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A POLÍTICA DE PARLAMENTO ABERTO: UMA ANÁLISE CRÍTICA
DA CÂMARA FEDERAL BRASILEIRA
CRISTIANO FERRI SOARES DE FARIA MALENA REHBEIN
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Painel 36/108 Disseminação do conhecimento e participação social no serviço público
A POLÍTICA DE PARLAMENTO ABERTO:
UMA ANÁLISE CRÍTICA DA CÂMARA FEDERAL BRASILEIRA
Cristiano Ferri Soares de Faria Malena Rehbein
RESUMO
Neste artigo, nos debruçaremos na análise da implementação da política de parlamento aberto em curso na Câmara dos Deputados, de acordo com as diretrizes do programa internacional Open Government Partnership-OGP, em especial tendo
em vista o plano de ação do Opening Parliament Workgroup, um dos subgrupos da OGP. Entendendo o Parlamento Aberto como parte do contexto de participação
política, analisamos especificamente o caso do Laboratório Hacker da Câmara dos Deputados, órgão que combina transparência 2.0 e participação social, por meio do Portal e-Democracia, o canal para participação no processo legislativo,
considerando seus impasses e resultados obtidos até o momento. A análise considera os canais avaliados como parte do perfil transformador do parlame nto
brasileiro, segundo a classificação de Polsby, com características próprias.
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1 INTRODUÇÃO
O programa internacional Open Government Partnership-OGP foi lançado
em 2011 para fornecer uma plataforma de auxílio aos governos nacionais
empenhados em torná-los mais abertos e responsivos à sociedade que servem. O
programa envolve 65 países em todo o mundo, incluído o Brasil que sediou o evento
anual de discussão da OGP em 2012. Várias instituições do Estado brasileiro têm se
preocupado em tornar acessíveis seus dados e em também viabilizar a participação
da sociedade em várias esferas do mundo político1.
Uma das instituições que fazem parte desse movimento no Brasil é o seu
parlamento, ao adaptar tal política aos processos próprios do legislativo, movimento
denominado de Parlamento Aberto. O país faz parte da Declaração para a Abertura
Parlamentar, assinado em 2012, por 53 países, com vistas a incentivar a abertura de
seus parlamentos por meio do acesso à informação sobre a atividade parlamentar,
promovendo transparência2 e facilitando processos de interação da sociedade com o
parlamento.
Neste sentido, a Câmara dos Deputados do Brasil tem criado vários
canais para viabilizar a participação da sociedade no processo legislativo,
entendendo a participação como parte do processo de representação. O primeiro
passo foi ampliar a transparência de suas informações, para em seguida viabilizar a
manifestação da sociedade por meio digital. O terceiro passo, o desafio maior por
que passa a instituição neste momento, é conseguir ser responsivo às
manifestações que a sociedade tem enviado.
É neste contexto que o presente artigo apresenta a análise da
implementação da política de parlamento aberto em curso na Câmara dos
Deputados, de acordo com as diretrizes do programa internacional, em especial
tendo em vista o plano de ação do Opening Parliament Workgroup, um dos
subgrupos da OGP. Durante todo o texto, a definição de governo aberto usada será
a da própria OGP: “The transparency of government actions, the accessibility of
government services and information, and the responsiveness of government to new
ideas, demands and needs”3.
1 Para mais informações, ver http://www.opengovpartnership.org/.
2 Para mais informações, ver www.openingparliament.org.
3 Acessível no link: http://www.opengovguide.com/glossary/. Último acesso em 04.03.2015.
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Frequentemente open government é equiparado a transparência, mas ela
por si só não é suficiente. A OGP dispõe que os cidadãos necessitam ter condições
de capacitar-se a ter o que dizer, à chance de influenciar a tomada de decisões e
lutar para que tais decisões sejam accountable. Meijer, Curtin e Hillebrandt (2012)
definem governo aberto como a conexão entre voz e visão, ou seja, acesso à
informação do Estado (vision), por um lado, e possibilidade de influenciar a tomada
de decisão (voice), por outro. Portanto, open government – e por consequência
parlamento aberto – implica transparência + participação (ou engajamento) +
accountability.
Neste artigo, procuramos adaptar essa noção de governo aberto, muito
voltada ao Poder Executivo, ao parlamento. Desta forma, a análise se dará por meio
de estudo de caso do Laboratório Hacker da Câmara dos Deputados, órgão que
combina transparência 2.0 e participação social, por meio do Portal e-Democracia,
um canal para participação no processo legislativo, considerando seus impasses e
resultados obtidos até o momento. As experiências serão analisadas no contexto
teórico da transparência e participação como instância importante do processo de
representação, considerando o embate teórico que muitas vezes há entre as
vertentes que compõem essa abordagem, tendo como objeto de análise
experimentos de democracia digital.
Na chave que norteia teoricamente este journal, o artigo pretende
mostrar, do ponto de vista da burocracia (e de seu crescimento), mecanismos
utilizados segundo o perfi l transformador em que se encaixaria o parlamento
brasileiro, de acordo com o conceito de Polsby (1975). De acordo com este autor, o
parlamento transformador seria aquele cujo papel nas fases do processo legislativo
seria relevante (por meio de lideranças, comissões, plenário e demais instâncias
passíveis de afetar mesmo indiretamente o teor da proposta legislativa, tais como os
canais de participação) independente da origem da proposta legislativa.
Este perfil se contrapõe ao que Polsby denomina como parlamento arena,
em que o debate é o mais importante do trabalho legislativo, com baixa interferência
do parlamento na formulação e mudanças próprias da proposta, com o poder
legiferante, desta forma, residindo primordialmente no Poder Executivo, que, neste
caso, encarnaria o papel instituinte do parlamento. Ainda que no Brasil o papel do
Executivo seja bastante relevante, não se pode dizer que o Parlamento não tenha
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atuação relevante, já que a atuação parlamentar chega a modificar, muitas vezes,
teores importantes de propostas encaminhadas pelo próprio legislativo, num papel
talvez adequadamente mais reativo, como definem mais especificamente Cox e
Morgenstern (2001).
2 GOVERNO E PARLAMENTO ABERTOS NO CONTEXTO DA REPRESENTAÇÃO, PARTICIPAÇÃO E TRANSPARÊNCIA
Os fenômenos do open government – da transparência, participação e
accountability – vêm no bojo da discussão dos dilemas da representação e da
necessidade ou não de maior participação política. Embora a tensão entre
democracia representativa e participativa já seja antiga, tomou novas proporções na
contemporaneidade em função da maior complexificação social em um contexto de
onipresença das novas tecnologias de informação e comunicação, as TICs.
Ainda que Mill (2006), considerado um dos pais do regime representativo,
já sinalizasse a necessidade de participação na forma de fiscalização, teóricos da
democracia participativa, de maneira geral, alegam que a representação estaria em
crise, justamente por não conseguir representar os interesses da sociedade (o que
levaria à apatia, por exemplo), e que isso seria sanado pela participação política da
sociedade, muitas vezes de forma direta, como veremos mais abaixo. Os conflitos
entre as instâncias de representação política e de participação social nos regimes
democráticos, em variados contextos geográficos e históricos, são de longa data
(BOBBIO, 1999; MOUFFE, 2000; PATEMAN, 1992), incluindo o cenário brasileiro
recente (AVRITZER, 2000; NOGUEIRA, 2011; RABAT, 2010).
Na visão de Mill (2006), é a representação (inclusive das minorias) que
viabiliza a soberania popular (e nisso se encontra próximo a Locke, para quem a
soberania residia no povo, cujo consentimento seria o legitimador do poder). Mill
entendia que tal soberania popular era impossível de ser exercida diretamente pelo
povo, ainda que fosse desejável acontecer no maior nível possível. É a soberania
popular que o faz conceder papel central ao Poder Legislativo nos governos
representativos, na medida em que a melhor forma de governo é aquela em que o
poder está no lugar em que se situa o conjunto dos cidadãos, que devem participar
ativamente das funções públicas.
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A grande questão da representação, como colocado por Pitkin (1976),
reside em a quem pertence o mandato e como ele deve ser exercido. A autora se
coloca contra a visão burkeana, de que uma vez eleito, o parlamentar é ”dono” do
seu mandato, não tendo de prestar contas do mesmo ao eleitor, ou discutir com ele
seu andamento. Ao contrário, Pitkin defende um processo de comunicação bem
facilitado, entre representantes e representados (FARIA, 2012).
Derivada da tradição teórica calcada no conceito de soberania popular, a
participação também é considerada um instrumento de legitimação e fortalecimento
das instituições democráticas e de ampliação dos direitos de cidadania (AVELAR,
2004). A questão da participação, contudo, também não tem consenso quanto à sua
consumação. Duas correntes se dividem em sua forma de aplicação: a deliberativa e
a participacionista.
Na deliberativa, com seu expoente em Habermas, a participação deveria
acontecer via debate racional, com uso da razão instrumental, para chegar-se a um
consenso em relação a determinado tema, com capacidade para influenciar a ação
de representantes. A ênfase está na participação política e na democratização dos
processos decisórios (BENHABIB, 1996, p.86).
Portanto, não seria uma participação na decisão direta, mas no processo
de discussão (este valendo inclusive mais do que o resultado), por meio do que
Habermas nomeia de esfera pública, com regras definidas para garantir o debate
público, tais como: igual acesso de todos ao debate, igualdade de acesso às
informações necessárias para o debate, o que implica total transparência no
processo de informação e discussão. O pressuposto é que os integrantes da esfera
pública compartilham de uma mesma base normativa, da qual é parte imprescindível
a disposição para o diálogo. A situação de comunicação ideal é o diálogo racional,
desinteressado e voltado para o consenso (MIGUEL, 2004, p.137).
Publicidade, reciprocidade e accountability passam a ser aspectos
fundamentais do processo deliberativo (GUTMANN E THOMPSON, 1996; 2004), o
que vai ao encontro do próprio conceito de open government aqui colocado. Desta
forma, a transparência passa a ser um dos principais expoentes da democracia
deliberativa e ganha força nas discussões atuais sobre democracia, manifesta em
várias ações recentes de acesso à informação e open government.
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A publicidade, que depende e decorre da transparência, pode fomentar a
participação social e política, uma vez que a partir daquilo que se torna público da
parte dos representantes, os representados podem reagir, com vistas a interferir no
processo decisório. Da mesma forma, estimulados pela visibilidade das
manifestações da sociedade civil, os representantes podem definir ou reconfigurar
suas estratégias políticas de atuação em suas bases eleitorais ou suas táticas de
atuação nas atividades parlamentares (debates, votações, discursos, etc).
Esses fluxos e entrecruzamentos, contudo, não ocorrem de maneira
harmoniosa, visto que os interesses dos representantes nem sempre coincidem com
a vontade dos representados. É a partir das disputas pelo controle da visibilidade
que as tensões entre representação e participação afloram e surgem as artimanhas
do poder para anular ou esmaecer os efeitos da participação social. Mas tais
artimanhas são aplicadas de modo sutil, a fim de não tornar ostensivo tal propósito.
De maneira diferente da vertente deliberativa, a participacionista, por sua
vez, defende a participação direta nas decisões da esfera política. Desde Rousseu4,
passando por aqueles que se baseiam em sua obra, como Pateman (1970) e Barber
(2003), defende-se mudanças estruturais, participação direta desde níveis básicos
de relação social como os trabalhos em indústrias, por exemplo, como forma de
educação para participação na vida política direta.
Barber (2003) também preconiza o investimento em política local para se
chegar à nacional. Ele chega a defender que as decisões somente sejam tomadas
por representantes quando o número de pessoas for grande o suficiente a
impossibilitar a reunião em assembleias e, mesmo assim, por meio de sorteio. De
acordo com esse autor, os cidadãos são apáticos porque não têm poder, pois se o
tivessem jamais se recusariam a participar. Por isso, defende revitalizar as
organizações comunitárias, assembleias de vizinhos, com competência legislativa.
Mais recentemente, alguns autores se colocaram em uma interface desta
discussão, com a visão de que participação não exclui representação. Tal visão se
baseia na concepção de que não haveria uma crise na democracia representativa,
4 Para Rousseau (2001), ninguém poderia representar o povo, que não ele mesmo. Só o Poder Executivo é que deve ter representantes do povo, já que é quem aplica as leis, sem papel
normativo.
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mas sim na representação em si (GOMES, 2011), ou mais especificamente
problemas em aspectos da representação que lhe seriam inerentes, daí chamarem-
se déficits de representação.
Fung (2006) denomina de déficit de representação os dissensos entre os
interesses ou preferências dos cidadãos e o atendimento a eles pelos candidatos
eleitos. Desde a definição das preferências até a efetiva implementação de políticas
públicas pode haver lacunas ou problemas em cada passo. Fung e Cohen (2007)
dão a esses fatores o nome de déficits democráticos, ao avaliar que o sistema
representativo carece desde sempre de problemas de responsabilização (ligada a
formas insatisfatórias de accountability), igualdade de todos nos processos de
tomada de decisão coletiva e falta de autonomia política do cidadão, que poderiam
ser minimizados de forma estratégica.
De forma um pouco diferente, Norris (2011) define déficit democrático
como a diferença entre aspirações democráticas e a efetiva satisfação com o
funcionamento da democracia em determinado país. Se, para Norris, uma maior
participação pode levar a um cidadão mais crítico e, logo, a um aumento do déficit
democrático, para Fung e Cohen (2007), ela pode diminui-los.
Dentro desta perspectiva, autores como Nadia Urbinati (2005), defendem
uma ampliação do conceito de representação, incluindo a participação, no que ela
chama de representação negociada, como uma forma de recriar e aprimorar o
sistema atual. O problema da representação acontece, explica Urbinati, quando ela
é vista como se os representantes soubessem exatamente o que as pessoas
desejam, sendo impossível, na realidade, corresponder aos diferentes anseios de
todos a todo momento.
Esta seria, portanto, uma equação impossível. Desta forma, eleições
gerariam representações, mas não representantes absolutos, explica a autora. O ato
de autorização (a eleição) não seria, então, mais importante que o processo de
autorização (a negociação política contínua entre sociedade e instituições política no
período entre as eleições). Os representantes devem poder ser julgados sempre e
não somente ao final de seus mandatos.
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Por causa disso é que o processo de amadurecimento e decisão
demandaria participação, resultando no que a autora chama de representação
circular, que não se encerra na eleição. Deve haver, de acordo com Urbinati (2005),
uma negociação contínua entre instituições políticas e sociedade; o que de fato
encarna o sentido de representação. Ou seja, trata-se de uma representação
dinâmica, ativa, regulada e de reconstrução contínua de legitimidade, fundamental
para a estabilidade de qualquer governo.
Isso inclui movimentos sociais, fontes de informação e debate via mídia,
associações e demais formas de participação popular direta. São as múltiplas fontes
de informação e de influência que os cidadãos ativam pela mídia, movimentos
sociais e partidos políticos que dão o tom da representação democrática, explica
Urbinati. Portanto, um cenário que implica o desenvolvimento de uma democracia
digital, com bases em instituições públicas abertas.
Pogrebinsky e Santos (2011) também argumentam que a participação
pode fortalecer a representação. Segundo eles, novas práticas democráticas não
significam que as instituições representativas tradicionais não estão mais aptas ao
processo representativo. São uma mudança na natureza do processo
representativo. Em um estudo sobre as conferências nacionais – instâncias de
deliberação e participação destinadas a prover diretrizes para a formulação de
políticas públicas em âmbito federal, com convocação pelo Executivo, com
representantes do governo e da sociedade civil – os autores observam como
instrumentos participativos influenciam propostas legislativas de forma efetiva, à
semelhança do que acontece no modelo deliberativo descrito no início desta seção.
Assim, as formas de participação não se opõem às de representação. Ao contrário,
quanto mais se articulam e se encaixam nos esquemas de representação, maior sua
a eficácia política (NOGUEIRA, 2011).
É neste contexto que podemos situar a chamada democracia digital. De
forma geral, podemos dizer que ela é:
Qualquer forma de emprego de dispositivos (computadores, celulares, smart phones, palmtops, ipads...), aplicativos (programas) e ferramentas (fóruns,
sites, redes sociais, medias sociais...) de tecnologias digitais de comunicação para suplementar, reforçar ou corrigir aspectos das práticas políticas e sociais do Estado e dos cidadãos, em benefício do teor
democrático da comunidade política (GOMES, 2011).
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No ambiente das TICs, a democracia digital vem dar forma à discussão
acima e viabilizar mecanismos democráticos (COLEMAN; BLUMER, 2009;
SAMPAIO, 2010; MARQUES, 2008) como os que serão enfocados neste artigo:
transparência e participação. Isso porque a democracia digital é apontada como
potencial instrumento para (GOMES, 2011, p. 28-30): 1) fortalecer a capacidade
concorrencial de cidadania (aumentar quotas do poder cidadão, pois as lutas
concorrenciais são permanentes na política); 2) consolidar e reforçar uma sociedade
de direitos, isto é, uma comunidade política organizada como Estado de Direito
(minorias); 3) promover o aumento da diversidade de agentes, de agências e de
agendas na esfera pública. Ou seja, dando possibilidades mais amplas para
viabilizar o processo participativo, aqui visto como um potencial complemento ou
aprimoramento do sistema representativo.
Obviamente que aqui não se desconsidera os problemas já apontados na
chamada democracia digital ou simplesmente no uso da internet para formação e
informação política, como informação política pouco qualificada, desigualdade de
acesso, cultura política, predomínio de atuação dos meios de comunicação de massa
como autoridades no ambiente virtual, excesso de controle e ciber-ameaça, entre
outros (GOMES, 2008, p. 315-323). O intuito neste artigo é tão somente mostrar o
contexto social e de perspectiva do uso e implantação de instrumentos de governo
aberto, adaptados ao contexto institucional da Câmara dos Deputados brasileira.
Do ponto de vista da transparência, algumas análises de portais oficiais
de parlamentos têm mostrado a evolução dos processos de publicação de
informações de natureza administrativa e legislativa nos últimos anos (Braga, 2007;
Global Center for ICT in Parliaments' 2012 e-Parliament Report, 2012). A publicação
de informações sobre os gastos para o exercício parlamentar e do resultado das
votações nas sessões legislativas são exemplos, entre muitos outros, de
informações publicadas em portais legislativos.
A simples publicação de informações e documentos em qualquer formato
tecnológico que permita a fácil leitura e análise se enquadra na visão de
transparência básica, ou transparência 1.0. De forma concomitante e complementar,
acontece nova demanda para a publicação de dados em formatos tecnológicos mais
específicos, pretensamente mais facilmente utilizáveis por computadores, o que se
denomina de dados abertos.
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A publicação de dados abertos tem sido, portanto, um primeiro passo
para a chamada transparência 2.0, que serve de matéria-prima para o
desenvolvimento de processos de compreensão da ação estatal em nível
suplementar e aprofundador dos instrumentos oferecidos pela transparência 1.0.
A definição de dados abertos contempla basicamente 8 princípios
definidos por grupo de especialistas. Um certo conjunto de dados publicados na
internet deveria ser considerado “aberto” se for completo, primário, atual, acessível,
processável por máquina, não discriminatório, não proprietário e livre de licença.
Mas quais são as implicações da publicação de dados abertos
legislativos? Um dos principais aspectos da política de dados abertos é a
possibilidade de tais dados serem processados por softwares. Assim, pode-se
utilizar dados abertos para promover diversos outros tipos de análises (diferentes
das realizadas com base em dados “não abertos”), ainda mais tendo em vista seu
potencial cruzamento com outros dados abertos de outras instituições e as
possibilidades de utilização de formas de visualização que facilitem seu
entendimento. Isso gera, portanto, inteligência de análise ao processo de
compreensão da ação do Estado, assim como auxilia na democratização de tal
compreensão para além do público especializado.
Inúmeros projetos de aplicativos tecnológicos destinados à melhoria da
transparência geralmente se baseiam no seguinte ciclo: dados abertos +
desenvolvimento de aplicações com um ou vários conjuntos de dados + visualização
amigável (user-friendly).
Tendo dados abertos como matéria-prima para o desenvolvimento de
ações de transparência colaborativa, a qualidade dos aplicativos desenvolvidos vai
depender da criatividade e da capacidade de entender, cruzar e mostrar esses
dados pelo grupo desenvolvedor de aplicações.
Assim, aplicações criadas de forma participativa e colaborativa ampla,
com a participação de parlamentares, de funcionários de Legislativo, cientistas
políticos, hackers e cidadãos de forma geral, podem aproveitar melhor o potencial de
utilização dos dados legislativos. Por esse motivo, órgãos públicos de várias partes
do mundo têm viabilizado iniciativas cívicas para fomentar o desenvolvimento
colaborativo com vistas a gerar mais eficiência no resultado final de aplicações de
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transparência (Eyler-Werve e Carlson, 2012). Tais iniciativas são realizadas em
diferentes formatos, a exemplo de maratonas hackers, hackdays, concurso de ideias
e outras similares.
Dessa forma, parlamentos podem contribuir fortemente para o aumento
de transparência do processo legislativo em várias frentes: a) a publicação de
informações em qualquer formato em seus portais; b) a disponibilização de dados
abertos; c) a realização de ações cívicas colaborativas que fomentem o uso desses
dados abertos; d) criação de espaços e processos permanentes de uso e aplicação
sustentável de ações de transparência, tais como a implementação do Laboratório
Hacker da Câmara dos Deputados.
No caso específico de participação, foram criados vários canais para
manifestação e atuação política do cidadão: desde comentários em notícias dos
veículos de comunicação da Câmara dos Deputados e participação em programas
televisivos da TV Câmara, até a possibilidade de interferir diretamente no processo
legislativo por meio do portal e-Democracia, criado em 2009, onde são abertos
fóruns e wikis para discussão de propostas legislativas que deverão ser
consideradas na elaboração de leis (para mais informações sobre esses canais, ver
o artigo de Teixeira, Bernardes e Rodrigues, neste journal).
Como o Portal e-Democracia está sob a coordenação do Laboratório
Hacker, como parte das ações voltadas à implementação da política de parlamento
aberto na Câmara, é sobre ele que dedicamos a próxima seção, com avaliação
empírica do canal, para em seguida passarmos para a discussão de transparência e
avaliação das ações voltadas à transparência 2.0, realizadas também no âmbito do
Labhacker.
3 e-DEMOCRACIA E PARTICIPAÇÃO NO PROCESSO LEGISLATIVO
O canal e-Democracia da Câmara dos Deputados brasileira, criado em
julho de 2009, é um exemplo de plataforma de participação digital que busca facilitar
a discussão virtual entre cidadãos e parlamentares durante o processo legislativo.
Possui mais de 32 mil membros cadastrados e 3 mil tópicos de discussão criados.
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Tem como veículo principal de interação seu portal, com diversas
ferramentas de participação disponibilizadas nas comunidades virtuais legislativas ,
organizadas em torno de temas legislativos específicos. Tais instrumentos são
considerados canais multilaterais, uma vez que permitem a interação simultânea
entre cidadãos, deputados e servidores, sem restrições no que se refere à
quantidade de acessos à plataforma (FARIA, 2014). A seguir, listam-se essas
ferramentas:
I. Wikilégis: ferramenta de edição colaborativa de textos legislativos, por
meio da qual cidadãos podem comentar artigos de proposições ou
sugerir novas redações para os dispositivos legais;
II. Fórum: ambiente de discussão assíncrono, nos quais os temas são
mais abertamente discutidos;
III. Comunidade virtual legislativa (CVL): conjunto de ferramentas
organizadas segundo uma agenda de discussão. São demandadas
pelos próprios parlamentares, que se comprometem a considerar o que
foi discutido na confecção de seu relatório (movimento de dentro para
fora);
IV. Sala de bate-papo: audiências públicas e reuniões parlamentares
podem ser transmitidas pela internet através destas salas, com o
diferencial da interação mediada entre deputados, especialistas e
cidadãos.
V. Nossas Ideias: ferramenta que permite ao participante apresentar suas
ideias de solução em apenas uma frase, bem como contribuir para o
ranqueamento das melhores ideias. O resultado final é expresso por
meio de relatórios com a listagem ranqueada das ideias apresentadas.
VI. Espaço-Livre, onde os participantes podem criar, sem nenhuma
limitação ou moderação prévia, suas próprias discussões (movimento
de fora para dentro).
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Imagem 1 – Wikilégis sobre o Código de Processo Civil
Os dados estatísticos atualizados até 10 de fevereiro de 2015 nos trazem
a noção quantitativa referente ao uso do canal desde a sua criação:
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Quadro 1
e-Democracia em números
Acessos 27.373.582
Contribuições em Wikilégis 2.103
Comunidades Virtuais Legislativas
42
Mensagens em Salas de bate-papo
17.771
Tópicos de discussão criados
3022
Participações nos Fóruns 20.247
Ideias no “Nossas ideias” 518 ideias / 153.236 votos
3.1 Impactos
Com base nos dados e na observação da rotina do portal, percebe -se o
pouco impacto das discussões do Espaço-Livre, que funciona mais como arena
incubadora de propostas de discussão pela sociedade e serve, portanto, como forma
de mapeamento dos tópicos considerados relevantes pelos participantes.
Por outro lado, verifica-se grande empenho da equipe do e-Democracia
em relação às comunidades virtuais legislativas (CVL), a outra forma de discussão.
As CVLs compreendem desde temas com mais apelo social, como po lítica sobre
drogas i líci tas e regulamentação das lan-houses, mudança do clima; política
espacial; regulamentação das lan-houses; estatuto da juventude; obrigatoriedade
do diploma do jornalista; juventude e cultura; regulamentação do Sistema Único
Saúde; segurança na Internet; catástrofes climáticas; combate ao trabalho escravo;
voz da criança e adolescente; política sobre drogas; Código de Processo Civil;
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Consocial; memória, verdade e justiça; licitações e contratos; Código Comercial;
Regimento Interno da Câmara dos Deputados; LDO 2013 e marco civi l da Internet
(FARIA, 2014).
Estudo anterior (FARIA, 2012) mostra como tais contribuições foram de
fato utilizadas e aproveitadas na elaboração do texto final, conforme registrado na
apreciação do Estatuto da Juventude. Segundo sua relatora, deputada Manuela
D’Ávila, em entrevista realizada para a pesquisa acima mencionada, cerca de 30%
do texto foi realmente construído com base nas sugestões de cidadãos realizadas
no Portal e-Democracia. Como exemplo, a relatora cita a parte da regulamentação
dos conselhos da juventude, tópico bastante abordado nas discussões, onde
participantes de localidades com contextos sociais, políticos e econômicos muito
diversos puderam opinar sobre as peculiaridades da sua região (FARIA, 2014).
Também na discussão sobre o projeto de lei sobre o Marco Civil da
Internet, o relator da matéria, deputado Alessandro Molon, apontou nominalmente,
em cada artigo do texto substitutivo que apresentou, todos os usuários do e-
Democracia que contribuíram para a construção daquele dispositivo. Mais
recentemente o portal viabilizou a participação cidadã na discussão da reforma
política dentro do Grupo de Trabalho parlamentar criado em 2013 para discutir o
tema: mais 150 mil acessos ao debate, mais de 3 mil postagens e mais de 115 mil
votos em enquete sobre os temas da reforma política.
Entretanto, a participação foi sendo amenizada ao longo do trabalho
desse Grupo, quando passarem a ser feitas apenas algumas menções esporádicas
ao portal, sem repercutir, de fato, as manifestações das pessoas que acessavam o
site (COTRIN, 2015). Mesmo assim, o fórum do Grupo de Trabalho teve 251.477
visualizações, tema de maior número de visitas do portal e-Democracia, seguido
com grande diferença pela Conferência Virtual (uma etapa preparatória da 1ª
Conferência Nacional sobre Transparência e Controle Social – 1ª Consocial), com
um total de 6.221 visitas (COTRIN, 2015).
De maneira geral, mesmo quando não há participação massiva em
relação a assuntos mais técnicos, como na regulamentação do Sistema Único de
Saúde e na discussão sobre a Política Espacial, as poucas contribuições são
geralmente realizadas por técnicos do assunto e apresentam alta qualidade em seu
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conteúdo, conforme atestaram os consultores legislativos dessas á reas. Algumas
discussões apresentaram ampla participação em alguns momentos, com objetivos
diversificados e impacto menos direto no texto final, mas com reverberação no
processo legislativo. É exatamente o caso da discussão relativa à segurança na
Internet. Tendo em vista o caráter polêmico do assunto, por envolver grande
engajamento dos internautas, houve contribuições variadas em chats das audiências
publicas interativas, nos fóruns de discussão e no Wikilégis (FARIA, 2014).
3.2 Dificuldades e desafios
O portal e-Democracia, por ser uma ferramenta de interação baseada em
novas tecnologias que avançam a cada dia enfrenta dificuldades importantes. A
interface do portal tem sido constantemente aprimorada, contudo ainda se mostram
necessárias melhorias no que diz respeito aos requisitos de acessibilidade da
plataforma, bem como no que tange a uma navegabilidade mais amigável e intuitiva
(user friendly).
Além da versão web, cada vez mais se mostra indispensável ampliar a
presença do portal e-Democracia também em dispositivos móveis. Dados de acesso
demonstram um expressivo crescimento da demanda pelo serviço nesses
aparelhos. Atualmente, o modelo tecnológico do portal não é responsivo, o que
dificulta sua navegabilidade em celulares e tabletes.
Um importante desafio para o portal e-Democracia é tornar-se mais
conhecido pelos cidadãos e pelos próprios parlamentares, o que poderia influenciar
positivamente a interação entre esses atores, contribuindo cada vez mais para a
reforçar os princípios da transparência, participação popular e da representação,
fundamentais ao processo democrático. Para tanto, surge como prioridade
investimentos em divulgação das possibilidades abertas pelo portal, bem como dos
resultados por ele já alcançados (FARIA, 2014).
Um dos empecilhos para a intensificação desse processo é a dificuldade
dos legisladores no manuseio das ferramentas de interatividade digital e na sua
incorporação na rotina parlamentar. A forma como os parlamentares têm reagido a
esse tipo de interação com a sociedade é absolutamente assimétrica.
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Há vários elementos que podem afetar a capacidade com que
parlamentares utilizam canais de interação digitais como o e -Democracia, que
merecem pesquisa mais apurada, a exemplo dos fatores: idade, experiência com o
uso de ferramentas digitais, a forma de fazer política e a estrutura de recursos
humanos montada para esse fim, entre outros aspectos. Entre junho de 2009 e
junho de 2012, por exemplo, houve apenas uma pequena parcela de deputados
que efetivamente participaram de alguma forma no portal: 16 parlamentares, ou
seja, 3 por cento do universo de 513 deputados.
Em suma, constatou-se a dificuldade de parlamentares conseguirem
disponibilizar (ou priorizar) tempo para postar e debater com os internautas no
portal e-Democracia. Alguns o fazem diretamente e sem assessoria, ou seja,
acessam o portal, preenchem o cadastro inicial e começam a participar, seja por
meio de uma contribuição nos fóruns de discussão, seja por meio de participação
em chats ocasionais, por sinal, uma das ferramentas preferidas pelos
parlamentares, por ser fáci l de usar e com respostas imediatas aos participantes
(FARIA, 2014).
Por fim, falta ainda tornar o portal e-Democracia de conhecimento mais
amplo da sociedade brasileira. Nos seus cerca de 6 anos de existência, tem-se
pouco mais de 27 milhões de acessos. Considerando a população brasileira atual,
que ultrapassou a marca de 200 milhões de pessoas, ainda parece haver espaço
para avançar.
Na seção seguinte, começamos a delinear o adensamento da demanda
por transparência legislativa, a ser analisada no âmbito do trabalho realizado pelo
Labhacker, que tem acontecido simultaneamente e com relação fundamental e
direta com a participação política, analisada nesta seção com base no Portal
e-Democracia.
19
4 TRANSPARÊNCIA 2.0 NO PARLAMENTO BRASILEIRO
A Câmara dos Deputados brasileira tem implementado, embora de
maneira incremental, a política de transparência de acordo com o seguinte ciclo:
disponibilização dados legislativos abertos e realização de atividades cívicas
(maratonas hackers, hackdays) para estimular seu uso.
Pode-se dizer que o grande marco do país neste sentido foi a criação da
Lei de Acesso à Informação em 2011, e que passou a vigorar em maio de 2012,
criando mecanismos que possibilitam, a qualquer pessoa, física ou jurídica, sem
necessidade de apresentar motivo, o recebimento de informações públicas dos
órgãos e entidades. A Lei vale para os três Poderes da União, Estados, Distrito
Federal e Municípios, inclusive aos Tribunais de Conta e Ministério Público.
A seguir, vamos analisar a política de transparência legislativa
considerando seus impactos, desafios e vantagens. Não vamos nos ater aqui à
transparência 1.0, baseada simplesmente na publicação de informações e dados em
qualquer formato no portal da Câmara e outros meios oficiais (jornal impresso, diário
oficial, etc), embora outros estudos tenham analisado o nível de transparência da
Câmara nesse ponto também (Braga, 2007).
O foco desta parte do artigo está, por outro lado, na transparência 2.0 que
envolve as outras três frentes dispostas anteriormente: dados abertos, ações cívicas
e espaço hacker de colaboração e participação. Tal análise será feita por meio do
estudo de caso do Laboratório Hacker, criado em 2013, viabilizando espaço físico de
acesso e uso livres para qualquer cidadão, especialmente programadores e
desenvolvedores de softwares, que poderão utilizar dados públicos para ações de
cidadania em relação ao Legislativo.
4.1 A política de dados abertos
Em dezembro de 2011, a Câmara dos Deputados disponibilizou um
primeiro pacote de dados legislativos em formato aberto, tais como dados de
proposições legislativas (ementa, autor, tramitação, teor, etc), pautas do Plenário e
outros órgãos legislativos, informações sobre parlamentares, entre outros dados.
20
Posteriormente dados sobre o uso de recursos a que têm direito os parlamentares
(cotas parlamentares) e discursos também foram disponibilizados em dados
abertos5.
Em outubro de 2014, a Câmara tornou pública no seu portal mais um
pacote de dados abertos, a exemplo de dados sobre proposições que se
transformaram em leis e vetos presidenciais, além de outros. Também nesse ano foi
instalado serviço de recebimento de sugestões de cidadãos que utilizam os dados
abertos e apontam incoerências e erros (bugs) nesse uso.
4.2 Ações cívicas para uso dos dados abertos
4.2.1 Hackathon 2013: Transparência legislativa
Na última semana de outubro de 2013, inúmeros programadores,
desenvolvedores e especialistas em novas tecnologias de todo o país se reuniram
na Câmara dos Deputados em Brasília, para lá realizarem o primeiro Hackathon do
legislativo federal brasileiro, que daria origem ao Labhacker. Em cima dos dados
publicados pela Câmara, eles criaram aplicativos eletrônicos destinados a melhorar
a transparência do trabalho parlamentar e a aprofundar a compreensão do universo
parlamentar6.
A própria palavra ‘Hackathon’ é sintomática do caráter novo encontro.
Neologismo oriundo da cibercultura, o termo é decorrente da abreviação das
palavras inglesas hack+marathon, ou seja, maratona hacker. Fica indicado
justamente que se trata de um evento competitivo e intenso; de duração
determinada e breve.
Essa nova proposta de contratualidade pretende mudar de forma
significativa a relação entre movimentos hackers e as instituições. Antes
considerados os “garotos maus” da web, quando invadiam e pirateavam sites de
empresas e governos, os hackers podem hoje ser atores propulsores de inovação 5 Disponível no seguinte link: http://www2.camara.leg.br/transparencia/dados -abertos. Último acesso
em 04.03.2015. 6 Para conhecer detalhes do regulamento e aplicativos desenvolvidos das maratonas hackers de
2013 e 2014, acessar o seguinte link: http://www2.camara.leg.br/responsabilidade-social/edulegislativa/educacao-legislativa-1/educacao-para-a-democracia-1/hackathon/2014/hackaton2014. Sobre os aplicativos, também acessar o link
http://labhackercd.net/hackathon.html#hackathons. Último acesso em 04.03.2015.
21
tecnológica em instituições públicas e privadas (JORDAN & TAYLOR, 1998;
JANSSEN, 2012). Também os parlamentos, como a Câmara dos Deputados
brasileira, têm aprendido a aproveitar o seu potencial de inteligência, versatilidade,
criatividade e ousadia.
A maioria dos projetos (27 no total) se enquadrou em alguma das
seguintes categorias de objetivos, com poucas exceções:
Mapeamento de informações parlamentares e do processo legislativo
Redes sociais com informações sobre o trabalho parlamentar
Jogos sobre processo legislativo
Fiscalização de despesas de parlamentares para o exercício do
mandato
Mapeamento e análise de discursos
Identificação de perfil de deputados/candidatos que se adequassem ao
perfil do cidadão/eleitor
4.2.2 Hackathon 2014: política de Gênero
A segunda maratona hacker da Câmara dos Deputados, realizada entre
24 e 28 de novembro de 2014, foi voltada a questões de gênero (Melo, 2014).
A característica temática específica diferenciou-se da maratona hacker de 2013,
destinada a explorar a transparência de forma geral da Câmara dos Deputados.
Naquela se procurou estimular hackers a desenvolverem ferramentas digitais para
ajudar a sociedade brasileira a lidar com temas como a fiscalização de políticas
públicas voltadas para gênero, denúncias de violência contra a mulher, participação
política e representatividade por gênero, entre outros.
Além do tema e foco, outra diferença desse hackathon para o anterior foi
a participação feminina. Desse grupo de 46, metade, ou seja, 23 dos participantes
foram mulheres, algo bastante inusitado em atividades que envolvem tecnologia,
geralmente dominadas por homens.
Os projetos desenvolvidos nesse hackathon abrangeram aplicativos
voltados para jogos educativos sobre gênero, denúncia e mapeamento da violência,
visualização do orçamento para políticas de gênero, mapeamento de oportunidades
para mulheres na tecnologia, exploração de bases de dados sobre questões de
gênero, auxílio jurídico às mulheres, violência obstétrica, entre outros.
22
A programação do Hackathon de Gênero e Cidadania incluiu oficinas de
programação e arduíno para meninas, coaching sobre processo legislativo, processo
orçamentário e questões de gênero, além de uma Wikitona – maratona para
atualização de verbetes da wikipedia relacionados à temática de gênero.
4.3. Impactos
4.3.1 Estimulo à inovação e aos jovens programadores
A maioria dos participantes dos Hackathons foi de jovens na casa dos
vinte anos, estudantes ou profissionais ainda tentando se firmar no mercado de
trabalho. Ativistas pró-transparência também participaram, e no caso do Hackathon
de Gênero notou-se a presença de ativistas da causa também. Poucos entre eles
trabalhavam em empresas consolidadas. Para estas, o valor dos prêmios não
agregaria muito, a não ser o título que isso possa significar para o portfólio da
empresa. Já para os jovens hackers, a perspectiva de ganhar prêmios (cinco mil
reais ou uma viagem técnica ao exterior) funcionou como atrativo de participação,
que resultou na criação de soluções tecnológicas inéditas e com bom potencial.
4.3.2 Formação de redes de colaboração
O Hackathon da Câmara funcionou como concurso público, ou seja,
grupos de participantes competem entre si para conseguir alcançar a premiação dos
primeiros colocados, de acordo com pontuação dada pelos avaliadores. Esse
espírito de competição gerado pela maratona estimula a busca de qualidade, o
trabalho de equipe em torno de uma estratégia determinada e o esforço para ir até o
final da atividade. Ao mesmo tempo, e em aparente contradição, o objetivo maior de
atividades cívicas como esta é o de incentivar o trabalho colaborativo entre hackers,
servidores, parlamentares e outros cidadãos que queiram contribuir para projetos de
cidadania.
23
Os dois aspectos podem parecer paradoxais, afinal, competição não
combina com colaboração. Mas dentro das práticas contemporâneas das novas
tecnologias, os dois elementos constantemente estão lado a lado, se integrando, por
exemplo, dentro das culturas de ‘jogos’ ou games(Schaffer et alii, 2005). E isso se
confirmou durante os quatro dias de cada evento, onde se percebeu um alto grau de
interação entre os participantes que, em alguns casos, até se ajudavam, embora
com menos intensidade no Hackathon de Gênero.
A colaboração geral entre participantes em si, e também entre
participantes, parlamentares e servidores públicos gerou alguns resultados positivos
para a qualidade dos aplicativos do Hackathon. Neste sentido, a intermediação de
facilitadores, ou seja, servidores da Câmara escalados para auxiliar os participantes
em problemas técnicos que tivessem em relação ao acesso a dados e conhecimento
do processo legislativo, foi essencial para garantir qualidade no desenvolvimento
dos projetos. Alguns facilitadores, por conhecerem os projetos de forma panorâmica,
também auxiliaram na interação entre os participantes.
4.3.3 Estímulo à interação entre instituições e sociedade
Mais do que a recompensa financeira, porém, a experiência do Hackathon
possibilitou contato próximo entre esses jovens e o universo das instituições
democráticas. Os ganhos disso ocorreram nos dois lados. Os hackers aprenderam,
ainda que superficial e limitadamente, sobre o funcionamento da democracia
parlamentar. Já a Câmara pôde se beneficiar com a cultura de criatividade,
colaboração e agilidade desses programadores, por meio dos aplicativos criados.
Durante o tempo de convivência nos Hackathons, os participantes tiveram
a oportunidade de trocar ideias e conversar com parlamentares e funcionários da
Câmara dos Deputados, o que serviu para contribuir com a aprendizagem mútua e
conhecimento de outras visões sobre o processo político, a burocracia do
parlamento e o controle social.
Um caso que ilustra os benefícios dessa aproximação foi o encontro do
Deputado Paulo Pimenta com hackers que estavam desenvolvendo um aplicativo de
controle social sobre as emendas parlamentares ao orçamento federal. Depois de
24
conhecer o projeto, em conversa com um de seus desenvolvedores – o ativista
Denis Moura – o Deputado Paulo Pimenta passa a mostrar caminhos possíveis para
o monitoramento da emendas, tendo em vista sua experiência parlamentar em
apresentar emendas ao orçamento e como Presidente da Comissão de Orçamento
do Congresso Nacional em 2012. Ao final, os dois chegam a algumas conclusões
quanto à forma de continuar o projeto de maneira eficaz.
4.3.4 A criação do Laboratório Hacker
Um dos principais aspectos das duas maratonas hackers foi o
estabelecimento temporário da Câmara dos Deputados como um centro aglutinador
dos hackers cívicos, propiciando a estes um espaço de mobilização. Mesmo que tal
movimento seja heterogêneo e sem uma coordenação estritamente programática, os
hackers cívicos tiveram ali uma oportunidade de se conhecerem e organizarem
propostas concretas ao poder público.
Talvez o mais importante resultado dessas atividades tenha sido a criação
de um espaço aberto permanente para a sociedade civil dentro da Câmara, o
Laboratório Hacker. Durante a realização do Hackathon de 2013, o Presidente da
Câmara dos Deputados, Deputado Henrique Eduardo Alves, participou de uma
interação livre com os participantes, transmitido pela internet, quando respondeu
perguntas e ouviu comentários.
Um dos hackers participantes, conhecido pela comunidade hacker pelo
forte ativismo na área de transparência, Pedro Markun, perguntou ao Presidente se
a Câmara não poderia criar um espaço permanente de interação entre hackers,
funcionários e parlamentares. Pedro alegava que maratonas hackers criavam uma
atmosfera muito interessante e produtiva de colaboração, mas eram atividades
efêmeras. Tal atmosfera depois tendia a se desfazer com o tempo.
O Presidente Henrique Eduardo Alves considerou a ideia viável e a
aprovou de imediato, determinando assim à Administração da Casa que viabilizasse
esse espaço de colaboração. Nas semanas seguintes ao hackathon, depois de
algumas conversas entre hackers e a administração da Câmara, foi apresentada
uma proposta ao Presidente da Casa, que a submeteu ao Plenário dessa Casa,
tendo sido aprovada sem muitas contestações por parte dos parlamentares em 17
de dezembro de 2014, sob a cunha de Laboratório Hacker.
25
Oferecendo uma infraestrutura mínima de espaço e recursos
tecnológicos, o Labhacker foi concebido como um espaço de realização de
atividades interativas, com a presença constante de hackers, acadêmicos,
interessados e cidadãos de forma geral que com a ajuda de uma pequena equipe de
funcionários auxilia na realização de maratonas, oficinas, pesquisas e rodas de
discussão, com o envolvimento de parlamentares com vistas à melhoria da
transparência legislativas e na participação social no processo legislativo.
O Laboratório Hacker também desenvolve aplicativos de transparência e
participação social de maneira colaborativa com desenvolvedores externos (hackers
e outros interessados). Além disso, o Labhacker gerencia o Portal e-Democracia,
plataforma digital oficial da Câmara dos Deputados que disponibiliza série de
ferramentas virtuais para facilitar a participação social no processo legislativo. Em
suma, o Labhacker contribui para a implementação da política de parlamento aberto
na Câmara dos Deputados7.
4.4 Dificuldades e desafios
A grande energia e esforço depreendidos em poucos dias de trabalho
durante uma maratona hacker acabou gerando resultados interessantes em termos
de aplicativos apresentados em forma de protótipos em versão beta. Ora, surgiram
também problemas passíveis a serem apontados, em relação a esses feitos, que
podem ser resumidos em torno de dois termos: sustentabilidade e alcance.
Passados os momentos de intensidade e empolgação do evento, alguns
aplicativos apresentados foram retirados da internet, ou simplesmente não
funcionam mais; problemas apontados por usuários dos aplicativos não são
resolvidos; não se tem a manutenção mínima dos aplicativos, nem se verifica sua
evolução, entre outros. E nota-se, mesmo nos finalistas ou nos que ainda funcionam,
que eles não possuem, em torno deles, comunidades vibrantes e ativas. Em suma,
tais aplicativos enfrentam problemas de sustentabilidade.
7
Para maiores informações, acessar o seguinte link: www.labhackercd.net. Último acesso em
04.03.2015.
26
A partir de 2014, quando passou a ser implementado, o Laboratório
Hacker atuou para minimizar esse problema, embora com incidência limitada. Este
órgão identificou o interesse de alguns setores da Câmara em institucionalizar
alguns aplicativos produzidos no Hackathon 2013. O Departamento de Taquigrafia
da Câmara, por exemplo, mostrou interesse em utilizar o aplicativo Retórica
Parlamentar, que apresentava uma visualização de dados dos discursos
parlamentares em forma de bolhas de sabão, conforme a Imagem 2 abaixo.
Utilizando metodologia ágil, a equipe do Labhacker entrou em contato com os
desenvolvedores do Retórica e, de forma colaborativa e em rede, passou a trabalhar
para aperfeiçoar o aplicativo que ainda não estava funcionamento devidamente.
Imagem 2. Aplicativo Retórica Parlamentar em seu protótipo original
27
O alcance desses resultados tem sido, no entanto, muito limitado. Poucos
parlamentares conhecem tais aplicativos e atividades de colaboração. Há por parte
de um grande conjunto de parlamentares certa desconfiança e desconhecimento
dessa nova sistemática. Também apenas pequena parcela da população brasileira
tomou conhecimento disso, e uma parcela muito menor ainda se envolve em tais
atividades. No momento, transparência colaborativa ou 2.0 no Legislativo é uma
atividade de nicho muito restrito.
CONCLUSÕES
O presente artigo pretendeu avaliar as principais ações de parlamento
aberto na Câmara dos Deputados do Brasil, a partir do trabalho do Labhacker, tendo
em vista os conceitos de participação política e transparência/governo colaborativo
como meios capazes de diminuir déficits democráticos, contribuindo assim para o
aprimoramento da democracia representativa.
No caso do Portal e-Democracia, em que o cidadão tem uma
oportunidade de interferir diretamente na proposta legislativa, observamos que o
portal teve mais de 27 milhões de acessos desde a sua criação, em 2009, o que é
expressivo, mas ainda pode crescer bastante considerada a população brasileira de
mais de 200 milhões de habitantes (mais de 140 milhões de eleitores, segundo a o
Tribunal Superior Eleitoral brasileiro).
Observamos ainda a dificuldade que os parlamentares têm de usar o
canal, em razão da pouca familiaridade com a tecnologia envolvida. Ainda assim,
algumas comunidades virtuais abertas acabaram por influenciar as propostas
legislativas debatidas, como foi o caso do Marco Civil da Internet no Brasil, uma das
proposiçoes mais importantes aprovadas pela Câmara dos Deputados em 2014.
A relevância do e-Democracia na Câmara dos Deputados reside no fato
de que é o canal que concentra maior probabilidade de interferência real – além da
possibilidade de diálogo – com os cidadãos. Os demais canais de participação da
Câmara – seja por meio de ouvidoria, comentários em notícias, programas
televisivos, 0800 – entre outros citados no artigo de Barros, Bernardes e Rodrigues
neste journal -, são basicamente receptores de sugestão, crítica ou comentários dos
cidadadãos, sem garantia de feedback ou consideração no processo legislativo.
28
Ainda que esses fatores sejam importantes – e a Casa os tenha aberto
dentro da meta de transparência para participação – ainda não há capacidade de
recursos humanos e/ou técnica para sistematizar o que a sociedade que entra em
contato de fato está manifestando. Este é, inclusive, um dos principais desafios da
Casa atualmente.
Esse processo de participação no processo legislativo é complementado
pelas ações de transparência 2.0 realizadas pelo Labhacker. Aproveitando a política
de disponibilização – ainda que paulatina e mitigada – de dados legislativos em
formato aberto por parte da Câmara dos Deputados, as ações cívicas de fomento ao
uso e processamento construtivo desses dados, como maratonas hackers e
hackdays, têm contribuído para aprimorar os processos de transparência sobre o
processo legislativo. No entanto, o desenvolvimento colaborativo de aplicações de
transparência com a participação de cidadãos (aqui denominados de hacker cívicos)
está sob avaliação, principalmente do ponto de vista da sua viabilidade,
sustentabilidade e alcance.
O impacto social e político dessas atividades e aplicações tecnológicas
decorrentes tem sido, portanto, ainda marginal. Evidenciou-se a fraca
sustentabilidade de grupos, coletivos ou redes de desenvolvedores hackers, que
participam esporadicamente dessas ações cívicas, mas depois de seu término,
apresentam sérias dificuldades em manter seus aplicativos desenvolvidos.
Não obstante, o desenvolvimento colaborativo, com a participação
conjunta de cidadãos, parlamentares e servidores públicos sugere um modelo novo
de viabilização de ações de transparência que, no futuro, podem gerar frutos mais
substanciais e duradouros. Resta saber em que medida a consolidação do trabalho
do Labhacker com o tempo poderá contribuir para esse processo.
De qualquer forma, ao garantir canais de manifestação para a sociedade
e sua possível interferência no processo legislativo, bem como oferecer
oportunidades de colaboração cidadã em processos de transparência, a Câmara dos
Deputados brasileira vem se consolidando como um agente transformador, nos
moldes de Polsby, ou reativo, se usarmos o conceito de Cox e Morgenstern.
29
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AUTORIA
Cristiano Ferri Soares de Faria – Centro de Formação e Treinamento da Câmara dos Deputados – Programa de Pós-Graduação.
Endereço eletrônico: [email protected]
Malena Rehbein – Centro de Formação e Treinamento da Câmara dos Deputados – Programa de Pós-Graduação.