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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS
FACULDADE DE EDUCAÇÃO
ANDREIA DE OLIVEIRA SILVA
A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DA REGIÃO DE CAIEIRAS/SP
EM MOVIMENTOS E REDES SOCIAIS
CAMPINAS 2016
ANDREIA DE OLIVEIRA SILVA
A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DA REGIÃO DE CAIEIRAS/SP
EM MOVIMENTOS E REDES SOCIAIS
Tese de Doutorado apresentada ao
Programa de Pós- Graduação em Educação
da Faculdade de Educação da Universidade
Estadual de Campinas para obtenção do
título de Doutora em Educação, na área de
concentração de Política, Administração e
Sistemas Educacionais.
Orientador: Maria da Glória Marcondes Gohn
O ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À VERSÃO
FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA ANDREIA
DE OLIVEIRA SILVA, E ORIENTADA PELA PROFA.
DRA. MARIA DA GLÓRIA MARCONDES GOHN.
CAMPINAS
2016
Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.
Ficha catalográfica Universidade
Estadual de Campinas Biblioteca da
Faculdade de Educação Rosemary
Passos - CRB 8/5751
Silva, Andreia de Oliveira, 1970-
Si38p A participação de estudantes do ensino médio de escolas públicas da região
de Caieiras/SP em movimentos e redes sociais / Andreia de Oliveira Silva. –
Campinas, SP : [s.n.], 2016.
Orientador: Maria da Glória Marcondes Gohn.
Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de
Educação.
1. Movimentos sociais. 2. Redes sociais. 3. Educação. 4. Políticas públicas.
5. Inclusão digital. I. Gohn, Maria da Glória Marcondes,1947-. II. Universidade
Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.
Informações para Biblioteca Digital
Título em outro idioma: The participation of high school students from public school in
Caieiras region/SP in movements and social networks
Palavras-chave em inglês:
Social movements
Social networking
Education
Public policy
Digital inclusion
Área de concentração: Políticas, Administração e Sistemas Educacionais
Titulação: Doutora em Educação
Banca examinadora:
Maria da Glória Marcondes Gohn [Orientador]
Maria Antonia de Souza
Suely Aparecida Galli Soares
Pedro Ganzeli
Newton Antonio Paciulli Bryan
Data de defesa: 26-02-2016
Programa de Pós-Graduação: Educação
UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO
TESE DE DOUTORADO
A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DA REGIÃO DE CAIEIRAS/SP
EM MOVIMENTOS E REDES SOCIAIS
Autora: Andreia de Oliveira Silva
COMISSÃO JULGADORA:
Profª. Drª. Maria da Glória Marcondes Gohn - orientadora
Profª. Drª. Maria Antonia de Souza
Profª. Drª. Suely Aparecida Galli Soares
Prof. Dr. Pedro Ganzeli
Prof. Dr. Newton Antonio Paciulli Bryan
A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.
2016
À minha família, que sempre esteve ao meu lado,
dando-me forças nos momentos de desânimo e de luta.
A todos que acreditam que
podemos viver num mundo melhor.
AGRADECIMENTOS
À minha orientadora, Prof. Dra. Maria da Glória Gohn, que, mais uma vez, me
permitiu trilhar por novos percursos que puderam me despertar para novas perspectivas e
novos horizontes, os meus sinceros agradecimentos.
Aos professores da Banca de Qualificação Profª. Drª. Maria Antonia de Souza e
Prof. Dr. Pedro Ganzeli, que tornaram o momento e o local da qualificação um espaço de
reflexão, por meio de suas valiosas observações, para que eu a tivesse como patamar para um
avanço em minha pesquisa.
Aos professores que aceitaram participar da Banca de defesa: Profª. Drª. Maria
Antonia de Souza, Profª. Drª. Suely Aparecida Galli Soares, Prof. Dr. Pedro Ganzeli e Prof.
Dr. Newton Antonio Bryan.
Às minhas filhas, Amanda e Anelize, e ao meu marido, Edvaldo, que me deram
muito apoio e que nunca reclamaram pelos momentos que não lhes dei atenção e deixamos de
realizar muitas atividades de família.
Aos meus pais, Antonio e Antonia, por quem sou e pelo amor, dedicação, apoio e
incentivo em todos os momentos.
Aos meus irmãos, Vilma, Silvia e Anderson, pelo apoio e por serem as pessoas
especiais que são em minha vida.
Aos amigos e colegas que colaboraram com as suas ideias, sugestões, revisões e
considerações em diversos momentos: Amanda, Quequeto, Denise, Lélia, Cátia e Kátia. Bem
como àqueles que de uma forma indireta contribuíram para que este trabalho pudesse ocorrer:
Célia, Edna, Josy e Jadilson.
A Jeová, meu maior apoio.
A todos os alunos que aceitaram responder aos questionários e a participação na
Roda de Conversa, permitindo que as reflexões fossem ampliadas por seus pareceres e
opiniões sobre o tema. Também aos gestores das escolas que permitiram e facilitaram a
valiosa participação desses jovens. Aos colegas que contribuíram para que ocorresse a “Roda
de Conversa”: Thiago, Newton e Angelo. Ao Sr. Jairo e, em especial, ao Dirigente de Ensino
Região de Caieiras, Celso, pelo apoio.
À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, pelo incentivo por meio do
projeto Bolsa Doutorado.
RESUMO
Esta tese aborda questões relacionadas ao sentimento de indignação e pertencimento no
universo da educação pública paulista que possa motivar os jovens estudantes à participação,
organização, reflexão e formação crítica por meio dos movimentos e manifestações sociais
ocorridos em junho de 2013 e nos meses subsequentes, organizados via redes sociais da
internet. Tendo como sujeitos da pesquisa os estudantes do Ensino Médio de escolas públicas
da região de Caieiras/SP. Assim este trabalho de investigação tem como questão central
demonstrar como os jovens do Ensino Médio das escolas públicas do Estado de São Paulo
definem, tomam conhecimento ou participam dos movimentos e manifestações sociais e, se
isso se dá por meio da educação formal, tendo como instrumento as salas de informática,
utilizando, ou não, as redes sociais como ferramentas para comunicação, publicização e
participação desses estudantes nesses movimentos e manifestações. Para a realização dessa
tarefa, o texto trata e relaciona ao tema central categorias, conceitos e definições que possam
auxiliar na investigação, como movimentos sociais, redes sociais digitais, educação, políticas
públicas, tecnologia de informação e comunicação e inclusão digital.
Os procedimentos operacionais da pesquisa para a investigação contam com três etapas sendo
elas: estudo da bibliografia e pressupostos presentes nas publicações específicas no que se
refere ao objeto proposto para esta tese; construção de um questionário com o objetivo de
levar em conta tanto fatores quantitativos acerca do perfil dos jovens, do uso dos espaços
virtuais e da participação política por meio dos movimentos e, qualitativos, levando-se em
consideração aprendizados, ideias, opiniões sobre o tema dos movimentos sociais –
disponibilizado na internet com aplicação nas próprias escolas; desenvolvimento de uma
“Roda de Conversa” com promoção de um debate com alunos que participaram de
manifestações em ruas e praças a partir de junho de 2013.
Desta forma considera-se, por fim, que a divulgação, o estudo e até a participação de poucos
desses estudantes nos movimentos e/ou manifestações de junho de 2013 marcam uma nova
fase de atuação e lutas com vistas a uma transformação social. Contudo, a educação formal
não foi a principal mediadora para tais ações uma vez que se evidenciou, na maioria do
estudo, que ela não tem utilizado espaços escolares ou ferramentas como a internet e redes
sociais digitais, disponíveis dentro e fora do ambiente escolar, como no caso das redes de
telefonia celular e computador, com vistas a uma maior participação social e reflexão sobre a
sociedade em que vivem para uma formação crítica. No entanto ainda, conclui-se que, embora
se revelando tal conclusão como certa, frustra. O que leva à inferência de que, as ocupações
das escolas pelos alunos da Rede Estadual em 2015, mostraram que, de certa forma, a função
social da escola tem sido cumprida, à medida que conhecimentos devem ter sido apreendidos
e compartilhados „nas lutas e jornadas‟, no interior da escola formal, gerando aprendizagens
não formais.
Palavras-chave: movimentos sociais, redes sociais digitais, educação, políticas públicas, TIC e
inclusão digital.
ABSTRACT
This thesis addresses issues related to the feeling of indignation and belonging in the São
Paulo public education universe that can motivate young students to participation,
organization, reflection and critical training through social movements and demonstrations
that took place in June 2013 and in subsequent months, organized via social internet
networks. The subjects of the research the high school students from public schools in
Caieiras region / SP. So this research work has as a central issue demonstrate how young high
school students from public schools in the State of São Paulo define, become aware or
participate in social movements and demonstrations and, if it is through formal education,
with the instrument the computer rooms, using, or not, social networks as tools for
communication, publicity and participation of these students in these movements and
demonstrations. In carrying out this task, the text deals with and relate to the theme central
categories, concepts and definitions that may assist in the investigation as social movements,
digital social networking, education, public policy, information and communication
technology and digital inclusion.
The operating procedures of the study for research have three steps these being: study of the
literature and present the specific assumptions publications with regard to the proposed object
for this thesis; construction of a questionnaire in order to take into account both quantitative
factors about the profile of young people, the use of virtual spaces and political participation
through the movement and qualitative, taking into account learning, ideas, opinions on the
subject of social movements - available on the internet with application in the schools;
development of a "Talk Wheel" to promote a debate with students who participated in
demonstrations in the streets and squares from June 2013.
Thus it considered, finally, that disclosure, the study and even participation of a few students
in the movements and / or demonstrations of June 2013 mark a new phase of action and fights
with a view to social transformation. However, formal education was not the main mediator
for such actions as it was evident in most of the study, it has not used school space or tools
such as the internet and digital social networks available within and outside the school
environment, as in the case of cellular networks and computer, with a view to greater social
participation and reflection on the society in which they live with a view to a critical training.
But still, it is concluded that although revealing such a conclusion, this perception frustrates.
Which leads to the inference that the occupation of schools by students of the State Network
in 2015 showed that, in a way, the school's social function has been fulfilled, as knowledge
must have been seized and shared 'in the struggles and journeys' within the formal school,
generating non-formal learning.
Keywords: social movements, digital social networking, education, public policy, ICT and
digital inclusion.
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 – Questão 1: Sexo............................................................................................... 181
Gráfico 2 – Questão 2: Idade.............................................................................................. 182
Gráfico 3 – Questão 3: Deficiência limitante..................................................................... 182
Gráfico 4 – Questão 4: Estado civil.................................................................................... 182
Gráfico 5 – Questão 5: Quantidade de filhos...................................................................... 183
Gráfico 6 – Questão 6: Tipo ou modo de moradia............................................................. 183
Gráfico 7 – Questão 7: Quantidade de pessoas na residência.............................................184
Gráfico 8 – Questão 8: Situação de sustento...................................................................... 184
Gráfico 9 – Questão 9: Renda mensal familiar................................................................... 185
Gráfico 10 – Questão 10: Tipo de formação escolar (Ensino Fundamental e Médio)....... 185
Gráfico 11 – Questão 11: Locomoção mais utilizada para ir à escola................................ 186
Gráfico 12 – Questão 12: Atividade escolar, além das aulas, de que
participa/participou e..................................................................................... 187
Gráfico 13 – Questão 13: Tipo de frequência na sala do Acessa Escola............................ 187
Gráfico 14 – Questão 14: Tipo de utilização da sala do Acessa Escola............................. 187
Gráfico 15 – Questão 15: Redes sociais utilizadas............................................................. 188
Gráfico 16 – Questão 16: Atividades nas redes sociais...................................................... 188
Gráfico 17 – Questão 17: Sabem ou não o que são movimentos sociais
e manifestações populares de reivindicações................................................ 189
Gráfico 18 – Questão 18: Consideram importantes ou não os movimentos
sociais e manifestações populares de reivindicações.....................................190
Gráfico 19 – Questão 20: Conhecimento acerca dos movimentos sociais/
movimentos de reivindicação e manifestações populares de
reivindicações ocorridos nos anos de 2013 e 2014,
como o MPL e outros.................................................................................... 193
Gráfico 20 – Questão 21: Meio pelo qual tomou conhecimento........................................ 194
Gráfico 21 – Questão 22: Se algum professor tratou do tema na sala de aula.................... 194
Gráfico 22 – Questão 23: Qual professor tratou do tema na sala de aula........................... 194
Gráfico 23 – Questão 25: Participação em movimentos e/ou manifestações..................... 197
Gráfico 24 – Questão 28: Meio pelo qual tomaram conhecimento do movimento
e/ou manifestações de que participaram*...................................................... 198
Gráfico 25 – Questão 29: Rede social mais utilizada para conhecimento
e participação................................................................................................ 198
Gráfico 26 – Questão 31: Aceitação para participar de entrevista..................................... 200
LISTA DE TABELAS E FIGURAS
Tabela 1 - Taxa de escolarização em % (2013).................................................................. 75
Tabela 2 - IDEB (2013)...................................................................................................... 75
Figura 1 – Layout 1 Sala Acessa Escola - 77,76 m2.......................................................... 157
Figura 2 – Layout 2 Sala Acessa Escola - 64,00 m2.......................................................... 157
Figura 3 – Layout 3 Sala Acessa Escola - 56,00 m2.......................................................... 158
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS
AAP – Avaliação da Aprendizagem em Processo
APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo
APM – Associações de Pais e Mestres
ATP – Assistente Técnico-Pedagógico
ATPC – Atividade de Trabalho Pedagógico Coletiva
CBC – Conteúdos Básicos Comuns
CEFAM – Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério
CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas
CEU – Centro Educacional Unificado
CGEB – Coordenadoria de Gestão da Educação Básica
CUT – Central Única dos Trabalhadores
DE – Diretoria de Ensino
ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente
EE – Escola Estadual
EJ – Estatuto da Juventude
ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio
ETEC – Escola Técnica Estadual
FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado
FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação
FE – Faculdade de Educação
FEDEP-SP – Fórum Estadual de Defesa da Educação Pública - São Paulo
FUNDAP – Fundação do Desenvolvimento Administrativo
FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação
FUNDEF – Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental
GAL – Grupo de Apoio Local
GLD – Grupo Local de Diretores
HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana
HTPC – Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo
INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira
LDB – Lei de Diretrizes e Bases
LGBTTTS – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Trangêneros e Simpatizantes
MASP – Museu de Arte de São Paulo
MEC – Ministério da Educação
MPL – Movimento do Passe Livre
MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto
NCE – Núcleo de Educação e Comunicação
NRTE – Núcleo Regional de Tecnologia Educacional
ONG – Organização Não Governamental
PCNP – Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico
PEC – Proposta de Emenda Constitucional
PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios
POPAI – Posto Público de Acesso à Internet
ProEMI – Programa Ensino Médio Inovador
PROFIC – Programa de Formação Integral da Criança
PROINFO – Programa Nacional de Tecnologia Educacional
PROMDEPAR – Apoio Administrativo das Escolas da Rede Pública Estadual
PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego
PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira
PUC – Pontifícia Universidade Católica
REM – Responsáveis pela Educação do Município
SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica
SAI – Sala Ambiente de Informática
SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo
SEE – Secretaria de Estado da Educação
SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial
SISUTEC – Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica
TCI – Termo de Cooperação Intergovernamental
TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação
UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciências e a Cultura
UNESP – Universidade Estadual de São Paulo
UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas
UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância
UNINOVE – Universidade Nove de Julho
USAID – United States Agency for International Development
USP – Universidade de São Paulo
SUMÁRIO
INTRODUÇÃO................................................................................................................. 16
CAPÍTULO I – REFERENCIAIS TEÓRICOS: MOVIMENTOS SOCIAIS,
POLÍTICAS PÚBLICAS E JOVENS.................................................. 30
1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS....................................................................................... 30
1.1.1 Manifestações e protestos: significados......................................................... 30
1.1.2 Movimentos sociais: breve panorama........................................................... 31
1.1.3 Movimentos ou mobilizações sociais.............................................................. 39
1.1.4 Redes, redes de mobilização social ou redes de movimentos sociais.......... 46
1.1.5 Movimentos sociais e as redes sociais digitais: articulação e estratégia..... 49
1.1.6 Movimentos sociais e educação...................................................................... 56
1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS.......................................................................................... 63
1.2.1 Políticas públicas em educação...................................................................... 65
1.2.2 Adolescente ou jovem...................................................................................... 66
CAPÍTULO II – A EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA VISÃO DO
CENÁRIO............................................................................................. 72
2.1 O SISTEMA DE ENSINO BRASILEIRO............................................................... 72
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO............................................................... 90
2.2.1 Panorama das políticas públicas em educação no Estado de São Paulo.... 90
2.2.1.1 Proposta de reorganização escolar da Secretaria da Educação do
Estado de São Paulo................................................................................... 112
2.2.1.1.1 A proposta.......................................................................................... 113
2.2.1.1.2 As justificativas.................................................................................. 114
2.2.1.1.3 Histórico da reação da rede e medidas governamentais pelas
lentes jornalísticas............................................................................. 118
2.2.1.1.4 Opinião e análise de especialistas..................................................... 126
2.2.2 Breve panorama do universo do Ensino Médio no Brasil........................... 132
CAPÍTULO III – TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO........ 140
3.1 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: UM ACESSO QUE
PODE CONTRIBUIR NA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE..................... 140
3.2 PANORAMA GERAL DO ACESSO ÀS TIC‟S NO BRASIL............................... 146
3.2.1 Panorama do acesso às TICs no ambiente escolar....................................... 148
3.2.2 TICs aplicadas nas atividades educacionais................................................. 150
3.3 ACESSA ESCOLA: UM PROGRAMA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS
DO ESTADO DE SÃO PAULO.............................................................................. 153
3.3.1 A questão do acesso......................................................................................... 161
3.4 INCLUSÃO DIGITAL............................................................................................. 167
3.4.1 Matrizes de análise.......................................................................................... 177
CAPITULO IV – MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E REDES SOCIAIS:
PESQUISA DE CAMPO.................................................................... 180
4.1 APRESENTAÇÃO DO RESULTADO DA ANÁLISE DO INSTRUMENTO...... 180
4.1.1 (A) Perfil........................................................................................................... 181
4.1.2 (B) Usos educacionais - internet / redes sociais............................................ 186
4.1.3 (C) Movimentos sociais................................................................................... 189
4.1.4 (D) Participação social.................................................................................... 197
4.2 RODA DE CONVERSA.......................................................................................... 200
4.2.1 Uso das redes e internet.................................................................................. 201
4.2.2 Movimentos sociais e manifestações populares............................................ 207
4.2.3 Influências........................................................................................................ 211
4.2.4 Importância das redes sociais digitais e internet nas manifestações.......... 213
4.2.5 Escola X Sociedade.......................................................................................... 216
CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 221
REFERÊNCIAS................................................................................................................. 233
APÊNDICES...................................................................................................................... 262
ANEXOS............................................................................................................................. 338
16
INTRODUÇÃO
“Mãos para o alto, 3,20 é um assalto”, “Vem pra rua, vem, contra o aumento”,
“Não é por 20 centavos”. Estes foram apenas alguns dos inúmeros gritos que eclodiram a
partir do dia 06 de junho de 2013, quando jovens, indignados com o aumento da tarifa dos
transportes públicos, iniciaram seus protestos. E, ao se reunirem nesse dia “na Avenida
Paulista para contestar o aumento da tarifa de ônibus de São Paulo, ninguém poderia imaginar
que aquele seria o marco zero da maior sequência de protestos no país desde o Fora Collor”
(GRIPP, 2013, apud GOHN, 2014, p.19).
Para Gohn (2014), grandes manifestações ocorreram ao longo dos últimos anos,
como greves e passeatas de professores ou profissionais da educação, ou saúde, com
enfrentamentos com a PM, bem como lutas por todos os cantos do Brasil, como a de índios e
de quilombolas, reivindicações do MST e MTST. No entanto, no dia 17 de junho de 2013
milhares de pessoas saíram às ruas e, subsequentemente, pelos dois meses seguintes
ocorreram manifestações por todo o país. Foram denúncias contra superfaturamentos,
superlotação nos transportes públicos, mobilidade urbana de vias, derrubada de árvores, obras
para a Copa de 2014, assim como demandas como CPIs e PECs, entre outras. (GOHN, 2014,
p.19-20)
Assim, há de se refletir sobre as causas que levaram tantos cidadãos às
manifestações de reivindicações das mais variadas, após um ato em uma cidade brasileira, a
partir de uma demanda específica do Movimento do Passe Livre – MPL. A conjuntura vivida
no país mostrava, por intermédio dos meios de comunicação tradicionais e redes digitais,
inclusive as sociais, a insatisfação em relação à gestão pública brasileira em várias esferas,
por conta dos escândalos de corrupção, a volta da inflação, os gastos excessivos com
megaeventos, a má qualidade dos serviços públicos essenciais e, principalmente, a
compreensão da falta de justiça e de impunidade, bem como a exclusão social em vários
setores. A repressão violenta, imposta pelos governos, também funcionou como um estopim
para que crescesse mais o número de ativistas.
Tal mobilização os levou à percepção de que essa forma de luta coletiva é um dos
modos estratégicos de fazer escutar as insatisfações, tendo por vezes um retorno aos gritos, se
não o desejável, ao menos se vislumbra a abertura de caminhos. Outro entendimento é de que,
por meio das redes sociais digitais, tornaram-se viáveis as articulações, a organização dos
17
movimentos e, principalmente, a repercussão destes pelo país e pelo mundo, de forma a
impelir as mídias tradicionais a iniciar a cobertura das manifestações.
Além dos motivos específicos da conjuntura local ou nacional, não se pode
descartar também a influência do contexto internacional, especialmente os
movimentos Occupy em várias partes do mundo, os Indignados na Europa
(especialmente Espanha, Portugal e Grécia) e a Primavera Árabe. (GOHN,
2014, p.21-22)
E é por conta desses fatos que se considera importante conhecer se, no universo de
atuação desta pesquisadora, a educação, há um sentimento de indignação e pertencimento que
possa impulsionar os jovens à participação, organização, reflexão e formação crítica por meio
desses movimentos, funções essas que seriam dessa mesma educação. Nesse sentido, nesta
tese são consideradas as indignações sociais que marcaram a cena política brasileira no ano de
2013, notadamente aquelas relacionadas a diversos movimentos de “massa” com variadas
reivindicações, às quais alguns escritores, entre eles jornalistas, atribuíram o próprio conceito
de “movimento social”.
Desse modo, este trabalho de investigação inscreve-se no universo de reflexões
que relacionam os processos de Inclusão Social aos processos de Inclusão Digital, propondo-
se particularmente a estudar a questão central: como os jovens do Ensino Médio das escolas
públicas do Estado de São Paulo definem, tomam conhecimento ou participam dos
movimentos e manifestações sociais – e se isso se dá por meio da educação formal, tendo
como instrumento a sala do Acessa Escola1, utilizando, ou não, as redes sociais como
ferramentas para comunicação, publicização e participação desses estudantes nesses
movimentos e manifestações. Para a realização dessa tarefa, é preciso abordar categorias,
conceitos e definições que possam auxiliar na investigação, como movimentos sociais, redes
sociais digitais, educação, políticas públicas, tecnologia de informação e comunicação e
inclusão digital.
No que se refere aos movimentos sociais, as questões que envolvem esse tema vão
desde sua possível conceituação, diferenciando-os de manifestações e protestos, os quais, no
senso comum, são tomados por sinônimos. E o termo, movimentos sociais, possui teorias e
conceitos variados de acordo com o contexto social, cenário e modelos teóricos. Contudo,
1 O programa Acessa Escola, o qual será apresentado no capítulo III, é um programa que faz parte das Políticas
Públicas de inclusão digital e educacional do Governo Estadual de São Paulo, desenvolvido pelas Secretarias de
Estado da Educação e de Gestão Pública e coordenado pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação -
FDE.
18
para Gohn (2008), são “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que
viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar suas demandas”.
Os movimentos sociais se definem pela forma de organização de determinados
grupos dentro da história e de acordo com suas demandas políticas, culturais, sociais,
econômicas. De acordo com Touraine (2006), eles possuem três princípios: o da identidade, o
da oposição/conflito e o da totalidade (descritos no primeiro capítulo). Os movimentos
contribuem para o entendimento da cidadania e de como ampliar os direitos, podendo
encaminhar-se nos diferentes níveis da sociedade civil, em grupos que se consideram como
iguais no que tange às condições econômicas ou à classe, raça etc., tanto no campo como na
zona urbana.
Quanto aos “novíssimos movimentos” (GOHN, 2013a), os quais têm a internet e
as redes sociais digitais como ferramenta de mobilização, se destacam por desenvolverem
movimentos em rede dos quais seus atores demandam democracia de poder descentralizado.
A crítica a eles está na falta de demandas específicas, como foi o caso das manifestações de
junho de 2013, existem identificações e demandas específicas em redes menores. De acordo
com Castells (2013), esses movimentos tiveram início em diferentes localidades do globo
terrestre por causas específicas, desenvolvendo-se conforme a reação do Estado em responder
ou não ao solicitado, assim como ocorreu no Brasil. Porém, não tinham identidades
específicas, com variadas demandas. Eram em sua maioria jovens que se apoderaram das
redes sociais como meio de comunicação virtual que possibilitava “autonomia”.
Para este trabalho também é importante diferenciar “redes” de “mobilização
social”, pois para muitos a primeira categoria passou a ser mais importante para os estudos do
que a segunda. Contudo, o conceito de redes também possui sentidos diferentes para cada
época e cada corrente de estudo das academias nas ciências exatas, humanas, biológicas e
sociais ou em áreas como as da antropologia, geografia etc. Também variam os significados
de acordo com os autores e linhas de pensamento. Podendo também ser agentes de
organização de lutas e participações ativistas.
Já as redes sociais digitais, por sua vez, se configuram como ferramenta de
comunicação e organização dos movimentos e manifestações sociais, criando e ampliando os
espaços de mobilização, além do uso comum para relações pessoais e busca de informações.
E, de acordo com Castells (2013), as mídias sociais “não causam revoluções”, mas não há
como refutar que sua utilização proporcionou as maiores manifestações desta década, com
levantes como os da Primavera Árabe ou o Occupy Wall Street. As redes dão uma
19
característica comum a todos esses “novíssimos movimentos” (GOHN, 2013a), são
“conectados em rede de múltiplas formas” (CASTELLS, 2013).
Para Castells (2013), esses movimentos possuem peculiaridades, a saber: se
tornam um movimento ao ocuparem um espaço urbano; são simultaneamente locais e globais;
são amplamente espontâneos em sua origem, geralmente desencadeados por uma centelha de
indignação; são virais; realizam-se por deliberação no espaço da autonomia; são
profundamente autorreflexivos; não são violentos em geral; seus programas são elaborados
em torno de objetivos específicos; o papel da internet e da comunicação social em rede sem
fio é fundamental.
O estudo da relação movimentos sociais e educação é nova, podendo, segundo
Gohn (2011), ocasionar entusiasmo em uns e repúdio em outros. Essa conexão se deu por
conta dos novos atores que têm os movimentos como uma grande influência educativa para
esses grupos. E ocorre “na interação dos movimentos em contato com instituições
educacionais, e no interior do próprio movimento social, dado o caráter educativo de suas
ações” (GOHN, 2011).
Arroyo (2003) fala sobre a possibilidade de uma “pedagogia dos movimentos
sociais”, quando mostra as identificações de todos os movimentos com seus gritos de guerra,
palavras de ordem, formas de manifestação e até organização, as quais não existem em
nenhum manual ou método pedagógico, ao contrário, fazem parte de uma ação pedagógica
para a formação humana.
Também, discutir políticas públicas voltadas à educação é imprescindível como
referencial teórico para análise do objeto desta tese, pois se faz necessário entender como elas
são formuladas e implementadas com vistas a ações inclusivas e educativas nas escolas
públicas, das quais faz parte o segmento do Ensino Médio, no qual estão inseridos os sujeitos
desta pesquisa. Assim, Perez (2010) afirma que o conceito dessa categoria – educação – vai
além de estudo ou o que é estudado, pois é o conjunto de ações do Estado, administrado por
um determinado período por um governo, tendo em vista a formação do cidadão. Assim como
discutir política pública em educação nesta tese é fundamental, no que tange aos seus
programas e como são implantados no universo da escola pública.
Outro aspecto que se torna apropriado estudar são alguns conceitos sobre
adolescência e juventude, uma vez que o sujeito central desta tese é o aluno, adolescente e
jovem, do Ensino Médio da rede pública estadual de São Paulo. Entender sua participação na
sociedade e em ações coletivas significa compreender, de certa forma, sua atuação ou
participação em protestos de reivindicações.
20
O aluno do Ensino Médio das escolas públicas está inserido em um sistema de
ensino desarmonizado. O currículo não está articulado com as necessidades sociais reais, não
as priorizando em suas metodologias. Mesmo que, nos últimos anos, tivesse havido uma
melhoria relativa no que se refere à universalização, a situação geral não é satisfatória,
principalmente qualitativamente. E, ao longo da História da Educação, houve implementações
e tentativas de políticas com vistas a garantir a melhoria da qualidade da educação, como
também do acesso e da permanência do estudante nela. Contudo, para Ganzeli (2007), esse
processo precisa ser construído a partir de cada realidade, de cada comunidade escolar, pois
não pode ser simplesmente implantado. As desigualdades dentro do espaço escolar
permanecem, mesmo com a mudança de algumas legislações e criação de outras, se
desenvolvendo de acordo com interesses de cada região.
No que se refere às Tecnologias de Informação e Comunicação, vale salientar que
elas não determinam a sociedade, contudo o acesso à informação pode ser de grande valia na
transformação da sociedade e do processo educacional. E, por meio dessas ferramentas,
pode- se agilizar o processo de aprendizagem no que se refere à busca de informações e, por
conseguinte, proporcionar outras possibilidades de elaboração do conhecimento, para
embasamento de uma formação cidadã. Mas a saída não está somente em equipar as escolas
com computadores, formar os professores, acesso à internet e às redes sociais. Nem tão
somente em inserir as TICs no cotidiano escolar, o que não garante a melhoria da qualidade
do ensino. É preciso, antes de tudo, que essas ferramentas sejam utilizadas, além do auxílio na
cognição, para uma formação crítica cidadã, na qual os sujeitos busquem formas de
transformação de suas realidades e da sociedade em que vivem.
No que se refere ao acesso, estudos feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e
Estatística - IBGE, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, com
dados referentes a 2013, e pela Fundação Getúlio Vargas - FGV, em parceria com a Fundação
Telefônica, com o Mapa da Inclusão Digital, publicado em 2013, demonstrou que o acesso às
TICs e redes digitais teve um aumento considerável. Contudo, ainda existe uma parcela, quase
a metade da população do Brasil, que não está incluída nesse universo. Ainda mais quando se
trata das disparidades digitais quanto à questão da inclusão no mesmo país – em algumas
regiões a taxa de inclusão fica muito aquém da totalidade.
Infere-se que a exclusão social continua inexorável, sendo muitas vezes, por outra
forma, a exclusão dos que não têm acesso às TICs e às redes sociais, a chamada exclusão
digital. Pois o acesso democrático das TICs e das redes sociais digitais é, antes de tudo,
constituído pelo direito à participação nas tomadas de decisão nos rumos das políticas
21
públicas, é a soberania popular atuando no que tange aos direitos. Por tudo isso, a escola
poderia ser um espaço de formação crítica e de apropriação do uso das tecnologias, visando à
mobilização e à solidificação de movimentos sociais com efetiva participação política na
sociedade.
Dessa forma, o objetivo desta tese é refletir se, a partir da consciência formada em
instituições de educação formal, o jovem poderia, por meio dos instrumentos de acesso à
internet, tomar conhecimento, entender o propósito e até participar da constituição de
movimentos e manifestações sociais. Este estudo aborda também a função de educação não
formal dessas ações coletivas organizadas, a partir do envolvimento dos jovens, por meio de
instrumentos tecnológicos como as redes sociais, acessadas em equipamentos próprios, lan
houses ou mesmo celulares. Dessa maneira, tomam-se como referência, no estudo desses tipos
de influências na participação, as movimentações ocorridas no Brasil em junho de 2013,
organizadas principalmente via redes sociais da internet, geradoras de mobilizações sociais.
Assim, voltando à questão central, é necessário aprofundar se essas ações são
resultado de consciência formada em instituições públicas do Estado de São Paulo de
educação formal ou se advêm do próprio envolvimento dos jovens em ações coletivas
organizadas. Portanto, esta tese dedica-se a refletir sobre fundamentos que deram origem à
participação de jovens estudantes em movimentos sociais em sua dimensão concreta e virtual.
Busca-se compreender como se deu a articulação com grupos envolvidos nesses movimentos
e ações por meio das redes sociais da internet, verificando-se a natureza e caráter dessa
participação. Indaga-se se ela seria fruto de um processo de conscientização crítica dos jovens
usuários das redes produzido a partir de sua experiência nos espaços virtuais presentes no
âmbito da educação formal, não formal ou informal.
Também se direciona a atenção para a participação social digital de jovens que
utilizam espaços virtuais de convivência do programa Acessa Escola, implementado pelas
políticas públicas de educação e inclusão digital do governo do Estado de São Paulo. Para
entender melhor a participação desses alunos nos referidos movimentos, considera-se
necessário verificar se essas políticas, além de propiciarem o acesso ao ambiente virtual,
também estimulam a formação de consciência crítica para o convívio e a participação nesses
espaços.
Entre as razões que levaram a propor o objeto de investigação desta tese está
ainda o desejo de elucidar questões relacionadas a aspectos subjetivos, referentes ao interesse,
como educadora, de investigar se os jovens alunos do Ensino Médio são instigados a uma
formação política que os estimule à participação sociopolítica, seja por meio do ensino
22
formal, mediado por educadores, seja por meio da educação não formal propiciada pelos
espaços virtuais disponibilizados nas unidades escolares. O cenário político conformado ao
longo do ano de 2013 (pré-copa, copa, pré-eleições, eleições etc.), que culminou nas
manifestações e nos “movimentos dos indignados”, inspirou a considerar os processos
educativos formais e não formais vividos também no espaço das redes sociais da internet no
foco das reflexões acadêmicas, o que resultou na elaboração desta proposta de pesquisa.
Diante do exposto, para dar conta da complexidade do tema tratado, considerou-se
necessário um movimento de estudo que permitisse conhecer as relações entre o convívio em
ambientes virtuais, a educação e o Estado e as políticas públicas da Educação. Do mesmo
modo, torna-se indispensável considerar a discussão sobre a importância das políticas
educacionais brasileiras e o efeito que as reformas do Estado tiveram sobre elas. Para tratar de
temas relacionados às políticas voltadas para a Inclusão Social por meio da Inclusão Digital, é
preciso sistematizar elementos básicos constituintes disso que conhecemos por Políticas
Públicas, bem como conhecer sua estrutura, ou melhor, construir o conhecimento sobre,
porque sua organização se constitui como pilar para atuação dos cidadãos. Esse conhecimento
poderia auxiliar na compreensão dos processos de Inclusão Social mediados pela Inclusão
Digital à medida que esclarecesse sobre como os saberes acerca da política pública
educacional propiciam a compreensão do processo de desenvolvimento de uma consciência
crítica por meio da participação em movimentos virtuais dos indignados.
Não menos importante, faz-se necessária uma análise das demandas sociais da
realidade brasileira, assim como do cotidiano educacional mediado por seus educadores no
âmbito escolar e o estudo de acesso aos usos tecnológicos, mais especificamente à internet e
redes sociais. É mister a análise da realidade e das demandas sociais e educacionais, de forma
a observar como a Educação pode ser uma grande aliada na tarefa de transformação social,
pois é por meio dela que se pode contribuir para criar e desenvolver um espírito crítico nos
educandos e na “comunidade educativa” (GOHN, 2004, p.40).
Nesse contexto, antes de apresentar o cenário educacional onde transitam os
jovens desta pesquisa, considera-se conveniente delinear algumas concepções sobre alguns
temas desta tese, tais como Movimentos Sociais e Tecnologias de Informação e Comunicação
e outros que os complementam. Toma-se como base conhecimentos vivenciados na Educação
formal e não formal para refletir sobre as políticas públicas, de forma a proporcionar o acesso
aos cidadãos às informações veiculadas na rede e, consequentemente, maiores possibilidades
de interação. Discute-se também sobre movimentos sociais e suas possibilidades de
organização, sobre conceitos e práticas educacionais. Além disso, dedica-se atenção a estudos
23
sobre o relacionamento entre as teorias e Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs,
mais especificamente no que se refere à internet e às redes sociais digitais. Tudo isso sem
deixar de contextualizar essas ponderações no universo de reflexões sobre educação e sua
relação com a formação de um processo de conscientização popular.
Assim, neste estudo, para o conhecimento do objeto proposto, recorre-se a um
referencial teórico como suporte para esclarecer categorias como Políticas Públicas
Educacionais, Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, Movimentos Sociais e o
percurso dos movimentos de reivindicações das demandas sociais em redes sociais e internet
em geral.
A respeito dos procedimentos operacionais da pesquisa para a investigação sobre
a participação e a produção de uma consciência crítica por meio da experiência de
engajamento em protestos e grupos dos indignados, propõe-se a investigação tanto em
espaços virtuais como em escolas públicas da rede estadual de São Paulo que possuam Ensino
Médio. Essa investigação busca responder se nesses equipamentos educacionais existem
movimentos de reivindicações das demandas sociais organizados por meio das redes sociais
da internet e como se deu e se dá sua articulação.
Os sujeitos da pesquisa são os alunos do Ensino Básico de escolas públicas
inseridas na Diretoria de Ensino Região de Caieiras, a qual abrange um território onde grande
parcela da população é carente, principalmente dos municípios de Franco da Rocha e
Francisco Morato. Ainda fazem parte os municípios de Caieiras, Cajamar e Mairiporã, os
quais também possuem áreas desprovidas de recursos sociais e econômicos. Contudo, apesar
de ainda existirem sujeitos que não têm vivência virtual, uma grande parcela dos estudantes
frequenta lan houses, usa internet na casa de colegas e no espaço da escola. Assim, considera-
se importante pesquisá-los, uma vez que tal contato virtual pode revelar algo mais sobre
políticas públicas educacionais e, dessa forma, os impactos de possíveis transformações no
processo de ensino e de aprendizagem que a educação pode propiciar.
Metodologia
A metodologia é configurada no intuito de possibilitar identificar como os jovens
do ensino médio da Escola Pública Estadual tomam conhecimento e participam, por meio das
redes sociais, dos movimentos de reivindicações e demandas sociais da sociedade, tendo
como instrumento a sala do Acessa Escola. Assim, para a realização desta tese, a metodologia
divide-se em três etapas.
24
Na primeira etapa, realiza-se um estudo da bibliografia e pressupostos presentes
nas publicações específicas no que se refere ao objeto proposto para esta tese. Dessa forma, o
desenvolvimento desta tese se pauta em estudos e obras de alguns autores tidos como mestres
em determinados temas, como também passa por algumas abordagens de outros. No que se
refere aos movimentos sociais e seus desdobramentos: Gohn (2003, 2007, 2008, 2010, 2011,
2013a, 2013b, e 2014), Castells (1999, 2003, 2005 e 2013), Touraine (2006), Sousa (2013,
Melucci (1999), Scherer-Warren (2006), Barnes (1987), Cohen (2003), Arroyo (2003 e 2012),
M.A. Souza (2005) e Freire (s/d). Para se tratar de política pública e política pública em
educação: Perez (1994 e 2010), Palma Filho (2010), Mainardes (2006), Mainardes e
Marcondes (2009), Giovanni (2010), Höfling (2005), Ball e Mainardes (2011), Saviani
(1997), Sanfelice (2010), Borges (2001), Vasconcelos (2008), Weisz (2010), Aguiar (2013),
Afonso (2000), Russo (s/d), Gall et al. (2009), Adrião (2006), Freitas (2011). Para a questão
do jovem e sua participação: Melucci (1996a e 1996b), Novaes (2004), Ozella (2011), Groppo
(2000), Peralva (1997), Camarano et al. (2004), Gohn (2013a, 2013b e 2014) e Abramo
(2004). Na questão da educação: Ishii et al. (2014), Biasoli-Alves (2001), Gremaud (2011),
Mantoan (2006), Soligo (2009), Bremer (2007), Harnik (2011), Freitas (2002), Ganzeli
(2007), Draibe (1993), Sanfelice (2010), Dourado et al. (2007), Freire (1995), Perez e Passone
(2010), Silva (2001), Valente (1999), Pacievitch et al. (2009), Lorieri (2010), Severino
(2002) e Gouveia e Souza (2008). No que se refere às TICs e seus desdobramentos, bem
como à questão educacional e de inclusão: Castell (1999, 2003 e 2005), Santos (2005),
Almeida e Prado (2005), Almeida (2005), D. Silva (2005), Gohn (2004, 2005), Belluzzo (s/d),
Freire (1976 e 2005), Sancho e Hernández (2006), Bonilla e Picanço (2005), Behrens (2007),
Thompson (2012), Balboni (2007), Carvalho (2002), Cortella (2007), Silveira (2008 e 2011),
Lorieri (2005), Demo (2000), Sawaia (2001), Wanderley (2001), Ferreira (2002), Verás
(2001), Paugam (2001), Frigotto (2010), Guareschi (2001), Young (2002), Bonilla e Oliveira
(2011), Bonilla e Souza (2011), Warschauer (2006), Lévy (1999).
Na segunda etapa, apresenta-se uma pesquisa de campo organizada a partir de
procedimentos específicos, a saber:
• Foi construído um questionário com o objetivo de levar em conta tanto fatores quantitativos
– no que se refere ao perfil dos jovens, à utilização dos espaços virtuais e à participação
política por meio dos movimentos – como qualitativos, acerca dos aprendizados, ideias,
opiniões sobre o tema dos movimentos sociais.
25
• Para aplicação desse questionário, foi gerado um formulário2 no Google Docs
3, armazenado
no Google Drive4 e disponibilizado em “computação em nuvem”
5, o qual, por meio de um
link, um grupo de alunos do segmento selecionado pôde acessar o documento e responder às
questões. Estas, imediatamente, ficaram armazenadas em banco de dados no espaço virtual,
ao qual o pesquisador teve acesso por meio de uma conta de email com login e senha.
• Para isso, foi enviado um email a 63 escolas, que possuem Ensino Médio, dos cinco
municípios de abrangência da Diretoria de Ensino Região de Caieiras, solicitando que os
alunos se dirigissem até a sala do Acessa Escola para que pudessem ter acesso ao
questionário, por meio dos computadores e internet. Vale salientar que esse foi um processo
trabalhoso no que se refere à autorização para que os alunos respondessem às questões,
devido à presença de termos como “movimentos sociais”, “reivindicações”, “protestos” no
texto – dessa forma, alguns gestores pensaram que o tema estivesse ligado diretamente com
“política partidária”.
• Contudo, os gestores de apenas 29 escolas atenderam ao pedido e, destas, somente os alunos
de 19 escolas participaram efetivamente, respondendo às questões. Obteve-se um total de
1.262 participações de alunos.
• Entre a construção do questionário, a espera de autorização do Dirigente Regional para
aplicá-lo em unidades escolares, a geração do formulário, o envio do email às escolas e a
organização dos alunos para responderem às questões transcorreram dois meses, entre agosto
e setembro de 2014.
• Posteriormente, no mês de outubro, os dados foram tabulados para o início da análise para o
relatório de qualificação.
• No mês de novembro, após a leitura e a partir das respostas, foram selecionados 20 alunos
para uma possível entrevista, quatro de cada município, uma vez que a Diretoria de Caieiras
abrange cinco cidades. Após reunião entre orientadora e orientanda, chegou-se à conclusão de
2
O gerador de formulários é uma ferramenta do Google Docs, que facilita a criação de questionários, pois é bem
versátil e pode ser usada para construir avaliações de algum produto ou serviço, cadastros de pessoas, pesquisas
de opinião e até mesmo testes de conhecimento. 3
O Google Docs é um serviço com aplicativos que permite criar, editar e visualizar documentos de texto e
compartilhá-los, com a possibilidade de trabalhar off-line. Essa ferramenta pode salvar os arquivos tanto no drive
online do Google como na memória do dispositivo. Também é possível definir que tipo de interação essas
pessoas terão sobre um documento, como permitir que elas editem, comentem ou apenas visualizem o texto.
(COSTA, 26/05/2015) 4 O Google Drive é um serviço de disco virtual que o Google lançou oferecendo alguns GB de espaço gratuito
para seus usuários. O serviço permite o armazenamento de arquivos na nuvem do Google. 5 A denominação “cloud computing”, também conhecido no Brasil como computação nas nuvens ou computação
em nuvem, se refere, essencialmente, à ideia de utilização, em qualquer lugar e independente de plataforma, as
mais variadas aplicações por meio da internet com a mesma facilidade de tê-las instaladas em próprios
computadores. Nele é mais fácil encontrar aplicações disponíveis em servidores que podem ser acessadas por
qualquer terminal autorizado por meio de uma rede. (ALECRIM, 04/03/2015)
26
que seria interessante que esses alunos fossem convidados para uma “Roda de Conversa”, na
qual eles pudessem debater o tema a partir de questões propostas.
• A “Roda de Conversa” com o objetivo de promover um debate com alunos que participaram
de manifestações em ruas e praças a partir de junho de 2013, ocorreu no dia 03/12/2014.
• As questões para estímulo ao debate foram semiestruturadas, partindo de um roteiro pré-
elaborado, porém, permitindo a inclusão de outras questões que se fizeram necessárias. A
“Roda de Conversa” foi gravada em vídeo e, posteriormente, transcrita.
Na terceira etapa, são analisadas as informações coletadas, de maneira a verificar
as relações entre movimentos sociais, educação e redes sociais/internet, assim como pontos
divergentes. São realizadas reflexões acerca do material estudado e estabelecida, à luz do
referencial teórico, a relação entre a teoria e prática, contribuindo para a interpretação sobre
como o jovem do Ensino Médio da escola pública estadual de São Paulo, organizado por meio
das redes sociais, no processo de articulação dos movimentos de reivindicações das demandas
sociais, constrói referenciais para o desenvolvimento de uma consciência a partir de
instituições de educação formal. Também como as ações dos movimentos sociais têm se
articulado por meio da internet e redes sociais digitais, e como estas são incentivadas pelos
campos educacionais formal, não formal e informal.
Para efeitos da análise, foram resgatadas e reescritas duas matrizes explicativas
das práticas de participação, apresentadas na dissertação de mestrado (Silva, 2008), as quais
compõem o referencial teórico de apoio desta dissertação: a matriz mercadológica - baseada
em argumentos e práticas em que se destacam o indivíduo, a competição, a separação, e a
finalidade das atividades de inclusão e participação, na qual se destaca a preparação para o
mercado de trabalho; e a matriz cidadã - que trabalha com a perspectiva da construção de
espaços coletivos e encontros de grupos sociais nos quais os sujeitos neles se reconhecem
com vidas, propósitos, objetivos e problemas comuns. A matriz cidadã tem por finalidade
contribuir para a formação dos sujeitos, de forma a se ter uma ferramenta para construir a vida
dos sujeitos de forma participativa e coletiva.
Desenho dos capítulos da tese
O primeiro capítulo, intitulado “Referenciais teóricos: movimentos sociais,
políticas públicas e jovens”, aborda estudos para subsidiar a questão central da tese com vistas
a investigar a natureza e o caráter da participação social no que diz respeito à origem dos
27
movimentos sociais em sua dimensão concreta e virtual, à articulação dos grupos envolvidos
nesses movimentos e ações por meio das redes sociais digitais. Trata, sucintamente, da
definição de políticas públicas, principalmente as que afetam jovens desses segmentos – de
educação –, e faz uma breve significação do tema juventude.
Com o título “Educação e políticas públicas: uma visão do cenário”, o segundo
capítulo estende-se sobre algumas questões do sistema educacional brasileiro e as políticas
públicas em educação, empreendendo um histórico sumário no âmbito estadual paulista e
sobre a implantação de outras no Brasil para o Ensino Médio. Também introduz um quadro
dos fatos ocorridos nos últimos meses do ano de 2015, no que tange aos protestos,
manifestações e reivindicações contra a implementação da Reorganização das escolas do
Estado de São Paulo.
O terceiro capítulo, “Tecnologias de Informação e Comunicação”, discorre sobre
as TICs e sua aplicação no âmbito escolar, bem como a implantação do programa Acessa
Escola, como uma das políticas públicas para educação de apoio às atividades pedagógicas e
como política pública para inclusão digital. Nessa perspectiva, aborda alguns conceitos de
inclusão digital, assim como apresenta duas matrizes de análise para a pesquisa de campo.
Dedica-se o quarto capítulo, “Movimentos sociais, educação e redes sociais:
pesquisa de campo”, à análise do material da pesquisa de campo – questionário e roda de
conversa –, procurando estabelecer limites e possibilidades de políticas públicas e programas
implementados e sua apropriação pelos alunos do Ensino Médio. Esse capítulo procura
debater sobre até que ponto essas ações podem abrir espaços de luta por meio das redes
sociais digitais, com a participação de jovens do Ensino Médio de escolas públicas.
Por fim, as considerações finais, sem a pretensão de apresentar uma conclusão
definitiva ao que concerne ao objeto de estudo, em uma conjuntura dinâmica em que a
sociedade vislumbra a cada dia novos acontecimentos, principalmente no que diz respeito à
questão dos movimentos e manifestações sociais, bem como suas relações com o universo das
redes sociais digitais e internet.
Os desafios são diversos quando se trata de um tema que se configura em torno de
um ciclo em desenvolvimento no que se refere às formas inéditas de expressões e
pensamentos acerca da teoria e das práticas que se apresentam com suas inovações e
mudanças.
Nessa perspectiva, estima-se que a educação formal não tem propiciado e, muitas
vezes, até nega o acesso às Tecnologias de Comunicação e Informação aos jovens do Ensino
Médio das escolas públicas. Isso devido ao desconhecimento de muitos profissionais da
28
educação sobre as possibilidades de elaboração do conhecimento e de relações sociais em
rede com vistas a uma formação crítica e até ao aprendizado com o outro. O modelo de
educação vigente não prepara para uma vivência coletiva, em que os sujeitos possam estar
conscientes de suas realidades e atuar para transformá-las. Existe uma disparidade entre uma
formação para a individualização do sujeito – que, de forma apática, espera que as decisões
sejam tomadas por outros segmentos da sociedade e que isso, de alguma forma, o beneficie –
e o enfrentamento consciente dos desafios impostos pela sociedade por meio de uma
participação coletiva e deliberativa.
Quanto às redes sociais digitais e internet, há uma percepção de que os jovens
demonstram uma criticidade acerca da importância do seu uso, bem como seus limites,
aspectos favoráveis ou não. Por meio das redes, muitos são informados sobre os universos e
cenários de lutas sociais e, por conta disso, alguns são levados à participação. No entanto, o
ambiente escolar não os tem levado a uma tomada de conhecimento dos fatos. E por
consequência gera a desmobilização, pois os alunos raramente frequentam os espaços
destinados ao acesso das TICs, por não serem estimulados para fins de estudos ou sociais. Os
jovens buscam acesso às redes sociais, fundamentalmente, fora do espaço educacional formal,
mas para a maioria o acesso se dá principalmente, senão como única forma, por meio da rede
de telefonia celular. A qual, para os jovens, é imprescindível para participação social e busca
de informações.
Aos jovens estudantes falta o estimulo, por meio da educação escolar, as
diferentes formas de reflexão acerca dos movimentos sociais, das manifestações sociais, seus
objetivos, suas histórias, seus contextos e a realidade contextual em que vive. Na maioria das
vezes não lhes são apresentados ou discutidos os fatos cotidianos no que diz respeito a esse
tema, a exceção da vontade política de alguns professores, sobretudo da área de ciências
humanas, engajados em princípios democráticos e cidadãos. Apesar de muitos conhecerem o
tema, ou o terem acompanhado pela mídia, a grande maioria não participou de nenhum
movimento de protesto e reivindicação. Para os que participaram, salvo alguns que não
acreditavam que sua atuação em movimentos pudesse trazer boas perspectivas, a participação
foi importante para construção de sua história como ser humano reflexivo, ainda que por meio
de grupos externos ao espaço da escola.
Diante do exposto, considera-se que a educação formal pouco proporciona
espaços e oportunidades para tais reflexões acerca do tema, tampouco, por meio de seu
currículo, estimula a participação social em busca de direitos cidadãos, mesmo porque,
raramente se discute tal mote relacionado com os desafios enfrentados pela sociedade em que
29
vivem, exceto pela iniciativa de educadores que, a partir de suas aulas, procuram trabalhar
com vistas a uma educação mais emancipadora que prima para a formação para a cidadania.
Contudo, vale a pena ressaltar que recentes acontecimentos surpreenderam a
sociedade civil, governos e mídia quando jovens e adolescentes, estudantes da rede pública
estadual paulista, protestaram contra a medida educacional pública de Reorganização das
escolas da rede estadual. Cabe lembrar que os sujeitos desta pesquisa de campo fazem parte
desse novo cenário apresentado ao país, no qual os estudantes se configuraram protagonistas
de fato e como construtores de suas histórias, da educação e da sociedade. Isso posto, fizeram
com que o país ouvisse suas insatisfações e reivindicações, por meio de uma experiência que
lhes proporcionou um aprendizado e uma formação para vida. E essa escola pela qual lutam,
agora, está lhes devendo.
Assim, por conta da manifestação protagonizada pelos jovens estudantes, nos leva
ao entendimento que, mesmo diante desta reflexão apresentada, os espaços da educação
formal ainda se configuram como propositores de ações participativas e cidadãs, a medida que
os sujeitos se articulam, se organizam e aprendem, por meio de uma educação não formal, em
um espaço formal.
Por último, nos Apêndices, é possível consultar o questionário aplicado aos alunos
do Ensino Médio da rede pública estadual paulista, os quadros completos das respostas dos
alunos a tal questionário e a transcrição da roda de conversa; e nos Anexos, pesquisa
socioeconômica da região de Caieiras - SP, onde estão inseridos os sujeitos da pesquisa.
30
CAPÍTULO I – REFERENCIAIS TEÓRICOS: MOVIMENTOS SOCIAIS,
POLÍTICAS PÚBLICAS E JOVENS
O capítulo aborda os referencias teóricos buscados para subsidiar a questão central
da tese, no que se refere à compreensão da atuação do jovem estudante do Ensino Médio da
Escola Pública Estadual em movimentos ou manifestações de reivindicação das demandas
sociais. Desse modo, faz-se necessário, com vistas a verificar a natureza e caráter dessa
participação, inicialmente abordar a origem dos movimentos sociais em sua dimensão
concreta e virtual; a articulação dos grupos envolvidos nesses movimentos e ações por meio
das redes sociais digitais; uma definição de políticas públicas, principalmente as que afetam
jovens desses segmentos; e, por último, uma significação ao tema jovem ou juventude,
ativista ou não.
1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS
Apresentar a temática dos movimentos sociais, seu panorama, seus
desdobramentos e inserções no campo da educação por meio das redes sociais e internet é de
fundamental importância na análise desta tese, uma vez que se busca identificar se o sujeito
da pesquisa poderia desenvolver a capacidade de participar da constituição de movimentos e
manifestações sociais.
1.1.1 Manifestações e protestos: significados
De acordo com o dicionário Houaiss (2001), “protesto” significa “ato ou efeito de
reclamar”, de se queixar. É um “grito, brado de repulsa ou de não concordância com relação a
algo”. Assim, o sentido mais viável seria o de manifestar-se contra. Contudo, se consultada a
etimologia da palavra, verifica-se que vem de “prometer ou afirmar solenemente”. Por essa
perspectiva pode-se dizer que quem protesta também pode estar afirmando algo.
Segundo o mesmo dicionário, manifestação significa “ato de dar a conhecer, de
revelar (pensamento, ideia); expressão, revelação [...] ato de exprimir-se, pronunciar-se
publicamente [...] de deixar transparecer um sentimento em sua atitude, em seu
comportamento”. Também um “conjunto de pessoas que se reúnem em lugar público para
defender ou tornar conhecidos seus pontos de vista, suas opiniões”.
31
Portanto, pode-se entender que “protesto” e “manifestação” são palavras
diferentes em sua definição, porém existe a possibilidade de protestar por meio de
manifestações, ou seja, reivindicar direitos. Seria um esforço mútuo, um movimento em favor
de uma causa ou que busca modificar o que está posto.
1.1.2 Movimentos sociais: breve panorama
Neste item não existe a pretensão de se fazer uma definição ou um histórico
precisos do conceito “movimentos sociais”, e sim apenas traçar um breve panorama do
conceito, para que seja base do referencial teórico em análises posteriores.6 Segundo Gohn
(2007, p.327), “não há teoria, concepção e tipo único de movimento social [...] há várias
teorias formadas em paradigmas teóricos explicativos”. Assim sendo, iniciar-se-á com a
teoria da autora sobre movimentos sociais, apontando que são “ações sociais coletivas de
caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e
expressar suas demandas (cf. GOHN, 2008)”.
Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam da
simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas,
concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de
desobediência civil, negociações etc.) até as pressões indiretas. Na
atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de redes
sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais ou transnacionais, e
utilizam-se muito dos novos meios de comunicação e informação, como a
internet. (GOHN, 2011, p.335)
Os movimentos sociais se caracterizam pela organização de determinados grupos
visando transformações sociais por meio de mudanças nas instituições da sociedade ou
mesmo em defesa delas, isso dentro de um determinado tempo e espaço (este último, nem
sempre geográfico, nos dias atuais). Esses sujeitos se agrupam segundo suas demandas
sociopolíticas e culturais, de forma a criar uma identidade de luta pelos seus valores, ideais ou
ideologias, sejam eles de cunho tradicional ou progressista.
Segundo Touraine (2006), os movimentos têm como característica três princípios:
o da identidade, o da oposição/conflito e o da totalidade. O primeiro define quem são os
atores de determinados grupos, o que buscam como objetivo, quais são seus valores e ideais e,
com isso, identifica-se qual seria sua luta. O segundo princípio, o da oposição/conflito, se
6 Para aprofundamento da temática, ver a obra de Gohn (2007) e toda a sua bibliografia em que trata das Teorias
dos Movimentos Sociais.
32
traduz na questão da definição de um opositor, atuando o grupo contra a ação de determinadas
instituições da esfera pública ou privada, seja pela transformação ou pela manutenção do
estado vigente. Já o terceiro, o da totalidade, se baseia na construção de um projeto que visa à
transformação social, cultural ou do sistema político. No entanto, esse projeto tem como
perspectiva o bem comum, ou seja, a luta, se vencida, beneficiará a todos os integrantes da
sociedade, não somente os grupos pertencentes a determinado movimento. Como isso, os
movimentos buscam contribuir para estender a cidadania e ampliar os direitos a todos os
indivíduos, respeitando suas diferenças.
Diante disso, as manifestações ou os protestos – inseridos por meio delas – não
são movimentos sociais consolidados, são ações, entre outras, que os movimentos
empreendem, uma característica dos movimentos citados anteriormente, pois partem da
premissa do conflito, daí as ações desencadeadas, como as greves dos trabalhadores no século
XIX, as passeatas, as ocupações. Sendo assim, “só há movimento social se a ação coletiva –
também ela com um impacto maior do que a defesa de interesses particulares em um setor
específico da vida social – se opuser a tal dominação” (TOURAINE, 2006, p.19). Para
Touraine (2006, p.19), eles são a representação dos valores da sociedade civil, são
articulações dentro da esfera pública dos interesses dessa sociedade. Esses movimentos são
grupos com os mesmos ideais, organizados para lutar para que suas demandas sejam ouvidas
e executadas.
Os movimentos podem ocorrer nos mais variados níveis da sociedade civil, como
o associativismo na esfera local, em que as demandas são comuns a atores que convivem
(moradia, trabalho etc.) ou vivem próximos geograficamente. Nessa perspectiva, Gohn (2003)
afirma que, no início dos anos 80, eles eram denominados movimentos sociais populares
urbanos, e já eram considerados novos movimentos sociais, embora possuíssem um perfil
diferente daquele que será tratado logo adiante, pois buscavam “contrapor os novos
movimentos sociais aos ditos já velhos, expressos no modelo clássico das Sociedades de
Amigos de Bairro ou Associações de Moradores”. Sendo que, segundo a autora, “o que está
no cerne da diferenciação eram práticas sociais e um estilo de organizar a comunidade local
de uma maneira totalmente distinta” (GOHN, 2003, p.26).
Outro exemplo são os grupos que se consideram como “iguais”, seja nas
condições econômicas ou sociais, seja no que se refere à classe, raça, gênero etc., como o
movimento negro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, o movimento
feminista e muitos outros. Esses grupos entendem que há uma motivação que os une e os
impulsiona para a busca de suas demandas e reivindicações.
33
Os movimentos, usualmente, se estruturam segundo três agentes básicos: os
demandatários, os líderes, uns mais expressivos que outros, e os assessores, mediadores
externos ao grupo. Vale salientar que nem todos os movimentos, principalmente os novos
movimentos sociais, reproduzem essa estrutura de liderança. O relevante é que esses grupos
têm uma identidade estabelecida – a qual atrai e inclui os que se identificam com ela, ao
mesmo tempo que exclui os que não se identificam – e lutam por demandas específicas
daquele grupo social, que, por sua vez, faz parte do movimento. Lembrando que a identidade
é o que define o que cada indivíduo e o grupo como um todo são no coletivo, de modo a criar
uma forma de pertencimento de cada um em um coletivo, no qual o indivíduo se identifica e
se define enquanto grupo. Essa é uma característica dos movimentos surgidos a partir dos
anos 60, como os ambientais, feministas, afrodescendentes, povos indígenas, grupos Lésbicas,
Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Simpatizantes - LGBTS etc.
Já os “novíssimos movimentos” (GOHN, 2013a, p.22), ocorridos entre os anos de
2011 e 2013, têm a internet e as redes sociais como mais uma ferramenta para mobilização
política, como o movimento Occupy Wall Street, nos Estados Unidos – e outros movimentos
Occupy surgidos posteriormente em outras partes do mundo –, os Indignados da Espanha,
Portugal, Grécia etc., a Primavera Árabe no Egito, Tunísia e outros países do mundo árabe.
Estes últimos se destacam por desenvolver ações em prol da democracia (GOHN, 2013a,
p.25), seus atores não têm acesso aos mecanismos institucionais e políticos (p.20). Eles se
diferenciam por não haver uma liderança, ao contrário do que já foi dito, são movimentos de
rede e o poder é descentralizado (GOHN, 2014, p.146).
No entanto, Gohn (2013a, p.24) critica a posição de que faltam a tais movimentos
descentralizados definições estratégicas, programáticas e teóricas. Neles existem
identificações e demandas específicas, contudo, há uma tendência para certa transversalidade,
sendo criadas formas de aliança entre movimentos para atingir objetivos acerca de suas
demandas.
Movimentos sociais são fenômenos históricos, decorrentes de lutas sociais.
Colocam atores específicos sob as luzes da ribalta em períodos
determinados. Com as mudanças estruturais e conjunturais da sociedade civil
e política, eles se transformam. (GOHN, 2007, p.19-20)
Os movimentos sociais sempre fizeram parte da história da humanidade. Estão
presentes na sociedade desde antes de Cristo, com os “profetas” que reuniam muitos ao seu
redor para “pregar” contra a opressão de reis e imperadores, assim como apontado por
34
pesquisadores do “movimento messiânico”, já que “os messianismos se configuram enquanto
movimentos sociais que respondem a situações tidas como opressoras” (SOUSA, 2013,
p.506). Houve movimentos escravistas em sociedades antigas, movimentos de camponeses
na Idade Média e movimento de mercadores na Idade Moderna. Contudo, a temática passou a
ser estudada de forma acadêmica somente a partir dos anos 60, com a emergência da
industrialização e dos movimentos operários.
Todavia, Gohn (2008, p.24) afirma que:
[...] a temática dos movimentos sociais no universo das ações coletivas
possíveis é uma área clássica de estudo da sociologia e das ciências sociais
desde os primórdios e não apenas um momento da produção sociológica,
como pensam alguns, reduzindo as manifestações empíricas, com seus
fluxos e refluxo e confundido a produção acadêmica destes ciclos com a
própria existência concreta do fenômeno.
Movimento social é o movimento de sujeitos em grupo em direção ao
questionamento das ações de instituições públicas e privadas conforme suas indignações e
reivindicações específicas, no intuito de alcançar suas demandas. Contudo, todos os grupos
ressaltam e lutam contra a falta de coerência nas questões sociais e econômicas de sua
conjuntura e sociedade, para manter e valorizar os direitos da humanidade e propor novas
formas de desenvolvimento social.
Para Gohn (2008, p.19), muitos discutem sobre movimentos sociais e, apesar de
haver divergências, acordam em “analisá-los no bojo da problemática da ação social
coletiva”, sendo que a maioria deles os trata “numa teoria de ação social”. Segundo a autora,
Lorens von Stein, já em 1842, utilizava o termo movimento social “dando o sentido de uma
luta contra dada situação” (GOHN, 2008, p.20-21), assim como outros autores na França, no
final do século XIX, trataram sobre ações coletivas de modo parecido ao observado no caso
dos movimentos sociais sob uma perspectiva conservadora, com um panorama “dos instintos
selvagens de sobrevivência”, sob influência de Freud e até alicerçados em Darwin. Outro que
foi e continua a ser “referencial de várias abordagens” é Max Weber.
Gohn (2008, p.22) afirma que, em 1939, Blumer “foi o primeiro a utilizar o termo
movimento social na produção teórica” e Heberle, em 1951, “foi um dos primeiros
pesquisadores a publicar um livro que trazia em seu título o conceito de „movimento social‟”.
Nos anos 50 sobressaíram-se ainda Turner e Klilliam, com a publicação de um livro dedicado
em grande parte a essa temática. E, a partir de 1962, Smelser, com a “teoria da tensão
35
estrutural”, foi tratado como “um dos principais teóricos dos movimentos sociais”.
Posteriormente, sua abordagem seria bastante criticada.
Porém, o conceito vem se modificando, e Gohn (2008, p.24) explica que nos anos
50 e parte da década de 60 os movimentos eram abordados “no contexto das mudanças
sociais”, sendo vistos como “fontes de conflitos e tensões” e classificados como
“religiosos/seculares, reformistas/revolucionários, violentos/pacíficos”. A temática tinha o
mesmo significado de revolução e era associada à categoria “trabalhador”. Ressalta também
que nos anos 50 a temática possuía uma grande variação de sentidos, fazendo com que fossem
tratadas como movimento social as guerras e ideologias tanto radicais como libertárias.
Ainda nesse período, de acordo com Gohn (2008, p.24-25), surgiram “novas
modalidades de movimentos sociais” e, com elas, novos paradigmas, como o racionalista, a
exemplo das “teorias culturalistas e identitárias”, mostrando “o lado positivo dos movimentos,
como construtores de inovações culturais e fomentadores de mudanças sociais”.
Já a partir dos anos 70, conforme Gohn (2008, p.25), o estudo desvelava outras
perspectivas para a temática, a qual era tratada como “ação social” e “os movimentos sociais
como atores importantes”, analisados “juntamente com as instituições políticas da sociedade”.
Porém, segundo a autora, será “no campo da ciência política, nos anos 1980, que a
bibliografia geral sociopolítica incorporará a temática dos movimentos sociais com grande
destaque”.
Segundo Gohn (2008, p.27), “resumidamente, podemos dizer que a respeito dos
movimentos sociais temos as seguintes correntes teóricas: a histórico-estrutural, a culturalista-
identitária e a institucional / organizacional-comportamentalista”. A corrente teórica histórico-
estrutural tem vários autores como referência, contudo foi Marx que, nos anos 70, “veio a
influenciar a análise tida como clássica ou tradicional sobre os movimentos sociais do século
XX”, mais especificamente “no estudo do movimento operário, particularmente nas lutas
sindicais”.
A corrente culturalista-identitária “construiu a chamada novidade dos „novos
movimentos sociais‟ ao destacar que as novas ações abriam espaços sociais e culturais” e,
conforme a autora, passaram a ser conhecidos, na “cena pública”, temáticas e sujeitos “como
mulheres, jovens, índios, negros etc.”. Autores como Toraine, Melucci, Offe e outros
desenvolveram estudos acerca da “identidade dos movimentos sociais”, se contrapondo às
“abordagens estruturais ortodoxas”, contudo, não desprezando o marxismo.
36
Já a corrente institucional/organizacional-comportamentalista, desenvolvida
principalmente nos Estados Unidos, buscou como base as “teorias liberais do século XVII e
XVIII”, entre ouras. As questões eram analisadas segundo uma ótica econômica ou uma ótica
sociopsicológica, considerando que o movimento atingiria sucesso ao se transformar numa
“organização institucionalizada”. Nos anos 60 o “paradigma comportamentalista” foi
revisado, “dando origem à teoria da mobilização de recursos” (GOHN, 2008, p.27-31).
No que se refere às teorias mais contemporâneas (GOHN, 2008, p.31-34), foram
construídas com base em abordagens de Castells e Borja, a partir dos anos 60 e 70, “com
ênfase nas contradições sociais no urbano e no surgimento de pobladores, de
cidadãos/moradores etc., fazendo uma releitura da questão urbana”, e de Touraine, que,
conforme a autora, “teorizou sobre os movimentos sociais e é um dos autores com maior
volume de produção a respeito”. Desde os anos 50 ele estudava a classe operária;
posteriormente, falou sobre o “sujeito coletivo” e, principalmente, os movimentos sociais
ocorridos “nas grandes cidades”, tratando de diversos movimentos, como dos estudantes,
antinucleares, latino-americanos, de jovens, mulheres e outros.
Já no final dos anos 70 e decorrer dos anos 80 o tema central foram os
movimentos de “populares urbanos nos chamados países de terceiro mundo”, paralelamente a
movimentos sobre “ecologia/meio ambiente, antinucleares, pela paz, de estudantes e de
mulheres”, já tratados também por Touraine, como dito anteriormente. Nos anos 80,
movimentos fortemente pautados nos “antagonismos entre as classes sociais” deram lugar a
outras problemáticas sociais, como as lutas pelos direitos civis, étnicos, gênero, revoltas
contra as guerras etc. E, nessa mesma década, houve uma revisão “nas teorias focadas na
análise institucional [...] com as teorias da identidade coletiva”.
Foi também nessas décadas, mais especificamente nos anos 70, que no Brasil os
movimentos vieram mais à cena pública, isso por conta do surgimento dos movimentos
estudantis, da nova postura dos sindicatos, que ficaram mais contestativos, e da ascensão das
comunidades eclesiais de base e das pastorais sociais. Emergiam também conflitos acerca da
democracia, por mais liberdade e pelo fim das repressões da ditadura. O final da década de 70,
no Brasil, foi marcado pela criação da Central Única de Trabalhadores - CUT e de partidos de
oposição, como o PT, bem como pela ascensão do MST (GOHN, 2003).
Nos anos 80, as mobilizações de rua voltaram a ter grande destaque,
principalmente nas mídias jornalísticas, com reivindicações pela legalização dos partidos e
pelas eleições diretas. A sociedade civil se organizou com vistas a intervir na Constituinte e
reivindicar direitos do trabalhador (ver GOHN, 2003).
37
Tarrow (1994, apud GOHN, 2007), focando estudos institucionais, já nos anos 90
influenciou o debate acerca das “ações coletivas” com a análise dos movimentos sociais ao
afirmar que “ocorrem quando as oportunidades políticas se ampliam, quando há aliados e
quando as vulnerabilidades dos oponentes se revelam”, de forma a explicar como surgem e
como funciona sua dinâmica. Nessa década, as pesquisas no campo do associativismo
brasileiro também destacaram as Organizações Não Governamentais - ONGs e as
organizações do terceiro setor como um “outro sujeito social”, que até então estava um tanto
oculto no cenário e nas discussões sobre a temática, sendo elas confundidas, em seu conceito,
com o próprio movimento social. O que ocorre ainda é que a temática passou a ser de
interesse de outros segmentos da sociedade civil, como as próprias ONGs e o terceiro setor,
não ficando apenas no métier da academia, com o intuito de desvelar o tema para poder,
inclusive, fazer interferências e pensar em ações em torno dos movimentos.
Ainda nos anos 90, Gohn (2008, p.34-35) mostrou que alguns pesquisadores
recuperam as proposições de Habermas como “expressão de racionalização comunicacional”
ou como resistência à colonização no mundo por mecanismos sistêmicos de racionalização.
Os paradigmas e conceitos se tornaram homogêneos no que se refere às “demandas sociais, o
modo de vida e consumo restrito”. Foram destacados “os pobres e excluídos, apartados
socialmente pela nova estrutura do mercado de trabalho”, contudo, substituídos, mais
especificamente, pela “busca de processos e mecanismos de inclusão social”, como fora
enfatizado pela “escola de Chicago e dos interacionistas”. Outra característica enfatizada foi
“a questão do agir comunicativo presente nas ações dos movimentos e suas possibilidades de
geração de novas formas de relações e de produção”.
Conforme Gohn (2003, p.30-34), já no cenário brasileiro, vale salientar que na
década de 90 o trabalho tornou-se ainda mais precarizado e o desemprego aumentou, por
conta dos desmandos do neoliberalismo no que se refere ao corte de verbas para as áreas
sociais, bem como à privatização de várias estatais. Com isso, explodiram as lutas por terras,
por moradia e as greves pela melhoria das condições dos trabalhadores, que ao mesmo tempo
eram ações reprimidas com violência. Os movimentos sociais foram discutidos e abordados
não só pela academia, mas pela sociedade e governos da época, tendo as manifestações forte
repressão por parte da polícia. Contudo, surgiram, como já mencionado anteriormente, as
ONGs e as organizações do terceiro setor, que não só despertaram interesse para o estudo dos
fenômenos acerca da temática, como ainda suscitaram interesse por parte das políticas
públicas e governos, que reestruturaram ações e passaram o gerenciamento de várias questões
38
sociais para entidades dos terceiro setor. Surgiram ainda os “movimentos sociais novos, que
diferem dos novos movimentos sociais dos anos 80”.
De acordo com Gohn (2008, p.36-38), com o processo de globalização mais
avançado, emergiram novas categorias de estudo para a temática, como “mundialização e
planetarização [...]”, sociedade mundial e sociedade individual. Foram criadas “teorias sobre
os direitos sociais” e a categoria sobre ação social novamente teve destaque nas pesquisas,
assim como outras que buscavam “reafirmação de processos de diferenciação social”, a
saber: feministas e relação de gênero, ambientalistas e etnia.
Nessa década também introduziu-se com vigor o tema das redes sociais, tendo
como principal autor Castells (1997 apud GOHN, 2007). Alguns autores reviram seus pontos
de referência por conta de um pessimismo acerca dos movimentos e de como se davam,
porém ainda havia aqueles que buscavam esclarecer “sua especificidade em relação a outras
formas emergentes de ação colegiadas”, como é o caso de Touraine e Melucci. Já no final dos
anos 90, novas perspectivas sobre a temática foram adotadas pelos analistas sobre os
movimentos sociais, como “a teoria do reconhecimento social”, a “questão do
multiculturalismo” e outras construções se deram nessa década (ver GOHN, 2008).
O século XXI (GOHN, 2008, p.38-40) iniciou marcado por inovações no campo
da temática, inclusive por autores destacados como Touraine e Castells. No entanto, o que deu
maior visibilidade às produções “foram os movimentos sociais globais”. Neste momento,
“ocorre que todos os movimentos sociais terão de enfrentar o dilema de atuar, agir no
cotidiano, mas pensar globalmente, porque são „empurrados‟ para este novo contexto”
(GOHN, 2008, p.39).
Neste novo milênio há um resgate das mobilizações sociais por meio de
manifestações e protestos. Desde seu início, entram em cena os movimentos globalizantes,
com vistas à busca de uma economia mais solidária. Emerge com mais força a luta em defesa
ao desenvolvimento sustentável e às questões ambientais, bem como à popularização e acesso
aos meios de comunicação, com intuito de intervenção nas “estruturas de poder”. Também a
articulação dos movimentos, expressando a determinação do “povo” em eliminar as
desigualdades sociais, econômicas, culturais e, por que não dizer, identitárias no que se refere
a direitos, porém respeitando suas diferenças e especificidades, fato este a que se deu maior
ênfase com o advento da internet e das redes sociais.
Segundo Gohn (2008, p.40), há muitos estudos empíricos acerca dos movimentos
globalizantes ou altermundialização, “há muitos slogans e ideologias”, contudo, existe a
necessidade de teorias mais contundentes, pois na literatura ainda há uma carência de material
39
explicativo referente a esses novos fenômenos destes novos tempos, e “só com as teorias não
se muda a realidade, mas sem elas também não há mudança significativa, emancipatória. Pode
haver deslocamentos, mais do mesmo, em outro lugar” (GOHN, 2008, p.40). Todavia, com
Castells (2013, p.49) já é possível verificar novos fenômenos ocorridos em direção a
mudanças sociais, de maneira que
[...] podemos estar observando a ascensão de novas formas de transformação
social. E se elas forem diversas em suas práticas graças a diferenças de
contexto, poderemos sugerir algumas hipóteses e sobre a interação entre
cultura, instituições e movimentos, a questão-chave para uma teoria da
mudança social – e para sua prática. (CASTELLS, 2013, p.49)
1.1.3 Movimentos ou mobilizações sociais
Segundo Castells (2013, p.78), os movimentos, em muitas partes do mundo, se
iniciaram por conta “de causas específicas a cada país e evoluíram de acordo com os levantes
espontâneos, estimulados pela esperança inspirada no sucesso das revoluções tunisiana e
egípcias”. Para o autor, o processo de desenvolvimento “de cada movimento dependeu
amplamente da reação do Estado”. À medida que cada governo não respondia às demandas e
sugeria “uma liberalização política”, os movimentos se voltavam para ações com vistas à
“democratização do Estado no limite da manutenção da essência da dominação pela elite”
(CASTELLS, 2013, p.79). Assim ocorreu também no Brasil e, de acordo com o autor, “sem
que ninguém esperasse” (p.182), de forma espontânea e, a exemplo do que vem ocorrendo,
sem a organização de um líder específico ou partidos políticos – estes, por sua vez,
desacreditados. Também aqui no Brasil não contou com o apoio da mídia, ouviu-se
Um grito de indignação contra o aumento do preço dos transportes que se
difundiu pelas redes sociais e foi se transformando no projeto de esperança
de uma vida melhor, por meio da ocupação das ruas em manifestações que
reuniram multidões em mais de 350 cidades. (CASTELLS, 2013, p.182)
Em meados do ano de 2013, com o início das mobilizações em São Paulo do
Movimento Passe Livre - MPL, contra o aumento de tarifas dos ônibus, muitos foram às ruas,
principalmente os jovens. Posteriormente, em reação à repressão sofrida pelos manifestantes,
ocorreram diversos movimentos de “massa” com variadas reivindicações, aos quais muitos
atribuíram o próprio conceito de “movimento social”. Entretanto, estudiosos vêm explicando
que existe um erro de interpretação ao classificá-los dessa forma, por não possuírem as
40
características dos movimentos anteriores, como identidade estabelecida, um opositor
definido, planos e objetivos específicos.
Segundo Gohn (2013b, p.16), os “movimentos dos indignados” ocorreram em 12
capitais brasileiras e foram denominados de “manifestações” pela mídia e por outras
publicações. Escreve que de fato tiveram um caráter de manifestações, “que
expressam estados de indignação face à conjuntura política nacional” e agem “com valores,
princípios e formas de organização” (GOHN, 2013b), diferentemente dos tidos movimentos
sociais, focalizando as demandas sociais.
Embora esses movimentos não possuam as mesmas características dos
tradicionais, são mais um meio de expressão de uma sociedade indignada acerca da forma
como vem sendo tratada pelo Estado, mais especificamente, pelas lideranças dos governos.
Daí esses movimentos se voltarem contra as representações e as estruturas dos governos em
todos os seus segmentos, como assembleias, sedes etc., bem como contra os poderes públicos,
havendo, inclusive, a negação da liderança de partidos políticos ou sindicatos, o que alguns
especialistas atribuem a uma “crise de representatividade”. Contudo, outros afirmam que os
movimentos sociais organizados e representações partidárias estão presentes nas
manifestações sem, no entanto, levantar abertamente suas “bandeiras”.
Outra asserção surgida no debate é que, se a população vai para rua para
demonstrar suas insatisfações e reivindicar suas demandas, seria porque ela já não se sente
mais representada pelos governos ou partidos políticos. Dessa forma, esses movimentos vêm
às ruas para expor suas opiniões, “gritar” por melhorias de vida diretamente aos poderes
públicos, promovendo, assim, a necessidade de revisão das mais variadas políticas públicas
implementadas em todo o país. Para Gohn,
[...] pode-se listar os prováveis motivos para a indignação que levou
milhares de brasileiros às ruas, aderindo ao movimento dos jovens, a saber:
os gastos altíssimos com estádios da Copa, megaeventos e uso do dinheiro
público em eventos promocionais, a má qualidade dos serviços públicos,
especialmente nos transportes, educação e saúde. Outros agravantes são: a
persistência dos índices de desigualdade social, inflação, denúncias de
corrupção, clientelismo político, a PEC 377, sentimento de impunidade,
7 A Proposta de Emenda Constitucional 37 – PEC 37 sugeria incluir um novo parágrafo ao Artigo 144 da
Constituição Federal, que trata da Segurança Pública. O item adicional traria a seguinte redação: "A
apuração das infrações penais de que tratam os §§ 1º e 4º deste artigo, incumbem privativamente às
polícias federal e civis dos Estados e do Distrito Federal, respectivamente".
http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/06/entenda-o-que-e-a-pec-37. A emenda foi apresentada em
2011 pelo deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA), com argumento de que investigações próprias do MP
ferem os direitos dos investigados por não terem regras claras e porque os investigados não têm acesso aos
autos. http://g1.globo.com/politica/pec-37-o-que-e/platb/
41
sistema político arcaico, a criminalização de movimentos sociais -
especialmente rurais e indígenas, o projeto de Lei que tramitava no
Congresso sobre "cura gay", a condução de importantes postos políticos no
cenário nacional por políticos com passado marcado por denúncias etc.
(GOHN, 2013b)
Ainda acerca das características dos movimentos atuais, outra particularidade é
que são organizados e compostos em grande parte por uma parcela da sociedade vista como
classe média, pois é esse conjunto de sujeitos que tem “medo” introjetado de que o Brasil não
cresça como se esperava ou de que a inflação não seja mais controlada.
Assim, em São Paulo, o Movimento Passe Livre - MPL foi apenas o estopim de
um movimento que “explodiria” nacionalmente, por conta das reformas e reformulações que
os governos, ao longo das últimas décadas, vêm implementando por meio de políticas
públicas. Estas não garantiram um verdadeiro bem-estar social, fato que fez com que os
movimentos se espalhassem por todo o país e, por vezes, mais ou menos intensos, com
perspectivas de continuação até que os governos negociem com a sociedade civil.
Mas também disseram: “Não são só os centavos, são nosso direitos”. Porque
como todos os outros movimentos do mundo, ao lado de reivindicações
concretas, que logo se ampliaram para educação, saúde, condições de vida, o
fundamental foi – e é – a defesa da dignidade de cada um. Ou seja, o direito
humano fundamental de ser respeitado como ser humano e como cidadão.
(CASTELLS, 2013, p.182)
Para Castells (2013, p.182), esse direito tem sido deturpado por parte de uma elite
ou “classe política” que só vê o cidadão como eleitor potencial, que toma decisões à revelia
das demandas fundamentais, que cria uma democracia paralela “reduzida a um mercado de
votos em eleições realizadas de tempos em tempos” ou à mercê do neoliberalismo. Além da
manipulação dos meios de comunicação tradicionais, que fez com que a “incapacidade cidadã
de controlar seu dinheiro e seus votos tivesse consequências em todos os âmbitos da vida”
(CASTELLS, 2013, p.183). O autor exemplifica citando o episódio da Copa do Mundo no
país: a satisfação do brasileiro em ter a Copa do Mundo no Brasil foi substituída por um
comércio de corrupção do qual participaram vários segmentos da sociedade civil –
empresários, diretores do alto escalão do esporte, como também da administração pública
(CASTELLS, 2013, p.183).
Para Almeida (2013), não por acaso em Salvador as obras do estádio foram alvo
de protestos, pois a Bahia é um dos estados com maior índice de “desigualdade social”, sua
capital registra alto número de desemprego e um dos maiores índices de violência, sem falar
42
nos outros problemas sociais, abrangendo desde o transporte, privatizações, até destruição
ambiental. E é nesse cenário, incluindo ainda superfaturamentos, que “As Copas do Mundo e
a das Confederações trouxeram um grande constrangimento por ser uma verdadeira
intervenção da Fifa”, de forma a interferir na economia e no comércio local, com aprovação
de “quase todos os partidos” no congresso nacional e pelos deputados da assembleia estadual.
Segundo o autor, “mostra o afastamento entre representantes eleitos e a vontade
popular, e explica a rejeição existente”, levando os “indignados” a terem o estádio da Copa
como principal “alvo” dos protestos. Almeida ainda lembra que “as manifestações ocorridas
não foram um raio em céu azul nem vivíamos numa paz de cemitério. São diárias as pequenas
e localizadas lutas do povo, com os meios que dispõe para enfrentar tudo isto. Uma luta
silenciosa, na maior parte sem visibilidade”. Salvador, por sinal, possui uma herança cultural
de lutas contra a opressão, destaca o autor, “daí ser chamada de „capital da resistência”.
Em Goiás, Borges (2013) mostra que os usuários das estradas protestaram contra
os “esburacamentos” em meio a um número enorme de reivindicações e em mais de 20
municípios viram-se sujeitos que saíram às ruas para protestar contra os serviços públicos e
autoritarismo dos professores em um colégio, trazendo à tona a “ideia é de que, na exaustão
da esperança e da paciência, as pessoas admitem ir às ruas dizer os seus limites e seus
motivos, morais, econômicos ou políticos”. Para o autor, há especialistas que dizem ser difícil
de “compreender um movimento tão grande e fragmentado”, mas entende Borges que para os
paradigmas da literatura vigente fica menos trabalhoso culpar “os manifestantes de não terem
foco e de introduzirem o imponderável no cenário político”. Concorda que esses movimentos
podem até ter esse perfil, mas afirma que, com essa ideia preestabelecida sem ao menos se
aproximar mais do povo, não há como “sair das preliminares nem avançar para diagnósticos e
compreensões necessárias”.
Costa (2013) diz que as “manifestações no Maranhão retomam combates contra a
oligarquia” e o povo, em sua maioria jovens, foi “convocado” por meio das redes sociais, com
o movimento “Vem Pra Rua São Luís” – das cem mil pessoas que compareceram ao ato, 17
mil confirmaram presença pela internet. Já o movimento “Acorda Maranhão” levou às ruas
212 mil pessoas, sendo que 37 mil já havia confirmado presença virtualmente. Todos os
protestos contaram com uma incessante visibilidade no Facebook, Twitter e outras redes
sociais, “com extensa pauta: contra a PEC 37; por saúde, educação, segurança e transporte de
qualidade; contra a corrupção; contra a oligarquia”. Segundo o pesquisador, as manifestações
do Maranhão destacaram também a questão agrária, uma vez que um terço da população vive
no campo e 30% dos “trabalhadores em situação análoga à escravidão resgatados país afora
43
estavam no Estado”. O autor ainda faz uma reflexão acerca desse movimento, inferindo que
esteve sintonizado com os que ocorriam em todo o país, caracterizando “uma nova forma
globalizada de mobilização” com base nas redes sociais.
Para Filgueiras (2013), as “manifestações” ocorridas no Brasil assaltaram tanto os
especialistas na temática como os políticos com “incertezas sem precedentes”, por não terem
uma identidade específica e por saírem do panorama das abordagens vigentes. No caso de
Minas Gerais, onde o cenário não foi muito diferente, com uma pauta de reivindicações das
mais variadas – corrupção, saúde, transporte etc. –, sem contar “a crise ao sistema
representativo”, o autor diz que o gigante não acordou, “já estava acordado”, pois “há duas
décadas já há uma movimentação pedindo melhorias no sistema de transporte público”. As
“manifestações” têm como objetivo, conforme aponta Filgueiras, uma maior participação do
povo no intuito de melhorar as políticas públicas, “combater eficientemente as desigualdades
sociais e impedir a injustiça política”.
Bodê (2013) diz que não há como apartar um movimento que ocorre por meio das
redes sociais e internet, como as “manifestações” que ocorreram em Curitiba, do que acontece
em outras cidades do Paraná e do país, ponderando ainda que “qualquer análise feita sobre um
evento em andamento é sempre mais difícil do que de um fenômeno que possamos por um
motivo outro dizer que terminou”. Afirma que no Paraná também elas tiveram início por
conta dos preços das passagens dos transportes públicos e se estenderam para outras
demandas, como a PEC 37, saúde pública, corrupção, bem como a nova organização da
cidade para a Copa do Mundo. O autor analisa que a “manifestação parecia mais homogênea”
e, segundo ele, possui escala diferenciada das ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os
locais de concentração e de destino dos atos eram sempre “diante de locais representativos de
instituições e do poder instituído”, existindo nessa escolha a afirmativa “vocês não nos
representam”.
Castro (2013) entende que as “mobilizações sociais retomam feridas profundas
em Pernambuco” e chama “as manifestações sociais” ocorridas no país de “neopoliticismo
cívico virtual”, uma vez que as redes sociais atingem uma “capilaridade imediata e enérgica
de mobilização ampla”. O autor indica quais são as principais reivindicações das
“manifestações sociais” em Pernambuco – “transportes públicos deficitários e caros,
mobilidade (ou imobilidade) urbana, exclusão social, desigualdades perversas e recorrentes,
violência urbana e práticas de corrupção que se tornaram endêmicas” –, bem como afirma que
é possível “empoderar-se” e que as “grandes revoluções libertárias começam em nós mesmos,
especialmente, quando se busca humanizar o humano pós-moderno”. O autor vai mais além a
44
suas reflexões ao assegurar “que o imperativo ético e o idealismo desta nova revolução social
brasileira neoiluminista têm assumido tamanha importância com repercussões internacionais”.
Segundo Peres (2013), não foi surpresa o “levante popular mais consistente, mas
sim [...] o fato de ele ter demorado a acontecer”. A insatisfação por causa das ações dos
políticos, dos poderes e partidos levou a uma “exaustão moral [...] não é exclusiva do caso
brasileiro”, pois vários países do mundo, já há algum tempo, perderam a “confiança em
relação às instituições representativas convencionais”. O autor coloca que uma das questões
locais, em Porto Alegre, foi a formação de “uma aliança política até então improvável entre
partidos e grupos políticos”, quando “socialistas e anarquistas se aliaram para formar o
principal articulador e protagonista dos movimentos de protestos na cidade”, com a finalidade
de garantir maior “volume e consistência ao movimento”. E, assim, tiveram a adesão de
outros movimentos sociais e até de sindicatos.
No Rio de Janeiro, segundo Motta (2013), a eclosão, a exemplo de outros estados,
se deu por conta do aumento das passagens do transporte público, contudo, o questionamento
principal foi sobre os elevados gastos financeiros para realização de enormes eventos (Copa
do Mundo e Olimpíadas). Assim, foi gerado um tumulto generalizado nas principais ruas e em
vários bairros, comparável ao que aconteceu na cidade em 1904, na Revolta da Vacina, ou em
1968, na Passeata dos Cem Mil. Nestas, muitos “manifestantes” pagaram o preço alto da
repressão, inclusive com a própria vida; nestes tempos, entretanto, a repressão não utiliza
aquele tipo de arma nem de ações, o que não significa que não apresenta riscos, mas garante
um maior número de participantes, pois, como assegura a autora, “não é de hoje que se fala no
„caráter rebelde‟ do povo carioca”.
José C. G. Silva (2013) afirma que a periferia de São Paulo faz novas
reivindicações: “mais saraus, menos presídios”. O indivíduo “que antes pedia questões
imediatas como saneamento básico, postos de saúde e legalização de terrenos clandestinos,
agora trata de temas como racismo, violência e educação precária”. O autor compara o
movimento a manifestações que deram visibilidade aos jovens da periferia nos anos 90, pois
até então os “visíveis” eram jovens dos movimentos estudantis, compostos por universitários
brancos e da classe média.
Percebe-se, dessa forma, que os “movimentos” não tinham identidades
específicas, bem como as demandas eram variadas e “difusas”. Contudo, tinham um
propósito: mostrar que os poderes públicos e sindicatos não os representavam. Os
“manifestantes” eram em sua maioria jovens e, destes, havia também uma grande parcela de
indivíduos da classe média.
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Para Castells (2013, p.183), assim como em outros movimentos, a causa está em
“um modelo centrado no crescimento a qualquer custo, ainda que, no caso do Brasil,
acompanhado de uma redução da pobreza e de políticas sociais redistributivas”. Modelo esse
que, por sua vez, também veio associado a uma busca desenfreada pelo consumo desmedido e
“por uma senda autodestrutiva com objetivo de sair da pobreza”. Houve um propósito de
mostrar avanços em setores como educação, saúde e segurança sem, contudo, obter melhorias
sociais dignas, como medir “a produtividade pela ocupação de camas de hospitais, contando
os enfermos, e não os sadios”.
Foi nascendo, por meio da internet, numa conexão tamanha, o reflexo de uma
indignação misturada a um desejo de justiça e mudança. Processo esse que, de forma híbrida,
foi para as ruas do país na mesma velocidade e proporção que percorreu as redes, de modo a
revelar um espaço apropriado pelas novas gerações de uma realidade num “mundo de
virtualidade real” (CASTELLS, 2013, p.184).
Um mundo que a gerontocracia dominante não entende, não conhece e que
não lhe interessa, por ela encarado com suspeita quando seus próprios filhos
e netos se comunicam pela internet, entre si e com o mundo, ela sente que
está perdendo o controle. (CASTELLS, 2013, p.183)
Assim, segundo o autor, em menos de duas semanas já havia um apoio de mais de
75% da população brasileira, após o primeiro manifesto na Avenida Paulista, em São Paulo.
No entanto, escreve que o mais significativo foi a resposta dada pela esfera política, que, a
exemplo da maioria dos outros países, rebateu o movimento, em primeira instância,
intitulando-o como “demagógico e irresponsável” e, na sequência, reagindo com violência.
Nesse cenário, de acordo com o autor, governos petistas e tucanos competiam para ver qual
era o mais truculento na repressão (CASTELLS, 2013, p.184).
Todavia, Castells afirma que, como sempre existe uma intencionalidade difusa nas
ações políticas com vistas aos interesses de sempre, no Brasil houve algo novo, no que se
refere às estratégias, quando a presidência declarou que o povo deveria ser ouvido e
aconselhou que o aumento do preço das tarifas dos transportes fosse revogado.
Concomitantemente, foram feitas inúmeras outras promessas (a grande maioria não
cumprida), inclusive a proposta de uma reforma política e de leis contra a corrupção
(CASTELLS, 2013, p.184-185).
O fato é que esses novos movimentos se caracterizam por não confiar em
políticos. Portanto, mesmo que o desejo de mudança tenha chegado a alguns segmentos da
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elite e até à presidência, essa interação ainda é uma incógnita e “uma questão em aberto”,
podendo ser essa mais uma frustração acerca das vontades políticas, na hipótese de as
medidas adotadas servirem apenas para tapar o sol com a peneira, não sendo corrigidas as
maleficências de um “modelo neodesenvolvimentista gerador de economia e destrutivo em
relação à vida” (CASTELLS, 2013, p.185-186). Em contrapartida,
[...] também pode ser que outros próceres da democracia brasileira, de
horizontes políticos distintos, se unam a seu esforço, por sobre interesses
partidários, e que o Brasil lidere a reconciliação de sociedade e política no
âmbito mundial. Pois o que é irreversível no Brasil como no mundo é o
empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência
dos jovens de que tudo que sabemos do futuro é que eles o farão. Móbil-
izados. (CASTELLS, 2013, p.186)
E é nessa perspectiva apontada na citação de Castells que os manifestantes, em
sua maioria jovens, se apoderam das redes sociais como chaves para abrir portas para as ruas,
ou seja, foi por meio de comunicação virtual que se obteve “autonomia”, que se convocou o
povo à participação dos movimentos. A internet foi o veículo de articulação de estratégias,
planos e encontros para as manifestações. Num “clima de fraternidade encontrado nas redes e
percebida nas ruas se difundiu a defesa dos direitos” (CASTELLS, 2013, p.183).
1.1.4 Redes, redes de mobilização social ou redes de movimentos sociais
Segundo Gohn (2010), é fundamental diferenciar “rede de mobilização social” e
“movimento social”, uma vez que, segundo a autora, para muitos pesquisadores do final do
primeiro milênio e início do segundo, a primeira passou a ter um papel primordial ao segundo.
Para ela, o termo redes pode ter variados significados. Sua utilização virou até “certo
modismo”, contudo, se torna importante como categoria de análise
[...] das relações sociais de um dado território ou comunidade de significados
porque permite a leitura e a tradução da diversidade sociocultural e política
existente nessas relações. Sem cair em visões totalizadoras da unidade, ela
tem certa permanência e realiza a articulação da multiplicidade do diverso,
tanto em períodos de fortes fluxos das demandas como nos de refluxo.
(GOHN, 2010, p.32)
Cabe aqui ressaltar a definição de Melucci sobre redes, que, segundo o autor, são
constituídas por grupos com objetivos peculiares e específicos. Têm como características a
militância transitória e parcial, as múltiplas formas de associação e o fato de tomarem o
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desenvolvimento pessoal e a solidariedade como condições para participação. Elaboram
estratégias e conexões com outros grupos de forma mais ampla, propiciando a criação de
novas estratégias de luta por meio da visibilidade e informação, novas formas de comunicação
e novos modelos culturais, com a finalidade de promover renovação no que se refere à
solidarização, o que faz com que se agreguem novos militantes (MELUCCI, 1999, p.74-75).
Nessa concepção as redes podem conectar-se umas às outras, de forma a aumentar
a extensão das ações, buscando pontos e demandas comuns emitidos pelos indivíduos ou
grupos. A ação passa a ser coletiva em instância macro, tendo de haver a percepção das
diferenças, mas de modo que não se sobreponham à solidariedade e aos objetivos mediante os
quais as várias redes se entrecruzam. Assim, não há como mais falar sobre movimento social
no singular, mas no plural.
Para Scherer-Warren, o conceito de redes de movimentos sociais
[...] pressupõe a identificação de sujeitos coletivos em torno de valores,
objetivos ou projetos em comum, os quais definem os atores ou situações
sistêmicas antagônicas que devem ser combatidas e transformadas. Em
outras palavras, o Movimento Social, em sentido mais amplo, se constitui
em torno de uma identidade ou identificação, da definição de adversários ou
opositores e de um projeto ou utopia, num contínuo processo em construção
e resulta das múltiplas articulações acima mencionadas. (SCHERER-
WARREN, 2006, p.113)
Esse conceito, apesar de não se tratar a categoria como sinônimo de movimentos
sociais, a define como uma extensão ampliada deles, uma vez que permite vislumbrar as
ações futuras dos movimentos “transcendendo as experiências empíricas, concretas, datadas,
localizadas dos sujeitos/atores coletivos”. As redes são nova forma de ação social da
contemporaneidade que propicia a renovação das relações políticas com vistas à emancipação
social. (SCHERER-WARREN, 2006, p.113)
Gohn (2010) traça um quadro de significados do termo redes sociais utilizados na
academia. Nas ciências exatas há muito se vem tratando do termo como base de “alguns
conceitos-chave” para a física. Nas ciências humanas e biológicas também não é novidade,
pois desde a década de 20 do século XX é utilizado “na análise dos ciclos da vida e das teias
alimentares”, sendo que no século XXI deu suporte à biologia molecular. Já no campo da
administração, a palavra é usada na confecção de fluxogramas, na interação entre
organizações em rede e seus planejamentos. Nas ciências sociais sua utilização também não é
nova, contudo adquiriu novo ânimo “como instrumento de análise e articulação de políticas
sociais”. Assim como na antropologia, campo que o termo acompanha desde o início com “as
48
redes primárias e secundárias ao classificarem as relações sociais entre os indivíduos” ou com
a ideia “do paradigma da dádiva, do dom e das reciprocidades”, ou ainda no estudo das
estruturas sociais. Na área da geografia, incialmente com o conceito de redes urbanas e
posteriormente com o de território, analisam-se as redes territoriais ou redes transnacionais.
(GOHN, 2010, p.32-34)
Ainda na mesma linha, a autora descreve a definição de redes de alguns
pesquisadores do final do século XX e início do século XXI. Para Barnes (1987), é o conjunto
das relações interpessoais que vinculam uns indivíduos a outros por meio de seus modos de
viver, agir, portar-se e proceder à frente da reciprocidade. Castells (1999) entende as redes
sociais como sistemas abertos capazes de mudanças e inovações constantes.
Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada,
integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou
seja, desde que compartilhem os mesmo códigos de comunicação [...] Uma
estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico
suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio. (CASTELLS, 1999,
p.498)
Jean Cohen estabelece o formato das redes em níveis de análise no que se refere
ao empoderamento: organizacional, narrativo, doutrinal, tecnológico e social.
A rede será forte se incluir uma história que persuade e integra seus
membros; se abranger estratégias e métodos colaborativos baseados em uma
doutrina bem definida; se utilizar sistemas avançados de comunicação e
apoiar-se em vínculos sociais e pessoais fortes. (COHEN, 2003, p.436)
No que se refere à incorporação de outras várias categorias à rede, há a
preocupação de uma utilização desenfreada de novos termos, em detrimento de outros que
permitiam a realização de “leituras e interpretação do social e do político”. Contudo, existe
uma difícil discussão acerca “da luta político-cultural de diferentes grupos sociais, na busca
de ressignificação dos conceitos e criação de novas representações e imagens sobre a
sociedade”. Há os que inscrevem que redes sociais substituíram movimentos sociais, outros
que definem serem ferramentas e ainda ideias em outros campos de estudo.
O fato é que existem muitas matrizes de análise para redes. Isso, conforme
Scherer-Warren (2009 apud GOHN, 2010, p.35), “articula a heterogeneidade de múltiplos
atores coletivos em torno de unidades de referências normativas relativamente abertas e
plurais. Compreendem vários níveis organizacionais”. Desse modo, para se utilizar uma
49
categoria de rede em um dos sentidos apresentados e outros, “é necessário localizar seu
objetivo central no contexto histórico”. É preciso também que não se faça uso
[...] das redes e estruturas associativistas existentes como meros agentes
instrumentais para resolver problemas decorrentes da má distribuição dos
serviços sociais públicos, via a participação daqueles agentes em projetos e
parcerias públicas, onde não há autonomia ou horizonte mínimo de
emancipação aos participantes. [...] A importância se faz para democratizar a
gestão pública, para se ter controle social e inverter as prioridades as
administrações no sentido de políticas que atendam não apenas às questões
emergenciais, mas políticas que contemplem o crescimento econômico com
o desenvolvimento autossustentável das populações atendidas, assim como
respeitem os direitos dos cidadão. (GOHN, 2010, p.37)
As redes de movimentos sociais podem organizar as lutas unindo os coletivos de
forma a transpor fronteiras territoriais, articulando as ações em espaços diferenciados, do
local ao global; temporais, quando não se deixa perder direitos conquistados ao longo da
história; e sociais, abarcando os elementos fundamentais de concepções de mundo acerca da
ética, da equidade, da democracia praticada pela sociedade civil organizada, permitindo
desenlaces positivos no que se refere à conquista e manutenção de direitos. “Essa é a nova
utopia do ativismo: mudanças com engajamento com as causas sociais dos excluídos e
discriminados e com defesa da democracia na diversidade.” (SCHERER-WARREN, 2006,
p.127)
Também são tratadas como redes sociais as redes sociais digitais. Estas, por sua
vez, serão abordadas no próximo item desta tese e tratadas como ferramenta de comunicação
e organização dos movimentos e manifestações sociais para articulação das ações coletivas.
Busca-se verificar como criaram novas possibilidades de “automobilização da sociedade,
superando as barreiras da censura e repressão impostas pelo Estado” por meio da densidade e
da rapidez da mobilização, proporcionadas por meio das redes sociais digitais, num fenômeno
chamado por Castells de “autocomunicação de massas” (CASTELLS, 2008, apud GOHN,
2013a, p.18).
1.1.5 Movimentos sociais e as redes sociais digitais: articulação e estratégia
Com a evolução da tecnologia e, por consequência, da internet, vêm ocorrendo
novas formas de comunicação, de troca de informações e de relações pessoais, configurando
uma sociedade em rede. Por sua vez, nela surgem os mais diferentes tipos de grupos sociais,
inclusive os grupos em movimento, os quais podem constituir movimentos sociais, que, por
50
meio das redes, encontram formas alternativas de comunicação. As redes sociais estão
presentes nas mídias sociais, contudo, não existe para a primeira um controle editorial como
para a segunda. Com isso, o modo de comunicação entre os sujeitos tem poder de mobilizar e
influenciar opiniões, por conta de sua capilaridade no mundo e velocidade de transmissão de
informações.
As redes sociais digitais, tendo como ponto de partida os perfis dos usuários,
possibilitam a comunicação e interação contínua de sujeitos de qualquer local do mundo,
desde que conectados à web. Nessa perspectiva, as redes sociais ou interações sociais passam
a serem estruturas sociais formadas, que nem sempre pertencem ao mesmo espaço geográfico.
Podem ser formadas por organizações ou por indivíduos conectados à internet de acordo com
os tipos de relações, que variam conforme o objetivo ou desejo de quem as utiliza, como
conhecer pessoas ou fazer novos amigos. No entanto, elas vão além disso, também têm como
finalidade promover agrupamentos, projetos, ideais, valores etc., ou seja, existe nelas um
vínculo social criados a partir de identificações sem, contudo, criar identidades.
Estas redes também vêm sendo utilizadas para a organização de vários
movimentos, os quais ganham força quando são levados ou organizados por meio da web,
sendo a internet uma forte ferramenta de divulgação. Mas não só os “movimentos” de rua são
divulgados por meio da internet, há aqueles que continuam suas reivindicações de forma
virtual, fiscalizando e denunciando a aplicação de recursos públicos, bem como cobrando
ética dos políticos, como, por exemplo, no caso do movimento “Acorda, Brasília”. Assim, a
internet e as redes sociais têm incentivado vários movimentos, principalmente os “novíssimos
movimentos sociais” (GOHN, 2013b), que atuam nas ruas em praticamente todo o país.
As redes sociais se tornam um multiplicador de informações e ideias e conseguem
alcançar uma parcela grande da população. Enquanto as mídias tradicionais mostram as
manifestações durante o evento em si, ou noticiam os fatos de forma editada, na maioria das
vezes aqueles ligados a algum ato de violência, sem “dar voz” ao povo e ao seu direito de
reivindicar suas demandas, as redes sociais, ao contrário, fazem o chamado aos participantes
dos movimentos.
Para Guareschi (2013, p.45), todas as transformações sociais foram promovidas
por meio de algum canal empregado como ferramenta de comunicação pelos sujeitos, os quais
anteriormente se reuniam para discussões e afixavam seus jornais nos salões. Contudo, para
Castells (2013, p.83-84), houve uma mudança nesse cenário, no qual a mídia se empoderou, e
“as pessoas passaram a ter suas redes para se conectar umas com as outras e com o mundo [...]
se recusavam a noção de intervenção externa, mas queriam que o mundo soubesse”.
51
Desse modo, segundo o autor, as manifestações e suas organizações passaram a se
iniciar no espaço virtual e culminar nas ruas. Ou seja, as redes sociais, por meio da internet,
proporcionaram uma autonomia para que os movimentos se expressassem conforme a
conjuntura local, de múltiplas maneiras, o que, consequentemente, resulta em desenlaces e
soluções diferenciadas.
Porém, não há um consenso entre acadêmicos e especialistas jornalísticos sobre,
precisamente, a função das redes sociais para os movimentos. Diz-se que “a tecnologia não
determina os movimentos sociais nem, no que nos interessa, qualquer espécie de
comportamento social” (CASTELLS, 2013, p.86). No entanto, segundo Prudencio (2006,
p.9), não há como desconsiderar o mérito das TICs nos movimentos sociais no que diz
respeito às constantes mudanças nas ações coletivas. Nesse viés, as redes da internet e de
telefonia celular são essenciais como “plataformas específicas para autonomia política”
(CASTELLS, 2013, p.86).
As mídias sociais “não causam revoluções” (CASTELLS, 2013, p.88), mas não se
pode negar que sua utilização proporcionou as maiores manifestações desta década. Isso
porque geraram uma “infraestrutura que estabeleceu laços de comunicação e capacidade
organizacional entre grupos” antes mesmo das próprias manifestações, fazendo com que a
mobilização para os protestos contasse com grande número de participantes.
Levantes como os da Primavera Árabe “foram processos de mobilização
espontâneos” surgidos por meio da internet e das redes sociais. A organização desses levantes
não teve como base “partidos políticos formais”, que para grande parte dos jovens
participantes não inspiravam confiança (CASTELLS, 2013, p.88-89). Gohn lembra ainda que
no Egito foi fundamental o uso das mídias digitais no decorrer da crise política recente, já que
nem todos os militantes eram egípcios – a causa teve apoio de outros jovens via redes sociais.
O movimento registrou um grande crescimento em consequência da “revolução virtual”, a
partir da criação de uma página no Facebook e da publicação de um vídeo que mostrava um
jovem ser espancado até a morte, vídeo esse que em apenas dois minutos obteve 300 acessos.
(GOHN, 2013, p.29-30)
O Occupy Wall Street já surgiu por meio da internet, uma vez que “o grito de
indignação” (CASTELLS, 2013, p.134) e a chamada para que houvesse a ocupação partiram
de diversos blogs, assim como do Facebook e do Twitter.
Assim como na Primavera Árabe e os Indignados europeus, os participantes
do Occupy foram convidados/convocados por redes de mídias sociais.
52
Alguns grupos assumiram ou foram indicados como responsáveis pelos e-
mails que convidavam para assembleias [...] uma boa parte dos ocupantes
era formada por voluntários convocados por mídias sociais. (GOHN, 2013a,
p.43)
Grupos e redes ativistas atuando na internet ouviram o chamado, o divulgaram e
teceram comentários em apoio à iniciativa. (CASTELLS, 2013, p.135) O Twitter também foi
primordial para a conexão e interatividade dos participantes em acampamentos, viabilizando a
organização e “planejamento de ações específicas”, e ainda para emitir alertas quando
percebida ameaça de invasão policial, fazendo com que houvesse mobilização para proteção
de ocupantes.
Movimentos como o do Occupy são híbridos em rede à medida que ligam “o
ciberespaço ao espaço urbano por intermédio de múltiplas formas de comunicação”
(CASTELLS, 2013, p.140). Uma das estratégias lançadas previa a utilização de “sinais
manuais” nas manifestações para, posteriormente, fazer com que, pela internet, eles fossem
difundidos de forma viral. Houve ainda a divulgação de imagens de espaços físicos
importantes marcados pela presença de manifestantes como símbolo do desafio, por exemplo.
O movimento em rede possibilita ver com mais clareza que uma marca importante
desses levantes era a ausência de liderança convencional ou institucional. Muitos utilizaram as
redes sociais e criaram seus próprios sites e blogs com orientações sobre as organizações e
divulgação das deliberações, fazendo com que surgisse “um padrão organizacional
amplamente comum”. Foi realmente um experimento de organização de movimentos sociais e
desmentiu o arraigado pressuposto de que nenhum processo sociopolítico poderia funcionar
sem algum tipo de orientação estratégica e de autoridade vertical. (CASTELLS, 2013, p.142)
De acordo com Castells (2013, p.163), esses movimentos, assim chamados por
ele, ou manifestações tiveram características comuns, como a união de indivíduos
“conectados em rede de múltiplas formas”, sem anular os recursos de interação já existentes e
impulsionando a utilização de outros novos para movimentos e manifestos específicos, ou a
conexão dentro de determinados grupos, bem como a comunicação e interação com outros de
forma global (CASTELLS, 2013, p.163).
Os movimentos têm como base o espaço urbano e as manifestações se efetivam
nas ruas, contudo, se mantêm no espaço virtual sem um núcleo que possa ser identificado.
Fato esse que não faz com que percam sua interatividade com outros centros virtuais, de
forma a se comunicarem, se organizarem, deliberarem.
53
Essa estrutura descentralizada maximiza as chances de participação no
movimento, já que ele é constituído de redes abertas, sem fronteiras
definidas, sempre se reconfigurando segundo o nível de envolvimento da
população geral. Também reduz a vulnerabilidade do movimento à ameaça
de repressão, já que há poucos alvos específicos a reprimir, exceto nos
lugares ocupados; e a rede pode se reconstituir enquanto houver números de
participantes, frouxamente conectados por seus objetivos e valores comuns.
A conexão em rede como modo de vida do movimento protege-o tanto dos
adversários quanto dos próprios perigos internos representados pela
burocratização e pela manipulação. (CASTELLS, 2013, p.164)
“Eles se tornam um movimento ao ocuparem um espaço urbano, seja por
ocupação permanente de praças públicas, seja pela persistência das manifestações de rua”,
mesmo quando se originam por meio das redes, uma vez que a comunicação se dá por
intermédio da internet e de telefones celulares, interagindo, ao mesmo tempo, com a tomada
de espaços simbólicos de lutas, onde se dão os “atos de protestos”. (CASTELLS, 2013, p.164)
Para o autor esta mescla do espaço virtual com o urbano forma um terceiro ao
qual ele denomina de “autonomia”, e que, por sua vez, somente é garantida à medida que se
constitui na liberdade proporcionada pelas redes e que é praticada como força transformadora,
desafiando a ordem institucional disciplinar, ao reclamar o espaço da cidade para seus
cidadãos... O espaço da autonomia é uma nova forma espacial dos movimentos sociais em
rede. (CASTELLS, 2013, p.165)
“Os movimentos são simultaneamente locais e globais.” São locais porque,
geralmente, têm origem a partir de histórias e demandas peculiares, bem com constituem sua
própria rede e visam espaços urbanos específicos de seus contextos. E são globais, pois
interagem com o mundo conectado à rede, veiculam suas experiências, assim como são
estimulados por outras, e têm a capacidade de mobilização de vários espaços urbanos locais
ao mesmo tempo a partir de “questões e problemas da humanidade em geral”. (CASTELLS,
2013, p.165)
“São amplamente espontâneos em sua origem, geralmente desencadeados por uma
centelha de indignação”, muitas vezes por demandas locais ou pela não aceitação da ação de
seus governos e lideranças políticas. Há sempre um “apelo” que percorre, principalmente, o
espaço das redes, apelo esse levado posteriormente às manifestações em espaços urbanos,
fazendo com que os participantes ou receptores “se conectem à sua forma e a seu conteúdo”.
(CASTELLS, 2013, p.166)
“Os movimentos são virais”, ou seja, surgem por todos os locais e países
diferentes, se propagando pelas redes por meio da divulgação de mensagens e imagens. Isso
se dá em contextos diversos e, principalmente, podendo ser distantes ou até próximos, de
54
forma que um estimula o outro de diferentes modos, uma vez que têm voz e podem ser
ouvidos por variados povos, com suas culturas e contextos específicos, inspirando “a
mobilização, porque desencadeia a esperança da possibilidade de mudança”. (CASTELLS,
2013, p.166)
Assim, “a passagem da indignação à esperança realiza-se por deliberação no
espaço da autonomia” (CASTELLS, 2013, p.166), em movimentos sem líderes, nos quais as
resoluções e decisões são tomadas de forma horizontal, haja vista que o contrário poderia
causar falta de confiança naqueles que tomassem o poder dentro dos grupos. Dessa forma,
essa horizontalidade tanto no espaço real como no virtual favorece o “companheirismo”, a
solidariedade, tirando de foco uma liderança específica.
“São movimentos profundamente autorreflexivos” (CASTELLS, 2013, p.167),
uma vez que, constantemente, é posto em questão quem são os participantes dos movimentos,
tanto nos espaços urbanos como no espaço da rede, como também quais as suas demandas.
Ainda indagam até que ponto eles próprios não se vêm promovendo ações a que se colocam
contrários em suas lutas, no que se refere a conquistas e poderes. “Essa autorreflexividade
manifesta-se no processo de deliberação das assembleias, mas também em múltiplos fóruns da
internet, assim como numa miríade de blogs e grupos de discussão das redes sociais.” (p.168)
Em geral, “eles não são violentos”, apesar de enfrentarem diferentes tipos de
violência quando reprimidos por se envolverem em práticas que visam pressionar governos ou
organizações, por meio de manifestações e ocupações de espaços urbanos ou protestos
virtuais, com intuito de buscar uma “participação justa nos canais institucionais”.
(CASTELLS, 2013, p.168)
Não é frequente que os movimentos tenham início programado, e sim surgem a
partir de demandas e motivações diversas, sem, contudo, terem um “programa elaborado em
torno de objetivos específicos” (CASTELLS, 2013, p.169). Não se concentram, dessa forma,
em um “só projeto ou tarefa”, não dando chance a partidos políticos de aliciar os
participantes, pois estes também já não têm credibilidade.
O que esses movimentos sociais em rede estão propondo em sua prática é
uma nova utopia no cerne da cultura da sociedade em rede: a utopia da
autonomia do sujeito em relação às instituições da sociedade [...]. A
internet, que, como todas as tecnologias, encarna a cultura material, é uma
plataforma privilegiada para a construção social da autonomia. (CASTELLS,
2013, p.170)
55
“O papel da internet e da comunicação sem fio nos atuais movimentos sociais em
rede é fundamental” (CASTELLS, 2013, p.170-171), porém não têm seu valor reconhecido
quando é minimizada a questão de estarem na base dos movimentos, uma vez que sua
verdadeira causa, que são “os conflitos de sociedades específicas”, só pode ser contestada por
intermédio da comunicação que esses meios proporcionam quando seus participantes se
unem, interagem e se organizam com vistas a influir mudanças na sociedade como um todo,
seja de forma local ou global.
A internet fornece a plataforma de comunicação organizacional para traduzir a
cultura da liberdade na prática da autonomia. Isso porque a tecnologia da internet incorpora a
cultura da liberdade, pois “ela foi deliberadamente programada por cientistas e hackers com
uma rede descentraliza da de comunicação por computadores capaz de resistir ao controle de
qualquer centro de comando” (CASTELLS, 2013, p.172).
As novas mídias sociais, principalmente as redes sociais digitais, estão criando
novas e modificando antigas formas de relacionamento. Elas proporcionam ainda novas
formas de acesso à informação e, por consequência, possibilidade de múltiplas elaborações do
conhecimento, bem como propiciam maneiras diferentes de construção e reconstrução da
democracia. Contudo, por outro lado, também criam novas formas de controle social e
manipulação. E, segundo Nicolas Carr (2011, apud GOHN, 2013a, p.52), “a internet estimula
a inteligência visual e espacial, mas isso se dá em detrimento da capacidade dos indivíduos de
análise, reflexão e pensamento crítico”, o que para Gohn (2013a, p.52) significa que
“estaríamos nos tornando leitores desconcentrados e pensadores rasos, incapazes de articular
raciocínios complexos”.
No entanto, assim como diz Gohn (2013a), tudo ainda é muito recente e novo para
se fazer análise apocalíptica, de forma a afirmar aspectos totalmente positivos ou negativos
acerca do que as mídias digitais podem proporcionar aos atos humanos e, em especial, à ação
coletiva.
As manifestações de rua, tratadas nesta tese, fazem parte de um movimento de
rede que busca formas novas ou alternativas de se expressar. Isso porque uma das
características dos movimentos é não serem institucionalizados (GOHN, 2014, p.142). Daí a
tendência a uma globalização com uma novidade para a agregação de indivíduos, ou seja, a
reunião de diferentes grupos com propósitos semelhantes (nesse caso, conquista e garantia de
direitos). Tais grupos nem sempre estão no mesmo espaço territorial, tampouco têm sempre
um objetivo específico comum, mas, por meio das redes sociais, como foi o caso das
manifestações ocorridas em meados de 2013 ou da Primavera Árabe, podem receber apoio
56
mundial às suas reivindicações. (GOHN, 2013a, p.30) Isso ocorre porque essa forma de
comunicação cria uma diminuição do espaço territorial8 e um aumento do espaço virtual, de
modo que indivíduos que se encontram distantes geograficamente têm a possibilidade de
realizar encontros virtuais em que compartilham ideias, reflexões, valores, ideologias. A partir
dessa ação pode ocorrer a formação de novos movimentos.
1.1.6 Movimentos sociais e educação
Segundo Gohn (2011, p.334), a investigação acerca da relação entre movimentos
sociais e educação é nova nos estudos acadêmicos, suscitando euforia em uns que a
consideram seu mérito, e rejeição em outros, tidos como conservadores. Essa conexão partiu
“da atuação de novos atores que entravam em cena, sujeitos de novas ações coletivas que
extrapolavam o âmbito da fábrica ou os locais de trabalho”, tendo os movimentos uma grande
influência educativa para esses grupos.
Quando se fala na relação entre movimentos social e educação não se pode deixar
de destacar os “movimentos pela educação”, que ocorreram dentro e fora das instituições
escolares, constituídos de sujeitos inseridos tanto no campo da educação formal como na
educação não formal.
Movimentos sociais pela educação abrangem questões tanto de escolas como
de gênero, etnia, nacionalidade, religiões, portadores de necessidades
especiais, meio ambiente, qualidade de vida, paz, direitos humanos, direitos
culturais etc. Os movimentos sociais são fontes e agências de produção de
saber. O contexto escolar é um importante espaço para participação na
educação. A participação na escola gera aprendizado político para a
participação na sociedade em geral. (GOHN, 2011, p.347)
Para a autora, os movimentos sociais pela educação, e sua relação, são muito mais
amplos e extrapolam os muros das instituições educacionais formais, uma vez que seu
processo, assim como ocorre em outros movimentos, também tem caráter educativo. E cabe à
educação propiciar espaços e condições de desenvolvimento cultural, social e cognitivo por
meio das práticas de luta por direitos e condições melhores de vida. Arroyo (2003, p.29-30)
ressalta que vários textos acadêmicos reconhecem a relevância dos movimentos sociais para
uma conscientização acerca do “direito à educação básica” e para a democratização da
educação, bem como a importância que essa relação assume.
8 Apesar de estarem longe no que se refere às localidades geográficas, estão, ao mesmo tempo, próximos por
meio da internet no que se refere à comunicação e divulgação de informações em tempo real.
57
Segundo Gohn (2011, p.348-350), os movimentos pela educação nas escolas
formais, nas duas últimas décadas, tiveram como eixos centrais inúmeras demandas, a saber:
acesso à educação, aumento das vagas nas escolas infantis, das vagas no ensino básico, escola
pública com qualidade, gestão democrática, valores mais justos nas escolas particulares,
políticas públicas voltadas à educação e adequada distribuição do orçamento, realização de
experiências, combate às discriminações, melhores condições de permanência, ensino técnico,
programas mais efetivos contra o analfabetismo, educação de jovens e adultos, projetos
pedagógicos com respeito às culturas locais e alterações na interação entre escola e
comunidade. Por último, e não menos importantes, cumpre citar as lutas por melhores
condições salariais e de trabalho aos profissionais da educação, principalmente aos
professores, assim como nos fala M. A. Souza (2005, p.84):
Há ainda a necessidade de pensar os movimentos de professores, que
mantêm em sua pauta de reivindicação a ideia de “uma escola de qualidade”,
ao lado das reivindicações salariais. Tais movimentos não têm tido muita
visibilidade, o que não significa que a escola vá muito bem; ao contrário, as
salas de aulas estão cada vez mais cheias, os professores descontentes com o
salário, inúmeros cursos de especialização são organizados com o intuito de
que o professor possa ter uma ascensão salarial [...].
Souza ainda discorre sobre os dados oficiais de repetência e evasão, afirmando
que não correspondem à realidade, sendo camuflados por programas e projetos de “correção
de fluxo” e “aceleração”, entre outros.
Dessa forma, pode-se examinar que são muitas as demandas e que os
movimentos, sejam eles novos movimentos sociais ou “novíssimos movimentos”, vêm
buscando formas de intervenção na esfera pública com o objetivo de se obter uma educação
de qualidade e instituições públicas comprometidas com o desenvolvimento dos educandos.
A exemplo da educação formal, Gohn (2011, p.351-352) lista também os eixos de
luta contemplando a área da educação não formal, constituída pela “grande maioria das ações
educativas dos movimentos sociais, práticas civis, associativismo das ONGs etc.”, a saber:
trabalho nos sindicatos; trabalho com movimentos sociais (especialmente populares);
trabalhos na área da ação social comunitária (junto a associações, ONGs e outras formas
organizativas). Lista ainda espaços onde seria necessária a atuação de educadores, como nas
lutas pelo acesso à educação em comunidades carentes e grupos vulneráveis; mobilização de
recursos da comunidade para combate às situações de exclusão por meio da implantação de
programas e projetos sociais; movimentos étnico-raciais; movimentos de gênero (mulheres e
58
homens) e movimentos de homossexuais (gays, lésbicas e transexuais); movimentos culturais
de jovens; mobilizações e protestos contra a guerra, pela paz; movimentos de solidariedade e
apoio a programas com meninos e meninas de rua, adolescentes que usam drogas, portadores
do Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, portadores de necessidades especiais;
movimento pela infância; movimentos pela preservação ou construção de condições para
preservação do meio ambiente. Nesse sentido, como atesta M. A. Souza (2005, p.84),
“evidencia-se uma nova faceta no processo de luta pela educação: a parceria e a ideia de
descentralização das ações no âmbito social, abrindo espaço para a atuação da sociedade
civil”.
Contudo, Arroyo aponta outro olhar para a relação educação e movimentos
sociais, numa perspectiva ampliada que se refere às potencialidades dos movimentos sociais:
Em que medida [os movimentos sociais] podem ser vistos como um
princípio, uma matriz educativa em nossas sociedades. Que dimensões eles
formam e que aspectos eles trazem para a teoria pedagógica e para o fazer
educativo tanto nas propostas de educação formal quanto informal.
(ARROYO, 2012, p.30)
O aprendizado pode revelar-se em diferentes “dimensões educativas” e na relação
com os movimentos sociais, em que se dá a aprendizagem de direitos, isso com especial
destaque para o direito à educação e à escola pública. Surge assim uma nova forma de
ensinar e aprender, o que o autor chama de “reeducação da cultura”, colocando a educação no
limite “do conjunto dos direitos humanos”, em oposição a um pensamento que “reduz a
escolarização a mercadoria, a investimento, a capital humano, a nova habilitação para
concorrer no mercado cada vez mais seletivo” (ARROYO, 2012, p.30).
Nessa linha, Gohn (2011, p.352-353) cita Vygotsky para explicar que “o
aprendizado ocorre quando as informações fazem sentido para os indivíduos inseridos em um
dado contexto social”, destacando, em seguida, as inúmeras formas de aprender disponíveis
aos grupos e/ou aos indivíduos no “interior de movimentos sociais, durante e depois da luta”.
Há aprendizagem prática, teórica, técnica instrumental, política, cultural, linguística, sobre a
economia, simbólica, social, cognitiva, reflexiva e ética. Para Arroyo (2003, p.30), os
movimentos sociais podem reeducar “o pensamento educacional, a teoria pedagógica, a
reconstrução da história da educação básica”, pois esses segmentos pertencem também à
história da sociedade, com suas demandas e “avanços na consciência de direitos”.
Os estudos enfatizam “o caráter educativo das ações coletivas, organizadas na
forma de movimentos sociais”, principalmente na educação não formal, sendo essencial que
59
tanto a educação formal como a não formal possibilitem a abertura de espaços de
“participação democrática da população”, assim como já ocorre no processo educativo no
interior dos movimentos sociais. (GOHN, 2011, p.356) Arroyo (2003, p.33) completa esse
pensamento quando assegura que não reconhecer as “formas concretas de socialização” e de
aprendizagem no processo educativo, seja ele formal ou informal, cabendo acrescentar nesse
texto o processo educativo não formal, é colocá-lo à parte dos “processos socializadores”, nos
quais as questões sociais se multiplicam e a sociedade ganha voz.
Para Arroyo (2003, p.37), “a ação educativa junto a diversidade de coletivos
inseridos nesses movimentos e na sobrevivência tão no limite terá de dar conta da totalidade
de dimensões que os constituem como humanos”. Assim, faz-se necessário um avanço nos
estudos teóricos e práticos da pedagogia com vistas a uma formação e “humanização”
completa dos sujeitos em sua plenitude enquanto seres sociais, culturais, sociais e políticos em
movimento, pertencentes ou não a um movimento social, mas trazendo consigo seu
conhecimento prévio de mundo a partir de suas experiências e vivências, assim como ocorre
na pedagogia dos movimentos sociais.
[...] os movimentos sociais recuperam a centralidade da ética e das
orientações culturais no convívio humano, na produção, na política, na
formulação de políticas, no trato do público, da terra, do espaço... Eles têm
trazido o confronto ao campo da ética, à defesa dos limites morais... eles
vêm agindo como repositores de velhas dimensões: a formação de sujeitos
éticos, do público, da moralidade. Dimensões tão presentes nos velhos
ideários pedagógicos. (ARROYO, 2003, p.42)
Outro aspecto explorado por Arroyo (2003, p.40-43) é o da cultura, quando fala
nos novos movimentos sociais que têm como base identidades culturais, como a dos negros,
das mulheres, dos indígenas etc., os quais intitula “movimentos culturais” (apontado por
Touraine). O autor enfatiza a cultura como “eixo da ação coletiva” e defende que deveria ser
também da “ação educativa”, uma vez que tem como princípio a formação. Para ele, a
educação tradicional encontra grandes dificuldades em lidar com essa questão quando a trata
com preconceitos e reduz o “agir humano” como estático. O contrário ocorre com a pedagogia
dos movimentos, que encara a cultura como fundamental para o entendimento “dos processos
sociais e educativos”, de forma a significá-los e ressignificá-los, com intuito de contestar uma
cultura e, por que não, uma ação educativa homogeneizada. Para Arroyo (2003, p.40-43), é
essencial que a educação, principalmente a formal, tenha como perspectiva os paradigmas
éticos presentes nos movimentos sociais acerca da formação humana.
60
No entanto, para Arroyo (2012, p.31), os movimentos sociais vão muito além da
“relação entre educação e projeto particular de vida, projeto individual de vida e de até projeto
familiar de vida”, eles extrapolam os limites do próprio movimento, uma vez que a educação
ultrapassa o seu funcionamento formal e precisa partilhar “um projeto de sociedade”. Nessa
mesma direção, Gohn (2011, p.333) afirma que “a educação não se resume à educação
escolar, realizada na escola propriamente dita”, pois existem outros tipos de saberes em outros
locais diferentes da escola, o que ela chama de educação não formal. Ainda segundo Arroyo
(2012, p.31), a educação pode construir um projeto contra-hegemônico, caso contrário ter-se-á
de se aceitar apenas “projetos mais imediatos”. Assim, o autor diz que a história da educação
comprova que, onde existiu “um projeto revolucionário”, existiu sempre “um projeto
educativo”, contudo este último não é condição para que haja o projeto revolucionário, o
primeiro vem depois, como ocorreu em muitos movimentos sociais, ou seja, o próprio
movimento é educativo.
A sociedade não muda somente pela educação, apenas pode ser provado que
“quando a sociedade muda ou entra em processo de transformação ela termina equacionando
o papel da educação”. Isso porque os movimentos não são, a priori, movimentos de educação,
eles se movem contra alguma ação que não está de acordo com os termos de determinados
grupos. Essencialmente, a educação aparece com o intuito de fazer com que os avanços que
há nas lutas dos movimentos passem de imediatos para “um projeto de sociedade, um projeto
anticapitalista” (ARROYO, 2012, p.32) por meio das lutas.
Como profissionais da pedagogia teríamos de agradecer aos diversos
movimentos sociais a posta em cena, e de maneira tão rigorosa das grandes
questões humanas que sempre revigoraram o campo da teoria pedagógica.
Eles nos oferecem um prato cheio para sair dos recortes pontuais, dos
olhares pobres em que se isolou o didatismo escolar e também o
metodologismo da educação não formal. Eles nos educam e educam os
coletivos que deles participam. Educam a sociedade. Agem como
pedagogos. (ARROYO, 2003, p.47)
Nesse contexto, a tarefa do educador, que possui um projeto emancipatório, é a
“de tentar em cada momento, descobrir as possibilidades de explorar cada passo em termos
educativos e de formação (política)”, confiando “que a própria dinâmica de transformação, de
qualquer luta, de qualquer movimento é educativa” (ARROYO, 2003, p.47). Contudo, não
passa a ser educativa de repente, por meio de uma intencionalidade, precisa ser estudada com
um viés formador.
61
Arroyo (2003, p.48) cita Lenin para mostrar que “a luta em si tem uma dimensão
pedagógica, mas é necessário que os que fazem a luta e os educadores que participam, tentem
explorar, ao máximo, as dimensões pedagógicas desses processos”. Também cita Gramsci
quando afirma que os movimentos sociais, por sua vez, exploram as dimensões pedagógicas
(ainda que não formais) e que os partidos mais revolucionários também as exploram, na
medida em que formam “coletivos educadores”, pois, nessa linha, há de se educarem como
coletivos, ou seja, são “os intelectuais orgânicos coletivos que, em cada momento, percebem
onde estão as dimensões pedagógicas e as exploram” (ARROYO, 2003, p.48).
Assim, para ele, os movimentos sociais também podem ser considerados como
intelectuais orgânicos coletivos, contudo, isso não ocorre naturalmente e somente será
possível se houver cultivo e interação (ARROYO, 2003, p.48). O autor cita Paulo Freire
acerca do ato de educar associado à humanização, à libertação e à emancipação, e atesta que
não é um processo natural, mas fruto de ações, pois pode haver processos extremamente
revolucionários, mas que não emancipam, e sim controlam, do mesmo modo “como houve
revoluções que terminaram não emancipando e sim controlando”. A abordagem educativa
dos movimentos sociais “é muito mais larga do que a educação escolar”, estando nesse
contexto o porquê de os movimentos sociais “serem educadores para além da escola”
(ARROYO, 2003, p.48).
O movimento social e sua relação com a educação acontecem de duas formas: “na
interação dos movimentos em contato com instituições educacionais, e no interior do próprio
movimento social, dado o caráter educativo de suas ações” (GOHN, 2011, p.334). O fato é
que eles educam diferentemente dos moldes escolares, com seus projetos, currículos e
professores. O próprio movimento é “educador no sentido mais amplo, no sentido de que
humaniza” (ARROYO, 2012), “de que desperta uma consciência política, de que ajuda a
interpretar a realidade” e de que, principalmente, questiona muitos valores da sociedade.
Gohn confirma esse caráter ao afirmar que “um dos exemplos de outros espaços educativos é
a participação social em movimentos e ações coletivas, o que gera aprendizagens e saberes”,
uma vez que existem ações educativas nas práticas de participação “quando há negociações,
diálogos e negociações”. Para a autora, uma das proposições dos movimentos sociais é serem
“matrizes geradoras de saberes” (GOHN, 2011, p.333).
Dessa forma, é imprescindível “pensar a educação escolar na mesma visão
ampliada que o movimento faz da educação” (ARROYO, 2012, p.33). Ou seja, é necessário
que se entenda e se perceba, por um lado, “uma educação ampla, política e avançada”, sendo
os movimentos grandes educadores das sociedades, dos participantes e das comunidades. Por
62
outro lado, as escolas não conseguem traduzir no cotidiano escolar essa concepção e essa
prática de educação que os movimentos sociais possuem, de forma a surgir uma tensão. Para o
autor, ainda, “a escola está no horizonte dos movimentos sociais”, no momento em que ela
passa “a ser um campo de intervenção dos movimentos sociais”, pois
[...] uma coisa é a educação colocada neste horizonte tão amplo, de
transformação, de mudanças, outra é o papel que realmente cumpre a escola,
uma vez que não há reformas a serviço destes grandes projetos, as reformas
nas escolas terminam sendo muito mais humildes, muito mais modestas.
(ARROYO, 2012, p.33)
A relação entre a educação e o movimento social está presente nas práticas dos
grupos sociais e de seus movimentos, sendo essa relação de suma importância no processo de
indagação acerca da conjuntura vigente, permitindo compreender como ocorrem as
aprendizagens no cotidiano de tais grupos (GOHN, 2011, p.334). E é nesse campo que Paulo
Freire (s/d) fala sobre as marchas históricas que denotam o ímpeto da vontade amorosa de
mudar o mundo, afirmando que morreria feliz se visse
[...] o Brasil cheio, em seu tempo histórico, de marchas [...] dos que não tem
escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem,
marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se
rebelam, marcha dos que querem ser e estão proibidos de ser. As marchas
são andarilhagens históricas pelo mundo. (FREIRE, s/d)
E, na direção de que Paulo Freire (s/d) trata de educação, os movimentos sociais
são, de forma mais profunda, “uma das expressões mais fortes da vida política e da vida
cívica”, como o MST. Revela que existem muitas opiniões contrárias, inclusive de quem se
pensou progressista, atribuindo a eles termos como destruidores da ordem. O que não condiz
com a realidade, uma vez que asseguram “certas afirmações teóricas de analistas políticos” e
acadêmicos que lutar para conseguir “um mínimo de transformação” é de fundamental
importância. Para ele, a educação e a transformação só são possíveis por meio de marchas
contra uma “vontade reacionária histórica implantada neste país”. Diz Freire ainda que tem
como sonho que outras marchas se instalem neste país, como a marcha pela decência ou pela
superação da “sem-vergonhice” que se “democratizou neste país”, porque as marchas “nos
afirmam como gente e como sociedade querendo democratizar”.
Arroyo (2003, p.47-48) fala sobre a possibilidade de uma “pedagogia dos
movimentos sociais” quando mostra a identificação dos diversos movimentos (dos primeiros
aos atuais) com seus gritos de guerra, palavras de ordem, formas de manifestação e até de
63
organização, as quais não existem em nenhum manual ou método pedagógico, ao contrário,
fazem parte de uma ação pedagógica para a formação humana com suas “linguagens e
didáticas acumuladas ao longo de uma historia tão permanente e tão atual”. Nessa linha, o
autor cita Paulo Freire para explicar sobre as questões humanas presentes na história, como
“se os seres humanos, os grupos excluídos, oprimidos repetissem a mesma „pedagogia do
oprimido‟ em cada presente” com
[...] um vigor pedagógico que rebrota em cada movimento social reprimido,
mas vingado algum tempo depois por outros movimentos. A volta
permanente a essas antecedências sempre renovadas poderia ser uma tarefa
de quem buscamos os vínculos entre educação e os tensos processos de
produção e reprodução da existência. (ARROYO, 2003, p.48)
1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS
Para Palma Filho (2010, p.157), “políticas públicas são as ações desenvolvidas
pelo poder público, com a finalidade de efetivar os princípios estabelecidos no texto
constitucional e em leis que a ele se seguiram”. Também afirma o autor que, muitas vezes, são
levadas em consideração demandas postas pelo conjunto da sociedade por conta de se atender
à solicitação de um contexto democrático. Entretanto, se tratando de uma sociedade como a
brasileira, “que se caracteriza por conflitos e interesses de classe”, as políticas públicas são
consequência “do embate de forças, que se consubstanciam em leis, normas, métodos e
conteúdos, resultantes da interação de agentes de pressão que disputam o Estado”.
Todavia, Perez (2010, p.1181) acrescenta que o termo “políticas públicas” vai
além, pois é o conjunto de ações do Estado, administrado por um determinado período por um
governo, tendo em vista duas fases:
[...] a fase da formação da política, implicando a constituição da agenda, a
definição do campo de interesse e a identificação de alternativas; e a fase da
formulação da política, quando as várias propostas se constituem em política
propriamente dita, mediante a definição de metas, objetivos, recursos e a
explicitação da estratégia de implementação. (PEREZ, 2010, p.1181)
Assim, os governos confeccionam planos, traçam metas e objetivos e
desenvolvem ações que consideram importantes para melhoria da vida social, de forma a
considerar as demandas ou interesse público.
Contudo, segundo Ball e Bowe (1992, apud MAINARDES, 2006, p.94), “as
políticas não são simplesmente implementadas, mas reinterpretadas no contexto da prática”.
64
Nesse sentido, continuam, “a análise da trajetória de políticas envolve a análise de cinco
diferentes contextos do ciclo de políticas: contexto de influência, contexto da produção de
texto, contexto da prática, contexto dos resultados/efeitos e contexto de estratégia política”.
Para os autores, política se configura em “ciclo contínuo” (p.95), o qual Ball intitula de “ciclo
de políticas”.
O ciclo de políticas não tem a intenção de ser uma descrição das políticas, é
uma maneira de pensar as políticas e saber como elas são “feitas”, usando
alguns conceitos que são diferentes dos tradicionais [...]. Quero rejeitar
completamente a ideia de que as políticas são implementadas. Eu não
acredito que políticas sejam implementadas, pois isso sugere um processo
linear pelo qual elas se movimentam em direção à prática de maneira direta.
Este é um uso descuidado e impensado do verbo. (BALL, apud
MAINARDES, MARCONDES, 2009, p.305)
Para Ball e Bowe, o “ciclo de políticas” não se resume em formulação e
implementação. Os autores “rejeitam os modelos de política educacional que separam as fases
de formulação e implementação porque eles ignoram as disputas e embates sobre a política e
reforçam a racionalidade do processo de gestão” (MAINARDES, 2006, p.94). Tais modelos
limitam ou desconsideram a participação dos atores envolvidos no processo, como, por
exemplo, a atuação de professores nas políticas educacionais. Assim, Ball e Mainardes (2011,
p.38) entendem que esse tipo de análise não leva em conta a história da política,
desprendendo-a de determinado “tempo e espaço”, e que as políticas não são só feitas para as
pessoas ou para serem implementadas, porque “normalmente não dizem o que fazer, elas
criam circunstâncias” (p.45), envolvidas em situações-problema, nas quais os participantes
precisam buscar soluções de uma maneira que suas realidades e contextos possam ser
recriados. Assim como nos aponta Giovanni (2010) quando discorre sobre a participação e
interação da sociedade e do Estado na perspectiva de construção de uma política:
Embora seja verdade que toda política pública seja uma intervenção estatal,
esse conceito se amplia porque o conceito tem que incorporar do que resulta
a política pública – e a política pública é sempre resultado de uma interação
muito complexa entre o Estado e sociedade. (GIOVANNI, 2010)
Nessa perspectiva, conforme Höfling (2005), as “políticas públicas” devem buscar
soluções para as necessidades sociais e locais, e não se manter pautadas numa concepção
neoliberal de se governar a sociedade, a qual traz mais problemas do que soluções para os
65
cidadãos numa sociedade tão desigual que a competição ganha espaço a ponto de minimizar
as relações sociais coletivas (BALL, 2011, p.26).
Dessa maneira, a função da política é oferecer condições para que o cidadão tenha
uma boa qualidade de vida, propondo, inclusive, ações preventivas no que se refere à
educação, saúde, segurança, trabalho. Que não sejam somente aplicadas políticas
compensatórias, que camuflam um verdadeiro desinteresse pelas causas sociais coletivas, a
favor de uma minoria, sob a ótica do “individualismo competitivo” e de “um novo tipo de
cidadão-consumidor” (BALL, 2011, p.31).
Assim, as políticas públicas precisam ter a função de viabilizar ações e “colocar-
se a serviço da luta por justiça social” (BALL, 2011, p.31), para que a universalidade do
acesso aos direitos saia da lógica mercadológica, uma vez que esta, numa visão neoliberal,
mais exclui do que inclui. Contudo, segundo Giovanni (2010), seria “importante no campo
das políticas públicas é que se melhorasse o padrão ético, não somente o técnico, e isso ainda
é uma briga em função desse conjunto de interesses que estão envolvidos” (GIOVANNI,
2010).
1.2.1 Políticas públicas em educação
Discutir políticas públicas voltadas à educação é imprescindível como referencial
teórico para análise do objeto desta tese, pois se faz necessário entender como elas são
formuladas e implementadas com vistas a promover ações inclusivas e educativas nas escolas
públicas, incluindo o segmento do Ensino Médio, em que se inserem os sujeitos desta
pesquisa. A relação deste tema à tese está na questão da importância de políticas que visem
uma formação crítica e consciente da sociedade conjuntural com vistas a uma participação
cidadã que busque transformações e efetivação de direitos sociais.
Dessa forma, essas políticas educacionais deveriam ser configuradas como
medidas capazes de proporcionar melhores condições de vida e em consonância com as outras
políticas, se revelando “produções conectadas à arena da política social, implementadas de
acordo com a realidade de cada grupo social”, como definem Ball e Mainardes (2011, p.12).
Segundo os autores, ainda existe a necessidade, nessa área, de um maior diálogo com a
literatura internacional, uma vez que a bibliográfica nacional não é extensa. E alegam também
que as políticas educacionais têm sido tratadas “por uma lógica de mercado” e discutidas
como se fossem “mercadorias”.
66
Contudo, Perez (2010, p.1180), a partir de suas metodologias e reflexões, por
meio da literatura empregada, pôde verificar que o tema relacionado a políticas educacionais
[...] se tornou, nos últimos vinte anos, uma arena de acirrados conflitos e
interesses com uma política de grandes orçamentos – do governo federal,
dos estados e dos municípios – para atender, em tese, todas as crianças e
jovens do país, além de relacionar-se com as múltiplas dimensões do Estado
de bem-estar social. (PEREZ, 2010, p.1180)
Assim, segundo o autor, é importante observar como se dão e em que “condições”
são não só formuladas, mas também implementadas as várias políticas educacionais, visto que
afirma haver entre os autores, de fato, uma concordância acerca da escassez de estudos sobre
o tema. Porém, diz que o processo de formulação
[...] é visto como mais prestigiado do que a implementação, uma vez que a
atenção dos analistas se volta mais para a formulação da política do que para
os processos operados para as políticas alcançarem os efeitos desejados. Pelo
fato de ainda os tomadores de decisão tenderem a assumir que as decisões
trazem automaticamente a mudança, conclui-se que a implementação não é
vista como uma parte integral da formulação da política, mas como algo a
ser feito depois, por acréscimo. Assim, ela não seria valorizada por ser
considerada como uma simples sucessão de decisões e interações. (PEREZ,
2010, p.1181-1182)
Assim sendo, torna-se fundamental para um melhor entendimento do tema
apresentar-se, neste texto, um panorama das implementações políticas na área da educação
das quatro últimas décadas do século XX e início do XXI, principalmente no caso do Estado
de São Paulo, contexto em que estão inseridos os sujeitos e objeto desta tese, levando em
conta que no Brasil e, consequentemente, em São Paulo
[...] as linhas mestras da política educacional estão formuladas em várias
fontes legais. A primeira delas é dada pela Constituição Federal que, desde
1934 e, em grande parte, influenciada pelo Manifesto dos Pioneiros pela
Educação Nova, dedica um capítulo para tratar da questão educacional, no
qual são firmados os princípios gerais que devem ser levados em conta na
organização do sistema educacional. (PALMA FILHO, 2010, p.157)
1.2.2 Adolescente ou jovem
O sujeito central desta tese é o aluno do Ensino Médio da Rede Pública Estadual
de São Paulo, com idade média entre 15 e 18 anos, muitas vezes chegando a 20 anos de idade.
67
De acordo com o relatório da UNICEF (2011, p.14), a fase da adolescência está compreendida
entre os 12 e 17 anos. Assim, entende-se aqui que o sujeito está entre a adolescência e a
juventude.
Contudo, se faz necessário definir os termos “jovem” e “juventude”, uma vez que
muitas vezes são utilizados como sinônimos de “adolescente e adolescência”. Esta última,
contudo, está mais bem compreendida, uma vez que não faz parte apenas de estudos
acadêmicos, mas também está institucionalizada no Estatuto da Criança e do Adolescente -
ECA, fruto da ação de atores empenhados em manter sua postulação (ABRAMO, 2005, p.29),
assim como é apresentado pela UNICEF:
[...] é fundamental reconhecer que os adolescentes são um grupo em si. Não
são crianças grandes nem futuros adultos. Têm suas trajetórias, suas
histórias. São cidadãos, sujeitos com direitos específicos, que vivem uma
fase de desenvolvimento extraordinária. O que experimentam nessa etapa
determinará sua vida adulta. Hoje, os adolescentes estão presentes na
sociedade com um jeito próprio de ser, se expressar e conviver e, portanto,
precisam ser vistos como o que são: adolescentes. (UNICEF, 2011, p.14)
De acordo com o relatório, contemporaneamente a definição de adolescente ou
adolescência não está mais restrita às condições ou transformações biológicas ou psíquicas
por que o menino ou a menina passa. Está atrelada à concepção de uma “construção social
dessa etapa da vida” e das diversas maneiras como ela pode ser vivida conforme as condições
socioeconômicas, cultura e participação. “Não se fala mais da adolescência, no singular, mas
de adolescências, no plural.” (UNICEF, 2011, p.17)
De acordo com o Estatuto da Juventude - EJ, criado pela lei nº 12.852/2013, são
consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 e 29 anos. O documento estende os
direitos instituídos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, de forma a continuar
garantindo a proteção integral do agora jovem, contudo ampliando o rol de direitos e políticas
públicas, incluindo ações voltadas para a sua autonomia, participação e emancipação. Dessa
maneira, o Estatuto defende a promoção da participação do jovem no desenvolvimento do
país; a promoção da intersetorialidade e do território como espaço de integração da política
pública de juventude; a adoção de mecanismos que ampliem a gestão de informação e
produção de conhecimento sobre juventude; a integração entre os jovens da América Latina e
a cooperação internacional, entre outros temas.
No que se refere à definição de jovem ou juventude, embora haja uma variação da
faixa etária, entende-se aqui que a juventude tem início ainda na adolescência. Fase essa que
68
compreenderia os estudantes do Ensino Médio de 15 a 17 anos se todos estivessem em série
compatível com sua idade, de acordo com o que seria garantido por lei. Assim,
[...] Adolescência é a idade na vida em que se começa a enfrentar o tempo
como uma dimensão significativa e contraditória da identidade. A
adolescência é a fase na qual a infância é deixada para trás e os primeiros
passos são dados em direção à fase adulta, com isso se inaugura a juventude
e constitui sua fase inicial. (MELUCCI, 1996b, p.8)
A adolescência e a juventude são tempos de construção de identidade e de
definição de projetos de futuro, marcados por ambivalências, pois se fazem presentes ao
mesmo tempo o senso de disciplina e obediência à família e à sociedade e o desejo de fazer
valer suas vontades e querências. Situação essa geradora de conflitos, que podem
proporcionar a expectativa de emancipação. (NOVAES, 2004, p.1)
Para Ozella (2011), existem muitas diferenças quando os jovens ou adolescentes
são de origens, gênero e classe sociais distintos, pois vivem de formas diversas no que se
refere a responsabilidades assumidas, ou não, família, carências etc. O jovem ou adolescente,
muitas vezes, já é rotulado como conflituoso, o que, segundo o autor, não traz contribuição,
notando que a própria escola os trata como problemas sem resolução. A literatura acadêmica e
a mídia não deixam claro quando e como ocorre de forma concreta essa passagem da
adolescência e juventude para a vida adulta. “Há um vácuo que permite entender que de
repente, com o passar do tempo, de maneira quase mágica o jovem passa a ser um adulto.”
(OZELLA, 2011, p.18-19)
A escola formal revela-se, nessa conjuntura, como mais uma instituição de
controle social quando passa a assumir a educação, que até então era de responsabilidade da
família, encarregando-se de uma formação que atribui perfis e papéis diferenciados para cada
faixa etária (GROPPO, 2000).
Assim, anteriormente, o ensino e aprendizado eram focados na inserção do jovem
no mercado de trabalho, o que indicava, para muitos, o fim da infância e a antecipada entrada
na vida adulta. Diferentemente dos tempos modernos, quando a intenção da escolarização é
fazer com que ocorra justamente o contrário, que seja retardado o início dessa vida adulta. Tal
ação é de responsabilidade do Estado, redesenhando a “cronologização etária” em seus
postulados. (PERALVA, 1997, p.17)
O fato é que a adolescência ou juventude é um período de transição sem, no
entanto, deixar de ser um tempo de transformações e construção de histórias perpassadas por
69
desigualdades, configurando também caminhos diferentes. (PERALVA, A. O jovem como
modelo cultural. Revista Brasileira de Educação. São Paulo: ANPEd, n. 5/6, 1997., p.5)
Os jovens são indivíduos que estão sendo construídos com base nas suas
características pessoais e nas informações, experiências e oportunidades
propiciadas pela família e pelo contexto social em que vivem aí incluídas as
políticas públicas. Os contextos diferenciados ampliam ou restringem as
possibilidades desses jovens e definem vulnerabilidades diferenciadas.
(CAMARANO et al., 2004, p.6)
Segundo as autoras, o amadurecimento social e psíquico também pode ocorrer de
formas diferentes. Jovens de camadas mais populares, por exemplo, tendem a um
amadurecimento precoce, uma vez que muitos precisam assumir responsabilidades financeiras
e saem para o trabalho, formal ou informal. Portanto, o início da vida adulta pode variar
conforme o contexto histórico e social de cada um. Assim, “a família e o Estado afetam a
constituição identitária e social dos jovens, funcionando com agentes promotores de suas
potencialidades ou de acirramento da sua condição de vulnerabilidade” (CAMARANO et al.,
2004, p.6).
De acordo com o Relatório da UNICEF, a participação é um direito, e este consta
reafirmado no ECA. Em uma dimensão mais coletiva do que simplesmente individual, é um
conceito que se integra e complementa o de cidadania, sendo eles muito difundidos em textos
acadêmicos e midiáticos em todo o país. E é por meio de uma participação cidadã que os
jovens e adolescentes poderão buscar espaços para ter voz ativa na sociedade e fazer valer seu
direito. “Não existe cidadania sem participação e o principal objetivo da participação é a
construção da cidadania.” (UNICEF, 2011, p.117)
Participação, conceitualmente, exprime fazer parte de modo a ter voz nos
processos de decisão e ação de forma consciente no que se refere à condição de vida social,
entender as demandas e buscar direitos. No Brasil, um exemplo foi a mobilização dos jovens
nos anos 80, que frequentemente estavam nas ruas, aumentando a luta dos movimentos pela
restauração da democracia e pela aprovação do artigo 227 da Constituição, a base do ECA. O
voto facultativo foi concedido aos jovens com idade acima de 16 anos por meio da
Constituição Federal, dando a eles a oportunidade de escolher pela participação ou não.
Contudo, diante da política partidária vivenciada na segunda década dos anos 2000, há
aqueles que não querem mais votar. Porém, quando estimulados a participar de processos
políticos, fazem mais do que votar, buscam participação nas discussões a respeito de soluções
70
de problemas de suas comunidades, sejam locais ou mais abrangentes. (UNICEF, 2011,
p.118)
Nesse contexto, Gohn afirma que ações coletivas em movimentos sociais têm se
destacado pautando agendas de lutas sociais por meio de novos modos de organização, novas
demandas e novas maneiras de comunicação. Esse novo fato fez emergir “novos sujeitos
sociopolíticos, historicamente excluídos”, com participação de jovens por meio do “grito” e
da ação. (GOHN, 2013a, p.11)
O associativismo civil desses meninos e meninas nas primeiras décadas do
segundo milênio é diferenciado do visto nos movimentos nos anos de 1960 ou nas ações
coletivas dos altermundialistas. Os anos 60 foram marcados por uma “revolução cultural” em
que se buscava algo muito além do que pregavam as gerações passadas. Segundo Sartre (apud
GOHN, 2013a, p.13), “essa geração buscava viver sem tempos mortos”. Foram criadas
alianças que pregavam a revolução e identidades pautadas em temas como gênero, etnia etc.
Foi quando o uso de muros e cartazes com frases simbólicas dos movimentos fez com que
surgisse um novo tipo de comunicação em Paris.
No Brasil, em 1967, foi fundamental a participação do jovem no Movimento
Estudantil, constituído de jovens de classes sociais diferentes a reivindicar seus direitos,
mesmo sendo a conjuntura da ditadura militar, dando início a uma oposição política sem
também ter uma “liderança institucionalizada”, mas com capacidade de fazer com que
milhares de pessoas saíssem às ruas em 1968. Na história se considera que esse é um
movimento forte até nos tempos atuais, segunda década do século XXI, pois se renova
sempre, seja pelos novos alunos participantes, seja por suas novas formas de luta. (GOHN,
2013a, p.13)
O termo juventude foi empregado até os anos de 1970 como uma categoria
problematizadora para se tratar das questões referentes às transformações sociais, isso não só
na academia, como também nos espaços políticos. (ABRAMO, 2004) Nos anos 1990
entraram em cena os movimentos alterglobalização, marcadamente em 1999, após os eventos
em Seatle (EUA), quando a cultura, os valores e as lutas operárias foram sobrepostas por
“repertório focalizado nas políticas macroeconômicas e seus efeitos no mundo”, tendo no bojo
das discussões a globalização e o processo neoliberal. A comunicação dos jovens por meio
dos computadores já se sobressaía. Contudo, havia ainda na pauta as lutas identitárias.
(GOHN, 2013a, p.14)
71
Uma das características e estratégias dos movimentos alterglobalização foi a de
recriar suas ações e negar as políticas tradicionais e formas “consideradas clássicas”. Nesse
ritmo, a agenda de mobilizações do início do século XXI continuou a considerar a luta contra
os planos econômicos, que acabou por criar uma nova denominação para o cidadão,
“precariado”. Os jovens já possuem novas formas de comunicação, não só pelo computador,
mas também pelas redes celulares e redes sociais. (GOHN, 2013a, p.16-19)
O perfil dos manifestantes das jornadas de junho de 2013 no Brasil comprova a
importância da participação da juventude: em sua grande maioria, eram jovens com idade
entre 14 e 29 anos, 52% deles estudantes (GOHN, 2014, p.40), ou seja, um pouco mais da
metade dos participantes. Isso sem contar que, dos 76% de trabalhadores, muitos ainda
estudavam também. Dessa forma, cabe verificar o interesse por política e direitos vindo desse
segmento, indicando que “não são alienados ou apáticos como muitos analistas teimam em
afirmar” (GOHN, 2013a, p.40-41).
Os jovens que participam das manifestações, qualquer que seja a orientação
político-ideológica que os motiva, são abertos às utopias, à cultura digital à
revolta contra injustiças sociais. Antes de ocupar territórios do espaço físico,
familiarizam-se com o espaço virtual, atuam no novo espaço social criado
via o uso da internet. (GOHN, 2014, p.84)
Esse jovem tem grande capacidade de aprender, refletir e elaborar conhecimentos
a partir das experiências vividas no ativismo, na política – muitos ainda estão se iniciando
nesse campo. Buscam viver a cidadania na prática e contestam, muitas vezes, aquela proposta
em forma de lei. Não são alienados e têm consciência de que são recriminados e
discriminados por seus comportamentos e ações. Os jovens vão para as manifestações porque
querem ser ouvidos e buscam seus próprios meios de comunicação e expressão. Querem
educação e saúde de qualidade. Nota-se que sua participação se dá de forma coletiva, mas
mantém seus valores “individualizantes”, contudo não têm perspectiva para o futuro da
sociedade da maneira como está. (GOHN, 2014, p.84-86)
Uma vez apresentados os referenciais teóricos que subsidiarão a compreensão da
análise realizada no capítulo IV, cabe ao capítulo II a apresentação de temas educacionais e
suas políticas, para o entendimento do universo do sujeito da pesquisa.
72
CAPÍTULO II – A EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS:
UMA VISÃO DO CENÁRIO
Este capítulo estende-se sobre alguns aspectos do sistema educacional brasileiro,
com um breve histórico sobre suas políticas públicas na esfera estadual paulista, verificando-
se como algumas delas foram implementadas no Brasil para o Ensino Médio. Essas questões
são consideradas fundamentais para a análise posterior do contexto em que estão inseridos os
alunos do Ensino Médio das escolas públicas estaduais, sujeitos desta pesquisa, bem como
para o estudo da participação desses jovens no processo de articulação dos movimentos e
reivindicação das demandas sociais, organizado por meio das redes sociais, a partir de uma
consciência formada em instituições de educação formal.
2.1 O SISTEMA DE ENSINO BRASILEIRO
O aluno do Ensino Médio das escolas públicas brasileiras está inserido em um
sistema de ensino desequilibrado, cujo currículo não está sintonizado com as necessidades
sociais reais. Ou seja, a educação, nesse segmento, precisa de fato contribuir para uma
aprendizagem de excelência, de maneira a formar, primeiramente, cidadãos críticos, com
grande capacidade de criação e de integração, sujeitos com uma visão do global e da
sociedade em que vivem, o que só será possível se “valores, experiências e percepções dos
alunos puderem ser expressas, conhecidas e, principalmente, respeitadas entre eles” (ISHII et
al., 2014, p.687).
Muito embora tenha ocorrido, nos últimos anos, uma melhoria relativa no sistema
educacional, com a consequente diminuição do analfabetismo no país, a situação geral não é
satisfatória, principalmente qualitativamente. O sistema continua desajustado e inadequado ao
século XXI, uma vez que mantém antigas concepções de ensino e, raramente, introduz e
recorre a novas formas de ensinar e aprender, como a utilização de modo real das TICs, assim
como pouco se faz sobre as relações existentes no cotidiano escolar com vistas à diminuição
dos problemas, principalmente da violência escolar. Esse sistema não conta com o apoio da
internet e das redes digitais no ensino, desconsiderando a possibilidade de boas relações que
esses meios trazem para a educação.
73
O resultado desse sistema é uma juventude que tem grandes dificuldades de
resolução de conflitos (BIASOLI-ALVES, 2001) na área familiar e, por consequência, na área
escolar, que não busca o conhecimento existente em sua própria cultura e que possui
dificuldades de compreensão, de raciocínio e de pensamento crítico. “É necessário que se
discutam: o respeito ao ritmo individual, a tolerância face às diferenças e a eliminação dos
preconceitos.” (BIASOLI-ALVES, 2001, p.86)
A educação não se esgota no espaço da escola, ela se complementa e se aprofunda
na interação com agentes externos a ela. A educação da comunidade para a vida só se dará
quando não estiver mais circunscrita aos mecanismos tradicionais de difusão do
conhecimento, passando a contemplar a criação e aplicação de projetos com a comunidade
visando à solução de problemas e à melhoria das relações interpessoais no cotidiano escolar.
Apesar de vermos avanços educacionais, ainda que a passos lentos, tanto
quantitativos como qualitativos, as grandes desigualdades permanecem. Contudo, houve uma
esperança da diminuição de tais desigualdades a partir da promulgação da Constituição
Federal (1988), que prevê o acesso à educação de toda a população e estabelece que 18% da
receita da União e 25% da receita dos estados e municípios devem ser destinados ao
desenvolvimento da educação. O texto constitucional definiu ainda um regime de colaboração
entre as diferentes instâncias para o cumprimento da universalização do ensino básico, isso de
forma conjunta e complementar. No entanto, a educação ainda não foi tratada como
prioridade, fato esse que se arrasta desde a época do colonialismo e início do período
republicano, tendo marcado também o século XX, apesar de sempre o tema fazer parte da
agenda dos governos.
Assim, a educação brasileira desenvolveu-se de acordo com interesses e
desenvolvimento de cada região, constituindo diferentes redes de ensino com características
específicas, fazendo com que o Brasil chegasse ao final do século XX com um alto índice e
evasão, retenção e analfabetismo. Isso se reflete na sociedade com altos graus de desigualdade
e exclusão social. Dessa forma, a maior dificuldade está justamente na não percepção das
especificidades de cada região. Criam-se políticas públicas como se todos tivessem realmente
as mesmas condições de acesso e permanência nas escolas. Disso resulta uma grande
dificuldade em fazer com que os jovens concluam, pelo menos, os nove anos obrigatórios do
ensino fundamental, sem evasão ou reprovação, com um agravante maior nos três anos do
Ensino Médio.
74
Contudo, vê-se que a educação básica, no que se refere ao Ensino Fundamental,
está avançando no Brasil, ainda que a passos muito lentos, o que não se vê no Ensino Médio.
No entanto, esse progresso está muito longe de ser como deveria ou poderia, conforme
demonstram os fatos históricos. E, muito embora as políticas públicas de regulação da
educação deem suporte para esse caminho rumo a mudanças mais favoráveis, como a LDB de
1996, os formuladores de políticas ainda precisam voltar seus olhos para as fortes questões de
desigualdade social refletidas no âmbito escolar e fazê-las levando em conta não só as
igualdades, mas as diferenças sociais e culturais de cada povo, seja por sua região, por faixa
etária ou, principalmente, pela classe social.
O Boletim da Educação no Brasil, lançado em dezembro de 2009 pela Fundação
Lemann e pelo Programa de Promoção da Reforma Educacional na América Latina e no
Caribe (Preal), é um relatório que monitora a educação no país. Ele mostra que não há tantas
indicações de que o Brasil esteja, de fato, melhorando, principalmente acerca da questão da
qualidade, quando aponta que, embora o país esteja entre as maiores economias do mundo, os
alunos têm as piores notas nas avaliações internacionais, isso desde as séries iniciais. Mesmo
as avaliações nacionais indicam que os alunos aprendem muitos menos do que o desejado,
esperado e necessário.
O mais grave de tudo é que o documento evidencia que, mesmo com toda essa
defasagem, as oportunidades de educação são muito desiguais. Ressalta que muitas crianças e
jovens abandonam a escola antes de completar doze anos de estudo. Conforme aponta, a
escolaridade média do brasileiro vem aumentando, contudo ainda é muito baixa, na
comparação com outros países, inclusive da América Latina. Há uma significativa distorção
de idade-série, pois muitos dos alunos ainda são retidos ou se evadem. Muitas vezes, a evasão
ocorre por conta do desânimo que causa a retenção, principalmente no Ensino Médio.
Um exemplo desse fato está nos dados do Estado de São Paulo, onde ocorrem os
mesmos problemas verificados no restante do Brasil – embora de maneira um pouco menos
gritante –, os quais também intensificam as desigualdades. Isso se mostra muito mais acirrado
quando se trata da questão da qualidade de ensino para todos, pois as diferenças de
oportunidades educacionais são evidentes.
75
Tabela 1 - Taxa de escolarização em % (2013)
Bruta - EI Líquida - EI Bruta - EF Líquida – EF Bruta - EM Líquida - EM
São Paulo 62,3 46,4 100,7 93,4 91,4 68,9
Região Sudeste 63,0 46,9 103,7 93,4 86,8 62,9
Brasil 63,4 46,2 105,7 92,5 83,5 55,1
Fonte: PNAD/IBGE - elaboração INEP/DTDIE
Na análise, por exemplo, da taxa de escolarização (tabela 1), pode-se verificar que
os índices de São Paulo não estão muito além dos índices da região sudeste e até mesmo do
Brasil como um todo, às vezes são até menores, como no caso da Educação Infantil.
Tabela 2 - IDEB (2013)
Ens. Fundamental -
anos iniciais
Ens. Fundamental -
anos finais Ensino Médio
São Paulo 5,7 4,4 3,7
Brasil 5,2 4,1 3,7
Fonte: MEC/INEP
Já no que diz respeito à questão da qualidade, São Paulo apresenta um índice não
tão distante daquele do Brasil. Dessa forma, o foco do sistema, além de diminuir a evasão e
retenção, é obter um avanço significativo na qualidade do ensino, de forma que a proposta –
que antes era “escola para todos” – agora deve ser “escola de qualidade para todos e para cada
um”, em todo o Brasil, inclusive no Estado de São Paulo.
Para Gremaud (2011), “a expansão significa manter qualidade, o que é difícil
quando se aumenta em muito o número de alunos, o que também vem com uma característica
de heterogeneidade muito grande e forte”. Conforme explica o autor, quando se expande o
sistema, é difícil manter a qualidade porque, além da necessidade de ampliar o número de
escolas, de professores, de supervisores etc., todos os setores organizacionais se tornam mais
complexos. Assim, dever-se-ia no mínimo manter a qualidade e, progressivamente, fazê-la
avançar, mas ao longo do processo de expansão ela acaba se perdendo.
Ainda de acordo com o autor, o sistema passou a abarcar estudantes que não
tinham o mesmo perfil dos que já estavam nele. Abrangeu crianças, jovens e até mesmo
adultos de segmentos sociais menos favorecidos do ponto de vista econômico e, por
consequência, com menos acesso a bens culturais, ou seja, um público diferente com o qual o
76
sistema não estava exatamente acostumado. Portanto, pode-se inferir que a escola não é mais
a mesma, o perfil do alunado também não. Faz-se necessária uma mudança, principalmente na
postura dos profissionais da educação, para que o ensino, na questão qualidade, não continue
decrescente e para que se possa reverter essa situação.
Uma das maiores dificuldades, além da questão qualidade, foi e ainda é manter os
alunos nas escolas, principalmente no Ensino Médio, grau de ensino em que se inserem os
sujeitos da pesquisa. Isso, segundo o autor, por conta do desinteresse dos jovens, em
decorrência de um
[...] Currículo abarrotado de conteúdos de diversas naturezas; mesmo
vestibular para diferentes carreiras o que nivela todas as escolas;
precariedade do corpo docente; pouco tempo escolar; má gestão; regras
disfuncionais e clientelismo político [...] o que contribui, diferente de outros
países, para que o país se centre num só modelo desvinculado das reais
necessidades. A maioria dos jovens alega não ter interesse em continuar.
(GREMAUD, 2011)
Com isso, se viu a necessidade, por parte dos Estados, de promover mudanças nos
currículos e construir uma escola jovem e inclusiva que não se baseie na transmissão de
conteúdos enciclopédicos e métodos tradicionais, e sim coloque o aluno como centro da
aprendizagem, tendo como princípios a interdisciplinaridade e a contextualização dos
conteúdos. A questão do currículo, de acordo com o autor, envolve a ideia de qualidade na
educação, que foi imposta, o que faz com que os governos estaduais e municipais deem uma
atenção maior a esse quesito. A recuperação escolar precisa ser revista urgentemente, tanto no
âmbito logístico e burocrático como no pedagógico. Para isso, torna-se imprescindível
repensar no sistema educacional questões como o número de alunos por sala, tempo de estudo
e permanência dos professores nas escolas e salários mais justos. (GREMAUD, 2011)
Diante disso, as avaliações, principalmente as externas, têm tido um lugar de
destaque na agenda de políticas públicas dos governos em todas as instâncias. Elas mudaram a
perspectiva de apenas censitárias para servirem como instrumento para se avaliar a questão da
qualidade, fator esse que seria essencial para a melhoria da gestão educacional, caso os
profissionais da educação e implementadores de políticas públicas as utilizassem para esse
fim. Assim, mesmo com essas limitações, elas têm mostrado alguns avanços no que se refere
à apresentação, de forma concisa, dos problemas da educação brasileira, de forma a propiciar
a busca de um melhor desempenho na questão qualidade.
77
Assim, houve políticas públicas que tiveram efeitos sobre o processo de educação
brasileiro, como a criação de leis que garantiram, ou deram sustentação, à inclusão de toda a
população brasileira no sistema educacional. Foi importante tornar o ensino obrigatório nos
quatro primeiros anos e, posteriormente, ampliar para todo o Ensino Fundamental. Como
também a alteração constitucional da emenda 59 de 2009, que tornou obrigatório o ensino dos
04 aos 17 anos, compreendendo a educação básica desde a Educação Infantil até o Ensino
Médio.
Acerca da inclusão de pessoas com deficiência, também foram criadas várias
políticas importantes e vem ocorrendo de forma progressiva, contudo, muito aquém do
estabelecido na lei, como foi apresentado na tabela anterior. Na prática, os gestores e,
principalmente, os docentes não têm preparo para receber esses alunos, pois “os professores
do ensino regular consideram-se incompetentes para lidar com as diferenças em sala de aula,
especialmente para atender os alunos com deficiências” (MANTOAN, 2006, p.15). Diante
desse quadro, evidencia-se ainda a necessidade de criar políticas de formação dos
profissionais da educação para o trabalho e o convívio com alunos com qualquer tipo de
deficiência.
Houve uma tentativa de criação de política capaz de solucionar, de fato, o
problema de um ensino dual9 – que privilegia a camada mais abastada economicamente da
sociedade – com o Plano Nacional de Educação. O documento apresenta, desde a
Constituição Imperial, a Constituição de 34 e a Constituição de 88, um cenário para explicar
suas origens. Também são descritos os problemas educacionais das várias fases da história,
mesmo no período republicano, e a tentativa de religar a educação à sociedade do país.
Porém, após a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB de 1961,
houve um importante período de dispersão por conta do regime militar, que, além de tudo,
também desvinculou qualquer recurso da educação.
Outra grande alteração constitucional foi a mesma emenda constitucional 59/09,
que vinculou o financiamento da educação à arrecadação. O consequente maior envolvimento
da sociedade na educação foi fundamental, uma vez que representa, nos órgãos
governamentais, certa pressão com vistas a mudanças em prol do coletivo social. Assim, a
aprovação da Lei de Responsabilidade Educacional resolveria questões, criando-se planos
com “cabeça”, porém sem “pernas” para caminhar, por vários motivos, sendo o principal
9 Ensino dual: dualidade entre a qualificação prática e teórica, nesse caso, dando mais ênfase à qualificação
prática para o trabalho.
78
deles o financiamento. Ou seja, as ideias existem, contudo, falta boa vontade e muitas vezes
ética na implementação das ações.
Contudo, as reformas só terão algum efeito se forem efetivamente praticadas e
chegarem efetivamente às escolas, cabendo também a cada profissional da educação
desempenhar sua função como deveria, acompanhando e fiscalizando o processo de
implementação. E, nesse sentido, é de suma importância não esquecer a função dos
profissionais da educação de apoiar as escolas nesse processo e ajudar a fazer com que elas
deem um salto de qualidade. Esses profissionais são elementos-chaves na interpretação e no
uso posterior dos resultados das avaliações, influindo diretamente na definição de novos
padrões curriculares no que se refere a identificar e resolver os problemas atuais.
(GREMAUD, 2011)
Gremaud (2011) fala sobre a recentralização da função dos educadores, de um
lado, usando o resultado das avaliações e, de outro, acompanhando o processo de implantação
das novas estruturas. Por esse motivo, o educador é fundamental no trabalho de promoção da
qualidade da educação do país. A questão do fluxo é importante, mas a qualidade tem sido o
centro das atenções e preocupações dos formuladores de políticas públicas em educação.
O autor identifica a questão dos ciclos de aprendizagem como uma política
positiva, que fez com que outras experiências se baseassem nesse trabalho. Segundo Soligo
(2009), criaram-se ciclos de formação em algumas localidades e em outras, ciclos de
aprendizagem, trabalhos esses que se configuraram, de acordo com a autora, como essenciais
para superar o fracasso escolar e, mais, uma oportunidade de construir projetos importantes de
educação. É possível citar como exemplos os projetos desenvolvidos em Belo Horizonte, no
período de 1993 a 1996 (“Escola Plural”), e Porto Alegre, em três mandatos, de 1989 a 2000
(“Escola Cidadã”), que se tornaram conhecidos e influenciaram a definição de políticas
similares em outras cidades.
Embora os principais projetos de escola em ciclos tenham sido implementados em
gestão do Partido dos Trabalhadores, outros partidos políticos também implantaram políticas
de ciclos. É o caso do Estado do Ceará (a partir de 1998) e Mato Grosso (a partir de 2000),
administrados pelo PSDB; Niterói (a partir de 1999), administrada pelo PDT; e Curitiba
(1999), administrada pelo PFL. (SOLIGO, 2009)
Com as reformas curriculares mais unificadas, segundo Bremer (2007), houve no
Paraná, em 1999, uma tentativa de construção de um método em que
79
[...] recorre-se à categoria da práxis, enquanto uma das categorias do método
dialético consideradas válidas para fundamentar a proposta de conteúdos
estruturantes apresentadas nas diretrizes curriculares do Paraná, a qual deve
estar articulada e imbricada a categoria da totalidade e historicidade, embora
as demais categorias não possam ser ignoradas. (BREMER, 2007)
Em São Luís do Maranhão, a partir de 2002, com o currículo unificador, a
educação passa a se basear nos Parâmetros Curriculares Nacionais, nos quais o professor
encontra sugestões de atividades para aplicar em suas aulas, numa perspectiva que se
aproxima de uma visão prescritiva de currículo, que torna mais aplicáveis os objetivos
apontados. Para Oliveira (2009), as ideias contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais
orientam, não atuam de forma determinística, mas estariam presentes nos critérios de
avaliação dos livros didáticos. E estes servem como base para o trabalho dos professores.
A Rede Municipal de Educação de São Luís vem, desde 2002, vivendo um
processo de reestruturação do sistema educacional onde a ressignificação do
pensar pedagógico praticado por suas unidades de ensino tornou-se foco
central. (SOLIGO, 2009)
Segundo Martins et al. (2009), o Estado de Minas Gerais criou uma proposta
curricular que pode ser considerada inovadora no que tange à distribuição dos conteúdos nas
três séries do Ensino Médio e elaborou, entre outras ações, os Conteúdos Básicos Comuns -
CBC.
Nos CBC, são estabelecidos os conhecimentos, as habilidades e
competências a serem adquiridas pelos alunos na educação básica, bem
como as metas a serem alcançadas pelo professor a cada ano. Neste
documento a contextualização e a interdisciplinaridade no ensino da Física
são fatores importantes, sendo que o conceito de energia é o estruturador dos
conteúdos.
Como em todo o país, em Minas Gerais o Ensino Médio, no início do século XXI,
vive uma enfática crise, que vem se arrastando desde as últimas décadas, isso por conta da
universalização, que, como já dito, seria fazer com que a educação abarque todos os
segmentos da sociedade. E esse é um problema que desperta maior preocupação, neste
período, em todo o Brasil, inclusive em São Paulo.
80
A proposta da progressão continuada10
e de uma educação em ciclos está atrelada
à ideia de não desistir do aluno, ou seja, se busca verificar os motivos pelos quais não foram
atingidos os objetivos de aprendizado e, de diversas maneiras e com variados recursos, fazer
com que ele elabore conhecimentos. Dessa forma, não haveria motivos para a retenção, muito
menos para impedir o aluno de continuar sem defasagens, por conta de conteúdos que, muitas
vezes, são assimilados com o tempo. Daí a importância, nesse processo, da implementação
dos ciclos.
De acordo com Harnik (2011), na progressão continuada
[...] os estudantes devem obter as habilidades e competências em um ciclo
que, em geral, é mais longo do que um ano ou uma série. Como, dentro de
um ciclo, normalmente, não está prevista a repetência, mas sim a
recuperação dos conteúdos por meio de aulas de reforço, usa-se o termo
progressão continuada. (HARNIK, 2011)
Para Freitas (2002), com essa ideia de progressão continuada os Estados são
obrigados a pensar na questão da defasagem de série e idade e, assim, buscar formas de
minimizar o problema. Também porque o custo do aluno retido onera os orçamentos públicos.
Mais do que classificar as diferentes compreensões e possibilidades de
implementar os ciclos, é importante caracterizar as concepções de educação
e as políticas públicas que orientam as escolhas. As concepções de ciclos
acabam sendo depositárias destas políticas. (FREITAS, 2002)
Para o mesmo autor, na progressão continuada a avaliação continua sendo
primordial, porém deixando de ser simplesmente verificadora de defasagens para se tornar
instrumento de autoavaliação e busca de diferentes formas de ensinar e aprender.
Os ciclos procuram contrariar a lógica da avaliação formal. Não elimina a
avaliação formal, muito menos a informal, mas redefinem seu papel, sua
autoria e a associam com ações complementares – recuperação paralela, por
exemplo. A motivação para tal e as possibilidades efetivas de seu sucesso
dependem das políticas públicas e das concepções de educação que estão na
base dos ciclos. (FREITAS, 2002)
10
Procedimento utilizado pela escola que permite ao aluno avanços sucessivos e sem interrupções, nas séries,
ciclos ou fases. É considerada uma metodologia pedagógica avançada por propor uma avaliação constante,
contínua e cumulativa, além de se basear na ideia de que reprovar o aluno sucessivamente não contribui para
melhorar seu aprendizado. (MENEZES, 01/01/2001)
81
No entanto, tanto a política de progressão continuada como o Currículo Oficial
implantado na rede pública estadual de São Paulo têm seus problemas maiores na
implementação vertical, ou seja, não foram discutidos anteriormente com os atores
envolvidos, principalmente os educadores. A progressão continuada e a organização em
ciclos, assim como a implementação de um currículo diferenciado, precedem uma mudança
de postura, e para isso os profissionais precisam de estudos, precisam internalizar esse novo
papel a ser assumido. Isso, no entanto, não ocorreu, visto que grande parte dos educadores
nunca leu sobre progressão continuada e, no senso comum, difunde uma ideia de promoção
automática. Mesmo porque, uma vez que não concordam com o processo, pois não o
entenderam, se torna mais fácil apenas promover o educando. Ensinar e buscar o aprendizado
do aluno de diversas formas, e com diferentes recursos, até que ele aprenda dá muito trabalho.
Por outro lado, como realizar esse trabalho ideal com salas superlotadas e um currículo que
muitas vezes não agrada ao aluno?
A implicação da política de progressão está na correção do fluxo, da defasagem
idade-série e, principalmente, na mudança de postura do educador. Está na mudança de
papéis, uma vez que torna diferente a perspectiva de tempo e espaço escolar. A avaliação
deixa de ser apenas verificadora para ser direcionadora de ações que visem ao aprendizado de
qualidade.
Para Ganzeli (2007, p.1), “a mudança organizacional na escola pública não pode
ser considerada como algo que se implanta, mas sim como um processo construído no seio da
realidade escolar”. Pois a implementação vertical, a falta de preparação dos envolvidos e,
principalmente, a não participação e o não envolvimento dos educadores da base antes de
qualquer formulação de política implica uma interpretação equivocada de como se dá o
processo.
A participação torna-se critério fundamental no processo de gestão escolar,
garantindo que os diferentes significados que pais, professores, alunos e
funcionários possuam sobre a escola, passem a influenciar os rumos da
unidade escolar. (GANZELI, 2007, p.1)
Destarte, segundo o autor, se faz urgente ouvir e discutir com todos os atores
envolvidos sobre os temas educacionais, bem como preparar e formar teoricamente os
profissionais que atuam na educação para que possam atuar melhor na prática. Da mesma
forma, os programas inseridos nas políticas públicas para a educação não podem se limitar à
transmissão e disseminação dos conteúdos. O envolvimento entre professores, estudantes e
82
comunidade educativa é que fará a diferença, tendo como aliados os recursos tecnológicos e
digitais, esses, por sua vez, utilizados nas aulas, em todos os espaços escolares, por
professores, alunos, funcionários, pais e membros da comunidade que sentirem necessidade
de participação, seja por lazer, trabalho etc.
Os espaços virtuais da internet e as redes sociais digitais também podem ser
compreendidos no contexto da passagem gradual da aprendizagem centrada no professor para
a aprendizagem centrada no aluno, com o primeiro mediando a exploração de objetos de
elaboração do conhecimento. Mais do que isso, o conceito de educação deve ser ampliado à
medida que a “Comunidade Educativa” (GOHN, 2004, p.40) participe do processo de ensino
e aprendizagem, seja por meio da educação formal ou extrapolando os muros da escola, por
meio da educação não formal. É urgente que a escola assuma esse papel de ampliação de
espaços de aprendizagem e que os cidadãos se encontrem preparados para enfrentar uma
sociedade baseada na aquisição de conhecimentos, em que se aprenda e se ensine ao longo da
vida e para a vida.
O Brasil passou por Reformas do Estado, como a iniciada no ano de 1989, com a
eleição de Fernando Collor de Mello. Porém, especificamente a partir de 1994, no governo
FHC, com a necessidade de reordenação do Estado, a reforma se transformou em prioridade
política do governo federal. Assim, o Estado brasileiro, nessa época, passou por uma eleição e
uma Assembleia Constituinte no final da década de 1980, resultando em nova Constituição da
República Federativa do Brasil. Para garantir os direitos sociais à população brasileira, na
Constituição Federal, o Estado deveria elaborar políticas públicas específicas, como garantia
da diminuição das desigualdades sociais existentes. O Estado de Bem-Estar Social, que
previa a implementação de políticas universalistas e distributivas, visando atingir a maioria
dos cidadãos, foi substituído pelo Estado Mínimo, com políticas focalizadas,
descentralizadoras e privatistas, próprias desse Estado denominado neoliberal. (DRAIBE,
1993)
Organismos multilaterais, em especial o Banco Mundial, propuseram uma agenda
de reformas para os países da América Latina nesse período. Tiveram um papel fundamental
na medida em que seus documentos constatavam que os altos índices de pobreza
comprometiam a estabilidade política dos governos, bem como que a educação teria um papel
de destaque na redução da pobreza e no processo de desenvolvimento econômico, pois a baixa
escolarização e sua pouca qualificação profissional comprometiam o crescimento dos países.
Segundo Draibe (1993), a alternativa adotada para a redução do quadro de pobreza nos países
latino-americanos foi a implementação dos chamados “programas de emergência”
83
(redirecionamento do gasto social, subsídios à alimentação e à nutrição, programas de
emprego mínimo).
Em 1990, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, promovida pela
UNESCO em Jomtiem, Tailândia, os participantes reafirmaram o direito de todos à educação,
adotando a “Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades
Básicas de Aprendizagem”. A declaração deixa clara a necessidade de um enfoque
abrangente: universalizar o acesso à educação e promover a equidade; concentrar a atenção na
aprendizagem; ampliar os meios e o raio de ação da educação básica; propiciar um ambiente
adequado à aprendizagem e fortalecer alianças.
Com base na declaração, o governo brasileiro traçou diretrizes para a educação,
com foco na educação básica, a qual demonstrava altos índices de evasão, repetência e má
utilização dos recursos públicos, comprometendo o desenvolvimento do país. Nesse sentido,
ficou nítido que o Estado estava sendo ineficiente na gestão da educação, devendo ser
redefinidas suas funções.
Com a onda neoliberal dos anos 90 e as sociedades mundializando-se, o
Brasil, em busca do seu lugar na globalização econômica e no processo de
reestruturação do trabalho, viu-se na urgência de ceder face às imposições
das Agências nas questões político educacionais. Da Conferência Mundial
de Educação para todos – Jomtien (Tailândia), 1990 – aos dias de hoje, o
receituário ideológico e político-educacional a ser seguido pelos países do 3º
mundo ou em desenvolvimento tem sido imenso. (SANFELICE, 2010,
p.156)
A implementação da política educacional foi pautada nos eixos da redução do
analfabetismo, ênfase no ensino fundamental, descentralização das ações administrativas e
incentivo às parcerias com o setor privado. Em nome da descentralização proposta por uma
educação neoliberal, o Estado passou responsabilidades, com relação à manutenção do ensino
público, às comunidades e à sociedade civil. Essa política adotada pelo Estado/governo
brasileiro no planejamento e manutenção da educação refletia os planos de gastos sociais de
um Estado Mínimo, segundo Draibe (1993).
[...] o argumento do Estado mínimo é advogado pelo máximo, não pelo
mínimo: principalmente no que diz respeito à sua responsabilidade social,
afirma-se tão somente a fronteira demarcadora do máximo até onde deveria e
poderia ir o Estado. (DRAIBE, 1993, p.89)
84
Por conta de uma política neoliberal11
, os últimos governos do Estado de São
Paulo focalizaram os gastos em problemas sociais mais explícitos e emergentes, não
priorizando devidamente a educação como direito num Estado. As políticas educacionais
privilegiaram o Ensino Fundamental, por meio de políticas de planejamento e financiamento.
Criou-se o FUNDEF - Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental,
instituído pela Lei 9.424/96, procurando atender, ou seja, matricular quase que 100% dos
alunos na faixa etária de 07 a 14 anos, aumentando consideravelmente o número de alunos
concluintes dessa etapa da educação básica. Isso culminaria em uma enorme massa de alunos
ingressando no Ensino Médio, trazendo algumas consequências para esse nível de ensino, sem
que se houvesse pensado democraticamente nesse segmento de jovens.
É importante que num processo de transformação as mudanças sejam efetivas,
contudo,
A Construção da escola democrática exige a transformação radical do
trabalho escolar. Para que essa transformação ocorra é necessário a
utilização de ferramentas que reestruturem a organização da unidade escolar,
de forma a garantir a participação de todos. (GANZELI, 2007, p.1)
Para o autor, é essencial que políticas públicas busquem mudanças, no entanto,
devem ser criadas e implementadas com auxílio e voz de todos os profissionais da educação e
toda a comunidade escolar.
Cabe aqui ressaltar que, de acordo com Dourado et al. (2007), a educação
participativa não tem relação apenas com o paradigma de insumo-processo-resultados, padrão
utilizado pela UNESCO12
e OCDE13
, ou ainda somente com a ideia de eficiência no uso dos
recursos destinados à educação, como sugere a UNESCO e a OREALC14
. A educação
participativa e de qualidade, segundo os autores, se faz na perspectiva de uma junção de todos
11
Neoliberalismo: Escola de pensamento orientada pelas ideias de um grupo de economistas, que fizeram uma
releitura do liberalismo clássico, o qual Draibe (1993) chamou de “doutrina” e classificou-o como um “sistema
de receitas práticas para a gestão pública”, em que faltava uma organização sistemática. Para a autora: “Em lugar
de ideologia, os neoliberais têm conceitos. Gastar e ruim. É bom ter prioridades. É ruim exigir programas.
Precisamos de parcerias, não de governo forte. Falem de necessidades nacionais, não de demandas de interesses
especiais. Exijam crescimento, não distribuição. Acima de tudo, tratem do futuro. Repudiem o passado. Ao cabo
de pouco tempo essas ideias neoliberais começam a soar como combinação aleatória de palavras mágicas.” 12
A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura foi criada em 16 de
novembro de 1945, para promover a paz e os direitos humanos com base na "solidariedade intelectual e moral da
humanidade". É uma das agências das Nações Unidas para incentivar a cooperação técnica entre os Estados
membros. (USP, s/d) 13
OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico é uma organização internacional
composta por 30 países que tem como objetivo coordenar políticas econômicas e sociais, apoiar o crescimento
econômico sustentado, aumentar o emprego e a qualidade de vida dos cidadãos e manter a estabilidade
financeira, entre outros. (PORTAIS WS.COM, s/d) 14
OREALC - Oficina Regional de Educación para América Latina y Caribe, órgão da UNESCO.
85
os critérios de boa qualidade, visando à aprendizagem e à formação por partes, não só dos
alunos, mas de todos os envolvidos no processo, por meio de sua participação efetiva, assim
como nos fala Ganzeli (2007, p.1). De modo que a qualidade permita que os participantes
vejam a educação como um caminho a ser seguido com vistas à melhoria de sua vida
profissional, individual e social.
Nessa linha de pensamento, a principal ideia por trás do conceito de escola de
qualidade é a do desenvolvimento cognitivo do aluno. Ou seja, uma escola que, por meio do
trabalho de seus profissionais, propicie o conhecimento ao aluno, independentemente de sua
situação socioeconômica, mas levando-se em consideração suas vivências e conhecimento de
mundo. Podendo, dessa forma, fazer com que o aluno busque sua evolução acadêmica, sem
ter necessariamente de ser comparado ao colega de classe, de outra sala ou até de outra escola.
No entanto, existem outros fatores que podem interferir no desempenho dos
alunos, conforme demonstrado em avaliações, sejam elas internas ou externas, como o
número de alunos por série, nível socioeconômico, professores mais capacitados, diretores
mais comprometidos, escolaridade dos pais e participação deles na vida escolar dos filhos,
ambiente adequado de estudo, frequência no ensino infantil e outras variáveis diretamente
relacionadas ao ambiente escolar, como idade e tempo de trabalho do diretor, professores
efetivos (essa com maior destaque), falta de professores, rotatividade de professores e de
coordenadores. Lembrando que, segundo Dourado et al. (2007), estes últimos fatores têm
menos impactos que os primeiros.
Assim, a educação será transformada espontaneamente numa sociedade com
tantos problemas e desigualdades sociais. A educação necessita ser transformada para vir a ser
transformadora. Só assim poderá mudar a sociedade. Ela precisa ser recriada e ocupar um
lugar de destaque na formação dos envolvidos, de modo que
[...] vá se tornando um espaço acolhedor e multiplicador de certos gostos
democráticos como o de ouvir os outros, não por puro favor, mas por dever,
o de respeitá-los, o da tolerância, o do acatamento às decisões tomadas pela
maioria a que não falte contudo o direito de quem diverge de exprimir a sua
contrariedade. O gosto da pergunta, da crítica, do debate. O gosto do respeito
à coisa pública, que entre nós vem sendo tratada como coisa privada, mas
como coisa privada que se despreza. (FREIRE, 1995, p.91)
A questão da violência, das relações sociais e interpessoais, as formas como elas
se dão, principalmente no ambiente escolar e também fora dele, tem sido tema de muitos
autores na literatura educacional, como Julio Groppa Aquino, Marilia Pontes Sposito, Vera
86
Candau, Lino de Macedo, entre outros. Por consequência, verifica-se o crescimento de
pesquisas nessa área, que, no entanto, ainda não indicam soluções efetivas, apenas abrem os
olhares para o caos que se instala. No final do século XX e início do XXI, com a mudança da
conjuntura escolar e um crescente aumento nos níveis de violência e indisciplina, esse se
tornou o ponto central da questão social e suas discussões. A grande velocidade das mudanças
desta nova era e a crise social fazem com que esse tema fique em evidência.
Outro aspecto para o qual há de se atentar é a capacitação dos indivíduos para que
desenvolvam visões de mundo e criticidade social, como se poderá verificar na análise dos
dados no capítulo IV. Sem esses valores e capacidades, a tendência é que os indivíduos se
tornem inativos e dependentes dos serviços sociais, permanecendo em situação de
vulnerabilidade social, junto às camadas excluídas. Tal processo acarreta um fenômeno de
acomodação por parte do indivíduo, entravando, assim, o processo de mudança. Contudo, por
conta do contexto econômico do final do século XX e início do XXI,
[...] a estratégia de constituição de um sistema de proteção social no país se
baseou nos modelos tradicionais de programas destinados à transferência
monetária contemplando famílias em situação de vulnerabilidade social por
intermédio de políticas sociais compensatórias e complementares,
objetivando aumentar o acesso à alimentação, saúde e educação básica,
considerados fatores de grande potencial para a redução das desigualdades.
(PEREZ, PASSONE, 2010, p.665)
Portanto, apesar de ser importante a constituição desse sistema de proteção social,
é preciso considerar também que os indivíduos envolvidos nos segmentos da educação formal
muitas vezes se veem despreparados para enfrentar essas novas dimensões que fazem parte do
dia a dia não só da escola, mas da vida. Nesse cenário, a escola ainda possui perfil fordista em
sua concepção de ensino e de aprendizagem e, apesar dos vários discursos inovadores,
continua a valorizar o possível aprendizado por repetição de informações. Não é levada em
conta a crise desse regime, que, com a globalização neoliberal do capitalismo no final do
século XX, busca apenas formar profissionais para esquentar o mercado de trabalho, tendo em
vista que este, além de ter como base o consumo, sobrevive também da competitividade.
Todavia, dever-se-ia inferir que não haverá aprendizado com vistas a uma
formação crítica se não houver uma promoção de um clima favorável a essa visão. Não se
pode esquecer que o professor é ator de extrema importância na condução de uma
aprendizagem que seja de qualidade, assim como almejam todos incluídos nesse sistema.
Cabe ao educador estimular esse clima criando um espaço que leve o aluno a perceber e
87
compreender o mundo interior e exterior à escola, pois “é importante reconhecer e ressaltar
que todos têm a capacidade para aprender, serem inovadores e criativos” (SILVA, 2001, p.3).
Mudanças nas relações sociais, assim como descrito na abordagem do conceito de
redes sociais, se refletem na educação, pois elas se encontram numa grande crise de
identidade. Por conseguinte, o educador na escola do século XXI também deve modificar suas
posturas no que se refere a essas novas relações, em contraposição ao paradigma fordista, o
qual
[...] está interessado somente nos músculos do trabalhador, no fazer e não na
sua mente, na sua capacidade de pensar [...] e o que importa é a habilidade
de compreender uma determinada situação e ser capaz de tomar decisões e
de criar novas soluções. Sem a compreensão, as noções e operações
passíveis de serem aplicadas em diferentes situações, as decisões e as ações
tomadas terão um caráter aleatório, inconsequente. (VALENTE, 1999, p.33)
Para ocorrerem tais transformações é necessário mudar o modelo de escola
vigente, em um trabalho de construção coletiva. É de suma importância que o educador
encontre um caminho em meio às transformações e aja em conjunto para estabelecer, ou
mesmo restabelecer, relacionamentos com outros indivíduos que fazem parte do processo
educacional, pois “a implantação de novas ideias depende, fundamentalmente, das ações do
professor e dos seus alunos” (VALENTE, 1999, p.34), para que o aluno possa elaborar seu
conhecimento e o educador possa proporcionar a ele uma formação crítica.
Nesse cenário, pode-se observar que as políticas públicas educacionais não têm
incluído o aluno como cidadão na sociedade, quando não oportuniza formas de
problematização de sua realidade social fora dos muros da escola. Ou quando reforçam a
ideologia dominante e as políticas neoliberais. Assim acabam por não primar por uma
formação crítica, colocando os seres humanos em situação de competição. Muitas vezes, essa
situação acaba por tornar o ambiente escolar cada vez mais deteriorado, com o crescente
desinteresse dos alunos pelos conteúdos escolares e o descompromisso de uma parcela dos
professores com a aprendizagem. (PACIEVITCH et al., 2009)
Assim, há de se considerar que, além da criticidade, o que leva o cidadão a buscar
mudanças para a construção de uma sociedade mais justa é a sensibilidade a um conjunto de
valores. É importante o “desenvolvimento da sensibilidade ética e estética das pessoas, com
vistas ao delineamento do telos da vida e da própria educação, o que só pode ser feito graças a
uma profunda percepção da condição humana” (SEVERINO, 2006, p.3). Uma vez que a
ausência dessas sensibilidades distancia o homem do pensamento filosófico principal, que é
88
fazer com que o ser humano reflita e busque maneiras de viver bem em sociedade. Para
Lorieri (2010, p.11), todo educador precisa fazer essa reflexão, pois, quando se busca
entender “a ação educativa” em meio às relações sociais, há de se ter a possibilidade de
decidir em relação à sua manutenção nos moldes vigentes ou à sua transformação ou
revolução.
O ser humano, além de crítico, precisa ser mais solidário e poeta nas relações
humanas, mesmo quando essas relações são intermediadas por máquinas, que, vale lembrar,
foram pensadas e criadas por homens. Afinal, como diz Morin (2003, p.141, apud LORIERI,
2010, p.9), “o ser humano vive sua vida de alternância de prosa e de poesia, em que a
privação de poesia é tão fatal quanto a privação de pão”.
Não se pretende defender aqui que o mundo seja visto somente de forma poética,
uma vez que se entende que é uma das dimensões do ser humano. Apenas que faltam valores
à humanidade que remetam ao plano da subjetividade, das emoções e dos sentimentos,
elementos que, aliados ao uso da razão, diferenciam-na dos animais, pois “a prática humana,
em que pese a opacidade de sua gênese, só pode ser esclarecida e significada pela lucidez da
consciência e pela expressão teórica da subjetividade. Não há outro caminho” (SEVERINO,
2002, p.9).
Há tempos a sociedade brasileira vem passando por constantes transformações no
que diz respeito aos conceitos de “infância, adolescência, adultez e velhice, através dos
séculos, das culturas e das classes sociais” (BIASOLI-ALVES, 2001). Ou seja, é como se “os
valores fundamentais da vida” em sociedade não tivessem sido introjetados pelas novas
gerações por conta de uma imposição no que diz respeito à transmissão de uma educação,
ainda que seja informal. Isso aliado ao
[...] dilema que se estabeleceu para a década de 1990 e para o início do
século XXI foi o de conciliar crescimento econômico e combinar a
responsabilidade social do Estado/sociedade na formulação, articulação e
gestão de políticas públicas, com um cenário de escassez de recursos
públicos, de um lado, e demandas por uma democracia social, de outro.
(PEREZ, PASSONE, 2010, p.665)
Assim, as relações sociais requerem um cidadão crítico e integrado às mudanças
no contexto social e no educacional. Portanto,
89
[...] são grandes os riscos de que as ações oriundas da sociedade civil e da
iniciativa privada desloquem a noção histórica de direitos pessoais e
coletivos, instituídos na recente ordenação democrática da sociedade
brasileira, para antigas relações sociais mediadas pela noção de
benevolência, caridade, compaixão etc., reforçando a cultura pautada por
relações afetivas de dependência – matriz de políticas impregnadas pelo
paternalismo, clientelismo e populismo. (PEREZ, PASSONE, 2010, p.671)
Muitas vezes, a falta de clareza na definição do regime de colaboração entre os
entes federativos e sobre a Lei de Responsabilidade Educacional15
, leva ao pensamento sobre
a necessidade de criação de políticas públicas que façam com que o regime de colaboração no
país tenha formas efetivas de cooperação. Tal ação, talvez, possa ser inserida no Plano
Nacional de Educação – PNE de forma a estabelecer metas realistas, progressivas e factíveis.
Desse modo, torna-se importante uma lei orgânica que explique melhor como deve funcionar
o regime de colaboração no país, e esta vinculada a uma Lei de Responsabilidade Educacional
que coloque na mão do cidadão instrumentos jurídicos para fazer valer seus direitos.
Segundo Gouveia e Souza (2008), a maior dificuldade está em fazer um Sistema
Nacional de Educação de forma articulada e com clara definição, pois, de acordo com os
autores, “o regime de colaboração, definido pelo artigo 211 da Constituição Federal, precisa
ser repensado para se evitar concorrência e sobreposição de responsabilidades”. Já existe o
regime de colaboração, a busca pela universalização do ensino obrigatório, porém tanto
estados como municípios são diferentes e a cooperação complexa é muito difícil na prática. A
ideia na lei é a de que os estados, os municípios e o distrito federal já estão em igualdade de
condições, contudo, na prática não é bem assim, uma vez que isto requer mobilização no que
se refere a uma verdadeira participação dos interessando, pois as estruturas são bastante
desiguais.
Agora, há um documento com uma nova legitimidade para voltarmos à arena
legislativa. Entretanto, este processo demandará novamente um alto nível de
mobilização dos interessados em efetivar os avanços no sentido de uma
educação pública, gratuita, laica e de qualidade para todos. (GOUVEIA,
SOUZA, 2008)
Espera-se, assim, que se criem políticas claras também no que se refere à
eficiência da educação, principalmente no que tange à qualidade. E, para isso, não se pode
esquecer que é preciso uma reforma também nos cursos superiores de licenciatura e educação
15
Estabelecer as obrigações e as punições é a ideia central de uma Lei de Responsabilidade Educacional para os
prefeitos e os governadores acerca das questões educacionais instituídas pela Constituição Federal e pela LDB,
contudo esta vem sendo discutida desde 2006.
90
para uma boa formação de educadores, com vistas a uma educação de qualidade a toda a
comunidade educacional.
Todavia, nas relações sociais, a hierarquização não deixa de existir, e o processo
de interação é muito mais vertical. Apesar dessa verticalização do processo, há um grupo
social que, de forma horizontal, reivindica e luta para que se cumpra uma vontade coletiva e
para que a educação que reproduz essa sociedade venha a ser um dos fatores de transformação
dela.
2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO
Depois de sintetizar alguns aspectos do sistema educacional no Brasil, se julga
importante, a partir da definição de políticas públicas realizada no primeiro capítulo desta
tese, traçar um panorama dessas políticas que influenciaram o sistema educacional do Estado
de São Paulo, bem como as políticas públicas para o Ensino Médio no Brasil – este último
abordado por abarcar também a esfera estadual e por fazer parte do cenário em que estão
inseridos os sujeitos da pesquisa.
2.2.1 Panorama das políticas públicas em educação no Estado de São Paulo
Após o golpe militar, em 1964, e durante os anos 1970, configurou-se uma
política com características centralizadoras e, com a intensificação do processo de
industrialização e a ênfase no desenvolvimento econômico, viveu-se uma fase em que se
acreditava que a educação deveria estar a serviço do desenvolvimento econômico.
[...] a ditadura civil-militar do capital assenhorou-se do poder de Estado
brasileiro, com o golpe de 1964, e passou a fazer profundas incursões na
legislação educacional, bem como na organização escolar. Os currículos e
seus fins foram alterados nos diferentes níveis e modalidades de ensino.
Daquelas ações resultaram a Reforma Universitária de 1968 (Lei nº
5.540/68) e a Lei de Diretrizes e Bases de nº 5.692/71, dentre outras
iniciativas. (SANFELICE, 2010, p.156)
Naquela década foram assinados os denominados “Acordos MEC-USAID”
(Ministério da Educação e Cultura – United States Agency for International Development) e
os técnicos da USAID participaram diretamente da reorganização do sistema educacional
91
brasileiro. Assim, a reforma do ensino realizada pela Lei nº 5.692/71, que fixou as “diretrizes
e bases para o ensino de 1º e 2º graus”, enunciou como seus princípios básicos:
a) integração vertical (dos graus, níveis e séries de ensino) e horizontal (dos
ramos de ensino e das áreas de estudo e disciplinas); b) continuidade
(formação geral) – terminalidade (formação especial); c) racionalização –
concentração, voltado à eficiência e produtividade com vistas a se obter o
máximo de resultados com o mínimo de custos; d) flexibilidade; e)
gradualidade de implantação; f) valorização do professorado; g) sentido
próprio para o ensino supletivo. (BRASIL, 1971)
Um dos objetivos da lei era direcionar a educação para a qualificação profissional,
visando à preparação para um mercado de trabalho altamente rotativo, dentro do modelo de
industrialização e crescimento econômico associado e dependente do capital estrangeiro. E,
assim, essa lei implementou um ciclo de reformas destinadas a ajustar a educação brasileira
aos fins do regime em vigor, com tendências tecnicistas,
[...] enquanto o liberalismo põe ênfase na qualidade em lugar da quantidade;
nos fins (ideais) em detrimento dos métodos (técnicas); na autonomia em
oposição à adaptação; nas aspirações individuais antes que nas necessidades
sociais; e na cultura geral em detrimento da formação profissional, com o
tecnicismo ocorre o inverso. (SAVIANI, 1997, p.122)
O autor identifica uma preocupação com os meios, a produtividade e a eficiência.
Isso porque a Lei nº 5.692 trouxe princípios como os da integração vertical e horizontal,
continuidade-terminalidade, racionalização-concentração e flexibilidade, todos voltados para
o aprimoramento técnico, a eficiência e a produtividade em busca do máximo de resultados.
Fusari (1988, p.20) define a escola, nesse contexto, como “produtiva, racional e organizada
para formar indivíduos capazes de se engajar rápida e eficientemente no mercado de
trabalho”. E assim a pedagogia tecnicista, tendo como foco os meios didáticos, ia contra a
pedagogia nova, que centrava o processo de ensino no aluno, e contra a pedagogia tradicional,
que, por sua vez, priorizava o ensino no professor.
Perez (1994, p.33), ao analisar o sistema de ensino do Estado de São Paulo na
década de 1970 e início da década de 1980, elencou os objetivos e as diretrizes da política
educacional, os principais programas, a organização institucional montada, os recursos
financeiros alocados, a política de recursos humanos e fez uma avaliação do desempenho
quantitativo sob o ponto de vista da eficácia e da efetividade. Segundo o autor, a partir da
promulgação da Lei nº 5.692/71, em agosto de 1971, a principal meta da gestão no campo da
92
educação passou a ser a reforma do ensino de 1º e 2º graus (PEREZ, 1994, p.50). Uma das
principais medidas foi a criação, em 1971, do Grupo Tarefa, com o objetivo de elaborar o
Planejamento Prévio e o Plano Estadual de Implantação da Reforma de ensino de 1º e 2º
graus, o qual foi aprovado em julho de 1972. O documento elaborado pelo Grupo Tarefa era
constituído de três volumes: o primeiro continha um amplo diagnóstico com aspectos
demográficos e econômicos do Estado, desempenho educacional e seus aspectos financeiros,
técnicos, pedagógicos e administrativos; no segundo foram apresentadas a política de
implantação e os programas de ação; e no terceiro, os recursos necessários.
Em 1972, por meio do Decreto nº 52.867, de 18 de janeiro, foi autorizada a
instalação da 5ª série nos estabelecimentos que, em 1971, mantiveram exclusivamente ensino
primário. Era uma diretriz governamental no sentido de proporcionar escolaridade de 1º grau
à população compreendida na faixa etária dos 07 aos 14 anos e ainda atender à demanda por
matrículas na 5ª série do 1º grau. (PEREZ, 1994, p.50) Nesse período, foram realizados
programas de formação continuada para todo o pessoal da rede no intuito de divulgar
maciçamente os princípios da Lei nº 5.692/71. (p.54)
Para Perez (1994, p.57), no período de 1975 a 1978, foram prioridades, para o
setor da educação, a implantação da reforma do ensino, a ampliação da oferta de
oportunidades, o combate ao mau desempenho e a organização de nova estrutura
administrativa e didático-pedagógica. Os programas estabelecidos foram: a reforma do ensino
de primeiro e segundo grau; reorganização administrativa da Secretaria da Educação;
regularização dos quadros de pessoal docente, técnico e administrativo; adequação dos
recursos físicos; organização e implantação de sistema de informações educacionais;
adequação dos recursos legais; atendimento educativo e nutricional ao pré-escolar.
Nesse período, o autor afirma que um programa que causou grande impacto foi o
de Redistribuição da Rede Física, pois o diagnóstico apontava para a falta de critério na
utilização de seus prédios. Algumas edificações se encontravam ociosas, outras eram usadas
em vários turnos e ainda havia antigos grupos escolares que tiveram a instalação do ensino de
5ª a 8ª série, porém faltava adequação em alguns deles para o atendimento da 5ª série.
(PEREZ, 1994, p.58)
Em 30/12/1975 foi publicado o Decreto 7.400, que deu competência ao Secretário
de Educação para realizar as necessárias reformulações da rede escolar. Foi estabelecida a
nova estrutura da rede oficial de ensino, com escolas estaduais de 1º grau, escolas estaduais de
2º grau, escolas estaduais de 1º e 2º graus e centros estaduais interescolares. (PEREZ, 1994,
p.59)
93
Quanto à estrutura institucional, ocorreu a reforma administrativa com a
assinatura do Decreto nº 7.510, em 29 de janeiro de 1976, definindo a nova estrutura da
Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, reorganizando desde a direção administrativa
até os órgãos regionais e sub-regionais. Dentro da estrutura básica da Secretaria, foi criada a
Coordenadoria de Ensino do Interior, a Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da
Grande São Paulo, a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas e o Departamento de
Recursos Humanos. Foram criadas também as Delegacias de Ensino subordinadas às Divisões
Regionais de Ensino, de acordo com a região de abrangência. Dessa forma, os programas de
capacitação, a partir da publicação do Decreto nº 7.510/76, ficaram sob a responsabilidade da
Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas - CENP.
Já no período compreendido entre os anos de 1979 e 1982, as diretrizes
estabelecidas no campo educacional foram: atender à demanda do ensino de 1º grau;
aperfeiçoar as modalidades de atendimento no ensino profissionalizante de 2º grau; minimizar
a repetência e a evasão; ampliar programas assistenciais; definir e implantar política de
pessoal. (PEREZ, 1994, p.66) E as principais medidas direcionavam para a implantação de
programas para uma clientela determinada – o objetivo era conhecer as características da
clientela de escolas de zonas periféricas urbana para minimizar os problemas referentes à
repetência e evasão.
Foi implantado o Programa de Antecipação da Escolaridade Obrigatória, tendo
como justificativa a carência dos alunos, uma vez que a pré-escola atendia somente um terço
da população dessa faixa etária e as crianças que ingressavam na 1ª série em sua maioria não
estavam preparadas para acompanhar as atividades. Nesse período, o Modelo Pedagógico
desenvolvido pela CENP tinha como ênfase um programa de educação compensatória, com a
finalidade de compensar as deficiências do meio. (PEREZ, 1994, p.67-68) Os programas de
formação continuada estavam voltados para o treinamento de monitores para divulgar novos
materiais de ensino. Também foram firmadas parcerias com universidades públicas para o
desenvolvimento de projetos nas áreas de Matemática e Língua Portuguesa. (p.69)
O início da década de 1980 foi marcado, no Brasil, pelo período denominado
“abertura política”, iniciado com a eleição direta para governadores de Estado, em 1982. O
resultado das eleições daquele ano configurou um quadro de vitória da oposição ao regime
autoritário na maioria dos estados brasileiros. A partir de 1983, os governadores eleitos
iniciaram um governo com políticas públicas voltadas para a redemocratização e consolidação
da democracia. E em 1984 os governadores de oposição, líderes políticos e sindicais,
estudantes, artistas e intelectuais iniciaram uma campanha nacional pelas eleições diretas para
94
presidente, denominada “Diretas já”, a qual levou milhões de brasileiros às ruas. Em todo o
país houve mobilização da população. Com a não aprovação, pelo Congresso Nacional, da
emenda de lei para eleições diretas, foram iniciadas as discussões para a eleição de um
presidente civil por vias indiretas. Foi formada então a Frente Liberal, com vários
compromissos, sendo um deles a convocação de uma Assembleia Constituinte.
Segundo Saviani,
[...] é nesse contexto que se foi impondo cada vez mais fortemente a
exigência de se modificar por inteiro o arcabouço da educação nacional, o
que implicava a mudança da legislação em vigor. A oportunidade surgiu
com a instalação de um governo civil (a chamada Nova República) e a
elaboração da nova Constituição Federal. (SAVIANI, 1997, p.34)
Nessa conjuntura, no Estado de São Paulo, no período de 1983 a 1986, a ação
político-administrativa foi norteada por três princípios: descentralização, participação e
geração de emprego. Com a finalidade de operacionalizar a política descentralizadora, foram
instituídos Conselhos regionais e sub-regionais. (PEREZ, 1994, p.71) Inaugurada uma nova
gestão, e fazendo parte de um governo eleito pelo povo, anunciou-se a abertura da secretaria à
população, aos órgãos da imprensa e às entidades de classe. A principal medida tomada
inicialmente foi a instituição do Grupo de Atendimento ao Magistério, com o objetivo de
solucionar problemas que vinham ocorrendo, especialmente os funcionais, além de receber
críticas, sugestões e denúncias. As entidades de classe foram recebidas e estimuladas a
ampliar seus associados.
A partir desses encontros, dois projetos foram elaborados e enviados para a
Assembleia Legislativa, um prevendo o direito das entidades de receber contribuições de seus
associados e outro para o afastamento com vencimentos dos seus dirigentes. (BORGES, 2001,
p.78) Nessa época, o processo de municipalização da pré-escola teve início por meio do
Decreto nº 21.810, de 26 de dezembro de 1983, que autorizou convênios com 22 municípios,
objetivando a expansão do Programa de Educação Pré-Escolar junto à comunidade, o que
passou a diminuir o atendimento pela rede estadual desse nível de ensino até a extinção. No
ano de 1984, iniciou-se o processo de municipalização da merenda escolar, por meio de lei
específica que determinava que o serviço de merenda fosse executado e administrado pelas
prefeituras municipais. (BORGES, 2001, p.81)
Para regulamentar o procedimento de atendimento à demanda escolar, foi
instituído o REM - Responsáveis pela Educação do Município, que anteriormente era
denominado GLD - Grupo Local de Diretores. O REM era constituído por diretores de escola,
95
professores, funcionários, representantes das respectivas prefeituras municipais, das
associações de bairros, dos clubes. Esse grupo tinha a responsabilidade de garantir a
elaboração de uma proposta de atendimento que fosse do conhecimento da comunidade
escolar e tivesse sua participação. (BORGES, 2001, p.85)
Outra medida de bastante impacto foi o Decreto nº 21.833, de 28 de dezembro de
1983, que instituiu o Ciclo Básico no ensino de 1º grau das escolas estaduais. As finalidades
do Ciclo Básico descritas nesse decreto eram: assegurar ao aluno o tempo necessário para
superar as etapas de alfabetização segundo seu ritmo de aprendizagem e suas características
socioculturais; proporcionar condições que favorecessem o desenvolvimento das habilidades
cognitivas e de expressão do aluno previstas nas demais áreas do currículo; e garantir às
escolas a flexibilidade necessária para a organização do currículo – agrupamento de alunos,
métodos e estratégias de ensino, conteúdos programáticos e critérios de avaliação do processo
de ensino e de aprendizagem. Para tanto, foi introduzido um processo de alfabetização em
dois anos letivos, sem reprovação, e as escolas deveriam se organizar administrativa e
pedagogicamente para garantir o ensino em etapas, diminuindo a evasão e a repetência.
Dessa maneira, as então Delegacias de Ensino tiveram de se organizar para o
trabalho pedagógico, uma vez que os grupos de docentes das classes do Ciclo Básico
deveriam participar de reuniões pedagógicas semanais, em horário adverso ao da jornada de
trabalho, mediante pagamento de serviço extraordinário. As reuniões deveriam contemplar
atividades planejadas pelas próprias escolas e ainda a programação veiculada pela Rádio e
Televisão Cultura, que apresentava o projeto “Atualização e Aperfeiçoamento de Professores
e Especialistas em Educação por Multimeios”. Posteriormente, no mesmo ano, o projeto
veiculado na TV Cultura passou a denominar-se Projeto IPÊ e foi estendido a professores de
3ª e 4ª séries, aos alunos dos cursos de Habilitação para o Magistério e aos Especialistas de
Educação, com direito a certificado de participação, o que contaria pontos para o processo de
atribuição de classes e aulas, concursos de ingresso e remoção. (PEREZ, 1994, p.74)
No ano de 1984, entre os principais programas e medidas daquela gestão estava a
formulação do novo Estatuto do Magistério, o qual foi transformado em projeto de lei,
enviado à Assembleia Legislativo em 15 de outubro de 1985 e aprovado e sancionado como
Lei Complementar nº 444 em 27 de dezembro de 1985. (BORGES, 2001, p.113) Destaca-se
nesse estatuto a transformação do Conselho de Escola, antes consultivo, em órgão
deliberativo e devendo existir em todas as unidades escolares do Estado.
96
Artigo 95 – O Conselho de Escola, de natureza deliberativa, eleito
anualmente durante o primeiro mês letivo, presidido pelo Diretor da Escola,
terá um total mínimo de 20 (vinte) e máximo de 40 (quarenta) componentes,
fixado sempre proporcionalmente ao número de classes do estabelecimento
de ensino. § 1º – A composição a que se refere o "caput" obedecerá a
seguinte proporcionalidade: I – 40% (quarenta por cento) de docentes; II –
5% (cinco por cento) de especialistas de educação excetuando-se o Diretor
de Escola; III – 5% (cinco por cento) dos demais funcionários; IV – 25%
(vinte e cinco por cento) de pais de alunos; V – 25% (vinte e cinco por
cento) de alunos. § 2º – Os componentes do Conselho de Escola serão
escolhidos entre os seus pares, mediante processo eletivo. § 3º – Cada
segmento representado no Conselho de Escola elegerá também 2 (dois)
suplentes, que substituirão os membros efetivos em suas ausências e
impedimentos. § 4º – Os representantes dos alunos terão sempre direito a
voz e voto, salvo nos assuntos que, por força legal, sejam restritos ao que
estiverem no gozo da capacidade civil. § 5º – São atribuições do Conselho de
Escola: I – Deliberar sobre: diretrizes e metas da unidade escolar;
alternativas de solução para os problemas de natureza administrativa e
pedagógica; projetos de atendimento psicopedagógicos e material ao aluno;
programas especiais visando à integração escola-família-comunidade;
criação e regulamentação das instituições auxiliares da escola; prioridades
para aplicação de recursos da Escola e das instituições auxiliares; a
indicação, a ser feita pelo respectivo Diretor de Escola, do Assistente de
Diretor de Escola, quando este for oriundo de outra unidade escolar; as
penalidades disciplinares a que estiverem sujeitos os funcionários, servidores
e alunos da unidade escolar; II – Elaborar o calendário e o regimento escolar,
observadas as normas do Conselho Estadual de Educação e a legislação
pertinente; III – Apreciar os relatórios anuais da escola, analisando seu
desempenho em face das diretrizes e metas estabelecidas. § 6º – Nenhum dos
membros do Conselho de Escola poderá acumular votos, não sendo também
permitidos os votos por procuração. § 7º – O Conselho de Escola deverá
reunir-se, ordinariamente, 2 (duas) vezes por semestre e,
extraordinariamente, por convocação do Diretor da Escola ou por proposta
de, no mínimo, 1/3 (um terço) de seus membros; § 8º – As deliberações do
Conselho constarão de ata, serão sempre tornadas públicas e adotadas por
maioria simples, presentes a maioria absoluta de seus membros. (SÃO
PAULO, 1985)
Diante do caráter participativo do Conselho de Escola, as diretrizes pedagógicas e
administrativas nas Unidades Escolares “deveriam” ser deliberadas por esse Conselho, ou
seja, pais, alunos, funcionários e professores.
A partir do ano de 1986, os principais programas e medidas visavam estabelecer
um processo de discussão de novas propostas curriculares para todos os componentes
curriculares dos ensinos Fundamental e Médio. As discussões ocorreram em três fases: na
primeira os professores e especialistas da educação deveriam discutir sobre o tema e
encaminhar à CENP sugestões para elaboração da versão preliminar; na segunda fase, debater
acerca da versão preliminar e encaminhar novas sugestões para elaboração da versão final; e
na terceira, discorrer sobre a nova proposta no planejamento escolar do ano letivo de 1987. O
97
cronograma, porém, não foi cumprido, se estendendo a discussão pelos dois anos seguintes.
(BORGES, 2001, p.135)
A implantação do Programa de Formação Integral da Criança - PROFIC, em
1986, por decreto do Governador Franco Montoro, causou também um considerável impacto.
Previa a participação de outras secretarias (Promoção Social, Saúde, Relações do Trabalho,
Cultura, Esportes e Turismo), além da Educação, que era a Secretaria que coordenava todo o
programa, e se responsabiliza em firmar convênios com os municípios interessados. O
programa explicitava a necessidade de expansão do papel da escola na formação das crianças,
estendendo sua preocupação pedagógica além dos limites existentes, e ainda a necessidade de
um aumento da permanência do aluno na escola, aliado a medidas relacionadas à nutrição,
higiene, saúde e preparo para o trabalho. As ações e faixa etária atendida pelo PROFIC
estavam distribuídas em quatro fases: formação integral à criança nos dois primeiros anos de
vida, formação integral do pré-escolar, formação integral do escolar e atendimento ao menor
abandonado. Como a Secretaria de Estado da Educação não atendia mais a educação infantil
ou o menor abandonado, a maior parte dos recursos era encaminhada às prefeituras
municipais e entidades filantrópicas. (BORGES, 2001, p.138)
No período de 1987 a 1990 foram apresentadas as principais diretrizes básicas do
Programa Educacional do Governo, das quais faziam parte quatro ações consideradas
fundamentais: ampliação do acesso à escola; efetivação da permanência do aluno na escola;
formação e atualização do magistério; e democratização e modernização da gestão do sistema
educacional. (PEREZ, 1994, p.86) Ainda em 1987, foi criada a Fundação para o
Desenvolvimento da Educação - FDE, por meio do Decreto nº 27.102, de 23 de junho de
1987. Os objetivos da Fundação, constantes do estatuto aprovado pelo decreto que a criou,
eram complementar as políticas educacionais da Secretaria da Educação no que se refere à
produção, aquisição e distribuição de material instrucional necessário ao processo de ensino e
aprendizagem, bem como cumprir a política de suprimento de recursos físicos para educação,
destinados à própria Secretaria da Educação ou a seus órgãos.
Por intermédio do Decreto nº 27.265, de 05 de agosto de 1987, foi criado o
Programa de Municipalização e Descentralização do Pessoal de Apoio Administrativo das
Escolas da Rede Pública Estadual - PROMDEPAR, que previa, por meio de convênios com as
Prefeituras Municipais e Associações de Pais e Mestres - APM, a garantia de existência de
pessoal de apoio para as unidades escolares, contratado por essas instituições mediante
repasse de recursos financeiros para seu pagamento. (PEREZ, 1994, p.92)
98
O principal programa instituído no referido período foi a Jornada Única Docente e
Discente no Ciclo Básico das escolas estaduais paulistas, por meio do Decreto nº 28.170, de
21 de janeiro de 1988. Para o aluno o programa determinava uma jornada de seis horas-aula
diárias e para o professor, uma jornada de atividades com alunos de 26 horas-aula semanais,
oito horas de atividade livre e seis horas de trabalho pedagógico na escola, totalizando 40
horas semanais. Era necessária a elaboração de uma proposta de trabalho pelo docente, a ser
aprovada pelo Conselho de Escola e pela Secretaria da Educação.
Nas escolas onde o programa foi introduzido se criou a função do professor-
coordenador. Uma de suas atribuições era coordenar o projeto Jornada Única do Ciclo Básico
na escola, desde a organização das classes e elaboração da grade curricular do ciclo, além de
garantir a continuidade das atividades nas 3ª e 4ª séries, participar de cursos, multiplicar os
conteúdos dos cursos junto aos professores do ciclo e participar das reuniões do Conselho de
Ciclo. (PEREZ, 1994, p.87)
Em 1988 surgiu ainda o Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do
Magistério - CEFAM, instituído por meio do Decreto nº 28.089, de 13 de janeiro de 1988,
com o objetivo e formato das anteriores Escolas Normais, modificando a forma de trabalho
dos Cursos de 2º grau com Habilitação para o Magistério. A duração do curso era de quatro
anos, em período integral, objetivando a formação integral do aluno para que pudesse obter
uma visão global do ensino desde a pré-escola até a 4ª série do 1º grau. Foi prevista a
concessão de bolsas de estudo para os alunos, no valor de um salário mínimo. No primeiro
período o aluno tinha uma jornada de seis horas-aula diárias, para o cumprimento do currículo
estabelecido para o curso. O segundo período era destinado ao desenvolvimento de atividades
de enriquecimento curricular e estágio supervisionado, integrados ao currículo obrigatório do
curso. (PEREZ, 1994, p.89)
Quanto ao currículo escolar, foram realizadas discussões acerca das propostas
curriculares para o primeiro e o segundo graus. A Secretaria inaugurou o projeto das Oficinas
Pedagógicas, instaladas nas sedes das Delegacias de Ensino, que promoviam reuniões de
orientação técnica e oficinas de trabalho para estudo das novas propostas curriculares.
(PEREZ, 1994, p.96)
O Programa de Municipalização do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, por
sua vez, regulamentado por meio do Decreto nº 30.375, de 13 de setembro de 1989, trouxe a
“novidade” de municipalizar o Ensino Fundamental. O programa previa a realização de
convênios entre o Estado e os Municípios para construção, reforma, ampliação, conservação e
manutenção dos prédios escolares da rede estadual. Também a manutenção dos recursos
99
pedagógicos e auxílio aos professores no exercício das funções, bem como a promoção de
atividades e meios para o funcionamento das escolas. O decreto corroborava o que a
Constituição da República e a do Estado já anunciavam: que era a prioridade dos municípios o
atendimento ao ensino fundamental e à educação infantil. (BORGES, 2001, p.210)
Segundo Perez (1994, p.98),
[...] até dezembro de 1989, dois meses após o lançamento, haviam sido
assinados 165 convênios, reunidos em três grupos. Nos 165 municípios
envolvidos, cerca de 30 por cento dos municípios do Estado, a oferta da pré-
escola era a seguinte em 1987: em 10 municípios não havia nenhum tipo de
atendimento pré-escolar; 6 possuíam apenas rede municipal; 149 municípios
possuíam rede estadual, sendo que em 50 deles havia também a rede
municipal.
Contudo, esse processo de municipalização apenas teve início e continuidade
alguns anos depois, em 1996, com a implantação do FUNDEF - Fundo de Desenvolvimento
do Ensino Fundamental.
O Decreto 31.870/1991 implantou um programa conjunto da Secretaria da
Educação e Secretaria da Segurança Pública - Vigilância Escolar Comunitária, com a
finalidade de tomar medidas de enfrentamento ao problema da segurança dentro e próximo
das unidades escolares. Foi autorizada a suspensão do expediente nas escolas nos recessos
escolares, mediante o Decreto nº 31.875, de 17 de julho de 1990, e criado o Programa de
recuperação de mobiliário escolar nos Presídios do Estado, por meio do Decreto nº 32.263, de
31 de agosto de 1990. (BORGES, 2001, p.228) Estabeleceu-se o TCI - Termo de Cooperação
Intergovernamental para municipalização do ensino, pelo Decreto nº 32.392, de 24 de
setembro de 1990, com a finalidade de descentralizar, expandir e melhorar o ensino
fundamental por meio de convênio com municípios. (BORGES, 2001, p.232)
O período de 1991 a 1994 teve como marca a implantação do Projeto Educacional
“Escola Padrão”. Inicialmente, foi instituído na Secretaria da Educação o “Núcleo de Gestão
Estratégica”, por meio do Decreto nº 33.235/91, cujo objetivo era apresentar projetos de
reforma administrativa da Pasta e do ensino da rede pública estadual no prazo de 90 dias. Os
integrantes do grupo eram funcionários e docentes da Secretaria da Educação. (BORGES,
2001, p.262) O Projeto Educacional Escola Padrão foi estabelecido por meio do Decreto
nº 34.035, de 22 de outubro de 1991, fundamentado nos trabalhos realizados pelo Núcleo de
Gestão Estratégica. Segundo o artigo 3º do referido decreto, os pressupostos principais do
projeto eram:
100
[...] autonomia pedagógica, permitindo às escolas planejarem e decidirem
sobre aspectos próprios de metodologia de ensino e planejamento curricular;
liberdade para propor projetos especiais relacionados com o ensino-
aprendizagem, capacitação e relações com a comunidade; e autonomia
administrativa, implantada gradativamente, a fim de administrar a utilização
de recursos humanos, financeiros e materiais ao seu bom financiamento.
(SÃO PAULO, 1991)
Em 1992, o Projeto “Escola Padrão” foi implantado em 306 escolas, para o qual
várias medidas legais foram tomadas: Regime de Dedicação Plena e Exclusiva, com
gratificação de 30% sobre o salário aos docentes que exercessem suas atividades
exclusivamente naquela escola; Jornada de Trabalho Docente em Escola Padrão, para que os
professores cumprissem uma jornada integral de 40 horas semanais, sendo 26 horas de aula,
seis horas de atividades pedagógicas na escola e oito horas semanais em local de livre
escolha; atribuição de aulas aos docentes na própria unidade escolar com apresentação de
proposta de trabalho e participação em processo seletivo. (BORGES, 2001, p.269) Entre os
anos de 1993 e 1996, o projeto foi ampliado para mais um total de 1.614 escolas, indicadas
seguindo critérios previamente publicados no Decreto nº 34.918, de 06 de maio de 1992, e na
Resolução SE 134, de 19 de maio de 1992, e deveriam contar com a aprovação do Conselho
de Escola. (BORGES, 2001, p.276)
Segundo Sanfelice (2010, p.147), o Partido da Social Democracia Brasileira -
PSDB, desde 1995, “tem sido hegemônico no governo paulista” e, mesmo com seus
singulares modos pessoais de governar, todos administraram por meio de “políticas públicas
alimentadas pela visão neoliberal”, que, conforme entende o autor,
[...] expressa um ponto de vista político-ideológico que acompanha a
transformação histórica do capitalismo moderno e que, na prática política,
sugere receitas econômicas e programas políticos. (CORRÊA, 2000, apud
SANFELICE, 2010, p.147)
E é por essa perspectiva que esses governantes vêm vendo “o mundo de um
mesmo e único pedestal que nada mais é senão o estado burguês capitalista” (SANFELICE,
2010, p.147) e dirigindo o governo no Estado de São Paulo desde 1995. Nesse ano, teve início
a reforma educacional, como um dos primeiros atos legais publicados pela gestão da época,
com o Decreto nº 39.902/95, de 1º de janeiro de 1995, que alterou os Decretos nº 7.510/76, de
29 de janeiro de 1976, e 17.329/81, de 14 de julho de 1981, e reorganizou os órgãos regionais,
extinguindo as Unidades Administrativas das Divisões Regionais de Ensino.
101
Em de março de 1995 foram publicadas as Diretrizes Educacionais para o Estado
de São Paulo, para o período de janeiro de 1995 a 31 de dezembro de 1998. Documento esse
que, segundo Palma Filho (2010, p.158),
[...] fazia uma análise da política educacional paulista nos períodos
anteriores a 1995 e definia como diretriz central da nova administração da
educação: “a revolução na produtividade dos recursos públicos”
(LEGISLAÇÃO DE ENSINO, 1995, p. 303-304) e duas diretrizes
complementares, a saber: 1) “reforma e racionalização da estrutura
administrativa”, 2) “mudanças nos padrões de gestão”. Portanto, definia as
prioridades da pasta da educação para o próximo quadriênio (1995-1998).
Na introdução das Diretrizes, é feito um relato da educação nos últimos 20 anos,
ressaltando a incapacidade do governo em pensar a educação do Estado de São Paulo como
um todo, restringindo-se ao papel de mero gestor da rede estadual. Ressalta ainda que
[...] o profundo avanço tecnológico dos anos 80, o impacto da
informatização e o processo crescente de internacionalização da economia
estão, naturalmente, a exigir um novo perfil de cidadão: criativo, inteligente,
capaz de solucionar problemas, de se adaptar às mudanças do processo
produtivo e, principalmente, de gerar, selecionar e interpretar informações.
Nesse cenário, a Educação toma-se, mais do que nunca, indispensável ao
sucesso econômico e social de qualquer país que se proponha a enfrentar a
competição internacional. Consequentemente, passa-se a questionar os
sistemas de ensino e a exigir ousadia para revê-los e modificá-los. (SÃO
PAULO, 1995, p.08)
Em sua primeira parte, o documento traçava um diagnóstico da educação básica
em São Paulo, com dados referentes ao total de alunos matriculados no Estado em 1993,
matrícula inicial do Ensino Fundamental por vinculação administrativa (1978-1993),
matrícula inicial do Ensino Médio por vinculação administrativa (1978-1993), matrícula
inicial na pré-escola por vinculação administrativa (1978-1993). A conclusão do diagnóstico
era que o Estado encontrava-se sobrecarregado em relação aos Municípios, sendo responsável
por 80% das matrículas dos ensinos Fundamental e Médio. (SÃO PAULO, 1995)
A partir do diagnóstico, foi apontado o principal entrave à educação básica no
Estado de São Paulo: a ineficácia do sistema. A conclusão a que a equipe chegou foi que o
sistema educacional de São Paulo era um fracasso em termos de qualidade. (SÃO PAULO,
1995)
102
A segunda parte do documento traçava as diretrizes principais da gestão para a
educação paulista. A grande diretriz era a revolução na produtividade dos recursos públicos,
que, em última instância, deveria culminar na melhoria da qualidade do ensino. E, para que a
revolução realmente ocorresse, era necessária a revisão do papel do Estado na área de
prestação dos serviços educacionais. Para tanto, foram destacadas duas diretrizes
fundamentais: reforma e racionalização da rede administrativa com informatização dos dados
educacionais; e desconcentração e descentralização dos recursos e competências e mudanças
nos padrões de gestão. Tal política educacional trazia três eixos de trabalho: gestão
democrática, melhoria da qualidade do ensino e racionalização administrativa. (SÃO PAULO,
1995)
Considerando a necessidade de descentralizar a gestão educacional, conforme
publicado nas Diretrizes Educacionais para o Estado de São Paulo, o Governo Estadual
instituiu o Programa de Ação de Parceria Educacional Estado-Município, com o objetivo de
desenvolver o Ensino Fundamental, por meio de ação conjunta dos poderes executivo,
estadual e municipal. Para tanto, autorizou a Secretaria da Educação a celebrar convênios com
os municípios, nos termos do Decreto nº 40.673, de 16 de fevereiro de 1996.
De acordo com Palma Filho (2010, p.159),
[...] o foco passa a ser a descentralização, com a transferência para os
municípios da responsabilidade pelo funcionamento e manutenção das
escolas de ensino fundamental, que ficou conhecido como municipalização
do ensino fundamental.
Dessa forma, ocorreu a implementação do Programa de Reorganização da Rede
Estadual de Ensino. O programa previa a reorganização das escolas para o atendimento dos
alunos dos ensinos Fundamental e Médio. A Resolução SE nº 169, de 20 de novembro de
1996, dispunha sobre as diretrizes para a continuidade do Programa de Reorganização da
Rede Estadual de Ensino e estabelecia como se daria o atendimento à demanda e a
organização das escolas.
O objetivo da reorganização era oferecer atendimento específico para cada nível
de ensino, para que as escolas fossem preparadas fisicamente para os diferentes níveis. No
caso de escola de Ensino Fundamental com atendimento de 1ª a 4ª série e também de 5ª a 8ª
série e Ensino Médio, a separação propiciaria salas de aula, pátio, equipamentos, materiais
pedagógicos específicos para cada faixa etária. Dessa forma, a socialização com pessoas da
mesma faixa etária e a metodologia específica trariam a melhoria da qualidade do ensino. “Tal
103
transferência, em grande parte, foi impulsionada pela instituição por lei federal do chamado
Fundo para o Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério
(FUNDEF).”
Ainda no primeiro semestre do ano de 1996, a Secretaria da Educação instituiu o
Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, por meio da Resolução
SE nº 27, de 29 de março de 1996, tendo como objetivos:
I – desenvolver um sistema de avaliação de desempenho dos alunos dos
ensinos fundamental e médio do Estado de São Paulo, que subsidie a
Secretaria da Educação nas tomadas de decisão quanto à Política
Educacional do Estado; II – verificar o desempenho dos alunos nas séries do
ensino fundamental e médio, bem como nos diferentes componentes
curriculares, de modo a fornecer ao sistema de ensino, às equipes técnico-
pedagógicas das Delegacias de Ensino e às Unidades Escolares informações
que subsidiem: a) a capacitação dos recursos humanos do magistério; b) a
reorientação da proposta pedagógica desses níveis de ensino, de modo a
aprimorá-la; c) a viabilização da articulação dos resultados da avaliação com
o planejamento escolar, a capacitação e o estabelecimento de metas para o
projeto de cada escola, em especial a correção do fluxo escolar. (SÃO
PAULO, 1996)
Com os objetivos de aprimorar o processo de ensino e aprendizagem e buscar a
melhoria da qualidade do ensino, a Resolução SE nº 28, de 04 de abril de 1996, dispunha
sobre o processo de escolha para a designação de professor para exercer as funções de
coordenação pedagógica nas escolas da rede pública estadual. Com essa medida, as escolas
que mantivessem no mínimo 12 classes funcionando, em dois ou mais turnos, contariam com
um professor designado para exercer as funções de coordenação pedagógica; as escolas que
mantivessem no mínimo 12 classes no período diurno e no mínimo dez classes no período
noturno contariam com dois professores para a coordenação pedagógica.
No final do ano de 1996, a Secretaria publicou outra medida no sentido de buscar
alternativas para melhorar o desempenho dos alunos, a Resolução SE nº 183, de 17 de
dezembro de 1996, que dispunha sobre estudos de recuperação e avaliação nas férias
escolares. A recuperação ocorreu no mês de janeiro de 1997 aos alunos retidos no ano letivo
de 1996 da 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental, com admissão de professores interessados
em desenvolver o projeto durante o mês de janeiro.
O ano de 1997 foi considerado, para os governantes, um ano de transição para que
fosse possível a realização das adaptações necessárias à nova lei. O Conselho Estadual de
Educação publicou diversas deliberações para regulamentar a nova LDB no Estado de São
Paulo. Entre elas, destacam-se a Deliberação CEE nº 9/97, que instituiu no Sistema de Ensino
104
do Estado de São Paulo o regime de progressão continuada no Ensino Fundamental, e a
Deliberação CEE nº 10/97, que fixou normas para elaboração do Regimento dos
Estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio.
Iniciou-se também, em 1998, a informatização das escolas, com o recebimento de
microcomputadores para utilização nos trabalhos administrativos e oferta de cursos de
formação em parceria com o SENAC para os funcionários e gestores. Nesse ano de 1998, as
escolas da rede pública estadual ainda passavam pela reorganização que objetivava separar o
Ensino Fundamental de Ciclo I do Ensino Fundamental Ciclo II e Ensino Médio, com vistas à
municipalização do Ensino Fundamental Ciclo I, com base nos fundamentados da
Constituição Federal e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Dessa forma, a partir
desse ano, mediante “indicação do Conselho Estadual de Educação (Indicação CEE
nº 8/1997), sustentado pelo que dispõe o artigo 32 da LDBEN, foi implantado em toda rede
pública estadual o regime de progressão continuada” (SÃO PAULO, 2012, p.21).
Contudo, de acordo com Barreto (2003, p.11), a finalidade da implantação dos
ciclos e da progressão continuada era, particularmente, corrigir o fluxo para o cumprimento
dos anos de escolaridade na idade certa. Segundo o autor, é fundamental que um ensino de
qualidade perpasse pela não retenção. Cabe aqui frisar que, se os objetivos da reorganização
não foram tão louváveis, permitiram demonstrar, segundo Paro (2011, p.714), “[...] a
incompetência da escola: se antes o mau aluno era reprovado e evadido da escola, agora ele lá
permanece, mas sem ter aprendido, evidenciando a incompetência da escola para ensiná-lo”.
E ainda, de acordo com Vasconcelos (2008, p.80), se pôde perceber seu efeito positivo, pelo
menos, no que se refere à
[...] queda dos índices de evasão e o desaparecimento da figura do aluno
multirrepetente [...] que não logrando êxito após várias tentativas e
consequentes reprovações, acabava por evadir-se da escola (muitas vezes
com o apoio e decisão da própria família). (VASCONCELOS, 2008, p.80)
Com a reorganização, as escolas que ofereciam o Ciclo II do Ensino Fundamental
e Ensino Médio receberam microcomputadores para utilização no trabalho pedagógico, em
salas que deveriam estar preparadas para tal finalidade, denominadas SAI - Sala Ambiente de
Informática, com dez computadores e uma impressora, contudo, várias unidades escolares
receberam apenas cinco computadores. Concomitantemente, a Secretaria da Educação e o
Ministério da Educação, por meio do PROINFO - Programa Nacional de Tecnologia
105
Educacional, iniciaram a implantação dos Núcleos Regionais de Tecnologia Educacional
(NRTEs), os quais a partir de 2010 passaram a ser chamados de salas do Acessa Escola.
A partir do ano de 2001, a Política Educacional da Secretaria do Estado de São
Paulo, segundo Palma Filho (2010, p.162), manteve a mesma linha característica do Governo
do PSDB, “como por exemplo, o Programa de Municipalização do Ensino Fundamental e a
manutenção do regime de progressão continuada no ensino fundamental” (PALMA FILHO,
2010, p.162), e implementa o conceito de escola inclusiva, a qual é descrita em documento
intitulado Política Educacional da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, nos
termos como segue:
[...] a escola inclusiva é a que se mantém atenta às necessidades de seus
alunos e às expectativas da comunidade em que se insere. Ela se constrói a
partir da permanente interação com os educandos, seus familiares e outros
integrantes da comunidade, dando-lhes voz e condições para que possam
atuar efetivamente no desenvolvimento das atividades escolares e
partilhando com todos eles responsabilidades, em ambiente de colaboração e
de convívio solidário. (SÃO PAULO, 2002, p.5)
E foi nessa perspectiva que em 2003 se implementou, como parte das políticas
públicas educacionais, o Programa Escola da Família, que abriu as portas das escolas aos
finais de semana com o objetivo de promover um espaço de cultura para a comunidade local.
Segundo Palma Filho (2010, p.163), “não há como não reconhecer nessa passagem a
influência da Escola Nova”, pois o programa mostrava um discurso acerca da relação
professor e aluno baseado no afeto, respeito e confiança. Tal programa contou com a parceria
de universidades privadas, por meio de bolsas a estudantes que trabalhassem nessas escolas e
criassem projetos diferenciados, como cursos e eventos. Contudo, apesar de tal programa ter
auxiliado jovens no que se refere a sua permanência no ensino superior e fazer com que
muitos da comunidade circundante tivessem um espaço para entretenimento, formação não
formal e esportes, não teve sequência na maioria das escolas. Há de se notar que é por ações
como essa, conforme Sanfelice (2010, p.154),
[...] que o Ensino Superior público no Estado de São Paulo vem a cada ano
se constituindo em menos representativo, quantitativamente, em relação ao
Ensino Superior privado. Dados indicam que nos anos mais recentes a
diminuição foi de 17,5% para 9,3 do total. O atendimento aos alunos é
86,19% realizado pelo setor privado. (SANFELICE, 2010, p.154)
106
Conforme Sanfelice (2010, p.149-150), outra medida foi a que trouxe a Resolução
SE nº 79, publicada em 30 de novembro de 2003, a qual estabeleceu que o professor de 2ª
série deveria permanecer com seus alunos da 1ª série do ano anterior, de modo a configurar
um ciclo de aprendizagem de dois anos, assim como já havia ocorrido no já descrito Ciclo
Básico. Essa mesma resolução também determinou que ocorresse o mesmo processo com as
séries seguintes, representando na época a nova reorganização do Ensino Fundamental em
ciclos de dois anos, como também já havia sido feito em 1995.
Já no que se refere à formação continuada docente, em 2007 a Secretaria
implantou, como mais uma política pública, o Programa Ler e Escrever. Segundo Weisz
(2010, p.21), “[...] o Ler e Escrever não está focado na formação em serviço dos professores
individualmente, mas foi pensado como um conjunto de ações cujo objetivo é fazer avançar a
qualidade do ensino oferecido em cada escola”.
Nesse período o governo instituiu que até 2010 metas deveriam ser cumpridas,
entre elas:
[...] todos os alunos de 8 anos plenamente alfabetizados; redução de 50% das
taxas de reprovação da 8ª série; redução de 50% das taxas de reprovação do
Ensino Médio; implantação de programas de recuperação de aprendizagem
nas séries finais de todos os ciclos de aprendizagem do Ensino Fundamental
e 3ª série do Ensino Médio; aumento de 10% nos índices de desempenho do
Ensino Fundamental e Médio nas avaliações nacionais e estaduais;
atendimento de 100% da demanda de jovens e adultos de Ensino Médio com
currículo profissionalizante diversificado; implantação do ensino
fundamental de nove anos, com prioridade à municipalização das séries
iniciais (1ª a 4ª séries); programas de formação continuada e capacitação da
equipe; descentralização e/ou municipalização do programa de alimentação
escolar nos 30 municípios ainda centralizados e programa de obras e
melhorias de infraestrutura das escolas. (SANFELICE, 2010, p.148-149)
Ainda no ano de 2003 foi criada a Teia do Saber, um programa de formação
continuada que tinha como objetivo “articular e consolidar as ações que já vinham sendo
realizadas pela Secretaria da Educação” (PALMA FILHO, 2010, p.164), trazendo em seu
discurso os mesmos fundamentos anteriores desse mesmo grupo de governo:
[...] propiciar a fundamentação teórica nos diferentes campos de atuação dos
profissionais envolvidos, a necessária articulação entre essa teoria e a
prática, a contextualização dos conhecimentos trabalhados, bem como a
interdisciplinaridade possível, resguardando momentos para a socialização
de experiências vivenciadas no cotidiano escolar e nas relações de trabalho.
(SÃO PAULO, 2002, p.29)
107
Com a Resolução SE nº. 89/2005 instituiu-se o projeto Escola de Tempo Integral
em algumas escolas da rede pública estadual de Ensino Fundamental. O projeto tinha como
finalidade aumentar o tempo de permanência dos alunos de 5 para 9 horas e contava com as
seguintes oficinas curriculares: Orientação para Estudo e Pesquisa, Atividades de Linguagem
e de Matemática, Atividades Artísticas, Esportivas/Motoras e de Participação Social.
Conforme documento institucional, a escola deveria ser a “alavanca de um processo que visa
à formação de pessoas aptas a exercerem sua plena cidadania” (SÃO PAULO, 2006b, p.14).
Contudo, embora tenha sido “uma iniciativa muito bem recebida pela comunidade [...]
enfrentou sérios problemas relacionados com a articulação entre os conhecimentos
acadêmicos e as atividades realizadas nas oficinas” (PALMA FILHO, 2010, 165).
No ano de 2007 a Secretaria de Educação publicou um conjunto de metas a serem
cumpridas até o final daquele mandato com vistas à melhoria do ensino:
1. Que todos os alunos sejam alfabetizados até o final do segundo ano de
escolaridade; 2. Redução em 50% da taxa de reprovação na 8ª série; 3.
Redução em 50% da taxa de reprovação no ensino médio; 4. Implantação de
programas de recuperação de aprendizagem nas séries finais de todos os
ciclos; 5. Aumento de 10% nos índices de desempenho do ensino
fundamental e médio nas avaliações nacionais e estaduais; 6. Atendimento
da demanda de jovens e adultos de ensino médio com currículo
profissionalizante diversificado; 7. Implantação do ensino fundamental de
nove anos com prioridade à municipalização das séries iniciais – 1ª a 4ª; 8.
Programa de Formação Continuada e capacitação das equipes de ensino; 9.
Descentralização da merenda escolar nos 30 municípios que ainda não
aderiram ao programa; 10. Obras e melhorias de infraestrutura nas escolas.
(PALMA FILHO, 2010, p.166-167)
No que se refere às ações e medidas desse período, de acordo com Sanfelice
(2010, p.149), se destacaram a apresentação de uma Proposta Curricular e as expectativas de
aprendizagem para os ensinos Fundamental e Médio, que, a partir de 2009, passaram a contar
com o Currículo Oficial do Estado de São Paulo; parcerias com o setor privado para
realização de cursos de informática e de inglês; controle de qualidade da aprendizagem nas
escolas municipais por conta da Escola de 9 anos; criação de salas do Acessa Escola ou
Laboratórios de Informática em todas as escolas estaduais, bem como a entrega de kit para
sala dos professores com computadores (um ou dois), impressora e material de apoio; salas-
ambiente como de vídeo, laboratório de ciências com seus respectivos materiais; e a criação
de um posto de trabalho por designação do Professor Coordenador – este não precisava e não
precisa ter curso de pedagogia, somente ser professor efetivo da rede. (SANFELICE, 2010,
p.148-149)
108
No período compreendido entre 2009 e 2011, segundo Sanfelice (2010, p.150), “o
Estado de São Paulo tornou-se o laboratório predileto das políticas defendidas pelo
„tucanato‟”. O foco central da política do governo para a educação era o projeto “São Paulo
Faz Escola”, que, conforme o mesmo autor, tinha como objetivo instituir “uma escola
melhor” e expandir a nova proposta curricular para o Ensino Fundamental e Ensino Médio.
Todavia, tal proposta, segundo Russo e Carvalho (apud SANFELICE, 2010, p.151), tem
pontos conflitantes com a legislação, pois
[...] adota um currículo único e fechado, utiliza material instrucional
padronizado, acompanha os resultados por supervisão cerrada através da
avaliação, usa os resultados da avaliação como critério para concessão de
vantagens salariais (bônus) e utiliza o incentivo monetário para o aumento da
produtividade do trabalho. (SANFELICE, 2010, p.151)
Segundo Sanfelice (2010, p.153), a política pública para o sistema educacional do
Estado de São Paulo se caracteriza por ações momentâneas e sem continuidade, primando por
divulgar uma qualidade, por muitos questionada, com vistas a dar destaque ao governo
vigente, pois
[...] muitas reformas, muitas políticas públicas não têm por função buscar
uma transformação social e sim visam somente fazer crer que existe uma
estratégia política para melhorar a qualidade educacional, de dar a ideia de
movimento para frente, mas só beneficiam as plataformas políticas dos
reformadores. (SACRISTÁN, 1996, p.52)
Assim, outro aspecto evidenciado por Sanfelice (2010, p.153) é a mercantilização
da educação, quando vista como produto e com grande potencial de divulgar outros produtos
agregados, como no que se refere às parcerias com o setor privado para reformar e equipar as
escolas, sem que tudo isso leve a uma aprendizagem efetiva. Um exemplo dado pelo autor é a
criação da Rede do Saber em 2003, quando foram montadas salas para videoconferências em
todas as Diretorias de Ensino com recursos tecnológicos de última geração, com a justificativa
de “oferecer formação em nível superior a aproximadamente 7.000 educadores efetivos de
1ª a 4ª séries da rede estadual de ensino, visando atender às exigências da LDB”
(SANFELICE, 2010, p.153).
Já o período entre 2011 e 2014 foi marcado por uma continuação das políticas
públicas iniciadas pelo grupo de governo anterior – para não dizer uma mesma caracterização
desde que se iniciou o governo. Ou seja, também se promoveu “um claro aprofundamento dos
109
princípios que vinculam a educação ao modelo neoliberal e à economia de mercado”
(RUSSO, s/d, p.5).
Assim, no ano de 2011 o governo fez nova reorganização na Secretaria de
Educação e Diretorias de Ensino, por meio do Decreto 57.141/2011, a partir de relatório
elaborado pela FUNDAP - Fundação do Desenvolvimento Administrativo, um órgão
vinculado à Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo. No relatório foram
descritos, segundo Aguiar (2013, p.13), os anseios, desejos, opiniões dos servidores da
Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Para isso, foram promovidos encontros com
a presença do, então, secretário da educação e dos profissionais da educação, para que
pudessem fazer suas reivindicações. De acordo Aguiar, a FUNDAP realizou
[...] entrevistas com servidores dos órgãos centrais e das Diretorias de
Ensino, fez dezenas de reuniões com dirigentes, técnicos e servidores de
todos os níveis hierárquicos, analisou processos, visitou escolas, ouviu
diretores, supervisores de ensino, professores e pessoal do apoio ao
magistério. (AGUIAR, 2013, p.13)
A partir das reuniões e entrevistas foram apresentadas questões como a
necessidade de diálogo entre órgãos centrais e profissionais da educação, incentivo à
formação, autonomia das escolas, entre outras. E, segundo o documento oficial (SÃO
PAULO, 2013, p.13-14), “o resultado desse estudo mostrou o que não ia bem e precisava
mudar, com base no seguinte diagnóstico”: a estrutura da Secretaria estava desatualizada;
cerca de 70% das atividades nas Diretorias eram de natureza administrativa, em prejuízo do
trabalho docente, além de extremamente desorganizadas; acerca do pessoal, eram
insuficientes os quadros próprios e, principalmente, qualificados para exercer a gestão da
educação em todos os níveis da estrutura da Secretaria.
Dessa forma, conforme esse mesmo documento, foram definidas “premissas para
orientar a modelagem institucional da Secretaria da Educação, de forma que a principal foi a
Gestão de Resultado com Foco no Desempenho do Aluno” (SÃO PAULO, 2013, p.14-15).
Assim, os princípios de todo o processo podem ser resumidos em poucas
palavras: Foco (no ensino, na informação, no monitoramento e no
fornecimento de recursos); Resultados (fruto da clareza no fornecimento de
cada unidade); Articulação (para serem estabelecidas prioridades, estratégias
e políticas, assim como também na gestão de recursos); e Monitoramento
(para se chegar às metas e resultados). (SÃO PAULO, 2013, p.15)
110
Nesse mesmo ano (2011) criou-se o Programa Vence, com o objetivo de “tornar
mais atraente o Ensino Médio oferecido pela rede pública [...] no qual o aluno adquire
formação técnica, seja de maneira concomitante ou integrada à oferta curricular regular desse
nível de ensino” (SÃO PAULO, 2013, p.51). Contudo, o que se vê, com a justificativa de
também ser um ensino integral, é a transferência de verbas públicas para o setor privado, com
ênfase na formação “do cidadão produtivo, submisso e adaptado às necessidades do capital e
do mercado” (FRIGOTTO, 2007, p.1129).
Também foi implantado um modelo de escola em tempo integral diferenciado do
conceito de escolas de tempo integral, citadas anteriormente. Esse modelo previa integração
das disciplinas do currículo e nova jornada de trabalho de professores com dedicação plena e
exclusiva à unidade escolar, enquanto o programa anterior somente previa jornada integral
para os alunos. (SÃO PAULO, 2013, p.51) Contudo, apenas alguns professores têm acesso a
essa promoção salarial, uma vez que só algumas escolas foram escolhidas para participar de
tal projeto. Fato esse que, notadamente, vai de encontro ao pilar instituído por essa gestão no
tocante à valorização da carreira do magistério e contrapõe também a Constituição Federal,
que condiciona o acesso ao serviço público à realização de concursos. Nesse programa os
professores são afastados de seus cargos em suas escolas de origem e designados para Escolas
de Ensino Integral, sendo que, caso não atendam aos padrões determinados, podem ser
dispensados.
Na reestruturação empreendida no governo 2011-2014 foi instituído o Programa
Educação - Compromisso de São Paulo, por meio do Decreto nº 57.571/2011, que tinha como
objetivo a “promoção da educação de qualidade na rede pública estadual de ensino e a
valorização de seus profissionais” (SÃO PAULO, 2013, p.12). O programa anunciava uma
proposta com cinco pilares, expressos em forma de metas, que deveriam ser cumpridas até o
ano de 2030, a saber: 1. valorizar e investir no desenvolvimento do capital humano da
secretaria; 2. aprimorar as ações e a gestão pedagógica da rede com foco no resultado do
aluno; 3. mobilizar, engajar e responsabilizar a rede, os alunos e a sociedade em torno do
processo de ensino-aprendizagem; 4. lançar as bases de um novo modelo de escola e um
regime na carreira do magistério mais atrativo; 5. viabilizar mecanismos organizacionais e
financeiros para operacionalizar o programa.
A reestruturação continuou no ano de 2015, demonstrando o prolongamento de
uma política com marcas neoliberais quando anunciadas premissas como a baseada na gestão
de resultado no desempenho do aluno e apresentados conceitos característicos de um sistema
“gestionário”, como apontado por Afonso (2000, p.21):
111
Inicia-se assim outra fase da reforma educativa em que a presença destes
valores gestionários é denunciada, por exemplo, pela utilização (cada vez
mais frequente) das palavras responsabilização, avaliação, optimização,
racionalização, eficiência, inovação, eficácia e qualidade, entre outras. Dir-
se-ia que o regresso do discurso da qualidade passa a ser uma das muitas
maneiras possíveis (talvez a mais persuasiva) de nomear a pretendida
modernização do sistema educativo nesta nova fase da reforma. (AFONSO,
2000, p.21)
Outro ponto de destaque é ressaltado por Russo (s/d, p.5), que afirma que “as
políticas em curso, neste governo, têm se pautado em reformas educacionais já realizadas no
exterior”, assim como descreve Gall e Guedes (2009):
Autonomia e descentralização escolar - Uma das formas encontradas para
superar os problemas em escala em grande parte dos sistemas urbanos é a
distribuição da responsabilidade por meio da autonomia escolar. O Programa
de Autonomia Escolar de Nova York (Empowerment Schools) tem como
princípio a descentralização escolar, enfatizando a responsabilidade das
unidades locais, prática comum em grandes corporações [...] No Brasil, para
implantação de ações inspiradas nessa realidade (americana), seria
necessário que um governador ou prefeito aceitasse abrir mão do poder
político que a centralização de recursos financeiros lhes proporciona. Uma
análise jurídica, verificando possíveis flexibilizações da legislação, permitirá
encontrar possibilidades para lidar com os diretores e escolas que não
apresentem resultados satisfatórios. (GALL, GUEDES, 2009, p.35)
A autonomia pautada nas reivindicações é traduzida como responsabilização,
entendendo-se, nesse contexto, como culpabilização dos atores envolvidos na obtenção de
resultados e no tocante à questão autonomia. A esse respeito, Adrião assinala:
[...] ao introduzirem mecanismos que, a pretexto de dar maior autonomia à
unidade escolar e aos seus diretamente envolvidos em suas atividades,
apenas isentaram ainda mais o Estado de suas obrigações de fornecer
condições adequadas ao ensino, transferindo parcelas significativas dessa
responsabilidade para os próprios usuários. (ADRIÃO, 2006, p.16)
Outra questão que vale a pena destacar nessa reforma diz respeito à valorização
docente. Nos discursos do governo, frisa-se a necessidade de salários mais dignos e de
valorização da profissão, tornando-a mais atrativa. Contudo, esse profissional é o que mais
tem sido responsabilizado pelas mazelas educacionais, anunciando-se que haverá uma melhor
qualidade do processo porque eles, os professores, serão qualificados em constantes
formações. Não que isso não seja essencial, mas se passa uma impressão de que somente essa
ação irá minorar todos os problemas enfrentados pela educação paulista.
112
Quanto ao aluno, continua a ser averiguada a qualidade da educação por meio de
avaliações externas, em nível federal, mas principalmente nos níveis estadual e regional, por
meio de testes inseridos no SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica, no SARESP -
Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo e na AAP - Avaliação
da Aprendizagem em Processo. Essas ações, divulgadas enquanto meios de monitorar a
qualidade da educação, têm servido de objeto de culpabilização de muitos profissionais da
educação, como diretores de escola e professores, assim como descrito na preleção de
Sanfelice (2010, p.158):
A educação estatal paulista está indo para o brejo. O Estado minimiza-se
como provedor perante o tamanho do desafio, aprofunda seu controle e
responsabiliza outros sujeitos pelas funestas consequências. Estamos em
tempos de precarização. Precarização política, ética, cultural e material.
Nesse cenário, conclui-se que a gestão da educação no Estado de São Paulo
caracteriza-se pela continuidade de políticas de cunho neoliberal. Notam-se, pelo plano de
ação da Secretaria Estadual de Educação, propostas de melhoria da qualidade educacional no
que tange ao cumprimento das reivindicações dos profissionais da educação, ouvidas pelo
secretário de educação ou nas entrevistas realizadas pela FUNDAP. Contudo, há de se
considerar que não foi dada voz a todos os profissionais da educação, e sim apenas a alguns
“representantes” escolhidos a dedo, com vistas a tornar legítimas e democráticas as decisões
do governo aos olhos dos cidadãos, de forma que “a Educação passou a ser assunto
importante demais na atual fase do capitalismo para ser deixada na mão dos educadores”
(FREITAS, 2011, p.283).
2.2.1.1 Proposta de reorganização escolar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo
Neste ponto, considera-se importante para esta tese abordar a proposta de
reorganização escolar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para o ano de 2016,
principalmente por conta dos fatos recentes, as manifestações feitas pelos alunos dessa
instância após divulgação, pelo então secretário de Estado da Educação, Herman Voorwald,
da implantação da política pública, por meio de entrevista ao Bom Dia São Paulo, telejornal
da rede Globo, no dia 23 de setembro de 2015.
113
2.2.1.1.1 A proposta16
A proposta consiste em reorganizar as escolas distribuindo os alunos por idade, a
saber: alunos de 6 a 10 anos, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, séries iniciais do EF;
alunos de 10 a 14 anos, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, séries finais do EF; e alunos
de 15 a 17 anos, do 1º ao 3º ano do Ensino Médio. Vale destacar que essa divisão de escolas
com ciclo único não seria exatamente por ciclos, como tem sido anunciado na mídia e pela
própria Secretaria de Educação. Isso porque, conforme indicado na proposta mesmo, ter-se-
iam escolas com alunos dos Ciclos I e II, pois a partir do ano de 2013, por meio da Resolução
SE nº 74, de 08/11/2013, o Ensino Fundamental foi dividido em três ciclos:
Artigo 1º - O Ensino Fundamental, em Regime de Progressão Continuada,
oferecido pelas escolas estaduais, a partir de 2014, será organizado em 3
(três) Ciclos de Aprendizagem, com a duração de três anos cada, nos termos
da presente resolução. [...] Artigo 5º - O Ensino Fundamental em Regime de
Progressão Continuada será reorganizado, a partir de 2014, em 3 (três)
Ciclos, compreendidos como espaços temporais interdependentes e
articulados entre si, ao longo dos nove anos: I - Ciclo de Alfabetização, do 1º
ao 3º anos; II - Ciclo Intermediário, do 4º ao 6º anos; III - Ciclo Final, do 7º
ao 9º ano. (SÃO PAULO, 2013)
De acordo com a medida, a reorganização escolar vigoraria a partir do ano de
2016. Sendo que, num primeiro momento, houve um estudo para definir quais escolas seriam
selecionadas para o processo. As Diretorias Regionais de Ensino tiveram um prazo de 10 dias
para validar quais escolas da rede estadual de ensino passariam pela reorganização. Contudo,
é sabido pela pesquisadora, por fazer parte do quadro de educadores da SEE, que foram as
Diretorias de Ensino que realizaram tal estudo e indicaram as unidades escolares. Sabe-se que
algumas Diretorias fizeram reuniões prévias com diretores de escolas, supervisores de ensino
e diretores técnicos de Centros de Informações Educacionais e Gestão da Rede Escolar, para
que indicassem a possibilidade e a viabilidade aos demais.
Foi marcado o dia “E” - Dia da Educação, 14 de novembro de 2015, para que os
alunos e a comunidade fossem comunicados sobre a mudança de escola. A troca deveria ser
automática pelas Diretorias de Ensino e, de acordo com a proposta, os alunos seriam
deslocados dentro do mesmo bairro da escola anterior, num raio de aproximadamente 1,5 km.
16
SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Reorganização escolar. s/d. Disponível em:
<http://www.educacao.sp.gov.br/reorganizacao>. Acesso em: dez./2015.
114
No entanto, essa distância, principalmente em cidades menores, não se aplicaria, pois em sua
maioria as escolas não ficam no mesmo bairro.
Embora nem todas as unidades de ensino do Estado fossem passar pela
reorganização, pois escolas com mais de um ciclo ainda continuariam funcionando – isso
devido às diferenças demográficas e à demanda por escolas, para diversas faixas etárias, em
algumas regiões –, todas deveriam realizar o dia “E” para divulgar as justificativas de tal
reorganização. Também porque já havia, naquele momento, escolas que não seriam
reorganizadas, mas estavam ocupadas, fato esse que será abordado mais adiante.
O que é a reorganização? Com a finalidade de colocar em prática o princípio
da melhoria da qualidade de ensino e da aprendizagem, as escolas paulistas
vão repensar sua atuação. Para isso será colocado em pauta três critérios
pedagógicos básicos: 1- Ambientes escolares organizados para a
aprendizagem: tempo e espaço; 2- Desenvolvimento das competências e
habilidades previstas no currículo oficial do Estado de São Paulo; 3-
Formação continuada dos profissionais voltada para a prática da sala de aula.
(SÃO PAULO, set./2015)
Com a reestruturação das escolas em ciclos, ao menos 94 unidades escolares
teriam de ser disponibilizadas. Desses 94 prédios, 66 seriam repassados para as redes
municipais, para utilização com Educação de Jovens e Adultos, Centro Educacional Unificado
- CEU ou creche. Ou reaproveitados, ainda, pelo próprio governo estadual com creches ou
unidades de ensino técnico. Para as 28 unidades restantes, ainda não havia um destino certo.
2.2.1.1.2 As justificativas
Uma das justificativas da SEE/SP para o processo de reorganização, que causou
dúvidas e manifestações por parte de professores, pais e alunos desde que foi anunciado, em
setembro, é que o aproveitamento dos alunos de escolas com ciclo único seria melhor. Assim,
estão pautadas no princípio da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.
As escolas com ciclo único têm alunos com rendimento 10% superior, na
comparação com as unidades com três ciclos de ensino, conforme dados do IDESP - Índice de
Desenvolvimento do Estado de São Paulo. O mesmo índice aponta ainda que as notas dos
estudantes do ciclo inicial em escolas com segmento único são 14,8% superiores às demais,
nos anos finais são 15,2% melhores e no Ensino Médio, 28,4% mais altas.
115
Outro argumento dá conta de que o número de alunos caiu de 6 milhões de alunos
para 4 milhões de estudantes em menos de 20 anos, fazendo com que muitas escolas tenham
salas ociosas e carteiras e cadeiras vazias (a rede estadual de São Paulo possui 5.108 mil
escolas e 3,8 milhões de alunos). Segundo a Secretaria,
A Educação utilizou como base o levantamento realizado pela Fundação
Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), que apontou tendência de
queda de 1,3% ao ano da população em idade escolar no Estado de São
Paulo. Entre os anos de 1998 e 2015, a rede estadual de ensino perdeu 2
milhões de alunos.17
Acrescenta-se a esse argumento que os alunos também migraram para a rede
privada. Afirma-se ainda que a maioria (90%) das construções escolares possui mais de 40
anos. Com a reorganização, a SEE poderia reformar ou construir outras unidades direcionadas
para o segmento atendido.
Dessa forma, as escolas se tornariam mais preparadas para as necessidades de
cada etapa de ensino, de forma a atender à nova realidade das crianças e jovens. Seria
importante a redistribuição para que as ações pedagógicas ocorressem especificamente para
um determinado segmento, pois as escolas com um ciclo teriam muitas mais facilidades na
administração acerca de estratégias e planejamento.
O Secretário afirmou, na citada entrevista, que o próprio INEP publicou em seu
relatório de 2015 que, quanto menos complexa a gestão da escola, melhor o resultado de
aprendizagem. Inclusive que possibilitaria a redução de conflitos por conta da diferenciação
de faixa etária.
Entre diversos estudos que foram utilizados para a proposta da
reorganização, está o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação
do Estado de São Paulo (Idesp), que mostrou que unidades que atendem
alunos de apenas uma faixa etária têm desempenho melhor. No Ensino
Médio, por exemplo, os estudantes que frequentam escolas neste modelo
aprenderam 28% mais; Escolas de segmento único do 1º ao 5º ano tiveram
um rendimento 14,8% superior às demais; Aquelas que oferecem apenas do
6º ao 9º ano obtiveram resultado 15,2% melhor.18
17
SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Reorganização escolar. s/d. Disponível em:
<http://www.educacao.sp.gov.br/reorganizacao>. Acesso em: dez./2015. 18
SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Reorganização escolar. s/d. Disponível em:
<http://www.educacao.sp.gov.br/reorganizacao>. Acesso em: dez./2015
116
Segundo Herman Voorwald, em entrevista ao Bom Dia São Paulo (Rede Globo de
Televisão, 23/09/2015), a grande preocupação é com os alunos do Ensino Médio, pois esse
segmento é de responsabilidade exclusiva da esfera estadual, diferentemente dos outros, que
são compartilhados com os municípios, sendo que, no ano de 2015, eram apenas 377 escolas
unicamente de Ensino Médio. Justifica ainda que esse é o final da Educação Básica e que a
grande maioria desses estudantes ingressa no mercado de trabalho. Daí a necessidade de se
criarem espaços adequados “para que os jovens nesta faixa etária construam a sua formação e
sejam preparados, ao longo dos 3 anos, ou para o mercado de trabalho ou para o ingresso nas
universidades”. E, diante das dificuldades, estaria sendo preparada uma reformulação do
Ensino Médio, fazendo com que se amplie esse número de escolas específicas.
Em 26 de outubro de 2015, o então Secretário da Educação, em entrevista
coletiva, anunciou os resultados do estudo para o processo de reorganização. Dessa forma,
ficou destacado na proposta, naquele momento, em números oficiais, que para o ano de 2016
94 prédios ficariam ociosos, por conta da transferência automática dos estudantes. De forma
que 94 escolas seriam fechadas. No entanto, declarou que 66 dessas construções seriam
utilizadas para outras atividades da pasta, ou com os municípios, relacionadas à educação.
Sobre as outras 28, ainda não havia nada decidido.
Foi anunciado que, em 162 municípios, 1.443 unidades já mantinham segmento
único, e 1.464 escolas das 5.147 unidades existentes passariam pelo processo, culminando
num total de 2.197 que passariam a atender alunos exclusivamente de um ciclo de ensino – a
soma não é exata pois, das já existentes, uma parcela delas mudaria o segmento a ser
atendido. Assim, delas, 832 ficariam destinadas aos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º
ao 5º ano), 566 aos anos finais do Fundamental (6º ao 9º ano) e 799 ao Ensino Médio. Com
isso, seria necessária a transferência de 311.000 estudantes. Estimava-se que 74 mil
professores sofreriam algum tipo de mudança.
Assim, por meio do Decreto nº 61.672, de 30 de novembro de 2015, o Governador
do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, decretou a transferência dos integrantes dos
Quadros de Pessoal da Secretaria da Educação, ou seja, foi autorizado o procedimento de
transferência de pessoal nos casos em que as escolas da rede estadual deixassem de atender
um ou mais segmentos, ou quando passassem a atender novos segmentos.
117
Em 1º de dezembro de 2015, a Resolução 54 disciplina a transferência autorizada
no Decreto 61.672/2015, devendo ser concretizada no primeiro dia útil de 2016.
Artigo 3º - As transferências dos integrantes do Quadro do Magistério - QM,
do Quadro de Apoio Escolar - QAE e do Quadro da Secretaria da Educação -
QSE, a que se refere o artigo 1º dessa resolução, dar-se-á na seguinte
conformidade: I - em caráter obrigatório, quando a escola deixar de possuir
cargo vago/função ou não possuir quantidade de aulas/classes disponíveis
para constituição de jornada ou composição de carga horária de trabalho dos
integrantes do Quadro do Magistério - QM, e, II - quando necessário, se a
unidade escolar ao deixar de atender 1 (um) ou mais segmentos ou passar a
atender novos segmentos inviabilizar a permanência do servidor [...] Artigo
4º - A transferência dos integrantes do Quadro do Magistério, a que se
referem os incisos I e II do artigo 3º, dar-se-á por escolha do servidor, de
acordo com a classificação, preferencialmente para escola sediada na área de
unidade que deixar de atender 1 (um) ou mais segmentos ou passar a atender
novos segmentos. (SÃO PAULO, 2015a)
Em 04 de dezembro de 2015, por meio o Decreto 61.692, foi revogado o Decreto
61.672 e o Governador anunciou que o processo de reorganização das escolas para 2016
estava adiado. E, por fim, em 08 de dezembro de 2015 a Resolução SE 56 revogou a
Resolução SE 54/2015.
Geraldo Alckmin, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas
atribuições legais, Decreta: Artigo 1º - Fica revogado o Decreto nº 61.672,
de 30 de novembro de 2015, que disciplina a transferência dos integrantes
dos Quadros de Pessoal da Secretaria da Educação. Artigo 2º - Este decreto
entra em vigor na data de sua publicação. (SÃO PAULO, 2015b)
Isso após uma onda de manifestações (passeatas, ocupação de escolas, fechamento
de rodovias) surgida logo após a declaração do então Secretário de Educação do Estado de
São Paulo, na citada entrevista à Rede Globo de Televisão, no dia 23 de setembro de 2015,
sobre a reorganização das escolas estaduais de São Paulo, quando foi anunciado que alunos
seriam deslocados/ transferidos para outras unidades escolares. E, para que o número de
escolas com ciclo único fosse ampliado, dias depois houve divulgação da lista das escolas da
rede estadual que seriam “disponibilizadas” para outros fins. Dessa forma, iniciou-se um
processo de mobilização estudantil dos alunos secundaristas da rede pública do Estado de São
Paulo.
A disponibilização/ fechamento de escolas e a falta de diálogo com as
comunidades, gerando muitas dúvidas, provocaram polêmicas. Surgiram então as primeiras
manifestações de alunos das escolas da lista, que se posicionaram contra o encerramento.
118
Dessa forma, faz-se oportuno apresentar um quadro dos protestos e opiniões veiculadas pela
mídia jornalística como forma de examinar a reação da rede, bem como medidas do governo
tomadas durante os acontecimentos.
2.2.1.1.3 Histórico da reação da rede e medidas governamentais pelas lentes jornalísticas
Desde o anúncio da reorganização, alunos, pais e professores têm realizado
protestos em vários pontos do Estado. Argumentam que a medida tem a finalidade única de
cortar gastos e acreditam que haveria superlotação das salas de aula, além de alegarem a
ausência de diálogo durante o processo.
Angela Maria Martins, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, afirmou em 23
de setembro de 2015 ao jornal O Estado de S. Paulo que a proposta era positiva, pois a divisão
de alunos por faixa etária poderia reduzir conflitos internos e também ajudar a desenvolver
políticas específicas para cada idade. Contudo, ponderou que deveria ser feito com cautela,
uma vez que “Famílias podem ser prejudicadas. No Ensino Médio é perigoso, porque o Aluno
que já está desestimulado pode abandonar” (O Estado de S. Paulo, 23/09/2015).
Enquanto que, no dia seguinte ao anúncio da reorganização, Maria Izabel
Noronha, presidente da Apeoesp, sindicato dos professores da rede pública de São Paulo,
prevendo o descontentamento das comunidades escolares, declarou que a reorganização das
escolas estaduais por ciclos de ensino viraria uma bagunça:
“Se hoje os professores vão a duas, três escolas para dar aulas, com essa
reestruturação vai ficar mais fragmentado ainda, vão a muito mais”, disse
Noronha, referindo-se a professores que dão aulas em diferentes séries.
(Folha de S. Paulo, 23/09/2015)
Nessa mesma data, o G1 publicou que os pais que tinham mais de um filho na
rede estadual estavam preocupados com as mudanças, principalmente com a questão do
transporte. Esse mesmo portal, no dia 06 de outubro de 2015, afirmava que os alunos de duas
unidades já sabiam que suas escolas seriam fechadas, e que o Governo garantia, na fala de
Sandoval Cavalcante, dirigente regional de ensino, “nenhum aluno ficará sem vaga” (G1,
06/10/2015). O representante da Secretaria Estadual de Educação ressaltou também que
nenhum espaço escolar seria inutilizado. Fala essa que já dava indícios de que havia intenção
de fechar escolas e disponibilizar prédios. A partir de então, foram timidamente se iniciando
119
os protestos e, no mesmo dia, a Agência Brasil já dizia que a comunidade de algumas escolas
começava a se mobilizar.
No dia seguinte, 07 de outubro de 2015, os boatos de fechamento das escolas já se
espalhavam e a Folha de S. Paulo publicava os primeiros artigos sobre os manifestos de
estudantes, que foram às ruas por todo o estado. Concomitantemente, a Rede Brasil Atual
noticiava que várias escolas da Grande SP protestavam, pois a decisão do governo era
reprovada por elas.
A Apeoesp afirma que 86 escolas no Estado já foram avisadas sobre o
fechamento. "A nossa estimativa é que 1.200 escolas serão fechadas", afirma
Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente do sindicato. [...] A Secretaria da
Educação não descarta que "pode haver disponibilização de prédios". (Folha
de S. Paulo, 07/10/2015)
Em 08 de outubro de 2015, o jornal Diário do Grande ABC e o portal G1
divulgaram que novamente os estudantes foram às ruas e que, em dois dias, já haviam
ocorrido no mínimo 43 manifestações, principalmente na Avenida Paulista. Também a
Apeoesp afirmava ter realizado um levantamento e constatado que 155 escolas seriam
fechadas.
"Estamos falando de pessoas e não de máquinas”, reforça.
Para Maria Izabel Noronha, “o aluno tem afetividade com a escola e com o
bairro”. Segundo ela, a mudança quebra o vínculo e tem um impacto na vida
do aluno e na sociabilidade. (G1, 08/10/2015)
O prefeito de Votuporanga (SP) declarou ao jornal A Cidade, no dia 09 de outubro
de 2015, que “está do lado dos alunos” após passeata na cidade, enquanto que a Rede Brasil
anunciou que a Apeoesp convocava professores, pais e alunos contra projeto de Alckmin de
fechar escolas. E o jornal O Estado de S. Paulo publicava um histórico dos últimos dias desde
que a Avenida Paulista fora fechada em protesto contra a reorganização, passando pelo
manifesto no Campo Grande, bairro da Zona Sul da cidade de São Paulo. Notícia essa
complementada pela informação da Folha de S. Paulo dando conta de que alunos, mais uma
vez, interditavam a Paulista. E, concomitantemente, o site UOL Educação divulgava uma lista
com os nomes das possíveis escolas que seriam encerradas, por meio de levantamento da
Apeoesp.
120
A Apeoesp (sindicato dos professores) fez um levantamento das escolas da
rede estadual que receberam um aviso e podem fechar por causa da
reorganização promovida pela Secretaria da Educação de SP. A informação
foi colhida nas subsedes do sindicato. A pasta, porém, nega a informação.
(UOL Educação, 09/10/2015)
As manifestações continuaram ocorrendo e, no dia 10 de outubro de 2015, o jornal
O Estado de S. Paulo publicou que o medo do fechamento provocava uma onda de protestos,
que já estavam ocorrendo em 13 cidades do Estado de São Paulo. Quatro dias depois, os
jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo e o portal G1 divulgaram que a Defensoria
Pública solicitara explicações sobre como seria o plano de reorganização “após o Núcleo
Especializado de Infância e Juventude ter sido procurado por alunos, pais e profissionais,
preocupados com eventuais prejuízos educacionais que as mudanças possam causar” (G1,
14/10/2015). Esse mesmo portal anunciou que as Diretorias de Ensino teriam até o dia 23 de
outubro para validar quais escolas da rede estadual passariam pela reorganização, para,
posteriormente, os alunos e comunidade serem comunicados oficialmente. Enquanto que a
Folha declarava haver certo “mistério” acerca do fechamento das escolas, daí tantas
manifestações. Assim, em 15 de outubro de 2015, Dia dos Professores, a Folha de S. Paulo
informava que o Governador de São Paulo acabara por desistir de participar de eventos após
protestos em São José dos Campos - SP, quando professores e alunos ocuparam o auditório da
Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), onde ocorreria uma de suas participações.
No dia 20 de outubro de 2015 ainda ocorriam manifestações e a Agência Brasil
publicava que mais ou menos 10 mil pessoas participaram de ato, ainda segundo a Apeoesp,
quando o mesmo sindicato declarou que o número de escolas encerradas poderia chegar a
162. Assim como o site Estadão.com no dia 21 anunciava novo protesto na Praça da
República, onde fica a SEE/SP, com fechamento da Avenida São Luiz, Centro da cidade de
São Paulo. No dia 23 novo protesto foi publicado pela Agência Brasil, realizado por alunos da
Grande SP e apoiado pelo MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.
Após protestos quase que diários, a Folha de S. Paulo, em 27 de outubro de 2015,
afirmava que o Governador divulgara que faria uma mudança menos audaciosa para o ano de
2016. Contudo, no dia seguinte (28), o jornal O Estado de S. Paulo publicou que, de cada
quatro escolas da rede estadual, uma seria fechada. Também no dia 29 houve manifestação no
vão livre do MASP, com ato intitulado “Grito pela Educação Pública de Qualidade”.
No dia 30 de outubro de 2015, o Governador confirmou que seriam encerradas 94
escolas, quando divulgou lista, publicada por vários jornais, inclusive O Estado de S. Paulo e
Agência Brasil. O primeiro ainda acrescentava que 30 dessas escolas tiveram desempenho
121
acima da média estadual e que 15 já possuíam apenas um ciclo. Questionava, assim, duas
justificativas para a reorganização: melhorar a qualidade e fazer com que as escolas
agrupassem alunos da mesma faixa etária. O segundo jornal citado falava sobre mais uma
manifestação no MASP - Museu de Arte de São Paulo com a participação de 20 mil pessoas.
Porém, contrariando as expectativas da população, o governo de São Paulo divulgou que
manteria a reorganização, o que virou notícia no dia 05 de novembro de 2015 nos jornais
Folha de S. Paulo e Rede Brasil Atual. Afirmava-se ainda que a população rejeitava a
proposta de reorganização e o governo tucano tinha a maior rejeição.
E no dia 10 de novembro de 2015 teve início outra forma de protesto contra a
reorganização, assim noticiada:
[...] Ao menos cem alunos da escola estadual Fernão Dias Paes, em
Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, entraram e se trancaram no local na
manhã desta terça-feira (10). A ação ocorreu em protesto contra o
fechamento de unidades para a reorganização da rede pública anunciada pelo
governo Geraldo Alckmin (PSDB). (Folha de S. Paulo, 10/11/2015)
Fato esse noticiado no dia 11 por vários jornais, entre eles a Folha de S. Paulo e O
Estado de S. Paulo. Daí em diante, só foi aumentando o número de escolas ocupadas em
protesto. Já no dia 12 a Folha de S. Paulo e a BBC Brasil registravam que mais quatro escolas,
inclusive uma que seria fechada, haviam sido ocupadas na cidade de São Paulo.
As palavras de ordem que ecoavam em frente à escola estadual Fernão Dias
Paes, em São Paulo, na quarta-feira, lembrariam as de um protesto qualquer
– não fosse o tom agudo das vozes. "Sou estudante / Não sou ladrão / Não
vim para a escola / Para sair de camburão!" São crianças e adolescentes, na
maioria entre 12 e 16 anos, os inusitados protagonistas do mais barulhento
protesto contra o programa de fechamento de escolas e transferências de
alunos do governo estadual. Seguidos pelo olhar atento de mães
preocupadas, muitos participam pela primeira vez de um ato político –
articulado integralmente, segundo os próprios, pelo Facebook. [...] Na falta
de consenso entre as duas partes, os adolescentes decidiram "intervir
pessoalmente". "O governo tem que escutar nossa opinião", diz à BBC Brasil
o estudante Rafael*, de 16 anos, no momento em que deixava o colégio,
onde havia passado a noite. "Saí porque tenho que voltar para casa",
continua o jovem de aparelho nos dentes. "(Meus pais) estão bem
preocupados, estão bravos já." Apoiados por movimentos sociais como o
MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), os estudantes dizem agir
de maneira independente, sem interferência externa. "Este aqui é um protesto
de secundaristas", reiteravam os adolescentes. (BBC Brasil, 12/11/2015)
Fato esse presenciado pela pesquisadora, autora deste texto, em sua região. Em
episódio semelhante, um grupo de alunos deixou a escola ocupada para fazer passeata e,
122
quando um líder político da região e de um movimento tentou pegar o microfone para falar,
lhe foi negado. O aluno perguntou se ele era estudante, porque ali só quem falava eram os
estudantes.
Ainda no dia 12 a Rede Brasil tornou pública a indignação do deputado Carlos
Giannazi, após audiência pública por ele convocada, que chamou o governador de covarde,
pois não tinha precedência o que ele estava fazendo com os alunos nas escolas ocupadas:
[...] disse a jornalistas ter ficado “chocado” com a força policial mobilizada
por Alckmin contra adolescentes que nada mais querem do que ficar em suas
escolas ou ter o direito de uma educação digna. “Fiquei chocado ontem, na
escola Fernão Dias (Pinheiros, zona oeste da capital) com o aparato policial.
O governo usou a Força Tática, Tropa de Choque, mais de 200 policiais,
todo o aparato repressivo do estado mobilizado contra 30 adolescentes que
estão simplesmente lutando pela manutenção das vagas”, disse o
parlamentar. “É um absurdo como o governador é covarde. Isso é sem
precedentes e de uma covardia jamais vista aqui no estado.”
No dia 13 os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo e o portal G1
publicaram que as ocupações continuavam aumentando e os alunos, resistindo, inclusive com
a adesão de vários pais, que se mostram preocupados. Os meninos estavam aguardando
audiência pública após a liminar de reintegração concedida ao Governo do Estado. Este, por
sua vez, solicitou reunião de conciliação, porém os alunos tinham medo de não poderem
voltar para as ocupações.
Assim, no dia 16 a Agência Brasil publicou que a justiça suspendera a
reintegração solicitada pelo governo de São Paulo e a Folha de S. Paulo, que haviam 14
escolas ocupadas na Grande SP. Nesse dia, o Portal Aprendiz e a Agência Brasil divulgaram
que havia 25 no total. O primeiro dizia que esses jovens têm dado aula de democracia e o
segundo, que o MTST criticava o governo e apoiava estudantes ocupando escolas.
O Estado de São Paulo, no dia 17, noticiou que 20 escolas estavam ocupadas, até
aquele momento. E, com as transferências automáticas, alunos do 6º ano do Ensino
Fundamental seriam obrigados a estudar em escola no meio da Cracolândia, no centro da
cidade de São Paulo. Enquanto que a Folha de São Paulo chamava as ocupações de invasões e
dizia que o número de colégios “invadidos” já chegava a 25. No mesmo dia a Agência Brasil
afirmava que eram 30 escolas ocupadas e que a Secretaria garantia que haveria reposição e o
conteúdo pedagógico seria aplicado.
No dia 18 de novembro, o jornal O Estado de S. Paulo também chamou o ocorrido
de “invasão” quando destacou que mesmo escolas que não constavam do plano foram
123
“invadidas”. E voltou a falar que o número total até aquele momento era de 35 unidades
estaduais “invadidas”. Continuou assim até tratar da rotina dos meninos ativistas, ora
chamando de ocupação, ora de invasão:
[...] Ocupação. A rotina nas ocupações é de atividades constantes. Na
Saboia de Medeiros, os estudantes passaram a fazer competições esportivas
na quadra, jogar tênis de mesa, realizar sessões noturnas de cinema, jogar
videogame e fazer aulas abertas. Uma “agenda cultural” da ocupação afixada
na parede tem atividades programas até sexta-feira. Os próprios Alunos que
invadiram a Escola são os responsáveis por fazer a limpeza das
dependências do colégio e da cozinha – a entrada de funcionários é
controlada por eles. A comida usada tem sido a da cantina da unidade, que
havia sido abastecida no mesmo dia da ocupação. Já as salas de aula são
usadas como dormitórios dos estudantes, separados em masculino e
feminino. (O Estado de S. Paulo, 18/11/2015)
Já eram 74 escolas ocupadas no dia 23 de novembro, isso porque cinco haviam
sido desocupadas, transmitiu o portal G1, que noticiava ainda a suspensão das reintegrações
até seu julgamento. Já a Folha de S. Paulo fez uma reportagem sobre a participação de uma
“espécie de núcleo do movimento estudantil” em um domingo aberto à comunidade em uma
das escolas ocupadas, no bairro de Pinheiros, contando com shows de artistas como Chico
César.
No dia 24 chegava a 114 o número ocupações, uma vez que o movimento se
alastrava pelo interior do Estado, publicou a Rede Brasil Atual. Enquanto que o jornal El País
noticiava que os manifestantes estavam se preparando para boicotar a avaliação externa do
SARESP - Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo e que
novamente a justiça não foi a favor das reintegrações. Assim, em 24 de novembro as escolas
ocupadas realmente não participaram do SARESP e, enquanto isso, as ocupações
continuavam crescendo. Essas foram as notícias veiculadas pelo G1 e pela Agência Brasil.
Prova de avaliação. Enquanto a reintegração de posse é discutida no tribunal,
nas escolas os alunos se mobilizam para boicotar o Sistema de Avaliação de
Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), num novo elemento
da crise. A prova, aplicada anualmente, será realizada nesta terça e quarta-
feira, em todas as escolas do Estado, para alunos dos 3º, 5º, 7º e 9º anos do
Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio. No total, 1, 2 milhão de alunos
devem realizar o exame. Nesta segunda, a secretaria de Educação informou
que decidiu cancelar a aplicação do exame nas escolas ocupadas, como
publicado por este jornal na quinta-feira da semana passada. (El País,
23/11/2015)
124
A BBC Brasil, ainda no dia 24, mostrou que os alunos das escolas ocupadas
estavam estudando e reproduzindo uma cartilha elaborada em 2012 por estudantes que
protestavam contra a reorganização de escolas técnicas da Argentina. Esse documento,
traduzido pelo coletivo de estudantes secundaristas, trazia sugestões para ocupações de novas
escolas. Segundo o jornal, um aluno entrevistado disse que a cartilha foi distribuída em
manifestações de outubro de 2015 e que “não existe fórmula secreta nem perfeita para ocupar
um colégio. Simplesmente é necessário seguir alguns princípios básicos, ter clareza sobre
como se organizar e ajeitar o que foi planejado” (BBC Brasil, 24/11/2015).
O governo anunciou o fim do prazo para que os alunos e as famílias das escolas
que passariam pela reorganização pudessem solicitar transferência para outras escolas, desde
que houvesse vagas, publicaram o G1 e O Globo (RJ) no dia 25, em meio ao aumento das
ocupações, que passavam das 150, segundo a SSE/SP. Diferentemente do que anunciavam os
manifestantes, que diziam que já eram 171 escolas. Também o Estadão.com afirmava que os
grupos se mobilizavam contra o SARESP, que estava sendo aplicado nas escolas não
ocupadas. O G1 ainda noticiou no dia 27 que foi criado, pela ONG Minha Sampa, um sistema
para notificar ocorrências nas escolas ocupadas, por meio de um cadastro, que foi batizado
pelos como “De Guarda Pelas Escolas”, o qual até aquele momento já contava com 1.700
cadastros.
Em 30 de novembro de 2015, O Estado de S. Paulo noticiava que o governo
oficializaria, no dia seguinte, a reorganização do ensino paulista, mesmo tendo prometido que
abriria o diálogo. No mesmo dia a Agência Brasil disse que os alunos queriam abonar os dias
letivos por meio de aulas voluntárias. Segundo a Folha de S. Paulo do dia 1º de dezembro de
2015, durante todo o tempo de ocupação os alunos zelaram pelo patrimônio, dormindo,
limpando e cozinhando na escola.
Contudo, após publicação do decreto que oficializou a reorganização, os alunos
também saíram às ruas, fechando as avenidas Rebouças e Faria Lima, publicou O Globo (RJ).
Assim, percebe-se que os manifestantes iniciaram com passeatas, passaram para ocupações e,
depois, optaram por realizar as duas ações. Segundo apontava aquele jornal, os organizadores
dos protestos diziam que eram 204 escolas ocupadas, embora o governo falasse em 190. O
Decreto, de acordo com a Agência Brasil, autorizaria, como citado anteriormente, a
transferência de professores das escolas que seriam reorganizadas a partir de 2016. O mesmo
jornal também ressaltava mais uma manifestação com os alunos fechando as avenidas,
sentados em cadeiras e carteiras escolares.
125
O Estadão.com noticiou a Virada Cultural, no dia 02 de dezembro, nas escolas
ocupadas, que contaram com a presença de Maria Gadú, Paulo Miklos e Criollo, atividade
realizada como forma de demonstrar apoio ao movimento. Os estudantes também ocuparam
duas ETECs - Escolas Técnicas Estaduais, na cidade de São Paulo, publicou O Estado de S.
Paulo, que também trouxe notícia sobre a detenção de estudantes em conflito com a PM
durante a manifestação. Já a Folha de S. Paulo nesse dia tratou sobre a solicitação do
Ministério Público para encerrar a reorganização, por entender que ela visa economia de
recursos, e não a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.
O jornal El País publicou, em 03 de dezembro, matéria intitulada “Repressão de
Alckmin inaugura a nova fase da reorganização escolar”, quando a PM invadiu as escolas
ocupadas e reprimiu os bloqueios nas vias, deixando alunos machucados. “A ação da PM
pode ser um tiro no pé para o Governo.” (El País, 03/12/2015) No dia seguinte, 04 de
dezembro, a Folha de S. Paulo falava sobre a prisão de manifestantes. Enquanto que O Estado
de S. Paulo publicava que o Governo do Estado admitira a redução de custos em documento
enviado ao Ministério Público. E o portal Carta Educação (Carta Capital), finalmente,
publicava que o Governo dava sinais de recuo e falava em adiar a reorganização escolar, isso
após cenas de adolescentes agredidos, queda de popularidade e posicionamento das
instituições de ensino universitário:
[...] faculdades de Educação da Universidade de São Paulo (USP),
Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de São Paulo
(Unifesp), já haviam se posicionado a favor das ocupações, assim como
instituições como Cenpec, Campanha Nacional pelo Direito à Educação e
Todos Pela Educação. (Carta Capital, 04/12/2015)
E, dessa forma, o G1 publica, no dia 06 de dezembro de 2015, que o Decreto de
transferência de funcionários foi revogado em 05 de dezembro de 2015. No entanto, apesar de
algumas escolas anunciarem a desocupação e considerarem a revogação uma vitória, como
publicou O Estado de S. Paulo no dia 07, muitos manifestantes ainda não decidiram por sair
das escolas. Estes resolveram manter protestos após o recuo, fala a Folha de S. Paulo no dia
08, pois queriam outras reivindicações atendidas, como a punição dos policiais militares que
tiveram postura truculenta durante manifestações e o cancelamento da reorganização, não só o
adiamento.
126
2.2.1.1.4 Opinião e análise de especialistas
As educadoras Rose Neubauer e Sonia M. Portella Kruppa disseram à Folha de S.
Paulo (17/10/2015) que é correta a decisão do governo de São Paulo de separar alunos por
ciclo escolar, uma vez que “estudos e pesquisas sobre desenvolvimento e cognição de
crianças e jovens mostram que eles têm padrões de aprendizagem diferenciados e requerem
espaços e situações de aprendizagem diversos”, e isso ficaria mais viável ao se organizar a
escola por faixa etária, favorecendo a adaptação dos espaços, estratégias e materiais. Segundo
as educadoras, o modelo da maioria das escolas “desconsidera suas diferenças biológicas,
cognitivas e psicológicas. Isso compromete a existência de ambientes de aprendizagem
adequados, dificulta a atuação da equipe pedagógica e impede a melhoria da qualidade do
ensino” (Folha de S. Paulo, 17/10/2015).
Nessa mesma linha de pensamento, José de Souza Martins (O Estado de S. Paulo,
19/10/2015) afirma que a pedagogia que preconiza a reunião de alunos de diferentes níveis
numa única escola é discutível, quando se trata das contradições apontadas na organização de
escolas homogêneas. No entanto, com a queda do número de crianças em idade escolar, como
anunciado pelo então secretário da educação, passou a existir uma significativa capacidade
ociosa “que consome recursos públicos que seriam melhor e mais eficazmente empregados se
utilizados de modo racional e calculado”, de forma a permitir aumentar a quantidade de
escolas com cursos especializados para cada segmento.
Segundo o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Munhoz Alavarse
(Diário do Grande ABC, 08/10/2015), a reorganização é proposta aplicável, mas não é
solução definitiva, pois escolas da rede estadual possuem problemas que deveriam ser
solucionados sem que se precisasse desse tipo de reforma. Os boatos, inicialmente, ocorreram
por conta da falta de informações. O especialista em educação da Ação Educativa Roberto
Catelli Junior concorda sobre a falta de diálogo com a comunidade (O Estado de S. Paulo,
10/10/2015), assim como a Professora Lisete Arelaro, da Faculdade de Educação da
Universidade de São Paulo - USP (O Estado de S. Paulo, 28/10/2015), que criticou o plano,
dizendo ser um equívoco completo e sem discussão, ao afirmar que nenhum professor das
universidades participou da consulta.
De acordo com a Coordenadora-geral do Todos Pela Educação, Alejandra Velasco
(Rede Brasil, 19/10/2015), para a aplicação das mudanças não faltou diálogo apenas com a
127
população, mas também com as prefeituras. E, de tudo, foi a principal causa do fracasso da
reorganização.
Já a professora de História Cibele de Camargo Lima, da coordenação da Rede
Emancipa, movimento social que atua em educação popular, disse à Rede Brasil (09/10/2015)
que o governo foi surpreendido pela
[...] reação principalmente dos estudantes contra um pacote iniciado há 20
anos, na gestão Mário Covas, que fechou mais de 100 escolas, que aos
poucos foi acabando com o ensino médio noturno em muitas delas, que
levou a turmas superlotadas, com mais de 60 alunos, com falta de
professores. (Rede Brasil, 09/10/2015)
Assim, conforme observa Guilherme Boulos (Folha de S. Paulo, 22/10/2015), esse
é um governo que fecha escolas. Assim, considerando ainda a possibilidade de demissão de
professores, ficam mais claros os verdadeiros motivos da reorganização, sobretudo a
contenção de custos. Pois quem quer melhoria de qualidade da educação não usa dessas
estratégias. “Como alguém diz uma coisa dessas – aliás, um secretário de Estado – sem corar
de vergonha? Como se pode chamar isso pelo eufemismo de reorganização?”
Em 1995, Rose Neubauer era secretária de educação no governo Covas e fechou
mais de 150 escolas, com milhares de professores demitidos, quando realizou outra
reorganização. Se o argumento utilizado é sempre pedagógico, qual seria a relação com o
fechamento de escolas?
É a versão paulista e tucana do ajuste fiscal que tem sido conduzido por
Dilma e Levy no governo federal. Adequação a "necessidades pedagógicas"
e à "ociosidade da rede" são apenas o blá-blá-blá necessário para encobrir
uma política antipopular de ajuste. Cai no embuste quem quer. (Folha de S.
Paulo, 22/10/2015)
Nessa direção também fala Thiago de Paula Rocha19
(Diário do Grande ABC,
22/10/2015): “Seja como for, fechar escolas, no contexto atual, é equívoco imperdoável.”
Afirma o autor que o governo agiu de forma errônea ao não ser transparente e que a educação
deve ser vista de forma mais ampla, no que se refere a assumir o Plano Nacional de Educação,
acerca do alinhamento entre os entes federativos. Para ele, não haveria espaços ociosos se a
reorganização começasse por reduzir o número de alunos por turma e houvesse a
19
Thiago Rocha de Paula é bacharel e licenciado em História pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)
e ex-aluno da Escola Estadual Professor Oscavo de Paula e Silva.
128
disponibilização de insumos de qualidade. Também é necessária a participação da sociedade
na tomada de decisões para que haja mudanças educacionais significativas.
O jornal El País (16/10/2015) afirma que “mexer com direitos básicos, como
educação, tem um peso grande num país que ainda cobra pela melhoria da qualidade para sair
das piores estatísticas do mundo”. E, segundo Daniel Cara20
(El País, 16/10/2015), assim
como observado anteriormente por outros especialistas, faltou diálogo, sendo que, quando as
decisões são tomadas de forma vertical, a tendência da comunidade é de reagir. Para ele, as
justificativas apontadas pelo governo para a reorganização são superficiais “do ponto de vista
pedagógico”, uma vez que as melhores escolas abrangem diversidades. Por isso, também
critica o fechamento de escolas, pois, havendo ociosidade, as medidas deveriam ser no sentido
da educação integral: “O conjunto da história do país não tem sido de ampliação do direito à
educação, e do nosso ponto de vista, é inaceitável o fechamento de escolas.” (El País,
16/10/2015)
João Cardoso Palma Filho, professor da UNESP e integrante do Conselho
Estadual de Educação (El País, 16/10/2015), é outro acadêmico que fala sobre a falta de
diálogo e afirma que a comunidade escolar (alunos, professores, diretores, supervisores e até
dirigentes) “foi pega de surpresa”. Sobre a justificativa de que o ciclo único é positiva para o
desempenho dos alunos, Palma ressalta não haver comprovação de que “a unificação do ciclo
é benéfica” e que o argumento se baseia em alguns bons resultados da medida obtidos após a
municipalização de parte do ensino nos anos 90.
Muitas escolas de ciclo único apresentaram bons resultados, mas essa
separação não é garantia de bom desempenho da escola, lembrando que a
secretaria estadual investiu pesadamente nisso, mas que em muitos casos o
resultado foi péssimo, principalmente no ensino médio. (El País,
16/10/2015)
Para Ocimar Alavarse (O Estado de S. Paulo, 16/10/2015), da Faculdade de
Educação da Universidade de São Paulo - USP, não foi levada em consideração a quantidade
de estudantes em cada escola e, principalmente, o índice socioeconômico.
Em Educação não há uma variável que explique tudo. Tudo indica que são
outros interesses. Uma racionalização no sentido de se ter menos
Professores. Estão fechando Escolas acima da média, que têm só um ciclo. A
proposição da secretaria é muito frágil. (El País, 16/10/2015)
20
Cientista social e coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.
129
Para o prof. Luiz Carlos de Freitas, da Unicamp, a escola apresentar bons índices,
ou o contrário, apenas por ter um ciclo não se sustenta, uma vez que o fenômeno educativo é
multivariado e não se explica por uma única variável. Então a melhora se deve a uma série de
fatores não apresentados, fatores esses que escolas com mais ciclos também poderiam ter e,
com isso, poderiam também obter sucesso em seus índices. (O Estado de S. Paulo,
08/12/2015)
Professores da Unicamp (Agência Brasil, 26/10/2015), em moção de apoio aos
alunos, afirmaram que há tempos o ensino público vem sofrendo com cortes de vagas, fato
esse que favoreceria a privatização da rede. De acordo com eles, a reorganização prepara “a
estrutura adequada para intensificar o processo de municipalização também do ciclo II do
Ensino fundamental”. Para Luiz Carlos de Freitas, a isso se soma um projeto de privatização
da educação pública já em andamento em alguns estados brasileiros.
Alvarse (Agência Brasil, 26/10/2015) disse que as justificativas expostas pelo
governo se baseavam em um estudo muito simples, observando que a mobilização dos alunos
é positiva do ponto de vista pessoal, pois a experiência é educativa e enriquecedora. Na
opinião da antropóloga Alba Zaluar (Uol, 26/10/2015) , a ocupação de mais de 150 escolas
pode modificar a estrutura da educação pública no país e fazer com que o ensino avance não
só em São Paulo. “Eu acho a ocupação uma coisa linda, maravilhosa. Isso pode, enfim,
modificar a divisão que há entre o que é instituição do Estado e o que faz parte do cotidiano
das pessoas. A escola é a mistura dos dois.” (Uol, 26/10/2015)
Em entrevista ao site IG (30/11/2015), o pesquisador da USP Carlos Giovinazzo
Junior21
defendeu a ocupação de escolas paulistas, afirmando que “A capacidade de
organização dos jovens sempre foi menosprezada ou desqualificada, mesmo nos momentos de
tensão social mais aguda. O que as ocupações das escolas estaduais mostra é que o adulto não
tem mais controle sobre o jovem”, pois eles são os protagonistas, e mais, lutam por um direito
que pertence a eles diretamente.
Paulo Miklos disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (02/12/2015),
que os alunos o inspiraram, que o governo não soube “reagir democraticamente às demandas
legítimas dos jovens” e que, num governo democrático, não há como se tomar decisão sem a
participação da sociedade.
21
Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação: História, Política, Sociedade da PUC
São Paulo.
130
A principal lição que tiramos desse movimento é que são os próprios alunos
dizendo para todos nós que é possível participar e nem tudo depende dos
governos e políticos, o cidadão tem o poder de mudar o rumo das coisas [...]
Como músico, quero que a minha guitarra seja mais do que instrumento
musical. Seja instrumento de mudança. (O Estado de S. Paulo, 02/12/2015)
Para Maria Alice Setubal22
(Folha de S. Paulo, 06/12/2015), “contrariando o senso
comum, os jovens não estão apáticos e alheios ao que passa”, já que, bem ou mal, a maioria
conclui o Ensino Médio, pois sabem ser pressuposto para melhores trabalhos ou ingresso no
ensino superior. Entendem, sim, que pode ser um espaço de elaboração de conhecimento,
favorecendo a emancipação cidadã e ampliação de oportunidades, e ainda um ponto de
encontro.
É preciso escutá-los. As ocupações, assim como as manifestações de junho,
são emblemáticas para essa discussão, pois apresentaram diversos elementos
que se configuraram em ação direta, como o uso das tecnologias e a
ocupação dos espaços públicos. (Folha de S. Paulo, 06/12/2015)
Para Setubal, as ocupações são formas de participação e de cidadania que podem e
devem ser ampliadas “frente aos desafios da contemporaneidade, cuja essência é a afirmação
do sujeito que deseja escrever sua própria história”.
Guilherme Perez Cabral observa que o governo é contraditório quando se diz
disposto a conversar, mas não mudaria uma decisão já tomada, de modo a atribuir-se a
propriedade técnica do ponto de vista certo, ignorando o significado político-educacional das
ocupações. Cabral fala sobre a importância da participação política para o processo educativo
e enfatiza que, de acordo com Paulo Freire, não se pode associar a participação democrática
dos estudantes com perda de rigor científico. Pelo contrário, a mobilização traz uma formação
em que os meninos se tornam sujeitos do processo de aprendizagem.
Como é míope a visão de que a escola tem de ser "pacífica", silenciosa,
obediente (a "paz sem voz"). Diz Gadotti, só a instituição de ensino
autoritária é assim. Escola é lugar de conflito, de debate de ideias, confronto
de opiniões, participação, princípios que se aplicam à escola e à vida
democrática, como um todo. No momento em que o aluno começa a falar, a
praticar a democracia, de modo mais efetivo, os mecanismos autoritários
aparecem. (Uol Educação, 07/12/2015)
22
Maria Alice Setubal, a Neca, doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP, é presidente dos conselhos do
Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária - Cenpec e da Fundação Tide Setubal.
Foi assessora de Marina Silva, candidata à Presidência em 2014.
131
Para ele, apesar da fala articulada diante das câmeras, não esconde seu
autoritarismo, a relutância à democracia participativa, quando não valoriza a educação
mobilizadora e transformadora. “Democratize-se, governador. Converse mais. Leia mais
Paulo Freire e companhia. Nada é imune ao diálogo, nem sua reorganização. Tudo isso pode
ser um grande aprendizado.”
Diante do exposto, podemos verificar que os especialistas, por meio da imprensa
jornalística, revelam opiniões desde a concordância com algumas justificativas do governo
para promover a reorganização da rede estadual de ensino público até a divergência total. Os
que concordam, em partes se apoiam nas questões dos níveis de aprendizagem diferenciados e
sua organização específica e da ociosidade de espaços públicos. No entanto, a maioria preza
uma escola cidadã – e é nessa concepção que esta tese se baseia –, acreditando que os alunos
precisam de uma formação dialógica e crítica que os leve à reflexão e conscientização de sua
real situação dentro uma sociedade que se diz democrática. Reflexão essa que os impulsione à
busca de conquistas que lhes são de direito, por meio da participação e tomada de decisões
dentro da sociedade civil e dentro da esfera pública.
Segundo o jornal El País, a frase do governador “Não é razoável obstrução de via
pública” e a fala afirmando que o movimento era político foram amplificadas pela imprensa,
em títulos de jornais e chamadas nas rádios, TV e internet, com o objetivo de acusar o
movimento dos estudantes que ocupavam as escolas de criminoso, como se o direito de quem
quisesse passar sem ouvir seus protestos tivesse mais valor que o direito de se expressar, de se
fazer ouvir, de ter direitos a uma educação de qualidade. Para o referido jornal,
[...] é óbvio que o movimento é político, a melhor qualidade do movimento é
justamente a de que é político. É pelo exercício da política que se alcançou o
que de melhor existe na experiência humana. E não pela força, pela
imposição, pelo extermínio do diálogo e das ideias e, vezes demais, das
pessoas que discordam. (El País, 07/12/2015)
Para os especialistas, os jovens e adolescentes mostraram ao país o que é política
em sua essência. Quando não concordaram, organizaram-se, ocuparam as escolas, cuidando
do espaço que lhes pertencia e ao qual eles pertenciam, apesar da repressão física e
psicológica. Entretanto, assim como nas manifestações de junho de 2013, uma parcela da
imprensa, ainda permeada pela censura dos tempos ditatoriais, tentou transformar os
adolescentes em vândalos ou criminosos ao noticiar os fatos usando termos como invasão,
132
confronto e interrupção do direito de ir e vir. Foram eles monitorados, reprimidos e até
agredidos pela polícia quando tentaram dispor de seus direitos enquanto cidadãos.
No entanto, essa tentativa não teve sucesso para a maioria da opinião pública,
exceto para aqueles adeptos de concepções individualistas, demonstrando que a escola pública
tem o seu devido valor. Essas meninas e meninos deram uma aula à sociedade e aos governos,
diferentemente dos que fingem educar, mostrando que são capazes de aprender com o outro
de forma coletiva, participativa e cidadã, provando que
[...] se a moldura do espaço público for a democracia, há lugar para as
diferenças, há lugar para o outro. Aqueles que muitos acreditavam “sem
futuro”, porque sem presente, ensinaram aos adultos que a política é o
exercício de estar com o outro no espaço público. (El País, 07/12/2015)
Assim como nas manifestações de junho de 2013, os protestos e ocupações deram
voz a estudantes não satisfeitos com o sistema escolar público e despertaram aqueles que
tentavam fechar os olhos aos problemas da educação do país, fazendo cada um refletir sobre
qual escola e qual educação que se quer para o Brasil.
Não se pretende com este texto criar um novo objeto de estudo, contudo, devido
ao teor da tese, entende-se que esse movimento tem relação com o verdadeiro objeto de
estudo, faz parte do cenário em que está inserido o sujeito da pesquisa, daí a importância do
tema.
2.2.2 Breve panorama do universo do Ensino Médio no Brasil
Abordar a questão do Ensino Médio no Brasil e as políticas públicas a ele
relacionadas se faz importante para esta pesquisa, uma vez que esse segmento apresenta
problemas desde a sua concepção e definição, sem, contudo, haver ações de fato capazes de
resolver os problemas enfrentados desde os seus primórdios. Entende-se que tratar desse
assunto na esfera federal é fundamental para o estudo que tem como universo de pesquisa os
jovens estudantes da escola pública do Estado de São Paulo, isso porque, como já destacado
anteriormente, vem enfrentando as mesmas dificuldades no que se refere à qualidade
educacional e fluxo. Outra justificativa seria a de ter sido citada a esfera estadual no item
anterior.
De acordo com a UNICEF Brasil (2014, p.6), o grupo de adolescentes de 15 a 17
anos é o que mais sofre no que tange à exclusão, pois
133
[...] mais de 1,7 milhão deles estão fora da escola, segundo dados da PNAD
2011. Entre os que estão matriculados, 35,2% (em torno de 3,1 milhões)
ainda frequentam o ensino fundamental. Além disso, 31,1% dos alunos que
cursam o ensino médio (cerca de 2,6 milhões) encontram-se em situação de
atraso escolar, de acordo com o Censo Escolar de 2012. (UNICEF BRASIL,
2014, p.6).
As mesmas autoras, em relatório para o UNICEF - Fundo das Nações Unidas para
a Infância, indicam que, apesar de ter havido uma melhoria no quesito universalização e
permanência, a qualidade do ensino e da aprendizagem no Ensino Médio “permanece, ainda
hoje, um dos principais desafios no campo das políticas educacionais” (UNICEF BRASIL,
2014, p.6).
Entre os fatores que ampliam a retenção dos alunos no Ensino Fundamental ou a
exclusão escolar na faixa etária apresentada estão: a maior idade, ou seja, alunos de 17 anos
estão mais excluídos ou continuam no Ensino Fundamental do que os de 16; o gênero, os
homens abandonam mais a escola no Ensino Médio ou nem chegam a iniciá-lo, por abandono
ou por estarem ainda no segmento anterior; em relação à raça, pois “os negros estão em
situação menos favorável que os brancos”; a questão da renda, os meninos e meninas de
famílias com renda per capta mais baixa estão mais fora das escolas ou ainda não alcançaram
o Ensino Médio; acerca da localização, os que habitam a zona rural tendem mais à retenção
ou ao abandono; o trabalho, com a entrada no mercado formal ou informal muitos
adolescentes não priorizam o estudo. (UNICEF BRASIL, 2014, p.12-35)
Entre os adolescentes de 15 a 17 anos que não estudam, mas já frequentaram
a escola em algum momento, 89.813 não conseguiram completar os anos
iniciais do ensino fundamental. Outros 124.641 completaram essa etapa, mas
não foram além. Os que completaram o ensino fundamental somam 857.179
– o maior contingente de adolescentes que hoje não estudam, mas já
frequentaram a escola. (UNICEF BRASIL, 2014, p.22)
Dos adolescentes de 15 a 17 anos que frequentavam a escola, 5.459.845
estavam cursando o ensino médio – a etapa da educação básica recomendada
para a faixa etária. Esse número corresponde a 61,6% do total. (p.28)
Outro dado alarmante apresentado pelo relatório é sobre o número de adolescentes
analfabetos nessa faixa etária:
[...] os dados da PNAD 2011 mostram ainda que o número de adolescentes
de 15 a 17 anos analfabetos é maior do que o da população da mesma faixa
etária que nunca frequentou a escola: 142.175 encontram-se nessa situação.
134
Esse número indica que muitos adolescentes, apesar de ter frequentado a
escola em algum momento, não conseguiram sequer concluir o processo de
alfabetização. (UNICEF BRASIL, 2014, p.22)
De acordo com as autoras, o PNAD 2011 mostrava que, entre os jovens de 15 a 17
anos que cursavam a escola, apenas 61,6% estavam no Ensino Médio, e dos jovens com 19
anos, apenas 48,7% o haviam concluído. E todos os dados apresentados anteriormente como
fatores de exclusão se repetem como condição de permanência ou tempo de estudo (atraso
escolar). (UNICEF BRASIL, 2014, p.35-38)
Do total de matriculados no ensino médio no país, apenas 65,2% têm a idade
adequada para essa etapa da educação básica – de 15 a 17 anos. Os 34,8%
restantes são jovens com idade acima de 18 anos, o que revela um grave
problema de atraso escolar. (UNICEF BRASIL, 2014, p.40)
Quanto à infraestrutura, as autoras destacam que, conforme o Censo Escolar de
2012, havia somente 27.164 estabelecimentos de Ensino Médio no Brasil, dos quais apenas
2.516 estavam em zonas rurais. O que torna muito clara a falta de investimento muito maior
nesses casos. (UNICEF BRASIL, 2014, p.41)
No que se refere à formação docente no Ensino Médio, os dados mostram que
“95,4% têm curso superior, sendo que 85,5% têm diploma de Licenciatura”, o que nesse caso
demonstra um avanço no cumprimento da LDB de 96, contudo apenas 53% lecionam em
disciplina de acordo com sua formação. No relatório também é afirmado que há uma demanda
reprimida à medida que alunos que não concluíram o Ensino Médio ou abandonaram os
estudos após o término do Ensino Fundamental estão voltando à escola, fato observado
mediante a comparação do número de matrículas no Ensino Médio e de concluintes do
Fundamental. (UNICEF BRASIL, 2014, p.43)
Segundo as autoras, os dados apresentados trazem consequências e impactos
sérios ao país. Assim, “para que o Brasil possa avançar em termos de desenvolvimento social
e econômico é necessário investir na oferta de um ensino médio de qualidade para todos os
adolescentes do país” (UNICEF Brasil, 2014, p.43). Um dos maiores problemas enfrentados
no Ensino Médio ainda reside na progressão, que muitas vezes fica emperrada quando esbarra
na questão da retenção, com consequências diretas acerca da distorção idade-série.
[...] reprovação é hoje um dos principais problemas da educação brasileira. E
isso decorre da visão, muito difundida no país, não só entre educadores mas
também entre as famílias, de que a repetência é um instrumento pedagógico
importante, necessário para o aprendizado. (UNICEF BRASIL, 2014, p.56)
135
O público atendido no Ensino Médio tem se revelado cada vez mais heterogêneo,
devido às exigências do mercado de trabalho, que fazem com que os jovens procurem ampliar
a escolarização, diminuindo, dessa forma, a idade dos concluintes ao longo dos anos, ainda
que as altas taxas de distorção idade-série continuem. Vem mudando o perfil do estudante,
antes basicamente jovens das classes média e alta com a finalidade de ingressar no Ensino
Superior. Agora, também jovens das camadas populares e com vistas à preparação para o
mercado de trabalho, entre outros motivos. Além disso,
[...] as famílias com baixa escolaridade tendem a apresentar maiores
dificuldades em compreender e lidar com a cultura escolar e suas regras, em
elaborar projetos educacionais que se concretizam na busca de melhores
escolas, na valorização e na aquisição de livros, em acompanhar a rotina
escolar dos filhos bem como valorizar as tarefas escolares, fatores que
podem contribuir para a produtividade escolar. (CANEDO, 2012, apud
UNICEF BRASIL, 2014, p.75)
Quanto aos alunos do noturno, o texto da UNICEF cita a pesquisa de Zibas e
Krawczk (2003, apud UNICEF BRASIL, 2014), que acreditam que esses jovens possuem
“menor poder aquisitivo e pouco tempo e interesse em estudar”, pois precisam trabalhar. Já
outros os veem como mais maduros e interessados. Contudo, o que fica explícito é que o
sustento da família não é o único motivo do trabalho, mas também a busca de “independência
econômica e de acesso ao consumo”.
Outro fator apontado como obstáculo à permanência dos alunos na escola é a
violência, sendo uma de suas formas o bullying.
Além disso, o uso de armas, a disseminação da utilização de drogas e a
expansão de gangues influenciam o ambiente escolar e fazem com que as
escolas deixem de ser áreas protegidas e se incorporem à violência cotidiana
do espaço urbano. Assim, a escola pode influenciar o comportamento
agressivo dos alunos de maneira positiva ou negativa. (UNICEF BRASIL,
2014, p.81)
A pesquisa aponta também como problema a organização ou reorganização
escolar, observando que nos primeiros anos escolares o aluno interage com poucos
professores e um menor número de disciplinas, havendo um acompanhamento docente mais
próximo. Já a partir do 6º ano o estudante passa a ter de lidar com um número maior de
professores e muitas disciplinas, sem uma referência do professor. E essa “realidade se torna
ainda mais complexa na passagem para o ensino médio, quando há, em média, 12 disciplinas
diferentes ao longo da semana” (UNICEF BRASIL, 2014, p.83). Tudo isso fica mais grave
136
quando a pesquisa constata que o maior motivo da evasão é a falta de interesse pela escola,
tornando evidente a “grande distância entre a expectativa dos adolescentes sobre a escola e a
realidade das escolas” (p.83).
Essa desvalorização tem acontecido pela deterioração das condições de
trabalho dos professores; de uma governança educacional cada vez mais
burocratizada e de uma gestão escolar cada vez mais tecnocrática e menos
pedagógica; pela ausência de reflexão e trabalho coletivo nos processos de
definição político-educativos; pela falta de uma unidade conceitual entre as
diferentes ações pedagógicas propostas nas várias instâncias
governamentais, entre outros fatores. (KRAWCZYK, 2003, apud UNICEF
BRASIL, 2014, p.85)
De acordo com UNICEF BRASIL (2014, p.105-108), o ensino obrigatório até o
ano de 1971 era apenas para as quatro primeiras séries dos anos escolares, quando a Lei
5692/71 impôs a obrigatoriedade do ensino dos 7 aos 14 anos. Mas foi em meados da década
de 90 que se iniciaram manifestações “pela democratização do acesso à educação”. Segundo
as autoras, um dos principais nortes das políticas era universalizar o Ensino Fundamental,
com os objetivos de melhorar o acesso e a permanência. Esse fato acabou por influenciar o
desejo de ampliação do Ensino Médio, bem como “a demanda por qualificação por parte do
mercado de trabalho também contribuiu para atrair alunos para essa etapa da educação”.
Contudo, somente a partir da LDB de 1996 o Ensino Médio foi reconhecido como um
segmento da Educação Básica, todavia, só depois de dez anos passaria a fazer parte das
perspectivas das políticas públicas.
A LDB já preconizava a extensão progressiva da escola básica até o nível
médio. Mas foi somente a partir de 2007, quando entrou em vigor o Fundo
de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização
dos Profissionais da Educação (Fundeb), que os sistemas de ensino passaram
a contar com recursos destinados especificamente a esse nível de ensino, o
que favorece sua consolidação. (UNICEF BRASIL, 2014, p.105)
No que se refere à questão pedagógica, a década de 90 ficou marcada pelas
concepções construtivistas que serviram como base para a progressão continuada, novas
formas de organização escolar, democratização do acesso à educação e da educação como
direito de todos. Contudo, para Mansutti (s/d, apud UNICEF BRASIL, 2014, p.108), “a
discrepância entre a teoria e o dia a dia da escola acabou gerando, no entanto, persistentes
lacunas de aprendizagem”.
137
Nesse cenário, algumas políticas foram implantadas, como em 1997, ano em que
ocorreu a Reforma do Ensino Profissionalizante, por meio do Decreto 2.208/97, a qual
separou o Ensino Médio regular (intitulado 2º grau) do ensino profissionalizante – assim, o
ensino técnico passou a ocorrer após o Ensino Médio ou ao mesmo tempo, mas não ambos
integrados em um único curso. Em 1998 foi criado, pelo Instituto Nacional de Estudos e
Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem),
avaliação não obrigatória cuja finalidade seria verificar e medir as competências e as
habilidades desenvolvidas pelos alunos ao longo da Educação Básica. Em 2000 foram criadas
as referências básicas para a formulação de matrizes curriculares por meio dos Parâmetros
Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Já em 2004 o Decreto 2.208/97 foi revogado
pelo Decreto nº 5.154/04, que estabeleceu a educação profissionalizante de nível técnico,
nesse momento, como uma modalidade integrada, concomitante ou subsequente ao Ensino
Médio regular.
O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de
Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) foi concebido em 2006 e entrou em
vigor no ano seguinte, “como mecanismo de financiamento de toda a educação básica, em
todos os níveis e modalidades”, tendo como fundos recursos das esferas federais, estaduais e
municipais. Em 2007 foi a vez também do Programa Brasil Profissionalizado, planejado com
a intenção de fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica, por meio da
modernização e da expansão das redes públicas de Ensino Médio integradas à educação
profissional.
O ano de 2009 contou com políticas como a Emenda Constitucional nº 59, que
ampliava o direito à educação, tornando-a obrigatória dos 4 aos 17 anos, ou seja, a
obrigatoriedade de ensino passou a incluir a pré-escola e o Ensino Médio. Também foi
implementado o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI), no qual, por meio de projetos
diferenciados, as escolas poderiam receber recursos do governo federal para reestruturar os
currículos do Ensino Médio, ampliar o tempo de permanência na escola e diversificar as
práticas pedagógicas. Nesse mesmo ano o Enem passou a ser reformulado, com vistas à
seleção para ingresso nas universidades federais e procurando induzir a reestruturação dos
currículos de Ensino Médio.
O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foi
criado em 2011 com a finalidade de ampliar a oferta de educação profissionalizante e
tecnológica. Em 2012 foram reformuladas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino
Médio vigentes desde 1998. E em 2013 o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino
138
Médio teve início a partir de programa de formação continuada para professores do Ensino
Médio.
Nessa perspectiva, as matrículas dos jovens nessa faixa etária, entre os anos de
1996 e 2002, tiveram um considerável aumento de mais de 50%. Contudo, essa elevação não
foi constante, pois houve uma estagnação até 2004 e, depois, redução até 2012. UNICEF
BRASIL (2014, p.106) afirmam que essa redução se deve à continuidade da cultura de
retenção e à constatação de que muitos jovens ainda se encontram fora da escola. Para elas, a
falta de integração entre as políticas públicas também se configura em fator de exclusão. Já
para Carrano (s/d, apud SILVA, RIBEIRO, 2014, p.107), existem ainda outros aspectos como
“falta de recursos, a descontinuidade das políticas, a precariedade das condições de trabalho
dos educadores e dos demais atores envolvidos na implementação das ações no campo das
políticas de assistência e educacionais”.
Diante disso, pode-se perceber que, mesmo com políticas que visam à melhoria da
qualidade da educação no Ensino Médio, esse segmento continua enfrentando inúmeras
dificuldades nesse campo, como também no que se refere à permanência do educando. São
muitos os alunos que abandonam a escola quando estão cursando o EM, ou muitas vezes nem
chegam a ele. Dessa forma, um dado preocupante é que os índices apontam um número
relativamente baixo de jovens que o concluem, inclusive, vale lembrar que esta, também é
uma realidade marcante na área rural, pois faltam escolas, transportes, uma estruturação para
que o jovem conclua a educação básica.
Se os avanços da educação brasileira no campo do atendimento foram um tanto
quanto significativos nos últimos anos, há muito que fazer quando se trata de qualidade. É
necessário rever um currículo inchado, que nem abre perspectivas profissionais, nem prepara
para o vestibular. Na prática as medidas citadas não atraem o aluno do Ensino Médio, a escola
constituída para esse segmento continua sendo um espaço que não estimula o jovem. Nesse
modelo criado para um número reduzido de alunos, em que o objetivo praticamente único
seria o da preparação para o vestibular, fica complicado se pensar em ações pedagógicas
diversificadas ou em um currículo mais flexível capaz de atender às demandas e necessidades
de diferentes jovens nessa faixa etária.
Assim, se torna necessária, primeiramente, a definição de objetivos claros para o
Ensino Médio. Ainda existem muitas divergências sobre: integrar ou não a uma educação
profissional; soluções para a questão da qualidade da aprendizagem; formar para a
universidade ou considerar o grande número de alunos que ingressam apenas no mundo do
trabalho.
139
A questão é que o Ensino Médio precisa ser reformulado para oferecer uma
educação crítica, em que o aluno, ciente das conjunturas local, nacional e internacional, possa
decidir, de forma compartilhada, como deve ser seu curso de formação. Isso a partir de uma
reflexão acerca dos rumos que deseja para sua vida social e coletiva.
Assim, cabe aos formuladores dessas políticas, juntamente com a sociedade civil
interessada, promover debates sobre currículo, alternativas diversificas e flexibilização do
modelo de escola. Faz-se necessário reformar, contudo, ouvindo as comunidades e,
principalmente, trazendo o jovem para esse debate. Quem sabe desse modo, quando se tratar
de direitos, os jovens se mobilizem e saibam quando, onde e como reivindicá-los, assim como
ocorreu nas manifestações de junho de 2013 e recentemente, contra a reorganização.
Neste capítulo buscou-se relacionar o histórico do sistema educacional brasileiro
às políticas públicas implementadas no setor, principalmente no que se refere às políticas para
o Ensino Médio, considerando que faz parte do universo do sujeito da pesquisa, e àquelas
relacionadas à esfera estadual, as quais também se configuram como cenário. Tendo em vista
a abordagem realizada no primeiro capítulo, se procurou apresentar a conjuntura dos
movimentos sociais, que consistem em bases referenciais para a análise. Também aqui foram
abordados os últimos acontecimentos acerca das manifestações ocorridas no final do ano de
2015, devido à tentativa de reorganização da rede pública estadual, política que não se
efetivou, por se entender que tais fatos têm relação direta tanto com o objeto em questão como
com o sujeito da pesquisa.
E, por último, é importante ressaltar a importância do próximo capítulo no
presente estudo, no que se refere às Tecnologias de Informação e Comunicação, uma vez que
são elas muitas vezes instrumentos utilizados tanto para informação acerca das manifestações
e movimentos sociais como para sua organização, podendo ser adotadas por alunos da
educação formal ou não formal como forma de aprendizado, participação e formação crítica.
140
CAPÍTULO III – TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO
Este capítulo aborda as Tecnologias de Informação e Comunicação, seu histórico
e sua aplicação no âmbito escolar. Faz-se necessário tratar desse tema no intuito de
demonstrar o nível de proficiência e a utilização das TICs pelos indivíduos na sociedade,
inclusive pelos jovens nas escolas de Ensino Médio, de forma a propiciar um maior acesso às
informações, principalmente por meio da internet e das redes sociais. Sua importância reside
na questão da habilidade no uso dessas mídias para busca de informações e/ou participação no
processo de articulação de movimentos para reivindicação das demandas sociais, a partir de
uma consciência formada em instituições de educação formal, tendo como instrumento a sala
do Acessa Escola.
3.1 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: UM ACESSO QUE PODE
CONTRIBUIR NA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE
É claro que a tecnologia não determina a sociedade, nem a sociedade escreve
o curso da transformação tecnológica [...] o dilema do determinismo
tecnológico é, provavelmente, um problema infundado, dado que a
tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou
representada sem suas ferramentas tecnológicas. (CASTELLS, 1999, p.66)
Se a tecnologia não determina a sociedade, o acesso à informação pode ser um
grande aliado na sua transformação, uma vez que, no cenário que se configura, a internet
consiste em espaço inesgotável de acesso a informações, serviços e oportunidades de troca
interpessoal e institucional. Conhecer esses aspectos e fazer um uso qualificado dessas
possibilidades é elemento de constituição da cidadania.
Como ainda existe uma parcela da população que se encontra excluída desse
processo, políticas públicas voltadas a suprir, efetivamente, essa carência se fazem
necessárias. Assim, a
[...] Internet, como toda a sua trajetória, trouxe até nós uma nova maneira de
enxergar o mundo, através de uma avalanche de informações que nos
chegam, em poucos instantes, por meio de uma conexão plugada ao
computador. (SANTOS, 2005, p.283)
Essas novas ferramentas, aliadas ao processo educacional, podem dinamizar a
aprendizagem, modificar o tempo gasto na aquisição de informações e, por conseguinte,
141
proporcionar outras possibilidades de elaboração do conhecimento. Permitem criar, com isso,
novas formas de aprender e ensinar, alterando também as interações que se dão entre
professor, aluno e comunidade no espaço escolar. Assim, como nos diz Almeida e Prado
(2005, p.3),
O uso de tecnologias como apoio ao ensino e à aprendizagem vem evoluindo
vertiginosamente nos últimos anos, podendo trazer efetivas contribuições à
educação, presencial ou à distância. Entretanto, para evitar ou superar o uso
ingênuo dessas tecnologias, é fundamental conhecer as novas formas de
aprender e de ensinar, bem como de produzir, comunicar e representar
conhecimento, possibilitadas por esses recursos, que favoreçam a
democracia e a integração social.
Tendo em vista o contexto de globalização das informações, é fundamental que se
apliquem, no espaço formal da escola, práticas voltadas para a inserção dos sujeitos para o uso
da internet e redes sociais digitais.
Há que se reencontrar o sentido mais humanístico, interativo e integrador da
educação, que leve a repensar a necessidade de professores e gestores
tomarem consciência de que o uso de tecnologias permite redimensionar os
espaços de ensinar e aprender, sonhar e amar, vislumbrando a provisoriedade
do conhecimento, as novas possibilidades das práticas da escola, a
necessidade da formação continuada para atender às características de
mudança da sociedade atual e para resgatar o valor do saber e a sensibilidade
do ser. (ALMEIDA, PRADO, 2005, p.4-5)
Nesse enfoque, para Dirceu da Silva (2005, p.322), “fica evidente que não é
necessária a criação de novas disciplinas para a inserção da tecnologia em sala de aula”.
Segundo o autor, as situações-problema servem como complemento curricular, ou seja, não há
a necessidade de se criarem novas disciplinas, e sim inserir o uso das tecnologias a partir de
uma situação-problema. No entanto, o que se pode perceber é que muitos não notam as
mudanças e transformações do mundo, afastam-se do processo de construção do
conhecimento, contribuindo para a preservação de uma sociedade incapaz de criar, agir,
construir e reconstruir o conhecimento. Em uma sociedade em que muitos não entendem o
que são espaços coletivos de luta e transformação, é função da escola e seus profissionais
perceber
[...] nas tecnologias oportunidades para que a escola possa se desenvolver e
[...] criar condições para a utilização de tecnologias nas práticas escolares, de
forma a redimensionar seus espaços, tempos e modos de aprender, ensinar,
dialogar e lidar com o conhecimento [...] identificar as potencialidades dos
142
recursos disponíveis para proporcionar a abertura da escola à comunidade,
integrá-la aos distintos espaços de produção do saber, fazer da escola um
local de produção e socialização de conhecimentos para a melhoria da vida
de sua comunidade, para a resolução de suas problemáticas, para a
transformação de seu contexto e das pessoas que nele atuam. (ALMEIDA,
2005, p.17)
Isso posto, a solução não está em simplesmente equipar as escolas com
computadores, formar os professores, disponibilizar acesso à internet e às redes sociais. É
preciso romper com o paradigma de uma educação predominante e o conceito hegemônico de
aprendizagem que está na consciência e na formação dos atores envolvidos no processo
educacional. Entretanto, a utilização das TICs por si só não garante a transformação
necessária e desejada, pois a “mesma tecnologia ou o mesmo conhecimento elucidativo, que
enriquecem o saber humano, favorecem novas conquistas e geram a evolução, a libertação e a
transformação da sociedade, também podem provocar a subjugação da humanidade”
(ALMEIDA, 2005, p.15).
É uma nova visão de mundo, de ser humano e de educação que permitirá a
formação de uma Sociedade do Conhecimento Crítica, certamente com muito mais
alternativas de vida melhor. E essa possibilidade pode ser auxiliada a partir do uso integrado
entre tecnologias e acesso à internet e redes sociais. Assim sendo, “linguagens e
representações têm papéis preponderantes na formação”, com vistas à “atuação na sociedade,
conscientes de seus compromissos para com as transformações de seu contexto, a valorização
humana e a expressão da criatividade” (ALMEIDA, PRADO, 2005, p.04).
Nessa lógica, para Dirceu Silva (2005, p.322), é importante o uso das TICs no
processo educacional se for levado em consideração “um dos objetivos básicos da Educação”:
formar “os alunos para serem cidadãos de uma sociedade plural, democrática e
tecnologicamente avançada”. Dessa forma, torna-se relevante estudar a atuação de política
públicas educacionais que visem assegurar o processo de ensino e aprendizagem e a cultura
no que diz respeito
[...] à diversidade, o direito à diferença e o direito à igualdade, pois os
eventos culturais mobilizam milhares de pessoas (principalmente os jovens),
aglutinam forças, viabilizam a participação, resgatam o entusiasmo pela vida
e pelos valores humanitários, apontando caminhos para a difícil arte de
sobreviver. (GOHN, 2005b, p.21)
Por esse prisma, é preciso que programas, enquanto estruturas geradas a partir das
políticas públicas educacionais, propiciem o ambiente necessário para que a educação, formal
143
ou não formal, seja uma forma de garantia de cidadania23
, uma vez que o “reconhecimento e a
realização ampla de todos direitos supõe, certamente, indivíduos cidadãos, vivendo numa
sociedade onde haja redistribuição econômica, tendo acesso e direito a viver em condições
condignas de existência” (GOHN, 2005b, p.19). Principalmente, precisam promover uma
inclusão social utilizando as Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs como
instrumento para a construção e o exercício dessa mesma cidadania.
Nesse aspecto, as TICs e seus suportes podem contribuir na mediação que o
educador carece de prover com o objetivo de desenvolver ações que busquem esse cidadão
descrito anteriormente por Dirceu da Silva (2005) e por Gohn (2005b). Porém, como já
indicado, essas tecnologias por si só não determinarão nem esgotarão novas formas de educar
e aprender; igualmente, ainda “não constituem necessariamente grandes mudanças sociais”
(CASTELLS, 2005, p.19). É necessário que o ser humano as utilize como ferramentas na
construção e elaboração do conhecimento, de forma que o processo de aprendizado, seja na
educação formal ou não formal, possa ser prazeroso e proveitoso para a vida educacional,
cultural e social, bem como para o mundo do trabalho e, primordialmente, para a vida.
O uso das TICs, da internet e das redes sociais precisa partir de uma concepção
que permita uma integração com o próximo, uma aprendizagem baseada no paradigma da
interação, auxiliando nessa construção de conhecimento por processos abertos de procura,
assim como se inteirando com o mundo e acerca dele.
Desse modo, enfatiza-se a importância da educação, sob enfoque de um
novo paradigma conceitual e prático, voltada para a formação de cidadãos
capazes de integrarem-se à era digital, [...] na capacidade intelectual de
transformar informações em conhecimento, com uma inovadora condição de
aprendizado contínuo e crescente. (BELLUZZO, s/d, p.27)
Para Castells (1999, p.26), “a tecnologia da informação tornou-se ferramenta
indispensável para a implantação efetiva dos processos de reestruturação socioeconômica” e,
assim, as relações sociais também são afetadas pelas profundas modificações que ocorrem
pela “lógica das redes”, principalmente devido aos impactos das TICs e das redes sociais
digitais. Esse fato impõe, desde já, alterações no modo de educar para a aprendizagem, para as
relações sociais e, principalmente, para a vida, pois, “diferente de qualquer outra revolução, o
cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias da
23
“O exercício pleno da cidadania, ou seja, renda suficiente que remunere seu trabalho para viver com
dignidade, acesso à educação, aos serviços básicos da assistência e prevenção à saúde, transportes, lazer,
recreação. Supõe também a coexistência e o respeito à diferença, às múltiplas identidades culturais.” (GOHN,
2005b, p.19)
144
informação, processamento e comunicação” (CASTELLS, 1999, p.68). Embora o autor
enfatize também que elas não determinam
[...] a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta)
incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos
que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu
potencial tecnológico. (CASTELLS, 1999, p.26)
Sobre os movimentos sociais, outro aspecto apontado por Castells (1999, p.415) é
que, no auge de sua explosão, nos anos 60, “embora em termos gerais eles coexistissem com a
revolução da tecnologia da informação, a tecnologia estava em grande parte ausente dos
valores ou críticas da maioria dos movimentos” (CASTELLS, 1999, p.415), que, contudo,
tiveram forte influência sobre a tecnologia e os processos de reestruturação deles originados.
Dessa maneira, nota-se todo o potencial transformador – e ao mesmo tempo
reprodutor das ideologias produzidas – das novas redes de informação e comunicação.
Portanto, deve-se explorar a sua capacidade para delas também se tirar todo o proveito no que
diz respeito à visão da real situação individual e coletiva, objetivando subsidiar
transformações e melhorias de vida, de forma a contrariar “a dinâmica da sociedade em rede”
imposta, em que “as sociedades são formadas pela interação entre Ter e o Ser, entre a
sociedade em rede e o poder da identidade” (CASTELLS, 1999, p.432).
Essas são tarefas prioritárias do educador, e não deixar que aconteça o contrário,
como vem ocorrendo. Logo, é urgente que a educação assuma esse papel, e que os cidadãos se
encontrem preparados para desenvolver ações conscientes em uma sociedade baseada na
aquisição de informações, sociedade essa em que se aprende e se ensina em busca de
transformação social (p.440).
Todavia, há enorme defasagem entre nosso excesso de desenvolvimento
tecnológico e subdesenvolvimento social. Nossa economia, sociedade e
cultura são construídas com base em interesses, valores, instituições e
sistemas de representação que, em termos gerais, limita a criatividade
coletiva, confiscam a colheita da tecnologia da informação e desviam nossa
energia para o confronto autodestrutivo. (CASTELLS, 1999, p.441)
Mesmo assim, não há como negar a importância dessas constantes transformações
e suas influências sociais dentro de um sistema capitalista. Por isso, todos os educadores,
como profissionais e como indivíduos, precisam se inserir nesse contexto de mudanças, pois
todos têm a necessidade de refletir sobre tais inovações, tentando compreendê-las e incorporá-
las, socializando experiências e introduzindo outros indivíduos nessa transformação, pois
145
“não existe nada que não possa ser mudado por ação social consciente e internacional, munida
de informação e apoiada em legitimidade” (CASTELLS, 1999, p.441).
A Internet, como toda a sua trajetória, trouxe até nós uma nova maneira de
enxergar o mundo, através de uma avalanche de informações que nos
chegam, em poucos instantes, por meio de uma conexão plugada ao
computador [...]. (SANTOS, 2005, p.283)
E se, conforme afirma Castells (1999), não existirem ações conscientes e os atores
envolvidos no processo não perceberem os impactos das mudanças do mundo, as tecnologias
tendem a ser “condicionantes” dessas transformações. As TICs, uma vez estudadas e
utilizadas de forma crítica e consciente, em vez de serem possíveis instrumentos de
massificação ou manipulação, podem ser veículos de interação entre os envolvidos, fazendo
com que as pessoas compartilhem ideias e informações na resolução de problemas. É preciso
apostar num ambiente de aprendizagem interativo, no qual se possa socializar o acesso à
informação, por conseguinte, a elaboração cognitiva e, com isso, proporcione também uma
reflexão crítica acerca das condições sociais e culturais.
Assim o professor precisa potencializar a liberdade intelectual, estimular o
pensamento crítico, a criatividade e a comunicação entre os alunos. Para
romper a monotonia da aula, contribuindo assim para motivar os estudantes
no processo de aprendizagem, a Educação Tecnológica pode proporcionar
uma série de estratégias, mesmo que nenhuma seja exclusiva deste tipo de
proposta. (SILVA, 2005, p.312)
Segundo Dirceu da Silva (2005), cabe ao educador aperfeiçoar o processo de
convivência tendo como ferramentas as TICs e as redes sociais. Contudo, é preciso deixar
claro, mais uma vez, que não é eficiente treinar professores e equipar escolas com
computadores e acesso à internet, se não for rompido o paradigma de uma educação
“bancária” (FREIRE, 1976, p.66), uma educação que não preza a construção do conhecimento
a fim de promover transformações sociais. Essa abordagem, infelizmente, é a que continua
preponderante na formação do processo educacional.
Para Castells (2005), a internet se transformou em uma esfera política:
É autocomandada porque geralmente é iniciada por indivíduos ou grupos,
por eles próprios, sem a mediação do sistema de media [...] A comunicação
entre computadores criou um novo sistema de redes de comunicação global e
horizontal que, pela primeira vez na história, permite que as pessoas
comuniquem umas com as outras se utilizar os canais criados pelas
146
instituições da sociedade para comunicação socializante. (CASTELLS,
2005, p.24)
Pode-se dizer que o acesso à imensa fonte de informações nesse mundo “é uma
possibilidade extraordinária” (CASTELLS, 2005, p.24), que muda vidas e imaginários.
Entretanto, isso só será possível de uma forma plausível se a educação proporcionar aos seres
humanos a capacidade de buscar, escolher e desfrutar esse novo mundo e principalmente se
[...] as pessoas forem esclarecidas, atuantes e se comunicarem em todo o
mundo; se as empresas assumirem sua responsabilidade social; se os meios
de comunicação se tornarem os mensageiros, e não a mensagem,; se os
atores políticos reagirem contra a descrença e restaurarem a fé na
democracia; se a cultura for reconstruída a partir da experiência; se a
humanidade sentir a solidariedade da espécie em todo o globo; se
consolidarmos a solidariedade Intergeracional, vivendo em harmonia com a
natureza com a natureza; se partirmos para a exploração de nosso ser
interior, tendo feito as pazes com nós mesmos. Se tudo isso for possibilitado
por nossa decisão bem informada, consciente e compartilhada enquanto
ainda há tempo, então, talvez, finalmente possamos ser capazes de viver,
amar e ser amados. (CASTELLS, 1999, p.442)
3.2 PANORAMA GERAL DO ACESSO ÀS TIC‟S NO BRASIL
Existem grandes desigualdades no acesso à maioria das Tecnologias de
Informação e Comunicação - TICs, associadas a questões como renda, idade e região. Há
alguns anos houve um aumento significativo do acesso às TIC pela população. Porém, se
dividirmos esse acesso por região ou mesmo por classe social, poderemos ver que nas regiões
do Norte do país e mesmo nas classes menos favorecidas uma grande parcela da população
não tem acesso às TICs. Veja bem, não se trata de ter um computador, pois nesse viés esse
contingente aumenta, e muito. Pois a maioria da população no Brasil ainda pertence às classes
menos favorecidas e está nas regiões Norte, Nordeste e uma parte do Centro-Oeste.
Dessa forma, essa maior exposição ainda não é suficiente para dizer que foi
reduzida a contento a chamada exclusão digital, em razão de ainda haver milhões de
brasileiros excluídos desse segmento. Estes, por sua vez, também estão excluídos de vários
segmentos da sociedade, bem como do acesso, principalmente, aos direitos básicos de
moradia, saúde, educação, trabalho etc.
A humanidade vive em uma era tecnológica chamada por muitos de Sociedade do
Conhecimento, mas, como nem toda fartura de informação significa, de fato, conhecimentos,
147
chama-se aqui de Sociedade da Informação. E acompanhar o ritmo acelerado destes tempos é
um grande desafio para a escola e os professores – sejam eles professores e diretores novos ou
próximo da aposentadoria – que ainda não se integraram a esse novo mundo permeado de
mudanças, muitas vezes proporcionadas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação -
TIC e pelas novas relações construídas por meio das redes sociais digitais.
Assim há que se refletir sobre a integração da escola ao mundo por meio das TIC,
a qual tem enfrentado muitos entraves de natureza: política e pública, prática pedagógica,
condições de trabalho do professor, identidade profissional, formação inicial e continuada,
infraestrutura e manutenção e relação escola e comunidade.
Contudo, essa integração, tanto por parte dos profissionais da educação como por
alunos ou até pela comunidade escolar, enfrenta muitos obstáculos que seriam passíveis de
solução, mas ainda interferem na utilização das TICs e redes sociais digitais. Entre eles
podemos destacar: o número de equipamentos disponíveis nas escolas, a não atualização e
manutenção desses equipamentos, a falta de estagiários para assessorar o seu uso, tanto pelos
alunos como pelos professores, a falta de domínio por grande parte dos educadores e,
principalmente, a ignorância de muitos profissionais quanto à possibilidade de
desenvolvimento de ações pedagógicas relacionadas ao aprendizado, à reflexão sobre a
realidade de vida, à criticidade acerca desses fatores e à capacidade de mobilização para
transformações. Há uma parcela desses profissionais que não têm interesse na introdução das
TIC‟s, uma vez que a utilização das tecnologias demanda planejamento e trabalho duro, o que
muitos não querem de fato. Ainda, outro problema enfrentado é a falta de tempo dos
professores para a própria formação, pois trabalham em vários períodos devido aos baixos
salários.
Diante disso, fica evidente que ainda são necessárias iniciativas governamentais,
criação e implantação de políticas públicas educacionais que visem um maior investimento
financeiro para a compra de computadores e para a capacitação dos professores, pois não há
como negar a importância da formação dos profissionais em serviço. É primordial uma
formação que estimule e transforme a prática docente, levando o professor a compreender as
novas tecnologias e as redes sociais digitais como ferramentas capazes de auxiliar o processo
de ensino e de aprendizagem.
148
3.2.1 Panorama do acesso às TICs no ambiente escolar
A inserção das Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs no cotidiano
escolar não garante a melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem. A cultura
do uso dessas tecnologias em sala de aula ainda está longe de ser alcançada e esse é um dos
fatores que mais prejudica o processo de inclusão digital nas escolas. É necessário, portanto,
que a inclusão digital seja vista como uma meta de melhoria da qualidade do processo de
ensino e de aprendizagem, e essa meta requer investimento em políticas públicas que a
viabilizem.
As TICs, na maioria das instituições educacionais, não são consideradas como
parte integrante dos processos pedagógicos; são usadas como um recurso a mais, que serve
apenas para complementar ou animar uma prática instituída, e não para transformar as formas
de pensar e elaborar conhecimento. Nessa perspectiva, Sancho afirma que
O âmbito da educação, com suas características específicas, não se
diferencia do resto dos sistemas sociais no que se refere à influência das
TIC. Deste modo, também foi afetado pelas TIC e o contexto político e
econômico que promove seu desenvolvimento e extensão. Muitas crianças e
jovens crescem em ambientes altamente mediados pela tecnologia, sobretudo
a audiovisual e a digital. Os cenários de socialização das crianças e jovens de
hoje são muito diferentes dos vividos pelos pais e professores. [...] De fato,
estão descobrindo o mundo e lhes custa tanto aprender e realizar trabalhos
manuais como a programar um vídeo ou um computador. Estão descobrindo
as linguagens utilizadas em seu ambiente e lhes custa tanto ou mais decifrar
e dominar a linguagem textual como a audiovisual. A grande diferença é que
os resultados desta última ação abrem um amplo mundo de possibilidades
cada vez mais interativas, em que constantemente acontece algo e tudo vai
mais depressa do que a estrutura atual que a escola pode assimilar.
(SANCHO, HERNÁNDEZ, 2006, p.19)
Nesse enfoque, a formação do professor não pode permanecer a mesma do
passado. Os meios necessários e adequados, como elementos tecnológicos de qualidade,
manutenção de equipamentos, formação e acompanhamento do trabalho docente, são
fundamentais para que haja avanços mais significativos no processo educacional. Porém, o
professor deve estar disposto emocionalmente e psicologicamente à prática do conhecimento
elaborado e da interação, principalmente em rede, para esse fim.
Segundo Bonilla e Picanço (2005, p.224-225),
[...] a Rede deve ser incorporada às práticas presenciais de forma paralela,
integrada e integrante com o conjunto das demais atividades, de forma a
149
favorecer a vivência da interatividade, da colaboração, da auto-organização,
da conectividade plena e efetiva com outros nós que vão surgindo ao longo
do processo e não apenas com aqueles delineados a priori.
Assim sendo, o imprevisto, o diverso, o múltiplo e a interação em rede integram o
processo educativo, que, por sua vez, se transforma em um processo dinâmico, no qual as
subjetividades, as culturas e os conhecimentos entrelaçam-se nas vivências desses novos
espaços-tempos, transformando os sujeitos e as sociedades.
Ainda que o uso das TICs e das redes sociais digitais não signifique, efetivamente,
melhoria na qualidade do aprendizado ou o desenvolvimento da consciência crítica e da
capacidade de mobilização em busca de direitos e transformação da realidade, o não acesso a
elas pode ser um fator de baixo desempenho, uma vez que denota privação do acesso à
informação. Não qualquer tipo de informação, mas as de um “mundo” que somente as TICs e
as redes sociais digitais podem proporcionar.
Para Behrens (2007, p.450),
Os recursos tecnológicos quando bem utilizados a serviço da aprendizagem
são possibilidades didáticas e formativas. Assim, uma prática pedagógica
inovadora inclui propostas que permitam desenvolver as novas tecnologias
da informação e da comunicação no sentido de ampliar os recursos de
aprendizagem.
Outra questão que vale a pena tratar é que informação não é sinônimo de
conhecimento ou de consciência crítica, contudo, para se obtê-los é necessária a primeira. E,
assim, a informação transformada em conhecimento gera aprendizado e reflexão, que, por
meio do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação e redes sociais digitais, podem
ser de qualidade.
A utilização dessas ferramentas pode significar também um atrativo para o
aprendizado e um instrumento de luta, uma vez que, diferentemente de se limitar apenas à fala
do professor, permite demonstrar, simular, organizar, visualizar etc. Contudo,
[...] a principal dificuldade para transformar os contextos de ensino com a
incorporação de tecnologias diversificadas de informação e comunicação
parece se encontrar no fato de que a tipologia de ensino dominante na escola
é a centrada no professor. Em uma sociedade cada dia mais complexa, as
tentativas de situar a aprendizagem dos alunos e suas necessidades
educativas na escola da ação pedagógica ainda são minoritárias. (SANCHO,
HERNÁNDEZ, 2006, p.19)
150
Dessa forma, o não uso desses instrumentos pelo professor pode ser ainda um
fator de ignorância, levando em conta que seu uso pode facilitar o método de ensino, bem
como proporcionar um aprendizado de qualidade e uma formação crítica, sendo gerado um
conhecimento a partir do “mundo” de informações.
Assim, entre os principais problemas relacionados ao uso das TICs nas escolas
está a dificuldade dos educadores no uso dessas ferramentas, cabendo notar que muitos não
têm dificuldade no uso pessoal, mas sim para trabalhar com elas, seja por falta de incentivo ou
pela necessidade de um melhor planejamento para inserção das tecnologias e do conceito de
redes no dia a dia escolar.
3.2.2 TICs aplicadas nas atividades educacionais
Diversas são as ferramentas que podem ser utilizadas nas escolas para contribuir
para o processo de ensino e de aprendizagem e a constituição de uma formação crítica,
tornando as unidades escolares mais atraentes aos estudantes. Entre elas podemos destacar os
e-mails, os blogs e as redes sociais digitais. Embora professores e alunos se mostrem, por
vezes, motivados para o uso dessas ferramentas, apenas uma minoria as utiliza em sua prática
cotidiana. Usar blogs, redes sociais, troca de e-mails entre alunos e professores para
divulgação de informações, tirar dúvidas, apresentar comentários sobre aulas, trabalhos,
tarefas e correção de atividades é uma iniciativa de poucos, pois ainda há muitas pedras no
caminho, como a infraestrutura inadequada, a falta de formação em serviço para os
professores e o não domínio das ferramentas tecnológicas. Uma parcela dos docentes ainda
sente muita insegurança para utilização desses recursos no dia a dia de suas aulas; e outra
parcela, infelizmente, não quer utilizá-las por implicar mais dedicação ao planejamento das
aulas.
Blogs, redes sociais e suas variações não são originalmente instrumentos
educacionais, mas podem ser trabalhados sob esse enfoque e aproximar as escolas das
comunidades em que estão inseridas, uma vez que haja primeiramente uma mudança efetiva
do professor e da gestão escolar. Também há de se ter o aluno como verdadeiro protagonista,
de forma que ele, por sua vez, passe a utilizar essas ferramentas como instrumento de ação
social e de transformação da sociedade.
É importante que o aluno perceba que, por meio dessas mídias interativas – um
blog, por exemplo, aberto à comunidade –, pode denunciar o esgoto que corre a céu aberto em
seu bairro. Que, por meio do Skype e WhatsApp, pode estabelecer intercâmbios com pessoas
151
de outros cantos do mundo. Tudo isso podem ser caminhos mediados pela escola que
proporcione o acesso a essas ferramentas aos alunos e à comunidade circundante.
Portanto, ainda há muito por caminhar, muitas pedras para tirar do caminho no
tocante à utilização com propriedade de todas as possibilidades oferecidas pelas TICs no
trabalho do educador. A mudança de postura e atuação dos profissionais do magistério é
fundamental nesse caminho, sendo imprescindível para isso a criação e implementação de
políticas públicas educacionais voltadas para a formação e o incentivo para o uso real das
TICs nas escolas.
Cabe lembrar que o mundo mudou, as pessoas mudaram, o modo como os pais
educam os filhos mudou, não obstante a escola continua com o mesmo modelo criado na
Idade Média. E esse novo mundo, permeado de Tecnologias de Informação e Comunicação,
principalmente a participação em redes sociais digitais, requer profissionais aptos para
acompanhar todas as mudanças comportamentais, econômicas e sociais.
São muitos e difíceis os desafios a serem enfrentados desde já para o advento de
uma nova escola. O uso das novas tecnologias nas práticas escolares demanda mudanças no
modo de ensinar e de aprender e, principalmente, uma mudança na postura de cada educador.
Exige também grandes investimentos na estrutura das organizações e formação de todos os
profissionais responsáveis pela educação.
As TICs são os principais canais de socialização de informações, disseminação de
conhecimento e mobilização para causas de direito. O professor deixa de ter papel central
nesse contexto e deve assumir de fato sua principal e importante função, que é mediar e
orientar a transformação do conhecimento explícito em conhecimento tácito. Contudo, essa
também não é uma missão fácil, pois, segundo Thompson,
[...] os indivíduos podem enfrentar esse fluxo sempre crescente de materiais
simbólicos mediados, em parte através de um processo seletivo do material
que eles assimilam. Somente uma pequena porção dos materiais simbólicos
mediados disponíveis aos indivíduos são assimilados por eles. Mas os
indivíduos também desenvolvem sistemas de conhecimento que lhes
permitem seguir um determinado rumo através da densa floresta de formas
simbólicas mediadas. (THOMPSON, 2012, p.274)
Dessa forma, cabe aos atores envolvidos no processo transformar essa riqueza de
informações em elaboração de conhecimento. Aí é que está a função do mediador, orientar no
sentido de melhor utilizar as ferramentas existentes, para que se possa ter um melhor
rendimento.
152
Destarte, não há como esquecer a importância da expansão do acesso aos
computadores e à internet, principalmente às redes sociais, pela população brasileira. A
difusão já é uma realidade, contudo grande parcela dessa população, principalmente os
estudantes da rede pública de ensino, ainda não possui esses bens em seu domicílio devido à
situação socioeconômica, o que reforça as desigualdades e a chamada exclusão digital, que,
por sua vez, corrobora a exclusão social. Ainda que, com o avanço da telefonia celular, muitos
tenham passado a dispor dessas ferramentas em causas próprias.
Graças a esse novo recurso, uma parcela considerável dos professores e alunos
tem acesso à internet e às redes sociais digitais. Apesar disso, não fazem uso desses meios no
contexto escolar por falta de interesse, ou por falta de vontade, uma vez que há a necessidade
explícita de uma aula bem preparada. Seja qual for o motivo, sabe-se que a formação
continuada é de extrema importância, uma vez que são notórios os problemas no uso de
laboratórios de informática ou em programas como o Acessa Escola. Isso devido à falta de
estrutura física, poucos computadores para o número de alunos, falta de manutenção dos
equipamentos, problemas de acesso à internet, falta de pessoal técnico e, principalmente,
ausência de formação aos professores na transposição dos conteúdos disciplinares com o uso
desses recursos.
Contudo, cabe a esses profissionais, como mediadores na busca de informações e
elaboração do conhecimento, ajudar os estudantes em meio a tanta fartura de possibilidades
propiciadas pelas TICs, assim como nos descreve Thompson:
Não é incomum encontrar indivíduos perdidos na tempestade de
informações, incapazes de ver alguma saída e paralisados pela profusão de
imagens e opiniões mediadas. O problema que muitas pessoas hoje devem
enfrentar é o do deslocamento simbólico: num mundo onde a capacidade de
experimentar não está mais ligada à atividade do encontro, como podem
relacionar experiências aos contextos práticos da vida cotidiana? Como se
podem relacionar com eventos que acontecem em locais distantes dos
contextos em que vivem, e como podem assimilar a experiência de
acontecimentos distantes numa trajetória coerente de vida que devem
construir para si mesmos? (THOMPSON, 2012, p.266-267)
O fato é que as TICs, principalmente as redes sociais, estão presentes no dia a dia
de muitos. Direta ou indiretamente, elas afetam e tendem a afetar cada vez mais a vida
econômica e social de cada ator desse cenário. Portanto, a escola tem uma função
fundamental nesse contexto e não pode negá-la, cabendo a ela contribuir para um futuro
melhor à sociedade e, consequentemente, uma vida melhor para cada cidadão.
153
Com explicitado, há de se reafirmar que são grandes os desafios a serem
enfrentados. Todavia, ainda existem muitos profissionais que acreditam que a mudança é
possível e que, junto com ela, pode haver uma grande melhoria nos resultados e na qualidade
do ensino e da aprendizagem, assim como uma formação crítica do jovem. Com isso também
há de melhorar a vida de cada pessoa que esteja sob a responsabilidade do sistema
educacional.
3.3 ACESSA ESCOLA: UM PROGRAMA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO
ESTADO DE SÃO PAULO
Apresentar o programa Acessa Escola, que tem como slogan “Aprender a usar o
computador, usar o computador para aprender”, se torna necessário uma vez que esse deveria
propiciar um espaço para formação crítica e promoção da inclusão social por meio da inclusão
digital na educação formal da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo - SEE/SP.
Desse modo, seria esse um espaço onde os alunos do Ensino Médio poderiam ter acesso às
redes sociais, as quais trariam possibilidades de acesso à informação e até de participação
desses estudantes em movimentos sociais ou manifestações populares.
O programa faz parte de uma política pública do Governo Estadual de São Paulo,
desenvolvido pelas Secretarias da Educação e de Gestão Pública do Estado e coordenado pela
Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE. Segundo texto divulgado no site
oficial24
, desde o ano de 2008, tem como objetivo principal promover a inclusão digital e
social dos alunos, professores e funcionários das escolas da rede pública estadual de São
Paulo e, igualmente, da comunidade de entorno aos finais de semana. Esse modelo
configurou-se a partir de outro programa que faz parte da política pública de inclusão digital
do Governo Estadual, prevendo a criação de telecentros em vários pontos do Estado, como
metrôs, hospitais e bibliotecas.
O Acessa São Paulo é o programa de inclusão digital do Governo do Estado de
São Paulo, coordenado pela Secretaria de Gestão Pública, com gestão da Prodesp, Companhia
de Processamento de Dados do Estado de São Paulo - Diretoria de Serviços ao Cidadão.
Instituído em julho de 2000, oferece para a população do Estado o acesso às novas
24
SÃO PAULO (Estado). Acessa São Paulo Disponível em: <http://acessaescola.fde.sp.gov.br/publico>. Acesso
em: 11/10/2014.
154
tecnologias da informação e comunicação, em especial à internet, contribuindo para o
desenvolvimento social, cultural, intelectual e econômico dos cidadãos paulistas.25
O programa Acessa São Paulo, criado em julho de 2000, foi uma iniciativa do
governo do Estado de São Paulo com o objetivo de levar os recursos da internet à população
de baixa renda e estimular o desenvolvimento humano e social das comunidades. É a maior
rede de dados do país. Em outubro de 2005, contava com 178 infocentros em funcionamento,
sendo 77 na capital e 101 em municípios do interior e do litoral; no final de 2006, eram 400
unidades em todo o estado, e mais de 1 milhão de usuários cadastrados. Existem três tipos de
infocentros: os comunitários, criados em parceria com associações de bairros e outras
entidades comunitárias; os municipais, em parceria com prefeituras; e os postos públicos de
acesso à internet - POPAI, em parceria com órgãos do próprio governo estadual.
O Infocentro Comunitário fornece equipamentos, suporte técnico e suprimentos,
além de salário e a capacitação dos monitores; a entidade com a qual é realizada a parceria se
responsabiliza pela manutenção da sala e pelas despesas cotidianas, como energia elétrica e
limpeza. O Infocentro Municipal é uma parceria do Estado com as prefeituras, que se
encarregam da manutenção da sala, despesas cotidianas, suprimentos, suporte técnico e
salário dos funcionários, enquanto o Estado entra com os equipamentos e a capacitação dos
monitores. Nos POPAIs todas as responsabilidades são do governo estadual: instalações,
funcionários, equipamentos e manutenção.
A formação de monitores para atuar no programa e a produção de conteúdo
focado no exercício da cidadania são realizadas pela Escola do Futuro, da Universidade de
São Paulo. Em salas com dez computadores e banda larga (onde é possível), os usuários têm
acesso livre à internet e a possibilidade de desenvolver projetos comunitários. A coordenação
e financiamento do projeto estão a cargo da Imprensa Oficial do Governo de São Paulo.
(BALBONI, 2007, p.63-64)
O programa Acessa Escola se mostrou adequado, na visão dos seus idealizadores,
no tocante ao acesso de alunos a computadores no período oposto ao de aula. Em vista disso,
o Acessa Escola foi originado a partir da Resolução SEE/SP 037 de 25/04/2008 e
regulamentado pela Resolução Conjunta SE/SGP 1, de 23/06/2008, modificada pela
Resolução SE 30/2011. A primeira “Institui o Programa Acessa Escola para atendimento aos
alunos, professores e servidores das Escolas da Rede Estadual de Ensino” (Resolução SEE/SP
037, 2008), conforme objetivos descritos no Art. 1º:
25
SÃO PAULO (Estado). Acessa São Paulo. Disponível em: <http://www.acessasp.sp.gov.br/modules/
xt_conteudo/index.php?id=1>. Acesso em: 11/10/2014.
155
I - disponibilizar à comunidade escolar os recursos do ambiente web, criado
pelo Programa; II - promover a criação e o fortalecimento de uma rede de
colaboração e de troca de informações e conhecimentos entre professores e
alunos da própria escola, ou entre os de outras unidades, de modo a
contribuir com a produção de novos conteúdos; III - universalizar as
atividades de inclusão digital, otimizando os usos dos recursos da Internet
aos alunos, professores e servidores, nos períodos de funcionamento das
escolas; IV - promover e estimular as ações de protagonismo, vivenciadas
pelos alunos do ensino médio, voltadas à área de Tecnologia da Informação
e da Comunicação- TIC.
Ainda em 2008, foi instituída a parceria de implementação do programa, por meio
da Resolução Conjunta SE/SGP 1, de 23/06/2008, a qual definiu o que caberia a cada uma das
secretarias:
Art. 2º - Caberá à Secretaria da Educação, nos termos da Res. SE nº 37/2008:
I - gerenciar, coordenar e acompanhar o desenvolvimento do Programa
Acessa Escola; II - definir: a) as diretrizes de funcionamento do Programa
Acessa Escola; b) a forma e as condições de implantação e operação do
Programa nas unidades de ensino; c) os conteúdos a serem disponibilizados
aos alunos, professores e servidores no ambiente web; d) as atribuições dos
órgãos subordinados em relação ao Programa Acessa Escola; III - avaliar a
adequação do processo de implantação e operacionalização do Programa e o
uso dos equipamentos e do acesso à internet, determinando as medidas que
entender necessárias para a sua melhoria; IV - criar conteúdos voltados ao
desenvolvimento educacional do aluno da rede pública; V - indicar o pessoal
para atendimento e orientação dos alunos, professores e servidores da
unidade escolar no uso dos equipamentos e para o acesso à internet. Art. 3º -
A Secretaria de Gestão Pública é responsável pelo processo de capacitação
do pessoal referido no inciso V do artigo 2º desta resolução.
Os recursos, materiais e humanos, disponibilizados e instalados são:
1. Sala de Internet com computadores conectados a banda larga e mobiliário
adequado constituindo um ambiente cuidado e preparado para receber seus
usuários; 2. Suporte técnico para realizar a manutenção constante dos
equipamentos; 3. Estagiários preparados continuamente para garantir um
atendimento com qualidade e inspirador aos usuários facilitando o uso da
internet, dos recursos de produção de conteúdo e atividades on-line e o
entendimento de como esses recursos podem ser úteis no dia-a-dia. Os
usuários poderão imprimir preferencialmente, dentro da cota mensal da
escola, determinados serviços como: • currículos; • serviços de governo
eletrônico que precisem de comprovante, por exemplo, Atestado de
Antecedentes; • trabalhos escolares produzidos pelo usuário.26
26
SÃO PAULO (Estado). Acessa São Paulo. Manual de procedimentos. Revisado em jan./2013. Disponível
em:
156
De acordo com o manual,
Os computadores são de uso livre e gratuito. Os alunos podem acessar fora
do horário de aula ou acompanhados pelos professores durante as aulas.
Todos podem utilizar o computador por trinta minutos e ao final do tempo
podem retornar ao final da fila para acessar novamente por mais meia hora.
E ainda é descrito que os usuários podem:
• Enviar e receber correio eletrônico (e-mail). • Elaborar e enviar currículos.
• Procurar vagas de emprego. • Ler as notícias de qualquer parte do mundo.
• Participar de comunidades virtuais. • Conhecer pessoas novas. • Participar
de redes sociais. • Realizar pesquisas escolares. • Realizar cursos a distância.
• Pesquisar sites de interesse (cultura, esporte, informática, religião, saúde,
lazer etc.). • Publicar seus conhecimentos na internet. • Construir novos
canais de expressão cultural e social. • Elaborar atividades que beneficiem a
escola. • Realizar e estruturar projetos na Rede de Projetos que tragam
benefícios aos alunos e à escola.
O programa foi estruturado em três níveis de gestão:
Gestão Local - GAL - Grupo de Apoio Local - Representantes da escola que
darão suporte aos alunos-estagiários na Sala do Acessa Escola; Gestão
Regional - DE - Diretorias de Ensino: Professores Coordenadores e
Estagiários Universitários que assumirão a implementação do Programa nas
escolas; Gestão Central - Secretarias da Educação, Fundação para o
Desenvolvimento da Educação - responsáveis pela elaboração das diretrizes
que nortearão a implantação, o acompanhamento e a avaliação do Programa
Acessa Escola nas escolas de ensino médio da rede estadual.
Vale ressaltar que, até o ano de 2010, a Escola do Futuro - USP fazia parte da
Gestão Central, com a responsabilidade de elaborar as diretrizes de implantação e acompanhar
a avaliação do Programa, em conjunto com a FDE. Era responsável ainda pela formação dos
alunos estagiários, que, por sua vez, desde o início do programa possuíam bolsa financiada
pelos projetos de estágio da Fundação do Desenvolvimento Administrativo - FUNDAP. A
partir de 2010, as formações passaram ser de responsabilidade da FDE e Diretorias de Ensino.
A partir da implantação do programa, em 2008, gradativamente, as antigas salas
de informática das escolas foram reestruturadas, ou estruturadas nas unidades escolares que
ainda não contavam com esse recurso, a partir de diferentes layouts, de acordo com o tamanho
<http://demparanapanema.educacao.sp.gov.br/SiteAssets/Paginas/acessa%20escola/Capacita%C3%A7%C3%A3
o%20-%20Manual%20de%20Procedimentos.pdf>. Acesso em: 11/10/2014.
157
da sala disponibilizada pela direção da escola, como segue nos três modelos, de um total de
oito, os quais podem ser encontrados no Manual de Procedimentos dirigido aos Diretores.
Figura 1 – Layout 1 Sala Acessa Escola - 77,76 m2
Figura 2 – Layout 2 Sala Acessa Escola - 64,00 m2
158
Figura 3 – Layout 3 Sala Acessa Escola - 56,00 m2
Ainda existem outros cinco tipos de layout, sendo eles, respectivamente, para
salas de 51,84 m2, 48,00 m
2, 42,00 m
2, 40,00 m
2 e 25,00 m
2. Mesmo com tamanhos
diferentes, todas as salas possuem divisões em baias, como se fossem lan houses, o que
dificulta o trabalho de alguns professores que as utilizam para ministrar suas aulas. Quanto à
manutenção dos equipamentos, os estagiários não têm autorização para tal ação, pois existe
um sistema de outsourcing27
, que se responsabiliza, inclusive, pelo envio dos equipamentos às
escolas.
No final de 2014, o programa estava presente em 4.265 escolas do Ensino Médio
da rede estadual de ensino, abrangendo os municípios do Estado de São Paulo, com 4,8
milhões de alunos cadastrados e 11 mil estagiários. Segundo seus organizadores, no final de
2009, contava com a participação de mais de 195.000 usuários e mais de 5.000 estagiários28
.
Em agosto de 2014, possuía 4.715.672 usuários e 73.937 computadores ativos, com uma
média de 113.953.718 atendimentos.
27
Computadores, impressoras, projetores multimídia, entre outros, são constantemente encaminhados às escolas.
Eles podem ser adquiridos e incorporados ao seu patrimônio ou fazer parte de um contrato de outsourcing,
modalidade onde o que se adquire é o serviço e não o equipamento. Por exemplo, uma empresa contratada por
outsourcing para oferecer serviços de impressão irá disponibilizar uma impressora para a escola, a fim de
garantir que o serviço – que é o objeto do contrato - seja prestado adequadamente. A assistência técnica de cada
equipamento dependerá de fatores como: modalidade de contratação, tempo de uso, tempo de garantia, entre
outros. Para acioná-la, as escolas o fazem por intermédio da Central de Atendimento da FDE, que presta as
orientações necessárias e, quando for o caso, encaminha o chamado para a respectiva empresa, garantindo que a
manutenção seja feita remotamente ou por meio de visita de um profissional qualificado à escola. 28
Alunos da própria escola ou da região, que recebem bolsa de estudos e formação para seu preparo para o
desenvolvimento das atividades nas Salas do Acessa Escola, bem como, segundo os idealizadores do programa
para a inserção no mundo do trabalho e o desenvolvimento da cidadania.
159
De acordo com publicação no site do Acessa Escola, o programa enseja a
participação das comunidades intra e extraescolar, buscando o compartilhamento da educação
formal, no que se refere à utilização do espaço como apoio ao processo de ensino e de
aprendizagem, e da educação não formal, quando se trata do uso da sala pela comunidade
local, a fim de promover a inclusão digital de alunos e professores fora de seus horários de
aula e trabalho, respectivamente. A utilização dos equipamentos é individual, os alunos ou
membros da comunidade utilizam o computador por períodos fechados de meia-hora, sempre
com a supervisão de um estagiário.
Na Diretoria de Ensino Região de Caieiras, no mês de junho de 2010, o programa
contava com 227 vagas para estagiários em 57 escolas com Ensino Médio. Foram registrados
22.511 atendimentos aos usuários, que são os alunos das próprias escolas, pois, em conversa
com o Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico - PCNP de Tecnologia29
, nessa mesma
época, obteve-se a informação de que havia uma grande resistência de muitos gestores
escolares em abrir as salas para toda a comunidade, principalmente em autorizar o uso da
internet para acesso às redes sociais digitais. No entanto, em agosto de 2014, houve um
melhor entendimento por parte dos gestores, por conta de pressões, e a Diretoria passou a ter,
de um total de 67 escolas com Ensino Médio, 66 ativadas, com 73.856 usuários e 3.220.894
atendimentos em 1.112 computadores.
Gohn (2004, p.57) aponta que isso ocorre inúmeras vezes nos espaços escolares,
pois existem gestores que ainda não entendem a escola como uma propriedade pública,
muitos têm atitudes que demonstram o sentimento de posse, como se fossem os únicos
“donos”. Observa ainda “que o processo brasileiro de descentralização da educação não
descentralizou, de fato, o poder no interior das escolas. Usualmente, esse poder continua nas
mãos da diretora ou gestora” (GOHN, 2004, p.57).
Outro problema apontado pelo PCNP foi sobre a dificuldade de preenchimento
das vagas de estagiário no período noturno. Uma parcela dos cursos de Ensino Médio está no
horário noturno e os alunos, para participarem do projeto, têm de estagiar em período adverso
ao de aula. Dessa forma, além de ocorrer essa falta de candidatos no noturno, há muitos
alunos esperando por uma vaga nos períodos matutinos e vespertinos, pois os primeiros
classificados no processo de seleção já ocuparam tais vagas.
29
PCNP - Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico. Cada Diretoria Regional de Ensino possui professores
designados para diferentes áreas como Matemática, Língua Portuguesa, Biologia, Tecnologia etc. Estes têm
como função promover a formação continuada dos professores das unidades escolares.
160
Entretanto, o “puro” acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação e às
redes sociais digitais, sem a reflexão do seu uso de forma consciente, pode levar o sujeito à
ilusão de que terá seus direitos resguardados, uma vez que traz sem seu bojo a ideia de
garantia de inserção no mercado de trabalho e, por sua vez, de “participação na riqueza
coletiva” (CARVALHO, 2002, p.10). Contudo se houver uma reflexão sobre a realidade
circundante, essa mesma tecnologia poderá auxiliar para que os sujeitos busquem formas de
participação e garantia dos direitos sociais atrelados aos direitos políticos e civis. Aqui se
apresenta um círculo vicioso, no qual a inclusão digital e o acesso às tecnologias podem
proporcionar, de acordo com a matriz cidadã30
, variadas formas de acesso à informação e, por
consequência, variadas oportunidades de Educação, como a não formal, por exemplo.
No entanto, o que se percebe é que as pessoas que possuem acesso às tecnologias,
em sua maioria, é porque têm ou tiveram acesso a alguma forma de Educação. E, segundo
Carvalho (2002, p.11), a educação, mais especificamente no que se refere à educação popular,
é um direito social que historicamente se configura como “pré-requisito para a expansão dos
outros direitos” (CARVALHO, 2002, p.11). Assim, é necessário que as políticas públicas de
educação e de inclusão digital tenham como foco permitir que os sujeitos tomem
conhecimento sobre seus direitos e se organizem para lutar e conquistá-los.
Nesse contexto, seria importante que políticas públicas de educação e inclusão
digital tanto na educação formal como na educação não formal, como a aqui apresentada,
tivessem o objetivo de construção da cidadania, não meramente de alfabetizar
tecnologicamente de modo a “justificar para que exista, acelerando a internacionalização do
sistema capitalista” (CARVALHO, 2002, p.13).
Da mesma forma, seria imprescindível que, dentro de um cenário globalizado e
neoliberal que acaba por ocasionar a exclusão dos sujeitos de um processo de cidadania, o
programa Acessa Escola – que tem como objetivo unir num mesmo espaço a inclusão digital
para a comunidade escolar e a potencialização dos recursos tecnológicos como apoio ao
processo de ensino e aprendizagem, desenvolvido dentro de uma política pública de inclusão
digital do Governo Estadual – propiciasse efetivamente ao jovem estudante do Ensino Médio
da escola pública estadual uma consciência formada por meio das redes sociais digitais,
favorecendo a articulação dos movimentos e reivindicação das demandas sociais.
30
Matriz cidadã: Possui a perspectiva da conservação de espaços coletivos e de encontros de grupos sociais que
permitam aos sujeitos se reconhecerem com vidas, propósitos, objetivos e problemas similares, havendo neste
cenário o reconhecimento de uma cultura comum. (SILVA, 2008)
161
Para tanto, é imprescindível a reflexão sobre as políticas públicas de inclusão
digital para a inclusão social, os conceitos e práticas educacionais, os estudos acerca do
relacionamento entre as teorias e tecnologias da informação e comunicação e redes sociais
digitais, a cultura e sua relação com o trabalho, com a educação e a relação destes, por sua
vez, com a comunidade. E ainda sobre como as Tecnologias de Informação e Comunicação
podem interferir na melhoria do processo educacional ora por meio da educação não formal,
ora por meio da educação formal, permitindo uma maior aproximação entre o sujeito e o
objeto de conhecimento, dentro de um contexto global, no qual se estabelecem as relações
homem-máquina. Contudo, só seria possível se, assim como fala Cortella (2007, p.48), tão
somente se for comprometido eticamente com a verdadeira construção da cidadania.
Na construção da cidadania, as Educações formal e não-formal que forem
eticamente comprometidas repartem práticas que são amiúde diferenciadas,
com frequência em espaços não-idênticos, com caminhos que nem sempre se
entrecruzam, mas com um objetivos em comum. (CORTELLA, 2007, p.48)
3.3.1 A questão do acesso
Ao se falar em acesso, ou na falta dele, reporta-se à questão da “exclusão digital”.
Este é o termo, para Silveira (2008), mesmo com as ressalvas realizadas, que melhor se ajusta
à condição de falta de acesso aos meios de comunicação digital. Ressalta que, até então, o
maior entrave para uma comunicação efetivamente em rede são as “desigualdades
socioeconômicas”, ainda que os custos de equipamentos e acessos tenham sido reduzidos.
A negação do acesso é o núcleo da maior exclusão, aquela que impede que o
cidadão chegue até um computador conectado para se comunicar, do modo
que quiser. Por não se tratar de um processo natural, por não representar as
opções individuais, o termo exclusão digital tem ainda, e infelizmente por
um tempo longo, um enorme valor de uso. Ele identifica o fenômeno do
bloqueio econômico e infraestrutural que impede os segmentos mais
pauperizados de acessarem as redes informacionais. Ele define um processo
excludente que não permite que cidadãos tenham o mais elementar e básico
contato com as redes digitais. (SILVEIRA, 2008, p.55)
O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, na Pesquisa Nacional por
Amostra de Domicílios (PNAD) referente a 2013, constatou que o Brasil já ultrapassou o
percentual de 49,2% da população com acesso à internet, em 2012, passando para 50,1%, em
2013. Conforme o estudo, o Brasil ganhou 2,5 milhões de internautas, 2,9%, entre 2012 e
162
2013, totalizando aproximadamente 86,7 milhões de usuários de internet com 10 anos ou
mais. Desse total, as mulheres são 51,9%.
A taxa de crescimento, no entanto, é a menor registrada pela PNAD: entre 2011 e
2012, ela foi de 6,9%; entre 2009 e 2011, 14,8%; e de 2008 para 2009, 21,6%. Quanto aos
grupos de idade, o acesso se mostrou maior entre as faixas de 15 a 17 anos e de 18 a 19 anos,
alcançando 76% e 74,2% desses jovens, respectivamente, em 2013. Já na faixa etária entre 40
e 49 anos, 44,4% do total acessa a internet. Apenas 21,6% de quem tem mais de 50 anos se
conecta à web.
No que se refere às regiões, Sudeste aparece com 57,7% de internautas, Sul com
54,8% e Centro-Oeste com 54,3%, percentuais superiores à média nacional de 50,1% da
população. Do total, o Norte ficou com 38,6% e o Nordeste, com 37,8%, percentuais abaixo
da média. Todas as regiões brasileiras registraram crescimento de internautas em 2013, com
destaque para o Nordeste com 4,9% e o Sul com 4,5%. O Sudeste teve 2,2%; o Centro-Oeste
com 1,3% e o Norte com 0,4% aparecem em seguida.
Mesmo que os dados sejam promitentes, ainda existem 86,35 milhões de
brasileiros que não têm acesso às redes digitais pelos mais variados motivos, desde falta de
interesse, ausência de conhecimento, por conta dos custos ou pelo motivo mais agravante:
pela falta de infraestrutura adequada. Para todos esses motivos haveria medidas cabíveis para
se mitigar o problema, contudo, os dois últimos comprovam a falta de iniciativa de agentes
responsáveis por implantar políticas que levem à possibilidade de acesso às informações e
relações em rede por meio da internet e redes sociais digitais.
A pesquisa também mostrou que houve um crescimento de 8,8% nos domicílios
com computador. No Nordeste, o aumento foi de 14,0%, com 686,6 mil no total. Em 2013,
dos 32,2 milhões de domicílios com computador, 28,0 milhões estavam com acesso à internet.
No Sul, o crescimento foi de 14,7% no número de computadores com acesso à internet: total
de 50% das unidades domiciliares. Índices superiores aos apontados pelo Mapa da Inclusão
Digital, descrito posteriormente. Contudo, ainda aquém do objetivo da inclusão digital.
Ainda segundo a PNAD, houve um aumento significativo de residências com
celular como meio exclusivo de telefonia, apontando 130,8 milhões de pessoas (com 10 anos
ou mais) com celular, correspondendo a 75,5% da população no Brasil. Em todas as grandes
regiões, houve crescimento do total de pessoas com celular de 2012 para 2013: Norte 5,6%,
Nordeste 6,2%, Sudeste 4,5%, Sul 4,9% e Centro-Oeste 5,1%. Do total de pessoas com
celular para uso pessoal, 21% tinham entre 20 e 29 anos; e 21,2%, entre 30 e 39 anos de
idade. Quanto às regiões, Centro-Oeste aparece com 83,8%, Sul com 80,2% e Sudeste com
163
79,8%, percentuais superiores à média nacional de 75,5%. No Norte e Nordeste, a
porcentagem foi de 66,7%.
Esses dados são significativos tendo em vista que, consoante Castells (2013) e
Gohn (2014), como mencionado no primeiro capítulo desta tese, uma das principais
ferramentas de luta utilizadas pelos movimentos e manifestações sociais em muitos países,
inclusive o Brasil, é o acesso às redes sociais digitais por meio da telefonia celular. Tais
números são interessantes para esta tese em particular uma vez que, na análise de dados
apresentada no próximo capítulo, os sujeitos da pesquisa se referem ao uso constante de
celular para acesso às redes sociais digitais, bem como a programas de comunicação como o
WhatsApp.
Outra pesquisa de relevância para se entender o acesso às TICs no Brasil é a
realizada pela Fundação Getúlio Vargas - FGV, em parceria com a Fundação
Telefônica/Vivo, coordenada por Marcelo Neri (2012). Seu Mapa da Inclusão Digital
verificou que, em 2012, apenas um terço dos domicílios brasileiros tinha acesso à internet, o
que os pesquisadores consideram como um grande avanço, pois há dez anos o percentual era
de 10%. Contudo, identificaram que o uso das redes não era tão comum assim como poderia
parecer, levando em conta que de 100 brasileiros com mais de 10 anos de idade, 65 não
conheciam a internet. Isso aprofundado em certas regiões do Brasil.
O Mapa mostrou que o Brasil era o 5º maior mercado de celulares e o 3º de
computadores. Todavia, continuava a ter grandes e complexos entraves na inclusão digital, em
razão de vários indicadores, como os que apresentam que 90% das residências chamadas por
eles de “classe A” tinham computador e conexão, presentes apenas em 2,5% das casas de
“classe E”. Ou seja, de cada dez lares com computador e acesso, sete acomodam os brasileiros
mais ricos.
No ranking dos estados brasileiros com mais lares com computador e conexão,
nas primeiras posições estão estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste e da décima segunda
posição para frente, estados do Norte e Nordeste. No mesmo sentido se configurou a pesquisa
nos municípios, como no caso de São Caetano, em São Paulo, que teve o maior índice de
acesso, com um percentual de 74%, de acordo os pesquisadores, similar ao do Japão. E nas
posições subsequentes, cidades de estados situados na região Sudeste, como Vitória, no
Espírito Santo, Santos, em São Paulo, Florianópolis, em Santa Catariana, e Niterói, no Rio de
Janeiro. Tais cidades foram apresentadas no Mapa como as que possuem os maiores números
de pessoas das classes A e B do país. Nesse caso, Vitória, com 80,6%, é a capital que mais
tem acesso domiciliar por banda larga, seguida de Florianópolis, com 77%. São também as
164
capitais com maior proporção de pessoas das classes A e B. Já em Boa Vista e Macapá, o
acesso por banda larga é de 0,36% e 1,69%, respectivamente, com 35,4% e 22% de acesso
discado. Ficando Aroeiras, no Piauí, com zero.
O Mapa comparou essas estatísticas com o percentual do líder mundial, a Suécia,
com 97% de domicílios conectados, índice similar ao da praia da Barra da Tijuca, no Rio de
Janeiro, inclusive em Rio das Pedras, uma favela vizinha, foi registrado o menor percentual da
cidade, 21%, número parecido com o do Panamá.
O estudo demonstrou que 33,1% não têm internet por desinteresse, 31,4% porque
não sabem, sendo citada a questão do custo do computador em apenas 1,76% dos casos e o
custo da conexão, em meros 0,40%. Mostrou também que a estatística varia de acordo com a
localidade, por exemplo, na capital com o maior percentual de inclusão, Florianópolis, que é
líder da banda larga, vigora a falta de interesse em 62% dos lares que não têm acesso. Em Rio
Branco o motivo apontado foi a falta de estrutura, com 42%, enquanto que em João Pessoa as
pessoas não acessam mais por falta de conhecimento (47%). Vale salientar que é onde as
pessoas acessam mais a internet na casa de parentes ou amigos.
Com referência à média nacional, os pesquisadores analisaram que os dois
maiores motivos do não acesso têm origem nas questões educacionais. Para o texto, educação
é a grande variável a tolher o acesso, inclusive mais do que a faixa de renda ou a classe social.
Foi constatado que a chance de uma pessoa com nível superior, ainda que incompleto, acessar
a rede é 100,8 vezes maior que a de um analfabeto. Nessa ótica, referem-se à educação como
“o elemento-chave na promoção social”.
O Mapa apontou que a inclusão digital evoluiu de 8% dos domicílios com internet
para 33% em um período de dez anos, colocando o país em 63º lugar entre os 158 mapeados.
A pesquisa ainda monitorou o efetivo uso da internet e os respectivos locais de acesso quando
verificado em mais de um local, constatando: casa, 57%; lan houses, 35%; trabalho, 31%;
casa de amigos, 20%; escola, 18%; locais públicos gratuitos, 5,5%. Nota-se que a escola
continuou a ser um dos últimos locais buscados para o acesso. No tocante à qualidade do
acesso domiciliar, 80,7% era feito por meio de banda larga e o restante, por meio de acesso
discado.
O texto apresentado no Mapa trata de algumas preocupações a partir da pesquisa,
como o fato de o preço da conexão não aparecer como o maior impedimento para o acesso à
internet, embora a renda estadual se mostre determinante no ranking estadual e municipal de
uso. Contudo, o próprio estudo ressalta que os números não poderiam gerar uma conclusão
precipitada sobre essa questão, já que múltiplos fatores podem interferir nesse resultado. De
165
acordo com o estudo, “[...] seria possível que, ao possuir baixa renda, o indivíduo não
enxergasse a importância de ter a Internet como uma alavanca para suas outras habilidades, o
que aumentaria a sua produtividade e consequentemente sua renda” (NERI, 2012).
Outra preocupação apontada pelo estudo se refere às disparidades geradas pela
questão da exclusão digital, mas percebe também uma oportunidade na inclusão:
A brecha digital preocupa não apenas porque a distância de oportunidades e
de resultados entre providos e desprovidos de acesso à Tecnologia de
Informação e Comunicação tende a aumentar numa época de forte inovação
tecnológica, mas pela oportunidade de diminuir esta mesma desigualdade
através de ações que melhorem a distribuição da quantidade e a qualidade do
acesso digital. (NERI, 2012).
O documento ressalta que é difícil medir a conectividade, uma vez que as bases do
estudo permitiram identificar somente o acesso e o uso dos computadores, conectados ou não
à internet, e não o uso das redes. Também que os índices são sintomáticos, uma vez que para
os excluídos “a carteira de trabalho é o símbolo da nova classe média, e a internet banda
larga” é o dos incluídos. Outro sintoma, e este destacado como positivo, é que outro estudo
realizado na década anterior se chamava Mapa da Exclusão Digital; o novo, Mapa da Inclusão
Digital. Contudo, faz-se questão de ressaltar que a metodologia da pesquisa força o tratamento
das alternativas independentes umas das outras, mesmo que se apresentem, por conta de seus
fatores, demasiadamente dependentes.
Diante do exposto, pode-se considerar que o acesso à informação significa um
fator de emancipação do homem, considerando-se que os saberes acumulados pela
humanidade podem ser aplicados em ações que beneficiem a sociedade como um todo e de
forma igualitária. Contudo, existe uma parcela significativa da sociedade que não possui
acesso aos bens culturais e cognitivos que estão disponibilizados nas redes sociais, tampouco
faz parte do sistema de sociedade em rede.
Vale mencionar que a internet e as redes sociais podem fazer com que as pessoas
alcancem saberes de forma mais rápida e ampla do que na pesquisa em bibliotecas –
principalmente no Brasil, onde muitos não têm o hábito ou condição econômica para a leitura
–, museus e até escolas. Porém, é quimérico pensar que todo conhecimento31
humano possa
ser organizado de forma segura no âmbito digital. Também as relações sociais ficam restritas
a uma realidade local.
31
“Conhecimento é um dos bens simbólicos que os seres humanos produzem e utilizam.” (LORIERI, 2005)
166
Segundo Lorieri (2005), a escola é uma instituição que se propõe a trabalhar com
um bem, o conhecimento, além de outros. Sendo assim, é de suma importância que provenha
seu acesso a todos que por ela transitem e em todos os tempos. Porém, a maioria delas
também não possui estrutura para essa atuação. No entanto, a parcela dessas instituições
educacionais que tem essa estrutura, em sua maioria, não preza o acesso à informação com
vistas a uma elaboração crítica do conhecimento. Assim como não valoriza as relações sociais
em rede como meio de formação do estudante para uma participação cidadã, atuando como
sujeito histórico responsável pelas transformações e tomadas de decisões.
A falta de consolidação dessa cultura abriu espaço para o surgimento das ONGs,
que fizeram do conhecimento seu instrumento de trabalho, tanto fora como dentro das
instituições educacionais, inclusive se beneficiando do surgimento do ciberespaço, que veio
com a promessa de cobrir a fenda deixada pela educação formal acerca do acesso à
informação e da formação levando em consideração o ser humano reflexivo e crítico de sua
realidade. A intenção não é, mediante a difusão de conhecimento, obter respostas definitivas,
mas questionar sempre as condições dos sujeitos, de maneira que, “com o pensamento mais
amadurecido” (LORIERI, 2005), não aceitem de forma passiva o que lhes impõe essa cultura
globalizada, podendo pensar e repensar suas posições humanas, sociais e políticas.
Para Silveira (2011, p.53), “o poder de conectar em rede ou de bloquear e impedir
que grupos sociais tenham acesso à rede requalifica a ideia de inclusão digital, que passa a
ganhar uma dimensão principalmente democrática”. Destarte, o acesso está estritamente
ligado à inclusão e participação social. Estar incluído digitalmente significa ter acesso à
tecnologia, à internet, às redes sociais digitais e à educação. Contudo, não adianta ter acesso
às TICs se antes não houver o acesso a uma educação que garanta, no mínimo, a capacidade
de leitura e seu entendimento; escrita e suas manifestações de ideias; representações
matemáticas do mundo; pensamento lógico; e, principalmente, pensamento crítico.
Dessa forma, apesar das pesquisas apresentadas neste item, o acesso não se
configura de modo assistencialista, não bastando dispor de computadores por meio de
programas sociais específicos ou disponibilizá-los em centros comunitários. O acesso é um
processo que também ensina a utilizar a tecnologia em prol da sociedade, pois ninguém se
liberta ou se torna independente sem relacionar-se com o outro. Porém, emancipar-se é saber
aprender a caminhar sozinho e “dispensar ajuda” (DEMO, 2000, p.26). É saber, antes de tudo,
como pertencer a espaços desejados e necessários, sejam eles físicos ou virtuais. Nessa
perspectiva, o espaço virtual ocupado de forma compartilhada pode ser uma possibilidade de
167
melhoria do espaço físico no coletivo, argumento que faz parte inclusive das reivindicações
presentes nas manifestações populares.
Na questão da limitação ou do acesso às TICs e às redes sociais, no que tange às
informações que elas provêm ou à elaboração do conhecimento a partir delas, ou ainda uma
formação cidadã por meio das relações em rede, pode-se perceber um ambiente cada vez mais
desigual à medida que se examina o movimento do processo de exclusão digital, mesmo que
os dados apontem crescimento desse acesso. A exclusão de uma grande parcela da população
acerca das informações e conhecimentos acumulados pela humanidade e das novas
possibilidades de relações humanas por meio das redes.
Ademais, há uma percepção de que sempre se está correndo atrás do novo, pois, à
medida que um bem ou serviço é disponibilizado, ele não tem mais as mesmas condições de
uso dos mais modernos adquiridos pela classe dominante. Daí a importância do acesso e da
inclusão não se configurar nesses bens de consumo. Que, por mais obsoletas ou avançadas,
sejam ferramentas que auxiliem na transformação da realidade, na construção de uma
sociedade participativa e cidadã.
O que há de revolucionário na internet não é ela permitir a comunicação em
rede. A comunicação em rede sempre existiu desde que os homens
começaram a se relacionar em grupos e em comunidades. Por serem
flexíveis e adaptáveis, as redes têm grandes vantagens sobre as estruturas
hierarquizadas. E por isso se expandiram na sociedade e na economia. Seus
limites, no entanto, eram definidos pela dificuldade de coordenar funções, de
concentrar recursos para determinados objetivos e mesmo de realizar tarefas,
dependendo do tamanho da rede. As tecnologias de informação e
comunicação, sobre as quais se baseia a internet, deram novo impulso ao
desenvolvimento das redes, pois puseram por terra os seus Inclusao digital-
polemica.indd 80 02/12/2011 18:31:55 s 81 s limites naturais ao permitirem
o gerenciamento de tarefas e a administração da complexidade.
(CASTELLS, 2003, p.7-8)
3.4 INCLUSÃO DIGITAL
Tratar do tema inclusão digital requer abordar antes questões intrínsecas a respeito
de inclusão e inclusão social, em razão de ainda fomentarem muitos debates. Ao mesmo
tempo, possibilita uma reflexão sobre o processo de exclusão que a sociedade sofre e, por
consequência, a “inclusão” nesse grupo. Referir-se-á este texto aos estudantes do Ensino
Médio da escola pública que, por meio do acesso aos meios de comunicação e redes sociais
digitais, tomam conhecimento e, muitas vezes, participam das manifestações sociais com o
168
objetivo de protestar contra o processo de exclusão a que são submetidos. E, por meio de
reivindicações, buscam ser incluídos numa sociedade que os exclui.
Segundo Sawaia (2001, p.7), a exclusão é um tema da sociedade moderna, “usado
hegemonicamente nas diferentes áreas do conhecimento”. Ao longo da história a essa
categoria foram dadas diferentes definições, assim como na sociedade contemporânea ainda
existe um acirrado debate de seu real sentido. Portanto, esse conceito teve alterações em sua
acepção. Foi e continua sendo apreendido por culturas e grupos sociais variados, pois é por
definição “polissêmico, complexo e movediço” (SAWAIA, 2001, p.8). Refere-se ao acesso
diferenciado às “estruturas econômicas que geram desigualdades absurdas de qualidade de
vida”, acrescenta Wanderley (2001, p.18). A autora, em outra obra, considera que a exclusão
não é representada apenas por rejeitados de forma física, geográfica ou material. Ainda mais,
de todas as riquezas espirituais, o não reconhecimento dos valores culturais também os
excluiria. (WANDERLEY, 2006, p.17-18)
Segundo José de Souza Martins (2003), o que se denomina exclusão é a soma dos
entraves, dos problemas e dos modos precários e marginais de participação social que advêm
das transformações econômicas, defendendo o autor que
[...] o discurso corrente sobre exclusão é basicamente produto de um
equívoco, de uma fetichização, a fetichização conceitual da exclusão, a
exclusão transformada numa palavra mágica que explicaria tudo.
Rigorosamente falando, só os mortos são excluídos, e nas nossas sociedades
a completa exclusão dos mortos não se dá nem mesmo com a morte física;
ela só se completa depois de lenta e complicada morte simbólica.
(MARTINS, 2003, p. 27)
A exclusão não é simplesmente resultado de falta de renda, abarca também outros
fatores, como o precário acesso aos serviços públicos e, especialmente, a ausência de poder.
Outro fator que todo cidadão deveria ter é o direito aos direitos, no entanto, entende-se,
também que ele possa ser utilizado com a finalidade de se obter maior participação na
sociedade. É necessário que não se tome o sentido da palavra exclusão como sinônimo de
pobreza, uma vez que excluídos são aqueles que estão aquém de certos “valores” e
“representações” de determinados grupos. (WANDERLEY, 2001, p.23)
Segundo Sawaia (2001, p.12), “o excluído não está à margem da sociedade, mas
repõe e sustenta a ordem social, sofrendo muito neste processo de inclusão social”. Dessa
forma, considera-se que exclusão em seu cerne não existe, isso porque, se determinado sujeito
169
está excluído de um segmento, não significa que não esteja incluído em outro. Assim como
demonstra Santos (2008),
[...] é um campo de lutas sobre os critérios e os termos da exclusão e da
inclusão que pelos seus resultados vão refazendo os termos do contrato. Os
excluídos de um momento emergem no momento seguinte como candidatos
à inclusão. (SANTOS, 2008, p.319)
Desse modo, é necessária reflexão acerca da relação dialética entre tais termos e
sua superação, uma vez que a exclusão e a inclusão, como categorias, não podem existir
isoladamente.
De acordo com Wanderley (2001), não se pode tratar de “exclusão” sem entender
o espaço e o tempo histórico em que ela ocorre, pois são variados os olhares sobre a questão
em diferentes períodos históricos.
O uso da noção de exclusão, no âmbito das políticas públicas, permite a
adesão à políticas que tratam os problemas sociais como adendos, e também
como fatalidades decorrente da hegemonia das leis econômicas e dos
ditames do capital financeiro (fora dos quais se estaria excluído do mundo
“globalizado”). Permite portanto tratar a exclusão como “resíduo
necessário”, ainda que não desejável, das necessárias leis do mercado e da
competitividade do mundo “globalizado”. Efeitos múltiplos que podem ser
mitigados através de múltiplas ações. (FERREIRA, 2002, p.6)
Quando trata sobre o uso do termo exclusão pelas políticas públicas, Ferreira
(2002) argumenta que ele vem sendo tratado de maneira fracionada e isolada, sem um vínculo
com os cenários e conjunturas, ou com as relações e efeitos políticos associados, não se
levando em consideração o conflito existente em cada problemática.
Nas décadas de 60 e 80 o termo foi associado aos grupos sociais denominados
favelados e migrantes, isso por conta da recessão da economia e, por conseguinte, da pobreza.
Especificamente nos anos 80 a noção esteve ligada à luta por moradia, assim como ao acesso
a bens e serviços substanciais para a qualidade de vida. Já nos anos 90 o conceito passou pela
questão da pobreza, esta, por sua vez, com sentido de desqualificação desse grupo e de
negação ao direito de ser cidadão no que se refere à privação do direto aos direitos, “[...] o
conceito de exclusão como a não cidadania, principalmente a ideia de processo abrangente,
dinâmico e multidimensional” (VERÁS, 2001, p.33-35).
Nesse prisma, para Gohn (2005a, p.9), com a “mudança da conjuntura econômica,
o desemprego se tornará o ponto central da questão social, expressa em miséria e exclusão
170
social”. A rapidez das transformações e a grande crise do mercado intensificam o processo de
exclusão social, deixando-o em evidência.
Segundo Paugam (2001, p.77), há um movimento de exclusão dos sujeitos do
mercado de trabalho, eles passam por um processo de desqualificação social que os empurra
“para a esfera da inatividade e de dependência dos serviços sociais”. Dessa forma, ultrapassa
os limites das atividades específicas da pobreza econômica. No centro do debate sobre os
mecanismos do processo de inclusão está a sedimentação de ideias caracterizadas pela
valorização do ser humano.
Nessa vertente, Gohn (2005a, p.9) fala que “a crise atual criou novas categorias de
excluídos, desta vez no próprio acesso ao mercado de trabalho”, uma vez que também foram
suprimidas categorias trabalhistas ou formas de trabalho humano. Esses sujeitos envolvidos
nesse contexto, muitas vezes, não se sentem preparados para as novas “categorias funcionais”
(GOHN, 2005a, p.10).
Destacando a exclusão ou inclusão social e sua dialética, para Sawaia (2001) é a
negação de direitos a uns e afirmação de privilégios a outros, ou seja, se inclui uma
determinada parcela em detrimento de outra ainda maior, assim alguns são incluídos, ao
mesmo tempo que um grupo tem negado seus direitos de cidadania.
Para Frigotto,
[...] no âmbito do embate ideológico e político, a exclusão social expressa,
certamente, o diagnóstico e a denúncia de um conjunto amplo, diverso e
complexo de realidades em cuja base está a perda parcial ou total de direitos
econômicos, socioculturais e subjetivos. Sinaliza, quem sabe, o sintoma de
uma realidade contraditória em cuja base está a forma mediante a qual o
capital reage às suas crises cíclicas de maximização de lucro, vale dizer, suas
crises de tendência de queda da taxa de lucro. (FRIGOTTO, 2010, p.419)
Nesse contexto, a competitividade toma destaque, pois requer a exclusão e o
individualismo, características do liberalismo, bem atuante em nossa sociedade capitalista.
Passa a haver uma individualização do que é social, e “quando se fala em competitividade,
dificilmente se assumem as consequências que tal prática pressupõe, principalmente na
construção do mundo da exclusão” (GUARESCHI, 2001, p.150).
Para Frigotto (2010, p.419), a noção de exclusão social consiste “num sintoma da
materialidade que assume a forma capital e seu poder destrutivo no capitalismo tardio”. Para
ele, então, em termos epistemológicos, “a exclusão social não se constituiria num conceito”,
pois não internaliza intervenções peculiares da materialidade histórica da modernidade em
171
forma de capital, que teria como ponto central a desigualdade. O autor considera que esse viés
não sustenta o entendimento da realidade acerca da crise do trabalho assalariado e da questão
da desigualdade acirrada do sistema capitalista. Este, por sua vez, na elaboração e
implantação de políticas públicas, não preza o fim da desigualdade, e sim sua administração.
Junto a essa crise, vem a do modelo social, político e cultural, a qual indica
mudanças paradigmáticas do pós-moderno, o que para Young são
[...] tentativas repetidas de criar uma base segura, isto é, de reafirmar valores
como absolutos morais, declarar que outros grupos não têm valores,
estabelecer limites distintos do que é virtude ou vício, ser rígido em vez de
flexível ao julgar, ser punitivo e excludente em vez de permeável e
assimilativo. (YOUNG, 2002, p.35)
Para o autor, isso se configura na solidificação de uma sociedade que exclui, por
conta da alteração do pós-moderno para o moderno do final do século XX e início do século
XXI, que compreende “[...] processos de desintegração tanto na esfera da comunidade
(aumento do individualismo) como naquela do trabalho (transformação do mercado de
trabalho)” (YOUNG, 2002, p.23).
Assim, o ser humano, individualizado, é responsabilizado pelo cenário
desordenado de uma sociedade que não tem como prioridade o social. E as políticas sociais,
segundo Gohn (2005a, p.12), “perdem o caráter universalizante e passam a ser formuladas de
forma particularista”. Surgem, nesse espaço, entidades que têm por objetivo gerenciar tais
políticas e criar programas assistencialistas.
Neste horizonte, a tarefa política é, sem dúvida, transcender às estratégias de
inclusão degradada, sob programas focalizados e de caridade social que
funcionam como alívio à pobreza e manutenção do status quo. Para ir além
do focal, a luta da classe trabalhadora e dos movimentos que a constituem
implica, como indica o historiador Eric Hobsbawm, redefinir o papel do
Estado. (FRIGOTTO, 2010, p.438)
Conforme o autor, isso não de forma a representar o capitalismo, e sim com
objetivos democráticos, implicando a participação da sociedade civil na esfera pública,
fazendo com que se garantam os incontáveis direitos dos cidadãos, tudo organizado com a
plena participação da sociedade em seus coletivos e nos movimentos sociais.
Dado que o modelo vigente não assegura o acesso à conquista e manutenção de
direitos – e, de acordo com Frigotto (2010, p.438), existe “a ideia de que outro mundo é
possível e que os seres humanos e suas necessidades e não o capital e o mercado são a medida
172
de todas as coisas” –, a constituição de organizações de forma crítica e participativa poderia
garanti-los, desde que também cumprissem sua função transformadora, atuando como agentes
e fontes de mobilizações, prezando a democracia e cidadania, de forma a
[...] combater o ideário e os valores neoliberais e de prosseguir lutando para
construirmos sociedades fundadas nos valores e princípios da igualdade,
solidariedade e a generosidade humana, colocando a ciência e a técnica e os
processos educativos a serviço da dilatação da vida para todos os seres
humanos. (FRIGOTTO, 2010, p.438)
A inclusão social é também uma questão de políticas públicas desatualizadas, pois
“a política social só será social se for emancipatória” (DEMO, 2000). Ela não pode ser
simplesmente compensatória, mas transformar indivíduos em sujeitos autônomos e
conscientes de suas realidades. A perspectiva assistencialista deve ser substituída pela que
privilegia os direitos. A inclusão social precisa ter em seu horizonte a construção de uma
sociedade participativa, democrática e questionadora em todos os campos do sistema social.
Nessa ótica, faz-se necessária uma educação inclusiva que leve à construção de
uma sociedade também inclusiva, uma sociedade em que os espaços e insumos possam ser
compartilhados. Na qual a criação e implementação de políticas educacionais e de inclusão
social tenham como fim uma sociedade formada por sujeitos (individuais e coletivos) que
compartilhem os mesmos princípios no tocante à conquista de direitos a partir de necessidades
coletivas. Ou, como afirma Frigotto,
[...] A antinomia inclusão-exclusão somente pode ser tomada como sintoma
de relações sociais, estrutural e organicamente, geradoras da desigualdade.
Relações que precisam ser rompidas e superadas. Esta travessia implica
teoria densa e ação política organizada, vale dizer, práxis revolucionária.
(FRIGOTTO, 2010, p.438)
Isso posto, infere-se que a exclusão social continua inexorável, mesmo com a
execução de políticas tais como as citadas, mesmo porque frequentemente mostram-se novas
e variadas formas de exclusão. E, a partir do final do século XX, demonstrou-se a exclusão
dos que não têm acesso às TICs e às redes sociais, a chamada exclusão digital. Daí a
importância de tratar, mesmo que de forma sucinta, sobre inclusão/exclusão social para se
compreender em que proporção a inclusão digital pode, ou não, acarretar mudanças na
conjuntura social e econômica em uma sociedade conectada em rede sociais.
Cabe considerar que o termo exclusão digital também possui diferentes
significados para diferentes sociedades e suas formas de relações sociais. Em seu sentido mais
173
específico e comum, se refere ao não acesso às novas tecnologias de informação e
comunicação, com ênfase na internet e redes sociais digitais. Entre as caracterizações mais
assimiladas pelo senso comum, a inclusão digital seria o acesso e a qualificação ou
alfabetização no uso de programas de computador e leitura de códigos computadorizados, em
uma lógica mercadológica na qual o indivíduo incluído estaria mais preparado para a
competição do mercado de trabalho. Nessa linha de pensamento, organizações privadas e
governamentais bem como muitas ONGs disponibilizam, de forma direta ou indireta, projetos
ou cursos com essa finalidade.
Mesmo nessa concepção limitadora e reducionista o fato não ocorre, pois esse tipo
de preparação nunca garantiu ingresso no mercado de trabalho. No entanto, existe um
discurso político-partidário de que é imprescindível o acesso às informações para se possam
obter mais oportunidades, e para isso se implementam políticas públicas com medidas que
[...] propõem a universalização do acesso às tecnologias da informação e
comunicação, sendo declaradas como ações de combate ao que se denomina
por exclusão digital. Essas medidas, em termos gerais, são conhecidas como
programas ou projetos de inclusão digital e vêm sendo implementadas tanto
pelo setor público, quanto pelo setor privado e organizações do terceiro
setor. (BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.24)
Segundo os autores, muitos são os debates acerca da questão, que, contudo, tem
sido focalizada de maneira diferente: o acesso à qualificação nas mídias digitais para inserção
no mercado de trabalho, numa vertente que privilegia as práticas produtivas. Contudo, para
uma inclusão cidadã no que tange à conquista de direitos sociais, culturais e econômicos,
reduzir o conceito a uma alfabetização tecnológica não é aceitável.
Treinar pessoas para o uso dos recursos tecnológicos de comunicação digital
seria inclusão digital? Para alguns autores, tais iniciativas não seriam
suficientes para incluir digitalmente. Democratizar o acesso a tais
tecnologias seria, então, incluir digitalmente? Não há consensos para tais
questões. (BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.24)
Em sua maioria, esses programas são deslocados das políticas públicas em pauta,
segundo os autores. Eles não dão a devida importância à densidade das relações sociais,
abordando o termo de maneira desprendida e desarticulada dos contextos e conjunturas
sociais, prezando mais uma vez as questões sociais para as políticas compensatórias e
tecnicistas.
174
Nesse sentido, Bonilla e Souza (2011) destacam que a apropriação e o uso das
TICs figuram como indispensáveis, fazendo com que se multiplique o número de programas e
cursos que disponibilizam aprendizado técnico referente à utilização das TICs. Com isso,
reproduz-se um conceito de inclusão digital e mitiga-se a exclusão social por meio de
iniciativas com esses fins de ONGs e organizações privadas, não obstante, como política
pública por parte de muitos governos. Contudo, para os autores, “essa relação não é natural, e
só poderá ser estabelecida à medida que o primeiro termo for (re)significado e assumir não
mais a ideia de cursos básicos de informática e sim de formação do indivíduo para o exercício
da cidadania” (BONILLA, SOUZA, 2011, p.91).
Para Paulo Freire (2005), a partir de uma visão crítica de sua realidade, só o
homem é capaz de modificar seu estado vigente. Por isso, partindo-se dessa compreensão, é
imprescindível que se tenha objetivos concretos para a vida, não só em relação ao âmbito
profissional. Assim, conforme afirma Paulo Freire (2005, p.48), “[...] nas relações que o
homem estabelece com o mundo há, por isso mesmo, uma pluralidade na própria
singularidade”.
Warschauer (2006, p.23) fala que o ponto fundamental relacionado ao uso das
TICs pela parcela da população menos favorecida “não é a superação da exclusão digital, mas
a promoção de um processo de inclusão social. Para realizar isso é necessário „focalizar a
transformação e não a tecnologia‟”. Com isso, o autor nega que a exclusão digital esteja na
oposição dos que acessam as TICs e afirma que esse ponto de vista é deficiente para o
desenvolvimento social. Sugere assim uma perspectiva social transformadora, na qual se
considerem complexos aspectos sociais relacionados à questão das desigualdades no uso das
TICs. (BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.32)
Segundo Pierre Lévy (1999), as relações sociais com participação cidadã terão
maiores possibilidades democráticas e participativas se o espaço digital estiver a favor do
desenvolvimento das localidades onde estão as classes menos favorecidas social, econômica e
culturalmente, valorizando-as por meio de projetos e ações que busquem a transformação
daquela realidade. Para tanto, é preciso que haja uma maior participação social, além de uma
atuação mais incisiva dos poderes públicos, com políticas afins.
Incluir digitalmente visa, primeiramente, ao acesso dos sujeitos de todas as classes
e camadas sociais a variados tipos de informação sim, contudo, essa informação deve servir
como base para uma reflexão crítica no que se refere a uma inclusão emancipadora. É preciso
promover oportunidades de acesso não só às tecnologias da informação e redes sociais
digitais, mas também aos bens culturais, econômicos e, principalmente, sociais. Com vistas a
175
uma cidadania resultado da ação de sujeitos críticos, autônomos e construtores de sua história
e do grupo ao qual pertençam. É primordial que esse acesso às informações possibilite a
transformação da realidade do mundo, incluindo a escola, o bairro, a cidade, o estado, o país.
A inserção irresponsável e desigual do sujeito no uso das TICs pode reforçar ainda
mais a segregação na sociedade, uma vez que não é possibilitado a todos, principalmente aos
pobres, o aprimoramento de habilidades tecnológicas que possam ser aplicadas para o
desenvolvimento da cidadania. Dessa forma, para Silveira (2011, p.51), a comunicação e a
informação são fundamentais para que esse processo ocorra, contudo “[...] é perceptível que
os líderes políticos e gestores públicos têm grande dificuldade de entender a importância da
inserção do conjunto das camadas sociais na comunicação em rede para romper o processo de
reprodução da miséria”.
O autor cita Castells quando afirma que o poder é decidido no âmbito dos meios
de comunicação e que, antes das redes sociais, isso somente era possível em países que
fossem democráticos.
Com o advento da comunicação distribuída em redes digitais, mesmo em
países ditatoriais, se conformam espaços de diálogos horizontais entre
grupos e indivíduos conectados. Independente da comunicação em rede estar
sob os olhares dos ditadores e submetida ao rastreamento promovido pelas
polícias políticas e antiterror, o bloqueio das articulações e dos movimentos
de opinião é muito mais difícil do que em um cenário pré-internet.
(SILVEIRA, 2011, p.51)
Para o autor, nessa perspectiva, se houver de fato a inclusão das camadas sociais
menos favorecidas socialmente no uso das redes sociais digitais, a tendência é que as
contestações políticas sejam alteradas e se tornem mais profundas. Para ele, com base
conceituação de Castells, em que a interação da comunicação e relações de poder
caracterizam a sociedade em rede, as inter-relações em rede podem transformar o universo de
disputas cada vez mais acirradas, isso por conta da transparência dos conflitos ocorridos nesse
novo espaço social e digital. “Nesse sentido, pode-se dizer que a inclusão digital autônoma do
conjunto das localidades de um país é uma exigência atual da democracia política, bem como
do ideal deliberacionista” (SILVEIRA, 2011, p.52).
Dessa forma, para Bonilla e Oliveira (2011), o acesso democrático às TICs e às
redes sociais digitais é, antes de tudo, constituído pelo direito à participação nas decisões
sobre os rumos das políticas públicas, é a soberania popular atuando no que tange aos direitos,
é a colaboração em processos horizontais, que fundamentam a organização de uma sociedade
176
em rede. Transcende e sobressai-se ao que propõe a inclusão digital baseada no tecnicismo e
no senso comum, bem como à fundamentação de mitigação das desigualdades sociais – não
que estes não sejam desejáveis, mas não sem o primeiro. Contudo,
Essa tarefa social requer abordagens políticas transformadoras, articuladas e
focadas em suas múltiplas dimensões. Pode-se admitir que a garantia e
efetivação dos direitos humanos e as transformações sociais a elas
associadas se encontram “embrionariamente” no cerne da construção da
cidadania demandada pela contemporaneidade. (BONILLA, OLIVEIRA,
2011, p.43-44)
No entanto, a relação que a escola formal tem tido com a questão da inclusão
digital está também na capacitação técnica de professores, e em algumas escolas privadas são
ministrados cursos de utilização das ferramentas tecnológicas, sem, contudo, se levar o
estudante a uma reflexão das possibilidades de seu uso no que se refere à inclusão. Na escola
pública o cenário é mais agravante, uma vez que os alunos nem sequer têm acesso às
ferramentas tecnológicas. Porque, em algumas regiões, não dispõem desses equipamentos, ou
do acesso por meio das redes de telefonia; ou ainda por não ser permitido, primeiro por
desconhecimento de muitos gestores das possibilidades das TICs, segundo pela falta de
preparo dos docentes, terceiro pela ausência de interesse dos discentes. Isso no caso de
assuntos relacionados ao ensino tradicional, pois, quando conseguem adentrar esses espaços,
buscam atividades de lazer e relações pessoais, uma vez que não conhecem, de forma crítica,
o poder comunicacional das redes sociais. Dessa forma, a articulação
[...] entre os projetos de inclusão digital e a educação resume-se à realização
de atividades escolares (pesquisas!) nos infocentros/telecentros. Isso parece
ser uma possibilidade bastante útil aos estudantes. No entanto, continua a
perspectiva do consumo de informações e não se verificam articulações entre
as atividades realizadas nesses espaços e as dinâmicas pedagógicas
desencadeadas nas escolas que esses jovens frequentam. Também, essa
articulação não está proposta, prevista, ou estimulada pelas políticas
públicas. (BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.39)
No entanto, há mais nessa relação da escola com a inclusão, quando, na sociedade,
todos os dias as pessoas têm que lidar com alguma TIC e acabam por aprender no cotidiano. E
assim, a escola, nesse viés, necessita da organização de um trabalho pedagógico que tenha
vistas a uma função social para tal aprendizado.
Contudo, paralelamente à educação formal, caminha um grupo de estudantes que,
de maneira não formal, buscam interagir numa sociedade em rede, de forma a criar outras
177
interações capazes de intervir mais no campo da comunicação, combinando tecnologias e
soluções da informação com vistas ao atendimento das demandas sociais, por meio de
contestações ao que está posto em movimentos e manifestações sociais. Isso num cenário de
“grande assimetria na capacidade de usar as redes sociais digitais, entendida aqui como meio
e fonte de poder, como base para a articulação das outras redes culturais, sociais e políticas”
(BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.53).
Por tudo isso, a escola deveria ser um espaço de formação crítica em
comunicação, no qual a conectividade seria apenas o primeiro passo de uma trilha para a
apropriação do uso das tecnologias, por um caminho que teria como horizonte a mobilização e
a solidificação de movimentos sociais com efetiva participação política na sociedade. Nessa
perspectiva, vale a pena retomar as duas matrizes básicas de análise da questão: a forma
mercadológica e a forma cidadã.
3.4.1 Matrizes de análise
As matrizes de análise apresentadas a seguir foram elaboradas na dissertação de
mestrado da pesquisadora, a matriz mercadológica e a matriz cidadã. (SILVA, 2008) Sendo
que a segunda serve como base para inferência no que diz respeito à forma de participação
numa sociedade democrática. Desse modo, devido ao objeto de estudo desta pesquisa, bem
como pelos referenciais, universo e cenário e sujeitos apresentados nesta tese, considerou-se
pertinente revisar e utilizar novamente essas matrizes de análise para operacionalizar a análise
de campo. Isso porque a investigação se configura sob um prisma de participação crítica e
cidadã de sujeitos em uma sociedade em rede que busca, de forma democrática, inserir-se nos
processos de demanda de direitos econômicos, sociais e culturais por meio de protestos e
reivindicações em movimentos e manifestações sociais.
A primeira matriz, a “mercadológica”, tem como indicadores principais o
mercado e o discurso sobre a mercadologia. Ela tem como “bandeira” o fato de se apresentar
como uma ferramenta para a empregabilidade, especialmente para os setores mais pobres da
população. Ela é vista sob a perspectiva de um ativo de valores que agrega possibilidades de
ingresso no mercado de trabalho. A relação de mercado passa ser a mais importante finalidade
do processo de inclusão do indivíduo na sociedade em que está inserido. Destarte, a inclusão
digital passa a ser propriamente um fim, e não um meio, para a construção de uma sociedade
mais justa.
178
Essa matriz vê o indivíduo como um dos elementos a ser equacionado nessa
sociedade excluída. Como o foco é o mercado, ele – o indivíduo – é visto também como uma
mercadoria, pois sua inserção e competição aquecem o sistema mercadológico. Nessa
concepção, a intenção precípua não é garantir o direito à vida digna, e sim o lucro e os bens de
consumo de forma individual. A percepção é de que nada instiga o ser dominado, que age
como um “autômato”, a refletir para reverter essa realidade. A situação-limite que poderia
desafiá-lo foi superada pelo individualismo em relação ao outro.
Os indivíduos são colocados na situação de espera, supondo que por meio de
políticas assistencialistas, ou programas de capacitação, serão inseridos no mundo do trabalho
e, por conseguinte, terão suas vidas melhoradas. Ou seja, na perspectiva individual, a melhora
de suas vidas depende de cursos ou de auxílios. Assim, segundo Demo (2000), não se
percebem incapazes de gestar suas próprias oportunidades. Não se localizam no mundo, com
seus desafios, limites e reais possibilidades.
Nessa visão, as TICs intensificam as atuais formas de exclusão que tornam o
homem submisso e “pensado” pelos outros. Não há a consciência de que é necessário
transformar para melhorar a realidade do grupo ao qual pertence, para que cada um dos seus
agentes também possa viver de forma, no mínimo, digna.
Vale destacar desde logo que as TICs não são neutras, já que é o contexto de seu
uso que define seu caráter. A partir de determinadas perspectivas, elas podem ser definidas
como “boas” ou como “más”. Dependendo das intenções, ou mesmo da questão cultural, elas
podem aumentar e reforçar uma cultura de massa alienante, na qual os excluídos são
marionetes nas mãos dos dominantes, ou, ao contrário, podem promover consideravelmente o
desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem em busca do conhecimento, por
meio das informações acumuladas pelos seres humanos. Neste último sentido, elas
possibilitam aos indivíduos se perceberem e se tornarem capazes de orientar suas vidas e
transformar sua realidade local. Esta última forma configura o pensamento da segunda matriz,
chamada de “cidadã”.
A matriz cidadã tem como princípio a participação social em rede e a utilização
das TICs para a construção de uma sociedade menos desigual, num ato coletivo. Nela o
sujeito, de forma crítica, busca formas de utilização das TICs para a resolução dos problemas
sociais, especialmente os locais. Certamente, para que a participação cidadã se viabilize, é
essencial à implementação de políticas públicas que tenham como prioridades garantir o
acesso à informação, a elaboração de conhecimentos e a participação da sociedade na tomada
de decisões, bem como sua inserção na esfera pública.
179
Para essa matriz, devem ser proporcionados meios para que o sujeito possa
manter-se e para que seja capaz de perceber-se como participante de um grupo cujos membros
têm o direito de viver bem. Esse grupo, usualmente, tem base no local de moradia ou trabalho.
Entretanto, esse “localismo” também deve ser plural, ou seja, deve-se partir do trabalho em
determinado bairro ou território de ação, porém também buscar um mundo onde se possa
viver com dignidade, com direitos econômicos, sociais e culturais garantidos e com uma
distribuição justa de riquezas. Por isso, a ação local não se encerra nela mesma, ela apenas
inicia-se num ponto demarcado. Sua meta é mais ampla.
Assim, a participação consciente em rede, física ou digital, pode ser uma das
formas de inclusão social, desde que esteja inserida num cenário mais amplo e proporcione ao
homem condições de autonomia e emancipação. Ela deve ser educativa, e não simplesmente
assistencial; deve ainda ser o meio, e não o fim, tendo por finalidade construir uma sociedade
justa e igualitária.
Segundo Demo (2000), a inserção social deve ser educativa, mas todo processo
emancipatório necessita de apoio externo, ou seja, necessita de ajuda. Os atores, os órgãos e
as entidades, atuando segundo a matriz cidadã, não visam, portanto, somente à capacitação
para o mundo do trabalho ou criação de programas assistencialistas; eles atuam para educar
para a cidadania. Nessa perspectiva, a inclusão social e a participação cidadã têm como
desígnio a inserção do sujeito numa sociedade justa, solidificando o desenvolvimento local.
Visa, além disso, promover a cidadania, de forma participativa, ampliando-a como meio de
luta, seja por intermédio da mesma participação ou de protestos, manifestações e movimentos
sociais contra as injustiças sociais. Deve ser ferramenta de combate ao desemprego, à
pobreza, à fome, à miséria e à desqualificação social, que, na perspectiva material32
, são as
piores formas de exclusão social. Significa melhorar o quadro social e as condições de vida de
das comunidades articuladas em uma sociedade em rede e cidadã.
32
O termo “perspectiva material”, utilizado aqui com base em Pedro Demo (2000), está sendo empregado para
se fazer referência à carência material como indicador de uma forma exclusão, assim como a perspectiva política
representa a carência de conscientização da realidade por meio da educação, também como indicador e outra
forma de exclusão social.
180
CAPITULO IV – MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E REDES SOCIAIS:
PESQUISA DE CAMPO
Este capítulo dedica-se à análise do material de pesquisa de campo, realizada por
meio de questionário e uma roda de conversa com alunos do Ensino Médio de escolas
públicas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, especificamente dos municípios
de abrangência da Diretoria de Ensino de Caieiras. Essa região abarca um território onde
grande parcela da população é carente, principalmente dos municípios de Franco da Rocha e
Francisco Morato, por serem os mais populosos e com maior percentual de domicílios que
não ultrapassavam meio salário mínimo per capita no ano de 2010. Ainda fazem parte os
municípios de Caieiras, Cajamar e Mairiporã, os quais também possuem áreas desprovidas de
recursos sociais e econômicos (Anexo 1).
4.1 APRESENTAÇÃO DO RESULTADO DA ANÁLISE DO INSTRUMENTO
Primeiramente, foram aplicados questionários, disponibilizados em um espaço
virtual, por meio da internet. Estes foram respondidos de forma individualizada, nos
computadores da sala do Acessa Escola, ficando ao dispor para posterior análise e
interpretação dos dados por meio de estatística descritiva, de maneira a identificar os
percentuais das opiniões dos estudantes, enquanto nas questões abertas foram selecionadas as
respostas em comum e as julgadas pertinentes ao trabalho. No quadro de respostas 1
(Apêndice 2) são apresentados os nomes das 29 escolas, de um total de 63, e os números e
percentuais de participação de cada unidade escolar e seus alunos na pesquisa.
Para que os alunos pudessem iniciar o preenchimento do questionário, foi escrito
um texto explicativo de seus objetivos, como segue:
Esta pesquisa tem apenas a intenção de cunho acadêmico, a qual tenta traçar
a participação social e política dos estudantes nos movimentos sociais/
movimentos de reivindicação e manifestações populares de reivindicações
ocorridos nos últimos dois anos, bem como traçar a importância da
informação e comunicação do uso da sala do Acessa Escola.
Na sequência, foram apresentadas questões divididas em quatro blocos. O
primeiro bloco tentou traçar o perfil dos alunos. No segundo bloco foram adicionadas
questões formuladas no sentido de permitir identificar como se dão os usos educacionais da
internet e redes sociais. O terceiro bloco tem a pretensão de apresentar, para posterior análise,
181
o grau de conhecimento dos estudantes acerca dos movimentos ou manifestações sociais. E
finalmente o quarto bloco aborda a possível participação dos estudantes em movimentos e/ou
manifestações e o que os levou a esse engajamento.
4.1.1 (A) Perfil
Nesse bloco buscou-se apresentar um rol de questões que possibilitasse traçar o
perfil dos estudantes que responderam ao questionário.
No que se refere à questão de gênero, foi equilibrada a participação de alunos do
sexo masculino, com 48%, e do feminino, com 52 % (Gráfico 1). Na questão idade, a grande
maioria dos estudantes do Ensino Médio que responderam ao questionário estava na faixa
etária dos 15 aos 20 anos. Até 14 anos eram apenas 5 alunos, não chegando a 1%; 7% do total
possuía 15 anos; 40% estavam com 16 anos; e 41%, com 17 anos. Observa-se também 10%
dos alunos pesquisados com idade entre 18 e 20 anos e somente 8% ultrapassavam os 20 anos
(Gráfico 2).
Sobre limitações, apenas 1% dos alunos declarou possuir algum tipo de
deficiência, ficando entre física e múltipla, e 99% afirmaram não ter deficiência (Gráfico 3).
Sobre estado civil, 95% dos alunos eram solteiros, com algumas exceções de alunos casados,
somando 4%, e separados, 1% (Gráfico 4). Quanto ao número de filhos, 96% não os tinham,
2% tinham um filho e 2%, quatro ou mais (Gráfico 5).
Gráfico 1 – Questão 1: Sexo
Masculino
600 48%
Feminino
662 52%
182
Gráfico 2 – Questão 2: Idade
Gráfico 3 – Questão 3: Deficiência limitante
Gráfico 4 – Questão 4: Estado civil
Até 14 anos
5 0%
15 anos
93 7%
16 anos
510 40%
17 anos
515 41%
De 18 a 20
anos 131 10%
Mais de 20
anos 8 1%
Auditiva
1 0%
Física
5 0%
Múltipla
6 0%
Nenhuma
1.250 99%
Solteiro(a)
1.204 95%
Casado(a) / Mora com um(a)
companheiro(a) 48 4%
Separado(a) / Divorciado(a)
10 1%
183
Gráfico 5 – Questão 5: Quantidade de filhos
Embora a maioria dos dados estatísticos de pesquisas recentes apresente um
grande número de adolescentes com gravidez precoce, os alunos que responderam a esta
pesquisa não ratificam esse cenário, pois são poucos os que possuem filhos.
Perguntados sobre o tipo ou modo de moradia, 95% responderam que moravam
com pais ou parente, 2% com cônjuge e filhos, 1% sozinho e 1% em algum tipo de habitação
coletiva (Gráfico 6). Já acerca da quantidade de pessoas na residência, 37% declararam que
havia cinco ou mais indivíduos na mesma casa, 33% responderam quatro, 21% disseram ter
três, 7% somente duas pessoas e, como apresentado na questão anterior, 1% mora sozinho
(Gráfico 7).
Gráfico 6 – Questão 6: Tipo ou modo de moradia
Nenhum
1.215 96%
Um
20 2%
Dois
4 0%
Três
1 0%
Quatro ou mais
22 2%
Em residência, com meus pais/ parentes
1.204 95%
Em residência, com esposa(o) / filho(s)
24 2%
Em casa ou apartamento, sozinho(a)
8 1%
Em habitação coletiva: hotel, hospedaria,
quartel, pensionato, república
7 1%
Outros
19 2%
184
Gráfico 7 – Questão 7: Quantidade de pessoas na residência
Dos alunos que responderam ao questionário, quase a totalidade mora com os pais
ou parentes, se devendo esse dado à faixa etária. Contudo, uma parcela considerável reside
com mais de quatro pessoas.
Sobre a situação de sustento, 62% tinham os gastos financiados pela família, 21%
trabalhavam, mas também recebiam ajuda da família, 15%, além de se sustentar, contribuíam
em casa e 3% recebiam ajuda externa (Gráfico 8). Quanto à renda mensal familiar, 5%
recebiam ajuda externa, 25% afirmaram contar com renda familiar de até um salário mínimo,
34%, até dois salários mínimos, 25%, de dois a cinco, 8% de cinco a dez e 4% declararam que
a renda familiar é de mais de dez salários mínimos (Gráfico 9).
Gráfico 8 – Questão 8: Situação de sustento
Moro sozinho(a)
14 1%
Duas pessoas
93 7%
Três pessoas
265 21%
Quatro pessoas
417 33%
Cinco ou mais pessoas
473 37%
Meus gastos são financiados pela
família 784 62%
Trabalho e recebo ajuda da família
263 21%
Trabalho e me sustento e/ou contribuo
com o sustento da família 189 15%
Recebo ajuda externa
26 2%
185
Gráfico 9 – Questão 9: Renda mensal familiar
Apenas uma pequena parcela recebe auxílio de governos, e mais da metade das
famílias tem renda de até dois salários mínimos, um dado que vem comprovar os estudos
socioeconômicos sobre a carência de muitos nessa região. Contudo, mais ou menos um terço
dos estudantes, apenas, está inserido no mercado de trabalho, apesar de residirem em regiões
carentes da Grande São Paulo.
Acerca do tipo de formação escolar nos ensinos Fundamental e Médio, 91%
responderam que até aquele momento só haviam frequentado escola pública, apenas 1% havia
estudado até o ano anterior em escola particular, 6% estudaram parte na escola pública e parte
na particular, 1% em escola diferencial e 2% em escola pública integral (Gráfico 10). No
questionamento sobre locomoção para a escola, 9% declararam se deslocar de carro, 1% de
moto, 32% de ônibus ou van, 1% de bicicleta, 54% a pé ou de carona e 4% de transporte
conveniado (Gráfico 11).
Gráfico 10 – Questão 10: Tipo de formação escolar
(Ensino Fundamental e Médio)
Recebem ajuda de custa do governo
/ externa 61 5%
Até 1 salário mínimo (até R$
724,00 inclusive) 316 25%
Até 2 salários mínimos (até R$
1.448,00 inclusive) 432 34%
De 2 a 5 salários mínimos (acima de
R$ 1.448,00 até R$ 3.620,00
inclusive)
312 25%
De 5 a 10 salários mínimos (de R$
3.620,00 até R$ 7.240,00 inclusive) 96 8%
Mais de 10 salários mínimos (mais
de R$ 7.240,00) 45 4%
Toda na escola pública
1.150 91%
Até o último ano toda na escola particular
7 1%
Parte na escola pública e parte na particular
73 6%
Escola pública ou particular através de
ensino supletivo ou educação de jovens e
adultos
1 0%
Escola pública diferenciada (rural, indígena
ou quilombola) 7 1%
Escola pública integral
24 2%
186
Gráfico 11 – Questão 11: Locomoção mais utilizada para ir à escola
Quase todos sempre estudaram em escolas públicas. A maioria não utiliza nenhum
tipo de transporte para ir à escola, em seguida uma parcela considerável utiliza ônibus ou van,
pagos pela SEE.
Os dados apresentados nesse bloco confirmam o carecimento enfrentado por
muitos dos alunos dessa parte da Grande São Paulo. Se a metodologia de trabalho
contemplasse uma classificação por município, haveria desproporções de uma cidade para
outra, podendo-se verificar os dados socioeconômicos (Anexo 1).
4.1.2 (B) Usos educacionais - internet / redes sociais
Esse bloco se dedica a questões que mostram como se dão os usos educacionais
da internet e redes sociais.
No que se refere à participação em atividades escolares além das aulas, 30% dos
alunos consideram ser mais relevante para sua formação a participação em aulas na sala do
Acessa Escola, 17% em projetos diferenciados, 12% em atividades do Grêmio Estudantil e
50% declararam não ter participado de nenhuma dessas atividades (Gráfico 12). Já quanto à
frequência na sala do Acessa Escola, 60% afirmaram que utilizam a sala somente durante as
aulas, acompanhados por professores, 23% em aulas vagas, 14% fora do horário de aula e
20% disseram nunca ter frequentado a sala de informática (Gráfico 13). Dos alunos que
utilizam a sala, 77% disseram que tinham objetivo de pesquisa, 23% para as redes sociais,
21% para navegar em sites diversos e 11% responderam que para outras atividades (Gráfico
14).
Carro
110 9%
Moto
12 1%
Ônibus / Van
400 32%
Bicicleta
18 1%
A pé ou de carona
676 54%
Transporte conveniado
Estado / Município 46 4%
187
A respeito do uso das redes sociais, 81% disseram navegar no Facebook, 55% no
YouTube, 28% utilizavam o Instagram, 14% o Twitter, 4% navegavam em outras redes e 12%
não utilizavam as redes sociais (Gráfico 15). Quanto à finalidade do uso das redes sociais,
77% responderam que as utilizavam para obter informações, 39% para atividades sociais,
36% para conhecer outras pessoas, 22% declararam que desenvolviam atividades
profissionais, 21% para manter relacionamentos e 4% para outros fins (Gráfico 16).
Gráfico 12 – Questão 12: Atividade escolar, além das aulas, de que participa / participou e
considera de maior relevância na formação33
Gráfico 13 – Questão 13: Tipo de frequência na sala do Acessa Escola34
Gráfico 14 – Questão 14: Tipo de utilização da sala do Acessa Escola35
33
Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%. 34
Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%. 35
Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%.
Grêmio Estudantil
153 12%
Projetos diferenciados
216 17%
Sala do Acessa Escola
(sala de informática) 383 30%
Não participei das
atividades citadas 626 50%
Durante as aulas com os
professores
757 60%
Fora do horário de aula
176 14%
Em aulas vagas
290 23%
Nunca frequentou a sala do
Acessa Escola
249 20%
Pesquisa
969 77%
Navegar em sites
diversos 261 21%
Redes sociais
291 23%
Outros
144 11%
188
Gráfico 15 – Questão 15: Redes sociais utilizadas36
Gráfico 16 – Questão 16: Atividades nas redes sociais37
Ainda não são muitos os alunos que participam de atividades escolares
diferenciadas, observação que vem reforçar que a escola não promove práticas escolares
pedagógicas além das tradicionais. Apesar de os alunos responderem que frequentam a sala
do Acessa Escola durante as aulas com professores, esse tipo de utilização, bem como fora do
horário de aula, está aquém do que seria necessário para que essa ferramenta passasse a ser
utilizada de fato com vistas à conquista de direitos. A questão é que não foi indicada a
frequência com que os professores utilizam as salas com os alunos. O mesmo se aplica para o
tipo de utilização, a maioria indicando que procura as salas para pesquisa, pois não se tratou
da regularidade do uso. Outro ponto é que, quando os alunos podem visitar o espaço, há uma
grande parcela de gestores que ainda proíbe o acesso às redes sociais.
Assim, como descrito no capítulo III, o Acessa Escola deveria ser um espaço para
que os professores pudessem ter um apoio pedagógico que proporcionasse mudanças de
36
Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%. 37
Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%.
1.019 81%
175 14%
350 28%
YouTube
697 55%
Não utilizo
148 12%
Outros
55 4%
Informações
974 77%
Relacionamentos
262 21%
Conhecer pessoas
452 36%
Atividades profissionais
283 22%
Atividades sociais
496 39%
Outros
56 4%
189
posturas para educação com aulas diferenciadas e acesso às informações mediadas pelo
educador que vise a elaborações de conhecimentos que gerem transformações sociais.
Contudo, pode-se perceber que se mantém o mesmo paradigma de educação em que
não se valoriza de fato a participação coletiva no sentido de fazer com que seja garantida a
[...] equidade social, como quer a Constituição e a LDB (Lei de Diretrizes e
Bases), exige que se diferencie a proposta pedagógica para aproximar todos
os resultados pretendidos, uma vez que tratamentos uniformes para públicos
diversos acentuam a perigosa e injusta assimetria social. (KISHIMOTO,
2001, p.180)
Quanto ao acesso às redes sociais, também não se verificou o local onde se
conectam. Porém, constatou-se que as acessam e que a mais procurada é o Facebook. Assim,
onde esse tipo de uso é liberado, o foco acaba sendo a busca de informações.
Mais uma vez nota-se que impera um ensino tradicional em que
[...] A repetição está dentro do contexto escolar. Não só a repetição de um
conteúdo, através de exercícios de memorização ou mecanização, mas
também a repetição de uma forma, presente na configuração das salas de
aula e de todo o ambiente escolar, ajudando a garantir o controle e a
disciplina. (FRANÇA, 1994, p.93)
4.1.3 (C) Movimentos sociais
Esse bloco aborda o grau de conhecimento dos estudantes acerca dos movimentos
ou manifestações sociais. Quando perguntado aos alunos se sabiam o que seriam movimentos
sociais e manifestações populares de reivindicações, 77% responderam que sim e 23% que
não (Gráfico 17). Na questão sobre se consideravam importantes os movimentos sociais e
manifestações populares, 69% marcaram a opção sim, 7% não e 24% disseram não ter opinião
sobre o assunto (Gráfico 18).
Gráfico 17 – Questão 17: Sabem ou não o que são movimentos sociais
e manifestações populares de reivindicações
Sim
970 77%
Não
293 23%
190
Gráfico 18 – Questão 18: Consideram importantes ou não os movimentos sociais e
manifestações populares de reivindicações
De acordo com os dados, a maioria dos alunos diz saber o que são movimentos
sociais e manifestações populares de reivindicações e os considera importantes. Contudo,
conforme se pode se ver na questão seguinte, seus discursos são baseados no senso comum ou
no que ouvem e veem nas mídias. Exceto pelos que de fato participam de aulas em que os
professores tratam do assunto. Contudo, estes também muitas vezes informam e formam de
acordo com o que está descrito nos livros didáticos e apostilas.
Na questão 19 (Quadro de respostas 2 – Apêndice 3), na qual foi descrito o
entendimento sobre os movimentos sociais/ manifestações populares de reivindicações e sua
importância, as respostas mostram-se ligadas à ideia de mudança do mundo, de transformação
da sociedade e, principalmente, luta e conquista de direitos. Em relação à definição, muitos os
conceituaram como pessoas que se juntam para protestar em relação a “algo”, ainda que não
explicassem bem esse algo.
Também se percebe que os termos movimentos sociais e manifestações populares
de reivindicações são tomados como sinônimos, ambos sendo “um modo de sermos ouvidos”.
Ou ainda os movimentos sociais são descritos como protestos ou movimentos operários.
Outros os definiram como cidadãos que buscam seus direitos para melhoria de “algo”, que
lutam pelo que consideram certo ou errado, pois para os “políticos” isso não teria nenhuma
importância. Alguns estudantes conceituaram os termos ainda como passeatas, mas sem se
perder o sentido de busca de direitos. Para muitos é uma forma de a população ser informada
sobre os problemas, e o motivo dos protestos seriam os problemas sociais. Entretanto,
algumas respostas afirmaram que “movimentos são pacíficos” e “manifestações levam até ao
vandalismo”, acabando tudo em destruição.
Embora as respostas anteriores sejam de alunos que afirmaram não distinguir os
termos, algumas caracterizações diferenciam os conceitos (movimentos e manifestações).
Contudo, o que está descrito leva à interpretação de um mesmo pensamento de luta por uma
Sim
871 69%
Não
89 7%
Não tenho opinião
303 24%
191
causa ou pela melhoria de vida da população. Haveria aqueles que lutam por objetivos em
comum e uma união de diferentes grupos, como trabalhadores e estudantes, com os mesmos
propósitos.
Para alguns, movimentos “reivindicam projetos” locais e manifestações seriam
reivindicações que ocorrem em “uma cidade, um estado ou em todo o mundo” em “prol de
um bem maior para toda a população”. Houve os que responderam que são formas de
expressão, de a sociedade manifestar suas opiniões e quem acrescentasse que “de forma
pacífica”. Também fizeram uma diferenciação sobre movimentos serem “atitudes” e
manifestações, “reivindicações e prol dos direitos e das condições sociais”, inclusive citaram
setores como saúde, educação, transporte e trabalho. Estes, segundo os estudantes, se
encontram em situação “precária” e os governantes não dão a devida atenção ou não os
respeitam. Falaram também sobre a questão da corrupção.
Há respostas que levantam a hipótese de que alguns alunos pesquisaram sobre o
tema ou consultaram um professor, isso devido, principalmente, aos termos utilizados, os
quais apareceram na descrição de vários alunos, às vezes até de escolas diferentes.
Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refere à ação coletiva
de um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do
embate político, conforme seus valores e ideologias dentro de uma
determinada sociedade e de um contexto específico, permeados por tensões
sociais. Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de
uma realidade hostil a certo grupo ou classe social. Seja a luta por um algum
ideal, seja pelo questionamento de uma determinada realidade que se
caracterize como algo impeditivo da realização dos anseios deste
movimento, este último constrói uma identidade para a luta e defesa de seus
interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de pessoas que se encontra numa
mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa, entre outras.
Movimento social é uma “expressão técnica” que designa a ação coletiva de
setores da sociedade ou organizações sociais para defesa ou promoção, no
âmbito das relações de classes, de certos objetivos ou interesses - tanto de
transformação como de preservação da ordem estabelecida na sociedade.
O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo
organizado que tem como objetivo alcançar mudanças sociais por meio do
embate político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto
específico. (Resposta de aluno ao questionário - Quadro de respostas 2,
Apêndice 3)
Todavia, existem também outras declarações bem elaboradas e em que se percebe
que o aluno demonstra sua própria opinião sobre o assunto.
192
Movimentos sociais são um indivíduo, ou um grupo de pessoas, que faz algo
em prol da sociedade ou de um meio social específico, como por exemplo, o
início de uma ONG, entrega de cesta básica, coisas do gênero.
Manifestações populares de reivindicações, o próprio nome já diz, algo que
se tornou maior do que um debate de assembleia, um assunto que movimenta
pessoas que não estão gostando de algo que afeta, não só a elas, mas sim
uma população, algo socialmente dito. Assim se juntam todas essas pessoas
lideradas por alguém bem instruído e saem às ruas demonstrando o seu
desconforto. (Resposta de aluno ao questionário - Quadro de respostas 2,
Apêndice 3)
Em relação à importância dos movimentos, disseram serem fundamentais “para o
processo democrático brasileiro”; para “o presente e para o futuro” quando se luta por “algo”;
que os sujeitos devem buscar seus direitos e que “ainda existem pessoas que querem um país
melhor”; que isso contribuiria para a “evolução e conscientização”, uma vez que “mostra que
população não aceita mais ser oprimida e alienada”; pois é um modo “de levar outras pessoas
à conscientização”; que os movimentos podem “trazer resultados positivos para a população”;
que buscam o resgate dos direitos perdidos; que é um modo de a população se fazer ouvida,
principalmente “pelas autoridades”. Contudo, consideram que “as pessoas são muito
conformadas” e “esperam a situação chegar a um estado crítico para tomar uma atitude”.
Também houve os que responderam que não têm importância, pois nada muda.
Alguns falam em primeira pessoa, como se estivessem participando ou houvessem
participado de algum tipo de movimento.
Essas manifestações são para mostrar que não estamos de acordo com o que
estão fazendo com o nosso país, e que estamos correndo atrás dos nossos
direitos de cidadãos. (Resposta de aluno ao questionário - Quadro de
respostas 2, Apêndice 3)
Porém, outros falam como se não pertencessem à sociedade descrita. E ainda há
uma grande parcela dos alunos que não tinham opinião ou diziam não se importar, ou até que
sua opinião não tinha importância: “Para que vocês querem minha opinião se no Brasil nós
jovens não somos ouvidos e ninguém dá importância para nossa opinião” (Resposta de aluno
ao questionário - Apêndice 3).
O que se pode perceber é que eles conhecem o assunto, no entanto, para a maioria
a definição não está clara, e é difícil examinar se aqueles que se aproximaram mais do
conceito entendem de fato o que escreveram. Assim, se mesmo autores e acadêmicos não
tratam o tema, que dirá esses estudantes. “Alguns autores passaram a tratar os novos sujeitos
como sinônimos dos movimentos, ou manifestação ampliada; outros aproveitaram a
193
emergência das ONG para desqualificar os movimentos, como uma manifestação de grupos
do passado.” (GOHN, 2008, p.34)
A percepção é de que a maioria reproduz o senso comum e o que ouve nas mídias.
Não há como se ter certeza de que responderam mesmo sozinhos. Mas o interessante é que a
maioria considera como forma de protesto e reconhece sua importância. Contudo, mesmo
diante dessa questão, ainda “não significa que eles são totalmente privados de poder, meros
espectadores passivos num espetáculo sobre o qual não têm nenhum controle” (THOMPSON,
2012, p.51).
Questionados sobre se tinham conhecimento acerca dos movimentos sociais,
movimentos de reivindicação e manifestações populares de reivindicações ocorridos nos anos
de 2013 e 2014, como o MPL, 78% marcaram a opção sim e 22%, não (Gráfico 19). Sobre
como tiveram conhecimento das manifestações de 2013, 86% declararam que pela televisão,
55% pela internet e redes sociais, 42% por contato com outras pessoas, 33% pelo professor na
sala de aula, 31% por jornais impressos, 31% pelo rádio e 3% disseram que tomaram
conhecimento por outros meios (Gráfico 20).
Quando perguntado se algum professor trabalhou o assunto sobre movimentos ou
manifestações, 70% responderam que sim e 30% que não (Gráfico 21). Na questão seguinte
também responderam em quais disciplinas o tema foi tratado, 12% nas aulas de sociologia,
8% geografia, 7% português, 6% história, 1% para a disciplina de arte, 1% diversas, 1% disse
que todas as disciplinas trabalharam e 4%, que nenhuma (Gráfico 22).
Gráfico 19 – Questão 20: Conhecimento acerca dos movimentos sociais/ movimentos de
reivindicação e manifestações populares de reivindicações ocorridos nos anos de 2013 e
2014,como o MPL e outros
Sim
984 78%
Não
279 22%
194
Gráfico 20 – Questão 21: Meio pelo qual tomou conhecimento38
Gráfico 21 – Questão 22: Se algum professor tratou do tema na sala de aula
Gráfico 22 – Questão 23: Qual professor tratou do tema na sala de aula39
A maioria dos estudantes conhece ou já ouviu falar sobre os movimentos sociais/
movimentos de reivindicação e manifestações populares de reivindicações ocorridos nos anos
de 2013 e 2014, como o MPL, e praticamente todos tomaram conhecimento por meio da
38
Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%. 39
Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%.
Televisão
1.013 86%
Jornais impressos
365 31%
Rádio
228 19%
Pessoas
489 42%
Pelo professor na sala de aula
389 33%
Internet / Redes Sociais
645 55%
Outros
39 3%
Sim
880 70%
Não
383 30%
Sociologia 155 12%
Filosofia 66 5%
História 79 6%
Geografia 98 8%
Português 80 7%
Arte 10 1%
Diversas 14 1%
Nenhuma 48 4%
Todas 17 1%
Outras 4 0%
195
televisão, em seguida apontando a internet e outros meios de comunicação. Um dado
interessante é que um número considerável também soube por contato com outras pessoas.
Destaca-se que a mídia, principalmente a TV, teve uma função fundamental como canal de
informação acerca dos acontecimentos, ainda que nem todos os veículos sejam totalmente de
confiança. Podemos perceber que a mídia tradicional ainda tem muito mais difusão, e mais,
certa credibilidade.
A mídia contemporânea está sendo moldada por várias tendências
conflitantes e contraditórias: ao mesmo tempo que o ciberespaço substitui
algumas informações tradicionais e gatekeepers culturais, há também uma
concentração de poder inédita dos velhos meios de comunicação. A
ampliação de um ambiente discursivo coexiste com o estreitamento da
variedade nas informações transmitidas pelos canais mais disponíveis.
(JENKINS, 2008, p.276)
Pode-se verificar que muitos professores trataram do tema nas aulas, mesmo
porque faz parte do conteúdo curricular do 3º ano do Ensino Médio, série em que as
disciplinas de ciências humanas são unânimes na abordagem do tema, pois fazem parte do
conteúdo a ser trabalhado ou mesmo por alguns professores inserirem o tema as aulas por
conta de contextos ou conjunturas. Daí a importância da participação dos professores na
abordagem do tema, uma vez que são pessoas em que muitos alunos confiam, pois, apesar dos
conflitos no ambiente escolar, esse profissional ainda é tido como sabedor de variados
assuntos.
Na questão 24 (Quadro de respostas 3 – Apêndice 4) os alunos deveriam
responder sobre a importância desses movimentos ocorridos em junho de 2013, e alguns
declararam que não consideram esse fato como um movimento, pois “não tinham um objetivo
claro e comum”, havia “pessoas dispersas andando para o nada”. No entanto, a maioria dos
alunos disse que os movimentos são importantes para melhorar as condições de vida da
sociedade por meio da conquista de direitos. Ressaltaram as pessoas não concordam com as
medidas e escândalos envolvendo os poderes públicos e, dessa forma, podiam mostrar suas
insatisfações, ainda que não fossem atendidas. Discorreram sobre como eles são importantes
para dirimir a corrupção e que podem possibilitar mudanças no que está posto.
Outro aspecto bastante citado foi o da importância da informação, mencionando
que por meio desses movimentos ficam esclarecidos os reais motivos da difícil situação
brasileira. Com eles os indivíduos podem mostrar que não são alienados, que não querem
196
mais ser manipulados pelas estruturas de poder. E, por conta desses protestos, o povo não se
calaria mais.
São muito importantes para resgatar o espirito de luta do povo. Resgatar e
reforçar que estamos acordados e que ainda estudamos e nos importamos
com nosso país. (Resposta de aluno ao questionário - Quadro de respostas 3,
Apêndice 4)
Afirmaram que os movimentos podem conscientizar os indivíduos de sua real
situação e, por consequência, fazer com que busquem seus direitos. E por essa questão as
reivindicações seriam necessárias, enquanto espaço de luta e voz para todos, mas
principalmente para aqueles que possuem ideais. São formas, para eles, mais eficientes de
cobrar atitudes dos governos.
Em minha opinião, movimentos sociais são como requerimentos, mas são
mais eficientes, pois são baseados em atitudes. Esses movimentos nos
proporcionam a realização de direitos que já são nossos, mas nem sempre
são atendidos. São uma forma mais eficiente de se comunicar com nossos
líderes e fazer com que eles cumpram seus deveres. (Resposta de aluno ao
questionário - Quadro de respostas 3, Apêndice 4)
Houve também quem alegasse que os movimentos não têm tanta importância, pois
buscam mudanças, mas esse objetivo quase nunca é atingido. Outros argumentaram que não
seriam necessários se a população votasse de forma consciente para que não se arrependesse
dos governantes eleitos. E outros disseram que essas ações, “quando organizadas, são
importantes para manter os administradores atentos aos anseios da sociedade representada”.
Não há importância se os cidadãos votarem corretamente. Esses movimentos
são necessários apenas quando o "povo" se arrepende de ter posto alguém
irresponsável no poder, como acontece na maioria das vezes no Brasil. Isto
devido à ignorância dos mesmos cidadãos. (Resposta de aluno ao
questionário - Quadro de respostas 3, Apêndice 4)
Não obstante as respostas da questão 19 (Quadro de respostas 2 – Apêndice 3), em
que um número grande de alunos disse não ter opinião, não se importar ou até que sua opinião
não teria importância – alguns disseram ainda que já haviam respondido a citada questão –,
quando os alunos demostram que não são alienados e que não querem mais ser manipulados,
surge a crença de que é possível uma formação que valorize a criticidade, assim como a
criatividade, a cognição e outras habilidades essenciais para o sujeito viver em sociedade.
197
Contudo, nem todos têm esse pensamento crítico, e a escola precisa encontrar formas
metodológicas para que, primeiramente, se desperte o interesse para a educação, para poder
depois fazer seu trabalho, que é o de formar para a cidadania, de forma a
[...] Tornar o político mais pedagógico significa utilizar formas de pedagogia
que incorporem interesses políticos que tenham natureza emancipadora; isto
é, utilizar formas de pedagogia que tratem os estudantes como agentes
críticos; tornar o conhecimento problemático; utilizar o diálogo crítico e
afirmativo; e argumentar em prol de um mundo qualitativamente melhor
para todas as pessoas. (GIROUX, 1997, p.23)
4.1.4 (D) Participação social
Esse bloco pretende apresentar a possível atuação dos estudantes em movimentos
e/ou manifestações e identificar o que os levou a esse engajamento. Na questão que trata
sobre a participação dos alunos em movimentos e/ou manifestações, 15% disseram de algum
modo ter participado e 85% declararam que não participaram.
Gráfico 23 – Questão 25: Participação em movimentos e/ou manifestações
Apenas um pequeno número de alunos declarou ter participado de algum tipo de
movimento ou manifestação. Estes, na questão 26 (Quadro de respostas 4 – Apêndice 5), que
trata sobre a forma de participação, disseram que estiveram em manifestações contra o
aumento das tarifas dos transportes públicos e Passe Livre, manifestações localizadas e apenas
um falou sobre a participação em movimento social.
O que se observa nas respostas das questões 25 e 26 é que, embora uma parcela
dos alunos consultados afirme conhecer o assunto e perceber sua importância, a participação
em movimentos e manifestações sociais não é uma realidade. A formação da escola não faz
com que, a partir de suas realidades, conheçam e entendam a sociedade em que vivem. É
possível inferir que consideram sua realidade local uma condição, como se os problemas
sociais e econômicos não os afetassem diretamente – diferentemente da possibilidade de
reorganização das escolas, situação em que se sentiam pertencentes àquele universo. É como
Sim
193 15%
Não
1071 85%
198
se não fizessem parte de uma conjuntura maior. Como se quem sofresse as consequências dos
desmandos e da exclusão não fossem seus pais ou responsáveis, inclusive por buscar soluções
para os problemas enfrentados.
Na questão 27 (Quadro de respostas 5 – Apêndice 6), sobre a importância da
participação, por conta de sua formulação, quase todos os alunos não entenderam que se
tratava da importância do movimento de que participaram. Assim, muitos deram as mesmas
respostas das questões 19 e 24, ou se recusaram a responder. Contudo, ainda houve boas
respostas, mas foram desconsideradas as que não respondiam a essa questão. Das respostas
restantes, nota-se que acreditam serem importantes quando há resultados positivos, como a
baixa das tarifas ou melhoria nos transportes públicos. O que denota que, quando há
participação, para alguns ela ainda é desconfiada, pois acreditam que apenas o fim é
importante, desvalorizando a participação e pontos positivos como formação política,
coletivização, solidariedade, entre outros.
No que diz respeito ao modo como os alunos tomaram conhecimento da
manifestação, 87% disseram que foi por meio das redes sociais e 15%, por outros meios
(Gráfico 24). E quanto à rede social mais utilizada entre esses alunos para conhecimento
acerca desse assunto e participação em manifestação, 75% citaram o Facebook, 11% o
YouTube, 3% o Twitter, 2% o Instagram e 10% outros meios (Gráfico 25).
Gráfico 24 – Questão 28: Meio pelo qual tomaram conhecimento
do movimento e/ou manifestações de que participaram*
Gráfico 25 – Questão 29: Rede social mais utilizada
para conhecimento e participação
Redes Sociais
794 87%
Outros
137 15%
944 75%
Twiter
33 3%
19 2%
YouTube
143 11%
Outras
124 10%
199
Mesmo essas perguntas tendo sido dirigidas a quem participou de algum
movimento ou manifestação social, praticamente todos responderam e indicaram que
tomaram conhecimento pelas redes sociais, sobretudo Facebook. Assim como na questão
sobre busca de informações acerca de outros movimentos, em que o Facebook continua a ser
a rede social de maior acesso.
Na questão 30 (Quadro de respostas 6 – Apêndice 7), sobre a importância da
internet e das redes sociais para esses movimentos, os alunos foram unânimes, afirmando que
são muito importantes. Para eles, “sem a internet esses movimentos não teriam acontecido
com tanta força”. Uma vez que, por meio dela, é possível organizar os movimentos ou
manifestações marcando datas e locais. Segundo os estudantes, esse meio permite alcançar
um maior número de sujeitos em curtos espaços de tempo. Além de poderem compartilhar
informações e trocar experiências acerca do tema, pois “a internet é um lugar livre para expor
suas ideias de forma democrática e sem censura”.
A internet hoje em dia tem uma importância IMENSA para a divulgação,
estudo e aprofundamento do tema. Pela internet tomamos conhecimento dos
movimentos, trocamos ideias e opiniões com pessoas totalmente diferentes,
mas com o mesmo objetivo. Internet é para todos. (Resposta de aluno ao
questionário - Quadro de respostas 6, Apêndice 7)
M. A. Souza (2005) já afirmava o que os alunos relatam ao escrever:
Um dos meios que tem possibilitado a agilização da ação dos sujeitos
coletivos é a internet, que permite a circulação de informação em tempo real.
Através dessa rede, tanto os indivíduos isoladamente quanto os movimentos
sociais podem acessar e fazer circular informações, como organizar protestos
e ações sociais. (SOUZA, 2005, p.78)
Em seu texto a autora reforça o que os estudantes dizem quando expressam que a
internet e as redes sociais informam à população os fatos ocorridos. Eles ainda afirmam que
isso ocorre sem uma intenção clara de manipulação, diferentemente do que se vê nos meios de
comunicação tradicionais. Fato esse que pode, ou não, levar os indivíduos a uma maior
conscientização das condições sociais e, por consequência, também a aderir aos movimentos
ou manifestações. Elas podem levar as notícias dos movimentos ao mundo inteiro, para que
conheçam o verdadeiro motivo de sua atuação. Outro fator importante é o de poderem unir os
vários movimentos sem que estejam em um mesmo território físico. É o movimento em rede e
em redes sociais digitais.
200
Quando perguntado aos alunos que de algum modo haviam se integrado a
manifestações se poderiam participar de uma entrevista, todos acabaram por responder a
questão, inclusive os que anteriormente responderam nunca ter participado desse tipo de ação.
Dessa maneira, do total de alunos, 61% responderam que não e 39% que sim.
Gráfico 26 – Questão 31: Aceitação para participar de entrevista
Interessante é que mesmo não tendo participado de nenhum movimento ou
manifestação, um terço dos estudantes respondeu que gostaria de participar de uma entrevista
acerca do tema.
4.2 RODA DE CONVERSA
Após a leitura das respostas dos alunos ao questionário, foi feito um trabalho de
separação daqueles que se propuseram a participar de uma entrevista e que haviam
participado de alguma forma de movimento ou manifestação. Destes, por conta do feedback
para as questões, foram selecionados 20 alunos, então convidados para participar de um
debate acerca do tema, intitulado como Roda de Conversa, contudo, apenas 15
compareceram. Devido à multiplicidade das questões de ordem e das demandas emitidas em
junho de 2013, como nos mostram também as respostas ao questionário, ficaria inviável uma
análise detalhada em seus diversos aspectos. Por isso, neste item do último capítulo o enfoque
foi limitado a um grupo específico de alunos escolhidos, como citado anteriormente.
Nessa tarefa, a realização de uma Roda de Conversa (debate) como base
demonstrou ser a forma mais apropriada, uma vez que, como explica Della Porta, permite
buscar indicações das “motivações, crenças e atitudes, bem como as identidades e emoções de
ativistas de movimentos” (2014, p.229, apud EVANGELISTA, 2015, p.105). Nessa forma de
comunicação buscou-se verificar, sem restrições, o nível de participação nas manifestações
que ocorreram em 2013, adquirir informações sobre como tomaram conhecimento dos
movimentos e manifestações sociais e verificar se as redes sociais constituem ferramentas
Sim
488 39%
Não
776 61%
201
para publicização e participação nesses mesmos movimentos. Bem como perceber se as
escolas se afirmam como espaço de formação crítica e participativa, e se a internet tem
promovido uma organização eficaz para os movimentos e seus “gritos”, não somente nas ruas,
como também no próprio espaço virtual.
Vale salientar que a autoridade supervisora não influenciou as respostas, uma vez
que, foi explicitado aos alunos que o debate buscava obter informações para uma pesquisa
acadêmica e que ali estava presente a pesquisadora e não a supervisora de ensino. Pôde-se
observar que os jovens se mostraram bem a vontade quando debatiam o tema ou as questões
que serviam como motivação para o andamento da ação.
Desse modo, a atividade foi iniciada com os alunos sentados em círculo e se
apresentando. Participaram os alunos40
: Rui, Caíque e Maiara da EE (Escola Estadual) Profª.
Nide Zaim Cardoso, situada no município de Mairiporã; Marlon, Thalita e Alani da EE
Parque Cento e Vinte II, da cidade de Francisco Morato; Luan e Fabiana da EE Otto
Weiszflog, de Caieiras; Milton, Cleverson e Armando da EE Tenente Joaquim Marques
Sobrinho, do município de Cajamar. Os alunos da cidade de Franco da Rocha não
compareceram. Os estudantes das escolas fora do município de Caieiras foram acompanhados
de um professor por escola – e os docentes acompanharam a atividade. São eles: Prof. José da
EE Profª. Nide Zaim Cardoso, Prof. Eriberto da EE Parque Cento e Vinte II e Profª. Marilda
da EE EE Tenente Joaquim Marques Sobrinho.
4.2.1 Uso das redes e internet
A primeira questão buscou saber como seria a interação dos estudantes com as
redes sociais e a internet, bem como a importância desses meios para eles. Um aluno
respondeu que seu acesso se dava somente para trabalho, enquanto os outros disseram que a
internet lhes servia para realização de trabalhos e pesquisas. Com ela, argumentam, os
trabalhos escolares ficaram muito mais fáceis, pois conseguem rapidamente chegar a qualquer
assunto – com os livros tinham mais dificuldades para realizar as atividades de pesquisa.
No que se refere às redes sociais, se sobressai o uso social, são utilizadas para
fazer amizades, conversas e relacionamentos. Mas também há quem busque formas de
cidadania por meio das redes sociais digitais.
40
Optou-se nesta tese por dar nomes fictícios aos alunos com o intuito de preservação de privacidade.
202
Eu uso mesmo para Facebook e outros tipos de comunicação, como
YouTube e outros tipos normais. Poucas vezes o Google para trabalhos,
trabalhos de escola, poucas vezes eu uso... Praticamente meu social para
mim é pelo Facebook. Uso direto. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)
Eu também uso para site de pesquisa, saber o que rola no mundo... Porque
hoje da sua casa você consegue saber o que está acontecendo do outro lado
do mundo, e eu acho isso muito legal, você ficar antenado no que acontece
do outro lado do mundo. E Facebook eu uso muito para eventos, como agora
no natal vai ter o pessoal que vai levar comida para o pessoal morador de
rua, e eu vou. Procuro esses eventos, procuro sopão, eu procuro tudo assim
para ajudar o próximo. Na parte do Facebook, assim, eu procuro sempre
buscar o melhor. (Fabiana, Roda de Conversa, 2014)
A internet passa um conteúdo para a gente que é muito útil para sabermos o
que está acontecendo em outro lugar, como ela citou. Ela aproximou tanto a
gente que, tipo, não tinha jeito de saber o que estava acontecendo num país
que não fosse pela televisão, por uma notícia não muito confiável. A internet
mostra vários pontos de vista sobre uma mesma notícia e isso é muito
importante. Além de suprir muito do que a escola deixa faltando, deixa de
explicar, a internet vem a suprir muito bem essas faltas de conteúdo. (Rui,
Roda de Conversa, 2014)
O que se pode perceber é que alunos, como o Rui, têm uma visão crítica sobre os
meios de comunicação de massa e as possibilidades que a internet e as redes sociais trazem,
como afirmado por Castells:
[...] Como os meios de comunicação de massa são amplamente controlados
por governos e empresas de mídia, na sociedade em rede a autonomia de
comunicação é basicamente construída nas redes da internet e nas
plataformas de comunicação sem fio. As redes sociais digitais oferecem a
possibilidade de deliberar sobre e coordenar as ações de forma amplamente
desimpedida. (CASTELLS, 2013, p.18)
E bem demonstrado na análise do pesquisador Javier Toret, um dos primeiros
membros da rede responsável por criar o Democracia Real Ya na Espanha.
Mas, em geral, a mídia convencional ignorou ou bloqueou a proposta que
apresentamos... O que isso mostra é um tipo de movimento pós-mídia. É
pós-mídia porque há uma reapropriação tecnopolítica de ferramentas,
tecnologias e veículos de participação hoje existentes. É onde as pessoas
hoje estão. Há um monte de pessoas nesses veículos. É uma campanha on-
line viral suficientemente aberta para que qualquer um se envolva e
participe... A mídia incialmente ignorou o movimento, mas, quando todas as
praças estavam cheias de gente, eles não tiveram escolha senão explicar o
que estavam ocorrendo... tornamo-nos um coletivo com a capacidade de
falar cada um por si, sem os filtros da mída. (apud CASTELLS, 2013, p.98-
99)
203
Já Milton fala sobre um aspecto negativo que é o da falta de interação pessoal
presencial quando relata que, mesmo estando com seu amigo, um do lado do outro, se
comunicavam por meio do Facebook: “[...] e eu acho que é... não uma qualidade, porque nós
três estávamos no Facebook, e para brincar eu chamei ele por mensagem, sendo que eu estava
do lado dele. Eu acho que isso atrapalha um pouco e não acho isso muito legal.” (Milton,
Roda de Conversa, 2014) Cleverson complementa, contudo, indicando a o lado positivo da
rapidez com que transitam as mensagens pelo Twitter.
[...] eu uso o Facebook também para interagir e eu uso o Twitter também
para me informar, porque as notícias do mundo chegam muito mais rápido
lá, as coisas se espalham muito mais rápido lá [...] porque lá tem os maiores
dos portais de sites de jornais, de revistas, tanto do mundo quanto do
nacional. Então eu uso o Twitter para isso também. (Cleverson, Roda de
Conversa, 2014)
Nessa mesma perspectiva, Luan coloca que a internet tem lados opostos, pois,
para ele, ao mesmo tempo aproxima e distancia as pessoas, podendo ainda ser usada como
uma arma a favor ou contra.
Um exemplo é as eleições de Barack Obama na primeira vez que ele se
elegeu. Ele ganhou as eleições devido à internet. Porque ele respondia as
pessoas, e com isso, com as respostas das pessoas, ele fez a campanha dele
em cima do que o povo achava, e não apresentou uma coisa pronta, como
geralmente os outros candidatos... democráticos e republicanos fez [...]
Então, assim, ela usada como uma arma. Outra coisa também,
principalmente agora, está tendo o estado islâmico, a Palestina, a gente não
tem nenhuma outra forma de presenciar para ver algumas coisas que eles nos
tramitem. [...] é muito bom para facilitar nossa vida para estudo, é muito
ruim também. Porque, creio que antigamente, creio eu, que as pessoas se
envolviam mais com os estudos, pesquisavam mais. Hoje não, hoje você vai,
coloca um assunto, sai tudo o que você precisa. É o famoso Ctrl+C, Ctrl+V,
acontece muito isso. Então é assim, da mesma forma que ela te ajuda, ela te
prejudica, aí vai de cada um, fazer o melhor para o estudo. (Luan, Roda de
Conversa, 2014)
Na sequência, como os alunos estavam adentrando a questão das formas e causas
de uso, foi solicitado que, dentro desse assunto, relatassem também como se iniciou a
utilização, o que os estimulou, se tiveram influências em suas visões e ações. Assim,
responderam que: a internet está disponível para todos; a maioria a utiliza por influência dos
amigos; o usuário pode se informar sobre quase tudo; se houver necessidade de informações
específicas, é possível encontrar nas redes virtuais; “ela se tornou uma ferramenta tão ampla
para fazer tantas outras coisas”; “ela pode te favorecer e ela pode te prejudicar se não souber
204
impor os limites” (Armando, Roda de Conversa, 2014) – a questão da utilização desmedida da
internet virou, inclusive, tema de trabalhos na escola.
Pode-se perceber ainda que muitos passaram a utilizar as redes sociais
pressionados pelos colegas: “Você não tem Facebook? Como assim você não tem?! Então vai
lá e faz um! Você não tem, sei lá, Insta [Instagram], aí você vai e faz um também” (Milton,
Roda de Conversa, 2014). Contudo, disseram que a opção de uso é individual e ressaltaram a
necessidade de tomar cuidado com as intenções ocultas, como no caso de pedofilia. Nesse
sentido, mais adiante, Luan também argumentou que crianças que não são instruídas pelos
pais ou pela escola poderiam ser enganadas mais facilmente, entendendo que “a internet é
uma arma, você usa ela para o bem ou para o mal” (Luan, Roda de Conversa, 2014).
Milton falou que também considera importante entrar nas redes com a finalidade
de obter informações, porém a maioria dos jovens que conhece não tem “mente ampla” para
esse fim e se limitariam ao uso para relacionamentos, “eles só querem saber sobre o dia a dia
dos outros em redes como o Facebook e Instagram” (Milton, Roda de Conversa, 2014).
Claro que esses sites também podem ser vistos como redes de informações
grandes, mas acho que mais para amizades, para relações interpessoais. Não
tão visando olhar para fora daqui. Entendeu? Olhar pro... Estado islâmico,
para relações... presidencialistas como na América tem bastante. Acho isso
importante. (Milton, Roda de Conversa, 2014)
Fabiana conta que a internet ajudou os alunos do colégio em que estudava a se
organizarem para protestar contra o desvio de verbas de uma obra que não findava. Disse
ainda que foi por meio das redes sociais digitais que todos os alunos tiveram informações,
inclusive com criação de página na web, e conseguiram que a manifestação fosse pacífica
pelas combinações anteriores no meio virtual.
E aí os alunos, cansados de ver isso, nós alunos, né, decidimos dar um jeito e
[...] a gente foi colocando na internet, até que foi até TV lá. E a gente
conseguiu concluir a [...] a obra [...] Todo mundo da escola começou a saber,
porque é uma escola muito grande [...] a gente não tinha como se falar com
todo mundo [...] Quando a manifestação estava quase acabando, o cara me
solta uma bomba. Mas foi um cara, a gente conseguiu resolver tudo. Mas a
internet foi uma grande aliada nossa. (Fabiana, Roda de Conversa, 2014)
Caíque segue a mesma linha de pensamento de que a internet pode ser boa e ruim,
uma vez que para ele é um espaço livre, no qual cada um navega de acordo com a consciência
individual. Exemplificou citando o projeto em que atua, ao lado de mãe, chamado Natal
205
Solidário, divulgado pela internet por meio da frase Faça uma criança feliz neste natal.
Também apontou o lado ruim quando afirmou que nem tudo é real na internet:
[...] muita coisa você não tá ali para vivenciar, você tá vendo pela internet,
então você tá vendo pela boca de outra pessoa. Você não sabe se aquela
notícia é confiável. Você já vai criando versões, né? Da sua cabeça mesmo, e
já colocando, sem saber se o assunto é verdade ou não. (Caíque, Roda de
Conversa, 2014)
O aluno continuou ressaltando as perspectivas positivas e negativas quando
expressou que a internet, ao mesmo tempo em que aproxima as pessoas, as distancia. Mas
disse que não só as redes sociais digitais poderiam trazer malefícios, e sim toda tecnologia se
usada de forma errônea. Como quando as crianças não conseguem realizar as operações
matemáticas básicas sem uma calculadora, ou quando o indivíduo não tem opinião crítica,
pois não sabe filtrar as informações e opiniões alheias, “[...] não sabe, porque ele se baseia
muito na opinião dos outros e não tem a própria dele. Isso que é muito difícil de achar hoje
em dia” (Caíque, Roda de Conversa, 2014).
Luan complementou dizendo que as pessoas, além de influenciadas pela mídia,
seriam também pelos amigos. Segundo ele, isso poderia acontecer fisicamente ou por meio
das redes sociais digitais, fazendo com que ocorra uma espécie de manipulação,
principalmente para aqueles que não tiveram oportunidade de estudo de qualidade.
[...] é uma calha que te empurra naquela direção. Se você não tem estudo, se
não tem outra visão um pouco mais ampla, você é empurrado juntamente.
Então é assim, ela te força por um caminho. Antes a televisão era o principal
problema, hoje é a internet. Hoje a internet te empurra para vários caminhos
[...] ele não tem uma formação adequada. Infelizmente muitas pessoas do 3º
ano, pergunta para quem quiser que tá no 3º ano, quem fez ENEM, se a
gente aprendeu o que foi aplicado. Não aplica. Então, assim, pega umas
pessoas que têm um grau menor de educação, é empurrada junto facilmente
com a internet. (Luan, Roda de Conversa, 2014)
No que se refere à utilização da sala do Acessa escola, disseram que não
frequentam muito, que quando necessitam de uma pesquisa a fazem diretamente no aparelho
celular. Pesquisam até na rua sobre lugares, animais avistados, pois “o que você quiser, aonde
você tiver, você tem as informações” (Fabiana, Roda de Conversa, 2014). Disseram ainda que
conseguem obter informações inclusive de pessoas que encontram na rua, por meio de um
aplicativo que mostra o nome de quem está ao lado se estiver conectado de algum modo às
redes sociais digitais.
206
Eu já tive esse aplicativo no meu celular e descobri pessoas que... descobri
até famoso. Pessoas que passam, tem famoso que não gosta de se parecer,
mas com meu celular, ele apitava quando passava por um famoso ou alguém
muito conhecido. Na verdade tive que apagar porque ficava apitando toda
hora. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)
Mais uma vez, voltaram a falar sobre a aproximação entre as pessoas que estão
afastadas e o distanciamento entre as que estão por perto. Deram exemplos de situações em
casa ou no trabalho em que as pessoas estavam umas do lado das outras, mas não se
comunicavam fisicamente, e sim pelo celular. Segundo eles, não há interação com os que
estão próximos. Citaram também o consumo que a mídia impõe, lançando aparelhos cada vez
mais sofisticados para que possam ter uma melhor navegação. E ainda falaram sobre a criação
da primeira rede com objetivos ligados à guerra.
Demonstraram preocupação no que se refere às mentiras veiculadas por meio das
redes sociais digitais, citando o caso de uma mulher que morreu espancada acusada
injustamente de pedofilia. Também sobre um tal Top 10 que se alastrou pela rede com alunas
das escolas da região sem roupa ou fazendo sexo com um ou mais garotos. (Thalita, Roda de
Conversa, 2014)
No que diz respeito à importância das redes sociais digitais e da internet, frisaram
pontos positivos e negativos. Entre os positivos, as facilidades e agilidade na confecção de
trabalhos escolares e pesquisas. No que se refere especificamente às redes sociais, as
possibilidades de comunicação e de relacionamento com diferentes pessoas; o acesso rápido a
informações locais e globais; também a possibilidade de divulgação e viabilização de
trabalhos sociais. Passaram pelo debate da manipulação da mídia tradicional em
contraposição às novas formas de obter informações, as quais, segundo eles, se bem
selecionadas, seriam mais verdadeiras. Na oposição ao distanciamento físico, revelaram que o
espaço virtual tem o poder de aproximar os indivíduos quando encurta distâncias, permitindo
ao usuário comunicar-se e relacionar-se com pessoas geograficamente distantes.
Entre os pontos negativos, mencionaram o distanciamento e a falta de interação
entre as pessoas no plano físico, uma vez que disseram que não conversam mais uns com os
outros, mesmo estando próximos. Nesse mesmo viés, apontaram para os perigos que a
internet poderia trazer em caso de falta de esclarecimento e criticidade para discernir boas ou
más intenções presentes nas redes. Ressaltaram a necessidade de se estabelecer limites para
seu uso, caso contrário, não sendo bem utilizada, poderia causar sérios danos.
Nessa direção, Bertrand e Valois (2001, p.112-113) falam sobre a questão da não
neutralidade e intenções por trás das TICs e redes digitais sociais:
207
É necessário não esquecer que o paradigma tecnológico é muito mais do que
um conjunto de técnicas. É, fundamentalmente, uma atitude global perante a
educação e o comportamento humano. A sua aparente neutralidade pode, por
isso, encobrir a sua concepção da pessoa. A evolução do paradigma
tecnológico está influenciada pela concordância entre o sistema de valores
da sociedade atual e o que é veiculado por este paradigma.
No entanto, reconheceram que o espaço virtual é um meio pelo qual podem se
organizar, obter informações que a mídia tradicional não veicula, como no caso de corrupções
não divulgadas. Mas, infelizmente, essas questões não são abordadas ou discutidas nos
espaços e ferramentas disponíveis na escola, como na sala do Acessa Escola, local que,
segundo eles, praticamente não visitam para a utilização dos equipamentos tecnológicos.
Todas as formas de acesso se dão por meio de outros computadores e, principalmente, pela
rede de telefonia celular.
Segundo Castells (2003, p.8), “as atividades econômicas, sociais, políticas e
culturais, essenciais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela internet e em torno dela,
como por outras redes de computadores”. E afirma que a proposição de que os meios virtuais
levariam ao isolamento social não pode ser mantida, uma vez que novas formas de
socialização e diferentes comunidades estão sendo criadas a todo instante. (p.104). Isso por
conta da força e elasticidade que as redes sociais digitais podem alcançar, e, segundo o autor,
essas criações são necessariamente diferentes das presenciais, mas não menos profundas,
principalmente quando se referem a interações e mobilizações. (CASTELLS, 2013, p.109)
Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da Internet, a
interação social on-line desempenha crescente papel na organização social
como um todo. As redes on-line, quando se estabilizam em sua prática,
podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes das físicas,
mas não necessariamente menos intensas ou menos eficazes na criação de
laços e mobilização. (CASTELLS, 2013, p.109)
4.2.2 Movimentos sociais e manifestações populares
Sobre movimentos sociais ou manifestações populares e de rua, para Luan, no
Brasil não existem, pois a maioria dos participantes não vai para as ruas por um objetivo de
mudança, e sim pela farra e pela bagunça.
Eu participei da passeata em Jundiaí, tinha dez mil pessoas. De dez mil
pessoas que tinham lá naquele local, certeza, menos de mil queriam mudar.
208
Os outros nove mil queria bagunçar. E isso foi um exemplo que todo mundo
tava contra a presidente, mas esse ano ela foi reeleita. Então, infelizmente,
no Brasil, não existe isso. (Luan, Roda de Conversa, 2014)
Porque, na verdade, a única manifestação, assim, que você pode dizer, no
Brasil, que foi a manifestação foi na ditadura, porque não parou só um
Estado, parou o país inteiro, um país inteiro em prol de uma coisa, pra cair a
ditadura. As coisas que temos hoje em dia são pessoas querendo se aparecer,
pessoas que... Tem pessoas que querem mudar, mas quem não quer... Por
exemplo, lá em São Paulo tinha um monte de gente que queria que baixasse
o preço da passagem, mas tinha quem não queria, quem não queria
atrapalhou, quebrou banco, quebrou banca, quebrou tudo. (Thalita, Roda de
Conversa, 2014)
Teve uma manifestação que eu participei, foi a do passe livre, foi em
Morato, essa manifestação tinha um grupo de, tipo, duas mil pessoas que
estava lá no centro de Morato reunido na porta da estação, um grupo só
queria, um grupo de 300 pessoas queria o passe livre, o resto queria fazer
bagunça. Tanto é que nesse movimento quebraram a estação todinha,
quebraram os ônibus e tudo o mais. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)
Questionados sobre como sabiam que a maioria não queria mudança, responderam
que pelo comportamento das pessoas envolvidas e porque ouviam dos colegas que iriam para
as manifestações para encontrar as pessoas.
[...] na manifestação de Morato eu também fui, nisso eu escutei pessoas
falando “Aí, vamo lá quebrar tudo, vai ser maió zoeira, vamo ficar a noite
inteira lá”. E outras, assim como eu, escutei outras pessoas falando “Não, a
gente quer, quer ir porque é o nosso direito, a gente tem que lutar pelo o que
é nosso”. E também pessoas brincando, “Ah, vou na manifestação passe
livre porque não quero pagar passagem”, e descem de ônibus [vão de ônibus
para a manifestação]. (Alani, Roda de Conversa, 2014)
Consideram as manifestações importantes, porém acreditam que não há uma luta
comum, que cada um tem um motivo diferente e, muitas vezes, não se sabe qual a mudança
pretendida de fato.
Ou ele vai para se manifestar, só que ele não vai com uma ideia, ele vai, tipo,
“Vamo manifestar”, sem ter uma causa. Alguns querem diminuir a passagem
do ônibus, outros querem outra coisa, não tem uma coisa em comum para as
pessoas se unirem e lutar pelo que elas acreditam. Aí acaba fazendo o quê?
Acaba tipo, desinteressando, acaba uma coisa, outra coisa, aí alguns vêm pra
zoar, aí começa a quebrar as coisas, destruir. Na hora que o brasileiro
começar a se unir e vir uma coisa só, as coisas vão começar a melhorar. Por
exemplo, que teve esse negócio da Dilma, que tavam... a Dilma, que a Dilma
foi reeleita esse ano, eles queria parar a Dilma, que a Dilma tava tendo
corrupção, aí “vamos votar no Aécio”. Mas por que votar no Aécio? Tipo,
vai melhorar mesmo? Eles só queriam a mudança, sem se importar pra... Pra
209
onde mudar, sabe? Sem se importar se vai ser bom ou vai ser ruim a
mudança. (Rui, Roda de Conversa, 2014)
Apesar da descrença, em alguns casos, disseram que os movimentos para que
baixassem os preços das passagens em suas cidades, como Francisco Morato e Cajamar,
tiveram resultados positivos. Interessante foi perceber o quanto eles se sentem mais convictos
da participação quando estão ao lado de professores.
Em Cajamar também teve e a passagem também foi baixada, mas lá mostra,
as pessoas que estavam lá, também estavam, eu achei... Chato, porque nós
fomos até o pedágio de lá, aí a pista parou e chegando lá tá uma mesma voz
querendo que a passagem ficasse barata e saindo tiro, e eu tava lá. Tinha uns
professores nossos, que eu achei isso bacana, os próprios que falam em sala
de aula estarem lá com a gente também. Que, né, falam em sala e não está
lá? Então eu acho que isso é chato. (Milton, Roda de Conversa, 2014)
Assim como Milton, outros citaram a questão da violência por parte dos policiais
para conter as manifestações:
[...] e tudo o mais, na nossa cidade teve policiais que tavam batendo em
pessoas que não tinham nada a ver, porque teve o grupo que se manifestou,
mas teve o grupo que tava ali pra... em prol do assunto mesmo, só que
apanhou, eu mesmo apanhei também e não tinha nada a ver com o assunto.
(Marlon, Roda de Conversa, 2014)
Eu sei que é isso aí, que eu tava na porta da minha casa, a polícia desceu o
escadão e foi batendo em todo mundo [...] fui na manifestação e voltei, tava
na porta da minha casa, falando com meu primo, a polícia chegou, não era de
lá, chegou e começou a bater em todo mundo. Aí eu falei “Não, eu moro
aqui”. Aí não acreditou e queria me levar pra outro lugar. Aí eu falei “Não,
não vou sair daqui”, aí eu gritei pro meu pai, que meu pai tava na porta, aí
ele “É meu filho”. “Ah, tem certeza que é seu filho?” “Como assim se eu
tenho certeza se é meu filho? É meu filho, caramba.” Ia chegar batendo em
todo mundo, entendeu? (Caíque, Roda de Conversa, 2014)
Em contrapartida, também discutiram sobre a violência por parte de manifestantes
vândalos, os quais, segundo eles, ficavam no meio das pessoas sérias para causar tumulto.
[...] foram porque queria brincar, fazer zoeira, encontrar amigo, muitos
bancos privados, agências de carros privadas foram quebradas sendo que
eles não tem nada a ver, algumas dessas pessoas estavam até para visitação,
só que o povo, ele extrapola. Um exemplo são os Black blocs, que aquilo ali
não é uma manifestação, aquilo é vandalismo. Os Black blocs foi banido da
Europa porque é vandalismo. Por que aqui não é? (Luan, Roda de Conversa,
2014)
210
A questão é que Luan não culpou a violência policial, para ele os manifestantes é
que estavam errados em quebrar tudo e, dessa forma, a polícia deveria reagir à altura, pois
não haveria como agir de “forma pacífica para quem não seja pacífico”. Cabe aqui ressaltar
que Luan se apresentou como filho de pai e mãe policiais. E outros continuaram na mesma
linha de pensamento, criticando alguns manifestantes, como Maiara, que falou sobre
queimarem os ônibus como forma de protesto, dizendo ter
[...] praticamente certeza de que quem fez isso não usa o ônibus, mas quem
usa sabe o quanto é difícil. Já não tem ônibus, e ainda vai e destrói.
Entendeu? Eu uso o ônibus todo dia, já é uma bosta, perdão da palavra, é
muito ruim o transporte público, e aí já vai e faz esse tipo de coisa? Não tem
nexo. E tem gente que só vai pra brincar mesmo. (Maiara, Roda de
Conversa, 2014)
Neste item os alunos demonstraram conhecer, por meio da internet e redes sociais
digitais, bem como pela mídia em geral, o que são movimentos sociais e manifestações
populares. Contudo, há aqueles que não acreditam que de fato, nos caso dos últimos eventos,
possa haver conquistas, pois consideram que não há um foco e que muitos participantes não
têm objetivos sérios ou, muitas vezes, desconhecem os reais motivos de sua manifestação.
Ainda assim, todos os presentes participaram de alguma forma de ações desse
tipo, e há aqueles que defendem que a mudança é possível e que houve algumas conquistas,
como a redução do preço do transporte em sua cidade. Entendem, então, de algum modo, ser
importante para o país, contudo deveria haver mais organização no que se refere a
reivindicações e demandas, de forma que todos lutassem pela mesma causa, tendo uma
bandeira por vez. Dessa maneira, em sua perspectiva não acadêmica, os alunos relatam como
veem as manifestações, confirmando as palavras de Gohn:
O que as marchas, manifestações, ocupações e protestos que ocorreram ao
longo de 2011, 2012 e 2013 têm em comum: São articuladas via redes
sociais, internet e celulares; são compostas por manifestantes que não tem
necessariamente uma Ideologia Política (a adesão é a uma causa, ou mais de
uma, e não à Ideologia de um grupo) e não pertencem a um grupo específico
(político ou não) e por isso não tem ligação Política partidária (mesmo que
entre seus manifestantes haja pessoas ligadas a algum grupo político); as
manifestações ocorrem à margem não apenas de partidos, mas também de
sindicatos; os protestos têm grande visibilidade na mídia em função do
grande número de contingente que consegue agrupar; a Democracia é um
dos eixos articuladores das marchas, em seu sentido e exercício pleno; são
espaços de aprendizagem que se produzem a partir de uma vivência e
experiência, no sentido de uma educação não formal; contribuem para a
construção de uma nova cultura política. (GOHN, 2014, p.74-76)
211
4.2.3 Influências
Acerca das influências que tiveram para se tornarem participantes de algum tipo
de manifestação, uns disseram que foram os pais ou amigos e colegas que os incentivaram,
outros relataram que foram alguns professores isolados na escola.
Meu pai sempre participou de manifestação, aí ele falou “Não, tem que ir, e
não sei o que”, só que, assim, como falou aí, mil, setecentos estavam pra
zoar, é assim, entendeu? Isso que é errado no Brasil. Aí a gente vê na
televisão as manifestações, nossa, aí a mídia mostra um lado da manifestação
e não mostra o outro, a baderna, mostra só a baderna, mas tinha gente ali que
tava ali batendo no peito, falando, cantando o hino, reivindicando uma coisa,
tava ali. Mas a mídia mostra só um lado... Fui acho que em [...] três, em três
manifestações. Na Paulista [...] Nossa, uma coisa que... Lágrima no olho, na
hora que todo mundo começa a bater no peito e cantar o hino do Brasil. Uma
coisa que arrepia de escutar. Por isso que eu criei minhas músicas. Foi em
base nisso. (Caíque, Roda de Conversa, 2014)
No meu caso não teve influência, foi porque eu quis mesmo. Eu vi que tava
na hora de abrir a boca e fazer alguma coisa, porque do jeito que tá não dá,
porque eu também pego ônibus todos os dias, pego dois ônibus para ir pro
meu curso, e depois... ia, né, pra escola, e achei um absurdo, tipo “Ah, vocês
não reclamam porque não sai do bolso de vocês, vocês não tem que ralar
tudo o dinheiro pra conseguir esses dez centavos”. (Alani, Roda de
Conversa, 2014)
Então, minha influência foi dos meus professores, dois em especial. Eles
falaram “Você tem os seus direitos” e eles foram meus maiores
influenciadores. E eu fui uma vez em Mairiporã, e eu vi a baderna que foi e a
partir daquele momento eu não fui mais, só que eu me manifestei pela rede
social. (Maiara, Roda de Conversa, 2014)
Segundo Fabiana, os professores foram os incentivadores e “foi nisso que a gente
começou a crescer, vendo, além da gente não aguentar mais viver, viver naquele lugar, os
professores influenciaram muito mesmo, mesmo, mesmo” (Fabiana, Roda de Conversa,
2014). Armando e Milton também afirmaram achar importante os docentes estarem junto nas
manifestações, lembrando Milton que esse fator, “nessa que teve ano passado, comigo
também, foi bem presente. Ele é o Alcir, que é o de sócio (sociologia) também, eles estavam
lá. Eles que pediram para a gente fazer cartazes, pra a gente fazer algumas” (Milton, Roda de
Conversa, 2014).
Quando perguntado se alguém da família deles já havia participado de algum
movimento, dois responderam que o pai, um relatou que inclusive a mãe foi ativista. Outros
212
disseram que os pais não gostavam ou tinham medo de participar e de que os filhos
estivessem em manifestações. Uma aluna disse que vai aos protestos com a irmã.
Então, meu pai... ele não é muito alienado também como o pai dele, vai pra
manifestação. Minha mãe nem tanto. Minha mãe já é mais na dela, mais
acomodada. Mas meu pai me incentivou bastante a ir, a fazer, tentar, mudar.
E funcionou. (Rui, Roda de Conversa, 2014)
Meu pai, ele é aquele acomodado. Ele não tá nem aí pra nada, ele só quer
saber do dele. Agora a minha mãe já é mais ou menos uma vida louca da
vida. Ela quer, ela quer, ela quer, é o momento dela, ela vai até o fim. Só
que, como eu falei, “Mãe, a senhora fica em casa porque você não consegue
por causa da bagunça”. Agora imagina minha mãe me vendo apanhar de um
policial, como que ela ia ficar naquele momento? Aí eu particularmente falei
“Mãe, fica em casa, deixa que eu vou.” Mas minha mãe sempre apoiou.
(Marlon, Roda de Conversa, 2014)
Outros revelaram que os pais apoiam de alguma maneira, porém têm muito medo
da participação dos filhos, porque pensam na violência por parte de pessoas interessadas
apenas em tumultuar. Um dos alunos disse que seus pais até gostariam eles próprios de
participar, mas não podem por serem policiais militares. Sua mãe, principalmente, inclusive
às vezes acabava por colaborar para o lado negativo que a mídia mostra acerca de contenções
violentas e tiros efetuados em meio aos atos.
Então, assim, eu na minha casa sou o único que falo “Não, eu vou, eu vou
mudar, eu vou e pronto”. Meu pai até fala “Meu, você é muito radical, você
tem que tomar mais cuidado”. É que eu exploro muito minha opinião na rede
social, que hoje é, sem dúvida, o lugar onde você consegue mostrar pra
muito mais pessoas... Sofri em alguns pontos, pessoas leigas que não
conhecem o assunto, mas, assim, esse é o custo que a gente paga por querer
revolucionar, por querer mudar. (Luan, Roda de Conversa, 2014)
Segundo Armando (Roda de Conversa, 2014), o pai não só o apoia como é a favor
e, inclusive, já participou de passeatas carregando manifestantes na carroceria de seu
caminhão. Contudo, no que se refere à orientação, sempre fez questão de que o filho soubesse
os motivos do movimento.
[...] ele sempre fala “Olha, você tem que... vai pra rua, vai fazer alguma
coisa, vai reivindicar alguma coisa. Só que você tem que saber primeiro o
que você vai reivindicar. Mas vai reivindicar o que ali? Tem certeza? Cês
têm provas concretas, tudo certinho de que é aquilo que vocês querem, é
aquilo que vocês vão buscar?” A partir do momento em que todos irem
buscar pra um fim só, beleza. Agora, tava assim, brasileiro já não tava mais
sabendo o que reivindicar, o que buscar. Então ele orientou sempre assim,
213
“Você quer reivindicar? Beleza, mas saiba primeiro o que você precisa, o
que é necessário. Conversa com o pessoal que vai com você”... Ele dá esse
incentivo. (Arthur, Roda de Conversa, 2014)
Na questão das influências, praticamente todos falaram que as tiveram, uns pelos
pais ou irmãos, outros por professores. Dessa forma, consideraram importante esse apoio para
que pudessem ter a participação que relataram. Se não apoio, tiveram exemplos de luta por
direitos, inclusive quando falam da alienação ou não dos incentivadores. Ou ainda, no caso
contrário, quando não apoiam ou proíbem por desconhecimento ou medo da violência
veiculada pelas mídias.
4.2.4 Importância das redes sociais digitais e internet nas manifestações
No que se refere à importância das redes e da internet no processo dos
movimentos e das manifestações dos quais participaram, disseram acreditar que, “se não
fossem as redes, não existiriam as manifestações, porque não tem como o povo se comunicar”
(Luan, Roda de Conversa, 2014). Qualquer comentário divulgado no Facebook, por exemplo,
em pouco tempo já consegue milhares de curtidas. Porém, ao mesmo tempo, isso pode causar
ilusões em relação ao desfecho dos fatos.
Por exemplo, nosso município, muita gente criticava a Dilma, mas véspera
de eleição, um mês até, tava todo vermelho de PT, tinha PT aqui, PT lá, PT
não sei que lá. Eu falei “Nossa gente, mas eu achei que ninguém gostava”. E
tava tudo vermelho. (Thalita, Roda de Convesa)
Interessante que fizeram questão de frisar que um dos meios de comunicação mais
utilizados para informação sobre as manifestações foi o aplicativo WhatsApp, por meio da
internet da rede de telefonia celular.
[...] é aquela mensagem que um vai comunicando pro outro, vai repassando
pra todo mundo, assim foi um meio de comunicação que todo mundo de
Morato ficou sabendo, que foi o WhatsApp, que foi mensagem que vai pra
um, que de um vai pro outro, pro outro e pro outro, que quando vai saber tá
todo mundo envolvido [...] passaram pra mim no WhatsApp, e pediram para
sair repassando. E nisso de sair repassando foi, voltou pra mim umas dez
vezes a mesma mensagem. E eu, tipo, “Já tô cansado de repassar”, mas o
WhatsApp ajudou muito a repassar. Imagine um, aí um passa pra ela, e dois
passa pra mais dois, quatro. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)
214
Em meio a essa discussão, Luan fez questão de dizer que, apesar de toda essa
repercussão, e de também ter começado sua participação por meio de informações na internet,
tendo ainda passado essas informações para frente, o povo ainda é acomodado. Lembra que
em épocas em que não existia a internet, como na ditatura, os movimentos tinham resultados.
[...] porque as pessoas queriam mudar, hoje as pessoas não querem mudar, só
vai se a mensagem chega nela, nas pessoas. Então se a mensagem chegar
nele, ele talvez vá se manifestar, mas é que nem ela falou [se referindo a
outra participante], esse “manifesto” com curtida no Facebook, isso não
muda o Brasil. (Luan, Roda de Conversa, 2014)
Perguntados sobre se utilizam os computadores da sala do Acessa em suas escolas
para obter informações acerca das manifestações, disseram que não, que ficam sabendo pelas
redes e, principalmente, pelo celular. Acreditam que a escola não dá essa formação pois, por
uma imposição do governo, os professores não poderiam trabalhar com esses conteúdos,
inclusive, em algumas unidades escolares, em tempos como de eleições, são proibidos de
utilizar o Facebook.
Eu lembro que os professores chegavam e falavam “Olha, a gente não pode
falar, mas, vai, pode ir, vocês tem que ir. Só que não fala pra ninguém que eu
tô te falando pra você ir! Que a gente não pode” tipo „influenciar‟. Por
exemplo, se a diretora ficar sabendo que professor tá influenciando uma
manifestação contra a Dilma, ou contra qualquer coisa do governo que pode
tá, pra gente tá errado”. (Fabiana, Roda de Conversa, 2014)
Contudo, ainda deixaram evidente que a internet e as redes sociais digitais, mais
ainda com o uso do celular, foram fundamentais nas manifestações de que participaram, seja
pela informação, seja pela interação ou até pela construção de sites do movimento.
Eu, eu criei a página, eu e uns amigos meus, pra chamar todo mundo, e a
gente chamou, só que, assim, na internet, vai vinte mil pessoas que
marcaram presença na internet, na realidade não tinha mil ali, entendeu? A
gente organizou, vinte mil confirmou, nossa, a gente tava crente que ia ter
muita gente, na hora não tinha muita gente, entendeu? Então, o pessoal
muito acomodado, dentro de casa, “Ah, tem o medo de tomar um tiro”.
(Caíque, Roda de Conversa, 2014)
Afirmaram que se utilizaram das redes sociais, WhatsApp, Facebook, Tumblr e
outras redes e ferramentas da internet para que pudessem saber, divulgar e marcar os eventos.
Lembraram que em movimentos como os ocorridos na Síria a internet foi bloqueada, pois se
sabia que sem ela a organização ficaria comprometida, e que no Brasil algumas páginas foram
215
tiradas da rede. “Então, assim, a internet é a principal fonte pra revolucionar.” (Luan, Roda de
Conversa, 2014)
É impactante na realidade, né? A gente vê alguém começar lá... lá... lá de
baixo, começar alguma coisa e ir crescendo, crescendo e crescendo, virar
alguma coisa que foi grande, não foi pequena, até porque a da Paulista foi
enorme, foi bastante gente, e é impactante. (Maiara, Roda de Conversa,
2014)
O professor Eriberto, que até então estava apenas observando, pediu autorização
para entrar no debate e falou de uma música que também foi retirada do YouTube por fazer
crítica aos governos em momentos de manifestações. Disse que o cantor teve sua página
bloqueada na internet, e só por meio de uma liminar a música pôde ser divulgada.
[...] eu ouvi a música, gostei na hora eu já baixei, porque eu vi assim que
colocaram nas redes sociais, quando eu baixei eu já tinha. Mas no outro dia,
assim, no outro dia, minutos depois, as pessoas já tinham pego a bandeira do
Brasil na internet, em qualquer foto do Google, colocaram o funk e aí
colocaram novamente no YouTube. Só que isso, foram quinze ou vinte mil
pessoas que colocaram de uma vez. Como que o governo ia controlar tudo
isso? [...] e ele incentiva mesmo ir pras ruas, ele manda mesmo, “Vá pra
rua”, é a mensagem, a mensagem subliminar é isso, se você quer, luta pelo
seu direito. (Eriberto, Roda de Conversa, 2014)
O aluno Cleverson relata que só optou por participar a partir da visualização de
um vídeo de uma jovem de 16 anos que expunha sua opinião sobre a conjuntura social e
política do país, bem como o problema da influência dos meios de comunicação de massa.
Eu me interessei muito por isso, também fiquei assustado, porque até então
eu só sabia de manifestações e essas coisas em outros países, né, em
reivindicações, e também na ditadura. Então achei um baque, né, fiquei com
medo até de guerra, de alguma coisa, guerra civil, e eu quis participar. Então
teve a primeira manifestação lá, que a gente parou, que pararam o pedágio e
eu não pude ir por causa do meu pai. O meu pai acabou sendo influenciado
pela TV, então ele viu só a parte, né, da baderna, do quebra-pau, então ele
virou pra mim e falou “Cê não vai, cê não vai, porque são um bando de
vagabundo”. Aí eu fiquei quieto, né, porque é meu pai... E olhei todo mundo
passando assim, e eu achei uma coisa linda, porque eram várias, muitas
pessoas mesmo. E eu achei muito lindo isso. E eu queria muito estar lá, mas
eu não podia por causa do meu pai. Aí teve uma segunda manifestação lá,
muito menor, né, mas eu pude participar, escondido, mas eu fui. Então foi
muito bom, me senti realizado, e é isso. (Cleverson, Roda de Conversa,
2014)
216
O professor José disse que, quando atuou em outra escola, incentivou muito para
que os alunos participassem, inclusive trabalhou com eles, contudo teve de sair daquela
unidade escolar, pois o clima ficou insustentável com a gestão. Continuou dizendo que
apoiava os alunos, mas os questionava quando queriam usar máscaras, afirmando que só
faziam isso porque queriam esconder algo de errado, quando, pelo contrário, eles estariam
fazendo o correto quando reivindicavam pelos seus direitos. Mesmo com toda essa censura
velada, ainda tinham liberdade de expressão, aquele momento representava liberdade.
Os alunos continuaram o debate, afirmando que a internet para as manifestações é
importante, pois se trata de meio acessível a todos para haver comunicação rápida. Enquanto
as pessoas possuírem um dispositivo móvel, sempre terão acesso à rede e a esse tipo de
comunicação ágil e prática, que, no entanto, também poderiam ser usadas como armas, por
isso a necessidade de serem utilizadas de forma consciente, apontaram.
Quanto a essa questão, todos foram unânimes em relatar que as redes sociais,
redes de internet e redes de celular são imprescindíveis para os movimentos e manifestações.
Isso é evidenciado por Gohn (2014, p.19) quando se refere às atuais formas de comunicação,
modificadas entre os jovens participantes das manifestações, e a alteração das formas de
mobilização social por meio da cibercultura, numa sociedade em que “saber se comunicar on-
line ganha status de ferramenta principal para articular as ações coletivas” (GOHN, 2014,
p.17).
Para a autora, as redes digitais modificaram e impulsionaram os modos de
organização dos movimentos e manifestações sociais, até porque faz parte do perfil desses
jovens ativistas “dominar códigos das novas tecnologias e participar das redes sociais”
(GOHN, 2014, p.60).
4.2.5 Escola X Sociedade
Quando perguntado aos alunos se a escola proporcionava um clima de
participação, se os preparava para um senso crítico da conjuntura, da realidade da sociedade
em que estão inseridos, responderam por unanimidade que não, que mal participavam do
grêmio, pois ou de forma velada esse colegiado era proibido, ou era muitas vezes boicotado,
ou direcionado nas questões que, por vezes, achassem importante discutir. Isso confirmado
pelos professores presentes. Relataram que a escola nunca os incentivou, apenas um ou outro
professor de forma isolada, e na maioria das vezes eram professores mais jovens. Também
217
disseram que se um professor explicasse de forma clara os motivos das manifestações, os
problemas políticos e governamentais, esse seria de algum modo excluído da escola.
Como o professor citou, tinha um professor na nossa escola, de história, o
professor deve conhecer [se dirigindo ao professor], que ele era um
revolucionário, e a partir do momento que teve essa paralização, greve e
tudo o mais, ele ensinou o que foi a revolução no começo, qual que foi as
parada do começo, desde a época que ele... tava lá, da época que ele era
revolucionário, até hoje e ele incentivava. Mas é claro que não pode se
divulgar em escola, que senão, como o professor fala ali, tem repressão, mas
mesmo assim ele incentivava. Eu muitas vezes fui incentivado por ele
também a fazer a do passe livre. Ele falou assim “Não, eu vou estar lá
também”, apesar que eu não vi ele lá, mas ele falou “Eu vou estar lá
também, e vou ajudar vocês”. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)
Esse professor que ele comentou que... a escola pegou e demitiu ele. Só que,
o que houve ali? Os alunos gostavam do que ele tava falando, não era o que
o outro professor de história falava, “Ah, é isso, a cópia legal e tal”. Ele
falava a verdade, os aluno... a escola inteira se reuniu e mandou a direção
chamar ele. Aí ele mudou de escola... Teve uma rede social, assim, no meio.
(Thalita, Roda de Conversa, 2014)
Foi perguntado, então, por que eram participativos se a escola no geral não os
formava para a vida, para a luta. Responderam que por causa da convivência com as pessoas
da escola, com os colegas e amigos fora dela, inclusive pelas redes sociais digitais.
A escola até evita falar sobre politica, uma coisa que eu achei absurda, até
hoje eu não aceito ver uma professora de português falar “política não se
discute”. Foi a pior coisa que eu já ouvi na minha vida, e uma professora
falou que política não se discute dentro da escola. Então, essa professora tá
lá até hoje, e até hoje ela evita falar com os alunos. Então, assim, não foi
grêmio que fez a minha cabeça, não foi escola que fez a minha cabeça, os
meus pais... Foi uma coincidência, mas foi o que eu vi no dia a dia, esse...
Todos nós que estamos aqui... Essa vontade de mudar, que não... Brasil não
dá mais como tá. (Luan, Roda de Conversa, 2014)
Na sequência da Roda de Conversa foi aberto um tempo para quem quisesse dizer
algo que não havia sido mencionado. Assim, iniciaram falando sobre a descrença nas reais
finalidades de luta, da falta de criticidade do povo brasileiro e que tinham dúvidas de que
haveria mudanças, de fato, no Brasil. Dois, inclusive, alegaram acreditar que o país caminha
para uma guerra civil. Que a polícia não faz o trabalho como deveria e apenas oprime a
população.
Falaram também sobre o problema da corrupção no país, incluindo a população,
que seria acomodada desde a invasão dos portugueses, pois não ofereceu muita resistência.
218
Tal argumento, no entanto, provocou uma argumentação contrária, dando conta de que o
problema viria de quem oprime, como os portugueses aos índios no Brasil, e continua se
favorecendo, devido ao despreparo cultural e educacional de muitos.
Como o Luan disse, eu também acredito que vai ter em poucos anos uma
guerra civil, e a gente vê que o Brasil é um país assim... com tabus
desnecessários. E que só vai haver mudanças quando as pessoas começarem
a mudar. Não tem como a gente reivindicar algo se não tem pessoas
preparadas pra isso, entendeu? Então, tem pessoas que realmente querem
mudanças, que realmente querem reivindicações, tem pessoas que para pedir
as suas reivindicações usam da violência. Então é isso, o Brasil precisa de
mudança nas pessoas. Eu acredito numa mudança daqui muitos anos no
Brasil, mas que isso vai começar a partir de pessoas que pensem como nós,
ou que tenham pensamentos parecidos. (Cleverson, Roda de Conversa,
2014)
Outros alunos argumentaram ser necessário continuar lutando pelos direitos, em
meio a uma discussão sobre culpados pela situação do país. A culpa seria dos governos, por
conta da corrupção presente em todos os segmentos e em todos os partidos. Isso em geral
poderia ser mudado nas eleições, mas o país não teria opção.
Contudo, alegaram que o povo constitui uma maioria sobre os governantes e,
dessa forma, seria possível haver mudança. Os movimentos, as manifestações seriam formas
de se fazer ouvir – e, por conta das redes sociais, esse ouvir ocorre em maior proporção.
Porém, se os objetivos fossem mais comuns, se fariam ouvir com mais intensidade, embora
seja lembrado ainda que a mídia tem o poder de manipular a opinião pública.
[...] Eu acho que a manifestação é um modo de se ouvir, de se fazer ouvir
sim, porque, por exemplo, um grupo grande de mulheres são a favor do
aborto, então vamos lá gritar que somos a favor do aborto... Um grupo de
pessoas, jovens, adultos, velhos são a favor da maconha medicinal e da
maconha como venda, então vamos lá e vamos gritar que somos a favor
disso. E somos a favor do passe livre... Então é um modo de muitas pessoas
com as mesmas ideias se juntarem e gritar ao mundo que querem. Mesmo
tendo, infelizmente, pessoas que não estão nem aí. (Fabiana, Roda de
Conversa, 2014)
A manifestação é uma forma de se ouvir no início, mas a mídia faz o vínculo
errado. Ela, tipo assim, vamo... Aí mostra uma coisa totalmente nada a ver e
ponto de vista diferente, e o pessoal que tá assistindo TV vai e pensa que a
manifestação é uma coisa totalmente diferente... Voltando ao ponto que
vocês falaram do poder, que tem que mudar quem tá no poder, como se
muda quem tá no poder? Como se escolhe alguém que tá no poder? Tem que
estudar, tem que ter informação. Só que o governo fez uma coisa muito
elaborada, ele não deu informação pra pessoa na escola pública, o ensino é
ruim, como que a pessoa vai escolher? Gente que quer manifestar, quer
219
mudar o partido politico, mas não sabe em quem tá votando. Não sabe as
propostas politicas de quem ele quer eleger. Como a gente faz assim?
Entendeu? Foi uma coisa muito bem feita. O povo que mudar, só que o povo
não pode porque não tem educação. Então, como quer mudar de cima? Tipo
assim, povo que vai querer mudar, pra mudar tem que tirar o político e
colocar um bom projeto para a educação. Só que pra eu tirar o político de lá,
tem que saber quem eleger. Pra saber quem eleger, tem que ter educação. Pra
ter educação, tem que ter alguém no poder que dá uma coisa: uma formação
pras boa pessoas. Isso, tipo, não bate. (Rui, Roda de Conversa, 2014)
Diante do exposto pelos alunos nessa parte da pesquisa, pode-se constatar que no
cotidiano escolar tradicional não é proporcionado um ambiente de participação. A escola
pouco os incentiva por meio de atividades diferenciadas com vistas a promover um clima
propício à formação crítica. Eles não enxergam um movimento nesse sentido, raramente há
participação nos grêmios e conselhos escolares. E, quando existe, é de forma controlada e
instruída, pois não atuam de forma deliberativa.
Contudo, conforme Paro (2002, p.19), “é na prática escolar cotidiana que
precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto
manifestação, num espaço restrito, dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade”.
E, nesse sentido de busca de formas de enfrentamento, percebe-se que a luz no fim do túnel
aparece por meio do trabalho de alguns professores que, de uma maneira ou outra, abordam
tais questões. Sem contar os poucos que de modo engajado, politicamente, procuram ser
exemplos e mediar para uma participação efetiva. Entretanto, estes também eventualmente
encontram espaços para tal exercício. O que para Freire (2001, p.11) é
Uma das tarefas do educador ou educadora, através da análise política, séria
e correta, é desvelar as possibilidades, não importam os obstáculos, para a
esperança, sem a qual pouco podemos fazer porque dificilmente lutamos e
quando lutamos, enquanto desesperançados ou desesperados, a nossa é uma
luta suicida, é um corpo-a-corpo puramente vingativo.
Revelaram que seu espírito ativista vem de formações fora dos muros da escola,
nas redes sociais físicas e virtuais. Mostraram a percepção de uma opressão social
reproduzida no espaço escolar e do cepticismo frente a uma sociedade inerte aos
acontecimentos e fatos que geram desigualdade e exclusão. Assim, para Enguita (2004, p.57),
A escola está mal equipada para competir nesse terreno: por um lado, suas
rotinas mais elementares são particularmente tediosas e exigentes, em
comparação com a divertida e confortável trivialidade da televisão,
videojogos e computadores; por outro, suas penosas e áridas incursões na
220
cultura, no sentido pleno do termo, nada podem faze em face do acúmulo de
oportunidades oferecido por um mundo globalizado.
Mas, de maneira geral, lutam porque ainda acreditam na parcela do corpo social
que enfrenta e busca a transformação deste contexto. Dessa forma, vale a pena continuar com
o enfrentamento aos desmandos e desgovernanças da esfera política, bem como a reflexão e a
criticidade para que não sejam por eles manipulados, nem pelas mídias, que, por vezes,
tentam enviesar o contexto social, assim como corromper o verdadeiro desígnio das lutas, que
é a participação deliberativa numa sociedade que exclui, com vistas a uma vida melhor para
todos que vivem nela.
221
CONSIDERAÇÕES FINAIS
Considerações finais, esse é o termo mais adequado para esta parte da tese, pois
seria, por demais, pretensioso dizer que se pode chegar a uma conclusão definitiva sobre esse
tema tão vivo, cuja conjuntura está em constante mudança.
São diversos os desafios que se colocam quando se aborda um tema tão recente,
ou melhor, que ainda está se desenvolvendo em novas formas de manifestações no campo
teórico. Um deles é conseguir acompanhar as constantes mudanças acerca do assunto e as
suas inovações. Assim, parece que tudo que se debate já está ultrapassado, bem como que é
necessário buscar cada vez mais rapidamente a enxurrada de informações que chega dia a dia,
de forma a saber se ainda têm validade. E outro desafio é saber o que fazer com essas
informações, na perspectiva de contribuir para o jovem conhecer os problemas enfrentados
em sua comunidade, ficando a cargo do coletivo buscar alternativas de resolução.
Há um movimento das redes sociais digitais no sentido de sua necessidade, no
mundo contemporâneo, como forma de possibilitar a comunicação de uns com os outros,
fazendo com que, também neste texto, a matriz “mercadológica” seja vista ainda como a
adequada para o século XXI. Apesar disso, há a necessidade de mudar essa linha de ideias
para uma matriz cidadã, pois a educação formal continua insuficientemente propiciando o
acesso às Tecnologias de Comunicação e Informação aos jovens do Ensino Médio das escolas
públicas, seja por meio de suas ferramentas disponíveis, como é o caso do Acessa Escola, e
sim dificultando e até negando, uma vez que os alunos encontram muitos obstáculos, como a
proibição do uso das salas ou do acesso às redes sociais e a falta de interesse de uma parcela
de educadores em motivar ou utilizar. Entretanto, nesse campo, a educação formal afasta-se
da sua função, como apresentado no capítulo III, porque ela não está preparada para abordar e
discutir com os alunos a questão dos movimentos e manifestações sociais.
De acordo com a primeira matriz mercadológica, com características
individualistas, com aquisições individuais e sem vistas a conquistas coletivas, a qual não
proporciona as mesmas oportunidades de inclusão e obtenção de direitos políticos e sociais. É
preciso buscar alternativas verdadeiras que proporcionem liberdade de busca de soluções aos
problemas, sem a ingenuidade de que se pode modificar a realidade do mundo vigente por
meio de aulas que não prezam a conscientização do indivíduo e sua relação com o coletivo,
com o social. É preciso levar em conta a necessidade da formação continuada de verdadeiros
cidadãos, capazes de responder aos constantes desafios impostos pela sociedade. E, de acordo
222
com a matriz cidadã, os movimentos sociais podem proporcionar conquistas sociais se
puderem transformar a realidade pessoal, seu cenário, com vistas à melhoria da sociedade e,
mais especificamente, do grupo ao qual pertença.
Num cenário em que uma parcela da população não tem emprego, passa fome ou
está na miséria, fica difícil definir quais seriam as principais bandeiras, numa sociedade em
que muitos já estão antecipadamente excluídos socialmente pela falta de leitura, escrita e,
consequentemente, pela falta da compreensão crítica da realidade. Dessa forma, não basta
apenas indicar as necessidades, é preciso refletir sobre as condições iminentes, para que se
possam buscar, no coletivo, soluções para os conflitos e que levem ao desenvolvimento local,
global e plural.
A proposta do Estado, no discurso educacional, é a de educar para a cidadania.
Mas de qual conceito de cidadania se trata? Daquele que passa pela conquista de direitos
políticos civis e sociais ou daquele que passa pelo direito ao acesso aos bens, materiais,
simbólicos e culturais? Com inspiração em Paulo Freire, parte-se do pressuposto de que não
há como existir a conquista de qualquer tipo de direito, inclusive ao da educação, se não
houver conquista dos direitos políticos. Antes da Educação, formal ou não formal, formar
cidadãos cognoscentes, ela deve formar cidadãos políticos. Ou seja, antes de simplesmente
aprender-se a ler palavras ou textos, há de se aprender a ler o mundo.
Tratar da questão de cidadania é importante para que seja percebido qual é o
conceito que ainda muitos, em instituições escolares, trazem consigo, reflexo, de acordo com
a matriz mercadológica, de uma sociedade individualista da qual se faz parte. É a oposição
dos que têm aos que não têm, dos incluídos aos excluídos, os que detêm o poder aos
subjugados.
O cidadão que não enxerga e não reflete de forma crítica não tem uma direção de
olhares, de horizontes, de objetivos para a própria vida enquanto ser, ontológico ou social.
Principalmente aquele que se fecha em uma concha, muitas vezes por timidez ou falta de
informação. Cabe à educação, por meio de políticas públicas e de forma coletiva, mediar para
que o sujeito aprenda a avaliar sua condição real para transformá-la.
A autonomia se obtém quando se adquire a capacidade de ser sujeito
histórico que lê e re-interpreta o mundo; quando se adquire uma linguagem
que possibilita ao sujeito compreender e se expressar por conta própria.
(GOHN, 2004, p.48)
223
Dessa forma, para que essa autonomia ocorra, o sujeito necessita de incentivo, de
liberdade de escolha e de deliberação no que se refere à resolução de problemas. Para que esse
sujeito não precise ter sempre alguém que lhe defina caminhos ou lhe determine atividades e,
assim, não fique sem chão e se sentindo invalidado. Segundo Castells (2013, p.172), isso só é
possível por meio de autonomia, pois um “ator social torna-se sujeito ao definir suas ações em
torno de projetos elaborados independentemente das instituições da sociedade, segundo seus
próprios valores e interesses”.
Nesse prisma, Russel (2005, p.15) afirma que a criança, e depois em sua
adolescência, necessita de uma ou mais instituições educacionais, pois sozinha talvez não
tenha maturidade para definir certas “circunstâncias da vida”, porém é necessário dar-lhe asas
para que escolha, para que desde cedo perceba a necessidade de tomar decisões por caminhos
a seguir e seus impulsos possam ser utilizados em sua própria educação, o que nunca é
valorizado. Para ele, o olhar jovem, que pouco é lembrado, deveria definir a sua liberdade,
principalmente se quer e o que aprender e para quê. Pois cada aluno também é singular, com
suas vivências, realidades e especificidades.
A liberdade de opinião, tanto de parte dos alunos como dos professores, é a
mais importante das várias liberdades, e a única que não impõe limitações.
Em vista de não existir, vale a pena recapitular alguns dos argumentos a seu
favor. (RUSSELL, 2005, p.22)
Olhando para essa conjuntura, em que movimentos e manifestações estão
eclodindo e rompendo o silêncio de uma população jovem, que de tempos em tempos se cala,
estava mais do que na hora da grande maioria, inclusive de jovens, expor seus gritos
“indignados” (GOHN, 2014; CASTELLS, 2013). Estampá-los por meio de cartazes, com suas
demandas em forma de rimas, por meio da voz que se faz ouvir, por meio de bloqueios que se
faz enxergar, por meio de protestos em suas variadas formas de luta.
E, de acordo com o que está expresso no Manifesto dos Pioneiros da Educação
Nova (1932), é “pela ação extensiva e intensiva da escola sobre o indivíduo e deste sobre si
mesmo e produzir-se do ponto de vista das influências exteriores, por uma evolução contínua,
favorecida e estimulada por todas as forças organizadas de cultura e de educação” que
aumentariam as condições de participação e intervenção na esfera pública e, por conseguinte,
nas questões educacionais. É essa escola, é essa educação, seja formal ou não formal, a qual
não se apresenta de forma única para todos, que pode abrir os horizontes de mudança por
meio de uma qualidade pautada na lógica da matriz cidadã.
224
No entanto, a questão da qualidade é mais um discurso do que uma realidade. As
medidas são tomadas, decididas e implantadas de forma autoritária, não se ouvindo os
“gritos” (demandas reais). Um exemplo claro vem descrito no citado Manifesto dos Pioneiros
da Educação Nova, acerca do fenômeno ainda vigente, a Universidade Pública gratuita e de
boa qualidade, que não está à disposição ou a serviço da grande massa, e sim de uma elite,
não trabalhadora. Assim, tanto as políticas públicas educacionais como a própria vivência
educacional não têm sido vetor de transformação real na vida do ser humano, nem efetivado
sua função social. Ainda que “a escola não seja a alavanca da transformação social, mas essa
transformação não se fará sem ela” (GADOTTI, 1984, p.73).
E a função social da escola deve ter esses horizontes, educar com vistas a uma
cidadania plena, de maneira que a formação, proposta e desenvolvida, valorize os
conhecimentos externos a ela, ou seja, aqueles que o aluno leva de fora para dentro. Assim,
quando o caminho for o inverso, esses conhecimentos elaborados poderão auxiliar na
mudança de uma sociedade baseada na lógica da matriz mercadológica.
Contudo, de acordo com a pesquisa de campo, no ambiente escolar, o número de
alunos que desenvolvem atividades diferenciadas e de participação é mínimo. Não obstante,
existem vários textos na educação e na legislação sobre o protagonismo do jovem com vistas
à melhoria das condições escolares para que ocorresse a mencionada formação. Conforme
consta no segundo capítulo desta tese, entre leis, decretos e resoluções que embasam medidas
e reformas, só para o estado de São Paulo é possível contabilizar em torno de 80 políticas
públicas educacionais. Porém, os grandes problemas enfrentados no ensino não se dissiparam.
Cabe refletir que um dos entraves é que o espaço escolar cria redes sociais, mas
não as desenvolve. Pois ali se formam vários coletivos, o coletivo dos discentes, dos docentes,
dos funcionários e até o coletivo dos pais, quando estão no interior da escola. Estes, por sua
vez, estão dentro do coletivo de sujeitos escolares, que estão dentro do coletivo comunidade.
Olhando por esse prisma, podem-se encontrar na escola “coletivos em rede”, os quais
[...] referem-se a conexões entre organizações empiricamente localizáveis.
(p. ex., entre ONGs ambientalistas). Estes coletivos podem vir a ser
segmentos (nós) de uma rede mais ampla de movimentos sociais, que por
sua vez é uma rede de redes. O Fórum Brasileiro do ONGs e Movimentos
Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento é uma sub-rede do
movimento ambientalista brasileiro. Entretanto, o movimento social deve ser
definido como algo que vai além de uma mera conexão de coletivos.
(SCHERER-WARREN, 2009, p.106)
225
A escola pouco propicia o desenvolvimento das relações desses coletivos quando
trabalha de forma tradicional, inclusive pela disposição das carteiras em sala de aula. As
atividades, não diferenciadas, são desenroladas de forma isolada. Não existem relações sociais
coletivas e participativas, e sim uma pirâmide hierárquica. Assim sendo, as redes iniciadas no
espaço escola se desenvolvem fora dele e se tornam
[...] redes sociais complexas que extrapolam as organizações e que
conectam, simbolicamente, sujeitos sociais e atores coletivos. Em síntese, os
coletivos em rede são formas de instrumentalização das redes de
movimentos, e embora não definam por si mesmas um movimento social,
são partes constitutivas dele. (SCHERER-WARREN, s/d, apud
PRUDENCIO, 2006, p.41)
E fora do ambiente escolar as redes se formam física e virtualmente, neste último
caso chamadas de redes sociais digitais (forma escolhida entre várias outras). Para os alunos
da Roda de Conversa e para muitos que participaram do questionário, as redes sociais digitais
e internet são de suma importância para seu cotidiano e para a sociedade. Eles apresentaram
certa criticidade quanto à sua utilização, apontando o que chamam de pontos positivos e
negativos. Enfatizaram que, na utilização desses meios, é constante a necessidade de discernir
conteúdos, bem como estabelecer limites de uso.
Tanto nas respostas à pesquisa como na Roda de Conversa, afirmaram ser o
espaço virtual um local onde podem se organizar, seja socialmente, seja para luta ou
manifestações. Sendo assim, para Castells (2003, p.99), o jovem tem um papel de destaque na
relação participação política e redes sociais, uma vez que vem despertando para uma
consciência política por meio do uso das redes, bem como construindo uma identidade
mediante a interação nesses espaços.
A representação de papéis e a construção de identidade como base da
interação on-line representam uma proporção minúscula da sociabilidade
baseada na internet, e esse tipo de prática parece estar fortemente
concentrado entre adolescentes. De fato, são os adolescentes que estão no
processo de descobrir sua identidade, de fazer experiências com ela, de
descobrir quem realmente são ou gostariam de ser, oferecendo assim um
fascinante campo de pesquisa para a compreensão da construção e da
experimentação da identidade. (CASTELLS, 2003, p.99)
Ainda segundo o autor, essa construção, na qual a interação se dá de modo a
compartilhar desejos, emoções, opiniões, ideias, contribui para a processo organizacional e
formativo dos movimentos e manifestações sociais, pois
226
[...] a Internet é mais que um mero instrumento útil a ser usado porque está
lá. Ela se ajusta às características básicas do tipo de movimento social que
está surgindo na Era da Informação. E como encontraram nela seu meio
apropriado de organização, esses movimentos abriram e desenvolveram
novas avenidas de troca social, que, por sua vez, aumentaram o papel da
Internet como sua mídia privilegiada. (CASTELLS, 2003, p.115)
No entanto, o espaço escolar para acesso à internet destinado aos jovens alunos do
Ensino Médio nas escolas públicas estaduais raramente se constitui em espaço formativo para
a cidadania e para a democracia. Isso porque é pouco utilizado pelos estudantes, seja de forma
particular, apesar dos números demonstrados no histórico do Acessa Escola, pela falta de
motivação, sendo até proibidos de acessar as redes sociais. Seja tão somente junto aos
professores, que em sua grande maioria, esporadicamente, utilizam as salas, uma vez que isso
demandaria mudança de posicionamento e do olhar para os alunos, cuja postura é vista, ainda
pelo senso comum, como "apática, desinteressada e desmobilizada quanto às questões
públicas e muito mais individualista, consumista e alienada que as gerações anteriores"
(ABRAMO, 2004, p.13).
Verificou-se, então, que o acesso à internet e às redes sociais digitais se dá por
meio de computadores fora do espaço formal escolar, principalmente pelas redes de telefonia
celular que, para muitos, figura como única forma de acesso. Os alunos consideram essa
ferramenta fundamental para participação social por meio das redes sociais digitais, inclusive
como forma de obter informações. Nota-se que praticamente todos possuem telefone móvel,
inclusive com seus pacotes de internet. Dado a ser considerado, uma vez que todos são de
escolas públicas, a maioria sempre estudou nelas, e uma parte está reside em locais de
bastante vulnerabilidade social, fazendo parte de um grupo pertencente a uma denominada
exclusão social.
Nessa linha, acerca da importância da internet, das redes sociais digitais e dos
celulares nas manifestações, verificou-se, tanto na pesquisa quantitativa como na Roda de
Conversa, que os jovens alunos do Ensino Médio não só consideram fundamental sua
utilização para os movimentos e manifestações, como os que participaram se valeram deles,
uma vez que “marchas, manifestações e ocupações na atualidade são promovidas por
coletivos organizados que estruturam, convocam/convidam e organizam-se on-line, por meio
das redes sociais” (GOHN, 2014, p.21). E, segundo Castells, o uso das redes e internet
227
[...] permite ao movimento ser diverso e ser coordenado ao mesmo tempo,
engajar-se num debate permanente sem contudo ser paralisado por ele, já
que cada um de seus nós pode reconfigurar uma rede de suas afinidades e
objetivos, com superposições parciais e conexões múltiplas. (CASTELLS,
2003, p.117)
Outro fator, como já apontado por Gohn (2014, p.60), é que faz parte do perfil
desses ativistas a comunicação pelos meios virtuais como forma de articulação das “ações
coletivas”. De acordo com Castells, nesses meios
[...] foi surgindo por sua vez essa consciência de milhares de pessoas que
eram ao mesmo tempo indivíduos e um coletivo, pois estavam – e estão –
sempre conectadas, conectadas em rede e enredadas na rua, mão a mão,
tuítes a tuítes, post a post, imagem a imagem. Um mundo de virtualidade
real e realidade multimodal, um mundo novo que já não é novo, mas que as
gerações mais jovens veem como seu. (CASTELLS, 2013, p.183-184)
Nesse ponto, também pouco coube à escola formal propiciar aos jovens estudantes
formas de reflexões (o que deveria fazer parte de suas funções) acerca dos movimentos
sociais, das manifestações sociais, seus objetivos, sua história e seu contexto, inclusive os
meninos que responderam ao questionário ou os que participaram da Roda de Conversa. Eles
foram formados pelos “meios de autocomunicação de massa”, assim chamados por Castells
quando se refere às redes sociais. Tal formação, para o autor, é imprescindível para as
manifestações sociais, entre outras, e para o que ele intitula de “novos movimentos sociais”, o
que fica explícito quando o autor conceitua redes:
Os seres humanos criam significado interagindo com seu ambiente natural e
social, conectando suas redes neurais com as redes da natureza e com as
redes sociais. A constituição de redes é operada pelo ato da comunicação.
Comunicação é o processo de compartilhar significado pela troca de
informações. Para a sociedade em geral, a principal fonte da produção social
de significado é o processo da comunicação socializada. Esta existe no
domínio público, para além da comunicação interpessoal. A contínua
transformação da tecnologia da comunicação (TI) na era digital amplia o
alcance dos meios de comunicação para todos os domínios da vida social,
numa rede que é simultaneamente global e local, genérica e personalizada,
num padrão em mudança. O processo de construção de significado
caracteriza-se por um grande volume de diversidade. Existe, contudo, uma
característica comum a todos os processos de construção simbólica: eles
dependem amplamente das mensagens e estruturas criadas, formatadas e
difundidas nas redes de comunicação multimídia. Embora cada mente
humana individual construa seu próprio significado interpretando em seus
próprios termos as informações comunicadas, esse processamento mental é
condicionado pelo ambiente da comunicação. Assim, a mudança do
ambiente comunicacional afeta diretamente as normas de construção de
228
significado e, portanto, a produção de relações de poder. (CASTELLS, 2013,
p.15)
Quanto à participação ou conhecimento sobre movimentos ou manifestações
populares, a grande maioria dos alunos que responderam ao questionário nunca esteve
presente em nenhum deles. Percebe-se que há pouco, ou nada, de contato com algumas das
variações dos conceitos acadêmicos. Contudo, também demonstram conhecer, por meio da
internet e redes sociais e da mídia em geral, o que são movimentos sociais e manifestações
populares, mais especificamente o que se difunde como manifestações ou protestos sociais
por esses meios.
Ressalta-se aqui a credibilidade da mídia, principalmente a TV, para aquisição de
informações. Todavia, tanto pelas mídias tradicionais como pela internet e redes sociais,
[...] a informação só produz conhecimento quando trabalhada, ou seja,
refletida num dado contexto de interesse e necessidade de saber. Pois
somente a partir da elaboração cognitiva é que ocorre a construção de novos
saberes causados pela informação tramitados na rede. (GALLI, 2006, p.123)
Assim, é feita uma leitura de suas realidades e da realidade social via meios não
escolares, exceto no caso de poucos alunos, segundo a Roda de Conversa, que convivem com
professores que procuram aprofundar algumas dessas questões. Daí a importância do trabalho
de professores que tratam do tema em suas aulas, ainda que de maneira isolada e, por vezes,
como parte do conteúdo curricular, devido à confiança depositada neles. Muito embora, como
dito por alguns e pelos próprios professores presentes na Roda de Conversa, a escola seja
local proibido para determinados temas, tendo certo controle sobre falas e atos, ainda que de
forma velada. Mesmo que a proposta descreva:
O Currículo de Sociologia para o Ensino Médio tem como principal objetivo
desenvolver um olhar sociológico que permita ao aluno compreender e se
situar na sociedade em que vive. Para isso, toma como princípios
orientadores a desnaturalização e o estranhamento (p. 135). [...] Quadro de
conteúdos e habilidades de Sociologia na 3ª Série do Ensino Médio: Qual a
importância da participação política? ‐ Formas de participação popular na
história do Brasil; ‐ Movimentos sociais contemporâneos: ‐ movimento
operário e sindical. ‐ movimentos populares urbanos. ‐ “novos” movimentos
sociais: negro, feminista, ambientalista, GLBT. (SÃO PAULO, 2010, p.148)
229
Seja entre os alunos que responderam ao questionário ou entre os que
participaram da Roda de Conversa, também há aqueles que não acreditam que de fato possa
haver conquistas, no caso dos últimos eventos, uma vez que não há uma causa em comum –
argumentam que acaba por ficar confusa a mistura de muitas bandeiras ao mesmo tempo. Esse
fato da diversidade é confirmado por Scherer-Warren quando classifica as manifestações dos
indignados de junho de 2013 como:
[...] agregados de múltiplos coletivos no espaço público, com reivindicações
conjunturais, mas frequentemente com protestos politicamente heterogêneos,
diversificados, e podendo conter antagonismos políticos explicitados ou não,
e mobilizados especialmente através das redes sociais e/ou virtuais.
(SCHERER-WARREN, 2014, p.14)
Portanto, na pesquisa houve quem julgasse não adiantar dizer nada, pois, para
esses alunos, os jovens não teriam voz na sociedade brasileira, e ainda quem não quisesse
expressar sua opinião sobre o tema. A hipótese é a de que esses meninos não têm expectativas
quanto à mudança ao que está posto e à transformação desta sociedade em que estão
inseridos. É como se os problemas dela não se referissem a eles, não tendo, dessa forma,
responsabilidades na busca de um mundo melhor nem crença na sua participação ou na
atuação dos governantes. Nesse aspecto, tanto um lado como o outro
[...] nem sempre se mostram preparados para a reflexão ou dispõem de
informação suficiente, nem, ainda, estão interessados em ouvir atentamente
os outros ou alterar os próprios pontos de vista diante das explicações e
justificações apresentadas pelos demais. (MAIA, 2008, p.287)
Todavia, muitos disseram que os movimentos e manifestações sociais são
importantes, uma vez que essas ações divulgadas esclarecem a real conjuntura do país para
aqueles que até então não prestavam atenção nos assuntos sociais e econômicos locais e
nacionais. Para eles, é uma forma de os jovens lutarem pelos seus direitos e, principalmente,
se fazerem ouvidos, afinal, “eles querem ser escutados, querem falar e denunciar o desrespeito
aos direitos dos cidadãos, e ter mais canais para expressar demandas que não específicas da
categoria jovem, mas de toda a sociedade. Vocalizam, por exemplo, que querem educação de
qualidade” (GOHN, 2013a).
Os jovens fazem questão de dizer que não serão mais manipulados, pois não são
alienados. Dessa maneira, volta-se à questão da função da escola de promover uma formação
crítica, diante desse desejo de entender a respeito das questões conjunturais para que não
230
sejam enganados. Não se esquecendo de que é preciso, para isso, que propostas
emancipadoras de ensino saiam do papel para a prática do cotidiano escolar, e que essa escola
desperte nesses jovens o interesse em uma formação mais integral no que tange aos
desenvolvimentos propostos, mas não trabalhados, tornando-os efetivamente
[...] atores de conflitos porque falam a língua do possível; fundam-se na
incompletude que lhes define para chamar a atenção da sociedade inteira
para produzir sua própria existência ao invés de submetê-la; fazem exigência
de decidir por eles próprios, mas com isto mesmo reivindicam para todos
este direito. (MELUCCI, 2001, p.102)
Mais uma vez, verificou-se que a escola formal minimamente oportunizou ou
discutiu tais questões. Novamente os idealizadores curriculares não pensaram “a educação
escolar na mesma visão ampliada que o movimento faz da educação, numa educação ampla,
política e avançada” (ARROYO, 2012, p.33). Eles não conseguem traduzir, no cotidiano
escolar, essa concepção e essa prática de educação que os movimentos sociais possuem.
Assim como não se dá a devida importância para a relação entre a educação e os movimentos
sociais, ou para a presença da primeira nas práticas dos grupos sociais e seus movimentos, no
processo de indagação acerca da conjuntura vigente, desconsiderando-se como ocorrem as
aprendizagens no cotidiano de tais grupos. (GOHN, 2011, p.334)
Para finalizar, a produção literária sobre o tema ainda é muito divergente, fato
esse que contribui para que não se possa definir o tema com precisão. Entretanto, por se tratar
de um estudo de caso de cunho exploratório, esta tese perseguiu o que foi estabelecido, na
medida em que buscou a compreensão sobre as categorias relacionadas ao tema e suas
variantes. Foi relevante na busca da compreensão sobre como os jovens do Ensino Médio
definem, tomam conhecimento ou participam dos movimentos e manifestações sociais. Cabe
ressaltar que, a maioria dos que responderam o questionário, conhecem o tema por meio do
senso comum veiculado nas mídias ou pelos grupos em que circulam. Não têm a dimensão ou
definição exata do conceito. Em contraponto as redes sociais constituem ferramentas para
formas de comunicação, publicização e participação desses mesmos movimentos, contudo,
em sua maioria, fora do espaço da educação tradicional e formal. Isso sendo compreendido
por meio das matrizes de análise, a “mercadológica” e a “cidadã”.
Nesse sentido, verificou-se que a escola não tem como mote essencial formar o
sujeito para uma cidadania ou para que haja participação da sociedade nas decisões políticas
que a atingem. Com isto a educação de qualidade tem sido um dos principais pontos das
231
pautas de reivindicação dos movimentos sociais e manifestações populares, para que esta
atenda aos interesses não só das elites, mas com prioridade às camadas populares.
É nessa perspectiva que Gohn aponta que os movimentos e manifestações sociais,
em suas variáveis formas, possuem a capacidade educativa quando manifestam suas
demandas, suas culturas e políticas sociais de forma a conduzir o jovem cidadão à cena
pública no que se refere à “inclusão social, a cultura política e suas manifestações na área da
educação – formal e não formal” (GOHN, 2010, p.15).
Diante do exposto nesta tese, considera-se que a divulgação e até a participação de
poucos desses estudantes do Ensino Médio das escolas públicas paulistas nos movimentos
e/ou manifestações de junho de 2013 marcam uma nova fase de atuação e lutas com vistas a
uma transformação social, fase essa em que
A igualdade é ressignificada com a tematização da justiça social; a
fraternidade se retraduz em solidariedade; a liberdade associa-se ao princípio
da autonomia – da constituição do sujeito, não individual, mas autonomia de
inserção na sociedade, de inclusão social, de autodeterminação com
soberania. Finalmente, os movimentos sociais tematizam e redefinem a
esfera pública, realizam parcerias com outras entidades da sociedade civil e
política, têm grande poder de controle social e constroem modelos de
inovações sociais. (GOHN, 2013a, p.16)
E isso não se deu, primordialmente, por meio da educação formal, uma vez que
ela, de modo escasso, faz uso de espaços escolares como o Acessa Escola ou de ferramentas
como a internet e redes sociais digitais, disponíveis dentro e fora do ambiente escolar, como
no caso das redes de telefonia celular e computador. Estes instrumentos são pouco ou quase
nada utilizados nas atividades de elaboração de conhecimento acerca do que são esses
movimentos e manifestações sociais. Também seu pouco uso não tem perspectivas para
reflexão e conscientização sobre suas realidades e as da sociedade em que vivem, muito
menos para uma formação crítica capaz de levar os alunos a uma maior participação na lógica
da matriz cidadã.
No entanto ainda, conclui-se que, embora se revelando tal conclusão como
acertada, esta percepção frustra. O que leva à inferência de que, as ocupações das escolas
pelos alunos da Rede Estadual em 2015, mostraram que, de certa forma, a função social da
escola tem sido cumprida, à medida que conhecimentos devem ter sido apreendidos e
compartilhados „nas lutas e jornadas‟, no interior da escola formal, gerando aprendizagens
não formais.
232
É dessa cidadania que se fala, pautada em um movimento democrático em que a
atuação dos sujeitos tenha como objetivo a participação política, empregando todas as formas
de luta e ferramentas disponíveis, como a rede de internet e redes sociais digitais, na prática
de uma soberania popular que rompa com os paradigmas e relações de forças dominantes,
sem discriminações, desigualdades ou privilégios de uns em detrimento de outros.
Espera-se que esta tese possa vir a contribuir no que se refere ao tema abordado,
possibilitando a formulação de outras questões e hipóteses. E objetiva-se ainda, numa possível
continuação da pesquisa, investigar os movimentos contra a reorganização das escolas
públicas do Estado de São Paulo. Esse foi um dos temas que se manifestou nas redes ao
término deste trabalho e que, por não ampliar o objeto de estudo, não foi possível aprofundar
neste texto. Contudo, se considerou importante a descrição dessa conjuntura, no segundo
capítulo, por estar ligada ao universo dos sujeitos abordados nesta pesquisa e às políticas
públicas implantadas ao longo da história.
Tudo isto posto, infere-se que políticas implementadas verticalmente sem consulta
social, permitem eclosões de movimentos contrários a tais medidas, quem podem se
configurar em manifestações, protestos, ocupações, etc. prejudicando o processo democrático
de participação deliberativa na efetivação das políticas públicas, relacionadas a um
novo cenário, as relações desenvolvidas entre os diferentes sujeitos
sociopolíticos presentes na cena pública alteram-se neste novo milênio.
Além da ampliação dos sujeitos protagonistas de ações coletivas, ocorrem
alterações no formato das mobilizações e na forma de atuação – agora em
redes. Isso resulta do alargamento das fronteiras dos conflitos e tensões
sociais em virtude da nova geopolítica que a globalização econômica e
cultural tem gerado. (GOHN, 2013a, p.25)
233
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Desenvolvimento da Educação - FDE.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 27.265, de 05 de agosto de 1987. Institui o Programa de
Municipalização e Descentralização do Pessoal de Apoio Administrativo das Escolas da Rede
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Única Discente e Docente no Ciclo Básico das Escolas Estaduais.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 30.375, de 13 de setembro de 1989. Institui o Programa de
Municipalização do Ensino Oficial no Estado de São Paulo.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 31.875, de 17 de julho de 1990. Dispõe sobre a suspensão
do expediente nas unidades escolares da Rede Estadual de Ensino, nas condições que
especifica.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 32.263, de 31 de agosto de 1990. Institui em
Estabelecimentos Penais do Estado o Programa de Recuperação de Mobiliário Escolar e dá
providências correlatas.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 32.392, de 24 de setembro de 1990. Autoriza o Secretário
da Educação celebrar Termo de Cooperação Intergovernamental com Municípios do Estado
de São Paulo.
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instituição do Projeto Educacional Escola Padrão na Secretaria da Educação.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 34.918, de 06 de maio de 1992. Dispõe sobre a
identificação das “Escolas Padrão” para o ano de 1993.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 39.902/95, de 1º de janeiro de 1995. Altera os Decretos nº
7.510, de 29 de janeiro de 1976, e 17.329, de 14 de julho de 1981, reorganiza os órgãos
regionais e dá providências correlatas.
SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 40.673, de 16 de fevereiro de 1996. Institui o Programa de
Ação de Parceria Educacional Estado-Município para atendimento ao ensino fundamental.
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SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 61.672, de 30 de novembro de 2015 Disciplina a
transferência dos integrantes dos Quadros de Pessoal da Secretaria da Educação e dá
providências correlatas.
SÃO PAULO (Estado). Deliberação CEE nº 9/97. Institui, no Sistema de Ensino do Estado de
São Paulo, o regime de progressão continuada no ensino fundamental.
SÃO PAULO (Estado). Deliberação CEE nº 10/97. Fixa normas para elaboração do
Regimento dos estabelecimentos de ensino fundamental e médio.
SÃO PAULO (Estado). Lei Complementar nº 114, de 13 de novembro de 1974. Institui o
Estatuto do Magistério Público de 1º e 2º graus do Estado e dá providências correlatas.
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o Estatuto do Magistério.
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o Estatuto do Magistério Paulista e dá providências correlatas.
SÃO PAULO (Estado). Parecer CEE 67/98. Normas Regimentais Básicas para as Escolas
Estaduais.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 169, de 20 de novembro de 1996. Dispõe sobre as
diretrizes para a continuidade do Programa de Reorganização da Rede Estadual de Ensino, e
dá providências correlatas.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 192/1995. Dispõe sobre o acompanhamento e
avaliação dos resultados do processo de ensino das escolas da rede estadual e dá providências
correlatas.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 2, de 6 de janeiro de 1995. Dispõe sobre o processo
de escolha dos Delegados de Ensino e dá outras providências.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 25, de 09 de fevereiro de 1981. Dispõe sobre
Documentos Escolares.
254
SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 27, de 29 de março de 1996. Dispõe sobre o Sistema
de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo.
SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 28/94, de 23 de fevereiro de 1994. Dispõe sobre
gratificações para as classes de Delegado de Ensino e Supervisor de Ensino e estabelece
critérios para a composição do setor de trabalho do Supervisor de Ensino e dá outras
providências.
SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Gestão da Educação
Básica. Reorganização do ensino fundamental e do ensino médio / Secretaria da Educação,
Coordenadoria de Gestão da Educação Básica. - São Paulo: SE, 2012.
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Agência Brasil. Estudantes e MTST ocupam 25 escolas de SP em protesto contra
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Agência Brasil. Estudantes ocupam mais de 100 escolas paulistas em protesto contra reforma.
24 de novembro de 2015.
Agência Brasil. Professores protestam contra reorganização do ensino em São Paulo. 30 de
outubro de 2015.
Agência Brasil. Alunos de escolas ocupadas querem abonar dias letivos com aula voluntária.
30 de novembro de 2015.
Agência Brasil. Alunos, pais e professores protestam contra fechamento de escolas em São
Paulo. 20 de outubro de 2015.
255
Agência Brasil. Decreto que transfere professores na reorganização escolar é publicado. 1º. de
dezembro de 2015.
Agência Brasil. Especialistas criticam reorganização da rede de ensino de São Paulo. 26 de
novembro de 2015.
Agência Brasil. Justiça suspende reintegração de posse de escolas ocupadas por alunos em SP.
16 de novembro de 2015.
Agência Brasil. Secretaria de Educação diz que 30 escolas ainda estão ocupadas em São
Paulo. 17 de novembro de 2015.
Agência Brasil. Violência contra alunos paulistas é crime, diz especialista. 05 de dezembro de
2015.
BBC Brasil. Adolescentes viram protagonistas em polêmica sobre escolas fechadas em SP. 12
de novembro de 2015.
BBC Brasil. Cartilha argentina guia estudantes que ocupam escolas paulistas. 24 de novembro
de 2015.
Diário do Grande ABC (SP). Opinião: Reestruturação, Alckmin e alternativa. 10 de novembro
de 2015.
Diário do Grande ABC. Reorganização escolar leva estudantes às ruas. 08 de outubro de
2015.
El País. O dia em que cem policiais sitiaram uma escola ocupada em São Paulo. 12 de
novembro de 2015.
El País. A vida em uma escola ocupada que resiste a fechar as portas em São Paulo. 18 de
novembro de 2015.
El País. Justiça nega reintegração de posse das escolas ocupadas em São Paulo. 24 de
novembro de 2015.
256
El País. Opinião: A Educação sentimental de Geraldo Alckmin. 04 de dezembro de 2015.
El País. Opinião: É política sim, Geraldo. 07 de dezembro de 2015.
El País. Por que a reforma que afeta 300.000 alunos em SP virou caso de polícia? 16 de
novembro de 2015
El País. Repressão de Alckmin inaugura a nova fase da reorganização escolar. 03 de
dezembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Promotor vai à Justiça contra reforma de ciclos de Alckmin. 02 de
dezembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Educação. Estudantes interditam av. Paulista contra mudança nas escolas
estaduais. 09 de outubro de 2015.
Folha de S. Paulo. Educação. Projeto de mudança nas escolas estaduais leva estudantes às
ruas de SP. 07 de outubro de 2015.
Folha de S. Paulo. Opinião. Reestruturação na rede estadual de ensino de SP. 17 de outubro
de 2015.
Folha de S. Paulo. Alckmin desiste de evento no interior após protesto de alunos e
professores. 15 de outubro de 2015.
Folha de S. Paulo. Alunos ocupam escola na zona leste de SP que será fechada por Alckmin.
12 de novembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Alunos reciclam pedidos e mantêm protestos após recuo de Alckmin. 08 de
dezembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Às vésperas de dia decisivo, escola invadida em Pinheiros faz minifestival.
23 de novembro de 2015.
257
Folha de S. Paulo. Em dia de protestos em série contra reorganização escolar, três são presos.
04 de dezembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Há um mês na escola, alunos limpam, cozinham e até instalam chuveiros.
1º. de dezembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Invasão de 25 escolas estaduais atinge ao menos 26 mil alunos em SP. 17
de novembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Mistério sobre fim de escolas alimenta protestos de alunos. 14 de outubro
de 2015.
Folha de S. Paulo. Opinião: Escola invisível. 08 de dezembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Opinião: Guerra contra a Educação. 04 de dezembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Opinião: Jovens dão aula de cidadania. 06 de dezembro de 2015.
Folha de S. Paulo. Opinião: Um governo que fecha escolas. 22 de outubro de 2015.
Folha de S. Paulo. Sob pressão, Alckmin faz mudança mais tímida em escolas paulistas. 27
de outubro de 2015.
Folha de S. Paulo. SP vai transferir mais de 1 milhão de alunos para dividir escolas por séries.
24 de setembro de 2015.
Folha.com. 'Só diálogo supera essa situação', diz Mercadante sobre invasão de escolas em SP.
24 de novembro de 2015.
Folha.com. Estudantes ocupam e trancam escola em ato contra fechamentos em SP. 10 de
novembro de 2015.
G1. Alckmin oficializa revogação da reorganização escolar em São Paulo. 06 de dezembro de
2015.
258
G1. Defensoria Pública pede explicações sobre plano de reorganização escolar. 14 de outubro
de 2015.
G1. Mudança de escola em reestruturação de ensino em SP preocupa os pais. 24 de setembro
de 2015.
G1. ONG cria sistema para notificar ocorrências em escolas ocupadas. 27 de novembro de
2015.
G1. Prazo para transferência de escola na rede estadual termina nesta quarta. 25 de novembro
de 2015.
G1. Sobe para 74 o número de escolas ocupadas, diz governo de SP. 23 de novembro de 2015.
G1. SP aplica Saresp a estudantes e deixa de fora escolas ocupadas. 24 de novembro de 2015
G1. Alunos de SP são informados sobre fechamento de escolas estaduais. 06 de outubro de
2015.
G1. Ocupação de escola em SP entra no 4º dia e alunos aguardam audiência. 13 de novembro
de 2015
G1. Veja o que já está definido no plano de reorganização do ensino em SP. 08 de outubro de
2015
G1Secretário diz ter vergonha de resultados da Educação no país e SP. 26 de novembro de
2015.
IG. "Jovens não serão iguais após as ocupações; vão sair melhores, mais politizados". 30 de
novembro de 2015.
O Estado de S. Paulo. Virada Cultural em escolas ocupadas terá Paulo Miklos e Criollo. 02 de
dezembro de 2015.
259
O Estado de S. Paulo. Alunos fazem ato no centro contra mudança na rede estadual de SP. 21
de outubro de 2015.
O Estado de S. Paulo. Contra reorganização de escolas em SP, grupos se mobilizam contra o
Saresp. 25 de novembro de 2015.
O Estado de S. Paulo. Contra reorganização, alunos ocupam escola estadual em Pinheiros. 11
de novembro de 2015.
O Estado de S. Paulo. MPE abre inquérito para apurar fechamento de escolas em São Paulo.
14 de outubro de 2015.
O Estado de S. Paulo. Opinião: Por uma escola franca. 19 de outubro de 2015.
O Estado de S. Paulo. 1 em cada 4 escolas fechadas é da capital. 28 de outubro de 2015
O Estado de S. Paulo. Alckmin decreta reorganização da rede estadual de ensino de SP na
terça. 30 de novembro de 2015.
O Estado de S. Paulo. Alunos ocupam até escolas que não serão fechadas. 18 de novembro de
2015
O Estado de S. Paulo. Após ato de Alckmin, alunos anunciam início de desocupação de
escolas de SP. 07 de dezembro de 2015.
O Estado de S. Paulo. Ciclo único terá aluno de 11 anos na Cracolândia. 17 de novembro de
2015.
O Estado de S. Paulo. Editorial: Pais e filhos. 03 de dezembro de 2015
O Estado de S. Paulo. Estudantes ocupam duas Etecs em SP. 02 de dezembro de 2015
O Estado de S. Paulo. Governo Alckmin admite 'redução de despesas' em reorganização
escolar. 04 de dezembro de 2015.
260
O Estado de S. Paulo. Grupo fecha Paulista em protesto contra mudança em escolas. 09 de
outubro de 2015.
O Estado de S. Paulo. Medo de escolas fechadas cria onda de protestos em SP. 10 de outubro
de 2015.
O Estado de S. Paulo. Opinião: Reorganizando a reorganização de escolas. 08 de dezembro de
2015.
O Estado de S. Paulo. SP já tem 5 escolas ocupadas por alunos. 13 de novembro de 2015.
O Estado de S. Paulo. 30 das 94 escolas fechadas em SP têm desempenho acima da média
estadual. 29 de outubro de 2015.
O Estado de S. Paulo. Rede paulista será reorganizada para escola ter ciclo único. 23 de
setembro 2015.
O Globo. Protesto estudantil bloqueia ruas em SP. 1º. de dezembro de 2015.
O Globo. SP já tem 151 escolas ocupadas por estudantes. 25 de novembro de 2015.
Portal Aprendiz. Pela internet, jovens pedem apoio da comunidade para ocupações de escola.
16 de novembro de 2015.
Portal Carta Educação. Alckmin recua e adia a reorganização escolar. 04 de dezembro de
2015.
Rede Brasil Atual. APEOESP convoca professores, pais e alunos contra projeto de Alckmin
de fechar escolas. 09 de outubro de 2015.
Rede Brasil Atual. O governador é covarde. O que acontece nas escolas de SP é sem
precedentes', diz Giannazi. 12 de novembro de 2015.
Rede Brasil Atual. Apesar da rejeição popular, governo Alckmin mantém 'reorganização'. 05
de novembro de 2015.
261
Rede Brasil Atual. Grito pela Educação de Qualidade' dá mais peso a mobilizações em São
Paulo. 29 de outubro de 2015.
Rede Brasil Atual. Chega a 114 o número de escolas ocupadas em favor da Educação e contra
a reorganização. 24 de novembro de 2015.
Rede Brasil Atual. Pais e alunos protestam contra fechamento de escolas por Alckmin. 07 de
outubro de 2015.
Rede Brasil Atual. Para especialista, faltou transparência do governo para explicar
reorganização. 19 de novembro de 2015.
Revista Época. Os estudantes que derrubaram a reestruturação das escolas de São Paulo. 07
de dezembro de 2015.
Revista Época. A reestruturação das escolas de São Paulo será boa para a Educação? 24 de
novembro de 2015.
UOL Educação. Opinião: Democratize-se, governador. 07 de dezembro de 2015.
UOL Educação. Confira a lista das escolas de SP que podem fechar, segundo o sindicato. 09
de outubro de 2015.
UOL Educação. Ocupações de escolas em SP já mudaram ensino, diz antropóloga. 26 de
novembro de 2015.
262
APÊNDICES
263
APÊNDICE 1 - QUESTIONÁRIO DESTINADO AOS ALUNOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO
PESQUISA ACADÊMICA
Caro estudante,
Esta pesquisa tem apenas a intenção de cunho acadêmico, a qual tenta traçar a participação
social e política dos estudantes nos movimentos sociais / movimentos de reivindicação e
manifestações populares de reivindicações ocorridos nos últimos dois anos, bem como traçar
a importância da informação e comunicação do uso da sala do Acessa Escola.
*Obrigatório
UNIDADE ESCOLAR *
Selecione o nome da Unidade Escolar na lista abaixo.
ZILTON BICUDO – PROF.
NOME (OPCIONAL)
Informe o nome completo.
jij
Continuar »
PESQUISA ACADÊMICA
*Obrigatório
Parte superior do formulário
A – PERFIL
1. SEXO *
Masculino
Feminino
22. QUAL A SUA IDADE? *
Até 14 anos
15 anos
16 anos
17 anos
De 18 a 20 anos
Mais de 20 anos
264
3. POSSUI ALGUM TIPO DE DEFICIÊNCIA FÍSICA
LIMITANTE? *
Auditiva
Física
Multipla
Nenhuma
4. QUAL O SEU ESTADO CIVIL? *
Solteiro(a)
Casado(a) / Mora com um(a) companheiro(a)
Separado(a) / Divorciado(a)
5. QUANTIDADE DE FILHOS: *
Nenhum
Um
Dois
Três
Quatro ou mais
6. ONDE VOCÊ MORA ATUALMENTE? *
Em residência, com meus pais / parentes
Em residência, com esposa(o) / filho(s)
Em casa ou apartamento, sozinho(a)
Em habitação coletiva: hotel, hospedaria, quartel, pensionato,
república
Outros
7. INDIQUE QUANTAS PESSOAS HABITAM NA RESIDÊNCIA *
Moro sozinho(a)
Duas pessoas
Três pessoas
Quatro pessoas
Cinco ou mais pessoas
265
8. ASSINALE A SITUAÇÃO ABAIXO QUE MELHOR
DESCREVE SEU CASO: *
Meus gastos são financiados pela família
Trabalho e recebo ajuda da família
Trabalho me sustento e/ou contribuo com o sustento da família
Recebo ajuda externa
9. QUAL A SUA RENDA MENSAL FAMILIAR TOTAL? *
Recebem ajuda de custa do governo / externa
Até 1 salários mínimos (até R$ 724,00 inclusive)
Até 2 salários mínimos (até R$ 1.448,00 inclusive)
De 2 a 5 salários mínimos (acima de R$ 1.448,00 até R$ 3.620,00
inclusive)
De 5 a 10 salários mínimos (de R$ 3.620,00 até R$ 7.240,00
inclusive)
Mais de 10 salários mínimos (mais de R$ 7.240,00)
10. A SUA FORMAÇÃO ESCOLAR (ENSINO FUNDAMENTAL E
MÉDIO) REALIZOU-SE E REALIZA-SE EM: *
Toda na escola pública
Até o último ano toda na escola particular
Parte na escola pública e parte na particular
Escola pública ou particular através de ensino supletivo ou
educação de jovens e adultos
Escola pública diferenciada (rural, indígena ou quilombola)
Escola pública integral
11. MEIO DE TRANSPORTE / LOCOMOÇÃO MAIS UTILIZADO
PARA IR À ESCOLA: *
Carro
Moto
Ônibus / Van
Bicicleta
A pé ou de carona
Transporte conveniado Estado / Município
266
B - USOS EDUCACIONAIS - INTERNET / REDES
12. QUAL ATIVIDADE ESCOLAR, ALÉM DAS AULAS, QUE
VOCÊ PARTICIPA / PARTICIPOU E CONSIDERA DE MAIOR
RELEVÂNCIA NA SUA FORMAÇÃO? *
o Grêmio Estudantil
o Projetos diferenciados
o Sala do Acessa Escola (sala de informática)
o Não participei das atividades citadas
13. COMO FREQUENTA A SALA DO ACESSA ESCOLA? *
o Durante as aulas com os professores
o Fora do horário de aula
o Em aulas vagas
o Nunca frequentou a sala do Acessa Escola
14. VOCÊ UTILIZA A SALA DO ACESSA ESCOLA PARA: *
o Pesquisa
o Navegar em sites diversos
o Redes sociais
o Outro:
15. SE VOCÊ NAVEGA NAS REDES SOCIAIS, QUAIS SÃO: *
o Facebook
o Twiter
o Instagram
o YouTube
o Não utilizo
o Outro:
267
16. VOCÊ UTILIZA AS REDES SOCIAIS PARA: *
o Informações
o Relacionamentos
o Conhecer pessoas
o Atividades profissionais
o Atividades sociais
o Outro:
« Voltar
Continuar »
C - MOVIMENTOS SOCIAIS
17. VOCÊ SABE O QUE SÃO MOVIMENTOS SOCIAIS E O QUE
SÃO MANIFESTAÇÕES POPULARES DE REIVINDICAÇÕES? *
o Sim
o Não
18. VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES OS MOVIMENTOS
SOCIAIS / MOVIMENTOS DE REIVINDICAÇÃO E
MANIFESTAÇÕES POPULARES DE REIVINDICAÇÕES? *
o Sim
o Não
o Não tenho opinião
19. EM BREVES PALAVRAS DESCREVA O QUE SÃO
MOVIMENTOS SOCIAIS E O QUE SÃO MANIFESTAÇÕES
POPULARES DE REIVINDICAÇÕES? E QUAL A SUA
IMPORTÂNCIA? *
268
20. VOCÊ TEM CONHECIMENTO ACERCA DOS
MOVIMENTOS SOCIAIS / MOVIMENTOS DE REIVINDICAÇÃO
E MANIFESTAÇÕES POPULARES DE REIVINDICAÇÕES
OCORRIDOS NOS ANOS DE 2013 E 2014 COMO O
MOVIMENTO DO PASSE LIVRE E OUTROS? *
o Sim
o Não
21. SE SIM, COMO TOMOU CONHECIMENTO?
o Televisão
o Jornais impressos
o Rádio
o Pessoas
o Pelo professor na sala de aula
o Internet / Redes Sociais
o Outro:
22. ALGUM PROFESSOR JÁ TRATOU DESTE TEMA NAS
AULAS?
o Sim
o Não
23. SE SIM, EM QUAL DISCIPLINA?
269
24. NA SUA OPINIÃO, QUAL A IMPORTÂNCIA DESSES
MOVIMENTOS? *
« Voltar
Continuar »
D - PARTICIPAÇÃO SOCIAL
25. VOCÊ PARTICIPOU DE ALGUMA FORMA DE ALGUM(S)
MOVIMENTO(S)? *
o Sim
o Não
26. QUAL DELES?
27. QUAL A IMPORTÂNCIA DESSES MOVIMENTOS? *
270
28. SE SIM, COMO TOMOU CONHECIMENTO DESTE(S)
MOVIMENTO(S)?
o Redes Sociais
o Outro:
29. SE FOR PELAS REDES SOCIAIS, QUAL A MAIS
UTILIZADA PARA ESTE FIM? *
o Facebook
o Twiter
o Instagram
o YouTube
o Outro:
30. QUAL A IMPORTÂNCIA DA INTERNET / REDES SOCIAIS
PARA ESTES MOVIMENTOS *
31. VOCÊ ACEITARIA PARTICIPAR DE UMA ENTREVISTA
ACADÊMICA SOBRE O TEMA? *
o Sim
o Não
« Voltar
Continuar »
271
APÊNDICE 2 - QUADRO COMPLETO DAS UNIDADES ESCOLARES EM QUE OS ALUNOS PARTICIPARAM DA PESQUISA
Quadro de respostas 1 – Unidades Escolares dos alunos que responderam as questões.
ADAIL JARBAS DUCLOS 1 0%
ADAMASTOR BAPTISTA - PROF. 25 2%
ALBERTO GRAF – CAPITÃO 18 1%
ALFRIED THEODOR WEISZFLOG 1 0%
ARTHUR WEINGRILL 1 0%
AZEVEDO SOARES 58 5%
BAIRRO JUNDIAIZINHO 15 1%
BELÉM DA SERRA 17 1%
DOMINGOS CAMBIAGHI – PROF. 1 0%
ÉLCIO JOSÉ PEREIRA COTRIM 2 0%
ISAURA VALENTINI HANSER – PROF.ª 1 0%
IVONE DOS ANJOS SILVA CAMPOS – PROF.ª 2 0%
JARDIM ALEGRIA II 111 9%
JARDIM DAS ROSAS 38 3%
JOAQUIM MARQUES DA SILVA SOBRINHO – TTE. 30 2%
JOCIMARA VIEIRA DA SILVA – PROF.ª 61 5%
JOSÉ ROBERTO MELCHIOR – DR. 19 2%
MARIA ZEZA GOMES DE OLIVEIRA 43 4%
NAIR HANNICKEL ROMARO 1 0%
NIDE ZAIM CARDOSO – PROF.ª 221 18%
ODARICO OLIVEIRA NASCIMENTO – PROF. 59 5%
OTTO WEISZFLOG 25 2%
OZILDE ALBUQUERQUE PASSARELLA – DR. 1 0%
PARQUE CENTO E VINTE II 247 20%
PEDRO PAULO AGUIAR 6 0%
PIETRO PETRI 47 4%
SUZANA DIAS 15 1%
WALTER RIBAS DE ANDRADE – PROF. 1 0%
WALTHER WEISZFLOG 142 12%
Fonte: Dados da pesquisa de campo
272
APÊNDICE 3 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 19 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO
Quadro de respostas 2 – Questão19: Descrição do que consideram movimentos sociais /
manifestações populares de reivindicações, e qual a sua importância.
Quando um grupo de pessoas se junta para protestar em relação a algo.
Movimentações sociais são feitos pelos próprios cidadãos decididos a tomar a dianteira da situação,
buscando seus direitos por meio de tais protestos. Sua importância é a de que o ser humano deve ir atrás
de seus direitos, sempre se lembrando da Constituição.
Movimentos sociais é o método que a sociedade usa para reivindicações, na maioria de espécie política,
sempre para melhoria de algumas coisas.
Bem o que existiu ano passado foi um ato democrático de suma importância para a elaboração de uma
democracia mais plena e participativa por parte das pessoas que a compõe.
O que vemos atualmente não se pode chamar de manifestações ou reivindicações, e sim de aglomerados
de pessoas dispersas andando para o nada e sem propósito único conjunto.
Os movimentos sociais são organizações sociais que tem o objetivo de transformações da preservação
da sociedade.
As manifestações são uma forma de ação de um conjunto de pessoas a favor de uma causa.
Movimentos operários são movimentos sociais.
São protestos feito pela sociedade para a melhoria de algo
Movimentos para a melhoria da sociedade ou de um objetivo em comum
Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que
objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate político, conforme seus valores e ideologias
dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico, permeados por tensões sociais.
Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou
classe social. Seja a luta por um algum ideal, seja pelo questionamento de uma determinada realidade
que se caracterize como algo impeditivo da realização dos anseios deste movimento, este último
constrói uma identidade para a luta e defesa de seus interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de
pessoas que se encontra numa mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa, entre outras.
A importância é que eles são elaborados em varias situações dos programas políticos e a partir de
questionários para o protagonismo do partido através da luz de outras articulações sociais.
Ambas são boas para podermos reivindicar o que queremos sempre.
Acho interessante, pois mostra que o povo luta pelos seus direitos, e tem pessoas que ainda querem país
melhor. Mas por outro lado, acho que as pessoas são muito conformadas e esperam a situação chegar a
um estado crítico para tomar uma atitude.
Sociais são os que procuram entreter a sociedade assim como as manifestações populares são mais
visando a população. Sem esse tipo de ações não haveriam mudanças em nosso país
Para sociedade ter mais uma qualidade de vida
Movimento social é uma "expressão técnica" que designa a ação coletiva de setores da sociedade ou
organizações sociais para defesa ou promoção, no âmbito das relações de classes, de certos objetivos ou
interesses - tanto de transformação como de preservação da ordem estabelecida na sociedade.
Movimentos sociais são atitudes dos cidadãos que mudam a forma que a sociedade atua em suas vidas.
Manifestações populares são geralmente reivindicações dos cidadãos em prol do aumento de direitos e
melhores condições sociais e principalmente profissionais.
Isso ajuda na convivência e na melhoria da cidade. Pelo direito de cada cidadão na sociedade, o povo se
organiza para estar reivindicando o seu direito que por lei todos nós temos!!
São para buscar melhorias para educação, trabalho, em diversas questões.
Movimentos sociais procuram a melhoria de certo lugar ou situação, manifestações populares de
reivindicações são manifestações que procuram obrigar o cumprimento de direitos públicos.
São para buscar melhorias para educação, trabalho, em diversas questões.
Manifestações para melhorar as situações atuais do nosso país. É muito importante para a evolução e
para a conscientização.
273
Movimentos sociais é um conjunto de pessoas lutando por um espaço. Sua importância é de ajudar as
pessoas a conseguir o que querem. Manifestações populares são quando se luta pelo que você acha que
está errado ou o que está certo, mas não está tendo importância para políticos etc.
Movimento social é para saúde procurar a melhora. Manifestação é algo que é do seu direito.
Movimentos sociais são atividades, que envolve a nossa sociedade. E manifestações de reivindicações,
são manifestações que são contra algo,
É algo onde as pessoas lutam por um direito seu, como escola, saúde, empregos..
Acredito que ajudam bastante, pois, com as manifestações, podemos chegar a lugares bons e os
movimentos sociais podem ajudar nos transporte e muitas outras coisas.
São movimentos onde um grupo de pessoas se reúne em prol de uma boa causa, que trará algum
resultado positivo para a população.
São Movimentos importantes para população principalmente, pois temos situações precárias, como
Saúde, Educação e Etc. Pois maior parte da população faz movimentos para tentar melhorar isso, pois os
governantes do nosso país praticamente não ligam para o povo.
Movimentos Sociais são aqueles em que um grupo de pessoas reunidas reivindica projetos, mudanças
ou melhorias para seu grupo social, já a popular de reivindicações são as pessoas reunidas em diversas
partes do mundo reivindicando as mesmas coisas em prol de um bem maior para a população.
Movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças
sociais por meio do embate político
Movimentos sociais são aquele em que a sociedade se envolve para manifestar as suas opiniões.
É o movimento que as pessoas mostram a suas opiniões pacificamente.
São os movimentos em que nós que queremos algo, lutamos por algo, e isso é muito importante para o
nosso futuro e presente.
Manifestações, tentar mudar o mundo e sociedade em que vivemos.
Tentar, de uma forma pacífica, reivindicar algo, para que de alguma forma consiga uma mudança
significativa. (melhorias).
Ir às ruas lutar pelos seus direitos.
Manifestações são protestos para as pessoas conseguirem o que tem por direito no país onde vivem.
Movimentos sociais são nossos diretos sociais e manifestação popular são pessoas em busca de
melhorias o Brasil.
Ação coletiva, ordem pela sociedade, grande importância no cotidiano de muitos.
Movimentos sociais seria todo ato que é realizado em grupo para obter melhorias para seu bairro,
cidade.
Movimentos Sociais são aqueles formados por grupo de pessoas de uma sociedade. Ex; Estudantes e
Trabalhadores se juntaram para uma manifestação, reivindicando o aumento da passagem do transporte
público.
São passeatas que as pessoas fazem para buscar seus direitos e sua importância é a melhoria de um país
democrático.
São formas de reivindicar direitos que foram lesados, são importantes por que buscam resgatar os
direitos dos cidadãos.
São movimentos que têm como foco mudar nossa sociedade com ajuda de uma causa e de toda uma
população.
Movimentos que reúnem grandes números de pessoas, com um objetivo comum. Como exemplo o
movimento do passe livre, onde muitas pessoas se reuniram com o intuito de barrar o aumento das
tarifas nos transportes públicos.
São formas de manifestações para melhorias na cidadania
Grupo de pessoas que se reúnem para conseguir mudanças sociais, levando em conta seus valores e
objetivos; manifestações ocorrem na busca de direitos e melhorias para a sociedade. São importantes,
pois é algo fundamental para que aconteçam diversas mudanças no geral. Sem a reivindicação do povo o
Governo esquece o bem-estar de qualquer cidadão, desde que seja feito de modo civilizado.
Direitos que não estão sendo com concedidos.
São reivindicações dos direitos do povo e são importantes.
Os movimentos sociais, manifestações e reivindicações, são para melhorar o meio social, apontando
pontos nos quais estão faltando na sociedade e/ou está abusiva demais e prejudicial.
274
Uma forma da sociedade demostrar seus pontos de vista, muitas vezes não respeitados pelos
representantes públicos.
São para melhoria do nosso país.
Manifestações para conseguirmos o que queremos.
Movimentos sociais são basicamente ações e projetos. Manifestações são ações tomadas pelos populares
que querem melhorias em sua cidade ou estado.
Movimentos sociais são feitos pela sociedade e manifestações populares são feitas de forma individual
sozinho, ou seja, pelas suas opiniões.
O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como
objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade e
de um contexto específico.
São modos de tentar mudar o país.
Formas de mudar o país.
As manifestações em minha opinião, às vezes são para as melhorias do nosso país.
Manifestações servem para que se proteste algum movimento que está em ação e que o povo não
concorda! É de extrema importância, pois é uma forma de tentar adquirir uma melhoria na sociedade.
Pessoas que querem reivindicar algo que acham justo, e lutam por isso.
Serve para lutar pelos direitos do povo.
São movimentos de grupos de pessoas, em busca de providências sobre algum assunto.
Os direitos dos cidadãos e buscar o que precisamos e necessitamos!
Manifestações são quando a população se volta contra o governo para pedir melhorias, pedir seus
direitos.
Movimentos sociais, por exemplo, eventos que fala sobre política e direitos pelos quais temos
interesses. De participar, suponho, na vida política ou, em outras palavras, movimentos sociais também
podem ser considerados como manifestações. A sua importância é a mudança na vida de todos nós com
o movimento que possamos fazer.
São manifestações geradas pela população com o propósito de mudanças em tais áreas e melhorias aos
nossos direitos.
Modo da população se expressar.
É um movimento em que o povo sai às ruas para reivindicar seus direitos. É importante, pois mostram
que a população não aceita ser oprimida e alienada!
São manifestações geradas pela população para melhorias no local onde vivem.
Essas manifestações são para mostrar que não estamos de acordo com o que estão fazendo com o nosso
país, e que estamos correndo atrás dos nossos direitos de cidadãos.
Movimentos sociais são movimentos que reivindicam sobre algum tema em que sociedade não se vê
satisfeita e é importante para que nada fique ruim para que todos vivam de forma igual, com respeito e
de forma digna.
Movimentos sociais são pessoas que correm em busca dos seus direitos.
São movimentos de conscientização, é um meio de reivindicar coisas melhores aos cidadãos.
As manifestações, reivindicações e movimentos sociais, buscam por melhoria na sociedade.
Movimentos sociais, pessoas que buscam e lutam pelos seus direitos.
A busca por direitos da sociedade.
Para ter um país melhor.
É lutar pelos nossos direitos. É importante darmos nossa opinião sobre.
Quando pessoas se reúnem para, criticar, revalidar, ou requerer algo. Manifestações quando pessoas em
grupo se manifestam por uma causa ou ação querendo mudanças de atos entre outros mais.
São movimentos organizados para expor a opinião de algo e também na tentativa de mudar uma
situação.
Para mostrar os direitos das pessoas para que elas não se calem quando governo diz sim.
Movimentos sociais são quando a população tira a "bunda" da cadeira e sai da frente do computador
para ir às ruas pedir melhorias para elas mesmas. São de muita importância porque isso mostra que no
país ainda existem pessoas que se preocupam com saúde, educação etc.
275
Manifestação, protestos são muito importantes para que todos lutem pelos seus direitos, diante da
sociedade todos são iguais, igualdade sempre.
São aqueles que envolvem a sociedade para interação da comunidade. Reivindicações são as buscas que
a população faz para alcançar algum objetivo. São importantes para um todo, pois se algo bom é
realizado, afeta na situação da sociedade.
Organização social para defesa de certos objetivos.
Manifestações eu acho superimportante para cada um dizer o que pensa, mas sem vandalismo
em busca do direito.
São protestos que as pessoas têm direitos para que possam ter suas vidas justas.
As pessoas buscam seus direitos, como forma de se pronunciar, de se mostrar ativo em suas
manifestações.
A importância é a expressão do povo para que ocorram mudanças.
Manifestações populares espontâneas de rua, surgidas a partir da indignação popular, quanto às altas
tarifas dos transportes públicos, os descasos com a educação, saúde e habitação, como consequências
das políticas estatais. Discute a transgressão da Lei em relação a esses direitos sociais.
Movimentos sociais são quando a população faz um tipo de movimento, com algum motivo específico
junto com a população e reivindica a favor de seus direitos na sociedade. É importante para ter seus
direitos
É o meio de algumas pessoas reclamarem ou irem atrás do seu direito. É importante, pois se ninguém
for atrás disso, nada muda em nosso país, mas sendo de uma maneira sociável.
Manifestações populares são quando as pessoas saem na rua para reclamarem dos seus direitos.
Movimentos sociais são tudo aquilo que luta por seus direitos e pela melhoria do país, mas sempre de
maneira pacífica. Manifestações populares de reivindicações são quando o povo luta por um ideal, ou
seja, melhoria de vida etc. É muito importante termos essas manifestações, pois com elas podemos
buscar um mundo melhor, por mais difícil que isso seja.
Movimentos sociais são grupos de pessoas que fazem uma reunião em certo local para que discutam
alguma melhoria para a população. Manifestações populares são grupos de pessoas que protestam contra
algo que acham errado e, que algumas vezes, chegam até causarem vandalismo por este motivo.
Movimentos sociais é a sociedade querendo seus direitos. Manifestações vira uma bagunça porque não
são todos que tem educação. A importância é de um futuro melhor para a sociedade com direitos justos
a toda a população.
Movimentos sociais são quando as pessoas saem às ruas em busca de seus direitos sociais. E populares
quando a população não está de acordo com algo e vai as ruas tentar mudar.
As reivindicações são para chamarem a atenção para alguma causa muito grande e tentarem mudar a
situação que está, mas muitas vezes acabam partindo para o vandalismo que nada acrescenta nas
manifestações e assim não conseguirão mudar a situação.
São quando o povo se junta para mudar algo que provavelmente está errado. Para melhorar o país.
Movimentos sociais são manifestações, são a voz do povo expressa a todo público, a fim de causar
impactos em busca de melhorias em todos os aspectos. É o resultado da insatisfação e da sede de
mudança/justiça.
É muito importante, pois estamos em um país democrático.
Dar opiniões e correr atrás de seus direitos e preferências para um país melhor, é o papel de todos.
São processos para promover algum tipo de beneficio ou motivo, como exemplo, as greves de
professores.
São movimentos feito por trabalhadores.
São pessoas que vão atrás de seus direitos sociais e essa, as vezes, é a única forma de realizar seus
direitos como um cidadão.
Onde o povo se reúne com suas forças para mostrar seu ponto de vista, e conseguirem o que querem…
Saem pelas ruas, e só assim, muitas das vezes, são ouvidos.
Movimentos sociais são grupos que se organizam em prol de algo que seja benéfico à comunidade e a
todos. Manifestações populares são, nada menos, que a indignação da população em relação a algo
competente às autoridades. Elas têm suma importância no processo democrático brasileiro, pois é o
meio mais eficaz de mostrar sua insatisfação aos governantes.
276
São movimentos que servem para melhorar algo que está ruim.
Movimentos sociais são um indivíduo, ou um grupo de pessoas, que faz algo em prol da sociedade ou de
um meio social específico, como por exemplo, o início de uma ONG, entrega de cesta básica, coisas do
gênero. Manifestações populares de reivindicações, o próprio nome já diz, algo que se tornou maior do
que um debate de assembleia, um assunto que movimenta pessoas que não estão gostando de algo que
afeta, não só a elas, mas sim uma população, algo socialmente dito. Assim se juntam todas essas pessoas
lideradas por alguém bem instruído e saem às ruas demonstrando o seu desconforto.
Movimentos sociais, são protestos para a melhoria de nós mesmo… Para melhorar escolas, saúde, e,
pelo menos, acabar com a corrupção. O povo precisa e merece um pouco de melhoria, pagamos tantos
impostos absurdos desnecessários até. Pagamos caro no preço do arroz, do feijão da conta de luz … A
importância é a voz do povo ser ouvida, só assim para chamarmos a atenção, que precisamos de
melhoria! É lamentável a saúde pública.
Luta e busca por mudança. É importante porque, algumas vezes, os problemas sociais são solucionados
e isso melhora a vida da sociedade de uma certa forma.
A luta por direitos da sociedade, melhorias de condições para uma vida melhor.
São quando a população se junta para ajudar a comunidade.
Movimentos sociais são uma forma de ajudar na rede esperança.... manifestação é quando uma pessoa
faz vandalismo quebra coisas etc...
Movimentos sociais são para benefício da população ou para reivindicar salário ou transporte público.
Movimentos Sociais e Manifestações populares de Reivindicação são quando um grupo de pessoas que
se reúnem para ir atrás de seus Direitos e, muitas vezes, os quais são ignorados pela Sociedade! Ou A
favor de Alguma coisa!
Movimentos sociais são grupos formados por cidadãos feitos para ajudar a determinada pessoa ou
grupo. Manifestações populares são marchas ou caminhadas feitas por pessoas de uma determinada área
ou de diversas, visando melhorias sociais.
É você se mover e ir junto à sociedade em busca de um bem maior para o próprio país mesmo, e até um
bem maior sendo solidários.
Manifestações é o povo querendo mostrar seus direitos.
Movimentos sociais são onde se juntam várias pessoas para fazer algum evento importante atrás de seus
direitos. Reivindicações são onde as pessoas lutam por seu direitos.
Movimentos sociais são praticados pelas pessoas que têm vergonha na cara, que não se deixam ser
comandadas pelo governo. Manifestações são: se todos reivindicassem por justiça, se todos tivessem
caráter, a população seria melhor.
São movimentos onde a população se reúne para reivindicar melhorias em setores que não estão
atendendo a necessidade da sociedade.
São movimentos onde as pessoas se reúnem para protestar e lutar pelos seus direitos.
São meios de a população mostrar sua indignação perante as autoridades.
Os movimentos sociais são importantes por que é assim que vemos e sabemos que algo está errado e
contra a população de um modo geral. As manifestações também são importantes como diz o ditado: a
união faz a força...
É liberdade de expressão das pessoas para reivindicar seus direitos. E é importante porque é uma
oportunidade de serem ouvidas por uma autoridade.
São movimentações que o povo promove para discutir e ganhar alguma causa.
Movimentos de revolta do povo em busca de melhorias.
Movimento social é uma expressão técnica que designa a ação coletiva de setores da nossa sociedade,
são manifestações para um mundo melhor. A importância é que todos querem um país melhor, sem
corrupção, sem dinheiro desviado etc.
Movimentos Sociais são movimentos organizados pelos cidadãos para melhoria de algum objetivo
social. São importantes para que haja mais a representação do cidadão na sociedade impondo seus
princípios.
São manifestações que as pessoas fazem em busca de conscientizar as outras pessoas, em busca de seus
direitos e melhorias.
277
Movimentos sociais são aqueles em que a o povo se une para reivindicar seus direitos, e ir em busca do
bem para a sociedade ou para um determinado povo. E a sua importância é relevante, para o bem da
cidadania.
Movimentos sociais e manifestações populares são feitos pela população para protestar sobre algo que
está ruim. As pessoas se juntam por uma mesma causa e pela melhoria, na maioria das vezes, isso é
muito bom para a sociedade.
É quando um grupo de pessoas insatisfeitas com a situação atual do país se junta em manifesto e no
objetivo de conseguir mudar que seja um pouco da situação do lugar onde vive. Isso é muito importante,
pois unidos somos mais fortes e podemos sim mudar um pouco que seja o nosso país.
São formas de expressão para mostrar a insatisfação perante algo, normalmente querem mudanças
quando fazem esse tipo de manifestação, é de extrema importância esses eventos para que '' superiores''
possam ver que não estão fazendo coisas ás escondidas, e que precisam melhorar para satisfazer os
demais, além de mostrar para outras pessoas situações sociais problemáticas e abrir seus olhos.
Movimentos sociais e manifestações populares de reivindicações é basicamente o povo lutar pelos seus
direitos, é importante sair na rua e protestar se algo não estiver agradando, como por exemplo, o
governo, o transporte, a saúde etc.
As manifestações são maneiras de protesto para que possam ser reconhecidas as reivindicações que o
povo brasileiro pede para que haja uma maneira de que as coisas que não estão agradando ao povo
possam ser mudadas de forma correta e justa.
É um conjunto de pessoas que se reúnem para protestar por uma causa. Acho bom porque assim as
pessoas mostram para o governo ou pra quem querem mostrar que lutam pelo que querem e é muito
importante saber que as pessoas não estão sozinhas nas causas.
Movimentos sociais são quando pessoas tomam a iniciativa de lutar, conquistar algo importante e saem
nas ruas para fazer manifestações populares de reivindicações.
Movimento social são pessoas que buscam mudanças na sociedade... E manifestações são grupos que
lutam por seus direitos... Não tem importância nenhuma, pois muitas manifestações ocorreram e nada
foi feito...
São movimentos que as pessoas se organizam para reivindicar seus direitos e melhorias onde moram,
frequentam ou trabalham. Sua importância é chamar atenção de autoridades para conseguir providências
em relação aos problemas envolvidos com toda sociedade.
são um grupo de pessoas lutando pelos seus direitos perante a sociedade
Manifestações são para alcançar as melhorias para a população. O que mais se vê hoje em dia é dinheiro
sendo gasto com coisas que não têm nenhuma importância, como o famoso estádio. Enquanto é preciso
investimento em hospitais e na educação.
São multidões de pessoas de grandes proporções que protesta os direitos de todos os cidadãos e por
moradia.
Movimentos sociais envolvem as manifestações cujo objetivo é de reivindicação por direitos que a
população tem por direito... Elas visam seus interesses e lutam por eles em formas pacíficas na maioria
dos casos... Querendo um modo melhor de governo com mais oportunidades e qualidades para a
população...
Movimentos Sociais é um grupo de pessoas com interesses em síntese a melhoria de questões sociais.
Manifestações populares de reivindicações são manifestos feitos pela massa popular que representa seu
unitário interesse de modificação ou demonstração de pensamento contra algo que esteja sendo
colocado sobre algum estado de poder.
São movimentos que são feitos por aumento de salário ou condições... É muito importante, pois assim
chamam a atenção dos governos para melhorias.
Movimentos sociais são projetos que ajudam a sociedade de alguma forma.
Manifestações populares de reivindicação são, movimentos que fazem com que as pessoas possam pedir
melhorias em algo, ou mostrar sua opinião, manifestando-se.
278
Ambos são considerados ações de cidadania, onde o cidadão busca por direitos e reivindica pelo fato de
mostrar ser atento ao desenvolvimento da sociedade.
Movimentos Sociais é considerado um movimento onde os cidadãos buscam algo beneficente para a
sociedade e é dado esse nome por conta de ser uma união da população. Reivindicações são
movimentos que são feitos por cidadãos onde buscam algo que é necessário para a segurança, por
exemplo, a qual é muito reivindicada pelo fato de não estar adequada para a sociedade. Então o cidadão
reivindica para que haja melhoria, para que os governantes vejam que estão presentes no andamento da
sociedade.
Para que vocês querem minha opinião se no BRASIL nós jovens não somos ouvidos e ninguém dá
importância para nossa opinião.
São de extrema importância, pois é a maneira que a população tem de manifestar e mostrar suas
satisfações e insatisfações no meio da sociedade em que vive.
São passeatas para tentar conseguir algo que a sociedade brasileira esteja incomodada e querendo mudar
algo na sociedade, é importante para que haja mudanças na sociedade.
Bom isso acontece quando a sociedade não está muito satisfeita com o que está acontecendo em sua
cidade ou coisa do tipo, eles fazem isso para resolver alguns problemas sociais ocorridos no Brasil.
Movimentos sociais buscam mobilizar a sociedade pra levar uma ideia a todos. Manifestações populares
de reivindicações acontece quando uma boa parte da população está em desacordo com algum ideal
governamental e deseja que mude.
Movimentos que passam o que as pessoas pensam em forma de manifestação, são importantes para as
pessoas passarem o que pensam.
São manifestos que a população realiza para a melhora do país, é muito importante pois apenas assim o
governo presta tenção no povo Brasileiro.
As manifestações populares são as pessoas fazendo protestos nas ruas, procurando seus direitos e
deveres, e procurando sempre o que é melhor para a sociedade. Os movimentos sociais são as pessoas
procurando fazer o melhor para a sociedade.
Manifestações populares, são pessoas que procuram meios de chamar a atenção para o caso ser
resolvido como ex: a manifestações que teve em SP a causa da manifestação foi por causa do aumento
da passagem de ônibus na qual aumentou muito, fez as pessoas ficarem revoltadas.
Quando um grupo de pessoas está infeliz com sua situação em relação ao lugar que vive, reivindica por
meio de manifestações e afins. Bem, a importância é clara, sem reivindicação não existe mudança.
São ações que abrangem o público em geral. Manifestações sociais são meios que o público encontra
para expressar suas opiniões e reivindicar seus direitos. A importância dessas manifestações é que elas
podem mudar algo que esteja errado ou que o público não esteja satisfeito.
Movimentos sociais são a proliferação da sociedade sobre um projeto/ideia na qual todos reivindicam.
Projetos ideológicos.
são importantes, para as pessoas que estão envolvidas reivindicar seus direitos na sociedade
Movimentos sociais buscam as mudanças sociais, na maioria das vezes em grupos. E manifestações
populares de reivindicações seriam organizar uma manifestação reivindicando algo.
Movimento Social seria a reunião de pessoas que se põem em movimento pela conquista de algo.
Manifestação seria uma forma de expressar pensamentos, ideias etc.
Movimentos sociais é representação da sociedade como organização. Manifestação popular de
reivindicações, é quando reivindicamos algo, se manifestamos para melhorar algo que não está bom.
São movimentos que juntam pessoas para protestar sobre algo,para tentar provocar mudanças sobre o
assunto...
São movimentos públicos que reúnem pessoas com o mesmo ideal e mesma forma de pensar sobre um
determinado caso ou situação. São importantes para a liberdade de expressão e exposição de opiniões.
Movimentos sociais: quando um número de pessoas se unem em prol de algum objetivo em comum.
Manifestações populares: quando pessoas se unem e vão para as ruas, ou congressos etc, manifestar seus
pensamentos, opiniões.
Algo onde o povo não tolera ou não acha mais conveniente, pois a sociedade muda e o "governo"
continua nos mesmos clichês porque é mais fácil e os está favorecendo... Importa pelas mudanças
sociais.
279
Como o nome já diz, são movimentos, que normalmente "agrupam" uma quantidade indeterminada de
pessoas para lutar por uma causa, para reivindicar determinada "coisa". É importante, pois todo cidadão
tem o direito de se manifestar e reivindicar seus direitos; às vezes, essas coisas não estão sendo
corretamente postas na vida dos mesmos.
Movimentos sociais, manifestações e reivindicações são armas fundamentais para que o trabalhador
expresse sua opinião de uma forma ativa e permite-o a tentar mudar o que este errado, mesmo que a
algumas não surtem efeitos e outras totalmente manipuladas pela mídia .
São movimentos que a população achou para reivindicar melhorias para toda a sociedade, embora boa
parte dos manifestantes pratiquem vandalismo e acabam perdendo a razão. As manifestações e
movimentos sociais feitos pela população, tem muita importância, pois são através deles que
defendemos e exigimos nossos direitos.
Movimentos sociais acontecem para pedir melhoria para a população que está descontente com o
governo. Manifestações populares é o ato do povo de ir às ruas para pedir melhorias, abrir os olhos do
povo, reivindicar seus direitos. Isso deve ocorrer para o povo acordar e pedir melhorias para que as
coisas andem para frente.
São gestos de revolta, onde a população se encontra insatisfeita ao seu meio de sobrevivência. Buscando
assim, novas ações diante de um governo democrático que não faz jus ao poder que tem.
É importante, a sociedade se manifesta sobre o que acham melhor para todos e não concordam
simplesmente com o que imposto pelo governo.
É uma maneira que podemos nos expressar em determinado tema, pois podemos passar oque achamos
diante disso...
São de extrema importância para levar a voz do povo em massa para o governo com atitudes e não só
palavras.
Mais do que cartazes, protestos, criticas e todo o resto que todos nós já conhecemos, reivindicar é correr
atrás de uma coisa que deveria ser sua, por direito, mas alguém impede que chegue até você.
Manifestações dos vinte centavos
População cansada de ser manipulada e roubada pelo governo brasileiro
Movimentações sociais são feitos pelos próprios cidadãos decididos a tomar a dianteira da situação,
buscando seus direitos por meio de tais protestos. Sua importância é a de que o ser humano deve ir atrás
de seus direitos, sempre se lembrando da Constituição.
Movimentos sociais é o método que a sociedade usa para reivindicações, na maioria de espécie política,
sempre para melhoria de algumas coisas.
Bem o que existiu ano passado foi um ato democrático de suma importância para a elaboração de uma
democracia mais plena e participativa por parte das pessoas que a compõe.
O que vemos atualmente não se pode chamar de manifestações ou reivindicações, e sim de aglomerados
de pessoas dispersas andando para o nada e sem propósito único conjunto.
Os movimentos sociais são organizações sociais que tem o objetivo de transformações da preservação
da sociedade.
As manifestações são uma forma de ação de um conjunto de pessoas a favor de uma causa.
Movimentos operários são movimentos sociais.
São protestos feito pela sociedade para a melhoria de algo
Movimentos para a melhoria da sociedade ou de um objetivo em comum
Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que
objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate político, conforme seus valores e ideologias
dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico, permeados por tensões sociais.
Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou
classe social. Seja a luta por um algum ideal, seja pelo questionamento de uma determinada realidade
que se caracterize como algo impeditivo da realização dos anseios deste movimento, este último
constrói uma identidade para a luta e defesa de seus interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de
pessoas que se encontra numa mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa, entre outras.
A importância é que eles são elaborados em varias situações dos programas políticos e a partir de
questionários para o protagonismo do partido através da luz de outras articulações sociais.
Ambas são boas para podermos reivindicar o que queremos sempre.
280
Acho interessante, pois mostra que o povo luta pelos seus direitos, e tem pessoas que ainda querem país
melhor. Mas por outro lado, acho que as pessoas são muito conformadas e esperam a situação chegar a
um estado crítico para tomar uma atitude.
Movimentos sociais são atitudes dos cidadãos que mudam a forma que a sociedade atua em suas vidas.
Manifestações populares são geralmente reivindicações dos cidadãos em prol do aumento de direitos e
melhores condições sociais e principalmente profissionais.
Movimentos sociais procuram a melhoria de certo lugar ou situação, manifestações populares de
reivindicações são manifestações que procuram obrigar o cumprimento de direitos públicos.
Manifestações para melhorar as situações atuais do nosso país. É muito importante para a evolução e
para a conscientização.
Movimentos sociais é um conjunto de pessoas lutando por um espaço. Sua importância é de ajudar as
pessoas a conseguir o que querem. Manifestações populares são quando se luta pelo que você acha que
está errado ou o que está certo, mas não está tendo importância para políticos etc.
Movimentos sociais são atividades, que envolvem a nossa sociedade. E manifestações de
reivindicações, são manifestações que são contra algo,
São Movimentos importantes para população principalmente, pois temos situações precárias, como
Saúde, Educação e Etc. Pois maior parte da população faz movimentos para tentar melhorar isso, pois os
governantes do nosso país praticamente não ligam para o povo.
Movimentos Sociais são aqueles em que um grupo de pessoas reunidas reivindica projetos, mudanças
ou melhorias para seu grupo social, já a popular de reivindicações são as pessoas reunidas em diversas
partes do mundo reivindicando as mesmas coisas em prol de um bem maior para a população.
Movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças
sociais por meio do embate político
É o movimento que as pessoas mostram a suas opiniões pacificamente.
São os movimentos em que nós que queremos algo, lutamos por algo, e isso é muito importante para o
nosso futuro e presente.
Manifestações, tentar mudar o mundo e sociedade em que vivemos.
Tentar, de uma forma pacífica, reivindicar algo, para que de alguma forma consiga uma mudança
significativa. (melhorias).
Movimentos sociais são nossos diretos sociais e manifestação popular são pessoas em busca de
melhorias o Brasil.
Movimentos sociais seria todo ato que é realizado em grupo para obter melhorias para seu bairro,
cidade.
Movimentos Sociais são aqueles formados por grupo de pessoas de uma sociedade. Ex; Estudantes e
Trabalhadores se juntaram para uma manifestação, reivindicando o aumento da passagem do transporte
público.
São passeatas que as pessoas fazem para buscar seus direitos e sua importância é a melhoria de um país
democrático.
São formas de reivindicar direitos que foram lesados, são importantes por que buscam resgatar os
direitos dos cidadãos.
São movimentos que têm como foco mudar nossa sociedade com ajuda de uma causa e de toda uma
população.
Movimentos que reúnem grandes números de pessoas, com um objetivo comum. Como exemplo o
movimento do passe livre, onde muitas pessoas se reuniram com o intuito de barrar o aumento das
tarifas nos transportes públicos.
Grupo de pessoas que se reúnem para conseguir mudanças sociais, levando em conta seus valores e
objetivos; manifestações ocorrem na busca de direitos e melhorias para a sociedade. São importantes,
pois é algo fundamental para que aconteçam diversas mudanças no geral. Sem a reivindicação do povo
o Governo esquece o bem-estar de qualquer cidadão, desde que seja feito de modo civilizado.
Os movimentos sociais, manifestações e reivindicações, são para melhorar o meio social, apontando
pontos nos quais estão faltando na sociedade e/ou está abusiva demais e prejudicial.
Uma forma da sociedade demostrar seus pontos de vista, muitas vezes não respeitados pelos
representantes públicos.
281
O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como
objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade
e de um contexto específico.
Manifestações servem para que se proteste algum movimento que está em ação e que o povo não
concorda! É de extrema importância, pois é uma forma de tentar adquirir uma melhoria na sociedade.
Pessoas que querem reivindicar algo que acham justo, e lutam por isso.
Serve para lutar pelos direitos do povo.
São movimentos de grupos de pessoas, em busca de providências sobre algum assunto.
Os direitos dos cidadãos, e buscar o que precisamos e necessitamos!
São manifestações geradas pela população com o proposito de mudanças em tais áreas e melhorias aos
nossos direitos.
Essas manifestações são para mostrar que não estamos de acordo com o que estão fazendo com o nosso
país, e que estamos correndo atrás dos nossos direitos de cidadãos.
Movimentos sociais são movimentos que reivindicam sobre algum tema em que sociedade não se vê
satisfeita e é importante para que nada fique ruim para que todos vivam de forma igual, com respeito e
de forma digna.
São movimentos organizados para expor a opinião de algo e também na tentativa de mudar uma
situação.
Manifestação, protestos são muito importantes para que todos lutem pelos seus direitos, diante da
sociedade todos são iguais, igualdade sempre.
Manifestações populares espontâneas de rua, surgidas a partir da indignação popular, quanto às altas
tarifas dos transportes públicos, os descasos com a educação, saúde e habitação, como consequências
das políticas estatais. Discute a transgressão da Lei em relação a esses direitos sociais.
Movimentos sociais são quando a população faz um tipo de movimento, com algum motivo específico
junto com a população e reivindica a favor de seus direitos na sociedade. É importante para ter seus
direitos
É o meio de algumas pessoas reclamarem ou irem atrás do seu direito. É importante, pois se ninguém
for atrás disso, nada muda em nosso país, mas sendo de uma maneira sociável.
Manifestações populares são quando as pessoas saem na rua para reclamarem dos seus direitos.
Movimentos sociais são tudo aquilo que luta por seus direitos e pela melhoria do país, mas sempre de
maneira pacífica. Manifestações populares de reivindicações são quando o povo luta por um ideal, ou
seja, melhoria de vida etc. É muito importante termos essas manifestações, pois com elas podemos
buscar um mundo melhor, por mais difícil que isso seja.
Movimentos sociais são grupos de pessoas que fazem uma reunião em certo local para que discutam
alguma melhoria para a população. Manifestações populares são grupos de pessoas que protestam
contra algo que acha errado e, que algumas vezes, chegam até causarem vandalismo por este motivo.
Movimentos sociais é a sociedade querendo seus direitos. Manifestações vira uma bagunça porque não
são todos que tem educação. A importância é de um futuro melhor para a sociedade com direitos justos
a toda a população.
Movimentos sociais são quando as pessoas saem às ruas em busca de seus direitos sociais. E populares
quando a população não está de acordo com algo e vai as ruas tentar mudar.
As reivindicações são para chamarem a atenção para alguma causa muito grande e tentarem mudar a
situação que está, mas muitas vezes acabam partindo para o vandalismo que nada acrescenta nas
manifestações e assim não conseguirão mudar a situação.
Movimentos sociais e manifestações são a voz do povo expressa a todo público, a fim de causar
impactos em busca de melhorias em todos os aspectos. É o resultado da insatisfação e da sede de
mudança/justiça.
Movimentos sociais, são protestos para a melhoria de nós mesmo...
Para melhorar escolas, saúde, e pelo menos acabar com a corrupção.
O povo precisa e merece um pouco de melhoria, pagamos tantos impostos absurdos desnecessários até.
Pagamos caro no preço do arroz, do feijão da conta de luz ...
A importância é a voz do povo ser ouvida, só assim para chamarmos a atenção, que precisamos de
melhora ! É lamentável a saúde publica.
282
Movimentos Sociais e Manifestações populares de Reinvidicação, e quando um grupo de pessoas se
reúnem para ir atrás de seus Direitos e muitas vezes são ignorados pela Sociedade! ou A favor de
Alguma coisa !
E Você Se Mover e ir Junto a Sociedade em Busca de um bem maior para o próprio país mesmo, e até
um bem maior sendo solidários.
Movimentos sociais são movimentos social, manifestação populares de reivindicação é quando
queremos reivindicar alguma coisa ou dar nossa opinião, ou mudar algo que já é certo mais nos
manifestamos reivindicando tentando mudar aquilo que não concordamos.
É liberdade de expressão das pessoas para reivindicar seus direitos. E é importante porque é uma
oportunidade de serem ouvidas por uma autoridade.
São formas de expressão para mostrar a insatisfação perante algo, normalmente querem mudanças
quando fazem esse tipo de manifestação, é de extrema importância esses eventos para que '' superiores''
possam ver que não estão fazendo coisas ás escondidas, e que precisam melhorar para satisfazer os
demais, além de mostrar para outras pessoas situações sociais problemáticas e abrir seus olhos.
São movimentos que as pessoas se organizam para reivindicar seus direitos e melhorias onde moram,
frequentam ou trabalham. Sua importância é chamar atenção de autoridades para conseguir providencias
em relação aos problemas envolvidos com toda sociedade.
Movimentos sociais e manifestações são para a população e para os políticos, esses movimentos são
para se manifestar, contra aquilo que eles estão dizendo, tendo livre expressão.
Ambos são considerados ações de cidadania,onde o cidadão busca por direitos e reivindica pelo fato de
mostrar ser atento ao desenvolvimento da sociedade.
Movimentos Sociais é considerado um movimento onde os cidadãos buscam algo beneficente para a
sociedade e é dado esse nome por conta de ser uma união da população. Reivindicações são
movimentos que são feitos por cidadãos onde buscam algo que é necessário para a segurança por
exemplo,que é muito reivindicada pelo fato de não estar adequada para a sociedade.Então o cidadão
reivindica para que haja melhoria,para que os governantes vejam que estão presentes no andamento da
sociedade.
Movimentos sociais são como se fosse protesto, a sociedade querendo o direito de algo,ou, querendo
melhorar algo. Dependendo do movimento tem sua importância se for uma manifestação sem brigas,
sem morte, sou a favor.
Em linhas gerais,um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate
político, conforme seus valores e ideologias dentro de uma determinada sociedade e de um contexto
específicos, permeados por tensões sociais. Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a
revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou classe social. Seja a luta por um algum ideal, seja
pelo questionamento de uma determinada realidade que se caracterize como algo impeditivo da
realização dos anseios deste movimento, este último constrói uma identidade para a luta e defesa de seus
interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de pessoas que se encontra numa mesma situação, seja
social, econômica, política, religiosa, entre outras.
As manifestações populares é as pessoas fazendo protestos nas ruas, procurando seus direitos e
deveres,e procurando sempre o que é melhor para a sociedade. Os movimentos sociais são as pessoas
procurando fazer o melhor para a sociedade.
Quando um grupo de pessoas está infeliz com sua situação em relação ao lugar que vive, reivindica por
meio de manifestações e afins. Bem, a importância é clara, sem reivindicação não existe mudança.
Movimento Social seria a reunião de pessoas que se põem em movimento pela conquista de algo.
Manifestação seria uma forma de expressar pensamentos,ideias..etc.
Para mudar o sociedade brasileira.
São movimentos que juntam pessoas para protestar sobre algo, para tentar provocar mudanças sobre o
assunto...
Os movimentos sociais são de extrema importância para que o povo possa lutar por seus direitos e tomar
conhecimento sobre os seus direitos.
Algo onde o povo não tolera ou não acha mais conveniente, pois a sociedade muda e o "governo"
continua nos mesmos clichês porque é mais fácil e os está favorecendo... Importa pelas mudanças
sociais.
283
Como o nome já diz, são movimentos, que normalmente "agrupam" uma quantidade indeterminada de
pessoas para lutar por uma causa, para reivindicar determinada "coisa". É importante, pois todo cidadão
tem o direito de se manifestar e reivindicar seus direitos; às vezes, essas coisas não estão sendo
corretamente postas na vida dos mesmos.
Brigar pelo o que, nós cidadãos, achamos justo.
Mais do que cartazes, protestos, criticas e todo o resto que todos nós já conhecemos, reivindicar é correr
atrás de uma coisa que deveria ser sua, por direito, mas alguém impede que chegue até você.
População cansada de ser manipulada e roubada pelo governo brasileiro.
Fonte: Dados da pesquisa de campo.
284
APÊNDICE 4 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 24 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO
Quadro de respostas 3 – Questão 24: Se algum professor tratou do tema na sala de aula.
Esses movimentos podem abrir a mente das pessoas e aumentar o número de pessoas para
conseguir certas mudanças.
Sua importância é a de que o ser humano deve ir atrás de seus direitos, sempre se lembrando da
Constituição.
Para melhoria de nossa sociedade e posteriormente para as gerações futuras.
Para ficar a parte de tudo e ficar bem informado.
Que eles possam se manifestar contra algo.
Que a gente aprenda mais sobre movimentos sociais
É importante pare a sociedade e os jovens correm atrás dos seus ideais e ter voz ativa sempre e
correr atrás dos seus ideais.
Através dos movimentos sociais, o povo alcança os seus objetivos.
Para que possamos ouvir e expor todas as opiniões e pensamentos.
Em minha opinião, movimentos sociais são como requerimentos, mas são mais eficientes, pois são
baseados em atitudes. Esses movimentos nos proporcionam a realização de direitos que já são
nossos, mas nem sempre são atendidos. São uma forma mais eficiente de se comunicar com nossos
líderes e fazer com que eles cumpram seus deveres.
Não há importância se os cidadãos votarem corretamente. Esses movimentos são necessários
apenas quando o "povo" se arrepende de ter posto alguém irresponsável no poder, como acontece
na maioria das vezes no Brasil. Isto devido à ignorância dos mesmos cidadãos.
Toda, para o Brasil se levantar e ser um país independente, porque escravo é quem precisa de
governo, pessoas livres se governem sozinhas.
São a partir desses movimentos que as pessoas conseguem colocar em prática os seus direitos
decretados por lei.
Para formar um país melhor, com mais oportunidades, e condições melhores de vida .
Essenciais, não há vitória sem luta, e se a sociedade quer algo positivo, tem que ir a busca em
grande número de pessoas (protestos).
A importância de movimentos sociais seria para melhorias de sua cidade e para ter um governo
bem aplicável para promover leis apropriadas para a sociedade em si.
Quando organizados, são importantes para manter os administradores atentos aos anseios da
sociedade representada.
Mostra que o povo esta no controle que o povo quer melhor modo de vida. Vai a rua exigir que
seus direitos sejam compridos e mostra que a sociedade não aceita ser tratada como idiotas. O
POVO ACORDOU.
É importante para que todos vejam que o país precisa de melhorias, e que o povo precisa lutar por
isso.
Mostrar que não estamos de acordo com o que está acontecendo.
Esse movimento foi bom para que os nossos governantes não se sintam à vontade para roubar
nosso dinheiro. Para que toda população veja que podemos sim mudar o que não nos agrada, para
mudar tudo aquilo que está errado na sociedade.
Expor nossos conhecimentos e opiniões.
A importância dos movimentos sociais é de suma importância, pois, embora sejam os próprios
cidadãos que elejam seus candidatos, há muitos momentos que determinadas leis não partem da
opinião e da necessidade popular, mas do julgamento dos legisladores e do chefe e do executivo...
sobre a participação dos jovens, entendo que os jovens são cidadãos como os demais, não precisa
partir exclusivamente dos jovens... essa ideia de que as revoluções devem começar pelos jovens foi
uma "fantasia politica" vendida num momento que "ganhar" os universitário era de grande
relevância...
285
A importância disso eu vou resumir em apenas algumas palavras:
Não é o povo que tem que temer o seu governo e sim o governo que tem que temer o seu povo!!!
Levantar a bunda da cadeira para mudar o que está errado, e parar de ser manipulado.
Acho importante para cada um expressar sua opinião, sem vandalismo!
É importante, pois se ninguém for atrás disso, nada muda em nosso país, mas sendo de uma
maneira sociável.
Para tentar mudar alguma situação, mas são raras as vezes que as mudanças ocorrem, sendo assim
não acredito que tenha tanta importância.
Assim o povo mostra o que pensam e que sim, são mais fortes que o governo.
Assim o povo expressa seus pensamentos e opiniões
Porque é importante para que a voz do povo seja ouvida!!!!!!!
Esses movimentos têm uma importância gigantesca no processo democrático brasileiro, pois neles,
apesar do esforço, as autoridades percebem as insatisfações das pessoas.
Se não houver esse movimento, a classe dominante irá dominar a classe trabalhadora. A classe
trabalhadora é mais forte que os governantes, mas para mostrar isso os trabalhadores tem que ir
para a rua e mostrar o seu poder.
TODA! temos direitos e precisamos mostrar que não nos agrada algo que o governo faça que
interfira no nosso bolso e em nossas vidas. De braços cruzados apenas no caixão onde não ha oque
fazermos por mais ninguém.
TOTAL IMPORTÂNCIA! COMO DISSE, PARA CHAMAR A ATENÇÃO E SERMOS
OUVIDOS. Precisamos de melhoras! Urgentes, o país da copa, que gastou milhões, bilhões, e a
nossa saúde? Havia gente morrendo, com falta de medicamentos, por falta de lentos .... e etc.
Possui grande importância para o Brasil, pois mostra que o povo deseja melhorias, mesmo que
para isso seja necessário confrontar as autoridades.
Esses movimentos são muito importantes para mostrar que juntos podem fazer a diferença, e
muitas das vezes quando se reúnem para ir atrás de seus direitos eles conseguem.
Serve para nos se movimentar e manifestar e mostrar o nosso interesse de que estamos todos juntos
para mudar o país.
Toda porque só assim a população consegue defender seu direito de PESSOA e SER HUMANO
no mundo.
Quando se vê que tem algo que não está certo ou de acordo com a população, é um direito nosso
fazer algo parara que as forças maiores tomem providencias para que o “problema¨ seja
solucionado.
Liberdade de expressão e conscientização dos direitos.
Buscar nossos direitos é uma forma de dizer aos políticos que tem algo errado com o país.
Como já dito anteriormente, estes movimentos tem extrema importância para a sociedade
Brasileira, para auxiliar e reivindicar nossos direitos. E ajudar a sociedade a discernir o que é bom
e ruim para ela, propondo melhorias para a cidadania.
São muito importantes para resgatar o espirito de luta do povo. Resgatar e reforçar que estamos
acordados e que ainda estudamos e nos importamos com nosso país.
É importante para que as pessoas acreditem num futuro melhor e que vejam que tem direito de ir
às ruas protestarem quando a situação está ruim em sua cidade, estado ou país.
Para mostrar que a população não é burra, nem cega e veem o que está errado. Conseguir novas
coisas melhores
De mudar o que foi comprometido em eleições para que possam melhorar o que não foi feito.
Para mostrar que ninguém está sozinho e que uma organização de pessoas pode mudar muita coisa.
O direito da população de ter a certeza para onde vai o seu imposto de renda anual, ou até mesmo
os tributos que os comerciantes pagam em seus produtos.
A importância é que com isso nós possamos falar e gritar para todo o mundo e dizer tudo o quê há
para se dizer, se manifestar. Dando importância aquilo que eles acreditam, e vê que está errado.
286
Ótima, estão saindo do comodismo de achar que tudo um dia sairá do céu. Mas o brasileiro precisa
entender suas próprias situações internas antes de reivindicar coisas absurdas e ressalto ainda a
submissão a órgãos representantes do estado é esdrúxula e precisamos entender o dever de cada
um para derrubarmos essas burocracias e uso exagerado de poder.
Para que tenha melhorias e que com isso tem atitude e que o povo se manifeste em busca disso.
Para o governo tomar vergonha na cara e parar de roubar
Para o governo tomar vergonha e parar de roubar
Na minha opinião , a importância desses movimentos , é para que os governantes possam ver o que
a população está precisando, e começar a investir mais na prioridade dos mesmos!
Mostra que as pessoas estão espertas não querem ser fantoches do governo.
Com a liberdade que já conquistamos temos o livre arbítrio de ''lutar'' por nossos direitos podemos
mostrar nossa opinião, e questionar algo com a certeza de que temos tal liberdade.
Mostra que o povo brasileiro não esta mais se curvando diante das situações e que luta pelo o que é
certo e o que é de direito.
Que mostre que a população esta disposta a muda não fica calada diante do governo que não da a
mínima para que possamos ter um pais justo e melhor.
Bom! Seria bastante importante se funcionasse! Mas não vejo diferença nenhuma com ou sem
manifestações ou coisas do gênero.
De mostrar que o povo brasileiro vive numa democracia, e apesar de todo o sistema ser controlado,
nós exercemos nossos direitos.
É importante para a exposição de opiniões e reivindicação de direitos e ideias.
Mudança, ter a liberdade de expressão...
Mostrar que não somos alienados, que questionamos e que temos total consciência de nossos
direitos assim como dos nossos deveres como cidadão.
Maior amplitude de conhecimentos e renovação em meios de governo.
Mostrar para os políticos que a população está atenta e que existem sim pessoas dispostas a
alcançar coisas melhores.
Muito grande, pois precisamos revolucionar o país para que melhore nas próximas gerações.
Esses movimentos são de total importância para a sociedade civil, deveria haver mais movimentos
sociais ativos na sociedade brasileira.
No primeiro semestre de 2013, uma série de manifestações populares ocorreram nas ruas de
centenas de cidades brasileiras. Tendo inicialmente como foco de reivindicação a redução das
tarifas do transporte coletivo, as manifestações ampliaram-se, ganhando um número imensamente
maior de pessoas e também novas reivindicações. A violência policial aos atos também
contribuíram para que mais pessoas fossem às ruas para garantir os direitos de livre manifestação.
Fonte: Dados da pesquisa de campo.
287
APÊNDICE 5 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 26 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO
Quadro de respostas 4 – Questão 26: Tipo de participação.
Manifestação
Protestos feitos em Osasco- SP
Manifestações que ouve na cidade de São Paulo.
Aulas acadêmicas
Contra o aumento da passagem
Movimentos sociais
O da tarifa dos ônibus em SP
Contra o preço da passagem
Sobre os direitos
Sim Participei do passe Livre pelo grande valor abusivo das passagens de Ônibus
Protesto dos 20 centavos, e das obras interrompidas, protesto pra melhora educação e saúde.
Passeata que houve em minha cidade
Redução do custo das passagens e melhoria nas condições de trabalho dos professores.
Manifesto pelo abaixo da passagem de Franco Da Rocha
Manifestação de reivindicação.
Passe livre, PEC E etc..
Manifestações populares
Vale transporte.
Passe livre.
Todos.
Contra Copa do Mundo.
Movimento Passe Livre, Contra Cura Gay e Contra Copa do Mundo no Brasil
Período integral
Para baixar a tarifa dos ônibus coletivos e contra a escola em período integral
Da reivindicação dos 0,20 centavos
Debate sobre escola de período integral.
Quebra de busão , movimento sem terra , roubar mercado
Mudança do valor do transporte do município
Eleições e protestos
Protestos
Passe livre em Mairiporã
Reivindicação da tarifa do transporte público.
Da empresa de Ônibus da cidade.
No movimento em que tivemos para mudar o preço da passagem de ônibus
Movimento pela passagem de trem e ônibus.
Da baixa da tarifa na Fernão Dias
Passe livre, monopólio etc.
Protesto da ETM
Eu participei de um uma vez na cidade que eu moro mais era pacifico
Copa, tarifa de transporte público
Participei de uma manifestação, da minha cidade, contra o aumento do valor de ônibus
Greve contra o aumento da passagem de ônibus
288
Da passagem que tinha aumentado para $3,20
Manifestações 2013
Movimento contra o aumento da tarifa do ônibus.
Movimento contra o aumento da passagem
Redução do preço da passagem.
Manifestei pela pessoa deficiente
Movimento religioso
Sim, intervenção da cidade
Dos direitos humanos
Movimento negro
Manifestação em Mairiporã
Passe livre, contra a monopolização a qual tem na cidade de Mairiporã
Interdição da Fernão dias pelos 0,20
Do que ocorreu em 2013. Expus minha opinião através de redes sociais.
2013 0,20
Sobre o aumento das passagens dos ônibus de Mairiporã.
Rede social, nas ruas.
Passe livre e marcha da maconha
A do transporte público
Manifestações populares
Participei com estudante do movimento a favor do impeachment do presidente Collor em 1992 e em
2013 fui às ruas participar do movimento contra os "20 centavos".
Fonte: dados da pesquisa de campo
289
APÊNDICE 6 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 27 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO
Quadro de respostas 5 – Questão 27: Importância da participação.
Conscientizar a população e os comandantes do país
Para diminuir o valor da passagem
Que a tarifa da passagem estava muito cara, por que quantos milhões eles iriam roubar da gente, então
por isso eu protestei, então devemos protestar por um país melhor.
Para os trabalhadores terem mais direitos para usar o transporte púbico.
A taxa menor do transporte pública.
Pois, constroem varias coisas desnecessárias e não lembram da população.
Lutar pelos nossos direitos como cidadãos, impedir que gastem milhões com coisas desnecessárias,
contra a cura gay, e liberdade de expressão de sua própria sexualidade.
Acho legal a teoria do passe-livre para aqueles que passam por dificuldade, e têm que locomover a pé,
pois não tem verba para bancar os transportes públicos.
A importância desse movimento é para conseguirmos melhorar o país.
Relatar e refletir sobre melhorias que poderia trazer esse projeto para escola pública.
Baixar o custo da passagem
Baixar a renda do passe.
Serviu para redução das tarifas no transporte público.
Melhoras na Cidade
Aumento abusivo da passagem
Ouvir a voz da população
Esse movimento foi importante porque o povo já estava cheio de ter que pagar por aquilo que não é
justo e cansou. Viu que quando todos se juntam para o bem comum podemos mudar aquilo que não
gostamos.
Melhorar nossas condições de vida
De que todos mereceram melhorias nos meios públicos.
Para ajudar as pessoas a se nortearem em seus pensamentos e atos em relação ao governo
Ter seu direito e importância sobre oque ocorre na cidade
Baixar as tarifas dos ônibus, aumentar hospitais e postos de saúde, ter mais atenção com a população.
A importância é que nem todo mundo tem $3,20 todo dia para pagar um ônibus, então a sociedade
acabou levantando e dando um jeito nisso.
A importância desse movimento é diminuir o custo da tarifa de ônibus.
Vivemos em um país que tem juros extremamente abusivos e que é inaceitável pagar R$3,50 em uma
passagem de trem ou ônibus. O preço atual de R$3,00 já é um abuso, e temos que lutar para o Passe
Livre. Se nós conseguíssemos pelo menos passe livre para estudantes e universitários já seria mais um
passo para o Brasil.
Abaixar o preço da passagem de R$3,20 para R$3,00
Transporte público de qualidade e com a tarifa mais acessível para todos.
É ter conhecimento de seus direitos.
Esses projetos reivindicados tem extrema importância, pois diante deles que são realizados movimentos
e melhorias a escola.
Garantir nossos direitos de ir e vir.
Porque todos ficaram indignados por ter tanto imposto e ainda querer comprar mais a passagem de
ônibus, tudo bem 20/30 centavos a mais, porém é assim que o governo vai abusando do povo brasileiro,
que já não se tem uma vida boa, além de tudo nem uma condição de transporte em boas situações temos,
então esse movimento, assim como outros foram importantes para nos impor, porque também somos
humanos e temos direito, foi importante para exigir melhor condição de vida.
290
Passe livre: a luta para abaixar o preço dos ônibus ou trazer o passe livre, pois todos temos o direito de
ir e vir sem pagar por preços absurdos.
Monopolização: as empresas de Mairiporã possuem um monopólio absurdo o qual toda empresa que
tenta entrar na cidade, a que já está presente a mais tempo, tira a outra do mercado, assim tirando a
inovação da cidade e a mesma não indo pra frente.
Diminuir o valor das passagens...que por sinal é um absurdo para quem depende de ônibus todos os
dias.
E importante pra mim por que aumenta meu salário diminui e a condução aumenta, e isso me ajuda
muito.
bastante para que mude o governo !
Fonte: Dados da pesquisa de campo
291
APÊNDICE 7 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 30 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO
Quadro de respostas 6 – Questão 30: Importância da internet / redes sociais para estes
movimentos.
Para divulgar e explicar o verdadeiro propósito.
A importância de tais meios de comunicações é a de há uma facilidade muito grande para a organização
e comunicação para quem está disposto a participar.
Para a divulgação dos mesmos para que todos tenham conhecimento do que se passa no nosso país.
Conhecimento
É importante pelos encontros sociais.
Divulgar.
Combinar com as pessoas.
Para marca os movimentos.
A divulgação para a população
Para a comunicação em massa, pois no Facebook é mais rápido é há muitas pessoas conectadas, então
em clique, o Mundo sabe de tudo o que está para ser colocado em páatica.
Comunicação.
São meios de divulgação que contam com a máxima eficiência de comunicação atualmente!
A internet dá a oportunidade para esses movimentos serem divulgados de forma simples e rápida, como
nenhum outro meio seria capaz de fazer, além de dar a chance às pessoas para opinarem sobre o assunto
abordado na manifestação.
Através dela são formados ponto de encontro, marcação de horários, etc.
Divulgar os movimentos e os lugares.
Toda, porque hoje em dia tudo depende da internet, da divulgação até a finalização de protestos.
Para se informar melhor sobre o assunto.
Para poder expandir a informação.
Ajuda a ter mais conhecimentos e poder chegar a conclusões e a deixarem as pessoas mais atualizadas
sobre esse assunto
Elas passam informações com mais alcance e com mais clareza.
Pois quanto mais pessoas melhor para fazermos a manifestação, mas devemos ter limites e devemos
saber fazer a manifestação.
Propagar os dias das manifestações e mostrar os ideais dessa.
Divulgar passeatas.
Muitas vezes, elas passam as informações mais do que jornais.
Toda, a internet é utilizada para marcar pontos de encontro e datas do movimento, também e utilizada
para divulgar a manifestação.
Atingir um grande público para a causa
Conscientizar nossa sociedade a ter melhoras.
Passar o que acontece e qual a importância do movimento com ''rapidez''.
Para que os grupos se organizem.
Alcançar o maior número de pessoas possível.
Permite a comunicação instantânea.
Avisar vários amigos que não estão sabendo dos movimentos
Convocar a população para participar e informar.
Anunciar o tal acontecimento pelo mundo.
Um meio de informação para transmitir os acontecimentos e para a organização de melhores formas
para melhorar o país
Compartilhar ideias sobre movimentos sociais.
Mostrar para as pessoas pelo que eles estão lutando.
Para informar local, horário e onde serão efetuados esses movimentos. Hoje em dia fecebook é umas
292
das redes sociais mais utilizadas fica mais fácil encontrar pessoas interessadas em participar, nesses
movimentos quanto mais gente melhor...
A internet é um lugar livre para expor suas ideias de forma democrática e sem censura.
Para que possamos protestar em redes sociais também.
Principalmente a divulgação, através das redes sociais pessoas de todo país tomam conhecimento e
fazem parte do movimento.
Divulgar a nossa opinião, para gerar um impacto maior com um grande número de pessoas insatisfeitas
até chegar a autoridades maiores.
Chamar pessoas.
Levar diversas pessoas a se mobilizarem pelo mesmo ideal.
Promover a sociedade informações detalhadas e motivacionais sobre o assunto.
Se não fosse publicado nas redes sociais o povo não tomaria conhecimento sobre a "ditadura" que o
governo quer retomar.
Para passar a mensagem a todos sobre oque está ocorrendo no dia a dia, os movimentos são importantes
para que todos possam saber os seus direitos!
Encontrarem as pessoas que também quererem lutar pelos seus direitos e se organizarem e discutirem
sobre o assunto citado.
É importante para informar muitas pessoas que ficam muito tempo na internet e assim eles sabem as
noticias sobre os fatos que estão acontecendo.
Passar o que o governo nega, que são informações.
Foi de grande ajuda, pois através das redes sociais a população se reuniu para demonstrar sua
indignação.
Ela além de nos conectar ela informa e nos deixa a par da situação
Para buscar pessoas com a mesma opinião, já que o Brasil inteiro tem acesso às redes sociais.
Espalhar o movimento, afim que todos saibam.
A internet hoje em dia tem uma importância IMENSA para a divulgação, estudo e aprofundamento do
tema. Pela internet tomamos conhecimento dos movimentos, trocamos ideias e opiniões com pessoas
totalmente diferentes, mas com o mesmo objetivo. Internet é para todos.
A internet facilita muito a comunicação entre pessoas de cidades e estados diferentes, assim reunindo
todos para um grande movimento.
Espalhar a notícia, e mostrar não só o que a mídia quer.
Para uma melhor divulgação e alcançar diversos tipos de pessoas e personalidades.
Como hoje as pessoas se prendem cada vez mais as redes, ela é considerada o melhor meio para passar
informações e através delas o mundo ajuda na luta pelos direitos da sociedade.
A importância e que sem a internet esses movimentos não teriam acontecido com tanta força.
A publicação gratuita de uma grande massa populacional.
A internet é um ótimo meio para podermos divulgar, convidar e atrair pessoas para ajudar na
manifestação, determinada causa.
Amplia ainda mais levando a todos as informações.
Divulgar para que todos possam tomar conhecimento dessas manifestações e possam participar.
A divulgação e para maior conhecimento. Mas para ficar a par da verdadeira situação, apenas
participando das reais manifestações, realmente, apenas estando lá pra saber da verdade.
É uma ferramenta muito utilizada e que ajuda na divulgação das manifestações.
Porque a televisão pode manipular as noticias, já a internet é a opinião dos outros e na internet a
sociedade tem livre arbítrio para falar oque quiser.
Fundamental, pois a internet é uma poderosa ferramenta de informação e as redes sociais são canais de
revolucionários de comunicação.
Fonte: Dados da pesquisa de campo
293
APÊNDICE 8 - TRANSCRIÇÃO DA RODA DE CONVERSA
Realizada em 03/07/2014
Andreia – Para encadear as questões para desenvolver um raciocínio logico sobre o que
vamos escrever depois. A primeira questão tem haver com a direção das redes. Como é a
interação de vocês com as redes sociais, com a internet? E vocês podem estar discutindo e eu
quero ver qual a importância que vocês pensam disso. Quem quer falar?
Caique – Só para trabalhos.
Andreia – Só para trabalhos?
Caique – Só para trabalhos.
Marlon – Eu uso mesmo para Facebook, é... outros tipos de comunicação, como Youtube e
outros tipos normais. Poucas vezes o Google para trabalhos, trabalhos de escola, poucas vezes
eu uso.
Andreia – Mas o Facebook você usa assim para...
Marlon – É... praticamente meu social para mim é pelo Facebook. Uso direto.
Andreia – Tá, quer dizer que o Facebook você utiliza principalmente para interação, conversa
e relacionamentos. É isso?
Marlon – É isso.
Luan – Utilizo para fonte de pesquisa, principal fonte de pesquisa, é... Facebook eu uso
bastante, mas mais para fazer amizades, parte de relacionamento, trabalho, coisas assim. Mas
mais principalmente site de noticias, em geral.
Fabiana – Eu também uso para site de pesquisa, saber o que rola no mundo. Porque hoje, da
sua casa, você consegue saber o que está acontecendo do outro lado do mundo, e eu acho isso
muito legal, você ficar antenado no que acontece do outro lado do mundo. E Facebook eu uso
muito para eventos, como agora no natal vai ter o pessoal que vai levar comida para o pessoal
morador de rua, e eu vou, procuro esses eventos, procuro sopão, eu procuro tudo assim para
ajudar o próximo. Na parte do Facebook, assim, eu procuro sempre buscar o melhor
Andreia – E vocês?
Thalita – À pesar de melhorar as relações interpessoais, as redes sociais, eu uso mais como
trabalho, porque meu trabalho é a base da rede e pesquisas, noticias do dia-a-dia. O Facebook,
o Twitter eu não sou muito adepta, eu prefiro o pessoal.
Rui – A internet passa um conteúdo para a gente que é muito útil para sabermos o que esta
acontecendo em outro lugar, como ela citou. Ela aproximou tanto a gente que, tipo, não tinha
jeito de saber o que estava acontecendo num país que não fosse pela televisão, por uma
noticia não muito confiável, a internet mostra vários pontos de vista sobre uma mesma noticia
e isso é muito importante. Além de suprir muito do que a escola deixa faltando, deixa de
explicar, que a internet vem a suprir muito bem essas faltas de conteúdo.
294
Andreia – Se alguém quiser falar de novo fiquem a vontade, tá gente?
Milton – Pouco antes de vir para cá nó três estávamos um do lado do outro usando o Acessa,
e eu acho que uma, não uma qualidade, porque nós três estávamos no Facebook, e para
brincar eu chamei ele por mensagem, sendo que eu estava do lado dele. Eu acho que isso
atrapalha um pouco e não acho isso muito legal. Mas a gente usa bastante também para
pesquisa, trabalho. Como a gente passa o dia todo la, a gente usa muito, então a gente faz
muitos trabalhos. Eu acho que é basicamente isso, a gente usa muito o Facebook, a gente faz
grupos la para trabalhos.
Cleverson – Da mesma forma que o Milton disse, para trabalhos, eu uso o Facebook também
para interagir e eu uso o Twitter também para me informar, porque as noticias do mundo
chegam muito mais rápido lá, as coisas se espalham muito mais rápido lá.
Andreia – Twitter é mais rápido que os outros?
Cleverson – O Twitter, sim. Porque lá tem... é... os maiores portai de sites de jornais, de
revistas, tanto do mundo quanto do nacional. Então eu uso o Twitter para isso também.
Marlon – E fora se dizer que o... Com a internet melhorou muito mais. Porque, tipo, tem vez
que o professor pede um trabalho para a escola e você pensa “ai, eu tenho que ir naquele livro
buscar”, sendo que o trabalho você vai no Google rápido, e rapidamente chega lá, e tem vezes
que já tem um trabalho pronto para você lá, então a internet melhorou muito mais... melhorou
muito mais a qualidade de vida da pessoa.
Luan – A internet, não sei se todos concordam, é que aproxima as pessoas, mas da mesma
forma que ela aproxima ela pode ser usada como uma arma à seu favor, ou contra seu favor.
Um exemplo é as eleições de Barack Obama na primeira vez que ele se elegeu. Ele ganhou
as... as eleições devido à internet. Porque ele respondia as pessoas, e com isso, com as...
respostas das pessoas ele fez a campanha dele encima do que o povo achava, e não apresentou
uma coisa pronta como geralmente os outros candidatos... democráticos e republicanos fez.
Quando ele ganhou as eleições encima da internet. Então, assim, ela usada como uma arma.
Outra coisa também, principalmente agora, esta tendo o estado islâmico, a Palestina, a gente
não tem nenhuma outra forma de presenciar para ver algumas coisas que eles nos tramitem. E
assim, da mesma forma que nosso amigo falou, que... é muito bom para facilitar nossa vida
para estudo, é muito ruim também. Porque, ceio que antigamente, creio eu, que as pessoas se,
é... se envolviam mais com os estudos, pesquisavam mais. Hoje não, hoje você vai, coloca um
assunto sai tudo o que você precisa. É o famoso Ctrl+C, Ctrl+V, acontece muito isso. Então é
assim, da mesma forma que ela te ajuda, ela te prejudica, aí vai de cada um, é... Fazer o
melhor para o estudo.
Andreia – Acho que dentro dessa questão mesmo, se vocês já quiserem ir falando também,
como vocês chegaram a participar dessa (?), o que fez com que vocês, é... o que estimulou
vocês a estar participando, a fazer tudo isso que falaram que fazem assim pelas redes, pela
internet, né? Tiveram algumas influencias. Vou também perguntar se tem influencia sobre
outros assuntos também. É vocês que decidem, é vocês que veem dessa forma, que acham
interessante, algum professor que estimula. Não é questão da educação formal também se ela
esta trabalhando isso, né? Ou se é por educação informal que ocorre, ta? Então assim, como é
que vocês foram? O que fez, o que impulsionou vocês em tudo isso aí que vocês colocaram ai
por meio das redes?
295
Armando – Eu, assim, humm... Acredito que a internet a partir do momento que ela surgiu,
ela veio para atingir praticamente o mundo todo. Então assim, muitos vão por influencias de
amigos, outros por informações “olha, olha lá, pesquisa alguma coisa lá que você vai
conseguir encontrar, e tal”, outros não, porque ela se tornou uma ferramenta tão ampla para
fazer tantas outras coisas, que foi o que eles disseram, ao mesmo tempo que la te favorece ela
pode te prejudicar se não souber impor os limites. Inclusive na nossa escola, por exemplo,
vive tendo, é... redações, tem muitas redações, colocando esse assunto. A questão do uso
excessivo da internet, como ela deve ser utilizada, ou não, como ela atinge, por quem que
ela... como você tomou conhecimento do uso dela. Então assim, é uma questão que... cada um
deve saber aonde e como usar ela. Para, para tals fins, entendeu?
Milton – Como você falou, acho que é uma pressão também dos amigos. “Você não tem
Facebook? Como assim você não tem?! Então vai lá e faiz um” ai você vai e faz. “Você não
tem”, sei lá, “Insta?”, ai você vai e faz um também...
Andreia – Faz o que?
Milton – Instagram.
Andreia – Instagram.
Milton – E eu acho que é uma pressão também, mas eu acho como nós aqui, (risos) , eu acho
que parte de cada um, como você falou também que você gosta de entrar em sites de
organizações que trabalham juntas, que gosta de ler também para fazer trabalhos. Acho que
parte de cada um, assim, você que fica assim. Informação, acho que é importante isso. Claro
que eu acho que a maior parte das pessoas que a gente conhece, os jovens que usam acho que
eles não tem uma mente tão ampla para ver, sites disso para se informar mais e tal, e fica
muito resumido ali sabe? Face, no Twitter, no Instagram, sites assim. Claro que esses sites
também podem ser vistos como redes de informações grandes, mas acho que mais para
amizades, para relações interpessoais. Não tão visando olhar para fora daqui. Entendeu? Olhar
pro... Estado islâmico, para relações... Presidencialistas como na América tem bastante, eu
acho... Acho isso importante.
Marlon – Como ele disse, eu já usei muito o Facebook às vezes, para comunicação na escola
mesmo. Como um exemplo que teve uma atividade que a professora, de uma eleição, foi tipo
uma brincadeira que a gente fez na escola, que era para nota e tudo o mais, e eu usei o
Facebook para divulgar sobre a nossa chapa e tudo o mais, como se fosse um grêmio
estudantil. Só que também teve bagunça. Começaram a ter bagunça de comentarem coisas
no... na rede de comentarem coisas nada a ver, que começou a ter brincadeira. Então eu acho
que influencia para ajudar, mas também prejudica, porque seu nome tá sendo divulgado lá,
sua imagem esta sendo divulgada lá, e acaba que tipo, as pessoas zoando o que você esta
fazendo, caçoando o que você tá fazendo. Tipo as vezes é bom e as vezes também é ruim
essas coisas.
Andreia – Você acha que quando você quer tratar de um assunto que você considera mais
sério as pessoas... Não aceitam.
Marlon – É, muitas pessoas da escola mesmo começam a caçoar.
Andreia – Eu tive uma experiência, deixa eu falar isso rapidinho para vocês. Essa pesquisa
que eu mandei para vocês na... na escola foi tirada do ar. E eu tava, não tinha nem
salvo...tinha ne salvo nenhuma vez ainda, porque escreveram coisas que não podia la e a
296
Google tira. Por que disse que eu infringi as leis... Entendeu? De uso. E ai foi um trabalho
para recuperar, mas deu certo. Pode continuar.
Marlon – Ai, também falando de redes sociais que podem prejudicar com sites que oferecem
para você. Ou ate mesmo coisas de maiores de idade que já começa o... aquele... aquelas
pessoas que usam imagens e outras coisa para pegar e abusar de meninas menores, pessoas
jovens...
Andreia – Pedofilia?
Marlon – Isso, pedofilia. Muitas vezes isso prejudica também. Fora os sites... que falam para
ver, que pessoas pedem para entrar em recomendação.
Fabiana – Para mim a internet... com manifestação ajudou muito. Porque eu estudava numa
escola na Lapa em que era para ser concluído uma obra em um ano, e nesse um ano a obra
ficou parada, teve desvio de dinheiro e é uma escola muito grande. Tem mais de 300 alunos...
Muito mais. Nossa, são... é corredores e corredores. E a gente tava cansado. A gente estudava
em cimento, em pó de cimento. Era, vira e mexe todo mundo que tinha rinite ficava atacado, a
lousa era escrita, era uma parede verde em que a gente escrevia. Tava um caos a escola. E ai
os alunos cansados de ver isso, nós alunos, né, decidimos dar um jeito e... e a gente foi
colocando na internet, até que foi até TV lá. E a gente conseguiu concluir a... concluiu a obra.
A gente acab... todos os alunos tiveram que mudar de escola, para depois voltar. Pegar uma
escola, umas salas emprestadas de uma escola pra gente poder continuar tendo aula para
ninguém se prejudicar.
Andreia – E isso só se resolveu por causa da internet?
Fabiana – Nossa, deu muito certo. Todo mundo da escola começou a saber, porque é uma
escola muito grande, não é uma escola de um terceiro, é escola de 3ºA à 3ºK. é muito grande,
e de manhã, à tarde e à noite. A gente não tinha como se falar, com todo mundo. Então a
gente fez uma pagina na internet, começou cada um a chamar quem conhecia da escola, até
que a gente conseguiu. Há... Existem pessoas na escola, mas foram poucas que... que...
quiseram causar na manifestação. Foi pedido para ninguém levar bomba, ninguém levar nada.
Porque como a escola é no centro, uma escola grande, existem pessoas da Brasilandia, de
Caieiras, de Franco, de Pirituba, de... São Paulo inteiro. Tem pessoas que moram no centro e
vão estudar lá. E a gente pediu, “ó, por favou evita o máximo que tiver”. Quando a
manifestação estava quase acabando, o cara me solta uma bomba. Mas foi um cara, a gente
conseguiu resolver tudo. Mas a internet foi uma grande aliada nossa.
Andreia – Se vocês quiserem fazer perguntas um para o outro também pode, tá? Se estiver
falando de alguma coisa que interessa, que... né?
Caique – Eu acho que assim, a internet é boa e também ruim, porque é um falo livre...
Andreia – Um o que?
Caique – Um falo livre, ele... Então assim, vai da cabeça de cada um, o que você procura e o
que você... Você pode procurar coisas boas e coisas ruins. Minha mãe e... Eu e minha mãe
estávamos com um projeto que é o Natal Solidário, e já tá chegando no Brasil inteiro quase já,
e é... “faça o natal de uma criança feliz”, é bem assim, faça uma criança feliz, na internet e
isso ajuda, mas também é muito ruim, porque assim... é... Muita coisa que esta na internet
não é verdade, muita coisa você não tá ali para vivenciar você tá vendo pela internet, então
você tá vendo pela boca de outra pessoa. Você não sabe se aquela noticia é confiável. Você já
297
vai criando, é... versões, né? Da sua cabeça mesmo e já colocando, sem saber se o assunto é
verdade ou não. Então vai muito disso também. Eu acho que a internet, ela é boa e ruim. Ela...
é... junta quem tá longe e afasta que tá perto. Ela é isso. Você vê a molecada, não só de
internet, a tecnologia inteira. Pergunta para uma criança se ela sabe a tabuada. Ela não sabe,
porque tem calculadora. Pergunta para um jovem ai se ele sabe alguma coisa. Não sabe,
porque ele se baseia muito na opinião dos outros e não tem a própria dele. Isso que é muito
difícil de se achar hoje em dia.
Luan – Um exemplo como esse é... com a internet, como ele disse, é que você é muito
influenciado pelos amigos, não só pela, a mídia. A mídia te impõe isso, o dom da internet é
isso, é a mídia, ela te... ela... é uma calha que te empurra naquela direção. Se você não tem
estudo, se não tem uma outra visão um pouco mais ampla você é empurrado juntamente.
Então é assim, ela te... ela te força por um caminho. Antes a televisão era o principal
problema, hoje é a internet. Hoje a internet te empurra para vários caminhos. Então se pego
pessoas e nosso governo infelizmente é assim, ele não tem uma formação adequada.
Infelizmente muitas pessoas do 3º ano, pergunta para quem quiser que tá no 3º ano, é, quem
fez ENEM, se a gente aprendeu o que foi aplicado. Não aplica, então assim, pega umas
pessoas que tem um pouco... um grau menor de educação, é empurrada junto facilmente com
a internet. Que nem ele falou, é... sobre o problema de pedofilia, tudo isso, é o principal forte.
Pega uma criança que principalmente não tem instrução dos pais ela vai facilmente, vamos
supor, cai na conversa e acontece esse tipo de coisa. É igual (?), a internet é uma arma, você
usa ela para o bem ou para o mal. Que nem a Fabiana falou sobre... sobre a fonte que ajudou
na escola, que divulgou, isso é verdade, ela consegue aproximar muito mais as pessoas, mas o
principal problema disso é que na internet você pode colocar sua opinião sem estar de frente.
Infelizmente as pessoas hoje não tem a força de... de um movimento, de falar a verdade em
frente as pessoas. Então a internet é um jeito fácil de por sua opinião sem ninguém saber
quem você é, você pode colocar varias coisas que, inclusive o trabalho que foi banido, as
pessoas colocam o que quer e, normalmente acaba. Assim a internet é boa e é ruim, vai de
você optar pelo o que quer fazer.
Milton – Como você mesmo falou, uma informação que é... que... que seja falsa, eu leio e eu
passo ela, né? Se eu ler, beleza, mas não, eu leio, eu passo, ai ela lê, ela vai achar aquilo legal,
ela vai repassar também, e vai crescendo e crescendo e se tornando bem difícil.
Andreia – E vocês usam bastante a sala do Acessa para fazer lição? Pode continuar falando
do assunto...
(?) – Não uso muito...
Caique – Que hoje em dia, celular...
Fabiana – É, o celular com você, se você tá no meio da rua e... você que pesquisar o que
significa da onde, vai... da onde é tal animal, que espécie é, tudo que você vai saber dele ,
você coloca lá e, no celular e já tem todas as informações. Do que você quiser, aonde você
tiver você tem as informações.
Marlon – Que na verdade, ultimamente na internet você tá descobrindo o nome de ate pessoa
que você ve passando na rua.
Andreia – Rastrear?
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Marlon – Você abre aqui seu celular, de repente quer ver uma pessoa que tá do seu lado, você
clica num aplicativo novo e vai mostrando todo mundo, o nome e o numero das pessoas. Eu já
tive esse aplicativo no meu celular e descobri pessoas que... (risos) Descobri pessoas que...
Descobri até famoso. Pessoas que passam, tem famoso que não gosta de se parecer, mas com
meu celular, ele apitava quando passava por um famoso ou alguém muito conhecido. Na
verdade tive que apagar porque ficava apitando toda hora. (risos)
Luan – Um exemplo do que ele falou...
Andreia – Desculpa gente, espera um pouquinho que ele tá filmando.
Luan – A internet aproxima as pessoas de longe e afasta as ruins. Um exemplo, eu tava na
casa da minha avo uma semana atrás, a gente falando, nossa, a internet, a família acabou a
conversa. Na hora que eu tirei o celular da minha mão e reparei, tinha seis pessoas, as seis,
tinha a criança de 3 anos e pessoa de 60 anos, as seis pessoas mexendo no celular. Numa
mesa. Afasta as pessoas.
Thalita – No meu trabalho tem a copa, que é um lugar onde a gente fica...
Andreia – Tem o que?
Thalita – Copa.
Andreia – Copa.
Thalita – Ai eu cheguei assim, meus colegas estavam lá, eram cinco, os cinco estavam com o
celular assim como ele tinha falado, eu peguei e falei assim “gente, por favor, coloca o celular
porque ninguém vai ligar, se alguém ligar vai ligar no RH e vai falar”. E as vezes as pessoas
esquecem que a internet veio também... ela veio como... veio na guerra como forma de matar.
Veio as primeiras maquinas, e isso foi mudando. Por que? Porque eles inventaram... é...
dispositivos e tinha o que vender. Ai falaram também da mídia, realmente, a mídia começou a
influenciar. Ah lançou o Galaxy 5, ah, mas daqui alguns anos vai lançar um melhor. Então
todo ano eles lançam um dispositivo novo e vai falando “não, o meu tá no passado. Tem que
ser um novo, né”, a influencia. E as informações falsas. Tava vendo uma reportagem, tava
passando na semana passada, que aconteceu, tinha uma senhora que acusa... Postaram no
Facebook uma foto dela dizendo que ela era uma sequestradora de crianças. Todo mundo...
é... mais de mil pessoas, muitas, muitas, compartilharam falando “não, é a sequestradora de tal
lugar”, os vizinhos viram, viram ela perto de uma criança, acharam que era... era
sequestradora porque viram a foto no Facebook, e espancaram ela até a morte. Passou na
televisão.
Marlon – Um grande exemplo também foi o... uma imagem que já conhece, foi o que
lançaram na internet foi o mal uso do top 10. Muitas pessoas que não tinham nada a ver, como
eu mesmo, acabei entrando nesse top 10. Falando muitas coisas, muitas vezes baixarias, que
prefiro não citar e tudo o mais, mas que tinha coisas que pessoas normais como a gente assim
entrou. Como ela citou essa senhora que não tem nada a ver, a vida dela era normal, foi
espancada ate a morte por um assunto que ela não tava nem sabendo.
Thalita – Porque pegaram a foto dela e colocaram lá.
Marlon – Que significa o mau uso da internet.
299
Andreia – Acho que a Alani queria falar?
Alani – Eu queria falar sobre as noticias falsas. Inclusive lá no meu curso o professor passa
trabalhos, mas ele passa site de referencia exatamente para não pegar essas noticias falsas. Só
um comentário.
Andreia – Pode fazer mais se quiser. Tá bom, do (?) você chegou a falar?
Caique – Cheguei, cheguei.
Andreia – Então tá. Vamos partir para outro assunto então, porque esse assunto que vamos
falar agora vai voltar para a questão da internet nas redes sociais, que a Fabiana até já
começou a falar um pouquinho sobre isso, é intrigante, né? Essa é uma questão que eu acho
que tá legal para vocês responder, porque vocês já responderam o questionário que eu enviei,
tá? Então é só para ficar registrado aqui agora isso, e... o que vocês pensam a seu respeito, um
debate, né? Para vocês o que são esses movimentos sociais ou o que... Qual a diferença, se há
uma diferença para vocês entre as manifestações populares e de rua, o quê que são isso, para
que que serve, qual a importância nessa questão. Que ai depois a gente vai tratar também, né,
é... Delas pela internet.
Luan – Infelizmente isso no Brasil não existe. É... Eu participei da junior passada em Jundiaí,
da (?), tinha dez mil pessoas. De dez mil pessoas que tinham lá naquele local, certeza, menos
de mil queriam mudar. Os outros nove mil queria bagunçar. E isso foi um exemplo que todo
mundo tava contra a presidente, mas esse ano ela foi reeleita. Então, infelizmente, no Brasil,
não existe isso.
Thalita – Porque na verdade, a única manifestação, assim, que você pode dizer, no Brasil,
que foi a manifestação foi na ditadura, porque não parou só um estado, parou o país inteiro,
um... Um país inteiro em prol de uma coisa, pra cair a ditadura. As coisas que temos hoje em
dia são pessoas querendo se aparecer, pessoas que... tem pessoas que querem mudar, mas
quem não quer a... é... por exemplo, lá em São Paulo tinha um monte de gente que queria que
abaixasse o preço da passagem, mas tinha quem não queria, quem não queria atrapalhou,
quebrou banco, quebrou banca, quebrou tudo.
Luan – Um exemplo, pra você ter noção né, no Haiti, um pais que foi destruído por furacão,
mihares e milhares de pais com missão de paz, eles estão fazendo manifestações, parou o pais
inteiro, um pai que não tem estrutura, um pais que não tem educação, eles pararam por que o
presidente fez corrupção, a nossa roubou 200 milhões e ninguém para. O brasileiro,
infelizmente, ele é assim, ele quer... é... tipo, não mexe no bolso dele. É isso que eu falo para
todo mundo, ele quer, ele gosta de curtição, ele gosta de...
Thalita – O brasileiro é meio que... (?) as vezes.
Marlon – Teve uma... uma manifestação que eu participei, foi a do passe livre, foi em
Morato, essa manifestação tinha um grupo... um grupo de, tipo, duas mil pessoas que tava lá
no centro de Morato reunido na porta da estação, um grupo só queria, um grupo de 300
pessoas queria o passe livre, o resto queria fazer bagunça, tanto é que nessa... nesse
movimento quebraram a estação todinha, quebraram os ônibus e tudo o mais.
Andreia – Eu só... só queria fazer uma... só queria que vocês me falassem assim, só
deixassem claro para mim, como é vocês sabem disso, que a maioria não queria. Por que a
maioria? Será que a maioria mesmo não quer a mudança?
300
Marlon – Pelo modo de agir?
Andreia – Eu queria que vocês falassem porque, pra... pra registrar.
Maiara – Bom, é... Tenho colegas que falaram que ia se manifestar, não se “manifestar”, pela
zoeira. Que iam ir porque eles querem brincar e ficar lá no meio da bagunça e destruir as
coisas.
Andreia – E eles foram?
Maiara – Foram. Em Mairiporã teve não sei quantos, umas mil pessoas mais ou menos foram
até, é... interditar a Fernão Dias, o pedágio ali interditaram, coisa que eu acho que foi
desnecessário, até porque a Fernão Dias não faz parte, assim, do município de Mairiporã, tem,
ela liga... Terra Preta, (?), outros municípios... E eles falaram que eles tavam indo pra brincar,
não porque eles queriam que acontecesse uma melhoria na... em tudo que tava acontecendo.
Marlon – Muitos se reúnem só para ver amigos e tudo o mais, e acabam fazendo bagunça
também.
Alani – Exatamente como ele falou, na manifestação de Morato eu também fui, nisso eu
escutei pessoas falando “ai vamo lá quebrar tudo, vai ser maio zoeira, vamo ficar a noite
inteira lá” e outras, assim como eu escutei outras pessoas falando “não, a gente que, que ir
porque é o nosso direito, a gente tem que lutar pelo o que é nosso”, e também pessoas também
brincando, “ah, vou na manifestação passe livre porque não quero pagar passagem”, e descem
de ônibus.
Andreia – Essas pessoas que vocês falam são jovens?
(risos e comentário que não entendi)
Maiara – Sim, sim.
Andreia – São jovens a maioria dessas pessoas...
Maiara – Inclusive uma menina que eu conheço foi pra brincar e acabou quebrando a perna.
Ela quebrou a perna. Ela foi pular a sarjeta da pista e acabou quebrando a perna.
Marlon – Pra você ter uma ideia, muitos que foram pra... a... manifestação e tudo o mais, nem
trabalhavam, muitos eram alunos, não usavam o trem, era tudo playboyzinho, e pra que tavam
lá? Pra diminui a passagem dez centavos. Pra zoeira mesmo.
Maiara – Mas, com certeza a divulgação (?)
Andreia – Que município?
Maiara – Francisco Morato .
Andreia – Francisco Morato. É bom vocês... Porque tem vários municípios.
Maiara – foi importante, antes no Facebook tinha o que? Algumas... É... Umas cem... E
pouquinhas pessoas confirmando, eu entrei mais tarde e tinha mais de trezentas pessoas, em
dois dias tinha um monte, fechou até o viaduto da cidade, foi bacana, apesar de terem
destruído a estação.
301
Andreia – Mas pra que serve esses movimentos vocês não estão me falando, vocês tão
falando que (?), que a maioria das pessoas tá indo pra bagunçar, mas, assim, o que vocês
pensam do objetivo do movimento eu não ouvi exatamente ainda.
Rui – Ou ele vai para se manifestar, só que ele não vai com uma ideia, ele vai tipo, vamo
manifestar, sem ter uma causa. Alguns querem diminuir a passagem o ônibus, outros querem
outra coisa, não tem uma coisa em comum para as pessoas se unirem e lutar pelo o que elas
acreditam. Ai acaba fazendo o que? Acaba tipo, desinteressando, acaba uma coisa, outra
coisa, ai alguns vem pra zoar, ai começa a quebrar as coisas, destruir. Na hora que o brasileiro
começar a se unir e vir uma coisa só, as coisas vão começar a melhorar. Por exemplo, que
teve esse negocio da Dilma, que tavam (?) a Dilma, que a Dilma foi reeleita esse ano, eles
queria parar a Dilma, que a Dilma tava tendo corrupção, ai vamos votar no Aécio. Mas por
que votar no Aécio? Tipo, vai melhorar mesmo? Eles só queria a mudança, sem se importa
com pra... Pra onde mudar, sabe? Sem se importar se vai ser bom ou vai ser ruim a mudança.
Marlon – Eu também acho que, tipo, esse movimento serve também pra evolução. Evolução,
tipo... não custa nada, o passe livre é só um movimento, (?) e tudo o mais, mas com o
exemplo da nossa cidade, a gente quer revolução, a gente quer melhorias na cidade. A gente
citou só o passe livre.
Andreia – Você já meio falando mesmo, como é a interação de vocês nessas reuniões? Pode
falar pra quê que serve e como vocês interagiram, como é que vocês participaram, aonde
vocês participaram. Já pode ir falando também, tá?
Marlon – Da... da minha parte como eu participei, foi (?), fecharam o viaduto, que foi bacana,
pra nenhum carro passar, que a única passagem que tem em Morato é o viaduto.
Andreia – Que que vocês queriam nessa parte?
Marlon – A gente queria exatamente a diminuição do passe livre. Na verdade quem...
Andreia – Em Morato também?
Marlon – Dentro de Morato.
Thalita – Tava três e alguma coisa, ai baixou.
Andreia – Baixou?
Thalita – Baixou. A partir daquele movimento que pessoas serias fizeram, uma parte eram,
mas conseguimos.
Milton – Em Cajamar também teve e a passagem também foi abaixada, mas lá mostra, as
pessoas que estava lá, também estavam, eu achei... Chato, porque nos fomos ate o... pedágio
de lá ai a... pista parou e chagando lá tá uma mesma voz querendo que a passagem ficasse
barata e saindo tiro e, eu tava lá. Tinha uns... professores nossos, que eu achei isso bacana, os
próprios que falam em sala de aula estarem lá com a gente também. Que, né, falam em sala e
não esta lá, então eu acho que isso é... é chato.
302
Marlon – (?) e tudo o mais, na nossa cidade teve policiais que tavam batendo em pessoas que
não tinham nada a ver, porque teve o grupo que se manifestou, mas teve o grupo que tava ali
pra... em prol do assunto mesmo, só que apanhou, eu mesmo apanhei também e não tinha
nada a ver com o assunto. Por causa que nois fechou o... a... o... o viaduto lá, e chegaram a
policia, só que não chegaram a policia pacificamente, chegaram batendo agredindo, tudo o
mais, e tipo, nessa parte que eu me senti prejudicado em querer ajudar e tudo o mais. Só
queria citar isso mesmo.
Caique – Eu sei que isso ai, que eu tava na porta da minha casa a policia desceu o escadão e
foi batendo em todo mundo.
Andreia – Em qual cidade?
Caique – Mairiporã.
Andreia – Mairiporã.
Caique – Mairiporã. Lá na Fernão Dias, perto da Fernão Dias. Eu tava na porta da minha
casa, fui na manifestação e voltei, tava na porta da minha casa, falando com meu primo, a
policia chegou, não era de lá, a policia não era de lá, chegou e começou a bater em todo
mundo, ai eu falei “não, eu moro aqui”, ai não acreditou e queria me levar pra outro lugar, ai
eu falei “não, não vou sair daqui”, ai eu gritei pro meu pai, que meu pai tava na porta, ai ele “é
meu filho”, “ah, tem certeza que é seu filho?”, “como assim se eu tenho certeza se é meu
filho? É meu filho, caramba”. Ia, ia chegar batendo em todo mundo, entendeu?
Luan – Na maior parte eu participei da manifestação de Jundiaí, foi a maior que teve, foi
numa terça-feira, era... a... era a manifestação só pra derrubar a poli... a corrupção, tentar
chamar um pouco a atenção dos políticos pra tentar mudar alguma coisa, só que assim, não
mudou nada. É, as pessoas, que nem muitos falaram aqui, foram porque queria brincar, fazer
zoeira, encontrar amigo, muitos bancos privados, agencias de carros privadas foram
quebradas sendo que eles não tem nada a ver, algumas dessas pessoas estavam ate para
visitação, só que o povo ele extrapola. Um exemplo são os black blocks, que aquilo ali não é
uma manifestação, aquilo é vandalismo. Os black blocks foi banido da Europa porque é
vandalismo. Por que aqui não é? Então assim, a principal... é... é... é, que você pediu, o
exemplo são eles. E assim, a ação da policia, em muitos casos, é violenta, só que infelizmente,
vamos dizer assim, que nem assim, como ele falou, tinha mil no... no viaduto, quantos
estavam ali realmente para manifestar? Infelizmente as pessoas que fazem coisas erradas
fazem a policia... é... ter uma ação violenta e muitas pessoas inocentes pagam por isso. Eu não
culpo em si a policia, e sim os que fazem as coisas erradas, porque ali não da pra saber quem
é quem. Não tem como você ser pacifico numa coisa onde muitos não são pacíficos. Você tem
que bater de igual pra igual, não existe como isso, você tentar... combater uma coisa
conversando, que eles não fazem isso. Esses que eu falo são aquelas pessoas que vão pra... os
black blocks, as pessoas que vão pra destruir patrimônio publico e não pra melhorar.
Maiara – Em Mairiporã eles queimaram um ônibus e eu... Tenho praticamente certeza de
quem fez isso não usa o ônibus, mas quem usa (alguém pergunta alguma coisa), não conheço,
mas quem usa sabe o quanto é difícil, já não tem ônibus, e ainda vai e destrói. Entendeu? Eu
uso o ônibus todo dia, já é... uma bosta, perdão da palavra, é muito ruim o... transporte
publico, e ai já vai e faz esse tipo de coisa? Não tem nexo. E tem gente que só vai pra brincar
mesmo.
303
Marlon – Citando ali o que ela falou, que o transporte publico é uma... “bosta”, entre aspas,
teve uma vez que eu estava... Trabalhava, pegava trem e tudo o mais, eu estava na Barra
Funda, e o trem quebrou. Na hora que o trem quebrou parou tudo, parou de Barra Funda até
Morato. Imagina a pessoa que morava na Barra Funda, Perus, Caieiras e tudo o mais, parou
tudo. Na hora que parou tudo só tinha um meio de transporte, que são os ônibus. E virou
bagunça. Começou a quebrarem os ônibus lá, come... teve um cara que falou que ia roubar o
ônibus pra levar o pessoal. Olha a coisa como é que tava.
Andreia – Deixa eu perguntar uma coisa pra vocês. Teve alguém, algum fato, uma pessoa, sei
lá, uma noticia... que assim, pode ter sido uma pessoa, um fato, al... Alguma coisa que vocês
leram, um professor, teve alguém que influenciou vocês a participarem desses movimentos?
(falam todos ao mesmo tempo) Fala um de cada vez, né? Eu queria que vocês falassem.
Caique – Meu pai sempre participou de manifestação, ai ele falou “não, tem que ir, e não sei
o que”, só que assim, como falou ai, mil, setecentos tavam pra zoar, é assim, entendeu? Isso
que é errado no Brasil. Ai a gente vê na televisão as manifestações, nossa, ai a mídia mostra
um lado da manifestação e não mostra o outro, a baderna, mostra só a baderna, mas tinha
gente ali que tava ali batendo no peito, falando, cantando o hino, reivindicando uma coisa,
tava ali. Mas a mídia mostra só um lado.
Andreia – Você tava lá?
Caique – Tava lá. Fui acho que em... três, em três manifestações. Na Paulista..
Andreia – O que que você sentiu?
Caique – Nossa, uma coisa que... Lagrima no olho, na hora que todo mundo começa a bater
no peito e cantar o hino do Brasil. Uma coisa que arrepia de escutar. Por isso que eu criei
minhas musicas. Foi em base nisso.
Andreia – Você disse que foi em três, qual que foi? Na Paulista...
Caique – Fui na Paulista, fui em Mairiporã e fui em uma que teve em Atibaia.
Andreia – E uma pessoa que te influenciou bastante foi seu pai?
Caique – Foi meu pai, meu pai.
Andreia – Não teve ninguém na escola...?
Caique – Não, na escola não. Na escola era um bando de vagabundos, que estavam querendo
zoar.
Andreia – Não são os professores que ele tá falando.
(risos)
Caique – Não, foram só os alunos que falam assim, “Ah, vamo descer”, escutei dois
moleques falando assim, “vamo descer pra tacar pedra na policia”. Entendeu? Como ele falou,
a policia vai ser errada? A policia não é errada. A policia não é errada.
Marlon – eu participei de um grupo pra ajudar e acabei apanhando, depois disso eu nunca
mais...
304
Andreia – Teve alguém que te influenciou pra essa participação?
Marlon – Teve. Quem me influenciou na verdade foi...
Andreia – ou (?), as vezes você foi porque você quis.
Marlon – foi aquele... foi aquele... é... nois já tava velho, fora que, nessa que eu participei, do
passe livre, eu trabalhava, você acho que não, mas dez centavos influencia muito no seu... isso
influencia muito no seu pagamento e tudo o mais. Ai eu falei “não, vamo lá reivindicar, fazer
melhoria e tudo o mais”, só que eu fui com um grupo de amigos que queria mesmo, e aquele
grupo de amigos apanhou junto comigo, nois pensou “nois não vai mais, deixa lá a baderna,
deixa lá a bagunça”, porque o Brasil, o Brasil não sabe melhorar, o Brasil não sabe melhorar,
o Brasil só sabe piorar por causa dos que fazem bagunça. Dos que quebram tudo.
Alani – No meu caso não teve influencia, foi por que eu quis mesmo. Eu vi “ah, tá na hora de
abrir a boca e fazer alguma coisa, porque do jeito que tá não da”, porque eu também pego
ônibus todos os dias, pego dois ônibus para ir pro meu curso, e depois... ia, né, pra escola, e
achei um absurdo, tipo “ah, vocês não reclamam porque não sai do bolso de vocês, vocês não
tem que ralar tudo o dinheiro pra conseguir esses dez centavos”.
Thalita – É que... o... O fato mesmo é que o brasileiro só vai atrás do que ele quer quando não
tem mais escapatória, quando já tá fechado, quando... não tem “nada” pra fazer, ai é quando
ele vai atrás.
Andreia – O que que te fez participar...
Thalita – Assim como ele falou, eu trabalho, eu sei o que é usar o transporte publico, eu sei o
que é faltar...
Andreia – Mas não teve ninguém que falou “Thalita, vai lá, você tem os seus direitos, vai lá,
não sei o que...” com aquelas outras informações?
Thalita – Sempre tem um educador, vê... é o que você vê na televisão, é o que omitem, mas
você consegue ver além, vai de você. Se for uma coisa séria, tem que vir de você. Você tem
que chegar e falar “não, eu vou ir, e tem que ser assim, porque é o certo”.
Marlon – Que nem ela falou que...
Andreia – Deixa ela falar, que ela tinha...
Maiara – Então, minha influencia foi dos meus professores, dois em especial. Eles falaram
“você tem os seus direitos” e eles foram meus maiores influenciadores. E eu fui uma vez em
Mairiporã, e eu vi a baderna que foi e a partir daquele momento eu não fui mais, só que eu me
manifestei pela rede social.
Fabiana – No meu caso, como foi a manifestação na escola, eu... eu tava vivendo aquilo a
quase um ano já, vivendo... no pó de cimento, estudando... vendo a matéria escrita na parede...
mesmo assim os professores estavam lá todo dia, mesmo estando... um... local de trabalho em
condições péssimas, e a gente não tinha... a gente não tinha merenda, não tinha, não tinha
comida simplesmente, se você tinha dinheiro você pegava e ia comprar na cantina, se não
você ia ficar com fome ou levava lanche. A gente viveu mais de um ano assim.
305
Andreia – Escola publica?
Fabiana – Publica. (?) Barreto na Lapa. E... A gente... viveu isso. Então chegou uma hora que
os alunos já... já tava, meu, a gente não tem um banheiro legal, a gente não tem um espelho, a
gente não tem merenda pra comer, tem galera lá desde que tem uma renda ate boa e tem gente
que vai pra escola pra comer, como é uma escola muito grande, como eu falei, com muitos
terceiros, com muitos segundos, manhã tarde e noite, e é só ensino médio lá, não tem... ensino
fundamental. E a gente vivendo aquilo a gente falou “meu, vamo mudar isso aqui”, e com a
ajuda de professores, os professores... lá sempre foram muito guerreiros, ainda mais... pela
condição que era o... a escola, então todo mundo ajudou. Os professores falavam “a gente não
pode participar da manifestação, porque a gente trabalha aqui, vocês alu, e sempre acham que
professor é vagabundo, que professor só quer zona, que não sei o que, então vocês são os
alunos, vocês têm que ir pra fora, vocês tem voz pra mudar a escola pra, pra começar a
construir e reformar essa escola”. E foi nisso que a gente começou a crescer, vendo, além da
gente não aguentar mais viver, viver naquele lugar, os professores influenciaram muito
mesmo, mesmo, mesmo.
Andreia – Armando, né?
Armando – Isso. Inclusive na nossa escola, vários professores nos influenciaram, lá, nós
temos um professor lá, de biologia, o Chugar, ele já é de idade, já é um senhor, e na época da
ditadura militar ele participou, como... soldado do exercito, né? Era do exercito, ele era do
exercito e ele participou muito.
Milton – E dos caras pintadas também, e nessa que teve também, que ele tava lá comigo.
Armando – Nessa que teve também, e o professor de sociologia também.
Andreia – Como é que é? Eu não entendi. O professor participou com você?
Milton – Foi.
Andreia – Dos Caras Pintadas?
Milton – Não, lá na época dele.
Andreia – É, que eu ia falar “você? Nossa!”.
Milton – Nessa que teve ano passado comigo também, foi bem presente, ele e o... Alcir, que é
o de socio também, eles estavam lá. Eles que pediram para a gente fazer cartaz, pra a gente
fazer algumas (?)
Armando – A gente segurou cartaz o dia inteiro lá. Inclusive eles... eles... é... (?) indicar até
pra nossa cidade. Porque lá em Cajamar, por exemplo, ate a uns tempos tava a... eleição, ai o
pessoal pegou, estavam todos reclamando das condições da cidade, porque não tinha escola,
não tem um ensino de qualidade e tudo, mas foram lá e reelegeram o prefeito, colocaram o
prefeito novamente, ai um prefeito que nunca fez nada, foram lá e colocaram ele de novo. Ai
ele veio com promessa de que ia construir um hospital, de que o hospital até... 2015? Até (?)
de 2015 iria estar pronto, e o hospital não sair nem do alicerce. E agora nós estamos sem
prefeito, resumindo ele foi caçado, foi descoberto, e nós estamos sem prefeito.
306
Milton – É isso que nos... rev... revolta. Como você mesmo falou da... Dilma. Todo mundo
reclamou dela, no ano passado, ai veio esse ano e reelege. Enfim, cada um é cada um. É...
igual pessoas que votam em branco, se eu voto em branco, enfim, eu votei, se você vota e
aquela pessoa é boa e faz com que o país cresça, eu vou me... me privilegiar daquilo também,
sen... sendo que o.. que o meu voto foi em branco. Entende? Então é... é um impasse isso.
Andreia – Eu acho que a Fabiana vai falar, e depois eu já queria que vocês já emendassem
falando qual a importância das redes, da internet nesse processo, nesse processo de
movimento geral e no processo do... da... da manifestação que vocês participaram, tá?
Marlon – Uma coisa que eu queria falar...
Andreia – Deixa só ela, deixa só falar, que já...
Fabiana – O... o que eu percebi nesse ano das eleições, ainda mais pela parte da minha
família ainda, eu falei, eu tava numa roda e falei “ah, eai, em quem vocês vão votar?”, “ah...”
Andreia – A gente vai direto, tá gente? Ou vocês querem parar? É isso que ele tá me
perguntando. Pode ir direto? Tá acabando as questões já.
Fabiana – Pode ir direto. Eu pergun, eu perguntei “eai? Em quem vocês vão votar?”, “ah, eu
vou votar no Aécio, porque a Dilma não sei o que, porque a Dilma é ruim, não sei o que”, eu
falei “mas... é... e os outros partidos? Partidos novos? Partido Verde, PSol...? ah... pessoal que
tem a mente aberta o suficiente pra mudar o Brasil?”, ai meu... meu pai, eu ouvi isso do meu
pai “como é que eu vou votar em alguém que eu não conheço?”, ai eu falei “pai, como é que
você vai votar em alguém que você conhece e que faz merda no governo? Não vai dar
oportunidade pra outras pessoas que tem ideia muito melhor?”. O brasileiro tem medo de
mudança, tem medo de “ah, eu to acomodado aqui...”
(?) – “tá bom aqui”.
Fabiana – É, “não vou correr o risco”.
Andreia – Mas já vamos entrar na questão das... (?). Vamos entrar nessa questão da... da
importância das redes, da internet nesse processo? O processo no geral, que vocês
conheceram, que vocês viram, e o processo que vocês tiveram atuando, que vocês
participaram. Deixa só, acho que o Marlon começou a falar e já vai pro Luan.
Marlon – Eu só queria citar, como ele falou que muitos reclamaram da Dilma e tudo o mais,
mas teve um grande exemplo e um professor meu me contou, que é um professor que ele é
revolucionário também na escola, ele me contou que chegou na época da Copa, que a Dilma
que... desembolsou e tudo o mais, na época da copa chegou na TV um certo jogador, um certo
ex-jogador, e perguntou pro povo o que eles preferiam, se preferiam hospital ou preferiam a
Copa, e muitos que votaram na hora é Copa, é Copa, é Copa, e depois que acabou a Copa
perguntaram “cadê o hospital?”, ai o... ex-jogador foi e respondeu, em redes sociais e tudo o
mais, “não, vocês pediram Copa, não pediu...” certo, a Dilma também estava com ele e
respondeu, “vocês pediram Copa, não pediram hospital, a gente te demo a Copa, agora se vira
com a Copa.”, falaram isso. Certo jogador ai...
Luan – Um exemplo... é... como uma rede social que ajudou, quem, todo mundo abre todo
dia o Facebook acredito, quem viu o Facebook ate as... as eleições tava crente que o... Aécio
ia ganhar. A campanha politica dele foi, eu acredito, mais da metade... na internet. Então
assim, a internet, ele usou muito como arma, ele abusou e usou, ele usou e abusou...
307
Andreia – Mas e as redes pras manifestações?
Luan – Se não fosse as redes não existia as manifestações, porque não tem como o povo se
comunicar.
Andreia – Mas e a... vocês não falaram da ditadura, da (?), não tinha redes sociais ainda.
Então vamos falar hoje...
Luan – Só que o povo era muito mais junto que hoje.
Fabiana – Hoje o pessoal é acomodado.
Luan – Comandado, influenciado.
Fabiana – Influenciado de mais.
Luan – É muito fácil.
Thalita – É, as pessoas publicam no Facebook, eu lembro que isso aconteceu bastante,
colocavam fotos da Dilma e piadinhas criticando o governo dela, bele, é... beleza, tinha mais
de trinta mil curtidas, mas era isso que faziam.
Andreia – Tinha mais de trinta mil...?
Thalita – Curtidas, na... na foto, na publicação. Mas disso não passava, era só a curtida que a
pessoa faz. Da sua casa curtia, mas ir lá e ir contra não vai. Por exemplo, nosso município, é...
muita gente criticava a Dilma, mas véspera de eleição, um mês até, tava todo vermelho de PT,
tinha PT aqui, PT lá, PT não sei que lá, eu falei “nossa gente, mas eu achei que ninguém
gostava.”, e tava tudo vermelho.
Marlon – Uma... um... meio de comunicação da rede social, que eu... que eu fiquei sabendo
que ia ter o dia tal, tudo o mais do passe livre, foi pelo WhatsApp, que é aquela mensagem
que um vai comunicando pro outro, vai repassando pra todo mundo, assim foi um meio de
comunicação que todo mundo de Morato ficou sabendo, que foi o WhatsApp, que foi
mensagem que vai pra um, que da um vai pro outro, pro outro e pro outro, que quando vai
saber tá todo mundo... envolvido.
Andreia – Vocês ficaram sabendo da manifestação que vocês participaram pelo meio da
internet? Ou por outros?
Maioria – Sim, sim... internet...
Andreia – Como é que foi isso?
Luan – Essa (?) que você perguntou é (?) na época de sessenta e, é... época da ditadura,
porque teve, é... manifestação se não tinha internet? Porque as pessoas queria mudar, hoje as
pessoas não querem mudar, só vai se a mensagem chega nela, nas pessoas. Então se a
mensagem chegar nele, ele talvez ele vá se manifestar, mas é que nem ela falou, esse
“manifesto” com curtida no Facebook, isso não muda o Brasil.
Andreia – Luan, você... Participou do movimento por meio da internet, das redes sociais, e
amigos próximos?(?)
308
Luan – Internet e amigos também.
Andreia – Amigos também?
Luan – Que me avisaram, aí eu vi na internet também e resolvi participar.
Andreia – E você passou pra frente também?
Luan – Passei pra frente também. É, muita gente, muitos amigos meus, uns cinco, dez amigos
eu fiz participar da manifestação por isso, “ah não, vamo lá”, a vontade, a sebe que todos nós
temos de querer mudar.
Andreia – E alguma coisa disso aconteceu na sala do acessa?
Luan – Não.
Andreia – Pode falar gente, eu...(todos falam ao mesmo tempo e não da pra entender
ninguém.) não... você... é... vocês estavam lá utilizando os computadores da sala do acessa,
vocês ficaram sabendo...
Geral – Não...
Andreia – Ficaram usando o celular de vocês mesmo...
(falação geral, incompreensível, pra mim...)
Andreia – Não foi pela escola?
Geral – Não.
Andreia – Tá bom. Pra que foi isso? (?)
Luan – Que até, infelizmente essa pergunta do Acessa, que infelizmente os professores tem
uma posição no governo que eles não podem em si colocar... a opinião deles, forçar o
conhecimento de uma manifestação, que assim, o Acessa não pode ser usa, assim como na
época das eleições que teve poucas vezes que nós fomos pro Acessa, quando era “proibido”
ficar vendo Facebook e essas coisas.
Andreia – Ah, é?
Fabiana – Eu lembro que os professores chegavam e falavam “olha, a gente não pode falar,
mas, vai, pode ir, cês tem que ir, a gente... só que não fala pra ninguém que eu to te falando
pra você ir! Que a gente não pode” tipo “influenciar”, por exemplo se a diretora ficar sabendo
que professor tá influenciando uma manifestação contra... a Dilma, ou contra qualquer coisa
do governo que pode tá, pra gente tá errado...
Andreia – Acho que você deixou claro, né Fabiana, que a internet teve... teve... uma... é.. foi
fundamental na manifestação de vocês, ne?
Fabiana – Foi, foi.
Andreia – Você deixou isso claro pra mim quando você falou que foi por meio dela que os
alunos se intera... tiveram uma interação, né? Foi um diferencial. E você, Caique?
309
Caique – Também, porque fui eu que organizei a pagina, foi (?) pra todo mundo.
Andreia – Você organizou a pagina?
Caique – É.
Andreia – Como foi isso? Conta pra gente.
Caique – Eu, eu criei a... pagina, eu e uns amigos meus, pra chamar todo mundo, e a gente
chamou, só que assim, na internet, vai vinte mil pessoas que marcaram presença na internet,
na realidade não tinha mil ali, entendeu? A gente organizou vinte mil confirmou, nossa, a
gente tava crente que... ia tá... ia... ia ter muita gente, na hora, não tinha muita gente,
entendeu? Então, o pessoal muito acomodado, dentro de casa, “ah”, tem o medo de tomar um
tiro.
Andreia – Mas foi por meio da rede que você conseguiu?
Caique – Por meio da rede social. WhatsApp, Facebook, Tumblr, tudo.
Andreia – E o Rui?
Rui – Também. Facebook, (?) poderiam ir no evento.
Andreia – Você ficou sabendo e você também... divulgou?
Rui – Isso, eu fiquei sabendo, isso, passei. Passei pros meus amigos.
Andreia – Só... só pra (?). E a Maiara?
Maiara – Também. Só por rede social. E eu... repassei.
Andreia – Como é... e como foi isso pra vocês? Foi assim...
Maiara – Foi... é... impactante na realidade, né? A gente vê... alguém começar lá... lá... lá de
baixo, começar alguma coisa e ir crescendo, crescendo e crescendo, virar alguma coisa que foi
grande, não foi pequena, até porque, a da Paulista foi... enorme, foi bastante gente, e é
impactante.
Luan – Um exemplo que... da rede social pra manifestações, na Síria, quatro anos atrás
quando eles começaram, o presidente cortou a internet. É... por que? Pra evitar as
manifestações. Que era a principal for... é... modo de o povo marcar as manifestações e ir.
Então, assim, a internet é a principal fonte pra revolucionar.
Thalita – É, só uma observação que ele falou que na Síria cortaram a internet, aqui no Brasil
tinha algumas comunidades e paginas que foram tiradas também, que eram como, meios de
reunir grupos pras manifestações.
Andreia – Mas você participou também por meio da internet?
Thalita – Pela internet. Que foi, que nem eu falei, eu entrei de manha tava um numero, entrei
a tarde e já tava quase a cidade inteira.
Andreia – E o Marlon?
310
Marlon – Também. Também foi pela internet.
Andreia – Também foi lá em Morato?
Marlon – Como eu falei, foi em Morato.
Eriberto – Pode falar?
Andreia – Pode.
Eriberto – Não, é porque tem um MC, que ele tem uma musica, pode falar o nome da
musica?
Andreia – Pode.
Eriberto – Que, o nome da musica é...
Andreia – Você vai ter que dar a autorização da musica pra mim.
(risos)
Eriberto – “Isso é Brasil” é o nome da musica, que... que ele fez, é um funk, tava, ai fala
“nossa, isso é funk?”, é “Isso é Brasil”, que foi exatamente na época que teve a... as
paralisações do ano passado e tudo o mais, que o governo mandou tirar o vídeo do Youtube,
quando mandou tirar, ele tinha uma pagina no Facebook, mandou tirar a pagina dele do
Facebook, mandaram tirar tudo, e ai um amigo dele já foi e colocou que o governo, que veio a
liminar, que o governo tirou, sabe, por exemplo, eu ouvi a musica, gostei na hora eu já baixei,
porque eu vi assim que colocaram nas redes sociais, quando eu baixei eu já tinha, mas no
outro dia, assim, no outro dia, minutos depois, as pessoas já tinham pego a bandeira do Brasil
na internet, em qualquer foto do Google, colocaram a... o funk e ai colocaram novamente no
Youtube, só que isso, foram quinze ou vinte mil pessoas que colocaram de uma vez, como
que o governo ia controlar tudo isso? Até que ele conseguiu colocar novamente o... a musica
na mídia, e ai todo mundo agora (colocam a musica)... Exatamente essa. Que... ai ele
conseguiu colocar a musica de volta na mídia, inclusive teve pra alguns alunos, acho que
chegou, eu mostrei pra vocês, né? Que... e nós estávamos falando sobre isso e eles “ah, mas
eu não conheço, eu não conheço”, ai eu falei “não, mas é um funk”, “nossa, mas é funk?
Como assim é um funk?” por causa que, isso a gente já sabe hoje como tá o funk hoje em dia,
e ai eu mostrei pra eles, “po, mas é uma coisa diferente”, e ele incentiva mesmo ir pra... pra...
pras ruas, ele manda mesmo, “vá pra rua”, é... a mensagem, a mensagem subliminar é isso, se
você quer, luta pelo seu direito. Tem até uma parte que eles falam, “é melhor a gente parar,
porque se não vão apagar a gente”, que o... o cara fala, é melhor a gente parar de... de criticar
porque se não apaga todo mundo.
Andreia – Mas esse exemplo mexe com...
Eriberto – Exatamente.
Andreia – Deixa só a Alani falar também, que eu já passo pra vocês três. Como é que foi, a
sua participação? Foi por meio das redes também?
Alani – Foi, pelo Facebook também. Mandaram lá um evento, primeiro eu fiquei tipo, “ãhn?
Como assim? Em Morato?, fiquei surpresa, né, que nunca aconteceu nada em Morato.
311
Andreia – Ficou surpresa?
Alani – Aí, falei assim, “tá bom então, né?”, ai eu coloquei lá, marquei presença. Ai nesse dia
eu fui trabalhar, quando eu voltei tava acontecendo mesmo, ai já aproveitei o embalo e fiquei
por lá mesmo.
Andreia – Porque você ficou, porque você queria também mudar essa questão que você disse.
Vocês divulgaram?
Alani – Também. Sim.
Marlon – Como eu falei pra você, passaram pra mim no WhatsApp, e pediram para sair
repassando. E nisso de sair repassando foi, voltou pra mim umas dez vezes a mesma
mensagem. E eu tipo, “já to cansado de repassar”, mas o WhatsApp ajudou muito a repassar.
Imagine um, ai um passa pra ela, e dois passa pra mais dois, quatro.
Andreia – Esse foi mais especifico pelo WhatsApp, não foi pelas redes sociais?
Marlon – Pelas redes sociais também. Mesmo que ela... viu pelo Facebook, eu também vi,
curti, falei que ia tá presente lá e tudo o mais.
Andreia – Legal. Diferente em Morato, né? (?). E lá? Como é que foi? Com vocês?
Cleverson – Então, em Cajamar, pelo menos da minha parte, quando partiu a... a iniciativa de
participar de... dos movimentos, foi que eu aluguei um vídeo de uma jovem de dezesseis,
dezessete anos, e ela... é, expondo o que ela achava da... da nossa sociedade atual, né,
expondo a mídia do Brasil também, é... citava a Globo, citava varias emissoras, e... o atual
sistema... politico. Eu me interessei muito por isso, também fiquei assustado, porque, ate
então eu só... só sabia de manifestações e essas coisas em outros países, né, em
reivindicações, e também na ditadura, então achei um baque, né, fiquei com medo ate, de... de
guerra, de alguma coisa, guerra civil, e... assim, é... eu quis participar. Então teve a primeira
manifestação lá, que a gente parou, que pararam o pedágio e eu não pude ir por causa do meu
pai. O meu pai acabou sendo influenciado pela TV, então ele viu só a parte, né, da... da
baderna, do quebra pau, então ele virou pra mim e falou “cê não vai, cê não vai, porque... é...
são um bando de vagabundo.”, ai eu fiquei quieto, né, porque é meu pai, e... olhei todo mundo
passando assim, e eu achei uma coisa linda, porque eram varias, muitas pessoas mesmo, e eu
achei muito lindo isso. E eu queria muito tá lá, mas eu não podia por causa do meu pai. Ai
teve uma segunda manifestação lá, muito menor, né, mas eu pude participar,
escondido,(risos), mas eu fui. Então foi muito bom, me senti realizado, e é isso.
Andreia – Mas você soube pelo meio da rede?
Cleverson – Uhum, isso.
Andreia – Você divulgou isso?
Cleverson – Divulguei o vídeo que eu tinha visto, da menina, é que eu não lembro o nome
dela.
312
Andreia – Mas pra participar dessas manifestações? Você soube pela internet também? E foi
divulgado?
Cleverson – Pelo Facebook, pelo Facebook.
Andreia – E você Milton?
Milton – Pelo Facebook também. E pela escola também.
Andreia – Pela escola também. Conversando na escola. Então vocês tem essa conversa dentro
da escola?
Milton – Tem. É bem ampla, é bem ampla. Ou como no seu caso o professor falava “não, vai
(?)”, o nosso falava “vai mesmo”.
Andreia – Que bom que vocês falaram tão angustiado, parecia(?)
Armando – Ah, fizemos, nos ajudamos professor, professor ficou... umas duas aulas
montando cartazes, ajudando, instruindo a gente a colocar cartazes, tudo, no Facebook...
Andreia – Vocês não vão falar isso, hein. (?)
Armando – E é uma coisa que é engraçada porque na época da ditadura, as pessoas quando
elas tinham... é... Por exemplo... as pessoas que mais, é... expunham seu ponto de vista do
Brasil naquela época eram artistas, músicos, faziam teatro, e essas pessoas foram as que mais
sofreram, inclusive tem... nós apresentamos um trabalho lá na nossa escola, pouco antes da
eleição pra presidência, com a musica do... Chico Buarque, a musica Cálice, e essa musica, na
época, ela foi tirada do ar, e agora as coisas se repetem, porque, por exemplo, ano passado,
colocaram vídeos, postaram, é... criaram musicas, por exemplo esse funk, e eles tentaram tirar
do mesmo jeito. Pra você ver como é que é... as pessoas erram nessa parte. Permitem ser
colocadas varias outras coisas, publicadas varias outras coisas, com vários outros assuntos que
prejudicam a... prejudicam a população, prejudicam, como por exemplo o consumismo, isso
pode ser colocado, isso pode ser exposto, agora a... pessoa quando vai reivindicar a questão
do futuro da... do seu pais, do... do futuro da sua nação ela não pode, ela é vetada, ela é mau
compreendida. Então nessa questão, é... assim, é revoltante, e lá na nossa escola, por exemplo,
por meios do... nós vemos direto pelo Facebook o pessoal querendo (?), o pessoal querendo
vários movimentos par poder mostrar isso de uma maneira consciente e mudar esse... esse
ponto de vista que as pessoas tinham. Que iam pras ruas só pra fazer baderna, pra fazer
bagunça essas coisas.
Milton – E os nossos pais também, “ah não, não vai , não vai”, mas a gente foi.
Andreia – Perguntas?
José (professor) – Uma colocação.
Andreia – Uma provocação?
José (professor) – Uma colocação.
313
Andreia – Ah, uma colocação.
(risos)
José (professor) – Então, é... muito legal ouvir vocês falando essas coisas, eu costumo assim,
no meu conceito filosófico de vida, é... a historia sempre se repete. Os movimentos são
cíclicos, não é verdade? É... por outro lado, quando se fala em rede social pra nós, né, nós
custamos a nos adaptar a essa situação. Eu até brinquei com os meus alunos quando cheguei
aqui, que a primeira coisa que eles tiram é o celular, e eu esqueço o celular dentro do carro.
Não é verdade? E... mas eu noto o seguinte, cada um, nós vivemos cada um uma realidade
aqui, Cajamar, Mairiporã, Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, e... qual o período de
vocês correlação, será que não foi um... quase um modismo? “ah, já que fulano esta fazendo
vou fazer também”. Ai a rede social cria uma... uma teia... né, uma teia assim, ó, contamina
todo mundo naquele momento de querer ser revolucionário. Da, sendo que nós sabemos
exatamente, acho que vocês é (?) de vocês jovens, tá, vocês tem que buscar a... a diferença.
Vocês tem que combater o que é errado, vocês tem que combater o mal com pessoa que chega
lá querendo te enganar.
Andreia – Já que você entrou na conversa vou perguntar, (?), vocês conversaram essas coisas
com seus alunos?
José (professor) – Então, Andreia, eu conversei quando eu era coordenador na outra escola,
sim, mas com eles não, que eu to com eles a... a um ano, né? Mas no outro eu... eu... eu.. eu...
Andreia – É que foi o ano passado o ápice, né?
José (professor) – É, no outro eu fui um cara que eu entrei lá, peguei cartolina, dei pincel,
mandei o pessoal fazer mesmo. E fui crucificado por isso pela gestão da escola. Ta
entendendo? Já fui crucificado mesmo, tanto que não estou mais lá. Então, são essas situações
na vida da gente que vocês, enquanto jovens tem que refletir. Eu combatia diretamente com
alunos inteligentes que iam pra manifestação com a cara escondida. Eu falei “por que que
você não... perai, vocês são jovens, por que você tem que esconder a sua face? Você esconde
a sua face quando quer fazer alguma coisa errada.” Não é verdade? Então, é... é um
pensamento que vocês... nós já fomos jovens como vocês, tá? Movimento das diretas, vocês
estão falando muito de ditadura, de... os artistas. Como é que hoje vocês tem liberdade de
expressão. Isso aqui é uma liberdade de expressão. Poder manifestar diante do outro a minha
opinião diante de uma situação. Imagina você, jovem, não ter esse direito.
Andreia – Pegando esse gancho seu, José, eu vou fazer (?), o Caique já expos, era uma
pergunta que eu ia fazer, (?), né, já pegando esse gancho, é... os pai de vocês, né, participa ou
já participaram de algum movimento? Alguém da família de vocês já participaram?(?).
(falação que não entendi)
Caique – (?) ninguém é alienado a televisão, não tem essa coisa, então... é... todos... todos os
laços, não é uma coisa que fica centrada num lado só. Então meu pai é (?), então ele
participou. Minha mãe também, ela... era ativista, ela é... cidadã em três cidades já, tem o
titulo, entendeu? E vai passando isso pros filhos, entendeu? Pena que é... os outros meus
irmãos não quiseram ser a mesma coisa. Eles não... não vão em manifestação, são
homologados(?). Entendeu?
314
Andreia – Seus irmãos não?
Caique – Não, meus irmãos não.
Andreia – Só você?
Caique – Só eu.
Andreia – E o Rui?
Rui – Então, meu pai... é bem... ele não é muito alienado também, como o pai dele, vai pra
manifestação. Minha mãe nem tanto. Minha mãe já é mais... na dela, mais acomodada. Mas
meu pai me incentivou bastante a ir, a fazer, tentar, mudar. E funcionou.
Andreia – E a Maiara?
Maiara – Meus pais de fato não gostam, eles acham que é muita bandaria que tem ai hoje,
mas eles me influenciam a, assim, “você faz o que você achar melhor. Eu não gosto que você
faça, mas você faz o que achar melhor, o que você tem vontade de fazer”.
Andreia – Não tem nenhum parente...?
Maiara – Minha irmã.
Andreia – Sua irmã? Ela incentiva.
Maiara – Minha irmã, ela incentiva muito. Ela é dez anos mais velha que eu e a gente tem
praticamente a mesma cabeça.
Andreia – E ela participa?
Maiara – Participa. Participa junto comigo.
Andreia – E Alani?
Alani – A minha mãe vê tudo pelo lado ruim, que passa na televisão, “ai eles tão quebrando
tudo, não sei quem morreu, não sei quem se machucou”, então ela fica meio assim, só que ela
também tem uma cabeça aberta, ela fala “não, se você quer, você vai atrás.” Tá certo. Meu
pai, ele... participa também, só que não é aquela coisa, não. A minha irmã... tanto faz pra ela.
Marlon – Meu pai, ele é... aquele acomodado. Ele não tá nem ai pra para nada, ele só quer
saber do dele. Agora a minha mãe já é mais ou menos uma vida louca da vida. (risos), (?) ela
quer, ela quer, ela quer, é o momento dela, ela vai ate o fim. Só que como eu falei pra minha
mãe, eu falei “mãe, a senhora fica em casa porque você não consegue (?) bagunça”. Agora
imagina minha mãe vendo eu apanhar de um policial, como que ela ia (?) naquele momento.
Ai eu particularmente falei “mãe, fica em casa, deixa eu vou.” Mas minha mãe sempre
apoiou. Meus irmãos são menores, pequenos, então eles não saem muito pra essas coisas.
Thalita – Os meus pais particularmente não gostam. Eles querem ficar longe de qualquer
manifesto. Mas como eles sabem que eu gosto eles falam “eu não indicam, eu não isso, mas
se é o que você quer, você faz o que achar mais... melhor.”
315
Andreia – Luan?
Luan – É assim, o meu pai gosta, só que ele... ele... meu pai é mais com os militares, eles
pegaram a época pós ditadura.
Andreia – Ele é o que?
Luan – Militares. Então meu pai pegou... na época pós ditadura, então fica um pouco aquele...
aquele medo. Minha mãe não pode se manifestar, que é militar, é proibido, é crime militar
fazer isso. Então, ela não gosta e, infelizmente, as vezes ela colabora com a mídia, que a
mídia só mostra o lado dos black blocks, quebra tudo, policial dando tiro na cara de... de
jornalista. E isso que é a versão que assim, o ruim. Tem o lado ruim e o bom. Então, assim, eu
na minha casa sou o único que falo “não eu vou, eu vou mudar, eu vou e pronto”. Meu pai até
fala “meu, você é muito radical, você tem que tomar mais cuidado.” É que eu exploro muito
minha... minha opinião na rede social, que hoje é... sem duvida o lugar onde você consegue
mostrar pra muito mais pessoas. Se fosse gastar esse tempo que eu coloco em cinco minutos o
negocio, curtir e compartilhar, na rua mostrar pra tantas pessoas no Facebook duraria uma
semana, um mês.
(?) – (?)
Luan – Sofri em alguns pontos, pessoas leigas que não conhecem o assunto, mas assim... esse
é o custo que a gente paga por querer revolucionar, por querer mudar.
Andreia – Fabiana?
Fabiana – Meus pais até... eles acham legal, e tal, mas eles tem muito medo, porque sabem
que na rua a gente tá exposto a tudo, ainda mais numa manifestação onde tem muita... muitas
pessoas, você não sabe quem... Olhando pra cara das pessoas você não sabe quem tá lá porque
quer lutar e quem tá lá porque quer zoeira. Então você core risco... cê tá... cê tá no meio cê tá
correndo risco. Meus pais sempre tiveram muito medo disso. É, então. Por isso que... por
exemplo, na Paulista eles não deixaram, quando era pra... as manifestações assim... longe, que
eram as maiores, eles não... não deixavam. Eles falavam “não, é muito perigoso...”
Andreia – Mas eles não participam?
Fabiana – Não. Por... por medo. Por... por ele ter medo.
Andreia – Mas eles apoiam?
Fabiana – Apoiam. Apoiam. Apoiam minha opinião a... a... a tudo, a leis, a todas essas
coisas. Eu exponho minha opinião na minha casa, assim como meus pais expõem, mesmo
cada um tendo a sua, é uma relação bem aberta assim.
Andreia – Armando?
316
Armando – O meu pai, o meu pai é bastante a favor disso, inclusive ele tava... teve uma
época que ele tava viajando, ele tava viajando, ele trabalha com carreta, e ele tava com uma
carreta aberta, e tinham varias pessoas, elas tavam andando e caminhando, no meio da pista,
longe de onde ia ter o movimento, ele colocou todo mundo encima da carreta e levou o
pessoal ate lá, o pessoal foi então... e ele foi ate o final acompanhando, como uma escolta,
buzinando, ele foi... então, assim, ele é bastante a favor. Ele já participou de outras vezes
também. Mas assim, nessa questão... da orientação, comigo ele, por exemplo ele sempre fala
“olha, você tem que... vai pra rua, vai fazer alguma coisa vai reivindicar alguma coisa? Só que
você tem que saber primeiro o que você vai reivindicar, porque, é como o professor falou, se
tornou uma moda, “Ah, se todo o resto tá fazendo eu vou fazer também. O pais lá tal tá
fazendo. O estado, né, tá fazendo, estão vou fazer também,” mas, vai reivindicar o que ali?
Tem certeza? Cês tem, é... provas concretas, tudo certinho de que é aquilo que vocês querem,
é aquilo que vocês vão buscar? Todos... a partir do momento em que todos irem buscar pra
um fim só, beleza, agora tava assim, brasileiro já não tava mais sabendo o que reivindicar, o
que buscar. Então ele orientou sempre assim, você quer reivindicar, beleza, mas saiba
primeiro o que você precisa, o que é necessário. Conversa com o pessoal que vai com você e
ai... (?), ele da esse incentivo.
Andreia – Ele não vai, ele vai nesse sentido assim?
Armando – É, nesse sentido assim. Agora ele não participa tanto, mas antes ele participou
bastante.
Andreia – Milton?
Milton – É, na minha casa também. Minha mãe tem uma cabeça bastante aberta, como você
falou, ela apoia bastante. Ela não foi nessa, mas ela foi em outras também. Ela veio de perua
ate aqui a pé numa manifestação, e ela apoia bastante. Meu pai eu não sei direito, por que eu
não moro com ele, mas ele fica naquela... A minha vó tem ficado com um certo medo, mas ela
foi também.
Andreia – A vó também?
Milton – Minha vó foi.
Andreia – E o Cleverson?
Cleverson – Então, é... Meu pai, por mais que ele não tenha deixado eu ir nas manifestações
do ano passado, ele participou das Diretas Já!, sabe, mas acho que ele acabou criando isso
na... na cabeça dele, sabe, que... manifestação foi ate esse período, que depois é só bagunça,
entendeu? Então ele não consegue acreditar que o que aconteceu no ano passado são
manifestações. Que aquilo ali é só baderna e só bagunça.
Andreia – Aqui tem um pouquinho do que eu falei que eu ia pegar um gancho no que o
professor José tava falando assim, né, e... se vocês vivem nesse ambiente, que vocês falam
assim, nesse ambiente de cultura, de participação, de participar mesmo, de reivindicar os
direitos, e esse ambiente pode ser em casa, pode ser na escola, e assim, o que eu quero saber,
se a escola proporciona isso pra vocês ou é em casa? Só também?
Caique – Só em casa acho...
317
Fabiana – Essa escola que eu estudo... que eu estudei, que eu estudei, o Otto, infelizmente
não proporcionava.
Andreia – Vocês participam do grêmio?
Fabiana – Não.
(murmúrios de “não”)
Andreia – Nenhum de vocês?
Milton – Na nossa escola, como é... o dia... o dia todo, a gente tem... clubes, que quem faz
tudo, os trabalhos do clube somos nós. Então é como se fosse um grêmio, também...
Andreia – Uhum. Mas, assim, essa questão das (?) é... é... não... não é, assim, não é, a escola
não tem essa (?) de cultura de participação, do coletivo, não. São professores dos lados, é isso
que voes estão falando pra mim? Eu to falado pra poder entender. Que colocam as coisas, que
não... não é a maioria, ou é a maioria?
Luan – A escola... só alguns professores da questões individuais (?), não sei o que acontece...
dentro, por causa que ela não pode... vamos supor, fazer um movimento que a escola inteira
pode se manifestar, eu não sei porque...
Andreia – A gente não pode?
José – Então, Andreia, nós enquanto professores, então, eu falo por mim, eu... eu noto que
tem muito gestor, diretor de escola, que tem medo de ter (?), tem medo de ouvir o que vocês
tem a falar, tem medo de... de que vocês estejam pautados em coisas que são realmente
necessárias pra vocês naquele momento, ai veta a escola de ter um grêmio. É isso o que
acontece. Desculpa a (?)...
Andreia – Vocês precisam participar do grêmio...
Fabiana – É... É realmente isso.
Andreia – Deixa eu falar uma coisa pra vocês, vocês precisam participar do grêmio, porque
assim...
Maiara – Eu já participei. Esse ano na minha escola eles... proibiram o grêmio. Teve varias
chapas que se candidataram e ai... a diretora simplesmente falou que não ia ter mais. Acabou,
não ia ter mais grêmio e ia ser aquilo ali mesmo. Eu já... eu já participei. É... Ate aconteceu
algumas coisas... foi ano... não sei... acho que eu tava na oitava serie... não me lembro, mas...
não era o grêmio da escola, acho que um professor fez um projeto, e pegou os alunos, eu era
vice-presidente, e a gente conseguiu... fazer muita coisa, a gente arrecadou chocolate pra dar
pras crianças mais carentes da escola, entre outras coisas que s gente conseguiu fazer lá...
Andreia – Só mais um pouco que a gente já tá acabando. A não ser que vocês queiram falar
bastante, ne?
Eriberto – É... Andreia, só um... o que eu percebi, assim, eu to na educação ha apenas uns
dois anos, eu comecei no dia 15 de março de 2013.
318
Andreia – E você tá há dois anos eu estou... eu tenho um número dois mais um quatro do
lado.
Eriberto – Só? (risos) Vinte e quatro anos!
José (professor) – Temos.
Eriberto – É... Eu percebo que... em apenas dois anos eu pude perceber muita coisa. Muito
dos professores, principalmente os que estão a muito tempo na rede, eles evitam assuntos
polêmicos, não só a paralisação, os assuntos polêmicos que tiveram ano passado, mas alguns
professores, tá aqui os alunos que... eu tava explicando matéria no ano passado, e eu sou
professor de artes, ai o menino de repente virou assim, na oitava serie, e falou “professor,
como que coloca uma camisinha?”
Alani – Ai meu deus.
(risos)
Eriberto – Não, meu... menino não sabe, é melhor eu ensinar pra ele como que coloca uma
camisinha, do que ele ter uma AIDS no dia de amanhã.
Andreia – Claro.
Eriberto – E... e alguns professores evitam, então “não, não fala de sexo na sala de aula. Não
fala da parali... não fala de assunto polemico.”
José – Ou diante de uma pergunta dessa manda o professor mediador.
Eriberto – Entendeu?
Andreia – Espera... (?)
Marlon – Como o professor citou, tinha um professor na nossa escola, de história, o professor
deve conhecer, que ele era um revolucionário, e a partir do momento que teve essa
paralização, greve e tudo o mais, ele ensinou o que que fo... o que que foi a revolução no
começo, qual que foi as parada do começo, desde a época que ele... tava lá, da época que ele
era revolucionário, ate hoje e ele incentivava. Mas é claro que não pode... não pode se
divulgar em escola, que se não, como o professor fala ali, tem a... eles acabam...
José (professor) – Repressão.
Marlon – É a... a repressão, mas mesmo assim ele incentivava, eu muitas vezes fui
incentivado por ele também a... fazer a do passe livre. Ele falou assim “não, eu vou tá lá
também”, a pesar que eu não vi ele lá, mas ele falou “eu vo tá lá também, e vo ajudar vocês.”
Andreia – Muita gente, né?
Marlon – Mas ele... ele sim foi um professor que incentivou a revolução e tudo o mais, as...
as paralizações e tudo o mais.
319
Luan – É... Como um dos professores falou... eu vejo na minha escola, assim, mudou a gestão
agora, mudou o diretor, antes o pessoal tinha um pouco mais de liberdade em tudo, nesse
assunto... vamos supor, de sexo, era um pouquinho mais aberto, hoje pegou uma diretora um
pouco mais antiga, não sei, travou um pouco mais. Os professores que conversam, debatem
sobre assuntos... é... assunto polêmicos, são os mais novos, os mais antigos já evitam demais,
não sei o porque disso, mas da pra perceber a mudança.
Andreia – Então a minha pergunta é, então a educação formal, a escola mesmo, que vocês
estudam, vocês não são assim por conta dessa escola que tá ai?
(Muitos) – Não...
Andreia – Vocês são participativos por conta da educação informal, do que vocês
aprenderam ai fora, com os pais... é isso?
Luan – A escola ate evita falar sobre politica, uma coisa que eu achei absurda, ate hoje eu
não... eu não... não ace... aceito, ver uma professora de português falar “politica não se
discute”. Foi a pior coisa que eu já ouvi na minha vida, e uma professora falou que politica
não se discute, dentro da escola. Então, essa professora tá lá ate hoje, e ate hoje ela evita falar
com os alunos. Então assim, não foi grêmio que fez a minha cabeça, não foi escola que fez a
minha cabeça... o... os meus pais foi uma coincidência, mas foi o que eu vi no dia a dia, esse...
todos nós que estamos aqui... essa... vontade de mudar, que não... Brasil não dá mais como tá.
Thalita – E só pra... Pegar um pouco do que eles falaram...
Andreia – Essa é a ultima pergunta que eu to fazendo, tá, se vocês já quiserem adiantar
alguma coisa pra falar...
Thalita – Sobre... os educadores...
Andreia – Eu só... vou fazer um pedido depois.
Thalita – E a escola em si. Esse professor que ele comentou que é o professor de historia, ele
é um comunista, ele explica pra você direitinho o que tá acontecendo, pra onde foi o dinheiro,
como o povo é... que que acontece, a escola que ele trabalhava era uma escola particular e o
que que aconteceu antes lá com os alunos dele, o... o que realmente acontece a escola pegou e
demitiu ele. Só que... o que houve ali, os alunos gostavam do que ele tava falando, não era o
que o outro professor de historia falava, “ah, é isso, a copia legal e tal”, ele falava a verdade,
os aluno... a escola inteira se reuniu e mandou a direção chamar ele. A direção triplicou o
salario dele, só que ele falou “não, eu não vou voltar.” Ai ele mudou de escola.
Andreia – Como é que foi esse movimento? Foi por meio... foi chamado por meio da internet
também? Poer meio das redes?
Thalita – Não vou saber, assim, detalhadamente, eu sei que foi a escola. Os alu... não, a
escola não, os alunos da escola...
Andreia – Sei, mas como que eles organizaram esse movimento, essa manifestação? Pela
volta do professor?
Thalita – Ah, teve uma rede social, assim, no meio.
320
Andreia – Cês...
Marlon – Tudo é a rede social, ne...
(?) – Tudo começou numa rede social...
Andreia – Cês querem complementar com alguma coisa, assim, que vocês pensam, que vocês
queriam falar e não falaram?
Luan – (?) um caminho que vai... vai... a população tá sendo dividida, principalmente, eu que
vejo muito assuntos policiais e essas coisas, você vê muita violência, é marido que estuprou a
mulher, mata a filha... é muito... em Mairiporã teve dois casos agora, estuprador que ia ma...
estuprou a menina. Então assim, eu acredito... eu... eu não tenho esperança, sinceramente, no
Brasil, eu... pela minha cabeça tenho... pessoa... pro exterior, é muito diferente lá. Não que a
politica é diferente, as pessoas são diferentes, a cabeça, vamos supor, aqui, com nos Brasil, a
gente... acreditamos, o privilégio que conseguimos conversar diversas coisas, temos opinião,
acredito não sermos... somos... influenciados pela mídia. A... agora, em quantos nos estamos
aqui? Quantos que você selecionou pra vim estar aqui? Que participaram, que fizeram, que
não fizeram aquelas besteiras “ah, olha a dezenove, olha a vinte”, que não teve a educação de
responder novamente. Então assim, lá todo mundo acredit... é... igual a gente, por isso que
muda. Aqui nunca vai mudar. Então assim, eu... não tenho esperança no Brasil, acredito que o
Brasil vai caminhar pra uma guerra social em poucos... em poucos anos, uma guerra civil e
logo, logo eu vou embora. Eu não tenho mais esperança, eu não tenho mais esperança.
(risos e todos falando ao mesmo tempo)
Andreia – Um de cada vez. Quem vai falar primeiro?
Marlon – Uma coisa que eu queria citar é exatamente sobre o passe livre, que foi a primeira...
o primeiro protesto que eu fui fazer e que eu falei “não vou mais”. Porque quebraram a
estação, e na que quebraram a estação, os policiais que vieram que era pra separar e acalmar,
vieram pra bater, vieram pra machucar, e pessoas que não tinham nada a ver. Só pra você ter
uma ideia nunca teve um... assim, eu particularmente falando, nunca vi uma policial ROTA
em Morato. Vieram a ROTA pra bater em mim, sendo que eu tava tentando ajudar, pessoas
que estão tentando melhorar. Tipo... você pensa assim consigo mesmo, você quer fazer a
melhoria e vai apanhar? Não vai fazer melhoria. Como ele mesmo falou, vai acabar na guerra
civil, vai acabar chegando nisso. Guerra no Brasil.
Alani – Foi banido...(?)
(?) – Já tá uma guerra, não tá?
Marlon – É, guerras em silencio.
Andreia – Vamo lá Alani.
Alani – Foi (?)...
Andreia – Não estou te ouvindo, desculpe.
Alani – Oi?
321
Andreia – Eu não estou ouvindo.
Alani – Foi bonito ter citado isso da policia em Morato, porque... amigos meus, de Jundiaí, já
chegou em mim e já perguntou “em Morato não tem delegacia? Porque eu... nunca vi um...
carro de policia fazendo ronda. Nunca vi. Só vejo policiais na hora que é pra bater no povo”.
Ou seja, pra fazer a... o que ele são pagos pra fazer eles não fazem, agora na hora que é pra
espancar todo mundo eles tão lá?
Andreia – Cleverson.
Cleverson – Como o Luan disse, eu também acredito que vai ter em poucos anos uma guerra
civil, e a gente vê que o Brasil é... é um país assim... com... tabus desnecessários, e... que... só
vai haver mudanças quando... é... as pessoas começarem a mudar. Não tem como a gente, é...
reivindicar algo se não tem pessoas... é... preparadas pra isso, entendeu? Então, é... tem
pessoas que realmente querem mudanças que realmente querem reivindicações, tem pessoas
que... é... para... pedir as suas reivindicações usam da... da violência. Então é isso, é... o Brasil
precisa de mudança nas pessoas. Eu... eu acredito numa mudança daqui muitos anos no Brasil,
mas que isso vai começar a partir de pessoas que pensem como nós, ou... quem tenham
pensamentos parecidos.
Fabiana – Eu acho que enquanto as pessoas se importarem pela opção sexual, pelo que a
pessoa usa, pelo cabelo, pela roupa, pela cor da pele, pelo modo de pensar e de agir o mundo
não vai mudar, vai continuar tendo guerra. E indepen... se você não ama o próximo, se não
existe amor, não vai... não tem como acabar a guerra. Ninguém ama o próximo, ninguém se...
se... se sente mal ao ver um mendigo no chão, “ah, um mendigo, ah, ah outro mendigo, ah”.
Tá... mas, eai? Paga um lanche, ajuda com alguma coisa, fala assim “não, vem, vamo... vou te
levar pra tomar um banho.” Sei lá, tenta ajudar. Ninguém quer ajudar, ninguém ama o
próximo, cada um só... ama a si mesmo, ninguém ama mãe, ninguém ama pai, é filho que
batia em pai, que mata pai. A gente só vê desgraça na TV, não existe amor, não tem amor.
Enquanto isso não mudar vai continuar tendo guerra, vai continuar tendo roubo, vai
continuar... do jeito que tá. Infelizmente.
José – Posso falar uma coisa pra essa pessoa? Fabiana Ariel, gente boa é uma espécie em
extinção. Você é gente boa.
Fabiana – Ah, brigada.
Andreia – Todos eles aqui, né?
José – Que com essa sua ideia ai em si, confere, sabe? O mundo precisa de amor. Parabéns,
viu.
Andreia – Deixa só ele falar, Caique.
Caique – Eu ia falar?
Andreia – Você falou junto...
(risos)
Caique – Eu ate esqueci... É... ia falar assim, que o problema do Brasil é a população
corrupta, porque o brasileiro é uma massa de aproveitadores, poucas pessoas, é... são como
nós. E assim, eu vi...
322
Andreia – Você acha que o brasileiro?
Caique – Eu acho que na real é o brasileiro, é o brasileiro.
Milton – Mas é uma questão histórica.
Caique – É... porque quando os portugueses chegaram aqui eles deram espelhos, e a gente...
fez o que? Vamos pegar o espelho e vamo (?). Eles também não quiseram brigar, porque
sabiam que iam morrer. Ne... nessa parte. Então, ó, o brasileiro, ele... é... se contenta com
pouco, entendeu? Se... se contenta com pouco. Isso dai... isso dai é de muito tempo já.
Fabiana – Eu acho que isso é mais a má fé da... que seria a má fé dos portugueses, sebe? Tipo
de... não saber que... nessa época. Já... já é o que eu falo do amor ao próximo e da caridade
de... querer o bem. Eles fariam qualquer coisa em troca, mesmo sabendo que eram pessoas...
Caique – Não tinham segundas intenções.
Fabiana – É. Saber que eram pessoas simples que tinham conhecimentos maravilhosos da...
sobre o... sobre a terra, sobre o Brasil. E só...
Andreia – Mas vocês acreditam que vocês tem que continuar lutando pelos direitos?
Todos – Sim. Com certeza...
Andreia – De alguma forma.
(risos)
Andreia – Vocês querem falar? Queriam falar? Eu só queria pedir uma coisa pra vocês, só
fazer uma pergunta. Porque se não, não acaba minha... É... vocês tem registro, dessa
participação de vocês? É... fotos... alguma coisa?
Alguns – tem.
Andreia – E alguns de vocês podem me fornecer pra poder colocar no trabalho?
(?) – pode.
Fabiana – Eu posso te mandar as fotos de quando o teto da escola caiu, que aconteceu todas
essas coisas lá.
Andreia – Da participação...
Andreia – Né. Se vocês puderem, assim... se tiver na imagem muitas pessoas não tem
problema, mas, de uma pessoa ou outra... De vocês não tem problema porque vocês já
autorizaram. Agora... não vou divulgar no Facebook nem na internet não, tá gente. É pra
colocar no trabalho mesmo, tá bom? Então, se vocês puderem, depois, a hora que terminar
aqui eu passo o... meu endereço de e-mail, se vocês puderem mandar eu coloco... Tá? Agora
vamos indo.
(risos)
Andreia – Tá bom? Quem mais? Querem encerrar? – Quer fazer uma pergunta.
Marlon – Eu queria fazer uma pergunta, mas é uma pergunta mais pessoal, como ele falou...
323
Andreia – Pra mim ou pra eles?
Marlon – É pra todos aqui.
Andreia – Ele vai fazer uma pergunta pra todos, tá bom?
Marlon – Como ele falou, a guerra... a guerra civil tá mais ou menos uma guerra fria, uma
guerra no silencio, mas quem vocês acham se... que a culpa é do poder que tá lá em cima ou
das pessoas que estão em baixo que estão fazendo essa guerra?
Luan – Eu discordo com você que esta sendo uma guerra fria. Quem vê, que nem, muitos
assuntos dos meus pais não tá uma guerra fria, tá ridículo a situação própria, o governo é
culpado por isso. O governo, que é assim... hoje quem tá lá em coma no poder é quem batia
de frente com a ditadura atrás. É só o corrupto que tá lá em cima. Infelizmente nós temos
agora na... nos cargos pra presidencialista dois ladroes. Uma terrorista e o out... outro que
carregava cocaína... pra casa dele. Então, assim, o Brasil não tem muita opção. Então assim, a
guerra, a culpa é dos governantes, não adianta você tirar o peão, que o peão não faz isso. É o
cabeça, você tem que tirar de cima, e isso, é... a gente vai mudar com as eleições.
José (professor) – Só... Andreia, só (?) de informação pra vocês, quem manda no país, tem
um terceiro escalão que manda no país. Por incrível que pareça, pessoal, são pessoas
extremamente inteligentes, que ocupavam cargos importantes demais em Brasília, e eram
todos revolucionários, na época da ditadura.
Andreia – Fala.
Alani – Eu discordo dele, porque o povo brasileiro é a maioria, então porque uma pessoa
manda no pais inteiro quando a multidão quer... mudar.
Luan – Foi a gente que colocou ela lá.
Alani – A gente... A gente que elege o que faz mal.
Maiara – Eu acho ambos tem a sua parcela de culpa. Nós por tarmos reelegendo uma pessoa
que não mudou em nada, né, não abriu portas pro novo, pra mudança, e eles lá continuam
fazendo o que sempre fizeram, e a gente só bate na cabeça, deixando isso acontecer, a culpa,
muita... cinquenta por cento da culpa é nossa, porque a gente abaixa a cabeça e deixa
acontecer, a gente não faz nada pra mudar isso.
Fabiana – Eu acho que a culpa também é do poder. Quando você... se vê num... numa
posição, eu presidente de um pais, você... por mais... e ainda com foco no dinheiro, que existe
muito... ganha muito. Que que... presidente pouco não ganha. Então... então você... tudo bem,
lutou na ditadura e tal, quando as pessoas se colocam ali, se vem no poder, num... de
comandar um pais, e no tanto de dinheiro que ele tá tendo, ele vai tá cagando pra quem tá lá
morto, pra quem tá lá esperando no hospital, ou pra quem tá... como... no nosso caso, assim,
estudando, e vai prestar uma FUVEST e olha aquilo, aquela questão de química que fala
assim “meu, eu nunca vi isso na minha vida”, como que o governo que, eu estudo numa
escola do governo, escola publica, e eu vou prestar uma prova do governo e eu não tenho... eu
tive essa aula, não tive essa matéria.
324
Andreia – Essa é uma das coisas que mais responderam, que eu tive mais de... respostas,
assim, que... esses movimentos, essas manifestações são uma forma de se fazer ouvir. Uma
forma de se fazer ouvir. Foi uma das respostas que mais... foram colocadas lá. De mais de mil
respostas assim, né, e.... que... que por conta também das redes sociais essa.... esse... esse
ouvir seria em maior proporção. Não com essas palavras que eu to falando, cada um falou do
seu jeito, foi falando, mas falaram isso. Então, vocês concordam com isso? Vocês acham que
é uma forma de se fazer ouvir? Cês acham que ninguém ouve?
Luan – Parte sim, parte não.
Marlon – (?) povo, que pode mudar é o povo. Que... que ela mesma citou, sobe a cabeça
deles, eles só quer saber de dinheiro, não quer saber do povo.
Eriberto – Capital que manda.
Marlon – Capital que manda.
(falam ao mesmo tempo.)
Milton – Agora no caso do ano passado não. (?) coisa, que ficou meio confuso. Achei que se
fosse um... objetivo em comum, sim, se faz ouvir. Nesse caso...
Marlon – Que nem ela citou, que reuniram um grande grupo, que nesse grande grupo, claro,
ninguém ia ganhar mais do que ninguém, ia ganhar a melhoria da escola e todo mundo se
reuniu e fez uma coisa boa, que foi a construção da escola que deu tudo certo, agora se é um
só que sabe que vai ganhar dinheiro e tudo o mais, ele fala assim “não, eu quero saber do meu
dinheiro, eu quero saber da minha família, eu quero saber da minha parte, o resto eu não to
nem ai, se vai morrer na guerra lá, vai morrer na guerra, não to nem ai”. A maioria que eu,
particularmente penso que o presidente vai tá pensando numa hora dessas.
Fabiana – Eu acho que a manifestação é um modo de se ouvir, de se fazer ouvir sim, porque,
por exemplo, um grupo grande de mulheres são a favor do aborto, então vamos lá gritar que
somos a favor do aborto, um grupo de pessoas, jovens, adultos, velhos são a favor da
maconha medicinal e da maconha como venda então vamos lá e vamos gritar que somos a
favor disso, e... somos a favor do passe livre, então é... é um modo de muitas pessoas com as
mesmas ideias se juntarem e gritar ao mundo que querem. Mesmo tendo, infelizmente,
pessoas que não tão... nem ai.
Luan – Concordo com ela que essa é uma forma de... as pessoas te ouvirem, mas não é uma
forma eficaz, por causa que, assim, mesmo que ele te escuta, no outro dia ele vai...
Fabiana – Te ignora.
Luan – Ele vai pro trabalho... o que você falou ou não... os... nos... o povo brasileiro ainda
não percebeu que nos temos o poder. Falta uma coisa simples pra gente começar a melhorar,
um professor, qualquer outro cargo, se você não bater a meta vai acontecer alguma coisa,
você vai ser prejudicado com aquilo, cê vai ter desconto, cê vai ter... pode ser mandado
embora, alguma coisa, falta isso na nossa mentalidade, se a gente cobrar ele vai mudar, se.. se
ele não mudar a gente derruba ele, é isso que falta.
Andreia – Gente... Fala.
325
Rui – A manifestação é uma forma de se ouvir no inicio, mas a mídia faz o vinculo errado.
Ela... tipo... assim, vamo (?), ai mostra uma coisa totalmente nada a ver e ponto de vista
diferente e o pessoal que tá assistindo TV vai e pensa que a manifestação é uma coisa
totalmente diferente. Principalmente..
Andreia – Mas isso ocorre também nas redes?
Rui – Ocorre. As redes... bastante... bastante. (?) a televisão.
Andreia – (?)
Maiara – Com certeza.
Rui – Voltando ao ponto que vocês falaram do poder, que... que tem que mudar quem tá no
poder, como se muda quem tá no poder? Como se escolhe alguém que tá no poder? Tem que
estudar, tem que ter informação, só que o governo fez uma coisa muito elaborada, ele não deu
informação pra pessoa no... na escola publica, o ensino é ruim, como que a pessoa vai
escolher? Gente que quer... manifestar, quer mudar o partido politico, mas não sabe em quem
tá votando. Não sabe... as propostas politicas de quem ele quer eleger. Como a gente faz
assim? Entendeu? Foi uma coisa muito bem feita. O povo que mudar, só que o povo não pode
porque não tem educação. Então... como quer mudar de cima?
Andreia – Isso é histórico?
Rui – Oi?
Andreia – Isso é histórico, que você esta dizendo?
Rui – Isso. Tipo assim, povo que vai querer mudar pra mudar tem que tirar o politico e
colocar um bom projeto para a educação, só que pra eu tirar o politico de lá tem que saber
quem eleger, pra saber quem eleger tem que ter educação, pra ter educação tem que ter
alguém no poder que da uma coisa... uma formação pras boa pessoas, isso... tipo... não bate.
Fabiana – Quanto mais pessoas que pensam como nós no... Brasil, o... é pior pro governo,
então eles querem... quanto mais ignorantes, mais que... manipula... manipulados eles sejam...
então eles... ele preferem esse tipo de pessoas, as pessoas fáceis de se manipular.
Marlon – E a mídia alieni... aleani...
Fabiana – Alieniza.
Marlon – Alieniza a gente, pessoas. Porque, tipo, a gente fica... como ele falou, a gente não
sabe quem escolher certamente. A gente sabe... ai alguém sabe o que a Dilma fez no passado
que a gente (?)? Ninguém sabe, tá muito pela propaganda, tá muito pela internet. Que nem por
exemplo a... a propagando do... não sei se ele é vereador, prefeito, não sei o que ele é, do
Tiririca, ninguém sabe... falaram que ele nem sabia ler e escrever direito. E ele fazendo
propaganda brincando, zoando, e a gente, ficou tudo na nossa cabeça e a gente votou nele. Ele
tá lá ganhado dinheiro.
Andreia – Queria dizer uma coisa pra vocês que eu to adorando a conversa, mas assim, a
gente veio de longe, tá precisando ir embora, né, e a gente precisa encerrar, então acho que
o... pedir pra vocês que quem quiser falar que seja rápido, falar já encerrando, tá bom?
326
Fabiana – Eu queria falar assim, que a Dilma foi eleita, assim... pelo... graças a um empurrão
do Lula, né, eleita, primeiramente.
Andreia – (?)
Fabiana – É.
(?) – Bolsa família...
Fabiana – É, então.
Andreia – Nã, nã não. Vamos falar... vamos deixar o foco, José, vou te tirar daqui.
(risos)
Andreia – Se a gente for saindo muito daqui a pouco vamos começar a discutir outros
assuntos... e a gente precisa de foco agora. Vamo lá.
Fabiana – Não, pra mim, a manifesta... a... internet com a manifestação sempre foi muito
importante e sempre ajuda, e... e mesmo com a... com... por mentiras assim com... falsas
noticias, sempre é bom e sempre ajuda. Porque é uma... máquina de fácil acesso, assim... a
gente se comunica rápido e fácil e... acabou.
(risos)
Thalita – E que enquanto tiver um dispositivo móvel em suas mãos sempre haverá rede,
então, é uma coisa que pra acabar é quase... im... inima... não tem como pensar.
Rui – O povo tem o direito que... você é o povo, e o povo, o povo é deus. O que ele quer ele
muda. Quando... entrar isso, a gente vai mudar e vai revolucionar tudo.
Milton – É bom, é pratico, é rápido, acho que nós temos uma grande arma, né? E ós temos
que usar da melhor forma possível.
Marlon – (?) ao meu ver, como que a gente vai conseguir fazer melhoria, se tipo, o que o
professor falou... do MC que fez o funk, que o governo rapidamente tirou, porque não tá
prejudicando ele, “tá machucando meu calo eu vou tirar, se não...” Nois tem armas que
controlam o governo.
Andreia – O (?) tem uma coisa legal mas eu (?), tá? Vamos encerrar. Vamos encerrando. E é
importantíssimo o que você tava falando (?) a gente vai ficar aqui até amanha. Mais alguém?
Gente, olha, eu queria agradecer muito, muito mesmo, vocês são... de mais. Adorei vocês.
Então, agradeço a Thalita, o Marlon, a Alani, a Maiara, o Rui, o Caique, o Luan, a Fabiana, o
Armando, o Milton e o Cleverson. Muito obrigada pela participação, assim, foi excelente,
contribuiu muito com o pensamento de vocês, pra gente saber, e pras pessoas saberem que o
jovem (?) tem voz também. Pensamento, né? E... quer dizer, que eu ia falar (?), e acho que a
gente tem que pensar mais por ai, vocês tem que ir para o grêmio, tem que fazer... participar.
E fazer com que os colegas participem, tá? Obrigada, e assim, eu vou pedir para baterem
palmas pra vocês pela participação, mas antes de encerrar, Thiago, eu queria que o Caique,
que compôs a musica dele ai, pra gente... né... Mas vamos bater palmas pra vocês pela
participação.
(Palmas)
327
Andreia – (?) a musica dele da pra... pra encerrar.
(comentários baixos)
Caique – Essa musica, só presta bem atenção na letra dela, só.
Andreia – Mas canta alto pra... pra eles conseguirem ouvir.
Caique – (Cantando)
E lalaiala...
328
ANEXOS
329
ANEXO 1 - ÍNDICE PAULISTA DE VULNERABILIDADE SOCIAL – IPVS – 2010
E DADOS SOCIOECONÔMICOS
Município de Caieiras
O Município de Caieiras, que integra a Região Metropolitana de São Paulo,
possuía, em 2010, 85.548 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes
mostra que a renda domiciliar média era de R$2.333, sendo que em 15,6% dos domicílios não
ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores demográficos, a
idade média dos chefes de domicílios era de 45 anos e aqueles com menos de 30 anos
representavam 13,2% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 12,9% tinham
até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 8,7% do total da
população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).
MUNICÍPIO: CAIEIRAS População estimada 2014 (1) 94.516 População em 2010 86.529 Área da unidade territorial (Km²) 97.642 Densidade Demográfica (hab./Km²) 900.37 Código do Município 3509007 Gentílico Caieirense Prefeito ROBERTO HAMAMOTO
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL - IDHM IDHM 1991 0,545 IDHM 2000 0,687 IDHM 2010 0,781
PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS - 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 336.989 mil reais PIB a preços correntes 2.294.002 mil reais PIB per capita a preços correntes 25.821,43 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 2.456 mil reais Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 769.106 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 1.185.451 mil reais
Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística
330
Município de Cajamar
O Município de Cajamar, que integra a Região Metropolitana de São Paulo,
possuía, em 2010, 63.477 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes
mostra que a renda domiciliar média era de R$1.910, sendo que em 18,1% dos domicílios não
ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores demográficos, a
idade média dos chefes de domicílios era de 42 anos e aqueles com menos de 30 anos
representavam 22,2% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 24,7% tinham
até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 9,6% do total da
população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).
Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística
MUNICÍPIO: CAJAMAR População estimada 2014 (1) 70.710 População em 2010 64.114 Área da unidade territorial (Km²) 131.386 Densidade Demográfica (hab./Km²) 488,18 Código do Município 3509205 Gentílico CAJAMARENSE Prefeito DANIEL FERREIRA DA FONSECA
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL - IDHM IDHM 1991 0,501 IDHM 2000 0,634 IDHM 2010 0,728
PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS - 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 1.076.557 mil reais PIB a preços correntes 5.623.205 mil reais PIB per capita a preços correntes 85.031,31 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 44 mil reais Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 1.562.488 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 2.984.117 mil reais
331
Município de Francisco Morato
O Município de Francisco Morato, que integra a Região Metropolitana de São
Paulo, possuía, em 2010, 153.494 habitantes. A análise das condições de vida de seus
habitantes mostra que a renda domiciliar média era de R$1.391, sendo que em 27,7% dos
domicílios não ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores
demográficos, a idade média dos chefes de domicílios era de 43 anos e aqueles com menos de
30 anos representavam 19,3% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 20,0%
tinham até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 10,2% do total
da população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).
MUNICÍPIO: FRANCISCO MORATO População estimada 2014 (1) 166.505 População em 2010 154.472 Área da unidade territorial (Km²) 49.001 Densidade Demográfica (hab./Km²) 3.147,80 Código do Município 3516309 Gentílico MORATENSE Prefeito MARCELO CECCHETTINI
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL - IDHM IDHM 1991 0,444 IDHM 2000 0,571 IDHM 2010 0,703
PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS - 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 68.454 mil reais PIB a preços correntes 1.143.641 mil reais PIB per capita a preços correntes 7.256,47 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 45 mil reais Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 169.722 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 905.420 mil reais
Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística
332
Município de Franco da Rocha
O Município de Franco da Rocha, que integra a Região Metropolitana de São Paulo,
possuía, em 2010, 122.730 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes
mostra que a renda domiciliar média era de R$1.735, sendo que em 21,2% dos domicílios não
ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores demográficos, a
idade média dos chefes de domicílios era de 44 anos e aqueles com menos de 30 anos
representavam 17,9% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 18,6% tinham
até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 9,3% do total da
população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).
MUNICÍPIO: FRANCO DA ROCHA
População estimada 2014 (1) 143.817 População em 2010 131.604 Área da unidade territorial (Km²) 132.775 Densidade Demográfica (hab./Km²) 980,95 Código do Município 3516408 Gentílico FRANCO-ROCHENSE Prefeito: FRANCISCO DANIEL CELEGUIM DE MORAIS
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL – IDHM IDHM 1991 0,494 IDHM 2000 0,628 IDHM 2010 0,731
PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS - 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços
correntes 239.096 mil reais
PIB a preços correntes 2.194.091 mil reais PIB per capita a preços correntes 16.234,49 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços
correntes 11.288 mil reais
Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 855.821 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 1.087.886 mil reais Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística
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Município de Mairiporã
O Município de Mairiporã, que integra a Região Metropolitana de São Paulo,
possuía, em 2010, 77.238 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes
mostra que a renda domiciliar média era de R$2.561, sendo que em 20,1% dos domicílios não
ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores demográficos, a
idade média dos chefes de domicílios era de 46 anos e aqueles com menos de 30 anos
representavam 12,1% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 13,3% tinham
até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 7,7% do total da
população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).
MUNICÍPIO: MAIRIPORÃ
População estimada 2014 (1) 90.627 População em 2010 80.956 Área da unidade territorial (Km²) 320.697 Densidade Demográfica (hab./Km²) 252,44 Código do Município 352502 Gentílico MAIRIPORENSE Prefeito MARCIO CAVALCANTI PAMPURI
ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL - IDHM IDHM 1991 0,533 IDHM 2000 0,682 IDHM 2010 0,788
PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS – 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 169.731 mil reais PIB a preços correntes 1.354.340 mil reais PIB per capita a preços correntes 16.103,15 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 333 mil reais
Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 392.884 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 791.392 mil reais
Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística