a pesquisa sob a perspectiva da Ética · entende-se que tais preceitos buscaram resgatar alguns...
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A PESQUISA SOB A PERSPECTIVA DA ÉTICA
A literatura sobre metodologia da pesquisa, em sua maior parte, principalmente na área das
Ciências Humanas, incluindo-se as Ciências Sociais Aplicadas, traz registros que, embora
procurem orientar a elaboração de projetos de pesquisa, no tocante à coleta e análise dos
dados, apenas tangenciam o foco, orientando o leitor/pesquisador a produzir algo, de maneira
a obter sucesso na sua investigação.
Nas leituras empreendidas tem-se observado um direcionamento ao pesquisador
aconselhando-o a fornecer, ao máximo, instruções ao pesquisado/respondente, com o objetivo
de demonstrar a relevância da pesquisa, de modo a deixar claro qual é o seu alcance final,
enfatizando, ainda, a garantia do anonimato.
Entretanto, essas considerações parecem ser muito mais uma estratégia, visando conseguir a
colaboração dos pesquisados/respondentes do que para o esclarecimento do direito de quem
colabora com a pesquisa de ser suficientemente informado sobre a destinação dos dados que
estão sendo produzidos.
Em suma, as questões de ordem ética que perpassam a produção científica, nem sempre
expostas aos respondentes, são simplesmente “ignoradas”. Por exemplo, não se questiona, se
a falta de disposição para colaborar pode ou não estar associada ao tipo de investigação ou às
questões propostas que poderiam estar trazendo constrangimentos ao colaborador.
Saliente-se que, no passado, e em nome da ciência, inúmeras barbáries foram praticadas com
cobaias humanas, nos campos nazistas de concentração, por ocasião da Segunda Guerra
Mundial. Em relação a tais fatos, alguns médicos e cientistas, insurgiram-se, promovendo
manifestações com o fulcro de resgatar os parâmetros éticos que deveriam ser observados nas
práticas científicas.
Nessa perspectiva, foi formulado o Código de Nuremberg, considerado o primeiro documento
ético, em nível internacional, contendo preceitos/convenções disciplinadores para as
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Sob o ângulo legal, cita-se a Resolução 196/96 (BRASIL, 1996) que define as diretrizes e
normas regulamentadoras de pesquisas envolvendo seres humanos. A Resolução incorpora,
sob a ótica do indivíduo e das coletividades, quatro referenciais básicos da bioética:
autonomia, não-maleficência, beneficência e justiça. Objetiva assegurar os direitos e deveres
que dizem respeito à comunidade científica, aos sujeitos da pesquisa e ao Estado.
atividades científicas, as quais requerem de seus pesquisadores, dentre outros aspectos: a)
consentimento livre do sujeito na investigação; b) redução de riscos e incômodos; c)
possibilidade de revogação de autorização pelo sujeito; d) proporcionalidade entre riscos e
benefícios; e) obrigatoriedade de pesquisa prévia em animais.
Entende-se que tais preceitos buscaram resgatar alguns referenciais mínimos para um produzir
eticamente, marcando, desse modo, o nascimento da primeira norma de ética aplicada, bem
como o renascimento de um movimento a que agora se denominou de Bioética, a qual, na
prática sempre existiu como ética aplicada à vida.
Numa retrospectiva, sob o prisma filosófico, segundo Cenci (2000) apud Lino (2009), a ética,
desde as suas origens, busca estudar e fornecer princípios orientadores para o agir humano.
Ainda de acordo com Helena Lino, a ética nasce amparada no ideal grego de justa medida, do
equilíbrio nas ações. Essa justa medida é a busca do agenciamento do agir humanamente, de
tal forma, que o mesmo seja bom para todos; isto é, que todos os indivíduos ou cada parte
nele envolvido sejam contemplados de maneira equânime.
Considerando-se o termo "Ética" relacionado à pesquisa, na acepção macro, vários são os
pontos a considerar, tais como: a questão do plágio, tanto na modalidade heteroplágio, quanto
na espécie autoplágio; a falta, nas referências, de obras que deram suporte epistemológico
(conteúdo e metodologia) ao estudo; colocação de viés em citação indireta; inexistência no
Relatório Técnico-científico, de contrapontos, no que concerne ao objeto sob análise; e, a
forte característica da ausência de humildade científica.
Frise-se que o espaço de cada indivíduo ou de cada parte envolvida na ação necessita ter
garantia. Os princípios éticos devem sinalizar não para a perfeição do agir, mas sim para que
o mesmo ocorra da melhor forma possível.
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A pesquisa de opinião, por exemplo, é tipologicamente a mais afetada pelas práticas éticas de
seus autores, pois, a percepção pública do campo determina quando e se a pesquisa pode
continuar. Os participantes voluntários constituem o âmago da pesquisa de marketing, pois, a
pesquisa de opinião praticamente cessaria sem a cooperação do público.
Depreende-se, também, que a citada Resolução descreve quais devem ser os aspectos
contemplados pelo Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, instrumento pelo qual os
sujeitos, indivíduos ou grupos que por si e/ou por seus representantes legais, manifestarão a
sua anuência à participação na pesquisa. Por meio desse termo, o entrevistado declara que foi
informado - de forma clara, detalhada e por escrito - da justificativa, dos objetivos e dos
procedimentos metodológicos da pesquisa.
O termo em análise, ainda informa sobre: a liberdade de participar ou não da pesquisa, sendo
assegurado ao participante essa liberdade sem quaisquer represálias atuais ou futuras.
Acrescente-se que esse consentimento pode ser retirado em qualquer etapa do estudo sem
nenhum tipo de penalização ou prejuízo; a segurança do investigado de que não será
identificado e que se manterá o caráter confidencial das informações relacionadas com a
privacidade, a proteção da imagem e a não-estigmatização; a liberdade de acesso aos dados do
estudo em qualquer etapa da pesquisa; e , a segurança de acesso aos resultados da pesquisa.
Portanto, o entrevistado deve-se considerar livre e esclarecido para consentir em participar da
pesquisa proposta, resguardando aos autores do projeto a propriedade intelectual das
informações geradas e expressando a concordância com a divulgação pública dos resultados.
O Termo de Consentimento Livre e Esclarecido, em conformidade com a Resolução 196/96
do Conselho Nacional de Saúde (CNS), deve ser assinado em duas vias de igual teor, ficando
uma via em poder do participante e outra com o(s) autor(es) da pesquisa.
Segundo Malhotra (2001), atendendo ao olhar de marketing, a ética procura definir se
determinada ação ou atitude é correta ou errada, boa ou má. De todos os aspectos do negócio,
o marketing é o que está mais próximo das vistas do público e, conseqüentemente, está sujeito
a considerável análise e escrutínio da sociedade. Isso criou uma percepção de que, como
atividade empresarial, o marketing é a área mais vulnerável às práticas antiéticas.
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Reafirme-se, que as características e atribuições dos Comitês de Ética em Pesquisa no Brasil,
estão contidas na Resolução CNS n. 196/96. Estes CEPs deverão ser certificados pela
Comissão Nacional de Ética em Pesquisa. Acrescente-se, enfim, que a motivação para
elaboração deste texto deveu-se à participação do autor em uma pesquisa do Programa de
Pós-Graduação em Políticas Públicas, Gestão do Conhecimento e Desenvolvimento Regional
(PGDR), vinculado ao Departamento de Ciências Humanas (DCH), Campus I, da
Universidade do Estado da Bahia (UNEB). Do legado, pode-se afirmar ser o conhecimento
um processo pelo qual, orientadores e orientandos estão em constante e contínuo aprendizado.
Complementando, o elaborador do presente texto, como professor/orientador de uma das
pesquisas em andamento no PGDR, necessariamente, foi compelido a verticalizar seus
estudos no campo do conhecimento em tela, objetivando, de algum modo, a subsidiar o
traçado metodológico de uma investigação, a ser defendida, em breve por uma mestranda sob
a orientação deste autor.
Convém ressaltar que a estrutura padrão de uma investigação científica exige que haja uma
justificativa para desenvolvê-la, bem como, um problema para ser pesquisado e a definição de
um objetivo a ser alcançado. Entretanto, mais recentemente, observa-se que os pesquisadores
estão se conscientizando de que somente isso não basta, pois, ao executar uma pesquisa eles
devem considerar as questões éticas como um procedimento metodológico, muito mais do
que um dever legal.
Em conseqüência, as Academias estão criando e implantando o Comitê de Ética na Pesquisa
(CEP). De acordo com o disponibilizado no sítio da Universidade Federal do Rio Grande do
Sul (UFRS), o CEP é um órgão institucional, que tem por objetivo proteger o bem-estar dos
indivíduos pesquisados. É uma instância interdisciplinar que tem por função avaliar os
projetos de pesquisa que envolva a participação de seres humanos, sendo constituída por
profissionais de ambos os sexos além de, pelo menos, um membro- representante da
comunidade. Assente-se que, nos Estados Unidos (EUA), estes comitês são intitulados de IRB
(Institutional Review Board).
A título de informação, registre-se que a primeira proposição internacional foi feita pela
Declaração de Helsinque II, a qual já foi posteriormente revisada, mantendo, porém, os
princípios basilares.