a osi e o surgimento do pt

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  • 7/29/2019 A OSI e o Surgimento Do PT

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    UNIVERSIDADE FEDERAL DO PARAN

    EDMAR ALMEIDA DE MACEDO

    ESQUERDA E POLTICA NO BRASIL (1978-1980):

    A ORGANIZAO SOCIALISTA INTERNACIONALISTA E O SURGIMENTO

    DO PARTIDO DOS TRABALHADORES

    CURITIBA

    2008

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    EDMAR ALMEIDA DE MACEDO

    ESQUERDA E POLTICA NO BRASIL (1978-1980):

    A ORGANIZAO SOCIALISTA INTERNACIONALISTA E O SURGIMENTO DO

    PARTIDO DOS TRABALHADORES

    Monografia apresentada ao Curso de Histria,Setor de Cincias Humanas, Letras e Artes, daUniversidade Federal do Paran, comorequisito parcial obteno do grau deBacharel em Histria.

    Orientadores:Prof. Dr. Angelo Jos da SilvaProf. Dr. Antnio Csar de Almeida Santos

    CURITIBA

    2008

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    Dedico esta pesquisa aos meus pequenosVincius, Eduardo e Rafael.E memria de Carlos Alberto Recacho.

    Agradeo aos meus orientadores, pela

    pacincia, exemplo e inspirao; aosmeus pais pelo incentivo; e a Simone pelocompanheirismo e apoio.

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    O historiador no nem um censor nem umjuiz, simplesmente trata de devolver um hlito devida ao passado humano e no de reconstruirmecanismos desumanos. Mutilar a vida todoaquele que, em suas pginas, no deixe arder apaixo, que consumiu outros homens, florescer a

    esperana ou chorar a decepo (...).

    Pierre Brou

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    RESUMO

    Esta pesquisa, inscrita no campo da histria poltica, na temtica acerca daesquerda e poltica, possui como objetivo recuperar um aspecto da histria do

    trotskismo no Brasil a partir da trajetria da Organizao Socialista Internacionalista(OSI), e sua relao com o Partido dos Trabalhadores (PT). A pesquisacircunscreveu-se aos anos de 1978 a 1980, durante as etapas de distenso eabertura do regime militar. A problemtica est centrada em desvendar omovimento aparentemente contraditrio da maior organizao trotskista brasileiraneste perodo, em relao ao nascente Partido dos Trabalhadores, posto que a OSIcombateu o surgimento do PT at 1979 e integrou-o a partir de 1980. No decorrer dotrabalho buscamos mostrar como a concepo dos trotskistas acerca dos sindicatosesteve na raiz deste movimento de negao e posterior aceitao em relao aonovo partido. Para construir nossas concluses passamos ainda por uma discussoacerca dos princpios do trotskismo, assim como tambm apresentamos algumas

    consideraes sobre a gnese petista. O recorte terico-metodolgico est baseadona anlise do contedo ideolgico do contradiscurso da OSI em relao ao PT, apartir de sua ao poltica e dos princpios que a norteavam.

    Palavras-chave: Esquerda; Trotskismo; Partidos Polticos; Sindicalismo.

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    SUMRIO

    1. INTRODUO ............................................................................................... 62. O TROTSKISMO, A DITADURA E O SURGIMENTO DO PT ...................... 142.1..O TROTSKISMO, A IV INTERNACIONAL E A OSI ..................................... 142.1.1..O trotskismo .............................................................................................. 142.1.2..A IV Internacional ...................................................................................... 172.1.3..O trotskismo no Brasil ............................................................................... 202.1.4..A nova gerao do trotskismo e o surgimento da OSI .............................. 232.2..A CRISE DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA ........................................ 252.2.1..Figueiredo: a abertura e o fim do bipartidarismo .................................... 312.3..O PARTIDO DOS TRABALHADORES ........................................................ 332.3.1..O novo sindicalismo .................................................................................. 34

    2.3.2..Outros atores sociais na formao do PT ................................................. 372.3.3..A esquerda organizada e o PT ................................................................. 403. O PT E A OSI.............................................................................................. 433.1.. PT E A OSI FRENTE ESTRUTURA SINDICAL.................................... 433.1.1..O PT e a estrutura sindical ........................................................................ 433.1.2..A OSI e a estrutura sindical ....................................................................... 463.2..A OSI RECUSA O PT .................................................................................. 503.3..MUDANAS NA OSI .................................................................................... 523.3.1..A OSI entra no PT ..................................................................................... 573.4..A OSI NO PT ................................................................................................ 614. CONCLUSES .............................................................................................. 655. FONTES UTILIZADAS .................................................................................. 68REFERNCIAS ................................................................................................... 70APNDICES ....................................................................................................... 75

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    1- INTRODUO

    No campo dos estudos sobre a esquerda, sempre predominou o interesse

    pelo Partido Comunista Brasileiro, e secundariamente pelo o anarquismo. Assim, ao

    estudarmos o trotskismo, nos deparamos com o tradicional problema das questes

    pouco exploradas: por um lado h um certo ineditismo em trabalh-las, por outro

    lado existem poucos autores com quem se possa dialogar. Mais extensa a

    bibliografia a respeito do Partido dos Trabalhadores (PT), que mesmo assim est

    longe de ser satisfatria.

    A pertinncia desta pesquisa pode ser inicialmente discutida levando emconta a assertiva de Boris Fausto, que notou que a histria do trotskismo no Brasil

    tem sido pouco estudada1. Por sua vez, o historiador Vigevani afirma que

    H um campo a ser pesquisado: parece crescer entre os jovens intelectuaiso interesse (...). Uma nova gerao de polticos a partir do incio dos anos1990 e o papel destacado de antigos militantes trotskistas no seio das elites,o significado do Partido dos Trabalhadores, alm dos grandesacontecimentos internacionais, tudo isto estimula a pesquisa. 2

    Alguns autores que investigaram a formao do PT e/ou o trotskismo

    brasileiro, j apresentaram alguns elementos teis para o desenvolvimento dessa

    monografia. Nos concentraremos nos autores que abordam a relao entre a

    Organizao Socialista Internacionalista e o PT.

    Notadamente, a discusso a respeito da integrao da OSI ao PT

    abordada na maioria das vezes como simples nota de informao, procurando

    reduzir este fato a um captulo menor na formao do Partido. Essa reduo tambm

    atinge as outras correntes de pensamento trotskista. Com diferenciao em relao

    ao detalhamento das informaes, estes autores registram que a OSI colocou-se

    contrria formao do PT, caracterizando-o como mais um sustentculo da

    1 FAUSTO, Boris. A utopia radical do trotskismo no Brasil. Folha de So Paulo, 23 mai. 2004.

    Caderno Mais. p. 3. col. 3.2 VIGEVANI, Tullo. Apresentao. In: LEAL, Murilo. esquerda da esquerda. Trotskistas,comunistas e populistas no Brasil contemporneo (1952-1966). So Paulo: Paz e Terra, 2004. p.15.

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    ditadura militar, para, a partir de 1980 comear a rever esta posio, vindo a integrar

    o novo partido. Nesta linha seguem Jos Roberto Campos3 e Antonio Ozai da Silva4.

    Ligeiramente diferente a verso que mostra um movimento pendular da

    OSI em relao ao PT, indo da proximidade ruptura e posterior integrao. Neste

    sentido vo Dainis Karepovs e Murilo Leal5 que utilizam como fontes de suas

    pesquisas as publicaes das organizaes trotskistas do perodo e entrevistas com

    dirigentes destas organizaes traando um panorama das idias e organizaes

    trotskistas do perodo. Ambos informam que a OSI chegou a participar das

    articulaes iniciais do PT atravs de membros do sindicato dos coureiros e do

    sindicato dos artistas, entre outros, tendo, no entanto, decidido abandonar os novos

    sindicalistas e passado a combater a formao do PT. Registram ainda que,durante 1980, mudaram de posio, ingressando no PT.

    No campo dos que se dedicaram formao do PT, vemos uma tnica

    comum: a dificuldade de caracterizar as posies da OSI, em especial pela no

    distino entre ela prpria e seu brao estudantil, a Liberdade e Luta (conhecida

    como Libelu).6 Diferentemente daqueles que se dedicam ao estudo do trotskismo, os

    que escrevem sobre a formao do PT apresentam menos informaes a respeito

    da OSI. Uma destas autoras, Margaret Keck, pesquisadora da gnese petista,apesar de notar que faces da esquerda organizada, em especial os grupos

    trotskistas, foram ativos promotores da formao do partido, informa que

    No momento em que o partido se formava, a Liberdade e Luta organizao sobretudo estudantil que marcava presena nos campiuniversitrios por volta do perodo das greves estudantis de 1977 e que erafamiliarmente conhecida por seu acrnimo, Libelu e o MEP (...) ainda

    3 O jornalista Jos Roberto Campos em obra sobre o trotskismo como movimento internacionaldedica o ltimo captulo de seu livro ao trotskismo no Brasil. Ver CAMPOS, Jos Roberto. O que trotskismo. So Paulo: Brasiliense, 1981.4 Em sua obra faz uma longa e detalhada discusso a respeito das organizaes de esquerda noBrasil, em especial as de orientao marxista, buscando discutir suas diferenas, propostas,modificaes de discurso e orientao. Com relao s fontes, que o autor utiliza em abundncia,elas constituem-se de boletins e resolues das organizaes de esquerda, jornais e outros, e estoem uma longa lista ao final da obra, contudo, s h referncias indiretas a elas no corpo do trabalho.Ver SILVA, Antnio Ozai da. Histria das tendncias no Brasil. (origens, cises e propostas ). 2ed. So Paulo: [s.n], [198-].5 Trata-se de uma tentativa de reconstruo da trajetria dos trotskistas brasileiros de 1966 a 2000:

    KAREPOVS, Dainis e LEAL, Murilo. Os trotskismos no Brasil: 1966-2000. p 153-234. In.: RIDENTI,Marcelo e REIS, Daniel Aaro (Orgs). Histria do marxismo no Brasil. V 6. Campinas: Editora daUnicamp, 2007. p 155-156.6 No decorrer da monografia veremos qual era a relao entre a OSI e a Libelu.

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    consideravam Lula um pelego, sobretudo por causa do papel quedesempenhara ao pr fim greve de 1979.7

    Na mesma linha segue outra pesquisadora, Raquel Meneguelo, que divide

    em trs tipos as orientaes das esquerdas em relao a formao do PT:

    Primeiramente aquelas que queriam fazer do PT uma frente de massas, onde

    localiza o MEP (Movimento pela Emancipao do Proletariado); depois aquelas que

    queriam construir, a partir da esquerda do PT uma vanguarda marxista-leninista,

    onde localiza o Secretariado Unificado e uma parte do grupo Libelu (Liberdade e

    Luta), tendncia estudantil denominada atualmente8 Frao Quarta

    Internacionalista9; e, finalmente, aquelas que se mantinham com orientao

    propagandstica paralela s diretrizes do PT, e que esta orientao mostrou

    concepes sectrias sobre o partido dentro do prprio conjunto dos grupos de

    esquerda: definia o grupo sindicalista como burocracia leninista(...)10; nesse grupo

    Meneguelo localiza a OSI.

    Preliminarmente, vemos a dificuldade da autora em distinguir a OSI da

    Libelu, produzindo uma anlise turvada por esta confuso. Corrobora nossa posio

    o fato da denominao Frao Quarta Internacionalista ter sido adotada pela OSI a

    partir de 198411 e no pela Libelu, como afirma Meneguelo, posto que a correnteestudantil deixou de existir em meados da dcada de 1980. Tambm fica a dvida

    sobre qual seria o contedo da crtica atribuda OSI, ao caracterizar os

    sindicalistas do novo sindicalismo como burocracia leninista, uma vez que o

    conceito de burocracia utilizado pelos trotskistas est ligado a crtica ao stalinismo12,

    e no a Lnin, cujo legado defendido pelos trotskistas.

    Esta breve discusso bibliogrfica mostra que o assunto que estamos

    abordando as relaes entre a OSI e o PT foi abordado, at o momento, porobras meramente informativas e pobres em anlise, apresentando reconstrues

    pouco rigorosas e confusas em relao aos trotskistas e o papel deles na criao do

    PT.

    7 KECK, Margaret. PT, a lgica da diferena. So Paulo: tica, 1991. p. 98. Suas fontes so aimprensa, entrevistas realizadas pela prpria autora, documentos do PT, entre outras.8 Lembremos que o atualmente da autora refere-se ao ano de 1989.9 MENEGUELLO, Raquel. PT a formao de um partido (1979-1982). Rio de Janeiro; Paz e terra,1989. p. 72.10 ibid. p. 73.11 Nos dias atuais a OSI chama-se Corrente O Trabalho, por conta do jornal que continua editando.12 No decorrer da monografia veremos mais sobre o conceito de burocracia, bem como as crticasfeitas pela OSI ao PT.

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    Como indicamos, estamos discutindo a formao de um partido poltico,

    enfocando especificamente como se portaram os trotskistas frente reorganizao

    partidria no perodo final da ditadura militar brasileira. Como notou Sena Jr., S

    muito recentemente os historiadores brasileiros tomaram para si a tarefa de estudar

    a histria dos partidos polticos no Brasil, rea, at ento, essencialmente ocupada

    por socilogos e cientistas polticos.13

    A pesquisa que desenvolvemos teve como objeto a Organizao Socialista

    Internacionalista (OSI), maior organizao trotskista brasileira naquele perodo. A

    OSI surgiu em 1976, fruto da unificao de alguns grupos trotskistas ento

    existentes. Tendo em conta que, de 1979 a 1983 se estabeleceram caminhos e se

    formaram organizaes que decidiram parte do que o Brasil hoje. (...) Ostrotskistas tiveram um papel destacado neste processo, maior talvez, do que em

    qualquer momento anterior da histria poltica brasileira (...)14, propusemos discutir

    como o surgimento do PT impactou de maneira diferente uma corrente poltica de

    formao anterior ao partido, com uma ideologia e programa j definidos, e com

    ligaes internacionais estabelecidas.

    Na pesquisa procuramos desvendar a recusa e posterior aceitao desta

    organizao em ingressar no PT, durante o processo de fundao e consolidao dopartido, de 1978 a 1982. Foi neste perodo de quatro anos que nasceu a idia de

    formao do PT, que ele comeou a articular-se e que foram realizados seu primeiro

    e segundo encontros nacionais. Neste recorte cronolgico esto tambm inseridas a

    elaborao, aprovao e divulgao dos documentos fundacionais do partido.15 Foi

    neste mesmo perodo que a OSI defrontou-se com a questo do PT, combatendo-o

    e, posteriormente, integrando-o.

    Devemos destacar que a OSI pugnava, desde sua fundao, pelaconstruo no Brasil de um partido operrio, capaz de levar o combate pelos

    anseios da populao explorada deste pas16. Na capa de seu jornal, por exemplo,

    a consigna Por um Partido Operrio, aparece ininterruptamente, desde o nmero

    06, de 01 de agosto de 1978. No entanto, em 1979, frente ao surgimento do PT, a

    13 SENA Jr, Carlos Zacarias F. de. Por dentro da ciso. In.: Tempo. RJ, n 18. p. 197-201, 2003. p. 1.14 KAREPOVS, Dainis e LEAL, Murilo. Os trotskismos no Brasil: 1966-2000. p 153-234. In.: RIDENTI,Marcelo e REIS, Daniel Aaro (Orgs). Histria do marxismo no Brasil. V 6. Campinas: Editora da

    Unicamp, 2007. p 155-156.15

    Cf. KECK, op. cit, 1991.; GADDOTI, Moacir e PEREIRA, Otaviano. Pra que PT. So Paulo: Cortez,1989 e PONT, Raul. Breve histria do PT. Braslia: Cmara dos deputados, 1992.16 O Trabalho, n. 07, 15/08/78. p. 4.

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    OSI longe de reconhecer nele o partido operrio pelo qual se batia, advertia, que

    nem preciso que os patres estejam presentes fisicamente nas articulaes para

    que este partido esteja sob a direo direta do Estado17, recusando-se a nele

    ingressar e mesmo combatendo sua formao. No entanto, passados menos de

    quatro anos, porm, j encontramos esta organizao participando do PT.

    Em vista destas consideraes, pretendemos recuperar um aspecto da

    histria de uma corrente do pensamento poltico no Brasil, o trotskismo, a partir de

    uma organizao poltica que advogava seguir esta linha poltica, a Organizao

    Socialista Internacionalista (OSI). Com isto esperamos trazer luz a histria do

    prprio trotskismo, em especial no Brasil, sem o que no podemos compreender os

    motivadores da OSI. Do mesmo modo entendemos necessrio discutir brevemente ocontexto poltico do Brasil nos momentos finais da ditadura militar, bem como

    revisitar as discusses sobre a formao do Partido dos Trabalhadores.

    Para a consecuo de nossos objetivos, nos ativemos a analisar, a partir das

    fontes selecionadas, o discurso da OSI em relao ao PT, desconstruindo os

    argumentos contrrios a este partido, e posteriormente os favorveis a ele,

    buscando a coerncia (e incoerncia) de sua linha de pensamento, enquanto

    expresso de uma corrente do movimento comunista mundial (o trotskismo).Desta forma estamos no campo da histria poltica, mas tambm no domnio

    da histria das idias, para utilizarmos a classificao proposta por Barros18. Mas,

    para alm destas filiaes pouco elucidativas do ponto de vista metodolgico,

    importante ressaltar que o recorte temtico que envolve esquerda e poltica

    partidria esteve por muito tempo dentre os mais tradicionais temas da histria

    poltica, pelo menos em relao ao estudo dos partidos polticos.

    Para Remond ...a poltica a atividade que se relaciona com a conquista, oexerccio, a prtica do poder...19, mas no de qualquer poder, e sim aquele

    relacionado ao Estado. Logo, quando temos por tema a esquerda e a poltica, e por

    objeto a Organizao Socialista Internacionalista, estamos claramente situados

    neste campo, posto que esta organizao est em relao direta com a expectativa

    de uma mudana revolucionria da sociedade, a partir do exerccio do poder poltico.

    17 O Trabalho, n. 17 13/02/80. p. 4.18BARROS, Jos D Assuno. O campo da histria. Petrpolis: Vozes, 2004. passim.

    19 RMOND, Ren. Do poltico. p. 441-454. In: _____ (Org). Por uma histria poltica, Rio de

    Janeiro: Editora UFRJ e Editora FGV, 1996. p. 444.

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    Por outro lado, tambm estamos relacionados ao domnio da histria das

    idias polticas, posto que temos foco em uma corrente dessas idias, o trotskismo,

    com um recorte espacial preciso, Brasil.20 Se no estamos nem perto, nem

    desejosos, de produzir alguma grande sntese sobre esta corrente de pensamento

    poltico, indiscutvel que a abordagem dos estudos das grandes correntes do

    pensamento poltico tem relao direta com esta pesquisa.

    Postas estas questes gerais, lembramos que nosso objeto, consistindo em

    uma organizao poltica, no admite frmulas metodolgicas prontas para estud-

    lo, salvo se tivssemos em mente uma abordagem mais tradicional. Quem se

    aventurou em estudo semelhante, de maneira inspiradora, foi Pedro Jos Ferreira

    que, ao analisar o Partido Socialista Revolucionrio21, tendo como fonte seu jornal,chamado Orientao Socialista, afirmou: No caso de um jornal como Orientao

    Socialista, a atividade poltica dita-lhe a pauta de tal forma que ele somente ser

    conhecido quando conhecida for essa atividade poltica que lhe d significao.22. E

    ainda que O seu trabalho [do jornal] deve compreender um contradiscurso

    ideologia produzida e reproduzida pelo movimento do capital....23. Em idntica

    situao estamos em relao a OSI e seu jornal, que nos servir de fonte. Desta

    forma, procuramos dar respostas problemtica proposta descortinando ocontradiscurso da OSI, a partir do estudo de sua atividade poltica no perodo,

    sempre em relao aos princpios e ideologia que sustentava. Quem segue caminho

    semelhante o historiador Murilo Leal, que em sua obra sobre o Partido Operrio

    Revolucionrio24, vai, a cada captulo, analisando as posies e interpretaes do

    referido partido sobre a realidade brasileira e as lutas polticas do perodo.25

    Ressaltadas as semelhanas importante estabelecer uma diferena em

    relao aos trabalhos acima citados, e a proposta de trabalho desta monografia. Otrabalho de Ferreira, fruto de sua dissertao de mestrado em sociologia na USP,

    possui um recorte cronolgico de 1946 a 1948, e abrange uma ampla gama de

    discusses suscitadas pelas fontes, abordando o conjunto da orientao poltica do

    20 Cf. WINOCK, Michel. As idias polticas. p. 271-294. In.: RMOND, Ren (Org). Por uma histriapoltica, Rio de Janeiro: Editora UFRJ e Editora FGV, 1996. p. 275.21 Partido brasileiro de orientao trotskista da dcada de 1940.22 FERREIRA, Pedro Roberto. Imprensa poltica e ideologia: Orientao Socialista 1946-1948.So Paulo: Editora Moraes, 1989. p. 30.23 Ibid. p. 31.24 Sigla trotskista brasileira dos anos 50 e 60.25 LEAL, Murilo. esquerda da esquerda. Trotskistas, comunistas e populistas no Brasilcontemporneo (1952-1966). So Paulo: Paz e Terra, 2004.

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    PSR. O trabalho de Leal, originado de uma tese de doutorado em histria na USP,

    possui um recorte cronolgico de 12 anos (1952 a 1966) e apresenta uma seleo

    dos aspectos mais significativos da atuao poltica do POR desde a sua fundao,

    passando por suas representaes em relao ao Brasil, suas estratgias polticas,

    suas posies frente aos sindicatos, as eleies, etc.

    Utilizando a mesma metodologia que estes autores, empreendemos um

    trabalho de menor flego horizontal, detendo-nos em um nico aspecto: a relao

    entre a OSI e o Partido dos Trabalhadores, buscando um aprofundamento vertical

    nesta questo.

    Ojornal O Trabalho, publicado pela OSI, a fonte principal da pesquisa.

    Consultamos uma coleo que abrange do nmero zero at o nmero 259,abarcando o perodo de 1 de maio de 1978 at julho de 1987. 26 O jornal tinha uma

    periodicidade predominantemente semanal, cumprindo claramente a funo de porta

    voz da OSI e desempenhando o papel de organizador coletivo27 dos trotskistas. No

    entanto, sem poder identificar-se publicamente com a OSI28, o jornal O Trabalho

    assemelha-se aos jornais da chamada imprensa alternativa29, pois a OSI no fala

    formalmente atravs dele, embora sejam publicadas reportagens sobre o que ela

    pensa, o que pensa a Libelu, divulga os lanamentos da editora Kairs30

    etc.Tambm foi utilizada a revista Luta de Classe, editada pela OSI, de

    periodicidade irregular, em uma coleo que abrange do nmero 1 at o nmero 10,

    abarcando o perodo de 1979 at 1983.31 A revista segue o modelo das chamadas

    revistas tericas da esquerda, publicando artigos de fundo e resolues dos

    congressos da OSI. Essas publicaes permitem acompanhar as formulaes

    pblicas da OSI, dirigidas a todo o pblico interlocutor da organizao.

    26 Na verdade foram consultadas duas colees, com quase o mesmo perodo de abrangncia: umade propriedade do jornalista e dirigente do PT, Roberto Elias Salomo, e outra pertencente ao Centrode Estudos de Cultura e Imagem da Amrica Latina (CECIAL), coordenado pelo Prof. Dr. Angelo Josda Silva, do Departamento de Cincias Sociais da UFPR.27LNIN, V.I. O Estado e a revoluo. So Paulo: Global, 1987. p. 174.

    28 Lembremos que a OSI era uma organizao ilegal no perodo estudado.29 Se evidente que O Trabalho era o jornal de uma organizao, no podemos esquecer que vriosjornais alternativos tambm foram, em algum perodo de sua existncia, porta vozes de organizaespolticas, como por exemplo o Movimento em relao ao Partido Comunista do Brasil, o Versus emrelao ao Partido Socialista dos Trabalhadores, o Em Tempo em relao a Democracia Socialista,entre outros. Para uma maior discusso sobre os jornais alternativos ver KUSINSKI, Bernardo.

    Jornalistas e revolucionrios. Nos tempos da imprensa alternativa. So Paulo: EDUSP, 2003.30 Editora ligada a OSI. Para maior discusso sobre a Kairs ver FLAMARION, Maus. O momentooportuno: Kairs, uma editora de oposio. In: Histria, S.P., v. 25, n. 2 p. 115-146, 2006.31 As revistas fazem parte da coleo do Centro de Estudos de Cultura e Imagem da Amrica Latina.

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    Tambm utilizamos uma srie de entrevistas, publicadas em livro em 1994,

    pela pesquisadora Marta Harnecker32, realizadas com 42 fundadores do PT, e que

    nos ofereceu farto material acerca da fundao do PT e seu reflexo nas demais

    organizaes de esquerda. As entrevistas foram realizadas entre 1990 e 1994,

    incluindo o depoimento de Markus Sokol, dirigente da OSI. Dois prefcios de livros

    da editora Kairs tambm contriburam para a discusso proposta, uma vez que se

    referiam as principais polmicas em curso no perodo estudado.33 Tambm uma

    entrevista, j publicada, de um ex-militante da OSI, Paulo Skromov, foi utilizada

    como fonte.34

    A presente monografia est estruturada em trs partes. Na primeira

    procuramos contextualizar o trotskismo como movimento internacional e suatrajetria no Brasil, tambm procuramos apresentar o contexto poltico do final da

    ditadura militar no Brasil, como o pano de fundo onde se desenrola a problemtica

    estudada, como tambm procuramos resgatar a discusso sobre a formao do PT,

    em ligao com o desenvolvimento do sindicalismo no perodo. Na segunda parte

    realizamos a anlise e discusso das fontes, procurando entender o movimento que

    a OSI realiza de recusa e posterior integrao ao PT. Por fim apresentamos as

    concluses a que chegamos.

    32 HARNECKER, Marta. O Sonho era possvel: A histria do Partido dos Trabalhadores narradapor seus protagonistas. Havana/So Paulo: MEPLA/Casa Amrica Livre, 1994.33 Tratam-se de: KAIRS LIVRARIA E EDITORA. Nota dos Editores. In: TROTSKY, Leon. Escritos

    sobre sindicato. So Paulo: Kairs, 1978. p. 7-14. e HARDMAN, Francisco Foot. Prefcio: o que um P.S. ?. In: LENIN, V.I. A falncia da II Internacional. So Paulo: Kairs, 1979. p. 7-20.34 SKROMOV, Paulo. Entrevista. In.: Teoria e Debate n. 63. Julho Agosto. 2005. Fundao PerseuAbramo. So Paulo.

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    2 O TROTSKISMO, A DITADURA E O SURGIMENTO DO PT

    2.1 - O TROTSKISMO, A IV INTERNACIONAL E A OSI

    2.1.1 - O trotskismo

    A partir de 1903, no contexto dos debates no seio do Partido Operrio Social

    Democrata Russo, j podemos falar de uma participao mais aguda de Trotski navida poltica russa. O POSDR, em processo de formao, atravessava naqueles dias

    o difcil debate acerca do funcionamento do partido: de um lado, os mencheviques, e

    Trotski com eles, defendendo um partido menos centralizado, aberto participao

    de todos os trabalhadores, e de outro lado os bolcheviques, liderados por Lnin,

    propondo um partido centralizado e de revolucionrios profissionais35.

    O historiador J.J. Marie afirma que O trotskismo nasceu da revoluo de

    190536

    . Este episdio da histria russa, que passou a ser chamado de o ensaiogeral para a revoluo de 1917, alou Trotski condio de presidente do principal

    Soviet russo, o de Petrogrado. neste contexto ento que se sistematiza o que ficou

    conhecido como a teoria da revoluo permanente.

    Foi precisamente durante o intervalo transcorrido entre 9 de janeiro e agreve de outubro de 1905 que esses pontos de vista posteriormenteconhecidos como teoria da revoluo permanente amadureceram namente do autor. Esta expresso, um tanto presunosa, revoluopermanente, pretende indicar que a revoluo russa, embora diretamente

    relacionada com propsitos burgueses, no poderia deter-se em taisobjetivos: a revoluo no resolveria suas tarefas burguesas imediatas semo acesso do proletariado ao poder. E o proletariado , uma vez que tivesse opoder em suas mos, no poderia permanecer confinado dentro do modeloburgus da revoluo. Pelo contrrio, precisamente com o objetivo degarantir sua vitria, a vanguarda proletria nos primeiros estgios de seugoverno teria que fazer incurses extremamente profundas no apenasnas relaes da propriedade feudal, como tambm nas da propriedadeburguesa. (...) Uma vez superadas as estreitas fronteiras democrticasburguesas da revoluo russa em virtude da necessidade histrica oproletariado vitorioso tambm se veria obrigado a superar suas finalidades

    35DEUTSCHER, Isaac. Trotski, O profeta armado: 1879-1921. 2 ed. Rio de Janeiro: Civilizao

    brasileira, 1984. p. 93.36MARIE, Jean-Jacques. O Trotskismo. So Paulo: Perspectiva, 1990. p. 12.

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    nacionais, de maneira tal que teria que lutar conscientemente para que arevoluo russa se transformasse em prlogo da revoluo mundial.37

    Esta teoria partia do pressuposto que a burguesia russa, diferentemente dos

    pases da Europa ocidental, estava sufocada pelo Estado onipresente e pelo capitaleuropeu, mostrava-se impotente para cumprir as tarefas do momento38.

    Desta forma constitua-se o trotskismo, ou seja, uma contribuio original ao

    marxismo, em especial no que se refere ao debate contemporneo a Trotski acerca

    das possibilidades da vitria de uma revoluo socialista em um pas cujas foras

    produtivas e mesmo as relaes sociais no haviam alcanado um amadurecimento

    comparvel aos pases desenvolvidos da Europa ocidental, onde se acreditou por

    muito tempo que a revoluo rebentaria primeiro.Mas tambm no se pode conceber o trotskismo sem compreender o

    internacionalismo inerente prpria teoria da revoluo permanente. Este est

    baseado na seguinte premissa:

    O marxismo procede da economia mundial, considerada no como asimples soma das suas unidades nacionais, mas como uma poderosarealidade independente, criada pela diviso internacional do trabalho e pelomercado mundial, que na nossa poca, domina todos os mercadosnacionais. As foras produtivas da sociedade capitalista ultrapassaram a

    muito as fronteiras nacionais.39

    E ainda, que

    os traos especficos da economia nacional, por muito especficos quesejam, constituem, em grau crescente, os elementos de uma mais elevadaunidade que se chama economia mundial, e sobre a qual, no fim dascontas, repousa o internacionalismo dos partidos comunistas.40.

    Desta forma, a revoluo socialista s seria definitivamente vitoriosa quando

    transformasse o socialismo em um sistema mundial, quando fosse vitoriosa, em

    especial, nos pases desenvolvidos.

    Para o revolucionrio russo, a atrasada Rssia tinha poucas chances de

    sucesso se as principais naes industrializadas do mundo no tomassem tambm o

    caminho da revoluo socialista. O preo a pagar por este isolamento foi o

    desenvolvimento na estrutura do Partido Comunista, e no Estado sovitico, de uma

    37TROTSKY, Leon. A revoluo de 1905. So Paulo: Global, [19--]. p. 14.38HADDAD, Fernando. O sistema sovitico. So Paulo: Scritta, 1992. p. 43.

    39TROTSKY, Leon. A revoluo permanente. Lisboa: Antdoto, 1977. p. 9.

    40Id.

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    pesada burocracia, que comea a apresentar interesses diferenciados do conjunto

    daqueles que ela dizia representar, o proletariado.41

    A isso, acrescenta-se ainda o fato de que boa parte da gerao que realizou

    a revoluo havia tombado na guerra civil. O proletariado urbano das grandes

    cidades, como Moscou e Petrogrado, praticamente no existia mais, fruto da

    desorganizao econmica. Ao mesmo tempo o Partido Comunista e a mquina

    estatal inchavam com adesistas de ltima hora.42

    Produziu-se ento o que Lnin chamou de Estado burgus sem burguesia43,

    onde o Estado adquire um duplo carter: socialista, por um lado, porque defende a

    propriedade coletiva dos meios de produo na qual se baseia, e burgus, por outro

    lado, porque deve garantir a repartio do consumo segundo padres capitalistas. neste contexto que se desenvolveu a chamada teoria do socialismo em

    um s pas, segundo a qual seria possvel o desenvolvimento do socialismo na

    URSS, em paralelo ao resto do mundo que permanecia capitalista.44 Esta crena em

    uma espcie de socialismo nacional, que define o que o chamado stalinismo, ser

    duramente criticada por Trotski, com base em sua teoria da revoluo permanente.

    Assim, na luta contra a burocracia, personificada na figura de Stlin e

    amparada pela teoria do socialismo num s pas, o trotskismo passar a agrupar achamada oposio, ora denominada de esquerda, ora denominada unificada, a

    depender de sua composio. Em sua trajetria dentro do partido bolchevique, a

    oposio vai perdendo postos de comando na estrutura partidria, at ser

    definitivamente expulsa entre 1927 e 1928. No ano seguinte o prprio Trotski

    deportado da Unio Sovitica.

    Os oposicionistas exilados, Trotski frente, organizaram a Oposio de

    Esquerda Internacional, que se punha como misso a regenerao da InternacionalComunista e dos PCs. At 1933, encontramos os trotskistas lutando desde fora dos

    PCs para reconverte-los ao que julgavam uma poltica justa. Quando naquele ano,

    41 Cf. TROTSKY, Leon. A revoluo permanente. Lisboa: Antdoto, 1977. p. 9.42 Para uma crtica das interpretaes de Trotski acerca da burocracia, entre outras questes, ver oartigo de FAUSTO, Ruy. Trotski, a democracia e o totalitarismo (a partir do Trotsky de Pierre Brou).In: Lua Nova, SP, n. 62. p. 113-130, 2004, em que discute as crticas de Trotski ao Stalinismo,tentando demonstrar seus limites, para finalmente sugerir que existe uma ruptura entre o marxismo eo bolchevismo (Trotski, Lnin e Stlin inclusos)43 Cf. LNIN, V.I. O Estado e a revoluo. So Paulo: Global, 1987. p. 133-136.44 ...possumos, como dizia Lnin, tudo o que necessrio a construo de uma sociedade socialistaintegral e nesse caso, podemos e devemos construir essa sociedade, na perspectiva de uma vitriacompleta sobre os elementos capitalistas da nossa economia. STALIN, J. Em defesa do socialismocientfico. So Paulo: Anita Garibaldi, 1990. p. 11.

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    depois de seguidas recusas do PC alemo em fazer frente com a social democracia

    contra o nazismo, e Hitler assume o poder, os trotskistas passam a considerar a

    Internacional Comunista definitivamente perdida passando a pregar a necessidade

    da construo de uma IV Internacional.45

    2.1.2 - A IV Internacional

    O perodo que vai de 1933 a 1938 foi de intenso trabalho da Oposio de

    Esquerda Internacional no sentido de preparar a fundao da IV Internacional. Emsetembro de 1938, reniu-se em Paris o seu congresso de fundao, com a

    presena de 10 pases, mais um delegado da Amrica Latina, e adotou como

    programa o texto A agonia do capitalismo e as tarefas da IV Internacional, que

    ficou mais conhecido pelo nome de Programa de transio46. Em seu programa, a

    nova Internacional parte da premissa que A situao poltica mundial no seu

    conjunto caracteriza-se, antes de mais nada, pela crise histrica da direo do

    proletariado47

    , e que, por conta desta crise (personificada na traio da IC), aspremissa econmicas no se transformaram ainda em revoluo, mesmo que j

    tenham alcanado, h muito tempo o ponto mais elevado que possa ser atingido

    sob o capitalismo48. Ou seja, o programa de transio v uma contradio entre a

    maturidade (excessiva at) das condies objetivas e o atraso (unicamente devido

    traio de seus dirigentes) do proletariado em relao a estas condies49.

    Baseada nesta premissa, a nova Internacional vai iniciar suas atividades,

    contando com o trunfo da experincia e prestgio de seu lder Leon Trotski que,contudo, em agosto de 1940 assassinado por um agente de Moscou. A morte de

    Trotski e o incio da segunda guerra mundial jogam a IV internacional numa situao

    de desorganizao. Ao final da guerra a IV Internacional est ainda mais fragilizada

    45 Cf. MARIE, Jean-Jacques. O Trotskismo. So Paulo: Perspectiva, 1990. p. 57-58 e CAMPOS,Jos Roberto. O que trotskismo. So Paulo: Brasiliense, 1981. p. 36.46 Cf. CAMPOS, Jos Roberto. O que trotskismo. So Paulo: Brasiliense, 1981. p. 38.47 IV INTERNACIONAL. A agonia do capitalismo e as tarefas da IV internacional. In: LENIN, V. I.

    TROTSKI, Leon. A questo do programa. So Paulo: Kairs, 1979. p. 73.48Id.

    49MARIE, Jean-Jacques. Os quinze primeiros anos da Quarta Internacional. So Paulo: Palavra,

    1981.p. 24.

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    e realiza um congresso de recomposio em 1946 (II Congresso), defrontando-se

    com uma realidade mundial de grande prestgio dos PCs e da URSS.

    O III Congresso, realizado em 1951, v o incio de uma crise que destruiria a

    IV Internacional como organizao mundialmente centralizada. Nesse congresso, o

    Secretariado Internacional da IV internacional, encabeado por Michel Pablo, prope

    uma nova orientao poltica, que pode ser assim resumida:

    Partiam da perspectiva de que uma nova guerra, opondo URSS e EUA, eraiminente (estava-se em pleno perodo da guerra fria). O novo conflito,segundo Pablo, foraria objetivamente a burocracia russa a dar passos nocaminho da revoluo e radicalizaria os partidos comunistas, quetransformariam a guerra em revoluo.As teses da direo da IV internacional assumiram a diviso do mundo em

    blocos de um lado o imperialismo, de outro a URSS (...). Pabloargumentava que os PCs seriam forados pelas circunstncias a assumiremum papel revolucionrio (...) e conclua que os trotskistas deveriamingressar nos PCs para auxiliar ao mximo, da melhor maneira, o processorevolucionrio.50

    O Partido Comunista Internacionalista, seo francesa da IV internacional,

    liderado por Pierre Lambert resistiu a esta nova orientao argumentando que os

    PCs eram irreformveis, e mesmo que fosse preciso buscar formas transitrias de

    acesso s massas era necessrio reafirmar a IV Internacional, ao invs de praticar o

    entrismo nos PCs. Reafirmava tambm a primazia da luta de classes, em oposio

    a valorizao do conflito entre os blocos.51 No ano seguinte, a maioria do PCI

    expulsa da Internacional, arrastando para fora, a curto, mdio e longo prazo, uma

    parte considervel da organizao. Com a expulso, se consolidaram os dois

    grupos trotskistas que formam as principais correntes atuais52: de um lado o

    Secretariado Unificado da IV Internacional, como era chamado em fins da dcada de

    1970, dirigido por Ernest Mandel; e de outro os seguidores de Pierre Lambert,

    agrupados no Comit para a Reconstruo da IV Internacional CORQUI, como erachamado tambm em meados da dcada de 1970.

    preciso levar em conta ainda que, mesmo que seja verdadeiro que estas

    duas correntes constituem-se nas principais vertentes do trotskismo, fruto da crise

    de 1951/52 e posteriores, o trotskismo vai ser marcado tambm por uma grande

    disperso no plano mundial. Existiro organizaes nacionais que se reivindicam do

    50CAMPOS, Jos Roberto. O que trotskismo. So Paulo: Brasiliense, 1981. p. 54.51 Para uma maior discusso acerca da crise de 1951/52 ver MARIE, Jean-Jacques. Os quinzeprimeiros anos da Quarta Internacional. So Paulo: Palavra, 1981. p. 105 117.52CAMPOS, Op. cit. p. 55. O autor faz esta afirmao referindo-se ao ano de 1981.

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    trotskismo, desvinculadas destas duas correntes, assim como organizaes

    regionais (por exemplo, circunscritas a um continente), ou mesmo minsculas

    organizaes internacionais. Duas delas apresentam ainda alguma relevncia para

    nossa pesquisa.

    A primeira refere-se ao desligamento da maioria das sees latino

    americanas do SU. Aprofundando as posies do prprio SU, o Bur Latino

    Americano da IV Internacional, dirigido pela figura excntrica do argentino J.

    Posadas, desliga-se do SU em 1962, defendendo a preparao imediata para a

    inevitvel (e mesmo desejvel) terceira guerra mundial, o que era fruto de uma

    radicalizao das prprias posies de Pablo respeito do papel objetivamente

    revolucionrio dos PCs e da URSS. Tambm constava em seu repertrio dedivergncias a primazia da Amrica Latina como palco da revoluo eminente53.

    Para Murilo Leal, tambm tinha importncia um processo de crise pelo no

    crescimento da IV internacional nos anos anteriores.54

    Merece ser lembrada ainda a defeco tambm do SU, da Frao

    Bolchevique, composta basicamente pela seo argentina, liderada por Nahuel

    Moreno, no ano de 1979, causada por divergncias em relao revoluo na

    Nicargua. Os seguidores de Moreno eram crticos da Frente Sandinista deLibertao Nacional, enquanto a direo do SU desenvolvia uma poltica de apoio a

    este movimento.55

    Assim, no perodo de 1978 a 1982, temos, grosso modo, quatro correntes no

    trotskismo mundial, com reflexos no Brasil: a liderada por Pablo e Mandel, a liderada

    por Pierre Lambert e a liderada por Moreno, e a ltima, que neste perodo est em

    franco declnio, liderada por Posadas. Ainda possvel citar uma quinta corrente, a

    Tendncia Quarta Internacional, liderada pelo Partido Obrero, da Argentina, comalguns seguidores no Brasil56 e em outros pases da Amrica Latina.

    Veremos agora como esta corrente plural da esquerda internacional surgiu e

    estruturou-se no Brasil.

    53 Cf. LEAL, Murilo. esquerda da esquerda. Trotskistas, comunistas e populistas no Brasil

    contemporneo (1952-1966). So Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 141-143.54 Cf. Ibid. p. 143.55 Cf. CAMPOS, Jos Roberto. O que trotskismo. So Paulo: Brasiliense, 1981. p. 60, 61.56 A Causa Operria, atualmente Partido da Causa Operria.

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    2.1.3 - O trotskismo no Brasil

    O trotskismo brasileiro nasceu das divergncias em torno do chamado Bloco

    Operrio e Campons, alimentado pelo PCB, e que deveria reunir trabalhadores e

    burguesia nacional, para cumprir as tarefas da chamada revoluo nacional, agrria

    e antiimperialista. Algumas trapalhadas na conduo da poltica sindical do PCB,

    tambm vo fazer uma srie de militantes, em especial da Unio dos Trabalhadores

    Grficos, aderirem s teses da oposio. Posteriormente, divergncias acerca da

    guinada esquerda, que o PCB operava em 1929, fazem saltar outros tantos

    militantes, pertencentes a clula 4R, expulsos por indisciplina.57Estes grupos, expulsos ou que saram do PCB entre 1928 e 1929, vo se

    unificar, em 1930, sob a liderana de Mrio Pedrosa. Figura emblemtica na

    formao do trotskismo brasileiro, Pedrosa realiza uma longa vigem ao exterior a

    servio do PCB, entre 1927 e 1928, onde ento toma contato com as teses da

    Oposio de Esquerda Internacional, a partir de contatos com oposicionistas

    franceses e alemes.58

    A partir de 1929, os oposicionistas brasileiros vo manter contato com aoposio internacional para, no ano seguinte, constiturem o Grupo Comunista Lnin

    que, sob fogo cerrado do PCB, no reuniu em seus melhores momentos mais que

    algumas dezenas de militantes, dando lugar, em 1931, Liga Comunista (LC), como

    parte de seu reconhecimento formal pela Oposio Internacional de Esquerda59. Em

    1935, fruto da represso poltica desencadeada pelo governo Vargas, aps o levante

    da Aliana Libertadora Nacional, a LC desaparecer do cenrio poltico, em meio

    tambm a algumas divergncias internas.

    60

    Destaca-se nesta fase inicial do

    57 Cf. MARQUES Neto, Jos Castilho. Solido revolucionria: Mrio Pedrosa e as origens dotrotskismo no Brasil. So Paulo: Paz e terra, 1993.p. 90 132.58 Cf. id.59 COGGIOLA, Osvaldo. O trotskismo no Brasil (1928-64). In: MAZZEO, Antonio Carlos e LAGOA,Maria Izabel. (Orgs) Coraes Vermelhos: Os comunistas brasileiros no sculo XX, So Paulo:Cortez, 2003. p. 244.60 CAMPOS, Jos Roberto. O que trotskismo. So Paulo: Brasiliense, 1981. p. 70 e SILVA,Antnio Ozai da. Histria das tendncias no Brasil. (origens, cises e propostas ). 2 ed. SoPaulo: [s.n], [198-] .p. 66, falam nestas divergncias, sem referirem-se a seu contedo. COGGIOLA,Op. cit. p. 251, aponta que tais divergncias referiam-se a crticas ao aventureirismo e militarismo

    da LC por parte de alguns militantes. No entanto, LEAL, Murilo. esquerda da esquerda.Trotskistas, comunistas e populistas no Brasil contemporneo (1952-1966). So Paulo: Paz eTerra, 2004. p. 24, 25 no fala nas tais divergncias. KAREPOVS, Dainis e MARQUES Neto, JosCastilho. Os trotskistas brasileiros e suas organizaes polticas (1030-1966). p 109-165. In.:

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    trotskismo brasileiro, a produo de anlises inovadoras no contexto marxista, em

    especial no que se refere interpretao da chamada revoluo de 30.61 Tambm

    merece destaque a realizao da frente nica antifascista, que se enfrentou com os

    integralistas na praa da S, em So Paulo, em 7 de outubro de 1934.62

    Em 1936, ainda sob a direo de Mrio Pedrosa, articula-se o Partido

    Operrio Leninista, agrupando uma parcela da ex-Liga. Em seu peridico, o POL

    realiza uma dura crtica da Intentona de 1935. No entanto a represso no tardou

    em encontrar o POL e em golpe-lo em 1937.63 Em 1939, ocorreu uma importante

    ciso no PCB, motivada por divergncias frente eleio que se aproximava. As

    divergncias circunstanciais aprofundaram-se, levando um grupo liderado por

    Hermnio Sacchetta a aproximar-se do trotskismo e dos remanescentes do POL.Fundam, ento, em 193964, o Partido Socialista Revolucionrio. Destaque-se que

    neste perodo que ocorre a fundao da IV Internacional (1938), e mesmo que

    Pedrosa tenha participado de sua conferncia de fundao, neste ano os trotskistas

    brasileiros encontravam-se profundamente desorganizados, com vrios deles presos

    e exilados.

    J sem Mrio Pedrosa, que se afastara do trotskismo por divergir da defesa

    da URSS, o PSR lanou-se na luta poltica, editando o jornal Orientao Socialista,polemizando com o PCB, defendendo a frente nica e o lanamento de candidatos

    comunistas nas eleies. A partir do afastamento de Mrio Pedrosa, o recm

    fundado partido perde contato com a direo internacional, no contexto da

    desorganizao da IV Internacional durante a 2 Guerra Mundial, s vindo a retom-

    RIDENTI, Marcelo e REIS, Daniel Aaro (Orgs). Histria do marxismo no Brasil. V 5. Campinas:Editora da Unicamp, 2007. p. 132. se referem a represso e ao baixo nmero de aderentes da Liga,sem no entanto falarem em dissoluo desta.61 Cf. SILVA, ngelo Jos da. Comunistas e trotskistas: A crtica operria revoluo de 1930.Curitiba: Moinho do Verbo, 2002. passim.62 Cf. COGGIOLA, Osvaldo. O trotskismo no Brasil (1928-64). In: MAZZEO, Antonio Carlos e LAGOA,Maria Izabel. (Orgs) Coraes Vermelhos: Os comunistas brasileiros no sculo XX, So Paulo:Cortez, 2003. p. 249-250.63 CAMPOS, Jos Roberto. O que trotskismo. So Paulo: Brasiliense, 1981. p. 70, defende que oPOL extinguiu-se em 1937; LEAL, Murilo. esquerda da esquerda. Trotskistas, comunistas epopulistas no Brasil contemporneo (1952-1966). So Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 24,25, s falana extino do POL em 1939, fundindo-se com uma dissidncia do PCB, assim como COGGIOLA,Op. Cit. p. 254. SILVA, Antnio Ozai da. Histria das tendncias no Brasil. (origens, cises epropostas ). 2 ed. So Paulo: [s.n], [198-]. p. 66 e 67 afirma que o POL desaparece em 1937, emais a frente que em 1939 (sic) ele se funde com uma dissidncia do PCB.64 LEAL, Op. Cit. p. 25 e SILVA, Antnio Ozai op. Cit. p. 67 apontam claramente 39 como o ano de

    fundao do PSR, enquanto CAMPOS, op. Cit.. p. 71 e FERREIRA, Pedro Roberto. Imprensapoltica e ideologia: Orientao Socialista 1946-1948. So Paulo: Editora Moraes, 1989. p. 26 doa entender que a fundao s ocorre em 43. COGGIOLA, Op. cit. p. 255 afirma que a fundaoocorreu em 39, a aproximao com a IV internacional em 43 e a filiao a esta internacional em 48.

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    lo a partir de 1943.65 No entanto, a crise da IV Internacional de 1951/52 abalou o

    PSR, que se dissolveu em 1952.66

    No ano seguinte organizou-se, a partir de ex-militantes do PSR, o Partido

    Operrio Revolucionrio, em ligao com a corrente pablista da IV Internacional e

    iniciando a edio do jornal Frente Operria. Sob a superviso do Bur Latino

    Americano da IV Internacional (BLA), o POR vai, a partir de 1954, em coerncia com

    as orientaes de Pablo, praticar o entrismo no PCB, ou seja formar (...) oposies

    de esquerda dentro dos partidos comunistas, propiciando apoio crtico aos

    mesmos67. O POR tambm desenvolve uma orientao cada vez mais acentuada

    de proximidade com setores por ele classificado como nacionalista. No plano

    sindical, lutar pela ruptura dos laos entre Estado e sindicatos, e pela convocaode uma Assemblia Constituinte. Nas eleies, alternar o apoio a candidatos

    considerados nacionalistas e a candidatos comunistas.

    A ruptura de Posadas e do BLA com o pablismo, em 1962, ser

    acompanhada pelo POR sem maiores sustos. Este partido ficar cada vez mais sob

    o controle direto de Posadas, que guiava o POR com mo de ferro, ancorado em

    uma espcie de personalismo que beirava a idolatria pessoal. O golpe de 64 pega o

    POR desprevenindo, j que apostava na vitria do campo nacionalista, estando cadavez mais prximos do brisolismo. O partido mantinha tambm uma importante

    atuao junto s Ligas Camponesas no nordeste, junto a militares de baixa patente,

    a estudantes e sindicatos.

    A partir de 1965 comearam a surgir crticas68 internas ao controle

    monoltico imposto por Posadas e sua linha poltica. Em 1968, essas crticas

    tomariam a forma de duas cises: a Frao Bolchevique Trotskista (FBT) e a

    65 KAREPOVS, Dainis e MARQUES Neto, Jos Castilho. Loc. Cit. p. 144.66 COGGIOLA, Osvaldo. O trotskismo no Brasil (1928-64). In: MAZZEO, Antonio Carlos e LAGOA,Maria Izabel. (Orgs) Coraes Vermelhos: Os comunistas brasileiros no sculo XX, So Paulo:Cortez, 2003. p. 262-264 sustenta a centralidade da crise da IV Internacional como motivo daextino do PSR, pois seu principal dirigente, Hermnio Sacchetta divergia da orientao pablista.LEAL, Murilo. esquerda da esquerda. Trotskistas, comunistas e populistas no Brasilcontemporneo (1952-1966). So Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 29-34, sustenta ainda que outrasdivergncias de carter nacional tambm tiveram relevncia no desaparecimento do PSR.KAREPOVS, Dainis e MARQUES Neto, Jos Castilho. Os trotskistas brasileiros e suas organizaespolticas (1030-1966). p 109-165. In.: RIDENTI, Marcelo e REIS, Daniel Aaro (Orgs). Histria domarxismo no Brasil. V 5. Campinas: Editora da Unicamp, 2007. p. 147 arrolam trs motivos, queprovavelmente se combinaram: Esvaziamento do partido aps o fim de seu jornal; a recusa s

    orientaes do II Congresso da IV Internacional (crise da IV Internacional a qual j nos referimos); erepercusso ainda das crticas de Mrio Pedrosa, que julgava impossvel defender a URSS.67 LEAL, op. cit. p. 43.68 Cf. Ibid. p. 251 et. seq.

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    Organizao Comunista 1 de maio (OC 1 de maio). A partir deste perodo, o POR

    decresce rapidamente, fruto das posies cada vez mais extravagantes de Posadas,

    passando, por exemplo, da defesa da URSS para a defesa da prpria camada

    dirigente sovitica.69 H registro na bibliografia consultada de atividade do POR pelo

    menos at 197870, mas certo que os seguidores de Posadas ingressaram no PT,

    quando de sua formao, mesmo que estivessem j em um nmero extremamente

    reduzido.71

    2.1.4 A nova gerao do trotskismo e o surgimento da OSI.72

    A FBT, que tinha entre seus lderes Vitto Letizia e Vera Lcia Stringhini,

    estava implantada em especial no Rio Grande do Sul, mas tambm em So Paulo e,

    posteriormente, no nordeste, e vai diferenciar-se do POR principalmente pelo

    restabelecimento do centralismo democrtico como norma de funcionamento, alm

    de propor a retomada do trabalho junto classe operria.73 Ser duramente

    golpeada pela represso entre 1970 e 1972, voltando a reorganizar-se nesse ano.No entanto, alguns de seus membros acabaram tomando o caminho do exlio e, em

    Paris iniciaram contatos com a corrente dirigida por Pierre Lambert74, formando, a

    partir de 1970 o grupo Outubro75, que edita uma revista de debates com o mesmo

    69 So exemplos ainda destas posturas extravagantes a dedicao de Posadas a temas todiversos quanto a vida sexual dos revolucionrios, a probabilidade de vida em outros planetas, aeducao das crianas, etc.70SILVA, Antnio Ozai da. Histria das tendncias no Brasil. (origens, cises e propostas ). 2

    ed. So Paulo: [s.n], [198-]. p. 212.71Ibid p. 190.

    72 No abordaremos aqui, por questo de espao as outras duas correntes mais significativas dotrotskismo brasileiro neste perodo, a Convergncia Socialista/PST e a Democracia Socialista, quetambm se formam neste perodo. No entanto, deixamos indicados SILVA. Op. Cit. [198-], eKAREPOVS, Dainis e LEAL, Murilo. Os trotskismos no Brasil: 1966-2000. p 153-234. In.: RIDENTI,Marcelo e REIS, Daniel Aaro (Orgs). Histria do marxismo no Brasil. V 6. Campinas: Editora daUnicamp, 2007., como duas obras importantes sobre estas organizaes.73 Cf. LEAL, Murilo. esquerda da esquerda. Trotskistas, comunistas e populistas no Brasilcontemporneo (1952-1966). So Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 218 et. seq.74 Cf. SILVA, Op. cit. [198-]. p. 137.75 O grupo Outubro, que tinha como um de seus expoentes Vitor Paes de Barros Leonardi (Cf.SKROMOV, Paulo. Entrevista. In.: Teoria e Debate n. 63. Julho Agosto. 2005. Fundao Perseu

    Abramo. So Paulo.), foi formado alm de egressos da FBT, por outros militantes brasileiros quepassaram a fazer a crtica da luta armada, como o caso de Markus Sokol, que de secundaristasimpatizante do PCB em 1967 passou a militante da VAR-Palmares em 1969, integrando o Outubro apartir de 1972, Cf. KAREPOVS e LEAL. Op. cit. p. 227.

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    nome, na capital francesa, a partir de 1971. O OC 1 de maio, liderada por Fbio

    Munhoz, praticamente circunscrita a So Paulo e de base estudantil, vai apresentar

    uma proximidade muito grande com as crticas feitas pela FBT. Em 1972 a OC 1 de

    maio tambm estabelece contato com o lambertismo, em uma conferncia de

    trotskistas no Chile.76

    Por sua vez, a FBT em 1975, vai receber a adeso de um grupo

    (Organizao pela Mobilizao Operria77) sado da OC 1 de maio, assim como

    ocorrer a volta dos exilados de Paris, e juntos constituiro a Organizao Marxista

    Brasileira que, no ano seguinte, funde-se com a OC 1 de maio, como resultado da

    proximidade que as uniam desde que saram do POR, dando origem, em dezembro

    de 1976, em um congresso na Praia Grande (SP), Organizao SocialistaInternacionalista78, j alinhada com a liderana da corrente de Pierre Lambert.79

    As bases da Organizao Socialista Internacionalista estavam situadas, nofinal dos anos 1970, principalmente no Rio Grande do Sul, So Paulo,Minas Gerais, Braslia, Paraba e Cear. Com o movimento estudantil,particularmente com a refundao da UNE, em junho de 1979, aorganizao ampliou-se para Santa Catarina, Paran, Rio de Janeiro,Esprito Santo, Pernambuco, Gois, Interior de So Paulo, de Minas Geraise do Rio Grande do Sul.80

    O ressurgimento do movimento estudantil vai ser de grande importncia parao crescimento da OSI, que lana, em 1976, a Liberdade e Luta (LIBELU), chapa

    destinada a concorrer direo do recm reconstrudo Diretrio Central dos

    76 Cf. LEAL, Murilo. esquerda da esquerda. Trotskistas, comunistas e populistas no Brasilcontemporneo (1952-1966). So Paulo: Paz e Terra, 2004. p. 222.77 A OMO tinha como um de seus principais animadores o sindicalista Paulo Skromov, nascido empiracicaba, em 1946, militante do movimento sindical desde a dcada de 1960, aproxima-se do

    trotskismo a partir de 1968 por intermdio de estudantes da USP, participando da criao da OMO eposteriormente da OSI, da qual desligado no fim de 1977 (SKROMOV, Paulo. Entrevista. In.: Teoriae Debate n. 63. Julho Agosto. 2005. Fundao Perseu Abramo. So Paulo)78 Este processo aparece um pouco mais simplificado na obra de Campos, que escreve apenas queEles [a Organizao Comunista 1 de maio e a Frao Bolchevique Trotskista] se fundiram com oslambertistas em 1976, dando origem Organizao Socialista internacionalista. CAMPOS, JosRoberto. O que trotskismo. So Paulo: Brasiliense, 1981. p. 73. Mais simplificado ainda naspalavras de Markus Sokol, que informa que A OSI se constituiu em 1976, produto da fuso de grupose organizaes que atravessaram todo o perodo da ditadura no Brasil. SOKOL, Markus. Entrevista aMarta Harnecker. p.158-160. In.: HARNECKER, Marta. O sonho era possvel. A histria do Partidodos Trabalhadores narrada por seus protagonistas. Havana/So Paulo: MEPLA/Casa AmricaLivre, 1994. p. 158.79 Cf. SILVA, Antnio Ozai da. Histria das tendncias no Brasil. (origens, cises e propostas ).

    2 ed. So Paulo: [s.n], [198-]. p. 178.80 KAREPOVS, Dainis e LEAL, Murilo. Os trotskismos no Brasil: 1966-2000. p 153-234. In.: RIDENTI,Marcelo e REIS, Daniel Aaro (Orgs). Histria do marxismo no Brasil. V 6. Campinas: Editora daUnicamp, 2007. p. 162.

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    Estudantes da USP. A Libelu81, transformada depois em corrente do movimento

    estudantil, acabou sendo incorporada ao vocabulrio da poca como um adjetivo,

    qualificando o jovem radical, quase tpico do momento82. Corroborando com esta

    avaliao da importncia da corrente estudantil da OSI, Bernardo Kusinski afirma

    que: No meio estudantil a fermentao capitaneada pela nova corrente Liberdade

    e Luta (Libelu), trotskista e basista, fugaz, a que melhor soube captar esse estado de

    esprito de destampe da panela83. A Libelu vai ser a porta de entrada de muitos

    jovens para a OSI.84 Neste perodo a OSI amplia sua participao no movimento

    estudantil, e os estudantes que defendem suas posies passam a ser identificados

    tambm com a Libelu.85 Este relativo sucesso da Libelu vai fazer com que a OSI

    tenha uma forte composio estudantil, em especial de jovens universitrios.

    2.2 - A CRISE DA DITADURA MILITAR BRASILEIRA

    lugar comum datar o ano de 1974 como o incio da chamada distenso

    poltica no Brasil, que evoluiria para a abertura do governo Figueiredo86

    , e que teriasua concluso com a posse de Jos Sarney em 1985, pondo fim ditadura militar

    brasileira. Segundo Skidmore neste perodo que o governo militar (...) afastou-se

    81 Eram figuras de destaque neste perodo na Libelu os estudantes da USP Josimar Melo, atualmentecrtico gastronmico em So Paulo, sem atividade poltica, e Jlio Turra, atualmente da DireoNacional da Central nica dos Trabalhadores e filiado ao PT.82 KAREPOVS, Dainis e LEAL, Murilo. Os trotskismos no Brasil: 1966-2000. p 153-234. In.: RIDENTI,Marcelo e REIS, Daniel Aaro (Orgs). Histria do marxismo no Brasil. V 6. Campinas: Editora daUnicamp, 2007. p. 160.83 KUCINSKI, Bernardo. Abertura, a histria de uma crise. So Paulo: Editora Brasil Debates, 1982.p. 142.84 Cf. SILVA, Antnio Ozai da. Histria das tendncias no Brasil. (origens, cises e propostas). 2ed. So Paulo: [s.n], [198-]. p. 178.85 Em seu romance auto-biogrfico Kaiser reconstri a ligao entre Libelu e OSI da seguinte forma:Brulio me chama para uma conversa sria. Abre o jogo. Ele e boa parte dos libelus fazem parte deuma organizao clandestina, a OSI Organizao Socialista Internacionalista. Diz que tm meobservado, acham que tenho disposio e coragem para participar e esta conversa um conviteoficial para que me torne militante da Organizao. KAISER, Jaksam. Tempos Hericos.Florianpolis: Letras Brasileiras, 2006. p. 74. A mstica que se desenvolveu em torno da Libelu vaifaze-la inclusive tema de um poema de 1983, de Paulo Leminski: Para a Liberdade e Luta / meenterrem com os trotskistas / na cova comum dos idealistas / onde jazem aqueles / que o poder nocorrompeu / me enterrem com meu corao / na beira do rio / onde o joelho ferido / tocou a pedra da

    paixo. LEMINSKI, Paulo. Apud: LIMA, Manoel Ribeiro de. Entre percurso e vanguarda: Algumapoesia de Paulo Leminski. So Paulo: Annablume, 2002.86 Cf. diviso proposta por MATHIAS, Kalil Suzeley. Distenso no Brasil. O projeto militar (1973-1979). Campinas: Papirus, 1995. p 38 et. seq.

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    da regra arbitrria e lentamente caminhou em direo a um sistema competitivo

    multipartidrio com a restaurao do Estado de Direito.87 Este perodo iniciou-se

    com o presidente Geisel que prometeu sinceros esforos para o gradual, mas

    seguro, aperfeioamento democrtico. Acrescentou que a imaginao poltica

    criadora poderia possibilitar a substituio dos poderes excepcionais por

    salvaguardas eficazes compatveis com a estrutura constitucional 88.

    Como explicou Antunes, os impasses do regime bipartidrio e o

    esgotamento do milagre econmico fizeram

    com que a autocracia iniciasse um perodo de liberalizao outorgada, isto, gestasse sua prpria auto-reforma, condio necessria para

    reequacionar o bloco de poder. Nas palavras de Florestan, iniciava-se oprocesso de democratizao por dentro da ditadura, ou seja, uma aberturagradual, segura e consentida, que rearticulasse as transformaes polticasemergentes com as situaes de interesse das classes burguesas e com aestabilidade da ordem. 89

    Esta abertura colocada em prtica com o regime militar j dando mostras

    de esgotamento, tanto no plano poltico quanto econmico, uma das fontes de sua

    legitimidade90. Mais precisamente, Sader afirma que

    a transio se inicia com o anncio do general Geisel de abertura lenta egradual em 1974. Na realidade, o que aquele momento marca, o trminodo clmax da ditadura, que ingressou, a partir dali, num perodo transitrio,de oscilaes, que desembocou, no final dos anos 70 e incio dos anos 80,em sua verdadeira crise e paralelamente, no comeo da transio para oregime que a substituiria.91

    A abertura iniciada em um momento em que A ditadura brasileira foi

    sacudida de alto a baixo, em 1974, pela alta do petrleo e pela votao esmagadora

    nos candidatos de oposio ao Senado92. Naquele ano, nas eleies, o Movimento

    Democrtico Brasileiro (MDB) logrou conquistar 50,1% dos votos para a cmara alta,contra 34,8% da Aliana Renovadora Nacional (ARENA), ocupando 16 das 22

    cadeiras em disputa, contra apenas 6 do partido governista. Nas eleies para a

    87 SKIDMORE, Thomas E. A lenta via brasileira para a democratizao: 1974-1985. p. 27-79. In.:STEPAN, Alfred (Org.) Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 46.88 GEISEL, Ernesto. Discursos, Vol I. Braslia: Assessoria de Imprensa da Presidncia da Repblica,1974. Apud: SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz eTerra, 1988. p. 321.89 ANTUNES, Ricardo. Crise e poder. 2 ed. So Paulo: Cortez, 1985. p. 28.90 Cf. MATHIAS, Kalil Suzeley. Distenso no Brasil. O projeto militar (1973-1979). Campinas:

    Papirus, 1995. p 33.91 SADER, Emir. A transio no Brasil. So Paulo: Atual, 1990. p. 25.92 KUCINSKI, Bernardo. Abertura, a histria de uma crise. So Paulo: Editora Brasil debates, 1982.p. 14.

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    Cmara, a ARENA ainda manteve uma ligeira vantagem, com 40,9% contra 37,8%

    dos votos.93

    Do ponto de vista econmico, a ditadura militar caracterizou-se pela

    rpida reconcentrao de rendas nas mos dos grandes capitais, medianteuma dura poltica de arrocho salarial (...) Liberalizaram-se as normas,facilitando o ingresso de capital estrangeiro, e contrataram-se grandesemprstimos no exterior, ao mesmo tempo que o Estado ganhava novacapacidade de investimento, dirigida para ampliar a infra-estrutura do pas.Passava-se a favorecer a exportao como um dos pilares da expanso daestrutura produtiva.94

    Fruto desta poltica econmica, que possibilitou o chamado milagre

    brasileiro, a concentrao de renda subiu a nveis alarmantes, sustentada pelo

    arrocho salarial: em 1960, os 50% mais pobres detinham um rendimento de 17,4%

    do total de rendas nacionais, e os 20% mais ricos 54,8%.95 Em 1976, esta realidade

    estava alterada para os 50% mais pobres, que viram sua participao na renda

    nacional cair para 14,9%, enquanto os 20% mais ricos viram sua participao subir

    para 61,9%. Em termos reais, o salrio mnimo, em 1974, valia menos da metade

    que em 1960. Enquanto isto, o PIB per capita subia quase 100% no intervalo de

    1960 a 1974, denotando grande crescimento econmico.

    Mas a chamada crise do petrleo que vai representar uma virada nasituao econmica e o fim definitivo do milagre econmico. A alta abrupta e

    violenta do preo do petrleo, a partir de outubro de 1973, vai representar um

    choque na economia mundial e brasileira. Cerca de 80% das necessidades

    energticas brasileiras eram supridas com petrleo importado. Surgia assim,

    inevitavelmente, uma profunda ameaa ao crescimento econmico devido ao forte

    crescimento das despesas potenciais com a importao de petrleo, que reduziria as

    importaes de equipamentos e insumos intermedirios.96

    . Como resposta para acrise, o governo Geisel manteve

    O comprometimento com o crescimento acelerado, bem como o sistemaabrangente de indexao, [que] induziu escolha de uma poltica baseada

    93 TSE, Dados Estatsticos, Vol. 11, 1977. Apud. LAMONIER, Bolvar (Org). De Geisel a Collor: obalano da transio. So Paulo: Editora Sumar, 1990. p. 183.94SADER, Emir. A transio no Brasil. So Paulo: Atual, 1990. p 25.95 Estes dados econmicos e os demais deste pargrafo esto baseados em SADER, Ibid. p 27 e 28.96 FISHLOW, Albert. Uma histria de dois presidentes: a economia poltica da gesto da crise. p. 137-197. In.: STEPAN, Alfred (Org.) Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 142.

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    em investimentos macios visando a substituio de importaes esustentada pelo endividamento externo.97

    Foi a receita para o crescimento da inflao e da dvida externa, que vo

    marcar todo o perodo da abertura.

    Frente a uma conjuntura internacional indutora de um quadro recessivo, a

    opo do governo por tentar manter a todo custo o milagre econmico s pode ser

    compreendida na medida em que o crescimento econmico era um dos fortes

    fatores de legitimao da ditadura. Com a situao econmica que se inicia em

    1974, a inflao e o crescimento da dvida, o ambiente econmico acentuava as

    condies para a abertura poltica.

    A abertura, lenta e gradual, vai ser marcada por tenses entre os militares

    pr-abertura e os chamados linha-dura. Em 1975, ocorre a morte sob tortura do

    jornalista Wladmir Herzog, demonstrando que o aparato repressivo mantinha-se em

    funcionamento. A morte do jornalista e do operrio Manuel Fiel filho, tambm sob

    tortura, provocam reaes da Igreja e das classes mdias, colocando a linha dura

    na defensiva, permitindo ao presidente substituir o comandante do II Exrcito

    (responsvel pela regio de So Paulo, onde ocorreram as mortes), por um militar

    mais afinado com sua poltica de distenso e abertura.No entanto, a poltica de abertura no comportava nenhuma concesso para

    a oposio, nem mesmo para a oposio institucional, o MDB. Antes dos casos de

    tortura alguns parlamentares haviam sido cassados, acusados de envolvimento com

    comunistas. Aps a substituio do comandante do II Exrcito, Geisel volta a

    proceder a cassaes, agora como represlia s denncias mais veementes acerca

    da tortura. O ano de 1976, que comeara com estas cassaes, seria marcado ainda

    pela famigerada Lei Falco, que acabou virtualmente com a propaganda eleitoral naTV.98 Era a preparao do governo para enfrentar as eleies municipais daquele

    ano.

    Nas eleies municipais de novembro de 1976 o MDB dobra sua votao

    total, mesmo obtendo menos votos que a ARENA (para as prefeituras, o resultado

    97 FISHLOW, Albert. Uma histria de dois presidentes: a economia poltica da gesto da crise. p. 137-197. In.: STEPAN, Alfred (Org.) Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988 p. 183.98 Mais pitoresca foi a proibio pela censura, neste mesmo perodo, de um programa televisivo queapresentaria uma pea do Ballet Bolchoi. O governo foi motivo de piadas, como relata SKIDMORE,Thomas E. A lenta via brasileira para a democratizao: 1974-1985. p. 27-79. In.: STEPAN, Op. cit. p.40.

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    dos votos foi: 61,6% contra 31,7%)99. No entanto, a oposio passa a governar 63%

    dos municpios com mais de 250 mil habitantes100, demonstrando o desgaste do

    governo nas grandes cidades, centros industriais e operrios. Bolvar Lamounier

    interpreta desta forma a relao entre as eleies e a poltica de abertura:

    O patrocnio da distenso pelo prprio ncleo do sistema dominantepermitiu-lhe monopolizar praticamente a iniciativa das mudanas poltico-institucionais a serem implantadas. Desta forma, a estratificao do poderpde ser projetada no tempo (inclusive, claro, mediante pequenos golpesbrancos e de expedientes de duvidosa moralidade), logrando assim ogoverno o seu objetivo de atenuar o impacto de resultados eleitoraiscrescentemente adversos.101

    A resposta do governo ao resultado das eleies municipais veio em 1977,

    com o fechamento temporrio do Congresso Nacional e com o chamado pacote de

    abril. Mais um pequeno golpe, que estendia a Lei Falco para as eleies ao

    Congresso, reduzia o nmero de votantes para a aprovao de mudanas na

    constituio e estabelecia a eleio indireta para governadores e um tero dos

    senadores.102 Em maio, a censura estendida s publicaes importadas e, em

    junho, o lder do MDB na Cmara, Alencar Furtado, teve o mandato cassado.

    Parecia o crepsculo da chamada distenso, ou como notou Skidmore, 1977 no

    ofereceu escassez de evidncias para aqueles que duvidavam do compromisso deGeisel com a liberalizao.103.

    No entanto, a liberalizao at ento promovida possibilitou que algumas

    reaes pudessem ser ouvidas. Maro e maio de 1977 foram marcados por diversas

    manifestaes estudantis contra o governo, as primeiras desde 1968. Houve

    represso, mas marcada por uma certa hesitao da polcia. Em Belo Horizonte

    realizou-se um congresso nacional de estudantes pela volta da democracia.104

    Em que pesem todas as concesses de Geisel aos militares mais duros, elepromoveu, em outubro, a demisso do Ministro do Exrcito, Slvio Frota, que se

    99 Cf. TSE, Dados Estatsticos, Vol. 12, 1988. Apud. LAMONIER, Bolvar (Org). De Geisel a Collor: obalano da transio. So Paulo: Editora Sumar, 1990. p. 184.100

    KUCINSKI, Bernardo. Abertura, a histria de uma crise. So Paulo: Editora Brasil debates, 1982.p. 52.101

    LAMOUNIER, Bolivar. O Brasil autoritrio revisitado: o impacto das eleies sobre a abertura. p.83-134. In.: STEPAN, Alfred (Org.) Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p.123.102 SKIDMORE, Thomas E. A lenta via brasileira para a democratizao: 1974-1985. p. 27-79. p. 27-

    79. In.: STEPAN, Alfred (Org.) Democratizando o Brasil. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988 p. 42.103

    SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988.p.374.104 Cf. ibid. p. 375.

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    insinuava como candidato s prximas eleies presidenciais indiretas, com forte

    apoio da ala mais conservadora do governo.105 Para dar continuidade ao seu

    governo e a abertura, a cpula em torno do presidente j havia escolhido o General

    Joo Batista Figueiredo, ento chefe do Servio Nacional de Informaes (SNI).

    Nas eleies presidenciais, em outubro de 1978 aps a ecloso das

    mobilizaes operrias de maio, que sero abordadas em outro tpico desta

    monografia, Figueiredo eleito sem dificuldades no colgio eleitoral, contra um

    candidato militar apoiado pelo MDB. Antes do fim de seu mandato, Geisel aprovou

    uma srie de medidas promotoras da abertura poltica, entre elas a extino do AI-5,

    a revogao da ordem de banimento para alguns exilados, a extino do poder do

    presidente fechar o congresso e cassar direitos polticos e a suspenso da censuraprvia aos ltimos jornais que ainda estavam sujeitos a esta medida.106 No entanto,

    ainda vigorava a famigerada Lei de Segurana Nacional e foi instituda a figura

    jurdica do Estado de Emergncia, que poderia reequipar o governo de todos os

    poderes autoritrios de que estava abrindo mo, sem a necessidade de ser

    aprovado pelo congresso.107 Todas as medidas s entrariam em vigor em maro de

    1979.

    Nas eleies legislativas de novembro novamente o MDB logrou maioria dosvotos para o senado, com 46,5% contra 35% da ARENA, e na Cmara a oposio

    aumentou sua votao em relao s eleies de 74, obtendo 39,3% contra 40%

    dos governistas. No entanto, com a figura do senador binico108, implementada

    pelo pacote de abril, a ARENA ocupou 15 das 23 cadeiras, contra apenas 8 do MDB.

    Tambm na Cmara, fruto das distores legais109, a Aliana Renovadora Nacional

    105 Para a memria desta disputa entre os militares na sucesso do presidente Geisel ver: SOARES,Glucio Ary Dlson. Et. al. (orgs). A volta aos quartis: a memria militar sobre a abertura. Rio deJaneiro: Relume Dumar, 1995.106 Cf. SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo. 7 ed. Rio de Janeiro: Paz e Terra,1988. p. 395-397.107 Para uma discusso a respeito do que restou dos instrumentos legais do autoritarismo verKUCINSKI, Bernardo. Abertura, a histria de uma crise. So Paulo: Editora Brasil debates, 1982. p.89-93.108 Ampliava a representao de senadores de cada estado para o nmero de trs, sendo o terceiroindicado, e no eleito.109 O nmero de deputados eleitos era, como ainda , distorcido em relao ao nmero de eleitoresde cada estado. Como existe um nmero mnimo de deputados a serem eleitos, assim como umnmero mximo, em cada estado, os maiores colgios eleitorais acabam limitados pelo teto, e osmenores inflados pelo piso.

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    logrou obter ampla maioria, com 231 deputados, contra 191 do Movimento

    Democrtico Brasileiro110.

    2.2.1 Figueiredo: a abertura e o fim do bipartidarismo

    O General Figueiredo, logo no incio de seu governo, declarou: Reafirmo

    meu inabalvel propsito (...) de fazer deste pas uma democracia111, o que

    reacendia a esperana de continuidade da liberalizao dos ltimos momentos do

    governo anterior. Mas o incio de seu mandato foi marcado pelo enfrentamento auma nova onda de greves, cujo epicentro encontrava-se novamente nos sindicatos

    dos metalrgicos do ABCD paulista112. Desta vez, o governo responde com a

    interveno no sindicato de So Bernardo, afastando as lideranas, que acabam por

    aceitar um acordo que no contemplou toda sua pauta de reivindicaes, aps

    semanas de greve.

    No campo econmico o governo perdeu, aos cinco meses de existncia, seu

    ministro da fazenda, Mrio Henrique Simonsen, que advogava uma polticarecessiva para combater a inflao e o dficit pblico e da balana de pagamentos,

    que se agravavam. Retorna ao cargo Delfim Neto, que coloca em marcha uma

    poltica de continuidade do crescimento.

    O ano de 1979 veria ainda ser aprovada a Lei de Anistia (agosto). Tal

    aprovao foi fruto de um movimento que remontava pelo menos a 1975, quando o

    Movimento Feminino pela Anistia coletou 16 mil assinaturas em defesa desta

    causa.

    113

    Mas a partir de fevereiro de 1978, com a fundao do Comit Brasileiropela Anistia (CBA), que a campanha ganhou as ruas. Reunindo organizaes de

    esquerda, a Igreja Catlica, Ordem dos Advogados do Brasil, entre outros, o Comit

    Brasileiro pela Anistia defendeu a anistia para os perseguidos polticos da ditadura.

    110 Planilhas de resultados fornecidos pelos tribunais regionais eleitorais. Apud. LAMONIER, Bolvar(Org). De Geisel a Collor: o balano da transio. So Paulo: Editora Sumar, 1990. p. 185.111 FIGUEIREDO, Joo Batista. Discursos, Vol I. Braslia: Presidncia da Repblica Secretaria deImprensa e Divulgao, 1981. Apud: SKIDMORE, Thomas. Brasil: de Castelo a Tancredo. 7 ed.Rio de Janeiro: Paz e Terra, 1988. p. 395-397. p. 412).112 Regio da Grande So Paulo formada pelos municpios de Santo Andr, So Bernardo, SoCaetano e Diadema. So municpios de alta concentrao industrial.113 Cf. KUCINSKI, Bernardo. Abertura, a histria de uma crise. So Paulo: Editora Brasil debates,1982. p. 109.

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    2.3 - O PARTIDO DOS TRABALHADORES

    O Partido dos Trabalhadores pode ser enquadrado na terminologia de

    Duverger117 como um partido de origem exterior, por ter sua gnese encontrada fora

    do mbito do parlamento.118 Mais precisamente, o modelo de Duverger explica a

    fundao do PT como partido exterior na medida em que este se funda a partir dos

    sindicatos, conforme exemplo clssico de constituio de um partido extra-

    parlamento. 119

    Segundo Raquel Meneguello em estudo clssico a respeito do PT, estepartido configura-se numa novidade do sistema partidrio brasileiro, calcado em um

    vinculo institucional de carter societrio120, ou seja, seu programa apontava para

    a revinculao entre as demandas sociais e as instituies polticas121. Projetando-

    se no cenrio partidrio como um representante classista, propondo-se a expressar

    no campo poltico-institucional as demandas de um setor da sociedade, o PT

    diferenciava-se de todas as outras formas existentes de representao partidria no

    Brasil do final da dcada de 1970.Outra autora a utilizar um conceito parecido com o da novidade, expresso

    por Meneguello, Margaret Keck, em seu estudo a respeito da gnese petista. Esta

    autora classifica o PT como uma anomalia, posto que

    diferentemente de outros partidos polticos criados nos anos 80, o Partidodos Trabalhadores tinha uma base slida no meio operrio e nosmovimentos sociais, ao mesmo tempo que levava a srio a questo darepresentao (tanto na sua forma interna quanto em relao s baseseleitorais) e formulava suas propostas em termos programticos.122

    117 Cf. DUVERGER, Maurice. Os partidos polticos. Rio de janeiro: Zahar Editores, 1970. p. 26-30.118 Mesmo que alguns parlamentares tenham aderido ainda na primeira hora ao projeto do PT,veremos mais adiante que indubitavelmente foi no lcus exterior ao parlamento que se deu aformao do partido.119 Cf. DUVERGER, Op. cit. p. 26-30. enumera alm dos sindicatos as igrejas, entre outros, comoorganismos externos capazes de gerar um partido, mais uma vez mostrando a adequao de suateoria a formao do PT, onde foi proeminente a participao de membros da Igreja Catlica, almdos sindicalistas.120 MENEGUELLO, Raquel. PT a formao de um partido (1979-1982). Rio de Janeiro; Paz eterra, 1989. p. 104.121 Id.122

    KECK, Margaret. PT, a lgica da diferena. So Paulo: tica, 1991. p. 13.

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    Assim, para a autora, a vinculao social do PT com um extrato delimitado

    da sociedade, bem como seu carter programtico so as caractersticas que

    tornam o PT anmalo frente ao quadro partidrio do fim da ditadura militar.

    2.3.1 O novo sindicalismo

    Como j salientado anteriormente, a novidade e anomalia representada pelo

    PT encontram-se em sua relao com a classe trabalhadora, da qual este partido

    emerge. Assim, s podemos entende-lo buscando suas razes nos movimentosorganizados da classe operria paulista em 1978/79, que representaram uma

    exploso de descontentamento gerada pela concentrao de renda, arrocho salarial,

    e a inexistncia de mecanismos democrticos de resoluo de conflitos salariais.

    Os sindicatos brasileiros, lcus deste tipo de reivindicao trabalhista,

    encontravam-se regidos pelas regras da Consolidao das Leis do Trabalho (CLT),

    que colocava estas entidades em uma relao de submisso ao Estado. Os vnculos

    entre sindicatos e o Estado materializavam-se pelo reconhecimento ou no dossindicatos pelo Ministrio do Trabalho; pela prerrogativa do governo de substituir

    diretorias eleitas, pelo poder regulador da justia do trabalho, que julgava quais

    greves eram legais ou ilegais; pelo financiamento compulsrio dos sindicatos atravs

    do imposto sindical; pela predominncia de contratos individuais entre patres e

    empregados; pela ausncia de representao sindical por local de trabalho; pelo

    funcionamento de federaes e confederaes eleitas pelas direes sindicais

    reconhecidas; e, por fim, pela proibio da existncia de centrais sindicais em nvelnacional.

    Este modelo de organizao sindical, herdado do Estado Novo, possibilitou

    ao regime militar realizar mais de 500 intervenes em diretorias sindicais123,

    visando a manter o controle do movimento sindical. Mas isto no bastou. A

    adulterao dos ndices inflacionrios de 1973, descoberta em 1977, levou agitao

    maior concentrao operria o pas, a regio do ABCD paulista, que concentrava a

    industria automobilstica brasileira. Em maio de 1978, sem a convocao do

    123 Cf. KECK, Margaret. PT, a lgica da diferena. So Paulo: tica, 1991. p. 78.

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    sindicato, comeam a espocar greves por reposio salarial em diversas

    montadoras. Em 1979, liderados por seus sindicatos ou no, j eram mais de trs

    milhes de trabalhadores em greve por todo o pas, realizando um movimento que

    colocava em cheque um dos pilares da poltica econmica do regime militar: o

    arrocho salarial.124

    Mas, no entanto, no foi s a proeminncia da reivindicao econmica que

    caracterizou este movimento. Pelo contrrio, a incluso paulatina de aspectos

    polticos e organizacionais, referentes tanto a estrutura sindical, quanto ao regime

    poltico brasileiro, vo dar as caractersticas do que ficar conhecido como o novo

    sindicalismo.

    Desta forma, na esteira das mobilizaes operrias, desenvolve-se a crticaao modelo de estruturao do sindicalismo brasileiro, expresso na prtica sindical de

    alguns sindicatos e oposies sindicais e tambm nas resolues de seus

    congressos e encontros. o que fica patente se observarmos, por exemplo, as

    deliberaes do III Congresso dos Trabalhadores Metalrgicos de So Bernardo do

    Campo e Diadema, realizado em outubro de 1978, que, entre suas resolues

    define,

    1) a implantao e o desenvolvimento da organizao de comisses defbrica ser o incio da nova estrutura sindical dos metalrgicos de SoBernardo do Campo e Diadema(...);3) realizar reunies por empresa para iniciar o trabalho de formao decomisses de empresa na nossa base;(...)5) o planejamento das finanas do nosso sindicato dever ter por objetotorn-lo cada vez menos dependente da contribuio sindical;125

    124 O transcorrer das greves de 1978, 1979 e 1980 foram objeto de muitas narrativas, anlises e

    polmicas. Destacamos a polmica acerca do final da greve de 1979, que havia sido deflagrada em19 de maro. Com o impasse das negociaes o governo intervem no sindicato afastando a diretoriano final do ms. Mesmo afastada a diretoria mantm negociaes diretas com os patres e a grevecontinua. Posteriormente a greve suspensa por 45 dias para a continuidade das negociaes, quevoltam a envolver o governo. Ao fim do prazo, em assemblia, a direo do sindicato prope a noretomada da paralisao, mesmo tendo obtido poucos avanos na negociao. A greve no foiretomada e alguns dias depois a interveno no sindicato dos metalrgicos foi suspensa e a diretoriaafastada reempossada. A polmica sobre a no retomada da greve dividiu os sindicalistasempenhados na construo do PT, resultando em severas polmicas, onde pairava a suspeita de queLula teria negociado a no retomada da greve em troca do retorno de sua diretoria ao Sindicato,mesmo acompanhado de poucas conquistas econmicas para os trabalhadores ao fim danegociao. Para a memria desta polmica ver HARNECKER, Marta. O Sonho era possvel: Ahistria do Partido dos Trabalhadores narrada por seus protagonistas. Havana/So Paulo:

    MEPLA/Casa Amrica Livre, 1994.125 RESOLUES do III Congresso dos Metalrgicos de So Bernardo do Campo e Diadema, apudRODRIGUES, Iram Jcome. Sindicalismo e poltica: A trajetria da CUT. So Paulo: Scritta, 1997.p. 78.

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    avanaram crticas ao prprio modelo de estruturao sindical, bem como ao regime

    militar.

    Os protagonistas deste novo sindicalismo sero tambm os protagonistas da

    formao do PT. Meneguello defende que o relativo fracasso do novo sindicalismo

    em realizar plenamente sua pauta no plano sindical levou seus principais dirigentes

    a buscarem construir outro espao de disputa para estes ideais, o poltico-

    partidrio.128 Keck apresenta viso semelhante, defendendo que j que a resposta

    do governo transformaria automaticamente uma greve industrial em greve poltica,

    os trabalhadores precisariam de um instrumento poltico para fazer com que sua voz

    fosse ouvida129. Assim, as lideranas sindicais, em especial da grande So Paulo,

    comeavam a cogitar a idia de formar um partido poltico que estivesse vinculadoaos setores sociais que, com sua mobilizao, colocavam em cheque o prprio

    regime militar.

    Assim como vimos amadureer a idia de um partido que represente

    exclusivamente os trabalhadores, em 1978, o Sindicato de So Bernardo, presidido

    por Luis Incio da Silva, apia nas eleies legislativas daquele mesmo ano um

    candidato do MDB para o Senado, Fernando Henrique Cardoso130, demonstrando

    que, longe de trilhar um caminho linear em direo constituio de um partido querepresentasse exclusivamente os trabalhadores, os sindicalistas realizaram um

    caminho eivado de idas e vindas, marcado por aparentes contradies.131

    2.3.2 Outros atores sociais na formao do PT

    Se verdadeiro que o setor oriundo do novo sindicalismo representou o

    cerne do novo partido que se vislumbrava, tambm inegvel que outros setores

    sociais contriburam para dar feio a este novo partido, contribuindo para suas

    128 Cf. MENEGUELLO, Raquel. PT a formao de um partido (1979-1982). Rio de Janeiro; Paz eterra, 1989. p. 50.129 KECK, Margaret. PT, a lgica da diferena. So Paulo: tica, 1991. p. 83.130 Cf. GADDOTI, Moacir e PEREIRA, Otaviano. Pra que PT. So Paulo: Cortez, 1989. p. 21.131 Para um maior aprofundamento sobre o novo sindicalismo ver, entre outros: BOITO, Armando Jr.

    O sindicalismo de Estado no Brasil: uma anlise crtica da estrutura sindical . Campinas: Editorada UNICAMP, 1991.; SADER, Emir. A transio no Brasil. So Paulo: Atual, 1990. e RODRIGUES,Iram Jcome. Igreja e movimento operrio nas origens do novo sindicalismo no Brasil (1964-1978).Histria: Questes & Debates, Curitiba. N. 29, p. 11-24, 1998.

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    caractersticas de novidade e anomalia j ressaltadas. Entre os setores que se

    engajaram na construo do PT destacaremos os vinculados Igreja Catlica, os

    intelectuais e os parlamentares do MDB.

    Temos claro que uma