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A MULTIDIMENSIONALIDADE DA PRÁTICA PEDAGÓGICA CONTEMPORANEA NOS DIFERENTES CAMPOS: O CURRÍCULO E A
DIDÁTICA DA EDUCAÇÃO MILITAR NO TOCANTINS
Damião Rocha - UFT1 Tomaz Filho - UFT2
RESUMO:A militarização da escola pública no Brasil se dissemina por meio da ideia de disciplina e rigor. Atualmente são 93 escolas que atendem mais de 20 mil estudantes, e um dos estados com maior número de escolas militares é Goiás. Até meados de 2015 esse Estado já tinha 26 colégios militares e o projeto é que sejam implantadas 24 novas escolas. A educação militar tem sua prática embasada em fundamentos conceituais da pedagogia prussiana liberal. O modelo prussiano defende a gratuidade e universalidade do ensino pautado na laicidade, e é influenciado pelas ideias iluministas e de seu conceito de disciplina e liberdade. Na educação militar do Tocantins os efeitos do prussianismo são observáveis na aplicação da disciplina, organização didática, manutenção do poder hierárquico. O trabalho tem como OBJETIVOa compreensão da influência da educação prussiana liberal no currículo da escola militar do Tocantins. METODOLOGIA: A partir do conceito de disciplina prussiana liberal analisamos o PPCdo colégio militar do Tocantins.Trata-se de uma pesquisa documental e qualitativa em andamento no PPGE/UFT. RESULTADOS:Discutimos o currículo do colégio militar do Tocantins e sua modelagem centrada na disciplina prussiana liberal, como forma de desvelamento dos interesses atuais de pais e educadores nesse campo da educação contemporânea. CONCLUSÃO:Estudar a didática de uma instituição perpassa pelo entendimento da multidimensionalidade da prática pedagógica contemporânea, assim como pesquisar currículo e seus fundamentos teórico-analíticos (currículo para além da sua dimensão técnica “o que” e o “como” ensinar: objetivos, conteúdos, metodologia, avaliação), requer investigar que a implementação do currículo escolar da educação básica como mecanismo de organização da aprendizagem e das práticas formativas de crianças, jovens, adultos e velhos, é um artefato cultural, político e de poder e,portanto, (in)formador e/ou (de)formativo de posturas e práticas:“diferentes currículos produzem diferentes pessoas, mas naturalmente essas diferenças não são meras diferenças individuais, mas diferenças sociais, ligadas à classe, à raça, à orientação sexual, ao gênero”.
Palavras-chave: Educação militar; Currículo da educação básica;Pedagogia prussiana liberal.
INTRODUÇÃO
No Brasil, o modelo militar de educação é pautado no regime disciplinar, onde a
base do agir são as regras presentes em cânones da rígida hierarquia, as reprimendas às
más ações e a premiação dos bons costumes.
1 Doutor em Educação pela UFBA, Mestre em Educação pela UFG. Docente e Pesquisador do PPGE/UFT. Líder do grupo de pesquisa plataforma lattes CNPq sobre Currículo. email: [email protected] 2 Aluno especial do PPGE/UFT. Especialista em Filosofia e Ensino de Filosofia pelo Centro Universitário Claretiano. Licenciado em Filosofia pelo Instituto de Estudos Superiores do Maranhão.email:[email protected].
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Em um cenário não disposto às práticas democráticas, estados como a Bahia e
Minas Gerais, também implantaram, colégios dirigidos por policiais. Atualmente são 12
as escolas militares baianas e 22 as mineiras. No Tocantins, temos 2 colégios, com
previsão de implantação, pelo governo estadual, de no mínimo 6 colégios militares.
Observa-se nessas escolas que além da disciplina rígida, o processo seletivo
concorrido, também é difícil. Com exceção dos filhos de militares, que na maioria dos casos,
que têm vaga garantida, os filhos da população civil têm que passarem por testes seletivos. A
média de concorrência tem sido de 70 candidatos por vaga.
O ranking do Ideb tem produzido notícias do tipo: “das 30 melhores escolas públicas
do país, 10 são militares.A escola com maior nota em Goiás aposta na disciplina. Os
estudantes precisam estar devidamente uniformizados e passam pelos olhos atentos de uma
policial militar”.
Conforme o noticiário, em Manaus a escola da Polícia Militar foi a melhor do
Amazonas. As instituições ligadas ao Exército Brasileiro são apresentadas como as de bom
desempenho na prova que avalia o Ensino Fundamental.
Observando-se os números, temos dados do tipo: “três colégios militares ficaram
entre os 10 melhores, do sexto ao nono ano.Curitiba foi um dos destaques, com nota 7.
Salvador e Belo Horizonte conseguiram 7,2”.
Em meio a essa publicidade dos colégios militares, as pesquisas educacionais
têm demonstrado que esse modelo disciplinar segue a tradição prussiana,com fins
utilitaristas disciplinarese de cunho liberal.
A educação prussiana é liberal. Considerando que um currículo é trajetória,
percurso, texto, discurso, é relação de poder, forja identidades, o trabalho põe em
debate: quais as influências teórico-conceituais da disciplina prussiana liberal no
currículo da educação militar do Tocantins?
MATERIAL E METODOLOGIA
O trabalho tem como referência a pesquisa bibliográfica, a qual proporciona a
análise crítica da gênese histórica e conceitual da disciplina prussiana liberal e sua
relação com a educação militar no Tocantins.
A partir da noção de uma educação pautada na gratuidade e universalidade com
fins disciplinares estatais, trabalhamos com a análise documental do Projeto Político
Curricular do colégio militar do Tocantins, que é nosso objeto de pesquisa. Pesquisa
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qualitativa: não mesurável, mas analisável, discutível, passível de criticidade e,
portanto, interpretacionista.
A análise do currículo do colégio militar possibilita entender esse campo da
educação na atualidade, procurando analisar o porquê do retorno à certas práticas de
ensino já discutidas, analisadas, criticadas, em outros momentos da história da educação
brasileira.
RESULTADOS E DISCUSSÕES
As escolas militares no Brasil tiveram início em 1889 através do Decreto 10.202,
que instituiu o Imperial Colégio Militar, hoje denominado Colégio Militar do Rio de
Janeiro.Inicialmente, estas instituições de ensino eram responsáveis por preparar jovens
brasileiros natos para a formação militar, que eram inseridos em um sistema disciplinar
rígido. Somente cem anos após sua criação é que os colégios militares passaram a
aceitar jovens do sexo feminino.
Atualmente, o sistema Colégio Militardo Brasil é composto pela Fundação
Osório e por doze colégios militares: CM de Belo Horizonte, CM de Brasília, CM de
Campo Grande, CM de Curitiba, CM de Fortaleza, CM de Juiz de Fora, CM de Manaus,
CM de Porto Alegre, CM de Salvador, CM de Santa Maria, CM do Recife e CM do Rio
de Janeiro (WIKIPEDIA, 2014).
O currículo e a didática da educação militar têm seus fundamentos na disciplina
prussiana liberal. Esta última é criadapara fins servis estatais, como o próprio nome já o
diz, nasce na Prússia no século XVIII por ordem de Frederico I que em “1717, ordenou
a frequência obrigatória de todas as crianças nas escolas estatais e, em atos posteriores,
seguiu com a disposição para a construção de mais escolas”. (ROTHBARD, 2013, p34).
Outro fator na implantação e generalização da educação prussiana, é que estava
em voga “o renascimento e a grande expansão do exército, em particular a instituição do
serviço compulsório militar universal”.(ROTHBARD, 2013,p 35).
O militarismo não só colabora para que a disciplina prussiana seja modelo
educacional com fins militares, mas a faz militarista à medida que educa por meio da
disciplina externa. Na educação prussiana liberal há uma tendência ao tecnicismo e o
cientificismo, dando seguimento à estrutura da educação militar que padroniza valores a
serviço da competitividade.
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Para que aconteça a padronização é preciso estabelecer a disciplina que no
contexto iluminista é:“procurar impedir que a animalidade prejudique a humanidade,
tanto no homem individual como no social”(Kant, 2012, p 19).
O esforço de universalização no campo educacional decorrente da pedagogia
prussiana, encontra identificação com o desejo militar de disciplina, ambiente favorável
criado pela massificação da indústria do século XVIII. A partir disso se dissemina pelo
mundo o modelo militar de educação.
A base da educação militar no Tocantins: sua didática e currículosegue o modelo
do regimento disciplinar dos militares, pautada pela obediência hierárquica: “ordenação
da autoridade em níveis diferenciados, dentro da estrutura da respectiva
Corporação”.(TOCANTINS, Decreto nº 4.994 de 2014, art. 3º, & IV).
O modelo de currículo disciplinar marcado por uma seriação de conteúdo, de
forma aditiva, organizado num conjunto de disciplinas justapostas numa grade
curricular de um curso, têm tido implicações pedagógicas diversas, e deixado marcações
nada opcionais nos percursos formativos.
A didática militarista é contraditória, pois usao conceito filosófico de disciplina
para justificar a aplicação de um cânone disciplinarheterodisciplinar, imposta do
exterior, que contraria a concepção de disciplina construída, aceita livre e
conscientemente pelos alunos: a autodisciplina.
CONCLUSÕES
As justificativas filosóficas para a disciplina prussiana liberal são
demasiadamente paradoxais. As próprias teorias iluministas são desvencilhadas de seus
contextos e a complexidade da relação entre disciplina e liberdade perdem sentido
teórico, quando entendidas em uma didática pautada na hierarquia.
A autoridade do professor reproduzindo a hierarquia militar desenvolve a
desigualdade na relação professor e aluno, tornando o professor um informador,
controlador e classificador do produto final do aprendizado do aluno.
A aprendizagem visaa produtividade mecânica: quem obtém as melhores notas,
comporta-se e é bem disciplinado, aprende. Caso contrário, aplicam-se as sanções
punitivas.Osalunos, nesse modelo, são obrigados a seguir a norma jurídica de “delação
premiada”, corroborando assim para a formação estandardizada de tipos diversos de
alunos: aluno“bom” ou aluno “mal”.
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Para os professores, o currículo do colégio militar lhe oportuniza a estabilidade
de uma didática do “assistir aulas”, com procedimentos de ensino-aprendizagem
individualizantes (aula expositiva dogmática, estudo dirigido ...), com pouca
possibilidade de práticas de ensino sócio individualizantes (método da descoberta,
solução de problemas, de projetos ...) e uma perspectiva do apreender: “produzir aulas”,
numa relação com o saber.
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