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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA JONATAN DOS SANTOS DE LIMA A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE BAFÔMETRO ESTÁ EM HARMONIA COM OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS? Araranguá 2012

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UNIVERSIDADE DO SUL DE SANTA CATARINA

JONATAN DOS SANTOS DE LIMA

A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE BAFÔMETRO

ESTÁ EM HARMONIA COM OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS?

Araranguá

2012

JONATAN DOS SANTOS DE LIMA

A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE BAFÔMETRO

ESTÁ EM HARMONIA COM OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS?

Trabalho de Conclusão de Curso apresentado ao Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina, como requisito parcial à obtenção do título de Bacharel em Direito.

Orientador: Prof. Dr. Marcos Monteiro da Silva.

Co-orientador: Adriano Barbosa Gonçalves

Araranguá

2012

JONATAN DOS SANTOS DE LIMA

A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE BAFÔMETRO

ESTÁ EM HARMONIA COM OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS?

Este Trabalho de Conclusão de Curso foi julgado adequado à obtenção do titulo de Bacharel em Direito e aprovado em sua forma final pelo Curso de Graduação em Direito da Universidade do Sul de Santa Catarina.

Araranguá, 6 de Julho de 2012.

___________________________________________________ Marcos Monteiro da Silva, Especialista. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Geraldo Cota Junior, Especialista. Universidade do Sul de Santa Catarina

______________________________________________________

Arnildo Steckert Junior, Especialista. Universidade do Sul de Santa Catarina

Dedico este trabalho primeiramente a Deus,

fonte de toda força do universo, aos meus pais

Jailton e Nalu que por meio do carinho e

dedicação me tornaram o Homem que sou hoje

e, a minha esposa Letícia que sempre ficou ao

meu lado em todos os momentos.

AGRADECIMENTOS

Gostaria de agradecer a UNISUL e a todos os professores que me auxiliaram nesta

caminhada e que contribuíram para que eu adquirisse conhecimento para poder concluir esse

trabalho.

Ao meu orientador Marcos Monteiro e Co-orientador e colega de profissão

Adriano Barbosa Gonçalves, que me deram o suporte técnico e me orientaram nesta longa

caminhada de poder concluir esse trabalho que se tornou fonte de grande orgulho para mim.

Aos meus comandantes, Capitão Fabio da Silva Lisboa e Tenente Diego Schartz,

que flexibilizaram o meu horário de trabalho para realizar essa pesquisa e sempre me

apoiaram quando foi preciso e também ao meu ex comandante Major Espíndola que sempre

me apoio também.

E por ultimo e não menos importante, gostaria de agradecer a toda a minha família

que esteve ao meu lado nesta grande jornada e que ajudaram emocionalmente e

financeiramente, e que sempre acreditaram em mim e em minha capacidade de realizar

grandes feitos.

"O que me preocupa não é nem o grito dos corruptos, dos violentos, dos

desonestos, dos sem caráter, dos sem ética... O que me preocupa é o silêncio dos bons.”

(Martin Luther King).

RESUMO

O presente trabalho visa analisar se a obrigatoriedade do teste de bafômetro está de acordo

com os princípios constitucionais. Para descobrir essa resposta, torna-se imprescindível um

estudo sobre os princípios constitucionais, sobre o trânsito brasileiro, sua legislação e suas

peculiaridades. Será demonstrado que, com o advento da lei 11.705/2008, o exame do

bafômetro se tornou um grande aliado na conquista de um trânsito seguro e, que sua

obrigatoriedade é essencial para que a lei se torne eficaz. Por fim, provar-se-á que, a vedação

a não produção de provas contra si mesmo, não se aplica ao caso do teste de bafômetro, pois

neste caso, deve ser aplicado o princípio da supremacia do interesse público, que visa

defender valores muito maiores, principalmente, porque toda a sociedade tem direito de ser

preservada e ser contemplada com um trânsito seguro e de qualidade, adjetivos conexos e

elementares para a efetividade de princípios, como o da dignidade da pessoa humana; Logo,

são por valores e princípios morais, sociais, culturais e constitucionais que o exame de

bafômetro deve ser exigido, por não ferir nenhum destes princípios, ou melhor, o exame de

bafômetro visa protegê-los, para o bem da coletividade, em detrimento de irresponsáveis e

justificativas amparadas por escusas econômicas particulares.

Palavras-chave: Bafômetro. Trânsito. Não produção de provas contra si mesmo. Supremacia

do interesse público.

ABSTRACT, RÉSUMÉ OU RESUMEN

This paper aims to analyze IF the breathalyzer obligation is consistent with the constitutional

principles. To find out this response it is essential a studies about the constitutionals

principles, Brazilian traffic, its legislations and peculiarities. It will be shown that with the

advent of the Law 11705/208 the breathalyzer became a large allied for the achievement of a

safe traffic and its obligation is necessary to the Law gets become efficient. Finally it will be

proved that the sealing of production evidence against himself could not be applied to the

breathlayze exam case because it must be applied the supremacy of the public interest which

claims to defend much greater values mostly because the society has the right of being

protected and contempled with a safer and greater quality traffic, related adjectives for the

effectiveness of the principles such as human dignity. Because of the values and moral, social

cultural and constitutional principles the breathalyze should be required for not hurting any of

these principles. This exam seeks to protect them for the good of the community over the

irresponsible, private economics justifications for excuses.

Keywords: Breathalyzer. Traffic. Not produce evidence against himself. Public interest

supremacy.

SUMÁRIO

1 INTRODUÇÃO................................................................................................................... 9

2 TRÂNSITO SEGURO UM DIREITO DE TODOS ...................................................... 11

2.1 DEFINIÇÃO DE TRÂNSITO E SUA ORIGEM ............................................................ 11

2.2 PARTICULARIEDADES DO TRÂNSITO BRASILEIRO ........................................... 13

2.3 DIREITOS E RESPONSABILIDADES DO CIDADÃO NO TRÂNSITO.................... 16

2.4 CONDUÇÃO DO VEÍCULO AUTOMOTOR E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA ... 17

3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO ..................... 20

3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O DIREITO A UM TRÂNSITO SEGURO ............ 20

3.2 A LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL E O PODER DE POLÍCIA ............... 22

3.3 OS CRIMES DE TRÂNSITO ......................................................................................... 26

4 A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE BAFÔMETRO ESTÁ EM HARMONIA

COM OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS? ................................................................ 31

4.1 PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA .................................................................... 31

4.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EM COLISÃO NA LEGISLAÇÃO DE

TRÂNSITO .............................................................................................................................. 35

4.3 MEIOS DE PROVA NA EMBRIAGUES AO VOLANTE ............................................ 42

4.4 A CONSTITUCIONALIDADE DO EXAME DE BAFÔMETRO ................................ 44

5 CONCLUSÃO ................................................................................................................... 49

REFERÊNCIAS ..................................................................................................................... 51

9

1 INTRODUÇÃO

Nos dias atuais, a vida em sociedade requer a mitigação de algumas liberdades

individuais em prol da preservação dos direitos coletivos, pois, a ação de cada cidadão tem

relevante influência na vida dos demais. Sendo assim, vislumbra-se que os direitos da

coletividade necessitam cada dia mais, prevalecer sobre as liberdades e direitos individuais,

nas mais diversas áreas da vida e do direito, sendo que á busca dessa convivência harmoniosa

e socialmente organizada é dever do ente estatal.

Diuturnamente a sociedade se depara com problemas ligados á segurança, que ao

longo dos últimos anos tem sido objeto de grande preocupação dos gestores públicos. Quando

nos referimos á segurança podemos elencar uma série de áreas as quais as pessoas são

participes e detentoras de direitos e deveres, sendo que o trânsito esta inserido entre elas.

No trânsito percebemos que, muitos problemas têm surgido gerando novos

desafios, devido á forma dinâmica da vida moderna. Nesta sociedade moderna, as ações de

cada cidadão refletem na vida das demais pessoas e, exigem uma postura diferente por parte

do Estado no tocante, a forma de legislar, fiscalizar e punir as pessoas que desrespeitam as

ordens por ele impostas.

As obrigações, deveres e responsabilidades de cada cidadão no trânsito, são

medidas de acordo com a gravidade de suas ações. Tais atitudes vão desde as pessoas

conduzindo veículos sem Carteira Nacional de Habilitação, até as mortes causadas por

colisões de trânsito. Nesse contexto, o autor percebeu a grande importância que o trânsito

brasileiro tem na vida das pessoas, pois cria direitos, deveres e envolve toda uma coletividade.

De acordo com as pesquisas e, pelo que é noticiado nos meio de comunicação, a

maioria das mortes no trânsito tem como causa a ingestão de bebidas alcoólicas pelo condutor

do veiculo momento antes de conduzi-lo. Atualmente, o dispositivo legal mais eficaz para

mudar essa postura por meio de uma sanção penal é o teste popularmente conhecido como

bafômetro. No entanto a obrigatoriedade deste teste mesmo sendo imprescindível é colocada

em cheque por alguns operadores do direito.

Frente a essa necessidade de cessar as mortes no trânsito, causadas pela ingestão

de álcool pelo condutor, e os posicionamentos contrários ao teste de bafômetro, há o clamor

da sociedade, que impõe um desafio aos legisladores, membros do poder judiciário e

10

instituições policiais, que estão na linha de frente, e que precisam dar uma resposta a

sociedade, que cansada de ser vítima, têm, em muitas oportunidades, colocado em descrédito

a ação policial e a própria justiça.

Destarte, o objetivo deste trabalho, é demonstrar o quão necessário é o teste de

bafômetro para detectar a ingestão de álcool pelo condutor, servindo a partir daí, como prova

cabal, para a competente ação penal e responsabilização do condutor, frente a sua

irresponsabilidade para o com o próximo e consigo mesmo, ao decidir “beber e dirigir”. A

presente pesquisa bibliográfica aborda ainda que, os argumentos contrários ao teste de

bafômetro significam uma reação de minoria, e que representam direitos individuais que não

merecem prosperar, frente ao direito da coletividade, que clama por qualidade de vida

também no trânsito. Por fim, abordar-se-á e ficará demostrado que o teste de bafômetro não

fere os princípios constitucionais, e mais que isso, tais princípios privilegiam o coletivo em

detrimento do individual.

Assim, no primeiro capitulo defenderemos que o trânsito seguro é um direito de

todos, discorrendo entre outros assuntos, sobre os deveres e direitos dos cidadãos no trânsito

e, como o exercício da cidadania esta inserido neste. O segundo capítulo apresenta a

constituição federal e a legislação de trânsito do ponto de vista que o trânsito seguro é um dos

objetivos da constituição e que os órgãos estatais usam do poder de polícia para cumprir esses

objetivos, analisando por fim os crimes de trânsito. Finalizando, o ultimo capítulo demonstra

quão importante é a realização do teste de bafômetro para a efetividade de todo o processo

legal, de responsabilização do condutor e, que os princípios constitucionais estão em

harmonia com a obrigatoriedade do referido teste.

11

2 TRÂNSITO SEGURO UM DIREITO DE TODOS

2.1 DEFINIÇÃO DE TRÂNSITO E SUA ORIGEM

A circulação nas vias públicas é direito de todos, sendo que sua normatização é

regulamentada pelo Código de Trânsito Brasileiro (CTB), que define o trânsito como a “[...]

utilização das vias por pessoas, veículos e animais, isolados ou em grupos, conduzidos ou

não, para fins de circulação, parada, estacionamento e operação de carga ou descarga”.

(BRASIL, CTB, 2012).

De acordo com a definição descrita acima, está cristalino que o trânsito existe

desde o surgimento das civilizações, e o acompanha até os dias atuais, pois os povos sempre

foram muito nômades, e as “peregrinações” que realizavam, estabeleciam, mesmo que

informalmente, caminhos o mais seguro possível, e que normalmente estabeleciam sempre a

menor distância entre dois pontos.

Ainda, de acordo com o historiador Faria (2012) 1, o trânsito começou a surgir de

forma mais dinâmica no momento em que pequenos vilarejos passaram a se tornar pequenas

cidades, pois, onde antes eram usadas apenas trilhas de chão batido, que se formavam a partir

da passagem constante de animais, passavam a partir daí, a ser utilizada por carruagens e

posteriormente pelos primeiros veículos automotores.

A criação e o aperfeiçoamento dos veículos e das vias de circulação

acompanharam sempre a tecnologia da época, aliada a necessidade do homem de se

locomover cada vez de modo mais rápido, o fez desenvolver mecanismos que o levaram a

desenvolver em 4000 A.C, o trenó, o primeiro meio de transporte e posteriormente a

domesticação de animais no uso destes transportes.

1 Esta seção foi elaborada com base no artigo de Eloi Faria (2012).

12

No entanto conforme Faria (2012)2 foi a Invenção da Roda o grande divisor de

águas da historia dos transportes terrestres. Tal acessório foi anexada em veículos tracionados

por animais dando a estes, maior desempenho e velocidade e que contribuiu em muito

também com a evolução do comércio que naquela época já sentiam necessidade da construção

de grandes estradas.

E justamente foram os Romanos os percussores na construção de grandes

estradas, recebendo destaque a construção em 312 A.C da Via Ápia, que ia até os portos, onde

as tropas eram embarcadas para as guerras na Ásia e África. No apogeu de seu império foram

construídos mais de 350.000 km de estradas ligando Roma a outras partes do mundo. Daí o

porquê o velho ditado, todos os caminhos levam a Roma. (PAULA et al, 2012).

Mesmo naquela época, com os primeiros indicativos de aumento do uso das vias,

também surgiu à necessidade por parte do Estado de promover regulamentação das mesmas.

As primeiras medidas para melhorar o trânsito que se têm notícia, ocorreram no Império

Romano e visavam o bom uso das vias e a proteção da integridade do pedestre. Já na Idade

Moderna, por volta do século XIX se destaca o surgimento dos primeiros guardas de trânsito

na Inglaterra, para orientar o trânsito de veículos na ponte de Londres. Foi também nesse país,

que surgiu às primeiras sinalizações de trânsito e dispositivos de luzes coloridas, atualmente

conhecidas, como semáforos.

No entanto, o trânsito como conhecemos atualmente começou a tomar as suas

primeiras formas após a Revolução Industrial que possibilitou a construção dos motores à

combustão, mudando totalmente o modo como se deslocavam de um lado para outro, trazendo

muitos benefícios, mas também inúmeros outros malefícios.

Os veículos somente passaram a utilizar realmente os motores a combustão no

final do século XIX e começo do século XX, no entanto, os primeiros automóveis desta

natureza somente chegaram ao Brasil no ano de 1930, sendo que foi com a política de

Juscelino Kubitschek, em 1956, que a produção de automóveis alavancou.

O primeiro acidente de trânsito que ocorreu no Brasil foi no ano de 1876

envolvendo uma figura ilustre. Olavo Bilac estava dirigindo um carro de José do Patrocínio e

se chocou contra uma árvore. (ROZESTRATEN, 2005 apud PAULA, 2012). “Já o primeiro

2 Esta seção foi elaborada com base no artigo de Eloi Faria (2012).

13

acidente relatado envolvendo ingestão de bebidas alcoólicas ocorreu no ano de 1897 quando

George Smith, motorista de taxi, bateu seu veículo em um edifício e assumiu estar sob a

influência de bebida alcoólica”. (SOCIETY, 2009 apud PAULA, 2012, p.21).

Apesar de todos os malefícios que esse meio de transporte nos trouxe, atualmente

é impossível visualizar uma sociedade sem veículos, devido a sua grande importância na vida

das pessoas e na economia do país. O sonho da maioria dos brasileiros é o de possuir seu

próprio veículo, o que de certa forma lhe confere a condição de status e independência frente

às demais pessoas.

Assim, as maravilhas das comodidades da utilização de veículos não se restringem

apenas ás facilidades que o veículo nos proporciona, pois o trânsito sem regras eficientes

torna o veículo um artifício perigoso na mão de pessoas que não conhecem e não se

submetem a legislação de trânsito. Ainda mais nos dias atuais, em que há uma quantidade

enorme de veículos em circulação, onde a falta de perícia da maioria dos motoristas pode

resultar em danos físicos difíceis de reparar, quando não a morte dos condutores, assim como,

dos demais personagens usuários da via, como pedestres, ciclistas, etc.

Segundo Rozenstraten (2005) apud Paula (2012, p.22), o que vai reverter a nossa

atual situação no trânsito é [...] “assegurar que o brasileiro coloque na cabeça que as Leis de

Trânsito não são imposições autoritárias. Elas possuem uma vigência internacional e foram

imaginadas para dar segurança a todos àqueles que participam do trânsito” [...]. Na próxima

seção discorreremos sobre as particularidades de nosso trânsito e como o respeito a essas leis,

é um forte aliado na conquista de um trânsito seguro que é um direito de todos.

2.2 PARTICULARIEDADES DO TRÂNSITO BRASILEIRO

Com a globalização, muitos países têm investido em diversas partes do mundo,

sendo as nações em desenvolvimento, as mais procuradas para receberem estes investimentos,

principalmente, por terem mão de obra barata. Os setores que mais recebem recursos são os

seguimentos de bens duráveis, tecnologia, metal mecânico e automobilístico.

14

Este último em escala macro, onde a hegemonia das montadoras tradicionais aqui

instaladas há décadas, já sente a entrada dos novos modelos apresentados pelas concorrentes

das mais diversas partes do mundo, que buscam absorver uma parcela do grande mercado

brasileiro de veículos. O que não poderia ser diferente, pois a frota de veículos brasileira mais

que dobrou nos últimos 10 anos chegando ao patamar de 64,8 milhões de veículos, conforme

dados do Departamento Nacional de Trânsito, doravante DENATRAN (BRASIL,

DENATRAN, 2012). Tudo, porque no Brasil o sistema de transporte coletivo é insuficiente, e

o pouco que há, apresenta muitas deficiências e é muito caro.

O brasileiro embora encare de modo positivo o crescimento da indústria

automobilística, ainda suporta problemas básicos no trânsito, como as más condições das

estradas e a falta de educação dos condutores, o que, se potencializado com o uso

irresponsável de bebidas alcoólicas na direção, torna o trânsito brasileiro um dos mais

caóticos e perigosos do mundo, transformando as vias em populares “matadouros”.

Segundo dados do Ministério da Saúde, publicados no portal de Seguro de Danos

Pessoais Causados por Veículos Automotores Terrestres (DPVAT) as mortes no trânsito no

Brasil aumentaram em 25%, se comparadas com o ano 2002, sendo registrada no ano passado

a quantidade de 40.610 vitimas fatais, somente no local do acidente, isso sem levar em conta

as que falecem em outra ocasião devido a tais acidentes. Com base nesses números, a

Organização Mundial da Saúde (OMS) classificou o Brasil como sendo o 5º país do mundo

em mortes no trânsito. (BRASIL, DPVAT, 2012).

Conforme especialistas tal número passaria de 50 mil, sem contabilizar os vários

mutilados que perdem a sua capacidade laborativa após esses acidentes. No ano de 2007,

segundo Tawil (2007) as mortes anualmente já naquele ano passariam do número de 35 mil

além de 350 mil feridos, tendo um custo anual de 10 bilhões de reais, conforme dados da

OMS.

E conforme o Portal de Transito Brasileiro (2012) o fator álcool esta presente em

70 % dos casos de morte, o que leva as mortes decorridas de acidente de transito ser á 3ª

causa de morte no país. E o que mais impressiona nesses números do Portal de Trânsito

Brasileiro é que metade das vitimas não estava no carro, o que demonstra uma total falta de

respeito de nossos condutores com a vida alheia principalmente á vida dos pedestres. Tais

números são lamentáveis e nos deveriam levar a pensar sob quais medidas efetivas

deveríamos adotar para mudar esse quadro.

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Outra estatística lamentável disponibilizada nesse portal é que para cada 10.000

veículos morrem 7 pessoas no Brasil, enquanto essa mesma proporção no Japão é de 1,5. O

interessante é que nesse país os exames de alcoolemia são obrigatórios e as sanções para

quem dirige embriagado são muito mais severas do que no Brasil.

Para dar mais visibilidade ao que estamos falando apresentaremos uma tabela que

mostra a quantidade de mortes em nosso país a cada ano.

Tabela 1: Quantidade de morte no trânsito brasileiro a cada ano.

Quantidade de mortes Ano

66.838 2007

57.116 2008

53.052 2009

50.780 2010

58134 2011

FONTE: DPVAT (2012).

De acordo com a tabela acima, notamos uma queda considerável nas mortes no

trânsito do ano de 2007 para o ano de 2008. Em 2008 foi o ano que entrou em vigor a Lei

11.705/2008 tornando obrigatório o uso de bafômetro e aumentando as punições dos que

dirigem embriagado. Tais quedas nos números continuaram nos anos seguintes, no entanto

com a defesa acirrada de alguns, contra á obrigatoriedade do exame de bafômetro nos anos

seguintes a edição daquela lei, os motoristas passaram a se negar á realização deste teste e

conforme nos mostra a tabela às mortes retornaram a aumentar no ano de 2011.

Como visto, o trânsito Brasileiro mata muito mais do que em países em guerra,

muito mais que algumas espécies de câncer e outras doenças e, traz muitos prejuízos para a

economia do país. Destaca-se como a principal causa de acidentes: O excesso de velocidade

causado pela ingestão de bebida alcoólica que tira do condutor o seu senso de prudência, onde

as maiorias dos vitimados são pessoas jovens que estão em plena capacidade econômica. Isto

tem resultado em gastos públicos exorbitantes com internação hospitalar e com pagamento de

pensões, sem levar em conta, as demais despesas com o restante da máquina estatal, que é

acionada quando ocorre esse tipo de colisão no trânsito.

Analisando todos esses fatores podemos notar muitas peculiaridades no trânsito

brasileiro, como o desrespeito ao interesse público e a sociedade de forma geral, quando

ocorrem tais eventos. Sendo assim, as regras de conduta no trânsito devem ser discutidas,

16

sempre analisando o interesse coletivo que é o mais prejudicado em tais situações, exigindo

do Estado uma postura mais firme frente às liberdades individuais, com o intuito de preservar

direitos muito acima destes.

2.3 DIREITOS E RESPONSABILIDADES DO CIDADÃO NO TRÂNSITO

A vida em sociedade pressupõe alguns sacrifícios individuais para o bem coletivo;

até porque, ninguém vive isolado e nossas atitudes têm que estar de acordo com as

necessidades sociais. Tal assertiva também vale para o trânsito, que é um local onde todos os

cidadãos compartilham direitos e deveres, sejam eles, pedestres, ciclistas, condutores e etc.

Sendo assim, tais pessoas têm que se submeter a certas regras para que o seu direito seja

preservado, todavia, sem afetar o direito dos outros.

Conforme o CTB (BRASIL, CTB, 2012), o trânsito seguro é um direito de todos,

cabendo aos órgãos e entidades do sistema nacional de trânsito garantir esse direito, dando

prioridade em suas ações, à defesa da vida. Sendo assim, inclui na definição de trânsito seguro

a preservação da vida, que é, o principal objetivo e direito que todos os usuários de nosso

trânsito possuem, cabendo então ao poder público assegurar esse direito.

Contudo, é sabido que nenhum direito é conquistado sem a contrapartida de

deveres que devem ser observados por todos, para não afetar o direito dos outros,

principalmente o maior de todos os direitos, o direito à vida, direito esse, que sem nenhuma

dúvida deve ser prioridade também no trânsito. Nesse sentido, o CTB no seu capitulo III, no

seu artigo 28, dispõe que: “O condutor deverá, a todo o momento, ter domínio do seu veiculo,

dirigindo-o com atenção e cuidados indispensáveis à segurança do trânsito.” (BRASIL, CTB,

2012).

Tal postura como visto, é necessária e imprescindível por parte do condutor, pois

a condução de veículo automotor é uma tarefa complexa, na qual o motorista age e interage

com o meio a sua volta, recebendo estímulos e exteriorizando condutas. Portanto, quando ele

age de determinado modo errôneo, pode estar colocando em risco a sua vida e também a dos

demais usuários da via, pois o veículo nas mãos de pessoas irresponsáveis pode ser mais letal

17

que uma arma de fogo, já que é muito mais fácil causar a morte de alguém na condução de

veículo automotor do que por portar uma arma de fogo.

Nesse entendimento, o condutor do veículo deve ter total domínio sobre o mesmo,

pois o trânsito exige que ele esteja em plenas condições de suas faculdades motoras e

psicológicas, o que não ocorre, quando o condutor do veículo está sob o efeito de alguma

substância entorpecente.

Tendo em vista tal situação e visando a proteção da vida é que o legislador tornou

obrigatório o uso do bafômetro, para a proteção de todos os usuários da via como também do

próprio condutor que sabendo que o Estado pode lhe exigir que este prove a sua lucidez não

irá ingerir bebida alcoólica preservando então a sua vida e integridade física. É o caráter

preventivo da lei e obrigação de todo condutor se submeter a ela.

2.4 CONDUÇÃO DO VEÍCULO AUTOMOTOR E O EXERCÍCIO DA CIDADANIA

Como visto anteriormente, a condução de veículo automotor é uma tarefa

complexa em que o indivíduo interage a todo tempo com os outros ocupantes da via e

podemos dizer também que, é uma das formas de exercício da cidadania.

No entendimento de Crove (1996) podemos afirmar que cidadania é a

característica que o cidadão adquire quando é detentor de direitos e deveres, e os exerce em

benefício de toda a comunidade onde está inserido. Analisando esta assertiva, podemos então

concluir que, as pessoas que estão envolvidas no trânsito, sendo elas pedestres ou condutores

estão exercendo a sua cidadania.

O que torna o trânsito peculiar e interessante, é que todas as pessoas podem ser

pedestres e ciclistas, porém nem todos podem ser condutores. Há certos requisitos e

características que as pessoas precisam preencher se desejarem ser condutoras, e então poder

receber a concessão estatal, na forma de documento de habilitação, para poder conduzir um

veículo automotor.

Muitas outras formas de regramentos são impostos aos cidadãos para que estes

obtenham o direito de exercer sua cidadania. Inclusive se desejarem exercer determinados

18

cargos, necessitam preencher alguns requisitos e até mesmo ter alguns direitos suprimidos

devido às suas peculiaridades, sem contudo, esta exigência ferir a cidadania, pois as pessoas

necessitam se adequar a certas regras para pertencerem a certos grupos.

Sobre tal assunto, é esclarecedor o pensamento de Hesse (1998) onde ele

especifica o que chama de “relação de poder especial”. Tais relações de poder fariam nascer

deveres especiais que ultrapassariam os deveres gerais do cidadão, como por exemplo, as

relações do funcionário público, do militar, do aluno e etc.

Nesse mesmo sentido, recentemente, o Supremo Tribunal Federal (STF) se

posicionou a favor da Lei da Ficha limpa. Tal lei exige que as pessoas que queiram se

candidatar a algum cargo público não poderão ter sido condenados por um colegiado, mesmo

que ainda haja possibilidade de recurso, entre outros requisitos.

Logo, muitos são os requisitos para que uma pessoa consiga exercer plenamente a

sua cidadania e, tais requisitos muitas vezes atingem outros direitos que no caso concreto

entram em colisão. Em relação à lei da Ficha Limpa o direito que é mais visivelmente

atingido é o da presunção da inocência.

Tal princípio, que é base de qualquer democracia, garante aos cidadãos que estes

somente serão considerados culpados após o trânsito em julgado, não prepondera nesse caso.

Isto se deve ao fato de que a vida pública e daqueles que queiram entrar nela, têm que estar

acima de qualquer suspeita. Conforme o Ministro Ayres Brito (BRASIL, STF, 2012) a

palavra candidato, vem de Cândido, que significa, puro, limpo, sendo assim não pode pairar

sobre o candidato suspeita de irregularidades.

Outro caso no tocante a cidadania, é a dos militares, cidadãos esses que, devido ao

fato de poderem usar armas e serem os responsáveis pela segurança pública, têm outros

direitos mitigados, para que o exercício de sua cidadania esteja á beneficio de toda a

sociedade e, não só, deste grupo fechado.

O mais conhecido direito restringido aos militares é o direito a greve e, a liberdade

de expressão; direitos esses que se fossem concedidos derrubariam os alicerces do

militarismo, que é á hierarquia e disciplina e colocaria em risco toda a sociedade. Também a

natureza do seu serviço e suas peculiaridades não lhe é garantido que sejam presos somente

em flagrante delito ou por ordem judicial, sendo que se for transgressão militar cabe prisão a

qualquer momento e não cabe habeas corpus.

19

Portanto, diversos são os direitos suprimidos desta classe pelo fato de terem o

poder das armas. Todavia, ninguém os obrigou a serem militares, se assim o são, é porque

escolheram, e por isso devem se submeter às regras que lhe são impostas.

Do mesmo modo, os condutores de veículos são condutores porque assim

escolheram no momento em que se colocaram atrás do volante e, como vimos anteriormente,

se não o conduzirem de modo prudente transformam os veículos em verdadeiras armas, sendo

muito mais fácil eles cometerem homicídio do que um militar que vai para guerra com um

fuzil na mão.

Sendo assim, é coerente que tais pessoas que voluntariamente se colocaram nessa

posição de condutor de veículo, obedeçam a certas regras que outras pessoas normalmente

não têm que se submeter. O exercício da cidadania neste ponto está na obrigatoriedade de o

condutor se submeter a certos deveres, pois assim poderá alcançar direitos, como o de dirigir.

Mais à frente far-se-á um arrazoado sobre a necessidade de exigência do exame de bafômetro,

para que a condução de veículo automotor seja um exercício justo de cidadania e não de

fomento á anarquia.

20

3 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E A LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO

3.1 A CONSTITUIÇÃO FEDERAL E O DIREITO A UM TRÂNSITO SEGURO

Antes de analisarmos nossa atual Carta Magna é importante verificarmos o que é

Constituição e a importância que tem esse diploma legal. Antes do surgimento deste

documento jurídico o povo ficava a mercê da vontade de seu rei, sendo que não havia critérios

e limites para sujeição do povo perante a vontade do soberano.

Com o passar do tempo de acordo com o jurista Ferreira Filho (2011), foi se

criando a ideia coletiva de que o poder do rei teria que ser limitado por meio de um

documento; documento este que selaria o pacto do soberano com os seus súditos. Tal pacto

surgido na Idade Media fundamentava-se na ideia de que o povo se sujeitava a obedecer ao

príncipe enquanto este se compromete a governar com justiça.

De acordo ainda com Ferreira Filho (2011), o mais importante dos pactos foi

criado na Inglaterra com a Magna Carta de 1215, realizado entre o rei João sem Terra e seus

súditos revoltados, estabelecendo-se assim os direitos a serem respeitados pela Coroa. É

considerado um dos primeiros pactos de Direitos Humanos da história da humanidade e

também considerada a primeira constituição.

Dessas concepções verifica-se que o poder decorre da vontade do povo, e tem um

estatuto fixado por estes que impõe aos governantes e aos súditos limites, de um lado em

relação ao exercício do poder e de outro ao exercício das liberdades. Nesse mesmo sentido,

podemos observar o que nos ensina Manoel Gonçalves Ferreira Filho, que conceitua

Constituição como:

Constituição é a organização jurídica fundamental e suprema de um Estado. É o conjunto de regras relativo á forma de Estado, a forma de Governo, ao modo de aquisição e exercício do poder, aos direitos e garantias fundamentais do indivíduo, bem como quaisquer assuntos considerados relevantes para a sociedade. (2001, p. 37).

21

Destarte, a nossa atual constituição é o documento jurídico mais importante de

nossa sociedade, delimitando poderes, garantindo direitos e definindo objetivos a serem

alcançados. Tanto é que ela é conhecida no meio jurídico como: Carta Magna, Lei Maior, Lei

Fundamental dentre outros adjetivos.

Tal constituição além de ser a organização jurídica do Estado como vimos, é a

expressão da vontade popular que é de onde o seu poder emana. Desse modo quando uma

constituição é promulgada ela é feita para alcançar certos objetivos. De acordo com seu artigo

terceiro, um dos objetivos fundamentais dentre outros é construir uma sociedade livre, justa e

solidária. (BRASIL, CF, 2012).

A busca da justiça vai ao encontro de outros direitos fundamentais como o direito

à vida e a segurança, sendo estes direitos também cláusulas pétreas e garantias fundamentais

de todo o cidadão. Nesse sentido conforme Marrone (1998) se pode inferir que o trânsito

seguro é um dos objetivos de nossa Constituição e deve ser por esta alcançada por meio da

cooperação entre os governantes e seus súditos.

Nesse sentido, o artigo 144 de nossa carta magna relata que a segurança pública é

dever do Estado, direito e responsabilidade de todos. (BRASIL, CF, 2012). Sendo

responsabilidade de todos, devemos nos submeter a certas regras para alcançar tal objetivo,

até porque ai se enquadra outro objetivo de nossa constituição que é a construção de uma

sociedade solidária.

Há que se considerar ainda, que a segurança, que é direito de todos, prevista na

constituição, abrange o sentido macro, ou seja, ela relaciona não somente a segurança do

próprio cidadão em não ser violentado, mas sim, toda forma de locomoção, como o de ir e vir

com segurança, onde está inserido o direito de todos a um trânsito seguro.

No entanto tais regras têm limites, não podendo ficar a mercê das vontades de

nossos governantes. Tais limites garantem a liberdade do indivíduo, pois sem lei e ordem não

há liberdade e sim libertinagem. Com esse entendimento, o nosso constituinte consagrou no

artigo 5, II a seguinte regra: “ Ninguém será obrigado a fazer, ou deixar de fazer alguma coisa

senão em virtude de lei”. (BRASIL, CF, 2012).

A lei como vimos é o grande limitador de direitos e de poderes. Ela é o reflexo da

vontade popular que é de onde emana o poder de nossa constituição. As leis sendo frutos da

vontade popular surgem para regular direito e necessidades sociais atuais ou futuras podendo

ser revogadas ou modificadas para se adaptar às suas novas necessidades. Outro aspecto

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também importante, é que toda lei goza de presunção constitucional, sendo possível somente

retirar tal característica por meio de uma ação de inconstitucionalidade e não por interpretação

doutrinária.

Sendo assim, a obrigatoriedade do exame de bafômetro ratificada pela lei

11705/2008 é claramente constitucional, pois apesar deste procedimento ser limitador de

direitos, está baseado na ferramenta disponível para isso, ou seja, a lei. Além disso, tal

ferramenta utilizada pelo legislador está garantida na proteção do direito à vida e a um trânsito

seguro, pois sendo certo, a sua cobrança, o condutor do veículo não irá ingerir bebida

alcoólica preservando a sua vida e das demais pessoas, que como vimos, é um dos objetivos

de nossa constituição.

3.2 A LEGISLAÇÃO DE TRÂNSITO NO BRASIL E O PODER DE POLÍCIA

Como vimos anteriormente, não é de hoje que a sociedade e o Estado se

preocupam com as normas relativas ao trânsito. Podemos afirmar que tal preocupação existe

desde o surgimento das primeiras estradas e veículos. O objetivo de tais normas como

qualquer outra, é tutelar bens juridicamente relevantes para o convívio social, realizando isso

para determinar comportamentos e delimitar atitudes para o bem de todos.

A primeira norma regulamentando o trânsito em nosso ordenamento pátrio surgiu

no ano de 1910. A partir daí surgiram inúmeros outros decretos regulamentando inúmeras

outras situações à medida que o número de veículos aumentava e se necessitava da criação de

novas normas para atender as novas situações que antes não existiam.

Foi no ano de 1941, que surgiu o primeiro Código de Trânsito Nacional, no

entanto, tal diploma legal durou somente oito meses. Tal código foi revogado pelo decreto

3651 do mesmo ano, decreto esse que declinava a competência da legislação de trânsito para

os Estados, desde que estes se adaptassem a legislação nacional.

Finalmente, em 21 de setembro de 1966, pela Lei nº 5.108, surgiu o antigo Código

Nacional de Trânsito (CNT), composto de 131 artigos, estabelecendo no Art. 2º que os

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Estados poderiam adotar normas pertinentes às peculiaridades locais, complementares ou

supletivas da legislação federal, e no Art. 3º a composição da administração do trânsito:

Art. 3º Compõem a administração do trânsito como integrantes do sistema nacional de trânsito: a) o Conselho Nacional de Trânsito, órgão normativo e coordenador; b) os Conselhos Estaduais de Trânsito, órgãos normativos; c) os Conselhos Territoriais de Trânsito, órgãos normativos; d) os Conselhos Municipais de Trânsito, órgãos normativos; e) os Departamentos de Trânsito e as Circunscrições Regionais de Trânsito, nos Estados, territórios e Distrito federal, órgãos executivos; f) os órgãos rodoviários federal, estaduais e municipais, também órgãos executivos. (BRASIL, CNT, 1966).

O CNT, apesar de ser uma revolução legislativa para a época com o passar dos

anos e com o aumento da frota de veículos brasileira, começou a se mostrar ineficiente para

regular o trânsito. Isto se deu ao fato de não existirem punições criminais para os condutores

de veículo que atentassem contra a segurança viária, ficando tais punições somente na esfera

administrativa.

Destarte, se mostrou imprescindível por parte do legislador atualizar o antigo

CNT, para que a legislação de trânsito atendesse as necessidades sociais atuais. Foi então que

na década de 1990 tal assunto começou a ser amplamente discutido no Congresso Nacional,

tendo como objetivo um projeto de lei que contemplasse as novas peculiaridades do trânsito

brasileiro e que colocasse a defesa da vida como prioridade. Como fruto desta discussão nasce

a lei 9.523/97, intitulado como Código de Trânsito Brasileiro (CTB), tendo como missão

colocar em ordem o caos que vivia o trânsito naquela época.

O cumprimento das novas regras do CTB, para que atingissem seus objetivos

naquela época e na atual, necessita da fiscalização por parte do Estado para que essas normas

sejam cumpridas, já que infelizmente a sociedade não é composta de cidadãos virtuosos que

as cumpre pelo simples fato de querer fazer o que é correto. Ao contrário, o ser humano tem

uma tendência a fazer o que é errado e necessita de sanções para que cumpra o que é correto,

já que é de sua natureza, ser lobo dele próprio.

Logo, para atingir seus objetivos, o Estado tem á disposição alguns poderes e os

usa por meio da Administração Pública. Esta, então é o instrumento que o Estado usa para

atingir o seu objetivo, ou seja, a satisfação do interesse coletivo. Vale lembrar que esse é o

único objetivo e razão de existir do Estado. Estado esse que surgiu através do pacto social, em

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que nós como indivíduos abrirmos mão de nossa liberdade total em troca de benefícios muito

maiores.

Conforme a doutrinadora, Di Pietro (2005), todos os poderes concedidos à

Administração só se legitimam sob a égide da lei, sob o fundamento da preservação do

interesse público. Do contrário, restará configurado o abuso do poder acarretando a

ilegalidade do ato. São poderes da Administração de acordo com a mesma doutrinadora, o

poder Discricionário, Hierárquico, Disciplinar, Regulamentar e o de Polícia.

Em relação à legislação de trânsito, o poder que mais se relaciona com esta é o

poder de Polícia, que é o poder mais usado pela Administração Pública para atingir seus

objetivos e fazer com que se cumpra a legislação de trânsito. De acordo com o artigo 78 do

Código Tributário Nacional (CTN), o poder de Polícia pode ser definido como:

Considera Poder de Polícia a atividade da administração pública que, limitando ou disciplinando direito, interesse ou liberdade, regula a prática de ato ou abstenção de fato, em razão de interesse público concernente à segurança, à higiene, à ordem, aos costumes, à disciplina da produção do mercado, ao exercício de atividades econômicas dependentes de concessão ou autorização do Poder Público, à tranquilidade pública ou ao respeito à propriedade e aos direitos individuais coletivos.

Sendo assim, o Poder de Polícia é aquele que dispõe a Administração para

conduzir, restringir, frenar atividades e direitos de particulares para a preservação dos

interesses da coletividade. O corolário do Poder de Policia como visto, é a supremacia do

interesse público sobre o particular. (DI PIETRO, 2005).

A fiscalização de trânsito como qualquer outra, necessita do uso desse poder pelos

agentes da Administração para que se possa atingir tais objetivos. Tal ferramenta é usada a

todo o momento desde a expedição de uma Carteira Nacional de Habilitação (CNH) até o

momento de uma abordagem realizada por um Policial Militar.

O Policial Militar então, quando no exercício de sua função e baseado em lei,

determina que um condutor de veículo realize o teste de bafômetro, nada mais faz do que usar

o poder de polícia para garantir á aplicação desta. Nesse sentido é vasta a jurisprudência:

Se a norma objetiva determina que a autoridade mande, é porque pessoa intimada tem que atender ao mando. Se não atender, comete delito de desobediência, por ter sido a ordem legal e amparada na norma vigente. A ampla defesa nada mais faz do que assegurar aos acusados todos os meios legais para a defesa, inclusive, fornecendo defensores aos que não possuam. Ela, entretanto, não confere ao acusado

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o direito de não atender determinações legais pois, se assim fosse, estaria em conflito com o disposto no inc. II, do art. 5º, da mesma Carta magna, que reza que todos os cidadãos são obrigados a fazer algo, desde que exista lei determinando, ao afirmar que ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei. (SÃO PAULO, TACRIM, 1990).

Não pode então o cidadão quando abordado se recusar a realizar tal teste alegando

o duvidoso principio do Nemo Tenetur se Detegere, pois o objetivo realmente do Poder de

polícia é limitar direitos quando estes vão de encontro ao interesse de toda a coletividade.

Mais a frente será feito um arrazoado sobre o Nemo Tenetur se Detegere, demonstrando o

porquê de sua incerteza jurídica.

Desse modo então, quando o cidadão se recusa a se submeter ao teste de

bafômetro, teste esse baseado em lei, estará incorrendo no crime de Desobediência além das

outras sanções administrativas, como preconiza:

Art. 277. Todo condutor de veículo automotor, envolvido em acidente de trânsito ou que for alvo de fiscalização de trânsito, sob suspeita de dirigir sob a influência de álcool será submetido a testes de alcoolemia, exames clínicos, perícia ou outro exame que, por meios técnicos ou científicos, em aparelhos homologados pelo CONTRAN, permitam certificar seu estado. [...] § 3o Serão aplicadas as penalidades e medidas administrativas estabelecidas no art. 165 deste Código ao condutor que se recusar a se submeter a qualquer dos procedimentos previstos no caput deste artigo. Art. 165. Dirigir sob a influência de álcool ou de qualquer outra substância psicoativa que determine dependência: Penalidade - multa (cinco vezes) e suspensão do direito de dirigir por 12 (doze) meses. Medida Administrativa - retenção do veículo até a apresentação de condutor habilitado e recolhimento do documento de habilitação. (BRASIL, CTB, 2012).

Como vimos tal procedimento é baseado em lei e todas as consequências de seu

descumprimento também. Portanto quando o agente público usa de tais procedimentos está

resguardando os interesses da coletividade e não infringindo direitos fundamentais. Até

porque o Nemo Tenetur se Detegere, se realmente tiver Status de princípio constitucional é

uma garantia processual para o cidadão preso não podendo estender tal garantia para esfera

administrativa na relação do cidadão com o Estado.

Imaginemos um agente público no exercício de sua função e baseado em lei que

irá fiscalizar um supermercado. Para exercer a fiscalização terá que ter acesso ao estoque

deste. Imagine que dentro deste estoque há várias irregularidades é até mesmo substâncias

entorpecentes, armas e outros produtos ilícitos.

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Imaginemos ainda que o dono do supermercado sabendo de tal fato se recuse a

abri-lo, alegando que ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo e o agente

público respeitoso desse direito, fosse embora e não tomasse nenhuma atitude e, o dono do

supermercado não sofresse nenhuma sanção, pois está defendendo um direito seu. Absurdo!

Mas é isso que ocorre todos os dias quando alguém se nega a realizar o teste de bafômetro e

não sofre nenhuma sanção penal e as administrativas ainda são colocadas em chegue.

Na nossa vida diária podemos citar inúmeros exemplos a respeito desse assunto:

Como por exemplo, uma pessoa que traz consigo armas ou drogas em suas vestes e, se negue

que o policial a reviste, pois não tem obrigação de produzir provas contra si mesmo e tal

atitude do policial violaria sua intimidade. Ou no trânsito, se a pessoa negasse a se identificar

para o policial, pois não tem habilitação e se tal fato fosse descoberto lhe acarretaria uma

responsabilidade criminal.

Percebemos que tais fatos são absurdos e não podem encontrar respaldo em nosso

ordenamento jurídico. O poder de Polícia, usado pela polícia nesse sentido visa resguardar

direitos fundamentais e ocorrem dentro do limite da lei e sobre certos critérios definidos por

esta. Sendo assim não há ilegalidade ou abuso de poder, ou ofensa à dignidade da pessoa

humana quando tal teste é exigido para a garantia da segurança de toda a coletividade.

3.3 OS CRIMES DE TRÂNSITO

A legislação de trânsito anterior ao atual CTB, não tipificava nenhuma conduta no

trânsito como crime, ficando as punições somente na esfera administrativa. No entanto, tais

medidas estavam se mostrando ineficazes para garantir a efetiva segurança no trânsito.

Portanto, antes da edição do CTB, somente eram enquadradas como crimes, algumas condutas

tipificadas na Lei de Contravenções Penais e no Código Penal, contudo, o legislador viu a

necessidade de criar figuras típicas próprias e novas figuras penais principalmente no tocante

a de embriagues ao volante, já que tal conduta era um dos assuntos que mais preocupava

sociedade, quando da elaboração do novo código de trânsito.

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Neste capítulo iremos estudar os crimes de trânsito que foram modificados pela

tão comentada lei 11705/2008. Conforme Marcão (2011), tais modificações foram realizadas

para aprimorar a matéria penal no CTB, apresentando novos contornos aos crimes dos artigos

302, 303, 306 e 310 do CTB, visando atender os ensejos da sociedade na busca de um trânsito

seguro.

Com o intuito de diminuir o grande número de mortes causadas no trânsito, o

CTB trouxe uma inovação legislativa, tipificando como crime no seu artigo 302 a conduta de:

“Praticar homicídio na condução de veículo automotor. Penas-detenção, de dois a quatro anos,

e suspensão ou proibição de se obter a permissão ou habilitação de dirigir veículo automotor”.

(BRASIL, CTB, 2012).

Podemos observar que o legislador agravou a pena do homicídio culposo do CTB

em relação ao culposo praticado no Código Penal. Com tal atitude, o legislador deixou claro

que a responsabilidade do condutor em relação à vida dos demais no trânsito é maior do que

em outras ocasiões e, se não tiver os cuidados necessários de preservá-la sofrerá reprimendas

maiores.

De acordo com Marcão (2011) o objeto jurídico da tutela penal do artigo 302 do

CTB é a vida humana, o que se amolda perfeitamente ao artigo 5º da CF que assegura a

inviolabilidade do direito à vida. Para Nucci (2006) o objeto jurídico é primordialmente, a

vida humana, mas, secundariamente, a segurança viária. No entanto a divergência doutrinária

é em relação não ao objeto jurídico, mas sim sobre a constitucionalidade da norma, já que se

pune com muito mais rigor esse delito do que aquele previsto no Código Penal. Sobre tal

assunto os tribunais já se posicionaram a favor da constitucionalidade da norma, conforme

impõe:

O artigo 302 do Código de Trânsito Brasileiro descreve tipo derivado, em que a circunstância modal ‘na direção de veículo automotor’ atua como qualificadora embutida no tipo. A evidência, não se trata do mesmo delito cometido no artigo 121, parágrafo 3º, do CP, mas de tipo específico, qualificado, por envolver infração cometida na condução de veículo automotor, inexistindo inconstitucionalidade em o legislador dispensar tratamento mais gravoso ao tipo derivado, diferente do genérico. (RIO GRANDE DO SUL, TJRS, 1999).

A última inovação legislativa em relação ao crime do artigo 302 foi a tão

comentada lei 11705/2008, pois tirou das agravantes do parágrafo único deste artigo a direção

de veículo automotor sob a influência de álcool. Em uma análise rápida e superficial

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poderíamos concluir que o legislador com tal atitude quis atenuar a conduta de praticar

homicídio culposo sob a influência de álcool ou evitar que ocorresse o Bis in idem, já que

anteriormente a prática do homicídio, já estaria consumado o crime de embriagues ao volante.

Porém como é de conhecimento de todos, tão controvertida lei surgiu para punir

mais severamente o condutor que conduz alcoolizado e não atenuar ainda mais a sua punição,

já que no parágrafo único não se exigia nenhuma comprovação técnica do grau etílico do

condutor enquanto no crime de embriagues ao volante se exige. O que podemos inferir então

é que a prática de homicídio na condução de veículo automotor sob a influência de álcool não

se amolda ao tipo do artigo 302 do CTB, mas sim ao do artigo 121, pois com tal atitude o

motorista alcoolizado estaria assumindo o risco de praticar o homicídio e o praticando assim

na modalidade de dolo eventual.

Sobre tal sentido já se manifestou o Superior Tribunal de Justiça (STJ):

Não se pode generalizar a exclusão do dolo eventual em delitos praticados no trânsito. O dolo eventual na prática, não é extraído da mente do autor, mas das circunstâncias. Nele, não se exige que o resultado seja aceito como tal, o que seria adequado ao dolo direto, mas, isto sim, que a aceitação se mostre no plano do possível, provável. (BRASIL, STJ, 2001).

Nada é mais provável do que praticar homicídio na condução de veículo

automotor, quando se está embriagado. Inúmeros são os casos registrados e documentados de

vidas que são ceifadas por motoristas sob a influência de álcool. Todos os dias são noticiados

pela mídia tais acontecimentos, o que leva qualquer pessoa a ter o conhecimento de que

quando ingere bebida alcoólica e após dirige, está sim, assumindo o risco de praticar um

homicídio.

Sobre tal assunto Marcão (2011) assevera que as posições dos tribunais são no

sentido de considerar que o homicídio praticado na condução de veiculo automotor sob a

influência de álcool não é culpa consciente e sim dolo eventual, pois se interprestássemos de

outra maneira estaríamos indo contra a intenção do legislador.

Age com dolo eventual o agente que, após ingerir bebida alcoólica, imprime velocidade incompatível com o local, apesar dos reclamos de ocupantes dos veículos que chamaram a sua atenção para o iminente risco de acidente, provocando a morte de duas pessoas e ferindo outras quatro. (ACRE, TJAC, 2006).

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Também outros crimes do CTB foram afetados pela lei 11705/2008. Com exceção

dos crimes dos artigos 302 e 306 do CTB, todos os outros crimes são de competência do

juizado especial por força da lei 9099/95, já que a pena máxima é inferior a dois anos. Sendo

assim o crime tipificado no artigo 303 do CTB, lesão corporal culposa na condução de veículo

automotor, quando constatado que foi cometido sob a influência de álcool, não é julgado pelo

juizado especial, não tendo assim os benefícios a ele inerentes. (BRASIL, CTB, 2012).

Como visto o legislador com a edição desta lei teve como objetivo apenar de

modo muito mais gravoso os crimes praticados no trânsito sob a influência de álcool diante

dos reclamos da sociedade por um trânsito mais seguro que não é compatível com o uso de

bebidas alcoólicas. Ponto interessante também da lei é que ela trouxe a responsabilidade da

direção alcoolizada não somente para o motorista, mas também para aquele que permite,

entrega ou confia à direção de veículo automotor a pessoa que estiver embriagada, tipificando

tal conduta no artigo 310 do CTB. (BRASIL, CTB, 2012).

No entanto em relação aos crimes de trânsito o que a lei trouxe de mais

controvertido foi à mudança em relação ao crime do artigo 306 do CTB, pois suprimiu do

caput do artigo a necessidade de comprovação de perigo de dano. Sendo assim, o legislador

passou a entender simplesmente que a direção alcoolizada gera perigo suficiente ao bem

jurídico tutelado não sendo necessária nenhuma comprovação de dano. (MARCÃO, 2011).

Sobre tal assunto o STF já foi convocado a se manifestar em sede de um Habeas

corpus impetrado pela defensoria pública da união:

Citando precedente da ministra Ellen Gracie, o relator do habeas corpus, ministro Ricardo Lewandowski, afirmou ser irrelevante indagar se o comportamento do motorista embriagado atingiu ou não algum bem juridicamente tutelado porque se trata de um crime de perigo abstrato, no qual não importa o resultado. “É como o porte de armas. Não é preciso que alguém pratique efetivamente um ilícito com emprego da arma. O simples porte constitui crime de perigo abstrato porque outros bens estão em jogo. O artigo 306 do Código de Trânsito Brasileiro foi uma opção legislativa legítima que tem como objetivo a proteção da segurança da coletividade”, enfatizou Lewandowski. (BRASIL, STF, 2011).

No mesmo sentido é o pensamento do doutor Fernando Capez, que em entrevista

a um jornal, logo após a edição da lei seca relatou que:

No caso da chamada Lei Seca, a criminalização do mero comportamento de conduzir um veículo automotor sob a influência de álcool ou qualquer outra substância de efeitos psicotrópicos, não vulnera nenhum princípio constitucional,

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mas, antes, confere adequada proteção à vida humana, tutelando-a contra agressões ainda em estágio embrionário. Não coibir com rigor o condutor ébrio e inconsequente é dar vazão a uma sequência de atos capazes de se convolar em um homicídio culposo. Negar ao Direito Penal, neste caso, sua missão protetiva, deixando-a ao talante de sanções meramente administrativas, é descumprir o comando emergente do art. 5º, caput, da CF, que impõe ao Estado a missão de proteger a vida. Sob esse aspecto a norma do art. 306 é legítima. (2008).

No entanto, a controvérsia de tal mudança legislativa é muito maior e não para

simplesmente na classificação do delito. O fato mais controverso é que de acordo com a nova

redação dada pela lei 11705/08, se faz necessário que o condutor esteja dirigindo alcoolizado

com a quantidade de 6 decigramas de álcool por litro de sangue. Conforme Marcão (2011) o

dispositivo penal é taxativo quando se refere a essa quantidade, não sendo possível a

constatação de tal índice por meio de exame clinico ou prova testemunhal. Já em relação às

outras substâncias psicoativas o exame técnico pode ser suprimido já que o texto legal não

especifica nenhuma quantidade.

Apesar de haver doutrina e jurisprudência divergente sobre como provar o crime

de embriaguez ao volante em sua nova redação, pensamos ser imprescindível o exame técnico

para prová-lo. Sendo assim, para que os motoristas que dirigem alcoolizados sejam

responsabilizados pelas suas condutas, o legislador tornou obrigatório o exame de bafômetro.

No próximo capítulo entraremos ainda mais nessa seara demonstrando ponto a

ponto que os fundamentos dos que defendem a inconstitucionalidade da obrigatoriedade do

exame de bafômetro não passam de mera falácia. Provaremos que, a obrigatoriedade de tal

exame além de ser uma proteção para o próprio indivíduo, está de acordo com o nosso

ordenamento jurídico e com a conquista de uma sociedade justa e democrática.

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4 A OBRIGATORIEDADE DO EXAME DE BAFÔMETRO ESTÁ EM HARMONIA COM OS PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS?

4.1 PACTO DE SÃO JOSÉ DA COSTA RICA

Conforme Oliveira (2008) há na doutrina e no imaginário popular a ideia de que o

condutor do veiculo não é obrigado a se submeter aos testes de alcoolemia, em especial o

exame do bafômetro. Tal conclusão nasceria do princípio de que ninguém é obrigado a

produzir prova contra si mesmo, ou Nemu Tenetur se Deterege, como é conhecido. A mídia e

a doutrina dominante o difundem de tal maneira que qualquer pessoa irá relatar que esse

princípio consta no rol do artigo 5 da Constituição Federal. No entanto com uma breve leitura

desse artigo constatamos que tal princípio não existe, não de forma explícita, pelo menos.

Tal proteção constitucional derivaria conforme alguns doutrinadores de uma

interpretação extensiva dos de três incisos do artigo 5º, listados a seguir:

LV - aos litigantes, em processo judicial ou administrativo, e aos acusados em geral são assegurados o contraditório e ampla defesa, com os meios e recursos a ela inerentes; Direito a Ampla Defesa LVII - ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória; Princípio da Presunção de Inocência LIII - o preso será informado de seus direitos, entre os quais o de permanecer calado, sendo-lhe assegurada a assistência da família e de advogado; Direito de Permanecer Calado . (BRASIL, CF, 2012, grifo nosso).

No entanto a Constituição Federal não é a única fonte jurídica que dispõe sobre o

assunto, sendo que a base do fundamento daqueles que defendem a inconstitucionalidade do

exame de bafômetro também esta contida no Pacto de São José da Costa Rica. Para

compreendermos melhor tal arcabouço jurídico se faz necessário antes entendermos o

significado de pactos e sua importância jurídica em nosso direito interno.

De acordo com Neves e Loyola (2011), pactos ou tratados seriam acordos

internacionais celebrados por dois ou mais países por escrito visando a determinado objetivo.

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O Pacto de São José da Costa Rica ou Convenção Americana de Direitos Humanos foi

celebrado no ano de 1969, e sendo assim necessitamos entender quais seriam os objetivos de

criar um pacto naquele momento da humanidade.

Se voltarmos ao tempo no ano de 1969 será constatado que naquela época

vigorava nas Américas regimes ditatoriais que oprimiam o povo e não respeitavam os direitos

humanos. O direito penal era usado como instrumento de perseguição política e não raras

vezes as pessoas eram obrigadas a confessarem crimes que não cometeram. Destarte foi

imprescindível que um pacto fosse selado para tentar reverter tal situação. O interessante é

que o Brasil somente o ratificou no ano de 1992 após o término dos regimes ditatoriais.

Mas voltando ao cerne da questão recorreremos ao próprio pacto selado naquele

ano para entendermos melhor onde mora a razão de tal controvérsia. O Pacto de São José da

Costa Rica em seu artigo 8º, inciso 2 alínea g dispõe que:

Artigo 8º - Garantias judiciais [...] 2. Toda pessoa acusada de um delito tem direito a que se presuma sua inocência, enquanto não for legalmente comprovada sua culpa. Durante o processo, toda pessoa tem direito, em plena igualdade, às seguintes garantias mínimas: [...] g) direito de não ser obrigada a depor contra si mesma, nem a confessar-se culpada; (BRASIL, Decreto 678, Pacto de São José da Costa Rica, 1992).

De acordo então com o filósofo Marcos Valério XR (2008) tal garantia prevista

em tal alínea era para garantir que as pessoas não fossem torturadas e confessassem crimes

que não cometeram, sendo assim o direito de não produzir prova que, aparentemente está

implícito em tal artigo, só faria sentido, no fato da proibição de se obter provas forjadas, ou

seja, de se produzir algo que não existe. Discorrendo mais sobre o assunto XR (2008) explica

o sentido etimológico do conceito produção de prova e a confusão dos conceitos que as

pessoas fazem em relação á detectar algo e produzir algo:

Ora, PRODUZIR é claramente criar, dar origem, fazer vir à existência. Trata-se de passar do Não-Existente para o Existente. Por outro lado, PROVA, nesse sentido, é demonstração, evidência, mostrar o existente. Ou seja, a PROVA simplesmente evidencia algo que é existente, e assim, não poderia, jamais evidenciar algo que não existe! A PROVA de um crime nada mais é do que a evidência de ligação entre o fato e o agente, no caso de uma prova pericial, trata-se de uma ligação MATERIAL, portanto, a ÚNICA COISA que pode produzir de fato uma Prova Material de um crime, é o crime em si! Assim, realizar um exame comparativo de DNA NÃO É PRODUZIR UMA PROVA, é simplesmente extrair algo que JÁ

33

EXISTE. Da mesma forma, realizar um teste de alcoolemia não pode ser JAMAIS "Produzir uma Prova", porque a Prova em si já existe materialmente, e o exame em si nada mais faz do que coletá-la. Analogamente, seria como afirmar que ao permitir que a polícia entre em uma residência com o devido mandado judicial, o morador estaria sendo obrigado a depor ou produzir prova contra si mesmo, caso seja achado algum item incriminatório. Ora, a ÚNICA coisa que alguém pode fazer no sentido de não produzir uma prova contra si mesmo, é não cometer crime algum! (XR, 2008, grifo nosso).

Corroborando ainda mais o pensamento do autor que o objetivo de tal convenção

era coibir as práticas ilegais de produção de prova forjada e não deixar a preservação da vida

humana ao arbítrio de motoristas embriagado; discorreremos sobre importantes artigos que

não são citados pelos que defendem a inconstitucionalidade da obrigação do exame de

bafômetro baseado nessa própria convenção.

O direito à vida, direito fundamental e pressuposto de todos os outros direitos

além de constar no rol do artigo 5 da CF, também é citado no artigo 4 do Pacto de São José da

Costa Rica ou Convenção Americana dos Direitos Humanos como também é conhecido. [...]

“Toda pessoa tem o direito de que se respeite sua vida. Esse direito deve ser protegido pela lei

e, em geral, desde o momento da concepção. Ninguém pode ser privado da vida

arbitrariamente”. (1992).

Como vimos o direito à vida é um dos objetivos perseguidos por tal pacto e como

veremos mais adiante deve preponderar quando em conflito com outros direitos fundamentais.

O Estado deve proteger o direito à vida de todo cidadão não permitindo que sua vida seja

tirada arbitrariamente tanto pelo Estado com pelos seus próprios cidadãos.

No entanto o artigo que mais explica que a proteção constitucional de não

produção de prova contra si mesmo era de proibir a produção de provas forjadas e não

garantir que a pessoa não colabore com a detecção da prova é o artigo 32 desse mesmo pacto:

Artigo 32 - Correlação entre deveres e direitos 1. Toda pessoa tem deveres para com a família, a comunidade e a humanidade. 2. Os direitos de cada pessoa são limitados pelos direitos dos demais, pela segurança de todos e pelas justas exigências do bem comum, em uma sociedade democrática. (BRASIL, Decreto 678, Pacto de são José da costa rica, 1992).

É latente, salta aos olhos os objetivos desse artigo. Conforme dispões o próprio

artigo é necessário haver uma correlação entre os direitos das pessoas e seus deveres, e

aqueles direitos são limitados pelos demais. Sendo assim, se realmente colaborar com a

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extração da prova, fosse considerado como produção de provas contra si mesmo tal direito

seria limitado pelos direitos dos demais, que no caso da obrigatoriedade do exame de

bafômetro é o direto á vida e a segurança, direitos esses também fundamentais.

Tal artigo vai mais longe quando relata que toda pessoa tem deveres para com a

comunidade e com a humanidade, nada mais coerente em relação à exigência da

obrigatoriedade do exame de bafômetro na busca de um trânsito seguro. Dando mais clareza a

tal sentença sobre a relatividade dos direitos fundamentais é esclarecedor o pensamento de

Carvalho:

Não existe direito absoluto. Assim os direitos fundamentais não são absolutos nem ilimitados. Encontram limitações na necessidade de se assegurar aos outros o exercício desses direitos, como têm ainda limites externos, decorrentes da necessidade de sua conciliação com as exigências da vida em sociedade, traduzidas na ordem pública, ética e social, autoridade do Estado, etc..., resultando, daí, restrições dos direitos fundamentais em função dos valores aceitos pela sociedade. (1996, grifo nosso).

Sobre o principio do Nemu Tenetur se Deterege, é importante vermos a posição de

outros países em relação à interpretação deste principio. Sobre tal assunto é cristalina a

pesquisa do autor Lenart (2008) em seu artigo “O Direito de Dirigir Bêbado”:

Até onde sei, nos Estados Unidos o nemo tenetur se detegere assegura ao Acusado apenas o direito de ficar calado ou de mentir, desde que não esteja depondo formalmente como testemunha. São corriqueiros os mandados judiciais autorizando a coleta de material orgânico para exame de DNA, e a ninguém ocorre que a pessoa possa se opor à ordem, sem motivo convincente. Na Alemanha, o princípio do nemo tenetur se ipsum accusare é visto como derivação do direito à personalidade (das allgemeine Persönlichkeitsrecht) e do princípio do Estado de Direito (Rechtsstaatsprinzip) (art. 2 I GG e Art. 1 I GG). Impede que a pessoa seja forçada a depor (”Niemand wird gehalten, sich selbst anzuklagen”), sem que isso valha como confissão de culpa (BVerfG StV 1995, 505 [506]; BGHSt 42, 139 [152]). Além do direito ao silêncio (Schweigerecht), o acusado pode mentir, sem o risco de ser punido (Urs Kindhäuser, Strafprozessrecht, p. 63, rubrica“Die Rechte des Beschuldigten” - Os Direitos do Acusado:“er kann sogar lügen, ohne eine Sanktion befürchen zu müssen…”).Não parece que a jurisprudência desses países vá tão longe a ponto de dar ao Suspeito/Acusado o direito de eximir-se da coleta de material orgânico ou, menos ainda, de recusar um mero sopro no bafômetro. O motivo é singelo: eles não estão fazendo prova contra si próprios; quem faz essa prova é o Estado. O STF, contudo, parece conferir dimensão muitíssimo mais ampla ao princípio do nemo tenetur: ainda que um fio de cabelo ou uma gota de saliva bastem à investigação ou à instrução processual, é preciso que a polícia ou o juiz os catem no chão. Não podem ser “obtidos” contra a vontade do Suspeito, pouco importando o direito de outra pessoa a conhecer sua origem genética (exame de paternidade) ou o interesse da vítima e da sociedade em geral no esclarecimento de crimes (persecução criminal). É mais um exemplo eloqüente da distorção que a

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alfândega dos trópicos impõe às doutrinas estrangeiras que aqui aportam [sic]. (grifo nosso).

Como visto tal convenção é muitas vezes manipulada pelos operadores do Direito

que não a interpretam em sua totalidade e nem levam em conta o momento histórico em que

ela foi criada. A seguir relataremos quais bens jurídicos estão em jogo e, quais destes em uma

sociedade democrática que tem como objetivo a busca da paz social deve preponderar a ser

efetiva.

E ainda, que a interpretação pacto do Pacto de São José da Costa Rica, seja pelo

basilar direito à vida, direito fundamental e pressuposto de todos os outros direitos do

condutor, há que se levar em conta, a todas as pessoas tem esse direito, inclusive os outros

condutores e usuários da via, que também podem ainda invocar o rol do artigo 5° da CF, ou o

disposto na Convenção Americana dos Direitos Humanos.

Esse direito da coletividade de ver cada condutor dirigindo sobriamente, deve ser

protegido pela lei e, não o contrário, uma vez que o teste de bafômetro será realizado por

agente público preparado e com equipamento certificado por órgão técnico, não havendo

qualquer possibilidade de prejuízo ao condutor submetido ao exame, que inclusive, poderá

usá-lo a seu favor, como prova, em caso de negativa de embriaguez.

4.2 PRINCÍPIOS CONSTITUCIONAIS EM COLISÃO NA LEGISLAÇÃO DE

TRÂNSITO

Como visto anteriormente há interesses colidentes na nossa legislação de trânsito

atual. De um lado tem-se o cidadão que quer ter a sua intimidade preservada e de outro a

coletividade que teme por sua vida sabendo que há vários motoristas embriagados colocando

a sua vida e de outros em risco. Tais interesses são constitucionais, o do motorista de não

querer ter a sua liberdade diminuída, ou como muitos defendem de não querer produzir prova

contra si mesmo, e o da sociedade de ter respeitado o seu direito à vida, sua segurança,

integridade física e dentre outros como vistos anteriormente. Sendo assim mostraremos nesse

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capítulo que no caso em tela deve ver aplicado à supremacia do interesse público sobre o

particular.

Entretanto antes de entrarmos na seara da colisão dos princípios constitucionais, é

necessário sabermos alguns conceitos pertinentes, entre eles o significado de princípio. Assim

primeiramente buscaremos definir o conceito de princípio de um modo geral, para depois

podermos entender o conceito de Princípio Constitucional. Para isso buscaremos a definição

de alguns doutrinadores que assim sentenciam:

Pode-se concluir que a ideía de principio ou a sua conceituação, seja lá qual for o campo do saber que se tenha em mente, designa a estruturação de um sistema de idéias, pensamentos ou normas por uma idéia mestre, por um pensamento chave, por uma baliza normativa, donde todas as demais idéias, pensamentos ou normas derivam se reconduzem e/ou se subordinam [sic]. (ESPINDOLA, 2002, p. 53).

Já de acordo com outro doutrinador, “princípios de uma ciência são as

proposições básicas fundamentais, típicas, que condicionam todas as estruturas subsequentes,

sendo os alicerces, os fundamentos da ciência”. (CARVALHO, 1996, p.16).

Destarte, princípio é fundamento, norte a ser seguido, razão de existir da norma.

Outra característica importante do princípio é que esses se diferenciam das regras. Ao passo

que as regras são aplicadas a maneira do tudo ou nada, os princípios admitem ponderação

quando em conflito com outros princípios; também os princípios não ditam comportamento e

sim pontos de partida ao contrário das regras; e, por fim os princípios tem um peso relativo

em cada caso enquanto as regras têm um peso fixo admitindo raras exceções, explica Ferraz

Junior (2007).

Tendo como base os ensinamentos anteriores podemos verificar agora o que

seriam Princípios Constitucionais. Espindola conceitua Princípios Constitucionais como

sendo

[...] os conteúdos primários diretores do sistema jurídico fundamental de um Estado. Dotados de originalidade e superioridade material sobre todos os conteúdos que formam o ordenamento constitucional, os valores formados pela sociedade são transformados pelo Direito em princípios. Adotados pelo constituinte, sedimentam-se nas normas, tornando-se, então, pilares que informam e conformam o Direito que rege as relações jurídicas no estado. São eles, assim, as colunas mestras da grande construção do direito, cujos fundamentos se afirmam no sistema constitucional. (2002, p. 80- 81).

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Sendo assim, percebemos a grande importância que tal instituto jurídico tem no

mundo do Direito. São eles, conforme o autor, os reflexos dos valores de uma sociedade. E

sendo estes valores devem ser realizados em sua maior totalidade. No entanto, devendo estes

ser realizados em sua maior totalidade, o que fazer quando dois desses valores, princípios, se

colidem.

De acordo com Cristovam “A colisão entre principio se resolve no plano de valor,

tendo em vista as circunstâncias do caso, em uma relação de precedência condicionada.

Vinculam e norteiam tanto a atuação estatal como dos particulares”. (2008, p. 231).

Discorrendo ainda mais sobre a colisão de princípios Cristovam relata que:

Na resolução da colisão entre princípios constitucionais devem ser consideradas as circunstâncias que cercam o problema prático, para que, pesados os aspectos específicos da situação, prepondere o princípio de maior importância. A tensão se resolve mediante uma ponderação de interesses opostos, determinando qual destes interesses, abstratamente, possui maior peso no caso em concreto. (2008, p. 233- 234).

Dando mais clareza ainda ao assunto, Neves e Loyola (2011), relatam que na

colisão de princípios, deve-se usar a ponderação de valores, ou seja, deve-se identificar qual

bem jurídico deve ser tutelado na hipótese de colisão. Isso, conforme os autores dever ser

realizado usando se não for possível a conciliação dos princípios, os critérios da pertinência,

de peso ou valoração. Também essa ponderação, ocorre também via princípios da

Razoabilidade e Proporcionalidade, sendo que este último se divide em: Adequação,

necessidade e proporcionalidade em sentido estrito.

Então, após entendermos como se resolve a colisão de princípio, como devemos

resolver a questão suscitada no primeiro parágrafo? Para isso, vamos entender melhor os

princípios que estão em colisão, para depois, usando os critérios acimas dispostos

concluirmos, quais valores, princípios, devem preponderar no caso da obrigatoriedade do

exame de bafômetro.

O princípio mais difundido que seria ferido na visão de alguns doutrinadores,

como Marcão (2011), Gomes apud Marcão (2011), seria o da não produção de provas contra

si mesmo, ou Nemo Tenetur se Detegere, o qual também incluiria o princípio da presunção de

inocência, da ampla defesa e o direito ao silêncio. Esses princípios limitam o poder do Estado

e garantem as liberdades civis de cada cidadão. No entanto, como estamos analisando,

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existem situações jurídicas que princípios se colidem, e um ou mais desses devem ser

afastados para preponderar o que mais se amolda, ou tem maior peso no caso em concreto.

Isso decorre do entendimento que não existe princípio ou direito absoluto, pois

sempre é possível a sua relatividade quando em conflito com outros princípios também

relevantes. Nesse sentido vale destacar o arresto do Supremo Tribunal Federal:

Os direitos e garantias individuais não tem caráter absoluto. Não há no sistema constitucional brasileiro, direitos ou garantias que se revistam de caráter absoluto, mesmo porque razões de relevante interesse público ou exigências derivadas do principio de convivência das liberdades legitimam, ainda que excepcionalmente, a adoção, por parte dos órgãos estatais, de medidas restritivas das prerrogativas individuais ou coletivas, desde que respeitados os termos estabelecidos pela própria Constituição. O estatuto constitucional das liberdades públicas, ao delinear o regime jurídico que estas estão sujeitas- e considerando o substrato ético que as informa- permite que sobre elas incidam limitações de ordem jurídica, destinadas, de um lado, a proteger a integridade do interesse social e, de outro, a assegurar a coexistência harmoniosa das liberdades, pois nenhum direito ou garantia pode ser exercido em detrimento da ordem pública ou com desrespeito aos direitos e garantias de terceiros. (BRASIL, STF, 2000, grifo nosso).

Nesse mesmo entendimento é a opinião de Queijo que relata:

Admitir que o Nemo Tenetur se Detegere pudesse afastar a punibilidade de infrações penais subseqüentes, praticadas para o encobrimento de delito anterior, sem que houvesse procedimento instaurado de natureza extrapenal, investigação criminal ou processo penal, gerando risco concreto de auto-incriminação e sem que o interessado fosse chamado a colaborar, fornecendo elementos probatórios, seria atribuir-lhe a condição de direito absoluto, que não encontraria qualquer limite no ordenamento jurídico, conduzindo a distorções e, não raro, servindo mesmo de estímulo para a perpetuação de crimes [...] Não é esta a sua essência, nem a sua ratio. Reconhecer ao Nemo Tenetur se Detegere tal amplitude subverteria o sistema e o próprio princípio, incentivando a violação de bens jurídicos tutelados pelo ordenamento jurídico [sic]. (2003, p.423, grifo nosso)

Discorrendo sobre o mesmo assunto é esclarecedor ensinamentos do professor

Antônio Álvares da Silva apud Tassi (2012).

O princípio que proíbe a auto-incriminação faz referência ao depoimento e testemunhos verbais do próprio réu. Ou seja, o direito de permanecer calado, inerente ao preso, não pode ser estendido ao cidadão comum que se encontra em liberdade. Usar dessa prerrogativa é o mesmo que fugir ao controle legítimo da autoridade policial e furtar-se às aplicações das leis de trânsito. Na realização do teste do “bafômetro” não há réu, não há processo e, portanto, não cabe o direito de calar, pois o cidadão que for alvo da fiscalização não está preso e nem o referido teste tem a finalidade de incriminá-lo, visto que pode, inclusive, isentá-lo da suspeita de embriaguez que recai sobre ele.

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Ainda sobre o princípio da não produção de provas contra si mesmo é interessante

à opinião de Silva:

O princípio de que ‘ninguém está obrigado a fazer prova contra si’ não pode esvaziar a efetividade da Lei nº 11.705/2008. Um princípio que almeja natureza constitucional não deve propagar a indignidade, ainda que de forma oblíqua, sob pena de caracterizar-se como sofisma. (2012).

E nos outros países como é tratado o direito de não produção de provas contra si

mesmo? De acordo com Promotor de Justiça Borges (2008) o direito norte-americano foi o

primeiro a prever o direito ao silêncio do preso, no entanto a obrigatoriedade do exame de

bafômetro convive de maneira harmônica com tal princípio; isto se deve ao fato, de acordo

com aquele membro do Ministério Público que o ato de soprar o bafômetro é apenas a coleta

de um material para a amostra, não tendo nenhum cunho de confissão ou expressão de ideia.

De acordo com Farias (2010), em Portugal admite-se a coação direta para a

realização do exame, já na França se pode extrair sangue para exame de alcoolemia. Enfim na

Alemanha se a pessoa se nega a realizar o exame, esta é levada a força para que seja colhido o

seu sangue.

Como foi relatado, o princípio da produção de provas contra si mesmo é uma

garantia que o cidadão tem contra o abuso de poder do Estado, mas tal garantia não pode ser

absoluta, pois sem o poder do Estado o cidadão também não tem liberdade. De contrapartida

colidindo com tal princípio se têm os direitos fundamentais da coletividade, que nesse caso

seriam á vida, à segurança entre outros que são respaldados pela supremacia do interesse

público.

Sobre a supremacia do interesse público é esclarecedor a opinião de Di Pietro,

dispondo que:

Depois de superados o primado do Direito Civil (que durou muitos séculos) e o individualismo que tomou conta dos vários setores da ciência, inclusive a do Direito, substituiu-se a idéia do homem como fim único do direito (própria do individualismo) pelo princípio que hoje serve de fundamento para todo o direito público e que vincula a Administração em todas as suas decisões: o de que os interesses públicos têm supremacia sobre o particular [sic]. (2005, p. 269, grifo nosso)

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No caso em tela, tendo com fundamentos a sentença acima, podemos concluir que

a obrigatoriedade do exame de bafômetro se respalda na proteção do direito à vida,

integridade física e segurança da coletividade, interesses esses que sendo públicos devem

preponderar sobre o particular. E de acordo com a mesma autora, o Direito deixou de ser

apenas instrumento de garantias dos direitos do indivíduo e passou a ser visto como meio para

consecução da justiça social. (DI PIETRO, 2005).

E nessa mesma linha de pensamento do desembargador Rui Fortes:

Se é certo que na Constituição Federal há princípio que preceitua que "ninguém é obrigado a produzir prova contra si mesmo" (art. 5º, LXIII), também é certo que na mesma Carta há preceito que assegura a todos o direito à vida e à integridade física. Ou seja, se de um lado ninguém é obrigado a assoprar no bafômetro para atestar o seu índice de alcoolemia, por outro lado os transeuntes que circulam pelas calçadas, bem como aqueles que trafegam pelas vias públicas em seus automóveis (motoristas e passageiros), têm o direito à vida e à integridade física preservadas. Em situações como esta, em que há colisão de princípios constitucionais, deve-se colocá-los na balança e ver qual deles prepondera sobre o outro. E, na espécie, não há dúvida de que a vida se sobrepõe aos princípios universais consagrados pela Constituição Federal. (SANTA CATARINA, TJSC, 2008).

No entanto, é somente na legislação de trânsito que existem colisões de princípios

entre os direitos da coletividade e os individuais? Claro que não, apesar de a controvérsia ser

maior na legislação de trânsito, existem no sistema jurídico Brasileiro, vários casos similares.

Um deles que podemos citar é o caso da prisão cautelar, ou prisão preventiva.

Tal medida visa resguardar conforme o artigo 312 do Código de Processo Penal

(CPP) “a garantia da ordem pública, aplicação da lei penal, conveniência da instrução

criminal” entre outros direitos coletivos. (BRASIL, CPP, 2012). Por outro lado ela atinge em

uma enorme proporção, o princípio da presunção de inocência, pois adianta o cumprimento da

pena, não sendo raros os casos de pessoas presas provisoriamente e declaradas inocentes

depois.

Conforme XR (2008) se dessem ao princípio da inocência, o mesmo Status de

princípio absoluto que alguns doutrinadores dão ao da produção de provas contra si mesmo,

seria impossível ter em nosso ordenamento jurídico prisões preventivas, em flagrante ou até

mesmo intimações. Esse é mais um caso de ponderação de princípios em que prevaleceu o

interesse público sobre o particular, apesar de o princípio afastado nesse caso sofrer muito

mais limitação do que o de produção de provas.

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Outro exemplo, que até mesmo se enquadraria melhor do que a obrigatoriedade do

exame de bafômetro, na questão do princípio de não produzir provas contra si mesmo, são as

escutas telefônicas autorizadas pela justiça. Em tais casos a pessoa realmente depõe contra si

mesma, produzindo em todo momento elementos probatórios em seu desfavor. No entanto

vemos poucas vozes declarando tal medida inconstitucional.

Também é interessante um julgamento do STJ, em que a defesa pedia o

deferimento da nulidade da prova alegando ter sido desrespeitado o princípio de não produção

de provas contra si mesmo, em uso de exame de raio X para detectar a prova:

Exame de raios X para comprovar ingestão de droga é prova legal. Exame de raios X para detectar ingestão de cápsulas de cocaína e aplicação de medicamento para que organismo expulse a droga não violam os princípios de proibição à autoincriminação e de proteção à dignidade da pessoa humana. A conclusão é da Sexta Turma do Superior Tribunal de Justiça. (BRASIL, STJ, 2011).

Em seu relatório o Ministro Og Fernandes (2011) relata que tal exame não é

invasivo, nem mesmo a aplicação de medicamentos para expulsar a droga o é, pois tal

procedimento estaria garantindo a preservação da vida do próprio réu. Situação semelhante

podemos também observar na obrigatoriedade do exame de bafômetro que além de garantir a

segurança pública também protege a vida do próprio condutor.

Analisando ainda outros casos é interessante um julgamento de Habeas Corpus

realizado pelo Tribunal de Justiça de São Paulo:

Não constitui constrangimento ilegal a intimação do acusado para fornecimento de material gráfico para fins de perícia caligráfica, pois trata-se de ato de interesse da Justiça, na busca da verdade, podendo a prova técnica servir tanto para condenar como para inocentar o réu. Engana-se o impetrante e paciente quando entende não estar obrigado a fornecer escritos para a perícia porque, como já foi dito, se trata de prova que interessa a justiça. (SÃO PAULO, TJSP, 2008).

Todos esses exemplos descritos acima nos mostram que não é só no caso do

exame de bafômetro que existem colisões de princípios, sendo que todas essas medidas estão

previstas em lei como é o caso dos exames de alcoolemia. E tendo essas colisões deve

preponderar a supremacia do interesse público, sobre os interesses particulares, pois os

direitos individuais só são garantidos quando antes são protegidos os direitos coletivos.

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4.3 MEIOS DE PROVA NA EMBRIAGUEZ AO VOLANTE

Para a punição de qualquer crime, antes se faz necessário comprovar sua

materialidade, ou seja, provar a materialidade do fato típico descrito na norma. No caso do

crime de embriaguez ao volante, onde o motorista consumiu bebidas alcoólicas acima dos

limites permitidos. Antes, se faz mister entender a materialidade desse crime, que no caso em

estudo é a embriaguez.

Guimarães dispõe que: “No que diz respeito à embriaguez, tecnicamente é o

estado de intoxicação aguda e passageira, provocada pelo álcool ou substância de efeitos

similares, que reduz ou priva o sujeito da capacidade normal de discernimento”. (2004, p.

283).

No entanto qual é qual é a quantidade de álcool que tira a capacidade de

discernimento e assim a possibilidade de dirigir; já que o CTB exige que o motorista esteja

em todo momento que conduz o seu veiculo dentro de suas capacidades normais de habilidade

e discernimento. Conforme esse diploma legal, é a quantidade de 6 decigramas por litro de

sangue. (BRASIL, CTB, 2008).

Tal percentual está de acordo com estudos científicos que apontam que antes

mesmo deste limite legal, por volta de 0,5 gramas por litro de sangue a pessoa já tem as suas

capacidades motoras diminuídas e seu humor alterado, conforme Vasconcelos (2012). Apesar

dos reclamos de pessoas que defendem que o álcool não age da mesma forma em todos os

indivíduos, Almeida (2012) responde que:

A lei existe para o homem médio e nele encontra suas balizes, seus limites. Se para a maioria dos cidadãos 0,6g/l significam inaptidão para guiar um carro, moto ou quaisquer outros automotores é justo, lícito e exigível que o cidadão encontrado com índices superiores ao supracitado seja considerado fora das condições mínimas para conduzir veículo automotor.

Já que o limite legal de álcool no sangue já foi respondido, se faz necessário agora

sabermos como se pode comprovar se o condutor estava dirigindo acima daquele limite

estabelecido pela lei. Porém, antes de entrar nessa seara, se faz oportuno estudarmos o

conceito de prova em nosso ordenamento jurídico.

De acordo com o jurista Mirabete o conceito de prova é procurar:

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[...] produzir um estado de certeza, na consciência e mente do juiz, para a sua convicção, a respeito da existência ou inexistência de um fato, ou da verdade ou falsidade de uma afirmação sobre uma situação de fato, que se considera de interesse para uma decisão judicial ou a solução de um processo. (2005, p.274).

Discorrendo ainda mais sobre prova no processo penal, Mirabete (2005) relata que

no direito processual penal Brasileiro não há limitações para a produção de provas através dos

meios probatórios, desde que obtidos de forma lícita e legítima. O código de processo civil

(CPC), dentro do capitulo VI elenca algumas modalidades de prova como: Depoimento

pessoal, perícia, confissão, entre outras, que não se restringe somente às citadas em tal

capítulo, já que o próprio CPC dispõe que todos os meios legais legítimos ainda que não

especificados no código são hábeis para provar a verdade. (BRASIL, CPC, 2012).

Ainda o CPC ao tratar sob a prova relata que “ninguém se exime de colaborar com

o Poder Judiciário para o descobrimento da verdade”. (BRASIL, CPC, 2012). Sendo assim

ninguém pode se negar a atender intimações do judiciário para depoimentos ou a realização

de perícias, pois conforme já citado anteriormente pelo tribunal Paulista, a prova não é da

acusação nem da defesa é da justiça.

No caso da embriaguez ao volante o CTB cita em seu artigo 277 que o condutor,

“[...] sob suspeita de dirigir sob influência de álcool será submetido a testes de alcoolemia,

exames clínicos, perícia ou outro exame [...]”. (BRASIL, CTB, 2012). Dito isto podemos

observar que existem várias formas de se provar a embriaguez ao volante, no entanto a

doutrina diverge sobre tal assunto, pelo fato de estar descrito na norma o percentual de 6

decigramas por litro de sangue, alguns deles como Marcão e Gomes apud Marcão defendem

que é imprescindível a prova técnica. (2011).

Por outro lado há os que defendem outros meios de prova para provar a

embriaguez ao volante como o STJ que em vários julgamentos já se posicionou nesse sentido:

Esta corte possui precedentes no sentido de que a ausência do exame de alcoolemia não induz à atipicidade do crime previsto no artigo 306 do CTB, desde que o estado de embriaguez possa ser aferido por outros elementos de prova em direitos admitidos, como na hipótese, em que, diante da recusa de fornecer a amostra de sangue para o exame pericial, o paciente foi submetido a exames clínicos que concluíram pelo seu estado de embriaguez. (BRASIL, STJ, 2010).

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Como foi observado existem posições divergentes em relação ao assunto. Nós, no

entanto coadunamos da opinião dos que defendem que a prova pericial é imprescindível na

maioria dos casos, sendo somente esta descartada na hipótese de recusa do cidadão abordado,

pois o teste de bafômetro também é uma garantia deste contra o arbítrio dos agentes do

Estado. Sendo assim, é de máxima importância o próximo subtítulo que iremos analisar, pois

somente com a obrigatoriedade do exame de bafômetro é que se poderá da maneira mais justa

responsabilizar quem comete tal conduta.

4.4 A CONSTITUCIONALIDADE DO EXAME DE BAFÔMETRO

Em primeiro lugar é necessário analisar o que vem a ser a constitucionalidade de

uma norma. Nos ensinamentos de Ferreira Filho (2011) uma norma é dita constitucional

quando esta é compatível com a CF, quando não afronta os valores por ela defendidos. Tal

resultado de compatibilidade deve ser extraído por se analisar a constituição como um todo, e

não apenas partes dela.

Mas como saber quando uma norma é inconstitucional ou não? Barroso (2008) ao

discorrer sobre o controle de constitucionalidade dispõe que o princípio da presunção de

constitucionalidade dos atos do Poder Público, notadamente das leis, é uma decorrência do

princípio geral da separação dos Poderes. E sendo assim funciona como fator de autolimitação

da atividade do Judiciário, que, em reverência à atuação dos demais Poderes, somente deve

invalidar lhes os atos diante de casos de inconstitucionalidade flagrante e incontestável.

Portanto, não há que se falar em inconstitucionalidade da norma se o Poder Judiciário não se

manifestou nesse sentido.

Como é de conhecimento das pessoas que estudam esse assunto, o STF ainda não

se posicionou a respeito da constitucionalidade ou inconstitucionalidade da norma. Tramita

em tal tribunal uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADIN) movida nada mais, nada

menos, pela Associação Brasileira de Bares e Restaurantes (ABRASEL). Tal associação,

sendo um pouco leviano de nossa parte, não nos parece, Data Venia, que esteja preocupada

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com a segurança de seus concidadãos, mas sim preocupada com o impacto financeiro que tal

lei possa causar em seus associados.

Também não podemos esquecer que tal conduta tipificada no artigo 306 do CTB

não discrimina ninguém. Ao contrário dos outros crimes que na maioria das vezes são

praticados pelas classes menos desprovidas, tal conduta é praticada por todas as classes

sociais e atingem também, por exemplo, juízes, policiais, advogados, deputados, ministros,

pessoas essas que não são acostumadas a ser processadas e muito menos gostam de ter o

perigo de tal possibilidade.

Dito isto, verificaremos a posição de alguns doutrinadores a respeito da

constitucionalidade ou não da norma, lembrando que o órgão que tem essa responsabilidade

ainda não se pronunciou.

Marcão (2011) é um dos doutrinadores que defendem a inconstitucionalidade da

obrigatoriedade do teste de bafômetro, pois conforme ele a obrigatoriedade desrespeitaria o

princípio da não produção de provas contra si mesmo. Relata também que tal obrigatoriedade

feriria o princípio da inocência e o da ampla defesa.

Nessa mesma linha de pensamento Sylvia Helena de Figueiredo Steiner apud

Marcão ensina que:

O direito ao silêncio, diz mais do que o direito de ficar calado. Os preceitos garantistas constitucional conduzem a certeza de que o acusado não pode ser, de qualquer forma, compelido a declarar contra si mesmo, ou colaborar para á colheita de provas que possam incriminá-lo. (2011, p.170).

De opinião contrária, o doutrinador Mirabete entende que a exigência de

submeter-se ao bafômetro, por ser decorrente de lei, não é inconstitucional. Ao contrário se

ajusta ao art. 5°, II, da CF. Aduz ainda que a CF só prevê o direito ao silêncio e não a regra

genérica do Nemo Tenetur se Detegere, que, levada a extremos, não permitiria sequer o

exame clínico.

Da mesma forma o procurador aposentado e professor de direito, Agamenon

Bento do Amaral (1998) ao rebater os argumentos dos que defendem a inconstitucionalidade

da obrigatoriedade do exame de bafômetro relatou que:

[...] certo segmento da doutrina nacional, até com suporte em disposições legais de códigos estrangeiros que, por sinal, nenhuma identidade têm com o nacional, tem

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apregoado que o uso obrigatório do referido aparelho estaria a ferir direitos fundamentais do indivíduo, consistente na idéia - até sedutora - de que ninguém é obrigado a fazer prova contra si mesmo e que a submissão do condutor ao referido exame do bafômetro conflitaria com o postulado constitucional do princípio do estado de inocência. A meu ver, nada mais falacioso e inconsistente. Em primeiro lugar, porque o uso do bafômetro pelas autoridades de trânsito e também se for o caso, pela polícia civil, está alicerçada em dispositivos legais autorizadores da providência então adotada e, em especial, está aquela obrigatoriedade alicerçada na própria Constituição Federal. Ora, segundo edita o art. 5º, II, da lei magna "ninguém será obrigado a fazer ou deixar de fazer alguma coisa senão em virtude de lei". Por outro lado, a alegação de ferimento ao princípio do estado de inocência do indivíduo, constitucionalmente assegurado, data venia, parece-me despropositada e até leviana, porque na verdade, tratando-se de procedimento com embasamento legal e instrutório de uma futura e eventual ação penal (instauração de inquérito policial), inexiste o princípio do contraditório, somente indispensável quando já deflagrada a ação penal correspondente. Ademais, por outro lado, tratando-se de prova indiciária preambular da ação penal, poderá o condutor que se submeteu ao teste do bafômetro, logo depois (isto é, quando estiver em seu estado normal) impugnar ou requerer providências para se aferir da precisão do aparelho ao qual se submeteu [sic].

Continua relatando também que aquele que desobedece a ordem de se submeter

ao exame de bafômetro além das sanções administrativas cumulativamente deve responder

pelo crime de Desobediência. Esta também é a opinião de Marrone (1998), que defende a

obrigatoriedade do exame de bafômetro e sendo assim os que não se submetem a ela devem

ser processados pelo crime de Desobediência.

Atualmente também vários bacharéis em direito tem se posicionado a favor da

obrigatoriedade do exame de bafômetro, talvez com a ânsia que alguns de nossos julgadores

mudem o seu jeito de pensar. Entre eles é oportuno citar o comentário de Oliveira (2008):

A busca da verdade real encontra, sem dúvida, limites decorrentes dos princípios constitucionais de proteção e garantia aos direitos individuais. Essa busca, logicamente, não pode aviltar a honra e a dignidade humana, o que não é o caso do exame do etilômetro para identificar o consumo de bebida alcoólica. O fato de comprovar que uma pessoa consumiu bebida alcoólica não irá macular sua honra ou torná-la indigna por isso. Afinal o consumo decorreu de manifestação de vontade daquele que consumiu.

Este também é o parecer da Advocacia Geral da União (2009), assinado por sua

advogada Maria de Lourdes de Oliveira em que na consulta jurídica dada ao departamento da

Policia Rodoviária Federal (PRF) se posicionou pela obrigatoriedade do etilômetro e

consequentemente sua constitucionalidade.

Do mesmo modo Almeida (2012) relata que:

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Não nos parece que é possível sacrificar o direito á vida e á integridade física de toda uma sociedade de condutores e de transeuntes para beneficiar o direito de não ser constrangido de um condutor que é suspeito de estar além dos limites alcoólicos versados na lei. Dito isto, parece que o argumento de inconstitucionalidade não se sustenta.

Outros operadores do direito defendem que o ato de soprar no bafômetro além de

estar resguardando princípios coletivos acima dos individuais, também não seria produção de

prova, pois o ato de dirigir é uma concessão do Estado e não um direito. Corroborando esta

afirmação o inspetor da PRF Castilho (2008) relatou que:

Na verdade, ninguém tem o direito de dirigir. As pessoas têm o direito de ir e vir, à vida, à propriedade, à manifestação intelectual, mas ninguém nasce com o direito de dirigir. As pessoas buscam do Estado uma permissão para dirigir, e essa permissão é um título temporário, precário e que pode ser cassado a qualquer momento. E quando esse título é cassado? No momento em que o motorista nega ou questiona os critérios utilizados para o oferecimento da permissão. Então a pessoa que se recusa a soprar o bafômetro está negando esses critérios.

Ressalta também que o ato de soprar o bafômetro, sempre que um condutor for

submetido à fiscalização ou quando envolvido em acidente de trânsito, “não significa

produção de prova contra si mesmo, mas um dever imposto pela concessão de dirigir”

afirma Castilho (2008). (grifo nosso).

Outro fator importante é que, àqueles que defendem a inconstitucionalidade da

obrigatoriedade do exame de bafômetro não mencionam o bem jurídico que esta sendo

mitigado em favor do direito individual. Nem poderiam, pois são sabedores de que a

supremacia do interesse público sempre prevalece sobre o particular. De pensamento oposto,

os que defendem a constitucionalidade da norma não se furtam de citar que há direitos

individuais que estão sendo mitigados, mas os fazem, por defender interesses muito maiores

que esses, que são: O direito à vida, à segurança entre outros respaldados pela supremacia do

interesse público.

Interesse público esse que é a finalidade da Administração Pública, a sua ratio.

Sobre esse princípio Di Pietro discorre que:

[...] esse princípio, também chamado de princípio da finalidade pública, está presente tanto no momento da elaboração da lei como no momento da sua execução em concreto pela administração pública. Ele inspira o legislador e vincula a autoridade administrativa em toda a sua atuação. ( 2005, p. 117).

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Assim, após analisar as opiniões divergentes a respeito do tema, tendo como

valores a defesa da vida, da dignidade da pessoa humana, da construção de uma sociedade

justa e democrática em que os direitos individuais se realizam no momento em que são

garantidos antes os coletivos, nos posicionamos favoráveis a corrente doutrinária que

considera a obrigatoriedade do exame de bafômetro uma ação de caráter evoluído, de extrema

necessidade, e de cunho legis: Constitucional.

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5 CONCLUSÃO

É evidente que o direito a um trânsito seguro, direito esse assegurado pela

constituição, passa antes pela qualidade de vida e respeito pelos direitos do próximo. Sendo

esses elementos base, e precípua para compor a efetiva dignidade da pessoa humana, um dos

fundamentos da República Federativa do Brasil, e característica primordial de uma sociedade

democrática.

Refletir novas formas para solucionar problemas de segurança pública no trânsito

é responsabilidade do cidadão, do jurista, do legislador, enfim de todos como foi visto no

trabalho ora apresentado. Ainda mais em nosso caótico trânsito brasileiro que mata muito

mais que guerras e, que a principal causa desta mortalidade é a embriaguez ao volante.

Nesse contexto, vimos neste trabalho que a condução de veiculo automotor é uma

das formas de exercício da cidadania e, sendo assim, deve ser usufruída pensando no bem de

todos. Portanto, de acordo com o estudado, onde foram demostradas às particularidades de

nosso trânsito, o direito individual não deve prevalecer sobre o direito coletivo.

Ainda, no decorrer deste trabalho, foram demonstradas as ferramentas jurídicas

para atingir esse fim, sendo que o Pacto de São José da Costa Rica também pode e deve ser

interpretado em beneficio da coletividade. É notório que quando a legislação é eficaz, por não

permitir que o cidadão se furte do seu dever de ser fiscalizado, o resultado é que a segurança

no trânsito aumente e as estatísticas reduzam em relação ao numero de mortes, como foi

demonstrado através da tabela do seguro DPVAT que consta neste trabalho. Nesta tabela pode

se verificar uma considerável redução no numero de mortes, exatamente quando a lei foi

implementada, tendo tais índices, voltado a crescer no momento em que as pessoas se

furtavam a realizar o teste popularmente conhecido como bafômetro.

Por isso, á exigência do cidadão se submeter ao teste de bafômetro, afastadas as

justificativas minoritárias e puramente egoísticas é necessária, de suma importância para o

respeito das normas de trânsito, podendo inclusive ser aliado do motorista responsável e não

lhe acarretar qualquer prejuízo, salvo se este infringir a norma. E, se este infringir a norma só

ira mudar a sua conduta a partir do momento em que o Estado lhe punir, pois a norma penal

não tem apenas caráter punitivo, mas também caráter ressocializador e preventivo, pois a

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partir do momento em que este for punido ou ter a certeza que ira se submeter ao teste de

bafômetro terá uma conduta mais prudente, de não dirigir após beber e assim não colocar em

risco a sua vida e a dos demais usuários do trânsito.

Logo, este trabalho foi direcionado a demonstrar que o teste de bafômetro além de

não causar prejuízo ao condutor e nem ferir a sua dignidade, auxilia na obtenção das

prerrogativas fundamentais de todas as pessoas. Esta plenamente em harmonia com os

princípios constitucionais, haja vista que o referido teste exige nada mais que um

comprometimento comum, ou seja, uma coparticipação do cidadão visando atingir o bem

comum. Desta união saem beneficiados o Estado, a coletividade e a supremacia da norma.

Há de se considerar ainda que a obrigatoriedade do teste de bafômetro vai ao

encontro dos objetivos da nossa constituição, onde a construção de uma sociedade justa e

democrática é prioridade, pois não há justiça nem democracia sem o comprometimento de

todos para o bem comum. Ao contrario, quando os interesses individuais são colocados acima

dos interesses coletivos, se cria um solo fértil para que á anarquia se instale em nossa

sociedade e a impunidade impere. Com certeza, não é este o desejo de qualquer cidadão de

bem, e também não é este o objetivo de nossa constituição.

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