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1 A MELHOR HISTÓRIA DO MUNDO (Autor: Eduardo Strucchi) Registro Biblioteca Nacional N° 355388

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A MELHOR HISTÓRIA DO MUNDO

(Autor: Eduardo Strucchi) Registro Biblioteca Nacional N° 355388

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CENÁRIO: O cenário poderá ser constituído de adereço onde cada cena fica a cargo dos atores a composição. Sinopse: Personagens da comédia Dell’arte tentam contar a melhor história do mundo. Um dos personagens conta a história de um jovem que sai de seu vilarejo em busca de aventura e acaba encontrando um grande amor. Ao término da peça os personagens tentam descobrir qual a melhor história do mundo e entendem que cada um tem a sua melhor história. PERSONAGENS: PIERRO MANDRAQUI ANIÉRA QUERUBIM GABRIEL PAI MÃE ALBANO BOCHARCOS BUCCO REI PAPPUS MACCOS DOSSENUS ROMULOS Peça: GUARDA CREONTE

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CENA I (A trupe de atores entra em cena com sua carroça. Após viajar por anos decidem parar e construir um novo espetáculo. Querubim vai até a boca de cena) QUERUBIM: Bem, acho que devemos montar acampamento aqui e construir uma nova peça. Toda Europa conhece nossas apresentações devemos construir algo novo. Já sei vamos escrever uma peça chamada a melhor história do mundo. ANIÉRA: Então vamos começar a melhor história do mundo. Pierro venha até aqui e comece a peça. A partir deste momento todos começam a incorporar seus personagens. Uma observação é importante que todos estejam participando compondo vários personagens diferentes. Pode usar os figurinos que estão dentro da carroça. Todos estão de acordo? TODOS: Estamos. QUERUBIM: Então Pierro pode ser você o narrador desta história. E por favor, comece com uma frase bela e inspiradora... (Pierro pigarreia, vai até a boca de cena) PIERRO: Hoje, começo mais uma história, dentre milhares já existentes, de certo que neste instante me pronuncio apenas as escritas, que ficaram registradas no livro da vida. E como não tenho pretensões de escrever a maior história do mundo e nem ao mesmo sei se esta foi escrita, pois esta grande obra pode ter se perdido no espaço como grão de areia voando no vento e nunca mais ser encontrada. (Ao som de tambores os atores se movimentam em várias partes do palco, perguntando para o público “Foi Você quem criou a melhor história do mundo?” Vão a platéia para perguntar ao público se conhecem uma grande

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historia, improvisam histórias para dar dinâmica ao texto, depois de algum tempo Querubim, sobe no palco, cessam os tambores) QUERUBIM: Fui eu quem inventou a melhor história do mundo! TODOS: Você? (som dos tambores) E como é a história? (Todos os atores voltam ao palco, em marcações diversas, para escutar a história) QUERUBIM: Quero alertar os senhores desde o início que a maior história do mundo não é fácil de compreender. ANIÉRA: Mas as histórias, sempre são fáceis de entender. QUERUBIM: Não está história, pois para que a compreendamos precisamos ouvir com o coração. MANDRAQUI: (rindo de Querubim) Em toda minha vida nunca ouvi algo tão engraçado. QUERUBIM: O que há de engraçado em ouvir com o coração? MANDRAQUI: Na verdade, coloque mal as minhas palavras, quis dizer que isso se aproxima da loucura. QUERUBIM: E quem lhe disse que és normal? TODOS: Quem lhe disse Mandraqui?

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MANDRAQUI: Hora... A vida. ANIÉRA: Depois dizes que nos é que somos loucos? Falas com a vida, mas não consegue ouvir com o coração. MANDRAQUI: Todos sabem o que quis lhe dizer. QUERUBIM: Está de todo incompreendido sobre as coisas do coração. MANDRAQUI: Está bem! Escutarei a melhor história do mundo. ANIÉIA: Mas como és estúpido! Nós não podemos apenas ouvir a história, temos que senti-la também. MANDRAQUI: Ai que desisto de ouvi-la, complicam por demais o simples fato de ouvir. QUERUBIM: Não somos nós que complicamos, és tu que não compreendes! MANDRAQUI: Mas como isto se torna possível? Se em toda a minha vida aprendi com perfeição as formulas do tempo. QUERUBIM: Podes ter aprendido a resolvê-las, mas não sabes flutuar pelo tempo. ANIÉIA: Deves flutuar como pena. (Inicia uma música suave. Todos se sentem flutuando, Mandraqui é o único que não flutua totalmente, com o tempo ele consegue flutuar, quando a música cessar Mandraqui cai no chão, os outros caiem como pena)

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QUEROBIM: Estais compreendendo Mandraqui? MANDRAQUI: Acho, que por alguns instantes eu consegui flutuar. ANIÉIA: Então vamos começar a história!!! (Batem os tambores em ritmo de festa, Aniéia vai à boca de cena. Cessam batidas) ANIÉIA: (Com olhar curioso) Querubim? QUERUBIM: Dizes minha adorada Aniéia. ANIÉIA: Nesta história, existirão príncipes, dragões ou castelos enormes? QUERUBIM: Para quem quiser existirá. ANIÉIA: Permite que eu faça mais uma pergunta? QUERUBIM: De certo que sim. ANIÉIA: Existirá amor? QUERUBIM: A história é o amor... (Ao tocar dos tambores todos os atores devem ficar enfileirados na boca de cena. Sentam-se em circulo apoiando as costas uns nos outros. Escuta-se em uma batida forte. Entra o Pierrô)

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PIERRÔ: Neste instante começa a maior história do mundo, mas peço a todos para tomar cuidado com as interpretações, pois caso não estejam de coração aberto, é certo que não se atentarão ao flutuar do tempo. Era uma vez num lugar muito distante, onde os sonhos eram colhidos no pé e degustados com o tempero do tempo. (pausa. Muda a expressão) Bom, é certo firmar também que nem sempre a vida no mundo dos sonhos fora o mar de rosas. Nota: Em todas as apresentações dos atores que estiverem podem e devem receber intervenção na peça orientando uma melhor interpretação dos atores sobre a história, estas marcas ficam a critério da direção. (Todos os atores levantam e andam para a coxia. Dois atores se vestem com caracterização de uma Mãe e outro do um jovem chamado Gabriel, pendura roupas no varal que estará estendido no fundo do palco. Entra Gabriel correndo e brinca com a sua mãe, pega algumas roupas do varal sem que ela veja. Ele se esconde e depois de algum tempo ela consegue encontrá-lo.) MÃE: Pare com isso! Que mania! No lugar de tirá-las da corda me ajude a colocar. (Gabriel ajuda a sua mãe a estender as roupas no varal) GABRIEL: Não precisa ficar furiosa, sei muito bem que fica chateada, mas sentiria falta se eu não fizesse estas travessuras, não é? MÃE: Está ficando esperto, já é um homem, qualquer dia vai se apaixonar... GABRIEL: Eu me apaixonar? Duvido! Está para nascer mulher que irá me deixar caído feito os fracos. MÃE: O seu pai dizia a mesma coisa. No entanto, foi ele que se apaixonou por mim primeiro. PAI: Mentiroso! Ele sempre disse que deixava as mulheres apaixonadas por ele.

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MÃE: Isso eu não posso negar. (sonhadora) Ele conseguia todas, menos eu, nunca olhava para ele, até o dia que ele salvou a vida do teu avô. GABRIEL: Ai ele consegui te conquistar não foi? MÃE: Mais demorou um pouco, até que eu aceitasse o noivado, teve que demonstrar seu cavalheirismo, buscando encomendas inesperadas, por mais difíceis que fossem de se conseguir. (Gabriel vai até a janela para olhar o sol. Fica admirando a natureza) GABRIEL: Outro dia me perguntaram que gosto tem a vida? Eu respondi que tinha gosto de pêra, porque eu adoro pêra. Mas o que eu queria dizer mesmo é que a vida tem o gosto que cada um de nós escolhe. A minha é macia, suculenta e bonita, alguns por sua vez, preferem ter uma vida amarga e solitária, de modo que está não quero ver nem de longe. MÃE: O que tu olhas tanto nessa janela? Fica ai sonhando e esquece as suas obrigações. GABRIEL: Mãe? MÃE: O quê? GABRIEL: O que existe atrás daquelas montanhas? MÃE: Bem, não posso te dar certeza, mas dizem que existem outros vilarejos muito diferentes do nosso. GABRIEL: E quem lhe disse isso?

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MÃE: Albano foi o único aventureiro que teve coragem de ir do outro lado. (faz ar de mistério) Depois que ele voltou se mantém trancado em sua casa, não fala com ninguém o que encontrou do outro lado. (A Mãe sai de cena. Gabriel pega um dos lençóis e começa a colocar algumas roupas suas dentro, sua mãe entra novamente) MÃE: Qual motivo de estar separando tuas roupas? GABRIEL: Não posso mais viver assim. MÂE: Tu falas como se não quisesse ver tua família, foi algo que eu fiz? GABRIEL: Tu não entendes? Pretendo ir para outras terras, pois tenho esta necessidade. Todos os dias quando durmo imagino os segredos que me aguardam do outro lado, desde pequenino sonhava em um dia conhecer as novas terras. Mãe! Saiba que eu a amo, assim como meu pai. Esta decisão é por questões de minha natureza, nada posso fazer para impedi-las. Porém, antes de ir eu gostaria de seu consentimento. MÃE: Como posso consentir com tal loucura? Queres viajar para terras distantes e eu nem ao certo saberei se regressas. Não pode me pedir isso. GABRIEL: Então consulte a velha Bocharcos e caso ela concorde com minha partida deves me conceder sua benção. Caso não aceite falar com ela partirei sem seu consentimento. MÃE: Desta forma não tenho escolha. Tudo bem, eu vou. GABRIEL: Então vá e não demore.

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(Entra ANIÈIA no meio da cena) ANIÈIA: Para tudo nós não temos figurino de para oráculo... Quem fará o papel de Bocharcos. QUERUBIM: (com uma cesta de retalhos na mão) Não tenho a mínima idéia. ANIÈIA: Já sei podemos usar estes tecidos como bonecas. Da mitologia grega as irmãs que tecem o tempo. QUERUBIM: Ótima Idéia. (A Mãe de Gabriel vai visitar Bocharcos (São três bonecas de fantoche que simbolizam a teia do tempo), uma velha vidente que vive entre as árvores ao lado do rio dornos. Elas aparecem de forma assustadora) BOCHARCOS: Não precisavas ter vindo aqui para falar de seu filho. MÃE: Como pode saber o que vim fazer sem nada ter pronunciado? BOCHARCOS: Ora! Não tenho tempo para tais tolices. MÃE: Eu quero um conselho sobre meu filho. BOCHARCOS: (gargalha) A decisão já foi tomada. MÃE: É por isso que estou aqui, me diga Bocharcos. O que devo fazer com meu filho?

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BOCHARCOS: A decisão já foi tomada. MÃE: Desculpe, mas não consigo entender? BOCHARCOS: Como não entendes? Veio me consultar sem motivos? Sei que tua decisão já foi tomada e se aqui estais tenho certeza que é unicamente pelo fato ter prometido que virias e esperas ansiosamente que meu discurso seja complacente com o teu. Escute mulher! Existem enigmas na vida que nem o homem nem sua própria natureza sabem explicar. MÃE: Mas... (Bocharcos sai. Ela volta da floresta, com seus pensamentos atordoados) MÃE: (para o público) Como posso eu dizer que lhe abençôo? Se do fundo de meu coração está idéia me desagrada. E certo que não entendo a sua decisão, mas também devo saber que caso meu filho parta sem meu consentimento estaria machucando a ambos. Eu, por não ter lhe conceder á benção, e ele por sentir no peito a dor de meu descontentamento. A cada noite sentiria doer meu coração e pediria aos céus perdão pelo meu egoísmo. (Gabriel está sentado na boca de cena, entra sua mãe que o conforta e consola) GABRIEL: Tu lembras mãe? Quando criança brincava nesses campos. MÃE: Como não lembraria? Passava todo o dia a ti vigiar. GABRIEL: Eu sempre lhe dei o que se preocupar?

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MÃE: Logo que aprendeu a andar, tinhas o costume de se esconder por entre as árvores, me deixavas cansada de tanto gritar a tua procura, por muitas vezes pedi aos vizinhos que me ajudassem e quando já estava exausta de tanto lhe buscar aparecias em tua cama, como se nada tivesse acontecido. GABRIEL: Eu já lhe pedi desculpas pela minha conduta? MÃE: Acredito que não. GABRIEL: Então agora eu peço. Desculpem-me por todas as loucas aventuras que ocorreram e as que estão por vir. MÃE: Por mas que fique chateada com tua decisão, não consigo negar-te um pedido. GABRIEL: Quer dizer que me concede a benção? MÃE: Sim! GABRIEL: Eu nunca saberia expressar minha gratidão, pois percebo que compreende as minhas necessidades. MÃE: Mas terá que me fazer uma promessa. GABRIEL: Peça mais de uma. MÃE: Deve me prometer, que um dia tu voltaras. GABRIEL: Mas isto que me pede não é promessa.

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MÃE: Mas quero que seja. GABRIEL: Está prometido, não demorará o meu regresso. (Gabriel beija sua mãe. Ela lhe entrega uma sacola com comida e sai. Gabriel caminha, após algum tempo ele para e abre seu saco para comer um pão) GABRIEL: Como sentirei saudade deste pão. (Gabriel começa a comer o pão. Entra Bucco se esgueirando entre os arbustos para não ser visto. Gabriel senta-se satisfeito e põe o pão em cima de sua bolsa, Bucco sorrateiramente rouba o pão de Gabriel, que só percebe o ocorrido quando Bucco está distante, Gabriel corre atrás de Bucco, iniciará um jogo de pega- pega, Bucco pula e rola sempre rindo como se não tive-se pecado o ato que cometeu, até que Gabriel o prende entre os braços) GABRIEL: (com Bucco entre os braços) Quem eis tu? E como ousou furtar-me? BUCCO: (sufocado pelo aperto de Gabriel) Hum, hum, hum... Solte-me! GABRIEL: (soltando Bucco) Vou lhe soltar. Mas se fugir, garanto que irá se arrepender. BUCCO: Obrigado por me soltar, senhor. (Interrompe a cena) QUERUBIM: O Bucco está tudo errado, você deve se movimentar assim (representa movimentos engraçados), pois, você é um ser da floresta e não pode ser pego assim de primeira. Vamos lá tente representar como eu falei. (Bucco faz movimentos engraçados) Isso está ótimo pode voltar para cena.

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GABRIEL: Então me responda? Com que intuito foste me furtar? BUCCO: Em primeiro lugar, vós estais nas terras do Rei Pappus e por isso tudo que estais nesta terra passa a ser sua propriedade. GABRIEL: Então por que motivo estava comendo o meu pão? BUCCO: É.. É... Que na função de servo do Rei Pappus, posso aproveitar das vantagens oferecidas por está terra. GABRIEL: Bem, então se por aqui tudo funciona assim, gostaria de conhecer o Rei Pappus, assim poderei perguntar-lhe se tuas afirmações são verdadeiras. BUCCO: (com medo) Não! É melhor não! GABRIEL: De forma alguma, eu insisto. BUCCO: Ele encontrasse um pouco mal humorado no momento. GABRIEL: Mas não me incomodarei com seu mal humor. BUCCO: Bem... (Gabriel segura na camisa de Bucco e o força contar a verdade) GABRIEL: Pare com mentiras e me conte a verdade!

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BUCCO: Está bem, está bem, na verdade a minha função e de observar se bárbaros se aproximam. GABRIEL: Então queria furta-me para tua serventia? BUCCO: Não me castigue senhor, pois o Rei Pappus me escravizou e posso comer apenas uma vez ao dia, então quando vi seu alimento não resisti é... GABRIEL: É verdade o que dizes? BUCCO: Dou-lhe minha palavra. GABRIEL: E por qual motivo tu não foges deste rei? BUCCO: Caso eu fuja, ele me jogará um feitiço, fazendo com que eu seja rancoroso e avarento para todo sempre. GABRIEL: E existe tal homem? BUCCO: Estou lhe afirmando! GABRIEL: Pois não acredito que possa existir rancor que não se cure. BUCCO: Mas há, e se duvidas te levo ao seu encontro, mais lhe advirto, caso ele o veja irá mantê-lo prisioneiro de seu feitiço. GABRIEL: Não tenho medo! Digo isso, pois sou um aventureiro e não será teu senhor que impedirá minha viajem. Então? Me leve até ele.

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(O Rei Pappus se encontra sentado em seu trono, com uma coreografia medonha. Inúmeros seres estranhos dançam. Ao fim da dança Maccus se aproxima mancando) REI PAPPU: Maccus! Traga-me água para banhar meus pés. (Entra Querubim e interrompe a encenação) QUERUBIM: Pára tudo! Meu querido o Rei Pappus é mal. Sabe ele representa a Esfinge, dona da sabedoria detentora do portal que liga Esparta a Atenas. REI PAPPU: Está bem entendi vou tentar novamente. (imita uma mulher) Maccus! Traga-me água para banhar meus pés. QUERUBIM: Mas o que é isso? REI PAPPU: Você disse que era para imitar uma esfinge dona da sabedoria. QUERUBIM: Expressei-me mal, quer dizer o REI PAPPU representa está figura mitológica, mas ele é um REI série e assustador. REI PAPPU: Vou tentar novamente. Vamos lá. Maccus! Traga-me água para banhar meus pés. (Querubim sai de cena) MACCUS: Trarei senhor. REI PAPPUS: Como desprezo a existência humana, somente os divinos deveriam existir, pois de nada nos serve estes seres que não conseguem viver com o peso de sua própria vida, isto por demais já os basta. Mais os humanos têm sorte, pois

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como não pensam, não sofrem, alguns como Bucco ainda sorriem da escravidão. (Entram Gabriel e Bucco, Gabriel fica escondido enquanto Bucco, fala a Pappus) BUCCO: Diga-me querido rei o que devo fazer para merecer teu perdão? REI PAPPUS: Por que me perguntas isso novamente? Pois foste tu que escolheste tua maldição, disse que me farias rir e nunca consegui cumprir teu desafio. BUCCOS: Desculpe senhor! (a parte) Velho avarento! REI PAPPUS: Estais loucos? Chamou-me de avarento? BUCCOS: Não senhor eu... REI PAPPUS: Não terei piedade de tua alma! (Entra Gabriel) GABRIEL: Deixe-o em paz! REI PAPPUS: Quem eis tu? GABRIEL: Meu nome é Gabriel. REI PAPPUS: Então meu corajoso jovem acaba de entregar tua vida a minha serventia.

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GABRIEL: Nunca! REI PAPPUS: Tu não tens mais escolha, já esta sobre meu domínio. GABRIEL: Agora posso acreditar no que disse Bucco, não passa de um covarde. REI PAPPUS: Ah! Esta questionando minhas virtudes? GABRIEL: Na verdade, estou duvidando da tua inteligência. Costuma dizer que nos humanos não pensamos, não é? REI PAPPUS: Está querendo jogar? GABRIEL: (irônico) Pelo menos compreende o que digo! (Um rápido B.o todos saem de cena, acenderá um spot em Gabriel, a voz do Rei Pappus, será medonha) REI PAPPUS: Faça sua proposta ser desprezível. GABRIEL: Eu participarei de seu jogo, mas caso eu ganhe terá que libertar a mim e a Bucco! REI PAPPUS: E se eu ganhar? GABRIEL: Serei eternamente seu escravo.

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REI PAPPUS: Bem, isto tu já o eis, mais o fato de poder cuspir tua derrota para o resto de sua vida me fascina. Então, irei lhe propor um enigma. Caso consiga me responder antes que o último grão de arreia caia terás o que pediu. GABRIEL: Estou ansioso. (Maccus entra com a ampulheta e a vira enquanto Pappus conclui sua pergunta) REI PAPPUS: Qual o animal que anda de manhã com quatro pés, á tarde com duas e a noite com três? GABRIEL: (reflete por algum tempo) É o homem, que engatinha na infância, anda ereto na juventude e com ajuda de um bastão na velhice. REI PAPPUS: Não... Não, como é possível? Nunca um humano havia acertado! Vá, sem demora antes que eu desista da tua liberdade. (Gabriel e Bucco fogem do castelo do Rei Pappus e vão a caminho de um vilarejo próximo dali. Quando chegam encontram vários jovens que estão ouvindo Dossenus palestrar) ROMULOS: Dossenus, qual lhe parece ser a melhor tarefa para um homem? DOSSENUS: Viver bem. ROMULOS: O que então compreende por sorte? DOSSENUS: A sorte e a ação parecem-me coisas opostas, pois chamo sorte achar uma coisa fútil sem procurá-la; chamo em compensação viver bem, alcançar o seu fim

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por meio do estudo e do exercício; e parece-me que quem se dedica a ele ‘vive bem’. (Durante toda palestra Gabriel ficará inquieto para lhe perguntar algo, ele entra no meio dos jovens e chega de Rômulo) GABRIEL: Como faço para falar com ele? ROMULOS: O chame pelo nome, Dossenus. GABRIEL: Não há objeções em fazer questionamentos? ROMULOS: Só haverá se não o fizeres. GABRIEL: Dossenus, quando um homem decide por si só fazer as coisas que mandam seu coração, este homem está certo? DOSSENUS: O homem que pôs em si mesmo tudo quanto leva á felicidade ou dela se aproxima, esse preparou para si a melhor vida, esse é sábio, esse é valoroso e prudente. GABRIEL: Obrigado Dossenus! DOSSENUS: E antes de partir deixou-lhes um ultimo pensamento. Sabedoria é vencer-se a si mesmo; ignorância em compensação é ser vencido por si mesmo. (Todos aplaudem Dossenus ele passa ao lado de Gabriel, eles se entre olham, Gabriel expressa admiração. Dossenus sai) GABRIEL: Desculpe meu importuno, mas gostaria muito de saber quem era este homem?

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ROMULOS: Ele é Dossenus, um filósofo. GABRIEL: O que é um filósofo? ROMULOS: E o homem que dedica a vida a perguntas, fica nos fazendo perguntas e mais perguntas, até acharmos a resposta. GABRIEL: E por que ele estava aqui? ROMULOS: Dossenus é um homem de grande coração, pois compadecido de nossa falta de boas escolas, nos ensina gratuitamente tudo que precisamos. GABRIEL: E qual seria o seu nome? ROMULOS: Eu me chamo Romulos, e o seu? GABRIEL: Eu me chamo Gabriel. ROMULOS: Tu moras neste vilarejo? GABRIEL: Não, sou de terras distantes. ROMULOS: Estais viajando com tua família? GABRIEL: Na verdade estou viajando com Bucco meu novo companheiro. (procura Bucco) Bucco!... Onde ele está? Acho que nos perdemos no meio da multidão.

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ROMULOS: Isto quer dizer que não tens onde ficar? GABRIEL: Isto é o que menos me importuna, como disse Dossenus, o homem deve seguir seu coração e tudo estará resolvido. ROMULOS: Fico impressionado com tua dedicação a vida. GABRIEL: Eu tenho sede de viver ROMULOS: Viver bem! GABRIEL: Viver bem! (Os dois começam a sorrir e senta na boca de cena, um spot acende em cima da mãe de Gabriel) MÃE: Não consigo explicar esta sensação que me vem ao corpo, parece que posso sentir a alegria de meu filho, como se estivesse do meu lado. Este viajou para conhecer o seu futuro e fazer a sua história, devo respeitar o seu tempo, e a única coisa que posso fazer é pedir que nada de mal lhe aconteça. ( b.o fim da cena I)

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CENA II (Entra o pierrô dando cambalhotas. Todos os atores ficarão no palco até o final do espetáculo, ele vai à boca de cena) PIERRO: Distinto público! Nosso jovem Gabriel encontrou um amigo, que o acolheu em sua casa e lhe Dara emprego mais uma grande surpresa está prestes a acontecer... (O pierrô sai. Rômulo está se espreguiçando e vem para boca de cena, olha para trás, demonstra que espera por Gabriel ) ROMULOS: Vamos logo! GABRIEL: Assim tu me matas! ROMULOS: Vamos despertar, pois temos muito que fazer. GABRIEL: Temos? ROMULOS: É como! (Gabriel e Romulos estão em uma oficina, Gabriel encontra jarros de vários tamanhos e fica intrigado) ROMULOS: Tu não querias um emprego? GABRIEL: Sim, mais... ROMULOS: Mais agora já o tens.

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GABRIEL: E como posso lhe agradecer? ROMULOS: Aprenda a ser um bom oleiro que já esta de bom tamanho. GABRIEL: E tu vai me ensinar o ofício? ROMULOS: Tenha atenção que logo estará fazendo todos os tipos de jarros. Deve pegar a argila afofá-la, depois a coloque na mesa e com esse pedal, a mesa rodará, modele o jarro no formato que preferir, depois de toda modelada, esperamos que fique dura, aí podemos pintar e por último a cozemos no forno.

(Os dois trabalham. Gabriel desmonta o jarro inúmeras vezes até pegar o costume. Depois de algum tempo acaba o primeiro) GABRIEL: Romulos, onde posso tomar um pouco de água? ROMULOS: (apontando) Naquele jarro. GABRIEL: Qual deles? ROMULOS: Este do seu lado. GABRIEL: (pega o jarro) Desculpe mais na há uma única gota de água. ROMULOS: Bem, é melhor se acostumar com o vilarejo, ao sair pela oficina siga em frente até um poço lá encontrará água, aproveite a traga para nós. GABRIEL: E caso eu fique perdido?

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ROMULOS: Diga a qualquer cidadão que pretendem ir à oficina da Romulos, por aqui todos me conhecem. (Gabriel sai com o jarro, os personagens Gabriel e Iara serão substituídos por bonecos. Os bonecos começam a caminhar, chegam ao poço e quando estão prestes a encher seu jarro são surpreendidos pelo olhar um do outro Ele ficam tímidos. Ela sai, mas deixa seu lenço cair no chão. Ele segura o lenço. Os bonecos saem música. Entra Gabriel com o lenço na mão. Música e som de tambores. Entra Querubim) QUERUBIM: E agora? TODOS: Agora o que? QUERUBIM: Agora que ouve o encontro como continua a história? ANIÈIA: Ele poderia fazer uma peça de teatro. QUERUBIM: Mas você só pensa em teatro, vamos pensar algo, mas criativo. PIERRO: Já sei ele chega ao centro de Atenas e está ocorrendo uma apresentação de uma peça de teatro e ele fica impressionado. QUERUBIM: Ótimo! Podemos colocar um trecho da peça de Sófocles. Os atores devem interpretar de forma exagerada... Isso. Quem vai? Vamos ver... (escolhe dois atores) Você! É...você...Por favor narrador. PIERRO: (sentando Gabriel na platéia) Por gentileza senhor queira sentar-se ai. (para o público) É com muito orgulho que abro o festival de humor, com a peça Creonte e o guarda.

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(Aplausos. Um ator vestido de ladrão cruza o palco. Entram Creonte e o guarda louco) GUARDA: Permites que te diga ainda uma palavra, ou devo retirar-me? CREONTE Não sabes que tua voz me é insuportável? GUARDA: É só aos ouvidos, ou no íntimo da alma, que minha voz te faz mal? CREONTE: Não vejo para que indicar o lugar exato onde sinto esse desgosto! GUARDA: É que... O criminoso te feriu o coração; eu, somente os ouvidos! CREONTE: Parece-me, na verdade, que tu nasceste para tagarela! GUARDA: Sim... Mas não fui eu que pratiquei o crime! CREONTE: Embora! Vendeste-te por dinheiro, com certeza! GUARDA: É curioso como um homem que presume tudo descobrir, descobre coisas que não existem! CREONTE: Podes, agora, gracejar acerca do que eu descubro, ou não; mas se vós, os guardas, não me indicardes o culpado, havereis de saber que os lucros desonestos causam sempre contrariedades. GUARDA: Sim! Que tratemos de encontrar o criminoso... Mas, se o apanharemos, ou não, isso é que pertence ao destino decidir, e não há perigo de que me vejas

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novamente aqui... Na verdade, deste apuro, que vem contra minha expectativa, conto livrar-me ainda; e por isso deverei aos deuses uma gratidão infinita! (Gabriel observa a encenação com total surpresa a admiração, fica extremamente encantado com o processo teatral, Creonte e o Guarda recebem aplausos, e vão para o fundo do palco, Romulos entra e encontra Gabriel) ROMULOS: Aí estás tu! Achei que tinha se perdido. GABRIEL: E está certo, não sei onde estou. O que foi isso? ROMULOS: Ah! Vai me dizer que tu nunca tinhas assistido a uma peça de teatro? GABRIEL: Não. Para ser sincero nem sabia que isso existia. ROMULOS: Pois existe, e posso lhe garantir não há nada, mas divertido neste mundo. GABRIEL: Pode não existir coisa mais engraçada, mais existem outras coisas mais fascinantes ainda neste vilarejo. Hoje quando estava prestes a pegar água no poço eu vi. ROMULOS: Viu? GABRIEL: Sim eu vi. ROMULOS: Pare com estes teus segredos, não sou bom em decifrar enigmas.

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GABRIEL: Não sei como posso descrever tal acontecimento, mas a emoção me toma em contentamento somente em lembrar-se de tal momento. ROMULOS: Estais bem? GABRIEL: Posso lhe assegurar que nunca estive tão bem em toda minha vida. ROMULOS: Viu alguma Deusa? GABRIEL: A deusa da beleza. Mal pude perceber como apareceu, o andar calmo e sutil daqueles que tem pouca pressa, e desta mesma forma pegou a água, eu nada pude fazer além de observá-la. Então, seus olhos cruzam os meus e ali ficamos tudo em nosso redor desapareceu, e nós continuamos andando juntos como se estivéssemos dando as mãos aos nossos olhares e... ROMULOS: e...? GABRIEL: Quando percebi onde estava, meus olhos a haviam perdido. ROMULOS: Nossa mal posso imaginar que mulher seja essa. GABRIEL: Será que não há meios de reencontrá-la? ROMULOS: Provavelmente, mais de certo que será penoso, pois para andar livremente pela rua a mulher que procura deve ser escrava ou serva de uma família muito rica e isso lhe implicaria em problemas. GABRIEL: Não está entendendo, problemas haverá caso eu não há veja, mas.

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ROMULOS: Bem, se quer encontrá-la deve retornar ao poço todas as tardes a fim de conseguir vê-la novamente. GABRIEL: Então farei isso, todas as tardes retornarei ao poço, para que a encontre mais uma vez. ROMULOS: E quando conseguir encontrá-la novamente? O que fará? GABRIEL: Como posso saber, não sou eu quem manda. (Gabriel sai com o jarro saltitante e b.o)

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CENA VI

(Bucco está em cena. Varrendo a casa, entra Iara apresada) IARA: Bucco, hoje quero ir ao poço novamente. BUCCO: Mais Iara, não consegue entender que não é permitido que mulheres andem pelas ruas do vilarejo. IARA: Mais eu tenho que ir! BUCCO: E por que tem que ir? IARA: Por que gosto de ver as pessoas. BUCCO: Sabe que somente as servas e as escravas saem para o vilarejo, e todos que a vem imaginam que tu sejas uma criada. IARA: Isso de nada me incomoda. Então posso ir? BUCCO: Hoje não, seu pai anda desconfiado e não pretendo correr riscos. IAIRA: Mas como...

BUCCO: Me diga como ele é e lhe avisarei caso veja algum rapaz semelhante. IARA: Ele é tem um olhar que me deixou sem direção, com o cabelo jogado no rosto (entra Gabriel pela outra ponta) eu fique paralisada. Quando...

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BUCCOS: Então caso eu encontre um jovem com tais feições, eu lhe trarei notícias. (Iara sai de sena, Bucco caminha enquanto Gabriel está esperando no poço, eles se reencontram. Bucco dê um abraço apertado em Gabriel) BUCCOS: Gabriel? GABRIEL: Onde estavas? Por onde andou? BUCCOS: Eu estou trabalhando no vilarejo, como servo, mas eu sabia que voltaria a lhe encontrar, naquele dia que nos perdemos (luz encima de Bucco) eu olhei para um lado e eu via pessoas (esta movimento será marcado por vários atores com pandeiros, demonstrando que Bucco estava perdido) e mais pessoas, eu nunca havia estado tão perdido e solitário, perto de tanta gente, como se a presença deles fosse vazia, um sentimento de medo pairou sobre mim, então eu caminhei, caminhei e caminhei. Quando acordei em dentro de um estaleiro, com alguns animais por perto, então uma doce voz gritou – Pai, o homem acaba de acordar. GABRIEL: (levanta-se a luz) E o que aconteceu? BUCCOS: Eu estou trabalhando em sua casa, pois sua esposa adoeceu e eles não gostam que sua filha trabalhe, assim consegui moradia, alimento e alguns agrados. GABRIEL: Estou muito feliz por te ver bem, eu também estou trabalhando em uma oficina e por enquanto estou apenas aprendendo o oficio para depois ganhar com a minha produção. BUCCOS: Mais o que fazes aqui?

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GABRIEL: Eu vim pegar água no poço. BUCCOS: Que bom lhe encontra. (Entram Iara e Rômulo que serão iluminados por um spot, Gabriel e Bucco se encontram com seus respectivos lugares de trabalho) IARA/ ROMULOS: Diga-me ele/ela estava no poço? GABRIEL/ BUCCOS: Não, não estava eu apenas encontrei um amigo. IARA/ ROMULOS: Um amigo? GABRIEL/BUCCOS: Sim um amigo. IARA/ ROMULOS: E agora? GABRIEL/ BUCCOS: Eu não sei. IARA: Eu me precipitei, até por que este casamento seria impossível é... BUCCOS: Eu lhe prometo que se um dia ele votar a aparecer eu lhe direi. (Iara e Bucco saem) ROMULOS: E tu o que farás? GABRIEL: Continuarei indo ao seu encontro.

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(Entra Gabriel e Bucco, se encontram e se cumprimentam eles encontram Iara e Romulos, esta sena Irá se repetir muitas vezes, até que se abaixam as luzes. Entra o Pierro) PIERRO: A partir de hoje estão abertas as inscrições para as melhores peças teatrais, os jovens autores podem se inscrever. Regra um, as peças deverão ser entregues em 30 dias. E de todas as peças escolhidas apenas três serão selecionadas para a premiação. (Sai Pierro. Gabriel está sentado próximo ao poço, escrevendo, entra Rômulo) ROMULOS: Gabriel! Tenho uma novidade para te contar. GABRIEL; O que terá de novo para dizer se todas as minhas esperanças já se foram. ROMULOS: Tu não gostas de teatro? GABRIEL: Sim, por quê? ROMULOS: Eu te inscrevi no concurso de teatro. GABRIEL: Romulos! Estais loucos? ROMULOS: Fique tranqüilo, estais inscrito na função de escritor. GABRIEL: Mas eu nunca escrevi uma peça.

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ROMULOS: Podes não ter escrito uma peça, mas ultimamente tens se dedicado as poesias, então tenho absoluta certeza que vai conseguir. Há o texto deve ficar pronto em 30 dias. (Romulos sai) GABRIEL: Como poderei escrever uma peça em trinta dias? E sobre que tema escreverei esta peça? (A luz amarelada compõe a transição de tempo. Gabriel e Bucco se encontram diariamente, mas desta vez, Gabriel está escrevendo ao lado do poço, até que Gabriel levanta com o texto. Entra Rômulo) GABRIEL: Rômulo, aqui está! ROMULOS: Não falei que conseguiria! GABRIEL: Eu tive um enorme prazer em escrever esta peça. ROMULOS: Então não pare de escrever, pois acaba de encontrar tua profissão. GABRIEL: Não posso afirmar, se escreverei outra. ROMULOS: Ora não venha com medições conheces muito bem teu potencial.

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CENA V

(Entram vários atores numa linda coreografia, Pierro para na boca de cena) PIERRO: É com muito prazer que abriremos o concurso com um novo escritor, peço ao distinto público total atenção. Que o sonho comece! Nota: Está cena deve ser representada de forma irônica. Os atores devem ter movimentos bruscos e engraçados. (Entram um jovem rapaz segurando uma jarra de água, e observa o movimento das pessoas que andam apresadas, ele continua a caminhar e chega no poço.(representado por uma ator) Quando Gabriel está prestes a encher seu jarro é surpreendido pelo olhar de uma linda jovem que o hipnotizado, eles irão olhar um para o outro. Ela sai e deixa seu lenço. Ele segura, depois aparece uma multidão e ele se perde da dama) ROMULOS: Ai está tu! Achei que tinhas se perdido. GABRIEL: Pois estais certo não sei onde estou. ROMULOS: O teu olhar está, mas perdido que teu corpo. GABRIEL: Eu diria mais. Meu olhar me foi roubado, não me pertence mais. ROMULOS: Alguém lhe feriu? GABRIEL: Feriu, é muito! ROMULOS: Está louco Gabriel, como estais feridos se não vejo sangue.

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GABRIEL: O Romulos, por que fazes do sangue o símbolo do sofrimento? Quem dói e meu peito, pois não mais há vejo. ROMULOS: Mas de quem estais falando? GABRIEL: Da mais bela donzela que meus olhos puderam ver. ROMULOS: Então estais se pronunciando de forma errada. Não foi teu olhar o roubado, mais sim o coração. GABRIEL: Então esta bela dama roubou todos os meus sentidos. Mas como poderei vê-la outra vez, onde estará? ROMULOS: Qual foi o local de tal apaixonante encontro. GABRIEL: No poço, que fui pegar água. ROMULOS: Está resolvido! Todos os dias tu deveras regressar ao poço, para novamente encontrá-la. (Romulos sai. Gabriel fica na posição que havia se encontrado com Iaira, através da luz e a sonoplastia, passara vários dias sem que Gabriel a veja. Entra o Arlequim) ARLEQUIM: E desta forma o amor, ficou prezo aquele momento, sem que o jovem oleiro, reencontra-se seu amor, e com o passar dos anos ele começou a acreditar que talvez este olhar que lhe fez se apaixonar nunca tenha existido, ou que o amor talvez seja apenas uma ilusão do olhar. (O público aplaude. Gabriel está no mesmo lugar. Entra Rômulo)

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ROMULOS: Gabriel, tua peça está sendo comentada por todos e com certeza ganhará o festival. GABRIEL: Quero lhe agradecer por toda tua amizade e dizer que nunca te esquecerei. ROMULOS: O que estais dizendo? GABRIEL: Rômulo eu estou voltando para minha casa. Agora posso entender o que me atribuiu o oráculo como perigos que estão atrás da colina. Por favor, não me diga que devo ficar, está decidido, mas gostaria que aceitasse a peça para que nunca se esqueça de nossa amizade. ROMULOS: Então leve esta ampulheta, para que sempre que quiser ver o tempo passar, lembrará do tempo que convivemos neste vilarejo. (Romulos sai. Gabriel sai da cidade. As pessoas passam e ele não vê ninguém. Dossenus aparece palestrando) DOSSENUS: E neste momento estarão consumadas todas as decisões, que fazem parte da carne, pois não é através dela que está a felicidade, mais sim na clareza de pensamentos que purificarão a alma. (Gabriel continua andando com as frases de Dossenus no pensamento, e depois de caminhar por algum tempo ele escuta um som de cavalo e um grito) IARA: Gabriel! GABRIEL: Você? IARA: Iara e meu nome.

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GABRIEL: Mas como? IARA: No dia que te vi, eu havia fugido de casa para ir ao vilarejo, e todos os dias mandavam que Bucco meu serviçal procura-se você, mais como lhe conhecia não percebeu que eras tu que eu procurava. GABRIEL: E como você me encontrou? IARA: Bucco assistiu a sua peça, e ficou entendendo a confusão que havia feito, então eu fugi... (Gabriel beija Iara com paixão e enquanto eles se beijam. Todos os atores congelam. Entra o Pierro) PIERRO: Saiam, saiam todos do palco. QUEROBIM: Por que esta arrogância com a melhor história do mundo? MANDRAQUI: Sinceramente eu já ouvi histórias melhores. ANIÉRA: Não ligue para ele Querubim, a sua história é linda. PIERRO: Mas esta não é a verdade! QUERUBIM: E qual será a verdade? PIERRO: Que não existe a melhor historia do mundo! Que vivemos em busca de conforto e de ensinamento, e esquecemos que já o temos, sendo assim fecho o

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meu discurso dizem do que: cada um de nós é dono da sua melhor história do mundo!!!

Fim