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A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO E SEU PAPEL DE REGULADOR DO COMÉRCIO INTERNACIONAL Augusto Blanqui Gondim Carmo Dissertação apresentada ao Departamento de Economia da Universidade de Brasília como requisito para conclusão do Curso de Mestrado Profissionalizante em Economia. Orientador: Professor Maurício Barata de Paula Pinto Brasília 2010

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A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO E SEU PAPEL DE

REGULADOR DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Augusto Blanqui Gondim Carmo

Dissertação apresentada ao Departamento de Economia da

Universidade de Brasília como requisito para conclusão do Curso

de Mestrado Profissionalizante em Economia.

Orientador: Professor Maurício Barata de Paula Pinto

Brasília

2010

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A ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DO COMÉRCIO E SEU PAPEL DE

REGULADOR DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Augusto Blanqui Gondim Carmo

Dissertação apresentada ao Departamento de Economia da

Universidade de Brasília como requisito para conclusão do Curso

de Mestrado Profissionalizante em Economia.

Banca examinadora:

Professor Maurício Barata de Paula Pinto (orientador)

Professor Ricardo Wahrendorff Caldas

Professor Fernando Antônio Ribeiro Soares

Brasília

2010

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SUMÁRIO

Página

Agradecimentos e Dedicatória 4

Abstract 5

Resumo 6

I – Introdução 7

II – Necessidade de Regulação do Comércio Internacional 11

III – Atuação da OMC 15

IV – Evolução do Comércio Internacional 24

V – Acordos Regionais de Comércio 29

VI – Liberações Unilaterais de Comércio: Sistema Geral de Preferências – SGP 37

VII – Empecilhos para o Desempenho da OMC 42

VIII – Desafios para a OMC 46

IX – Conclusão 54

Apêndices 58

Referências Bibliográficas 70

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Agradecimentos:

à minha família, pelo estímulo de ainda me ver estudando;

ao professor Maurício, pela dedicação e paciência na orientação deste trabalho;

a todos os professores, pela cooperação no meu aperfeiçoamento intelectual;

aos colegas, pelo companheirismo.

Dedicatória:

Aos colegas que por motivo de falta de saúde, ou por outros motivos também de

força maior, não puderam concluir o curso. Lembro a eles que a luta, que é empenho, é

mais importante do que a vitória, que é circunstância.

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ABSTRACT

At the end of World War II it was thought to create a body that could support the

multilateral trade negotiations. This body would be called the International Trade

Organization (ITO). Since the emergence of such a body not worked out, a set of rules

established in accordance with 23 countries in 1947 came to govern the multilateral trade

negotiations. This agreement, called the General Agreement on Tariffs and Trade (GATT),

lasted until 1995, when came the World Trade Organization (WTO). To achieve its

objectives the WTO oversees trade agreements, serves as a forum for resolving trade

disputes, examines the trade policies of its members, offers training programs and provides

technical assistance to developing countries. The WTO faces both structural and cyclical

obstacles in the exercise of their activities. Some new themes have been brought into the

discussion in the WTO, despite questions about this organization is the appropriate forum

for such discussions (environment, for example). Such discussions may bring in new

multilateral agreements and changes in the mode of operation of the WTO.

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RESUMO

Por ocasião do final da Segunda Guerra Mundial pensou-se em criar um órgão que

pudesse apoiar as negociações multilaterais de comércio. Essa entidade seria chamada de

Organização Internacional do Comércio (OIC). Como o surgimento de tal instituição não

vingou, um conjunto de normas estabelecido em acordo por 23 países, em 1947, passou a

reger a negociações multilaterais de comércio. Esse acordo, chamado de Acordo Geral

sobre Tarifas e Comércio (GATT), durou até 1995, quando surgiu a Organização Mundial

do Comércio (OMC). Para atingir seus objetivos a OMC, supervisiona os acordos

comerciais, serve de foro para resolução de divergências comerciais, examina as políticas

comerciais de seus membros, disponibiliza programas de formação e presta assistência

técnica para os países em desenvolvimento. A OMC enfrenta dificuldades tanto de ordem

estrutural como conjuntural no exercício de suas atividades. Alguns novos temas têm sido

colocados em discussão no âmbito da OMC, malgrado questionamentos sobre esta

organização ser o foro adequado para tais debates (meio ambiente, por exemplo). Tais

discussões poderão implicar em novos acordos multilaterais e em mudanças no modo de

atuação da OMC.

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I – INTRODUÇÃO

O projeto desta dissertação foi elaborado no primeiro semestre de 2008, quando

cursávamos a disciplina “Comércio Internacional”, administrada pelo Professor Maurício

Barata de Paula Pinto em curso de Mestrado em Desenvolvimento e Comércio

Internacional, na Universidade de Brasília.

O tema “A Organização Mundial do Comércio e seu Papel de Regulador do

Comércio Internacional” foi escolhido por ser um tema pertinente ao nosso ambiente de

trabalho: o Departamento de Negociações Internacionais da Secretaria de Comércio

Exterior, do Ministério de Desenvolvimento, Indústria e Comércio Exterior.

Com o objetivo de dar uma resposta à questão “a OMC consegue regular de fato o

comércio internacional?” procuramos desenvolver o tema seguindo fielmente os itens

escolhidos constantes daquele projeto.

O trabalho é iniciado aqui com um pequeno relato de como surgiu a OMC. Nos três

capítulos posteriores a esta introdução, começamos com uma exposição da necessidade de

regulação do comércio internacional para que a liberalização seja assegurada, de forma a

não prejudicar a universalização dos benefícios decorrentes desse comércio. Em seguida,

apresentamos a Organização Mundial do Comércio: quais são seus objetivos, seus

princípios fundamentais, sua estrutura e como supervisiona o sistema multilateral de

comércio. Por fim, fazemos uma análise da evolução do comércio internacional.

Nos quinto capítulo tratamos de um tema polêmico no sentido de ser uma ameaça

ou um complemento ao sistema multilateral de comércio: os acordos regionais de comércio.

Já no sexto capítulo falamos das concessões de preferências tarifárias unilaterais – portanto

sem negociação – dos países desenvolvidos aos países em desenvolvimento: o Sistema

Geral de Preferências (SGP).

No sétimo capítulo mostramos as dificuldades encontradas pela OMC no

cumprimento de sua missão. Esses empecilhos são de ordem tanto estruturais como

conjunturais. No capítulo seguinte, tratamos de novos temas que têm sido colocados em

discussão no âmbito da OMC, malgrado questionamentos sobre esta organização ser o foro

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adequado para esses debates. Tais discussões poderão implicar em novos acordos

multilaterais e em mudanças no modo de atuação da OMC.

O nono capítulo conclui o trabalho. Nele apresentamos nossos pontos de vista e

deduções a respeito do trabalho da OMC como supervisora do sistema multilateral de

comércio.

Histórico

Em 1944, as nações aliadas reuniram-se em conferência na cidade americana de

Bretton Woods para discutirem sobre o gerenciamento econômico internacional no pós-

guerra, de modo a conseguir-se a reconstrução da economia internacional e a obter-se uma

garantia de paz entre as nações baseada na cooperação econômica.

Dessas negociações resultou um acordo objetivando uma nova ordem econômica

internacional baseada no estabelecimento de três instituições:

I. O Fundo Monetário Internacional que trataria da estabilidade das taxas de

câmbio e da prestação de assistência financeira aos países com problemas de

balanço de pagamentos;

II. O Banco Internacional para Reconstrução e Desenvolvimento (BIRD), mais

conhecido como Banco Mundial, que financiaria os investimentos

necessários para a reconstrução dos países vitimados pela Guerra;

III. A Organização Internacional do Comércio (OIC) que coordenaria e

supervisionaria o comércio internacional por meio de negociações

multilaterais na busca da liberação comercial, removendo as barreiras e

facilitando o acesso a mercados.

Da Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Emprego, realizada em

Havana entre os meses de novembro de 1947 e março de 1948, resultou a Carta para a

Organização Internacional do Comércio (Carta de Havana). A Carta tratava de vários

temas, além do comércio internacional propriamente dito: investimento estrangeiro,

emprego, desenvolvimento econômico, padrões trabalhistas...

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Diferentemente do FMI e do Banco Mundial, a OIC não foi criada porque não

obteve a aprovação do Congresso dos Estados Unidos, por temer que a soberania do país

fosse atingida.

Então, o Acordo Provisório que fora negociado, em 1947, entre 23 países (entre eles

o Brasil) na reunião ocorrida em Genebra em preparação à Conferência de Havana passou a

ser o documento central do comércio internacional: o General Agreement on Tariffs and

Trade (GATT), que tratava apenas sobre tarifas e regras do comércio de bens. Durante o

período de 1947 a 1995, ano em que a OMC começou a funcionar, esse acordo de caráter

provisório funcionou como uma organização “de fato”, ajudando a estabelecer um sistema

multilateral de comércio mediante rodadas sucessivas de negociações comerciais com o

objetivo de liberalização do comércio internacional.

As regras do GATT tinham por objetivo a liberação do comércio internacional

fundamentada em três princípios básicos:

I. O único instrumento de proteção nas trocas comerciais seriam as tarifas

aduaneiras (quotas, restrições quantitativas ou outras barreiras eram

proibidas);

II. O estabelecimento de tarifa ou concessão de benefício seria estendido de

igual modo para todas as partes contratantes;

III. Os produtos importados não poderiam ser discriminados em relação aos

produtos nacionais.

Entre 1986 e 1994 realizou-se a oitava rodada de negociações multilaterais sob o

GATT, a Rodada Uruguai. O objetivo dessa rodada, além da redução das tarifas aduaneiras,

foi integrar às regras do GATT setores até então excluídos, como agricultura e têxteis, e

introduzir regras para novas áreas como serviços, investimentos e propriedade intelectual.

Entre os diversos acordos assinados na Rodada Uruguai estava o Acordo

Constitutivo da Organização Mundial do Comércio que criava, finalmente, a Organização

destinada a coordenar e supervisionar as regras do comércio internacional. Tornaram-se

seus membros originários todos os estados e territórios aduaneiros autônomos que eram

partes contratantes do GATT 1947 em 1º de janeiro de 1995, data de entrada em vigor da

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OMC, e que aceitaram o Acordo Constitutivo da OMC e todos os demais acordos

multilaterais negociados na Rodada. Hoje a OMC tem cento e cinqüenta e três membros.

(Ver Apêndice 1-1 – “Membros da OMC”).

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II – NECESSIDADE DE REGULAÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

A teoria econômica em geral – desde os conceitos ricardianos de custo de

oportunidade e vantagem comparativa –, conclui que o comércio internacional beneficia

aos países de que dele participam. Esses benefícios podem ser listados como:

- Possibilidade de aumento da produção, do consumo e da variedade disponível

de bens e serviços;

- Possibilidade de que, com a expansão das escolhas da economia, haja uma

distribuição de renda de tal modo que a economia como um todo saia ganhando

com o comércio;

- Possibilidade de redução de custos, em função da economia de escala,

permitida pelo acesso ao mercado mundial;

- Possibilidade de aumentar a concorrência de forma a evitar tipo de falha de

mercado que provoca aumento de preço por empresa protegida da concorrência

estrangeira;

- Possibilidade de transferência de tecnologia, vez que os progressos

tecnológicos podem estar incorporados nos produtos comercializados.

Contudo, a divergência de interesses dos países no tocante à liberalização comercial

e ao acesso a mercado não raro provoca atitudes protecionistas que desvirtuam o livre

comércio e prejudicam a universalização dos benefícios citados. Tais conflitos de interesse

fizeram, por exemplo, que setores como têxteis e agricultura ficassem à margem das regras

do GATT. Também são esses conflitos que determinam a política comercial a ser seguida.

Alguns instrumentos de política comercial pelos quais os governos influenciam o

comércio:

a) Tarifa. É o imposto cobrado pela importação de um bem. Pode ser

específica, quando é cobrada como valor fixo para cada unidade importada,

e ad valorem, quando cobrada como percentual do valor do bem importado.

O efeito da tarifa é o aumento do custo do bem importado.

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b) Subsídio à exportação. É um pagamento a um exportador de um bem.

Também pode ser específico ou ad valorem. O efeito do subsídio é o

aumento do preço no país exportador e a diminuição no país importador.

c) Quota de importação. É uma restrição sobre a quantidade de um bem que

pode ser importado. O efeito da quota de importação é a elevação do preço

doméstico do bem importado porque, quando as importações são limitadas, a

demanda pelo bem excede a oferta doméstica mais as importações fazendo

com que os preços subam até o equilíbrio.

d) Restrição voluntária à exportação. Uma restrição imposta pelo país

exportador sobre a quantidade de um bem que pode ser exportado, fruto de

acordo com o país importador. O efeito dessa restrição é o aumento do preço

no país importador pelo mesmo motivo da quota de importação.

e) Exigência de conteúdo local. É a obrigatoriedade de que uma fração de um

bem seja produzida domesticamente. Tal fração pode ser expressa em

unidade física ou em termos de valor adicionado doméstico. O efeito aqui é

que a média entre os preços dos componentes importados e dos componentes

domésticos resulta num preço interno mais alto do bem final, em

comparação com o bem inteiramente importado.

f) Subsídios de crédito à exportação. O subsídio ao exportador aqui tem a

forma de empréstimo subsidiado. O efeito é semelhante ao subsídio com

pagamento direto ao exportador.

g) Aquisição nacional de bens. É o privilégio concedido aos bens produzidos

domesticamente nas compras governamentais ou de empresas estatais,

mesmo quando custam mais que as importações.

h) Barreiras burocráticas. É a limitação informal das importações, utilizando-

se para isso de controles distorcidos de ordem sanitária, de segurança ou

alfandegária. Assim como na restrição formal – estabelecimento de quotas,

por exemplo –, a conseqüência é o impedimento da diminuição dos preços

internos dos bens afetados por essas barreiras.

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Como se pode ver, os efeitos de todos esses instrumentos de política comercial são

nocivos ao comércio livre, prejudicando sempre o consumidor. Apresentamos abaixo um

quadro elaborado originalmente por Krugmann e Obstfeld (op. cit., 2005) sobre os efeitos

das principais políticas comerciais.

Tabela 2.1 – Efeitos das Principais Políticas Comerciais Tarifa Subsídio à

exportação

Quota de

Importação

Restrição

voluntária à

exportação

Excedente do

produtor

Aumenta Aumenta Aumenta Aumenta

Excedente do

consumidor

Diminui Diminui Diminui Diminui

Receita do governo Aumenta Diminui (gasto do

governo aumenta)

Não muda (rendas

para detentores de

licenças)

Não muda (rendas

para estrangeiros)

Bem-estar nacional Ambíguo (diminui

para um país

pequeno)

Diminui Ambíguo (diminui

para um país

pequeno)

Diminui

Fonte: Krugmann e Obstfeld, “Economia Internacional: Teoria e Política”, 6ª edição, pg.154.

Se considerarmos que o bem-estar econômico nacional é, de fato, a satisfação dos

desejos dos indivíduos da nação e que as restrições comerciais, ao interferirem com os

ganhos de comércio, reduzem esse bem estar (isto é, diminuem a satisfação dos indivíduos),

concluiremos que as políticas comerciais dos governos visando à proteção dos produtores

não estão sintonizadas com as preferências dos consumidores. Krugman diz que a maioria

das restrições ao comércio é adotada porque o público não compreende seus verdadeiros

custos.

No período pós-II Guerra houve uma grande liberalização do comércio, graças à

negociação internacional. Os países concordaram em diminuir a proteção às indústrias que

concorriam com as importações, promovendo uma redução mútua de tarifas.

As diversas rodadas de negociação do GATT concentraram-se principalmente na

redução de tarifas, mas as disputas por mercado mantiveram as barreiras não-tarifárias

como forma de proteção aos mercados nacionais.

A consciência da necessidade de se ampliar a negociação multilateral sobre o

comércio internacional, incluindo temas diversos como propriedade intelectual e serviços,

de interesse dos países desenvolvidos, além de matérias como acesso a mercados de bens,

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agricultura, têxteis e normas operacionais que reprimissem atitudes protecionistas, de

interesse dos países em desenvolvimento, que resultou na criação da OMC em 1994, foi

iniciada, de fato, no final da década de 1940, quando se pretendia lançar a Organização

Internacional do Comércio (OIC).

Para que a liberalização seja assegurada, faz-se necessária a regulação do comércio

internacional com o objetivo de garantir igualdades de condições competitivas e evitar que

ingerências dos estados prejudiquem a livre concorrência entre os agentes econômicos.

Assim é que os acordos do sistema multilateral de comércio (SMC) e o mecanismo do

sistema de soluções de controvérsias da Organização Mundial do Comércio – OMC criam

obrigações para os países signatários e dão credibilidade para suas normas.

Citando Rabih Ali Nasser (2003), doutor em Direito Internacional: “Sem dúvida,

qualquer ente interessado em conferir maior efetividade às normas de direito internacional

não pode ser contrário à renúncia pelos Estados de uma parte de suas competências em

favor de uma autoridade internacional. Do contrário, correríamos o risco de viver sempre

em um mundo fragmentado por nacionalismos e protecionismos de toda sorte, com o risco

adicional de revivermos os conflitos em escala mundial a que assistimos no século

passado....As restrições que surgem naturalmente com a adesão dos países a um sistema

integrado de normas internacionais justificam-se pelo fato de ser uma solução pior conferir

a todos uma liberdade irrestrita de utilizar quaisquer mecanismos para garantir acesso de

seus produtos a outros mercados e/ou impedir o acesso de produtos estrangeiros ao seu

território. Vigeria neste caso a lei do mais forte e menos dependente, abrindo espaço a

abusos que prejudicariam os mais fracos.”

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III – ATUAÇÃO DA OMC

O preâmbulo do Acordo Constitutivo da Organização Mundial de Comércio - OMC

indica os objetivos a serem alcançados pelo sistema multilateral de comércio:

1. Elevação dos níveis de vida

2. Pleno emprego

3. Volume considerável e em constante elevação de rendas reais e demanda

efetiva

4. Aumento da produção e do comércio de bens e serviços, permitindo ao

mesmo tempo a utilização ótima dos recursos mundiais em conformidade

com o objetivo de um desenvolvimento sustentável e buscando proteger e

preservar o meio ambiente.

A OMC – pessoa jurídica que recebeu a capacidade legal de cada um dos seus

membros para administrar o sistema multilateral de comércio – tem as seguintes funções:

administrar os acordos comerciais de seus membros; constituir foro para as negociações das

relações comerciais entre seus membros; administrar normas e procedimentos que regem a

solução de controvérsias comerciais; administrar o Mecanismo de Exame das Políticas

Comerciais; cooperar com o Fundo Monetário Internacional e com o Banco Mundial e

órgãos a eles afiliados na formulação das políticas econômicas em escala mundial. (Acordo

Constitutivo, Art. III).

Os princípios básicos da OMC são os mesmos das regras construídas no âmbito do

GATT para o comércio internacional:

1. Princípio da não-discriminação (trato da nação mais favorecida e trato

nacional)

2. Princípio da proibição de restrições quantitativas

3. Princípio da consolidação.

Trato da nação mais favorecida (NMF). Toda vantagem, favor, privilégio,

imunidade referentes a direitos aduaneiros ou outras taxas concedidos a um país devem ser

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imediatamente concedidos aos produtos similares comercializados com qualquer outro

membro da OMC. Esta é a regra mais importante do sistema multilateral de comércio.

Trato nacional. É proibida a discriminação entre produtos nacionais e importados.

As taxas e impostos internos, bem como a legislação que afete a venda interna, não devem

servir de proteção aos produtos domésticos em relação aos importados.

Proibição de restrições quantitativas. O uso de quotas ou de outras barreiras que

não sejam tarifárias deve ser eliminado do comércio internacional.

Princípio da consolidação. A Lista de Concessões determina a lista de produtos e

das tarifas máximas que devem ser praticadas no comércio internacional. Essas tarifas

consolidadas só podem ser alteradas negociando-se com os membros interessados, por meio

de concessões às partes afetadas.

Para atendimento de interesses específicos das partes do Acordo da OMC foram

definidas exceções a esses princípios. Algumas dessas exceções figuram em alguns acordos

como o da Agricultura e o de Têxteis e outras são mais generalizadas. As principais

exceções são:

a) Medidas aplicadas com finalidade de proteção da moral pública, da saúde e

vida das pessoas e dos animais, a preservação dos vegetais e a proteção de

tesouros nacionais. (Art. XX do GATT e Art. XIV do AGCS).

b) Medidas adotadas para a proteção dos interesses essenciais da segurança de

um membro ou de cumprimento de suas obrigações em virtude da Carta das

Nações Unidas para manutenção da paz e da segurança internacionais. Os

membros não estão obrigados a submeter informações cuja divulgação seja

contrária aos interesses essenciais de sua segurança. (Art. XXI do GATT e

Arts. XIV e XIV bis do AGCS).

c) Membro que adere a um acordo de integração regional (união aduaneira e

zona de livre comércio) pode outorgar às demais partes desse acordo

condições mais favoráveis em matéria de comércio do que as que concede

aos demais membros da OMC. (Art. XXIV do GATT de 1994 e Artigo V do

AGCS).

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d) A cláusula de habilitação permite aos países desenvolvidos oferecer trato

tarifário mais favorável às importações procedentes dos países em

desenvolvimento do que o concedido às importações dos demais membros

da OMC. (Decisão da Rodada de Tóquio, encerrada em 1979).

e) Aplicação de salvaguardas restringindo a quantidade ou o valor das

mercadorias importadas de forma a proteger sua posição financeira externa e

seu balanço de pagamentos. Salvaguardas também podem ser utilizadas

quando um produto está sendo importado em quantidades crescentes e sob

condições que causem ou ameacem causar prejuízo grave aos produtores

domésticos (Arts. XII, XVIII e XIX do GATT; Acordo sobre Salvaguardas).

A OMC tem sua sede em Genebra, Suíça. Funciona com a seguinte estrutura:

1. Conferência Ministerial. Órgão máximo da organização, composto por

representantes de todos os seus membros (Ministros das Relações Exteriores

ou Ministros de Comércio Exterior), que se reúne, no mínimo a cada dois

anos.

2. Conselho Geral. Corpo diretor da OMC, composto por representantes de

todos os seus membros (chefes das delegações dos países-membros em

Genebra).

3. Órgão de Solução de Controvérsias (OSC). Mecanismo de solução de

conflitos na área do comércio. O OSC é composto pelo próprio Conselho

Geral que aqui atua em função específica. Pode-se recorrer de suas decisões

através do Órgão de Apelação, composto por pessoas de reconhecida

competência nas áreas de direito, de comércio internacional e do tema em

questão, indicadas pelo OSC.

4. Órgão de Exame das Políticas Comerciais. Mecanismo com a

incumbência de examinar periodicamente as políticas comerciais de cada

membro da OMC, confrontando a legislação e a prática comercial dos

membros da Organização com as regras estabelecidas nos acordos da OMC

e relatando o resultado de suas análises a todos os membros da Organização.

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É composto pelo próprio Conselho Geral, também atuando em função

específica.

5. Conselhos para Bens, Serviços e Propriedade Intelectual. Órgãos que

supervisionam todas as questões relacionadas com cada um dos acordos das

respectivas áreas. São compostos por delegados de todos os membros.

6. Comitês. As atividades da OMC desenvolvem-se através de comitês ou

grupos de trabalhos, subordinados aos Conselhos. Formados por delegados

dos membros residentes em Genebra ou enviados especialmente para as

reuniões de cada comitê.

7. Secretariado. Órgão de apoio da OMC, localizado na sede da Organização.

Rodadas de negociação

As regras do comércio internacional foram estabelecidas e consolidadas, desde o

início do GATT, em 1947, através de rodadas de negociações multilaterais. Foram oito até

a criação da OMC, em1994. Hoje se desenvolve a 9ª rodada, a de Doha, iniciada em 2001.

As primeiras rodadas de negociações tratavam principalmente da diminuição de

tarifas aduaneiras. E até a Rodada Kennedy (1967) “as trocas de concessões no GATT

ocorriam, na maior parte, entre economias desenvolvidas” (Marcelo de Paiva Abreu, 2007).

De se notar que, mesmo com a OMC – que é uma entidade jurídica (o GATT era só

um acordo) –, a criação de normas continua sendo um produto de negociações abrangentes

entre seus membros. “A OMC não tem competência normativa autônoma para impor novas

obrigações de política comercial.” (Celso Lafer, 1998).

Um sucesso que pode ser atribuído às rodadas de negociações é a expressiva

redução das tarifas médias aplicadas no comércio internacional de bens: em 1947 era de

40%; em 1994, com a Rodada Uruguai, caiu para 5%. (Vera Thorstensen, 2001).

Duas outras características mostram a evolução do sistema multilateral de comércio

ao longo dessas rodadas (Rabih Ali Nasser, 2003):

1) O progressivo aumento do número de participantes, o que atesta a

credibilidade do sistema: países signatários do GATT em 1947, 23; Rodada

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Kennedy (concluída em 1967), 62; Rodada Tóquio (1979), 102; Rodada

Uruguai (1994), 123; Rodada de Doha (em andamento), 153. Ver Apêndice

3-1 “Rodadas de Negociações Comerciais”.

2) A ampliação dos itens objetos de negociação, abarcando, além da redução de

tarifas no comércio de bens, outras formas de barreiras ao comércio

(barreiras não-tarifárias), práticas distorcivas do comércio etc.

Rodadas de Genebra (1947), Annecy (1949), Torquay (1951) e Genebra (1956).

Nessas primeiras rodadas, as negociações concentraram-se no rebaixamento de tarifas

alfandegárias aplicadas e na definição dos procedimentos a serem seguidos nas rodadas de

negociação e para acessão de novos Estados ao sistema multilateral de comércio.

Rodada Dillon (1961). A partir de então se começa a sentir a necessidade de um

tratamento específico para a questão do comércio dos países em desenvolvimento. Outro

destaque da rodada é o questionamento da compatibilidade de certas regras da Comunidade

Econômica (CEE), instituída pelo Tratado de Roma de 1957, com as disposições do GATT

1947.

Rodada Kennedy (1967). Segundo o professor Rabih Ali Nasser, essa rodada “dá

início a uma segunda fase da evolução do SMC, caracterizada por rodadas de negociação

mais ambiciosas e de resultados mais abrangentes”. Pela primeira vez o tema barreiras não-

tarifárias foi incluído nas negociações. Também foi aprovado um Código Anti-dumping.

Rodada de Tóquio (1979). Foram assinados vários acordos para redução das

barreiras não tarifárias: Barreiras Técnicas, Subsídios, Anti-dumping, Valoração Aduaneira,

Licenças de Importação, Compras Governamentais, Comércio de Aeronaves, Carne Bovina

e Produtos Lácteos. Esses acordos só valiam para as partes que assinavam (chamados, por

isso, de Códigos Plurilaterais). Introduziram-se algumas medidas no quadro normativo do

sistema multilateral de comércio para beneficiar os países menos desenvolvidos: instituição

do Sistema Geral de Preferências (SGP); flexibilização das condições para a participação

em processos de integração regional; alterações referentes aos mecanismos de consultas e

de resolução de controvérsias, bem como à adoção de medidas de salvaguarda em função

de dificuldades na balança de pagamentos.

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Rodada Uruguai (1994). Ao final dessa rodada o GATT foi extinto e substituído

pela Organização Mundial do Comércio - OMC e suas regras consolidadas passaram a

integrar as regras da nova organização, chamadas de GATT-94. Os principais temas

negociados (além da criação da OMC) foram: rebaixamento tarifário para produtos

industriais e agrícolas; introdução de novos setores para o quadro do GATT (agricultura,

têxteis, serviços e propriedade intelectual); reforços das regras do GATT em temas como:

anti-dumping, subsídios, salvaguardas, regras de origem, licenças de importação, barreiras

técnicas, medidas fitossanitárias, valoração aduaneira, inspeção de pré-embarque e

investimentos relacionados ao comércio; novo processo de solução de controvérsias; uma

série de entendimentos sobre diversos artigos do Acordo Geral: Artigo XXIV, sobre a

formação de acordos preferenciais de comércio; Artigos XII e XVIII sobre problemas

relativos ao balanço de pagamentos e assistência ao desenvolvimento econômico; Artigo

XXVIII sobre alterações nas listas de concessões e negociações sobre tarifas e Artigo XVII

sobre empresas estatais de comércio exterior.

Uma determinação importante da Rodada Uruguai: para serem membros da OMC

os participantes teriam que aceitar todos os Acordos como um conjunto não-dissociável

(single undertaking). Ver Apêndice 3-2 “Estrutura dos Acordos Negociados na Rodada

Uruguai”.

Rodada de Doha (2001). Rodada em andamento. Novamente estão expostas as

dificuldades de conciliação de interesses dos membros da OMC, em face dos desníveis de

desenvolvimento.

Conferências ministeriais

As conferências ministeriais são a cúpula da OMC, onde se reúnem os principais

representantes dos membros (Ministros de Relações Exteriores ou do Comércio Exterior).

Nessas ocasiões são tomadas as principais decisões administrativas da Organização com

relação aos acordos comerciais, fazem-se declarações que orientam os procedimentos da

OMC, elaboram-se recomendações aos membros e, eventualmente, lançam-se as rodadas

de negociação.

Até então foram realizadas as Conferências Ministeriais de Cingapura (1996), de

Genebra (1998), de Seattle (1999), de Doha (2001), de Cancún (2003), de Hong Kong

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(2005) e a de Genebra (2009). Apresentamos abaixo um panorama sobe cada uma dessas

conferências.

Conferência Ministerial de Cingapura (1996). Decidiu que a questão dos padrões

trabalhistas é de competência da Organização Internacional do Trabalho (OIT) e não da

OMC; declarou que os acordos regionais de comércio podem promover maior liberalização

do comércio internacional e ajudar os países em desenvolvimento a se integrarem ao

sistema internacional de comércio; firmou um Acordo sobre o Comércio de Bens de

Tecnologia da Informação entre quarenta países que respondiam por 90% desse comércio

(o Brasil não participou) e adotou um Plano de Ação com o objetivo de facilitar a

integração dos países menos adiantados na economia mundial.

Conferência Ministerial de Genebra (1998). Estabeleceu que a OMC fosse

trabalhar junto com o FMI e o Banco Mundial para tornar a política econômica

internacional mais harmônica; reconheceu a necessidade de melhorar a transparência das

operações da OMC para o público a fim de se obter maior compreensão e apoio;

comprometeu-se a melhorar as condições de acesso a mercado para os produtos exportados

pelos países menos desenvolvidos; fez uma declaração sobre o comércio eletrônico mundial

que iniciou os debates sobre um programa de trabalho destinado a examinar todas as

questões estabelecidas no comércio eletrônico mundial e obrigou-se a manter a prática de

não impor direitos de aduana sobre as transações eletrônicas.

Conferência Ministerial de Seattle (1999). O objetivo dessa conferência era o

lançamento de uma nova rodada de negociações (a “Rodada do Milênio”). Mas houve um

impasse e a reunião foi suspensa. A razão do impasse foi o conflito de interesses dos

membros sobre os setores econômicos a serem liberalizados (agricultura, serviços,

têxteis...), bem como a sobre a conveniência de se debaterem temas controversos

(concorrência, padrões trabalhistas, meio-ambiente...).

Conferência Ministerial de Doha (2001). Lançada nova rodada de negociações,

denominada “Programa de Doha para o Desenvolvimento (PDD)”. A Declaração sobre o

Acordo TRIPS e Saúde Pública esclareceu que aquele acordo não impede a adoção de

medidas para proteção da saúde pública. A Declaração Ministerial ao tempo que enfatiza

que a OMC é o único fórum para regulamentação e liberalização do comércio global

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também reconhece que os acordos regionais de comércio podem representar papel

importante para promover a liberalização e expansão do comércio e fomentar o

desenvolvimento. A Declaração rejeita o uso do protecionismo, lembrando que a maioria

dos membros da OMC é de países em desenvolvimento; por isso, procurou colocar as

necessidades e interesses dos países em desenvolvimento no centro do Programa de

Trabalho adotado.

Conferência Ministerial de Cancún (2003). A principal tarefa era fazer um

balanço dos progressos nas negociações da Rodada Doha e em outras esferas-chave como a

agricultura. Não chegaram a um consenso sobre a forma de conduzir as negociações. Os

EUA e a Comunidade Européia fizeram conjuntamente uma proposta sobre agricultura que

foi rejeitada pelo G-20 (grupo de países em desenvolvimento entre os quais Brasil, China,

Índia, Argentina e África do Sul) que apresentou contraproposta que avançava mais em

temas como redução de subsídios agrícolas e melhoria de acesso a mercados para os

produtos agrícolas.

Conferência Ministerial de Hong Kong (2005). A Comunidade Européia e outros

países desenvolvidos com agricultura altamente protegida opuseram-se fortemente às

propostas dos países em desenvolvimento (G-20 e outros) para liberalização comercial

significativa dos produtos agrícolas. Conseguiu-se um acordo para eliminar os subsídios à

exportação dos produtos agrícolas até 2013.

Conferência Ministerial de Genebra (2009). Realizada em Genebra, Suíça, no

período de 30.11 a 02.12.2009. O tema geral para discussão foi “A OMC, o Sistema

Multilateral de Comércio e o Atual Ambiente Econômico Global”. O Chairman’s Summary

da Conferência relata que houve convergência sobre a importância do comércio e da

Rodada de Doha, ora em andamento, para a recuperação econômica e a diminuição da

pobreza nos países em desenvolvimento; informa também que houve amplo acordo sobre o

fato de que o crescente número de acordos bilaterais e regionais de comércio é um tema de

discussão para o sistema multilateral de comércio, e que há necessidade de assegurar que as

duas abordagens (approaches) para a abertura do comércio continuem a se complementar

uma a outra.

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Mecanismo de solução de controvérsias

Para muitos autores o tema mais importante negociado na Rodada Uruguai, que

criou a OMC, foi o mecanismo de solução de controvérsias composto pelos painéis, pelo

Órgão de Solução de Controvérsias e pelo Órgão de Apelação.

O mecanismo de solução de controvérsias só pode ser acionado pelos membros. O

Secretariado da OMC não pode fazê-lo ex officio.

Na época do GATT, o sistema de solução de controvérsias baseava-se em decisões

por consenso e, assim, podia ser bloqueado pela parte perdedora. Pelo novo sistema da

OMC, o Órgão de Solução de Controvérsias (OSC) é obrigado a acatar os relatórios dos

painéis, a não ser que haja consenso entre seus membros de não acatá-los (consenso

negativo). A OMC tem poder de impor as decisões dos painéis, permitindo aos vencedores

das questões aplicarem retaliações.

O Órgão de Apelação tem como função verificar os fundamentos legais dos

relatórios dos painéis e das suas conclusões. Para tanto, pode referir-se ao Direito

Internacional Público (do qual as normas da OMC fazem parte), inclusive a outros tratados

e instrumentos legais vigentes entre as partes.

Mecanismo de exame das políticas comerciais

O objetivo do Órgão de Exame das Políticas Comerciais é fazer uma apreciação do

conjunto das políticas e práticas comerciais dos membros da OMC e relatar suas conclusões

às demais partes no que se refere à adesão às regras, disciplinas e compromissos assumidos

nos acordos multilaterais de comércio, de modo a transparecer o funcionamento do sistema

multilateral.

A periodicidade desse exame é determinada pela participação de cada membro no

comércio mundial: de dois em dois anos para os quatro maiores em termos de comércio; de

quatro em quatro anos para os dezesseis maiores seguintes; de seis em seis anos para os

demais membros, ou em períodos fixados especialmente para os países menos

desenvolvidos (Vera Thorstensen, 2001).

A OMC ajuda os países em desenvolvimento nas questões de política comercial,

prestando-lhes assistência técnica e organizando programas de formação.

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IV – EVOLUÇÃO DO COMÉRCIO INTERNACIONAL

Neste capítulo mostraremos a evolução do comércio internacional sob diversos

aspectos: o crescimento total tanto do comércio de bens como o de serviços, destacando a

participação dos países menos desenvolvidos (LDCs) e dos membros da OMC nessa

evolução; o crescimento comparado do comércio de produtos manufaturados com o

crescimento do comércio de produtos agrícolas; a evolução comparativa das exportações de

bens, produção e PIB mundiais e a proporção das exportações de bens e serviços no PIB

dos países, com destaque para os países menos desenvolvidos (ver relação desses países no

Apêndice 4-1 – “Relação dos Países Menos Desenvolvidos (LDCs))”.

Todas as tabelas aqui foram montadas pelo autor deste trabalho com dados retirados

do relatório da OMC “International Trade Statistics 2008”. Apresentamos uma análise de

cada uma dessas tabelas.

Tabela 4-1 – Comércio Mundial de Bens por Grupos de Economia Selecionados

Em bilhões de US$ Exportações

Ano Mundo LDCs Participação

dos LDCs nas

exportações

mundiais - %

Membros da

OMC

Participação

dos membros

da OMC nas

exportações

mundiais - %

1997 5.591 28 0,50 5.416 96,87

1998 5.501 26 0,47 5.356 97,36

1999 5.712 29 0,51 5.550 97,16

2000 6.456 36 0,56 6.217 96,30

2001 6.191 36 0,58 5.971 96,45

2002 6.492 41 0,63 6.266 96,52

2003 7.585 46 0,61 7.305 96,31

2004 9.220 61 0,66 8.842 95,90

2005 10.485 83 0,79 9.979 95,17

2006 12.113 104 0,86 11.473 94,72

2007 13.950 124 0,89 13.193 94,57

Importações

1997 5.739 39 0,68 5.574 97,12

1998 5.683 40 0,70 5.532 97,34

1999 5.921 42 0,71 5.794 97,86

2000 6.727 44 0,65 6.581 97,83

2001 6.485 48 0,74 6.319 97,44

2002 6.744 51 0,76 6.566 97,36

2003 7.863 61 0,78 7.651 97,30

2004 9.569 73 0,76 9.282 97,00

2005 10.857 88 0,81 10.513 96,83

2006 12.428 101 0,81 12.016 96,68

2007 14.244 121 0,85 13.717 96,30 Fonte: Fonte: WTO International Statistics 2008.

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O comércio internacional de bens cresceu, em valor, por volta de 150% no período

de 1997 a 2007 (média anual superior a 9,5%). O ritmo de crescimento das exportações de

bens dos países menos desenvolvidos foi bem superior: 343% (16% de média anual);

também a participação destes países no valor das exportações mundiais de bens evoluiu

bastante: de 0,5% em 1997 a 0,85% em 2007, variação de 70%. Quanto às importações de

bens, as referentes aos LDCs aumentaram em 210% no mesmo período (12% na média

anual), em valor, aumentando a sua participação nas importações mundiais de 0,68% para

0,85%, variação de 25%.

Outra informação importante que se extrai do exame da Tabela 4-1 acima é a da

manutenção da participação dos membros da OMC no comércio mundial de bens, em valor,

no período de 1997 a 2007, numa proporção aproximada de 97% tanto para as exportações

como para as importações, em média.

Tabela 4-2 – Comércio Mundial de Serviços por Grupos de Economia Selecionados

Em bilhões de US$ Exportações

Ano Mundo LDCs Participação

dos LDCs nas

exportações

mundiais - %

Membros da

OMC

Participação

dos membros

da OMC nas

exportações

mundiais - %

1997 1.307 6 0,46 1.278 97,78

1998 1.340 6 0,45 1.312 97,91

1999 1.392 6 0,43 1.367 98,20

2000 1.478 6 0,41 1.450 98,11

2001 1.482 6 0,40 1.451 97,91

2002 1.594 7 0,44 1.556 97,62

2003 1.829 8 0,44 1.782 97,43

2004 2.210 9 0,41 2.154 97,47

2005 2.473 10 0,40 2.409 97,41

2006 2.778 12 0,43 2.703 97,30

2007 3.292 ... ... 3.200 97,21

Importações

1997 1.283 12 0,94 1.245 97,04

1998 1.315 13 0,99 1.281 97,41

1999 1.362 13 0,95 1.331 97,72

2000 1.451 13 0,90 1.414 97,45

2001 1.470 15 1,02 1.427 97,07

2002 1.557 15 0,96 1.504 96,60

2003 1.777 17 0,96 1.713 96,40

2004 2.117 21 0,99 2.038 96,27

2005 2.351 27 1,15 2.258 96,04

2006 2.620 31 1,18 2.514 95,95

2007 3.086 ... ... 2.953 95,69 Fonte: Fonte: WTO International Statistics 2008.

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As exportações mundiais de serviços cresceram, em valor, por volta de 113%

(média anual de 8,7%), de 1997 a 2006 (por falta dos dados estatísticos do grupo de países

menos desenvolvidos para o ano de 2007, analisamos somente até 2006). No mesmo

período, as exportações dos LDCs dobraram de valor e a participação deles no total das

exportações mundiais ficou em torno de 0,43%, na média. No que se refere às importações

desses países, também em valor e no mesmo período, houve um aumento bem superior que

o das exportações: 158% (média anual de 11,1%); da mesma forma, a participação dos

LDCs no total das importações mundiais de serviços, em valor, subiu de 0,94% em 1997

para 1,18% em 2006 (aumento de 26%).

Do mesmo modo que no comércio de bens, a participação dos membros da OMC no

comércio mundial de serviços, em valor, no período de 1997 a 2006, ficou em torno de

97% (exportações e importações), em média.

Tabela 4-3 – Comparação das Exportações Mundiais de Produtos Manufaturados e

Produtos Agrícolas

Em bilhões de US$ 1990 2000 2005 2006 2007 Crescimento

% de 1990 a

2007

Manufaturados 2.391 4.696 7.297 8.258 9.500 297

Agrícolas 415 553 849 944 1.128 172 Fonte: Fonte: WTO International Statistics 2008.

O crescimento das exportações mundiais dos produtos manufaturados, em valor, no

período de 1990 a 2007, foi quase o dobro do crescimento das exportações dos produtos

agrícolas: 297% contra 172%.

Entretanto, essa diferença no crescimento das exportações de manufaturados e de

produtos agrícolas não foi uniforme em todo o período:

- de 1990 a 2000: exportações de manufaturados aumentaram 96% (média anual de

7%) e exportações agrícolas aumentaram 33% (média anual de 2,9%);

- de 2000 a 2005: exportações de manufaturados aumentaram 55% (média anual de

9,2%) e exportações agrícolas, 54% (média anual de 9%);

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- de 2005 a 2006: exportações de manufaturados aumentaram 13% e exportações

agrícolas, 11%;

- de 2006 a 2007: exportações de manufaturados aumentaram 15% e exportações

agrícolas, 19%.

Vemos, assim, que de 1990 a 2000, o crescimento anual das exportações dos

manufaturados foi mais do que o dobro do crescimento das exportações agrícolas; de 2000

a 2006, o crescimento das exportações dos dois tipos de produtos ficou equilibrado e, em

2007, as exportações agrícolas cresceram mais do que as exportações de manufaturados.

Tabela 4-4 – Evolução das Exportações de Bens, da Produção e do PIB Mundiais

Índice: 2000 = 100 Valor (US$) Volume

Ano Exportações Exportações Produção PIB

1950 1 5 14 15

1960 2 10 23 23

1970 5 22 42 39

1980 32 37 60 58

1990 54 54 78 79

1994 67 66 79 84

1995 80 71 83 86

1996 84 75 86 88

1997 87 82 90 91

1998 85 86 92 93

1999 89 90 95 96

2000 100 100 100 100

2001 96 100 99 101

2002 101 103 100 103

2003 118 109 104 106

2004 143 120 109 110

2005 163 127 113 114

2006 188 138 116 118

2007 217 146 121 122 Fonte: WTO International Statistics 2008.

A Tabela 4-4 mostra-nos que a evolução das exportações de bens (em valor e em

volume), da produção e do PIB mundiais não é homogênea: entre 1950 e 2007, as

exportações cresceram 21.600% em valor (média anual de 9,9%) e 2.820% em volume

(média de 6,1% a.a.), a produção cresceu 764% (média de 3,86% a.a.) e o PIB aumentou

713% (média anual de 3,74%). Está claro, então, que a evolução do comércio é mais

dinâmica do que a evolução da produção e do PIB.

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Dividindo as informações da tabela em dois subperíodos – o primeiro de 1950 a

1994 (pré-OMC) e o segundo de 1994 a 2007 (pós-criação da OMC) – para uma melhor

análise, temos:

- 1950-1994: neste subperíodo as exportações de bens cresceram a uma média anual

de 10% em valor e de 6% em volume; a produção e o PIB aumentaram 4% ao ano,

em média;

- 1994-2007: as exportações de bens cresceram a uma média anual de 9,5% em

valor e de 6,3% em volume; a produção e o PIB aumentaram em 3,3% e 2,9%

anualmente, em média, respectivamente. Aqui a supremacia da dinâmica do

crescimento do comércio fica mais clara: enquanto caem bastante as taxas médias

anuais de crescimento da produção (menos 17,5%) e do PIB (menos 27,5%), em

relação ao subperíodo de 1950-1994, a taxa média anual do volume de comércio

dos bens aumenta em 5%.

Tabela 4-5 – Proporção das Exportações de Bens e Serviços em Relação ao PIB -

LDCs Bens e serviços Bens Serviços

2000 2006 2000 2006 2000 2006

LDCs 24% 34% 21% 30% 4% 3%

Mundo 25% 30% 20% 25% 5% 6% Fonte: Fonte: WTO International Statistics 2008.

Na Tabela 4-5 o foco é a relação das exportações dos países menos desenvolvidos

com o PIB e sua evolução no período de 2000 a 2006. Com referência às exportações de

bens, a proporção em relação ao PIB subiu de 21%, em 2000, para 30%, em 2006, o que

representa uma variação de 43%. É um excelente desempenho comercial vez que essa

variação de proporção nas exportações de bens mundiais com o PIB foi de apenas 25%

(20% em 2000 e 25% em 2006).

Todavia, a proporção das exportações de serviços daqueles países com o PIB

diminuiu no mesmo período de 4% para 3% enquanto as exportações mundiais de serviços

subiam sua proporção no PIB global de 5% para 6%. Esse desempenho reflete a maior

dificuldade dos LDCs com esse tipo de comércio.

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V – ACORDOS REGIONAIS DE COMÉRCIO

A formação de acordos regionais de comércio – ou de áreas preferenciais de

comércio – é permitida desde a criação do GATT, como uma exceção ao Artigo I – Sobre o

Tratamento Geral de Nação Mais Favorecida. As regras, então, foram estabelecidas pelo

Artigo XXIV – Aplicação Territorial – Tráfico Fronteiriço – Uniões Aduaneiras e Zonas de

Livre Troca, daquele Acordo Geral.

Com a criação da OMC, os acordos regionais de comércio passaram também a ser

regulados por um Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXIV do Acordo Geral

sobre Tarifas e Comércio e pelo Artigo V – Integração Econômica, do Acordo Geral sobre

o Comércio de Serviços (GATS).

Há duas outras categorias de áreas preferenciais de comércio:

1) Sob a Cláusula de Habilitação, decisão da Rodada de Tóquio de 1979 que

permite países desenvolvidos oferecerem trato tarifário mais favorável às

importações procedentes dos países em desenvolvimento do que o concedido

às importações dos demais membros da OMC;

2) Sob o Sistema Geral de Preferências, acordos estabelecidos via permissão de

exceção do Artigo I do GATT, sobre os quais falaremos no próximo

capitulo.

Condições impostas pelo Art. XXIV (incisos 5 e 8) do GATT para estabelecimento

de um acordo regional, de modo a evitar abusos:

a) Os direitos aduaneiros e outras regulamentações restritivas de comércio entre

os territórios constitutivos devem ser eliminados substancialmente com

relação a todo o comércio de produtos originários dos membros;

b) O acordo provisório para a formação da União Aduaneira ou Área de Livre

Comércio deve compreender um plano e programa dentro de um prazo

razoável.

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c) Os direitos aduaneiros e outras regulamentações aplicadas aos países não-

membros, não poderão ser maiores ou mais restritivos em relação aos que

existiam antes de firmado o acordo regional.

O Artigo V.1 do GATS também impõe exigências semelhantes para celebração de

acordo de integração econômica:

a) Inclusão de uma cobertura setorial substancial em número de setores,

volume de comércio afetado e modos de fornecimento;

b) Garantia de ausência ou eliminação substancial de toda discriminação entre

as partes, através de eliminação das medidas discriminatórias existentes e/ou

da proibição de medidas discriminatórias novas ou que aumentem a

discriminação, no momento de entrada em vigor do acordo ou sob a base de

um período de tempo razoável.

Cada acordo deve ser notificado à OMC que, após exame, deve concluir sobre a

compatibilidade com as regras do Artigo XXIV do GATT e do Artigo V do GATS, fazendo

recomendação para os ajustes porventura necessários.

Estágios de integração econômica:

I. Área de livre comércio (ALC). São eliminadas todas as barreiras para o

comércio de bens e serviços entre os países participantes.

II. União Aduaneira (UA). Além da eliminação das barreiras tarifárias e não

tarifárias entre as partes – como na ALC – é implantada uma tarifa externa

comum com relação a terceiros países e adotada uma política de comércio

exterior coordenada, inclusive com harmonização das regras e instrumentos

de comércio exterior.

III. Mercado Comum (MC). São mantidas as condições anteriores com o

acréscimo da livre circulação do capital e do trabalho entre os membros.

Assim, estarão estabelecidas as quatro liberdades: livre circulação de bens,

serviços, capital e trabalho.

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IV. União Econômica. As políticas econômicas, fiscais e monetárias dos

membros são unificadas. Há a criação de uma moeda única e de um banco

central comum.

O inciso 4 do Artigo XXIV do GATT, diz que: “As partes contratantes reconhecem

que é recomendável aumentar a liberdade do comércio desenvolvendo, através de acordos

livremente concluídos, uma integração mais estreita das economias dos países participantes

de tais acordos. Reconhecem igualmente que o estabelecimento de uma união aduaneira ou

de uma zona de livre comércio deve ter por finalidade facilitar o comércio entre os

territórios constitutivos e não opor obstáculos ao comércio de outras partes contratantes

com esses territórios.” A julgar pelos dados de importações constantes do Apêndice 5-1

“Comércio de Bens de Acordos Regionais de Comércio Selecionados”, deste trabalho, as

importações extrazona não foram arrefecidas por causa da criação das áreas preferenciais

de comércio.

De fato, no período analisado, de 1997 a 2007, as importações provenientes de fora

das partes contratantes cresceram mais em valor do que as importações intrazona do acordo

nos casos da União Européia (146% extrazona, 123% intra), do NAFTA (145% extra, 88%

intra) e do MERCOSUL (89% extra, 62% intra). Nos outros acordos, as importações

extrazona também apresentaram um crescimento significativo, embora num percentual

menor em relação ao crescimento das importações intrazona: ASEAN (91% importações

extrazona, 150% importações intrazona) e Comunidade Andina (125% extrazona e 250%

intra). Portanto, aqui não há contradição ao espírito do Artigo XXIV.4.

A proliferação dos acordos regionais de comércio provoca discussões em torno da

preocupação de se esclarecer se o sistema multilateral de comércio estaria sendo fortalecido

por causa da liberalização do comércio entre as partes contratantes desses acordos ou se,

pelo contrário, esses acordos estariam enfraquecendo o sistema multilateral por causa da

criação de suas próprias regras e da dificuldade da OMC em supervisionar a

compatibilização dos acordos regionais com as regras multilaterais.

Houve dois surtos de regionalismo. O primeiro ocorreu por ocasião da criação da

Comunidade Econômica Européia, em 1958. O segundo surgiu na década de 1980

caracterizado pela “conversão dos EUA para a causa da integração, a princípio com o

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Acordo de Livre Comércio entre EUA e Canadá (Canada-US Free Trade Agreement), e

subseqüentemente através da criação do NAFTA - North America Free Trade Area,

proporcionando livre comércio entre os EUA, Canadá e México.” (Minoru Nakada, op.

Cit.). Os EUA envolveram-se ainda com a criação de dois megablocos: ALCA – Área de

Livre Comércio das Américas e a APEC – Cooperação Econômica da Ásia e do Pacífico.

A preocupação da OMC de preservar o primado das regras multilaterais sobre as

regras regionais e de garantir a complementaridade dos acordos regionais está presente na

Declaração Ministerial de Cingapura em 1998 de que “dará continuidade às atividades da

OMC para que haja progressos na liberalização”, e que “racionalizará e apoiará

mutuamente o processo de liberalização do comércio em nível regional e global”.

As opiniões sobre o fenômeno do regionalismo são díspares. Por um lado, a

liberalização do comércio em uma área coberta por um acordo comercial poderá ser fator

de desenvolvimento econômico dessa região, complementando a OMC na busca da

liberalização do comércio mundial (building block). Por outro lado, se o acordo regional de

comércio caracterizar-se como um bloco protecionista (stumbling block), prejudicando aos

países não-membros, o sistema multilateral de comércio estará ameaçado pela formação de

um mundo constituído de vários blocos fechados.

O surto de acordos regionais de comércio vem desde o início dos anos 1990 sem

diminuir o ritmo. Cerca de 421 acordos foram notificados ao GATT/OMC até dezembro de

2008. Destes, 324 foram notificados sob o Artigo XXIV do GATT 1947 ou GATT 1994;

29 sob a Cláusula de Habilitação; 68 sob o Artigo V do GATS. Estavam em vigor naquela

data 230 acordos regionais de comércio. Se levarmos em conta os acordos regionais de

comércio que estão em vigor mas não foram notificados, aqueles assinados mas que não

entraram em vigor, os que estão sendo negociados e aqueles que estão sendo propostos,

chegaremos a um número de cerca de 400 acordos a serem implementados até 2010. Desses

acordos regionais, as áreas de livre comércio e os acordos de alcance parcial (partial scope)

somam mais de 90% enquanto as uniões aduaneiras são menos de 10%. (Informe extraído

do site da OMC).

Boa parcela do comércio internacional já é coberta pelos acordos regionais de

comércio, conforme vemos na tabela abaixo em que se compara o comércio de alguns

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acordos comerciais selecionados com o comércio mundial de bens. Os dados da tabela

indicam que as áreas preferenciais de comércio resultantes de tais acordos são responsáveis

por sessenta por cento das exportações totais do mundo e por sessenta e cinco por cento das

importações totais. Ademais, o comércio intrazona nessas áreas corresponde a trinta e cinco

por cento das exportações totais mundiais e a trinta e três por cento das importações totais

do mundo.

Tabela 5-1 – Quadro Comparativo do Comércio de Acordos Selecionados (União

Européia, NAFTA, ASEAN, MERCOSUL e Comunidade Andina) com o Comércio

Mundial de Bens. Ano de 2007. US$ bilhões Mundo Acordos Regionais Percentual Acordos

s/Total Mundial

Exportações totais 13.950 8.337 60%

Exportações intra-

áreas preferenciais

- 4.828 35%

Exportações das áreas

preferenciais para

terceiros

- 3.511 25%

Importações totais 14.244 9.286 65%

Importações intra-

áreas preferenciais

- 4.758 33%

Importações das áreas

preferenciais

provenientes de

terceiros

- 4.529 32%

Fonte: WTO International Statistics 2008

Se os acordos preferenciais de comércio ajudam ou criam obstáculos ao movimento

em direção ao livre comércio multilateral é uma discussão freqüente entre os economistas.

Em um ângulo de visão, os acordos preferenciais estão avançando mais rapidamente na

liberalização do comércio, principalmente no que se refere a medidas tarifárias. Esses

acordos fortalecem o sistema multilateral de comércio. O regionalismo deve ser visto como

processo complementar ao sistema multilateral de comércio porque os objetivos são os

mesmos.

Por outro ângulo, autores como Bhagwati e Panagariya dizem que a proliferação dos

acordos preferenciais de comércio fará surgir um fenômeno “spaghetti bowl” quando

barreiras comerciais, incluídos direitos aduaneiros, irão variar de acordo com a origem, e

complexas e protetoras regras de origem entrarão em prática. Isto num tempo em que as

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multinacionais estão se tornando verdadeiramente globais e a identificação de “conteúdo

local”, portanto da origem de bens e serviços comercializados, está se tornando sem sentido

e sujeita a inevitável arbitrariedade. Os acordos preferenciais são um gigantesco passo atrás

diante dessa realidade: a necessidade hoje é de intensificar o compromisso com a doutrina

básica de não-discriminação que os arquitetos do GATT corretamente vislumbraram como

principal virtude, e não destruí-la.1

Com a multiplicação dos acordos regionais, no modo de ver dos críticos do

regionalismo, a sobreposição de suas regras próprias às regras do sistema multilateral

poderá prejudicar a OMC no seu papel de coordenadora e supervisora das regras do

comércio internacional. Os acordos que incluem países de maior peso no comércio

internacional estão originando focos de protecionismo para seus integrantes e de

discriminação em relação às terceiras partes desses acordos. A diferenciação das regras dos

acordos das regras da OMC pode afetar direitos e obrigações das partes.

O fato que se evidencia é a necessidade de um trabalho de transparência, de

coordenação e de supervisão dos acordos preferenciais de comércio, bem como o

estabelecimento de regras para fortalecer o sistema multilateral de comércio. O

multilateralismo e o regionalismo preferencial não são necessariamente antagônicos e

podem cooperar com a expansão do livre comércio entre as nações.

O professor e ex-Ministro de Relações Exteriores Celso Lafer em estudo sobre o

multilateralismo e o regionalismo na ordem econômica mundial conclui que (op. cit.):

a) O regionalismo deve ser compatível com o sistema multilateral de comércio;

b) O multilateralismo não pode ser tão ambicioso quanto os acordos regionais.

Por exemplo, não se prevê no momento a criação de uma moeda única

universal;

c) Os acordos regionais baseados no conceito de regionalismo aberto podem

contribuir para a liberalização do comércio mundial.

Não se pode afirmar de modo generalizado que o bem-estar aumenta ou diminui

com o estabelecimento de uma área de livre comércio ou de uma união aduaneira. O bem-

1 Trecho retirado do Capítulo 1 “Preferential Trading Areas and Multilateralism – Strangers, Friends, or Foes?” do livro “The Economics

of Preferential Trade Agreements” (Bhagwati, Jagdish; Panagariya, Arvind. The AEI Press.Washington, D.C., 2006 pgs. 53 e 54).

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estar conjunto da união aumenta ou diminui se ela aumentar ou diminuir o valor de

produção de toda a união aos preços mundiais. A elevação ou a redução do padrão de vida

da população é causada pelo efeito da criação ou do desvio de comércio.

Segundo a teoria de Jacob Viner, se a constituição de uma área preferencial de

comércio causa uma mudança de importações de um ineficiente fornecedor nacional para

um eficiente fornecedor de outro país-membro, há uma criação de comércio: os preços dos

produtos importados dos demais países-membros diminuem em virtude da eliminação das

tarifas alfandegárias. Todavia, há desvio de comércio quando a formação da área

preferencial de comércio provoca uma troca de um fornecedor de país de fora do bloco com

preço menor por um fornecedor intrabloco de preço mais elevado (se fossem incluídas

nesse preço as tarifas alfandegárias cobradas dos países não-membros). Dá-se o desvio,

então, porque se não fossem as tarifas acrescidas aos preços dos países não-membros, a

área preferencial de comércio poderia adquirir mais produtos por um custo menor,

provenientes de fornecedores mais eficientes situados fora da área preferencial de

comércio.

Há um impacto econômico positivo aos países-membros de uma união aduaneira,

causado pelo efeito dinâmico da integração, composto por dois elementos:

I) Ganho de produtividade com a economia de escala proporcionado pelo

aumento de produção com diminuição dos custos do produto e pelo aumento

da demanda interna e externa por causa da baixa de preços.

II) Aumento da concorrência entre as empresas: com a eliminação das tarifas

alfandegárias as empresas nacionais competirão com as empresas dos países-

membros no mercado interno, beneficiando os consumidores. (Minoru

Nakada, op.cit.)

Como, bem ou mal, o regionalismo veio para ficar, talvez a tarefa mais útil fosse

reformar as regras do jogo de modo que ele possa mais complementar do que substituir o

multilateralismo. Uma sugestão seria que o Artigo XXIV do GATT fosse reformado para

permitir apenas uniões aduaneiras porque elas requerem a tarifa externa comum. Como a

maioria das tarifas dos países está consolidada no GATT, seria forçada a prevalência de

cada tarifa mais baixa dentre os países-membros. Haveria um mínimo de desvio de

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comércio e a mudança em geral seria, provavelmente, em direção a um comércio mundial

mais livre. (Jaime de Melo e Arvind Panagariya, op.cit.).

Por fim, a pergunta: por que os acordos bilaterais/regionais preferenciais despertam

mais interesse do que os acordos multilaterais da OMC? Citamos abaixo algumas respostas

que podem ser consideradas:

a) O impasse nas negociações multilaterais, com a suspensão da Conferência

Ministerial de Seattle em 1999, foi um sinal de que os acordos regionais

serão fortalecidos e procurarão saída para expansão dos seus comércios, com

as regras estabelecidas pelas suas partes.

b) “Há matérias que, pela sua complexidade e sensibilidade política, podem ser

melhor (sic) equacionadas num âmbito associativo menor do que em escala

universal.” (Celso Lafer, op.cit.).

c) Mesmo os países em desenvolvimento estão começando a temer que seu

acesso aos mercados mundiais possa ser restringido consideravelmente se

blocos comerciais tornarem-se realidades e eles estiverem de fora; (Jaime de

Melo e Arvind Panagariya, op. cit.).

d) Paul Krugmann – citado por Jaime de Melo e Arvind Panagariya no livro

New Dimensions in Regional Integration, pg. 6 – dá quatro razões para que

as negociações sob o GATT tenham tido menos sucesso nos anos recentes

do que no passado. Primeiro, o número de atores participantes do processo

cresceu muito, o que torna as negociações mais complexas e o problema do

“free-rider” mais difícil de lidar. Segundo, o caráter de proteção mudou. A

presença de restrições voluntárias de exportações, mecanismos de

antidumping e outras formas de proteção administradas tornam o espaço de

negociação muito mais complicado do que no passado. Terceiro, o declínio

da dominação dos EUA tem tornado mais difícil conduzir o sistema.

Finalmente, diferenças institucionais entre os maiores países tornam as

negociações mais complicadas.

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VI – LIBERAÇÕES UNILATERAIS DE COMÉRCIO: SISTEMA GERAL DE

PREFERÊNCIAS - SGP

O Sistema Geral de Preferências (SGP), da mesma forma que os acordos regionais

de comércio, é uma categoria de área preferencial de comércio que constitui uma exceção

ao Artigo I - Sobre o Tratamento Geral de Nação Mais Favorecida, do GATT.

Diferentemente de um acordo comercial – em que as partes fazem um pacto de concessão

mútua de preferências –, o SGP é um compromisso autônomo (cada outorgante tem seu

próprio esquema) e unilateral, em que um país desenvolvido concede a um país em

desenvolvimento ou menos desenvolvido tratamento preferencial tarifário sem nenhuma

contrapartida.

A atribuição de tratamento diferenciado aos países em desenvolvimento e menos

desenvolvidos para ajudá-los a incrementar seu comércio internacional e a promover seu

desenvolvimento econômico é inerente à existência da OMC, conforme se deduz de trecho

da introdução do seu Acordo Constitutivo: “Reconhecendo ademais que é necessário

realizar esforços positivos para que os países em desenvolvimento, especialmente os de

menor desenvolvimento relativo, obtenham uma parte do incremento do comércio

internacional que corresponda às necessidades de seu desenvolvimento econômico,...”.

Mesmo antes da constituição da OMC, o GATT 1947 já reconhecia a importância

do tratamento especial e diferenciado concedido aos países em desenvolvimento no âmbito

do sistema multilateral de comércio. O Artigo XVIII - Ajuda do Estado em Favor do

Desenvolvimento Econômico daquele Acordo considera importante o desenvolvimento dos

países menos desenvolvidos para o atendimento de seus objetivos: “As partes contratantes

reconhecem que a realização dos objetivos do presente Acordo será facilitada pelo

desenvolvimento progressivo de suas economias, em particular nos casos das partes

contratantes cuja economia não assegura à população senão um baixo nível de vida e que

está nos primeiros estágios de seu desenvolvimento.”

O parágrafo 2 desse Artigo XVIII também reconhece que pode ser necessário aos

países menos desenvolvidos “...tomar medidas de proteção ou outras medidas que afetem as

importações e que tais medidas são justificadas na medida em que elas facilitem a obtenção

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dos objetivos deste Acordo. Elas (partes contratantes) estimam, em conseqüência, que

estas partes contratantes (países menos desenvolvidos) deveriam usufruir de facilidades

adicionais que as possibilitem:

a) conservar na estrutura de suas tarifas aduaneiras suficiente flexibilidade para

que elas possam fornecer a proteção tarifária à criação de um ramo de

produção determinado e

b) instituir restrições quantitativas destinadas a proteger o equilíbrio de suas

balanças de pagamento de uma maneira que leve plenamente em conta o

nível elevado e permanente da procura de importação suscetível de ser

criada pela realização de seus programas de desenvolvimento econômico.”

Os países menos desenvolvidos conseguiram em 1965 que fosse acrescentada a

Parte IV – Comércio e Desenvolvimento no Acordo GATT 1947. Essa Parte IV (Artigos

XXXVI a XXXVIII do GATT) além de reconhecer a urgência do desenvolvimento dos

países menos desenvolvidos, estabelece a flexibilização do princípio da reciprocidade em

favor desses países, conforme o parágrafo 8 do artigo XXXVI: “As partes contratantes

desenvolvidas não esperam obter reciprocidade com relação aos compromissos assumidos

em negociações comerciais destinadas a reduzir ou suprimir tarifas ou remover barreiras ao

comércio das partes contratantes menos desenvolvidas”.

O Artigo XXXVII prescreve alguns compromissos das partes contratantes

desenvolvidas para com as partes contratantes menos desenvolvidas, dentre os quais:

a) Conceder alta prioridade à redução e à eliminação das barreiras que se

opõem ao comércio dos produtos cuja exportação apresenta ou possa vir a

apresentar interesse especial para as partes contratantes menos

desenvolvidas, incluindo os direitos aduaneiros e outras restrições que

diferenciam de maneira injustificável os produtos em sua forma primária e

em sua forma elaborada;

b) Atribuir em qualquer reforma tributária a mais alta prioridade à redução e à

eliminação das medidas fiscais em vigor que venham a impedir ou que

impeçam, de maneira significativa, o aumento do consumo de produtos

primários, em sua forma bruta ou elaborada, produzidos parcial ou

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totalmente nos territórios das partes contratantes menos desenvolvidas

quando essas medidas se apliquem especificamente a esses produtos.

Por pressão dos países em desenvolvimento – que reclamavam acesso ao mercado

facilitado dos países desenvolvidos para seus produtos primários – foi estabelecida em 1964

a Conferência das Nações Unidas sobre Comércio e Desenvolvimento (UNCTAD), em

Genebra, Suíça, com o objetivo de coordenar políticas para incrementar o comércio

internacional e acelerar o desenvolvimento econômico daqueles países.

Como a cláusula da Nação Mais Favorecida (NMF) do GATT impedia que os países

desenvolvidos concedessem tarifas aduaneiras menores para os países em desenvolvimento,

surgiu a idéia de um sistema de preferências somente para os países em desenvolvimento.

Assim, sob os auspícios da UNCTAD, assegurou-se um amparo legal com um waiver de

dez anos em relação à cláusula NMF, Artigo I do GATT, a partir de 1971.

Em maio de 1974, a Organização das Nações Unidas (ONU), em seu sexto período

de Sessões Extraordinárias, emitiu a Resolução 3.201 – Declaração sobre o

Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional, com a determinação de

trabalhar pelo estabelecimento de uma nova ordem econômica internacional baseada na

eqüidade, na igualdade soberana, na interdependência, no interesse comum e na cooperação

de todos os Estados, que permita corrigir as desigualdades, eliminar as disparidades

crescentes entre os países desenvolvidos e os em desenvolvimento e garantir às gerações

presentes e futuras um desenvolvimento econômico que cresça na paz e na justiça

(preâmbulo da Resolução 3.201, de 1º de maio de 1974, da ONU).

Entre os princípios estabelecidos no parágrafo 4 da Resolução 3.201, para essa nova

ordem econômica internacional, estão:

a) O estabelecimento de relações justas e eqüitativas entre os preços das

matérias-primas, produtos primários, bens manufaturados e

semimanufaturados que os países em desenvolvimento exportam e os preços

das matérias–primas, produtos básicos, manufaturas, bens de capital e

equipamentos que importam, com o fim de lograr um melhoramento

contínuo em sua insatisfatória relação de troca e a expansão da economia

mundial;

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b) O melhoramento do caráter competitivo dos produtos naturais que rivalizam

com os produtos substitutivos sintéticos;

c) O trato preferencial e sem reciprocidade aos países em desenvolvimento,

sempre que seja factível, em todas as esferas da cooperação econômica

internacional.

Na ocasião foi emitida também a Resolução 3.202 – Programa de Ação sobre o

Estabelecimento de uma Nova Ordem Econômica Internacional. Entre as exortações com a

finalidade de melhorar os termos de troca dos países dos países em desenvolvimento e de

eliminar os déficits comerciais crônicos desses países estão:

a) Facilitar o acesso aos mercados dos países desenvolvidos mediante a

eliminação progressiva das barreiras tarifárias e não-tarifárias e das práticas

comerciais restritivas;

b) Aplicar, aperfeiçoar e ampliar o Sistema Geral de Preferências para as

exportações de produtos básicos agrícolas, manufaturas e semimanufaturas

dos países em desenvolvimento aos países desenvolvidos.

Em 1979, na Rodada de Tóquio, o SGP foi autorizado no âmbito da OMC sob a

Cláusula de Habilitação (enabling clause), com os privilégios estabelecidos por tempo

indeterminado (sem a limitação temporal de 10 anos).

Segundo o documento da UNCTAD “Generalized System of Preferences – List of

Beneficiaries” (UNCTAD/ITCD/TSB/Misc.62/Rev.3), de 2008, são onze os concedentes de

preferências pelo SGP: Austrália, com 55 beneficiários entre países e territórios aduaneiros;

Belarus, com 134 beneficiários; Canadá, 165; Estados Unidos, 132 beneficiários do SGP

comum, além de mais 42 incluídos pelo AGOA (African Growth and Opportunmity Act);

Japão, 152 beneficiários ao todo; Noruega, 90; Nova Zelândia, 140; Rússia, 144; Suíça,

162; Turquia, 175; União Européia, com 178 beneficiários do SGP comum, 50

beneficiários pelo programa EBA – Everything But Arms (Tudo Menos Armas), voltado

para os LDCs (países menos desenvolvidos, relacionados pela ONU) e ainda 14

beneficiários do SGP+ voltado para os países incluídos no acordo especial de incentivo

para desenvolvimento sustentável e boa governança sob o esquema da União Européia.

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No Apêndice 6-1 “Importações do Sistema Geral de Preferências e Utilização pelos

Países Beneficiários” apresentamos um quadro demonstrativo que quantifica os benefícios

obtidos pelos países em desenvolvimento do Sistema Geral de Preferências, extraído de

relatório da UNCTAD, publicado em 1999, com dados de 1997 (consultada por e-mail, a

UNCTAD informou não dispor de dados mais atuais). As informações referem-se apenas a

alguns países concedentes de preferência pelo SGP dos quais a UNCTAD recebeu os

respectivos dados: Canadá, Estados Unidos, Japão, Noruega, Suíça e União Européia.

Segundo aquele relatório:

- O valor total das importações que receberam preferência em 1997 sob os mais

importantes esquemas do SGP foi próximo de US$ 100 bilhões, ou 18% do total

das importações dos países concedentes provenientes dos países beneficiários do

SGP;

- A distribuição dos benefícios do SGP é muito concentrada e a participação dos

países menos desenvolvidos (LDCs) beneficiários no total das importações

recebedoras de preferência permanece baixa;

- Embora a participação de produtos agrícolas no total das importações dos

países concedentes de preferência provenientes dos países recebedores da

preferência seja significante, a participação correspondente de importações com

preferência ainda é baixa;

- Com referência aos bens industriais, um meio concreto para aumentar os

benefícios reais obtidos pelos beneficiários seria a simplificação dos requisitos

das regras de origem;

- É importante a continuidade e o reforço das atividades de cooperação técnica

para aumentar o conhecimento e o entendimento do funcionamento dos vários

esquemas do SGP.

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VII – EMPECILHOS PARA O DESEMPENHO DA OMC

A atual rodada de negociações multilaterais, a de Doha, foi iniciada em 2001.

Malgrado a desesperança causada a alguns pela demora de quase dez anos de negociações

sem um final, constata-se no retrospecto do GATT/OMC que esta não é uma exceção: as

rodadas Kennedy (1964-1967), Tóquio (1973-1979) e Uruguai (1986-1994) – as mais

importantes já realizadas – duraram também vários anos. E ainda deixaram insatisfações.

A Organização Mundial do Comércio, que vem supervisionando as negociações

multilaterais de comércio desde 1995, encontra dificuldades de toda ordem, e em escala

crescente, para o bom cumprimento de sua tarefa.

A primeira dificuldade natural para OMC é que ela não tem poder de coerção ex

officio sobre seus membros. Quando ocorre um descumprimento de regras não há uma

punição automática; o membro prejudicado pode recorrer à análise de um mecanismo de

solução de controvérsias cujo rito prevê que a aprovação seja do Conselho Geral

(participação de todos os membros).

Impostos de importação foram reduzidos significativamente durante a série de

rodadas de negociações do GATT/OMC. Mas esse tipo de proteção dos mercados e dos

produtores nacionais por meio de tarifas foi substituído por outras barreiras não-tarifárias,

mais sofisticadas e mais difíceis de combater: sanitárias, fitossanitárias, técnicas,

administrativas (procedimentos para importação) etc.

Para os países em desenvolvimento – que já sofriam anteriormente com os

desequilíbrios perante os desenvolvidos –, as obrigações adicionais criadas pelas regras

estabelecidas nos diversos acordos para o comércio internacional firmados na Rodada

Uruguai tornaram mais difícil o alcance dos benefícios esperados do sistema multilateral de

comércio porque ampliaram as áreas abrangidas: bens, serviços, propriedade intelectual...

Divergência de interesses entre os países desenvolvidos e os países em

desenvolvimento dificulta sobremaneira o entendimento para realização e cumprimento de

acordos. A abertura de mercado na União Européia e em outros países desenvolvidos para

os produtos agrícolas dos países em desenvolvimento competitivos é um tema recorrente e

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conflituoso. Aliás, na atual rodada de negociações, a de Doha, o maior empecilho para o

sucesso é a agricultura, embora o G-20 (grupo de países emergentes criado na Conferência

Ministerial de Cancun, em 2003) mantenha forte pressão neste tema central da Agenda de

Desenvolvimento de Doha.

Quanto aos países menos desenvolvidos, os chamados LDCs (Least Developed

Countries), estes estão marginalizados da participação das negociações comerciais porque

têm pouca influência no sistema multilateral de comércio visto que, além da fragilidade da

sua economia, a introdução do princípio da não-reciprocidade em seu favor faz com que se

beneficiem da liberalização sem necessidade de assumir os mesmos compromissos de

redução de tarifas: as liberações unilaterais pelo Sistema Geral de Preferências (SGP), de

que falamos no capítulo anterior.

Quando do estabelecimento do Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade

Intelectual Relacionados ao Comércio (TRIPs), os membros levaram em consideração “a

necessidade de promover uma proteção eficaz e adequada dos direitos de propriedade

intelectual e assegurar que as medidas e procedimentos destinados a fazê-los respeitar não

se tornem, por sua vez, obstáculos ao comércio legítimo” (preâmbulo do Acordo TRIPs).

Todavia, sabe-se que abusos praticados por detentores dos direitos de propriedade

intelectual não raro se tornam barreiras ao comércio internacional e ao desenvolvimento

dos países em desenvolvimento e dos países menos desenvolvidos.

Não foi por outra razão, por exemplo, que um dos documentos resultantes da

Conferência Ministerial da OMC realizada em Doha, em 2001, afirma que o Acordo TRIPs

deve ser interpretado e implementado de modo a apoiar o direito dos membros de proteger

a saúde pública e, em particular, de promover o acesso de remédios para todos: “We agree

that the Trips Agreement does not and should not prevent Members from taking measures

to protect public health. Accordingly, while reiterating our commitment to the Trips

agreement, we affirm that the Agreement can and should be interpreted and implemented in

a manner supportive of WTO Members’ right to protect public health and, in particular, to

promote access to medicines for all” (parágrafo 4 da “Declaration on the TRIPS Agreement

and Public Health”).

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O mecanismo de solução de controvérsias da OMC também necessita ser

aperfeiçoado de modo a poder resolver de fato as controvérsias que lhe são submetidas, em

prol de um comércio mais justo e livre.

O parágrafo 1 do Artigo 19 do Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos

sobre Solução de Controvérsias (ESC) diz: “Quando um grupo especial ou o Órgão de

Apelação concluir que uma medida é incompatível com um acordo abrangido, deverá

recomendar que o Membro interessado torne a medida compatível com o acordo”. Aqui não

há uma determinação para que cesse a ilegalidade de imediato. De fato, o Órgão de Solução

de Controvérsias (OSC), após a adoção do relatório do painel (grupo especial) ou do Órgão

de Apelação, deverá ser informado pelo membro interessado quais são suas intenções para

implementação das decisões e recomendações; caso seja impossível a aplicação imediata,

deverá dispor de um prazo que poderá ser superior a quinze meses (Artigo 21 do OSC).

Ainda assim, o membro afetado poderá não cumprir as recomendações e decisões,

restando à parte que recorreu ao procedimento de solução de controvérsias duas opções:

negociar uma compensação ou solicitar ao OSC autorização para suspensão de concessões

ou de outras obrigações decorrentes dos acordos abrangidos. E ainda pode haver

impugnação pelo membro afetado fazendo com que o processo perdure por mais alguns

meses (Artigo 22 do OSC).

Vê-se, então, que as regras do mecanismo de solução de controvérsias da OMC não

visam impedir desvios de conduta nem a punição de transgressores dos acordos

multilaterais, mas apenas compensar o membro lesado ou dispensá-lo de fazer concessões

ao oponente. Certamente este pode ser um estímulo para a inadimplência dos Acordos da

OMC.

Neste contexto, os países de economia forte e com poder de influenciar no mercado

é que podem, realmente, levar vantagem com o sistema de solução de controvérsias seja

porque podem forçar a execução ou tornar a retaliação/compensação um pesado fardo para

a contraparte da disputa, seja porque podem deixar de cumprir suas obrigações, suportando

por tempo indeterminado uma compensação ou retaliação de um oponente mais fraco, sem

capacidade de influenciar no mercado, se isso lhes for vantajoso (não há prescrição de

limite temporal para o oferecimento de compensação ou suspensão de concessão).

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Sobre um país em desenvolvimento que impõe retaliação a um país de economia

forte diz o advogado Antonio Garbelini Junior, que integrou a Missão Diplomática

Brasileira junto à OMC: “Para o Membro que impôs tal retaliação, entretanto, muitas vezes

a elevação de alíquotas sobre determinado produto, além de não importar na reparação

pelos prejuízos sofridos, pode, inclusive, prejudicar seus consumidores e os setores de sua

economia que dependam das importações atingidas pela medida retaliatória. Ou seja,

muitas vezes tal opção significa, na verdade, dar “um tiro no próprio pé”.” (“10 Anos de

OMC”, pg. 210).

O Apêndice 7-1 “Disputas Comerciais Estabelecidas na OMC – por Membro”

apresenta um quadro com todas as disputas comerciais já submetidas à OMC para serem

solucionadas, até então. Nele verifica-se que os cinco maiores demandantes – Estados

Unidos (94 demandas apresentadas), União Européia (81), Canadá (33), Brasil (24) e

México (21) – representam 58% (cinqüenta e oito por cento) do total das demandas

submetidas (253 dentre 433). Pelo lado dos demandados, os cinco maiores – Estados

Unidos (109 reclamações sofridas), União Européia (68), Índia (20), China (17) e

Argentina (16) – têm 57% (cinqüenta e sete por cento) de participação sobre o total de

queixas sofridas (230 dentre 405). A concentração na utilização do mecanismo de solução

de controvérsias da OMC está explícita aí.

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VIII – DESAFIOS PARA A OMC

O fenômeno da globalização faz com que a Organização Mundial do Comércio se

defronte com temas que não se restringem apenas à liberalização de comércio. Sua maneira

de atuar, e até sua existência propriamente dita, passa a ser questionada. Obviamente, se

esse fenômeno influi nos interesses comerciais e no estabelecimento das políticas

econômicas dos países – porque tanto a produção quanto o consumo extrapolam as

fronteiras nacionais –, é de se esperar que a OMC, que produz as regras para o comércio

internacional, possa ser repensada para continuar (ou se tornar) eficiente.

Novos temas fazem parte das preocupações da OMC e constam das discussões de

suas Comissões e das Declarações Ministeriais, dentre eles: concorrência, facilitação de

comércio, comércio eletrônico, investimentos, meio ambiente, padrões trabalhistas e

transparência das compras governamentais.

Ao mesmo tempo em que se reconhece a importância desses novos temas, também

se discute sobre a adequação da OMC como o ambiente para tais discussões. Padrões

trabalhistas não deveriam ter como foro a Organização Internacional do Trabalho (OIT)?

Não seria oportuna a criação de uma organização para tratar do meio ambiente em vez de

sobrecarregar a OMC com mais esse fardo que vai muito além das relações comerciais?

Também o modo de atuar da OMC, na busca de uma liberalização comercial e do

desenvolvimento eqüitativo de todos, poderia se adequar melhor aos novos tempos. Com

relação a isso, o impasse que provocou a inviabilidade da Conferência Ministerial de

Seattle parece ser emblemático. Nas palavras da Doutora Vera Thorstensen, assessora

econômica da Missão Diplomática do Brasil junto à OMC, em Genebra:

“- a era do antigo GATT acabou em Seattle. Isto quer dizer que todo o processo

de tomada de decisões, que funcionou a contento durante a vigência do GATT e

que perdurou mesmo nos primeiros anos da OMC, foi esgotada (sic). O processo

onde as decisões eram tomadas pelos membros mais influentes da organização,

e depois apoiadas com maior ou menor entusiasmo pelos demais membros, em

troca de pequenas concessões, está terminado...Seattle foi a prova cabal de que o

processo de negociação envolvendo pequenos grupos de países tornou-se

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inaceitável para a grande maioria de países excluídos das reuniões. Um novo

processo negociador terá de ser analisado e implementado;

- além da transparência dentro da organização, a OMC terá que lidar com outro

desafio, qual seja, o da transparência das suas atividades perante a sociedade

civil... um trabalho de relações públicas para mostrar à sociedade civil que a

OMC não é um agente das multinacionais, nem um mecanismo cego de defesa

da globalização.... É importante relembrar que os Membros da OMC são os

estados, representados por seus governos, e não a sociedade civil como tal;...

- é inevitável que temas que possam ter impacto no comércio acabem sendo

levados para dentro da OMC, principalmente para contrabalançar os impactos

sociais das puras regras do mercado. Temas de interesse da sociedade civil, mais

relacionados aos valores atuais do que à liberalização do comércio, poderão ser

incluídos da (sic) negociação, como meio ambiente e padrões trabalhistas, mas

de forma a preservar um certo equilíbrio entre acesso a mercados e a criação de

novos instrumentos protecionistas; ...

- ... a OMC, como organização internacional, foi criada com capacidade de

discutir e negociar todos os temas relacionados ao comércio sobre os quais tenha

interesse e esteja apoiada por consenso. As negociações de eventuais acordos

sobre temas existentes, ou novos, poderiam fazer parte das atividades normais

da organização dentro de um programa geral de trabalhos, aprovado pela

Conferência Ministerial, sem a necessidade de se convocar outras rodadas.”

(Thorstensen, Vera. Op. cit. Pgs. 417 a 420).

Concorrência

Há quem defenda, principalmente dentre os membros desenvolvidos, a inclusão de

um acordo multilateral sobre a concorrência dentro da OMC, de modo a se obterem regras

internacionais que disciplinem a concorrência no mundo globalizado onde, por exemplo, as

empresas transnacionais podem utilizar-se de práticas que distorcem o comércio

internacional, inclusive pelo intenso comércio intrafirmas (entre as subsidiárias em

diferentes países ou entre subsidiária em um país com a matriz localizada em outro país).

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Esse código internacional poderia proporcionar aos países a oportunidade de uma ação

conjunta e uniforme no combate a eventual formação de cartel internacional.

As dificuldades que se colocam para a realização de tal acordo são muitas: desde o

desnível de atuação entre as empresas transnacionais e as empresas nacionais dos países em

desenvolvimento, até os meios de controlar e aplicar sanções sobre irregularidades

ocorridas fora das fronteiras nacionais, passando pela falta de legislação nacional de defesa

da concorrência em determinados membros. Esse tema foi originalmente incluído na

Agenda Doha de Desenvolvimento, mas, em 2004, os membros, por falta de consenso para

o início das discussões, resolveram retirá-lo da agenda.

De qualquer forma – enquanto não se torna possível o Acordo Multilateral sobre

Concorrência –, a OMC pode representar papel educacional importante estimulando e

ajudando a difundir a legislação sobre defesa da concorrência entre seus membros.

Facilitação do comércio

Entende-se como facilitação de comércio a desobstrução de barreiras que podem ser

colocadas pelos procedimentos administrativos exigidos para o controle e a movimentação

dos bens no comércio internacional. A simplificação e a harmonização desses

procedimentos, bem como a implementação de modernas tecnologias, são necessárias para

o provimento ao comércio internacional de uma infra-estrutura adequada para o crescente

fluxo de comércio que se observa.

Há acordos da OMC que já combatem as barreiras que podem ser impostas por

medidas administrativas sem justificativa. Porém, tais acordos têm enfoque específico:

- Acordo de Barreiras Técnicas ao Comércio: medidas de proteção de interesses

essenciais em matéria de segurança, regulamentos técnicos, normas e

procedimentos para avaliação de conformidade para os produtos industriais e

agropecuários (Preâmbulo e Artigo 1.3 do Acordo);

- Acordo sobre Inspeção Pré-Embarque: verificação da qualidade, quantidade,

preço, incluindo a taxa de câmbio e termos financeiros, e/ou à classificação

aduaneira de mercadorias a serem exportadas para território do membro usuário

(Artigos 1.1 e 1.3);

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- Acordo sobre Procedimentos para o Licenciamento de Importações:

procedimentos administrativos utilizados na operação de regimes de licenciamento

de importações que envolvem a apresentação de um pedido ou de outra

documentação (diferente daquela necessária para fins aduaneiros) ao órgão

administrativo competente, como condição prévia para a autorização de importações

para o território aduaneiro do membro importador (Artigo 1.1).

O tema facilitação do comércio consta das negociações sob a Rodada de Doha, onde

se pretende fazer um trabalho de pesquisa e análise sobre a simplificação de procedimentos

comerciais de modo a avaliar o escopo das regras da OMC nesta área. As negociações

também objetivam intensificar a assistência técnica e o suporte da capacidade construtiva

(building capacity) nesta área, e ao desenvolvimento de provisões para efetiva cooperação

entre aduanas ou outras autoridades apropriadas para facilitação do comércio e adequação

de assuntos aduaneiros. Os resultados levarão em conta o princípio do especial e

diferenciado tratamento para os países em desenvolvimento e os menos desenvolvidos.

(“The Launching of Negotiations on Trade Facilitation”, site da OMC: Trade Facilitation:

Negotitations).

Comércio eletrônico

O termo comércio eletrônico abrange a produção, distribuição, marketing, venda ou

entrega de bens e serviços por meios eletrônicos, conforme o “Work Programme on

Eletronic Commerce” adotado pelo Conselho Geral da OMC desde 1998. Exemplos de

produtos distribuídos eletronicamente são livros, músicas e vídeos transmitidos por linhas

telefônicas ou pela internet.

O grande crescimento desse tipo de comércio – e a conseqüente necessidade de se

evitar barreiras ao seu fluxo – manifesta a oportunidade de negociações multilaterais sobre

o tema. A Declaração Ministerial da IV Conferência Ministerial de Doha, que lançou a

atual rodada de negociações multilaterais, faz referência ao respectivo programa de que

tratamos no parágrafo anterior: “...The work to date demonstrates that electronic commerce

creates new challenges and opportunities for trade for members at all stages of

development, and we recognize the importance of creating and maintaining an environment

which is favourable to the future development of electronic commerce.”

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Investimentos

O Acordo sobre investimentos existente na OMC aplica-se somente a medidas de

investimento relacionadas ao comércio (referidas no Acordo como TRIMs, sigla de trade-

related investment measures). Trata-se, basicamente, do comprometimento dos membros de

não permitir medida de investimento relacionada ao comércio incompatível com as

disposições dos Artigos III – “Tratamento Nacional no Tocante à Tributação e

Regulamentação Internas” e XI – “Eliminação Geral das Restrições Quantitativas”, do

GATT 1994.

Em conseqüência da Conferência Ministerial de Cingapura, a perspectiva da OMC

mudou: em 1997 foi instituído um Grupo de Trabalho para examinar a relação entre

comércio e investimento e suas implicações para o crescimento econômico e

desenvolvimento. Nesse GT tem-se debatido os prós e contras de se negociar um

framework de regras de investimento na OMC.

Havia membros – tanto desenvolvidos como em desenvolvimento - que defendiam o

início de uma negociação de um Acordo sobre Investimentos Externos Diretos por ocasião

da Conferência Ministerial de Seattle (1999). Já outros membros – também compostos de

países desenvolvidos e em desenvolvimento – se opunham a tal negociação, pelo menos por

enquanto, preferindo continuar com a análise e o debate iniciado em 1997 no Grupo de

Trabalho criado após a Conferência Ministerial de Cingapura, conforme parágrafo anterior.

O segundo grupo prevaleceu, mesmo porque a Conferência de Seattle fracassou, como já

vimos anteriormente.

Meio ambiente

Embora a OMC não seja uma agência ambiental – seu objetivo é fomentar o

comércio internacional e a abertura de mercados –, há a preocupação em suas regras com a

tomada de medidas necessárias à proteção da saúde e da vida das pessoas e dos animais,

bem como com a preservação dos vegetais e do meio ambiente em geral. Tais normas

fazem parte das exceções gerais listadas no Artigo XX do GATT 94 e no Artigo XIV do

Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços, além de constarem em acordos mais

específicos como o de Barreiras Técnicas e o de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias.

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De fato, o desenvolvimento sustentável, a proteção e a preservação do meio

ambiente estão expressos como objetivos fundamentais da organização desde o preâmbulo

do Acordo de Marraqueche, documento que instituiu a OMC. Todavia, nunca se deu tanta

ênfase ao problema do meio ambiente como agora. Sob o mandato da Rodada de Doha, os

membros da OMC concordaram em discutir a relação entre as regras da OMC e as

obrigações comerciais estabelecidas nos acordos ambientais multilaterais, bem como em

negociar uma maior abertura de mercado para bens e serviços ambientais. São as primeiras

negociações sobre comércio multilateral e meio ambiente já realizadas.

Em problemas como o da mudança do clima, por exemplo, a OMC considera que a

abertura comercial pode dar uma grande contribuição, vez que a eliminação ou redução de

barreiras ao comércio nesta área (do meio ambiente) beneficiará o meio ambiente

melhorando as habilidades dos países em obter alta qualidade de bens ambientais e

facilitará uma melhor disseminação de tecnologias ambientais a baixo custo. Problemas

globais como a mudança de clima requerem soluções globais. Se medidas comerciais são

consideradas como meios de combate à mudança de clima, não há dúvida de que um acordo

multilateral sobre condições de uso de tais medidas é essencial. (“Background Note: Trade

and Environment in the WTO”, site da OMC).

Padrões trabalhistas

O tema padrões trabalhistas não é objeto das regras e disciplinas da OMC. Porém, a

discussão do assunto está presente desde os primórdios da Organização. Os Estados Unidos

e alguns membros da Europa consideram que o assunto deva ser assumido pela OMC de

alguma forma para que a confiança na OMC e no sistema global de comércio seja

fortalecida. Direitos como liberdade de associação, eliminação da discriminação no

ambiente do trabalho, eliminação de abusos como trabalho forçado e trabalho infantil,

seriam matérias para consideração na Organização Mundial do Comércio.

Esses membros argumentam que os bens produzidos pelos países que não respeitam

os direitos trabalhistas básicos têm custo menor e, por isso, são exportados por preço

inferior ao que seria justo. Assim, tais exportações poderiam ser abrangidas pelas normas

antidumping (Acordo sobre a Implementação do Artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas e

Comércio 1994), pelas normas sobre medidas compensatórias a subsídios concedidos pelos

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governos (Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias) ou, ainda, pelas exceções às

regras gerais (Artigo XX do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994): casos previstos

de proteção à saúde e vida humana etc.

Por outro lado, a maioria dos países em desenvolvimento e muitos dos

desenvolvidos são de opinião de que o tema “padrões trabalhistas” não deve ser tratado na

OMC. Acham que essa seria uma forma de proteção por parte dos países desenvolvidos às

importações dos países em desenvolvimento que afetaria a liberalização comercial.

Argumentam, ainda, que melhores condições de trabalho e o desenvolvimento dos direitos

trabalhistas vêm através do crescimento econômico que, aliás, seria prejudicado pela

diminuição das exportações.

A Declaração dos Ministros na Conferência Ministerial de Cingapura, em 1996,

mostra a posição da OMC sobre o tema, ainda em vigor:

“We renew our commitment to the observance of internationally recognized core

labour standards. The International Labour Organization (ILO) is the competent body to set

and deal with these standards, and we affirm our support for its work in promoting them.

We believe that economic growth and development fostered by increased trade and further

trade liberalization contribute to the promotion of these standards. We reject the use of

labour standards for protectionist purposes, and agree that the comparative advantage of

countries, particularly low-wage developing countries, must in no way be put into question.

In this regard, we note that the WTO and ILO Secretariats will continue their existing

collaboration” (item 4 da “Singapore Ministerial Declaration”, de 13.12.1996).

Ressaltamos três pontos da Declaração acima: i) a competência para tratar dos

padrões trabalhistas é da Organização Internacional do Trabalho (OIT); ii) o crescimento

econômico e o desenvolvimento promovidos pelo aumento do comércio e pela liberalização

comercial contribuem para a promoção dos padrões trabalhistas; iii) o alerta sobre a

rejeição dos padrões trabalhistas como protecionismo.

Compras governamentais

Existe um Acordo Plurilateral sobre Compras Governamentais em vigor desde

1996. Participam deste acordo cerca de quarenta países, ou seja, 74% (setenta e quatro por

cento) dos membros da OMC estão fora, inclusive o Brasil (Ver no Apêndice 8-1 “Acordo

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Plurilateral sobre Compras Governamentais – Membros Participantes” a relação dos países

participantes deste Acordo Plurilateral). Como o valor das compras de governo é

significativo e representa um importante mercado, há um movimento visando um Acordo

Multilateral sobre Compras Governamentais. O objetivo desse novo acordo – que

abrangeria todos os membros da OMC - seria dar mais transparência ao processo,

facilitando uma eficiente alocação de recursos e dificultando a ocorrência de

irregularidades como suborno e corrupção.

Assim, a Declaração Ministerial da Conferência de Cingapura (1996) estabeleceu

um Grupo de Trabalho para conduzir estudo sobre transparência nas práticas de compras

governamentais e desenvolver elementos para inclusão em um apropriado acordo

multilateral (item 21 da “Singapore Ministerial Declaration”, de 13.12.1996).

Na Conferência Ministerial de Doha (2001), os Ministros acordaram que as

negociações para o estabelecimento de um acordo multilateral sobre transparência em

compras governamentais deveriam iniciar-se após a Conferência Ministerial seguinte (que

seria a V Sessão em Cancún, México), com base em decisão a ser tomada por consenso

explícito naquela Sessão (item 26 da “Doha WTO Ministerial 2001: Ministerial

Declaration”, de 14.11.2001).

Todavia, a V Conferência Ministerial de Cancún, em 2003, não conseguiu um

acordo para o lançamento das negociações. Então, os Ministros resolveram encaminhar o

assunto para o Conselho Geral da OMC. Em agosto de 2004, o Conselho Geral adotou a

decisão de que tais negociações não se realizariam dentro da Rodada de Doha. Desde então,

o Grupo de Trabalho sobre Transparência em Compras Governamentais tem estado inativo.

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IX – CONCLUSÃO

A OMC consegue regular, de fato, o comércio internacional? Para responder a esta

questão central que motivou a realização deste trabalho, precisamos fazer um retrospecto

geral do texto da dissertação visando termos um panorama para, então, tomarmos um

posicionamento e apresentarmos nossos pontos de vista e deduções.

O ponto de partida é a constatação de que se faz necessária uma supervisão do

comércio internacional para que todos os participantes tenham ganhos e usufruam dos

benefícios decorrentes desse interrelacionamento entre os países de um modo mais justo.

Como políticas comerciais restritivas têm sempre como efeito a diminuição do bem-estar

nacional – que é, em outras palavras, a satisfação das pessoas –, e passam despercebidas do

grande público, é necessário que os governos assumam um papel de vigilância para coibir

tais restrições. Mas para que esse controle funcione além das fronteiras nacionais, é preciso

haver uma entidade de caráter internacional que receba tal mandato dos governos

associados: a Organização Mundial do Comércio.

A OMC, como supervisora dos acordos comerciais, propõe-se a resolver os

conflitos decorrentes das negociações comerciais e a analisar se as políticas comerciais dos

seus membros estão concordes com suas normas. Isso implica que suas normas tenham

credibilidade e que os países abram mão de parte da soberania nacional em prol dessa

autoridade internacional.

A OMC é uma organização dirigida pelos seus membros: todo seu normativo é fruto

de negociações e aprovação por consenso pelos membros. Não tem competência para impor

uma política comercial nem tampouco de impor sanções para resolução de conflitos – que

também é negociada.

O mecanismo de solução de controvérsias da OMC obriga ao Órgão de Solução de

Controvérsias a aceitar o relatório proveniente dos painéis (a não ser que seja rejeitado por

consenso) e a agir do mesmo modo se houver necessidade de se recorrer ao Órgão de

Apelação. Essa inversão da lógica do consenso positivo para negativo (a recusa tem de ser

consensual, em vez da aceitação), tem como objetivo agilitar o processo sem contrariar a

filosofia de decisão pelos membros. De fato, os membros estão presentes em todas as

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etapas: os panelistas são escolhidos pelos membros, o Órgão de Solução de Controvérsias é

constituído por representantes de todos os membros (é o próprio Conselho Geral) e o Órgão

de Apelação é composto por pessoas indicadas pelo Órgão de Solução de Controvérsias.

Cuidar dos problemas relativos à liberação do comércio, ao acesso a mercado, ao

cumprimento dos acordos, à fiscalização das políticas comerciais, ao bom funcionamento

do mecanismo de soluções de controvérsias, incluindo o cumprimento das decisões

tomadas, já é tarefa imensa para a OMC. Não há necessidade de sobrecarregá-la com outros

temas alheios ao foco do crescimento ordenado e justo do comércio internacional.

Ainda que tema como o meio ambiente possa ter influência nas negociações

comerciais, a solução dos problemas inerentes a essa área não deveria ser cobrada da OMC.

Deveria haver uma organização mundial que tratasse do assunto. Restaria à OMC cooperar

com tal entidade.

Em 2007 o PIB mundial ficou em torno de US$ 50 trilhões, segundo o Banco

Mundial. O comércio internacional total (bens e serviços) representou, na época, 34%

daquele montante (US$ 17 trilhões). Embora o comércio tenha essa representatividade

significativa em relação ao PIB, não se deve atribuir peso exagerado à OMC pelo não-

cumprimento de seu objetivo de melhorar o nível de vida e a renda das pessoas nos países

menos desenvolvidos (LDCs), mesmo porque há outras entidades como o BIRD, FMI,

ONU/UNCTAD que têm programas voltados para esse fim, além da responsabilidade

governamental de cada país na promoção de políticas de desenvolvimento.

É fato que os países em desenvolvimento, sobretudo os LDCs, estão em franca

desvantagem para com os países desenvolvidos no usufruto dos benefícios do comércio

internacional, tanto pela participação ínfima no comércio como pela pouca influência que

detêm nas negociações multilaterais. Esta é outra falha no cumprimento de objetivo da

OMC. Também aqui cabe uma ponderação: o Sistema Geral de Preferências (SGP) é um

tratamento especial concedido a esses países, pelos desenvolvidos, que pode minorar suas

desvantagens no comércio pelo princípio da não-reciprocidade a seu favor. Entretanto,

analisando os dados do relatório da UNCTAD mostrados no Apêndice 6-1 deste trabalho,

verifica-se uma baixa utilização desse benefício: somente pouco mais da metade das

importações que poderiam ser feitas através do SGP utilizam de fato essa regalia. A não-

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utilização do resto fica por conta da falta de informação dos exportadores e de falhas

administrativas como o não-cumprimento das regras de origem. Aqui, então, não cabe

culpa à OMC.

Outro ponto em que se questiona a eficiência da OMC é o referente aos acordos

regionais ou áreas preferenciais de comércio. Tais acordos contribuem ou não para a

melhoria do sistema multilateral de comércio? A proliferação desses mesmos acordos é

causada por ineficiência da OMC?

Alguns críticos dos acordos regionais mostram-se preocupados com a possibilidade

de a OMC ficar prejudicada no seu papel de gestora do comércio internacional e de esses

blocos caracterizarem-se como protecionistas prejudicando, assim, o comércio multilateral.

Todavia, os indícios são de que esteja acontecendo o contrário.

Primeiramente, as áreas preferenciais de comércio são aceitas pela OMC dentro da

filosofia explicitada no Artigo XXIV.4 do GATT: existem para facilitar o comércio, não

para opor obstáculos a ele. A OMC – que, por meio do Comitê de Acordos Regionais,

analisa as notificações recebidas para aprovação de cada acordo – tem declarado seu apoio

aos acordos regionais, vendo-os como complementares ao sistema multilateral de comércio.

Em segundo lugar, mostramos neste trabalho que as importações extrazona desses

blocos não diminuíram num período de dez anos analisados. Na maioria dos casos

cresceram até mais do que as importações intrazona. Então, se o resto do mundo aumentou

suas vendas para os blocos regionais (em mais de 130% no período) não se pode dizer que

o sistema multilateral de comércio foi prejudicado pela constituição das áreas preferenciais.

Ademais, os acordos regionais avançam mais na liberalização do comércio: as

exportações dessas áreas preferenciais de comércio representam mais de 60% (sessenta por

cento) das exportações mundiais de bens; consideradas apenas as exportações intrazona, o

índice em relação às exportações do mundo supera os 35% (trinta e cinco por cento). Deste

modo, a proliferação dos acordos regionais está ajudando ao sistema multilateral de

comércio facilitando o acesso a mercado e a liberação do comércio: são building blocks,

não stumbling blocks.

Certamente a OMC necessita de algumas alterações no seu modo de atuar para

tornar-se mais eficiente. O mecanismo de solução de controvérsias, por exemplo, deveria

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ter um poder de sanção de modo a atribuir ex officio penalidades aos membros infratores,

em vez de apenas “permitir” à parte vencedora do conflito aplicar retaliação. Suas

recomendações e decisões deveriam ser categóricas de modo a ficar patente que existem –

bem como os acordos multilaterais feitos sob sua égide – para serem cumpridas de

imediato, encerrando a irregularidade. O modo passivo de atuar, como vimos, deixa os

países de menor influência no comércio internacional sempre em desvantagem em um

conflito com um país de economia mais forte.

O desempenho da OMC como reguladora do comércio internacional pode ser

considerado bom. Duas medidas de sucesso que podem ser consideradas:

i) A diminuição substancial da tarifa média aplicada no comércio internacional

de bens;

ii) A enorme quantidade de adesão: entre membros e observadores, a OMC tem

quase duas centenas de participantes.

Pela primeira medida deduzimos que o acesso a mercado foi facilitado. Pela

segunda, aferimos a confiabilidade no sistema multilateral de comércio.

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APÊNDICES

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APÊNDICE 1-1

MEMBROS DA OMC MEMBRO DATA DE ACESSÃO

África do Sul 01 de Janeiro de 1995

Albânia 08 de setembro de 2000

Alemanha 01 de Janeiro de 1995

Angola 23 de novembro de 1996

Antígua e Barbuda 01 de janeiro de 1995

Arábia Saudita 11 de dezembro de 2005

Argentina 01 de Janeiro de 1995

Armênia 05 de fevereiro de 2003

Austrália 01 de Janeiro de 1995

Áustria 01 de Janeiro de 1995

Bahrain 01 de Janeiro de 1995

Bangladesh 01 de Janeiro de 1995

Barbados 01 de Janeiro de 1995

Bélgica 01 de Janeiro de 1995

Belize 01 de Janeiro de 1995

Benin 22 de fevereiro de 1996

Bolívia 12 de setembro de 1995

Botswana 31 de maio de 1995

Brasil 01 de Janeiro de 1995

Brunei Darussalam 01 de Janeiro de 1995

Bulgária 01 de dezembro de 1996

Burkina Faso 03 de junho de 1995

Burundi 23 de julho de 1995

Cabo Verde 23 de julho de 2008

Camarões 13 de dezembro de 1995

Camboja 13 de outubro de 2004

Canadá 01 de Janeiro de 1995

Chade 19 de outubro de 1996

Chile 01 de Janeiro de 1995

China 11 de dezembro de 2001

Chipre 30 de julho de 1995

Cingapura 01 de Janeiro de 1995

Colômbia 30 de abril de 1995

Congo 27 de março de 1997

Costa do Marfim 01 de Janeiro de 1995

Costa Rica 01 de Janeiro de 1995

Croácia 30 de novembro de 2000

Cuba 20 de abril de 1995

Dinamarca 01 de Janeiro de 1995

Djibuti 31 de maio de 1995

Dominica 01 de Janeiro de 1995

Egito 30 de junho de 1995

El Salvador 07 de maio de 1995

Emirados Árabes Unidos 10 de abril de 1996

Equador 21 de Janeiro de 1996

Eslovênia 30 de julho de 1995

Espanha 01 de Janeiro de 1995

Estados Unidos da América 01 de Janeiro de 1995

Estônia 13 de novembro de 1999

Fiji 14 de Janeiro de 1996

Filipinas 01 de Janeiro de 1995

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Finlândia 01 de Janeiro de 1995

França 01 de Janeiro de 1995

Gabão 01 de Janeiro de 1995

Gâmbia 23 de outubro de 1996

Gana 01 de Janeiro de 1995

Geórgia 14 de junho de 2000

Granada 22 de fevereiro de 1996

Grécia 01 de Janeiro de 1995

Guatemala 21 de julho de 1995

Guiana 01 de Janeiro de 1995

Guiné 25 de outubro de 1995

Guiné-Bissau 31 de maio de 1995

Haiti 30 de Janeiro 1996

Honduras 01 de Janeiro de 1995

Hong Kong, China 01 de Janeiro de 1995

Hungria 01 de Janeiro de 1995

Ilhas Maurício 01 de Janeiro de 1995

Ilhas Salomão 26 de julho de 1996

Índia 01 de Janeiro de 1995

Indonésia 01 de Janeiro de 1995

Irlanda 01 de Janeiro de 1995

Islândia 01 de Janeiro de 1995

Israel 21 de abril de 1995

Itália 01 de Janeiro de 1995

Jamaica 09 de março de 1995

Japão 01 de Janeiro de 1995

Jordânia 11 de abril de 2000

Kuwait 01 de Janeiro de 1995

Lesoto 31 de maio de 1995

Letônia 10 de fevereiro de 1999

Liechtenstein 01 de setembro de 1995

Lituânia 31 de maio de 2001

Luxemburgo 01 de Janeiro de 1995

Macau, China 01 de Janeiro de 1995

Macedônia 04 de abril de 2003

Madagascar 17 de novembro de 1995

Malásia 01 de Janeiro de 1995

Malawi 31 de maio de 1995

Maldivas 31 de maio de 1995

Mali 31 de maio de 1995

Malta 01 de Janeiro de 1995

Marrocos 01 de Janeiro de 1995

Mauritânia 31 de maio de 1995

México 01 de Janeiro de 1995

Mianmar 01 de Janeiro de 1995

Moçambique 26 de agosto de 1995

Moldávia 26 de julho de 2001

Mongólia 29 de Janeiro de 1997

Namíbia 01 de Janeiro de 1995

Nepal 23 de abril de 2004

Nicarágua 03 de setembro de 1995

Níger 13 de dezembro de 1996

Nigéria 01 de Janeiro de 1995

Noruega 01 de Janeiro de 1995

Nova Zelândia 01 de janeiro de 1995

Omã 09 de novembro de 2000

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Países Baixos 01 de Janeiro de 1995

Panama 06 de setembro de 1997

Papua-Nova Guiné 09 de junho de 1996

Paquistão 01 de Janeiro de 1995

Paraguai 01 de Janeiro de 1995

Peru 01 de Janeiro de 1995

Polônia 01 de julho de 1995

Portugal 01 de Janeiro de 1995

Qatar 13 de Janeiro de 1996

Quênia 01 de Janeiro de 1995

Quirquistão 20 de dezembro de 1998

Reino Unido 01 de Janeiro de 1995

República Centro-Africana 31 de maio 1995

República da Coréia 01 de Janeiro de 1995

República Democrática do Congo 01 de Janeiro de 1997

República Dominicana 09 de março de 1995

República Eslovaca 01 de Janeiro de 1995

República Tcheca 01 de Janeiro de 1995

Romênia 01 de Janeiro de 1995

Ruanda 22 de maio de 1996

Santa Lúcia 01 de Janeiro de 1995

São Cristóvão e Neves 21 de fevereiro de 1996

São Vicente e Granadinas 01 de Janeiro de 1995

Senegal 01 de Janeiro de 1995

Serra Leoa 23 de julho de 1995

Sri lanka 01 de Janeiro de 1995

Suazilândia 01 de Janeiro de 1995

Suécia 01 de Janeiro de 1995

Suíça 01 de Julho de 1995

Suriname 01 de Janeiro de 1995

Tailândia 01 de Janeiro de 1995

Taipé Chinesa 01 de Janeiro de 2002

Tanzânia 01 de Janeiro de 1995

Togo 31 de maio de 1995

Tonga 27 de julho de 2007

Trindade e Tobago 01 de março de 1995

Tunísia 29 de março de1995

Turquia 26 de março de 1995

Ucrânia 16 de maio de 2008

Uganda 01 de Janeiro de 1995

União Européia 01 de Janeiro de 1995

Uruguai 01 de Janeiro de 1995

Venezuela 01 de Janeiro de 1995

Vietnã 11 de Janeiro de 2007

Zâmbia 01 de Janeiro de 1995

Zimbábue 05 de março de 1995 Fonte: OMC (07.05.2010)

Nota: são admitidos como observadores na OMC os governos dos seguintes países:

Afeganistão; Algéria; Andorra; Azerbaijão; Bahamas; Belarus; Bósnia e Herzegovina;

Butão; Comores; Etiópia; Guiné Equatorial; Iêmen; Irã; Iraque; Kazaquistão; Laos; Líbano;

Libéria; Líbia; Montenegro; Rússia; Samoa; São Tomé e Príncipe; Sérvia; Seychelles;

Síria; Sudão; Tajiquistão; Uzbequistão; Vanuatu; Vaticano.

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APÊNDICE 3-1

RODADAS DE NEGOCIAÇÕES COMERCIAIS Ano Lugar/Denominação Temas Tratados Países

1947 Genebra Tarifas 23

1949 Annecy Tarifas 13

1951 Torquay Tarifas 38

1956 Genebra Tarifas 26

1960-1961 Genebra – Rodada

Dillon

Tarifas 26

1964-1967 Genebra – Rodada

Kennedy

Tarifas e Medidas Anti-

Dumping

62

1973-1979 Genebra – Rodada de

Tóquio

Tarifas; medidas não-

tarifárias e acordos

relativos ao marco

jurídico

102

1986-1994 Genebra – Rodada

Uruguai

Tarifas; medidas não-

tarifárias; normas;

serviços; propriedade

intelectual; solução de

controvérsias; têxteis;

agricultura; criação da

OMC etc.

123

2001- Doha Agricultura; acesso a

mercado; propriedade

intelectual; comércio

eletrônico; comércio,

dívida e financiamento;

comércio e

transferência de

tecnologia; países

menos desenvolvidos

etc.

153

Fonte: OMC.

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63

APÊNDICE 3-2

ESTRUTURA DOS ACORDOS NEGOCIADOS NA RODADA URUGUAI

ATA FINAL

ACORDO CONSTITUTIVO DA ORGANIZAÇÃO MUNDIAL DE COMÉRCIO – OMC

Anexo 1

Anexo 1A: Acordos Multilaterais sobre o Comércio de Bens

Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994

Entendimento sobre a Interpretação do Artigo II: 1 (b) do acordo

Geral sobre Tarifas e Comércio 1994

Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XVII do Acordo Geral

sobre Tarifas e Comércio 1994

Entendimento sobre as Disposições Relativas a Balanço de

Pagamentos do Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994

Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXIV do Acordo

Geral sobre Tarifas e Comércio 1994

Entendimento sobre Derrogações (waivers) de Obrigações sob o

Acordo Geral sobre Tarifas e Comércio 1994

Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXVIII do Acordo

Geral sobre Tarifas e Comércio 1994

Entendimento sobre a Interpretação do Artigo XXXV do Acordo

Geral sobre Tarifas e Comércio 1994

Protocolo de Marraqueche do Acordo Geral sobre Tarifas e

Comércio 1994

Acordo sobre Agricultura

Acordo sobre a Aplicação de Medidas Sanitárias e Fitossanitárias

Acordo sobre Têxteis e Vestuário

Acordo sobre Barreiras Técnicas ao Comércio

Acordo sobre Medidas de Investimento Relacionadas ao Comércio

Acordo sobre a Implementação do Artigo VI do Acordo Geral sobre Tarifas

e Comércio 1994

Acordo sobre a Implementação do Artigo VII do Acordo Geral sobre Tarifas

e Comércio 1994

Acordo sobre Inspeção Pré-Embarque

Acordo sobre Regras de Origem

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Acordo sobre Procedimentos para o Licenciamento de Importações

Acordo sobre Subsídios e Medidas Compensatórias

Acordo sobre Salvaguardas

Anexo 1B: Acordo Geral sobre o Comércio de Serviços

Anexo 1C: Acordo sobre Aspectos dos Direitos de Propriedade Intelectual

Relacionados ao Comércio

Anexo 2: Entendimento Relativo às Normas e Procedimentos sobre Solução de

Controvérsias

Anexo 3: Mecanismo de Exame de Políticas Comerciais

Anexo 4: Acordos Comerciais Plurilaterais:

Anexo 4 (d): Acordo Internacional sobre Carne Bovina

Fonte: OMC

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APÊNDICE 4-1

RELAÇÃO DOS PAÍSES MENOS DESENVOLVIDOS (LDCs) Membros da OMC Não-membros da OMC

Angola Afeganistão

Bangladesh Butão

Benin Comores

Burkina Fasso Eritréia

Burundi Etiópia

Cabo Verde Guiné Equatorial

Camboja Iêmen

Chade Kiribati

Djibuti Libéria

Gâmbia República Popular do Laos

Guiné Samoa

Guiné-Bissau São Tomé e Príncipe

Haiti Somália

Ilhas Salomão Sudão

Lesoto Timor Leste

Madagascar Tuvalu

Maláui Vanuatu

Maldivas

Mali

Mauritânia

Mianmar

Moçambique

Nepal

Niger

República Centro-Africana

República Democrática do Congo

Ruanda

Senegal

Serra Leoa

Tanzânia

Togo

Uganda

Zâmbia Fonte: WTO International Statistics 2008.

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APÊNDICE 5-1

COMÉRCIO DE BENS DE ACORDOS REGIONAIS DE COMÉRCIO

SELECIONADOS – US$ bilhões 1997 2002 2007 Aumento no

período 1997-2007

UNIÃO EUROPÉIA (27)

Total exportações 2.357 (*) 2.638 5.320 126%

Exp. Intrazona 1.629 (*) 1.794 3.622 122%

Exp. Extrazona 728 (*) 843 1.698 133%

Total importações 2.419 (*) 2.672 5.574 130%

Imp. Intrazona 1.627 (*) 1.786 3.622 123%

Imp. extrazona 792 (*) 886 1.952 146%

NAFTA

Total exportações 1.014 1.106 1.853 83%

Exp. Intrazona 495 626 952 92%

Exp. Extrazona 519 480 902 74%

Total importações 1.208 1.591 2.684 122%

Imp. Intrazona 482 609 905 88%

Imp. extrazona 726 982 1.779 145%

ASEAN

Total exportações 356 407 864 143%

Exp. Intrazona 88 95 216 145%

Exp. Extrazona 268 312 649 142%

Total importações 382 365 774 103%

Imp. Intrazona 76 86 190 150%

Imp. extrazona 306 279 584 91%

MERCOSUL

Total exportações 83 89 224 170%

Exp. Intrazona 21 10 32 52%

Exp. Extrazona 63 79 192 205%

Total importações 101 62 184 82%

Imp. Intrazona 21 11 34 62%

Imp. extrazona 80 52 151 89%

COMUNIDADE ANDINA

Total exportações 25 26 76 204%

Exp. Intrazona 2 3 6 200%

Exp. Extrazona 22 23 70 218%

Total importações 31 28 70 126%

Imp. Intrazona 2 3 7 250%

Imp. extrazona 28 26 63 125% (*) Os dados referentes à União Européia (27) são de 1999. Por conseqüência, a coluna do aumento refere-se ao período 1999-2007.

Fonte: WTO International Statistics 2008.

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APÊNDICE 6-1

IMPORTAÇÕES DO SISTEMA GERAL DE PREFERÊNCIAS E UTILIZAÇÃO

PELOS PAÍSES BENEFICIÁRIOS – ANO DE 1997 – milhares de US$ Países

concedentes

Importações

totais

(1)

Importações

tributáveis

(2)

Importações

cobertas

pelo SGP

(3)

Importações

recebidas

pelo SGP

(4)

Taxa de

cobertura

dos

produtos

(%)

= (3/2)

Taxa de

utilização

(%)

= (4/3)

Taxa de

utilidade

(%)

= (4/2)

Canadá 20.807.597 7.413.306 4.464.341 2.943.737 60,2 65,9 39,7

Estados

Unidos

101.341.051 65.975.995 25.058.971 15.319.320 38,0 61,1 23,2

Japão 173.051.056 93.464.822 40.017.223 17.011.750 42,8 42,5 18,2

Noruega 4.195.501 1.432.774 878.698 681.801 61,3 77,6 47,6

Suíça 5.762.451 5.762.097 4.186.755 1.546.752 72,7 36,9 26,8

União

Européia

279.576.557 179.171.279 115.939.676 64.784.642 64,7 55,9 36,2

TOTAL 584.734.213 353.220.273 190.545.664 102.288.002 53,9 53,7 29,0 Fonte: UNCTAD: documento UNCTAD/ITCD/TSB/Misc.52 “Quantifying the Benefits Obtained by Developing Countries from the

Generalized System of Preferences”, de 07.10.1999.

Observações:

Importações totais: referem-se ao total das importações dos países concedentes

provenientes dos respectivos beneficiários do SGP.

Importações tributáveis: importações provenientes dos beneficiários do SGP sujeitas a

tarifas não-preferenciais.

Importações cobertas pelo SGP : valor das importações abrangidas pelo SGP.

Importações recebidas pelo SGP: importações que receberam de fato o benefício do SGP.

Taxa de cobertura dos produtos: relação percentual entre as importações cobertas pelo

SGP e o total das importações tributáveis dos beneficiários do Sistema.

Taxa de utilização: relação percentual entre as importações beneficiadas de fato pelo SGP

e as importações cobertas pelos respectivos programas.

Taxa de utilidade: relação percentual entre as importações beneficiadas de fato pelo SGP

e as importações provenientes dos beneficiários do Sistema sujeitas a tarifas não–

preferenciais.

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APÊNDICE 7-1

DISPUTAS COMERCIAIS ESTABELECIDAS NA OMC – POR MEMBRO MEMBRO Quantidade como Demandante Quantidade como Demandado

África do Sul 0 3

Antígua e Barbuda 1 0

Argentina 15 16

Austrália 7 10

Bangladesh 1 0

Bélgica 0 3

Brasil 24 14

Canadá 33 15

Chile 10 13

China 7 17

Cingapura 1 0

Colômbia 5 3

Coréia 14 14

Costa Rica 4 0

Croácia 0 1

Dinamarca 0 1

Egito 0 4

Equador 3 3

Estados Unidos 94 109

Filipinas 5 6

França 0 2

Grécia 0 2

Guatemala 7 2

Honduras 6 0

Hong Kong 1 0

Hungria 5 2

Índia 18 20

Indonésia 4 4

Irlanda 0 3

Japão 13 15

Malásia 1 1

México 21 14

Nicarágua 1 2

Noruega 4 0

Nova Zelândia 7 0

Países Baixos 0 1

Panamá 5 1

Paquistão 3 2

Peru 2 4

Polônia 3 1

Portugal 0 1

Reino Unido 0 1

República Dominicana 0 3

República Eslovaca 0 3

República Tcheca 1 2

Romênia 0 2

Sri Lanka 1 0

Suécia 0 1

Suíça 4 0

Tailândia 13 3

Taiwan 3 0

Trindade e Tobago 0 2

Turquia 2 8

União Européia 81 68

Uruguai 1 1

Venezuela 1 2

Viet Nam 1 0

TOTAL 433 405 Fonte: OMC (22.02.2010)

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APÊNDICE 8-1

ACORDO PLURILATERAL SOBRE COMPRAS GOVERNAMENTAIS –

MEMBROS PARTICIPANTES MEMBROS DATA DE ACESSÃO

Alemanha (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Aruba, Países Baixos 25 de outubro de 1996

Áustria (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Bélgica (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Bulgária (União européia) 01 de janeiro de 2007

Canadá 01 de Janeiro de 1996

Chipre (União Européia) 01 de maio de 2004

Cingapura 20 de outubro de 1997

Coréia do Sul 01 de Janeiro de 1997

Dinamarca (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Eslovênia (União Européia) 01 de maio de 2004 Espanha (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Estados Unidos 01 de Janeiro de 1996

Estônia (União Européia) 01 de maio de 2004 Finlândia (União Européia) 01 de janeiro de 1996

França (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Grécia (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Hong Kong, China 19 de junho de 1997

Hungria (União Européia) 01 de maio de 2004 Irlanda (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Islândia 28 de abril de 2001

Israel 01 de Janeiro de 1996

Itália (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Japão 01 de Janeiro de 1996

Letônia (União Européia) 01 de maio de 2004 Liechtenstein 18 de setembro de 1997

Lituânia (União Européia) 01 de maio de 2004 Luxemburgo (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Malta (União Européia) 01 de maio de 2004 Noruega 01 de Janeiro de 1996

Países Baixos (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Polônia (União Européia) 01 de maio de 2004 Portugal (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Reino Unido (União Européia) 01 de janeiro de 1996

República Eslovaca (União Européia) 01 de maio de 2004 República Tcheca (União Européia) 01 de maio de 2004

Romênia (União Européia) 01 de janeiro de 2007

Suécia (União Européia) 01 de janeiro de 1996

Suíça 01 de Janeiro de 1996

Taiwan, China 15 de julho de 2009 Fonte: OMC

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OUTROS TEXTOS

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