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A LUTA PELA POSSE DA TERRA NAS AULAS DE HISTÓRIA: O CASO DA

REVOLTA DOS POSSEIROS DE 1957

Autora: Lourdes Ambrosini Patel1

Orientadora: Carmem Lucia Gomes De Salis2

Resumo

Este artigo faz parte das atividades do PDE (Programa de Desenvolvimento Educacional), desenvolvido pela Secretaria de Estado da Educação, e apresenta a análise dos resultados do projeto implementado junto aos alunos da 3ª série Ensino Médio do Colégio Estadual Santa Inês – EFM, Município de Chopinzinho - PR, NRE de Pato Branco. O objetivo do trabalho foi discutir a questão da luta pela posse da terra no Sudoeste do Paraná, nos diversos tempos e espaços e em suas manifestações culturais, políticas e sociais, reconhecendo semelhanças e diferenças na vida em sociedade. O estudo da história da “Revolta dos posseiros de 1957” foi realizado a partir da análise de fontes bibliográficas. Conhecendo mais da história regional e compreendendo a historicidade das lutas pela terra, inserindo-as em um conjunto que dê conta das mudanças e permanências ao longo do tempo, das semelhanças e diferenças que configuram o acontecer histórico. As lutas pela terra têm grande significado para a sociedade formada no lugar em que vivem. Os conflitos pela posse da terra sempre geraram violência no país. Ao contrário dos posseiros, que lutam pelo direito de permanecer, outros lutam para adquirir um pedaço de chão para sobreviver. O trabalho desenvolvido propôs a discussão, pesquisa, reflexão e apresentação de resultados sobre a Revolta dos Posseiros de 1957, ocorrida nesta região, o Sudoeste do Paraná.

Palavras-chave: Posseiros; Terra; Luta; 1957; Sudoeste do Paraná.

1 Introdução

1 Professora QPM de História da rede estadual de Educação do Estado do Paraná, Especialista em Educação – Supervisão Escolar, Professora PDE 2010. 2 Professora do Departamento de História da Universidade Estadual do Centro-Oeste.

O ensino da história atual não comporta mais a simples narração de grandes

fatos representados por heróis. Partindo dessa afirmativa, é possível dizer que, no

contexto atual, as discussões acerca do Ensino de História se assentam em debates

que procuram analisar o processo de construção do conhecimento histórico, assim

como do pensamento histórico a partir da utilização de fontes históricas em sala de

aula, levando-se em consideração as ideias prévias dos alunos. Neste sentido, para

o desenvolvimento deste trabalho, fez-se necessário considerar a diversidade

cultural da região contemplando os movimentos sociais e as experiências passadas

por pessoas simples e comuns, organizadas na luta pela terra.

Valorizar a história possibilita trabalhar com a realidade regional, levando o

aluno a compreender que a participação coletiva constrói e caracteriza a vida em

sociedade. Neste contexto, é fundamental estudar a História do Brasil e as histórias

locais relacionadas à mundial, permitindo assim, questionar com o estudante as

ideias históricas permeadas de preconceitos que são difundidas pelos meios de

comunicação de massa.

Além disso, o estudo possibilitou a abordagem da história regional,

atendendo a Lei nº 13.381/2001, que torna obrigatória, no Ensino Fundamental e

Médio da Rede Pública Estadual, o trabalho com os conteúdos de História do

Paraná (PARANÁ, 2008).

O trabalho aqui apresentado é o resultado da aplicação do projeto de

intervenção pedagógica em conjunto com o material didático-pedagógico elaborados

como parte dos requisitos ao desenvolvimento das atividades do PDE (Programa de

Desenvolvimento Educacional), desenvolvido pela Secretaria de Estado da

Educação. Os trabalhos iniciais foram apresentados a grupos e momentos distintos.

O primeiro momento se deu durante a aplicação do GTR (Grupo de Trabalho em

Rede) no qual professores da rede estadual inscreveram-se para uma capacitação à

distância, que propiciou a discussão do projeto e do material didático entre o

professor tutor, no caso o professor PDE 2010, e os professores da área inscritos no

curso. Esta atividade oportunizou aos cursistas conhecer o trabalho e dar sua

opinião, algumas substanciais que foram utilizadas no decorrer da aplicação. No

segundo momento, houve a apresentação à direção e equipe pedagógica da escola

de implementação, seguida de sua aplicação, durante o segundo semestre do ano

letivo de 2011, aos alunos do 3ª Série do Ensino Médio do Colégio Estadual Santa

Inês – EFM, situado na comunidade de Santa Inês – saída para os municípios de

Mangueirinha, Coronel Vivida e Guarapuava - da cidade de Chopinzinho - PR,

Núcleo Regional de Educação de Pato Branco.

O trabalho foi permeado pela problemática de que os vestígios das

experiências do passado possibilitam a transformação de dados em fontes históricas

de investigação. Fontes estas, que levam a crer que, cansados de tanto esperar pela

ação dos governos, os colonos da região Sudoeste do Paraná resolveram agir por

suas próprias mãos e dessem origem ao movimento “A Revolta dos Posseiros de

1957”, o que fez com que fossem questionados em relação ao assunto: Onde, com

quem e por que ocorreu a disputa? Que fatos levaram os colonos a se engajar na

luta? Quais as consequências da disputa para a história da região Sudoeste do

Paraná? Que resquícios desta batalha ainda perseveram na sociedade atual?

No intuito de responder aos questionamentos, tomou-se por objetivo

conhecer a trajetória do movimento “A Revolta dos Posseiros de 1957” no Sudoeste

paranaense, estimulando o aluno a buscar o conhecimento da história local/regional,

contribuindo para a construção de uma consciência histórico-crítica. Advindo deste

algumas linhas específicas como: Reconhecer a existência do conflito na região

sudoeste do Paraná entre as companhias e os posseiros; apresentar os principais

fatores que causaram a revolta dos posseiros; relacionar a forma e as

consequências da revolta, seus antecedentes e suas conclusões; perceber a história

como conhecimento, prática social e preservação da memória histórico-cultural;

conhecer e valorizar a história local/regional como influenciadora das relações

sociais no tempo e no espaço.

Diante disso, é possível justificar que o estudo do tema é relevante, já que

as questões agrárias no Brasil remontam ao passado e, ao mesmo tempo, fazem

parte do presente em outras regiões brasileiras, nas quais as lutas pela terra

também foram e vêm sendo sangrentas. Assim, é importante que os alunos

percebam que o trabalho desenvolvido na atualidade é fruto das experiências

vivenciadas no passado e configuram-se em aprendizado às novas gerações,

através do exemplo e coragem do jeito de ser e de viver de um povo e a rica

contribuição que nos deixaram, forjando a nossa cultura e construindo os caminhos

do futuro.

Neste contexto, o projeto elaborado e as atividades utilizadas na produção

didática, devidamente aplicados sob o título “A luta pela posse da terra nas aulas de

história: o caso da revolta dos posseiros de 1957”, foram produzidos num processo

comparativo entre os acontecimentos do passado e do presente comprovando a

ocupação das terras no Sudoeste do Paraná. Como resultado desse trabalho, os

alunos refletiram acerca dos dados históricos apresentados e tiveram a oportunidade

da construção de um pensamento novo em relação à História, que foi possível de

ser verificado pelas produções escritas e discussões de assuntos, opiniões que, na

maioria dos envolvidos teve mudança, ao serem comparadas, as produções do

início e do término da aplicação. Desse modo, reforça-se que o tema escolhido

chamou a atenção e despertou o interesse dos alunos envolvidos, pelo fato do

acontecimento ainda ser recente na região, e em consequência disso, contextualiza

o desenvolvimento do trabalho que segue. Além disso, tal interesse esteve atrelado,

também, à percepção de que os materiais didáticos não destacam a revolta dos

posseiros e a partir das atividades com os alunos estes conseguiram perceber a

relação existente entre a história local e a nacional, já que a questão da luta pela

terra não é um fenômeno apenas regional.

2 Revisão da literatura

Para embasar teoricamente o presente estudo, faz-se necessário ressaltar

que falar de História Local é fazer referência a um tema que se encontra diretamente

ligado à identidade do estudante e deste com o espaço, promovendo o “resgate” e a

valorização da historicidade. Um processo que, posteriormente, favorecerá o ensino

da História.

Na atualidade, estimula-se o aluno, em sala de aula, a buscar a História

Local acreditando-se que, ao se identificar com o conteúdo, apresentará maior

interesse pelos estudos, participará de projetos organizados por professores

trazendo ao seu cotidiano os acontecimentos locais, transformando-se em sujeitos

ativos na construção do conhecimento, sendo pesquisadores, tendo a oportunidade

de conhecer seu bairro, cidade ou região com a sua pesquisa, o seu trabalho, a sua

busca, visualizando o passado nas ruas de sua cidade e não ficando apegado

apenas aos grandes nomes da História.

Participando da reconstrução do passado, na preservação da memória, os

alunos poderão adquirir um novo olhar em relação aos fatos e coisas do passado,

com isso, valorizarão a memória e objetos antigos sob uma nova ótica, entendendo

o que acontece hoje por aquilo que ocorreu no passado e que lhe está muito

próximo.

Pensando nisso, é importante citar que existe uma diferença muito

acentuada entre os livros didáticos da disciplina de História e a vida real, que os

livros didáticos ainda não tratam a respeito da História Local. Neste sentido a nova

história se apresenta no intuito de diminuir as diferenças, dando a possibilidade de

se estudar além dos chamados conteúdos clássicos como data da emancipação, os

prefeitos, as festas religiosas, etc.. Pelo estudo da História Local podem ser

pesquisados outros temas mais próximos da vida do educando como a vida de

agricultores, escravos, mulheres, crianças, alguém considerado herói, epidemias,

costumes, enfim, pelo estudo saber qual era a situação da cidade na época

determinada para a pesquisa. Diante disso, é que optou por realizar o estudo da

Revolta dos Posseiros de 1957, fato recente ocorrido na região Sudoeste do Paraná,

onde habitam os estudantes participantes no estudo em questão.

Neste contexto, pode-se dizer que ensinar História é provocar nos alunos a

reflexão e as descobertas, é valorizar seus saberes, os conhecimentos trazidos

consigo. Lembrar sempre de que a história não está apenas nos livros, de que ela é

real. E que, buscar dados desta realidade por meio de relatos de pais, avós, se está

pesquisando e se encontram subsídios para a produção de textos informativos.

Segundo Hofling (2008), essa nova forma de ensino da história possui outro

direcionamento: sai do estudo dos grandes homens e seus feitos para o estudo da

vida das pessoas comuns e de seu cotidiano. Valoriza-se o conhecimento dos

costumes da vida real, diminuindo a distância com o passado, desta forma a história

deixa de ser vista como algo fragmentado para ser vista como um todo do qual os

estudantes são parte integrante.

Além disso, partindo-se do estudo da História Local, possibilita-se a

abordagem da história regional, o que atende a Lei nº 13.381/2001, que torna

obrigatória, no Ensino Fundamental e Médio da Rede Pública Estadual, o trabalho

com os conteúdos de História do Paraná. Dentro deste contexto, de acordo com o

conteúdo estruturante da disciplina de História proposto pelas DCE’s do Estado do

Paraná, (2008, p. 91): Relações de trabalho, Relações de poder e Relações

culturais, desenvolvendo os conteúdos básicos: Os sujeitos, as revoltas e as

guerras; Movimentos sociais, políticos e culturais e as guerras e revoluções,

apresenta-se o contexto histórico da Revolta dos Posseiros de 1957 no Sudoeste do

Paraná.

2.1 Contexto Histórico da Revolta dos Posseiros de 1957

Inicia-se a contextualização histórica da Revolta dos Posseiros de 1957 na

região Sudoeste do Paraná, fazendo-se referência à questão da luta pela posse da

terra no Brasil, que segundo o jornal Mundo Jovem (2010, p.10) é muito antiga.

“Desde a chegada dos colonizadores portugueses, em 1500, a ocupação do

território ocorreu em uma sequência de atos violentos e arbitrários, favorecendo os

donos do poder político, os proprietários de terra e os seus aliados”.

Diante disto, faz-se salutar falar que a luta pela posse da terra no Estado do

Paraná também não é um fato recente e sim, remonta aos tempos do Império.

Segundo Iria Gomes (1987, p.29), tal questão “[...]tem como ponto de referência a

política de concessão de grandes lotes de terras adotadas pelo governo brasileiro

como complementação de pagamento aos trabalhos realizados pelas empresas

construtoras de ferrovias”.

Sendo assim, passa-se a apresentar uma síntese histórica de uma das lutas

pela terra ocorridas no Estado do Paraná, especificamente àquela ocorrida na região

Sudoeste, no ano de 1957, ou seja, a “Revolta dos Posseiros” ou Revolta dos

Colonos. Luta esta, que teve um desenrolar muito rápido em termos de

acontecimentos, pois o primeiro conflito aconteceu no mês de abril e o fato mais

importante em outubro daquele mesmo ano. Dentre os fatores que influenciaram

diretamente os acontecimentos, um foi a religiosidade do povo, outro, a sociedade

mobilizada em defesa dos valores mais importantes das sociedades agrícolas,

provenientes de várias partes do país, segundo o historiador Rui Wachowicz (1985),

principalmente de Santa Catarina e Rio Grande do Sul, já que em todas as partes

dos três Estados do Sul era corrente a conversa de que a região era rica em

madeira e terra boa para a prática da agricultura e pecuária. Assim, a região

Sudoeste do Paraná passa a receber cada vez mais um grande contingente de

gente em busca de um sonho. Sonho este que durou pouco tempo (GOMES, 1987).

As disputas pela propriedade das terras eram constantes, violentas e

ocorriam sem parar, fossem no Paraná ou em outros estados do país. Envolviam os

interesses dos comandantes de empresas nacionais e multinacionais, de um lado, e

de outro, de milhares de agricultores sem-terra, acampados à beira de rodovias. No

meio ou fora desta disputa fundiária estava o Estado tentando “conciliar” os

interesses das partes. Porém, em geral, defendendo os poderosos (PEGORARO,

2007).

Na década de 1950 o Sudoeste do Paraná foi espaço de um movimento

social de colonos e posseiros que lutavam em prol de um mesmo objetivo: a luta em

defesa de suas terras. Assim, apresenta-se a “Revolta dos Posseiros de 1957”,

reunindo posseiros e companhias colonizadoras, que se diziam donas das terras da

região, em conjunto com o governador do Estado do Paraná, na época, Moisés

Lupion. A este respeito Pegoraro afirma que:

As décadas de 1950 e 1960 foram repletas de conflitos agrários no Paraná, frutos do descaso e/ou irresponsabilidade do governo. A disputa de terras foi um dos principais problemas enfrentados pelo governador do Paraná no período, Moysés Lupion, principalmente em seu segundo mandato como governador do Estado, época em que ocorreu a Revolta dos Posseiros de 1957. Esses conflitos e a violência eram as armas de ataque dos adversários políticos do governador, na tentativa de desestabilizar seu governo. (PEGORARO, 2007, p. 110)

A região, com localização “entre os Rios Iguaçu e Uruguai, até os Rios

Jangada e Chapecó, era reivindicada pela Argentina”, também, disputada pelas

Coroas Espanhola e Portuguesa, com limites entre Brasil e Argentina, momento em

que “o presidente dos Estados Unidos, Cleveland, serviu de árbitro da questão

dando ganho de causa ao Brasil” em 1895 (DAMBRÓS, 1997, p. 12).

Internamente, a região toda era disputada pelos Estados do Paraná e de

Santa Catarina, que queriam chegar até o Rio Iguaçu. Território este conhecido

como “Região Contestada”, tendo a Argentina de um lado e o Paraná e Santa

Catarina, de outro, no qual todos queriam fincar uma bandeira. Mas, os limites entre

Paraná e Santa Catarina só foram definidos em 1916 (LAZIER, 1998).

A região Sudoeste do Paraná é apenas uma pequena parte da chamada

Região Contestada. Na qual habitavam índios, que não se deixaram submeter e

buscavam abrigo na “Terra de Ninguém” (MARTINS, 1986, p. 25).

Também habitavam “caboclos desempregados das fazendas de gado da

região dos campos de Palmas, Clevelândia, Campo Erê e Guarapuava”, também os

argentinos que invadiam as terras “atrás da Erva-mate e Madeira abundantes na

região”, apareceram os maragatos, desempregados da ferrovia São Paulo, que

depois da Revolução Federalista, derrotados na Guerra do Contestado, tornaram-se

os pioneiros do Sudoeste, pois encontraram um local para sobrevivência

(DAMBRÓS, 1997, p. 16).

A disputa pelas terras se dava entre o Estado do Paraná e a companhia de

estrada de ferro São Paulo - Rio Grande, uma subsidiária da multinacional Brazil

Railway Company. (CEFSPRG). O Estado do Paraná, então, assinou contrato com a

Companhia para a construção da estrada de ferro e começou a lhe titular terras. “Foi

em 17de julho de 1913 que o Presidente do Paraná, Carlos Cavalcanti de

Albuquerque, titulou à companhia a gleba Chopin com uma área de 715.080.142m²”.

(Lazier, 1998, p. 25) Pois, o território que compreendia as glebas Missões e Chopin

representava quase toda a região Sudoeste do Paraná.

A CEFSPRG recebeu títulos de terra também em outros locais do Estado do

Paraná, sempre como retribuição. Quando Mario Tourinho assume o governo do

Estado, como interventor, iniciou estudos a respeito das concessões de terras feitas

à companhia, constata irregularidades e o a falta de cumprimento do contrato pela

mesma. Através desta medida, as terras da região Sudoeste voltaram ao poder

público. A Companhia não aceitou os decretos e entrou com recursos judiciais para

reaver a posse da terra, então começaram as disputas na justiça entre a CEFSPRG

e o Governo paranaense em relação à propriedade do território que compreende

hoje o Sudoeste do Paraná. Lazier, (1998, p.26) comenta que “para salvaguardar os

interesses da União e os seus direitos, o Presidente Getúlio Vargas, pelos decretos

nºs 2073 e 2436, de 08/03/1940 e 22/07/1940, incorporou todos os bens da Brazil

Railway ao patrimônio nacional”, e que dentre estes bens incluíam-se também as

Glebas do Chopin e Missões, localizadas na Região Sudoeste do Paraná.

Tal processo teve início na década de 1940 e intensificou-se com a

imigração de gaúchos e catarinenses que se estabeleceram livremente “pela

ocupação pura e simples de terras devolutas”, pela compra da posse do caboclo ou

através da colonização dirigida, principalmente a de iniciativa oficial. Neste caso,

através da Colônia Agrícola Nacional General Osório – CANGO (Gomes, 1987, p.15-

16), cujo decreto de criação, em seu art. 1º estabelecia:

Fica criada a Colônia Agrícola Nacional ‘General Osório’ no Estado do Paraná na faixa de 60 km de fronteira, na região de Barracão, Santo Antônio do Sudoeste, em terras a serem demarcadas pela Divisão de Terra e Colonização, do Departamento Nacional de Produção Vegetal do Ministério da Agricultura. Parágrafo único: A área a ser demarcada não será inferior a 300.000 hectares (DAMBRÓS, 1997, p.22).

Então, através de uma política federal, instituída pelo Presidente da

República Getúlio Vargas, com o lema “marcha para o oeste” (Krüger, 2004, p. 206),

as terras começaram a ser ocupadas em 1943, em que a CANGO era encarregada

de distribuí-las gratuitamente. Porém, a criação desta colônia agrícola foi ilegal, já

que as terras se encontravam em litígio entre o governo Federal e Estadual. Sendo

assim, como não era fornecida aos colonos a escritura pela aquisição da terra, os

mesmos acabavam se tornando posseiros. Porém, nesse processo, Iria Gomes

(1987, p.16) diz que “[...] a CANGO teve uma importância decisiva na colonização do

Sudoeste do Paraná”, pois no início de sua atuação, doava a terra ao agricultor,

fornecia ajuda técnica de infraestrutura e também assistência social. Quanto à

colônia, Lazier (1998, p. 41), continua afirmando que “[...] a CANGO realizou na

região um eficiente trabalho de povoamento e colonização, dando assim um impulso

para o progresso que o Sudoeste possui hoje”. Sua criação respondeu, em parte, à

reivindicação por lotes de terra de reservistas, por ex-agricultores.

Em 1950, com a instalação da Clevelândia Industrial (CITLA), a situação na

região Sudoeste só piorou, pois esta companhia afirmava ter a posse do título de

domínio das terras que compunham as Glebas Missões e Chopin, este adquirido de

forma ilegal e, o pior, também imoral. Tal companhia atuou como grileira e começou

a atrapalhar o trabalho da CANGO de povoamento e colonização na gleba Missões.

Segundo Dambrós (1997), quando a CITLA se instalou na região em 1951, procurou

implantar um modelo de colonização no qual a venda da terra constituía a atividade

principal, um projeto capitalista que tem como principal objetivo a aquisição do lucro,

o que tem contraste significativo com o projeto da CANGO. Naquela época, o então

Governador do Estado do Paraná, Moisés Lupion, era um dos sócios da CITLA.

Também, o governador do Estado e o governo Federal faziam parte do mesmo

partido político - o PSD. Gomes (1987, p. 40), comenta que “[...] os problemas

criados pela CITLA foram tantos que a partir de 1951, a CANGO teve suas

atividades paralisadas”.

De acordo com Lazier (1998) e Pegoraro (2008), além da CITLA, outras

companhias também iniciaram ações na região, dentre elas, a Comercial e a

Apucarana Ltda que atuava na região de Barracão, Santo Antônio do Sudoeste e

Capanema e a Comercial e Agrícola Paraná Ltda, situada em Francisco Beltrão,

Dois Vizinhos e Verê, ambas ligadas ao Grupo Lupion. Desta forma, pode-se

afirmar que o Grupo Lupion, através da CITLA, Comercial e Agrícola Paraná Ltda e

Apucarana, se utilizavam de arbitrariedades, com jagunços encarregados de

arrecadar dinheiro dos posseiros, sendo acobertados pelo poder público estadual.

Ainda a este respeito, Dambrós (1997) aponta que os posseiros eram

forçados pelos homens da CITLA a comprar as terras em que moravam há anos. Por

haver resistência dos posseiros, que sabiam da falta de valor dos títulos da CITLA,

foi sendo implantado o terror em toda a região. A companhia empregava bandidos,

pistoleiros e jagunços que forçavam os posseiros a lhes entregar o dinheiro e

efetivar a compra das terras.

No decorrer dos fatos, temos também as ações políticas, como pode ser

visto Krüger (2004, p.207):

Ao ser reeleito, em 1955, Lupion revoga a proibição de recolhimento dos impostos. A partir daí recrudesce a ação dos jagunços usados pela companhia, convidando-os para comparecerem nos escritórios para assinar contratos das terras ocupadas. Os colonos não se recusavam em pagar pela terra, mas exigiam segurança, o que não havia. Diante da resistência dos colonos, os jagunços passaram das ameaças às ações de banditismo puro. Incêndios de casas, roças e galpões, espancamentos, mutilações, saques e extorsões, violência sexuais, torturas e assassinatos, além de cobranças de pedágios nas estradas.

Segundo Gomes (1987) o maior problema para a CITLA, foi ter encontrado,

de um lado, a terra ocupada; do outro lado, ter seu título contestado juridicamente.

Então, a situação se agrava e a revolta inicia, devido à instalação da Clevelândia

Industrial (CITLA) na região, que tinha títulos das Glebas Missões e Chopin,

conseguidos de forma ilegal.

A autora corrobora (1987, p.11) ainda, de que:

O direito a terra é contestado, de forma violenta, arbitrária e ilegal pelas companhias imobiliárias que estabeleceram na região. Esse fato intensifica a luta pela terra, fazendo eclodir um movimento de resistência dos colonos, conhecidos como a Revolta de 57.

Segundo a autora ainda:

O processo histórico de ocupação do Sudoeste do Paraná pode ser dividido em duas fases: a primeira, antes de 1940, de ocupação extensiva da terra, que se caracterizou por uma “economia cabocla” voltada para a exploração da erva-mate, madeira e criação de suínos. A segunda, de ocupação intensiva, refere-se ao efetivo processo de ocupação da região (GOMES, 1987, p.15).

A posse das terras das glebas Missões e Chopin foi objeto de muitas ações

judiciais e também da ação dos jagunços comandados pelas companhias.

Isso aconteceu porque os governos Estadual e Federal não fizeram nada

para evitar os fatos, as Companhias tinham acordos com os governos para atuarem

na região da forma como quisessem. Os colonos não se recusavam a pagar pelas

terras, mas exigiam que as terras tivessem os documentos legais e que o preço

cobrado fosse justo. Auth (2007) cita que para acelerar as vendas das terras, as

Companhias recorreram a jagunços, no intuito de pressionar os colonos e obrigá-los

a assinar contratos e notas promissórias em branco. A partir deste momento inicia

no interior do sudoeste do Paraná um período de muito terror, mortes, perseguições,

estupros, e residências incendiadas.

Mas tudo ficou ainda mais complicado quando os jagunços passaram a

percorrer as propriedades e atacar os colonos com violência. Primeiramente,

mataram Pedro Barbeiro, que morava no distrito de Verê, no município de Pato

Branco; com a morte desse líder dos colonos a violência fica cada vez mais forte. A

partir de então, os colonos começaram a resistência contra as Companhias, sendo

que alguns colonos pensavam em fazer tudo com as próprias mãos. O problema

aumentava a cada dia; além das mortes, ocorriam espancamentos, castigos e

extorsão de dinheiro.

São vários os depoimentos de colonos. Em Gomes (1987, p.62)

encontramos um dos crimes mais incríveis: “[...] Lino Marquetti” seria o mandante do

crime do colono “João Saldanha”; em uma noite cercaram sua casa para matá-lo,

ele conseguiu fugir com o filho mais velho, mas os seis capangas da Companhia

conseguiram pegar o menino de dez anos, o de oito e a menina de seis anos. Então,

“Chapéu de Couro” jogou um dos meninos para cima e “José Lucas o espetou com

uma adaga”. Sua esposa foi estuprada, mutilaram seus seios e jogaram ao cão que,

ao verificar o que era, “saiu uivando” e a mulher morreu esvaída. (GOMES, 1987, p.

62 - 63)

O balseiro do rio Chopin, no “distrito de Dois Vizinhos, município de Pato

Branco”, “Otto Schwarz” desapareceu e tudo consta que pode ter sido morto pelos

jagunços. Outras vítimas também foram alvo dos jagunços: “[...] Manuel Filbes, do

distrito de Dois Vizinhos”, teve sua casa invadida e levaram suas filhas de treze e

dezessete anos. “José Rodrigues”, também do “distrito de Dois Vizinhos”, teve sua

casa assaltada e queimada, sua sobrinha de quatorze anos foi estuprada na frente

do próprio tio. (GOMES,1987, p. 64)

Muitos outros colonos deste mesmo distrito também foram espancados com

violência pelos jagunços. Em Marrecas, hoje Francisco Beltrão, muitos colonos

foram presos pelo delegado e três colonos que foram presos desapareceram. Estes

crimes foram o foco principal da revolta. Devido à violência, muitos colonos voltaram

à sua terra natal e outros mudaram para longe do Sudoeste. O exército não teve

participação durante a revolta, mas no dia do quebra-quebra colaborou, ao realizar a

prisão dos funcionários das companhias (GOMES, 1987).

Segundo ainda a mesma autora (1987), o que desencadeou a revolta em

Pato Branco foi o espancamento de três crianças, fato este que também foi o

responsável pelo início do movimento em Francisco Beltrão.

No início da tarde do dia 09/10/1957 “o povo começou a ser chamado pela

rádio Colméia, por Ivo Tomazoni,” à Casa Paroquial de Pato Branco, para uma

reunião na qual deveriam discutir o problema das companhias, havendo neste

evento a participação de representantes de todos os partidos políticos, inclusive o

prefeito de Pato Branco, na época, Waldir H. Graeff, do PSD. Nesse momento foi

decidido que uma comissão iria a Curitiba expor às autoridades o problema do

Sudoeste. Sendo que o grupo que atendeu ao chamado pela rádio já era de 1.000

pessoas (GOMES, 1987 p. 88).

O prefeito de Pato Branco retirou-se do grupo e, às escondidas, foi a Curitiba

para falar com o governador. Os líderes do movimento, no entanto, desconfiaram de

que o prefeito os tinha traído e haveria de voltar com força policial para prendê-los

(VOLTOLINI, 2007).

Em Curitiba a comissão tomou conhecimento pela Câmara dos Deputados,

depois de 06 anos no Congresso Nacional, da aprovação do “Ato do Tribunal de

Contas que negava o registro das Glebas Missões e Chopin à CITLA”, devido à

situação no Sudoeste e a ameaça de intervenção federal, levaram o governador a

decretar o fechamento dos escritórios das companhias (GOMES, 1987, p.90). Ainda

esta autora (1987, p. 95), diz que “[...] no dia 10, pela manhã as lideranças de

Francisco Beltrão, mais ou menos 20 pessoas, se reuniram e estabeleceram o plano

de ação para mobilizar os colonos e por um fim no massacre de posseiros”.

Na época, o meio de comunicação mais rápido eram as rádios de Pato

Branco e Francisco Beltrão, que no dia 10 de outubro, chamaram os colonos a virem

para a cidade armados para acabar com as Companhias. O historiador Wachowicz

(1985 in Krüger, 2004, p. 212-213), afirma que: “[...] Pecoits foi a pessoa de maior

liderança na cidade”, vereador e sócio da Rádio Colmeia. Pela rádio divulgava

editais de combate à atuação das companhias de terra e relatava o decurso dos

acontecimentos. O fato de possuir o controle da rádio foi ponto principal e decisivo

para o sucesso do movimento que teve desfecho nos dias 10 e 11de outubro de

1957.

No primeiro dia, juiz, delegado e promotor foram expulsos da cidade; seis mil

homens armados de foices, facões, revólveres e porretes ocuparam a cidade de

Francisco Beltrão. No segundo dia realizaram a depredação dos escritórios das

Companhias, retiraram todos os que lá estavam, rasgaram todos os documentos de

terras e os jogaram nas ruas de Francisco Beltrão. Neste dia os jagunços foram

presos e levados pelo Exército, que se posicionou a favor dos agricultores

(KRÜGER, 2004).

Pode-se afirmar que os interesses do exército e dos colonos, naquele

momento, coincidiram. Em Pato Branco e Francisco Beltrão, o objetivo do

movimento era “[...] forçar as autoridades federais a se pronunciarem de imediato

sobre a questão das terras” no Sudoeste do Paraná, e também forçar a retirada das

Companhias (GOMES, 1987, p.106).

Resolvida a expulsão das companhias, porém, as posses continuaram sem legalização. Em depoimento a Wachowicz, Pecooits conta que em meados da década de 60, o prefeito de Francisco Beltrão, exigiu o cumprimento da promessa de desapropriação da Gleba das Missões, e a legalização definitiva em favor dos posseiros. Deu 30 dias para a decisão. Os correligionários procuraram Jango, em 25 dias o presidente estava em Pato Branco, com o governador Ney Braga. As terras foram desapropriadas, e em 19 de março de 1962 criou-se a GETSOP, trazendo ‘a paz social e a prosperidade para as 200 mil pessoas que ali habitavam’ (KRÜGER, 2004, p. 213).

Mesmo depois da resolução dos conflitos de outubro de 1957 e da retirada

das colonizadoras efetivada, nada foi realizado para solucionar definitivamente o

problema da revolta até 1961, apesar das autoridades estaduais e federais

prometerem. Porém, nesse ano, Jânio Quadros, o então presidente da República,

desapropriou a área dos conflitos para reforma agrária através do “Decreto 50.379

de 27/03/1961”. Em 17/03/1962, o presidente do Brasil João Goulart, em visita a

Pato Branco inicia o trabalho de regularização da área em disputa. Com o objetivo

de realizar esta atividade, o presidente criou o “Grupo Executivo de Terras para o

Sudoeste do Paraná (GETSOP)”, através do “decreto 51.431 de 19/03/1962”

(Voltolini, 2007, p. 27). Ainda segundo este autor, “[...] durante 12 anos de trabalhos

na região conflitada, o GETSOP implantou a paz e o bem-estar na região, pondo na

mão de cada posseiro o ambicioso título de propriedade de sua terra”.

Salienta-se ainda, baseado em Pegoraro (2007), que a Revolta dos

Posseiros de 1957 não foi uma luta social planejada de forma organizada, nem que

tenha perdurado muito tempo, também não tinha organização ou estudos que

envolvessem uma política definida ou de ação dirigida, mas sabe-se também que

não foi simplesmente uma maneira encontrada pela população de demonstrar seu

descontentamento que obteve como resultado a violência. Vale dizer ainda, segundo

a mesma autora, que tudo o que aquelas pessoas viveram e dividiram, a partir do

momento que passaram a habitar a região com o desejo de morar permanentemente

ali, foi ponto importante para sua união na luta pela posse da terra no Sudoeste do

Paraná. Já que o grupo conviveu e compartilhou de situações afins, o que contribuiu

para que se identificassem pois possuíam os mesmos interesses e lutavam com

quem ia contra tais interesses.

2.2 As fontes históricas no processo de ensino e aprendizagem nas aulas de

História

O uso de documentos históricos na prática pedagógica de sala de aula com

vistas à produção do conhecimento, nas últimas décadas, é um dos temas que

frequentemente surge nas discussões a respeito do ensino de história. Assim, é

comum que alguns documentos como imagens, canções ou objetos da cultura

material estejam presentes nos materiais didáticos e é papel do professor ser o

mediador na aprendizagem da história, pois ao se utilizar de tais fontes históricas, o

faz no intuito de levar o aluno a perceber como a história se constitui e também,

como os conteúdos históricos estão contextualizados a essa fonte.

Utilizar as fontes históricas não significa apenas buscar as origens ou a

verdade de um fato, mas sim, entendê-las como registro dos fatos históricos, como

fonte do conhecimento histórico, servindo de apoio ao conhecimento histórico

produzido. Segundo Saviani (2006, p. 41) as fontes históricas indicam a base e o

ponto de apoio, o repositório dos elementos que definem os fenômenos cujas

características se buscam compreender.

Neste contexto, Fonseca (2005) infere que as fontes históricas têm um papel

primordial na prática do ensino de história, já que ajudam o aluno a diferenciar e a

abstrair, sendo esta uma das dificuldades apresentadas quando se fala de crianças

e jovens em fase de desenvolvimento cognitivo. No entanto, um dos maiores

desafios para os professores nos dias de hoje, encontra-se na ação de diversificar

as fontes a serem utilizadas em sala de aula.

Assim, as fontes históricas, ao serem utilizadas com função pedagógica,

mediada pelo professor, devem ser compreendidas como capazes de construir

significados específicos que ajudarão o aluno a abstrair e diferenciar, com isso será

levado este a formular conceitos a respeito da história. Então, é importante que,

durante o processo de significação das fontes históricas, o aluno perceba através de

outros textos que se tratam de artefatos culturais, cheios de historicidade.

Em Bittencourt (1997), é encontrada uma reflexão sobre as diversas

ilustrações presentes nos livros didáticos e a possibilidade de trabalhar essas

imagens de forma crítica, contribuindo para a construção do conhecimento pelos

alunos. Para tanto, ela faz um levantamento histórico sobre o uso da imagem no

ensino de história. A autora propõe uma metodologia de trabalho com as imagens no

ensino de história, de forma a articular texto e imagem e possibilitar uma leitura

crítica do acervo de ilustrações. Assim a grande preocupação foi tentar aliar nas

atividades a análise das fotografias com o contexto da revolta dos posseiros.

Diante disso, é importante lembrar que muitos trabalhos recentes na área de

ensino de História procuram enfatizar a importância das imagens para o processo de

aprendizagem dos alunos e nesta linha, escolhemos as fotografias, por se tratarem

de recurso cada vez mais presente nos livros didáticos, no cotidiano da sala de aula,

incluindo os materiais preparados por professores que buscam proporcionar maior

atrativo às suas aulas.

Para o historiador, a fotografia pode ser considerada um documento histórico

que permite investigar como era a vida das pessoas de uma determinada época.

Porém é preciso se atentar ao fato de que a fotografia não se confunde com a

realidade registrada, mas que é parte dessa realidade, sendo aquilo que o fotógrafo

pretendia registrar. A fotografia pode ser uma representação do real ou possibilitar

uma construção da realidade, dependendo daquilo que for investigado a respeito de

sua significação como imagem fotográfica e de que forma se deu sua produção

(MACHADO, 2005).

Portanto, o ensino de história tem aberto muitas possibilidades de inclusão

de novos recursos na prática pedagógica que ajudam no ensino e aprendizagem

bem como na construção do conhecimento histórico pelos estudantes. Neste

trabalho defende-se o uso da fotografia como metodologia investigativa, comparada

ao trabalho do historiador, no qual o aluno tem a oportunidade de interagir com o

conhecimento, sendo o sujeito de uma ação e o professor mediador do trabalho.

Para que se pudesse construir o conhecimento histórico acerca da Revolta

dos Posseiros de 1957, também por se constituírem em fontes interessantes para

trabalhar com os alunos, especificamente na temática proposta, é que se optou pelo

uso de fotografias da época, algumas delas conseguidas com familiares de

participantes da luta, e de uma charge para instigar a ideia de uso de fontes

históricas diversificadas na reconstrução da História Local e por que não até da

identidade cultural dos estudantes.

No presente trabalho a fotografia é utilizada como fonte para a construção

do conhecimento histórico e também, como recurso para a maior compreensão da

Revolta dos Posseiros de 1957, já que nelas são encontradas imagens daquele

momento histórico que ficaram congeladas e possuem grande valor educativo.

Nessa temática, destaca-se o fato de várias das fotos terem sido disponibilizadas

por integrantes de uma das famílias de Posseiros participantes do movimento que

ainda reside nas proximidades de Francisco Beltrão.

A fotografia, além de conter informações na imagem congelada, auxilia no

desenvolvimento e na aprendizagem dos alunos, uma vez que conduz à

observação, análise comparativa e reflexões sobre a vida social, material e cultural

das sociedades, despertando o interesse dos alunos, bem como a motivação e

disposição em aprender.

Segundo Kossoy (2001), o debate sobre o valor e o uso de fotografias como

fonte de pesquisa em História é realizado há bastante tempo. Estudos defendem

que as fotografias não são meras ilustrações de textos. As fontes fotográficas

consistem em possibilidade de investigação e descoberta, prometendo bons

resultados de análise à medida que se sistematizam informações para decifrar a

realidade que as origina.

No caso do estudo que ora se apresenta, ao se trabalhar com fotografias da

Revolta dos Posseiros de 1957, pensou-se que o testemunho visual sobre o que

aconteceu na época seria de fato um chamado à atenção dos educandos, na

medida em que se procurou fazer relações entre o passado vivido pela comunidade

e o passado apreendido, por meio das fotografias.

As fotografias e as imagens são recursos que levam o aluno a entender

como os fatos históricos aconteceram, e que estas não são meras cópias do

passado, mas, responsáveis pela identificação de indícios do passado. Assim sendo,

a utilização dessas fontes de informação em sala de aula oferecem múltiplas formas

de explicações, servindo ainda, como documento, como reconhecimento do

pensamento histórico, promovendo a aprendizagem significativa e interativa entre

um conhecimento do passado e a realidade contemporânea.

A fotografia permite muitas leituras, pois carrega consigo inúmeras

informações, percebidas de modos diferentes pelos leitores das imagens. Portanto,

nos estudos efetuados sobre a Revolta dos Posseiros de 1957, as fotografias

contribuíram significativamente para analisar dados e os conceitos que permearam a

temática. Aqui, assumiram o papel de documento, mesmo desgastadas pelo tempo,

possibilitaram interpretar o passado.

Enfim, o mundo moderno está repleto de imagens, cabe então, aos

professores de história, analisar o olhar, discutir os significados, neste estudo, as

fotografias da época da Revolta dos Posseiros de 1957, foram utilizadas como

suporte de análise e reflexão, por serem fontes de ricas informações históricas e

contribuíram, relevantemente, para a reconstrução da história daquela luta pela terra

ocorrida no Sudoeste do Paraná.

Outro importante recurso utilizado como fonte nas aulas de história para

introduzir o estudo da Revolta dos Posseiros de 1957 foi a charge, que é um gênero

textual muito apreciado pelos alunos. Portanto, ressalta-se que geralmente

empregada como gênero, a caricatura envolve e constitui o elemento formal da

charge. O significado que o termo adquiriu no Brasil acabou incorporando o

sinônimo francês da caricatura, ligando-a com a imprensa, representando uma sátira

gráfica a um acontecimento político. Como manifestação comunicativa se baseia em

ideias condensadas cuja compreensão depende de um entendimento atualizado em

relação ao momento e à exposição dos personagens.

A caricatura incorporou-se à imprensa segundo duas concepções

socioculturais, uma relativa ao avanço tecnológico inicialmente com a litografia e

seguida pelas possibilidades técnicas da rotativa passando a ser um recurso

incorporado aos processos de produção jornalística. A outra, proveniente do

interesse em popularizar o jornal enquanto veículo de comunicação de massa, já

que a caricatura tornou-se um instrumento eficaz de persuasão do público leitor

(NOGUEIRA, 2003).

O uso de diferentes linguagens no ensino de História tem-se tornado uma

questão pertinente quando se trata de discussões que envolvem a metodologia do

ensino da disciplina. Esta indagação surge a partir dos crescentes questionamentos

a respeito de o livro didático ser utilizado como único recurso pedagógico, mesmo

com o avanço técnico­ científico que tem chegado às escolas e, sobretudo, da

percepção ampliada das fontes documentais e dos temas históricos.

A charge tem um papel importante como registro histórico, pois relata um

fato ocorrido em uma determinada época, dentro de um contexto cultural, econômico

e social específico, carregada de várias informações e que depende do

conhecimento desses fatores para ser entendida.

Ao se utilizar da charge como material didático, é necessário estar atento

aos pormenores, para que sejam percebidas as várias interpretações que podem ser

depreendidas a partir do trabalho desenvolvido com os alunos. Segundo Kossoy,

No esforço de interpretação das imagens fixas, acompanhadas ou não de textos, a leitura das mesmas se abre em leque para diferentes interpretações a partir daquilo que o receptor projeta de si, em função do seu repertório cultural, de sua situação socioeconômica, de seus preceitos, de sua ideologia, razão por que as imagens sempre permitirão uma leitura plural. (KOSSOY, 2001, p.115 in LITZ, 2008).

Assim, toda imagem deve ser utilizada levando-se em consideração a idade

e o nível de conhecimento dos alunos sobre determinado assunto, pois o leitor

constrói o sentido estabelecendo inferências a partir da relação entre a imagem que

vê e a retomada do fato a que ela se refere. Para isso, o leitor deverá saber o fato

que origina a charge e suas circunstâncias históricas, políticas, ideológicas e sociais,

para que possa compreender o que está dito na charge e o não-dito, ou seja, o que

está subentendido nas entrelinhas.

A charge não se prende à função de ilustrar o cotidiano, transforma a

intenção artística, nem sempre visa o riso, mostra-se como uma forma de resistência

aos acontecimentos, está centrada na atualidade, sendo isto inevitável, que em

determinado contexto histórico, poderá se repetir por diversas, permanecendo atual

enquanto crítica ao sistema econômico ou social de um país. Nela o riso de

zombaria é transparente, expõe-se com clareza aquilo que está oculto, “dando pelo

humor, outra visão sobre um acontecimento ou pessoa, revelando os traços

singulares e morais do caricaturado” (NOGUEIRA, 2003).

Ainda a respeito da charge, Bressanin (2006) diz que:

A charge é um gênero que lida com o repertório disponível nas práticas sócio-culturais e imediatas ligando-se sempre ao modo como um

determinado grupo vê o outro. Na sua forma atual, a charge mantém viva as tradições expressivas que a compuseram historicamente, definindo-se pela apropriação e reatualização de diferentes linguagens: a pictórica e a teatral. O humor gráfico presente na charge se dá pela rapidez, pelo exagero dos traços e pela síntese dos fatos, mostrando além da imagem, do alvo que pretende atingir, uma crítica à realidade política. Apresenta julgamentos e compreensões que influenciam na opinião do leitor, estabelecendo uma cumplicidade cotidiana entre autor e leitor num mesmo contexto social. A compreensão construída a partir desse plano interindividual passa para o plano intraindividual, fornecendo as bases para a compreensão.

De acordo com o sujeito leitor, a interpretação obtida na leitura da charge

pode variar, provocando em cada um, uma resposta ativa, com a qual dialoga com o

texto, nele se constrói e é construído. E é a partir dessa interação que se dá a

compreensão do discurso midiático e da crítica ao sistema político através da sátira,

ironia, zombaria, e outros recursos linguísticos e gráficos visuais presentes na

charge.

É importante dizer também que, para que a charge seja compreendida faz-

se necessário o conhecimento do contexto a partir do qual ela foi produzida, já que,

para a produção do humor, é necessário que exista uma cumplicidade com o leitor.

Os leitores não irão rir da piada contida na charge se não houver um código

estabelecido entre o autor e o leitor. Além do mais, como a charge refere-se às

situações veiculadas como notícia, em geral, no dia anterior ou dois dias antes de

ser divulgado, o leitor da charge necessita ser também um consumidor de notícia

para a efetivação da compreensão da mesma.

A charge trabalhada com os alunos, para que produzissem compreensão

sobre a Revolta dos Posseiros de 1957 como forma de luta pela terra foi “Enxadas

paradas e inchadas paradas” extraída do material Ensinar e Aprender 2 de História

publicado pela SEED-PR em 1997, cujo autor é Márcio Baraldi, chargista,

colaborador de vários jornais e revistas, dentre os quais Globo Ciência e Jornal do

Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem-Terra; neste último foi publicada esta

charge. A escolha deste texto se deu porque representa uma critica à organização

da estrutura agrária, considerada extremamente desigual, permeada por grandes

propriedades, além de ressaltar no inchaço das grandes cidades, resultante do

processo de êxodo rural e expulsão dos trabalhadores do campo, que não viam

outra possibilidade senão a de procurar melhores condições de vida nas grandes

cidades.

3 Apresentação do trabalho e análise dos resultados

Expostos os referenciais teóricos que sustentam esse estudo, segue-se com

o relato de como se deu o desenvolvimento do projeto e da aplicação da intervenção

pedagógica.

O estudo do projeto se deu em dois momentos distintos: o primeiro momento

foi a durante a tutoria do GTR (Grupo de Trabalho em Rede), que é forma de

capacitação à distância, oferecida pela SEED (Secretaria de Estado da Educação)

aos professores da Educação Básica da rede estadual de educação. Nesta

capacitação a pesquisadora participou como tutora e interagiu com os cursistas

trocando ideias, recebendo contribuições e críticas construtivas referentes ao

material postado no ambiente virtual do curso, ou seja, foram postados para

apreciação dos cursistas o projeto de intervenção pedagógica e também, o material

didático pedagógico elaborado, neste caso, uma unidade didática, contendo as

atividades que seriam trabalhadas com os alunos no decorrer da aplicação da

intervenção em sala de aula.

Já no segundo momento, houve a apresentação do material produzido à

direção e equipe pedagógica do Colégio Estadual Santa Inês – EFM, localizado na

comunidade de Santa Inês – saído para os municípios de Mangueirinha, Coronel

Vivida e Guarapuava - da cidade de Chopinzinho - PR, Núcleo Regional de

Educação de Pato Branco. Em seguida, levou-se o trabalho à sala de aula, tendo

como corpus a Unidade Didática intitulada A luta pela posse da terra nas aulas de

História: o caso da Revolta dos posseiros de 1957, elaborada tomando como base o

Conteúdo Estruturante: Relações de trabalho, Relações de poder e relações

culturais; o Conteúdo Básico: Os sujeitos, as revoltas; movimentos sociais e políticos

e o Conteúdo Específico: A revolta dos posseiros no Sudoeste do Paraná em 1957,

contidos nas DCE’s - Diretrizes Curriculares Estaduais - da disciplina de História.

No primeiro encontro com os estudantes, para realizar a implementação das

atividades, foi-lhes explanado o que seria trabalhado e com que intuito. Partiu-se

então, para a realização da primeira atividade proposta na unidade didática que

lançava um desafio à pesquisa, promovendo uma sondagem com os alunos,

tentando apreender suas ideias prévias acerca da questão agrária, diretamente

relacionado com a temática a ser abordada. Assim, foi formulado o seguinte

questionamento: Como vocês têm tomado conhecimento da história da ocupação

das terras brasileiras e em especial as do Sudoeste do Paraná?

Os alunos, então, registraram suas opiniões, permitindo diagnosticar os

conhecimentos sobre o assunto. Abaixo transcrevemos algumas das respostas

obtidas, nas quais os alunos estão identificados como: Aluno 01, Aluno 02 e assim

sucessivamente:

Aluno 01: “O único conhecimento que tive foi na escola quando estudei a

Guerra do Contestado e a de Canudos, no Paraná nunca ouvi falar de luta, só dos

sem-terra”.

Aluno 02: “Só em histórias que meus avós contavam de que eles haviam

presenciado e com meus pais porque eles fizeram o ensino fundamental e viram

alguma coisa sobre revoltas”.

Aluno 03: “Bem, obtive conhecimento de algumas revoltas na escola, onde

tive que pesquisar na internet, somente vi que aqui no Paraná também teve revolta,

mas não li nada para ter algum conhecimento maior”.

Pelas respostas dos alunos pode-se perceber que estes possuem uma ideia

muito vaga acerca não somente da questão agrária em si, mas, sobretudo sobre sua

história local e regional, haja vista que muitos responderam que nunca tinham

ouvido falar na Revolta dos Posseiros ou então ressaltaram aspectos superficiais de

outras revoltas ocorridas e que estudaram em outros anos.

Isso evidencia que a história local\regional, embora amparada nas leis

educacionais, ainda se encontram relegadas a um segundo plano nas aulas de

História. No entanto, tal valorização ajuda no processo de construção do

conhecimento histórico na medida em que parte muitas vezes da realidade vivida

pelo aluno em seu contexto social, haja vista que no caso específico da Revolta dos

Posseiros muitos familiares mantêm a memória da revolta ou por tradição oral, ou

por meio de fotografias da época, guardadas pelos familiares. No entanto, os alunos

não conseguem elaborar as histórias contadas por seus avós e as fotografias sobre

a revolta como sendo parte da história do lugar, como conhecimento histórico,

apenas como uma estória, quase como uma “lenda”, ou um acontecimento menor,

muito distante, sem relação com seu cotidiano.

A partir das respostas dos alunos organizou-se um painel para que as

respostas fossem socializadas. Assim, foram incentivados a pesquisar em livros e na

internet, a respeito do tema proposto. A sondagem realizada foi bem sucedida e de

suma importância, pois contribuiu com o direcionamento e balizamento das aulas

expositivas que abordaram o tema “luta pela posse da terra”. Na sequência, foi

ouvida a música “Cio da terra” de Milton Nascimento, com o propósito de lançar o

desafio à pesquisa na Internet sobre o tema.

Então, dirigiram-se ao Laboratório de Informática para pesquisar, registraram

e sistematizaram a pesquisa com os dados mais relevantes a respeito das revoltas e

lutas pela terra no Estado do Paraná, em seguida expuseram as pesquisas no mural

da sala de aula. Então, foi retomado o tema da aula anterior e partindo das

respostas dadas pelos alunos, realizou-se uma breve exposição oral sobre o

assunto e leitura do texto: “Conhecendo um pouco da história das lutas pela terra no

Brasil” extraído do Material Didático da Seed - Paraná “Ensinar e Aprender 2 –

História”, do ano de 1997. Feita a leitura e análise oral do texto, os alunos

registraram em texto narrativo os conhecimentos obtidos com as leituras.

Partindo, mais uma vez, dos conhecimentos dos alunos, prévios e

pesquisados, foram sendo desenvolvidas as demais atividades constantes da

Unidade Didática. Vale dizer que todas as atividades foram bem recebidas pelos

estudantes, mas houve aquelas que despertaram um maior interesse e curiosidade,

como a atividade de análise de charge e de fotografias da época da Revolta, que,

estão descritas e comentadas na sequência.

Aproveitando-se do gênero textual charge, como fonte para aquisição do

conhecimento histórico, efetivou-se o estudo, com interpretação individual, de um

cartum de Marcio Baraldi, composto por duas cenas: “Enxadas Paradas e Inchadas

Paradas” (Paraná, 1997). As duas charges mostram espaços contrastantes: primeiro

ocupados por poucas pessoas, cuja placa Latifúndio conduz à ideia de grandes

propriedades de um único proprietário. Já a segunda imagem apresenta uma grande

e movimentada cidade, em que o capitalismo impera e milhões de pessoas vivem

amontoadas, agrupadas em pequenos espaços: alguns luxuosos, outros pobres sem

nenhum planejamento, em moradias precárias. Após o estudo e discussão das

charges em grupos, os alunos responderam algumas questões a respeito dos textos.

Sistematizaram-se as questões, socializou-se no grande grupo e pode-se constatar,

pelas respostas dos alunos, que os mesmos encontraram dificuldades quanto à

compreensão das charges bem como de consenso nos argumentos.

Aluno 04: “Na charge aparecem pessoas trabalhando no campo com

enxadas e a outra charge mostra as lavouras sendo trabalhadas com máquinas e

um amontoado de casas na cidade”.

Aluno 05: “A charge está representando o homem no campo e a vida nas

cidades”.

Aluno 06: “Pessoas que deixaram o campo e foram morar nas cidades

achando que a vida das cidades é melhor, mas o campo precisa de gente para

trabalhar, gente que plante para o sustento de quem mora nas cidades”.

Pelas respostas dos alunos percebe-se que houve uma dificuldade para

fazer associação entre a charge, que permitia entendê-la enquanto um contexto que

remete à organização da estrutura agrária, desigual, bem como da questão do

êxodo rural, enquanto fatores que remetem ao contexto econômico e social da luta

pela terra e consequentemente da Revolta dos Posseiros.

Em seguida propôs-se uma atividade com alguns mapas, sendo: o mapa do

Estado do Paraná com as regiões e área do conflito (Revolta dos Posseiros); mapa

com a localização das glebas das Missões e do Chopin, e o mapa com os

municípios que compõem a área atualmente. Foi relevante realizar este estudo, pois

normalmente, os alunos não gostam de estudos e atividades com mapas. Tal

atividade surtiu efeito no sentido de que foi possível perceber que os alunos

conseguiram visualizar a região de conflito inserida dentro de um contexto nacional

de luta pela terra. Perceberam que a luta pela terra, na década de 50 do século XX,

não se circunscreveu à região estudada, mas que fazia parte de uma demanda

maior que abarcava outras regiões do país.

A atividade seguinte consistiu na leitura do texto “Da luta pela posse da terra

em uma sociedade” de Cristina Vargas Tafarel (apud Baggio e Pegoraro, 2008).

Realizou-se oralmente a análise e interpretação coletiva do texto. Seguindo com as

atividades, proferiu-se uma aula expositiva tendo como suporte a leitura de outro

texto: “A revolta dos posseiros no Sudoeste do Paraná” e a apresentação de slides

do assunto. Feito isto, retornou-se ao laboratório de Informática do Colégio para que

os alunos conhecessem e analisassem o blog “A revolta” que se encontra disponível

no endereço eletrônico: http://filmearevolta.blogspot.com/2009_11_01_archive.html.

Na análise desse blog os alunos, que manifestaram grande interesse por

ser feita no computador, entenderam que a Revolta dos Posseiros é tomada

enquanto um ícone da questão da luta pela terra no Paraná, ou seja, perceberam

que a questão não permaneceu restrita ao passado e que no seu presente ela ainda

é uma referência para as lutas pela posse da terra que continuam presentes no

contexto local, mas também nacional.

A leitura e análise do blog serviram para instigar a curiosidade e gerar novos

questionamentos a respeito do assunto, haja vista que por meio das atividades

anteriores reuniram subsídios para que pudessem analisar as fotografias.

A partir daí realizou-se uma das atividades mais apreciadas pelos

estudantes, a leitura e análise de algumas fotografias da época da Revolta. As

fotografias, apresentadas com uso de multimídia, algumas delas cedidas por

familiares de um dos participantes da revolta que ainda reside na mesma localidade

onde ocorreram os fatos, outras encontradas em site de domínio público. Cada

fotografia foi sendo analisada, observando-se os detalhes que contribuíram na

melhor assimilação do assunto estudado. A atividade gerou muita discussão entre

os alunos levando-os a compreender melhor o assunto, observando que a revolta foi

um fato real, mas que sobre ele há várias interpretações possíveis que vão desde os

fatores que a desencadearam, passando pela questão dos participantes e também

pela envergadura que alcançou; assim como as consequências econômicas,

políticas e sociais que, inclusive, afetam o presente dos alunos por fazer parte da

memória e da história coletiva e individual da região. Feitos os comentários acerca

das fotos, foi elaborado um breve histórico das mesmas vinculando a análise feita

pelos alunos com as aulas expositivas sobre o tema.

Feita a análise das fotos, relacionando-as aos fatos estudados, solicitou-se

aos alunos que escrevessem suas impressões e opiniões. Por meio da análise das

respostas dos alunos percebeu-se que eles ainda apresentam certa dificuldade de

análise permanecendo seus relatos enquanto uma descrição do conteúdo da

mesma. Talvez esse trabalho demande mais tempo, no entanto, conseguiram extrair

algumas especificidades, tais como as ausências de sujeitos na luta, e o porquê

disso; a presença de crianças no processo de luta; o recorte da foto quando

salientam que algumas parecem arrumadas para representar uma comemoração

porque cercados de símbolos da luta, tais como bandeira e faixas. Mas será que

saíram vitoriosos mesmo? E por fim a violência do processo. Apesar das tentativas

as conexões com um contexto maior de luta teve que ser instigado.

No entanto, apesar das dificuldades pudemos observar, não somente pelos

trabalhos escritos, mas também pelos comentários realizados ao longo da

implementação, que o aluno passou a entender que a Revolta dos Posseiros faz

parte de sua história, do seu cotidiano, porque faz parte da comunidade na qual está

inserido e que tem tanta importância quanto à revolta do Contestado e Canudos,

referências citadas por vários alunos ao longo do processo.

Aluno 03: “Numa foto aparece um caminhão esperando alguém, não sei se é

para uma procissão ou uma festa, pois tem até crianças junto e o que me chamou

atenção nestas fotos é que não aparecem mulheres. Outra foto parece representar

uma comemoração de vitória em que levantaram bandeiras e faixas”.

Aluno 04: “A primeira impressão que tive com a 1ª foto é que estava

acontecendo uma festa de uma vitória ou de uma conquista”.

Aluno 05: “Só vejo foto com muita gente, parece que estão de prontidão para

uma guerra, pois estão segurando ferramentas como foices e armas”.

Aluno 06: “A foto que mais me chamou atenção foi a 3ª onde tem um

caminhão com muitas pessoas em cima, outras de bicicletas e de cavalo, dando a

impressão que estão em prontidão, à espera de alguma coisa”.

Aluno 07: “As fotos são bem interessantes, nelas podemos ver que a luta foi

bem sangrenta, porque em todas as fotos aprecem pessoas armadas, umas com

ferramentas de trabalho como foices e facões, ouras com espingardas e revólveres.

Tem uma que aparece um grupo armado acoitado numa moita de capim,

provavelmente vão fazer uma tocaia”.

Depois de todas as discussões, análises e produções, chegou-se aos

encaminhamentos finais da implementação da proposta de intervenção pedagógica,

assistiu-se ao vídeo: 1957 – Sudoeste do Paraná uma produção da

ACARPA/EMATER, organizado por um grupo de pessoas de Francisco Beltrão e de

Pato Branco (quartéis e generais) da Revolta sob a coordenação do repórter Ivo

Pegoraro que se encontra disponível na videoteca da escola. Comentou-se o vídeo,

esclareceram-se as dúvidas que ainda persistiam e procedeu-se com a finalização

das atividades através de uma produção textual em duplas, na qual os alunos

reavaliaram a questão da sondagem inicial com os seguintes argumentos:

Aluno 01: “Esta questão é igual a 1ª e como eu só tinha conhecimento de

guerras como do Contestado e Canudos, agora posso dizer o que é uma revolta, a

luta pela terra e jamais pensei que a população da nossa região tivesse que passar

por uma situação assim, com tantos crimes e tempos tão difíceis para estes

posseiros. E que aquela população devia passar por forte estado de nervos e muito

sentimento sabendo que de uma hora por outra poderiam morrer ou ser retirados de

suas terras à força”.

Aluno 02: “Jamais eu pensava que um dia alguém fosse mostrar uma revolta

dessas, um acontecimento de tão perto, com tanta brutalidade e eu nunca tinha

ouvido falar desta revolta de 57, hoje já sei que aqui perto teve gente que teve que

lutar para ficar em cima de um pedaço de terra que era seu por direito e que de uma

hora pra outra aparece uma dita companhia dizendo que era dona de tudo, tinham

que lutar mesmo pra defender o que era seu e garantir o sustento das famílias”.

Aluno 03: “Após toda a explicação da professora com fotos, blog, pesquisa

na internet sobre esta revolta ocorrida no Sudoeste do Paraná tive a certeza de que

aqui perto houve uma luta pela posse da terra, fiquei indignado em saber das

barbaridades e dos crimes contra a população humilde da região, saber que uma

companhia aparece do nada se dizendo ser dona de uma imensidão de terras. Hoje

me parece ser mais que uma história, mas aquela história que ficou escondida,

como fala a professora, e esta história deve ser mais divulgada, estudada por todos

os que moram nesta região”.

Para concluir o assunto, faz-se questão de ressaltar que a aplicação da

Unidade didática foi trabalhosa, desgastante, mas ao mesmo tempo, muito

proveitosa. Os alunos que, inicialmente se mostravam indiferentes, foram se

envolvendo aos poucos e dando mais valor ao assunto. O trabalho fluía, os

resultados apareciam em cada atividade e com isso, a satisfação de haver concluído

o trabalho proposto. Somou-se ainda a tudo isso, a certeza de que, para conhecer é

preciso desejar aprender e depois aprender a socializar tais saberes.

Considerações finais

A organização do trabalho pedagógico por meio de temas históricos

possibilita ao professor ampliar a percepção dos estudantes sobre um determinado

contexto histórico, sua ação e relações de distinção entre passado e presente,

levando-o a um encontro com o conhecimento histórico científico oriundo da

pesquisa. Pensar em uma sociedade democrática, em uma política que promova o

debate de ideias e o bem social a todos os cidadãos, sem a preocupação com a

imagem pública ou a ambição pelo poder, ainda é uma utopia.

O Estudo teórico e a prática interventiva aplicada resultam de uma pesquisa

intensa e da consciência de que, enquanto docente da disciplina de História, se faz

necessário praticar, vivenciar situações de aprendizagem com idas e vindas ao

passado e presente nos diferentes espaços, culturas, imagens e outros recursos que

possam contribuir para a construção do conhecimento.

Sob esse ponto de vista, motivou-se a pesquisa teórica, utilizaram-se

recursos midiáticos, analisaram-se os resultados, cumprindo o objetivo inicialmente

proposto.

Evidentemente, o estudo não se exauriu, dados novos sempre são

encontrados. Porém, foi significativo aos alunos e também àqueles que tomaram

conhecimento deste estudo.

Não se tem a pretensão de que se considere um trabalho perfeito, uma vez

que isto seria impossível. Todavia, não é possível negar o seu valor enquanto fonte

histórica e de produção de conhecimento. Todos os envolvidos no estudo

enriqueceram seu cabedal de conhecimentos históricos e compreenderam que a luta

pela posse da terra sempre existiu, persiste e acompanhará os destinos da

humanidade até o fim. O ser humano é um ente que tem como meta, cada vez mais,

a de ser “conquistador”.

Foi difícil organizar a pesquisa e realizá-la, mas a satisfação ao ver os

resultados superou todo e qualquer obstáculo enfrentado.

Ser profissional da área de História é um desafio constante que vale a pena

ser perseguido.

Neste estudo, houve momentos em que o desânimo parecia dominar mas, o

amor pelo tema, a perseverança e a dedicação surtiram os efeitos esperados, afinal,

uma história sempre tem algo a ser acrescentado e sendo ela da região em que se

vive, fica mais interessante com o decorrer da pesquisa e o entusiasmo toma fôlego

e segue-se em frente.

Assim, cabe dizer que o trabalho pedagógico tem a finalidade de propiciar a

formação do pensamento histórico dos estudantes. Portanto, o professor e os alunos

utilizarão, em sala de aula e nas pesquisas propostas, os métodos de investigação

histórica articulados pelas narrativas históricas desses sujeitos. Assim, os alunos

perceberão que a História está narrada em diferentes fontes (livros, cinema,

canções, palestras, relatos de memória, etc.), já que os próprios historiadores se

utilizam destas fontes para construírem suas narrativas históricas.

Durante a aplicação da intervenção foram atingidos vários dos objetivos

propostos, porém há objetivos que só serão alcançados a longo prazo, desta forma

o trabalho permite continuidade, pois trabalhar com a história não é algo para ser

feito em poucos momentos mas em todos os momentos, tornar o estudo da história,

através de fontes diversificadas, uma constante para todos os estudantes, algo um

pouco utópico mas não impossível.

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