a luta eterna dos mapuches no chile

4
A luta eterna dos Mapuches no Chile Quanto tempo será necessário para o fim do imperialismo, da barbárie e da violência? A esta pergunta os Mapuches (etnia de índios chilenos) moradores da região de Araucanía, não podem responder, porém, eles são um exemplo de resistência, luta e coragem desde a chegada dos espanhóis em suas terras. Segundo SOTO (2007), “(...) Mapu significa terra e che, pessoa. Os mapuches são pessoas da terra. Suas terras iam do chile à região de Buenos Aires.” Desde a chegada dos espanhóis no século XVI, os mapuches sofreram com a perseguição, o genocídio e a perda de suas terras. Pedro de Valdívia (conquistador espanhol), era um ferrenho inimigo desta etnia, pois não se rendiam a colonização e ao aculturamento que os espanhóis queriam lhes impor. Para os mapuches nenhum homem deve se submeter a outro homem. A palavra “chefe”, não existe em seu vocábulo. Vemos no texto de Todorov, “A conquista da América: a questão do outro”, que está forma de colonização se deu em toda a América espanhola, ou seja, a escravização, o extermínio, maus tratos e as doenças e epidemias trazidas pelos espanhóis. E a principal e pior violência que um ser humano pode sofrer, a perda de sua identidade, de sua cultura e de sua religião. “Os mapuches não seguem a lógica das hegemonias, em que uns dominam e outros se submetem. As pessoas tendem a pensar que o mundo sempre se organizou sobre esta ótica, o poder em torno das hegemonias-que hoje vivemos no sistema capitalista. Meu povo submete-se a Deus (Ngünechen), mas não a outras pessoas”, explica Elba Soto. 1 1 SOTO, Elba. Jornal da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. 29 de outubro a 4 de novembro de 2007. p.3

Upload: emerson-mathias

Post on 18-Dec-2014

302 views

Category:

Education


2 download

DESCRIPTION

 

TRANSCRIPT

Page 1: A luta eterna dos Mapuches no Chile

A luta eterna dos Mapuches no Chile

Quanto tempo será necessário para o fim do imperialismo, da barbárie e da violência?

A esta pergunta os Mapuches (etnia de índios chilenos) moradores da região de Araucanía,

não podem responder, porém, eles são um exemplo de resistência, luta e coragem desde a chegada

dos espanhóis em suas terras. Segundo SOTO (2007), “(...) Mapu significa terra e che, pessoa. Os

mapuches são pessoas da terra. Suas terras iam do chile à região de Buenos Aires.”

Desde a chegada dos espanhóis no século XVI, os mapuches sofreram com a perseguição,

o genocídio e a perda de suas terras. Pedro de Valdívia (conquistador espanhol), era um ferrenho

inimigo desta etnia, pois não se rendiam a colonização e ao aculturamento que os espanhóis

queriam lhes impor. Para os mapuches nenhum homem deve se submeter a outro homem. A palavra

“chefe”, não existe em seu vocábulo. Vemos no texto de Todorov, “A conquista da América: a

questão do outro”, que está forma de colonização se deu em toda a América espanhola, ou seja, a

escravização, o extermínio, maus tratos e as doenças e epidemias trazidas pelos espanhóis. E a

principal e pior violência que um ser humano pode sofrer, a perda de sua identidade, de sua cultura

e de sua religião.

“Os mapuches não seguem a lógica das hegemonias, em que uns dominam e outros se submetem. As pessoas tendem a pensar que o mundo sempre se organizou sobre esta ótica, o poder em torno das hegemonias-que hoje vivemos no sistema capitalista. Meu povo submete-se a Deus (Ngünechen), mas não a outras pessoas”, explica Elba Soto.1

Por isso os Mapuches lutam até hoje e não se entregam a mais de 300 anos. No início os

mapuches também acreditavam nas mesmas teorias que os maias, astecaz e incas, quando da

chegada de Colombo e posteriormente Cortez, que os cavalos e seus cavaleiros eram únicos, seres

com 3 metros de altura, ferozes e indestrutíveis, como vimos no texto de Todorov. Porém, os

mapuches com sua ideologia de não se render a nenhum homem passou a estudar e analisar o

espanhol através de espiões infiltrados entre os exércitos inimigos (filhos de espanhóis com índias).

Para os mapuches, também chamados de araucanos a região de Araucanía é sagrada, onde

morreram e onde vivem todos seus ancestrais vivos e mortos.2

No texto de Todorov, Las Casas através de suas obras narra todo o sofrimento dos índios na

América, todo genocídio cometido pelos espanhóis, toda barbárie. Mas como vemos nos dias de

hoje essa situação continua praticamente a mesma. Os Mapuches estão em luta no Chile, por suas

terras sagradas. Lutam contra o governo pela posse do que era seu, e hoje é uma região agrícola e de

1 SOTO, Elba. Jornal da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. 29 de outubro a 4 de novembro de 2007. p.32 Disponível em: <http://www.anovademocracia.com.br/no-27/559-os-heroicos-mapuches> Data: 27/nov/2012.

Page 2: A luta eterna dos Mapuches no Chile

fazendas. Terras que foram tomadas desde a colonização e são suas de direito.

Suas reivindicações e lutas passaram e passam pelos governos chilenos sem muito

interesse em ser resolvidas pela elite do país. “(...) os primeiros anos de república foram de

calmaria, mas a partir de 1859 o governo chileno declarou uma guerra violenta, com investidas para

nacionalizar seu território mapuche.”3

O que vemos hoje na TV sobre os conflitos na América Central, centenas de pessoas

mortas, estados falidos, em sucessivas crises políticas e econômicas, dizem que são guerrilheiros

contra a “liberdade” e a “democracia”, na verdade são os índios de “ontem”, ainda sendo dizimados

e sofrendo o mais puro preconceito em sua própria terra. Hoje o colonizador é os EUA, que

interfere, invade, mata, rouba e escraviza, como os espanhóis no passado. Os espanhóis fizeram em

nome da “Reconquista e de Deus”, os EUA fazem em nome da “liberdade e democracia”. Para

CHOMSKY (2008) “(...) o Estado de direito é mais visto como um instrumento maléfico de

dominação tirânica do que como uma força de emancipação ou de proteção dos direitos humanos”.

A luta eterna continua:

A comunidade mapuche José Jineo Ñanco luta pelo direito a terras ancestrais na região da Araucania, no sul do Chile desde os anos 90 e nos últimos dias a luta tem se intensificado com uma violenta repressão policial para tentar desmobilizar os indígenas. Empresas agrícolas e florestais são as maiores interessadas em desalojar a comunidade e conquistar a propriedade dessas terras. A comunidade José Jineo Ñanco denunciou que na última semana agentes da Polícia Militar entraram em suas terras, (…) O governo responsabilizou a Coordenação Arauco Malleco (CAM), uma organização radical mapuche, que negou sua participação no fato.4

Entre o fim de dezembro e o começo de janeiro, o povo Mapuche intensificou os protestos no Chile. As manifestações se robusteceram ainda mais depois da morte de um estudante mapuche durante um protesto que reivindicava a devolução de terras invadidas por uma das maiores empresas madeireiras do país. Outra indignação do povo indígena chileno refere-se à "lei antiterrorista", da época da famigerada gerência militar fascista de Pinochet, aplicada atualmente na criminalização dos índios. O povo mapuche luta ininterruptamente contra os latifundiários, exigindo que saiam imediatamente de seus territórios. Esses indígenas são povos concentrados principalmente nas regiões centro-sul do Chile e no Sudeste da Argentina. São historicamente perseguidos e reprimidos e hoje representam cerca de 900 mil habitantes.5

Os Mapuches continuam em sua luta eterna, assim como outras etnias em toda América.

No Chile sua história é de dor e sofrimento, não difere da maioria dos povos colonizados que

sofreram esse processo de escravização e aculturamento. Sofrem com a perda de sua identidade,

3 SOTO, Elba. Jornal da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. 29 de outubro a 4 de novembro de 2007. p.34 Disponível em: <http://www.pco.org.br/conoticias/ler_materia.php?mat=34588> Data: 27/nov/2012.5 Disponível em: <http://www.anovademocracia.com.br/no-40/1520-povo-mapuche-luta-pelo-direito-a-terra> Data:

27nov/2012.

Page 3: A luta eterna dos Mapuches no Chile

sofrem com o racismo e o preconceito, em uma terra que não lembram mais que era sua. Não

lembram mais de seus ancestrais, pois perderam suas terras sagradas, não se lembram de seus rituais

e de seus Deuses, é a violência invisível, ideológica, triste e eterna.

Bibliografia

SOTO, Elba. Jornal da Unicamp – Universidade Estadual de Campinas. 29 de outubro a 4 de novembro de 2007. p.3.___________. Sonhos e Lutas dos Mapuches no Chile. Editora: Arte escrita. São Paulo, 2007.TODOROV, Tzvetan. A conquista da América: a questão do outro. São Paulo, SP: Martins Fontes, 1982. 263p.