a música de câmara para violão

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DANILO BOGO

LEITURA MUSICAL AO VIOLO Um mtodo focado nas dificuldades de mudana de posies

Tema: A Msica de Cmara para Violo

Trabalho apresentado no I Simpsio Acadmico de Violo da Embap de 1 a 6 de outubro de 2007

LEITURA MUSICAL AO VIOLO: Um mtodo focado nas dificuldades de mudana de posies1 Danilo Bogo2

Resumo: O presente trabalho tem como objetivo principal fazer um apanhado geral sobre as formas de notao utilizada para o instrumento em sua histria e demonstrar como podemos melhorar a leitura musical ao violo atravs do estudo das posies no brao do instrumento. Ser apresentada para isto, a proposta de um mtodo que contemple o estudo de regies e posies no brao do instrumento. Mtodo este que no tem a pretenso de substituir os mtodos existentes, mas sim oferecer uma ferramenta de desenvolvimento de leitura no processo de aprendizagem do aluno.

Palavras-chave: Violo. Leitura. Posies. Didtica.

INTRODUO

Talvez pelo seu carter solitrio e intimista que provm do seu pouco som em relao aos instrumentos da orquestra, e pelo fato de que grande parte do repertrio para o instrumento composto de obras solo, a leitura musical ao violo muitas vezes deixada de lado nos mtodos para o instrumento. Isto apoiado pela infeliz idia de que se voc esta estudando uma pea sozinho, voc faz seu tempo, isto , no importa quantas vezes voc volta para ler um mesmo trecho. Porm, devido ao crescimento do seu uso como instrumento de cmara, seja em quartetos, duos, orquestra de violes e mesmo emTrabalho apresentado no I Simpsio Acadmico de Violo da Embap, de 1 a 6 de outubro de 2007. Danilo Bogo. Graduado em Violo pela Escola de Msica e Belas Artes do Paran, na classe do PRof. Luis Cludio Ribas Ferreira.2 1

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grandes orquestras este ultimo facilitado pelo uso de amplificao a questo da leitura ao violo tem se tornado chave na prtica de musica em conjunto. O presente trabalho tem como objetivo principal fazer um apanhado geral sobre as formas de notao utilizada para o instrumento em sua histria e demonstrar como podemos melhorar a leitura musical ao violo atravs do estudo das posies no brao do instrumento. Ser apresentada para isto, a proposta de um mtodo que contemple o estudo de regies e posies no brao do instrumento, mtodo este que no tem a pretenso de substituir os j existentes, mas oferece uma ferramenta de desenvolvimento de leitura no processo de aprendizagem do aluno.

CIFRA E TABLATURA

Existiam muitos motivos para a tablatura cair em desuso na segunda metade do sculo XVIII, entre eles: por um lado, a dificuldade desta notao para compositores no alaudistas; por lado, o hbito da leitura exclusiva da tablatura gerava nos alaudistas certa dificuldade com a notao mensural;3 o fato da tablatura representar uma posio, um local no brao do instrumento e no uma nota dificulta a leitura silenciosa ou o solfejo. Por outro lado, um 1 ou b sobre a segunda linha de uma tablatura representaria um d 3 (notado como d 4 na escrita para violo) na segunda corda. J um d 3 notado no pentagrama, pode ser encontrado em quatro lugares diferentes no violo (que no aconteceria no piano por exemplo). O que determina esta escolha : 1) as notas que devem soar ao mesmo tempo; 2) a proximidade das notas seguintes; e, 3) o timbre. Observa-se hoje em dia o uso muito freqente de cifras e tablaturas no uso do violo, principalmente na prtica de msica popular brasileira. incontestvel a praticidade de ambas escritas, porm, importante lembrar que isso s se sustenta pela facilidade de aceso a gravaes deste repertrio3

GROVES Dictionary of Music and Musicians, p. 836. Ver tambm: DUDEQUE, 1994, p. 53.

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(sendo impossvel em outros perodos na histria do violo), uma vez que na maioria dos casos, essas escritas no especificam o ritmo. Um sistema antigo bem prximo da nossa cifra o Sistema Alfabeto que apareceu pela primeira vez em 1606 no livro Nuova inventione dintavolatura per sonare il balletti sopra la chitarra spagnuola de Girolamo Montesardo.4 O sistema consiste em relacionar um determinado acorde na guitarra de cinco ordens5 (um antecessor do violo) a uma letra do alfabeto. Como o instrumento em questo tinha a mesma afinao do violo moderno excluindo-se a 6 corda, pode-se ler o grfico abaixo sendo a primeira linha a 5 corda e os nmeros as casas:

+ A B C D E F G H I K L M N O 2 2 3 0 0 0 2 3 2 0 2 0 2 0 2 3 0 0 0 2 2 2 1 2 0 0 1 3 1 3 0 1 0 3 0 2 0 1 0 1 1 0 1 3 3 2 3 1 3 2 3 0 3 2 2 3 1 0 1 3 1 1 3 4 3 3 1 1 1 4 1 0 0 3 3

P Q R 3 4 3 4 2 4

S 2 2 4 5 4

T 4 2 2 2 5

V X 4 4 2 2 2 2 4 4 3 2

Y 5 5 4 3 3

Z & Con Ron 3 5 5 5 3 4 3 1 2 1 2 2 4 5 3 3 3 5 6 5

1 3 [4] 1 2 [4] 1 2 2

O exemplo abaixo mostra como Montesardo organiza a escrita do alfabeto com o ritmo:45

DUDEQUE, p. 43. Cordas duplas.

4

No exemplo acima se percebe o no uso de formula de compasso, porm, as letras so agrupadas com separaes. As letras minsculas representam a metade do valor das letras maisculas. Sistemas de tablaturas para vrios instrumentos so observados na msica ocidental desde o incio do Sculo XIV.6 Com o surgimento da vihuela (o mais antigo instrumento que se possa relacionar com o violo) na Espanha no sculo XVI j se observava o uso da tablatura como a principal notao para este instrumento.7 Existiam dois tipos de tablatura: a francesa e a italiana. Estas diferenciavam basicamente em dois pontos: na tablatura francesa as linhas que representavam as cordas eram dispostas de cima para baixo da corda mais aguda para mais grave, isto , a primeira linha representava a primeira corda, a segunda linha a segunda corda e assim por diante. Na tablatura italiana acontecia o contrrio: a primeira linha representava a corda mais grave. O segundo ponto o uso de letras nas tablaturas francesas para representar as casas no brao do instrumento. Desta forma, a letra a representa corda solta, a letra b primeira casa, a letra c segunda casa e assim por diante. J na tablatura italiana observam-se nmeros, sendo: o nmero 0 corda solta,

6 7

GROVES Dictionary of Music and Musicians, Tablature. (arquivo eletrnico). DUDEQUE, 1994, p. 09.

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nmero 1 primeira casa, e etc. Em ambos os sistemas de tablaturas, o ritmo era notado logo acima das linhas como segue:

Tablatura francesa

Tablatura Italiana

Se fizermos um paralelo das tablaturas antigas com as tablaturas usadas na prtica de musica popular hoje por guitarristas e violonistas, veremos que aconteceu uma mistura dos dois sistemas: a primeira linha representa a primeira corda (tablatura francesa) e nmeros so usados para representar as casas (tablatura italiana). No geral, as tablaturas usadas na musica popular no trazem a indicao rtmica.

UM MTODO EM DESENVOLVIMENTO

fato que uma boa leitura comea com o conhecimento da escrita musical, isto , a familiaridade com padres rtmicos, meldicos e harmnicos. Mas fato tambm que a leitura ao violo dificultada pela mudana de posies. Tais dificuldades comeam a aparecer principalmente quando o

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violonista comea trabalhar com msica em grupo, pois nesta modalidade no h tempo para que cada participante resolva seu trecho de dificuldade especfica. Isto remete ao estudo direcionado de cada posio, um estudo que contemple esta especificidade. Mateo Carcassi (17921853) j atentava para dificuldade das posies das notas no brao do violo. No seu mtodo Mthode complte pour la guitare divise em trois parties no item Positions8

ele cita as principais posies (1,

4, 5, 7 e 9) e direciona estudo de escalas, arpejos e uma pequena pea para cada posio. Estas posies pr-estabelecidas como principais, partem das tonalidades que funcionam melhor para o instrumento e que por isso foram consagradas pelos compositores do seu perodo. Porm, o autor limita-se ao reconhecimento das notas nessas tonalidades excluindo desta forma algumas notas e posies no comuns no uso do instrumento em sua poca e em nenhum momento cita questes de leitura primeira vista.

REGIES O primeiro passo do mtodo ser proposto aqui fazer um mapeamento das notas no brao do violo, tentando dividi-lo em regies especficas e entendendo a dinmica irregular das notas. Entenda-se por regio o grupo formado por cada quatro casas no brao do instrumento, sendo que da 1 para 4 casa a primeira regio, da 5 para 6 a segunda regio, e assim por diante. Entendase por posio a casa onde se posiciona o dedo 1 (indicador da mo esquerda). Desta forma, uma mo na 3 posio estar abrangendo a 1 e a 2 regies, sendo que esta se posiciona da 3 a 6 casas. Seguindo esta linha de pensamento, primeiro se realizar o estudo de regies buscando uma melhor fixao das notas no brao do instrumento; depois se realizar o estudo de posio misturando diversas regies.

8

CARCASSI, 1836, pp. 46 a 53.

7

ESTUDOS DE LEITURA

O mtodo ser composto de uma srie de estudos de leitura direcionados a estudantes com nvel de leitura mediano. Com esses estudos, visa-se uma melhor compreenso da posio das notas no brao do instrumento, dividindo o brao em regies fixas e direcionando estudos para cada regio e posteriormente misturando regies. Desta forma, pretende-se trabalhar a maior quantidade de posies possveis no brao do instrumento. Segue abaixo dois exemplos de estudos de leitura para segunda regio:

Os dois exemplos acima mostram uma fase intermediria do mtodo. O que se pode observar no primeiro momento a facilitao rtmica para que o aluno se atente exclusivamente posio das notas nesta regio, deixando desta forma o trabalho rtmico para um momento posterior, por isso tambm o no uso de frmula de compasso; as barras de compasso serviro apenas para indicar a posio exata de uma possvel correo do professor. O que diferencia um exemplo do outro o uso de notas pulsadas ao mesmo tempo no segundo exemplo. Est dever ser uma prtica gradativa no mtodo. O que pode ser observado tambm uma escrita voltada para msica atonal, tentando desta forma, excluir uma leitura de padres presentes na msica tonal to conhecidos dos msicos, como por exemplo:

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Quando se v um acorde montado desta forma em uma msica na tonalidade de D Maior (ou em outras tonalidades onde comum este acorde) possivelmente um msico de experincia mediana no ler todas as notas, e sim, reconhecer este agrupamento como um D Maior e o executar na posio que lhe for mais familiar, mesmo que para isso algumas notas sejam trocadas.

SOLFEJO

A prtica de ensino de leitura prega que o solfejo um grande aliado no aprendizado, seja este com ou sem o apoio do instrumento musical. Este tipo de leitura tocando e falando (ou cantando) a nota mostrou-se muito vantajoso nesta investigao inicial. Uma leitura sem solfejo corre o risco de transformar a partitura em uma tablatura, isto , representar um local no brao do instrumento e no uma nota. O solfejo tocando faz a ligao entre nota escrita, sua posio no brao e o som da nota em questo. Outro problema sentido no uso do solfejo a no diferenciao das notas alteradas na pronncia, principalmente se tratando de musical atonal e sendo este solfejo aplicado ao violo.9

Uma alternativa o Alternate fully-

chromatic system um sistema de solfejo que diferencia as notas alteradas:

9

WIKIPEDIA, Solfege.

9

Note Name Solfege Name Pronunciation C C-sharp D-flat D D-sharp E-flat E F F-sharp G-flat G G-sharp A-flat A A-sharp B-flat B Do Di Ra Re Ri Ma Mi Fa Fi Sal Sol Sil L La Li As Si /do/ /di/ /r/ /re/ /ri/ /m/ /mi/ /f/ /fi/ /sl/ /sol/ /sil/ /le/ /l/ /li/ /sa/ /si/

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Porm algumas alteraes podem ser feitas para este sistema se adequar realidade brasileira: Nome da nota Db D D# Rb R R# Mib Mi Mi# Fb F F# Solb Sol Sol# Lb L L# Sib Si Si# Nome no Solfejo De D Du R R Ru Me Mi Mu Fe F Fu Sel Sol Sul Le L Lu Se Si Su

Optou-se por trocar a vogal i por u buscando desta forma fazer uma meno ao u do sustenido. E a vogal e (tambm uma meno ao e do bemol) para todos os bemis inclusive o r. Sendo r natural com som aberto (r), e r bemol com som fechado (r). importante salientar a importncia da diferenciao das notas acidentadas, pois a pratica de cantar um sol natural

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onde se esta tocando um sol sustenido, por exemplo, dificulta a memorizao da posio das notas no brao do instrumento.

CONCLUSO Estando longe de uma concluso definitiva esta investigao inicial deixa clara a importncia do estudo sistemtico das regies no brao do instrumento e a importncia do uso de um solfejo cromtico como apio memorizao das notas nessas regies. O uso do item Positions no mtodo do Carcassi

associado a um solfejo cromtico mostrou-se uma boa ferramenta para o incio de um trabalho de desenvolvimento de leitura, porm, revelou a necessidade de um mtodo especfico de leitura condizente com a realidade musical de nossa poca. A questo da amplificao que permite uma melhor interao do violo com outros instrumentos, e o crescente interesse por parte dos novos compositores por novos sons, isto , diferentes daqueles das orquestras tradicionais, tem proporcionado ao violo um bom status camerstico tanto de instrumento harmnico/meldico, como de efeito (percusso no corpo do instrumento ou outros rudos conseguidos das cordas). Considerando a realidade brasileira, onde poucos conseguem levar uma carreira solo, o violonista deve estar preparado para uma realidade que talvez no seja aquela de um banquinho, um violo.

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REFERNCIAS BIBLIOGRFICAS

Livros: CARCASSI, Mateo. Mthode complte pour la guitare divise em trois parties. Paris: 1836. DUDEQUE, Norton Eloy. Histria do Violo. Curitiba: Ed. da UFPR, 1994. _________. GROVES Dictionary of Music and Musicians. 5 ed., Editor: Eric Blom. Londres: MacMillan & CO. Ltd., 1954. PUJOL, Emilio. Escuela Razonada de La Aires: Ricordi Americana, 1956. Guitarra. Libro primero. Buenos

RICHMAN, Howard. Super Sight-Reading Secrets. Reseda: Sound Feelings Publishing, 1986.

Sites:SLOAN, John. An Introduction to Sight Reading. http://www.edmontonclassicalguitarsociety.org/art004.htm. Acesso em 6 de setembro de 2007. WIKIPEDIA, Eye movement in music reading. http://en.wikipedia.org/wiki/Eye_movement_in_music_reading. Acesso em 10 de maio de 2007. WIKIPEDIA. Sight reading. http://en.wikipedia.org/wiki/Sight_reading. Acesso em 5 de maio de 2007. WIKIPEDIA, Solfege. http://en.wikipedia.org/wiki/Solfege . Acesso em 6 de setembro de 2007. WIKIPEDIA, Tablature. http://en.wikipedia.org/wiki/Tablature#Lute_tablature. Acesso em 20 de maio de 2007.