para ao combate à inflação.

Assim, a adoção ao Consenso de Washington resultou na perda da

capacidade do Estado brasileiro de realizar investimentos públicos, característica

que marcou o significativo crescimento econômico dos Estados Unidos, Japão,

Alemanha e que foi muito bem utilizada pela China após a década de 80, a qual

refletiu no excepcional crescimento do seu PIB de 1980 a 2011.

Foi demonstrado que o Plano Real apoiou-se numa política de estabilização

monetária fundamentada na sobrevalorização da nova moeda criada (o Real) e na

abertura comercial e financeira da economia brasileira e sob duas âncoras a

monetária e a cambial, entretanto sem um alicerce fiscal, resultando na dinâmica

explosiva da dívida pública alimentando o processo de acumulação de capital

especulativo nacional e internacional.

Observou-se que o Plano Real quando da sua implantação não teve um

alicerce fiscal do setor público consolidado e que aliada a dinâmica do crescimento

da dívida pública de Estados e Municípios reforçou ainda mais a fragilidade do

alusivo plano e que aumentou ainda mais a crise de confiança do mercado diante

dos problemas surgidos nas contas externas do país ,ou seja, a geração de déficits

gêmeos resultou em uma instabilidade macroeconômica, a qual culminou a

submissão do país ao FMI.

Foi evidenciada a correlação entre à política monetária aplicada pelo Banco

Central no período que resultou na insustentabilidade da dívida pública bruta no que

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197

se refere à elevada proporção em relação ao PIB, mesmo com a manutenção da

elevada geração de resultados primários em percentual do PIB.

Foi também avaliada que a sustentabilidade da dívida pública tão

preconizada pelo FMI era impossível, no período de 1994 a 1998, em um cenário de

política monetária baseada em alta taxa de juros reais em face que o superávit

primário como proporção do PIB, requerido para estabilizar a relação dívida/PIB, é

uma função direta da própria relação dívida/PIB e da taxa de juros e uma função

inversa do crescimento real da economia – para uma certa taxa de inflação e da

senhoriagem, reforçando assim que os idealizadores e os executores do Plano Real

defendiam não os interesses nacionais, mas sim os do capital especulativo nacional

e internacional.

Foi avaliado que no período em que houve mudança na política cambial no

tocante a política de “bandas cambiais”, sendo esta substituída pelo regime de livre

flutuação. Esta mudança acentuou a responsabilidade da política fiscal – articulada

com o regime de metas inflacionárias no âmbito da política monetária – para a

manutenção do equilíbrio macroeconômico. Entretanto, conforme foi analisado em

regimes de câmbio fixo, os impactos são agravados pela ausência de mecanismos

de ajustes automáticos na taxa de câmbio, então, em face de ataques especulativos,

há perdas imediatas de reservas para se defender da cotação da moeda, uma vez

que se torna inócua a política monetária para defender o regime de câmbio fixo.

Por outro lado, principalmente a exposição de alto risco do setor privado

quanto à captação de empréstimos no exterior no regime de cambio fixo, refletindo

em uma crise de confiança do mercado e que, portanto resultou em um processo de

desvalorização do Real e na dependência em relação a política macroeconômica do

FMI, a qual fundamentada no tripé (geração de superávit primário, metas de inflação

e câmbio flutuante) resultou nos atuais limites estruturais do crescimento econômico.

Foi demonstrado que o Plano Real foi um engodo, pois se baseou em uma

política macroeconômica sem consistência em face que a carga tributária do setor

público consolidado era muito inferior as reais necessidades de financiamento do

setor público consolidado mesmo com uma relação dívida/PIB de 30% quando do

surgimento do alusivo plano e que aliada a uma política monetária de alta taxas de

juros resultou em uma dinâmica da explosão da dívida bruta em percentual do PIB.

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198

Avaliou-se também o alinhamento que o Brasil fez ao chamado Consenso de

Washington com suas políticas de cunho neoliberal de austeridade fiscal,

privatização e liberalização econômica como proposta de modernização da periferia,

pois foram determinantes para os resultados pífios de crescimento econômico ao

longo da década de 90 até 2011.

Os reflexos do Plano Real se evidenciam na desarticulação da estrutura

produtiva nacional em face do déficit crescente no segmento de industrialização no

tocante à indústria de alta e média complexidade, o qual se acentuou

significativamente após a alta valorização do real em relação ao dólar em 2010 e

2011 em face da política monetária de afrouxamento quantitativo do Tesouro e

Banco Central americano e do Banco Central Europeu.

Ressalta-se ,ainda, que o processo de crescimento da dívida pública

brasileira foi reflexo também da política de esterilização do efeito monetário da

acumulação de reservas externas ; do socorro aos agentes econômicos em crise,

especialmente, ao sistema financeiro e o reconhecimento das dívidas passadas.

Foi avaliada que a combinação não só de geração de déficits gêmeos, bem

como a tendência ao incremento da deterioração das contas públicas em face da

política de taxa de juros real Selic, a qual esta alcançou seu maior índice em

novembro de 1998, entretanto sem maiores efeitos sobre à sustentação da política

cambial, refletindo uma massiva fuga de capitais nesse período, a qual reduziu o

estoque de reservas cambiais tornando insustentável o equilíbrio do balanço de

pagamentos.

Observou-se que a política neoliberal do Consenso de Washington foi

aplicada integralmente sem um dos seus alicerces (a disciplina fiscal) em um país

em desenvolvimento e que, portanto combinada a outro fundamento desta alusiva

política no que se refere à política de privatização teve um efeito nulo no que se

refere à redução da dívida pública em face da política monetária altamente

contracionista baseada em alta taxa de juros reais, a qual resultou em uma trajetória

explosiva da dívida pública.

Vimos, ainda, que a gestão da política econômica, durante o período de 1994

a 1998, baseada na dinâmica das taxas de juros aliada a estratégia conservadora de

restrição da base monetária e dos meios de pagamento foram determinantes para o

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199

incremento do estoque da dívida, resultando em um significativo volume de recursos

públicos, os quais foram despendidos para atender a elite financeira nacional

O segundo governo Lula pode ser analisado como apenas pragmático no

sentido da manutenção da política neoliberal tendo como foco exclusivo no controle

da inflação, refletindo no incremento da vulnerabilidade macroeconômica no que

tange ao crescimento econômico, inflação, finanças públicas , contas externas,

relação dívida bruta e PIB. A estratégia do crescimento baseada na ampliação do

volume de crédito em percentual do PIB e da política de valorização do salário

mínimo contribuíram para o dinamismo do crescimento econômico em 2010.

A utilização da política monetária contracionista pelo Banco Central em nome

da credibilidade do mercado, apesar de ter reduzido significativamente as taxas de

juros reais impactou na taxa de crescimento da economia, e manteve a

sustentabilidade da pública bruta em percentual do PIB ao redor de 60%. Ressalta-

se que a alusiva política monetária foi utilizada não para o controle da inflação, pois

o processo inflacionário encontrava-se relativamente sob controle em decorrência da

liberalização comercial, a qual refletiu na forte apreciação cambial e no fraco

dinamismo interno.

A política fiscal baseada na geração de superávits primários do setor púbico

consolidado (via aumento da carga tributária), aliada a manutenção de uma política

monetária com taxa de juro real para atrair o capital especulativo, sendo este atraído

pelo diferencial da taxa de juros para manter o financiamento do déficit de conta

corrente do Brasil não só produziu volatilidade no valor do dólar; deterioração das

finanças públicas via aumento do déficit nominal e incremento da dívida pública e

perda de competitividade da indústria.

Destarte, o governo Lula resultou em um agravamento da herança maldita

para o Governo Dilma no que se refere à deterioração das finanças públicas em face

do aumento da dívida pública, o incremento da vulnerabilidade externa no que se

refere não só ao déficit de conta corrente e do volume de importação de produtos

industrializados e o aumento da carga tributária do setor público consolidado.

A armadilha relacionada ao processo de abertura externa (comercial e

financeira), a qual caracterizou o projeto neoliberal na década de 90, resultou em

uma enorme dependência dos fluxos de capitais externos para o financiamento do

balanço de pagamentos exigindo do Banco Central do Brasil a manutenção de uma

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200

alta taxa de juros real para atrair o capital especulativo. Além disso, não se

evidenciou uma maior fragilidade financeira das contas externas do Brasil em face

da entrada da China como nova força dinâmica do poder, pois resultou no aumento

dos preços das commodities ,e. portanto contribuiu para um maior crescimento

econômico do Brasil.

Por outro lado a privatização, a valorização do real e a competitividade da

economia chinesa promoveu o incremento da vulnerabilidade externa da economia

brasileira via incremento do volume de importação de manufaturados, no sentido de

reduzir a capacidade da mesma para resistir/combater os choques externos que

ocorram, dentro do contexto não só de fragilidade financeira como também

impactando no crescimento econômico e refletindo na alusiva dependência

estrutural em relação a China.

Além disso, foi demonstrada a arquitetura da política econômica da Alemanha

e do Japão, a qual resultou na dinâmica do desenvolvimento econômico. E,

também, avaliou a estratégia da China de combinar as políticas fiscal, de câmbio, de

crédito e a monetária aliada aos fatores estruturais, os quais resultaram de um

período de estagnação a um alto dinamismo de crescimento econômico de 1980 a

2011.

Foi também analisado o modelo de esgotamento do ajuste fiscal do setor

público consolidado após 1997, tendo como objetivo que o aumento da carga

tributária verificada entre 1995 a 2011, resultou no corte dos investimentos públicos,

sendo estes fatores reflexos da política de gestão da dívida pública no que se refere

à sustentabilidade fiscal e o excessivo grau de vinculação de receitas e pelo elevado

nível de despesas constitucional e legalmente obrigatórias, a qual compromete uma

gestão fiscal eficiente. E, além disso, impacta no crescimento econômico e na perda

da competitividade da economia brasileira no que se refere à valorização do real em

face do estímulo ao incremento da despesa corrente.

Neste sentido, a ausência de flexibilidade, no orçamento dos Governo Fe-

deral, Estadual e Municipal é afetada por dois tipos de restrições: pelo excessivo

grau de vinculação de receitas e pelo elevado nível de despesas constitucionais e

legalmente obrigatórias. Portanto, de 19999 a 2011 às metas de superávit fiscal,

que, num contexto intertemporal, tornaram a dívida solvente e sustentável sob a

análise do mercado foi obtido via aumento da carga tributária já que as alusivas

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201

restrições diminuem a efetividade do controle das despesas correntes. Entretanto, a

política de renúncia fiscal pós crise de 2008 deteriorou o resultado superávit primário

em percentual do PIB e o que agrava ainda mais em 2012 em face de um

crescimento pífio do PIB, evidenciando assim o risco de financiamento para manter

a sustentabilidade da dívida pública. Outro ponto o qual foi ressaltado é que a

ausência de flexibilidade da alocação de recursos refletiu na deficiência da

capacidade de realização de investimentos do Governo Central, sendo portanto de

fundamental importância rever a significativa vinculação da despesa a receita.

Além disso, demonstrou que a fragilidade do modelo de ajuste fiscal no

Brasil, pois concentra significativo volume de recursos em custeio e para cumprir as

metas de superávit primário aumentou significativamente a carga tributária aliado a

contingência dos recursos destinados a investimentos.

Foi avaliado o ajuste fiscal da Nova Zelândia em face da adoção de uma

política econômica, a qual contribuiu para reduzir as vulnerabilidades

macroeconômicas. Assim como, analisou que a política fiscal dos Estados Unidos

não produziu resultados consistentes contrapondo ao ajuste fiscal implementado

pelo Canadá, o qual resultou em mudanças estruturais da economia e na

sustentabilidade da dívida pública.

Para fundamentar os atuais limites estruturais da política econômica do

Governo Dilma, bem como a atual crise econômica mundial. Ambos são reflexos da

atual dinâmica de poder mundial e do atual montante significativo de capital

especulativo ao redor de US$ 209 trilhões. Assim, para analisar esses fatores foi

necessário resgatar a concepção do New Deal em face que este foi decisivo para

retomada da acumulação pós crise 1929, pois se fundamentou em um programa de

investimentos maciços em obras públicas, a qual retirou a economia norte-

americana da Grande Depressão, ou seja, a presença forte e decisiva do Estado co-

mo ente planejador e produtor e articulada à nova forma de controle social (Welfare

State) especialmente nos países centrais.

O sistema de Bretton Woods (padrão dólar-ouro) foi um dos elementos

estruturais na estratégia de recuperação da economia mundial. Ressalta-se que a

importância do poder dos Estados Unidos diante do FMI resultou no afrouxamento

dos controles de capitais, refletindo em um vínculo entre as políticas econômicas

domésticas e externas – redução dos condicionantes externos, possibilitando aos

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202

governos espaços para a adoção de políticas macroeconômicas voltadas ao pleno

emprego. Assim, os Estados Unidos foi o maior beneficiado em face de que uma

política fiscal expansionista aumentando cada vez mais o seu poder econômico

tendo o Japão como o maior financiador da dívida e como esta era monumental

quebraria não só o Japão como o sistema financeiro internacional entre 1971 e

1973.

Por outro lado, avaliou-se o problema da perspectiva crítica da acumulação

atrelada a queda das taxas de acumulação de capital em face da queda da

lucratividade, oriunda do excesso de capacidade e produção do setor manufatureiro

mundial em função do acirramento da competição internacional, pois à medida que

os produtores da Europa Ocidental e do Japão começam a suprir frações cada

vez maiores do mercado mundial, com bens similares aos que já eram produzi-

dos nos EUA, surge redundância e excesso de capacidade de produção. Além

disso a importância da análise no que concerne a liquidez financeira no mercado

internacional e as relações entre os países centrais e os países atrasados sobretudo

na forma de aplicações especulativas.

Foi considerado que o fim do Acordo de Bretton Woods foi reflexo da

economia norte-americana, ao final dos anos 1960, enfrentava déficits significa-

tivos e persistentes no balanço de pagamentos, em virtude dos investimentos

externos crescentes e aos gastos militares no exterior com a Guerra do Vietnã.

Esses dois elementos aliada a elevação da quantidade de petrodólares no mercado

financeiro europeu, produziram forte aumento na liquidez do dólar nos mercados

internacionais, provocando a “crise do dólar” na década de 1970. Na verdade,

desde o início dos anos de 1960, o padrão cambial do dólar-ouro, firmado em

Bretton Woods começava a dar sinais de precariedade e o que resultou na decisão

dos países de resgatarem dólares por ouro das reservas americanas em face da

percepção de que o dólar não representava mais o seu valor real frente ao ouro.

O fim do Acordo de Bretton Woods e a súbita elevação da taxa de juros do

Governo dos Estados Unidos como forma de defender os seus interesses

imperialistas resultaram no incremento do serviço da dívida externa brasileira,

refletindo em severas restrições ao crescimento econômico da América Latina.

Neste contexto, de uma década perdida a qual se configurou com baixo

crescimento do PIB e com o incremento da miséria o Consenso de Washington se

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203

baseia em uma proposta neoliberal, a qual visava exclusivamente por o Brasil de

joelhos em relação ao capital estrangeiro ; não apenas uma dependência econômica

como configurava desde a sua colonização, mas uma servidão aos interesses dos

Estados Unidos e dos reflexos da sua política imperialista, a qual gerou a atual

dinâmica de crescimento do capital flutuante a partir da década de 80.

A ruptura do sistema de Bretton Woods consolidou a hegemonia americana

em função do um grau de liberdade quase ilimitado na gestão das suas políticas

cambial, a monetária e a fiscal. Além disso, correlacionou a assimetria no sistema

monetário internacional, a qual refletiu na dinâmica de poder mundial, bem como na

fragilidade financeira dos países em desenvolvimento em face de que estes são

emissores de divisas inconversíveis e que, portanto sofre os reflexos no tocante a

política monetária de afrouxamento quantitativo, a qual resultou na valorização

excessiva de suas moedas como aconteceu com o real em 2010 e 2011.

As quatro armadilhas analisadas produzidas pela estratégia neoliberal de

desenvolvimento no processo de abertura externa não só refletiram o quadro

medíocre do desempenho da economia brasileira até 2002, bem como estas foram

determinantes para os resultados pífios do PIB de 2002 a 2011. E, logo o processo

de globalização aliada a política macroeconômica pós FHC caracterizou um

processo de dominação do Estado brasileiro caracterizando uma dependência no

que se refere à interconexão produtiva global e pela alta mobilidade do capital

especulativo, os quais não só interferem no lado real da economia, mas

principalmente obtendo altos retornos dos investimentos em termos de royalties e do

volume de importação.

Ressalta-se ,ainda, que esta dependência não foi ainda mais agravada em

face da nova dependência estrutural da economia brasileira em relação à China e a

sua força como locomotiva mundial, pois possibilitou ao Brasil ampliação

considerável de suas exportações de commodities de 2007 a 2011. Mas em face

dos problemas relacionados ao agravamento da crise mundial em 2012, a qual

resulta na perda do dinamismo da economia chinesa impactando às exportações

brasileiras no que concerne ao preço das commodities. Assim, o superávit da

balança comercial do Brasil em 2012 no primeiro semestre apresentou uma redução

o que poderá agravar o financiamento do déficit de conta corrente não só em 2012

como nos exercícios posteriores.

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204

Destarte, a análise da inter-relação entre o incremento das reservas

internacionais e os empréstimos do Tesouro ao BNDES e o reflexo no aumento da

dívida bruta em percentual do PIB. Foi demonstrada também que a atual

composição de ativos e passivos resulta em uma trajetória de insustentabilidade da

dívida pública ou uma mudança no que tange a rolagem da dívida pública.

O aumento do preço das commodites resultou em uma pressão inflacionária,

a qual determinou ao Banco Central do Brasil a adoção de uma política monetária

com viés restritivo e apreciação cambial foram os mecanismos utilizados para lograr

que o teto da meta de inflação não fosse ultrapassada em 2011 gerando distorções

macroeconômicas (deterioração das transações correntes e agravando os

problemas fiscais) e que foi agravado em face da decisão unilateral do Tesouro e

Banco Central americano no que tange a política monetária de afrouxamento

quantitativo. Esta possibilitou a monetização da dívida pública e que foi evidenciada

no crescimento nominal do PIB dos Estados Unidos quando comparado ao PIB real

de 2011 em relação a 2007.

Foi também correlacionada ao poder da China em face de sua hegemonia de

estabelecer políticas cambial, a fiscal , a monetária, a creditícia e a residencial e

principalmente no que tange ao incrementar significativamente a dívida dos

governos locais em 2011 apesar dos problemas creditícios do sistema bancário

chinês.

Assim, a mobilidade internacional dos capitais especulativos aliada a política

neoliberal pós Real resultou na vulnerabilidade da economia brasileira e uma nova

dependência, a qual se justapõe à antiga no que tange ao governo brasileiro ter

perdido a capacidade de governabilidade para ajustarem as suas regras de câmbio,

juros e de monitoramento da economia as demandas do mercado especulativo.

Em suma, se na década de 80 o Brasil foi ao caos em face da política

imperialista do FMI, a qual resultou na desintegração social e econômica e que

possibilitou também a adoção da política neoliberal do Consenso de Washington

após a implantação do Real

Neste contexto, não se evidencia um modelo de desenvolvimento, pois os

indicadores sociais e econômicos avançaram não de forma permanente e estrutural ,

ou seja, o Brasil do futuro caminha a passos largos para ser o mesmo Brasil do

passado um Brasil, o qual se constituiu da miséria e sofrimento de muitos. Além

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205

disso, o retrato do Brasil é que a ausência de prioridade de investimento em

educação reflete em um país que se manterá eternamente como país em

desenvolvimento

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ARA

ANALISAR A TRAJETÓRIA E O CUSTO DO ENDIVIDAMENTO BRASILEIRO UMA ABORDAGEM INTEGRADA PARA ANALISAR A TRAJETÓRIA E O CUSTO

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DO ENDIVIDAMENTO BRASILEIRO DÍVIDA LÍQUIDA E DÍVIDA BRUTA: UMA ABORDAGEM INTEGRADA PARA ANALISAR A TRAJETÓRIA E O CUSTO DO ENDIVIDAMENTO BRASILEIRO