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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO ANDREIA DE OLIVEIRA SILVA A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DA REGIÃO DE CAIEIRAS/SP EM MOVIMENTOS E REDES SOCIAIS CAMPINAS 2016

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS

FACULDADE DE EDUCAÇÃO

ANDREIA DE OLIVEIRA SILVA

A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DA REGIÃO DE CAIEIRAS/SP

EM MOVIMENTOS E REDES SOCIAIS

CAMPINAS 2016

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ANDREIA DE OLIVEIRA SILVA

A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DA REGIÃO DE CAIEIRAS/SP

EM MOVIMENTOS E REDES SOCIAIS

Tese de Doutorado apresentada ao

Programa de Pós- Graduação em Educação

da Faculdade de Educação da Universidade

Estadual de Campinas para obtenção do

título de Doutora em Educação, na área de

concentração de Política, Administração e

Sistemas Educacionais.

Orientador: Maria da Glória Marcondes Gohn

O ARQUIVO DIGITAL CORRESPONDE À VERSÃO

FINAL DA TESE DEFENDIDA PELA ALUNA ANDREIA

DE OLIVEIRA SILVA, E ORIENTADA PELA PROFA.

DRA. MARIA DA GLÓRIA MARCONDES GOHN.

CAMPINAS

2016

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Agência(s) de fomento e nº(s) de processo(s): Não se aplica.

Ficha catalográfica Universidade

Estadual de Campinas Biblioteca da

Faculdade de Educação Rosemary

Passos - CRB 8/5751

Silva, Andreia de Oliveira, 1970-

Si38p A participação de estudantes do ensino médio de escolas públicas da região

de Caieiras/SP em movimentos e redes sociais / Andreia de Oliveira Silva. –

Campinas, SP : [s.n.], 2016.

Orientador: Maria da Glória Marcondes Gohn.

Tese (doutorado) – Universidade Estadual de Campinas, Faculdade de

Educação.

1. Movimentos sociais. 2. Redes sociais. 3. Educação. 4. Políticas públicas.

5. Inclusão digital. I. Gohn, Maria da Glória Marcondes,1947-. II. Universidade

Estadual de Campinas. Faculdade de Educação. III. Título.

Informações para Biblioteca Digital

Título em outro idioma: The participation of high school students from public school in

Caieiras region/SP in movements and social networks

Palavras-chave em inglês:

Social movements

Social networking

Education

Public policy

Digital inclusion

Área de concentração: Políticas, Administração e Sistemas Educacionais

Titulação: Doutora em Educação

Banca examinadora:

Maria da Glória Marcondes Gohn [Orientador]

Maria Antonia de Souza

Suely Aparecida Galli Soares

Pedro Ganzeli

Newton Antonio Paciulli Bryan

Data de defesa: 26-02-2016

Programa de Pós-Graduação: Educação

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UNIVERSIDADE ESTADUAL DE CAMPINAS FACULDADE DE EDUCAÇÃO

TESE DE DOUTORADO

A PARTICIPAÇÃO DE ESTUDANTES DO ENSINO MÉDIO DE ESCOLAS PÚBLICAS DA REGIÃO DE CAIEIRAS/SP

EM MOVIMENTOS E REDES SOCIAIS

Autora: Andreia de Oliveira Silva

COMISSÃO JULGADORA:

Profª. Drª. Maria da Glória Marcondes Gohn - orientadora

Profª. Drª. Maria Antonia de Souza

Profª. Drª. Suely Aparecida Galli Soares

Prof. Dr. Pedro Ganzeli

Prof. Dr. Newton Antonio Paciulli Bryan

A Ata da Defesa assinada pelos membros da Comissão Examinadora, consta no processo de vida acadêmica do aluno.

2016

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À minha família, que sempre esteve ao meu lado,

dando-me forças nos momentos de desânimo e de luta.

A todos que acreditam que

podemos viver num mundo melhor.

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AGRADECIMENTOS

À minha orientadora, Prof. Dra. Maria da Glória Gohn, que, mais uma vez, me

permitiu trilhar por novos percursos que puderam me despertar para novas perspectivas e

novos horizontes, os meus sinceros agradecimentos.

Aos professores da Banca de Qualificação Profª. Drª. Maria Antonia de Souza e

Prof. Dr. Pedro Ganzeli, que tornaram o momento e o local da qualificação um espaço de

reflexão, por meio de suas valiosas observações, para que eu a tivesse como patamar para um

avanço em minha pesquisa.

Aos professores que aceitaram participar da Banca de defesa: Profª. Drª. Maria

Antonia de Souza, Profª. Drª. Suely Aparecida Galli Soares, Prof. Dr. Pedro Ganzeli e Prof.

Dr. Newton Antonio Bryan.

Às minhas filhas, Amanda e Anelize, e ao meu marido, Edvaldo, que me deram

muito apoio e que nunca reclamaram pelos momentos que não lhes dei atenção e deixamos de

realizar muitas atividades de família.

Aos meus pais, Antonio e Antonia, por quem sou e pelo amor, dedicação, apoio e

incentivo em todos os momentos.

Aos meus irmãos, Vilma, Silvia e Anderson, pelo apoio e por serem as pessoas

especiais que são em minha vida.

Aos amigos e colegas que colaboraram com as suas ideias, sugestões, revisões e

considerações em diversos momentos: Amanda, Quequeto, Denise, Lélia, Cátia e Kátia. Bem

como àqueles que de uma forma indireta contribuíram para que este trabalho pudesse ocorrer:

Célia, Edna, Josy e Jadilson.

A Jeová, meu maior apoio.

A todos os alunos que aceitaram responder aos questionários e a participação na

Roda de Conversa, permitindo que as reflexões fossem ampliadas por seus pareceres e

opiniões sobre o tema. Também aos gestores das escolas que permitiram e facilitaram a

valiosa participação desses jovens. Aos colegas que contribuíram para que ocorresse a “Roda

de Conversa”: Thiago, Newton e Angelo. Ao Sr. Jairo e, em especial, ao Dirigente de Ensino

Região de Caieiras, Celso, pelo apoio.

À Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, pelo incentivo por meio do

projeto Bolsa Doutorado.

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RESUMO

Esta tese aborda questões relacionadas ao sentimento de indignação e pertencimento no

universo da educação pública paulista que possa motivar os jovens estudantes à participação,

organização, reflexão e formação crítica por meio dos movimentos e manifestações sociais

ocorridos em junho de 2013 e nos meses subsequentes, organizados via redes sociais da

internet. Tendo como sujeitos da pesquisa os estudantes do Ensino Médio de escolas públicas

da região de Caieiras/SP. Assim este trabalho de investigação tem como questão central

demonstrar como os jovens do Ensino Médio das escolas públicas do Estado de São Paulo

definem, tomam conhecimento ou participam dos movimentos e manifestações sociais e, se

isso se dá por meio da educação formal, tendo como instrumento as salas de informática,

utilizando, ou não, as redes sociais como ferramentas para comunicação, publicização e

participação desses estudantes nesses movimentos e manifestações. Para a realização dessa

tarefa, o texto trata e relaciona ao tema central categorias, conceitos e definições que possam

auxiliar na investigação, como movimentos sociais, redes sociais digitais, educação, políticas

públicas, tecnologia de informação e comunicação e inclusão digital.

Os procedimentos operacionais da pesquisa para a investigação contam com três etapas sendo

elas: estudo da bibliografia e pressupostos presentes nas publicações específicas no que se

refere ao objeto proposto para esta tese; construção de um questionário com o objetivo de

levar em conta tanto fatores quantitativos acerca do perfil dos jovens, do uso dos espaços

virtuais e da participação política por meio dos movimentos e, qualitativos, levando-se em

consideração aprendizados, ideias, opiniões sobre o tema dos movimentos sociais –

disponibilizado na internet com aplicação nas próprias escolas; desenvolvimento de uma

“Roda de Conversa” com promoção de um debate com alunos que participaram de

manifestações em ruas e praças a partir de junho de 2013.

Desta forma considera-se, por fim, que a divulgação, o estudo e até a participação de poucos

desses estudantes nos movimentos e/ou manifestações de junho de 2013 marcam uma nova

fase de atuação e lutas com vistas a uma transformação social. Contudo, a educação formal

não foi a principal mediadora para tais ações uma vez que se evidenciou, na maioria do

estudo, que ela não tem utilizado espaços escolares ou ferramentas como a internet e redes

sociais digitais, disponíveis dentro e fora do ambiente escolar, como no caso das redes de

telefonia celular e computador, com vistas a uma maior participação social e reflexão sobre a

sociedade em que vivem para uma formação crítica. No entanto ainda, conclui-se que, embora

se revelando tal conclusão como certa, frustra. O que leva à inferência de que, as ocupações

das escolas pelos alunos da Rede Estadual em 2015, mostraram que, de certa forma, a função

social da escola tem sido cumprida, à medida que conhecimentos devem ter sido apreendidos

e compartilhados „nas lutas e jornadas‟, no interior da escola formal, gerando aprendizagens

não formais.

Palavras-chave: movimentos sociais, redes sociais digitais, educação, políticas públicas, TIC e

inclusão digital.

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ABSTRACT

This thesis addresses issues related to the feeling of indignation and belonging in the São

Paulo public education universe that can motivate young students to participation,

organization, reflection and critical training through social movements and demonstrations

that took place in June 2013 and in subsequent months, organized via social internet

networks. The subjects of the research the high school students from public schools in

Caieiras region / SP. So this research work has as a central issue demonstrate how young high

school students from public schools in the State of São Paulo define, become aware or

participate in social movements and demonstrations and, if it is through formal education,

with the instrument the computer rooms, using, or not, social networks as tools for

communication, publicity and participation of these students in these movements and

demonstrations. In carrying out this task, the text deals with and relate to the theme central

categories, concepts and definitions that may assist in the investigation as social movements,

digital social networking, education, public policy, information and communication

technology and digital inclusion.

The operating procedures of the study for research have three steps these being: study of the

literature and present the specific assumptions publications with regard to the proposed object

for this thesis; construction of a questionnaire in order to take into account both quantitative

factors about the profile of young people, the use of virtual spaces and political participation

through the movement and qualitative, taking into account learning, ideas, opinions on the

subject of social movements - available on the internet with application in the schools;

development of a "Talk Wheel" to promote a debate with students who participated in

demonstrations in the streets and squares from June 2013.

Thus it considered, finally, that disclosure, the study and even participation of a few students

in the movements and / or demonstrations of June 2013 mark a new phase of action and fights

with a view to social transformation. However, formal education was not the main mediator

for such actions as it was evident in most of the study, it has not used school space or tools

such as the internet and digital social networks available within and outside the school

environment, as in the case of cellular networks and computer, with a view to greater social

participation and reflection on the society in which they live with a view to a critical training.

But still, it is concluded that although revealing such a conclusion, this perception frustrates.

Which leads to the inference that the occupation of schools by students of the State Network

in 2015 showed that, in a way, the school's social function has been fulfilled, as knowledge

must have been seized and shared 'in the struggles and journeys' within the formal school,

generating non-formal learning.

Keywords: social movements, digital social networking, education, public policy, ICT and

digital inclusion.

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LISTA DE GRÁFICOS

Gráfico 1 – Questão 1: Sexo............................................................................................... 181

Gráfico 2 – Questão 2: Idade.............................................................................................. 182

Gráfico 3 – Questão 3: Deficiência limitante..................................................................... 182

Gráfico 4 – Questão 4: Estado civil.................................................................................... 182

Gráfico 5 – Questão 5: Quantidade de filhos...................................................................... 183

Gráfico 6 – Questão 6: Tipo ou modo de moradia............................................................. 183

Gráfico 7 – Questão 7: Quantidade de pessoas na residência.............................................184

Gráfico 8 – Questão 8: Situação de sustento...................................................................... 184

Gráfico 9 – Questão 9: Renda mensal familiar................................................................... 185

Gráfico 10 – Questão 10: Tipo de formação escolar (Ensino Fundamental e Médio)....... 185

Gráfico 11 – Questão 11: Locomoção mais utilizada para ir à escola................................ 186

Gráfico 12 – Questão 12: Atividade escolar, além das aulas, de que

participa/participou e..................................................................................... 187

Gráfico 13 – Questão 13: Tipo de frequência na sala do Acessa Escola............................ 187

Gráfico 14 – Questão 14: Tipo de utilização da sala do Acessa Escola............................. 187

Gráfico 15 – Questão 15: Redes sociais utilizadas............................................................. 188

Gráfico 16 – Questão 16: Atividades nas redes sociais...................................................... 188

Gráfico 17 – Questão 17: Sabem ou não o que são movimentos sociais

e manifestações populares de reivindicações................................................ 189

Gráfico 18 – Questão 18: Consideram importantes ou não os movimentos

sociais e manifestações populares de reivindicações.....................................190

Gráfico 19 – Questão 20: Conhecimento acerca dos movimentos sociais/

movimentos de reivindicação e manifestações populares de

reivindicações ocorridos nos anos de 2013 e 2014,

como o MPL e outros.................................................................................... 193

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Gráfico 20 – Questão 21: Meio pelo qual tomou conhecimento........................................ 194

Gráfico 21 – Questão 22: Se algum professor tratou do tema na sala de aula.................... 194

Gráfico 22 – Questão 23: Qual professor tratou do tema na sala de aula........................... 194

Gráfico 23 – Questão 25: Participação em movimentos e/ou manifestações..................... 197

Gráfico 24 – Questão 28: Meio pelo qual tomaram conhecimento do movimento

e/ou manifestações de que participaram*...................................................... 198

Gráfico 25 – Questão 29: Rede social mais utilizada para conhecimento

e participação................................................................................................ 198

Gráfico 26 – Questão 31: Aceitação para participar de entrevista..................................... 200

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LISTA DE TABELAS E FIGURAS

Tabela 1 - Taxa de escolarização em % (2013).................................................................. 75

Tabela 2 - IDEB (2013)...................................................................................................... 75

Figura 1 – Layout 1 Sala Acessa Escola - 77,76 m2.......................................................... 157

Figura 2 – Layout 2 Sala Acessa Escola - 64,00 m2.......................................................... 157

Figura 3 – Layout 3 Sala Acessa Escola - 56,00 m2.......................................................... 158

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LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS

AAP – Avaliação da Aprendizagem em Processo

APEOESP – Sindicato dos Professores do Ensino Oficial do Estado de São Paulo

APM – Associações de Pais e Mestres

ATP – Assistente Técnico-Pedagógico

ATPC – Atividade de Trabalho Pedagógico Coletiva

CBC – Conteúdos Básicos Comuns

CEFAM – Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do Magistério

CENP – Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas

CEU – Centro Educacional Unificado

CGEB – Coordenadoria de Gestão da Educação Básica

CUT – Central Única dos Trabalhadores

DE – Diretoria de Ensino

ECA – Estatuto da Criança e do Adolescente

EE – Escola Estadual

EJ – Estatuto da Juventude

ENEM – Exame Nacional do Ensino Médio

ETEC – Escola Técnica Estadual

FAAP – Fundação Armando Alvares Penteado

FDE – Fundação para o Desenvolvimento da Educação

FE – Faculdade de Educação

FEDEP-SP – Fórum Estadual de Defesa da Educação Pública - São Paulo

FUNDAP – Fundação do Desenvolvimento Administrativo

FUNDEB – Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

dos Profissionais da Educação

FUNDEF – Fundo de Desenvolvimento do Ensino Fundamental

GAL – Grupo de Apoio Local

GLD – Grupo Local de Diretores

HIV – Vírus da Imunodeficiência Humana

HTPC – Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo

INEP – Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira

LDB – Lei de Diretrizes e Bases

LGBTTTS – Lésbicas, Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Trangêneros e Simpatizantes

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MASP – Museu de Arte de São Paulo

MEC – Ministério da Educação

MPL – Movimento do Passe Livre

MST – Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra

MTST – Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto

NCE – Núcleo de Educação e Comunicação

NRTE – Núcleo Regional de Tecnologia Educacional

ONG – Organização Não Governamental

PCNP – Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico

PEC – Proposta de Emenda Constitucional

PNAD – Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios

POPAI – Posto Público de Acesso à Internet

ProEMI – Programa Ensino Médio Inovador

PROFIC – Programa de Formação Integral da Criança

PROINFO – Programa Nacional de Tecnologia Educacional

PROMDEPAR – Apoio Administrativo das Escolas da Rede Pública Estadual

PRONATEC – Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego

PSDB – Partido da Social Democracia Brasileira

PUC – Pontifícia Universidade Católica

REM – Responsáveis pela Educação do Município

SAEB – Sistema de Avaliação da Educação Básica

SAI – Sala Ambiente de Informática

SARESP – Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo

SEE – Secretaria de Estado da Educação

SENAC – Serviço Nacional de Aprendizagem Comercial

SISUTEC – Seleção Unificada da Educação Profissional e Tecnológica

TCI – Termo de Cooperação Intergovernamental

TIC – Tecnologia de Informação e Comunicação

UNESCO – Organização das Nações Unidas para a Educação, a Ciências e a Cultura

UNESP – Universidade Estadual de São Paulo

UNICAMP – Universidade Estadual de Campinas

UNICEF – Fundo das Nações Unidas para a Infância

UNINOVE – Universidade Nove de Julho

USAID – United States Agency for International Development

USP – Universidade de São Paulo

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SUMÁRIO

INTRODUÇÃO................................................................................................................. 16

CAPÍTULO I – REFERENCIAIS TEÓRICOS: MOVIMENTOS SOCIAIS,

POLÍTICAS PÚBLICAS E JOVENS.................................................. 30

1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS....................................................................................... 30

1.1.1 Manifestações e protestos: significados......................................................... 30

1.1.2 Movimentos sociais: breve panorama........................................................... 31

1.1.3 Movimentos ou mobilizações sociais.............................................................. 39

1.1.4 Redes, redes de mobilização social ou redes de movimentos sociais.......... 46

1.1.5 Movimentos sociais e as redes sociais digitais: articulação e estratégia..... 49

1.1.6 Movimentos sociais e educação...................................................................... 56

1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS.......................................................................................... 63

1.2.1 Políticas públicas em educação...................................................................... 65

1.2.2 Adolescente ou jovem...................................................................................... 66

CAPÍTULO II – A EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS: UMA VISÃO DO

CENÁRIO............................................................................................. 72

2.1 O SISTEMA DE ENSINO BRASILEIRO............................................................... 72

2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO............................................................... 90

2.2.1 Panorama das políticas públicas em educação no Estado de São Paulo.... 90

2.2.1.1 Proposta de reorganização escolar da Secretaria da Educação do

Estado de São Paulo................................................................................... 112

2.2.1.1.1 A proposta.......................................................................................... 113

2.2.1.1.2 As justificativas.................................................................................. 114

2.2.1.1.3 Histórico da reação da rede e medidas governamentais pelas

lentes jornalísticas............................................................................. 118

2.2.1.1.4 Opinião e análise de especialistas..................................................... 126

2.2.2 Breve panorama do universo do Ensino Médio no Brasil........................... 132

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CAPÍTULO III – TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO........ 140

3.1 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: UM ACESSO QUE

PODE CONTRIBUIR NA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE..................... 140

3.2 PANORAMA GERAL DO ACESSO ÀS TIC‟S NO BRASIL............................... 146

3.2.1 Panorama do acesso às TICs no ambiente escolar....................................... 148

3.2.2 TICs aplicadas nas atividades educacionais................................................. 150

3.3 ACESSA ESCOLA: UM PROGRAMA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS

DO ESTADO DE SÃO PAULO.............................................................................. 153

3.3.1 A questão do acesso......................................................................................... 161

3.4 INCLUSÃO DIGITAL............................................................................................. 167

3.4.1 Matrizes de análise.......................................................................................... 177

CAPITULO IV – MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E REDES SOCIAIS:

PESQUISA DE CAMPO.................................................................... 180

4.1 APRESENTAÇÃO DO RESULTADO DA ANÁLISE DO INSTRUMENTO...... 180

4.1.1 (A) Perfil........................................................................................................... 181

4.1.2 (B) Usos educacionais - internet / redes sociais............................................ 186

4.1.3 (C) Movimentos sociais................................................................................... 189

4.1.4 (D) Participação social.................................................................................... 197

4.2 RODA DE CONVERSA.......................................................................................... 200

4.2.1 Uso das redes e internet.................................................................................. 201

4.2.2 Movimentos sociais e manifestações populares............................................ 207

4.2.3 Influências........................................................................................................ 211

4.2.4 Importância das redes sociais digitais e internet nas manifestações.......... 213

4.2.5 Escola X Sociedade.......................................................................................... 216

CONSIDERAÇÕES FINAIS............................................................................................ 221

REFERÊNCIAS................................................................................................................. 233

APÊNDICES...................................................................................................................... 262

ANEXOS............................................................................................................................. 338

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16

INTRODUÇÃO

“Mãos para o alto, 3,20 é um assalto”, “Vem pra rua, vem, contra o aumento”,

“Não é por 20 centavos”. Estes foram apenas alguns dos inúmeros gritos que eclodiram a

partir do dia 06 de junho de 2013, quando jovens, indignados com o aumento da tarifa dos

transportes públicos, iniciaram seus protestos. E, ao se reunirem nesse dia “na Avenida

Paulista para contestar o aumento da tarifa de ônibus de São Paulo, ninguém poderia imaginar

que aquele seria o marco zero da maior sequência de protestos no país desde o Fora Collor”

(GRIPP, 2013, apud GOHN, 2014, p.19).

Para Gohn (2014), grandes manifestações ocorreram ao longo dos últimos anos,

como greves e passeatas de professores ou profissionais da educação, ou saúde, com

enfrentamentos com a PM, bem como lutas por todos os cantos do Brasil, como a de índios e

de quilombolas, reivindicações do MST e MTST. No entanto, no dia 17 de junho de 2013

milhares de pessoas saíram às ruas e, subsequentemente, pelos dois meses seguintes

ocorreram manifestações por todo o país. Foram denúncias contra superfaturamentos,

superlotação nos transportes públicos, mobilidade urbana de vias, derrubada de árvores, obras

para a Copa de 2014, assim como demandas como CPIs e PECs, entre outras. (GOHN, 2014,

p.19-20)

Assim, há de se refletir sobre as causas que levaram tantos cidadãos às

manifestações de reivindicações das mais variadas, após um ato em uma cidade brasileira, a

partir de uma demanda específica do Movimento do Passe Livre – MPL. A conjuntura vivida

no país mostrava, por intermédio dos meios de comunicação tradicionais e redes digitais,

inclusive as sociais, a insatisfação em relação à gestão pública brasileira em várias esferas,

por conta dos escândalos de corrupção, a volta da inflação, os gastos excessivos com

megaeventos, a má qualidade dos serviços públicos essenciais e, principalmente, a

compreensão da falta de justiça e de impunidade, bem como a exclusão social em vários

setores. A repressão violenta, imposta pelos governos, também funcionou como um estopim

para que crescesse mais o número de ativistas.

Tal mobilização os levou à percepção de que essa forma de luta coletiva é um dos

modos estratégicos de fazer escutar as insatisfações, tendo por vezes um retorno aos gritos, se

não o desejável, ao menos se vislumbra a abertura de caminhos. Outro entendimento é de que,

por meio das redes sociais digitais, tornaram-se viáveis as articulações, a organização dos

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17

movimentos e, principalmente, a repercussão destes pelo país e pelo mundo, de forma a

impelir as mídias tradicionais a iniciar a cobertura das manifestações.

Além dos motivos específicos da conjuntura local ou nacional, não se pode

descartar também a influência do contexto internacional, especialmente os

movimentos Occupy em várias partes do mundo, os Indignados na Europa

(especialmente Espanha, Portugal e Grécia) e a Primavera Árabe. (GOHN,

2014, p.21-22)

E é por conta desses fatos que se considera importante conhecer se, no universo de

atuação desta pesquisadora, a educação, há um sentimento de indignação e pertencimento que

possa impulsionar os jovens à participação, organização, reflexão e formação crítica por meio

desses movimentos, funções essas que seriam dessa mesma educação. Nesse sentido, nesta

tese são consideradas as indignações sociais que marcaram a cena política brasileira no ano de

2013, notadamente aquelas relacionadas a diversos movimentos de “massa” com variadas

reivindicações, às quais alguns escritores, entre eles jornalistas, atribuíram o próprio conceito

de “movimento social”.

Desse modo, este trabalho de investigação inscreve-se no universo de reflexões

que relacionam os processos de Inclusão Social aos processos de Inclusão Digital, propondo-

se particularmente a estudar a questão central: como os jovens do Ensino Médio das escolas

públicas do Estado de São Paulo definem, tomam conhecimento ou participam dos

movimentos e manifestações sociais – e se isso se dá por meio da educação formal, tendo

como instrumento a sala do Acessa Escola1, utilizando, ou não, as redes sociais como

ferramentas para comunicação, publicização e participação desses estudantes nesses

movimentos e manifestações. Para a realização dessa tarefa, é preciso abordar categorias,

conceitos e definições que possam auxiliar na investigação, como movimentos sociais, redes

sociais digitais, educação, políticas públicas, tecnologia de informação e comunicação e

inclusão digital.

No que se refere aos movimentos sociais, as questões que envolvem esse tema vão

desde sua possível conceituação, diferenciando-os de manifestações e protestos, os quais, no

senso comum, são tomados por sinônimos. E o termo, movimentos sociais, possui teorias e

conceitos variados de acordo com o contexto social, cenário e modelos teóricos. Contudo,

1 O programa Acessa Escola, o qual será apresentado no capítulo III, é um programa que faz parte das Políticas

Públicas de inclusão digital e educacional do Governo Estadual de São Paulo, desenvolvido pelas Secretarias de

Estado da Educação e de Gestão Pública e coordenado pela Fundação para o Desenvolvimento da Educação -

FDE.

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para Gohn (2008), são “ações sociais coletivas de caráter sociopolítico e cultural que

viabilizam formas distintas de a população se organizar e expressar suas demandas”.

Os movimentos sociais se definem pela forma de organização de determinados

grupos dentro da história e de acordo com suas demandas políticas, culturais, sociais,

econômicas. De acordo com Touraine (2006), eles possuem três princípios: o da identidade, o

da oposição/conflito e o da totalidade (descritos no primeiro capítulo). Os movimentos

contribuem para o entendimento da cidadania e de como ampliar os direitos, podendo

encaminhar-se nos diferentes níveis da sociedade civil, em grupos que se consideram como

iguais no que tange às condições econômicas ou à classe, raça etc., tanto no campo como na

zona urbana.

Quanto aos “novíssimos movimentos” (GOHN, 2013a), os quais têm a internet e

as redes sociais digitais como ferramenta de mobilização, se destacam por desenvolverem

movimentos em rede dos quais seus atores demandam democracia de poder descentralizado.

A crítica a eles está na falta de demandas específicas, como foi o caso das manifestações de

junho de 2013, existem identificações e demandas específicas em redes menores. De acordo

com Castells (2013), esses movimentos tiveram início em diferentes localidades do globo

terrestre por causas específicas, desenvolvendo-se conforme a reação do Estado em responder

ou não ao solicitado, assim como ocorreu no Brasil. Porém, não tinham identidades

específicas, com variadas demandas. Eram em sua maioria jovens que se apoderaram das

redes sociais como meio de comunicação virtual que possibilitava “autonomia”.

Para este trabalho também é importante diferenciar “redes” de “mobilização

social”, pois para muitos a primeira categoria passou a ser mais importante para os estudos do

que a segunda. Contudo, o conceito de redes também possui sentidos diferentes para cada

época e cada corrente de estudo das academias nas ciências exatas, humanas, biológicas e

sociais ou em áreas como as da antropologia, geografia etc. Também variam os significados

de acordo com os autores e linhas de pensamento. Podendo também ser agentes de

organização de lutas e participações ativistas.

Já as redes sociais digitais, por sua vez, se configuram como ferramenta de

comunicação e organização dos movimentos e manifestações sociais, criando e ampliando os

espaços de mobilização, além do uso comum para relações pessoais e busca de informações.

E, de acordo com Castells (2013), as mídias sociais “não causam revoluções”, mas não há

como refutar que sua utilização proporcionou as maiores manifestações desta década, com

levantes como os da Primavera Árabe ou o Occupy Wall Street. As redes dão uma

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característica comum a todos esses “novíssimos movimentos” (GOHN, 2013a), são

“conectados em rede de múltiplas formas” (CASTELLS, 2013).

Para Castells (2013), esses movimentos possuem peculiaridades, a saber: se

tornam um movimento ao ocuparem um espaço urbano; são simultaneamente locais e globais;

são amplamente espontâneos em sua origem, geralmente desencadeados por uma centelha de

indignação; são virais; realizam-se por deliberação no espaço da autonomia; são

profundamente autorreflexivos; não são violentos em geral; seus programas são elaborados

em torno de objetivos específicos; o papel da internet e da comunicação social em rede sem

fio é fundamental.

O estudo da relação movimentos sociais e educação é nova, podendo, segundo

Gohn (2011), ocasionar entusiasmo em uns e repúdio em outros. Essa conexão se deu por

conta dos novos atores que têm os movimentos como uma grande influência educativa para

esses grupos. E ocorre “na interação dos movimentos em contato com instituições

educacionais, e no interior do próprio movimento social, dado o caráter educativo de suas

ações” (GOHN, 2011).

Arroyo (2003) fala sobre a possibilidade de uma “pedagogia dos movimentos

sociais”, quando mostra as identificações de todos os movimentos com seus gritos de guerra,

palavras de ordem, formas de manifestação e até organização, as quais não existem em

nenhum manual ou método pedagógico, ao contrário, fazem parte de uma ação pedagógica

para a formação humana.

Também, discutir políticas públicas voltadas à educação é imprescindível como

referencial teórico para análise do objeto desta tese, pois se faz necessário entender como elas

são formuladas e implementadas com vistas a ações inclusivas e educativas nas escolas

públicas, das quais faz parte o segmento do Ensino Médio, no qual estão inseridos os sujeitos

desta pesquisa. Assim, Perez (2010) afirma que o conceito dessa categoria – educação – vai

além de estudo ou o que é estudado, pois é o conjunto de ações do Estado, administrado por

um determinado período por um governo, tendo em vista a formação do cidadão. Assim como

discutir política pública em educação nesta tese é fundamental, no que tange aos seus

programas e como são implantados no universo da escola pública.

Outro aspecto que se torna apropriado estudar são alguns conceitos sobre

adolescência e juventude, uma vez que o sujeito central desta tese é o aluno, adolescente e

jovem, do Ensino Médio da rede pública estadual de São Paulo. Entender sua participação na

sociedade e em ações coletivas significa compreender, de certa forma, sua atuação ou

participação em protestos de reivindicações.

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O aluno do Ensino Médio das escolas públicas está inserido em um sistema de

ensino desarmonizado. O currículo não está articulado com as necessidades sociais reais, não

as priorizando em suas metodologias. Mesmo que, nos últimos anos, tivesse havido uma

melhoria relativa no que se refere à universalização, a situação geral não é satisfatória,

principalmente qualitativamente. E, ao longo da História da Educação, houve implementações

e tentativas de políticas com vistas a garantir a melhoria da qualidade da educação, como

também do acesso e da permanência do estudante nela. Contudo, para Ganzeli (2007), esse

processo precisa ser construído a partir de cada realidade, de cada comunidade escolar, pois

não pode ser simplesmente implantado. As desigualdades dentro do espaço escolar

permanecem, mesmo com a mudança de algumas legislações e criação de outras, se

desenvolvendo de acordo com interesses de cada região.

No que se refere às Tecnologias de Informação e Comunicação, vale salientar que

elas não determinam a sociedade, contudo o acesso à informação pode ser de grande valia na

transformação da sociedade e do processo educacional. E, por meio dessas ferramentas,

pode- se agilizar o processo de aprendizagem no que se refere à busca de informações e, por

conseguinte, proporcionar outras possibilidades de elaboração do conhecimento, para

embasamento de uma formação cidadã. Mas a saída não está somente em equipar as escolas

com computadores, formar os professores, acesso à internet e às redes sociais. Nem tão

somente em inserir as TICs no cotidiano escolar, o que não garante a melhoria da qualidade

do ensino. É preciso, antes de tudo, que essas ferramentas sejam utilizadas, além do auxílio na

cognição, para uma formação crítica cidadã, na qual os sujeitos busquem formas de

transformação de suas realidades e da sociedade em que vivem.

No que se refere ao acesso, estudos feitos pelo Instituto Brasileiro de Geografia e

Estatística - IBGE, por meio da Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios - PNAD, com

dados referentes a 2013, e pela Fundação Getúlio Vargas - FGV, em parceria com a Fundação

Telefônica, com o Mapa da Inclusão Digital, publicado em 2013, demonstrou que o acesso às

TICs e redes digitais teve um aumento considerável. Contudo, ainda existe uma parcela, quase

a metade da população do Brasil, que não está incluída nesse universo. Ainda mais quando se

trata das disparidades digitais quanto à questão da inclusão no mesmo país – em algumas

regiões a taxa de inclusão fica muito aquém da totalidade.

Infere-se que a exclusão social continua inexorável, sendo muitas vezes, por outra

forma, a exclusão dos que não têm acesso às TICs e às redes sociais, a chamada exclusão

digital. Pois o acesso democrático das TICs e das redes sociais digitais é, antes de tudo,

constituído pelo direito à participação nas tomadas de decisão nos rumos das políticas

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públicas, é a soberania popular atuando no que tange aos direitos. Por tudo isso, a escola

poderia ser um espaço de formação crítica e de apropriação do uso das tecnologias, visando à

mobilização e à solidificação de movimentos sociais com efetiva participação política na

sociedade.

Dessa forma, o objetivo desta tese é refletir se, a partir da consciência formada em

instituições de educação formal, o jovem poderia, por meio dos instrumentos de acesso à

internet, tomar conhecimento, entender o propósito e até participar da constituição de

movimentos e manifestações sociais. Este estudo aborda também a função de educação não

formal dessas ações coletivas organizadas, a partir do envolvimento dos jovens, por meio de

instrumentos tecnológicos como as redes sociais, acessadas em equipamentos próprios, lan

houses ou mesmo celulares. Dessa maneira, tomam-se como referência, no estudo desses tipos

de influências na participação, as movimentações ocorridas no Brasil em junho de 2013,

organizadas principalmente via redes sociais da internet, geradoras de mobilizações sociais.

Assim, voltando à questão central, é necessário aprofundar se essas ações são

resultado de consciência formada em instituições públicas do Estado de São Paulo de

educação formal ou se advêm do próprio envolvimento dos jovens em ações coletivas

organizadas. Portanto, esta tese dedica-se a refletir sobre fundamentos que deram origem à

participação de jovens estudantes em movimentos sociais em sua dimensão concreta e virtual.

Busca-se compreender como se deu a articulação com grupos envolvidos nesses movimentos

e ações por meio das redes sociais da internet, verificando-se a natureza e caráter dessa

participação. Indaga-se se ela seria fruto de um processo de conscientização crítica dos jovens

usuários das redes produzido a partir de sua experiência nos espaços virtuais presentes no

âmbito da educação formal, não formal ou informal.

Também se direciona a atenção para a participação social digital de jovens que

utilizam espaços virtuais de convivência do programa Acessa Escola, implementado pelas

políticas públicas de educação e inclusão digital do governo do Estado de São Paulo. Para

entender melhor a participação desses alunos nos referidos movimentos, considera-se

necessário verificar se essas políticas, além de propiciarem o acesso ao ambiente virtual,

também estimulam a formação de consciência crítica para o convívio e a participação nesses

espaços.

Entre as razões que levaram a propor o objeto de investigação desta tese está

ainda o desejo de elucidar questões relacionadas a aspectos subjetivos, referentes ao interesse,

como educadora, de investigar se os jovens alunos do Ensino Médio são instigados a uma

formação política que os estimule à participação sociopolítica, seja por meio do ensino

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formal, mediado por educadores, seja por meio da educação não formal propiciada pelos

espaços virtuais disponibilizados nas unidades escolares. O cenário político conformado ao

longo do ano de 2013 (pré-copa, copa, pré-eleições, eleições etc.), que culminou nas

manifestações e nos “movimentos dos indignados”, inspirou a considerar os processos

educativos formais e não formais vividos também no espaço das redes sociais da internet no

foco das reflexões acadêmicas, o que resultou na elaboração desta proposta de pesquisa.

Diante do exposto, para dar conta da complexidade do tema tratado, considerou-se

necessário um movimento de estudo que permitisse conhecer as relações entre o convívio em

ambientes virtuais, a educação e o Estado e as políticas públicas da Educação. Do mesmo

modo, torna-se indispensável considerar a discussão sobre a importância das políticas

educacionais brasileiras e o efeito que as reformas do Estado tiveram sobre elas. Para tratar de

temas relacionados às políticas voltadas para a Inclusão Social por meio da Inclusão Digital, é

preciso sistematizar elementos básicos constituintes disso que conhecemos por Políticas

Públicas, bem como conhecer sua estrutura, ou melhor, construir o conhecimento sobre,

porque sua organização se constitui como pilar para atuação dos cidadãos. Esse conhecimento

poderia auxiliar na compreensão dos processos de Inclusão Social mediados pela Inclusão

Digital à medida que esclarecesse sobre como os saberes acerca da política pública

educacional propiciam a compreensão do processo de desenvolvimento de uma consciência

crítica por meio da participação em movimentos virtuais dos indignados.

Não menos importante, faz-se necessária uma análise das demandas sociais da

realidade brasileira, assim como do cotidiano educacional mediado por seus educadores no

âmbito escolar e o estudo de acesso aos usos tecnológicos, mais especificamente à internet e

redes sociais. É mister a análise da realidade e das demandas sociais e educacionais, de forma

a observar como a Educação pode ser uma grande aliada na tarefa de transformação social,

pois é por meio dela que se pode contribuir para criar e desenvolver um espírito crítico nos

educandos e na “comunidade educativa” (GOHN, 2004, p.40).

Nesse contexto, antes de apresentar o cenário educacional onde transitam os

jovens desta pesquisa, considera-se conveniente delinear algumas concepções sobre alguns

temas desta tese, tais como Movimentos Sociais e Tecnologias de Informação e Comunicação

e outros que os complementam. Toma-se como base conhecimentos vivenciados na Educação

formal e não formal para refletir sobre as políticas públicas, de forma a proporcionar o acesso

aos cidadãos às informações veiculadas na rede e, consequentemente, maiores possibilidades

de interação. Discute-se também sobre movimentos sociais e suas possibilidades de

organização, sobre conceitos e práticas educacionais. Além disso, dedica-se atenção a estudos

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sobre o relacionamento entre as teorias e Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs,

mais especificamente no que se refere à internet e às redes sociais digitais. Tudo isso sem

deixar de contextualizar essas ponderações no universo de reflexões sobre educação e sua

relação com a formação de um processo de conscientização popular.

Assim, neste estudo, para o conhecimento do objeto proposto, recorre-se a um

referencial teórico como suporte para esclarecer categorias como Políticas Públicas

Educacionais, Novas Tecnologias de Informação e Comunicação, Movimentos Sociais e o

percurso dos movimentos de reivindicações das demandas sociais em redes sociais e internet

em geral.

A respeito dos procedimentos operacionais da pesquisa para a investigação sobre

a participação e a produção de uma consciência crítica por meio da experiência de

engajamento em protestos e grupos dos indignados, propõe-se a investigação tanto em

espaços virtuais como em escolas públicas da rede estadual de São Paulo que possuam Ensino

Médio. Essa investigação busca responder se nesses equipamentos educacionais existem

movimentos de reivindicações das demandas sociais organizados por meio das redes sociais

da internet e como se deu e se dá sua articulação.

Os sujeitos da pesquisa são os alunos do Ensino Básico de escolas públicas

inseridas na Diretoria de Ensino Região de Caieiras, a qual abrange um território onde grande

parcela da população é carente, principalmente dos municípios de Franco da Rocha e

Francisco Morato. Ainda fazem parte os municípios de Caieiras, Cajamar e Mairiporã, os

quais também possuem áreas desprovidas de recursos sociais e econômicos. Contudo, apesar

de ainda existirem sujeitos que não têm vivência virtual, uma grande parcela dos estudantes

frequenta lan houses, usa internet na casa de colegas e no espaço da escola. Assim, considera-

se importante pesquisá-los, uma vez que tal contato virtual pode revelar algo mais sobre

políticas públicas educacionais e, dessa forma, os impactos de possíveis transformações no

processo de ensino e de aprendizagem que a educação pode propiciar.

Metodologia

A metodologia é configurada no intuito de possibilitar identificar como os jovens

do ensino médio da Escola Pública Estadual tomam conhecimento e participam, por meio das

redes sociais, dos movimentos de reivindicações e demandas sociais da sociedade, tendo

como instrumento a sala do Acessa Escola. Assim, para a realização desta tese, a metodologia

divide-se em três etapas.

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Na primeira etapa, realiza-se um estudo da bibliografia e pressupostos presentes

nas publicações específicas no que se refere ao objeto proposto para esta tese. Dessa forma, o

desenvolvimento desta tese se pauta em estudos e obras de alguns autores tidos como mestres

em determinados temas, como também passa por algumas abordagens de outros. No que se

refere aos movimentos sociais e seus desdobramentos: Gohn (2003, 2007, 2008, 2010, 2011,

2013a, 2013b, e 2014), Castells (1999, 2003, 2005 e 2013), Touraine (2006), Sousa (2013,

Melucci (1999), Scherer-Warren (2006), Barnes (1987), Cohen (2003), Arroyo (2003 e 2012),

M.A. Souza (2005) e Freire (s/d). Para se tratar de política pública e política pública em

educação: Perez (1994 e 2010), Palma Filho (2010), Mainardes (2006), Mainardes e

Marcondes (2009), Giovanni (2010), Höfling (2005), Ball e Mainardes (2011), Saviani

(1997), Sanfelice (2010), Borges (2001), Vasconcelos (2008), Weisz (2010), Aguiar (2013),

Afonso (2000), Russo (s/d), Gall et al. (2009), Adrião (2006), Freitas (2011). Para a questão

do jovem e sua participação: Melucci (1996a e 1996b), Novaes (2004), Ozella (2011), Groppo

(2000), Peralva (1997), Camarano et al. (2004), Gohn (2013a, 2013b e 2014) e Abramo

(2004). Na questão da educação: Ishii et al. (2014), Biasoli-Alves (2001), Gremaud (2011),

Mantoan (2006), Soligo (2009), Bremer (2007), Harnik (2011), Freitas (2002), Ganzeli

(2007), Draibe (1993), Sanfelice (2010), Dourado et al. (2007), Freire (1995), Perez e Passone

(2010), Silva (2001), Valente (1999), Pacievitch et al. (2009), Lorieri (2010), Severino

(2002) e Gouveia e Souza (2008). No que se refere às TICs e seus desdobramentos, bem

como à questão educacional e de inclusão: Castell (1999, 2003 e 2005), Santos (2005),

Almeida e Prado (2005), Almeida (2005), D. Silva (2005), Gohn (2004, 2005), Belluzzo (s/d),

Freire (1976 e 2005), Sancho e Hernández (2006), Bonilla e Picanço (2005), Behrens (2007),

Thompson (2012), Balboni (2007), Carvalho (2002), Cortella (2007), Silveira (2008 e 2011),

Lorieri (2005), Demo (2000), Sawaia (2001), Wanderley (2001), Ferreira (2002), Verás

(2001), Paugam (2001), Frigotto (2010), Guareschi (2001), Young (2002), Bonilla e Oliveira

(2011), Bonilla e Souza (2011), Warschauer (2006), Lévy (1999).

Na segunda etapa, apresenta-se uma pesquisa de campo organizada a partir de

procedimentos específicos, a saber:

• Foi construído um questionário com o objetivo de levar em conta tanto fatores quantitativos

– no que se refere ao perfil dos jovens, à utilização dos espaços virtuais e à participação

política por meio dos movimentos – como qualitativos, acerca dos aprendizados, ideias,

opiniões sobre o tema dos movimentos sociais.

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• Para aplicação desse questionário, foi gerado um formulário2 no Google Docs

3, armazenado

no Google Drive4 e disponibilizado em “computação em nuvem”

5, o qual, por meio de um

link, um grupo de alunos do segmento selecionado pôde acessar o documento e responder às

questões. Estas, imediatamente, ficaram armazenadas em banco de dados no espaço virtual,

ao qual o pesquisador teve acesso por meio de uma conta de email com login e senha.

• Para isso, foi enviado um email a 63 escolas, que possuem Ensino Médio, dos cinco

municípios de abrangência da Diretoria de Ensino Região de Caieiras, solicitando que os

alunos se dirigissem até a sala do Acessa Escola para que pudessem ter acesso ao

questionário, por meio dos computadores e internet. Vale salientar que esse foi um processo

trabalhoso no que se refere à autorização para que os alunos respondessem às questões,

devido à presença de termos como “movimentos sociais”, “reivindicações”, “protestos” no

texto – dessa forma, alguns gestores pensaram que o tema estivesse ligado diretamente com

“política partidária”.

• Contudo, os gestores de apenas 29 escolas atenderam ao pedido e, destas, somente os alunos

de 19 escolas participaram efetivamente, respondendo às questões. Obteve-se um total de

1.262 participações de alunos.

• Entre a construção do questionário, a espera de autorização do Dirigente Regional para

aplicá-lo em unidades escolares, a geração do formulário, o envio do email às escolas e a

organização dos alunos para responderem às questões transcorreram dois meses, entre agosto

e setembro de 2014.

• Posteriormente, no mês de outubro, os dados foram tabulados para o início da análise para o

relatório de qualificação.

• No mês de novembro, após a leitura e a partir das respostas, foram selecionados 20 alunos

para uma possível entrevista, quatro de cada município, uma vez que a Diretoria de Caieiras

abrange cinco cidades. Após reunião entre orientadora e orientanda, chegou-se à conclusão de

2

O gerador de formulários é uma ferramenta do Google Docs, que facilita a criação de questionários, pois é bem

versátil e pode ser usada para construir avaliações de algum produto ou serviço, cadastros de pessoas, pesquisas

de opinião e até mesmo testes de conhecimento. 3

O Google Docs é um serviço com aplicativos que permite criar, editar e visualizar documentos de texto e

compartilhá-los, com a possibilidade de trabalhar off-line. Essa ferramenta pode salvar os arquivos tanto no drive

online do Google como na memória do dispositivo. Também é possível definir que tipo de interação essas

pessoas terão sobre um documento, como permitir que elas editem, comentem ou apenas visualizem o texto.

(COSTA, 26/05/2015) 4 O Google Drive é um serviço de disco virtual que o Google lançou oferecendo alguns GB de espaço gratuito

para seus usuários. O serviço permite o armazenamento de arquivos na nuvem do Google. 5 A denominação “cloud computing”, também conhecido no Brasil como computação nas nuvens ou computação

em nuvem, se refere, essencialmente, à ideia de utilização, em qualquer lugar e independente de plataforma, as

mais variadas aplicações por meio da internet com a mesma facilidade de tê-las instaladas em próprios

computadores. Nele é mais fácil encontrar aplicações disponíveis em servidores que podem ser acessadas por

qualquer terminal autorizado por meio de uma rede. (ALECRIM, 04/03/2015)

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que seria interessante que esses alunos fossem convidados para uma “Roda de Conversa”, na

qual eles pudessem debater o tema a partir de questões propostas.

• A “Roda de Conversa” com o objetivo de promover um debate com alunos que participaram

de manifestações em ruas e praças a partir de junho de 2013, ocorreu no dia 03/12/2014.

• As questões para estímulo ao debate foram semiestruturadas, partindo de um roteiro pré-

elaborado, porém, permitindo a inclusão de outras questões que se fizeram necessárias. A

“Roda de Conversa” foi gravada em vídeo e, posteriormente, transcrita.

Na terceira etapa, são analisadas as informações coletadas, de maneira a verificar

as relações entre movimentos sociais, educação e redes sociais/internet, assim como pontos

divergentes. São realizadas reflexões acerca do material estudado e estabelecida, à luz do

referencial teórico, a relação entre a teoria e prática, contribuindo para a interpretação sobre

como o jovem do Ensino Médio da escola pública estadual de São Paulo, organizado por meio

das redes sociais, no processo de articulação dos movimentos de reivindicações das demandas

sociais, constrói referenciais para o desenvolvimento de uma consciência a partir de

instituições de educação formal. Também como as ações dos movimentos sociais têm se

articulado por meio da internet e redes sociais digitais, e como estas são incentivadas pelos

campos educacionais formal, não formal e informal.

Para efeitos da análise, foram resgatadas e reescritas duas matrizes explicativas

das práticas de participação, apresentadas na dissertação de mestrado (Silva, 2008), as quais

compõem o referencial teórico de apoio desta dissertação: a matriz mercadológica - baseada

em argumentos e práticas em que se destacam o indivíduo, a competição, a separação, e a

finalidade das atividades de inclusão e participação, na qual se destaca a preparação para o

mercado de trabalho; e a matriz cidadã - que trabalha com a perspectiva da construção de

espaços coletivos e encontros de grupos sociais nos quais os sujeitos neles se reconhecem

com vidas, propósitos, objetivos e problemas comuns. A matriz cidadã tem por finalidade

contribuir para a formação dos sujeitos, de forma a se ter uma ferramenta para construir a vida

dos sujeitos de forma participativa e coletiva.

Desenho dos capítulos da tese

O primeiro capítulo, intitulado “Referenciais teóricos: movimentos sociais,

políticas públicas e jovens”, aborda estudos para subsidiar a questão central da tese com vistas

a investigar a natureza e o caráter da participação social no que diz respeito à origem dos

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movimentos sociais em sua dimensão concreta e virtual, à articulação dos grupos envolvidos

nesses movimentos e ações por meio das redes sociais digitais. Trata, sucintamente, da

definição de políticas públicas, principalmente as que afetam jovens desses segmentos – de

educação –, e faz uma breve significação do tema juventude.

Com o título “Educação e políticas públicas: uma visão do cenário”, o segundo

capítulo estende-se sobre algumas questões do sistema educacional brasileiro e as políticas

públicas em educação, empreendendo um histórico sumário no âmbito estadual paulista e

sobre a implantação de outras no Brasil para o Ensino Médio. Também introduz um quadro

dos fatos ocorridos nos últimos meses do ano de 2015, no que tange aos protestos,

manifestações e reivindicações contra a implementação da Reorganização das escolas do

Estado de São Paulo.

O terceiro capítulo, “Tecnologias de Informação e Comunicação”, discorre sobre

as TICs e sua aplicação no âmbito escolar, bem como a implantação do programa Acessa

Escola, como uma das políticas públicas para educação de apoio às atividades pedagógicas e

como política pública para inclusão digital. Nessa perspectiva, aborda alguns conceitos de

inclusão digital, assim como apresenta duas matrizes de análise para a pesquisa de campo.

Dedica-se o quarto capítulo, “Movimentos sociais, educação e redes sociais:

pesquisa de campo”, à análise do material da pesquisa de campo – questionário e roda de

conversa –, procurando estabelecer limites e possibilidades de políticas públicas e programas

implementados e sua apropriação pelos alunos do Ensino Médio. Esse capítulo procura

debater sobre até que ponto essas ações podem abrir espaços de luta por meio das redes

sociais digitais, com a participação de jovens do Ensino Médio de escolas públicas.

Por fim, as considerações finais, sem a pretensão de apresentar uma conclusão

definitiva ao que concerne ao objeto de estudo, em uma conjuntura dinâmica em que a

sociedade vislumbra a cada dia novos acontecimentos, principalmente no que diz respeito à

questão dos movimentos e manifestações sociais, bem como suas relações com o universo das

redes sociais digitais e internet.

Os desafios são diversos quando se trata de um tema que se configura em torno de

um ciclo em desenvolvimento no que se refere às formas inéditas de expressões e

pensamentos acerca da teoria e das práticas que se apresentam com suas inovações e

mudanças.

Nessa perspectiva, estima-se que a educação formal não tem propiciado e, muitas

vezes, até nega o acesso às Tecnologias de Comunicação e Informação aos jovens do Ensino

Médio das escolas públicas. Isso devido ao desconhecimento de muitos profissionais da

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educação sobre as possibilidades de elaboração do conhecimento e de relações sociais em

rede com vistas a uma formação crítica e até ao aprendizado com o outro. O modelo de

educação vigente não prepara para uma vivência coletiva, em que os sujeitos possam estar

conscientes de suas realidades e atuar para transformá-las. Existe uma disparidade entre uma

formação para a individualização do sujeito – que, de forma apática, espera que as decisões

sejam tomadas por outros segmentos da sociedade e que isso, de alguma forma, o beneficie –

e o enfrentamento consciente dos desafios impostos pela sociedade por meio de uma

participação coletiva e deliberativa.

Quanto às redes sociais digitais e internet, há uma percepção de que os jovens

demonstram uma criticidade acerca da importância do seu uso, bem como seus limites,

aspectos favoráveis ou não. Por meio das redes, muitos são informados sobre os universos e

cenários de lutas sociais e, por conta disso, alguns são levados à participação. No entanto, o

ambiente escolar não os tem levado a uma tomada de conhecimento dos fatos. E por

consequência gera a desmobilização, pois os alunos raramente frequentam os espaços

destinados ao acesso das TICs, por não serem estimulados para fins de estudos ou sociais. Os

jovens buscam acesso às redes sociais, fundamentalmente, fora do espaço educacional formal,

mas para a maioria o acesso se dá principalmente, senão como única forma, por meio da rede

de telefonia celular. A qual, para os jovens, é imprescindível para participação social e busca

de informações.

Aos jovens estudantes falta o estimulo, por meio da educação escolar, as

diferentes formas de reflexão acerca dos movimentos sociais, das manifestações sociais, seus

objetivos, suas histórias, seus contextos e a realidade contextual em que vive. Na maioria das

vezes não lhes são apresentados ou discutidos os fatos cotidianos no que diz respeito a esse

tema, a exceção da vontade política de alguns professores, sobretudo da área de ciências

humanas, engajados em princípios democráticos e cidadãos. Apesar de muitos conhecerem o

tema, ou o terem acompanhado pela mídia, a grande maioria não participou de nenhum

movimento de protesto e reivindicação. Para os que participaram, salvo alguns que não

acreditavam que sua atuação em movimentos pudesse trazer boas perspectivas, a participação

foi importante para construção de sua história como ser humano reflexivo, ainda que por meio

de grupos externos ao espaço da escola.

Diante do exposto, considera-se que a educação formal pouco proporciona

espaços e oportunidades para tais reflexões acerca do tema, tampouco, por meio de seu

currículo, estimula a participação social em busca de direitos cidadãos, mesmo porque,

raramente se discute tal mote relacionado com os desafios enfrentados pela sociedade em que

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vivem, exceto pela iniciativa de educadores que, a partir de suas aulas, procuram trabalhar

com vistas a uma educação mais emancipadora que prima para a formação para a cidadania.

Contudo, vale a pena ressaltar que recentes acontecimentos surpreenderam a

sociedade civil, governos e mídia quando jovens e adolescentes, estudantes da rede pública

estadual paulista, protestaram contra a medida educacional pública de Reorganização das

escolas da rede estadual. Cabe lembrar que os sujeitos desta pesquisa de campo fazem parte

desse novo cenário apresentado ao país, no qual os estudantes se configuraram protagonistas

de fato e como construtores de suas histórias, da educação e da sociedade. Isso posto, fizeram

com que o país ouvisse suas insatisfações e reivindicações, por meio de uma experiência que

lhes proporcionou um aprendizado e uma formação para vida. E essa escola pela qual lutam,

agora, está lhes devendo.

Assim, por conta da manifestação protagonizada pelos jovens estudantes, nos leva

ao entendimento que, mesmo diante desta reflexão apresentada, os espaços da educação

formal ainda se configuram como propositores de ações participativas e cidadãs, a medida que

os sujeitos se articulam, se organizam e aprendem, por meio de uma educação não formal, em

um espaço formal.

Por último, nos Apêndices, é possível consultar o questionário aplicado aos alunos

do Ensino Médio da rede pública estadual paulista, os quadros completos das respostas dos

alunos a tal questionário e a transcrição da roda de conversa; e nos Anexos, pesquisa

socioeconômica da região de Caieiras - SP, onde estão inseridos os sujeitos da pesquisa.

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CAPÍTULO I – REFERENCIAIS TEÓRICOS: MOVIMENTOS SOCIAIS,

POLÍTICAS PÚBLICAS E JOVENS

O capítulo aborda os referencias teóricos buscados para subsidiar a questão central

da tese, no que se refere à compreensão da atuação do jovem estudante do Ensino Médio da

Escola Pública Estadual em movimentos ou manifestações de reivindicação das demandas

sociais. Desse modo, faz-se necessário, com vistas a verificar a natureza e caráter dessa

participação, inicialmente abordar a origem dos movimentos sociais em sua dimensão

concreta e virtual; a articulação dos grupos envolvidos nesses movimentos e ações por meio

das redes sociais digitais; uma definição de políticas públicas, principalmente as que afetam

jovens desses segmentos; e, por último, uma significação ao tema jovem ou juventude,

ativista ou não.

1.1 MOVIMENTOS SOCIAIS

Apresentar a temática dos movimentos sociais, seu panorama, seus

desdobramentos e inserções no campo da educação por meio das redes sociais e internet é de

fundamental importância na análise desta tese, uma vez que se busca identificar se o sujeito

da pesquisa poderia desenvolver a capacidade de participar da constituição de movimentos e

manifestações sociais.

1.1.1 Manifestações e protestos: significados

De acordo com o dicionário Houaiss (2001), “protesto” significa “ato ou efeito de

reclamar”, de se queixar. É um “grito, brado de repulsa ou de não concordância com relação a

algo”. Assim, o sentido mais viável seria o de manifestar-se contra. Contudo, se consultada a

etimologia da palavra, verifica-se que vem de “prometer ou afirmar solenemente”. Por essa

perspectiva pode-se dizer que quem protesta também pode estar afirmando algo.

Segundo o mesmo dicionário, manifestação significa “ato de dar a conhecer, de

revelar (pensamento, ideia); expressão, revelação [...] ato de exprimir-se, pronunciar-se

publicamente [...] de deixar transparecer um sentimento em sua atitude, em seu

comportamento”. Também um “conjunto de pessoas que se reúnem em lugar público para

defender ou tornar conhecidos seus pontos de vista, suas opiniões”.

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Portanto, pode-se entender que “protesto” e “manifestação” são palavras

diferentes em sua definição, porém existe a possibilidade de protestar por meio de

manifestações, ou seja, reivindicar direitos. Seria um esforço mútuo, um movimento em favor

de uma causa ou que busca modificar o que está posto.

1.1.2 Movimentos sociais: breve panorama

Neste item não existe a pretensão de se fazer uma definição ou um histórico

precisos do conceito “movimentos sociais”, e sim apenas traçar um breve panorama do

conceito, para que seja base do referencial teórico em análises posteriores.6 Segundo Gohn

(2007, p.327), “não há teoria, concepção e tipo único de movimento social [...] há várias

teorias formadas em paradigmas teóricos explicativos”. Assim sendo, iniciar-se-á com a

teoria da autora sobre movimentos sociais, apontando que são “ações sociais coletivas de

caráter sociopolítico e cultural que viabilizam formas distintas de a população se organizar e

expressar suas demandas (cf. GOHN, 2008)”.

Na ação concreta, essas formas adotam diferentes estratégias que variam da

simples denúncia, passando pela pressão direta (mobilizações, marchas,

concentrações, passeatas, distúrbios à ordem constituída, atos de

desobediência civil, negociações etc.) até as pressões indiretas. Na

atualidade, os principais movimentos sociais atuam por meio de redes

sociais, locais, regionais, nacionais e internacionais ou transnacionais, e

utilizam-se muito dos novos meios de comunicação e informação, como a

internet. (GOHN, 2011, p.335)

Os movimentos sociais se caracterizam pela organização de determinados grupos

visando transformações sociais por meio de mudanças nas instituições da sociedade ou

mesmo em defesa delas, isso dentro de um determinado tempo e espaço (este último, nem

sempre geográfico, nos dias atuais). Esses sujeitos se agrupam segundo suas demandas

sociopolíticas e culturais, de forma a criar uma identidade de luta pelos seus valores, ideais ou

ideologias, sejam eles de cunho tradicional ou progressista.

Segundo Touraine (2006), os movimentos têm como característica três princípios:

o da identidade, o da oposição/conflito e o da totalidade. O primeiro define quem são os

atores de determinados grupos, o que buscam como objetivo, quais são seus valores e ideais e,

com isso, identifica-se qual seria sua luta. O segundo princípio, o da oposição/conflito, se

6 Para aprofundamento da temática, ver a obra de Gohn (2007) e toda a sua bibliografia em que trata das Teorias

dos Movimentos Sociais.

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traduz na questão da definição de um opositor, atuando o grupo contra a ação de determinadas

instituições da esfera pública ou privada, seja pela transformação ou pela manutenção do

estado vigente. Já o terceiro, o da totalidade, se baseia na construção de um projeto que visa à

transformação social, cultural ou do sistema político. No entanto, esse projeto tem como

perspectiva o bem comum, ou seja, a luta, se vencida, beneficiará a todos os integrantes da

sociedade, não somente os grupos pertencentes a determinado movimento. Como isso, os

movimentos buscam contribuir para estender a cidadania e ampliar os direitos a todos os

indivíduos, respeitando suas diferenças.

Diante disso, as manifestações ou os protestos – inseridos por meio delas – não

são movimentos sociais consolidados, são ações, entre outras, que os movimentos

empreendem, uma característica dos movimentos citados anteriormente, pois partem da

premissa do conflito, daí as ações desencadeadas, como as greves dos trabalhadores no século

XIX, as passeatas, as ocupações. Sendo assim, “só há movimento social se a ação coletiva –

também ela com um impacto maior do que a defesa de interesses particulares em um setor

específico da vida social – se opuser a tal dominação” (TOURAINE, 2006, p.19). Para

Touraine (2006, p.19), eles são a representação dos valores da sociedade civil, são

articulações dentro da esfera pública dos interesses dessa sociedade. Esses movimentos são

grupos com os mesmos ideais, organizados para lutar para que suas demandas sejam ouvidas

e executadas.

Os movimentos podem ocorrer nos mais variados níveis da sociedade civil, como

o associativismo na esfera local, em que as demandas são comuns a atores que convivem

(moradia, trabalho etc.) ou vivem próximos geograficamente. Nessa perspectiva, Gohn (2003)

afirma que, no início dos anos 80, eles eram denominados movimentos sociais populares

urbanos, e já eram considerados novos movimentos sociais, embora possuíssem um perfil

diferente daquele que será tratado logo adiante, pois buscavam “contrapor os novos

movimentos sociais aos ditos já velhos, expressos no modelo clássico das Sociedades de

Amigos de Bairro ou Associações de Moradores”. Sendo que, segundo a autora, “o que está

no cerne da diferenciação eram práticas sociais e um estilo de organizar a comunidade local

de uma maneira totalmente distinta” (GOHN, 2003, p.26).

Outro exemplo são os grupos que se consideram como “iguais”, seja nas

condições econômicas ou sociais, seja no que se refere à classe, raça, gênero etc., como o

movimento negro, o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra - MST, o movimento

feminista e muitos outros. Esses grupos entendem que há uma motivação que os une e os

impulsiona para a busca de suas demandas e reivindicações.

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Os movimentos, usualmente, se estruturam segundo três agentes básicos: os

demandatários, os líderes, uns mais expressivos que outros, e os assessores, mediadores

externos ao grupo. Vale salientar que nem todos os movimentos, principalmente os novos

movimentos sociais, reproduzem essa estrutura de liderança. O relevante é que esses grupos

têm uma identidade estabelecida – a qual atrai e inclui os que se identificam com ela, ao

mesmo tempo que exclui os que não se identificam – e lutam por demandas específicas

daquele grupo social, que, por sua vez, faz parte do movimento. Lembrando que a identidade

é o que define o que cada indivíduo e o grupo como um todo são no coletivo, de modo a criar

uma forma de pertencimento de cada um em um coletivo, no qual o indivíduo se identifica e

se define enquanto grupo. Essa é uma característica dos movimentos surgidos a partir dos

anos 60, como os ambientais, feministas, afrodescendentes, povos indígenas, grupos Lésbicas,

Gays, Bissexuais, Travestis, Transexuais, Transgêneros e Simpatizantes - LGBTS etc.

Já os “novíssimos movimentos” (GOHN, 2013a, p.22), ocorridos entre os anos de

2011 e 2013, têm a internet e as redes sociais como mais uma ferramenta para mobilização

política, como o movimento Occupy Wall Street, nos Estados Unidos – e outros movimentos

Occupy surgidos posteriormente em outras partes do mundo –, os Indignados da Espanha,

Portugal, Grécia etc., a Primavera Árabe no Egito, Tunísia e outros países do mundo árabe.

Estes últimos se destacam por desenvolver ações em prol da democracia (GOHN, 2013a,

p.25), seus atores não têm acesso aos mecanismos institucionais e políticos (p.20). Eles se

diferenciam por não haver uma liderança, ao contrário do que já foi dito, são movimentos de

rede e o poder é descentralizado (GOHN, 2014, p.146).

No entanto, Gohn (2013a, p.24) critica a posição de que faltam a tais movimentos

descentralizados definições estratégicas, programáticas e teóricas. Neles existem

identificações e demandas específicas, contudo, há uma tendência para certa transversalidade,

sendo criadas formas de aliança entre movimentos para atingir objetivos acerca de suas

demandas.

Movimentos sociais são fenômenos históricos, decorrentes de lutas sociais.

Colocam atores específicos sob as luzes da ribalta em períodos

determinados. Com as mudanças estruturais e conjunturais da sociedade civil

e política, eles se transformam. (GOHN, 2007, p.19-20)

Os movimentos sociais sempre fizeram parte da história da humanidade. Estão

presentes na sociedade desde antes de Cristo, com os “profetas” que reuniam muitos ao seu

redor para “pregar” contra a opressão de reis e imperadores, assim como apontado por

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pesquisadores do “movimento messiânico”, já que “os messianismos se configuram enquanto

movimentos sociais que respondem a situações tidas como opressoras” (SOUSA, 2013,

p.506). Houve movimentos escravistas em sociedades antigas, movimentos de camponeses

na Idade Média e movimento de mercadores na Idade Moderna. Contudo, a temática passou a

ser estudada de forma acadêmica somente a partir dos anos 60, com a emergência da

industrialização e dos movimentos operários.

Todavia, Gohn (2008, p.24) afirma que:

[...] a temática dos movimentos sociais no universo das ações coletivas

possíveis é uma área clássica de estudo da sociologia e das ciências sociais

desde os primórdios e não apenas um momento da produção sociológica,

como pensam alguns, reduzindo as manifestações empíricas, com seus

fluxos e refluxo e confundido a produção acadêmica destes ciclos com a

própria existência concreta do fenômeno.

Movimento social é o movimento de sujeitos em grupo em direção ao

questionamento das ações de instituições públicas e privadas conforme suas indignações e

reivindicações específicas, no intuito de alcançar suas demandas. Contudo, todos os grupos

ressaltam e lutam contra a falta de coerência nas questões sociais e econômicas de sua

conjuntura e sociedade, para manter e valorizar os direitos da humanidade e propor novas

formas de desenvolvimento social.

Para Gohn (2008, p.19), muitos discutem sobre movimentos sociais e, apesar de

haver divergências, acordam em “analisá-los no bojo da problemática da ação social

coletiva”, sendo que a maioria deles os trata “numa teoria de ação social”. Segundo a autora,

Lorens von Stein, já em 1842, utilizava o termo movimento social “dando o sentido de uma

luta contra dada situação” (GOHN, 2008, p.20-21), assim como outros autores na França, no

final do século XIX, trataram sobre ações coletivas de modo parecido ao observado no caso

dos movimentos sociais sob uma perspectiva conservadora, com um panorama “dos instintos

selvagens de sobrevivência”, sob influência de Freud e até alicerçados em Darwin. Outro que

foi e continua a ser “referencial de várias abordagens” é Max Weber.

Gohn (2008, p.22) afirma que, em 1939, Blumer “foi o primeiro a utilizar o termo

movimento social na produção teórica” e Heberle, em 1951, “foi um dos primeiros

pesquisadores a publicar um livro que trazia em seu título o conceito de „movimento social‟”.

Nos anos 50 sobressaíram-se ainda Turner e Klilliam, com a publicação de um livro dedicado

em grande parte a essa temática. E, a partir de 1962, Smelser, com a “teoria da tensão

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estrutural”, foi tratado como “um dos principais teóricos dos movimentos sociais”.

Posteriormente, sua abordagem seria bastante criticada.

Porém, o conceito vem se modificando, e Gohn (2008, p.24) explica que nos anos

50 e parte da década de 60 os movimentos eram abordados “no contexto das mudanças

sociais”, sendo vistos como “fontes de conflitos e tensões” e classificados como

“religiosos/seculares, reformistas/revolucionários, violentos/pacíficos”. A temática tinha o

mesmo significado de revolução e era associada à categoria “trabalhador”. Ressalta também

que nos anos 50 a temática possuía uma grande variação de sentidos, fazendo com que fossem

tratadas como movimento social as guerras e ideologias tanto radicais como libertárias.

Ainda nesse período, de acordo com Gohn (2008, p.24-25), surgiram “novas

modalidades de movimentos sociais” e, com elas, novos paradigmas, como o racionalista, a

exemplo das “teorias culturalistas e identitárias”, mostrando “o lado positivo dos movimentos,

como construtores de inovações culturais e fomentadores de mudanças sociais”.

Já a partir dos anos 70, conforme Gohn (2008, p.25), o estudo desvelava outras

perspectivas para a temática, a qual era tratada como “ação social” e “os movimentos sociais

como atores importantes”, analisados “juntamente com as instituições políticas da sociedade”.

Porém, segundo a autora, será “no campo da ciência política, nos anos 1980, que a

bibliografia geral sociopolítica incorporará a temática dos movimentos sociais com grande

destaque”.

Segundo Gohn (2008, p.27), “resumidamente, podemos dizer que a respeito dos

movimentos sociais temos as seguintes correntes teóricas: a histórico-estrutural, a culturalista-

identitária e a institucional / organizacional-comportamentalista”. A corrente teórica histórico-

estrutural tem vários autores como referência, contudo foi Marx que, nos anos 70, “veio a

influenciar a análise tida como clássica ou tradicional sobre os movimentos sociais do século

XX”, mais especificamente “no estudo do movimento operário, particularmente nas lutas

sindicais”.

A corrente culturalista-identitária “construiu a chamada novidade dos „novos

movimentos sociais‟ ao destacar que as novas ações abriam espaços sociais e culturais” e,

conforme a autora, passaram a ser conhecidos, na “cena pública”, temáticas e sujeitos “como

mulheres, jovens, índios, negros etc.”. Autores como Toraine, Melucci, Offe e outros

desenvolveram estudos acerca da “identidade dos movimentos sociais”, se contrapondo às

“abordagens estruturais ortodoxas”, contudo, não desprezando o marxismo.

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Já a corrente institucional/organizacional-comportamentalista, desenvolvida

principalmente nos Estados Unidos, buscou como base as “teorias liberais do século XVII e

XVIII”, entre ouras. As questões eram analisadas segundo uma ótica econômica ou uma ótica

sociopsicológica, considerando que o movimento atingiria sucesso ao se transformar numa

“organização institucionalizada”. Nos anos 60 o “paradigma comportamentalista” foi

revisado, “dando origem à teoria da mobilização de recursos” (GOHN, 2008, p.27-31).

No que se refere às teorias mais contemporâneas (GOHN, 2008, p.31-34), foram

construídas com base em abordagens de Castells e Borja, a partir dos anos 60 e 70, “com

ênfase nas contradições sociais no urbano e no surgimento de pobladores, de

cidadãos/moradores etc., fazendo uma releitura da questão urbana”, e de Touraine, que,

conforme a autora, “teorizou sobre os movimentos sociais e é um dos autores com maior

volume de produção a respeito”. Desde os anos 50 ele estudava a classe operária;

posteriormente, falou sobre o “sujeito coletivo” e, principalmente, os movimentos sociais

ocorridos “nas grandes cidades”, tratando de diversos movimentos, como dos estudantes,

antinucleares, latino-americanos, de jovens, mulheres e outros.

Já no final dos anos 70 e decorrer dos anos 80 o tema central foram os

movimentos de “populares urbanos nos chamados países de terceiro mundo”, paralelamente a

movimentos sobre “ecologia/meio ambiente, antinucleares, pela paz, de estudantes e de

mulheres”, já tratados também por Touraine, como dito anteriormente. Nos anos 80,

movimentos fortemente pautados nos “antagonismos entre as classes sociais” deram lugar a

outras problemáticas sociais, como as lutas pelos direitos civis, étnicos, gênero, revoltas

contra as guerras etc. E, nessa mesma década, houve uma revisão “nas teorias focadas na

análise institucional [...] com as teorias da identidade coletiva”.

Foi também nessas décadas, mais especificamente nos anos 70, que no Brasil os

movimentos vieram mais à cena pública, isso por conta do surgimento dos movimentos

estudantis, da nova postura dos sindicatos, que ficaram mais contestativos, e da ascensão das

comunidades eclesiais de base e das pastorais sociais. Emergiam também conflitos acerca da

democracia, por mais liberdade e pelo fim das repressões da ditadura. O final da década de 70,

no Brasil, foi marcado pela criação da Central Única de Trabalhadores - CUT e de partidos de

oposição, como o PT, bem como pela ascensão do MST (GOHN, 2003).

Nos anos 80, as mobilizações de rua voltaram a ter grande destaque,

principalmente nas mídias jornalísticas, com reivindicações pela legalização dos partidos e

pelas eleições diretas. A sociedade civil se organizou com vistas a intervir na Constituinte e

reivindicar direitos do trabalhador (ver GOHN, 2003).

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Tarrow (1994, apud GOHN, 2007), focando estudos institucionais, já nos anos 90

influenciou o debate acerca das “ações coletivas” com a análise dos movimentos sociais ao

afirmar que “ocorrem quando as oportunidades políticas se ampliam, quando há aliados e

quando as vulnerabilidades dos oponentes se revelam”, de forma a explicar como surgem e

como funciona sua dinâmica. Nessa década, as pesquisas no campo do associativismo

brasileiro também destacaram as Organizações Não Governamentais - ONGs e as

organizações do terceiro setor como um “outro sujeito social”, que até então estava um tanto

oculto no cenário e nas discussões sobre a temática, sendo elas confundidas, em seu conceito,

com o próprio movimento social. O que ocorre ainda é que a temática passou a ser de

interesse de outros segmentos da sociedade civil, como as próprias ONGs e o terceiro setor,

não ficando apenas no métier da academia, com o intuito de desvelar o tema para poder,

inclusive, fazer interferências e pensar em ações em torno dos movimentos.

Ainda nos anos 90, Gohn (2008, p.34-35) mostrou que alguns pesquisadores

recuperam as proposições de Habermas como “expressão de racionalização comunicacional”

ou como resistência à colonização no mundo por mecanismos sistêmicos de racionalização.

Os paradigmas e conceitos se tornaram homogêneos no que se refere às “demandas sociais, o

modo de vida e consumo restrito”. Foram destacados “os pobres e excluídos, apartados

socialmente pela nova estrutura do mercado de trabalho”, contudo, substituídos, mais

especificamente, pela “busca de processos e mecanismos de inclusão social”, como fora

enfatizado pela “escola de Chicago e dos interacionistas”. Outra característica enfatizada foi

“a questão do agir comunicativo presente nas ações dos movimentos e suas possibilidades de

geração de novas formas de relações e de produção”.

Conforme Gohn (2003, p.30-34), já no cenário brasileiro, vale salientar que na

década de 90 o trabalho tornou-se ainda mais precarizado e o desemprego aumentou, por

conta dos desmandos do neoliberalismo no que se refere ao corte de verbas para as áreas

sociais, bem como à privatização de várias estatais. Com isso, explodiram as lutas por terras,

por moradia e as greves pela melhoria das condições dos trabalhadores, que ao mesmo tempo

eram ações reprimidas com violência. Os movimentos sociais foram discutidos e abordados

não só pela academia, mas pela sociedade e governos da época, tendo as manifestações forte

repressão por parte da polícia. Contudo, surgiram, como já mencionado anteriormente, as

ONGs e as organizações do terceiro setor, que não só despertaram interesse para o estudo dos

fenômenos acerca da temática, como ainda suscitaram interesse por parte das políticas

públicas e governos, que reestruturaram ações e passaram o gerenciamento de várias questões

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sociais para entidades dos terceiro setor. Surgiram ainda os “movimentos sociais novos, que

diferem dos novos movimentos sociais dos anos 80”.

De acordo com Gohn (2008, p.36-38), com o processo de globalização mais

avançado, emergiram novas categorias de estudo para a temática, como “mundialização e

planetarização [...]”, sociedade mundial e sociedade individual. Foram criadas “teorias sobre

os direitos sociais” e a categoria sobre ação social novamente teve destaque nas pesquisas,

assim como outras que buscavam “reafirmação de processos de diferenciação social”, a

saber: feministas e relação de gênero, ambientalistas e etnia.

Nessa década também introduziu-se com vigor o tema das redes sociais, tendo

como principal autor Castells (1997 apud GOHN, 2007). Alguns autores reviram seus pontos

de referência por conta de um pessimismo acerca dos movimentos e de como se davam,

porém ainda havia aqueles que buscavam esclarecer “sua especificidade em relação a outras

formas emergentes de ação colegiadas”, como é o caso de Touraine e Melucci. Já no final dos

anos 90, novas perspectivas sobre a temática foram adotadas pelos analistas sobre os

movimentos sociais, como “a teoria do reconhecimento social”, a “questão do

multiculturalismo” e outras construções se deram nessa década (ver GOHN, 2008).

O século XXI (GOHN, 2008, p.38-40) iniciou marcado por inovações no campo

da temática, inclusive por autores destacados como Touraine e Castells. No entanto, o que deu

maior visibilidade às produções “foram os movimentos sociais globais”. Neste momento,

“ocorre que todos os movimentos sociais terão de enfrentar o dilema de atuar, agir no

cotidiano, mas pensar globalmente, porque são „empurrados‟ para este novo contexto”

(GOHN, 2008, p.39).

Neste novo milênio há um resgate das mobilizações sociais por meio de

manifestações e protestos. Desde seu início, entram em cena os movimentos globalizantes,

com vistas à busca de uma economia mais solidária. Emerge com mais força a luta em defesa

ao desenvolvimento sustentável e às questões ambientais, bem como à popularização e acesso

aos meios de comunicação, com intuito de intervenção nas “estruturas de poder”. Também a

articulação dos movimentos, expressando a determinação do “povo” em eliminar as

desigualdades sociais, econômicas, culturais e, por que não dizer, identitárias no que se refere

a direitos, porém respeitando suas diferenças e especificidades, fato este a que se deu maior

ênfase com o advento da internet e das redes sociais.

Segundo Gohn (2008, p.40), há muitos estudos empíricos acerca dos movimentos

globalizantes ou altermundialização, “há muitos slogans e ideologias”, contudo, existe a

necessidade de teorias mais contundentes, pois na literatura ainda há uma carência de material

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explicativo referente a esses novos fenômenos destes novos tempos, e “só com as teorias não

se muda a realidade, mas sem elas também não há mudança significativa, emancipatória. Pode

haver deslocamentos, mais do mesmo, em outro lugar” (GOHN, 2008, p.40). Todavia, com

Castells (2013, p.49) já é possível verificar novos fenômenos ocorridos em direção a

mudanças sociais, de maneira que

[...] podemos estar observando a ascensão de novas formas de transformação

social. E se elas forem diversas em suas práticas graças a diferenças de

contexto, poderemos sugerir algumas hipóteses e sobre a interação entre

cultura, instituições e movimentos, a questão-chave para uma teoria da

mudança social – e para sua prática. (CASTELLS, 2013, p.49)

1.1.3 Movimentos ou mobilizações sociais

Segundo Castells (2013, p.78), os movimentos, em muitas partes do mundo, se

iniciaram por conta “de causas específicas a cada país e evoluíram de acordo com os levantes

espontâneos, estimulados pela esperança inspirada no sucesso das revoluções tunisiana e

egípcias”. Para o autor, o processo de desenvolvimento “de cada movimento dependeu

amplamente da reação do Estado”. À medida que cada governo não respondia às demandas e

sugeria “uma liberalização política”, os movimentos se voltavam para ações com vistas à

“democratização do Estado no limite da manutenção da essência da dominação pela elite”

(CASTELLS, 2013, p.79). Assim ocorreu também no Brasil e, de acordo com o autor, “sem

que ninguém esperasse” (p.182), de forma espontânea e, a exemplo do que vem ocorrendo,

sem a organização de um líder específico ou partidos políticos – estes, por sua vez,

desacreditados. Também aqui no Brasil não contou com o apoio da mídia, ouviu-se

Um grito de indignação contra o aumento do preço dos transportes que se

difundiu pelas redes sociais e foi se transformando no projeto de esperança

de uma vida melhor, por meio da ocupação das ruas em manifestações que

reuniram multidões em mais de 350 cidades. (CASTELLS, 2013, p.182)

Em meados do ano de 2013, com o início das mobilizações em São Paulo do

Movimento Passe Livre - MPL, contra o aumento de tarifas dos ônibus, muitos foram às ruas,

principalmente os jovens. Posteriormente, em reação à repressão sofrida pelos manifestantes,

ocorreram diversos movimentos de “massa” com variadas reivindicações, aos quais muitos

atribuíram o próprio conceito de “movimento social”. Entretanto, estudiosos vêm explicando

que existe um erro de interpretação ao classificá-los dessa forma, por não possuírem as

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características dos movimentos anteriores, como identidade estabelecida, um opositor

definido, planos e objetivos específicos.

Segundo Gohn (2013b, p.16), os “movimentos dos indignados” ocorreram em 12

capitais brasileiras e foram denominados de “manifestações” pela mídia e por outras

publicações. Escreve que de fato tiveram um caráter de manifestações, “que

expressam estados de indignação face à conjuntura política nacional” e agem “com valores,

princípios e formas de organização” (GOHN, 2013b), diferentemente dos tidos movimentos

sociais, focalizando as demandas sociais.

Embora esses movimentos não possuam as mesmas características dos

tradicionais, são mais um meio de expressão de uma sociedade indignada acerca da forma

como vem sendo tratada pelo Estado, mais especificamente, pelas lideranças dos governos.

Daí esses movimentos se voltarem contra as representações e as estruturas dos governos em

todos os seus segmentos, como assembleias, sedes etc., bem como contra os poderes públicos,

havendo, inclusive, a negação da liderança de partidos políticos ou sindicatos, o que alguns

especialistas atribuem a uma “crise de representatividade”. Contudo, outros afirmam que os

movimentos sociais organizados e representações partidárias estão presentes nas

manifestações sem, no entanto, levantar abertamente suas “bandeiras”.

Outra asserção surgida no debate é que, se a população vai para rua para

demonstrar suas insatisfações e reivindicar suas demandas, seria porque ela já não se sente

mais representada pelos governos ou partidos políticos. Dessa forma, esses movimentos vêm

às ruas para expor suas opiniões, “gritar” por melhorias de vida diretamente aos poderes

públicos, promovendo, assim, a necessidade de revisão das mais variadas políticas públicas

implementadas em todo o país. Para Gohn,

[...] pode-se listar os prováveis motivos para a indignação que levou

milhares de brasileiros às ruas, aderindo ao movimento dos jovens, a saber:

os gastos altíssimos com estádios da Copa, megaeventos e uso do dinheiro

público em eventos promocionais, a má qualidade dos serviços públicos,

especialmente nos transportes, educação e saúde. Outros agravantes são: a

persistência dos índices de desigualdade social, inflação, denúncias de

corrupção, clientelismo político, a PEC 377, sentimento de impunidade,

7 A Proposta de Emenda Constitucional 37 – PEC 37 sugeria incluir um novo parágrafo ao Artigo 144 da

Constituição Federal, que trata da Segurança Pública. O item adicional traria a seguinte redação: "A

apuração das infrações penais de que tratam os §§ 1º e 4º deste artigo, incumbem privativamente às

polícias federal e civis dos Estados e do Distrito Federal, respectivamente".

http://www.ebc.com.br/noticias/brasil/2013/06/entenda-o-que-e-a-pec-37. A emenda foi apresentada em

2011 pelo deputado Lourival Mendes (PTdoB-MA), com argumento de que investigações próprias do MP

ferem os direitos dos investigados por não terem regras claras e porque os investigados não têm acesso aos

autos. http://g1.globo.com/politica/pec-37-o-que-e/platb/

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sistema político arcaico, a criminalização de movimentos sociais -

especialmente rurais e indígenas, o projeto de Lei que tramitava no

Congresso sobre "cura gay", a condução de importantes postos políticos no

cenário nacional por políticos com passado marcado por denúncias etc.

(GOHN, 2013b)

Ainda acerca das características dos movimentos atuais, outra particularidade é

que são organizados e compostos em grande parte por uma parcela da sociedade vista como

classe média, pois é esse conjunto de sujeitos que tem “medo” introjetado de que o Brasil não

cresça como se esperava ou de que a inflação não seja mais controlada.

Assim, em São Paulo, o Movimento Passe Livre - MPL foi apenas o estopim de

um movimento que “explodiria” nacionalmente, por conta das reformas e reformulações que

os governos, ao longo das últimas décadas, vêm implementando por meio de políticas

públicas. Estas não garantiram um verdadeiro bem-estar social, fato que fez com que os

movimentos se espalhassem por todo o país e, por vezes, mais ou menos intensos, com

perspectivas de continuação até que os governos negociem com a sociedade civil.

Mas também disseram: “Não são só os centavos, são nosso direitos”. Porque

como todos os outros movimentos do mundo, ao lado de reivindicações

concretas, que logo se ampliaram para educação, saúde, condições de vida, o

fundamental foi – e é – a defesa da dignidade de cada um. Ou seja, o direito

humano fundamental de ser respeitado como ser humano e como cidadão.

(CASTELLS, 2013, p.182)

Para Castells (2013, p.182), esse direito tem sido deturpado por parte de uma elite

ou “classe política” que só vê o cidadão como eleitor potencial, que toma decisões à revelia

das demandas fundamentais, que cria uma democracia paralela “reduzida a um mercado de

votos em eleições realizadas de tempos em tempos” ou à mercê do neoliberalismo. Além da

manipulação dos meios de comunicação tradicionais, que fez com que a “incapacidade cidadã

de controlar seu dinheiro e seus votos tivesse consequências em todos os âmbitos da vida”

(CASTELLS, 2013, p.183). O autor exemplifica citando o episódio da Copa do Mundo no

país: a satisfação do brasileiro em ter a Copa do Mundo no Brasil foi substituída por um

comércio de corrupção do qual participaram vários segmentos da sociedade civil –

empresários, diretores do alto escalão do esporte, como também da administração pública

(CASTELLS, 2013, p.183).

Para Almeida (2013), não por acaso em Salvador as obras do estádio foram alvo

de protestos, pois a Bahia é um dos estados com maior índice de “desigualdade social”, sua

capital registra alto número de desemprego e um dos maiores índices de violência, sem falar

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nos outros problemas sociais, abrangendo desde o transporte, privatizações, até destruição

ambiental. E é nesse cenário, incluindo ainda superfaturamentos, que “As Copas do Mundo e

a das Confederações trouxeram um grande constrangimento por ser uma verdadeira

intervenção da Fifa”, de forma a interferir na economia e no comércio local, com aprovação

de “quase todos os partidos” no congresso nacional e pelos deputados da assembleia estadual.

Segundo o autor, “mostra o afastamento entre representantes eleitos e a vontade

popular, e explica a rejeição existente”, levando os “indignados” a terem o estádio da Copa

como principal “alvo” dos protestos. Almeida ainda lembra que “as manifestações ocorridas

não foram um raio em céu azul nem vivíamos numa paz de cemitério. São diárias as pequenas

e localizadas lutas do povo, com os meios que dispõe para enfrentar tudo isto. Uma luta

silenciosa, na maior parte sem visibilidade”. Salvador, por sinal, possui uma herança cultural

de lutas contra a opressão, destaca o autor, “daí ser chamada de „capital da resistência”.

Em Goiás, Borges (2013) mostra que os usuários das estradas protestaram contra

os “esburacamentos” em meio a um número enorme de reivindicações e em mais de 20

municípios viram-se sujeitos que saíram às ruas para protestar contra os serviços públicos e

autoritarismo dos professores em um colégio, trazendo à tona a “ideia é de que, na exaustão

da esperança e da paciência, as pessoas admitem ir às ruas dizer os seus limites e seus

motivos, morais, econômicos ou políticos”. Para o autor, há especialistas que dizem ser difícil

de “compreender um movimento tão grande e fragmentado”, mas entende Borges que para os

paradigmas da literatura vigente fica menos trabalhoso culpar “os manifestantes de não terem

foco e de introduzirem o imponderável no cenário político”. Concorda que esses movimentos

podem até ter esse perfil, mas afirma que, com essa ideia preestabelecida sem ao menos se

aproximar mais do povo, não há como “sair das preliminares nem avançar para diagnósticos e

compreensões necessárias”.

Costa (2013) diz que as “manifestações no Maranhão retomam combates contra a

oligarquia” e o povo, em sua maioria jovens, foi “convocado” por meio das redes sociais, com

o movimento “Vem Pra Rua São Luís” – das cem mil pessoas que compareceram ao ato, 17

mil confirmaram presença pela internet. Já o movimento “Acorda Maranhão” levou às ruas

212 mil pessoas, sendo que 37 mil já havia confirmado presença virtualmente. Todos os

protestos contaram com uma incessante visibilidade no Facebook, Twitter e outras redes

sociais, “com extensa pauta: contra a PEC 37; por saúde, educação, segurança e transporte de

qualidade; contra a corrupção; contra a oligarquia”. Segundo o pesquisador, as manifestações

do Maranhão destacaram também a questão agrária, uma vez que um terço da população vive

no campo e 30% dos “trabalhadores em situação análoga à escravidão resgatados país afora

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estavam no Estado”. O autor ainda faz uma reflexão acerca desse movimento, inferindo que

esteve sintonizado com os que ocorriam em todo o país, caracterizando “uma nova forma

globalizada de mobilização” com base nas redes sociais.

Para Filgueiras (2013), as “manifestações” ocorridas no Brasil assaltaram tanto os

especialistas na temática como os políticos com “incertezas sem precedentes”, por não terem

uma identidade específica e por saírem do panorama das abordagens vigentes. No caso de

Minas Gerais, onde o cenário não foi muito diferente, com uma pauta de reivindicações das

mais variadas – corrupção, saúde, transporte etc. –, sem contar “a crise ao sistema

representativo”, o autor diz que o gigante não acordou, “já estava acordado”, pois “há duas

décadas já há uma movimentação pedindo melhorias no sistema de transporte público”. As

“manifestações” têm como objetivo, conforme aponta Filgueiras, uma maior participação do

povo no intuito de melhorar as políticas públicas, “combater eficientemente as desigualdades

sociais e impedir a injustiça política”.

Bodê (2013) diz que não há como apartar um movimento que ocorre por meio das

redes sociais e internet, como as “manifestações” que ocorreram em Curitiba, do que acontece

em outras cidades do Paraná e do país, ponderando ainda que “qualquer análise feita sobre um

evento em andamento é sempre mais difícil do que de um fenômeno que possamos por um

motivo outro dizer que terminou”. Afirma que no Paraná também elas tiveram início por

conta dos preços das passagens dos transportes públicos e se estenderam para outras

demandas, como a PEC 37, saúde pública, corrupção, bem como a nova organização da

cidade para a Copa do Mundo. O autor analisa que a “manifestação parecia mais homogênea”

e, segundo ele, possui escala diferenciada das ocorridas em São Paulo e no Rio de Janeiro. Os

locais de concentração e de destino dos atos eram sempre “diante de locais representativos de

instituições e do poder instituído”, existindo nessa escolha a afirmativa “vocês não nos

representam”.

Castro (2013) entende que as “mobilizações sociais retomam feridas profundas

em Pernambuco” e chama “as manifestações sociais” ocorridas no país de “neopoliticismo

cívico virtual”, uma vez que as redes sociais atingem uma “capilaridade imediata e enérgica

de mobilização ampla”. O autor indica quais são as principais reivindicações das

“manifestações sociais” em Pernambuco – “transportes públicos deficitários e caros,

mobilidade (ou imobilidade) urbana, exclusão social, desigualdades perversas e recorrentes,

violência urbana e práticas de corrupção que se tornaram endêmicas” –, bem como afirma que

é possível “empoderar-se” e que as “grandes revoluções libertárias começam em nós mesmos,

especialmente, quando se busca humanizar o humano pós-moderno”. O autor vai mais além a

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suas reflexões ao assegurar “que o imperativo ético e o idealismo desta nova revolução social

brasileira neoiluminista têm assumido tamanha importância com repercussões internacionais”.

Segundo Peres (2013), não foi surpresa o “levante popular mais consistente, mas

sim [...] o fato de ele ter demorado a acontecer”. A insatisfação por causa das ações dos

políticos, dos poderes e partidos levou a uma “exaustão moral [...] não é exclusiva do caso

brasileiro”, pois vários países do mundo, já há algum tempo, perderam a “confiança em

relação às instituições representativas convencionais”. O autor coloca que uma das questões

locais, em Porto Alegre, foi a formação de “uma aliança política até então improvável entre

partidos e grupos políticos”, quando “socialistas e anarquistas se aliaram para formar o

principal articulador e protagonista dos movimentos de protestos na cidade”, com a finalidade

de garantir maior “volume e consistência ao movimento”. E, assim, tiveram a adesão de

outros movimentos sociais e até de sindicatos.

No Rio de Janeiro, segundo Motta (2013), a eclosão, a exemplo de outros estados,

se deu por conta do aumento das passagens do transporte público, contudo, o questionamento

principal foi sobre os elevados gastos financeiros para realização de enormes eventos (Copa

do Mundo e Olimpíadas). Assim, foi gerado um tumulto generalizado nas principais ruas e em

vários bairros, comparável ao que aconteceu na cidade em 1904, na Revolta da Vacina, ou em

1968, na Passeata dos Cem Mil. Nestas, muitos “manifestantes” pagaram o preço alto da

repressão, inclusive com a própria vida; nestes tempos, entretanto, a repressão não utiliza

aquele tipo de arma nem de ações, o que não significa que não apresenta riscos, mas garante

um maior número de participantes, pois, como assegura a autora, “não é de hoje que se fala no

„caráter rebelde‟ do povo carioca”.

José C. G. Silva (2013) afirma que a periferia de São Paulo faz novas

reivindicações: “mais saraus, menos presídios”. O indivíduo “que antes pedia questões

imediatas como saneamento básico, postos de saúde e legalização de terrenos clandestinos,

agora trata de temas como racismo, violência e educação precária”. O autor compara o

movimento a manifestações que deram visibilidade aos jovens da periferia nos anos 90, pois

até então os “visíveis” eram jovens dos movimentos estudantis, compostos por universitários

brancos e da classe média.

Percebe-se, dessa forma, que os “movimentos” não tinham identidades

específicas, bem como as demandas eram variadas e “difusas”. Contudo, tinham um

propósito: mostrar que os poderes públicos e sindicatos não os representavam. Os

“manifestantes” eram em sua maioria jovens e, destes, havia também uma grande parcela de

indivíduos da classe média.

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Para Castells (2013, p.183), assim como em outros movimentos, a causa está em

“um modelo centrado no crescimento a qualquer custo, ainda que, no caso do Brasil,

acompanhado de uma redução da pobreza e de políticas sociais redistributivas”. Modelo esse

que, por sua vez, também veio associado a uma busca desenfreada pelo consumo desmedido e

“por uma senda autodestrutiva com objetivo de sair da pobreza”. Houve um propósito de

mostrar avanços em setores como educação, saúde e segurança sem, contudo, obter melhorias

sociais dignas, como medir “a produtividade pela ocupação de camas de hospitais, contando

os enfermos, e não os sadios”.

Foi nascendo, por meio da internet, numa conexão tamanha, o reflexo de uma

indignação misturada a um desejo de justiça e mudança. Processo esse que, de forma híbrida,

foi para as ruas do país na mesma velocidade e proporção que percorreu as redes, de modo a

revelar um espaço apropriado pelas novas gerações de uma realidade num “mundo de

virtualidade real” (CASTELLS, 2013, p.184).

Um mundo que a gerontocracia dominante não entende, não conhece e que

não lhe interessa, por ela encarado com suspeita quando seus próprios filhos

e netos se comunicam pela internet, entre si e com o mundo, ela sente que

está perdendo o controle. (CASTELLS, 2013, p.183)

Assim, segundo o autor, em menos de duas semanas já havia um apoio de mais de

75% da população brasileira, após o primeiro manifesto na Avenida Paulista, em São Paulo.

No entanto, escreve que o mais significativo foi a resposta dada pela esfera política, que, a

exemplo da maioria dos outros países, rebateu o movimento, em primeira instância,

intitulando-o como “demagógico e irresponsável” e, na sequência, reagindo com violência.

Nesse cenário, de acordo com o autor, governos petistas e tucanos competiam para ver qual

era o mais truculento na repressão (CASTELLS, 2013, p.184).

Todavia, Castells afirma que, como sempre existe uma intencionalidade difusa nas

ações políticas com vistas aos interesses de sempre, no Brasil houve algo novo, no que se

refere às estratégias, quando a presidência declarou que o povo deveria ser ouvido e

aconselhou que o aumento do preço das tarifas dos transportes fosse revogado.

Concomitantemente, foram feitas inúmeras outras promessas (a grande maioria não

cumprida), inclusive a proposta de uma reforma política e de leis contra a corrupção

(CASTELLS, 2013, p.184-185).

O fato é que esses novos movimentos se caracterizam por não confiar em

políticos. Portanto, mesmo que o desejo de mudança tenha chegado a alguns segmentos da

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elite e até à presidência, essa interação ainda é uma incógnita e “uma questão em aberto”,

podendo ser essa mais uma frustração acerca das vontades políticas, na hipótese de as

medidas adotadas servirem apenas para tapar o sol com a peneira, não sendo corrigidas as

maleficências de um “modelo neodesenvolvimentista gerador de economia e destrutivo em

relação à vida” (CASTELLS, 2013, p.185-186). Em contrapartida,

[...] também pode ser que outros próceres da democracia brasileira, de

horizontes políticos distintos, se unam a seu esforço, por sobre interesses

partidários, e que o Brasil lidere a reconciliação de sociedade e política no

âmbito mundial. Pois o que é irreversível no Brasil como no mundo é o

empoderamento dos cidadãos, sua autonomia comunicativa e a consciência

dos jovens de que tudo que sabemos do futuro é que eles o farão. Móbil-

izados. (CASTELLS, 2013, p.186)

E é nessa perspectiva apontada na citação de Castells que os manifestantes, em

sua maioria jovens, se apoderam das redes sociais como chaves para abrir portas para as ruas,

ou seja, foi por meio de comunicação virtual que se obteve “autonomia”, que se convocou o

povo à participação dos movimentos. A internet foi o veículo de articulação de estratégias,

planos e encontros para as manifestações. Num “clima de fraternidade encontrado nas redes e

percebida nas ruas se difundiu a defesa dos direitos” (CASTELLS, 2013, p.183).

1.1.4 Redes, redes de mobilização social ou redes de movimentos sociais

Segundo Gohn (2010), é fundamental diferenciar “rede de mobilização social” e

“movimento social”, uma vez que, segundo a autora, para muitos pesquisadores do final do

primeiro milênio e início do segundo, a primeira passou a ter um papel primordial ao segundo.

Para ela, o termo redes pode ter variados significados. Sua utilização virou até “certo

modismo”, contudo, se torna importante como categoria de análise

[...] das relações sociais de um dado território ou comunidade de significados

porque permite a leitura e a tradução da diversidade sociocultural e política

existente nessas relações. Sem cair em visões totalizadoras da unidade, ela

tem certa permanência e realiza a articulação da multiplicidade do diverso,

tanto em períodos de fortes fluxos das demandas como nos de refluxo.

(GOHN, 2010, p.32)

Cabe aqui ressaltar a definição de Melucci sobre redes, que, segundo o autor, são

constituídas por grupos com objetivos peculiares e específicos. Têm como características a

militância transitória e parcial, as múltiplas formas de associação e o fato de tomarem o

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desenvolvimento pessoal e a solidariedade como condições para participação. Elaboram

estratégias e conexões com outros grupos de forma mais ampla, propiciando a criação de

novas estratégias de luta por meio da visibilidade e informação, novas formas de comunicação

e novos modelos culturais, com a finalidade de promover renovação no que se refere à

solidarização, o que faz com que se agreguem novos militantes (MELUCCI, 1999, p.74-75).

Nessa concepção as redes podem conectar-se umas às outras, de forma a aumentar

a extensão das ações, buscando pontos e demandas comuns emitidos pelos indivíduos ou

grupos. A ação passa a ser coletiva em instância macro, tendo de haver a percepção das

diferenças, mas de modo que não se sobreponham à solidariedade e aos objetivos mediante os

quais as várias redes se entrecruzam. Assim, não há como mais falar sobre movimento social

no singular, mas no plural.

Para Scherer-Warren, o conceito de redes de movimentos sociais

[...] pressupõe a identificação de sujeitos coletivos em torno de valores,

objetivos ou projetos em comum, os quais definem os atores ou situações

sistêmicas antagônicas que devem ser combatidas e transformadas. Em

outras palavras, o Movimento Social, em sentido mais amplo, se constitui

em torno de uma identidade ou identificação, da definição de adversários ou

opositores e de um projeto ou utopia, num contínuo processo em construção

e resulta das múltiplas articulações acima mencionadas. (SCHERER-

WARREN, 2006, p.113)

Esse conceito, apesar de não se tratar a categoria como sinônimo de movimentos

sociais, a define como uma extensão ampliada deles, uma vez que permite vislumbrar as

ações futuras dos movimentos “transcendendo as experiências empíricas, concretas, datadas,

localizadas dos sujeitos/atores coletivos”. As redes são nova forma de ação social da

contemporaneidade que propicia a renovação das relações políticas com vistas à emancipação

social. (SCHERER-WARREN, 2006, p.113)

Gohn (2010) traça um quadro de significados do termo redes sociais utilizados na

academia. Nas ciências exatas há muito se vem tratando do termo como base de “alguns

conceitos-chave” para a física. Nas ciências humanas e biológicas também não é novidade,

pois desde a década de 20 do século XX é utilizado “na análise dos ciclos da vida e das teias

alimentares”, sendo que no século XXI deu suporte à biologia molecular. Já no campo da

administração, a palavra é usada na confecção de fluxogramas, na interação entre

organizações em rede e seus planejamentos. Nas ciências sociais sua utilização também não é

nova, contudo adquiriu novo ânimo “como instrumento de análise e articulação de políticas

sociais”. Assim como na antropologia, campo que o termo acompanha desde o início com “as

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redes primárias e secundárias ao classificarem as relações sociais entre os indivíduos” ou com

a ideia “do paradigma da dádiva, do dom e das reciprocidades”, ou ainda no estudo das

estruturas sociais. Na área da geografia, incialmente com o conceito de redes urbanas e

posteriormente com o de território, analisam-se as redes territoriais ou redes transnacionais.

(GOHN, 2010, p.32-34)

Ainda na mesma linha, a autora descreve a definição de redes de alguns

pesquisadores do final do século XX e início do século XXI. Para Barnes (1987), é o conjunto

das relações interpessoais que vinculam uns indivíduos a outros por meio de seus modos de

viver, agir, portar-se e proceder à frente da reciprocidade. Castells (1999) entende as redes

sociais como sistemas abertos capazes de mudanças e inovações constantes.

Redes são estruturas abertas capazes de expandir de forma ilimitada,

integrando novos nós desde que consigam comunicar-se dentro da rede, ou

seja, desde que compartilhem os mesmo códigos de comunicação [...] Uma

estrutura social com base em redes é um sistema aberto altamente dinâmico

suscetível de inovação sem ameaças ao seu equilíbrio. (CASTELLS, 1999,

p.498)

Jean Cohen estabelece o formato das redes em níveis de análise no que se refere

ao empoderamento: organizacional, narrativo, doutrinal, tecnológico e social.

A rede será forte se incluir uma história que persuade e integra seus

membros; se abranger estratégias e métodos colaborativos baseados em uma

doutrina bem definida; se utilizar sistemas avançados de comunicação e

apoiar-se em vínculos sociais e pessoais fortes. (COHEN, 2003, p.436)

No que se refere à incorporação de outras várias categorias à rede, há a

preocupação de uma utilização desenfreada de novos termos, em detrimento de outros que

permitiam a realização de “leituras e interpretação do social e do político”. Contudo, existe

uma difícil discussão acerca “da luta político-cultural de diferentes grupos sociais, na busca

de ressignificação dos conceitos e criação de novas representações e imagens sobre a

sociedade”. Há os que inscrevem que redes sociais substituíram movimentos sociais, outros

que definem serem ferramentas e ainda ideias em outros campos de estudo.

O fato é que existem muitas matrizes de análise para redes. Isso, conforme

Scherer-Warren (2009 apud GOHN, 2010, p.35), “articula a heterogeneidade de múltiplos

atores coletivos em torno de unidades de referências normativas relativamente abertas e

plurais. Compreendem vários níveis organizacionais”. Desse modo, para se utilizar uma

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categoria de rede em um dos sentidos apresentados e outros, “é necessário localizar seu

objetivo central no contexto histórico”. É preciso também que não se faça uso

[...] das redes e estruturas associativistas existentes como meros agentes

instrumentais para resolver problemas decorrentes da má distribuição dos

serviços sociais públicos, via a participação daqueles agentes em projetos e

parcerias públicas, onde não há autonomia ou horizonte mínimo de

emancipação aos participantes. [...] A importância se faz para democratizar a

gestão pública, para se ter controle social e inverter as prioridades as

administrações no sentido de políticas que atendam não apenas às questões

emergenciais, mas políticas que contemplem o crescimento econômico com

o desenvolvimento autossustentável das populações atendidas, assim como

respeitem os direitos dos cidadão. (GOHN, 2010, p.37)

As redes de movimentos sociais podem organizar as lutas unindo os coletivos de

forma a transpor fronteiras territoriais, articulando as ações em espaços diferenciados, do

local ao global; temporais, quando não se deixa perder direitos conquistados ao longo da

história; e sociais, abarcando os elementos fundamentais de concepções de mundo acerca da

ética, da equidade, da democracia praticada pela sociedade civil organizada, permitindo

desenlaces positivos no que se refere à conquista e manutenção de direitos. “Essa é a nova

utopia do ativismo: mudanças com engajamento com as causas sociais dos excluídos e

discriminados e com defesa da democracia na diversidade.” (SCHERER-WARREN, 2006,

p.127)

Também são tratadas como redes sociais as redes sociais digitais. Estas, por sua

vez, serão abordadas no próximo item desta tese e tratadas como ferramenta de comunicação

e organização dos movimentos e manifestações sociais para articulação das ações coletivas.

Busca-se verificar como criaram novas possibilidades de “automobilização da sociedade,

superando as barreiras da censura e repressão impostas pelo Estado” por meio da densidade e

da rapidez da mobilização, proporcionadas por meio das redes sociais digitais, num fenômeno

chamado por Castells de “autocomunicação de massas” (CASTELLS, 2008, apud GOHN,

2013a, p.18).

1.1.5 Movimentos sociais e as redes sociais digitais: articulação e estratégia

Com a evolução da tecnologia e, por consequência, da internet, vêm ocorrendo

novas formas de comunicação, de troca de informações e de relações pessoais, configurando

uma sociedade em rede. Por sua vez, nela surgem os mais diferentes tipos de grupos sociais,

inclusive os grupos em movimento, os quais podem constituir movimentos sociais, que, por

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meio das redes, encontram formas alternativas de comunicação. As redes sociais estão

presentes nas mídias sociais, contudo, não existe para a primeira um controle editorial como

para a segunda. Com isso, o modo de comunicação entre os sujeitos tem poder de mobilizar e

influenciar opiniões, por conta de sua capilaridade no mundo e velocidade de transmissão de

informações.

As redes sociais digitais, tendo como ponto de partida os perfis dos usuários,

possibilitam a comunicação e interação contínua de sujeitos de qualquer local do mundo,

desde que conectados à web. Nessa perspectiva, as redes sociais ou interações sociais passam

a serem estruturas sociais formadas, que nem sempre pertencem ao mesmo espaço geográfico.

Podem ser formadas por organizações ou por indivíduos conectados à internet de acordo com

os tipos de relações, que variam conforme o objetivo ou desejo de quem as utiliza, como

conhecer pessoas ou fazer novos amigos. No entanto, elas vão além disso, também têm como

finalidade promover agrupamentos, projetos, ideais, valores etc., ou seja, existe nelas um

vínculo social criados a partir de identificações sem, contudo, criar identidades.

Estas redes também vêm sendo utilizadas para a organização de vários

movimentos, os quais ganham força quando são levados ou organizados por meio da web,

sendo a internet uma forte ferramenta de divulgação. Mas não só os “movimentos” de rua são

divulgados por meio da internet, há aqueles que continuam suas reivindicações de forma

virtual, fiscalizando e denunciando a aplicação de recursos públicos, bem como cobrando

ética dos políticos, como, por exemplo, no caso do movimento “Acorda, Brasília”. Assim, a

internet e as redes sociais têm incentivado vários movimentos, principalmente os “novíssimos

movimentos sociais” (GOHN, 2013b), que atuam nas ruas em praticamente todo o país.

As redes sociais se tornam um multiplicador de informações e ideias e conseguem

alcançar uma parcela grande da população. Enquanto as mídias tradicionais mostram as

manifestações durante o evento em si, ou noticiam os fatos de forma editada, na maioria das

vezes aqueles ligados a algum ato de violência, sem “dar voz” ao povo e ao seu direito de

reivindicar suas demandas, as redes sociais, ao contrário, fazem o chamado aos participantes

dos movimentos.

Para Guareschi (2013, p.45), todas as transformações sociais foram promovidas

por meio de algum canal empregado como ferramenta de comunicação pelos sujeitos, os quais

anteriormente se reuniam para discussões e afixavam seus jornais nos salões. Contudo, para

Castells (2013, p.83-84), houve uma mudança nesse cenário, no qual a mídia se empoderou, e

“as pessoas passaram a ter suas redes para se conectar umas com as outras e com o mundo [...]

se recusavam a noção de intervenção externa, mas queriam que o mundo soubesse”.

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Desse modo, segundo o autor, as manifestações e suas organizações passaram a se

iniciar no espaço virtual e culminar nas ruas. Ou seja, as redes sociais, por meio da internet,

proporcionaram uma autonomia para que os movimentos se expressassem conforme a

conjuntura local, de múltiplas maneiras, o que, consequentemente, resulta em desenlaces e

soluções diferenciadas.

Porém, não há um consenso entre acadêmicos e especialistas jornalísticos sobre,

precisamente, a função das redes sociais para os movimentos. Diz-se que “a tecnologia não

determina os movimentos sociais nem, no que nos interessa, qualquer espécie de

comportamento social” (CASTELLS, 2013, p.86). No entanto, segundo Prudencio (2006,

p.9), não há como desconsiderar o mérito das TICs nos movimentos sociais no que diz

respeito às constantes mudanças nas ações coletivas. Nesse viés, as redes da internet e de

telefonia celular são essenciais como “plataformas específicas para autonomia política”

(CASTELLS, 2013, p.86).

As mídias sociais “não causam revoluções” (CASTELLS, 2013, p.88), mas não se

pode negar que sua utilização proporcionou as maiores manifestações desta década. Isso

porque geraram uma “infraestrutura que estabeleceu laços de comunicação e capacidade

organizacional entre grupos” antes mesmo das próprias manifestações, fazendo com que a

mobilização para os protestos contasse com grande número de participantes.

Levantes como os da Primavera Árabe “foram processos de mobilização

espontâneos” surgidos por meio da internet e das redes sociais. A organização desses levantes

não teve como base “partidos políticos formais”, que para grande parte dos jovens

participantes não inspiravam confiança (CASTELLS, 2013, p.88-89). Gohn lembra ainda que

no Egito foi fundamental o uso das mídias digitais no decorrer da crise política recente, já que

nem todos os militantes eram egípcios – a causa teve apoio de outros jovens via redes sociais.

O movimento registrou um grande crescimento em consequência da “revolução virtual”, a

partir da criação de uma página no Facebook e da publicação de um vídeo que mostrava um

jovem ser espancado até a morte, vídeo esse que em apenas dois minutos obteve 300 acessos.

(GOHN, 2013, p.29-30)

O Occupy Wall Street já surgiu por meio da internet, uma vez que “o grito de

indignação” (CASTELLS, 2013, p.134) e a chamada para que houvesse a ocupação partiram

de diversos blogs, assim como do Facebook e do Twitter.

Assim como na Primavera Árabe e os Indignados europeus, os participantes

do Occupy foram convidados/convocados por redes de mídias sociais.

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Alguns grupos assumiram ou foram indicados como responsáveis pelos e-

mails que convidavam para assembleias [...] uma boa parte dos ocupantes

era formada por voluntários convocados por mídias sociais. (GOHN, 2013a,

p.43)

Grupos e redes ativistas atuando na internet ouviram o chamado, o divulgaram e

teceram comentários em apoio à iniciativa. (CASTELLS, 2013, p.135) O Twitter também foi

primordial para a conexão e interatividade dos participantes em acampamentos, viabilizando a

organização e “planejamento de ações específicas”, e ainda para emitir alertas quando

percebida ameaça de invasão policial, fazendo com que houvesse mobilização para proteção

de ocupantes.

Movimentos como o do Occupy são híbridos em rede à medida que ligam “o

ciberespaço ao espaço urbano por intermédio de múltiplas formas de comunicação”

(CASTELLS, 2013, p.140). Uma das estratégias lançadas previa a utilização de “sinais

manuais” nas manifestações para, posteriormente, fazer com que, pela internet, eles fossem

difundidos de forma viral. Houve ainda a divulgação de imagens de espaços físicos

importantes marcados pela presença de manifestantes como símbolo do desafio, por exemplo.

O movimento em rede possibilita ver com mais clareza que uma marca importante

desses levantes era a ausência de liderança convencional ou institucional. Muitos utilizaram as

redes sociais e criaram seus próprios sites e blogs com orientações sobre as organizações e

divulgação das deliberações, fazendo com que surgisse “um padrão organizacional

amplamente comum”. Foi realmente um experimento de organização de movimentos sociais e

desmentiu o arraigado pressuposto de que nenhum processo sociopolítico poderia funcionar

sem algum tipo de orientação estratégica e de autoridade vertical. (CASTELLS, 2013, p.142)

De acordo com Castells (2013, p.163), esses movimentos, assim chamados por

ele, ou manifestações tiveram características comuns, como a união de indivíduos

“conectados em rede de múltiplas formas”, sem anular os recursos de interação já existentes e

impulsionando a utilização de outros novos para movimentos e manifestos específicos, ou a

conexão dentro de determinados grupos, bem como a comunicação e interação com outros de

forma global (CASTELLS, 2013, p.163).

Os movimentos têm como base o espaço urbano e as manifestações se efetivam

nas ruas, contudo, se mantêm no espaço virtual sem um núcleo que possa ser identificado.

Fato esse que não faz com que percam sua interatividade com outros centros virtuais, de

forma a se comunicarem, se organizarem, deliberarem.

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Essa estrutura descentralizada maximiza as chances de participação no

movimento, já que ele é constituído de redes abertas, sem fronteiras

definidas, sempre se reconfigurando segundo o nível de envolvimento da

população geral. Também reduz a vulnerabilidade do movimento à ameaça

de repressão, já que há poucos alvos específicos a reprimir, exceto nos

lugares ocupados; e a rede pode se reconstituir enquanto houver números de

participantes, frouxamente conectados por seus objetivos e valores comuns.

A conexão em rede como modo de vida do movimento protege-o tanto dos

adversários quanto dos próprios perigos internos representados pela

burocratização e pela manipulação. (CASTELLS, 2013, p.164)

“Eles se tornam um movimento ao ocuparem um espaço urbano, seja por

ocupação permanente de praças públicas, seja pela persistência das manifestações de rua”,

mesmo quando se originam por meio das redes, uma vez que a comunicação se dá por

intermédio da internet e de telefones celulares, interagindo, ao mesmo tempo, com a tomada

de espaços simbólicos de lutas, onde se dão os “atos de protestos”. (CASTELLS, 2013, p.164)

Para o autor esta mescla do espaço virtual com o urbano forma um terceiro ao

qual ele denomina de “autonomia”, e que, por sua vez, somente é garantida à medida que se

constitui na liberdade proporcionada pelas redes e que é praticada como força transformadora,

desafiando a ordem institucional disciplinar, ao reclamar o espaço da cidade para seus

cidadãos... O espaço da autonomia é uma nova forma espacial dos movimentos sociais em

rede. (CASTELLS, 2013, p.165)

“Os movimentos são simultaneamente locais e globais.” São locais porque,

geralmente, têm origem a partir de histórias e demandas peculiares, bem com constituem sua

própria rede e visam espaços urbanos específicos de seus contextos. E são globais, pois

interagem com o mundo conectado à rede, veiculam suas experiências, assim como são

estimulados por outras, e têm a capacidade de mobilização de vários espaços urbanos locais

ao mesmo tempo a partir de “questões e problemas da humanidade em geral”. (CASTELLS,

2013, p.165)

“São amplamente espontâneos em sua origem, geralmente desencadeados por uma

centelha de indignação”, muitas vezes por demandas locais ou pela não aceitação da ação de

seus governos e lideranças políticas. Há sempre um “apelo” que percorre, principalmente, o

espaço das redes, apelo esse levado posteriormente às manifestações em espaços urbanos,

fazendo com que os participantes ou receptores “se conectem à sua forma e a seu conteúdo”.

(CASTELLS, 2013, p.166)

“Os movimentos são virais”, ou seja, surgem por todos os locais e países

diferentes, se propagando pelas redes por meio da divulgação de mensagens e imagens. Isso

se dá em contextos diversos e, principalmente, podendo ser distantes ou até próximos, de

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forma que um estimula o outro de diferentes modos, uma vez que têm voz e podem ser

ouvidos por variados povos, com suas culturas e contextos específicos, inspirando “a

mobilização, porque desencadeia a esperança da possibilidade de mudança”. (CASTELLS,

2013, p.166)

Assim, “a passagem da indignação à esperança realiza-se por deliberação no

espaço da autonomia” (CASTELLS, 2013, p.166), em movimentos sem líderes, nos quais as

resoluções e decisões são tomadas de forma horizontal, haja vista que o contrário poderia

causar falta de confiança naqueles que tomassem o poder dentro dos grupos. Dessa forma,

essa horizontalidade tanto no espaço real como no virtual favorece o “companheirismo”, a

solidariedade, tirando de foco uma liderança específica.

“São movimentos profundamente autorreflexivos” (CASTELLS, 2013, p.167),

uma vez que, constantemente, é posto em questão quem são os participantes dos movimentos,

tanto nos espaços urbanos como no espaço da rede, como também quais as suas demandas.

Ainda indagam até que ponto eles próprios não se vêm promovendo ações a que se colocam

contrários em suas lutas, no que se refere a conquistas e poderes. “Essa autorreflexividade

manifesta-se no processo de deliberação das assembleias, mas também em múltiplos fóruns da

internet, assim como numa miríade de blogs e grupos de discussão das redes sociais.” (p.168)

Em geral, “eles não são violentos”, apesar de enfrentarem diferentes tipos de

violência quando reprimidos por se envolverem em práticas que visam pressionar governos ou

organizações, por meio de manifestações e ocupações de espaços urbanos ou protestos

virtuais, com intuito de buscar uma “participação justa nos canais institucionais”.

(CASTELLS, 2013, p.168)

Não é frequente que os movimentos tenham início programado, e sim surgem a

partir de demandas e motivações diversas, sem, contudo, terem um “programa elaborado em

torno de objetivos específicos” (CASTELLS, 2013, p.169). Não se concentram, dessa forma,

em um “só projeto ou tarefa”, não dando chance a partidos políticos de aliciar os

participantes, pois estes também já não têm credibilidade.

O que esses movimentos sociais em rede estão propondo em sua prática é

uma nova utopia no cerne da cultura da sociedade em rede: a utopia da

autonomia do sujeito em relação às instituições da sociedade [...]. A

internet, que, como todas as tecnologias, encarna a cultura material, é uma

plataforma privilegiada para a construção social da autonomia. (CASTELLS,

2013, p.170)

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“O papel da internet e da comunicação sem fio nos atuais movimentos sociais em

rede é fundamental” (CASTELLS, 2013, p.170-171), porém não têm seu valor reconhecido

quando é minimizada a questão de estarem na base dos movimentos, uma vez que sua

verdadeira causa, que são “os conflitos de sociedades específicas”, só pode ser contestada por

intermédio da comunicação que esses meios proporcionam quando seus participantes se

unem, interagem e se organizam com vistas a influir mudanças na sociedade como um todo,

seja de forma local ou global.

A internet fornece a plataforma de comunicação organizacional para traduzir a

cultura da liberdade na prática da autonomia. Isso porque a tecnologia da internet incorpora a

cultura da liberdade, pois “ela foi deliberadamente programada por cientistas e hackers com

uma rede descentraliza da de comunicação por computadores capaz de resistir ao controle de

qualquer centro de comando” (CASTELLS, 2013, p.172).

As novas mídias sociais, principalmente as redes sociais digitais, estão criando

novas e modificando antigas formas de relacionamento. Elas proporcionam ainda novas

formas de acesso à informação e, por consequência, possibilidade de múltiplas elaborações do

conhecimento, bem como propiciam maneiras diferentes de construção e reconstrução da

democracia. Contudo, por outro lado, também criam novas formas de controle social e

manipulação. E, segundo Nicolas Carr (2011, apud GOHN, 2013a, p.52), “a internet estimula

a inteligência visual e espacial, mas isso se dá em detrimento da capacidade dos indivíduos de

análise, reflexão e pensamento crítico”, o que para Gohn (2013a, p.52) significa que

“estaríamos nos tornando leitores desconcentrados e pensadores rasos, incapazes de articular

raciocínios complexos”.

No entanto, assim como diz Gohn (2013a), tudo ainda é muito recente e novo para

se fazer análise apocalíptica, de forma a afirmar aspectos totalmente positivos ou negativos

acerca do que as mídias digitais podem proporcionar aos atos humanos e, em especial, à ação

coletiva.

As manifestações de rua, tratadas nesta tese, fazem parte de um movimento de

rede que busca formas novas ou alternativas de se expressar. Isso porque uma das

características dos movimentos é não serem institucionalizados (GOHN, 2014, p.142). Daí a

tendência a uma globalização com uma novidade para a agregação de indivíduos, ou seja, a

reunião de diferentes grupos com propósitos semelhantes (nesse caso, conquista e garantia de

direitos). Tais grupos nem sempre estão no mesmo espaço territorial, tampouco têm sempre

um objetivo específico comum, mas, por meio das redes sociais, como foi o caso das

manifestações ocorridas em meados de 2013 ou da Primavera Árabe, podem receber apoio

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mundial às suas reivindicações. (GOHN, 2013a, p.30) Isso ocorre porque essa forma de

comunicação cria uma diminuição do espaço territorial8 e um aumento do espaço virtual, de

modo que indivíduos que se encontram distantes geograficamente têm a possibilidade de

realizar encontros virtuais em que compartilham ideias, reflexões, valores, ideologias. A partir

dessa ação pode ocorrer a formação de novos movimentos.

1.1.6 Movimentos sociais e educação

Segundo Gohn (2011, p.334), a investigação acerca da relação entre movimentos

sociais e educação é nova nos estudos acadêmicos, suscitando euforia em uns que a

consideram seu mérito, e rejeição em outros, tidos como conservadores. Essa conexão partiu

“da atuação de novos atores que entravam em cena, sujeitos de novas ações coletivas que

extrapolavam o âmbito da fábrica ou os locais de trabalho”, tendo os movimentos uma grande

influência educativa para esses grupos.

Quando se fala na relação entre movimentos social e educação não se pode deixar

de destacar os “movimentos pela educação”, que ocorreram dentro e fora das instituições

escolares, constituídos de sujeitos inseridos tanto no campo da educação formal como na

educação não formal.

Movimentos sociais pela educação abrangem questões tanto de escolas como

de gênero, etnia, nacionalidade, religiões, portadores de necessidades

especiais, meio ambiente, qualidade de vida, paz, direitos humanos, direitos

culturais etc. Os movimentos sociais são fontes e agências de produção de

saber. O contexto escolar é um importante espaço para participação na

educação. A participação na escola gera aprendizado político para a

participação na sociedade em geral. (GOHN, 2011, p.347)

Para a autora, os movimentos sociais pela educação, e sua relação, são muito mais

amplos e extrapolam os muros das instituições educacionais formais, uma vez que seu

processo, assim como ocorre em outros movimentos, também tem caráter educativo. E cabe à

educação propiciar espaços e condições de desenvolvimento cultural, social e cognitivo por

meio das práticas de luta por direitos e condições melhores de vida. Arroyo (2003, p.29-30)

ressalta que vários textos acadêmicos reconhecem a relevância dos movimentos sociais para

uma conscientização acerca do “direito à educação básica” e para a democratização da

educação, bem como a importância que essa relação assume.

8 Apesar de estarem longe no que se refere às localidades geográficas, estão, ao mesmo tempo, próximos por

meio da internet no que se refere à comunicação e divulgação de informações em tempo real.

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Segundo Gohn (2011, p.348-350), os movimentos pela educação nas escolas

formais, nas duas últimas décadas, tiveram como eixos centrais inúmeras demandas, a saber:

acesso à educação, aumento das vagas nas escolas infantis, das vagas no ensino básico, escola

pública com qualidade, gestão democrática, valores mais justos nas escolas particulares,

políticas públicas voltadas à educação e adequada distribuição do orçamento, realização de

experiências, combate às discriminações, melhores condições de permanência, ensino técnico,

programas mais efetivos contra o analfabetismo, educação de jovens e adultos, projetos

pedagógicos com respeito às culturas locais e alterações na interação entre escola e

comunidade. Por último, e não menos importantes, cumpre citar as lutas por melhores

condições salariais e de trabalho aos profissionais da educação, principalmente aos

professores, assim como nos fala M. A. Souza (2005, p.84):

Há ainda a necessidade de pensar os movimentos de professores, que

mantêm em sua pauta de reivindicação a ideia de “uma escola de qualidade”,

ao lado das reivindicações salariais. Tais movimentos não têm tido muita

visibilidade, o que não significa que a escola vá muito bem; ao contrário, as

salas de aulas estão cada vez mais cheias, os professores descontentes com o

salário, inúmeros cursos de especialização são organizados com o intuito de

que o professor possa ter uma ascensão salarial [...].

Souza ainda discorre sobre os dados oficiais de repetência e evasão, afirmando

que não correspondem à realidade, sendo camuflados por programas e projetos de “correção

de fluxo” e “aceleração”, entre outros.

Dessa forma, pode-se examinar que são muitas as demandas e que os

movimentos, sejam eles novos movimentos sociais ou “novíssimos movimentos”, vêm

buscando formas de intervenção na esfera pública com o objetivo de se obter uma educação

de qualidade e instituições públicas comprometidas com o desenvolvimento dos educandos.

A exemplo da educação formal, Gohn (2011, p.351-352) lista também os eixos de

luta contemplando a área da educação não formal, constituída pela “grande maioria das ações

educativas dos movimentos sociais, práticas civis, associativismo das ONGs etc.”, a saber:

trabalho nos sindicatos; trabalho com movimentos sociais (especialmente populares);

trabalhos na área da ação social comunitária (junto a associações, ONGs e outras formas

organizativas). Lista ainda espaços onde seria necessária a atuação de educadores, como nas

lutas pelo acesso à educação em comunidades carentes e grupos vulneráveis; mobilização de

recursos da comunidade para combate às situações de exclusão por meio da implantação de

programas e projetos sociais; movimentos étnico-raciais; movimentos de gênero (mulheres e

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homens) e movimentos de homossexuais (gays, lésbicas e transexuais); movimentos culturais

de jovens; mobilizações e protestos contra a guerra, pela paz; movimentos de solidariedade e

apoio a programas com meninos e meninas de rua, adolescentes que usam drogas, portadores

do Vírus da Imunodeficiência Humana - HIV, portadores de necessidades especiais;

movimento pela infância; movimentos pela preservação ou construção de condições para

preservação do meio ambiente. Nesse sentido, como atesta M. A. Souza (2005, p.84),

“evidencia-se uma nova faceta no processo de luta pela educação: a parceria e a ideia de

descentralização das ações no âmbito social, abrindo espaço para a atuação da sociedade

civil”.

Contudo, Arroyo aponta outro olhar para a relação educação e movimentos

sociais, numa perspectiva ampliada que se refere às potencialidades dos movimentos sociais:

Em que medida [os movimentos sociais] podem ser vistos como um

princípio, uma matriz educativa em nossas sociedades. Que dimensões eles

formam e que aspectos eles trazem para a teoria pedagógica e para o fazer

educativo tanto nas propostas de educação formal quanto informal.

(ARROYO, 2012, p.30)

O aprendizado pode revelar-se em diferentes “dimensões educativas” e na relação

com os movimentos sociais, em que se dá a aprendizagem de direitos, isso com especial

destaque para o direito à educação e à escola pública. Surge assim uma nova forma de

ensinar e aprender, o que o autor chama de “reeducação da cultura”, colocando a educação no

limite “do conjunto dos direitos humanos”, em oposição a um pensamento que “reduz a

escolarização a mercadoria, a investimento, a capital humano, a nova habilitação para

concorrer no mercado cada vez mais seletivo” (ARROYO, 2012, p.30).

Nessa linha, Gohn (2011, p.352-353) cita Vygotsky para explicar que “o

aprendizado ocorre quando as informações fazem sentido para os indivíduos inseridos em um

dado contexto social”, destacando, em seguida, as inúmeras formas de aprender disponíveis

aos grupos e/ou aos indivíduos no “interior de movimentos sociais, durante e depois da luta”.

Há aprendizagem prática, teórica, técnica instrumental, política, cultural, linguística, sobre a

economia, simbólica, social, cognitiva, reflexiva e ética. Para Arroyo (2003, p.30), os

movimentos sociais podem reeducar “o pensamento educacional, a teoria pedagógica, a

reconstrução da história da educação básica”, pois esses segmentos pertencem também à

história da sociedade, com suas demandas e “avanços na consciência de direitos”.

Os estudos enfatizam “o caráter educativo das ações coletivas, organizadas na

forma de movimentos sociais”, principalmente na educação não formal, sendo essencial que

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tanto a educação formal como a não formal possibilitem a abertura de espaços de

“participação democrática da população”, assim como já ocorre no processo educativo no

interior dos movimentos sociais. (GOHN, 2011, p.356) Arroyo (2003, p.33) completa esse

pensamento quando assegura que não reconhecer as “formas concretas de socialização” e de

aprendizagem no processo educativo, seja ele formal ou informal, cabendo acrescentar nesse

texto o processo educativo não formal, é colocá-lo à parte dos “processos socializadores”, nos

quais as questões sociais se multiplicam e a sociedade ganha voz.

Para Arroyo (2003, p.37), “a ação educativa junto a diversidade de coletivos

inseridos nesses movimentos e na sobrevivência tão no limite terá de dar conta da totalidade

de dimensões que os constituem como humanos”. Assim, faz-se necessário um avanço nos

estudos teóricos e práticos da pedagogia com vistas a uma formação e “humanização”

completa dos sujeitos em sua plenitude enquanto seres sociais, culturais, sociais e políticos em

movimento, pertencentes ou não a um movimento social, mas trazendo consigo seu

conhecimento prévio de mundo a partir de suas experiências e vivências, assim como ocorre

na pedagogia dos movimentos sociais.

[...] os movimentos sociais recuperam a centralidade da ética e das

orientações culturais no convívio humano, na produção, na política, na

formulação de políticas, no trato do público, da terra, do espaço... Eles têm

trazido o confronto ao campo da ética, à defesa dos limites morais... eles

vêm agindo como repositores de velhas dimensões: a formação de sujeitos

éticos, do público, da moralidade. Dimensões tão presentes nos velhos

ideários pedagógicos. (ARROYO, 2003, p.42)

Outro aspecto explorado por Arroyo (2003, p.40-43) é o da cultura, quando fala

nos novos movimentos sociais que têm como base identidades culturais, como a dos negros,

das mulheres, dos indígenas etc., os quais intitula “movimentos culturais” (apontado por

Touraine). O autor enfatiza a cultura como “eixo da ação coletiva” e defende que deveria ser

também da “ação educativa”, uma vez que tem como princípio a formação. Para ele, a

educação tradicional encontra grandes dificuldades em lidar com essa questão quando a trata

com preconceitos e reduz o “agir humano” como estático. O contrário ocorre com a pedagogia

dos movimentos, que encara a cultura como fundamental para o entendimento “dos processos

sociais e educativos”, de forma a significá-los e ressignificá-los, com intuito de contestar uma

cultura e, por que não, uma ação educativa homogeneizada. Para Arroyo (2003, p.40-43), é

essencial que a educação, principalmente a formal, tenha como perspectiva os paradigmas

éticos presentes nos movimentos sociais acerca da formação humana.

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No entanto, para Arroyo (2012, p.31), os movimentos sociais vão muito além da

“relação entre educação e projeto particular de vida, projeto individual de vida e de até projeto

familiar de vida”, eles extrapolam os limites do próprio movimento, uma vez que a educação

ultrapassa o seu funcionamento formal e precisa partilhar “um projeto de sociedade”. Nessa

mesma direção, Gohn (2011, p.333) afirma que “a educação não se resume à educação

escolar, realizada na escola propriamente dita”, pois existem outros tipos de saberes em outros

locais diferentes da escola, o que ela chama de educação não formal. Ainda segundo Arroyo

(2012, p.31), a educação pode construir um projeto contra-hegemônico, caso contrário ter-se-á

de se aceitar apenas “projetos mais imediatos”. Assim, o autor diz que a história da educação

comprova que, onde existiu “um projeto revolucionário”, existiu sempre “um projeto

educativo”, contudo este último não é condição para que haja o projeto revolucionário, o

primeiro vem depois, como ocorreu em muitos movimentos sociais, ou seja, o próprio

movimento é educativo.

A sociedade não muda somente pela educação, apenas pode ser provado que

“quando a sociedade muda ou entra em processo de transformação ela termina equacionando

o papel da educação”. Isso porque os movimentos não são, a priori, movimentos de educação,

eles se movem contra alguma ação que não está de acordo com os termos de determinados

grupos. Essencialmente, a educação aparece com o intuito de fazer com que os avanços que

há nas lutas dos movimentos passem de imediatos para “um projeto de sociedade, um projeto

anticapitalista” (ARROYO, 2012, p.32) por meio das lutas.

Como profissionais da pedagogia teríamos de agradecer aos diversos

movimentos sociais a posta em cena, e de maneira tão rigorosa das grandes

questões humanas que sempre revigoraram o campo da teoria pedagógica.

Eles nos oferecem um prato cheio para sair dos recortes pontuais, dos

olhares pobres em que se isolou o didatismo escolar e também o

metodologismo da educação não formal. Eles nos educam e educam os

coletivos que deles participam. Educam a sociedade. Agem como

pedagogos. (ARROYO, 2003, p.47)

Nesse contexto, a tarefa do educador, que possui um projeto emancipatório, é a

“de tentar em cada momento, descobrir as possibilidades de explorar cada passo em termos

educativos e de formação (política)”, confiando “que a própria dinâmica de transformação, de

qualquer luta, de qualquer movimento é educativa” (ARROYO, 2003, p.47). Contudo, não

passa a ser educativa de repente, por meio de uma intencionalidade, precisa ser estudada com

um viés formador.

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Arroyo (2003, p.48) cita Lenin para mostrar que “a luta em si tem uma dimensão

pedagógica, mas é necessário que os que fazem a luta e os educadores que participam, tentem

explorar, ao máximo, as dimensões pedagógicas desses processos”. Também cita Gramsci

quando afirma que os movimentos sociais, por sua vez, exploram as dimensões pedagógicas

(ainda que não formais) e que os partidos mais revolucionários também as exploram, na

medida em que formam “coletivos educadores”, pois, nessa linha, há de se educarem como

coletivos, ou seja, são “os intelectuais orgânicos coletivos que, em cada momento, percebem

onde estão as dimensões pedagógicas e as exploram” (ARROYO, 2003, p.48).

Assim, para ele, os movimentos sociais também podem ser considerados como

intelectuais orgânicos coletivos, contudo, isso não ocorre naturalmente e somente será

possível se houver cultivo e interação (ARROYO, 2003, p.48). O autor cita Paulo Freire

acerca do ato de educar associado à humanização, à libertação e à emancipação, e atesta que

não é um processo natural, mas fruto de ações, pois pode haver processos extremamente

revolucionários, mas que não emancipam, e sim controlam, do mesmo modo “como houve

revoluções que terminaram não emancipando e sim controlando”. A abordagem educativa

dos movimentos sociais “é muito mais larga do que a educação escolar”, estando nesse

contexto o porquê de os movimentos sociais “serem educadores para além da escola”

(ARROYO, 2003, p.48).

O movimento social e sua relação com a educação acontecem de duas formas: “na

interação dos movimentos em contato com instituições educacionais, e no interior do próprio

movimento social, dado o caráter educativo de suas ações” (GOHN, 2011, p.334). O fato é

que eles educam diferentemente dos moldes escolares, com seus projetos, currículos e

professores. O próprio movimento é “educador no sentido mais amplo, no sentido de que

humaniza” (ARROYO, 2012), “de que desperta uma consciência política, de que ajuda a

interpretar a realidade” e de que, principalmente, questiona muitos valores da sociedade.

Gohn confirma esse caráter ao afirmar que “um dos exemplos de outros espaços educativos é

a participação social em movimentos e ações coletivas, o que gera aprendizagens e saberes”,

uma vez que existem ações educativas nas práticas de participação “quando há negociações,

diálogos e negociações”. Para a autora, uma das proposições dos movimentos sociais é serem

“matrizes geradoras de saberes” (GOHN, 2011, p.333).

Dessa forma, é imprescindível “pensar a educação escolar na mesma visão

ampliada que o movimento faz da educação” (ARROYO, 2012, p.33). Ou seja, é necessário

que se entenda e se perceba, por um lado, “uma educação ampla, política e avançada”, sendo

os movimentos grandes educadores das sociedades, dos participantes e das comunidades. Por

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outro lado, as escolas não conseguem traduzir no cotidiano escolar essa concepção e essa

prática de educação que os movimentos sociais possuem, de forma a surgir uma tensão. Para o

autor, ainda, “a escola está no horizonte dos movimentos sociais”, no momento em que ela

passa “a ser um campo de intervenção dos movimentos sociais”, pois

[...] uma coisa é a educação colocada neste horizonte tão amplo, de

transformação, de mudanças, outra é o papel que realmente cumpre a escola,

uma vez que não há reformas a serviço destes grandes projetos, as reformas

nas escolas terminam sendo muito mais humildes, muito mais modestas.

(ARROYO, 2012, p.33)

A relação entre a educação e o movimento social está presente nas práticas dos

grupos sociais e de seus movimentos, sendo essa relação de suma importância no processo de

indagação acerca da conjuntura vigente, permitindo compreender como ocorrem as

aprendizagens no cotidiano de tais grupos (GOHN, 2011, p.334). E é nesse campo que Paulo

Freire (s/d) fala sobre as marchas históricas que denotam o ímpeto da vontade amorosa de

mudar o mundo, afirmando que morreria feliz se visse

[...] o Brasil cheio, em seu tempo histórico, de marchas [...] dos que não tem

escola, marcha dos reprovados, marcha dos que querem amar e não podem,

marcha dos que se recusam a uma obediência servil, marcha dos que se

rebelam, marcha dos que querem ser e estão proibidos de ser. As marchas

são andarilhagens históricas pelo mundo. (FREIRE, s/d)

E, na direção de que Paulo Freire (s/d) trata de educação, os movimentos sociais

são, de forma mais profunda, “uma das expressões mais fortes da vida política e da vida

cívica”, como o MST. Revela que existem muitas opiniões contrárias, inclusive de quem se

pensou progressista, atribuindo a eles termos como destruidores da ordem. O que não condiz

com a realidade, uma vez que asseguram “certas afirmações teóricas de analistas políticos” e

acadêmicos que lutar para conseguir “um mínimo de transformação” é de fundamental

importância. Para ele, a educação e a transformação só são possíveis por meio de marchas

contra uma “vontade reacionária histórica implantada neste país”. Diz Freire ainda que tem

como sonho que outras marchas se instalem neste país, como a marcha pela decência ou pela

superação da “sem-vergonhice” que se “democratizou neste país”, porque as marchas “nos

afirmam como gente e como sociedade querendo democratizar”.

Arroyo (2003, p.47-48) fala sobre a possibilidade de uma “pedagogia dos

movimentos sociais” quando mostra a identificação dos diversos movimentos (dos primeiros

aos atuais) com seus gritos de guerra, palavras de ordem, formas de manifestação e até de

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organização, as quais não existem em nenhum manual ou método pedagógico, ao contrário,

fazem parte de uma ação pedagógica para a formação humana com suas “linguagens e

didáticas acumuladas ao longo de uma historia tão permanente e tão atual”. Nessa linha, o

autor cita Paulo Freire para explicar sobre as questões humanas presentes na história, como

“se os seres humanos, os grupos excluídos, oprimidos repetissem a mesma „pedagogia do

oprimido‟ em cada presente” com

[...] um vigor pedagógico que rebrota em cada movimento social reprimido,

mas vingado algum tempo depois por outros movimentos. A volta

permanente a essas antecedências sempre renovadas poderia ser uma tarefa

de quem buscamos os vínculos entre educação e os tensos processos de

produção e reprodução da existência. (ARROYO, 2003, p.48)

1.2 POLÍTICAS PÚBLICAS

Para Palma Filho (2010, p.157), “políticas públicas são as ações desenvolvidas

pelo poder público, com a finalidade de efetivar os princípios estabelecidos no texto

constitucional e em leis que a ele se seguiram”. Também afirma o autor que, muitas vezes, são

levadas em consideração demandas postas pelo conjunto da sociedade por conta de se atender

à solicitação de um contexto democrático. Entretanto, se tratando de uma sociedade como a

brasileira, “que se caracteriza por conflitos e interesses de classe”, as políticas públicas são

consequência “do embate de forças, que se consubstanciam em leis, normas, métodos e

conteúdos, resultantes da interação de agentes de pressão que disputam o Estado”.

Todavia, Perez (2010, p.1181) acrescenta que o termo “políticas públicas” vai

além, pois é o conjunto de ações do Estado, administrado por um determinado período por um

governo, tendo em vista duas fases:

[...] a fase da formação da política, implicando a constituição da agenda, a

definição do campo de interesse e a identificação de alternativas; e a fase da

formulação da política, quando as várias propostas se constituem em política

propriamente dita, mediante a definição de metas, objetivos, recursos e a

explicitação da estratégia de implementação. (PEREZ, 2010, p.1181)

Assim, os governos confeccionam planos, traçam metas e objetivos e

desenvolvem ações que consideram importantes para melhoria da vida social, de forma a

considerar as demandas ou interesse público.

Contudo, segundo Ball e Bowe (1992, apud MAINARDES, 2006, p.94), “as

políticas não são simplesmente implementadas, mas reinterpretadas no contexto da prática”.

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Nesse sentido, continuam, “a análise da trajetória de políticas envolve a análise de cinco

diferentes contextos do ciclo de políticas: contexto de influência, contexto da produção de

texto, contexto da prática, contexto dos resultados/efeitos e contexto de estratégia política”.

Para os autores, política se configura em “ciclo contínuo” (p.95), o qual Ball intitula de “ciclo

de políticas”.

O ciclo de políticas não tem a intenção de ser uma descrição das políticas, é

uma maneira de pensar as políticas e saber como elas são “feitas”, usando

alguns conceitos que são diferentes dos tradicionais [...]. Quero rejeitar

completamente a ideia de que as políticas são implementadas. Eu não

acredito que políticas sejam implementadas, pois isso sugere um processo

linear pelo qual elas se movimentam em direção à prática de maneira direta.

Este é um uso descuidado e impensado do verbo. (BALL, apud

MAINARDES, MARCONDES, 2009, p.305)

Para Ball e Bowe, o “ciclo de políticas” não se resume em formulação e

implementação. Os autores “rejeitam os modelos de política educacional que separam as fases

de formulação e implementação porque eles ignoram as disputas e embates sobre a política e

reforçam a racionalidade do processo de gestão” (MAINARDES, 2006, p.94). Tais modelos

limitam ou desconsideram a participação dos atores envolvidos no processo, como, por

exemplo, a atuação de professores nas políticas educacionais. Assim, Ball e Mainardes (2011,

p.38) entendem que esse tipo de análise não leva em conta a história da política,

desprendendo-a de determinado “tempo e espaço”, e que as políticas não são só feitas para as

pessoas ou para serem implementadas, porque “normalmente não dizem o que fazer, elas

criam circunstâncias” (p.45), envolvidas em situações-problema, nas quais os participantes

precisam buscar soluções de uma maneira que suas realidades e contextos possam ser

recriados. Assim como nos aponta Giovanni (2010) quando discorre sobre a participação e

interação da sociedade e do Estado na perspectiva de construção de uma política:

Embora seja verdade que toda política pública seja uma intervenção estatal,

esse conceito se amplia porque o conceito tem que incorporar do que resulta

a política pública – e a política pública é sempre resultado de uma interação

muito complexa entre o Estado e sociedade. (GIOVANNI, 2010)

Nessa perspectiva, conforme Höfling (2005), as “políticas públicas” devem buscar

soluções para as necessidades sociais e locais, e não se manter pautadas numa concepção

neoliberal de se governar a sociedade, a qual traz mais problemas do que soluções para os

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cidadãos numa sociedade tão desigual que a competição ganha espaço a ponto de minimizar

as relações sociais coletivas (BALL, 2011, p.26).

Dessa maneira, a função da política é oferecer condições para que o cidadão tenha

uma boa qualidade de vida, propondo, inclusive, ações preventivas no que se refere à

educação, saúde, segurança, trabalho. Que não sejam somente aplicadas políticas

compensatórias, que camuflam um verdadeiro desinteresse pelas causas sociais coletivas, a

favor de uma minoria, sob a ótica do “individualismo competitivo” e de “um novo tipo de

cidadão-consumidor” (BALL, 2011, p.31).

Assim, as políticas públicas precisam ter a função de viabilizar ações e “colocar-

se a serviço da luta por justiça social” (BALL, 2011, p.31), para que a universalidade do

acesso aos direitos saia da lógica mercadológica, uma vez que esta, numa visão neoliberal,

mais exclui do que inclui. Contudo, segundo Giovanni (2010), seria “importante no campo

das políticas públicas é que se melhorasse o padrão ético, não somente o técnico, e isso ainda

é uma briga em função desse conjunto de interesses que estão envolvidos” (GIOVANNI,

2010).

1.2.1 Políticas públicas em educação

Discutir políticas públicas voltadas à educação é imprescindível como referencial

teórico para análise do objeto desta tese, pois se faz necessário entender como elas são

formuladas e implementadas com vistas a promover ações inclusivas e educativas nas escolas

públicas, incluindo o segmento do Ensino Médio, em que se inserem os sujeitos desta

pesquisa. A relação deste tema à tese está na questão da importância de políticas que visem

uma formação crítica e consciente da sociedade conjuntural com vistas a uma participação

cidadã que busque transformações e efetivação de direitos sociais.

Dessa forma, essas políticas educacionais deveriam ser configuradas como

medidas capazes de proporcionar melhores condições de vida e em consonância com as outras

políticas, se revelando “produções conectadas à arena da política social, implementadas de

acordo com a realidade de cada grupo social”, como definem Ball e Mainardes (2011, p.12).

Segundo os autores, ainda existe a necessidade, nessa área, de um maior diálogo com a

literatura internacional, uma vez que a bibliográfica nacional não é extensa. E alegam também

que as políticas educacionais têm sido tratadas “por uma lógica de mercado” e discutidas

como se fossem “mercadorias”.

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Contudo, Perez (2010, p.1180), a partir de suas metodologias e reflexões, por

meio da literatura empregada, pôde verificar que o tema relacionado a políticas educacionais

[...] se tornou, nos últimos vinte anos, uma arena de acirrados conflitos e

interesses com uma política de grandes orçamentos – do governo federal,

dos estados e dos municípios – para atender, em tese, todas as crianças e

jovens do país, além de relacionar-se com as múltiplas dimensões do Estado

de bem-estar social. (PEREZ, 2010, p.1180)

Assim, segundo o autor, é importante observar como se dão e em que “condições”

são não só formuladas, mas também implementadas as várias políticas educacionais, visto que

afirma haver entre os autores, de fato, uma concordância acerca da escassez de estudos sobre

o tema. Porém, diz que o processo de formulação

[...] é visto como mais prestigiado do que a implementação, uma vez que a

atenção dos analistas se volta mais para a formulação da política do que para

os processos operados para as políticas alcançarem os efeitos desejados. Pelo

fato de ainda os tomadores de decisão tenderem a assumir que as decisões

trazem automaticamente a mudança, conclui-se que a implementação não é

vista como uma parte integral da formulação da política, mas como algo a

ser feito depois, por acréscimo. Assim, ela não seria valorizada por ser

considerada como uma simples sucessão de decisões e interações. (PEREZ,

2010, p.1181-1182)

Assim sendo, torna-se fundamental para um melhor entendimento do tema

apresentar-se, neste texto, um panorama das implementações políticas na área da educação

das quatro últimas décadas do século XX e início do XXI, principalmente no caso do Estado

de São Paulo, contexto em que estão inseridos os sujeitos e objeto desta tese, levando em

conta que no Brasil e, consequentemente, em São Paulo

[...] as linhas mestras da política educacional estão formuladas em várias

fontes legais. A primeira delas é dada pela Constituição Federal que, desde

1934 e, em grande parte, influenciada pelo Manifesto dos Pioneiros pela

Educação Nova, dedica um capítulo para tratar da questão educacional, no

qual são firmados os princípios gerais que devem ser levados em conta na

organização do sistema educacional. (PALMA FILHO, 2010, p.157)

1.2.2 Adolescente ou jovem

O sujeito central desta tese é o aluno do Ensino Médio da Rede Pública Estadual

de São Paulo, com idade média entre 15 e 18 anos, muitas vezes chegando a 20 anos de idade.

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De acordo com o relatório da UNICEF (2011, p.14), a fase da adolescência está compreendida

entre os 12 e 17 anos. Assim, entende-se aqui que o sujeito está entre a adolescência e a

juventude.

Contudo, se faz necessário definir os termos “jovem” e “juventude”, uma vez que

muitas vezes são utilizados como sinônimos de “adolescente e adolescência”. Esta última,

contudo, está mais bem compreendida, uma vez que não faz parte apenas de estudos

acadêmicos, mas também está institucionalizada no Estatuto da Criança e do Adolescente -

ECA, fruto da ação de atores empenhados em manter sua postulação (ABRAMO, 2005, p.29),

assim como é apresentado pela UNICEF:

[...] é fundamental reconhecer que os adolescentes são um grupo em si. Não

são crianças grandes nem futuros adultos. Têm suas trajetórias, suas

histórias. São cidadãos, sujeitos com direitos específicos, que vivem uma

fase de desenvolvimento extraordinária. O que experimentam nessa etapa

determinará sua vida adulta. Hoje, os adolescentes estão presentes na

sociedade com um jeito próprio de ser, se expressar e conviver e, portanto,

precisam ser vistos como o que são: adolescentes. (UNICEF, 2011, p.14)

De acordo com o relatório, contemporaneamente a definição de adolescente ou

adolescência não está mais restrita às condições ou transformações biológicas ou psíquicas

por que o menino ou a menina passa. Está atrelada à concepção de uma “construção social

dessa etapa da vida” e das diversas maneiras como ela pode ser vivida conforme as condições

socioeconômicas, cultura e participação. “Não se fala mais da adolescência, no singular, mas

de adolescências, no plural.” (UNICEF, 2011, p.17)

De acordo com o Estatuto da Juventude - EJ, criado pela lei nº 12.852/2013, são

consideradas jovens as pessoas com idade entre 15 e 29 anos. O documento estende os

direitos instituídos pelo Estatuto da Criança e do Adolescente, de forma a continuar

garantindo a proteção integral do agora jovem, contudo ampliando o rol de direitos e políticas

públicas, incluindo ações voltadas para a sua autonomia, participação e emancipação. Dessa

maneira, o Estatuto defende a promoção da participação do jovem no desenvolvimento do

país; a promoção da intersetorialidade e do território como espaço de integração da política

pública de juventude; a adoção de mecanismos que ampliem a gestão de informação e

produção de conhecimento sobre juventude; a integração entre os jovens da América Latina e

a cooperação internacional, entre outros temas.

No que se refere à definição de jovem ou juventude, embora haja uma variação da

faixa etária, entende-se aqui que a juventude tem início ainda na adolescência. Fase essa que

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compreenderia os estudantes do Ensino Médio de 15 a 17 anos se todos estivessem em série

compatível com sua idade, de acordo com o que seria garantido por lei. Assim,

[...] Adolescência é a idade na vida em que se começa a enfrentar o tempo

como uma dimensão significativa e contraditória da identidade. A

adolescência é a fase na qual a infância é deixada para trás e os primeiros

passos são dados em direção à fase adulta, com isso se inaugura a juventude

e constitui sua fase inicial. (MELUCCI, 1996b, p.8)

A adolescência e a juventude são tempos de construção de identidade e de

definição de projetos de futuro, marcados por ambivalências, pois se fazem presentes ao

mesmo tempo o senso de disciplina e obediência à família e à sociedade e o desejo de fazer

valer suas vontades e querências. Situação essa geradora de conflitos, que podem

proporcionar a expectativa de emancipação. (NOVAES, 2004, p.1)

Para Ozella (2011), existem muitas diferenças quando os jovens ou adolescentes

são de origens, gênero e classe sociais distintos, pois vivem de formas diversas no que se

refere a responsabilidades assumidas, ou não, família, carências etc. O jovem ou adolescente,

muitas vezes, já é rotulado como conflituoso, o que, segundo o autor, não traz contribuição,

notando que a própria escola os trata como problemas sem resolução. A literatura acadêmica e

a mídia não deixam claro quando e como ocorre de forma concreta essa passagem da

adolescência e juventude para a vida adulta. “Há um vácuo que permite entender que de

repente, com o passar do tempo, de maneira quase mágica o jovem passa a ser um adulto.”

(OZELLA, 2011, p.18-19)

A escola formal revela-se, nessa conjuntura, como mais uma instituição de

controle social quando passa a assumir a educação, que até então era de responsabilidade da

família, encarregando-se de uma formação que atribui perfis e papéis diferenciados para cada

faixa etária (GROPPO, 2000).

Assim, anteriormente, o ensino e aprendizado eram focados na inserção do jovem

no mercado de trabalho, o que indicava, para muitos, o fim da infância e a antecipada entrada

na vida adulta. Diferentemente dos tempos modernos, quando a intenção da escolarização é

fazer com que ocorra justamente o contrário, que seja retardado o início dessa vida adulta. Tal

ação é de responsabilidade do Estado, redesenhando a “cronologização etária” em seus

postulados. (PERALVA, 1997, p.17)

O fato é que a adolescência ou juventude é um período de transição sem, no

entanto, deixar de ser um tempo de transformações e construção de histórias perpassadas por

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desigualdades, configurando também caminhos diferentes. (PERALVA, A. O jovem como

modelo cultural. Revista Brasileira de Educação. São Paulo: ANPEd, n. 5/6, 1997., p.5)

Os jovens são indivíduos que estão sendo construídos com base nas suas

características pessoais e nas informações, experiências e oportunidades

propiciadas pela família e pelo contexto social em que vivem aí incluídas as

políticas públicas. Os contextos diferenciados ampliam ou restringem as

possibilidades desses jovens e definem vulnerabilidades diferenciadas.

(CAMARANO et al., 2004, p.6)

Segundo as autoras, o amadurecimento social e psíquico também pode ocorrer de

formas diferentes. Jovens de camadas mais populares, por exemplo, tendem a um

amadurecimento precoce, uma vez que muitos precisam assumir responsabilidades financeiras

e saem para o trabalho, formal ou informal. Portanto, o início da vida adulta pode variar

conforme o contexto histórico e social de cada um. Assim, “a família e o Estado afetam a

constituição identitária e social dos jovens, funcionando com agentes promotores de suas

potencialidades ou de acirramento da sua condição de vulnerabilidade” (CAMARANO et al.,

2004, p.6).

De acordo com o Relatório da UNICEF, a participação é um direito, e este consta

reafirmado no ECA. Em uma dimensão mais coletiva do que simplesmente individual, é um

conceito que se integra e complementa o de cidadania, sendo eles muito difundidos em textos

acadêmicos e midiáticos em todo o país. E é por meio de uma participação cidadã que os

jovens e adolescentes poderão buscar espaços para ter voz ativa na sociedade e fazer valer seu

direito. “Não existe cidadania sem participação e o principal objetivo da participação é a

construção da cidadania.” (UNICEF, 2011, p.117)

Participação, conceitualmente, exprime fazer parte de modo a ter voz nos

processos de decisão e ação de forma consciente no que se refere à condição de vida social,

entender as demandas e buscar direitos. No Brasil, um exemplo foi a mobilização dos jovens

nos anos 80, que frequentemente estavam nas ruas, aumentando a luta dos movimentos pela

restauração da democracia e pela aprovação do artigo 227 da Constituição, a base do ECA. O

voto facultativo foi concedido aos jovens com idade acima de 16 anos por meio da

Constituição Federal, dando a eles a oportunidade de escolher pela participação ou não.

Contudo, diante da política partidária vivenciada na segunda década dos anos 2000, há

aqueles que não querem mais votar. Porém, quando estimulados a participar de processos

políticos, fazem mais do que votar, buscam participação nas discussões a respeito de soluções

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de problemas de suas comunidades, sejam locais ou mais abrangentes. (UNICEF, 2011,

p.118)

Nesse contexto, Gohn afirma que ações coletivas em movimentos sociais têm se

destacado pautando agendas de lutas sociais por meio de novos modos de organização, novas

demandas e novas maneiras de comunicação. Esse novo fato fez emergir “novos sujeitos

sociopolíticos, historicamente excluídos”, com participação de jovens por meio do “grito” e

da ação. (GOHN, 2013a, p.11)

O associativismo civil desses meninos e meninas nas primeiras décadas do

segundo milênio é diferenciado do visto nos movimentos nos anos de 1960 ou nas ações

coletivas dos altermundialistas. Os anos 60 foram marcados por uma “revolução cultural” em

que se buscava algo muito além do que pregavam as gerações passadas. Segundo Sartre (apud

GOHN, 2013a, p.13), “essa geração buscava viver sem tempos mortos”. Foram criadas

alianças que pregavam a revolução e identidades pautadas em temas como gênero, etnia etc.

Foi quando o uso de muros e cartazes com frases simbólicas dos movimentos fez com que

surgisse um novo tipo de comunicação em Paris.

No Brasil, em 1967, foi fundamental a participação do jovem no Movimento

Estudantil, constituído de jovens de classes sociais diferentes a reivindicar seus direitos,

mesmo sendo a conjuntura da ditadura militar, dando início a uma oposição política sem

também ter uma “liderança institucionalizada”, mas com capacidade de fazer com que

milhares de pessoas saíssem às ruas em 1968. Na história se considera que esse é um

movimento forte até nos tempos atuais, segunda década do século XXI, pois se renova

sempre, seja pelos novos alunos participantes, seja por suas novas formas de luta. (GOHN,

2013a, p.13)

O termo juventude foi empregado até os anos de 1970 como uma categoria

problematizadora para se tratar das questões referentes às transformações sociais, isso não só

na academia, como também nos espaços políticos. (ABRAMO, 2004) Nos anos 1990

entraram em cena os movimentos alterglobalização, marcadamente em 1999, após os eventos

em Seatle (EUA), quando a cultura, os valores e as lutas operárias foram sobrepostas por

“repertório focalizado nas políticas macroeconômicas e seus efeitos no mundo”, tendo no bojo

das discussões a globalização e o processo neoliberal. A comunicação dos jovens por meio

dos computadores já se sobressaía. Contudo, havia ainda na pauta as lutas identitárias.

(GOHN, 2013a, p.14)

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Uma das características e estratégias dos movimentos alterglobalização foi a de

recriar suas ações e negar as políticas tradicionais e formas “consideradas clássicas”. Nesse

ritmo, a agenda de mobilizações do início do século XXI continuou a considerar a luta contra

os planos econômicos, que acabou por criar uma nova denominação para o cidadão,

“precariado”. Os jovens já possuem novas formas de comunicação, não só pelo computador,

mas também pelas redes celulares e redes sociais. (GOHN, 2013a, p.16-19)

O perfil dos manifestantes das jornadas de junho de 2013 no Brasil comprova a

importância da participação da juventude: em sua grande maioria, eram jovens com idade

entre 14 e 29 anos, 52% deles estudantes (GOHN, 2014, p.40), ou seja, um pouco mais da

metade dos participantes. Isso sem contar que, dos 76% de trabalhadores, muitos ainda

estudavam também. Dessa forma, cabe verificar o interesse por política e direitos vindo desse

segmento, indicando que “não são alienados ou apáticos como muitos analistas teimam em

afirmar” (GOHN, 2013a, p.40-41).

Os jovens que participam das manifestações, qualquer que seja a orientação

político-ideológica que os motiva, são abertos às utopias, à cultura digital à

revolta contra injustiças sociais. Antes de ocupar territórios do espaço físico,

familiarizam-se com o espaço virtual, atuam no novo espaço social criado

via o uso da internet. (GOHN, 2014, p.84)

Esse jovem tem grande capacidade de aprender, refletir e elaborar conhecimentos

a partir das experiências vividas no ativismo, na política – muitos ainda estão se iniciando

nesse campo. Buscam viver a cidadania na prática e contestam, muitas vezes, aquela proposta

em forma de lei. Não são alienados e têm consciência de que são recriminados e

discriminados por seus comportamentos e ações. Os jovens vão para as manifestações porque

querem ser ouvidos e buscam seus próprios meios de comunicação e expressão. Querem

educação e saúde de qualidade. Nota-se que sua participação se dá de forma coletiva, mas

mantém seus valores “individualizantes”, contudo não têm perspectiva para o futuro da

sociedade da maneira como está. (GOHN, 2014, p.84-86)

Uma vez apresentados os referenciais teóricos que subsidiarão a compreensão da

análise realizada no capítulo IV, cabe ao capítulo II a apresentação de temas educacionais e

suas políticas, para o entendimento do universo do sujeito da pesquisa.

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CAPÍTULO II – A EDUCAÇÃO E POLÍTICAS PÚBLICAS:

UMA VISÃO DO CENÁRIO

Este capítulo estende-se sobre alguns aspectos do sistema educacional brasileiro,

com um breve histórico sobre suas políticas públicas na esfera estadual paulista, verificando-

se como algumas delas foram implementadas no Brasil para o Ensino Médio. Essas questões

são consideradas fundamentais para a análise posterior do contexto em que estão inseridos os

alunos do Ensino Médio das escolas públicas estaduais, sujeitos desta pesquisa, bem como

para o estudo da participação desses jovens no processo de articulação dos movimentos e

reivindicação das demandas sociais, organizado por meio das redes sociais, a partir de uma

consciência formada em instituições de educação formal.

2.1 O SISTEMA DE ENSINO BRASILEIRO

O aluno do Ensino Médio das escolas públicas brasileiras está inserido em um

sistema de ensino desequilibrado, cujo currículo não está sintonizado com as necessidades

sociais reais. Ou seja, a educação, nesse segmento, precisa de fato contribuir para uma

aprendizagem de excelência, de maneira a formar, primeiramente, cidadãos críticos, com

grande capacidade de criação e de integração, sujeitos com uma visão do global e da

sociedade em que vivem, o que só será possível se “valores, experiências e percepções dos

alunos puderem ser expressas, conhecidas e, principalmente, respeitadas entre eles” (ISHII et

al., 2014, p.687).

Muito embora tenha ocorrido, nos últimos anos, uma melhoria relativa no sistema

educacional, com a consequente diminuição do analfabetismo no país, a situação geral não é

satisfatória, principalmente qualitativamente. O sistema continua desajustado e inadequado ao

século XXI, uma vez que mantém antigas concepções de ensino e, raramente, introduz e

recorre a novas formas de ensinar e aprender, como a utilização de modo real das TICs, assim

como pouco se faz sobre as relações existentes no cotidiano escolar com vistas à diminuição

dos problemas, principalmente da violência escolar. Esse sistema não conta com o apoio da

internet e das redes digitais no ensino, desconsiderando a possibilidade de boas relações que

esses meios trazem para a educação.

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O resultado desse sistema é uma juventude que tem grandes dificuldades de

resolução de conflitos (BIASOLI-ALVES, 2001) na área familiar e, por consequência, na área

escolar, que não busca o conhecimento existente em sua própria cultura e que possui

dificuldades de compreensão, de raciocínio e de pensamento crítico. “É necessário que se

discutam: o respeito ao ritmo individual, a tolerância face às diferenças e a eliminação dos

preconceitos.” (BIASOLI-ALVES, 2001, p.86)

A educação não se esgota no espaço da escola, ela se complementa e se aprofunda

na interação com agentes externos a ela. A educação da comunidade para a vida só se dará

quando não estiver mais circunscrita aos mecanismos tradicionais de difusão do

conhecimento, passando a contemplar a criação e aplicação de projetos com a comunidade

visando à solução de problemas e à melhoria das relações interpessoais no cotidiano escolar.

Apesar de vermos avanços educacionais, ainda que a passos lentos, tanto

quantitativos como qualitativos, as grandes desigualdades permanecem. Contudo, houve uma

esperança da diminuição de tais desigualdades a partir da promulgação da Constituição

Federal (1988), que prevê o acesso à educação de toda a população e estabelece que 18% da

receita da União e 25% da receita dos estados e municípios devem ser destinados ao

desenvolvimento da educação. O texto constitucional definiu ainda um regime de colaboração

entre as diferentes instâncias para o cumprimento da universalização do ensino básico, isso de

forma conjunta e complementar. No entanto, a educação ainda não foi tratada como

prioridade, fato esse que se arrasta desde a época do colonialismo e início do período

republicano, tendo marcado também o século XX, apesar de sempre o tema fazer parte da

agenda dos governos.

Assim, a educação brasileira desenvolveu-se de acordo com interesses e

desenvolvimento de cada região, constituindo diferentes redes de ensino com características

específicas, fazendo com que o Brasil chegasse ao final do século XX com um alto índice e

evasão, retenção e analfabetismo. Isso se reflete na sociedade com altos graus de desigualdade

e exclusão social. Dessa forma, a maior dificuldade está justamente na não percepção das

especificidades de cada região. Criam-se políticas públicas como se todos tivessem realmente

as mesmas condições de acesso e permanência nas escolas. Disso resulta uma grande

dificuldade em fazer com que os jovens concluam, pelo menos, os nove anos obrigatórios do

ensino fundamental, sem evasão ou reprovação, com um agravante maior nos três anos do

Ensino Médio.

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Contudo, vê-se que a educação básica, no que se refere ao Ensino Fundamental,

está avançando no Brasil, ainda que a passos muito lentos, o que não se vê no Ensino Médio.

No entanto, esse progresso está muito longe de ser como deveria ou poderia, conforme

demonstram os fatos históricos. E, muito embora as políticas públicas de regulação da

educação deem suporte para esse caminho rumo a mudanças mais favoráveis, como a LDB de

1996, os formuladores de políticas ainda precisam voltar seus olhos para as fortes questões de

desigualdade social refletidas no âmbito escolar e fazê-las levando em conta não só as

igualdades, mas as diferenças sociais e culturais de cada povo, seja por sua região, por faixa

etária ou, principalmente, pela classe social.

O Boletim da Educação no Brasil, lançado em dezembro de 2009 pela Fundação

Lemann e pelo Programa de Promoção da Reforma Educacional na América Latina e no

Caribe (Preal), é um relatório que monitora a educação no país. Ele mostra que não há tantas

indicações de que o Brasil esteja, de fato, melhorando, principalmente acerca da questão da

qualidade, quando aponta que, embora o país esteja entre as maiores economias do mundo, os

alunos têm as piores notas nas avaliações internacionais, isso desde as séries iniciais. Mesmo

as avaliações nacionais indicam que os alunos aprendem muitos menos do que o desejado,

esperado e necessário.

O mais grave de tudo é que o documento evidencia que, mesmo com toda essa

defasagem, as oportunidades de educação são muito desiguais. Ressalta que muitas crianças e

jovens abandonam a escola antes de completar doze anos de estudo. Conforme aponta, a

escolaridade média do brasileiro vem aumentando, contudo ainda é muito baixa, na

comparação com outros países, inclusive da América Latina. Há uma significativa distorção

de idade-série, pois muitos dos alunos ainda são retidos ou se evadem. Muitas vezes, a evasão

ocorre por conta do desânimo que causa a retenção, principalmente no Ensino Médio.

Um exemplo desse fato está nos dados do Estado de São Paulo, onde ocorrem os

mesmos problemas verificados no restante do Brasil – embora de maneira um pouco menos

gritante –, os quais também intensificam as desigualdades. Isso se mostra muito mais acirrado

quando se trata da questão da qualidade de ensino para todos, pois as diferenças de

oportunidades educacionais são evidentes.

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Tabela 1 - Taxa de escolarização em % (2013)

Bruta - EI Líquida - EI Bruta - EF Líquida – EF Bruta - EM Líquida - EM

São Paulo 62,3 46,4 100,7 93,4 91,4 68,9

Região Sudeste 63,0 46,9 103,7 93,4 86,8 62,9

Brasil 63,4 46,2 105,7 92,5 83,5 55,1

Fonte: PNAD/IBGE - elaboração INEP/DTDIE

Na análise, por exemplo, da taxa de escolarização (tabela 1), pode-se verificar que

os índices de São Paulo não estão muito além dos índices da região sudeste e até mesmo do

Brasil como um todo, às vezes são até menores, como no caso da Educação Infantil.

Tabela 2 - IDEB (2013)

Ens. Fundamental -

anos iniciais

Ens. Fundamental -

anos finais Ensino Médio

São Paulo 5,7 4,4 3,7

Brasil 5,2 4,1 3,7

Fonte: MEC/INEP

Já no que diz respeito à questão da qualidade, São Paulo apresenta um índice não

tão distante daquele do Brasil. Dessa forma, o foco do sistema, além de diminuir a evasão e

retenção, é obter um avanço significativo na qualidade do ensino, de forma que a proposta –

que antes era “escola para todos” – agora deve ser “escola de qualidade para todos e para cada

um”, em todo o Brasil, inclusive no Estado de São Paulo.

Para Gremaud (2011), “a expansão significa manter qualidade, o que é difícil

quando se aumenta em muito o número de alunos, o que também vem com uma característica

de heterogeneidade muito grande e forte”. Conforme explica o autor, quando se expande o

sistema, é difícil manter a qualidade porque, além da necessidade de ampliar o número de

escolas, de professores, de supervisores etc., todos os setores organizacionais se tornam mais

complexos. Assim, dever-se-ia no mínimo manter a qualidade e, progressivamente, fazê-la

avançar, mas ao longo do processo de expansão ela acaba se perdendo.

Ainda de acordo com o autor, o sistema passou a abarcar estudantes que não

tinham o mesmo perfil dos que já estavam nele. Abrangeu crianças, jovens e até mesmo

adultos de segmentos sociais menos favorecidos do ponto de vista econômico e, por

consequência, com menos acesso a bens culturais, ou seja, um público diferente com o qual o

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sistema não estava exatamente acostumado. Portanto, pode-se inferir que a escola não é mais

a mesma, o perfil do alunado também não. Faz-se necessária uma mudança, principalmente na

postura dos profissionais da educação, para que o ensino, na questão qualidade, não continue

decrescente e para que se possa reverter essa situação.

Uma das maiores dificuldades, além da questão qualidade, foi e ainda é manter os

alunos nas escolas, principalmente no Ensino Médio, grau de ensino em que se inserem os

sujeitos da pesquisa. Isso, segundo o autor, por conta do desinteresse dos jovens, em

decorrência de um

[...] Currículo abarrotado de conteúdos de diversas naturezas; mesmo

vestibular para diferentes carreiras o que nivela todas as escolas;

precariedade do corpo docente; pouco tempo escolar; má gestão; regras

disfuncionais e clientelismo político [...] o que contribui, diferente de outros

países, para que o país se centre num só modelo desvinculado das reais

necessidades. A maioria dos jovens alega não ter interesse em continuar.

(GREMAUD, 2011)

Com isso, se viu a necessidade, por parte dos Estados, de promover mudanças nos

currículos e construir uma escola jovem e inclusiva que não se baseie na transmissão de

conteúdos enciclopédicos e métodos tradicionais, e sim coloque o aluno como centro da

aprendizagem, tendo como princípios a interdisciplinaridade e a contextualização dos

conteúdos. A questão do currículo, de acordo com o autor, envolve a ideia de qualidade na

educação, que foi imposta, o que faz com que os governos estaduais e municipais deem uma

atenção maior a esse quesito. A recuperação escolar precisa ser revista urgentemente, tanto no

âmbito logístico e burocrático como no pedagógico. Para isso, torna-se imprescindível

repensar no sistema educacional questões como o número de alunos por sala, tempo de estudo

e permanência dos professores nas escolas e salários mais justos. (GREMAUD, 2011)

Diante disso, as avaliações, principalmente as externas, têm tido um lugar de

destaque na agenda de políticas públicas dos governos em todas as instâncias. Elas mudaram a

perspectiva de apenas censitárias para servirem como instrumento para se avaliar a questão da

qualidade, fator esse que seria essencial para a melhoria da gestão educacional, caso os

profissionais da educação e implementadores de políticas públicas as utilizassem para esse

fim. Assim, mesmo com essas limitações, elas têm mostrado alguns avanços no que se refere

à apresentação, de forma concisa, dos problemas da educação brasileira, de forma a propiciar

a busca de um melhor desempenho na questão qualidade.

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Assim, houve políticas públicas que tiveram efeitos sobre o processo de educação

brasileiro, como a criação de leis que garantiram, ou deram sustentação, à inclusão de toda a

população brasileira no sistema educacional. Foi importante tornar o ensino obrigatório nos

quatro primeiros anos e, posteriormente, ampliar para todo o Ensino Fundamental. Como

também a alteração constitucional da emenda 59 de 2009, que tornou obrigatório o ensino dos

04 aos 17 anos, compreendendo a educação básica desde a Educação Infantil até o Ensino

Médio.

Acerca da inclusão de pessoas com deficiência, também foram criadas várias

políticas importantes e vem ocorrendo de forma progressiva, contudo, muito aquém do

estabelecido na lei, como foi apresentado na tabela anterior. Na prática, os gestores e,

principalmente, os docentes não têm preparo para receber esses alunos, pois “os professores

do ensino regular consideram-se incompetentes para lidar com as diferenças em sala de aula,

especialmente para atender os alunos com deficiências” (MANTOAN, 2006, p.15). Diante

desse quadro, evidencia-se ainda a necessidade de criar políticas de formação dos

profissionais da educação para o trabalho e o convívio com alunos com qualquer tipo de

deficiência.

Houve uma tentativa de criação de política capaz de solucionar, de fato, o

problema de um ensino dual9 – que privilegia a camada mais abastada economicamente da

sociedade – com o Plano Nacional de Educação. O documento apresenta, desde a

Constituição Imperial, a Constituição de 34 e a Constituição de 88, um cenário para explicar

suas origens. Também são descritos os problemas educacionais das várias fases da história,

mesmo no período republicano, e a tentativa de religar a educação à sociedade do país.

Porém, após a criação da Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional - LDB de 1961,

houve um importante período de dispersão por conta do regime militar, que, além de tudo,

também desvinculou qualquer recurso da educação.

Outra grande alteração constitucional foi a mesma emenda constitucional 59/09,

que vinculou o financiamento da educação à arrecadação. O consequente maior envolvimento

da sociedade na educação foi fundamental, uma vez que representa, nos órgãos

governamentais, certa pressão com vistas a mudanças em prol do coletivo social. Assim, a

aprovação da Lei de Responsabilidade Educacional resolveria questões, criando-se planos

com “cabeça”, porém sem “pernas” para caminhar, por vários motivos, sendo o principal

9 Ensino dual: dualidade entre a qualificação prática e teórica, nesse caso, dando mais ênfase à qualificação

prática para o trabalho.

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deles o financiamento. Ou seja, as ideias existem, contudo, falta boa vontade e muitas vezes

ética na implementação das ações.

Contudo, as reformas só terão algum efeito se forem efetivamente praticadas e

chegarem efetivamente às escolas, cabendo também a cada profissional da educação

desempenhar sua função como deveria, acompanhando e fiscalizando o processo de

implementação. E, nesse sentido, é de suma importância não esquecer a função dos

profissionais da educação de apoiar as escolas nesse processo e ajudar a fazer com que elas

deem um salto de qualidade. Esses profissionais são elementos-chaves na interpretação e no

uso posterior dos resultados das avaliações, influindo diretamente na definição de novos

padrões curriculares no que se refere a identificar e resolver os problemas atuais.

(GREMAUD, 2011)

Gremaud (2011) fala sobre a recentralização da função dos educadores, de um

lado, usando o resultado das avaliações e, de outro, acompanhando o processo de implantação

das novas estruturas. Por esse motivo, o educador é fundamental no trabalho de promoção da

qualidade da educação do país. A questão do fluxo é importante, mas a qualidade tem sido o

centro das atenções e preocupações dos formuladores de políticas públicas em educação.

O autor identifica a questão dos ciclos de aprendizagem como uma política

positiva, que fez com que outras experiências se baseassem nesse trabalho. Segundo Soligo

(2009), criaram-se ciclos de formação em algumas localidades e em outras, ciclos de

aprendizagem, trabalhos esses que se configuraram, de acordo com a autora, como essenciais

para superar o fracasso escolar e, mais, uma oportunidade de construir projetos importantes de

educação. É possível citar como exemplos os projetos desenvolvidos em Belo Horizonte, no

período de 1993 a 1996 (“Escola Plural”), e Porto Alegre, em três mandatos, de 1989 a 2000

(“Escola Cidadã”), que se tornaram conhecidos e influenciaram a definição de políticas

similares em outras cidades.

Embora os principais projetos de escola em ciclos tenham sido implementados em

gestão do Partido dos Trabalhadores, outros partidos políticos também implantaram políticas

de ciclos. É o caso do Estado do Ceará (a partir de 1998) e Mato Grosso (a partir de 2000),

administrados pelo PSDB; Niterói (a partir de 1999), administrada pelo PDT; e Curitiba

(1999), administrada pelo PFL. (SOLIGO, 2009)

Com as reformas curriculares mais unificadas, segundo Bremer (2007), houve no

Paraná, em 1999, uma tentativa de construção de um método em que

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[...] recorre-se à categoria da práxis, enquanto uma das categorias do método

dialético consideradas válidas para fundamentar a proposta de conteúdos

estruturantes apresentadas nas diretrizes curriculares do Paraná, a qual deve

estar articulada e imbricada a categoria da totalidade e historicidade, embora

as demais categorias não possam ser ignoradas. (BREMER, 2007)

Em São Luís do Maranhão, a partir de 2002, com o currículo unificador, a

educação passa a se basear nos Parâmetros Curriculares Nacionais, nos quais o professor

encontra sugestões de atividades para aplicar em suas aulas, numa perspectiva que se

aproxima de uma visão prescritiva de currículo, que torna mais aplicáveis os objetivos

apontados. Para Oliveira (2009), as ideias contidas nos Parâmetros Curriculares Nacionais

orientam, não atuam de forma determinística, mas estariam presentes nos critérios de

avaliação dos livros didáticos. E estes servem como base para o trabalho dos professores.

A Rede Municipal de Educação de São Luís vem, desde 2002, vivendo um

processo de reestruturação do sistema educacional onde a ressignificação do

pensar pedagógico praticado por suas unidades de ensino tornou-se foco

central. (SOLIGO, 2009)

Segundo Martins et al. (2009), o Estado de Minas Gerais criou uma proposta

curricular que pode ser considerada inovadora no que tange à distribuição dos conteúdos nas

três séries do Ensino Médio e elaborou, entre outras ações, os Conteúdos Básicos Comuns -

CBC.

Nos CBC, são estabelecidos os conhecimentos, as habilidades e

competências a serem adquiridas pelos alunos na educação básica, bem

como as metas a serem alcançadas pelo professor a cada ano. Neste

documento a contextualização e a interdisciplinaridade no ensino da Física

são fatores importantes, sendo que o conceito de energia é o estruturador dos

conteúdos.

Como em todo o país, em Minas Gerais o Ensino Médio, no início do século XXI,

vive uma enfática crise, que vem se arrastando desde as últimas décadas, isso por conta da

universalização, que, como já dito, seria fazer com que a educação abarque todos os

segmentos da sociedade. E esse é um problema que desperta maior preocupação, neste

período, em todo o Brasil, inclusive em São Paulo.

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A proposta da progressão continuada10

e de uma educação em ciclos está atrelada

à ideia de não desistir do aluno, ou seja, se busca verificar os motivos pelos quais não foram

atingidos os objetivos de aprendizado e, de diversas maneiras e com variados recursos, fazer

com que ele elabore conhecimentos. Dessa forma, não haveria motivos para a retenção, muito

menos para impedir o aluno de continuar sem defasagens, por conta de conteúdos que, muitas

vezes, são assimilados com o tempo. Daí a importância, nesse processo, da implementação

dos ciclos.

De acordo com Harnik (2011), na progressão continuada

[...] os estudantes devem obter as habilidades e competências em um ciclo

que, em geral, é mais longo do que um ano ou uma série. Como, dentro de

um ciclo, normalmente, não está prevista a repetência, mas sim a

recuperação dos conteúdos por meio de aulas de reforço, usa-se o termo

progressão continuada. (HARNIK, 2011)

Para Freitas (2002), com essa ideia de progressão continuada os Estados são

obrigados a pensar na questão da defasagem de série e idade e, assim, buscar formas de

minimizar o problema. Também porque o custo do aluno retido onera os orçamentos públicos.

Mais do que classificar as diferentes compreensões e possibilidades de

implementar os ciclos, é importante caracterizar as concepções de educação

e as políticas públicas que orientam as escolhas. As concepções de ciclos

acabam sendo depositárias destas políticas. (FREITAS, 2002)

Para o mesmo autor, na progressão continuada a avaliação continua sendo

primordial, porém deixando de ser simplesmente verificadora de defasagens para se tornar

instrumento de autoavaliação e busca de diferentes formas de ensinar e aprender.

Os ciclos procuram contrariar a lógica da avaliação formal. Não elimina a

avaliação formal, muito menos a informal, mas redefinem seu papel, sua

autoria e a associam com ações complementares – recuperação paralela, por

exemplo. A motivação para tal e as possibilidades efetivas de seu sucesso

dependem das políticas públicas e das concepções de educação que estão na

base dos ciclos. (FREITAS, 2002)

10

Procedimento utilizado pela escola que permite ao aluno avanços sucessivos e sem interrupções, nas séries,

ciclos ou fases. É considerada uma metodologia pedagógica avançada por propor uma avaliação constante,

contínua e cumulativa, além de se basear na ideia de que reprovar o aluno sucessivamente não contribui para

melhorar seu aprendizado. (MENEZES, 01/01/2001)

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No entanto, tanto a política de progressão continuada como o Currículo Oficial

implantado na rede pública estadual de São Paulo têm seus problemas maiores na

implementação vertical, ou seja, não foram discutidos anteriormente com os atores

envolvidos, principalmente os educadores. A progressão continuada e a organização em

ciclos, assim como a implementação de um currículo diferenciado, precedem uma mudança

de postura, e para isso os profissionais precisam de estudos, precisam internalizar esse novo

papel a ser assumido. Isso, no entanto, não ocorreu, visto que grande parte dos educadores

nunca leu sobre progressão continuada e, no senso comum, difunde uma ideia de promoção

automática. Mesmo porque, uma vez que não concordam com o processo, pois não o

entenderam, se torna mais fácil apenas promover o educando. Ensinar e buscar o aprendizado

do aluno de diversas formas, e com diferentes recursos, até que ele aprenda dá muito trabalho.

Por outro lado, como realizar esse trabalho ideal com salas superlotadas e um currículo que

muitas vezes não agrada ao aluno?

A implicação da política de progressão está na correção do fluxo, da defasagem

idade-série e, principalmente, na mudança de postura do educador. Está na mudança de

papéis, uma vez que torna diferente a perspectiva de tempo e espaço escolar. A avaliação

deixa de ser apenas verificadora para ser direcionadora de ações que visem ao aprendizado de

qualidade.

Para Ganzeli (2007, p.1), “a mudança organizacional na escola pública não pode

ser considerada como algo que se implanta, mas sim como um processo construído no seio da

realidade escolar”. Pois a implementação vertical, a falta de preparação dos envolvidos e,

principalmente, a não participação e o não envolvimento dos educadores da base antes de

qualquer formulação de política implica uma interpretação equivocada de como se dá o

processo.

A participação torna-se critério fundamental no processo de gestão escolar,

garantindo que os diferentes significados que pais, professores, alunos e

funcionários possuam sobre a escola, passem a influenciar os rumos da

unidade escolar. (GANZELI, 2007, p.1)

Destarte, segundo o autor, se faz urgente ouvir e discutir com todos os atores

envolvidos sobre os temas educacionais, bem como preparar e formar teoricamente os

profissionais que atuam na educação para que possam atuar melhor na prática. Da mesma

forma, os programas inseridos nas políticas públicas para a educação não podem se limitar à

transmissão e disseminação dos conteúdos. O envolvimento entre professores, estudantes e

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comunidade educativa é que fará a diferença, tendo como aliados os recursos tecnológicos e

digitais, esses, por sua vez, utilizados nas aulas, em todos os espaços escolares, por

professores, alunos, funcionários, pais e membros da comunidade que sentirem necessidade

de participação, seja por lazer, trabalho etc.

Os espaços virtuais da internet e as redes sociais digitais também podem ser

compreendidos no contexto da passagem gradual da aprendizagem centrada no professor para

a aprendizagem centrada no aluno, com o primeiro mediando a exploração de objetos de

elaboração do conhecimento. Mais do que isso, o conceito de educação deve ser ampliado à

medida que a “Comunidade Educativa” (GOHN, 2004, p.40) participe do processo de ensino

e aprendizagem, seja por meio da educação formal ou extrapolando os muros da escola, por

meio da educação não formal. É urgente que a escola assuma esse papel de ampliação de

espaços de aprendizagem e que os cidadãos se encontrem preparados para enfrentar uma

sociedade baseada na aquisição de conhecimentos, em que se aprenda e se ensine ao longo da

vida e para a vida.

O Brasil passou por Reformas do Estado, como a iniciada no ano de 1989, com a

eleição de Fernando Collor de Mello. Porém, especificamente a partir de 1994, no governo

FHC, com a necessidade de reordenação do Estado, a reforma se transformou em prioridade

política do governo federal. Assim, o Estado brasileiro, nessa época, passou por uma eleição e

uma Assembleia Constituinte no final da década de 1980, resultando em nova Constituição da

República Federativa do Brasil. Para garantir os direitos sociais à população brasileira, na

Constituição Federal, o Estado deveria elaborar políticas públicas específicas, como garantia

da diminuição das desigualdades sociais existentes. O Estado de Bem-Estar Social, que

previa a implementação de políticas universalistas e distributivas, visando atingir a maioria

dos cidadãos, foi substituído pelo Estado Mínimo, com políticas focalizadas,

descentralizadoras e privatistas, próprias desse Estado denominado neoliberal. (DRAIBE,

1993)

Organismos multilaterais, em especial o Banco Mundial, propuseram uma agenda

de reformas para os países da América Latina nesse período. Tiveram um papel fundamental

na medida em que seus documentos constatavam que os altos índices de pobreza

comprometiam a estabilidade política dos governos, bem como que a educação teria um papel

de destaque na redução da pobreza e no processo de desenvolvimento econômico, pois a baixa

escolarização e sua pouca qualificação profissional comprometiam o crescimento dos países.

Segundo Draibe (1993), a alternativa adotada para a redução do quadro de pobreza nos países

latino-americanos foi a implementação dos chamados “programas de emergência”

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(redirecionamento do gasto social, subsídios à alimentação e à nutrição, programas de

emprego mínimo).

Em 1990, na Conferência Mundial sobre Educação para Todos, promovida pela

UNESCO em Jomtiem, Tailândia, os participantes reafirmaram o direito de todos à educação,

adotando a “Declaração Mundial sobre Educação para Todos: Satisfação das Necessidades

Básicas de Aprendizagem”. A declaração deixa clara a necessidade de um enfoque

abrangente: universalizar o acesso à educação e promover a equidade; concentrar a atenção na

aprendizagem; ampliar os meios e o raio de ação da educação básica; propiciar um ambiente

adequado à aprendizagem e fortalecer alianças.

Com base na declaração, o governo brasileiro traçou diretrizes para a educação,

com foco na educação básica, a qual demonstrava altos índices de evasão, repetência e má

utilização dos recursos públicos, comprometendo o desenvolvimento do país. Nesse sentido,

ficou nítido que o Estado estava sendo ineficiente na gestão da educação, devendo ser

redefinidas suas funções.

Com a onda neoliberal dos anos 90 e as sociedades mundializando-se, o

Brasil, em busca do seu lugar na globalização econômica e no processo de

reestruturação do trabalho, viu-se na urgência de ceder face às imposições

das Agências nas questões político educacionais. Da Conferência Mundial

de Educação para todos – Jomtien (Tailândia), 1990 – aos dias de hoje, o

receituário ideológico e político-educacional a ser seguido pelos países do 3º

mundo ou em desenvolvimento tem sido imenso. (SANFELICE, 2010,

p.156)

A implementação da política educacional foi pautada nos eixos da redução do

analfabetismo, ênfase no ensino fundamental, descentralização das ações administrativas e

incentivo às parcerias com o setor privado. Em nome da descentralização proposta por uma

educação neoliberal, o Estado passou responsabilidades, com relação à manutenção do ensino

público, às comunidades e à sociedade civil. Essa política adotada pelo Estado/governo

brasileiro no planejamento e manutenção da educação refletia os planos de gastos sociais de

um Estado Mínimo, segundo Draibe (1993).

[...] o argumento do Estado mínimo é advogado pelo máximo, não pelo

mínimo: principalmente no que diz respeito à sua responsabilidade social,

afirma-se tão somente a fronteira demarcadora do máximo até onde deveria e

poderia ir o Estado. (DRAIBE, 1993, p.89)

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Por conta de uma política neoliberal11

, os últimos governos do Estado de São

Paulo focalizaram os gastos em problemas sociais mais explícitos e emergentes, não

priorizando devidamente a educação como direito num Estado. As políticas educacionais

privilegiaram o Ensino Fundamental, por meio de políticas de planejamento e financiamento.

Criou-se o FUNDEF - Fundo de Desenvolvimento e Manutenção do Ensino Fundamental,

instituído pela Lei 9.424/96, procurando atender, ou seja, matricular quase que 100% dos

alunos na faixa etária de 07 a 14 anos, aumentando consideravelmente o número de alunos

concluintes dessa etapa da educação básica. Isso culminaria em uma enorme massa de alunos

ingressando no Ensino Médio, trazendo algumas consequências para esse nível de ensino, sem

que se houvesse pensado democraticamente nesse segmento de jovens.

É importante que num processo de transformação as mudanças sejam efetivas,

contudo,

A Construção da escola democrática exige a transformação radical do

trabalho escolar. Para que essa transformação ocorra é necessário a

utilização de ferramentas que reestruturem a organização da unidade escolar,

de forma a garantir a participação de todos. (GANZELI, 2007, p.1)

Para o autor, é essencial que políticas públicas busquem mudanças, no entanto,

devem ser criadas e implementadas com auxílio e voz de todos os profissionais da educação e

toda a comunidade escolar.

Cabe aqui ressaltar que, de acordo com Dourado et al. (2007), a educação

participativa não tem relação apenas com o paradigma de insumo-processo-resultados, padrão

utilizado pela UNESCO12

e OCDE13

, ou ainda somente com a ideia de eficiência no uso dos

recursos destinados à educação, como sugere a UNESCO e a OREALC14

. A educação

participativa e de qualidade, segundo os autores, se faz na perspectiva de uma junção de todos

11

Neoliberalismo: Escola de pensamento orientada pelas ideias de um grupo de economistas, que fizeram uma

releitura do liberalismo clássico, o qual Draibe (1993) chamou de “doutrina” e classificou-o como um “sistema

de receitas práticas para a gestão pública”, em que faltava uma organização sistemática. Para a autora: “Em lugar

de ideologia, os neoliberais têm conceitos. Gastar e ruim. É bom ter prioridades. É ruim exigir programas.

Precisamos de parcerias, não de governo forte. Falem de necessidades nacionais, não de demandas de interesses

especiais. Exijam crescimento, não distribuição. Acima de tudo, tratem do futuro. Repudiem o passado. Ao cabo

de pouco tempo essas ideias neoliberais começam a soar como combinação aleatória de palavras mágicas.” 12

A UNESCO - Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura foi criada em 16 de

novembro de 1945, para promover a paz e os direitos humanos com base na "solidariedade intelectual e moral da

humanidade". É uma das agências das Nações Unidas para incentivar a cooperação técnica entre os Estados

membros. (USP, s/d) 13

OCDE - Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico é uma organização internacional

composta por 30 países que tem como objetivo coordenar políticas econômicas e sociais, apoiar o crescimento

econômico sustentado, aumentar o emprego e a qualidade de vida dos cidadãos e manter a estabilidade

financeira, entre outros. (PORTAIS WS.COM, s/d) 14

OREALC - Oficina Regional de Educación para América Latina y Caribe, órgão da UNESCO.

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os critérios de boa qualidade, visando à aprendizagem e à formação por partes, não só dos

alunos, mas de todos os envolvidos no processo, por meio de sua participação efetiva, assim

como nos fala Ganzeli (2007, p.1). De modo que a qualidade permita que os participantes

vejam a educação como um caminho a ser seguido com vistas à melhoria de sua vida

profissional, individual e social.

Nessa linha de pensamento, a principal ideia por trás do conceito de escola de

qualidade é a do desenvolvimento cognitivo do aluno. Ou seja, uma escola que, por meio do

trabalho de seus profissionais, propicie o conhecimento ao aluno, independentemente de sua

situação socioeconômica, mas levando-se em consideração suas vivências e conhecimento de

mundo. Podendo, dessa forma, fazer com que o aluno busque sua evolução acadêmica, sem

ter necessariamente de ser comparado ao colega de classe, de outra sala ou até de outra escola.

No entanto, existem outros fatores que podem interferir no desempenho dos

alunos, conforme demonstrado em avaliações, sejam elas internas ou externas, como o

número de alunos por série, nível socioeconômico, professores mais capacitados, diretores

mais comprometidos, escolaridade dos pais e participação deles na vida escolar dos filhos,

ambiente adequado de estudo, frequência no ensino infantil e outras variáveis diretamente

relacionadas ao ambiente escolar, como idade e tempo de trabalho do diretor, professores

efetivos (essa com maior destaque), falta de professores, rotatividade de professores e de

coordenadores. Lembrando que, segundo Dourado et al. (2007), estes últimos fatores têm

menos impactos que os primeiros.

Assim, a educação será transformada espontaneamente numa sociedade com

tantos problemas e desigualdades sociais. A educação necessita ser transformada para vir a ser

transformadora. Só assim poderá mudar a sociedade. Ela precisa ser recriada e ocupar um

lugar de destaque na formação dos envolvidos, de modo que

[...] vá se tornando um espaço acolhedor e multiplicador de certos gostos

democráticos como o de ouvir os outros, não por puro favor, mas por dever,

o de respeitá-los, o da tolerância, o do acatamento às decisões tomadas pela

maioria a que não falte contudo o direito de quem diverge de exprimir a sua

contrariedade. O gosto da pergunta, da crítica, do debate. O gosto do respeito

à coisa pública, que entre nós vem sendo tratada como coisa privada, mas

como coisa privada que se despreza. (FREIRE, 1995, p.91)

A questão da violência, das relações sociais e interpessoais, as formas como elas

se dão, principalmente no ambiente escolar e também fora dele, tem sido tema de muitos

autores na literatura educacional, como Julio Groppa Aquino, Marilia Pontes Sposito, Vera

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Candau, Lino de Macedo, entre outros. Por consequência, verifica-se o crescimento de

pesquisas nessa área, que, no entanto, ainda não indicam soluções efetivas, apenas abrem os

olhares para o caos que se instala. No final do século XX e início do XXI, com a mudança da

conjuntura escolar e um crescente aumento nos níveis de violência e indisciplina, esse se

tornou o ponto central da questão social e suas discussões. A grande velocidade das mudanças

desta nova era e a crise social fazem com que esse tema fique em evidência.

Outro aspecto para o qual há de se atentar é a capacitação dos indivíduos para que

desenvolvam visões de mundo e criticidade social, como se poderá verificar na análise dos

dados no capítulo IV. Sem esses valores e capacidades, a tendência é que os indivíduos se

tornem inativos e dependentes dos serviços sociais, permanecendo em situação de

vulnerabilidade social, junto às camadas excluídas. Tal processo acarreta um fenômeno de

acomodação por parte do indivíduo, entravando, assim, o processo de mudança. Contudo, por

conta do contexto econômico do final do século XX e início do XXI,

[...] a estratégia de constituição de um sistema de proteção social no país se

baseou nos modelos tradicionais de programas destinados à transferência

monetária contemplando famílias em situação de vulnerabilidade social por

intermédio de políticas sociais compensatórias e complementares,

objetivando aumentar o acesso à alimentação, saúde e educação básica,

considerados fatores de grande potencial para a redução das desigualdades.

(PEREZ, PASSONE, 2010, p.665)

Portanto, apesar de ser importante a constituição desse sistema de proteção social,

é preciso considerar também que os indivíduos envolvidos nos segmentos da educação formal

muitas vezes se veem despreparados para enfrentar essas novas dimensões que fazem parte do

dia a dia não só da escola, mas da vida. Nesse cenário, a escola ainda possui perfil fordista em

sua concepção de ensino e de aprendizagem e, apesar dos vários discursos inovadores,

continua a valorizar o possível aprendizado por repetição de informações. Não é levada em

conta a crise desse regime, que, com a globalização neoliberal do capitalismo no final do

século XX, busca apenas formar profissionais para esquentar o mercado de trabalho, tendo em

vista que este, além de ter como base o consumo, sobrevive também da competitividade.

Todavia, dever-se-ia inferir que não haverá aprendizado com vistas a uma

formação crítica se não houver uma promoção de um clima favorável a essa visão. Não se

pode esquecer que o professor é ator de extrema importância na condução de uma

aprendizagem que seja de qualidade, assim como almejam todos incluídos nesse sistema.

Cabe ao educador estimular esse clima criando um espaço que leve o aluno a perceber e

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compreender o mundo interior e exterior à escola, pois “é importante reconhecer e ressaltar

que todos têm a capacidade para aprender, serem inovadores e criativos” (SILVA, 2001, p.3).

Mudanças nas relações sociais, assim como descrito na abordagem do conceito de

redes sociais, se refletem na educação, pois elas se encontram numa grande crise de

identidade. Por conseguinte, o educador na escola do século XXI também deve modificar suas

posturas no que se refere a essas novas relações, em contraposição ao paradigma fordista, o

qual

[...] está interessado somente nos músculos do trabalhador, no fazer e não na

sua mente, na sua capacidade de pensar [...] e o que importa é a habilidade

de compreender uma determinada situação e ser capaz de tomar decisões e

de criar novas soluções. Sem a compreensão, as noções e operações

passíveis de serem aplicadas em diferentes situações, as decisões e as ações

tomadas terão um caráter aleatório, inconsequente. (VALENTE, 1999, p.33)

Para ocorrerem tais transformações é necessário mudar o modelo de escola

vigente, em um trabalho de construção coletiva. É de suma importância que o educador

encontre um caminho em meio às transformações e aja em conjunto para estabelecer, ou

mesmo restabelecer, relacionamentos com outros indivíduos que fazem parte do processo

educacional, pois “a implantação de novas ideias depende, fundamentalmente, das ações do

professor e dos seus alunos” (VALENTE, 1999, p.34), para que o aluno possa elaborar seu

conhecimento e o educador possa proporcionar a ele uma formação crítica.

Nesse cenário, pode-se observar que as políticas públicas educacionais não têm

incluído o aluno como cidadão na sociedade, quando não oportuniza formas de

problematização de sua realidade social fora dos muros da escola. Ou quando reforçam a

ideologia dominante e as políticas neoliberais. Assim acabam por não primar por uma

formação crítica, colocando os seres humanos em situação de competição. Muitas vezes, essa

situação acaba por tornar o ambiente escolar cada vez mais deteriorado, com o crescente

desinteresse dos alunos pelos conteúdos escolares e o descompromisso de uma parcela dos

professores com a aprendizagem. (PACIEVITCH et al., 2009)

Assim, há de se considerar que, além da criticidade, o que leva o cidadão a buscar

mudanças para a construção de uma sociedade mais justa é a sensibilidade a um conjunto de

valores. É importante o “desenvolvimento da sensibilidade ética e estética das pessoas, com

vistas ao delineamento do telos da vida e da própria educação, o que só pode ser feito graças a

uma profunda percepção da condição humana” (SEVERINO, 2006, p.3). Uma vez que a

ausência dessas sensibilidades distancia o homem do pensamento filosófico principal, que é

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fazer com que o ser humano reflita e busque maneiras de viver bem em sociedade. Para

Lorieri (2010, p.11), todo educador precisa fazer essa reflexão, pois, quando se busca

entender “a ação educativa” em meio às relações sociais, há de se ter a possibilidade de

decidir em relação à sua manutenção nos moldes vigentes ou à sua transformação ou

revolução.

O ser humano, além de crítico, precisa ser mais solidário e poeta nas relações

humanas, mesmo quando essas relações são intermediadas por máquinas, que, vale lembrar,

foram pensadas e criadas por homens. Afinal, como diz Morin (2003, p.141, apud LORIERI,

2010, p.9), “o ser humano vive sua vida de alternância de prosa e de poesia, em que a

privação de poesia é tão fatal quanto a privação de pão”.

Não se pretende defender aqui que o mundo seja visto somente de forma poética,

uma vez que se entende que é uma das dimensões do ser humano. Apenas que faltam valores

à humanidade que remetam ao plano da subjetividade, das emoções e dos sentimentos,

elementos que, aliados ao uso da razão, diferenciam-na dos animais, pois “a prática humana,

em que pese a opacidade de sua gênese, só pode ser esclarecida e significada pela lucidez da

consciência e pela expressão teórica da subjetividade. Não há outro caminho” (SEVERINO,

2002, p.9).

Há tempos a sociedade brasileira vem passando por constantes transformações no

que diz respeito aos conceitos de “infância, adolescência, adultez e velhice, através dos

séculos, das culturas e das classes sociais” (BIASOLI-ALVES, 2001). Ou seja, é como se “os

valores fundamentais da vida” em sociedade não tivessem sido introjetados pelas novas

gerações por conta de uma imposição no que diz respeito à transmissão de uma educação,

ainda que seja informal. Isso aliado ao

[...] dilema que se estabeleceu para a década de 1990 e para o início do

século XXI foi o de conciliar crescimento econômico e combinar a

responsabilidade social do Estado/sociedade na formulação, articulação e

gestão de políticas públicas, com um cenário de escassez de recursos

públicos, de um lado, e demandas por uma democracia social, de outro.

(PEREZ, PASSONE, 2010, p.665)

Assim, as relações sociais requerem um cidadão crítico e integrado às mudanças

no contexto social e no educacional. Portanto,

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[...] são grandes os riscos de que as ações oriundas da sociedade civil e da

iniciativa privada desloquem a noção histórica de direitos pessoais e

coletivos, instituídos na recente ordenação democrática da sociedade

brasileira, para antigas relações sociais mediadas pela noção de

benevolência, caridade, compaixão etc., reforçando a cultura pautada por

relações afetivas de dependência – matriz de políticas impregnadas pelo

paternalismo, clientelismo e populismo. (PEREZ, PASSONE, 2010, p.671)

Muitas vezes, a falta de clareza na definição do regime de colaboração entre os

entes federativos e sobre a Lei de Responsabilidade Educacional15

, leva ao pensamento sobre

a necessidade de criação de políticas públicas que façam com que o regime de colaboração no

país tenha formas efetivas de cooperação. Tal ação, talvez, possa ser inserida no Plano

Nacional de Educação – PNE de forma a estabelecer metas realistas, progressivas e factíveis.

Desse modo, torna-se importante uma lei orgânica que explique melhor como deve funcionar

o regime de colaboração no país, e esta vinculada a uma Lei de Responsabilidade Educacional

que coloque na mão do cidadão instrumentos jurídicos para fazer valer seus direitos.

Segundo Gouveia e Souza (2008), a maior dificuldade está em fazer um Sistema

Nacional de Educação de forma articulada e com clara definição, pois, de acordo com os

autores, “o regime de colaboração, definido pelo artigo 211 da Constituição Federal, precisa

ser repensado para se evitar concorrência e sobreposição de responsabilidades”. Já existe o

regime de colaboração, a busca pela universalização do ensino obrigatório, porém tanto

estados como municípios são diferentes e a cooperação complexa é muito difícil na prática. A

ideia na lei é a de que os estados, os municípios e o distrito federal já estão em igualdade de

condições, contudo, na prática não é bem assim, uma vez que isto requer mobilização no que

se refere a uma verdadeira participação dos interessando, pois as estruturas são bastante

desiguais.

Agora, há um documento com uma nova legitimidade para voltarmos à arena

legislativa. Entretanto, este processo demandará novamente um alto nível de

mobilização dos interessados em efetivar os avanços no sentido de uma

educação pública, gratuita, laica e de qualidade para todos. (GOUVEIA,

SOUZA, 2008)

Espera-se, assim, que se criem políticas claras também no que se refere à

eficiência da educação, principalmente no que tange à qualidade. E, para isso, não se pode

esquecer que é preciso uma reforma também nos cursos superiores de licenciatura e educação

15

Estabelecer as obrigações e as punições é a ideia central de uma Lei de Responsabilidade Educacional para os

prefeitos e os governadores acerca das questões educacionais instituídas pela Constituição Federal e pela LDB,

contudo esta vem sendo discutida desde 2006.

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para uma boa formação de educadores, com vistas a uma educação de qualidade a toda a

comunidade educacional.

Todavia, nas relações sociais, a hierarquização não deixa de existir, e o processo

de interação é muito mais vertical. Apesar dessa verticalização do processo, há um grupo

social que, de forma horizontal, reivindica e luta para que se cumpra uma vontade coletiva e

para que a educação que reproduz essa sociedade venha a ser um dos fatores de transformação

dela.

2.2 POLÍTICAS PÚBLICAS E EDUCAÇÃO

Depois de sintetizar alguns aspectos do sistema educacional no Brasil, se julga

importante, a partir da definição de políticas públicas realizada no primeiro capítulo desta

tese, traçar um panorama dessas políticas que influenciaram o sistema educacional do Estado

de São Paulo, bem como as políticas públicas para o Ensino Médio no Brasil – este último

abordado por abarcar também a esfera estadual e por fazer parte do cenário em que estão

inseridos os sujeitos da pesquisa.

2.2.1 Panorama das políticas públicas em educação no Estado de São Paulo

Após o golpe militar, em 1964, e durante os anos 1970, configurou-se uma

política com características centralizadoras e, com a intensificação do processo de

industrialização e a ênfase no desenvolvimento econômico, viveu-se uma fase em que se

acreditava que a educação deveria estar a serviço do desenvolvimento econômico.

[...] a ditadura civil-militar do capital assenhorou-se do poder de Estado

brasileiro, com o golpe de 1964, e passou a fazer profundas incursões na

legislação educacional, bem como na organização escolar. Os currículos e

seus fins foram alterados nos diferentes níveis e modalidades de ensino.

Daquelas ações resultaram a Reforma Universitária de 1968 (Lei nº

5.540/68) e a Lei de Diretrizes e Bases de nº 5.692/71, dentre outras

iniciativas. (SANFELICE, 2010, p.156)

Naquela década foram assinados os denominados “Acordos MEC-USAID”

(Ministério da Educação e Cultura – United States Agency for International Development) e

os técnicos da USAID participaram diretamente da reorganização do sistema educacional

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brasileiro. Assim, a reforma do ensino realizada pela Lei nº 5.692/71, que fixou as “diretrizes

e bases para o ensino de 1º e 2º graus”, enunciou como seus princípios básicos:

a) integração vertical (dos graus, níveis e séries de ensino) e horizontal (dos

ramos de ensino e das áreas de estudo e disciplinas); b) continuidade

(formação geral) – terminalidade (formação especial); c) racionalização –

concentração, voltado à eficiência e produtividade com vistas a se obter o

máximo de resultados com o mínimo de custos; d) flexibilidade; e)

gradualidade de implantação; f) valorização do professorado; g) sentido

próprio para o ensino supletivo. (BRASIL, 1971)

Um dos objetivos da lei era direcionar a educação para a qualificação profissional,

visando à preparação para um mercado de trabalho altamente rotativo, dentro do modelo de

industrialização e crescimento econômico associado e dependente do capital estrangeiro. E,

assim, essa lei implementou um ciclo de reformas destinadas a ajustar a educação brasileira

aos fins do regime em vigor, com tendências tecnicistas,

[...] enquanto o liberalismo põe ênfase na qualidade em lugar da quantidade;

nos fins (ideais) em detrimento dos métodos (técnicas); na autonomia em

oposição à adaptação; nas aspirações individuais antes que nas necessidades

sociais; e na cultura geral em detrimento da formação profissional, com o

tecnicismo ocorre o inverso. (SAVIANI, 1997, p.122)

O autor identifica uma preocupação com os meios, a produtividade e a eficiência.

Isso porque a Lei nº 5.692 trouxe princípios como os da integração vertical e horizontal,

continuidade-terminalidade, racionalização-concentração e flexibilidade, todos voltados para

o aprimoramento técnico, a eficiência e a produtividade em busca do máximo de resultados.

Fusari (1988, p.20) define a escola, nesse contexto, como “produtiva, racional e organizada

para formar indivíduos capazes de se engajar rápida e eficientemente no mercado de

trabalho”. E assim a pedagogia tecnicista, tendo como foco os meios didáticos, ia contra a

pedagogia nova, que centrava o processo de ensino no aluno, e contra a pedagogia tradicional,

que, por sua vez, priorizava o ensino no professor.

Perez (1994, p.33), ao analisar o sistema de ensino do Estado de São Paulo na

década de 1970 e início da década de 1980, elencou os objetivos e as diretrizes da política

educacional, os principais programas, a organização institucional montada, os recursos

financeiros alocados, a política de recursos humanos e fez uma avaliação do desempenho

quantitativo sob o ponto de vista da eficácia e da efetividade. Segundo o autor, a partir da

promulgação da Lei nº 5.692/71, em agosto de 1971, a principal meta da gestão no campo da

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educação passou a ser a reforma do ensino de 1º e 2º graus (PEREZ, 1994, p.50). Uma das

principais medidas foi a criação, em 1971, do Grupo Tarefa, com o objetivo de elaborar o

Planejamento Prévio e o Plano Estadual de Implantação da Reforma de ensino de 1º e 2º

graus, o qual foi aprovado em julho de 1972. O documento elaborado pelo Grupo Tarefa era

constituído de três volumes: o primeiro continha um amplo diagnóstico com aspectos

demográficos e econômicos do Estado, desempenho educacional e seus aspectos financeiros,

técnicos, pedagógicos e administrativos; no segundo foram apresentadas a política de

implantação e os programas de ação; e no terceiro, os recursos necessários.

Em 1972, por meio do Decreto nº 52.867, de 18 de janeiro, foi autorizada a

instalação da 5ª série nos estabelecimentos que, em 1971, mantiveram exclusivamente ensino

primário. Era uma diretriz governamental no sentido de proporcionar escolaridade de 1º grau

à população compreendida na faixa etária dos 07 aos 14 anos e ainda atender à demanda por

matrículas na 5ª série do 1º grau. (PEREZ, 1994, p.50) Nesse período, foram realizados

programas de formação continuada para todo o pessoal da rede no intuito de divulgar

maciçamente os princípios da Lei nº 5.692/71. (p.54)

Para Perez (1994, p.57), no período de 1975 a 1978, foram prioridades, para o

setor da educação, a implantação da reforma do ensino, a ampliação da oferta de

oportunidades, o combate ao mau desempenho e a organização de nova estrutura

administrativa e didático-pedagógica. Os programas estabelecidos foram: a reforma do ensino

de primeiro e segundo grau; reorganização administrativa da Secretaria da Educação;

regularização dos quadros de pessoal docente, técnico e administrativo; adequação dos

recursos físicos; organização e implantação de sistema de informações educacionais;

adequação dos recursos legais; atendimento educativo e nutricional ao pré-escolar.

Nesse período, o autor afirma que um programa que causou grande impacto foi o

de Redistribuição da Rede Física, pois o diagnóstico apontava para a falta de critério na

utilização de seus prédios. Algumas edificações se encontravam ociosas, outras eram usadas

em vários turnos e ainda havia antigos grupos escolares que tiveram a instalação do ensino de

5ª a 8ª série, porém faltava adequação em alguns deles para o atendimento da 5ª série.

(PEREZ, 1994, p.58)

Em 30/12/1975 foi publicado o Decreto 7.400, que deu competência ao Secretário

de Educação para realizar as necessárias reformulações da rede escolar. Foi estabelecida a

nova estrutura da rede oficial de ensino, com escolas estaduais de 1º grau, escolas estaduais de

2º grau, escolas estaduais de 1º e 2º graus e centros estaduais interescolares. (PEREZ, 1994,

p.59)

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Quanto à estrutura institucional, ocorreu a reforma administrativa com a

assinatura do Decreto nº 7.510, em 29 de janeiro de 1976, definindo a nova estrutura da

Secretaria da Educação do Estado de São Paulo, reorganizando desde a direção administrativa

até os órgãos regionais e sub-regionais. Dentro da estrutura básica da Secretaria, foi criada a

Coordenadoria de Ensino do Interior, a Coordenadoria de Ensino da Região Metropolitana da

Grande São Paulo, a Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas e o Departamento de

Recursos Humanos. Foram criadas também as Delegacias de Ensino subordinadas às Divisões

Regionais de Ensino, de acordo com a região de abrangência. Dessa forma, os programas de

capacitação, a partir da publicação do Decreto nº 7.510/76, ficaram sob a responsabilidade da

Coordenadoria de Estudos e Normas Pedagógicas - CENP.

Já no período compreendido entre os anos de 1979 e 1982, as diretrizes

estabelecidas no campo educacional foram: atender à demanda do ensino de 1º grau;

aperfeiçoar as modalidades de atendimento no ensino profissionalizante de 2º grau; minimizar

a repetência e a evasão; ampliar programas assistenciais; definir e implantar política de

pessoal. (PEREZ, 1994, p.66) E as principais medidas direcionavam para a implantação de

programas para uma clientela determinada – o objetivo era conhecer as características da

clientela de escolas de zonas periféricas urbana para minimizar os problemas referentes à

repetência e evasão.

Foi implantado o Programa de Antecipação da Escolaridade Obrigatória, tendo

como justificativa a carência dos alunos, uma vez que a pré-escola atendia somente um terço

da população dessa faixa etária e as crianças que ingressavam na 1ª série em sua maioria não

estavam preparadas para acompanhar as atividades. Nesse período, o Modelo Pedagógico

desenvolvido pela CENP tinha como ênfase um programa de educação compensatória, com a

finalidade de compensar as deficiências do meio. (PEREZ, 1994, p.67-68) Os programas de

formação continuada estavam voltados para o treinamento de monitores para divulgar novos

materiais de ensino. Também foram firmadas parcerias com universidades públicas para o

desenvolvimento de projetos nas áreas de Matemática e Língua Portuguesa. (p.69)

O início da década de 1980 foi marcado, no Brasil, pelo período denominado

“abertura política”, iniciado com a eleição direta para governadores de Estado, em 1982. O

resultado das eleições daquele ano configurou um quadro de vitória da oposição ao regime

autoritário na maioria dos estados brasileiros. A partir de 1983, os governadores eleitos

iniciaram um governo com políticas públicas voltadas para a redemocratização e consolidação

da democracia. E em 1984 os governadores de oposição, líderes políticos e sindicais,

estudantes, artistas e intelectuais iniciaram uma campanha nacional pelas eleições diretas para

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presidente, denominada “Diretas já”, a qual levou milhões de brasileiros às ruas. Em todo o

país houve mobilização da população. Com a não aprovação, pelo Congresso Nacional, da

emenda de lei para eleições diretas, foram iniciadas as discussões para a eleição de um

presidente civil por vias indiretas. Foi formada então a Frente Liberal, com vários

compromissos, sendo um deles a convocação de uma Assembleia Constituinte.

Segundo Saviani,

[...] é nesse contexto que se foi impondo cada vez mais fortemente a

exigência de se modificar por inteiro o arcabouço da educação nacional, o

que implicava a mudança da legislação em vigor. A oportunidade surgiu

com a instalação de um governo civil (a chamada Nova República) e a

elaboração da nova Constituição Federal. (SAVIANI, 1997, p.34)

Nessa conjuntura, no Estado de São Paulo, no período de 1983 a 1986, a ação

político-administrativa foi norteada por três princípios: descentralização, participação e

geração de emprego. Com a finalidade de operacionalizar a política descentralizadora, foram

instituídos Conselhos regionais e sub-regionais. (PEREZ, 1994, p.71) Inaugurada uma nova

gestão, e fazendo parte de um governo eleito pelo povo, anunciou-se a abertura da secretaria à

população, aos órgãos da imprensa e às entidades de classe. A principal medida tomada

inicialmente foi a instituição do Grupo de Atendimento ao Magistério, com o objetivo de

solucionar problemas que vinham ocorrendo, especialmente os funcionais, além de receber

críticas, sugestões e denúncias. As entidades de classe foram recebidas e estimuladas a

ampliar seus associados.

A partir desses encontros, dois projetos foram elaborados e enviados para a

Assembleia Legislativa, um prevendo o direito das entidades de receber contribuições de seus

associados e outro para o afastamento com vencimentos dos seus dirigentes. (BORGES, 2001,

p.78) Nessa época, o processo de municipalização da pré-escola teve início por meio do

Decreto nº 21.810, de 26 de dezembro de 1983, que autorizou convênios com 22 municípios,

objetivando a expansão do Programa de Educação Pré-Escolar junto à comunidade, o que

passou a diminuir o atendimento pela rede estadual desse nível de ensino até a extinção. No

ano de 1984, iniciou-se o processo de municipalização da merenda escolar, por meio de lei

específica que determinava que o serviço de merenda fosse executado e administrado pelas

prefeituras municipais. (BORGES, 2001, p.81)

Para regulamentar o procedimento de atendimento à demanda escolar, foi

instituído o REM - Responsáveis pela Educação do Município, que anteriormente era

denominado GLD - Grupo Local de Diretores. O REM era constituído por diretores de escola,

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professores, funcionários, representantes das respectivas prefeituras municipais, das

associações de bairros, dos clubes. Esse grupo tinha a responsabilidade de garantir a

elaboração de uma proposta de atendimento que fosse do conhecimento da comunidade

escolar e tivesse sua participação. (BORGES, 2001, p.85)

Outra medida de bastante impacto foi o Decreto nº 21.833, de 28 de dezembro de

1983, que instituiu o Ciclo Básico no ensino de 1º grau das escolas estaduais. As finalidades

do Ciclo Básico descritas nesse decreto eram: assegurar ao aluno o tempo necessário para

superar as etapas de alfabetização segundo seu ritmo de aprendizagem e suas características

socioculturais; proporcionar condições que favorecessem o desenvolvimento das habilidades

cognitivas e de expressão do aluno previstas nas demais áreas do currículo; e garantir às

escolas a flexibilidade necessária para a organização do currículo – agrupamento de alunos,

métodos e estratégias de ensino, conteúdos programáticos e critérios de avaliação do processo

de ensino e de aprendizagem. Para tanto, foi introduzido um processo de alfabetização em

dois anos letivos, sem reprovação, e as escolas deveriam se organizar administrativa e

pedagogicamente para garantir o ensino em etapas, diminuindo a evasão e a repetência.

Dessa maneira, as então Delegacias de Ensino tiveram de se organizar para o

trabalho pedagógico, uma vez que os grupos de docentes das classes do Ciclo Básico

deveriam participar de reuniões pedagógicas semanais, em horário adverso ao da jornada de

trabalho, mediante pagamento de serviço extraordinário. As reuniões deveriam contemplar

atividades planejadas pelas próprias escolas e ainda a programação veiculada pela Rádio e

Televisão Cultura, que apresentava o projeto “Atualização e Aperfeiçoamento de Professores

e Especialistas em Educação por Multimeios”. Posteriormente, no mesmo ano, o projeto

veiculado na TV Cultura passou a denominar-se Projeto IPÊ e foi estendido a professores de

3ª e 4ª séries, aos alunos dos cursos de Habilitação para o Magistério e aos Especialistas de

Educação, com direito a certificado de participação, o que contaria pontos para o processo de

atribuição de classes e aulas, concursos de ingresso e remoção. (PEREZ, 1994, p.74)

No ano de 1984, entre os principais programas e medidas daquela gestão estava a

formulação do novo Estatuto do Magistério, o qual foi transformado em projeto de lei,

enviado à Assembleia Legislativo em 15 de outubro de 1985 e aprovado e sancionado como

Lei Complementar nº 444 em 27 de dezembro de 1985. (BORGES, 2001, p.113) Destaca-se

nesse estatuto a transformação do Conselho de Escola, antes consultivo, em órgão

deliberativo e devendo existir em todas as unidades escolares do Estado.

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Artigo 95 – O Conselho de Escola, de natureza deliberativa, eleito

anualmente durante o primeiro mês letivo, presidido pelo Diretor da Escola,

terá um total mínimo de 20 (vinte) e máximo de 40 (quarenta) componentes,

fixado sempre proporcionalmente ao número de classes do estabelecimento

de ensino. § 1º – A composição a que se refere o "caput" obedecerá a

seguinte proporcionalidade: I – 40% (quarenta por cento) de docentes; II –

5% (cinco por cento) de especialistas de educação excetuando-se o Diretor

de Escola; III – 5% (cinco por cento) dos demais funcionários; IV – 25%

(vinte e cinco por cento) de pais de alunos; V – 25% (vinte e cinco por

cento) de alunos. § 2º – Os componentes do Conselho de Escola serão

escolhidos entre os seus pares, mediante processo eletivo. § 3º – Cada

segmento representado no Conselho de Escola elegerá também 2 (dois)

suplentes, que substituirão os membros efetivos em suas ausências e

impedimentos. § 4º – Os representantes dos alunos terão sempre direito a

voz e voto, salvo nos assuntos que, por força legal, sejam restritos ao que

estiverem no gozo da capacidade civil. § 5º – São atribuições do Conselho de

Escola: I – Deliberar sobre: diretrizes e metas da unidade escolar;

alternativas de solução para os problemas de natureza administrativa e

pedagógica; projetos de atendimento psicopedagógicos e material ao aluno;

programas especiais visando à integração escola-família-comunidade;

criação e regulamentação das instituições auxiliares da escola; prioridades

para aplicação de recursos da Escola e das instituições auxiliares; a

indicação, a ser feita pelo respectivo Diretor de Escola, do Assistente de

Diretor de Escola, quando este for oriundo de outra unidade escolar; as

penalidades disciplinares a que estiverem sujeitos os funcionários, servidores

e alunos da unidade escolar; II – Elaborar o calendário e o regimento escolar,

observadas as normas do Conselho Estadual de Educação e a legislação

pertinente; III – Apreciar os relatórios anuais da escola, analisando seu

desempenho em face das diretrizes e metas estabelecidas. § 6º – Nenhum dos

membros do Conselho de Escola poderá acumular votos, não sendo também

permitidos os votos por procuração. § 7º – O Conselho de Escola deverá

reunir-se, ordinariamente, 2 (duas) vezes por semestre e,

extraordinariamente, por convocação do Diretor da Escola ou por proposta

de, no mínimo, 1/3 (um terço) de seus membros; § 8º – As deliberações do

Conselho constarão de ata, serão sempre tornadas públicas e adotadas por

maioria simples, presentes a maioria absoluta de seus membros. (SÃO

PAULO, 1985)

Diante do caráter participativo do Conselho de Escola, as diretrizes pedagógicas e

administrativas nas Unidades Escolares “deveriam” ser deliberadas por esse Conselho, ou

seja, pais, alunos, funcionários e professores.

A partir do ano de 1986, os principais programas e medidas visavam estabelecer

um processo de discussão de novas propostas curriculares para todos os componentes

curriculares dos ensinos Fundamental e Médio. As discussões ocorreram em três fases: na

primeira os professores e especialistas da educação deveriam discutir sobre o tema e

encaminhar à CENP sugestões para elaboração da versão preliminar; na segunda fase, debater

acerca da versão preliminar e encaminhar novas sugestões para elaboração da versão final; e

na terceira, discorrer sobre a nova proposta no planejamento escolar do ano letivo de 1987. O

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cronograma, porém, não foi cumprido, se estendendo a discussão pelos dois anos seguintes.

(BORGES, 2001, p.135)

A implantação do Programa de Formação Integral da Criança - PROFIC, em

1986, por decreto do Governador Franco Montoro, causou também um considerável impacto.

Previa a participação de outras secretarias (Promoção Social, Saúde, Relações do Trabalho,

Cultura, Esportes e Turismo), além da Educação, que era a Secretaria que coordenava todo o

programa, e se responsabiliza em firmar convênios com os municípios interessados. O

programa explicitava a necessidade de expansão do papel da escola na formação das crianças,

estendendo sua preocupação pedagógica além dos limites existentes, e ainda a necessidade de

um aumento da permanência do aluno na escola, aliado a medidas relacionadas à nutrição,

higiene, saúde e preparo para o trabalho. As ações e faixa etária atendida pelo PROFIC

estavam distribuídas em quatro fases: formação integral à criança nos dois primeiros anos de

vida, formação integral do pré-escolar, formação integral do escolar e atendimento ao menor

abandonado. Como a Secretaria de Estado da Educação não atendia mais a educação infantil

ou o menor abandonado, a maior parte dos recursos era encaminhada às prefeituras

municipais e entidades filantrópicas. (BORGES, 2001, p.138)

No período de 1987 a 1990 foram apresentadas as principais diretrizes básicas do

Programa Educacional do Governo, das quais faziam parte quatro ações consideradas

fundamentais: ampliação do acesso à escola; efetivação da permanência do aluno na escola;

formação e atualização do magistério; e democratização e modernização da gestão do sistema

educacional. (PEREZ, 1994, p.86) Ainda em 1987, foi criada a Fundação para o

Desenvolvimento da Educação - FDE, por meio do Decreto nº 27.102, de 23 de junho de

1987. Os objetivos da Fundação, constantes do estatuto aprovado pelo decreto que a criou,

eram complementar as políticas educacionais da Secretaria da Educação no que se refere à

produção, aquisição e distribuição de material instrucional necessário ao processo de ensino e

aprendizagem, bem como cumprir a política de suprimento de recursos físicos para educação,

destinados à própria Secretaria da Educação ou a seus órgãos.

Por intermédio do Decreto nº 27.265, de 05 de agosto de 1987, foi criado o

Programa de Municipalização e Descentralização do Pessoal de Apoio Administrativo das

Escolas da Rede Pública Estadual - PROMDEPAR, que previa, por meio de convênios com as

Prefeituras Municipais e Associações de Pais e Mestres - APM, a garantia de existência de

pessoal de apoio para as unidades escolares, contratado por essas instituições mediante

repasse de recursos financeiros para seu pagamento. (PEREZ, 1994, p.92)

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O principal programa instituído no referido período foi a Jornada Única Docente e

Discente no Ciclo Básico das escolas estaduais paulistas, por meio do Decreto nº 28.170, de

21 de janeiro de 1988. Para o aluno o programa determinava uma jornada de seis horas-aula

diárias e para o professor, uma jornada de atividades com alunos de 26 horas-aula semanais,

oito horas de atividade livre e seis horas de trabalho pedagógico na escola, totalizando 40

horas semanais. Era necessária a elaboração de uma proposta de trabalho pelo docente, a ser

aprovada pelo Conselho de Escola e pela Secretaria da Educação.

Nas escolas onde o programa foi introduzido se criou a função do professor-

coordenador. Uma de suas atribuições era coordenar o projeto Jornada Única do Ciclo Básico

na escola, desde a organização das classes e elaboração da grade curricular do ciclo, além de

garantir a continuidade das atividades nas 3ª e 4ª séries, participar de cursos, multiplicar os

conteúdos dos cursos junto aos professores do ciclo e participar das reuniões do Conselho de

Ciclo. (PEREZ, 1994, p.87)

Em 1988 surgiu ainda o Centro Específico de Formação e Aperfeiçoamento do

Magistério - CEFAM, instituído por meio do Decreto nº 28.089, de 13 de janeiro de 1988,

com o objetivo e formato das anteriores Escolas Normais, modificando a forma de trabalho

dos Cursos de 2º grau com Habilitação para o Magistério. A duração do curso era de quatro

anos, em período integral, objetivando a formação integral do aluno para que pudesse obter

uma visão global do ensino desde a pré-escola até a 4ª série do 1º grau. Foi prevista a

concessão de bolsas de estudo para os alunos, no valor de um salário mínimo. No primeiro

período o aluno tinha uma jornada de seis horas-aula diárias, para o cumprimento do currículo

estabelecido para o curso. O segundo período era destinado ao desenvolvimento de atividades

de enriquecimento curricular e estágio supervisionado, integrados ao currículo obrigatório do

curso. (PEREZ, 1994, p.89)

Quanto ao currículo escolar, foram realizadas discussões acerca das propostas

curriculares para o primeiro e o segundo graus. A Secretaria inaugurou o projeto das Oficinas

Pedagógicas, instaladas nas sedes das Delegacias de Ensino, que promoviam reuniões de

orientação técnica e oficinas de trabalho para estudo das novas propostas curriculares.

(PEREZ, 1994, p.96)

O Programa de Municipalização do Ensino Oficial do Estado de São Paulo, por

sua vez, regulamentado por meio do Decreto nº 30.375, de 13 de setembro de 1989, trouxe a

“novidade” de municipalizar o Ensino Fundamental. O programa previa a realização de

convênios entre o Estado e os Municípios para construção, reforma, ampliação, conservação e

manutenção dos prédios escolares da rede estadual. Também a manutenção dos recursos

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pedagógicos e auxílio aos professores no exercício das funções, bem como a promoção de

atividades e meios para o funcionamento das escolas. O decreto corroborava o que a

Constituição da República e a do Estado já anunciavam: que era a prioridade dos municípios o

atendimento ao ensino fundamental e à educação infantil. (BORGES, 2001, p.210)

Segundo Perez (1994, p.98),

[...] até dezembro de 1989, dois meses após o lançamento, haviam sido

assinados 165 convênios, reunidos em três grupos. Nos 165 municípios

envolvidos, cerca de 30 por cento dos municípios do Estado, a oferta da pré-

escola era a seguinte em 1987: em 10 municípios não havia nenhum tipo de

atendimento pré-escolar; 6 possuíam apenas rede municipal; 149 municípios

possuíam rede estadual, sendo que em 50 deles havia também a rede

municipal.

Contudo, esse processo de municipalização apenas teve início e continuidade

alguns anos depois, em 1996, com a implantação do FUNDEF - Fundo de Desenvolvimento

do Ensino Fundamental.

O Decreto 31.870/1991 implantou um programa conjunto da Secretaria da

Educação e Secretaria da Segurança Pública - Vigilância Escolar Comunitária, com a

finalidade de tomar medidas de enfrentamento ao problema da segurança dentro e próximo

das unidades escolares. Foi autorizada a suspensão do expediente nas escolas nos recessos

escolares, mediante o Decreto nº 31.875, de 17 de julho de 1990, e criado o Programa de

recuperação de mobiliário escolar nos Presídios do Estado, por meio do Decreto nº 32.263, de

31 de agosto de 1990. (BORGES, 2001, p.228) Estabeleceu-se o TCI - Termo de Cooperação

Intergovernamental para municipalização do ensino, pelo Decreto nº 32.392, de 24 de

setembro de 1990, com a finalidade de descentralizar, expandir e melhorar o ensino

fundamental por meio de convênio com municípios. (BORGES, 2001, p.232)

O período de 1991 a 1994 teve como marca a implantação do Projeto Educacional

“Escola Padrão”. Inicialmente, foi instituído na Secretaria da Educação o “Núcleo de Gestão

Estratégica”, por meio do Decreto nº 33.235/91, cujo objetivo era apresentar projetos de

reforma administrativa da Pasta e do ensino da rede pública estadual no prazo de 90 dias. Os

integrantes do grupo eram funcionários e docentes da Secretaria da Educação. (BORGES,

2001, p.262) O Projeto Educacional Escola Padrão foi estabelecido por meio do Decreto

nº 34.035, de 22 de outubro de 1991, fundamentado nos trabalhos realizados pelo Núcleo de

Gestão Estratégica. Segundo o artigo 3º do referido decreto, os pressupostos principais do

projeto eram:

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[...] autonomia pedagógica, permitindo às escolas planejarem e decidirem

sobre aspectos próprios de metodologia de ensino e planejamento curricular;

liberdade para propor projetos especiais relacionados com o ensino-

aprendizagem, capacitação e relações com a comunidade; e autonomia

administrativa, implantada gradativamente, a fim de administrar a utilização

de recursos humanos, financeiros e materiais ao seu bom financiamento.

(SÃO PAULO, 1991)

Em 1992, o Projeto “Escola Padrão” foi implantado em 306 escolas, para o qual

várias medidas legais foram tomadas: Regime de Dedicação Plena e Exclusiva, com

gratificação de 30% sobre o salário aos docentes que exercessem suas atividades

exclusivamente naquela escola; Jornada de Trabalho Docente em Escola Padrão, para que os

professores cumprissem uma jornada integral de 40 horas semanais, sendo 26 horas de aula,

seis horas de atividades pedagógicas na escola e oito horas semanais em local de livre

escolha; atribuição de aulas aos docentes na própria unidade escolar com apresentação de

proposta de trabalho e participação em processo seletivo. (BORGES, 2001, p.269) Entre os

anos de 1993 e 1996, o projeto foi ampliado para mais um total de 1.614 escolas, indicadas

seguindo critérios previamente publicados no Decreto nº 34.918, de 06 de maio de 1992, e na

Resolução SE 134, de 19 de maio de 1992, e deveriam contar com a aprovação do Conselho

de Escola. (BORGES, 2001, p.276)

Segundo Sanfelice (2010, p.147), o Partido da Social Democracia Brasileira -

PSDB, desde 1995, “tem sido hegemônico no governo paulista” e, mesmo com seus

singulares modos pessoais de governar, todos administraram por meio de “políticas públicas

alimentadas pela visão neoliberal”, que, conforme entende o autor,

[...] expressa um ponto de vista político-ideológico que acompanha a

transformação histórica do capitalismo moderno e que, na prática política,

sugere receitas econômicas e programas políticos. (CORRÊA, 2000, apud

SANFELICE, 2010, p.147)

E é por essa perspectiva que esses governantes vêm vendo “o mundo de um

mesmo e único pedestal que nada mais é senão o estado burguês capitalista” (SANFELICE,

2010, p.147) e dirigindo o governo no Estado de São Paulo desde 1995. Nesse ano, teve início

a reforma educacional, como um dos primeiros atos legais publicados pela gestão da época,

com o Decreto nº 39.902/95, de 1º de janeiro de 1995, que alterou os Decretos nº 7.510/76, de

29 de janeiro de 1976, e 17.329/81, de 14 de julho de 1981, e reorganizou os órgãos regionais,

extinguindo as Unidades Administrativas das Divisões Regionais de Ensino.

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Em de março de 1995 foram publicadas as Diretrizes Educacionais para o Estado

de São Paulo, para o período de janeiro de 1995 a 31 de dezembro de 1998. Documento esse

que, segundo Palma Filho (2010, p.158),

[...] fazia uma análise da política educacional paulista nos períodos

anteriores a 1995 e definia como diretriz central da nova administração da

educação: “a revolução na produtividade dos recursos públicos”

(LEGISLAÇÃO DE ENSINO, 1995, p. 303-304) e duas diretrizes

complementares, a saber: 1) “reforma e racionalização da estrutura

administrativa”, 2) “mudanças nos padrões de gestão”. Portanto, definia as

prioridades da pasta da educação para o próximo quadriênio (1995-1998).

Na introdução das Diretrizes, é feito um relato da educação nos últimos 20 anos,

ressaltando a incapacidade do governo em pensar a educação do Estado de São Paulo como

um todo, restringindo-se ao papel de mero gestor da rede estadual. Ressalta ainda que

[...] o profundo avanço tecnológico dos anos 80, o impacto da

informatização e o processo crescente de internacionalização da economia

estão, naturalmente, a exigir um novo perfil de cidadão: criativo, inteligente,

capaz de solucionar problemas, de se adaptar às mudanças do processo

produtivo e, principalmente, de gerar, selecionar e interpretar informações.

Nesse cenário, a Educação toma-se, mais do que nunca, indispensável ao

sucesso econômico e social de qualquer país que se proponha a enfrentar a

competição internacional. Consequentemente, passa-se a questionar os

sistemas de ensino e a exigir ousadia para revê-los e modificá-los. (SÃO

PAULO, 1995, p.08)

Em sua primeira parte, o documento traçava um diagnóstico da educação básica

em São Paulo, com dados referentes ao total de alunos matriculados no Estado em 1993,

matrícula inicial do Ensino Fundamental por vinculação administrativa (1978-1993),

matrícula inicial do Ensino Médio por vinculação administrativa (1978-1993), matrícula

inicial na pré-escola por vinculação administrativa (1978-1993). A conclusão do diagnóstico

era que o Estado encontrava-se sobrecarregado em relação aos Municípios, sendo responsável

por 80% das matrículas dos ensinos Fundamental e Médio. (SÃO PAULO, 1995)

A partir do diagnóstico, foi apontado o principal entrave à educação básica no

Estado de São Paulo: a ineficácia do sistema. A conclusão a que a equipe chegou foi que o

sistema educacional de São Paulo era um fracasso em termos de qualidade. (SÃO PAULO,

1995)

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A segunda parte do documento traçava as diretrizes principais da gestão para a

educação paulista. A grande diretriz era a revolução na produtividade dos recursos públicos,

que, em última instância, deveria culminar na melhoria da qualidade do ensino. E, para que a

revolução realmente ocorresse, era necessária a revisão do papel do Estado na área de

prestação dos serviços educacionais. Para tanto, foram destacadas duas diretrizes

fundamentais: reforma e racionalização da rede administrativa com informatização dos dados

educacionais; e desconcentração e descentralização dos recursos e competências e mudanças

nos padrões de gestão. Tal política educacional trazia três eixos de trabalho: gestão

democrática, melhoria da qualidade do ensino e racionalização administrativa. (SÃO PAULO,

1995)

Considerando a necessidade de descentralizar a gestão educacional, conforme

publicado nas Diretrizes Educacionais para o Estado de São Paulo, o Governo Estadual

instituiu o Programa de Ação de Parceria Educacional Estado-Município, com o objetivo de

desenvolver o Ensino Fundamental, por meio de ação conjunta dos poderes executivo,

estadual e municipal. Para tanto, autorizou a Secretaria da Educação a celebrar convênios com

os municípios, nos termos do Decreto nº 40.673, de 16 de fevereiro de 1996.

De acordo com Palma Filho (2010, p.159),

[...] o foco passa a ser a descentralização, com a transferência para os

municípios da responsabilidade pelo funcionamento e manutenção das

escolas de ensino fundamental, que ficou conhecido como municipalização

do ensino fundamental.

Dessa forma, ocorreu a implementação do Programa de Reorganização da Rede

Estadual de Ensino. O programa previa a reorganização das escolas para o atendimento dos

alunos dos ensinos Fundamental e Médio. A Resolução SE nº 169, de 20 de novembro de

1996, dispunha sobre as diretrizes para a continuidade do Programa de Reorganização da

Rede Estadual de Ensino e estabelecia como se daria o atendimento à demanda e a

organização das escolas.

O objetivo da reorganização era oferecer atendimento específico para cada nível

de ensino, para que as escolas fossem preparadas fisicamente para os diferentes níveis. No

caso de escola de Ensino Fundamental com atendimento de 1ª a 4ª série e também de 5ª a 8ª

série e Ensino Médio, a separação propiciaria salas de aula, pátio, equipamentos, materiais

pedagógicos específicos para cada faixa etária. Dessa forma, a socialização com pessoas da

mesma faixa etária e a metodologia específica trariam a melhoria da qualidade do ensino. “Tal

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transferência, em grande parte, foi impulsionada pela instituição por lei federal do chamado

Fundo para o Desenvolvimento do Ensino Fundamental e Valorização do Magistério

(FUNDEF).”

Ainda no primeiro semestre do ano de 1996, a Secretaria da Educação instituiu o

Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo, por meio da Resolução

SE nº 27, de 29 de março de 1996, tendo como objetivos:

I – desenvolver um sistema de avaliação de desempenho dos alunos dos

ensinos fundamental e médio do Estado de São Paulo, que subsidie a

Secretaria da Educação nas tomadas de decisão quanto à Política

Educacional do Estado; II – verificar o desempenho dos alunos nas séries do

ensino fundamental e médio, bem como nos diferentes componentes

curriculares, de modo a fornecer ao sistema de ensino, às equipes técnico-

pedagógicas das Delegacias de Ensino e às Unidades Escolares informações

que subsidiem: a) a capacitação dos recursos humanos do magistério; b) a

reorientação da proposta pedagógica desses níveis de ensino, de modo a

aprimorá-la; c) a viabilização da articulação dos resultados da avaliação com

o planejamento escolar, a capacitação e o estabelecimento de metas para o

projeto de cada escola, em especial a correção do fluxo escolar. (SÃO

PAULO, 1996)

Com os objetivos de aprimorar o processo de ensino e aprendizagem e buscar a

melhoria da qualidade do ensino, a Resolução SE nº 28, de 04 de abril de 1996, dispunha

sobre o processo de escolha para a designação de professor para exercer as funções de

coordenação pedagógica nas escolas da rede pública estadual. Com essa medida, as escolas

que mantivessem no mínimo 12 classes funcionando, em dois ou mais turnos, contariam com

um professor designado para exercer as funções de coordenação pedagógica; as escolas que

mantivessem no mínimo 12 classes no período diurno e no mínimo dez classes no período

noturno contariam com dois professores para a coordenação pedagógica.

No final do ano de 1996, a Secretaria publicou outra medida no sentido de buscar

alternativas para melhorar o desempenho dos alunos, a Resolução SE nº 183, de 17 de

dezembro de 1996, que dispunha sobre estudos de recuperação e avaliação nas férias

escolares. A recuperação ocorreu no mês de janeiro de 1997 aos alunos retidos no ano letivo

de 1996 da 1ª a 8ª série do Ensino Fundamental, com admissão de professores interessados

em desenvolver o projeto durante o mês de janeiro.

O ano de 1997 foi considerado, para os governantes, um ano de transição para que

fosse possível a realização das adaptações necessárias à nova lei. O Conselho Estadual de

Educação publicou diversas deliberações para regulamentar a nova LDB no Estado de São

Paulo. Entre elas, destacam-se a Deliberação CEE nº 9/97, que instituiu no Sistema de Ensino

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do Estado de São Paulo o regime de progressão continuada no Ensino Fundamental, e a

Deliberação CEE nº 10/97, que fixou normas para elaboração do Regimento dos

Estabelecimentos de Ensino Fundamental e Médio.

Iniciou-se também, em 1998, a informatização das escolas, com o recebimento de

microcomputadores para utilização nos trabalhos administrativos e oferta de cursos de

formação em parceria com o SENAC para os funcionários e gestores. Nesse ano de 1998, as

escolas da rede pública estadual ainda passavam pela reorganização que objetivava separar o

Ensino Fundamental de Ciclo I do Ensino Fundamental Ciclo II e Ensino Médio, com vistas à

municipalização do Ensino Fundamental Ciclo I, com base nos fundamentados da

Constituição Federal e Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Dessa forma, a partir

desse ano, mediante “indicação do Conselho Estadual de Educação (Indicação CEE

nº 8/1997), sustentado pelo que dispõe o artigo 32 da LDBEN, foi implantado em toda rede

pública estadual o regime de progressão continuada” (SÃO PAULO, 2012, p.21).

Contudo, de acordo com Barreto (2003, p.11), a finalidade da implantação dos

ciclos e da progressão continuada era, particularmente, corrigir o fluxo para o cumprimento

dos anos de escolaridade na idade certa. Segundo o autor, é fundamental que um ensino de

qualidade perpasse pela não retenção. Cabe aqui frisar que, se os objetivos da reorganização

não foram tão louváveis, permitiram demonstrar, segundo Paro (2011, p.714), “[...] a

incompetência da escola: se antes o mau aluno era reprovado e evadido da escola, agora ele lá

permanece, mas sem ter aprendido, evidenciando a incompetência da escola para ensiná-lo”.

E ainda, de acordo com Vasconcelos (2008, p.80), se pôde perceber seu efeito positivo, pelo

menos, no que se refere à

[...] queda dos índices de evasão e o desaparecimento da figura do aluno

multirrepetente [...] que não logrando êxito após várias tentativas e

consequentes reprovações, acabava por evadir-se da escola (muitas vezes

com o apoio e decisão da própria família). (VASCONCELOS, 2008, p.80)

Com a reorganização, as escolas que ofereciam o Ciclo II do Ensino Fundamental

e Ensino Médio receberam microcomputadores para utilização no trabalho pedagógico, em

salas que deveriam estar preparadas para tal finalidade, denominadas SAI - Sala Ambiente de

Informática, com dez computadores e uma impressora, contudo, várias unidades escolares

receberam apenas cinco computadores. Concomitantemente, a Secretaria da Educação e o

Ministério da Educação, por meio do PROINFO - Programa Nacional de Tecnologia

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Educacional, iniciaram a implantação dos Núcleos Regionais de Tecnologia Educacional

(NRTEs), os quais a partir de 2010 passaram a ser chamados de salas do Acessa Escola.

A partir do ano de 2001, a Política Educacional da Secretaria do Estado de São

Paulo, segundo Palma Filho (2010, p.162), manteve a mesma linha característica do Governo

do PSDB, “como por exemplo, o Programa de Municipalização do Ensino Fundamental e a

manutenção do regime de progressão continuada no ensino fundamental” (PALMA FILHO,

2010, p.162), e implementa o conceito de escola inclusiva, a qual é descrita em documento

intitulado Política Educacional da Secretaria de Estado da Educação de São Paulo, nos

termos como segue:

[...] a escola inclusiva é a que se mantém atenta às necessidades de seus

alunos e às expectativas da comunidade em que se insere. Ela se constrói a

partir da permanente interação com os educandos, seus familiares e outros

integrantes da comunidade, dando-lhes voz e condições para que possam

atuar efetivamente no desenvolvimento das atividades escolares e

partilhando com todos eles responsabilidades, em ambiente de colaboração e

de convívio solidário. (SÃO PAULO, 2002, p.5)

E foi nessa perspectiva que em 2003 se implementou, como parte das políticas

públicas educacionais, o Programa Escola da Família, que abriu as portas das escolas aos

finais de semana com o objetivo de promover um espaço de cultura para a comunidade local.

Segundo Palma Filho (2010, p.163), “não há como não reconhecer nessa passagem a

influência da Escola Nova”, pois o programa mostrava um discurso acerca da relação

professor e aluno baseado no afeto, respeito e confiança. Tal programa contou com a parceria

de universidades privadas, por meio de bolsas a estudantes que trabalhassem nessas escolas e

criassem projetos diferenciados, como cursos e eventos. Contudo, apesar de tal programa ter

auxiliado jovens no que se refere a sua permanência no ensino superior e fazer com que

muitos da comunidade circundante tivessem um espaço para entretenimento, formação não

formal e esportes, não teve sequência na maioria das escolas. Há de se notar que é por ações

como essa, conforme Sanfelice (2010, p.154),

[...] que o Ensino Superior público no Estado de São Paulo vem a cada ano

se constituindo em menos representativo, quantitativamente, em relação ao

Ensino Superior privado. Dados indicam que nos anos mais recentes a

diminuição foi de 17,5% para 9,3 do total. O atendimento aos alunos é

86,19% realizado pelo setor privado. (SANFELICE, 2010, p.154)

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Conforme Sanfelice (2010, p.149-150), outra medida foi a que trouxe a Resolução

SE nº 79, publicada em 30 de novembro de 2003, a qual estabeleceu que o professor de 2ª

série deveria permanecer com seus alunos da 1ª série do ano anterior, de modo a configurar

um ciclo de aprendizagem de dois anos, assim como já havia ocorrido no já descrito Ciclo

Básico. Essa mesma resolução também determinou que ocorresse o mesmo processo com as

séries seguintes, representando na época a nova reorganização do Ensino Fundamental em

ciclos de dois anos, como também já havia sido feito em 1995.

Já no que se refere à formação continuada docente, em 2007 a Secretaria

implantou, como mais uma política pública, o Programa Ler e Escrever. Segundo Weisz

(2010, p.21), “[...] o Ler e Escrever não está focado na formação em serviço dos professores

individualmente, mas foi pensado como um conjunto de ações cujo objetivo é fazer avançar a

qualidade do ensino oferecido em cada escola”.

Nesse período o governo instituiu que até 2010 metas deveriam ser cumpridas,

entre elas:

[...] todos os alunos de 8 anos plenamente alfabetizados; redução de 50% das

taxas de reprovação da 8ª série; redução de 50% das taxas de reprovação do

Ensino Médio; implantação de programas de recuperação de aprendizagem

nas séries finais de todos os ciclos de aprendizagem do Ensino Fundamental

e 3ª série do Ensino Médio; aumento de 10% nos índices de desempenho do

Ensino Fundamental e Médio nas avaliações nacionais e estaduais;

atendimento de 100% da demanda de jovens e adultos de Ensino Médio com

currículo profissionalizante diversificado; implantação do ensino

fundamental de nove anos, com prioridade à municipalização das séries

iniciais (1ª a 4ª séries); programas de formação continuada e capacitação da

equipe; descentralização e/ou municipalização do programa de alimentação

escolar nos 30 municípios ainda centralizados e programa de obras e

melhorias de infraestrutura das escolas. (SANFELICE, 2010, p.148-149)

Ainda no ano de 2003 foi criada a Teia do Saber, um programa de formação

continuada que tinha como objetivo “articular e consolidar as ações que já vinham sendo

realizadas pela Secretaria da Educação” (PALMA FILHO, 2010, p.164), trazendo em seu

discurso os mesmos fundamentos anteriores desse mesmo grupo de governo:

[...] propiciar a fundamentação teórica nos diferentes campos de atuação dos

profissionais envolvidos, a necessária articulação entre essa teoria e a

prática, a contextualização dos conhecimentos trabalhados, bem como a

interdisciplinaridade possível, resguardando momentos para a socialização

de experiências vivenciadas no cotidiano escolar e nas relações de trabalho.

(SÃO PAULO, 2002, p.29)

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Com a Resolução SE nº. 89/2005 instituiu-se o projeto Escola de Tempo Integral

em algumas escolas da rede pública estadual de Ensino Fundamental. O projeto tinha como

finalidade aumentar o tempo de permanência dos alunos de 5 para 9 horas e contava com as

seguintes oficinas curriculares: Orientação para Estudo e Pesquisa, Atividades de Linguagem

e de Matemática, Atividades Artísticas, Esportivas/Motoras e de Participação Social.

Conforme documento institucional, a escola deveria ser a “alavanca de um processo que visa

à formação de pessoas aptas a exercerem sua plena cidadania” (SÃO PAULO, 2006b, p.14).

Contudo, embora tenha sido “uma iniciativa muito bem recebida pela comunidade [...]

enfrentou sérios problemas relacionados com a articulação entre os conhecimentos

acadêmicos e as atividades realizadas nas oficinas” (PALMA FILHO, 2010, 165).

No ano de 2007 a Secretaria de Educação publicou um conjunto de metas a serem

cumpridas até o final daquele mandato com vistas à melhoria do ensino:

1. Que todos os alunos sejam alfabetizados até o final do segundo ano de

escolaridade; 2. Redução em 50% da taxa de reprovação na 8ª série; 3.

Redução em 50% da taxa de reprovação no ensino médio; 4. Implantação de

programas de recuperação de aprendizagem nas séries finais de todos os

ciclos; 5. Aumento de 10% nos índices de desempenho do ensino

fundamental e médio nas avaliações nacionais e estaduais; 6. Atendimento

da demanda de jovens e adultos de ensino médio com currículo

profissionalizante diversificado; 7. Implantação do ensino fundamental de

nove anos com prioridade à municipalização das séries iniciais – 1ª a 4ª; 8.

Programa de Formação Continuada e capacitação das equipes de ensino; 9.

Descentralização da merenda escolar nos 30 municípios que ainda não

aderiram ao programa; 10. Obras e melhorias de infraestrutura nas escolas.

(PALMA FILHO, 2010, p.166-167)

No que se refere às ações e medidas desse período, de acordo com Sanfelice

(2010, p.149), se destacaram a apresentação de uma Proposta Curricular e as expectativas de

aprendizagem para os ensinos Fundamental e Médio, que, a partir de 2009, passaram a contar

com o Currículo Oficial do Estado de São Paulo; parcerias com o setor privado para

realização de cursos de informática e de inglês; controle de qualidade da aprendizagem nas

escolas municipais por conta da Escola de 9 anos; criação de salas do Acessa Escola ou

Laboratórios de Informática em todas as escolas estaduais, bem como a entrega de kit para

sala dos professores com computadores (um ou dois), impressora e material de apoio; salas-

ambiente como de vídeo, laboratório de ciências com seus respectivos materiais; e a criação

de um posto de trabalho por designação do Professor Coordenador – este não precisava e não

precisa ter curso de pedagogia, somente ser professor efetivo da rede. (SANFELICE, 2010,

p.148-149)

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No período compreendido entre 2009 e 2011, segundo Sanfelice (2010, p.150), “o

Estado de São Paulo tornou-se o laboratório predileto das políticas defendidas pelo

„tucanato‟”. O foco central da política do governo para a educação era o projeto “São Paulo

Faz Escola”, que, conforme o mesmo autor, tinha como objetivo instituir “uma escola

melhor” e expandir a nova proposta curricular para o Ensino Fundamental e Ensino Médio.

Todavia, tal proposta, segundo Russo e Carvalho (apud SANFELICE, 2010, p.151), tem

pontos conflitantes com a legislação, pois

[...] adota um currículo único e fechado, utiliza material instrucional

padronizado, acompanha os resultados por supervisão cerrada através da

avaliação, usa os resultados da avaliação como critério para concessão de

vantagens salariais (bônus) e utiliza o incentivo monetário para o aumento da

produtividade do trabalho. (SANFELICE, 2010, p.151)

Segundo Sanfelice (2010, p.153), a política pública para o sistema educacional do

Estado de São Paulo se caracteriza por ações momentâneas e sem continuidade, primando por

divulgar uma qualidade, por muitos questionada, com vistas a dar destaque ao governo

vigente, pois

[...] muitas reformas, muitas políticas públicas não têm por função buscar

uma transformação social e sim visam somente fazer crer que existe uma

estratégia política para melhorar a qualidade educacional, de dar a ideia de

movimento para frente, mas só beneficiam as plataformas políticas dos

reformadores. (SACRISTÁN, 1996, p.52)

Assim, outro aspecto evidenciado por Sanfelice (2010, p.153) é a mercantilização

da educação, quando vista como produto e com grande potencial de divulgar outros produtos

agregados, como no que se refere às parcerias com o setor privado para reformar e equipar as

escolas, sem que tudo isso leve a uma aprendizagem efetiva. Um exemplo dado pelo autor é a

criação da Rede do Saber em 2003, quando foram montadas salas para videoconferências em

todas as Diretorias de Ensino com recursos tecnológicos de última geração, com a justificativa

de “oferecer formação em nível superior a aproximadamente 7.000 educadores efetivos de

1ª a 4ª séries da rede estadual de ensino, visando atender às exigências da LDB”

(SANFELICE, 2010, p.153).

Já o período entre 2011 e 2014 foi marcado por uma continuação das políticas

públicas iniciadas pelo grupo de governo anterior – para não dizer uma mesma caracterização

desde que se iniciou o governo. Ou seja, também se promoveu “um claro aprofundamento dos

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princípios que vinculam a educação ao modelo neoliberal e à economia de mercado”

(RUSSO, s/d, p.5).

Assim, no ano de 2011 o governo fez nova reorganização na Secretaria de

Educação e Diretorias de Ensino, por meio do Decreto 57.141/2011, a partir de relatório

elaborado pela FUNDAP - Fundação do Desenvolvimento Administrativo, um órgão

vinculado à Secretaria de Gestão Pública do Estado de São Paulo. No relatório foram

descritos, segundo Aguiar (2013, p.13), os anseios, desejos, opiniões dos servidores da

Secretaria de Educação do Estado de São Paulo. Para isso, foram promovidos encontros com

a presença do, então, secretário da educação e dos profissionais da educação, para que

pudessem fazer suas reivindicações. De acordo Aguiar, a FUNDAP realizou

[...] entrevistas com servidores dos órgãos centrais e das Diretorias de

Ensino, fez dezenas de reuniões com dirigentes, técnicos e servidores de

todos os níveis hierárquicos, analisou processos, visitou escolas, ouviu

diretores, supervisores de ensino, professores e pessoal do apoio ao

magistério. (AGUIAR, 2013, p.13)

A partir das reuniões e entrevistas foram apresentadas questões como a

necessidade de diálogo entre órgãos centrais e profissionais da educação, incentivo à

formação, autonomia das escolas, entre outras. E, segundo o documento oficial (SÃO

PAULO, 2013, p.13-14), “o resultado desse estudo mostrou o que não ia bem e precisava

mudar, com base no seguinte diagnóstico”: a estrutura da Secretaria estava desatualizada;

cerca de 70% das atividades nas Diretorias eram de natureza administrativa, em prejuízo do

trabalho docente, além de extremamente desorganizadas; acerca do pessoal, eram

insuficientes os quadros próprios e, principalmente, qualificados para exercer a gestão da

educação em todos os níveis da estrutura da Secretaria.

Dessa forma, conforme esse mesmo documento, foram definidas “premissas para

orientar a modelagem institucional da Secretaria da Educação, de forma que a principal foi a

Gestão de Resultado com Foco no Desempenho do Aluno” (SÃO PAULO, 2013, p.14-15).

Assim, os princípios de todo o processo podem ser resumidos em poucas

palavras: Foco (no ensino, na informação, no monitoramento e no

fornecimento de recursos); Resultados (fruto da clareza no fornecimento de

cada unidade); Articulação (para serem estabelecidas prioridades, estratégias

e políticas, assim como também na gestão de recursos); e Monitoramento

(para se chegar às metas e resultados). (SÃO PAULO, 2013, p.15)

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110

Nesse mesmo ano (2011) criou-se o Programa Vence, com o objetivo de “tornar

mais atraente o Ensino Médio oferecido pela rede pública [...] no qual o aluno adquire

formação técnica, seja de maneira concomitante ou integrada à oferta curricular regular desse

nível de ensino” (SÃO PAULO, 2013, p.51). Contudo, o que se vê, com a justificativa de

também ser um ensino integral, é a transferência de verbas públicas para o setor privado, com

ênfase na formação “do cidadão produtivo, submisso e adaptado às necessidades do capital e

do mercado” (FRIGOTTO, 2007, p.1129).

Também foi implantado um modelo de escola em tempo integral diferenciado do

conceito de escolas de tempo integral, citadas anteriormente. Esse modelo previa integração

das disciplinas do currículo e nova jornada de trabalho de professores com dedicação plena e

exclusiva à unidade escolar, enquanto o programa anterior somente previa jornada integral

para os alunos. (SÃO PAULO, 2013, p.51) Contudo, apenas alguns professores têm acesso a

essa promoção salarial, uma vez que só algumas escolas foram escolhidas para participar de

tal projeto. Fato esse que, notadamente, vai de encontro ao pilar instituído por essa gestão no

tocante à valorização da carreira do magistério e contrapõe também a Constituição Federal,

que condiciona o acesso ao serviço público à realização de concursos. Nesse programa os

professores são afastados de seus cargos em suas escolas de origem e designados para Escolas

de Ensino Integral, sendo que, caso não atendam aos padrões determinados, podem ser

dispensados.

Na reestruturação empreendida no governo 2011-2014 foi instituído o Programa

Educação - Compromisso de São Paulo, por meio do Decreto nº 57.571/2011, que tinha como

objetivo a “promoção da educação de qualidade na rede pública estadual de ensino e a

valorização de seus profissionais” (SÃO PAULO, 2013, p.12). O programa anunciava uma

proposta com cinco pilares, expressos em forma de metas, que deveriam ser cumpridas até o

ano de 2030, a saber: 1. valorizar e investir no desenvolvimento do capital humano da

secretaria; 2. aprimorar as ações e a gestão pedagógica da rede com foco no resultado do

aluno; 3. mobilizar, engajar e responsabilizar a rede, os alunos e a sociedade em torno do

processo de ensino-aprendizagem; 4. lançar as bases de um novo modelo de escola e um

regime na carreira do magistério mais atrativo; 5. viabilizar mecanismos organizacionais e

financeiros para operacionalizar o programa.

A reestruturação continuou no ano de 2015, demonstrando o prolongamento de

uma política com marcas neoliberais quando anunciadas premissas como a baseada na gestão

de resultado no desempenho do aluno e apresentados conceitos característicos de um sistema

“gestionário”, como apontado por Afonso (2000, p.21):

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111

Inicia-se assim outra fase da reforma educativa em que a presença destes

valores gestionários é denunciada, por exemplo, pela utilização (cada vez

mais frequente) das palavras responsabilização, avaliação, optimização,

racionalização, eficiência, inovação, eficácia e qualidade, entre outras. Dir-

se-ia que o regresso do discurso da qualidade passa a ser uma das muitas

maneiras possíveis (talvez a mais persuasiva) de nomear a pretendida

modernização do sistema educativo nesta nova fase da reforma. (AFONSO,

2000, p.21)

Outro ponto de destaque é ressaltado por Russo (s/d, p.5), que afirma que “as

políticas em curso, neste governo, têm se pautado em reformas educacionais já realizadas no

exterior”, assim como descreve Gall e Guedes (2009):

Autonomia e descentralização escolar - Uma das formas encontradas para

superar os problemas em escala em grande parte dos sistemas urbanos é a

distribuição da responsabilidade por meio da autonomia escolar. O Programa

de Autonomia Escolar de Nova York (Empowerment Schools) tem como

princípio a descentralização escolar, enfatizando a responsabilidade das

unidades locais, prática comum em grandes corporações [...] No Brasil, para

implantação de ações inspiradas nessa realidade (americana), seria

necessário que um governador ou prefeito aceitasse abrir mão do poder

político que a centralização de recursos financeiros lhes proporciona. Uma

análise jurídica, verificando possíveis flexibilizações da legislação, permitirá

encontrar possibilidades para lidar com os diretores e escolas que não

apresentem resultados satisfatórios. (GALL, GUEDES, 2009, p.35)

A autonomia pautada nas reivindicações é traduzida como responsabilização,

entendendo-se, nesse contexto, como culpabilização dos atores envolvidos na obtenção de

resultados e no tocante à questão autonomia. A esse respeito, Adrião assinala:

[...] ao introduzirem mecanismos que, a pretexto de dar maior autonomia à

unidade escolar e aos seus diretamente envolvidos em suas atividades,

apenas isentaram ainda mais o Estado de suas obrigações de fornecer

condições adequadas ao ensino, transferindo parcelas significativas dessa

responsabilidade para os próprios usuários. (ADRIÃO, 2006, p.16)

Outra questão que vale a pena destacar nessa reforma diz respeito à valorização

docente. Nos discursos do governo, frisa-se a necessidade de salários mais dignos e de

valorização da profissão, tornando-a mais atrativa. Contudo, esse profissional é o que mais

tem sido responsabilizado pelas mazelas educacionais, anunciando-se que haverá uma melhor

qualidade do processo porque eles, os professores, serão qualificados em constantes

formações. Não que isso não seja essencial, mas se passa uma impressão de que somente essa

ação irá minorar todos os problemas enfrentados pela educação paulista.

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Quanto ao aluno, continua a ser averiguada a qualidade da educação por meio de

avaliações externas, em nível federal, mas principalmente nos níveis estadual e regional, por

meio de testes inseridos no SAEB - Sistema de Avaliação da Educação Básica, no SARESP -

Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo e na AAP - Avaliação

da Aprendizagem em Processo. Essas ações, divulgadas enquanto meios de monitorar a

qualidade da educação, têm servido de objeto de culpabilização de muitos profissionais da

educação, como diretores de escola e professores, assim como descrito na preleção de

Sanfelice (2010, p.158):

A educação estatal paulista está indo para o brejo. O Estado minimiza-se

como provedor perante o tamanho do desafio, aprofunda seu controle e

responsabiliza outros sujeitos pelas funestas consequências. Estamos em

tempos de precarização. Precarização política, ética, cultural e material.

Nesse cenário, conclui-se que a gestão da educação no Estado de São Paulo

caracteriza-se pela continuidade de políticas de cunho neoliberal. Notam-se, pelo plano de

ação da Secretaria Estadual de Educação, propostas de melhoria da qualidade educacional no

que tange ao cumprimento das reivindicações dos profissionais da educação, ouvidas pelo

secretário de educação ou nas entrevistas realizadas pela FUNDAP. Contudo, há de se

considerar que não foi dada voz a todos os profissionais da educação, e sim apenas a alguns

“representantes” escolhidos a dedo, com vistas a tornar legítimas e democráticas as decisões

do governo aos olhos dos cidadãos, de forma que “a Educação passou a ser assunto

importante demais na atual fase do capitalismo para ser deixada na mão dos educadores”

(FREITAS, 2011, p.283).

2.2.1.1 Proposta de reorganização escolar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo

Neste ponto, considera-se importante para esta tese abordar a proposta de

reorganização escolar da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo para o ano de 2016,

principalmente por conta dos fatos recentes, as manifestações feitas pelos alunos dessa

instância após divulgação, pelo então secretário de Estado da Educação, Herman Voorwald,

da implantação da política pública, por meio de entrevista ao Bom Dia São Paulo, telejornal

da rede Globo, no dia 23 de setembro de 2015.

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2.2.1.1.1 A proposta16

A proposta consiste em reorganizar as escolas distribuindo os alunos por idade, a

saber: alunos de 6 a 10 anos, do 1º ao 5º ano do Ensino Fundamental, séries iniciais do EF;

alunos de 10 a 14 anos, do 6º ao 9º ano do Ensino Fundamental, séries finais do EF; e alunos

de 15 a 17 anos, do 1º ao 3º ano do Ensino Médio. Vale destacar que essa divisão de escolas

com ciclo único não seria exatamente por ciclos, como tem sido anunciado na mídia e pela

própria Secretaria de Educação. Isso porque, conforme indicado na proposta mesmo, ter-se-

iam escolas com alunos dos Ciclos I e II, pois a partir do ano de 2013, por meio da Resolução

SE nº 74, de 08/11/2013, o Ensino Fundamental foi dividido em três ciclos:

Artigo 1º - O Ensino Fundamental, em Regime de Progressão Continuada,

oferecido pelas escolas estaduais, a partir de 2014, será organizado em 3

(três) Ciclos de Aprendizagem, com a duração de três anos cada, nos termos

da presente resolução. [...] Artigo 5º - O Ensino Fundamental em Regime de

Progressão Continuada será reorganizado, a partir de 2014, em 3 (três)

Ciclos, compreendidos como espaços temporais interdependentes e

articulados entre si, ao longo dos nove anos: I - Ciclo de Alfabetização, do 1º

ao 3º anos; II - Ciclo Intermediário, do 4º ao 6º anos; III - Ciclo Final, do 7º

ao 9º ano. (SÃO PAULO, 2013)

De acordo com a medida, a reorganização escolar vigoraria a partir do ano de

2016. Sendo que, num primeiro momento, houve um estudo para definir quais escolas seriam

selecionadas para o processo. As Diretorias Regionais de Ensino tiveram um prazo de 10 dias

para validar quais escolas da rede estadual de ensino passariam pela reorganização. Contudo,

é sabido pela pesquisadora, por fazer parte do quadro de educadores da SEE, que foram as

Diretorias de Ensino que realizaram tal estudo e indicaram as unidades escolares. Sabe-se que

algumas Diretorias fizeram reuniões prévias com diretores de escolas, supervisores de ensino

e diretores técnicos de Centros de Informações Educacionais e Gestão da Rede Escolar, para

que indicassem a possibilidade e a viabilidade aos demais.

Foi marcado o dia “E” - Dia da Educação, 14 de novembro de 2015, para que os

alunos e a comunidade fossem comunicados sobre a mudança de escola. A troca deveria ser

automática pelas Diretorias de Ensino e, de acordo com a proposta, os alunos seriam

deslocados dentro do mesmo bairro da escola anterior, num raio de aproximadamente 1,5 km.

16

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Reorganização escolar. s/d. Disponível em:

<http://www.educacao.sp.gov.br/reorganizacao>. Acesso em: dez./2015.

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114

No entanto, essa distância, principalmente em cidades menores, não se aplicaria, pois em sua

maioria as escolas não ficam no mesmo bairro.

Embora nem todas as unidades de ensino do Estado fossem passar pela

reorganização, pois escolas com mais de um ciclo ainda continuariam funcionando – isso

devido às diferenças demográficas e à demanda por escolas, para diversas faixas etárias, em

algumas regiões –, todas deveriam realizar o dia “E” para divulgar as justificativas de tal

reorganização. Também porque já havia, naquele momento, escolas que não seriam

reorganizadas, mas estavam ocupadas, fato esse que será abordado mais adiante.

O que é a reorganização? Com a finalidade de colocar em prática o princípio

da melhoria da qualidade de ensino e da aprendizagem, as escolas paulistas

vão repensar sua atuação. Para isso será colocado em pauta três critérios

pedagógicos básicos: 1- Ambientes escolares organizados para a

aprendizagem: tempo e espaço; 2- Desenvolvimento das competências e

habilidades previstas no currículo oficial do Estado de São Paulo; 3-

Formação continuada dos profissionais voltada para a prática da sala de aula.

(SÃO PAULO, set./2015)

Com a reestruturação das escolas em ciclos, ao menos 94 unidades escolares

teriam de ser disponibilizadas. Desses 94 prédios, 66 seriam repassados para as redes

municipais, para utilização com Educação de Jovens e Adultos, Centro Educacional Unificado

- CEU ou creche. Ou reaproveitados, ainda, pelo próprio governo estadual com creches ou

unidades de ensino técnico. Para as 28 unidades restantes, ainda não havia um destino certo.

2.2.1.1.2 As justificativas

Uma das justificativas da SEE/SP para o processo de reorganização, que causou

dúvidas e manifestações por parte de professores, pais e alunos desde que foi anunciado, em

setembro, é que o aproveitamento dos alunos de escolas com ciclo único seria melhor. Assim,

estão pautadas no princípio da melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.

As escolas com ciclo único têm alunos com rendimento 10% superior, na

comparação com as unidades com três ciclos de ensino, conforme dados do IDESP - Índice de

Desenvolvimento do Estado de São Paulo. O mesmo índice aponta ainda que as notas dos

estudantes do ciclo inicial em escolas com segmento único são 14,8% superiores às demais,

nos anos finais são 15,2% melhores e no Ensino Médio, 28,4% mais altas.

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115

Outro argumento dá conta de que o número de alunos caiu de 6 milhões de alunos

para 4 milhões de estudantes em menos de 20 anos, fazendo com que muitas escolas tenham

salas ociosas e carteiras e cadeiras vazias (a rede estadual de São Paulo possui 5.108 mil

escolas e 3,8 milhões de alunos). Segundo a Secretaria,

A Educação utilizou como base o levantamento realizado pela Fundação

Seade (Sistema Estadual de Análise de Dados), que apontou tendência de

queda de 1,3% ao ano da população em idade escolar no Estado de São

Paulo. Entre os anos de 1998 e 2015, a rede estadual de ensino perdeu 2

milhões de alunos.17

Acrescenta-se a esse argumento que os alunos também migraram para a rede

privada. Afirma-se ainda que a maioria (90%) das construções escolares possui mais de 40

anos. Com a reorganização, a SEE poderia reformar ou construir outras unidades direcionadas

para o segmento atendido.

Dessa forma, as escolas se tornariam mais preparadas para as necessidades de

cada etapa de ensino, de forma a atender à nova realidade das crianças e jovens. Seria

importante a redistribuição para que as ações pedagógicas ocorressem especificamente para

um determinado segmento, pois as escolas com um ciclo teriam muitas mais facilidades na

administração acerca de estratégias e planejamento.

O Secretário afirmou, na citada entrevista, que o próprio INEP publicou em seu

relatório de 2015 que, quanto menos complexa a gestão da escola, melhor o resultado de

aprendizagem. Inclusive que possibilitaria a redução de conflitos por conta da diferenciação

de faixa etária.

Entre diversos estudos que foram utilizados para a proposta da

reorganização, está o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação

do Estado de São Paulo (Idesp), que mostrou que unidades que atendem

alunos de apenas uma faixa etária têm desempenho melhor. No Ensino

Médio, por exemplo, os estudantes que frequentam escolas neste modelo

aprenderam 28% mais; Escolas de segmento único do 1º ao 5º ano tiveram

um rendimento 14,8% superior às demais; Aquelas que oferecem apenas do

6º ao 9º ano obtiveram resultado 15,2% melhor.18

17

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Reorganização escolar. s/d. Disponível em:

<http://www.educacao.sp.gov.br/reorganizacao>. Acesso em: dez./2015. 18

SÃO PAULO. Secretaria da Educação do Estado de São Paulo. Reorganização escolar. s/d. Disponível em:

<http://www.educacao.sp.gov.br/reorganizacao>. Acesso em: dez./2015

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Segundo Herman Voorwald, em entrevista ao Bom Dia São Paulo (Rede Globo de

Televisão, 23/09/2015), a grande preocupação é com os alunos do Ensino Médio, pois esse

segmento é de responsabilidade exclusiva da esfera estadual, diferentemente dos outros, que

são compartilhados com os municípios, sendo que, no ano de 2015, eram apenas 377 escolas

unicamente de Ensino Médio. Justifica ainda que esse é o final da Educação Básica e que a

grande maioria desses estudantes ingressa no mercado de trabalho. Daí a necessidade de se

criarem espaços adequados “para que os jovens nesta faixa etária construam a sua formação e

sejam preparados, ao longo dos 3 anos, ou para o mercado de trabalho ou para o ingresso nas

universidades”. E, diante das dificuldades, estaria sendo preparada uma reformulação do

Ensino Médio, fazendo com que se amplie esse número de escolas específicas.

Em 26 de outubro de 2015, o então Secretário da Educação, em entrevista

coletiva, anunciou os resultados do estudo para o processo de reorganização. Dessa forma,

ficou destacado na proposta, naquele momento, em números oficiais, que para o ano de 2016

94 prédios ficariam ociosos, por conta da transferência automática dos estudantes. De forma

que 94 escolas seriam fechadas. No entanto, declarou que 66 dessas construções seriam

utilizadas para outras atividades da pasta, ou com os municípios, relacionadas à educação.

Sobre as outras 28, ainda não havia nada decidido.

Foi anunciado que, em 162 municípios, 1.443 unidades já mantinham segmento

único, e 1.464 escolas das 5.147 unidades existentes passariam pelo processo, culminando

num total de 2.197 que passariam a atender alunos exclusivamente de um ciclo de ensino – a

soma não é exata pois, das já existentes, uma parcela delas mudaria o segmento a ser

atendido. Assim, delas, 832 ficariam destinadas aos anos iniciais do Ensino Fundamental (1º

ao 5º ano), 566 aos anos finais do Fundamental (6º ao 9º ano) e 799 ao Ensino Médio. Com

isso, seria necessária a transferência de 311.000 estudantes. Estimava-se que 74 mil

professores sofreriam algum tipo de mudança.

Assim, por meio do Decreto nº 61.672, de 30 de novembro de 2015, o Governador

do Estado de São Paulo, Geraldo Alckmin, decretou a transferência dos integrantes dos

Quadros de Pessoal da Secretaria da Educação, ou seja, foi autorizado o procedimento de

transferência de pessoal nos casos em que as escolas da rede estadual deixassem de atender

um ou mais segmentos, ou quando passassem a atender novos segmentos.

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Em 1º de dezembro de 2015, a Resolução 54 disciplina a transferência autorizada

no Decreto 61.672/2015, devendo ser concretizada no primeiro dia útil de 2016.

Artigo 3º - As transferências dos integrantes do Quadro do Magistério - QM,

do Quadro de Apoio Escolar - QAE e do Quadro da Secretaria da Educação -

QSE, a que se refere o artigo 1º dessa resolução, dar-se-á na seguinte

conformidade: I - em caráter obrigatório, quando a escola deixar de possuir

cargo vago/função ou não possuir quantidade de aulas/classes disponíveis

para constituição de jornada ou composição de carga horária de trabalho dos

integrantes do Quadro do Magistério - QM, e, II - quando necessário, se a

unidade escolar ao deixar de atender 1 (um) ou mais segmentos ou passar a

atender novos segmentos inviabilizar a permanência do servidor [...] Artigo

4º - A transferência dos integrantes do Quadro do Magistério, a que se

referem os incisos I e II do artigo 3º, dar-se-á por escolha do servidor, de

acordo com a classificação, preferencialmente para escola sediada na área de

unidade que deixar de atender 1 (um) ou mais segmentos ou passar a atender

novos segmentos. (SÃO PAULO, 2015a)

Em 04 de dezembro de 2015, por meio o Decreto 61.692, foi revogado o Decreto

61.672 e o Governador anunciou que o processo de reorganização das escolas para 2016

estava adiado. E, por fim, em 08 de dezembro de 2015 a Resolução SE 56 revogou a

Resolução SE 54/2015.

Geraldo Alckmin, Governador do Estado de São Paulo, no uso de suas

atribuições legais, Decreta: Artigo 1º - Fica revogado o Decreto nº 61.672,

de 30 de novembro de 2015, que disciplina a transferência dos integrantes

dos Quadros de Pessoal da Secretaria da Educação. Artigo 2º - Este decreto

entra em vigor na data de sua publicação. (SÃO PAULO, 2015b)

Isso após uma onda de manifestações (passeatas, ocupação de escolas, fechamento

de rodovias) surgida logo após a declaração do então Secretário de Educação do Estado de

São Paulo, na citada entrevista à Rede Globo de Televisão, no dia 23 de setembro de 2015,

sobre a reorganização das escolas estaduais de São Paulo, quando foi anunciado que alunos

seriam deslocados/ transferidos para outras unidades escolares. E, para que o número de

escolas com ciclo único fosse ampliado, dias depois houve divulgação da lista das escolas da

rede estadual que seriam “disponibilizadas” para outros fins. Dessa forma, iniciou-se um

processo de mobilização estudantil dos alunos secundaristas da rede pública do Estado de São

Paulo.

A disponibilização/ fechamento de escolas e a falta de diálogo com as

comunidades, gerando muitas dúvidas, provocaram polêmicas. Surgiram então as primeiras

manifestações de alunos das escolas da lista, que se posicionaram contra o encerramento.

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Dessa forma, faz-se oportuno apresentar um quadro dos protestos e opiniões veiculadas pela

mídia jornalística como forma de examinar a reação da rede, bem como medidas do governo

tomadas durante os acontecimentos.

2.2.1.1.3 Histórico da reação da rede e medidas governamentais pelas lentes jornalísticas

Desde o anúncio da reorganização, alunos, pais e professores têm realizado

protestos em vários pontos do Estado. Argumentam que a medida tem a finalidade única de

cortar gastos e acreditam que haveria superlotação das salas de aula, além de alegarem a

ausência de diálogo durante o processo.

Angela Maria Martins, pesquisadora da Fundação Carlos Chagas, afirmou em 23

de setembro de 2015 ao jornal O Estado de S. Paulo que a proposta era positiva, pois a divisão

de alunos por faixa etária poderia reduzir conflitos internos e também ajudar a desenvolver

políticas específicas para cada idade. Contudo, ponderou que deveria ser feito com cautela,

uma vez que “Famílias podem ser prejudicadas. No Ensino Médio é perigoso, porque o Aluno

que já está desestimulado pode abandonar” (O Estado de S. Paulo, 23/09/2015).

Enquanto que, no dia seguinte ao anúncio da reorganização, Maria Izabel

Noronha, presidente da Apeoesp, sindicato dos professores da rede pública de São Paulo,

prevendo o descontentamento das comunidades escolares, declarou que a reorganização das

escolas estaduais por ciclos de ensino viraria uma bagunça:

“Se hoje os professores vão a duas, três escolas para dar aulas, com essa

reestruturação vai ficar mais fragmentado ainda, vão a muito mais”, disse

Noronha, referindo-se a professores que dão aulas em diferentes séries.

(Folha de S. Paulo, 23/09/2015)

Nessa mesma data, o G1 publicou que os pais que tinham mais de um filho na

rede estadual estavam preocupados com as mudanças, principalmente com a questão do

transporte. Esse mesmo portal, no dia 06 de outubro de 2015, afirmava que os alunos de duas

unidades já sabiam que suas escolas seriam fechadas, e que o Governo garantia, na fala de

Sandoval Cavalcante, dirigente regional de ensino, “nenhum aluno ficará sem vaga” (G1,

06/10/2015). O representante da Secretaria Estadual de Educação ressaltou também que

nenhum espaço escolar seria inutilizado. Fala essa que já dava indícios de que havia intenção

de fechar escolas e disponibilizar prédios. A partir de então, foram timidamente se iniciando

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os protestos e, no mesmo dia, a Agência Brasil já dizia que a comunidade de algumas escolas

começava a se mobilizar.

No dia seguinte, 07 de outubro de 2015, os boatos de fechamento das escolas já se

espalhavam e a Folha de S. Paulo publicava os primeiros artigos sobre os manifestos de

estudantes, que foram às ruas por todo o estado. Concomitantemente, a Rede Brasil Atual

noticiava que várias escolas da Grande SP protestavam, pois a decisão do governo era

reprovada por elas.

A Apeoesp afirma que 86 escolas no Estado já foram avisadas sobre o

fechamento. "A nossa estimativa é que 1.200 escolas serão fechadas", afirma

Maria Izabel Azevedo Noronha, presidente do sindicato. [...] A Secretaria da

Educação não descarta que "pode haver disponibilização de prédios". (Folha

de S. Paulo, 07/10/2015)

Em 08 de outubro de 2015, o jornal Diário do Grande ABC e o portal G1

divulgaram que novamente os estudantes foram às ruas e que, em dois dias, já haviam

ocorrido no mínimo 43 manifestações, principalmente na Avenida Paulista. Também a

Apeoesp afirmava ter realizado um levantamento e constatado que 155 escolas seriam

fechadas.

"Estamos falando de pessoas e não de máquinas”, reforça.

Para Maria Izabel Noronha, “o aluno tem afetividade com a escola e com o

bairro”. Segundo ela, a mudança quebra o vínculo e tem um impacto na vida

do aluno e na sociabilidade. (G1, 08/10/2015)

O prefeito de Votuporanga (SP) declarou ao jornal A Cidade, no dia 09 de outubro

de 2015, que “está do lado dos alunos” após passeata na cidade, enquanto que a Rede Brasil

anunciou que a Apeoesp convocava professores, pais e alunos contra projeto de Alckmin de

fechar escolas. E o jornal O Estado de S. Paulo publicava um histórico dos últimos dias desde

que a Avenida Paulista fora fechada em protesto contra a reorganização, passando pelo

manifesto no Campo Grande, bairro da Zona Sul da cidade de São Paulo. Notícia essa

complementada pela informação da Folha de S. Paulo dando conta de que alunos, mais uma

vez, interditavam a Paulista. E, concomitantemente, o site UOL Educação divulgava uma lista

com os nomes das possíveis escolas que seriam encerradas, por meio de levantamento da

Apeoesp.

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A Apeoesp (sindicato dos professores) fez um levantamento das escolas da

rede estadual que receberam um aviso e podem fechar por causa da

reorganização promovida pela Secretaria da Educação de SP. A informação

foi colhida nas subsedes do sindicato. A pasta, porém, nega a informação.

(UOL Educação, 09/10/2015)

As manifestações continuaram ocorrendo e, no dia 10 de outubro de 2015, o jornal

O Estado de S. Paulo publicou que o medo do fechamento provocava uma onda de protestos,

que já estavam ocorrendo em 13 cidades do Estado de São Paulo. Quatro dias depois, os

jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo e o portal G1 divulgaram que a Defensoria

Pública solicitara explicações sobre como seria o plano de reorganização “após o Núcleo

Especializado de Infância e Juventude ter sido procurado por alunos, pais e profissionais,

preocupados com eventuais prejuízos educacionais que as mudanças possam causar” (G1,

14/10/2015). Esse mesmo portal anunciou que as Diretorias de Ensino teriam até o dia 23 de

outubro para validar quais escolas da rede estadual passariam pela reorganização, para,

posteriormente, os alunos e comunidade serem comunicados oficialmente. Enquanto que a

Folha declarava haver certo “mistério” acerca do fechamento das escolas, daí tantas

manifestações. Assim, em 15 de outubro de 2015, Dia dos Professores, a Folha de S. Paulo

informava que o Governador de São Paulo acabara por desistir de participar de eventos após

protestos em São José dos Campos - SP, quando professores e alunos ocuparam o auditório da

Faap (Fundação Armando Alvares Penteado), onde ocorreria uma de suas participações.

No dia 20 de outubro de 2015 ainda ocorriam manifestações e a Agência Brasil

publicava que mais ou menos 10 mil pessoas participaram de ato, ainda segundo a Apeoesp,

quando o mesmo sindicato declarou que o número de escolas encerradas poderia chegar a

162. Assim como o site Estadão.com no dia 21 anunciava novo protesto na Praça da

República, onde fica a SEE/SP, com fechamento da Avenida São Luiz, Centro da cidade de

São Paulo. No dia 23 novo protesto foi publicado pela Agência Brasil, realizado por alunos da

Grande SP e apoiado pelo MTST - Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.

Após protestos quase que diários, a Folha de S. Paulo, em 27 de outubro de 2015,

afirmava que o Governador divulgara que faria uma mudança menos audaciosa para o ano de

2016. Contudo, no dia seguinte (28), o jornal O Estado de S. Paulo publicou que, de cada

quatro escolas da rede estadual, uma seria fechada. Também no dia 29 houve manifestação no

vão livre do MASP, com ato intitulado “Grito pela Educação Pública de Qualidade”.

No dia 30 de outubro de 2015, o Governador confirmou que seriam encerradas 94

escolas, quando divulgou lista, publicada por vários jornais, inclusive O Estado de S. Paulo e

Agência Brasil. O primeiro ainda acrescentava que 30 dessas escolas tiveram desempenho

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acima da média estadual e que 15 já possuíam apenas um ciclo. Questionava, assim, duas

justificativas para a reorganização: melhorar a qualidade e fazer com que as escolas

agrupassem alunos da mesma faixa etária. O segundo jornal citado falava sobre mais uma

manifestação no MASP - Museu de Arte de São Paulo com a participação de 20 mil pessoas.

Porém, contrariando as expectativas da população, o governo de São Paulo divulgou que

manteria a reorganização, o que virou notícia no dia 05 de novembro de 2015 nos jornais

Folha de S. Paulo e Rede Brasil Atual. Afirmava-se ainda que a população rejeitava a

proposta de reorganização e o governo tucano tinha a maior rejeição.

E no dia 10 de novembro de 2015 teve início outra forma de protesto contra a

reorganização, assim noticiada:

[...] Ao menos cem alunos da escola estadual Fernão Dias Paes, em

Pinheiros, na zona oeste de São Paulo, entraram e se trancaram no local na

manhã desta terça-feira (10). A ação ocorreu em protesto contra o

fechamento de unidades para a reorganização da rede pública anunciada pelo

governo Geraldo Alckmin (PSDB). (Folha de S. Paulo, 10/11/2015)

Fato esse noticiado no dia 11 por vários jornais, entre eles a Folha de S. Paulo e O

Estado de S. Paulo. Daí em diante, só foi aumentando o número de escolas ocupadas em

protesto. Já no dia 12 a Folha de S. Paulo e a BBC Brasil registravam que mais quatro escolas,

inclusive uma que seria fechada, haviam sido ocupadas na cidade de São Paulo.

As palavras de ordem que ecoavam em frente à escola estadual Fernão Dias

Paes, em São Paulo, na quarta-feira, lembrariam as de um protesto qualquer

– não fosse o tom agudo das vozes. "Sou estudante / Não sou ladrão / Não

vim para a escola / Para sair de camburão!" São crianças e adolescentes, na

maioria entre 12 e 16 anos, os inusitados protagonistas do mais barulhento

protesto contra o programa de fechamento de escolas e transferências de

alunos do governo estadual. Seguidos pelo olhar atento de mães

preocupadas, muitos participam pela primeira vez de um ato político –

articulado integralmente, segundo os próprios, pelo Facebook. [...] Na falta

de consenso entre as duas partes, os adolescentes decidiram "intervir

pessoalmente". "O governo tem que escutar nossa opinião", diz à BBC Brasil

o estudante Rafael*, de 16 anos, no momento em que deixava o colégio,

onde havia passado a noite. "Saí porque tenho que voltar para casa",

continua o jovem de aparelho nos dentes. "(Meus pais) estão bem

preocupados, estão bravos já." Apoiados por movimentos sociais como o

MTST (Movimento dos Trabalhadores Sem Teto), os estudantes dizem agir

de maneira independente, sem interferência externa. "Este aqui é um protesto

de secundaristas", reiteravam os adolescentes. (BBC Brasil, 12/11/2015)

Fato esse presenciado pela pesquisadora, autora deste texto, em sua região. Em

episódio semelhante, um grupo de alunos deixou a escola ocupada para fazer passeata e,

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quando um líder político da região e de um movimento tentou pegar o microfone para falar,

lhe foi negado. O aluno perguntou se ele era estudante, porque ali só quem falava eram os

estudantes.

Ainda no dia 12 a Rede Brasil tornou pública a indignação do deputado Carlos

Giannazi, após audiência pública por ele convocada, que chamou o governador de covarde,

pois não tinha precedência o que ele estava fazendo com os alunos nas escolas ocupadas:

[...] disse a jornalistas ter ficado “chocado” com a força policial mobilizada

por Alckmin contra adolescentes que nada mais querem do que ficar em suas

escolas ou ter o direito de uma educação digna. “Fiquei chocado ontem, na

escola Fernão Dias (Pinheiros, zona oeste da capital) com o aparato policial.

O governo usou a Força Tática, Tropa de Choque, mais de 200 policiais,

todo o aparato repressivo do estado mobilizado contra 30 adolescentes que

estão simplesmente lutando pela manutenção das vagas”, disse o

parlamentar. “É um absurdo como o governador é covarde. Isso é sem

precedentes e de uma covardia jamais vista aqui no estado.”

No dia 13 os jornais O Estado de S. Paulo e Folha de S. Paulo e o portal G1

publicaram que as ocupações continuavam aumentando e os alunos, resistindo, inclusive com

a adesão de vários pais, que se mostram preocupados. Os meninos estavam aguardando

audiência pública após a liminar de reintegração concedida ao Governo do Estado. Este, por

sua vez, solicitou reunião de conciliação, porém os alunos tinham medo de não poderem

voltar para as ocupações.

Assim, no dia 16 a Agência Brasil publicou que a justiça suspendera a

reintegração solicitada pelo governo de São Paulo e a Folha de S. Paulo, que haviam 14

escolas ocupadas na Grande SP. Nesse dia, o Portal Aprendiz e a Agência Brasil divulgaram

que havia 25 no total. O primeiro dizia que esses jovens têm dado aula de democracia e o

segundo, que o MTST criticava o governo e apoiava estudantes ocupando escolas.

O Estado de São Paulo, no dia 17, noticiou que 20 escolas estavam ocupadas, até

aquele momento. E, com as transferências automáticas, alunos do 6º ano do Ensino

Fundamental seriam obrigados a estudar em escola no meio da Cracolândia, no centro da

cidade de São Paulo. Enquanto que a Folha de São Paulo chamava as ocupações de invasões e

dizia que o número de colégios “invadidos” já chegava a 25. No mesmo dia a Agência Brasil

afirmava que eram 30 escolas ocupadas e que a Secretaria garantia que haveria reposição e o

conteúdo pedagógico seria aplicado.

No dia 18 de novembro, o jornal O Estado de S. Paulo também chamou o ocorrido

de “invasão” quando destacou que mesmo escolas que não constavam do plano foram

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“invadidas”. E voltou a falar que o número total até aquele momento era de 35 unidades

estaduais “invadidas”. Continuou assim até tratar da rotina dos meninos ativistas, ora

chamando de ocupação, ora de invasão:

[...] Ocupação. A rotina nas ocupações é de atividades constantes. Na

Saboia de Medeiros, os estudantes passaram a fazer competições esportivas

na quadra, jogar tênis de mesa, realizar sessões noturnas de cinema, jogar

videogame e fazer aulas abertas. Uma “agenda cultural” da ocupação afixada

na parede tem atividades programas até sexta-feira. Os próprios Alunos que

invadiram a Escola são os responsáveis por fazer a limpeza das

dependências do colégio e da cozinha – a entrada de funcionários é

controlada por eles. A comida usada tem sido a da cantina da unidade, que

havia sido abastecida no mesmo dia da ocupação. Já as salas de aula são

usadas como dormitórios dos estudantes, separados em masculino e

feminino. (O Estado de S. Paulo, 18/11/2015)

Já eram 74 escolas ocupadas no dia 23 de novembro, isso porque cinco haviam

sido desocupadas, transmitiu o portal G1, que noticiava ainda a suspensão das reintegrações

até seu julgamento. Já a Folha de S. Paulo fez uma reportagem sobre a participação de uma

“espécie de núcleo do movimento estudantil” em um domingo aberto à comunidade em uma

das escolas ocupadas, no bairro de Pinheiros, contando com shows de artistas como Chico

César.

No dia 24 chegava a 114 o número ocupações, uma vez que o movimento se

alastrava pelo interior do Estado, publicou a Rede Brasil Atual. Enquanto que o jornal El País

noticiava que os manifestantes estavam se preparando para boicotar a avaliação externa do

SARESP - Sistema de Avaliação de Rendimento Escolar do Estado de São Paulo e que

novamente a justiça não foi a favor das reintegrações. Assim, em 24 de novembro as escolas

ocupadas realmente não participaram do SARESP e, enquanto isso, as ocupações

continuavam crescendo. Essas foram as notícias veiculadas pelo G1 e pela Agência Brasil.

Prova de avaliação. Enquanto a reintegração de posse é discutida no tribunal,

nas escolas os alunos se mobilizam para boicotar o Sistema de Avaliação de

Rendimento Escolar do Estado de São Paulo (Saresp), num novo elemento

da crise. A prova, aplicada anualmente, será realizada nesta terça e quarta-

feira, em todas as escolas do Estado, para alunos dos 3º, 5º, 7º e 9º anos do

Fundamental e da 3ª série do Ensino Médio. No total, 1, 2 milhão de alunos

devem realizar o exame. Nesta segunda, a secretaria de Educação informou

que decidiu cancelar a aplicação do exame nas escolas ocupadas, como

publicado por este jornal na quinta-feira da semana passada. (El País,

23/11/2015)

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A BBC Brasil, ainda no dia 24, mostrou que os alunos das escolas ocupadas

estavam estudando e reproduzindo uma cartilha elaborada em 2012 por estudantes que

protestavam contra a reorganização de escolas técnicas da Argentina. Esse documento,

traduzido pelo coletivo de estudantes secundaristas, trazia sugestões para ocupações de novas

escolas. Segundo o jornal, um aluno entrevistado disse que a cartilha foi distribuída em

manifestações de outubro de 2015 e que “não existe fórmula secreta nem perfeita para ocupar

um colégio. Simplesmente é necessário seguir alguns princípios básicos, ter clareza sobre

como se organizar e ajeitar o que foi planejado” (BBC Brasil, 24/11/2015).

O governo anunciou o fim do prazo para que os alunos e as famílias das escolas

que passariam pela reorganização pudessem solicitar transferência para outras escolas, desde

que houvesse vagas, publicaram o G1 e O Globo (RJ) no dia 25, em meio ao aumento das

ocupações, que passavam das 150, segundo a SSE/SP. Diferentemente do que anunciavam os

manifestantes, que diziam que já eram 171 escolas. Também o Estadão.com afirmava que os

grupos se mobilizavam contra o SARESP, que estava sendo aplicado nas escolas não

ocupadas. O G1 ainda noticiou no dia 27 que foi criado, pela ONG Minha Sampa, um sistema

para notificar ocorrências nas escolas ocupadas, por meio de um cadastro, que foi batizado

pelos como “De Guarda Pelas Escolas”, o qual até aquele momento já contava com 1.700

cadastros.

Em 30 de novembro de 2015, O Estado de S. Paulo noticiava que o governo

oficializaria, no dia seguinte, a reorganização do ensino paulista, mesmo tendo prometido que

abriria o diálogo. No mesmo dia a Agência Brasil disse que os alunos queriam abonar os dias

letivos por meio de aulas voluntárias. Segundo a Folha de S. Paulo do dia 1º de dezembro de

2015, durante todo o tempo de ocupação os alunos zelaram pelo patrimônio, dormindo,

limpando e cozinhando na escola.

Contudo, após publicação do decreto que oficializou a reorganização, os alunos

também saíram às ruas, fechando as avenidas Rebouças e Faria Lima, publicou O Globo (RJ).

Assim, percebe-se que os manifestantes iniciaram com passeatas, passaram para ocupações e,

depois, optaram por realizar as duas ações. Segundo apontava aquele jornal, os organizadores

dos protestos diziam que eram 204 escolas ocupadas, embora o governo falasse em 190. O

Decreto, de acordo com a Agência Brasil, autorizaria, como citado anteriormente, a

transferência de professores das escolas que seriam reorganizadas a partir de 2016. O mesmo

jornal também ressaltava mais uma manifestação com os alunos fechando as avenidas,

sentados em cadeiras e carteiras escolares.

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O Estadão.com noticiou a Virada Cultural, no dia 02 de dezembro, nas escolas

ocupadas, que contaram com a presença de Maria Gadú, Paulo Miklos e Criollo, atividade

realizada como forma de demonstrar apoio ao movimento. Os estudantes também ocuparam

duas ETECs - Escolas Técnicas Estaduais, na cidade de São Paulo, publicou O Estado de S.

Paulo, que também trouxe notícia sobre a detenção de estudantes em conflito com a PM

durante a manifestação. Já a Folha de S. Paulo nesse dia tratou sobre a solicitação do

Ministério Público para encerrar a reorganização, por entender que ela visa economia de

recursos, e não a melhoria da qualidade do ensino e da aprendizagem.

O jornal El País publicou, em 03 de dezembro, matéria intitulada “Repressão de

Alckmin inaugura a nova fase da reorganização escolar”, quando a PM invadiu as escolas

ocupadas e reprimiu os bloqueios nas vias, deixando alunos machucados. “A ação da PM

pode ser um tiro no pé para o Governo.” (El País, 03/12/2015) No dia seguinte, 04 de

dezembro, a Folha de S. Paulo falava sobre a prisão de manifestantes. Enquanto que O Estado

de S. Paulo publicava que o Governo do Estado admitira a redução de custos em documento

enviado ao Ministério Público. E o portal Carta Educação (Carta Capital), finalmente,

publicava que o Governo dava sinais de recuo e falava em adiar a reorganização escolar, isso

após cenas de adolescentes agredidos, queda de popularidade e posicionamento das

instituições de ensino universitário:

[...] faculdades de Educação da Universidade de São Paulo (USP),

Universidade de Campinas (Unicamp) e Universidade Federal de São Paulo

(Unifesp), já haviam se posicionado a favor das ocupações, assim como

instituições como Cenpec, Campanha Nacional pelo Direito à Educação e

Todos Pela Educação. (Carta Capital, 04/12/2015)

E, dessa forma, o G1 publica, no dia 06 de dezembro de 2015, que o Decreto de

transferência de funcionários foi revogado em 05 de dezembro de 2015. No entanto, apesar de

algumas escolas anunciarem a desocupação e considerarem a revogação uma vitória, como

publicou O Estado de S. Paulo no dia 07, muitos manifestantes ainda não decidiram por sair

das escolas. Estes resolveram manter protestos após o recuo, fala a Folha de S. Paulo no dia

08, pois queriam outras reivindicações atendidas, como a punição dos policiais militares que

tiveram postura truculenta durante manifestações e o cancelamento da reorganização, não só o

adiamento.

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2.2.1.1.4 Opinião e análise de especialistas

As educadoras Rose Neubauer e Sonia M. Portella Kruppa disseram à Folha de S.

Paulo (17/10/2015) que é correta a decisão do governo de São Paulo de separar alunos por

ciclo escolar, uma vez que “estudos e pesquisas sobre desenvolvimento e cognição de

crianças e jovens mostram que eles têm padrões de aprendizagem diferenciados e requerem

espaços e situações de aprendizagem diversos”, e isso ficaria mais viável ao se organizar a

escola por faixa etária, favorecendo a adaptação dos espaços, estratégias e materiais. Segundo

as educadoras, o modelo da maioria das escolas “desconsidera suas diferenças biológicas,

cognitivas e psicológicas. Isso compromete a existência de ambientes de aprendizagem

adequados, dificulta a atuação da equipe pedagógica e impede a melhoria da qualidade do

ensino” (Folha de S. Paulo, 17/10/2015).

Nessa mesma linha de pensamento, José de Souza Martins (O Estado de S. Paulo,

19/10/2015) afirma que a pedagogia que preconiza a reunião de alunos de diferentes níveis

numa única escola é discutível, quando se trata das contradições apontadas na organização de

escolas homogêneas. No entanto, com a queda do número de crianças em idade escolar, como

anunciado pelo então secretário da educação, passou a existir uma significativa capacidade

ociosa “que consome recursos públicos que seriam melhor e mais eficazmente empregados se

utilizados de modo racional e calculado”, de forma a permitir aumentar a quantidade de

escolas com cursos especializados para cada segmento.

Segundo o professor da Faculdade de Educação da USP Ocimar Munhoz Alavarse

(Diário do Grande ABC, 08/10/2015), a reorganização é proposta aplicável, mas não é

solução definitiva, pois escolas da rede estadual possuem problemas que deveriam ser

solucionados sem que se precisasse desse tipo de reforma. Os boatos, inicialmente, ocorreram

por conta da falta de informações. O especialista em educação da Ação Educativa Roberto

Catelli Junior concorda sobre a falta de diálogo com a comunidade (O Estado de S. Paulo,

10/10/2015), assim como a Professora Lisete Arelaro, da Faculdade de Educação da

Universidade de São Paulo - USP (O Estado de S. Paulo, 28/10/2015), que criticou o plano,

dizendo ser um equívoco completo e sem discussão, ao afirmar que nenhum professor das

universidades participou da consulta.

De acordo com a Coordenadora-geral do Todos Pela Educação, Alejandra Velasco

(Rede Brasil, 19/10/2015), para a aplicação das mudanças não faltou diálogo apenas com a

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população, mas também com as prefeituras. E, de tudo, foi a principal causa do fracasso da

reorganização.

Já a professora de História Cibele de Camargo Lima, da coordenação da Rede

Emancipa, movimento social que atua em educação popular, disse à Rede Brasil (09/10/2015)

que o governo foi surpreendido pela

[...] reação principalmente dos estudantes contra um pacote iniciado há 20

anos, na gestão Mário Covas, que fechou mais de 100 escolas, que aos

poucos foi acabando com o ensino médio noturno em muitas delas, que

levou a turmas superlotadas, com mais de 60 alunos, com falta de

professores. (Rede Brasil, 09/10/2015)

Assim, conforme observa Guilherme Boulos (Folha de S. Paulo, 22/10/2015), esse

é um governo que fecha escolas. Assim, considerando ainda a possibilidade de demissão de

professores, ficam mais claros os verdadeiros motivos da reorganização, sobretudo a

contenção de custos. Pois quem quer melhoria de qualidade da educação não usa dessas

estratégias. “Como alguém diz uma coisa dessas – aliás, um secretário de Estado – sem corar

de vergonha? Como se pode chamar isso pelo eufemismo de reorganização?”

Em 1995, Rose Neubauer era secretária de educação no governo Covas e fechou

mais de 150 escolas, com milhares de professores demitidos, quando realizou outra

reorganização. Se o argumento utilizado é sempre pedagógico, qual seria a relação com o

fechamento de escolas?

É a versão paulista e tucana do ajuste fiscal que tem sido conduzido por

Dilma e Levy no governo federal. Adequação a "necessidades pedagógicas"

e à "ociosidade da rede" são apenas o blá-blá-blá necessário para encobrir

uma política antipopular de ajuste. Cai no embuste quem quer. (Folha de S.

Paulo, 22/10/2015)

Nessa direção também fala Thiago de Paula Rocha19

(Diário do Grande ABC,

22/10/2015): “Seja como for, fechar escolas, no contexto atual, é equívoco imperdoável.”

Afirma o autor que o governo agiu de forma errônea ao não ser transparente e que a educação

deve ser vista de forma mais ampla, no que se refere a assumir o Plano Nacional de Educação,

acerca do alinhamento entre os entes federativos. Para ele, não haveria espaços ociosos se a

reorganização começasse por reduzir o número de alunos por turma e houvesse a

19

Thiago Rocha de Paula é bacharel e licenciado em História pela Unifesp (Universidade Federal de São Paulo)

e ex-aluno da Escola Estadual Professor Oscavo de Paula e Silva.

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disponibilização de insumos de qualidade. Também é necessária a participação da sociedade

na tomada de decisões para que haja mudanças educacionais significativas.

O jornal El País (16/10/2015) afirma que “mexer com direitos básicos, como

educação, tem um peso grande num país que ainda cobra pela melhoria da qualidade para sair

das piores estatísticas do mundo”. E, segundo Daniel Cara20

(El País, 16/10/2015), assim

como observado anteriormente por outros especialistas, faltou diálogo, sendo que, quando as

decisões são tomadas de forma vertical, a tendência da comunidade é de reagir. Para ele, as

justificativas apontadas pelo governo para a reorganização são superficiais “do ponto de vista

pedagógico”, uma vez que as melhores escolas abrangem diversidades. Por isso, também

critica o fechamento de escolas, pois, havendo ociosidade, as medidas deveriam ser no sentido

da educação integral: “O conjunto da história do país não tem sido de ampliação do direito à

educação, e do nosso ponto de vista, é inaceitável o fechamento de escolas.” (El País,

16/10/2015)

João Cardoso Palma Filho, professor da UNESP e integrante do Conselho

Estadual de Educação (El País, 16/10/2015), é outro acadêmico que fala sobre a falta de

diálogo e afirma que a comunidade escolar (alunos, professores, diretores, supervisores e até

dirigentes) “foi pega de surpresa”. Sobre a justificativa de que o ciclo único é positiva para o

desempenho dos alunos, Palma ressalta não haver comprovação de que “a unificação do ciclo

é benéfica” e que o argumento se baseia em alguns bons resultados da medida obtidos após a

municipalização de parte do ensino nos anos 90.

Muitas escolas de ciclo único apresentaram bons resultados, mas essa

separação não é garantia de bom desempenho da escola, lembrando que a

secretaria estadual investiu pesadamente nisso, mas que em muitos casos o

resultado foi péssimo, principalmente no ensino médio. (El País,

16/10/2015)

Para Ocimar Alavarse (O Estado de S. Paulo, 16/10/2015), da Faculdade de

Educação da Universidade de São Paulo - USP, não foi levada em consideração a quantidade

de estudantes em cada escola e, principalmente, o índice socioeconômico.

Em Educação não há uma variável que explique tudo. Tudo indica que são

outros interesses. Uma racionalização no sentido de se ter menos

Professores. Estão fechando Escolas acima da média, que têm só um ciclo. A

proposição da secretaria é muito frágil. (El País, 16/10/2015)

20

Cientista social e coordenador da Campanha Nacional pelo Direito à Educação.

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Para o prof. Luiz Carlos de Freitas, da Unicamp, a escola apresentar bons índices,

ou o contrário, apenas por ter um ciclo não se sustenta, uma vez que o fenômeno educativo é

multivariado e não se explica por uma única variável. Então a melhora se deve a uma série de

fatores não apresentados, fatores esses que escolas com mais ciclos também poderiam ter e,

com isso, poderiam também obter sucesso em seus índices. (O Estado de S. Paulo,

08/12/2015)

Professores da Unicamp (Agência Brasil, 26/10/2015), em moção de apoio aos

alunos, afirmaram que há tempos o ensino público vem sofrendo com cortes de vagas, fato

esse que favoreceria a privatização da rede. De acordo com eles, a reorganização prepara “a

estrutura adequada para intensificar o processo de municipalização também do ciclo II do

Ensino fundamental”. Para Luiz Carlos de Freitas, a isso se soma um projeto de privatização

da educação pública já em andamento em alguns estados brasileiros.

Alvarse (Agência Brasil, 26/10/2015) disse que as justificativas expostas pelo

governo se baseavam em um estudo muito simples, observando que a mobilização dos alunos

é positiva do ponto de vista pessoal, pois a experiência é educativa e enriquecedora. Na

opinião da antropóloga Alba Zaluar (Uol, 26/10/2015) , a ocupação de mais de 150 escolas

pode modificar a estrutura da educação pública no país e fazer com que o ensino avance não

só em São Paulo. “Eu acho a ocupação uma coisa linda, maravilhosa. Isso pode, enfim,

modificar a divisão que há entre o que é instituição do Estado e o que faz parte do cotidiano

das pessoas. A escola é a mistura dos dois.” (Uol, 26/10/2015)

Em entrevista ao site IG (30/11/2015), o pesquisador da USP Carlos Giovinazzo

Junior21

defendeu a ocupação de escolas paulistas, afirmando que “A capacidade de

organização dos jovens sempre foi menosprezada ou desqualificada, mesmo nos momentos de

tensão social mais aguda. O que as ocupações das escolas estaduais mostra é que o adulto não

tem mais controle sobre o jovem”, pois eles são os protagonistas, e mais, lutam por um direito

que pertence a eles diretamente.

Paulo Miklos disse, em entrevista ao jornal O Estado de S. Paulo (02/12/2015),

que os alunos o inspiraram, que o governo não soube “reagir democraticamente às demandas

legítimas dos jovens” e que, num governo democrático, não há como se tomar decisão sem a

participação da sociedade.

21

Professor e pesquisador do Programa de Pós-Graduação em Educação: História, Política, Sociedade da PUC

São Paulo.

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A principal lição que tiramos desse movimento é que são os próprios alunos

dizendo para todos nós que é possível participar e nem tudo depende dos

governos e políticos, o cidadão tem o poder de mudar o rumo das coisas [...]

Como músico, quero que a minha guitarra seja mais do que instrumento

musical. Seja instrumento de mudança. (O Estado de S. Paulo, 02/12/2015)

Para Maria Alice Setubal22

(Folha de S. Paulo, 06/12/2015), “contrariando o senso

comum, os jovens não estão apáticos e alheios ao que passa”, já que, bem ou mal, a maioria

conclui o Ensino Médio, pois sabem ser pressuposto para melhores trabalhos ou ingresso no

ensino superior. Entendem, sim, que pode ser um espaço de elaboração de conhecimento,

favorecendo a emancipação cidadã e ampliação de oportunidades, e ainda um ponto de

encontro.

É preciso escutá-los. As ocupações, assim como as manifestações de junho,

são emblemáticas para essa discussão, pois apresentaram diversos elementos

que se configuraram em ação direta, como o uso das tecnologias e a

ocupação dos espaços públicos. (Folha de S. Paulo, 06/12/2015)

Para Setubal, as ocupações são formas de participação e de cidadania que podem e

devem ser ampliadas “frente aos desafios da contemporaneidade, cuja essência é a afirmação

do sujeito que deseja escrever sua própria história”.

Guilherme Perez Cabral observa que o governo é contraditório quando se diz

disposto a conversar, mas não mudaria uma decisão já tomada, de modo a atribuir-se a

propriedade técnica do ponto de vista certo, ignorando o significado político-educacional das

ocupações. Cabral fala sobre a importância da participação política para o processo educativo

e enfatiza que, de acordo com Paulo Freire, não se pode associar a participação democrática

dos estudantes com perda de rigor científico. Pelo contrário, a mobilização traz uma formação

em que os meninos se tornam sujeitos do processo de aprendizagem.

Como é míope a visão de que a escola tem de ser "pacífica", silenciosa,

obediente (a "paz sem voz"). Diz Gadotti, só a instituição de ensino

autoritária é assim. Escola é lugar de conflito, de debate de ideias, confronto

de opiniões, participação, princípios que se aplicam à escola e à vida

democrática, como um todo. No momento em que o aluno começa a falar, a

praticar a democracia, de modo mais efetivo, os mecanismos autoritários

aparecem. (Uol Educação, 07/12/2015)

22

Maria Alice Setubal, a Neca, doutora em Psicologia da Educação pela PUC-SP, é presidente dos conselhos do

Centro de Estudos e Pesquisas em Educação, Cultura e Ação Comunitária - Cenpec e da Fundação Tide Setubal.

Foi assessora de Marina Silva, candidata à Presidência em 2014.

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Para ele, apesar da fala articulada diante das câmeras, não esconde seu

autoritarismo, a relutância à democracia participativa, quando não valoriza a educação

mobilizadora e transformadora. “Democratize-se, governador. Converse mais. Leia mais

Paulo Freire e companhia. Nada é imune ao diálogo, nem sua reorganização. Tudo isso pode

ser um grande aprendizado.”

Diante do exposto, podemos verificar que os especialistas, por meio da imprensa

jornalística, revelam opiniões desde a concordância com algumas justificativas do governo

para promover a reorganização da rede estadual de ensino público até a divergência total. Os

que concordam, em partes se apoiam nas questões dos níveis de aprendizagem diferenciados e

sua organização específica e da ociosidade de espaços públicos. No entanto, a maioria preza

uma escola cidadã – e é nessa concepção que esta tese se baseia –, acreditando que os alunos

precisam de uma formação dialógica e crítica que os leve à reflexão e conscientização de sua

real situação dentro uma sociedade que se diz democrática. Reflexão essa que os impulsione à

busca de conquistas que lhes são de direito, por meio da participação e tomada de decisões

dentro da sociedade civil e dentro da esfera pública.

Segundo o jornal El País, a frase do governador “Não é razoável obstrução de via

pública” e a fala afirmando que o movimento era político foram amplificadas pela imprensa,

em títulos de jornais e chamadas nas rádios, TV e internet, com o objetivo de acusar o

movimento dos estudantes que ocupavam as escolas de criminoso, como se o direito de quem

quisesse passar sem ouvir seus protestos tivesse mais valor que o direito de se expressar, de se

fazer ouvir, de ter direitos a uma educação de qualidade. Para o referido jornal,

[...] é óbvio que o movimento é político, a melhor qualidade do movimento é

justamente a de que é político. É pelo exercício da política que se alcançou o

que de melhor existe na experiência humana. E não pela força, pela

imposição, pelo extermínio do diálogo e das ideias e, vezes demais, das

pessoas que discordam. (El País, 07/12/2015)

Para os especialistas, os jovens e adolescentes mostraram ao país o que é política

em sua essência. Quando não concordaram, organizaram-se, ocuparam as escolas, cuidando

do espaço que lhes pertencia e ao qual eles pertenciam, apesar da repressão física e

psicológica. Entretanto, assim como nas manifestações de junho de 2013, uma parcela da

imprensa, ainda permeada pela censura dos tempos ditatoriais, tentou transformar os

adolescentes em vândalos ou criminosos ao noticiar os fatos usando termos como invasão,

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confronto e interrupção do direito de ir e vir. Foram eles monitorados, reprimidos e até

agredidos pela polícia quando tentaram dispor de seus direitos enquanto cidadãos.

No entanto, essa tentativa não teve sucesso para a maioria da opinião pública,

exceto para aqueles adeptos de concepções individualistas, demonstrando que a escola pública

tem o seu devido valor. Essas meninas e meninos deram uma aula à sociedade e aos governos,

diferentemente dos que fingem educar, mostrando que são capazes de aprender com o outro

de forma coletiva, participativa e cidadã, provando que

[...] se a moldura do espaço público for a democracia, há lugar para as

diferenças, há lugar para o outro. Aqueles que muitos acreditavam “sem

futuro”, porque sem presente, ensinaram aos adultos que a política é o

exercício de estar com o outro no espaço público. (El País, 07/12/2015)

Assim como nas manifestações de junho de 2013, os protestos e ocupações deram

voz a estudantes não satisfeitos com o sistema escolar público e despertaram aqueles que

tentavam fechar os olhos aos problemas da educação do país, fazendo cada um refletir sobre

qual escola e qual educação que se quer para o Brasil.

Não se pretende com este texto criar um novo objeto de estudo, contudo, devido

ao teor da tese, entende-se que esse movimento tem relação com o verdadeiro objeto de

estudo, faz parte do cenário em que está inserido o sujeito da pesquisa, daí a importância do

tema.

2.2.2 Breve panorama do universo do Ensino Médio no Brasil

Abordar a questão do Ensino Médio no Brasil e as políticas públicas a ele

relacionadas se faz importante para esta pesquisa, uma vez que esse segmento apresenta

problemas desde a sua concepção e definição, sem, contudo, haver ações de fato capazes de

resolver os problemas enfrentados desde os seus primórdios. Entende-se que tratar desse

assunto na esfera federal é fundamental para o estudo que tem como universo de pesquisa os

jovens estudantes da escola pública do Estado de São Paulo, isso porque, como já destacado

anteriormente, vem enfrentando as mesmas dificuldades no que se refere à qualidade

educacional e fluxo. Outra justificativa seria a de ter sido citada a esfera estadual no item

anterior.

De acordo com a UNICEF Brasil (2014, p.6), o grupo de adolescentes de 15 a 17

anos é o que mais sofre no que tange à exclusão, pois

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[...] mais de 1,7 milhão deles estão fora da escola, segundo dados da PNAD

2011. Entre os que estão matriculados, 35,2% (em torno de 3,1 milhões)

ainda frequentam o ensino fundamental. Além disso, 31,1% dos alunos que

cursam o ensino médio (cerca de 2,6 milhões) encontram-se em situação de

atraso escolar, de acordo com o Censo Escolar de 2012. (UNICEF BRASIL,

2014, p.6).

As mesmas autoras, em relatório para o UNICEF - Fundo das Nações Unidas para

a Infância, indicam que, apesar de ter havido uma melhoria no quesito universalização e

permanência, a qualidade do ensino e da aprendizagem no Ensino Médio “permanece, ainda

hoje, um dos principais desafios no campo das políticas educacionais” (UNICEF BRASIL,

2014, p.6).

Entre os fatores que ampliam a retenção dos alunos no Ensino Fundamental ou a

exclusão escolar na faixa etária apresentada estão: a maior idade, ou seja, alunos de 17 anos

estão mais excluídos ou continuam no Ensino Fundamental do que os de 16; o gênero, os

homens abandonam mais a escola no Ensino Médio ou nem chegam a iniciá-lo, por abandono

ou por estarem ainda no segmento anterior; em relação à raça, pois “os negros estão em

situação menos favorável que os brancos”; a questão da renda, os meninos e meninas de

famílias com renda per capta mais baixa estão mais fora das escolas ou ainda não alcançaram

o Ensino Médio; acerca da localização, os que habitam a zona rural tendem mais à retenção

ou ao abandono; o trabalho, com a entrada no mercado formal ou informal muitos

adolescentes não priorizam o estudo. (UNICEF BRASIL, 2014, p.12-35)

Entre os adolescentes de 15 a 17 anos que não estudam, mas já frequentaram

a escola em algum momento, 89.813 não conseguiram completar os anos

iniciais do ensino fundamental. Outros 124.641 completaram essa etapa, mas

não foram além. Os que completaram o ensino fundamental somam 857.179

– o maior contingente de adolescentes que hoje não estudam, mas já

frequentaram a escola. (UNICEF BRASIL, 2014, p.22)

Dos adolescentes de 15 a 17 anos que frequentavam a escola, 5.459.845

estavam cursando o ensino médio – a etapa da educação básica recomendada

para a faixa etária. Esse número corresponde a 61,6% do total. (p.28)

Outro dado alarmante apresentado pelo relatório é sobre o número de adolescentes

analfabetos nessa faixa etária:

[...] os dados da PNAD 2011 mostram ainda que o número de adolescentes

de 15 a 17 anos analfabetos é maior do que o da população da mesma faixa

etária que nunca frequentou a escola: 142.175 encontram-se nessa situação.

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Esse número indica que muitos adolescentes, apesar de ter frequentado a

escola em algum momento, não conseguiram sequer concluir o processo de

alfabetização. (UNICEF BRASIL, 2014, p.22)

De acordo com as autoras, o PNAD 2011 mostrava que, entre os jovens de 15 a 17

anos que cursavam a escola, apenas 61,6% estavam no Ensino Médio, e dos jovens com 19

anos, apenas 48,7% o haviam concluído. E todos os dados apresentados anteriormente como

fatores de exclusão se repetem como condição de permanência ou tempo de estudo (atraso

escolar). (UNICEF BRASIL, 2014, p.35-38)

Do total de matriculados no ensino médio no país, apenas 65,2% têm a idade

adequada para essa etapa da educação básica – de 15 a 17 anos. Os 34,8%

restantes são jovens com idade acima de 18 anos, o que revela um grave

problema de atraso escolar. (UNICEF BRASIL, 2014, p.40)

Quanto à infraestrutura, as autoras destacam que, conforme o Censo Escolar de

2012, havia somente 27.164 estabelecimentos de Ensino Médio no Brasil, dos quais apenas

2.516 estavam em zonas rurais. O que torna muito clara a falta de investimento muito maior

nesses casos. (UNICEF BRASIL, 2014, p.41)

No que se refere à formação docente no Ensino Médio, os dados mostram que

“95,4% têm curso superior, sendo que 85,5% têm diploma de Licenciatura”, o que nesse caso

demonstra um avanço no cumprimento da LDB de 96, contudo apenas 53% lecionam em

disciplina de acordo com sua formação. No relatório também é afirmado que há uma demanda

reprimida à medida que alunos que não concluíram o Ensino Médio ou abandonaram os

estudos após o término do Ensino Fundamental estão voltando à escola, fato observado

mediante a comparação do número de matrículas no Ensino Médio e de concluintes do

Fundamental. (UNICEF BRASIL, 2014, p.43)

Segundo as autoras, os dados apresentados trazem consequências e impactos

sérios ao país. Assim, “para que o Brasil possa avançar em termos de desenvolvimento social

e econômico é necessário investir na oferta de um ensino médio de qualidade para todos os

adolescentes do país” (UNICEF Brasil, 2014, p.43). Um dos maiores problemas enfrentados

no Ensino Médio ainda reside na progressão, que muitas vezes fica emperrada quando esbarra

na questão da retenção, com consequências diretas acerca da distorção idade-série.

[...] reprovação é hoje um dos principais problemas da educação brasileira. E

isso decorre da visão, muito difundida no país, não só entre educadores mas

também entre as famílias, de que a repetência é um instrumento pedagógico

importante, necessário para o aprendizado. (UNICEF BRASIL, 2014, p.56)

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O público atendido no Ensino Médio tem se revelado cada vez mais heterogêneo,

devido às exigências do mercado de trabalho, que fazem com que os jovens procurem ampliar

a escolarização, diminuindo, dessa forma, a idade dos concluintes ao longo dos anos, ainda

que as altas taxas de distorção idade-série continuem. Vem mudando o perfil do estudante,

antes basicamente jovens das classes média e alta com a finalidade de ingressar no Ensino

Superior. Agora, também jovens das camadas populares e com vistas à preparação para o

mercado de trabalho, entre outros motivos. Além disso,

[...] as famílias com baixa escolaridade tendem a apresentar maiores

dificuldades em compreender e lidar com a cultura escolar e suas regras, em

elaborar projetos educacionais que se concretizam na busca de melhores

escolas, na valorização e na aquisição de livros, em acompanhar a rotina

escolar dos filhos bem como valorizar as tarefas escolares, fatores que

podem contribuir para a produtividade escolar. (CANEDO, 2012, apud

UNICEF BRASIL, 2014, p.75)

Quanto aos alunos do noturno, o texto da UNICEF cita a pesquisa de Zibas e

Krawczk (2003, apud UNICEF BRASIL, 2014), que acreditam que esses jovens possuem

“menor poder aquisitivo e pouco tempo e interesse em estudar”, pois precisam trabalhar. Já

outros os veem como mais maduros e interessados. Contudo, o que fica explícito é que o

sustento da família não é o único motivo do trabalho, mas também a busca de “independência

econômica e de acesso ao consumo”.

Outro fator apontado como obstáculo à permanência dos alunos na escola é a

violência, sendo uma de suas formas o bullying.

Além disso, o uso de armas, a disseminação da utilização de drogas e a

expansão de gangues influenciam o ambiente escolar e fazem com que as

escolas deixem de ser áreas protegidas e se incorporem à violência cotidiana

do espaço urbano. Assim, a escola pode influenciar o comportamento

agressivo dos alunos de maneira positiva ou negativa. (UNICEF BRASIL,

2014, p.81)

A pesquisa aponta também como problema a organização ou reorganização

escolar, observando que nos primeiros anos escolares o aluno interage com poucos

professores e um menor número de disciplinas, havendo um acompanhamento docente mais

próximo. Já a partir do 6º ano o estudante passa a ter de lidar com um número maior de

professores e muitas disciplinas, sem uma referência do professor. E essa “realidade se torna

ainda mais complexa na passagem para o ensino médio, quando há, em média, 12 disciplinas

diferentes ao longo da semana” (UNICEF BRASIL, 2014, p.83). Tudo isso fica mais grave

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quando a pesquisa constata que o maior motivo da evasão é a falta de interesse pela escola,

tornando evidente a “grande distância entre a expectativa dos adolescentes sobre a escola e a

realidade das escolas” (p.83).

Essa desvalorização tem acontecido pela deterioração das condições de

trabalho dos professores; de uma governança educacional cada vez mais

burocratizada e de uma gestão escolar cada vez mais tecnocrática e menos

pedagógica; pela ausência de reflexão e trabalho coletivo nos processos de

definição político-educativos; pela falta de uma unidade conceitual entre as

diferentes ações pedagógicas propostas nas várias instâncias

governamentais, entre outros fatores. (KRAWCZYK, 2003, apud UNICEF

BRASIL, 2014, p.85)

De acordo com UNICEF BRASIL (2014, p.105-108), o ensino obrigatório até o

ano de 1971 era apenas para as quatro primeiras séries dos anos escolares, quando a Lei

5692/71 impôs a obrigatoriedade do ensino dos 7 aos 14 anos. Mas foi em meados da década

de 90 que se iniciaram manifestações “pela democratização do acesso à educação”. Segundo

as autoras, um dos principais nortes das políticas era universalizar o Ensino Fundamental,

com os objetivos de melhorar o acesso e a permanência. Esse fato acabou por influenciar o

desejo de ampliação do Ensino Médio, bem como “a demanda por qualificação por parte do

mercado de trabalho também contribuiu para atrair alunos para essa etapa da educação”.

Contudo, somente a partir da LDB de 1996 o Ensino Médio foi reconhecido como um

segmento da Educação Básica, todavia, só depois de dez anos passaria a fazer parte das

perspectivas das políticas públicas.

A LDB já preconizava a extensão progressiva da escola básica até o nível

médio. Mas foi somente a partir de 2007, quando entrou em vigor o Fundo

de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de Valorização

dos Profissionais da Educação (Fundeb), que os sistemas de ensino passaram

a contar com recursos destinados especificamente a esse nível de ensino, o

que favorece sua consolidação. (UNICEF BRASIL, 2014, p.105)

No que se refere à questão pedagógica, a década de 90 ficou marcada pelas

concepções construtivistas que serviram como base para a progressão continuada, novas

formas de organização escolar, democratização do acesso à educação e da educação como

direito de todos. Contudo, para Mansutti (s/d, apud UNICEF BRASIL, 2014, p.108), “a

discrepância entre a teoria e o dia a dia da escola acabou gerando, no entanto, persistentes

lacunas de aprendizagem”.

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Nesse cenário, algumas políticas foram implantadas, como em 1997, ano em que

ocorreu a Reforma do Ensino Profissionalizante, por meio do Decreto 2.208/97, a qual

separou o Ensino Médio regular (intitulado 2º grau) do ensino profissionalizante – assim, o

ensino técnico passou a ocorrer após o Ensino Médio ou ao mesmo tempo, mas não ambos

integrados em um único curso. Em 1998 foi criado, pelo Instituto Nacional de Estudos e

Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP), o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem),

avaliação não obrigatória cuja finalidade seria verificar e medir as competências e as

habilidades desenvolvidas pelos alunos ao longo da Educação Básica. Em 2000 foram criadas

as referências básicas para a formulação de matrizes curriculares por meio dos Parâmetros

Curriculares Nacionais para o Ensino Médio. Já em 2004 o Decreto 2.208/97 foi revogado

pelo Decreto nº 5.154/04, que estabeleceu a educação profissionalizante de nível técnico,

nesse momento, como uma modalidade integrada, concomitante ou subsequente ao Ensino

Médio regular.

O Fundo de Manutenção e Desenvolvimento da Educação Básica e de

Valorização dos Profissionais da Educação (Fundeb) foi concebido em 2006 e entrou em

vigor no ano seguinte, “como mecanismo de financiamento de toda a educação básica, em

todos os níveis e modalidades”, tendo como fundos recursos das esferas federais, estaduais e

municipais. Em 2007 foi a vez também do Programa Brasil Profissionalizado, planejado com

a intenção de fortalecer as redes estaduais de educação profissional e tecnológica, por meio da

modernização e da expansão das redes públicas de Ensino Médio integradas à educação

profissional.

O ano de 2009 contou com políticas como a Emenda Constitucional nº 59, que

ampliava o direito à educação, tornando-a obrigatória dos 4 aos 17 anos, ou seja, a

obrigatoriedade de ensino passou a incluir a pré-escola e o Ensino Médio. Também foi

implementado o Programa Ensino Médio Inovador (ProEMI), no qual, por meio de projetos

diferenciados, as escolas poderiam receber recursos do governo federal para reestruturar os

currículos do Ensino Médio, ampliar o tempo de permanência na escola e diversificar as

práticas pedagógicas. Nesse mesmo ano o Enem passou a ser reformulado, com vistas à

seleção para ingresso nas universidades federais e procurando induzir a reestruturação dos

currículos de Ensino Médio.

O Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) foi

criado em 2011 com a finalidade de ampliar a oferta de educação profissionalizante e

tecnológica. Em 2012 foram reformuladas as Diretrizes Curriculares Nacionais para o Ensino

Médio vigentes desde 1998. E em 2013 o Pacto Nacional pelo Fortalecimento do Ensino

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Médio teve início a partir de programa de formação continuada para professores do Ensino

Médio.

Nessa perspectiva, as matrículas dos jovens nessa faixa etária, entre os anos de

1996 e 2002, tiveram um considerável aumento de mais de 50%. Contudo, essa elevação não

foi constante, pois houve uma estagnação até 2004 e, depois, redução até 2012. UNICEF

BRASIL (2014, p.106) afirmam que essa redução se deve à continuidade da cultura de

retenção e à constatação de que muitos jovens ainda se encontram fora da escola. Para elas, a

falta de integração entre as políticas públicas também se configura em fator de exclusão. Já

para Carrano (s/d, apud SILVA, RIBEIRO, 2014, p.107), existem ainda outros aspectos como

“falta de recursos, a descontinuidade das políticas, a precariedade das condições de trabalho

dos educadores e dos demais atores envolvidos na implementação das ações no campo das

políticas de assistência e educacionais”.

Diante disso, pode-se perceber que, mesmo com políticas que visam à melhoria da

qualidade da educação no Ensino Médio, esse segmento continua enfrentando inúmeras

dificuldades nesse campo, como também no que se refere à permanência do educando. São

muitos os alunos que abandonam a escola quando estão cursando o EM, ou muitas vezes nem

chegam a ele. Dessa forma, um dado preocupante é que os índices apontam um número

relativamente baixo de jovens que o concluem, inclusive, vale lembrar que esta, também é

uma realidade marcante na área rural, pois faltam escolas, transportes, uma estruturação para

que o jovem conclua a educação básica.

Se os avanços da educação brasileira no campo do atendimento foram um tanto

quanto significativos nos últimos anos, há muito que fazer quando se trata de qualidade. É

necessário rever um currículo inchado, que nem abre perspectivas profissionais, nem prepara

para o vestibular. Na prática as medidas citadas não atraem o aluno do Ensino Médio, a escola

constituída para esse segmento continua sendo um espaço que não estimula o jovem. Nesse

modelo criado para um número reduzido de alunos, em que o objetivo praticamente único

seria o da preparação para o vestibular, fica complicado se pensar em ações pedagógicas

diversificadas ou em um currículo mais flexível capaz de atender às demandas e necessidades

de diferentes jovens nessa faixa etária.

Assim, se torna necessária, primeiramente, a definição de objetivos claros para o

Ensino Médio. Ainda existem muitas divergências sobre: integrar ou não a uma educação

profissional; soluções para a questão da qualidade da aprendizagem; formar para a

universidade ou considerar o grande número de alunos que ingressam apenas no mundo do

trabalho.

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A questão é que o Ensino Médio precisa ser reformulado para oferecer uma

educação crítica, em que o aluno, ciente das conjunturas local, nacional e internacional, possa

decidir, de forma compartilhada, como deve ser seu curso de formação. Isso a partir de uma

reflexão acerca dos rumos que deseja para sua vida social e coletiva.

Assim, cabe aos formuladores dessas políticas, juntamente com a sociedade civil

interessada, promover debates sobre currículo, alternativas diversificas e flexibilização do

modelo de escola. Faz-se necessário reformar, contudo, ouvindo as comunidades e,

principalmente, trazendo o jovem para esse debate. Quem sabe desse modo, quando se tratar

de direitos, os jovens se mobilizem e saibam quando, onde e como reivindicá-los, assim como

ocorreu nas manifestações de junho de 2013 e recentemente, contra a reorganização.

Neste capítulo buscou-se relacionar o histórico do sistema educacional brasileiro

às políticas públicas implementadas no setor, principalmente no que se refere às políticas para

o Ensino Médio, considerando que faz parte do universo do sujeito da pesquisa, e àquelas

relacionadas à esfera estadual, as quais também se configuram como cenário. Tendo em vista

a abordagem realizada no primeiro capítulo, se procurou apresentar a conjuntura dos

movimentos sociais, que consistem em bases referenciais para a análise. Também aqui foram

abordados os últimos acontecimentos acerca das manifestações ocorridas no final do ano de

2015, devido à tentativa de reorganização da rede pública estadual, política que não se

efetivou, por se entender que tais fatos têm relação direta tanto com o objeto em questão como

com o sujeito da pesquisa.

E, por último, é importante ressaltar a importância do próximo capítulo no

presente estudo, no que se refere às Tecnologias de Informação e Comunicação, uma vez que

são elas muitas vezes instrumentos utilizados tanto para informação acerca das manifestações

e movimentos sociais como para sua organização, podendo ser adotadas por alunos da

educação formal ou não formal como forma de aprendizado, participação e formação crítica.

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CAPÍTULO III – TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO

Este capítulo aborda as Tecnologias de Informação e Comunicação, seu histórico

e sua aplicação no âmbito escolar. Faz-se necessário tratar desse tema no intuito de

demonstrar o nível de proficiência e a utilização das TICs pelos indivíduos na sociedade,

inclusive pelos jovens nas escolas de Ensino Médio, de forma a propiciar um maior acesso às

informações, principalmente por meio da internet e das redes sociais. Sua importância reside

na questão da habilidade no uso dessas mídias para busca de informações e/ou participação no

processo de articulação de movimentos para reivindicação das demandas sociais, a partir de

uma consciência formada em instituições de educação formal, tendo como instrumento a sala

do Acessa Escola.

3.1 TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO E COMUNICAÇÃO: UM ACESSO QUE PODE

CONTRIBUIR NA TRANSFORMAÇÃO DA SOCIEDADE

É claro que a tecnologia não determina a sociedade, nem a sociedade escreve

o curso da transformação tecnológica [...] o dilema do determinismo

tecnológico é, provavelmente, um problema infundado, dado que a

tecnologia é a sociedade, e a sociedade não pode ser entendida ou

representada sem suas ferramentas tecnológicas. (CASTELLS, 1999, p.66)

Se a tecnologia não determina a sociedade, o acesso à informação pode ser um

grande aliado na sua transformação, uma vez que, no cenário que se configura, a internet

consiste em espaço inesgotável de acesso a informações, serviços e oportunidades de troca

interpessoal e institucional. Conhecer esses aspectos e fazer um uso qualificado dessas

possibilidades é elemento de constituição da cidadania.

Como ainda existe uma parcela da população que se encontra excluída desse

processo, políticas públicas voltadas a suprir, efetivamente, essa carência se fazem

necessárias. Assim, a

[...] Internet, como toda a sua trajetória, trouxe até nós uma nova maneira de

enxergar o mundo, através de uma avalanche de informações que nos

chegam, em poucos instantes, por meio de uma conexão plugada ao

computador. (SANTOS, 2005, p.283)

Essas novas ferramentas, aliadas ao processo educacional, podem dinamizar a

aprendizagem, modificar o tempo gasto na aquisição de informações e, por conseguinte,

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proporcionar outras possibilidades de elaboração do conhecimento. Permitem criar, com isso,

novas formas de aprender e ensinar, alterando também as interações que se dão entre

professor, aluno e comunidade no espaço escolar. Assim, como nos diz Almeida e Prado

(2005, p.3),

O uso de tecnologias como apoio ao ensino e à aprendizagem vem evoluindo

vertiginosamente nos últimos anos, podendo trazer efetivas contribuições à

educação, presencial ou à distância. Entretanto, para evitar ou superar o uso

ingênuo dessas tecnologias, é fundamental conhecer as novas formas de

aprender e de ensinar, bem como de produzir, comunicar e representar

conhecimento, possibilitadas por esses recursos, que favoreçam a

democracia e a integração social.

Tendo em vista o contexto de globalização das informações, é fundamental que se

apliquem, no espaço formal da escola, práticas voltadas para a inserção dos sujeitos para o uso

da internet e redes sociais digitais.

Há que se reencontrar o sentido mais humanístico, interativo e integrador da

educação, que leve a repensar a necessidade de professores e gestores

tomarem consciência de que o uso de tecnologias permite redimensionar os

espaços de ensinar e aprender, sonhar e amar, vislumbrando a provisoriedade

do conhecimento, as novas possibilidades das práticas da escola, a

necessidade da formação continuada para atender às características de

mudança da sociedade atual e para resgatar o valor do saber e a sensibilidade

do ser. (ALMEIDA, PRADO, 2005, p.4-5)

Nesse enfoque, para Dirceu da Silva (2005, p.322), “fica evidente que não é

necessária a criação de novas disciplinas para a inserção da tecnologia em sala de aula”.

Segundo o autor, as situações-problema servem como complemento curricular, ou seja, não há

a necessidade de se criarem novas disciplinas, e sim inserir o uso das tecnologias a partir de

uma situação-problema. No entanto, o que se pode perceber é que muitos não notam as

mudanças e transformações do mundo, afastam-se do processo de construção do

conhecimento, contribuindo para a preservação de uma sociedade incapaz de criar, agir,

construir e reconstruir o conhecimento. Em uma sociedade em que muitos não entendem o

que são espaços coletivos de luta e transformação, é função da escola e seus profissionais

perceber

[...] nas tecnologias oportunidades para que a escola possa se desenvolver e

[...] criar condições para a utilização de tecnologias nas práticas escolares, de

forma a redimensionar seus espaços, tempos e modos de aprender, ensinar,

dialogar e lidar com o conhecimento [...] identificar as potencialidades dos

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recursos disponíveis para proporcionar a abertura da escola à comunidade,

integrá-la aos distintos espaços de produção do saber, fazer da escola um

local de produção e socialização de conhecimentos para a melhoria da vida

de sua comunidade, para a resolução de suas problemáticas, para a

transformação de seu contexto e das pessoas que nele atuam. (ALMEIDA,

2005, p.17)

Isso posto, a solução não está em simplesmente equipar as escolas com

computadores, formar os professores, disponibilizar acesso à internet e às redes sociais. É

preciso romper com o paradigma de uma educação predominante e o conceito hegemônico de

aprendizagem que está na consciência e na formação dos atores envolvidos no processo

educacional. Entretanto, a utilização das TICs por si só não garante a transformação

necessária e desejada, pois a “mesma tecnologia ou o mesmo conhecimento elucidativo, que

enriquecem o saber humano, favorecem novas conquistas e geram a evolução, a libertação e a

transformação da sociedade, também podem provocar a subjugação da humanidade”

(ALMEIDA, 2005, p.15).

É uma nova visão de mundo, de ser humano e de educação que permitirá a

formação de uma Sociedade do Conhecimento Crítica, certamente com muito mais

alternativas de vida melhor. E essa possibilidade pode ser auxiliada a partir do uso integrado

entre tecnologias e acesso à internet e redes sociais. Assim sendo, “linguagens e

representações têm papéis preponderantes na formação”, com vistas à “atuação na sociedade,

conscientes de seus compromissos para com as transformações de seu contexto, a valorização

humana e a expressão da criatividade” (ALMEIDA, PRADO, 2005, p.04).

Nessa lógica, para Dirceu Silva (2005, p.322), é importante o uso das TICs no

processo educacional se for levado em consideração “um dos objetivos básicos da Educação”:

formar “os alunos para serem cidadãos de uma sociedade plural, democrática e

tecnologicamente avançada”. Dessa forma, torna-se relevante estudar a atuação de política

públicas educacionais que visem assegurar o processo de ensino e aprendizagem e a cultura

no que diz respeito

[...] à diversidade, o direito à diferença e o direito à igualdade, pois os

eventos culturais mobilizam milhares de pessoas (principalmente os jovens),

aglutinam forças, viabilizam a participação, resgatam o entusiasmo pela vida

e pelos valores humanitários, apontando caminhos para a difícil arte de

sobreviver. (GOHN, 2005b, p.21)

Por esse prisma, é preciso que programas, enquanto estruturas geradas a partir das

políticas públicas educacionais, propiciem o ambiente necessário para que a educação, formal

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ou não formal, seja uma forma de garantia de cidadania23

, uma vez que o “reconhecimento e a

realização ampla de todos direitos supõe, certamente, indivíduos cidadãos, vivendo numa

sociedade onde haja redistribuição econômica, tendo acesso e direito a viver em condições

condignas de existência” (GOHN, 2005b, p.19). Principalmente, precisam promover uma

inclusão social utilizando as Tecnologias da Informação e Comunicação - TICs como

instrumento para a construção e o exercício dessa mesma cidadania.

Nesse aspecto, as TICs e seus suportes podem contribuir na mediação que o

educador carece de prover com o objetivo de desenvolver ações que busquem esse cidadão

descrito anteriormente por Dirceu da Silva (2005) e por Gohn (2005b). Porém, como já

indicado, essas tecnologias por si só não determinarão nem esgotarão novas formas de educar

e aprender; igualmente, ainda “não constituem necessariamente grandes mudanças sociais”

(CASTELLS, 2005, p.19). É necessário que o ser humano as utilize como ferramentas na

construção e elaboração do conhecimento, de forma que o processo de aprendizado, seja na

educação formal ou não formal, possa ser prazeroso e proveitoso para a vida educacional,

cultural e social, bem como para o mundo do trabalho e, primordialmente, para a vida.

O uso das TICs, da internet e das redes sociais precisa partir de uma concepção

que permita uma integração com o próximo, uma aprendizagem baseada no paradigma da

interação, auxiliando nessa construção de conhecimento por processos abertos de procura,

assim como se inteirando com o mundo e acerca dele.

Desse modo, enfatiza-se a importância da educação, sob enfoque de um

novo paradigma conceitual e prático, voltada para a formação de cidadãos

capazes de integrarem-se à era digital, [...] na capacidade intelectual de

transformar informações em conhecimento, com uma inovadora condição de

aprendizado contínuo e crescente. (BELLUZZO, s/d, p.27)

Para Castells (1999, p.26), “a tecnologia da informação tornou-se ferramenta

indispensável para a implantação efetiva dos processos de reestruturação socioeconômica” e,

assim, as relações sociais também são afetadas pelas profundas modificações que ocorrem

pela “lógica das redes”, principalmente devido aos impactos das TICs e das redes sociais

digitais. Esse fato impõe, desde já, alterações no modo de educar para a aprendizagem, para as

relações sociais e, principalmente, para a vida, pois, “diferente de qualquer outra revolução, o

cerne da transformação que estamos vivendo na revolução atual refere-se às tecnologias da

23

“O exercício pleno da cidadania, ou seja, renda suficiente que remunere seu trabalho para viver com

dignidade, acesso à educação, aos serviços básicos da assistência e prevenção à saúde, transportes, lazer,

recreação. Supõe também a coexistência e o respeito à diferença, às múltiplas identidades culturais.” (GOHN,

2005b, p.19)

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informação, processamento e comunicação” (CASTELLS, 1999, p.68). Embora o autor

enfatize também que elas não determinam

[...] a evolução histórica e a transformação social, a tecnologia (ou sua falta)

incorpora a capacidade de transformação das sociedades, bem como os usos

que as sociedades, sempre em um processo conflituoso, decidem dar ao seu

potencial tecnológico. (CASTELLS, 1999, p.26)

Sobre os movimentos sociais, outro aspecto apontado por Castells (1999, p.415) é

que, no auge de sua explosão, nos anos 60, “embora em termos gerais eles coexistissem com a

revolução da tecnologia da informação, a tecnologia estava em grande parte ausente dos

valores ou críticas da maioria dos movimentos” (CASTELLS, 1999, p.415), que, contudo,

tiveram forte influência sobre a tecnologia e os processos de reestruturação deles originados.

Dessa maneira, nota-se todo o potencial transformador – e ao mesmo tempo

reprodutor das ideologias produzidas – das novas redes de informação e comunicação.

Portanto, deve-se explorar a sua capacidade para delas também se tirar todo o proveito no que

diz respeito à visão da real situação individual e coletiva, objetivando subsidiar

transformações e melhorias de vida, de forma a contrariar “a dinâmica da sociedade em rede”

imposta, em que “as sociedades são formadas pela interação entre Ter e o Ser, entre a

sociedade em rede e o poder da identidade” (CASTELLS, 1999, p.432).

Essas são tarefas prioritárias do educador, e não deixar que aconteça o contrário,

como vem ocorrendo. Logo, é urgente que a educação assuma esse papel, e que os cidadãos se

encontrem preparados para desenvolver ações conscientes em uma sociedade baseada na

aquisição de informações, sociedade essa em que se aprende e se ensina em busca de

transformação social (p.440).

Todavia, há enorme defasagem entre nosso excesso de desenvolvimento

tecnológico e subdesenvolvimento social. Nossa economia, sociedade e

cultura são construídas com base em interesses, valores, instituições e

sistemas de representação que, em termos gerais, limita a criatividade

coletiva, confiscam a colheita da tecnologia da informação e desviam nossa

energia para o confronto autodestrutivo. (CASTELLS, 1999, p.441)

Mesmo assim, não há como negar a importância dessas constantes transformações

e suas influências sociais dentro de um sistema capitalista. Por isso, todos os educadores,

como profissionais e como indivíduos, precisam se inserir nesse contexto de mudanças, pois

todos têm a necessidade de refletir sobre tais inovações, tentando compreendê-las e incorporá-

las, socializando experiências e introduzindo outros indivíduos nessa transformação, pois

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“não existe nada que não possa ser mudado por ação social consciente e internacional, munida

de informação e apoiada em legitimidade” (CASTELLS, 1999, p.441).

A Internet, como toda a sua trajetória, trouxe até nós uma nova maneira de

enxergar o mundo, através de uma avalanche de informações que nos

chegam, em poucos instantes, por meio de uma conexão plugada ao

computador [...]. (SANTOS, 2005, p.283)

E se, conforme afirma Castells (1999), não existirem ações conscientes e os atores

envolvidos no processo não perceberem os impactos das mudanças do mundo, as tecnologias

tendem a ser “condicionantes” dessas transformações. As TICs, uma vez estudadas e

utilizadas de forma crítica e consciente, em vez de serem possíveis instrumentos de

massificação ou manipulação, podem ser veículos de interação entre os envolvidos, fazendo

com que as pessoas compartilhem ideias e informações na resolução de problemas. É preciso

apostar num ambiente de aprendizagem interativo, no qual se possa socializar o acesso à

informação, por conseguinte, a elaboração cognitiva e, com isso, proporcione também uma

reflexão crítica acerca das condições sociais e culturais.

Assim o professor precisa potencializar a liberdade intelectual, estimular o

pensamento crítico, a criatividade e a comunicação entre os alunos. Para

romper a monotonia da aula, contribuindo assim para motivar os estudantes

no processo de aprendizagem, a Educação Tecnológica pode proporcionar

uma série de estratégias, mesmo que nenhuma seja exclusiva deste tipo de

proposta. (SILVA, 2005, p.312)

Segundo Dirceu da Silva (2005), cabe ao educador aperfeiçoar o processo de

convivência tendo como ferramentas as TICs e as redes sociais. Contudo, é preciso deixar

claro, mais uma vez, que não é eficiente treinar professores e equipar escolas com

computadores e acesso à internet, se não for rompido o paradigma de uma educação

“bancária” (FREIRE, 1976, p.66), uma educação que não preza a construção do conhecimento

a fim de promover transformações sociais. Essa abordagem, infelizmente, é a que continua

preponderante na formação do processo educacional.

Para Castells (2005), a internet se transformou em uma esfera política:

É autocomandada porque geralmente é iniciada por indivíduos ou grupos,

por eles próprios, sem a mediação do sistema de media [...] A comunicação

entre computadores criou um novo sistema de redes de comunicação global e

horizontal que, pela primeira vez na história, permite que as pessoas

comuniquem umas com as outras se utilizar os canais criados pelas

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instituições da sociedade para comunicação socializante. (CASTELLS,

2005, p.24)

Pode-se dizer que o acesso à imensa fonte de informações nesse mundo “é uma

possibilidade extraordinária” (CASTELLS, 2005, p.24), que muda vidas e imaginários.

Entretanto, isso só será possível de uma forma plausível se a educação proporcionar aos seres

humanos a capacidade de buscar, escolher e desfrutar esse novo mundo e principalmente se

[...] as pessoas forem esclarecidas, atuantes e se comunicarem em todo o

mundo; se as empresas assumirem sua responsabilidade social; se os meios

de comunicação se tornarem os mensageiros, e não a mensagem,; se os

atores políticos reagirem contra a descrença e restaurarem a fé na

democracia; se a cultura for reconstruída a partir da experiência; se a

humanidade sentir a solidariedade da espécie em todo o globo; se

consolidarmos a solidariedade Intergeracional, vivendo em harmonia com a

natureza com a natureza; se partirmos para a exploração de nosso ser

interior, tendo feito as pazes com nós mesmos. Se tudo isso for possibilitado

por nossa decisão bem informada, consciente e compartilhada enquanto

ainda há tempo, então, talvez, finalmente possamos ser capazes de viver,

amar e ser amados. (CASTELLS, 1999, p.442)

3.2 PANORAMA GERAL DO ACESSO ÀS TIC‟S NO BRASIL

Existem grandes desigualdades no acesso à maioria das Tecnologias de

Informação e Comunicação - TICs, associadas a questões como renda, idade e região. Há

alguns anos houve um aumento significativo do acesso às TIC pela população. Porém, se

dividirmos esse acesso por região ou mesmo por classe social, poderemos ver que nas regiões

do Norte do país e mesmo nas classes menos favorecidas uma grande parcela da população

não tem acesso às TICs. Veja bem, não se trata de ter um computador, pois nesse viés esse

contingente aumenta, e muito. Pois a maioria da população no Brasil ainda pertence às classes

menos favorecidas e está nas regiões Norte, Nordeste e uma parte do Centro-Oeste.

Dessa forma, essa maior exposição ainda não é suficiente para dizer que foi

reduzida a contento a chamada exclusão digital, em razão de ainda haver milhões de

brasileiros excluídos desse segmento. Estes, por sua vez, também estão excluídos de vários

segmentos da sociedade, bem como do acesso, principalmente, aos direitos básicos de

moradia, saúde, educação, trabalho etc.

A humanidade vive em uma era tecnológica chamada por muitos de Sociedade do

Conhecimento, mas, como nem toda fartura de informação significa, de fato, conhecimentos,

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chama-se aqui de Sociedade da Informação. E acompanhar o ritmo acelerado destes tempos é

um grande desafio para a escola e os professores – sejam eles professores e diretores novos ou

próximo da aposentadoria – que ainda não se integraram a esse novo mundo permeado de

mudanças, muitas vezes proporcionadas pelas Tecnologias de Informação e Comunicação -

TIC e pelas novas relações construídas por meio das redes sociais digitais.

Assim há que se refletir sobre a integração da escola ao mundo por meio das TIC,

a qual tem enfrentado muitos entraves de natureza: política e pública, prática pedagógica,

condições de trabalho do professor, identidade profissional, formação inicial e continuada,

infraestrutura e manutenção e relação escola e comunidade.

Contudo, essa integração, tanto por parte dos profissionais da educação como por

alunos ou até pela comunidade escolar, enfrenta muitos obstáculos que seriam passíveis de

solução, mas ainda interferem na utilização das TICs e redes sociais digitais. Entre eles

podemos destacar: o número de equipamentos disponíveis nas escolas, a não atualização e

manutenção desses equipamentos, a falta de estagiários para assessorar o seu uso, tanto pelos

alunos como pelos professores, a falta de domínio por grande parte dos educadores e,

principalmente, a ignorância de muitos profissionais quanto à possibilidade de

desenvolvimento de ações pedagógicas relacionadas ao aprendizado, à reflexão sobre a

realidade de vida, à criticidade acerca desses fatores e à capacidade de mobilização para

transformações. Há uma parcela desses profissionais que não têm interesse na introdução das

TIC‟s, uma vez que a utilização das tecnologias demanda planejamento e trabalho duro, o que

muitos não querem de fato. Ainda, outro problema enfrentado é a falta de tempo dos

professores para a própria formação, pois trabalham em vários períodos devido aos baixos

salários.

Diante disso, fica evidente que ainda são necessárias iniciativas governamentais,

criação e implantação de políticas públicas educacionais que visem um maior investimento

financeiro para a compra de computadores e para a capacitação dos professores, pois não há

como negar a importância da formação dos profissionais em serviço. É primordial uma

formação que estimule e transforme a prática docente, levando o professor a compreender as

novas tecnologias e as redes sociais digitais como ferramentas capazes de auxiliar o processo

de ensino e de aprendizagem.

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3.2.1 Panorama do acesso às TICs no ambiente escolar

A inserção das Tecnologias de Informação e Comunicação - TICs no cotidiano

escolar não garante a melhoria da qualidade do processo de ensino e aprendizagem. A cultura

do uso dessas tecnologias em sala de aula ainda está longe de ser alcançada e esse é um dos

fatores que mais prejudica o processo de inclusão digital nas escolas. É necessário, portanto,

que a inclusão digital seja vista como uma meta de melhoria da qualidade do processo de

ensino e de aprendizagem, e essa meta requer investimento em políticas públicas que a

viabilizem.

As TICs, na maioria das instituições educacionais, não são consideradas como

parte integrante dos processos pedagógicos; são usadas como um recurso a mais, que serve

apenas para complementar ou animar uma prática instituída, e não para transformar as formas

de pensar e elaborar conhecimento. Nessa perspectiva, Sancho afirma que

O âmbito da educação, com suas características específicas, não se

diferencia do resto dos sistemas sociais no que se refere à influência das

TIC. Deste modo, também foi afetado pelas TIC e o contexto político e

econômico que promove seu desenvolvimento e extensão. Muitas crianças e

jovens crescem em ambientes altamente mediados pela tecnologia, sobretudo

a audiovisual e a digital. Os cenários de socialização das crianças e jovens de

hoje são muito diferentes dos vividos pelos pais e professores. [...] De fato,

estão descobrindo o mundo e lhes custa tanto aprender e realizar trabalhos

manuais como a programar um vídeo ou um computador. Estão descobrindo

as linguagens utilizadas em seu ambiente e lhes custa tanto ou mais decifrar

e dominar a linguagem textual como a audiovisual. A grande diferença é que

os resultados desta última ação abrem um amplo mundo de possibilidades

cada vez mais interativas, em que constantemente acontece algo e tudo vai

mais depressa do que a estrutura atual que a escola pode assimilar.

(SANCHO, HERNÁNDEZ, 2006, p.19)

Nesse enfoque, a formação do professor não pode permanecer a mesma do

passado. Os meios necessários e adequados, como elementos tecnológicos de qualidade,

manutenção de equipamentos, formação e acompanhamento do trabalho docente, são

fundamentais para que haja avanços mais significativos no processo educacional. Porém, o

professor deve estar disposto emocionalmente e psicologicamente à prática do conhecimento

elaborado e da interação, principalmente em rede, para esse fim.

Segundo Bonilla e Picanço (2005, p.224-225),

[...] a Rede deve ser incorporada às práticas presenciais de forma paralela,

integrada e integrante com o conjunto das demais atividades, de forma a

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favorecer a vivência da interatividade, da colaboração, da auto-organização,

da conectividade plena e efetiva com outros nós que vão surgindo ao longo

do processo e não apenas com aqueles delineados a priori.

Assim sendo, o imprevisto, o diverso, o múltiplo e a interação em rede integram o

processo educativo, que, por sua vez, se transforma em um processo dinâmico, no qual as

subjetividades, as culturas e os conhecimentos entrelaçam-se nas vivências desses novos

espaços-tempos, transformando os sujeitos e as sociedades.

Ainda que o uso das TICs e das redes sociais digitais não signifique, efetivamente,

melhoria na qualidade do aprendizado ou o desenvolvimento da consciência crítica e da

capacidade de mobilização em busca de direitos e transformação da realidade, o não acesso a

elas pode ser um fator de baixo desempenho, uma vez que denota privação do acesso à

informação. Não qualquer tipo de informação, mas as de um “mundo” que somente as TICs e

as redes sociais digitais podem proporcionar.

Para Behrens (2007, p.450),

Os recursos tecnológicos quando bem utilizados a serviço da aprendizagem

são possibilidades didáticas e formativas. Assim, uma prática pedagógica

inovadora inclui propostas que permitam desenvolver as novas tecnologias

da informação e da comunicação no sentido de ampliar os recursos de

aprendizagem.

Outra questão que vale a pena tratar é que informação não é sinônimo de

conhecimento ou de consciência crítica, contudo, para se obtê-los é necessária a primeira. E,

assim, a informação transformada em conhecimento gera aprendizado e reflexão, que, por

meio do uso das Tecnologias de Informação e Comunicação e redes sociais digitais, podem

ser de qualidade.

A utilização dessas ferramentas pode significar também um atrativo para o

aprendizado e um instrumento de luta, uma vez que, diferentemente de se limitar apenas à fala

do professor, permite demonstrar, simular, organizar, visualizar etc. Contudo,

[...] a principal dificuldade para transformar os contextos de ensino com a

incorporação de tecnologias diversificadas de informação e comunicação

parece se encontrar no fato de que a tipologia de ensino dominante na escola

é a centrada no professor. Em uma sociedade cada dia mais complexa, as

tentativas de situar a aprendizagem dos alunos e suas necessidades

educativas na escola da ação pedagógica ainda são minoritárias. (SANCHO,

HERNÁNDEZ, 2006, p.19)

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Dessa forma, o não uso desses instrumentos pelo professor pode ser ainda um

fator de ignorância, levando em conta que seu uso pode facilitar o método de ensino, bem

como proporcionar um aprendizado de qualidade e uma formação crítica, sendo gerado um

conhecimento a partir do “mundo” de informações.

Assim, entre os principais problemas relacionados ao uso das TICs nas escolas

está a dificuldade dos educadores no uso dessas ferramentas, cabendo notar que muitos não

têm dificuldade no uso pessoal, mas sim para trabalhar com elas, seja por falta de incentivo ou

pela necessidade de um melhor planejamento para inserção das tecnologias e do conceito de

redes no dia a dia escolar.

3.2.2 TICs aplicadas nas atividades educacionais

Diversas são as ferramentas que podem ser utilizadas nas escolas para contribuir

para o processo de ensino e de aprendizagem e a constituição de uma formação crítica,

tornando as unidades escolares mais atraentes aos estudantes. Entre elas podemos destacar os

e-mails, os blogs e as redes sociais digitais. Embora professores e alunos se mostrem, por

vezes, motivados para o uso dessas ferramentas, apenas uma minoria as utiliza em sua prática

cotidiana. Usar blogs, redes sociais, troca de e-mails entre alunos e professores para

divulgação de informações, tirar dúvidas, apresentar comentários sobre aulas, trabalhos,

tarefas e correção de atividades é uma iniciativa de poucos, pois ainda há muitas pedras no

caminho, como a infraestrutura inadequada, a falta de formação em serviço para os

professores e o não domínio das ferramentas tecnológicas. Uma parcela dos docentes ainda

sente muita insegurança para utilização desses recursos no dia a dia de suas aulas; e outra

parcela, infelizmente, não quer utilizá-las por implicar mais dedicação ao planejamento das

aulas.

Blogs, redes sociais e suas variações não são originalmente instrumentos

educacionais, mas podem ser trabalhados sob esse enfoque e aproximar as escolas das

comunidades em que estão inseridas, uma vez que haja primeiramente uma mudança efetiva

do professor e da gestão escolar. Também há de se ter o aluno como verdadeiro protagonista,

de forma que ele, por sua vez, passe a utilizar essas ferramentas como instrumento de ação

social e de transformação da sociedade.

É importante que o aluno perceba que, por meio dessas mídias interativas – um

blog, por exemplo, aberto à comunidade –, pode denunciar o esgoto que corre a céu aberto em

seu bairro. Que, por meio do Skype e WhatsApp, pode estabelecer intercâmbios com pessoas

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de outros cantos do mundo. Tudo isso podem ser caminhos mediados pela escola que

proporcione o acesso a essas ferramentas aos alunos e à comunidade circundante.

Portanto, ainda há muito por caminhar, muitas pedras para tirar do caminho no

tocante à utilização com propriedade de todas as possibilidades oferecidas pelas TICs no

trabalho do educador. A mudança de postura e atuação dos profissionais do magistério é

fundamental nesse caminho, sendo imprescindível para isso a criação e implementação de

políticas públicas educacionais voltadas para a formação e o incentivo para o uso real das

TICs nas escolas.

Cabe lembrar que o mundo mudou, as pessoas mudaram, o modo como os pais

educam os filhos mudou, não obstante a escola continua com o mesmo modelo criado na

Idade Média. E esse novo mundo, permeado de Tecnologias de Informação e Comunicação,

principalmente a participação em redes sociais digitais, requer profissionais aptos para

acompanhar todas as mudanças comportamentais, econômicas e sociais.

São muitos e difíceis os desafios a serem enfrentados desde já para o advento de

uma nova escola. O uso das novas tecnologias nas práticas escolares demanda mudanças no

modo de ensinar e de aprender e, principalmente, uma mudança na postura de cada educador.

Exige também grandes investimentos na estrutura das organizações e formação de todos os

profissionais responsáveis pela educação.

As TICs são os principais canais de socialização de informações, disseminação de

conhecimento e mobilização para causas de direito. O professor deixa de ter papel central

nesse contexto e deve assumir de fato sua principal e importante função, que é mediar e

orientar a transformação do conhecimento explícito em conhecimento tácito. Contudo, essa

também não é uma missão fácil, pois, segundo Thompson,

[...] os indivíduos podem enfrentar esse fluxo sempre crescente de materiais

simbólicos mediados, em parte através de um processo seletivo do material

que eles assimilam. Somente uma pequena porção dos materiais simbólicos

mediados disponíveis aos indivíduos são assimilados por eles. Mas os

indivíduos também desenvolvem sistemas de conhecimento que lhes

permitem seguir um determinado rumo através da densa floresta de formas

simbólicas mediadas. (THOMPSON, 2012, p.274)

Dessa forma, cabe aos atores envolvidos no processo transformar essa riqueza de

informações em elaboração de conhecimento. Aí é que está a função do mediador, orientar no

sentido de melhor utilizar as ferramentas existentes, para que se possa ter um melhor

rendimento.

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Destarte, não há como esquecer a importância da expansão do acesso aos

computadores e à internet, principalmente às redes sociais, pela população brasileira. A

difusão já é uma realidade, contudo grande parcela dessa população, principalmente os

estudantes da rede pública de ensino, ainda não possui esses bens em seu domicílio devido à

situação socioeconômica, o que reforça as desigualdades e a chamada exclusão digital, que,

por sua vez, corrobora a exclusão social. Ainda que, com o avanço da telefonia celular, muitos

tenham passado a dispor dessas ferramentas em causas próprias.

Graças a esse novo recurso, uma parcela considerável dos professores e alunos

tem acesso à internet e às redes sociais digitais. Apesar disso, não fazem uso desses meios no

contexto escolar por falta de interesse, ou por falta de vontade, uma vez que há a necessidade

explícita de uma aula bem preparada. Seja qual for o motivo, sabe-se que a formação

continuada é de extrema importância, uma vez que são notórios os problemas no uso de

laboratórios de informática ou em programas como o Acessa Escola. Isso devido à falta de

estrutura física, poucos computadores para o número de alunos, falta de manutenção dos

equipamentos, problemas de acesso à internet, falta de pessoal técnico e, principalmente,

ausência de formação aos professores na transposição dos conteúdos disciplinares com o uso

desses recursos.

Contudo, cabe a esses profissionais, como mediadores na busca de informações e

elaboração do conhecimento, ajudar os estudantes em meio a tanta fartura de possibilidades

propiciadas pelas TICs, assim como nos descreve Thompson:

Não é incomum encontrar indivíduos perdidos na tempestade de

informações, incapazes de ver alguma saída e paralisados pela profusão de

imagens e opiniões mediadas. O problema que muitas pessoas hoje devem

enfrentar é o do deslocamento simbólico: num mundo onde a capacidade de

experimentar não está mais ligada à atividade do encontro, como podem

relacionar experiências aos contextos práticos da vida cotidiana? Como se

podem relacionar com eventos que acontecem em locais distantes dos

contextos em que vivem, e como podem assimilar a experiência de

acontecimentos distantes numa trajetória coerente de vida que devem

construir para si mesmos? (THOMPSON, 2012, p.266-267)

O fato é que as TICs, principalmente as redes sociais, estão presentes no dia a dia

de muitos. Direta ou indiretamente, elas afetam e tendem a afetar cada vez mais a vida

econômica e social de cada ator desse cenário. Portanto, a escola tem uma função

fundamental nesse contexto e não pode negá-la, cabendo a ela contribuir para um futuro

melhor à sociedade e, consequentemente, uma vida melhor para cada cidadão.

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Com explicitado, há de se reafirmar que são grandes os desafios a serem

enfrentados. Todavia, ainda existem muitos profissionais que acreditam que a mudança é

possível e que, junto com ela, pode haver uma grande melhoria nos resultados e na qualidade

do ensino e da aprendizagem, assim como uma formação crítica do jovem. Com isso também

há de melhorar a vida de cada pessoa que esteja sob a responsabilidade do sistema

educacional.

3.3 ACESSA ESCOLA: UM PROGRAMA DAS POLÍTICAS EDUCACIONAIS DO

ESTADO DE SÃO PAULO

Apresentar o programa Acessa Escola, que tem como slogan “Aprender a usar o

computador, usar o computador para aprender”, se torna necessário uma vez que esse deveria

propiciar um espaço para formação crítica e promoção da inclusão social por meio da inclusão

digital na educação formal da Secretaria da Educação do Estado de São Paulo - SEE/SP.

Desse modo, seria esse um espaço onde os alunos do Ensino Médio poderiam ter acesso às

redes sociais, as quais trariam possibilidades de acesso à informação e até de participação

desses estudantes em movimentos sociais ou manifestações populares.

O programa faz parte de uma política pública do Governo Estadual de São Paulo,

desenvolvido pelas Secretarias da Educação e de Gestão Pública do Estado e coordenado pela

Fundação para o Desenvolvimento da Educação - FDE. Segundo texto divulgado no site

oficial24

, desde o ano de 2008, tem como objetivo principal promover a inclusão digital e

social dos alunos, professores e funcionários das escolas da rede pública estadual de São

Paulo e, igualmente, da comunidade de entorno aos finais de semana. Esse modelo

configurou-se a partir de outro programa que faz parte da política pública de inclusão digital

do Governo Estadual, prevendo a criação de telecentros em vários pontos do Estado, como

metrôs, hospitais e bibliotecas.

O Acessa São Paulo é o programa de inclusão digital do Governo do Estado de

São Paulo, coordenado pela Secretaria de Gestão Pública, com gestão da Prodesp, Companhia

de Processamento de Dados do Estado de São Paulo - Diretoria de Serviços ao Cidadão.

Instituído em julho de 2000, oferece para a população do Estado o acesso às novas

24

SÃO PAULO (Estado). Acessa São Paulo Disponível em: <http://acessaescola.fde.sp.gov.br/publico>. Acesso

em: 11/10/2014.

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tecnologias da informação e comunicação, em especial à internet, contribuindo para o

desenvolvimento social, cultural, intelectual e econômico dos cidadãos paulistas.25

O programa Acessa São Paulo, criado em julho de 2000, foi uma iniciativa do

governo do Estado de São Paulo com o objetivo de levar os recursos da internet à população

de baixa renda e estimular o desenvolvimento humano e social das comunidades. É a maior

rede de dados do país. Em outubro de 2005, contava com 178 infocentros em funcionamento,

sendo 77 na capital e 101 em municípios do interior e do litoral; no final de 2006, eram 400

unidades em todo o estado, e mais de 1 milhão de usuários cadastrados. Existem três tipos de

infocentros: os comunitários, criados em parceria com associações de bairros e outras

entidades comunitárias; os municipais, em parceria com prefeituras; e os postos públicos de

acesso à internet - POPAI, em parceria com órgãos do próprio governo estadual.

O Infocentro Comunitário fornece equipamentos, suporte técnico e suprimentos,

além de salário e a capacitação dos monitores; a entidade com a qual é realizada a parceria se

responsabiliza pela manutenção da sala e pelas despesas cotidianas, como energia elétrica e

limpeza. O Infocentro Municipal é uma parceria do Estado com as prefeituras, que se

encarregam da manutenção da sala, despesas cotidianas, suprimentos, suporte técnico e

salário dos funcionários, enquanto o Estado entra com os equipamentos e a capacitação dos

monitores. Nos POPAIs todas as responsabilidades são do governo estadual: instalações,

funcionários, equipamentos e manutenção.

A formação de monitores para atuar no programa e a produção de conteúdo

focado no exercício da cidadania são realizadas pela Escola do Futuro, da Universidade de

São Paulo. Em salas com dez computadores e banda larga (onde é possível), os usuários têm

acesso livre à internet e a possibilidade de desenvolver projetos comunitários. A coordenação

e financiamento do projeto estão a cargo da Imprensa Oficial do Governo de São Paulo.

(BALBONI, 2007, p.63-64)

O programa Acessa Escola se mostrou adequado, na visão dos seus idealizadores,

no tocante ao acesso de alunos a computadores no período oposto ao de aula. Em vista disso,

o Acessa Escola foi originado a partir da Resolução SEE/SP 037 de 25/04/2008 e

regulamentado pela Resolução Conjunta SE/SGP 1, de 23/06/2008, modificada pela

Resolução SE 30/2011. A primeira “Institui o Programa Acessa Escola para atendimento aos

alunos, professores e servidores das Escolas da Rede Estadual de Ensino” (Resolução SEE/SP

037, 2008), conforme objetivos descritos no Art. 1º:

25

SÃO PAULO (Estado). Acessa São Paulo. Disponível em: <http://www.acessasp.sp.gov.br/modules/

xt_conteudo/index.php?id=1>. Acesso em: 11/10/2014.

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I - disponibilizar à comunidade escolar os recursos do ambiente web, criado

pelo Programa; II - promover a criação e o fortalecimento de uma rede de

colaboração e de troca de informações e conhecimentos entre professores e

alunos da própria escola, ou entre os de outras unidades, de modo a

contribuir com a produção de novos conteúdos; III - universalizar as

atividades de inclusão digital, otimizando os usos dos recursos da Internet

aos alunos, professores e servidores, nos períodos de funcionamento das

escolas; IV - promover e estimular as ações de protagonismo, vivenciadas

pelos alunos do ensino médio, voltadas à área de Tecnologia da Informação

e da Comunicação- TIC.

Ainda em 2008, foi instituída a parceria de implementação do programa, por meio

da Resolução Conjunta SE/SGP 1, de 23/06/2008, a qual definiu o que caberia a cada uma das

secretarias:

Art. 2º - Caberá à Secretaria da Educação, nos termos da Res. SE nº 37/2008:

I - gerenciar, coordenar e acompanhar o desenvolvimento do Programa

Acessa Escola; II - definir: a) as diretrizes de funcionamento do Programa

Acessa Escola; b) a forma e as condições de implantação e operação do

Programa nas unidades de ensino; c) os conteúdos a serem disponibilizados

aos alunos, professores e servidores no ambiente web; d) as atribuições dos

órgãos subordinados em relação ao Programa Acessa Escola; III - avaliar a

adequação do processo de implantação e operacionalização do Programa e o

uso dos equipamentos e do acesso à internet, determinando as medidas que

entender necessárias para a sua melhoria; IV - criar conteúdos voltados ao

desenvolvimento educacional do aluno da rede pública; V - indicar o pessoal

para atendimento e orientação dos alunos, professores e servidores da

unidade escolar no uso dos equipamentos e para o acesso à internet. Art. 3º -

A Secretaria de Gestão Pública é responsável pelo processo de capacitação

do pessoal referido no inciso V do artigo 2º desta resolução.

Os recursos, materiais e humanos, disponibilizados e instalados são:

1. Sala de Internet com computadores conectados a banda larga e mobiliário

adequado constituindo um ambiente cuidado e preparado para receber seus

usuários; 2. Suporte técnico para realizar a manutenção constante dos

equipamentos; 3. Estagiários preparados continuamente para garantir um

atendimento com qualidade e inspirador aos usuários facilitando o uso da

internet, dos recursos de produção de conteúdo e atividades on-line e o

entendimento de como esses recursos podem ser úteis no dia-a-dia. Os

usuários poderão imprimir preferencialmente, dentro da cota mensal da

escola, determinados serviços como: • currículos; • serviços de governo

eletrônico que precisem de comprovante, por exemplo, Atestado de

Antecedentes; • trabalhos escolares produzidos pelo usuário.26

26

SÃO PAULO (Estado). Acessa São Paulo. Manual de procedimentos. Revisado em jan./2013. Disponível

em:

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De acordo com o manual,

Os computadores são de uso livre e gratuito. Os alunos podem acessar fora

do horário de aula ou acompanhados pelos professores durante as aulas.

Todos podem utilizar o computador por trinta minutos e ao final do tempo

podem retornar ao final da fila para acessar novamente por mais meia hora.

E ainda é descrito que os usuários podem:

• Enviar e receber correio eletrônico (e-mail). • Elaborar e enviar currículos.

• Procurar vagas de emprego. • Ler as notícias de qualquer parte do mundo.

• Participar de comunidades virtuais. • Conhecer pessoas novas. • Participar

de redes sociais. • Realizar pesquisas escolares. • Realizar cursos a distância.

• Pesquisar sites de interesse (cultura, esporte, informática, religião, saúde,

lazer etc.). • Publicar seus conhecimentos na internet. • Construir novos

canais de expressão cultural e social. • Elaborar atividades que beneficiem a

escola. • Realizar e estruturar projetos na Rede de Projetos que tragam

benefícios aos alunos e à escola.

O programa foi estruturado em três níveis de gestão:

Gestão Local - GAL - Grupo de Apoio Local - Representantes da escola que

darão suporte aos alunos-estagiários na Sala do Acessa Escola; Gestão

Regional - DE - Diretorias de Ensino: Professores Coordenadores e

Estagiários Universitários que assumirão a implementação do Programa nas

escolas; Gestão Central - Secretarias da Educação, Fundação para o

Desenvolvimento da Educação - responsáveis pela elaboração das diretrizes

que nortearão a implantação, o acompanhamento e a avaliação do Programa

Acessa Escola nas escolas de ensino médio da rede estadual.

Vale ressaltar que, até o ano de 2010, a Escola do Futuro - USP fazia parte da

Gestão Central, com a responsabilidade de elaborar as diretrizes de implantação e acompanhar

a avaliação do Programa, em conjunto com a FDE. Era responsável ainda pela formação dos

alunos estagiários, que, por sua vez, desde o início do programa possuíam bolsa financiada

pelos projetos de estágio da Fundação do Desenvolvimento Administrativo - FUNDAP. A

partir de 2010, as formações passaram ser de responsabilidade da FDE e Diretorias de Ensino.

A partir da implantação do programa, em 2008, gradativamente, as antigas salas

de informática das escolas foram reestruturadas, ou estruturadas nas unidades escolares que

ainda não contavam com esse recurso, a partir de diferentes layouts, de acordo com o tamanho

<http://demparanapanema.educacao.sp.gov.br/SiteAssets/Paginas/acessa%20escola/Capacita%C3%A7%C3%A3

o%20-%20Manual%20de%20Procedimentos.pdf>. Acesso em: 11/10/2014.

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da sala disponibilizada pela direção da escola, como segue nos três modelos, de um total de

oito, os quais podem ser encontrados no Manual de Procedimentos dirigido aos Diretores.

Figura 1 – Layout 1 Sala Acessa Escola - 77,76 m2

Figura 2 – Layout 2 Sala Acessa Escola - 64,00 m2

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Figura 3 – Layout 3 Sala Acessa Escola - 56,00 m2

Ainda existem outros cinco tipos de layout, sendo eles, respectivamente, para

salas de 51,84 m2, 48,00 m

2, 42,00 m

2, 40,00 m

2 e 25,00 m

2. Mesmo com tamanhos

diferentes, todas as salas possuem divisões em baias, como se fossem lan houses, o que

dificulta o trabalho de alguns professores que as utilizam para ministrar suas aulas. Quanto à

manutenção dos equipamentos, os estagiários não têm autorização para tal ação, pois existe

um sistema de outsourcing27

, que se responsabiliza, inclusive, pelo envio dos equipamentos às

escolas.

No final de 2014, o programa estava presente em 4.265 escolas do Ensino Médio

da rede estadual de ensino, abrangendo os municípios do Estado de São Paulo, com 4,8

milhões de alunos cadastrados e 11 mil estagiários. Segundo seus organizadores, no final de

2009, contava com a participação de mais de 195.000 usuários e mais de 5.000 estagiários28

.

Em agosto de 2014, possuía 4.715.672 usuários e 73.937 computadores ativos, com uma

média de 113.953.718 atendimentos.

27

Computadores, impressoras, projetores multimídia, entre outros, são constantemente encaminhados às escolas.

Eles podem ser adquiridos e incorporados ao seu patrimônio ou fazer parte de um contrato de outsourcing,

modalidade onde o que se adquire é o serviço e não o equipamento. Por exemplo, uma empresa contratada por

outsourcing para oferecer serviços de impressão irá disponibilizar uma impressora para a escola, a fim de

garantir que o serviço – que é o objeto do contrato - seja prestado adequadamente. A assistência técnica de cada

equipamento dependerá de fatores como: modalidade de contratação, tempo de uso, tempo de garantia, entre

outros. Para acioná-la, as escolas o fazem por intermédio da Central de Atendimento da FDE, que presta as

orientações necessárias e, quando for o caso, encaminha o chamado para a respectiva empresa, garantindo que a

manutenção seja feita remotamente ou por meio de visita de um profissional qualificado à escola. 28

Alunos da própria escola ou da região, que recebem bolsa de estudos e formação para seu preparo para o

desenvolvimento das atividades nas Salas do Acessa Escola, bem como, segundo os idealizadores do programa

para a inserção no mundo do trabalho e o desenvolvimento da cidadania.

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De acordo com publicação no site do Acessa Escola, o programa enseja a

participação das comunidades intra e extraescolar, buscando o compartilhamento da educação

formal, no que se refere à utilização do espaço como apoio ao processo de ensino e de

aprendizagem, e da educação não formal, quando se trata do uso da sala pela comunidade

local, a fim de promover a inclusão digital de alunos e professores fora de seus horários de

aula e trabalho, respectivamente. A utilização dos equipamentos é individual, os alunos ou

membros da comunidade utilizam o computador por períodos fechados de meia-hora, sempre

com a supervisão de um estagiário.

Na Diretoria de Ensino Região de Caieiras, no mês de junho de 2010, o programa

contava com 227 vagas para estagiários em 57 escolas com Ensino Médio. Foram registrados

22.511 atendimentos aos usuários, que são os alunos das próprias escolas, pois, em conversa

com o Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico - PCNP de Tecnologia29

, nessa mesma

época, obteve-se a informação de que havia uma grande resistência de muitos gestores

escolares em abrir as salas para toda a comunidade, principalmente em autorizar o uso da

internet para acesso às redes sociais digitais. No entanto, em agosto de 2014, houve um

melhor entendimento por parte dos gestores, por conta de pressões, e a Diretoria passou a ter,

de um total de 67 escolas com Ensino Médio, 66 ativadas, com 73.856 usuários e 3.220.894

atendimentos em 1.112 computadores.

Gohn (2004, p.57) aponta que isso ocorre inúmeras vezes nos espaços escolares,

pois existem gestores que ainda não entendem a escola como uma propriedade pública,

muitos têm atitudes que demonstram o sentimento de posse, como se fossem os únicos

“donos”. Observa ainda “que o processo brasileiro de descentralização da educação não

descentralizou, de fato, o poder no interior das escolas. Usualmente, esse poder continua nas

mãos da diretora ou gestora” (GOHN, 2004, p.57).

Outro problema apontado pelo PCNP foi sobre a dificuldade de preenchimento

das vagas de estagiário no período noturno. Uma parcela dos cursos de Ensino Médio está no

horário noturno e os alunos, para participarem do projeto, têm de estagiar em período adverso

ao de aula. Dessa forma, além de ocorrer essa falta de candidatos no noturno, há muitos

alunos esperando por uma vaga nos períodos matutinos e vespertinos, pois os primeiros

classificados no processo de seleção já ocuparam tais vagas.

29

PCNP - Professor Coordenador do Núcleo Pedagógico. Cada Diretoria Regional de Ensino possui professores

designados para diferentes áreas como Matemática, Língua Portuguesa, Biologia, Tecnologia etc. Estes têm

como função promover a formação continuada dos professores das unidades escolares.

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Entretanto, o “puro” acesso às Tecnologias de Informação e Comunicação e às

redes sociais digitais, sem a reflexão do seu uso de forma consciente, pode levar o sujeito à

ilusão de que terá seus direitos resguardados, uma vez que traz sem seu bojo a ideia de

garantia de inserção no mercado de trabalho e, por sua vez, de “participação na riqueza

coletiva” (CARVALHO, 2002, p.10). Contudo se houver uma reflexão sobre a realidade

circundante, essa mesma tecnologia poderá auxiliar para que os sujeitos busquem formas de

participação e garantia dos direitos sociais atrelados aos direitos políticos e civis. Aqui se

apresenta um círculo vicioso, no qual a inclusão digital e o acesso às tecnologias podem

proporcionar, de acordo com a matriz cidadã30

, variadas formas de acesso à informação e, por

consequência, variadas oportunidades de Educação, como a não formal, por exemplo.

No entanto, o que se percebe é que as pessoas que possuem acesso às tecnologias,

em sua maioria, é porque têm ou tiveram acesso a alguma forma de Educação. E, segundo

Carvalho (2002, p.11), a educação, mais especificamente no que se refere à educação popular,

é um direito social que historicamente se configura como “pré-requisito para a expansão dos

outros direitos” (CARVALHO, 2002, p.11). Assim, é necessário que as políticas públicas de

educação e de inclusão digital tenham como foco permitir que os sujeitos tomem

conhecimento sobre seus direitos e se organizem para lutar e conquistá-los.

Nesse contexto, seria importante que políticas públicas de educação e inclusão

digital tanto na educação formal como na educação não formal, como a aqui apresentada,

tivessem o objetivo de construção da cidadania, não meramente de alfabetizar

tecnologicamente de modo a “justificar para que exista, acelerando a internacionalização do

sistema capitalista” (CARVALHO, 2002, p.13).

Da mesma forma, seria imprescindível que, dentro de um cenário globalizado e

neoliberal que acaba por ocasionar a exclusão dos sujeitos de um processo de cidadania, o

programa Acessa Escola – que tem como objetivo unir num mesmo espaço a inclusão digital

para a comunidade escolar e a potencialização dos recursos tecnológicos como apoio ao

processo de ensino e aprendizagem, desenvolvido dentro de uma política pública de inclusão

digital do Governo Estadual – propiciasse efetivamente ao jovem estudante do Ensino Médio

da escola pública estadual uma consciência formada por meio das redes sociais digitais,

favorecendo a articulação dos movimentos e reivindicação das demandas sociais.

30

Matriz cidadã: Possui a perspectiva da conservação de espaços coletivos e de encontros de grupos sociais que

permitam aos sujeitos se reconhecerem com vidas, propósitos, objetivos e problemas similares, havendo neste

cenário o reconhecimento de uma cultura comum. (SILVA, 2008)

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Para tanto, é imprescindível a reflexão sobre as políticas públicas de inclusão

digital para a inclusão social, os conceitos e práticas educacionais, os estudos acerca do

relacionamento entre as teorias e tecnologias da informação e comunicação e redes sociais

digitais, a cultura e sua relação com o trabalho, com a educação e a relação destes, por sua

vez, com a comunidade. E ainda sobre como as Tecnologias de Informação e Comunicação

podem interferir na melhoria do processo educacional ora por meio da educação não formal,

ora por meio da educação formal, permitindo uma maior aproximação entre o sujeito e o

objeto de conhecimento, dentro de um contexto global, no qual se estabelecem as relações

homem-máquina. Contudo, só seria possível se, assim como fala Cortella (2007, p.48), tão

somente se for comprometido eticamente com a verdadeira construção da cidadania.

Na construção da cidadania, as Educações formal e não-formal que forem

eticamente comprometidas repartem práticas que são amiúde diferenciadas,

com frequência em espaços não-idênticos, com caminhos que nem sempre se

entrecruzam, mas com um objetivos em comum. (CORTELLA, 2007, p.48)

3.3.1 A questão do acesso

Ao se falar em acesso, ou na falta dele, reporta-se à questão da “exclusão digital”.

Este é o termo, para Silveira (2008), mesmo com as ressalvas realizadas, que melhor se ajusta

à condição de falta de acesso aos meios de comunicação digital. Ressalta que, até então, o

maior entrave para uma comunicação efetivamente em rede são as “desigualdades

socioeconômicas”, ainda que os custos de equipamentos e acessos tenham sido reduzidos.

A negação do acesso é o núcleo da maior exclusão, aquela que impede que o

cidadão chegue até um computador conectado para se comunicar, do modo

que quiser. Por não se tratar de um processo natural, por não representar as

opções individuais, o termo exclusão digital tem ainda, e infelizmente por

um tempo longo, um enorme valor de uso. Ele identifica o fenômeno do

bloqueio econômico e infraestrutural que impede os segmentos mais

pauperizados de acessarem as redes informacionais. Ele define um processo

excludente que não permite que cidadãos tenham o mais elementar e básico

contato com as redes digitais. (SILVEIRA, 2008, p.55)

O Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística - IBGE, na Pesquisa Nacional por

Amostra de Domicílios (PNAD) referente a 2013, constatou que o Brasil já ultrapassou o

percentual de 49,2% da população com acesso à internet, em 2012, passando para 50,1%, em

2013. Conforme o estudo, o Brasil ganhou 2,5 milhões de internautas, 2,9%, entre 2012 e

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2013, totalizando aproximadamente 86,7 milhões de usuários de internet com 10 anos ou

mais. Desse total, as mulheres são 51,9%.

A taxa de crescimento, no entanto, é a menor registrada pela PNAD: entre 2011 e

2012, ela foi de 6,9%; entre 2009 e 2011, 14,8%; e de 2008 para 2009, 21,6%. Quanto aos

grupos de idade, o acesso se mostrou maior entre as faixas de 15 a 17 anos e de 18 a 19 anos,

alcançando 76% e 74,2% desses jovens, respectivamente, em 2013. Já na faixa etária entre 40

e 49 anos, 44,4% do total acessa a internet. Apenas 21,6% de quem tem mais de 50 anos se

conecta à web.

No que se refere às regiões, Sudeste aparece com 57,7% de internautas, Sul com

54,8% e Centro-Oeste com 54,3%, percentuais superiores à média nacional de 50,1% da

população. Do total, o Norte ficou com 38,6% e o Nordeste, com 37,8%, percentuais abaixo

da média. Todas as regiões brasileiras registraram crescimento de internautas em 2013, com

destaque para o Nordeste com 4,9% e o Sul com 4,5%. O Sudeste teve 2,2%; o Centro-Oeste

com 1,3% e o Norte com 0,4% aparecem em seguida.

Mesmo que os dados sejam promitentes, ainda existem 86,35 milhões de

brasileiros que não têm acesso às redes digitais pelos mais variados motivos, desde falta de

interesse, ausência de conhecimento, por conta dos custos ou pelo motivo mais agravante:

pela falta de infraestrutura adequada. Para todos esses motivos haveria medidas cabíveis para

se mitigar o problema, contudo, os dois últimos comprovam a falta de iniciativa de agentes

responsáveis por implantar políticas que levem à possibilidade de acesso às informações e

relações em rede por meio da internet e redes sociais digitais.

A pesquisa também mostrou que houve um crescimento de 8,8% nos domicílios

com computador. No Nordeste, o aumento foi de 14,0%, com 686,6 mil no total. Em 2013,

dos 32,2 milhões de domicílios com computador, 28,0 milhões estavam com acesso à internet.

No Sul, o crescimento foi de 14,7% no número de computadores com acesso à internet: total

de 50% das unidades domiciliares. Índices superiores aos apontados pelo Mapa da Inclusão

Digital, descrito posteriormente. Contudo, ainda aquém do objetivo da inclusão digital.

Ainda segundo a PNAD, houve um aumento significativo de residências com

celular como meio exclusivo de telefonia, apontando 130,8 milhões de pessoas (com 10 anos

ou mais) com celular, correspondendo a 75,5% da população no Brasil. Em todas as grandes

regiões, houve crescimento do total de pessoas com celular de 2012 para 2013: Norte 5,6%,

Nordeste 6,2%, Sudeste 4,5%, Sul 4,9% e Centro-Oeste 5,1%. Do total de pessoas com

celular para uso pessoal, 21% tinham entre 20 e 29 anos; e 21,2%, entre 30 e 39 anos de

idade. Quanto às regiões, Centro-Oeste aparece com 83,8%, Sul com 80,2% e Sudeste com

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79,8%, percentuais superiores à média nacional de 75,5%. No Norte e Nordeste, a

porcentagem foi de 66,7%.

Esses dados são significativos tendo em vista que, consoante Castells (2013) e

Gohn (2014), como mencionado no primeiro capítulo desta tese, uma das principais

ferramentas de luta utilizadas pelos movimentos e manifestações sociais em muitos países,

inclusive o Brasil, é o acesso às redes sociais digitais por meio da telefonia celular. Tais

números são interessantes para esta tese em particular uma vez que, na análise de dados

apresentada no próximo capítulo, os sujeitos da pesquisa se referem ao uso constante de

celular para acesso às redes sociais digitais, bem como a programas de comunicação como o

WhatsApp.

Outra pesquisa de relevância para se entender o acesso às TICs no Brasil é a

realizada pela Fundação Getúlio Vargas - FGV, em parceria com a Fundação

Telefônica/Vivo, coordenada por Marcelo Neri (2012). Seu Mapa da Inclusão Digital

verificou que, em 2012, apenas um terço dos domicílios brasileiros tinha acesso à internet, o

que os pesquisadores consideram como um grande avanço, pois há dez anos o percentual era

de 10%. Contudo, identificaram que o uso das redes não era tão comum assim como poderia

parecer, levando em conta que de 100 brasileiros com mais de 10 anos de idade, 65 não

conheciam a internet. Isso aprofundado em certas regiões do Brasil.

O Mapa mostrou que o Brasil era o 5º maior mercado de celulares e o 3º de

computadores. Todavia, continuava a ter grandes e complexos entraves na inclusão digital, em

razão de vários indicadores, como os que apresentam que 90% das residências chamadas por

eles de “classe A” tinham computador e conexão, presentes apenas em 2,5% das casas de

“classe E”. Ou seja, de cada dez lares com computador e acesso, sete acomodam os brasileiros

mais ricos.

No ranking dos estados brasileiros com mais lares com computador e conexão,

nas primeiras posições estão estados do Sul, Sudeste e Centro-Oeste e da décima segunda

posição para frente, estados do Norte e Nordeste. No mesmo sentido se configurou a pesquisa

nos municípios, como no caso de São Caetano, em São Paulo, que teve o maior índice de

acesso, com um percentual de 74%, de acordo os pesquisadores, similar ao do Japão. E nas

posições subsequentes, cidades de estados situados na região Sudeste, como Vitória, no

Espírito Santo, Santos, em São Paulo, Florianópolis, em Santa Catariana, e Niterói, no Rio de

Janeiro. Tais cidades foram apresentadas no Mapa como as que possuem os maiores números

de pessoas das classes A e B do país. Nesse caso, Vitória, com 80,6%, é a capital que mais

tem acesso domiciliar por banda larga, seguida de Florianópolis, com 77%. São também as

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capitais com maior proporção de pessoas das classes A e B. Já em Boa Vista e Macapá, o

acesso por banda larga é de 0,36% e 1,69%, respectivamente, com 35,4% e 22% de acesso

discado. Ficando Aroeiras, no Piauí, com zero.

O Mapa comparou essas estatísticas com o percentual do líder mundial, a Suécia,

com 97% de domicílios conectados, índice similar ao da praia da Barra da Tijuca, no Rio de

Janeiro, inclusive em Rio das Pedras, uma favela vizinha, foi registrado o menor percentual da

cidade, 21%, número parecido com o do Panamá.

O estudo demonstrou que 33,1% não têm internet por desinteresse, 31,4% porque

não sabem, sendo citada a questão do custo do computador em apenas 1,76% dos casos e o

custo da conexão, em meros 0,40%. Mostrou também que a estatística varia de acordo com a

localidade, por exemplo, na capital com o maior percentual de inclusão, Florianópolis, que é

líder da banda larga, vigora a falta de interesse em 62% dos lares que não têm acesso. Em Rio

Branco o motivo apontado foi a falta de estrutura, com 42%, enquanto que em João Pessoa as

pessoas não acessam mais por falta de conhecimento (47%). Vale salientar que é onde as

pessoas acessam mais a internet na casa de parentes ou amigos.

Com referência à média nacional, os pesquisadores analisaram que os dois

maiores motivos do não acesso têm origem nas questões educacionais. Para o texto, educação

é a grande variável a tolher o acesso, inclusive mais do que a faixa de renda ou a classe social.

Foi constatado que a chance de uma pessoa com nível superior, ainda que incompleto, acessar

a rede é 100,8 vezes maior que a de um analfabeto. Nessa ótica, referem-se à educação como

“o elemento-chave na promoção social”.

O Mapa apontou que a inclusão digital evoluiu de 8% dos domicílios com internet

para 33% em um período de dez anos, colocando o país em 63º lugar entre os 158 mapeados.

A pesquisa ainda monitorou o efetivo uso da internet e os respectivos locais de acesso quando

verificado em mais de um local, constatando: casa, 57%; lan houses, 35%; trabalho, 31%;

casa de amigos, 20%; escola, 18%; locais públicos gratuitos, 5,5%. Nota-se que a escola

continuou a ser um dos últimos locais buscados para o acesso. No tocante à qualidade do

acesso domiciliar, 80,7% era feito por meio de banda larga e o restante, por meio de acesso

discado.

O texto apresentado no Mapa trata de algumas preocupações a partir da pesquisa,

como o fato de o preço da conexão não aparecer como o maior impedimento para o acesso à

internet, embora a renda estadual se mostre determinante no ranking estadual e municipal de

uso. Contudo, o próprio estudo ressalta que os números não poderiam gerar uma conclusão

precipitada sobre essa questão, já que múltiplos fatores podem interferir nesse resultado. De

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acordo com o estudo, “[...] seria possível que, ao possuir baixa renda, o indivíduo não

enxergasse a importância de ter a Internet como uma alavanca para suas outras habilidades, o

que aumentaria a sua produtividade e consequentemente sua renda” (NERI, 2012).

Outra preocupação apontada pelo estudo se refere às disparidades geradas pela

questão da exclusão digital, mas percebe também uma oportunidade na inclusão:

A brecha digital preocupa não apenas porque a distância de oportunidades e

de resultados entre providos e desprovidos de acesso à Tecnologia de

Informação e Comunicação tende a aumentar numa época de forte inovação

tecnológica, mas pela oportunidade de diminuir esta mesma desigualdade

através de ações que melhorem a distribuição da quantidade e a qualidade do

acesso digital. (NERI, 2012).

O documento ressalta que é difícil medir a conectividade, uma vez que as bases do

estudo permitiram identificar somente o acesso e o uso dos computadores, conectados ou não

à internet, e não o uso das redes. Também que os índices são sintomáticos, uma vez que para

os excluídos “a carteira de trabalho é o símbolo da nova classe média, e a internet banda

larga” é o dos incluídos. Outro sintoma, e este destacado como positivo, é que outro estudo

realizado na década anterior se chamava Mapa da Exclusão Digital; o novo, Mapa da Inclusão

Digital. Contudo, faz-se questão de ressaltar que a metodologia da pesquisa força o tratamento

das alternativas independentes umas das outras, mesmo que se apresentem, por conta de seus

fatores, demasiadamente dependentes.

Diante do exposto, pode-se considerar que o acesso à informação significa um

fator de emancipação do homem, considerando-se que os saberes acumulados pela

humanidade podem ser aplicados em ações que beneficiem a sociedade como um todo e de

forma igualitária. Contudo, existe uma parcela significativa da sociedade que não possui

acesso aos bens culturais e cognitivos que estão disponibilizados nas redes sociais, tampouco

faz parte do sistema de sociedade em rede.

Vale mencionar que a internet e as redes sociais podem fazer com que as pessoas

alcancem saberes de forma mais rápida e ampla do que na pesquisa em bibliotecas –

principalmente no Brasil, onde muitos não têm o hábito ou condição econômica para a leitura

–, museus e até escolas. Porém, é quimérico pensar que todo conhecimento31

humano possa

ser organizado de forma segura no âmbito digital. Também as relações sociais ficam restritas

a uma realidade local.

31

“Conhecimento é um dos bens simbólicos que os seres humanos produzem e utilizam.” (LORIERI, 2005)

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Segundo Lorieri (2005), a escola é uma instituição que se propõe a trabalhar com

um bem, o conhecimento, além de outros. Sendo assim, é de suma importância que provenha

seu acesso a todos que por ela transitem e em todos os tempos. Porém, a maioria delas

também não possui estrutura para essa atuação. No entanto, a parcela dessas instituições

educacionais que tem essa estrutura, em sua maioria, não preza o acesso à informação com

vistas a uma elaboração crítica do conhecimento. Assim como não valoriza as relações sociais

em rede como meio de formação do estudante para uma participação cidadã, atuando como

sujeito histórico responsável pelas transformações e tomadas de decisões.

A falta de consolidação dessa cultura abriu espaço para o surgimento das ONGs,

que fizeram do conhecimento seu instrumento de trabalho, tanto fora como dentro das

instituições educacionais, inclusive se beneficiando do surgimento do ciberespaço, que veio

com a promessa de cobrir a fenda deixada pela educação formal acerca do acesso à

informação e da formação levando em consideração o ser humano reflexivo e crítico de sua

realidade. A intenção não é, mediante a difusão de conhecimento, obter respostas definitivas,

mas questionar sempre as condições dos sujeitos, de maneira que, “com o pensamento mais

amadurecido” (LORIERI, 2005), não aceitem de forma passiva o que lhes impõe essa cultura

globalizada, podendo pensar e repensar suas posições humanas, sociais e políticas.

Para Silveira (2011, p.53), “o poder de conectar em rede ou de bloquear e impedir

que grupos sociais tenham acesso à rede requalifica a ideia de inclusão digital, que passa a

ganhar uma dimensão principalmente democrática”. Destarte, o acesso está estritamente

ligado à inclusão e participação social. Estar incluído digitalmente significa ter acesso à

tecnologia, à internet, às redes sociais digitais e à educação. Contudo, não adianta ter acesso

às TICs se antes não houver o acesso a uma educação que garanta, no mínimo, a capacidade

de leitura e seu entendimento; escrita e suas manifestações de ideias; representações

matemáticas do mundo; pensamento lógico; e, principalmente, pensamento crítico.

Dessa forma, apesar das pesquisas apresentadas neste item, o acesso não se

configura de modo assistencialista, não bastando dispor de computadores por meio de

programas sociais específicos ou disponibilizá-los em centros comunitários. O acesso é um

processo que também ensina a utilizar a tecnologia em prol da sociedade, pois ninguém se

liberta ou se torna independente sem relacionar-se com o outro. Porém, emancipar-se é saber

aprender a caminhar sozinho e “dispensar ajuda” (DEMO, 2000, p.26). É saber, antes de tudo,

como pertencer a espaços desejados e necessários, sejam eles físicos ou virtuais. Nessa

perspectiva, o espaço virtual ocupado de forma compartilhada pode ser uma possibilidade de

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melhoria do espaço físico no coletivo, argumento que faz parte inclusive das reivindicações

presentes nas manifestações populares.

Na questão da limitação ou do acesso às TICs e às redes sociais, no que tange às

informações que elas provêm ou à elaboração do conhecimento a partir delas, ou ainda uma

formação cidadã por meio das relações em rede, pode-se perceber um ambiente cada vez mais

desigual à medida que se examina o movimento do processo de exclusão digital, mesmo que

os dados apontem crescimento desse acesso. A exclusão de uma grande parcela da população

acerca das informações e conhecimentos acumulados pela humanidade e das novas

possibilidades de relações humanas por meio das redes.

Ademais, há uma percepção de que sempre se está correndo atrás do novo, pois, à

medida que um bem ou serviço é disponibilizado, ele não tem mais as mesmas condições de

uso dos mais modernos adquiridos pela classe dominante. Daí a importância do acesso e da

inclusão não se configurar nesses bens de consumo. Que, por mais obsoletas ou avançadas,

sejam ferramentas que auxiliem na transformação da realidade, na construção de uma

sociedade participativa e cidadã.

O que há de revolucionário na internet não é ela permitir a comunicação em

rede. A comunicação em rede sempre existiu desde que os homens

começaram a se relacionar em grupos e em comunidades. Por serem

flexíveis e adaptáveis, as redes têm grandes vantagens sobre as estruturas

hierarquizadas. E por isso se expandiram na sociedade e na economia. Seus

limites, no entanto, eram definidos pela dificuldade de coordenar funções, de

concentrar recursos para determinados objetivos e mesmo de realizar tarefas,

dependendo do tamanho da rede. As tecnologias de informação e

comunicação, sobre as quais se baseia a internet, deram novo impulso ao

desenvolvimento das redes, pois puseram por terra os seus Inclusao digital-

polemica.indd 80 02/12/2011 18:31:55 s 81 s limites naturais ao permitirem

o gerenciamento de tarefas e a administração da complexidade.

(CASTELLS, 2003, p.7-8)

3.4 INCLUSÃO DIGITAL

Tratar do tema inclusão digital requer abordar antes questões intrínsecas a respeito

de inclusão e inclusão social, em razão de ainda fomentarem muitos debates. Ao mesmo

tempo, possibilita uma reflexão sobre o processo de exclusão que a sociedade sofre e, por

consequência, a “inclusão” nesse grupo. Referir-se-á este texto aos estudantes do Ensino

Médio da escola pública que, por meio do acesso aos meios de comunicação e redes sociais

digitais, tomam conhecimento e, muitas vezes, participam das manifestações sociais com o

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objetivo de protestar contra o processo de exclusão a que são submetidos. E, por meio de

reivindicações, buscam ser incluídos numa sociedade que os exclui.

Segundo Sawaia (2001, p.7), a exclusão é um tema da sociedade moderna, “usado

hegemonicamente nas diferentes áreas do conhecimento”. Ao longo da história a essa

categoria foram dadas diferentes definições, assim como na sociedade contemporânea ainda

existe um acirrado debate de seu real sentido. Portanto, esse conceito teve alterações em sua

acepção. Foi e continua sendo apreendido por culturas e grupos sociais variados, pois é por

definição “polissêmico, complexo e movediço” (SAWAIA, 2001, p.8). Refere-se ao acesso

diferenciado às “estruturas econômicas que geram desigualdades absurdas de qualidade de

vida”, acrescenta Wanderley (2001, p.18). A autora, em outra obra, considera que a exclusão

não é representada apenas por rejeitados de forma física, geográfica ou material. Ainda mais,

de todas as riquezas espirituais, o não reconhecimento dos valores culturais também os

excluiria. (WANDERLEY, 2006, p.17-18)

Segundo José de Souza Martins (2003), o que se denomina exclusão é a soma dos

entraves, dos problemas e dos modos precários e marginais de participação social que advêm

das transformações econômicas, defendendo o autor que

[...] o discurso corrente sobre exclusão é basicamente produto de um

equívoco, de uma fetichização, a fetichização conceitual da exclusão, a

exclusão transformada numa palavra mágica que explicaria tudo.

Rigorosamente falando, só os mortos são excluídos, e nas nossas sociedades

a completa exclusão dos mortos não se dá nem mesmo com a morte física;

ela só se completa depois de lenta e complicada morte simbólica.

(MARTINS, 2003, p. 27)

A exclusão não é simplesmente resultado de falta de renda, abarca também outros

fatores, como o precário acesso aos serviços públicos e, especialmente, a ausência de poder.

Outro fator que todo cidadão deveria ter é o direito aos direitos, no entanto, entende-se,

também que ele possa ser utilizado com a finalidade de se obter maior participação na

sociedade. É necessário que não se tome o sentido da palavra exclusão como sinônimo de

pobreza, uma vez que excluídos são aqueles que estão aquém de certos “valores” e

“representações” de determinados grupos. (WANDERLEY, 2001, p.23)

Segundo Sawaia (2001, p.12), “o excluído não está à margem da sociedade, mas

repõe e sustenta a ordem social, sofrendo muito neste processo de inclusão social”. Dessa

forma, considera-se que exclusão em seu cerne não existe, isso porque, se determinado sujeito

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está excluído de um segmento, não significa que não esteja incluído em outro. Assim como

demonstra Santos (2008),

[...] é um campo de lutas sobre os critérios e os termos da exclusão e da

inclusão que pelos seus resultados vão refazendo os termos do contrato. Os

excluídos de um momento emergem no momento seguinte como candidatos

à inclusão. (SANTOS, 2008, p.319)

Desse modo, é necessária reflexão acerca da relação dialética entre tais termos e

sua superação, uma vez que a exclusão e a inclusão, como categorias, não podem existir

isoladamente.

De acordo com Wanderley (2001), não se pode tratar de “exclusão” sem entender

o espaço e o tempo histórico em que ela ocorre, pois são variados os olhares sobre a questão

em diferentes períodos históricos.

O uso da noção de exclusão, no âmbito das políticas públicas, permite a

adesão à políticas que tratam os problemas sociais como adendos, e também

como fatalidades decorrente da hegemonia das leis econômicas e dos

ditames do capital financeiro (fora dos quais se estaria excluído do mundo

“globalizado”). Permite portanto tratar a exclusão como “resíduo

necessário”, ainda que não desejável, das necessárias leis do mercado e da

competitividade do mundo “globalizado”. Efeitos múltiplos que podem ser

mitigados através de múltiplas ações. (FERREIRA, 2002, p.6)

Quando trata sobre o uso do termo exclusão pelas políticas públicas, Ferreira

(2002) argumenta que ele vem sendo tratado de maneira fracionada e isolada, sem um vínculo

com os cenários e conjunturas, ou com as relações e efeitos políticos associados, não se

levando em consideração o conflito existente em cada problemática.

Nas décadas de 60 e 80 o termo foi associado aos grupos sociais denominados

favelados e migrantes, isso por conta da recessão da economia e, por conseguinte, da pobreza.

Especificamente nos anos 80 a noção esteve ligada à luta por moradia, assim como ao acesso

a bens e serviços substanciais para a qualidade de vida. Já nos anos 90 o conceito passou pela

questão da pobreza, esta, por sua vez, com sentido de desqualificação desse grupo e de

negação ao direito de ser cidadão no que se refere à privação do direto aos direitos, “[...] o

conceito de exclusão como a não cidadania, principalmente a ideia de processo abrangente,

dinâmico e multidimensional” (VERÁS, 2001, p.33-35).

Nesse prisma, para Gohn (2005a, p.9), com a “mudança da conjuntura econômica,

o desemprego se tornará o ponto central da questão social, expressa em miséria e exclusão

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social”. A rapidez das transformações e a grande crise do mercado intensificam o processo de

exclusão social, deixando-o em evidência.

Segundo Paugam (2001, p.77), há um movimento de exclusão dos sujeitos do

mercado de trabalho, eles passam por um processo de desqualificação social que os empurra

“para a esfera da inatividade e de dependência dos serviços sociais”. Dessa forma, ultrapassa

os limites das atividades específicas da pobreza econômica. No centro do debate sobre os

mecanismos do processo de inclusão está a sedimentação de ideias caracterizadas pela

valorização do ser humano.

Nessa vertente, Gohn (2005a, p.9) fala que “a crise atual criou novas categorias de

excluídos, desta vez no próprio acesso ao mercado de trabalho”, uma vez que também foram

suprimidas categorias trabalhistas ou formas de trabalho humano. Esses sujeitos envolvidos

nesse contexto, muitas vezes, não se sentem preparados para as novas “categorias funcionais”

(GOHN, 2005a, p.10).

Destacando a exclusão ou inclusão social e sua dialética, para Sawaia (2001) é a

negação de direitos a uns e afirmação de privilégios a outros, ou seja, se inclui uma

determinada parcela em detrimento de outra ainda maior, assim alguns são incluídos, ao

mesmo tempo que um grupo tem negado seus direitos de cidadania.

Para Frigotto,

[...] no âmbito do embate ideológico e político, a exclusão social expressa,

certamente, o diagnóstico e a denúncia de um conjunto amplo, diverso e

complexo de realidades em cuja base está a perda parcial ou total de direitos

econômicos, socioculturais e subjetivos. Sinaliza, quem sabe, o sintoma de

uma realidade contraditória em cuja base está a forma mediante a qual o

capital reage às suas crises cíclicas de maximização de lucro, vale dizer, suas

crises de tendência de queda da taxa de lucro. (FRIGOTTO, 2010, p.419)

Nesse contexto, a competitividade toma destaque, pois requer a exclusão e o

individualismo, características do liberalismo, bem atuante em nossa sociedade capitalista.

Passa a haver uma individualização do que é social, e “quando se fala em competitividade,

dificilmente se assumem as consequências que tal prática pressupõe, principalmente na

construção do mundo da exclusão” (GUARESCHI, 2001, p.150).

Para Frigotto (2010, p.419), a noção de exclusão social consiste “num sintoma da

materialidade que assume a forma capital e seu poder destrutivo no capitalismo tardio”. Para

ele, então, em termos epistemológicos, “a exclusão social não se constituiria num conceito”,

pois não internaliza intervenções peculiares da materialidade histórica da modernidade em

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forma de capital, que teria como ponto central a desigualdade. O autor considera que esse viés

não sustenta o entendimento da realidade acerca da crise do trabalho assalariado e da questão

da desigualdade acirrada do sistema capitalista. Este, por sua vez, na elaboração e

implantação de políticas públicas, não preza o fim da desigualdade, e sim sua administração.

Junto a essa crise, vem a do modelo social, político e cultural, a qual indica

mudanças paradigmáticas do pós-moderno, o que para Young são

[...] tentativas repetidas de criar uma base segura, isto é, de reafirmar valores

como absolutos morais, declarar que outros grupos não têm valores,

estabelecer limites distintos do que é virtude ou vício, ser rígido em vez de

flexível ao julgar, ser punitivo e excludente em vez de permeável e

assimilativo. (YOUNG, 2002, p.35)

Para o autor, isso se configura na solidificação de uma sociedade que exclui, por

conta da alteração do pós-moderno para o moderno do final do século XX e início do século

XXI, que compreende “[...] processos de desintegração tanto na esfera da comunidade

(aumento do individualismo) como naquela do trabalho (transformação do mercado de

trabalho)” (YOUNG, 2002, p.23).

Assim, o ser humano, individualizado, é responsabilizado pelo cenário

desordenado de uma sociedade que não tem como prioridade o social. E as políticas sociais,

segundo Gohn (2005a, p.12), “perdem o caráter universalizante e passam a ser formuladas de

forma particularista”. Surgem, nesse espaço, entidades que têm por objetivo gerenciar tais

políticas e criar programas assistencialistas.

Neste horizonte, a tarefa política é, sem dúvida, transcender às estratégias de

inclusão degradada, sob programas focalizados e de caridade social que

funcionam como alívio à pobreza e manutenção do status quo. Para ir além

do focal, a luta da classe trabalhadora e dos movimentos que a constituem

implica, como indica o historiador Eric Hobsbawm, redefinir o papel do

Estado. (FRIGOTTO, 2010, p.438)

Conforme o autor, isso não de forma a representar o capitalismo, e sim com

objetivos democráticos, implicando a participação da sociedade civil na esfera pública,

fazendo com que se garantam os incontáveis direitos dos cidadãos, tudo organizado com a

plena participação da sociedade em seus coletivos e nos movimentos sociais.

Dado que o modelo vigente não assegura o acesso à conquista e manutenção de

direitos – e, de acordo com Frigotto (2010, p.438), existe “a ideia de que outro mundo é

possível e que os seres humanos e suas necessidades e não o capital e o mercado são a medida

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de todas as coisas” –, a constituição de organizações de forma crítica e participativa poderia

garanti-los, desde que também cumprissem sua função transformadora, atuando como agentes

e fontes de mobilizações, prezando a democracia e cidadania, de forma a

[...] combater o ideário e os valores neoliberais e de prosseguir lutando para

construirmos sociedades fundadas nos valores e princípios da igualdade,

solidariedade e a generosidade humana, colocando a ciência e a técnica e os

processos educativos a serviço da dilatação da vida para todos os seres

humanos. (FRIGOTTO, 2010, p.438)

A inclusão social é também uma questão de políticas públicas desatualizadas, pois

“a política social só será social se for emancipatória” (DEMO, 2000). Ela não pode ser

simplesmente compensatória, mas transformar indivíduos em sujeitos autônomos e

conscientes de suas realidades. A perspectiva assistencialista deve ser substituída pela que

privilegia os direitos. A inclusão social precisa ter em seu horizonte a construção de uma

sociedade participativa, democrática e questionadora em todos os campos do sistema social.

Nessa ótica, faz-se necessária uma educação inclusiva que leve à construção de

uma sociedade também inclusiva, uma sociedade em que os espaços e insumos possam ser

compartilhados. Na qual a criação e implementação de políticas educacionais e de inclusão

social tenham como fim uma sociedade formada por sujeitos (individuais e coletivos) que

compartilhem os mesmos princípios no tocante à conquista de direitos a partir de necessidades

coletivas. Ou, como afirma Frigotto,

[...] A antinomia inclusão-exclusão somente pode ser tomada como sintoma

de relações sociais, estrutural e organicamente, geradoras da desigualdade.

Relações que precisam ser rompidas e superadas. Esta travessia implica

teoria densa e ação política organizada, vale dizer, práxis revolucionária.

(FRIGOTTO, 2010, p.438)

Isso posto, infere-se que a exclusão social continua inexorável, mesmo com a

execução de políticas tais como as citadas, mesmo porque frequentemente mostram-se novas

e variadas formas de exclusão. E, a partir do final do século XX, demonstrou-se a exclusão

dos que não têm acesso às TICs e às redes sociais, a chamada exclusão digital. Daí a

importância de tratar, mesmo que de forma sucinta, sobre inclusão/exclusão social para se

compreender em que proporção a inclusão digital pode, ou não, acarretar mudanças na

conjuntura social e econômica em uma sociedade conectada em rede sociais.

Cabe considerar que o termo exclusão digital também possui diferentes

significados para diferentes sociedades e suas formas de relações sociais. Em seu sentido mais

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específico e comum, se refere ao não acesso às novas tecnologias de informação e

comunicação, com ênfase na internet e redes sociais digitais. Entre as caracterizações mais

assimiladas pelo senso comum, a inclusão digital seria o acesso e a qualificação ou

alfabetização no uso de programas de computador e leitura de códigos computadorizados, em

uma lógica mercadológica na qual o indivíduo incluído estaria mais preparado para a

competição do mercado de trabalho. Nessa linha de pensamento, organizações privadas e

governamentais bem como muitas ONGs disponibilizam, de forma direta ou indireta, projetos

ou cursos com essa finalidade.

Mesmo nessa concepção limitadora e reducionista o fato não ocorre, pois esse tipo

de preparação nunca garantiu ingresso no mercado de trabalho. No entanto, existe um

discurso político-partidário de que é imprescindível o acesso às informações para se possam

obter mais oportunidades, e para isso se implementam políticas públicas com medidas que

[...] propõem a universalização do acesso às tecnologias da informação e

comunicação, sendo declaradas como ações de combate ao que se denomina

por exclusão digital. Essas medidas, em termos gerais, são conhecidas como

programas ou projetos de inclusão digital e vêm sendo implementadas tanto

pelo setor público, quanto pelo setor privado e organizações do terceiro

setor. (BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.24)

Segundo os autores, muitos são os debates acerca da questão, que, contudo, tem

sido focalizada de maneira diferente: o acesso à qualificação nas mídias digitais para inserção

no mercado de trabalho, numa vertente que privilegia as práticas produtivas. Contudo, para

uma inclusão cidadã no que tange à conquista de direitos sociais, culturais e econômicos,

reduzir o conceito a uma alfabetização tecnológica não é aceitável.

Treinar pessoas para o uso dos recursos tecnológicos de comunicação digital

seria inclusão digital? Para alguns autores, tais iniciativas não seriam

suficientes para incluir digitalmente. Democratizar o acesso a tais

tecnologias seria, então, incluir digitalmente? Não há consensos para tais

questões. (BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.24)

Em sua maioria, esses programas são deslocados das políticas públicas em pauta,

segundo os autores. Eles não dão a devida importância à densidade das relações sociais,

abordando o termo de maneira desprendida e desarticulada dos contextos e conjunturas

sociais, prezando mais uma vez as questões sociais para as políticas compensatórias e

tecnicistas.

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Nesse sentido, Bonilla e Souza (2011) destacam que a apropriação e o uso das

TICs figuram como indispensáveis, fazendo com que se multiplique o número de programas e

cursos que disponibilizam aprendizado técnico referente à utilização das TICs. Com isso,

reproduz-se um conceito de inclusão digital e mitiga-se a exclusão social por meio de

iniciativas com esses fins de ONGs e organizações privadas, não obstante, como política

pública por parte de muitos governos. Contudo, para os autores, “essa relação não é natural, e

só poderá ser estabelecida à medida que o primeiro termo for (re)significado e assumir não

mais a ideia de cursos básicos de informática e sim de formação do indivíduo para o exercício

da cidadania” (BONILLA, SOUZA, 2011, p.91).

Para Paulo Freire (2005), a partir de uma visão crítica de sua realidade, só o

homem é capaz de modificar seu estado vigente. Por isso, partindo-se dessa compreensão, é

imprescindível que se tenha objetivos concretos para a vida, não só em relação ao âmbito

profissional. Assim, conforme afirma Paulo Freire (2005, p.48), “[...] nas relações que o

homem estabelece com o mundo há, por isso mesmo, uma pluralidade na própria

singularidade”.

Warschauer (2006, p.23) fala que o ponto fundamental relacionado ao uso das

TICs pela parcela da população menos favorecida “não é a superação da exclusão digital, mas

a promoção de um processo de inclusão social. Para realizar isso é necessário „focalizar a

transformação e não a tecnologia‟”. Com isso, o autor nega que a exclusão digital esteja na

oposição dos que acessam as TICs e afirma que esse ponto de vista é deficiente para o

desenvolvimento social. Sugere assim uma perspectiva social transformadora, na qual se

considerem complexos aspectos sociais relacionados à questão das desigualdades no uso das

TICs. (BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.32)

Segundo Pierre Lévy (1999), as relações sociais com participação cidadã terão

maiores possibilidades democráticas e participativas se o espaço digital estiver a favor do

desenvolvimento das localidades onde estão as classes menos favorecidas social, econômica e

culturalmente, valorizando-as por meio de projetos e ações que busquem a transformação

daquela realidade. Para tanto, é preciso que haja uma maior participação social, além de uma

atuação mais incisiva dos poderes públicos, com políticas afins.

Incluir digitalmente visa, primeiramente, ao acesso dos sujeitos de todas as classes

e camadas sociais a variados tipos de informação sim, contudo, essa informação deve servir

como base para uma reflexão crítica no que se refere a uma inclusão emancipadora. É preciso

promover oportunidades de acesso não só às tecnologias da informação e redes sociais

digitais, mas também aos bens culturais, econômicos e, principalmente, sociais. Com vistas a

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uma cidadania resultado da ação de sujeitos críticos, autônomos e construtores de sua história

e do grupo ao qual pertençam. É primordial que esse acesso às informações possibilite a

transformação da realidade do mundo, incluindo a escola, o bairro, a cidade, o estado, o país.

A inserção irresponsável e desigual do sujeito no uso das TICs pode reforçar ainda

mais a segregação na sociedade, uma vez que não é possibilitado a todos, principalmente aos

pobres, o aprimoramento de habilidades tecnológicas que possam ser aplicadas para o

desenvolvimento da cidadania. Dessa forma, para Silveira (2011, p.51), a comunicação e a

informação são fundamentais para que esse processo ocorra, contudo “[...] é perceptível que

os líderes políticos e gestores públicos têm grande dificuldade de entender a importância da

inserção do conjunto das camadas sociais na comunicação em rede para romper o processo de

reprodução da miséria”.

O autor cita Castells quando afirma que o poder é decidido no âmbito dos meios

de comunicação e que, antes das redes sociais, isso somente era possível em países que

fossem democráticos.

Com o advento da comunicação distribuída em redes digitais, mesmo em

países ditatoriais, se conformam espaços de diálogos horizontais entre

grupos e indivíduos conectados. Independente da comunicação em rede estar

sob os olhares dos ditadores e submetida ao rastreamento promovido pelas

polícias políticas e antiterror, o bloqueio das articulações e dos movimentos

de opinião é muito mais difícil do que em um cenário pré-internet.

(SILVEIRA, 2011, p.51)

Para o autor, nessa perspectiva, se houver de fato a inclusão das camadas sociais

menos favorecidas socialmente no uso das redes sociais digitais, a tendência é que as

contestações políticas sejam alteradas e se tornem mais profundas. Para ele, com base

conceituação de Castells, em que a interação da comunicação e relações de poder

caracterizam a sociedade em rede, as inter-relações em rede podem transformar o universo de

disputas cada vez mais acirradas, isso por conta da transparência dos conflitos ocorridos nesse

novo espaço social e digital. “Nesse sentido, pode-se dizer que a inclusão digital autônoma do

conjunto das localidades de um país é uma exigência atual da democracia política, bem como

do ideal deliberacionista” (SILVEIRA, 2011, p.52).

Dessa forma, para Bonilla e Oliveira (2011), o acesso democrático às TICs e às

redes sociais digitais é, antes de tudo, constituído pelo direito à participação nas decisões

sobre os rumos das políticas públicas, é a soberania popular atuando no que tange aos direitos,

é a colaboração em processos horizontais, que fundamentam a organização de uma sociedade

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em rede. Transcende e sobressai-se ao que propõe a inclusão digital baseada no tecnicismo e

no senso comum, bem como à fundamentação de mitigação das desigualdades sociais – não

que estes não sejam desejáveis, mas não sem o primeiro. Contudo,

Essa tarefa social requer abordagens políticas transformadoras, articuladas e

focadas em suas múltiplas dimensões. Pode-se admitir que a garantia e

efetivação dos direitos humanos e as transformações sociais a elas

associadas se encontram “embrionariamente” no cerne da construção da

cidadania demandada pela contemporaneidade. (BONILLA, OLIVEIRA,

2011, p.43-44)

No entanto, a relação que a escola formal tem tido com a questão da inclusão

digital está também na capacitação técnica de professores, e em algumas escolas privadas são

ministrados cursos de utilização das ferramentas tecnológicas, sem, contudo, se levar o

estudante a uma reflexão das possibilidades de seu uso no que se refere à inclusão. Na escola

pública o cenário é mais agravante, uma vez que os alunos nem sequer têm acesso às

ferramentas tecnológicas. Porque, em algumas regiões, não dispõem desses equipamentos, ou

do acesso por meio das redes de telefonia; ou ainda por não ser permitido, primeiro por

desconhecimento de muitos gestores das possibilidades das TICs, segundo pela falta de

preparo dos docentes, terceiro pela ausência de interesse dos discentes. Isso no caso de

assuntos relacionados ao ensino tradicional, pois, quando conseguem adentrar esses espaços,

buscam atividades de lazer e relações pessoais, uma vez que não conhecem, de forma crítica,

o poder comunicacional das redes sociais. Dessa forma, a articulação

[...] entre os projetos de inclusão digital e a educação resume-se à realização

de atividades escolares (pesquisas!) nos infocentros/telecentros. Isso parece

ser uma possibilidade bastante útil aos estudantes. No entanto, continua a

perspectiva do consumo de informações e não se verificam articulações entre

as atividades realizadas nesses espaços e as dinâmicas pedagógicas

desencadeadas nas escolas que esses jovens frequentam. Também, essa

articulação não está proposta, prevista, ou estimulada pelas políticas

públicas. (BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.39)

No entanto, há mais nessa relação da escola com a inclusão, quando, na sociedade,

todos os dias as pessoas têm que lidar com alguma TIC e acabam por aprender no cotidiano. E

assim, a escola, nesse viés, necessita da organização de um trabalho pedagógico que tenha

vistas a uma função social para tal aprendizado.

Contudo, paralelamente à educação formal, caminha um grupo de estudantes que,

de maneira não formal, buscam interagir numa sociedade em rede, de forma a criar outras

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interações capazes de intervir mais no campo da comunicação, combinando tecnologias e

soluções da informação com vistas ao atendimento das demandas sociais, por meio de

contestações ao que está posto em movimentos e manifestações sociais. Isso num cenário de

“grande assimetria na capacidade de usar as redes sociais digitais, entendida aqui como meio

e fonte de poder, como base para a articulação das outras redes culturais, sociais e políticas”

(BONILLA, OLIVEIRA, 2011, p.53).

Por tudo isso, a escola deveria ser um espaço de formação crítica em

comunicação, no qual a conectividade seria apenas o primeiro passo de uma trilha para a

apropriação do uso das tecnologias, por um caminho que teria como horizonte a mobilização e

a solidificação de movimentos sociais com efetiva participação política na sociedade. Nessa

perspectiva, vale a pena retomar as duas matrizes básicas de análise da questão: a forma

mercadológica e a forma cidadã.

3.4.1 Matrizes de análise

As matrizes de análise apresentadas a seguir foram elaboradas na dissertação de

mestrado da pesquisadora, a matriz mercadológica e a matriz cidadã. (SILVA, 2008) Sendo

que a segunda serve como base para inferência no que diz respeito à forma de participação

numa sociedade democrática. Desse modo, devido ao objeto de estudo desta pesquisa, bem

como pelos referenciais, universo e cenário e sujeitos apresentados nesta tese, considerou-se

pertinente revisar e utilizar novamente essas matrizes de análise para operacionalizar a análise

de campo. Isso porque a investigação se configura sob um prisma de participação crítica e

cidadã de sujeitos em uma sociedade em rede que busca, de forma democrática, inserir-se nos

processos de demanda de direitos econômicos, sociais e culturais por meio de protestos e

reivindicações em movimentos e manifestações sociais.

A primeira matriz, a “mercadológica”, tem como indicadores principais o

mercado e o discurso sobre a mercadologia. Ela tem como “bandeira” o fato de se apresentar

como uma ferramenta para a empregabilidade, especialmente para os setores mais pobres da

população. Ela é vista sob a perspectiva de um ativo de valores que agrega possibilidades de

ingresso no mercado de trabalho. A relação de mercado passa ser a mais importante finalidade

do processo de inclusão do indivíduo na sociedade em que está inserido. Destarte, a inclusão

digital passa a ser propriamente um fim, e não um meio, para a construção de uma sociedade

mais justa.

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Essa matriz vê o indivíduo como um dos elementos a ser equacionado nessa

sociedade excluída. Como o foco é o mercado, ele – o indivíduo – é visto também como uma

mercadoria, pois sua inserção e competição aquecem o sistema mercadológico. Nessa

concepção, a intenção precípua não é garantir o direito à vida digna, e sim o lucro e os bens de

consumo de forma individual. A percepção é de que nada instiga o ser dominado, que age

como um “autômato”, a refletir para reverter essa realidade. A situação-limite que poderia

desafiá-lo foi superada pelo individualismo em relação ao outro.

Os indivíduos são colocados na situação de espera, supondo que por meio de

políticas assistencialistas, ou programas de capacitação, serão inseridos no mundo do trabalho

e, por conseguinte, terão suas vidas melhoradas. Ou seja, na perspectiva individual, a melhora

de suas vidas depende de cursos ou de auxílios. Assim, segundo Demo (2000), não se

percebem incapazes de gestar suas próprias oportunidades. Não se localizam no mundo, com

seus desafios, limites e reais possibilidades.

Nessa visão, as TICs intensificam as atuais formas de exclusão que tornam o

homem submisso e “pensado” pelos outros. Não há a consciência de que é necessário

transformar para melhorar a realidade do grupo ao qual pertence, para que cada um dos seus

agentes também possa viver de forma, no mínimo, digna.

Vale destacar desde logo que as TICs não são neutras, já que é o contexto de seu

uso que define seu caráter. A partir de determinadas perspectivas, elas podem ser definidas

como “boas” ou como “más”. Dependendo das intenções, ou mesmo da questão cultural, elas

podem aumentar e reforçar uma cultura de massa alienante, na qual os excluídos são

marionetes nas mãos dos dominantes, ou, ao contrário, podem promover consideravelmente o

desenvolvimento do processo de ensino e de aprendizagem em busca do conhecimento, por

meio das informações acumuladas pelos seres humanos. Neste último sentido, elas

possibilitam aos indivíduos se perceberem e se tornarem capazes de orientar suas vidas e

transformar sua realidade local. Esta última forma configura o pensamento da segunda matriz,

chamada de “cidadã”.

A matriz cidadã tem como princípio a participação social em rede e a utilização

das TICs para a construção de uma sociedade menos desigual, num ato coletivo. Nela o

sujeito, de forma crítica, busca formas de utilização das TICs para a resolução dos problemas

sociais, especialmente os locais. Certamente, para que a participação cidadã se viabilize, é

essencial à implementação de políticas públicas que tenham como prioridades garantir o

acesso à informação, a elaboração de conhecimentos e a participação da sociedade na tomada

de decisões, bem como sua inserção na esfera pública.

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Para essa matriz, devem ser proporcionados meios para que o sujeito possa

manter-se e para que seja capaz de perceber-se como participante de um grupo cujos membros

têm o direito de viver bem. Esse grupo, usualmente, tem base no local de moradia ou trabalho.

Entretanto, esse “localismo” também deve ser plural, ou seja, deve-se partir do trabalho em

determinado bairro ou território de ação, porém também buscar um mundo onde se possa

viver com dignidade, com direitos econômicos, sociais e culturais garantidos e com uma

distribuição justa de riquezas. Por isso, a ação local não se encerra nela mesma, ela apenas

inicia-se num ponto demarcado. Sua meta é mais ampla.

Assim, a participação consciente em rede, física ou digital, pode ser uma das

formas de inclusão social, desde que esteja inserida num cenário mais amplo e proporcione ao

homem condições de autonomia e emancipação. Ela deve ser educativa, e não simplesmente

assistencial; deve ainda ser o meio, e não o fim, tendo por finalidade construir uma sociedade

justa e igualitária.

Segundo Demo (2000), a inserção social deve ser educativa, mas todo processo

emancipatório necessita de apoio externo, ou seja, necessita de ajuda. Os atores, os órgãos e

as entidades, atuando segundo a matriz cidadã, não visam, portanto, somente à capacitação

para o mundo do trabalho ou criação de programas assistencialistas; eles atuam para educar

para a cidadania. Nessa perspectiva, a inclusão social e a participação cidadã têm como

desígnio a inserção do sujeito numa sociedade justa, solidificando o desenvolvimento local.

Visa, além disso, promover a cidadania, de forma participativa, ampliando-a como meio de

luta, seja por intermédio da mesma participação ou de protestos, manifestações e movimentos

sociais contra as injustiças sociais. Deve ser ferramenta de combate ao desemprego, à

pobreza, à fome, à miséria e à desqualificação social, que, na perspectiva material32

, são as

piores formas de exclusão social. Significa melhorar o quadro social e as condições de vida de

das comunidades articuladas em uma sociedade em rede e cidadã.

32

O termo “perspectiva material”, utilizado aqui com base em Pedro Demo (2000), está sendo empregado para

se fazer referência à carência material como indicador de uma forma exclusão, assim como a perspectiva política

representa a carência de conscientização da realidade por meio da educação, também como indicador e outra

forma de exclusão social.

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CAPITULO IV – MOVIMENTOS SOCIAIS, EDUCAÇÃO E REDES SOCIAIS:

PESQUISA DE CAMPO

Este capítulo dedica-se à análise do material de pesquisa de campo, realizada por

meio de questionário e uma roda de conversa com alunos do Ensino Médio de escolas

públicas da Secretaria de Educação do Estado de São Paulo, especificamente dos municípios

de abrangência da Diretoria de Ensino de Caieiras. Essa região abarca um território onde

grande parcela da população é carente, principalmente dos municípios de Franco da Rocha e

Francisco Morato, por serem os mais populosos e com maior percentual de domicílios que

não ultrapassavam meio salário mínimo per capita no ano de 2010. Ainda fazem parte os

municípios de Caieiras, Cajamar e Mairiporã, os quais também possuem áreas desprovidas de

recursos sociais e econômicos (Anexo 1).

4.1 APRESENTAÇÃO DO RESULTADO DA ANÁLISE DO INSTRUMENTO

Primeiramente, foram aplicados questionários, disponibilizados em um espaço

virtual, por meio da internet. Estes foram respondidos de forma individualizada, nos

computadores da sala do Acessa Escola, ficando ao dispor para posterior análise e

interpretação dos dados por meio de estatística descritiva, de maneira a identificar os

percentuais das opiniões dos estudantes, enquanto nas questões abertas foram selecionadas as

respostas em comum e as julgadas pertinentes ao trabalho. No quadro de respostas 1

(Apêndice 2) são apresentados os nomes das 29 escolas, de um total de 63, e os números e

percentuais de participação de cada unidade escolar e seus alunos na pesquisa.

Para que os alunos pudessem iniciar o preenchimento do questionário, foi escrito

um texto explicativo de seus objetivos, como segue:

Esta pesquisa tem apenas a intenção de cunho acadêmico, a qual tenta traçar

a participação social e política dos estudantes nos movimentos sociais/

movimentos de reivindicação e manifestações populares de reivindicações

ocorridos nos últimos dois anos, bem como traçar a importância da

informação e comunicação do uso da sala do Acessa Escola.

Na sequência, foram apresentadas questões divididas em quatro blocos. O

primeiro bloco tentou traçar o perfil dos alunos. No segundo bloco foram adicionadas

questões formuladas no sentido de permitir identificar como se dão os usos educacionais da

internet e redes sociais. O terceiro bloco tem a pretensão de apresentar, para posterior análise,

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o grau de conhecimento dos estudantes acerca dos movimentos ou manifestações sociais. E

finalmente o quarto bloco aborda a possível participação dos estudantes em movimentos e/ou

manifestações e o que os levou a esse engajamento.

4.1.1 (A) Perfil

Nesse bloco buscou-se apresentar um rol de questões que possibilitasse traçar o

perfil dos estudantes que responderam ao questionário.

No que se refere à questão de gênero, foi equilibrada a participação de alunos do

sexo masculino, com 48%, e do feminino, com 52 % (Gráfico 1). Na questão idade, a grande

maioria dos estudantes do Ensino Médio que responderam ao questionário estava na faixa

etária dos 15 aos 20 anos. Até 14 anos eram apenas 5 alunos, não chegando a 1%; 7% do total

possuía 15 anos; 40% estavam com 16 anos; e 41%, com 17 anos. Observa-se também 10%

dos alunos pesquisados com idade entre 18 e 20 anos e somente 8% ultrapassavam os 20 anos

(Gráfico 2).

Sobre limitações, apenas 1% dos alunos declarou possuir algum tipo de

deficiência, ficando entre física e múltipla, e 99% afirmaram não ter deficiência (Gráfico 3).

Sobre estado civil, 95% dos alunos eram solteiros, com algumas exceções de alunos casados,

somando 4%, e separados, 1% (Gráfico 4). Quanto ao número de filhos, 96% não os tinham,

2% tinham um filho e 2%, quatro ou mais (Gráfico 5).

Gráfico 1 – Questão 1: Sexo

Masculino

600 48%

Feminino

662 52%

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Gráfico 2 – Questão 2: Idade

Gráfico 3 – Questão 3: Deficiência limitante

Gráfico 4 – Questão 4: Estado civil

Até 14 anos

5 0%

15 anos

93 7%

16 anos

510 40%

17 anos

515 41%

De 18 a 20

anos 131 10%

Mais de 20

anos 8 1%

Auditiva

1 0%

Física

5 0%

Múltipla

6 0%

Nenhuma

1.250 99%

Solteiro(a)

1.204 95%

Casado(a) / Mora com um(a)

companheiro(a) 48 4%

Separado(a) / Divorciado(a)

10 1%

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Gráfico 5 – Questão 5: Quantidade de filhos

Embora a maioria dos dados estatísticos de pesquisas recentes apresente um

grande número de adolescentes com gravidez precoce, os alunos que responderam a esta

pesquisa não ratificam esse cenário, pois são poucos os que possuem filhos.

Perguntados sobre o tipo ou modo de moradia, 95% responderam que moravam

com pais ou parente, 2% com cônjuge e filhos, 1% sozinho e 1% em algum tipo de habitação

coletiva (Gráfico 6). Já acerca da quantidade de pessoas na residência, 37% declararam que

havia cinco ou mais indivíduos na mesma casa, 33% responderam quatro, 21% disseram ter

três, 7% somente duas pessoas e, como apresentado na questão anterior, 1% mora sozinho

(Gráfico 7).

Gráfico 6 – Questão 6: Tipo ou modo de moradia

Nenhum

1.215 96%

Um

20 2%

Dois

4 0%

Três

1 0%

Quatro ou mais

22 2%

Em residência, com meus pais/ parentes

1.204 95%

Em residência, com esposa(o) / filho(s)

24 2%

Em casa ou apartamento, sozinho(a)

8 1%

Em habitação coletiva: hotel, hospedaria,

quartel, pensionato, república

7 1%

Outros

19 2%

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Gráfico 7 – Questão 7: Quantidade de pessoas na residência

Dos alunos que responderam ao questionário, quase a totalidade mora com os pais

ou parentes, se devendo esse dado à faixa etária. Contudo, uma parcela considerável reside

com mais de quatro pessoas.

Sobre a situação de sustento, 62% tinham os gastos financiados pela família, 21%

trabalhavam, mas também recebiam ajuda da família, 15%, além de se sustentar, contribuíam

em casa e 3% recebiam ajuda externa (Gráfico 8). Quanto à renda mensal familiar, 5%

recebiam ajuda externa, 25% afirmaram contar com renda familiar de até um salário mínimo,

34%, até dois salários mínimos, 25%, de dois a cinco, 8% de cinco a dez e 4% declararam que

a renda familiar é de mais de dez salários mínimos (Gráfico 9).

Gráfico 8 – Questão 8: Situação de sustento

Moro sozinho(a)

14 1%

Duas pessoas

93 7%

Três pessoas

265 21%

Quatro pessoas

417 33%

Cinco ou mais pessoas

473 37%

Meus gastos são financiados pela

família 784 62%

Trabalho e recebo ajuda da família

263 21%

Trabalho e me sustento e/ou contribuo

com o sustento da família 189 15%

Recebo ajuda externa

26 2%

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Gráfico 9 – Questão 9: Renda mensal familiar

Apenas uma pequena parcela recebe auxílio de governos, e mais da metade das

famílias tem renda de até dois salários mínimos, um dado que vem comprovar os estudos

socioeconômicos sobre a carência de muitos nessa região. Contudo, mais ou menos um terço

dos estudantes, apenas, está inserido no mercado de trabalho, apesar de residirem em regiões

carentes da Grande São Paulo.

Acerca do tipo de formação escolar nos ensinos Fundamental e Médio, 91%

responderam que até aquele momento só haviam frequentado escola pública, apenas 1% havia

estudado até o ano anterior em escola particular, 6% estudaram parte na escola pública e parte

na particular, 1% em escola diferencial e 2% em escola pública integral (Gráfico 10). No

questionamento sobre locomoção para a escola, 9% declararam se deslocar de carro, 1% de

moto, 32% de ônibus ou van, 1% de bicicleta, 54% a pé ou de carona e 4% de transporte

conveniado (Gráfico 11).

Gráfico 10 – Questão 10: Tipo de formação escolar

(Ensino Fundamental e Médio)

Recebem ajuda de custa do governo

/ externa 61 5%

Até 1 salário mínimo (até R$

724,00 inclusive) 316 25%

Até 2 salários mínimos (até R$

1.448,00 inclusive) 432 34%

De 2 a 5 salários mínimos (acima de

R$ 1.448,00 até R$ 3.620,00

inclusive)

312 25%

De 5 a 10 salários mínimos (de R$

3.620,00 até R$ 7.240,00 inclusive) 96 8%

Mais de 10 salários mínimos (mais

de R$ 7.240,00) 45 4%

Toda na escola pública

1.150 91%

Até o último ano toda na escola particular

7 1%

Parte na escola pública e parte na particular

73 6%

Escola pública ou particular através de

ensino supletivo ou educação de jovens e

adultos

1 0%

Escola pública diferenciada (rural, indígena

ou quilombola) 7 1%

Escola pública integral

24 2%

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Gráfico 11 – Questão 11: Locomoção mais utilizada para ir à escola

Quase todos sempre estudaram em escolas públicas. A maioria não utiliza nenhum

tipo de transporte para ir à escola, em seguida uma parcela considerável utiliza ônibus ou van,

pagos pela SEE.

Os dados apresentados nesse bloco confirmam o carecimento enfrentado por

muitos dos alunos dessa parte da Grande São Paulo. Se a metodologia de trabalho

contemplasse uma classificação por município, haveria desproporções de uma cidade para

outra, podendo-se verificar os dados socioeconômicos (Anexo 1).

4.1.2 (B) Usos educacionais - internet / redes sociais

Esse bloco se dedica a questões que mostram como se dão os usos educacionais

da internet e redes sociais.

No que se refere à participação em atividades escolares além das aulas, 30% dos

alunos consideram ser mais relevante para sua formação a participação em aulas na sala do

Acessa Escola, 17% em projetos diferenciados, 12% em atividades do Grêmio Estudantil e

50% declararam não ter participado de nenhuma dessas atividades (Gráfico 12). Já quanto à

frequência na sala do Acessa Escola, 60% afirmaram que utilizam a sala somente durante as

aulas, acompanhados por professores, 23% em aulas vagas, 14% fora do horário de aula e

20% disseram nunca ter frequentado a sala de informática (Gráfico 13). Dos alunos que

utilizam a sala, 77% disseram que tinham objetivo de pesquisa, 23% para as redes sociais,

21% para navegar em sites diversos e 11% responderam que para outras atividades (Gráfico

14).

Carro

110 9%

Moto

12 1%

Ônibus / Van

400 32%

Bicicleta

18 1%

A pé ou de carona

676 54%

Transporte conveniado

Estado / Município 46 4%

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A respeito do uso das redes sociais, 81% disseram navegar no Facebook, 55% no

YouTube, 28% utilizavam o Instagram, 14% o Twitter, 4% navegavam em outras redes e 12%

não utilizavam as redes sociais (Gráfico 15). Quanto à finalidade do uso das redes sociais,

77% responderam que as utilizavam para obter informações, 39% para atividades sociais,

36% para conhecer outras pessoas, 22% declararam que desenvolviam atividades

profissionais, 21% para manter relacionamentos e 4% para outros fins (Gráfico 16).

Gráfico 12 – Questão 12: Atividade escolar, além das aulas, de que participa / participou e

considera de maior relevância na formação33

Gráfico 13 – Questão 13: Tipo de frequência na sala do Acessa Escola34

Gráfico 14 – Questão 14: Tipo de utilização da sala do Acessa Escola35

33

Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%. 34

Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%. 35

Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%.

Grêmio Estudantil

153 12%

Projetos diferenciados

216 17%

Sala do Acessa Escola

(sala de informática) 383 30%

Não participei das

atividades citadas 626 50%

Durante as aulas com os

professores

757 60%

Fora do horário de aula

176 14%

Em aulas vagas

290 23%

Nunca frequentou a sala do

Acessa Escola

249 20%

Pesquisa

969 77%

Navegar em sites

diversos 261 21%

Redes sociais

291 23%

Outros

144 11%

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Gráfico 15 – Questão 15: Redes sociais utilizadas36

Gráfico 16 – Questão 16: Atividades nas redes sociais37

Ainda não são muitos os alunos que participam de atividades escolares

diferenciadas, observação que vem reforçar que a escola não promove práticas escolares

pedagógicas além das tradicionais. Apesar de os alunos responderem que frequentam a sala

do Acessa Escola durante as aulas com professores, esse tipo de utilização, bem como fora do

horário de aula, está aquém do que seria necessário para que essa ferramenta passasse a ser

utilizada de fato com vistas à conquista de direitos. A questão é que não foi indicada a

frequência com que os professores utilizam as salas com os alunos. O mesmo se aplica para o

tipo de utilização, a maioria indicando que procura as salas para pesquisa, pois não se tratou

da regularidade do uso. Outro ponto é que, quando os alunos podem visitar o espaço, há uma

grande parcela de gestores que ainda proíbe o acesso às redes sociais.

Assim, como descrito no capítulo III, o Acessa Escola deveria ser um espaço para

que os professores pudessem ter um apoio pedagógico que proporcionasse mudanças de

36

Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%. 37

Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%.

Facebook

1.019 81%

Twitter

175 14%

Instagram

350 28%

YouTube

697 55%

Não utilizo

148 12%

Outros

55 4%

Informações

974 77%

Relacionamentos

262 21%

Conhecer pessoas

452 36%

Atividades profissionais

283 22%

Atividades sociais

496 39%

Outros

56 4%

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posturas para educação com aulas diferenciadas e acesso às informações mediadas pelo

educador que vise a elaborações de conhecimentos que gerem transformações sociais.

Contudo, pode-se perceber que se mantém o mesmo paradigma de educação em que

não se valoriza de fato a participação coletiva no sentido de fazer com que seja garantida a

[...] equidade social, como quer a Constituição e a LDB (Lei de Diretrizes e

Bases), exige que se diferencie a proposta pedagógica para aproximar todos

os resultados pretendidos, uma vez que tratamentos uniformes para públicos

diversos acentuam a perigosa e injusta assimetria social. (KISHIMOTO,

2001, p.180)

Quanto ao acesso às redes sociais, também não se verificou o local onde se

conectam. Porém, constatou-se que as acessam e que a mais procurada é o Facebook. Assim,

onde esse tipo de uso é liberado, o foco acaba sendo a busca de informações.

Mais uma vez nota-se que impera um ensino tradicional em que

[...] A repetição está dentro do contexto escolar. Não só a repetição de um

conteúdo, através de exercícios de memorização ou mecanização, mas

também a repetição de uma forma, presente na configuração das salas de

aula e de todo o ambiente escolar, ajudando a garantir o controle e a

disciplina. (FRANÇA, 1994, p.93)

4.1.3 (C) Movimentos sociais

Esse bloco aborda o grau de conhecimento dos estudantes acerca dos movimentos

ou manifestações sociais. Quando perguntado aos alunos se sabiam o que seriam movimentos

sociais e manifestações populares de reivindicações, 77% responderam que sim e 23% que

não (Gráfico 17). Na questão sobre se consideravam importantes os movimentos sociais e

manifestações populares, 69% marcaram a opção sim, 7% não e 24% disseram não ter opinião

sobre o assunto (Gráfico 18).

Gráfico 17 – Questão 17: Sabem ou não o que são movimentos sociais

e manifestações populares de reivindicações

Sim

970 77%

Não

293 23%

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Gráfico 18 – Questão 18: Consideram importantes ou não os movimentos sociais e

manifestações populares de reivindicações

De acordo com os dados, a maioria dos alunos diz saber o que são movimentos

sociais e manifestações populares de reivindicações e os considera importantes. Contudo,

conforme se pode se ver na questão seguinte, seus discursos são baseados no senso comum ou

no que ouvem e veem nas mídias. Exceto pelos que de fato participam de aulas em que os

professores tratam do assunto. Contudo, estes também muitas vezes informam e formam de

acordo com o que está descrito nos livros didáticos e apostilas.

Na questão 19 (Quadro de respostas 2 – Apêndice 3), na qual foi descrito o

entendimento sobre os movimentos sociais/ manifestações populares de reivindicações e sua

importância, as respostas mostram-se ligadas à ideia de mudança do mundo, de transformação

da sociedade e, principalmente, luta e conquista de direitos. Em relação à definição, muitos os

conceituaram como pessoas que se juntam para protestar em relação a “algo”, ainda que não

explicassem bem esse algo.

Também se percebe que os termos movimentos sociais e manifestações populares

de reivindicações são tomados como sinônimos, ambos sendo “um modo de sermos ouvidos”.

Ou ainda os movimentos sociais são descritos como protestos ou movimentos operários.

Outros os definiram como cidadãos que buscam seus direitos para melhoria de “algo”, que

lutam pelo que consideram certo ou errado, pois para os “políticos” isso não teria nenhuma

importância. Alguns estudantes conceituaram os termos ainda como passeatas, mas sem se

perder o sentido de busca de direitos. Para muitos é uma forma de a população ser informada

sobre os problemas, e o motivo dos protestos seriam os problemas sociais. Entretanto,

algumas respostas afirmaram que “movimentos são pacíficos” e “manifestações levam até ao

vandalismo”, acabando tudo em destruição.

Embora as respostas anteriores sejam de alunos que afirmaram não distinguir os

termos, algumas caracterizações diferenciam os conceitos (movimentos e manifestações).

Contudo, o que está descrito leva à interpretação de um mesmo pensamento de luta por uma

Sim

871 69%

Não

89 7%

Não tenho opinião

303 24%

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causa ou pela melhoria de vida da população. Haveria aqueles que lutam por objetivos em

comum e uma união de diferentes grupos, como trabalhadores e estudantes, com os mesmos

propósitos.

Para alguns, movimentos “reivindicam projetos” locais e manifestações seriam

reivindicações que ocorrem em “uma cidade, um estado ou em todo o mundo” em “prol de

um bem maior para toda a população”. Houve os que responderam que são formas de

expressão, de a sociedade manifestar suas opiniões e quem acrescentasse que “de forma

pacífica”. Também fizeram uma diferenciação sobre movimentos serem “atitudes” e

manifestações, “reivindicações e prol dos direitos e das condições sociais”, inclusive citaram

setores como saúde, educação, transporte e trabalho. Estes, segundo os estudantes, se

encontram em situação “precária” e os governantes não dão a devida atenção ou não os

respeitam. Falaram também sobre a questão da corrupção.

Há respostas que levantam a hipótese de que alguns alunos pesquisaram sobre o

tema ou consultaram um professor, isso devido, principalmente, aos termos utilizados, os

quais apareceram na descrição de vários alunos, às vezes até de escolas diferentes.

Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refere à ação coletiva

de um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do

embate político, conforme seus valores e ideologias dentro de uma

determinada sociedade e de um contexto específico, permeados por tensões

sociais. Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de

uma realidade hostil a certo grupo ou classe social. Seja a luta por um algum

ideal, seja pelo questionamento de uma determinada realidade que se

caracterize como algo impeditivo da realização dos anseios deste

movimento, este último constrói uma identidade para a luta e defesa de seus

interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de pessoas que se encontra numa

mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa, entre outras.

Movimento social é uma “expressão técnica” que designa a ação coletiva de

setores da sociedade ou organizações sociais para defesa ou promoção, no

âmbito das relações de classes, de certos objetivos ou interesses - tanto de

transformação como de preservação da ordem estabelecida na sociedade.

O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo

organizado que tem como objetivo alcançar mudanças sociais por meio do

embate político, dentro de uma determinada sociedade e de um contexto

específico. (Resposta de aluno ao questionário - Quadro de respostas 2,

Apêndice 3)

Todavia, existem também outras declarações bem elaboradas e em que se percebe

que o aluno demonstra sua própria opinião sobre o assunto.

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Movimentos sociais são um indivíduo, ou um grupo de pessoas, que faz algo

em prol da sociedade ou de um meio social específico, como por exemplo, o

início de uma ONG, entrega de cesta básica, coisas do gênero.

Manifestações populares de reivindicações, o próprio nome já diz, algo que

se tornou maior do que um debate de assembleia, um assunto que movimenta

pessoas que não estão gostando de algo que afeta, não só a elas, mas sim

uma população, algo socialmente dito. Assim se juntam todas essas pessoas

lideradas por alguém bem instruído e saem às ruas demonstrando o seu

desconforto. (Resposta de aluno ao questionário - Quadro de respostas 2,

Apêndice 3)

Em relação à importância dos movimentos, disseram serem fundamentais “para o

processo democrático brasileiro”; para “o presente e para o futuro” quando se luta por “algo”;

que os sujeitos devem buscar seus direitos e que “ainda existem pessoas que querem um país

melhor”; que isso contribuiria para a “evolução e conscientização”, uma vez que “mostra que

população não aceita mais ser oprimida e alienada”; pois é um modo “de levar outras pessoas

à conscientização”; que os movimentos podem “trazer resultados positivos para a população”;

que buscam o resgate dos direitos perdidos; que é um modo de a população se fazer ouvida,

principalmente “pelas autoridades”. Contudo, consideram que “as pessoas são muito

conformadas” e “esperam a situação chegar a um estado crítico para tomar uma atitude”.

Também houve os que responderam que não têm importância, pois nada muda.

Alguns falam em primeira pessoa, como se estivessem participando ou houvessem

participado de algum tipo de movimento.

Essas manifestações são para mostrar que não estamos de acordo com o que

estão fazendo com o nosso país, e que estamos correndo atrás dos nossos

direitos de cidadãos. (Resposta de aluno ao questionário - Quadro de

respostas 2, Apêndice 3)

Porém, outros falam como se não pertencessem à sociedade descrita. E ainda há

uma grande parcela dos alunos que não tinham opinião ou diziam não se importar, ou até que

sua opinião não tinha importância: “Para que vocês querem minha opinião se no Brasil nós

jovens não somos ouvidos e ninguém dá importância para nossa opinião” (Resposta de aluno

ao questionário - Apêndice 3).

O que se pode perceber é que eles conhecem o assunto, no entanto, para a maioria

a definição não está clara, e é difícil examinar se aqueles que se aproximaram mais do

conceito entendem de fato o que escreveram. Assim, se mesmo autores e acadêmicos não

tratam o tema, que dirá esses estudantes. “Alguns autores passaram a tratar os novos sujeitos

como sinônimos dos movimentos, ou manifestação ampliada; outros aproveitaram a

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emergência das ONG para desqualificar os movimentos, como uma manifestação de grupos

do passado.” (GOHN, 2008, p.34)

A percepção é de que a maioria reproduz o senso comum e o que ouve nas mídias.

Não há como se ter certeza de que responderam mesmo sozinhos. Mas o interessante é que a

maioria considera como forma de protesto e reconhece sua importância. Contudo, mesmo

diante dessa questão, ainda “não significa que eles são totalmente privados de poder, meros

espectadores passivos num espetáculo sobre o qual não têm nenhum controle” (THOMPSON,

2012, p.51).

Questionados sobre se tinham conhecimento acerca dos movimentos sociais,

movimentos de reivindicação e manifestações populares de reivindicações ocorridos nos anos

de 2013 e 2014, como o MPL, 78% marcaram a opção sim e 22%, não (Gráfico 19). Sobre

como tiveram conhecimento das manifestações de 2013, 86% declararam que pela televisão,

55% pela internet e redes sociais, 42% por contato com outras pessoas, 33% pelo professor na

sala de aula, 31% por jornais impressos, 31% pelo rádio e 3% disseram que tomaram

conhecimento por outros meios (Gráfico 20).

Quando perguntado se algum professor trabalhou o assunto sobre movimentos ou

manifestações, 70% responderam que sim e 30% que não (Gráfico 21). Na questão seguinte

também responderam em quais disciplinas o tema foi tratado, 12% nas aulas de sociologia,

8% geografia, 7% português, 6% história, 1% para a disciplina de arte, 1% diversas, 1% disse

que todas as disciplinas trabalharam e 4%, que nenhuma (Gráfico 22).

Gráfico 19 – Questão 20: Conhecimento acerca dos movimentos sociais/ movimentos de

reivindicação e manifestações populares de reivindicações ocorridos nos anos de 2013 e

2014,como o MPL e outros

Sim

984 78%

Não

279 22%

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Gráfico 20 – Questão 21: Meio pelo qual tomou conhecimento38

Gráfico 21 – Questão 22: Se algum professor tratou do tema na sala de aula

Gráfico 22 – Questão 23: Qual professor tratou do tema na sala de aula39

A maioria dos estudantes conhece ou já ouviu falar sobre os movimentos sociais/

movimentos de reivindicação e manifestações populares de reivindicações ocorridos nos anos

de 2013 e 2014, como o MPL, e praticamente todos tomaram conhecimento por meio da

38

Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%. 39

Questão com mais de uma resposta possível, a soma das percentagens pode ultrapassar os 100%.

Televisão

1.013 86%

Jornais impressos

365 31%

Rádio

228 19%

Pessoas

489 42%

Pelo professor na sala de aula

389 33%

Internet / Redes Sociais

645 55%

Outros

39 3%

Sim

880 70%

Não

383 30%

Sociologia 155 12%

Filosofia 66 5%

História 79 6%

Geografia 98 8%

Português 80 7%

Arte 10 1%

Diversas 14 1%

Nenhuma 48 4%

Todas 17 1%

Outras 4 0%

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televisão, em seguida apontando a internet e outros meios de comunicação. Um dado

interessante é que um número considerável também soube por contato com outras pessoas.

Destaca-se que a mídia, principalmente a TV, teve uma função fundamental como canal de

informação acerca dos acontecimentos, ainda que nem todos os veículos sejam totalmente de

confiança. Podemos perceber que a mídia tradicional ainda tem muito mais difusão, e mais,

certa credibilidade.

A mídia contemporânea está sendo moldada por várias tendências

conflitantes e contraditórias: ao mesmo tempo que o ciberespaço substitui

algumas informações tradicionais e gatekeepers culturais, há também uma

concentração de poder inédita dos velhos meios de comunicação. A

ampliação de um ambiente discursivo coexiste com o estreitamento da

variedade nas informações transmitidas pelos canais mais disponíveis.

(JENKINS, 2008, p.276)

Pode-se verificar que muitos professores trataram do tema nas aulas, mesmo

porque faz parte do conteúdo curricular do 3º ano do Ensino Médio, série em que as

disciplinas de ciências humanas são unânimes na abordagem do tema, pois fazem parte do

conteúdo a ser trabalhado ou mesmo por alguns professores inserirem o tema as aulas por

conta de contextos ou conjunturas. Daí a importância da participação dos professores na

abordagem do tema, uma vez que são pessoas em que muitos alunos confiam, pois, apesar dos

conflitos no ambiente escolar, esse profissional ainda é tido como sabedor de variados

assuntos.

Na questão 24 (Quadro de respostas 3 – Apêndice 4) os alunos deveriam

responder sobre a importância desses movimentos ocorridos em junho de 2013, e alguns

declararam que não consideram esse fato como um movimento, pois “não tinham um objetivo

claro e comum”, havia “pessoas dispersas andando para o nada”. No entanto, a maioria dos

alunos disse que os movimentos são importantes para melhorar as condições de vida da

sociedade por meio da conquista de direitos. Ressaltaram as pessoas não concordam com as

medidas e escândalos envolvendo os poderes públicos e, dessa forma, podiam mostrar suas

insatisfações, ainda que não fossem atendidas. Discorreram sobre como eles são importantes

para dirimir a corrupção e que podem possibilitar mudanças no que está posto.

Outro aspecto bastante citado foi o da importância da informação, mencionando

que por meio desses movimentos ficam esclarecidos os reais motivos da difícil situação

brasileira. Com eles os indivíduos podem mostrar que não são alienados, que não querem

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mais ser manipulados pelas estruturas de poder. E, por conta desses protestos, o povo não se

calaria mais.

São muito importantes para resgatar o espirito de luta do povo. Resgatar e

reforçar que estamos acordados e que ainda estudamos e nos importamos

com nosso país. (Resposta de aluno ao questionário - Quadro de respostas 3,

Apêndice 4)

Afirmaram que os movimentos podem conscientizar os indivíduos de sua real

situação e, por consequência, fazer com que busquem seus direitos. E por essa questão as

reivindicações seriam necessárias, enquanto espaço de luta e voz para todos, mas

principalmente para aqueles que possuem ideais. São formas, para eles, mais eficientes de

cobrar atitudes dos governos.

Em minha opinião, movimentos sociais são como requerimentos, mas são

mais eficientes, pois são baseados em atitudes. Esses movimentos nos

proporcionam a realização de direitos que já são nossos, mas nem sempre

são atendidos. São uma forma mais eficiente de se comunicar com nossos

líderes e fazer com que eles cumpram seus deveres. (Resposta de aluno ao

questionário - Quadro de respostas 3, Apêndice 4)

Houve também quem alegasse que os movimentos não têm tanta importância, pois

buscam mudanças, mas esse objetivo quase nunca é atingido. Outros argumentaram que não

seriam necessários se a população votasse de forma consciente para que não se arrependesse

dos governantes eleitos. E outros disseram que essas ações, “quando organizadas, são

importantes para manter os administradores atentos aos anseios da sociedade representada”.

Não há importância se os cidadãos votarem corretamente. Esses movimentos

são necessários apenas quando o "povo" se arrepende de ter posto alguém

irresponsável no poder, como acontece na maioria das vezes no Brasil. Isto

devido à ignorância dos mesmos cidadãos. (Resposta de aluno ao

questionário - Quadro de respostas 3, Apêndice 4)

Não obstante as respostas da questão 19 (Quadro de respostas 2 – Apêndice 3), em

que um número grande de alunos disse não ter opinião, não se importar ou até que sua opinião

não teria importância – alguns disseram ainda que já haviam respondido a citada questão –,

quando os alunos demostram que não são alienados e que não querem mais ser manipulados,

surge a crença de que é possível uma formação que valorize a criticidade, assim como a

criatividade, a cognição e outras habilidades essenciais para o sujeito viver em sociedade.

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Contudo, nem todos têm esse pensamento crítico, e a escola precisa encontrar formas

metodológicas para que, primeiramente, se desperte o interesse para a educação, para poder

depois fazer seu trabalho, que é o de formar para a cidadania, de forma a

[...] Tornar o político mais pedagógico significa utilizar formas de pedagogia

que incorporem interesses políticos que tenham natureza emancipadora; isto

é, utilizar formas de pedagogia que tratem os estudantes como agentes

críticos; tornar o conhecimento problemático; utilizar o diálogo crítico e

afirmativo; e argumentar em prol de um mundo qualitativamente melhor

para todas as pessoas. (GIROUX, 1997, p.23)

4.1.4 (D) Participação social

Esse bloco pretende apresentar a possível atuação dos estudantes em movimentos

e/ou manifestações e identificar o que os levou a esse engajamento. Na questão que trata

sobre a participação dos alunos em movimentos e/ou manifestações, 15% disseram de algum

modo ter participado e 85% declararam que não participaram.

Gráfico 23 – Questão 25: Participação em movimentos e/ou manifestações

Apenas um pequeno número de alunos declarou ter participado de algum tipo de

movimento ou manifestação. Estes, na questão 26 (Quadro de respostas 4 – Apêndice 5), que

trata sobre a forma de participação, disseram que estiveram em manifestações contra o

aumento das tarifas dos transportes públicos e Passe Livre, manifestações localizadas e apenas

um falou sobre a participação em movimento social.

O que se observa nas respostas das questões 25 e 26 é que, embora uma parcela

dos alunos consultados afirme conhecer o assunto e perceber sua importância, a participação

em movimentos e manifestações sociais não é uma realidade. A formação da escola não faz

com que, a partir de suas realidades, conheçam e entendam a sociedade em que vivem. É

possível inferir que consideram sua realidade local uma condição, como se os problemas

sociais e econômicos não os afetassem diretamente – diferentemente da possibilidade de

reorganização das escolas, situação em que se sentiam pertencentes àquele universo. É como

Sim

193 15%

Não

1071 85%

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se não fizessem parte de uma conjuntura maior. Como se quem sofresse as consequências dos

desmandos e da exclusão não fossem seus pais ou responsáveis, inclusive por buscar soluções

para os problemas enfrentados.

Na questão 27 (Quadro de respostas 5 – Apêndice 6), sobre a importância da

participação, por conta de sua formulação, quase todos os alunos não entenderam que se

tratava da importância do movimento de que participaram. Assim, muitos deram as mesmas

respostas das questões 19 e 24, ou se recusaram a responder. Contudo, ainda houve boas

respostas, mas foram desconsideradas as que não respondiam a essa questão. Das respostas

restantes, nota-se que acreditam serem importantes quando há resultados positivos, como a

baixa das tarifas ou melhoria nos transportes públicos. O que denota que, quando há

participação, para alguns ela ainda é desconfiada, pois acreditam que apenas o fim é

importante, desvalorizando a participação e pontos positivos como formação política,

coletivização, solidariedade, entre outros.

No que diz respeito ao modo como os alunos tomaram conhecimento da

manifestação, 87% disseram que foi por meio das redes sociais e 15%, por outros meios

(Gráfico 24). E quanto à rede social mais utilizada entre esses alunos para conhecimento

acerca desse assunto e participação em manifestação, 75% citaram o Facebook, 11% o

YouTube, 3% o Twitter, 2% o Instagram e 10% outros meios (Gráfico 25).

Gráfico 24 – Questão 28: Meio pelo qual tomaram conhecimento

do movimento e/ou manifestações de que participaram*

Gráfico 25 – Questão 29: Rede social mais utilizada

para conhecimento e participação

Redes Sociais

794 87%

Outros

137 15%

Facebook

944 75%

Twiter

33 3%

Instagram

19 2%

YouTube

143 11%

Outras

124 10%

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Mesmo essas perguntas tendo sido dirigidas a quem participou de algum

movimento ou manifestação social, praticamente todos responderam e indicaram que

tomaram conhecimento pelas redes sociais, sobretudo Facebook. Assim como na questão

sobre busca de informações acerca de outros movimentos, em que o Facebook continua a ser

a rede social de maior acesso.

Na questão 30 (Quadro de respostas 6 – Apêndice 7), sobre a importância da

internet e das redes sociais para esses movimentos, os alunos foram unânimes, afirmando que

são muito importantes. Para eles, “sem a internet esses movimentos não teriam acontecido

com tanta força”. Uma vez que, por meio dela, é possível organizar os movimentos ou

manifestações marcando datas e locais. Segundo os estudantes, esse meio permite alcançar

um maior número de sujeitos em curtos espaços de tempo. Além de poderem compartilhar

informações e trocar experiências acerca do tema, pois “a internet é um lugar livre para expor

suas ideias de forma democrática e sem censura”.

A internet hoje em dia tem uma importância IMENSA para a divulgação,

estudo e aprofundamento do tema. Pela internet tomamos conhecimento dos

movimentos, trocamos ideias e opiniões com pessoas totalmente diferentes,

mas com o mesmo objetivo. Internet é para todos. (Resposta de aluno ao

questionário - Quadro de respostas 6, Apêndice 7)

M. A. Souza (2005) já afirmava o que os alunos relatam ao escrever:

Um dos meios que tem possibilitado a agilização da ação dos sujeitos

coletivos é a internet, que permite a circulação de informação em tempo real.

Através dessa rede, tanto os indivíduos isoladamente quanto os movimentos

sociais podem acessar e fazer circular informações, como organizar protestos

e ações sociais. (SOUZA, 2005, p.78)

Em seu texto a autora reforça o que os estudantes dizem quando expressam que a

internet e as redes sociais informam à população os fatos ocorridos. Eles ainda afirmam que

isso ocorre sem uma intenção clara de manipulação, diferentemente do que se vê nos meios de

comunicação tradicionais. Fato esse que pode, ou não, levar os indivíduos a uma maior

conscientização das condições sociais e, por consequência, também a aderir aos movimentos

ou manifestações. Elas podem levar as notícias dos movimentos ao mundo inteiro, para que

conheçam o verdadeiro motivo de sua atuação. Outro fator importante é o de poderem unir os

vários movimentos sem que estejam em um mesmo território físico. É o movimento em rede e

em redes sociais digitais.

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Quando perguntado aos alunos que de algum modo haviam se integrado a

manifestações se poderiam participar de uma entrevista, todos acabaram por responder a

questão, inclusive os que anteriormente responderam nunca ter participado desse tipo de ação.

Dessa maneira, do total de alunos, 61% responderam que não e 39% que sim.

Gráfico 26 – Questão 31: Aceitação para participar de entrevista

Interessante é que mesmo não tendo participado de nenhum movimento ou

manifestação, um terço dos estudantes respondeu que gostaria de participar de uma entrevista

acerca do tema.

4.2 RODA DE CONVERSA

Após a leitura das respostas dos alunos ao questionário, foi feito um trabalho de

separação daqueles que se propuseram a participar de uma entrevista e que haviam

participado de alguma forma de movimento ou manifestação. Destes, por conta do feedback

para as questões, foram selecionados 20 alunos, então convidados para participar de um

debate acerca do tema, intitulado como Roda de Conversa, contudo, apenas 15

compareceram. Devido à multiplicidade das questões de ordem e das demandas emitidas em

junho de 2013, como nos mostram também as respostas ao questionário, ficaria inviável uma

análise detalhada em seus diversos aspectos. Por isso, neste item do último capítulo o enfoque

foi limitado a um grupo específico de alunos escolhidos, como citado anteriormente.

Nessa tarefa, a realização de uma Roda de Conversa (debate) como base

demonstrou ser a forma mais apropriada, uma vez que, como explica Della Porta, permite

buscar indicações das “motivações, crenças e atitudes, bem como as identidades e emoções de

ativistas de movimentos” (2014, p.229, apud EVANGELISTA, 2015, p.105). Nessa forma de

comunicação buscou-se verificar, sem restrições, o nível de participação nas manifestações

que ocorreram em 2013, adquirir informações sobre como tomaram conhecimento dos

movimentos e manifestações sociais e verificar se as redes sociais constituem ferramentas

Sim

488 39%

Não

776 61%

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para publicização e participação nesses mesmos movimentos. Bem como perceber se as

escolas se afirmam como espaço de formação crítica e participativa, e se a internet tem

promovido uma organização eficaz para os movimentos e seus “gritos”, não somente nas ruas,

como também no próprio espaço virtual.

Vale salientar que a autoridade supervisora não influenciou as respostas, uma vez

que, foi explicitado aos alunos que o debate buscava obter informações para uma pesquisa

acadêmica e que ali estava presente a pesquisadora e não a supervisora de ensino. Pôde-se

observar que os jovens se mostraram bem a vontade quando debatiam o tema ou as questões

que serviam como motivação para o andamento da ação.

Desse modo, a atividade foi iniciada com os alunos sentados em círculo e se

apresentando. Participaram os alunos40

: Rui, Caíque e Maiara da EE (Escola Estadual) Profª.

Nide Zaim Cardoso, situada no município de Mairiporã; Marlon, Thalita e Alani da EE

Parque Cento e Vinte II, da cidade de Francisco Morato; Luan e Fabiana da EE Otto

Weiszflog, de Caieiras; Milton, Cleverson e Armando da EE Tenente Joaquim Marques

Sobrinho, do município de Cajamar. Os alunos da cidade de Franco da Rocha não

compareceram. Os estudantes das escolas fora do município de Caieiras foram acompanhados

de um professor por escola – e os docentes acompanharam a atividade. São eles: Prof. José da

EE Profª. Nide Zaim Cardoso, Prof. Eriberto da EE Parque Cento e Vinte II e Profª. Marilda

da EE EE Tenente Joaquim Marques Sobrinho.

4.2.1 Uso das redes e internet

A primeira questão buscou saber como seria a interação dos estudantes com as

redes sociais e a internet, bem como a importância desses meios para eles. Um aluno

respondeu que seu acesso se dava somente para trabalho, enquanto os outros disseram que a

internet lhes servia para realização de trabalhos e pesquisas. Com ela, argumentam, os

trabalhos escolares ficaram muito mais fáceis, pois conseguem rapidamente chegar a qualquer

assunto – com os livros tinham mais dificuldades para realizar as atividades de pesquisa.

No que se refere às redes sociais, se sobressai o uso social, são utilizadas para

fazer amizades, conversas e relacionamentos. Mas também há quem busque formas de

cidadania por meio das redes sociais digitais.

40

Optou-se nesta tese por dar nomes fictícios aos alunos com o intuito de preservação de privacidade.

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Eu uso mesmo para Facebook e outros tipos de comunicação, como

YouTube e outros tipos normais. Poucas vezes o Google para trabalhos,

trabalhos de escola, poucas vezes eu uso... Praticamente meu social para

mim é pelo Facebook. Uso direto. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)

Eu também uso para site de pesquisa, saber o que rola no mundo... Porque

hoje da sua casa você consegue saber o que está acontecendo do outro lado

do mundo, e eu acho isso muito legal, você ficar antenado no que acontece

do outro lado do mundo. E Facebook eu uso muito para eventos, como agora

no natal vai ter o pessoal que vai levar comida para o pessoal morador de

rua, e eu vou. Procuro esses eventos, procuro sopão, eu procuro tudo assim

para ajudar o próximo. Na parte do Facebook, assim, eu procuro sempre

buscar o melhor. (Fabiana, Roda de Conversa, 2014)

A internet passa um conteúdo para a gente que é muito útil para sabermos o

que está acontecendo em outro lugar, como ela citou. Ela aproximou tanto a

gente que, tipo, não tinha jeito de saber o que estava acontecendo num país

que não fosse pela televisão, por uma notícia não muito confiável. A internet

mostra vários pontos de vista sobre uma mesma notícia e isso é muito

importante. Além de suprir muito do que a escola deixa faltando, deixa de

explicar, a internet vem a suprir muito bem essas faltas de conteúdo. (Rui,

Roda de Conversa, 2014)

O que se pode perceber é que alunos, como o Rui, têm uma visão crítica sobre os

meios de comunicação de massa e as possibilidades que a internet e as redes sociais trazem,

como afirmado por Castells:

[...] Como os meios de comunicação de massa são amplamente controlados

por governos e empresas de mídia, na sociedade em rede a autonomia de

comunicação é basicamente construída nas redes da internet e nas

plataformas de comunicação sem fio. As redes sociais digitais oferecem a

possibilidade de deliberar sobre e coordenar as ações de forma amplamente

desimpedida. (CASTELLS, 2013, p.18)

E bem demonstrado na análise do pesquisador Javier Toret, um dos primeiros

membros da rede responsável por criar o Democracia Real Ya na Espanha.

Mas, em geral, a mídia convencional ignorou ou bloqueou a proposta que

apresentamos... O que isso mostra é um tipo de movimento pós-mídia. É

pós-mídia porque há uma reapropriação tecnopolítica de ferramentas,

tecnologias e veículos de participação hoje existentes. É onde as pessoas

hoje estão. Há um monte de pessoas nesses veículos. É uma campanha on-

line viral suficientemente aberta para que qualquer um se envolva e

participe... A mídia incialmente ignorou o movimento, mas, quando todas as

praças estavam cheias de gente, eles não tiveram escolha senão explicar o

que estavam ocorrendo... tornamo-nos um coletivo com a capacidade de

falar cada um por si, sem os filtros da mída. (apud CASTELLS, 2013, p.98-

99)

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Já Milton fala sobre um aspecto negativo que é o da falta de interação pessoal

presencial quando relata que, mesmo estando com seu amigo, um do lado do outro, se

comunicavam por meio do Facebook: “[...] e eu acho que é... não uma qualidade, porque nós

três estávamos no Facebook, e para brincar eu chamei ele por mensagem, sendo que eu estava

do lado dele. Eu acho que isso atrapalha um pouco e não acho isso muito legal.” (Milton,

Roda de Conversa, 2014) Cleverson complementa, contudo, indicando a o lado positivo da

rapidez com que transitam as mensagens pelo Twitter.

[...] eu uso o Facebook também para interagir e eu uso o Twitter também

para me informar, porque as notícias do mundo chegam muito mais rápido

lá, as coisas se espalham muito mais rápido lá [...] porque lá tem os maiores

dos portais de sites de jornais, de revistas, tanto do mundo quanto do

nacional. Então eu uso o Twitter para isso também. (Cleverson, Roda de

Conversa, 2014)

Nessa mesma perspectiva, Luan coloca que a internet tem lados opostos, pois,

para ele, ao mesmo tempo aproxima e distancia as pessoas, podendo ainda ser usada como

uma arma a favor ou contra.

Um exemplo é as eleições de Barack Obama na primeira vez que ele se

elegeu. Ele ganhou as eleições devido à internet. Porque ele respondia as

pessoas, e com isso, com as respostas das pessoas, ele fez a campanha dele

em cima do que o povo achava, e não apresentou uma coisa pronta, como

geralmente os outros candidatos... democráticos e republicanos fez [...]

Então, assim, ela usada como uma arma. Outra coisa também,

principalmente agora, está tendo o estado islâmico, a Palestina, a gente não

tem nenhuma outra forma de presenciar para ver algumas coisas que eles nos

tramitem. [...] é muito bom para facilitar nossa vida para estudo, é muito

ruim também. Porque, creio que antigamente, creio eu, que as pessoas se

envolviam mais com os estudos, pesquisavam mais. Hoje não, hoje você vai,

coloca um assunto, sai tudo o que você precisa. É o famoso Ctrl+C, Ctrl+V,

acontece muito isso. Então é assim, da mesma forma que ela te ajuda, ela te

prejudica, aí vai de cada um, fazer o melhor para o estudo. (Luan, Roda de

Conversa, 2014)

Na sequência, como os alunos estavam adentrando a questão das formas e causas

de uso, foi solicitado que, dentro desse assunto, relatassem também como se iniciou a

utilização, o que os estimulou, se tiveram influências em suas visões e ações. Assim,

responderam que: a internet está disponível para todos; a maioria a utiliza por influência dos

amigos; o usuário pode se informar sobre quase tudo; se houver necessidade de informações

específicas, é possível encontrar nas redes virtuais; “ela se tornou uma ferramenta tão ampla

para fazer tantas outras coisas”; “ela pode te favorecer e ela pode te prejudicar se não souber

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impor os limites” (Armando, Roda de Conversa, 2014) – a questão da utilização desmedida da

internet virou, inclusive, tema de trabalhos na escola.

Pode-se perceber ainda que muitos passaram a utilizar as redes sociais

pressionados pelos colegas: “Você não tem Facebook? Como assim você não tem?! Então vai

lá e faz um! Você não tem, sei lá, Insta [Instagram], aí você vai e faz um também” (Milton,

Roda de Conversa, 2014). Contudo, disseram que a opção de uso é individual e ressaltaram a

necessidade de tomar cuidado com as intenções ocultas, como no caso de pedofilia. Nesse

sentido, mais adiante, Luan também argumentou que crianças que não são instruídas pelos

pais ou pela escola poderiam ser enganadas mais facilmente, entendendo que “a internet é

uma arma, você usa ela para o bem ou para o mal” (Luan, Roda de Conversa, 2014).

Milton falou que também considera importante entrar nas redes com a finalidade

de obter informações, porém a maioria dos jovens que conhece não tem “mente ampla” para

esse fim e se limitariam ao uso para relacionamentos, “eles só querem saber sobre o dia a dia

dos outros em redes como o Facebook e Instagram” (Milton, Roda de Conversa, 2014).

Claro que esses sites também podem ser vistos como redes de informações

grandes, mas acho que mais para amizades, para relações interpessoais. Não

tão visando olhar para fora daqui. Entendeu? Olhar pro... Estado islâmico,

para relações... presidencialistas como na América tem bastante. Acho isso

importante. (Milton, Roda de Conversa, 2014)

Fabiana conta que a internet ajudou os alunos do colégio em que estudava a se

organizarem para protestar contra o desvio de verbas de uma obra que não findava. Disse

ainda que foi por meio das redes sociais digitais que todos os alunos tiveram informações,

inclusive com criação de página na web, e conseguiram que a manifestação fosse pacífica

pelas combinações anteriores no meio virtual.

E aí os alunos, cansados de ver isso, nós alunos, né, decidimos dar um jeito e

[...] a gente foi colocando na internet, até que foi até TV lá. E a gente

conseguiu concluir a [...] a obra [...] Todo mundo da escola começou a saber,

porque é uma escola muito grande [...] a gente não tinha como se falar com

todo mundo [...] Quando a manifestação estava quase acabando, o cara me

solta uma bomba. Mas foi um cara, a gente conseguiu resolver tudo. Mas a

internet foi uma grande aliada nossa. (Fabiana, Roda de Conversa, 2014)

Caíque segue a mesma linha de pensamento de que a internet pode ser boa e ruim,

uma vez que para ele é um espaço livre, no qual cada um navega de acordo com a consciência

individual. Exemplificou citando o projeto em que atua, ao lado de mãe, chamado Natal

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Solidário, divulgado pela internet por meio da frase Faça uma criança feliz neste natal.

Também apontou o lado ruim quando afirmou que nem tudo é real na internet:

[...] muita coisa você não tá ali para vivenciar, você tá vendo pela internet,

então você tá vendo pela boca de outra pessoa. Você não sabe se aquela

notícia é confiável. Você já vai criando versões, né? Da sua cabeça mesmo, e

já colocando, sem saber se o assunto é verdade ou não. (Caíque, Roda de

Conversa, 2014)

O aluno continuou ressaltando as perspectivas positivas e negativas quando

expressou que a internet, ao mesmo tempo em que aproxima as pessoas, as distancia. Mas

disse que não só as redes sociais digitais poderiam trazer malefícios, e sim toda tecnologia se

usada de forma errônea. Como quando as crianças não conseguem realizar as operações

matemáticas básicas sem uma calculadora, ou quando o indivíduo não tem opinião crítica,

pois não sabe filtrar as informações e opiniões alheias, “[...] não sabe, porque ele se baseia

muito na opinião dos outros e não tem a própria dele. Isso que é muito difícil de achar hoje

em dia” (Caíque, Roda de Conversa, 2014).

Luan complementou dizendo que as pessoas, além de influenciadas pela mídia,

seriam também pelos amigos. Segundo ele, isso poderia acontecer fisicamente ou por meio

das redes sociais digitais, fazendo com que ocorra uma espécie de manipulação,

principalmente para aqueles que não tiveram oportunidade de estudo de qualidade.

[...] é uma calha que te empurra naquela direção. Se você não tem estudo, se

não tem outra visão um pouco mais ampla, você é empurrado juntamente.

Então é assim, ela te força por um caminho. Antes a televisão era o principal

problema, hoje é a internet. Hoje a internet te empurra para vários caminhos

[...] ele não tem uma formação adequada. Infelizmente muitas pessoas do 3º

ano, pergunta para quem quiser que tá no 3º ano, quem fez ENEM, se a

gente aprendeu o que foi aplicado. Não aplica. Então, assim, pega umas

pessoas que têm um grau menor de educação, é empurrada junto facilmente

com a internet. (Luan, Roda de Conversa, 2014)

No que se refere à utilização da sala do Acessa escola, disseram que não

frequentam muito, que quando necessitam de uma pesquisa a fazem diretamente no aparelho

celular. Pesquisam até na rua sobre lugares, animais avistados, pois “o que você quiser, aonde

você tiver, você tem as informações” (Fabiana, Roda de Conversa, 2014). Disseram ainda que

conseguem obter informações inclusive de pessoas que encontram na rua, por meio de um

aplicativo que mostra o nome de quem está ao lado se estiver conectado de algum modo às

redes sociais digitais.

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Eu já tive esse aplicativo no meu celular e descobri pessoas que... descobri

até famoso. Pessoas que passam, tem famoso que não gosta de se parecer,

mas com meu celular, ele apitava quando passava por um famoso ou alguém

muito conhecido. Na verdade tive que apagar porque ficava apitando toda

hora. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)

Mais uma vez, voltaram a falar sobre a aproximação entre as pessoas que estão

afastadas e o distanciamento entre as que estão por perto. Deram exemplos de situações em

casa ou no trabalho em que as pessoas estavam umas do lado das outras, mas não se

comunicavam fisicamente, e sim pelo celular. Segundo eles, não há interação com os que

estão próximos. Citaram também o consumo que a mídia impõe, lançando aparelhos cada vez

mais sofisticados para que possam ter uma melhor navegação. E ainda falaram sobre a criação

da primeira rede com objetivos ligados à guerra.

Demonstraram preocupação no que se refere às mentiras veiculadas por meio das

redes sociais digitais, citando o caso de uma mulher que morreu espancada acusada

injustamente de pedofilia. Também sobre um tal Top 10 que se alastrou pela rede com alunas

das escolas da região sem roupa ou fazendo sexo com um ou mais garotos. (Thalita, Roda de

Conversa, 2014)

No que diz respeito à importância das redes sociais digitais e da internet, frisaram

pontos positivos e negativos. Entre os positivos, as facilidades e agilidade na confecção de

trabalhos escolares e pesquisas. No que se refere especificamente às redes sociais, as

possibilidades de comunicação e de relacionamento com diferentes pessoas; o acesso rápido a

informações locais e globais; também a possibilidade de divulgação e viabilização de

trabalhos sociais. Passaram pelo debate da manipulação da mídia tradicional em

contraposição às novas formas de obter informações, as quais, segundo eles, se bem

selecionadas, seriam mais verdadeiras. Na oposição ao distanciamento físico, revelaram que o

espaço virtual tem o poder de aproximar os indivíduos quando encurta distâncias, permitindo

ao usuário comunicar-se e relacionar-se com pessoas geograficamente distantes.

Entre os pontos negativos, mencionaram o distanciamento e a falta de interação

entre as pessoas no plano físico, uma vez que disseram que não conversam mais uns com os

outros, mesmo estando próximos. Nesse mesmo viés, apontaram para os perigos que a

internet poderia trazer em caso de falta de esclarecimento e criticidade para discernir boas ou

más intenções presentes nas redes. Ressaltaram a necessidade de se estabelecer limites para

seu uso, caso contrário, não sendo bem utilizada, poderia causar sérios danos.

Nessa direção, Bertrand e Valois (2001, p.112-113) falam sobre a questão da não

neutralidade e intenções por trás das TICs e redes digitais sociais:

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É necessário não esquecer que o paradigma tecnológico é muito mais do que

um conjunto de técnicas. É, fundamentalmente, uma atitude global perante a

educação e o comportamento humano. A sua aparente neutralidade pode, por

isso, encobrir a sua concepção da pessoa. A evolução do paradigma

tecnológico está influenciada pela concordância entre o sistema de valores

da sociedade atual e o que é veiculado por este paradigma.

No entanto, reconheceram que o espaço virtual é um meio pelo qual podem se

organizar, obter informações que a mídia tradicional não veicula, como no caso de corrupções

não divulgadas. Mas, infelizmente, essas questões não são abordadas ou discutidas nos

espaços e ferramentas disponíveis na escola, como na sala do Acessa Escola, local que,

segundo eles, praticamente não visitam para a utilização dos equipamentos tecnológicos.

Todas as formas de acesso se dão por meio de outros computadores e, principalmente, pela

rede de telefonia celular.

Segundo Castells (2003, p.8), “as atividades econômicas, sociais, políticas e

culturais, essenciais por todo o planeta estão sendo estruturadas pela internet e em torno dela,

como por outras redes de computadores”. E afirma que a proposição de que os meios virtuais

levariam ao isolamento social não pode ser mantida, uma vez que novas formas de

socialização e diferentes comunidades estão sendo criadas a todo instante. (p.104). Isso por

conta da força e elasticidade que as redes sociais digitais podem alcançar, e, segundo o autor,

essas criações são necessariamente diferentes das presenciais, mas não menos profundas,

principalmente quando se referem a interações e mobilizações. (CASTELLS, 2013, p.109)

Por causa da flexibilidade e do poder de comunicação da Internet, a

interação social on-line desempenha crescente papel na organização social

como um todo. As redes on-line, quando se estabilizam em sua prática,

podem formar comunidades, comunidades virtuais, diferentes das físicas,

mas não necessariamente menos intensas ou menos eficazes na criação de

laços e mobilização. (CASTELLS, 2013, p.109)

4.2.2 Movimentos sociais e manifestações populares

Sobre movimentos sociais ou manifestações populares e de rua, para Luan, no

Brasil não existem, pois a maioria dos participantes não vai para as ruas por um objetivo de

mudança, e sim pela farra e pela bagunça.

Eu participei da passeata em Jundiaí, tinha dez mil pessoas. De dez mil

pessoas que tinham lá naquele local, certeza, menos de mil queriam mudar.

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Os outros nove mil queria bagunçar. E isso foi um exemplo que todo mundo

tava contra a presidente, mas esse ano ela foi reeleita. Então, infelizmente,

no Brasil, não existe isso. (Luan, Roda de Conversa, 2014)

Porque, na verdade, a única manifestação, assim, que você pode dizer, no

Brasil, que foi a manifestação foi na ditadura, porque não parou só um

Estado, parou o país inteiro, um país inteiro em prol de uma coisa, pra cair a

ditadura. As coisas que temos hoje em dia são pessoas querendo se aparecer,

pessoas que... Tem pessoas que querem mudar, mas quem não quer... Por

exemplo, lá em São Paulo tinha um monte de gente que queria que baixasse

o preço da passagem, mas tinha quem não queria, quem não queria

atrapalhou, quebrou banco, quebrou banca, quebrou tudo. (Thalita, Roda de

Conversa, 2014)

Teve uma manifestação que eu participei, foi a do passe livre, foi em

Morato, essa manifestação tinha um grupo de, tipo, duas mil pessoas que

estava lá no centro de Morato reunido na porta da estação, um grupo só

queria, um grupo de 300 pessoas queria o passe livre, o resto queria fazer

bagunça. Tanto é que nesse movimento quebraram a estação todinha,

quebraram os ônibus e tudo o mais. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)

Questionados sobre como sabiam que a maioria não queria mudança, responderam

que pelo comportamento das pessoas envolvidas e porque ouviam dos colegas que iriam para

as manifestações para encontrar as pessoas.

[...] na manifestação de Morato eu também fui, nisso eu escutei pessoas

falando “Aí, vamo lá quebrar tudo, vai ser maió zoeira, vamo ficar a noite

inteira lá”. E outras, assim como eu, escutei outras pessoas falando “Não, a

gente quer, quer ir porque é o nosso direito, a gente tem que lutar pelo o que

é nosso”. E também pessoas brincando, “Ah, vou na manifestação passe

livre porque não quero pagar passagem”, e descem de ônibus [vão de ônibus

para a manifestação]. (Alani, Roda de Conversa, 2014)

Consideram as manifestações importantes, porém acreditam que não há uma luta

comum, que cada um tem um motivo diferente e, muitas vezes, não se sabe qual a mudança

pretendida de fato.

Ou ele vai para se manifestar, só que ele não vai com uma ideia, ele vai, tipo,

“Vamo manifestar”, sem ter uma causa. Alguns querem diminuir a passagem

do ônibus, outros querem outra coisa, não tem uma coisa em comum para as

pessoas se unirem e lutar pelo que elas acreditam. Aí acaba fazendo o quê?

Acaba tipo, desinteressando, acaba uma coisa, outra coisa, aí alguns vêm pra

zoar, aí começa a quebrar as coisas, destruir. Na hora que o brasileiro

começar a se unir e vir uma coisa só, as coisas vão começar a melhorar. Por

exemplo, que teve esse negócio da Dilma, que tavam... a Dilma, que a Dilma

foi reeleita esse ano, eles queria parar a Dilma, que a Dilma tava tendo

corrupção, aí “vamos votar no Aécio”. Mas por que votar no Aécio? Tipo,

vai melhorar mesmo? Eles só queriam a mudança, sem se importar pra... Pra

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onde mudar, sabe? Sem se importar se vai ser bom ou vai ser ruim a

mudança. (Rui, Roda de Conversa, 2014)

Apesar da descrença, em alguns casos, disseram que os movimentos para que

baixassem os preços das passagens em suas cidades, como Francisco Morato e Cajamar,

tiveram resultados positivos. Interessante foi perceber o quanto eles se sentem mais convictos

da participação quando estão ao lado de professores.

Em Cajamar também teve e a passagem também foi baixada, mas lá mostra,

as pessoas que estavam lá, também estavam, eu achei... Chato, porque nós

fomos até o pedágio de lá, aí a pista parou e chegando lá tá uma mesma voz

querendo que a passagem ficasse barata e saindo tiro, e eu tava lá. Tinha uns

professores nossos, que eu achei isso bacana, os próprios que falam em sala

de aula estarem lá com a gente também. Que, né, falam em sala e não está

lá? Então eu acho que isso é chato. (Milton, Roda de Conversa, 2014)

Assim como Milton, outros citaram a questão da violência por parte dos policiais

para conter as manifestações:

[...] e tudo o mais, na nossa cidade teve policiais que tavam batendo em

pessoas que não tinham nada a ver, porque teve o grupo que se manifestou,

mas teve o grupo que tava ali pra... em prol do assunto mesmo, só que

apanhou, eu mesmo apanhei também e não tinha nada a ver com o assunto.

(Marlon, Roda de Conversa, 2014)

Eu sei que é isso aí, que eu tava na porta da minha casa, a polícia desceu o

escadão e foi batendo em todo mundo [...] fui na manifestação e voltei, tava

na porta da minha casa, falando com meu primo, a polícia chegou, não era de

lá, chegou e começou a bater em todo mundo. Aí eu falei “Não, eu moro

aqui”. Aí não acreditou e queria me levar pra outro lugar. Aí eu falei “Não,

não vou sair daqui”, aí eu gritei pro meu pai, que meu pai tava na porta, aí

ele “É meu filho”. “Ah, tem certeza que é seu filho?” “Como assim se eu

tenho certeza se é meu filho? É meu filho, caramba.” Ia chegar batendo em

todo mundo, entendeu? (Caíque, Roda de Conversa, 2014)

Em contrapartida, também discutiram sobre a violência por parte de manifestantes

vândalos, os quais, segundo eles, ficavam no meio das pessoas sérias para causar tumulto.

[...] foram porque queria brincar, fazer zoeira, encontrar amigo, muitos

bancos privados, agências de carros privadas foram quebradas sendo que

eles não tem nada a ver, algumas dessas pessoas estavam até para visitação,

só que o povo, ele extrapola. Um exemplo são os Black blocs, que aquilo ali

não é uma manifestação, aquilo é vandalismo. Os Black blocs foi banido da

Europa porque é vandalismo. Por que aqui não é? (Luan, Roda de Conversa,

2014)

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A questão é que Luan não culpou a violência policial, para ele os manifestantes é

que estavam errados em quebrar tudo e, dessa forma, a polícia deveria reagir à altura, pois

não haveria como agir de “forma pacífica para quem não seja pacífico”. Cabe aqui ressaltar

que Luan se apresentou como filho de pai e mãe policiais. E outros continuaram na mesma

linha de pensamento, criticando alguns manifestantes, como Maiara, que falou sobre

queimarem os ônibus como forma de protesto, dizendo ter

[...] praticamente certeza de que quem fez isso não usa o ônibus, mas quem

usa sabe o quanto é difícil. Já não tem ônibus, e ainda vai e destrói.

Entendeu? Eu uso o ônibus todo dia, já é uma bosta, perdão da palavra, é

muito ruim o transporte público, e aí já vai e faz esse tipo de coisa? Não tem

nexo. E tem gente que só vai pra brincar mesmo. (Maiara, Roda de

Conversa, 2014)

Neste item os alunos demonstraram conhecer, por meio da internet e redes sociais

digitais, bem como pela mídia em geral, o que são movimentos sociais e manifestações

populares. Contudo, há aqueles que não acreditam que de fato, nos caso dos últimos eventos,

possa haver conquistas, pois consideram que não há um foco e que muitos participantes não

têm objetivos sérios ou, muitas vezes, desconhecem os reais motivos de sua manifestação.

Ainda assim, todos os presentes participaram de alguma forma de ações desse

tipo, e há aqueles que defendem que a mudança é possível e que houve algumas conquistas,

como a redução do preço do transporte em sua cidade. Entendem, então, de algum modo, ser

importante para o país, contudo deveria haver mais organização no que se refere a

reivindicações e demandas, de forma que todos lutassem pela mesma causa, tendo uma

bandeira por vez. Dessa maneira, em sua perspectiva não acadêmica, os alunos relatam como

veem as manifestações, confirmando as palavras de Gohn:

O que as marchas, manifestações, ocupações e protestos que ocorreram ao

longo de 2011, 2012 e 2013 têm em comum: São articuladas via redes

sociais, internet e celulares; são compostas por manifestantes que não tem

necessariamente uma Ideologia Política (a adesão é a uma causa, ou mais de

uma, e não à Ideologia de um grupo) e não pertencem a um grupo específico

(político ou não) e por isso não tem ligação Política partidária (mesmo que

entre seus manifestantes haja pessoas ligadas a algum grupo político); as

manifestações ocorrem à margem não apenas de partidos, mas também de

sindicatos; os protestos têm grande visibilidade na mídia em função do

grande número de contingente que consegue agrupar; a Democracia é um

dos eixos articuladores das marchas, em seu sentido e exercício pleno; são

espaços de aprendizagem que se produzem a partir de uma vivência e

experiência, no sentido de uma educação não formal; contribuem para a

construção de uma nova cultura política. (GOHN, 2014, p.74-76)

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4.2.3 Influências

Acerca das influências que tiveram para se tornarem participantes de algum tipo

de manifestação, uns disseram que foram os pais ou amigos e colegas que os incentivaram,

outros relataram que foram alguns professores isolados na escola.

Meu pai sempre participou de manifestação, aí ele falou “Não, tem que ir, e

não sei o que”, só que, assim, como falou aí, mil, setecentos estavam pra

zoar, é assim, entendeu? Isso que é errado no Brasil. Aí a gente vê na

televisão as manifestações, nossa, aí a mídia mostra um lado da manifestação

e não mostra o outro, a baderna, mostra só a baderna, mas tinha gente ali que

tava ali batendo no peito, falando, cantando o hino, reivindicando uma coisa,

tava ali. Mas a mídia mostra só um lado... Fui acho que em [...] três, em três

manifestações. Na Paulista [...] Nossa, uma coisa que... Lágrima no olho, na

hora que todo mundo começa a bater no peito e cantar o hino do Brasil. Uma

coisa que arrepia de escutar. Por isso que eu criei minhas músicas. Foi em

base nisso. (Caíque, Roda de Conversa, 2014)

No meu caso não teve influência, foi porque eu quis mesmo. Eu vi que tava

na hora de abrir a boca e fazer alguma coisa, porque do jeito que tá não dá,

porque eu também pego ônibus todos os dias, pego dois ônibus para ir pro

meu curso, e depois... ia, né, pra escola, e achei um absurdo, tipo “Ah, vocês

não reclamam porque não sai do bolso de vocês, vocês não tem que ralar

tudo o dinheiro pra conseguir esses dez centavos”. (Alani, Roda de

Conversa, 2014)

Então, minha influência foi dos meus professores, dois em especial. Eles

falaram “Você tem os seus direitos” e eles foram meus maiores

influenciadores. E eu fui uma vez em Mairiporã, e eu vi a baderna que foi e a

partir daquele momento eu não fui mais, só que eu me manifestei pela rede

social. (Maiara, Roda de Conversa, 2014)

Segundo Fabiana, os professores foram os incentivadores e “foi nisso que a gente

começou a crescer, vendo, além da gente não aguentar mais viver, viver naquele lugar, os

professores influenciaram muito mesmo, mesmo, mesmo” (Fabiana, Roda de Conversa,

2014). Armando e Milton também afirmaram achar importante os docentes estarem junto nas

manifestações, lembrando Milton que esse fator, “nessa que teve ano passado, comigo

também, foi bem presente. Ele é o Alcir, que é o de sócio (sociologia) também, eles estavam

lá. Eles que pediram para a gente fazer cartazes, pra a gente fazer algumas” (Milton, Roda de

Conversa, 2014).

Quando perguntado se alguém da família deles já havia participado de algum

movimento, dois responderam que o pai, um relatou que inclusive a mãe foi ativista. Outros

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disseram que os pais não gostavam ou tinham medo de participar e de que os filhos

estivessem em manifestações. Uma aluna disse que vai aos protestos com a irmã.

Então, meu pai... ele não é muito alienado também como o pai dele, vai pra

manifestação. Minha mãe nem tanto. Minha mãe já é mais na dela, mais

acomodada. Mas meu pai me incentivou bastante a ir, a fazer, tentar, mudar.

E funcionou. (Rui, Roda de Conversa, 2014)

Meu pai, ele é aquele acomodado. Ele não tá nem aí pra nada, ele só quer

saber do dele. Agora a minha mãe já é mais ou menos uma vida louca da

vida. Ela quer, ela quer, ela quer, é o momento dela, ela vai até o fim. Só

que, como eu falei, “Mãe, a senhora fica em casa porque você não consegue

por causa da bagunça”. Agora imagina minha mãe me vendo apanhar de um

policial, como que ela ia ficar naquele momento? Aí eu particularmente falei

“Mãe, fica em casa, deixa que eu vou.” Mas minha mãe sempre apoiou.

(Marlon, Roda de Conversa, 2014)

Outros revelaram que os pais apoiam de alguma maneira, porém têm muito medo

da participação dos filhos, porque pensam na violência por parte de pessoas interessadas

apenas em tumultuar. Um dos alunos disse que seus pais até gostariam eles próprios de

participar, mas não podem por serem policiais militares. Sua mãe, principalmente, inclusive

às vezes acabava por colaborar para o lado negativo que a mídia mostra acerca de contenções

violentas e tiros efetuados em meio aos atos.

Então, assim, eu na minha casa sou o único que falo “Não, eu vou, eu vou

mudar, eu vou e pronto”. Meu pai até fala “Meu, você é muito radical, você

tem que tomar mais cuidado”. É que eu exploro muito minha opinião na rede

social, que hoje é, sem dúvida, o lugar onde você consegue mostrar pra

muito mais pessoas... Sofri em alguns pontos, pessoas leigas que não

conhecem o assunto, mas, assim, esse é o custo que a gente paga por querer

revolucionar, por querer mudar. (Luan, Roda de Conversa, 2014)

Segundo Armando (Roda de Conversa, 2014), o pai não só o apoia como é a favor

e, inclusive, já participou de passeatas carregando manifestantes na carroceria de seu

caminhão. Contudo, no que se refere à orientação, sempre fez questão de que o filho soubesse

os motivos do movimento.

[...] ele sempre fala “Olha, você tem que... vai pra rua, vai fazer alguma

coisa, vai reivindicar alguma coisa. Só que você tem que saber primeiro o

que você vai reivindicar. Mas vai reivindicar o que ali? Tem certeza? Cês

têm provas concretas, tudo certinho de que é aquilo que vocês querem, é

aquilo que vocês vão buscar?” A partir do momento em que todos irem

buscar pra um fim só, beleza. Agora, tava assim, brasileiro já não tava mais

sabendo o que reivindicar, o que buscar. Então ele orientou sempre assim,

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“Você quer reivindicar? Beleza, mas saiba primeiro o que você precisa, o

que é necessário. Conversa com o pessoal que vai com você”... Ele dá esse

incentivo. (Arthur, Roda de Conversa, 2014)

Na questão das influências, praticamente todos falaram que as tiveram, uns pelos

pais ou irmãos, outros por professores. Dessa forma, consideraram importante esse apoio para

que pudessem ter a participação que relataram. Se não apoio, tiveram exemplos de luta por

direitos, inclusive quando falam da alienação ou não dos incentivadores. Ou ainda, no caso

contrário, quando não apoiam ou proíbem por desconhecimento ou medo da violência

veiculada pelas mídias.

4.2.4 Importância das redes sociais digitais e internet nas manifestações

No que se refere à importância das redes e da internet no processo dos

movimentos e das manifestações dos quais participaram, disseram acreditar que, “se não

fossem as redes, não existiriam as manifestações, porque não tem como o povo se comunicar”

(Luan, Roda de Conversa, 2014). Qualquer comentário divulgado no Facebook, por exemplo,

em pouco tempo já consegue milhares de curtidas. Porém, ao mesmo tempo, isso pode causar

ilusões em relação ao desfecho dos fatos.

Por exemplo, nosso município, muita gente criticava a Dilma, mas véspera

de eleição, um mês até, tava todo vermelho de PT, tinha PT aqui, PT lá, PT

não sei que lá. Eu falei “Nossa gente, mas eu achei que ninguém gostava”. E

tava tudo vermelho. (Thalita, Roda de Convesa)

Interessante que fizeram questão de frisar que um dos meios de comunicação mais

utilizados para informação sobre as manifestações foi o aplicativo WhatsApp, por meio da

internet da rede de telefonia celular.

[...] é aquela mensagem que um vai comunicando pro outro, vai repassando

pra todo mundo, assim foi um meio de comunicação que todo mundo de

Morato ficou sabendo, que foi o WhatsApp, que foi mensagem que vai pra

um, que de um vai pro outro, pro outro e pro outro, que quando vai saber tá

todo mundo envolvido [...] passaram pra mim no WhatsApp, e pediram para

sair repassando. E nisso de sair repassando foi, voltou pra mim umas dez

vezes a mesma mensagem. E eu, tipo, “Já tô cansado de repassar”, mas o

WhatsApp ajudou muito a repassar. Imagine um, aí um passa pra ela, e dois

passa pra mais dois, quatro. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)

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Em meio a essa discussão, Luan fez questão de dizer que, apesar de toda essa

repercussão, e de também ter começado sua participação por meio de informações na internet,

tendo ainda passado essas informações para frente, o povo ainda é acomodado. Lembra que

em épocas em que não existia a internet, como na ditatura, os movimentos tinham resultados.

[...] porque as pessoas queriam mudar, hoje as pessoas não querem mudar, só

vai se a mensagem chega nela, nas pessoas. Então se a mensagem chegar

nele, ele talvez vá se manifestar, mas é que nem ela falou [se referindo a

outra participante], esse “manifesto” com curtida no Facebook, isso não

muda o Brasil. (Luan, Roda de Conversa, 2014)

Perguntados sobre se utilizam os computadores da sala do Acessa em suas escolas

para obter informações acerca das manifestações, disseram que não, que ficam sabendo pelas

redes e, principalmente, pelo celular. Acreditam que a escola não dá essa formação pois, por

uma imposição do governo, os professores não poderiam trabalhar com esses conteúdos,

inclusive, em algumas unidades escolares, em tempos como de eleições, são proibidos de

utilizar o Facebook.

Eu lembro que os professores chegavam e falavam “Olha, a gente não pode

falar, mas, vai, pode ir, vocês tem que ir. Só que não fala pra ninguém que eu

tô te falando pra você ir! Que a gente não pode” tipo „influenciar‟. Por

exemplo, se a diretora ficar sabendo que professor tá influenciando uma

manifestação contra a Dilma, ou contra qualquer coisa do governo que pode

tá, pra gente tá errado”. (Fabiana, Roda de Conversa, 2014)

Contudo, ainda deixaram evidente que a internet e as redes sociais digitais, mais

ainda com o uso do celular, foram fundamentais nas manifestações de que participaram, seja

pela informação, seja pela interação ou até pela construção de sites do movimento.

Eu, eu criei a página, eu e uns amigos meus, pra chamar todo mundo, e a

gente chamou, só que, assim, na internet, vai vinte mil pessoas que

marcaram presença na internet, na realidade não tinha mil ali, entendeu? A

gente organizou, vinte mil confirmou, nossa, a gente tava crente que ia ter

muita gente, na hora não tinha muita gente, entendeu? Então, o pessoal

muito acomodado, dentro de casa, “Ah, tem o medo de tomar um tiro”.

(Caíque, Roda de Conversa, 2014)

Afirmaram que se utilizaram das redes sociais, WhatsApp, Facebook, Tumblr e

outras redes e ferramentas da internet para que pudessem saber, divulgar e marcar os eventos.

Lembraram que em movimentos como os ocorridos na Síria a internet foi bloqueada, pois se

sabia que sem ela a organização ficaria comprometida, e que no Brasil algumas páginas foram

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tiradas da rede. “Então, assim, a internet é a principal fonte pra revolucionar.” (Luan, Roda de

Conversa, 2014)

É impactante na realidade, né? A gente vê alguém começar lá... lá... lá de

baixo, começar alguma coisa e ir crescendo, crescendo e crescendo, virar

alguma coisa que foi grande, não foi pequena, até porque a da Paulista foi

enorme, foi bastante gente, e é impactante. (Maiara, Roda de Conversa,

2014)

O professor Eriberto, que até então estava apenas observando, pediu autorização

para entrar no debate e falou de uma música que também foi retirada do YouTube por fazer

crítica aos governos em momentos de manifestações. Disse que o cantor teve sua página

bloqueada na internet, e só por meio de uma liminar a música pôde ser divulgada.

[...] eu ouvi a música, gostei na hora eu já baixei, porque eu vi assim que

colocaram nas redes sociais, quando eu baixei eu já tinha. Mas no outro dia,

assim, no outro dia, minutos depois, as pessoas já tinham pego a bandeira do

Brasil na internet, em qualquer foto do Google, colocaram o funk e aí

colocaram novamente no YouTube. Só que isso, foram quinze ou vinte mil

pessoas que colocaram de uma vez. Como que o governo ia controlar tudo

isso? [...] e ele incentiva mesmo ir pras ruas, ele manda mesmo, “Vá pra

rua”, é a mensagem, a mensagem subliminar é isso, se você quer, luta pelo

seu direito. (Eriberto, Roda de Conversa, 2014)

O aluno Cleverson relata que só optou por participar a partir da visualização de

um vídeo de uma jovem de 16 anos que expunha sua opinião sobre a conjuntura social e

política do país, bem como o problema da influência dos meios de comunicação de massa.

Eu me interessei muito por isso, também fiquei assustado, porque até então

eu só sabia de manifestações e essas coisas em outros países, né, em

reivindicações, e também na ditadura. Então achei um baque, né, fiquei com

medo até de guerra, de alguma coisa, guerra civil, e eu quis participar. Então

teve a primeira manifestação lá, que a gente parou, que pararam o pedágio e

eu não pude ir por causa do meu pai. O meu pai acabou sendo influenciado

pela TV, então ele viu só a parte, né, da baderna, do quebra-pau, então ele

virou pra mim e falou “Cê não vai, cê não vai, porque são um bando de

vagabundo”. Aí eu fiquei quieto, né, porque é meu pai... E olhei todo mundo

passando assim, e eu achei uma coisa linda, porque eram várias, muitas

pessoas mesmo. E eu achei muito lindo isso. E eu queria muito estar lá, mas

eu não podia por causa do meu pai. Aí teve uma segunda manifestação lá,

muito menor, né, mas eu pude participar, escondido, mas eu fui. Então foi

muito bom, me senti realizado, e é isso. (Cleverson, Roda de Conversa,

2014)

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O professor José disse que, quando atuou em outra escola, incentivou muito para

que os alunos participassem, inclusive trabalhou com eles, contudo teve de sair daquela

unidade escolar, pois o clima ficou insustentável com a gestão. Continuou dizendo que

apoiava os alunos, mas os questionava quando queriam usar máscaras, afirmando que só

faziam isso porque queriam esconder algo de errado, quando, pelo contrário, eles estariam

fazendo o correto quando reivindicavam pelos seus direitos. Mesmo com toda essa censura

velada, ainda tinham liberdade de expressão, aquele momento representava liberdade.

Os alunos continuaram o debate, afirmando que a internet para as manifestações é

importante, pois se trata de meio acessível a todos para haver comunicação rápida. Enquanto

as pessoas possuírem um dispositivo móvel, sempre terão acesso à rede e a esse tipo de

comunicação ágil e prática, que, no entanto, também poderiam ser usadas como armas, por

isso a necessidade de serem utilizadas de forma consciente, apontaram.

Quanto a essa questão, todos foram unânimes em relatar que as redes sociais,

redes de internet e redes de celular são imprescindíveis para os movimentos e manifestações.

Isso é evidenciado por Gohn (2014, p.19) quando se refere às atuais formas de comunicação,

modificadas entre os jovens participantes das manifestações, e a alteração das formas de

mobilização social por meio da cibercultura, numa sociedade em que “saber se comunicar on-

line ganha status de ferramenta principal para articular as ações coletivas” (GOHN, 2014,

p.17).

Para a autora, as redes digitais modificaram e impulsionaram os modos de

organização dos movimentos e manifestações sociais, até porque faz parte do perfil desses

jovens ativistas “dominar códigos das novas tecnologias e participar das redes sociais”

(GOHN, 2014, p.60).

4.2.5 Escola X Sociedade

Quando perguntado aos alunos se a escola proporcionava um clima de

participação, se os preparava para um senso crítico da conjuntura, da realidade da sociedade

em que estão inseridos, responderam por unanimidade que não, que mal participavam do

grêmio, pois ou de forma velada esse colegiado era proibido, ou era muitas vezes boicotado,

ou direcionado nas questões que, por vezes, achassem importante discutir. Isso confirmado

pelos professores presentes. Relataram que a escola nunca os incentivou, apenas um ou outro

professor de forma isolada, e na maioria das vezes eram professores mais jovens. Também

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disseram que se um professor explicasse de forma clara os motivos das manifestações, os

problemas políticos e governamentais, esse seria de algum modo excluído da escola.

Como o professor citou, tinha um professor na nossa escola, de história, o

professor deve conhecer [se dirigindo ao professor], que ele era um

revolucionário, e a partir do momento que teve essa paralização, greve e

tudo o mais, ele ensinou o que foi a revolução no começo, qual que foi as

parada do começo, desde a época que ele... tava lá, da época que ele era

revolucionário, até hoje e ele incentivava. Mas é claro que não pode se

divulgar em escola, que senão, como o professor fala ali, tem repressão, mas

mesmo assim ele incentivava. Eu muitas vezes fui incentivado por ele

também a fazer a do passe livre. Ele falou assim “Não, eu vou estar lá

também”, apesar que eu não vi ele lá, mas ele falou “Eu vou estar lá

também, e vou ajudar vocês”. (Marlon, Roda de Conversa, 2014)

Esse professor que ele comentou que... a escola pegou e demitiu ele. Só que,

o que houve ali? Os alunos gostavam do que ele tava falando, não era o que

o outro professor de história falava, “Ah, é isso, a cópia legal e tal”. Ele

falava a verdade, os aluno... a escola inteira se reuniu e mandou a direção

chamar ele. Aí ele mudou de escola... Teve uma rede social, assim, no meio.

(Thalita, Roda de Conversa, 2014)

Foi perguntado, então, por que eram participativos se a escola no geral não os

formava para a vida, para a luta. Responderam que por causa da convivência com as pessoas

da escola, com os colegas e amigos fora dela, inclusive pelas redes sociais digitais.

A escola até evita falar sobre politica, uma coisa que eu achei absurda, até

hoje eu não aceito ver uma professora de português falar “política não se

discute”. Foi a pior coisa que eu já ouvi na minha vida, e uma professora

falou que política não se discute dentro da escola. Então, essa professora tá

lá até hoje, e até hoje ela evita falar com os alunos. Então, assim, não foi

grêmio que fez a minha cabeça, não foi escola que fez a minha cabeça, os

meus pais... Foi uma coincidência, mas foi o que eu vi no dia a dia, esse...

Todos nós que estamos aqui... Essa vontade de mudar, que não... Brasil não

dá mais como tá. (Luan, Roda de Conversa, 2014)

Na sequência da Roda de Conversa foi aberto um tempo para quem quisesse dizer

algo que não havia sido mencionado. Assim, iniciaram falando sobre a descrença nas reais

finalidades de luta, da falta de criticidade do povo brasileiro e que tinham dúvidas de que

haveria mudanças, de fato, no Brasil. Dois, inclusive, alegaram acreditar que o país caminha

para uma guerra civil. Que a polícia não faz o trabalho como deveria e apenas oprime a

população.

Falaram também sobre o problema da corrupção no país, incluindo a população,

que seria acomodada desde a invasão dos portugueses, pois não ofereceu muita resistência.

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Tal argumento, no entanto, provocou uma argumentação contrária, dando conta de que o

problema viria de quem oprime, como os portugueses aos índios no Brasil, e continua se

favorecendo, devido ao despreparo cultural e educacional de muitos.

Como o Luan disse, eu também acredito que vai ter em poucos anos uma

guerra civil, e a gente vê que o Brasil é um país assim... com tabus

desnecessários. E que só vai haver mudanças quando as pessoas começarem

a mudar. Não tem como a gente reivindicar algo se não tem pessoas

preparadas pra isso, entendeu? Então, tem pessoas que realmente querem

mudanças, que realmente querem reivindicações, tem pessoas que para pedir

as suas reivindicações usam da violência. Então é isso, o Brasil precisa de

mudança nas pessoas. Eu acredito numa mudança daqui muitos anos no

Brasil, mas que isso vai começar a partir de pessoas que pensem como nós,

ou que tenham pensamentos parecidos. (Cleverson, Roda de Conversa,

2014)

Outros alunos argumentaram ser necessário continuar lutando pelos direitos, em

meio a uma discussão sobre culpados pela situação do país. A culpa seria dos governos, por

conta da corrupção presente em todos os segmentos e em todos os partidos. Isso em geral

poderia ser mudado nas eleições, mas o país não teria opção.

Contudo, alegaram que o povo constitui uma maioria sobre os governantes e,

dessa forma, seria possível haver mudança. Os movimentos, as manifestações seriam formas

de se fazer ouvir – e, por conta das redes sociais, esse ouvir ocorre em maior proporção.

Porém, se os objetivos fossem mais comuns, se fariam ouvir com mais intensidade, embora

seja lembrado ainda que a mídia tem o poder de manipular a opinião pública.

[...] Eu acho que a manifestação é um modo de se ouvir, de se fazer ouvir

sim, porque, por exemplo, um grupo grande de mulheres são a favor do

aborto, então vamos lá gritar que somos a favor do aborto... Um grupo de

pessoas, jovens, adultos, velhos são a favor da maconha medicinal e da

maconha como venda, então vamos lá e vamos gritar que somos a favor

disso. E somos a favor do passe livre... Então é um modo de muitas pessoas

com as mesmas ideias se juntarem e gritar ao mundo que querem. Mesmo

tendo, infelizmente, pessoas que não estão nem aí. (Fabiana, Roda de

Conversa, 2014)

A manifestação é uma forma de se ouvir no início, mas a mídia faz o vínculo

errado. Ela, tipo assim, vamo... Aí mostra uma coisa totalmente nada a ver e

ponto de vista diferente, e o pessoal que tá assistindo TV vai e pensa que a

manifestação é uma coisa totalmente diferente... Voltando ao ponto que

vocês falaram do poder, que tem que mudar quem tá no poder, como se

muda quem tá no poder? Como se escolhe alguém que tá no poder? Tem que

estudar, tem que ter informação. Só que o governo fez uma coisa muito

elaborada, ele não deu informação pra pessoa na escola pública, o ensino é

ruim, como que a pessoa vai escolher? Gente que quer manifestar, quer

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mudar o partido politico, mas não sabe em quem tá votando. Não sabe as

propostas politicas de quem ele quer eleger. Como a gente faz assim?

Entendeu? Foi uma coisa muito bem feita. O povo que mudar, só que o povo

não pode porque não tem educação. Então, como quer mudar de cima? Tipo

assim, povo que vai querer mudar, pra mudar tem que tirar o político e

colocar um bom projeto para a educação. Só que pra eu tirar o político de lá,

tem que saber quem eleger. Pra saber quem eleger, tem que ter educação. Pra

ter educação, tem que ter alguém no poder que dá uma coisa: uma formação

pras boa pessoas. Isso, tipo, não bate. (Rui, Roda de Conversa, 2014)

Diante do exposto pelos alunos nessa parte da pesquisa, pode-se constatar que no

cotidiano escolar tradicional não é proporcionado um ambiente de participação. A escola

pouco os incentiva por meio de atividades diferenciadas com vistas a promover um clima

propício à formação crítica. Eles não enxergam um movimento nesse sentido, raramente há

participação nos grêmios e conselhos escolares. E, quando existe, é de forma controlada e

instruída, pois não atuam de forma deliberativa.

Contudo, conforme Paro (2002, p.19), “é na prática escolar cotidiana que

precisam ser enfrentados os determinantes mais imediatos do autoritarismo enquanto

manifestação, num espaço restrito, dos determinantes estruturais mais amplos da sociedade”.

E, nesse sentido de busca de formas de enfrentamento, percebe-se que a luz no fim do túnel

aparece por meio do trabalho de alguns professores que, de uma maneira ou outra, abordam

tais questões. Sem contar os poucos que de modo engajado, politicamente, procuram ser

exemplos e mediar para uma participação efetiva. Entretanto, estes também eventualmente

encontram espaços para tal exercício. O que para Freire (2001, p.11) é

Uma das tarefas do educador ou educadora, através da análise política, séria

e correta, é desvelar as possibilidades, não importam os obstáculos, para a

esperança, sem a qual pouco podemos fazer porque dificilmente lutamos e

quando lutamos, enquanto desesperançados ou desesperados, a nossa é uma

luta suicida, é um corpo-a-corpo puramente vingativo.

Revelaram que seu espírito ativista vem de formações fora dos muros da escola,

nas redes sociais físicas e virtuais. Mostraram a percepção de uma opressão social

reproduzida no espaço escolar e do cepticismo frente a uma sociedade inerte aos

acontecimentos e fatos que geram desigualdade e exclusão. Assim, para Enguita (2004, p.57),

A escola está mal equipada para competir nesse terreno: por um lado, suas

rotinas mais elementares são particularmente tediosas e exigentes, em

comparação com a divertida e confortável trivialidade da televisão,

videojogos e computadores; por outro, suas penosas e áridas incursões na

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cultura, no sentido pleno do termo, nada podem faze em face do acúmulo de

oportunidades oferecido por um mundo globalizado.

Mas, de maneira geral, lutam porque ainda acreditam na parcela do corpo social

que enfrenta e busca a transformação deste contexto. Dessa forma, vale a pena continuar com

o enfrentamento aos desmandos e desgovernanças da esfera política, bem como a reflexão e a

criticidade para que não sejam por eles manipulados, nem pelas mídias, que, por vezes,

tentam enviesar o contexto social, assim como corromper o verdadeiro desígnio das lutas, que

é a participação deliberativa numa sociedade que exclui, com vistas a uma vida melhor para

todos que vivem nela.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

Considerações finais, esse é o termo mais adequado para esta parte da tese, pois

seria, por demais, pretensioso dizer que se pode chegar a uma conclusão definitiva sobre esse

tema tão vivo, cuja conjuntura está em constante mudança.

São diversos os desafios que se colocam quando se aborda um tema tão recente,

ou melhor, que ainda está se desenvolvendo em novas formas de manifestações no campo

teórico. Um deles é conseguir acompanhar as constantes mudanças acerca do assunto e as

suas inovações. Assim, parece que tudo que se debate já está ultrapassado, bem como que é

necessário buscar cada vez mais rapidamente a enxurrada de informações que chega dia a dia,

de forma a saber se ainda têm validade. E outro desafio é saber o que fazer com essas

informações, na perspectiva de contribuir para o jovem conhecer os problemas enfrentados

em sua comunidade, ficando a cargo do coletivo buscar alternativas de resolução.

Há um movimento das redes sociais digitais no sentido de sua necessidade, no

mundo contemporâneo, como forma de possibilitar a comunicação de uns com os outros,

fazendo com que, também neste texto, a matriz “mercadológica” seja vista ainda como a

adequada para o século XXI. Apesar disso, há a necessidade de mudar essa linha de ideias

para uma matriz cidadã, pois a educação formal continua insuficientemente propiciando o

acesso às Tecnologias de Comunicação e Informação aos jovens do Ensino Médio das escolas

públicas, seja por meio de suas ferramentas disponíveis, como é o caso do Acessa Escola, e

sim dificultando e até negando, uma vez que os alunos encontram muitos obstáculos, como a

proibição do uso das salas ou do acesso às redes sociais e a falta de interesse de uma parcela

de educadores em motivar ou utilizar. Entretanto, nesse campo, a educação formal afasta-se

da sua função, como apresentado no capítulo III, porque ela não está preparada para abordar e

discutir com os alunos a questão dos movimentos e manifestações sociais.

De acordo com a primeira matriz mercadológica, com características

individualistas, com aquisições individuais e sem vistas a conquistas coletivas, a qual não

proporciona as mesmas oportunidades de inclusão e obtenção de direitos políticos e sociais. É

preciso buscar alternativas verdadeiras que proporcionem liberdade de busca de soluções aos

problemas, sem a ingenuidade de que se pode modificar a realidade do mundo vigente por

meio de aulas que não prezam a conscientização do indivíduo e sua relação com o coletivo,

com o social. É preciso levar em conta a necessidade da formação continuada de verdadeiros

cidadãos, capazes de responder aos constantes desafios impostos pela sociedade. E, de acordo

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com a matriz cidadã, os movimentos sociais podem proporcionar conquistas sociais se

puderem transformar a realidade pessoal, seu cenário, com vistas à melhoria da sociedade e,

mais especificamente, do grupo ao qual pertença.

Num cenário em que uma parcela da população não tem emprego, passa fome ou

está na miséria, fica difícil definir quais seriam as principais bandeiras, numa sociedade em

que muitos já estão antecipadamente excluídos socialmente pela falta de leitura, escrita e,

consequentemente, pela falta da compreensão crítica da realidade. Dessa forma, não basta

apenas indicar as necessidades, é preciso refletir sobre as condições iminentes, para que se

possam buscar, no coletivo, soluções para os conflitos e que levem ao desenvolvimento local,

global e plural.

A proposta do Estado, no discurso educacional, é a de educar para a cidadania.

Mas de qual conceito de cidadania se trata? Daquele que passa pela conquista de direitos

políticos civis e sociais ou daquele que passa pelo direito ao acesso aos bens, materiais,

simbólicos e culturais? Com inspiração em Paulo Freire, parte-se do pressuposto de que não

há como existir a conquista de qualquer tipo de direito, inclusive ao da educação, se não

houver conquista dos direitos políticos. Antes da Educação, formal ou não formal, formar

cidadãos cognoscentes, ela deve formar cidadãos políticos. Ou seja, antes de simplesmente

aprender-se a ler palavras ou textos, há de se aprender a ler o mundo.

Tratar da questão de cidadania é importante para que seja percebido qual é o

conceito que ainda muitos, em instituições escolares, trazem consigo, reflexo, de acordo com

a matriz mercadológica, de uma sociedade individualista da qual se faz parte. É a oposição

dos que têm aos que não têm, dos incluídos aos excluídos, os que detêm o poder aos

subjugados.

O cidadão que não enxerga e não reflete de forma crítica não tem uma direção de

olhares, de horizontes, de objetivos para a própria vida enquanto ser, ontológico ou social.

Principalmente aquele que se fecha em uma concha, muitas vezes por timidez ou falta de

informação. Cabe à educação, por meio de políticas públicas e de forma coletiva, mediar para

que o sujeito aprenda a avaliar sua condição real para transformá-la.

A autonomia se obtém quando se adquire a capacidade de ser sujeito

histórico que lê e re-interpreta o mundo; quando se adquire uma linguagem

que possibilita ao sujeito compreender e se expressar por conta própria.

(GOHN, 2004, p.48)

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Dessa forma, para que essa autonomia ocorra, o sujeito necessita de incentivo, de

liberdade de escolha e de deliberação no que se refere à resolução de problemas. Para que esse

sujeito não precise ter sempre alguém que lhe defina caminhos ou lhe determine atividades e,

assim, não fique sem chão e se sentindo invalidado. Segundo Castells (2013, p.172), isso só é

possível por meio de autonomia, pois um “ator social torna-se sujeito ao definir suas ações em

torno de projetos elaborados independentemente das instituições da sociedade, segundo seus

próprios valores e interesses”.

Nesse prisma, Russel (2005, p.15) afirma que a criança, e depois em sua

adolescência, necessita de uma ou mais instituições educacionais, pois sozinha talvez não

tenha maturidade para definir certas “circunstâncias da vida”, porém é necessário dar-lhe asas

para que escolha, para que desde cedo perceba a necessidade de tomar decisões por caminhos

a seguir e seus impulsos possam ser utilizados em sua própria educação, o que nunca é

valorizado. Para ele, o olhar jovem, que pouco é lembrado, deveria definir a sua liberdade,

principalmente se quer e o que aprender e para quê. Pois cada aluno também é singular, com

suas vivências, realidades e especificidades.

A liberdade de opinião, tanto de parte dos alunos como dos professores, é a

mais importante das várias liberdades, e a única que não impõe limitações.

Em vista de não existir, vale a pena recapitular alguns dos argumentos a seu

favor. (RUSSELL, 2005, p.22)

Olhando para essa conjuntura, em que movimentos e manifestações estão

eclodindo e rompendo o silêncio de uma população jovem, que de tempos em tempos se cala,

estava mais do que na hora da grande maioria, inclusive de jovens, expor seus gritos

“indignados” (GOHN, 2014; CASTELLS, 2013). Estampá-los por meio de cartazes, com suas

demandas em forma de rimas, por meio da voz que se faz ouvir, por meio de bloqueios que se

faz enxergar, por meio de protestos em suas variadas formas de luta.

E, de acordo com o que está expresso no Manifesto dos Pioneiros da Educação

Nova (1932), é “pela ação extensiva e intensiva da escola sobre o indivíduo e deste sobre si

mesmo e produzir-se do ponto de vista das influências exteriores, por uma evolução contínua,

favorecida e estimulada por todas as forças organizadas de cultura e de educação” que

aumentariam as condições de participação e intervenção na esfera pública e, por conseguinte,

nas questões educacionais. É essa escola, é essa educação, seja formal ou não formal, a qual

não se apresenta de forma única para todos, que pode abrir os horizontes de mudança por

meio de uma qualidade pautada na lógica da matriz cidadã.

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No entanto, a questão da qualidade é mais um discurso do que uma realidade. As

medidas são tomadas, decididas e implantadas de forma autoritária, não se ouvindo os

“gritos” (demandas reais). Um exemplo claro vem descrito no citado Manifesto dos Pioneiros

da Educação Nova, acerca do fenômeno ainda vigente, a Universidade Pública gratuita e de

boa qualidade, que não está à disposição ou a serviço da grande massa, e sim de uma elite,

não trabalhadora. Assim, tanto as políticas públicas educacionais como a própria vivência

educacional não têm sido vetor de transformação real na vida do ser humano, nem efetivado

sua função social. Ainda que “a escola não seja a alavanca da transformação social, mas essa

transformação não se fará sem ela” (GADOTTI, 1984, p.73).

E a função social da escola deve ter esses horizontes, educar com vistas a uma

cidadania plena, de maneira que a formação, proposta e desenvolvida, valorize os

conhecimentos externos a ela, ou seja, aqueles que o aluno leva de fora para dentro. Assim,

quando o caminho for o inverso, esses conhecimentos elaborados poderão auxiliar na

mudança de uma sociedade baseada na lógica da matriz mercadológica.

Contudo, de acordo com a pesquisa de campo, no ambiente escolar, o número de

alunos que desenvolvem atividades diferenciadas e de participação é mínimo. Não obstante,

existem vários textos na educação e na legislação sobre o protagonismo do jovem com vistas

à melhoria das condições escolares para que ocorresse a mencionada formação. Conforme

consta no segundo capítulo desta tese, entre leis, decretos e resoluções que embasam medidas

e reformas, só para o estado de São Paulo é possível contabilizar em torno de 80 políticas

públicas educacionais. Porém, os grandes problemas enfrentados no ensino não se dissiparam.

Cabe refletir que um dos entraves é que o espaço escolar cria redes sociais, mas

não as desenvolve. Pois ali se formam vários coletivos, o coletivo dos discentes, dos docentes,

dos funcionários e até o coletivo dos pais, quando estão no interior da escola. Estes, por sua

vez, estão dentro do coletivo de sujeitos escolares, que estão dentro do coletivo comunidade.

Olhando por esse prisma, podem-se encontrar na escola “coletivos em rede”, os quais

[...] referem-se a conexões entre organizações empiricamente localizáveis.

(p. ex., entre ONGs ambientalistas). Estes coletivos podem vir a ser

segmentos (nós) de uma rede mais ampla de movimentos sociais, que por

sua vez é uma rede de redes. O Fórum Brasileiro do ONGs e Movimentos

Sociais para o Meio Ambiente e o Desenvolvimento é uma sub-rede do

movimento ambientalista brasileiro. Entretanto, o movimento social deve ser

definido como algo que vai além de uma mera conexão de coletivos.

(SCHERER-WARREN, 2009, p.106)

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A escola pouco propicia o desenvolvimento das relações desses coletivos quando

trabalha de forma tradicional, inclusive pela disposição das carteiras em sala de aula. As

atividades, não diferenciadas, são desenroladas de forma isolada. Não existem relações sociais

coletivas e participativas, e sim uma pirâmide hierárquica. Assim sendo, as redes iniciadas no

espaço escola se desenvolvem fora dele e se tornam

[...] redes sociais complexas que extrapolam as organizações e que

conectam, simbolicamente, sujeitos sociais e atores coletivos. Em síntese, os

coletivos em rede são formas de instrumentalização das redes de

movimentos, e embora não definam por si mesmas um movimento social,

são partes constitutivas dele. (SCHERER-WARREN, s/d, apud

PRUDENCIO, 2006, p.41)

E fora do ambiente escolar as redes se formam física e virtualmente, neste último

caso chamadas de redes sociais digitais (forma escolhida entre várias outras). Para os alunos

da Roda de Conversa e para muitos que participaram do questionário, as redes sociais digitais

e internet são de suma importância para seu cotidiano e para a sociedade. Eles apresentaram

certa criticidade quanto à sua utilização, apontando o que chamam de pontos positivos e

negativos. Enfatizaram que, na utilização desses meios, é constante a necessidade de discernir

conteúdos, bem como estabelecer limites de uso.

Tanto nas respostas à pesquisa como na Roda de Conversa, afirmaram ser o

espaço virtual um local onde podem se organizar, seja socialmente, seja para luta ou

manifestações. Sendo assim, para Castells (2003, p.99), o jovem tem um papel de destaque na

relação participação política e redes sociais, uma vez que vem despertando para uma

consciência política por meio do uso das redes, bem como construindo uma identidade

mediante a interação nesses espaços.

A representação de papéis e a construção de identidade como base da

interação on-line representam uma proporção minúscula da sociabilidade

baseada na internet, e esse tipo de prática parece estar fortemente

concentrado entre adolescentes. De fato, são os adolescentes que estão no

processo de descobrir sua identidade, de fazer experiências com ela, de

descobrir quem realmente são ou gostariam de ser, oferecendo assim um

fascinante campo de pesquisa para a compreensão da construção e da

experimentação da identidade. (CASTELLS, 2003, p.99)

Ainda segundo o autor, essa construção, na qual a interação se dá de modo a

compartilhar desejos, emoções, opiniões, ideias, contribui para a processo organizacional e

formativo dos movimentos e manifestações sociais, pois

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[...] a Internet é mais que um mero instrumento útil a ser usado porque está

lá. Ela se ajusta às características básicas do tipo de movimento social que

está surgindo na Era da Informação. E como encontraram nela seu meio

apropriado de organização, esses movimentos abriram e desenvolveram

novas avenidas de troca social, que, por sua vez, aumentaram o papel da

Internet como sua mídia privilegiada. (CASTELLS, 2003, p.115)

No entanto, o espaço escolar para acesso à internet destinado aos jovens alunos do

Ensino Médio nas escolas públicas estaduais raramente se constitui em espaço formativo para

a cidadania e para a democracia. Isso porque é pouco utilizado pelos estudantes, seja de forma

particular, apesar dos números demonstrados no histórico do Acessa Escola, pela falta de

motivação, sendo até proibidos de acessar as redes sociais. Seja tão somente junto aos

professores, que em sua grande maioria, esporadicamente, utilizam as salas, uma vez que isso

demandaria mudança de posicionamento e do olhar para os alunos, cuja postura é vista, ainda

pelo senso comum, como "apática, desinteressada e desmobilizada quanto às questões

públicas e muito mais individualista, consumista e alienada que as gerações anteriores"

(ABRAMO, 2004, p.13).

Verificou-se, então, que o acesso à internet e às redes sociais digitais se dá por

meio de computadores fora do espaço formal escolar, principalmente pelas redes de telefonia

celular que, para muitos, figura como única forma de acesso. Os alunos consideram essa

ferramenta fundamental para participação social por meio das redes sociais digitais, inclusive

como forma de obter informações. Nota-se que praticamente todos possuem telefone móvel,

inclusive com seus pacotes de internet. Dado a ser considerado, uma vez que todos são de

escolas públicas, a maioria sempre estudou nelas, e uma parte está reside em locais de

bastante vulnerabilidade social, fazendo parte de um grupo pertencente a uma denominada

exclusão social.

Nessa linha, acerca da importância da internet, das redes sociais digitais e dos

celulares nas manifestações, verificou-se, tanto na pesquisa quantitativa como na Roda de

Conversa, que os jovens alunos do Ensino Médio não só consideram fundamental sua

utilização para os movimentos e manifestações, como os que participaram se valeram deles,

uma vez que “marchas, manifestações e ocupações na atualidade são promovidas por

coletivos organizados que estruturam, convocam/convidam e organizam-se on-line, por meio

das redes sociais” (GOHN, 2014, p.21). E, segundo Castells, o uso das redes e internet

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[...] permite ao movimento ser diverso e ser coordenado ao mesmo tempo,

engajar-se num debate permanente sem contudo ser paralisado por ele, já

que cada um de seus nós pode reconfigurar uma rede de suas afinidades e

objetivos, com superposições parciais e conexões múltiplas. (CASTELLS,

2003, p.117)

Outro fator, como já apontado por Gohn (2014, p.60), é que faz parte do perfil

desses ativistas a comunicação pelos meios virtuais como forma de articulação das “ações

coletivas”. De acordo com Castells, nesses meios

[...] foi surgindo por sua vez essa consciência de milhares de pessoas que

eram ao mesmo tempo indivíduos e um coletivo, pois estavam – e estão –

sempre conectadas, conectadas em rede e enredadas na rua, mão a mão,

tuítes a tuítes, post a post, imagem a imagem. Um mundo de virtualidade

real e realidade multimodal, um mundo novo que já não é novo, mas que as

gerações mais jovens veem como seu. (CASTELLS, 2013, p.183-184)

Nesse ponto, também pouco coube à escola formal propiciar aos jovens estudantes

formas de reflexões (o que deveria fazer parte de suas funções) acerca dos movimentos

sociais, das manifestações sociais, seus objetivos, sua história e seu contexto, inclusive os

meninos que responderam ao questionário ou os que participaram da Roda de Conversa. Eles

foram formados pelos “meios de autocomunicação de massa”, assim chamados por Castells

quando se refere às redes sociais. Tal formação, para o autor, é imprescindível para as

manifestações sociais, entre outras, e para o que ele intitula de “novos movimentos sociais”, o

que fica explícito quando o autor conceitua redes:

Os seres humanos criam significado interagindo com seu ambiente natural e

social, conectando suas redes neurais com as redes da natureza e com as

redes sociais. A constituição de redes é operada pelo ato da comunicação.

Comunicação é o processo de compartilhar significado pela troca de

informações. Para a sociedade em geral, a principal fonte da produção social

de significado é o processo da comunicação socializada. Esta existe no

domínio público, para além da comunicação interpessoal. A contínua

transformação da tecnologia da comunicação (TI) na era digital amplia o

alcance dos meios de comunicação para todos os domínios da vida social,

numa rede que é simultaneamente global e local, genérica e personalizada,

num padrão em mudança. O processo de construção de significado

caracteriza-se por um grande volume de diversidade. Existe, contudo, uma

característica comum a todos os processos de construção simbólica: eles

dependem amplamente das mensagens e estruturas criadas, formatadas e

difundidas nas redes de comunicação multimídia. Embora cada mente

humana individual construa seu próprio significado interpretando em seus

próprios termos as informações comunicadas, esse processamento mental é

condicionado pelo ambiente da comunicação. Assim, a mudança do

ambiente comunicacional afeta diretamente as normas de construção de

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significado e, portanto, a produção de relações de poder. (CASTELLS, 2013,

p.15)

Quanto à participação ou conhecimento sobre movimentos ou manifestações

populares, a grande maioria dos alunos que responderam ao questionário nunca esteve

presente em nenhum deles. Percebe-se que há pouco, ou nada, de contato com algumas das

variações dos conceitos acadêmicos. Contudo, também demonstram conhecer, por meio da

internet e redes sociais e da mídia em geral, o que são movimentos sociais e manifestações

populares, mais especificamente o que se difunde como manifestações ou protestos sociais

por esses meios.

Ressalta-se aqui a credibilidade da mídia, principalmente a TV, para aquisição de

informações. Todavia, tanto pelas mídias tradicionais como pela internet e redes sociais,

[...] a informação só produz conhecimento quando trabalhada, ou seja,

refletida num dado contexto de interesse e necessidade de saber. Pois

somente a partir da elaboração cognitiva é que ocorre a construção de novos

saberes causados pela informação tramitados na rede. (GALLI, 2006, p.123)

Assim, é feita uma leitura de suas realidades e da realidade social via meios não

escolares, exceto no caso de poucos alunos, segundo a Roda de Conversa, que convivem com

professores que procuram aprofundar algumas dessas questões. Daí a importância do trabalho

de professores que tratam do tema em suas aulas, ainda que de maneira isolada e, por vezes,

como parte do conteúdo curricular, devido à confiança depositada neles. Muito embora, como

dito por alguns e pelos próprios professores presentes na Roda de Conversa, a escola seja

local proibido para determinados temas, tendo certo controle sobre falas e atos, ainda que de

forma velada. Mesmo que a proposta descreva:

O Currículo de Sociologia para o Ensino Médio tem como principal objetivo

desenvolver um olhar sociológico que permita ao aluno compreender e se

situar na sociedade em que vive. Para isso, toma como princípios

orientadores a desnaturalização e o estranhamento (p. 135). [...] Quadro de

conteúdos e habilidades de Sociologia na 3ª Série do Ensino Médio: Qual a

importância da participação política? ‐ Formas de participação popular na

história do Brasil; ‐ Movimentos sociais contemporâneos: ‐ movimento

operário e sindical. ‐ movimentos populares urbanos. ‐ “novos” movimentos

sociais: negro, feminista, ambientalista, GLBT. (SÃO PAULO, 2010, p.148)

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Seja entre os alunos que responderam ao questionário ou entre os que

participaram da Roda de Conversa, também há aqueles que não acreditam que de fato possa

haver conquistas, no caso dos últimos eventos, uma vez que não há uma causa em comum –

argumentam que acaba por ficar confusa a mistura de muitas bandeiras ao mesmo tempo. Esse

fato da diversidade é confirmado por Scherer-Warren quando classifica as manifestações dos

indignados de junho de 2013 como:

[...] agregados de múltiplos coletivos no espaço público, com reivindicações

conjunturais, mas frequentemente com protestos politicamente heterogêneos,

diversificados, e podendo conter antagonismos políticos explicitados ou não,

e mobilizados especialmente através das redes sociais e/ou virtuais.

(SCHERER-WARREN, 2014, p.14)

Portanto, na pesquisa houve quem julgasse não adiantar dizer nada, pois, para

esses alunos, os jovens não teriam voz na sociedade brasileira, e ainda quem não quisesse

expressar sua opinião sobre o tema. A hipótese é a de que esses meninos não têm expectativas

quanto à mudança ao que está posto e à transformação desta sociedade em que estão

inseridos. É como se os problemas dela não se referissem a eles, não tendo, dessa forma,

responsabilidades na busca de um mundo melhor nem crença na sua participação ou na

atuação dos governantes. Nesse aspecto, tanto um lado como o outro

[...] nem sempre se mostram preparados para a reflexão ou dispõem de

informação suficiente, nem, ainda, estão interessados em ouvir atentamente

os outros ou alterar os próprios pontos de vista diante das explicações e

justificações apresentadas pelos demais. (MAIA, 2008, p.287)

Todavia, muitos disseram que os movimentos e manifestações sociais são

importantes, uma vez que essas ações divulgadas esclarecem a real conjuntura do país para

aqueles que até então não prestavam atenção nos assuntos sociais e econômicos locais e

nacionais. Para eles, é uma forma de os jovens lutarem pelos seus direitos e, principalmente,

se fazerem ouvidos, afinal, “eles querem ser escutados, querem falar e denunciar o desrespeito

aos direitos dos cidadãos, e ter mais canais para expressar demandas que não específicas da

categoria jovem, mas de toda a sociedade. Vocalizam, por exemplo, que querem educação de

qualidade” (GOHN, 2013a).

Os jovens fazem questão de dizer que não serão mais manipulados, pois não são

alienados. Dessa maneira, volta-se à questão da função da escola de promover uma formação

crítica, diante desse desejo de entender a respeito das questões conjunturais para que não

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sejam enganados. Não se esquecendo de que é preciso, para isso, que propostas

emancipadoras de ensino saiam do papel para a prática do cotidiano escolar, e que essa escola

desperte nesses jovens o interesse em uma formação mais integral no que tange aos

desenvolvimentos propostos, mas não trabalhados, tornando-os efetivamente

[...] atores de conflitos porque falam a língua do possível; fundam-se na

incompletude que lhes define para chamar a atenção da sociedade inteira

para produzir sua própria existência ao invés de submetê-la; fazem exigência

de decidir por eles próprios, mas com isto mesmo reivindicam para todos

este direito. (MELUCCI, 2001, p.102)

Mais uma vez, verificou-se que a escola formal minimamente oportunizou ou

discutiu tais questões. Novamente os idealizadores curriculares não pensaram “a educação

escolar na mesma visão ampliada que o movimento faz da educação, numa educação ampla,

política e avançada” (ARROYO, 2012, p.33). Eles não conseguem traduzir, no cotidiano

escolar, essa concepção e essa prática de educação que os movimentos sociais possuem.

Assim como não se dá a devida importância para a relação entre a educação e os movimentos

sociais, ou para a presença da primeira nas práticas dos grupos sociais e seus movimentos, no

processo de indagação acerca da conjuntura vigente, desconsiderando-se como ocorrem as

aprendizagens no cotidiano de tais grupos. (GOHN, 2011, p.334)

Para finalizar, a produção literária sobre o tema ainda é muito divergente, fato

esse que contribui para que não se possa definir o tema com precisão. Entretanto, por se tratar

de um estudo de caso de cunho exploratório, esta tese perseguiu o que foi estabelecido, na

medida em que buscou a compreensão sobre as categorias relacionadas ao tema e suas

variantes. Foi relevante na busca da compreensão sobre como os jovens do Ensino Médio

definem, tomam conhecimento ou participam dos movimentos e manifestações sociais. Cabe

ressaltar que, a maioria dos que responderam o questionário, conhecem o tema por meio do

senso comum veiculado nas mídias ou pelos grupos em que circulam. Não têm a dimensão ou

definição exata do conceito. Em contraponto as redes sociais constituem ferramentas para

formas de comunicação, publicização e participação desses mesmos movimentos, contudo,

em sua maioria, fora do espaço da educação tradicional e formal. Isso sendo compreendido

por meio das matrizes de análise, a “mercadológica” e a “cidadã”.

Nesse sentido, verificou-se que a escola não tem como mote essencial formar o

sujeito para uma cidadania ou para que haja participação da sociedade nas decisões políticas

que a atingem. Com isto a educação de qualidade tem sido um dos principais pontos das

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pautas de reivindicação dos movimentos sociais e manifestações populares, para que esta

atenda aos interesses não só das elites, mas com prioridade às camadas populares.

É nessa perspectiva que Gohn aponta que os movimentos e manifestações sociais,

em suas variáveis formas, possuem a capacidade educativa quando manifestam suas

demandas, suas culturas e políticas sociais de forma a conduzir o jovem cidadão à cena

pública no que se refere à “inclusão social, a cultura política e suas manifestações na área da

educação – formal e não formal” (GOHN, 2010, p.15).

Diante do exposto nesta tese, considera-se que a divulgação e até a participação de

poucos desses estudantes do Ensino Médio das escolas públicas paulistas nos movimentos

e/ou manifestações de junho de 2013 marcam uma nova fase de atuação e lutas com vistas a

uma transformação social, fase essa em que

A igualdade é ressignificada com a tematização da justiça social; a

fraternidade se retraduz em solidariedade; a liberdade associa-se ao princípio

da autonomia – da constituição do sujeito, não individual, mas autonomia de

inserção na sociedade, de inclusão social, de autodeterminação com

soberania. Finalmente, os movimentos sociais tematizam e redefinem a

esfera pública, realizam parcerias com outras entidades da sociedade civil e

política, têm grande poder de controle social e constroem modelos de

inovações sociais. (GOHN, 2013a, p.16)

E isso não se deu, primordialmente, por meio da educação formal, uma vez que

ela, de modo escasso, faz uso de espaços escolares como o Acessa Escola ou de ferramentas

como a internet e redes sociais digitais, disponíveis dentro e fora do ambiente escolar, como

no caso das redes de telefonia celular e computador. Estes instrumentos são pouco ou quase

nada utilizados nas atividades de elaboração de conhecimento acerca do que são esses

movimentos e manifestações sociais. Também seu pouco uso não tem perspectivas para

reflexão e conscientização sobre suas realidades e as da sociedade em que vivem, muito

menos para uma formação crítica capaz de levar os alunos a uma maior participação na lógica

da matriz cidadã.

No entanto ainda, conclui-se que, embora se revelando tal conclusão como

acertada, esta percepção frustra. O que leva à inferência de que, as ocupações das escolas

pelos alunos da Rede Estadual em 2015, mostraram que, de certa forma, a função social da

escola tem sido cumprida, à medida que conhecimentos devem ter sido apreendidos e

compartilhados „nas lutas e jornadas‟, no interior da escola formal, gerando aprendizagens

não formais.

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É dessa cidadania que se fala, pautada em um movimento democrático em que a

atuação dos sujeitos tenha como objetivo a participação política, empregando todas as formas

de luta e ferramentas disponíveis, como a rede de internet e redes sociais digitais, na prática

de uma soberania popular que rompa com os paradigmas e relações de forças dominantes,

sem discriminações, desigualdades ou privilégios de uns em detrimento de outros.

Espera-se que esta tese possa vir a contribuir no que se refere ao tema abordado,

possibilitando a formulação de outras questões e hipóteses. E objetiva-se ainda, numa possível

continuação da pesquisa, investigar os movimentos contra a reorganização das escolas

públicas do Estado de São Paulo. Esse foi um dos temas que se manifestou nas redes ao

término deste trabalho e que, por não ampliar o objeto de estudo, não foi possível aprofundar

neste texto. Contudo, se considerou importante a descrição dessa conjuntura, no segundo

capítulo, por estar ligada ao universo dos sujeitos abordados nesta pesquisa e às políticas

públicas implantadas ao longo da história.

Tudo isto posto, infere-se que políticas implementadas verticalmente sem consulta

social, permitem eclosões de movimentos contrários a tais medidas, quem podem se

configurar em manifestações, protestos, ocupações, etc. prejudicando o processo democrático

de participação deliberativa na efetivação das políticas públicas, relacionadas a um

novo cenário, as relações desenvolvidas entre os diferentes sujeitos

sociopolíticos presentes na cena pública alteram-se neste novo milênio.

Além da ampliação dos sujeitos protagonistas de ações coletivas, ocorrem

alterações no formato das mobilizações e na forma de atuação – agora em

redes. Isso resulta do alargamento das fronteiras dos conflitos e tensões

sociais em virtude da nova geopolítica que a globalização econômica e

cultural tem gerado. (GOHN, 2013a, p.25)

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dispõe sobre adoção de medidas iniciais na execução do Programa Estadual de

Desburocratização.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 17.329, de 14 de julho de 1981. Define a estrutura e as

atribuições de órgãos e as competências das autoridades da Secretaria de Estado da Educação,

em relação ao Sistema de Administração de Pessoal, e dá providências correlatas.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 21.810, de 26 de dezembro de 1983. Autoriza a celebração

de convênios com municípios, objetivando a expansão e desenvolvimento do programa de

Educação Pré-Escolar junto à comunidade.

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SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 27.102, de 23 de junho de 1987. Altera a denominação,

amplia os objetivos da Fundação do Livro Escolar e aprova os Estatutos da Fundação para o

Desenvolvimento da Educação - FDE.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 27.265, de 05 de agosto de 1987. Institui o Programa de

Municipalização e Descentralização do Pessoal de Apoio Administrativo das Escolas da Rede

Pública Estadual.

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SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 28.170, de 21 de janeiro de 1988. Estabelece a Jornada

Única Discente e Docente no Ciclo Básico das Escolas Estaduais.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 30.375, de 13 de setembro de 1989. Institui o Programa de

Municipalização do Ensino Oficial no Estado de São Paulo.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 31.875, de 17 de julho de 1990. Dispõe sobre a suspensão

do expediente nas unidades escolares da Rede Estadual de Ensino, nas condições que

especifica.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 32.263, de 31 de agosto de 1990. Institui em

Estabelecimentos Penais do Estado o Programa de Recuperação de Mobiliário Escolar e dá

providências correlatas.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 32.392, de 24 de setembro de 1990. Autoriza o Secretário

da Educação celebrar Termo de Cooperação Intergovernamental com Municípios do Estado

de São Paulo.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 34.035, de 22 de outubro de 1991. Dispõe sobre a

instituição do Projeto Educacional Escola Padrão na Secretaria da Educação.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 34.918, de 06 de maio de 1992. Dispõe sobre a

identificação das “Escolas Padrão” para o ano de 1993.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 39.902/95, de 1º de janeiro de 1995. Altera os Decretos nº

7.510, de 29 de janeiro de 1976, e 17.329, de 14 de julho de 1981, reorganiza os órgãos

regionais e dá providências correlatas.

SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 40.673, de 16 de fevereiro de 1996. Institui o Programa de

Ação de Parceria Educacional Estado-Município para atendimento ao ensino fundamental.

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SÃO PAULO (Estado). Decreto nº 61.672, de 30 de novembro de 2015 Disciplina a

transferência dos integrantes dos Quadros de Pessoal da Secretaria da Educação e dá

providências correlatas.

SÃO PAULO (Estado). Deliberação CEE nº 9/97. Institui, no Sistema de Ensino do Estado de

São Paulo, o regime de progressão continuada no ensino fundamental.

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SÃO PAULO (Estado). Lei Complementar nº 114, de 13 de novembro de 1974. Institui o

Estatuto do Magistério Público de 1º e 2º graus do Estado e dá providências correlatas.

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o Estatuto do Magistério.

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o Estatuto do Magistério Paulista e dá providências correlatas.

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diretrizes para a continuidade do Programa de Reorganização da Rede Estadual de Ensino, e

dá providências correlatas.

SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 192/1995. Dispõe sobre o acompanhamento e

avaliação dos resultados do processo de ensino das escolas da rede estadual e dá providências

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SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 2, de 6 de janeiro de 1995. Dispõe sobre o processo

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Documentos Escolares.

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SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 28/94, de 23 de fevereiro de 1994. Dispõe sobre

gratificações para as classes de Delegado de Ensino e Supervisor de Ensino e estabelece

critérios para a composição do setor de trabalho do Supervisor de Ensino e dá outras

providências.

SÃO PAULO (Estado). Secretaria da Educação. Coordenadoria de Gestão da Educação

Básica. Reorganização do ensino fundamental e do ensino médio / Secretaria da Educação,

Coordenadoria de Gestão da Educação Básica. - São Paulo: SE, 2012.

SÃO PAULO (Estado). Resolução SE nº 74, de 08 de novembro de 2013. Dispõe sobre a

reorganização do Ensino Fundamental em Regime de Progressão Continuada, oferecido pelas

escolas públicas estaduais, e dá providências correlatas.

Jornais, jornais eletrônicos e revistas

Agência Brasil. Estudantes e MTST ocupam 25 escolas de SP em protesto contra

reorganização. 16 de novembro de 2015.

Agência Brasil. Estudantes ocupam mais de 100 escolas paulistas em protesto contra reforma.

24 de novembro de 2015.

Agência Brasil. Professores protestam contra reorganização do ensino em São Paulo. 30 de

outubro de 2015.

Agência Brasil. Alunos de escolas ocupadas querem abonar dias letivos com aula voluntária.

30 de novembro de 2015.

Agência Brasil. Alunos, pais e professores protestam contra fechamento de escolas em São

Paulo. 20 de outubro de 2015.

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255

Agência Brasil. Decreto que transfere professores na reorganização escolar é publicado. 1º. de

dezembro de 2015.

Agência Brasil. Especialistas criticam reorganização da rede de ensino de São Paulo. 26 de

novembro de 2015.

Agência Brasil. Justiça suspende reintegração de posse de escolas ocupadas por alunos em SP.

16 de novembro de 2015.

Agência Brasil. Secretaria de Educação diz que 30 escolas ainda estão ocupadas em São

Paulo. 17 de novembro de 2015.

Agência Brasil. Violência contra alunos paulistas é crime, diz especialista. 05 de dezembro de

2015.

BBC Brasil. Adolescentes viram protagonistas em polêmica sobre escolas fechadas em SP. 12

de novembro de 2015.

BBC Brasil. Cartilha argentina guia estudantes que ocupam escolas paulistas. 24 de novembro

de 2015.

Diário do Grande ABC (SP). Opinião: Reestruturação, Alckmin e alternativa. 10 de novembro

de 2015.

Diário do Grande ABC. Reorganização escolar leva estudantes às ruas. 08 de outubro de

2015.

El País. O dia em que cem policiais sitiaram uma escola ocupada em São Paulo. 12 de

novembro de 2015.

El País. A vida em uma escola ocupada que resiste a fechar as portas em São Paulo. 18 de

novembro de 2015.

El País. Justiça nega reintegração de posse das escolas ocupadas em São Paulo. 24 de

novembro de 2015.

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256

El País. Opinião: A Educação sentimental de Geraldo Alckmin. 04 de dezembro de 2015.

El País. Opinião: É política sim, Geraldo. 07 de dezembro de 2015.

El País. Por que a reforma que afeta 300.000 alunos em SP virou caso de polícia? 16 de

novembro de 2015

El País. Repressão de Alckmin inaugura a nova fase da reorganização escolar. 03 de

dezembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Promotor vai à Justiça contra reforma de ciclos de Alckmin. 02 de

dezembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Educação. Estudantes interditam av. Paulista contra mudança nas escolas

estaduais. 09 de outubro de 2015.

Folha de S. Paulo. Educação. Projeto de mudança nas escolas estaduais leva estudantes às

ruas de SP. 07 de outubro de 2015.

Folha de S. Paulo. Opinião. Reestruturação na rede estadual de ensino de SP. 17 de outubro

de 2015.

Folha de S. Paulo. Alckmin desiste de evento no interior após protesto de alunos e

professores. 15 de outubro de 2015.

Folha de S. Paulo. Alunos ocupam escola na zona leste de SP que será fechada por Alckmin.

12 de novembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Alunos reciclam pedidos e mantêm protestos após recuo de Alckmin. 08 de

dezembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Às vésperas de dia decisivo, escola invadida em Pinheiros faz minifestival.

23 de novembro de 2015.

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Folha de S. Paulo. Em dia de protestos em série contra reorganização escolar, três são presos.

04 de dezembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Há um mês na escola, alunos limpam, cozinham e até instalam chuveiros.

1º. de dezembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Invasão de 25 escolas estaduais atinge ao menos 26 mil alunos em SP. 17

de novembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Mistério sobre fim de escolas alimenta protestos de alunos. 14 de outubro

de 2015.

Folha de S. Paulo. Opinião: Escola invisível. 08 de dezembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Opinião: Guerra contra a Educação. 04 de dezembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Opinião: Jovens dão aula de cidadania. 06 de dezembro de 2015.

Folha de S. Paulo. Opinião: Um governo que fecha escolas. 22 de outubro de 2015.

Folha de S. Paulo. Sob pressão, Alckmin faz mudança mais tímida em escolas paulistas. 27

de outubro de 2015.

Folha de S. Paulo. SP vai transferir mais de 1 milhão de alunos para dividir escolas por séries.

24 de setembro de 2015.

Folha.com. 'Só diálogo supera essa situação', diz Mercadante sobre invasão de escolas em SP.

24 de novembro de 2015.

Folha.com. Estudantes ocupam e trancam escola em ato contra fechamentos em SP. 10 de

novembro de 2015.

G1. Alckmin oficializa revogação da reorganização escolar em São Paulo. 06 de dezembro de

2015.

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258

G1. Defensoria Pública pede explicações sobre plano de reorganização escolar. 14 de outubro

de 2015.

G1. Mudança de escola em reestruturação de ensino em SP preocupa os pais. 24 de setembro

de 2015.

G1. ONG cria sistema para notificar ocorrências em escolas ocupadas. 27 de novembro de

2015.

G1. Prazo para transferência de escola na rede estadual termina nesta quarta. 25 de novembro

de 2015.

G1. Sobe para 74 o número de escolas ocupadas, diz governo de SP. 23 de novembro de 2015.

G1. SP aplica Saresp a estudantes e deixa de fora escolas ocupadas. 24 de novembro de 2015

G1. Alunos de SP são informados sobre fechamento de escolas estaduais. 06 de outubro de

2015.

G1. Ocupação de escola em SP entra no 4º dia e alunos aguardam audiência. 13 de novembro

de 2015

G1. Veja o que já está definido no plano de reorganização do ensino em SP. 08 de outubro de

2015

G1Secretário diz ter vergonha de resultados da Educação no país e SP. 26 de novembro de

2015.

IG. "Jovens não serão iguais após as ocupações; vão sair melhores, mais politizados". 30 de

novembro de 2015.

O Estado de S. Paulo. Virada Cultural em escolas ocupadas terá Paulo Miklos e Criollo. 02 de

dezembro de 2015.

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O Estado de S. Paulo. Alunos fazem ato no centro contra mudança na rede estadual de SP. 21

de outubro de 2015.

O Estado de S. Paulo. Contra reorganização de escolas em SP, grupos se mobilizam contra o

Saresp. 25 de novembro de 2015.

O Estado de S. Paulo. Contra reorganização, alunos ocupam escola estadual em Pinheiros. 11

de novembro de 2015.

O Estado de S. Paulo. MPE abre inquérito para apurar fechamento de escolas em São Paulo.

14 de outubro de 2015.

O Estado de S. Paulo. Opinião: Por uma escola franca. 19 de outubro de 2015.

O Estado de S. Paulo. 1 em cada 4 escolas fechadas é da capital. 28 de outubro de 2015

O Estado de S. Paulo. Alckmin decreta reorganização da rede estadual de ensino de SP na

terça. 30 de novembro de 2015.

O Estado de S. Paulo. Alunos ocupam até escolas que não serão fechadas. 18 de novembro de

2015

O Estado de S. Paulo. Após ato de Alckmin, alunos anunciam início de desocupação de

escolas de SP. 07 de dezembro de 2015.

O Estado de S. Paulo. Ciclo único terá aluno de 11 anos na Cracolândia. 17 de novembro de

2015.

O Estado de S. Paulo. Editorial: Pais e filhos. 03 de dezembro de 2015

O Estado de S. Paulo. Estudantes ocupam duas Etecs em SP. 02 de dezembro de 2015

O Estado de S. Paulo. Governo Alckmin admite 'redução de despesas' em reorganização

escolar. 04 de dezembro de 2015.

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O Estado de S. Paulo. Grupo fecha Paulista em protesto contra mudança em escolas. 09 de

outubro de 2015.

O Estado de S. Paulo. Medo de escolas fechadas cria onda de protestos em SP. 10 de outubro

de 2015.

O Estado de S. Paulo. Opinião: Reorganizando a reorganização de escolas. 08 de dezembro de

2015.

O Estado de S. Paulo. SP já tem 5 escolas ocupadas por alunos. 13 de novembro de 2015.

O Estado de S. Paulo. 30 das 94 escolas fechadas em SP têm desempenho acima da média

estadual. 29 de outubro de 2015.

O Estado de S. Paulo. Rede paulista será reorganizada para escola ter ciclo único. 23 de

setembro 2015.

O Globo. Protesto estudantil bloqueia ruas em SP. 1º. de dezembro de 2015.

O Globo. SP já tem 151 escolas ocupadas por estudantes. 25 de novembro de 2015.

Portal Aprendiz. Pela internet, jovens pedem apoio da comunidade para ocupações de escola.

16 de novembro de 2015.

Portal Carta Educação. Alckmin recua e adia a reorganização escolar. 04 de dezembro de

2015.

Rede Brasil Atual. APEOESP convoca professores, pais e alunos contra projeto de Alckmin

de fechar escolas. 09 de outubro de 2015.

Rede Brasil Atual. O governador é covarde. O que acontece nas escolas de SP é sem

precedentes', diz Giannazi. 12 de novembro de 2015.

Rede Brasil Atual. Apesar da rejeição popular, governo Alckmin mantém 'reorganização'. 05

de novembro de 2015.

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Rede Brasil Atual. Grito pela Educação de Qualidade' dá mais peso a mobilizações em São

Paulo. 29 de outubro de 2015.

Rede Brasil Atual. Chega a 114 o número de escolas ocupadas em favor da Educação e contra

a reorganização. 24 de novembro de 2015.

Rede Brasil Atual. Pais e alunos protestam contra fechamento de escolas por Alckmin. 07 de

outubro de 2015.

Rede Brasil Atual. Para especialista, faltou transparência do governo para explicar

reorganização. 19 de novembro de 2015.

Revista Época. Os estudantes que derrubaram a reestruturação das escolas de São Paulo. 07

de dezembro de 2015.

Revista Época. A reestruturação das escolas de São Paulo será boa para a Educação? 24 de

novembro de 2015.

UOL Educação. Opinião: Democratize-se, governador. 07 de dezembro de 2015.

UOL Educação. Confira a lista das escolas de SP que podem fechar, segundo o sindicato. 09

de outubro de 2015.

UOL Educação. Ocupações de escolas em SP já mudaram ensino, diz antropóloga. 26 de

novembro de 2015.

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1 - QUESTIONÁRIO DESTINADO AOS ALUNOS DAS ESCOLAS PÚBLICAS DE ENSINO MÉDIO

PESQUISA ACADÊMICA

Caro estudante,

Esta pesquisa tem apenas a intenção de cunho acadêmico, a qual tenta traçar a participação

social e política dos estudantes nos movimentos sociais / movimentos de reivindicação e

manifestações populares de reivindicações ocorridos nos últimos dois anos, bem como traçar

a importância da informação e comunicação do uso da sala do Acessa Escola.

*Obrigatório

UNIDADE ESCOLAR *

Selecione o nome da Unidade Escolar na lista abaixo.

ZILTON BICUDO – PROF.

NOME (OPCIONAL)

Informe o nome completo.

jij

Continuar »

PESQUISA ACADÊMICA

*Obrigatório

Parte superior do formulário

A – PERFIL

1. SEXO *

Masculino

Feminino

22. QUAL A SUA IDADE? *

Até 14 anos

15 anos

16 anos

17 anos

De 18 a 20 anos

Mais de 20 anos

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3. POSSUI ALGUM TIPO DE DEFICIÊNCIA FÍSICA

LIMITANTE? *

Auditiva

Física

Multipla

Nenhuma

4. QUAL O SEU ESTADO CIVIL? *

Solteiro(a)

Casado(a) / Mora com um(a) companheiro(a)

Separado(a) / Divorciado(a)

5. QUANTIDADE DE FILHOS: *

Nenhum

Um

Dois

Três

Quatro ou mais

6. ONDE VOCÊ MORA ATUALMENTE? *

Em residência, com meus pais / parentes

Em residência, com esposa(o) / filho(s)

Em casa ou apartamento, sozinho(a)

Em habitação coletiva: hotel, hospedaria, quartel, pensionato,

república

Outros

7. INDIQUE QUANTAS PESSOAS HABITAM NA RESIDÊNCIA *

Moro sozinho(a)

Duas pessoas

Três pessoas

Quatro pessoas

Cinco ou mais pessoas

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8. ASSINALE A SITUAÇÃO ABAIXO QUE MELHOR

DESCREVE SEU CASO: *

Meus gastos são financiados pela família

Trabalho e recebo ajuda da família

Trabalho me sustento e/ou contribuo com o sustento da família

Recebo ajuda externa

9. QUAL A SUA RENDA MENSAL FAMILIAR TOTAL? *

Recebem ajuda de custa do governo / externa

Até 1 salários mínimos (até R$ 724,00 inclusive)

Até 2 salários mínimos (até R$ 1.448,00 inclusive)

De 2 a 5 salários mínimos (acima de R$ 1.448,00 até R$ 3.620,00

inclusive)

De 5 a 10 salários mínimos (de R$ 3.620,00 até R$ 7.240,00

inclusive)

Mais de 10 salários mínimos (mais de R$ 7.240,00)

10. A SUA FORMAÇÃO ESCOLAR (ENSINO FUNDAMENTAL E

MÉDIO) REALIZOU-SE E REALIZA-SE EM: *

Toda na escola pública

Até o último ano toda na escola particular

Parte na escola pública e parte na particular

Escola pública ou particular através de ensino supletivo ou

educação de jovens e adultos

Escola pública diferenciada (rural, indígena ou quilombola)

Escola pública integral

11. MEIO DE TRANSPORTE / LOCOMOÇÃO MAIS UTILIZADO

PARA IR À ESCOLA: *

Carro

Moto

Ônibus / Van

Bicicleta

A pé ou de carona

Transporte conveniado Estado / Município

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B - USOS EDUCACIONAIS - INTERNET / REDES

12. QUAL ATIVIDADE ESCOLAR, ALÉM DAS AULAS, QUE

VOCÊ PARTICIPA / PARTICIPOU E CONSIDERA DE MAIOR

RELEVÂNCIA NA SUA FORMAÇÃO? *

o Grêmio Estudantil

o Projetos diferenciados

o Sala do Acessa Escola (sala de informática)

o Não participei das atividades citadas

13. COMO FREQUENTA A SALA DO ACESSA ESCOLA? *

o Durante as aulas com os professores

o Fora do horário de aula

o Em aulas vagas

o Nunca frequentou a sala do Acessa Escola

14. VOCÊ UTILIZA A SALA DO ACESSA ESCOLA PARA: *

o Pesquisa

o Navegar em sites diversos

o Redes sociais

o Outro:

15. SE VOCÊ NAVEGA NAS REDES SOCIAIS, QUAIS SÃO: *

o Facebook

o Twiter

o Instagram

o YouTube

o Não utilizo

o Outro:

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16. VOCÊ UTILIZA AS REDES SOCIAIS PARA: *

o Informações

o Relacionamentos

o Conhecer pessoas

o Atividades profissionais

o Atividades sociais

o Outro:

« Voltar

Continuar »

C - MOVIMENTOS SOCIAIS

17. VOCÊ SABE O QUE SÃO MOVIMENTOS SOCIAIS E O QUE

SÃO MANIFESTAÇÕES POPULARES DE REIVINDICAÇÕES? *

o Sim

o Não

18. VOCÊ CONSIDERA IMPORTANTES OS MOVIMENTOS

SOCIAIS / MOVIMENTOS DE REIVINDICAÇÃO E

MANIFESTAÇÕES POPULARES DE REIVINDICAÇÕES? *

o Sim

o Não

o Não tenho opinião

19. EM BREVES PALAVRAS DESCREVA O QUE SÃO

MOVIMENTOS SOCIAIS E O QUE SÃO MANIFESTAÇÕES

POPULARES DE REIVINDICAÇÕES? E QUAL A SUA

IMPORTÂNCIA? *

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20. VOCÊ TEM CONHECIMENTO ACERCA DOS

MOVIMENTOS SOCIAIS / MOVIMENTOS DE REIVINDICAÇÃO

E MANIFESTAÇÕES POPULARES DE REIVINDICAÇÕES

OCORRIDOS NOS ANOS DE 2013 E 2014 COMO O

MOVIMENTO DO PASSE LIVRE E OUTROS? *

o Sim

o Não

21. SE SIM, COMO TOMOU CONHECIMENTO?

o Televisão

o Jornais impressos

o Rádio

o Pessoas

o Pelo professor na sala de aula

o Internet / Redes Sociais

o Outro:

22. ALGUM PROFESSOR JÁ TRATOU DESTE TEMA NAS

AULAS?

o Sim

o Não

23. SE SIM, EM QUAL DISCIPLINA?

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24. NA SUA OPINIÃO, QUAL A IMPORTÂNCIA DESSES

MOVIMENTOS? *

« Voltar

Continuar »

D - PARTICIPAÇÃO SOCIAL

25. VOCÊ PARTICIPOU DE ALGUMA FORMA DE ALGUM(S)

MOVIMENTO(S)? *

o Sim

o Não

26. QUAL DELES?

27. QUAL A IMPORTÂNCIA DESSES MOVIMENTOS? *

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28. SE SIM, COMO TOMOU CONHECIMENTO DESTE(S)

MOVIMENTO(S)?

o Redes Sociais

o Outro:

29. SE FOR PELAS REDES SOCIAIS, QUAL A MAIS

UTILIZADA PARA ESTE FIM? *

o Facebook

o Twiter

o Instagram

o YouTube

o Outro:

30. QUAL A IMPORTÂNCIA DA INTERNET / REDES SOCIAIS

PARA ESTES MOVIMENTOS *

31. VOCÊ ACEITARIA PARTICIPAR DE UMA ENTREVISTA

ACADÊMICA SOBRE O TEMA? *

o Sim

o Não

« Voltar

Continuar »

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APÊNDICE 2 - QUADRO COMPLETO DAS UNIDADES ESCOLARES EM QUE OS ALUNOS PARTICIPARAM DA PESQUISA

Quadro de respostas 1 – Unidades Escolares dos alunos que responderam as questões.

ADAIL JARBAS DUCLOS 1 0%

ADAMASTOR BAPTISTA - PROF. 25 2%

ALBERTO GRAF – CAPITÃO 18 1%

ALFRIED THEODOR WEISZFLOG 1 0%

ARTHUR WEINGRILL 1 0%

AZEVEDO SOARES 58 5%

BAIRRO JUNDIAIZINHO 15 1%

BELÉM DA SERRA 17 1%

DOMINGOS CAMBIAGHI – PROF. 1 0%

ÉLCIO JOSÉ PEREIRA COTRIM 2 0%

ISAURA VALENTINI HANSER – PROF.ª 1 0%

IVONE DOS ANJOS SILVA CAMPOS – PROF.ª 2 0%

JARDIM ALEGRIA II 111 9%

JARDIM DAS ROSAS 38 3%

JOAQUIM MARQUES DA SILVA SOBRINHO – TTE. 30 2%

JOCIMARA VIEIRA DA SILVA – PROF.ª 61 5%

JOSÉ ROBERTO MELCHIOR – DR. 19 2%

MARIA ZEZA GOMES DE OLIVEIRA 43 4%

NAIR HANNICKEL ROMARO 1 0%

NIDE ZAIM CARDOSO – PROF.ª 221 18%

ODARICO OLIVEIRA NASCIMENTO – PROF. 59 5%

OTTO WEISZFLOG 25 2%

OZILDE ALBUQUERQUE PASSARELLA – DR. 1 0%

PARQUE CENTO E VINTE II 247 20%

PEDRO PAULO AGUIAR 6 0%

PIETRO PETRI 47 4%

SUZANA DIAS 15 1%

WALTER RIBAS DE ANDRADE – PROF. 1 0%

WALTHER WEISZFLOG 142 12%

Fonte: Dados da pesquisa de campo

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APÊNDICE 3 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 19 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO

Quadro de respostas 2 – Questão19: Descrição do que consideram movimentos sociais /

manifestações populares de reivindicações, e qual a sua importância.

Quando um grupo de pessoas se junta para protestar em relação a algo.

Movimentações sociais são feitos pelos próprios cidadãos decididos a tomar a dianteira da situação,

buscando seus direitos por meio de tais protestos. Sua importância é a de que o ser humano deve ir atrás

de seus direitos, sempre se lembrando da Constituição.

Movimentos sociais é o método que a sociedade usa para reivindicações, na maioria de espécie política,

sempre para melhoria de algumas coisas.

Bem o que existiu ano passado foi um ato democrático de suma importância para a elaboração de uma

democracia mais plena e participativa por parte das pessoas que a compõe.

O que vemos atualmente não se pode chamar de manifestações ou reivindicações, e sim de aglomerados

de pessoas dispersas andando para o nada e sem propósito único conjunto.

Os movimentos sociais são organizações sociais que tem o objetivo de transformações da preservação

da sociedade.

As manifestações são uma forma de ação de um conjunto de pessoas a favor de uma causa.

Movimentos operários são movimentos sociais.

São protestos feito pela sociedade para a melhoria de algo

Movimentos para a melhoria da sociedade ou de um objetivo em comum

Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que

objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate político, conforme seus valores e ideologias

dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico, permeados por tensões sociais.

Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou

classe social. Seja a luta por um algum ideal, seja pelo questionamento de uma determinada realidade

que se caracterize como algo impeditivo da realização dos anseios deste movimento, este último

constrói uma identidade para a luta e defesa de seus interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de

pessoas que se encontra numa mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa, entre outras.

A importância é que eles são elaborados em varias situações dos programas políticos e a partir de

questionários para o protagonismo do partido através da luz de outras articulações sociais.

Ambas são boas para podermos reivindicar o que queremos sempre.

Acho interessante, pois mostra que o povo luta pelos seus direitos, e tem pessoas que ainda querem país

melhor. Mas por outro lado, acho que as pessoas são muito conformadas e esperam a situação chegar a

um estado crítico para tomar uma atitude.

Sociais são os que procuram entreter a sociedade assim como as manifestações populares são mais

visando a população. Sem esse tipo de ações não haveriam mudanças em nosso país

Para sociedade ter mais uma qualidade de vida

Movimento social é uma "expressão técnica" que designa a ação coletiva de setores da sociedade ou

organizações sociais para defesa ou promoção, no âmbito das relações de classes, de certos objetivos ou

interesses - tanto de transformação como de preservação da ordem estabelecida na sociedade.

Movimentos sociais são atitudes dos cidadãos que mudam a forma que a sociedade atua em suas vidas.

Manifestações populares são geralmente reivindicações dos cidadãos em prol do aumento de direitos e

melhores condições sociais e principalmente profissionais.

Isso ajuda na convivência e na melhoria da cidade. Pelo direito de cada cidadão na sociedade, o povo se

organiza para estar reivindicando o seu direito que por lei todos nós temos!!

São para buscar melhorias para educação, trabalho, em diversas questões.

Movimentos sociais procuram a melhoria de certo lugar ou situação, manifestações populares de

reivindicações são manifestações que procuram obrigar o cumprimento de direitos públicos.

São para buscar melhorias para educação, trabalho, em diversas questões.

Manifestações para melhorar as situações atuais do nosso país. É muito importante para a evolução e

para a conscientização.

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Movimentos sociais é um conjunto de pessoas lutando por um espaço. Sua importância é de ajudar as

pessoas a conseguir o que querem. Manifestações populares são quando se luta pelo que você acha que

está errado ou o que está certo, mas não está tendo importância para políticos etc.

Movimento social é para saúde procurar a melhora. Manifestação é algo que é do seu direito.

Movimentos sociais são atividades, que envolve a nossa sociedade. E manifestações de reivindicações,

são manifestações que são contra algo,

É algo onde as pessoas lutam por um direito seu, como escola, saúde, empregos..

Acredito que ajudam bastante, pois, com as manifestações, podemos chegar a lugares bons e os

movimentos sociais podem ajudar nos transporte e muitas outras coisas.

São movimentos onde um grupo de pessoas se reúne em prol de uma boa causa, que trará algum

resultado positivo para a população.

São Movimentos importantes para população principalmente, pois temos situações precárias, como

Saúde, Educação e Etc. Pois maior parte da população faz movimentos para tentar melhorar isso, pois os

governantes do nosso país praticamente não ligam para o povo.

Movimentos Sociais são aqueles em que um grupo de pessoas reunidas reivindica projetos, mudanças

ou melhorias para seu grupo social, já a popular de reivindicações são as pessoas reunidas em diversas

partes do mundo reivindicando as mesmas coisas em prol de um bem maior para a população.

Movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças

sociais por meio do embate político

Movimentos sociais são aquele em que a sociedade se envolve para manifestar as suas opiniões.

É o movimento que as pessoas mostram a suas opiniões pacificamente.

São os movimentos em que nós que queremos algo, lutamos por algo, e isso é muito importante para o

nosso futuro e presente.

Manifestações, tentar mudar o mundo e sociedade em que vivemos.

Tentar, de uma forma pacífica, reivindicar algo, para que de alguma forma consiga uma mudança

significativa. (melhorias).

Ir às ruas lutar pelos seus direitos.

Manifestações são protestos para as pessoas conseguirem o que tem por direito no país onde vivem.

Movimentos sociais são nossos diretos sociais e manifestação popular são pessoas em busca de

melhorias o Brasil.

Ação coletiva, ordem pela sociedade, grande importância no cotidiano de muitos.

Movimentos sociais seria todo ato que é realizado em grupo para obter melhorias para seu bairro,

cidade.

Movimentos Sociais são aqueles formados por grupo de pessoas de uma sociedade. Ex; Estudantes e

Trabalhadores se juntaram para uma manifestação, reivindicando o aumento da passagem do transporte

público.

São passeatas que as pessoas fazem para buscar seus direitos e sua importância é a melhoria de um país

democrático.

São formas de reivindicar direitos que foram lesados, são importantes por que buscam resgatar os

direitos dos cidadãos.

São movimentos que têm como foco mudar nossa sociedade com ajuda de uma causa e de toda uma

população.

Movimentos que reúnem grandes números de pessoas, com um objetivo comum. Como exemplo o

movimento do passe livre, onde muitas pessoas se reuniram com o intuito de barrar o aumento das

tarifas nos transportes públicos.

São formas de manifestações para melhorias na cidadania

Grupo de pessoas que se reúnem para conseguir mudanças sociais, levando em conta seus valores e

objetivos; manifestações ocorrem na busca de direitos e melhorias para a sociedade. São importantes,

pois é algo fundamental para que aconteçam diversas mudanças no geral. Sem a reivindicação do povo o

Governo esquece o bem-estar de qualquer cidadão, desde que seja feito de modo civilizado.

Direitos que não estão sendo com concedidos.

São reivindicações dos direitos do povo e são importantes.

Os movimentos sociais, manifestações e reivindicações, são para melhorar o meio social, apontando

pontos nos quais estão faltando na sociedade e/ou está abusiva demais e prejudicial.

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Uma forma da sociedade demostrar seus pontos de vista, muitas vezes não respeitados pelos

representantes públicos.

São para melhoria do nosso país.

Manifestações para conseguirmos o que queremos.

Movimentos sociais são basicamente ações e projetos. Manifestações são ações tomadas pelos populares

que querem melhorias em sua cidade ou estado.

Movimentos sociais são feitos pela sociedade e manifestações populares são feitas de forma individual

sozinho, ou seja, pelas suas opiniões.

O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como

objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade e

de um contexto específico.

São modos de tentar mudar o país.

Formas de mudar o país.

As manifestações em minha opinião, às vezes são para as melhorias do nosso país.

Manifestações servem para que se proteste algum movimento que está em ação e que o povo não

concorda! É de extrema importância, pois é uma forma de tentar adquirir uma melhoria na sociedade.

Pessoas que querem reivindicar algo que acham justo, e lutam por isso.

Serve para lutar pelos direitos do povo.

São movimentos de grupos de pessoas, em busca de providências sobre algum assunto.

Os direitos dos cidadãos e buscar o que precisamos e necessitamos!

Manifestações são quando a população se volta contra o governo para pedir melhorias, pedir seus

direitos.

Movimentos sociais, por exemplo, eventos que fala sobre política e direitos pelos quais temos

interesses. De participar, suponho, na vida política ou, em outras palavras, movimentos sociais também

podem ser considerados como manifestações. A sua importância é a mudança na vida de todos nós com

o movimento que possamos fazer.

São manifestações geradas pela população com o propósito de mudanças em tais áreas e melhorias aos

nossos direitos.

Modo da população se expressar.

É um movimento em que o povo sai às ruas para reivindicar seus direitos. É importante, pois mostram

que a população não aceita ser oprimida e alienada!

São manifestações geradas pela população para melhorias no local onde vivem.

Essas manifestações são para mostrar que não estamos de acordo com o que estão fazendo com o nosso

país, e que estamos correndo atrás dos nossos direitos de cidadãos.

Movimentos sociais são movimentos que reivindicam sobre algum tema em que sociedade não se vê

satisfeita e é importante para que nada fique ruim para que todos vivam de forma igual, com respeito e

de forma digna.

Movimentos sociais são pessoas que correm em busca dos seus direitos.

São movimentos de conscientização, é um meio de reivindicar coisas melhores aos cidadãos.

As manifestações, reivindicações e movimentos sociais, buscam por melhoria na sociedade.

Movimentos sociais, pessoas que buscam e lutam pelos seus direitos.

A busca por direitos da sociedade.

Para ter um país melhor.

É lutar pelos nossos direitos. É importante darmos nossa opinião sobre.

Quando pessoas se reúnem para, criticar, revalidar, ou requerer algo. Manifestações quando pessoas em

grupo se manifestam por uma causa ou ação querendo mudanças de atos entre outros mais.

São movimentos organizados para expor a opinião de algo e também na tentativa de mudar uma

situação.

Para mostrar os direitos das pessoas para que elas não se calem quando governo diz sim.

Movimentos sociais são quando a população tira a "bunda" da cadeira e sai da frente do computador

para ir às ruas pedir melhorias para elas mesmas. São de muita importância porque isso mostra que no

país ainda existem pessoas que se preocupam com saúde, educação etc.

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Manifestação, protestos são muito importantes para que todos lutem pelos seus direitos, diante da

sociedade todos são iguais, igualdade sempre.

São aqueles que envolvem a sociedade para interação da comunidade. Reivindicações são as buscas que

a população faz para alcançar algum objetivo. São importantes para um todo, pois se algo bom é

realizado, afeta na situação da sociedade.

Organização social para defesa de certos objetivos.

Manifestações eu acho superimportante para cada um dizer o que pensa, mas sem vandalismo

em busca do direito.

São protestos que as pessoas têm direitos para que possam ter suas vidas justas.

As pessoas buscam seus direitos, como forma de se pronunciar, de se mostrar ativo em suas

manifestações.

A importância é a expressão do povo para que ocorram mudanças.

Manifestações populares espontâneas de rua, surgidas a partir da indignação popular, quanto às altas

tarifas dos transportes públicos, os descasos com a educação, saúde e habitação, como consequências

das políticas estatais. Discute a transgressão da Lei em relação a esses direitos sociais.

Movimentos sociais são quando a população faz um tipo de movimento, com algum motivo específico

junto com a população e reivindica a favor de seus direitos na sociedade. É importante para ter seus

direitos

É o meio de algumas pessoas reclamarem ou irem atrás do seu direito. É importante, pois se ninguém

for atrás disso, nada muda em nosso país, mas sendo de uma maneira sociável.

Manifestações populares são quando as pessoas saem na rua para reclamarem dos seus direitos.

Movimentos sociais são tudo aquilo que luta por seus direitos e pela melhoria do país, mas sempre de

maneira pacífica. Manifestações populares de reivindicações são quando o povo luta por um ideal, ou

seja, melhoria de vida etc. É muito importante termos essas manifestações, pois com elas podemos

buscar um mundo melhor, por mais difícil que isso seja.

Movimentos sociais são grupos de pessoas que fazem uma reunião em certo local para que discutam

alguma melhoria para a população. Manifestações populares são grupos de pessoas que protestam contra

algo que acham errado e, que algumas vezes, chegam até causarem vandalismo por este motivo.

Movimentos sociais é a sociedade querendo seus direitos. Manifestações vira uma bagunça porque não

são todos que tem educação. A importância é de um futuro melhor para a sociedade com direitos justos

a toda a população.

Movimentos sociais são quando as pessoas saem às ruas em busca de seus direitos sociais. E populares

quando a população não está de acordo com algo e vai as ruas tentar mudar.

As reivindicações são para chamarem a atenção para alguma causa muito grande e tentarem mudar a

situação que está, mas muitas vezes acabam partindo para o vandalismo que nada acrescenta nas

manifestações e assim não conseguirão mudar a situação.

São quando o povo se junta para mudar algo que provavelmente está errado. Para melhorar o país.

Movimentos sociais são manifestações, são a voz do povo expressa a todo público, a fim de causar

impactos em busca de melhorias em todos os aspectos. É o resultado da insatisfação e da sede de

mudança/justiça.

É muito importante, pois estamos em um país democrático.

Dar opiniões e correr atrás de seus direitos e preferências para um país melhor, é o papel de todos.

São processos para promover algum tipo de beneficio ou motivo, como exemplo, as greves de

professores.

São movimentos feito por trabalhadores.

São pessoas que vão atrás de seus direitos sociais e essa, as vezes, é a única forma de realizar seus

direitos como um cidadão.

Onde o povo se reúne com suas forças para mostrar seu ponto de vista, e conseguirem o que querem…

Saem pelas ruas, e só assim, muitas das vezes, são ouvidos.

Movimentos sociais são grupos que se organizam em prol de algo que seja benéfico à comunidade e a

todos. Manifestações populares são, nada menos, que a indignação da população em relação a algo

competente às autoridades. Elas têm suma importância no processo democrático brasileiro, pois é o

meio mais eficaz de mostrar sua insatisfação aos governantes.

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São movimentos que servem para melhorar algo que está ruim.

Movimentos sociais são um indivíduo, ou um grupo de pessoas, que faz algo em prol da sociedade ou de

um meio social específico, como por exemplo, o início de uma ONG, entrega de cesta básica, coisas do

gênero. Manifestações populares de reivindicações, o próprio nome já diz, algo que se tornou maior do

que um debate de assembleia, um assunto que movimenta pessoas que não estão gostando de algo que

afeta, não só a elas, mas sim uma população, algo socialmente dito. Assim se juntam todas essas pessoas

lideradas por alguém bem instruído e saem às ruas demonstrando o seu desconforto.

Movimentos sociais, são protestos para a melhoria de nós mesmo… Para melhorar escolas, saúde, e,

pelo menos, acabar com a corrupção. O povo precisa e merece um pouco de melhoria, pagamos tantos

impostos absurdos desnecessários até. Pagamos caro no preço do arroz, do feijão da conta de luz … A

importância é a voz do povo ser ouvida, só assim para chamarmos a atenção, que precisamos de

melhoria! É lamentável a saúde pública.

Luta e busca por mudança. É importante porque, algumas vezes, os problemas sociais são solucionados

e isso melhora a vida da sociedade de uma certa forma.

A luta por direitos da sociedade, melhorias de condições para uma vida melhor.

São quando a população se junta para ajudar a comunidade.

Movimentos sociais são uma forma de ajudar na rede esperança.... manifestação é quando uma pessoa

faz vandalismo quebra coisas etc...

Movimentos sociais são para benefício da população ou para reivindicar salário ou transporte público.

Movimentos Sociais e Manifestações populares de Reivindicação são quando um grupo de pessoas que

se reúnem para ir atrás de seus Direitos e, muitas vezes, os quais são ignorados pela Sociedade! Ou A

favor de Alguma coisa!

Movimentos sociais são grupos formados por cidadãos feitos para ajudar a determinada pessoa ou

grupo. Manifestações populares são marchas ou caminhadas feitas por pessoas de uma determinada área

ou de diversas, visando melhorias sociais.

É você se mover e ir junto à sociedade em busca de um bem maior para o próprio país mesmo, e até um

bem maior sendo solidários.

Manifestações é o povo querendo mostrar seus direitos.

Movimentos sociais são onde se juntam várias pessoas para fazer algum evento importante atrás de seus

direitos. Reivindicações são onde as pessoas lutam por seu direitos.

Movimentos sociais são praticados pelas pessoas que têm vergonha na cara, que não se deixam ser

comandadas pelo governo. Manifestações são: se todos reivindicassem por justiça, se todos tivessem

caráter, a população seria melhor.

São movimentos onde a população se reúne para reivindicar melhorias em setores que não estão

atendendo a necessidade da sociedade.

São movimentos onde as pessoas se reúnem para protestar e lutar pelos seus direitos.

São meios de a população mostrar sua indignação perante as autoridades.

Os movimentos sociais são importantes por que é assim que vemos e sabemos que algo está errado e

contra a população de um modo geral. As manifestações também são importantes como diz o ditado: a

união faz a força...

É liberdade de expressão das pessoas para reivindicar seus direitos. E é importante porque é uma

oportunidade de serem ouvidas por uma autoridade.

São movimentações que o povo promove para discutir e ganhar alguma causa.

Movimentos de revolta do povo em busca de melhorias.

Movimento social é uma expressão técnica que designa a ação coletiva de setores da nossa sociedade,

são manifestações para um mundo melhor. A importância é que todos querem um país melhor, sem

corrupção, sem dinheiro desviado etc.

Movimentos Sociais são movimentos organizados pelos cidadãos para melhoria de algum objetivo

social. São importantes para que haja mais a representação do cidadão na sociedade impondo seus

princípios.

São manifestações que as pessoas fazem em busca de conscientizar as outras pessoas, em busca de seus

direitos e melhorias.

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Movimentos sociais são aqueles em que a o povo se une para reivindicar seus direitos, e ir em busca do

bem para a sociedade ou para um determinado povo. E a sua importância é relevante, para o bem da

cidadania.

Movimentos sociais e manifestações populares são feitos pela população para protestar sobre algo que

está ruim. As pessoas se juntam por uma mesma causa e pela melhoria, na maioria das vezes, isso é

muito bom para a sociedade.

É quando um grupo de pessoas insatisfeitas com a situação atual do país se junta em manifesto e no

objetivo de conseguir mudar que seja um pouco da situação do lugar onde vive. Isso é muito importante,

pois unidos somos mais fortes e podemos sim mudar um pouco que seja o nosso país.

São formas de expressão para mostrar a insatisfação perante algo, normalmente querem mudanças

quando fazem esse tipo de manifestação, é de extrema importância esses eventos para que '' superiores''

possam ver que não estão fazendo coisas ás escondidas, e que precisam melhorar para satisfazer os

demais, além de mostrar para outras pessoas situações sociais problemáticas e abrir seus olhos.

Movimentos sociais e manifestações populares de reivindicações é basicamente o povo lutar pelos seus

direitos, é importante sair na rua e protestar se algo não estiver agradando, como por exemplo, o

governo, o transporte, a saúde etc.

As manifestações são maneiras de protesto para que possam ser reconhecidas as reivindicações que o

povo brasileiro pede para que haja uma maneira de que as coisas que não estão agradando ao povo

possam ser mudadas de forma correta e justa.

É um conjunto de pessoas que se reúnem para protestar por uma causa. Acho bom porque assim as

pessoas mostram para o governo ou pra quem querem mostrar que lutam pelo que querem e é muito

importante saber que as pessoas não estão sozinhas nas causas.

Movimentos sociais são quando pessoas tomam a iniciativa de lutar, conquistar algo importante e saem

nas ruas para fazer manifestações populares de reivindicações.

Movimento social são pessoas que buscam mudanças na sociedade... E manifestações são grupos que

lutam por seus direitos... Não tem importância nenhuma, pois muitas manifestações ocorreram e nada

foi feito...

São movimentos que as pessoas se organizam para reivindicar seus direitos e melhorias onde moram,

frequentam ou trabalham. Sua importância é chamar atenção de autoridades para conseguir providências

em relação aos problemas envolvidos com toda sociedade.

são um grupo de pessoas lutando pelos seus direitos perante a sociedade

Manifestações são para alcançar as melhorias para a população. O que mais se vê hoje em dia é dinheiro

sendo gasto com coisas que não têm nenhuma importância, como o famoso estádio. Enquanto é preciso

investimento em hospitais e na educação.

São multidões de pessoas de grandes proporções que protesta os direitos de todos os cidadãos e por

moradia.

Movimentos sociais envolvem as manifestações cujo objetivo é de reivindicação por direitos que a

população tem por direito... Elas visam seus interesses e lutam por eles em formas pacíficas na maioria

dos casos... Querendo um modo melhor de governo com mais oportunidades e qualidades para a

população...

Movimentos Sociais é um grupo de pessoas com interesses em síntese a melhoria de questões sociais.

Manifestações populares de reivindicações são manifestos feitos pela massa popular que representa seu

unitário interesse de modificação ou demonstração de pensamento contra algo que esteja sendo

colocado sobre algum estado de poder.

São movimentos que são feitos por aumento de salário ou condições... É muito importante, pois assim

chamam a atenção dos governos para melhorias.

Movimentos sociais são projetos que ajudam a sociedade de alguma forma.

Manifestações populares de reivindicação são, movimentos que fazem com que as pessoas possam pedir

melhorias em algo, ou mostrar sua opinião, manifestando-se.

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Ambos são considerados ações de cidadania, onde o cidadão busca por direitos e reivindica pelo fato de

mostrar ser atento ao desenvolvimento da sociedade.

Movimentos Sociais é considerado um movimento onde os cidadãos buscam algo beneficente para a

sociedade e é dado esse nome por conta de ser uma união da população. Reivindicações são

movimentos que são feitos por cidadãos onde buscam algo que é necessário para a segurança, por

exemplo, a qual é muito reivindicada pelo fato de não estar adequada para a sociedade. Então o cidadão

reivindica para que haja melhoria, para que os governantes vejam que estão presentes no andamento da

sociedade.

Para que vocês querem minha opinião se no BRASIL nós jovens não somos ouvidos e ninguém dá

importância para nossa opinião.

São de extrema importância, pois é a maneira que a população tem de manifestar e mostrar suas

satisfações e insatisfações no meio da sociedade em que vive.

São passeatas para tentar conseguir algo que a sociedade brasileira esteja incomodada e querendo mudar

algo na sociedade, é importante para que haja mudanças na sociedade.

Bom isso acontece quando a sociedade não está muito satisfeita com o que está acontecendo em sua

cidade ou coisa do tipo, eles fazem isso para resolver alguns problemas sociais ocorridos no Brasil.

Movimentos sociais buscam mobilizar a sociedade pra levar uma ideia a todos. Manifestações populares

de reivindicações acontece quando uma boa parte da população está em desacordo com algum ideal

governamental e deseja que mude.

Movimentos que passam o que as pessoas pensam em forma de manifestação, são importantes para as

pessoas passarem o que pensam.

São manifestos que a população realiza para a melhora do país, é muito importante pois apenas assim o

governo presta tenção no povo Brasileiro.

As manifestações populares são as pessoas fazendo protestos nas ruas, procurando seus direitos e

deveres, e procurando sempre o que é melhor para a sociedade. Os movimentos sociais são as pessoas

procurando fazer o melhor para a sociedade.

Manifestações populares, são pessoas que procuram meios de chamar a atenção para o caso ser

resolvido como ex: a manifestações que teve em SP a causa da manifestação foi por causa do aumento

da passagem de ônibus na qual aumentou muito, fez as pessoas ficarem revoltadas.

Quando um grupo de pessoas está infeliz com sua situação em relação ao lugar que vive, reivindica por

meio de manifestações e afins. Bem, a importância é clara, sem reivindicação não existe mudança.

São ações que abrangem o público em geral. Manifestações sociais são meios que o público encontra

para expressar suas opiniões e reivindicar seus direitos. A importância dessas manifestações é que elas

podem mudar algo que esteja errado ou que o público não esteja satisfeito.

Movimentos sociais são a proliferação da sociedade sobre um projeto/ideia na qual todos reivindicam.

Projetos ideológicos.

são importantes, para as pessoas que estão envolvidas reivindicar seus direitos na sociedade

Movimentos sociais buscam as mudanças sociais, na maioria das vezes em grupos. E manifestações

populares de reivindicações seriam organizar uma manifestação reivindicando algo.

Movimento Social seria a reunião de pessoas que se põem em movimento pela conquista de algo.

Manifestação seria uma forma de expressar pensamentos, ideias etc.

Movimentos sociais é representação da sociedade como organização. Manifestação popular de

reivindicações, é quando reivindicamos algo, se manifestamos para melhorar algo que não está bom.

São movimentos que juntam pessoas para protestar sobre algo,para tentar provocar mudanças sobre o

assunto...

São movimentos públicos que reúnem pessoas com o mesmo ideal e mesma forma de pensar sobre um

determinado caso ou situação. São importantes para a liberdade de expressão e exposição de opiniões.

Movimentos sociais: quando um número de pessoas se unem em prol de algum objetivo em comum.

Manifestações populares: quando pessoas se unem e vão para as ruas, ou congressos etc, manifestar seus

pensamentos, opiniões.

Algo onde o povo não tolera ou não acha mais conveniente, pois a sociedade muda e o "governo"

continua nos mesmos clichês porque é mais fácil e os está favorecendo... Importa pelas mudanças

sociais.

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Como o nome já diz, são movimentos, que normalmente "agrupam" uma quantidade indeterminada de

pessoas para lutar por uma causa, para reivindicar determinada "coisa". É importante, pois todo cidadão

tem o direito de se manifestar e reivindicar seus direitos; às vezes, essas coisas não estão sendo

corretamente postas na vida dos mesmos.

Movimentos sociais, manifestações e reivindicações são armas fundamentais para que o trabalhador

expresse sua opinião de uma forma ativa e permite-o a tentar mudar o que este errado, mesmo que a

algumas não surtem efeitos e outras totalmente manipuladas pela mídia .

São movimentos que a população achou para reivindicar melhorias para toda a sociedade, embora boa

parte dos manifestantes pratiquem vandalismo e acabam perdendo a razão. As manifestações e

movimentos sociais feitos pela população, tem muita importância, pois são através deles que

defendemos e exigimos nossos direitos.

Movimentos sociais acontecem para pedir melhoria para a população que está descontente com o

governo. Manifestações populares é o ato do povo de ir às ruas para pedir melhorias, abrir os olhos do

povo, reivindicar seus direitos. Isso deve ocorrer para o povo acordar e pedir melhorias para que as

coisas andem para frente.

São gestos de revolta, onde a população se encontra insatisfeita ao seu meio de sobrevivência. Buscando

assim, novas ações diante de um governo democrático que não faz jus ao poder que tem.

É importante, a sociedade se manifesta sobre o que acham melhor para todos e não concordam

simplesmente com o que imposto pelo governo.

É uma maneira que podemos nos expressar em determinado tema, pois podemos passar oque achamos

diante disso...

São de extrema importância para levar a voz do povo em massa para o governo com atitudes e não só

palavras.

Mais do que cartazes, protestos, criticas e todo o resto que todos nós já conhecemos, reivindicar é correr

atrás de uma coisa que deveria ser sua, por direito, mas alguém impede que chegue até você.

Manifestações dos vinte centavos

População cansada de ser manipulada e roubada pelo governo brasileiro

Movimentações sociais são feitos pelos próprios cidadãos decididos a tomar a dianteira da situação,

buscando seus direitos por meio de tais protestos. Sua importância é a de que o ser humano deve ir atrás

de seus direitos, sempre se lembrando da Constituição.

Movimentos sociais é o método que a sociedade usa para reivindicações, na maioria de espécie política,

sempre para melhoria de algumas coisas.

Bem o que existiu ano passado foi um ato democrático de suma importância para a elaboração de uma

democracia mais plena e participativa por parte das pessoas que a compõe.

O que vemos atualmente não se pode chamar de manifestações ou reivindicações, e sim de aglomerados

de pessoas dispersas andando para o nada e sem propósito único conjunto.

Os movimentos sociais são organizações sociais que tem o objetivo de transformações da preservação

da sociedade.

As manifestações são uma forma de ação de um conjunto de pessoas a favor de uma causa.

Movimentos operários são movimentos sociais.

São protestos feito pela sociedade para a melhoria de algo

Movimentos para a melhoria da sociedade ou de um objetivo em comum

Em linhas gerais, o conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que

objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate político, conforme seus valores e ideologias

dentro de uma determinada sociedade e de um contexto específico, permeados por tensões sociais.

Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou

classe social. Seja a luta por um algum ideal, seja pelo questionamento de uma determinada realidade

que se caracterize como algo impeditivo da realização dos anseios deste movimento, este último

constrói uma identidade para a luta e defesa de seus interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de

pessoas que se encontra numa mesma situação, seja social, econômica, política, religiosa, entre outras.

A importância é que eles são elaborados em varias situações dos programas políticos e a partir de

questionários para o protagonismo do partido através da luz de outras articulações sociais.

Ambas são boas para podermos reivindicar o que queremos sempre.

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Acho interessante, pois mostra que o povo luta pelos seus direitos, e tem pessoas que ainda querem país

melhor. Mas por outro lado, acho que as pessoas são muito conformadas e esperam a situação chegar a

um estado crítico para tomar uma atitude.

Movimentos sociais são atitudes dos cidadãos que mudam a forma que a sociedade atua em suas vidas.

Manifestações populares são geralmente reivindicações dos cidadãos em prol do aumento de direitos e

melhores condições sociais e principalmente profissionais.

Movimentos sociais procuram a melhoria de certo lugar ou situação, manifestações populares de

reivindicações são manifestações que procuram obrigar o cumprimento de direitos públicos.

Manifestações para melhorar as situações atuais do nosso país. É muito importante para a evolução e

para a conscientização.

Movimentos sociais é um conjunto de pessoas lutando por um espaço. Sua importância é de ajudar as

pessoas a conseguir o que querem. Manifestações populares são quando se luta pelo que você acha que

está errado ou o que está certo, mas não está tendo importância para políticos etc.

Movimentos sociais são atividades, que envolvem a nossa sociedade. E manifestações de

reivindicações, são manifestações que são contra algo,

São Movimentos importantes para população principalmente, pois temos situações precárias, como

Saúde, Educação e Etc. Pois maior parte da população faz movimentos para tentar melhorar isso, pois os

governantes do nosso país praticamente não ligam para o povo.

Movimentos Sociais são aqueles em que um grupo de pessoas reunidas reivindica projetos, mudanças

ou melhorias para seu grupo social, já a popular de reivindicações são as pessoas reunidas em diversas

partes do mundo reivindicando as mesmas coisas em prol de um bem maior para a população.

Movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças

sociais por meio do embate político

É o movimento que as pessoas mostram a suas opiniões pacificamente.

São os movimentos em que nós que queremos algo, lutamos por algo, e isso é muito importante para o

nosso futuro e presente.

Manifestações, tentar mudar o mundo e sociedade em que vivemos.

Tentar, de uma forma pacífica, reivindicar algo, para que de alguma forma consiga uma mudança

significativa. (melhorias).

Movimentos sociais são nossos diretos sociais e manifestação popular são pessoas em busca de

melhorias o Brasil.

Movimentos sociais seria todo ato que é realizado em grupo para obter melhorias para seu bairro,

cidade.

Movimentos Sociais são aqueles formados por grupo de pessoas de uma sociedade. Ex; Estudantes e

Trabalhadores se juntaram para uma manifestação, reivindicando o aumento da passagem do transporte

público.

São passeatas que as pessoas fazem para buscar seus direitos e sua importância é a melhoria de um país

democrático.

São formas de reivindicar direitos que foram lesados, são importantes por que buscam resgatar os

direitos dos cidadãos.

São movimentos que têm como foco mudar nossa sociedade com ajuda de uma causa e de toda uma

população.

Movimentos que reúnem grandes números de pessoas, com um objetivo comum. Como exemplo o

movimento do passe livre, onde muitas pessoas se reuniram com o intuito de barrar o aumento das

tarifas nos transportes públicos.

Grupo de pessoas que se reúnem para conseguir mudanças sociais, levando em conta seus valores e

objetivos; manifestações ocorrem na busca de direitos e melhorias para a sociedade. São importantes,

pois é algo fundamental para que aconteçam diversas mudanças no geral. Sem a reivindicação do povo

o Governo esquece o bem-estar de qualquer cidadão, desde que seja feito de modo civilizado.

Os movimentos sociais, manifestações e reivindicações, são para melhorar o meio social, apontando

pontos nos quais estão faltando na sociedade e/ou está abusiva demais e prejudicial.

Uma forma da sociedade demostrar seus pontos de vista, muitas vezes não respeitados pelos

representantes públicos.

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O conceito de movimento social se refere à ação coletiva de um grupo organizado que tem como

objetivo alcançar mudanças sociais por meio do embate político, dentro de uma determinada sociedade

e de um contexto específico.

Manifestações servem para que se proteste algum movimento que está em ação e que o povo não

concorda! É de extrema importância, pois é uma forma de tentar adquirir uma melhoria na sociedade.

Pessoas que querem reivindicar algo que acham justo, e lutam por isso.

Serve para lutar pelos direitos do povo.

São movimentos de grupos de pessoas, em busca de providências sobre algum assunto.

Os direitos dos cidadãos, e buscar o que precisamos e necessitamos!

São manifestações geradas pela população com o proposito de mudanças em tais áreas e melhorias aos

nossos direitos.

Essas manifestações são para mostrar que não estamos de acordo com o que estão fazendo com o nosso

país, e que estamos correndo atrás dos nossos direitos de cidadãos.

Movimentos sociais são movimentos que reivindicam sobre algum tema em que sociedade não se vê

satisfeita e é importante para que nada fique ruim para que todos vivam de forma igual, com respeito e

de forma digna.

São movimentos organizados para expor a opinião de algo e também na tentativa de mudar uma

situação.

Manifestação, protestos são muito importantes para que todos lutem pelos seus direitos, diante da

sociedade todos são iguais, igualdade sempre.

Manifestações populares espontâneas de rua, surgidas a partir da indignação popular, quanto às altas

tarifas dos transportes públicos, os descasos com a educação, saúde e habitação, como consequências

das políticas estatais. Discute a transgressão da Lei em relação a esses direitos sociais.

Movimentos sociais são quando a população faz um tipo de movimento, com algum motivo específico

junto com a população e reivindica a favor de seus direitos na sociedade. É importante para ter seus

direitos

É o meio de algumas pessoas reclamarem ou irem atrás do seu direito. É importante, pois se ninguém

for atrás disso, nada muda em nosso país, mas sendo de uma maneira sociável.

Manifestações populares são quando as pessoas saem na rua para reclamarem dos seus direitos.

Movimentos sociais são tudo aquilo que luta por seus direitos e pela melhoria do país, mas sempre de

maneira pacífica. Manifestações populares de reivindicações são quando o povo luta por um ideal, ou

seja, melhoria de vida etc. É muito importante termos essas manifestações, pois com elas podemos

buscar um mundo melhor, por mais difícil que isso seja.

Movimentos sociais são grupos de pessoas que fazem uma reunião em certo local para que discutam

alguma melhoria para a população. Manifestações populares são grupos de pessoas que protestam

contra algo que acha errado e, que algumas vezes, chegam até causarem vandalismo por este motivo.

Movimentos sociais é a sociedade querendo seus direitos. Manifestações vira uma bagunça porque não

são todos que tem educação. A importância é de um futuro melhor para a sociedade com direitos justos

a toda a população.

Movimentos sociais são quando as pessoas saem às ruas em busca de seus direitos sociais. E populares

quando a população não está de acordo com algo e vai as ruas tentar mudar.

As reivindicações são para chamarem a atenção para alguma causa muito grande e tentarem mudar a

situação que está, mas muitas vezes acabam partindo para o vandalismo que nada acrescenta nas

manifestações e assim não conseguirão mudar a situação.

Movimentos sociais e manifestações são a voz do povo expressa a todo público, a fim de causar

impactos em busca de melhorias em todos os aspectos. É o resultado da insatisfação e da sede de

mudança/justiça.

Movimentos sociais, são protestos para a melhoria de nós mesmo...

Para melhorar escolas, saúde, e pelo menos acabar com a corrupção.

O povo precisa e merece um pouco de melhoria, pagamos tantos impostos absurdos desnecessários até.

Pagamos caro no preço do arroz, do feijão da conta de luz ...

A importância é a voz do povo ser ouvida, só assim para chamarmos a atenção, que precisamos de

melhora ! É lamentável a saúde publica.

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Movimentos Sociais e Manifestações populares de Reinvidicação, e quando um grupo de pessoas se

reúnem para ir atrás de seus Direitos e muitas vezes são ignorados pela Sociedade! ou A favor de

Alguma coisa !

E Você Se Mover e ir Junto a Sociedade em Busca de um bem maior para o próprio país mesmo, e até

um bem maior sendo solidários.

Movimentos sociais são movimentos social, manifestação populares de reivindicação é quando

queremos reivindicar alguma coisa ou dar nossa opinião, ou mudar algo que já é certo mais nos

manifestamos reivindicando tentando mudar aquilo que não concordamos.

É liberdade de expressão das pessoas para reivindicar seus direitos. E é importante porque é uma

oportunidade de serem ouvidas por uma autoridade.

São formas de expressão para mostrar a insatisfação perante algo, normalmente querem mudanças

quando fazem esse tipo de manifestação, é de extrema importância esses eventos para que '' superiores''

possam ver que não estão fazendo coisas ás escondidas, e que precisam melhorar para satisfazer os

demais, além de mostrar para outras pessoas situações sociais problemáticas e abrir seus olhos.

São movimentos que as pessoas se organizam para reivindicar seus direitos e melhorias onde moram,

frequentam ou trabalham. Sua importância é chamar atenção de autoridades para conseguir providencias

em relação aos problemas envolvidos com toda sociedade.

Movimentos sociais e manifestações são para a população e para os políticos, esses movimentos são

para se manifestar, contra aquilo que eles estão dizendo, tendo livre expressão.

Ambos são considerados ações de cidadania,onde o cidadão busca por direitos e reivindica pelo fato de

mostrar ser atento ao desenvolvimento da sociedade.

Movimentos Sociais é considerado um movimento onde os cidadãos buscam algo beneficente para a

sociedade e é dado esse nome por conta de ser uma união da população. Reivindicações são

movimentos que são feitos por cidadãos onde buscam algo que é necessário para a segurança por

exemplo,que é muito reivindicada pelo fato de não estar adequada para a sociedade.Então o cidadão

reivindica para que haja melhoria,para que os governantes vejam que estão presentes no andamento da

sociedade.

Movimentos sociais são como se fosse protesto, a sociedade querendo o direito de algo,ou, querendo

melhorar algo. Dependendo do movimento tem sua importância se for uma manifestação sem brigas,

sem morte, sou a favor.

Em linhas gerais,um grupo organizado que objetiva alcançar mudanças sociais por meio do embate

político, conforme seus valores e ideologias dentro de uma determinada sociedade e de um contexto

específicos, permeados por tensões sociais. Podem objetivar a mudança, a transição ou mesmo a

revolução de uma realidade hostil a certo grupo ou classe social. Seja a luta por um algum ideal, seja

pelo questionamento de uma determinada realidade que se caracterize como algo impeditivo da

realização dos anseios deste movimento, este último constrói uma identidade para a luta e defesa de seus

interesses. Torna-se porta-voz de um grupo de pessoas que se encontra numa mesma situação, seja

social, econômica, política, religiosa, entre outras.

As manifestações populares é as pessoas fazendo protestos nas ruas, procurando seus direitos e

deveres,e procurando sempre o que é melhor para a sociedade. Os movimentos sociais são as pessoas

procurando fazer o melhor para a sociedade.

Quando um grupo de pessoas está infeliz com sua situação em relação ao lugar que vive, reivindica por

meio de manifestações e afins. Bem, a importância é clara, sem reivindicação não existe mudança.

Movimento Social seria a reunião de pessoas que se põem em movimento pela conquista de algo.

Manifestação seria uma forma de expressar pensamentos,ideias..etc.

Para mudar o sociedade brasileira.

São movimentos que juntam pessoas para protestar sobre algo, para tentar provocar mudanças sobre o

assunto...

Os movimentos sociais são de extrema importância para que o povo possa lutar por seus direitos e tomar

conhecimento sobre os seus direitos.

Algo onde o povo não tolera ou não acha mais conveniente, pois a sociedade muda e o "governo"

continua nos mesmos clichês porque é mais fácil e os está favorecendo... Importa pelas mudanças

sociais.

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Como o nome já diz, são movimentos, que normalmente "agrupam" uma quantidade indeterminada de

pessoas para lutar por uma causa, para reivindicar determinada "coisa". É importante, pois todo cidadão

tem o direito de se manifestar e reivindicar seus direitos; às vezes, essas coisas não estão sendo

corretamente postas na vida dos mesmos.

Brigar pelo o que, nós cidadãos, achamos justo.

Mais do que cartazes, protestos, criticas e todo o resto que todos nós já conhecemos, reivindicar é correr

atrás de uma coisa que deveria ser sua, por direito, mas alguém impede que chegue até você.

População cansada de ser manipulada e roubada pelo governo brasileiro.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

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APÊNDICE 4 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 24 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO

Quadro de respostas 3 – Questão 24: Se algum professor tratou do tema na sala de aula.

Esses movimentos podem abrir a mente das pessoas e aumentar o número de pessoas para

conseguir certas mudanças.

Sua importância é a de que o ser humano deve ir atrás de seus direitos, sempre se lembrando da

Constituição.

Para melhoria de nossa sociedade e posteriormente para as gerações futuras.

Para ficar a parte de tudo e ficar bem informado.

Que eles possam se manifestar contra algo.

Que a gente aprenda mais sobre movimentos sociais

É importante pare a sociedade e os jovens correm atrás dos seus ideais e ter voz ativa sempre e

correr atrás dos seus ideais.

Através dos movimentos sociais, o povo alcança os seus objetivos.

Para que possamos ouvir e expor todas as opiniões e pensamentos.

Em minha opinião, movimentos sociais são como requerimentos, mas são mais eficientes, pois são

baseados em atitudes. Esses movimentos nos proporcionam a realização de direitos que já são

nossos, mas nem sempre são atendidos. São uma forma mais eficiente de se comunicar com nossos

líderes e fazer com que eles cumpram seus deveres.

Não há importância se os cidadãos votarem corretamente. Esses movimentos são necessários

apenas quando o "povo" se arrepende de ter posto alguém irresponsável no poder, como acontece

na maioria das vezes no Brasil. Isto devido à ignorância dos mesmos cidadãos.

Toda, para o Brasil se levantar e ser um país independente, porque escravo é quem precisa de

governo, pessoas livres se governem sozinhas.

São a partir desses movimentos que as pessoas conseguem colocar em prática os seus direitos

decretados por lei.

Para formar um país melhor, com mais oportunidades, e condições melhores de vida .

Essenciais, não há vitória sem luta, e se a sociedade quer algo positivo, tem que ir a busca em

grande número de pessoas (protestos).

A importância de movimentos sociais seria para melhorias de sua cidade e para ter um governo

bem aplicável para promover leis apropriadas para a sociedade em si.

Quando organizados, são importantes para manter os administradores atentos aos anseios da

sociedade representada.

Mostra que o povo esta no controle que o povo quer melhor modo de vida. Vai a rua exigir que

seus direitos sejam compridos e mostra que a sociedade não aceita ser tratada como idiotas. O

POVO ACORDOU.

É importante para que todos vejam que o país precisa de melhorias, e que o povo precisa lutar por

isso.

Mostrar que não estamos de acordo com o que está acontecendo.

Esse movimento foi bom para que os nossos governantes não se sintam à vontade para roubar

nosso dinheiro. Para que toda população veja que podemos sim mudar o que não nos agrada, para

mudar tudo aquilo que está errado na sociedade.

Expor nossos conhecimentos e opiniões.

A importância dos movimentos sociais é de suma importância, pois, embora sejam os próprios

cidadãos que elejam seus candidatos, há muitos momentos que determinadas leis não partem da

opinião e da necessidade popular, mas do julgamento dos legisladores e do chefe e do executivo...

sobre a participação dos jovens, entendo que os jovens são cidadãos como os demais, não precisa

partir exclusivamente dos jovens... essa ideia de que as revoluções devem começar pelos jovens foi

uma "fantasia politica" vendida num momento que "ganhar" os universitário era de grande

relevância...

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A importância disso eu vou resumir em apenas algumas palavras:

Não é o povo que tem que temer o seu governo e sim o governo que tem que temer o seu povo!!!

Levantar a bunda da cadeira para mudar o que está errado, e parar de ser manipulado.

Acho importante para cada um expressar sua opinião, sem vandalismo!

É importante, pois se ninguém for atrás disso, nada muda em nosso país, mas sendo de uma

maneira sociável.

Para tentar mudar alguma situação, mas são raras as vezes que as mudanças ocorrem, sendo assim

não acredito que tenha tanta importância.

Assim o povo mostra o que pensam e que sim, são mais fortes que o governo.

Assim o povo expressa seus pensamentos e opiniões

Porque é importante para que a voz do povo seja ouvida!!!!!!!

Esses movimentos têm uma importância gigantesca no processo democrático brasileiro, pois neles,

apesar do esforço, as autoridades percebem as insatisfações das pessoas.

Se não houver esse movimento, a classe dominante irá dominar a classe trabalhadora. A classe

trabalhadora é mais forte que os governantes, mas para mostrar isso os trabalhadores tem que ir

para a rua e mostrar o seu poder.

TODA! temos direitos e precisamos mostrar que não nos agrada algo que o governo faça que

interfira no nosso bolso e em nossas vidas. De braços cruzados apenas no caixão onde não ha oque

fazermos por mais ninguém.

TOTAL IMPORTÂNCIA! COMO DISSE, PARA CHAMAR A ATENÇÃO E SERMOS

OUVIDOS. Precisamos de melhoras! Urgentes, o país da copa, que gastou milhões, bilhões, e a

nossa saúde? Havia gente morrendo, com falta de medicamentos, por falta de lentos .... e etc.

Possui grande importância para o Brasil, pois mostra que o povo deseja melhorias, mesmo que

para isso seja necessário confrontar as autoridades.

Esses movimentos são muito importantes para mostrar que juntos podem fazer a diferença, e

muitas das vezes quando se reúnem para ir atrás de seus direitos eles conseguem.

Serve para nos se movimentar e manifestar e mostrar o nosso interesse de que estamos todos juntos

para mudar o país.

Toda porque só assim a população consegue defender seu direito de PESSOA e SER HUMANO

no mundo.

Quando se vê que tem algo que não está certo ou de acordo com a população, é um direito nosso

fazer algo parara que as forças maiores tomem providencias para que o “problema¨ seja

solucionado.

Liberdade de expressão e conscientização dos direitos.

Buscar nossos direitos é uma forma de dizer aos políticos que tem algo errado com o país.

Como já dito anteriormente, estes movimentos tem extrema importância para a sociedade

Brasileira, para auxiliar e reivindicar nossos direitos. E ajudar a sociedade a discernir o que é bom

e ruim para ela, propondo melhorias para a cidadania.

São muito importantes para resgatar o espirito de luta do povo. Resgatar e reforçar que estamos

acordados e que ainda estudamos e nos importamos com nosso país.

É importante para que as pessoas acreditem num futuro melhor e que vejam que tem direito de ir

às ruas protestarem quando a situação está ruim em sua cidade, estado ou país.

Para mostrar que a população não é burra, nem cega e veem o que está errado. Conseguir novas

coisas melhores

De mudar o que foi comprometido em eleições para que possam melhorar o que não foi feito.

Para mostrar que ninguém está sozinho e que uma organização de pessoas pode mudar muita coisa.

O direito da população de ter a certeza para onde vai o seu imposto de renda anual, ou até mesmo

os tributos que os comerciantes pagam em seus produtos.

A importância é que com isso nós possamos falar e gritar para todo o mundo e dizer tudo o quê há

para se dizer, se manifestar. Dando importância aquilo que eles acreditam, e vê que está errado.

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Ótima, estão saindo do comodismo de achar que tudo um dia sairá do céu. Mas o brasileiro precisa

entender suas próprias situações internas antes de reivindicar coisas absurdas e ressalto ainda a

submissão a órgãos representantes do estado é esdrúxula e precisamos entender o dever de cada

um para derrubarmos essas burocracias e uso exagerado de poder.

Para que tenha melhorias e que com isso tem atitude e que o povo se manifeste em busca disso.

Para o governo tomar vergonha na cara e parar de roubar

Para o governo tomar vergonha e parar de roubar

Na minha opinião , a importância desses movimentos , é para que os governantes possam ver o que

a população está precisando, e começar a investir mais na prioridade dos mesmos!

Mostra que as pessoas estão espertas não querem ser fantoches do governo.

Com a liberdade que já conquistamos temos o livre arbítrio de ''lutar'' por nossos direitos podemos

mostrar nossa opinião, e questionar algo com a certeza de que temos tal liberdade.

Mostra que o povo brasileiro não esta mais se curvando diante das situações e que luta pelo o que é

certo e o que é de direito.

Que mostre que a população esta disposta a muda não fica calada diante do governo que não da a

mínima para que possamos ter um pais justo e melhor.

Bom! Seria bastante importante se funcionasse! Mas não vejo diferença nenhuma com ou sem

manifestações ou coisas do gênero.

De mostrar que o povo brasileiro vive numa democracia, e apesar de todo o sistema ser controlado,

nós exercemos nossos direitos.

É importante para a exposição de opiniões e reivindicação de direitos e ideias.

Mudança, ter a liberdade de expressão...

Mostrar que não somos alienados, que questionamos e que temos total consciência de nossos

direitos assim como dos nossos deveres como cidadão.

Maior amplitude de conhecimentos e renovação em meios de governo.

Mostrar para os políticos que a população está atenta e que existem sim pessoas dispostas a

alcançar coisas melhores.

Muito grande, pois precisamos revolucionar o país para que melhore nas próximas gerações.

Esses movimentos são de total importância para a sociedade civil, deveria haver mais movimentos

sociais ativos na sociedade brasileira.

No primeiro semestre de 2013, uma série de manifestações populares ocorreram nas ruas de

centenas de cidades brasileiras. Tendo inicialmente como foco de reivindicação a redução das

tarifas do transporte coletivo, as manifestações ampliaram-se, ganhando um número imensamente

maior de pessoas e também novas reivindicações. A violência policial aos atos também

contribuíram para que mais pessoas fossem às ruas para garantir os direitos de livre manifestação.

Fonte: Dados da pesquisa de campo.

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APÊNDICE 5 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 26 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO

Quadro de respostas 4 – Questão 26: Tipo de participação.

Manifestação

Protestos feitos em Osasco- SP

Manifestações que ouve na cidade de São Paulo.

Aulas acadêmicas

Contra o aumento da passagem

Movimentos sociais

O da tarifa dos ônibus em SP

Contra o preço da passagem

Sobre os direitos

Sim Participei do passe Livre pelo grande valor abusivo das passagens de Ônibus

Protesto dos 20 centavos, e das obras interrompidas, protesto pra melhora educação e saúde.

Passeata que houve em minha cidade

Redução do custo das passagens e melhoria nas condições de trabalho dos professores.

Manifesto pelo abaixo da passagem de Franco Da Rocha

Manifestação de reivindicação.

Passe livre, PEC E etc..

Manifestações populares

Vale transporte.

Passe livre.

Todos.

Contra Copa do Mundo.

Movimento Passe Livre, Contra Cura Gay e Contra Copa do Mundo no Brasil

Período integral

Para baixar a tarifa dos ônibus coletivos e contra a escola em período integral

Da reivindicação dos 0,20 centavos

Debate sobre escola de período integral.

Quebra de busão , movimento sem terra , roubar mercado

Mudança do valor do transporte do município

Eleições e protestos

Protestos

Passe livre em Mairiporã

Reivindicação da tarifa do transporte público.

Da empresa de Ônibus da cidade.

No movimento em que tivemos para mudar o preço da passagem de ônibus

Movimento pela passagem de trem e ônibus.

Da baixa da tarifa na Fernão Dias

Passe livre, monopólio etc.

Protesto da ETM

Eu participei de um uma vez na cidade que eu moro mais era pacifico

Copa, tarifa de transporte público

Participei de uma manifestação, da minha cidade, contra o aumento do valor de ônibus

Greve contra o aumento da passagem de ônibus

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Da passagem que tinha aumentado para $3,20

Manifestações 2013

Movimento contra o aumento da tarifa do ônibus.

Movimento contra o aumento da passagem

Redução do preço da passagem.

Manifestei pela pessoa deficiente

Movimento religioso

Sim, intervenção da cidade

Dos direitos humanos

Movimento negro

Manifestação em Mairiporã

Passe livre, contra a monopolização a qual tem na cidade de Mairiporã

Interdição da Fernão dias pelos 0,20

Do que ocorreu em 2013. Expus minha opinião através de redes sociais.

2013 0,20

Sobre o aumento das passagens dos ônibus de Mairiporã.

Rede social, nas ruas.

Passe livre e marcha da maconha

A do transporte público

Manifestações populares

Participei com estudante do movimento a favor do impeachment do presidente Collor em 1992 e em

2013 fui às ruas participar do movimento contra os "20 centavos".

Fonte: dados da pesquisa de campo

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APÊNDICE 6 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 27 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO

Quadro de respostas 5 – Questão 27: Importância da participação.

Conscientizar a população e os comandantes do país

Para diminuir o valor da passagem

Que a tarifa da passagem estava muito cara, por que quantos milhões eles iriam roubar da gente, então

por isso eu protestei, então devemos protestar por um país melhor.

Para os trabalhadores terem mais direitos para usar o transporte púbico.

A taxa menor do transporte pública.

Pois, constroem varias coisas desnecessárias e não lembram da população.

Lutar pelos nossos direitos como cidadãos, impedir que gastem milhões com coisas desnecessárias,

contra a cura gay, e liberdade de expressão de sua própria sexualidade.

Acho legal a teoria do passe-livre para aqueles que passam por dificuldade, e têm que locomover a pé,

pois não tem verba para bancar os transportes públicos.

A importância desse movimento é para conseguirmos melhorar o país.

Relatar e refletir sobre melhorias que poderia trazer esse projeto para escola pública.

Baixar o custo da passagem

Baixar a renda do passe.

Serviu para redução das tarifas no transporte público.

Melhoras na Cidade

Aumento abusivo da passagem

Ouvir a voz da população

Esse movimento foi importante porque o povo já estava cheio de ter que pagar por aquilo que não é

justo e cansou. Viu que quando todos se juntam para o bem comum podemos mudar aquilo que não

gostamos.

Melhorar nossas condições de vida

De que todos mereceram melhorias nos meios públicos.

Para ajudar as pessoas a se nortearem em seus pensamentos e atos em relação ao governo

Ter seu direito e importância sobre oque ocorre na cidade

Baixar as tarifas dos ônibus, aumentar hospitais e postos de saúde, ter mais atenção com a população.

A importância é que nem todo mundo tem $3,20 todo dia para pagar um ônibus, então a sociedade

acabou levantando e dando um jeito nisso.

A importância desse movimento é diminuir o custo da tarifa de ônibus.

Vivemos em um país que tem juros extremamente abusivos e que é inaceitável pagar R$3,50 em uma

passagem de trem ou ônibus. O preço atual de R$3,00 já é um abuso, e temos que lutar para o Passe

Livre. Se nós conseguíssemos pelo menos passe livre para estudantes e universitários já seria mais um

passo para o Brasil.

Abaixar o preço da passagem de R$3,20 para R$3,00

Transporte público de qualidade e com a tarifa mais acessível para todos.

É ter conhecimento de seus direitos.

Esses projetos reivindicados tem extrema importância, pois diante deles que são realizados movimentos

e melhorias a escola.

Garantir nossos direitos de ir e vir.

Porque todos ficaram indignados por ter tanto imposto e ainda querer comprar mais a passagem de

ônibus, tudo bem 20/30 centavos a mais, porém é assim que o governo vai abusando do povo brasileiro,

que já não se tem uma vida boa, além de tudo nem uma condição de transporte em boas situações temos,

então esse movimento, assim como outros foram importantes para nos impor, porque também somos

humanos e temos direito, foi importante para exigir melhor condição de vida.

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Passe livre: a luta para abaixar o preço dos ônibus ou trazer o passe livre, pois todos temos o direito de

ir e vir sem pagar por preços absurdos.

Monopolização: as empresas de Mairiporã possuem um monopólio absurdo o qual toda empresa que

tenta entrar na cidade, a que já está presente a mais tempo, tira a outra do mercado, assim tirando a

inovação da cidade e a mesma não indo pra frente.

Diminuir o valor das passagens...que por sinal é um absurdo para quem depende de ônibus todos os

dias.

E importante pra mim por que aumenta meu salário diminui e a condução aumenta, e isso me ajuda

muito.

bastante para que mude o governo !

Fonte: Dados da pesquisa de campo

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APÊNDICE 7 - QUADRO DE RESPOSTAS DA QUESTÃO 30 DO QUESTIONÁRIO DE PESQUISA DE CAMPO

Quadro de respostas 6 – Questão 30: Importância da internet / redes sociais para estes

movimentos.

Para divulgar e explicar o verdadeiro propósito.

A importância de tais meios de comunicações é a de há uma facilidade muito grande para a organização

e comunicação para quem está disposto a participar.

Para a divulgação dos mesmos para que todos tenham conhecimento do que se passa no nosso país.

Conhecimento

É importante pelos encontros sociais.

Divulgar.

Combinar com as pessoas.

Para marca os movimentos.

A divulgação para a população

Para a comunicação em massa, pois no Facebook é mais rápido é há muitas pessoas conectadas, então

em clique, o Mundo sabe de tudo o que está para ser colocado em páatica.

Comunicação.

São meios de divulgação que contam com a máxima eficiência de comunicação atualmente!

A internet dá a oportunidade para esses movimentos serem divulgados de forma simples e rápida, como

nenhum outro meio seria capaz de fazer, além de dar a chance às pessoas para opinarem sobre o assunto

abordado na manifestação.

Através dela são formados ponto de encontro, marcação de horários, etc.

Divulgar os movimentos e os lugares.

Toda, porque hoje em dia tudo depende da internet, da divulgação até a finalização de protestos.

Para se informar melhor sobre o assunto.

Para poder expandir a informação.

Ajuda a ter mais conhecimentos e poder chegar a conclusões e a deixarem as pessoas mais atualizadas

sobre esse assunto

Elas passam informações com mais alcance e com mais clareza.

Pois quanto mais pessoas melhor para fazermos a manifestação, mas devemos ter limites e devemos

saber fazer a manifestação.

Propagar os dias das manifestações e mostrar os ideais dessa.

Divulgar passeatas.

Muitas vezes, elas passam as informações mais do que jornais.

Toda, a internet é utilizada para marcar pontos de encontro e datas do movimento, também e utilizada

para divulgar a manifestação.

Atingir um grande público para a causa

Conscientizar nossa sociedade a ter melhoras.

Passar o que acontece e qual a importância do movimento com ''rapidez''.

Para que os grupos se organizem.

Alcançar o maior número de pessoas possível.

Permite a comunicação instantânea.

Avisar vários amigos que não estão sabendo dos movimentos

Convocar a população para participar e informar.

Anunciar o tal acontecimento pelo mundo.

Um meio de informação para transmitir os acontecimentos e para a organização de melhores formas

para melhorar o país

Compartilhar ideias sobre movimentos sociais.

Mostrar para as pessoas pelo que eles estão lutando.

Para informar local, horário e onde serão efetuados esses movimentos. Hoje em dia fecebook é umas

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das redes sociais mais utilizadas fica mais fácil encontrar pessoas interessadas em participar, nesses

movimentos quanto mais gente melhor...

A internet é um lugar livre para expor suas ideias de forma democrática e sem censura.

Para que possamos protestar em redes sociais também.

Principalmente a divulgação, através das redes sociais pessoas de todo país tomam conhecimento e

fazem parte do movimento.

Divulgar a nossa opinião, para gerar um impacto maior com um grande número de pessoas insatisfeitas

até chegar a autoridades maiores.

Chamar pessoas.

Levar diversas pessoas a se mobilizarem pelo mesmo ideal.

Promover a sociedade informações detalhadas e motivacionais sobre o assunto.

Se não fosse publicado nas redes sociais o povo não tomaria conhecimento sobre a "ditadura" que o

governo quer retomar.

Para passar a mensagem a todos sobre oque está ocorrendo no dia a dia, os movimentos são importantes

para que todos possam saber os seus direitos!

Encontrarem as pessoas que também quererem lutar pelos seus direitos e se organizarem e discutirem

sobre o assunto citado.

É importante para informar muitas pessoas que ficam muito tempo na internet e assim eles sabem as

noticias sobre os fatos que estão acontecendo.

Passar o que o governo nega, que são informações.

Foi de grande ajuda, pois através das redes sociais a população se reuniu para demonstrar sua

indignação.

Ela além de nos conectar ela informa e nos deixa a par da situação

Para buscar pessoas com a mesma opinião, já que o Brasil inteiro tem acesso às redes sociais.

Espalhar o movimento, afim que todos saibam.

A internet hoje em dia tem uma importância IMENSA para a divulgação, estudo e aprofundamento do

tema. Pela internet tomamos conhecimento dos movimentos, trocamos ideias e opiniões com pessoas

totalmente diferentes, mas com o mesmo objetivo. Internet é para todos.

A internet facilita muito a comunicação entre pessoas de cidades e estados diferentes, assim reunindo

todos para um grande movimento.

Espalhar a notícia, e mostrar não só o que a mídia quer.

Para uma melhor divulgação e alcançar diversos tipos de pessoas e personalidades.

Como hoje as pessoas se prendem cada vez mais as redes, ela é considerada o melhor meio para passar

informações e através delas o mundo ajuda na luta pelos direitos da sociedade.

A importância e que sem a internet esses movimentos não teriam acontecido com tanta força.

A publicação gratuita de uma grande massa populacional.

A internet é um ótimo meio para podermos divulgar, convidar e atrair pessoas para ajudar na

manifestação, determinada causa.

Amplia ainda mais levando a todos as informações.

Divulgar para que todos possam tomar conhecimento dessas manifestações e possam participar.

A divulgação e para maior conhecimento. Mas para ficar a par da verdadeira situação, apenas

participando das reais manifestações, realmente, apenas estando lá pra saber da verdade.

É uma ferramenta muito utilizada e que ajuda na divulgação das manifestações.

Porque a televisão pode manipular as noticias, já a internet é a opinião dos outros e na internet a

sociedade tem livre arbítrio para falar oque quiser.

Fundamental, pois a internet é uma poderosa ferramenta de informação e as redes sociais são canais de

revolucionários de comunicação.

Fonte: Dados da pesquisa de campo

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APÊNDICE 8 - TRANSCRIÇÃO DA RODA DE CONVERSA

Realizada em 03/07/2014

Andreia – Para encadear as questões para desenvolver um raciocínio logico sobre o que

vamos escrever depois. A primeira questão tem haver com a direção das redes. Como é a

interação de vocês com as redes sociais, com a internet? E vocês podem estar discutindo e eu

quero ver qual a importância que vocês pensam disso. Quem quer falar?

Caique – Só para trabalhos.

Andreia – Só para trabalhos?

Caique – Só para trabalhos.

Marlon – Eu uso mesmo para Facebook, é... outros tipos de comunicação, como Youtube e

outros tipos normais. Poucas vezes o Google para trabalhos, trabalhos de escola, poucas vezes

eu uso.

Andreia – Mas o Facebook você usa assim para...

Marlon – É... praticamente meu social para mim é pelo Facebook. Uso direto.

Andreia – Tá, quer dizer que o Facebook você utiliza principalmente para interação, conversa

e relacionamentos. É isso?

Marlon – É isso.

Luan – Utilizo para fonte de pesquisa, principal fonte de pesquisa, é... Facebook eu uso

bastante, mas mais para fazer amizades, parte de relacionamento, trabalho, coisas assim. Mas

mais principalmente site de noticias, em geral.

Fabiana – Eu também uso para site de pesquisa, saber o que rola no mundo. Porque hoje, da

sua casa, você consegue saber o que está acontecendo do outro lado do mundo, e eu acho isso

muito legal, você ficar antenado no que acontece do outro lado do mundo. E Facebook eu uso

muito para eventos, como agora no natal vai ter o pessoal que vai levar comida para o pessoal

morador de rua, e eu vou, procuro esses eventos, procuro sopão, eu procuro tudo assim para

ajudar o próximo. Na parte do Facebook, assim, eu procuro sempre buscar o melhor

Andreia – E vocês?

Thalita – À pesar de melhorar as relações interpessoais, as redes sociais, eu uso mais como

trabalho, porque meu trabalho é a base da rede e pesquisas, noticias do dia-a-dia. O Facebook,

o Twitter eu não sou muito adepta, eu prefiro o pessoal.

Rui – A internet passa um conteúdo para a gente que é muito útil para sabermos o que esta

acontecendo em outro lugar, como ela citou. Ela aproximou tanto a gente que, tipo, não tinha

jeito de saber o que estava acontecendo num país que não fosse pela televisão, por uma

noticia não muito confiável, a internet mostra vários pontos de vista sobre uma mesma noticia

e isso é muito importante. Além de suprir muito do que a escola deixa faltando, deixa de

explicar, que a internet vem a suprir muito bem essas faltas de conteúdo.

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Andreia – Se alguém quiser falar de novo fiquem a vontade, tá gente?

Milton – Pouco antes de vir para cá nó três estávamos um do lado do outro usando o Acessa,

e eu acho que uma, não uma qualidade, porque nós três estávamos no Facebook, e para

brincar eu chamei ele por mensagem, sendo que eu estava do lado dele. Eu acho que isso

atrapalha um pouco e não acho isso muito legal. Mas a gente usa bastante também para

pesquisa, trabalho. Como a gente passa o dia todo la, a gente usa muito, então a gente faz

muitos trabalhos. Eu acho que é basicamente isso, a gente usa muito o Facebook, a gente faz

grupos la para trabalhos.

Cleverson – Da mesma forma que o Milton disse, para trabalhos, eu uso o Facebook também

para interagir e eu uso o Twitter também para me informar, porque as noticias do mundo

chegam muito mais rápido lá, as coisas se espalham muito mais rápido lá.

Andreia – Twitter é mais rápido que os outros?

Cleverson – O Twitter, sim. Porque lá tem... é... os maiores portai de sites de jornais, de

revistas, tanto do mundo quanto do nacional. Então eu uso o Twitter para isso também.

Marlon – E fora se dizer que o... Com a internet melhorou muito mais. Porque, tipo, tem vez

que o professor pede um trabalho para a escola e você pensa “ai, eu tenho que ir naquele livro

buscar”, sendo que o trabalho você vai no Google rápido, e rapidamente chega lá, e tem vezes

que já tem um trabalho pronto para você lá, então a internet melhorou muito mais... melhorou

muito mais a qualidade de vida da pessoa.

Luan – A internet, não sei se todos concordam, é que aproxima as pessoas, mas da mesma

forma que ela aproxima ela pode ser usada como uma arma à seu favor, ou contra seu favor.

Um exemplo é as eleições de Barack Obama na primeira vez que ele se elegeu. Ele ganhou

as... as eleições devido à internet. Porque ele respondia as pessoas, e com isso, com as...

respostas das pessoas ele fez a campanha dele encima do que o povo achava, e não apresentou

uma coisa pronta como geralmente os outros candidatos... democráticos e republicanos fez.

Quando ele ganhou as eleições encima da internet. Então, assim, ela usada como uma arma.

Outra coisa também, principalmente agora, esta tendo o estado islâmico, a Palestina, a gente

não tem nenhuma outra forma de presenciar para ver algumas coisas que eles nos tramitem. E

assim, da mesma forma que nosso amigo falou, que... é muito bom para facilitar nossa vida

para estudo, é muito ruim também. Porque, ceio que antigamente, creio eu, que as pessoas se,

é... se envolviam mais com os estudos, pesquisavam mais. Hoje não, hoje você vai, coloca um

assunto sai tudo o que você precisa. É o famoso Ctrl+C, Ctrl+V, acontece muito isso. Então é

assim, da mesma forma que ela te ajuda, ela te prejudica, aí vai de cada um, é... Fazer o

melhor para o estudo.

Andreia – Acho que dentro dessa questão mesmo, se vocês já quiserem ir falando também,

como vocês chegaram a participar dessa (?), o que fez com que vocês, é... o que estimulou

vocês a estar participando, a fazer tudo isso que falaram que fazem assim pelas redes, pela

internet, né? Tiveram algumas influencias. Vou também perguntar se tem influencia sobre

outros assuntos também. É vocês que decidem, é vocês que veem dessa forma, que acham

interessante, algum professor que estimula. Não é questão da educação formal também se ela

esta trabalhando isso, né? Ou se é por educação informal que ocorre, ta? Então assim, como é

que vocês foram? O que fez, o que impulsionou vocês em tudo isso aí que vocês colocaram ai

por meio das redes?

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Armando – Eu, assim, humm... Acredito que a internet a partir do momento que ela surgiu,

ela veio para atingir praticamente o mundo todo. Então assim, muitos vão por influencias de

amigos, outros por informações “olha, olha lá, pesquisa alguma coisa lá que você vai

conseguir encontrar, e tal”, outros não, porque ela se tornou uma ferramenta tão ampla para

fazer tantas outras coisas, que foi o que eles disseram, ao mesmo tempo que la te favorece ela

pode te prejudicar se não souber impor os limites. Inclusive na nossa escola, por exemplo,

vive tendo, é... redações, tem muitas redações, colocando esse assunto. A questão do uso

excessivo da internet, como ela deve ser utilizada, ou não, como ela atinge, por quem que

ela... como você tomou conhecimento do uso dela. Então assim, é uma questão que... cada um

deve saber aonde e como usar ela. Para, para tals fins, entendeu?

Milton – Como você falou, acho que é uma pressão também dos amigos. “Você não tem

Facebook? Como assim você não tem?! Então vai lá e faiz um” ai você vai e faz. “Você não

tem”, sei lá, “Insta?”, ai você vai e faz um também...

Andreia – Faz o que?

Milton – Instagram.

Andreia – Instagram.

Milton – E eu acho que é uma pressão também, mas eu acho como nós aqui, (risos) , eu acho

que parte de cada um, como você falou também que você gosta de entrar em sites de

organizações que trabalham juntas, que gosta de ler também para fazer trabalhos. Acho que

parte de cada um, assim, você que fica assim. Informação, acho que é importante isso. Claro

que eu acho que a maior parte das pessoas que a gente conhece, os jovens que usam acho que

eles não tem uma mente tão ampla para ver, sites disso para se informar mais e tal, e fica

muito resumido ali sabe? Face, no Twitter, no Instagram, sites assim. Claro que esses sites

também podem ser vistos como redes de informações grandes, mas acho que mais para

amizades, para relações interpessoais. Não tão visando olhar para fora daqui. Entendeu? Olhar

pro... Estado islâmico, para relações... Presidencialistas como na América tem bastante, eu

acho... Acho isso importante.

Marlon – Como ele disse, eu já usei muito o Facebook às vezes, para comunicação na escola

mesmo. Como um exemplo que teve uma atividade que a professora, de uma eleição, foi tipo

uma brincadeira que a gente fez na escola, que era para nota e tudo o mais, e eu usei o

Facebook para divulgar sobre a nossa chapa e tudo o mais, como se fosse um grêmio

estudantil. Só que também teve bagunça. Começaram a ter bagunça de comentarem coisas

no... na rede de comentarem coisas nada a ver, que começou a ter brincadeira. Então eu acho

que influencia para ajudar, mas também prejudica, porque seu nome tá sendo divulgado lá,

sua imagem esta sendo divulgada lá, e acaba que tipo, as pessoas zoando o que você esta

fazendo, caçoando o que você tá fazendo. Tipo as vezes é bom e as vezes também é ruim

essas coisas.

Andreia – Você acha que quando você quer tratar de um assunto que você considera mais

sério as pessoas... Não aceitam.

Marlon – É, muitas pessoas da escola mesmo começam a caçoar.

Andreia – Eu tive uma experiência, deixa eu falar isso rapidinho para vocês. Essa pesquisa

que eu mandei para vocês na... na escola foi tirada do ar. E eu tava, não tinha nem

salvo...tinha ne salvo nenhuma vez ainda, porque escreveram coisas que não podia la e a

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Google tira. Por que disse que eu infringi as leis... Entendeu? De uso. E ai foi um trabalho

para recuperar, mas deu certo. Pode continuar.

Marlon – Ai, também falando de redes sociais que podem prejudicar com sites que oferecem

para você. Ou ate mesmo coisas de maiores de idade que já começa o... aquele... aquelas

pessoas que usam imagens e outras coisa para pegar e abusar de meninas menores, pessoas

jovens...

Andreia – Pedofilia?

Marlon – Isso, pedofilia. Muitas vezes isso prejudica também. Fora os sites... que falam para

ver, que pessoas pedem para entrar em recomendação.

Fabiana – Para mim a internet... com manifestação ajudou muito. Porque eu estudava numa

escola na Lapa em que era para ser concluído uma obra em um ano, e nesse um ano a obra

ficou parada, teve desvio de dinheiro e é uma escola muito grande. Tem mais de 300 alunos...

Muito mais. Nossa, são... é corredores e corredores. E a gente tava cansado. A gente estudava

em cimento, em pó de cimento. Era, vira e mexe todo mundo que tinha rinite ficava atacado, a

lousa era escrita, era uma parede verde em que a gente escrevia. Tava um caos a escola. E ai

os alunos cansados de ver isso, nós alunos, né, decidimos dar um jeito e... e a gente foi

colocando na internet, até que foi até TV lá. E a gente conseguiu concluir a... concluiu a obra.

A gente acab... todos os alunos tiveram que mudar de escola, para depois voltar. Pegar uma

escola, umas salas emprestadas de uma escola pra gente poder continuar tendo aula para

ninguém se prejudicar.

Andreia – E isso só se resolveu por causa da internet?

Fabiana – Nossa, deu muito certo. Todo mundo da escola começou a saber, porque é uma

escola muito grande, não é uma escola de um terceiro, é escola de 3ºA à 3ºK. é muito grande,

e de manhã, à tarde e à noite. A gente não tinha como se falar, com todo mundo. Então a

gente fez uma pagina na internet, começou cada um a chamar quem conhecia da escola, até

que a gente conseguiu. Há... Existem pessoas na escola, mas foram poucas que... que...

quiseram causar na manifestação. Foi pedido para ninguém levar bomba, ninguém levar nada.

Porque como a escola é no centro, uma escola grande, existem pessoas da Brasilandia, de

Caieiras, de Franco, de Pirituba, de... São Paulo inteiro. Tem pessoas que moram no centro e

vão estudar lá. E a gente pediu, “ó, por favou evita o máximo que tiver”. Quando a

manifestação estava quase acabando, o cara me solta uma bomba. Mas foi um cara, a gente

conseguiu resolver tudo. Mas a internet foi uma grande aliada nossa.

Andreia – Se vocês quiserem fazer perguntas um para o outro também pode, tá? Se estiver

falando de alguma coisa que interessa, que... né?

Caique – Eu acho que assim, a internet é boa e também ruim, porque é um falo livre...

Andreia – Um o que?

Caique – Um falo livre, ele... Então assim, vai da cabeça de cada um, o que você procura e o

que você... Você pode procurar coisas boas e coisas ruins. Minha mãe e... Eu e minha mãe

estávamos com um projeto que é o Natal Solidário, e já tá chegando no Brasil inteiro quase já,

e é... “faça o natal de uma criança feliz”, é bem assim, faça uma criança feliz, na internet e

isso ajuda, mas também é muito ruim, porque assim... é... Muita coisa que esta na internet

não é verdade, muita coisa você não tá ali para vivenciar você tá vendo pela internet, então

você tá vendo pela boca de outra pessoa. Você não sabe se aquela noticia é confiável. Você já

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vai criando, é... versões, né? Da sua cabeça mesmo e já colocando, sem saber se o assunto é

verdade ou não. Então vai muito disso também. Eu acho que a internet, ela é boa e ruim. Ela...

é... junta quem tá longe e afasta que tá perto. Ela é isso. Você vê a molecada, não só de

internet, a tecnologia inteira. Pergunta para uma criança se ela sabe a tabuada. Ela não sabe,

porque tem calculadora. Pergunta para um jovem ai se ele sabe alguma coisa. Não sabe,

porque ele se baseia muito na opinião dos outros e não tem a própria dele. Isso que é muito

difícil de se achar hoje em dia.

Luan – Um exemplo como esse é... com a internet, como ele disse, é que você é muito

influenciado pelos amigos, não só pela, a mídia. A mídia te impõe isso, o dom da internet é

isso, é a mídia, ela te... ela... é uma calha que te empurra naquela direção. Se você não tem

estudo, se não tem uma outra visão um pouco mais ampla você é empurrado juntamente.

Então é assim, ela te... ela te força por um caminho. Antes a televisão era o principal

problema, hoje é a internet. Hoje a internet te empurra para vários caminhos. Então se pego

pessoas e nosso governo infelizmente é assim, ele não tem uma formação adequada.

Infelizmente muitas pessoas do 3º ano, pergunta para quem quiser que tá no 3º ano, é, quem

fez ENEM, se a gente aprendeu o que foi aplicado. Não aplica, então assim, pega umas

pessoas que tem um pouco... um grau menor de educação, é empurrada junto facilmente com

a internet. Que nem ele falou, é... sobre o problema de pedofilia, tudo isso, é o principal forte.

Pega uma criança que principalmente não tem instrução dos pais ela vai facilmente, vamos

supor, cai na conversa e acontece esse tipo de coisa. É igual (?), a internet é uma arma, você

usa ela para o bem ou para o mal. Que nem a Fabiana falou sobre... sobre a fonte que ajudou

na escola, que divulgou, isso é verdade, ela consegue aproximar muito mais as pessoas, mas o

principal problema disso é que na internet você pode colocar sua opinião sem estar de frente.

Infelizmente as pessoas hoje não tem a força de... de um movimento, de falar a verdade em

frente as pessoas. Então a internet é um jeito fácil de por sua opinião sem ninguém saber

quem você é, você pode colocar varias coisas que, inclusive o trabalho que foi banido, as

pessoas colocam o que quer e, normalmente acaba. Assim a internet é boa e é ruim, vai de

você optar pelo o que quer fazer.

Milton – Como você mesmo falou, uma informação que é... que... que seja falsa, eu leio e eu

passo ela, né? Se eu ler, beleza, mas não, eu leio, eu passo, ai ela lê, ela vai achar aquilo legal,

ela vai repassar também, e vai crescendo e crescendo e se tornando bem difícil.

Andreia – E vocês usam bastante a sala do Acessa para fazer lição? Pode continuar falando

do assunto...

(?) – Não uso muito...

Caique – Que hoje em dia, celular...

Fabiana – É, o celular com você, se você tá no meio da rua e... você que pesquisar o que

significa da onde, vai... da onde é tal animal, que espécie é, tudo que você vai saber dele ,

você coloca lá e, no celular e já tem todas as informações. Do que você quiser, aonde você

tiver você tem as informações.

Marlon – Que na verdade, ultimamente na internet você tá descobrindo o nome de ate pessoa

que você ve passando na rua.

Andreia – Rastrear?

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Marlon – Você abre aqui seu celular, de repente quer ver uma pessoa que tá do seu lado, você

clica num aplicativo novo e vai mostrando todo mundo, o nome e o numero das pessoas. Eu já

tive esse aplicativo no meu celular e descobri pessoas que... (risos) Descobri pessoas que...

Descobri até famoso. Pessoas que passam, tem famoso que não gosta de se parecer, mas com

meu celular, ele apitava quando passava por um famoso ou alguém muito conhecido. Na

verdade tive que apagar porque ficava apitando toda hora. (risos)

Luan – Um exemplo do que ele falou...

Andreia – Desculpa gente, espera um pouquinho que ele tá filmando.

Luan – A internet aproxima as pessoas de longe e afasta as ruins. Um exemplo, eu tava na

casa da minha avo uma semana atrás, a gente falando, nossa, a internet, a família acabou a

conversa. Na hora que eu tirei o celular da minha mão e reparei, tinha seis pessoas, as seis,

tinha a criança de 3 anos e pessoa de 60 anos, as seis pessoas mexendo no celular. Numa

mesa. Afasta as pessoas.

Thalita – No meu trabalho tem a copa, que é um lugar onde a gente fica...

Andreia – Tem o que?

Thalita – Copa.

Andreia – Copa.

Thalita – Ai eu cheguei assim, meus colegas estavam lá, eram cinco, os cinco estavam com o

celular assim como ele tinha falado, eu peguei e falei assim “gente, por favor, coloca o celular

porque ninguém vai ligar, se alguém ligar vai ligar no RH e vai falar”. E as vezes as pessoas

esquecem que a internet veio também... ela veio como... veio na guerra como forma de matar.

Veio as primeiras maquinas, e isso foi mudando. Por que? Porque eles inventaram... é...

dispositivos e tinha o que vender. Ai falaram também da mídia, realmente, a mídia começou a

influenciar. Ah lançou o Galaxy 5, ah, mas daqui alguns anos vai lançar um melhor. Então

todo ano eles lançam um dispositivo novo e vai falando “não, o meu tá no passado. Tem que

ser um novo, né”, a influencia. E as informações falsas. Tava vendo uma reportagem, tava

passando na semana passada, que aconteceu, tinha uma senhora que acusa... Postaram no

Facebook uma foto dela dizendo que ela era uma sequestradora de crianças. Todo mundo...

é... mais de mil pessoas, muitas, muitas, compartilharam falando “não, é a sequestradora de tal

lugar”, os vizinhos viram, viram ela perto de uma criança, acharam que era... era

sequestradora porque viram a foto no Facebook, e espancaram ela até a morte. Passou na

televisão.

Marlon – Um grande exemplo também foi o... uma imagem que já conhece, foi o que

lançaram na internet foi o mal uso do top 10. Muitas pessoas que não tinham nada a ver, como

eu mesmo, acabei entrando nesse top 10. Falando muitas coisas, muitas vezes baixarias, que

prefiro não citar e tudo o mais, mas que tinha coisas que pessoas normais como a gente assim

entrou. Como ela citou essa senhora que não tem nada a ver, a vida dela era normal, foi

espancada ate a morte por um assunto que ela não tava nem sabendo.

Thalita – Porque pegaram a foto dela e colocaram lá.

Marlon – Que significa o mau uso da internet.

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Andreia – Acho que a Alani queria falar?

Alani – Eu queria falar sobre as noticias falsas. Inclusive lá no meu curso o professor passa

trabalhos, mas ele passa site de referencia exatamente para não pegar essas noticias falsas. Só

um comentário.

Andreia – Pode fazer mais se quiser. Tá bom, do (?) você chegou a falar?

Caique – Cheguei, cheguei.

Andreia – Então tá. Vamos partir para outro assunto então, porque esse assunto que vamos

falar agora vai voltar para a questão da internet nas redes sociais, que a Fabiana até já

começou a falar um pouquinho sobre isso, é intrigante, né? Essa é uma questão que eu acho

que tá legal para vocês responder, porque vocês já responderam o questionário que eu enviei,

tá? Então é só para ficar registrado aqui agora isso, e... o que vocês pensam a seu respeito, um

debate, né? Para vocês o que são esses movimentos sociais ou o que... Qual a diferença, se há

uma diferença para vocês entre as manifestações populares e de rua, o quê que são isso, para

que que serve, qual a importância nessa questão. Que ai depois a gente vai tratar também, né,

é... Delas pela internet.

Luan – Infelizmente isso no Brasil não existe. É... Eu participei da junior passada em Jundiaí,

da (?), tinha dez mil pessoas. De dez mil pessoas que tinham lá naquele local, certeza, menos

de mil queriam mudar. Os outros nove mil queria bagunçar. E isso foi um exemplo que todo

mundo tava contra a presidente, mas esse ano ela foi reeleita. Então, infelizmente, no Brasil,

não existe isso.

Thalita – Porque na verdade, a única manifestação, assim, que você pode dizer, no Brasil,

que foi a manifestação foi na ditadura, porque não parou só um estado, parou o país inteiro,

um... Um país inteiro em prol de uma coisa, pra cair a ditadura. As coisas que temos hoje em

dia são pessoas querendo se aparecer, pessoas que... tem pessoas que querem mudar, mas

quem não quer a... é... por exemplo, lá em São Paulo tinha um monte de gente que queria que

abaixasse o preço da passagem, mas tinha quem não queria, quem não queria atrapalhou,

quebrou banco, quebrou banca, quebrou tudo.

Luan – Um exemplo, pra você ter noção né, no Haiti, um pais que foi destruído por furacão,

mihares e milhares de pais com missão de paz, eles estão fazendo manifestações, parou o pais

inteiro, um pai que não tem estrutura, um pais que não tem educação, eles pararam por que o

presidente fez corrupção, a nossa roubou 200 milhões e ninguém para. O brasileiro,

infelizmente, ele é assim, ele quer... é... tipo, não mexe no bolso dele. É isso que eu falo para

todo mundo, ele quer, ele gosta de curtição, ele gosta de...

Thalita – O brasileiro é meio que... (?) as vezes.

Marlon – Teve uma... uma manifestação que eu participei, foi a do passe livre, foi em

Morato, essa manifestação tinha um grupo... um grupo de, tipo, duas mil pessoas que tava lá

no centro de Morato reunido na porta da estação, um grupo só queria, um grupo de 300

pessoas queria o passe livre, o resto queria fazer bagunça, tanto é que nessa... nesse

movimento quebraram a estação todinha, quebraram os ônibus e tudo o mais.

Andreia – Eu só... só queria fazer uma... só queria que vocês me falassem assim, só

deixassem claro para mim, como é vocês sabem disso, que a maioria não queria. Por que a

maioria? Será que a maioria mesmo não quer a mudança?

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Marlon – Pelo modo de agir?

Andreia – Eu queria que vocês falassem porque, pra... pra registrar.

Maiara – Bom, é... Tenho colegas que falaram que ia se manifestar, não se “manifestar”, pela

zoeira. Que iam ir porque eles querem brincar e ficar lá no meio da bagunça e destruir as

coisas.

Andreia – E eles foram?

Maiara – Foram. Em Mairiporã teve não sei quantos, umas mil pessoas mais ou menos foram

até, é... interditar a Fernão Dias, o pedágio ali interditaram, coisa que eu acho que foi

desnecessário, até porque a Fernão Dias não faz parte, assim, do município de Mairiporã, tem,

ela liga... Terra Preta, (?), outros municípios... E eles falaram que eles tavam indo pra brincar,

não porque eles queriam que acontecesse uma melhoria na... em tudo que tava acontecendo.

Marlon – Muitos se reúnem só para ver amigos e tudo o mais, e acabam fazendo bagunça

também.

Alani – Exatamente como ele falou, na manifestação de Morato eu também fui, nisso eu

escutei pessoas falando “ai vamo lá quebrar tudo, vai ser maio zoeira, vamo ficar a noite

inteira lá” e outras, assim como eu escutei outras pessoas falando “não, a gente que, que ir

porque é o nosso direito, a gente tem que lutar pelo o que é nosso”, e também pessoas também

brincando, “ah, vou na manifestação passe livre porque não quero pagar passagem”, e descem

de ônibus.

Andreia – Essas pessoas que vocês falam são jovens?

(risos e comentário que não entendi)

Maiara – Sim, sim.

Andreia – São jovens a maioria dessas pessoas...

Maiara – Inclusive uma menina que eu conheço foi pra brincar e acabou quebrando a perna.

Ela quebrou a perna. Ela foi pular a sarjeta da pista e acabou quebrando a perna.

Marlon – Pra você ter uma ideia, muitos que foram pra... a... manifestação e tudo o mais, nem

trabalhavam, muitos eram alunos, não usavam o trem, era tudo playboyzinho, e pra que tavam

lá? Pra diminui a passagem dez centavos. Pra zoeira mesmo.

Maiara – Mas, com certeza a divulgação (?)

Andreia – Que município?

Maiara – Francisco Morato .

Andreia – Francisco Morato. É bom vocês... Porque tem vários municípios.

Maiara – foi importante, antes no Facebook tinha o que? Algumas... É... Umas cem... E

pouquinhas pessoas confirmando, eu entrei mais tarde e tinha mais de trezentas pessoas, em

dois dias tinha um monte, fechou até o viaduto da cidade, foi bacana, apesar de terem

destruído a estação.

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Andreia – Mas pra que serve esses movimentos vocês não estão me falando, vocês tão

falando que (?), que a maioria das pessoas tá indo pra bagunçar, mas, assim, o que vocês

pensam do objetivo do movimento eu não ouvi exatamente ainda.

Rui – Ou ele vai para se manifestar, só que ele não vai com uma ideia, ele vai tipo, vamo

manifestar, sem ter uma causa. Alguns querem diminuir a passagem o ônibus, outros querem

outra coisa, não tem uma coisa em comum para as pessoas se unirem e lutar pelo o que elas

acreditam. Ai acaba fazendo o que? Acaba tipo, desinteressando, acaba uma coisa, outra

coisa, ai alguns vem pra zoar, ai começa a quebrar as coisas, destruir. Na hora que o brasileiro

começar a se unir e vir uma coisa só, as coisas vão começar a melhorar. Por exemplo, que

teve esse negocio da Dilma, que tavam (?) a Dilma, que a Dilma foi reeleita esse ano, eles

queria parar a Dilma, que a Dilma tava tendo corrupção, ai vamos votar no Aécio. Mas por

que votar no Aécio? Tipo, vai melhorar mesmo? Eles só queria a mudança, sem se importa

com pra... Pra onde mudar, sabe? Sem se importar se vai ser bom ou vai ser ruim a mudança.

Marlon – Eu também acho que, tipo, esse movimento serve também pra evolução. Evolução,

tipo... não custa nada, o passe livre é só um movimento, (?) e tudo o mais, mas com o

exemplo da nossa cidade, a gente quer revolução, a gente quer melhorias na cidade. A gente

citou só o passe livre.

Andreia – Você já meio falando mesmo, como é a interação de vocês nessas reuniões? Pode

falar pra quê que serve e como vocês interagiram, como é que vocês participaram, aonde

vocês participaram. Já pode ir falando também, tá?

Marlon – Da... da minha parte como eu participei, foi (?), fecharam o viaduto, que foi bacana,

pra nenhum carro passar, que a única passagem que tem em Morato é o viaduto.

Andreia – Que que vocês queriam nessa parte?

Marlon – A gente queria exatamente a diminuição do passe livre. Na verdade quem...

Andreia – Em Morato também?

Marlon – Dentro de Morato.

Thalita – Tava três e alguma coisa, ai baixou.

Andreia – Baixou?

Thalita – Baixou. A partir daquele movimento que pessoas serias fizeram, uma parte eram,

mas conseguimos.

Milton – Em Cajamar também teve e a passagem também foi abaixada, mas lá mostra, as

pessoas que estava lá, também estavam, eu achei... Chato, porque nos fomos ate o... pedágio

de lá ai a... pista parou e chagando lá tá uma mesma voz querendo que a passagem ficasse

barata e saindo tiro e, eu tava lá. Tinha uns... professores nossos, que eu achei isso bacana, os

próprios que falam em sala de aula estarem lá com a gente também. Que, né, falam em sala e

não esta lá, então eu acho que isso é... é chato.

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Marlon – (?) e tudo o mais, na nossa cidade teve policiais que tavam batendo em pessoas que

não tinham nada a ver, porque teve o grupo que se manifestou, mas teve o grupo que tava ali

pra... em prol do assunto mesmo, só que apanhou, eu mesmo apanhei também e não tinha

nada a ver com o assunto. Por causa que nois fechou o... a... o... o viaduto lá, e chegaram a

policia, só que não chegaram a policia pacificamente, chegaram batendo agredindo, tudo o

mais, e tipo, nessa parte que eu me senti prejudicado em querer ajudar e tudo o mais. Só

queria citar isso mesmo.

Caique – Eu sei que isso ai, que eu tava na porta da minha casa a policia desceu o escadão e

foi batendo em todo mundo.

Andreia – Em qual cidade?

Caique – Mairiporã.

Andreia – Mairiporã.

Caique – Mairiporã. Lá na Fernão Dias, perto da Fernão Dias. Eu tava na porta da minha

casa, fui na manifestação e voltei, tava na porta da minha casa, falando com meu primo, a

policia chegou, não era de lá, a policia não era de lá, chegou e começou a bater em todo

mundo, ai eu falei “não, eu moro aqui”, ai não acreditou e queria me levar pra outro lugar, ai

eu falei “não, não vou sair daqui”, ai eu gritei pro meu pai, que meu pai tava na porta, ai ele “é

meu filho”, “ah, tem certeza que é seu filho?”, “como assim se eu tenho certeza se é meu

filho? É meu filho, caramba”. Ia, ia chegar batendo em todo mundo, entendeu?

Luan – Na maior parte eu participei da manifestação de Jundiaí, foi a maior que teve, foi

numa terça-feira, era... a... era a manifestação só pra derrubar a poli... a corrupção, tentar

chamar um pouco a atenção dos políticos pra tentar mudar alguma coisa, só que assim, não

mudou nada. É, as pessoas, que nem muitos falaram aqui, foram porque queria brincar, fazer

zoeira, encontrar amigo, muitos bancos privados, agencias de carros privadas foram

quebradas sendo que eles não tem nada a ver, algumas dessas pessoas estavam ate para

visitação, só que o povo ele extrapola. Um exemplo são os black blocks, que aquilo ali não é

uma manifestação, aquilo é vandalismo. Os black blocks foi banido da Europa porque é

vandalismo. Por que aqui não é? Então assim, a principal... é... é... é, que você pediu, o

exemplo são eles. E assim, a ação da policia, em muitos casos, é violenta, só que infelizmente,

vamos dizer assim, que nem assim, como ele falou, tinha mil no... no viaduto, quantos

estavam ali realmente para manifestar? Infelizmente as pessoas que fazem coisas erradas

fazem a policia... é... ter uma ação violenta e muitas pessoas inocentes pagam por isso. Eu não

culpo em si a policia, e sim os que fazem as coisas erradas, porque ali não da pra saber quem

é quem. Não tem como você ser pacifico numa coisa onde muitos não são pacíficos. Você tem

que bater de igual pra igual, não existe como isso, você tentar... combater uma coisa

conversando, que eles não fazem isso. Esses que eu falo são aquelas pessoas que vão pra... os

black blocks, as pessoas que vão pra destruir patrimônio publico e não pra melhorar.

Maiara – Em Mairiporã eles queimaram um ônibus e eu... Tenho praticamente certeza de

quem fez isso não usa o ônibus, mas quem usa (alguém pergunta alguma coisa), não conheço,

mas quem usa sabe o quanto é difícil, já não tem ônibus, e ainda vai e destrói. Entendeu? Eu

uso o ônibus todo dia, já é... uma bosta, perdão da palavra, é muito ruim o... transporte

publico, e ai já vai e faz esse tipo de coisa? Não tem nexo. E tem gente que só vai pra brincar

mesmo.

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Marlon – Citando ali o que ela falou, que o transporte publico é uma... “bosta”, entre aspas,

teve uma vez que eu estava... Trabalhava, pegava trem e tudo o mais, eu estava na Barra

Funda, e o trem quebrou. Na hora que o trem quebrou parou tudo, parou de Barra Funda até

Morato. Imagina a pessoa que morava na Barra Funda, Perus, Caieiras e tudo o mais, parou

tudo. Na hora que parou tudo só tinha um meio de transporte, que são os ônibus. E virou

bagunça. Começou a quebrarem os ônibus lá, come... teve um cara que falou que ia roubar o

ônibus pra levar o pessoal. Olha a coisa como é que tava.

Andreia – Deixa eu perguntar uma coisa pra vocês. Teve alguém, algum fato, uma pessoa, sei

lá, uma noticia... que assim, pode ter sido uma pessoa, um fato, al... Alguma coisa que vocês

leram, um professor, teve alguém que influenciou vocês a participarem desses movimentos?

(falam todos ao mesmo tempo) Fala um de cada vez, né? Eu queria que vocês falassem.

Caique – Meu pai sempre participou de manifestação, ai ele falou “não, tem que ir, e não sei

o que”, só que assim, como falou ai, mil, setecentos tavam pra zoar, é assim, entendeu? Isso

que é errado no Brasil. Ai a gente vê na televisão as manifestações, nossa, ai a mídia mostra

um lado da manifestação e não mostra o outro, a baderna, mostra só a baderna, mas tinha

gente ali que tava ali batendo no peito, falando, cantando o hino, reivindicando uma coisa,

tava ali. Mas a mídia mostra só um lado.

Andreia – Você tava lá?

Caique – Tava lá. Fui acho que em... três, em três manifestações. Na Paulista..

Andreia – O que que você sentiu?

Caique – Nossa, uma coisa que... Lagrima no olho, na hora que todo mundo começa a bater

no peito e cantar o hino do Brasil. Uma coisa que arrepia de escutar. Por isso que eu criei

minhas musicas. Foi em base nisso.

Andreia – Você disse que foi em três, qual que foi? Na Paulista...

Caique – Fui na Paulista, fui em Mairiporã e fui em uma que teve em Atibaia.

Andreia – E uma pessoa que te influenciou bastante foi seu pai?

Caique – Foi meu pai, meu pai.

Andreia – Não teve ninguém na escola...?

Caique – Não, na escola não. Na escola era um bando de vagabundos, que estavam querendo

zoar.

Andreia – Não são os professores que ele tá falando.

(risos)

Caique – Não, foram só os alunos que falam assim, “Ah, vamo descer”, escutei dois

moleques falando assim, “vamo descer pra tacar pedra na policia”. Entendeu? Como ele falou,

a policia vai ser errada? A policia não é errada. A policia não é errada.

Marlon – eu participei de um grupo pra ajudar e acabei apanhando, depois disso eu nunca

mais...

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Andreia – Teve alguém que te influenciou pra essa participação?

Marlon – Teve. Quem me influenciou na verdade foi...

Andreia – ou (?), as vezes você foi porque você quis.

Marlon – foi aquele... foi aquele... é... nois já tava velho, fora que, nessa que eu participei, do

passe livre, eu trabalhava, você acho que não, mas dez centavos influencia muito no seu... isso

influencia muito no seu pagamento e tudo o mais. Ai eu falei “não, vamo lá reivindicar, fazer

melhoria e tudo o mais”, só que eu fui com um grupo de amigos que queria mesmo, e aquele

grupo de amigos apanhou junto comigo, nois pensou “nois não vai mais, deixa lá a baderna,

deixa lá a bagunça”, porque o Brasil, o Brasil não sabe melhorar, o Brasil não sabe melhorar,

o Brasil só sabe piorar por causa dos que fazem bagunça. Dos que quebram tudo.

Alani – No meu caso não teve influencia, foi por que eu quis mesmo. Eu vi “ah, tá na hora de

abrir a boca e fazer alguma coisa, porque do jeito que tá não da”, porque eu também pego

ônibus todos os dias, pego dois ônibus para ir pro meu curso, e depois... ia, né, pra escola, e

achei um absurdo, tipo “ah, vocês não reclamam porque não sai do bolso de vocês, vocês não

tem que ralar tudo o dinheiro pra conseguir esses dez centavos”.

Thalita – É que... o... O fato mesmo é que o brasileiro só vai atrás do que ele quer quando não

tem mais escapatória, quando já tá fechado, quando... não tem “nada” pra fazer, ai é quando

ele vai atrás.

Andreia – O que que te fez participar...

Thalita – Assim como ele falou, eu trabalho, eu sei o que é usar o transporte publico, eu sei o

que é faltar...

Andreia – Mas não teve ninguém que falou “Thalita, vai lá, você tem os seus direitos, vai lá,

não sei o que...” com aquelas outras informações?

Thalita – Sempre tem um educador, vê... é o que você vê na televisão, é o que omitem, mas

você consegue ver além, vai de você. Se for uma coisa séria, tem que vir de você. Você tem

que chegar e falar “não, eu vou ir, e tem que ser assim, porque é o certo”.

Marlon – Que nem ela falou que...

Andreia – Deixa ela falar, que ela tinha...

Maiara – Então, minha influencia foi dos meus professores, dois em especial. Eles falaram

“você tem os seus direitos” e eles foram meus maiores influenciadores. E eu fui uma vez em

Mairiporã, e eu vi a baderna que foi e a partir daquele momento eu não fui mais, só que eu me

manifestei pela rede social.

Fabiana – No meu caso, como foi a manifestação na escola, eu... eu tava vivendo aquilo a

quase um ano já, vivendo... no pó de cimento, estudando... vendo a matéria escrita na parede...

mesmo assim os professores estavam lá todo dia, mesmo estando... um... local de trabalho em

condições péssimas, e a gente não tinha... a gente não tinha merenda, não tinha, não tinha

comida simplesmente, se você tinha dinheiro você pegava e ia comprar na cantina, se não

você ia ficar com fome ou levava lanche. A gente viveu mais de um ano assim.

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Andreia – Escola publica?

Fabiana – Publica. (?) Barreto na Lapa. E... A gente... viveu isso. Então chegou uma hora que

os alunos já... já tava, meu, a gente não tem um banheiro legal, a gente não tem um espelho, a

gente não tem merenda pra comer, tem galera lá desde que tem uma renda ate boa e tem gente

que vai pra escola pra comer, como é uma escola muito grande, como eu falei, com muitos

terceiros, com muitos segundos, manhã tarde e noite, e é só ensino médio lá, não tem... ensino

fundamental. E a gente vivendo aquilo a gente falou “meu, vamo mudar isso aqui”, e com a

ajuda de professores, os professores... lá sempre foram muito guerreiros, ainda mais... pela

condição que era o... a escola, então todo mundo ajudou. Os professores falavam “a gente não

pode participar da manifestação, porque a gente trabalha aqui, vocês alu, e sempre acham que

professor é vagabundo, que professor só quer zona, que não sei o que, então vocês são os

alunos, vocês têm que ir pra fora, vocês tem voz pra mudar a escola pra, pra começar a

construir e reformar essa escola”. E foi nisso que a gente começou a crescer, vendo, além da

gente não aguentar mais viver, viver naquele lugar, os professores influenciaram muito

mesmo, mesmo, mesmo.

Andreia – Armando, né?

Armando – Isso. Inclusive na nossa escola, vários professores nos influenciaram, lá, nós

temos um professor lá, de biologia, o Chugar, ele já é de idade, já é um senhor, e na época da

ditadura militar ele participou, como... soldado do exercito, né? Era do exercito, ele era do

exercito e ele participou muito.

Milton – E dos caras pintadas também, e nessa que teve também, que ele tava lá comigo.

Armando – Nessa que teve também, e o professor de sociologia também.

Andreia – Como é que é? Eu não entendi. O professor participou com você?

Milton – Foi.

Andreia – Dos Caras Pintadas?

Milton – Não, lá na época dele.

Andreia – É, que eu ia falar “você? Nossa!”.

Milton – Nessa que teve ano passado comigo também, foi bem presente, ele e o... Alcir, que é

o de socio também, eles estavam lá. Eles que pediram para a gente fazer cartaz, pra a gente

fazer algumas (?)

Armando – A gente segurou cartaz o dia inteiro lá. Inclusive eles... eles... é... (?) indicar até

pra nossa cidade. Porque lá em Cajamar, por exemplo, ate a uns tempos tava a... eleição, ai o

pessoal pegou, estavam todos reclamando das condições da cidade, porque não tinha escola,

não tem um ensino de qualidade e tudo, mas foram lá e reelegeram o prefeito, colocaram o

prefeito novamente, ai um prefeito que nunca fez nada, foram lá e colocaram ele de novo. Ai

ele veio com promessa de que ia construir um hospital, de que o hospital até... 2015? Até (?)

de 2015 iria estar pronto, e o hospital não sair nem do alicerce. E agora nós estamos sem

prefeito, resumindo ele foi caçado, foi descoberto, e nós estamos sem prefeito.

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Milton – É isso que nos... rev... revolta. Como você mesmo falou da... Dilma. Todo mundo

reclamou dela, no ano passado, ai veio esse ano e reelege. Enfim, cada um é cada um. É...

igual pessoas que votam em branco, se eu voto em branco, enfim, eu votei, se você vota e

aquela pessoa é boa e faz com que o país cresça, eu vou me... me privilegiar daquilo também,

sen... sendo que o.. que o meu voto foi em branco. Entende? Então é... é um impasse isso.

Andreia – Eu acho que a Fabiana vai falar, e depois eu já queria que vocês já emendassem

falando qual a importância das redes, da internet nesse processo, nesse processo de

movimento geral e no processo do... da... da manifestação que vocês participaram, tá?

Marlon – Uma coisa que eu queria falar...

Andreia – Deixa só ela, deixa só falar, que já...

Fabiana – O... o que eu percebi nesse ano das eleições, ainda mais pela parte da minha

família ainda, eu falei, eu tava numa roda e falei “ah, eai, em quem vocês vão votar?”, “ah...”

Andreia – A gente vai direto, tá gente? Ou vocês querem parar? É isso que ele tá me

perguntando. Pode ir direto? Tá acabando as questões já.

Fabiana – Pode ir direto. Eu pergun, eu perguntei “eai? Em quem vocês vão votar?”, “ah, eu

vou votar no Aécio, porque a Dilma não sei o que, porque a Dilma é ruim, não sei o que”, eu

falei “mas... é... e os outros partidos? Partidos novos? Partido Verde, PSol...? ah... pessoal que

tem a mente aberta o suficiente pra mudar o Brasil?”, ai meu... meu pai, eu ouvi isso do meu

pai “como é que eu vou votar em alguém que eu não conheço?”, ai eu falei “pai, como é que

você vai votar em alguém que você conhece e que faz merda no governo? Não vai dar

oportunidade pra outras pessoas que tem ideia muito melhor?”. O brasileiro tem medo de

mudança, tem medo de “ah, eu to acomodado aqui...”

(?) – “tá bom aqui”.

Fabiana – É, “não vou correr o risco”.

Andreia – Mas já vamos entrar na questão das... (?). Vamos entrar nessa questão da... da

importância das redes, da internet nesse processo? O processo no geral, que vocês

conheceram, que vocês viram, e o processo que vocês tiveram atuando, que vocês

participaram. Deixa só, acho que o Marlon começou a falar e já vai pro Luan.

Marlon – Eu só queria citar, como ele falou que muitos reclamaram da Dilma e tudo o mais,

mas teve um grande exemplo e um professor meu me contou, que é um professor que ele é

revolucionário também na escola, ele me contou que chegou na época da Copa, que a Dilma

que... desembolsou e tudo o mais, na época da copa chegou na TV um certo jogador, um certo

ex-jogador, e perguntou pro povo o que eles preferiam, se preferiam hospital ou preferiam a

Copa, e muitos que votaram na hora é Copa, é Copa, é Copa, e depois que acabou a Copa

perguntaram “cadê o hospital?”, ai o... ex-jogador foi e respondeu, em redes sociais e tudo o

mais, “não, vocês pediram Copa, não pediu...” certo, a Dilma também estava com ele e

respondeu, “vocês pediram Copa, não pediram hospital, a gente te demo a Copa, agora se vira

com a Copa.”, falaram isso. Certo jogador ai...

Luan – Um exemplo... é... como uma rede social que ajudou, quem, todo mundo abre todo

dia o Facebook acredito, quem viu o Facebook ate as... as eleições tava crente que o... Aécio

ia ganhar. A campanha politica dele foi, eu acredito, mais da metade... na internet. Então

assim, a internet, ele usou muito como arma, ele abusou e usou, ele usou e abusou...

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Andreia – Mas e as redes pras manifestações?

Luan – Se não fosse as redes não existia as manifestações, porque não tem como o povo se

comunicar.

Andreia – Mas e a... vocês não falaram da ditadura, da (?), não tinha redes sociais ainda.

Então vamos falar hoje...

Luan – Só que o povo era muito mais junto que hoje.

Fabiana – Hoje o pessoal é acomodado.

Luan – Comandado, influenciado.

Fabiana – Influenciado de mais.

Luan – É muito fácil.

Thalita – É, as pessoas publicam no Facebook, eu lembro que isso aconteceu bastante,

colocavam fotos da Dilma e piadinhas criticando o governo dela, bele, é... beleza, tinha mais

de trinta mil curtidas, mas era isso que faziam.

Andreia – Tinha mais de trinta mil...?

Thalita – Curtidas, na... na foto, na publicação. Mas disso não passava, era só a curtida que a

pessoa faz. Da sua casa curtia, mas ir lá e ir contra não vai. Por exemplo, nosso município, é...

muita gente criticava a Dilma, mas véspera de eleição, um mês até, tava todo vermelho de PT,

tinha PT aqui, PT lá, PT não sei que lá, eu falei “nossa gente, mas eu achei que ninguém

gostava.”, e tava tudo vermelho.

Marlon – Uma... um... meio de comunicação da rede social, que eu... que eu fiquei sabendo

que ia ter o dia tal, tudo o mais do passe livre, foi pelo WhatsApp, que é aquela mensagem

que um vai comunicando pro outro, vai repassando pra todo mundo, assim foi um meio de

comunicação que todo mundo de Morato ficou sabendo, que foi o WhatsApp, que foi

mensagem que vai pra um, que da um vai pro outro, pro outro e pro outro, que quando vai

saber tá todo mundo... envolvido.

Andreia – Vocês ficaram sabendo da manifestação que vocês participaram pelo meio da

internet? Ou por outros?

Maioria – Sim, sim... internet...

Andreia – Como é que foi isso?

Luan – Essa (?) que você perguntou é (?) na época de sessenta e, é... época da ditadura,

porque teve, é... manifestação se não tinha internet? Porque as pessoas queria mudar, hoje as

pessoas não querem mudar, só vai se a mensagem chega nela, nas pessoas. Então se a

mensagem chegar nele, ele talvez ele vá se manifestar, mas é que nem ela falou, esse

“manifesto” com curtida no Facebook, isso não muda o Brasil.

Andreia – Luan, você... Participou do movimento por meio da internet, das redes sociais, e

amigos próximos?(?)

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Luan – Internet e amigos também.

Andreia – Amigos também?

Luan – Que me avisaram, aí eu vi na internet também e resolvi participar.

Andreia – E você passou pra frente também?

Luan – Passei pra frente também. É, muita gente, muitos amigos meus, uns cinco, dez amigos

eu fiz participar da manifestação por isso, “ah não, vamo lá”, a vontade, a sebe que todos nós

temos de querer mudar.

Andreia – E alguma coisa disso aconteceu na sala do acessa?

Luan – Não.

Andreia – Pode falar gente, eu...(todos falam ao mesmo tempo e não da pra entender

ninguém.) não... você... é... vocês estavam lá utilizando os computadores da sala do acessa,

vocês ficaram sabendo...

Geral – Não...

Andreia – Ficaram usando o celular de vocês mesmo...

(falação geral, incompreensível, pra mim...)

Andreia – Não foi pela escola?

Geral – Não.

Andreia – Tá bom. Pra que foi isso? (?)

Luan – Que até, infelizmente essa pergunta do Acessa, que infelizmente os professores tem

uma posição no governo que eles não podem em si colocar... a opinião deles, forçar o

conhecimento de uma manifestação, que assim, o Acessa não pode ser usa, assim como na

época das eleições que teve poucas vezes que nós fomos pro Acessa, quando era “proibido”

ficar vendo Facebook e essas coisas.

Andreia – Ah, é?

Fabiana – Eu lembro que os professores chegavam e falavam “olha, a gente não pode falar,

mas, vai, pode ir, cês tem que ir, a gente... só que não fala pra ninguém que eu to te falando

pra você ir! Que a gente não pode” tipo “influenciar”, por exemplo se a diretora ficar sabendo

que professor tá influenciando uma manifestação contra... a Dilma, ou contra qualquer coisa

do governo que pode tá, pra gente tá errado...

Andreia – Acho que você deixou claro, né Fabiana, que a internet teve... teve... uma... é.. foi

fundamental na manifestação de vocês, ne?

Fabiana – Foi, foi.

Andreia – Você deixou isso claro pra mim quando você falou que foi por meio dela que os

alunos se intera... tiveram uma interação, né? Foi um diferencial. E você, Caique?

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Caique – Também, porque fui eu que organizei a pagina, foi (?) pra todo mundo.

Andreia – Você organizou a pagina?

Caique – É.

Andreia – Como foi isso? Conta pra gente.

Caique – Eu, eu criei a... pagina, eu e uns amigos meus, pra chamar todo mundo, e a gente

chamou, só que assim, na internet, vai vinte mil pessoas que marcaram presença na internet,

na realidade não tinha mil ali, entendeu? A gente organizou vinte mil confirmou, nossa, a

gente tava crente que... ia tá... ia... ia ter muita gente, na hora, não tinha muita gente,

entendeu? Então, o pessoal muito acomodado, dentro de casa, “ah”, tem o medo de tomar um

tiro.

Andreia – Mas foi por meio da rede que você conseguiu?

Caique – Por meio da rede social. WhatsApp, Facebook, Tumblr, tudo.

Andreia – E o Rui?

Rui – Também. Facebook, (?) poderiam ir no evento.

Andreia – Você ficou sabendo e você também... divulgou?

Rui – Isso, eu fiquei sabendo, isso, passei. Passei pros meus amigos.

Andreia – Só... só pra (?). E a Maiara?

Maiara – Também. Só por rede social. E eu... repassei.

Andreia – Como é... e como foi isso pra vocês? Foi assim...

Maiara – Foi... é... impactante na realidade, né? A gente vê... alguém começar lá... lá... lá de

baixo, começar alguma coisa e ir crescendo, crescendo e crescendo, virar alguma coisa que foi

grande, não foi pequena, até porque, a da Paulista foi... enorme, foi bastante gente, e é

impactante.

Luan – Um exemplo que... da rede social pra manifestações, na Síria, quatro anos atrás

quando eles começaram, o presidente cortou a internet. É... por que? Pra evitar as

manifestações. Que era a principal for... é... modo de o povo marcar as manifestações e ir.

Então, assim, a internet é a principal fonte pra revolucionar.

Thalita – É, só uma observação que ele falou que na Síria cortaram a internet, aqui no Brasil

tinha algumas comunidades e paginas que foram tiradas também, que eram como, meios de

reunir grupos pras manifestações.

Andreia – Mas você participou também por meio da internet?

Thalita – Pela internet. Que foi, que nem eu falei, eu entrei de manha tava um numero, entrei

a tarde e já tava quase a cidade inteira.

Andreia – E o Marlon?

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Marlon – Também. Também foi pela internet.

Andreia – Também foi lá em Morato?

Marlon – Como eu falei, foi em Morato.

Eriberto – Pode falar?

Andreia – Pode.

Eriberto – Não, é porque tem um MC, que ele tem uma musica, pode falar o nome da

musica?

Andreia – Pode.

Eriberto – Que, o nome da musica é...

Andreia – Você vai ter que dar a autorização da musica pra mim.

(risos)

Eriberto – “Isso é Brasil” é o nome da musica, que... que ele fez, é um funk, tava, ai fala

“nossa, isso é funk?”, é “Isso é Brasil”, que foi exatamente na época que teve a... as

paralisações do ano passado e tudo o mais, que o governo mandou tirar o vídeo do Youtube,

quando mandou tirar, ele tinha uma pagina no Facebook, mandou tirar a pagina dele do

Facebook, mandaram tirar tudo, e ai um amigo dele já foi e colocou que o governo, que veio a

liminar, que o governo tirou, sabe, por exemplo, eu ouvi a musica, gostei na hora eu já baixei,

porque eu vi assim que colocaram nas redes sociais, quando eu baixei eu já tinha, mas no

outro dia, assim, no outro dia, minutos depois, as pessoas já tinham pego a bandeira do Brasil

na internet, em qualquer foto do Google, colocaram a... o funk e ai colocaram novamente no

Youtube, só que isso, foram quinze ou vinte mil pessoas que colocaram de uma vez, como

que o governo ia controlar tudo isso? Até que ele conseguiu colocar novamente o... a musica

na mídia, e ai todo mundo agora (colocam a musica)... Exatamente essa. Que... ai ele

conseguiu colocar a musica de volta na mídia, inclusive teve pra alguns alunos, acho que

chegou, eu mostrei pra vocês, né? Que... e nós estávamos falando sobre isso e eles “ah, mas

eu não conheço, eu não conheço”, ai eu falei “não, mas é um funk”, “nossa, mas é funk?

Como assim é um funk?” por causa que, isso a gente já sabe hoje como tá o funk hoje em dia,

e ai eu mostrei pra eles, “po, mas é uma coisa diferente”, e ele incentiva mesmo ir pra... pra...

pras ruas, ele manda mesmo, “vá pra rua”, é... a mensagem, a mensagem subliminar é isso, se

você quer, luta pelo seu direito. Tem até uma parte que eles falam, “é melhor a gente parar,

porque se não vão apagar a gente”, que o... o cara fala, é melhor a gente parar de... de criticar

porque se não apaga todo mundo.

Andreia – Mas esse exemplo mexe com...

Eriberto – Exatamente.

Andreia – Deixa só a Alani falar também, que eu já passo pra vocês três. Como é que foi, a

sua participação? Foi por meio das redes também?

Alani – Foi, pelo Facebook também. Mandaram lá um evento, primeiro eu fiquei tipo, “ãhn?

Como assim? Em Morato?, fiquei surpresa, né, que nunca aconteceu nada em Morato.

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Andreia – Ficou surpresa?

Alani – Aí, falei assim, “tá bom então, né?”, ai eu coloquei lá, marquei presença. Ai nesse dia

eu fui trabalhar, quando eu voltei tava acontecendo mesmo, ai já aproveitei o embalo e fiquei

por lá mesmo.

Andreia – Porque você ficou, porque você queria também mudar essa questão que você disse.

Vocês divulgaram?

Alani – Também. Sim.

Marlon – Como eu falei pra você, passaram pra mim no WhatsApp, e pediram para sair

repassando. E nisso de sair repassando foi, voltou pra mim umas dez vezes a mesma

mensagem. E eu tipo, “já to cansado de repassar”, mas o WhatsApp ajudou muito a repassar.

Imagine um, ai um passa pra ela, e dois passa pra mais dois, quatro.

Andreia – Esse foi mais especifico pelo WhatsApp, não foi pelas redes sociais?

Marlon – Pelas redes sociais também. Mesmo que ela... viu pelo Facebook, eu também vi,

curti, falei que ia tá presente lá e tudo o mais.

Andreia – Legal. Diferente em Morato, né? (?). E lá? Como é que foi? Com vocês?

Cleverson – Então, em Cajamar, pelo menos da minha parte, quando partiu a... a iniciativa de

participar de... dos movimentos, foi que eu aluguei um vídeo de uma jovem de dezesseis,

dezessete anos, e ela... é, expondo o que ela achava da... da nossa sociedade atual, né,

expondo a mídia do Brasil também, é... citava a Globo, citava varias emissoras, e... o atual

sistema... politico. Eu me interessei muito por isso, também fiquei assustado, porque, ate

então eu só... só sabia de manifestações e essas coisas em outros países, né, em

reivindicações, e também na ditadura, então achei um baque, né, fiquei com medo ate, de... de

guerra, de alguma coisa, guerra civil, e... assim, é... eu quis participar. Então teve a primeira

manifestação lá, que a gente parou, que pararam o pedágio e eu não pude ir por causa do meu

pai. O meu pai acabou sendo influenciado pela TV, então ele viu só a parte, né, da... da

baderna, do quebra pau, então ele virou pra mim e falou “cê não vai, cê não vai, porque... é...

são um bando de vagabundo.”, ai eu fiquei quieto, né, porque é meu pai, e... olhei todo mundo

passando assim, e eu achei uma coisa linda, porque eram varias, muitas pessoas mesmo, e eu

achei muito lindo isso. E eu queria muito tá lá, mas eu não podia por causa do meu pai. Ai

teve uma segunda manifestação lá, muito menor, né, mas eu pude participar,

escondido,(risos), mas eu fui. Então foi muito bom, me senti realizado, e é isso.

Andreia – Mas você soube pelo meio da rede?

Cleverson – Uhum, isso.

Andreia – Você divulgou isso?

Cleverson – Divulguei o vídeo que eu tinha visto, da menina, é que eu não lembro o nome

dela.

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Andreia – Mas pra participar dessas manifestações? Você soube pela internet também? E foi

divulgado?

Cleverson – Pelo Facebook, pelo Facebook.

Andreia – E você Milton?

Milton – Pelo Facebook também. E pela escola também.

Andreia – Pela escola também. Conversando na escola. Então vocês tem essa conversa dentro

da escola?

Milton – Tem. É bem ampla, é bem ampla. Ou como no seu caso o professor falava “não, vai

(?)”, o nosso falava “vai mesmo”.

Andreia – Que bom que vocês falaram tão angustiado, parecia(?)

Armando – Ah, fizemos, nos ajudamos professor, professor ficou... umas duas aulas

montando cartazes, ajudando, instruindo a gente a colocar cartazes, tudo, no Facebook...

Andreia – Vocês não vão falar isso, hein. (?)

Armando – E é uma coisa que é engraçada porque na época da ditadura, as pessoas quando

elas tinham... é... Por exemplo... as pessoas que mais, é... expunham seu ponto de vista do

Brasil naquela época eram artistas, músicos, faziam teatro, e essas pessoas foram as que mais

sofreram, inclusive tem... nós apresentamos um trabalho lá na nossa escola, pouco antes da

eleição pra presidência, com a musica do... Chico Buarque, a musica Cálice, e essa musica, na

época, ela foi tirada do ar, e agora as coisas se repetem, porque, por exemplo, ano passado,

colocaram vídeos, postaram, é... criaram musicas, por exemplo esse funk, e eles tentaram tirar

do mesmo jeito. Pra você ver como é que é... as pessoas erram nessa parte. Permitem ser

colocadas varias outras coisas, publicadas varias outras coisas, com vários outros assuntos que

prejudicam a... prejudicam a população, prejudicam, como por exemplo o consumismo, isso

pode ser colocado, isso pode ser exposto, agora a... pessoa quando vai reivindicar a questão

do futuro da... do seu pais, do... do futuro da sua nação ela não pode, ela é vetada, ela é mau

compreendida. Então nessa questão, é... assim, é revoltante, e lá na nossa escola, por exemplo,

por meios do... nós vemos direto pelo Facebook o pessoal querendo (?), o pessoal querendo

vários movimentos par poder mostrar isso de uma maneira consciente e mudar esse... esse

ponto de vista que as pessoas tinham. Que iam pras ruas só pra fazer baderna, pra fazer

bagunça essas coisas.

Milton – E os nossos pais também, “ah não, não vai , não vai”, mas a gente foi.

Andreia – Perguntas?

José (professor) – Uma colocação.

Andreia – Uma provocação?

José (professor) – Uma colocação.

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Andreia – Ah, uma colocação.

(risos)

José (professor) – Então, é... muito legal ouvir vocês falando essas coisas, eu costumo assim,

no meu conceito filosófico de vida, é... a historia sempre se repete. Os movimentos são

cíclicos, não é verdade? É... por outro lado, quando se fala em rede social pra nós, né, nós

custamos a nos adaptar a essa situação. Eu até brinquei com os meus alunos quando cheguei

aqui, que a primeira coisa que eles tiram é o celular, e eu esqueço o celular dentro do carro.

Não é verdade? E... mas eu noto o seguinte, cada um, nós vivemos cada um uma realidade

aqui, Cajamar, Mairiporã, Caieiras, Franco da Rocha, Francisco Morato, e... qual o período de

vocês correlação, será que não foi um... quase um modismo? “ah, já que fulano esta fazendo

vou fazer também”. Ai a rede social cria uma... uma teia... né, uma teia assim, ó, contamina

todo mundo naquele momento de querer ser revolucionário. Da, sendo que nós sabemos

exatamente, acho que vocês é (?) de vocês jovens, tá, vocês tem que buscar a... a diferença.

Vocês tem que combater o que é errado, vocês tem que combater o mal com pessoa que chega

lá querendo te enganar.

Andreia – Já que você entrou na conversa vou perguntar, (?), vocês conversaram essas coisas

com seus alunos?

José (professor) – Então, Andreia, eu conversei quando eu era coordenador na outra escola,

sim, mas com eles não, que eu to com eles a... a um ano, né? Mas no outro eu... eu... eu.. eu...

Andreia – É que foi o ano passado o ápice, né?

José (professor) – É, no outro eu fui um cara que eu entrei lá, peguei cartolina, dei pincel,

mandei o pessoal fazer mesmo. E fui crucificado por isso pela gestão da escola. Ta

entendendo? Já fui crucificado mesmo, tanto que não estou mais lá. Então, são essas situações

na vida da gente que vocês, enquanto jovens tem que refletir. Eu combatia diretamente com

alunos inteligentes que iam pra manifestação com a cara escondida. Eu falei “por que que

você não... perai, vocês são jovens, por que você tem que esconder a sua face? Você esconde

a sua face quando quer fazer alguma coisa errada.” Não é verdade? Então, é... é um

pensamento que vocês... nós já fomos jovens como vocês, tá? Movimento das diretas, vocês

estão falando muito de ditadura, de... os artistas. Como é que hoje vocês tem liberdade de

expressão. Isso aqui é uma liberdade de expressão. Poder manifestar diante do outro a minha

opinião diante de uma situação. Imagina você, jovem, não ter esse direito.

Andreia – Pegando esse gancho seu, José, eu vou fazer (?), o Caique já expos, era uma

pergunta que eu ia fazer, (?), né, já pegando esse gancho, é... os pai de vocês, né, participa ou

já participaram de algum movimento? Alguém da família de vocês já participaram?(?).

(falação que não entendi)

Caique – (?) ninguém é alienado a televisão, não tem essa coisa, então... é... todos... todos os

laços, não é uma coisa que fica centrada num lado só. Então meu pai é (?), então ele

participou. Minha mãe também, ela... era ativista, ela é... cidadã em três cidades já, tem o

titulo, entendeu? E vai passando isso pros filhos, entendeu? Pena que é... os outros meus

irmãos não quiseram ser a mesma coisa. Eles não... não vão em manifestação, são

homologados(?). Entendeu?

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Andreia – Seus irmãos não?

Caique – Não, meus irmãos não.

Andreia – Só você?

Caique – Só eu.

Andreia – E o Rui?

Rui – Então, meu pai... é bem... ele não é muito alienado também, como o pai dele, vai pra

manifestação. Minha mãe nem tanto. Minha mãe já é mais... na dela, mais acomodada. Mas

meu pai me incentivou bastante a ir, a fazer, tentar, mudar. E funcionou.

Andreia – E a Maiara?

Maiara – Meus pais de fato não gostam, eles acham que é muita bandaria que tem ai hoje,

mas eles me influenciam a, assim, “você faz o que você achar melhor. Eu não gosto que você

faça, mas você faz o que achar melhor, o que você tem vontade de fazer”.

Andreia – Não tem nenhum parente...?

Maiara – Minha irmã.

Andreia – Sua irmã? Ela incentiva.

Maiara – Minha irmã, ela incentiva muito. Ela é dez anos mais velha que eu e a gente tem

praticamente a mesma cabeça.

Andreia – E ela participa?

Maiara – Participa. Participa junto comigo.

Andreia – E Alani?

Alani – A minha mãe vê tudo pelo lado ruim, que passa na televisão, “ai eles tão quebrando

tudo, não sei quem morreu, não sei quem se machucou”, então ela fica meio assim, só que ela

também tem uma cabeça aberta, ela fala “não, se você quer, você vai atrás.” Tá certo. Meu

pai, ele... participa também, só que não é aquela coisa, não. A minha irmã... tanto faz pra ela.

Marlon – Meu pai, ele é... aquele acomodado. Ele não tá nem ai pra para nada, ele só quer

saber do dele. Agora a minha mãe já é mais ou menos uma vida louca da vida. (risos), (?) ela

quer, ela quer, ela quer, é o momento dela, ela vai ate o fim. Só que como eu falei pra minha

mãe, eu falei “mãe, a senhora fica em casa porque você não consegue (?) bagunça”. Agora

imagina minha mãe vendo eu apanhar de um policial, como que ela ia (?) naquele momento.

Ai eu particularmente falei “mãe, fica em casa, deixa eu vou.” Mas minha mãe sempre

apoiou. Meus irmãos são menores, pequenos, então eles não saem muito pra essas coisas.

Thalita – Os meus pais particularmente não gostam. Eles querem ficar longe de qualquer

manifesto. Mas como eles sabem que eu gosto eles falam “eu não indicam, eu não isso, mas

se é o que você quer, você faz o que achar mais... melhor.”

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Andreia – Luan?

Luan – É assim, o meu pai gosta, só que ele... ele... meu pai é mais com os militares, eles

pegaram a época pós ditadura.

Andreia – Ele é o que?

Luan – Militares. Então meu pai pegou... na época pós ditadura, então fica um pouco aquele...

aquele medo. Minha mãe não pode se manifestar, que é militar, é proibido, é crime militar

fazer isso. Então, ela não gosta e, infelizmente, as vezes ela colabora com a mídia, que a

mídia só mostra o lado dos black blocks, quebra tudo, policial dando tiro na cara de... de

jornalista. E isso que é a versão que assim, o ruim. Tem o lado ruim e o bom. Então, assim, eu

na minha casa sou o único que falo “não eu vou, eu vou mudar, eu vou e pronto”. Meu pai até

fala “meu, você é muito radical, você tem que tomar mais cuidado.” É que eu exploro muito

minha... minha opinião na rede social, que hoje é... sem duvida o lugar onde você consegue

mostrar pra muito mais pessoas. Se fosse gastar esse tempo que eu coloco em cinco minutos o

negocio, curtir e compartilhar, na rua mostrar pra tantas pessoas no Facebook duraria uma

semana, um mês.

(?) – (?)

Luan – Sofri em alguns pontos, pessoas leigas que não conhecem o assunto, mas assim... esse

é o custo que a gente paga por querer revolucionar, por querer mudar.

Andreia – Fabiana?

Fabiana – Meus pais até... eles acham legal, e tal, mas eles tem muito medo, porque sabem

que na rua a gente tá exposto a tudo, ainda mais numa manifestação onde tem muita... muitas

pessoas, você não sabe quem... Olhando pra cara das pessoas você não sabe quem tá lá porque

quer lutar e quem tá lá porque quer zoeira. Então você core risco... cê tá... cê tá no meio cê tá

correndo risco. Meus pais sempre tiveram muito medo disso. É, então. Por isso que... por

exemplo, na Paulista eles não deixaram, quando era pra... as manifestações assim... longe, que

eram as maiores, eles não... não deixavam. Eles falavam “não, é muito perigoso...”

Andreia – Mas eles não participam?

Fabiana – Não. Por... por medo. Por... por ele ter medo.

Andreia – Mas eles apoiam?

Fabiana – Apoiam. Apoiam. Apoiam minha opinião a... a... a tudo, a leis, a todas essas

coisas. Eu exponho minha opinião na minha casa, assim como meus pais expõem, mesmo

cada um tendo a sua, é uma relação bem aberta assim.

Andreia – Armando?

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Armando – O meu pai, o meu pai é bastante a favor disso, inclusive ele tava... teve uma

época que ele tava viajando, ele tava viajando, ele trabalha com carreta, e ele tava com uma

carreta aberta, e tinham varias pessoas, elas tavam andando e caminhando, no meio da pista,

longe de onde ia ter o movimento, ele colocou todo mundo encima da carreta e levou o

pessoal ate lá, o pessoal foi então... e ele foi ate o final acompanhando, como uma escolta,

buzinando, ele foi... então, assim, ele é bastante a favor. Ele já participou de outras vezes

também. Mas assim, nessa questão... da orientação, comigo ele, por exemplo ele sempre fala

“olha, você tem que... vai pra rua, vai fazer alguma coisa vai reivindicar alguma coisa? Só que

você tem que saber primeiro o que você vai reivindicar, porque, é como o professor falou, se

tornou uma moda, “Ah, se todo o resto tá fazendo eu vou fazer também. O pais lá tal tá

fazendo. O estado, né, tá fazendo, estão vou fazer também,” mas, vai reivindicar o que ali?

Tem certeza? Cês tem, é... provas concretas, tudo certinho de que é aquilo que vocês querem,

é aquilo que vocês vão buscar? Todos... a partir do momento em que todos irem buscar pra

um fim só, beleza, agora tava assim, brasileiro já não tava mais sabendo o que reivindicar, o

que buscar. Então ele orientou sempre assim, você quer reivindicar, beleza, mas saiba

primeiro o que você precisa, o que é necessário. Conversa com o pessoal que vai com você e

ai... (?), ele da esse incentivo.

Andreia – Ele não vai, ele vai nesse sentido assim?

Armando – É, nesse sentido assim. Agora ele não participa tanto, mas antes ele participou

bastante.

Andreia – Milton?

Milton – É, na minha casa também. Minha mãe tem uma cabeça bastante aberta, como você

falou, ela apoia bastante. Ela não foi nessa, mas ela foi em outras também. Ela veio de perua

ate aqui a pé numa manifestação, e ela apoia bastante. Meu pai eu não sei direito, por que eu

não moro com ele, mas ele fica naquela... A minha vó tem ficado com um certo medo, mas ela

foi também.

Andreia – A vó também?

Milton – Minha vó foi.

Andreia – E o Cleverson?

Cleverson – Então, é... Meu pai, por mais que ele não tenha deixado eu ir nas manifestações

do ano passado, ele participou das Diretas Já!, sabe, mas acho que ele acabou criando isso

na... na cabeça dele, sabe, que... manifestação foi ate esse período, que depois é só bagunça,

entendeu? Então ele não consegue acreditar que o que aconteceu no ano passado são

manifestações. Que aquilo ali é só baderna e só bagunça.

Andreia – Aqui tem um pouquinho do que eu falei que eu ia pegar um gancho no que o

professor José tava falando assim, né, e... se vocês vivem nesse ambiente, que vocês falam

assim, nesse ambiente de cultura, de participação, de participar mesmo, de reivindicar os

direitos, e esse ambiente pode ser em casa, pode ser na escola, e assim, o que eu quero saber,

se a escola proporciona isso pra vocês ou é em casa? Só também?

Caique – Só em casa acho...

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Fabiana – Essa escola que eu estudo... que eu estudei, que eu estudei, o Otto, infelizmente

não proporcionava.

Andreia – Vocês participam do grêmio?

Fabiana – Não.

(murmúrios de “não”)

Andreia – Nenhum de vocês?

Milton – Na nossa escola, como é... o dia... o dia todo, a gente tem... clubes, que quem faz

tudo, os trabalhos do clube somos nós. Então é como se fosse um grêmio, também...

Andreia – Uhum. Mas, assim, essa questão das (?) é... é... não... não é, assim, não é, a escola

não tem essa (?) de cultura de participação, do coletivo, não. São professores dos lados, é isso

que voes estão falando pra mim? Eu to falado pra poder entender. Que colocam as coisas, que

não... não é a maioria, ou é a maioria?

Luan – A escola... só alguns professores da questões individuais (?), não sei o que acontece...

dentro, por causa que ela não pode... vamos supor, fazer um movimento que a escola inteira

pode se manifestar, eu não sei porque...

Andreia – A gente não pode?

José – Então, Andreia, nós enquanto professores, então, eu falo por mim, eu... eu noto que

tem muito gestor, diretor de escola, que tem medo de ter (?), tem medo de ouvir o que vocês

tem a falar, tem medo de... de que vocês estejam pautados em coisas que são realmente

necessárias pra vocês naquele momento, ai veta a escola de ter um grêmio. É isso o que

acontece. Desculpa a (?)...

Andreia – Vocês precisam participar do grêmio...

Fabiana – É... É realmente isso.

Andreia – Deixa eu falar uma coisa pra vocês, vocês precisam participar do grêmio, porque

assim...

Maiara – Eu já participei. Esse ano na minha escola eles... proibiram o grêmio. Teve varias

chapas que se candidataram e ai... a diretora simplesmente falou que não ia ter mais. Acabou,

não ia ter mais grêmio e ia ser aquilo ali mesmo. Eu já... eu já participei. É... Ate aconteceu

algumas coisas... foi ano... não sei... acho que eu tava na oitava serie... não me lembro, mas...

não era o grêmio da escola, acho que um professor fez um projeto, e pegou os alunos, eu era

vice-presidente, e a gente conseguiu... fazer muita coisa, a gente arrecadou chocolate pra dar

pras crianças mais carentes da escola, entre outras coisas que s gente conseguiu fazer lá...

Andreia – Só mais um pouco que a gente já tá acabando. A não ser que vocês queiram falar

bastante, ne?

Eriberto – É... Andreia, só um... o que eu percebi, assim, eu to na educação ha apenas uns

dois anos, eu comecei no dia 15 de março de 2013.

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Andreia – E você tá há dois anos eu estou... eu tenho um número dois mais um quatro do

lado.

Eriberto – Só? (risos) Vinte e quatro anos!

José (professor) – Temos.

Eriberto – É... Eu percebo que... em apenas dois anos eu pude perceber muita coisa. Muito

dos professores, principalmente os que estão a muito tempo na rede, eles evitam assuntos

polêmicos, não só a paralisação, os assuntos polêmicos que tiveram ano passado, mas alguns

professores, tá aqui os alunos que... eu tava explicando matéria no ano passado, e eu sou

professor de artes, ai o menino de repente virou assim, na oitava serie, e falou “professor,

como que coloca uma camisinha?”

Alani – Ai meu deus.

(risos)

Eriberto – Não, meu... menino não sabe, é melhor eu ensinar pra ele como que coloca uma

camisinha, do que ele ter uma AIDS no dia de amanhã.

Andreia – Claro.

Eriberto – E... e alguns professores evitam, então “não, não fala de sexo na sala de aula. Não

fala da parali... não fala de assunto polemico.”

José – Ou diante de uma pergunta dessa manda o professor mediador.

Eriberto – Entendeu?

Andreia – Espera... (?)

Marlon – Como o professor citou, tinha um professor na nossa escola, de história, o professor

deve conhecer, que ele era um revolucionário, e a partir do momento que teve essa

paralização, greve e tudo o mais, ele ensinou o que que fo... o que que foi a revolução no

começo, qual que foi as parada do começo, desde a época que ele... tava lá, da época que ele

era revolucionário, ate hoje e ele incentivava. Mas é claro que não pode... não pode se

divulgar em escola, que se não, como o professor fala ali, tem a... eles acabam...

José (professor) – Repressão.

Marlon – É a... a repressão, mas mesmo assim ele incentivava, eu muitas vezes fui

incentivado por ele também a... fazer a do passe livre. Ele falou assim “não, eu vou tá lá

também”, a pesar que eu não vi ele lá, mas ele falou “eu vo tá lá também, e vo ajudar vocês.”

Andreia – Muita gente, né?

Marlon – Mas ele... ele sim foi um professor que incentivou a revolução e tudo o mais, as...

as paralizações e tudo o mais.

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Luan – É... Como um dos professores falou... eu vejo na minha escola, assim, mudou a gestão

agora, mudou o diretor, antes o pessoal tinha um pouco mais de liberdade em tudo, nesse

assunto... vamos supor, de sexo, era um pouquinho mais aberto, hoje pegou uma diretora um

pouco mais antiga, não sei, travou um pouco mais. Os professores que conversam, debatem

sobre assuntos... é... assunto polêmicos, são os mais novos, os mais antigos já evitam demais,

não sei o porque disso, mas da pra perceber a mudança.

Andreia – Então a minha pergunta é, então a educação formal, a escola mesmo, que vocês

estudam, vocês não são assim por conta dessa escola que tá ai?

(Muitos) – Não...

Andreia – Vocês são participativos por conta da educação informal, do que vocês

aprenderam ai fora, com os pais... é isso?

Luan – A escola ate evita falar sobre politica, uma coisa que eu achei absurda, ate hoje eu

não... eu não... não ace... aceito, ver uma professora de português falar “politica não se

discute”. Foi a pior coisa que eu já ouvi na minha vida, e uma professora falou que politica

não se discute, dentro da escola. Então, essa professora tá lá ate hoje, e ate hoje ela evita falar

com os alunos. Então assim, não foi grêmio que fez a minha cabeça, não foi escola que fez a

minha cabeça... o... os meus pais foi uma coincidência, mas foi o que eu vi no dia a dia, esse...

todos nós que estamos aqui... essa... vontade de mudar, que não... Brasil não dá mais como tá.

Thalita – E só pra... Pegar um pouco do que eles falaram...

Andreia – Essa é a ultima pergunta que eu to fazendo, tá, se vocês já quiserem adiantar

alguma coisa pra falar...

Thalita – Sobre... os educadores...

Andreia – Eu só... vou fazer um pedido depois.

Thalita – E a escola em si. Esse professor que ele comentou que é o professor de historia, ele

é um comunista, ele explica pra você direitinho o que tá acontecendo, pra onde foi o dinheiro,

como o povo é... que que acontece, a escola que ele trabalhava era uma escola particular e o

que que aconteceu antes lá com os alunos dele, o... o que realmente acontece a escola pegou e

demitiu ele. Só que... o que houve ali, os alunos gostavam do que ele tava falando, não era o

que o outro professor de historia falava, “ah, é isso, a copia legal e tal”, ele falava a verdade,

os aluno... a escola inteira se reuniu e mandou a direção chamar ele. A direção triplicou o

salario dele, só que ele falou “não, eu não vou voltar.” Ai ele mudou de escola.

Andreia – Como é que foi esse movimento? Foi por meio... foi chamado por meio da internet

também? Poer meio das redes?

Thalita – Não vou saber, assim, detalhadamente, eu sei que foi a escola. Os alu... não, a

escola não, os alunos da escola...

Andreia – Sei, mas como que eles organizaram esse movimento, essa manifestação? Pela

volta do professor?

Thalita – Ah, teve uma rede social, assim, no meio.

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Andreia – Cês...

Marlon – Tudo é a rede social, ne...

(?) – Tudo começou numa rede social...

Andreia – Cês querem complementar com alguma coisa, assim, que vocês pensam, que vocês

queriam falar e não falaram?

Luan – (?) um caminho que vai... vai... a população tá sendo dividida, principalmente, eu que

vejo muito assuntos policiais e essas coisas, você vê muita violência, é marido que estuprou a

mulher, mata a filha... é muito... em Mairiporã teve dois casos agora, estuprador que ia ma...

estuprou a menina. Então assim, eu acredito... eu... eu não tenho esperança, sinceramente, no

Brasil, eu... pela minha cabeça tenho... pessoa... pro exterior, é muito diferente lá. Não que a

politica é diferente, as pessoas são diferentes, a cabeça, vamos supor, aqui, com nos Brasil, a

gente... acreditamos, o privilégio que conseguimos conversar diversas coisas, temos opinião,

acredito não sermos... somos... influenciados pela mídia. A... agora, em quantos nos estamos

aqui? Quantos que você selecionou pra vim estar aqui? Que participaram, que fizeram, que

não fizeram aquelas besteiras “ah, olha a dezenove, olha a vinte”, que não teve a educação de

responder novamente. Então assim, lá todo mundo acredit... é... igual a gente, por isso que

muda. Aqui nunca vai mudar. Então assim, eu... não tenho esperança no Brasil, acredito que o

Brasil vai caminhar pra uma guerra social em poucos... em poucos anos, uma guerra civil e

logo, logo eu vou embora. Eu não tenho mais esperança, eu não tenho mais esperança.

(risos e todos falando ao mesmo tempo)

Andreia – Um de cada vez. Quem vai falar primeiro?

Marlon – Uma coisa que eu queria citar é exatamente sobre o passe livre, que foi a primeira...

o primeiro protesto que eu fui fazer e que eu falei “não vou mais”. Porque quebraram a

estação, e na que quebraram a estação, os policiais que vieram que era pra separar e acalmar,

vieram pra bater, vieram pra machucar, e pessoas que não tinham nada a ver. Só pra você ter

uma ideia nunca teve um... assim, eu particularmente falando, nunca vi uma policial ROTA

em Morato. Vieram a ROTA pra bater em mim, sendo que eu tava tentando ajudar, pessoas

que estão tentando melhorar. Tipo... você pensa assim consigo mesmo, você quer fazer a

melhoria e vai apanhar? Não vai fazer melhoria. Como ele mesmo falou, vai acabar na guerra

civil, vai acabar chegando nisso. Guerra no Brasil.

Alani – Foi banido...(?)

(?) – Já tá uma guerra, não tá?

Marlon – É, guerras em silencio.

Andreia – Vamo lá Alani.

Alani – Foi (?)...

Andreia – Não estou te ouvindo, desculpe.

Alani – Oi?

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Andreia – Eu não estou ouvindo.

Alani – Foi bonito ter citado isso da policia em Morato, porque... amigos meus, de Jundiaí, já

chegou em mim e já perguntou “em Morato não tem delegacia? Porque eu... nunca vi um...

carro de policia fazendo ronda. Nunca vi. Só vejo policiais na hora que é pra bater no povo”.

Ou seja, pra fazer a... o que ele são pagos pra fazer eles não fazem, agora na hora que é pra

espancar todo mundo eles tão lá?

Andreia – Cleverson.

Cleverson – Como o Luan disse, eu também acredito que vai ter em poucos anos uma guerra

civil, e a gente vê que o Brasil é... é um país assim... com... tabus desnecessários, e... que... só

vai haver mudanças quando... é... as pessoas começarem a mudar. Não tem como a gente, é...

reivindicar algo se não tem pessoas... é... preparadas pra isso, entendeu? Então, é... tem

pessoas que realmente querem mudanças que realmente querem reivindicações, tem pessoas

que... é... para... pedir as suas reivindicações usam da... da violência. Então é isso, é... o Brasil

precisa de mudança nas pessoas. Eu... eu acredito numa mudança daqui muitos anos no Brasil,

mas que isso vai começar a partir de pessoas que pensem como nós, ou... quem tenham

pensamentos parecidos.

Fabiana – Eu acho que enquanto as pessoas se importarem pela opção sexual, pelo que a

pessoa usa, pelo cabelo, pela roupa, pela cor da pele, pelo modo de pensar e de agir o mundo

não vai mudar, vai continuar tendo guerra. E indepen... se você não ama o próximo, se não

existe amor, não vai... não tem como acabar a guerra. Ninguém ama o próximo, ninguém se...

se... se sente mal ao ver um mendigo no chão, “ah, um mendigo, ah, ah outro mendigo, ah”.

Tá... mas, eai? Paga um lanche, ajuda com alguma coisa, fala assim “não, vem, vamo... vou te

levar pra tomar um banho.” Sei lá, tenta ajudar. Ninguém quer ajudar, ninguém ama o

próximo, cada um só... ama a si mesmo, ninguém ama mãe, ninguém ama pai, é filho que

batia em pai, que mata pai. A gente só vê desgraça na TV, não existe amor, não tem amor.

Enquanto isso não mudar vai continuar tendo guerra, vai continuar tendo roubo, vai

continuar... do jeito que tá. Infelizmente.

José – Posso falar uma coisa pra essa pessoa? Fabiana Ariel, gente boa é uma espécie em

extinção. Você é gente boa.

Fabiana – Ah, brigada.

Andreia – Todos eles aqui, né?

José – Que com essa sua ideia ai em si, confere, sabe? O mundo precisa de amor. Parabéns,

viu.

Andreia – Deixa só ele falar, Caique.

Caique – Eu ia falar?

Andreia – Você falou junto...

(risos)

Caique – Eu ate esqueci... É... ia falar assim, que o problema do Brasil é a população

corrupta, porque o brasileiro é uma massa de aproveitadores, poucas pessoas, é... são como

nós. E assim, eu vi...

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Andreia – Você acha que o brasileiro?

Caique – Eu acho que na real é o brasileiro, é o brasileiro.

Milton – Mas é uma questão histórica.

Caique – É... porque quando os portugueses chegaram aqui eles deram espelhos, e a gente...

fez o que? Vamos pegar o espelho e vamo (?). Eles também não quiseram brigar, porque

sabiam que iam morrer. Ne... nessa parte. Então, ó, o brasileiro, ele... é... se contenta com

pouco, entendeu? Se... se contenta com pouco. Isso dai... isso dai é de muito tempo já.

Fabiana – Eu acho que isso é mais a má fé da... que seria a má fé dos portugueses, sebe? Tipo

de... não saber que... nessa época. Já... já é o que eu falo do amor ao próximo e da caridade

de... querer o bem. Eles fariam qualquer coisa em troca, mesmo sabendo que eram pessoas...

Caique – Não tinham segundas intenções.

Fabiana – É. Saber que eram pessoas simples que tinham conhecimentos maravilhosos da...

sobre o... sobre a terra, sobre o Brasil. E só...

Andreia – Mas vocês acreditam que vocês tem que continuar lutando pelos direitos?

Todos – Sim. Com certeza...

Andreia – De alguma forma.

(risos)

Andreia – Vocês querem falar? Queriam falar? Eu só queria pedir uma coisa pra vocês, só

fazer uma pergunta. Porque se não, não acaba minha... É... vocês tem registro, dessa

participação de vocês? É... fotos... alguma coisa?

Alguns – tem.

Andreia – E alguns de vocês podem me fornecer pra poder colocar no trabalho?

(?) – pode.

Fabiana – Eu posso te mandar as fotos de quando o teto da escola caiu, que aconteceu todas

essas coisas lá.

Andreia – Da participação...

Andreia – Né. Se vocês puderem, assim... se tiver na imagem muitas pessoas não tem

problema, mas, de uma pessoa ou outra... De vocês não tem problema porque vocês já

autorizaram. Agora... não vou divulgar no Facebook nem na internet não, tá gente. É pra

colocar no trabalho mesmo, tá bom? Então, se vocês puderem, depois, a hora que terminar

aqui eu passo o... meu endereço de e-mail, se vocês puderem mandar eu coloco... Tá? Agora

vamos indo.

(risos)

Andreia – Tá bom? Quem mais? Querem encerrar? – Quer fazer uma pergunta.

Marlon – Eu queria fazer uma pergunta, mas é uma pergunta mais pessoal, como ele falou...

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Andreia – Pra mim ou pra eles?

Marlon – É pra todos aqui.

Andreia – Ele vai fazer uma pergunta pra todos, tá bom?

Marlon – Como ele falou, a guerra... a guerra civil tá mais ou menos uma guerra fria, uma

guerra no silencio, mas quem vocês acham se... que a culpa é do poder que tá lá em cima ou

das pessoas que estão em baixo que estão fazendo essa guerra?

Luan – Eu discordo com você que esta sendo uma guerra fria. Quem vê, que nem, muitos

assuntos dos meus pais não tá uma guerra fria, tá ridículo a situação própria, o governo é

culpado por isso. O governo, que é assim... hoje quem tá lá em coma no poder é quem batia

de frente com a ditadura atrás. É só o corrupto que tá lá em cima. Infelizmente nós temos

agora na... nos cargos pra presidencialista dois ladroes. Uma terrorista e o out... outro que

carregava cocaína... pra casa dele. Então, assim, o Brasil não tem muita opção. Então assim, a

guerra, a culpa é dos governantes, não adianta você tirar o peão, que o peão não faz isso. É o

cabeça, você tem que tirar de cima, e isso, é... a gente vai mudar com as eleições.

José (professor) – Só... Andreia, só (?) de informação pra vocês, quem manda no país, tem

um terceiro escalão que manda no país. Por incrível que pareça, pessoal, são pessoas

extremamente inteligentes, que ocupavam cargos importantes demais em Brasília, e eram

todos revolucionários, na época da ditadura.

Andreia – Fala.

Alani – Eu discordo dele, porque o povo brasileiro é a maioria, então porque uma pessoa

manda no pais inteiro quando a multidão quer... mudar.

Luan – Foi a gente que colocou ela lá.

Alani – A gente... A gente que elege o que faz mal.

Maiara – Eu acho ambos tem a sua parcela de culpa. Nós por tarmos reelegendo uma pessoa

que não mudou em nada, né, não abriu portas pro novo, pra mudança, e eles lá continuam

fazendo o que sempre fizeram, e a gente só bate na cabeça, deixando isso acontecer, a culpa,

muita... cinquenta por cento da culpa é nossa, porque a gente abaixa a cabeça e deixa

acontecer, a gente não faz nada pra mudar isso.

Fabiana – Eu acho que a culpa também é do poder. Quando você... se vê num... numa

posição, eu presidente de um pais, você... por mais... e ainda com foco no dinheiro, que existe

muito... ganha muito. Que que... presidente pouco não ganha. Então... então você... tudo bem,

lutou na ditadura e tal, quando as pessoas se colocam ali, se vem no poder, num... de

comandar um pais, e no tanto de dinheiro que ele tá tendo, ele vai tá cagando pra quem tá lá

morto, pra quem tá lá esperando no hospital, ou pra quem tá... como... no nosso caso, assim,

estudando, e vai prestar uma FUVEST e olha aquilo, aquela questão de química que fala

assim “meu, eu nunca vi isso na minha vida”, como que o governo que, eu estudo numa

escola do governo, escola publica, e eu vou prestar uma prova do governo e eu não tenho... eu

tive essa aula, não tive essa matéria.

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Andreia – Essa é uma das coisas que mais responderam, que eu tive mais de... respostas,

assim, que... esses movimentos, essas manifestações são uma forma de se fazer ouvir. Uma

forma de se fazer ouvir. Foi uma das respostas que mais... foram colocadas lá. De mais de mil

respostas assim, né, e.... que... que por conta também das redes sociais essa.... esse... esse

ouvir seria em maior proporção. Não com essas palavras que eu to falando, cada um falou do

seu jeito, foi falando, mas falaram isso. Então, vocês concordam com isso? Vocês acham que

é uma forma de se fazer ouvir? Cês acham que ninguém ouve?

Luan – Parte sim, parte não.

Marlon – (?) povo, que pode mudar é o povo. Que... que ela mesma citou, sobe a cabeça

deles, eles só quer saber de dinheiro, não quer saber do povo.

Eriberto – Capital que manda.

Marlon – Capital que manda.

(falam ao mesmo tempo.)

Milton – Agora no caso do ano passado não. (?) coisa, que ficou meio confuso. Achei que se

fosse um... objetivo em comum, sim, se faz ouvir. Nesse caso...

Marlon – Que nem ela citou, que reuniram um grande grupo, que nesse grande grupo, claro,

ninguém ia ganhar mais do que ninguém, ia ganhar a melhoria da escola e todo mundo se

reuniu e fez uma coisa boa, que foi a construção da escola que deu tudo certo, agora se é um

só que sabe que vai ganhar dinheiro e tudo o mais, ele fala assim “não, eu quero saber do meu

dinheiro, eu quero saber da minha família, eu quero saber da minha parte, o resto eu não to

nem ai, se vai morrer na guerra lá, vai morrer na guerra, não to nem ai”. A maioria que eu,

particularmente penso que o presidente vai tá pensando numa hora dessas.

Fabiana – Eu acho que a manifestação é um modo de se ouvir, de se fazer ouvir sim, porque,

por exemplo, um grupo grande de mulheres são a favor do aborto, então vamos lá gritar que

somos a favor do aborto, um grupo de pessoas, jovens, adultos, velhos são a favor da

maconha medicinal e da maconha como venda então vamos lá e vamos gritar que somos a

favor disso, e... somos a favor do passe livre, então é... é um modo de muitas pessoas com as

mesmas ideias se juntarem e gritar ao mundo que querem. Mesmo tendo, infelizmente,

pessoas que não tão... nem ai.

Luan – Concordo com ela que essa é uma forma de... as pessoas te ouvirem, mas não é uma

forma eficaz, por causa que, assim, mesmo que ele te escuta, no outro dia ele vai...

Fabiana – Te ignora.

Luan – Ele vai pro trabalho... o que você falou ou não... os... nos... o povo brasileiro ainda

não percebeu que nos temos o poder. Falta uma coisa simples pra gente começar a melhorar,

um professor, qualquer outro cargo, se você não bater a meta vai acontecer alguma coisa,

você vai ser prejudicado com aquilo, cê vai ter desconto, cê vai ter... pode ser mandado

embora, alguma coisa, falta isso na nossa mentalidade, se a gente cobrar ele vai mudar, se.. se

ele não mudar a gente derruba ele, é isso que falta.

Andreia – Gente... Fala.

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Rui – A manifestação é uma forma de se ouvir no inicio, mas a mídia faz o vinculo errado.

Ela... tipo... assim, vamo (?), ai mostra uma coisa totalmente nada a ver e ponto de vista

diferente e o pessoal que tá assistindo TV vai e pensa que a manifestação é uma coisa

totalmente diferente. Principalmente..

Andreia – Mas isso ocorre também nas redes?

Rui – Ocorre. As redes... bastante... bastante. (?) a televisão.

Andreia – (?)

Maiara – Com certeza.

Rui – Voltando ao ponto que vocês falaram do poder, que... que tem que mudar quem tá no

poder, como se muda quem tá no poder? Como se escolhe alguém que tá no poder? Tem que

estudar, tem que ter informação, só que o governo fez uma coisa muito elaborada, ele não deu

informação pra pessoa no... na escola publica, o ensino é ruim, como que a pessoa vai

escolher? Gente que quer... manifestar, quer mudar o partido politico, mas não sabe em quem

tá votando. Não sabe... as propostas politicas de quem ele quer eleger. Como a gente faz

assim? Entendeu? Foi uma coisa muito bem feita. O povo que mudar, só que o povo não pode

porque não tem educação. Então... como quer mudar de cima?

Andreia – Isso é histórico?

Rui – Oi?

Andreia – Isso é histórico, que você esta dizendo?

Rui – Isso. Tipo assim, povo que vai querer mudar pra mudar tem que tirar o politico e

colocar um bom projeto para a educação, só que pra eu tirar o politico de lá tem que saber

quem eleger, pra saber quem eleger tem que ter educação, pra ter educação tem que ter

alguém no poder que da uma coisa... uma formação pras boa pessoas, isso... tipo... não bate.

Fabiana – Quanto mais pessoas que pensam como nós no... Brasil, o... é pior pro governo,

então eles querem... quanto mais ignorantes, mais que... manipula... manipulados eles sejam...

então eles... ele preferem esse tipo de pessoas, as pessoas fáceis de se manipular.

Marlon – E a mídia alieni... aleani...

Fabiana – Alieniza.

Marlon – Alieniza a gente, pessoas. Porque, tipo, a gente fica... como ele falou, a gente não

sabe quem escolher certamente. A gente sabe... ai alguém sabe o que a Dilma fez no passado

que a gente (?)? Ninguém sabe, tá muito pela propaganda, tá muito pela internet. Que nem por

exemplo a... a propagando do... não sei se ele é vereador, prefeito, não sei o que ele é, do

Tiririca, ninguém sabe... falaram que ele nem sabia ler e escrever direito. E ele fazendo

propaganda brincando, zoando, e a gente, ficou tudo na nossa cabeça e a gente votou nele. Ele

tá lá ganhado dinheiro.

Andreia – Queria dizer uma coisa pra vocês que eu to adorando a conversa, mas assim, a

gente veio de longe, tá precisando ir embora, né, e a gente precisa encerrar, então acho que

o... pedir pra vocês que quem quiser falar que seja rápido, falar já encerrando, tá bom?

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Fabiana – Eu queria falar assim, que a Dilma foi eleita, assim... pelo... graças a um empurrão

do Lula, né, eleita, primeiramente.

Andreia – (?)

Fabiana – É.

(?) – Bolsa família...

Fabiana – É, então.

Andreia – Nã, nã não. Vamos falar... vamos deixar o foco, José, vou te tirar daqui.

(risos)

Andreia – Se a gente for saindo muito daqui a pouco vamos começar a discutir outros

assuntos... e a gente precisa de foco agora. Vamo lá.

Fabiana – Não, pra mim, a manifesta... a... internet com a manifestação sempre foi muito

importante e sempre ajuda, e... e mesmo com a... com... por mentiras assim com... falsas

noticias, sempre é bom e sempre ajuda. Porque é uma... máquina de fácil acesso, assim... a

gente se comunica rápido e fácil e... acabou.

(risos)

Thalita – E que enquanto tiver um dispositivo móvel em suas mãos sempre haverá rede,

então, é uma coisa que pra acabar é quase... im... inima... não tem como pensar.

Rui – O povo tem o direito que... você é o povo, e o povo, o povo é deus. O que ele quer ele

muda. Quando... entrar isso, a gente vai mudar e vai revolucionar tudo.

Milton – É bom, é pratico, é rápido, acho que nós temos uma grande arma, né? E ós temos

que usar da melhor forma possível.

Marlon – (?) ao meu ver, como que a gente vai conseguir fazer melhoria, se tipo, o que o

professor falou... do MC que fez o funk, que o governo rapidamente tirou, porque não tá

prejudicando ele, “tá machucando meu calo eu vou tirar, se não...” Nois tem armas que

controlam o governo.

Andreia – O (?) tem uma coisa legal mas eu (?), tá? Vamos encerrar. Vamos encerrando. E é

importantíssimo o que você tava falando (?) a gente vai ficar aqui até amanha. Mais alguém?

Gente, olha, eu queria agradecer muito, muito mesmo, vocês são... de mais. Adorei vocês.

Então, agradeço a Thalita, o Marlon, a Alani, a Maiara, o Rui, o Caique, o Luan, a Fabiana, o

Armando, o Milton e o Cleverson. Muito obrigada pela participação, assim, foi excelente,

contribuiu muito com o pensamento de vocês, pra gente saber, e pras pessoas saberem que o

jovem (?) tem voz também. Pensamento, né? E... quer dizer, que eu ia falar (?), e acho que a

gente tem que pensar mais por ai, vocês tem que ir para o grêmio, tem que fazer... participar.

E fazer com que os colegas participem, tá? Obrigada, e assim, eu vou pedir para baterem

palmas pra vocês pela participação, mas antes de encerrar, Thiago, eu queria que o Caique,

que compôs a musica dele ai, pra gente... né... Mas vamos bater palmas pra vocês pela

participação.

(Palmas)

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Andreia – (?) a musica dele da pra... pra encerrar.

(comentários baixos)

Caique – Essa musica, só presta bem atenção na letra dela, só.

Andreia – Mas canta alto pra... pra eles conseguirem ouvir.

Caique – (Cantando)

E lalaiala...

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ANEXOS

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ANEXO 1 - ÍNDICE PAULISTA DE VULNERABILIDADE SOCIAL – IPVS – 2010

E DADOS SOCIOECONÔMICOS

Município de Caieiras

O Município de Caieiras, que integra a Região Metropolitana de São Paulo,

possuía, em 2010, 85.548 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes

mostra que a renda domiciliar média era de R$2.333, sendo que em 15,6% dos domicílios não

ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores demográficos, a

idade média dos chefes de domicílios era de 45 anos e aqueles com menos de 30 anos

representavam 13,2% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 12,9% tinham

até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 8,7% do total da

população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).

MUNICÍPIO: CAIEIRAS População estimada 2014 (1) 94.516 População em 2010 86.529 Área da unidade territorial (Km²) 97.642 Densidade Demográfica (hab./Km²) 900.37 Código do Município 3509007 Gentílico Caieirense Prefeito ROBERTO HAMAMOTO

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL - IDHM IDHM 1991 0,545 IDHM 2000 0,687 IDHM 2010 0,781

PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS - 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 336.989 mil reais PIB a preços correntes 2.294.002 mil reais PIB per capita a preços correntes 25.821,43 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 2.456 mil reais Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 769.106 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 1.185.451 mil reais

Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística

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Município de Cajamar

O Município de Cajamar, que integra a Região Metropolitana de São Paulo,

possuía, em 2010, 63.477 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes

mostra que a renda domiciliar média era de R$1.910, sendo que em 18,1% dos domicílios não

ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores demográficos, a

idade média dos chefes de domicílios era de 42 anos e aqueles com menos de 30 anos

representavam 22,2% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 24,7% tinham

até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 9,6% do total da

população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).

Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística

MUNICÍPIO: CAJAMAR População estimada 2014 (1) 70.710 População em 2010 64.114 Área da unidade territorial (Km²) 131.386 Densidade Demográfica (hab./Km²) 488,18 Código do Município 3509205 Gentílico CAJAMARENSE Prefeito DANIEL FERREIRA DA FONSECA

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL - IDHM IDHM 1991 0,501 IDHM 2000 0,634 IDHM 2010 0,728

PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS - 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 1.076.557 mil reais PIB a preços correntes 5.623.205 mil reais PIB per capita a preços correntes 85.031,31 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 44 mil reais Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 1.562.488 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 2.984.117 mil reais

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Município de Francisco Morato

O Município de Francisco Morato, que integra a Região Metropolitana de São

Paulo, possuía, em 2010, 153.494 habitantes. A análise das condições de vida de seus

habitantes mostra que a renda domiciliar média era de R$1.391, sendo que em 27,7% dos

domicílios não ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores

demográficos, a idade média dos chefes de domicílios era de 43 anos e aqueles com menos de

30 anos representavam 19,3% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 20,0%

tinham até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 10,2% do total

da população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).

MUNICÍPIO: FRANCISCO MORATO População estimada 2014 (1) 166.505 População em 2010 154.472 Área da unidade territorial (Km²) 49.001 Densidade Demográfica (hab./Km²) 3.147,80 Código do Município 3516309 Gentílico MORATENSE Prefeito MARCELO CECCHETTINI

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL - IDHM IDHM 1991 0,444 IDHM 2000 0,571 IDHM 2010 0,703

PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS - 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 68.454 mil reais PIB a preços correntes 1.143.641 mil reais PIB per capita a preços correntes 7.256,47 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 45 mil reais Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 169.722 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 905.420 mil reais

Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística

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Município de Franco da Rocha

O Município de Franco da Rocha, que integra a Região Metropolitana de São Paulo,

possuía, em 2010, 122.730 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes

mostra que a renda domiciliar média era de R$1.735, sendo que em 21,2% dos domicílios não

ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores demográficos, a

idade média dos chefes de domicílios era de 44 anos e aqueles com menos de 30 anos

representavam 17,9% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 18,6% tinham

até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 9,3% do total da

população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).

MUNICÍPIO: FRANCO DA ROCHA

População estimada 2014 (1) 143.817 População em 2010 131.604 Área da unidade territorial (Km²) 132.775 Densidade Demográfica (hab./Km²) 980,95 Código do Município 3516408 Gentílico FRANCO-ROCHENSE Prefeito: FRANCISCO DANIEL CELEGUIM DE MORAIS

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL – IDHM IDHM 1991 0,494 IDHM 2000 0,628 IDHM 2010 0,731

PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS - 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços

correntes 239.096 mil reais

PIB a preços correntes 2.194.091 mil reais PIB per capita a preços correntes 16.234,49 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços

correntes 11.288 mil reais

Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 855.821 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 1.087.886 mil reais Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística

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Município de Mairiporã

O Município de Mairiporã, que integra a Região Metropolitana de São Paulo,

possuía, em 2010, 77.238 habitantes. A análise das condições de vida de seus habitantes

mostra que a renda domiciliar média era de R$2.561, sendo que em 20,1% dos domicílios não

ultrapassava meio salário mínimo per capita. Em relação aos indicadores demográficos, a

idade média dos chefes de domicílios era de 46 anos e aqueles com menos de 30 anos

representavam 12,1% do total. Dentre as mulheres responsáveis pelo domicílio 13,3% tinham

até 30 anos, e a parcela de crianças com menos de seis anos equivalia a 7,7% do total da

população. (http://indices-ilp.al.sp.gov.br/view/index.php).

MUNICÍPIO: MAIRIPORÃ

População estimada 2014 (1) 90.627 População em 2010 80.956 Área da unidade territorial (Km²) 320.697 Densidade Demográfica (hab./Km²) 252,44 Código do Município 352502 Gentílico MAIRIPORENSE Prefeito MARCIO CAVALCANTI PAMPURI

ÍNDICE DE DESENVOLVIMENTO HUMANO MUNICIPAL - IDHM IDHM 1991 0,533 IDHM 2000 0,682 IDHM 2010 0,788

PRODUTO INTERNO BRUTO DOS MUNICÍPIOS – 2012 Impostos sobre produtos líquidos de subsídios a preços correntes 169.731 mil reais PIB a preços correntes 1.354.340 mil reais PIB per capita a preços correntes 16.103,15 reais Valor adicionado bruto da agropecuária a preços correntes 333 mil reais

Valor adicionado bruto da indústria a preços correntes 392.884 mil reais Valor adicionado bruto dos serviços a preços correntes 791.392 mil reais

Fonte: 2014 IBGE - Inst. Brasileiro de Geografia e Estatística