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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO A LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS NOS CONTRATOS BANCÁRIOS THIAGO CUSTÓDIO PEREIRA Itajaí, junho de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS NOS CONTRATOS BANCÁRIOS

THIAGO CUSTÓDIO PEREIRA

Itajaí, junho de 2006

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UNIVERSIDADE DO VALE DO ITAJAÍ – UNIVALI CENTRO DE CIÊNCIAS JURÍDICAS, POLÍTICAS E SOCIAIS - CEJURPS CURSO DE DIREITO

A LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS NOS CONTRATOS BANCÁRIOS

THIAGO CUSTÓDIO PEREIRA

Monografia submetida à Universidade do Vale do Itajaí –

UNIVALI, como requisito parcial à obtenção do grau de Bacharel em

Direito. Orientador: Professor Msc Marco Aurélio Gastaldi Buzzi

Itajaí, maio de 2006

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AGRADECIMENTO

A Deus por não ter me deixado desviar tanto

assim do meu caminho.

Aos meus pais por acreditarem em mim,

mesmo nos momentos em que não queriam

mais acreditar.

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DEDICATÓRIA

Aos meus pais, que renunciaram de muita

coisa nesses cinco anos para que eu pudesse

me graduar.

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"Na primeira noite eles se aproximam e

roubam uma flor de nosso jardim. E não

dizemos nada; Na segunda noite já não se

escondem, pisam as flores, matam o nosso

cão e não dizemos nada. Até que um dia, o

mais frágil deles entra sozinho em nossa casa,

rouba-nos a luz, e, conhecendo o nosso

medo, arranca-nos a voz da garganta. E já

não podemos dizer mais nada”.

Eduardo Alves da Costa

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TERMO DE ISENÇÃO DE RESPONSABILIDADE

Declaro, para todos os fins de direito, que assumo total responsabilidade

pelo aporte ideológico conferido ao presente trabalho, isentando a

Universidade do Vale do Itajaí, a coordenação do Curso de Direito, a

Banca Examinadora e o Orientador de toda e qualquer responsabilidade

acerca do mesmo.

Itajaí, maio de 2006.

Thiago Custódio Pereira Graduando

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PÁGINA DE APROVAÇÃO

A presente monografia de conclusão do Curso de Direito da Universidade

do Vale do Itajaí – UNIVALI, elaborada pelo graduando Thiago Custódio

Pereira, sob o título “A limitação dos juros remuneratórios nos contratos

bancários”, foi submetida em 12/06/06 à banca examinadora composta

pelos seguintes professores: Prof. Msc Marco Aurélio Gastaldi Buzzi, Prof.

Msc Eduardo Mattos Gallo Júnior e Prof. Msc Jefferson Custódio Próspero, e

aprovada com a nota 9,5 (nove e meio).

Itajaí, 12 de junho de 2006.

Professor Msc Marco Aurélio Gastaldi Buzzi Orientador e Presidente da Banca

Professor Antonio Augusto Lapa Coordenação da Monografia

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ROL DE ABREVIATURAS E SIGLAS

A.A Ao ano

ADI Ação Direta de Inconstitucionalidade

BC Banco Central

CC/1916 Código Civil Brasileiro de 1916

CC/2002 Código Civil Brasileiro de 2002

CDC Código de Defesa do Consumidor

CF Constituição Federal

CMN Conselho Monetário Nacional

COPOM Comitê de Política Monetária

FEBRABAN Federação Brasileira dos Bancos

LICC Lei de Introdução do Código Civil

RESP Recurso Especial

SELIC Sistema Especial de Liquidação e Custódia

STJ Superior Tribunal de Justiça

SFN Sistema Financeiro Nacional

STF Supremo Tribunal Federal

TJSC Tribunal de Justiça de Santa Catarina

TJRS Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul

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ROL DE CATEGORIAS

Rol de categorias que o Autor considera estratégicas à

compreensão do seu trabalho, com seus respectivos conceitos

operacionais.

Contrato

Ato jurídico em que duas ou mais pessoas se obrigam a dar, fazer ou não

fazer alguma coisa, verificando assim a constituição, modificação ou

extinção do vínculo patrimonial.

Atividade bancária

Consiste na intromissão entre os que dispõem capitais para

sistematicamente, distribuí-los por meio de operações de crédito

Contrato bancário

Acordo entre Banco e cliente para criar, regular ou extinguir uma relação

que tenha por objeto a intermediação do crédito.

Bancos

Empresas comerciais, cujo objetivo principal consiste na intromissão entre

os que dispõem capitais para sistematicamente, distribuí-los por meio de

operações de crédito.

Relação de consumo

É um regime ligado com a aquisição de um bem ou de um serviço,

valendo-se desta forma, ao Direito Econômico, enquanto balizador de

atividades relacionadas ao objeto de defesa e proteção do Direito do

Consumidor e seus efeitos no ordenamento jurídico pátrio.

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Juros

É o rendimento do capital expresso em dinheiro, tal como o definem os

doutrinadores. Correspondem ao preço do aluguel do dinheiro por

determinado período de tempo, nele encontrando-se embutido também

o risco.

Juros remuneratórios

Os juros compensatórios, ou remuneratórios ou lucrativos são devidos em

razão do empréstimo mesmo, e não do dano emergente ou do lucro

cessante. Este é o que figura no contrato bancário.

Comissão de permanência

É a somatória (o total) dos ônus a cargo do devedor moroso, visando

compensar o credor dos prejuízos com o atraso.

Spread bancário

Constitui-se na diferença entre o custo da captação do dinheiro por um

banco e a taxa de juros por ele cobrada dor tomadores de empréstimo

Taxa de juros

Relação percentual entre os juros cobrados, por período de tempo, e o

capital emprestado.

Juro de Mercado

São as taxas de juros que o mercado financeiro está usando em

determinado momento para empréstimos e aplicações por um período

determinado (dias, meses ou anos).

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SUMÁRIO

RESUMO ........................................................................................... XII

INTRODUÇÃO .................................................................................... 1

CAPÍTULO 1 ...................................................................................... 3

NOÇÕES GERAIS SOBRE CONTRATOS.............................................. 3

1.1 BREVES CONSIDERAÇÕES ...............................................................................3 1.2 DOS CONTRATOS EM GERAL ..........................................................................5 1.3 DOS CONTRATOS BANCÁRIOS .....................................................................10 1.3.1 DEFINIÇÃO DE CONTRATOS BANCÁRIOS...............................................................11 1.3.2 PRINCIPAIS CONTRATOS BANCÁRIOS ...................................................................12 1.4 A RELAÇÃO DE CONSUMO NA ATIVIDADE BANCÁRIA..............................18 1.5 A INCIDÊNCIA DO CDC ÀS ATIVIDADES BANCÁRIAS ................................25

CAPÍTULO 2 .................................................................................... 29

NOÇOES GERAIS SOBRE JUROS...................................................... 29

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA .................................................................................29 2.2 CONCEITO DE JUROS ....................................................................................33 2.3 DAS ESPECIES DE JUROS................................................................................34 2.3.1 JUROS REMUNERATÓRIOS OU COMPENSATÓRIOS ...................................................36 2.3.1.1 Juros capitalizados .................................................................................37 2.3.2 Juros moratórios.........................................................................................40 2.3.3 Comissão de permanência........................................................................41 2.4 juros e spread bancário no Brasil ...............................................................42 2.5 A taxa SELIC e os juros remuneratórios.....................................................46 2.6 A formação da taxa de juros remuneratórios .............................................47

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CAPÍTULO 3 .................................................................................... 50

A LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS ............................... 50

3.1 OS ATOS NORMATIVOS DO BC E DO CMN .................................................50 3.2 A LEI DE REFORMA BANCÁRIA E A COMPETENCIA DO CMN.....................52 3.3 OS JUROS DE MERCADO, A LEI DE ECONOMIA POPULAR E OS JUROS REMUNERATÓRIOS ...............................................................................................54 3.4 A LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS NOS CONTRATOS BANCÁRIOS .........................................................................................................56

CONSIDERAÇÕES FINAIS.............................................................. 61

REFERÊNCIA DAS FONTES CITADAS .......................................... 63

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RESUMO

Trata-se de uma monografia para a conclusão do curso de graduação em Direito, abordando temas a respeito da limitação dos juros remuneratórios nos contratos bancários, analisando os aspectos da impossibilidade da livre fixação em detrimento do disposto na legislação pátria. Analisam-se alguns aspectos do Direito Contratual, procurando-se demonstrar a relativização da força obrigatória dos contratos, bem como a definição dos contratos de natureza bancária, além da demonstração da relação de consumo existente entre as instituições financeiras e seus clientes. Procura estabelecer alguns conceitos sobre juros, seus aspectos mais relevantes e principais modalidades, a diferenciação entre juros remuneratórios e compensatórios, além de uma breve analise sobre o spread bancário. Por fim, aborda-se a limitação dos juros remuneratórios nos contratos bancários analisando os atos normativos do Conselho Monetário Nacional e sua competência para tanto, passando pela Lei de Reforma Bancária e a possibilidade de limitação dos juros utilizando-se o Código Civil.

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INTRODUÇÃO

A presente Monografia tem como objeto apresentar

um apanhado de informações que permitam analisar a limitação da taxa

de juros no Brasil.

O seu objetivo é mostrar a atitude cometida pelos

bancos ao cobrarem vultuosas taxas de juros e estudar qual seria a taxa

de juros mais adequada para balancear a desigualdade entre as partes.

Para tanto, principia–se, no Capítulo 1, fazendo uma

breve digressão pela história nacional e posteriormente levantar as

definições de contratos em geral e então de contratos bancários sob suas

principais formas apresentadas ao consumidor, bem como demonstrar a

nítida relação de consumo na atividade bancária.

No Capítulo 2, apresentando os principais conceitos

sobre juros, principais formas bem como sua formação.

No Capítulo 3, indicando os atos normativos do Banco

Central do Brasil, abordando a Lei de Reforma Bancária sob o aspecto de

sua competência e avaliar a possibilidade de fixação da taxa de juros

pelo Código Civil.

O presente Relatório de Pesquisa se encerra com as

Considerações Finais, nas quais são apresentados pontos conclusivos

destacados, seguidos da estimulação à continuidade dos estudos e das

reflexões sobre limitação dos juros remuneratórios nos contratos bancários.

Para a presente monografia foram levantadas as

seguintes hipóteses:

� Possibilidade de se limitar a taxa de juros à taxa Selic.

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� Possibilidade de se limitar os juros remuneratórios pelo

Código Civil.

Quanto à Metodologia empregada, registra-se que, na

Fase de Investigação foi utilizado o Método Indutivo, e, o Relatório dos

Resultados expresso na presente Monografia é composto na base lógica

Indutiva.

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CAPÍTULO 1

NOÇÕES GERAIS SOBRE CONTRATOS

1.1 BREVES CONSIDERAÇÕES

Primeiramente antes de adentrar no tema

propriamente dito, faz-se crucial tecer um breve retrospecto da história

nacional, para analisar os fundamentos das normas jurídicas e para melhor

compreensão do ambiente em que estas foram escritas, possibilitando

melhor compreensão do trabalho.

Na abordagem do ministro Ives Gandra1:

O Brasil de hoje é fruto do que as gerações passadas

plantaram: as grandezas ou deficiências de nossa pátria

podem ser explicadas pelas ações, nobres ou vis, e omissões

na implementação do projeto de construção de uma

sociedade próspera e justa.

Com a promulgação da primeira Constituição

brasileira (a de 1.824), houve a instituição do Poder Moderador, dando ao

imperador poderes absolutos de controle sobre o Legislativo e o Judiciário.

Muitas guerras e revoltas marcaram o primeiro e o

segundo reinado, seguindo então com a proclamação da República,

onde eminente jurista baiano Rui Barbosa figura como um dos principais

autores da Constituição de 1891. Com a Revolução de Trinta, sobrevêm a

carta constitucional de 1934, promulgada na Era Vargas, que para

manter-se no poder fecha o Congresso e outorga nova constituição

(1.937).

1 MARTINS FILHO, Ives Gandra da Silva. 500 anos de história do Brasil, p. 5.

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Após o período da ditadura e com a ascensão de um

civil à Presidência da República (1.985) por eleição indireta, o Congresso

deixa de aprovar emenda constitucional para que sejam feitas diretas

para presidente.

Passados os anos escuros da ditadura, já sem a mão

opressora que antes assolava os cidadãos, no ano de 1.988, a Assembléia

Nacional Constituinte promulga a vigente Carta Magna, denominada

Constituição Cidadã.

O Senador Ramez Tebet2, em artigo publicado na

página da Fundação Ulisses Guimarães aduz que:

Com todos os seus eventuais defeitos, a Constituição de

1988 é a mais democrática e inclusiva de todas as Cartas

de nossa História, e seus capítulos atinentes, por exemplo,

aos direitos individuais e sociais, à defesa das instituições, ao

meio-ambiente, entre outros, contam-se entre as mais

avançadas propostas legislativas do mundo. É esse seu

caráter democrático, com firme posicionamento em favor

da participação ativa da cidadania na vida institucional do

país, que a fez merecer o nome de Constituição Cidadã,

que lhe foi dado pelo inesquecível Ulysses Guimarães no ato

de sua promulgação. Esse caráter, que forma o verdadeiro

núcleo espiritual da Carta de 88, é que deve ser defendido

tenazmente por todos os verdadeiros democratas do Brasil.

Daí o surgimento de uma nação que tem como

objetivos “construir uma sociedade livre, justa e solidária; garantir o

desenvolvimento nacional; erradicar a pobreza e a marginalização e

reduzir as desigualdades sociais (...)"3

Envolto neste espírito, o constituinte incumbiu ao

Sistema Financeiro Nacional a tarefa de “(...) promover o desenvolvimento

2 TEBET, Ramez. Os quinze anos da Constituição Cidadã. Disponível em: http://www.fugpmdb.org.br/r2003rtebet.htm. Acesso em 29 de setembro de 2005 3 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 3º.

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equilibrado do País e servir aos interesses da coletividade (...)4” e logo a

seguir, no agora revogado § 3º do artigo 192, estabeleceu que:

As taxas de juros reais, nelas incluídas comissões e quaisquer

outras remunerações direta ou indiretamente referidas à

concessão de crédito, não poderão ser superiores a doze

por cento ao ano; a cobrança acima deste limite será

conceituada como crime de usura, punido, em todas as

suas modalidades, nos termos que a lei determinar.5

Porém, devido ao Sistema Financeiro Nacional ser

controlado por um restrito número de pessoas que estão no topo da

pirâmide social, percebe-se a cobrança de vultuosas taxas de juros que

possibilitam lucros líquidos cada vez maiores.

1.2 DOS CONTRATOS EM GERAL

Cabe primeiramente definir o que seja o contrato e

como se dá a sua formação, para então se discutir sobre as taxas de juros

e sua limitação. É preciso dizer que para que se tenha um contrato válido,

faz-se necessário que se tenha um acordo de vontades claramente

concluído, com o fim de adquirir, resguardar ou extinguir direitos.

Para alguns autores como Fábio Ulhoa Coelho6, “os

contratos são fontes de obrigações”, ou ainda conforme palavras de

Maximilianus Cláudio Américo Fürer7 contrato ”é a convenção

estabelecida entre duas ou mais pessoas para constituir, regular ou

extinguir entre elas uma relação jurídica patrimonial”.

Obrigação nada mais é que a conseqüência que o

direito atribui a um determinado fato. Da mesma forma que quando

4 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Artigo 192. 5 BRASIL. Constituição da República Federativa do Brasil. Parágrafo 3º do Artigo 192, revogado pela Emenda Constitucional nº 40. 6 COELHO, Fábio Ulhoa. Manual de direito comercial, p. 415. 7 FÜRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de obrigações e contratos, p. 27.

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alguém causa dano culposamente a uma pessoa, a este deve indenizar,

aquele que obter renda, fica obrigado a pagar o respectivo imposto.

Nas palavras de Wagner Veneziani Costa8:

contrato é o ato jurídico em que duas ou mais pessoas se

obrigam a dar, fazer ou não fazer alguma coisa, verificando

assim a constituição, modificação ou extinção do vínculo

patrimonial. É o contrato, na concepção moderna, ato

jurídico bilateral que gera obrigações para ambas as partes.

O acordo é a tônica dos contratos, cuja finalidade é

adquirir, resguardar, transferir, modificar ou extinguir direitos.

Ao se firmar um contrato, seja por instrumento público

ou por instrumento particular, faz-se lei entre as partes, onde ganha força

o brocardo pacta sunt servanda9, passando a assumir todas as obrigações

convencionadas, segundo a vontade manifestada.

Convém ressaltar que o princípio da pacta sunt

servanda não possui mais o seu caráter imperativo, onde agora é possível

analisar com base no princípio da boa-fé, anulando as cláusulas que

sejam demasiadamente onerosas.

Porém ao analisar a evolução do contrato, mister

salientar que o modelo liberal10 que ainda continua a existir, não atente a

sociedade hodiernamente formada.

Neste ponto, as palavras de Rogério Ferraz Donnini11

perfeitamente se encaixam no contexto e ao escopo da presente

monografia ao afirmar que:

8 COSTA, Wagner Veneziani. Contratos: manual prático e teórico, p. 22. 9 Os pactos devem ser observados. 10 Ns palavras de Nelson Nery Júnior, in Código brasileiro de defesa do consumidor, p. 275, o liberalismo marcante do século passado fez do contrato o mais importante dos negócios jurídicos realizados entre as pessoas, vinculando as partes juridicamente, mas nem sempre de forma ética.

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Não se pode mais admitir que uma relação contratual

iníqua, celebrada com ausência de boa-fé e com

prestações desproporcionais suportadas por uma das

partes, seja considerada válida, sob o argumento de que

existe autonomia privada e as partes são livres para

contratar. Aliás, há muito tempo que esse modelo liberal de

contrato causa perplexidade àqueles que buscam a justiça,

pois situações absolutamente desiguais e desproporcionais,

que causavam prejuízos a um dos contratantes, eram

consideradas legais, embora evidentemente imorais.

Com o fim de evitar abusos nas relações obrigacionais,

a autonomia privada passou a ser contida pela interferência do Estado,

sob a forma do dirigismo contratual12. Não há nenhuma intenção de

recusar o direito a contratar, muito menos negar a liberdade de fazê-lo,

mas tão somente a redução da liberdade de contratar em prol do

princípio da ordem pública.

Sobre a necessidade de intervenção estatal, Paulo

Maximilian Wilhelm Schonblum13, escreve:

Entretanto, a busca pelo lucro de forma desmedida fez com

que os empréstimos fossem efetuados com percentuais de

remuneração (juros) cada vez maiores, tornando-se a

prática, uma forma rentável de abuso, cometido contra os

necessitados. com isso, passou o Estado a intervir na política

financeira (até então não sujeita a controle), coibindo os

excessos, sendo esta (seus limites, formas etc.), talvez, a mais

controvertida questão jurídica no estudo do direito

bancário.

O autor mostra de forma clara que o maior interesse

das instituições financeiras é afastar a possibilidade de ajuste do

11 DONNINI, Rogério Ferraz. A revisão dos contratos no código civil e no código de defesa do consumidor, p. 6. 12 Segundo De Plácido e Silva, in Vocabulário jurídico, p. 278, o dirigismo contratual é a limitação à atividade contratual imposta pelo Estado, à autonomia contratual através de leis. 13 SCHONBLUM, Paulo Maximilian Wilhem. Contratos bancários, p. 242.

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contratado. Quer-se carta branca para que se possam impor taxas ao

consumidor que este não pode discutir.

Conforme preleciona Maximilianus Cláudio Américo

Fürer 14:

Incidem sobre o contrato três princípios básicos: a) o da

autonomia da vontade, significando a liberdade das partes

na estipulação do que lhes convenha; b) o da supremacia

da ordem pública, significando que a autonomia da

vontade é relativa, sujeita que está à lei e aos princípios da

moral e da ordem pública; c) o da obrigatoriedade do

contrato, significando que o contrato faz lei entre as partes

(pacta sunt servanda).

Com base no princípio da supremacia da ordem

pública, iniciou-se a edição de leis a fim de garantir, em setores de vasta

importância, a ordem pública, os bons costumes e a moral. São exemplos

desta aplicação do referido princípio a Lei do inquilinato, a Lei da Usura, a

Lei da Economia Popular, o Código de Defesa do Consumidor e outras.

De fato, o contrato representa o centro da vida dos

negócios, atuando em diversas ocasiões da vida econômica. Por tal

motivo, que se deve atentar para o cumprimento da função social do

contrato.

Miguel Maria de Serpa Lopes15 destaca;

Cumpre atentar, ainda, para a relevante circunstância de

que a hipertrofia da liberdade convencional e unilateral, isto

é, sempre em proveito de uma das partes, rompe,

fatalmente, o equilíbrio visado pelo Direito, através do outro

princípio merecedor do mesmo culto individualista, a

igualdade. O fortalecimento de uma vontade anêmica,

14 FÜRER, Maximilianus Cláudio Américo. Resumo de obrigações e contratos, p. 27. 15 LOPES, Miguel Maria de Serpa. Curso de direito civil - fonte das obrigações: contratos, p. 42.

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pelo igual teor de liberdade, nunca poderia significar crise,

mas, ao contrário, dinamização desta mesma liberdade,

que é colocada assim no seu verdadeiro pedestal como

liberdade eficaz e equânime.

Segundo palavras de Miguel Reale16, um dos pontos

principais do Projeto de Código Civil Brasileiro seria o de “tornar explícito,

como princípio condicionador de todo processo hermenêutico, que a

liberdade de contratar só pode ser exercida em consonância com os fins

sociais do contrato”.

Desta forma, crucial impor que a liberdade contratual

somente deve ser limitada até onde impuserem as exigências do bem

comum e da justiça. 17

Pelo disposto no art. 435 do CC/2002, “(...) reputar-se-á

celebrado o contrato no lugar em que foi proposto”.

Vias de regra os contratos são consensuais. No entanto

alguns são reais porque somente se aperfeiçoam com a entrega do

objeto, de imediato ao acordo de vontades. Por exemplo, o contrato de

comodato só se conclui com esmero depois do consenso e da entrega do

bem não fungível que será depois devolvido. Enquadram-se nessa

classificação, também, entre outros, os contratos de depósito e mútuo.

Conforme já exposto, o princípio da pacta sunt

servanda dá força obrigatória aos contratos. No entanto admite

condicionante seja pela legislação adequada, pela intervenção estatal

ou pela revisão contratual exercida por magistrado.

Com o declínio do liberalismo contratual, na chegada

do século XX, constatou-se que a celebrada igualdade entre as partes

16 REALE, Miguel. O projeto de código civil, p. 93. 17 Neste sentido: Teles Galvão apud Miguel Maria de Serpa Lopes. Curso de direito civil - fonte das obrigações: contratos, p. 43.

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ficava apenas no aspecto formal. Assim, a conseqüência óbvia

decorrente do acordo, era a exploração da parte hiposuficiente em

proveito da parte cultural e economicamente mais avantajada.

Segundo lição de Othon Sidou18:

O contratante pode não estar impossibilitado de cumprir

determinada prestação, entretanto, cumprindo-a e

continuando a cumpri-la na forma do ajuste observa

simplesmente que estará arruinando seu patrimônio em

favor de um lucro excessivo de seu credor, uma vez que

está caracterizado um desequilíbrio entre prestação e

contraprestação, nunca resultante de um acordo de

vontade no ato da contratação.

Passados os anos, a lei passou a proteger

determinados interesses sociais com o intuito de evitar abusos e excessos

no exercício do direito. 19

1.3 DOS CONTRATOS BANCÁRIOS

A atividade bancária alcança todas as etapas da

atividade social, incidindo desde a economia familiar até a economia do

Estado.

Arraigando tal assertiva, o juiz Carlos Henrique Abrão20

ao escrever o prefácio da 6ª edição da obra Direito Bancário de Nelson

Abrão, expunha que:

Verdadeiramente, nenhuma atividade pode ser realizada

sem a intervenção direta ou indireta do sistema bancário,

quer na obtenção do crédito, na operação comum de

negociação, no financiamento, empréstimos e recursos que

devem priorizar i bem-estar social, a despeito dos conflitos

18 SIDOU, Othon. A revisão judicial dos contratos. p. 107. 19 PORTANOVA, Rui. Limitação dos juros nos contratos bancários: ações e defesa dos devedores. p. 98. 20 Prefácio à 6ª edição da obra Direito Bancário de Nelson Abrão, s/n.

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de interesses surgidos, entrechoque que assola mais de 35%

das causas do Judiciário, na discussão de clausulas e

condições do contrato, na aplicação do Código do

Consumidor, também na renegociação e revisão do pacto

formalizado entre as partes interessadas.

Marco Aurélio S. Viana21 define banco como sendo

“(...) empresas comerciais que praticam diversas operações de crédito.

São denominados intermediários do crédito ou mobilizadores do crédito”.

J. X. Carvalho de Mendonça22 indica que os bancos

são “empresas comerciais, cujo objetivo principal consiste na intromissão

entre os que dispõem capitais para sistematicamente, distribuí-los por meio

de operações de crédito”.

Conforme lições de Orlando Gomes23, “os negócios

realizados pelos bancos, no exercício de sua atividade mercantil,

chamam-se operações bancárias, se a função é creditícia”.

Dentre os diversos diplomas legais destinados a

regulamentar a atividade bancária, destaca-se a Lei de Reforma Bancária

(Lei 4.595/64) que reorganizou o sistema bancário brasileiro dando-lhe a

estrutura atual.

Nos termos do artigo 17 da Lei de Reforma Bancária,

“são consideradas instituições financeiras (...) aquelas entidades públicas

ou privadas que têm primária ou secundariamente as atividades de

captação, e o ato de intermediação”.

1.3.1 Definição de contratos bancários

Pontes de Miranda24, ao traçar um esboço do assunto

em pauta, preleciona que “a vida de relação exigia que a alguém se

21 VIANA, Marco Aurélio S., Curso de direito civil, p. 505. 22 MENDONÇA, J. X. Carvalho de. Tratado de direito comercial brasileiro, p. 134. 23 GOMES, Orlando. Contratos, p. 382.

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desse algo e depois fosse restituído: teve-se o mútuo, teve-se o contrato

de conta corrente, tiveram-se os contratos bancários, os títulos de

crédito”.

Para alguns autores como Maria Helena Diniz25, “(...) os

contratos bancários são negócios jurídicos em que uma das partes é uma

empresa autorizada a exercer atividades próprias de bancos”. Já na visão

de Sérgio Carlos Covello26, os contratos bancários são instrumentos de

“acordo entre Banco e cliente para criar, regular ou extinguir uma relação

que tenha por objeto a intermediação do crédito”.

Celso Marcelo de Oliveira27 entende que:

Os bancos são mediadores do crédito e, para exercer esta

função devem estar devidamente autorizados a praticar a

atividade creditícia, já que o dinheiro constitui seu objeto e

razão de ser. Assim, para que se concretize um contrato

bancário é necessário que uma das partes esteja

autorizada a exercer a atividade bancária e que ambas

concordem em contrair obrigações.

Nesta compilação, é impossível tratar de todos os

contratos bancários atualmente utilizados com o merecido detalhamento

necessário à compreensão geral. Desta forma, irá se utilizar para

exemplificar os principais contratos aqueles considerados mais utilizados

pelos tomadores em geral onde há a livre pactuação da taxa de juros.

1.3.2 Principais contratos bancários

Primeiramente destaca-se o contrato de mútuo

financeiro que consiste no empréstimo de coisas fungíveis, ocorrendo

então a transferência da propriedade sobre a coisa mutuada. Nas 24 MIRANDA, Pontes de. Tratado de direito privado, p. 76. 25 DINIZ, Maria Helena. Curso de direito civil, responsabilidade civil, p. 239. 26 COVELLO, Sergio Carlos. Contratos Bancários, p. 47. 27 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a normatização de defesa do consumidor, p. 83.

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palavras de Celso Marcelo de Oliveira28 é um “contrato pelo qual um dos

contraentes transfere a propriedade de bem fungível ao outro, que se

obriga a lhe restituir coisa do mesmo gênero, qualidade e quantidade”.

Marco Aurélio S. Viana29, esclarece que o contrato de

mútuo “(...) cuida-se de contrato em que o banco transfere a um cliente

certa soma em dinheiro, obrigando-se este a devolvê-la em prazo

determinado. O banco recebe juros pelo empréstimo, cobrando,

também, taxas de serviço ou expediente”.

O mútuo mercantil constitui a principal operação ativa dos

bancos. Celso Marcelo de Oliveira30 prescreve que o mútuo

ou empréstimo, “é a figura mais típica da atividade

bancária, pois os empréstimos promovem a produção,

estimulam e desenvolvem o comércio, além de viabilizarem

obras públicas, tornando produtiva a poupança

acumulada e circulando riquezas”.

Perfeito seria, se o ciclo do mútuo sempre ocorresse

conforme descrição de Nelson Abrão31, na obra Direito Bancário:

Fácil a compreensão, portanto, numa economia de escala

que durante longo tempo fora assolada com a tendência

da inflação endêmica, mas que mesmo durante seu

controle, ainda assim, não favorece as relações de credito,

obrigando os empresários à busca permanente de capital

de giro; por isso recorrem aos bancos, a quem tomam

dinheiro em mútuo, operação vantajosa para ambas as

partes: para o banco, na medida em que rende juros e

correção monetária, conquanto de expressão menor; para

o empresário, porque a quantia mutuada possibilita a

elaboração de produtos que poderão proporcionar lucros

acima das taxas de juros e correção ou comissão.

28 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a normatização de defesa do consumidor, p. 87. 29 VIANA, Marco Aurélio S. Curso de direito civil - volume 5, p. 510. 30 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a normatização de defesa do consumidor, p. 90. 31 ABRÃO, Nelson. Direito bancário, p. 72

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O contrato de abertura de crédito em conta corrente,

ou simplesmente cheque especial, segundo palavras de Celso Marcelo de

Melo32, é um contrato “considerado um financiamento bancário que

objetiva por a disposição do correntista um crédito em dinheiro pelo

tempo convencionado entre as partes”.

No ver de Orlando Gomes33, a abertura de crédito em

conta corrente é “um contrato por via do qual se obriga um banco a

colocar à disposição do cliente determinada soma para ser utilizada,

mediante saque único ou repetido”.

Arraigando a definição, o jurista Celso Marcelo de

Oliveira34 aduz que:

Uma vez que o banco se compromete a abrir o crédito

(obrigação de fazer) e o cliente ou creditado a recebê-lo, o

negócio jurídico está formalizado. A utilização verifica-se

mediante saques na conta, que criam, para o creditado,

novas obrigações, como a de pagamento de juros sobre o

saldo devedor e a restituição das quantias utilizadas.

Nesta relação de crédito, os juros, muito embora

calculados periodicamente, são computados aumentando ou reduzindo

o valor devido, dependendo se o cliente retire ou deposite qualquer valor.

Na antecipação bancária alguém recebe do banco

certa importância, outorgando garantia real para o pagamento da

quantia emprestada. Segundo Maria Helena Diniz35, esta garantia pode

fundar-se “em mercadorias ou títulos representativos delas, como

32 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a normatização de defesa do consumidor, p. 84. 33 GOMES, Orlando. Contratos, p. 327 34 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a normatização de defesa do consumidor. Campinas, p. 86 e 87. 35 DINIZ, Maria Helena. Tratado teórico e prático dos contratos, p. 489.

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conhecimento de depósito ou de transporte, warrant36 e títulos de crédito

cotados na bolsa”.

Na definição de antecipação bancária por Celso

Marcelo de Oliveira37 consiste em “um negócio jurídico financeiro, onde o

antecipante ora banco empresta certa soma em dinheiro ao antecipado

ora correntista bancário, contra entrega de garantia real”.

Destarte, no entendimento de Marco Aurélio S. Viana38,

“a antecipação implica a entrega ao beneficiário da importância, que

guarda proporcionalidade com o valor das coisas dadas em garantia,

havendo uma “conexão orgânica” entre a operação de crédito e a

operação de garantia”.

No contrato de financiamento, segundo juízo de

Nelson Abrão39, possui em comum com a antecipação o fato de fundar-se

em adiantamento ao cliente, porém:

O financiamento dela se distingue, muito embora a

Resolução n, 19 do Banco Central, haja disciplinado apenas

este último como prática bancária. É que, no

financiamento, o numerário é adiantado pelo banco ao

cliente para um empreendimento determinado,

previamente conhecido por aquele, podendo o fornecedor

do dinheiro fiscalizar a aplicação dos fundos, enquanto na

antecipação é livre a destinação do dinheiro. (...) Portanto,

antecipação é gênero de adiantamento de dinheiro pelo

banco, de que o financiamento constitui espécie.

E o autor prossegue:

36 Título de crédito negociável, emitido por empresa ou cooperativa que recebe mercadorias em depósito, sob garantia do penhor das mesmas; cédula pignoratícia. 37 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a normatização de defesa do consumidor, p. 96. 38 Giacomo Molle, apud VIANA, Marco Aurélio S. Curso de direito civil - volume 5, p. 511. 39 ABRÃO, Nelson. Direito bancário, p. 101.

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Mais claro e tecnicamente, se determinado empresário

precisa do financiamento para a produção de matéria-

prima, antes de qualquer providência, caberá à instituição

financeira solicitar pronunciamento da área especializada,

que demonstrará a plausibilidade ou risco que atinge à

concretização daquela tarefa.

Caso seja comprovado que o valor financiado não

teve a destinação prevista, poderá ser antecipado o vencimento do

contrato, devendo ser cumprida a obrigação e até mesmo com a

possibilidade de aplicação de multa.

Devido a grande parte da massa de consumidores,

consistir em assalariados, recebendo apenas uma única vez por mês, e

sofrendo a variação econômica, os serviços de cartões de crédito

atendem às necessidades de financiamento do consumidor, onde

simultaneamente reembolsam o fornecedor.

Assim, pode-se avaliar que o cartão de crédito é uma

forma de documento comprobatório de que seu titular desfruta de um

determinado crédito perante a instituição financeira emissora, habilitando-

o a perfazer compras de serviços ou bens.

Em suma, o titular do cartão de crédito utiliza o cartão

para adquirir bens ou serviços do fornecedor. O valor da compra é pago

pelo emissor ao fornecedor, onde em seguida, dependendo da data

acordada entre emissor e titular para o vencimento da obrigação, esta é

paga sem qualquer acréscimo diretamente à emissora.

O que diferencia os sistemas dos cartões de crédito

bancários dos cartões de crédito não bancários é por razão de que nos

bancários, os titulares dos cartões podem proceder com a abertura de um

crédito bancário para financiar as importâncias não pagas. Dá-se esta

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abertura, quando não ocorre o pagamento integral do montante devido,

sendo feito o parcelamento.

Importante critica concernente aos contratos ora

citados, é feita pelo jurista Celso Marcelo de Oliveira40 tratando sobre

cartão de crédito, porém atingindo todo o complexo de contratos

firmados entre instituições financeiras e o cliente. O autor expõe que:

A distribuição de crédito via instrumento de cartão de

crédito, quer na forma de crédito junto ao comércio e na

forma de crédito financeiro temos na concepção técnica e

com o objetivo jurídico da discussão dos abusos cometidos

pelas Administradoras de Cartões de Crédito pois

atualmente, o cidadão ou consumidor se encontra mais

desprotegido e em razão do desenvolvimento do setor,

devidamente estruturado e planificado com a moderna

técnica de atuar, inclusive, informatizado, impondo nessa

relação, a vontade preponderante do sacrifício do

consumidor pois, nem sempre, tem condições de impor ou

exigir igualdade no tratamento. Falece, assim de melhores

condições para um tratamento igualitário que, na relação

contratual e financeira, deve existir resultando, em tempos

atuais, ausente inclusive a participação de um dos pólos

interessados na elaboração do contrato com a

Administradora do Cartão de Crédito, pois sem qualquer

anuência da parte consumidora, impõe um contrato sem

qualquer possibilidade de discussão referente aos seus

limites e conseqüências.

Por fim, ainda em linhas de cartão de crédito, mas da

mesma forma que Celso Marcelo de Oliveira tratando de abordar todo o

universo dos contratos bancários, o jurista Nelson Abrão41 de uma forma

bastante atual conclui dizendo:

40 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Contratos e serviços bancários e a normatização de defesa do consumidor, p. 133. 41 ABRÃO, Nelson. Direito bancário, p. 152.

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Evidentemente que bilhões de reais são injetados

diretamente na economia por causa da livre circulação dos

cartões de crédito, que tem alto grau de confiabilidade e

aceitação, mas também há uma preocupação com o

aumento do número de usuários e o fator inadimplência,

decorrente da elevada taxa de juros, ocasionando um

prejuízo, que será repassado no custo operacional do

negócio.

E arremata:

Explica-se com razoável facilidade a penetração eficiente

do meio de crédito: à medida que se estabilizou a moeda e

os salários foram mantidos no mesmo patamar, um número

representativo das camadas menos favorecidas começou a

ter acesso ao consumo, e, nesse clima de forte competição,

as administradoras passaram a ter comportamento ofensivo,

entrando em campo para conquistar o maior número de

adeptos possível e angariar largas fatias do mercado.

Percebe-se também neste ponto a necessidade do

Judiciário estar atento às necessidades de seus jurisdicionados.

1.4 A RELAÇÃO DE CONSUMO NA ATIVIDADE BANCÁRIA.

Para a sociedade modernamente organizada, o

sistema bancário é atualmente uma das colunas mais essenciais. Essa

importância origina-se na possibilidade que detém de aumentar, circular e

fomentar valores.

Sempre de uma forma direta ou indireta, os bancos

envolvem-se na rotina pessoal. Desde o recebimento de salário, quitação

de contas bem como empréstimos e financiamentos, os bancos figuram

como instrumento indispensável no labor de todos os dias.

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Sobre os bancos, Fábio Zabot Holthausen42 preleciona:

As operações bancárias fundamentais são representadas

pela intermediação do crédito, ou seja, pelo recolhimento e

concessão de dinheiro. Estas se subdividem em passivas –

que têm como objetivo a arrecadação de fundos, tornando

o banco devedor do cliente; como exemplo, pode-se citar

o depósito e as contas-correntes – e ativas, que visam à

colocação de crédito no mercado, passando o banco a

credor do cliente, consistindo nos empréstimos, aberturas de

crédito, descontos entre outros.

Embora o sistema bancário seja expressamente citado

como fornecedores da relação de consumo, ainda é grande a discussão

doutrinária sobre a incidência ou não dos regulamentos consumeiristas nas

atividades firmadas com as instituições bancárias.

Após a edição do CDC, o principal argumento

utilizado para que não houvesse a incidência deste nas relações com as

instituições financeiras era o de que o crédito não seria um bem de

consumo. Os que defendem essa tese acreditam que não há o que

consumir, uma vez que o dinheiro é utilizado como bem de troca.

O principal opositor da incidência da Lei 8.078/90 é o

jurista Arnoldo Wald,43que acredita que não é possível o crédito ser usado

por um destinatário final, posto o fato de que por sua própria natureza é

destinado à circulação como meio de pagamento. Wald, somente acha

que o dinheiro vai para o destinatário final quando recebido por um

colecionar de moedas ou quando o Banco Central retira dinheiro de

circulação.

42 HOLTHAUSEN, Fábio Zabot. Aplicação do Código de Defesa do Consumidor às Operações Bancárias, p. 710. 43 WALD, Arnoldo. O direito do consumidor e suas repercussões em relação às instituições financeiras, p. 7/17.

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Segundo Paulo Maximilian Wilhem Schonblum44 é

importante frisar que:

Para que seja configurada a relação de consumo é

necessária a presença das partes características desse tipo

de relação: consumidores e fornecedores ou produtores. E,

também, que o objeto seja enquadrado como típico de

uma relação de consumo, isto é, um produto ou um serviço

na forma tipificada pelo código de Proteção e Defesa do

Consumidor.

Desta forma, antes de qualquer ilação sobre a

aplicabilidade dos regramentos consumeiristas na presente conjuntura,

impera a necessidade de caracterizar os sujeitos da relação de consumo.

Um aspecto que se sobressai para verificar a relação

de consumo é a verificação da vulnerabilidade, que esta pode ser fática,

técnica e jurídica.

Cláudia Lima Marques45 explica que:

Existem 3 tipos de vulnerabilidade: a técnica, a jurídica e a

fática. Na vulnerabilidade técnica, o comprados não possui

conhecimentos específicos sobre o objeto que está

adquirindo e, portanto, é mais facilmente enganado quanto

às características do bem ou quanto à sua utilidade, o

mesmo ocorrendo em matéria de serviços. A

vulnerabilidade jurídica ou cientifica, é a falta de

conhecimento jurídico específico, conhecimento de

contabilidade ou de economia. A vulnerabilidade fática ou

sócio-econômica ocorre quando o fornecedor, por sua

posição de monopólio, fático, ou jurídico, por seu grande

poder econômico ou em razão da essencialidade do

serviço, impõe sua superioridade a todos que com ele

contratam.

44 SCHONBLUM, Paulo Maximilian Wilhem. Contratos bancários, p. 50. 45 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor, p. 148-149.

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Por fim, Mauro Capelletti citado por Paulo Maximilian

Wilhem Schonblum46 afirma que:

Enquanto o produtor é de regra organizado, juridicamente

bem informado, e tipicamente um litigante habitual (no

sentido de que o confronto judiciário não representará para

ele episódio solitário, que o encontre desprovido de

informação e experiência), o consumidor, ao contrário, está

isolado; é um litigante ocasional e naturalmente relutante

em defrontar-se com o poderoso adversário.

O Código de Defesa do Consumidor (Lei 8.078/90) em

seu artigo 3º conceitua o fornecedor como:

(...) toda pessoa física ou jurídica, pública ou privada,

nacional ou estrangeira, bem como os entes

despersonalizados, que desenvolvem atividade de

produção, montagem, criação, construção, transformação,

importação, exportação, distribuição ou comercialização

de produtos ou prestação de serviços.

Melhor explicitando o texto legal, Rodrigo Alves da

Silva47 explica de forma singular a definição de fornecedor buscando

chegar numa demarcação precisa do conceito como se vê:

São considerados fornecedores todos aqueles que

propiciem a oferta de produtos e serviços no mercado de

consumo, para atender às necessidades dos consumidores.

Tem-se por conseguinte, que fornecedor é qualquer pessoa

física, ou seja, qualquer um que, a título singular, mediante

desempenho de atividade mercantil ou civil e de forma

habitual, ofereça no mercado produtos ou serviços, e a

jurídica, da mesma forma, mas em associação mercantil ou

civil de forma habitual.

46 CAPELLETTI, Mauro apud Paulo Maximilian Wilhen Schonblum, Contratos bancários, p. 50. 47 SILVA, Rodrigo Alves. Direito Bancário e temas afins, p. 610.

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Por fim, José Geraldo Brito Filomeno48 sintetiza a

questão ao explicar sobre as condições para caracterização de

fornecedor:

A condição de fornecedor esta intimamente ligada à

atividade de cada um e, desde que coloquem aqueles

produtos e serviços efetivamente no mercado, nasce daí,

ipso facto, eventual responsabilidade por danos causados

aos destinatários, ou seja, pelo fato do produto.

Porquanto acontecimento jurídico, o consumo é um

regime ligado com a aquisição de um bem ou de um serviço, valendo-se

desta forma, ao Direito Econômico, enquanto balizador de atividades

relacionadas ao objeto de defesa e proteção do Direito do Consumidor e

seus efeitos no ordenamento jurídico pátrio.

Ao reconhecer a vulnerabilidade dos consumidores

frente aos fornecedores, o legislador outorgou tratamento desigual entre

eles, criando uma série de prerrogativas, com o fim de ofertar a proteção

do consumidor e, por forma subjacente preservar o instituto do

consumeirismo, sempre se levando em consideração o reconhecimento

da desigualdade existente entre o consumidor e o fornecedor na relação

de consumo.

Segundo disposto no art. 2º do CDC consumidor é

“toda pessoa física ou jurídica que adquire ou utiliza produto ou serviço

como destinatário final”.

Pela disposição do texto normativo, a única

característica marcante para enquadramento na definição de

consumidor é a aquisição ou utilização de um bem como destinatário

final. Contudo a imprecisão técnica da definição de consumidor em

48 FILOMENO, José Geraldo Brito. Código brasileiro de defesa do consumidor, p. 41.

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relação a expressão “destinatário final” conduz a variados conceitos

doutrinários.

Cláudia Lima Marques49 preleciona sobre a

concepção do conceito de consumidor no sentido estrito e lato que:

O consumidor, em sentido lato, é aquele que adquire,

possui ou utiliza um bem ou serviço, quer para uso pessoal

ou privado, quer para o uso profissional. O que importa é

que alguém seja o consumidor do bem, isto é, que

consuma, complete, termine o processo econômico, dando

satisfação às necessidades pessoais, familiares ou

profissionais. Em sentido estrito, consumidor é apenas aquele

que adquire, possui ou utiliza um bem ou serviço, para uso

privado (pessoal, familiar ou doméstico), de sorte a satisfazer

às necessidades pessoais e familiares, mas não já o que

obtém ou utiliza bens e serviços para satisfação das

necessidades da sua profissão ou da sua empresa.

Como demonstrado, na doutrina consumeirista há

duas correntes para explicar a definição de consumidor.

A primeira é a finalista, onde destinatário final é aquele

que consumirá o produto ou serviço em sua plenitude, com um objetivo

não-profissional e sem utilizar o produto ou serviço com a finalidade de

obter lucro.

Já a segunda corrente, a maximalista, prega que a

interpretação do art. 2º do CDC deve ser extensiva, onde para ser

admitido como destinatário final basta que haja uma retirada fática do

bem ou serviço, pouco ou nada importando o caráter econômico, ou

seja, se haverá ou não repasse desse mesmo bem ou serviço na cadeia

de produção.

49 MARQUES, Cláudia Lima. Contratos no código de defesa do consumidor, p. 140-141.

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No texto legal, o conceito de produto está previsto no

§ 1º do art. 3º, do CDC “produto é qualquer bem, móvel ou imóvel,

material ou imaterial” e o § 2º do mesmo artigo informa que serviço é

“qualquer atividade fornecida no mercado de consumo, mediante

remuneração, inclusive as de natureza bancária, financeira, de crédito e

securitária, salvo as decorrentes das relações de caráter trabalhista”.

Ora, o legislador não poderia ser mais claro ao incluir

as atividades bancárias no rol das disposições amparadas pelo código

consumeirista.

Como visto anteriormente os banco são definidos

como sendo “empresas comerciais que praticam diversas operações de

crédito. São denominados intermediários do crédito ou mobilizadores do

crédito”.50

Para o CDC, qualquer objeto de relação de consumo

é considerado produto. Sobre o produto negociado pelos bancos, Celso

Marcelo de Oliveira51 afirma que:

O produto do banco é o dinheiro ou o crédito, bem

juridicamente consumível, sendo, portanto, fornecedor; e

consumidor, o creditado. O banco presta serviços de massa,

organizando-se para que suas relações jurídicas com os

clientes ocorra de modo uniforme e simples.

Além do mais, conforme interpretação do art. 51 do

CC/1916 (art. 86 no CC/200252) o dinheiro é um bem consumível. Desta

50 VIANA, Marco Aurélio S., Curso de direito civil, p. 505. 51 OLIVEIRA, Celso Marcelo de. Código de defesa do consumidor e os contratos bancários, p. 34. 52 Art. 86. São consumíveis os bens móveis cujo uso importa destruição imediata da própria substância, sendo também considerados tais os destinados à alienação.

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forma, o argumento de que não se pode ter relação de consumo

envolvendo-o torna-se vazio53.

Em sentido contrário a esse entendimento, Luciano

Braga Côrtes54 acredita que:

(...) o objeto dos contratos bancários é o dinheiro,

considerado pela linguagem econômica fator de produção

o qual pode gerar riquezas. Incontroverso que o dinheiro é

fator de produção: Toda vez que se busca crédito nas

instituições financeiras é para utilizar como fator de

produção; portanto, todas as operações bancárias que

concedem crédito ao tomador não são regidas pelo CDC,

haja vista que em sua essência, o contrato bancário visa ao

crédito, que constitui o seu objeto e a razão de sua

existência. Os bancos são os mediadores do crédito.

Quando realizam uma operação ativa, obrigam-se a uma

prestação que consiste em conceder o crédito. Sendo

passiva a operação, o cliente é que dá o crédito. A

característica básica dos contratos de crédito bancário é,

pois, dar.

As atividades (produtos/serviços) dos bancos consistem

nas chamadas operações bancárias. Entre essas ações próprias da sua

atividade econômica, pode-se citar a concessão de empréstimos,

recebimento de valores para depósito, abertura de crédito, desconto e

redesconto de títulos.

1.5 A INCIDÊNCIA DO CDC ÀS ATIVIDADES BANCÁRIAS

Em relação à inclusão no conceito de consumidor

prenunciado no CDC, das pessoas, tanto físicas quanto jurídicas, as quais

fazem uso dos serviços de natureza bancária, não há de existir qualquer

questionamento.

53 Neste sentido cf. BEVILÀQUA, Clóvis. Código Civil comentado p. 226. 54 CÔRTES, Luciano Braga. Código de defesa do consumidor – a aplicação restritiva do CDC aos contratos bancários, p. 20.

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Neste sentido que se posiciona Maria Antonieta

Zanardo Donato55 ao afirmar que:

Em se tratando de consumidor pessoa física e ocorrendo

uma prestação de serviços bancários, onde figurem, de um

lado, na qualidade de fornecedor, um determinado banco

comercial, e, de outro, na qualidade de consumidor, uma

pessoa física qualquer, que contrate objetivando uma

destinação final, parece-nos evidente que essa relação

jurídica se caracteriza como relação de consumo.

Também confirma essa posição o jurista Nelson Nery

Júnior56 senão vejamos:

Analisando o problema do banco como empresa e de sua

atividade negocial, tem-se que é considerado pelo art. 3º,

caput, do CDC, como fornecedor, vale dizer, como um dos

sujeitos da relação de consumo. O produto da atividade

negocial do banco é o crédito. agem os bancos, ainda, na

qualidade de prestadores de serviço, quando recebem

tributos mesmo que de não clientes, fornecem extratos de

contas bancárias por meio de computador etc. Podem, os

bancos, ainda celebrar contratos de aluguel ou cofre, para

guarda de volumes, igualmente enquadrável no conceito

de relação de consumo. Suas atividades envolvem, pois, os

objetos das relações de consumo: os produtos e os serviços.

O aspecto central da problemática da consideração das

atividades bancárias como sendo relações jurídicas de

consumo reside na finalidade dos contratos realizados com

os bancos. Havendo a outorga do dinheiro ou do crédito

para que o devedor o utilize como destinatário final, há a

relação de consumo que enseja a aplicação dos

dispositivos do CDC. Caso o devedor tome o dinheiro ou

crédito emprestado do banco para repassá-lo, não será

destinatário final e, portanto, não há que se falar em

relação de consumo.

55 DONATO, Maria Antonieta Zanardo. Proteção do consumidor – conceito e extensão, p. 131. 56 NERY JÚNIOR, Nelson. Código brasileiro de defesa do consumidor, p. 459-460.

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Ou ainda pode-se destacar a lição de Geraldo Brito

Filomeno57 que afirma que nas funções exercidas pelas instituições

financeiras:

quer na prestação de serviços aos seus clientes (por

exemplo cobrança de contas de energia elétrica, água e

outros serviços, ou então, expedição de extratos e avisos

etc.), quer na concessão de mútuos ou financiamentos

para aquisição de bens, inserem-se igualmente no conceito

amplo de serviços e enquadram-se indubitavelmente nos

dispositivos do novo Código de Defesa do Consumidor.

A questão da relação de consumo e por

conseqüência a incidência ou não do código de defesa do consumidor

nas relações bancárias já foi tão debatida que o STJ sumulou o tema58.

Não se conformando e lançando mão de seu imenso

poder aquisitivo a Febraban contrata ilustres juristas para darem seu

parecer conforme aponta Paulo Maximilian Wilhem Schonblum:59

Entre aqueles que defendem a não incidência do CPDC

nas relações Banco-cliente, destacam-se Arnoldo Wald, Luiz

Gastão Paes de Barros Leães, Geraldo Camargo Vidigal e

Manoel Gonçalves Ferreira Filho que, contratados pela

FEBRABAN – Federação Brasileira dos Bancos, elaboraram

pareceres elencando os motivos de suas posições.

Convém ainda citar, que corria no STF uma ADI

ajuizada pela Confederação Nacional do Sistema Financeiro - Consif, que

intentava a não incidência das normas do CDC às instituições financeiras.

57 FILOMENO, José Geraldo Brito. Manual de direitos do consumidor, p. 36-37. 58 Sumula 297 STJ – O Código de Defesa do Consumidor é aplicável às instituições financeiras. 59 SCHONBLUM, Paulo Maximilian Wilhem. Contratos bancários, p. 51-53. Neste sentido também afirma Rodrigo Alves da Silva “Arnoldo Wald, ao elaborar parecer solicitado pela Federação Brasileira dos Bancos – Febraban-, entende que o CDC, entre os produtos referidos no art. 2º, não contemplou nem o dinheiro nem o crédito, posto que os valores monetários se destinam, pela sua própria natureza, à circulação”. in Direito Bancário e temas afins, p. 613.

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Com a tese a Consif pretendia que aqueles que

contratassem com os bancos ou com as financeiras, entre outras coisas,

não poderiam:

� Pleitear a anulação de cláusulas que impliquem em

obrigações excessivamente onerosas;

� Responsabilizar o fornecedor objetivamente pelos danos que

este lhe causar;

� Solicitar ao juiz a inversão do ônus da prova, em processo

civil;

� Favorecer-se de uma interpretação mais favorável, nos

contratos, em caso de dúvidas (omissão, falta de clareza);

� Exigir a limitação a 2% da multa decorrente do atraso de

pagamento, nos contratos de financiamento ou de

concessão de crédito;

� Ser efetivamente protegido contra métodos coercitivos e

ameaçadores nas cobranças de dívidas.

A Consif justificou a propositura da ação afirmando

que o CDC, por ser uma lei ordinária, não se aplicaria às atividades

bancárias, o que vai de encontro ao que está disposto no próprio Código

ao dispor de forma expressa que entre os serviços prestados pelo

fornecedor estão as atividades de natureza bancária e financeira.

Ao contrário do que sustentam os bancos, o

acolhimento da demanda proposta pela Consif acarretaria em diversas

perdas para a sociedade. O único segmento econômico que ganharia

com o acolhimento do pleito será os bancos.

Quando da criação do CDC, seus renomados

autores60 procuraram elaborar um texto legal atendendo ao disposto no

artigo 5º, XXXII e artigo no 170, V da carta constitucional, bem como no

artigo 48 das Disposições Transitórias procurando evitar conflitos na já 60 A comissão original era composta por Ada Pellegrini Grinover, Daniel Roberto Fink, José Geraldo Brito Filomento, Kazuo Watanabe e Zelmo Denari. Além destes renomados juristas, outros também contribuíram, bem como diversas entidades representativas.

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massificada coletividade consumeirista, denotando o CDC desta forma,

não em mera norma ordinária, mas sim em norma com princípio

constitucional.

CAPÍTULO 2

NOÇOES GERAIS SOBRE JUROS

2.1 EVOLUÇÃO HISTÓRICA

Os juros correspondem ao preço do uso, donde surge o

termo usura, vernáculo utilizado casuisticamente para definir o empréstimo

remunerado de dinheiro, costumeiramente avaliado como fruto civil

gerado pelo capital. Desde muito tempo os juros dão origem a debates.

Como noticia José Reinaldo Coser61, desde muito cedo

se condenava a ambição por conta dos juros, senão vejamos:

na Grécia antiga, Aristóteles entendia que a atividade

econômica era suspeita e perigosa, “tudo quanto é tráfico

e deslocamento de riqueza, quando dá lugar a um

pagamento, é imoral”. A idéia de empréstimo por amizade

deve prevalecer sobre a idéia de empréstimo por juro. Essa

tese da proibição do juro encontra-se novamente no

pensamento dos canonistas, dos quais os mais célebres são

Alberto, o Grande, e Tomás de Aquino. Eles continuam o

pensamento grego, mas substituem a idéia de amizade

61 COSER, Jose Reinaldo. Juros, p. 13.

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pela de caridade, procurando seus argumentos na Bíblia e

no Evangelho.

A primeira demonstração condenatória de cunho

ético à cobrança de juros, acontece no Pentateuco62. Um dos exemplos

que se pode citar sobre a condenação acima exposta encontrada na

Bíblia, encontra-se no Novo Testamento63, onde se lê “emprestai sem nada

esperardes”.

S. Basílio Magno64 condenava energicamente a

cobrança de juros, tendo suas lições sido seguidas por S. Tomás de

Aquino65, que abertamente refutava a usura. Ambos são considerados

referência no cristianismo. Amplamente condenado pela Igreja Católica,

a usura era praticada até então basicamente por não-cristãos, dos quais

se destacavam os judeus.

As Ordenações Filipinas66 já estalebeciam a

condenação da cobrança de juros, ainda nomeada de usura:

Nenhuma pessoa, de qualquer estado ou condição que

seja, dê ou receba dinheiro, prata ou ouro ou qualquer

outra quantidade pesada, medida ou contada, a usura,

porque possa haver, ou dar alguma vantagem assim por via

de empréstimo.

A despeito de continuamente ter sido praticado,

embora calorosamente reprovada, houve ainda quem defendesse a

prática da usura. Jeremy Bentham67, em nome da liberdade contratual e

62 Os cinco primeiros livros do Velho Testamento, atribuídos a Moisés: O Gênese, Êxodo, Levítico, Números e Deteronômio. 63 Livro de Lucas, 6:35. Da mesma forma se pode citar Ez. 18:8; Prov. 28:8. 64 Bispo, Confessor e Doutor da Igreja, recebeu o título de Pai dos monges do Oriente, assim como São Bento é considerado o Patriarca dos monges do Ocidente 65 Tido como santo pela Igreja Católica, foi um frade dominicano e teólogo italiano. 66 Codificações das leis em vigor, que se fizeram na monarquia portuguesa no reinado de Filipe II (1527-1598). 67 Seguidor de Adam Smith no campo da economia, o pensador inglês, adepto ao liberalismo independente escreveu o livro Defesa da Usura (1787).

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do liberalismo em geral. Porém a proibição da cobrança de juros era

incompatível com os interesses burgueses.

Por volta dos séculos XVIII e XIX, essa ideologia liberal

preponderava na maior parte dos países ocidentais, iniciando uma

corrente de liberação da cobrança de juros. A Lei de 24 de outubro de

1832 inaugurou no Brasil a livre fixação dos juros, tendo esta mesma

tendência sido abrigada pelo Código Civil de 1916, que aceitou sem

condicionante as proposições liberais68.

Art. 1.262. É permitido, mas só por cláusula expressa, fixar

juros ao empréstimo de dinheiro ou de outras coisas

fungíveis.

Esses juros podem fixar-se abaixo ou acima da taxa legal

(art. 1.062), com ou sem capitalização.

A taxa legal a que se referia o dispositivo era a de 6%

(seis por cento) ao ano. Em contrapartida a desmedida cobrança de juros

empregada em nome do liberalismo mercantil, provoca a alteração do

conceito de usura. O termo que até então era considerado como

qualquer cobrança de juros, passa a se tratar apenas a cobrança de juros

exorbitantes.

No decênio de 30, durante o Governo Provisório,

Getúlio Vargas promoveu várias mudanças na economia do país

promulgando assim o decreto 22.636/33, amplamente conhecido por Lei

da Usura. Destarte, pela primeira vez na história nacional é estipulado um

teto para a taxa de juros, proibindo de igual forma o anatocismo e

caracterizando como crime a usura.

De tal sorte, as próximas três constituições não

permitiam a prática da usura. Bem sintetizando esta afirmação cabe

68 Neste sentido: COSER, José Reinaldo. Juros, p. 24.

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transladar as palavras do consultor legislativo Luiz Cláudio Silveira Duarte69

ao elaborar peça de consulta ao Senador Antônio Carlos Magalhães em

outubro de 99:

Apesar de grandes juristas, como Pontes de Miranda, terem

formulado críticas à técnica legislativa desde Decreto, ele

foi recepcionado pelas três constituições seguintes, todas

com dispositivos que vedavam a prática da usura:

� Constituição de 1934

Art. 117. (...)

Parágrafo único. É proibida a usura, que será punida na

forma da lei.

� Constituição de 1937

Art. 142. A usura será punida.

� Constituição de 1946

Art. 154. A usura, em todas as suas modalidades será punida

na forma da lei.

Da mesma forma, a Lei 1.521/51 dilatou a descrição da

usura, tornando maior sua pena, porém não alterando o limite da Lei da

Usura.

Correlacionando os dois diplomas supraconstitucionais

vigentes até então, Luiz Cláudio Silveira Duarte70 afirma que:

Em seu conjunto, o decreto 22.626/33 e a Lei 1.521/51

demarcavam claramente os limites aceitáveis para a

cobrança de juros. Infelizmente, essa situação legal foi

complicada com a edição da Lei n. 4.565/64, que

regulamentou o Sistema Financeiro Nacional. Ao elencar as

atribuições do Conselho Monetário Nacional, essa lei

concedeu-lhe poder para “limitar, sempre que necessário as

taxas de juros”.

69 DUARTE, Luiz Cláudio Silveira. Usura. 26 de outubro de 1999. Disponível em: www.senado.gov.br/conleg/artigos/direito/Usura.pdf. Acesso em: 14 de maio de 2006. 70

DUARTE, Luiz Cláudio Silveira. Usura. 26 de outubro de 1999. Disponível em: www.senado.gov.br/conleg/artigos/direito/Usura.pdf. Acesso em: 14 de maio de 2006

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Esperava-se por fim ao abuso da livre fixação da taxa

de juros com o advento da carta constitucional de 88, porém mais

artifícios foram criados pelos bancos para continuar a cobrança

excessiva, acarretando por fim na edição da emenda constitucional de

numero 40.

2.2 CONCEITO DE JUROS

O matemático Thales Mello Carvalho71, em suma,

leciona que juro é o valor que, “além da restituição integral do capital

cedido, é pago ao credor pelo direito de se dispor temporariamente de

um capital, sendo considerado desta forma como um prêmio em

dinheiro”. É o que o emprestador recebe, além da restituição integral do

capital cedido.

Conforme Ronaldo Lupinacci72, sobre a conceituação

de juros se pode afirmar que:

O significado de juro ou interesse, realidade geralmente

designada no plural (“juros”), não representa nenhuma

dificuldade: é o rendimento do capital expresso em

dinheiro, tal como o definem os doutrinadores.

Correspondem ao preço do aluguel do dinheiro por

determinado período de tempo, nele encontrando-se

embutido também o risco.

Entende-se por risco, o simples perigo, ou até a

possibilidade de perigo que os bancos têm em não receber o montante

disponibilizado. Quando o risco se confirma e o banco não tem o retorno

do que emprestou ao tomador, surge a inadimplência, que segundo

dados do BC, representa algo em torno de 30% do spread bancário.

71 CARVALHO, Thales Mello. Matemática comercial e financeira, p. 9. 72 LUPINACCI, Ronaldo Ausone. Limite da taxa de juros no Brasil, p. 27.

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Basicamente, o pagamento dos juros é a

compensação ao banco por ser privado de dispor do dinheiro em

determinado período. A instituição financeira poderia aplicar o recurso

noutro lugar ou dar qualquer outra destinação ao capital, de tal forma

que ao não tê-lo mais, recebe os juros como forma de indenização.

Chama-se ‘taxa de juros’ a relação entre o valor

adicional pago e o valor principal. Sobre o relevante tema, para Ruy

Rosado de Aguiar 73, Ministro do Superior Tribunal de Justiça, há que se

salientar que:

Hoje, porém, não significa apenas o fruto civil do capital,

pois passou a ser importante instrumento de política

monetária, juntamente com o câmbio, o comércio exterior

e a regulação da moeda e do crédito, servindo para

controlar o fluxo financeiro.

Pontes de Miranda74 afirma que “o crédito de juros

nasce a determinado momento, periodicamente, como se pingasse da

quantia devida, sem a diminuir”. Complementando tal afirmação o ilustre

Ministro Ruy Rosado de Aguiar75 arremata dizendo que “no Brasil de hoje,

com as taxas praticadas, o pingo se torna maior que o balde após alguns

meses de juros capitalizados”.

2.3 DAS ESPECIES DE JUROS

Diversas são as espécies de juros. Existem os juros

remuneratórios ou compensatórios, que são devidos como indenização

pelo uso; há os moratórios, que são devidos pela mora no pagamento do

débito dentre diversos outros tipos. Porém basicamente os juros se dividem

em moratórios e remuneratórios.

73 AGUIAR, Ruy Rosado de. Os contratos bancários e a jurisprudência do STJ, p. 77. 74 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado. Apud Ruy Rosado de Aguiar. Os contratos bancários e a jurisprudência do STJ, p. 78. 75 AGUIAR, Ruy Rosado de. Os contratos bancários e a jurisprudência do STJ, p. 78.

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Caio Mário da Silva Pereira76 afirma que os juros são:

as coisas fungíveis que o devedor paga ao credor,

pela utilização de coisas da mesma espécie a este

devidas. Pode, portanto, consistir em qualquer coisa

fungível, embora freqüentemente a palavra juro venha

mais ligada ao débito de dinheiro, como acessório de

uma obrigação principal pecuniária.

Conforme Paulo Maximilian Wilhem Schonblum77 “de

acordo com a origem do dever jurídico de pagar os juros, estes poderão

ser classificados em legais ou convencionais. Os primeiros, como o próprio

nome indica, derivam de Lei, enquanto que os segundos de convenção

entre as partes”.

Podem ser classificados em compensatórios ou

moratórios. Chamam-se compensatórios, ou remuneratórios, quando

decorrem da utilização anuída do capital pertencente a outrem. Passam

a ser chamado de moratórios, quando decorrem do atraso no

pagamento da dívida por uma das partes.

Desta forma, ensina Álvaro Villaça Azevedo:78

Surgem, dessa maneira, as duas espécies de juros:

compensatórios e moratórios. Os primeiros são devidos

como compensação pelo uso do capital de outrem, os

segundos pela mora, pelo atraso, em sua devolução.

Ou ainda conforme preleciona Luiz Antônio Scavone

Júnior:79

76 PEREIRA, Caio Mário da Silva. Instituições de Direito Civil, p. 123. 77 SCHONBLUM, Paulo Maximilian Wilhem. Contratos bancários, p. 245. 78 AZEVEDO, Álvaro Villaça. Curso de Direito Civil, Teoria Geral das Obrigações, p. 247 e 248. 79 JÚNIOR, Luiz Antônio Scavone. Obrigações, Abordagem Didática, p. 173.

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Os juros, considerados quanto à taxa aplicada, podem ser

moratórios ou compensatórios. Todavia, como gênero, os

juros possuem natureza jurídica de frutos civis, remunerando

determinado capital empregado em dinheiro ou outros

bens. Como vimos, os juros moratórios possuem gênese

diversa daquela decorrente dos juros compensatórios.

E prossegue:

Com efeito, os juros compensatórios originam-se na simples

utilização do capital. Portanto, são juros que se contam pela

utilização do capital durante determinado tempo. Por outro

lado, os juros moratórios possuem gênese no atraso – mora

ou demora – na restituição do capital. Também são juros

pela utilização do capital, entretanto, constituem pena

imposta ao devedor moroso.

Porém não é necessário aos juros, se externarem

apenas pelo dinheiro, muito embora, este é o meio amplamente utilizado.

2.3.1 Juros remuneratórios ou compensatórios

Os juros são chamados remuneratórios quando

indenizam o credor pela tomada do dinheiro.

Segundo Rui Rosado de Aguiar80, “os juros

compensatórios, ou remuneratórios ou lucrativos são devidos em razão do

empréstimo mesmo, e não do dano emergente ou do lucro cessante. Este

é o que figura no contrato bancário” e arremata explicando que “os juros

remuneratórios são devidos desde o trespasse”.

Convém citar o entendimento de João de Matos

Antunes Varela81 como se segue:

Os juros remuneratórios são os frutos civis, constituídos por

coisas fungíveis que representam o rendimento de uma

80 AGUIAR, Ruy Rosado de. Os contratos bancários e a jurisprudência do STJ, p. 78 e 79. 81 VARELA, Antunes. Das Obrigações em Geral, Vol. I, 10ª Edição, pág. 870.

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obrigação de capital, a compensação que o obrigado

deve pela utilização temporária de certo capital, sendo o

seu montante em regra previamente determinado como

uma fração do capital correspondente ao tempo da sua

utilização, variando o seu montante em função do valor do

capital devido, do tempo durante o qual se mantém a

privação deste por parte do credor, e da taxa de

remuneração fixada por lei ou estipulada pelas partes.

Ou seja, os juros compensatórios é o produto do capital

em função do período em que o credor ficou desprovido do

aproveitamento deste, formando desta forma a contraprestação onerosa

pela cessão do capital ao longo do tempo.

Destarte, os juros remuneratórios são considerados

aqueles que remuneram o capital no período da normalidade do

contrato, ou seja, antes do vencimento da obrigação.

Os juros compensatórios aqueles que da mesma forma,

remunera o capital mutuado, porém no período da anormalidade, após o

vencimento da obrigação.

2.3.1.1 Juros capitalizados

Para o universo financeiro existem os juros simples e os

juros compostos.

Os juros simples são os que incidem somente sobre o

valor principal corrigido monetariamente, ou seja, não há acréscimo sobre

o saldo devedor.

Os juros compostos, que também podem ser

chamados de capitalização composta, ou juros sobre juros, ou ainda juros

capitalizados, são assinalados no mundo jurídico como anatocismo.

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Os juros capitalizados consistem na superveniência de

juros sobre os juros acrescidos ao saldo devedor por não terem sido pagos.

Somente é permitido em apenas duas hipóteses: Quando há previsão

legal: anualmente nos saldos líquidos em conta corrente (art. 4o do

Decreto 22.626/33) e nas cédulas de crédito rural (Decreto Lei 167/67),

industrial (Decreto Lei 413/69) e comercial (Lei 6.840/80), onde há a

possibilidade de capitalização semestral.

Para todos as demais circunstancias, vigora a Súmula

121 do Supremo Tribunal Federal, que dispõe: "É vedada a capitalização

de juros, ainda que expressamente convencionada".

Destarte, tal ato consiste em somar os juros obtidos ao

capital, para que empregue esse proveito de base de cálculo a seguinte

contabilização de juros.

Insta consignar o que preleciona Thales Mello

Carvalho82 sobre os juros capitalizados:

Diz-se que um capital está colocado a juros compostos ou

no regime de capitalização composta, se no fim de cada

período financeiro previamente estipulado, o juro produzido

é adicionado ao capital e passa a render juro.

No magistério do ilustre jurista Ponte de Miranda83:

Dizem-se simples os juros que não produzem juros; juros

compostos os que fluem dos juros. Se se disse ‘com os juros

compostos de seis por cento’, entende-se que se estipulou

que o principal daria juros de seis por cento e sobre esses se

contariam os juros de seis por cento ao ano’ (com

capitalização anual).

82 CARVALHO, Thales Mello. Matemática comercial e financeira, p. 228. 83 MIRANDA, Pontes de. Tratado de Direito Privado – v. 24, p. 32

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Ou seja, para o cálculo de juros simples, os juros não

pagos não acrescem a base de cálculo para a incidência posterior de

novos juros simples. Na contagem de juros capitalizados, os juros irão incidir

não somente sobre o capital principal, como também sobre aqueles juros

que já incidiram sobre o saldo devedor.

Na doutrina brasileira, há autores que defendem a

capitalização, porém a corrente que é contraria a tal prática é a que

prevalece. Para este grupo a capitalização deve ser extraída de nosso

ordenamento jurídico.

Na posição dos que defendem a capitalização, se

pode destacar Aramy Dornelles da Luz84 que diz defendendo o

anatocismo:

Os Bancos, fazendo o que se convencionou chamar de

intermediação financeira, têm que repassar o dinheiro pelo

seu custo, mais o spread que constitui sua comissão. Ora, se

a capitalização mensal é consentida na captação como

seria possível proibir seu repasse? Pode um comerciante ser

obrigado a vender sua mercadoria com prejuízo? Há

fundamento jurídico a respaldar uma proibição dessa

natureza? Só mesmo em uma economia de guerra ter-se-á

justificativa jurídica.

No entanto, mesmo que alguns autores proponham

teses que visam defender a capitalização, a maioria da doutrina se

posiciona contra a referida prática. O rol de autores que assim se

posicionam é grande, se podendo destacar entre os principais, José

Reinaldo Coser85, Rodrigues Alves86 e Arnold Wald87.

84 LUZ, Aramy Dornelles da. Negócios jurídicos bancários, o banco múltiplo e seus contratos, p. 99-100. 85 COSER, Jose Reinaldo. Juros, p. 47. 86 ALVES, Vilson Rodrigues. Responsabilidade civil dos estabelecimentos bancários, p. 248 e 249. 87 WALD, Arnold. Curso de Direito Civil Brasileiro - Obrigações e Contratos, p. 122.

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A capitalização de juros provoca numa

desconformidade entre a prestação e a contraprestação paga. Ademais,

cumpre registrar que os bancos somente procuram utilizar a capitalização

na atividade passiva e não nas ativas. Quando é a instituição financeira

que deve remunerar o aplicador, a exemplo das cadernetas de

poupança, não há sequer a cogitação de capitalização de juros. Isto

ocorre porque os bancos sabem da dimensão do resultado da

capitalização dos juros em operações ativas.

2.3.2 Juros moratórios

Os juros moratórios são aqueles devidos no período de

atraso no cumprimento da obrigação, pelo tomador do dinheiro. A falta

de pagamento do débito no prazo estipulado constitui em mora o

devedor.

Segundo o ministro Ruy Rosado de Aguiar88,

“correspondem à pena pela morosidade ou tardança no pagamento do

principal. Pode não haver juros compensatórios e pactuarem-se

moratórios”.

Neste mesmo sentido, Paulo Maximilian Wilhem

Schonblum define os juros moratórios da seguinte forma:

Deveras importante é a distinção quanto à natureza da

obrigação de pagar os juros. São os mesmo classificados em

juros compensatórios e moratórios. Enquanto os primeiros –

muito se aproximando do próprio conceito de juros, são

pagos como compensação, ou remuneração, pelo fato do

credor estar privado da utilização de seu capital, os

segundos, consistem em punição pecuniária imposta por

ocasião de atraso no cumprimento de uma obrigação.

88 AGUIAR, Ruy Rosado de. Os contratos bancários e a jurisprudência do STJ, p. 78.

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Antônio José de Souza Levenhagen89 leciona que:

Os juros moratórios, em ultima analise, são, portanto,

acessórios do principal, isto é, da divida, e, desse modo,

necessária e automaticamente tornam-se devidos, desde

que positivado o retardamento no cumprimento da

obrigação.

Para os juros moratórios, a ocorrência do pressuposto

culpa é crucial, o que não ocorre com os juros remuneratórios, que são

devidos independentemente de retardamento culposo da obrigação.

Desta forma não há qualquer dúvida sobre a possibilidade de cumulação

de juros remuneratórios e moratórios em face da diferença entre estas

duas espécies de juros.

2.3.3 Comissão de permanência

Instituída pela Resolução 1.129/86 do BC, a comissão

de permanência é o valor cobrado do mútuo após o vencimento da

obrigação. Ao longo do tempo, tal instituto tem provocado polêmica no

que se refere a sua natureza, legalidade e aplicabilidade.

Murir Karam90, escreve que:

Outro encargo decorrente da mora é a comissão de

permanência. O que é a comissão de permanência? É a

somatória (o total) dos ônus a cargo do devedor moroso,

visando compensar o credor dos prejuízos com o atraso. Na

lição de Barros Leães: "Diz ela respeito à obrigação do

devedor em mora sujeitar-se a um acréscimo sobre os dias

de atraso, ou seja, sobre o período em que o título

permanece sem ser liquidado após o seu vencimento nas

mesmas bases proporcionais de juros, correção monetária e

encargos cobrados na operação primitiva, para que

89 LEVENHAGEN, Antônio José de Souza. Código Civil – comentários didáticos, p. 194. 90 KARAM, Murir. Da mora do devedor nos contratos bancários, p. 16.

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também permaneça imutável o rendimento produzido pelo

capital investido”.

Firmou-se entendimento no sentido de que a comissão

de permanência não se compõe em juros compensatórios ou

remuneratórios, mas sim em instrumento de atualização monetária do

saldo devedor. Fato este que a impede de ser cumulada com a correção

monetária, e nem tampouco exceder seus índices.

Cumular a comissão de permanência com a correção

monetária incidiria inexoravelmente em enriquecimento ilícito por parte

das instituições financeiras. A correção monetária foi criada como

mecanismo de compensação dos efeitos da inflação sobre os depósitos

da poupança, títulos do governo entre outros.

O Superior Tribunal de Justiça já firmou entendimento

por conta da Súmula 30 onde consta que “a comissão de permanência e

a correção monetária são inacumuláveis”.

Note-se, se o órgão colegiado que é o STJ, entendeu

que tanto a comissão quanto a correção se equivalem, por conseguinte

devem obedecer aos mesmos índices.

2.4 JUROS E SPREAD BANCÁRIO NO BRASIL

No Brasil, já é fato no notório que nossos juros são os

mais altos do globo. Tendo em vista este feito indiscutível, em outubro de

1999 o Banco Central do Brasil, lançou mão do estudo Juros e Spread

Bancário no Brasil91, com o intuito de fazer voltar a atenção à política

monetária.

O estudo do BC inicia sob a redação:

91 BANCO CENTRAL DO BRASIL. Juros e spread bancário no Brasil. 1999. O Estudo tem avaliação anual tendo no final de 2004 a edição da avaliação dos 5 anos do projeto.

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As taxas de juros brasileiras estão atualmente entre as mais

elevadas do mundo. Isso deve-se, em parte, às condições

macroeconômicas que caracterizaram o período recente, e

que hoje começaram a reverter-se. No entanto, essa é só

parte da explicação, pois a diferença entre as taxas de juros

básicas (de captação) e as taxas finais (custo ao tomador),

a qual denominamos de “spread”, também tem sido

expressiva, como demonstram as taxas de juros cobradas

nos empréstimos. Não obstante os spreads já terem caído

relativamente aos picos observados em 1995, ainda

permanecem em patamares bastante elevados.92

Explicar e determinar os componentes do spread é

crucial para entender a abusividade nos juros bancários.

Quando da criação do primeiro relatório do Projeto

Juros e Spread Bancário no Brasil em 1999, o spread consistia basicamente

em 22% para despesas administrativas, 14% em impostos indiretos e CPMF,

35% inadimplência, 11% IR/CSLL93 e por fim 18% era o lucro liquido do

banco94.

Fato que já mudou em 2003, conforme incisivo

editorial, onde o jornal Folha de São Paulo95 informa que:

De acordo com o relatório ‘Juros e Spread Bancário no

Brasil’, elaborado pelo BC, o spread está composto por 16%

pela inadimplência; 19% por despesas administrativas; 29%

por impostos; 36% pela margem líquida do banco. Margem

de lucro tão elevada garante os lucros astronômicos dos

bancos brasileiros, muito acima da média mundial.

O spread bancário se constitui na diferença entre o

custo da captação do dinheiro por um banco e a taxa de juros por ele

cobrada dos tomadores de empréstimo.

92 BANCO CENTRAL DO BRASIL. Juros e spread bancário, p. 3. 93 Imposto de Renda e Contribuição Social sobre Lucro Liquido. 94 BANCO CENTRAL DO BRASIL. Juros e spread bancário, p. 8. 95 Folha de São Paulo. Editorial de 6 de fevereiro de 2003, caderno A2.

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Correlacionando a alegação dos bancos de que o

spread bancário é alto motivado principalmente pela alta taxa de

inadimplência, com os dados fornecidos pelo Banco Central do Brasil, vê-

se que a afirmação não se justifica, como bem pondera o ministro Ruy

Rosado de Aguiar96 no sentido de que:

Como se vê, a alegação corrente de que o spread é

elevado por causa da inadimplência não procede, pois a

sua maior parcela, quase o triplo, corresponde ao lucro;

reduzido o quantitativo desde, certamente seria menos o

índice de inadimplência. Nos países em que é menor o

índice de inadimplência, é significativamente menor o

percentual do lucro.

Colacionando notícias extraídas do jornal Folha de São

Paulo, é possível ter uma idéia da incongruência das alegações dos

bancos para justificar o alto custo do crédito.

Por vezes as instituições financeiras dizem que a

inadimplência é o principal fator do alto spread bancário. Na página

seguinte à reportagem que informa que o Bradesco obteve lucro recorde

de 5,5 bilhões de reais, extrai-se do caderno Dinheiro da Folha de São

Paulo97 o seguinte trecho:

Os bancos creditam ao aumento da inadimplência ocorrido

entre dezembro e janeiro a justificativa da alta dos juros no

período. Anda assim, segundo a Febraban (Federação

Brasileira dos Bancos), a tendência é que as taxas se

reduzam nos próximos meses.

Aduzia-se que a falta de bons pagadores era o fator

fundamental para o alto custo do crédito brasileiro. Após infrutíferas

tentativas de sustentar o motivo do alto custo do crédito na

96 AGUIAR, Ruy Rosado de. Os contratos bancários e a jurisprudência do STJ, p. 78. 97 Folha de São Paulo. 23 de fevereiro de 2006. Inadimplência explica alta, diz Febraban, p. B4.

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inadimplência, recentemente a Febraban tenta mudar o discurso

afirmando que, além da inadimplência, o governo, ao tirar empréstimos,

estes remunerados de acordo com a taxa SELIC, é que torna exacerbado

o custo do dinheiro.

Nesta trilha que informa o jornal Folha de São Paulo98:

Para os bancos, os juros cobrados no Brasil são os mais altos

do que no resto do mundo por causa de distorções

provocadas pelo governo. Entre os responsáveis pelo

encarecimento do crédito são citados pela Febraban

(Federação Brasileira dos Bancos) a carga tributária, o

recolhimento compulsório e a dívida pública.

Ou ainda como se pode extrair do site da Febraban, a

nova posição sobre o alto custo do crédito:

Mas, diferentemente do que ocorre em outros países, onde

os bancos vivem de emprestar dinheiro aos clientes, no Brasil

o grande tomador de empréstimos é o governo, que

precisa financiar seus enormes déficits. Os juros são altos

porque o governo, maior devedor da economia, precisa

pagar juros altos para obter empréstimos internos para

financiar o déficit público. Se, por exemplo, o rombo da

Previdência puder ser sanado, a dívida pública será menor

e ficará mais barata.99

Com simples dedução lógica, se pode constatar que

não é a simples inadimplência, ou quiçá, os empréstimos tomados pelo

governo que tornam tão caros o crédito ao consumidor. Na ponta do

lápis, se vê que a sede exponencial por lucros maiores por parte das

instituições financeiras é o real fator.

98 Folha de São Paulo. 16 de fevereiro de 2006. Banco põe culpa de juro alto no governo. p. B3. 99 FEBRABAN. Porque os juros são altos no Brasil. Disponível em http://www.febraban.com.br. Acesso em: 24 de março de 2006.

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Convém salientar que a porcentagem de lucro das

instituições financeiras caso se concentre a atenção nos juros praticados

no cheque especial, onde o risco de inadimplência é baixíssimo, o lucro

do banco representa algo em torno de 31% do spread.

2.5 A TAXA SELIC E OS JUROS REMUNERATÓRIOS

O Selic foi criado por ato interno do Banco Central

onde na circular BACEN / 2.868, de 04 de março de 1999, em seu artigo 2º,

§ 1º, encontra-se a melhor definição da Taxa Selic, “Define-se Taxa Selic

como a taxa média ajustada dos financiamentos diários apurados no

Sistema Especial de Liquidação e de Custódia (SELIC) para títulos

federais”. 100

A exemplo do funcionamento do Selic, o Banco X

possui títulos públicos registrados no SELIC e pretende obter uma certa

quantidade de recursos para realizar determinada operação. Em seguida

o Banco X vende tantos títulos quanto ache necessário para o Banco Y e

se compromete a comprá-los novamente num prazo determinado, que

geralmente é fixado em um dia, por um valor maior. Esta operação é o

que ficou conhecido como compra e venda compromissada.

Sobre o tema André Santos Zanon101 explica:

A média das alíquotas praticadas no mercado financeiro

em operações compromissadas com títulos públicos

registrados no SELIC possui a mesma denominação. Ela é

apurada mediante o cálculo da média ponderada e

ajustada das operações de financiamentos por um dia.

100 Da mesma forma na circular BACEN de número 2.900, de 24 de junho de 1999, também em seu artigo 2º, § 1º. 101 ZANON, André Santos. A SELIC e a sua aplicação na atualização monetária dos créditos tributários. GET-ES. disponível em http://br.geocities.com/get_es/index.htm. Acesso em 25 de março de 2006.

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Verifica-se, portanto, da operação financeira demonstrada,

que a SELIC possui, sim, natureza de juros reais, utilizados no

mercado, e que representam a remuneração pela

utilização do capital alheio.

Vale salientar que a taxa básica de juros (SELIC)

decidida nas reuniões do COPOM não tem relação direta com os juros

praticados pelas instituições financeiras, servindo somente como

parâmetro, ao contrário do que dizem os bancos.

É o que pode constatar da informação constante na

Folha de São Paulo102 conforme se segue:

Para quem está endividado, de nada adiantou, até agora o

Banco Central reduzir os juros básicos da economia.

Pesquisa feita pelo próprio BC mostra que os bancos só não

repassaram essa queda aos seus clientes como, em muitos

casos ainda elevaram suas taxas. (...) O custo dos bancos é

influenciado entre outros fatores pelo comportamento da

taxa Selic e pela expectativa que o mercado tem em

relação ao seu futuro.

Mesmo após a progressiva redução da taxa de juros

básicos da economia, os juros operados pelos participantes do SFN em

nada, ou pouco, alteraram.

2.6 A FORMAÇÃO DA TAXA DE JUROS REMUNERATÓRIOS

Ao tomar um empréstimo no banco, fica

convencionada a taxa de juros remuneratórios que o tomador ira pagar

ao credor. Esta taxa leva em conta diversos fatores diretamente

influenciados pelo spread bancário.

102 Folha de São Paulo. 23 de fevereiro de 2006. Banco ignora Selic e eleva margem cobrada nos juros, p. B4.

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O ministro Ruy Rosado de Aguiar103 explica que “para o

cálculo dos juros, considera-se o custo de captação do dinheiro, a

sobretaxa do banqueiro, a desvalorização da moeda e, por fim, os riscos

operacionais, pois, quanto maior a possibilidade de inadimplência, maior

o risco”.

No juízo de Carlos Galves104:

De um modo geral, pode-se dizer que baixa taxa de juros

favorece o investimento, a produção, e, pois, a atividade e

o progresso da economia nacional. (...)

O tomador, por seu lado, só toma o empréstimo, se o

investimento que tem em vista, for dar um rendimento que

permita pagar os juros do empréstimo e recompensar o

próprio tomador pela atividade despendida: a tomada de

empréstimo depende, pois, do rendimento esperado do

capital.

Com altas taxas de juros, o tomador diminui seu lucro,

absorvendo o resultado de seu trabalho para pagar os juros contratados.

Não havendo lucro suficiente percebe-se que há perda nos investimentos

e na produção.

Corroborando este entendimento Rolando Lupinacci105

afirma que “a contrário senso, as altas taxas de juros impedem o

investimento, a produção e o progresso da economia nacional”. E por fim

o autor complementa sua assertiva:

Tem-se em resumo, que existe uma correlação entre a taxa

de lucros e a taxa de juros, de forma que quanto maior a

taxa de juros menor será a procura do crédito, pois os lucros

mostrar-se-ão, insuficientes no plano individual e geral.

103 AGUIAR, Ruy Rosado de. Os contratos bancários e a jurisprudência do STJ, p. 77. 104 Carlos Galves apud LUPINACCI, Rolando. Limite da taxa de juros no Brasil, p. 24. 105 LUPINACCI, Ronaldo Ausone. Limite da taxa de juros no Brasil, p. 24 a 26.

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Por outro lado, se a taxa de juros tende a superar a taxa de

lucros de uma economia, considerada em seu todo, é

porque estarão atuando fatores de perturbação ou de

distorção dentre os quais se coloca, em primeiro lugar, nos

dias atuais a interferência do Estado, freqüentemente

exorbitante e geralmente desastrada.

Os fatores de perturbação e de distorção desorganizam o

mercado da moeda ensejando com muito maior

freqüência a prática de abusos, dado que a escassez de

pecúnia assanha a ganância dos agiotas e acentua a

debilidade dos mutuários.

Além do que não é dever precípuo dos bancos a

simples obtenção de lucros. A carta constitucional outorgou ao SFN o

dever de promover o desenvolvimento equilibrado do País e servir aos

interesses da coletividade106, como bem apontou o Desembargador

Márcio Oliveira Puggina107:

Olvida-se a função socioeconômica da permissão

concedida que é de auxiliar e fomentar o desenvolvimento.

Assim, o banco não pode assumir a posição privatística de

simples emprestador de capital e que visa apenas o lucro,

pois exerce uma função de interesse público de

proporcionar o desenvolvimento econômico.

A constituição deu poderes aos bancos para que estes

pudessem fomentar o desenvolvimento econômico da nação como um

todo, porém com os juros aplicados nas operações financeiras somente se

desenvolvem economicamente os próprios bancos.

106 Art. 192 da Constituição Federal “O sistema financeiro nacional, estruturado de forma a promover o desenvolvimento equilibrado do País e a servir aos interesses da coletividade, em todas as partes que o compõem, abrangendo as cooperativas de crédito, será regulado por leis complementares que disporão, inclusive, sobre a participação do capital estrangeiro nas instituições que o integram”. 107 TJRS – 4ª Cam., Apel. 193051083, Rel. Dês. Márcio Oliveira Puggina.

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CAPÍTULO 3

A LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS

3.1 OS ATOS NORMATIVOS DO BC E DO CMN

Em data de 1º de outubro de 1965 o CMN emitiu a

circular de número 14, destinada aos estabelecimentos bancários onde

considerava que a majoração dos custos operacionais da rede bancária

provocaria repercussões desfavoráveis sobre o custo da produção e o

preço de venda dos produtos industriais e agrícolas, prejudicando desta

forma os assalariados em geral. Desta forma o CMN informava que:

tendo em vista, [...], o empenho do Governo na redução da

taxa de juros e outros encargos e, portanto, na contenção

do custo das operações, como parte do programa de

estabilização monetária, DELIBEROU recomendar aos

estabelecimentos bancários que se abstenham de adotar

práticas tendentes a onerar aqueles custos [...].

Em seguida, na data de 13 de julho de 1983, com a

edição da Resolução 844/BACEN, fixou-se pela última vez a taxa de juros

legais, quando o CMN resolveu:

I - Limitar as taxas cobradas pelos bancos comerciais em

suas operações ativas com recursos internos e de prazo

inferior a 180 (cento e oitenta) dias, em:

a) no máximo, 5% (cinco por cento) ao mês, para bancos

de grande porte;

b) no máximo, 6% (seis por cento) ao mês, para os

pequenos e médios bancos.

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II - Limitar as taxas de juros cobradas pelos bancos

comerciais, bancos de investimento e bancos de

desenvolvimento, em suas operações sujeitas a correção

monetária idêntica aos índices de variação das Obrigações

Reajustáveis do Tesouro Nacional (ORTN), em:

a) no máximo, 20% (vinte por cento) ao ano, para bancos

de grande porte.

b) no máximo, 24% (vinte e quatro por cento) ao ano, para

os pequenos e médios bancos.

Todavia, na época da publicação da Resolução

844/BACEN, quando se limitou a taxa de juros em 6% ao mês (72% ao ano),

o cenário econômico era completamente diferente do que se apresenta

atualmente, em que os bancos atuam em um mercado já consolidado.

Ainda assim, o Banco Central do Brasil, por meio do

Conselho Monetário Nacional, deixou de determinar o limite para as taxas

de juros quando da edição da Resolução 1.064/BACEN, em 05 de

dezembro de 1985, que dispunha em seu inciso I:

Ressalvado o disposto no item III, as operações ativas dos

bancos comerciais, de investimento e de desenvolvimento

serão realizadas a taxas de juros livremente pactuáveis.

Na aludida resolução as instituições financeiras

receberam carta branca para cobrarem quanto bem entenderem a título

de juros remuneratórios.

Desta forma, se eliminou o obstáculo para a livre

fixação da taxa de juros, reduzindo os contratantes à obediência do

mercado financeiro.

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3.2 A LEI DE REFORMA BANCÁRIA E A COMPETENCIA DO CMN

Com o advento da Lei de Reforma Bancária (Lei

4.595/64), norma que disciplina todo o Sistema Financeiro Nacional, bem

como suas instituições, foi delegado ao Conselho Monetário Nacional a

competência normativa de regular a taxa de juros conforme determinado

pelo artigo 4º:

Art. 4º - Compete ao Conselho Monetário Nacional:

(...)

IX - limitar, sempre que necessário, as taxas de juros.

Em leitura ao inciso IX do artigo 4º da Lei Reforma

Bancária se constata que este concede poderes ao Conselho Monetário

Nacional para limitar a taxa de juros praticada no mercado. No entanto o

vocábulo “limitar” passou a ser interpretado como se fosse “liberar”.

Sobre este tema, Celso Marcelo de Oliveira108 se

posicionou da seguinte forma:

A carta de 1988 tem princípios, fundamentos em que as

funções de cada um dos três poderes ficou bem definida. A

competência para legislar é exclusiva do Poder Legislativo.

Por isto, impossível considerar tenha sido recepcionada pela

Carta de 88 a Lei 4595/64, muito especialmente diante do

que dispõe o art. 25 do ADCT. No que tange a este detalhe,

vale ressaltar que a Lei 4595/64 outorga ao Conselho

Monetário Nacional poderes para limitar as taxas de juros.

Ora, revogados expressamente os dispositivos legais que

atribuíam ou delegavam a órgãos do Poder executivo

qualquer das matérias de competência do Congresso

Nacional, como aceitar que uma lei (a 4595/64) pudesse 108 OLIVEIRA, Celso Marcelo. A aplicação da Lei de Usura Financeira aos contratos em discussão e a revogação da Súmula 596 do Supremo Tribunal Federal. Escritório Online. disponível em http://www.escritorioonline.com/webnews/noticia.php?id_noticia=2581&. Acesso em 10 de maio de 2006.

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por via direta ou indireta (por delegação ao Conselho

Monetário Nacional), excluir as instituições financeiras da

eficácia das normas vigentes, como a Lei da Usura?

De mais a mais, o ponto fundamental é que a Lei

4.595/64 foi recebida quando da vigência da Constituição de 1947 que

até não admitia a delegação de poderes.

O artigo 36 e seu parágrafo 2º da Carta de 1947 assim

dispunha:

Art 36 - São Poderes da União o Legislativo, o Executivo e o

Judiciário, independentes e harmônicos entre si.

(...)

§ 2º - É vedado a qualquer dos Poderes delegar atribuições

Desta forma, a Lei 4.595/64 já nasceu nula de pleno

direito em sua concepção e não poderia ter sido recebida pela

constituição de 1988, pois no mundo jurídico ela nunca existiu.

Em que pese, a não nulidade da Lei de Reforma

Bancária, de tal sorte a delegação fosse perfeitamente válida, como dito

alhures, limitar em nada se confunde com liberar. Ou seja, o Conselho

Monetário Nacional não pode deixar a mercê única e exclusivamente das

instituições financeiras a estipulação da taxa de juros.

Muito comumente, os bancos estabelecem juros que

ultrapassam os 15% ao mês, situação esta que já é capaz de originar a

inadimplência pelo tomador do crédito, por ser no mínimo difícil conceber

que uma atividade lícita possa proporcionar lucro suficiente para liquidar

tais encargos.

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Os bancos tendem a alegar que o Conselho Monetário

Nacional libera a livre estipulação da taxa de juros. Nesta esteira de

pensamento, colhe-se da jurisprudência pátria:

Mas mesmo que se admita a título de argumentação, que

as taxas de juros estariam liberadas pelo Conselho

Monetário Nacional, não se pode perder de vistas que assim

está ele agindo exclusivamente de acordo com as

circunstâncias e interesses próprios do sistema e da

atividade bancária. Desimporta, para este órgão, por óbvio,

a questão do equilíbrio da comutatividade dos contratos.

Contudo, para o Poder Judiciário, quando provocado, tal

questão não pode escapar do necessário e detido exame e

consideração, pois é na busca de equilíbrio e na

pacificação das relações jurídicas que o Judiciário exaure

sua função precípua.109

Vê-se claramente que não pode-se levar em

consideração única e exclusivamente as diretrizes do CMN pelo fato

desde agir por objetivo próprio, qual seja a fomentação do SFN, muitas

vezes em detrimento do desenvolvimento comum.

3.3 OS JUROS DE MERCADO, A LEI DE ECONOMIA POPULAR E OS JUROS

REMUNERATÓRIOS

Neste ponto, é importante correlacionar os juros de

mercado, com a lei de economia popular e sua ligação com os juros

remuneratórios.

O artigo 4º da Lei 1.521, de 26 de dezembro de 1951,

conhecida como Lei de Economia Popular, assim dispõe:

Art. 4º. Constitui crime da mesma natureza a usura

pecuniária ou real, assim se considerando:

109 Apelação Cível n 70000053595. Rel. Dês. Henrique Osvaldo Poeta Roenick.

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a) cobrar juros, comissões ou descontos percentuais, sobre

dívidas em dinheiro superiores à taxa permitida por lei;

cobrar ágio superior à taxa oficial de câmbio, sobre quantia

permutada por moeda estrangeira; ou, ainda, emprestar

sob penhor que seja privativo de instituição oficial de

crédito;

Porém, qual seria o limite da taxa de juros permitida em

lei?

O Superior Tribunal de Justiça tem entendido que “os

juros bancários cobrados na vigência do contrato, somente poderão ser

considerados abusivos quando forem excessivos em relação à taxa média

de mercado” 110.

O critério adotado pelo STJ para limitação dos juros

segundo as médias das taxas praticadas no mercado é no mínimo

questionável.

Isto porque a referida taxa é formada única e

exclusivamente pela coleta de dados fornecidos pelos próprios bancos.

Ou seja, se restringe a acompanhar variáveis determinados pelas

instituições financeiras, em interesse conveniente a si mesmo.

O Banco Central do Brasil111, respondendo consulta do

Min. Antônio de Pádua Ribeiro, informou que:

Com relação à taxa média de mercado, lembramos que o

tema já foi alvo de consulta do também Ministro dessa

Corte Sálvio de Figueiredo Teixeira, ocasião em que este

Departamento, no expediente Denor-2001/00787, de 22 de

maio de 2001, manifestou o entendimento de que se trata

da taxa praticada pela própria instituição em operações de

mesmas características.

110 Resp 271.214 – RS Relator para o acórdão Ministro Carlos Alberto Menezes Direito. 111 AGUIAR, Rui Rosado. in Os contratos bancários e a jurisprudência do STJ. Citando Ofício do BACEN 2001/04653/DEJUR/GABIN, de 11 de outubro de 2001.

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A taxa de juros remuneratórios que é informada pelo

BC tem origem no recolhimento das informações das taxas praticadas

pelos bancos nas operações de mercado.

Desta forma não há sequer padrão seguro para se

assegurar a legitimidade dos juros convencionados.

Conforme o disposto no artigo 122 do CC/2002 “São

lícitas, em geral, todas as condições não contrárias à lei, à ordem pública

ou aos bons costumes; entre as condições defesas se incluem as que

privarem de todo efeito o negócio jurídico, ou o sujeitarem ao puro arbítrio

de uma das partes”.

Ora, os juros de mercado não são estipulados

unilateralmente pelos bancos? Ao consumidor somente cabe aceitar a

taxa imposta sob pena de não ter acesso ao crédito.

Segundo dados do Banco Central112, os juros de

mercado para o cheque especial, por exemplo, ultrapassam os 11 % ao

mês, ou 132 % ao ano, sem levar em consideração a capitalização de

juros.

Em contrapartida, o custo do dinheiro113 está em torno

de 1% ao mês, o que torna inteligível por simples comparação o motivo

que leva os bancos a superar mês a mês o recorde de seus lucros.

3.4 A LIMITAÇÃO DOS JUROS REMUNERATÓRIOS NOS CONTRATOS

BANCÁRIOS

Em período de relativa estabilidade econômica, mas

que, em contrapartida, percebe-se uma diminuição considerável do

112 Dados consolidados (mensal) disponível em http://www.bcb.gov.br/?taxacredmes Acesso em 11 de maio de 2006. 113 Taxa que remunera os investidores da poupança além de outras aplicações de baixo risco.

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poder aquisitivo da população, surge o compromisso do Judiciário de

estar atento aos reclames sociais, éticos e morais de seus jurisdicionados.

Não podendo ser utilizada a taxa média de juros de

mercado fornecidos pelo BC em face de sua unilateralidade na formação

e não havendo quaisquer normas legais que, de forma expressa, limitem a

taxa de juros remuneratórios nos contratos de natureza bancária, deve-se

fixar tais taxas consoante anteriores praticas legislativas, aonde em suas

proposições reproduziam a vontade de fixar fronteira para a remuneração

de valores.

No Código Civil de 1916, seu artigo 1.062 expressava

que:

Art. 1.062. A taxa dos juros moratórios, quando não

convencionada (art. 1.262), será de 6% (seis por cento) ao

ano.

Já a Lei 22.626, de 07 de abril de 1933 em seu artigo 1º

trazia que:

Art. 1º É vedado, e será punido nos termos desta lei, estipular

em quaisquer contratos taxas de juros superiores ao dobro

da taxa legal (Código Civil, art. 1062).

Desta forma havia parâmetros para limitar os juros

remuneratórios combinando o artigo 1.062 do CC/1916 com o artigo 1º do

Decreto 22.626/33, conhecida como Lei de Usura, que já indicavam o

limite de 12% (doze por cento) a.a.

Retira-se da jurisprudência da Décima Quarta Câmara

Cível do Tribunal de Justiça do Rio Grande do Sul114:

A luz do artigo 4º da LICC, num regime de moeda estável e

numa economia de tendência deflacionária, nem a 114 Apelação Cível 700000906669. Rel. Des. Sebastião de Paula Nery.

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analogia, nem outros costumes, nem os princípios gerais do

direito permitem a cobrança de juros superiores a 12% ao

ano. Pela analogia, nos países industrializados de economia

estável, os juros não são superiores a 0,5% ao mês. Para um

país que, tendo vivido submerso numa espiral inflacionária,

dela enriqueceu para um regime monetário relativamente

estável, mandam is costumes que os juros acompanhem a

taxa inflacionária desse regime. Aos princípios gerais do

direito repugna a iniqüidade, o poder do mais forte, a

violência econômica dos donos do dinheiro. As taxas de

juros propostas pelo artigo. 1.062 Código Civil Brasileiro e

pelo Decreto 22.626/1933 são excelentes parâmetros para

que se defina um limite para a cobrança de juros que

permita, ao mesmo tempo, bem remunerar a instituição

financeira e assegurar ao consumidor uma onerosidade

adequada à sua posição.

Há que se considerar a disposição da Súmula 596 do

STF que dispõe “As disposições do Decreto 22.626/33 não se aplicam às

taxas de juros e aos outros encargos cobrados nas operações realizadas

por instituições públicas ou privadas que integram o sistema financeiro

nacional”.

Desta forma, em que pese a não aceitação da tese

de limitação da taxa de juros pelo CC/1916 combinado com a Lei de

Usura, os juros remuneratórios, constantes dos contratos bancários,

continuam limitados a 12% ao ano, por força dos artigos 406 e 591 do novo

Código Civil Brasileiro.

Dispõe o artigo 591 do CC/2002:

Art. 591. Destinando-se o mútuo a fins econômicos,

presumem-se devidos juros, os quais, sob pena de redução,

não poderão exceder a taxa a que se refere o art. 406,

permitida a capitalização anual.

Logo, verifica-se o artigo 406 do mesmo regramento:

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Art. 406. Quando os juros moratórios não forem

convencionados, ou o forem sem taxa estipulada, ou

quando provierem de determinação da lei, serão fixados

segundo a taxa que estiver em vigor para a mora do

pagamento de impostos devidos à Fazenda Nacional.

A taxa sustentada pelo artigo 406 do Código Civil é a

de 1% ao mês, por ser a taxa de juros legais devidas para o pagamento

dos impostos pagos para a Fazenda Nacional, conforme artigo 161, § 1º

do CTN onde se lê que “se a lei não dispuser de modo diverso, os juros de

mora são calculados à taxa de um por cento ao mês”.

Com efeito, as disposições dos artigos 406 e 591 do

CC/2002 são de cunho específico que tratam sobre os juros dos contratos

de mútuo. Ademais tais disposições são posteriores ao artigo 4º, IX da Lei

de Reforma Bancária.

Nos termos do § 1º do artigo 2º da LICC que disciplina

que “A lei posterior revoga a anterior quando expressamente o declare,

quando seja com ela incompatível ou quando regule inteiramente a

matéria de que tratava a lei anterior”. As antinomias tendem a ser

afastadas pela primazia da norma mais recente, se for o caso de normas

da mesma hierarquia ou pela predileção da norma superior, caso seja

normas de diferente hierarquia.

Desta forma, a competência do Conselho Monetário

Nacional é a de estabelecer ao SFN, quando necessário, taxas menores

que o máximo legal e não acima deste.

Importante ainda frisar o disposto no artigo 173, § 4º da

Carta Magna, “A lei reprimirá o abuso do poder econômico que vise à

dominação dos mercados, à eliminação da concorrência e ao aumento

arbitrário dos lucros”.

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Em tempo, nos contratos de natureza bancária, deve-se

primariamente levar em consideração o princípio do equilíbrio contratual

observando o disposto no artigo 51, IV do CDC que dispõe:

Art. 51. São nulas de pleno direito, entre outras, as cláusulas

contratuais relativas ao fornecimento de produtos e serviços

que:

(...)

IV - estabeleçam obrigações consideradas iníquas,

abusivas, que coloquem o consumidor em desvantagem

exagerada, ou sejam incompatíveis com a boa-fé ou a

eqüidade;

De tal sorte, torna-se inadmissível permitir que a taxa de

juros remuneratórios seja fixado conforme a taxa média do mercado,

posto o fato de que esta taxa é fixada unilateralmente por informações

coletadas dos próprios integrantes do SFN que refletem sua prática

abusiva.

Por fim, resta claro perceber que o limite de 12% ao

ano é mais que suficiente para remunerar o capital mutuado e encontra

amparo legal nos artigos 406 e 591 do Código Civil combinado com o 161,

§ 1º do Código Tributário Nacional, tendo a possibilidade de alteração da

clausula abusiva amparada pelo artigo 51, IV do CDC.

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CONSIDERAÇÕES FINAIS

A fim de ilustrar a situação, as instituições financeiras

obtêm mais que duas vezes o valor mutuado.

Em nenhum momento se pretende deixar de admitir

que é justo ao credor verter ao valor do custo do crédito, os valores a título

da administração do negócio, incluídos ainda o risco bem como o lucro.

Entretanto, não se pode admitir que o lucro seja

alcançado em detrimento do tomador para alcançar alturas pouco

razoáveis, o que por si só indicam declarado abuso do poder econômico

(Art. 173, §4º CF).

Verifica-se então que não há como limitar os juros

remuneratórios ao máximo da Taxa Selic, pois nela já se incluem os juros e

a correção monetária pelos índices da inflação, de modo que não é

possível o conhecimento prévio da taxa de juros.

Além do que a taxa Selic foi criada por ato interno do

Banco Central e não por Lei.

Ademais, não é dever precípuo do juiz intervir no

mercado a fim de estipular taxas, porém é sim dever do magistrado

ingerir-se no contrato em que lhe foi apresentado, procurando

estabelecer o equilíbrio contratual, tornando proporcional a prestação

adquirida do credor com a contraprestação exigida do devedor. Cabe

ao magistrado a aplicação das disposições legais que inibem a

efetivação de clausulas abusivas.

Por fim, se entende que permanece o limite legal de

12% ao ano para os juros remuneratórios, por força da limitação constante

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no artigo 591 combinado com 406 do Código Civil de 2002, que remete

ao artigo 161, § 1º do Código Tributário Nacional.

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