a origem das espécies cultivadas: refazendo a trilha de nikolai

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A origem das espécies cultivadas: Refazendo a trilha de Nikolai Vavilov Discente: Rafael Storto Nalin Orientador: Magno Antonio Patto Ramalho Nascido em 23 de novembro de 1887, Nikolai Ivanovich Vavilov, teve um papel relevante para o entendimento da origem e dispersão das principais espécies cultivadas. Suas expedições por mais de 65 países resultaram na obtenção do maior banco de sementes da época, com aproximadamente 200.000 acessos caracterizados e testados em mais de 100 estações experimentais na então União Soviética. Tamanha contribuição só foi possível graças à competência de Vavilov em identificar facilmente padrões de distribuição das plantas e da sua facilidade de comunicação com produtores e pesquisadores de diversos países, visto que, ao longo de sua vida, Nikolai obteve domínio de 15 idiomas (NABHAN, 2008). Suas pesquisas tiveram seu devido reconhecimento apenas em 1925, quando o governo soviético lhe concedeu o cargo de Diretor do Instituto de Botânica Aplicada e Novos Cultivos de São Petersburgo, na época Leningrado. Porém, durante o governo de Josef Stalin, Vavilov perdeu forças política, em detrimento da ascensão dos trabalhos de Trofim Lysenko, o qual rejeitava a genética mendeliana e tratava a genética como uma falácia. Com isso, após uma intensa crise alimentícia na Rússia e sob acusações de conceder importantes informações a países como Estados Unidos, Vavilov foi condenado a prisão perpétua, mas Nikolai não resistiu as torturas e a fome por muito tempo, falecendo em 1943 na prisão de Saratov. Atualmente seu legado é perpetuado através dos conhecimentos gerados pela sua pesquisa e pela importância dada por ele aos recursos genéticos vegetais. O instituto que leva o seu nome, localizado em São Petersburgo continua em posse de uma das maiores coleções de sementes do mundo, com mais de 300.000 acessos. Porém, é importante ressaltar que pesquisas publicadas pela FAO indicam que mais de 75% da diversidade genética de espécies utilizadas na agricultura se perderam no último século. Com isso, entre 2002 e 2006, o pesquisador da Universidade do Arizona, Gary Paul Nabhan, de posse das anotações feitas por Vavilov, percorreu parte da trilha feita por este ao redor do mundo, analisando as alterações que ocorreram nos centros de origem identificados por Nikolai. Suas observações mostraram notória redução na variabilidade das principais espécies cultivadas em seus respectivos centros de origem, cujo potencial de contribuição para o melhoramento como fonte de alelos raros é alto, reforçando assim a importância dos trabalhos de conservação genética realizados de forma pioneira por Vavilov.

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Page 1: A origem das espécies cultivadas: Refazendo a trilha de Nikolai

A origem das espécies cultivadas: Refazendo a trilha de Nikolai Vavilov

Discente: Rafael Storto Nalin

Orientador: Magno Antonio Patto Ramalho

Nascido em 23 de novembro de 1887, Nikolai Ivanovich Vavilov, teve um papel

relevante para o entendimento da origem e dispersão das principais espécies cultivadas. Suas

expedições por mais de 65 países resultaram na obtenção do maior banco de sementes da época,

com aproximadamente 200.000 acessos caracterizados e testados em mais de 100 estações

experimentais na então União Soviética.

Tamanha contribuição só foi possível graças à competência de Vavilov em identificar

facilmente padrões de distribuição das plantas e da sua facilidade de comunicação com

produtores e pesquisadores de diversos países, visto que, ao longo de sua vida, Nikolai obteve

domínio de 15 idiomas (NABHAN, 2008).

Suas pesquisas tiveram seu devido reconhecimento apenas em 1925, quando o governo

soviético lhe concedeu o cargo de Diretor do Instituto de Botânica Aplicada e Novos Cultivos

de São Petersburgo, na época Leningrado. Porém, durante o governo de Josef Stalin, Vavilov

perdeu forças política, em detrimento da ascensão dos trabalhos de Trofim Lysenko, o qual

rejeitava a genética mendeliana e tratava a genética como uma falácia. Com isso, após uma

intensa crise alimentícia na Rússia e sob acusações de conceder importantes informações a

países como Estados Unidos, Vavilov foi condenado a prisão perpétua, mas Nikolai não resistiu

as torturas e a fome por muito tempo, falecendo em 1943 na prisão de Saratov.

Atualmente seu legado é perpetuado através dos conhecimentos gerados pela sua

pesquisa e pela importância dada por ele aos recursos genéticos vegetais. O instituto que leva o

seu nome, localizado em São Petersburgo continua em posse de uma das maiores coleções de

sementes do mundo, com mais de 300.000 acessos.

Porém, é importante ressaltar que pesquisas publicadas pela FAO indicam que mais de

75% da diversidade genética de espécies utilizadas na agricultura se perderam no último século.

Com isso, entre 2002 e 2006, o pesquisador da Universidade do Arizona, Gary Paul Nabhan, de

posse das anotações feitas por Vavilov, percorreu parte da trilha feita por este ao redor do

mundo, analisando as alterações que ocorreram nos centros de origem identificados por Nikolai.

Suas observações mostraram notória redução na variabilidade das principais espécies cultivadas

em seus respectivos centros de origem, cujo potencial de contribuição para o melhoramento

como fonte de alelos raros é alto, reforçando assim a importância dos trabalhos de conservação

genética realizados de forma pioneira por Vavilov.

Page 2: A origem das espécies cultivadas: Refazendo a trilha de Nikolai

Bibliografia:

NABHAN, G.P. 2008. Where our food comes from: Retracing the Vavilov’s Quest to End

Famine. Washington, D.C.: Island Press.