a metáfora do amor mortal - ricardo sílvio de andrade

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A Metáfora do Amor Mortal | 1 Ricardo Sílvio de Andrade

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Meu primeiro livro de poesias, escrito em 2005, publicado no scribd em 2011. Mais info em: http://192001.blogspot.com

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Page 1: A Metáfora do Amor Mortal - Ricardo Sílvio de Andrade

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Ricardo Sílvio de Andrade

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Ricardo Sílvio de Andrade

A metáfora do amor mortal

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Ricardo Sílvio de Andrade

RICARDO SÍLVIO DE ANDRADE

A metáfora do amor mortal

PETROLINA

2009

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Ricardo Sílvio de Andrade

Dedico este livro à minha família que – entre outros – me

proporcionou a maioria das impressões aqui registradas.

Dedico este livro também aos meus amigos. Tanto os da minha terra

natal – Orocó – quanto os de Petrolina.

Ele também vai para meu referencial de Poesia: Tiago Teixeira, o

primeiro grande poeta que Orocó já viu.

Ah, não poderia jamais esquecer duas pessoas importantíssimas na

minha história: a Alessandra Pires Sales – Leka – , e Luciana Santos – a

minha primeira fã!

Adoro vocês.

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Ricardo Sílvio de Andrade

Buscar ao amor às vezes parece uma infinita. Buscar ao amor ficou

para os realmente obstinados. O amor – esse estranho – infelizmente

não manda aviso de sua chegada, nem garante partida. Se fica, cresce e

floresce, construindo as mais belas obras que a mente – o coração –

humano pode criar. Mas se parte, não parte para outro local, nem para

outro coração que não seja aquele em que se originou. Quando parte,

transcende esse universo e inspira a criação de novas estrelas.

O amor quando parte não é mais que uma metáfora, uma vez que não

se vai, mas fica sepultado no coração amante. Nesse ponto, o amor é

humano, portanto, mortal.

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Ricardo Sílvio de Andrade

VIDA

O vento varria as folhas,

O vento varria os frutos,

O vento varria as flores...

E a minha vida ficava

Cada vez mais cheia

De frutos, de flores, de folhas.

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Ricardo Sílvio de Andrade

VIDA

Vida,

É plantar muito

Pra colher quase nada

Mas, mesmo assim,

É ter certeza de que

No pouco que se colheu

Compensou-se tudo

O que

Durante esse tempo

Se perdeu.

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Ricardo Sílvio de Andrade

FRANQUEZA

Me disseram para ser bom

E só me fizeram o mal.

Me disseram pra ser eu mesmo

E me ridicularizaram.

Eles me dizem que sou agradável

Mas não me permitem estar por perto.

- E quem está certo?

Me disseram um dia pra ganhar o mundo

E num segundo

Me prenderam.

Eles disseram que precisava me encontrar

E me perderam

Nesse deserto.

- E quem está certo?

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Ricardo Sílvio de Andrade

ATÉ QUANDO?

Até quando você vai continuar me ouvindo desfiar

Todo o meu rosário de histórias

Cada uma mais diferente que a outra

Porém, de igual chatice

Sobre como consertar o mundo?

Até quando vou te ter aqui por perto

Pra censurar minhas palavras,

Pra estragar minhas tentativas

De descobrir teus segredos?

Até quando vai continuar me entendendo

Me didatizando na sua filosofia de vida

Mais inventada que vivida

Mais colorida que devia

Mais sincera que podia

Dentro do eco das nossas risadas?

- Até quando?

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Ricardo Sílvio de Andrade

Faz tempo que ninguém me abraça

(nem que seja em pensamento).

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Ricardo Sílvio de Andrade

?

Andei muito buscando algo

Pra satisfazer minhas necessidades

E preencher os espaços na minha alma.

Corri ruas, bairros,

Cidades.

E nunca que encontrei

Pois nunca que tive coragem de procurar

Além do que

Meus defeitos me deixaram.

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Ricardo Sílvio de Andrade

CEP

Em uma carta te enviei

Todos os meus sinceros sentimentos

E você me devolveu

Um vazio interminável

Dentro de um envelope marrom.

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Ricardo Sílvio de Andrade

OUTONO

No outono os dias são mais tristes

E as dores mais sentidas

E caem as folhas das árvores.

Também o frio traz consigo

As pesadas mãos do vindouro inverno.

E no ar que eu respiro

As saudades da primavera.

Ao amigo Humberto Del Maestro.

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Ricardo Sílvio de Andrade

CONSELHO

Nunca leve preocupação pra cama

(é uma péssima companhia).

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Ricardo Sílvio de Andrade

OLHAR DE MIM

Tenho visto coisas demais.

Mas as coisas que hora vejo

Não me trazem nada senão

Uma

Gota

A mais de

Tédio

Pra dentro de minha casa

Vazia

Vazia

Vazia.

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Ricardo Sílvio de Andrade

LEMBRANÇAS

Há muito tempo atrás

Coisa que nós – jovens – não lembramos mais,

Perdeu-se nas brenhas da civilização

E da modernização

Sob a luz de neon

E do reflexo do computador

A magia do dia-dia,

O desapego de um sorriso,

A generosidade do olhar.

Perdeu-se em meio as lembranças

De senhas e novos códigos

De telefones DDD e DDI,

Perdeu-se.

Nas discagens dos números

E cumprimentos de horários,

Em meio a vida comum

Sem assunto concreto.

Perdeu-se nos telejornais.

Perdeu-se no fundo das gavetas

(das muitas que temos hoje),

A felicidade simples

Das lembranças de criança

Dos brinquedos também simples,

Toscos

Sem aquela bobagem tecnológica.

Perdeu-se e, desde então, o homem,

O homem de hoje,

Não se conhece mais.

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Ricardo Sílvio de Andrade

INVERNO

A felicidade é como um sopro

Que mal entra pela porta e a gente sente,

Logo, logo vai embora.

A tristeza é como uma tempestade

Que chega apressada e se instala

Sem ter hora de dizer adeus.

Ao amigo Humberto Del Maestro.

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Ricardo Sílvio de Andrade

FUGA

Doeu, mas foi necessário

Te dizer adeus.

“Adeus” para que amanhã pudesse

Abrir minhas janelas

E, ao olhar o sol nascer

Saber que em nada há graça

Se nela não estiver você.

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Ricardo Sílvio de Andrade

FUNERAL

Agora guardo nossas coisas,

Nossas roupas

(aquilo que restou de nós).

E é madrugada

Enquanto espero o amanhecer

Queimar o que restou do meu coração.

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Ricardo Sílvio de Andrade

TESTAMENTO

Aos belos,

A certeza de que um dia

Serão feios.

Aos feios,

Um longo legado

Trazido pelas justas

E velhas mãos do tempo.

Aos feios,

A certeza de que continuarão

A sê-lo.

Aos belos,

Os feios grisalhos no cabelo.

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Ricardo Sílvio de Andrade

CD PLAYER

Escuto no ar a nossa música

E cada nota que ela contém vem

Falar a minha mente que você não está aqui.

Dizer aos meus olhos que não te verei,

Escrever na minha alma o mal que tua ausência faz,

Gritar no meu coração que se acabou tudo.

Escuto no ar a nossa música

E cada nota que ela contém vem

Me dizer que

Quisera eu ter nascido surdo

Ou nunca ter encontrado

No mundo

Alguém.

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Ricardo Sílvio de Andrade

A TARDE

A tarde caiu marrom

Tingindo o mundo da sua cor.

Pintou as águas, o ar, as rochas,

Tingiu o céu de marrom e lhe tirou todo o azul

- maculou-o.

A tarde aqueceu o clima e arrepiou

Todas as estéreis areias;

A tarde modificou o mundo.

Transformou as brancas flores em

Flores marrons, sépias tingidas,

E deitou cálidos pensamentos em mim

A tarde.

Pensei no poder que tem essa tarde

E na sua sinuosidade

Que tudo transformou

E desvirginou

Da pureza da manhã.

Só que a mesma tarde

Que modificou o mundo

O céu,

A água,

As rochas,

As flores,

As areias,

Não pôde modificar meus olhos quando prendem tua imagem

Tingida no branco da manhã.

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Ricardo Sílvio de Andrade

PERDÃO

No dia em que quiseres voltar,

Vem.

Silenciosamente usa teus passos suaves,

E me tira do sono profundo

Sussurrando aquilo que me negaste ontem:

- Sim!

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Ricardo Sílvio de Andrade

AGONIA

Queimando nas chamas do esquecimento,

Os restos do amor ao próximo

Reclamam ainda um túmulo

A quem interessar possa.

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Ricardo Sílvio de Andrade

IDEAL

Sempre me disseram

Que na vida,

O importante é ser feliz.

Pena que

Nunca me avisaram

Que a felicidade

Está sempre em falta

No mercado.

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Ricardo Sílvio de Andrade

POBREZA

É fácil

Dizer

Que

A

Vida

É

Um

Barato

Quando não se vive feito uma barata.

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Ricardo Sílvio de Andrade

LIBERTINAGEM

Libertinagem é olhar as pernas das garotas.

É olhar os olhos,

Olhar o corpo.

Libertinagem é acordar cedo e de mau humor,

É acordar dolorido

Depois da noitada.

Libertinagem é dar duro de dia,

De noite,

Todas as tardes

Sem nunca perder o sorriso.

- ...

Libertinagem é viver.

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Ricardo Sílvio de Andrade

HEAVY METAL

Às vezes,

A melhor melodia

Para bailar

É o ressonante som

De um silêncio resignado.

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Ricardo Sílvio de Andrade

BRASIL

A vida

É muito curta.

A felicidade

É muito pouca.

O dinheiro

Está muito difícil.

A velhice

Será muito sofrida.

Mas a esperança,

- Ah, maldita!

Esta insiste

Em não morrer em mim.

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Ricardo Sílvio de Andrade

SERTÃO

Ar estático,

Suor, calor,

Cabeça solta

Pensando besteira.

Muriçocas voejando sobre a cabeça

E a tolinha da vida,

Seca,

Dura,

Áspera como o solo em que piso.

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Ricardo Sílvio de Andrade

OFFBEAT

Depois de esgotadas as forças

Que me moviam adiante

E acabados os bons motivos,

Depois de colher os poucos frutos

Da minha ociosidade produtiva

E rever minhas velhas revistas

Esperando pela boa vontade do tempo

Em se apressar na sua caminhada,

Foi que vi que realmente não é mito bom

Tentar mudar muito as coisas que incomodam:

É tentar secar o mar,

É polir areia.

Todavia o tempo ainda me diz

Que há uma esperança para mim:

Pode ser um cataclisma

Ou uma revolução

Talvez uma lágrima

Ou mágoa.

Queria, Deus meu,

Que das duas uma:

Que se diminua o sofrimento,

Ou a expectativa de vida no Brasil.

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Ricardo Sílvio de Andrade

ESPERANÇA

Eu só tenho dó porque

Hoje em dia esperança

É moda

É religião

É opção sexual

É dinheiro no banco

É carro do ano.

Esperança hoje em dia

É trocada

É vendida

É emprestada.

E eu só tenho pena porque

Hoje em dia, esperança é tudo,

Exceto o que deveria ser:

Esperança.

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Ricardo Sílvio de Andrade

CARNAVAL BLACK

Choram ainda cinzas as ruas estéreis

Numa quarta ensolarada

Esperando o vento dissipar

O trêmulo pavor que ficou:

Sobejos de sua partida.

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Ricardo Sílvio de Andrade

A METÁFORA DO AMOR MORTAL

É o diabo que nos move e até nos manuseia!

Em tudo que repugna uma jóia encontramos;

Dia após dia, para o inferno caminhamos,

Sem medo algum, dentro da treva que nauseia.

Assim como um voraz devasso beija e suga

O seio murcho que lhe oferta uma vadia,

Furtamos ao acaso uma carícia esguia

Para espremê-la tal qual laranja que se enruga.

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Ricardo Sílvio de Andrade

A UM DESAVISADO QUALQUER

Não existe saída

Se você não sabe qual o seu problema.

Não há meios de se definir

Aquilo que não se quer ver.

Não tem como se encontrar,

Se não houver consciência de que se está perdido.

Não há meios de se sentir feliz

Se você não buscar em si mesmo a felicidade

No caminho haverá sempre dificuldades

Mas não é desistindo que elas cessarão.

Pois, no sofrimento da busca

Estará o sabor da conquista

E o sorriso que se dá

Tem o dom de trazer a você

Riquezas inestimáveis

Porque sempre é bom ser amável,

É a melhor defesa de quem não sabe lutar

E é a única forma de romper a pedra

Em que se transformou o coração humano.

Mudar é sempre necessário

E o novo pode trazer sofrimento,

Principalmente se você está preso

Às suas coisas antigas,

Pois o novo

É o único meio de se saber

Se houve valor

Naquilo que se acumulou.

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Ricardo Sílvio de Andrade

ANDRÓGINA

Quando é inverno

Eu sou o descanso,

Sou um longo romance

Lido ao alvorecer.

E passa-se o dia,

A tarde, a noite,

Muda-se a luz, não muda o que ver.

Quando é inverno, eu sou o sono

Esperando relapso o amanhecer,

Mas se é verão, eu sou o fruto,

O mistério no ponto, pronto pra colher.

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Ricardo Sílvio de Andrade

DO SONHO

O que nos consome,

Nos come, descome,

Viceja, voeja

Torpe varejeira

Que, ora despeja e sobeja,

Ora almeja e deseja,

Às vezes duplica e multiplica

Modifica, recicla e edifica

E por fim replica.

Depois, insiste, resiste,

Persiste,

Mas também sente que se ressente

E finalmente,

Desiste.

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Ricardo Sílvio de Andrade

RESPOSTA

Das paixões,

Só as inalcançáveis me interessam.

O resto me será acrescentado

Bem à moda poética.

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Ricardo Sílvio de Andrade

ANGÚSTIA

Me esprema a garganta

E me solte um grito

Aflito.

Me assuste e me observe

Depois me abrace.

Me sufoque e me remoce,

Me embarroque,

Depois me arcade.

Mas me toque,

E no toque, um tapa:

Me acorde.

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Ricardo Sílvio de Andrade

ALANA

Uma vez eu vi uma flor

E Alana pra mim era ela.

Alana pra mim era tudo,

Era o meu mundo às vésperas do apocalipse.

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Ricardo Sílvio de Andrade

O ESPÍRITO

O espírito cobra

Da carne, as carícias.

Dos ossos, o seu sustento.

Do cérebro, os maus pensamentos

Para acalentar.

O espírito exige

Dos olhos, a triste vigília.

Das mãos, punhos às velas trêmulas.

Da boca a língua ferina.

Das velas, luz para guiar.

Me cobra o sangue o espírito,

Da pobre carne, o fraco hálito,

Da grande morte o sono.

E meio mundo a cobra-lhe a dor

De um abandono.

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Ricardo Sílvio de Andrade

POÉTICA

A poesia no terreiro:

Tolinha, bobinha, inocente,

Vem despreocupada e

- Zás!

Foi ciscada

(Não existe bicho mais literato que galinha

Caipira).

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Ricardo Sílvio de Andrade

BICHO

Eu jogo lama nas paredes

Eu me escondo

Eu sou menos humano assim.

Na lama e no lodo latente

Eu vejo o mundo demente

E nada faz falta pra mim.

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Ricardo Sílvio de Andrade

POÉTICA II

O sono me acalenta a memória,

Me torra o ânimo

E me sorve – café quente,

Depois fecha meus olhos.

O sono trava meus pensamentos,

Me embala e conforta.

Depois tudo é noite dentro de mim.

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Ricardo Sílvio de Andrade

ESFINGE

Quem nunca está alegre

Prezará sempre a tristeza,

Ou será que aí existe

Algum restinho de beleza?

Quem nunca se apaixonou

Vive sempre amargurado,

Ou amargura e amor

Andam sempre lado a lado?

Quem busca uma verdade

Foge sempre da mentira,

Ou será que a falsidade

Às vezes é a saída?

E quem busca a santidade

Foge sempre do pecado?

Ou à sua castidade

Estará ele amarrado?

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Ricardo Sílvio de Andrade

POÉTICA III

Já busquei muitas verdades

Escondidas entre as mentiras semeadas

No caminho.

Também comprei uns velhos sonhos

De um caixeiro que me cobrou em cruzeiros.

-...

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Ricardo Sílvio de Andrade

DOS VERDADEIROS AMORES

De certos amores,

Só o que sobra

São os presentes.

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Ricardo Sílvio de Andrade

A METÁFORA DO AMOR MORTAL

Eu digo:

O amor existe.

E mesmo que já não existisse,

Ainda persiste

Em manter-se algo pleno

- Eterno.

Ou em manter-se inconstante

- Distante.

E desdigo:

O amor não existe.

E mesmo que ainda existisse

Seria triste.

Algo como o sexo:

- Desconexo.

Ou o casamento:

- Mesmice!

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Ricardo Sílvio de Andrade

AVISO

Nenhuma poesia é coerente

Ao ser lida com os olhos de ver

Tristezas, desgraças e solidão.

Os olhos de ler poesia

- Estes sim!

São os olhos do coração.

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Ricardo Sílvio de Andrade

POÉTICA IV

Mergulhe

No poço da minha vida

E emerge

Embebido em poesia.

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Ricardo Sílvio de Andrade

FILOSOFIA

Adentra

Seu próprio silêncio

Vazio.

Surpreenda

Sua ignorância

Com a sabedoria contida nele.

Finite-se

Tamanha sabedoria não cabe

Em seu vão invólucro humano.

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Ricardo Sílvio de Andrade

INVERNO

Andores

Nos corredores?

Não.

Calores nos cobertores.

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Ricardo Sílvio de Andrade

PELE

Me crescem

Pêlos

Pela

Pele.

Pêlos brancos, pretos, acaju.

Me surgem estampas

E arabescos

Revelando bolas, manchas, desenhos

- Tatuagens de veludo.

Pêlo

Pela

Pele

Expõe a estampa da alma!

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Ricardo Sílvio de Andrade

MUNDO

De gota em gota, pratica-se a generosidade

Mas verte-se em grossas cachoeiras a necessidade.

Dia após dia sonha-se com a felicidade

Mas o que realmente falta é força de vontade.

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Ricardo Sílvio de Andrade

VERDADES

Se lhe disserem que você é um nada,

Admita.

Somos reles nada destruindo o universo.

Mas se lhe disserem que você é tudo,

Assine embaixo

(falsa modéstia não cai bem em ninguém).

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Ricardo Sílvio de Andrade

OUTONO II

Doce

No ponto?

É ponto

Pro doce!

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Ricardo Sílvio de Andrade

O LUCRO

O lucro do rico

É inalcançável.

Mas o rico não o é

Por ser durável.

O lucro do triste é

Um grito

- aflito?

Por que não?

Mas o lucro do pobre

É um gemido

Triste e espremido

Na escuridão.

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Ricardo Sílvio de Andrade

PRAZER

Procure no mundo,

No fundo

Do poço no fim da estrada.

Procure nas flores,

Nos doces

Nos fins de jornada.

Procure no nada

Na palma

Das mãos de um anjo.

Procure em encantos

Nas preces,

Nas velhas quermesses.

Procure nos fins,

E quando encontrares, perca

Para depois recomeçares.

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Ricardo Sílvio de Andrade

PRIMAVERA

Nervos

À flor da pele?

Flores

Aos nervos dela.

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Ricardo Sílvio de Andrade

VERDADE CRUA

Eu fico com raiva,

Eu sou destrutivo agora,

Pura poesia em meio a ignorância.

Quero que me digam que a intenção

Não é ser cético quanto a isso

Ou que o lado triste do mundo

É o que o deixa mais poético.

Não sei usar figuras

Pois o que digo, é o que é.

- Problema?

Não se você sabe onde está

O centro do seu mundo.

Não se deixe arrastar pela minha órbita confusa

Não se deixe esquivar pela minha verdade crua.

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Ricardo Sílvio de Andrade

QUESTÃO

Ser ou renascer?

-Eis a questão

Tão contrária quanto a luz

É à escuridão.

Renascer ou não ser?

Qual a solução?

Tão contrária quanto a razão

É ao coração.

Tentar e sofrer quanto ser

Cobra muito da coragem,

Da vontade de vencer.

Mudar o destino – renascer:

Um caminho, uma verdade

Ou um risco de perder.

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Ricardo Sílvio de Andrade

VERÃO

Somar:

- Sol + Mar.

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Ricardo Sílvio de Andrade

DE VERSOS

Já não me cabe ser vaso com conteúdo.

O mundo acabou...

Eu busco minha busca infame.

Me consumo,

Revejo versos.

É triste olhar as mãos e nada ver,

É triste apalpar o ar

E congelá-lo no coração.

Já não me convém a beleza do beija-flor

Nem a dignidade da abelha

Rainha,

Doce fonte de mel

Ressurreição do espírito.

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Ricardo Sílvio de Andrade

CIRANDA

Eu me confundo

Você me acode.

Eu me perco

Você me encontra.

Eu me desespero

Você me consola.

Eu sou o rio

Você sempre o meu mar.

Eu sou o pássaro

Você um terno céu.

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Ricardo Sílvio de Andrade

MÃE

Figura pálida e cansada

Sofrida

Da lida diária.

Desespero profundo

Em forma de cuidados.

E nos olhos,

Jeito de amar desconsertado.

Figura prestes a se apagar.

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Ricardo Sílvio de Andrade

DA FÍSICA

Os homens pensam e transformam o mundo.

Os homens se escondem.

Invadem o céu, as águas, o ar e o infinito

Esses homens.

Os homens se transformam também:

Atraem, distraem, constroem, desconstroem.

Humanos – pólos iguais

Repelem-se.

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Ricardo Sílvio de Andrade

SATÂNICA IN POETRY

Consuma o sangue

Digira vida

Transforme-se

Ou transfigure-se

Mude

O ser

Desnude:

Revire-se

- louca tripa - .

Transforme o meio

E, entrementes

Descanse.

Depois

Na chuva,

Deitado em campo aberto

Deixe um raio despertar o seu ser

À prova de qualquer coisa.

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Ricardo Sílvio de Andrade

DAS PESSOAS FRÍVOLAS

Diz que incorporava múltiplas personalidades.

- Era médium?

- Pai-de-santo?

- Ator de sucesso?

Não. Era mentiroso, mesmo.

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Ricardo Sílvio de Andrade

FIM

As palavras não me saem mais

(fazer o quê?).

Hoje amanheci em fogo criador

Mas me falta o fundamental:

Palavras.

Voaram dessa ilha

Deixando tudo no escuro

Sem a luz das idéias

- Negra epiderme.

E a dúvida a consumir tudo

Na recriação

Deste universo.

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Ricardo Sílvio de Andrade

MÃOS LIMPAS

A lâmpada

Uma lâmpada bem abastecida de óleo e ostentando chama bem

luminosa, gabava-se de iluminar mais que o sol. Mas logo soprou um

forte vento, que a apagou. E alguém, enquanto a acendia de novo, lhe

disse: “Ó lâmpada, ilumina sim, mas fica calada. A luminosidade dos

astros jamais se apaga”.

Moral: Que as glórias e os esplendores da vida não nos ofusquem, pois

tudo que temos é transitório.

Esopo

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Ricardo Sílvio de Andrade

QUINTETO

Agora sou cinco

Eu era sete – um pouco mais.

Mas hoje sou apenas cinco

Cinco mentes como as pontas de uma estrela

Espetando-me

Consciência aguda

Agora sou cinco.

E todas as músicas me fazem sentido.

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Ricardo Sílvio de Andrade

EXPLICAÇÃO

Sempre ouvi músicas românticas.

E se me pegam no meio da melodia

(olhos perdidos longe no horizonte),

Me perguntam se estou apaixonado,

Ao que respondo:

- Estou poeta.

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Ricardo Sílvio de Andrade

GEOCÊNTRICO

Estou sozinho e deitado

Imóvel na minha sala

No meio do mundo.

Agora

Me dói o peito e movo a mão:

Estou trinta centímetros mais próximo

De algum lugar.

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Ricardo Sílvio de Andrade

IDADE

Talvez o mundo não seja tão cinza, de fato.

Talvez minha sede de olhar

Já tenha passado.

Pode ser

Os meus olhos, afinal,

Depois de certa idade é difícil conjugar

Rugas e risos.

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Ricardo Sílvio de Andrade

ENTREVISTA

Estou na sala

Sentado

E tenho medo do silêncio das pessoas.

Na minha cabeça,

Uma pergunta:

- Onde será que eles escondem

A verdade?

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Ricardo Sílvio de Andrade

OFÍCIO

Eu me equilibro

No tênue fio poético,

Fecundando letras,

Cruzando vocábulos,

Gerando frases.

Se caio

Desse fio ao esmo

Sou texto.

Se recobro meus sentidos

Sou verso.

Se me fio nesse nexo,

Sou homem.

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Ricardo Sílvio de Andrade

RISO DO RIO

De repente em meu sono um murmúrio

Teu sorriso alado no escuro.

Pra me acalantar

Nos momentos de frio,

Um pouco da calma em seu perfil.

Na desordem

Me colhe em seus braços, feito um polvo com mil tentáculos,

Despedaçando meu peito em ternura

Dorso firme

Na água escura...

Cessado o tempo das águas,

Antes eu não imerso!

Teu sorriso agora se afasta

Qual resquício de sonho,

Pele branca na areia.

E o tempo do rio me faz lembrar:

Perdidas,

As horas não contam

Assim como não contam as dúvidas:

Onde estarás agora?

Não sei.

As águas do rio não me contam mais...

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Ricardo Sílvio de Andrade

CONFISSÃO

Dizem que minha mãe

Soube bem criar os filhos dela.

De fato,

Nunca me envolvi com álcool

Nem drogas.

Aprendi sozinho

A me meter em outras confusões.

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Ricardo Sílvio de Andrade

PRESSA

Dias

Cheios,

Vida

Vazia.

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Ricardo Sílvio de Andrade

CHEGADA

Passa das onze e chego em casa.

Todos dormem.

Tomo meu banho, assisto

E me deito.

Espero o dia trazer a próxima ferida.

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Ricardo Sílvio de Andrade

VERDADE

Não

Entendo,

Sub-entendo

O que pretendo

A fim de esconder

O óbvio.

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Ricardo Sílvio de Andrade

FANTASIA SOCIAL

Me visto

Como um homem

Rico.

Me arrisco

Exibindo risos

Me perco

Na busca de mim.

Vigio

O meu semelhante

Mantendo-o seguro

(distante)

Me

Escondendo

Assim.

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Ricardo Sílvio de Andrade

DESCULPAS

Não posso ter

Dinheiro

Não posso ser

Inteiro

Não posso ser

Mundo

Não sou

Tudo.

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Ricardo Sílvio de Andrade

HUMANIDADE (ADJETIVO)

Não sei se o que quero

É o que eu não penso

Ou o que não posso.

Sou hipertenso

Hiper tenso

Hiper penso

E pretenso

Homem.

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Ricardo Sílvio de Andrade

O SEU POEMA

O seu poema é branco, denso

É forte, sofrido

É mármore.

O seu poema tem a matéria

Dos grandes risos

E breves choros...

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Ricardo Sílvio de Andrade

BIOGRAFIA

Eu,

Homem de papel,

Resolvi viver

De letras.

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Ricardo Sílvio de Andrade

NONSENSE

Alguém me disse

“ - hey, tua poesia é uma merda”.

Você leu? – perguntei.

“Sim – ele me disse”.

Deveras é mesmo.

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Ricardo Sílvio de Andrade

Petrolina, verão de 2009.