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A LITERATURA NOS CURSOS TÉCNICOS DE NÍVEL MÉDIO INTEGRADO EM INFORMÁTICA E EM METALURGIA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA Carmelita Rodrigues Gomes 1 RESUMO O presente artigo tem como finalidade mostrar uma sequência didática envolvendo oito aulas de literatura ministradas no período de 15 a 30 de janeiro de 2017, para alunos com idade entre de 14 a 16 anos ingressantes no primeiro semestre dos Cursos Técnico de Nível Médio Integrado em Informática e em Metalurgia do Instituto Federal Ciência e Tecnologia Campus de Corumbá-MS. As aulas tiveram como objetivo oferecer reflexões sobre questões relacionadas ao tema literatura e teve como norte as seguintes perguntas: o que é literatura e qual é a sua função? O assunto trabalhado se justificou, sobretudo, primeiro, por causa da importância da leitura para a formação humanística de ser humano e, segundo, porque há pouca experiência de leitura de textos literários por parte dos alunos e eles precisam ser estimulados. A metodologia empregada foi a interacionista da linguagem e teve como fundamentação teórico os conceitos de literatura defendido por Aristóteles, Antônio Cândidos e outros. No final, foi aplicada e desenvolvida uma proposta metodológica de leituras de obras literárias atreladas às tecnologias, para as duas turmas acima mencionadas, a qual consistiu na gravação de vídeos das obras lidas com os apontamentos e análises dos alunos. O resultado foi a divulgação do trabalho, por meio de data show, nas salas de aulas, e por meio de aparelhos televisivos nos corredores o IFMS e também a divulgação em eventos locais e regionais. PALAVRAS-CHAVE: Ensino. Leitura. Literatura. Tecnologia. RESUMEN El presente artículo tiene como objetivo mostrar una secuencia didáctica realizadas en clases de literatura em el período que compreende desde el 15 hasta el 30 de enero de 2017, para alumnos con edad de 15 a 16 años ingressantes en el primer semestre de los Cursos Técnicos de Nivel Medio Integrado en Informática y en Metalúrgica del Instituto Federal Ciência e Tecnologia Câmpus de Corumbá-MS. En las clases el objetivo fue ofrecer reflexiones sobre cuestiones relacionadas al tema literatura a partir de las siguientes preguntas: qué es literatura y cual es su función? El asunto trabajado se justificó, sobretodo, en primer lugar, por causa de la relevancia de la lectura para la formación humanística del ser humano y, segundo, porque existe poca experiencia de lectura de textos literarios por parte de los alumnos y ellos necesitan ser estimulados. La metodología empleada fue la interacción del lenguaje y tuvo como fundamento teórico los conceptos de literatura defendida por Aristóteles, Antônio Cândidos y otros. En el trabajo, fueron desarrollados una propuesta metodológica de lecturas de obras literarias vinculadas a las tecnologías, para los grupos mencionadas, la cual consistió en la gravación de vídeos de las obras leídas con los apuntes y análisis de los alumnos. El resultado fue la divulgación del trabajo, por medio de data show, en las salas de clases, y por medio de televisores en los corredores del IFMS y también la divulgación en eventos locales y regionales. PALABRAS-CLAVE: Enseñanza. Lectura. Literatura. Tecnologia. 1 Mestra em Literatura e Práticas Culturais /UFGD. Professora de Literatura e Língua Portuguesa no IFMS, Instituto Federal de Mato Grosso de Sul, Campus de Corumbá-MS. [email protected]

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A LITERATURA NOS CURSOS TÉCNICOS DE NÍVEL MÉDIO INTEGRADO EM INFORMÁTICA E EM METALURGIA: UMA PROPOSTA PEDAGÓGICA

Carmelita Rodrigues Gomes1

RESUMO

O presente artigo tem como finalidade mostrar uma sequência didática envolvendo oito aulas de

literatura ministradas no período de 15 a 30 de janeiro de 2017, para alunos com idade entre de 14 a

16 anos ingressantes no primeiro semestre dos Cursos Técnico de Nível Médio Integrado em

Informática e em Metalurgia do Instituto Federal Ciência e Tecnologia Campus de Corumbá-MS. As

aulas tiveram como objetivo oferecer reflexões sobre questões relacionadas ao tema literatura e teve

como norte as seguintes perguntas: o que é literatura e qual é a sua função? O assunto trabalhado se

justificou, sobretudo, primeiro, por causa da importância da leitura para a formação humanística de

ser humano e, segundo, porque há pouca experiência de leitura de textos literários por parte dos

alunos e eles precisam ser estimulados. A metodologia empregada foi a interacionista da linguagem e

teve como fundamentação teórico os conceitos de literatura defendido por Aristóteles, Antônio

Cândidos e outros. No final, foi aplicada e desenvolvida uma proposta metodológica de leituras de

obras literárias atreladas às tecnologias, para as duas turmas acima mencionadas, a qual consistiu na

gravação de vídeos das obras lidas com os apontamentos e análises dos alunos. O resultado foi a

divulgação do trabalho, por meio de data show, nas salas de aulas, e por meio de aparelhos

televisivos nos corredores o IFMS e também a divulgação em eventos locais e regionais.

PALAVRAS-CHAVE: Ensino. Leitura. Literatura. Tecnologia.

RESUMEN El presente artículo tiene como objetivo mostrar una secuencia didáctica realizadas en clases de literatura em el período que compreende desde el 15 hasta el 30 de enero de 2017, para alumnos con edad de 15 a 16 años ingressantes en el primer semestre de los Cursos Técnicos de Nivel Medio Integrado en Informática y en Metalúrgica del Instituto Federal Ciência e Tecnologia Câmpus de Corumbá-MS. En las clases el objetivo fue ofrecer reflexiones sobre cuestiones relacionadas al tema literatura a partir de las siguientes preguntas: qué es literatura y cual es su función? El asunto trabajado se justificó, sobretodo, en primer lugar, por causa de la relevancia de la lectura para la formación humanística del ser humano y, segundo, porque existe poca experiencia de lectura de textos literarios por parte de los alumnos y ellos necesitan ser estimulados. La metodología empleada fue la interacción del lenguaje y tuvo como fundamento teórico los conceptos de literatura defendida por Aristóteles, Antônio Cândidos y otros. En el trabajo, fueron desarrollados una propuesta metodológica de lecturas de obras literarias vinculadas a las tecnologías, para los grupos mencionadas, la cual consistió en la gravación de vídeos de las obras leídas con los apuntes y análisis de los alumnos. El resultado fue la divulgación del trabajo, por medio de data show, en las salas de clases, y por medio de televisores en los corredores del IFMS y también la divulgación en eventos locales y regionales. PALABRAS-CLAVE: Enseñanza. Lectura. Literatura. Tecnologia.

1 Mestra em Literatura e Práticas Culturais /UFGD. Professora de Literatura e Língua Portuguesa no

IFMS, Instituto Federal de Mato Grosso de Sul, Campus de Corumbá-MS. [email protected]

INTRODUÇÃO: LER É PRECISO

As aulas tiveram início com algumas reflexões sobre a leitura e sua relevância

e, para isso, inicialmente, foi evocada, a opinião de Luiz Carlos Cagliari que

discorreu sobre sua importância na formação acadêmica dos indivíduos. De acordo

com autor, “[...] A escola que não lê muito para seus alunos e não lhes dá a chance

de ler muito está fadada ao insucesso, e não sabe aproveitar o melhor que tem para

oferecer aos seus alunos. As pessoas que não leem são vazias ou subnutridas de

conhecimento” (CAGLIARI, 1997, p. 150).

Na sequência, dentro da mesma linha de raciocínio, foi apresentado também

as afirmações de Vera Teixeira de Aguiar e Maria Izabel Cattani, as quais em

consonância com as ideias do teórico acima mostrado, afirmam que:

A leitura utilizada como instrumento formativo afasta o homem dos vícios, da hipocrisia, da banalidade, da vulgaridade e, sobretudo, do tédio e da angústia. De uma boa leitura o homem ressurge consolado, otimista e disposto a continuar a luta que empreendeu até o final. (CATTANI; AGUIAR, 1982, p. 24)

Posteriormente, foi mostrada a opinião de Cavalcante, pois as posturas

aderidas pelos críticos, acima apontados, estabelecem diálogos com as ideias dela,

cuja contribuição para questões envolvendo a prática de ensino em literatura é de

fundamental relevância. Conforme a crítica:

Não adianta dizer para ao estudante que ler é bom, quando essa experiência não foi proporcionada a ele de maneira prazerosa e despertando todos os seus sentidos. Ler não é bom somente porque nos torna mais cultos e nos traz conhecimento. Ler é bom porque é gostoso e amplia nossa capacidade de conhecer através do afeto, dos sentimentos bons e ruins, e com toda a carga de significância possível (CAVALCANTE, 1995, p. 18).

Portanto, é papel da escola, não só dizer aos alunos que ler é importante, que

ler é bom, mas, sobretudo, é preciso que ela ofereça meios para que a leitura

realmente se materialize no cotidiano deles, contribuindo, desta forma, com a sua

formação leitora, visto que ela é considerada uma fortíssima ferramenta de

letramento. E esse processo deve iniciar nas séries iniciais, mesmo antes de a

criança ser alfabetizada, ela já deve estar em contado com livros lendo através de

imagens para que, no decorrer de sua vida, sinta naturalmente prazer em ler. Nesse

processo, os livros literários, comprovadamente, possuem importância fundamental.

Vejamos o que asseveram Bordini e Aguiar a respeito do assunto:

(...) se o professor está comprometido com uma proposta transformadora de educação, ele encontra no material literário o recurso mais favorável à consecução de seus objetivos. Neste caso, vale a pena investir na formação do leitor (BORDINI; AGUIAR, 1988, p. 18).

Nesse sentido, comprovadamente, os benefícios proporcionados pela prática

de leitura de textos literários são inúmeros para o desenvolvimento intelectual dos

indivíduos, pois, por meio dela, eles podem entrar em contado com a cultura e o

pensamento de diferentes épocas; conseguem compreender melhor o homem, a

sociedade em que vivem e o mundo. Além disso, desenvolvem competências

relacionadas à capacidade comunicativa, seja ela oral ou escrita. Ou seja, a prática

de leitura proporciona ao indivíduo desenvolvimento pluridimensional, pois o ajuda a

se tornar cidadão crítico, participante e bem sucedido. Em síntese, a competência

literária, além de ser quesito obrigatório exigido pelos documentos oficiais que

fundamentam o ensino, também contribui com a formação humanística do ser

humano.

No entanto, mesmo tendo consciência das vantagens propiciadas pela prática

de leitura e mesmo com as orientações e obrigatoriedade configuradas nos

documentos oficiais que fundamentam o ensino mais democrático e emancipador,

nem sempre, conforme pesquisas, as práticas de ensino de literatura são realizadas

de forma satisfatória em sala de aula e um dos entraves, dentre muitos existentes,

apontados por pesquisadores, é a o ensino focalizado somente na historiografia

literária dentro da visão positivista pronta e acabada em que ao aluno cabe o papel

restrito de decorar nome de autores, obras e características de cada época literária,

bem como apenas a leitura de fragmentos de obras presentes em livros didáticos.

Metodologia retrógada, porque negligencia o contato do aluno com a obra literária

em sua totalidade, negando a ele a experiência com o texto. Soma-se a isso, outro

agravante, que são interpretações restritas a visão positivistas prontas e acabadas

feitas pelos historiadores como a única e, consequentemente, os resultados são

drásticos, pois conforme pesquisas grande parte de alunos que já concluíram ou

estão concluindo o ensino médio, na maioria são considerados analfabetos na

formação literária. Isto por que, ainda há prática de ensino de literatura sendo

confundida com ensino de historiografia literária. E essa confusão, repercute no

aprendizado do aluno, pois a ele é ensinado de forma repetida às análises

correspondentes a da ideologia dominante construída ao longo do tempo, minando e

a chances que eles teriam de fazer suas próprias leituras e trazendo novas

reflexões.

Logo, foi pensando nessa questão problemática no que concerne a

competência leitora dos alunos a qual deixa muito a desejar, fato que vem sendo

mostrados pelos exames avaliativos tanto externo como interno Saeb, Enem,

Vestibular que eu pensei fazer, logo nos primeiros encontros com os alunos

iniciantes no IFMS, antes de iniciar as aulas correspondentes ao ano letivo, oferecer

aulas prévias que propusessem a eles questionamentos e reflexões sobre a

importância da leitura de livros literários. Para isso, foram propostas várias leituras

de textos, que abordaram a importância da literatura e sua função, afinal, é papel da

escola, não só dizer aos alunos que ler é importante, que ler é bom, mas, sobretudo,

é preciso que ela ofereça meios para que a leitura realmente se materialize no

cotidiano deles, contribuindo, desta forma, para a sua formação leitora, visto que ela

é considerada uma fortíssima ferramenta de letramento.

1 METODOLOGIA

Para fins didáticos, a metodologia foi dividida em seis momentos. No primeiro

momento, como eram alunos iniciantes, uma pesquisa diagnóstica realizada, por

meio de questionários, com a finalidade de descobrir o repertório de leitura de cada

estudante foi aplicada; No segundo momento, foram mostrados vários depoimentos

de pessoas pertencentes a diferentes áreas do conhecimentos e profissões sobre

suas experiências de leituras que tiveram com os textos literários ressaltando a

contribuição delas para a sua formação. Depois, foram colhidos os depoimentos dos

próprios alunos sobre suas impressões que tiveram com a literatura. No terceiro

momento, foi discorrido sobre as várias definições de literatura. Essa parte foi

norteada pelas perguntas: O que é a literatura e qual é a melhor maneira de defini-

la? As perguntas foram respondidas com trechos escritos por teóricos da literatura

seguida de exemplos práticos: poesias, poemas, etc.; No quarto momento, foi

mostrado a função da literatura nos diferentes momentos históricos a qual foi

produzida. Para tal intento, foram atribuídas as seguintes acepções: Literatura é

Mimese, é cópia do real, Platão e Aristóteles; Literatura é representação social ela é

uma é a transposição do real para o ilusório, Antônio Candido, etc. No quinto

momento, foi mostrado as diferentes funções que a literatura pode se revestir, por

exemplo: ela pode ter função psicológica; função catártica; função estética; função

humanizadora/formadora; função cognitiva/conhecimento; função Educativa-

subordinada aos interesses do poder Função nacionalizante: era romântica; função

revolucionária: modernismo; função de mostrar os implícitos da vida; função político-

social, etc. Último momento, foi proposta uma estratégia de leitura de textos literário

atrelado a tecnologia.

1.1 SONDAMENTO DIAGNÓSTICO

Como os alunos eram ingressantes do IFMS e eu nada conhecia a respeito

de seus repertórios de leituras, antes de iniciar as aulas foi aplicada uma pesquisa

avaliativa diagnóstica contendo questionário, que visou descobrir as suas

experiências de leituras de textos literários que eles, na situação de concluintes do

ensino fundamental, supostamente, deveriam ter. Seguem, abaixo, as perguntas

aplicadas:

1) Que livros você tem em casa? 2) Há pessoas na sua casa que gosta

de ler? Quem? Que tipos de leituras fazem? 3) Está lendo algum livro no

momento? 4) Quantos e quais livros você já leu? 5) Qual o livro, dentre todos

os que você leu, mais gostou? Por quê? Faça um pequeno texto

argumentativo justificando a sua resposta.

O resultado do questionário aplicado no que concerne a prática de leitura na

turma Técnico em Informática foi animador, todavia na turma de Técnico em

Metalurgia, nem tanto. Dos 40 alunos do curso Técnico Integrado em Informática, 19

se declaram leitores, o restante alguns leram muito pouco, outros não leram nada, a

não ser os livros didáticos de Língua Portuguesa, História, Geografia, Matemática. E

na turma de Metalurgia, o resultado foi precário, pois dos 40 alunos entrevistados

apenas 9 se consideraram leitores.

Dentre os alunos pertencentes às duas turmas que se consideraram leitores,

sobressaíram o conhecimento de algumas obras clássicas pertencentes tanto a

literatura internacional como a nacional. Notícia surpreendente, principalmente, em

constatar que eles mal tinham saído do ensino fundamental. Veja, abaixo, o

resultado de alguns depoimentos:

Amanda Kukiel Moura, Curso Técnico em Informática, leu:

Toda a coleção de Herry Potter, O morro dos ventes uivantes, de Emily Bronte; A

culpa é das estrelas, de Jhon Green; Dom Casmurro, de Machado de Assis;

Capitães de Areia, de Jorge Amado; Quem é você, Alasca? De John Michael Green;

Lolita, de Vladimir Nabokov; Os Contos, de Edgar Allan Poe; Vidas Secas, de

Graciliano Ramos; O sol da Liberdade, de Giselda Laporta Nicolelis; O pequeno

Príncipe, de Antoine de Saint-Exupéry; Marcas de um olhar, de Alcides Goular,

dentre outros.

Lucas Salas Gurgel de Vasconcellos, Curso Técnico em Informática, leu:

Dom Quixote, de Miguel de Cervantes; Diário de um Banana, de Jeft Kinney; Menino

sem Pátria, de Luiz Puntel; O Morro dos Ventes Uivantes, de Emily Bronte e outros.

Felipe Franco Pellissari, Curso Técnico em Informática, leu:

As aventuras de Gulliver, de Jonathan Swift, O morro dos ventes uivantes, de Emily

Bronte; Hamlet, de William Shekespeare e outros.

Francesco Pagani Galvão, Curso Técnico em Informática, leu:

A série do Livro de Herry Potter; Como Treinar um Dragão, de Cressida Cowel; O

Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, O Crônica de gelo de fogo, de George R. R.

Marin.

Luíza dos Santos Oliveira, Curso técnico em informática, leu:

Amor de mãe, de José Nasar; toda a coleção de Herry Potter; Amor de Capitu, de

Fernando Sabino; Iracema em cena, de Walcyr Carrasco; Capitães de Areia, de

Jorge Amado; O quinze, de Rachel de Queiroz; O diário de Anne Frank; A seleção

Crepústulo, de Stephenie Meyer; Dom Quixote, Miguel de Cervantes. Dentre outros

e outros.

Lívia Rodrigues Pereira, Curso Técnico em Informática, leu:

O príncipe e o Mendigo, Mark Twain; Dom Casmurro, de Machado de Assis; A culpa

é das estrelas, de John Green; Cinderela Pop, de Paula Pimenta e outros.

Raiane Mendonça dos Santos, Curso Técnico em Informática, leu:

A Escrava Isaura, de Bernardo Guimarães; Romeu e Julieta, de William

Shekespeare; A menina que roubava livros, de Markus Zusak; Crepúsculo, de

Stephenie Meyer e outros.

Sabrina Quevedo da Silva, Curso Técnico em Metalurgia, leu:

Cem Anos de Solidão, de Gabriel Garcia Márquez e outros.

Maysa M. Morais Rodrigues dos Santos, Curso Técnico em Metalurgia, leu:

Alice no País das maravilhas, de Lewis Carroll; As mil e uma noites, de Edward

William; Dom Casmurro, de Machado de Assis; Quando a família Adms sair de

férias, de Mendal W. Johnson, dentre outros.

Emanoelly Ogaya do Amaral, Curso Técnico em Metalurgia, leu:

Cinderela e Rapunzel, dos Irmãos Grimm; Chapeuzinho Vermelho, dos Imãos Griim;

Herry Poter e a Pedra filosofal, de Joanne Rowling, dentre outros.

Brunna Barros de Paula, Curso Técnico em Metalurgia, leu:

As Viagens de Gulliver, de Jonathan Swift; Cidades de Papel, de John Green; Se eu

ficar, de Gayle Forman; A culpa é das estrelas, Josh Boone; Biografia da princesa

Daiana, de Andrew Morton, dentre outros.

Contudo, os dados da pesquisa trouxeram duas realidades diametralmente

opostas e antípodas, pois ao mesmo tempo em que havia, alunos leitores, como

mostrado no quadro acima, que afirmaram gostar muito de ler e que estavam

sempre ávidos por ler mais, também havia o outro lado nem tão animador, o qual

demonstrou dados tristes constatado no fato de mais metade dos alunos não terem

lido nada ou quase nada. Fato verificado nas duas turmas tanto de informática

como de metalurgia.

Diante de tal heterogeneidade: algumas perguntas se fizeram, naturalmente,

avultar: o que fazer? Como induzir os alunos que não tinham o hábito de ler a ler?

Como conscientizá-lo sobre a importância da leitura? Apesar de essa ser uma

tarefa nada fácil, foi viável e extremamente necessário, antes de iniciar o ano letivo

oferecer a eles alguns encontros, uma espécie de aulas oficinas tendo como tema

protagonista “A leitura de textos literários”, e para cumprir com essa finalidade, foram

trazidos textos pertencentes a diferentes tipos de gêneros textuais, poesias, conto,

crônicas, romances que traziam importantes reflexões sobre a leitura.

Portanto, em consonância com o resultado da pesquisa diagnóstica

verificada e, de acordo com a necessidade levantada e também, em conformidade

com a ementa do curso de Língua Portuguesa e Literatura a ser ministradas no

primeiro ano, foram elaborados os conteúdos em seguida apresentados, os quais

foram ministrados conforme as sequências didáticas abaixo relacionadas.

1.2 O QUE É LITERATURA?

Antes de responder à questão, acima elencada, foram apresentados aos

alunos alguns depoimentos de pessoas pertencentes a diferentes áreas do

conhecimento sobre as experiências que tiveram com leituras de obras literárias.

Essa experiências foram retirados do livro de William Roberto Cereja & Thereza

Cochar Magalhães, 2010, p. 14-15.

DEPOIMENTO 1: A CADA LIVRO, UM NOVO APRENDIZADO POR JOSÉ RENATO NALINI, JUIZ)

A literatura tem algo de mágico, permite viajar, no melhor sentido da palavra, ingressar no pensamento alheio, vivenciar outras experiências. E também é revolucionária, no sentido de permitir a transformação da vida. Há livros fundamentais. Depois de lê-los, o leitor nunca mais será a mesma pessoa. (NALINI Apud CEREJA & MAGALHÃES, 2010, p.14).

DEPOIMENTO 2: LITERATURA E EMOÇÃO POR HELOISA SEIXAS, ESCRITORA.

É engraçado. Gosto cada vez mais de ler. Não imaginei que pudesse ser algo progressivo, mas é. Depois que comecei a escrever, o gosto foi crescendo, crescendo. Hoje leio 30, 40, talvez 50 livros por ano (agora tenho mania de anotar os livros que leio). Leio dois ou três ao mesmo tempo, desde alta literatura até as mais deliciosas porcarias, para as quais os críticos esnobes viram o nariz. E o que esses livros todos me propiciam de melhor? Essa capacidade fantástica de apagar o mundo à nossa volta.”

Prazer de ler? “É estar dirigindo, a caminho de casa, e dar um suspiro, quase sem sentir, pensando: Oba, vou ler meu livro! Prazer é fazer economia, ler poucas páginas de cada vez, temendo que o livro querido acabe. Prazer é esquecer que o universo existe na hora da leitura. Isso pode acontecer com a mais alta literatura ou com um livro de aventura. Pode ser O som e a fúria, de Faulkner, ou Ela de H. Rider Haggard.(SEIXAS Apud CEREJA & MAGALHÃES, 2010, p.14).

DEPOIMENTO 3: A LITERATURA É COMO O MAR POR GILBERTO DIMENSTEIN. JORNALISTA.

A literatura é como o mar, me banha o tempo todo. É ela que me permite, como jornalista, ter um olhar sempre diferenciado em relação ao mundo... Do ponto de vista, pessoal funciona como uma terapia, me levando a descobrir personagens e sentimentos. Acho que a literatura é o caminho da descoberta de emoções, de novas possibilidades de olhar e de sentir. (DIMENSTEIN Apud CEREJA & MAGALHÃES, 2010, p.15).

DEPOIMENTO 4: A LITERATURA É ALGO INTENSO E MÁGICO POR LYA

LUFT. ESCRITORA. Desde criança, a leitura me dá imenso prazer, exercendo em mim o fascínio de algo mágico, intenso, estético. É a janela por onde o mundo entra na minha casa, na minha vida. A literatura dirigiu meu pensamento, minha forma de ver o mundo. Eu vivo e respiro literatura o tempo inteiro. (LUFT Apud CEREJA & MAGALHÃES, 2010, p.15).

DEPOIMENTO 5: A LITERATURA É UMA ESPÉCIE DE

SUPERMICROSCÓPIO DA ALMA HUMANA POR MARCELO TAS, APRESNTADOR DE TV.

Eu sempre li como diversão, como uma busca espiritual, nunca por obrigação. Acho que ninguém deve fazer isso, nem obrigar seus filhos ou alunos a tal castigo. [...] Os livros são parte da minha evolução, da minha formação artística e humanística. O livro que a gente está lendo reflete exatamente o que somos naquele momento, o que estamos cutucando dentro do infinito universo do pensamento. Portanto, é sempre bom afiar a pontaria. A literatura é uma espécie de supermicroscópio da alma humana, a maior lente de aumento já inventada pelo homem. Num livro, a gente pode descer até a menor partícula de pensamento ou sentimento já experimentada por alguém. Esse é o fascínio da literatura. Não é pouca coisa não. É como um telescópio Huble apontado para dentro da gente. (TAS Apud CEREJA & MAGALHÃES, 2010, p.15).

DEPOIMENTO 6: A BOA LEITURA É A QUE PROVOCA INQUIETAÇÃO POR MÁRIO SABINO, JORNALISTA E ESCRITOR.

De fato, uma pessoa pode passar a vida inteira sem ler uma única página. No entanto, acredito que, por mais feliz que ela seja, sua existência será mais pobre por causa da falta de leitura. Os livros não mudam a vida, mas nos fazem ter uma perspectiva diferente dela. Uma perspectiva, nos melhores casos, menos iludida-sobre os outros e sobre nós mesmos. (SABINO Apud CEREJA & MAGALHÃES, 2010, p.15).

Conforme Cereja, dentre os vários depoimentos apresentados acima, não há

unanimidade sobre o que é literatura nem sobre qual é o seu papel. “Para alguns,

ela é revolucionária, generosa; para outros, um meio de conhecer a si mesmo; para

outros, ainda, permite ver a vida sob novas perspectivas, permite viajar e vivenciar

outras experiências”. (CEREJA; MAGALHÃES, 2010, p.15)

Após a leitura e reflexões sobre os testemunhos de pessoas renomadas no

setor jornalística, artísticos e outros apresentados aos alunos, a mesma pergunta foi

lançada a eles: E para você, o que é literatura? Veja, a seguir, alguns depoimentos

dados por eles.

“Para mim, a literatura não pode ser definida, nem argumentada e nem mensurada.

Ela é uma mistura de diversas possiblidades de expressões e definições. Quando

eu leio, eu me envolvo na história narrada, é como se eu respirasse, ouvisse e vise,

enfim, eu vivencio o que o personagem está passando. Literatura é entender, é ter

dúvidas sobre o que está acontecendo”. (Emanoelly Ogaya do Amaral, Curso

Técnico em Metalurgia)

“Para mim, a literatura é algo que me faz ver a vida por outro ângulo, pois ela me

traz novos pensamentos e me torna uma nova pessoa. Por meio dos livros, aprendi

o respeito, a tolerância, aprendi a me colocar no lugar dos outros, antes de qualquer

atitude. Ela me ensinou o valor da amizade, do companheirismo”. (Luiz Guilherme

Quintanilha Jacinto, Curso Técnico em Metalurgia).

“Para mim, literatura é uma expressão artística do ser humano, ela é uma arte das

palavras”. (Laís Amorim Moura, Curso Técnico em Informática).

“A literatura para mim é um meio de conhecer pessoas, seus pontos de vistas, sua

cultura, seus sentimentos, suas aventuras e os lugares que eles vão, eles me levam

juntas”. (Thayanne Fernandes Silva Souza, Curso Técnico em Informática).

“Para mim a literatura é uma forma de adquirir liberdade, compreender o próximo. É

a possibilidade de rever algo que já foi esquecido, como o preconceito e a

intolerância que, às vezes, aparecem escritos nos livros de ficção”. (Marcos

Gongora R. Filho, Curso Técnico em Informática).

“Literatura para mim é uma chave de força que, quando se liga, te deliga do mundo

para entrar em outro, onde tudo é possível, onde verdades são ditas, onde

emoções, por menores que sejam, são transmitidas para nós de uma forma mágica,

por meio de palavras, que mesmo escritas parecem faladas de tão parecidas que

são com o real”. (Francesco Pagani Galvão, Curso Técnico em Informática).

“Literatura para mim é algo que abre a minha mente, pois quando eu começa a ler,

tudo em minha volta se apaga, pois esqueço todos os problemas. Quando começo

a ler, não quero para mais, a leitura é relaxante”. (Davi Roberto Ferreira Crespo,

Curso Técnico em Informática).

“Literatura é o que nos permite conhecer os sentimentos do ser humano, nos faz

viajar na mente de outros e entender por que tomam certas atitudes”. (Marcelo de

Souza Arruda, Curso Técnico em Informática).

“A literatura é a essência de nossa vida, que faz aquele que lê, querer cada vez

mais viver mais e mais. A literatura é como um manancial fonte de vida, que nos

purifica de todos os problemas e nos enche de conhecimentos e emoções”. (Paulo

Ricardo do Carmo Coca, Curso Técnico em Informática).

“Literatura é viajar sem sair do lugar, é progredir culturalmente. E a forma mais

interessante de adquirir conhecimentos é ler um bom livro”. (Ana Clara Silva, Curso

Técnico em Informática).

“Literatura é fantástica, nos permite conhecer a nós mesmos, vivenciar algo que

ainda não vivenciamos. O que lemos demonstra o que somos”. ( Felipe Franco

Pellissari, Curso Técnico em Informática).

“Literatura é algo que nos liberta é como se fosse um porto seguro no mundo de

confusão e problemas, você entra em outra realidade, sorri e chora com os

personagens, se apaixona por alguns e adquire ódio por outros. A literatura é algo

mágico que nos ensina a viver. Você pode entrar no universo da leitura, mas

quando volta nada será igual, pois o livro nunca mais sai de você, e você ganha

outra forma de viver e viver a vida”. (Tainá Ribeiro Dutra Couto, Curso Técnico em

Informática).

“A literatura é a mais bela das artes, a mais profunda é a que permite mais

modificações. A literatura inspira, emociona, diverte, ensina e muda nossas

concepções. É, com certeza, a ocupação mais importante da minha vida”. ( Luíza

dos Santos Oliveira, Curso Técnico em Informática).

“Por meio da literatura, apenas lendo uma página de um livro, nós podemos sentir

emoções variadas como, raiva, tristeza e alegria. Ela pode nos deixar em paz

quando não estamos. Ela nos faz começar a fazer perguntas sobre assuntos que

antes nem passavam pele nossa mente e passavam despercebidas”. (Marcos

Vinícius Penha de Oliveira, Curso Técnico em Metalurgia).

“Literatura é meu combustível que me leva a diversos lugares e me traz

conhecimentos, pois ela desperta no indivíduo o lado humano e o artístico”. (Carlos

Eduardo V. Soares, Curso Técnico em Metalurgia)

“Literatura para mim é sinônimo de conhecimentos, por meio delas eu conheço

lugares sem sair da minha casa. Ela é luz e serve para iluminar os seres humanos”.

(Sabrina Quevedo da Silva, Curso Técnico em Metalurgia)

“Para mim, a literatura é a possibilidade de se isolar do mundo e viajar na

imaginação da leitura, é descobrir novos horizontes, conhecer palavras e

expressões novas”. (Dayane Germano da Costa, Curso Técnico em Metalurgia)

1.3 O QUE É LITERATURA? A OPINIÃO DOS TEÓRICOS

A pergunta “O que é literatura” tem despertado, ao longo dos tempos, a

curiosidade de filósofos, de historiadores, de teóricos de literatura e de outras

ciências. Contudo, não existem conceitos e sim muitas definições, as quais

mudaram com o passar dos tempos. Para Cereja:

A literatura é uma forma de expressão artística do ser humano, juntamente com a música, a pintura, a dança, a escultura, o teatro, etc. Assim como o material da escultura são as formas e os volumes e o da pintura são as formas e as cores, o material básico da literatura é a palavra. Literatura é a arte da palavra. (CEREJA, 2010, p. 18).

Para Alberto Pucheu, professor da UFRJ a literatura é:

Uma serva das intensidades da vida, tornando-se, assim, um caminho vital intensivo e progressivo. Um caminho privilegiado. Por esse caminho, chega-se a vida, não como uma última paragem, estanque, a ser atingida, mas como o que já está, desde sempre, presente, em movimento, mas que não conseguimos, habitualmente, vivenciar, não nos tornamos aptos a, cotidianamente, atualizar sua potência implícita na superfície explícita de nosso corpo rotineiro. (PUCHEU, 2012, p.2)

A concepção acima pode ser verificada no texto “Operário em construção”, de

Vinícius de Moraes e também na música “Construção”, de Chico Buarque. Nelas, os

poetas, por meio de suas sensibilidades, captaram as imagens da realidade que o

cercava e as materializaram no papel através de palavras. Imagens para muitas

pessoas apenas rotineiras, implícitas e, portanto, invisíveis.

1.4 A LITERATURA É MIMESES, É REPRESENTAÇÃO DO REAL

Para Aristóteles e Platão a Literatura é Mimeses, cópia do real. Visão

positivista e realista. Essa teoria influenciou a produção literária até o século XX,

sendo bastante acentuada no Realismo/Naturalismo em que preocupação era tanta

que os escritores procuravam ser fieis a realidade, registrando a em seus livros fatos

e acontecimentos envolvendo espaços e contextos como se fossem máquinas

fotográficas. O romance O Cortiço, de Aluísio de Azevedo, publicado no século XIX

é um grande exemplo. Outro exemplo, em que essa visão pode ser observada

está no Pré-Modernismo, na construção, por exemplo, do personagem Jeca Tatu,

personagem criado por Monteiro Lobato em sua obra Urupês, 1918, o qual possui 14

histórias. O Jeca Tatu é representante do trabalhador rural paulista.

1.5 A LITERATURA É A TRANSPOSIÇÃO DO REAL PARA O ILUSÓRIO

Para o crítico e sociólogo Antônio Candido a Literatura é transposição do real

para o ilusório:

[...] A arte e, portanto a literatura é uma transposição do real para o ilusório por meio de uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as coisas, os seres, os sentimentos. Nela se combinam um elemento de vinculação a realidade natural ou social, e um elemento de manipulação técnica, indispensável à sua configuração, e implicando uma atitude de gratuidade. Gratuidade tanto do criador, no momento de conceber e executar, quanto do receptor, no momento de sentir e apreciar (CANDIDO, 1976, p.53).

Antônio Cândido, na citação acima, discorre sobre a influência do meio social

nas produções literárias, ou seja, para ele a literatura se alimenta da realidade, a

qual é manipulada tecnicamente pela mão do poeta e é transposta de maneira

enfeitada para os textos. Podemos observar essa visão do teórico no poema “Mulata

Isaura”, 1936, do poeta Lobivar Matos. Vejamos:

Texto I MULATA ISAURA (LOBIVAR MATOS)

Mulata Isaura, cuidado com o filho da patrôa. Você pensa que ele gosta de você. Não gosta, não, bôba. Seu riso é falso. Suas promessas são falsas. Seus carinhos são falsos. Tudo nele é falso. Ele quer pegar você como pegou Josefa, aquela morena alegre que morreu de fome abandonada no hospital. Não vá atrás dele, não, bôba. Ele chama você no quarto dele,

despe você com palavras bonitas, Acende em você a fogueira da carne e da volúpia e depois... depois você não resiste, não, mulata bôba. E quando a patrôa vir sua barriga crescendo expulsa você de casa com palavrões e injúrias. Diz que você nunca prestou, que você é uma perdida e que não quer mulher perdida em sua casa. Ai, então, começará o verdadeiro mundo pra você. Sem casa, sem parentes, sem dinheiro, com a barriga cheia chiando de fome, coração despedaçado, humilhada, exausta, desiludida, você irá vender seu corpo numa das ruas da prostituição. Será mais uma „mulher de vida alegre‟, „de vida fácil‟, mais uma „infeliz‟ que bebe iodo, que retalha os pulsos, que incendeia os trapos, para fugir da vida, da miséria da vida. Mulata Isaura, tome cuidado! se você não quer morrer de fome, abandonada, sem remédios, num catre imundo de hospital. Mulata Isaura, tome cuidado! Nos hospitais ainda reina o privilégio e reinam também os preconceitos de raça, as diferenças de cor. E você é de cor, mulata Isaura!

(MATOS, 1936, p. 41-43).

Agora, leia um trecho retirado da história que fala sobre a situação da negra,

segundo Silva (2009, 71)

Texto II Marcadas pelo estigma da escravidão, à elas permanecem destinados os trabalhos sem qualificação, trabalhos que dispensam inclusive a educação e a instrução, sobre elas pesa, além das diferenças de gênero, também as de raça. O que observamos é que com papéis sociais “naturalmente” definidos como adequados, os nexos explicativos da condição da mulher negra remetem, primeiramente à sua condição de escrava. Sobre elas recam tanto as representações em relação ao uso de seu corpo enquanto objeto sexual como aquelas que o vêm adequado ao trabalho doméstico. (SILVA, 2009, p. 71).

1.6 ATIVIDADE DE APLICAÇÃO:

1) Após ler o texto um e o texto dois, responda oralmente: qual é o tema

comum abordado entre eles?

2) Em que aspecto o conceito defendido por Cândido sobre literatura se

manifesta na poesia de Lobivar Matos? Defenda sua resposta por meio de

argumentos eficientes e com exemplos retirados da poesia. Em seus apontamentos,

você também pode estabelecer relações de forma interdisciplinar com a história social

sobre os escravos no Brasil em meados do século XVIII até metade do século XX.

Resposta 1

“Para Antônio Cândido, a literatura „é uma transposição do real para o ilusório por

meio de uma estilização formal, que propõe um tipo arbitrário de ordem para as

coisas, os seres, os sentimentos‟. Esse conceito se manifesta, na poesia “Mulata

Isaura”, de Lobivar Matos, no aspecto em que fala que a mulata é só um objeto do

desejo dos homens brancos (como eram chamados na época) retratando um

acontecimento real e histórico desse tempo, ou seja, a realidade aparece transposta

no poema”. Renan Augusto Monteiro – Aluno do primeiro semestre Curso Técnico

em Informática, 2017.

Resposta 2

“De acordo com Cândido “(...) a literatura é uma transposição do real para o ilusório

por meio de uma estilização formal...”. Assim, a realidade é descrita como é, porém

com a estilização da arte, o que percebemos no texto de Lobivar Matos, como

“...despe você com palavras bonitas. Acende em você a fogueira da carne e da

volúpia e depois...” Neste caso, é retratado a realidade da mulata desde XVIII e XIX

de forma artística” (Felipe F. Pellisari, aluno do primeiro semestre do curso Técnico

em Informática, 2017)

Resposta 3)

De acordo com Antônio Cândido, a literatura é, de certa forma, ser a transposição do

real. Penso que essa teoria se encaixa perfeitamente na poesia “Mulata Isaura”, de

Lobibar Matos, pois nela retrata exatamente o que acontecia naquela época em que

os mulatos eram apenas objetos sexuais para os seus patrões.” ( Felipe Augusto

Monteiro – aluno do primeiro ano do Curso Técnico em Informática 2017).

Resposta 4

Antônio Cândido acredita que a literatura é a transposição do real, onde é retratado

dentro de uma obra literária a precisa visão da realidade.

Na poesia de Lobivar Matos, é estabelecida uma relação com a teoria de Antônio

Cândido, através da exposição do fato de que os rapazes de famílias ricas tinham as

mulatas como principal fonte de prazer, se interessando somente por seus corpos,

caso engravidassem seriam expulsas da casa de seus senhores, pois seriam

consideradas “imprestáveis”. Isso de fato acontecia, por isso há uma relação com a

teoria de Cândido” (Laísa Elena de Barros – aluna do primeiro ano do Curso Técnico

em Informática 2017).

Resposta 5

O conceito de Antônio Cândido de que a literatura traz o real para o ilusório se

manifesta na poesia de Lobivar Matos em que ele aborda a questão social vivida

naquela época, onde as escravas eram manipuladas e usadas como objetos sexuais

pelos senhores de engenho. (Luiz Guilherme Quintanilha Jacinto– primeiro semestre

do curso técnico em metalurgia – 2017).

Resposta 6

“As mulheres brancas em meados do século XVIII, eram vistas apenas para a

reprodução e negros tinham que trabalhar em serviços domésticos e até mesmo ser

amas de leite dos filhos das brancas. Já as mulatas eram consideradas objetos de

diversões dos senhores de fazendas, pois elas eram abusadas e violentadas

chegando até a óbito.

De acordo com Cândido, a arte e a literatura é a transposição do real para o ilusório,

isso quer dizer que a poesia de Lobivar Matos retrata como era antigamente, e como

as mulheres eram vistas. Ela mostra a realidade. (Débora Carvalho de Almeida –

primeiro semestre do Curso Técnico em Metalurgia 2017).

Resposta 7

A poesia de Lobivar Matos, retrata a história de uma mulher mulata que estava, de

certa forma, prestes a ser enganada e, com isso, o autor faz uma certa critica a

sociedade, podendo ser comparada com o período da escravidão, onde as mulheres

brancas eram vistas como damas e de respeito, enquanto as negras e mulatas

serviam apenas para trabalhar e para suprir as necessidades de um homem. Ou

seja, a poesia manifesta a transposição do real, pois ela discorre sobre assuntos da

realidade. (Manoela da Silva Carvalho- primeiro semestre do Curso Técnico em

Metalurgia 2017).

1.7 A LITERATURA MOSTRA OS IMPLÍCITOS DA VIDA.

Segundo especialistas, a literatura mostra aquilo que nenhuma outra ciência

mostra, os implícitos da vida. Porém, tal percepção será atingida somente depois

que o leitor leu um determinado texto e compreendeu os seus enigmas, as suas

metáforas, as suas alegorias. A leitura do conto “O espelho”, de Machado de Assis,

por exemplo, possibilita importantes reflexões sobre as máscaras que fazem parte

do ser humano e que estão implícitas, assim como no conto “O gato Preto”, de

Edgar Allan Poe que, se torna leitura fundamental para aqueles que apreciam ver

materializado numa obra a falsa dignidade de um ser humano. O personagem principal

da última obra mencionada, por exemplo, é alguém que assassinou a própria esposa e,

quando está sendo prestes a ser condenado pelo crime cometido, por meio da

retrospecção psicológica, relembra seu passado, e escreve uma narrativa, porém dando

um jeito de pousar de inocente aos olhos do leitor tentando ludibriá-lo.

Outro exemplo pode ser visto no livro a Metamorfose de Kafka, ao lê-lo,

observam-se os implícitos da vida em evidência no espírito do capitalismo brutal que

norteava toda a ação – que transformava tudo em mercadoria, inclusive as relações

entre as pessoas da família. O Gregor Samsa, personagem protagonista, enquanto

produzia e sustentava a família era querido, após ser inabilitado, por conta da

metamorfose radical ocorrido em sua vida – é desprezado, num quarto, o qual foi

aos poucos se transformando num lugar imundo e sujo, até os lixos da casa era nele

colocado. Não era aceito compartilhar com os familiares os mesmos espaços da

casa e o abandono e os maltratos atingiam profundamente seu ser a ponto de ser

esse um dos principais motivos que o levou a morte.

2 QUAL É A FUNÇÃO DA LITERATURA?

A função da literatura varia conforme o tempo, conforme Ernst Fischer “toda

arte é condicionada pelo seu tempo e representa a humanidade em

consonância com as ideias e aspirações, as necessidades e as esperanças de uma

situação histórica particular” (FISCHER, 1979, p. 17).

Logo, conforme o autor, “em cada fase histórica existe certo espírito unificador

que se comunica a todas as manifestações culturais”. Tais questões aparecem

configuradas nas obras literárias. Isso é resultado do projeto literário feito por

escritores com o desejo de expressar suas ideologias, seus objetivos.

Nesse sentido, a literatura possui várias funções, às vezes explícitas e evidentes, e

às vezes, atrelada a intenções ideológicas e políticas de cada época, ou seja, ela

pode estar a serviço do sistema do poder dominante ou ela pode possuir caráter

subversivo e revolucionário, etc.

FUNÇÃO PSICOLÓGICA

Antônio Cândido (2002) defende a ideia de que a literatura possui algumas

funções, dentre elas, estão a função psicológica e a função formadora.

A função psicológica está ligada a “necessidade universal de ficção e de

fantasia”. Segundo ele, essa necessidade é tão relevante que aparece ao lado das

necessidades mais elementares e fundamentais dos seres humanos. E essa

necessidade se manifesta em qualquer pessoa independente de distância temporal

ou faixa etária, pois “ocorre no primitivo e no civilizado, na criança e no adulto, no

instruído e no analfabeto”. (CÂNDIDO, 2002, p. 83).

Segundo ele, essa necessidade de ficção pode ser nutrida por via oral ou

visual diariamente. No mundo primitivo, nas narrativas populares, nos contos

folclóricos, nas lendas, nos mitos, e na modernidade por meio dos textos escritos,

como: como conto, romance, poesia, e também pela imagem visual ou auditiva:

novela, filme, cinema, teatro, música.

Nesse sentido, as definições de Antônio Candido sobre as funções da

literatura, podem responder as perguntas feitas por Ernst Fischer elencadas no

fragmento transcrito abaixo:

(...) Milhões de pessoas leem livros, ouvem músicas, vão ao teatro e ao cinema. Por quê? Dizer que procuram distração, divertimento, a relaxação, é não resolver o problema. Por que distrai, diverte e relaxa o mergulhar nos problemas e na vida dos outros, o identificar-se com uma pintura ou música, o identificar-se com os tipos de um romance, de uma peça ou de um filme? Por que reagimos em face a essas „irrealidades‟ como se elas fossem a realidade intensificada? Que estranho, misterioso divertimento é esse? E, se alguém nos responde que almejamos escapar de uma existência insatisfatória para uma existência mais rica através de uma experiência sem riscos então uma nova pergunta se apresenta: por que nossa própria existência não nos basta? Por que esse desejo de completar a nossa vida incompleta através de outras figuras e de outras formas? Por que, da penumbra do auditório, fixamos o nosso olhar admirado em um palco iluminado, onde acontece algo que é fictício e que tão completamente observe a nossa atenção? (FISCHER, 1979, p.12).

Fischer considera a arte e a literatura um fenômeno surpreendente, é uma

forma de colocar o homem em equilíbrio com o meio circundante e ela é

extremamente necessária para entender o mundo.

FUNÇÃO FORMADORA/HUMANIZADORA

Antônio Cândido defende outra função da literatura que é a função formadora

ou humanizadora, pois ela atua como instrumento de educação, de formação do

homem. Veja:

[...] as camadas profundas da nossa personalidade podem sofrer um bombardeio poderoso das obras que lemos e que atuam de maneira que não podemos avaliar. Talvez os contos populares, as historietas ilustradas, os romances policiais ou de capa-e-espada, as fitas de cinema, atuem tanto quanto a escola e a família na formação de uma criança e de um adolescente. (CÂNDIDO, 2002, p. 20).

Os inúmeros contos de fábulas têm essas características, pois eles, conforme

pesquisas, influenciam na formação da personalidade moral e no caráter das

pessoas, especialmente, das crianças, pois as auxiliam no processo psíquico e

também as ajudam a resolver conflitos que as atingem em seu mundo real, além

disso, ajudam no desenvolvimento emocional e imaginativo.

FUNÇÃO CATÁRTICA

Uma das funções da literatura, conforme Aristóteles, é provocar a catarse

(purgação dos sentimentos) identificação do leitor com o que lê ou vê. Por isso a

arte, dentro da concepção de Aristóteles tinha que ser mimética, ou seja, parecida

com o real, quanto mais igual ao real, mais poder de catarse provocava no

telespectador. Para cumprir com a função catártica, era recomendado, inclusive,

escrever de forma objetiva evitando o emprego de figuras de linguagem para evitar a

polivalência de sentidos, até porque a literatura escrita naquele contexto estava

restrita aos gêneros dramáticos, feitos para serem representados, como as tragédias

e as comédias. Nesse caso, o entendimento precisava ser imediato, visto que o

público não tinha tempo de decifrar metáforas, caso existissem. Logo, para a catarse

acontecer, ela está subordinada tanto a quem produz, por exemplo , a literatura,

como também da recepção e vice versa e ela acontece quando um texto literário ou

não mexe com as emoções do leitor ou do ouvinte, provocando lágrimas, sensação

de tristeza ou de felicidade, ou sentimento de justiça, revolta, etc...

Nesse sentido, é a catarse, ou seja, a identificação do público com o que lê,

vê ou assiste que faz com que ele permaneça, por exemplo, na leitura de um livro

até o fim. É a catarse que faz ele rir de alegria quando o bandido é punido, mesmo

na ficção, ou quando faz ele chorar de emoção quando a mocinha consegue se

casar com seu grande amor, mesmo após tantas situações contrárias.

FUNÇÃO EDUCATIVA E MORALIZANTE – SUBORDINADA A IDEOLOGIA DOMINANTE DO PODER

Um exemplo de obra literária que tem por finalidade servir de modelo

educacional e moralizante pode ser vista no mundo primitivo grego: A tragédia

intitulada Édipo Rei escrita por volta de 427 a.C. pelo dramaturgo Sófocles. Édipo

Rei é um personagem dessa tragédia pertencente ao teatro da Grécia Antiga. Elen

matou seu pai Laios, rei de Tebas, e casou-se com a sua própria Mãe, Jocasta e

com ela teve quatro filhos. Todavia, ele fez tudo isso sem saber que Laios era seu

pai, e que Jocastra era sua mãe.

Para entender como tudo aconteceu é necessário retroceder na narrativa e

presentificar a seguinte informação. O personagem Édipo não era qualquer um, era

alguém que estava bem acima da média, era importante socialmente, era Filho

biológico de Laio, rei de Tebas, e Jocasta, e, filho adotivo de Políbo, rei de Corinto, e

Mérope. Édipo foi condenado por uma maldição rogada por Pélope, rei de Élida, a

seu pai Laio que se envolveu numa paixão por Crisipo, filho de Pélope, o qual por

medo da reação do pai se suicida. Pélope, diante da situação condenou Laio a um

trágico destino. Afirmou que ele seria morto pelo próprio filho e que este se casaria

com sua esposa.

E o rei de Tebas, Laios juntamente com sua esposa Jocasta, mesmo sabendo

do destino trágico que lhes eram destinados, resolveram contrariar os conselhos

passados pelo oráculo e, assim mesmo, tiveram um filho. Mas quando a criança

veio ao mundo, com medo de que a profecia se efetivasse, logo após o nascimento,

Laios entregou o menino a um pastor de sua mais alta confiança e ordenou que o

matasse. No entanto, o pastor não teve coragem de obedecer às ordens e, cheio de

piedade, entregou aos pais adotivos. Todavia, tudo estava perfeitamente bem até a

fase adulta, mas em um determinado dia, Édipo ouviu de um bêbado que não era

filho verdadeiro do rei Políbo e que não era digno de receber a herança.

Édipo querendo saber a verdade foi buscar esclarecimentos e, então,

procurou o oráculo de Apolo e, nesse momento, ficou sabendo da profecia sobre seu

destino. Foi lhe revelado que ele mataria seu pai e casaria com sua própria mãe.

Com medo de que a profecia se realizasse, fugiu de casa, pois não sabia que era

filho adotivo. Então, ele viajou rumo a Tebas tentando fugir do destino trágico, mas

sem saber, no meio do caminho, se envolveu numa confusão com muitos

desconhecidos e matou todos e, dentre eles, estava o seu verdadeiro pai.

Assim que chegou a Tebas, Édipo afastou da cidade uma esfinge e seus

enigmas e, por isso, recebeu como recompensa a nomeação de rei e também

recebeu como esposa a recém-viúva- a rainha Jocasta. Sem saber que ela era sua

verdadeira mãe, casou-se com ela e tiveram juntos quatro filhos.

Passaram-se vários anos, e ele reinou com sucesso, contudo em um

determinado momento a cidade começou a passar por dificuldades. A fertilidade da

terra ficou comprometida, não havia chuva, as plantações não se desenvolviam, as

mulheres não engravidavam, etc. E os povos tebanos, diante de tal calamidade,

resolvem consultar o oráculo de Delfos, o qual respondeu pelo deus Apolo. Os

tebanos foram alertados sobre os motivos dos problemas que estavam atacando a

cidade de Tebas: alguém estava provocando a ira dos deuses e esse alguém era o

assassino de Laios, o qual ainda estava na cidade e precisava urgentemente ser

banido. Acrescentou mais ainda, a cidade só iria voltar a ter paz e progredir

novamente após a descoberta e punição de tal assassino.

O povo tebano procurou o rei Édipo e pediu ajuda. Édipo decidiu livrar seu

reino de desse mal e descobrir quem e o assassino. Então, ele fez uma declaração

proibindo que qualquer pessoa da região oferecesse cobertura ou conversa ao

assassino, fosse ele quem fosse. Ordenou que ninguém o aceitasse em seus lares e

muito menos dividissem com ele água ou alimento e, disse mais ainda:

(...) rogo aos céus, solenemente, que o assassino, seja ele que for, sozinho em sua culpa ou tenha cúmplices, tenha uma vida amaldiçoada e má, pela sua maldade, até o fim de seus dias. Quanto a mim, se estiver o criminoso em minha casa, privando comigo, eu espero que sofra as mesmas penas que dei para os demais. (SOFÓCLES, 2005, p. 18).

Então, O rei Édipo chamou seu cunhado Tirésias para fazer a investigação. E

ele, após intensivas averiguações, revelou que o assassino de Laios era o próprio

Édipo. Édipo e Jocasta, diante da trágica verdade, entraram em desconsolação e

profunda angústia. Ela se suicidou e ele se auto puniu furando os seus próprios

olhos e, em seguida, deixou o palácio e foi viver exilado a margem de Tebas.

Essa narrativa cumpre a função educativa e moralizadora, no sentido de

pertencer, aos tempos em que os elementos míticos dominava a mentalidade das

pessoas. Tempo em que não havia leis como existem na atualidade e nem religião,

tempo em que eram os deuses que atuavam como verdadeiras potências morais

intervindo na vida das pessoas, por meio do oráculo, dizendo o que era certo ou

errado e resolvendo os casos de consciência. E as pessoas acreditavam,

cegamente, nos oráculos fazendo o que era dito para fazer e, não adiantava fugir do

destino, pois de qualquer forma ele se concretizaria como foi o caso de Lais e Édipo,

ambos tentaram, mas a voz do oráculo prevaleceu.

FUNÇÃO COGNITIVA

A literatura, assim como qualquer outra disciplina tem como objetivo transmitir

informações, trazer conhecimentos. Ao ler as produções literárias desde a

antiguidade, passando pelas eras de estilos, como: trovadorismo, humanismo,

renascimento, romantismo, modernismo, etc. Os leitores aprendem não só as

características desses períodos literários, como também adquirem conhecimentos

sobre aspectos históricos, sociais e culturais dos contextos em que elas foram

produzidas, os quais aparecem configurados em suas imanências. Vejamos um

exemplo, na poesia A Rosa de Hiroshima, de Vinícius de Moraes, a qual foi escrita

no Modernismo brasileiro. O leitor ao lê-la, experimenta não só o prazer de apreciar

a linguagem estética literária, como também pode atualizar seus conhecimentos

sobre acontecimentos históricos ao qual ela alude e remete.

FUNÇAO POLÍTICO – SOCIAL - A LITERATURA COMO DENÚNCIA DA

REALIDADE

A literatura também pode ser meio para mostrar intenções políticas e sociais

e também pode servir para denunciar os conflitos presentes na realidade. O poema

“O analfabeto Político”, de Bertolt Brecht, pode ser tida como um exemplo, pois nele,

a tese do autor já exposta no título vem carregada de indignações. Tais

descontentamentos são estendidos aos que estão totalmente descompromissados

com o cenário político em sua volta. O autor, por meio da linguagem acentuada de

traços realistas, carregada de adjetivos agressivos, faz sobrepor os resultados

negativos causados pela alienação política dos seres humanos alienados e pacatos.

LEITURA DE OBRAS LITERÁRIAS: UMA PROPOSTA ATRELADA AOS

MEIOS TECNOLÓGICOS

O ensino de leitura atrelado à tecnologia é indispensável na

contemporaneidade e para mim ela foi e está sendo uma “SUPER FERRAMENTA” e

um “MEGAINSTRUMENTO” para incentivar meus alunos a ler. Nessa proposta de

ensino, eu os sugeri que fizessem vídeos relâmpagos de no máximo cinco minutos

de duração com a finalidade de divulgar obras literárias que leram e promover a

leitura. Os vídeos foram feitos e divulgados, primeiro, em sala de aula e, depois, por

meio de data show e aparelhos televisivos disponibilizados nos corredores do

Câmpus do IFMS e em outros espaços de maiores circulações durante o recreio e

horários de chegada e saída. Também foi divulgados em eventos de literatura local e

em Congressos Regionais. Essa prática está sendo muito profícua e já está

surtindo efeitos positivos.

O trabalho dos alunos consistiu falar sobre as obras que leram, apontando

seus pontos de vistas de maneira sedutiva e, nele foram abordadas algumas obras,

como: “O Pequeno Príncipe, do Francês Antoine de S.Exupéry, pela aluna Amanda

Kukiel Moura; A Menina que Roubava livros, de Markus Zusak , pela aluna Jaqueline

Mairene Molina de Souza Araújo, O Mundo de Sofia, de Jostein Gaarder, pelo aluno

Francesco Pagani Galvão; O Menino de Pijama Listrado, de John Boyne, pela aluna

Laísa Helena de Barros Monteiro; O Morro dos Ventos Uivantes, de Emily Bronte,

pela aluna Carina Costa do Nascimento; Capitães de Areia, de Jorge Amado, pela

aluna Luíza dos Santos Oliveira; A Paixão, segundo GH, de Clarice Lispector, pela

aluna Maria Eduarda da Silva Moreira; A metamorfose, de Kafka, pelo aluno Marcos

Vinícius Penha de Oliveira, dentre vários outros. No total foram 80 obras, lidas e

divulgadas pelos próprios alunos – projeto realizado com muita dedicação, seriedade

e afinco.

CONCLUSÃO

A leitura tem sido motivo de preocupação de pais, de professores e da

sociedade em geral, visto que ela é de fundamental importância para o

desenvolvimento intelectual dos indivíduos, mas nem sempre ela é efetivada de

maneira satisfatória na escola e, se formos procurar as razões que justifique a

situação encontraremos inúmeros: há falta de livros nas bibliotecas; os alunos

acostumados com a praticidade dos meios tecnológicos que oferecem tudo pronto,

não leem quando são solicitados, apenas valem-se de resumos prontos, etc.

Portanto, essas poucos aulas, foi elegido como tema protagonista a Literatura, com

a finalidade de despertar reflexões e o interesse dos alunos em conhecê-la. Por

meio delas, eles puderam ter algumas noções sobre o que literatura e qual a sua

função na visão de teóricos da literatura, e de pessoas pertencentes a diferentes

campos de atuação. E para cumprir com tal finalidade, a aula teve como norte as

seguintes perguntas: o que é literatura e qual é a sua função? Foi evidenciado que a

conceituação da literatura bem como sua função mudaram conforme o tempo, pois

em cada fase histórica existiu certo espírito unificador cultural e social específico, o

qual apareceu configurado nas manifestações literárias. Foi mostrado que o assunto,

desde os tempos mais remotos sempre despertou o interesse de pesquisadores das

mais diversas áreas: filósofos, críticos, historiadores, literatos, contudo, ele ainda é

um assunto que permanece aberto, visto que, apesar de toda discussão feitas, não

existem conceitos afirmados, apenas definições. As explicações teóricas foram

acompanhadas de textos literários, crônicas, poesias, música, contos, romances, os

quais possuíam em sua imanência características que estavam em consonância

com as teorias mostradas e, no final, foi aplicada e desenvolvida uma proposta de

leitura de obras literárias atreladas às tecnologias, para as duas turmas acima

mencionadas na qual eles liam as obras e, depois gravam vídeos sobre elas, e

divulgavam por meio de eventos culturais e também através de aparelhos televisivos

disponibilizados nos corredores do Campus do IFMS. A proposta pensada visou

estimular práticas de leituras dinâmicas de obras literárias em sua totalidade opostas

ao modelo estático – restrita a fragmentos de textos presentes em livros didáticos

voltados para exercícios gramaticais ou algo análogo. Com a gravação dos vídeos

eles tiveram a oportunidade não só de vivenciar as emoções propiciadas pelas

narrativas, como também de desenvolver três competências da língua Portuguesa

que estão configuradas nos PCNs, como a leitura, a oralidade e a escrita.

REFERÊNCIAS

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