a minha primeira memória
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Aliando o conteúdo “memórias”, lecionado no 10ºano, e a “Nostalgia de um bem perdido” de Fernando Pessoa, de 12ºano, os alunos recuaram no tempo e relembraram um episódio da sua infância, voltando a conferir-lhe vida, sangue e alma. A infância e a vida de outrora é aqui celebrada pelas palavras únicas de cada um. Que bom é relembrar esse tempo em que a inconsciência nos fazia viver felizes! Professora Carla TrindadeTRANSCRIPT
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Para Fernando Pessoa, a infância é um bem perdido, relativamente ao qual sente nostalgia, por isso
experimenta a desagregação do tempo, pois «o [seu] passado é tudo quanto não [conseguiu] ser», assim não tem
«esperanças nem saudades», pois não pode repetir, nem sequer relembrar, o passado, que pesa «como a realidade
de nada» e o futuro apresenta-se «como a possibilidade de tudo», por isso «[Sente] mais longe o passado/[Sente] a
saudade mais perto», sentido, assim, saudades do futuro. Este profundo desencanto e angústia «[d’]aquela infância»
das crianças que brincam, causam-lhe a nostalgia da infância como um bem perdido. Essa infância que não teve e
que apenas imagina é o único possível momento de felicidade, por isso afirma «Quero aquele outrora!».
Aliando o conteúdo “memórias”, lecionado no 10ºano, e a “Nostalgia de um bem perdido” de Fernando
Pessoa, de 12ºano, os alunos recuaram no tempo e relembraram um episódio da sua infância, voltando a conferir-lhe
vida, sangue e alma.
A infância e a vida de outrora é aqui celebrada pelas palavras únicas de cada um.
Que bom é relembrar esse tempo em que a inconsciência nos fazia viver felizes!
Carla Trindade
Capa: La persistència de la memória, 1931, Salvador Dalí
Índice
Sem fôlego, António Cardoso e Cunha 12º 1A 4
A minha Primeira Memória - Bernardo Carreira – 12º1B 4
A minha Primeira Memória, Carolina Sousa – 12º1B 4
A minha Primeira Memória, Catarina Santos – 12º1B 5
A minha Primeira Memória, Catarina – 12º2 6
A primeira Memória, Catarina Gonçalves – 12º1B 6
A Fuga, Cheila Cardoso – 12º1B 8
A Minha Primeira Memória, Cláudia Cid Gonçalves, 12º1A 8
A Minha Primeira Memória, Diana Gonçalves – 12º1A 9
A minha primeira memória, Diogo Miranda – 12º1 9
A minha Primeira Memória, Francisco Lima – 12º2 10
MEMÓRIA, Frederica Abreu – 12º2 10
Gaveta das coisas fantásticas, F. 11
A Minha Primeira Memória, JL - 12.1A 11
Tarde de Meninas, Mafalda Seabra - 12º1ª 12
UMA MEMÓRIA DE INFÂNCIA, Mafalda Nunes – 12º1B 12
A minha primeira memória, Margarida Leão – 12º1B 13
A primeira memória, P. 13
Quanto valem as minhas memórias?, Sara Costa – 12º1B 14
A minha Primeira Memória, Teresa Silveira – 12º1A 15
A minha primeira memória, Tomás Saraiva, 12º1B 15
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Sem fôlego, António cArdoSo e cunhA 12º 1A
Tinha 5 anos, adorava a piscina, o que há para
não gostar? Aqueles mergulhos num dia de Verão
em que a água está tão fria que se sente na espinha.
Inicialmente existe um choque térmico mas o corpo
entra em total relaxamento e uma sensação de frescura
alivia o ser.
Os meus irmãos eram peritos a nadar… eu...
frustrado com a minha incapacidade... não.
Estávamos todos na água, eu e os meus dois
irmãos, as boias prendiam-me os braços e causavam
desconforto. Saí da piscina e fui para o canto do
quintal. Com as minhas últimas forças arranquei as
boias que roçavam nos meus braços causando marcas
vermelhas, olhei para a piscina e inconscientemente
saltei.
Estava escuro e doía-me a cabeça de tanto
berrar, necessitava de ar, não para respirar, mas para
poder gritar de novo, estava exausto, o que eu estava
a fazer não resultava, parecia que sempre que dava
um passo para a frente de seguida dava dois para trás.
Para meu espanto, a Adozinda, senhora que cuidava
de mim quando os meus pais iam trabalhar, saltou para
a água vestida e segurou-me por um braço. Estava na
piscina, mas a aflição era tanta que confundia a água
na testa com suor.
Apesar deste terrível episódio consegui
passar o trauma e semanas mais tarde, com muita
determinação, aprendi a nadar.
A minhA PrimeirA memóriA - BernArdo cArreirA – 12º1B
É uma tarefa complicada relembrar um
momento marcante na minha infância que se intitule
como a memória primordial que tive em pequeno.
Na minha perspetiva, numa faixa etária tão
diminuta é complexo relembrar aquele episódio da
nossa vida com todos os pormenores subjacentes.
Porém, estão presentes outras pessoas que,
apesar de não terem vivido esse momento com tanta
intensidade e significado, promovem o reviver dessa
alegria, à qual damos tanta importância.
De facto, é um momento preponderante na
nossa pequena vida. Mas porquê?
Porque decerto marca o nosso viver, o nosso
existir...
Para mim, trata-se do segundo momento
mais importante da nossa existência, logo após o
nascimento.
Contudo, penso lembrar-me de uma memória
em especial que, até agora apenas partilhara com
alguém muito especial para mim, a minha avó.
Tinha eu os meus inocentes e pequenos três,
quatro anos.
Terá sido numa tarde de verão, eu e a minha
avó estávamos à beira da piscina de casa do meu tio,
no Algarve, na calmaria da natureza ali implícita. A
certo instante, os meus pais indagaram, “Bernardo,
queres vir com os pais à praia?”, ao que eu esclareci,
em tom de entusiasmo e alegria: “Não, quero gozar
todo o tempo do mundo com a minha avó!”
A princípio, esta frase teve impacto na minha
avó. Todavia, isso não é o mais significativo, mas sim o
facto de fortalecer a relação avó-neto, bem como a de
amigos acima de tudo.
Hoje em dia, quando falo com a minha avó
acerca deste momento ambos sorrimos. Recordo
aquele dia como se fosse ontem, e todos aqueles
sentidos incutidos naquele momento.
Sei que o seu sorriso transpõe a ideia de que
esta ligação mútua é fortalecida com o tempo, a cada
dia que passa.
E, por isso, aquele momento significou muito
para ambos, pois espelhou o vínculo que eu tenho
com alguém tão especial como é, e sempre será, a
minha avó.
A minhA PrimeirA memóriA, cArolinA SouSA – 12º1B
A minha primeira memória é verdadeira e não
algo que acabou por se criar com base no que me foi
dito por outros. Digo isto com certezas, pois consigo
recordar momentos desta nos quais estava sozinha ou
com pessoas que já não vejo desde essa altura.
Quando entro dentro do meu psicológico, o
mais que consigo recuar situa-se na altura que andava
na infantil, portanto, nem os meus 6 anos ainda tinha.
Não me lembro do início desse dia. Lembro-me, de
como era habitual naquela altura, durante os intervalos,
sairmos a correr das salas de aulas para conseguirmos
“ganhar” lugar nos baloiços do recreio ou no labirinto
(estes eram os prediletos de qualquer criança naquele
colégio). Os menos afortunados, que tivessem o azar
de correr mais lentamente ou ter uma professora mais
chata que não os deixasse sair enquanto o desenho
não tivesse completamente pintado, tinham que se
contentar com as caixas de areia gigantes ou ainda
com o monte de pneus que tinha como propósito as
famosas “corridas de pneus”. Nesse mesmo dia, por
algum motivo qualquer, eu mais as minhas amigas
fizemos parte dos “menos afortunados” (muito
provavelmente a culpa foi da minha professora porque
contrariamente ao agora, naquela altura eu era uma
Speedy Gonzalez). Se me perguntarem o motivo eu
não sei responder, mas o que sei é que por alguma
razão nesse dia fatal os desgraçados que não tiveram
outra hipótese senão os pneus decidiram “revoltar-
se”. Passado um pouco, dou comigo a um longo
metro e meio ou mesmo dois do chão. As “crianças
dos pneus” tinham decidido criar uma super pirâmide
que era nada mais nada menos do que um amontoado
de todo o tipo de pneus que existia naquele recreio.
Como já é bom de ver, não ia dar coisa boa. Aos
empurrões e gritos, decidiu tudo começar a subir
a pseudopirâmide e quando dei por mim no topo
desta, mesmo antes de iniciar o meu momento de
glória, já estava a dar comigo no belo chão de asfalto
que a sustentava. Algum(a) desgraçado(a) (que até
hoje não sei quem foi) não deve ter gostado do meu
momento de felicidade extrema e decidiu atirar-me
daquele precipício abaixo. A tradicional choradeira
que se sucedeu fez com que uma educadora de
infância fosse ter comigo e terminasse logo com
a brincadeira. É dos momentos que melhor me
recordo (os quais têm de ser logicamente trágicos,
pois é sempre desses que nos lembramos melhor).
A senhora que me veio salvar daquelas crianças que
só queriam governar o “reino dos pneus” tivessem
de aniquilar fosse quem fosse (incluindo eu), levou-
me de imediato para a enfermaria. “Acho que tenho
pedrinhas na boca” dizia eu incessantemente para as
educadoras, que me respondiam que não e para não
mexer nela. Contudo, eu tinha a certeza absoluta que
tinha “pedrinhas na boca”, pois eu conseguia senti-
las ao mexer a língua. “Devem ter entrado quando caí
no chão”, pensava eu e portanto voltava a repetir que
achava que tinha pedrinhas na boca. As educadoras
com um ar de pavor (completamente incompreendido
por mim) tentavam manter a calma e responder-
me simplesmente que não tinha. É claro que não
tinha pedrinhas na boca, assim como é claro que as
senhoras estavam assustadas, tendo em conta que o
que eu sentia na boca não eram pedrinhas, mas sim
os meus dentes todos a abanar e a cair ! Telefonaram
para a minha mãe do colégio e disseram “aconteceu
um acidente com a sua filha enquanto esta brincava no
recreio”. “Acidente?” pensei eu. Eu tinha era sofrido
uma tentativa de homicídio! Por volta daquela altura
já estava a começar-me a sentir um “bocadinho mal-
disposta” (o que não era de admirar com o sangue todo
que já tinha perdido). Ao ver a minha mãe a chegar ao
colégio, senti-me logo mais protegida e aliviada. No
entanto, lembro-me de que quando me viu ficou em
pânico e de repente estava quase mais branca do que
eu já estava. Nesse dia, as aulas acabaram também
mais cedo para a minha irmã (que na altura andava na
primária) e, assim que ela entrou no carro, a minha mãe
foi sempre a acelerar até chegarmos ao Hospital Santa
Maria.
Para concluir esta esplêndida memória, já
dentro do hospital não me recordo de muito, no
entanto, lembro-me sim de ouvir o médico a falar com
a minha mãe e de lhe explicar que “a sua filha partiu
o maxilar e durante uns tempos vai ficar “sopinha de
massa”. E assim foi, durante uns longos meses eu fui
a “sopinha de massa” da família e da turma devido
a algum(a) “assassino(a)” que ainda hoje desconheço.
A minhA PrimeirA memóriA, cAtArinA SAntoS – 12º1B
Uma das memórias mais nítidas que tenho foi
quando tinha cinco anos e tive um acidente de carro.
Lembro-me de sair do colégio no velho Honda
do meu avô, que antes pertencia aos meus pais, e
parar no cruzamento antes de se virar para a rotunda.
Estávamos à espera para virar quando uma mota que
vinha atrás de nós avança sem parar e bate num carro
em movimento. Lembro-me de ver o pobre senhor
voar uma distância que nessa altura considerava ser
enorme, mas na verdade deveriam ser uns sete metros,
e da mota bater no carro do meu avô. Fiquei em
estado de choque. A primeira coisa que nos ensinam
na primária é que em caso de emergência devemos
telefonar para o 112 e manter a calma. Na altura, não
me lembrei de nenhuma dessas coisas. Estava a chorar
histericamente enquanto o meu avô telefonava para
o 112 e nessa altura nem me importava com a pessoa
que estava no chão imóvel. Só queria ir para casa e ver
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a minha mãe e pela primeira vez, fazer os trabalhos
para casa sem ser obrigada. Não parei de chorar
durante pelo menos uma hora, ou seja até o incidente
estar concluído. O meu avô, como sabia primeiros
socorros, foi logo ajudar o senhor até a ambulância
chegar e eu fiquei sozinha, no nosso carro metade
destruído, a imaginar uma realidade oposta àquela
que estava a viver nesse momento. O que mais me
marcou foi quando um polícia que viu que eu estava
em pânico começou a falar comigo para me acalmar.
Sei que no momento não me fez diferença nenhuma,
mas agora ao refletir sobre isto acho que me tornou
mais consciente sobre como é que alguém deve estar
em caso de pânico e que mesmo que alguém não
esteja aleijada fisicamente, psicologicamente pode
estar traumatizada. Era como eu estava na altura.
Quando cheguei a casa, lembro-me da minha
mãe sair para a rua com a minha irmã ao colo e de
perguntar o que é que tinha acontecido. Eu ainda
estava em choque. A última coisa que me lembro foi a
minha avó a dar-me chá e castanhas e dizer que tudo
já tinha acabado.
Para uma criança, um evento traumático
raramente é esquecido. Esta não é a minha primeira
memória, mas é a primeira que eu tenho mais a
certeza de que não pode ter sido alterada por eventos
contados por outras pessoas. Assim, esta é a minha
primeira memória que é verdadeiramente “minha”,
sem influências exteriores, e a que mais me marcou,
mostrando que numa situação de pânico devemos ao
menos tentar manter a calma e fazer o mínimo que nos
compete como cidadãos.
A minhA PrimeirA memóriA, cAtArinA – 12º2
“Enquanto o sono não chegava”, dávamos
todas as noites longos passeios pelas redondezas da
casa mais acolhedora por onde já passei até hoje, a
dos meus queridos avós.
E, talvez por ter sido educada e criada nesse
ambiente quente até aos meus dez anos, já não podia
passar uma única noite sem aquele passeio, sempre
recheado de partilhas e conquistas, e sei que o meu
avô também não.
Depois de jantar, íamos sempre levar o lixo
e, “no meio da paz noturna, entre os ramos altos de
árvores” e de estrelas claras e incandescentes, “a noite
povoava-se com as histórias e casos que o meu avô ia
contando”: conselhos que assimilei como se já fosse
crescida, lendas, episódios singulares da sua vida num
campo pertencente ao encantador e tímido Alentejo,
zaragatas, aparições, mortes antigas, palavras de
familiares que partiram cedo demais, “um incansável
rumor de memórias que me mantinha desperta ao
mesmo tempo que suavemente me acalentava.”
Naquela idade de pura inocência, nem será preciso
dizer que eu imaginava que o meu avô Domingos
“era senhor de toda a ciência do mundo” (pensando
bem, passaram, talvez, uns sete anos desde o último
passeio, e continuo a imaginar o mesmo). Voltávamos
para casa depois das palavras carinhosas que davam
a entender que era hora de acabar com as partilhas
e longas histórias. Os pés começavam a pesar, bem
como os olhos e todo o corpo, o João Pestana estava
completamente presente e passara a conduzir todos
os meus passos.
Quando, à primeira luz da manhã, a voz e o
beijinho de bom dia da minha avó me despertavam,
o contador de histórias e o herói de todos os meus
pesadelos, já tinha saído para mais um árduo dia no
Ministério da Cultura. A minha avó já tinha preparado
uma enorme tigela amarela da milupa com cerelac,
nestum ou simples torradas encharcadas em manteiga
e mel, era o início de mais um dia de energia,
aprendizagens, ideias, brincadeiras e aventuras na
escola.
Guardo, no meu coração e na pessoa que sou,
as palavras e memórias do querido avô Domingos,
que tudo fez para eu decorar a tabuada e os verbos
naqueles longos passeios, afirmando, todas as vezes,
que seriam as bases mais importantes para todo o
meu percurso escolar.
E aquela casa, aquela casa... Com aquela
varanda, aquela varanda onde corria, andava de
bicicleta e fingia educar todos os nenucos e chicolas
que existiam lá em casa. Apontando, de forma
determinada para cada um deles e dirigindo-lhes
as palavras que me teriam sido transmitidas nesse
mesmo dia. Que nostalgia! Que saudades do tempo
que já não volta!
Mas para além daquela casa e daquela varanda,
hoje sei que as pessoas que coabitavam comigo (mãe,
avô, avó e tia) são as melhores do mundo, são as
personagens principais do livro da minha vida, os meus
mestres de vida, presentes ontem, hoje e amanhã, “no
bom e no menos bom, no bastante e no insuficiente, no
ganho e no perdido, naquilo que é defeito mas também
naquilo que é excesso”. Que, felizmente, todos eles,
ainda me guiam e me vão transformando numa pessoa
melhor a cada dia que passa, preparando-me para
todas e quaisquer advertências que inegavelmente
surgem. Creio que, sem elas, não seria mais do que
algo impreciso e incerto, algo que poderia ter sido mas
olha, não foi. Hoje sei que não sou essa pessoa e que
tive e tenho os melhores ao meu lado, a amparar-me
sempre que estiver a escorregar e que, certamente me
deixaram cair para aprender e crescer com a queda,
principalmente o querido avô Domingos, sempre
presente.
Esta memória surgiu hoje mesmo quando,
em conversa com o querido avô Domingos, nos
lembramos dos longos passeios e de todos os gatos
que já tinham sido batizados por nós. Hoje em dia, as
partilhas continuam a um ritmo alucinante, histórias
minhas e dele, seguidas de confrontos de ideias e de
várias discussões que acabam sempre com um abraço.
Assim como com cinco anos pedia todas as noites
“Avô, podemos ir passear?”, hoje, com dezassete,
peço todos os dias “Avô, amanhã podemos almoçar?”.
A PrimeirA memóriA, cAtArinA gonçAlveS – 12º1B
Lá estava eu, sentada na cadeira no meio da
cozinha na minha casa. Fria, sólida e solitária. Só me
lembro de estar no meio dela sentada ao pé da mesa a
olhar para um espaço vazio imaginário, tinha cerca de
5 anos (Um dos poucos flashbacks que tenho).
A memória mais viva que tenho aconteceu
quando eu tinha cerca de 7 anos, andava no segundo
ano. É estranho não me lembrar especificamente de
nada antes disso, é como se estivesse estado em
coma o tempo todo e só tivesse acordado aos 7 anos.
Estranha sensação, não ter noção do que aconteceu
naquele preciso momento do tempo. Muito estranho...
As experiências mais traumáticas da nossa vida são
as que ficam marcadas na memória, como se fosse
ontem que tivesse acontecido! Estranho ainda mais é,
quando nos contam o que se passou antes e pensamos
que nos lembramos, mas a derradeira questão é se
são verdadeiras ou simplesmente conseguimos vê-las
através daquilo que conhecemos com uma pitada de
imaginação à mistura até ao ínfimo ponto de realismo.
Por natureza, desde pequena, fui sempre
bastante distraída. Segundo o meu irmão e os meus
pais, aos 3 anos ia a correr em linha reta, mas distraí-me
e olhei para trás. Resultado: Muita dor da qual não me
lembro, simplesmente fui contra o sofá da minha sala.
Não, não tem piada, porque eu não me lembro. Para
acrescentar, disseram que estava com o meu boneco
favorito, o buzzligther do Toy Story. (Sim, era uma
criança que adora verdadeiramente os heróis, ainda
gosto.) Também disseram que tinha feito uma imensa
birra, cheia de drama, gritos e lágrimas à mistura
para ter esse único e fatal boneco que comprometia a
minha existência, sem ele eu não era nada (era assim
que pensava, paciência era uma criança)! Tenho muitas
mais histórias de primeiras memórias das quais nem
sequer me lembro...
Conto agora a verdadeira e a que me lembro
como se fosse ontem...
Uma história bastante dramática...
Nah, simplesmente envolve muita dor.
Nada dramático. Ora bem... por onde começo? Ah!
Estava atrasada para a aula de Inglês, estava já a ficar
stressada porque ia chegar tarde e não queria que
gritassem comigo. Então, muito normalmente fiz uma
corrida como tivesse a correr contra o tempo, num
corta mato super importante com grades oponentes,
na verdade estava juntamente com um amigo meu.
Ambos a correr à velocidade da luz e ao mesmo tempo
a conversar. Eu, como sempre, distraída que sou,
parva que sou, tinha que olhar para trás porque havia
outro colega que chamou o meu nome, que também
estava atrasado para a aula, que também estava numa
corrida contra o tempo. De um segundo para o outo
só sinto dor, e mais dor, e mais dor... Não sei o que
se estava a passar, não tinha consciência estava meio
perdida e sozinha, tinha perdido tudo como se tudo
tivesse acabado e era ali que estaria já. Só observava
branco. Um branco frio e gélido que sentia no corpo
todo. Desmaiei (é o que acho que aconteceu). Como
se nada tivesse acontecido, passado não sei quantos
minutos ou horas (tinha perdido completamente a
noção do tempo, talvez estivesse noutra dimensão
raptada por aliens? Não... não vou entrar por aí!).
Tinha acordado meio zonza, sem sentidos nenhuns,
simplesmente sentia uma dor no queixo, frio e estava
meio ensonada. Quando acordei completamente,
estremeci e reparei no que estava à minha volta -
estava na secretária do meu colégio. À minha frente
estava a minha mãe com cara de que algo terrível
tinha acontecido, uma notícia terrivelmente fatal.
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E eu com muita calma pergunto inocentemente “o
que e passou?” A resposta foi simples “Partiste o
queixo e tens que ir ao hospital.” Fiquei paralisada
no tempo, não sabia o que sentir naquele momento,
não sentia nada, apenas choque. Como é que se tinha
passado tal coisa?...Fui imediatamente para o carro da
minha mãe e fui diretamente para o hospital. Entrei
rapidamente e só me lembro de uma médica bastante
simpática que dizia que me iria dar pontos no queixo e
que não iria doer nada. Pôs-me várias substâncias que
faziam bastante impressão. A seguir estava eu deitada
na marquise enquanto a médica me estava a coser o
queixo e, sim, é tão desagradável quanto pensam. Uma
agulha fria a passar pela carne a dentro e sentir tudo...
(sem dor...) é outro mundo... Não queiram passar por
isso. A minha mãe estava ao meu lado, branca como
a neve, chocada, tão chocada que teve que sair e ir
apanhar ar. Segundo ela, via-se bastante bem o osso.
Não é uma imagem muito agradável de se ver, imagino.
Também me disseram que tinha pedaços pequeninos
de azulejo... agradável não é? Quando saí do hospital
ainda estava em choque. O mais interessante foi o
facto de simplesmente não conseguir mastigar, tive
que comer sopa durante uns longos mesinhos. Outro
facto bastante interessante foi o dia seguinte na escola.
Visitei onde ocorreu o local do crime. Deparei-me
com muitas provas, grandes evidências fatais. Tinha
batido numa esquina da parede, que tinha azulejos
e, onde tinha batido, o azulejo estava todo partido
e com pequenos pedaços de sangue ainda. Muito
agradável para a nossa visão! Sou perfeitamente uma
destruidora de esquinas e perita em destruir azulejos
com o queixo, devia de haver uma profissão para isso,
e eu seria perita nisso.
O pior de tudo foi quando tive que tirar os
pontos, aí é que a verdadeira dor existe. Arrancados os
seis pontos que tinha levado todos que uma vez, zás!
Ouch...ouch... ouch. Muito brutal para uma criancinha
com sete aninhos, muito sofrimento. Acontece.
A fugA, cheilA cArdoSo – 12º1B
Era dia quinze de julho de 2000, estava uma
manhã agradável, com o sol radiante, os pássaros a
cantar, e uma breve brisa a pairar. Tinha apenas três
anos, não sabia exatamente o que ia acontecer, apenas
sabia que o meu primo se iria casar, o que era bom e
especial.
Estavam todos radiantes nesse dia, só se
viam sorrisos e olhares felizes, beijinhos para um lado,
abraços para o outro. Todos estavam bem vestidos, e
lembro-me perfeitamente, como se fosse ontem, que
eu era a “menininha” que se destacava. Tinha perdido
três horas no cabeleireiro, mas tinha valido a pena...
sentia-me uma criança adulta, o que na altura para
mim era bom. Tinha todos os olhos em mim, todos
comentavam o quão magnífica eu estava.
Isto tudo para quê? Pois parece que eu era
a menina das alianças, o que era, e é, uma grande
responsabilidade. Tinha de ir radiante, e tudo tinha
de correr bem. Com apenas três aninhos tinha essa
responsabilidade toda, de entrar com a noiva e ficar
ao pé dela durante a comemoração, até o padre pedir
as alianças. Estava muito nervosa, tinha medo de
fazer alguma coisa mal, ou de cair com as alianças, ou
mesmo de pisar sem querer o vestido da noiva, o que
felizmente não aconteceu...
Já tínhamos entrado na igreja, a mulher do
meu primo e ele estavam no altar, e eu já estava na
minha posição. A cerimónia estava prestes a acabar e
tudo estava a correr bem, até ao momento em que
me chamaram para ir entregar as alianças ao padre e
durante esse percurso bloqueei, tive medo do padre
e fugi para ao pé da minha mãe. Lembro-me como se
fosse ontem, todos estavam a rir, acharam engraçado
o sucedido, e a minha mãe estava envergonhadíssima,
mas ao mesmo tempo não parava de rir. Até mesmo
o padre não parava de rir, foi um momento bastante
engraçado, até que, quando estava entre as pernas da
minha mãe, teve de lá ir o rapaz que me acompanhava
para me dizer que o padre não fazia mal e que estava
tudo bem.
No entanto, já não quis ir mais para o altar dar
as alianças e dei ao rapazinho. Fiquei envergonhada
e triste ao mesmo tempo, por não ter conseguido dar
as alianças. Mas depois tudo correu bem, a cerimónia
foi memorável não só pelos noivos, mas também pela
desgraça engraçada que se sucedeu.
Depois da cerimónia, fomos todos para o
copo de água, onde todos estavam alegres a dançar,
a cantar e a apreciar a vida, pois a vida é como um rio,
passa e não volta atrás, está sempre a correr, e a única
certeza que temos é do seu destino, a foz (morte), “(...)
a vida/ Passa e não fica, nada deixa e nunca regressa”.
Portanto devemos aproveitar a vida ao máximo já que
nunca vamos saber qual e quando vai ser o nosso fim.
A minhA PrimeirA memóriA, cláudiA cid gonçAlveS, 12º1A
O dicionário da língua portuguesa define
memória como “tomada de consciência do passado
como tal”. Mas uma memória é tanto mais do que isso.
As memórias transportam-nos para outros tempos e
permitem-nos reviver experiências como se mesmo do
presente se tratassem...
Já passa das 8 horas da manhã quando saio
pela porta de casa, com três anos, debaixo do braço
protetor da minha mãe e certamente ainda não pronta
para enfrentar o mundo. É o primeiro dia de aulas e
não sei de todo o que me espera depois de transpor a
entrada de uma escola que me é estranha. O brilho do
sol quase me cega no momento em que saio à rua, e
sinto uma leve brisa de final de verão, que me lembra
da chegada de setembro.
Recordo-me perfeitamente de como me senti
enquanto caminhava na direção de um futuro incerto,
para um local que iria eventualmente acompanhar todo
o meu crescimento, aterrorizada, mas entusiasmada
graças a todas as promessas de bons tempos que me
tinham sido feitas por familiares.
É curioso como as memórias funcionam, mas
de pouco mais me lembro até ao momento em que
cheguei, ainda com a minha mãe, à porta da minha
primeira sala de aulas. Por alguma razão, estava agora
no seu colo, com a cara enterrada na curva do seu
pescoço, evitando o ambiente ruidoso que me rodeava
e fingindo que a imensidão do mundo estava limitada ao
nada que observava de perto, com os olhos fechados.
Ouviam-se gritos e crianças a rir despreocupadamente,
sons que eram apenas sobrepostos pela voz da
educadora de infância que me parecia estar a poucos
passos de distância, assegurando à minha mãe de que
eu estaria bem, longe da sua proteção e cuidado. Foi
apenas no momento em que fui posta no chão que
abri os olhos e me deparei com a realidade da situação
que estava a viver. Habituada ao conforto e segurança
da família, nunca me tinha sentido tão abandonada.
A minha mãe, até aí a minha protetora, a minha luz, a
minha realidade... virou as costas e seguiu para a saída
mais próxima, evitando os meus olhos, que agora se
enchiam de lágrimas. Perante o meu primeiro contacto
com a independência forçada a que fui desde então
várias vezes sujeita, o meu primeiro instinto foi berrar.
Imediatamente comecei a correr em direção aos
braços da minha mãe, o meu único refúgio neste
estranho lugar onde os pais abdicam das suas crianças
e desaparecem sem sequer um “adeus”... Não me
orgulho do tempo que demorei a chegar à conclusão
que a minha mãe ia, de facto, voltar para me buscar
dentro de horas. (As crianças de 3 anos realmente
não têm a mais ampla capacidade de compreensão
alcançável pelo ser humano). Assim, depois de muitas
lágrimas por parte de todos os envolvidos, finalmente
entrei na sala e enfrentei o que seria o meu dia a dia
nos próximos anos.
Este foi o início do meu primeiro dia de aulas,
mas mais do que isso, foi o início de uma longa jornada
que termina em breve. Chegarei ao fim do meu
percurso escolar com nada mais do que memórias dos
dias que me tornaram na pessoa que sou. Parece que,
no final, tudo o que temos são memórias e histórias de
tempos vividos. A única coisa que podemos fazer até lá
é garantir que vivemos as melhores histórias possíveis.
A minhA PrimeirA memóriA, diAnA gonçAlveS – 12º1A
Até ao dia de hoje, a minha vida esteve
sempre repleta de momentos bons. Poucas foram
as situações mais desagradáveis, tristes ou chatas
que atravessei. Tive a melhor infância que qualquer
criança podia ter tido: adorava a escolinha, tinha uma
multidão de amigos, viajei muito com a minha família,
brincava, cantava e ria por nenhuma razão em especial.
Basicamente, tive uma infância feliz, em que nunca me
faltou nada.
Por ter uma vida tão fácil e feliz, os momentos
que mais me marcaram foram os piores, isto é, aqueles
que saíam da normalidade do meu dia a dia. A minha
primeira memória podia ser das festas amorosas que a
minha mãe me organizava, com bolos ótimos em forma
das personagens da Disney que eu tanto gostava, da
minha primeira viagem à Madeira (tinha exatamente
três anos), ou do cheiro a relva molhada dos campos
de golfe da Quinta do Lago, onde passava férias. Mas
não. Eu considero que a minha primeira memória é
algo de que me lembro genuinamente, sem fotografias
ou relatos de outras pessoas que me podem levar a
reconstruir a situação na minha cabeça, podendo eu
achar que me lembro quando simplesmente imaginei.
Deste modo, a minha primeira memória, além de ser
algo que me marcou negativamente, é também algo
que nunca ninguém me contou.
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Era mais um dia de escolinha, quando chegou
a tão esperada hora de almoço, a melhor parte do dia,
pois temos muito tempo para brincar no recreio. O
almoço era empadão de peixe, algo que eu e a minha
amiga Chloé detestávamos. Lembro-me que ambas
fizemos um esforço para comer um pouco, obrigadas
pela auxiliar Mónica, claro! Já todos os meninos tinham
ido lá para fora brincar e aproveitar o maravilhoso dia
de sol que também nos esperava. Eu e a minha amiga
estávamos desejosas de a Mónica nos deixar sair, mas
esta obrigava-nos a comer mais e mais. Sentia-me tão
enjoada naquele refeitório abafado e sufocante, que
desesperei. Sentia um ódio terrível por aquela mulher
que nos impedia de ir lá para fora. Naquele momento
pareceu-me que chorar e chamar a atenção das outras
auxiliares era a única opção. Assim fiz, obviamente
que ficaram todas preocupadas e me deixaram sair
imediatamente. Mal saí, já estava toda contente e
sorridente. Para ajudar a Chloé, disse-lhe: “Chora,
Chora, que elas deixam-te sair”. Para meu espanto,
a Mónica estava mesmo atrás de mim, ouvindo-
me dizer tal coisa. Acabei por levar um sermão que
provavelmente nunca me vou esquecer.
Agora, olho para trás, e a minha primeira
memória até parece um pouco ridícula, apesar de ter
tido impacto suficiente em mim para ficar na minha
memória para sempre.
A minhA PrimeirA memóriA, diogo mirAndA – 12º1
A minha primeira memória remonta ainda ao
século passado e a um local que muitos diriam ser
mais velho que os séculos.
Numa aldeia escondida do interior, de nome
Baraçal, eu observava dezena e meia de soldados a
colocarem-se em sentido e a dispararem para o ar,
enquanto perguntava à minha avó numa linguagem
atabalhoada própria de quem ainda tem dois anos:
“Eles tão a mandar pó avô David?”
Soldado reformado, outrora combatente no
ultramar, tinha falecido há poucos dias. Não me lembro
da cara dele (apenas a conheço graças a fotografias),
nem de estar com ele, mas lembro-me de ver os
soldados a disparar para o ar em sua homenagem no
seu funeral.
Não sei como estava o tempo, que eventos
ocorriam no mundo, que equipa tinha perdido no fim-
de-semana. Só sei que lá estava eu, a minha avó a dar-
me a sua mão quente, os soldados com ar pesaroso e
aquele homem a ver-me desde lá de cima, ainda não
percebia bem porquê.
A verdade é que a única razão que eu vejo
para me lembrar de tal acontecimento, tendo tão tenra
idade, foi o impacto que a morte do meu avô teve em
mim sem eu sequer saber ou poder sentir.
(Segundo a minha avó, ele levava-me a passear,
adormecia-me e ralhava com quem se atrevesse a
mandar-me parar de dançar na sua cama, quando ele
lá estava, afectado pela doença, sem se poder mexer.
Éramos os melhores amigos por certo e a verdade é
que as suas últimas palavras, arrancadas com esforço,
foram: “Só tenho pena de não poder ver este menino
crescer”.
E, recordando este momento penso para
mim: será que o homem que não me viu crescer teria
orgulho em mim? Espero que sim.)
A minhA PrimeirA memóriA, frAnciSco limA – 12º2
Uma das minhas primeiras memórias foi o meu
segundo ou terceiro Natal, onde já mostrava sinais
de graves problemas mentais, mais concretamente
a imagem que guardo das prendas que recebi, em
particular uma muito especial.
Assim, nessa altura, a imagem daquele
homem, que sofria de obesidade extrema e que
ironicamente tinha estaleca suficiente para subir até
ao telhado da casa e descer pela chaminé sem ficar
entalado, vandalizando o frigorífico à procura de
bolachas e leite ao mesmo tempo que deixava cair
um monte de caixas mal embrulhadas por todo o lado
e voltar a sair não sabia bem por onde, deixava-me,
a mim, uma pura criança que ainda desconhecia o
significado da palavra “assalto”, num profundo estado
de ansiedade pela chegada do dia 25.
Lembro-me que no fim do dia 24, por volta das
seis da tarde (que para uma criança de dois, três anos já
são altas horas da madrugada) os meus pais disseram
para eu ir dormir e como boa criança pachorrenta fui
sem contestar. Passados alguns dias (à meia noite) eu
lá fui acordado pela minha mãe a dizer “ O Pai Natal
chegou Kiko! O Pai Natal chegou!”.
Dada esta situação tão inesperada eu tinha
que me compor para receber as visitas! Coloquei o
meu robe amarelo e as minhas botinhas de cetim e
segui para a sala atrás da minha mãe que se estava a rir
de uma situação que para mim era muito séria! Era o
Pai Natal, uma pessoa ilustre, à minha espera! Quando
cheguei vi um mar de presentes: uns grandes, outros
pequenos, uns compridos, outros curtos, uns bem
embrulhados, outros da avó... Enfim uma montanha
de vermelhos e dourados para a qual, sem grandes
inquietações, me dirigi e comecei a escavar.
Recebi um pouco de tudo. Um aspirador com
o qual me diverti imenso durante 10 minutos a aspirar
a televisão até descobrir um carrinho de polícias que
acidentalmente se despistou contra um teletubie ao
perseguir um Action Man numa mota de água. Este
espetáculo foi observado e filmado pela família em
geral que via com um ar de ternura e ao mesmo tempo
a pensarem “Coitadinho...esperemos que seja apenas
uma fase”. Mas tudo mudou quando me deparei com
um embrulho maior do que eu que me encarou com um
olhar desafiador e nesse instante senti que era a minha
obrigação saber o que estava lá dentro. E foi neste
momento que o Natal fez verdadeiramente sentido na
minha ingénua cabeça! Era um pack de 24 garrafinhas
“piquininas” de água do Luso! Eu não estava em
mim! Olhei para o pack das garrafinhas “piquininas”
de boca aberta e de braços no ar, olhei para os meus
pais e abracei o pacote e gritei “as minhas garrafinhas
piquininas!”. Neste momento recordo-me de ouvir
uma voz distante “ Ai não, a criança tem problemas,
esta vem com defeito, tragam outra!”. Claramente
a minha avó que não compreendera a felicidade na
qual eu estava inundado, pois aquele pacote gigante
de garrafinhas “piquininas” tinha sido a única coisa
que tinha pedido para o Natal e, para não me fazer
essa desfeita, os meus pais, passando uma vergonha
enorme, pediram para embrulhar no Continente,
literalmente, umas paletes cheias de garrafas de água.
E esta é uma das primeiras recordações que
guardo. Provavelmente por, nos anos seguintes, ter
sido altamente traumatizante estarem sempre a referir
aquele momento da revelação e a estupidez que é
pedir no Natal garrafas de água. Ou se calhar porque
sempre que há um almoço de família pedem sempre
uma garrafinha “piquinina” de água para eu beber.
Não sei, a verdade é que desde dessa altura nunca
mais ninguém se calou e nunca mais fui capaz de ser
o mesmo.
memóriA, fredericA ABreu – 12º2
Se pela minha própria cabeça chegava lá?
Claro que não, mas vim a saber que foi em outubro
de 2000.
Ao longo destes meus 17 anos, já me pus a
pensar muitas vezes nos meus dias vividos em Macau
para tentar perceber se me lembro de alguma coisa,
momento, minuto, viagem, passeios, e nada. Nem do
regresso para Portugal. Mas engraçado, lembro-me de
algo que aconteceu dois meses depois.
Esta grande memória, 14 anos depois, ainda
a carrego comigo. Por mais cliché que soe, foi o dia
em que fomos buscar o nosso cão, Kofi. Dia de chuva
inacabável, e um frio tremendo, estávamos a minha
mãe, os meus dois irmãos e eu do lado de fora de
casa da Tia Zé, eu tinha uma gabardine branca, ou
encarnada, e acho que não tinha muita noção do que
estava prestes a acontecer. Os nossos pés entram
nesta casa, e os nossos olhos deparam-se com ele,
pontiagudos, olhos matadores, dentro de uma caixa
amarela. Sim, este cão, que me chegava a meio das
canelas, não fazia mal a uma mosca, estava assustado
com o facto de estarem seis crianças a olhar para ele,
um salsicha amedrontado, e eu, que era uma criança,
tinha uma mente muito fértil, tal como o meu irmão.
O Lourenço e eu, (imagino que seja por sermos
os mais novos) estávamos apavorados e fomos a correr
para a cozinha, nem demos hipótese ao coitado.
Ainda demorei uns dez minutos, mas lá quebrei esta
“barreira” que nos separava e juntei-me ao Rodrigo,
eu olhava para ele como se fosse um alien. Estive assim
algum tempo até que fiquei vidrada. Só depois é que
o Lourenço teve a coragem de se aproximar, e ainda
assim com aquela distância de segurança.
Sou a primeira a dizer que nos anos que se
seguiram, lá em casa eu era a pessoa mais antipática e
má para este cão. Não lhe ligava nenhuma, não tinha
a mínima paciência quando ele começava a ladrar, e a
quantidade de pontapés que lhe dei para o afastar do
meu corpo (coisa que mais me custa pensar hoje em
dia) é impressionante.
Aquele medo que no tal dia tive passou de tal
maneira que mais ou menos 7 anos depois chegou a
Cookie lá a casa (agora no Brasil), e no ano seguinte, já
tinham 2 filhas, a Brownie e a Crispi, é uma família feliz
que aqui está em Portugal, com todos os membros,
ligeiramente mais velhos.
Agora com 17 anos, vejo o Kofi com os olhos
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brancos, mal consegue andar quanto muito correr, subir
escadas nem se fala, ladrar não passa de um gemido, e
aquele pelo castanho escuro misturado com castanho
claro agora também tem misturada uma boa quantidade
de pelos cinzentos esbranquiçados, comer ração agora é
só com uma gota de leite misturada.
Sim, é uma verdade, todos envelhecemos, mas ver
aquele que tanto se diz ser o melhor amigo do homem, e
que cresceu comigo neste estado custa muito.
Há sete, seis anos não lhe ligava nenhuma e ele
“não gostava de mim”, porém, hoje, reparo que sempre
que estou no sofá vem ter comigo e senta-se ao meu
lado com necessidade de festinhas, levanto-me para ir
a qualquer sítio, vem comigo, quando chego a casa, é o
que mais festa me faz e o que fica mais tempo comigo à
espera de uma grande quantidade de atenção.
As coisas mudam, e nós crescemos. Aquilo que
mais me impressiona é que ele nunca me abandonou
ou se “chateou”. Eu sempre fui a que pior lhe o tratei na
sua juventude, e hoje em dia ele está sempre comigo.
Parece que me desculpou, ou que simplesmente ignorou
a maneira como eu o tratava, e é isso que eu acho incrível
nestes animais, nunca nos abandonam.
Todos os dias penso durante um tempo como
será o dia em que isto acabar, a reação, os dias seguintes,
como vão ficar as cadelas, como é que vai ser tudo. No
fundo o Kofi esteve comigo praticamente a minha vida
toda, e nesta família esteve estes anos todos, já estamos
mais que habituados, e tocou-nos a cada um de nós de
uma maneira diferente. É um membro crucial na nossa
família. Portanto, sempre que penso nisto acabo a olhar
para ele e não chegar a conclusão nenhuma, e o pior é
que eu sei que esse dia já esteve bastante mais longe.
Esta memória aqui está comigo, cada vez mais
velhinha como tudo no mundo, mas é cada vez mais
importante e mais significativa na minha vida.
gAvetA dAS coiSAS fAntáSticAS, f.
Tinha eu dois anos, (idade que deduzo, pois
apenas estive naquele local num curto período de tempo
e concluo assim que é a minha memória mais antiga), e
encontrava-me na cozinha do apartamento da minha avó.
Uma divisão estreita, mas muito longa e toda em brilhantes
tons de branco, onde, quase como se lá pertencesse, se
encontrava no centro, uma figura alta, esguia e atarefada
que suponho eu que fosse a minha avó.
Nessa cozinha, lembro-me em especial de uma
gaveta que me trazia grande entusiasmo só pela ideia
de ver os seus conteúdos. Era onde se guardavam os
instrumentos de cozinha desde a cápsula metálica onde
se punham as folhas de chá, até a instrumentos que ainda
hoje me interrogo acerca da sua utilidade. Escusado será
dizer que na altura, para mim, era apenas uma gaveta
atafulhada de geringonças que mais pareciam brinquedos.
Lembro-me que, por mais que tivesse outros
entreténs, aquele era o lugar de toda a casa que mais
apelava à minha infantil curiosidade e interesse. Mas o
que mais é intenso na minha memória, é a doce voz da
minha avó que alegremente e de uma maneira de certo
modo encorajadora dizia: “Lá vai o meu neto mexer na
gaveta das coisas fantásticas”.
A minhA PrimeirA memóriA, jl - 12.1A
Neste momento tenho 17 anos, não me posso
queixar da minha sorte na vida, considero-me bastante
afortunado por tudo o que tenho. Tive uma infância alegre
e feliz, segundo o que me lembro, mas principalmente
tenho essa ideia devido a todas aquelas emocionantes
histórias que nos são contadas pelos nossos pais.
Sinceramente, não faço ideia de qual é a primeira
memória que tenho, nem lembrada por mim mesmo, nem
me dita pelos meus pais. Tenho sim uma coisa que me
marcou bastante, e que ainda hoje em dia tenho saudades.
Deste pequeno tenho uma certa paixão por
tecnologia, sempre tive curiosidade sobre todos aqueles
mecanismos que desconhecia. Os meus pais aperceberam-
se disso ainda eu era um miúdo com 5, 6 anos e decidiram
oferecer-me um gameboy, a mais recente consola portátil
da altura! Segundo os meus pais, ao abrir a caixa, os meus
olhos brilhavam do prazer que eu antecipava ter com
aquele pequeno brinquedo.
Para mim, aquele pequeno brinquedo era o
meu melhor amigo, como ainda não me tinha habituado
a toda aquela realidade da escola, eu dedicava todo o
meu tempo fora da escola ao gameboy. A minha rotina,
nessa altura, seria acordar, ir para a escola, jogar durante
os intervalos na escola e chegar a casa e jogar até ir
dormir, e não me cansava disso, por outro lado, adorava
e era extremamente feliz assim... Lembro-me daquela
sensação de ser um rapaz inocente e realmente adorar
cada segundo que tinha a consola nas mãos.
Decidi escrever sobre sobre este pequeno e
maravilhoso brinquedo por uma razão apenas, há uns dias,
estávamos em arrumações e deparei-me com o gameboy,
logo de seguida surgiu em mim um sorriso nostágico de
saudade, uma sensação estraordinária. A seguir vieram as
caixas do jogos, e surpreendentemente ao ver cada caixa
ia passando pela minha mente imagens daqueles jogos e
aí sim, senti mesmo aquela saudade apertada daqueles
bons tempos.
Espero conseguir conservar o gameboy para que
um dia, quando eu tiver filhos, estes tenham a possibilidade
de desfrutar de alguns bons momentos proporcionados
por este brinquedo que me alegrou bastante a infância.
tArde de meninAS, mAfAldA SeABrA - 12º1ª
A minha primeira memória… A primeira vez que
tive noção do que estava à minha volta, provavelmente,
foi a olhar para a minha mãe ou a brincar com a minha
irmã ou até simplesmente a olhar para o meu peluche
preferido. Não me recordo da primeira, há tantas que
saber a sua ordem cronológica é impossível. Só sei que
uma delas me foi tão importante, que agora a considero
como a primeira.
Deveria ter por volta de cinco ou seis anos, não
sei ao certo. Só sei que era bastante pequena, tanto
que a minha mãe de um metro e cinquenta me parecia a
mulher mais alta do mundo e dar-lhe beijinhos era tarefa
impossível. Estávamos a poucas semanas do Natal e,
assim como todas as famílias, a minha começou a pôr os
efeitos pela casa. Eu, a minha irmã e a minha mãe, como
sempre, a partir desse ano, é que púnhamos a casa no
seu total espírito natalício, sempre acompanhadas com
música, alegria e diversão.
De todas as coisas que púnhamos pela casa, a
árvore era claramente a mais importante. Adorava... Claro,
as bulhas e gritos com a minha irmã sobre quem ia pôr a
estrela em cima da árvore aconteciam todos os minutos,
mas neste ano quem pôs... foi ela… Fiquei tão triste…
Era o que mais queria, lembro-me de depois ter ficado
amuada e de me ter ido sentar no sofá, de braços cruzados,
decidida de que já não ia ajudar mais nas preparações.
Queria “castigar” a minha mãe por ter feito uma decisão,
a meu ver, errada, como se uma pirralha daquele tamanho
fosse chegar a algum lado com uma birra. Como era de
esperar, a minha mãe não ligou, mas não se esqueceu do
facto de colocar uma estrela dourada no topo da árvore
poderia ser das coisas mais importantes para mim e que
não o fazer me poderia causar uma angústia profunda.
Portanto, ela colocou uma música especial, “Bamboleyo”,
a nossa música e começou a dançar para mim. Não
consegui evitar não me rir e ir a correr ter com ela, com
um sorriso do tamanho do mundo, e dar-lhe um abraço.
Como era de esperar, a birra já estava mais que esquecida
e a minha irmã já era a minha melhor amiga outra vez.
Assim ficou, a primeira preparação do Natal, como
a minha primeira memória. A tarde em que passei de
tristeza e irritação a pura alegria com uma simples dança
ao som de uma música latina, à frente de uma lareira, no
quentinho e com as pessoas de quem mais gosto.
umA memóriA de infÂnciA, mAfAldA nuneS – 12º1B
Estávamos no ano 2000, o dia já não me recordo
bem, mas sei que era inverno, pois a chuva corria pelas
janelas e o frio entrelaçava-se nas nossas peles, numa
suave, mas cortante brisa.
Tinha acabado de acordar e, como sempre, ia a
correr para o quarto dos meus pais e deitava-me na cama,
para aproveitar os últimos minutos antes de me ir vestir e
de ir embora para as aulas.
Muitos não sabem, mas tenho dois irmãos, uma
irmã mais velha e um irmão gémeo. E esta memória passa-
se com ele, uma vez que fazíamos tudo juntos, porque
hoje já não é bem assim.
Íamos os dois a correr, desejosos de dormir mais
um pouco, para ver e viver mais nos nossos sonhos, quando
demos por nós a brincar um com o outro. A brincadeira
baseava-se na “luta” pela cama, ou seja, um de nós ,
que por acaso era eu, estava em pé na cama e não podia
deixar o outro subir para lá. Estava a ser divertido, até que
ele se magoou numa das mesas de cabeceira e partiu a
cabeça e a suposta brincadeira acabou no hospital.
Não sei porquê, mas esta é a primeira memória
da minha vida que me lembro, pelo menos aquela em que
tenho a perfeita noção de como tudo se passou. Pode não
ser a mais feliz, mas para mim é, sem dúvida, uma das mais
felizes, porque basta ouvi-la que o meu coração se enche
de alegria e saudade desses tempos de criança.
A minhA PrimeirA memóriA, mArgAridA leão – 12º1B
Ainda me lembro da nossa viagem a Cabo
Verde… Ou melhor, da viagem não me lembro, ninguém
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com dois ou três anos se lembraria de algo tão banal…
Mas lembro-me da nossa aventura!
Os raios de Sol entranhavam-se na nossa pele,
o que aos outros proporcionava uma enorme satisfação
e um bronzeado fantástico e a mim me implantava um
enorme escaldão e um ardor horrível (apesar de andar
sempre besuntada em protetor solar).
Lá íamos nós, dunas abaixo, num jipe do
tempo da guerra (certamente a condução não seria
muito diferente), verde escuro e ferrugento, com o
meu tio ao volante. O jipe descia colina abaixo aos
trambolhões, o meu pai ia no banco de trás a refilar
com a falta de condições básicas de segurança da
carroçaria e lá íamos nós a saltitar, presos apenas
pelo facto de estarmos seis pessoas em três bancos
e a bater com a cabeça no teto do carro de vez em
quando. O ânimo reinava entre os mais novos… O
meu irmão com sete anos ia superexcitado a debitar
tudo o que sabia sobre o jipe e sobre Cabo Verde e
a falar com o meu tio sobre mecânica, eu e os meus
primos, eu com três anos, o meu primo com dois e
o mais novo com apenas um ano íamos ao colo dos
nossos pais a rirmos com os solavancos da areia e a
“cavalgar” naquela terra longínqua.
No meio daquela animação, sentimos o carro
a tropeçar num enorme monte de areia e o pânico
e o silêncio reinaram. O carro berrou, berrou e após
tanto esforço e cansaço, acabou por ir a baixo. O meu
tio deu à chave, tentou sair de lá usando a primeira
mudança… As rodas patinaram, patinaram e nada!
Ligou o carro outra vez, desta vez tentou de marcha
atrás, barulho lá o carro fez, mas nem um centímetro
andou. Estávamos presos no meio de um país
desconhecido sem soluções à vista… Nós, as crianças,
estávamos enjoados com aquele fedor a gasolina,
fartos de esperar e, claro, impossíveis de aturar… E os
adultos a refilar com o meu tio por estarmos atascados
na areia.
No meio daquela exaltação, o meu tio
mandou-nos, a mim e ao meu irmão, apanhar plantas
para pormos de baixo das rodas do jipe. Foi essa a
melhor parte da nossa aventura! Lembro-me tão
bem da minha felicidade ao ir a rebolar duna abaixo,
apanhar as flores mais cheirosas que encontrei, voltar
a saltitar até ao carro e pôr as flores por baixo das
rodas…
Infelizmente a nossa brincadeira foi sol de
pouca dura e quando nós estávamos prontos para
mais umas horas a brincar, o carro conseguiu escapar
da areia, o nosso tio mandou-nos entrar e seguimos
viagem, desta vez com as crianças desanimadas por
lhes terem tirado a brincadeira e com os adultos
a pregarem que nunca mais iriam andar de jipe nas
dunas com o meu tio. Para contrastar, o meu tio, sendo
ele doido por clássicos ou por “carros velhos” como
nós lhes chamávamos, ia todo feliz da vida com a nossa
grande aventura e todo orgulhoso da nossa vitória,
não entendendo o descontentamento de todos os
outros…
A nossa aventura acabou aí, mas a memória
deste dia perdurou nas nossas vidas ao longo de anos
e anos e este foi um dia realmente inesquecível para
cada um de nós, seja pelo stress ou pela alegria, a
verdade é que este momento foi guardado na memória
de cada um de nós até hoje… E agora, através da
escrita, até que o papel perca a tinta…
A PrimeirA memóriA, P.
Tinha 5 anos, estava assim, no primeiro ano
da escola básica. Era janeiro e estava um esplêndido
dia de sol e a seguir ao almoço eu e a minha turma
estávamos a jogar aos “polícias e ladrões”, um jogo
que na altura estava na “moda”. Enquanto eu fugia de
um “polícia”, a minha irmã estava a jogar às cartas com
um amigo, deitada no chão, ela estava no segundo
ano sendo que é um ano mais velha que eu. Acho
que medi mal a distância ou alguma coisa parecida
mas quando ia a saltar por cima do amigo dela, pois
iria encurtar a minha fuga tropecei e torci o pé. Eu
realmente não sei o que aconteceu só me lembro
que de repente tinha uma dor enorme no pé e não
o conseguia mexer. Escusado será dizer que o meu
tornozelo ficou do tamanho de uma bola de ténis e
o colégio levou-me para o antigo hospital de Cascais.
A Rosa levou-me ao colo para o táxi, e eu não era
propriamente leve, assim fui para o hospital. A minha
mãe foi lá ter, eu dei entrada no hospital por volta das
15h da tarde e apenas sai de lá por volta das 21h da
noite, isto, claro, devido à fantástica organização que
o hospital de Cascais tinha. A escola facultou-me umas
muletas para poder usar durante a minha recuperação
e, sim, no hospital disseram-me que tinha feito uma
rotura de ligamentos.
Evidentemente que ter de usar muletas pela
primeira vez não é fácil e ainda por cima em pleno
inverno só me veio dificultar a vida, havia dias bastante
chuvosos e cheguei a escorregar várias vezes, incluindo
uma vez em que estava ao pé do bar e meti mal uma das
muletas e caí, na altura até parecia que estava a cair em
câmara lenta, mas não, acabei por aterrar de cotovelos
no chão. A minha mãe, nesse mesmo dia, levou-me a
um centro de fisioterapia e recuperação, que cheirava
a barro, para me porem gesso no pé, dado que era
demasiado nova e estaria sempre a cair e estar sempre
a cair só me iria piorar ainda mais a lesão. Mas também
ter torcido o pé não trouxe só coisas más! No dia de
carnaval, a escola estava a organizar um “desfile” pela
avenida de Sintra com todos os alunos do primeiro
ciclo, tendo como destino juntarmo-nos todos numa
praia de Cascais. Se eu fosse de muletas pela avenida
toda não só demorava meio século a descer, como
“morria” a meio, então, como a minha mãe não me
quis privar de nada, levou-me num carrinho de bebé a
avenida inteira e assim pude ir com os meus amigos.
Tive de estar 2 meses com o pé engessado e depois
de o retirar ainda tive de fazer fisioterapia, pois não
fazer qualquer movimento ao pé durante tanto tempo
tinha-me debilitado bastante o tornozelo.
Esta foi a primeira vez que eu torci um pé, mas
não foi a última... Espero que nos próximos tempos
não vá ter mais nenhuma lesão.
QuAnto vAlem AS minhAS memóriAS?, SArA coStA – 12º1B
Já faz algum tempo desde a minha primeira
memória, era eu tão pequenina, ainda não sabia
nem metade do que estava à minha espera, vivia na
inocência do momento. Na minha opinião, vivia num
mundo isolado de princesas e bonecas…Não posso
dizer que a infância foi o melhor momento da minha
vida, mas foi sem dúvida um momento de paz e alegria,
sem preocupações nem lamentações, simplesmente
vivia…
Tinha a minha vida encaminhada pelos adultos
ao meu redor. As únicas preocupações que tinha eram
as de ter a certeza que as minhas bonecas estavam bem
e de ver os Teletubbies, que era o que eu mais gostava
de ver quando era pequena...Ai…que saudades que
tenho desse tempo…lembro-me tão bem…todos os
dias ia para casa da minha tia, quem tomava conta de
mim até os meus pais chegarem, sentava-me na cama
da minha prima e ligava a televisão, tinha eu 3 anos
e já ligava a televisão no canal certo! Ia buscar um
pano da cozinha, sentava-me e esperava que a minha
tia trouxesse a tacinha de fruta, e claro que eu comia
sozinha!
Já nessa idade, tinha vontade de ser
independente…
Pegava no garfo e ia saboreando os variados
pedacinhos da fruta, que a minha tia, com todo o
carinho, cortava. Lembro-me de o pano que usava estar
sempre húmido…Lembro-me também, de pensar
para onde os meus pais iam quando me deixavam,
a minha tia dizia que eles iam trabalhar para ganhar
“tostões”, mas o que eu queria saber era mesmo o
que eles iam fazer e porque não podia ir com eles...
Depois de comida a salada de fruta, eu deitava-me, a
minha tia tapava-me com uma manta muito quente e
eu agarrava-me ao meu “óó” a ver os Teletubbies até
adormecer, porque todos os dias eu gostava de fazer
a sesta...
Seria tão bom regressar a esse tempo…tempo
de descanso…
Digo isto, mas também tive alguns percalços!
Lembro-me tão bem…Estava deitada na cama da
minha prima, como de costume, acabadinha de acordar
e ouvi barulho lá fora, porque o quarto da minha
prima tinha uma janela para a rua, então fiquei muito
assustada… Como era muito pequenina, demorava
a sair da cama, para mim ela era alta demais, mas
eu lá me arranjava…Depois de conseguir descer da
cama com muito esforço, dei uns cinco passos muito
silenciosos e aproximei-me do cortinado que separava
o quarto da minha prima do hall de entrada, agarrei
num dos lados do cortinado e espreitei para ver se via
alguma coisa de estranho, como não vi nada, avancei
para o hall e fui procurar a minha tia no resto da casa,
sempre com muita cautela, sempre muito atenta a
todos os barulhos. Procurei-a depressa, porque a casa
era pequena, mas infelizmente, não a encontrei…
Esperei e esperei…Até que comecei a pensar no que
lhe podia ter acontecido, podia ter sido raptada e eu
tinha que a ir salvar! Fui direitinha à porta, com toda
a coragem do mundo agarrei na maçaneta e virei-a
para a esquerda para a abrir, mas a porta não abria!
Como podia isso ser?! Teria a minha tia desaparecido
e eu ia ficar ali trancada para sempre? O que me iria
acontecer? Seria também eu raptada? Corri para o
quarto da minha prima, subi, novamente com muito
esforço, para a cama e tentei acalmar-me. Espreitei
pela rede da janela, mas não via ninguém na rua, o
que é que eu ia fazer? Comecei a desesperar…Mas
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aguentei as lágrimas, uma menina forte não podia chorar
por uma coisa destas, tinha que ser corajosa, por isso
acalmei-me, fui à casa de banho para tentar beber água,
mas tudo estava muito longe das minhas mãos, por isso
fui à cozinha buscar alguma coisa para comer, com todo
este alvoroço, já estava cheia de fome! Depois de pegar
no pacote das bolachas maria e no iogurte, voltei para
o quarto e desta vez decidi sentar-me no tapete. Claro
que este tempo todo me pareceu uma eternidade, nessa
idade ainda não tinha noção do tempo…
Talvez fosse bom não ter noção outra vez…
Enquanto degustava o meu danoninho de
morango, ouvi uns barulhos na rua e não liguei, mas os
barulhos começavam a ficar cada vez mais audíveis, cada
vez mais perto, até que o meu coração recomeçou a sua
corrida, parecia que me ia saltar do corpo! De repente,
os barulhos pararam, e ouvi algo a mexer na porta…Não
podia ficar assustada, por isso corri para a porta cheia
de coragem, mas escondida atrás da mesa que tinha a
máquina de costura da minha tia, e eis que a porta se
abriu! Era a minha tia! Finalmente tinha chegado! Claro
que depois lhe fiz muitas perguntas, mas nunca lhe disse
que tinha tido medo! Depois de ela me responder a todas
as perguntas (e não, ela não foi raptada), fui para a sala e
sentei-me no sofá a brincar com as minhas bonecas até o
meu pai chegar.
Tenho saudades de passar os dias em casa da
minha tia, de lá brincar sossegada... Saudades de comer a
“pápápápa” das vizinhas... Saudades de correr na praceta
e não ter que estar atenta para ver se algum carro vinha...
Saudades de jogar futebol e de andar de bicicleta naquela
praceta... Saudades até de ver as galinhas e os coelhos que
a minha tia tinha... Mas a vida continua e o tempo passa,
às vezes passa a correr outras vezes passa…e passa… e
passa…mas nunca passa…A vida é aquilo que fazemos
dela e as memórias ficam no passado, claro que é sempre
bom recordar, voltar a viver, sentir o que sentimos nunca
mais vamos sentir, mas fingir que sentimos, enganar-
nos a nós próprios e pensar que sentimos por vezes é
tão bom…Devemos guardar todas as memórias, tanto
agradáveis como tristes, porque todas elas ajudaram a ser
quem somos e são elas que acarretamos para o resto da
vida. Por mais memórias que tenhamos, temos que nos
concentrar no presente, porque o futuro a Deus pertence!
A minhA PrimeirA memóriA, tereSA
SilveirA – 12º1A
A minha primeira memória deverá ter acontecido
quando tinha pouco menos de 3 anos e por isso não é
assim muito longa.
Ainda vivia em casa da minha avó e lembro-me
de estar num quarto escuro, no meu antigo berço, com
apenas um bocadinho de luz a entrar pela janela, sendo
que o facto de estar sozinha e acordada era estranho,
pois quando era pequenina não gostava de adormecer
sem companhia por perto. Talvez por esta razão também
me lembre de me sentir irritada, pois além de me sentir
sozinha, tinha a perfeita noção do que as pessoas estavam
a fazer (a casa da minha avó não é muito espaçosa e,
apesar de estar no primeiro andar, conseguia ouvir a voz e
os movimentos das pessoas no andar inferior), dando-me
mais motivos para não conseguir adormecer.
Apesar da minha irritação ter feito com que este
momento parecesse durar muito mais do que deve ter
demorado, tal como todos os bébés , devo ter começado
a chorar, já que a seguir a ouvir o que se passava no
exterior do quarto onde estava, não me recordo de mais
nada, sendo que isto apenas deverá ter demorado uns 5
a 10 minutos.
A minhA PrimeirA memóriA, tomáS SArAivA, 12º1B
A minha primeira memória, ou pelo menos aquela
que eu acho que é a minha primeira memória, ocorreu
num sábado em que os meus avós paternos vieram
almoçar à minha casa.
Naquele sábado, assim como em todos os outros
que eu me lembro, a minha mãe veio-me acordar. Fui
tomar o pequeno-almoço e depois fui tomar banho.
Como os meus avós vinham cá, a minha mãe veio-me
“arranjar”. Depois, voltei para o meu quarto para me
vestir. Foi então que eu vi aquelas calças… umas calças,
que na minha opinião, eram horríveis. Aquelas calças
tinham sido compradas pela minha avó, e ao que parece,
não tinham sido baratas, e portanto a minha mãe quis
que eu as vestisse para mostrá-las à minha avó. Eram
umas calças um pouco coloridas: eram brancas com várias
riscas verticais encarnadas e azuis. Eu, naturalmente, não
as queria vestir, e por isso, como todas as outras crianças
fazem, fiz uma birra. A minha mãe ficou muito aborrecida
e tentou-me explicar porque é que eu tinha de as vestir.
Porém, eu não queria compreender, mas acabei por vesti-
las já que o meu pai me prometeu que me ia comprar
carrinhos novos. O mais irónico disto tudo, é que à tarde,
vieram uns amigos dos meus pais, que têm um filho
exactamente da mesma idade que eu, tomar chá, e ela
gostou tanto das minhas calças que perguntou à minha
mãe onde é que ela as tinha comprado, porque queria
comprar umas iguais para o filho dela.
Esta é a minha primeira memória, muito
provavelmente despoletada pelo horror que eu tive
àquelas calças.