a liberdade dos vagalumes

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  • 7/23/2019 A Liberdade Dos Vagalumes

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    A liberdade dos vagalumes

    A mostra do filme livre completa 14 anos neste ano de 2015. Muita coisa aconteceu no cinemabrasileiro no Brasil nesses anos. A cada ano da Mostra, tentamos pensar o que sea um !filmelivre!. Muitos te"tos # foram escritos sobre esse tema. $ veo % para min&a felicidade % que n'o

    conseguimos c&egar a um conceito. (racassamos. (racassamos porque um filme livre ) como umapluma* t'o leve, que ) levada pelo vento, e assim escapa de nossas m'os. +uando pensamos emum filme livre, tamb)m nos vem cabe-a a palavra independente % o !cinema independente!. Masque independncia ) essa/ (ico pensando se a independncia representa liberdade ou solid'o. uainda, se a liberdade n'o seria uma outra forma de solid'o. olid'o ou solitude/ alve3 sea a &orade repensarmos essa traetria, e para onde ela ainda pode nos levar. cinema brasileiro, para o

    bem e para o mal, n'o ) feito apenas do que vemos na tela de filmes6, mas e"iste todo ume"tracampo, um espa-o e"tradieg)tico que afeta os filmes. $spa-o esse que alguns c&amariam decircuito. +ue circuito ) esse/ $sse espa-o entre a reali3a-'o, a cr7tica, a curadoria, a pol7tica

    p8blica, a forma-'o, a pesquisa acadmica. $sse entremeio. udo isso ) o cinema brasileiro, sendoque os filmes s'o a ponta do iceberg. 9ada ve3 mais filmes est'o sendo produ3idos. $ esses filmes

    precisam ser vistos. Mas me parece que a quest'o precisa ser colocada de outra forma. (ala%semuito em quantidade % n8mero de ingressos, n8mero de sess:es, etc % mas me pergunto* de queforma esses filmes podem ser vistos/ 9omo ver esses filmes/ 9omo poder alcan-ar o gesto do qualesses filmes partiram/ ;idi%stem do cinema de autor/ ?sso ) ainda poss7vel nesse mundo midi#tico em queum reali3ador de um primeiro curta se transforma subitamente em uma celebridade/ s !salesagents! procuram !estreantes!, pois, maneira de um agiota no mercado financeiro, precisamcomprar na bai"a para vender na alta. $ assim como um reali3ador se torna a moeda de troca domomento, no dia seguinte passa a ser modismo vel&o, ultrapassado. 9omo pensar ent'o essatraetria em um mundo em que os reali3adores acreditam que !precisam amadurecer!, e quemuitos coletivos revelam que o discurso da ami3ade e do afeto n'o se torna muito diferente das

    pr#ticas das m#fias e das seitas religiosas/ A &istria do cinema brasileiro ) tamb)m a &istria desuas trai-:es e da disputa pelo poder. Mas os vagalumes continuam ali, teimando em sobreviver,logo ali naquela #rea t'o pouco iluminada, t'o pouco nobre. A liberdade dos vagalumes talve3estea na sua ingenuidade e no seu anacronismo. @a sua inconstncia. @a sua errncia. ua bele3a

    n'o pode ser definida atrav)s da mensura-'o dos lumens. +ue bele3a ) essa/ @'o sei. entodescrev%la mas fracasso. 9oloco%me na escurid'o com cuidado, observo%a atentamente masfracasso. (racasso, pois ela me escapa. Mas ten&o a impress'o de que ela ) bela e necess#ria.$screvo, pois ela me afeta. s ve3es parece que ela fenece, mas subitamente ela volta a aparecer.Acredito que a miss'o dessa mostra t'o singela que ) a mostra do filme livre sea celebrar a

    possibilidade desses vagalumes e"istirem. Alguns morrem s'o fr#geis6, outros migram para 3onasde mais alta lu3 querem mais6. @'o importa. bom cr7tico e curador n'o deve pensar no futuro.$le deve apenas se concentrar em procurar vislumbrar essa lu3 fugidia e misteriosa, que parece o8ltimo raio de lu3 antes do anoitecer. $le deve concentrar todas as suas energias, controlar suarespira-'o, seguir seu instinto, esperar pacientemente at) atingir esse instante simples de epifania,que dura pouco. Ainda que ele fracasse.