a mídia ensina_a criança é soberana

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    A mdia ensina: a criana soberana

    Los medios de comunicacin ensean:

    el nio es soberano

    The media teach: children are sovereign

    Maria Simone Vione Schwengber1

    Resumo O presente artigo parte de uma pesquisa inspirada nos campos

    dos Estudos de Gnero. Nele discuto a emergncia de tcnicas de governamento

    inerentes modernidade e a criao de dispositivos educativos do imperativo

    da maternidade e da paternidade responsveis. Defino esse processo educativo

    contemporneo mais amplo como politizao da famlia relacional o casal. A

    partir do resultado das anlises, focalizo um movimento que ensina a criana

    soberana.

    Palavras-chave: Mdia. Gnero. Paternidade. Maternidade. Criana.

    Resumen El presente artculo es parte de una investigacin inspirada en

    los campos de los Estudios de Gnero. En el discuto la emergencia de tcnicasde gobiernamiento inherentes a la modernidad y a la creacin de dispositivos

    educativos del imperativo de la maternidad y de la paternidad responsables.

    Defino ese proceso educativo contemporneo ms amplio como politizacin de

    la familia relacional la pareja. A partir del resultado de los anlisis, focalizo

    un movimiento que ensea el nio es soberano.

    Palabras-clave: Medios de Comunicacin. Gnero. Paternidad. Maternidad.

    Nio.

    1 Professora do Curso de Educao Fsica e do Mestrado em Educao nas Cincias da Universidade Regional do No-

    roeste do Estado do Rio Grande do Sul Uniju. Participante do Grupo de Estudos de Educao e Relaes de Gne-ro (Geerge), vinculado ao PPG-EDU da UFRGS, e do grupo Paidotribus da Unijui.

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    e Abstract This paper is an integral part of a research inspired by the field of

    Gender Studies. It discusses the emergence of government techniques that are

    inherent to modernity, and the creation of educative devices of the imperative ofresponsible motherhood and fatherhood. This broader contemporary educative

    process has been defined here as politization of the relational family the

    couple. From the results of the analysis, a teaching movement has been into

    focus children are sovereign.

    Keywords: Media. Gender. Fatherhood. Motherhood. Child.

    Data de submisso: 24/10/2011Data de aceite: 30/04/2012

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    Poder sobre a vida das famlias

    Em suas reflexes, Foucault preocupou-se em destacar que a velhapotncia da morte, na modernidade, substituda pelo aparecimento[...] das prticas de sade, habitao, natalidade, longevidade, portanto,de tcnicas diversas e numerosas para obter o controle da vida (FOU-CAULT, 1988, p. 132). Para o autor, um dos fenmenos fundamentaisocorridos a partir do sculo XVIII foi o poder de fazer viver os indiv-duos e a populao, buscando assegurar sobre eles uma regulao atra-vs de um controle contnuo e cientfico (FOUCAULT, 1999, p. 294).

    Segundo Foucault (2004), o moderno poder sobre a vida, o biopoder,comporta dois aspectos articulados entre si: o primeiro, centrado na ma-nipulao do corpo dos indivduos anatomopoltica; o segundo, nocontrole do corpo da populao biopolticas , ambos contribuindopara controlar a vida. Ainda sob a anlise de Foucault (2004), as polticasde sade tratam do controle sobre a vida daquilo que comumente deno-minamos de cuidados, demarcando-se na cultura, a partir da, a tese de

    que os corpos so passveis de serem conhecidos e controlados por umconjunto de especialistas (FOUCAULT, 2004). O controle da vida passaa ser monitorado pelos diferentes especialista. Isso significa que os nasci-mentos, a reproduo da espcie, o nvel de sade e o envelhecimento jno so dons de Deus, mas se submetem ao controle humano.

    Desse modo, atribui-se famlia, enquanto instncia que cuida dascrianas, um papel de ligao entre os objetivos gerais das polticas deEstado relativas boa sade da populao, como destaca Costa (1979). A

    partir da, propaga-se de muitas e diferentes formas que:

    (...) a famlia o centro, o elo direto, da grande mquina social, de ondeemergem as crianas com suas energias, as que dariam mais tarde dias deglria ptria (...) para que isso se realize, necessrio que toda a famliatenha um bom governo interior (...). (COSTA, 1979, p. 74).

    A unidade familiar, como localiza Foucault, no era apenas um es-

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    e pao de sobrevivncia. A famlia, como o mbito que deveria organizar avida, cultiv-la, multiplic-la, garanti-la, regul-la, teria tambm, no m-

    nimo, de produzir um filho enquadrado em um formato definido comonormal. A sade e, em primeiro plano, a sade das crianas, se tornaum dos objetivos mais obrigatrios da famlia (FOUCAULT, 1999, p.199). No se via mais a criana como o fardo que ela representava, mascomo a fora de produo que encarnava. Os pequenos transformavam--se em um investimento importante para o Estado, e seria tolice destee da famlia negligenciar os cuidados infantis. Como observa Badinter(1985), a criana era, potencialmente, uma riqueza econmica. A famliapassava a ser pensada como clula-me da sociedade. Aris (1981, p. 80)destaca a importncia da higienizao familiar e a sua funo na con-cretizao desse aspecto. A sade da criana constituiu, nas palavras deFoucault, um imperativo de uma nova relao entre pais e filhos, maisamplamente, uma nova economia intrafamiliar (FOUCAULT, 1999,p. 65).

    Observa-se o desenvolvimento de biopolticas na modernidade que

    se insinuam em quase todos os mbitos da vida, fazendo a ligao entrea famlia que cuida dos filhos e as necessidades da sociedade modernaem seu plano macro que, pouco a pouco por meio de ajustes e inter-venes , penetram na vida das famlias, desenvolvendo novas regras decomportamento, dirigindo-as enquanto capazes de fazer escolhas, parafaz-las agir de modo desejvel. Foi o fato de cuidar da vida, mais doque ameaa da morte, que conferiu o poder e acesso aos corpos (FOU-CAULT, 2004, p. 265).

    , ento, a partir da modernidade que, de forma diversa e contradit-ria, a politizao da famlia se consolida e se amplia por meio de polti-cas higienistas desenvolvidas pelos Estados da poca. No Brasil, tambmse observou, de forma mais pontual, um investimento especfico e espe-cializado na educao familiar2 a partir do sculo XIX. Essa concepo

    2 Afinavam-se alianas na preparao das famlias por meio das economias domsticas e das informaes higienistas,

    de modo que as mulheres modernas compreendessem melhor a sua funo administrativa: eram guardis da socieda-de, gestadoras e educadoras da humanidade (COSTA, 1979).

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    educativa ligava-se a um programa pedaggico que abrangia a educaodos corpos, em especial, das crianas, como destaca Costa (1979). Tais

    polticas afetaram as ideias e as prticas em torno do exerccio da ma-ternidade e da paternidade brasileiras. Os servios de sade curativa epreventiva expandiam-se e concentravam-se na retrica dos cuidados dasmes com os filhos, na sade materno-infantil, sendo as mulheres-mese as crianas os principais alvos das iniciativas.

    Pode-se dizer que a politizao da famlia brasileira foi se construin-do e, gradualmente, atingindo diferentes mbitos e planos da vida social.O interesse das polticas higinicas do Estado brasileiro volta-se, inicial-mente, para o controle dos corpos das mulheres e das crianas, aliando--se com a nova gerao de ginecologistas, obstetras, pediatras e mdicosgeneralistas, que gradualmente foram modificando grande parte dasexperincias e vivncias da maternidade3 e da paternidade: o parto emhospital pblico; o acompanhamento da gravidez; os conselhos acercade como criar os filhos; e, mais especificamente, a puericultura intraute-rina, como destaca Scavone (2004).

    Ao longo dos sculos XIX e XX, multiplicaram-se discursos e imagenssobre o processo de criao dos filhos; uma sofisticada maquinaria pe-daggica ampliou e complexificou a educao das crianas, incluindo:revistas, jornais, programas de TV (de auditrio, novelas, document-rios, talk shows, video-shows), filmes, msicas, internet, entretenimento,esportes, publicidade. No entendimento de Steinberg (1997), esses ar-tefatos culturais so pedagogias culturais porque oferecem narrativasem suas formas de apresentao, capturando e reproduzindo sentidos e

    significados ativos que circulam na cultura, produzindo sujeitos e identi-dades sociais em intrincadas redes de poder.

    Fidalgo (2003) destaca o impacto das tecnologias de informao ma-nuais, dentre elas, as revistas femininas, na construo idealizada da ma-ternidade e da paternidade, ao veicularem enunciados que exigem que

    3 O Estado brasileiro, de sua parte, empreendeu estratgias mais firmes e ativas, intensificando a conexo das suas aes

    por intermdio da insero de outras mulheres (enfermeiras, parteiras, visitadoras) junto ao aparato mdico e organi-zando com estas ltimas um sistema mais acabado e completo dos servios.

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    e os pais e, sobretudo, as mulheres no s gestem a vida, como dediquema sua vida aos filhos. As posies de bons e/ou maus pais, as posies

    sobre o amor paternal e maternal (contingente ou vigiado pelo es-pecialista) e a construo cientfica sobre os cuidados com as crianastornam os pais ora dependentes da literatura especializada sobre o te-ma, ora inseguros e culpabilizados, em especial, se sua performance nocoincide com as percepes sociais veiculadas sobre como ser um bompai e uma me cuidadosa.

    Mdias e educao da famlia brasileira: a revista Pais &

    Filhos

    Apoiada e desafiada, ento, por esse referencial terico, procuro fazerneste artigo um exerccio de problematizao da maternidade e da pa-ternidade, tomando como referncia um artefato da mdia brasileira im-pressa. Fao essa opo porque concordo com Bauman (2004, p. 23)

    quando afirma que a mdia impressa se transformou, ao longo do sculoXX, em uma das grandes chaves utilizadas pela sociedade contempor-nea para explicar o mundo, para (...) acelerar ou afrouxar, talvez dirigiro fluxo das identidades sociais num sentido ou noutro.

    A esfera miditica, segundo Fischer (2002), rearranjou as fronteirasentre o que pblico e o que privado. Nesse sentido, afirma a autora(2002), a mdia alterou (e altera) a relao entre os conhecimentos, osfatos e os sujeitos, ainda mais aqueles que se relacionam com a esfera

    da vida privada. Assim, para Fischer, em toda a histria, nenhuma outrasociedade como a contempornea produziu e disseminou tal volume deinformaes, que produziram (e produzem) efeitos na intimidade, ensi-nando como devem ser determinados tipos de homens e/ou mulheres,pais, mes, gestantes produzindo, assim, novas conformaes de gne-ros, paternidades e maternidades.

    A mdia impressa contempornea disps e disseminou na cultura,

    de modo cada vez mais acessvel, o ethos de educao das crianas dita

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    cientfica.4 Observa-se, hoje, uma frutfera aliana entre as biopolticase a mdia. Para Vaz (2006, p. 8), a forma de poder predominante na

    atualidade no mais a vigilncia, mas a informao, que adverte osindivduos dos riscos, dado o que fazem e o que trazem como herana.Posso dizer que a ps-modernidade monitora os corpos por meio de in-formaes, dentro daquilo que Fraga (2005, p. 28) chamou de uma bio-poltica informacional (...) uma forma de governo que no depende[apenas] da relao corpo a corpo para fazer valer um poder sobre a vidada espcie, mas de um conjunto de tcnicas, procedimentos e saberesque regulam a vida.

    Entendo que um grande volume de informaes divulgadas em ma-nuais e revistas passou a conformar regras que altera(ra)m o modo deeducao das crianas. Essa nova cultura impressa exigiu que os pais nos gerassem os filhos, como tambm lessem e seguissem as recomenda-es dos peritos, o que reclama uma prestao intensiva de cuidados (talcomo nas receitas dos livros de culinria). Passou-se a pesar os corpos,medir, avaliar os coeficientes intelectual e afetivo, a partir de indicado-

    res cientficos, dando sustentao s prescries acerca dos melhoresmtodos para educar filhos.SantAnna (2001, p. 6) afirma que, dentro do contexto mais amplo da

    mdia tev, rdio, cinema, jornal , as revistas contriburam sobrema-neira para esclarecer a brasileira das camadas mdias e urbanas (...). JMira (2001) observa que quem pretende estudar a famlia ou pelo menosfazer um recorte pela categoria analtica de gnero, no Brasil, tem nasrevistas um material muito fecundo. As revistas dirigem-se:

    [...] ao leitor como se estivessem conversando com ele, servindo-se deuma intimidade de amigo. [...] talvez seja esse jeito coloquial, que elimi-na a distncia, que faz as ideias parecerem simples, cotidianas, e ajuda apassar conceitos e a cristalizar opinies. As revistas funcionam, de forma

    4 O acesso das mulheres ao ensino formal e ao mundo do trabalho, bem como a Secretarias da Infncia, postos de sa-

    de, organizaes privadas e estatais, e a criao do Dia das Mes e dos Pais ajudaram a legitimar a aceitao das teoriascientficas de uma determinada maternidade e da paternidade.

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    e especial, como uma instncia que se autoriza a definir os padres de sa-de e a prescrever dicas de bem-estar e de como cuidar dos corpos. (BRUS-

    CHINI, 1994, p. 125).

    Para Bauman (2004), a contemporaneidade capitalista, leve, amigvelcom o consumidor (sujeito avaliado no s pelo poder financeiro, comotambm pela capacidade e competncia para consumir as informaesde experts), no aboliu as autoridades cientficas tornou-as indispens-veis na vida dos sujeitos. Segundo o autor, os materiais miditicos e suasideias coexistem espalhados, muitas vezes desconexos, com uma lingua-gem feita de palavras e imagens que seduzem pelas combinaes comque se apresentam, pelas desconstrues que praticam, pelos ecos quedespertam, pelos elementos cientficos implcitos que ativam.

    Tendo em vista, pois, a centralidade da mdia na educao contem-pornea, escolhi investigar, dentre o enorme acervo de publicaes dis-ponveis no mercado editorial brasileiro, a revista Pais & Filhos. Por isso,passo a apresent-la agora, destacando alguns elementos do seu projeto

    editorial, bem como da sua trajetria no contexto brasileiro. De certomodo, tambm tento responder (minimamente) uma pergunta: queml a Pais & Filhos?

    O pblico leitor da Pais & Filhos composto, majoritariamente, poradultos de todas as classes sociais, embora haja prevalncia das mulheresde classes mdia e alta, escolarizadas e com renda prpria. Conformedados do conselho editorial,5 o universo dos leitores da Pais & Filhos composto, principalmente, por pessoas na faixa etria entre 20 e 49 anos:

    de 19 a 29 anos, encontram-se 38%; de 30 a 49 anos, esto 51%; e, acimade 50 anos, apenas 10% dos leitores.

    No contexto da mdia brasileira direcionada famlia, ressalto a im-portncia da Pais & Filhos, uma vez que essa publicao tida como amais tradicional revista da famlia brasileira, h quarenta anos no mer-cado (MIRA, 2001, p. 14). Tal peridico desfruta de uma longevidade

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    Dados fornecidos pela editora e extrados de uma testagem de mercado (em mil pessoas) pelos estudos Marplan,2006.

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    notvel, comparada com a quantidade considervel de sries de revistaslanadas para esse pblico a cada ano no Brasil,6 ainda mais que, delas,

    poucas conseguem passar pela prova dos dez anos da primeira edio.Segundo Mira (2001), a Pais & Filhos identificada como a primeira

    publicao brasileira (1968) a discutir a educao dos filhos e a mostrara necessidade de pais e mes planejarem sua chegada. Das revistas desti-nadas a pais e mes, a revista brasileira de maior tiragem e consideradacomo um dos peridicos mais lidos por esse segmento, em especial nombito das chamadas classes mdias.

    A Pais & Filhos enfatiza o conhecimento dos especialistas, e anarrativa cientfica apresentada como a que tem mais autoridade elegitimidade. APais & Filhos parte da premissa de que as famlias ne-cessitam de ajuda e sugere como primeira regra que os pais sigam asinstrues dos peritos.

    APais & Filhos a revista mais importante para a famlia moderna, poisningum educa sozinho, e os especialistas so as pessoas mais adequa-

    das para ajudar neste momento em que a educao das crianas estorganizada e baseada em pressupostos cientficos. (PAIS & FILHOS,1968, p. 27).

    O conhecimento das avs, na revista, paulatinamente desvaloriza-do (por expresses como do tempo da vovozinha), por se achar que esseconhecimento do senso comum (e outros) sobre a criana est cheio decrendices. A presena dos especialistas marcante no decorrer desses

    40 anos darevista, j que quase todos os artigos so assinados por eles e/ou estes aparecem como consultores nas matrias, investidos de autori-dade para dizer verdades, representando para a Pais & Filhos poderesquase incontestveis. Somente o saber de especialistas teria o poder deajudar as famlias a conduzirem corretamente a educao dos filhos ea identificar, de forma adequada, cada estgio e necessidade de desen-

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    Gravidez Feliz, Gravidez Especial, Gravidez e Gestao, Superme, Da Concepo ao Nascimento, A Gestao,Ser Me Especial, Seu filho e Voc, Crescer em Famlia.

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    e volvimento das crianas. APais & Filhos apresenta-se, ento, como afa-mlia ampliada; um gigantesco clube de amigos os especialistas que

    traduzem e replicam saberes cientficos e tcnicas direcionados para obem-estar, criao e educao dos filhos.

    Examinei exemplares da Revista Pais e Filhos publicados no pero-do de 1968 a 2006; para faz-lo, apoiei-me na perspectiva dos Estudosde Gnero e dos Estudos Culturais que se aproximam das teorizaesps-estruturalistas e utilizei como estratgia metodolgica a Anlise deDiscurso foucaultiana. Considerei os textos da Pais & Filhos como umartefato cultural que est articulado a uma rede de artefatos culturais dediferentes tipos e que, exatamente por isso, o que nela se diz (e, tambm,o que se silencia) tem repercusses sociais, polticas e histricas.

    Do ponto de vista da metodologia adotada, realizei as anlises valen-do-me das contribuies de Foucault (1999) no que tange ao conceito dediscurso e enunciado. Foucault (1989) sugere que o pesquisador tome osdiscursos em sua materialidade e tensione suas condies de produo eas posies de sujeito neles descritas. Instrumentalizada por esse modo

    de ver, optei por mapear os enunciados nos discursos da Pais & Filhos,observando as suas regularidades, insistncias, repeties, possveis rup-turas e descontinuidades.

    Por meio da anlise, almejo compreender e (...) prestar atenoao jogo poltico a implicado, o que acarreta algo mais do que mera-mente contemplar uma sociedade plural (LOURO, 2001, p. 5). Issoimplica dar-se conta das disputas polticas das posies de sujeito que arevista ensina aos leitores no caso, aqui, das posies pai-me-crian-

    as (os filhos).Esse argumento de Louro (2001) remete-me a uma das importantes

    ferramentas analticas que uso neste artigo o conceito de gnero ,tendo em vista que esse conceito est profundamente imbricado na dis-cusso acerca da produo das posies de me e pai, as quais a Pais &Filhos ensina. Meyer (2005) lembra que as representaes de famlia (decriana) so inmeras e que competem entre si num contexto histrico

    sujeito a instabilidades, indeterminaes, ambiguidades. Para a autora,

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    nesse processo de disputas, algumas representaes revestem-se de au-toridade cientfica e passam a funcionar no senso comum como sendo

    a melhor ou verdadeira, aquela que se transforma em referncia dasaes assistenciais e educativas [...] e a partir da qual outros modos sodesclassificados e desvalorizados (MEYER, 2006, p. 120-121). Interessa--me, pois, discutir e compreender algumas dessas representaes que serevestem de autoridade na Pais & Filhos.

    A criana soberana

    APais & Filhos passa amostrar, de muitas formas, a necessidade da edu-caodos filhos como sendo um problema do casal. Observa-se a repeti-o e multiplicao de enunciados, tais como:

    (...) Filhos a dois(...) casal-companheiro

    (...) casal-solidrio, quando o assunto educar filhos. (PAIS & FILHOS,1972).

    APais & Filhos identificada como a primeira publicao brasileiraa discutir a educao dos filhos como um problema do casal e leva-nostambm, naturalmente, para longe da ideia de famlia patriarcal7 es-tendida, em que uma parentela extensa convive no espao da casa. Arevista identifica e traduz o significado de famlia como lugar de coabi-

    tao predominante de cnjuges e filhos na expresso definida porSingly (2007), de famlia conjugal e tambm como um grupo quese estrutura no conjugalismo, com atribuies diferenciadas pelos seusmembros e obrigaes com os filhos. Isso, para Singly (2007), percep-

    7 Roberto da Matta (1987, p. 119) entende por modelo patriarcal uma famlia numerosa, composta no s do ncleoconjugal e de seus filhos, mas incluindo um grande nmero de criados, parentes, aderentes, agregados e escravos,submetidos todos ao poder absoluto do chefe de cl, que era, ao mesmo tempo, marido, pai, patriarca. O termo pa-

    triarcalismo designa a prtica desse modelo como forma de vida prpria ao patriarca, seus familiares e agregados. Opatriarca constitui-se em um ncleo econmico e um ncleo de poder.

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    e tvel por meio de numerosos indicadores das mudanas que a famliaconheceu ao longo da segunda metade do sculo XX sobretudo nos

    pases ocidentais:

    (...) o decrscimo dos casamentos, das famlias numerosas, o crescimentodas concubinagens das famlias pequenas, das famlias monoparentais,das famlias recompostas, o trabalho assalariado das mulheres, com amaior independncia das mulheres, a possibilidade do divrcio e um n-vel intenso da relao afetiva com as crianas. (SINGLY, 2007, p.15).

    APais & Filhos buscou e busca, de todas as formas possveis, mostrara necessidade de pais e mes planejarem a chegada de seus filhos.

    Os pais so os responsveis pelos filhos.Filho. Exige planejamento.

    A educao fica bem mais forte quando junta o afeto da mame e o dopapai.

    Filhos em primeiro lugar. (PAIS & FILHOS, 1982).

    possvel perceber nos excertos, de muitas e diferentes formas, comoo casal responsabilizado por gerar e criar o filho o mais perfeito possvel. Achegada de um filho passa a ser vista como um projeto que exige prepara-o minuciosa em todos os sentidos no decorrer de nove meses e mesmoantes disso. A difuso da contracepo moderna contribui para mudar amaneira de pensar a chegada de um filho, que passa a ser entendida como

    um projeto do casal, fruto de uma preparao e de reflexes. Trata-se daprocura do filho que se quer (LIPOVETSKY, 2005, p. 141). Ter um filhodeixa de ser um destino biolgico a cumprir; antes um projeto, e as falhasso imperdoveis. Um projeto biotecnolgico cobre a pele, desnudada epenetrada, redimensionando o velho modelo de carne e osso, para co-locar a reproduo humana mais prxima da hibridao reproduo--mquina. O ciclo das tecnologias reprodutivas, ou seja, da fecundao

    medicalizada, da reproduo assistida, dos ultrassons e do parto cirr-

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    gico, e o modelo mdico-cientfico dominam a reproduo humana(SCAVONE, 2004). Na Pais & Filhos, ao longo do processo editorial, qua-

    se no se fala mais em seleo natural da espcie, mas sim em seleo daespcie preparada; trata-se da cultura do dever do aperfeioamento de si o corpo grvido como obrigao categrica (SCHWENGBER, 2006).

    A revista agrega a esse argumento o fato de que filhos custam caroe exigem muitos cuidados. Desse modo, comea a circular na Pais &Filhos, a partir da dcada de 1970, acentuando-se nos anos de 1980, aideia de que:

    (...) a melhor famlia no a que tem mais filhos, mas a que tem menosfilhos e cuida deles. (PAIS & FILHOS, 1980, p. 20).

    Assim, a tenso entre qualidade e quantidade, no contexto da Pais &Filhos, especialmente depois da dcada de 1980, mostra uma vitria doprimeiro polo, quando as exigncias de dedicao comearam a triunfarsobre o nmero de filhos a serem concebidos. Na segunda dcada do

    sculo XX, o forte tom nacionalista que imperava em muitos pases, in-clusive no Brasil(birth control controle de nascimento), tem como umade suas implicaes a preocupao mais acentuada com a qualidade dapopulao, do corpo e da sade (CORRA, 2000). Emergem polticasmais firmes em relao quantidade de filhos, e o incentivo reduodesse nmero posio assumida claramente pelo conselho editorialda Pais & Filhos, principalmente a partir da dcada de 1990. No Brasil,observa-se uma queda na taxa de fecundidade a partir desse perodo. A

    mdia de fecundidade por mulher assim se configurava: em 1940, cadamulher brasileira tinha 6,16 filhos; em 1950, 6,21; em 1960, 6,28; em1970, 5,76; em 1980, 4,35; em 1990, 2,5; em 2005, 2,1 (BERQU, 2006).Para Berqu, a reduo devida a vrios fatores,8 tais como9: elevado uso

    8 A partir da dcada de 1980, tornou-se claro que a fecundidade no Brasil estava diminuindo bastante; hoje, a m-dia brasileira no muito maior do que a observada em pases bem mais ricos (Instituto de Pesquisa EconmicaAplicada IPEA).9

    Marcelo Medeiros (2006) chama a ateno para o fato de que a taxa de fecundidade caiu na classe mdia-alta, bemcomo nas classes menos favorecidas, que se aproximam da mdia geral.

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    e da esterilizao feminina, da plula e de outros contraceptivos; aumentodo nmero e permanncia de mulheres no mercado de trabalho; expan-

    so do emprego no setor tercirio; expanso e multiplicao dos cuida-dos destinados criana. Para Lipovetsky (2005, p. 141), esse fenmenode reduo revela uma caracterstica do individualismo contemporneo:j no vem ao caso de sacrificar a prpria vida ntima ou profissionalpara constituir uma numerosa prole, embora ningum deixe de cultivara renovada satisfao de ter filhos.

    Nota-se que o contexto contemporneo resulta no somente na di-minuio do nmero de nascimentos, mas tambm em um novo lugarque a criana ocupa. A queda da fecundidade das famlias traduz um ali-nhamento de comportamento, principalmente, da famlia (do casal) nafocalizao da criana e na mobilizao para seu sucesso, como destacaSingly (2007). Muitas vozes, dentro da revista, reconhecem que umaprtica materna e paterna:

    (...) rodeada de cuidados individuais incompatvel com a ideia de ter

    muitos filhos, tanto pelo tempo quanto pelo trabalho e dedicao psqui-co-afetivo-emocional que requer. (PAIS& FILHOS, 1980, p. 21).

    Como se observa nos trechos em destaque, a Pais & Filhos faz umconvite aos pais para responsabilizarem-se pelo sucesso do filho. ParaSingly (2007, p. 13), a famlia do perodo posterior aos anos 60 do sculoXX distingue-se da famlia do perodo precedente pelo peso maior dado estruturao do conjugalismo e aos sentimentos de amor e afeio

    filiao. Singly (2007, p. 14) devedor da clssica anlise de Philiperies, que situa no sculo XX a novidade da reinstaurao de uma fam-lia que se quer nuclear e que institui renovados sentimentos de afeio da lgica do amor em relao criana. Tal lgica, conforme Singly(2007), impe-se na segunda metade do sculo XX com mais intensida-de para quase todas as classes sociais.

    Segundo Lupton (1999), nenhuma outra forma de obrigao moral,

    como a dos pais para com os filhos, desfruta de to amplo reconheci-

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    mento social na contemporaneidade. Observa a autora que, quanto maisos valores individuais progridem, mais se consolidam os sentimentos dos

    deveres para com os filhos. Lupton (1995) alerta que, se, de um lado, acontemporaneidade enfraquece os deveres em seu conjunto, de outro,amplia o esprito de responsabilidade em relao a filhos. A lista de cr-ticas e de deveres dos pais cada vez mais longa. Os deveres dos paissuperam os dos filhos (FORNA, 1999, p. 192), realidade que se destacano contexto da Pais & Filhos:

    (...) os pais devem passar muito mais tempo perto dos filhos, cuidar da suasade, brincar (mesmo que noite com a criana), estimular filmes, can-tar canes e fazer esportes, levar para passear, tirar frias juntos. (PAIS &FILHOS, 1979, p. 21).

    A famlia transformou-se numa empresa a ser gerida de forma oti-mizada, em todas as direes (LIPOVETSKY, 2005). Como se v nosexcertos, nada mais relevante do que a sade e o bem-estar das crian-

    as, frias, programas televisivos, filmes, msica, lngua, jogos e esportes.De outra forma, a famlia transformou-se ao mesmo tempo num espaoemotivo, com inclinao ternura, efuso dos sentimentos.

    A revista ainda orienta para que as crianas sejam:

    Carregadas nos braos, mimadas, acariciadas, beijadas. (PAIS & FILHOS,1979, p. 21).

    Criticam-se as mes e os pais que passam muito tempo longe dosfilhos, porque, nessa perspectiva, parece que preciso que se seja mee pai, no como outrora, com presena irregular, mas de preferncia 24horas por dia. Quase tudo passvel de estmulo, de bonificaes, deprogresso; os pais cada vez mais se parecem com diretores de empresajovens e dinmicos, ciosos de bem gerir seu inexaurvel empreendimen-to. A questo da tica dos pais formula-se mais em termos de amplo ge-

    renciamento do que em termos de abnegao, como destaca Lipovetsky

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    e (2005, p. 146). Esse patrulhamento em volta do desempenho dos paisfaz com que eles assumam um compromisso cada vez maior em tornar

    a infncia de seus filhos uma infncia feliz; para isso, so levados a ser,tanto quanto os professores, experts psicopedaggicos, a fim de bem con-duzirem a infncia.

    A revista Pais & Filhos ensina s famlias que estas devem afirmar oslaos de sociabilidade com os filhos uma sociabilidade afetiva descritacomo prxima, quente, na qual a distncia entre os sujeitos (pai, me efilho) deva ser relativamente menor que outrora, como apela a revista.Para Foucault (1990), impe-se a instaurao da intimidade da famlia,que, no contexto contemporneo, deixa de ser uma instituio de direitoprivado com finalidade apenas de bens e nomes, passando a constituir-seem uma unidade moral e afetiva. Observa-se ainda o esforo da Pais &Filhos em destacar a esfera privada e a decorrente intensificao afetivado espao familiar, no s entre pais e filhos, como tambm entre oscnjuges, cujo elo doravante fundado nas noes de afeto e amor. ParaLipovetsky (2005, p. 144), o momento atual no comporta mais relaes

    filiais estritas, e a prioridade agora compete com o calor humano, aemoo, a escuta, a incontornvel exigncia de prestar supremos cuida-dos aos filhos.

    Uma vez que os primeiros anos (a primeira infncia) so tidos comodecisivos para o futuro das crianas, as descobertas cientficas e os con-selhos avolumam-se, e a educao norteada pela ideia do desenvolvi-mento integral e exigente de dedicao, cuidados e de extravasamentoamoroso dos pais (PEIXOTO, 2000). Assim, torna-se inevitvel que o

    sentimento amoroso e a responsabilidade dos pais passem a ter um al-cance quase absoluto. APais & Filhos mostra que os primeiros anos devida de uma criana so tomados como decisivos para o seu desenvolvi-mento posterior; a relao pai-me-filho, em particular, torna-se a fontede fracassos ou sucessos da vida futura, num processo de verdadeiroculto infncia.

    Observo que os pais so vistos como decisivos na criao de uma

    criana. Alguns excertos da revista indicam que as tarefas de cuidado

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    com os filhos j so divididas com frequncia e sem espanto entre ho-mens-pais e mulheres-mes, mas continuam posicionando de formas di-

    ferenciadas homens e mulheres perante os filhos.

    Foi-se o tempo em que o homem trazia o dinheiro, e a mulher cuidavada casa; os pais de hoje esto mais famlia e dispostos a ajudar, cuidar,curtir. (PAIS & FILHO, n. 472).

    Observa-se na revista a figura do novo pai, aquele que participado cotidiano dos filhos: receber e curtir o filho,como destaca o excerto.Elisabeth Roudinesco (2003) chama-nos a ateno para o fato de quea figura do novo pai emergiu na esteira do movimento feminista, queaponta quo pouco a maioria dos pais fazia por suas crianas, e das trans-formaes das novas configuraes familiares (os acordos).10 O movi-mento feminista questionou e questiona seriamente o lugar do homeme as hierarquias entre homens e mulheres, assim como o modo como ohomem se relacionava consigo, com os filhos e com as mulheres. Todo

    esse questionamento surtiu efeitos culturais e nas prticas discursivas, oque vemos aparecer nas pginas da Pais & Filhos.Para Arajo (2001), mesmo trabalhando fora e investindo na carreira

    profissional tanto quanto os homens, as mulheres continuam sendo asprincipais responsveis pela criao e educao dos filhos, cuidados dafamlia e administrao da casa. Os homens, de um modo geral, aju-dam quando podem ou depois de muitas cobranas das companheiras.Para a autora, as mulheres gastam 27,2 horas semanais em atividades

    domsticas, enquanto que os homens gastam 10,2 horas. Arajo (2001)destaca que, alm disso, quando os homens realizam tarefas domsticas,eles executam atividades mais valorizadas, como fazer compras, buscaro filho na escola ou lev-lo para passear, mas quase nunca uma ativida-

    10 Ver Roudinesco (2003): descries dos novos acordos, em que a famlia se consolida como um contrato consen-sual entre um homem e uma mulher com durao relativa durabilidade do amor. Para a autora, a famlia no sedissolveu, mas se organizou de modo mais horizontal e em redes. O casamento perdeu o ornamento de sacralidade

    e, em constante declnio, hoje caracterizado pela unio afetiva dos cnjuges, com ou/sem filhos, que se unem nomais por uma vida, mas por perodos aleatrios.

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    e de rotineira, como lavar ou passar roupas. As mulheres seguem sendoentendidas como as mais decididas e dinmicas diante dos cuidados e

    da educao dos filhos do casal. Do homem, parece que a revista esperaparticipao e colaborao.

    Machado (2001) destaca que a vida familiar gravita em torno dacriana. Esse modelo de famlia alarga de forma intensa a responsabili-dade parental em relao aos filhos, de modo que estes funcionam comoum espelho em que os pais veem refletidos os acertos e erros de suasconcepes e de suas prticas educativas, os quais costumam fazer-seacompanhar de sentimentos de orgulho ou, ao contrrio, de culpabilida-de (NOGUEIRA, 2005). Para Singly (2007, p. 60), o quadro contempo-rneo de ressignificao do filho na famlia.

    Tudo se passa como se o xito do filho constitusse uma espcie de sm-bolo do xito pessoal dos pais, bem fundado de seus valores e de suaconcepo de educao; como se esse xito se tornasse para os pais umcritrio fundamental de sua autoestima. (...) O xito escolar dos filhos

    possvel quando a famlia mobiliza energia, determinao e rigidez erecursos econmicos.

    Os pais tornam-se, assim, os responsveis pelos xitos e fracassos es-colares e profissionais dos filhos, tomando para si a tarefa de instal-losda melhor forma possvel na vida. Para isso, mobilizam um conjunto deestratgias visando a elevar ao mximo as chances de sucesso do filho,sobretudo em face do sistema educativo, o qual, por sua vez, ganha im-

    portncia capital como instncia de legitimao individual e de defi-nio dos destinos ocupacionais (NOGUEIRA, 2005).

    Para Giddens (2002), a novidade da segunda metade do sculo XX a emergncia do amor confluente,11 amor que passa a ser condiopara a permanncia dos laos conjugais e dos laos entre os filhos. A

    11 Os casamentos at que a morte nos separe so substitudos pelas parcerias do amor confluente, pensadas para

    durar tanto (porm no mais) quanto a transitria satisfao derivada da coabitao desses parceiros, como destacaAnthony Giddens (1992).

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    nova tica focaliza o indivduo e, sobretudo, um indivduo que cada vezmais vai centrar-se em si mesmo. Giddens (1992) designa esse estgio

    como do individualismo o surgimento de um perfil indito do indiv-duo nas suas relaes consigo mesmo, com o seu corpo, com os outros ecom o mundo. Giddens (2002) define esse movimento como sentimen-to de famlia e sentimento das crianas.

    Luc Ferry (2008) afirma que o amor dos pais pelos filhos descritodesde a Antiguidade em muitos mitos e lendas. Porm, para o autor, es-se sentimento estava longe de ser uma prioridade para os casais12 como nos dias atuais, em que a criana se tornou sagrada. Conforme Ferry(2008), hoje no Ocidente ningum mais morre por um Deus,13 pela p-tria14 e pelas revolues. Em contrapartida, no conheo pai que noarriscaria a vida pelos seus filhos. Os filhos se tornaram o principal canalpara o homem tentar transcender espiritualmente. Para Ferry (2008, p.3), talvez os filhos estejam substituindo as instituies despedaadas quetemos nos tempos atuais.

    Singly (2007, p. 47) destaca que a famlia, na contemporaneidade,

    se curva criana, sua vida se confunde com as relaes mais sentimen-tais entre pais e filhos. A criana soberana. As crianas so soberanas.Elas no so mais percebidas como referncia eventual herana, elasso estimadas por si mesmo. Essa modificao do estatuto da criana seinscreve na ateno que se d s pequenas coisas da vida cotidiana, suasade, as boas palavras, afeto, o desempenho escolar.

    12 Ele exemplifica que o escritor francs Michel Montaigne (15231592), celebrado como grande humanista,quando perguntado sobre o nmero de filhos, confessou no se lembrar do nmero de filhos seus que morreramenquanto ainda eram amamentados. Ainda relembra Ferry que o suo Jean-Jacques Rousseau (17121778), umdos prceres do Iluminismo, abandonou seus cinco filhos sem d nem piedade. Para o autor, esses exemplos podemser bizarros, mas temos de lembrar que, at a Idade Mdia, no havia sequer o conceito de infncia e que foi entreos sculos XVII e XVIII que a infncia passou a ser definida como um perodo de fragilidade, durante o qual se de-veria prover as crianas de mimos e carinho.13 Ferry (2008) reconhece que h religiosos extremistas no Isl.14

    Ferry (2008) afirma que h gente na Chechnia ou na Osstia que aceita morrer pela nao, mas garante que noh cidados com tais intenes na Alemanha, na Frana e nos Estados Unidos.

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    e Observa-se que na Pais & Filhos a criana o centro.15 Entretanto,o que diferencia essa famlia mais aberta filiao, o que a faz ser con-

    tempornea, o primado do indivduo (VELHO, 2002). Gilberto Velho(2002) enfatiza o valor do individualismo como especfico das famliasdas camadas mdias parece-me que leitores da Pais & Filhos escola-rizadas e psicologizadas no Brasil. A famlia, no mundo contemporneo,tornou-se a referncia imediata do indivduo. Aos poucos, as crianasdeixaram de ser associadas preferencialmente a uma comunidade, es-tando situadas a partir do seu ncleo familiar. Trata-se da naturalizaode uma estrutura sustentada na perspectiva que o autor denomina deindivduo-famlia. Para Velho (2002), a famlia brasileira institui prest-gio e valor ao indivduo; o eu da criana transforma-se em um eu soue, ainda, em um eu s. Nesse contexto, cada indivduo tem seu prpriopeso, seu poder e seu lugar na estrutura familiar. A famlia recolhe-se aum espao domstico mais ntimo.

    O cdigo individualista, cada vez mais presente nos modelos dasfamlias, , em grande parte, responsvel pela autonomizao dos indiv-

    duos (VELHO, 2002). Questiono se o hiperinvestimento eu-criana-in-divduo no seria, tambm em grande parte, pela dessensibilizao dascrianas em relao ao seu pertencimento social na esfera pblica. Ain-da, se o hiperinvestimento eu-criana-indivduo no diminuiu a apreen-so dos seus limites e da sua situao de compartilhamento.

    (...) Uma histria longe do fim

    Esta anlise permite dizer que o processo da maternidade e paternidadeest estreitamente relacionado com o de construo de gnero: educarmulheres e homens para tornarem-se mes e pais est dentro de proces-

    15 De acordo com Ciaffone (2002), as crianas de 0 a 12 anos da classe mdia representam a principal influnciade consumo das famlias, tanto em termos de produtos quanto de servios, tais como as compras no mercado e noshopping, onde morar, que carro ter, para onde ir durante as frias, quais restaurantes frequentar, dentre outros,

    incluindo a aquisio de produtos e a fruio de servios provocados pelo estado de gravidez, tais como frequentarcursos de preparao para o parto, academias, massagista.

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    sos que nos educam como sujeitos de gnero. Apoio-me em um pressu-posto feminista fundamental para o debate contemporneo dos Estudos

    Feministas o pessoal tambm poltico para explicar alguns dos pro-cessos e relaes que esto implicados na produo de sujeitos especfi-cos: mulheres e homens, mes (as boas mes) e pais (os bons pais).

    Fidalgo (2003) destaca o impacto das tecnologias de informao naconstruo idealizada e intensiva da maternidade e da paternidade. Asrevistas brasileiras para mes e pais tm sido espaos miditicos de pro-duo desse novo movimento moral de educao idealizada e intensivada maternidade e da paternidade ao veicularem enunciados que exigemque os pais e, principalmente, as mulheres-mes no s gestem a vida,como dediquem a sua vida aos filhos. As posies sobre o amor paternale maternal (contingente ou vigiado pelo especialista) e a construocientfica sobre os cuidados com as crianas tornam os pais ora depen-dentes da literatura especializada sobre o tema, ora inseguros e culpabi-lizados, em especial, se sua performance no coincide com as percepessociais veiculadas sobre como ser um pai e uma me perfeitos. Badinter

    (2010, p. 120) afirma que estamos assistindo a uma mudana radical,que est ocorrendo de forma subterrnea. H um aumento incrvel dosdeveres maternos e paternos. A maternidade e a paternidade se tornaramum novo Deus, com critrios morais que culpam quem no seguir o dis-curso de pai e me perfeitos.

    Oque importante perceber que, em quase todos os processosenunciativos da revista Pais & Filhos, se exerce o biopoder, havendo con-comitantemente uma extensa produo de saber do comportamento da

    famlia amorosa, o que reforado na revista pelos especialistas, prin-cipalmente os mdicos, psiquiatras e psiclogos. A criana passa a ser aprincipal pauta da famlia preparada; com ela, podemos pensar em umduplo movimento, o de uma politizao da maternidade e paternidadecomo politizao da infncia (MEYER, 2003, SCHWENGBER, 2006),tal como esta ltima modalidade de poder contemporaneamente. Fou-cault afirma o poder como o nome dado a uma situao estratgica

    complexa que considera a positividade do poder, o que podemos pensar

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    e da vida familiar relacional e individualista, na qualidade da criana so-berana (FOUCAULT, 2001, p. 86).

    Essas novas de tecnologias de informaes como a Pais & Filhosexpandem-se na contemporaneidade. Estudar o processo de leitura ecompreeno das revistas estudar uma poltica da cultura das repre-sentaes poltica entendida aqui como um processo de negociaoentre diferentes modos de compreenso dos enunciados.

    Endendo que essas representaes de maternidade e paternidade sopoliticamente significativas, provocando uma ruptura radical entre a vi-da ntima e a vida pblica. Foucault (2004) entendeu a biopoltica apartir desse paradoxo, que implica, de um lado, o investimento polticosobre a vida; de outro, a possibilidade de proposio de novas maneirasde viver diante dos diferentes investimentos educativos. Foucault (2004)diz que uma tecnologia poltica dos corpos, de poder-saber, impe pro-gressivamente o seu critrio de normalizao, o que nos permite pensarna afirmao da famlia relacional e amorosa descrita pela revista.

    A mdia e as revistas, no caso, a Pais & Filhos, compem um lcus es-

    pecial de anlise da ao do discurso e das imagens, modelando corpose assujeitando-os a certa representao de criana e de famlia prepara-da. A quantidade de material informativo disponvel sobre maternidadee paternidade sugere, cada vez mais, que a biologia no equipa as mu-lheres e os homens para a funo social de cuidar dos filhos. curiosoobservar, no entanto, o quanto essa inclinao (da maternidade e da pa-ternidade amorosa da famlia preparada), tida como inata e natural emnossa cultura, alvo da mais meticulosa e intensa vigilncia, bem como

    do mais diligente investimento educativo.O exerccio da maternidade e da paternidade se produz e se modifica

    na cultura (MEYER, 2003), j que porta os traos de uma histria, umadimenso que nos escapa radicalmente e que reenvia ao simbolismo dacultura. Com isso, quero justificar minha aproximao de anlises queconsideram a cultura como instituidora de sentidos, pois na culturaque circulam e se (re)produzem os significados que nos interpelam e nos

    fabricam como sujeitos de gnero (HALL, 1997). Pensar a maternidade

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    e a paternidade, ento, pens-las a partir de uma perspectiva histrico--poltica, tom-las no a partir da sua biologia (natureza), mas, ao con-

    trrio, tom-las exatamente na sua produo discursiva e cultural comoprocesso incessante, que parece estar longe do fim.

    Entendo que o modo como homens (e mulheres) vivem/exercem/significam a paternidade (e maternidade) est diretamente relacionados questes culturais e sociais. Os significados da paternidade e da ma-ternidade que permitem s mulheres e aos homens ser/fazer/sentir-seenquanto mes e pais so construdos (MEYER, 2000). Pode-se com-preender o comportamento da famlia relacional [preparada] e amorosacom a solidificao dos cuidados corporais, apresentando-se como umaspecto importante de coao social, na medida em que no s definemas insgnias de cada gnero, como tambm engendram a distino entreas identidades16 maternas e paternas.

    As estratgias educativas propagadas pela revista parecem dizer aos paisde muitas e diferentes formas: a criana soberana. O que chama a minhaateno que nunca fomos to incitados a nos mantermos presentes na

    educao dos nossos filhos e ao mesmo tempo nunca fomos to reguladose controlados na prpria educao e no lugar que devemos dar aos filhos(SCHWENGBER, 2006). Um processo incessante, que est longe do fim...

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    16 Identidade(s) no tomada(s) aqui como individualidade(s), nem como um processo esttico (e definido), mascomo processo aberto que envolve uma incessante reorganizao de significados culturais, com os quais nos rela-

    cionamos nos contextos socioculturais. Assim, entendemos as identidades como mltiplas e plurais, podendo serassumidas, ao mesmo tempo, pelos mesmos ou por diferentes atores sociais (SILVA, 2000).

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