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CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009 Os antecedentes próximos da Revolução Republicana A Revolução Republicana A Revolução Republicana foi precedida de uma vasta propaganda iniciada com o movimento cultural da «Geração de 70» e prosseguida pelo partido republicano que iria explorar as fraquezas dos governos monárquicos. Esta acção propagandista da ideologia republicana intensificar-se-ia na sequência do «Ultimato» inglês de 1890. Acusando o governo monárquico de cedência aos interesses ingleses e de seguir uma prática político-administrativa caracterizada pela corrupção e ineficácia, os republicanos vão ganhando cada vez mais adeptos. É num clima de descontentamento geral que em 31 de Janeiro de 1891, na cidade da Porto, se dá a primeira tentativa (falhada) de derrube da monarquia (Revolta do 31 de Janeiro). Elaborado por: Susel Duarte 1

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CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009

Os antecedentes próximos da Revolução Republicana

A Revolução Republicana

A Revolução Republicana foi precedida de uma vasta propaganda iniciada com o movimento cultural da «Geração de 70» e prosseguida pelo partido republicano que iria explorar as fraquezas dos governos monárquicos. Esta acção propagandista da ideologia republicana intensificar-se-ia na sequência do «Ultimato» inglês de 1890. Acusando o governo monárquico de cedência aos interesses ingleses e de seguir uma prática político-administrativa caracterizada pela corrupção e ineficácia, os republicanos vão ganhando cada vez mais adeptos.

É num clima de descontentamento geral que em 31 de Janeiro de 1891, na cidade da Porto, se dá a primeira tentativa (falhada) de derrube da monarquia (Revolta do 31 de Janeiro).

Entretanto as dificuldades financeiras que se fazem sentir a partir da década de 1890 desacreditaram, cada vez mais, a monarquia. Durante a ditadura de João Franco (1907) cresce a propaganda republicana, aliada à actividade revolucionária das sociedades secretas (Maçonaria e Carbonária).

Em 1908, o rei D. Carlos foi assassinado. A revolução estava iminente.

Elaborado por: Susel Duarte 1

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009

A Implantação daRepública

Foi em 1910, no dia 5 de Outubro, que a revolução republicana triunfou.

Apesar de serem poucos e desorganizados, os revolucionários republicanos-alguns civis e militares (tenentes, sargentos e cadetes) - implantaram a república quase sem combates, beneficiando do facto de os governos monárquicos estarem desacreditados.

Com a partida do último rei de Portugal (D. Manuel II) para o exílio, na Inglaterra, a monarquia hereditária, que vigorava havia mais de sete séculos no nosso país, chegava ao fim.

O Governo Provisório, para consolidar na população portuguesa o espírito e o regime republicano, toma de imediato algumas medidas: cria-se uma nova moeda, o Escudo (que substitui o Real), o Hino Nacional passa a ser «A Portuguesa», adopta-se a bandeira vermelha e verde (que substitui a azul e branca da Monarquia), determina-se a abolição dos títulos da nobreza e a abolição do juramento religioso

Elaborado por: Susel Duarte 2

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009nos tribunais e decretam-se leis de protecção à família (casamento civil, assistência aos filhos ilegítimos); lei de liberdade de imprensa; lei do direito à greve para os operários e lock-out para os patrões (os patrões têm possibilidade de fechar as fábricas).

O Governo Provisório saído da revolução, presidido por Teófilo de Braga, preparou as eleições para Assembleia Constituinte que elaboraria a Constituição de 1911 e elegeria o primeiro Presidente de República Constitucional: Manuel de Arriaga. O novo regime políticopassou a ser uma democracia parlamentar, em que o Presidente da República e o Governo eram responsáveis politicamente perante o Parlamento.

Mas as dificuldades governamentais sucederam-se a todos os níveis. A nível social, económico e político provocando o gradual afastamento da base social do apoio do novo regime.

Entre 1910 e 1926 houve 45 governos, 9 eleições legislativas e 8 eleições presidenciais, o que provocou uma consequente instabilidade política e governativa.

Em 1926, através de um golpe militar, a 1ª República chegava ao fim.

Com a chagada de militares ao poder, em 1926, é dissolvido o Parlamento, são suspensas as liberdades individuais e é instaurada a ditadura militar.

Em 1928, face ao agravamento da situação económico-financeira, o general Óscar Carmona, entretanto eleito Presidente da República, chamou António de Oliveira Salazar para ministro das Finanças. Recorrendo a uma política de austeridade,

Salazar consegue resolver a crise financeira e afirmando a sua crescente influência política, a partir de 1932, passa a chefiar o governo.

Em 1933, dispondo já de uma imagem providencial, Salazar apresentou ao país uma nova Constituição, que acabaria por ser aprovada pelos cidadãos eleitores «Estado Novo».

Estado Novo

A constituição de 1933, consagrou, como órgãos de soberania, o Presidente de República, a Assembleia Nacional, o Governo e os Tribunais. Apesar da separação de poderes aí expressa, na prática, Salazar conseguiu desviar para si alguns poderes que a Constituição reservava ao Presidente da República, que era eleito por sufrágio directo.

De igual modo, embora a Assembleia Nacional tivesse liberdade de iniciativa quanto ao seu poder legislativo, a grande maioria das leis queaprovava eram da iniciativa do governo. Em conclusão, o sistema político português acabaria por ser um «presidencialismo do primeiro-ministro».

Elaborado por: Susel Duarte 3

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009Assim, embora teoricamente de aparência democrática, a

Constituição de 1933 acabaria por dar oportunidade à instauração da ditadura salazarista.

Em 1933 para segurança do regime, foi criada uma polícia política (a Polícia de Vigilância e defesa do Estado) que em 1945 foi substituída pela polícia Internacional de Defesa de Estado (PIDE). Esta tornar-se-ia num dos principais suportes do salazarismo e no principal instrumento de perseguição, repressão e tortura dos opositores ao regime. Enfim, o Estado Novo foi um estado autoritário e repressivo.

A Revolução de Abril e o regresso às Instituições Democráticas

Em 25 de Abril de 1974, o Movimento das Forças Armadas, coroando a longa resistência do povo português e interpretando os seus sentimentos, derrubou o regime fascista.

Elaborado por: Susel Duarte 4

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009

Libertar Portugal da ditadura, da repressão e do colonialismo representou uma transformação revolucionária e o início de uma viragem histórica na sociedade portuguesa.

A Revolução restitui aos portugueses os direitos e as liberdades fundamentais. No exercício destes direitos e liberdades, os legítimos representantes do povo reúnem-se para elaborar uma Constituição que corresponde às aspirações do país.

A Assembleia Constituinte afirma a decisão do povo português de defender a independência nacional, de garantir os direitos fundamentais dos cidadãos, de estabelecer os princípios básicos da democracia, de assegurar o primado do Estado de Direito democrático e abrir caminho para uma sociedade socialista, no respeito da vontade do povo português, tendo em vista a construção de um país mais livre, mais justo e mais fraterno.

A Assembleia Constituinte, reuniu na secção plenária de 2 de Abril de 1976, aprova e decreta a nova Constituição da República Portuguesa.

Após 48 anos de ditadura, era restaurada a democracia em Portugal onde se garantem as liberdades individuais, a alternância democrática e se consagra a nova organização do Estado Português em regime democrático e pluralista à semelhança dos países ocidentais. Através do voto, exercido em eleições livres e democráticas, os cidadãos participam na escolha dos titulares das principais instituições democráticas: Presidência de República, Assembleia de República e Governo.

Essa organização do Estado Português pôs em evidência, além da democratização das instituições, a autonomia regional, a descentralização das decisões e o poder autárquico.

Elaborado por: Susel Duarte 5

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009

Competências e interligação dos órgãos de soberania

Presidente da República

O Presidente da República é o Chefe de Estado e é eleito por sufrágio universal para um mandato de cinco anos, e exerce uma função de fiscalização sobre a actividade do Governo, sendo quem nomeia o Primeiro-Ministro e os membros do Governo, tendo, da mesma forma, o poder de demitir o Governo e exonerar o Primeiro-Ministro e outros membros do Governo. Tem igualmente o poder de dissolver a Assembleia da República. Tem também o poder de promulgar ou vetar leis aprovadas na Assembleia da República ou decretos-lei aprovados pelo Conselho de Ministros, e de pedir a apreciação da sua constitucionalidade.

Assembleia da República

A Assembleia da República funciona em Lisboa, no Palácio de São Bento e é eleita para um mandato de quatro anos e neste momento conta com 230 deputados, eleitos em 22 círculos plurinominais em listas de partidos. Os círculos correspondem aos 18 distritos de Portugal continental, mais 2 círculos das Regiões autónomas (Açores e Madeira) e por fim, 2 círculos para os portugueses emigrados na Europa e fora da Europa. Compete à Assembleia da República suportar o governo, tendo de aprovar o seu programa e o orçamento de estado e pode derrubá-lo por meio de uma moção de censura. A

Elaborado por: Susel Duarte 6

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009Assembleia é também o maior órgão legislador, onde são discutidos os projectos de lei. Qualquer revisão à Constituição, tem obrigatoriamente de ser aprovada por dois terços dos deputados.

Governo

O Governo é chefiado pelo Primeiro-Ministro, que é por regra o líder do partido mais votado em cada eleição legislativa e é convidado nessa forma pelo Presidente da República para formar Governo. O Primeiro-Ministro é quem escolhe os ministros, e em conjunto com estes os Secretários de Estado. As competências do Governo estão divididas não só pelo Primeiro-Ministro mas também pelos diversos ministérios. O Governo pode também apresentar projectos de lei à discussão da Assembleia da República como pode legislar autonomamente, aprovando Decretos-lei no Conselho de Ministros.

Tribunais

Os Tribunais administram a justiça em nome do povo, defendendo os direitos e interesses dos cidadãos, impedindo a violação da legalidade democrática e dirimindo os conflitos de interesses que ocorram entre diversas entidades. Segundo a Constituição existem as seguintes categorias de tribunais:

- Tribunal Constitucional;

- Supremo Tribunal de Justiça e os tribunais judicias de primeira instância (tribunais de comarca) e de segunda instância (Tribunais da Relação);

-O Supremo Tribunal Administrativo e os tribunais administrativos e fiscais de primeira e segunda instância (Tribunais Centrais Administrativos);

-Tribunal de Contas.

O Tribunal Constitucional tem a competência interpretar a Constituição e fiscalizar a conformidade das leis com a Constituição. Pode fazê-lo preventivamente, por requerimento do Presidente da República, dos Ministros da República, do Primeiro-Ministro ou de 1/5 dos Deputados à Assembleia da República em efectividade de funções, ou posteriormente no âmbito de um processo judicial, ou a requerimento dos mesmos órgãos descritos acima e, também, do

Elaborado por: Susel Duarte 7

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009Presidente da Assembleia da República, do Provedor de Justiça e do Procurador-Geral da República.

Regime político-administrativo dos Açores e da Madeira

O regime político-administrativo próprio dos arquipélagos dos Açores e da Madeira fundamenta-se nas suas características geográficas, económicas, sociais e culturais e nas históricas aspirações autonomistas das populações insulares.

A autonomia das regiões visa a participação democrática dos cidadãos, o desenvolvimento económico-social e a promoção e defesa dos interesses regionais, bem como o reforço da unidade nacional e dos laços de solidariedade entre todos os portugueses.

A autonomia político-administrativa regional não afecta a integridade da soberania do Estado e exerce-se no quadro da Constituição.

Estatutos

Os projectos de estatutos político-administrativos das regiões autónomas serão elaborados pelas assembleias legislativas regionais e enviados para discussão e aprovação à Assembleia da República.

Se a Assembleia da República rejeitar o projecto ou lhe introduzir alterações, remetê-lo-á à respectiva assembleia legislativa regional para apreciação e emissão de parecer.

Elaborado o parecer, a Assembleia da República procede à discussão e deliberação final.

Poderes das regiões autónomas

As regiões autónomas são pessoas colectivas territoriais e têm os seguintes poderes, a definir nos respectivos estatutos:

- Legislar, com respeito pelos princípios fundamentais das leis gerais da República, em matérias de interesse específico para as regiões que não estejam reservadas à competência própria dos órgãos de soberania;

- Legislar, sob autorização da Assembleia da República, em matérias de interesse específico para as regiões que não estejam reservadas à competência própria dos órgãos de soberania;

Elaborado por: Susel Duarte 8

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009- Desenvolver, em função do interesse específico das regiões, as

leis de bases em matérias não reservadas à competência da Assembleia da República;

- Regulamentar a legislação regional e as leis gerais emanadas dos órgãos de soberania que não reservem para estes o respectivo poder regulamentar;

- Exercer poder executivo próprio;

- Exercer poder tributário próprio, nos termos da lei, bem como adaptar o sistema fiscal nacional às especificidades regionais;

- Dispor, nos termos dos estatutos e da lei de finanças das regiões autónomas, das receitas fiscais nelas cobradas ou geradas, bem como de uma participação nas receitas tributárias do Estado, estabelecida de acordo com um princípio que assegure a efectiva solidariedade nacional, e de outras receitas que lhes sejam atribuídas e afectá-las às suas despesas;

- Criar e extinguir autarquias locais, bem como modificar a respectiva área, nos termos da lei;

- Exercer poder de tutela sobre as autarquias locais;

- Superintender nos serviços, institutos públicos e empresas públicas e nacionalizadas que exerçam a sua actividade exclusiva ou predominantemente na região, e noutros casos em que o interesse regional o justifique;

- Aprovar o plano de desenvolvimento económico e social, o orçamento regional e as contas da região e participar na elaboração dos planos nacionais;

- Participar na definição e execução das políticas fiscal, monetária, financeira e cambial, de modo a assegurar o controlo regional dos meios de pagamento em circulação e o financiamento dos investimentos necessários ao seu desenvolvimento económico-social;

- Participar nas negociações de tratados e acordos internacionais que directamente lhes digam respeito, bem como nos benefícios deles decorrentes;

- Estabelecer cooperação com outras entidades regionais estrangeiras e participar em organizações que tenham por objecto fomentar o diálogo e a cooperação inter-regional, de acordo com as orientações definidas pelos órgãos de soberania com competência em matéria de política externa;

Elaborado por: Susel Duarte 9

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009-Pronunciar-se por sua iniciativa ou sob consulta dos órgãos de

soberania, sobre as questões da competência destes que lhes digam respeito, bem como, em matérias do seu interesse específico, na definição das posições do Estado Português no âmbito do processo de construção europeia;

-Participar no processo de construção europeia mediante representação nas respectivas instituições regionais e nas delegações envolvidas em processos de decisão comunitária quando estejam em causa matérias do seu interesse específico.

Órgãos do Poder Local e as suas Competências

Cada localidade tem problemas próprios que afectam directamente

os seus habitantes, tais como a falta de estradas, abastecimento de

água, electricidade, serviços de saúde, escolas, etc.

Como as soluções para esses problemas precisam de estar de

acordo com as características da própria localidade, o território

nacional está dividido por áreas administrativas: "Freguesias",

"Concelhos" (Municípios) e "Distritos".

Cada um destes núcleos tem determinado grau de poder político e

administrativo a que se chama "Poder Local".

Para a resolução dos problemas das freguesias e dos concelhos

existem órgãos próprios, eleitos pela população das respectivas

autarquias.

Freguesia

A organização político-administrativa de cada freguesia tem os

seguintes órgãos de soberania:

-A Assembleia de Freguesiaque tem a Função deliberativa, ou

seja, propõe soluções para os problemas existentes na freguesia.

-A Junta de Freguesiaque tem a Função executiva, ou seja, faz

executar as propostas da Assembleia de Freguesia.

Elaborado por: Susel Duarte 10

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009

Em cada freguesia, os cidadãos eleitores elegem a respectiva

Assembleia que decide qual a composição da Junta de Freguesia, cujo

presidente é o primeiro candidato da lista que for mais votada.

Concelho

A organização político-administrativa de cada concelho tem os

seguintes órgãos de soberania:

-A Assembleia Municipalque tem aFunção deliberativa, ou seja,

propõe soluções para os problemas existentes no município.

-A Câmara Municipalque tem aFunção executiva, ou seja, faz

executar as deliberações da Assembleia Municipal. Apresenta à

Assembleia Municipal o plano anual de actividades.

-O Conselho Municipalque tem a Função consultiva, ou seja,dá

opiniões sobre os problemas que a Câmara tem de resolver.

Os cidadãos eleitores do Concelho elegem a Assembleia e a

Câmara Municipal, cujo presidente é o primeiro candidato da lista

mais votada.

Distrito

A organização político-administrativa de cada distrito tem os

seguintes órgãos de soberania:

-A Assembleia Distrital tem a Função deliberativa, que aprova o

plano anual de actividades. Apoia as autarquias do distrito. Promove o

desenvolvimento económico, social e cultural do distrito.

-O Conselho Distrital tem a Função consultiva, ou seja, dá

opiniões sobre os assuntos que lhe são apresentados pelo governador

civil ou pela Assembleia Distrital.

Há em cada distrito um representante do governo central que é por

ele nomeado. O Governador Civil é esse representante que zela pelo

cumprimento das leis e é o responsável pela ordem e tranquilidade

públicas do distrito.

Elaborado por: Susel Duarte 11

CP – Cidadania e profissionalidade 22-12-2009

Elaborado por: Susel Duarte 12