a mulher do sertÃo: forÇa que vem da terra

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Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Ano 8 • nº1504 Abril/2014 Chapada do Norte A MULHER DO SERTÃO: FORÇA QUE VEM DA TERRA “Gosto de morar no campo porque a gente tem mais liberdade, fica mais à vontade. Amanhece o dia e você sabe pra onde vai. Mexe com uma planta, mexe com uma rocinha, uma criação. E na cidade é aquela rotina, você fica parado demais.” Ana Maria Botelho Alves, 44 anos de lida na roça como ela gosta de dizer, moradora da Comunidade Cuba, região Quilombola no município de Chapada do Norte, Vale do Jequitinhonha– MG. Mãe de cinco filhas, sendo duas casadas, durante a maior parte do ano, Dona Ana Maria cuida sozinha das três filhas adolescentes: Tamires (14), Heloá (12) e Daiana (10), enquanto o marido Darnésio Alves da Rocha trabalha no corte de cana-de-açúcar em São Paulo. Além dos afazeres domésticos dona Ana ainda acha tempo para cuidar da sua grande paixão: a horta no quintal da casa. “Eu sempre gostei muito de mexer com horta. A minha horta é quase de um tudo um pouco, mas sempre tem mais alface e couve”, conta bem feliz dona Ana. Nem é preciso um olhar atento para você encontrar variedades de hortaliças, quiabos e até ramas de abóbora em sua horta, sem falar no cheiro gostoso de terra molhada que sai dos canteiros, todos muito bem cuidados. Dona Ana acorda bem cedo e das 6 horas às 9 horas da manhã e também no final da tarde, com a ajuda das filhas fica por conta dos cuidados com a tão querida horta. Ela cumpre esse ritual há mais de sete anos por gostar muito de lidar com a terra, pois sabe que é dali que sai o sustento de sua família. Dona Ana dedica parte do seu tempo para o plantio na lavoura onde cultiva milho, manaíba e feijão e com a chegada das mudas frutíferas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) desenvolvido pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais o trabalho na roça aumentou. Mas é da sua horta que ela mais gosta e se orgulha em dizer: “O trabalho na lavoura nem sempre dá o que a horta oferece, porque na horta sempre tem alguma coisinha. E eu só não mexia mais com a hortinha porque a água não ajudava, era pouca, mas depois dessa caixa de 52 mil litros que já pegou muita água, eu não reclamo de nada” conta dona Ana. Dona Ana: mulher forte A paixão de dona Ana: a horta

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Dona Ana Maria Botelho, da Comunidade Cuba, região quilombola de Chapada do Norte, Vale do Jequitinhonha, relata a sua experiência de convivência com o Semiárido e como utiliza a cisterna-calçadão do P1+2 para trabalhar o seu quintal produtivo, dando destaque a sua grande paixão: a horta. Arrimo de família, ela fala do seu amor pela terra e dos desafios de criar sozinha, suas três filhas enquanto o esposo trabalha no corte de cana-de-açúcar.

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Page 1: A MULHER DO SERTÃO: FORÇA QUE VEM DA TERRA

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas

Ano 8 • nº1504

Abril/2014

Chapada do Norte

A MULHER DO SERTÃO: FORÇA QUE VEM DA TERRA

“Gosto de morar no campo porque a gente tem mais liberdade, fica mais à vontade. Amanhece o dia e você sabe pra onde vai. Mexe com uma planta, mexe com uma rocinha, uma criação. E na cidade é aquela rotina, você fica parado demais.”

Ana Maria Botelho Alves, 44 anos de lida na roça como ela gosta de dizer, moradora da Comunidade Cuba, região Quilombola no município de Chapada do Norte, Vale do Jequitinhonha– MG.

Mãe de cinco filhas, sendo duas casadas, durante a maior parte do ano, Dona Ana Maria cuida sozinha das três filhas adolescentes: Tamires (14), Heloá (12) e Daiana (10), enquanto o marido Darnésio Alves da Rocha trabalha no corte de cana-de-açúcar em São Paulo. Além dos afazeres domésticos dona Ana ainda acha tempo para cuidar da sua grande paixão: a horta no quintal da casa. “Eu sempre gostei muito de mexer com horta. A minha horta é quase de um tudo um pouco, mas sempre tem mais alface e couve”, conta bem feliz dona Ana.

Nem é preciso um olhar atento para você encontrar variedades de hortaliças, quiabos e até ramas de abóbora em sua horta, sem falar no cheiro gostoso de terra molhada que sai dos canteiros, todos muito bem cuidados. Dona Ana acorda bem cedo e das 6 horas às 9 horas da manhã e também no final da tarde, com a ajuda das filhas fica por conta dos cuidados com a tão querida horta. Ela cumpre esse ritual há mais de sete anos por gostar muito de lidar com a terra, pois sabe que é dali que sai o sustento de sua família.

Dona Ana dedica parte do seu tempo para o plantio na lavoura onde cultiva milho, manaíba e feijão e com a chegada das mudas frutíferas do Programa Uma Terra e Duas Águas (P1+2) da Articulação Semiárido Brasileiro (ASA) desenvolvido pela Cáritas Brasileira Regional Minas Gerais o trabalho na roça aumentou. Mas é da sua horta que ela mais gosta e se orgulha em dizer: “O trabalho na lavoura nem sempre dá o que a horta oferece, porque na horta sempre tem alguma coisinha. E eu só não mexia mais com a hortinha porque a água não ajudava, era pouca, mas depois dessa caixa de 52 mil litros que já pegou muita água, eu não reclamo de nada” conta dona Ana.

Dona Ana: mulher forte

A paixão de dona Ana: a horta

Page 2: A MULHER DO SERTÃO: FORÇA QUE VEM DA TERRA

Boletim Informativo do Programa Uma Terra e Duas Águas Articulação Semiárido Brasileiro – Minas Gerais

Esses cuidados e o prazer com que ela lida com a horta garantem a dona Ana e a sua família, segurança e soberania alimentar e nutricional e ainda um reforço na geração de renda, uma vez que o excedente quando não distribuído por ela entre as famílias próximas é vendido na feira-livre do município.

“Toda uma vida no campo e com alegria”

Dona Ana conta que já quis morar na cidade, mas não conseguiu e diz com muito orgulho “Sou feliz é aqui na roça. É toda uma vida no campo e com alegria. O difícil daqui é o acesso até a cidade que é muito ruim, as estradas não são boas, muitas vezes atrapalham a chegada do ônibus escolar ou de algum socorro quando alguém tem problema de saúde mais sério e precisa ir pra lá.”

Para Dona Ana, tirando as dificuldades das estradas a vida na roça é muito boa. Mesmo quando é época de torrar farinha e

ela precisa andar mais de quarenta minutos pra chegar até a f a r i n h e i r a comunitária, e afirma: “Eu gosto de morar aqui, a comunidade é tranquila. De uma gente muito simples.”

É cativante a alegria n o r o s t o d e s s a m u l h e r f o r t e ,

guerreira quando ela fala com muito orgulho do lugar onde vive com suas filhas. E ela ainda diz mais: “tomo conta da lavoura e das tarefas dentro de casa, mesmo quando o meu esposo está por aqui e ele me ajuda. É essa vida que me faz forte.”

A bonita história de Ana Maria Botelho Alves é o retrato de tantas mulheres que por muitas razões são levadas à difícil e árdua tarefa de assumir e com dignidade a família no Semiárido mineiro. É também exemplo de como a mulher sertaneja é forte.

Realização Apoio

Variedades de hortaliças

Dona Ana Maria e suas filhas

Cuidados com a horta e feijão só de uma vagem de sua lavoura