a política de salvaguarda do património

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apontamentos arquitecto paulo pereira

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  • TEXTO DE APOIO 3 (Docente: Paulo Pereira) MESTRADO EM REABILITAO DA ARQUITECTURA E NCLEOS URBANOS

    A Poltica de Salvaguarda

    1. A rea de trabalho do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado no mbito da salvaguarda

    Uma das reas de trabalho mais importantes do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado diz respeito emisso de pareceres vinculativos1 relativos a estudos-prvios, projectos, obras, intenes de obras, movimentos de terras, e estudos de impacte, bem como ao acompanhamento destes na fase de execuo quando tal solicitado. Refira-se ainda que o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado procede ao acompanhamento, em fases de estudo prvio, de um considervel conjunto de intenes de trabalhos, de modo a obviar problemas de apreciao ou reprovaes posteriores em fases mais adiantadas, evitando assim a morosidade dos processos.

    Ao Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado compete-lhe ainda acompanhar oficialmente a elaborao de instrumentos de planeamento tais como PDMs, Planos de Urbanizao (PUs), Planos de Pormenor (PPs) ou emitir pareceres sobre estes ltimos ainda em fase de apreciao depois da sua participao em comisses de acompanhamento. Em suma, a emisso de pareceres por parte do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado incide sobre:

    Projectos de obras particulares; Projectos promovidos pelas autarquias; Projectos de instituies do Estado; Loteamentos; Projectos promovidos por entidades de capitais pblicos para-estatais; Planos Directores Municipais; Planos de Urbanizao; Planos de Pormenor; Estudos de Impacte; Programas de reutilizao de imveis;

    No quadro das suas atribuies, compete ainda ao Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado emitir pareceres relativos aos direitos de preferncia, obrigatrios por parte do Estado, de cada vez que se transacciona ou aliena um bem imvel classificado, em vias de classificao ou situado em zona de proteco de imveis classificados.

    Como fcil de supr a quantidade deste tipo de processos que do entrada no Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado deveras significativo, uma vez que a jurisdio do instituto abrange mais de 4.000 imveis classificados ou em vias de classificao, bem como as respectivas reas de proteco num universo que, grosso modo, tem incidncia sobre mais de cerca de 20.000 imveis em todo o pas. Este trabalho assegurado pelas Divises de Salvaguarda do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado em conjugao com os outros departamentos.

    Trata-se, portanto, de uma das reas da maior importncia em termos de economia de trabalho, tratando-se porm, como se perceber, de um trabalho a muitos ttulos invsivel mas de

    1 - Ao pareceres vinculativos devem acrescentar-se os pareceres prvios no vinculativos ou os pareceres a

    ttulo consultivo solicitados peloa autarquias ou por promotores privados.

  • importncia fundamental. E tambm uma das reas mais problemticas, como temos referido em diversos trabalhos e intervenes.

    2. O impacte dos pareceres

    De facto, a maior parte das vezes, os pareceres do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado so objecto de notcia quase que sistemtica (e quase omnipresente) nos orgos de comunicao social: quer porque o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado aprovou, quer porque o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado como se usa dizer na gria- chumbou este ou aquele projecto. Ora, como bvio, os processos apreciados (aprovados ou reprovados) so muito mais complexos do que uma simples abordagem deste tipo pode fazer querer. Existem direitos adquiridos, processos com uma tramitao longa que envolve as autarquias, necessidades permanentes de ajustes de projecto, negociaes com municpios e promotores (incluindo o prprio Estado...), pelo que bem se poder afirmar que esta rea de trabalho se encontra marcada pela sua prpria teoria da complexidade, para a qual necessria uma ateno permanente, exclusiva, e uma cultura administrativa fortssima, devidamente consolidada.

    De facto, se a rea das obras de conservao e restauro em si mesma uma rea de sinal positivo, j diferentemente se passa com a rea da salavaguarda ou dos pareceres que muitas vezes de sinal negativo ou , no mnimo, polmicas. So, alis, estes pareceres que constituem muitas vezes motivo para manchetes ou notcias de cada vez que contrariada uma expectativa quer por fora da aprovao, quer por fora da reprovao. A matria em causa , portanto, sujeita a um escrutnio e a um julgamento permanente perante a opinio pblica, generalizando-se -muitas das vezes a partir de casos particulares-, algumas circunstncias problemticas, pelo que estas implicam estudo e empenhamento por parte do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado e de outros organismos da administrao central e local.

    Ser escusado acentuar o importante papel pedaggico e social que a aco do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado reclama neste tipo de processos. De facto, a questo que se deve colocar a de se saber da eficcia de uma instncia da administrao central com as atribuies do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado que proceda ao controle da qualidade arquitectnica quanto s intervenes em imveis classificados ou respectivas reas de proteco. A resposta s pode ser positiva. Porque a verdadeira questo que deve ser colocada a de se saber de que modo que se encontraria a paisagem edificada portuguesa caso fosse inexistente um organismo desta natureza. Como evidente, aquilo que no se fez mal-feito, no se fez, e por isso no notcia nem por isso se torna reconhecvel ou notvel (que nos perdoem esta verdade lapalissiana, mas no h outra forma de exprimir este circunstancialismo).

    3. Aperfeioamento na gesto dos processos

    Ora, nestes ltimos quatro anos assistiu-se a um grande esforo do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado para o esvaziamento destes problemas tradicionais, geralmente despoletados a posteriori, isto , depois da emisso dos pareceres.

    Evitando tanto quanto possvel a emisso seca destes pareceres, promovendo, pelo contrrio, encontros com promotores e autarquias o que, mesmo assim, no isenta o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado de problemas, como bvio- evitou-se, igualmente a acusao corrente de atrasos e de bloqueamentos, acusaes tanto mais injustas quanto o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado possui prazo estritos para a emisso dos pareceres, findos os quais a aprovao dos projectos tcita. Nunca um parecer pode, em rigor, ultrapassar o prazo de emisso sob pena de se considerar legalmente autorizada determinada construo.

    Diga-se em abono da verdade que a emisso de pareceres continua, porm, a ser feita individualmente, ou seja, projecto a projecto a maior parte das vezes. Tal se deve, em grande medida, inexistncia de instrumentos de planeamento urbano devidamente pormenorizados, ou de nvel mais fechado e prximo das realidades fsicas a abordar. Somente, portanto, com a

  • produo generalizada de instrumentos deste tipo (como PUs e, sobretudo, PPs) que se poder contornar este facto, especialmente se a legislao acompanhar este esforo, atribuindo responsabilidades e competncias s diversas instancias da administrao e ordenamento do territrio para a produo de tais instrumentos sempre que estes envolvam matria relativa qualidade arquitectnica em reas classificadas ou protegidas culturalmente.

    Neste captulo igualmente decisivo o papel da contratualizao, com as autarquias muito em especial, como se ver mais adiante, mas tambm com os promotores de obras de grande porte em ambiente urbano ou rural. A prpria natureza da legislao durante pelo menos meio sculo no ajudou a clarificar este estado de coisas, designadamente, por terem sido ineficazes os dispositivos legais que obrigavam criao de planos de salvaguarda para as reas protegidas.

    A este respeito, as orientaes assumidas pelas Direces regionais do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado tm conduzido, gradualmente, a uma regularizao dos processo desta natureza, permitindo o desempenho de um papel activo, por contraste com uma posio defensiva, sempre mais difcil de justificar e fundamentar. Assim:

    Projectos de obras de particulares: nos casos considerados mais importantes, devido dimenso do empreendimento ou em virtude da sensibilidade da rea de implantao, tem-se aconselhado os promotores a apresentarem s autarquias ou directamente ao Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado estudos arquitectnicos ou estudos de urbanizao que permitam a emisso de um parecer prvio por parte do instituto, o que permite um significativo avano j na fase de projecto em tudo quanto respeita aos critrios que devem prevalecer para a interveno prevista (com economia de meios processuais, administrativos e de promoo econmica);

    Projectos de obras promovidos pelas autarquias e projectos de instituies do Estado: tem-se procedido a um escrutnio permanente dos processos deste tipo atravs de reunies regulares com as autarquias ou com as instituies estatais, mantendo-se ambas as entidades informadas das intenes de trabalho e dos critrios que devem subjazer s intervenes previstas; aplica-se, em boa medida, a metodologia acima apontada (estruturas virias, grandes equipamentos, ETARs, parques subterrneos; obras de grande porte em edifcios antigos ou em reas de proteco, etc.);

    Projectos promovidos por entidades de capitais pblicos para-estatais: trata-se de acompanhar atravs de uma aco pedaggica os processos que se encontram isentos de licenciamento municipal, de modo a que as intervenes obedeam a critrios de qualidade arquitectnica e de enquadramento urbano e paisagstico; encontram-se neste caso, apenas para apontar exemplos recentes, alguns dos quais exemplares, os trabalhos promovidos pela Sociedade Porto 2001, ou, noutro registo, que obrigou a uma aproximao entre as duas entidades, o caso do Metro de Lisboa (nas reas sensveis da Baixa e da Praa do Comrcio, por exemplo);

    Planos: o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado encontra-se representado na maior parte das comisses de acompanhamento de planos pelo que os mesmos integram as componentes de patrimnio arquitectnico de modo corrente;

    Estudos de Impacte: o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado consultado na fase de EIA, pelo que este integram correntemente a componente patrimonial (estruturas virias e ferrovirias, obras de arte, redes diversas, etc.);

  • 4. As classificaes e as zonas de proteco

    O Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado, mediante indicao do Ministrio da Cultura, prosseguiu o trabalho de classificao de imveis que lhe compete por lei, tendo retomado desde 1996 processos que se encontravam parados por determinao da tutela anterior. Deste trabalho resultou a publicao de dois Decretos Lei de classificao, encontrando-se neste momento em preparao um terceiro que dever encontrar-se em condies de publicao em finais do ano 2000.

    Este trabalho assevera-se fundamental para fixar critrios de valorizao do patrimnio imvel, uma vez que o universo do patrimnio se encontra em permanente alargamento. assim possvel encontrar uma maior incidncia de classificao de objectos e conjuntos arquitectnicos de tipologias mais variadas, como sejam a arquitectura modernista e do movimento moderno, a arquitectura vernacular, os stios arqueolgicos, as cercas monsticas, os jardins histricos, a arquitectura do espectculo e a arquitectura industrial, para citar as tipologias-alvo mais evidente. Registe-se que se trata no apenas de classificar atravs de decreto, mas tambm de promover a proteco de bens atravs da abertura da instruo de processos de classificao. Este acto, coloca os imveis em vias de classificao e desde logo dotados de uma servido administrativa sobre a qual se exerce o controlo da qualidade arquitectnica atravs da emisso de pareceres vinculativos. A assuno deste acto administrativo tem-se revelado, nalguns casos mais gritantes, a forma imediata e eficaz de evitar perdas patrimoniais ou a descaracterizao da envolvente de imveis culturalmente relevantes.

    Mesmo assim, o trabalho desenvolvido verte do bom senso e foi aprofundado no apenas atravs de prticas como as descritas no ponto anterior, mas tambm mediante a explorao de todos os mecanismos de que as administraes dispem para evitar a desregulao urbana ou a j referida emisso de pareceres em regime avulso. Relembremos a Lei 13/85, que institua as reas de proteco:

    "1.Os imveis classificados pelo Ministrio da Cultura dispem sempre de uma zona especial de proteco.

    2.Dever ser fixada uma zona especial de proteco, em prazos a estabelecer pelo Ministrio da Cultura, sob proposta do IPPC, com audio das autarquias, nela podendo incluir-se uma zona non aedificandi em todos os casos, salvo naqueles cujo enquadramento fique perfeitamente salvaguardado com a zona de proteco tipo.

    3.Enquanto no for fixada uma zona especial de proteco, os imveis classificados beneficiaro de uma zona de proteco de 50 m, contados a partir dos limites exteriores do imvel (artigo 22).

    Acrescentava, quanto natureza das ZP's e ZEP's:

    1.As zonas de proteco dos imveis classificados nos termos do artigo anterior so servides administrativas, nas quais no podem ser autorizadas pelas cmaras municipais ou por outras entidades alienaes, construo, reconstruo, criao ou transformao de zonas verdes, bem como qualquer movimento de terras ou drenagens, nem alterao ou diferente utilizao contrria traa originria, sem prvia autorizao do Ministro da Cultura.

    2.Todos os pedidos de licena de obras em bens classificados ou na rea da respectiva zona de proteco devem ser elaborados e subscritos por tcnicos especializados de qualificao reconhecida ou sob a sua directa responsabilidade.

    3. Aos proprietrios de imveis abrangidos pelas zonas non aedificandi assegurado o direito de requerer ao Estado a sua expropriao, nos termos das leis e regulamentos em vigor sobre a expropriao por utilidade pblica (artigo 23)."

    As zonas de proteco (ZPs) so definidas automaticamente durante a instruo processo. Trata-se de uma medida administrativa cautelar que impe uma rea de servido administrativa determinada a partir dos limites exteriores do imvel a classificar. J as zonas especiais de proteco (ZEPs) so tecnicamente determinadas dependendo de um traado que

  • resulta de um estudo do conjunto e dos nexos que se verificam existir entre o imvel classificado e a sua envolvente.

    Para conceder outro alcance e acrscimo de eficcia a estes dispositivos de proteco legal foram encontradas novas solues legislativas.

    Uma delas resulta da reavaliao dos casos acima mencionados, do que resultou a sua actualizao atravs da consagrao de dispositivos de obrigatoriedade para a qualificao de reas. Foi nessa perspectiva que a Nova de Lei de Bases do Patrimnio Cultural avanou com uma nova interpretao das zonas de proteco. Este documento aponta, inclusivamente, para novas possibilidades de gesto dessas reas em momentos ulteriores ao seu estabelecimento. Nelas, as autorizaes e licenciamentos para edificao encontram-se como era habitual dependentes do orgo competente de administrao do patrimnio cultural, mas passam a implicar a produo de instrumentos de gesto urbana uma vez que determina:

    1.O acto que decrete a classificao de monumentos, conjuntos ou stios, como de monumento nacional, ou de interesse regional, obriga o municpio ao estabelecimento de um plano de pormenor de salvaguarda para a rea a proteger;

    2.A administrao do patrimnio cultural competente pode ainda determinar a elaborao de um plano integrado, reconduzido a instrumento de poltica sectorial nos domnios a que deva dizer respeito (sublinhado nosso) (artigo 54, relativo aos Planos):

    Pelo que se percebe o acto de classificao e de criao da ZEP fica desta feita vinculado ao estabelecimento de um plano de pormenor de salvaguarda, a que se acrescenta, ainda, a possibilidade de ser estabelecido um plano integrado, a definir atravs de regulamentao posterior.

    Por sua vez, os contedos dos planos encontram-se igualmente caracterizados de modo a constiturem linhas-guia de trabalho. Assim, no artigo 56, relativo ao Contedo dos planos refere-se:

    1. O contedo dos planos de pormenor de salvaguarda ser definido na legislao de desenvolvimento, devendo obrigatoriamente especificar-se:

    a) A ocupao e usos prioritrios; b) As reas a reabilitar; c) Os critrios de interveno nos elementos construdos e naturais; d) O recenseamento de todas as partes integrantes do conjunto; e) As normas especficas para a proteco do patrimnio arqueolgico existente.

    Verifica-se, portanto, em sede jurdica, o alargamento do mbito de interveno no que respeita salvaguarda dos centros histricos e das restantes componentes materiais imveis, para mais quando a proposta determina:

    1.A lei definir outras formas para assegurar que o patrimnio cultural imvel se torne um elemento potenciador da coerncia dos centros urbanos e da qualidade ambiental e paisagstica.

    2. Para os efeitos deste artigo, o Estado, as Regies Autnomas e as autarquias locais promovero, no mbito das atribuies respectivas, a adopo de providncias tendentes a recuperar e valorizar zonas, centros e aldeias histricas, parques e jardins e outros elementos naturais, arquitectnicos ou industriais integrados na paisagem.

    Como fica claro, as obrigaes da administrao central e local so amplificadas, como tambm so amplificados os prprios conceitos a que obedecem as ZEPs e a proteco dos imveis em geral, estendendo-se agora para o mbito da paisagem quer urbana, quer rural.

    Por sua vez as zonas non aedificandi constituem uma proibio total de construo. Ora, se nem todas as zonas non aedificandi se encontram desactualizadas, muitas h, porm, que tendo sido estabelecidas h mais de quarenta ou cinquenta anos descolaram da realidade objectiva pelo que, em alguns casos (que felizmente constituem excepo) bloqueiam as decises de requalificao de reas ou instituem enclaves imobilistas encravados no meio de centros histricos e das cidades.

  • Muitas delas foram estabelecidos numa altura em que as condies sociais eram diversas e o enquadramento urbano substancialmente diferente, ou seja, numa altura em que se apresentava administrao do patrimnio de ento um quadro legal mais frgil, bem como uma situao de contraco urbana quase sem reflexos previsveis a mdio prazo, para no dizer inexistentes, porque integradas numa dinmica de gesto das cidades e da paisagem rural completamente distinta da actual: as cidades mdias eram pequenas e com escassos servios, os recursos patrimoniais diminutos e ainda em fase de consensualizao, as presses de segurana dos cidados quase inexistentes e o pas apresentava uma dominante rural acentuada.

    Tem, por isso vindo a ser crescente a dificuldade em gerir algumas das zonas de proteco ou zonas especiais de proteco com zona non aedificandi inclusa.

    Efectivamente, quarenta anos volvidos, quer o desenvolvimento do poder autrquico e dos respectivos servios competentes, quer ainda os planos de desenvolvimento e requalificao do tecido urbano desenvolvidos pelas autarquias, em parceria ou no com a administrao central, tm-se revelado, para uma grande parte dos casos, precedentes de trabalho que urge levar em conta. De facto, existindo j uma cultura municipal consolidada e, bem assim, perspectivas de interveno nos centros histricos, zonas monumentais e paisagens urbanas ou humanizadas promovidas pelas edilidades tendo em conta pressupostos de salvaguarda, valorizao e requalificao dos conjuntos histricos, verifica-se que, em alguns casos identificados embora no em todos-, as servides administrativas no s se encontram desactualizadas, como podem constituir, dependendo de anlise, entraves para a boa prtica da gesto municipal, ou para a boa prtica da gesto patrimonial.

    Algumas destas servides administrativas necessitam inclusivamente de intervenes urgentes, devidamente ponderadas e planificadas, que visem restituir caractersticas de fruio ao pblico sem prejuzo para o patrimnio edificado. Ora, atendendo a este facto, haver que equacionar uma resoluo para o problema, para mais tendo em conta os diversos problemas de segurana que atentam contra a integridade da rea em causa e, por acrscimo, contra a integridade dos monumentos nela integrados e contra a respectiva fruio. Tal facto obriga a uma posio activa e no defensiva por parte dos diferentes nveis de administrao, que devem saber interpretar as conjunturas de trabalho que se vo apresentando.

    5. Novas figuras de gesto. Contratualizao

    assim que o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado j props, para casos devidamente identificados a celebrao de protocolos que enquadrem a realizao de um programa de interveno, programa de gesto de rea ou projecto urbano para a zona abrangida pela referida servido administrativa, de modo a permitir uma aco de salvaguarda e requalificao da mesma, com mais-valias qualitativas para o municpio e para a administrao central.

    Mas este mesmo instrumento passvel de ser adaptado e, logo, usado para a gesto das zonas especiais de proteco e recomendvel que assim seja. assim que o Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado se encontra, neste momento, a desenvolver estudos no sentido de definir os contedos bsicos deste programas de gesto de rea ou de projectos urbanos, contando com isso associar os municpios e algumas entidades privadas s preocupaes de ndoles estritamente patrimonial sem descurar os aspectos sociais e econmicos que elas pressupem e que podero at constituir impulsos para uma relao evidente com a sociedade contempornea, o que impe uma desenvolvimento gradualista dos sistemas de informao, disponveis para os diversos agentes nesta rea.

    Assinale-se ainda, neste domnio, a contratualizao com diversas autarquias. provvel, seno certo, que este tipo de intervenes e de instrumentao, reforada atravs da devida articulao entre a administrao central (envolvendo a DGOT, as CCDRs ) e as autarquias, se encaminhe para a sua oficializao, embora se situa fora da figura de plano propriamente dita (e por isso, capacitada de uma maior agilidade funcional) comece a tornar-se uma rea mais abrangente de trabalho que passe a compreender aquilo a que poderamos chamar o urbanismo histrico (que , em si mesmo um pleonasmo, embora constitua uma referncia de nomenclatura a reter, por enquanto dada a sua especialidade e falta de tradio em Portugal).

  • No que respeita ao incremento da salvaguarda, cabe assinalar outras medidas que se inserem numa poltica integrada de patrimnio, com resultados visveis a mdio prazo e que espelham as novas preocupaes de gesto de rea:

    Determinao mais precisa das zonas de proteco, de modo a que estas prevejam, desde j, a possibilidade de elaborao de instumentos de gesto mais apurados (planos de pormenor de salvaguarda, projectos urbanos, programas de gesto de rea);

    Instituio de zonas de proteco alargadas, em reas urbanas ou rurais, obedecendo a princpios em que se identifica um conjunto em vez do monumento isolado, invertendo a antiga tendncia em que a ZEP funciona de forma centrfuga em vez de centrpeta (isto , o monumento isolado determinava a ZEP e no o contrrio, quando hoje em dia os nexos de conjunto e de paisagem associada devem prevalecer exemplos de prticas deste tipo em curso: Baixa Pombalina; Campo dos Mrtires da Ptria em Lisboa; Centro Histrico da Cidade do Porto; Centro Histrico de Santarm este em estudo);

    Exerccio sistemtico do direito de preferncia ou do impulso de aquisio sempre que se apresentem situaes de alienao de bens imveis que faam perigar a integridade de um monumento ou da sua envolvente (o que particularmente sensvel para os stios arqueolgicos carecidos de proteco alargada, de que so exemplos Mirbriga, Alcalar, Escoural, etc.) em ntima articulao com aquilo a que chammos a poltica de resgate;

    Abertura de processos de classificao de pequeno patrimnio ou de patrimnio menor ou difuso;

    Reforo dos processos de classificao e de levantamento prvio da arquitectura do sculo XX e de patrimnio industrial;

    Integrao em todos os projectos de interveno em grandes monumentos (como, por exemplo, os conjuntos monsticos) de planos de salvaguarda ou de gesto de rea atravs da sua contratualizao com as autarquias;

    Reforo da componente de informao (electrnica) de modo a que os dados referentes s servides administrativas circulem com uma maior celeridade aumentando o conheicmento dos diversos agentes no terreno (o que se conjuga com a poltica dos sistemas de informao).

    Estes e outros pequenos movimentos administrativos e de gesto podero ajudar a fomentar algo que ainda falta em Portugal: uma Poltica Nacional de Arquitectura que se conjugue com a Poltica Europeia da Arquitectura, hoje debatida em tons vivos na Unio Europeia e em grande medida da responsabilidade da tutela da cultura se nela integrarmos iniciativas como as que presumem a criao de um Fundo de Interveno para a Arquitectura, iniciativas de melhoria de qualidade de produo e, sobretudo, a definio de estratgias para o sector (ultrapassando a eventual pulverizao de tutelas), a promoo de uma tutela pedaggica activa relativa produo arquitectnica (em vez da funo burocrtica e passiva corrente), o desenvolvimento eficaz e regulamentado da legislao relativa valorizao do Patrimnio Cultural, a melhoria e requalificao da instalao dos servios pblicos do Estado, a Criao (ou incluso, numa das valncias acima descritas) de um Observatrio da Qualidade Arquitectnica (em que teriam assento as autarquias e a administrao central), bem como a definio das polticas de habitao e de incentivos recuperao / requalificao de habitao antiga, para alm dos j existentes.

    Julga-se, pois, ser possvel um incremento de eficcia dos servios do Instituto estatal de administrao do patrimnio edificado caso estas medidas venham a ser implementadas, eficcia esta que se pode reflectir, hoje, numa credibilizao crescente, j atingida por parte dos servios especializados deste instituto mas que se poder ainda reforar. E esta eficcia reflecte-se, no

  • somente na rapidez e preciso dos pareceres emitidos, mas tambm no real cumprimento das condicionantes que estes impem, aqui com a cumplicidade das autarquias, que constituem os primeiros agentes no terreno capacitados para assegurar a realizao destes objectivos. Se nos encontramos ainda longe de uma poltica inteiramente eficaz, parecem no restar dvidas, porm, que a mesma se foi reforando nos ltimos anos, dando consistncia a um trabalho que no se refugia na barreira dos gabinetes nem nas malhas da burocracia, para expor e tornar transparentes as decises que se assumem neste domnio o que torna o trabalho mais exigente, por fora do escrutnio a que este se encontra sujeito. A confluncia das polticas da cultura com as polticas do ordenamento do territrio e do ambiente parecem ser, de momento, os caminhos que podem conduzir a uma qualificao de um dos actos administrativos que mais influncia parecem ter na vida dos cidados.