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A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS NA FORMAÇÃO CONTINUADA DOS PROFISSIONAIS DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO Mirian Célia CastellainGuebert¹ [email protected] João Henrique Arco Verde² [email protected] Resumo Este trabalho tem como objeto de estudo a formação continuada dos profissionais do sistema socioeducativo, que atuam diretamente com as medidas em meio fechado. Considerando que há uma diversidade de profissões que caracterizam os agentes que atuam nesses espaços, os locais onde são realizadas as atividades socioeducativas são caracterizados por certo rigor no que se refere as práticas sociais e educacionais, em razão das peculiaridades da população atendida. Nesse sentido se questiona qual a necessidade dos profissionais do sistema socioeducativo que atuam diretamente em meio fechado realizarem formação continuada? Para tanto, a pesquisa define como seu objetivo geral refletir sobre relevância da formação continuada dos profissionais do sistema socioeducativo na perspectiva dos direitos humanos para que sejam evidenciadas práticas educativas que potencializem a dignidade da pessoa que está em cumprimento de medida restritiva de liberdade. No que se refere aos objetivos específicos temos como o primeiro, a identificação dos conceitos sobre formação continuada. O segundo que busca compreender como se dará o efetivo cumprimento da Lei do Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo no que diz respeito a formação continuada e o terceiro a análise da formação dos agentes ao realizarem práticas socioeducativas junto aos adolescentes que estão em processo de reeducação. Para subsidiar teoricamente este trabalho utilizaremos o Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo (2013) que orienta as estratégias e expectativas organizadas em quatro eixos: a gestão, a participação cidadã dos adolescentes, os sistemas de justiça e segurança e a qualificação do atendimento, sendo este último o foco desse trabalho. A concepção utilizada pela Escola Nacional de Socioeducação (2014), que se constitui um dos pilares fundamentais para a efetivação das políticas de atendimento à adolescentes que cumprem as medidas

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A PERSPECTIVA DOS DIREITOS HUMANOS NA FORMAÇÃO

CONTINUADA DOS PROFISSIONAIS DO SISTEMA SOCIOEDUCATIVO

Mirian Célia CastellainGuebert¹

[email protected]

João Henrique Arco Verde²

[email protected]

Resumo

Este trabalho tem como objeto de estudo a formação continuada dos

profissionais do sistema socioeducativo, que atuam diretamente com as

medidas em meio fechado. Considerando que há uma diversidade de

profissões que caracterizam os agentes que atuam nesses espaços, os

locais onde são realizadas as atividades socioeducativas são

caracterizados por certo rigor no que se refere as práticas sociais e

educacionais, em razão das peculiaridades da população atendida.

Nesse sentido se questiona qual a necessidade dos profissionais do

sistema socioeducativo que atuam diretamente em meio fechado

realizarem formação continuada? Para tanto, a pesquisa define como

seu objetivo geral refletir sobre relevância da formação continuada dos

profissionais do sistema socioeducativo na perspectiva dos direitos

humanos para que sejam evidenciadas práticas educativas que

potencializem a dignidade da pessoa que está em cumprimento de

medida restritiva de liberdade. No que se refere aos objetivos

específicos temos como o primeiro, a identificação dos conceitos sobre

formação continuada. O segundo que busca compreender como se dará

o efetivo cumprimento da Lei do Sistema Nacional de Atendimento

Socioeducativo no que diz respeito a formação continuada e o terceiro

a análise da formação dos agentes ao realizarem práticas

socioeducativas junto aos adolescentes que estão em processo de

reeducação. Para subsidiar teoricamente este trabalho utilizaremos o

Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo (2013) que orienta as

estratégias e expectativas organizadas em quatro eixos: a gestão, a

participação cidadã dos adolescentes, os sistemas de justiça e segurança

e a qualificação do atendimento, sendo este último o foco desse

trabalho. A concepção utilizada pela Escola Nacional de Socioeducação

(2014), que se constitui um dos pilares fundamentais para a efetivação

das políticas de atendimento à adolescentes que cumprem as medidas

socioeducativas, e por fim se utilizou o Estatuto da Criança e

Adolescente (1990), que tem como foco a proteção integral dos direitos

dos adolescentes nos diferentes contextos. O estudo foi desenvolvido

por meio de uma pesquisa documental de abordagem qualitativa, a qual

definiu as categorias a partir das leituras dos documentos, enfatizando

os conceitos e as perspectivas dos direitos humanos na formação

continuada dos profissionais do sistema socioeducativo, as funções dos

agentes e a finalidade do sistema para que esses adolescentes

reconstruam seus projetos de vida e reintegrem a sociedade. Para tanto

se fez uma análise do conteúdo subsidiados pela perspectiva de Bardin

(2009) dos documentos citados. Os resultados apontam para a

necessidade de investir em diferentes estratégias que compõem a

formação continuada dos profissionais do sistema socioeducativo, com

ênfase na qualidade das práticas de reeducação dos adolescentes

restritos de liberdade. Ainda são evidenciados que a formação

continuada expressa a qualificação e a valorização dos agentes em suas

funções, como também visa o desenvolvimento das competências

profissionais que garantam o protagonismo dos envolvidos nos

processos de socioeducação. Entendendo que a formação continuada é

essencial para efetivar o cumprimento das propostas descritas nos

documentos estudados, essa deve contemplar aspectos voltados as

garantias basilares previstas no estado democrático de direito, com

ênfase na busca de um sistema que avalize a dignidade humana.

Palavras chave: Formação Continuada, Profissionais do Sistema

Socioeducativo, Direitos Humanos

_______________________________________ 1 Dr.ª Mirian Célia Castellain Guebert, Professora do Programa De Pós-Graduação em Direitos Humanos e

Políticas Públicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná.

² João Henrique Arco Verde, mestrando do Programa De Pós-Graduação em Direitos Humanos e Políticas

Públicas da Pontifícia Universidade Católica do Paraná

Introdução

Este trabalho visa refletir sobre a relevância da formação

continuada dos profissionais do sistema socioeducativo na perspectiva

dos direitos humanos no que se refere as evidências das práticas

educativas para potencializar a dignidade da pessoa que está em

cumprimento de medida restritiva de liberdade.

Ao considerar que a população adolescente caracterizada aqui

entre 12 a 18 anos incompletos, soma mais de 21 milhões de pessoas.

Em 2016 há 60 mil adolescentes que estão em cumprindo medidas

socioeducativas, pelo menos 14 mil estão em regime fechado e os

demais em regime aberto. Segundo a Subsecretaria de Promoção dos

Direitos da Criança e do Adolescente da SDH, cerca de 70% desses

jovens se tornam reincidentes, isto é, voltam a praticar crimes quando

deixam as unidades de internação. Esse contingente de pessoas,

demanda diferentes profissionais para que os processos socioeducativos

alcancem seus objetivos.

Para tanto, se faz necessário entender como se constitui a

concepção da formação continuada das pessoas que atuam como

agentes educativos diretamente nesses espaços, junto a essa população

reclusa. Considerando o que os locais onde são realizadas as atividades

socioeducativas são caracterizados por ter certo rigor no que se refere

as práticas sociais e educacionais, em razão das peculiaridades da

população atendida, tais atividades devem expressar abordagem

interdisciplinar com o intuito de possibilitar aos adolescentes a projeção

de sua vida para além daquele espaço.

Nesse sentido questionamos: Qual a necessidade dos

profissionais do sistema socioeducativo que atuam diretamente em

meio fechado realizarem formação continuada?

A tentativa de responder a problemática a pesquisa define como

seu objetivo geral refletir sobre a relevância da formação continuada

dos agentes (profissionais) do sistema socioeducativo na perspectiva

dos direitos humanos, para que sejam evidenciadas e potencializadas

nas práticas desenvolvidas por tais profissionais, a valorização da

dignidade da pessoa, bem como a construção de um projeto de vida a

ser efetivado depois do cumprimento de medida socioeducativa que

este adolescente se encontra, como a restrição de liberdade.

A invenção, construção e reconhecimento dos direitos

humanos, como objeto de proteção, promoção e defesa da dignidade

humana, surge a partir dos conceitos de auto evidência defendido por

Lynn Hunt. Para a historiadora a reflexão sobre direitos humanos

perpassa a consciência reflexiva, já que todo processo de conhecimento

se auto declara:

Se existe igualdade dos direitos é tão auto evidente, porque essa

afirmação tinha de ser feita e porque só era feita em tempos e

lugares específicos? Como podem os direitos humanos ser

universais se não são universalmente reconhecidos? (HUNT,

2009, p.18).

A percepção de que todos os homens são iguais por terem vida,

liberdade e a felicidade, como defendeu Thomas Jeferson, os coloca

como algo inalienável, porém ao considerar as relações de poder,

caracterizados como público, privado, natural, artificial, visível ou

invisível, estes aspectos podem ser violados frente as variadas

condições de origem, etnias, culturas, bem como pelos seus direitos,

porém se deve considerar que, o que nos torna iguais são as

características de sermos humanos.

Esta característica não garante condições iguais e tão pouco à

evidência de que ao conhecer os direitos, temos garantido e ou

potencializado a igualdade.

Nesse sentido a empatia, precisa ser reconhecida como um

aspecto do sujeito com sentimento, isto é, essencial entre os

semelhantes, logo uma pessoa para ser autônoma, deve ter legitimidade,

ter consciência e ser protegida por seus direitos, tanto individuais como

coletivos:

Os direitos humanos dependem tanto do domínio de si mesmo

como do reconhecimento de que todos os outros são igualmente

senhores de si. É o desenvolvimento incompleto dessa última

condição que dá origem a todas as desigualdades. (HUNT, 2009,

p.28).

Os direitos humanos precisam minimizados nas diferenças, as

quais se originam do não reconhecimento da pessoa como única, mas

que a partir de sua liberdade a coloca como igual perante aos demais.

A liberdade de pensamento, linguagens, escolhas, histórias nos

faz únicos, contudo o que nos une são as possibilidades de sermos

diferentes. Eis o quesito de auto evidência como a empatia para nos

tornarmos sujeitos históricos, livres e de direitos.

Thomas Hobbes, ao defender a ideia que os homens são iguais,

defende a vida, liberdade, propriedade, entende que os direitos não

têm limites, pois todos têm o direito de tudo que lhe cabe.

Nesse sentido o estado tem o poder de proteger o homem,

garantir e preservar os direitos para todos, entendendo que tudo que é

resultado de sua natureza e de todos que o queiram.

O ato infracional cometido pelo adolescente revela o contexto

de violência e de transgressão do pacto social. Mas, não se deve perder

de vista que ele faz parte da sociedade e que a condição de

cumprimento de uma medida socioeducativa não o excluí de um

contexto maior de transformações sociais.

Tal contexto também deve ser compreendido pela equipe

de trabalho na gênese de seu ato infracional, na forma

como ele se relaciona com o mundo e em suas

perspectivas futuras. (IASP, 2017, p.16)

O aspecto da atitude dos profissionais que atuam como agentes

educativos junto à população que está em restrição de liberdade, deve

considerar os princípios éticos, que sustentam a dignidade humana,

bem como os artigos previstos na Declaração Universal Dos Direitos

Humanos, desde 1948.

Ao entender que a função dos agentes educativos é a de proteger

e promover a construção de um projeto de vida, que estes necessitam

contribuir com diferentes conhecimentos referentes a variados temas

como: valorização do outro, limites, trabalho, família, convívio social

entre outros aspectos, se faz necessário que esses agentes educativos

tenham acesso contínuo a conhecimentos atuais, como o entendimento

que a relevância de existir é uma forma de acompanhamento

psicoeducacional, que envolve temas como, auto estima, motivação,

valores entre outros temas para fortalecer os profissionais e não os

deixem desacreditarem de seu trabalho, valorizando e respeitando as

pessoas com as quais estão trabalhando, para que estes possam viver

melhor.

Quando há referências aos agentes educativos, se entende que

são profissionais que buscam efetivar processos para formação humana,

de forma integrada, atual no modelo da socioeducação, aqui entendida

como um processo

imprescindível como política pública específica para

resignificar a dívida histórica da sociedade brasileira com

a população adolescente (vítima principal dos altos

índices de violência) e como contribuição à edificação de

uma sociedade justa que zela por seus adolescentes”

(IAPS,2017,15)

Para viabilizar práticas que atendam tais desafios e as

características das pessoas que estão em restrição de liberdade nos mais

variados espaços que se dizem educativos, o foco deve estar na pessoa,

isto é:

O adolescente deve ser reconhecido como o protagonista

deste cenário. Enquanto ele for visto apenas como um

problema ou o problema, será excluído da possibilidade

de canalizar construtivamente suas energias como agente

de transformação pessoal e social. (IASP, 2007.p.17).

Por outro lado, se faz necessária a formação dos agentes

educativos subsidie e efetive processos educativos a partir da

ampliação da consciência que é construída historicamente, com o

intuito de promover a emancipação e a autonomia do sujeito, com

atitudes voltadas para viver sua cidadania, como defendida pelo

Instituto De Ação Social Do Paraná (IASP, 2007), para a [...]

“promoção do desenvolvimento pessoal do adolescente e das condições

objetivas de seu entorno, para que se dê efetividade à construção e

realização de um novo projeto de vida”, na busca da felicidade e da paz

na sociedade a que pertence.

A concepção prevista para a formação dos agentes da

socioeducação, descrito no documento do IASP, se refere a abordagem

dialética, expressa a contradição, a busca da valorização da

individualidade no universo diverso e complexo.

Ao analisar o Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo

(PNASE), encontramos no eixo 2 denominado Qualificação do

Atendimento Socioeducativo, que especifica a formação

continuada,esta deve ser promovida pelo Ministério da Educação e

Cultura, por meio de cursos de formação continuada na Rede Nacional

de Formação, bem como deve :

garantir a oferta de formação permanente, nas

modalidades básica e específica, para qualificar

profissionais nos serviços que tenham interface com o

atendimento de adolescentes em cumprimento de

medidas socioeducativas em meio aberto e suas famílias”

(PNASE,2013,p.28).

Ainda nesse eixo encontramos as referências de que se faz

necessário incentivar e divulgar metodologias de atendimento com base

em práticas restaurativas, como orientar os profissionais que atuam com

esse público, para garantir o atendimento das famílias dos adolescentes

egressos do sistema socioeducativo (em meio fechado e em meio

aberto).

Isso significa que a preocupação com esses jovens ultrapassa o

tempo da restrição de liberdade, logo os profissionais necessitam de

formação continuada para acompanhar os projetos de vida dos egressos

da socioeducação.

Ao considerar que esse processo é de responsabilidade do

Estado, no sentido de efetivar políticas públicas e propostas para

qualificação dos profissionais que atuam espaços educacionais e nas

unidades socioeducativas, em sistemas de ensino esta formação é uma

obrigação do poder público, como prevê o Plano Nacional de

Atendimento Socioeducativo (PNASE), 2013.

Ainda esse mesmo Plano, no eixo 3 denominado Participação e

Autonomia das/os Adolescentes, encontramos a referência da

necessidade em fomentar a formação de conselheiros escolares

adolescentes, com o intuito de ampliar o campo de atuação e

abordagens aos jovens e ao mesmo tempo de minimizar os

encaminhamentos à justiça quando o jovem comete algum tipo de

infração.

Outro aspecto encontrado no documento PNASE de 2013, se

dedica ao apoio as instituições públicas de ensino superior no

desenvolvimento de programas ou projetos de extensão que possam

contribuir com e para a implementação de políticas públicas sobre o

sistema socioeducativo, que também é uma forma de possibilitar a

formação continuada aos interessados e envolvidos na área.

Por fim o PNASE, aponta para a necessidade da qualificação em

uma abordagem de segurança pública, referenciado na educação em

direitos humanos, descritas no seu eixo 4 denominado Fortalecimento

dos Sistemas de Justiça e Segurança Pública, essencial quando da sua

recepção e acompanhamentos dos jovens em conflito com a lei.

Percebe-se que o PNASE, propõe ações de longa duração e de

larga abrangência, o que nos permite uma gama de possibilidades de

atuação quando se refere a formação continuada dos agentes da

socioeducação.

O Plano Nacional de Atendimento Socioeducativo de 2013, não

expressa claramente sua concepção para a formação dos agentes da

socioeducação, mas faz indicações para a valorização do indivíduo,

para a emancipação, autonomia, foco de uma abordagem crítica e

dialética em todo decorrer do seu texto.

A criação da Escola Nacional de Socioeducação (ENS) em

2012, tem como objetivo proporcionar formação continuada para os

(as) diferentes profissionais que atuam direta ou indiretamente no

Sistema Nacional de Atendimento Socioeducativo (SINASE) aprovado

pela Resolução do CONANDA nº 119/2006 e pela Lei Federal nº

12.594/2012.

A ENS se constitui em uma das bases criadas para efetivação

das políticas de atendimento à adolescentes que cumprem as medidas

socioeducativas, estabelecidas pelo Estatuto da Criança e do

Adolescente (ECA Lei nº 8.069/1990) e reguladas pelo SINASE.

Atualmente existe uma multiplicidade de propostas para a

formação continuada dos profissionais que atuam no SINASE, porém

há concepções que negam o respeito integral aos direitos dos

adolescentes que cumprem medidas socioeducativas, demandam

investimentos para formalizar e promover a formação desses

profissionais na busca da garantia de direitos.

A ENS surge da necessidade de criar um espaço para que os

profissionais e atores da rede de atendimento que atuam junto as

medidas socioeducativas de meio aberto, restritivas ou privativas de

liberdade, possam refletir, discutir, fundamentar as suas práticas, bem

como aprimorar o trabalho desenvolvido como medida

socioeducativa.

A necessidade da qualificação profissional no sistema

socioeducativo é uma das condições primordiais para a efetivação de

um projeto de vida do (da) adolescente a quem se atribui autoria de

ato infracional.

Portanto a educação continuada deve desenvolver

competências entendidas como articulação de conhecimentos, valores

e atitudes alinhados, tendo como estratégias o protagonismo e os

princípios do ECA e do SINASE.

Por outro lado, a ENS deve garantir que os programas de

formação consigam articular a teoria e a prática, por meio da

construção colaborativa do conhecimento, da reflexão crítica, da

sistematização dos fundamentos teóricos-metodológicos comuns, que

se tornarão referencial para a socioeducação no país.

Nesse sentido a abordagem teórica apresentada pela ENS, é

dialética, o que nos permite avançar nas práticas inovadoras,

utilizando metodologias e tecnologia como recursos de mediação e

leitura de mundo.

O indivíduo capaz de encarnar o papel de ator social

tem o poder de conduzir e transformar as relações

sociais do mundo racional moderno mediante sua

consciência, liberdade e criatividade.

(TOURAINE,1999, p. 230).

Considerações

A formação dos profissionais está prevista na Lei de Diretrizes

e Bases da Educação Nacional de 1996, que por sua vez a descreve

em dois momentos distintos a formação inicial e a continuada, esta é

o foco dessa reflexão.

Como objetivo desse artigo buscou estudar as concepções

descritas em documentos oficiais que versam sobre a formação

continuada dos agentes socioeducadores.

Os três documentos analisados foram: o Plano Nacional de

Atendimento a Socioeducação, o documento da Escola Nacional de

Socioeducação e o Caderno do IASP-Pensando E Praticando A

Socioeducação, publicado pelo Governo do Estado do Paraná.

Os documentos apontam para uma abordagem dialética, por

meio de uma metodologia a partir da problematização, do contexto da

prática socioeducativa, estabelecendo situações em que se pode

dialogar, discutir, refletir, reavaliar e agir de forma que a ação-

reflexão-ação seja contínua e interdisciplinar na comunidade

socioeducativa, favorecendo uma pedagogia interativa e cooperativa

entre os profissionais da socioeducação e entre estes e os formadores.

Como também a formação deve ser interpretada como um

caminho que possibilita ao sujeito se transformar e projetar para além

daquele momento de sua vida, enquanto transforma seu contexto, se

tornando sujeito da sua aprendizagem, tendo o educador (aqui o

agente da socioeducação) o papel de formador e mediador do sujeito

para que este se torne responsável pelo seu próprio processo de

formação.

Esta proposta tem como alicerce garantir aos profissionais que

estão atuando junto aos adolescentes em cumprimento medidas

socioeducativas, assumam esse processo como uma estratégia de

formação social do sujeito, que requer uma atitude para superar as

dificuldades e os problemas, na busca da aceitação do diferente; da

contradição básica entre instituição e sujeito; da aceitação de

compartilhamento de poder; das possibilidades em lidar com os

conflitos como algo inerente às relações humanas e com respeito a

diversidade, subsidiadas por um aporte teórico que não contrarie os

princípios da doutrina da proteção integral.

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