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1 ___________________________ 1 Graduando do Curso de Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro de Ensino Superior do Seridó/CERES, Campi de Caicó/RN. E-mail: [email protected] 2 Doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em Ciências Jurídicas pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Professor Assistente da Universidade Federal do Rio grande do Norte (UFRN). Autor do livro “Mercosul e Estado de Direito”. E-mail: [email protected] A LIBERDADE RELIGIOSA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 E ALGUNS ASPECTOS POLÊMICOS Autor: Paulo Anderson Moreira de Araujo¹ Orientador: Prof. Dr. Orione Dantas de Medeiros² SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Evolução da Liberdade Religiosa no Brasil. 2.1 A Constituição do Brasil de 1824. 2.2 A Constituição do Brasil de 1891. 2.3 A Constituição do Brasil de 1934. 2.4 A Constituição do Brasil de 1937. 2.5 A Constituição do Brasil de 1946. 2.6 A Constituição do Brasil de 1967/69. 2.7 A Constituição do Brasil de 1988. 3. Amplitude da liberdade de Religião na Constituição Federal de 1988. 3.1 A Liberdade Religiosa e o Direito ao Ateísmo. 3.2 O Sistema Tributário e a Liberdade Religiosa. 3.3 O Preâmbulo da Constituição Federal de 1988. 3.4 A Escusa de Consciência por Motivos Religiosos. 3.5 Pode haver cooperação entre o Estado e a Igreja havendo colaboração de interesse público. 3.6 A Assistência Religiosa nos Estabelecimentos de Internação Coletiva. 4. Aspectos Polêmicos referente à Liberdade Religiosa. 4.1 A expressão Deus seja louvado nas notas de Real. 4.2 O Sacrifício de Animais nos Rituais Religiosos. 4.3 O Curandeirismo e as Cirurgias Espirituais. 4.4 O não recebimento de sangue por Testemunhas de Jeová. 4.5 O uso de Símbolos Religiosos em Locais Públicos. 4.6 Os Feriados Religiosos. 4.7 O Ensino Religioso nas Escolas Públicas. 4.8 Proselitismo Religioso. 5. Considerações Finais. Referências Bibliográficas.

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Page 1: A LIBERDADE RELIGIOSA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 E … · 4.5 O uso de Símbolos Religiosos em Locais Públicos. 4.6 Os Feriados Religiosos. ... de crença, da liberdade de culto e

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___________________________

1 Graduando do Curso de Direito pela Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), Centro

de Ensino Superior do Seridó/CERES, Campi de Caicó/RN. E-mail: [email protected]

2 Doutor em Direito pela Universidade Federal de Pernambuco (UFPE), Mestre em Ciências Jurídicas

pela Universidade Federal da Paraíba (UFPB), Professor Assistente da Universidade Federal do Rio

grande do Norte (UFRN). Autor do livro “Mercosul e Estado de Direito”. E-mail:

[email protected]

A LIBERDADE RELIGIOSA NA CONSTITUIÇÃO DE 1988 E ALGUNS ASPECTOS

POLÊMICOS

Autor: Paulo Anderson Moreira de Araujo¹

Orientador: Prof. Dr. Orione Dantas de Medeiros²

SUMÁRIO: 1. Introdução. 2. Evolução da Liberdade Religiosa no Brasil. 2.1 A Constituição

do Brasil de 1824. 2.2 A Constituição do Brasil de 1891. 2.3 A Constituição do Brasil de

1934. 2.4 A Constituição do Brasil de 1937. 2.5 A Constituição do Brasil de 1946. 2.6 A

Constituição do Brasil de 1967/69. 2.7 A Constituição do Brasil de 1988. 3. Amplitude da

liberdade de Religião na Constituição Federal de 1988. 3.1 A Liberdade Religiosa e o Direito

ao Ateísmo. 3.2 O Sistema Tributário e a Liberdade Religiosa. 3.3 O Preâmbulo da

Constituição Federal de 1988. 3.4 A Escusa de Consciência por Motivos Religiosos. 3.5 Pode

haver cooperação entre o Estado e a Igreja havendo colaboração de interesse público. 3.6 A

Assistência Religiosa nos Estabelecimentos de Internação Coletiva. 4. Aspectos Polêmicos

referente à Liberdade Religiosa. 4.1 A expressão Deus seja louvado nas notas de Real. 4.2 O

Sacrifício de Animais nos Rituais Religiosos. 4.3 O Curandeirismo e as Cirurgias Espirituais.

4.4 O não recebimento de sangue por Testemunhas de Jeová. 4.5 O uso de Símbolos

Religiosos em Locais Públicos. 4.6 Os Feriados Religiosos. 4.7 O Ensino Religioso nas

Escolas Públicas. 4.8 Proselitismo Religioso. 5. Considerações Finais. Referências

Bibliográficas.

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Catalogação da Publicação na Fonte Universidade Federal do Rio Grande do Norte - UFRN Sistema de Bibliotecas -

SISBI

Araujo, Paulo Anderson Moreira de.

A liberdade religiosa na constituição de 1988 e alguns aspectos

polêmicos / Paulo Anderson Moreira de Araujo. - Caicó: UFRN, 2015.

35f.

Orientador: Dr. Orione Dantas de Medeiros.

Trabalho de Conclusão de Curso - Bacharelado em Direito -

Universidade Federal do Rio Grande do Norte.

1. Aspectos Polêmicos - Brasil. 2. Constituição Federal. 3.

Liberdade Religiosa. 4. Religião. I. Medeiros, Orione Dantas de.

II. Título.

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RESUMO: O presente trabalho científico tem a intenção de abordar a análise da liberdade

religiosa na Constituição Federal de 1988 e alguns aspectos polêmicos referente a este

assunto, tendo como base os ensinamentos dos principais doutrinadores desse tema e da

jurisprudência. Além do mais, apresenta uma visão geral acerca da amplitude e dos aspectos

da liberdade religiosa, demonstrando a sua importância para o desenvolvimento desse

assunto. Por fim, apresenta várias polêmicas acerca desse tema.

Palavras-chave: Liberdade Religiosa; Religião; Constituição Federal; Aspectos Polêmicos;

Brasil.

ABSTRACT: This scientific work has the intent to approach the analysis of religious

freedom in the federal constitution of 1988 and some controversial aspects concerning this

affair, based on the teachings of the leading scholars of this issue and case law. Besides, it

presents an overview about the breadth and aspects of religious freedom, demonstrating their

contribution to the development of this subject. Finally, it presents several controversies about

this theme.

Keywords: Religious Freedom; Religion; Federal Constitution; Controversial Aspects;

Brazil.

1. Introdução

Desde os tempos antigos, percebemos que as crenças religiosas ou as religiões

estão presentes na vida das pessoas, conforme observamos através da arqueologia. Porém,

cumpre destacar que durante boa parte da história, a liberdade religiosa não era garantida para

a sociedade, pois ela só foi alcançada recentemente. Aliás, há ainda hoje vários países em

todo o mundo, que não concedem liberdade religiosa para as pessoas.

No caso do Brasil, pode-se afirmar que a constituição de 88, concede para as

pessoas liberdade religiosa, diferentemente da constituição de 1824, que previa que a religião

oficial do Brasil seria a Católica Apostólica Romana.

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É importante ressaltar que, muito embora a liberdade religiosa seja um tema que

aparente ser simples, ela é um assunto muito complexo e amplo, de tal forma que apresenta

inúmeros aspectos e vários pontos polêmicos, difíceis de serem solucionados.

Iniciaremos o presente trabalho fazendo um esboço histórico acerca da liberdade

religiosa nas constituições brasileiras, demonstrando como ocorreu o seu processo de

evolução no Brasil, até a Constituição Federal de 88.

Logo após, trataremos da amplitude da liberdade religiosa, ou seja, da liberdade

de crença, da liberdade de culto e da liberdade de organização religiosa. Discorremos

também, sobre alguns aspectos da liberdade religiosa, como a liberdade religiosa e o direito

ao ateísmo, o sistema tributário e a liberdade religiosa, o preâmbulo da constituição de 88, a

escusa de consciência por motivos religiosos, a assistência religiosa nos estabelecimentos de

internação coletiva e se é possível haver cooperação entre Estado e Igreja.

Abordaremos ainda, alguns aspectos polêmicos referentes a liberdade religiosa,

como a expressão “Deus seja louvado” nas notas de real, o sacrifício de animais nos rituais

religiosos, o curandeirismo e as cirurgias espirituais, o não recebimento de sangue por

Testemunhas de Jeová, o uso de símbolos religiosos em locais públicos, os feriados religiosos,

o ensino religioso nas escolas públicas e o proselitismo religioso.

2. Evolução da Liberdade Religiosa no Brasil

Inicialmente, é importante destacar que durante o período colonial (1500-1822), a

liberdade religiosa que atualmente desfrutamos no Brasil não era concedida para as pessoas

aqui residentes, pois durante esse período a religião Católica Apostólica Romana era

considerada como a religião oficial nas terras brasileiras. Além do mais, durante esse período,

inúmeras foram as perseguições religiosas vivenciadas pelos colonos que não professassem

esta religião.

Cláudio Araújo da Silva, no seu artigo “O Direito Fundamental e a Liberdade

Religiosa: garantias e limitações ao livre exercício dos cultos religiosos no Brasil”, ressalta

que:

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No mês de Janeiro de 1808 com a chegada da família real ao Brasil, antes

mesmo da primeira carta constitucional (1824), foi decretado pelo Príncipe

Regente João a abertura dos portos às nações amigas e em Novembro do

mesmo ano, um novo decreto concedeu amplos privilégios a imigrantes de

qualquer nacionalidade ou religião. Em 1810 foi assinado entre Portugal e

Inglaterra tratados de Aliança e Amizade de Comércio e Navegação [1].

Dessa forma, houve a chegada de inúmeros estrangeiros nas terras brasileiras,

devido a tais decretos e tratados. Como consequência, houve a necessidade de se conceder

Liberdade Religiosa a estas pessoas e as demais que já moravam no Brasil.

2.1 A Constituição do Brasil de 1824

Primeiramente, constata-se que a constituição do Brasil de 1824 foi outorgada em

nome da Santíssima Trindade [2].

Esta constituição em seu texto oficializou a religião Católica Apostólica Romana

como a religião oficial do Brasil. No entanto, ela autorizou a realização de culto doméstico

para aqueles que fossem seguidores de outras religiões.

Neste período, os Deputados e Conselheiros só poderiam ser nomeados se

pertencessem à religião católica. Dessa forma, aqueles que professavam outra religião que não

fosse à religião oficial do País, não poderiam ocupar tais cargos. Porém mesmo nesse período

já havia pessoas que eram contra tal situação [3].

Vale lembrar que, a separação total entre a Igreja Católica brasileira e o Estado,

bem como a efetivação da plena liberdade de culto, só ocorreram em 1890, através do

governo provisório de Deodoro da Fonseca e do Decreto de n° 119 – A.

O artigo 2° do Decreto de n° 119 – A assevera que: a todas as confissões

religiosas pertence por igual à faculdade de exerceram o seu culto, regerem-se segundo a sua

fé e não serem contrariadas nos actos particulares ou públicos, que interessem o exercício

deste decreto [4].

2.2 A Constituição do Brasil de 1891

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Segundo Manoel Jorge e Silva Neto, com a ruptura institucional ocorrida a partir

da proclamação da República, a constituição de 1891 modificou substancialmente a

proscrição para a qual eram remetidos os demais segmentos religiosos [5].

O artigo 72, § 3°, da constituição de 1891 afirma que: todos os indivíduos e

confissões religiosas podem exercer livremente o seu culto, associando-se para esse fim e

adquirindo bens, observadas as disposições comum [6].

Dessa forma, percebe-se que essa constituição buscou separar o Estado da Igreja

Católica Apostólica Romana, bem como impedir que aquele estabeleça, subvencione ou

embarace o exercício de qualquer culto religioso.

No seu preâmbulo não há qualquer referência a Deus.

Quanto ao casamento, ela só reconheceu o casamento civil, que tinha a celebração

gratuita. Assim sendo, o casamento religioso não era reconhecido por esta constituição.

2.3 A Constituição do Brasil de 1934

Diferentemente da constituição republicana de 1891, a constituição do Brasil de

1934 faz referência no seu preâmbulo a Deus.

Percebe-se que, a Constituição de 1934 apresentou duas inovações relevantes. Em

primeiro lugar, ela inovou ao prever a assistência religiosa em expedições militares.

Entretanto, nessas expedições os sacerdotes somente poderiam prestar tal assistência se

fossem brasileiros natos. Em segundo lugar, ela inovou ao trazer previsão da educação

religiosa facultativa, a ser ministrada nas escolas [7].

Além do mais, observa-se que esta constituição, da mesma maneira que a

Constituição de 1937, não permitiu que a União e os Estados estabeleçam, subvencionem ou

embaracem o exercício de cultos religiosos.

2.4 A Constituição do Brasil de 1937

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Diferentemente da Constituição de 1934, a Constituição do Brasil de 1937 não faz

referência a Deus no seu preâmbulo.

Segundo o artigo 122, § 4°, da constituição de 1937: todos os indivíduos e

confissões religiosas podem exercer pública e livremente o seu culto, associando-se para esse

fim e adquirindo bens, observadas as disposições do direito comum, as exigências da ordem

publica e dos bons costumes [8].

Além do mais, os Municípios, os Estados e a União não poderão estabelecer

subvencionar ou embaraçar o exercício de cultos religiosos, assim como na Constituição de

1934.

2.5 A Constituição do Brasil de 1946

Da mesma forma, que a constituição de 1934, a Constituição Brasileira de 1946,

faz referência a Deus em seu preâmbulo.

Também como nas constituições anteriores, a constituição de 1946 não permitiu

que os Municípios, o Distrito Federal, os Estados e a União estabeleçam, subvencionem ou

embaracem o exercício de cultos religiosos.

A constituição de 1946 inovou ao conceder imunidade tributária, no tocante aos

impostos, para os templos de qualquer religião. Porém, será necessário para se conceder tal

imunidade, que as rendas do culto ou da Confissão Religiosa tenham integral aplicação no

país, para os seus respectivos fins [9].

Conforme Manoel Jorge e Silva Neto, outros significativos avanços da

constituição de 1946 são os seguintes:

i) a recusa, por convicção religiosa, quanto ao cumprimento de obrigação a

todos imposta não implicaria a perda de qualquer direito, exceto se o

individuo se eximisse também de satisfazer obrigação alternativa prevista em

lei, e por outro lado; ii) direito a prestação religiosa nos estabelecimentos de

internação coletiva, como os presídios [10].

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2.6 A Constituição do Brasil de 1967/69

Da mesma maneira, que nas constituições de 1934 e de 1946, na constituição

brasileira de 1967, existe referência a Deus no preâmbulo.

Também como nas constituições anteriores, a constituição de 1967 veda que os

Municípios, o Distrito Federal, os Estados e a União estabeleçam, subvencionem ou

embaracem o exercício de cultos religiosos.

Vale destacar que, na constituição do Brasil de 1967, nos casos de interesse

público, especialmente nas áreas de educação, assistencial e hospitalar, permite a colaboração

entre o Estado e as organizações religiosas.

Cumpre registrar que, a única inovação apresentada pela Constituição de

1967/1969, e assim mesmo pertinente à última delas, refere-se à inclusão do credo religioso

como gênero, tal qual o sexo, a raça, trabalho e convicções políticas (§ 1°, art. 153),

impedindo-se a consumação de desequiparações fortuitas fundadas igualmente na opção

religiosa [11].

2.7 A Constituição do Brasil de 1988

A constituição brasileira de 1988, da mesma forma que a maioria das

constituições anteriores faz referência a Deus no seu preâmbulo.

Semelhantemente as constituições anteriores, a constituição Federal do Brasil de

1988 manteve a não permissão dos Municípios, Distrito Federal, Estados e União

estabelecerem, subvencionarem ou embaraçarem o exercício dos cultos religiosos ou manter

com eles ou seus representantes, relações de dependência ou de aliança. No entanto, é

importante ressaltar que, na forma da lei, é possível haver colaboração de interesse público

entre eles [12].

Como na constituição de 1946, na constituição de 1988 está previsto a imunidade

dos templos de qualquer culto, com relação aos impostos [13].

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O artigo 210, § 1°, da constituição de 1988 diz que: o ensino religioso, de

matrícula facultativa, constituirá disciplina dos horários normais das escolas públicas de

ensino fundamental [14].

Dessa forma, percebe-se que a constituição de 1988, previu expressamente o

ensino religioso nas escolas públicas de ensino fundamental, porém com matrícula facultativa.

3. Amplitude da liberdade de Religião na Constituição Federal de 1988

Inicialmente, é importante ressaltar que a liberdade de religião, na verdade, é

formada por três formas de expressão, que são as seguintes: a liberdade de crença, a liberdade

de culto e a liberdade de organização religiosa [15].

José Afonso da Silva, no tocante a liberdade de crença, alega que:

Na liberdade de crença entra a liberdade de escolha da religião, a liberdade

de aderir a qualquer seita religiosa, a liberdade (ou o direito) de mudar de

religião, mas também compreende a liberdade de não aderir à religião

alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de ser ateu e de

exprimir o agnosticismo [16].

Dessa forma, vê-se que os cidadãos têm total liberdade para aderir ou não a uma

religião específica e de mudar de crença, bem como de ser ateu. Percebe-se assim, que a

liberdade de crença tem a função de defender as opções de fé ou de crença de cada pessoa, do

Estado e de seus representantes e da própria sociedade.

Quanto à liberdade de culto, José Afonso da Silva afirma que:

A religião não é apenas sentimento sagrado puro. Não se realiza na simples

contemplação do ente sagrado, não é simples adoração a Deus. Ao contrário,

ao lado de um corpo de doutrina, sua característica básica se exterioriza na

prática dos ritos, no culto, com suas cerimonias, manifestações, reuniões,

fidelidades aos hábitos, às tradições, na forma indicada pela religião

escolhida [17].

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Saliente-se também que, a liberdade de culto relaciona-se com a exteriorização

das crenças religiosas, ou seja, a liberdade de culto visa proteger qualquer organização ou

prática de cultos religiosos.

O inciso VI, do artigo 5°, da constituição Federal assevera que: é inviolável a

liberdade de consciência e de crença, sendo a assegurado o livre exercício dos cultos

religiosos e garantida, na forma da lei, a proteção aos locais de culto e as suas liturgias [18].

Percebe-se que, tal liberdade é de suma importância e relevância para a liberdade

religiosa, pois seria muito difícil se pensar em liberdade de religião se não existisse a

liberdade de culto.

Vale destacar que, os cultos poderão ser realizados dentro dos templos, ou seja, no

interior destes, como por exemplo, as reuniões e os cultos, como também fora dos templos, ou

seja, no exterior destes, como por exemplo, as Marchas para Jesus, etc.

Quanto aos cultos externos aos templos, é importante destacar que a realização

destes depende de dois requisitos básicos, quais sejam: aviso prévio à autoridade competente

e inexistência de outras manifestações agendadas para o mesmo local e na mesma hora [19].

Quanto ao terceiro aspecto da liberdade religiosa, a liberdade de organização

religiosa, José Afonso da Silva ressalta que: essa liberdade é o aspecto da liberdade religiosa

que diz respeito à possibilidade de instituição de pessoas jurídicas com finalidade religiosas

[20].

Em verdade, essa liberdade visa possibilitar que as organizações religiosas

obtenham personificação jurídica. Entretanto, tal fato não significa que só haverá a existência

de adeptos de uma religião, após haver a instituição da pessoa jurídica com fins religiosos.

Cumpre destacar que, as organizações religiosas não poderão ter a intenção de

obter lucro. Até por que, se elas visassem à obtenção de lucro, não poderiam ser imunes, sob a

pena de se ferir o importantíssimo princípio da ordem econômica.

É importante ainda ressaltar que, nem o Estado nem os seus representantes

poderão de forma alguma, intervir nas decisões das religiões nem interferir nas escolhas dos

seus líderes, em razão da total liberdade concedida as organizações religiosas [21].

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3.1 A Liberdade Religiosa e o Direito ao Ateísmo

Como já lembrado anteriormente, a liberdade de crença compreende também a

liberdade de não aderir à religião alguma, assim como a liberdade de descrença, a liberdade de

ser ateu e exprimir o agnosticismo [22].

Dessa forma, observa-se que para existir plena liberdade religiosa, não basta que

as pessoas tenham total liberdade de escolher participar de uma religião ou de mudar de uma

religião para outra, mas também que se conceda para às pessoas, a liberdade de, se assim

desejarem, não aderirem a qualquer religião, como também a liberdade de descrença, de ser

ateu e de exprimir o seu agnosticismo.

Assim, seria impensável que um Estado concedesse para os seus cidadãos plena

liberdade religiosa, obrigando ou exigindo que estes sigam qualquer religião, sem conceder

para os mesmos a liberdade de não aderirem a uma Confissão Religiosa específica.

Dirley da Cunha Junior, alega que: o Direito ao Ateísmo não é uma decorrência

da liberdade religiosa, mas sim, uma decorrência da liberdade de consciência, também

protegida pela constituição Federal vigente [23].

Nesse mesmo sentido, Jayme Weingartner Neto afirma que:

Ancora-se, pois, o ateísmo na liberdade de consciência (art. 5° inciso VI, 1°

frase - CF – como outras convicções ideológicas, filosóficas ou políticas), ao

passo que a liberdade de crença (art. 5°, inciso VI, 2° frase, CF), como

desdobramento da liberdade religiosa (direito fundamental como um todo),

significa, nuclearmente, a livre escolha e a possibilidade de mudar ou

abandonar, a qualquer momento, a própria crença religiosa [24].

No entanto, há também àqueles que afirmam que o Direito ao Ateísmo é um

desdobramento da liberdade de crença e não da liberdade de consciência.

3.2 O Sistema Tributário e a Liberdade Religiosa

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Inicialmente, é importante destacar que a Constituição Federal de 88, com a

intenção de garantir ainda mais a proteção constitucional da liberdade religiosa, concedeu aos

templos de qualquer culto a imunidade tributária, com o objetivo do Estado não embaraçar o

exercício da liberdade religiosa.

Em verdade, de nada adiantaria o constituinte responsável pela promulgação da

Constituição de 1988 apresentar esforços em prol da concretização do direito individual,

impedindo-se, que, o Estado brasileiro viesse a embaraçar o exercício da liberdade em

questão, se, com efeito, não houvesse registrado também a imunidade dos segmentos

religiosos em matéria de incidência de tributos [25].

Quanto ao conceito de imunidade tributaria, vê-se que ela pode ser definida como

classe finita e imediatamente determinável de normas do Direito, presentes no texto da

própria Constituição Federal, e que estabelecem expressamente, a incompetência das pessoas

política de Direito Constitucional interno para expedir regras instituidoras de tributos que

alcancem situações específicas e suficientemente caracterizadas [26].

Dessa forma, vê-se que a Imunidade Tributaria está prevista na própria

constituição Federal e não em normas infraconstitucionais, não podendo ser confundida com a

isenção. Além do mais, a imunidade tributaria busca impedir que o Estado arrecade tributos

em certas circunstâncias.

No que tange a Imunidade dos templos de qualquer culto, o artigo 150, VI, b, diz

que:

Artigo 150 - sem prejuízo de outras garantias asseguradas ao contribuinte, é

vedado à União, aos Estados, ao Distrito Federal e aos Municípios:

(...)

VI - Instituir impostos sobre:

(...)

b) templos de qualquer culto.

(...)

§ 4° As vedações do inciso VI, alínea b e c, compreendem somente o

patrimônio, a renda e os serviços, relacionados com as finalidades essenciais

das entidades nela mencionadas [27].

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Quanto ao artigo supra, observa-se que, muito embora a Constituição fale em

“imunidade tributaria”, a imunidade refere-se tão somente aos impostos e não as demais

espécies tributarias. Assim, a imunidade tributaria não englobará as taxas e as contribuições

de melhoria.

Andrea Russar Rachel, nos lembra ainda que, a imunidade concerne ao que seja

necessário para o exercício do culto. Nem se deve restringir seu alcance, de sorte que o tributo

constitua um obstáculo, nem se deve ampliá-lo, de sorte que a imunidade tributaria constitua

um estímulo a prática do culto religioso [28].

Assim, por um lado, a constituição de 88, ao conceder a imunidade tributária para

os templos de qualquer culto, tinha o objetivo de impedir que o Estado viesse a embaraçar ou

atrapalhar, de alguma forma o exercício dos cultos religiosos, através dos tributos. Por outro

lado, a Constituição de 88 ao conceder imunidade tributária para os templos de qualquer culto

ou religião, não tinha a intenção de incentivar ou estimular a prática dos cultos religiosos ou a

sua propagação.

Nesse ponto, indaga-se: seria possível a concessão de imunidade tributária para

religiões que tem o objetivo de se auferir lucro.

Manoel Jorge e Silva Neto, afirma que: seria completo desdobramento da

finalidade constitucional da regra imunizatória, admitir que segmentos religiosos obtivessem

lucro com a exploração comercial de imóveis (com a celebração de contratos de locação, por

exemplo), sem que se incidisse qualquer tributo [29].

No que tange às criticas a Imunidade Tributaria para os templos de qualquer culto,

Caio de Azevedo Trindade, alega que:

Sempre que for decretado o intuito fraudulento destas entidades religiosas,

bem como em caso de práticas de atos atentatórios à moral e aos princípios

éticos e jurídicos, será lícito o afastamento da imunidade concedida

constitucionalmente, vez que não se estará diante de instrumento garantidor

do exercício das liberdades públicas, mas sim de instrumento contrário aos

princípios insculpidos na carta Magna [30].

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Nesse mesmo sentido, Paulo de Barros Carvalho afirma que: dizer que as

imunidades são sempre amplas e indivisíveis, que não suportam fracionamentos, protegendo

de maneira absoluta as pessoas, bens ou situações que relatam, é discorrer sem compromisso

[31].

Assim sendo, constata-se que na maioria das vezes costuma-se dar uma

interpretação ampliativa ao instituto da imunidade tributária para os templos de qualquer

culto, havendo em alguns casos uma ampliação um pouco exagerada. Porém, este instituto

não deve ser afastado do nosso ordenamento, nem ser declarado inconstitucional, em razão de

tais situações. Aliás, como já lembrado anteriormente, não adiantaria o Estado conceder para

as pessoas liberdade religiosa, permitindo-se que este embaraçasse o exercício de tal

liberdade, através da arrecadação de tributos. Portanto, o que se deve evitar é uma ampliação

exagerada desse instituto, como por exemplo, em alguns casos de contrato de locação de

imóveis, de forma habitual.

É importante lembrar que, o supremo Tribunal Federal tem reconhecido que a

imunidade dos templos de qualquer culto ou religião tem status de cláusula Pétrea,

demonstrando assim, a sua grande relevância para a sociedade como um todo.

Dessa forma, constata-se que quanto à imunidade tributaria dos templos de

qualquer culto, o Supremo Tribunal Federal, considerou que esta imunidade é insuscetível de

restrição pelo Constituinte Derivado Reformador [32].

3.3 O Preâmbulo da Constituição Federal de 1988

Primeiramente, é importante destacar que, o preâmbulo pode ser conceituado

como o documento ou texto de intenções do diploma, bem como uma certidão de origem e

legitimidade do novo texto e uma proclamação de princípios. Muito embora, ele não faça

parte do texto da própria constituição, é de extrema importância, pois deve ser observado

como elemento de interpretação e integração dos inúmeros artigos que lhe servem [33].

Quanto ao preâmbulo da constituição de 1988, percebe-se que ele faz referência a

proteção de Deus, de forma expressa.

Nesse ponto, indaga-se: como uma Constituição que defende a liberdade de

crença e de culto, pode fazer referência em seu preâmbulo a Deus. Será que tal fato, significa

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que a Constituição esteja defendendo determinada doutrina, bem como que está desprezando

ou descriminando as religiões politeístas e dando um tratamento especial a doutrina

monoteísta.

Thiago Massao Cortizo Teraoka responde tais indagações da seguinte forma: isso

não significa que a Constituição resolveu consagrar a necessidade de obediência à

determinada doutrina religiosa. Não significa se quer a apologia a uma ideia monoteísta, em

contraposição às religiões politeístas [34].

Além do mais, conforme assevera Manoel Jorge e Silva Neto, o recurso à

personificação dá à exata ideia de que o nome de Deus fora mencionado para ressaltar a

postura crente da maioria dos parlamentares que atuaram na elaboração do vigente texto

constitucional [35].

Assim sendo, constata-se que os legisladores responsáveis pela elaboração da

constituição de 88, não defenderam qualquer crença religiosa ou a ideia monoteísta, mas tão

somente, fizeram menção a sua postura crente no momento da elaboração da Constituição.

Por fim, vale lembrar que, o Supremo Tribunal Federal reconheceu que o

preâmbulo da constituição Federal, assim como a menção a Deus, não possuem força

normativa obrigatória, motivo pelo qual não se trata de norma de reprodução obrigatória nos

estados-membros [36].

3.4 A Escusa de consciência por Motivos Religiosos

O artigo 5°, inciso VIII, da constituição de 88, alega que: ninguém será privado de

direitos por motivos de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, salvo se as

invocar para eximir-se de obrigação legal a todos imposta e recusar-se a cumprir prestação

alternativa, fixada em lei [37].

Dessa forma, vê-se que a Constituição Federal de 88, não permite que qualquer

pessoa seja privada de Direitos por motivo de crença religiosa ou de convicção religiosa.

Entretanto, qualquer sujeito poderá invocar a liberdade de crença ou de convicção filosófica

ou política para deixar de prestar uma obrigação, que seja legal e a todos imposta, desde que

cumpra uma prestação alternativa.

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No tocante ao conceito de escusa de consciência, Thiago Massao Cortizo Teraoka

assevera que, ela é a dispensa de uma determinada obrigação imposta por lei geral. São

exceções, em geral fundadas em motivo religioso, com o objetivo de excepcionar um

comando legal [38].

Nesse ponto, indaga-se: como a constituição que prega a igualdade entre as

pessoas poderia permitir a existência da escusa de consciência por motivos religiosos,

possibilitando que alguém deixe de prestar uma obrigação que seja imposta a todos, em razão

da sua liberdade de crença ou convicção filosófica ou política.

Thiago Massao Cortizo Teraoka responde a essa indagação da seguinte forma: a

liberdade religiosa é também tutelada pela constituição, motivo pelo qual, desde que razoáveis

e proporcionais, haverá espaço para o tratamento diferenciado, em benefício da liberdade

individual [39].

Nesse mesmo sentido, Alan Brownsteim afirma que, claramente, a cláusula de

separação Estado – Igreja não é violada se o Estado dá trato preferencial a um grupo ou a uma

instituição religiosa, porque está obrigado por outro mandamento constitucional independente

e de igual importância [40].

Cumpre destacar que, no Brasil, as objeções de consciência regulamentadas são as

que estabelecem prestação alternativa ao serviço militar e ao serviço do júri.

No tocante à escusa de consciência que fixa prestação alternativa ao serviço

militar obrigatório, vê-se que qualquer pessoa poderá alegar imperativo de consciência

decorrente de crença religiosa ou de convicção filosófica ou política, para se eximir de

atividade essencialmente militar.

Assim, constata-se que o serviço militar será obrigatório. Porém, para aqueles que

invocarem a escusa de consciência por motivos religiosos, haverá a dispensa do serviço, desde

que seja prestado serviço alternativo.

Dirley da Cunha Junior, assevera que: ao final do período de atividade, será

conferido ao escusante um certificado de prestação alternativa ao serviço militar obrigatório,

com os mesmos efeitos jurídicos do certificado de reservista [41].

No tocante a escusa de consciência que fixa prestação alternativa ao serviço de

jurado, percebe-se que é possível à recusa ao serviço do júri fundada em convicção religiosa,

filosófica ou política.

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Em verdade, constata-se que assim como o serviço militar será obrigatório para os

homens, também será o serviço do júri.

Observa-se, ainda, que é possível um sujeito recusar-se a prestar os serviços de

jurado, em razão da sua convicção religiosa, filosófica ou política. Mas, desde que preste

serviço alternativo, sob pena de serem suspensos os seus direitos políticos.

3.5 Pode haver cooperação entre o Estado e a Igreja havendo colaboração de

interesse público

A Constituição Federal de 1988, no seu artigo 19, proibiu expressamente que a

União, os Estados, o Distrito Federal e os Municípios estabeleçam Cultos Religiosos ou

Igrejas [42].

Percebe-se que, a Constituição Federal de 1988, assim como a maioria das

constituições brasileiras, exceto a de 1824, determina que é proibido à União, os Estados, o

Distrito Federal, e os Municípios estabelecerem, subvencionarem ou embaraçarem o exercício

de cultos religiosos. Observa-se ainda, que será possível haver a colaboração de interesse

público entre o Estado e a Igreja.

Walter Ceneviva alega que: com a ressalva da colaboração de interesse público,

sendo efeito simultâneo (do Estado laico e da Liberdade Religiosa) o impedimento da

privação de direitos por motivo de crença religiosa – todavia, a separação não é absoluta,

mantidos o casamento religioso com efeitos civis e o ensino religioso na escola pública [43].

Cumpre destacar que, há no Brasil uma separação total entre Estado e Igreja, de

tal forma que não existe religião oficial. E, muito embora o Brasil seja país leigo, ele não

poderá ser confundido com um país ateu, pois o mesmo, de forma expressa na própria

Constituição, e mais especificamente no seu preâmbulo, afirma acreditar em Deus [44].

Saliente-se, por fim, que o Estado não pode interferir nem beneficiar-se de

qualquer culto religioso ou religião. Entretanto, será possível haver união entre Estado e

Igreja, para trabalharem juntos, desde que haja relevante interesse público, como por

exemplo: quando ocorre alguma catástrofe e o Estado e as Igrejas se unem, com o fito de

somarem esforços, para solucionarem ou amenizarem os problemas resultantes de tal situação.

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3.6 A Assistência Religiosa nos Estabelecimentos de Internação Coletiva

O artigo 5°, inciso VII, da constituição Federal de 88, alega que: é assegurada, nos

termos da lei, a prestação de assistência religiosa nas entidades civis e militares de internação

coletiva [45].

Então, vê-se que a constituição Federal através do dispositivo supra, previu

expressamente a possibilidade de ser prestada assistência religiosa em locais de internação

coletiva.

Nesse mesmo sentido, a Lei de Execução Penal, a Lei de n° 7.210/1984,

possibilita a prestação de assistência religiosa, com liberdade de culto para os presos e

internados, possibilitando a participação destes nos serviços organizados no estabelecimento

penal.

É interessante atentar que, para a realização de um culto, uma missa, uma reunião

religiosa ou qualquer outra programação religiosa, independentemente da religião, é

necessário existir no próprio estabelecimento de internação coletiva, um lugar adequado para

realização de tais trabalhos. Além do mais, os próprios presos e internados terão a total

liberdade de, se desejarem, terem a posse de livros de qualquer instrução religiosa, como por

exemplo, a bíblia, o alcorão, dentre outros livros sagrados.

É importante também lembrar que, não se poderá impor aos presos e aos

internados o dever de participarem de qualquer atividade religiosa sob pena de ser violada a

liberdade religiosa e de crença destes.

No direito comparado, em 2005, nos Estados Unidos, a Suprema corte deste país,

determinou que os presídios que recebem recursos federais não poderão deixar de tentar

acomodar os fenômenos religiosos dentro das prisões, mesmo quando se tratar de uma

confissão religiosa que não seja majoritária [46].

Quanto aos benefícios da prestação de assistência religiosa nos estabelecimentos

de internação coletiva, observa-se que hodiernamente, a assistência religiosa no mundo

prisional não ocupa lugar preferencial nem é o ponto central dos sistemas penitenciários,

tendo-se adaptado às circunstancias dos nossos tempos. Não se pode desconhecer, entretanto,

a importância da religião como um dos fatores da educação integral das pessoas que se

encontram internadas em um estabelecimento penitenciário, razão pela qual a assistência

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religiosa é prevista nas legislações mais modernas. Percebe-se ainda, que através de uma

pesquisa realizada nos diversos institutos penais subordinada à Secretaria de Justiça do Estado

de São Paulo, chegou-se a conclusão de que a religião tem de forma comprovada, influência

altamente benéfica para o comportamento do homem encarcerado, bem como que é a única

variável que contém potenciais, em si mesma, de mudar aquele que esteja encarcerado e livre

[47].

Com relação aos adolescentes privados da sua liberdade, o Estatuto da Criança e

do Adolescente (ECA), Lei de n° 8.069/90, concede o direito para eles de receberem

assistência religiosa.

Por fim, cumpre destacar que os religiosos de qualquer Confissão Religiosa tem a

possibilidade de prestarem atendimento religioso aos internados, desde que haja o

consentimento destes e aos doentes que já não estejam no gozo de suas faculdades mentais,

desde que haja o consentimento dos familiares destes. Assim sendo, os religiosos de qualquer

religião terão, se assim desejarem, acesso aos hospitais da rede pública e privada, bem como

aos estabelecimentos prisionais civis e militares, para prestarem assistência religiosa.

4. Aspectos Polêmicos referentes à Liberdade Religiosa

Inicialmente, é importante destacar que, não temos a pretensão de nesse trabalho,

exaurirmos completamente todo o assunto referente aos aspectos polêmicos que envolvem a

Liberdade Religiosa, que é um assunto tão amplo e riquíssimo, mas de tão somente, falarmos

um pouco acerca de algumas controvérsias envolvendo este assunto.

4.1 A expressão Deus seja louvado nas notas de Real

Inicialmente, poderíamos indagar se a expressão Deus seja louvado nas notas de

Real, não seria de uma forma direta ou indireta uma espécie ou hipótese de proselitismo

religioso no Brasil, bem como se não seria uma apologia ao pensamento monoteísta ou ainda,

se não seria uma forma de beneficiar certas confissões religiosas em detrimento de outras, etc.

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Em verdade, constata-se que tais indagações ou críticas, são totalmente

insubsistentes, não devendo prosperar, porquanto a referência a Deus em notas de Real não

tem o objetivo de promover qualquer proselitismo religioso, bem como privilegiar qualquer

confissão religiosa em detrimento de outra, mas tão somente, de identificar as pessoas ao

plano Real, creditando o mesmo como uma norma que seja capaz de promover a melhoria da

vida das pessoas [48].

Observa-se ainda, que a referência a Deus em notas de Real deve ser considerada

válida, por pelo menos mais dois motivos, que são os seguintes: o fato do próprio preâmbulo

da Constituição Federal de 88, fazer menção genérica a Deus e do fato, de que não há de

forma direta ou indireta, apologia a qualquer doutrina religiosa e especifica na expressão

“Deus seja louvado”, nas notas de Real. Além do mais, a palavra Deus pode ser representativa

de inúmeras crenças religiosas [49].

4.2 O Sacrifício de Animais nos Rituais Religiosos

A Lei n° 9.605/1998, que trata das sanções penais administrativas derivadas de

condutas e atividades lesivas ao meio ambiente, determina que comete crime quem praticar

ato de abuso, maus tratos, ferir ou mutilar animais silvestres domésticos, nativos ou exóticos.

Inicialmente, percebe-se que o sacrifício de animais nos rituais religiosos é um

tema extremamente polêmico e que gera um dos conflitos entre a Liberdade Religiosa e o

Direito Ambiental, o outro é a poluição sonora.

Vê-se também que, este assunto gera inúmeros questionamentos, como por

exemplo, o sacrifício de animais nos rituais religiosos configura-se crime ou não, como

também se o Estado brasileiro poderia proibir que uma confissão religiosa realizasse

sacrifícios de animais nos seus rituais, etc.

É importante ressaltar que, o artigo 64 da Lei das contravenções penais “Decreto -

lei n° 3.688/1941” estabelece que aquele que tratar animal com crueldade ou submetê-lo a

trabalho excessivo, comete uma contravenção penal [50].

No que tange ao artigo 32 da Lei n° 9.605/98, há aqueles que afirmam que,

qualquer prática realizada nos rituais religiosos, consistente na matança, atos de abuso, maus-

tratos, ferimentos ou mutilação de animais, sejam estes domésticos ou não, é totalmente

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reprovável e condenável para a filosofia, a ética e o Direito. Além do mais, estas condutas são

consideradas como atos ilícitos que resultam na responsabilização civil e criminal [51].

De forma diversa, Thiago Massao Cortizo Teraoka defende que:

Pela ausência de exceção na regra ambiental, entendemos que o sacrifício de

animais em cultos religiosos enquadra-se na descrição legal da conduta

prevista na legislação. Entretanto, em razão da proteção constitucional à

liberdade de culto, a conduta passa a ser atípica [52].

Percebe-se, portanto, que muito embora o sacrifício de animais ou qualquer ato de

maus-tratos contra estes se enquadrem como uma conduta que esteja prevista na lei, tais

condutas deverão ser consideradas como atípicas.

Além do mais, como já comentado anteriormente, a liberdade religiosa divide-se

em: liberdade de crença, liberdade de culto e liberdade de organização religiosa. No tocante a

segunda destas liberdades, se o Estado brasileiro considerasse como crime o sacrifício de

animais nos rituais religiosos e tentasse impedir a realização destes, ele estará violando a

liberdade religiosa, e mais especificamente a liberdade de culto das confissões religiosas que

praticam tais condutas. Saliente-se ainda, que não adiantaria o Estado defender a liberdade

religiosa, sem permitir que as pessoas possam exteriorizar o seu sentimento religioso, ou seja,

a sua liberdade de culto.

4.3 O Curandeirismo e as Cirurgias Espirituais

Hodiernamente, tem crescido de forma significativa o número de pessoas,

principalmente no Brasil, que tem recorrido a alguma confissão religiosa ou crença, com o

objetivo de serem curadas de alguma doença ou enfermidade, principalmente naqueles casos

em que as pessoas são desenganadas pela própria medicina. Em verdade, muitas pessoas têm

buscado nas cirurgias espirituais e no curandeirismo a cura de doenças e dos seus problemas

de saúde.

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Quanto ao conceito de curandeirismo, este é a realização de curas, através da

ministração, prescrição ou aplicação, de forma habitual, de qualquer substância, por gestos,

palavras, outro meio ou fazendo diagnósticos [53].

Vê-se, que as curas espirituais e o curandeirismo, são realizados por pessoas que

não tem qualquer conhecimento de medicina, conhecimento técnico e habilitação profissional.

Nesse ponto, indaga-se: se a liberdade religiosa ou mais especificamente a

liberdade de culto, permite que se pratique as chamadas cirurgias espirituais.

Como já destacado nesse trabalho, a constituição Federal de 88, protege o livre

exercício dos cultos religiosos, bem como os locais de culto e suas liturgias. Dessa forma,

com base nessas proteções, não se configurará o crime de curandeirismo, quando os ministros

religiosos agirem dentro dos limites desta liberdade e não causarem risco a saúde pública.

Assim, percebe-se que será o caso concreto que irá nos dizer se os agentes procederam ou não

de acordo com os limites da liberdade em foco [54].

Em sentido contrário, o antigo Tribunal de Alçada criminal de São Paulo já

decidiu que, configura o delito previsto no artigo 284, inciso II, do Código Penal, a conduta

do agente que, sem qualquer conhecimento de medicina, mesmo que empírico, ministrar

tratamento por meio de internação para cirurgia espiritual em um terreiro de candomblé [55].

Entretanto, em razão da liberdade de culto, o curandeirismo não deverá ser

considerado crime, desde que os ministros religiosos procedam nos limites dessa mesma

liberdade, bem como que não causem qualquer risco à saúde pública, como já lembrado.

4.4 O não recebimento de sangue por Testemunhas de Jeová

Inicialmente, cumpre lembrar que o não recebimento de sangue por Testemunhas

de Jeová, é talvez o assunto mais polêmico e mais controverso que envolva a liberdade

religiosa, ou pelo menos um dos mais polêmicos.

Cumpre destacar também que, este é um assunto extremamente complexo, visto

que põe frente a frente dois grandes princípios constitucionais: de um lado temos o direito à

vida e de outro o direito a liberdade religiosa.

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Pois bem, os seguidores da religião Testemunha de Jeová se recusam a se

submeterem, em qualquer hipótese, ao tratamento médico com transfusão de sangue, sob a

alegação de violarem mandamentos bíblicos, como por exemplo: Gênesis 9.3,4; Levítico 3.17

e Deuteronômio 12.23-35, dentre outros.

É importante ressaltar que, o tratamento médico com a transfusão de sangue será

essencial e adequado ao tratamento de inúmeras doenças, bem como de várias intervenções

cirúrgicas, pois hoje essa é a ideia que prepondera na medicina, ou seja, que o tratamento com

sangue é fundamental para o tratamento de inúmeras doenças, de tal forma, que se uma pessoa

que necessita de tal tratamento, não receber o mesmo, em certos casos, correrá sérios riscos de

vida [56].

No tocante a recusa da transfusão de sangue por pessoas maiores de idade e

capazes, ela será valida, mesmo quando elas correrem risco de vida, em razão da não

realização da transfusão sanguínea. Cumpre lembrar que, deverá haver a manifestação prévia

da vontade do paciente, ou seja, este poderá recusar tal tratamento, desde que faça antes de

iniciado o mesmo [57].

Com relação à possibilidade de recusa da transfusão de sangue através do

representante legal, quando o paciente não puder expressar a sua vontade, constata-se que tal

recusa ao tratamento médico não poderá ser aceita [58].

Nos casos em que algum paciente estiver desacompanhado e inconsciente, porém

estiver portando algum documento que o identifique como membro da religião das

testemunhas de Jeová, como carteira de membro, o médico deve desconsiderar tal documento

e realizar a transfusão de sangue nele, desde que o mesmo necessite de tal tratamento.

No direito comparado, em Portugal, quando um paciente é capaz, maior, estar

consciente e manifesta o seu não interesse pelo tratamento de transfusão de sangue, se

resolverá tal situação da mesma forma como se resolve no Brasil, ou seja, levando-se em

consideração a vontade do doente [59].

No que tange aos menores, Thiago Massao Cortizo Teraoka afirma que: a

manifestação de vontade inequívoca e livre da criança e do adolescente deve ser considerada,

no caso da recusa de tratamento médico convencional. E, frise-se ainda que contra a vontade

dos pais [60].

Dessa forma, vê-se que tanto as crianças como os adolescentes podem recusar a se

submeterem ao tratamento de transfusão de sangue, da mesma forma que uma pessoa maior

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de idade e que seja capaz, mesmo nos casos de risco iminente de morte. Saliente-se ainda que,

deverá ocorrer a manifestação expressa inequívoca de vontade das crianças e dos adolescentes

que recusarem tal tratamento, para que não se submetam a este.

Em verdade, há aqueles que adotam entendimento diverso, defendendo que o

pátrio poder também deve incluir a tomada de decisões dos filhos menores sob sua tutela.

Assim, a decisão de recusar ou não ao referido tratamento compete aos pais e não aos filhos

[61].

Por fim, percebe-se através das diversas situações levantadas, que para a solução

de tais casos, será necessário se analisar o caso concreto e aplicar o princípio da

proporcionalidade e da razoabilidade.

4.5 O uso de Símbolos Religiosos em Locais Públicos

Inúmeros são os órgãos estatais que mantêm em seus próprios prédios e espaços

eminentemente públicos, como no próprio poder judiciário, inclusive até no Supremo

Tribunal Federal (STF), símbolos religiosos, como por exemplo: crucifixos; placas nas

entradas de alguns municípios, fazendo-se referência a Jesus Cristo como o Senhor da cidade

e etc.

Nesse ponto, indaga-se: se a utilização dos símbolos religiosos, especialmente os

crucifixos nos prédios públicos, violaria ou não a laicidade do Estado brasileiro, bem como se

o uso de tais símbolos nos prédios públicos violaria a liberdade religiosa das confissões

religiosas que não fossem adeptas destes.

Há aqueles que entendem que os símbolos religiosos, em hipótese alguma,

poderão ser utilizados nos prédios públicos, em razão de contrariarem o princípio da

inviolabilidade de crença religiosa. É importante ainda destacar que, o ateísmo, bem como

qualquer crença religiosa deverá ser respeitada pelo Estado brasileiro. Além do mais, não é

porque o catolicismo seja a religião predominante no Brasil, que se justifique a utilização de

tais símbolos [62].

De forma diversa, existe no âmbito do Conselho Nacional de Justiça,

jurisprudência a favor da utilização dos símbolos religiosos nos inúmeros Tribunais. Todos os

ministros, salvo o relator defenderam que tais símbolos são símbolos da cultura brasileira, e

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que, de forma alguma intervém na imparcialidade do poder judiciário. Aliás, o próprio

ministro Gilmar Mendes, do Supremo Tribunal Federal, defende que aqueles que buscam

retirar os crucifixos dos tribunais cometem certo exagero. Assim, para ele tal símbolo deverá

continuar sendo utilizado nos tribunais [63].

Dessa forma, vê-se que no Brasil, no tocante a pronunciamentos de órgãos

oficiais, prevalece a posição de que qualquer símbolo religioso utilizado pelo Estado é

constitucionalmente legítimo, em nome da tradição, da cultura e da arte. Percebe-se ainda, que

a decisão do Conselho Nacional de Justiça, fez tão somente referência aos símbolos nos

Tribunais, mas a expectativa é que o Poder Judiciário amplie a sua aplicação para os demais

prédios públicos. Assim, poderá haver a utilização de símbolos religiosos em qualquer prédio

ou espaço público, pois seria totalmente incoerente a possibilidade de haver a utilização

destes nos prédios dos poderes Legislativo e Executivo e a não possibilidade de utilizá-los nos

prédios do poder Judiciário [64].

Quanto a esta posição, há aqueles que defendem que a utilização de símbolos

religiosos, nos prédios ou espaços públicos, é uma violação ao princípio constitucional da

laicidade. Mas, tal crítica não tem qualquer fundamento, pois a laicidade não significa

ateísmo, ou seja, se um Estado for laico ele não será ateu, mas sim, neutro a qualquer crença

ou confissão religiosa. Além do mais, é importante destacar, como já lembrado nesse trabalho,

que o próprio preâmbulo da Constituição faz referência genérica a Deus, demonstrando que o

Estado brasileiro não é ateu.

Percebe-se ainda, que a utilização de símbolos religiosos em prédios ou espaços

públicos, não resulta como consequência uma confusão simbólica entre o Estado e qualquer

Confissão Religiosa.

Quanto à construção de novos monumentos religiosos, de personagens religiosos

que façam alusão à crença ou confissão religiosa especifica, eles não deverão ser mais

financiados ou custeados pelo Estado, pois um novo monumento, que ainda não tem status de

patrimônio cultural ou artístico, não se acha tutelado por nenhum princípio contraposto à

neutralidade estatal. Dessa forma, percebe-se que o Estado brasileiro não deverá, em hipótese

alguma, custear a construção de um novo monumento, como por exemplo: uma estátua de um

personagem religioso [65].

4.6 Os Feriados Religiosos

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Os feriados religiosos são mais um tema vinculado à liberdade religiosa

extremamente polêmico e que gera inúmeros questionamentos, como por exemplo, se a

laicidade do Estado brasileiro é ou não violada pelos feriados religiosos, etc.

A Lei n° 9.093, de 12 de setembro de 1995, de que trata dos feriados religiosos,

demonstra que são feriados civis, os declarados em lei federal, a data magna do Estado fixada

em lei estadual, os dias do início e do término do ano, do centenário de fundação do

Município e os fixados em lei municipal.

Enquanto isso, a Lei 662/1949, demonstra que os feriados nacionais, civis, são os

seguintes: Dia da Confraternização Universal, no dia 1° de Janeiro; Dia de Tiradentes, no dia

21 de abril; Dia do Trabalho, no dia 1° de maio; Dia da Independência do Brasil, no dia 7 de

setembro; Dia dos Finados, no dia 02 de Novembro; Dia da Proclamação da República, dia 15

de Novembro e o Natal dia 25 de Dezembro.

Cumpre destacar também que, a Lei n° 6.802 de 30 de junho de 1980, reconheceu

que o dia 12 de outubro é feriado religioso para comemoração do dia da Padroeira do Brasil.

Um outro feriado, assim como o do dia 12 de Outubro, o dia da Padroeira do

Brasil, que tem um caráter religioso, é o da sexta-feira da Paixão.

Vê-se, que há aqueles que defendem que é possível haver a instituição de alguns

feriados religiosos no Estado, em razão da proteção a liberdade religiosa da maioria da

população. Porém se houver a obrigação de trabalhar no referido dia, poderá ficar

comprometida a celebração da data [66].

Quanto a tal posicionamento, percebe-se que ele é falho, no seguinte aspecto: ora,

não se pode permitir que haja a instituição de feriados religiosos, tão somente porque a

maioria da população faz parte de uma confissão religiosa, pois as minorias religiosas também

merecem proteção a sua liberdade religiosa.

Por fim, observa-se que há aqueles que defendem que a Constituição e a

legislação de uma forma geral, não deveriam, em hipótese alguma, permitir que haja a

instituição de feriados religiosos. Portanto, os feriados devem ser civis, o que não significa

determinadas datas de significado religioso, desde que sob motivação laica. Um exemplo

deste fato é o Natal, em que, observa-se, que em razão do interesse público geral, há a

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interrupção das atividades como um todo, para todos se confraternizarem com a família e

amigos [67].

4.7 O Ensino Religioso nas Escolas Públicas

Em verdade, constata-se que o § 1° do artigo 210 da Constituição Federal de

1988, estabelece o ensino religioso, de matrícula facultativa, que constituirá disciplina dos

horários normais das escolas públicas de ensino fundamental [68].

Vê-se, através de tal dispositivo que o Estado brasileiro está estabelecendo o

ensino religioso. Porém, o mesmo não poderá, em hipótese alguma, determinar a qualquer

aluno que assista às aulas da disciplina de ensino religioso, sob pena de violar a liberdade

religiosa e mais especificamente a liberdade de crença deste, pois o próprio poder público

confere ampla liberdade para qualquer pessoa de aderir ou não a uma confissão religiosa, de

ser ateu, de expressar o seu agnosticismo, de mudar ou não de religião, de ter qualquer crença

religiosa, de descrença, etc. Assim sendo, o Estado não poderá obrigar a qualquer estudante a

assistir às aulas da disciplina de ensino religioso.

Nesse ponto, surge as seguintes indagações: o ensino religioso nas escolas

públicas fere ou não o princípio da laicidade do Estado brasileiro, bem como qual será o

ensino religioso desta disciplina nas escolas públicas, etc.

No tocante ao tipo religioso da disciplina de ensino religioso, há aqueles que

defendem que o conteúdo da disciplina trata-se de ensino da religião Católica Apostólica

Romana. De forma diversa, há aqueles que defendem que o ensino religioso será aquele que

for escolhido pelo aluno [69].

Porém, observa-se que ambas as posições não são as mais apropriadas, para

resolver tal situação, pois não há motivos para a Constituição ter escolhido os ensinamentos

de uma determinada confissão religiosa, para ser o conteúdo da referida disciplina, em

detrimento das demais. Além do mais, se o ensino religioso fosse escolhido pelo aluno, não

seria possível para o Estado viabilizar em termos práticos qualquer organização a respeito.

Além do mais, atualmente há inúmeras religiões distintas, e que a cada dia o seu número

cresce mais e mais. Portanto, tais fatos só agravariam ainda mais essa situação.

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A Lei n° 9.394/1996 ou a Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional,

determina que para a definição dos conteúdos da disciplina de ensino religioso, deverá haver a

participação de diferentes denominações religiosas.

Assim, vê-se que a referida lei demonstra que o ensino religioso é parte integrante

da formação básica do cidadão, bem como que o proselitismo ficará proibido. Assim sendo, a

disciplina de ensino religioso não poderá ser usada com o objetivo de levar os alunos a

aderirem ou mudarem a sua crença religiosa.

Em verdade, se não fosse à expressa previsão constitucional, tal modalidade de

ensino não poderia, de forma alguma, ser prestada na escola pública, devido à restrição

imposta pela regra-parâmetro (art. 19, I, CF/88, princípio da separação Estado – Igreja). Além

do mais, tal dispositivo apresenta caráter de disposição excepcional, pois permite que a escola

pública abra espaço para o ensino de religião [70].

No que diz respeito a quem deve escolher e custear os salários dos professores que

ministram a disciplina de ensino religioso há aqueles que defendem que não compete ao

Estado realizar tais condutas. De forma contrária, há aqueles que defendem que o Estado

deverá custear os honorários dos professores [71].

Em verdade, desses dois posicionamentos distintos, o que aparenta ser mais

coerente é o último, pois não há nem como se cogitar a hipótese do Estado fornecer nas

escolas públicas de ensino fundamental, ensino religioso, e não ser ele mesmo o responsável

por custear o pagamento dos salários dos professores, bem como o responsável pela

contratação destes. Aliás, se não fosse o Estado que fosse o responsável pela contratação dos

docentes e sim certa confissão religiosa especifica, os ensinamentos religiosos desta, seriam

tratados de uma forma diferenciada. Além do mais, tal situação também poderia ser usada

para se ganhar mais adeptos para uma certa confissão religiosa, através da prática do

proselitismo, que é expressamente proibida pelo art. 33, da Lei n° 9394/1996, como já

destacado anteriormente.

Com relação aos ensinamentos religiosos em uma escola particular, não há

qualquer obstáculo ou barreira que impeça esta de ministrar qualquer ensino religioso

relacionando a qualquer crença, pois a mesma tem total liberdade para promover tal

ensinamento, de acordo com a filosofia e religião adotada, sem que tal fato viole o direito à

liberdade religiosa. Aliás, as pessoas quando procurarem tais escolas terão total ciência da

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filosofia e da religião que elas professam. Portanto, a matrícula em uma escola particular

equivale a um consentimento tácito ao ensinamento religioso daquela instituição [72].

No direito comparado, em Portugal, o seu Tribunal constitucional, decidiu pela

constitucionalidade de artigos da Portaria n° 333/86 e da Portaria n° 831/87. Tais portarias

determinavam a obrigatoriedade para os alunos do ensino primário, do ensino da religião e

Moral Católica e que seria da responsabilidade da Igreja Católica. Este tribunal fundamentou

tal decisão alegando que o ensino religioso em escolas públicas deve ser da responsabilidade

exclusiva da Igreja. Aliás, apara o referido Tribunal, o Estado tem a obrigação de

proporcionar à Igreja Católica o ensino desta disciplina. Além do mais, tal obrigação ou dever

tem como fundamento o princípio da liberdade religiosa e na obrigação por parte de Estado de

cooperar com os pais na educação dos filhos [73].

Entretanto, observa-se que tal decisão está violando a laicidade estatal, pois o

próprio Estado português está financiando e compelindo o ensino religioso da religião

Católica nas escolas públicas. Aliás, a decisão do Tribunal Constitucional Português contribui

para a prática do proselitismo, ou seja, essa decisão poderá levar os alunos a abraçarem às

praticas religiosas da Igreja Católica Apostólica Romana.

4.8 Proselitismo Religioso

O proselitismo religioso é mais um direito que desdobra-se da Liberdade

Religiosa, e que tem como significado, “a atividade ou conduta diligente em se fazer fiéis ou

prosélitos, através da divulgação ou propagação de ensinamentos religiosos, dentre outros

meios”.

Saliente-se que, muitas vezes o proselitismo religioso é visto como foco de

desestabilização e perturbação do controle social, pelo Estado, bem como uma ameaça ao

monopólio religioso da religião majoritária, em razão das alianças existentes entre o Estado e

as Confissões Religiosas dominantes. Tal situação gera inúmeros obstáculos ou barreiras com

o fito de se impedir as possibilidades de divulgação ou expressão daquelas confissões

religiosas, que sejam minoritárias, como por exemplo: acusações de manipulação de pessoas

em estado de vulnerabilidade emocional; acusações de que o proselitismo, na verdade, trata-se

de espionagem ou infiltração imperialista e a não aceitação das dimensões não racionais das

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religiões. Entretanto, a liberdade de expressar a fé não poderá ser impedida, em razão de tais

fatos, desde que seja exercida observando o princípio da tolerância [74].

Quanto aos meios usados pelas confissões religiosas para a propagação dos seus

ensinamentos com o objetivo de se fazer fiéis, é importante destacar que, quaisquer

instrumentos ou ferramentas poderão ser utilizados para se alcançar esse objetivo, porém estes

não poderão em hipótese alguma violar os direitos de outras pessoas constitucionalmente

protegidos.

Com relação ao proselitismo no Brasil, vê-se que tal assunto reveste-se de uma

grande importância, pois observa-se que durante o período imperial brasileiro o catolicismo

era a religião oficial e que, ainda hoje continua sendo a religião majoritária, mas que, de

forma gradativa, tem perdido nas últimas décadas milhões de adeptos, principalmente para as

igrejas protestantes. Em verdade, várias igrejas do protestantismo histórico chegaram ao

Brasil, como por exemplo: Presbiteriana, Metodista, Batista, dentre outras, vindas dos Estados

Unidos. Cumpre destacar que, tais igrejas foram implantadas com o objetivo de converter os

brasileiros. Estas missões resultaram na formação de igrejas e de fiéis com um forte caráter

proselitista. Contata-se ainda, que no início do século XX, começaram a chegar às igrejas

pentecostais no Brasil e que em meados de 1950, elas tornaram-se igrejas protestantes

brasileiras com um maior número de fiéis [75].

5. Considerações Finais

Diante do que foi exposto neste trabalho, pode-se concluir que a liberdade

religiosa é um assunto de fundamental importância para o Estado brasileiro, como para

qualquer outro Estado, bem como altamente controverso.

Percebe-se que, em razão da laicidade do Estado brasileiro, o direito fundamental

a liberdade religiosa que desdobra-se na liberdade de crença, de culto e de organização

religiosa, deverá ser garantido, bem como que o Estado deverá permanecer neutro em relação

as crenças e confissões religiosas, não podendo o poder público dá um tratamento especial ou

diferenciado para qualquer religião, sob pena de violar a liberdade religiosa.

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Cumpre ainda destacar que, muito embora a Constituição Federal de 1988 tenha

conferido ampla liberdade religiosa aos cidadãos brasileiros, esse direito não é absoluto, assim

como os demais direitos.

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Luiz Regis. Comentários, p. 770.

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