a pequena história de quando começou o amor

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A PEQUENA HISTÓRIA DE COMO COMEÇOU O AMOR O Tatu e a Mariposa Orlando Lustosa Neto

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Uma pequena e simbólica lembrança do meu amor pela Mariposa.

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Page 1: A pequena história de quando começou o amor

A PEQUENA HISTÓRIA DE

COMO COMEÇOU O

AMOR

O Tatu e a Mariposa

Orlando Lustosa Neto

Page 2: A pequena história de quando começou o amor
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O Tatu

Foi no sertão do Cap. Barbino,

Dos caba valente e dos froxo também

Que se assucedeu o que vem.

Nesse dia a grama baixô, o Sol matando tava

E os bixos tudo agitado.

Mas foi nesse dia também que tudo mudou

Na vida de um bixo danado.

No mei da sesta diária

Do fundo da rede debaixo do chão.

O tatu véi acordô dum sono mal drumido,

E chorou como numa canção:

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“Vish, marreu tô é atrasado!

Já é de noite e os otro tatu me deixaro.”

Dito isso, o bixo desatou a cavar

Do jeito que só peba sabe fazer

Mas o bixo cavou, mas cavou tão rápido

Que so deu po gado do seu minimo correr

O Tatu cavou, cavou até se perder.

E Foi numa dessas patada que o tatu véi sentiu

Um disiquilíbrio e desabou do nada.

Quando menos esperô, caiu.

O penhasco lá de baixo tinha o tamaim da morte.

Devagarinho o bixo subiu pa cima de novo,

Com duas ô três pitada de sorte.

Recuperada a consciência

Do pirigo que passô

O tatu num olhou mais de novo

Po abismo que dexô

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As Cor

No breu debaixo da terra, nunca ninguem viu cor

Mas mermo sem luz ninhuma, o tatu é bom Caçadô

O tatu, que quais num tá aqui pra contar a história,

Pensava que negoço de cor era tudo mentira de minhoca.

Mas num foi pensando nisso

Que o tatu se apercebeu da bestera que tinha feito?

Quase caiu num buraco lá de fora

E nem virou pra trás pa ver se era preto!

Quando pensou nisso,

Abriu a carreira pelo camim de trás,

Passou uns 4 ou 5 formigueiro,

e já sentiu o vento no ás.

A animação era tanta desse bixo do chão,

provar po povo da terra todim

que cor era coisa de charlatão.

Já chegou na berada com os ói fechado,

cum medo do que ia enxergá.

sentindo o frio na venta...

o bixo abriu os ói.

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Abriu os ói pro mundo de lá

O clarão pegou logo a primera visão

No mei de rio, planta e bicho

O tatu encontrô a paixão

A paixão vei de asa

Amarela e encarnada, sei lá

As cor viero de ruma

O bixo mal pôde acreditar

No começo era brabuleta,

A pequena que ele viu

Depois viu que era mariposa,

A paxão que lhe atraiu

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A mariposa posô devagarim

Im cima da venta do bixo

E os dois ouviro baxim

O amor bateu de primera

O fole do baião de seu Lua

Tocando na praça da bandera

De repente vei um vento,

Desse de derrubá cavalo

E a pequenina avuô pa longe

E caiu o tatu desastrado

Foi dez segundo de cor,

Até voltar o cinzento

A mariposa se foi por detrás da serra...

E o tatu ficou no silencio

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O Cogumelo Caximbêro

Depois de se vê algo tão bunito,

O debaixo da terra ganhou cor,

Mas o tatu logo ficou triste

De se separar do seu amô.

E começou a matutar um jeito

De pular aquela serra

O Cogumelo chegou logo,

Trazendo o bixo de volta pra terra

“Quê que tu tem, tatuzim”, se adiantô, acendendo o

Caximbo, “Parece que tá mei tristim...”

“Seu cogumelo, seu lhe contar a desgraça me atingiu,

Eu cuinhici minha mariposa, mas ela já sumiu.”

“E desde quando mariposa é de tatu?

Tatu, tu vive debaxo do chão,

E a mariposa vive no céu, mermão!”

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“Pois você acabou de dizê a solução,

Tatu vive debaixo da terra

E mariposa num passa do chão.

Mas enquanto inda houver grama,

Ainda existe a paixão.”

O que não foi dito mais cedo,

Foi da maldade do cogumelo,

Depois de soltar sua tragada,

Puxou pra fora o veneno pra quebrar o bonito elo

“Pois eu digo pra tu a solução,

Eu sei o caminho pra tu encontrá tua paxão.”

“Vish, pois diga logo, seu cogumelo,

Que eu vou correndo pra lá

Minha mariposa tá lá fora perdida

Esperando pr'eu encontrar”

“O tatu ouviu a falação do caximbero,

Com a atenção que pouco tinha

Mas decorô o passo a passo

Dos caminhos que ali vinha.”

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O Mundo

O tatu correu pelo mundão,

Como o cogumelo ensinou

Que falta fazia o seu xodó

Nessa hora o bixo pensô.

Rasgando todo tipo de terra,

O tatu desembestou atrás da amada.

Viu de tudo no mundo,

Quase todo tipo de bixo

Tatu, minhoca e casaco,

Boi, cachorro e carrapicho.

Mas no final do passeio

O tatu encontrou a caverna.

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A Caverna

A caverna era de luz

Cum água pa todo lado

Até pé de tomate tinha

Fulô de Ipê e cuzcuz

Chega o tatu piscô assustado

Vindo de cima como quem num qué nada

As brabuleta chegaro no bixo

Cubriro o tatu numa roda

Só pra causar o rebuliço.

O Tatu procurô sua amada

No mei daquela confusão

Mas o d'ouro vermelho num tava

Pra tristeza do coração.

Se sintindo injustiçado

Por num incontrá a que ama,

Tomado pela tristeza o bixo caiu de vez

Quase findando a trama.

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A Véa

Do alto de sua tristeza

A véa apareceu

Vindo debaixo da cama e tudo

A virada se assucedeu.

“Num fique triste não, tatuzim ”, a véa falô

“Ouvi falá que a pequena te procura,

Mais cum pouca ela achô”

“Eu sei, dona véa. E tô procurano também,

Mas num tem um camim nesse mundo

Que me leve pa riba e além”

“É pq tu num me pergutô, tatu.

Tem um camim que leva pa todo lugá

feito o trem de quixadá.”

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Nessa hora o bixo alevantô as urêa,

Quereno ouví mas tando cum medo.

“Mas tu num vai dizê igual ao cogumelo não, véa?

Me mandô caminhá pelo mundo pa encontrá um buraco

Com nada.”

“Não, tatuzim. O camim que eu vo lhe dizê,

Todo mundo vai passá,

Num dá pa í mais rápido ou divagá

Nem se o jumento enpacá,

Nem se os pneu estourá.”

Conhicendo o camim da ida,

A véa instruiu o bixo

O tatu entendeu a vida

E caminhô cum vontade

Sabeno que o encontro chega

Mas nós num sabe a idade

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O Tempo

Debaxo da arêa o Bixo

Nada feito piaba

Ora se rasga na pele,

Ora num sente nada

Cada puxado de mão

A cena tem uma mudança

Ora triste, ora cum ela

Fexando a caxa da lembrança.

E Assim vai por longe o tatu

Im busca da mariposa

A história num termina,

Mas fica por conta do leitô

Que acompanhô a procissão

Trazê po casal um bunito desfecho,

Chei de amor e paxão.

12/06/2012

Para Marianna Melo,

De Orlando Lustosa Neto