a pedra chave

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Remédios, nós os temos de todo jeito.

Como a fábula, que à alma se destina.

Se para o tolo e o arrogante não faz efeito,

Para o humilde e sábio conforta e ensina.

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Era a décima segunda hora em Jerusalém e os

Obreiros se retiravam de seu trabalho sob o calor meridiano. Desciam a montanha sagrada em bandos,

apressados para chegarem ao descanso. O sábio Caldeu, cuja vida dedicara à busca da sabedoria através dos mistérios da Natureza ou dos segredos da Ciência,

caminhava calmamente. Sua testa, marcada pelas rugas, dava-lhe o testemunho das muitas horas de estudo à luz

insuficiente da lamparina. Mais adiante, Mestres da Arte Real, elevados pela amizade de seu chefe ou por seus próprios méritos daquela distinta posição, retribuíam, com

cortesia solene, a saudação respeitosa dos Obreiros mais humildes. Esses, em grupos diversos e em diferentes pontos da montanha, discutiam assuntos de interesse

profissional, ou absorviam-se na contemplação do majestoso edifício que pouco a pouco tomava forma diante deles.

O Templo, o tributo mais orgulhoso do engenho

humano, para cuja construção foram tirados da Terra os seus tesouros e da Ciência os seus segredos, aproximava-se da tão desejada conclusão. O Arco, que guardaria em seu

recesso o mais Sagrado dos Sagrados, precisava apenas da Pedra Chave para completá-lo. E já fora marcado o dia em que o real Salomão, como Grão-Mestre dos Filhos da Luz,

deveria encaixar a pedra perfeita na presença das tribos de Israel, reunidas em orgulho e contentamento.

O que vamos contar se passou no próprio dia em que o Monarca marcara a data. Os obreiros achavam-se insatisfeitos com uma injustiça cometida contra Honestas,

um dos mais hábeis Supervisores. Ele havia preparado, com muito trabalho, uma Chave perfeita para o fechamento do Arco, de excelência, originalidade e beleza singulares. Mas

tivera seu trabalho rejeitado por Salomão, por razões tão tolas que tornavam aparente os motivos verdadeiros –

inveja de sua perfeição e ciúme do entusiasmo com que foi recebida.

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Naquele dia, toda a Loja reuniu-se e o trabalho de Honestas foi mostrado aos seus irmãos. Foi recebido com

aclamação pelos Obreiros, pelos Mestres experientes e por alguns Chefes independentes da Ordem, pois tinha as proporções perfeitas de um cubo, esquadrada pelo Cinzel

das intenções e de acordo com a escala da mais estrita integridade.

Salomão olhou a Pedra friamente, pois a inveja entrara

em seu coração e o amargor apossou-se de sua língua. Depois de tentar em vão encontrar defeitos no trabalho sem falhas, questionou se seria adequada, duvidando que se harmonizasse com os demais ornamentos do Arco. Afortunadamente, os modelos em que se basearam os ornamentos estavam à mão. Constituíam em relevos de mármore, representando figuras de um homem e de uma mulher, vulneráveis frente ao destino. Maravilhosos no

desenho e quase perfeitos na execução. O trabalho de Honestas foi colocado entre eles e muitos Irmãos exclamaram com alegria pelo efeito harmonioso do conjunto, porque esculpido no cubo estava à figura de um Construtor idoso, curvado pelo trabalho e pelaenfermidade, recebendo o apoio dos fortes e saudáveis da Ordem.

- “É verdade,” declarou o Mestre Real, olhando a todos

desdenhoso, “que a intenção foi boa. Não há como não aprovar a criação, embora tenha que lamentar sua

impraticabilidade. O Arco é incapaz de sustentar o peso do trabalho proposto e, ao invés de constituir-se na Pedra Chave para cimentar o tudo, causaria sua destruição.”

Em vão Honestas provou, demonstrando na prática, o

poder de sustentação do Arco. Em vão, os Obreiros ofereceram-se para aumentar a resistência do Arco, com seu trabalho voluntário, até que as dúvidas de Salomão fos- sem satisfeitas. A razão e a justiça falharam.

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Ao fim, Salomão usou de sua prerrogativa e o trabalho de Honestas foi desdenhosamente rejeitado, em meio às

expressões de escárnio dos invejosos e ignorantes e lástima dos honestos e sinceros.

Foi na hora do crepúsculo, naquele mesmo dia, que Salomão deixou o palácio para desfrutar do ar fresco do anoitecer. Insatisfeito consigo mesmo, pensativo, seus passos levaram-no às margens do riacho de Kedrom. Ao longe, podiam ser vistos os túmulos dos reais de Israel, suas formas brancas e graciosas elevando-se entre os cedros e ciprestes que os rodeavam. Caminhando pela margem, ouvindo o murmúrio incessante da correnteza, ou perdido na amargura das reflexões que sempreacompanham a doença, Salomão encontrou um Irmão idoso chamado Veritas, cuja voz há muito se tornara estranha aos seus ouvidos, mas cujas palavras até mesmo seu real Pai

havia escutado com atenção e temor. Fora notável pelas intervenções ocasionais entre os obreiros, invariavelmente acompanhadas de felizes conseqüências. Severo na aparência e majestoso no porte, sem ligar ou para o cenho franzido do Rei ou para o seu ar de impaciência, Veritas assim lhe falou: - “Diante das tumbas de teus predecessores, como podes estar determinado a cometer esta injustiça? Não te diz o verme humilde que como todos, tu és terra somente?

Lembra-te: na Loja Eterna, a realeza de Salomão e a humildade de Honestas serão iguais, e que o grande Arquiteto decidirá sobre ambos. Olha!”

E apontou para um pelicano solitário, empoleirado numa rocha, observando a correnteza, pacientemente esperando sua presa. O pássaro ficou imóvel por alguns momentos, com uma estátua. De repente, mergulhou seu pescoço comprido nas águas e trouxe o peixe preso no

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bico. Alçou voo pesadamente em direção ao bosque, onde, certamente, filhotes impacientes aguardavam sua comida.

Mal o pássaro carregado deixou a água, quando uma águia, que tinha observado o paciente pescador do alto das

nuvens, mergulhou sobre ele. Com um grito de medo, o pelicano soltou sua presa, que o tirano pegou ainda no ar e lá se foi, majestosamente, para seu ninho distante. O pelicano desapontado e roubado, voltou à sua rocha para olhar e olhar novamente, para pescar e quem sabe, para ser novamente privado do fruto do seu trabalho. - “Será que este incidente não te faz pensar?” perguntou Veritas, olhando severamente a expressão confusa de Salomão. “Tu não te convences de que as leis do direito e do poder estão em desacordo? O homem, quando investido com o poder, se não o usa para a justiça,

acaba usando apenas os instintos animais de sua natureza, surdo à voz da razão e da verdade.” - “Mas Aquele que deu à águia poderes sobre os outros pássaros, deu aos Reis da terra o domínio sobre os homens.” - “É verdade, Majestade, respondeu o sábio, “mas o domínio de um difere do domínio do outro, porque enquanto a águia não faz mais do que seguir o instinto bruto de sua natureza, o homem, por sua vez, tem a razão

como seu guia.” - “Então quando, a águia devolver sua presa,”

respondeu o Monarca, irritado, “eu curvarei meu cetro ao direito de Honestas, mas só então.” Ao que respondeu calmamente o velho: - “Isso é o mesmo que dizer que somente quando o

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instinto bruto alcançar a inteligência do homem. O Real Salomão, por assim dizer, seguirá apenas os impulsos do instinto, desprezando o dom e a preeminência concedidos pelo Altíssimo, ao curvar sua razão aos impulsos de suas paixões.” “Eu bem sei,” continuou o sábio, “que a verdade não é bem-vinda aos ouvidos dos príncipes. Mas pensa no julgamento Daquele cuja palavra é a Verdade, cuja essência é o Amor e cujo atributo é a Justiça. Aceitará Ele a dedicação do teu trabalho? Ou sorrirá ao teu reinado, se cometeres esta injustiça com Honestas? Toma cuidado, pois as palavras deste teu servo Veritas podem ser sucedidas pelos aguilhões daquele “verme que nunca dorme, a Consciência.”

Naquela noite, o Mestre Real novamente presidiu a Assembléia de Obreiros. Sua expressão era límpida, pois o espírito da justiça transbordava em seu coração. O Trabalho do fiel Honestas foi aprovado, e jamais esteve o Monarca mais digno da ordem. Porque, naquela noite, ele mostrou que a mágoa da injustiça pode dissipar-se na beleza da reconciliação.

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