a morte relacional

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A MORTE NAS SOCIEDADES A MORTE NAS SOCIEDADES RELACIONAIS: RELACIONAIS: REFLEXÕES A PARTIR DO CASO REFLEXÕES A PARTIR DO CASO BRASILEIRO BRASILEIRO

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Page 1: A Morte Relacional

A MORTE NAS SOCIEDADES A MORTE NAS SOCIEDADES RELACIONAIS:RELACIONAIS:

REFLEXÕES A PARTIR DO CASO REFLEXÕES A PARTIR DO CASO BRASILEIROBRASILEIRO

Page 2: A Morte Relacional

• A MORTE é um problema filosófico e A MORTE é um problema filosófico e existencial moderno das sociedades existencial moderno das sociedades ligadas ao individualismo;ligadas ao individualismo;

• Os MORTOS são o problema nas Os MORTOS são o problema nas sociedades tribais e tradicionais, sociedades tribais e tradicionais, onde o indivíduo não existe como onde o indivíduo não existe como entidade moral dominante e o todo entidade moral dominante e o todo predomina sobre as partes.predomina sobre as partes.

Page 3: A Morte Relacional

O individualismo moderno deixou o O individualismo moderno deixou o homem sozinho diante dos outros homem sozinho diante dos outros

homens e de Deus, ficando homens e de Deus, ficando inteiramente responsável por sua inteiramente responsável por sua

“salvação”“salvação”

Page 4: A Morte Relacional

Em outras palavras, não há nenhuma Em outras palavras, não há nenhuma mediação realizada por meio das mediação realizada por meio das relações pessoais, tornando-se relações pessoais, tornando-se

diretas as falas dos homens com diretas as falas dos homens com Deus! Isso nos traz uma Deus! Isso nos traz uma

“inacreditável solidão interna do “inacreditável solidão interna do indivíduo”indivíduo”

(Max Weber, (Max Weber, A ética protestante e o A ética protestante e o espírito do capitalismoespírito do capitalismo))

Page 5: A Morte Relacional

De um lado há sistemas que se preocupam De um lado há sistemas que se preocupam com a MORTE, de outro lado há sistemas com a MORTE, de outro lado há sistemas

que se preocupam com o MORTO:que se preocupam com o MORTO:

• Nas sociedades INDIVIDUAIS, onde o Nas sociedades INDIVIDUAIS, onde o indivíduo prevalece socialmente sobre o indivíduo prevalece socialmente sobre o todo, a morte é um assunto isolado e um todo, a morte é um assunto isolado e um

problema fundamental. As práticas problema fundamental. As práticas funerárias mais comuns são as de funerárias mais comuns são as de

“destruir o morto”, não devendo ficar nem “destruir o morto”, não devendo ficar nem mesmo a memória, pois pensar mesmo a memória, pois pensar

sistematicamente nele demonstra uma sistematicamente nele demonstra uma atitude patológica atitude patológica

Page 6: A Morte Relacional

• Falar abertamente da MORTE Falar abertamente da MORTE define uma atitude moderna e define uma atitude moderna e destemida diante da vida, destemida diante da vida, demonstrando um demonstrando um questionamento “científico” e questionamento “científico” e uma postura “tranqüila” e uma postura “tranqüila” e resignada face a um momento resignada face a um momento que, um dia, se espera que será que, um dia, se espera que será decifrado com tudo o mais.decifrado com tudo o mais.

• Falar sobre os MORTOS, porém, Falar sobre os MORTOS, porém, revela o exato oposto, sendo visto revela o exato oposto, sendo visto como algo sentimentalmente como algo sentimentalmente mórbido pelos individualistas.mórbido pelos individualistas.

Page 7: A Morte Relacional

• Esquecer o morto é positivo, lembrar Esquecer o morto é positivo, lembrar do morto é assumir uma espécie de do morto é assumir uma espécie de sociabilidade patológica;sociabilidade patológica;

• Na sociedade moderna não há luto;Na sociedade moderna não há luto;

• Nas sociedades tribais e tradicionais, Nas sociedades tribais e tradicionais, o sujeito social não é o indivíduo, o sujeito social não é o indivíduo, mas sim as mas sim as relações entre indivíduos;relações entre indivíduos;

• Os mortos são sistematicamente Os mortos são sistematicamente chorados, invocados e relembradoschorados, invocados e relembrados

Page 8: A Morte Relacional

• Nas sociedades relacionais, a morte Nas sociedades relacionais, a morte tem um tratamento diferenciado, tem um tratamento diferenciado, com uma obsessão pelos mortos e com uma obsessão pelos mortos e um desprezo intelectual pela morte;um desprezo intelectual pela morte;

• Nas sociedades individuais, Nas sociedades individuais, instituições especializadas tomam instituições especializadas tomam conta do funeral;conta do funeral;

• Caixões acolchoados lembram um Caixões acolchoados lembram um repouso confortável ao morto.repouso confortável ao morto.

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Page 13: A Morte Relacional

A morte e os mortos no A morte e os mortos no BrasilBrasil• Fala-se mais dos mortos do que da morte;Fala-se mais dos mortos do que da morte;• Falar dos mortos é uma forma sutil e Falar dos mortos é uma forma sutil e

disfarçada de negar a morte;disfarçada de negar a morte;• A maioria dos brasileiros toma consciência A maioria dos brasileiros toma consciência

dos mortos de sua família;dos mortos de sua família;• Essas pessoas aparecem no imaginário Essas pessoas aparecem no imaginário

brasileiro na forma de almas, fantasmas brasileiro na forma de almas, fantasmas ou simplesmente espíritos;ou simplesmente espíritos;

• Quando se fala na morte, é para Quando se fala na morte, é para imediatamente se comentar a existência imediatamente se comentar a existência de almas e fantasmas.de almas e fantasmas.

• Existe a crença em um outro mundo, fora Existe a crença em um outro mundo, fora deste, de onde pode-se retornar para deste, de onde pode-se retornar para vigiar, atrapalhar ou ajudar a vida dos vigiar, atrapalhar ou ajudar a vida dos vivos;vivos;

Page 14: A Morte Relacional

• Os vivos ficam “aqui embaixo”, ou Os vivos ficam “aqui embaixo”, ou seja, existe uma relação seja, existe uma relação verticalizada de subida e decida do verticalizada de subida e decida do outro mundo, jamais com um outro mundo, jamais com um movimento horizontal, como ocorre movimento horizontal, como ocorre na sociedade americana.na sociedade americana.

• Criam-se obrigações diante dos Criam-se obrigações diante dos mortos e de suas almas com seus mortos e de suas almas com seus aniversários;aniversários;

• Falar com eles traz uma certa Falar com eles traz uma certa sabedoria e resignação diante desse sabedoria e resignação diante desse mundo.mundo.

Page 15: A Morte Relacional

• Criam-se relações múltiplas e Criam-se relações múltiplas e recíprocas de pedidos e exigências: o recíprocas de pedidos e exigências: o comércio é amplo e intenso entre nós;comércio é amplo e intenso entre nós;

• Avisos, presságios, sinais, acidentes e Avisos, presságios, sinais, acidentes e coincidências são colocados nas coincidências são colocados nas comunicações. Em troca, os mortos comunicações. Em troca, os mortos recebem orações, missas, adornos nos recebem orações, missas, adornos nos túmulos;túmulos;

• Cria-se um hierarquia entre os santos Cria-se um hierarquia entre os santos e os vivos, onde se colocam as almas;e os vivos, onde se colocam as almas;

• O costume antigo de se enterrar as O costume antigo de se enterrar as pessoas da família no terreno da casa pessoas da família no terreno da casa aumentava essa proximidade moral de aumentava essa proximidade moral de relacionamentos entre vivos e mortos;relacionamentos entre vivos e mortos;

Page 16: A Morte Relacional

• Até mesmo amores entre vivos e Até mesmo amores entre vivos e mortos acabam acontecendo;mortos acabam acontecendo;

• Segredos sobre tesouros escondidos Segredos sobre tesouros escondidos podem ser revelados;podem ser revelados;

• A saudade aumenta a proximidade A saudade aumenta a proximidade da alma do morto;da alma do morto;

• É a demanda relacional que exige, É a demanda relacional que exige, não o indivíduo que deseja!não o indivíduo que deseja!

• Isso demonstra o peso das relações Isso demonstra o peso das relações sociais em uma sociedade relacional.sociais em uma sociedade relacional.

Page 17: A Morte Relacional

• Essa dinâmica de relações causa Essa dinâmica de relações causa diferenciações entre os espaços diferenciações entre os espaços freqüentados pelas pessoas:freqüentados pelas pessoas:

• A casa: onde somos conservadores, onde A casa: onde somos conservadores, onde temos a família e as relações de temos a família e as relações de reciprocidade, onde o tempo oscila entre a reciprocidade, onde o tempo oscila entre a vida e a morte, onde sentimos saudade;vida e a morte, onde sentimos saudade;

• A rua: onde vivemos o tempo do mundo A rua: onde vivemos o tempo do mundo das mudanças, transformações e das mudanças, transformações e catástrofes sociais, onde somos mini-catástrofes sociais, onde somos mini-cidadãos com todos os deveres e nenhum cidadãos com todos os deveres e nenhum direito.direito.

• O outro mundo: tempo eterno das O outro mundo: tempo eterno das conciliações, das realizações que aqui não conciliações, das realizações que aqui não se puderam realizar pessoal ou se puderam realizar pessoal ou coletivamente, onde tudo será pago coletivamente, onde tudo será pago (purgatório(purgatório))

Page 18: A Morte Relacional

No Brasil a morte mata, mas No Brasil a morte mata, mas os mortos não morremos mortos não morrem

Page 19: A Morte Relacional

QuestõesQuestões1.1. Segundo o texto, qual a diferenciação Segundo o texto, qual a diferenciação

entre a relação com a morte e os mortos entre a relação com a morte e os mortos nas sociedades individualistas como nos nas sociedades individualistas como nos EUA e em sociedades relacionais como EUA e em sociedades relacionais como no caso do Brasil?no caso do Brasil?

2.2. Que tipo de relações de negociação, Que tipo de relações de negociação, pedidos e trocas são mantidas com pedidos e trocas são mantidas com relação aos mortos em sociedades relação aos mortos em sociedades relacionais tribais ou tradicionais? relacionais tribais ou tradicionais?

3.3. Onde se encaixa a questão da saudade Onde se encaixa a questão da saudade com relação às reflexões sobre a morte?com relação às reflexões sobre a morte?