a paisagem como instrumento de avaliação do canal coqueiros

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  • 0

    INSTITUTO FEDERAL DE EDUCAO, CINCIA E

    TECNOLOGIA FLUMINENSE

    LICENCIATURA EM GEOGRAFIA

    A PAISAGEM COMO INSTRUMENTO DE AVALIAO DO

    CANAL COQUEIROS: DA INVERSO DA FUNCIONALIDADE

    URBANA A DEPENDNCIA RURAL

    MIQUIAS CHAFFIN CEZARIO

    VICTOR DOS SANTOS SOUZA

    Campos dos Goytacazes/RJ

    2012

  • 1

    MIQUIAS CHAFFIN CEZARIO

    VICTOR DOS SANTOS SOUZA

    A PAISAGEM COMO INSTRUMENTO DE AVALIAO DO

    CANAL COQUEIROS: DA INVERSO DA FUNCIONALIDADE

    URBANA A DEPENDNCIA RURAL

    Monografia apresentada ao Instituto Federal de

    Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense como

    requisito parcial para a concluso do curso de

    Licenciatura em Geografia.

    Orientador: Jos Maria Ribeiro Miro

    Bacharel em Geografia/UFRJ

    Campos dos Goytacazes/RJ

    2012

  • 2

    MIQUIAS CHAFFIN CEZRIO

    VICTOR DOS SANTOS SOUZA

    A PAISAGEM COMO INSTRUMENTO DE AVALIAO DO

    CANAL COQUEIROS: DA INVERSO DA FUNCIONALIDADE

    URBANA A DEPENDNCIA RURAL

    Monografia apresentada ao Instituto Federal de

    Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense -

    Campus Campos Centro, como requisito parcial para

    a concluso do curso de Licenciatura em Geografia.

    Aprovada em 08 de Maio de 2012

    Banca Avaliadora:

    ____________________________________________________

    Prof. Jos Maria Ribeiro Miro (Orientador)

    Bacharel em Geografia/IFF Campos

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense

    ___________________________________________________

    Prof. M.Sc. Ricardo Pacheco Terra

    Mestre em Cincia Animal/IFF Campos

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense

    _________________________________________

    Prof. M.Sc. Maurcio Guimares Vicente

    Mestre em Geografia (UFF)

    Instituto Federal de Educao, Cincia e Tecnologia Fluminense

  • 3

    AGRADECIMENTOS

    Em primeiro lugar queria agradecer a Deus por ter me ajudado a concluir mais essa

    etapa em minha vida. Agradeo aos meus pais Reginaldo Trindade Cezario e Mrian

    Ramos Chaffin Cezario por me apoiarem e me incentivaram durante todo o curso de

    Geografia; tambm a minha querida irm Raquel Chaffin Cezario pela compreenso e

    pela pacincia.

    Quero agradecer tambm ao meu colega Victor que desenvolveu esse trabalho comigo,

    ao nosso orientador Professor Z Maria, os amigos do oitavo perodo de Geografia, em

    especial a Heloy, Wilson, Antonio, Leandro e Aline, que contriburam para minha

    formao.

    Quero tambm agradecer aos amigos do laboratrio Sala Verde que ajudaram com a

    nossa pesquisa, com a elaborao dos nossos mapas e com as nossas sadas a campo.

    Quero tambm agradecer aos meus parentes, em especial a minha av Nilza Ramos,

    pela sua dedicao.

    Quero tambm agradecer aos nossos professores do curso de Licenciatura em Geografia

    que nos deram oportunidade de sermos professores, uma profisso honrosa, que nos

    tornam responsveis pelo futuro do nosso pas: as nossas crianas e adolescentes!

    Tambm nos possibilita ensinar aqueles que no tiveram estudos.

    Quero concluir dizendo a todas as pessoas que acompanharam a minha vida, muito

    obrigado e dizer de acordo com esse versculo bblico; at aqui nos ajudou o senhor; I

    Samuel 7.12 b.

    Miquias Chaffin Cezario

  • 4

    AGRADECIMENTOS

    Agradeo primeiramente a Deus pela fora e inspirao para a execuo desse trabalho,

    pela perseverana nos momentos que pensei em desistir e por tudo isso ser parte do seu

    plano na minha vida.

    Agradeo ao meu Pai, Francisco Guilherme de Souza e minha me, Vera Lcia terra dos

    S. Souza, pela insistncia na minha educao, pelo apoio nos momentos difceis e

    principalmente pelo incentivo, sem o qual eu no teria alcanado mais essa etapa da

    minha vida, obrigado por no terem desistido de mim, amo vocs.

    Agradeo a minha esposa, Edlnia Janaina Rangel B.Souza pelo apoio incondicional

    principalmente nos momentos em que tive que tomar decises srias em minha vida,

    por estar sempre ao meu lado acreditando em mim at mesmo quando eu no acredito,

    agradeo a Deus por voc fazer parte da minha vida.

    Agradeo ao Miquias Chaffin Cezario pela parceria na elaborao dessa monografia.

    Agradeo ao professor e amigo e orientador, Jos Maria Ribeiro Miro pela ateno,

    dedicao, pacincia, por ter aberto as portas da sua casa para ns e principalmente

    pelas discusses e orientaes, sem as quais no seria possvel terminar esse trabalho,

    obrigado professor Jos Maria, aprendi muito com voc.

    Agradeo a minha amiga, Laysa Pessanha Barcelos pela amizade de anos, pela troca de

    experincias durante os vestibulares, e por ter me ajudado durante esse perodo rduo da

    graduao.

    Agradeo aos colegas do Curso de geografia com os quais aprendi muito e por termos

    compartilhado momentos bons e ruins da nossa vida acadmica e pessoal, em especial

    aos amigos: Jean, Heloy, Wilson, Danielle, Leandro Vinicius Lima e Vincius Coelho.

    Agradeo ao Laboratrio Sala Verde Campos por ter contribudo para minha formao

    acadmica e aos coordenadores, Ricardo Terra e Jos Maria pelos incrveis trabalhos de

    campo que nos mostraram que o conhecimento pode ser adquirido alm da sala de aula

    e a Lediana Alves pela elaborao dos mapas.

    Agradeo ao Laboratrio de Qumica do IFF em especial a professora Chintia Neves e

    aos seus bolsistas por terem realizado gentilmente as anlises fsico-quimica da gua do

    canal.

    Agradeo banca examinadora pela colaborao e pacincia na correo da

    monografia.

    Victor dos Santos Souza

  • 5

    RESUMO

    CEZARIO, Miquias Chaffin; ZOUZA, Victor dos Santos. A paisagem do canal Coqueiros:

    da inverso da funcionalidade urbana a dependncia rural, Instituto Federal de Cincia e

    Tecnologia Fluminense, 2012. Monografia (Licenciatura em Geografia)

    A construo do canal Coqueiros fez parte do plano de intervenes no sistema hdrico

    da Baixada Campista realizado em meados do sculo XX pelo DNOS. Dentre o sistema

    de canais que compe a atual hidrografia do municpio de Campos dos Goyatcazes. Ele

    caracteriza-se por ser um dos mais importantes, visto que realiza drenagem urbana em

    maior rea que os outros, alm de contribuir para o abastecimento de gua usada nas

    atividades produtivas na zona rural. A rea urbana cujo curso perpassa, tem sofrido com

    impactos ambientais negativos, resultantes do descarte inadequado de lixo e

    esgotamento sanitrio. Essa situao contribui para o desequilbrio ambiental do curso

    dgua e para o funcionamento da drenagem. Na sua zona rural ele de fundamental

    importncia para a irrigao da cana-de-acar, para a dessedentao de gado leiteiro e

    de corte, fato esse que explica a necessidade de monitorar a qualidade da sua gua. A

    paisagem como categoria de anlise do espao geogrfico revelou as disparidades no

    tratamento dos cursos dgua entre a populao urbana, onde o canal considerado um

    valo receptor de lixo e esgoto, enquanto que para a populao rural ele mais

    valorizado devido a sua importncia econmica e social.

    Palavras-Chave: Canal Coqueiros, Impactos Ambientais, Paisagem, Geomorfologia fluvial.

  • 6

    ABSTRACT

    The construction of the Coconut Canal was part of the intervention plan in the hydric

    system of the Lowlands in Campos dos Goytacazes in mid twentieth century by the

    DNOS. Among the system of canals that make up the current hydrology of the city of

    Campos dos Goytacazes. It is characterized as one of the most important, since it

    performs urban drainage in an area larger than the others, besides contributing to the

    water used in production activities in rural areas. The course runs through the urban area

    which has experienced negative environmental impacts, a result of improper disposal of

    garbage and sewage. This situation contributes to the environmental imbalance of the

    water course and drainage functioning. In its rural areas it is essential for the sugar cane,

    for watering dairy and beef cattle, a fact that explain the need to monitor the quality of

    its water. The landscape as a analysis category of the geographical area has revealed

    disparities in the treatment of water streams among the urban population, where the

    channel is considered a ditch a garbage and sewage receiver while for the rural

    population it is more valuable because its economical and social importance.

    Keywords: Cocanut Canal, Environmental Impacts, Landscape, Geomorphology.

  • 7

    LISTA DE SIGLAS

    ASFLUSCAN Associao Fluminense dos Plantadores de Cana

    Ca++

    Clcio

    CAP Concessionria guas do Paraba

    CCZ Centro de Controle de Zoonose

    CE Condutividade eltrica

    CEDAE Companhia Estadual de gua e Esgoto

    COAGRO Cooperativa Agroindustrial do Estado do Rio de Janeiro

    CONAMA Conselho Nacional do Meio Ambiente

    DNOS Departamento Nacional de Obras e Saneamento

    EMBRAPA Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuria

    ETE Estao de Tratamento de Esgoto

    GAI Grupo de Articulao Institucional

    IAA Instituto do Acar e lcool

    IBGE Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica

    IFF Instituto Federal Fluminense

    K+ Potssio sdio

    Mg++

    magnsio

    Na+ Sdio

    PAC Programa de Acelerao do Crescimento

    pH Potencial Hidrognio

    PLANASA Plano Nacional de Saneamento

    PMCG Prefeitura Municipal de Campos dos Goytacazes

    PMSS Projeto de Modernizao do Setor de Saneamento

    PNQS Prmio Nacional da Qualidade em Saneamento

    PROJIR Projeto de irrigao e drenagem da cana-de-acar

    PVC Policloreto de vinila

    SERLA Superintendncia Estadual de Rios e Lagoas

    TSD Total de sais dissolvidos

    S/cm Microsiemens por centmetro

  • 8

    NDICE DE FOTOS

    Foto 1 As grandes inundaes em Campos na Rua Voluntrios da Ptria

    24

    Foto 2 Inundao do Porto da Banca em Campos no ano de 1943...........

    25

    Fotos 3 e 4 Lanamento de esgoto domiciliar na rea urbana do Canal

    Coqueiros.......................................................................................

    48

    Fotos 5 e 6 Lixo jogado na rea urbana do Canal Coqueiros...........................

    49

    Foto 7 Eroso da margem direita do canal no bairro Flamboyant.............

    51

    Fotos 8 e 9 Assoreamento na rea urbana do Canal.........................................

    53

    Fotos 10 e 11 Processo intenso de eutrofizao da rea urbana do canal.............

    54

    Foto 12 A eroso da margem direita do canal Coqueiros no bairro Penha

    ameaando residncias construdas muito prximas a margem.....

    69

    Foto 13 Urbanizao sobre a rea de preservao permanente................... 70

    Foto 14 Lanamento de esgoto in natura de uma rede oficial no Canal

    Coqueiros, bairro Jockey Club.......................................................

    71

    Foto 15 Lanamento de esgoto domstico in natura no curso dgua na rea urbana do canal coqueiros......................................................

    72

    Foto 16 Problema do lixo jogado no canal coqueiros, no bairro Jockey

    club.................................................................................................

    73

    Foto 17 Moradores retiram o lixo das margens do canal em frente das

    suas casas........................................................................................

    73

    Foto 18 Assoreamento no trecho urbano do canal

    Coqueiros.......................................................................................

    74

    Fotos 19 e 20 Processo de eutrofizao na rea urbana e rural do canal

    Coqueiros respectivamente............................................................

    75

    Foto 21 Placa informativa das obras que foram executadas na Baixada

    Campista.........................................................................................

    76

    Foto 22 Processo de eutrofizao no Canal Coqueiros logo aps a obra....

    76

    Foto 23 Placa sobre a rea urbana do Canal Coqueiros.............................. 80

    LISTA DE GRFICOS

    Grfico 1 Rede de coleta de esgoto, segundo o senso do IBGE de 1991 e 2000 44

  • 9

    NDICE DE TABELAS

    Tabela 1 Entidades responsveis por estudos e obras hidrulicas a partir de

    1894...........................................................................................

    28

    Tabela 2 Produo de lcool anidro unidade: litro........................................

    31

    Tabela 3 lcool de todas as graduaes unidade: litro.................................

    31

    Tabela 4 Os Principais impactos ambientais da urbanizao........................

    40

    Tabela 5 Instalao das Estaes de Tratamento de Esgoto.........................

    45

    Tabela 6 As principais metas de longo prazo da CAP..................................

    45

    Tabela 7 Nmeros atuais da operao da CAP no servio de esgoto do

    municpio........................................................................................

    46

    Tabela 8 Municpios do estado do RJ com mais domiclios sem Rede de

    Esgoto.............................................................................................

    46

    Tabela 9 Domiclios sem Rede de Esgoto nos municpios do Norte

    Fluminense.....................................................................................

    47

    Tabela 10 Larguras mximas e mnimas das matas ciliares............................. 52

    Tabela 11 Mdia pluviomtrica de Campos dos Goytacazes, precipitao

    expressa em mm...............................................................................

    58

    Tabela 12 Mdia pluviomtrica dos ltimos seis anos, precipitao expressa

    em mm.............................................................................................

    58

    Tabela 13 Evapotranspirao de referncia (ETo) e Precipitao (PP)

    mdias mensais representativas da unidade hidrolgica do canal

    Coqueiros.........................................................................................

    59

    Tabela 14 Vazo; Seo Transversal e Declividade do canal Coqueiros......... 61

    Tabela 15 Caractersticas fsico-qumica da gua usada na fruticultura...........

    64

    Tabela 16 Resultado bacteriolgico das anlises realizadas............................. 65

    Tabela 17 Metais dissolvidos nas guas fluviais do rio Paraba do Sul e o

    Canal Coqueiros em mg/l................................................................

    66

    Tabela 18 Classificao da gua de irrigao quanto ao potencial de

    salinizao.......................................................................................

    67

    Tabela 19 Valores de CE em seis pontos do canal Coqueiros.......................... 78

  • 10

    NDICE DE MAPAS

    Mapa 1 Localizao do Municpio de Campos dos Goytacazes RJ.....................

    16

    Mapa 2 Geomorfologia do municpio de Campos dos Goytacazes.....................

    18

    Mapa 3 Principais canais de drenagem da Baixada Campista.............................

    19

    Mapa 4 Lagoas e Lagunas no incio do Sculo XX.............................................

    23

    Mapa 5 Obras realizadas pela Comisso de Saneamento da Baixada

    Fluminense e DNOS................................................................................

    35

    Mapa 6 Delimitao da unidade hidrolgica do canal Coqueiros e suas micro-

    bacias (posicionada com relao Baixada Campista)...........................

    61

    Mapa 7 Distribuio dos solos com suas respectivas classes de aptido para

    irrigao na unidade hidrolgica do canal Coqueiros.............................

    62

    Mapa 8 Pontos de coleta de gua no canal Coqueiros.........................................

    77

    LISTA DE IMAGENS

    Imagem 1 rea denominada Baixada Campista, segundo TECNORTE

    (2003).....................................................................................................

    17

    Imagem 2 Ilustrao bsica de alguns elementos que formam um

    rio...........................................................................................................

    21

  • 11

    SUMRIO

    LISTA DE SIGLAS...................................................................................... 7

    NDICE DE FOTOS..................................................................................... 8

    LISTA DE GRFICOS................................................................................ 8

    NDICE DE TABELAS................................................................................ 9

    NDICE DE MAPAS.................................................................................... 10

    LISTA DE IMAGENS.................................................................................. 10

    INTRODUO............................................................................................. 13

    1 CARACTERIZAO FSICA DA REA DE ESTUDO........................ 16

    1.1

    Localizao da rea de estudo e algumas caractersticas fsicas do ambiente 16

    1.2 A espacialidade do Canal Coqueiros.............................................................. 19

    2

    CONTEXTO HISTRICO QUE LEVARAM AS INTERVENES

    NA BAIXADA CAMPISTA.........................................................................

    20

    2.1 A construo da cidade de Campos sobre a plancie de inundao................ 20

    2.2 A paisagem campista antes das grandes intervenes antrpicas no

    ambiente..........................................................................................................

    22

    2.3 As doenas ocasionadas pela insalubridade do ambiente e as enchentes....... 23

    2.4 A consolidao da monocultura canavieira em Campos dos Goytacazes...... 26

    2.5 Das primeiras intervenes na Baixada Campista at a criao do DNOS.... 27

    3

    A PAISAGEM REVELADORA DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS

    DA REA URBANA DO CANAL COQUEIROS....................................

    38

    3.1 Problemas Ambientais Urbanos..................................................................... 38

    3.2 Polticas de Saneamento................................................................................. 41

  • 12

    3.2.1 Esgotamento Sanitrio em Campos dos Goytacazes...................................... 43

    3.2.2 Lixo................................................................................................................. 48

    3.3 Impactos Ambientais Negativos..................................................................... 50

    3.4 Assoreamento................................................................................................. 50

    3.5 Eutrofizao.................................................................................................... 53

    4 A PAISAGEM RURAL DO CANAL COQUEIROS: GUA DA

    ABUNDANCIA A ESCASSEZ....................................................................

    55

    4.1 Da abundancia a escassez de gua na Baixada Campista............................... 56

    4.2 A Criao do PROGIR................................................................................... 57

    4.3 O dficit hdrico da Baixada Campista........................................................... 57

    4.4 A Bacia Hidrogrfica do Canal Coqueiros..................................................... 60

    4.5 Mltiplos usos da gua na bacia hidrogrfica do canal Coqueiros................. 62

    4.6 A gua no canal Coqueiros em termos quantitativos e qualitativos............... 63

    5 RESULTADOS E DISCUSSES................................................................ 69

    5.1 A Ocupao das margens................................................................................ 69

    5.2 Ausncia da mata ciliar................................................................................... 70

    5.3 O Esgotamento Sanitrio ............................................................................... 71

    5.4 O problema do Lixo no canal ........................................................................ 72

    5.5 Assoreamento ................................................................................................ 74

    5.6 Eutrofizao ................................................................................................... 74

    5.7

    5.8

    Problemas com a oferta de gua nos canais da Baixada Campista.................

    Anlise fsico-qumica da gua nas reas urbana e rural do canal Coqueiros

    75

    77

    6 CONSIDERAES FINAIS....................................................................... 79

    7 BIBLIOGRAFIA.......................................................................................... 82

  • 13

    INTRODUO

    Os canais de drenagem no so invenes humanas recentes, no Egito antigo j

    existia essa prtica. Na Europa os canais apresentaram-se como soluo para enfrentar e

    dominar as paisagens naturais pantanosas, inspita para ocupao humana, a Holanda

    um dos pases europeus que foram obrigados a desenvolverem um sistema eficiente de

    drenagem, que fez parte de um plano urbanstico e de saneamento, onde as vias de

    circulao fluvial so bastante utilizadas (QUINTO JR e FARIAS, 2009, p. 5).

    No Brasil algumas cidades como: Santos, Recife, Campos dos Goytacazes, Rio

    Grande, Vitria, Pelotas e Petrpolis, tiveram que dominar as paisagens pantanosas que

    at ento existiam em seu territrio. O sanitarista Saturnino de Brito foi responsvel por

    elaborar o plano de construo de canais em todas essas cidades, drenando reas

    insalubres, com novas tcnicas. Embora o Saturnino no tenha deixado claro em sua

    bibliografia, percebe-se que ele foi influenciado pelo modelo de canais holands

    (QUINTO JR e FARIAS, 2009, p. 3).

    Os vrios canais de drenagem que compem o atual sistema hdrico da Baixada

    Campista so resultantes das intervenes antrpicas ocorridas na paisagem. Cabe

    ressaltar que elas comearam desde a chegada dos primeiros moradores, mas que se

    aceleraram a partir de 1933, com o estabelecimento da Comisso de Saneamento da

    Baixada Fluminense, depois transformada em 1940 em Departamento Nacional de

    Obras e Saneamento (DNOS). Em 1989 as intervenes chegam ao fim com a extino

    do DNOS. Autores como Lamego (1945), Carneiro (2003), Sofiatti (1998 e 2005) entre

    outros, escreveram sobre as mudanas ocorridas no sistema hdrico da Baixada

    Campista.

    Os canais da Baixada Campista so fruto de intervenes na paisagem para fins

    econmicos e de saneamento, dentre esses, o objeto de estudo dessa monografia foi o

    canal Coqueiros, que embora exera dupla funo, as quais so drenar e irrigar, tem

    como diferencial sua grande extenso urbana. Dos 45 km do curso dgua, 7,5 km esto

    dentro da cidade, impedindo que Campos sofra inundaes nos perodos de cheia e de

    fortes precipitaes. Em sua rea urbana o canal vem sofrendo impactos ambientais

    negativos resultando na degradao do curso dgua e afetando a qualidade de vida das

    pessoas que moram s suas margens. Na zona rural, o canal Coqueiros possui 37,5 km,

    servindo tambm para drenar reas agricultveis, mas a sua principal funo fornecer

    gua para as atividades produtivas da regio, principalmente nos perodos de estiagem.

  • 14

    Devido a sua importncia para o desenvolvimento das atividades produtivas, Tecnorte

    (2003) e Getirana (2005) alertam para a necessidade de realizar anlises de gua

    periodicamente no intuito de monitorar sua salinidade, o que inviabilizaria a produo

    agrcola.

    A relevncia dessa monografia deve-se ao fato de ser um trabalho de geografia

    regional que usa a paisagem como ferramenta de anlise dos problemas ambientais no

    canal Coqueiros e como esses impactos ambientais negativos podem interferir na vida

    da populao urbana e rural que esto dentro da bacia do canal.

    Dentre os canais de drenagem da Baixada Campista escolhemos o Coqueiros,

    por se tratar do maior canal urbano do municpio de Campos dos Goytacazes e por

    passar prximo as nossas casas, ou seja, o nosso objeto de estudo faz parte da nossa

    realidade.

    Este trabalho tem como principal objetivo identificar os principais impactos

    ambientais presentes no canal e os elementos que contribuiriam para seu estado de

    conservao.

    A metodologia utilizada pautou-se no primeiro momento em um levantamento

    bibliogrfico referente temtica do trabalho. Atravs desse foi possvel utilizar como

    fontes: livros, teses, dissertaes e artigos acadmicos. No segundo momento foram

    organizadas visitas de campo nas reas urbanas e rurais ao longo de toda extenso do

    canal, as visitas resultaram em fotografias das paisagens que nos possibilitaram usar o

    mtodo de Campo-paisagem, que est baseado na explorao de dados qualitativos da

    paisagem. Num terceiro momento foi realizada uma sada a campo no intuito de coletar

    gua do canal Coqueiros desde a aduo at a foz, onde as amostras foram analisadas

    pelo Laboratrio de Qumica do IFF (Instituto Federal Fluminense) Campus

    Campos Centro sob a coordenao da professora Cinthia Neves, no intuito revelar as

    caractersticas fsico-qumicas.

    O trabalho monogrfico foi elaborado em quatro captulos. O primeiro refere-se

    localizao e algumas caractersticas fsicas da rea de estudo. O segundo

    responsvel por fazer um apanhado histrico sobre os aspectos que levaram s

    intervenes na Baixada Campista. O terceiro refere-se paisagem urbana do canal

    Coqueiros e os problemas ambientais presentes no mesmo. O quarto e ltimo captulo

    apresenta a paisagem rural do canal e suas atividades.

    Levantamos a hiptese nesse trabalho que os problemas com lixo e esgoto na

    rea urbana esto levando o curso dgua a um desequilbrio ambiental, alm de

  • 15

    prejudicar a irrigao em termos qualitativos, referente qualidade da gua usada na

    irrigao e quantitativos, alm da vazo de gua no canal.

    Os resultados mostram que muitos domiclios na rea urbana no so atendidos

    pelo servio de coleta de esgoto, acabando por despej-lo in natura no canal. O lixo nas

    suas margens mostrou uma situao preocupante e at mesmo para sade pblica. Na

    zona rural no se constatou problemas com a qualidade da gua, mas ela deve ser

    monitorada esporadicamente no intuito de analisar seus parmetros fsico-qumicos.

  • 16

    1 CARACTERIZAO FSICA DA REA DE ESTUDO

    Nesse capitulo iremos apresentar as caractersticas fsicas da rea de estudo que

    de suma importncia para o entendimento das transformaes ocorridas na paisagem

    da Baixada Campista

    1.1 - Localizao da rea de estudo e caractersticas fsicas do ambiente

    O municpio de Campos dos Goytacazes est localizado na regio Norte do

    Estado do Rio de Janeiro, aproximadamente a 279 km da capital, possui uma rea de

    4.037 km. A sede do municpio est situada entre as coordenadas 21 45 15 de

    latitude sul e 41 19 28 de longitude oeste, margem direita do rio Paraba do Sul, em

    seu baixo curso (cerca de 30 km de sua foz) e onde est localizado o canal Coqueiros.

    Campos dos Goytacazes tem os seguintes limites administrativos: a norte pelo

    estado do Esprito Santo, a nordeste pelo municpio de So Francisco do Itabapoana, a

    leste pelo municpio de So Joo da Barra e o oceano Atlntico, ao sul pelos municpios

    de Quissam, Conceio de Macab e Santa Maria Madalena, a oeste por So Fidelis,

    Cardoso Moreira, Italva e Bom Jesus do Itabapoana (FREITAS, 2003, p. 4).

    Mapa 1 - Localizao do Municpio de Campos dos Goytacazes RJ

    Adaptado: RAMALHO, 2005.

  • 17

    O canal Coqueiros um curso dgua artificial construdo em meados do sculo

    XX pelo DNOS (Departamento Nacional de Obras e Saneamento), tendo sua aduo no

    rio Paraba do Sul na sede do municpio e se estende at a Baixada Campista onde est

    localizado em maior extenso.

    A Baixada Campista tambm chamada de Baixada dos Goytacazes em aluso

    aos ndios que existiram na regio. Essa rea era formada por uma complexa rede de

    lagoas, brejos e canais perenes e sazonais constituindo um grande alagado na plancie

    costeira (BIDEGAIN, 2002, p. 31).

    Segundo a Tecnorte (2003), a Baixada Campista abrange parte dos municpios

    de Campos dos Goytacazes e Quissam.

    Imagem 1 - rea denominada Baixada Campista, segundo TECNORTE (2003)

    Adaptado: Google, 2012.

    Ramalho (2005, p. 35), identifica as seguintes unidades geomorfolgicas no

    municpio de Campos dos Goytacazes: relevo fortemente ondulado a escarpado serras;

    relevo suave ondulado mar de morros; tabuleiro tercirio; plancie sedimentar fluvial;

    plancie sedimentar marinha. A extensa plancie, formada no Quaternrio, foi resultado

    das dinmicas rio Paraba do Sul depositando sedimentos argilosos e erodindo algumas

    reas de tabuleiros Tercirio do municpio e pelos movimentos de regresso e

    transgresso marinhas com altitudes variando entre 0 a 15 metros. O mapa abaixo

  • 18

    mostra todas as unidades geomorfolgicas do municpio de Campos dos Goytacazes,

    ressaltando-se o canal Coqueiros.

    Mapa 2 - Geomorfologia do municpio de Campos dos Goytacazes.

    Fonte: Ramalho, 2005.

    Para Carneiro (2003, p. 40), a Baixada Campista no pode mais ser entendida

    sem os canais de drenagem, que foram construdos ao longo da fixao do homem sobre

    a plancie. Essas mudanas no sistema hdrico foram intensificadas a partir de 1935, no

    governo Vargas com Comisso de Saneamento da Baixada Fluminense e

    posteriormente chamada em 1940 de DNOS (Departamento de Obras e Saneamento).

    Nesse contexto foi construdo o subsistema So Bento, o mesmo composto por trs

    grandes canais de drenagem: Coqueiros, So Bento e Quitinguta. A imagem a seguir

    mostra o subsistema hidrulico formado por esses trs importantes cursos dgua, desde

    sua aduo no rio Paraba do Sul, seguindo em direo ao oceano. Os canais Coqueiros

    e Quitinguta tm sua foz no canal So Bento, esse por sua vez tem foz localizada no

    canal das Flechas, que o grande escoadouro responsvel por conduzir as guas das

    bacias da lagoa Feia e do Paraba do Sul em direo ao oceano Atlntico.

  • 19

    Mapa 3 Principais canais de drenagem da Baixada Campista.

    Adaptado: Google, 2012.

    1.2 A espacialidade do Canal Coqueiros

    Segundo Getirana (2005, p. 77), o canal Coqueiros possuiu cerca de 45 km de

    extenso, juntas a rea urbana e rural drenam uma rea aproximadamente de 29.000 h.

    Em seu trajeto recebe valas e canais secundrios como afluentes que segundo Miro

    (2009, p.37) possui uma declividade em mdia 0,11 m/km. Pode ser considerado o

    principal canal de drenagem da Baixada Campista, porque drena rea central da cidade

    de Campos, perpassando a rea urbana nos seguintes bairros: Matadouro, Flamboyant,

    Jockey Club, Penha, Donana e Nova Goitacazes (Distrito de Goitacazes), em extenso

    urbana de 7,5 km. J na zona rural o canal possui uma extenso de 37,5 km,

    perpassando pelas seguintes comunidades: Coleginho, Alto da Areia, Baixa Grande e

    Pitangueiras.

    O canal de Coqueiros um longo curso artificial que comea na rea urbana

    de Campos e parte dela tomando o rumo sul. alimentado pelo canal So

    Jos afluente do canal Cambaba. Ao passar prximo localidade de Tocos,

    assume rumo leste e faz uma curva contornando de longe a lagoa Feia, at

    Santo Amaro, onde segue retilneo at encontrar o canal So Bento. Prximo

    localidade de Tocos, muda seu nome para canal do Colgio. Em seguida,

    para rio do Pau Fincado e, finalmente, canal ou rio das Pitangueiras. No seu

    trajeto, recebe valas que drenam poucas lagoas remanescentes, como a da

    Goiaba; brejos onde se localizavam as lagoas Rasa, do Coqueiro,. Este canal

    e seu sistema de valas afluentes eliminaram ou diminuram as lagoas situadas

    entre a linha frrea Campos - Santo Amaro (antiga So Sebastio) e a lagoa

    Feia, destacando-se as lagoas de Olhos dgua, Sussunga, Tambor entre outras (SOFFIATI NETTO, 1998, p. 73).

  • 20

    2 Contexto Histrico que levaram as intervenes na Baixada Campista

    Nesse captulo iremos apresentar o contexto social, poltico e econmico em que

    ocorreram as intervenes no sistema hdrico do municpio de Campos dos Goytacazes.

    2.1 - A construo da cidade de Campos sobre a plancie de inundao

    Segundo Sposito (2004, p. 18), os homens desde a antiguidade fixavam-se

    prximos aos rios, principalmente nas plancies de inundao, que so reas inundveis.

    O objetivo sempre foi desenvolver sua agricultura em terras frteis, sempre necessitando

    da construo de um sistema de canais que serviriam tanto para irrigar quanto para

    transportar os alimentos produzidos.

    A vila de So Salvador, hoje cidade de Campos dos Goytacazes tem seu stio

    sobre a plancie de inundao do rio Paraba do Sul, por isso nela sempre ocorreram

    inundaes criando uma relao de fragilidade, apesar das potencialidades ambientais

    inerentes ao fato de estar prxima do grande Paraba do Sul.

    A geomorfologia fluvial representa-se como uma vertente importante das

    geocincias devido ao entendimento que ela proporciona ao estabelecimento das

    sociedades humanas sobre a superfcie terrestre. As cidades so construes muito

    antigas, essas sempre foram construdas s margens de grandes rios, nesse contexto era

    de suma importncia que os moradores de reas muito prximas aos rios entendessem a

    dinmica natural dos mesmos a fim de potencializar suas atividades e minimizar os

    riscos inerentes a sua localizao, esse exemplo serve para os dias atuais, onde

    frequentemente surgem notcias de pessoas que sofreram com algum tipo de transtorno

    causado por enchentes. Ento, quanto cincia, ela engloba o estudo dos cursos dgua e

    o das bacias hidrogrficas no intuito de analisar os processos fluviais, caractersticas

    hidrolgicas, a biota e a ocupao do solo (CUNHA, 1994, p. 21).

    Segundo Guerra (2010, p. 546), sobre os elementos que formam os rios deve-se

    considerar: as nascentes, leito menor, leito maior, terrao, afluentes, confluentes, foz,

    bacias hidrogrficas, talvegue e divisor de guas. Assim torna-se imprescindvel que o

    ser humano conhea o ambiente que faz parte do seu cotidiano, evitando riscos e

    acidentes.

    A inundao de uma determinada rea urbana ou rural onde existam residncias

    pode ser explicada atravs da ocupao dos leitos maior e menor de um rio,

    caracterizado como uma rea de risco. A ocupao da rea compreendida como leito

    maior que pode ser inundada em um intervalo mdio de 1,5 a 2 anos, enquanto a rea do

  • 21

    leito menor que corresponde a uma rea mais suscetvel a inundaes, ocorrem

    inundaes mais frequentes (MIRO, 2009, p. 42).

    Guerra define o leito menor da seguinte forma:

    Canal por onde correm, permanentemente, as guas de um rio, sendo a sua

    seco transversal melhor observada por ocasio da vazante. Durante as

    cheias, os cursos dgua sobem e inundam a banqueta superior, leito maior ou terrao, ocasionando, algumas vezes, calamidades. A este respeito so bem

    conhecidos os efeitos das cheias do Paraba do Sul e do So Francisco. O rio

    deixa o seu curso normal e extravasa acima do leito maior, inundando as

    reas prximas (GUERRA, 2010, p. 387).

    Imagem 2 Ilustrao bsica de alguns elementos que formam um rio

    Adaptado: Google Imagens

    Para Cunha (1995, p. 213) o leito menor a parte do canal fluvial ocupada

    pelas guas e cuja frequncia impede o crescimento de vegetao, deve evitar-se

    construir moradias nesses locais, visto que so alagadas com frequncia.

    Segundo Lamego (1945, p. 141), Campos seria uma cidade natural que s

    poderia nascer onde foi erguida, no somente pelas necessidades da agricultura, da

    indstria e do comrcio, mas pela restrio da geologia regional. Para ele, na cidade de

    Campos muitas casas foram construdas sobre terrenos baixos onde existiam brejos e

    lagoas. J o sanitarista Saturnino de Brito ao perceber o processo constante de

    aterramento das lagoas e brejos ressalta que grande parte do subsolo campista representa

    a conquista do homem sobre os alagadios atravs de aterros de lixo e entulho

    (LAMEGO, 1945, p. 146).

    Para Tucci (2000, p. 620), os impactos da ocupao dos leitos maior e menor

    de um rio, podem ocasionar vrios riscos, tais como: perdas humanas, materiais,

    problemas econmicos, contaminao da gua e doenas relativas mesma, ele nos

    conta que nos dias atuais as pessoas com menor poder aquisitivo sofrem mais com as

  • 22

    enchentes, isso porque os mais ricos procuram moradias em lugares mais protegidos de

    enchentes, embora existam algumas excees.

    2.2 - A paisagem Campista antes das grandes intervenes antrpicas no ambiente

    A paisagem natural formada por um conjunto de elementos naturais e que no

    sofreram alteraes antrpicas, porm quando o homem passa a modificar a natureza ele

    comea um processo de modelagem de novas paisagens, como ocorre nos jardins,

    intervenes em rios, lagoas e nos processos de urbanizao. O resultado das

    modificaes realizadas em reas naturais so as formaes de paisagens humanizadas

    ou artificiais, essas tm maior visibilidade principalmente em reas urbanas, ou seja, a

    paisagem resultante das intervenes antrpicas (SANTOS, 2002, p. 13). Ainda

    segundo o mesmo autor A paisagem um conjunto de formas, que num dado

    momento, exprime as heranas que representam as sucessivas relaes localizadas entre

    homem e natureza.

    No incio da colonizao, a Baixada Campista no havia sofrido grandes alteraes

    na paisagem, quando consideradas aquelas realizadas pelos ndios Goitacazes e pelos

    colonizadores europeus. Essas aceleraram-se no final do sculo XIX com a criao da

    primeira Comisso de Estudos e Saneamento da Baixada do Estado do Rio de Janeiro,

    rgo subordinado ao governo do estado, no perodo imperial. a partir desse momento

    que se inicia o processo de artificializao e modificao do ambiente na regio, que se

    estender at final do sculo XX, culminando na atual paisagem. No livro O homem e o

    brejo, clssico da geografia regional escrito por Alberto Ribeiro Lamego em 1945, ele

    descreveu antes das grandes intervenes da paisagem da Baixada Campista em seus

    aspectos fsicos e humanos, da seguinte forma:

    Centenas de lagoas, de brejais e alagadios; do banhado imenso

    insignificante poa, depresses sem conta; pntanos que recebem lavouras na

    estiagem e que as afogam em tempos de gua; tremedais perenemente

    inacessveis, baixadas atoladias; charcos intermitentes chupados pelos

    alsios e que se alagoam sob as chuvaradas, invadindo culturas; atoleiros

    barrando estradas; lamaais engolindo o gado; o Paraba transbordante e

    devastador, galgando as ribanceiras, espraiando-se pelas pastarias, assolando

    canaviais, destruindo habitaes, esgalhando-se em torrentes de rumo incerto,

    ao sabor de caminhos de gua evanescidos num velho delta fossilizado; a

    malria, a ancilostomase, as endemias latentes... (LAMEGO, 1945 p. XXIX

    PREFCIO).

    Cabe ressaltar ainda que em algumas reas o rio Paraba do Sul est acima da

    cota da Baixada Campista (TECNORTE, 2003), por isso sempre ocorreram vrias

  • 23

    inundaes sobre grandes reas, principalmente nos perodos de cheia ou das intensas

    chuvas na sua bacia. Por ter uma topografia relativamente baixa, s guas no

    escorriam, ficando retidas, alm de em algumas reas deprimidas formarem brejo. O

    IBGE classifica os brejos, lagos e alagadios como comunidades aluviais de guas rasas

    e semi-paradas cobertas com ervas de diversos tipos e tamanhos (CONSRCIO

    LAGOS DE SO JOO, 2012).

    2.3 A poltica higienista na Baixada Campista

    A paisagem campista apresentada por Lamego (1945) era muito peculiar.

    Existiam vrias lagoas, brejos e canais naturais que ecoavam as guas para outros

    fluxos, esse ambiente era propcio para o plantio, pois as terras encharcadas eram ricas

    em humos que so fonte de vitalidade e riqueza para o solo, a gua para irrigar as

    plantaes no era problema devido a sua abundncia.

    Carneiro (2003, p. 25), ressalta que a Baixada Campista era como um pantanal,

    por causa da abundncia dos corpos hdricos. Embora esse ambiente fosse propcio

    prtica da agricultura devido fertilidade do solo, o mesmo constitua-se em um grande

    problema para a sade humana, por causa da insalubridade do ambiente. O mapa abaixo

    mostra a grande quantidade de lagoas, lagunas e brejos existentes na Baixada Campista

    antes das grandes obras de drenagem.

    Mapa 4 - Lagoas e Lagunas no incio do Sculo XX.

    Fonte: BIDEGAIN, Paulo B at al (2002, p. 62).

  • 24

    A populao da plancie crescia com o passar dos anos, destaque para a

    populao urbana, principalmente no final do sculo XIX e incio do XX, porm esse

    crescimento urbano mantinha-se desprotegida das grandes epidemias, entre elas

    destacam-se a malria, peste bubnica e a clera. A terra encharcada era um ambiente

    propcio para a criao dos mosquitos vetores de doenas. A juno desses fatores

    ocasionou vrias epidemias que atingiam a populao. Outro fator que contribuiu para a

    insalubridade do ambiente era a inexistncia de drenagem, visto que as guas no

    escorriam e se juntavam com o esgoto domstico (LAMEGO, 1945, p. 146).

    Lamego (1945, p. 142) relatava que as enchentes eram o maior pesadelo dos

    campistas, o rio Paraba do Sul nos perodos de cheia tomava a rea central da cidade. O

    autor relata a luta da populao contra as guas, que dava mais valor conquista da

    plancie. Porm pagou-se um alto preo por isso, visto que nessas enchentes se perdia

    lavouras, gados, engenhos, fazendas ficavam debaixo dgua, habitaes eram

    destrudas, alm de perdas humanas. Essa situao de calamidade era peridica e quanto

    mais expressivas fossem as inundaes, maiores eram as perdas materiais e humanas. A

    foto abaixo mostra a intensidade das enchentes na cidade de Campos at inicio do

    sculo XX.

    Foto 1 - As grandes inundaes em Campos na Rua Voluntrios da Ptria

    Fonte: http://camposfotos.blogspot.com. Acessado em: 20/11/211.

    A populao cansada de sofrer com as grandes epidemias reivindicava obras de

    saneamento, nesse contexto foram esboados vrios planos para sanear a rea central da

  • 25

    cidade e tambm a Baixada Campista, porm muitos desses planos no foram frente.

    Nem mesmo Saturnino de Brito, considerado um dos maiores sanitaristas do Brasil,

    conseguiu execut-las. Para ele a engenharia poderia resolver os problemas de

    escoamento das guas e de esgoto. Por se tratar de um conhecedor da plancie campista,

    de suas necessidades higinicas e da complexa hidrografia, ele recebeu a funo de

    planejar o saneamento da regio. Apesar disso, problemas burocrticos o impediram de

    executar as obras. Para ele as enchentes na cidade de Campos aconteciam por dois

    motivos: a elevao e transbordamento das guas do rio Paraba do Sul numa plancie

    com pequeno gradiente altimtrico e com clima de chuvas concentradas (LAMEGO,

    1945, p. 165).

    Para Ramalho (2005, p. 46), a Baixada Campista caracteriza-se

    climatologicamente por ter clima tropical submido, com inverno seco e vero chuvoso,

    onde 80% das chuvas anuais ocorrem nesses perodos. Esse cenrio torna a distribuio

    pluviomtrica concentrada, o que contribui significativamente para as enchentes da

    plancie. Um fator que colabora para essa situao a falta de barreiras orogrficas ao

    longo da plancie, que no detm os ventos midos vindo da evaporao do Atlntico.

    Pois a pluviosidade mdia anual da Baixada Campista de 1000 mm anuais, enquanto

    na regio do Imb pode chegar a 2000 mm anuais (RAMALHO, 2005, p. 46).

    Na foto abaixo se pode perceber como as guas das frequentes enchentes

    invadiam a cidade e como a populao da plancie tinha que conviver com os

    transtornos causados pelo seu avano, principalmente na rea de extravasamento do rio,

    onde est inserido o centro da cidade de Campos dos Goytacazes.

    Foto 2 Inundao do Porto da Banca em Campos no ano de 1943.

    Fonte: http://camposfotos.blogspot.com. Acessado em: 20/11/211.

  • 26

    Cabe ressaltar que embora os canais tenham contribudo para a drenagem urbana

    da rea central da cidade de Campos, os diques de alvenaria construdos pelo governo

    federal tem fundamental importncia na conteno das guas do rio Paraba do Sul

    evitando assim enchentes maiores (LAMEGO, 1945, p. 160).

    2.4 - A consolidao da monocultura canavieira em Campos dos Goytacazes

    Segundo Carneiro (2003, p. 25) a agricultura e a economia de Campos no

    foram sempre voltadas para a cana-de-acar, pois no sculo XVIII o municpio

    destacava-se na regio o extrativismo e as culturas agrcolas de milho, feijo, arroz,

    mandioca e algodo, alm da pecuria de bovinos e equinos. Campos exportava boa

    parte da sua produo e abastecia outras cidades, principalmente o Rio de Janeiro,

    cabendo destacar a exportao campista de 15.600 cabeas de gado bovino, 3.000 de

    cavalar, alm de 85.000 alqueires de farinha de mandioca e centenas de caixas de acar

    naquele perodo. Essa diversidade de atividades econmicas rompe com a ideia de que o

    municpio de Campos sempre esteve atrelado a sua economia na monoatividade. A

    cana-de-acar se instalou na plancie a partir de 1775, impulsionada pelo interesse do

    mercado externo, visto que, a populao europeia estava crescendo e a demanda da

    nascente Revoluo Industrial aumentou o consumo internacional por alimentos,

    inclusive por acar.

    Segundo Soffiati (2005, p. 61), o nmero de usinas de acar (de pequeno porte)

    comeou a crescer a partir 1769 com 56 unidades e passados nove anos essa quantidade

    de usinas em Campos foi multiplicada por trs. Entre os anos de 1779 e 1800 existiam

    cerca de duzentos engenhos funcionando e ainda estavam a inaugurar outras 400 para

    produzir acar e 12 destilarias. Essas fbricas eram pequenas e rudimentares, o que

    tornava sua capacidade de produo limitada.

    A partir da segunda metade XIX, a monocultura canavieira consolidou-se em

    Campos, atravs do processo de modernizao da indstria aucareira do Norte

    Fluminense. Assim, os vrios pequenos engenhos foram sendo substitudos por

    engenhos centrais ou por grandes usinas, com as novas tecnologias movidas a vapor.

    Em 1917, um publicista escrevia que Campos conta com perto de 30 usinas de acar. Por esse aspecto, se acha em condio superior a Pernambuco. A

    ainda se encontra grande nmero de engenhos bangus o que raro, rarssimo mesmo, no municpio de Campos (Barreto, 1917). E nota que a produo de acar em Campos poderia ser o triplo do que . Poderia ser de

    3.000.000 sacas (SOFFIATI, 2005, p. 62).

  • 27

    notrio que o aumento da capacidade de beneficiamento da cana, iria gerar

    uma demanda maior de matria prima, nesse momento que a indstria aucareira

    percebe que precisa expandir suas lavouras, porm a natureza se apresentava como um

    entrave, visto que, existia uma vasta rea repleta de brejos, lagoas e outros alagadios,

    que impossibilitava aumentar a rea produtiva. A partir do desejo de se aumentar a

    lavoura de cana-de-acar percebe-se que essa monocultura seria por um bom tempo a

    principal atividade econmica da regio.

    2.5 - Das primeiras intervenes na Baixada Campista at a criao do DNOS

    Os projetos de sanear a rea central da cidade e a Baixada Campista continham

    dupla intencionalidade. A primeira era sanear as reas insalubres, combater muitas

    doenas que assolavam a populao, ocasionando muitas vezes em srias epidemias. A

    segunda era aumentar a rea agricultvel, principalmente da cana-de-acar. A

    populao exigia das autoridades que se realizassem obras de melhorias no mbito do

    saneamento. Esse foi o argumento usado para se fazer srias e irreversveis intervenes

    que modificaram totalmente a paisagem campista. A inteno de aumentar a rea de

    plantio no era externada a populao, visto que essa iniciativa atendia aos interesses da

    indstria do acar (CARNEIRO, 2003, p. 24).

    As obras realizadas na Baixada Campista s foram possveis com o avano da

    tcnica e com a mecanizao no territrio. Para Santos (2001, p. 31) a tcnica o

    prolongamento do corpo do homem, permitindo que ele modifique a paisagem. Nesse

    contexto, surgem novas e complexas formas de uso do espao. Dessa forma, entende-se

    que os canais de drenagem so prteses construdas na Baixada Campista, resultante da

    mecanizao e do avano da tcnica sobre a paisagem.

    Para alcanar os objetivos de realizar grandes obras hidrulicas na regio foram

    criadas vrias comisses de saneamento e rgos responsveis pelos estudos e execuo

    das obras na Baixada Campista. Assim, comeam as tentativas de domesticar o

    ambiente que at ento era hostil, fonte de epidemias, mas que possua terras frteis

    que poderiam ser sinnimo de desenvolvimento econmico.

  • 28

    Nilo Peanha (1917, p. 256) proferiu, na sesso de 19 de setembro de 1913

    do Senado da Repblica, um discurso em que advertia: A velha escola, que se

    limitava a constatar fatores econmicos e em que o homem era dominado

    pela fatalidade das leis naturais, fez sua poca. O pensamento contemporneo

    reage por toda a parte, restituindo ao homem o seu verdadeiro lugar no seio

    da sociedade e no seio da natureza, varrendo a resistncia dos climas e

    assinalando no solo, ingrato s vezes, traos do seu engenho e da sua

    iniciativa, parecendo at no dizer de um publicista que j no h mais geografia fsica, nem geografia poltica, mas uma geografia humana

    (SOFFIATI NETTO, 2005, p. 63).

    Tabela 1 - Entidades responsveis por estudos e obras hidrulicas de 1894 a 1989.

    Fonte: Adaptado de BIDEGAIN; BIZERRIL; SOFFIATI NETO, 2002, p. 56.

    O quadro acima mostra as intervenes feitas na paisagem campista a partir do

    final do sculo XIX. Cabe ressaltar que outras obras de drenagem j haviam sido

    realizadas, exemplo foi construo do canal Campos Maca, que ocorreu antes da

    criao das comisses e dos rgos de saneamento. Esse canal foi idealizado em 1837,

    mas foi inaugurado em 1861, foi uma grande e impactante obra, pois muitas lagoas

    desapareceram totalmente ou parcialmente. O impacto ambiental positivo dessa obra foi

    drenagem de parte da rea central da cidade, que ficava alagada principalmente nos

    perodos de cheia e das fortes chuvas. Assim o ecossistema de gua doce da regio foi

  • 29

    alterado pelo dessecamento das lagoas que estavam no caminho do traado do canal

    (SOFFIATI, 1998, p. 55).

    Segue abaixo o resumo da atuao dos cinco primeiros rgos do quadro acima,

    segundo Soffiati (1998, p. 55):

    Com a criao da Comisso de Estudos e Saneamento da Baixada do Estado do

    Rio de Janeiro criada em 1894 realizou-se, dragagens de alguns canais j

    existentes, construo de vrios quilmetros de canais, desobstruo do canal

    Campos Maca, revitalizao do canal So Bento, limpeza do rio Macab,

    alm da reabertura da vala do Furado e de levantamentos topogrficos da regio.

    A Comisso do Porto de S. Joo da Barra e Baixada Noroeste do Estado do Rio

    do Janeiro, atuou apenas por trs meses, tempo bastante para levantar uma planta

    cobrindo aproximadamente 19 quilmetros do rio Paraba, tambm tentou dragar

    sem sucesso, a barra principal do rio Paraba do Sul, alm de descobrir caminhos

    alternativos de extravasamento das guas da lagoa Feia.

    A Comisso do canal de Maca a Campos, no atuou somente no canal Campos-

    Maca, como poderia se deduzir, efetuaram-se estudos topobatimricos e

    limpeza de vrios trechos ao longo do canal, traando sees transversais,

    instalaram vrias rguas para leitura do nvel de gua ao longo do canal, nos rios

    Macabu e Urura, lagoa Feia, no rio do Furado e na barra do Furado,

    desobstruo dos rios: Novo, Barro Vermelho, Furado, Andreza e Caxexa.

    O ano de 1925 foi marcado pela atuao de duas entidades que realizaram obras

    hidrulicas na regio, foram elas: a Comisso de Estudos e Obras Contra

    Inundaes da Lagoa Feia e Campos de Santa Cruz (subordinado a Inspetoria

    Federal de Portos, Costa e Veias Navegveis), e o Escritrio Saturnino de Brito

    (subordinado ao Governo Fluminense, Diretoria de Obras Pblicas). A comisso

    tentou aproveitar os estudos das obras anteriores, porm chegou concluso que

    no tinha muito a ser aproveitado, promoveu ento a limpeza dos cursos dgua

    escoadouros da lagoa Feia e props que a mesma tivesse apenas um vertedouro

    para escoar as guas da lagoa para o Atlntico, ou seja, comea a se desenvolver

    a ideia da construo do canal da Flecha como nico escoadouro da lagoa Feia.

    Alm de realizar estudos topogrficos e hidrolgicos a entidade terminou os

    trabalhos em 1928. J o Escritrio Saturnino de Brito apresentou como resultado

    dos estudos realizados na regio o Relatrio sobre o Melhoramento do rio

  • 30

    Paraba do Sul e lagoa Feia, onde se deparou com o mesmo problema da

    Comisso de Federal de 1925, pois no se tinha conhecimento dos resultados

    dos estudos anteriores, nem de documentos que servissem de referncia. O

    sanitarista queixou-se tambm dos desperdcios de verbas da Unio, pois nada

    de concreto havia sido documentado, o Escritrio Saturnino de Brito atuou at o

    ano de 1930. Entre as duas entidades apresentadas acima existem opinies

    contrrias em relao bacia da lagoa Feia, isso porque, para a Comisso de

    Estudos e Obras Contra Inundaes da Lagoa Feia e Campos de Santa Cruz,

    deveria existir somente um escoadouro das guas da lagoa em questo que seria

    o canal da Flecha, abandonando os sangradouros, porm o escritrio sustentava

    a ideia de que os sangradouros da lagoa Feia deveriam ser conservados, pois era

    mais coerente escoar as guas da lagoa por mais de um vertedouro.

    Analisando as informaes acima, percebe-se que as obras de drenagem da

    Baixada Campista ora so de responsabilidade do Governo Fluminense ora so de

    responsabilidade do Governo Federal. Nota-se, entretanto os anos de 1933 e 1989

    somente dois rgos foram responsveis pelas grandes obras hidrulicas que mudaram a

    paisagem da regio.

    O ano de 1933 foi muito importante para Campos e regio, pois a demografia do

    municpio comeava a crescer, assim como sua produo agrcola. Isso aconteceu

    porque o ento Presidente a Repblica Getlio Vargas tomou duas medidas para salvar

    o maior municpio agrcola do estado do Rio de Janeiro da falncia (LAMEGO, 1945,

    p. 166). A primeira medida foi criao do IAA (Instituto do Acar e do lcool),

    rgo fiscalizador e gerenciador da atividade aucareira da regio, que aumentou a

    produo do lcool anidro em Campos.

    Segundo Lamego (1945, p. 121), com a construo da Destilaria Central do Rio

    de Janeiro a produo de lcool chegou 22.000.000 de litros no ano. Nesse contexto,

    Campos se tornou o principal produtor de cana do estado e do Brasil. Os Quadros 2 e 3

    mostram o progresso da produo das principais usinas do estado. Em um ano a

    produo da Destilaria Central quase triplicou, e a produo brasileira tambm

    aumentou consideravelmente, graas ao estado do Rio de Janeiro em especial ao

    municpio de Campos dos Goytacazes.

  • 31

    Tabela 2 Produo de lcool anidro unidade: litro

    USINAS 1937 1938 1939

    Conceio de Macab......................................

    Cupim.............................................................

    Outeiro............................................................

    Queimado.......................................................

    Santa Cruz......................................................

    So Jos.........................................................

    Destilaria Central do Estado do Rio.............

    Total...............................................................

    _

    653 735

    685 580

    1 254 990

    2 701 468

    539 868

    _

    5 835 641

    _

    938 220

    1 009 549

    383 220

    3 110 088

    4 043 910

    3 811 897

    12 296 884

    130 111

    965 900

    116 139

    147 461

    2 529 622

    2 654 798

    9 530 508

    16 074 539

    BRASIL.......................................................... 16 397

    781

    31 919 934 38 171 502

    % de Campos sobre o total do Brasil............ 35,5 % 38,5 % 42,1 %

    Fonte: Lamego (1945, p.121).

    Tabela 3 - lcool de todas as graduaes unidade: litro

    Especificao 1937 1939

    Campos...............................................

    Brasil..................................................

    14 759 634

    15 146 358

    23 657 969

    96 714 715

    % de Campos sobre o total do Brasil 24,9 % 24,5 %

    Fonte: Lamego (1945, p.122).

    A segunda medida adotada por Vargas, ainda no ano de 1933, foi a criao da

    Comisso de Saneamento da Baixada Fluminense, sob a chefia do engenheiro

    Hildebrando de Arajo Gis. A partir da criao dessa comisso vrios estudos foram

    realizados, alm de plantas areas para que os engenheiros tivessem a noo exata da

    grande obra que deveria ser feita, desta vez as obras sairiam do papel.

    A Comisso de Saneamento adotou na prtica o plano higienista, este tinha

    como objetivo identificar as guas paradas e elimin-las, isso porque esses ambientes

    eram considerados como locais de reproduo e proliferao de mosquitos vetores de

    doenas, tais como: febre amarela, malria, dengue entre outras. Para isso o Governo

  • 32

    Federal realizou altos investimentos na Baixada Campista. Vargas percebeu que era

    preciso combater trs problemas, os quais segundo ele atrapalhavam o progresso da

    nao.

    H no Brasil, trs problemas fundamentais, dentro dos quais, est triangulado

    o seu progresso: sanear, educar, povoar. O homem produto do habitat.

    Disciplinar a natureza aperfeioar a vida social. Drenar pntanos, canalizar

    as guas para as zonas ridas, transformando-as em celeiros fecundos,

    conquistar a terra. Combater as verminoses, as endemias, as condies

    precrias de higiene, criar o cidado capaz e consciente. Sanear, educar,

    povoar eis a palavra de ordem, cuja difuso e cumprimento devem presidir o grande projeto da valorizao do capital humano (VARGAS apud VARGAN, 2007, p. 167).

    Pode-se perceber nas palavras de Vargas, o desejo de domesticar todos os

    ambientes hostis do territrio brasileiro, e com isso aumentar expectativa de vida da

    populao e desenvolver o pas economicamente. A domesticao do ambiente da

    Baixada Campista atendeu as necessidades da populao que exigia obras de

    saneamento, mas foi o fator econmico que foi levado em considerao. Nesse

    contexto, muitas lagoas e cursos dgua foram drenados, dando lugar a lavouras de

    cana-de-acar.

    Entre os anos de 1933 a 1940 foram realizadas vrias obras, tais como: dique de

    alvenaria para reter s guas do rio Paraba do Sul nos perodos de cheia, os canais de

    Iterer e Cacumanga e do rio da prata so iniciados, limpeza e desobstruo, seja de

    sedimentos ou vegetao de vrios cursos dgua, dragagem e canalizao de rios na

    Baixada Campista, destaque para o rio Andresa na localidade de Santo Amaro e os

    cursos dgua gua Preta, Quitinguta e rio Doce que foram reabertos, alm de retomar a

    ideia de realizar a obra de construo do canal da Flecha que vai esgotar parcialmente a

    lagoa Feia para o Atlntico e dessecar imensas reas no Furado. (LAMEGO, 1945, p.

    166).

    Ainda segundo o autor, a atuao da Comisso de Saneamento da Baixada

    Fluminense agradou ao Governo Federal, visto que, o mesmo associou queda mdia

    anual de mortalidade pela malria na regio, ao sucesso das obras realizadas.

    O ano de 1940 foi muito importante para o Brasil e principalmente para a

    Baixada Campista, pois devido aos bons resultados obtidos nas obras descritas no

    quadro acima, o presidente da repblica Getlio Vargas decidiu ampliar a Diretoria de

    Saneamento da Baixada Fluminense criando o Departamento Nacional de Obras e

    Saneamento atravs do Decreto - Lei n 2.367. Por se tratar de um rgo federal, o

  • 33

    DNOS passou a ter atribuies, principalmente para executar a poltica nacional de

    saneamento geral e bsico, em mbitos rural e urbano, lutar contra inundaes,

    enchentes, recuperao de reas para o aproveitamento das atividades agrcolas ou

    instalao de indstria e fbricas, combate a eroso, controle contra a poluio dos

    corpos hdricos, alm de instalar sistemas de esgoto (CARNEIRO, 2003, p. 42).

    Lamego faz o seguinte comentrio aps a criao do rgo Federal evidenciando

    as expectativas de todos.

    Com a nossa imensido continental, agora a seu encargo, a obra gigantesca.

    Hildebrando de Gis e seus engenheiros vo dilatar a rea do Brasil,

    melhorar o homem pela sade e engrandecer a nossa economia com o

    aproveitamento de zonas das mais frteis, porque so justamente as de

    aluvies margem ensopada dos grandes rios, onde o hmus fecundado

    aguarda h milnios para suprir frutuosamente nas lavouras. E toda essa obra

    de tits germinou da experincia obtida na Baixada Fluminense, onde afinal o

    auxilio do Governo, com um servio permanente, socorre o homem na sua

    histrica luta contra o brejo (LAMEGO, 1945, p. 168).

    Embora o Departamento Nacional de Obras e Saneamento tivesse atuado em

    vrias cidades brasileiras, a Baixada Campista foi o seu maior alvo, onde mais investiu

    e atuou. O DNOS alm de sanear o ambiente, aumentou tambm a rea agricultvel da

    Baixada Campista, dessecando vrios cursos dgua, lagoas e alagadios, ou seja,

    mudou todo o sistema hdrico da regio, o que agradou aos fazendeiros e usineiros.

    Segundo Soffiati Netto (2005, p. 61) particularmente na regio norte do estado do Rio

    de Janeiro, onde sua ao vai revestir-se de um carter cosmognico, civilizatrio e

    mantenedor da ordem.

    Carneiro (2003, p. 43) relata que: Ademais, fontes histricas indicam que reas

    rurais da Baixada dos Goytacazes os projetos de drenagem sempre estiveram

    (inexoravelmente) relacionados valorizao fundiria. Em uma entrevista que foi

    concedida a Paulo Roberto Carneiro, Soffiati Netto relata que:

    A atuao do DNOS permitia e legitimava a expanso das atividades

    agropecurias na regio. Utilizava-se um discurso de recuperao da rea, como se em um dado momento histrico as atividades agropecurias

    tivessem perdido as terras para as guas, quando na verdade o que havia era o

    fenmeno inverso. Ento o discurso do DNOS era de recuperar estas terras, como se estas terras tivessem sido perdidas, em alguma poca, para as guas,

    e estivessem sendo reintegradas s atividades econmicas (CARNEIRO,

    2003, p. 43).

  • 34

    As transformaes econmicas ocorridas na regio desencadearam uma

    reestruturao das terras agrrias. At os primeiros anos do sculo XX predominavam

    os minifndios e a agricultura familiar com suas pequenas propriedades, esses foram

    incentivados por Vargas em 1936, porm com a chegada das novas tecnologias para a

    indstria aucareira e a drenagem de grandes reas que antes eram brejos ou lagoas,

    passa a ocorrer uma concentrao de terras no municpio dando origem ao latifndio na

    regio (CARNEIRO, 2003, p. 44).

    O Departamento Nacional de Obras e Saneamento travou uma intensa luta

    contra as guas da plancie. Segundo Carneiro (2003, p. 42), a implementao dos

    grandes projetos de drenagem da Baixada Campista proporcionou um salto na eficincia

    de controle das guas, porm essas intervenes mexeram com os atores poltico-

    institucionais, econmicos e socioculturais. O DNOS trabalhou paralelamente em duas

    causas assim por dizer: a sanitarista para eliminar os mosquitos vetores de doenas, e a

    expanso das atividades econmicas da Baixada Fluminense em especial na Baixada

    dos Goytacazes, visando um maior aproveitamento das atividades aucareiras.

    O DNOS alterou toda dinmica hdrica da regio, e criou um complexo sistema

    artificial de canais que serviram em um primeiro momento para drenar extensas reas,

    mas, que tambm serviram para irrigar a rea rural da Baixada Campista. Atravs dos

    canais de drenagem foi criada uma ligao permanente entre as bacias do rio Paraba do

    Sul e da lagoa Feia, visto que, boa parte dos canais construdos na margem direita tem

    aduo no rio Paraba do Sul e desguam na lagoa Feia ou no canal da Flecha. O Mapa

    5 abaixo mostra a complexa obra hidrulica realizada pelo DNOS, principalmente na

    margem direita do rio Paraba do Sul.

  • 35

    Mapa 5 - Obras realizadas pela Comisso de Saneamento da Baixada Fluminense e do

    DNOS.

    Fonte: BIDEGAIN, Paulo B at al (2002, p. 62).

    Um fator importante e que deve ser levado em considerao para entender a

    intensidade das grandes intervenes nos ecossistemas da regio, que beneficiaram ao

    setor agrcola, foi a criao da Lei n 4.089, de 13 de Julho de 1962. Ela foi importante

    porque o DNOS foi transformado em uma autarquia, com autonomia administrativa e

    financeira.

    Para muitos fazendeiros e usineiros a obra realizada pelo, o DNOS foi a melhor

    coisa que poderia ter acontecido, pois a rea de suas propriedades aumentaram muito e

    foram valorizadas. Exemplo disso foi s terras de fazendeiros a margem da lagoa Feia,

    logo aps a construo do canal da Flecha o espelho dgua da lagoa reduziu de

    aproximadamente 370 km2 para 170 km

    2 (CARNEIRO, 2003, p. 55).

  • 36

    Cabe ressaltar que os canais de drenagem no primeiro momento serviam para

    drenar reas alagadas a fim de sanear essas reas e aumentar as reas agricultveis,

    porm para conseguir produzir uma agricultura eficiente necessrio ter um sistema de

    irrigao, principalmente em Campos que tem um baixo ndice pluviomtrico. Desta

    forma os canais de drenagem serviram, e ainda servem para irrigar a zona rural do

    municpio. A irrigao poderia resolver o problema da baixa produtividade da lavoura e

    aquecer a economia do norte do estado do Rio de Janeiro. Para Carneiro (2003, p. 61), o

    problema de infraestrutura para a irrigao da cana-de-acar adquire foros de grande

    causadora da crise da regio Norte Fluminense.

    O DNOS juntamente com o IAA foi extinto no ano de 1990, pelo presidente

    Fernando Collor de Melo, que queria promover reformas administrativas e acabar com

    as relaes clientelistas em todo Brasil, estabelecidas principalmente no perodo

    ditatorial. Com a extino do DNOS, a situao dos canais da Baixada Campista

    comeou a ficar complicada, pois no foi criado outro rgo que assumisse as

    atribuies do extinto departamento. O resultado do abandono do complexo sistema de

    canais a sua degradao fsica, alm dos conflitos relacionados ao abastecimento da

    rea rural do municpio (CARNEIRO, 2003, p.62).

    Para amenizar os problemas resultantes da extino do DNOS, o Governo

    Federal encarrega o Ministrio da Integrao Nacional de assumir as atribuies do

    extinto Departamento Nacional de Obras e Saneamento. No ano de 2000 comeam as

    iniciativas de acertar um acordo com o governo do estado do Rio de Janeiro, no intuito

    de ajudar na manuteno e gerenciamento do sistema de canais da regio. Dessa forma

    o Ministrio da Integrao Nacional assina o convnio de cooperao com a SERLA

    (Superintendncia Estadual de Rios e Lagoas), onde ficou definido que ela ficaria

    responsvel pelos recursos financeiros para elaborao de um plano de revitalizao do

    sistema de canais de drenagem da regio. A diretoria da Superintendncia Estadual de

    Rios e Lagos criou um grupo chamado GAI (Grupo de Articulao Institucional) que foi

    formado por parcerias entre os diferentes atores que estavam envolvidos diretamente ou

    indiretamente na questo dos canais de drenagem. O objetivo era discutir como seriam

    aplicados os recursos do governo federal e quais os canais seriam priorizados, pois o

    abandono dos mesmos estava ocasionando prejuzos para as reas de produo

    (VARGAN, 2007, p. 169).

    O canal Coqueiros, objeto de estudo deste trabalho, est inserido no contexto

    citado acima, trata-se de canal artificial com sua aduo no rio Paraba do Sul na rea

  • 37

    central da cidade. Nesse trecho, o curso dgua foi construdo no intuito de dar vazo s

    guas do rio Paraba do Sul e das chuvas nas pocas das enchentes e drenar alagadios

    existentes prximos ao centro da cidade. Porm ele se estende at a rea rural do

    municpio, onde se encontram culturas menores e a monocultura da cana. A gua que

    pode ser considerada um problema para a populao a jusante do canal, torna-se soluo

    para as pessoas que esto a montante e dependem dela para suas atividades.

  • 38

    3 - A PAISAGEM REVELADORA DOS PROBLEMAS AMBIENTAIS DA REA

    URBANA DO CANAL COQUEIROS

    Paisagem est relacionada aos sentidos humanos, o que se pode perceber e

    apreender de uma realidade do espao est ligada sensibilidade humana, o domnio do

    visvel, mas no somente, pois formada tambm por cores, odores, sons (SANTOS,

    1994, p. 41). O mesmo autor faz ponderaes sobre a paisagem natural e artificial da

    seguinte forma:

    A paisagem artificial a paisagem transformada pelo homem. Se no passado

    havia a paisagem natural, hoje essa modalidade de paisagem praticamente

    no existe mais [...]. Quanto mais complexa for a vida social, tanto mais nos

    afastamos de um mundo natural e nos endereamos a um mundo artificial

    [...], este parece ser o caminho da evoluo (Santos, 1988, p. 64-65).

    As paisagens artificiais esto presentes de forma mais significativas nas reas

    urbanas, mas isso no quer dizer que na rea rural elas no existam (SANTOS, 1988, p.

    24). As paisagens urbanas esto passando por srios processos de degradao

    ambiental, tal fato deve-se a poluio de mananciais, esgoto a cu aberto, terrenos que

    so depsitos de lixo entre outros. O permetro urbano da cidade de Campos dos

    Goytacazes cujo canal Coqueiros perpassa revela os problemas scio-ambientais

    presentes na paisagem.

    Segundo Vieira e Cunha (2006, p. 112) as intervenes antrpicas no ambiente

    tem acelerado os processos modificadores e de desequilbrios da paisagem. Tais

    intervenes tem resultado em considerveis impactos ambientais sobre o meio urbano,

    dentre os quais se pode destacar as ilhas de calor, o aumento das precipitaes, o

    aumento da vazo dos picos de cheia e estrangulamento das sees transversais dos rios,

    causado pelas obras de canalizao, assoreamento, depsito de lixo e aterro.

    3.1 - Problemas Ambientais Urbanos

    As cidades so as construes humanas de maior impacto na superfcie terrestre.

    O uso urbano, no industrial embora responda apenas por cerca de um tero da demanda

    pela gua, contribui com mais da metade das cargas poluidoras dos cursos dgua

    (BRAGA, 2003, p. 113).

    Desta forma os rios e canais que perpassam reas urbanas tem se tornado

    depsito lixo e esgoto a cu aberto, as zonas rurais tambm tem sua parcela de poluio

    dos cursos dgua, fazendo o descarte inadequado de agrotxicos.

  • 39

    Pode-se observar o crescimento da urbanizao principalmente prximo a

    ambientes que deveriam ser preservados, a falta de fiscalizao por parte das

    autoridades responsveis, favorece ao surgimento de loteamentos irregulares,

    prejudicando o uso coerente do solo. Os loteamentos irregulares no so indicadores de

    classe social baixa, visto que, esses tambm so produzidos por populaes de alto

    poder aquisitivo. Nesse contexto o processo de urbanizao, e a especulao imobiliria

    desenfreada contribuem para a degradao do ambiente.

    O parcelamento indiscriminado do solo nas periferias urbanas uma das

    principais fontes de problemas ambientais das cidades. De todas as indstrias

    urbanas poluentes, a indstria do lote talvez seja a mais perniciosa de todas, pois, alm de ser de fcil disseminao, a demanda por seu produto

    virtualmente inesgotvel e seus efeitos so dificilmente reversveis (BRAGA,

    2003, p. 1).

    A especulao imobiliria promove a indstria do lote essa obedece s

    regras do capitalismo. Com o desenvolvimento desse sistema, a natureza passa a ser

    vista como um produto, incentivando o avano do homem sobre o meio natural. A

    apropriao de reas naturais passa a ser justificada por um apelo de uma melhor

    qualidade de vida das pessoas. Porm percebe-se o contrrio, a urbanizao sobre o

    meio natural acaba por acelerar um processo de degradao ambiental que muitas vezes

    torna-se quase irreversvel. A ocupao do homem sobre o meio algo que sempre

    existiu, porm os impactos eram menores, o que permitia que a natureza se recuperasse

    de forma gradativa. Souza salienta que:

    A degradao ambiental diz respeito destruio e a ruptura do equilbrio de

    ecossistemas naturais. Ademais, compreendida de modo conservador, essa

    destruio e essa ruptura so debitadas na conta da ao humana ou, como dizem os cientistas naturais, fator antrpico (SOUZA, 2000, p. 113).

    Segundo Souza (2000, p. 118), ricos e pobres tem sua parcela de participao no

    processo de degradao ambiental, mas so as pessoas de menor pode aquisitivo que

    sofrem as consequncias de viver em um ambiente degradado muitas vezes insalubre,

    perdendo em qualidade de vida. Os ricos dispem de recursos financeiros que

    possibilitam a sua mobilidade espacial, procurando novas reas para moradia que lhes

    ofeream maior qualidade de vida.

    O crescente aumento da populao brasileira contribui para os problemas

    urbanos, porque a maior parte da populao vive nas cidades, esse um fator que

  • 40

    agrava os problemas ambientais. O tipo de urbanizao que vem sendo implantada em

    nosso pais atualmente acaba por modificar vrios elementos naturais, tais como: solo, a

    geomorfologia, a vegetao, a fauna, a hidrografia, e o clima. As transformaes desses

    elementos so responsveis por toda a mudana na paisagem. Dessa forma, falar em

    paisagem urbana virou em muitos casos, sinnimo de paisagem degradada com pssima

    qualidade do ar, irregularidade do ciclo hidrolgico, desmatamento de mata ciliar e

    rvores, poluio de rios e outras formas de agresso ao ambiente (BRAGA, 2003,

    p.114).

    Tabela 4 Os Principais impactos ambientais da urbanizao

    Elementos do meio Principais Efeitos/Processos

    Solo Impermeabilizao, Contaminao,

    Eroso.

    Relevo Movimentos de massa.

    Hidrografia Desregulao do ciclo hidrolgico,

    Enchentes, Poluio de mananciais,

    Contaminao de aquferos.

    Ar Poluio (principais poluentes: SO2, CO,

    Material particulado).

    Clima Efeito estufa, Ilhas de calor,

    Desumidificao.

    Vegetao Desmatamento, Reduo da diversidade,

    Plantio de espcies inadequadas.

    Fauna Reduo da diversidade, Proliferao da

    fauna urbana, Zoonoses.

    Homem

    Estresse, Doenas urbanas (infecciosas,

    degenerativas, mentais), Violncia urbana.

    Fonte: Braga, 2003, p. 115.

  • 41

    3.2 - Polticas de Saneamento

    Segundo Silva (2004, p. 15), o saneamento bsico refere-se a uma rede de

    abastecimento de gua e ao esgotamento sanitrio. Quanto ao saneamento ambiental,

    esse vai mais alm, ele diz respeito a um conjunto de aes sobre o ambiente que visam

    melhorar a qualidade de vida das pessoas, controlando a poluio das guas, do solo e

    do ar, atravs do abastecimento de gua, esgotamento sanitrio, gesto de resduos

    slidos urbanos, drenagem pluvial e o controle de vetores.

    O Plano Diretor do municpio de Campos dos Goytacazes entende o saneamento

    bsico como um conjunto de aes que vo alm de cuidar da gua e do esgoto. O

    documento especfica essas atribuies:

    Art.60 - Considera-se saneamento bsico o conjunto de servios, infraestrutura e

    instalaes operacionais de:

    I - Abastecimento de gua potvel: constitudo pelas atividades, infraestruturas e

    instalaes necessrias ao abastecimento pblico de gua potvel, desde a captao at

    s ligaes prediais e respectivos instrumentos de medio;

    II - Esgotamento sanitrio: constitudo pelas atividades, infra-estrutura e instalaes

    operacionais de coleta, transporte, tratamento e disposio final adequados dos esgotos

    sanitrios, desde as ligaes prediais at o seu lanamento final;

    III - Limpeza urbana e manejo de resduos slidos: conjunto de atividades,

    infraestrutura e instalaes operacionais de coleta, transporte, transbordo, tratamento e

    destino final do lixo domstico, hospitalar e industrial alm do lixo originrio da

    varrio e limpeza de logradouros e vias pblicas;

    IV - Drenagem e manejo das guas pluviais urbanas: conjunto de atividades, infra-

    estruturas e instalaes operacionais de drenagem urbana de guas pluviais, de

    transporte, deteno ou reteno para o amortecimento de vazes de cheias, tratamento

    e disposio final das guas pluviais drenadas nas reas urbanas.

    Pode-se perceber que a proposta de saneamento bsico feita pelo Plano Diretor

    de Campos prope aes que esto presentes na ideia do saneamento ambiental. Ela tem

    por objetivo ampliar suas aes a fim de proporcionar uma melhor qualidade de vida

    para a populao. Souza (2000, p. 117) salienta que a qualidade de vida no est

    relacionada a uma escala ordinal que podem ser adquirida no comrcio, mas refere-se a

    coisas que esto relacionadas com o bem-estar do indivduo. Enquanto padro de vida

    diz respeito ao poder aquisitivo dos indivduos.

  • 42

    O Presidente Getlio Vargas desde 1930 deixou claro que o saneamento era

    assunto de suma importncia para o pas, visto que a expectativa de vida dos brasileiros

    era baixa, girava em torno de 50 anos. Assim, ele deu incio ao Plano Nacional de

    Saneamento, triangulando a soluo para os principais problemas brasileiros, que

    estavam relacionados ao saneamento, povoamento e educao (SILVA, 2004, p. 19).

    Na dcada de 70, o regime militar instalado no Brasil lana um mecanismo de

    modernizao do setor de saneamento no territrio brasileiro, o Plano Nacional de

    Saneamento (PLANASA), esse se desenvolveu primeiramente em nvel municipal, e

    cabia aos municpios gerenciar a execuo dos servios e andamentos das obras de

    saneamento, ainda na mesma dcada so criadas as Empresas Estaduais de Saneamento

    que passaram a atuar em grande parte dos municpios em regime de concesso. Porm o

    PLANASA, com todas suas iniciativas, no conseguiu cumprir as metas de atendimento

    de redes de esgoto, limpeza pblica, drenagem urbana e controle de vetores. No fim da

    dcada de 80 o setor de saneamento entra em crise, para resolv-la, foi determinado na

    constituio de 1988, que os municpios seriam os responsveis pelos servios de

    interesse local como: distribuio de gua, esgoto, transporte, lixo e trnsito. (SILVA,

    2004, p. 19).

    O Presidente Fernando Collor de Melo assumiu o poder em 1990, promoveu

    reformas administrativas, tais como: a extino do DNOS (departamento Nacional de

    Obras e Saneamento) e do IAA (Instituto do Acar e lcool), duas instituies de

    grande importncia para o saneamento e para economia de Campos dos Goytacazes

    respectivamente. Em 1991 o governo Collor introduziu polticas neoliberais ao setor de

    saneamento, idealizou o Projeto de Modernizao do Setor de Saneamento (PMSS),

    com objetivo de favorecer a concesso de servios de saneamento ao setor privado e

    com o apoio do Banco Mundial, porm o projeto s foi colocado em prtica trs anos

    depois no governo Itamar.

    Ficou definido na constituio de 1988 que os municpios eram responsveis

    pelo saneamento, nesse sentido o PMSS no poderia ser colocado em prtica, mas

    atravs de estudos do Instituto de Economia do Setor Pblico em 1995, fizeram uma

    releitura da constituio com referencia no artigo 23, que estabelece competncias

    comuns dos trs nveis de poder e tambm no artigo 175, que estabelece a prestao

    adequada dos servios. Esses estudos fizeram parte de manobras do governo federal

    para retirar dos municpios a titularidade dos servios de saneamento (SILVA, 2004, p.

    23).

  • 43

    O saneamento continua sendo discutido com muita intensidade no Brasil e por

    vrios pases do mundo, pois o saneamento questo de sade pblica, mas no

    somente, esse tambm est ligado questo ambiental. Segundo Silva (2004, p. 16), a

    questo surgiu para o mundo de forma explosiva, h duas ou trs dcadas, isso porque

    os problemas enfrentados pelo meio so resultantes em muitos casos da falta de

    saneamento. Nesse contexto, rios, lagoas e crregos funcionam como depsito de lixo e

    esgoto. A gua na perspectiva de um recurso escasso est ligada a aspectos

    fundamentais da habitao dos centros urbanos, nesse sentido, os recursos hdricos tm

    estado no centro dos debates nacional e internacional, pois uma boa qualidade de vida

    urbana comea na preservao dos corpos dgua.

    A partir do movimento de criao de Empresas Estaduais de Saneamento

    incentivado pelo Governo Federal criou-se a CEDAE (Companhia Estadual de gua e

    Esgoto) ainda na dcada de 70. Essa passou a ser responsvel pelo saneamento bsico

    em todo o estado do Rio de Janeiro. Ela perdeu a concesso para a empresa guas do

    Paraba em Campos dos Goytacazes, pertencente ao grupo guas do Brasil, aps dois

    anos de entraves judiciais. Com a confirmao da concesso em 1999, a empresa assina

    seu contrato com a prefeitura, com prazo previsto de 30 anos renovveis. No que se

    refere ao saneamento ser abordado nesse trabalho questo do esgotamento sanitrio e

    do lixo, visto que, esses fatores contribuem para a degradao ambiental da rea urbana

    do canal Coqueiros.

    3.2.1 Esgotamento Sanitrio em Campos dos Goytacazes

    A rede de esgoto existente no perodo de atuao da CEDAE era insuficiente,

    pois atendia somente 30% dos domiclios, sendo que somente 10% do esgoto coletado

    eram tratados, o que no recebia tratamento era jogado nos canais de drenagem e no rio

    Paraba do Sul. Os principais problemas de sade da populao esto ligados

    deficincia no saneamento da regio (SILVA, 2004, p. 43).

    A concessionria guas do Paraba (CAP), empresa responsvel pelo

    esgotamento sanitrio e distribuio de gua no municpio, foi ganhadora do Prmio

    Nacional da Qualidade em Saneamento (PNQS) ciclo 2010 nvel um, a empresa

    divulgou um texto com 62 pginas, no qual ela relata as aes que a levaram a receber

    tal premiao. Os dados apresentados nesse trabalho relacionado CAP foi extrado do

    documento divulgado pela empresa.

  • 44

    Silva (2004, p. 51), comparou os dados do senso de 1991 e 2000 do IBGE

    (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatstica) relacionados rede de coleta de esgoto

    em Campos - RJ. Em 1991 existiam 92.391 domiclios particulares em Campos dos

    Goytacazes, desses apenas 27.954 aproximadamente 30,25%, eram atendidos por rede

    de coletas de esgoto, j no senso 2000 constatou-se que existiam 112.037 domiclios no

    municpio, sendo que somente 38.812 deles eram beneficiados com rede de esgoto o

    que equivale a 34,65%. O grfico abaixo faz um comparativo dos sensos 1991 e 2000

    comparando os resultados apenas da coleta de esgoto nas escalas: municipal, estadual e

    nacional.

    Grfico 1 - Rede de coleta de esgoto, segundo o senso do IBGE de 1991 e 2000

    Fonte: SILVA, 2004, p. 50

    Analisando os dados acima nota-se que a coleta de esgoto cresceu, porm o

    ndice de coleta em Campos dos Goytacazes inferior aos ndices do estado e do Brasil.

    A maior parte do esgoto recolhido pela rede geral no seguido de tratamento lanado

    in natura em corpos hdricos, causando poluio e at destruio da fauna (SILVA,

    2004, p. 51). Ele afirma que 60% do esgoto de Campos que no so recolhidos pela rede

    esto ligados rede de drenagem pluvial, o que ilegal, ou so lanados in natura nos

    canais de drenagem, lagoas, rios ou condicionados em sumidouros e fossas sem

    especificaes tcnicas.

    Em 2004, a concessionria guas do Paraba inaugurou sua primeira ETE

    (Estao de Tratamento de Esgoto) afim de, diminuir o porcentual de esgoto lanados

    nos cursos dgua. A partir da foram construdas mais trs ETE em Campos, conforme

    ilustra o quadro abaixo.

  • 45

    Tabela 5 - Instalao das Estaes de Tratamento de Esgoto

    Instalao Endereo

    ETE Chatuba Estrada do Carvo Chatuba

    ETE Guars Travessa Nunes Faria s/ n - Guarus

    ETE Codin Codin Rua Machado Faria, 2 Codin

    ETE Imperial Rua Professora Benedita Gouveia s/ n - Parque

    Imperial

    Fonte: adaptado de guas do Paraba, 2010, p.5.

    Carneiro et al (2006, p.68) ressalta que na resoluo n 4 da Conferncia

    Municipal item Saneamento Ambiental de 2003, ficou decidido que seria cobrado metas

    no setor de saneamento, essas seriam: a efetivao da universalizao do servio de

    abastecimento de gua at 2006 e a coleta e tratamento de esgoto em 1/3 dos domiclios

    at 2004, 2/3 dos mesmos at 2007 e na sua totalidade no ano de 2010. Porm a prpria

    empresa trata a questo da coleta e tratamento do esgoto como algo a ser resolvido em

    longo prazo, visto que, o contrato com a prefeitura de trinta anos, com isso a CAP

    (Concessionria guas do Paraba) traa suas prprias metas. O quadro