a modernizaçao da caridade na frança e alemanha do século dezenove

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A MODERNIZAÇAO DA CARIDADE NA FRANÇA E ALEMANHA DO SÉCULO DEZENOVE Paul Weindling Durante o século IXI houve uma mudança da forma paternalista de bem-estar social para sistemas profissionalmente administrados e financiados por seguradoras. A questão que se coloca é de que forma o legado do humanismo Cristão e mercantilista, em relação aos números populacionais contidos nos conceitos de beinfaisanse e do Wohlfahrtsstaat, foi reformulado ao invés de rejeitado. As bases financeiras de bem-estar social foram ampliadas com a industrialização, apesar de não haver existido simples correlação entre o crescimento industrial e as novas formas de cuidados médicos do ponto de vista social. As expectativas democráticas de prestações de acordo com a necessidade e não com a caridade, com bases discricionárias, significava que a caridade e a estigmatizarão da pobreza estavam interligadas. Porém os regimes de reforma defendidos durante os anos 1880 e 1890 mantiveram um lugar para as agências voluntárias, que sobreviveram na maioria dos sistemas de bem-estar social. A caridade foi modernizada. Foram criadas instalações separadas para os doentes e para os pobres; as doenças incuráveis foram separadas das infecciosas. Medidas especiais e arranjos institucionais foram feitos para alguns grupos; como crianças, mães solteiras e idosos. A modernização da esfera voluntária foi um processo complexo, refletindo as tensões políticas e sociais. O bem-estar social

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A MODERNIZAAO DA CARIDADE NA FRANA E ALEMANHA DO SCULO DEZENOVEPaul Weindling

Durante o sculo IXI houve uma mudana da forma paternalista de bem-estar social para sistemas profissionalmente administrados e financiados por seguradoras. A questo que se coloca de que forma o legado do humanismo Cristo e mercantilista, em relao aos nmeros populacionais contidos nos conceitos de beinfaisanse e do Wohlfahrtsstaat, foi reformulado ao invs de rejeitado. As bases financeiras de bem-estar social foram ampliadas com a industrializao, apesar de no haver existido simples correlao entre o crescimento industrial e as novas formas de cuidados mdicos do ponto de vista social. As expectativas democrticas de prestaes de acordo com a necessidade e no com a caridade, com bases discricionrias, significava que a caridade e a estigmatizaro da pobreza estavam interligadas. Porm os regimes de reforma defendidos durante os anos 1880 e 1890 mantiveram um lugar para as agncias voluntrias, que sobreviveram na maioria dos sistemas de bem-estar social. A caridade foi modernizada. Foram criadas instalaes separadas para os doentes e para os pobres; as doenas incurveis foram separadas das infecciosas. Medidas especiais e arranjos institucionais foram feitos para alguns grupos; como crianas, mes solteiras e idosos.A modernizao da esfera voluntria foi um processo complexo, refletindo as tenses polticas e sociais. O bem-estar social tornou-se um campo de batalha entre a igreja e o estado, entre a indstria e a classe trabalhadora; os profissionais livres da classe mdica se opuseram aos planos de sade socializados. Sistemas rivais da igreja, hospitais estatais e instituies de previdncia evoluram. Cada vez mais, sistemas abrangentes de estado de bem-estar social foram apoiados por foras radicais polticas e secularizadas. Os conservadores agarravam-se na apreciao das virtudes de caridade e os socialistas defendiam as reformas econmicas radicais que eliminaria a pobreza completamente. Mas entre esses dois extremos havia uma gama complexa de reforma dos sistemas envolvendo vrios elementos do voluntariado e a ao do estado. Essa ao ocorreu no mbito de uma vasta gama de aspectos muito diversos nas estruturas organizacionais, e historiadores so confrontados com a tarefa de desvendar sistemas de bem-estar social de inextricvel complexidade. O liberalismo deu um novo impulso s associaes filantrpicas, e o aumento do interesse imperialista com as condies sociais incentivou a coordenao das agncias voluntrias. Continuou a haver uma ampla gama de atividade voluntria, apesar da cientizao e laicizao caractersticas da rea de sade. Os setores voluntrios e a igreja cresceram ao mesmo tempo como estado de bem-estar social. O mais notvel exemplo francs foi a Socit de Saint Vicent de Paul. Essa foi fundada em 1833 para a visita dos pobres e doentes, e cresceu durante o sculo XIX e inicio do sculo XX. O estado alemo e hospitais municipais eram muitas vezes recrutados por ordens religiosas de emfermagem. Ordens protestantes e catlicas de enfermagem foram expandidas, mesmo havendo um aumento do nmero de ordens seculares e da livre prtica de enfermeiros. As organizaes de caridade da igreja prosperaram. A Igreja Protestante Alem InnereMission foi fundada em 1848, e a Organizao Catlica Caritas em 1897. Diversos pontos de vista polticos sustentaram a continua importncia da natureza voluntria no enfrentamento dos problemas insolveis de crescentes populaes urbanas. As iniciativas voluntrias mantiveram-se vitais, onde o estado no podia ou no devia chegar.As organizaes voluntrias suplementaram o estado de bem-estar social e exigiram uma aprovao oficial, a fim de garantir a sua existncia continuada.Continuava existindo uma dicotomia entre a ajuda voluntria e a ultrajada Lei dos Pobres.A Alemanha e a Frana em as dcadas de 1880 e 1890 ofereceram esquemas alternativos de assistncia mdica. De que forma a assistncia mdica e a legislao nacional de assistncia mdica francesa de 1893 compararam a disposio de segurana social Bismackiana dos anos 1880 e os regimes de bem-estar da famlia dos anos 1890? Embora em ambos os pases o estado tomou principais funes legislativas e de fiscalizao, qualquer hiptese de um estado de bem-estar social unitrio seria enganosa. A complexidade das formas de bem-estar resultantes pode ser atribuda a diversos grupos de clientes.A sade urbana foi uma das principais causas de preocupao em um perodo em que a taxa de aumento da populao foi a maior nas cidades grandes. instrutivo comparar o modelo francs de assistncia pblica com o emergente sistema alemo de seguro de doena. Isso proporciona um contraste entre uma organizao de ajuda aos pobres administrada pelo estado e sistemas financiados de trabalho e emprego. Os direitos polticos foram uma caracterstica chave da reforma francesa, ao passo que o sistema alemo gratificava a atividade econmica. Embora ambos os sistemas visavam integrar a classe trabalhadora, cada um deles tinha defeitos e omisses. Os novos seguros e sistemas mdicos de ajuda aos pobres foram considerados inadequados para familiares, para a maternidade e para zona rurais. E resposta a essa situao, foram feitas tentativas de desenvolver um sistema nacional de assistncia mdica nas zonas rurais francesas. A Alemanha centralizou as organizaes de caridade, como por exemplo,nos casos de tuberculose e bem-estar infantil. Os regimes de auxlio maternidade ilustraram ainda mais as tendncias sociais divergentes, uma vez que houve um crescimento da preocupao pro-natalista com a famlia e o declnio das taxas de natalidade. Ambos os sistemas sociais revelam a importncia dos interesses profissionais. Mais uma vez, a situao era problemtica. Por um lado, o direito a assistncia mdica gratuita fornecida por profissionais mdicos significava que os trabalhadores adquiriram certa dependncia da elite burguesa. Por outro lado, os sindicatos mdicos brigavam contra qualquer sistema global de cuidados mdicos que pudesse transformar os mdicos em funcionrios do estado. De nenhuma forma, portanto, um estado de bem estar social nico e racionalmente administrado poderia surgir. O bem estar social continuou sujeito s foras polticas contraditrias geradas pelo feminismo e socialismo, ao voluntariarismo liberal e autonomia profissional, e s extensas burocracias dos estados imperialistas.

OS ESTADOS NA FRANCAA Franca tinha uma grande diversidade e um sistema localizado de provimento de bem-estar. A rede de hospitais foi complementada com o bureaux de beinfaisance que tinha sido estabelecido em 1797 e foi administrado por dignitrios locais. Esses bureaux tinham variadas fontes de renda, derivadas de obrigaes estatais e privadas, loterias, impostos, pedgios urbanos (octrois) e a venda de tmulos nos cemitrios. Mas o modelo mais influente de provimento de bem-estar social para grandes centros metropolitanos foi o da assistncia pblica parisiense. Esse era um estado administrado sob o leito perfeito do rio Sena e, em ultima analise, pelo Ministro do Interior. Notveis administradores foram nomeados para administrar os hospitais de Paris, asilos, orfanatos e bureaux de servios de cuidado domestico. A assistence publique foi fixada em 1797, como a autoridade administrativa dos hospitais de Paris, e reformada em 1849. Uma lei de 1851 obrigou municpios a assumir a responsabilidade com os seus doentes pobres. A assistence publique recebeu uma parte do seu rendimento proveniente de uma subveno anual votada pelo conselho municipal de Paris. Tambm se utilizou da riqueza acumuladade recursos de caridade provenientes de sculos anteriores, e manteve fontes independentes de renda com investimentos em propriedades urbanas e rurais, que foram aumentando de valor. Sob o regime de Napoleo III, a assistence publique foi um meio til de clientelismo politico, proporcionando ao estado meios de distribuio de honras e escritrios. No entanto, o seu estatuto, como um sistema unitrio, foi corrodo devido a rivalidades com a administrao de Paris. A responsabilidade pela sade publica foi dividida entre o chefe da policia e o prefeito de Sena. Haussmann entrou em conflito com as autoridades rivais preferindo uma reforma habitacional para melhorias sanitrias. A criao de um quadro de assistncia domiciliar foi um meio de promover visitas a domicilio como a base para os cuidados primrios de sade. A assistence publique, desenvolvida na Terceira Republica como meio de interveno estatal na metrpole, no possua um representante democraticamente eleito desde a Comuna de Paris de 1870. A assistence publique parisiense passou a fornecer a base para um sistema nacional de bem-estar medico. Em 1888 os hospitais foram colocados sob a fiscalizao de um Conseilsuperieur de l`assistence publique. A extenso da atividade hospitalar nos dispensrios de bairro e a melhoria qualitativa da terapia com avanos, como soroterapia de difteria em 1894, fez com que os profissionais ansiassem pela criao de um sistema de estado. Os mdicos defenderam um sistema domiciliar de atendimento medico. Essa foi a politica da Union desSyndicatsmedicaux de la France, fundada em 1881, e seus peridicos Concours medical. Esse sindicato profissional sugeriu um sistema de pratica medica, em relao a Lei dos Pobres, decentralizado e profissionalmente controlado, com pagamento de uma taxa por servio. Houve certa hostilidade para com as clinicas dispensarias que prestavam servios mdicos gratuitos. A preferencia por cuidados domicilirios reforou a tendncia da posio dos liberais de que o fornecimento voluntario fosse superior, representando, dessa forma, vantagemespecial para a profisso medica. As demandas por um sistema de bem-estar social descentralizado e administrado a nvel departamental moldaram a lei orgnica de assistncia medica de 1893. Iniciativas rurais baseadas na participao voluntaria de mdicos comeou a suplantar ajuda medica, dirigida pelo estado, para os pobres. Essas ajudas ficaram conhecidas como o sistema Landais, tal como foi modelada em um regime institudo em Landes, em 1856,e permitiu a participao de todos os mdicos para o cuidado com os pobres. O bem-estar social francs continuou a ser administrado de forma paternalista ediscricionria, e um grande numero de pedidos foram rejeitados. Porem, durante as ultimas dcadas do sculo XIX, houve muita insatisfao com a centralizao excessiva e auxilio do estado. As exigncias foram feitas para os representantes eleitos que foram supervisionar os bureaux dassistance. A partir disso, houve uma ruptura do conceito paternalista de beinfaisance. O municpio de Paris apoiava a democratizao e, ao mesmo tempo, apreciava a real necessidade dos dispensrios da conservadora Societephilanthropique. O municpio apoiou, por conseguinte, o desenvolvimento de um sistema dispensrio que iria integrar cuidados institucionais e domicilirios. Os reformadores no desejavam um modele de bem-estar social centralizado. Em vez disso, solidaristas exigiram controle local, capacitao profissional, mutualismo e a organizao do bem-estar em uma base de cooperao. As atividades da assistence publique foram percebidas como altamente politizadas e sectrias. Embora o modelo parisiense de assistance publique fosse a base de um regime nacional de administrao do bem-estar social, ele no acabava com o papel da esfera privada. Em 1886, a Direction de lassistance publique foi instituda no Ministrio do Interior pelo solidarista Henri Monod. Ele defendeu a necessidade de manter a esfera privada como sendo mais compassiva e sutil do que a fria gesto dos fundos pblicos. O francs observou com admirao atravs do canal para a Mesa do Governo Local como unir sade publica e servios de bem-estar social no mbito de um nico ministrio, permitindo possibilidades de iniciativa local. Mas esse complicado compromisso entre autonomia local e centralizao utilitarista foi mal equipado para tomar iniciativas positivas. A assistence publique havia sido um importante modelo para a Comisso da Lei dos Pobres de 1834 e para o Conselho dos Asilos Metropolitanos em Londres. Como Hillelfarb observou, durante os anos 1840, campanhas inglesas contra pobreza haviam sido canalizadas para reformas legislativas, em 1880, a nfase foram as instituies filantrpicas e sem fins lucrativos. Com a comisso da Lei dos Pobres em 1905-9, o sentimento havia se voltado contra a ideia de um estado unitrio para todos os que recebem assistncia publica. A Gr-Bretanha e a Franca comearam a olhar para outros modelos internacionais e, em particular, para os regimes de seguro da Alemanha.Duas novas- e relacionadas- tendncias ficaram aparentes na Franca. Surgiram aspiraes profissionais para um monoplio sobre cuidados mdicos e apelos pblicos para o apoio do laboratrio de pesquisa. Novos esforos para integrar interesses pblicos e privados foram expressos pelo movimento solidarista para uma sociedade coesa e integrada sobre a base da justia social. Essas exigncias foram apoiadas por administradores profissionais e mdicos das instituies publicas. Eles definiram a forma para coordenao e cooperao entre instituies particulares de solidariedade social e regime de estado para assistncia aos pobres. Congressos Nacionais de assistncia publica foram mantidos. A lei 1892 sobre a pratica da medicina ( LoiChevandier) e a lei orgnica de assistncia medica de 1893 marcaram uma nova preocupao com o desenvolvimento de um sistema nacional de medicina orientada para as necessidades dos pobres nas zonas rurais. Esse movimento de reforma tambm foi responsvel pela legislao de 1998, com ajuda mutua da sociedade e da entidade patronal responsvel por acidentes de trabalho, proporcionando estimulo adicional para a sociedade segurada. A legislao de 1893 previa ajuda medica gratuita e universal para os pobres em casa ou (na falta dessa) em um hospital. Essa lei( que entrou em vigor em 1897) era tendenciosa em relao as necessidades das reas rurais e apoiava mais o cuidado domestico do que o institucional. Essa lei impulsionou a autonomia profissional quando em 1892 o medico da segunda classe, o officier de sante, foi abolido por conta das presses profissionais. Como efeito da lei sobre servios mdicos e da legislao para idosos e enfermos de 1905, as despesas medicas aumentaram entre 1890 e 1912. Os nmeros de crianas assistidas passou de 95.444 em 1871 para 115.000 em 1890, mas, em seguida, rapidamente aumentou para 231.337 em 1912. A modernizao da caridade tambm estava evidente na fundao do Instituto Pasteur em 1888. Essa foi uma instituio de financiamento privado para a pesquisa medica que tambm fornecia, gratuitamente, tratamento para a raiva. Pasteur cultivou um reconhecimento nacional e relaes positivas com as autoridades estaduais e municipais, bem como com benfeitores privados. O desenvolvimento de um soro anti-diftrico em 1894 constituiu uma oportunidade de levantar o perfil publico do Instituto. Foram feitos apelos pblicos para financiar a produo e distribuio de soros nos bureaux de`assistence que tinham acabado de serem criados. Considerando que anteriormente o investimento em bem-estar social era considerado um meio ineficaz de prevenir doenas, a investigao medica era vista como um novo potencial teraputico. O Instituto Pasteur desenvolveu um modelo para ser emulado pelas caridades medicas do sculo XX. Exemplos so o Instituto Rockefeller para pesquisa medica e o Instituto Paul Ehrlich para terapia experimental e testes sorolgicos em Frankfurt. O financiamento voluntario impulsionou grandes institutos nacionais de investigao, como prometeu a cincia, a remover as causas que estavam nas razes da pobreza e da doena, enquanto a filantropia era vista apenas como uma medida paliativa.

ORGANIZAOES DE CARIDADE DA ALEMANHA E SEGURO DOENAA represso, por parte das autoridades estatais, ao perodo pr-1848 Vormarz fez com que a natureza voluntria atrasse mercados interessantes para a reforma. A Centralverein fur ds Wohlder Arbeitenden Classen, fundada em 1844, recomendou a instituio da poupana e a criao da caixa de previdncia. Houve tambm iniciativas de seguros para trabalhadores autnomos como o Berliner Arbeiterverbruderung, fundada em 1849. A crescente metrpole de Berlim, onde a riqueza e a misria social coexistiam, justifica a grande variedade de iniciativas de caridade. Uma creche pioneira foi estabelecida em Berlim em 1852. Esta foi baseada em um modelo parisiense, destinada a pais que trabalham. A Lei dos Pobres sofreu algumas modernizaes com nomeaes de mdicos durante os anos de 1860. No entanto, o estigma social e a privao de direitos civis dos assistidos significavam que o sistema estatal tinha potencial limitado. Foram sugeridas trs fases em relao expanso de instituies beneficentes. Em primeiro lugar, uma fase de iniciativa autnoma. Em segundo lugar, uma fase de nvel nacional, como instituies as instituies beneficentes agrupadas patrioticamente em ligas durante a dcada de 1890. Terceiro, a fase de profissionalizao dos anos 1920 em diante, com a qualificao dos assistentes sociais e mdicos especialistas encarregados dos servios de bem-estar social, tanto no estado como na esfera privada. A constituio imperial colocou o bem-estar fora do mbito de competncia do Estado, como uma questo de responsabilidade da iniciativa privada filantrpica. Embora Bismarck tenha se preocupado em usar a criao do seguro de doena obrigatrio, em 1883, como um meio de luta contra o socialismo, os acordos administrativos estavam em conformidade com o principio de um estado no-intervencionista. Embora os fundos fossem um requisito legal para determinados grupos de trabalhadores, eles eram autnomos e auto-administrados. O sistema de dupla contribuio (empregador e trabalhador) significava que tinha mais recursos do que o Freie Hilfskassen, que tinha se espalhado a partir do inicio do sculo XIX seguindo o modelo das sociedades amigas britnicas. O Reich no tinha poder executivo, nas questes relacionadas ao bem-estar social, para alm da criao de um quadro jurdico e acompanhamento da evoluo. Os Estados federais, como a Prssia, no tm responsabilidade como o bem-estar apenas com a sade publica, pois podem afetar a ordem social, por exemplo, durante as epidemias. O bem-estar foi deixado a cargo das associaes privadas, dos municpios autnomos e do fundo de doena. Embora as associaes, os municpios e os fundos fossem independentes em relao ao estado, garantida pelo principio da Selbstverwaltung, este principio de administrao autnoma foi sujeita s diretrizes legais do estado. Associaes ou Vereine tinham que ser registradas pela policia. Os seguros do trabalhador e do empregador ficaram sujeitos a um controle comum, mas suas atividades foram delimitadas pela legislao do estado e estavam sob os olhos atentos dos escritrios de seguro do estado (Landesversicherungsamter). O seguro de doena foi dirigido classe trabalhadora dos centros urbanos das grandes cidades, grupos considerados como especialmente vulnerveis ao socialismo. Os benefcios foram imitados em tamanho e abrangncia. Gravidez e doenas venreas foram excludas por serem entendidas como questes pessoais de responsabilidade moral. Os dependentes dos trabalhadores segurados tambm foram excludos. O apelo socialista para as mulheres havia sido esquecido na estratgia bismarckiana pau-e-cenoura, que considerava o seguro doena como uma parte essencial. Quanto mais a mentalidade familiar orientada se tornava uma prioridade, maior a capacidade de percepo dessas insuficincias. Desde meados dos anos 1890, certos seguros de doena comearam a aumentar a gama de benefcios de forma discricionria. O Berliner Ortskrankenkasse exemplifica um dos maiores e mais dinmicos fundos de seguro de doena que fornece uma gama de benefcios discricionrios. No obstante as restries no envolvimento direto do estado na esfera social, houve uma tendncia a coordenao nacional da caridade. Durante a dcada de 1880, os municpios desenvolveram sistemas de apoio para os pobres, que cooperavam com as organizaes voluntrias. O movimento anti-lcool cresceu muito durante a dcada de 1880 como auto-ajuda. Por outro lado, a tuberculose e o bem-estar infantil, datados a partir dos anos 1890, envolveram um grau muito maior de ideologia patritica e direo. Tais sistemas marcaram uma ao contra os modelos franceses mais democrticos de assistncia pblica, mas eles tinham semelhanas com as iniciativas paternalistas, como a societe de charite freqentai. A filantropia se tornou um imposto nacional. Isso pde ser visto com a fundao de uma sociedade imperial de preveno da tuberculose em 1895. Embora nominalmente uma organizao privada, a Central Comite der Errichtzung Von Heilanstalten fu Lungenkranke oferecia suporte para os funcionrios de alto escalo e aristocratas- e suas esposas. O seu patrono foi a Imperatriz, o presidente foi o Chanceler e o vice-presidente foi o Ministro de Estado prussiano. A organizao tinha um carter nacionalista comum s organizaes patriticas, como a Navy League. Os funcionrios foram convidados a assumir um papel de liderana na fundao de ramos locais de forma voluntria. A sociedade estabeleceu dispensrios a partir de 1899. O bem-estar familiar tornou-se o foco das campanhas contra tuberculose. Os dispensrios organizaram visitas a domiclio , medidas de bem-estar, suplementos alimentares e consultas mdicas. Os termos Dispensaire e Poliklinik foram evitados para no despertar a animosidade da profisso mdica. Em vez disso, as clnicas eram chamadas de centros de informao e assistncia social. (Auskunfts und Fursirgestellen). Como resultado da presso da profisso mdica, o tratamento no foi fornecido, mas os pacientes segurados tinham direito a assistncia mdica gratuita. Embora Berlim tenha permanecido sem ter a necessidade de uma administrao municipal at 1920, as organizaes de voluntrios atuaram na coordenao das atividades dos mdicos, funcionrios da sade pblica, os municpios e os seguros de doena. Isso pde ser visto na organizao do Comit de informao e centros de assistncia social em Berlim e adjacncias; sob a administrao de Putter, um administrador Hospital Central do Estado de Charite. Putter foi o primeiro clnico dispensrio em Halle. Outros organizadores foram chefes do departamento mdico prussiano. Albert Kohn, administrador do seguro de doena de Berliner Ortskrankenkasse, coordenava clnicos e funcionrios mdicos. Berlim foi dividida em distritos, cada um com um dispensrio pblico gratuito de tuberculose. O bem-estar familiar foi utilizado como estratgia da elite dominante para manter o status social. A flexibilidade da esfera voluntria significava que isso era uma maneira atraente de superar divises burocrticas arraigadas a fim de tratar problemas sociais prementes.

BENEFCIOS DA MATERNIDADEA abordagem histrica dominante para o surgimento do estado de bem-estar moderno nasce da analise da difcil relao empregador-trabalhador. Embora esta fornea idias sobre as iniciativas dos empregadores, bem como a resposta das organizaes de empregadores para a expanso do seguro social, inevitavelmente marginaliza a questo da famlia. No mbito do bem-estar familiar, a assistncia aos pobres e as iniciativas privadas so da maior importncia. Na frana as modalidades de cuidado para lactentes/ crianas tinham sido h muito tempo uma questo politicamente sensvel. No havia rivalidade entre os Societe des creches de Baro Marbeau, que em 1851 tinha dezoito creches em Paris, e, oficialmente, uma organizao patrocinada pelo Mme Jules Mallet, que teve o patrocnio da imperatriz. Os benefcios foram objetos de controvrsia poltica em um momento que o feminismo era uma questo de crescente importncia poltica. Houve polarizao entre regimes socialistas para as mulheres trabalhadoras e ideologias conservadoras de famlia como a base da ordem social. Assim, no era surpreendente encontrar ultra-conservadores dominando a Societe philanthropique e sendo ativo na extenso do cuidado ps-natal durante os anos 1880. Ao mesmo tempo foram surgindo reformas mais radicais. As iniciativas para promover o bem-estar familiar foram valiosas para garantir integrao social em um momento de tenso poltica. O Conseil Suprieur de lassistance publique concebeu um regime nacional desde 1882 para promover bem-estar materno em hospitais departamentais de maternidade. A poltica solidarista francesa deu um impulso para aes de proteo as mes trabalhadoras. A clinica pioneira de bem-estar infantil foi inaugurada em 1892 pelo mdico parisiense Pierre Budin, professor de obstetrcia. Ele tinha ligaes com radicais solidaristas. O conseqente movimento gouttes de lait apresentava um modelo internacional para a clnica de bem-estar, e formou a base para uma srie de conferencias internacionais. Farmacuticos do Instituto Pasteur de Paris, Lille e Bordeaux forneceram tratamento gratuito para a raiva, a difteria e a tuberculose.O caso do bem-estar infantil de Berlim revelou a importncia dos regimes privados. Isso ilustrado pelo Berliner Krippenverein, uma associao que estabeleceu uma rede de creches em toda a cidade. Esta associao fundiu as idias de Friedrich Frobel, o pioneiro do jardim de infncia, com o modelo parisiense de creche. A patritica fase foi sinalizada pelo aumento da importncia da Liga das Mulheres patriotas, o Vaterlandische Frauenvereine. O objetivo inicial da liga era formar as mulheres para enfermagem militar. Durante a dcada de 1890 as suas responsabilidades passaram a incluir o bem-estar das mulheres. As mulheres voluntarias foram recrutadas para trabalhar nos departamentos infantis e dispensrios. Embora a as organizaes socialistas de bem-estar, como a Liga do Trabalhador Samaritano, ofereceram uma alternativa radical, a liga patritica foi a maior organizao de mulheres na Alemanha Imperial com um milho e meio de membros em 1910. O trabalho com bem-estar domstico, tais como servios de enfermagem nos lares das crianas, tornou-se uma importante esfera de trabalho voluntrio - mas oficialmente dirigida- atividade. A cruzada contra a mortalidade infantil tornou-se um brado de guerra nacionalista. A abertura, em 1909, da Kaiserin Auguste Victori Haus (KAVH) para o combate de doenas infantis marcou uma nova fase da centralizao da caridade. Em vez de direes meramente informais, uma instituio imperial central foi estabelecida. Embora uma organizao privada, tinha o status de um privilegiado rgo oficial. A angariao de fundos foi dirigida por funcionrios do estado, acadmicos e aristocratas. Carl Von Behr Pinnow, que gozava de estreitas relaes com o imperador e imperatriz, desempenhou um papel de liderana na fundao e administrao da KAVH. Este ltimo teve um papel central na direo das organizaes de bem-estar infantil, treinou enfermeiros e; principalmente durante os meses quentes do vero, em que a mortalidade infantil era alta; emitiu alerta pblica sobre a necessidade de higiene domstica e pessoal. O pro-natalismo tornou-se uma preocupao crescente, subjacente a muitas das atividades mdicas do KAVH. A alternativa radical da KAVH foi a liga para a proteo das mes ( Bund peles Mutterschutz). Esta liga procurou reformar as condies nas maternidades, assumiu a liderana no aumento da disponibilidade de contraceptivos e, por volta do ano de 1920, criaram clinicas de controle de natalidade.A maternidade exemplifica a transio de um modelo poltico radical de direo. O conceito de maternidade foi desenvolvido por Lily Braun, uma dirigente socialista e feminista. Ela se baseou no tratado francs LAssurance freqetai ( Paris, 1897), da militante feminista Louis Frank e dois mdicos, Keiffer e Louis Maingie. Ela analisou o volume na Archiv fur soziale Geserzgebung und Statistik. O objetivo do seguro maternidade foi que as mulheres fossem beneficiadas com frias pagas antes e aps o parto. Este ponto de vista surgiu de uma preocupao com a sade geral das mulheres trabalhadoras. Frank e outros autores foram influenciados pelo sistema alemo de seguro de doena, eles exigiam que a gravidez tivesse os mesmos benefcios das doenas. Lily Braun contestou que em vez das mulheres grvidas receberem um pagamento reduzido como se estivessem doentes, deveriam receber o pagamento integral. Ela apoiou as reivindicaes por creches, que deveriam ser fornecidas pelo estado, em vez de pelos donos das fbricas. Ela deu preferncia aos subsdios estatais ao invs da tributao sobre os no-casados e casais sem filhos. O argumento de Lily Braun de que o estado deveria pagar as despesas da me indica em que medida ela viu a maternidade no contexto de um estado socialista. As mulheres membros do SPD exigiram a extenso da cobertura do seguro como uma crtica filantropia voluntaria e aos lares de convalescena da igreja. Uma alternativa liberal, porm mais nacionalista, de seguro maternidade foi desenvolvida pelo mdico Alfons Fischer, que foi influenciado por Heinrich Braun, o marido de Lily Braun. Fischer organizou vrios pequenos programas de auto-ajuda. Em 1907, estabeleceu uma Propaganda Gesellschaft fur Mutterschaftsversicherung. O apoio veio do esquerdista liberal Freiedrich Naumann, que relacionou os benefcios de maternidade com as questes de poltica demogrfica e imperialismo. O dirio de Naumann , Die Hilfe, combinava suporte para o feminismo e reformas sociais com moralismo cristo. Esta persuasiva combinao recorreu aos reformadores da sade pblica Fisher and Alfred Grotjahn. Eles combinaram questes de sade com as preocupaes com a taxa de natalidade. Na Frana, a greve do nascimento foi combatida por grandes campanhas pr-natalistas. As preocupaes dos polticos franceses, dos mdicos e de outros ativistas pr-natalistas culminaram na lei de 14 de julho de 1913 para apoio a familles nombreuses com mais de trs filhos. Houve muita preocupao por parte da Alemanha de que poderia haver um declnio na taxa de natalidade. A higiene social estava cada vez mais centrada na questo reprodutiva. O principal terico de higiene social, Grotjahn, alegou que o seguro alemo, baseado em aes para promover a riqueza das crianas, foi melhor do que os sistemas Franceses, que foram uma extenso da assistncia aos pobres. As presses por melhores benefcios familiares na Alemanha trouxeram a centralizao do estado e as iniciativas privadas durante a Primeira Guerra Mundial.

BEM-ESTAR E INTEGRAO SOCIALA onda do darwinismo social que foi desencadeada em 1860 tem sido convencionalmente vista como antagnicas caridade e segurana social. Darwinistas sociais, como Herbert Spencer, defendeu que o bem-estar demanda encargos excessivos para encaixar os indivduos. No entanto, nos anos 1890 haviam variedades de ideologias sociais baseadas biologicamente que destacou o altrusmo, a cooperao e a sade coletiva em vez da seleo natural individualista. Os comentadores da legislao de assistncia mdica francesa de 1890 enfatizaram a relao entre a ideologia solidarista de unidade nacional e a integrao social. Enquanto a idia da sobrevivncia dos mais fortes foi criticada, conceitos biolgicos do organismo social e integrao harmnica foram utilizados para justificar a concesso de auxlios estatais para os pobres. Alfred Fouille, um filsofo republicano, em 1882 defendeu a criao de um sistema "cientfico" de filantropia. O economista poltico, Paul Beauregard, que representou o dcimo sexto arrondissement de Paris e foi um membro do bloco no julgamento da Cmara dos Deputados, afirmou que o governo deveria prover a caridade privada. Len Bourgeois, como chefe da Terceira Repblica Radical do Gabinete de Novembro de 1895, desenvolveu uma teoria de solidarismo como uma correo para os excessos do individualismo e do socialismo. Seu trato, solidarit (1896), criou a base terica que mostrou que a filantropia e a assistncia social estatal se reforam mutuamente. til para comparar o solidarismo com o organicismo alemo e o darwinismo Social britnico. Durante a dcada de 1890 o "novo liberalismo" na Gr-Bretanha e o movimento social nacional de Naumann marcaram um novo consenso sobre a necessidade de coletivistas - mas no-socialistas solues para males sociais. A biologia tinha perdido muito de sua pincelada anticlerical na medida que facilitava a cooperao com organizaes de voluntrios. Novas formas de coletivismo baseado biologicamente foram formuladas durante a dcada de 1890 e foi feita uma tentativa para unir diversos interesses sociais. Isto trouxe um novo ponto de entrada para as bases tradicionais da caridade - a famlia e a igreja. Bethmann Hollweg, quando Ministro do Interior prussiano, falou da necessidade de promover a interao do setor voluntrio com o "orgnico". O governo teve por funo garantir interdependncia. O solidarismo foi estendido ao pro-natalismo. O solidarismo apoiou o modelo de profissionalizao da assistncia pblica. Isto reforou a tendncia de afastar-se do filantropismo liberal de base individualista, para modelos coletivistas e profissionalizados. O contraste entre o estado e a esfera privada foi paulatinamente erodido. Houve um crescimento da coordenao Internacional no planejamento de sistemas de bem-estar social. A primeira conferncia 'internacional' de assistncia pblica em 1888 - no teve a participao dos alemes. As medidas anti-tuberculose e de bem-estar infantil da virada do sculo tiveram alta participao francesa e alem, apesar de algumas contradies, como sobre a questo do aleitamento materno - era evidente. A quarta conferncia internacional de assistncia pblica em Copenhaga em 1910 teve importantes delegaes Francesas e Alems. As preocupaes imperialistas com a sade e nmeros dos futuros recrutas militares, reforaram ideologias de co-operao e integrao. Isto significava que as divises entre o estado e as esferas voluntrias foram erodidas. Ambos se reforam mutuamente. A Alemanha no contava com um exclusivo sistema de seguro, medida que os funcionrios iniciaram um processo de centralizao das instituies de beneficncia. Em 1920 as associaes de caridade- Spitzenverbande- ficaram dependentes do subsdio do governo. A situao francesa caracterizou-se pelo pluralismo, apesar do potencial para um sistema estatal de assistncia mdica. Embora a caridade tenha sido modernizada e sua escala ampliada, ela manteve o seu lugar na expanso dos sistemas de bem-estar social do sculo XX.