a mÚsica erudita no centro cultural de belÉm · música erudita e analisar a interacção entre o...

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MARTA MORAIS ARAÚJO A MÚSICA ERUDITA NO CENTRO CULTURAL DE BELÉM PERSPECTIVA GERAL DE VINTE ANOS DE PROGRAMAÇÃO (1993 -2013) E ANÁLISE APROFUNDADA DE UM MANDATO (2006 2011) Orientadores: Professora Doutora Maria Teresa Mendes Flores Dr. Miguel Honrado Universidade Lusófona de Humanidades e Tecnologias Escola de Comunicação, Artes e Tecnologias de Informação Lisboa 2016

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  • MARTA MORAIS ARAJO

    A MSICA ERUDITA NO

    CENTRO CULTURAL DE BELM

    PERSPECTIVA GERAL DE VINTE ANOS DE

    PROGRAMAO (1993 -2013) E ANLISE APROFUNDADA

    DE UM MANDATO (2006 2011)

    Orientadores: Professora Doutora Maria Teresa Mendes Flores

    Dr. Miguel Honrado

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao

    Lisboa

    2016

  • MARTA MORAIS ARAJO

    A MSICA ERUDITA NO

    CENTRO CULTURAL DE BELM

    PERSPECTIVA GERAL DE VINTE ANOS DE

    PROGRAMAO (1993 -2013) E ANLISE

    APROFUNDADA DE UM MANDATO (2006 2011)

    Dissertao defendida em provas pblicas na

    Universidade Lusfona de Humanidades e

    Tecnologias no dia 07/09/2016, perante o

    jri, nomeado pelo Despacho de Nomeao

    n 222/2016 de 18 de Abril, com a seguinte

    composio:

    Presidente: Professor Doutor Victor Manuel

    Esteves Flores

    Arguente: Professora Doutora Cludia Maria

    Guerra Madeira

    Orientadora: Professora Doutora Maria

    Teresa Mendes Flores

    Este trabalho no adopta o Acordo

    Ortogrfico de 1990.

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao

    Lisboa

    2016

  • A arte diz o indizvel, exprime o

    inexprimvel, traduz o intraduzvel.

    Leonardo da Vinci

    No existe meio mais seguro

    para fugir do mundo do que a arte, e

    no h forma mais segura de se unir a

    ele do que a arte.

    Johann Wolfgang von Goethe

  • Aos meus Filhos, Vicente e Joana,

    por serem absolutamente maravilhosos:

    fonte permanente de afecto e de inspirao;

    minha Me, pedra basilar desde sempre;

    ao Marcos, companheiro de projectos e de

    afectos

  • Marta Morais Arajo A Msica Erudita no Centro Cultural de Belm

    Perspectiva Geral de Vinte Anos de Programao (1993 -2013)

    e Anlise Aprofundada de um Mandato (2006 2011)

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    Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao 7

    Agradecimentos

    Agradeo aos meus orientadores, Professora Doutora Teresa Mendes Flores e Dr.

    Miguel Honrado, por terem acreditado desde o incio na ideia desta investigao, bem como

    no decorrer de todo este processo, fornecendo preciosas indicaes aliadas a um entusiasmo e

    encorajamento que so essenciais a este empreendimento. Ao Professor Doutor Victor Flores,

    coordenador deste Mestrado e ao Professor Doutor Lus Cludio Ribeiro, por terem feito, logo

    na fase inicial, sugestes decisivas para a prossecuo desta investigao. No posso deixar de

    agradecer Odete Soares e Olga Germano, por terem dado o correcto acompanhamento ao

    nvel dos Servios Acadmicos.

    Um agradecimento muito especial Sofia Mntua, Coordenadora do Departamento

    de Comunicao do CCB, sem a qual no teria sido possvel avanar com esta investigao.

    Agradeo toda a sua disponibilidade, empenho e entusiasmo. Este agradecimento extensvel

    equipa do CCB: Paula Cardoso, Sofia Cardim, Madalena Frade e Isabel Roquette que

    sempre me acolheram com simpatia no CCB.

    A todos os meus entrevistados pela vivacidade e entusiasmo com que prestaram os

    seus preciosos depoimentos: Maria Jos Stock, Manuel Falco, Miguel Lobo Antunes,

    Antnio Mega Ferreira, Francisco Sassetti, Andr Cunha Leal, Antnio Pinho Vargas, Lusa

    Taveira, Miguel Leal Coelho, Rui Vieira Nery.

    s minhas amigas do Mestrado, Margarida Branco, Sandra Lusa Martins e Rita

    Matias, pela troca de ideias, pelo apoio mtuo e pelo esprito de solidariedade. Margarida

    Branco, pelo seu inestimvel apoio nesta fase final da dissertao. Vera Baeta e ao Daniel

    Branco. Ao Dr. Miguel Correia.

    minha querida famlia, um agradecimento muito especial: aos meus filhos Vicente

    e Joana Arajo Magalhes pela pacincia, compreenso e amor; minha me, Helena

    Guimares Morais, por todo o apoio que vem desde h muito tempo; ao Marcos Magalhes,

    pela sua dedicao e pelo seu apoio; ao meu pai, Manuel Augusto Arajo, ao meu irmo,

    Filipe Arajo, pelo seu apoio, extensvel minha cunhada Julia Kavka e s minhas sobrinhas

    Filomena e Helena Arajo.

    s minhas amigas, pelas suas palavras encorajadoras e portadoras de boa energia:

    Cludia Melo, Cludia Teixeira, Raquel Soares, Raquel Cravino e Susana Baeta.

    Ao Neil Young e ao seu lbum Harvest Moon, ao som do qual fui acompanhada

    durante as longas horas dedicadas dissertao.

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    Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao 9

    Abreviaturas ALC Andr Cunha Leal

    AMF Antnio Mega Ferreira

    APV Antnio Pinho Vargas

    CA - Conselho de Administrao

    CCB - Centro Cultural de Belm

    CEE - Comunidade Econmica Europeia

    CNB - Companhia Nacional de Bailado

    CPA - Centro de Peagogia e Animao

    DCRP - Direco de Comunicao e Relaes Pblicas

    FAMC-CB - Fundao de Arte Moderna e Contempornea - Coleco Berardo

    FCCB - Fundao Centro Cultural de Belm

    FEDER - Espao Fundo Europeu de Desenvolvimento Regional

    FFC - Fundo de Fomento Cultural

    FS Francisco Sassetti

    GA - Grande Auditrio

    GIECCCB - Gabinete de Instalao dos Equipamentos Culturais do Centro Cultural

    de Belm

    IPPAR - Instituto Portugus do Patrimnio Arquitectnico

    IPPC - Instituto Portugus do Patrimnio Cultural

    LT Lusa Taveira

    MC - Ministrio da Cultura

    MF Manuel Falco

    MJS Maria Jos Stock

    MLA Miguel Lobo Antunes

    MLC Miguel Leal Coelho

    MNE - Ministrio dos Negcios Estrangeiros

    MOP - Ministrio das Obras Pblicas

    OAC - Observatrio das Actividades Culturais

    OE - Oramento de Estado

    OML - Orquestra Metropolitana de Lisboa

    OSP - Orquestra Sinfnica Portuguesa

    PA - Pequeno Auditrio

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    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao 10

    PDM - Plano Director Municipal

    PIDDAC - Programa de Investimento e Desepesas de Desenvolvimento

    PS - Partido Socialista

    PSD - Partido Social Democrata

    QCA - Quadro Comunitrio de Apoio

    RDP - Radio Difuso Portuguesa

    RTP Radio Televiso Portuguesa

    RVN Rui Vieira Nery

    SE - Sala de Ensaio

    SEC - Secretaria de Estado da Cultura

    TNSC - Teatro Nacional So Carlos

    UE - Unio Europeia

    UNESCO - United Nations Educational, Scientific and Cultural Organization

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    Resumo

    Pode-se afirmar que o Centro Cultural de Belm, que comemorou 20 anos de

    actividade em 2013, tem vindo a consolidar-se como um dos principais plos culturais de

    Lisboa e do pas. A evoluo desta instituio veio a revelar-se um importante factor no

    desenvolvimento, em Portugal, de novas polticas de Gesto Cultural e que, portanto, merece

    ser constituda como objecto de estudo.

    Esta dissertao prope-se investigar a sua Programao, nomeadamente na rea da

    Msica Erudita e analisar a interaco entre o enquadramento poltico-econmico deste centro

    polivalente, por um lado, e programadores/gestores culturais, msicos e pblico, por outro.

    Recorrendo a um conjunto alargado de fontes das quais se destacam entrevistas a

    10 dos principais gestores/programadores culturais do CCB e uma base de dados dos

    espectculos de msica entre 2006 e 2011 - obtm-se uma imagem de uma instituio

    marcada por determinadas contingncias estruturais (arquitectura/localizao, financiamento,

    misso) e polticas mas que, por fora das circunstncias e da aco dos programadores, foi

    terreno privilegiado do desenvolvimento, na rea da Msica Erudita, dos msicos nacionais e

    suas estruturas graas a novas estratgias de apresentao e fruio e, tambm, de novas

    formas de interaco entre a instituio e os prprios artistas.

    PALAVRAS-CHAVE: Programao e Gesto Cultural Msica Erudita Centro

    Cultural de Belm Polticas Culturais

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    Abstract

    The Cultural Centre of Belm, that celebrated its 20th anniversary in 2013, is one of

    Portugal's and Lisbon's main cultural references. The evolution of this institution was an

    important factor in the development of new cultural management policies in Portugal and,

    therefore, deserves to be considered as a study field.

    The present dissertation aims to investigate its performative arts events, namely on

    the area of Classical Music, and analyse the interaction between this arts centre political and

    economical framework, on one side, and audiences, musicians and cultural managers, on the

    other.

    Gathering on a wide array of sources- specially on interviews of 10 CCB top cultural

    managers and a database of music shows presented between 2006 and 2011- this study puts

    forward a portrait of an institution with certain political and structural contingencies

    (architectural/location, funding, mission) that, due to circumstances and its cultural managers

    intentional action, managed to play an important role in the development of portuguese

    classical musicians and their structures. This was done thanks to the use on new presentation

    and fruition strategies and to new ways of interaction between the institution and the artists.

    KEYWORDS: Curating and Arts Management - Classical Music ; Cultural Centre

    of Belm - Cultural Policies;

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    ndice

    Agradecimentos ..................................................................................................................................................... 7

    Abreviaturas .......................................................................................................................................................... 9

    Resumo ................................................................................................................................................................. 11

    Abstract ................................................................................................................................................................ 13

    ndice .................................................................................................................................................................... 15

    Introduo ............................................................................................................................................................ 18

    1.1. Tema e Objecto de Estudo ......................................................................................................................... 18

    1.2. Breve Justificao do Objecto no Estado da Arte da Investigao na rea ............................................... 20

    1.3. Objectivos do Estudo ................................................................................................................................. 25

    1.3.1. Questes.............................................................................................................................................. 26

    1.4. Metodologia ............................................................................................................................................... 27

    1.5. Plano da Dissertao .................................................................................................................................. 30

    Captulo I: Reflexo Crtica do Objecto. Enquadramento Global do CCB ................................................... 35

    I.1 CCB e sua Contextualizao ........................................................................................................................ 35

    I.2. Pequeno Historial e Enquadramento Legal do CCB ................................................................................... 38

    1.3. Estatutos do CCB - Decretos-Lei ............................................................................................................... 40

    I.3.1. Um Olhar Sobre o Primeiro Decreto-Lei 361/91 ................................................................................ 43

    I.3.2. Um Olhar Sobre o Segundo Decreto-Lei 391/99 ................................................................................ 49

    1.4 Cronologia 20 Anos CCB: Definio e Caracterizao dos Vrios Perodos de Programao, Governo e

    Orgos Directivos ............................................................................................................................................. 53

    Captulo II: Conceito do Programador. Para uma Compreenso desta Profisso. Os Principais Rostos

    do CCB. ................................................................................................................................................................ 57

    II.1. Conceito de Programador .......................................................................................................................... 57

    II.2. Breve Relao dos Intervenientes .............................................................................................................. 70

    II.3. Perfil dos Programadores .......................................................................................................................... 72

    II.3.1.Maria Jos Stock ................................................................................................................................. 72

    II.3.2. Rui Vieira Nery .................................................................................................................................. 73

    II.3.3. Manuel Falco .................................................................................................................................... 75

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    II.3.4. Miguel Leal Coelho ........................................................................................................................... 77

    II.3.5. Miguel Lobo Antunes ........................................................................................................................ 80

    II.3.6. Antnio Pinho Vargas ........................................................................................................................ 82

    II.3.7. Filipe Mesquita de Oliveira ................................................................................................................ 90

    II.3.8. Francisco Motta Veiga ....................................................................................................................... 91

    II.3.8. Miguel Vaz ......................................................................................................................................... 91

    II.3.9. Augusta Moura Guedes ...................................................................................................................... 92

    II.3.10. Antnio Mega Ferreira ..................................................................................................................... 93

    II.3.11. Francisco Sassetti ............................................................................................................................. 97

    II.3.12. Lusa Taveira.................................................................................................................................... 98

    II.3.13. Vasco Navarro da Graa Moura ..................................................................................................... 101

    II.3.14. Andr Cunha Leal .......................................................................................................................... 102

    Captulo III: Estudo dos Vrios Perodos atravs da Voz dos Programadores e dos Documentos do CCB

    Definio e Caracterizao Crtica dos Vrios Perodos de Programao ................................................... 105

    III.1. Perodo de Arranque (1993 a 1995) - Maria Jos Stock ........................................................................ 105

    III.1.1.Caracterizao do Perodo com Base nas e Entrevistas (Maria Jos Stock, Rui Vieira Nery, Manuel

    Falco e Miguel Leal Coelho) .................................................................................................................... 105

    Adenda: ....................................................................................................................................................... 152

    III.1.2. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades e Programas de Actividades .................................. 153

    III.2.3.Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) ........................................................... 177

    III.2. Perodo de Estratgia e Consolidao (1996 a 2000) - Miguel Lobo Antunes ....................................... 179

    III.2.1. Caracterizao do Perodo com Base nas Entrevistas (Miguel Lobo Antunes, Antnio Pinho

    Vargas) ....................................................................................................................................................... 179

    III.2.2. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades ............................................................................... 214

    III.2.3. Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) .......................................................... 251

    III.3. Perodo de Instabilidade Governamental (2001 a 2005) Francisco Motta Veiga/ Miguel Vaz/ Augusta

    Moura Guedes. ................................................................................................................................................ 254

    III.3.1. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades e Recortes de Imprensa ......................................... 256

    III.3.2. Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) .......................................................... 278

    III.4. Perodo Casa de Msicas e de Maturao (2006 a 2011) Antnio Mega Ferreira .......................... 281

    III.4.1. Caracterizao do Perodo com Base nas Entrevistas (Antnio Mega Ferreira, Lusa Taveira,

    Francisco Sassetti e Miguel Leal Coelho) .................................................................................................. 281

    III.4.2. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades ............................................................................... 335

    III.4.3. Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) .......................................................... 394

    III.5. Perodo Valorizao do Patrimnio Nacional (2012 a 2014) Vasco Graa Moura ............................. 398

    III.5.1. Caracterizao do Perodo com Base nas Entrevistas (Andr Cunha Leal) e Recortes de Imprensa

    .................................................................................................................................................................... 398

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    III.5.2. Um Olhar Sobre os Relatrios de Actividades ............................................................................... 405

    III.5.3. Grfico-Resumo (Tipo de Espectculo e Tipo de Produo) .......................................................... 436

    III.6. Grfico 20 Anos Msica Geral............................................................................................................ 438

    Captulo IV: Anlise Aprofundada de um Perodo em Programao Musical entre 2006 e 2011 (Mega

    Ferreira) Atravs de uma Base de Dados. ....................................................................................................... 440

    4.1. Descrio e Discusso dos Campos da Base de Dados ............................................................................ 440

    4.2.Questes a Responder. Grficos/Tabelas. Respostas/Concluses ............................................................. 445

    Concluso ........................................................................................................................................................... 483

    Posfcio ............................................................................................................................................................... 495

    Bibliografia ........................................................................................................................................................ 502

    Anexos ..................................................................................................................................................................... i

    Anexo 1: Centro Cultural de Belm Vista Area ............................................................................................. ii

    Anexo 2: Centro Cultural de Belm Planta (Mdulos 1, 2 e 3)....................................................................... iii

    Anexo 3 Centro Cultural de Belm Planta (Mdulos 1, 2 e 3) ..................................................................... iv

    Anexo 4 Decreto Lei 361/91 ......................................................................................................................... v

    Anexo 5 Decreto Lei 391/99 ........................................................................................................................ xi

    Anexo 6 Capa de Programa de Actividade 2007 Dezembro/2008 Janeiro e Fevereiro................................ xvii

    Anexo 7 Capa de Programa de Actividade Setembro/Dezembro 2011 ....................................................... xviii

    Anexo 8 Capa de Programa de Actividade 2008 Maro/Maio ...................................................................... xix

    Anexo 9 Capa de Dossier da Temporada 2008/2009 ..................................................................................... xx

    Anexo 10 Capa de Dossier da Temporada 2009/2010 .................................................................................. xxi

    Anexo 11 Capa de Relatrio de Actividade e Contas .................................................................................. xxii

    Anexo 12 Planta Mdulo 1 Centro de Reunies ...................................................................................... xxiii

    Anexo 13 Planta Mdulo 2 Centro de Espectculos (Pequeno Auditrio e Grande Auditrio) ............... xxiv

    Anexo 14 Planta Mdulo 3 . Centro de Exposies ..................................................................................... xxv

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    Introduo

    1.1. Tema e Objecto de Estudo

    A presente dissertao debrua-se sob uma instituio central na vida cultural

    portuguesa dos ltimos anos, o Centro Cultural de Belm (CCB), e prope-se investigar

    alguns aspectos especficos da sua programao, nomeadamente na rea da Msica Erudita1

    contribuindo para o desenvolvimento do conhecimento e reflexo na rea da programao e

    gesto cultural.

    Pode-se afirmar que o CCB, que comemorou 20 anos de actividade cultural em 2013,

    tem vindo a consolidar-se de forma inequvoca como um dos principais plos culturais da

    cidade de Lisboa e do pas. A gnese e desenvolvimento desta instituio veio a revelar-se um

    importante factor no desenvolvimento, em Portugal, de novas polticas estatais no que toca

    concepo e gesto de equipamentos culturais. A concentrao num mesmo local de oferta

    polivalente de espectculos de vrios tipos, de exposies, de restaurantes e lojas, e de

    espaos que so utilizados para congressos e actividades comerciais, so caractersticas do

    CCB que, poca, apareceram como extremamente inovadoras. Neste espao de dimenses

    considerveis - que rapidamente se integrou num territrio de grande simbolismo na capital -

    tm-se desenvolvido grande quantidade de actividades e respondido a desafios prticos de

    gesto em que se envolveram mltiplos intervenientes. Trata-se, portanto, de um laboratrio

    1 Msica Erudita ou Msica Clssica uma etiqueta bastante utilizada no mercado discogrfico e do espectculo,

    apesar do termo poder suscitar algum questionamento no mbito da musicologia. A definio e classificao dos

    vrios gneros musicais uma problemtica complexa e sempre em aberto na discusso de vrios autores. No

    entanto, para o tipo de estudo que se est a realizar no necessrio questionar os rtulos, mas sim trabalhar com

    base naqueles que so apresentados pela instituio CCB.

    A Msica Erudita designa assim msica transmitida por meio de partituras, maioritariamente, composta por

    compositores e interpretada por msicos, cantores e instrumentistas formados em escolas de msica. Podem-se

    interpretar peas de toda a histria da msica ocidental, que abarca, desde os primeiros vestgios de notao

    musical (antiga Grcia, se quisermos ser precisos, mas habitualmente a partir do sc. IX d.c.) at aos nossos dias.

    Inclui portanto: canto gregoriano, primeiras polifonias, Ars Nova, msica renascentista, pera desde o seu

    nascimento, no incio do sc. XVII, at aos nossos dias, msica barroca, msica clssica, msica romntica,

    moderna e contempornea. Este tipo de msica costuma-se dividir em msica com instrumento solista, msica

    de cmara (desde duos a octetos) e msica orquestral, onde participam as orquestras que so instituies

    tradicionalmente presentes no mundo dito ocidental.

    Este gnero de msica pressupe, por parte dos executantes, uma formao especializada muito intensa de

    longos anos e, por parte do pblico, de alguma educao do gosto que possibilitem a fruio esttica das obras

    interpretadas.

    Ao contrrio da msica pop que constitui uma indstria comercial de grandes dimenses e em que uma parte

    importante da legitimao se quantifica pelas vendas de discos ou pela adeso de pblicos muito alargados, na

    Msica Erudita, tm estado em jogo, historicamente, outras formas de valorizao e de legitimao.

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    permanente de investigao prtica em questes de programao e gesto cultural que merece

    ser constitudo objecto de estudo por parte da investigao acadmica.

    Apesar da polivalncia desta instituio, importante registar o peso considervel

    que sempre tiveram as artes performativas (teatro, msica e dana) na programao oferecida

    com um particular nfase na msica que reconhecido de forma geral. Alm da programao

    musical produzida pelo prprio CCB, cedo se implementaram outros regimes de produo

    (co-produo, produo exterior) que possibilitaram diversificar o leque de espectculos

    oferecidos. Em todo o caso, a Msica Erudita teve, desde o incio, uma presena continuada

    na programao. esse, ento, o mbito do presente estudo a Msica Erudita - assim

    delimitando um campo de investigao passvel de ser aprofundado.

    , tambm, um tema que me caro devido minha formao e percurso profissional

    na rea da Msica Erudita. Se o interesse pessoal, como estudante de msica e arquitectura,

    me levou a contactar com as actividades do CCB ainda antes da sua abertura ao pblico em

    1993, tambm, mais tarde, j como msica profissional e gestora de um agrupamento (Os

    Msicos do Tejo) fui chamada a participar de forma activa nas suas actividades culturais em

    vrios espectculos musicais (concertos e peras).

    Em suma, o presente estudo visa aprofundar uma linha de investigao no campo da

    programao de espectculos e actividades no domnio da, denominada, Msica Erudita no

    espao temporal que decorre entre a abertura ao pblico em 1993 e o ano de 2013, data do seu

    vigsimo aniversrio.

    Trata-se de uma escolha conscientemente limitada a uma rea artstica, uma vez que

    o estudo vai incidir sobre um perodo extenso de duas dcadas. Acredito tambm que o estudo

    da programao musical pode vir a ser esclarecedor das complexas dinmicas implcitas na

    programao artstica desta instituio.

    Este estudo de caso visa analisar o papel dos vrios programadores envolvidos na

    programao musical do CCB e as suas condicionantes contextuais. proposto caracterizar os

    programadores e as programaes na rea da Msica Erudita no CCB e investigar as vrias

    condicionantes que determinaram o seu trabalho (alteraes governamentais, polticas

    culturais, condicionantes financeiras, alteraes nos estatutos das fundaes, entre outras).

    Contribuir para a identificao das tendncias da programao na rea da msica no CCB e

    compreender os contextos condicionantes da programao e do seu enquadramento nas

    polticas culturais pode servir como barmetro bastante fiel de questes maiores aplicveis a

    outros contextos dentro da poltica cultural em Portugal e ao trabalho do programador.

  • Marta Morais Arajo A Msica Erudita no Centro Cultural de Belm

    Perspectiva Geral de Vinte Anos de Programao (1993 -2013)

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    A programao cultural como actividade profissional que se integra no mundo da

    cultura algo recente e que, sob a designao de programador cultural, s aparece em

    Portugal nos anos 90. Nesse perodo inicial assiste-se ao crescimento da actividade na

    programao cultural e simultaneamente ao desenvolvimento do CCB e de outras instituies

    culturais igualmente financiadas pelo Estado (a Orquestra Sinfnica Portuguesa, a Orquestra

    Metropolitana de Lisboa) e ou por privados (Culturgest).

    O desenvolvimento destas actividades de programao cultural tem continuado at

    aos nossos dias. Este desenvolvimento tem sido objecto de alguma reflexo a nvel

    acadmico, no entanto praticamente nada ainda foi publicado especificamente sobre o CCB.

    O CCB, projectado pelo consrcio de arquitectos Vittorio Gregotti e Manuel

    Salgado/RISCO, foi idealizado no final dos anos 80 e construdo nos anos 90, na zona

    emblemtica de Belm (associada aos Descobrimentos e localizao da efmera Exposio

    Universal Portuguesa em 1940). Abriu as portas ao pblico em 1993, aps um ano de

    acolhimento da Presidncia Portuguesa da CEE em 1992, para cumprir o seu propsito inicial

    de se impor como um forte plo dinamizador de actividades culturais e de lazer.

    A escolha do CCB como objecto de estudo particularmente relevante, uma vez que

    uma instituio cultural criada de raiz com o objectivo de dotar o pas e sua capital de um

    novo equipamento cultural que potencie e difunda a criao artstica. Trata-se, portanto, de

    um marco de grande repercusso na cultura portuguesa, do final do Sculo XX. Pretende-se

    que o estudo subjacente a esta dissertao possa ser til, tanto num contexto acadmico como

    num contexto prtico da gesto de instituies culturais.

    Dentro do mbito alargado de actividades do CCB (Centro de Exposies, Centro de

    Espectculos e Centro de Reunies), este estudo incide sobre um campo artstico delimitado, a

    Msica Erudita. O perodo temporal em estudo, vinte anos, extenso e este o

    enquadramento geral, mas pretende-se, no seu interior, iluminar um espao onde seja

    possvel, e oportuno, desenvolver uma anlise mais fina e pormenorizada.

    seguro afirmar que o estudo da programao musical do CCB pode vir a ser

    esclarecedor das complexas dinmicas implcitas na programao artstica desta instituio.

    1.2. Breve Justificao do Objecto no Estado da Arte da

    Investigao na rea

    O aparecimento do conceito de programao cultural coincide com o

    desenvolvimento das polticas culturais organizadas pelos estados democrticos sob a gide

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    dos vrios ministrios da cultura e integrado nas vrias instituies do estado. Trata-se de um

    movimento global que define muito da nossa sociedade actual no campo da arte.

    No mbito portugus pode-se dizer que s a partir dos anos 90 ocorre uma

    institucionalizao/legitimao do conceito de programador, uma temtica que Cludia

    Madeira analisa em Os Novos Notveis: Os Programadores Culturais. A autora analisa o

    papel dos programadores culturais na configurao do contexto cultural portugus actual,

    tendo por base a seguinte definio de programador: intermedirio que faz a articulao entre

    o campo da produo e da recepo cultural, cruzando para o efeito as diferentes esferas

    sociais (cultura, econmica e poltica) e que tem como funo seleccionar sobre o conjunto da

    oferta os espectculos a apresentar no contexto da organizao de divulgao cultural que se

    inscreve (Madeira, 2002, p. 1). Madeira refere ainda que O programador cultural aparece

    como um agente novo, emergente de vrios percursos profissionais e a questo da

    programao transversal a todas as vertentes artsticas (Madeira, 2002, p. 2). Esta obra

    um contributo para o presente estudo porque estabelece os conceitos bsicos da problemtica

    da programao cultural e fornece dados genricos sobre a sua implantao em Portugal. O

    estudo da programao que faz mais focado na rea do teatro. De uma forma geral, aborda

    vrias instituies: CCB, Culturgest, Encontros ACARTE, entre outros Festivais. Uma

    investigao de referncia no presente caso em que se tenta, no entanto, atingir um outro grau

    de pormenor pela delimitao a uma s instituio e a uma s rea.

    No livro de Antnio Pinho Vargas Msica e Poder, para uma sociologia da ausncia

    da msica portuguesa no contexto europeu, encontra-se, no captulo XII, uma reflexo sobre

    os novos intermedirios culturais e as novas instituies, onde o autor aborda temticas

    directamente relacionadas com a programao cultural e seu desenvolvimento em Portugal.

    Ainda no mesmo captulo, no tem intitulado As novas instituies e suas consequncias,

    feita uma anlise sobre a programao artstica, em particular sobre a msica contempornea

    portuguesa, em algumas instituies portuguesas como o CCB, a Culturgest, a Gulbenkian e

    Casa da Msica. Esta anlise programao musical no CCB de grande contedo pelo facto

    de o autor ter estado muito ligado ao CCB, quer como compositor inserido na programao do

    CCB, quer como consultor na rea da msica desta mesma instituio. Todo este captulo

    um contributo incontornvel para a presente dissertao: alm da qualidade da reflexo sobre

    a programao musical, esta refere-se a contextos onde se incluem o CCB.

    Antnio Pinto Ribeiro apresenta em Questes Permanentes, um conjunto de

    ensaios de entre os quais se destacam Programar em nome de qu? Ainda do Humano?!,

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    onde questiona as possibilidades e as escolhas de um programador e Teatro & Arenas onde

    reflecte sobre os antagonismos culturais em Portugal, sobre a formao de um programador e

    sobre os pressupostos inerentes a esta actividade como sejam as ideologias, estticas,

    distribuio e regimes de circulao. Todas as temticas abordadas por Antnio Pinto Ribeiro,

    ainda que de forma emprica, so bastante relevantes para o tema e objecto de estudo.

    Na recolha Quatro ensaios boca de cena, para uma poltica teatral e da

    programao de Fernando Mora Ramos, Amrico Rodrigues, Jos Lus Ferreira e Manuel

    Portela com prefcio de Jos Gil, analisada a situao do teatro em Portugal, so abordadas

    as questes relativas programao e polticas culturais, no mbito do teatro. Este livro, ainda

    que no aborde o campo especfico da programao musical um importante documento na

    medida em que as reflexes feitas enquadram-se nas problemticas gerais deste tema. No

    entanto, as opinies veiculadas tm um fundamento de carcter mais emprico do que

    cientfico.

    No artigo de Claudino Ferreira, Intermediao Cultural e Grandes Eventos, Notas

    para um Programa de Investigao Sobre a Difuso das Culturas Urbanas deparamo-nos com

    uma reflexo pertinente sobre o tema do programador utilizando uma terminologia que alarga

    o mbito da sua actividade: o termo de Intermedirio Cultural.

    Ainda sobre programao, mas escrito no mbito do marketing das artes, o livro

    Marketing das Artes em Directo de Rita Curvelo, rene uma srie de entrevistas a alguns

    dos mais significativos programadores culturais, que nos permitem saber na primeira pessoa

    como foram escolhidas e fundamentadas as suas programaes. Salientam-se as entrevistas

    feitas a dois dos protagonistas da programao musical no CCB, Antnio Mega Ferreira e

    Miguel Lobo Antunes, respectivamente presidente/programador e vogal da

    administrao/director Artstico (e tambm a Giacomo Scalisi, da rea da programao de

    teatro e de novo circo no CCB). Encontram-se a depoimentos directamente relacionados com

    a presente investigao. Atravs deste testemunhos a autora enfatiza a necessidade de

    dilogo para que a cultura seja vista por todos como uma mais-valia (Curvelo, 2009, p. 43).

    No estudo de Ana Duarte, A satisfao do consumidor nas instituies culturais - O

    caso do Centro Cultural de Belm a autora faz uma anlise da percepo do consumidor do

    CCB e o seu grau de satisfao nesta instituio cultural. Apesar dos contedos incidirem

    sobre a prtica cultural no CCB e sobre os perfis scio-demogrficos do consumidor, no

    abordam directamente a questo da programao. Este documento d especial enfoque ao tipo

    de espectculos visionados no CCB e seu grau de afluncia e satisfao por parte do pblico.

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    O tipo de espectculos interessa presente investigao, mas a rea dos pblicos no ser

    aqui analisada.

    O livro Centro Cultural de Belm: o stio, a obra de Antnio Luiz Gomes fixa a

    histria do local onde se situa o CCB e toda a sua simbologia pela ligao ao perodo

    histrico dos Descobrimentos. uma perspectiva excessivamente laudatria, reflexo do

    esprito comemorativo que presidiu sua edio aquando a abertura do CCB para a

    presidncia da Unio europeia, e que no se enquadra no meu trabalho.

    Sobre o funcionamento geral das instituies culturais destacam-se os trabalhos de

    Ana Arajo, Centros Culturais Portugueses - Espaos vivos da cultura europeia? e de Maria

    Joo Centeno, As organizaes culturais e o espao pblico - A experincia da rede nacional

    de teatros e cineteatros.

    Ana Arajo faz uma anlise dos centros culturais portugueses (pequenos, mdios e

    grandes), incluindo o CCB, e uma pesquisa desenvolvida no sentido de proceder ao

    levantamento dos indicadores de caracterizao dos centros culturais portugueses, na vida

    cultural portuguesa e nas relaes com parceiros internacionais. (Arajo,1999, p. 39). feita

    uma anlise da programao de forma genrica, focando a dimenso financeira dos Centros

    Culturais Portugueses e a questo das redes culturais entendida como plataformas de troca de

    prticas culturais e artsticas na Europa. Toda a reflexo que faz sobre os programadores e a

    crtica falta de planeamento de produo e organizao de repertrios e criaes, a

    necessidade de investimento de qualidade na programao e na sua divulgao nacional e

    internacional, afigura-se como uma mais-valia para a presente investigao, apesar de referir

    muito vagamente a programao no CCB.

    Maria Joo Centeno, na sua pesquisa exaustiva, d enfoque relao que se

    estabelece entre as organizaes culturais e os seus pblicos, mais especificamente entre a

    rede nacional de teatros e cine-teatros e sua interaco na esfera pblica. Apesar deste tema

    no estar directamente relacionado com os centros culturais e com a programao, o facto de

    ser analisada a questo da organizao e funcionamento das organizaes culturais e da

    presena de um programador para desempenhar funes nas mesmas, o seu contributo

    inquestionvel para o presente estudo pois fornece pistas muito vlidas ao nvel da sociologia

    da cultura, programao e organizao institucional.

    Relativamente aos conceitos em torno da programao e do programador cultural, a

    dissertao de doutoramento de Eliana Lopes, Programao Cultural enquanto Exerccio de

    Poder, contm informao muito til sobre esta matria, sobretudo pela transversalidade feita

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    entre cultura, arte, poder, poltica e programao. sem dvida um excelente contributo para

    a presente dissertao, pelas pontes que estabelece entre o programador cultural e os diversos

    conceitos a ele ligados: Os conceitos de Cultura e Poder, na sua longa evoluo, deram

    origem ao programador cultural, cuja misso e tarefas foram desenvolvidas em Portugal nas

    ltimas dcadas.(Lopes, 2010) Para Eliana Lopes, A programao uma metfora do

    poder, cujas relaes de possibilidades vamos explorar no cruzamento com a cultura.(Lopes,

    2010)

    No que toca ao conhecimento da realidade portuguesa, uma das temticas em

    destaque no presente estudo so os temas relacionados com as polticas culturais, o livro As

    Polticas Culturais em Portugal, coordenado por Maria de Lourdes Lima dos Santos, um

    documento incontornvel que permite realizar o enquadramento poltico-cultural do pas.

    O trabalho de Rui Gomes, Vanda Loureno e Teresa Martinho, Entidades Culturais

    e Artsticas em Portugal, particularmente relevante uma vez tem como objecto de estudo as

    entidades culturais e artsticas em Portugal situadas em cada um dos sectores econmicos.

    apresentada uma caracterizao institucional das estruturas e interessa particularmente o

    captulo 3 - Terceiro Sector e mais especificamente o item 3.3 - Fundaes, uma vez que o

    CCB se insere neste enquadramento jurdico. Nas reflexes finais feita uma anlise sobre a

    intermediao cultural e a emergncia desta nova categoria profissional com informao

    muito credvel para o presente estudo, uma vez que baseada em dados estatsticos e

    analisada cientificamente.

    Mundos da Arte de Howard Becker tambm um livro de referncia na sociologia

    da cultura, ou como diz o autor, sociologia das profisses aplicada ao domnio das artes

    (Becker, 2010, p. 22). A sua contribuio para a teorizao das questes da arte

    extremamente fecunda pois trata-se uma investigao sociolgica das profisses implicadas

    no campo das artes e uma anlise focada na organizao social daquilo que o autor designa

    por mundos da arte, revelando a importncia de todos os domnios e protagonistas que

    circundam, integram e apoiam a criao e difuso de obras de arte. Para Becker todas as

    actividades relacionadas com a arte so parte integrante dos Mundos da arte. Na ptica de

    Becker todas as artes, tal como todas as actividades humanas, envolvem a naturalmente a

    cooperao de outrem. A arte, vista como rede de relaes, o resultado das actividades de

    todos aqueles cuja cooperao necessria para que a obra exista. O artista, o produtor, o

    programador, entre outros, fazem parte do Mundo das artes. O tema deste livro est

    directamente relacionado com o tema em estudo. Sendo o CCB um espao do Mundo das

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    Artes (Criao/Intermediao/Recepo), este livro afigura-se valioso quando se trata de

    pensar o funcionamento duma instituio como o CCB.

    1.3. Objectivos do Estudo

    Tomando em considerao toda a relevncia de que se reveste a deciso de construir

    o CCB, que, nas palavras de Nuno Grande conduziria criao do primeiro grande smbolo

    arquitectnico da Democracia portuguesa2, e a posterior repercusso que o desenvolvimento

    das suas actividades teve, deve-se concluir que estamos perante um terreno de investigao

    extremamente rico e especialmente propcio a mltiplas reflexes. Dada a minha rea de

    interesse a Msica Erudita ter uma presena constante e slida na programao do CCB, o

    principal objectivo deste estudo conseguir utilizar a riqueza de material que o

    funcionamento intensivo de uma instituio desta escala produz para lograr investigar

    questes de programao e gesto cultural de forma aprofundada.

    A programao da msica insere-se na programao geral do CCB - que inclui

    teatro, dana, exposies e outros eventos - no entanto, a profundidade do estudo ficaria

    comprometida se se tentasse dar conta de todas estas tendncias programticas.

    A escolha intencional e conscientemente limitada a uma rea artstica: trata-se de

    um caso de estudo que se pretende possa vir a ser revelador da complexidade de questes

    implcitas e explcitas no desenho programtico e no trabalho dos seus programadores.

    Apesar da coluna vertebral deste estudo ser a programao da msica, a programao

    nas diversas reas performativas ser resumidamente aflorada, quando se fizer a descrio da

    programao geral subjacente ao tema e para conhecer as intenes dos outros

    programadores. No se pretende estudar as circunstncias da programao musical erudita de

    uma forma isolada, como se esse contexto vivesse numa redoma. Pretende-se trazer para a

    reflexo questes polticas, sociais e outras que possam interagir no curso dos

    acontecimentos.

    O funcionamento de uma instituio como o CCB constitui-se como um sistema

    complexo que pressupe um conjunto alargado de aces de gesto e organizao divididas

    por vrios profissionais com diferentes competncias. Departamentos como sejam o de

    2 Texto de Nuno Grande (Arquitecto e Crtico de Arquitectura) a propsito da Exposio CCB Cidade Aberta

    (entre 20 de Junho 2014 e 5 Maro de 2015 no Centro de Reunies)

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    comunicao, manuteno, educativo, financeiro, entre outros, todos contribuem para a

    implementao do CCB no meio cultural portugus.

    No caso presente desta dissertao interessa-me estudar, em particular, a questo da

    programao artstica. Por programao artstica entendo as escolhas dos espectculos a

    apresentar ao pblico feitas por determinados agentes, os programadores, no seio de dadas

    instituies culturais.

    O programador cultural uma profisso recente que decorre da forma como se tem

    organizado a sociedade no que toca s instituies culturais. O seu aparecimento no tecido

    social cultural um sintoma de grandes transformaes e tambm um factor com particulares

    repercusses no devir da arte e na sua expresso social. Estas evolues recentes que esto a

    mudar o panorama artstico e cultural, estas novas formas de intermediao so fenmenos

    sociais ainda pouco estudados, sobretudo quando se trata de analisar os seus resultados.

    1.3.1. Questes

    Resumidamente, pretende-se analisar a programao da Msica Erudita ao longo

    destes 20 anos e perceber o papel que os programadores (presidente do CCB, vogal da

    administrao com o pelouro da cultura, director do centro de espectculos, assessores para a

    programao musical, consultores) desempenharam nesse desenho programtico. No

    negligenciando o papel que as polticas culturais tiveram, directa ou indirectamente, nessa

    rea. Importa ento decidir, dentro destes dois grandes objectivos iniciais, quais as questes a

    levantar.

    a) Caracterizar os programadores e as programaes na rea da Msica

    Erudita no CCB.

    Que ideias nortearam os programadores e quais as estratgias adoptadas?

    De que forma os vrios programadores conseguiram imprimir uma marca distintiva

    atravs da sua programao?

    Qual o papel dos programadores na credibilizao de uma instituio cultural como o

    CCB? E simultaneamente analisar como a existncia desta instituio contribuiu para

    a legitimao do papel dos programadores.

    De que forma que a programao se articula com outras instituies j existentes ou

    se diferencia?

    De que forma que as decises dos programadores influenciam o desenvolvimento

    dos artistas e produtores nacionais no campo da msica?

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    Como se caracteriza o percurso dos programadores?

    Qual foi a presena da Msica Erudita na programao, ao longo dos 20 anos e nos

    vrios mandatos?

    b) Traar a influncia das alteraes governamentais e de que modo as

    alteraes polticas culturais durante este perodo de tempo, afectaram a programao

    musical no CCB.

    Qual a influncia das alteraes governamentais e suas polticas culturais na

    programao musical do CCB?

    De que forma que a programao musical se articula com as variadas condicionantes

    no campo do financiamento do CCB?

    Como caracterizar a relao institucional entre instncias governamentais e o CCB ?

    possvel relacionar os ciclos polticos com os mandatos no CCB e respectiva

    programao?

    E, numa perspectiva mais abrangente e conclusiva:

    Qual a importncia do CCB como instituio cultural no contexto nacional ao longo

    dos 20 anos analisados?

    Como se poder perspectivar o seu futuro?

    1.4. Metodologia

    Para responder s questes enunciadas elaborou-se uma metodologia que a seguir se

    ir descrever.

    Em primeiro lugar, face s mesmas, impuseram-se determinadas perspectivas gerais:

    Caracterizar o enquadramento jurdico, poltico e de gesto que relevante para o

    contexto em causa.

    Caracterizar os programadores atravs da pesquisa dos percursos individuais,

    formao acadmica, dos conceitos de programao e das estratgias de programao.

    Caracterizar a programao do CCB atravs de um levantamento dos espectculos

    programados, da caracterizao desses espectculos (estilo musical, origem dos

    compositores, tipo de artista, nacionalidade do artista, grau de reconhecimento dos

    artistas, entre outros) e do teor da programao/produo (regime de produo do

    prprio CCB, co-produo entre o CCB e outra entidade ou produo exterior ou

    regime de aluguer de sala para concertos por parte de um produtor independente).

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    Neste sentido, desenhou-se uma metodologia com determinados procedimentos e

    seguindo determinadas linhas orientadoras. Uma metodologia com recurso a abordagens

    qualitativa e quantitativa.

    As fases principais na investigao foram: primeiro, conhecer o funcionamento do

    CCB em profundidade no que toca ao seu enquadramento jurdico, ao seu modelo de gesto,

    como foi a sua gnese e construo, entre outras informaes de carcter geral e conhecer os

    vrios tipos de actividades presentes neste espao polivalente, com especial enfoque nos

    espectculos na rea da msica; segundo, registar, de viva voz, a opinio dos principais

    intervenientes nas decises de programao de espectculos; terceiro, obter uma imagem

    muito precisa da programao no campo restrito da Msica Erudita num determinado perodo.

    A investigao da primeira fase fez-se com a anlise de:

    Documentos do CCB Programa de Actividades Mensal, Programa de Actividades

    Trimestral3, Programas de todos os eventos como Os Dias da Msica, Festa da

    Msica, Relatrios de Actividade e Contas4, Dossier de Temporadas de Msica.

    5

    Documentos diversos: textos nos Programas de Actividades, entrevistas de jornais,

    dissertaes, artigos sobre os programadores e programao, recortes de imprensa,

    livros.

    Documentos oficiais: Dirios da Repblica, Decretos-Lei, Estatutos da Fundao

    Descobertas (1991) e posteriormente da Fundao CCB (1999).

    A investigao da segunda fase fez-se partir de documentos elaborados

    propositadamente para a dissertao. Depois de criado um guio, foi efectuado, entre Julho de

    2014 e Dezembro de 2015, um conjunto de entrevistas no directivas ou entrevistas em

    profundidade (que somaram um total de aproximadamente 14 horas), aos diversos

    intervenientes, de forma directa ou indirecta, na programao na rea musical do CCB e que

    elucidaram sobre os critrios e conceitos subjacentes programao por eles desenhada, bem

    como a caracterizao do perfil dos prprios programadores (que nem sempre surgem com

    esta denominao)

    Os entrevistados foram Maria Jos Stock6 ( Directora do Gabinete de Instalao do

    Espao CCB (GIECCCB), Directora das Actividades Culturais e Vogal da Administrao

    3 Ver Anexo 6,7 e 8 Capa de Programas de Actividades Trimestral

    4 Ver Anexo 11 Capa de Relatrio de Actividade e Contas

    5 Ver Anexo 9 Capa do Dossier de Temporada

    6 Entrevista realizada presencialmente, no dia 28 de Janeiro de 2015

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    com os pelouros da cultura, comercial e de marketing), Manuel Falco7 (Director do Centro

    de Espectculos), Rui Vieira Nery8 (GIECCCB), Miguel Lobo Antunes

    9 (Vogal da

    Administrao com pelouro da cultura), Antnio Pinho Vargas10

    ( Assessor para a

    programao musical), Antnio Mega Ferreira11

    (Presidente da Fundao CCB), Miguel Leal

    Coelho12

    (Director do Centro de Espectculos e Vogal da Administrao com o pelouro da

    cultura), Lusa Taveira13

    (Assessora para a programao de dana e adjunta da programao),

    Francisco Sassetti 14

    (Assessor para a programao da Msica Erudita) e Andr Cunha Leal15

    (Assessor para a programao da Msica Erudita).

    Para a investigao da terceira fase, no campo da recolha de dados quantitativos,

    optou-se por elaborar uma base de dados dos espectculos musicais realizados no CCB

    durante um perodo especfico, entre 2006 e 2011, sob o mandato do Presidente de ento,

    Antnio Mega Ferreira, que se considerou ser particularmente representativo da programao

    da Msica Erudita. No se pretendeu valorizar ou desvalorizar qualquer um dos outros

    perodos. Mas, sendo este tipo de anlise muito detalhada e especfica, no seria exequvel

    faz-la, neste contexto da dissertao, para os 20 de anos de programao. Desta forma ser

    possvel caracterizar de forma detalhada a programao musical desse perodo, que

    corresponde a uma fase estvel e estruturada ao nvel da programao, permitindo uma

    anlise consistente sobre o conceito programtico subjacente.

    Nessa base de dados fez-se um levantamento de todos os espectculos musicais de

    todos os tipos (Jazz e improvisada, Msicas do Mundo e tradicional, Erudita contempornea,

    Erudita, Fado e outras) apesar de s nos interessar o campo da Msica Erudita. Isto justifica-

    se para que se possa percepcionar a posio da Msica Erudita comparativamente aos outros

    tipos de espectculos.

    Foram contemplados nesta base de dados, com 1320 entradas, os seguintes campos:

    Data, Dia da Semana, Ttulo do Espectculo, Tipo de Espectculo, Nome do Intrprete (1, 2 e

    3 ou Direco Musical), Consagrao do Grupo, Consagrao do Solista ou Maestro, Tipo de

    7 Entrevista realizada por escrito, no dia 19 de Maio de 2015

    8 Entrevista realizada presencialmente, no dia 27 de Maio de 2015

    9 Entrevista realizada presencialmente, no dia 10 de Julho de 2014

    10 Entrevista realizada presencialmente, no dia 7 de Novembro de 2014

    11 Entrevista realizada presencialmente, nos dias 29 de Julho e 5 de Agosto de 2014

    12 Entrevista realizada presencialmente, nos dias 26 e 29 de Setembro de 2014

    13 Entrevista realizada presencialmente, no dia 19 de Fevereiro de 2015

    14 Entrevista realizada por escrito, no dia 16 de Dezembro de 2014

    15 Entrevista realizada por escrito, no dia 1 de Dezembro de 2015

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    Intrprete, Nacionalidade, Tipo de Formao, Tipo de Instrumento, Msica de Cmara, Forma

    Musical, Compositor (1,2,3,4 e 5), Msica Erudita, Evento, Regime de Produo, Outro

    Produtor, Sala, Bilhete, Grau de Novidade, Governo, Organismo Cultura, Nome do Secretrio

    de Estado da Cultura ou Ministro da Cultura, Presidente do CCB, Administradores, Director

    do Centro de Espectculos.

    No seguimento, fizeram-se diversos grficos com informao retirada da base de

    dados para uma melhor compreenso da programao da Msica Erudita neste perodo

    espcio/temporal entre 2006 e 2011.

    Alm destas trs traves mestras da investigao, elaboraram-se, paralelamente,

    documentos de apoio que ajudam a melhor compreender vrias questes em anlise:

    Foi elaborada uma tabela cronlogica com o nome dos polticos, presidentes do CCB,

    vogais da administrao com o pelouro da cultura, directores do Centro de

    Espectculos e assessores para a programao musical implicados nos 20 anos do

    CCB.

    Foram feitos grficos sobre as tipologias de espectculos e respectivos regimes de

    produo para cada ano, entre 1993 e 2013.

    Foi feito um grfico com a evoluo da programao de Msica ao longo dos 20 anos

    em estudo.

    1.5. Plano da Dissertao

    Face recolha massiva de informao e a dimenso, tanto da instituio CCB, como

    do prprio objecto de estudo, foi necessrio tomar vrias decises sobre o desenho da

    dissertao.

    Essas decises foram tomadas tendo em conta certos princpios orientadores:

    Dar muita voz aos intervenientes.

    Dividir a informao em seces claramente definidas, procurando uma arrumao

    sistemtica e dando a possibilidade de uso desta dissertao como obra de consulta.

    Recolher, sintetizar e centralizar informao at aqui dispersa em vrias fontes.

    Com estes princpios em mente, avanou-se para a seguinte diviso dos captulos:

    Captulo I Reflexo crtica do objecto. Enquadramento global do CCB.

    O CCB um organismo complexo que cujo funcionamento convm conhecer antes

    de embarcar na investigao aprofundada da programao. Nesse sentido, procedeu-se, no

    incio deste captulo, tentativa de contextualizao do CCB no que toca sua histria e

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    gnese, em que mbito surgiu, tanto a nvel nacional como internacional e outras informaes

    que sejam teis, seu enquadramento legal, bem como a caracterizao do seu modelo de

    gesto atravs dos respectivos Decretos-Lei.

    Pretendeu-se resumir e explanar de forma sucinta e clara, atravs de uma cronologia

    que abrange os vinte anos (1993-2013), a caracterizao dos vrios perodos de programao,

    governo e rgos directivos. Para melhor visualizar esta cronologia fez-se um grfico.

    Captulo II - Perfil dos programadores/responsveis pela programao (com base nas

    entrevistas)

    No comeo deste captulo fez-se uma reflexo sobre o termo e o papel do

    programador em Portugal luz de alguma bibliografia especializada da rea (Madeira,

    Ferreira, Pinho Vargas).

    Seguidamente e para melhor compreender o discurso que cada um dos intervenientes

    entrevistados produz sobre a sua actividade em determinados perodos do CCB, julgou-se

    pertinente fazer uma caracterizao geral de cada um destes agentes, mencionando como se

    direccionaram para a programao cultural, qual o tipo de formao acadmica que tiveram,

    influncias familiares e sociais, entre outras informaes que se consideraram relevantes. Para

    esse efeito incluram-se perguntas a esse respeito no guio de entrevistas.

    Para uma informao mais completa, tambm se incluram informaes sobre alguns

    programadores que no foram entrevistados, mas que so mencionados ao longo da

    dissertao.

    No s esta informao pode ajudar a compreender o papel e percurso das pessoas

    em causa no CCB, como podem ser documentos importantes para melhor conhecer o percurso

    que leva certos profissionais para o mbito da gesto e programao cultural em Portugal.

    Os intervenientes cujo perfil traado neste captulo so (por ordem de entrada em

    funes no CCB) Maria Jos Stock, Rui Vieira Nery, Manuel Falco, Miguel Leal Coelho,

    Miguel Lobo Antunes, Antnio Pinho Vargas, Filipe Mesquita de Oliveira, Francisco Motta-

    Veiga, Miguel Vaz, Augusta Moura Guedes, Antnio Mega Ferreira, Francisco Sassetti, Lusa

    Taveira, Vasco Graa Moura e Andr Cunha Leal. No foi possvel ter acesso s biografias

    de Jos Ribeiro da Fonte e de Joo Ludovice e por esse motivo o perfil dos mesmos no surge

    neste captulo.

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    Captulo III Estudo dos vrios perodos atravs da voz dos programadores e

    dos documentos do CCB

    As entrevistas feitas aos intervenientes, um dos momentos mais importantes da

    investigao conducente a esta dissertao, acabaram por resultar num conjunto de

    documentos de grande valor histrico e documental. Na voz expressiva dos intervenientes

    sente-se pulsar a vida de uma instituio e as suas repercusses na vida cultural de um pas. A

    riqueza destes discursos so fontes histricas privilegiadas e nicas. Tendo em conta que, para

    muitos fenmenos culturais e sociais relevantes do passado, o investigador nem sempre

    dispe de relatos dos prprios intervenientes, no ser demais relembrar como valioso o

    relato contemporneo das prprias pessoas envolvidas.

    Nesse sentido, optou-se por fazer citaes longas e com uma interveno judiciosa e

    no excessivamente opinativa da presente autora. Ao fluxo discursivo dos intervenientes

    acrescentaram-se unicamente perspectivas e informaes que situassem melhor o discurso dos

    agentes, sem o cortar e enquadrar excessivamente, deixando essa perspectiva crtica para uma

    fase posterior da dissertao (captulo IV e concluso).

    Por outro lado tambm se desejou que a voz dos documentos oficiais fosse

    ouvida, tendo-se recorrido, para esse efeito, citao e sintetizao a partir dos principais

    documentos que ciclicamente eram produzidos pela direco do CCB, a saber, os relatrios de

    actividades e contas (publicados anualmente, para uso interno) e os programas de actividades

    usados na promoo da programao cultural (publicados trimestralmente em grandes

    tiragens).

    Daqui decorre que, tendo em conta os princpios referidos, se optou por organizar

    este captulo em torno de cinco seces correspondentes a grandes perodos de actividade do

    CCB e seus diferentes mandatos de Conselhos de Administrao (apesar de um dos perodos

    de maior instabilidade, o que medeia entre 2001 e 2005, se ter optado por aglutinar vrias

    constituies do Conselho de Administrao num s perodo).

    Cada uma dessas seces correspondente a cada um desses perodos - dividiu-se

    em trs sub-seces: uma primeira que toma como principal material de trabalho as

    entrevistas feitas aos principais intervenientes do perodo em causa (que falam sobre

    estratgias de produo e programao, a escolha das equipas, contexto poltico e financeiro),

    uma segunda que recolhe e sintetiza informao (dados quantificados sobre actividade

    culturais e comerciais, balano do ano anterior e perspectivas para o ano seguinte) a partir dos

    documentos oficiais produzidos nesse mesmo perodo, e uma terceira seco onde se

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    sintetiza informao sobre dois importantes factores na programao, tambm, desse perodo,

    a saber: a tipologia e tipo de produo de todos os espectculos em causa.

    No fim do captulo, com o intuito de apresentar uma imagem clara da evoluo da

    presena da Msica ao longo dos primeiros 20 anos da sua actividade, apresenta-se um

    quadro-resumo.

    Captulo IV Anlise aprofundada do perodo 2006 a 2011 atravs de base de

    dados

    Para um conhecimento aprofundado da actividade performativa no campo da Msica

    Erudita, optou-se nesta investigao pela construo de uma base de dados construda de raiz.

    Tambm para poder analisar as questes com outras ferramentas alm do discurso dos

    programadores e os documentos oficiais produzidos no CCB.

    Com 1320 entradas de todos os espectculos musicais (dos quais, 873 entradas,

    correspondem a espectculos de Msica Erudita) concretizados entre 2006 e 2011, e com

    diversos campos de preenchimento, esta base de dados permite compreender de uma forma

    detalhada diversos factores e caractersticas da programao musical neste perodo especfico.

    Depois de, num primeiro momento, se proceder descrio e discusso dos campos

    abordam-se seguidamente, vrias questes sobre a programao musical entre 2006 e 2011. A

    estas procurar-se- dar resposta atravs da anlise da base de dados, principalmente com a

    elaborao de vrios grficos e tabelas que permitem visualizar vrias tendncias e opes de

    forma quantificada e objectiva.

    Aps anlise aos Grficos e Tabelas, foi possvel retirar, a partir das respostas

    conseguidas, as principais concluses que tm de ser articuladas com todo o discurso dos

    programadores e informaes veiculadas em documentos oficiais do CCB.

    Concluso

    Na concluso pretendeu-se trazer resposta s questes levantadas na introduo

    apresentando a investigao de forma crtica e original e assim contribuir para a identificao

    das tendncias da programao na rea da msica no CCB e compreender os contextos da

    programao e do enquadramento das polticas culturais.

    Deve-se ressalvar que a presente investigao, ao debruar-se sobre um assunto to

    vasto, complexo e recente, pode no cobrir alguns detalhes.que possam ser considerados

    importantes.

    No entanto, pretendeu-se apresentar uma viso equilibrada e baseada em fontes

    fidedignas que cobrisse ao mximo todos os aspectos em causa.

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    Posfcio. Balano e perspectivas futuras na voz dos intervenientes

    Nesta seco final, registaram-se algumas respostas dadas pelos entrevistados a duas

    questes presentes no guio de entrevista: qual o balano feito sobre os 20 anos do CCB de

    uma forma geral e como se perspectiva o futuro desta instituio?

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    Captulo I: Reflexo Crtica do Objecto. Enquadramento

    Global do CCB O tema geral em que se insere este trabalho de vasta dimenso e de particular

    importncia nas sociedades democrticas actuais mais desenvolvidas e liga-se s questes da

    cultura e ao modo como esta organizada, gerida e dada fruio do pblico por escolhas

    polticas conscientes.

    A evoluo das sociedades europeias no ps-guerra caracteriza-se por uma

    interveno poltica do estado no campo da cultura. Paralelamente aos avanos na proteco

    social das populaes, do aumento do nvel educativo, o Estado assume-se como motor da

    democratizao do acesso cultura. Esse acesso facilitado pela criao de instituies

    pblicas como sejam museus, teatros nacionais, orquestras, companhias de bailado e centros

    culturais polivalentes. Tratava-se de trazer os cidados para a proximidade da alta cultura e da

    arte numa perspectiva democrtica.

    I.1 CCB e sua Contextualizao

    Em Portugal, o percurso foi sinuoso e acabou por se chegar a um modelo de

    interveno do Estado que, pelo menos no nvel terico, seguia o exemplo do que era comum

    na Europa.

    Mas de realar que o papel mais importante nessa modernizao comeou por ser

    preenchido por uma fundao privada: a Fundao Gulbenkian, que iniciou as suas

    actividades no mbito da cultura, ainda durante o Estado Novo.

    Entre 1933 at 1974, Portugal dominado pelo regime ditatorial salazarista, o Estado

    Novo. A aco cultural deste regime autoritrio baseada na propaganda, onde veiculada a

    ideologia do regime, nomeadamente por organismos como a Secretaria Nacional de

    Informao.

    A partir da revoluo de 25 de Abril de 1974 instaurada a democracia e iniciam-se

    mudanas significativas nos sectores poltico, econmico, social e cultural. As preocupaes

    com a generalizao da educao, do acesso cultura, comeam a influenciar as polticas

    culturais do regime democrtico. No entanto necessrio compreender, que neste estado

    transitrio, o atraso em que o pas estava, devido ditadura, colocou a cultura numa posio

    menos prioritria face aos problemas sociais, polticos e educativos de urgente resoluo.

    A partir de 1976, com o estabelecimento da Secretaria de Estado da Cultura,

    comeam a surgir novas medidas legislativas para a cultura. Os programas dos Governos que

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    se seguem, reforam a generalizao e descentralizao do acesso cultura, a salvaguarda do

    patrimnio e o incremento da participao cultural. O V Governo cria o Ministrio da

    Coordenao Cultural e da Cultura da Cincia, onde so explicitados os objectivos e a prpria

    orgnica da poltica cultural.

    Nos anos 80 a cultura passa a constituir um tema recorrente do discurso poltico.

    Com a perspectiva da adeso de Portugal Comunidade Econmica Europeia em 1986 h

    uma preocupao com a imagem de Portugal na Europa, com a identidade nacional e a

    valorizao da cultura portuguesa.

    Em 1983 com o IX Governo do Bloco Central (PS e PSD) criado o Ministrio da

    Cultura, mas que sofre de considerveis constrangimentos financeiros.

    Em 1986 Portugal entra na Comunidade Econmica Europeia e o financiamento

    europeu permite desenvolver as politicas culturais.

    Entre 1985 e 1995, Portugal foi governado por um executivo social-democrata, sob a

    liderana de Cavaco Silva (Governos X,XI e XII) e a cultura regressa ao estatuto de Secretaria

    de Estado. no X Governo que criada a Lei do Mecenato (Decreto-Lei n258/86) que visa

    promover o patrocnio particular e empresarial no apoio s arte e criao artstica, tendo

    como contrapartidas benefcios fiscais. Contudo a presena mecentica das empresas ou

    privados encontra-se mais nos projectos em que o Estado participa maioritariamente.

    Com efeito, no final dos anos 80 e incio de 90 so criadas, por iniciativa do Estado,

    algumas Fundaes. Ao abrigo da Lei do Mecenato as condies de apoio s entidades

    culturais tornam-se mais favorveis para as entidades privadas. A mesma lei prev que os

    donativos dados s Fundaes beneficiam automaticamente de abatimentos ao montante do

    rendimento colectvel para efeitos de liquidao do imposto desde que o Estado comparticipe

    em pelo menos 50% da sua dotao inicial. (Santos, 1998; p.274)

    neste contexto que surgem (entre 1989 e 1993) Fundaes como a Fundao de

    Serralves, Fundao Arpad-Sznes-Vieira da Silva e a Fundao das Descobertas

    (posteriormente, em 1999, denominada Fundao Centro Cultural de Belm), objecto de

    estudo da minha investigao.

    Em 1994 Lisboa Capital Europeia da Cultura e acolhe e programa diversos eventos

    culturais nacionais e internacionais de dimenso bastante considervel, colocando Lisboa no

    roteiro cultural europeu e os novos equipamentos culturais, como o CCB e a Culturgest

    (ambos criados no mesmo ano), acolhem numerosos eventos desta iniciativa.

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    Em 1995 toma posse o Governo socialista de Antnio Guterres e criado o

    Ministrio da Cultura, tendo como Ministro da Cultura Manuel Maria Carrilho, cuja premissa

    colocar a poltica no corao da cultura e criar novas medidas estratgicas para a cultura

    (Arte em rede, IA, DGArtes).

    Em 1998 Lisboa novamente palco de mais uma iniciativa de grandes dimenses

    culturais, a Expo'98 - Exposio Mundial ou Universal, com vrios eventos paralelos tais

    como o Festivais do Mergulho e o Festival dos 100 Dias e onde mais uma vez o CCB se

    insere como entidade acolhedora de espectculos.

    Todos estes mega-eventos, associados ao crescimento de equipamentos culturais e

    criao da chamada rede dos cine-teatros, so acontecimentos que vo criando a necessidade

    de novos agentes culturais que sirvam como intermedirios entre a esfera da criao e a esfera

    da recepo. Os profissionais que concebem a programao para esses equipamentos podem

    ser vistos ento como agentes que vm preencher novas necessidades mas ao mesmo tempo

    so os verdadeiros executores da poltica cultural e nesse sentido, as suas escolhas devem ser

    confrontadas com os objectivos declarados dessa mesma poltica.

    nesta perspectiva que considero da maior relevncia abordar este objecto de

    estudo.

    A poltica cultural um campo abrangente, de desideratos que, chega, mais cedo ou

    mais tarde, a uma determinada realizao. A sua concretizao decorre ento de escolhas e

    decises concretas. O primeiro-ministro nomeia um ministro da cultura que por sua vez

    nomeia o presidente do CCB que por sua vez escolhe determinados programadores ou

    assessores. portanto, depois no estudo do que se oramentou, do que se planeou, e do que se

    fez, na prtica, que se pode distinguir uma determinada poltica cultural ou a sua ausncia.

    Este funcionamento concreto do CCB serve ento como um barmetro bastante fiel de

    questes maiores aplicveis a outros contextos dentro da poltica cultural em Portugal. E, no

    caso especial deste estudo, o CCB tambm um exemplo do tabuleiro onde evolui o

    programador. Uma profisso recente, j importante em muitos pases, mas que ter as suas

    especificidades decorrentes de cada contexto local. Neste particular contexto do CCB, e na

    urgncia omnipresente de resolver questes prticas, podemos acompanhar toda uma

    evoluo do programador em Portugal.

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    I.2. Pequeno Historial e Enquadramento Legal do CCB

    Apesar de ser difcil encontrar nos documentos oficiais uma tal informao, so

    vrios os testemunhos (Maria Jos Stock e Sofia Mntua16

    ) que afirmam que Teresa Patrcio

    Gouveia e Antnio Lamas (quando estavam na Secretria de Estado da Cultura e no IPPC17

    ,

    respectivamente) tero estado na gnese da ideia do Centro Cultural de Belm. Em 1988

    lanado um concurso de ideias para a construo deste equipamento cultural com

    caractersticas nicas e que, at ento no existiam em Portugal. Durante o X Governo

    Constitucional, cujo Primeiro-Ministro era o social-democrata, Anbal Cavaco Silva,

    lanado um concurso de arquitectura para o projecto do CCB.

    No texto do arquitecto, Nuno Grande, pode-se ler, relativamente ao lanamento do

    concurso para o projecto arquitectnico do futuro CCB que O Estado portugus, atravs da

    Secretaria de Estado da Cultura e do Instituto Portugus do Patrimnio Cultural (IPPC),

    lanou o Concurso Pblico Internacional para o Centro Cultural de Belm (CCB), a construir

    no lado poente da Praa do Imprio, frente ao Tejo, num lugar ciclicamente mitificado na

    Histria de Lisboa. Num local que remete zona emblemtica de Belm, associada aos

    Descobrimentos e localizao da Exposio do Mundo Portugus realizada em 1940.

    Aps a revoluo do 25 de Abril de 1974 e com a perda do mercado colonial,

    Portugal mantinha uma grande dependncia externa. nesse contexto que o pas se aproxima

    do mercado europeu, fazendo o pedido de adeso em 1977, mas s em 1986 que esse pedido

    se concretiza, em simultneo com a Espanha, naquele que foi o terceiro alargamento do grupo

    europeu. A CEE faz parte do processo de formao do que hoje a Unio Europeia (UE), que

    teve na sua origem, a inteno de fomentar o progresso econmico, a liberdade e uma paz

    duradoura entre os estados vizinhos da Europa. Portugal assinou o tratado de adeso

    Comunidade Econmica Europeia (CEE), a 12 de Junho de 1985. O primeiro-ministro de

    ento, Mrio Soares, liderou a comitiva que formalizou, no Mosteiro dos Jernimos, a entrada

    do pas no projecto europeu. Portugal atravessava uma grave crise financeira, acentuada pela

    recesso da economia mundial.

    Para Nuno Grande, o facto de Portugal ter aderido CCE, foi importante para o

    conceito subjacente ao projecto do CCB e afirma que Esse gesto conduziria criao do

    primeiro grande smbolo arquitectnico da Democracia portuguesa, fruto de uma estabilidade

    16 Coordenadora do Departamento de Comunicao do CCB

    17 Instituto Portugus do Patrimnio Cultural (1980-1992)

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    poltica e financeira, garantidas, ento, pela recente integrao de Portugal na Comunidade

    Europeia (1986). A construo do CCB teve, na verdade, um duplo objectivo: criar a sede da

    primeira Presidncia Portuguesa da CEE, em 1992, e, aps esta, oferecer cidade um lugar de

    celebrao da cultura portuguesa, numa renovada relao de complementaridade com a

    criao artstica internacional.

    Uma vez concretizada e aprovada a ideia do projecto para a construo do CCB18

    e

    respectivos objectivos, lanado um concurso pblico para o projecto arquitectnico do

    futuro CCB. As valncias do edifcio eram: primeiro, o acolhimento da Presidncia

    Portuguesa da CCE, em 1992 e segundo, a abertura, em 1993, de um equipamento cujo

    objectivo seria a promoo da cultura, desenvolvendo a criao e a difuso em todas as suas

    especificidades, do teatro dana, da msica clssica ao jazz, da pera ao cinema, tendo

    tambm, como actividade complementar, um centro para a realizao de conferncias e

    reunies profissionais.

    O concurso internacional foi lanado pelo Instituto Portugus do Patrimnio Cultural

    (IPPC). Foram recolhidos quase sessenta projectos, dos quais seis foram convidados a

    desenvolver o ante-projecto. A proposta seleccionada foi a do consrcio do Arquitecto

    Vittorio Gregotti (Itlia) e do Arquitecto Manuel Salgado (Portugal) que previa a construo

    de cinco Mdulos: Centro de Reunies (Mdulo 1), Centro de Espectculos (Mdulo 2),

    Centro de Exposies (Mdulo 3), Zona Hoteleira e Equipamento Complementar19

    .

    Este projecto arquitectnico20

    constitudo por cinco Mdulos, dos quais s trs esto

    construdos, o Centro de Reunies, o Centro de Espectculos e o Centro de Exposies foi

    inaugurado em Janeiro de 1992, aquando a Presidncia Portuguesa da CEE.

    O Centro de Reunies21

    , primeiro mdulo, foi pensado para acolher, de forma

    privilegiada, congressos e reunies de qualquer natureza ou dimenso. A estrutura tambm

    18 Ver Anexo 1 CCB Vista Area

    19 Nuno Grande: Ao concurso annimo, lanado em 1988, compareceram 53 equipas de arquitectos, oriundos

    de 10 pases, cujas propostas espelhavam as diferentes tendncias presentes no debate ps-moderno, ento em

    curso na cultura arquitectnica europeia e americana. De entre estas, o jri seleccionou 6 finalistas para uma

    segunda fase do concurso, j sem anonimato: Vittorio Gregotti/RISCO; Gonalo Byrne; Manuel Tainha; Jean

    Tribel; Jean Pistre e, tambm, Renzo Piano (este ltimo acabaria por desistir no decorrer do processo).

    Como foi referido, a proposta seleccionada na altura e que constitui e o actual edifcio do Centro Cultural de

    Belm decorre do projecto vencedor desenhado pelo conjunto dos arquitectos Vittorio Gregotti e Manuel

    Salgado/RISCO. 20

    Ver Anexo 2 CCB Planta do CCB (Mdulos, 1, 2 e 3) 21

    Ver Anexo 12 Planta do Centro de Reunies

  • Marta Morais Arajo A Msica Erudita no Centro Cultural de Belm

    Perspectiva Geral de Vinte Anos de Programao (1993 -2013)

    e Anlise Aprofundada de um Mandato (2006 2011)

    Universidade Lusfona de Humanidades e Tecnologias

    Escola de Comunicao, Artes e Tecnologias de Informao 40

    alberga os servios gerais de funcionamento do CCB e servios comerciais (restaurantes e

    lojas).

    O Centro de Espectculos22

    , segundo mdulo, o epicentro da produo e

    apresentao de carcter artstico e cultural do CCB. So trs salas de diferentes dimenses

    equipadas para acolher diversos tipos de espectculos, desde o cinema pera, do bailado ao

    teatro ou qualquer gnero musical. O Grande Auditrio tem uma capacidade de 1429 lugares,

    o Pequeno Auditrio, uma lotao de 348 lugares e a Sala de Ensaio comporta 72 lugares.

    ainda nesta estrutura que se encontram as salas de apoio produo e preparao dos

    espectculos.

    O Centro de Exposies23

    , terceiro mdulo, composto por um conjunto qualificado